A História de Noemi
Escola Dominical - IPJG
Presb. Geraldo M. B. Valim
04 de maio de 2014
Noemi
O livro de Rute é, dos livros do VT,
um dos mais agradáveis de ler.
Do ponto de vista literário ele tem
grandes méritos.
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Ele é simétrico na forma, com quatro
capítulos bem distribuídos, tem uma
caracterização bem feita de seus
personagens, não tem exageros, e
consegue chegar a um final feliz sem
ser moralista ou piegas.
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Por quê o livro foi escrito e está no
cânon tem intrigado alguns
estudiosos, pelo fato do livro não ter
visões, nem milagres, nem revelações
ou vozes.
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Alguns consideram que pode ter sido
apenas com o propósito de mostrar a
árvore genealógica do grande rei
Davi, uma vez que essa genealogia
foi omitida em Samuel.
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Outro motivo possível vem de sua
posição nas escrituras judaicas, que
é diferente da que temos em nossas
Bíblias.
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Lá o livro de Rute está no chamado
“megilloth”, os ESCRITOS, junto com
Esdras e Neemias, e com a intenção
de contrabalançar o julgamento muito
severo em relação a casamentos
mistos.
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Ou seria um relato para chamar
atenção do povo para as viúvas sem
filhos, mostrando, o que seria outro
motivo, a providência de Deus.
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A hipótese da genealogia de Davi
vem também da tradição judaica,
que atribui a autoria a Samuel. E se
nota que a historia começa em Belém
de Judá, logo no primeiro versículo, e
qualifica os personagens como
efrateus, logo no segundo versículo.
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Isso ecoa em 1 Samuel 17:12. Logo
de inicio começa a mostrar o
relacionamento com Davi.
Belém, transliterando do hebraico Beit
Lehem, “Casa do Pão”, uma cidade
de Judá, próxima a Jerusalém;
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Efrata é a região, lugar onde Raquel
morreu ao dar a luz a Benjamin
Gen.35:16-19, e significa “fértil”.
O nome Belém Efrata é para não
confundir com Belém de Zebulom.
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A ironia dos nomes na saída da
família da “casa do pão”, do lugar
da fertilidade, para ir a uma terra
estranha, por “fome na terra”, é
evidente.
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Como a história se passa na época
dos juízes, as guerras constantes e a
devastação das plantações, podem
ter levado a fome, mesmo em região
fértil.
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A hipótese de ser o livro um
contrapeso a xenofobia de EsdrasNeemias, é reforçada pelo conceito
que os judeus tinham de Moabe.
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Em Gen.19:30-37, temos a origem
dos moabitas, e em Deut.23:3-6
temos o conceito que os judeus
tinham deles.
Era um povo a ser evitado. Como os
samaritanos na época do NT.
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O fato é que o livro é canônico.
O termo cânon vem do grego, e
significa regra, padrão. E desde o
quarto século é o termo que designa
os livros aceitos como inspirados por
Deus para constituir as escrituras.
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Portanto a canonicidade de um livro
diz respeito tanto a sua qualidade,
por ser de acordo com o padrão das
escrituras como ao seu status de
autoridade, como pertencente a
coleção de escrituras inspiradas.
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Diferente de outros livros bíblicos, como
Eclesiastes, Cantares e Ester, o livro de
Rute nunca causou controvérsias
quanto a sua canonicidade.
No primeiro século, tanto judeus como
os cristãos o aceitavam sem hesitação.
(Josefo, em Antiguidades; Mat.1:5; Lc 3:32).
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Todas as listas canônicas, tanto
judaicas como cristãs, incluem Rute,
mas não na mesma localização dentro
da lista de livros.
Como já falamos, para os judeus está
nos escritos, e para os cristãos está
entre os livros históricos, depois de
Juízes.
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A localização após Juízes segue a
ordem da LXX, e por isso alguns
argumentam que é a original, já que
a LXX existia há pelo menos 200
anos antes de Cristo.
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Mas existem evidências de 100 anos
antes de Cristo que colocam Rute nos
Escritos, logo antes dos Salmos. Parece
que a localização dos livros da Bíblia
hebraica foi fixada na época de Judas
Macabeus. (164 B.C.) Mas não importa.
O livro esta na Bíblia, e tem muita coisa
a nos ensinar.
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O livro de Rute trata de pessoas
absolutamente comuns vivendo suas
vidas simples e padecendo das
tribulações de todos os mortais. De
certo modo, o livro é apenas a
história de duas mulheres – Rute e
Noemi.
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O propósito mais óbvio do livro de
Rute é mostrar a Providência em
ação nas vidas de pessoas comuns.
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Além disso, secundariamente, o livro
mostra os resultados práticos e de
longo alcance de uma profunda
amizade, a de Rute por Noemi.
Também mostra a origem do rei
Davi, o maior líder político de toda a
complexa história do povo hebreu.
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A história é singela, ainda que
incorpore alguns costumes muito
antigos, para os quais não temos
explicações satisfatórias:
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Uma família da cidade de Belém, de
Judá, partiu para a terra de Moabe
porque “havia fome na terra”, fome
esta talvez provocada pelas
contínuas guerras dos tempos dos
juízes, como já vimos.
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Não se sabe o que motivou o casal,
Elimeleque e Noemi, a sair de Belém
com seus dois filhos, Malon e
Quiliom, e ir para a terra de Moabe.
Seria talvez a busca de uma terra de
mais fácil cultivo?
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Ou a busca de uma terra sem
guerras, onde dificilmente os dois
rapazes seriam convocados para o
exército? Ou uma busca de
oportunidades de trabalho para a
família? Não sabemos, e não faz
diferença na história.
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Seja qual for a motivação, o fato é
que eles se foram para Moabe e lá
viveram.
Os jovens Malon e Quilion se
casaram com jovens moabitas – Orfa
e Rute.
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Não era proibido o casamento de
judeus com mulheres moabitas
(apenas de judias com homens
moabitas), mas até a décima geração
seus descendentes seriam
discriminados, de certa forma, em
Israel como vimos em Dt 23.3.
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Elimeleque morreu e deixou Noemi
com seus dois filhos e suas duas
noras, Orfa e Rute, que
aparentemente ficaram viúvas logo
depois de seus casamentos, uma vez
que não tiveram filhos.
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Noemi provavelmente apegou-se às
suas noras, agora filhas substitutas.
Elas eram tudo o que havia restado
em sua vida.
Para as viúvas daqueles tempos
havia quatro perspectivas de vida
apenas:
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



o casamento (se fossem jovens),
o retorno ao lar paterno (se tivessem
um),
a prostituição (se fossem atraentes)
e a mendicância (o destino da
maioria das viúvas).
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Depois de quase dez anos (1.4) fora de
Belém, Noemi voltou para sua terra.
Sabedora de que duas viúvas moabitas
pobres teriam pouca chance de arranjar
casamento ou trabalho em Israel,
insistiu que as suas duas noras
voltassem para suas famílias moabitas.
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Orfa acabou cedendo, aparentemente
porque queria ser esposa outra vez.
Rute não cedeu de forma alguma,
talvez porque quisesse ardentemente
continuar a ser a filha de Noemi. A
declaração de amor de Rute por Noemi
é das mais tocantes registradas em
qualquer literatura:
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“Não me instes para que te deixe e
me obrigue a não seguir-te; porque
aonde quer que fores, irei eu, e onde
quer que pousares, ali pousarei eu; o
teu povo é o meu povo, o teu Deus é
o meu Deus.
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Onde quer que morreres, morrerei
eu, e aí serei sepultada; faça-me o
Senhor o que bem lhe aprouver, se
outra coisa que não seja a morte me
separar de ti.”
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Nesta declaração de amor por Noemi
está, também, a declaração de fé no
Deus de Israel. Por que caminhos
Rute saíra do culto a Camos, o deus
de Moabe, e chegara ao Deus
verdadeiro, não nos foi dado a
conhecer.
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Noemi e Rute voltaram a Belém.
Noemi foi reconhecida com
dificuldade por suas contemporâneas,
talvez por estar muito envelhecida
(1.19).
Noemi atribuiu a Deus o que lhe
ocorrera em Moabe.
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Ela tinha a consciência de que o
Todo-poderoso havia tirado dela seu
marido e seus filhos e que sua
pobreza, em contraste com sua
situação de “ditosa” quando saíra,
era fruto da ação de seu Deus.
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Não o acaso, nem o “azar”, mas a
mão de Shaddai havia feito sua
ruína, certamente por razões que ela
não alcançava.
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Havia pobres na terra. Rute e Noemi
eram só mais duas. Havia leis que
protegiam os pobres da terra.
Uma dessas leis era a lei da colheita
(Dt 24.19), em que os restos seriam
dos pobres, para que sobrevivessem.
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Outra lei era a lei do levirato (Dt 25.510), que rezava que uma viúva sem
descendente deveria ser recebida como
esposa pelo parente mais próximo,
irmão do falecido se houvesse, de modo
a gerar descendência para o morto e
dar posse à herança (terras, em geral)
deixada por ele.
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Rute e Noemi chegaram a Belém na
época da colheita da cevada. Rute
dispôs-se a beneficiar-se, e também
a Noemi, da lei da colheita e foi a um
campo para recolher o que pudesse,
disputando com muitos outros pobres
os restos da colheita.
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A Providência a levou para o campo
de Boaz, um parente de Elimeleque,
seu falecido sogro.
Boaz, homem de posses e de boa
fama em Belém, tratou Rute com
deferência especial, não só porque
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ele tinha boa índole, mas porque
ouvira falar muito bem de Rute e do
excepcional cuidado dela para com
Noemi (2.11).
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As palavras de Boaz lembram muito as
palavras usadas pelos judeus para
descrever a partida de Abrão de sua
terra natal. Talvez Boaz (ou o autor do
livro) tivesse isso em mente, talvez
não. O fato é que Rute e Abrão têm
histórias até certo ponto simétricas.
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Vimos acima a lei do levirato. Levir,
em latim, é cunhado. A lei original
havia sido modificada pelos
costumes. No caso, além de
perpetuar a família, o objetivo era
cumprir o que esta disposto em
Lv.25:25, de resgatar propriedades.
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Boaz seria, pela lei do levirato um
dos candidatos a suscitar filhos a
Noemi, que já não tinha idade para
gerar uma descendência, e por isso
precisava de uma substituta. A
substituta seria Rute.
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Só que havia outro parente de
Elimeleque, que tinha prioridade
como resgatador, não só de Rute,
mas da parte de um campo de
colheita, provavelmente coletivo.
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O livro conta-nos a estratégia de
Noemi, que decidiu casar sua nora
Rute com Boaz, e a estratégia de
Boaz para superar o direito de seu
concorrente.
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Os costumes são completamente
estranhos a nós, mas o princípio é
simples: usando de estratagemas
legais e éticos, Noemi decidiu dar a
Rute o único futuro seguro naqueles
tempos e naquela situação de
desespero – um casamento.
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Boaz e Rute se casaram e Rute deu à
luz a Obede, avô do rei Davi.
Obede foi para Noemi a compensação
de todas as suas enormes perdas.
Ela o tomou como seu próprio filho, o
que a lei do levirato assim
prescrevia.
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Noemi havia perdido o marido e seus
dois únicos filhos. Agora tinha a
Obede e a Rute:
“Ele (Obede) será restaurador da tua vida, e
consolador da tua velhice, pois tua nora,
que te ama, o deu à luz, e ela te é melhor
do que sete filhos”
Rt. 4.15. 54
Noemi
A Providência de Deus assim a
alcançara.
UM RESGATE QUE PREFIGUROU O
MAIOR DE TODOS OS RESGATES!
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