ANATOMIA BUCOMAXILOFACIAL Djanira Aparecida da Luz Veronez1 INTRODUÇÃO O complexo bucomaxilofacial se localiza na face, sendo formado por elementos anatômicos do esqueleto cefálico, articulação temporomandibular, boca, cavidade bucal, dentes, língua, glândulas salivares e musculatura da face. ESQUELETO CEFÁLICO O esqueleto cefálico corresponde ao esqueleto da cabeça (ou crânio). Exceto a mandíbula, os demais ossos do crânio são articulados entre si por meio de articulações do tipo suturas, formadas pela presença de tecido conjuntivo fibroso entre os ossos e sincondrose esfenoccipital, constituída por tecido cartilaginoso entre os ossos do indivíduo jovem. O crânio é subdividido em duas importantes regiões: uma parte superior, que envolve a cavidade do crânio contendo o encéfalo (neurocrânio); e uma parte inferior, o esqueleto da face (viscerocrânio). Os ossos que formam o neurocrânio são: osso frontal (01); ossos parietais (02); ossos temporais (02); osso esfenoide (01); osso etmoide (01); osso occipital (01). 1 Biomédica. Doutora em Ciências Médicas área de concentração Neurociências pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do departamento de anatomia da Universidade Federal do Paraná. 1 O neurocrânio apresenta um teto constituído por uma cúpula, a calvária ou calota craniana, e um soalho ou base do crânio. Os ossos que formam a calota craniana são principalmente ossos planos (osso frontal, ossos parietais e o osso occipital), formados por ossificação intramembranosa mesenquimal da crista neural. Os ossos que constituem a base do crânio são principalmente ossos irregulares (osso esfenoide e ossos temporais) formados por ossificação endocondral da cartilagem. O osso etmoide é um osso irregular que apresenta uma contribuição relativamente menor na formação do neurocrânio, sendo essencialmente parte do viscerocrânio. A Os ossos da calota craniana se articulam por meio de suturas fibrosas, porém, durante a infância, alguns ossos como o esfenoide e occipital se apresentam unidos por cartilagem hialina. No neurocrânio se encontram o encéfalo (formado pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e suas coberturas membranosas encefálicas, as meninges cranianas dura-máter, aracnoide e pia-máter. Contém também partes proximais dos nervos cranianos e os vasos sanguíneos encefálicos. A medula espinhal apresenta-se contínua com o tronco do encéfalo através do forame magno, uma grande abertura na base do crânio. Os ossos que formam o esqueleto da face, viscerocrânio, são: ossos nasais (02); ossos palatinos (02); ossos lacrimais (02); ossos zigomáticos (02); ossos conchas nasais inferiores (02); ossos maxilares (02); osso etmoide (01); osso vômer (02); mandíbula (01). O viscerocrânio abriga principalmente as vísceras envolvidas com a visão, formação do esqueleto do nariz e sua cavidade nasal e limites da cavidade bucal. As órbitas são cavidades que alojam os olhos, pequenos músculos, vasos e nervos. A parede superior (teto) da órbita é constituída pela parte orbital do osso frontal. A parede medial é formada pelo processo maxilar do osso frontal, pelos ossos lacrimais e lâmina orbital do osso etmoide. A parede lateral da órbita é constituída pelo osso zigomático e por parte da asa maior do osso esfenoide. A parede inferior (soalho) da órbita é formada pelo osso maxilar e osso esfenoide. 2 As cavidades nasais participam das partes superiores do trato respiratório, sendo encontradas medialmente às órbitas. Tem paredes, assoalhos e tetos, compostos predominantemente por ossos e cartilagens. As aberturas anteriores das cavidades nasais são as narinas, sendo as aberturas posteriores as coanas (aberturas nasais posteriores). Continuamente com as cavidades nasais há extensões preenchidas por ar - que se projetam lateralmente, superiormente e posteriormente aos ossos ao seu redor, denominados de seios paranasais. Os seios paranasais são cavidades existentes no osso frontal, osso etmoide, osso esfenoide e ossos maxilares. Os seios paranasais, seio frontal, seios maxilares, seio esfenoidal e células etmoidais têm como função dar leveza à face, atuar como câmaras de ressonância de som e contribuir com o aquecimento do ar inspirado. O volume total dos espaços aéreos nos seios paranasais aumenta com a idade. A cavidade oral apresenta, como limites ósseos, os processos palatinos dos ossos maxilares; e lâmina transversal dos ossos palatinos como limite ósseo superior, e a mandíbula como limite ósseo inferior. Tanto nos ossos maxilares, como na mandíbula se encontram os alvéolos dentários, com o objetivo de fornecer a base e os ossos de sustentação dos dentes das arcadas dentárias superiores e inferiores. DESCRIÇÃO DA VISTA ANTERIOR DOS OSSOS DA FACE A fronte, ou região frontal, consiste no território do osso frontal, que também forma a parte superior da margem de cada órbita, a margem supra-orbital. Imediatamente superior á órbita, a cada lado, se encontra os salientes arcos superciliares. Estes são mais pronunciados nos homens que nas mulheres. Entre estes arcos, há uma pequena depressão, a glabela. Na parte medial da margem supra-orbital se encontra o forame supra-orbital ou a incisura supra-orbital. 3 O osso frontal projeta-se medialmente e inferiormente, formando uma parte da margem medial de cada órbita. Lateralmente, o processo zigomático do osso frontal projeta-se inferiormente formando a margem lateral superior de cada órbita. O osso frontal também se articula com o lacrimal, etmoidal e esfenoides; uma porção horizontal do osso auxilia na formação do teto das órbitas e parte do assoalho da parte anterior da cavidade craniana. Os ossos zigomáticos são ossos classificados como planos. Têm forma quadrangular, apresentando duas faces, quatro bordas e quatro ângulos. Formam parte da parede lateral de cada órbita. Um pequeno forame zigomático facial perfura a face lateral de cada osso zigomático. Os ossos zigomáticos se articulam com o osso frontal, esfenoide e temporal e as maxilas. Está situado superiormente e lateralmente na face. Forma a proeminência da bochecha, parte da parede lateral e assoalho da órbita, e partes das fossas temporais e infratemporal. Localizada inferiormente aos ossos nasais, a abertura piriforme corresponde à abertura nasal anterior no crânio. Na vista interna da abertura piriforme se encontra o septo nasal ósseo, dividindo a cavidade nasal em duas fossas nasais, direita e esquerda. Na parede lateral de cada fossa nasal se encontram projeções curvas das placas ósseas, as chamadas conchas nasais superiores, médias e inferiores. A parte do viscerocrânio na face, entre a órbita e os dentes da arcada dentária superior, é formada pelo par de ossos maxilares. Superiormente, cada osso maxilar contribui para a formação das margens inferior e medial das órbitas. Lateralmente, o processo zigomático de cada osso maxilar se articula com o osso zigomático e, medialmente, o processo frontal de cada osso maxilar se articula com o osso frontal. Na superfície anterior do corpo da maxila, imediatamente abaixo da margem infraorbital, localiza-se o forame infra-orbital. Inferiormente, cada osso maxilar termina como processos alveolares e alvéolos dentários que contem os dentes da arcada dentária superior. 4 As maxilas estão unidas pela sutura intermaxilar no plano mediano. As maxilas contornam a maior parte da abertura piriforme e formam a margem infra-orbital média. Eles têm uma conexão ampla com os ossos zigomáticos lateralmente e um forame infra-orbital inferior para a passagem do nervo infra-orbital e vasos sanguíneos. Na vista anterior do crânio (Figura 1), a mandíbula é a estrutura óssea com forma de ferradura mais inferior. Consiste em corpo da mandíbula anteriormente e ramo da mandíbula, posteriormente. Estes se unem posteriormente, no ângulo da mandíbula. O corpo da mandíbula é dividido em duas partes: a parte inferior, base da mandíbula; e a parte superior, parte alveolar da mandíbula. A parte alveolar da mandíbula contém os dentes da arcada dentária inferior. A base da mandíbula tem uma protuberância, a protuberância mental em sua superfície anterior, onde os dois lados da mandíbula se unem. Imediatamente lateral à protuberância mental, a cada lado, identificam-se protuberâncias mais pronunciadas, os tubérculos mentais. Lateralmente aos tubérculos mentais, se encontram os forames mentais, entre a margem superior da parte alveolar da mandíbula e a margem inferior da base da mandíbula. DESCRIÇÃO DA VISTA LATERAL DO VISCEROCRÂNIO Os ossos da face observados em uma vista lateral do crânio incluem os ossos nasais, os ossos maxilares e os ossos zigomáticos. Os ossos nasais se apresentam como pequenos ossos classificados como laminares (planos), encontrados dispostos superiormente à abertura piriforme. Os ossos maxilares apresentam inferiormente os processos alveolares e alvélodentários que contêm os dentes. Superiormente, contribui para a formação das margens inferior e medial das órbitas. Medialmente, os processos frontais dos ossos maxilares se articulam com o osso frontal. Lateralmente, os processos zigomáticos dos ossos maxilares se articulam com o osso zigomático. 5 Os ossos zigomáticos apresentam forma irregular, contendo a superfície lateral arredondada para formar a proeminência da face. Medialmente, auxilia na formação da margem inferior das órbitas por meio de sua articulação com o processo zigomático do osso maxilar. Superiormente, os processos frontais dos ossos zigomáticos se articulam com os processos zigomáticos dos ossos frontais, auxiliando na formação da margem lateral da órbita. Lateralmente, os processos temporais dos ossos zigomáticos projetam-se posteriormente para se articular com o processo zigomático do osso temporal e, assim, formar o arco zigomático. O arco zigomático é formado pela união do processo temporal do osso zigomático e o processo zigomático do osso temporal. Outra importante estrutura do viscerocrânio é a fossa infratemporal. A fossa infratemporal apresenta-se como um espaço irregular e profundo inferior ao arco zigomático e a mandíbula e posterior à maxila. 6 Figura 1. Vista anterior do crânio MANDÍBULA A estrutura óssea inferior e final na vista lateral do crânio é a mandíbula. Inferiormente, identificam-se o corpo da mandíbula (anterior), um ramo da mandíbula 7 (posterior) e o ângulo da mandíbula - onde a margem inferior do corpo da mandíbula se encontra com a margem posterior do ramo da mandíbula. Os dentes da arcada dentária inferior se encontram na parede alveolar do corpo da mandíbula. O forame mental encontra-se na superfície lateral do corpo na mandíbula e, na parte superior do ramo, os processos condilar e coronoide estendem-se superiormente. O processo condilar apresenta-se envolvido na articulação formada entre a mandíbula e o osso temporal (Figura 2). Figura 2. Vista lateral do crânio DESCRIÇÃO DA BASE DO CRÂNIO 8 Denomina-se base do crânio a porção inferior do esqueleto cefálico formado pelo soalho da cavidade craniana do neurocrânio e pela parte inferior do viscerocrânio, exceto a mandíbula. Na vista externa e inferior da base do crânio identificam-se os ossos maxilares, ossos palatinos, o osso vômer, parte do osso esfenoide, osso temporal e o osso occipital. Na margem anterolateral do teto da cavidade oral localizam-se os processos alveolares e alvéolos dentários que abrigam a arcada dentária superior. O teto da cavidade oral, constituído pelo palato ósseo (palato duro), é formado pelos processos palatinos dos ossos maxilares, localizados anteriormente às placas horizontais dos ossos palatinos, posteriormente. No término do palato duro, posteriormente, identificam-se duas aberturas denominadas de coanas ou abertura nasal posterior. Na face inferior do crânio, o osso temporal apresenta os tubérculos articulares e as fossas mandibulares, onde os côndilos mandibulares se juntam para constituir a articulação temporomandibular. Na face inferior do crânio (Figura 3), o osso occipital apresenta um grande orifício denominado de forame magno. O forame magno serve como passagem para a medula espinhal, radículas nervosas dos nervos espinhais e meninges. Lateralmente ao forame magno do osso occipital encontram-se duas protuberâncias ósseas, chamadas de côndilos occipitais, que se articulam com a primeira vértebra cervical, atlas. 9 Figura 3. Vista inferior da base do crânio ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR A articulação temporomandibular (ATM) é uma articulação que se encontra entre a parte escamosa do osso temporal e o processo condilar da mandíbula. Esta compreende dois tipos de articulação sinoviais classificadas como dobradiça e 10 deslizamento. É formada pelo disco articular, processo condilar da mandíbula, ligamentos e a parte escamosa do osso temporal (Figura 4). Figura 4. Articulação temporomandibular Na parte escamosa do temporal, há uma superfície avascular composta de tecido conectivo fibroso em vez de cartilagem hialina. As principais áreas de suporte de 11 carga localizam-se na vista lateral da parte escamosa, a cabeça da mandíbula e o disco articular. O denso tecido conectivo fibroso é mais espesso nas áreas de suporte de carga. Anteriormente, a parte escamosa do temporal se relaciona com a eminência articular, tornando-se o tubérculo articular; numa parte intermediária, com a fossa mandibular e posteriormente a parte timpânica, que se afila na direção do tubérculo articular. A eminência articular é uma proeminência óssea na base do processo zigomático. O tubérculo articular está localizado na parte lateral da eminência articular e fornece fixação para a cápsula articular e para o ligamento lateral. A fossa mandibular é uma depressão na qual se localiza o processo condilar da mandíbula. Superiormente a esta fina lâmina de osso encontra-se a fossa média do crânio. Parte timpânica é uma lâmina vertical localizada anteriormente ao meato acústico externo. O tubérculo articular posterior é uma extensão inferior da parte escamosa do temporal; forma a face posterior da fossa mandibular e fornece fixação para a cápsula articular. O disco articular apresenta-se vascularizado e inervado nas áreas periféricas, sendo que na parte central é avascular e aneural. Ele está dividido em três porções, anterior - espessa porção se localiza anteriormente ao processo condilar da mandíbula com a boca fechada; intermédiaria, está localizada ao longo do tubérculo articular com a boca fechada; posterior, localizada superiormente ao processo condilar da mandíbula com a boca fechada. O disco articular divide a ATM em compartimentos superior e inferior. A superfície interna dos dois compartimentos forma um revestimento sinovial que produz um líquido sinovial, tornando a ATM uma articulação sinovial. O líquido sinovial atua como um lubrificante e também fornece as necessidades metabólicas para as superfícies articulares da articulação temporomandibular. A cápsula articular circunda completamente a superfície articular do osso temporal e do processo condilar da mandíbula. Composta por tecido conjuntivo fibroso e 12 reforçada ao longo das faces medial e lateral por ligamentos. Revestida por uma membrana sinovial altamente vascularizada. Os ligamentos colaterais são o ligamento colateral medial e ligamento colateral lateral. O ligamento colateral medial conecta a face medial do disco articular ao polo medial do processo condilar da mandíbula. O Ligamento colateral lateral conecta a face lateral do disco articular ao polo lateral do processo condilar. Os dois são compostos por tecido conectivo colagenoso. O ligamento lateral apresenta-se espesso na face lateral da cápsula articular e impede o deslocamento lateral e posterior do processo condilar da mandíbula. É composto por duas porções separadas, a parte oblíqua externa e a parte horizontal interna. A parte oblíqua externa é a maior porção; presa ao tubérculo articular, cursa póstero-inferiormente para se fixar em uma região imediatamente inferior ao processo condilar da mandíbula. Isto limita a abertura da mandíbula. A parte horizontal interna é a menor porção; está presa ao tubérculo articular cursando horizontalmente para se fixar à parte lateral do processo condilar da mandíbula e disco articular. Isto limita o movimento posterior do disco articular e do processo condilar. O ligamento estilomandibular é composto por um espessamento da fáscia cervical profunda. Estende-se do processo estiloide para a margem posterior do ângulo e ramo da mandíbula. Auxilia a limitar a protusão anterior da mandíbula. O ligamento esfenomandibular estende-se da espinha do osso esfenoide até a língua da mandíbula. A zona bilaminar localiza-se posteriormente ao disco articular. É composta pela lâmina posterior, que contém fibras elásticas e ancora a face superior da porção posterior do disco articular à cápsula articular e ao osso temporal, no tubérculo articular posterior e parte timpânica. O coxim retrodiscal corresponde à porção altamente vascularizada e inervada da ATM, formado por colágeno, fibras elásticas, tecido adiposo, nervos e vasos sanguíneos. 13 BOCA E CAVIDADE BUCAL A boca é a primeira porção do canal alimentar, comunicando-se anteriormente com o meio externo por meio de uma abertura na forma de uma fenda transversal mediana limitada pelos lábios superior e inferior e a rima bucal (Figura 5). Figura 5. Boca A cavidade da boca (cavidade oral ou bucal) é uma cavidade com forma semi-oval, delimitada lateralmente pelos dentes e bochechas, superiormente pelos palatos duro e mole, inferiormente pela língua e posteriormente pelo istmo das fauces (ou istmo da garganta). 14 A cavidade bucal apresenta-se dividida em dois compartimentos, um externo e outro interno. A parte externa, menor, corresponde ao vestíbulo bucal, e a outra interna, maior, é a cavidade bucal propriamente dita. O vestíbulo é um espaço em forma de fenda, cujo limite externo é feito pelos lábios e bochechas e internamente pelas gengivas e dentes. A cavidade bucal propriamente dita possui seu teto formado pelos palatos duro e mole, seu assoalho formado pela língua e sua parede anterolateral pelas arcadas dentárias, superior e inferior. Os lábios correspondem a duas pregas carnosas ao redor da abertura da boca. São revestidos externamente pela pele e internamente por mucosa. Assim como as bochechas, os lábios auxiliam na manutenção do alimento entre os dentes superiores e inferiores. O palato separa a cavidade nasal da cavidade oral (Figura 6). É formado pelo palato duro, constituído por parte uma dos ossos maxilares e ossos palatinos, e pelo palato mole formado por tecido muscular. Do palato mole, no plano mediano, projeta-se uma saliência cônica denominada úvula palatina. Posteriormente ao palato mole, a cavidade bucal comunica-se com a parte oral da faringe por meio de uma abertura chamada de istmo das fauces (ou istmo da garganta). Lateralmente a úvula ocorre à projeção de pregas musculomembranosas revestidas por mucosa chamadas de prega palatoglosso e prega palatofaríngea. Entre estas se identificam as fossas tonsilares preenchidas pelas tonsilas palatinas. 15 Figura 6. Boca e cavidade bucal. As bochechas encontram-se constituindo as paredes laterais da cavidade bucal, sendo revestidas por epitélio pavimentoso estratificado. São formadas por alguns músculos acessórios da mastigação, entre os quais se destacam os músculos bucinadores, que impedem o alimento de escapar da ação trituradora dos dentes. Dentes Para que o alimento sólido seja reduzido a pequenas partículas, anteriormente à ação das enzimas digestivas liberadas junto ao processo de insalivação, os dentes promovem essa função através do processo da mastigação. 16 Os dentes são estruturas acessórias do sistema digestório. São elementos rijos, esbranquiçados, implantados em cavidades da maxila e da mandíbula denominados de alvéolos dentários. Em cada dente distinguem-se três partes, a coroa, que corresponde à parte exposta livre; a raiz, que consiste de uma a três projeções implantadas no alvéolo e o colo, zona estreitada circundada pela gengiva. Durante a vida do indivíduo surgem duas dentições, a decídua, ou temporária, e a permanente. A dentição decídua, existente principalmente na primeira década de vida, é constituída por 20 dentes, sendo 08 incisivos, 04 caninos e 08 molares. A substituição dos dentes decíduos pelos dentes permanentes ocorre a partir de seis ou sete anos de idade, podendo se estender até 25 anos de idade. Na dentição permanente do indivíduo adulto há trinta e dois dentes, sendo oito incisivos, quatro caninos, oito pré-molares e doze molares. Os seres humanos possuem diferentes dentes que desempenham diferentes funções. Os incisivos são destinados a cortar os alimentos, por terem uma forma de bisel. Os caninos situados posteriormente aos incisivos possuem uma superfície pontiaguda favorável para lacerar e rasgar o alimento. Os dentes pré-molares e molares apresentam classicamente duas e três cúspides, respectivamente, para triturar e esmagar o alimento. Língua 17 Figura 7. Língua. A língua é uma estrutura muscular revestida por mucosa situada no assoalho da boca. É o principal órgão gustativo, além de auxiliar na mastigação, deglutição dos alimentos e na articulação da fala. É uma estrutura acessória do sistema digestório, composta de músculos estriados esqueléticos divididos em dois grupos (Figura 7), músculos intrínsecos da língua (formando a língua propriamente dita) e os músculos extrínsecos (constituintes do assoalho da mandíbula). Entre os músculos intrínsecos e extrínsecos da língua encontra-se o frênulo da língua, caracterizado como uma prega de túnica mucosa localizada na face inferior e mediana da língua. É responsável pelo limite dos movimentos da língua no sentido posterior. Na face superior e nas margens anterolaterais da língua são encontradas projeções denominadas de papilas linguais. Atuam como receptores para o paladar doce, salgado, azedo e amargo. 18 A língua contribui para a mistura da saliva com o alimento, mantém o bolo alimentar pressionado entre os dentes para a mastigação e auxilia no mecanismo de deglutição. Glândulas Salivares As glândulas salivares são responsáveis pela secreção de um líquido denominado saliva. O mecanismo de salivação apresenta-se totalmente controlado pelo sistema nervoso. O alimento, sentido pelo olfato ou pelo paladar quando ingerido, estimula as glândulas salivares a secretarem intensamente. Ou mesmo quando pensado, impulsos parassimpáticos aumentam a secreção da saliva. As glândulas salivares são divididas em glândulas maiores e menores. Sua função é a produção e secreção de saliva para a cavidade bucal, auxiliando na digestão. O corpo humano possui seis glândulas maiores, três de cada lado da face e pescoço. São elas, glândula parótida, glândula submandibular e glândula sublingual. As glândulas menores, normalmente entre seiscentas e mil, são distribuídas aleatoriamente dentro da cavidade oral. Glândula parótida É a maior glândula salivar (Figura 8). Localiza-se anteriormente à orelha e atrás do ramo da mandíbula, pesa 14 g a 28 g, sendo intimamente associada aos ramos periféricos do nervo facial (VII). Seu ducto dirige-se anteriormente sobre o músculo masseter e atravessa a bochecha, podendo ser facilmente palpado com o dedo no interior da boca, quando ela está entreaberta. O ducto internaliza-se e se abre na cavidade oral na papila parotídea próximo ao segundo molar superior. 19 Figura 8. Glândula parótida. Glândula submandibular É a segunda glândula em tamanho (Figura 9). Situada na porção posterior do assoalho da boca, dobra-se contra a face medial da mandíbula e pesa, em média, entre 10g e 15 g, apresentando um ducto excretor que se abre na boca, abaixo da 20 língua, através de um pequeno orifício lateral ao frênulo lingual. Contém tanto células serosas, quanto células mucosas. Figura 9. Glândula submandibular. Glândula sublingual A glândula sublingual, em forma de amêndoa, é a menor dos três pares de glândulas salivares maiores, pesando cerca de 2 g e estando situada no assoalho da boca, entre a porção lateral da língua e os dentes. Sua secreção é eliminada para o meio 21 bucal por meio de um número variável de pequenos ductos que se abrem numa elevação da prega sublingual. Frequentemente, porções das glândulas sublinguais e submandibulares humanas misturam-se para formar um complexo sublingual-submandibular. Glândula salivar menor São numerosas glândulas salivares menores; existem como pequenas massas discretas que ocupam a submucosa na maior parte da cavidade oral. Os únicos locais onde elas não se encontram são a gengiva aderida, face dorsal do terço anterior da língua e a porção do terço anterior do palato duro. GRUPAMENTOS MUSCULARES DA FACE Os principais grupos musculares na face incluem: • Músculos da face (determinam a expressão facial); • Músculos da mastigação (movimentam a mandíbula – relacionam-se com a articulação temporomandibular); • Músculos do palato mole (elevam e deprimem o palato); • Músculos da língua (movimentam e alteram a forma da língua). Os principais músculos da face são: músculo occipitofrontal (ou músculo do epicrânio), músculo prócero, músculo nasal, músculo orbicular do olho, músculo orbicular da boca, músculo levantador do lábio superior e da asa do nariz, músculo levantador do lábio superior, músculo zigomático maior, músculo zigomático menor, músculo risório, músculo bucinador, músculo depressor do ângulo da boca, músculo depressor do lábio inferior e músculo mental. 22 Os músculos da mastigação são: músculo masseter, músculo temporal, músculo pterigoideo medial e músculo pterigoideo lateral. Os músculos do palato mole são: músculo da úvula, músculo levantador do véu palatino, músculo palatoglosso e músculo palatofaríngeo. Os músculos da língua são: músculo longitudinal superior, músculo vertical da língua e músculo longitudinal inferior. Referências: 1. DÂNGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu, 2005. 2. ELIS, H., LOGAN, B., DIXON, A. Anatomia Seccional Humana. São Paulo, Editora Santos, 2001. 3. FLECKENSTEIN, P.; TRANUM-JENSEN, J. Anatomia em Diagnóstico por Imagens. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2004. 4. GUYTON AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006. 5. Gray, Tratado de Anatomia Humana. 36ª Edição, Guanabara Koogan, 2000. 6. MOORE, K. L., DALLEY, A. F. Anatomia Orientada para a Clínica. 5ª Edição. Editora Guanabara Koogan 2007. 7. NETTER, F. Atlas de Anatomia Humana. Editora Artmed. 2004. 8. SOBOTTA. Atlas de Anatomia Humana. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2006. 9. SPENCE, A. P. Anatomia Humana Básica. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1991. 23 10. ROHEN, J. W. Y., YOKOCHI, C. Atlas Fotográfico de Anatomia Humana. Editora Manole.2004. 11. Van de Graaff KM. Anatomia Humana. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2003. 12. WEIR, J.; ABRAHAMS, P.H. Atlas de Anatomia Humana em Imagens. 2ª ed. São Paulo: Manole,2000. 13. WOLF-HEIDEGGER, G. Atlas de Anatomia Humana. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 24