Ano X • nº 193
Maio de 2011
R$ 5,90
3
em poucas palavras
Na seção Verso & Prosa, apresentamos um bom motivo
para sair de Brasília e fazer um programa diferente: a
3ª Festa Literária de Pirenópolis, mais conhecida como
Flipiri, que este ano prestará uma homenagem à poetisa
goiana Cora Coralina (página 29).
Em Galeria de arte, elencamos nove sugestões de
exposições em cartaz na cidade. Tem de tudo um pouco:
a epopeia da construção de Brasília, a arte contemporânea do alemão Gerhard Richter, as xilogravuras
de Rubem Grilo e um panorama da arte islâmica.
E – o que é muito bom – todas com entrada franca
(página 26).
Continua até o dia 29 o festival Brasil Sabor. Com 87
participantes em Brasília, as novidades dessa sexta edição
são os descontos de 50%, que podem ser conseguidos
num site de compras, e vinho a R$ 5 a garrafa. Sem
contar as inúmeras oficinas gastronômicas que estão
percorrendo os shoppings da cidade e reunindo muita
gente boa em volta de um fogão (página 7).
Para encerrar, duas sugestões de shows neste mês de
maio: Cauby canta Sinatra, dia 21, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e Jack Johnson – To the sea, dia 25,
no estacionamento do Mané Garrincha. Confira em Dia
& Noite (página 14) e Graves & Agudos (página 20).
Boa leitura e até junho.
Divulgação
Acaba de sair do forno Rock Brasília, filme do cineasta
Vladimir Carvalho que será lançado em julho próximo.
O sonho de documentar a vocação roqueira da cidade
começou em 1987, quando Vladimir filmou os shows que
o Capital Inicial fez, abrindo para Sting. Ficou mais forte
quando, em 1988, ele registrou o show da Plebe Rude na
antiga boate Zoom, do Gilberto Salomão. E, finalmente,
virou compromisso quando a Legião Urbana fez aquela
fatídica apresentação no Mané Garrincha, em 1988, que
acabou em pancadaria. Nossa matéria de capa antecipa
os detalhes da filmagem dessa saga que traz registros raríssimos e históricos de Renato Russo e Cia. (página 30).
26 galeriadearte
Deslocamento do olhar, xilogravura de Rubem Grilo, é uma
das obras desse ex-ilustrador do jornal Pasquim presentes
em uma das nove exposições que selecionamos para você .
6
8
10
12
14
20
24
29
30
águanaboca
picadinho
garfadas&goles
pão&vinho
dia&noite
graves&agudos
cartadaeuropa
verso&prosa
luzcâmeraação
Maria Teresa Fernandes
Editora
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – CEP 70322-915 – Tel: 3964.0207
Fax: 3964.0207 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação [email protected] | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa Carlos
Roberto Ferreira, sobre foto de divulgação| Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos
Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Bruno Henrique Peres, Eduardo Oliveira, Guilherme Guedes, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz
Recena, Quentin Geenen de Saint Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo
Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral | Para anunciar Ronaldo Cerqueira (8217.8474) | Assinaturas (3964.0207) | Impressão Teixeira Gráfica e
Editora | Tiragem 10.000 exemplares.
www.roteirobrasilia.com.br
5
Divulgação
Mauro Holanda
água na boca
Camarões à Bela Sintra
Bacalhau como se faz na fazenda
Invasão paulista
N
ão foi só na rota dos grandes
shows internacionais que Brasília ingressou nos últimos tempos
– ao que tudo indica, em definitivo –
mas também na das grifes gastronômicas
do eixo Rio-São Paulo. Depois do Gero,
Galeto’s e Pobre Juan, trazidos pelo Iguatemi Shopping, e antes do Antiquarius,
Due Cuochi, La Tambouille e The Fifties,
que o ParkShopping promete para outubro, prepara-se para desembarcar na cidade um dos mais premiados restaurantes de comida portuguesa de São Paulo.
Quem passa hoje pela 105 Sul não
imagina que por trás da fachada de vidros espelhados do Bloco D (na extremidade oeste da comercial) está em execução
o projeto do arquiteto Maurício Karam
para a primeira filial do A Bela Sintra,
6
que há sete anos faz sucesso na rua homônima do bairro de Cerqueira César,
na região dos Jardins, em São Paulo –
graças, em boa parte, ao cardápio assinado pela chef portuguesa Ilda Vinagre, que
faz a alegria de celebridades como Hebe
Camargo, Adriane Galisteu e Eliana.
Por que Brasília? Quem responde é o
restaurater alentejano Carlos Bettencourt,
proprietário do restaurante: “Por ser um
mercado promissor, com nichos ainda a
serem explorados. A partir do momento
em que detectamos essa oportunidade,
por meio de pesquisa de mercado, decidimos fazer o investimento”. Ele admite
que o resultado é, por enquanto, uma incógnita. Indagado sobre os restaurantes
portugueses da cidade que poderiam lhe
fazer concorrência, citou o Dom Francisco, o Zuu e a Trattoria da Rosário, revelando limitado conhecimento sobre o
cenário gastronômico brasiliense.
Bettencourt define o conceito culinário do A Bela Sintra como “cozinha interDivulgação
Por Adriano Lopes de Oliveira
Bettencourt: de olho em novos nichos de mercado
nacional com raízes portuguesas”. Vinda também do Alentejo há apenas dois
anos, Ilda Vinagre é a chef executiva dos
três restaurantes do empresário – os outros são o Trindade e o Buffet Bela Cintra, ambos na capital paulista. Mas a cozinha da filial brasiliense será comandada pelo chef residente Francisco Alves.
Dos 60 funcionários, 40 estão sendo recrutados em Brasília e os demais virão
de São Paulo.
Também aqui o carro-chefe da casa
será o bacalhau, oferecido em nada menos de 15 versões, que deverão dividir a
preferência dos clientes com a perna de
cordeiro com feijão branco e o camarão a
Bela Sintra, entre outros pratos clássicos
portugueses. A integração das culturas
brasileira e lusitana se faz presente na sobremesa, em guloseimas como o creme
de leite queimado, o arroz doce, a mousse
de coco light, a encharcada de fios de
ovos, o toucinho do céu e a sericaia do
Alentejo.
Espalhados por três andares, os 900
m2 do restaurante poderão receber simultaneamente até 120 pessoas. À entrada, um grande volume em pedra,
com molduras em cobre, dividirá os ambientes do bar e do salão, sob um forro
de luz que muda de intensidade conforme a luminosidade externa, criando, à
noite, cenários diferenciados. Nos fundos da grande “caixa” de vidro, com vista para a quadra residencial, haverá uma
pequena praça, projetada pelo paisagista
Alex Hanazaki, com um fumoir a céu
aberto. No andar superior, um lounge e
um bar atenderão a três salas vips para
almoços e jantares reservados, decoradas com obras da artista plástica Sônia
Menna Barreto.
A Bela Cintra
105 Sul – Bloco D
De 2ª a 5ª feira, das 12h às 15h30 e das
19 á 1h; 6ª feira, das 12h às 15h30 e das
19 às 2h); sábado, das 12 às 2h; domingo,
das 12h às 23h30.
Mais informações: www.abelasintra.com.br.
O festival melhorou
Desconto de 50% no ClickOn e vinho a R$ 5
são as boas novidades do Brasil Sabor 2011
A
sexta edição do festival Brasil Sabor, iniciada em 28 de abril, trouxe duas ótimas novidades. A primeira vale para todo o país: os pratos de
alguns restaurantes – que custam R$ 23,
R$ 33 ou R$ 43 – poderão ser comprados
no site ClickOn com 50% de desconto.
Os preços mais acessíveis beneficiarão a
todos, explica Paulo Solmucci Júnior,
presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel): “A compra
antecipada é ótima para os consumidores, beneficiados com o desconto, e para
os empresários, que terão condições especiais para aprimorar suas vendas e potencializar seus negócios”. No site ClickOn os
consumidores poderão identificar os restaurantes que aderiram a essa promoção.
A outra novidade beneficia apenas os
brasilienses: aqui, quem consumir qualquer um dos pratos do festival acompanhado de uma garrafa de vinho nacional
– escolhido na carta criada especialmente
para o Brasil Sabor – poderá levar outra
para casa por apenas R$ 5. Tratase de uma ação promocional do
vinho brasileiro, resultado de
parceria entre a Abrasel-DF e as
principais vinícolas nacionais.
Como nas edições anteriores
do festival, quem quiser participar do Circuito Gourmet (ou seja,
experimentar pratos de seis restaurantes diferentes) poderá saborear o sétimo de graça. Este
ano, quem completar o circuito
em apenas uma semana ganhará
não apenas um, mas dois pratos.
Para os clientes da Vivo, a corrida
será mais curta: consumindo cin-
co pratos, em diferentes restaurantes, poderão repetir um deles, bastando apresentar seu aparelho com linha da operadora e SMS promocional, junto com um
documento de identificação.
As oficinas de gastronomia são uma
atração à parte. Coadjuvados por jornalistas de publicações especializadas, alguns
dos principais chefs brasilienses ensinam
suas técnicas culinárias a grupos de no
máximo 30 pessoas. A série foi aberta dia
28 com uma aula do chef David Lechtig,
do El Paso Texas, assessorado pela editora da Roteiro, Maria Teresa Fernandes,
no Terraço Shopping (foto abaixo). Em
sua oficina gastronômica sensorial, ele
ensinou o passo a passo de um delicioso
ceviche limeño. As aulas prosseguem até o
dia 29 em vários shoppings da cidade.
Brasil Sabor 2011
Até 29/5 em 87 restaurantes da
cidade (relação completa em
www.brasilsabor.com.br\festival.
Oficinas gastronômicas: 3321.7440.
Cristiano Eduard
7
Divulgação
Rafael Lobo
picadinho
Sagre Paesane
O restaurante Oscar, do Brasília Palace
Hotel, dá continuidade ao cardápio
especial lançado em abril, batizado
de Sagre Paesane (festas populares, em
italiano). A cada mês é homenageada
uma região italiana. Em maio será a
vez da Emilia-Romagna, cuja capital
é Bolonha, conhecida como um dos
principais pontos gastronômicos da Itália.
O chef Luca Cimarelli apresenta, entre
outras opções, saladas e entradas típicas,
brusquetas, rolinhos de abobrinha
recheada, além de queijos e frios. Nos
pratos quentes, destaque para o risoto
de linguiça calabresa e abobrinha, massas
e bacalhau, acompanhados de pães
produzidos no próprio restaurante com
receitas genuinamente italianas. O menu
completo – entrada, prato principal
e sobremesa – custa R$ 60.
Divulgação
Saúde e sabor
A rede de culinária italiana Spoleto acaba
de lançar um prato promocional por
apenas R$ 9,90. Trata-se do Spaghetti
Caprese di Ricotta, receita tradicional
do sul da Itália, com molho ao sugo
importado, ricota e folhas de manjericão.
Pagando mais R$ 2,50 o cliente pode
personalizar o prato, acrescentando-lhe
quatro ingredientes extras.
A sorveteria artesanal Sorbê (405 Norte)
possui em seu cardápio um sorvete ideal
para quem tem diabetes ou sofre de
intolerância à lactose. O sorvete de
pistache italiano não contém açúcar nem
leite e derivados. O gosto do pistache
lembra uma combinação de amêndoas
com amendoim e possui um aroma
especial, bem diferente do pistache
processado.
Divulgação
Divulgação
8
pessoas, tem mesa de sinuca e TV de LCD,
em ambiente que lembra casas antigas de
Olinda. O novo boteco fica na 404 Norte,
próximo ao Fulô do Sertão, e funciona de
segunda a sábado, das 17 às 24 horas.
Bom preço
Almoço na Devassa
A recém-inaugurada Cervejaria Devassa
(409 Sul) acaba de lançar um menu para
o almoço, servido de terça a sexta-feira.
Os pratos são uma releitura dos petiscos
da casa. É o caso da Afogadinha no tutu
(R$ 21,90), inspirada na clássica Afogada
na cachaça: calabresa fatiada e flambada
na cachaça, acompanha de cebolas
salteadas, tutu com arroz e couve. Outras
criações são a Lamparina com feijão
(carne seca desfiada com pedaços de
aipim frito), a R$ 22,90; a Carnudinha
maluca (frigideira de filé ao molho roti
com cebola, queijo derretido e aipim
crocante) e o Picadinho (cubos de filé
mignon com arroz, feijão preto, farofa de
banana e ovo pochê), ambos a R$ 24,90.
Boteco nordestino
Mãerena
O restaurante Fulô do Sertão inaugurou
no mês passado o Boteco Vila Fulô, com a
proposta de oferecer boa bebida, pizzas,
petiscos variados e atrações musicais de
qualidade. Com capacidade para até 120
A doceira Maria de Fátima resolveu
homenagear as mães pelo seu dia criando
a Mãerena, uma torta com recheio de
amarena e crocante de nozes. A fruta,
pela qual ela se apaixonou em uma de
Divulgação
batatas fritas, chips de mandioca ou batata gratinada com queijo gruyere
e alho poró. A sobremesa – papo de anjo
– será cortesia da casa.
Premiados
Divulgação
Almoço das mães
Divulgação
suas viagens à Itália, é uma cereja ácida,
conhecida também como ginja, nativa da
Europa. A torta pode ser encomendada
em sua loja da 716 Norte, Bloco C,
ou pelo telefone 3368-9321.
Três rótulos da Miolo Wine
Group foram premiados no
primeiro Concurso de Vinhos
da Feira FWS Brasil – Four
Wine Seasons, em São José
dos Campos. O Miolo RAR
Cabernet/Merlot ficou em
primeiro lugar na categoria
vinhos tintos de corte. No
grupo dos espumantes
nacionais, o Miolo Brut Millesime levou medalha de
ouro e o Miolo Brut Rose
medalha de bronze.
Novos espumantes
O 4Doze Bistrô (412 sul) é uma das boas
opções para o almoço do Dia das Mães.
A sugestão do restaurater Daniel Vieira
é o salmão grelhado com manteiga de
frutas cítricas (R$37,90), servido com dois
acompanhamentos que o cliente poderá
escolher nesta lista: arroz branco, arroz
com brócolis, farofa de ovos com cebola
e salsinha, duo de purês (abóbora com
mel e cará com hortelã), salada de cuscuz
marroquino, espetinho de legumes
grelhados na manteiga de ervas, salada
de folhas com molho de mostarda,
Outra novidade anunciada pela Miolo é
o lançamento da linha de espumantes da
vinícola Almadén. São duas versões (brut
e meio doce) elaboradas com uvas Chenin
Blanc, Semillon e Chardonnay em Santana
do Livramento, pelo método charmat em
autoclaves de inox, o mesmo usado nos
espumantes Terranova. “Os espumantes
são jovens e leves, de frescor marcante,
resultado do equilíbrio entre a acidez da
Chenin Blanc, a estrutura e complexidade
da Chardonnay e os aromas cítricos e
frutados da Semillon”, explica o diretor
da Almadén, Afrânio Moraes. As duas
novidades chegarão aos pontos de venda
nas primeiras semanas de maio, ao preço
médio – bastante convidativo – de R$ 12.
Não custa experimentar.
O Le Jardin dul Golf completou um ano
e para comemorar incluiu pratos novos
em seu cardápio: camarões com zucchini
e fettuccine no próprio molho (R$ 83),
carré de cordeiro e risoto de funghi ao
molho de vinho Porto e cassis (R$ 69,50),
nhoque ao ragu de codorna (R$ 39,50), codorna ao molho de champanhe e uvas
verdes (R$ 49,50) e linguini ao tartufo nero (R$ 47). O cardápio executivo também
recebeu uma interessante novidade: bombom de alcatra com arroz biro-biro
(R$ 45). Os festivais que marcaram o primeiro ano da casa continuam a pleno vapor:
às terças-feiras, o festival de risoto; às sextas-feiras, a lagosta; aos sábados, a feijoada.
Outra tradição da casa é o nhoque da fortuna: um festival com três sabores da
iguaria (R$ 45 por pessoa), no dia 29 de cada mês. O restaurante fica localizado
no Clube de Golfe – Setor de Clubes Sul, Trecho 2.
Breno Pina
Primeiro aniversário
9
GARFADAS & GOLES
Receitas de mulheres:
Luiz Recena
garfadas&[email protected]
mãe, vó, tia, sogra...
A distância aumenta a saudade e provoca a memória. E em épocas de festas clássicas, ainda que mais comerciais a cada dia, tipo
Dia das Mães, por exemplo, o argumento apelativo das vendas não consegue bloquear, na totalidade, o pingo de sentimento puro
que ainda carregamos. Esse momento, só um átimo que seja, é aquele a ser usado para homenageá-las, festejá-las. Mesmo que
na distância de um tempo que se foi. Para as que estão no pedaço, alegria; para as que foram embora, uma lembrança, um
sentimento de gratidão e uma lágrima furtiva. Feliz dia para todas e todos!
No início, tudo em casa
A infância do colunista, à beira-rio passada, está cada vez mais
distante, tal qual o rio que a emoldurou. E dela brotam, nesses
dias especiais, sabores idem. É uma polenta mole acompanhando
uma carne de panela; um talharim com cogumelos catados nas
coxilhas da fronteira oeste do Rio Grande do Sul; um bacalhau
simples, com batatas; ou um “puchêro” (espécie de cozido
campeiro), único nas redondezas. Nossa turma não tinha campo,
mas era campeira, num tempo em que dois terços da população
do município viviam no campo e dele dependiam.Comerciantes,
funcionários e profissionais liberais, mais urbanos, viviam na
cidade, mas do campo igualmente dependiam.
A origem dos pratos
Os imigrantes entravam pela Argentina ou Uruguai. Mais
espanhóis e italianos, que se juntavam a portugueses e nativos
com longínquos registros de presença naqueles fundos de mundo.
Penso que, por tão distantes, nem Judas quis ali “perder suas
botas”. Dessa grande mistura saíram receitas, uma “fusión”
especial, que não desconstruía nenhum ingrediente alheio. Ao
contrário, ao encontrá-los, os juntava na íntegra. E o resultado,
além de saboroso, era farto, muito farto. Afinal, eram muitas
bocas a comer, sim senhor. Então, talharim e polenta da nona
italiana, paterna; o bacalhau de uma bisa portuguesa, aperfeiçoado
por uma abuela y uma mamá hispano-nativas; e o puchêro, por
inspiração, a partir do conceito básico, foi recriado e robustecido
com os fortes ingredientes locais. Ah! Ainda tinha o mocotó,
a canjica, o minestroni, a tortilla. Mas é hora de deixar em paz
essas mulheres, que agora dormem o sono e a sabedoria da
terra. Em tempo: as receitas não se perderam: ficaram bravas
irmãs, primas, cunhadas, fiéis, fidelíssimas depositárias da arte
de transformar o mundo a partir de panelas, e dar de comer
a seus homens e mulheres per omnia secula saeculorum. Amém!
Especial: o feijão da vó
10
Para mim era só a vó. Para outras e outros, era mãe, tia, dona etc.
Velhinha, ainda fazia um feijão diário, básico, preto, com caldo
e algumas carninhas. O povo mais moço batia porta: “Tia, dona,
fazemos nosso feijão do jeitinho que a senhora ensina, mas não
sai nunca com o mesmo gosto do seu, por que?”. E ela: “Vocês
provam o feijão e depois lavam a colher?” E elas, em uníssono:
“Claro, tiaaa”! E ela, com aquele sorriso irônico de experiência
feito: “Taí o erro, eu não lavo...”. Risos e mais uma anedota para
a lenda familiar.
Especial dois: o estrogonofe
Ela não sabia e não gostava de cozinhar. Nem mesmo de ler
receitas. Seu primeiro sonho foi estudar e trabalhar com o
intelecto. A vida não deixou. Nem a economia daqueles tempos.
Trabalhava para o sustento próprio e ajuda aos irmãos menores
quando conheceu o homem dela. O resto está na história do
machismo. Décadas depois, além da tarefa diária de alimentar
o tio, ganhou um sobrinho adolescente e, é claro, faminto.
Desenvolveu e ensinou a cozinheira a fazer um estrogonofe
incrementado que nem na Rússia soviética encontrei algo
parecido. Não importa, era ótimo e a discussão não era ideológica,
era fisiológica: dois estômagos masculinos, de dois homens
amados, queriam comer.
Especial três: camarão com chuchu
Uma paraibana casou com um gaúcho da fronteira e foi morar no
Rio Grande do Sul. O que esperar? Duas certezas, pelo menos:
filhos bravos e uma boa cozinha. Sobre filhos e filhas não escrevo
porque hoje é coluna para mães. Mas conhecer um camarão com
chuchu, naqueles tempos imemoriais, no interior gaúcho, é
lembrança ainda viva na memória do colunista. Não esqueçamos:
sogras são mães. Há quem teve uma, duas, e paremos por aqui
porque hoje não é dia de estatísticas. Brinde para elas. Todas.
Especial quatro: receitas especiais
E também existem aquelas que não são mães biológicas, nem
fizeram adoções de pequenas crianças. Preferiram adotar homens
crescidos (escrevi crescidos?...). Elas têm receitas especiais, de
vida e/ou panela. Pode ser a mesma coisa, mas o poeta cubano
lembraria que não iguais. Agora, pensemos em beijos só para elas.
P.S. memória
Três dos meus 18 leitores e meio usaram seus tambores digitais
para vir em meu socorro, todos lembrando o nome da velha
churrascaria do Hotel Nacional: Tabu, ou Taboo. Dois puxando
minhas orelhas por não ter citado o Xadrezinho, bar e boate de
uma escuridão própria para encontros casuais, outros não tanto,
contrabandos e outros quetais. Não frequentei. Explico: era repórter iniciante, salário baixo, casado jovem e... fiel! Havia quem
não fizesse nada disso e fosse ali só para comer e beber bem. Um
deles ainda lembrou o nome alemão do tri-nacional da Asa Norte:
Hoffman, Confalonieri e Também da Silva (este do Jonio, colega
mais velho, impaciente diante da burrice alheia, que certamente
me daria um cascudo). A todos um saudoso agradecimento.
Fotos: Rodrigo Oliveira
Risoto de abobrinha com frutos do mar ao pesto
Receita da chef Talita Cruvinel, do restaurante Triplex (para cinco pessoas)
Ingredientes
Do risoto de abobrinha
• 200 g de arroz arborio, carnaroli ou calriso
• Azeite extra-virgem (quanto baste)
• 200 ml de vinho branco seco de boa qualidade
• 1 cebola finamente picada
• 2 dentes de alho finamente picados
• 1 abóbora menina em meias rodelas finas
• 2 litros de caldo de galinha fervendo
• Sal (quanto baste)
• 2 colheres (sopa) de manteiga
• 1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado na hora
Do pesto
• 1 maço de manjericão fresco (somente as folhas)
• 3 colheres (sopa) de pinoles
• 3 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado
na hora
• 1 dente de alho
• Pimenta do reino moída na hora (quanto baste)
• Sal (quanto baste)
• Azeite extra-virgem (quanto baste)
Dos frutos do mar
• 200 g de camarões grandes descascados
(com a cauda)
• 200 g de lula em anéis
• 200 g de polvo em pedaços
• 200 g de mexilhões (sem as conchas)
• Sal (quanto baste)
• Pimenta do reino moída na hora (quanto baste)
• Azeite extra-virgem (quanto baste)
Modo de preparo
Do risotto de abobrinha
Em uma panela de fundo espesso, refogue a cebola e o alho até ficarem levemente
transparentes, adicione o arroz sem lavar e refogue por mais alguns minutos. Deglace com
o vinho e deixe-o evaporar. Acrescente, então, duas conchas do caldo de galinha fervente e,
em seguida, a abobrinha cortada. À medida que o caldo vai sendo absorvido, vá colocando
mais, sempre de concha em concha, e mexendo bem, até que o arroz esteja al dente e quase
sem caldo. Nesse momento, verifique o sal e finalize com a
manteiga e o queijo parmesão.
Do pesto
Em um liquidificador ou mixer, coloque as folhas de
manjericão, o alho, os pinoles, o parmesão, uma pitada
de sal e pimenta do reino e bata, acrescentando o azeite
em fio até obter uma pasta homogênea. Verifique
o tempero, adicionando mais sal ou pimenta do reino,
se necessário.
Dos frutos do mar
Tempere os frutos do mar com sal e pimenta
do reino. Em uma frigideira, aqueça um fio de
azeite e salteie os frutos do mar até que todos
estejam cozidos. Acrescente uma colher (sopa)
de pesto e salteie mais alguns segundos para
que o pesto envolva os frutos do mar.
Montagem do prato
Em um prato fundo, coloque uma concha
do risoto de abobrinha. Por cima do risoto,
disponha uma boa colherada de pesto e
por cima do pesto disponha os frutos do
mar salteados. Sirva imediatamente.
11
PÃO & VINHO
ALEXANDRE FRANCO
pao&[email protected]
Expovinis sempre se renovando
Mais uma vez, chega a São Paulo a Expovinis, maior
feira de vinhos da América Latina. Como sempre, marco
presença para contatar velhos amigos, fazer novos,
conhecer novos vinhos, relembrar os antigos, mas
principalmente para trazer aos nossos leitores minhas
impressões sobre essa mostra.
Como venho reparando e comentando nos últimos
anos, a cada ano a Expovinis se renova quanto aos seus
expositores. As importadoras mais tradicionais, que já
fizeram seu nome no mercado de forma incontestável,
deixam de realizar o alto investimento que implica
sua participação nesse evento, optando por realizar
exposições-solo ou simplesmente manter um marketing
direto focado em seus consumidores.
Assim foi com a Mistral, a Grand Cru, a World Wine,
a Península, a Expand e tantas outras que já lá estiveram,
mas ao longo dos anos vão deixando de marcar presença.
Algumas ainda persistem, como é o caso da Interfood,
da Qualimpor, da Decanter, da Hannover e da Adega
Alentejana, por exemplo.
O interessante, com isso, abre-se espaço para que
importadoras chegadas mais recentemente, que vêm
crescendo no mercado de vinhos brasileiro, possam
melhor se destacar, principalmente com novos vinhos e
novos produtores de todo o globo, fazendo assim com
que nós, consumidores finais, tenhamos cada vez mais
acesso a mais vinhos, o que certamente é positivo. Alguns
exemplos disso são a Enoteca Fasano, a Cantu, a Portus
Cale e a Obra Prima, entre outras.
Creio, porém , que a grata surpresa desta edição 2011
da Expovinis foi a forte presença da Del Maipo, ocupando
o stand nº 1, logo na entrada da feira, apresentando
excelentes novos vinhos e tomando conta, “de cara”,
12
do visitante que chega à feira. Melhor ainda, para orgulho
e vantagem dos brasilienses, trata-se de uma importadora
sediada na capital federal.
Acabei passando mais de duas horas no stand da Del
Maipo, em razão dos bons produtos apresentados e da
cordial atenção dispensada por sua equipe, especialmente
por Cyro Torres Junior, seu diretor comercial. Vamos citar
apenas alguns de seus ótimos vinhos, começando pelo
Hurarenkappe – Riesling 2009, do produtor alemão Burg
Ravensburg, de Baden, um grand cru com 12,5% de
álcool que apresentou cor amarelo-palha, extremamente
aromático, a frutas brancas.Em boca mostra leveza, com
muita cremosidade e personalidade, lembrando peras,
com equilibrada acidez. Um vinho acima dos 90 pontos,
por um preço na faixa dos US$ 80.
De Roussillon, França, um ótimo produtor, Arnoud
de Villeneuve, nos trouxe o Alta Tura 2006 e 2007.
Um assemblage 50% Sirah, 25% Mouvedre e 25%
Grenache, com 14% de álcool, que não se destacam
por estarem muito bem integrados com os taninos
e a acidez. Nariz a frutas vermelhas confitadas e negras
maduras, com boca muito bem integrada, corpo médio
a pleno, com leve e agradável tostado. Outro vinho na
casa dos 90 pontos, desta vez com preço de barganha –
apenas US$ 45.
Para encerrar, um toque de luxúria, talvez o melhor
vinho da feira, o Espanhol Tinus 2008, um 100%
Tempranillo, fermentado em barrica pelo produtor
Figuero, com nada menos que 15% de álcool. Um deleite:
no nariz, framboesa em geleia, tofe e um toque floral e
fresco. Em boca, redondo e sedoso,com taninos macios
e bem domados, corpo pleno.Ótimo. O preço? Bem,
aí está a tal luxúria: US$ 700.
13
Divulgação
DIA E NOITE
deusaloura
Assim era conhecida a atriz paulista Odete Lara, que transitou com
liberdade pelo teatro e pela televisão, mas que ficou marcada como musa
do cinema brasileiro. Dezesseis filmes realizados ao longo de mais de 20
anos de carreira poderão ser vistos (ou revistos) por quem for ao CCBB
entre 17 e 29 de maio. Serão exibidos os clássicos Bonitinha, mas ordinária,
Copacabana me engana (foto), A rainha diaba e A estrela sobe, além de
raridades como Em família, de Paulo Porto, rodado em 1972. A mostra, com
curadoria de João Juarez, tem produções assinadas por alguns dos maiores
diretores do cinema brasileiro, como Gláuber Rocha, Cacá Diegues, Nelson
Pereira dos Santos e Bruno Barreto. A abertura, dia 19, será com Absolutamente certo, que marca a estreia do galã Anselmo Duarte na direção, em
1957, mesmo ano em que Odete Lara estreou no cinema. No dia 26, às 21h,
haverá um debate reunindo o curador e o cineasta Antonio Carlos Fontoura,
ex-marido de Odete Lara e diretor de dois dos filmes da mostra (A rainha
diaba e Copacabana me engana). Ingressos a R$ 4 e R$ 2.
Boccacio, de 1962, em exibição no dia 11, às 18h.
Em 1958, a Itália passou por dois momentos marcantes: um “milagre econômico” e o lançamento do filme Os eternos desconhecidos, de Mario Monicelli,
que foi considerado pelos críticos como o primeiro do gênero batizado de
“commedia all’italiana”. De 9 a 15 de maio os brasilienses terão oportunidade
de assistir aos grandes filmes desse gênero que teve seu auge entre as décadas
de 50 e 70. Produções dos chamados “mestres da comédia italiana”, como
Mario Monicelli, Dino Risi, Pietro Germi e Ettore Scola, ficaram imortalizadas
pelas atuações marcantes de Vittorio Gassman, Nino Manfredi, Monica Vitti,
Stefania Sandrelli, Alberto Sordi, Ugo Tognazzi, Giancarlo Giannini, Gina
Lollobrigida, Sophia Loren, e, claro, Marcello Mastroianni. Na Caixa Cultura,
com entrada franca. Programação em www.caixa.gov.br/caixacultural.
cinema-síntese
Uma seleção de aproximadamente sete horas de curta-metragens de
todos os gêneros será exibida na quarta edição nacional do Festival
Internacional de Filmes Curtíssimos, dias 6, 7 e 8 no Museu da
República, às 20 h. A mostra, que acontece simultaneamente em 75
cidades de 18 países, reúne produções com, no máximo, três minutos
de duração, e acontece junto com o 1º Encontro de Experiências
Educativas no Audiovisual, cuja abertura será no dia 6. Constam do
programa 41 horas de oficinas gratuitas para alunos do ensino médio
da rede pública. Detalhes em www.filmescurtissimos.com.br.
14
Divulgação
Divulgação
commediaall’italiana
Pablo Pinheiro
novadramaturgia
navegandonarede
Quem já fez 25 anos sabe muito bem como funciona um fórum
de discussão pela internet. Vitório está enquadrado nessa faixa.
Personagem da peça 25, ele descobre um mundo que vai além das
quatro paredes do seu quarto. Ele e os outros quatro jovens da
história de Ismar Tirelli Neto estão em busca de reconhecimento
e não fogem da discussão a respeito da vida depois dos 25 e o
impacto das redes sociais sobre cada um deles. A peça, dirigida
por Robert Litig, se passa em um fórum de discussão na internet,
dedicado a Gene Kramer, um autor americano fictício. No
elenco, Alessandro Brandão, Bernardo Marinho, Lanna Guedes,
Luisa Friese e Tati Ramos. De 5 a 8 de maio, de quinta a sábado,
às 19 e 21h; e domingo, às 17 e 19h. No Espaço Cena (205 Norte),
com ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 8512.9062.
asolidãodoator
Desde 1995, Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes já fizeram nove
peças, incluindo a premiada Inveja dos anjos, encenada em Brasília pelo
Armazém Companhia de Teatro, do Rio de Janeiro. Agora, a dupla apresenta
Antes da coisa toda começar, um texto inédito que põe no centro da cena a
história do espectro de um ator. Solitário e enclausurado em si mesmo, ele
começa a materializar suas lembranças, corporificando a memória.
A trilha sonora da peça é executada pelos próprios atores, momento
em que surgem em cena acordeom, bateria, baixo, violão e
teclado. Doses impactantes de humor cáustico e boa música são a
tônica do espetáculo. De 5 a 29, de quinta a sábado, às 20h30, e
domingo, às 19h30. No CCBB, com ingressos a R$ 15 e R$ 7,50.
escritores
Divulgação
Divulgação
De um lado, jovens e consagrados escritores. Do outro, diretores vindos de vários Estados.
Do encontro desses talentos vão nascer quatro espetáculos inéditos. Com curadoria de Carla
Mullulo e João Braune, o projeto do CCBB trará, de 11 de maio a 5 de junho, André de
Leones (Goiás), Xico Sá(Pernambuco), Joca Reiners Terron (Mato Grosso), João Paulo
Cuenca (Rio de Janeiro),Cristina Moura (Brasília), Fernando Yamamoto (Rio Grande do
Norte), Haroldo Rego (Riode Janeiro – Paraíba) e Pedro Brício (Rio de Janeiro). Para inaugurar o projeto Nova Dramaturgia, Concerto para quatro vozes e alguma memória, de André
Leones, dirigido por Cristina Moura, de 11 a 15 de maio. Na semana seguinte será a vez de
A mulher revoltada, de Xico Sá, com direção de Fernando Yamamoto. De 25 a 29 de maio,
Cedo ou tarde tudo morre, de Joca Terron, com direção de Haroldo Rego. Encerrando o
projeto, de 1º a 5 de junho, entra em cartaz o espetáculo Terror, de João Paulo Cuenca,
direção de Pedro Brício. Ingressos a R$ 15 e R$ 7,50. Informações: www.bb.com.br/cultura.
O projeto deu tão
certo em 2010 que
emplacou 2011. A
cada mês, um ator
convidado interpreta trechos de
textos de um grande escritor brasileiro da atualidade.
A causa, mais do
que nobre, é estimular o saudável
hábito da leitura.
Dia 18 será a vez
do dramaturgo,
cronista e diretor
Alcione Araújo,
que recebe a atriz
Aracy Balabaniam
no CCBB. No dia
21, duas oficinas
de leitura estão
abertas a quem
se inscrever pelo
telefone 3310.7420.
15
DIA E NOITE
Marco Maximo
caubycantasinatra
Era um sonho antigo que, finalmente, virou realidade. Cauby Peixoto queria porque queria gravar um CD só
com músicas de Frank Sinatra, segundo ele “a maior voz do mundo”. Há um ano, CD e DVD foram gravados ao
vivo, com o repertório e os músicos escolhidos pelo próprio Cauby. Quem for ao Centro de Convenções Ulysses
Guimarães no dia 21, às 21 horas, vai poder ouvir suas inconfundíveis interpretações de My way, I’ve got
you under my skin e muitas outras. Thiago Marques Luiz, produtor do CD, explica: “Realizar esse sonho
de Cauby não tem preço. Há anos ele me falava desse projeto com brilho nos olhos. Foram
só duas semanas de ensaio, pois ele já estava com tudo na ponta da língua. Esse é um
dos motivos para ele se mostrar tão à vontade em cena”. Ingressos a R$ 150 (vip),
R$ 100 (especial) e R$ 60 (superior). Quem assinar a Roteiro por 12 edições paga
R$ 70 e ganha um ingresso na poltrona especial. Informe-se em 3964.0207.
encantadoras
júliamoreno
Divulgação
Ela foi finalista do programa Ídolos, da TV Record,
e agora está lançando seu primeiro CD, o Tudo em
sol. Dia 5, às 19h, Júlia Moreno se apresenta no
projeto Quinta Cultural Tribus, que acontece no
Espaço Gourmet Cultural de Águas Claras
(Quadra 301, Rua A, conjunto 1). No repertório,
Cachoeira e Sou pop, canções que ela divulgou em
sua turnê em bares e casas noturnas de Pirenópolis e em várias cidades satélites. O Espaço
Gourmet Cultural está abrindo espaço para novos artistas de Brasília. Os interessados
devem mandar material de divulgação e foto para [email protected].
jogodecena
Será dia 18, a partir das 20 horas, o animado programa de auditório conduzido
mensalmente por Welder e Pipo, da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo.
Criado em 1985, o Jogo de
Cena terá, entre seus quadros,
um show em homenagem a
Michael Jackson, coordenado
pela cantora Célia Porto, bem
como um trecho do espetáculo
Rota Brasil Dança de Rua,
coordenado por Noara
Beltrami. Na Caixa Cultural,
com ingressos a R$ 20 e R$ 10.
Bilheteria: 3206.6456.
Adla Marques
Divulgação
Recém-chegada da Europa, a revelação
Tulipa Ruiz será uma das atrações do
Rock in Rio. Dias 6 e 7 ela estará em
Brasília para duas apresentações no
Teatro Oi Brasília. No repertório,
músicas de seu primeiro CD, Efêmera.
A cantora é filha de Luiz Chagas,
guitarrista da histórica banda Isca de
Polícia, de Itamar Assumpção, e irmão
do violonista, guitarrista e compositor
Gustavo Ruiz, que também assina a
produção do CD. Às 21h, com
ingressos a R$ 25 (preço único).
Informações: 3424.7169.
16
Horácio Sarria
misturafina
Les Provocateurs
elavaivoltar
Dia 20 de abril Zizi Possi encantou os fãs que
foram ver seu show na Sala Villa-Lobos. Dias 21,
às 20h, e 22, às 19h, o espetáculo Cantos & contos
estará no palco da Caixa Cultural, desta vez com
ingressos bem mais em conta (R$ 20 e R$ 10),
para sorte de quem admira a intérprete de A paz,
Asa morena e tantos outros clássicos da MPB.
O show reúne 36 músicas do DVD Cantos
& contos, volumes 1 e 2, com os momentos
mais marcantes de seus 30 anos de carreira.
sergegainsbourg
balébolshoi
Para ser um verdadeiro bailarino, não basta apenas dançar com o corpo, é preciso dançar
com a alma. Essa é a principal lição que Vladimir Vasiliev – eleito bailarino do século
pela Unesco – ensinou aos alunos da Escola Bolshoi. E é o resultado desse trabalho
que poderá ser visto dia 5, às 20h30, na Sala Villa-Lobos, quando 90 alunos e professores
da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil apresentam a Grande suíte do ballet Don Quixote.
Vão contar a história de Kitri e Basílio e seu intenso caso de amor, heroísmo e ilusão, com
traços marcadamente hispânicos.
Don Quixote, de Marius Petipa, foi
criado em 1869 para produção no
Teatro Bolshoi, em Moscou,
quando o coreógrafo francês selecionou algumas partes da novela
de Miguel de Cervantes para a
produção de um libreto e criou
coreografias com a música de
Ludwig Minkus. Ingressos a R$ 50
e R$ 25. Informações: 3325.6239.
Divulgação
Luciana Yoshikawa
A fórmula consagrada é a mesma: shows ao ar livre que misturam
jazz, o novo tango argentino, samba de gafieira e ritmos brasileiros de raiz. Dia 22, a partir das 17 horas, os jardins do CCBB
serão palco do projeto Todos os sons, que começa com o show do
grupo argentino Escalandrum, liderado pelo neto do mestre Astor
Piazzola e pela primeira vez em Brasília. São destaque também os
grupos Gafieira em concerto e Pé de Cerrado, que vêm com o
firme propósito de fazer todo mundo dançar. Será o primeiro de
uma série de cinco grandes concertos até o mês de setembro.
Curadoria de Bia Reis e Guilherme Reis. Entrada franca.
Quem já entrou na fase dos “enta” deve
se lembrar de Je t’aime moi non plus, que
ele e Jane Birkin cantaram em 1969 e foi
sucesso em todas as paradas mundo
afora. Durante quatro décadas, Serge
Gainsbourg alavancou o pop francês com
suas inesquecíveis e provocantes composições e ainda revelou muitos cantores e
principalmente cantoras da França. Dias
21 e 22, o Teatro da Caixa Cultural abrigará projeto idealizado por Edgard Scandurra, em 2008, que nasceu como tributo
a Ggainsbourg no ano em que se comemorava 80 anos de seu nascimento.
Agora, em 2011, a homenagem será feita
em função dos 20 anos de sua morte.
Juliana R, Bárbara Eugênia e Andrea
Merkel (foto) são alguns das convidadas
especiais. Ingressos a R$ 20 e R$ 10.
17
18
19
graves & agudos
Brava sobrevivente
Sem apoio do governo e do setor privado, a Orquestra Filarmônica
de Brasília se mantém viva graças à teimosia e dedicação de poucos
Por Ana Cristina Vilela
A
Orquestra Filarmônica de Brasília
precisa de ajuda, de dinheiro, de
patrocínio. Necessita, urgentemen­
­te, ser lembrada e valorizada, porque se
ainda existe é, pura e simplesmente, pelo
esforço daqueles que insistem em não
criar para ela um réquiem. Muitas vezes
confundida com a Orquestra Sinfônica
do Teatro Nacional Cláudio Santoro, inclusive pela imprensa local, a Filarmônica, além de sobreviver bravamente, desenvolve projetos sociais, a exemplo do
Viva Arte Viva, com oficinas de música e
20
de dança para pessoas carentes, e da Orquestra Didática, para escolas públicas.
Com o Popularizando a Sinfonia, prova
que boa música é um direito de todos.
Entretanto, na hora de conseguir verba...
O financiador acaba sendo o próprio
bolso. Foi assim para a produção do último evento, o show com Guilherme Arantes, dia 13 de abril, na Sala Villa-Lobos.
“Conseguimos o hotel, o que agradecemos muito, e sempre temos o apoio das
rádios”, informa o violinista Doner Cavalcante, produtor cultural da Filarmônica e seu bravo defensor. Segundo ele, se
não fosse a parceria com a Orquestra Sin-
fônica, a Filarmônica não existiria mais:
“Nos ajudam com infraestrutura, instrumentos musicais, partituras, arquivos”.
Com cerca de 60 músicos, a Filarmônica se difere da Sinfônica apenas na
questão legal. Enquanto os músicos da
Sinfônica são funcionários públicos concursados e a orquestra é mantida pelo governo, a Filarmônica depende totalmente
de leis de incentivo, de patrocínios – portanto, da sociedade. Seus músicos recebem cachê. Porém, quando a direção vai
em busca de auxílio do GDF... “Todas as
filarmônicas do país têm ajuda do governo, mas aqui escutamos sempre a mesma
história: já ajudamos uma orquestra”, reclamam Doner e a presidenta da Filarmônica, a violinista Fabianne Gotelipe.
A verba do governo local ainda conseguida é a proveniente do Fundo de
Apoio à Cultura (FAC), que tem teto de
R$ 250 mil. O acesso à Lei Rouanet também é complicado. “Grandes empresas
não têm filiais aqui, mesmo muitas estatais não estão sediadas na cidade e, quando estão, os dirigentes são de fora e só
patrocinam os grandes”, reclama Doner.
Tanto ele quanto Fabianne não escondem a desilusão: “Com empresários da cidade não conseguimos nada”. A Filarmônica tem projetos espalhados por empresas e órgãos diversos, mas todos sem resposta. Seus integrantes também guardam
uma outra frustração. Foi em 1995 a última vez que participaram das comemorações do aniversário da cidade. Para este
ano, apresentando uma mudança favorável do atual governo, o que ressalta e comemora Fabianne, a orquestra participou do edital. “Mas fomos obrigados a
reduzir, e muito, nossa estrutura”.
Em 1985, ainda como Orquestra Jovem, a Filarmônica teve como primeiro
regente o maestro Cláudio Santoro, seguido de Joaquim Jaime, regente da Orquestra Sinfônica de Goiânia. Desde outubro de 2010, passou a trabalhar com
maestros convidados e seu último regente foi Cláudio Cohen, hoje à frente da
Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional.
O idealizador e criador da Filarmônica
foi o violoncelista Afonso Galvão, há tempos também na Sinfônica, em que atualmente é diretor de projetos e de relações
institucionais. “Pretendeu-se criar um celeiro de novos profissionais, preparandoos para as orquestras sinfônicas; por isso,
tentamos conseguir bolsas junto ao GDF”,
relata. Os ensaios aconteciam na UnB e tinham à frente o veterano Santoro, mas
nunca houve a parceria com o governo.
Anos depois, para facilitar a obtenção
de apoio a projetos, a orquestra passou a
ser filarmônica, mas, para Afonso, seu papel formador continuou, o que “é fundamental”. E mais: “A orquestra é essencial
para a formação de público”. Atualmente
compondo a direção da Sinfônica, Afonso assegura que um dos objetivos, assim
que a própria Orquestra do Teatro Nacional for reestruturada, é apoiar ainda mais
a Filarmônica, fazendo-a crescer. Mais
uma vez, haverá a tentativa de fechar
convênio com o governo para o fornecimento de bolsas de estudo.
Um dos grandes diferenciais da Filarmônica é a interpretação de músicas populares. Assim, já se apresentou com seu
Teodoro, mestre de Bumba-meu-boi, com
o Galinho de Brasília, com poetas, capoeiristas... e levou música para todo o Distrito Federal. Também esteve ao lado de Bibi Ferreira, Francis Hime, Elomar, Xangai, Rosa Passos, Hamilton de Holanda...
O maestro Joaquim França, um dos
que permaneceram mais tempo à frente
da Filarmônica, 14 anos, sendo um dos
principais incentivadores dos trabalhos
com a música popular, fala dos anos e
anos sem patrocínio algum, ou com um
aqui, outro ali. “Tivemos muita dificuldade, mas mesmo assim fizemos muito”,
avalia. Segundo França, durante algum
tempo a Filarmônica contou com patrocínio do BRB, ainda pela Lei Sarney, extinta durante o governo Collor. De lá para
cá, somente auxílios esporádicos.
O maestro reforça a importância da orquestra, não só por sua história, mas porque é espaço de formação para músicos que
não têm onde praticar, e elogia o trabalho
de quem está à sua frente. “Não sei de onde
tiram tanta força para manter a Filarmônica, porque ela sobrevive por tremendo esforço pessoal”, reflete. Para ele, Brasília deveria ter várias orquestras, e se perdesse a
Filarmônica seria como perder um hospital: “Faz bem ao povo, faz bem ao espírito
da população; me lembro de quando tocávamos nos lixões, para a população dali e
para os garis, a felicidade que sentiam”.
21
graves & agudos
Paz e amor
Por Heitor Menezes
R
ma paz e amor, mais simples, menos psicodélico, é claro, os tempos são outros.
Ao longo dos seis discos de inéditas que
lançou, Jack Johnson vem-se notabilizando como um grande autor de baladas (não
exatamente naquele esquema “baby, I love you”), quase sempre levadas ao violão e
com acompanhamento mínimo de bateria, baixo e ocasional teclado.
Nas apresentações, ajudam Johnson
os mesmos músicos de quase todos os discos: o baterista Adam Topol e o baixista
Merlo Podlewski. Garrett Dutton, o G.
Love da banda G. Love & Special Sauce,
admirador e parceiro de longa data, é o
convidado especial da turnê.
Quem não tiver vergonha do clichê
pode imaginar uma apresentação de Jack
Johnson como uma autêntico luau: noites
quentes numa praia banhada pelo Pacífico; tochas ardendo, fincadas na areia; gente (bonita, claro) bronzeada; a tal da fogueira; e o cantor, levando as coisas como
se fosse o amigo que pegou o violão. Tudo
na santa paz, como convém às pessoas
de bem.
Divulgação
evoluções já foram feitas apenas
por um homem armado com um
violão e um punhado de canções.
É o que pensamos, por exemplo, de Bob
Dylan (embora ele rejeite), Geraldo Vandré (embora ele nem saiba mais) e Chico
Buarque (embora ele aparentemente esteja cansado desse papel).
Incendiários dessa estirpe já vimos
muitos, e são sempre bem-vindos. Mas
há também aqueles que operam a
revolução em outro plano, mais pessoal, por assim dizer. A saga dos trovadores de voz e violão se renova, basta
esmiuçar o cenário musical.
Ilustre defensor do
estilo, não necessariamente
solitário
com seu
violão, o
havaiano
Jack Johnson
paga-nos
uma visita dia 25 de maio (uma quartafeira), no indefectível estacionamento
do Estádio Mané Garrincha (Eixo Monumental).
Em sua segunda viagem ao Brasil, o
cantor norte-americano, autor de Upside
down, Flake e Sitting, waiting, eishing, passa
por Brasília, dando continuidade ao giro
sul-americano de divulgação do álbum
To the sea, lançado em 2010. Embora a
ênfase da apresentação sejam as
canções do novo trabalho,
Johnson traz nas costas repertório que já conta uma
década. Incrível como o
tempo passa: Brushfire
fairytales, o primeirto disco, saiu em 2001.
Tal qual registrado
no DVD En concert
(2009), os fãs podem esperar consciência ambiental e aquele cli-
Jack Johnson – To the sea
22
ASSINE
A ROTEIRO
E GANHE UM
INGRESSO
DE PISTA!
3964.0207
25/5, às 21h, no estacionamento do Estádio
Mané Garrincha. Show de abertura de
G. Love às 20h. Ingressos (meia): R$ 130
(pista), R$ 250 (pista premium) e R$ 350
(camarote lounge, com água, refrigerante,
vodka nacional, uísque 12 anos e acesso
à pista premium). À venda na central
de ingressos Brasília Shopping, lojas
Mormaii ou www.livepass.com.br.
Mais informações: 4003.1527
ASSINE
A ROTEIRO
E GANHE UM
INGRESSO
NA POLTRONA
ESPECIAL!
3964.0207
23
carta da europa
em Londres
Por Silio Bocanera, de Londres
Q
uem visitar Londres de agora até
setembro terá oportunidade de
ver na galeria Tate Modern uma
das maiores retrospectivas já montadas
sobre a obra do artista catalão Joan Miró.
Descrevê-lo como catalão e não espanhol
reflete a postura dele, crítico severo do regime nacionalista da Espanha, sobretudo
24
durante a ditadura de Francisco Franco.
Peças tomadas de empréstimo em
museus e coleções privadas em vários países enchem das cores de Miró os salões
da popular galeria de arte moderna à beira do Rio Tâmisa, em frente à antiga Catedral de São Paulo. O público já forma
longas filas para ver de perto 150 peças
que andam espalhadas pelo mundo e a
maior parte das pessoas só conhece por
fotografia. De Londres, a exposição seguirá para Barcelona e Washington.
Nascido em Barcelona depois de Pablo
Picasso e antes de Salvador Dali, Miró se
mudou para a França nos anos 20 e, ao
chegar a Paris, pediu ajuda a um conhecido de família, o próprio Picasso. Foi bem
tratado pelo artista andaluz, de quem se
tornaria amigo por toda a vida, que o apresentou ao ambiente intelectual de Paris.
Miró trabalhou com Max Ernst em
1926, como designer dos Ballets Russes,
de Diaghilev, e mergulhou de cabeça no
surrealismo e no processo que chamou
de “assassinar a pintura”, sobretudo a
herança impressionista. “Chega de pôr do
sol choroso em amarelo canário”, disse
ele na época.
Um dos quadros na mostra da Tate
chama-se Farm, pintado entre 1921 e
1922. Foi adquirido na época pelo escritor Ernest Hemingway, que teve de disputar num jogo de dados com o amigo
poeta Evan Shipman o direito de compra da pintura. “Ganhei e tive de pagar
5 mil francos, o que é 4.250 mais do que
jamais paguei por um quadro”, queixouse Hemingway. A viúva e quarta mulher
do escritor, Mary, doou o quadro à National Gallery de Washington.
Segundo o curador da mostra na Tate,
Matthew Gale, essa obra de Miró mostra
o artista envolvido com a paisagem em
torno dele, “como um recurso para entender o que significava ser catalão”, parte de uma cultura e uma nação orgulhosas de sua identidade (idioma inclusive),
diferente do país maior em volta, a Espa-
Fotos: Divulgação
nha. Resquícios desse sentimento existem até hoje na Catalunha.
Com a aproximação do trágico período da Guerra Civil espanhola (1936-39),
que iria levar à vitória das forças de direita
em torno de Francisco Franco (ditador até
1975), o engajamento político de Miró foi
se intensificando. Embora sua arte em
grande parte não aparente manifestação
política explícita, as cartas e anotações que
deixou apontam claramente a influência
política por trás de seus trabalhos.
Uma obra abertamente política dele
foi Aidez l’Espagne, pintada no segundo
ano da guerra civil espanhola, com um
catalão de punhos fechados em saudação
comunista. Seu trabalho Natureza morta
com um sapato velho (1937), em cores de
pesadelo, foi chamado por um crítico de
“retrato sublimado da guerra civil”.
Outro curador da exposição na Tate,
Marko Greenberg, diz que uma das intenções dos organizadores dessa retrospectiva
é mostrar que Miró não foi apenas criador
de peças coloridas e engraçadinhas, como
muitos as interpretam, e sim um artista
cujo trabalho revela dor, intensidade e
paixão.
Miró estava trabalhando na França
com os surrealistas e deixou o país às pressas, em 1939, pouco antes da invasão dos
nazistas. Voltou à Espanha, já no regime
de Franco, mas rechaçou as tentativas da
ditadura de usá-lo como representação
do país no exterior, onde a arte dele já
era conhecida e admirada. Sua influência corria mundo, mas ele passou a viver
uma espécie de exílio interno durante a
ditadura que desprezava. Quando Franco morreu, em 1975, perguntaram a Miró o que ele tinha feito para promover
oposição ao ditador. “Coisas livres e violentas”, respondeu o artista.
Miró teve impacto sobre os expressionistas abstratos americanos nos anos 50
e, 20 anos depois, retribuiria a homenagem com algumas obras ao estilo de Jackson Pollock. No quadro Tela queimada, de
1973, ele rasgou a tela, despejou gasolina
em cima e atiçou fogo.
Toda essa ansiedade e tensão no artista e em sua obra não parecem afetar o
homem Joan em sua vida pessoal (casamento longo, estável) e seus hábitos (era
extremamente organizado). Até nas fotos (nada das poses ousadas de um Picas-
so ou muito menos Dali), ele mais parece, nas palavras de um crítico, “um contador apreensivo porque teria perdido
seus recibos”. Miró passou os últimos
anos de sua vida trabalhando em calma
no estúdio e na residência que montou
em Palma, na ilha espanhola de Majorca. Morreu em 1983, aos 90 anos.
25
Divulgação
galeria de arte
Exposições imperdíveis
Fotos e documentos históricos que registram a epopeia da construção de Brasília,
incluindo uma gigantesca maquete da cidade. Gravuras de Goya. Arte islâmica.
Xilogravuras de RUBEM GRILO. A ARTE CONTEMPORÂNEA DE Gerhard Richter. Homenagem às
mães no ParkShopping... Nos próximos 60 dias, os brasilienses terão a oportunidade de
visitar uma profusão de exposições que ocupam alguns dos mais importantes espaços
culturais da cidade. ENTRE ELAS, A Roteiro selecionou NOVE, todas com entrada franca.
Brasília – Meio século
da capital do Brasil
Até 3/6 no foyer da Câmara Legislativa.
De 2ª a 6ª feira, das 9 às 18h; sábados,
domingos e feriados, das 14 às 18h.
26
Espanhóis e portugueses tiveram o
privilégio de ver, antes mesmo dos brasilienses, essa magnífica exposição instalada desde 21 de abril na Câmara Legislativa. Fotografias, filmes e documentos históricos, além de uma maquete de 30 m2,
traçam uma linha do tempo que tem como marco inicial o ano de 1751, quando
surgiu a ideia de levar a capital do Brasil
para o interior. Seguem-se seis blocos temáticos que mostram toda a riqueza da capital, sua história e sua configuração atual.
Completam a exposição quatro instala-
ções de artistas plásticos locais.
Não apenas o plano arquitetônico e a
monumentalidade
de Brasília estão presentes na exposição,
mas também os principais personagens da
impressionante saga que foi a construção
da nova capital brasileira: o presidente
Juscelino Kubitscheck, o urbanista Lucio
Costa, o arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagista Burle Marx e o artista plástico
Athos Bulcão, entre outros. “Concebi
uma exposição de caráter didático e estético, com planos arquitetônicos, mapas, fotografias artísticas, projeções, textos explicativos e acervos de grande valor histórico”, explica a curadora, Danielle Athayde.
As imagens da construção de Brasília
são dos fotógrafos Jean Manzon, Marcel
Gautheraut e Mario Fontenelle. João
Facó expõe a cidade a partir de imagens
aéreas e Fabio Colombini retrata sua arquitetura. A exposição, que segue depois
para Paris, faz parte também de um projeto pedagógico que vai trazer à Câmara
Legislativa 10 mil estudantes de escolas
públicas de nível fundamental e médio.
JK e as personalidades
do Século XX
Até 30/6, de 3ª a domingo, das 9 às 18h,
no Memorial JK.
O governo de Juscelino Kubitschek, o
“Presidente Bossa Nova”, caracterizou-se
por um grande interesse nas artes e na cultura em geral – especialmente na corrente
Divulgação
Los caprichos de Goya
De 5/5 a 18/6 no Espaço Cultural Instituto Cervantes. Visitas guiadas todas as
terças-feiras, das 9 às 11h, e quartasfeiras, das 15 às 18h.
Divulgação
JK e Marlon Brando
modernista. Com JK o Brasil viveu um
dos períodos de maior desenvolvimento
de sua história, marcado por forte sentimento de otimismo. Vários importantes
movimentos culturais surgiram na época:
as chanchadas da Atlântida, o Cinema
Novo, a Bossa Nova. JK popularizou-se
como líder moderno, atuante, amante das
artes. Foi talvez o político mais importante
para o desenvolvimento de todas as artes
no Brasil, desde que assumiu a prefeitura
de Belo Horizonte, em 1940, passando
pelo governo do Estado de Minas Gerais
(1951-1954) até chegar à presidência da
República, em 1956.
Natural, então, que pelo recém-inaugurado Palácio do Planalto tivessem passado personalidades tão diferentes quanto John Kennedy e Chacrinha, Marlon
Brando e Fidel Castro, Louis Armstrong
e Virginia Lane, Antonio Houaiss e Milton Nascimento, com a turma do Clube
da Esquina. Os brasilienses poderão ver
o registro fotográfico desses momentos,
até 30 de junho, no Memorial JK. A curadora Diana Castilho selecionou 20 imagens de encontros de JK com celebridades que “não resistiram ao seu entusiasmo e carisma e cederam às suas idéias,
fazendo do Brasil palco de importantes
mudanças e consagrando uma das épocas
mais significativas da história do Brasil”.
Editada em 1799, Los caprichos é a primeira série de gravuras de Goya. Sua gestação coincide provavelmente com a grave
doença contraída pelo pintor no começo
da década de 1790, que o deixaria surdo
pelo resto da vida. Apesar do amplo espaço que as gravuras deixam à imaginação,
os contemporâneos viram em muitas delas referências a personagens de seu tempo. Fazem parte da exposição os comentários manuscritos pelo próprio Goya, desde então conservados no Museu do Prado, em Madri, que clarificam a mensagem
de cada gravura.
De 16 a 18 de maio, simultaneamente
à exposição, o Instituto Cervantes realizará o curso Goya e a modernidade, com
Eduardo Carreira, doutor em História da
Arte pela Universidade de Barcelona. O
objetivo do curso é apresentar um panorama da obra de Francisco de Goya y Lucientes, com atenção especial à série Los
caprichos, ressaltando seu significado moderno e o contexto histórico no qual o artista viveu.
caligrafia e instrumentos científicos e
musicais.
Estão expostas também obras do acervo da Casa das Áfricas, vindas da Mauritânia, Marrocos, Líbia, Burkina Faso e Líbano, além de manuscritos produzidos por
muçulmanos, pertencentes ao acervo da
Biblioteca e Centro de Pesquisa América
do Sul – Países Árabes, com sede no Brasil. Obras da Nigéria, Mali e da cultura
Tuaregue (povos nômades do Saara e do
Sahel) também fazem parte da exposição.
Miragens
De 11/5 a 8/6 no Museu da República.
De 3ª A domingo, das 9 às 18h30.
Islã: arte e civilização
Até 3/6 no Centro Cultural Banco do
Brasil. De 3ª a domingo, das 9 às 21h.
Mais de 300 obras datadas do Século
VIII ao XXI, trazidas dos principais museus da Síria e do Irã, percorrem 1.400
anos de história do Islã. São peças de ourivesaria, mobiliário, tapeçaria, vestuário,
armas, armaduras, utensílios, mosaicos,
cerâmicas, vidros, iluminuras, pinturas,
Parte da exposição Islã: arte e civilização, a mostra reúne 58 obras de arte contemporânea, em sua maioria inéditas no
Brasil, de 19 artistas ligados ao universo
cultural islâmico. Idealizada por Rodolfo
de Athaydee, tem curadoria de Ania Rodríguez e busca confrontar, através da poética dos artistas reunidos, a imagem estereotipada que o Ocidente acabou desenvolvendo sobre o Islã e sua cultura. Entre
as obras expostas, pintura, fotografia, desenhos, instalações e vídeos inspirados
em temas tão variados quanto o lugar da
mulher na sociedade, o diálogo entre modernidade e tradição, os estereótipos relativos ao Oriente Médio, até
os conflitos bélicos mais recentes. Entre
os artistas representados na exposição está
Shadi Ghadirian, que se apropria do “retrato de estúdio”, introduzido no Irã no
final do século XIX, para propor um diálogo entre o contexto tradicional islâmico
27
nal. Em alguns casos, o artista primeiro
reproduz em pintura a fotografia e depois
volta ao modelo original, fotografando o
quadro, sem que se percam as características da obra produzida à mão. De Brasília,
a exposição segue para São Paulo e Porto
Alegre.
Divulgação
SHADI GHADIRIAN da série Ghajar
galeria de arte
Rubem Grilo – Xilográfico
(1985 – 2011)
De 11/5 a 26/6, de 3ª a domingo, das 9
às 21h, na Caixa Cultural.
Tulipa negra, colagem
imagens obtidas são depois impressas em
papel de algodão. O resultado de seu trabalho experimental pode ser visto em 22
imagens selecionadas pelo curador da
mostra Eder Chiodetto.
Divulgação
Gerhard Richter - Sinopse
Até 12/6, das 9 às 21h, na Galeria Vitrine da Caixa Cultural.
28
Gerhard Richter é um dos mais conhecidos artistas plásticos alemães a atualidade. Ele é considerado um dos responsáveis pelo resgate da pintura no Século
XXI, quando mui­­­tos a davam como perdida. Sua primeira individual no Brasil já passou por Curitiba e Salvador e apresenta 27
obras escolhidas por ele próprio. São pinturas que formam uma retrospectiva de
todas as suas
fases de criação, desde os
trabalhos de fotografia-pintura
dos anos 60 até
as pinturas abstratas dos anos
80 e 90.
A arte de
Gerhard Richter não segue uma intenção,
não tem um estilo. O que a rege é uma ética artística de prática cotidiana, relacionada somente às condições representadas
por ela mesma e pela história da arte. Suas
peças podem ser puras sobre a tela, ou
misturadas a fotografias e recortes de jor-
Ele nasceu em Pouso Alegre, Minas
Gerais, mas antes de completar 18 anos
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se
formou em agronomia. Logo depois, frequentou, em Volta Redonda, o curso de
xilogravura de José Altino, na Escolinha
de Arte do Brasil. De volta ao Rio, conheceu a obra dos gravadores Lívio Abramo,
Marcelo Grassmann e Oswaldo Goeldi.
A partir daí, o agrônomo deu lugar ao artista plástico que, no início da carreira,
ilustrou os jornais de vanguarda Opinião, Pasquim, Movimento e Jornal do
Brasil. Na exposição em cartaz em Brasília está uma seleção de obras realizadas
por Grilo nos últimos 25 anos, cujos temas e abordagens ganham ampla densidade e configuração dramática. Ele é um
dos principais expoentes da gravura do
país e tem no currículo 50 mostras individuais e 100 coletivas no Brasil e no exterior, entre elas duas Bienais de São Paulo.
Mãe de trigêmeos, a jornalista Poliana
Abritta, da TV Globo, é uma das “modelos” do ensaio fotográfico que o ParkShopping encomendou ao fotógrafo carioca Lincoln Iff para homenagear as
mães brasilienses. “Confesso que foi
mais fácil do que imaginei. O Lincoln
conseguiu captar um momento muito especial do nosso dia a dia, que é a hora de
contar histórias para o Guido, o José e a
Manuela”, afirma Poliana, que posou para as lentes de Iff embaixo de um lençol
com as três crianças, de dois anos e meio.
Outras mães retratadas com seus filhos
são Viviane Piquet, mulher de Nelson
Piquet, Karina Rosso, ex-primeira dama
do DF, a empresária Ivana Valença, a designer de joias Carla Amorim, a blogueira Ana Luiza Favato, a empresária Tatiana Mares Guia, a arquiteta Deborah Pinheiro, a atriz Lee, do grupo Udi Grudi,
e a cineasta Cibele Amaral. As fotos estarão expostas até o dia 25 no primeiro piso do shopping.
Negative Experience
De 10/5 a 26/6, de 3ª a domingo, das 9
às 21h, na Caixa Cultural. .
O fotógrafo paulista Davilym Dourado expõe os negativos de suas fotos à ação
de produtos químicos, como alvejantes
ácidos e detergentes. Essa mistura corrói a
película do filme e faz com que a emulsão
– que fixa a imagem no negativo – comece
a se dissolver, criando outra imagem. Cada etapa desse processo é registrada, então, com a câmera digital do fotógrafo e as
Divulgação
e o Ocidente através de um conjunto de
objetos modernos importados que se revelam como anacronismos: telefones, aparelhos de som, aspiradores.
Mães por Lincoln Iff
Até 25/5 no primeiro piso do ParkShopping. De 2ª a sábado, das 10 às 22h;
domingo, das 14 às 20h.
verso & prosa
Poesia em cenário mágico
Cícero Bezerra
Guga Melgar
Ana Povoas
A bela cidade de Pirenópolis sediará mais uma festa literária
Tatiana Oliveira, do Itinerante Caxambu
Elisa Lucinda
Por Alexandre Marino
H
á sempre um bom motivo para
sair de Brasília e viajar até Pirenópolis, a charmosa cidade goiana que os brasilienses adotaram como um
ponto de descanso, uma mudança de sintonia, um antídoto. De 12 a 15 de maio,
aos passeios por suas ruas de pedra e aos
revigorantes banhos de cachoeira se somará um atrativo a mais: a 3ª Festa Literária de Pirenópolis.
Durante quatro dias, a cidade poética
por natureza abrirá braços e espaços para
escritores de Goiás, Distrito Federal e
outros Estados. Eles se unirão ao povo e
aos turistas para bate-papos, leituras, recitais e uma imperdível troca de experiências, que certamente farão subir ainda
mais o astral de Pirenópolis, ou simplesmente Piri, como a cidade é carinhosamente tratada pelos mais íntimos.
Essa terceira edição da festa prestará
uma homenagem a Cora Coralina, poetisa goiana que viveu na cidade de Goiás e
se transformou em personalidade da literatura do Estado. Estudiosos de sua obra
lerão trechos de poemas, contarão histórias e participarão de conversas sobre ela e
o contexto cultural em que escreveu. Estão confirmadas as presenças de Paulo
Salles, neto de Cora; Marlene Vellasco,
presidente da Associação Casa de Cora
Coralina; o escritor, médico e amigo de
Cora, Heitor Rosa; e o escritor goiano El-
der Rocha Lima. Eles falarão sobre a escritora, mediados pelo poeta e cordelista
João Bosco Bezerra Bonfim, de Brasília,
que lançará, durante a festa, um cordel feito em homenagem a ela.
A programação da festa terá como cenários o Cine Pireneus, a Praça da Leitura
e o Theatro de Pirenópolis, onde haverá
bate-papos com escritores, contação de
histórias, falação de poesia e apresentações de espetáculos teatrais. Logo no primeiro dia, 12 de maio, quinta-feira, após a
abertura oficial no teatro, a atriz e poetisa
Elisa Lucinda fará recital poético em palco
armado na praça central da cidade.
Na sexta-feira, haverá apresentações e
performances durante todo o dia, em vários espaços. No Quintal do Pouso, Café
e Cultura, a partir de 16h30, os poetas
Wilson Pereira, João Bosco Bezerra Bonfim, Leo Cunha, Nicolas Behr e Luiz de
Aquino apresentam suas obras e conversam com o público sobre a poesia contemporânea. Às 19 horas, a poetisa Lilia Diniz fará um recital com poemas de Cora
Coralina. No sábado, haverá programação semelhante, nos vários espaços espalhados pela cidade.
A curadora da festa, Iris Borges, que,
além de escritora e livreira, exerce atividades de promoção da leitura junto a escolas, anuncia uma revoada de pipas com
poemas, escolhidos pelos alunos das escolas públicas estaduais e municipais. É o
projeto Poesia no ar, uma das ações que
João Bosco Bezerra Bonfim
envolverão estudantes da cidade.
Todas as escolas, tanto da zona urbana quanto da zona rural, participarão da
festa. Para os alunos, haverá performances, leituras e oficinas de redação. Escritores têm encontro marcado nas escolas, para falar sobre seu trabalho e sua literatura.
Também haverá oficinas para levar os estudantes a mergulhar no mundo da poesia, que pode assustar quando é desconhecido, mas é uma das mais belas experiências artísticas que a humanidade é capaz de alcançar.
Com base no planejamento da festa,
feito a partir das necessidades apresentadas pelos professores e escolas, Iris Borges acredita que a festa dará mais um passo em direção ao letramento literário da
comunidade. “É o nosso objetivo principal”, explica ela.
Está confirmada a presença de mais de
40 escritores. Promovida pela Casa de Autores de Brasília, em parceria com a Prefeitura de Pirenópolis, a festa conta com
o apoio do governo de Goiás e de várias
entidades e empresas. Quem quiser participar da Flipiri pode se inscrever nas várias
oficinas e recitais programados, bastando
para isso acessar a página da festa na internet – http://flipiri.com/.
Se Pirenópolis já é um lugar mágico
por natureza, imagine com poesia!
3ª Festa Literária de Pirenópolis
De 11 a 15/5 em vários espaços
culturais da cidade.
29
luz câmera ação
Rock Brasília,
legenda viva nas telas
Documentário sobre o movimento genuinamente brasiliense
que ganhou amplitude nacional acaba de ser finalizado e traz
registros raríssimos e históricos de Renato Russo e Cia.
C
30
om Rock Brasília, o grande
documentarista brasileiro
Vladimir Carvalho (autor
do clássico O país de São Saruê, entre
outros) fecha finalmente a sua “trilogia Brasília”. Depois de Conterrâneos
velhos de guerra e Barra 68, o novo
longa adiciona a luz e a energia do
rock à crepuscular crônica gris-violeta dos anos de chumbo da ditadura
militar na capital do país, dos dois
filmes anteriores. A conclusão de
Rock Brasília foi possível graças à parceria do realizador com a Ligocki-Z,
de Marcos Ligocki, produtora que
deu as condições para que todo o
material colhido ao longo de mais
de duas décadas pudesse se adequar
e servir a uma nova organização burocrática e operacional de coleta de
outros materiais e entrevistas.
Vladimir vislumbrou a possibilidade de Rock Brasília já nos idos de 1987,
quando filmou os shows que o Capital
Inicial fez, abrindo para Sting; depois, em
1988, o show do Plebe Rude na boate
Zoom, do Gilberto Salomão; e finalmente, a fatídica apresentação do Legião Urbana no Estádio Mané Garrincha, ocasião
em que Renato Russo afrontou o público,
criando uma enorme fissura entre o artista e a cidade. Mas Rock Brasília foi gestado
silenciosamente ao longo de muitos anos
a partir da observação de alguns funambulescos episódios envolvendo os principais
protagonistas das futuras bandas da cidade, que ganhariam, mais adiante, enorme
projeção no cenário musical brasileiro.
baixo dos prédios das superquadras”, mas principalmente contra o vazio cultural da cidade: inconformados com a presença do
Secretário de Estado norte-americano, o poderoso Henry Kissinger, na UnB, a convite do então
reitor José Carlos Azevedo, os estudantes impuseram um cerco
ao auditório Dois Candangos,
onde Kissinger proferia uma
conferência fechada para a nata
do governo federal e do DF.
Esse feito dos estudantes, notável segundo Vladimir, foi inclusive filmado por um roqueiro
da época, Jimi Figueiredo, atualmente cineasta, que tinha com o
cinema a mesma atitude do “faça
você mesmo” do punk rock, movimento muito influente entre
as bandas de Brasília. Com todas
as limitações técnicas do super-8,
Kiss, Kiss, Kissinger, obra espontânea e oportuna, foi para o documentarista e também professor da Universidade
de Brasília uma das melhores atitudes de
alunos diante da urgência de filmar a realidade, “sem recursos e de estalo”. Nessa
época, Vladimir fazia um esforço didático na UnB para levar seus alunos a desenvolverem algum método com relação ao
filme documentário. Sugeria, como exercício, que relatassem por escrito (já que
não havia equipamentos) os diversos temas da vida urbana em Brasília.
Um dos temas sugeridos foi o registro
das bandas de rock, já àquela altura impossíveis de serem ignoradas, pela barulheira que provocavam em todo o Plano
Foto extraída do livro A história do rock de Brasília, de Paulo Marchetti
Por Sérgio Moriconi
Talvez o mais prosaico desses episódios
tenha sido a “Rockonha”.
A grande festa do rock regada a “erva”
num terreno ermo de Sobradinho em
1980 – o realizador confessa – mexeu com
a cabeça de Vladimir. A Rockonha resultou na mobilização de alguns professores,
colegas seus, que tiveram de se empenhar
para liberar os filhos presos desde a madrugada. Só haviam livrado a cara dos filhos de milicos. Um ano depois, outro episódio contribuiria para Vladimir perceber
as insólitas e surpreendentes maneiras que
os jovens da classe média brasiliense encontravam para manifestar sua insatisfação contra a censura, contra “o tédio de-
Fotos: Divulgação
Dinho Ouro Preto
Philippe Seabra com a Plebe Rude
Os Paralamas Bi Ribeiro e Herbert Vianna
Foto extraída do livro A história do rock de Brasília, de Paulo Marchetti
Renato Russo e Vladimir Carvalho
Dado Villa-Lobos, aos 13 anos, na 104 Sul, onde também morava Vladimir Carvalho.
Abaixo, o cineasta entrevista André Mueller, da Plebe Rude.
Divulgação
Piloto, especialmente no edifício Brasília Rádio
Center, onde alugavam salas para ensaio. Segundo
Vladimir, choveram pequenos roteiros e em certo
momento Mario Salimon, líder da banda Fama,
seu aluno, apareceu com uma música pronta, inspirada no massacre de operários da construtora Pacheco Fernandes durante o período anterior à
inauguração de Brasília – assunto que Vladimir
vinha trabalhando e filmando fazia anos. A música
de Salimon foi aproveitada em Conterrâneos velhos
de guerra. Estava então criado o elo afetivo e conceitual entre as sagas da construção de Brasília e o
rock produzido pelas bandas da cidade.
Filhos de professores universitários e de diplomatas, uns em missões, outros fazendo sua pós-graduação, a maioria dos integrantes das bandas brasilienses tinha a perfeita percepção da situação do
país, sobretudo no que se referia à liberdade de expressão. No seu filme, Vladimir mostra de que maneira, face à circunstância adversa, a atitude punk
foi uma referência natural para todos eles. Lembra
o depoimento de um jovem professor da Cultura
Inglesa, Ian Bruce, que já havia feito amizade com
Renato Russo, seu aluno. Foi ele quem primeiro falou para o brasiliense da existência do Sex Pistols,
grupo que escandalizou a sociedade inglesa pela heresia de falar mal da rainha. A descoberta incendiou a imaginação do já agitado autor de Geração
Coca Cola. Renato Russo partilhava com Bruce os
números da revista inglesa Melody Makers, que chegavam mensalmente na Cultura Inglesa.
Escocês de alma doce e sensível, Bruce seria preso junto com outros “agitadores” numa manifestação, distribuindo panfletos contra o regime em
frente ao Conjunto Nacional. Sua prisão seria logo
divulgada pela BBC de Londres e em poucos dias
ele seria solto, antes que o affair virasse uma complicação diplomática. Ian voltou à Europa e, ao
que parece, ingressou nos quadros da própria
BBC. A ele Vladimir deve um excelente texto
sobre O país de São Saruê, publicado numa revista
alternativa londrina. Há inúmeras outras deliciosas histórias como essa em Rock Brasília.
Vladimir foi, desde o início, um arguto flaneur
da Brasília da geração de Russo, Dado Villa-Lobos,
Philippe Seabra, Barone, Fê, Flávio Lemos, Herbert
e Hermano Vianna, Dinho Ouro Preto, de bandas
como Aborto Elétrico, Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Escola de Escândalo, Detrito Federal, Blitx 64, as três últimas desaparecidas no refluxo
da maré. A turma de garotos do rock perambulava
pelas superquadras sul do Plano Piloto, transgredindo, nos fins de semana, as estruturas do estacionamento da lanchonete Food’s da galeria do Cine Karin. Mais tarde, transgrediram as estruturas do Minhocão da UnB, e Vladimir estava presente em todos esses momentos. Essa energia de inconformidade e contestação é a alma e o corpo de Rock Brasília.
31
Divulgação
luz câmera ação
London River – Destinos cruzados
Por Reynaldo Domingos Ferreira
I
32
nterpretado por dois atores esplêndidos, London River – Destinos cruzados,
de Rachid Bouchareb, relata a casualidade do encontro de um homem e de
uma mulher vindos do meio rural, de
países e de credos religiosos diferentes,
que estão em Londres à procura de seus
filhos estudantes, desaparecidos após o
atentado terrorista a ônibus e metrô,
ocorrido em julho de 2005.
O argumento, de autoria do próprio
Bouchareb, em colaboração com Zoé Galeron e Olivier Lorelle, não é dos mais originais e chega mesmo a apresentar algumas inconsistências. Apesar disso, a linguagem narrativa é simples, de nível sensorial, apoiada basicamente no trabalho
dos atores e, como é do estilo do realizador, em sequências interligadas e bem
pontuadas por música quase sempre de
Armand Amar.
Elisabeth Sommers (Blenda Blethyn)
tem uma pequena propriedade rural numa ilha do Canal da Mancha, onde cultiva frutas e hortaliças. Após o culto de sua
igreja protestante, ela costuma visitar o túmulo do marido, um ex-oficial da Marinha, morto na Guerra das Malvinas. Depois, vai saudar o mar no alto de um rochedo. Ao voltar para casa, naquele fatídico 7 de julho, ela fica sabendo do atentado pela televisão. Faz várias ligações pa-
ra o celular da filha, que caem sempre na
secretária eletrônica.
Preocupada, Elisabeth chama o irmão
Edwards (Marc Baylis) para tomar conta
da propriedade e viaja para Londres.
Quando o táxi que apanhou na estação a
deixa em frente a um açougue, ela estranha
ser aquele o endereço da filha, o que é logo
confirmado pelo proprietário do prédio
(Roschdy Zem), que não só elogia a moça
como lhe entrega a chave subsidiária do
apartamento, localizado numa viela ao lado, para ela se acomodar. E nada mais diz.
Depois de percorrer postos policiais
e hospitais sem obter qualquer notícia
da filha, Elisabeth decide afixar cartazes
com a foto dela em vários pontos da cidade, indicando seu telefone para receber informações. São esses cartazes que
chamam a atenção de Ousmane (Sotigui
Kouyaté), um africano muçulmano, vindo no interior da França, onde trabalha
como guarda florestal. Ele, da mesma
forma, procura o filho, mas não o conhece, pois, criado pela mãe na África, não o
vê desde que tinha seis anos. Numa foto
por ele conseguida na mesquita, o rapaz
aparece ao lado de uma moça, que pode
ser a filha de Elizabeth.
Apesar das barreiras iniciais impostas
por Elisabeth, estabelece-se, aos poucos,
entre as duas personagens, um sentido de
solidariedade, à medida que vão descobrindo como é o relacionamento que une
seus filhos. Pela origem de ambos, que se
dedicam ao árduo trabalho com a natureza, o filme se orienta cada vez mais por
uma linguagem panteísta, que vai pautar
principalmente a tocante cena final.
Blenda Blethyn, que representa Elisabeth Sommers, tornou-se um dos nomes
mais expressivos da cena britânica desde
Verdades e mentiras, de Mike Leigh, com o
qual ganhou o Globo de Ouro e os prêmios de melhor atriz do cinema inglês
(Bafta) e do Festival de Cannes (1996).
Antes, ela já se destacava no Royal National Theatre e na televisão. Como Elisabeth, ela é uma criatura tímida, que não
se deixa abater, pois retém as lágrimas
pelo fato de ser sozinha e de precisar ir
avante à procura da filha, seja a que custo for. Sotigui Kouyaté, ator do Mali, intérprete de Ousmane, se consagrou com
essa brilhante atuação, pela qual recebeu
o Urso de Prata do Festival de Berlim
(2009). Antes, ele havia trabalhado com
Peter Brook, com Bernardo Bertolucci e
com o filho dele, Dany Kouyaté, que faleceu em abril do ano passado, aos 72
anos, em Paris.
London River – Destinos cruzados
(London River)
Reino Unido/Bélgica, 2009, 90 min. Direção:
Rachid Bouchareb. Roteiro: Bouchareb,
Zoé Galeron e Olivier Lorelle. Com Blenda
Blethyn, Sotigui Kouyaté, Sami Bouajila,
Roschdy Zem, Marc Baylis, Bernard Blancan
e Francis Magee.
33
luz câmera ação
A minha versão
Divulgação
do amor
Por Reynaldo Domingos Ferreira
É
34
a indefinição do tom narrativo o
que mais prejudica A minha versão
do amor, de Richard J. Lewis, prosaica história de um produtor de televisão
de Montreal, rico, excêntrico e mulherengo, que, na cerimônia judaica de seu segundo casamento, encontra ao acaso, entre os convidados, aquela que vai ser sua
companheira para o restante da vida.
O roteiro, de Mikael Konives, com
base no best-seller do escritor canadense
Mordecai Richler (1931- 2001), é recheado de situações banais e muito exploradas por outras películas do gênero, que
se pode carimbar como comédia dramática. Falta às personagens, que dialogam
e participam com assiduidade da ação,
um perfil mais detalhado, pois são, no
geral, retratadas apenas pela profissão
que exercem ou exerceram.
Além do protagonista, Barney Panofsky (Paul Giamatti), alter ego do escritor
Richler, o pai dele, Izzy Panofsky (Dustin
Hoffman), é um ex-policial que, talvez prevendo confusões na vida conjugal do filho, o presenteia com um revólver. A noi-
va (Minnie Driver), como um clichê, é filha de um milionário. Há também um
amigo de Barney que se diz escritor, Boogie (Scott Speedman), companheiro de copo e dado a todos os demais vícios, permitidos e não permitidos.
E a convidada sedutora é Miriam
Grant (Rosamund Pike), uma radialista
de Nova York de voz melodiosa, apresentadora de um programa de oferendas musicais, que, assediada por Barney, impõelhe uma rotina de vida como condição para se tornar sua terceira esposa. Assim,
pelas indicações do roteiro, tudo parece
muito simplista para poder a direção criar
uma atmosfera de realismo aparente, o
que, entretanto, não acontece.
E não acontece porque, apesar de a
ambientação ser muito bem cuidada – a
pré-produção levou 12 anos para ser concluída –, J. Lewis, o realizador, age por
meio de uma linguagem de faz de conta,
ou, mais precisamente, de seriados de televisão em que fatos importantes ocorridos ao início são relegados no transcorrer da ação para só serem retomados, sumariamente, ao final. Algumas sequências são conduzidas ao ritmo de paródia,
nas quais as personagens assumem a linha caricata. Outras tendem para o melodramático.
O elenco, contudo, é constituído por
nomes importantes do cinema canadense
– o que por si só já confere ao filme caráter histórico –, como dois dos seus mais
destacados realizadores: Atom Egoyan
(Doce amanhã), que faz o papel de
O´Malley, e Denys Arcand (A queda do
império americano, Jesus de Montreal e As
invasões bárbaras), intérprete de Jean, o
professor. Dustin Hoffman, premiadíssimo ator americano, faz, numa linha de
atuação pontuada pela ironia, o policial
aposentado Izzy Panofsky, igualmente como o filho um mulherengo, morto num
bordel. Minnie Driver (O fantasma da ópera) se incumbe da missão de encarnar a
sonsa, espevitada e melindrosa segunda
esposa de Barney, e Rosamund Pike (Orgulho e preconceito), atriz inglesa, se destaca
como Miriam Grant, a terceira mulher do
protagonista.
Quem mais permanece em cena é, naturalmente, Paul Giamatti – Globo de
Ouro de melhor ator do ano –, intérprete
de Barney Panofsky, que segura, na verdade, a atenção do espectador no espetáculo.
O papel parece haver sido escrito para ele,
que o defende vigorosamente, acrescentando-lhe apreciáveis nuanças e demonstrando, antes de tudo, o seu próprio sentimento, a sua própria vontade. Numa linha de atuação que se pode dizer discreta, isto é, sem estrelismo, ele explora,
com muita técnica, algumas sequências
de risco como a do trem, em que Barney,
deixando a festa de suas núpcias, procura Miriam, de partida para Nova York,
para lhe confessar o seu amor.
A minha versão do amor
(Barney´s version)
Canadá/2010, 132 min. Direção: Richard J.
Lewis. Roteiro: Mikael Konives, com base
no romance Barney´s version, de Mordecai
Richler. Com Paul Giamatti, Macha Grenon,
Atom Egoyan, Scott Speedman, Minnie
Driver, Rosamund Pike, Dustin Hoffman,
Denys Arcand e Bruce Greenwood.
Ano X • nº 193
Maio de 2011
R$ 5,90
Download

R$ 5,90 - Roteiro Brasília