UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO E DA DOCUMENTAÇÃO BRUNO CESAR RODRIGUES A ciência da informação e suas relações com arte e museu de arte Ribeirão Preto 2008 BRUNO CESAR RODRIGUES A ciência da informação e suas relações com arte e museu de arte Monografia apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de bacharel em Ciência da Informação, Documentação e Biblioteconomia. Orientadora: Profa. Dra. Giulia Crippa. Ribeirão Preto 2008 Rodrigues, Bruno Cesar A ciência da informação e suas relações com arte e museu de arte / Bruno Cesar Rodrigues. – – Ribeirão Preto, 2008. Trabalho apresentado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP, 2008 Orientadora: Giulia Crippa Banca examinadora: Giulia Crippa, Marcelo Tadeu Motokane, Marco Antônio de Almeida. Bibliografia 1. Arte - Crítica. 2. Arte - Teoria. 3. Museu – História. 4. Museu de arte. I. Autor. II. Orientador. BRUNO CESAR RODRIGUES A ciência da informação e suas relações com arte e museu de arte Ribeirão Preto, 05 de dezembro de 2008. Banca examinadora: _________________________ Profa. Dra. Giulia Crippa USP – Ribeirão Preto Orientadora do Trabalho _________________________ Prof. Dr. Marcelo Tadeu Motokane USP – Ribeirão Preto Examinador 1 _________________________ Prof. Dr. Marco Antônio de Almeida USP – Ribeirão Preto Examinador 2 AGRADECIMENTOS Agradeço à Profa. Dra. Giulia Crippa pela orientação nos momento em que o norte me faltava (ainda falta, mas agora a história é outra). Pelo apoio, mesmo quando a idéia de pesquisa ainda não estava bem definida. Pela paciência quando dos desabafos por não compreender que rumo a pesquisa tomaria ou mesmo pela inexperiência no assunto que se pretendeu pesquisar. E, principalmente, pela amizade constituída, além do respeito que já nutria por sua pessoa. Aos professores do curso de Ciências da Informação e da Documentação pela formação acadêmica conferida a mim, juntamente a meus colegas CIDanos. Agora vocês estão livres de mim. Aos muitos amigos que fiz durante esta importante etapa de minha vida. Em especial ao Valmir, que sempre me apoiou na carreira que desejo seguir. Pelas caronas também. À Paula, que da mesma forma me apoiou, sempre dizendo que eu alcançaria meus objetivos (estou quase lá Paulinha… só mais alguns degraus). À Eliana que, de tanto me ouvir repetindo sobre este trabalho, deve estar capacitada a apresentá-lo por mim (que tal?), sem contar que engrossou o coro do apoio ao meu futuro. Agradeço ao pessoal com quem compartilhei espaço e idéias durante os estágios realizados na EMEI Marlene Jorge dos Reis, no Centro de Memória da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, no Núcleo de Apoio Bibliográfico da mesma escola, na Seção de Atividades Culturais da USP – RP, na Medicina Social, no MARP. A este último em especial, pois daqui surgiu esta pesquisa e que proporcionou uma nova idéia. Agradeço Karen Namie Sakata, minha namorada, que não apenas sabe tanto do meu trabalho como é bem provável que saiba ainda mais, uma vez que me ouviu diversas vezes ler o trabalho em voz alta e responder sinceramente o que achava. Por estar sempre do meu lado. Pela paciência quando me torno intolerante. Pelos puxões de orelha quando necessário (quase sempre). Pelos momentos felizes e os estressantes também. À minha família pelo apoio incondicional em seguir meu sonho em busca de um futuro. Em especial à minha mãe que desde o início me apoiou. E ao meu irmão Luiz Henrique, por me apoiar e contribuir, sempre me mostrando novos animês para relaxar nos momentos de tensão. Nada que um bom desenho não resolva nos momentos de estresse. Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para esta pesquisa. RODRIGUES, Bruno Cesar. A ciência da informação e suas relações com arte e museu de arte. Ribeirão Preto, 2008. Monografia (Ciência da Informação e da Documentação) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Resumo: Verifica-se que não há consenso em definir objetos ou produtos conceituais como sendo obra de arte. Em dados momentos arte é aquilo que foi exposto em um museu. Em outros momentos é o artista quem confere à sua própria obra o estatuto de obra de arte, bem como o público, o crítico, o historiador ou outros personagens desse meio. Com base nisso, buscou-se desenvolver um estudo exploratório quanto aos museus, em específico os museus de arte, e quanto à arte e alguns de seus aspectos. Através do estudo, foi constituído um corpus teórico que possibilita a compreensão da complexidade ou subjetividade das definições de arte e obra de arte, bem como alguns aspectos intrínsecos ao tema. Quanto ao museu, foi abordado o histórico de maneira breve e sua evolução, discutindo o museu de arte em especial. Foram observadas também algumas das relações entre a ciência da informação, o campo da arte e do museu. PALAVRAS-CHAVE: Arte - Crítica. Arte - Teoria. Museu – História. Museu de arte. Ciência da Informação. RODRIGUES, Bruno Cesar. The information science and his relations with art and museum of art. Ribeirão Preto, 2008. Monograph (Information Scienc and Documentation) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Abstract: There is not consensus in the definition about conceptual objects or products as being a work of art. Sometimes, art is something that has showed at museum. In other moments, the artist is who gives the status of work of art to your own work, as well as the public, the critic, the historiographer of art or other people this ambit. Therefore, an exploratory study about museums has developed, in especial, museums of art and art and its aspects. Through this study, a theoretical corpus has done. It has allowed the comprehension of the complicated and subjective definitions about art, work of art and some aspects about this theme. The museum history and evolution have broached with a discussion about the museum of art. Some relations have found between the information science, the art field and the museum of art. KEYWORDS: Art - Critics. Art – Theory. Museum – History. Museum of art. Information Science. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------- 9 1.1. O MARP----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 2. ARTE---------------------------------------------------------------------------------------------------17 2.1. Algumas considerações ------------------------------------------------------------------------------------------ 17 2.1.1. Arte como representação/imitação ---------------------------------------------------------------------- 24 2.1.2. Arte como expressão/comunicação--------------------------------------------------------------------- 27 2.1.3. Arte como forma significante ----------------------------------------------------------------------------- 29 2.2. Contradições na arte ----------------------------------------------------------------------------------------------- 31 2.3. Problema enfrentado pela arte: acesso ---------------------------------------------------------------------- 34 3. MUSEU ------------------------------------------------------------------------------------------------38 3.1. International Council of Museum------------------------------------------------------------------------------- 38 3.1.1. Definição introdutória---------------------------------------------------------------------------------------- 39 3.2. Breve histórico ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 41 3.2.1 Transformação ou evolução no museu ----------------------------------------------------------------- 45 3.3. Museu de arte--------------------------------------------------------------------------------------------------------- 47 3.3.1. O novo museu de arte --------------------------------------------------------------------------------------- 51 3.4. Outras discussões -------------------------------------------------------------------------------------------------- 53 3.3.1. A política no museu ------------------------------------------------------------------------------------------ 53 3.4.2. O público --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 54 3.4.3. Museu como legitimador da arte ------------------------------------------------------------------------- 55 4. CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E ARTE--------------------------------------------------------58 4.1. Dificuldades do profissional da informação---------------------------------------------------------------- 58 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------61 6. REFERÊNCIAS -------------------------------------------------------------------------------------64 9 1. INTRODUÇÃO O que é próprio do saber não é nem ver nem demonstrar, mas interpretar. Michel Foucault Adentrar os conceitos de arte e/ou obra de arte não é uma tarefa fácil devido às constantes transformações ocorridas ao longo do tempo. Os diversos aspectos que giram em torno deste assunto são muito variados e em alguns casos não há maneira de desconsiderá-los. É importante seguir uma ordem para abordar estes aspectos em torno da arte e da obra de arte. Seja a partir do que pode ser denominado como arte até a obra de arte em si, além dos critérios que a determinam como tal; seja desde as instituições ou meios que promovem o acesso até a efetivação deste pelo público, que se dá através da apropriação das obras de arte. Este trabalho procura desenvolver um estudo exploratório quanto aos museus, em específico os museus de arte, e quanto à arte e alguns de seus aspectos. Estudos exploratórios "permitem ao pesquisador aumentar sua experiência em torno de determinado problema. O pesquisador parte de uma hipótese e aprofunda seu estudo nos limites de uma realidade específica (...)" (TRIVIÑOS, 1987, p. 109). Uma pesquisa bibliográfica pode fornecer definições e elementos condizentes com a realidade, portanto, o cuidado e o rigor científicos dos quais toda pesquisa requer não devem ser desconsiderados. Com base nisso, buscou-se constituir um corpus teórico através da literatura possibilitando a compreensão das definições de arte e obra de arte, bem como alguns aspectos intrínsecos ao tema. O museu de arte não foi deixado de lado. Para esta instituição tentou-se desenvolver um texto histórico breve e o entendimento de sua relação com a arte e a obra de arte. Para tanto, observar o funcionamento de um museu de arte atuante na sociedade contemporânea se fez necessário, sendo escolhido o Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP) para tal fim. Com fundamento na literatura abordada, percebeu-se a estreiteza das relações entre os museus de arte e a obra de arte. No entanto, acredita-se que não 10 se pode pensar em ambos como dependentes, mas como um complementando o outro. Através de vários autores consultados ao longo da pesquisa, comprovaram-se as divergências existentes ao se discutir temas ligados à arte. A defesa do artista como elemento essencial que determina o que é ou pode se tornar arte é um tema bastante discutido. Principalmente após Marcel Duchamp e seus ready mades. Entretanto, percebe-se que o conceito de arte se define historicamente através da descontextualização de obras/objetos, cuja finalidade era outra, e também pela inserção destes em um novo espaço que se denominou museu de arte. Os discursos empregados nos meios artísticos também são responsáveis pela caracterização de algo como arte, ou de alguém como artista. Os críticos, os historiadores, os galeristas, os restauradores ou outros sujeitos peritos em artes são os que proferem tais discursos, muitas vezes classificando como arte àquilo (ou àquele) que lhe convém ser denominado como tal, seguindo certa "lei de mercado". Então, não há unanimidade em se definir objetos ou produtos conceituais como sendo obra de arte, pois, em dados momentos, percebe-se que arte é aquilo que se fez expor em um museu. Arte é aquilo que foi institucionalizado. Em contrapartida, em outros momentos é o artista quem confere à sua própria obra o estatuto de obra de arte, ou mesmo o público de âmbitos diferentes do museu de arte, ou diretamente ligados a este. Um dos fatores que se pode considerar, afirmando a falta de univocidade em relação às definições de arte, é a mudança no modo de se pensar a arte, o que culmina em um novo movimento artístico. A negação de um estilo e o surgimento de outro, ou mesmo a retomada de conceitos e estilos utilizados no passado como forma de (re)fazer a arte. Ao longo do tempo o campo artístico passou por diversos períodos de negação daquilo que se denominava como arte ou a exaltação do conceito vigente ou passado. O historiador alemão Hans Belting (2006), ao fazer comentários em relação à entrada na modernidade do século XX diz que a arte não acabou, mas se encontrava desde então num novo caminho: o caminho da modernidade. O rompimento com todos os gêneros acadêmicos de arte acarreta a perda do antigo ideal artístico que fora representado simbolicamente por eles. Os chamados abstratos pareciam perder de vista a imagem do mundo, o dadá revoltava-se contra o conceito de arte 11 enquanto tal e os ready-made de Duchamp desmascaravam esse conceito como ficção da sociedade burguesa (p. 249). Apesar das negações ou as exaltações quanto aos estilos existentes ou predominantes, as novas formas de se pensar a arte não retira dela o estatuto que outrora lhe fora concebido. Pelo contrário, dá início a novas definições de arte, aumentando ainda mais as bifurcações que se podem estabelecer ao conceito. Mais uma vez se comprova que realmente não existe uma única definição de arte, nem de obra de arte. Muitas vezes, as instituições deputadas para a seleção, a conservação e a disseminação do que se define como tal de maneira tão multíplice, os museus de arte, se valem de critérios variados para a institucionalização de acervos que, em outros âmbitos, não são considerados artísticos1. O campo de conhecimento gerado no século XVI, principalmente pela obra de Giorgio Vasari "Vida dos mais excelentes pintores, escultores e arquitetos (1550; 2a edição 1568)", passou a se chamar "História da Arte" e foi se desenvolvendo com base nas coleções diferenciadas de objetos que compõem as kunstkammer e que originaram os atuais museus e galerias de arte, enquanto instituições de natureza pública. Todavia, a partir da segunda metade do século XIX, principalmente por responsabilidade da fotografia, o próprio estatuto da arte passou por modificações radicais que, aos poucos, provocaram reações fortemente inovadoras tanto na reflexão do campo como nas instituições que se ocupam dessas produções (CRIMP, 2005). Fundamentado em questões quanto ao que possibilita a determinação de certo objeto/obra como arte, surge questionamentos que entrelaça as definições de arte com as funções dos museus de arte em uma época em que se assiste tanto a crise das instituições públicas como as transformações tecnológicas da arte: "A exposição de uma obra em um o museu, instituição legitimadora, é suficiente para conceder-lhe o estatuto de obra de arte? Até que ponto o lugar Museu legitima definições de arte através da exposição das obras?" Sabe-se que estes não se tratam de questionamentos novos, como demonstra a atividade provocadora de 1 É o caso de objetos ou acervos provenientes de sociedades não ocidentais que adquiriram estatuto de arte com base em princípios estéticos hegelianos, mas que, com o fenômeno da descolonização, se tornaram alvo de críticas. A busca por novos conceitos artísticos gera uma ruptura na arte que se denomina arte ocidental e arte oriental também. 12 Marcel Duchamp com seus ready made, mas se fazem relevantes para entender tal entrelaçamento. Por fazer parte de um âmbito dominado pelo subjetivismo, tais como exaltação do "belo" ou do "gosto", estas e outras questões se delinearam durante a pesquisa para constituição deste trabalho. O porquê de uma exposição conferir o estatuto de obra de arte; até que ponto o artista determina sua obra como arte, levando em consideração o mercado de arte que tem se tornado cada vez mais forte no seio da sociedade contemporânea, como discute Anne Cauquelin (2005); quais os verdadeiros interesses deste artista; estas entre outras dúvidas surgiram durante este estudo. Apesar destes questionamentos, muitos não serão respondidos aqui, ficando a cargo de outra pesquisa mais específica que pode ser desenvolvida no futuro. Ao ser adentrado o assunto referente a museus de arte e seu entrelaçamento com a arte, outras questões foram elaboradas por Cristina Freire (1999): diz respeito à transitoriedade que, em muitos casos, integram a essência de performances e obras de arte contemporânea, levando a autora a levantar questionamentos sobre o estatuto da documentação relativa a esses eventos e sobre as possibilidades de reconstituí-los em outros momentos. Desmaterializados, transitórios, são atributos que negam a perenidade exigida nos museus e, à primeira vista, tais trabalhos estariam negando sua própria essência ao serem "museologizados". No entanto, não seriam também [a arte conceitual], como toda e qualquer obra de arte, documentos de civilização? Não estariam revelando, a despeito de formas já estabelecidas e aceitas, a Forma (Francestel) de uma determinada época, seu imaginário? Afinal não deveria também o museu de arte contemporânea estar envolvido nesse programa? [grifos da autora] (FREIRE, 1999, P.40-1). Segundo a mesma autora, "a valorização cria as condições de preservação na arte" e que preservar significa dar inteligibilidade à obra. Ao se pensar na preservação, de certo modo não tem como não se pensar em museu. Em consonância entre o senso comum e a definição abordada na literatura quanto a significação de museu, percebe-se que o museu é uma instituição cuja responsabilidade é a guarda de objetos capazes de representar a memória social, a individual e/ou a institucional, privada ou pública, de uma sociedade, além de uma época. Sendo a obra de arte uma evidência material das noções artísticas que se desenvolveram em uma época, em uma sociedade, nada mais justo que preservá-la. 13 Todavia, há que se pensar a transitoriedade discutida por Freire (1999). Partindo do pressuposto de que determinadas obras de arte possuem uma essência totalmente transitória, efêmera, e que sua compreensão está ligada ao conhecimento da sociedade em que a mesma foi produzida, o que justificaria sua guarda e preservação em um museu, enquanto a exigência deste é a perenidade? Discutir esta questão não é o que se pretende aqui, mas explicitá-la pode ajudar a compreender alguns dos aspectos que giram em torno da arte. O museu de arte, diferentemente de outros tipos de museus, como os históricos, étnicos, de ciências etc., possui sua natureza específica em relação aos objetos expostos, não representando apenas a memória, mas agregando valor estético. Este tipo de museu demanda um preparo intelectual diferenciado por parte de seus visitantes. Esta afirmação pode ser observada através da obra de Pierre Bourdieu e Alain Darbel (2003, p. 71), na qual afirmam que "a obra de arte considerada enquanto bem simbólico não existe como tal a não ser para quem detenha os meios de apropriar-se dela, ou seja, decifrá-la". Isso significa que o acesso físico às obras de arte é garantido nessa instituição. Entretanto, o acesso cognitivo ainda é privilégio da classe culta. Ao discutir o museu do ponto de vista histórico, encontra-se sua origem na Grécia antiga, onde o mouseion (casa das musas) "era uma mistura de templo e instituição de pesquisa, voltado sobre todo saber filosófico" (SUANO, 1986, p. 10). Ao longo do tempo, diversas foram as mudanças ocorridas no museu. Segundo esta mesma autora, muitos "museus" dispensavam as instalações físicas, sendo eles publicações/compilações sobre temas variados com o titulo de museu. Como um dos exemplos, a autora Marlene Suano (1986) cita o Museum Metallicum, publicado por volta do século XVII por Aldrovandi de Bologna, que se pretendia relatar sobre todo tipo de metal conhecido na época. Esta instituição se desenvolveu principalmente através dos gabinetes de curiosidades, constituídos por espécimes de todas as regiões do mundo e que pertenciam, em geral, aos nobres e à igreja. No século XV, uma das principais coleções era a de Lourenço de Médici, já na terceira geração desta família (CRIPPA, 2005). 14 O museu de arte teve sua origem através da "descontextualização" das obras produzidas quando arrancadas das igrejas e palácios da Europa e transferidos para este novo local, entre o final do século XVIII e início do XIX, conforme Douglas Crimp (2005). O mesmo autor afirma que antes desta descontextualização as obras possuíam outras funções nas paredes dos mosteiros, igrejas e/ou palácios. Ao ser observado isso, é estabelecido um diálogo com Benjamin (1994), autor que defende a perda do "valor de culto" da obra e o ganho de um novo significado através do "valor de exibição". Através dessa nova significação, é concedido à obra o estatuto de arte com base em funções estéticas. Isto é, antes do surgimento dos museus de arte, o intuito das obras era apenas representar algo, conforme o interesse daqueles que as encomendaram. Em meados do século XIX os pintores deixam de pintar por encomenda e passam a produzir em prol do museu, com o intuito de que suas obras fossem expostas, consagrando-se como artistas. A partir daí, cria-se uma ruptura entre o que era arte por um processo de descontextualização e o que é criado com intencionalidade artística para o museu. Nestes museus, as obras são expostas com finalidade de fruição primeiramente estética e em uma ordem artificialmente produzida pelo mesmo. Com o passar do tempo, aqueles que são considerados artistas criam novas técnicas de produção artística e questionam o academicismo artístico. Conforme aponta Archer (2001), arte era compreendida essencialmente como os produtos conseqüentes do esforço criativo humano, no caso, pinturas e esculturas. Entretanto, ao longo do tempo, juntamente com a introdução de novas tecnologias na esfera artística, esse conceito sofreu o que se pode denominar transformação ou evolução. Do ponto de vista tradicional, muito do que se vê no meio artístico pode não ser considerado como arte. Isso se explica porque, segundo o mesmo autor, não parece haver mais nenhum material particular que desfrute do privilégio de ser imediatamente reconhecido como material da arte: a arte recente tem utilizado não apenas tinta, metal e pedra, mas também ar, luz, som, palavras, pessoas, comida e muitas outras coisas. Hoje existem poucas técnicas e métodos de trabalho, se é que existem, que podem garantir ao objeto acabado a sua aceitação como arte (2001, p. XIX). Como é possível perceber, em relação à arte, não há uma única definição ou uma única forma de produzi-la. Aquilo que foi produzido pelo esforço humano ou 15 mesmo escolhido pelo homem pode ser considerado arte. Os conceitos se transformaram ao longo do tempo e o museu de arte veio colaborar nesta mudança. Esta instituição e os bens culturais, como os produtos artísticos são denominados por Teixeira Coelho (2004), estão diretamente relacionados. Não se pode afirmar que um não exista sem o outro, mas sim que são complementares. Se for observado o conceito de arte ao longo do tempo, será possível perceber que o museu de arte, surgido nos séculos XVIII e XIX, é responsável pela conceituação contemporânea do termo arte ou da expressão obra de arte. Através do estudo exploratório que se desenvolveu, não se buscou tecer uma história do museu, tampouco uma história da arte, mas sim permear as transformações conceituais ao longo do tempo nestes campos de conhecimento. O intuito deste trabalho foi levantar alguns dos aspectos básicos destas áreas e dar abertura a novos questionamentos em relação à função do profissional cientista da informação e as relações que se estabelecem no campo artístico. Espera-se, através deste, poder contribuir com as noções sobre informação estética, isto é, o tipo de informação abordada pelos profissionais da informação no campo da arte. 1.1. O MARP Em 22 de dezembro de 1992, na cidade de Ribeirão Preto, estado de São Paulo, foi inaugurado o Museu de Arte de Ribeirão Preto, sendo estabelecido no prédio que fora construído no início do século XX para abrigar a 1ª Sociedade Recreativa da cidade acima citada (CAMPOS, 2002a e b). Este prédio passou por diversas reformas, além de sofrer ampliações. Chegou a abrigar também a câmara municipal por um longo período, após a transferência da sede da Sociedade Recreativa para outra instalação. Sendo mais uma vez reformado, o prédio tornou-se abrigo das obras que comporiam o acervo do Museu que se inaugurava cujo objetivo inicial era reunir todo o acervo de artes plásticas da Prefeitura – obras do SARP – Salão de Artes de Ribeirão Preto Nacional Contemporâneo e do SABBART – Salão Brasileiro de Belas Artes, adquiridas pelo poder público, bem como obras doadas, como o conjunto de obras do artista Leonello Berti e Nair Opromolla; e também promover a recuperação do acervo (CAMPOS, 2002b, p.18). 16 Desde o início de suas atividades o MARP tinha dificuldades estruturais, mas mesmo assim, voltou seu perfil à arte contemporânea, realizando atividades direcionadas à formação de público. Para tanto, recebeu e organizou importantes mostras (CAMPOS, 2002a). Muitos artistas de renome expuseram suas obras no MARP, podendo se destacar Alfredo Volpi, Odilla Mestriner, Sergio Romagnolo, Tomie Ohtake entre outros (CAMPOS, 2002a). Grandes exposições itinerantes também passaram pelo MARP, sendo elas promovidas por órgãos de origens públicas ou privadas. Atualmente o MARP encabeça diversos projetos artísticos na cidade de Ribeirão Preto, sendo os mais importantes o SARP e o SABBART, por onde já passaram diversos artistas de renome, além de impulsionar a carreira de outros jovens talentos. O prêmio aquisitivo, proveniente do SARP, possibilitou e ainda possibilita ao MARP a constituição de um significativo acervo (CAMPOS, 2002a; SARP, 2000). No MARP, pretendeu-se realizar uma comparação entre a literatura estudada e a realidade de um museu de arte que atua na sociedade. Como foi possível observar, arte é um campo um tanto quanto cheio de bifurcações e repleto de significações conforme a época, o local e as pessoas. Enfim, não é algo absoluto e nem único e está sempre disposto a transformações. Em resumo, arte é algo que possui significações um tanto quanto abstratas, passível de gerar confusões quanto a escolha de uma obra em detrimento de outra, ou mesmo de um artista ao outro. As definições de arte que foram percebidas têm relações estreitas com o museu de arte, principalmente no período de seu surgimento. As concepções que predominam na sociedade contemporânea quanto à arte é resultado do museu de arte que se estabeleceu nos séculos XVIII e XIX. 17 2. ARTE O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. Fernando Pessoa 2.1. Algumas considerações O historiador de arte Ernest H. Gombrich (1999a), afirma a não existência da arte, mas sim do artista. "Outrora, eram homens que apanhavam um punhado de terra colorida e com ela modelavam toscamente as formas de um bisão na parede de uma caverna; hoje, alguns compram suas tintas e desenham cartazes para tapumes; eles faziam e fazem muitas coisas" (p. 15). Este autor diz não ser prejudicial denominar a todas estas atividades como arte, entretanto, é necessário observar que esta palavra pode significar diversas coisas em tempo e lugares diferentes. Também diz que Arte com A maiúsculo passou a ser algo como um bicho-papão, como um fetiche. Podemos esmagar um artista dizendo-lhe que o que ele acaba de fazer pode ser excelente a seu modo, só que não é "Arte" [grifo do autor]. E podemos desconcertar qualquer pessoa que esteja contemplando com deleite uma tela, declarando que aquilo que ela tanto aprecia não é arte mas uma coisa muito diferente (GOMBRICH, 1999a, p. 15). Em Teixeira Coelho (2004) encontra-se uma abordagem geral quanto ao assunto. O autor afirma que as políticas culturais têm a tendência de considerar como arte apenas as manifestações que promovem certa idéia de civilização, ou seja, aquelas "que contribuem para o aprimoramento da cultura como um todo e das relações interindividuais e sociais em particular, segundo um determinado sistema de valores preestabelecidos (socialismo, capitalismo, nacional-socialismo, populismo, cristianismo, islamismo, etc.)" (p. 46). Conforme Loureiro (2000) designa-se por arte diversos produtos da atividade humana: pintura, escultura etc., realizadas através da expressão de idéias, percepções, sentimentos etc., sendo que muitos destes produtos estão abrigados em museus. Essa autora apresenta uma definição geral de arte, sendo esta vista como técnica ou habilidade geralmente ligada à ordem estética. 18 A definição que a autora supracitada apresenta é a mesma abordada por Jorge Coli (2007), sendo que este autor defende a arte como "certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo" (p. 8). O mesmo autor diz que a cultura atual possui seus meios de definir o que será determinado ou não como arte a partir de instrumentos específicos. Estes instrumentos são os museus e as galerias como espaço de manifestação; o discurso como a crítica e mesmo a história da arte, ou o perito e o conservador do museu. Isso significa que, segundo palavras de Coli (2007), "o estatuto da arte não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica, do conceito, mas de atribuições feitas por instrumentos de nossa cultura" (p. 11). Para Loureiro (2000) e Coli (2007), o artista está em função da arte, diferentemente do que se mostrou através de Gombrich (1999a). Este último coloca a arte em função daquele que a produz. Coli (2007) justifica aquela posição ao afirmar que "a galeria permite que o pintor exponha seus quadros (isto é, que 'manifeste' sua arte) e, além disso, determina, escolhendo um tipo de objeto dentre os inúmeros que nos rodeiam, que ele seja 'artístico'" (p. 12). Dessa forma, onde se encaixaria os ready mades de Marcel Duchamp, conforme as observações de Coli (2007) e Loureiro (2000)? Este artista rompe com a manufatura artística através da escolha de objetos industriais que possuem finalidade prática e não artística e os eleva à categoria de arte. Alguns dos objetos por eles transformado em arte são: porta garrafas, roda de bicicleta, urinol, entre outros. Neste contexto, o produto da atividade humana é a escolha do objeto a ser figurado como arte e não a produção do mesmo. Na mesma linha de Loureiro e Coli, Archer (2001) aponta para a noção de arte que ainda persistia na década de 60: arte compreendia essencialmente os produtos conseqüentes do esforço criativo humano, no caso, pinturas e esculturas. Entretanto, com o passar dos tempos e a introdução de novas tecnologias na esfera artística, esse conceito sofreu o que se pode denominar transformação ou evolução. Do ponto de vista tradicional, muito do que se vê no meio artístico pode não ser considerado como arte. Isso se explica porque, segundo Archer (2001), não parece haver mais nenhum material particular que desfrute do privilégio de ser imediatamente reconhecido como material da arte: a arte recente tem utilizado não apenas tinta, metal e pedra, mas também ar, luz, som, palavras, pessoas, comida e muitas outras coisas. Hoje existem poucas 19 técnicas e métodos de trabalho, se é que existem, que podem garantir ao objeto acabado a sua aceitação como arte (p. XIX). Através do exposto, Archer (2001) defende certa evolução ou mesmo transformação no conceito de arte nos últimos tempos. Porém, ele complementa que o significado da obra de arte não está necessariamente contido nela, mas que em dados momentos esta significação emergia de seu contexto, sendo este tanto social e político quanto formal. De certo modo, o autor acredita que seria o contexto de produção ou de exposição da obra de arte que determinariam seu significado e até mesmo sua definição como arte, deixando de lado a figura do artista. Compartilhando até certo ponto das considerações de Gombrich (1999a), Eco (1981) observa que ao artista cabe "dar vida" a uma forma. Sendo assim: ao dar vida a uma forma, o artista torna-a acessível às infinitas interpretações possíveis. Possíveis, frisamos bem, porque 'a obra vive apenas nas interpretações que dela se fazem'; e infinita não só pela característica de fecundidade própria da forma, mas porque perante ela se coloca a infinidade das personalidades interpretantes, cada uma delas com seu modo de ver, de pensar, de ser [grifos do autor] (p. 31). No excerto, Eco (1981) não só demonstra que cabe ao artista dar rumo à arte como, ao fazer isso, o artista abre um leque de possibilidades interpretativas por parte do público que frui a obra. Nesse sentido, "cada abordagem é um modo de possuir a obra, de a ver inteira e, no entanto, sempre passível de ser percorrida por novos pontos de vista" (p. 32). O autor complementa que não há nem interpretação definitiva ou exclusiva, assim como não há interpretação provisória ou aproximativa, confirmando que na arte tudo está por acontecer, as possibilidades nunca se fecham. Através de Coli (2007), é percebido que a interpretação por parte do público está impregnada de experiências culturais e artísticas diferenciadas, concordando este autor com as idéias apresentadas por Eco (1981). Hans Belting (2006) é outro autor que acaba por concordar com o ponto de vista de Gombrich (1999a) a determinar a obra como algo singular diante da possível soberania do artista. Segundo o primeiro autor, na concepção tradicional de arte, o artista é o inventor da obra, através da qual expressa suas idéias, seus sentimentos. De certo modo, Belting enxerga a obra de arte como uma linguagem ou meio de transmissão de uma mensagem do artista para o público. "O produto manual era o lugar do seu esboço, que ele tornava visível na obra para um terceiro, o observador" (2006, p. 217). 20 Quanto a este aspecto de obra de arte como linguagem visual com a qual o artista representa o que pensa ou a intenção, ou sentido, Archer não é a favor. Novamente encontramos desconforto com o conceito de arte como expressão de uma idéia ou emoção pertencente ao artista. Em vez de perguntar o que uma peça significa, isto é, tentar descobrir o que o artista está tentando nos dizer, agora era mais apropriado para o 'receptor' considerar de que maneiras as informações dadas poderiam ser significativas (ARCHER, 2001, p. 78). Fundamentada nestes aspectos, surge a questão: O que se define por Arte? Apesar de ser uma discussão bastante superficial, abordando brevemente alguns pontos da área, percebe-se que não há unanimidade em se definir objetos ou produtos conceituais como sendo arte. Em dados momentos, arte é aquilo que se fez expor em um museu, isto é, aquilo que foi institucionalizado. Em outros o artista é quem confere à sua própria obra o estatuto de obra de arte, ou mesmo o público de âmbitos diferentes do museu, como os historiadores, os críticos, entre outros especialistas. Além disso, Loureiro (2000) também defende que o termo arte é aplicado cotidianamente e que possui ampla abrangência conceitual, segundo as abordagens dos diferentes teóricos de arte. Conforme discute Umberto Eco (1981), é quase impossível fixar a natureza da arte numa definição teórica assim como muitas estéticas filosóficas propõem. Em outras palavras, determinar a arte como beleza, forma, comunicação ou outras formas, é histórico e ligado a um universo de valores culturais. Isso significa que estas definições são de ordem poética e não filosófica. Para Coli (2007), "o estatuto de arte não parte de uma definição abstrata, lógica ou teórica, do conceito, mas de atribuições feitas por instrumentos de nossa cultura, dignificando os objetos sobre o qual ela recai" (p. 11). O sentido empregado no termo arte atualmente não é o mesmo que se empregou no passado. Coli (2007) observa que "a obra-prima era aquela que coroava o aprendizado de um ofício, que testemunhava a competência de seu autor" (p. 14). Nesta acepção, o que se denomina como arte hoje outrora se classificou como ofício. Gombrich (1999a) vai além. Com base neste autor, "se aceitarmos que a arte significa o exercício de atividades tais como a edificação de templos e casas, a realização de pinturas e esculturas, ou a tessitura de padrões, nenhum povo existe 21 no mundo sem arte" (p. 19). A partir disso, arte caracterizada como ofício existe desde os primórdios da humanidade. Como exemplo ao exposto acima, pode-se observar na arte grega que esta demonstrava ser o conhecimento utilizado para realizar determinadas atividades, aproximando-se de técnica, podendo substituir o sujeito artista pelo artesão. Nessa sociedade, aquele que na atualidade chamamos de artista era visto como o mestre, conforme aborda Coli (2007). Na sociedade contemporânea, percebe-se o emprego do termo arte no sentido de atividade ou produto da atividade artística, sob uma perspectiva estética. Os critérios de determinação do estatuto da obra na sociedade grega eram os da fabricação, sendo julgados os trabalhos pelos artesãos que dominavam as técnicas necessárias para tal fabricação. "Hoje, os profissionais do discurso sobre a arte possuem critérios mais diversos e menos precisos em seus julgamentos, critérios que não são apenas o do saber fazer" (COLI, 2007, p. 16). Na sociedade contemporânea, segundo as acepções de Gombrich (1999a), não haveria arte se não fosse o artista. Este se tornou autônomo ao passar a produzir arte para vender, conforme seus interesses. Antes se produzia arte por encomenda, entretanto, com o surgimento dos museus, o artista começou a produzir conforme sua inspiração, traduzindo seus sentimentos através das técnicas apreendidas, fazendo jus a sua imaginação e criatividade (CRIMP, 2005). Arte antes era vista como uma forma de espelhar o mundo conforme o interesse daquele que a encomendava, mas após a ruptura gerada pelos artistas, passou a ser reflexo das interpretações deste profissional. O termo arte ou mesmo a expressão obra de arte é utilizado em diversos sentidos como, por exemplo, o classificatório e o valorativo. Enquanto que este parte de um pressuposto subjetivo, baseado no gosto, o primeiro pretende observar se a obra se encaixa no conceito de arte, conjeturando sobre um critério préestabelecido. Em outras palavras, o sentido valorativo determina se a obra é boa ou não, se sua apreciação é positiva ou negativa. De outro modo, a classificação apenas examina as regras estabelecidas pela teoria para determinar uma obra como arte (ALMEIDA, 2001). Será possível observar em outro item deste trabalho que os 22 critérios para definição dos objetos como obra de arte não são objetivos como podem aparentar. Por sua natureza, pode-se acreditar que a classificação seja neutra ao estudar a obra para determinar seu estatuto. Entretanto, sabe-se que, enquanto sujeito social, imbuído de subjetividade e inserido em um dado momento num contexto político e histórico, o classificador não pode ser neutro. Logo, cai por terra a possibilidade de a classificação ser neutra. Isto levanta discussões quanto às informações estéticas. O sentido valorativo como é percebido ser baseado na subjetividade do gosto, se mostra claramente como não neutro. Também do ponto de vista social, político e histórico, não é fácil determinar o valor positivo ou negativo de uma obra. O gosto se determina culturalmente e conforme as experiências individuais daquele que frui a obra. Portanto, exigiria critérios objetivos de seleção para não haver tendências a um ou outro ponto de vista, o que, no entanto, é difícil de ser realizado. Com fundamentação na história, percebe-se que o conceito de arte sofre transformações, amalgamando conceitos pré-existentes aos novos conceitos que se desenvolvem geralmente através da utilização de novas técnicas. Para Eco (1981) a evolução das poéticas a partir do romantismo tardio denuncia uma modificação sensível do conceito de arte no âmbito da cultura moderna, e leva os críticos ou historiadores das poéticas a perguntarem-se até que ponto esta modificação é radical; e em que medida impõe uma visão dos conceitos às próprias estéticas filosóficas (p. 123). Nota-se que diversos aspectos podem identificar ou interferir na identificação da obra de arte. Idéias políticas, religiosas, sociais, econômicas etc., são fatores que implicam percepções diferenciadas quanto ao termo arte ou à expressão obra de arte. Fatores como honra, gosto ou moral também influenciam na arte. Muitos filósofos tentaram, ou ainda tentam, determinar uma definição unívoca de arte, algo que seja compartilhado de forma geral. Entretanto, Eco (1981) diz que é difícil "unificar numa fórmula a complexidade de uma experiência cuja mutabilidade ninguém punha em dúvida" (128). Denomina-se por caminhos do discurso a tentativa de determinar critérios únicos para se definir arte, conforme Coli (2007). Como no passado, enquanto arte era vista e definida a partir de critérios precisos, os críticos, os historiadores ou 23 mesmo os filósofos buscam uma forma menos subjetiva de fazer julgamentos quanto à obra de arte. Entretanto, tem-se percebido que cada artista lança mão de formas diferenciadas entre si de fabricar (ou mesmo escolher, no caso de Duchamp e alguns de seus sucessores) seus produtos artísticos. Não apenas, isso, o próprio artista não mantém uma forma única de realizar seus trabalhos, flutuando entre as técnicas existentes ou constituindo novas. Assim como são vários os critérios a serem observados em uma obra para determiná-la como arte, vários são os critérios possíveis de se realizar tais obras. Também se tentou valer do período para determinar um estilo artístico e determinar obras de arte segundo tais critérios, todavia, há artistas que retomam as formas de produção do passado, seja como crítica ao estilo, seja como forma de exaltação do mesmo. Alguns dos critérios observados pelos críticos, e observados também pelos fruidores, são: perspectivas de construção das imagens; conhecimento de anatomia; aplicação de luz e sombra; traços que definem os contornos ou mesmo os que aparentam diluição da imagem, confluindo com o plano de fundo; os agrupamentos e as representações etc. (COLI, 2007). Pode-se dizer que há um sem números de critérios a serem identificados em uma obra que possa determiná-la como arte, entretanto, estes aspectos se diferenciam entre si e as formas de serem executados também. É possível dizer que o motivo pelo qual é difícil definir arte é porque o universo da obra de arte diferencia-se uma da outra. Isto quer dizer que cada uma delas é dotada de características peculiares enquanto produtos artísticos produzidos, ou escolhidos, por artistas que possuem suas individualidades. A idéia de arte hoje difere daquela que era aceita em séculos passados. Novas maneiras de ver as obras foram instituídas, assim como de conceber a função das mesmas. "A idéia de arte muda continuamente, de acordo com as épocas e com os povos, e o que para uma dada tradição era arte parece desaparecer face aos novos modos de operar e de fruir" (ECO, 1981, p. 136). As discussões apresentadas acima vêm à guisa de contextualizar quanto às reflexões relacionadas à definição de arte. Dar abertura a um tema tão subjetivo, que escapa às demarcações rígidas, é algo difícil pelo fato de não se saber por onde 24 se começa. Todavia, torna-se fácil pensar que qualquer forma de abordagem pode ser utilizada, não deixando muito a desejar. Muito se escreveu sobre arte; muitas teorias foram desenvolvidas para definir ou contradizer uma definição de arte. No entanto, não há aquela que pode ser considerada como unânime ou única. Observa-se que todas as teorias estão corretas, segundo seu ponto de vista, ao definir a arte. Conforme algumas dessas perspectivas, a partir do momento em que alguém considere algo como arte isso será denominado como tal, deixando ainda mais claro o quão subjetivo se mostra esse campo do saber e do fazer artístico. Cada teoria da arte a define por uma característica predominante. As obras são diferenciadas por tais aspectos que, como poderá ser observado, se confundem ou são falaciosos. Algumas das características comentadas serão: a representação (ou imitação); a expressão/comunicação; a arte como forma significante ou emoção estética. 2.1.1. Arte como representação/imitação Gombrich (1999b) ao refletir sobre a forma de se referir a seu "cavalinho de pau" pensa na possibilidade de observá-lo como imagem de um cavalo, mas desiste pelo fato de o Pocket Oxford Dictionary definir imagem como uma imitação da forma exterior de um objeto. Sendo assim, a palavra representação se torna a melhor escolha, pois, conforme o mesmo dicionário, "representar (...) pode ser usado no sentido de 'invocar mediante descrição ou retrato ou imaginação, figurar, simular na mente ou pelos sentidos, servir de ou ser tido por aparência de, estar para, ser espécime de, ocupar o lugar de, substituto de'." (p. 1). Dessa forma, o cavalinho de pau de Gombrich não pode ser visto como uma imagem do cavalo real, mas uma representação, um substituto. Ao ser observado esse aspecto, percebe-se a realidade da obra de arte como representação. Esta representação pode ser tanto do mundo real quanto uma representação subjetiva, imaginária. Produto único e exclusivo da mente do artista. Bem como uma abstração da realidade. A definição de imagem pelo Oxford Dictionary significa que o artista apenas imita a forma exterior daquilo que está a sua frente e, por sua vez, o público 25 reconhece essa forma ou o assunto da obra de arte. Isso se baseia na concepção tradicional da representação. Por conseqüência da representação, a obra pode ser uma cópia fiel ou perfeita do que é representado ou conter abstrações quanto ao mesmo. No caso, a linha do desenhista constitui a abstração, uma vez que não existe na natureza (GOMBRICH, 1999b). Conforme Almeida (2001), arte como imitação, é aquela que reproduz algo e que busca se aproximar o máximo possível da realidade. Neste contexto, uma obra só é arte se é produzida pelo homem e se imita algo. Esta teoria é centrada no objeto imitado. A partir desta observação, a fotografia é uma arte superior à pintura, visto que não abstrai, mas sim retrata a imagem em sua forma real. O retrato é uma cópia da forma exterior de um indivíduo e suas imperfeições estão "impressas" nesse retrato. O pintor pode não fazer caso do original e generalizar as formas para "elevar seu estilo", passando a não representar o individual, mas sim a classe ou o conceito "homem", por exemplo (GOMBRICH, 1999b). Essa simplicidade representada é falaciosa, segundo Gombrich (1999b): "toda imagem desse tipo [abstrata] refere-se necessariamente a algo exterior a ela – seja individuo ou classe" (p. 2). O erro incorre no fato de que nem tudo se busca representar pela abstração da forma original, de forma que ainda represente a classe ou o conceito. Isto é, ao utilizar um bastão e denominá-lo cavalo, a criança não está abstraindo da forma original seu brinquedo, já que a abstração é feita pela criança, não possibilitando que outra pessoa abstraia o mesmo desse objeto, caso não presencie o contexto. Em outras palavras, a idéia de Reynolds de que "o pintor de histórias pinta o homem genérico; o pintor de retratos pinta um homem particular, e portanto um modelo defeituoso" (apud Gombrich, 1999b, p. 2) pode servir para o cavalinho de pau, mas não para a representação que a criança faz com um bastão. O comentário acima remete diretamente à arte abstrata. Nesta tipologia artística encontra-se representado o conceito daquilo que se quer mostrar e não a abstração das formas do real. Gombrich (1999b) também diz que, por estarem todas as pessoas rodeadas por cartazes, publicações com ilustrações e objetos ou fatos, é "difícil abandonar o pré-julgamento de que todas as imagens devem ser 'lidas' por 26 referência a alguma realidade imaginária ou real" (p. 3). Outra questão é a transposição da idéia de representação que se tem para outro plano "quando não conseguimos relacionar a imagem com um motivo localizado no mundo exterior, tomamo-la por um retrato de um motivo que se acha no mundo interior do artista" (Idem). Para o mesmo autor, a imagem que se produz reflete a intenção de seu criador. Devido a isso, não se deve pensar que ela seja como uma fotografia que reproduz uma realidade pré-existente, pois isso seria compreender erroneamente o processo de produção das imagens. Sendo assim, por mais próxima da realidade que esteja tal imagem produzida pelo artista, ela nunca será um retrato da realidade. Ela sempre estará impregnada dos conceitos artísticos. Mesmo a fotografia estará sujeita a tais concepções em sua feitura. Como exemplo desta intenção criativa, há as Imagens conceituais: "por essa expressão entendemos o modo de representação que é mais ou menos comum aos desenhos infantis e às varias formas de arte primitiva e primitivista" (GOMBRICH, 1999b, p.8). Isto significa que tanto a criança quanto o homem primitivo não desenham o que vêem, mas sim o que conhecem. Para Gombrich, "toda arte é 'feitura de imagens' e toda feitura de imagens se radica na criação de substitutos" (1999b, p.9). Todavia, o pintor depende da disposição do público para captar sugestões, ler contexto e invocar imagem conceitual sob a orientação do primeiro. Dessa forma, observa o autor, entre os artistas modernos e contemporâneos a imagem existe única e tão somente em suas mentes, o que, de fato, exige um esforço maior de interpretação por parte dos públicos. Estes precisam conhecer um corpus teórico e reflexivo maior para compreender as representações dos artistas. Por outro lado, para analisar uma obra medieval não é necessário mais do que o entendimento de alguns modelos iconográficos, assuntos e motivos, por exemplo. Ao estudar os públicos de museus de arte, Bourdieu e Darbel (2003) observam que se a mensagem que o artista tenta passar para seu receptor, excede as possibilidades de apreensão deste, a tendência é que seu receptor sinta-se desinteressado pela obra. O excesso de significações nas obras de arte gera certa confusão nesse público, não permitindo que o mesmo consiga compreender as 27 intenções do artista. Este tipo de problema é bastante recorrente na arte contemporânea, uma vez que o conceito de obra de arte e sua mensagem são definidos na mente do artista. Estes mesmos autores também perceberam que cada individuo possui uma capacidade definida e limitada de apreensão da 'informação' proposta pela obra, capacidade que depende de seu conhecimento global (...) em relação ao código genérico do tipo de mensagem considerado, seja a pintura em seu conjunto, seja a pintura de tal época, escola ou autor (BOURDIEU; DARBEL, 2003, p. 71). Apesar da busca pela representação de algo, dessa proximidade que se pretendia do objeto imitado e o real, esta forma de definir arte se mostra falaciosa, uma vez que nem toda obra é uma imitação da realidade. Este aspecto pode ser observado principalmente na arte contemporânea, cuja imagem a ser representada é existente na mente do artista. Sobre esta concepção de arte como imitação, o que poderia ser dito sobre as performances realizadas pelos artistas? Que imitação possui este tipo de arte? O artista medieval, que tinha diante de si um modelo real e não um quadro mental daquilo que deveria representar. O intuito era "retratar" o que fora encomendado. Diferentemente, o artista contemporâneo é aquele que está interiormente cheio de imagens, de idéias, e busca através de suas técnicas expressá-las. Em outras palavras, o artista medieval sabia com o que sua obra deveria se parecer, enquanto que o artista contemporâneo transforma-a até acreditar que está pronta (GOMBRICH, 1999b). Enquanto o artista medieval tinha em mente que abstração seu público deveria ter quanto a suas imagens, conforme lhe foi indicado representar, o artista contemporâneo lança um desafio ao público que frui sua obra. 2.1.2. Arte como expressão/comunicação O filósofo Almeida (2001) apresenta outra teoria. A arte como expressão, como comunicação de sentimentos do artista através da obra. Uma obra de arte é concebida a partir da expressão dos sentimentos diversos: alegria, tristeza, frustração etc. Parte-se do pressuposto, em alguns casos, de que o artista passou por tais sensações para poder expressá-los na obra. Esta expressão se torna 28 perceptível pelo público através das cores, das formas, dos conjuntos de representações que formam as mensagens que o artista pretende exprimir etc. O historiador Gombrich (1999b) apresenta a arte como uma linguagem das emoções, igualmente Almeida (2001). O historiador parte da idéia romântica de arte, a qual geralmente é questionada pela estética formalista. A teoria do expressionismo parte do pressuposto cujas "formas ou tons são análogos dos sentimentos e transmiti(tem) (...) uma experiência emocional específica". Logo, o artista se apresenta como transmissor de uma mensagem, seguindo talvez um padrão de representação sensitiva. Por seu turno, o espectador se coloca na condição de receptor e, conforme o conjunto de experiências que possui, este espectador conseguirá ou não compreender a mensagem que o artista tentou transmitir (Gombrich, 1999b, p. 56-7). A obra que nada imita é considerada como expressão, segundo Almeida (2001). No entanto, percebe-se que esta observação, assim como ocorrida na arte como imitação, também é falaciosa, uma vez que nem toda obra de arte foi criada a partir de um sentimento específico ou consegue (re)produzir algum sentimento que o artista possa ter sentido. Concordando com essa falácia, Gombrich (1999b) demonstra que não é necessário que um artista sinta melancolia para expressá-la em suas obras. Basta que ele conheça as técnicas necessárias para representar tal sentimento, ou qualquer outro que queria evidenciar em suas obras. Isso deixa claro que para ser artista tem que se conhecer tanto o que se pretende exprimir quanto as técnicas necessárias para isso. O conjunto de sensações perceptíveis ao público pode não ser o mesmo que o artista pretendeu expressar, haja vista que, conforme os preceitos das ciências sociais, o sujeito está imbuído social, cultural e politicamente em uma sociedade. Sendo assim, seus contextos (do artista e de seu público) são diferenciados. Por isso os conjuntos de preceitos e experiências, que permitem fruir ou produzir uma obra, dão a estes personagens do palco das artes sensações diferenciadas. O mesmo pode ser dito quanto ao profissional da informação responsável que trabalhará as informações das obras de arte, no intuito de se constituir sistemas de recuperação. 29 Em seu texto, Gombrich (1999b) demonstra que a expressão é algo presente naturalmente nas pessoas, enquanto que a comunicação é baseada em convenções. Com efeito, para colocar a arte nesse meio é necessário escolher um destes extremos. No entanto, é convencionado que cores berrantes são mais alegres, enquanto que as cores consideradas frias dão sensação de tristeza. Toda cor, som ou forma tem uma equivalência no mundo da visão e do som. (...) O artista que deseja expressar ou transmitir uma emoção não encontra apenas seu equivalente natural adequado em termos de tons ou de formas. Antes, ele procede como procede quando retrata a realidade – escolherá em sua paleta, entre os muitos disponíveis, aquele pigmento que para sua mente seja mais parecido com a emoção que deseja representar (GOMBRICH, 1999b, p. 58-62). Apesar da percepção de contrariedade entre a comunicação e a expressão, Gombrich (1999b) observa que os artistas utilizarão as cores ou as formas necessárias para expressarem/transmitirem determinadas mensagens. Mas observa também que nem todos compartilham da mesma experiência e nem possuem os mesmo conhecimentos. Dessa forma, ficaria comprovado que, até certo ponto, a comunicação através dos signos visuais seja falha. 2.1.3. Arte como forma significante Pode-se dizer que a forma significante seja uma qualidade essencial da obra de arte. No caso, considere-se como harmonia das cores e os traços, ou mesmo o conjunto de representações empregadas na pintura. A forma significante é percebida por aquele que tem sensibilidade diante da obra de arte. Isso ocorre porque a obra produz uma emoção estética naquele que frui a obra a partir destas formas. Depreende-se disso que apenas as obras de arte têm a capacidade de despertar nos públicos sentimentos os quais não se percebe diante de outro tipo de objeto que não seja o artístico. Com base em apontamentos de Almeida (2001), é possível identificar uma obra de arte a partir dessas emoções provocadas pela obra. Entretanto, nota-se que definir obra de arte com base nestes sentimentos é uma tarefa um tanto quanto complexa, para não dizer subjetiva, porque a obra de arte pode despertar sentimentos diferenciados em uma pessoa e em outra não. Bem como pode não trazer à tona sentimento algum em qualquer outra pessoa que frui uma obra. 30 Levando em consideração esta perspectiva, as pessoas que não sentem nada diante da obra seriam insensíveis? Ou seriam pessoas que nada entendem de arte? É difícil não serem feitas tais perguntas ao se tratar desse tema. O filósofo Clive Bell, citado em Almeida (2001), diz que não se deve procurar a definição de arte na obra, mas sim naquele que a aprecia. Pensado dessa forma fica ainda mais difícil determinar os produtos artísticos como arte ao ser levado em conta o que se comentou sobre as diferentes percepções diante da obra por parte dos públicos. Das percepções possíveis ou impensáveis, qual seria a verdadeira, a correta? O que é arte se as percepções forem divergentes? Clive Bell também diz que há nas obras de arte, e só nelas, certa propriedade que provoca emoção estética nas pessoas e que essa emoção é provocada pela forma significante. Diante disso cria-se o paradoxo: se a obra não produz emoção estética no fruidor é porque não é arte, não possui a forma significante. Porém, ela ainda pode ser arte caso outro fruidor perceba a forma significante e sinta a emoção estética. Ainda assim, o que dizer daquele que percebe a forma e não sente emoção? Ou vice versa? Quais os fundamentos dessa teoria afinal? As formas significantes, de certo modo, observam as características comuns nas obras de arte. Estas características são identificadas por intermédio da emoção que é peculiar na arte, a emoção estética, que somente as obras de arte provocam nos fruidores (ALMEIDA, 2001). Isto significa que, independentemente dos sentimentos que o artista quis expressar em sua obra, para o público isso pouco importa. As formas significantes são vistas como algo que produz sentimentos diferenciados no espectador. Estes sentimentos podem ser tanto de admiração quanto de repulsa, de revolta. Podem ser tanto positivos quanto negativos em relação à obra. Neste ponto entra o sentido valorativo. Um exemplo de arte que pode ser observado alguma emoção estética é a do artista italiano Piero Manzoni (1933-63). Este artista enlatou suas fezes, "colocou-as à venda, com preço estipulado pelo valor do peso delas em ouro" (ARCHER, 2001, p. 30). Os sentidos a serem compreendido dessa obra de arte são diversos. 31 Essa teoria parte do sujeito que frui e não é centrada nele. Qualquer objeto que provoque emoções estéticas é obra de arte, logo, qualquer coisa pode ser denominada obra de arte. Mas o que se faz quando a obra provoca tais emoções em alguns e em outros não? Se for considerar como arte apenas o que determina o ponto de vista desta teoria, uma obra pode ser arte para alguns e não para outros, como foi observado. Quais as formas significantes comuns às obras de arte na arte contemporânea? Aqui se repete a sensação de que a subjetividade está intrínseca ao campo artístico e é quase impossível fugir dela. 2.2. Contradições na arte Loureiro (2000) discute três consagrados autores para ilustrar o caráter controverso do conceito de obra de arte. O primeiro é Martin Heidegger2. Sendo este autor à corrente fenomenológica, ele tenta atingir a essência da obra de arte distinguindo-a da "mera coisa e do apetrecho cuja essência se concentra em sua utilidade" (LOUREIRO, 2000, p. 106). Teixeira Coelho cita Hannah Arendt, a qual defende esta mesma percepção: "Quando uma obra de arte é vista como meio para alcançar-se outro fim, observa a filósofa, a natureza mesma do que é arte está sendo alterada e perdida – mesmo quando o objetivo for educacional ou de 'aperfeiçoamento pessoal'" (p. 46). Isto é, são contra a coisificação da obra de arte. Conforme aponta Teixeira Coelho (2004), oposto a essa idéia, tem-se Mario de Andrade que defende a "arte de mãos sujas", a arte que não se recusa a servir "de tudo que lhe pudesse ser útil como instrumento de afirmação cultural" (p. 46). A obra de arte se opõe à essência da utilidade por natureza, "e o grande equivoco da Estética seria exatamente o de reduzir a obra de arte à categoria de apetrecho" (LOUREIRO, 2000, p. 106). Entretanto, segundo percepções de Heidegger, a retirada da obra de seu contexto original de produção, transferindo-a para uma coleção, priva-a de seu espaço essencial. Apesar disso, "evitar essa transferência não impede a ruína e a subtração do mundo da obra, que é inevitável e irreversível. A obra de arte, em seu ser-obra, requer sua instalação em uma coleção 2 HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa : Edições 70, 1992. 32 ou exposição" (Idem). Adota-se uma posição tanto de aceitação quanto de dependência por parte da obra de arte pelo museu ou galeria de arte. Mikel Dufrénne3 compartilha de Heidegger a corrente fenomenológica. No entanto, "(…) questiona a necessidade de elevar a arte ao impensável e separá-la da Estética para atingir sua essência. Preferindo o conceito de 'valor' ao de 'essência', afirma a necessidade de 'retornar à idéia de um valor imanente à obra e que seja propriamente estético'" (LOUREIRO, 2000, p. 107). Dufrénne também acredita que a obra de arte não deva ser vista como objeto útil, mas sim como objeto estético. Porém, é contra a retirada da obra de seu contexto cultural (LOUREIRO, 2000). Para o autor a obra é "'essencialmente, um objeto a ser percebido: ela encontra a plenitude de seu ser e o princípio mesmo de seu valor na plenitude do sensível". (DUFRÉNNE, 1981, p. 49-51 apud LOUREIRO, 2000, p. 107). O terceiro autor abordado por Loureiro é Pierre Bourdieu4. Este questiona as indagações da filosofia, especialmente da fenomenologia. Para Bourdieu, as análises por estas vertentes "não só pretendem localizar uma essência transhistórica na arte, mas insistem ainda em caracterizá-la como gratuita e desprovida de função" (LOUREIRO, 2000, p. 107). Em Bourdieu e Darbel (2003), observa-se que os artefatos designam-se socialmente como obra de arte através de diversos meios de consagração, em especial as exposições e museus. Sob esta acepção, se define como arte toda e qualquer obra que se exponha no museu. Conforme aponta Freire (1999), os museus de arte cristalizam os lugares simbólicos para as obras de arte, isto é, esta instituição é o local de legitimação da arte a partir do momento que agrega valor estético aos objetos através da exposição. Jorge Coli (2007) também compartilha essa idéia da instituição como legitimadora da obra de arte. Douglas Crimp questiona o pensamento de alguns autores quanto à arte, quando estes autores defendem que, conforme as composições de Picasso, "se pode fazer qualquer coisa (...) ser pintor deve ser a coisa mais fácil do mundo, porque as regras existem e podem não existir. Basta fazer aquilo que você tiver 3 DUFRÉNNE, Mikel. Estética e filosofia. 2. ed. São Paulo : Perspectiva, 1981. BOURDIEU, Pierre. As regras da Arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo : Companhia das Letras, 1996. 4 33 vontade. Você pode, e deve, simplesmente inventar tudo" (ALLOWAY et al., 1980, p. 17-19, apud CRIMP 2005, p. 63). Como oposição, Crimp (2005) diz que esta perspectiva dá a impressão de que os ready mades de Duchamp nunca foram concebidos, nem mesmo a colagem cubista de Picasso. Para este autor, os ready mades personificaram a "proposição de que o artista não inventa nada", pelo contrário, este apenas faz uso, manipula, desloca, reformula e reposiciona aquilo que a história oferece. "(...) Os ready mades propõem que o artista não consegue fazer, mas apenas tirar de algo já existente [grifos do autor]" (p. 64). Mais uma vez é possível perceber as contraposições que se pode encontrar entre os autores que discutem este tema. Algumas oposições têm relação quanto à funcionalidade da obra. Para Arendt, citada por Teixeira Coelho (2004), a obra é criada com finalidade determinada: ser arte, não devendo ser (re)utilizada em outros fins, mesmo que educacionais. Entretanto, como estudar a arte sem se servir das obras com fins didáticos? Como estudar uma época cujo único documento existente pode ser uma obra de arte? O uso da arte como meio ou mediação caracteriza, observa Arendt, o filistinismo, palavra de que se serviram historicamente os artistas, a partir do século XVIII, para criticar uma sociedade que começava a valorizar apenas o que tivesse valor material e procurava para tudo uma utilidade - o que excluía a arte da ordem das coisas importantes e necessárias (TEIXEIRA COELHO, 2004, p. 47). Independentemente das divergências de pensamentos, percebe-se que as discussões sobre arte passam pelo museu, mesmo que seja como crítica a esta instituição. Tanto Archer (2001) quanto Crimp (2005) citam Broodthaers e seu museu ou sua criação artística denominada museu. Através deste, o artista critica a ordem artificialmente construída nos museus ao colocarem determinadas obras uma ao lado da outra. A cada exposição, em cada museu onde se compõe uma exposição com determinadas obras, este agrupamento, esta ordem, difere uma da outra, dando novo sentido à exposição. Para o mesmo artista a descontextualização rouba o sentido impregnado na obra e lhe dá uma nova aura. Com a colocação de legenda em inglês, francês e alemão escrito "Isto não é uma obra de arte", o artista procura desafiar a imaginação: "podiam aquelas coisas, tendo sido designadas com arte 34 pelo sistema, ser 'pensadas' de volta ao fluxo da realidade de onde tinham sido colhidas?" (ARCHER, 2001, p. 90). Loureiro (2000), ao que indica seu texto, não concorda com a descontextualização da obra. Para a autora, não há necessidade de privar a obra do mundo que lhe dá algum sentido para que seja fruída. Mas a autora também aponta as contradições quanto a isso: (…) enquanto as idéias de Heidegger dão a entender que a inserção da obra no museu é conseqüência de seu estado de ser-obra, Bourdieu leva-nos a concluir o contrário: a elevação de um objeto à categoria de obra de arte é, em grande medida, resultante de sua inclusão em um a exposição ou coleção museológica (p. 108). Antes dos museus de arte não se conhecia critérios para a fruição das obras que, por acidente, passaram a ser reconhecidas como obras de arte. Antes as obras eram reconhecidas por parâmetros funcionais. Isto é, através do ponto de vista negado por Arendt. As obras representavam em geral a biografia de monarcas, constituídas através de seus retratos; representavam a fé, sendo encomendadas pelas igrejas obras com temáticas bíblicas; entre outras formas de representação que possuíam uma determinada funcionalidade. Todavia, a discussão em torno da descontextualização tem perdido sentido desde o surgimento das obras autônomas. Estas obras são criadas com a intenção de serem declaradas obras de arte e, em geral, destinadas exclusivamente à exposição em museu. A partir daí, criam-se os objetos museológicos. A arte e o museu de arte compartilham questões relacionadas à privação do contexto primário das obras que outrora se produzira para outros fins que não os museus. 2.3. Problema enfrentado pela arte: acesso A obra de arte, como se sabe, é algo complexo. Cheia de significações e passível a toda e qualquer interpretação. Para que se aproprie dela é necessário que se conheça as regras que a envolvem. Caso contrário, não será possível fruir a obra (COLI, 2007). Bourdieu e Darbel dizem que, "se é incontestável que nossa sociedade oferece a todos a possibilidade pura de tirar proveito das obras expostas 35 nos museus, ocorre que somente alguns têm a possibilidade real de concretizá-la" [grifos do autor] (2003, p. 69). As regras do "jogo artístico" sofrem evoluções com o passar do tempo e se transformam constantemente. Tudo na arte é tanto mutável quanto complexo, ambíguo e polissêmico. Ainda assim, mesmo que aprender as regras de apreciação na arte não seja algo fácil de fazer só observando e nem a percepção artística é algo espontâneo, nada impede que qualquer pessoa possa apropriar-se da obra de arte (COLI, 2007). Bourdieu e Darbel (2003) observaram que a classe culta, com maior nível de estudos, é a que verdadeiramente usufrui os bens artísticos. Isso, como se pode observar, está diretamente relacionado à instrução. "A obra de arte considerada enquanto bem simbólico não existe como tal a não ser para quem detenha os meios de apropriar-se dela, ou seja, de decifrá-la" (p. 71). A autora Ane Cauquelin (2005) observa que o público que não tem possibilidade de adquirir alguma obra, com vistas no mercado artísticos, são inseridos "(n)a contemplação extática (…) em grandes festas consensuais e ritualizadas" (p. 10). É inculcada no público a fetichisação, a necessidade de apreciação dos artistas consagrados. O tempo gasto para contemplação, fruição, das obras, é um indicador de sua aptidão em decifrar e saborear as significações das obras. O ato de "esgotar" (avaliado grosseiramente pelo tempo da visita) as obras fica dependente da capacidade do receptor em controlar os códigos da "mensagem". Isso é observado por Bourdieu e Darbel (2003) e, relacionando aos dizeres de Cauqueilin (2005), percebe-se que mesmo não compreendendo a essência da obra de arte alguns no público fruidor se esforçam para serem vistos como "culto" através da contemplação da obra ou artista que estão no auge. Uma contemplação verdadeira é condicionada à capacidade individual de cada espectador em perceber as informações transmitidas pelas obras. Se as mensagens estão acima das possibilidades de apreensão do espectador, este não consegue absorver a intenção de representação do artista e passa a sentir desinteresse pela obra, entendendo-a como uma confusão de cores e formas que não possuem sentido algum. Algumas obras podem parecer apenas manchas de 36 tintas e borrões na tela (BOURDIEU; DARBEL, 2003). Em vez de aproximar o público, isso o afasta ainda mais. Todavia, o problema do acesso às obras que se tem ocorrido no museu de arte não é a falta de produtos culturais para que sejam consumidos, mas sim a falta de propensão em consumi-los. Bourdieu e Darbel (2003) denominam essa propensão de "necessidade cultural", que é diferente das "necessidades básicas", sendo a primeira um produto da educação. O não consumo dos produtos culturais provoca a falta de necessidade de consumo dos mesmos, isto é, quanto mais se consome o produto cultural, maior será a necessidade de consumi-los. Através desta visão, percebe-se que a desigualdade de acesso às obras de arte está relacionada diretamente à educação, à escola, que tanto cria esta necessidade cultural como também oferece meios para satisfazê-la. Em outras palavras, o gosto pela cultura, em especial pela arte, é proveniente dos ensinamentos que vêm da escola. Logo, uma instrução deficitária quanto às artes provocam desinteresse por aquele que poderia se tornar um fruidor. Em contrapartida à precariedade do ensino de arte nas escolas, tem-se percebido existirem muitos projetos em museus de arte, através da arte-educação. O MARP, campo de observação deste trabalho, possui projetos com tal intuito: organizam-se visitas de alunos acompanhados de monitores para apoiá-los no processo de fruição e instruí-los no campo artístico. De certo modo, a visão tradicional que se tem do museu acaba afastando a coleção e o público. São configurados como entidades separadas e distantes, de forma que cada uma possuir sua especificidade. Nesse caso, as ações educativas têm como função reduzir este distanciamento para que sejam estabelecidas pontes entre ambos: público e acervo/coleção. Entretanto, como observa Teixeira Coelho (2004), é necessário que o museu não seja confundido com a escola, o que acarretaria num efeito paradoxal: "em vez de facilitar o acesso à obra de arte, o destaque dado à ação educacional reforça a idéia, no público leigo, de que de fato as portas da arte só se abrem depois do esforço representado por um treinamento orientado" (p. 275) Como prova disso, Bourdieu e Darbel (2003) observaram que, mesmo com um nível de conhecimento considerado pejorativamente inferior àqueles que se 37 julgam necessários em um museu de arte, as pessoas têm se esforçado para ficarem mais tempo no museu, buscando se adaptar ao que alguns consideram como norma. Esta imagem do museu de arte, que corporifica tanto um temor quanto um desejo do público leigo, tem seus traços reforçados por muitos museus que, vendo na ação educacional uma justificativa se não para sua existência pelo menos para a obtenção de mais recursos, reforçam seus serviços escolares, não raro em detrimento de outras possibilidades, abertas para o afetual, não disponíveis para outros tipos de museus (TEIXEIRA COELHO, 2004, p. 275). Depreende-se da discussão acima que os produtos culturais existentes no museu de arte, as obras de arte, são por natureza complexas. Logo, é necessário possuir conhecimentos específicos para poder reconhecer suas mensagens. Poucos são aqueles que detêm os meios de se apropriarem das obras, entretanto, os museus já desenvolvem projetos para suplantar essa carência no seio da sociedade. Paralelo a isso, o público considerado não capacitado busca se aproximar cada vez mais das coleções e ficam mais tempo nos museus para adquirirem conhecimentos. Com base no que se apresentou, será que a necessidade de mudança real deva ocorrer no museu de arte, tornando-o uma escola, ou próximo disso, ou no sistema de ensino, de forma a contemplar de maneira mais eficaz as necessidades culturais que algumas das escolas inculcam? 38 3. MUSEU A palavra museal traz à mente lembranças desagradáveis. Ela descreve objetos com os quais o observador já não mantém um relacionamento vital e que se encontra no processo de morte; devem sua preservação mais ao respeito histórico que às necessidades do presente. Há mais do que uma ligação fonética entre museu e mausoléu. Os museus são jazigos de famílias das obras de arte. Theodor Adorno Neste capitulo busca-se percorrer através da bibliografia abordada as origens do museu. Não se trata aqui de declarar uma verdadeira história desta instituição, uma vez que entre os diversos autores da área não há um consenso quanto a sua verdadeira origem ou sua evolução na sociedade. Entretanto, pretende-se reconhecer os fatores que deram origem ao museu e sua transformação ao longo do tempo, dando maior direcionamento ao museu de arte, objeto de estudo deste trabalho. Antes de adentrarmos o histórico desta instituição cultural, considerada por Valio (2008) como sendo um "equipamento do sistema da arte5", se faz necessário observar a instituição maior que regulamenta as atividades operacionais dos museus: o ICOM. 3.1. International Council of Museum O ICOM (International Council of Museum) é definido em seu estatuto como a organização internacional não-governamental que foi criada para levar adiante os interesses da museologia e outras disciplinas que diz respeito à gerência e às operações de museus e trabalhadores profissionais destes (WILDER, 1996). Essa organização está ligada a UNESCO, sendo um dos mais antigos órgãos criados sob tutela desta, em 1946. Sistema da arte é uma "estrutura que reúne os elementos constituintes do circuito artístico, sendo a maneira de atuação de cada elemento contribuinte para seu funcionamento e as inter-relações entre eles propiciam a dinâmica do sistema, estabelecendo sua própria organização interna" (VALIO, 2008, p. 9). 5 39 Em outras palavras, a finalidade do ICOM é ser uma entidade internacional que reúne profissionais da área museológica e que tem seu papel fundamental no desenvolvimento das funções, regulamentações destas, da concepção entre outros fatores em relação ao museu ao longo do século XX até os dias de hoje. Este órgão acompanha de longe os museus e suas mudanças. A cada encontro as definições e funções dos museus são reformuladas (LARA FILHO, 2006), acompanhando as transformações da sociedade. Segundo Lara Filho, "em 1974 o ICOM dá um passo em direção a um conceito das funções do Museu ao colocá-lo a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento" (2006, p. 79). Neste aspecto, o museu deixa de ser um "depósito" de objetos que são classificados e organizados passando a possuir uma ação cultural mais efetiva (LARA FILHO, 2006). Como observa o mesmo autor, o conceito de museu e sua função sofrem mudanças a cada encontro realizado pelo ICOM. Lara Filho (2006) indica que em 1946 este órgão passa a definir o museu como espaço de coleção aberta ao público; em 1956 são acrescentados outras funções, características e propósitos, tornando o museu uma instituição permanente, voltada ao interesse geral e com intuito de preservar, estudar e exibir seu acervo. Já em 1961, a definição de museu sofre uma ampliação, de forma a incluir as novas instituições existentes, além dos monumentos e reservas naturais. Em 2001, são acrescentados os bens intangíveis como novo item da definição de museu e uma referência às obras digitais (LARA FILHO, 2006). Como é possível perceber, o ICOM é o responsável pela análise crítica da sociedade, observando seus aspectos mais gerais. Através disso, não deixa de lado as mudanças que ocorrem com as novas tecnologias, as novas mídias e as novas concepções de vida. Desse modo, inclui quando necessário tais aspectos nas definições da instituição museu, de forma a acompanhar o ritmo desta mesma sociedade em que se insere. 3.1.1. Definição introdutória Em aspectos gerais, o ICOM define o museu como 40 uma instituição sem fins lucrativos, permanente, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, e aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação e divertimento, testemunhos materiais do povo e seu meio ambiente (WILDER, 1996). São qualificados como museu, segundo o mesmo ICOM, os monumentos e sítios naturais arqueológicos e etnográficos cuja natureza é a museal, que fazem aquisições, conservam e divulgam as evidências materiais de um povo e do meio ambiente. As instituições mantenedoras de espécimes vivos, sejam animal ou vegetal, tais como os jardins botânicos e os zoológicos, aquários e viveiros, também são classificadas como tal. Os centros científicos e planetários, assim como os ambientes que conservam ou realizam exposições e são mantidos por bibliotecas ou arquivos também entram na classificação de museu (WILDER, 1996). A definição de museu exposta acima é aplicada às instituições que possuírem algumas ou todas as características de museu (aquelas que promovem apoio a estes ou aos profissionais da área através da pesquisa, educação ou treinamento museológico), quando consideradas pelo Conselho Executivo, depois de pedido de orientação junto ao Conselho Consultivo (WILDER, 1996). Do ponto de vista cultural, o artista plástico e poeta Almandrade (s/d) observa que o homem sempre busca "preservar sua história e sua memória", que "ele tem acesso a seu passado (...) com as imagens que habitam um museu". Dessa forma, o museu "é um lugar de possíveis diálogos entre passado, presente e futuro. Um abrigo do velho e do novo". Mas acima de tudo, o museu tem um papel cultural muito importante, uma vez que "é um veículo a serviço do conhecimento e da informação que contribui para o desenvolvimento da sociedade". O museu é visto como um órgão gerenciador de cultura, observando-se que o mesmo promove tanto suas tradicionais funções: coleta, preservação, estudo ou pesquisa e exposição com fins lucrativos ou de lazer, como também possibilita o acesso a seus produtos culturais e a interpretação dos mesmos pelos diversos públicos (SUANO, 1986). É o espaço próprio para exposição. Isto é, os objetos e artefatos que fazem parte de sua coleção, ou passam por ele em exposições itinerantes, estão no museu para serem vistos. Para Hooper-Greenhill (2006), o museu é um local de espetáculo, espaço de exposição, onde se localizam exposições complexas, onde objetos reais são vistos. Essa última autora complementa seus dizeres afirmando que: todos os objetos exibidos, nos museus ou 41 nas galerias, podem, legitimamente, ser considerados como meio de comunicação visual. 3.2. Breve histórico A palavra museu tem origem do grego mouseion (templo das musas), cujo significado tem sofrido alterações ao longo do tempo. Na Grécia antiga o termo designava uma instituição filosófica, "lugar de contemplação onde o pensamento, livre de outras preocupações, poderia dedicar-se às artes e ciências" (TEIXEIRA COELHO, 2004, p. 269). O objetivo das obras nesse mouseion era agradar aos deuses, às divindades, e não voltadas à contemplação dos homens. Neste período as obras eram oferendas a estes deuses (SUANO, 1986). Aproximando-se do conceito grego, mouseion designava um local de discussão e ensino do saber no século III a.C., com Ptolomeu I no Egito, aproximando-se do conceito moderno de universidade. "(...) Buscava-se discutir e ensinar todo o saber existente no tempo nos campos da religião, mitologia, astronomia, filosofia, medicina, zoologia, geografia etc." (SUANO, 1086, p. 11). Já em Roma, a palavra museum era empregada no sentido de "local de discussão filosófica" que abrigavam obras de arte, curiosidades e até mesmo objetos de regiões conquistadas (TEIXEIRA COELHO, 2004). Suano (1986) relata que os maiores colecionadores foram os romanos. "As coleções dos templos eram perfeitamente visitável pelo público comum e algumas das coleções particulares eram abertas à visitação, como as do imperador Agripa, que conclamava outros romanos a imitá-lo" (SUANO, 1986, p. 13) Nota-se que o ponto de convergência destas três épocas do museu é o desenvolvimento da discussão filosófica na instituição. Entretanto, em Roma o museu se mostra como uma instituição mais diversificada, voltando-se mais precisamente ao colecionismo de curiosidades, de objetos conquistados, diferenciados, produzidos ou pertencentes a outras regiões (Oriente, Britânia, África), o que não se observa no período mais antigo. Por pregar o desprendimento de bens materiais ditos supérfluos, a igreja católica foi a principal receptora de doações e se torna, assim, a principal 42 colecionadora de obras de arte e objetos variados na idade média (SUANO, 1986). É possível dizer que os movimentos das cruzadas também se constituíram como um dos principais fatores para o engrandecimento destas coleções, cujos objetos eram denominados relíquias. No entanto, no final da idade média, os príncipes italianos começam a formar suas coleções particulares. "Datam, assim, do século XIV, as primeiras coleções principescas de que temos notícia e que chegaram até nós, quer integralmente – transformadas em museus – quer esparsas, mas cujo conteúdo está presente em catálogos e elencos do período" (SUANO, 1986, p. 14). Nesse mesmo período, Lorenzo de Médici, o terceiro na geração da família de colecionadores, possuía em sua casa uma grande coleção, já caracterizada como tesouro e, talvez, a maior de seu tempo (CRIPPA, 2005). Ainda na idade média, através deste ímpeto colecionista de curiosidades, surgem os chamados gabinetes de curiosidades. Entretanto, o apogeu destes se dá no Renascimento. Nesse período, o homem vivia uma verdadeira revolução do olhar, resultado do espírito científico e humanista do Renascimento e da expansão marítima, que revelou à Europa um novo mundo. As coleções principescas, surgidas a partir do século XIV, passaram a ser enriquecidas, ao longo dos séculos XV e XVI, de objetos e obras de arte da antiguidade, de tesouros e curiosidades provenientes da América e da Ásia e da produção de artistas da época, financiados pelas famílias nobres (JULIÃO, 2006, p.20). Segundo Hernández Hernández (2001), o conceito moderno de museu surge no baixo Renascimento, através do humanista Paolo Giovio (1483-1552) que emprega o termo museu para denominar sua coleção e ao edifício que a abrigava. Em contrapartida, Julião (2006) defende que tal concepção se dá a partir da Revolução Francesa, porém, a consolidação desta acepção se dá no século XIX, quando se criam importantes instituições museológicas na Europa. No iluminismo, o museu era visto como um representante dos valores nacionais. Desta forma, se for levado em consideração tal perspectiva hoje, no contexto brasileiro, tanto o Museu Nacional de Belas Artes quanto a Biblioteca Nacional "teriam a função de abrigar o conhecimento gerado pela ciência e arte brasileira". No entanto, o modernismo gerou reviravoltas no caráter nacionalista dos museus (FORUM PERMANENTE, 2004). 43 O termo museus se referia tanto à coleção quanto ao prédio que a abrigava, dando um sentido mais próximo ao adotado na atualidade. No século XVII havia as coleções de curiosidades, que eram denominadas museus, gabinetes de curiosidades ou câmaras de curiosidades que acolhiam esculturas, pinturas, livros, peças do mundo natural, instrumentos científicos, peças e objetos vindos da nova terra etc. (TEIXEIRA COELHO, 2004). Julião (2006) demonstra que as coleções evoluíram e se especializaram, passando a organizar seus objetos segundo critérios "que obedeciam a uma ordem atribuída à natureza, acompanhando os progressos das concepções científicas nos séculos XVII e XVIII" (p. 20). Dessa forma, abandonaram a função de "curiosidade", adquirindo aspectos científicos através da pesquisa e da ciência pragmática e utilitária (Idem). Assim como é possível perceber em Latour (2000), Ricardo Basbaum (2005) observa que se for considerada a Renascença, a invenção da imprensa e as conquistas do novo mundo através da abertura marítima, a origem do museu é moderna e enciclopédica (BASBAUM, 2005). O autor complementa dizendo que se avançarmos para além dos gabinetes de curiosidades e chegarmos até a revolução burguesa, veremos que uma das vertentes que conduzem à formação da idéia de museu é exatamente o impulso em conceituar com clareza uma ordem das coisas e do mundo, em que uma forma de pensamento conduz à verdade – e a obra de arte é uma das expressões desta procura e deste encontro, articulando de forma singular autonomia plástica e recortes de possibilidade discursiva (BASBAUM, 2005). Museu é visto hoje como uma instituição ocidental cuja intenção é colecionar para expor. Desde a Grécia antiga é possível encontrar referências a coleções e a instituições preocupadas com a preservação da memória. A partir de Lara Filho (2006), nota-se que outro aspecto deve ser considerado: o fato da não dissociação da pesquisa e da educação, desenvolvida nas instituições da antiguidade, utilizando-se da coleção de objetos e espécimes naturais, seja vegetal, seja animal. A partir de fins do século XVIII o museu recolhe e abriga fragmentos, objetos, artefatos e obras da natureza e da cultura e os agrupa em coleções com o propósito de expor. Essa memória, constituída a partir de objetos selecionados segundo critérios de valor, não provém de um colecionismo neutro ou isento, mas comprometido com o poder hegemônico, com as idéias e o contexto da época em que ocorre. O conceito de valor não é absoluto e varia em cada cultura e ao longo da história da humanidade, e 44 cada coleção traz a assinatura de sua época e de seus patrocinadores (LARA FILHO, 2006, p. 8). O museu em si é um espaço onde são agrupados objetos considerados produtos cultuais, naturais ou patrimoniais. É seguida uma ordem determinada pelo próprio museu, dando significado diverso através das várias leituras possíveis de serem realizadas. Isso se dá por meio da retirada destes objetos de seu contexto original, ou o espaço para o qual foi concebido. O museu se consagra como espaço de reflexão com as várias formas de exposição desenvolvidas nele. Dessa forma, o fruidor não deve se voltar apenas ao que é exposto, mas também à forma/à ordem de se expor, sendo esta, talvez, a primeira observação que deva ser feita. O primeiro museu público (apesar de o acesso ser permitido apenas aos cientistas e aos artistas na época) foi o Ashmolean Museum, aberto em 1683 na Inglaterra. Com a revolução francesa, os museus abrem suas portas definitivamente e também surgem grandes museus na Europa. Entretanto, já no século XV, as coleções de arte desenvolvidas ao longo do tempo tornam-se acessíveis ao público através da exposição em um antiquário da coleção do Papa Pio VI (SUANO, 1986). Porém, a abertura das portas do museu se realizou completa e verdadeiramente apenas no século XVIII, tornando esta instituição verdadeiramente pública. Philipp Blom (2003) mostra que a transição das coleções de exclusividade privada para os museus públicos foi demorada. Essa transição só se tornou possível com o aparecimento do Estado Moderno, além de saltos conceituais quanto às relações da esfera privada e pública. Sobre o Ashmolean Museum, Blom (2003) narra a história de que esse não deveria ser o nome desta instituição, mas sim Tradescantian Museum. O autor relata que a coleção doada por Elias Ashmole à Universidade de Oxford, a que deu origem ao conhecido museu, pertencia na realidade a John Tradescant. Este deixara à esposa sua preciosa coleção, mas Ashmole tomou posse desta. No Brasil, o atual Museu Nacional, foi criado e denominado Museu Real em sua fundação por iniciativas culturais de D. João VI em 1818 e moldado em exemplos de museus europeus, com uma coleção de historia natural doada pelo monarca (JULIÃO, 2006). 45 Ainda no século XIX surgem outros museus no país. "No Brasil, os museus enciclopédicos, voltados para diversos aspectos do saber e do país, predominaram até as décadas de vinte e trinta do século XX, quando entraram em declínio como no resto do mundo, em face da superação das teorias evolucionistas que os sustentavam" (JULIÃO, 2006, p. 22). A maioria dos museus nacionais, segundo Teixeira Coelho (2006), surge apenas nas décadas de 30 e 40 do século vinte. Estes novos museus "traziam as marcas de uma museologia comprometida com a idéia de uma memória nacional como fator de integração e coesão social, incompatível, portanto, com os conflitos, as contradições e as diferenças" (JULIÃO, 2006, p. 22-23). 3.2.1 Transformação ou evolução no museu Como é observado no item anterior, o museu não é estático, no sentido de que sofre transformações constantemente. Inicialmente, multiplicou-se pelo mundo afora. O museu está em constante diálogo com as transformações na sociedade, ou seja, o museu se molda à realidade presente. Uma das transformações evidentes nos museus é a passagem "de uma atitude meramente depositária e conservadora, em que as obras em si eram o mais importante, para outra que se poderia descrever como orientada para o público" (TEIXEIRA COELHO, 2004, p. 270). Aos poucos os museus buscavam atingir o público de classe mais baixa, também pelo fato de verem estas pessoas se interessarem pela instituição e suas coleções. O objetivo desta mudança no museu se reforça, segundo o mesmo autor, nos anos 70 e 80 do século XX, quando os museus se vêem na necessidade de alavancar fundos para se manter. Assim, o público é visto como tal possibilidade. O interesse pelo público, e a preocupação de registrar número elevado de freqüentadores, tornou-se mais acentuado a partir do instante em que, entre os anos 70 e 80 neste século, os museus viram diminuir o montante de suas verbas e encontraram nas rubricas "atendimento ao público e à comunidade" e "serviços educacionais" uma forma de legitimação para suas demandas econômicas, atendidas tanto por indivíduos e instituições privadas quanto pelo Estado (TEIXEIRA COELHO, 2004, p. 270-1). Pata atender ao público e à comunidade geral, bem como prestar serviços educacionais, somando-se a isso o papel social que o museu possui (possibilitar o 46 acesso aos diferentes públicos), esta instituição se vê na necessidade de focar sua atividade na atração do visitante. Ao mesmo tempo, a visitação destes espectadores possibilita a sustentabilidade financeira do museu (VALIO, 2008). Com as evoluções e transformações ocorridas também no âmbito museológico, a necessidade de uma edificação específica deixou de ser requisito essencial para que se defina um museu. Já se ouve falar tanto dos museus ao ar livre e ecomuseus, surgidos nas duas últimas décadas do século XX (TEIXEIRA COELHO, 2004), quanto dos webmuseus no atual século XXI. Este último é desenvolvido na ou para a internet, possuindo ou não seu referencial físico (YAMAMOTO, 2001). Foi observado anteriormente que os museus seguem as transformações ocorridas na sociedade e é possível perceber o impacto das novas tecnologias não apenas no referente às mudanças provocadas na sociedade, mas também pelo leque de possibilidades que se abre, acentuando ainda mais essas mudanças. Em meio a tudo isso, é possível observar que os museus, em especial os de arte, não ficaram para trás na questão da busca por novas perspectivas. Este fato se comprova com o surgimento dos webmuseus de arte. Segundo observações de Yamamoto (2001), o museu atual tem deixado de ser um repositório e local de exposição e, passando a oferecer serviços variados a seus visitantes, propondo-se a ampliar seu alcance. O intuito disso é tanto buscar por como tornar o público mais crítico e participativo. É possível afirmar que foi por esse objetivo que o museu chegou à rede WWW. Através dela é possível atingir públicos distantes dos museus ou, de alguma forma, impossibilitados de estarem presentes nas unidades físicas desta instituição. O surgimento de exposições na internet permite não só divulgar ainda mais as coleções dos museus, como também abre as portas às novas reflexões, construídas muitas vezes coletivamente. Esta questão é abordada por Lévy (1996) ao dizer que a digitalização não só dá acesso como também propicia novas formas de ler e compreender o objeto. Apesar de toda essa evolução, ou transformação, observável, o museu é uma instituição que mantém algumas de suas tradições bastante antigas ainda vivas. Conforme aponta Crane, citada em Werneck (2000), "pintores figurativos 47 fazem alusão ao passado da historia da arte de varias maneiras: pelos motivos, pela técnica, pelo uso de valores e assim por diante" (p. 67). Este exemplo é referente ao museu de arte, mas ainda assim é possível perceber tal ocorrência em outras tipologias de museus. Werneck (2000) diz que o tempo muda radicalmente e que não é possível pará-lo. Paralelo a estas mudanças, o papel da ciência da informação também se transforma em relação ao museu, seja qual for a tipologia deste. 3.3. Museu de arte Ricardo Basbaum (2005) entende a forma de proteção dos produtos culturais como o salvaguardá-lo da destruição e ao mesmo tempo integrá-los em um conjunto de objetos que sejam representativos. Isto, para o autor, está na origem do espaço museológico. Em outras palavras, Basbaum (2005) enxerga o museu como um espaço protetor cultural e ao mesmo tempo de institucionalização do artefato. No entanto, o mesmo autor diz que "esta operação de inclusão tem um preço, que em geral se contabiliza no custo de se arrancar a obra de arte de seu contato direto com as dinâmicas da vida e da sociedade, para lançá-la dentro do espaço artificialmente construído da instituição". O museu de arte é uma instituição cultural e, conforme aponta Valio (2008), é uma unidade do sistema da arte, uma vez que promove o diálogo entre os personagens do campo artístico (artistas, obras, públicos etc.) através da exposição. As instituições culturais são consideradas pela mesma autora como o espaço físico cuja característica é ser ponto de encontro destes elementos do sistema, destes personagens. Segundo Martin Grossmann, o museu de arte hoje é, simultaneamente, uma tradição, um espetáculo, um lugar político, uma promoção social, uma arena para processos de ação socio-cultural, uma especulação, uma corporação, uma experiência, bem como alegoria ou metáfora para a explanação, criação e manutenção de outras dimensões de conhecimento. O museu se configura assim como complexidade, grandeza modelada por múltiplas dimensões (2004). 48 Para Valio esta visão abre o museu às "múltiplas dimensões". "(...) Os elementos do sistema de arte rompem com a rigidez funcional, não se determinam em sua própria atuação" (2008, p. 69). Huijts descreve a percepção que tem em relação à linguagem utilizada para refletir "sobre o museu como uma torre de babel de princípios e conceitos elaborados com entusiasmo durante o século 20, mas que não significam o mesmo para cada pensador". Através deste pensamento, este mesmo autor defende uma discussão que seja específica a cada instituição, uma vez que cada uma delas possui características diferenciadas entre si. Para tanto, é importante que seja levado em consideração as tarefas individuais destas instituições e seu contexto operacional (FORUM PERMANENTE, 2004). Grossmann (2004) observa o museu do ponto de vista de André Malraux que, entre as décadas de 50 e 60, estudando as relações entre as fotografias e as técnicas de impressão, promove com o museu imaginário a eliminação dos enquadramentos, tanto da pintura, da escultura, como também da própria arquitetura. Ou seja, essa metamorfose ocorrida no "entorno das obras" que o museu abriga se dá principalmente devido ao efeito da fotografia não só na percepção da arte mas do espaço que a reifica, o museu (GROSSMANN, 2004). Através desta nova tecnologia, a fotografia, Malraux buscou explorar o impacto causado na percepção humana, acreditando que uma nova percepção da arte fosse eminente, sendo os livros de arte os precursores de tais mudanças. Malraux tinha por intenção "investigar um novo 'envelope' capaz não só de promover um contexto diferenciado para as obras de arte que esse abriga, como também de alimentar novas razões de ser para ambos, museu e arte" (GROSSMANN, 2004). Na sociedade contemporânea estas reflexões de Malraux ainda são aceitas, pois, a existência de computadores interligados pela rede mundial de internet dá abertura a uma nova mudança na forma de percepção humana da arte e do museu de arte. Outro ponto de vista abordado por Grossmann (2004) é a contraposição vida e morte no museu, observando o ensaio de Adorno "Museu Valéry-Proust". Para Grossmann (2004), os dois autores diferenciam-se no ponto em que "Adorno evidencia uma terceira instância sugerida pela síntese dessa inevitabilidade dialética, na qual nem a morte, tampouco a vida, mas a presença crítica de um 49 sujeito é que prevalece". Para Adorno é necessário que haja "uma experiência crítica no interior do museu de arte". Através de Adorno, este mesmo autor observa que Ao equalizar artista com observador, estende-se a experiência da arte, investe-se nessa dialética insolúvel, criam-se soluções criativas. Todas essas movimentações são essenciais para a sobrevivência da arte e de seus instrumentos, aparelhos e agentes. Se processos de criação, produção, propagação, mediação e recepção da arte são examinados e considerados como uma espécie de ato criativo composto, não há dúvidas da importância dos museus nesse cenário (GROSSMANN, 2004). Na sociedade contemporânea, as novas tecnologias vêm se desenvolvendo sem ininterrupção. Elas promovem mudanças substanciais no modo de se viver e nos sistemas culturais, transformando alguns dos conceitos relativos à noção de equipamentos culturais6, bem como as formas de transmissão, ensino e aprendizagem cultural. Paralelamente, novos desafios são lançados. Segundo Teixeira Coelho (2004) o museu de arte tem representado um espaço de significações especiais para muitas pessoas. Estas significações possibilitam o "contato com valores espirituais superiores e ao qual somente se tem acesso uma vez atravessados os diferentes e sucessivos níveis da educação formal" (p. 274). Isto é, o museu de arte enquanto instituição de coleta, tratamento, preservação, pesquisa e exposição de bens culturais, em seu sentido físico, é facilmente acessível pelos diversos públicos. Entretanto, apropriar-se intelectualmente de seu conteúdo, a obra de arte, é algo possível apenas àqueles que detêm os meios para tal. Bourdieu e Darbel (2003) já observaram este aspecto do museu. No texto de apresentação, escrito por Catani, é observado que os museus de arte abrigam os "tesouros artísticos", verdadeiros tesouros culturais que, apesar de aberto a todos, está interditado à maioria das pessoas. Com isto, Catani compartilha do mesmo ponto de vista demonstrado por Teixeira Coelho. É observável através destas afirmações que tanto o museu de arte quanto outros tipos de museus, tais como o histórico, o étnico, o de ciências etc., possui sua 6 Entenda-se por equipamentos culturais as instituições de cunho cultural (museus, arquivos, bibliotecas etc.). 50 natureza específica em relação aos objetos expostos. No caso do primeiro, estes objetos não representam apenas a memória, como também agregam valor estético. "A obra de arte considerada enquanto bem simbólico não existe como tal a não ser para quem detenha os meios de apropriar-se dela, ou seja, decifrá-la" (BOURDIEU; DARBEL, 2003, p. 71). Assim como os museus de arte, o acesso físico às obras de arte é garantido. No entanto, a apropriação é vista como privilégio da "classe culta". Os museus de arte cristalizam os lugares simbólicos para as obras de arte. É o local de legitimação da arte, agregando valor aos objetos a partir da exposição. Espaço de sacralização ou pólo de experimentação. Local de legitimação institucional ou "batismo da obra", como afirma Cristina Freire (1999). Partindo para uma discussão mais histórica quanto aos museus, observa-se em Douglas Crimp (2005) que o museu de arte surgiu da "descontextualização" das obras produzidas quando arrancadas das igrejas e palácios da Europa e transferidos para este novo local entre o final do século XVIII e início do XIX. Segundo o mesmo autor, antes da descontextualização, as obras possuíam outras funções nos mosteiros, igrejas e palácios. Observando isso, é possível estabelecer um diálogo com Walter Benjamin (1994), quando este defende a perda do "valor de culto" da obra e o ganho de um novo significado através do "valor de exibição". Este valor de exibição comentado pelo autor é o que confere à obra o estatuto de arte, baseando-se em função estética. Antes do surgimento dos museus, o intuito das obras era apenas representar algo conforme o interesse daqueles que as encomendaram: um retrato biográfico, uma representação bíblica etc. Com a nova significação os artistas passam a desenvolver novas técnicas, transformando o conceito de arte existente até então e começam a expressar em suas obras o que de certo modo sentiam, pensavam. Suas intenções. Não se pode afirmar com isso que os sentimentos expressos por estes artistas fossem verdadeiros, tampouco que, ao tentar expressar sentimentos de angústia o artista, realmente tenha sofrido de tal mal. Entretanto, é fato que este 51 artista necessitava conhecer tais sentimentos para poder expressá-los através das técnicas que dominava. Com o novo espaço e a nova significação de arte, os pintores passam a produzir em prol do museu em meados do século XIX. Estes artistas tinham o objetivo de exporem suas obras na instituição que se desenvolvia e consagrarem-se como artistas. Isso possibilitou o surgimento de uma ruptura entre o que era arte por um processo de descontextualização, ou produzida por encomenda, e o que é criado com intencionalidade artística. As obras passaram a ser expostas em uma ordem artificialmente produzida pelo museu e sua finalidade passou a ser de fruição estética. Stijn Huijts reitera que "o museu precisa ser a memória e a consciência da sociedade. A produção artística precisa ser independente, mas o poder econômico exige a arte vendável". O mercado da arte é um fator que pode ser considerado proveniente da ruptura provocada pela mudança de posicionamento do artista em relação à arte, em função do museu de arte. 3.3.1. O novo museu de arte Assiste-se a um crescimento quantitativo das instituições voltadas às coleções artísticas, tais como os museus de arte, galerias etc. As coleções destas são voltadas aos bens artístico-culturais. Neste ponto, é adentrada discussão do mérito não só dos museus físicos, que possuem ou não coleções7, mas também os museus em rede (webmuseus), instituição esta que se desenvolve através das novas tecnologias, principalmente da internet. Por expandir-se rapidamente, a internet possibilita o desenvolvimento das mais diversas atividades. A criação de sites on-line que se autodenominam museus também tem sido uma dessas atividades. Ostentando nomes como webmuseu, cibermuseu, museu digital ou museu virtual, tais sítios apresentam-se, com freqüência, como interfaces de instituições museológicas construídas no espaço físico, como o Louvre, o Prado ou o MOMA, que, graças a Internet, podemos "visitar" em um mesmo dia, escolhendo o melhor trajeto e o horário mais conveniente (LOUREIRO, 2004, p. 97). 7 Como exemplo de museus sem coleções, temos o Museu de Culturas Populares do México. 52 Além destas "interfaces" produzidas para que qualquer pessoa tenha acesso a determinado museu, desde que conectada à rede mundial de computadores, existem aquelas que não possuem referencial físico, cujas coleções são estritamente "reproduções digitais ou obras-de-arte criadas originalmente em linguagem digital" (LOUREIRO, 2004, p. 97). O webmuseu possui características e formas de trabalho diferenciado das instituições físicas. Principalmente no que diz respeito à mediação de suas informações ao público. Isso é parte dos desafios que são lançados na sociedade contemporânea através das novas tecnologias. Levando em consideração que as "competências cognitivas são fundamentais para que os indivíduos contextualizem a informação e a utilizem" (ALMEIDA, 2007, p. 15), não é o museu físico ou digital que determinará se um indivíduo terá maior facilidade de apropriação utilizando uma ou outra instituição. Conforme já se discutiu em Bourdieu e Darbel, "as desigualdades diante das obras de cultura não passam de um aspecto das desigualdades diante da Escola que cria 'necessidade cultural' e, ao mesmo tempo, oferece os meios para satisfazê-la" (2003, p. 69). Dessa forma, as possibilidades que surgem com o webmuseu continuam relacionadas ao acesso por parte dos diversos públicos. Todavia, seus verdadeiros consumidores continuam a ser aqueles que detêm os meios de apropriação dos mesmos. Cabe aqui comentar que essa possibilidade de consumo se faz também pelo acesso à tecnologia. As discussões existentes em torno do webmuseu ainda estão no começo. Este tipo de instituição ainda está em desenvolvimento na rede, principalmente quanto a sua definição conceitual. No entanto, ao ser compreendida a internet como um meio de transmissão cultural promotor do acesso cultural, segundo definições de Teixeira Coelho, é possível perceber o impacto diferenciado causado no público de webmuseu que frui a obra. Provavelmente a percepção da arte é transformada neste meio se comparado à instituição física. 53 3.4. Outras discussões 3.3.1. A política no museu O museu em geral é considerado como politicamente neutro. Entretanto, para Almandrade (s/d), "desde quando a política e a economia reservaram à cultura um espaço quase que insignificante, dentro das prioridades da vida urbana, interesses alheios comprometeram o funcionamento das instituições culturais". Conforme observa Valio (2008), o museu possui um aspecto agenciador que o coloca como instituição que age conforme aqueles interesses expressos pelas classes, pelos poderes do Estado e mesmo de particulares. Isso significa que o museu não é um espaço neutro e nem imparcial. Tudo que se realiza no museu tem comprometimento político. Desde a seleção das obras que comporão o acervo até a realização das exposições (Valio, 2008). Quanto a esta questão, Karp e Wilson (1993), citados em Valio (2008), identificam o processo do fazer, exibir e o apreciar como um processo político, principalmente nos museus de arte. Almandrade (s/d) reflete que o museu possui muito mais do que obras e objetos de valor, mas prestígio social. Tudo que se expõe no museu deveria ter compromisso com o conhecimento, com a memória e com a reflexão. A programação que nele é instituída não deve ser definida por aqueles que patrocinam uma ou outra exposição. Principalmente porque o interesse destes patrocinadores é a venda de produtos nem sempre condizente com a noção de desenvolvimento cultural. Contudo, Valio (2008) afirma que, "no caso do museu, em função de sua própria constituição como ambiente político, não há como o museu não responder aos interesses daqueles que o dirigem e o sustentam, pois inter-relacionam-se" (p. 70). Huijts (2004, apud FORUM PERMANENTE, 2004) afirma que tem havido certa pluralidade de forças que agem sobre o museu na atualidade. Estas forças são as culturais e econômicas, principalmente, "que tendem a agir não mais em um embate, mas de forma bastante similar: os dois âmbitos estão quase se tocando e um setor utiliza as estratégias do outro (setor comercial usando estratégias artísticas para vender coisas e vice-versa)". Já Cauquelin (2005) diz que são inculcados nos públicos os "valores culturais", que estão relacionados com a modernidade ou modernismo, necessários 54 como sinal de elevação cultural. O público já é educado para a prática comercial no âmbito artístico, sempre visando a obra que de um dia para outro pode ter seu valor/rendimento ultrapassado o esperado. Isto é, parte do público passa a ser avalista de mercado, visando àquilo que pode valer fortuna no futuro, deixando de lado muitas vezes o sentido básico da fruição estética. Para complementar a discussão, Almandrade (s/d) observa que o museu tem que se mostrar mais independente, tornando-se um centro de informação e reflexão propriamente dito. Espaço onde o público possa se encontrar com o belo, com a história e com a memória. Não deve se render aos projetos ditos culturais que buscam a valorização do acervo com fins publicitários. O museu deve apenas atrair os olhares dispersos, sem interesses mascarados. Entretanto, reflete o mesmo autor, é fato que os museus necessitam de recursos financeiros. Devido a isso, acabam transferindo a responsabilidade cultural para a iniciativa privada que os sustentam. A partir disso, o museu se transforma pouco a pouco em uma instituição voltada ao entretenimento, cujo fim é atrair o maior número de público/consumidor, servindo de "garoto propaganda" às marcas que o sustenta. 3.4.2. O público Para que o museu possa desenvolver da melhor maneira possível seus objetivos em função de seu público, é necessário que o mesmo conheça qual seu público freqüentador. Há uma constante necessidade por se conhecer (estudos de usuários) como os visitantes apropriam as informações expostas nos museus, principalmente os museus de arte. Almeida (2004) observa que há diferentes tipos de públicos para diferentes tipos de instituições, logo, não seria diferente com os museus, "o que gera termos como 'público de museu de arte contemporânea' e 'público de museus de ciências naturais'" (p. 325). Esta mesma autora cita uma pesquisa realizada no Canadá que observou ser o público do museu de arte composto por pessoas mais velhas, com mais experiência contemplativa. Os estudos de usuários de museu têm priorizado as percepções do marketing, uma vez que o intuito destes museus não é somente "direcionar e 55 aperfeiçoar as formas de organização e comunicação das exposições" (ALMEIDA, 2004, p. 325), como também atrair novos públicos. Estes estudos, em geral, quantificam e classificam os visitantes em nível escolar, profissão, classe social, faixa etária, sexo etc. Do ponto de vista qualitativo, estas pesquisas também têm "procurado conhecer a opinião dos visitantes sobre a exposição e o modo pelo qual se dá a visita (…) (além de) estudos comportamentais, informados por psicólogos, (que) trouxeram informações novas sobre as relações entre visitantes e exposições" (Idem). Bourdieu e Darbel (2003) também se empenharam em pesquisar os públicos de museus na França, Grécia, Holanda e Polônia na década de 60. Confrontando as características sociais e a escolaridade do público, estes autores deixaram claro que a "classe culta" é que possui maior representatividade quanto ao acesso, seja físico ou cognitivo, aos produtos culturais. Entrementes, a classe não culta tem se esforçado para fazer parte desse grupo seleto. Segundo observações de Valio (2008), possuir informações referentes ao público permite ao museu tanto atender quanto se adequar às expectativas destes espectadores. "Enfim, saber qual a repercussão da exposição em seu público possibilita à instituição traçar as ações futuras, ou até mesmo, realizar algumas melhorias no próprio decorrer da exposição" (p. 5). O que se pode observar disso é que a verificação constante da variação do público de museu é importante uma vez que as características sociais estão continuamente se modificando. Deve-se levar em consideração também que os sujeitos das classes populares, considerados como não cultos, têm se esforçado para freqüentarem e permanecerem mais tempo nos museus de arte, buscando se adaptarem ao que alguns consideram como uma norma, no caso, social (BOURDIEU; DARBEL, 2003). 3.4.3. Museu como legitimador da arte O objetivo do museu de arte é tanto manter a obra de arte quanto inseri-la no circuito cultural através da exposição, possibilitando o contato entre o público, que atravessou "os diferentes e sucessíveis níveis da educação formal", e a obra (TEIXEIRA COELHO, 2004, p. 274). Basbaum (2005) afirma que desde o início 56 esteve em jogo a construção do museu como uma máquina que tanto produz quanto atribui valor às obras de arte nele exposta. O museu, segundo o mesmo autor, se constitui um instrumento de produção de cultura. Isso significa que a obra é potencializada, é tornada representativa de uma ordem de pensamento a ser enfatizado, promovido, tornado visível e o museu é um dos principais agenciadores da mesma. O museu de arte nem sempre foi exaltado pelos artistas. Ao contrário disso, muitos foram aqueles que criticaram tal instituição. Apesar de contestarem esta instituição como sendo um templo, e "exigindo" que o mesmo passasse a ser um "fórum" (ao invés da contemplação, realizar eventos mais críticos que gerem discussões/debates), os artistas necessitavam do mesmo como espaço de exposição, onde garantiriam às suas obras o estatuto de arte e a si a legitimação como artista (FREIRE, 1999). Cristina Freire (1999) busca explicar com o exposto acima que existe certa relação de dependência do museu por parte do artista. Isto é, mesmo que a atividade artística seja empregada como forma de contestação, o artista ainda precisa do poder de exibição exercida pelos museus para reafirmar/legitimar sua obra como arte e de si próprio como artista, inserindo-se, assim, no circuito artístico através do museu. Em outra abordagem, Crimp (2005) levanta os aspectos desta instituição como sendo lugar de "morte", em fase de decadência. O autor faz referências a discussões abordadas por Kramer, o qual defende esta condição mortuária do museu, bem como a Adorno, que também defende o mesmo ponto de vista. No entanto, esta "morte", este fim do museu que se discute em seu texto não diz respeito ao fim da instituição em si, mas sim ao fato de ela estar impregnada de memória. "O museu fornece a todos, como se tratasse de uma herança pública, os monumentos de um esplendor passado, instrumentos de glorificação suntuária dos grandes de outrora (...)" (BOURDIEU; DABEL, 2003, p. 169). Os museus são por natureza lugares de memória, visando salvaguardar e disseminar aquilo que representa a evidência material do homem. Entretanto, a recepção destas evidências não se faz de maneira neutra. Tudo o que se insere no museu, tudo o que passa a fazer parte da coleção deste, perde sua função original. 57 A obra que tinha por funcionalidade ornamentar os salões dos palácios, representar a divindade santa nas igrejas e mosteiros, entre outras, adquire uma nova significação. "Peças de coleções com algo em comum: perderam sua utilidade original. Todas com uma única finalidade: destinar-se ao olhar. (…) Foram construídos muros e vitrines novos, somente para dispô-las novamente, em uma nova ordem" (CRIPPA, 2005, p. 32). O que é inserido em um museu é visto como "exemplar" e se caracteriza como raridade ou modelar, conforme discute Valio (2008). Essa mesma autora complementa que o histórico do museu é o de validação da arte. Esta inserção no museu transforma o objeto que outrora fora utilizado como ornato em objeto de grande valor, em muitos casos. Adquirem um caráter valioso e passam a necessitar de cuidados constantes, como o restauro, por exemplo, tornando intocável estes objetos que possuíam funcionalidade cotidiana (CRIPPA, 2005). Esta legitimação exercida pelo museu cria um paradoxo: através das atividades que exercem os museus, as obras e o público são aproximados, de forma que passem a fazer parte de um mesmo círculo. Em contrapartida, o museu distancia esse mesmo público da obra com a institucionalização, uma vez que retira destas obras a função cotidiana e a coloca em outro nível. Isto é, enquanto nos palácios e mosteiros as obras estavam mais próximas dos públicos que a contemplavam, permitindo até mesmo serem tocadas, com a elevação da obra a objeto de arte há a separação física entre a obra e seu público. As obras adquirem também um valor de tesouro, designando os museus e galerias como guardiões de tal tesouro (CRIPPA, 2005). 58 4. CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E ARTE Quer se fale de "arte" ou de "cultura", quer de "história" ou de "utopia", todo conceito é colocado entre aspas para poder levá-lo ainda mais longe na dúvida indicada. Hans Belting 4.1. Dificuldades do profissional da informação Ao ser refletido o que se observa até aqui, já se torna possível vislumbrar as dificuldades encontradas pelo profissional da informação ao ter que trabalhar no campo artístico. Neste contexto, o profissional da informação se depara com diversas variantes que podem se tornar ambíguas ou mesmo paradoxais. Este profissional adentra uma área repleta de subjetividades não palpáveis que dificultam sua compreensão, assim como estabelecer formas de recuperação de informações. Uma vez que cada indivíduo pode interpretar o objeto artístico de uma forma diferenciada, o mesmo pode ocorrer com o profissional da informação. Desse modo, como devem ser tratadas as coleções artísticas de forma a contemplar as necessidades do público usuário? Sabe-se que a informação é responsável por estabelecer relações e sintonizar o mundo, além de ser necessária e participante na evolução do homem. Também é importante para redução de incertezas e se identifica com a organização de sistemas, seja de seres vivos ou de entidades inanimadas. Assim, a "essência do fenômeno da informação (se caracteriza) como a adequação de um processo de comunicação que se efetiva entre o emissor e o receptor da mensagem" (BARRETO, 1994, p. 3). Neste sentido, não há como não caracterizar a obra de arte como um canal de transferência de informação ao seu receptor: público fruidor. No entanto, não apenas esse público deve dominar a linguagem de transmissão da informação empregada pelo artista (emissor) como também o profissional da informação, uma vez que este precisa captar tais informações para, a partir delas, constituir meios de recuperação das mesmas em outro momento. Neste aspecto, deve ser considerado apenas as percepções de tal profissional ou consultar os diversificados públicos com 59 vistas a constituir formas de recuperação ainda mais completas, abordando o máximo de possibilidades? Para Eco (1981), a obra de arte é muito mais que ano de nascimento, seus antecedentes ou dos juízos que dela fazem, uma vez que falar destes seria o mesmo que falar cientificamente da obra, haja vista que o discurso científico se baseia em dados de fatos controláveis. Para o autor, a obra de arte constitui um fato comunicativo que necessita ser interpretado e, dessa forma, integrado ou complementado pela contribuição daquele que a frui. Se for levada em consideração esta concepção, o profissional da informação deve levar em consideração as contribuições dos públicos, mesmo que diferenciadas, bem como as situações históricas, tornando ainda mais completo o sistema de recuperação de informações artísticas. No entanto, qual a viabilidade disso? É certo que, segundo Valio (2008), a fruição é um processo que se estende ao longo do tempo e não necessariamente no tempo da visita à exposição. Logo, tais contribuições podem não ser efetivadas no momento expositivo, apesar da percepção da completude da obra de arte a partir do confronto desta com seu público. A partir disso, as dificuldades do profissional da informação são reavivadas se as percepções deste público que frui forem levadas em consideração para construção dos sistemas de recuperação da informação artística. Em que momento o profissional poderá consultar esse público? Há trabalhos que abordam a dificuldade que se apresenta para o profissional da informação no campo da arte. Diana Lima (2000) diz que as necessidades da demanda especializada, no âmbito das Pesquisas em Artes e em especial na área das Artes Plásticas, caracterizam-se pelas dificuldades envolvendo os pesquisadores com respeito aos discursos e suas variantes documentais, componentes que são do material informacional para análises e disseminação do fenômeno artístico [grifos da autora] (p. 18). A pesquisa de Lima (2000), conforme esta mesma autora apresenta, possibilitou estabelecer as relações teóricas existentes entre ciência da informação, museologia e história da arte, culminando em um novo campo de estudos: Informação em Arte. Este novo campo tem seu enfoque em estudos especializados quanto à comunicação e disseminação da informação artística que se vinculam às 60 coleções museológicas. Através deste campo de estudos, muitas experiências referentes ao processo de comunicação, transferência da informação e da recuperação da informação artística são empreendidos. Em Werneck (2000), discute-se que a informação semântica além de ser lógica e estruturada, ela pode ser enunciada, traduzida e prepara ações. Ao contrário desta, a informação estética é o tipo de informação utilizada na arte e que não se pode traduzir. A informação estética prepara estados da alma e deve ser estudada no âmbito da informação pessoal. "O ponto de vista estético não tem o intuito de preparar decisões, melhor dizendo, não tem nenhum objetivo a não ser causar emoções estéticas" (p. 65). A informação estética é dependente de um canal de transmissão, não é cumulativa, não envelhece e se submete a seu criador, isto é, se uma obra está inacabada, nenhuma outra pessoa poderá terminá-la. Desta forma, o que pode o profissional da informação contribuir para a organização de acervos diante de tanta subjetividade? Trabalhar a informação estética não é algo que seja fácil àquele que desconhece as diversas facetas da arte e pode haver conflitos em dados momentos. No entanto, a ciência da informação está estreitamente ligada à institucionalização da arte por meio da documentação. Isso é resultado da modernidade propiciada pelos museus, academias e galerias de arte enquanto instâncias que regulam e legitimam a arte. Essa mesma ciência mantém grande atividade no que diz respeito à institucionalização da arte, através de tais instâncias (Werneck, 2000). A ciência da informação adentra esse âmbito como aquela que possibilita a organização e recuperação das informações artísticas, informações estéticas e informações documentais, colaborando com a institucionalização da obra. A autora Rosa Maria Werneck apresenta a institucionalização através de Ben-David (1971). Para esse autor, institucionalização é: o aceite da sociedade que se valoriza quanto algumas atividades consideradas como função social importante; "a existência de normas que regulam a conduta em determinado campo de atividade; certa adaptação de normas sociais em outros campos de atividade às de atividade considerada" (2000, p.60). 61 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todos sabem que a arte se dissolveu num espectro de fenômenos opostos que há muito tempo aceitamos como arte, antes mesmo de termos formado um conceito a seu respeito. Hans Belting A discussão teórica apresentada acima buscou desenvolver o estudo exploratório, abordando algumas características controversas da arte e aspectos históricos do museu, em especial o museu de arte. Através deste estudo foi possível ampliar a experiência em torno do tema abordado, bem como levantar alguns questionamentos e refletir quanto ao profissional da informação envolvido nesse contexto. Fundamentado na literatura, foi possível observar o quão estreitos são os laços entre os museus de arte e o conceito de arte ou obra de arte. Notou-se também a relação existente entre a ciência da informação e o sistema de arte, que abrange tanto os equipamentos culturais quanto seus produtos. Discussões quanto ao que determina o que é arte foram levantadas neste trabalho. Através da literatura ficou ainda mais claro que a área não é apenas complexa como também subjetiva. Em dados momentos há a exaltação do artista como o verdadeiro responsável pelo que se define arte, sendo Marcel Duchamp um exemplo clássico; em outros são as políticas culturais que decidem o que pode ou não ser arte; entre outros diversos fatores. Algumas das definições, ou critérios que definem a arte ou a obra de arte, empreendidas neste campo são polissêmicas, ambíguas ou mesmo paradoxais. Autores como Umberto Eco (1981) discutem que determinar o que seja ou não arte é quase impossível e que tudo dependerá dos valores culturais e do contexto histórico. O que se define arte em dados momentos pode não ser aceito em outros, bem como o que outrora não era considerado arte pode se tornar arte por conceitos e medidas atuais. Observada historicamente, arte antes era vista como a capacidade, a exímia em confeccionar as obras a partir de técnicas aprendidas nos ateliês dos mestres artesãos. Nesta acepção, o que se denomina como arte hoje outrora se 62 classificou como ofício. Já na sociedade contemporânea, percebe-se o emprego do termo arte no sentido de atividade ou produto da atividade artística, sob uma perspectiva estética. Para Gombrich (1999a) não haveria arte se não fosse o artista. Historicamente é possível acreditar que arte seja um produto exclusivamente do museu, da galeria ou de âmbitos artísticos, muitas vezes se esquecendo daquele que produziu a obra. Apesar das divergências, percebe-se através das discussões de Crimp (2005) que o conceito atual de arte é devido ao surgimento do museu de arte. O museu tem sua origem na antiguidade e desenvolve-se através do colecionismo, conforme aponta a bibliografia estudada. Ao longo do tempo passou por inúmeras transformações, seguindo desde espaço de contemplação das Musas até os gabinetes de curiosidades, disseminando-se a partir daí e especializando-se. O museu de arte pode ser considerado parte dessa especialização. O museu de arte foi fortemente criticado em vários momentos de sua existência. Ele ainda passa por críticas constantes. No entanto, há o consenso de que o mesmo seja necessário para que a obra de arte se estabeleça no circuito cultural. Tanto obra quanto museus são complementar um ao outro. Não há o museu de arte sem obras de arte, assim como não há sentido na obra de arte sem o museu de arte. Percebe-se, no entanto, que essa união obra de arte e museu tornou este mais complexo, o que requer de seu público uma capacidade de reflexão diferenciada. Este público deve ser capaz de absorver os códigos representados através das obras expostas no museu. Na contramão dessa necessidade de preparo intelectual diferenciado encontra-se a precariedade do ensino de arte nas escolas. Diante disso, os museus adotam posicionamentos que visam capacitar esse público, desenvolvendo projetos de arte-educação. Entretanto, há aqueles que criticam tal posicionamento, visto que, dessa forma, o museu se aproxima da escola, tornandose um substituto para esta unidade de ensino em dados momentos. Diante das transformações sociais e tecnológicas o museu de arte mostrou que não ficou passível. Assim como as artes empregaram as novas tecnologias em sua feitura, o museu de arte também passa a utilizar os meios 63 tecnológicos como recursos para realização de suas atividades. Na realidade o museu vai além. Adentra a rede de internet para poder disseminar os produtos culturais cuja guarda é de sua responsabilidade. Através disso, tudo deve ser repensado quanto a museu de arte. Enquanto na rede, os processos de organização de acervo, de mediação da informação, entre outras questões serão desenvolvidas de formas diferenciadas do seu referencial físico. Como se sabe, as informações são as responsáveis por estabelecer conexão no mundo. Ciente da volatilidade informacional na internet, bem como as características diversas dos públicos que fazem uso do webmuseu, esta instituição deve estar preparada para poder suprir as novas necessidades estabelecidas. Acredita-se que um profissional da informação que possua conhecimentos estruturados quanto ao campo artístico seja o essencial para resolver parte destes problemas. Este profissional deverá saber trabalhar as informações desta área com vistas a organizá-la, torná-la recuperável e disseminá-la. A capacitação desse profissional não deve estar pautada apenas nas funções que realizará, mas principalmente quanto aos conceitos de arte e histórico do museu e seu funcionamento. Compreender as informações transmitidas pela obra é de grande importância para tratar as informações estéticas. Entretanto, deve ser considerado que cada público tem uma percepção diferenciada e se as percepções dos mesmos serão tratadas nos sistemas de recuperação ou apenas as percepções do profissional prevalecerão. Enfim, desenvolver estas ou outras tarefas no museu de arte não é algo fácil, haja vista que a instituição está impregnada com a complexidade da exposição, da qual o profissional da informação deverá depreender algo para preparar o público através das exposições e organização do acervo. Muitas questões são levantadas ao longo do trabalho e como se percebe não foi intenção deste respondê-las, mas dar abertura às discussões futuras. Abordar a complexidade e a dificuldade em adentrar assuntos relativos à arte foi importante não apenas para compreender esta área como também para se pensar as possibilidades do profissional da informação. 64 6. REFERÊNCIAS ALMANDRADE. O museu e sua função cultural. São Paulo, s/d. Disponível em: <http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.painel/artigos/almandrade/>. Acesso em: 18 set. 2008. ALMEIDA, Adriana Mortara. O contexto do visitante na experiência museal: semelhanças e diferenças entre museus de ciência e de arte. Hist. cienc. saudeManguinhos, 2005, vol.12 supl, p.31-53. ALMEIDA, Adriana Mortara. Público de museu. In: TEIXEIRA COELHO. Dicionário crítico de políticas culturais. Cultura e imaginário. 3 ed. São Paulo: Fapesp; Iluminuras, 2004. p. 325-328. ALMEIDA, Marco Antonio. Mediações da cultura e da informação: perspectivas sociais, políticas e epistemológicas. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO (ENANCIB), ver data, 2007, Salvador. Anais... Salvador: ANCIB, 2007. 1 CD-ROM ALMEIDA, Aires. O que é arte? Três teorias sobre um problema central da estética. Crítica, Portugal, 2001. Disponível em <http://criticanarede.com/fil_tresteoriasdaarte.html>. Acesso em: 10 set. 2008. ANJOS, Moacir. (s/d) Desafios para os museus de arte no mundo contemporâneo (notas provisórias para um texto em elaboração). Disponível em: <http://www.mamam.art.br/mam_opiniao/word/moacir_anjos_desafios.doc>. Acesso em: 19 set. 2008. ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. BARRETO, Aldo Albuquerque. A questão da informação. São Paulo em Perspectiva, v.8, n.4, p.3-8, out./dez. 1994. Disponível em <http://www.seade.gov.br/produtos/spp/v08n04/v08n04_01.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2008. BASBAUM, Ricardo. Perspectivas para o museu no século XXI. São Paulo, 2005. Disponível em: <http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.painel/artigos/rb_museus/ >. Acesso em: 18 set. 2008. BELTING, Hans. O fim da história da arte: uma revisão dez anos depois. São Paulo: Cosac Naify, 2006. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: ______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história cultural. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras Escolhidas). 65 BITTENCOURT, José Neves. Cultura Material, Museus e História: algumas considerações sobre um debate que não é tão intenso quanto deveria ser... Humanas – IFCS/UFRJ. Rio de Janeiro, 1998. Disponível em: <http://www.ifcs.ufrj.br/humanas/0029.htm> Acesso em: 19 set. 2008. BLOM, Philipp. Ter e manter: uma história íntima de colecionadores e coleções. Rio de Janeiro: Record, 2003. BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 2001. BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Zouk, 2003. CAMPOS, Nilton. 10 anos de conquista. In: MUSEU de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi. Exposição de gravuras: Lasar Segall; Pedro Manuel-Gismondi; Acervo MARP. Projeto MARP 10 anos: 1992-2002. Ribeirão Preto: s/l, 2002a. Catálogo de Exposição. CAMPOS, Nilton. MARP - Histórico. In: MUSEU de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi. Exposição de gravuras: Lasar Segall; Pedro Manuel-Gismondi; Acervo MARP. Projeto MARP 10 anos: 1992-2002. Ribeirão Preto: s/l, 2002b. Catálogo de Exposição. CARRIER, David. Museum skepticism: a history of the display of Art in Public Galleries. Durham and London: Duke University Press, 2006. CATANI, Afrânio Mendes. Apresentação: a cultura não é um privilégio natural. In: BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain. O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Zouk, 2003. CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005. COLI, Jorge. O que é arte? São Paulo: Brasiliense, 2007. CRIMP, Douglas. Sobre as ruínas do museu. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Coleção a. CRIPPA, Giulia. Entre paixão e necessidade: a arte de colecionar, os espaços da memória e do conhecimento na história. In: FURNIVAL, Ariadne Chloë; COSTA, Luzia Sigoli Fernandes (Orgs.). Informação e conhecimento: aproximando áreas de saber. São Carlos: EdUFSCar, 2005. ECO, Umberto. A definição de arte. São Paulo: Martins Fontes, 1981. FÓRUM PERMANENTE: museus de arte, entre o público e o privado. Desafios para museus face à diversidade cultural. Jornada de debates com artistas e comissários da 26a Bienal de São Paulo. São Paulo, 2004. Resumo de Paula Braga. 66 Mesa de debates com Helmut Friedel (Alemanha), Stijn Huijts (Países-Baixos); moderador Martin Grossmann. Disponível em: <http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.painel/palestras/document.200 4-09-30.8808751706/view?searchterm=Stijn%20Huijts>. Acesso em: 19 set. 2008. FREIRE, Cristina. Poéticas do processo: arte conceitual no museu. São Paulo: Iluminuras, 1999. GABINETE de Arte Raquel Arnaud (São Paulo). Arte contemporânea: uma história em aberto. São Paulo: sl, 2004. (1 Catálogo de exposição) GOMBRICH, Ernest H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999a. GOMBRICH, Ernest H. Meditações sobre um cavalinho de pau e outros ensaios sobre a teoria da arte. São Paulo: Edusp, 1999b. GROSSMANN, Martin. O museu de arte hoje. São Paulo, 2004. Disponível em: <http://forumpermanente.incubadora.fapesp.br/portal/.painel/artigos/o_museu_hoje/> . Acesso em: 14 set. 2008. HERNÁNDEZ HERNÁNDEZ, Francisca. Manual de museología. Madrid: Editorial Síntesis:, 2001. HOOPER-GREENHILL, Eilean. Museum and the interpretation of visual culture. S/l: Routledge, 2006. HOOPER-GREENHILL, Eilean. The space of museum. Continuum: The Australian Journal of Media & Culture. Austrália, n. 1, vol. 3, 1990. Disponível em: <http://wwwmcc.murdoch.edu.au/ReadingRoom/3.1/Hooper.html>. Acesso em: 18 ago. 2008. JULIÃO, Letícia. Apontamentos sobre a história do museu. In: Caderno de diretrizes museológicas. Ministério da Cultura, Brasília: Belo Horizonte, 2006. Disponível em: <http://www.cultura.mg.gov.br/arquivos/Museus/File/cadernodiretrizes/cadernodiretrizes_segundaparte.pdf> Acesso em: 18 set. 2008. JULIÃO, Letícia. Pesquisa histórica no museu. In: Caderno de diretrizes museológicas. Ministério da Cultura, Brasília: Belo Horizonte, 2006. Disponível em: < http://www.cultura.mg.gov.br/arquivos/Museus/File/cadernodiretrizes/cadernodiretrizes_quintaparte.pdf> Acesso em: 18 set. 2008. KRAUSS, Rosalind E. Formas de Ready-mades: Duchamp e Brancusi. In: ______. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Coleção a. 85126 LARA FILHO, Durval de. Museu: de espelho do mundo a espaço relacional. São Paulo, 2006. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação)- Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. 67 LATOUR, Bruno. Redes que a razão desconhece: laboratórios, bibliotecas, coleções. In: BARATIN, Marc; JACOB, Christian (orgs). O poder das bibliotecas: a memória dos livros no ocidente. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2000. LE COADIC, Yves-Francois. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos, 1996. LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996. (Coleção TRANS) LIMA, Diana Farjalla Correia. Acervos artísticos e informação: modelo estrutural para pesquisas em artes plásticas. In: PINHEIRO, Lena Vânia Ribeiro; GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Nélida (orgs.). Interdiscursos da ciência da informação: arte, museu e imagem. Rio de Janeiro: IBICT/DEP/DDI, 2000. LÓPEZ YEPES, José. Dicionario enciclopédico de Ciencia de la Documentación. Madrid: Editorial Síntesis, s/d. LOUREIRO, Maria Lucia de Niemeyer Matheus. A obra de arte musealizada – de objeto de contemplação à fonte de informação. In: PINHEIRO, Lena Vânia Ribeiro; GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Nélida (orgs.). Interdiscursos da ciência da informação: arte, museu e imagem. Rio de Janeiro: IBICT/DEP/DDI, 2000. LOUREIRO, Maria Lucia de Niemeyer Matheus. Webmuseus de arte: aparatos informacionais no ciberespaço. Ciência da Informação, v. 33, n. 2, mai./ago. 2004, p. 97-105. ORTEGA y GASSET, José. La deshumanizacion de la arte y otros ensayos de estetica. Madrid: Alianza Editorial, 1981. PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro; GÓMEZ, Maria Nélida González de. Interdiscursos da Ciência da Informação: Arte, Museu e Imagem. Rio de Janeiro: IBICT/DEP/DDI, 2000. SARP 25 anos. Ribeirão Preto: MARP, 2000. SEMEDO, Alice. Da invenção do museu público: tecnologias e contextos. Revista da Faculdade de Letras – Ciências e Técnicas do Patrimônio. Porto, n.1, v.3, p.129-136, 2004. Disponível em: < http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4087.pdf> Acesso em: 18 set. 2008. SUANO. Marlene. O que é museu? São Paulo: Brasiliense, 1986. TEIXEIRA COELHO. Dicionário crítico de políticas culturais. Cultura e imaginário. 3 ed. São Paulo: Fapesp; Iluminuras, 2004. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 68 VALIO, Luciana Benetti Marques. Mapeando a complexidade da exposição de arte: é possível avaliá-la?. São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. WERNECK, Rosa Maria Lellis. Ciência da informação e arte: uma perspectiva histórica. In: PINHEIRO, Lena Vânia Ribeiro; GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Nélida (orgs.). Interdiscursos da ciência da informação: arte, museu e imagem. Rio de Janeiro: IBICT/DEP/DDI, 2000. WILDER, Gabriela Suzana. Código de ética profissional. Conselho internacional de museus (ICOM). Revista Museu. São Paulo, 1996. Disponível em: <http://www.revistamuseu.com.br/legislacao/museologia/mesa_chile.htm>. Acesso em: 30 set. 2008. YAMAMOTO, Patrícia. Os museus de Arte Moderna e Contemporânea na WWW: novas formas de ampliação do acesso intelectual. São Paulo, 2001. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. ZANINI, Walter (org.). História Geral da Arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. (2v)