Ano X • nº 193 Maio de 2011 R$ 5,90 3 em poucas palavras Na seção Verso & Prosa, apresentamos um bom motivo para sair de Brasília e fazer um programa diferente: a 3ª Festa Literária de Pirenópolis, mais conhecida como Flipiri, que este ano prestará uma homenagem à poetisa goiana Cora Coralina (página 29). Em Galeria de arte, elencamos nove sugestões de exposições em cartaz na cidade. Tem de tudo um pouco: a epopeia da construção de Brasília, a arte contemporânea do alemão Gerhard Richter, as xilogravuras de Rubem Grilo e um panorama da arte islâmica. E – o que é muito bom – todas com entrada franca (página 26). Continua até o dia 29 o festival Brasil Sabor. Com 87 participantes em Brasília, as novidades dessa sexta edição são os descontos de 50%, que podem ser conseguidos num site de compras, e vinho a R$ 5 a garrafa. Sem contar as inúmeras oficinas gastronômicas que estão percorrendo os shoppings da cidade e reunindo muita gente boa em volta de um fogão (página 7). Para encerrar, duas sugestões de shows neste mês de maio: Cauby canta Sinatra, dia 21, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e Jack Johnson – To the sea, dia 25, no estacionamento do Mané Garrincha. Confira em Dia & Noite (página 14) e Graves & Agudos (página 20). Boa leitura e até junho. Divulgação Acaba de sair do forno Rock Brasília, filme do cineasta Vladimir Carvalho que será lançado em julho próximo. O sonho de documentar a vocação roqueira da cidade começou em 1987, quando Vladimir filmou os shows que o Capital Inicial fez, abrindo para Sting. Ficou mais forte quando, em 1988, ele registrou o show da Plebe Rude na antiga boate Zoom, do Gilberto Salomão. E, finalmente, virou compromisso quando a Legião Urbana fez aquela fatídica apresentação no Mané Garrincha, em 1988, que acabou em pancadaria. Nossa matéria de capa antecipa os detalhes da filmagem dessa saga que traz registros raríssimos e históricos de Renato Russo e Cia. (página 30). 26 galeriadearte Deslocamento do olhar, xilogravura de Rubem Grilo, é uma das obras desse ex-ilustrador do jornal Pasquim presentes em uma das nove exposições que selecionamos para você . 6 8 10 12 14 20 24 29 30 águanaboca picadinho garfadas&goles pão&vinho dia&noite graves&agudos cartadaeuropa verso&prosa luzcâmeraação Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – CEP 70322-915 – Tel: 3964.0207 Fax: 3964.0207 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação [email protected] | Editora Maria Teresa Fernandes | Capa Carlos Roberto Ferreira, sobre foto de divulgação| Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Cristina Vilela, Beth Almeida, Bruno Henrique Peres, Eduardo Oliveira, Guilherme Guedes, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luiz Recena, Quentin Geenen de Saint Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral | Para anunciar Ronaldo Cerqueira (8217.8474) | Assinaturas (3964.0207) | Impressão Teixeira Gráfica e Editora | Tiragem 10.000 exemplares. www.roteirobrasilia.com.br 5 Divulgação Mauro Holanda água na boca Camarões à Bela Sintra Bacalhau como se faz na fazenda Invasão paulista N ão foi só na rota dos grandes shows internacionais que Brasília ingressou nos últimos tempos – ao que tudo indica, em definitivo – mas também na das grifes gastronômicas do eixo Rio-São Paulo. Depois do Gero, Galeto’s e Pobre Juan, trazidos pelo Iguatemi Shopping, e antes do Antiquarius, Due Cuochi, La Tambouille e The Fifties, que o ParkShopping promete para outubro, prepara-se para desembarcar na cidade um dos mais premiados restaurantes de comida portuguesa de São Paulo. Quem passa hoje pela 105 Sul não imagina que por trás da fachada de vidros espelhados do Bloco D (na extremidade oeste da comercial) está em execução o projeto do arquiteto Maurício Karam para a primeira filial do A Bela Sintra, 6 que há sete anos faz sucesso na rua homônima do bairro de Cerqueira César, na região dos Jardins, em São Paulo – graças, em boa parte, ao cardápio assinado pela chef portuguesa Ilda Vinagre, que faz a alegria de celebridades como Hebe Camargo, Adriane Galisteu e Eliana. Por que Brasília? Quem responde é o restaurater alentejano Carlos Bettencourt, proprietário do restaurante: “Por ser um mercado promissor, com nichos ainda a serem explorados. A partir do momento em que detectamos essa oportunidade, por meio de pesquisa de mercado, decidimos fazer o investimento”. Ele admite que o resultado é, por enquanto, uma incógnita. Indagado sobre os restaurantes portugueses da cidade que poderiam lhe fazer concorrência, citou o Dom Francisco, o Zuu e a Trattoria da Rosário, revelando limitado conhecimento sobre o cenário gastronômico brasiliense. Bettencourt define o conceito culinário do A Bela Sintra como “cozinha interDivulgação Por Adriano Lopes de Oliveira Bettencourt: de olho em novos nichos de mercado nacional com raízes portuguesas”. Vinda também do Alentejo há apenas dois anos, Ilda Vinagre é a chef executiva dos três restaurantes do empresário – os outros são o Trindade e o Buffet Bela Cintra, ambos na capital paulista. Mas a cozinha da filial brasiliense será comandada pelo chef residente Francisco Alves. Dos 60 funcionários, 40 estão sendo recrutados em Brasília e os demais virão de São Paulo. Também aqui o carro-chefe da casa será o bacalhau, oferecido em nada menos de 15 versões, que deverão dividir a preferência dos clientes com a perna de cordeiro com feijão branco e o camarão a Bela Sintra, entre outros pratos clássicos portugueses. A integração das culturas brasileira e lusitana se faz presente na sobremesa, em guloseimas como o creme de leite queimado, o arroz doce, a mousse de coco light, a encharcada de fios de ovos, o toucinho do céu e a sericaia do Alentejo. Espalhados por três andares, os 900 m2 do restaurante poderão receber simultaneamente até 120 pessoas. À entrada, um grande volume em pedra, com molduras em cobre, dividirá os ambientes do bar e do salão, sob um forro de luz que muda de intensidade conforme a luminosidade externa, criando, à noite, cenários diferenciados. Nos fundos da grande “caixa” de vidro, com vista para a quadra residencial, haverá uma pequena praça, projetada pelo paisagista Alex Hanazaki, com um fumoir a céu aberto. No andar superior, um lounge e um bar atenderão a três salas vips para almoços e jantares reservados, decoradas com obras da artista plástica Sônia Menna Barreto. A Bela Cintra 105 Sul – Bloco D De 2ª a 5ª feira, das 12h às 15h30 e das 19 á 1h; 6ª feira, das 12h às 15h30 e das 19 às 2h); sábado, das 12 às 2h; domingo, das 12h às 23h30. Mais informações: www.abelasintra.com.br. O festival melhorou Desconto de 50% no ClickOn e vinho a R$ 5 são as boas novidades do Brasil Sabor 2011 A sexta edição do festival Brasil Sabor, iniciada em 28 de abril, trouxe duas ótimas novidades. A primeira vale para todo o país: os pratos de alguns restaurantes – que custam R$ 23, R$ 33 ou R$ 43 – poderão ser comprados no site ClickOn com 50% de desconto. Os preços mais acessíveis beneficiarão a todos, explica Paulo Solmucci Júnior, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel): “A compra antecipada é ótima para os consumidores, beneficiados com o desconto, e para os empresários, que terão condições especiais para aprimorar suas vendas e potencializar seus negócios”. No site ClickOn os consumidores poderão identificar os restaurantes que aderiram a essa promoção. A outra novidade beneficia apenas os brasilienses: aqui, quem consumir qualquer um dos pratos do festival acompanhado de uma garrafa de vinho nacional – escolhido na carta criada especialmente para o Brasil Sabor – poderá levar outra para casa por apenas R$ 5. Tratase de uma ação promocional do vinho brasileiro, resultado de parceria entre a Abrasel-DF e as principais vinícolas nacionais. Como nas edições anteriores do festival, quem quiser participar do Circuito Gourmet (ou seja, experimentar pratos de seis restaurantes diferentes) poderá saborear o sétimo de graça. Este ano, quem completar o circuito em apenas uma semana ganhará não apenas um, mas dois pratos. Para os clientes da Vivo, a corrida será mais curta: consumindo cin- co pratos, em diferentes restaurantes, poderão repetir um deles, bastando apresentar seu aparelho com linha da operadora e SMS promocional, junto com um documento de identificação. As oficinas de gastronomia são uma atração à parte. Coadjuvados por jornalistas de publicações especializadas, alguns dos principais chefs brasilienses ensinam suas técnicas culinárias a grupos de no máximo 30 pessoas. A série foi aberta dia 28 com uma aula do chef David Lechtig, do El Paso Texas, assessorado pela editora da Roteiro, Maria Teresa Fernandes, no Terraço Shopping (foto abaixo). Em sua oficina gastronômica sensorial, ele ensinou o passo a passo de um delicioso ceviche limeño. As aulas prosseguem até o dia 29 em vários shoppings da cidade. Brasil Sabor 2011 Até 29/5 em 87 restaurantes da cidade (relação completa em www.brasilsabor.com.br\festival. Oficinas gastronômicas: 3321.7440. Cristiano Eduard 7 Divulgação Rafael Lobo picadinho Sagre Paesane O restaurante Oscar, do Brasília Palace Hotel, dá continuidade ao cardápio especial lançado em abril, batizado de Sagre Paesane (festas populares, em italiano). A cada mês é homenageada uma região italiana. Em maio será a vez da Emilia-Romagna, cuja capital é Bolonha, conhecida como um dos principais pontos gastronômicos da Itália. O chef Luca Cimarelli apresenta, entre outras opções, saladas e entradas típicas, brusquetas, rolinhos de abobrinha recheada, além de queijos e frios. Nos pratos quentes, destaque para o risoto de linguiça calabresa e abobrinha, massas e bacalhau, acompanhados de pães produzidos no próprio restaurante com receitas genuinamente italianas. O menu completo – entrada, prato principal e sobremesa – custa R$ 60. Divulgação Saúde e sabor A rede de culinária italiana Spoleto acaba de lançar um prato promocional por apenas R$ 9,90. Trata-se do Spaghetti Caprese di Ricotta, receita tradicional do sul da Itália, com molho ao sugo importado, ricota e folhas de manjericão. Pagando mais R$ 2,50 o cliente pode personalizar o prato, acrescentando-lhe quatro ingredientes extras. A sorveteria artesanal Sorbê (405 Norte) possui em seu cardápio um sorvete ideal para quem tem diabetes ou sofre de intolerância à lactose. O sorvete de pistache italiano não contém açúcar nem leite e derivados. O gosto do pistache lembra uma combinação de amêndoas com amendoim e possui um aroma especial, bem diferente do pistache processado. Divulgação Divulgação 8 pessoas, tem mesa de sinuca e TV de LCD, em ambiente que lembra casas antigas de Olinda. O novo boteco fica na 404 Norte, próximo ao Fulô do Sertão, e funciona de segunda a sábado, das 17 às 24 horas. Bom preço Almoço na Devassa A recém-inaugurada Cervejaria Devassa (409 Sul) acaba de lançar um menu para o almoço, servido de terça a sexta-feira. Os pratos são uma releitura dos petiscos da casa. É o caso da Afogadinha no tutu (R$ 21,90), inspirada na clássica Afogada na cachaça: calabresa fatiada e flambada na cachaça, acompanha de cebolas salteadas, tutu com arroz e couve. Outras criações são a Lamparina com feijão (carne seca desfiada com pedaços de aipim frito), a R$ 22,90; a Carnudinha maluca (frigideira de filé ao molho roti com cebola, queijo derretido e aipim crocante) e o Picadinho (cubos de filé mignon com arroz, feijão preto, farofa de banana e ovo pochê), ambos a R$ 24,90. Boteco nordestino Mãerena O restaurante Fulô do Sertão inaugurou no mês passado o Boteco Vila Fulô, com a proposta de oferecer boa bebida, pizzas, petiscos variados e atrações musicais de qualidade. Com capacidade para até 120 A doceira Maria de Fátima resolveu homenagear as mães pelo seu dia criando a Mãerena, uma torta com recheio de amarena e crocante de nozes. A fruta, pela qual ela se apaixonou em uma de Divulgação batatas fritas, chips de mandioca ou batata gratinada com queijo gruyere e alho poró. A sobremesa – papo de anjo – será cortesia da casa. Premiados Divulgação Almoço das mães Divulgação suas viagens à Itália, é uma cereja ácida, conhecida também como ginja, nativa da Europa. A torta pode ser encomendada em sua loja da 716 Norte, Bloco C, ou pelo telefone 3368-9321. Três rótulos da Miolo Wine Group foram premiados no primeiro Concurso de Vinhos da Feira FWS Brasil – Four Wine Seasons, em São José dos Campos. O Miolo RAR Cabernet/Merlot ficou em primeiro lugar na categoria vinhos tintos de corte. No grupo dos espumantes nacionais, o Miolo Brut Millesime levou medalha de ouro e o Miolo Brut Rose medalha de bronze. Novos espumantes O 4Doze Bistrô (412 sul) é uma das boas opções para o almoço do Dia das Mães. A sugestão do restaurater Daniel Vieira é o salmão grelhado com manteiga de frutas cítricas (R$37,90), servido com dois acompanhamentos que o cliente poderá escolher nesta lista: arroz branco, arroz com brócolis, farofa de ovos com cebola e salsinha, duo de purês (abóbora com mel e cará com hortelã), salada de cuscuz marroquino, espetinho de legumes grelhados na manteiga de ervas, salada de folhas com molho de mostarda, Outra novidade anunciada pela Miolo é o lançamento da linha de espumantes da vinícola Almadén. São duas versões (brut e meio doce) elaboradas com uvas Chenin Blanc, Semillon e Chardonnay em Santana do Livramento, pelo método charmat em autoclaves de inox, o mesmo usado nos espumantes Terranova. “Os espumantes são jovens e leves, de frescor marcante, resultado do equilíbrio entre a acidez da Chenin Blanc, a estrutura e complexidade da Chardonnay e os aromas cítricos e frutados da Semillon”, explica o diretor da Almadén, Afrânio Moraes. As duas novidades chegarão aos pontos de venda nas primeiras semanas de maio, ao preço médio – bastante convidativo – de R$ 12. Não custa experimentar. O Le Jardin dul Golf completou um ano e para comemorar incluiu pratos novos em seu cardápio: camarões com zucchini e fettuccine no próprio molho (R$ 83), carré de cordeiro e risoto de funghi ao molho de vinho Porto e cassis (R$ 69,50), nhoque ao ragu de codorna (R$ 39,50), codorna ao molho de champanhe e uvas verdes (R$ 49,50) e linguini ao tartufo nero (R$ 47). O cardápio executivo também recebeu uma interessante novidade: bombom de alcatra com arroz biro-biro (R$ 45). Os festivais que marcaram o primeiro ano da casa continuam a pleno vapor: às terças-feiras, o festival de risoto; às sextas-feiras, a lagosta; aos sábados, a feijoada. Outra tradição da casa é o nhoque da fortuna: um festival com três sabores da iguaria (R$ 45 por pessoa), no dia 29 de cada mês. O restaurante fica localizado no Clube de Golfe – Setor de Clubes Sul, Trecho 2. Breno Pina Primeiro aniversário 9 GARFADAS & GOLES Receitas de mulheres: Luiz Recena garfadas&[email protected] mãe, vó, tia, sogra... A distância aumenta a saudade e provoca a memória. E em épocas de festas clássicas, ainda que mais comerciais a cada dia, tipo Dia das Mães, por exemplo, o argumento apelativo das vendas não consegue bloquear, na totalidade, o pingo de sentimento puro que ainda carregamos. Esse momento, só um átimo que seja, é aquele a ser usado para homenageá-las, festejá-las. Mesmo que na distância de um tempo que se foi. Para as que estão no pedaço, alegria; para as que foram embora, uma lembrança, um sentimento de gratidão e uma lágrima furtiva. Feliz dia para todas e todos! No início, tudo em casa A infância do colunista, à beira-rio passada, está cada vez mais distante, tal qual o rio que a emoldurou. E dela brotam, nesses dias especiais, sabores idem. É uma polenta mole acompanhando uma carne de panela; um talharim com cogumelos catados nas coxilhas da fronteira oeste do Rio Grande do Sul; um bacalhau simples, com batatas; ou um “puchêro” (espécie de cozido campeiro), único nas redondezas. Nossa turma não tinha campo, mas era campeira, num tempo em que dois terços da população do município viviam no campo e dele dependiam.Comerciantes, funcionários e profissionais liberais, mais urbanos, viviam na cidade, mas do campo igualmente dependiam. A origem dos pratos Os imigrantes entravam pela Argentina ou Uruguai. Mais espanhóis e italianos, que se juntavam a portugueses e nativos com longínquos registros de presença naqueles fundos de mundo. Penso que, por tão distantes, nem Judas quis ali “perder suas botas”. Dessa grande mistura saíram receitas, uma “fusión” especial, que não desconstruía nenhum ingrediente alheio. Ao contrário, ao encontrá-los, os juntava na íntegra. E o resultado, além de saboroso, era farto, muito farto. Afinal, eram muitas bocas a comer, sim senhor. Então, talharim e polenta da nona italiana, paterna; o bacalhau de uma bisa portuguesa, aperfeiçoado por uma abuela y uma mamá hispano-nativas; e o puchêro, por inspiração, a partir do conceito básico, foi recriado e robustecido com os fortes ingredientes locais. Ah! Ainda tinha o mocotó, a canjica, o minestroni, a tortilla. Mas é hora de deixar em paz essas mulheres, que agora dormem o sono e a sabedoria da terra. Em tempo: as receitas não se perderam: ficaram bravas irmãs, primas, cunhadas, fiéis, fidelíssimas depositárias da arte de transformar o mundo a partir de panelas, e dar de comer a seus homens e mulheres per omnia secula saeculorum. Amém! Especial: o feijão da vó 10 Para mim era só a vó. Para outras e outros, era mãe, tia, dona etc. Velhinha, ainda fazia um feijão diário, básico, preto, com caldo e algumas carninhas. O povo mais moço batia porta: “Tia, dona, fazemos nosso feijão do jeitinho que a senhora ensina, mas não sai nunca com o mesmo gosto do seu, por que?”. E ela: “Vocês provam o feijão e depois lavam a colher?” E elas, em uníssono: “Claro, tiaaa”! E ela, com aquele sorriso irônico de experiência feito: “Taí o erro, eu não lavo...”. Risos e mais uma anedota para a lenda familiar. Especial dois: o estrogonofe Ela não sabia e não gostava de cozinhar. Nem mesmo de ler receitas. Seu primeiro sonho foi estudar e trabalhar com o intelecto. A vida não deixou. Nem a economia daqueles tempos. Trabalhava para o sustento próprio e ajuda aos irmãos menores quando conheceu o homem dela. O resto está na história do machismo. Décadas depois, além da tarefa diária de alimentar o tio, ganhou um sobrinho adolescente e, é claro, faminto. Desenvolveu e ensinou a cozinheira a fazer um estrogonofe incrementado que nem na Rússia soviética encontrei algo parecido. Não importa, era ótimo e a discussão não era ideológica, era fisiológica: dois estômagos masculinos, de dois homens amados, queriam comer. Especial três: camarão com chuchu Uma paraibana casou com um gaúcho da fronteira e foi morar no Rio Grande do Sul. O que esperar? Duas certezas, pelo menos: filhos bravos e uma boa cozinha. Sobre filhos e filhas não escrevo porque hoje é coluna para mães. Mas conhecer um camarão com chuchu, naqueles tempos imemoriais, no interior gaúcho, é lembrança ainda viva na memória do colunista. Não esqueçamos: sogras são mães. Há quem teve uma, duas, e paremos por aqui porque hoje não é dia de estatísticas. Brinde para elas. Todas. Especial quatro: receitas especiais E também existem aquelas que não são mães biológicas, nem fizeram adoções de pequenas crianças. Preferiram adotar homens crescidos (escrevi crescidos?...). Elas têm receitas especiais, de vida e/ou panela. Pode ser a mesma coisa, mas o poeta cubano lembraria que não iguais. Agora, pensemos em beijos só para elas. P.S. memória Três dos meus 18 leitores e meio usaram seus tambores digitais para vir em meu socorro, todos lembrando o nome da velha churrascaria do Hotel Nacional: Tabu, ou Taboo. Dois puxando minhas orelhas por não ter citado o Xadrezinho, bar e boate de uma escuridão própria para encontros casuais, outros não tanto, contrabandos e outros quetais. Não frequentei. Explico: era repórter iniciante, salário baixo, casado jovem e... fiel! Havia quem não fizesse nada disso e fosse ali só para comer e beber bem. Um deles ainda lembrou o nome alemão do tri-nacional da Asa Norte: Hoffman, Confalonieri e Também da Silva (este do Jonio, colega mais velho, impaciente diante da burrice alheia, que certamente me daria um cascudo). A todos um saudoso agradecimento. Fotos: Rodrigo Oliveira Risoto de abobrinha com frutos do mar ao pesto Receita da chef Talita Cruvinel, do restaurante Triplex (para cinco pessoas) Ingredientes Do risoto de abobrinha • 200 g de arroz arborio, carnaroli ou calriso • Azeite extra-virgem (quanto baste) • 200 ml de vinho branco seco de boa qualidade • 1 cebola finamente picada • 2 dentes de alho finamente picados • 1 abóbora menina em meias rodelas finas • 2 litros de caldo de galinha fervendo • Sal (quanto baste) • 2 colheres (sopa) de manteiga • 1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado na hora Do pesto • 1 maço de manjericão fresco (somente as folhas) • 3 colheres (sopa) de pinoles • 3 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado na hora • 1 dente de alho • Pimenta do reino moída na hora (quanto baste) • Sal (quanto baste) • Azeite extra-virgem (quanto baste) Dos frutos do mar • 200 g de camarões grandes descascados (com a cauda) • 200 g de lula em anéis • 200 g de polvo em pedaços • 200 g de mexilhões (sem as conchas) • Sal (quanto baste) • Pimenta do reino moída na hora (quanto baste) • Azeite extra-virgem (quanto baste) Modo de preparo Do risotto de abobrinha Em uma panela de fundo espesso, refogue a cebola e o alho até ficarem levemente transparentes, adicione o arroz sem lavar e refogue por mais alguns minutos. Deglace com o vinho e deixe-o evaporar. Acrescente, então, duas conchas do caldo de galinha fervente e, em seguida, a abobrinha cortada. À medida que o caldo vai sendo absorvido, vá colocando mais, sempre de concha em concha, e mexendo bem, até que o arroz esteja al dente e quase sem caldo. Nesse momento, verifique o sal e finalize com a manteiga e o queijo parmesão. Do pesto Em um liquidificador ou mixer, coloque as folhas de manjericão, o alho, os pinoles, o parmesão, uma pitada de sal e pimenta do reino e bata, acrescentando o azeite em fio até obter uma pasta homogênea. Verifique o tempero, adicionando mais sal ou pimenta do reino, se necessário. Dos frutos do mar Tempere os frutos do mar com sal e pimenta do reino. Em uma frigideira, aqueça um fio de azeite e salteie os frutos do mar até que todos estejam cozidos. Acrescente uma colher (sopa) de pesto e salteie mais alguns segundos para que o pesto envolva os frutos do mar. Montagem do prato Em um prato fundo, coloque uma concha do risoto de abobrinha. Por cima do risoto, disponha uma boa colherada de pesto e por cima do pesto disponha os frutos do mar salteados. Sirva imediatamente. 11 PÃO & VINHO ALEXANDRE FRANCO pao&[email protected] Expovinis sempre se renovando Mais uma vez, chega a São Paulo a Expovinis, maior feira de vinhos da América Latina. Como sempre, marco presença para contatar velhos amigos, fazer novos, conhecer novos vinhos, relembrar os antigos, mas principalmente para trazer aos nossos leitores minhas impressões sobre essa mostra. Como venho reparando e comentando nos últimos anos, a cada ano a Expovinis se renova quanto aos seus expositores. As importadoras mais tradicionais, que já fizeram seu nome no mercado de forma incontestável, deixam de realizar o alto investimento que implica sua participação nesse evento, optando por realizar exposições-solo ou simplesmente manter um marketing direto focado em seus consumidores. Assim foi com a Mistral, a Grand Cru, a World Wine, a Península, a Expand e tantas outras que já lá estiveram, mas ao longo dos anos vão deixando de marcar presença. Algumas ainda persistem, como é o caso da Interfood, da Qualimpor, da Decanter, da Hannover e da Adega Alentejana, por exemplo. O interessante, com isso, abre-se espaço para que importadoras chegadas mais recentemente, que vêm crescendo no mercado de vinhos brasileiro, possam melhor se destacar, principalmente com novos vinhos e novos produtores de todo o globo, fazendo assim com que nós, consumidores finais, tenhamos cada vez mais acesso a mais vinhos, o que certamente é positivo. Alguns exemplos disso são a Enoteca Fasano, a Cantu, a Portus Cale e a Obra Prima, entre outras. Creio, porém , que a grata surpresa desta edição 2011 da Expovinis foi a forte presença da Del Maipo, ocupando o stand nº 1, logo na entrada da feira, apresentando excelentes novos vinhos e tomando conta, “de cara”, 12 do visitante que chega à feira. Melhor ainda, para orgulho e vantagem dos brasilienses, trata-se de uma importadora sediada na capital federal. Acabei passando mais de duas horas no stand da Del Maipo, em razão dos bons produtos apresentados e da cordial atenção dispensada por sua equipe, especialmente por Cyro Torres Junior, seu diretor comercial. Vamos citar apenas alguns de seus ótimos vinhos, começando pelo Hurarenkappe – Riesling 2009, do produtor alemão Burg Ravensburg, de Baden, um grand cru com 12,5% de álcool que apresentou cor amarelo-palha, extremamente aromático, a frutas brancas.Em boca mostra leveza, com muita cremosidade e personalidade, lembrando peras, com equilibrada acidez. Um vinho acima dos 90 pontos, por um preço na faixa dos US$ 80. De Roussillon, França, um ótimo produtor, Arnoud de Villeneuve, nos trouxe o Alta Tura 2006 e 2007. Um assemblage 50% Sirah, 25% Mouvedre e 25% Grenache, com 14% de álcool, que não se destacam por estarem muito bem integrados com os taninos e a acidez. Nariz a frutas vermelhas confitadas e negras maduras, com boca muito bem integrada, corpo médio a pleno, com leve e agradável tostado. Outro vinho na casa dos 90 pontos, desta vez com preço de barganha – apenas US$ 45. Para encerrar, um toque de luxúria, talvez o melhor vinho da feira, o Espanhol Tinus 2008, um 100% Tempranillo, fermentado em barrica pelo produtor Figuero, com nada menos que 15% de álcool. Um deleite: no nariz, framboesa em geleia, tofe e um toque floral e fresco. Em boca, redondo e sedoso,com taninos macios e bem domados, corpo pleno.Ótimo. O preço? Bem, aí está a tal luxúria: US$ 700. 13 Divulgação DIA E NOITE deusaloura Assim era conhecida a atriz paulista Odete Lara, que transitou com liberdade pelo teatro e pela televisão, mas que ficou marcada como musa do cinema brasileiro. Dezesseis filmes realizados ao longo de mais de 20 anos de carreira poderão ser vistos (ou revistos) por quem for ao CCBB entre 17 e 29 de maio. Serão exibidos os clássicos Bonitinha, mas ordinária, Copacabana me engana (foto), A rainha diaba e A estrela sobe, além de raridades como Em família, de Paulo Porto, rodado em 1972. A mostra, com curadoria de João Juarez, tem produções assinadas por alguns dos maiores diretores do cinema brasileiro, como Gláuber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Bruno Barreto. A abertura, dia 19, será com Absolutamente certo, que marca a estreia do galã Anselmo Duarte na direção, em 1957, mesmo ano em que Odete Lara estreou no cinema. No dia 26, às 21h, haverá um debate reunindo o curador e o cineasta Antonio Carlos Fontoura, ex-marido de Odete Lara e diretor de dois dos filmes da mostra (A rainha diaba e Copacabana me engana). Ingressos a R$ 4 e R$ 2. Boccacio, de 1962, em exibição no dia 11, às 18h. Em 1958, a Itália passou por dois momentos marcantes: um “milagre econômico” e o lançamento do filme Os eternos desconhecidos, de Mario Monicelli, que foi considerado pelos críticos como o primeiro do gênero batizado de “commedia all’italiana”. De 9 a 15 de maio os brasilienses terão oportunidade de assistir aos grandes filmes desse gênero que teve seu auge entre as décadas de 50 e 70. Produções dos chamados “mestres da comédia italiana”, como Mario Monicelli, Dino Risi, Pietro Germi e Ettore Scola, ficaram imortalizadas pelas atuações marcantes de Vittorio Gassman, Nino Manfredi, Monica Vitti, Stefania Sandrelli, Alberto Sordi, Ugo Tognazzi, Giancarlo Giannini, Gina Lollobrigida, Sophia Loren, e, claro, Marcello Mastroianni. Na Caixa Cultura, com entrada franca. Programação em www.caixa.gov.br/caixacultural. cinema-síntese Uma seleção de aproximadamente sete horas de curta-metragens de todos os gêneros será exibida na quarta edição nacional do Festival Internacional de Filmes Curtíssimos, dias 6, 7 e 8 no Museu da República, às 20 h. A mostra, que acontece simultaneamente em 75 cidades de 18 países, reúne produções com, no máximo, três minutos de duração, e acontece junto com o 1º Encontro de Experiências Educativas no Audiovisual, cuja abertura será no dia 6. Constam do programa 41 horas de oficinas gratuitas para alunos do ensino médio da rede pública. Detalhes em www.filmescurtissimos.com.br. 14 Divulgação Divulgação commediaall’italiana Pablo Pinheiro novadramaturgia navegandonarede Quem já fez 25 anos sabe muito bem como funciona um fórum de discussão pela internet. Vitório está enquadrado nessa faixa. Personagem da peça 25, ele descobre um mundo que vai além das quatro paredes do seu quarto. Ele e os outros quatro jovens da história de Ismar Tirelli Neto estão em busca de reconhecimento e não fogem da discussão a respeito da vida depois dos 25 e o impacto das redes sociais sobre cada um deles. A peça, dirigida por Robert Litig, se passa em um fórum de discussão na internet, dedicado a Gene Kramer, um autor americano fictício. No elenco, Alessandro Brandão, Bernardo Marinho, Lanna Guedes, Luisa Friese e Tati Ramos. De 5 a 8 de maio, de quinta a sábado, às 19 e 21h; e domingo, às 17 e 19h. No Espaço Cena (205 Norte), com ingressos a R$ 20 e R$ 10. Informações: 8512.9062. asolidãodoator Desde 1995, Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes já fizeram nove peças, incluindo a premiada Inveja dos anjos, encenada em Brasília pelo Armazém Companhia de Teatro, do Rio de Janeiro. Agora, a dupla apresenta Antes da coisa toda começar, um texto inédito que põe no centro da cena a história do espectro de um ator. Solitário e enclausurado em si mesmo, ele começa a materializar suas lembranças, corporificando a memória. A trilha sonora da peça é executada pelos próprios atores, momento em que surgem em cena acordeom, bateria, baixo, violão e teclado. Doses impactantes de humor cáustico e boa música são a tônica do espetáculo. De 5 a 29, de quinta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h30. No CCBB, com ingressos a R$ 15 e R$ 7,50. escritores Divulgação Divulgação De um lado, jovens e consagrados escritores. Do outro, diretores vindos de vários Estados. Do encontro desses talentos vão nascer quatro espetáculos inéditos. Com curadoria de Carla Mullulo e João Braune, o projeto do CCBB trará, de 11 de maio a 5 de junho, André de Leones (Goiás), Xico Sá(Pernambuco), Joca Reiners Terron (Mato Grosso), João Paulo Cuenca (Rio de Janeiro),Cristina Moura (Brasília), Fernando Yamamoto (Rio Grande do Norte), Haroldo Rego (Riode Janeiro – Paraíba) e Pedro Brício (Rio de Janeiro). Para inaugurar o projeto Nova Dramaturgia, Concerto para quatro vozes e alguma memória, de André Leones, dirigido por Cristina Moura, de 11 a 15 de maio. Na semana seguinte será a vez de A mulher revoltada, de Xico Sá, com direção de Fernando Yamamoto. De 25 a 29 de maio, Cedo ou tarde tudo morre, de Joca Terron, com direção de Haroldo Rego. Encerrando o projeto, de 1º a 5 de junho, entra em cartaz o espetáculo Terror, de João Paulo Cuenca, direção de Pedro Brício. Ingressos a R$ 15 e R$ 7,50. Informações: www.bb.com.br/cultura. O projeto deu tão certo em 2010 que emplacou 2011. A cada mês, um ator convidado interpreta trechos de textos de um grande escritor brasileiro da atualidade. A causa, mais do que nobre, é estimular o saudável hábito da leitura. Dia 18 será a vez do dramaturgo, cronista e diretor Alcione Araújo, que recebe a atriz Aracy Balabaniam no CCBB. No dia 21, duas oficinas de leitura estão abertas a quem se inscrever pelo telefone 3310.7420. 15 DIA E NOITE Marco Maximo caubycantasinatra Era um sonho antigo que, finalmente, virou realidade. Cauby Peixoto queria porque queria gravar um CD só com músicas de Frank Sinatra, segundo ele “a maior voz do mundo”. Há um ano, CD e DVD foram gravados ao vivo, com o repertório e os músicos escolhidos pelo próprio Cauby. Quem for ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães no dia 21, às 21 horas, vai poder ouvir suas inconfundíveis interpretações de My way, I’ve got you under my skin e muitas outras. Thiago Marques Luiz, produtor do CD, explica: “Realizar esse sonho de Cauby não tem preço. Há anos ele me falava desse projeto com brilho nos olhos. Foram só duas semanas de ensaio, pois ele já estava com tudo na ponta da língua. Esse é um dos motivos para ele se mostrar tão à vontade em cena”. Ingressos a R$ 150 (vip), R$ 100 (especial) e R$ 60 (superior). Quem assinar a Roteiro por 12 edições paga R$ 70 e ganha um ingresso na poltrona especial. Informe-se em 3964.0207. encantadoras júliamoreno Divulgação Ela foi finalista do programa Ídolos, da TV Record, e agora está lançando seu primeiro CD, o Tudo em sol. Dia 5, às 19h, Júlia Moreno se apresenta no projeto Quinta Cultural Tribus, que acontece no Espaço Gourmet Cultural de Águas Claras (Quadra 301, Rua A, conjunto 1). No repertório, Cachoeira e Sou pop, canções que ela divulgou em sua turnê em bares e casas noturnas de Pirenópolis e em várias cidades satélites. O Espaço Gourmet Cultural está abrindo espaço para novos artistas de Brasília. Os interessados devem mandar material de divulgação e foto para [email protected]. jogodecena Será dia 18, a partir das 20 horas, o animado programa de auditório conduzido mensalmente por Welder e Pipo, da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo. Criado em 1985, o Jogo de Cena terá, entre seus quadros, um show em homenagem a Michael Jackson, coordenado pela cantora Célia Porto, bem como um trecho do espetáculo Rota Brasil Dança de Rua, coordenado por Noara Beltrami. Na Caixa Cultural, com ingressos a R$ 20 e R$ 10. Bilheteria: 3206.6456. Adla Marques Divulgação Recém-chegada da Europa, a revelação Tulipa Ruiz será uma das atrações do Rock in Rio. Dias 6 e 7 ela estará em Brasília para duas apresentações no Teatro Oi Brasília. No repertório, músicas de seu primeiro CD, Efêmera. A cantora é filha de Luiz Chagas, guitarrista da histórica banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, e irmão do violonista, guitarrista e compositor Gustavo Ruiz, que também assina a produção do CD. Às 21h, com ingressos a R$ 25 (preço único). Informações: 3424.7169. 16 Horácio Sarria misturafina Les Provocateurs elavaivoltar Dia 20 de abril Zizi Possi encantou os fãs que foram ver seu show na Sala Villa-Lobos. Dias 21, às 20h, e 22, às 19h, o espetáculo Cantos & contos estará no palco da Caixa Cultural, desta vez com ingressos bem mais em conta (R$ 20 e R$ 10), para sorte de quem admira a intérprete de A paz, Asa morena e tantos outros clássicos da MPB. O show reúne 36 músicas do DVD Cantos & contos, volumes 1 e 2, com os momentos mais marcantes de seus 30 anos de carreira. sergegainsbourg balébolshoi Para ser um verdadeiro bailarino, não basta apenas dançar com o corpo, é preciso dançar com a alma. Essa é a principal lição que Vladimir Vasiliev – eleito bailarino do século pela Unesco – ensinou aos alunos da Escola Bolshoi. E é o resultado desse trabalho que poderá ser visto dia 5, às 20h30, na Sala Villa-Lobos, quando 90 alunos e professores da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil apresentam a Grande suíte do ballet Don Quixote. Vão contar a história de Kitri e Basílio e seu intenso caso de amor, heroísmo e ilusão, com traços marcadamente hispânicos. Don Quixote, de Marius Petipa, foi criado em 1869 para produção no Teatro Bolshoi, em Moscou, quando o coreógrafo francês selecionou algumas partes da novela de Miguel de Cervantes para a produção de um libreto e criou coreografias com a música de Ludwig Minkus. Ingressos a R$ 50 e R$ 25. Informações: 3325.6239. Divulgação Luciana Yoshikawa A fórmula consagrada é a mesma: shows ao ar livre que misturam jazz, o novo tango argentino, samba de gafieira e ritmos brasileiros de raiz. Dia 22, a partir das 17 horas, os jardins do CCBB serão palco do projeto Todos os sons, que começa com o show do grupo argentino Escalandrum, liderado pelo neto do mestre Astor Piazzola e pela primeira vez em Brasília. São destaque também os grupos Gafieira em concerto e Pé de Cerrado, que vêm com o firme propósito de fazer todo mundo dançar. Será o primeiro de uma série de cinco grandes concertos até o mês de setembro. Curadoria de Bia Reis e Guilherme Reis. Entrada franca. Quem já entrou na fase dos “enta” deve se lembrar de Je t’aime moi non plus, que ele e Jane Birkin cantaram em 1969 e foi sucesso em todas as paradas mundo afora. Durante quatro décadas, Serge Gainsbourg alavancou o pop francês com suas inesquecíveis e provocantes composições e ainda revelou muitos cantores e principalmente cantoras da França. Dias 21 e 22, o Teatro da Caixa Cultural abrigará projeto idealizado por Edgard Scandurra, em 2008, que nasceu como tributo a Ggainsbourg no ano em que se comemorava 80 anos de seu nascimento. Agora, em 2011, a homenagem será feita em função dos 20 anos de sua morte. Juliana R, Bárbara Eugênia e Andrea Merkel (foto) são alguns das convidadas especiais. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. 17 18 19 graves & agudos Brava sobrevivente Sem apoio do governo e do setor privado, a Orquestra Filarmônica de Brasília se mantém viva graças à teimosia e dedicação de poucos Por Ana Cristina Vilela A Orquestra Filarmônica de Brasília precisa de ajuda, de dinheiro, de patrocínio. Necessita, urgentemen te, ser lembrada e valorizada, porque se ainda existe é, pura e simplesmente, pelo esforço daqueles que insistem em não criar para ela um réquiem. Muitas vezes confundida com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, inclusive pela imprensa local, a Filarmônica, além de sobreviver bravamente, desenvolve projetos sociais, a exemplo do Viva Arte Viva, com oficinas de música e 20 de dança para pessoas carentes, e da Orquestra Didática, para escolas públicas. Com o Popularizando a Sinfonia, prova que boa música é um direito de todos. Entretanto, na hora de conseguir verba... O financiador acaba sendo o próprio bolso. Foi assim para a produção do último evento, o show com Guilherme Arantes, dia 13 de abril, na Sala Villa-Lobos. “Conseguimos o hotel, o que agradecemos muito, e sempre temos o apoio das rádios”, informa o violinista Doner Cavalcante, produtor cultural da Filarmônica e seu bravo defensor. Segundo ele, se não fosse a parceria com a Orquestra Sin- fônica, a Filarmônica não existiria mais: “Nos ajudam com infraestrutura, instrumentos musicais, partituras, arquivos”. Com cerca de 60 músicos, a Filarmônica se difere da Sinfônica apenas na questão legal. Enquanto os músicos da Sinfônica são funcionários públicos concursados e a orquestra é mantida pelo governo, a Filarmônica depende totalmente de leis de incentivo, de patrocínios – portanto, da sociedade. Seus músicos recebem cachê. Porém, quando a direção vai em busca de auxílio do GDF... “Todas as filarmônicas do país têm ajuda do governo, mas aqui escutamos sempre a mesma história: já ajudamos uma orquestra”, reclamam Doner e a presidenta da Filarmônica, a violinista Fabianne Gotelipe. A verba do governo local ainda conseguida é a proveniente do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), que tem teto de R$ 250 mil. O acesso à Lei Rouanet também é complicado. “Grandes empresas não têm filiais aqui, mesmo muitas estatais não estão sediadas na cidade e, quando estão, os dirigentes são de fora e só patrocinam os grandes”, reclama Doner. Tanto ele quanto Fabianne não escondem a desilusão: “Com empresários da cidade não conseguimos nada”. A Filarmônica tem projetos espalhados por empresas e órgãos diversos, mas todos sem resposta. Seus integrantes também guardam uma outra frustração. Foi em 1995 a última vez que participaram das comemorações do aniversário da cidade. Para este ano, apresentando uma mudança favorável do atual governo, o que ressalta e comemora Fabianne, a orquestra participou do edital. “Mas fomos obrigados a reduzir, e muito, nossa estrutura”. Em 1985, ainda como Orquestra Jovem, a Filarmônica teve como primeiro regente o maestro Cláudio Santoro, seguido de Joaquim Jaime, regente da Orquestra Sinfônica de Goiânia. Desde outubro de 2010, passou a trabalhar com maestros convidados e seu último regente foi Cláudio Cohen, hoje à frente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. O idealizador e criador da Filarmônica foi o violoncelista Afonso Galvão, há tempos também na Sinfônica, em que atualmente é diretor de projetos e de relações institucionais. “Pretendeu-se criar um celeiro de novos profissionais, preparandoos para as orquestras sinfônicas; por isso, tentamos conseguir bolsas junto ao GDF”, relata. Os ensaios aconteciam na UnB e tinham à frente o veterano Santoro, mas nunca houve a parceria com o governo. Anos depois, para facilitar a obtenção de apoio a projetos, a orquestra passou a ser filarmônica, mas, para Afonso, seu papel formador continuou, o que “é fundamental”. E mais: “A orquestra é essencial para a formação de público”. Atualmente compondo a direção da Sinfônica, Afonso assegura que um dos objetivos, assim que a própria Orquestra do Teatro Nacional for reestruturada, é apoiar ainda mais a Filarmônica, fazendo-a crescer. Mais uma vez, haverá a tentativa de fechar convênio com o governo para o fornecimento de bolsas de estudo. Um dos grandes diferenciais da Filarmônica é a interpretação de músicas populares. Assim, já se apresentou com seu Teodoro, mestre de Bumba-meu-boi, com o Galinho de Brasília, com poetas, capoeiristas... e levou música para todo o Distrito Federal. Também esteve ao lado de Bibi Ferreira, Francis Hime, Elomar, Xangai, Rosa Passos, Hamilton de Holanda... O maestro Joaquim França, um dos que permaneceram mais tempo à frente da Filarmônica, 14 anos, sendo um dos principais incentivadores dos trabalhos com a música popular, fala dos anos e anos sem patrocínio algum, ou com um aqui, outro ali. “Tivemos muita dificuldade, mas mesmo assim fizemos muito”, avalia. Segundo França, durante algum tempo a Filarmônica contou com patrocínio do BRB, ainda pela Lei Sarney, extinta durante o governo Collor. De lá para cá, somente auxílios esporádicos. O maestro reforça a importância da orquestra, não só por sua história, mas porque é espaço de formação para músicos que não têm onde praticar, e elogia o trabalho de quem está à sua frente. “Não sei de onde tiram tanta força para manter a Filarmônica, porque ela sobrevive por tremendo esforço pessoal”, reflete. Para ele, Brasília deveria ter várias orquestras, e se perdesse a Filarmônica seria como perder um hospital: “Faz bem ao povo, faz bem ao espírito da população; me lembro de quando tocávamos nos lixões, para a população dali e para os garis, a felicidade que sentiam”. 21 graves & agudos Paz e amor Por Heitor Menezes R ma paz e amor, mais simples, menos psicodélico, é claro, os tempos são outros. Ao longo dos seis discos de inéditas que lançou, Jack Johnson vem-se notabilizando como um grande autor de baladas (não exatamente naquele esquema “baby, I love you”), quase sempre levadas ao violão e com acompanhamento mínimo de bateria, baixo e ocasional teclado. Nas apresentações, ajudam Johnson os mesmos músicos de quase todos os discos: o baterista Adam Topol e o baixista Merlo Podlewski. Garrett Dutton, o G. Love da banda G. Love & Special Sauce, admirador e parceiro de longa data, é o convidado especial da turnê. Quem não tiver vergonha do clichê pode imaginar uma apresentação de Jack Johnson como uma autêntico luau: noites quentes numa praia banhada pelo Pacífico; tochas ardendo, fincadas na areia; gente (bonita, claro) bronzeada; a tal da fogueira; e o cantor, levando as coisas como se fosse o amigo que pegou o violão. Tudo na santa paz, como convém às pessoas de bem. Divulgação evoluções já foram feitas apenas por um homem armado com um violão e um punhado de canções. É o que pensamos, por exemplo, de Bob Dylan (embora ele rejeite), Geraldo Vandré (embora ele nem saiba mais) e Chico Buarque (embora ele aparentemente esteja cansado desse papel). Incendiários dessa estirpe já vimos muitos, e são sempre bem-vindos. Mas há também aqueles que operam a revolução em outro plano, mais pessoal, por assim dizer. A saga dos trovadores de voz e violão se renova, basta esmiuçar o cenário musical. Ilustre defensor do estilo, não necessariamente solitário com seu violão, o havaiano Jack Johnson paga-nos uma visita dia 25 de maio (uma quartafeira), no indefectível estacionamento do Estádio Mané Garrincha (Eixo Monumental). Em sua segunda viagem ao Brasil, o cantor norte-americano, autor de Upside down, Flake e Sitting, waiting, eishing, passa por Brasília, dando continuidade ao giro sul-americano de divulgação do álbum To the sea, lançado em 2010. Embora a ênfase da apresentação sejam as canções do novo trabalho, Johnson traz nas costas repertório que já conta uma década. Incrível como o tempo passa: Brushfire fairytales, o primeirto disco, saiu em 2001. Tal qual registrado no DVD En concert (2009), os fãs podem esperar consciência ambiental e aquele cli- Jack Johnson – To the sea 22 ASSINE A ROTEIRO E GANHE UM INGRESSO DE PISTA! 3964.0207 25/5, às 21h, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Show de abertura de G. Love às 20h. Ingressos (meia): R$ 130 (pista), R$ 250 (pista premium) e R$ 350 (camarote lounge, com água, refrigerante, vodka nacional, uísque 12 anos e acesso à pista premium). À venda na central de ingressos Brasília Shopping, lojas Mormaii ou www.livepass.com.br. Mais informações: 4003.1527 ASSINE A ROTEIRO E GANHE UM INGRESSO NA POLTRONA ESPECIAL! 3964.0207 23 carta da europa em Londres Por Silio Bocanera, de Londres Q uem visitar Londres de agora até setembro terá oportunidade de ver na galeria Tate Modern uma das maiores retrospectivas já montadas sobre a obra do artista catalão Joan Miró. Descrevê-lo como catalão e não espanhol reflete a postura dele, crítico severo do regime nacionalista da Espanha, sobretudo 24 durante a ditadura de Francisco Franco. Peças tomadas de empréstimo em museus e coleções privadas em vários países enchem das cores de Miró os salões da popular galeria de arte moderna à beira do Rio Tâmisa, em frente à antiga Catedral de São Paulo. O público já forma longas filas para ver de perto 150 peças que andam espalhadas pelo mundo e a maior parte das pessoas só conhece por fotografia. De Londres, a exposição seguirá para Barcelona e Washington. Nascido em Barcelona depois de Pablo Picasso e antes de Salvador Dali, Miró se mudou para a França nos anos 20 e, ao chegar a Paris, pediu ajuda a um conhecido de família, o próprio Picasso. Foi bem tratado pelo artista andaluz, de quem se tornaria amigo por toda a vida, que o apresentou ao ambiente intelectual de Paris. Miró trabalhou com Max Ernst em 1926, como designer dos Ballets Russes, de Diaghilev, e mergulhou de cabeça no surrealismo e no processo que chamou de “assassinar a pintura”, sobretudo a herança impressionista. “Chega de pôr do sol choroso em amarelo canário”, disse ele na época. Um dos quadros na mostra da Tate chama-se Farm, pintado entre 1921 e 1922. Foi adquirido na época pelo escritor Ernest Hemingway, que teve de disputar num jogo de dados com o amigo poeta Evan Shipman o direito de compra da pintura. “Ganhei e tive de pagar 5 mil francos, o que é 4.250 mais do que jamais paguei por um quadro”, queixouse Hemingway. A viúva e quarta mulher do escritor, Mary, doou o quadro à National Gallery de Washington. Segundo o curador da mostra na Tate, Matthew Gale, essa obra de Miró mostra o artista envolvido com a paisagem em torno dele, “como um recurso para entender o que significava ser catalão”, parte de uma cultura e uma nação orgulhosas de sua identidade (idioma inclusive), diferente do país maior em volta, a Espa- Fotos: Divulgação nha. Resquícios desse sentimento existem até hoje na Catalunha. Com a aproximação do trágico período da Guerra Civil espanhola (1936-39), que iria levar à vitória das forças de direita em torno de Francisco Franco (ditador até 1975), o engajamento político de Miró foi se intensificando. Embora sua arte em grande parte não aparente manifestação política explícita, as cartas e anotações que deixou apontam claramente a influência política por trás de seus trabalhos. Uma obra abertamente política dele foi Aidez l’Espagne, pintada no segundo ano da guerra civil espanhola, com um catalão de punhos fechados em saudação comunista. Seu trabalho Natureza morta com um sapato velho (1937), em cores de pesadelo, foi chamado por um crítico de “retrato sublimado da guerra civil”. Outro curador da exposição na Tate, Marko Greenberg, diz que uma das intenções dos organizadores dessa retrospectiva é mostrar que Miró não foi apenas criador de peças coloridas e engraçadinhas, como muitos as interpretam, e sim um artista cujo trabalho revela dor, intensidade e paixão. Miró estava trabalhando na França com os surrealistas e deixou o país às pressas, em 1939, pouco antes da invasão dos nazistas. Voltou à Espanha, já no regime de Franco, mas rechaçou as tentativas da ditadura de usá-lo como representação do país no exterior, onde a arte dele já era conhecida e admirada. Sua influência corria mundo, mas ele passou a viver uma espécie de exílio interno durante a ditadura que desprezava. Quando Franco morreu, em 1975, perguntaram a Miró o que ele tinha feito para promover oposição ao ditador. “Coisas livres e violentas”, respondeu o artista. Miró teve impacto sobre os expressionistas abstratos americanos nos anos 50 e, 20 anos depois, retribuiria a homenagem com algumas obras ao estilo de Jackson Pollock. No quadro Tela queimada, de 1973, ele rasgou a tela, despejou gasolina em cima e atiçou fogo. Toda essa ansiedade e tensão no artista e em sua obra não parecem afetar o homem Joan em sua vida pessoal (casamento longo, estável) e seus hábitos (era extremamente organizado). Até nas fotos (nada das poses ousadas de um Picas- so ou muito menos Dali), ele mais parece, nas palavras de um crítico, “um contador apreensivo porque teria perdido seus recibos”. Miró passou os últimos anos de sua vida trabalhando em calma no estúdio e na residência que montou em Palma, na ilha espanhola de Majorca. Morreu em 1983, aos 90 anos. 25 Divulgação galeria de arte Exposições imperdíveis Fotos e documentos históricos que registram a epopeia da construção de Brasília, incluindo uma gigantesca maquete da cidade. Gravuras de Goya. Arte islâmica. Xilogravuras de RUBEM GRILO. A ARTE CONTEMPORÂNEA DE Gerhard Richter. Homenagem às mães no ParkShopping... Nos próximos 60 dias, os brasilienses terão a oportunidade de visitar uma profusão de exposições que ocupam alguns dos mais importantes espaços culturais da cidade. ENTRE ELAS, A Roteiro selecionou NOVE, todas com entrada franca. Brasília – Meio século da capital do Brasil Até 3/6 no foyer da Câmara Legislativa. De 2ª a 6ª feira, das 9 às 18h; sábados, domingos e feriados, das 14 às 18h. 26 Espanhóis e portugueses tiveram o privilégio de ver, antes mesmo dos brasilienses, essa magnífica exposição instalada desde 21 de abril na Câmara Legislativa. Fotografias, filmes e documentos históricos, além de uma maquete de 30 m2, traçam uma linha do tempo que tem como marco inicial o ano de 1751, quando surgiu a ideia de levar a capital do Brasil para o interior. Seguem-se seis blocos temáticos que mostram toda a riqueza da capital, sua história e sua configuração atual. Completam a exposição quatro instala- ções de artistas plásticos locais. Não apenas o plano arquitetônico e a monumentalidade de Brasília estão presentes na exposição, mas também os principais personagens da impressionante saga que foi a construção da nova capital brasileira: o presidente Juscelino Kubitscheck, o urbanista Lucio Costa, o arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagista Burle Marx e o artista plástico Athos Bulcão, entre outros. “Concebi uma exposição de caráter didático e estético, com planos arquitetônicos, mapas, fotografias artísticas, projeções, textos explicativos e acervos de grande valor histórico”, explica a curadora, Danielle Athayde. As imagens da construção de Brasília são dos fotógrafos Jean Manzon, Marcel Gautheraut e Mario Fontenelle. João Facó expõe a cidade a partir de imagens aéreas e Fabio Colombini retrata sua arquitetura. A exposição, que segue depois para Paris, faz parte também de um projeto pedagógico que vai trazer à Câmara Legislativa 10 mil estudantes de escolas públicas de nível fundamental e médio. JK e as personalidades do Século XX Até 30/6, de 3ª a domingo, das 9 às 18h, no Memorial JK. O governo de Juscelino Kubitschek, o “Presidente Bossa Nova”, caracterizou-se por um grande interesse nas artes e na cultura em geral – especialmente na corrente Divulgação Los caprichos de Goya De 5/5 a 18/6 no Espaço Cultural Instituto Cervantes. Visitas guiadas todas as terças-feiras, das 9 às 11h, e quartasfeiras, das 15 às 18h. Divulgação JK e Marlon Brando modernista. Com JK o Brasil viveu um dos períodos de maior desenvolvimento de sua história, marcado por forte sentimento de otimismo. Vários importantes movimentos culturais surgiram na época: as chanchadas da Atlântida, o Cinema Novo, a Bossa Nova. JK popularizou-se como líder moderno, atuante, amante das artes. Foi talvez o político mais importante para o desenvolvimento de todas as artes no Brasil, desde que assumiu a prefeitura de Belo Horizonte, em 1940, passando pelo governo do Estado de Minas Gerais (1951-1954) até chegar à presidência da República, em 1956. Natural, então, que pelo recém-inaugurado Palácio do Planalto tivessem passado personalidades tão diferentes quanto John Kennedy e Chacrinha, Marlon Brando e Fidel Castro, Louis Armstrong e Virginia Lane, Antonio Houaiss e Milton Nascimento, com a turma do Clube da Esquina. Os brasilienses poderão ver o registro fotográfico desses momentos, até 30 de junho, no Memorial JK. A curadora Diana Castilho selecionou 20 imagens de encontros de JK com celebridades que “não resistiram ao seu entusiasmo e carisma e cederam às suas idéias, fazendo do Brasil palco de importantes mudanças e consagrando uma das épocas mais significativas da história do Brasil”. Editada em 1799, Los caprichos é a primeira série de gravuras de Goya. Sua gestação coincide provavelmente com a grave doença contraída pelo pintor no começo da década de 1790, que o deixaria surdo pelo resto da vida. Apesar do amplo espaço que as gravuras deixam à imaginação, os contemporâneos viram em muitas delas referências a personagens de seu tempo. Fazem parte da exposição os comentários manuscritos pelo próprio Goya, desde então conservados no Museu do Prado, em Madri, que clarificam a mensagem de cada gravura. De 16 a 18 de maio, simultaneamente à exposição, o Instituto Cervantes realizará o curso Goya e a modernidade, com Eduardo Carreira, doutor em História da Arte pela Universidade de Barcelona. O objetivo do curso é apresentar um panorama da obra de Francisco de Goya y Lucientes, com atenção especial à série Los caprichos, ressaltando seu significado moderno e o contexto histórico no qual o artista viveu. caligrafia e instrumentos científicos e musicais. Estão expostas também obras do acervo da Casa das Áfricas, vindas da Mauritânia, Marrocos, Líbia, Burkina Faso e Líbano, além de manuscritos produzidos por muçulmanos, pertencentes ao acervo da Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul – Países Árabes, com sede no Brasil. Obras da Nigéria, Mali e da cultura Tuaregue (povos nômades do Saara e do Sahel) também fazem parte da exposição. Miragens De 11/5 a 8/6 no Museu da República. De 3ª A domingo, das 9 às 18h30. Islã: arte e civilização Até 3/6 no Centro Cultural Banco do Brasil. De 3ª a domingo, das 9 às 21h. Mais de 300 obras datadas do Século VIII ao XXI, trazidas dos principais museus da Síria e do Irã, percorrem 1.400 anos de história do Islã. São peças de ourivesaria, mobiliário, tapeçaria, vestuário, armas, armaduras, utensílios, mosaicos, cerâmicas, vidros, iluminuras, pinturas, Parte da exposição Islã: arte e civilização, a mostra reúne 58 obras de arte contemporânea, em sua maioria inéditas no Brasil, de 19 artistas ligados ao universo cultural islâmico. Idealizada por Rodolfo de Athaydee, tem curadoria de Ania Rodríguez e busca confrontar, através da poética dos artistas reunidos, a imagem estereotipada que o Ocidente acabou desenvolvendo sobre o Islã e sua cultura. Entre as obras expostas, pintura, fotografia, desenhos, instalações e vídeos inspirados em temas tão variados quanto o lugar da mulher na sociedade, o diálogo entre modernidade e tradição, os estereótipos relativos ao Oriente Médio, até os conflitos bélicos mais recentes. Entre os artistas representados na exposição está Shadi Ghadirian, que se apropria do “retrato de estúdio”, introduzido no Irã no final do século XIX, para propor um diálogo entre o contexto tradicional islâmico 27 nal. Em alguns casos, o artista primeiro reproduz em pintura a fotografia e depois volta ao modelo original, fotografando o quadro, sem que se percam as características da obra produzida à mão. De Brasília, a exposição segue para São Paulo e Porto Alegre. Divulgação SHADI GHADIRIAN da série Ghajar galeria de arte Rubem Grilo – Xilográfico (1985 – 2011) De 11/5 a 26/6, de 3ª a domingo, das 9 às 21h, na Caixa Cultural. Tulipa negra, colagem imagens obtidas são depois impressas em papel de algodão. O resultado de seu trabalho experimental pode ser visto em 22 imagens selecionadas pelo curador da mostra Eder Chiodetto. Divulgação Gerhard Richter - Sinopse Até 12/6, das 9 às 21h, na Galeria Vitrine da Caixa Cultural. 28 Gerhard Richter é um dos mais conhecidos artistas plásticos alemães a atualidade. Ele é considerado um dos responsáveis pelo resgate da pintura no Século XXI, quando muitos a davam como perdida. Sua primeira individual no Brasil já passou por Curitiba e Salvador e apresenta 27 obras escolhidas por ele próprio. São pinturas que formam uma retrospectiva de todas as suas fases de criação, desde os trabalhos de fotografia-pintura dos anos 60 até as pinturas abstratas dos anos 80 e 90. A arte de Gerhard Richter não segue uma intenção, não tem um estilo. O que a rege é uma ética artística de prática cotidiana, relacionada somente às condições representadas por ela mesma e pela história da arte. Suas peças podem ser puras sobre a tela, ou misturadas a fotografias e recortes de jor- Ele nasceu em Pouso Alegre, Minas Gerais, mas antes de completar 18 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em agronomia. Logo depois, frequentou, em Volta Redonda, o curso de xilogravura de José Altino, na Escolinha de Arte do Brasil. De volta ao Rio, conheceu a obra dos gravadores Lívio Abramo, Marcelo Grassmann e Oswaldo Goeldi. A partir daí, o agrônomo deu lugar ao artista plástico que, no início da carreira, ilustrou os jornais de vanguarda Opinião, Pasquim, Movimento e Jornal do Brasil. Na exposição em cartaz em Brasília está uma seleção de obras realizadas por Grilo nos últimos 25 anos, cujos temas e abordagens ganham ampla densidade e configuração dramática. Ele é um dos principais expoentes da gravura do país e tem no currículo 50 mostras individuais e 100 coletivas no Brasil e no exterior, entre elas duas Bienais de São Paulo. Mãe de trigêmeos, a jornalista Poliana Abritta, da TV Globo, é uma das “modelos” do ensaio fotográfico que o ParkShopping encomendou ao fotógrafo carioca Lincoln Iff para homenagear as mães brasilienses. “Confesso que foi mais fácil do que imaginei. O Lincoln conseguiu captar um momento muito especial do nosso dia a dia, que é a hora de contar histórias para o Guido, o José e a Manuela”, afirma Poliana, que posou para as lentes de Iff embaixo de um lençol com as três crianças, de dois anos e meio. Outras mães retratadas com seus filhos são Viviane Piquet, mulher de Nelson Piquet, Karina Rosso, ex-primeira dama do DF, a empresária Ivana Valença, a designer de joias Carla Amorim, a blogueira Ana Luiza Favato, a empresária Tatiana Mares Guia, a arquiteta Deborah Pinheiro, a atriz Lee, do grupo Udi Grudi, e a cineasta Cibele Amaral. As fotos estarão expostas até o dia 25 no primeiro piso do shopping. Negative Experience De 10/5 a 26/6, de 3ª a domingo, das 9 às 21h, na Caixa Cultural. . O fotógrafo paulista Davilym Dourado expõe os negativos de suas fotos à ação de produtos químicos, como alvejantes ácidos e detergentes. Essa mistura corrói a película do filme e faz com que a emulsão – que fixa a imagem no negativo – comece a se dissolver, criando outra imagem. Cada etapa desse processo é registrada, então, com a câmera digital do fotógrafo e as Divulgação e o Ocidente através de um conjunto de objetos modernos importados que se revelam como anacronismos: telefones, aparelhos de som, aspiradores. Mães por Lincoln Iff Até 25/5 no primeiro piso do ParkShopping. De 2ª a sábado, das 10 às 22h; domingo, das 14 às 20h. verso & prosa Poesia em cenário mágico Cícero Bezerra Guga Melgar Ana Povoas A bela cidade de Pirenópolis sediará mais uma festa literária Tatiana Oliveira, do Itinerante Caxambu Elisa Lucinda Por Alexandre Marino H á sempre um bom motivo para sair de Brasília e viajar até Pirenópolis, a charmosa cidade goiana que os brasilienses adotaram como um ponto de descanso, uma mudança de sintonia, um antídoto. De 12 a 15 de maio, aos passeios por suas ruas de pedra e aos revigorantes banhos de cachoeira se somará um atrativo a mais: a 3ª Festa Literária de Pirenópolis. Durante quatro dias, a cidade poética por natureza abrirá braços e espaços para escritores de Goiás, Distrito Federal e outros Estados. Eles se unirão ao povo e aos turistas para bate-papos, leituras, recitais e uma imperdível troca de experiências, que certamente farão subir ainda mais o astral de Pirenópolis, ou simplesmente Piri, como a cidade é carinhosamente tratada pelos mais íntimos. Essa terceira edição da festa prestará uma homenagem a Cora Coralina, poetisa goiana que viveu na cidade de Goiás e se transformou em personalidade da literatura do Estado. Estudiosos de sua obra lerão trechos de poemas, contarão histórias e participarão de conversas sobre ela e o contexto cultural em que escreveu. Estão confirmadas as presenças de Paulo Salles, neto de Cora; Marlene Vellasco, presidente da Associação Casa de Cora Coralina; o escritor, médico e amigo de Cora, Heitor Rosa; e o escritor goiano El- der Rocha Lima. Eles falarão sobre a escritora, mediados pelo poeta e cordelista João Bosco Bezerra Bonfim, de Brasília, que lançará, durante a festa, um cordel feito em homenagem a ela. A programação da festa terá como cenários o Cine Pireneus, a Praça da Leitura e o Theatro de Pirenópolis, onde haverá bate-papos com escritores, contação de histórias, falação de poesia e apresentações de espetáculos teatrais. Logo no primeiro dia, 12 de maio, quinta-feira, após a abertura oficial no teatro, a atriz e poetisa Elisa Lucinda fará recital poético em palco armado na praça central da cidade. Na sexta-feira, haverá apresentações e performances durante todo o dia, em vários espaços. No Quintal do Pouso, Café e Cultura, a partir de 16h30, os poetas Wilson Pereira, João Bosco Bezerra Bonfim, Leo Cunha, Nicolas Behr e Luiz de Aquino apresentam suas obras e conversam com o público sobre a poesia contemporânea. Às 19 horas, a poetisa Lilia Diniz fará um recital com poemas de Cora Coralina. No sábado, haverá programação semelhante, nos vários espaços espalhados pela cidade. A curadora da festa, Iris Borges, que, além de escritora e livreira, exerce atividades de promoção da leitura junto a escolas, anuncia uma revoada de pipas com poemas, escolhidos pelos alunos das escolas públicas estaduais e municipais. É o projeto Poesia no ar, uma das ações que João Bosco Bezerra Bonfim envolverão estudantes da cidade. Todas as escolas, tanto da zona urbana quanto da zona rural, participarão da festa. Para os alunos, haverá performances, leituras e oficinas de redação. Escritores têm encontro marcado nas escolas, para falar sobre seu trabalho e sua literatura. Também haverá oficinas para levar os estudantes a mergulhar no mundo da poesia, que pode assustar quando é desconhecido, mas é uma das mais belas experiências artísticas que a humanidade é capaz de alcançar. Com base no planejamento da festa, feito a partir das necessidades apresentadas pelos professores e escolas, Iris Borges acredita que a festa dará mais um passo em direção ao letramento literário da comunidade. “É o nosso objetivo principal”, explica ela. Está confirmada a presença de mais de 40 escritores. Promovida pela Casa de Autores de Brasília, em parceria com a Prefeitura de Pirenópolis, a festa conta com o apoio do governo de Goiás e de várias entidades e empresas. Quem quiser participar da Flipiri pode se inscrever nas várias oficinas e recitais programados, bastando para isso acessar a página da festa na internet – http://flipiri.com/. Se Pirenópolis já é um lugar mágico por natureza, imagine com poesia! 3ª Festa Literária de Pirenópolis De 11 a 15/5 em vários espaços culturais da cidade. 29 luz câmera ação Rock Brasília, legenda viva nas telas Documentário sobre o movimento genuinamente brasiliense que ganhou amplitude nacional acaba de ser finalizado e traz registros raríssimos e históricos de Renato Russo e Cia. C 30 om Rock Brasília, o grande documentarista brasileiro Vladimir Carvalho (autor do clássico O país de São Saruê, entre outros) fecha finalmente a sua “trilogia Brasília”. Depois de Conterrâneos velhos de guerra e Barra 68, o novo longa adiciona a luz e a energia do rock à crepuscular crônica gris-violeta dos anos de chumbo da ditadura militar na capital do país, dos dois filmes anteriores. A conclusão de Rock Brasília foi possível graças à parceria do realizador com a Ligocki-Z, de Marcos Ligocki, produtora que deu as condições para que todo o material colhido ao longo de mais de duas décadas pudesse se adequar e servir a uma nova organização burocrática e operacional de coleta de outros materiais e entrevistas. Vladimir vislumbrou a possibilidade de Rock Brasília já nos idos de 1987, quando filmou os shows que o Capital Inicial fez, abrindo para Sting; depois, em 1988, o show do Plebe Rude na boate Zoom, do Gilberto Salomão; e finalmente, a fatídica apresentação do Legião Urbana no Estádio Mané Garrincha, ocasião em que Renato Russo afrontou o público, criando uma enorme fissura entre o artista e a cidade. Mas Rock Brasília foi gestado silenciosamente ao longo de muitos anos a partir da observação de alguns funambulescos episódios envolvendo os principais protagonistas das futuras bandas da cidade, que ganhariam, mais adiante, enorme projeção no cenário musical brasileiro. baixo dos prédios das superquadras”, mas principalmente contra o vazio cultural da cidade: inconformados com a presença do Secretário de Estado norte-americano, o poderoso Henry Kissinger, na UnB, a convite do então reitor José Carlos Azevedo, os estudantes impuseram um cerco ao auditório Dois Candangos, onde Kissinger proferia uma conferência fechada para a nata do governo federal e do DF. Esse feito dos estudantes, notável segundo Vladimir, foi inclusive filmado por um roqueiro da época, Jimi Figueiredo, atualmente cineasta, que tinha com o cinema a mesma atitude do “faça você mesmo” do punk rock, movimento muito influente entre as bandas de Brasília. Com todas as limitações técnicas do super-8, Kiss, Kiss, Kissinger, obra espontânea e oportuna, foi para o documentarista e também professor da Universidade de Brasília uma das melhores atitudes de alunos diante da urgência de filmar a realidade, “sem recursos e de estalo”. Nessa época, Vladimir fazia um esforço didático na UnB para levar seus alunos a desenvolverem algum método com relação ao filme documentário. Sugeria, como exercício, que relatassem por escrito (já que não havia equipamentos) os diversos temas da vida urbana em Brasília. Um dos temas sugeridos foi o registro das bandas de rock, já àquela altura impossíveis de serem ignoradas, pela barulheira que provocavam em todo o Plano Foto extraída do livro A história do rock de Brasília, de Paulo Marchetti Por Sérgio Moriconi Talvez o mais prosaico desses episódios tenha sido a “Rockonha”. A grande festa do rock regada a “erva” num terreno ermo de Sobradinho em 1980 – o realizador confessa – mexeu com a cabeça de Vladimir. A Rockonha resultou na mobilização de alguns professores, colegas seus, que tiveram de se empenhar para liberar os filhos presos desde a madrugada. Só haviam livrado a cara dos filhos de milicos. Um ano depois, outro episódio contribuiria para Vladimir perceber as insólitas e surpreendentes maneiras que os jovens da classe média brasiliense encontravam para manifestar sua insatisfação contra a censura, contra “o tédio de- Fotos: Divulgação Dinho Ouro Preto Philippe Seabra com a Plebe Rude Os Paralamas Bi Ribeiro e Herbert Vianna Foto extraída do livro A história do rock de Brasília, de Paulo Marchetti Renato Russo e Vladimir Carvalho Dado Villa-Lobos, aos 13 anos, na 104 Sul, onde também morava Vladimir Carvalho. Abaixo, o cineasta entrevista André Mueller, da Plebe Rude. Divulgação Piloto, especialmente no edifício Brasília Rádio Center, onde alugavam salas para ensaio. Segundo Vladimir, choveram pequenos roteiros e em certo momento Mario Salimon, líder da banda Fama, seu aluno, apareceu com uma música pronta, inspirada no massacre de operários da construtora Pacheco Fernandes durante o período anterior à inauguração de Brasília – assunto que Vladimir vinha trabalhando e filmando fazia anos. A música de Salimon foi aproveitada em Conterrâneos velhos de guerra. Estava então criado o elo afetivo e conceitual entre as sagas da construção de Brasília e o rock produzido pelas bandas da cidade. Filhos de professores universitários e de diplomatas, uns em missões, outros fazendo sua pós-graduação, a maioria dos integrantes das bandas brasilienses tinha a perfeita percepção da situação do país, sobretudo no que se referia à liberdade de expressão. No seu filme, Vladimir mostra de que maneira, face à circunstância adversa, a atitude punk foi uma referência natural para todos eles. Lembra o depoimento de um jovem professor da Cultura Inglesa, Ian Bruce, que já havia feito amizade com Renato Russo, seu aluno. Foi ele quem primeiro falou para o brasiliense da existência do Sex Pistols, grupo que escandalizou a sociedade inglesa pela heresia de falar mal da rainha. A descoberta incendiou a imaginação do já agitado autor de Geração Coca Cola. Renato Russo partilhava com Bruce os números da revista inglesa Melody Makers, que chegavam mensalmente na Cultura Inglesa. Escocês de alma doce e sensível, Bruce seria preso junto com outros “agitadores” numa manifestação, distribuindo panfletos contra o regime em frente ao Conjunto Nacional. Sua prisão seria logo divulgada pela BBC de Londres e em poucos dias ele seria solto, antes que o affair virasse uma complicação diplomática. Ian voltou à Europa e, ao que parece, ingressou nos quadros da própria BBC. A ele Vladimir deve um excelente texto sobre O país de São Saruê, publicado numa revista alternativa londrina. Há inúmeras outras deliciosas histórias como essa em Rock Brasília. Vladimir foi, desde o início, um arguto flaneur da Brasília da geração de Russo, Dado Villa-Lobos, Philippe Seabra, Barone, Fê, Flávio Lemos, Herbert e Hermano Vianna, Dinho Ouro Preto, de bandas como Aborto Elétrico, Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Escola de Escândalo, Detrito Federal, Blitx 64, as três últimas desaparecidas no refluxo da maré. A turma de garotos do rock perambulava pelas superquadras sul do Plano Piloto, transgredindo, nos fins de semana, as estruturas do estacionamento da lanchonete Food’s da galeria do Cine Karin. Mais tarde, transgrediram as estruturas do Minhocão da UnB, e Vladimir estava presente em todos esses momentos. Essa energia de inconformidade e contestação é a alma e o corpo de Rock Brasília. 31 Divulgação luz câmera ação London River – Destinos cruzados Por Reynaldo Domingos Ferreira I 32 nterpretado por dois atores esplêndidos, London River – Destinos cruzados, de Rachid Bouchareb, relata a casualidade do encontro de um homem e de uma mulher vindos do meio rural, de países e de credos religiosos diferentes, que estão em Londres à procura de seus filhos estudantes, desaparecidos após o atentado terrorista a ônibus e metrô, ocorrido em julho de 2005. O argumento, de autoria do próprio Bouchareb, em colaboração com Zoé Galeron e Olivier Lorelle, não é dos mais originais e chega mesmo a apresentar algumas inconsistências. Apesar disso, a linguagem narrativa é simples, de nível sensorial, apoiada basicamente no trabalho dos atores e, como é do estilo do realizador, em sequências interligadas e bem pontuadas por música quase sempre de Armand Amar. Elisabeth Sommers (Blenda Blethyn) tem uma pequena propriedade rural numa ilha do Canal da Mancha, onde cultiva frutas e hortaliças. Após o culto de sua igreja protestante, ela costuma visitar o túmulo do marido, um ex-oficial da Marinha, morto na Guerra das Malvinas. Depois, vai saudar o mar no alto de um rochedo. Ao voltar para casa, naquele fatídico 7 de julho, ela fica sabendo do atentado pela televisão. Faz várias ligações pa- ra o celular da filha, que caem sempre na secretária eletrônica. Preocupada, Elisabeth chama o irmão Edwards (Marc Baylis) para tomar conta da propriedade e viaja para Londres. Quando o táxi que apanhou na estação a deixa em frente a um açougue, ela estranha ser aquele o endereço da filha, o que é logo confirmado pelo proprietário do prédio (Roschdy Zem), que não só elogia a moça como lhe entrega a chave subsidiária do apartamento, localizado numa viela ao lado, para ela se acomodar. E nada mais diz. Depois de percorrer postos policiais e hospitais sem obter qualquer notícia da filha, Elisabeth decide afixar cartazes com a foto dela em vários pontos da cidade, indicando seu telefone para receber informações. São esses cartazes que chamam a atenção de Ousmane (Sotigui Kouyaté), um africano muçulmano, vindo no interior da França, onde trabalha como guarda florestal. Ele, da mesma forma, procura o filho, mas não o conhece, pois, criado pela mãe na África, não o vê desde que tinha seis anos. Numa foto por ele conseguida na mesquita, o rapaz aparece ao lado de uma moça, que pode ser a filha de Elizabeth. Apesar das barreiras iniciais impostas por Elisabeth, estabelece-se, aos poucos, entre as duas personagens, um sentido de solidariedade, à medida que vão descobrindo como é o relacionamento que une seus filhos. Pela origem de ambos, que se dedicam ao árduo trabalho com a natureza, o filme se orienta cada vez mais por uma linguagem panteísta, que vai pautar principalmente a tocante cena final. Blenda Blethyn, que representa Elisabeth Sommers, tornou-se um dos nomes mais expressivos da cena britânica desde Verdades e mentiras, de Mike Leigh, com o qual ganhou o Globo de Ouro e os prêmios de melhor atriz do cinema inglês (Bafta) e do Festival de Cannes (1996). Antes, ela já se destacava no Royal National Theatre e na televisão. Como Elisabeth, ela é uma criatura tímida, que não se deixa abater, pois retém as lágrimas pelo fato de ser sozinha e de precisar ir avante à procura da filha, seja a que custo for. Sotigui Kouyaté, ator do Mali, intérprete de Ousmane, se consagrou com essa brilhante atuação, pela qual recebeu o Urso de Prata do Festival de Berlim (2009). Antes, ele havia trabalhado com Peter Brook, com Bernardo Bertolucci e com o filho dele, Dany Kouyaté, que faleceu em abril do ano passado, aos 72 anos, em Paris. London River – Destinos cruzados (London River) Reino Unido/Bélgica, 2009, 90 min. Direção: Rachid Bouchareb. Roteiro: Bouchareb, Zoé Galeron e Olivier Lorelle. Com Blenda Blethyn, Sotigui Kouyaté, Sami Bouajila, Roschdy Zem, Marc Baylis, Bernard Blancan e Francis Magee. 33 luz câmera ação A minha versão Divulgação do amor Por Reynaldo Domingos Ferreira É 34 a indefinição do tom narrativo o que mais prejudica A minha versão do amor, de Richard J. Lewis, prosaica história de um produtor de televisão de Montreal, rico, excêntrico e mulherengo, que, na cerimônia judaica de seu segundo casamento, encontra ao acaso, entre os convidados, aquela que vai ser sua companheira para o restante da vida. O roteiro, de Mikael Konives, com base no best-seller do escritor canadense Mordecai Richler (1931- 2001), é recheado de situações banais e muito exploradas por outras películas do gênero, que se pode carimbar como comédia dramática. Falta às personagens, que dialogam e participam com assiduidade da ação, um perfil mais detalhado, pois são, no geral, retratadas apenas pela profissão que exercem ou exerceram. Além do protagonista, Barney Panofsky (Paul Giamatti), alter ego do escritor Richler, o pai dele, Izzy Panofsky (Dustin Hoffman), é um ex-policial que, talvez prevendo confusões na vida conjugal do filho, o presenteia com um revólver. A noi- va (Minnie Driver), como um clichê, é filha de um milionário. Há também um amigo de Barney que se diz escritor, Boogie (Scott Speedman), companheiro de copo e dado a todos os demais vícios, permitidos e não permitidos. E a convidada sedutora é Miriam Grant (Rosamund Pike), uma radialista de Nova York de voz melodiosa, apresentadora de um programa de oferendas musicais, que, assediada por Barney, impõelhe uma rotina de vida como condição para se tornar sua terceira esposa. Assim, pelas indicações do roteiro, tudo parece muito simplista para poder a direção criar uma atmosfera de realismo aparente, o que, entretanto, não acontece. E não acontece porque, apesar de a ambientação ser muito bem cuidada – a pré-produção levou 12 anos para ser concluída –, J. Lewis, o realizador, age por meio de uma linguagem de faz de conta, ou, mais precisamente, de seriados de televisão em que fatos importantes ocorridos ao início são relegados no transcorrer da ação para só serem retomados, sumariamente, ao final. Algumas sequências são conduzidas ao ritmo de paródia, nas quais as personagens assumem a linha caricata. Outras tendem para o melodramático. O elenco, contudo, é constituído por nomes importantes do cinema canadense – o que por si só já confere ao filme caráter histórico –, como dois dos seus mais destacados realizadores: Atom Egoyan (Doce amanhã), que faz o papel de O´Malley, e Denys Arcand (A queda do império americano, Jesus de Montreal e As invasões bárbaras), intérprete de Jean, o professor. Dustin Hoffman, premiadíssimo ator americano, faz, numa linha de atuação pontuada pela ironia, o policial aposentado Izzy Panofsky, igualmente como o filho um mulherengo, morto num bordel. Minnie Driver (O fantasma da ópera) se incumbe da missão de encarnar a sonsa, espevitada e melindrosa segunda esposa de Barney, e Rosamund Pike (Orgulho e preconceito), atriz inglesa, se destaca como Miriam Grant, a terceira mulher do protagonista. Quem mais permanece em cena é, naturalmente, Paul Giamatti – Globo de Ouro de melhor ator do ano –, intérprete de Barney Panofsky, que segura, na verdade, a atenção do espectador no espetáculo. O papel parece haver sido escrito para ele, que o defende vigorosamente, acrescentando-lhe apreciáveis nuanças e demonstrando, antes de tudo, o seu próprio sentimento, a sua própria vontade. Numa linha de atuação que se pode dizer discreta, isto é, sem estrelismo, ele explora, com muita técnica, algumas sequências de risco como a do trem, em que Barney, deixando a festa de suas núpcias, procura Miriam, de partida para Nova York, para lhe confessar o seu amor. A minha versão do amor (Barney´s version) Canadá/2010, 132 min. Direção: Richard J. Lewis. Roteiro: Mikael Konives, com base no romance Barney´s version, de Mordecai Richler. Com Paul Giamatti, Macha Grenon, Atom Egoyan, Scott Speedman, Minnie Driver, Rosamund Pike, Dustin Hoffman, Denys Arcand e Bruce Greenwood. Ano X • nº 193 Maio de 2011 R$ 5,90