revistahugv Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas The Journal of the Getulio Vargas University Hospital v.5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Rua Apurinã nº 04 – Praça 14 de Janeiro, Cep: 69020-170 Fones: (092) 3305-4782 Manaus - AM E-mail: [email protected] UFAM FUNDADORES Ricardo Torres Santana Jorge Alberto Mendonça LISTA DO CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA HUGV EDITOR-CHEFE Fernando Luiz Westphal Maria Augusta Bessa Rebelo Kathya Augusta Thomé Lopes Maria Lizete Guimarães Dabela Rosane Dias da Rosa LISTA DO CONSELHO CONSULTIVO DA REVISTA HUGV Aluísio Miranda Leão Ângela Delfina B. Garrido Antonio Carlos Duarte Cardoso Célia Regina Simoneti Barbalho Cláudio Chaves Clemencio Cezar Campos Cortez Dagmar Keisslich David Lopes Neto Domingos Sávio Nunes de Lima Edson Sarkis Gonçalves Ermerson Silva Eucides Batista da Silva Eurico Manoel Azevedo Fernando César Façanha Fonseca Fernando Luiz Westphal Gerson Suguyama Nakajima Ione Rodrigues Brum Ivan da Costa Tramujás Jacob Cohen João Bosco L. Botelho Julio Mario de Melo e Lima Kathya Augusta Thomé Lopes Lourivaldo Rodrigues de Souza Luís Carlos de Lima Luiz Carlos de Lima Ferreira Luiz Fernando Passos Maria Augusta Bessa Rebelo Maria do Socorro L. Cardoso Maria Fulgência Costa L. Bandeira Maria Lizete Guimarães Dabela Mariano Brasil Terrazas Miharu Maguinoria Matsuura Matos Neila Falcone Bonfim Nelson Abrahim Fraiji Nikeila Chacon de O. Conde Osvaldo Antônio Palhares Ricardo Torres Santana Rosana Cristina Pereira Parente Rosane Dias da Rosa Rubem Alves da Silva Júnior Wilson Bulbol revistahugv Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas The Journal of Getulio Vargas University Hospital v.5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Copyright© 2006 Universidade Federal do Amazonas/HUGV REITOR DA UFAM Dr. Hidembergue Ordozgoith da Frota DIRETOR DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Dr. Raymison Monteiro de Souza PRODUÇÃO GRÁFICA-EDITORIAL: EDUA DIRETOR DA EDUA Dr. Renan Freitas Pinto COORDENADORA DE REVISTAS DA EDUA/UFAM Profª Dayse Enne Botelho REVISÃO (LÍNGUA PORTUGUESA) Sergio Luiz Pereira CAPA Rodrigo Pereira Verçosa TIRAGEM 300 EXEMPLARES Ficha Catalográfica elaborada na fonte R454 Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas. – Vol. 1, n. 1 (2002) – Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2002 v. : iI.; 21x 29cm Semestral Título da revista em português/inglês ISSN 1677-9169 1. Medicina-Periódico I. Hospital Universitário Getúlio Vargas II. Universidade Federal do Amazonas. CDU 61(051) SUMÁRIO Editorial .............................................................................................................................................. 9 Kathya Augusta Thomé Lopes ARTIGOS ORIGINAIS 1. Caracterização das reações transfunsionais ocorridas no Hospital Universitário Getúlio Vargas, Amazonas, Brasil, no período de 2001 a 2003 Miharu Maguinoria Matsuura Matos, Rivaldo Castro Vilar, Yvelise Ferreira, Reneide de Pinheiro Almeida, Maria Elizete de Almeida Araújo............................................................................................................ 11 2. Avaliação clínico-cirúrgica dos pacientes submetidos a ressecção pulmonar por bronquiectasias Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos Lima, José Correa de Lima Netto, Cintia Teixeira, Brena Luize Ferreira.. 17 3. O deprimido diante do entrevistador clínico iniciante Davi Araújo da Cunha, Fabiola Goudinho de Lima, Lesirmy Bindá Sadala, Rosângela de Lima Gil, Suely da Silva Maia ........................................................................................................................................... 25 4. Estudo sobre a atitude do profissional de saúde com relação à perspectiva de vida ativa de pacientes com sequelas de traumatismo raqui-medular Kathya Augusta Thomé Lopes, Margareth Vasconcelos Monteiro e Lima, Rosangela Santos da Silva........... 31 5. Treinamento muscular inspiratório em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica Marcos Giovanni Santos Carvalho, Carlos Frederico Coelho Sampaio, Cibele Tavares Souza ...................... 37 RELATO DE CASO 6. Tratamento de fraturas faciais ocasionadas por projetéis de arma de fogo (P. A. F.): Relato de caso clínico Paulo Roberto Pires de Souza Jr., Marcello da Gama Mendes, Giorge Pessoa de Jesus....................................... 45 7. Deficiência de 11β-Hidroxilase – Relato de caso e revisão de literatura Fernanda de Azevedo Corrêa e Danielle Abreu da Costa............................................................................ 51 8. Pneumonia necrosante: Relato de caso Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos de Lima, José Correa de Lima Netto, Laura Bianca Cabral Fraiji, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Danielle Cristine Westphal ............................................................................. 9. Tratamento da discromia gengival: comparação de duas técnicas Reyce S. Koga, Rodrigo M. C. Hiraishi, Miriam R. Ardigó Westphal, Samuel Lungareze, Fikriye V. Yurtsever 55 59 10. Hamartoma hipotalâmico causando puberdade precoce central: Relato de caso Rejane Nina Martins Neves, Fernanda de Azevedo Corrêa.......................................................................... 65 11. A importância do planejamento na reabilitação estética do sorriso pela cirurgia plástica periodontal: Relato de caso Lissa Yuka Menezes Sato, Nair Priscilla da Silva Paes, Miriam Raquel Ardigó Westphal, Samuel Lungareze, Fikriye Viga Yurtsever .......................................................................................................................... 12. Relato de caso: insuficiência respiratória pós-pleurodese Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos de Lima, José Corrêa de Lima Netto, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Ana Márcia Freitas Carlos, Danielle Cristine Westphal..................................................................................... 69 77 RESUMO 13. Imunização eritrocitária em pacientes com doença falciforme no estado do Amazonas Miharu M. Matsuura, José Orlando Bordin............................................................................................... 81 CONTENTS Editorial .............................................................................................................................................. 9 Kathya Augusta Thomé Lopes ORIGINAL ARTICLES 1. Charaterization of transfunsional reactions occured in the university Hospital Getúlio Vargas, Amazonas, Brazil, in the period of 2001 the 2003 Miharu Maguinoria Matsuura Matos, Rivaldo Castro Vilar, Yvelise Ferreira, Reneide de Pinheiro Almeida, Maria Elizete de Almeida Araújo............................................................................................................ 2. Clinical-surgical evaluation of patients were submitted to the lung ressection by bronchiectasis Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos Lima, José Correa de Lima Netto, Cintia Teixeira, Brena Luize Ferreira.. 11 17 3. The depressed facing the starter clinical interviewer Davi Araújo da Cunha, Fabiola Goudinho de Lima, Lesirmy Bindá Sadala, Rosângela de Lima Gil, Suely da Silva Maia ........................................................................................................................................... 25 4. Study on the attitude of the professional of health with relation to the perspecive of active life of patients with spinal cord injury Kathya Augusta Thomé Lopes, Margareth Vasconcelos Monteiro e Lima, Rosangela Santos da Silva................. 31 5. Inspiratory muscle training in patients with copd Marcos Giovanni Santos Carvalho, Carlos Frederico Coelho Sampaio, Cibele Tavares Souza ......................... 37 CASE REPORT 6. Treatment of facial fractures by projectile of firearm: case report Paulo Roberto Pires de Souza Jr., Marcello da Gama Mendes, Giorge Pessoa de Jesus...................................... 45 7. 11β - Hidroxylase Deficiency – a case report and literature review Fernanda de Azevedo Corrêa e Danielle Abreu da Costa............................................................................ 51 8. Necrotizing pneumonia: case report Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos de Lima, José Correa de Lima Netto, Laura Bianca Cabral Fraiji, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Danielle Cristine Westphal ............................................................................. 9. Treatment of gingival dyschromia: comparison of two techniques Reyce S. Koga, Rodrigo M. C. Hiraishi, Miriam R. Ardigó Westphal, Samuel Lungareze, Fikriye V. Yurtsever 55 59 10. Hamartoma hypothalamic cause central precocious puberty: case report Rejane Nina Martins Neves, Fernanda de Azevedo Corrêa.......................................................................... 65 11. The importance of planning the smile aesthetic rehabilitation through plastic periodontal surgery: case report Lissa Yuka Menezes Sato, Nair Priscilla da Silva Paes, Miriam Raquel Ardigó Westphal, Samuel Lungareze, Fikriye Viga Yurtsever ............................................................................................................................... 69 12. Case report: acute respiratory failure after post-pleurodesis Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos de Lima, José Corrêa de Lima Netto, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Ana Márcia Freitas Carlos, Danielle Cristine Westphal..................................................................................... 77 RESUME 13. Eritrocity immunization in patients with sickle disease in the state of Amazon Miharu M. Matsuura, José Orlando Bordin............................................................................................... 81 EDITORIAL Kathya Augusta Thomé Lopes* A Revista do HUGV é um periódico da Ufam que possibilita a publicação de artigos e resultados de investigações, busca estimular a divulgação do conhecimento elaborado nas mais diversas áreas da saúde dentro e fora do âmbito do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Tem como pressuposto disponibilizar artigos e trabalhos de pesquisa que venham contribuir para melhorar as ações dos profissionais e das instituições. A pesquisa de certa maneira tem como perspectiva promover o desenvolvimento e minimizar os problemas da saúde. Assim, por intermédio de uma produção científica rigorosa e com qualidade, é possível encontrar respostas e soluções para as questões prioritárias de saúde da população, bem como do sistema e da política de saúde. Talvez a grande dificuldade ainda esteja relacionada à capacidade de incorporar os resultados desta produção nas ações de saúde. Torna-se imprescindível encontrar estratégias para disseminar este conhecimento visando possibilitar a sua utilização em benefício do bem-estar das populações em todas as suas dimensões. A investigação científica em saúde teve uma ampliação nos últimos anos, indo desde o aumento de projetos de pesquisa até as diversas oportunidades para auxílios e fomentos nesta área, o que de certa forma tem motivado o avanço dessas investigações. Um outro fator importante é a atenção que tem se dado aos aspectos éticos em pesquisa visando a garantia de um compromisso entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa, na mesma proporção as pesquisas realizadas com rigor científico expressam qualidade no seu desenvolvimento e ainda não são positivamente compreendidas pelos especialistas e nem pela sociedade. Tendo em vista as transformações apresentadas nas diversas especialidades da saúde, nada mais justo que usar o conhecimento adquirido em prol do benefício da sociedade, e isto passa pela divulgação intensiva dos achados científicos, daí o papel importante da divulgação pelas revistas científicas. Arriscaríamos afirmar que os conhecimentos disponíveis podem não ser adequados e suficientes para a solução dos diversos problemas identificados na área da saúde, contudo é importante que haja uma atuação incessante dos pesquisadores para a busca de novas informações e geração de conhecimentos para redução de doenças e principalmente a formulação de políticas de prevenção. A começar pela convicção de que as ações adequadas e favoráveis a uma boa qualidade de saúde serão na maioria das vezes advindas de descobertas de pesquisas bem elaboradas, e que, por sua vez, são desenvolvidas com base na inquietação de seus pesquisadores, promovendo achados importantes para a área, tais como: o que favorecer para que as pessoas permaneçam saudáveis; os fatores gerais que influenciam; as características locais; prioridades; os determinantes sociais, políticos e ambientais de saúde, dentre outros. É importante que essas ações sejam estimuladas dentro do âmbito do HUGV, notadamente por se tratar de um hospital de ensino. * Professora Doutora da Faculdade de Educação Física da Ufam Coordenadora do Programa de Atividades Motoras para Deficientes / PROAMDE Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Social do HUGV revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 9 Além de estimular e disseminar a importância da realização de pesquisas e a veiculação dos diversos conhecimentos elaborados na área de saúde, o Hospital Universitário Getúlio Vargas, por intermédio do Conselho Editorial e Consultivo da Revista do HUGV, propõe-se a avaliar os trabalhos apresentados à publicação priorizando o rigor científico, observando, ainda, a importância dos achados para o benefício da sociedade bem como a sua aplicação prática. 10 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 A realização de projetos de pesquisa propicia a constante produção de conteúdo científico, assim como possibilita a captação de recursos para os Serviços e, em última instância, para a Instituição. Portanto, a Divisão de Apoio à Pesquisa Científica disponibiliza orientação aos profissionais deste Hospital interessados em realizar projetos de pesquisa. CARA CTERIZA ÇÃ O D AS REA ÇÕES ARACTERIZA CTERIZAÇÃ ÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUNSION AIS OC ORRID AS N O HOSPIT AL UNIVER TRANSFUNSIONAIS OCORRID ORRIDAS NO HOSPITAL UNIVER-SIT ÁRIO GETÚLIO V AR GAS AS O PESITÁRIO VAR ARG AS,, AMAZON AMAZONAS AS,, BRASIL, N NO RÍODO DE 2001 A 2003 CHARATERIZATION OF TRANSFUNSIONAL REACTIONS OCCURED IN THE UNIVERSITY HOSPITAL GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRAZIL, IN THE PERIOD OF 2001 TO 2003 Miharu Maguinoria Matsuura Matos*, Rivaldo Castro Vilar**, Yvelise Ferreira***, Reneide de Pinheiro Almeida****, Maria Elizete de Almeida Araújo***** RESUMO: Diante do complexo quadro que envolve a prática transfusional, aliada ao fato de que o Estado do Amazonas possui dados incipientes referente às reações transfusionais, o presente estudo propôs descrever as reações ocorridas no Hospital Universitário Getúlio Vargas, da cidade de Manaus, Brasil. Acredita-se que as informações, apresentadas neste estudo, contribuem para o conhecimento real das reações transfusionais ocorridas e possibilita o aprimoramento do trabalho desenvolvido pela Hemovigilância do HUGV, permitindo uma maior segurança transfusional. Casuística: Avaliação de todos os relatórios de reação transfusional e livros de registro de transfusão sangüínea do banco de dados da Agência Transfusional do hospital, no período de 2001 a 2003. Resultados: Das 21.289 transfusões analisadas, 21 desencadearam reações transfusionais, caracterizando uma freqüência de 0,10%. A incidência de reação alérgica foi de 0,04% e reação febril não hemolítica foi de 0,03%. Esses dados diferem dos disponíveis na literatura quanto à incidência, mas é similar quanto aos tipos de reação mais freqüentes. Conclusões: Observou-se uma baixa taxa de reação transfusional refletindo que existem dificuldades na monitorização e notificação das reações ocorridas neste hospital. Considera-se que essa taxa foi influenciada por diversas causas, principalmente em conseqüência das subnotificações, pois representa uma inconsistência da definição de caso por falta de conhecimento técnico-científico dos envolvidos na terapia transfusional. Palavras-chave: Reações transfunsionai, transfunsão sanguínea, hemovigilância, Incidentes transfunsionais, notificação de reações adversas. ABSTRACT: Facing the complex situations that involves the transfusional practice, followed by the fact that the state of Amazon doesn´t have enough information about transfusional reactions, the present study proposed to describe the reactions occured in the University Hospital Getulio Vargas in Manaus, Brazil. It is believed credit that the information in this study contribute to the real knowledge of transfusional reactions occured and offer the improvement of the work developed by the Hemovigilance of HUGV, allowing a higher transfusional security. Material and methods: Review of all the reports of transfusional reaction and the blood transfusions registers of the data base of the Transfusional Agency of the hospital in period of years from 2001 to 2003. Results: Of 21,289 transfusions analyzed, 21 had transfusional reactions, characterizing a frequency of 0,10%. The alergical incidence of reactions was 0,04% and no hemolytic fever reaction was 0,03%. These data differ from the available literature in incidence terms but it was similar to the types of reaction found in this study. Conclusions: A low tax of transfusional reaction was observed in this study reflecting the existence of difficulties in the monitorization and notification of the reactions occurred in this hospital. It is considered that this tax was influenced by several causes, mainly due to subnotifications, that represent an inconsistency of the case definition due to technician-scientific knowledge of the people involved in the transfusional therapy. Keywords: Transfusional reactions. Blood transfusion. Hemovigilance. Transfusional incidents. Notification of adverse reactions. Farmacêutica-Bioquímica, HUGV, Ufam Farmacêutico-Bioquímico, Ufam *** Médica, Hemoam **** Farmacêutica-Bioquímica, HUGV, Hemoam ***** Gerente de Risco Sanitário Hospitalar, HUGV, Ufam * ** revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 11 CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍODO DE 2001 A 2003 INTRODUÇÃO OBJETIVO A transfusão de sangue consiste na administração do sangue de um indivíduo doador para um indivíduo receptor. Esse procedimento põe os antígenos do doador, sejam antígenos das membranas celulares ou antígenos plasmáticos, em contato com o sistema imunológico (anticorpos) do receptor, levando a reações do sistema imunológico do receptor da transfusão, que podem resultar em efeitos indesejáveis à transfusão. Esses resultados indesejáveis são chamados de reações transfusionais ou incidentes transfusionais. 1 O propósito fundamental de uma agência transfusional é assegurar uma terapia de transfusão efetiva e livre de quaisquer efeitos indesejáveis. Entretanto, vidas ainda têm sido perdidas como conseqüência de reações transfusionais. No Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária,2 não se conhece a freqüência real desses incidentes transfusionais, sejam eles inerentes à terapêutica, decorrentes de má indicação e do uso dos produtos sangüíneos, ou de falhas no processo durante o ciclo do sangue. Daí a necessidade de se investigar, identificar e notificar de forma sistemática as reações transfusionais a fim de que possam ser introduzidas medidas corretivas e preventivas. Diante deste complexo quadro que envolve a prática transfusional, aliada ao fato de que o Estado do Amazonas possui dados incipientes referente às reações transfusionais, o presente estudo propôs caracterizar as reações ocorridas no Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV, da cidade de Manaus, Brasil, no período de 2001 a 2003 por meio da avaliação dos relatórios de reação transfusional e livros de registro do banco de dados da Agência Transfusional do hospital. Sabe-se que o conhecimento das ocorrências das reações transfusionais é de grande valor no campo da orientação clínica e laboratorial, prevenindo o aparecimento ou recorrência de reações transfusionais imediatas ou tardias e levando a uma maior segurança e eficácia transfusional. Descrever as principais reações transfusionais ocorridas no Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV, da cidade de Manaus, Brasil, no período de 2001 a 2003, por meio de levantamento de dados. 12 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 CASUÍSTICA O levantamento dos dados foi realizado pelas informações obtidas do banco de dados da Agência Transfusional do HUGV e da avaliação de todos os relatórios de reação transfusional e dos livros de registro de transfusão sangüínea, com ênfase nos resultados dos testes imunohematológicos da investigação transfusional e ao parecer conclusivo fornecido pelo Hemocentro do Amazonas – Hemoam. O levantamento da reação transfusional foi baseado no número de sua ocorrência em relação ao número de unidades transfundidas no mesmo período. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas. Para a caracterização das reações transfusionais foi avaliado o tipo de reação transfusional ocorrida de acordo com a sua natureza e o momento da instalação. Considera-se reação transfusional do tipo imediato (aguda) aquela ocorrida durante a transfusão ou em até 24 horas e reação do tipo tardio aquele que ocorre após 24 horas da transfusão realizada. As reações transfusionais do tipo imediata (aguda) estão envolvidas com: reação hemolítica aguda, reação febril não hemolítica, reações alérgicas, sobrecarga volêmica, contaminação bacteriana, edema pulmonar não cardiogênico, reação hipotensiva e hemólise não imune. E as do tipo tardia estão envolvidas com: reação hemolítica tardia, doença enxerto-vs-hospedeiro, púrpura pós-transfusional, aparecimento de anticorpos irregulares/ isoimunização, hemossiderose e doenças transmissíveis por vírus, bactérias e parasitas. Esta classificação segue os critérios do Ministério da Saúde/Anvisa2. MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVALDO CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA RESULTADOS Foram analisados os resultados de 21.289 transfusões de sangue, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2003, sendo 9.016 (42,35%) de concentrado de hemácias (CH), 7.990 (37,53%) de concentrado de plaquetas (CP), 3.221 (15,12%) de plasma fresco congelado (PFC), 644 (3,02%) de crioprecipitado e 418 (1,96%) de plasma preservado (PP). A Tabela 1 apresenta a distribuição dos hemocomponentes transfundidos no HUGV de acordo com o ano estudado. Das vinte e uma (0,10% das transfusões) reações transfusionais ocorridas, dezenove (90,4% das reações – 0,09% das transfusões) estavam envolvidas com a transfusão de CH, uma (4,8% das reações – 0,005% das transfusões) com PFC e uma (4,8% das reações – 0,005% das transfusões) com CP. A Tabela 3 demonstra a distribuição dos hemocomponentes transfundidos em relação ao número de reação transfusional ocorrido. Tabela 3 – Distribuição dos hemocomponentes e derivados transfundidos no HUGV em relação ao número de reação transfunsional ocorrido. Tabela 1 – Distribuição dos hemocomponentes e derivados transfundidos no HUGV de acordo com o ano estudado Hemocomponentes e derivados 2001 Ano 2001 2003 Total Transfundido CH PFC PP CP Criopreciptado Total 3.223 2.714 799 75 2.367 3.079 9.016 3.221 418 7.990 1.280 167 3.684 200 8.554 162 6.117 1.142 176 1.939 282 6.618 644 21.289 CH = Concentrado de hemácias; PFC = Plasma Fresco Congelado; PP = Plasma Preservado; CP = Concentrado de Plaquetas Neste estudo, das 21.289 transfusões realizadas, 21 desencadearam reação transfusional, caracterizando uma freqüência de 0,10%, sendo 11 (52%) do sexo feminino e 10 (48%) do sexo masculino. A média de reação transfusional notificada foi de uma reação transfusional a cada dois meses. A análise estatística da ocorrência de reação transfusional de acordo com o ano não apresentou diferença estatisticamente significante (p>0.05). A Tabela 2 demonstra a freqüência de reação transfusional com base no número de unidades transfundidas por ano. Hemocomponentes e derivados Total transfundido Reação transfusional CH PFC PP CP Criopreciptado Total 9.016 3.221 418 7.990 644 21.289 19 1 1 21 CH = Concentrado de hemácias; PFC = Plasma Fresco Congelado; PP = Plasma Preservado; CP = Concentrado de Plaquetas O CH foi responsável por dezenove reações transfusionais (90,4% das reações – 0,09% das transfusões), ocorridas no HUGV, sendo que dezessete (89,5% das reações – 0,08% das transfusões) foram do tipo imediato (aguda) e duas (10,5% das reações – 0,01% das transfusões) do tipo tardio, como mostra a Figura 1. REAÇÕES POR CONCENTRADO DE HEMÁCIAS 10,5% Reação aguda Reação tardia Tabela 2 – Freqüência de reação transfusional ocorridas no HUGV em relação ao número de transfusões rea- 89,5% lizadas por ano Ano 2001 2002 2003 Total N.º de Transfusões realizadas 8.554 6.117 6.618 21.289 (100%) Sem reação Com reação Transfunsional Transfunsional 8.548 6 6.109 8 6.611 7 21.268 (99,9%) 21 (0,1%) Figura 1 – Tipos de reação transfunsional ocorridos pelo uso de concentrado de hemácias Observou-se que das dezessete reações transfusionais do tipo imediata (89,5% das rearevistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 13 CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍODO DE 2001 A 2003 ções – 0,08% das transfusões), já que se desenvolveram durante ou em até 24 horas da transfusão realizada, o mesmo ocorrendo com aquelas decorrentes do CP e do PFC quanto ao tempo de instalação da reação, oito (47,0% das reações – 0,04% das transfusões) eram reação alérgica, sete (41,2% das reações – 0,03% das transfusões) eram reação febril não hemolítica e duas (11,8% das reações – 0,01% das transfusões) de outras causas, conforme representadas na Figura 2. Das duas reações transfusionais do tipo tardio (0,01% das transfusões), encontradas neste estudo, mostraram que ambas (100%) foram reação hemolítica tardia, caracterizando uma freqüência de reação transfusional a cada 10.140 transfusões de sangue. REAÇÕES TRANSFUSIONAIS DO TIPO AGUDA 11,8% 47,0% Reação alérgica Reação febril não hemolítica Reações por outras causas 41,2% Figura 2 – Classificação das reações tranfunsionais do tipo imediata ocorridas no HUGV DISCUSSÃO A freqüência de 0,10% de reação transfusional encontrada neste estudo foi abaixo da nossa expectativa, embora essa taxa demonstre uma certa homogeneidade do número de reação transfusional com o de unidades transfundidas no decorrer dos anos. A Fiocruz3 estima que 1 a 3% das transfusões de sangue dão origem a uma reação transfusional. Este percentual sobe para 10% em pacientes politransfundidos. Uma freqüência de reação transfusional semelhante à encontrada neste estudo foi apresentada por Silva et al4 de 0,17% em pacientes internados na Santa Casa de Belo Ho- 14 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 rizonte, como também por Ditzel et al,5 que mostraram uma taxa de 0,28% de reação transfusional ocorridas no Hemocentro de Curitiba. Ainda na cidade de Curitiba, Rocha6 detectou que 1,53% dos pacientes do Hospital Erasto Gaertner gerou reação adversa à transfusão. Os autores das literaturas consultadas foram unânimes em afirmar que a subnotificação foi a principal causa da baixa taxa de reação transfusional encontrada nesses estudos. Segundo cálculos de Lopes; Amorim Filho,3 uma em cada cinco transfusões induz a algum tipo de complicação; entretanto, nem sempre é fácil identificar uma reação transfusional, pois, muitas vezes, são tão leves que passam despercebidas, contribuindo para uma incidência subestimada. Neste estudo, considera-se que essa baixa representatividade foi influenciada por diversas causas, principalmente em função das subnotificações das reações transfusionais. A subnotificação é um problema grave e muito sério que leva a uma falsa impressão de harmonia no trabalho quando na verdade representa uma inconsistência da definição de caso por falta de conhecimento técnico-científico dos envolvidos na terapia transfusional. Portanto, se sugere a elaboração de estratégias para a capacitação da equipe médica nas identificações, investigações e notificações de reações transfusionais a fim de que possam ser introduzidas medidas corretivas e preventivas. A freqüência de reação transfusional por unidade de hemocomponente transfundido, neste estudo, foi muito abaixo do esperado, ocorrendo uma reação a cada 474 transfusões de concentrado de hemácias, 3.221 de transfusões de plasma fresco congelado e 7.990 de transfusões de concentrado de plaquetas. Essa diferença, mais uma vez, comprova a existência de subnotificações das reações transfusionais ocorridas no HUGV. Os dados encontrados neste estudo quanto ao tipo de reação transfusional ocorrida são similares ao da literatura;2,6,7 entretanto, diferem quanto à incidência, que foi abaixo do descrito pelos autores consultados, sugerindo uma subnotificação dos casos no serviço. Addas-Car- MIHARU MAGUINORIA MATSUURA MATOS, RIVALDO CASTRO VILAR, YVELISE FERREIRA, RENEIDE DE PINHEIRO, MARIA ELIZETE DE ALMEIDA valho8 confirma que a reação febril não hemolítica e a alérgica são as reações adversas associadas à transfusão mais freqüentes (em torno de 95% dos casos) e que a ocorrência destas reações transfusionais parece ser constante, pois não sofre grandes influências nem mesmo com a implantação de novas tecnologias. Das duas reações transfusionais do tipo tardias encontradas neste estudo foram reação hemolítica tardia. Por intermédio da análise estatística desses dados observou-se que houve uma taxa aumentada de reação do tipo tardia neste estudo, pois, segundo informações na literatura, relatam a ocorrência de uma reação em cerca de 20.000 transfusões em pacientes politransfundidos, ou que já tiveram gestações com imunização a antígenos eritrocitários. Um fato interessante observado durante o desenvolvimento deste estudo foi o uso rotineiro de corticóides e anti-histamínico nos pacientes do HUGV antes das transfusões como medida profilática das reações transfusionais. Foram encontradas referências sobre o uso desses medicamentos nos pacientes com história prévia de alergia às transfusões, mas não como procedimento de rotina a todos os pacientes a serem transfundidos. Acredita-se que tal procedimento poderia mascarar as reações transfusionais e, conseqüentemente, também contribuir para a baixa freqüência dessas reações. CONCLUSÕES 1. Neste estudo, observou-se uma baixa taxa de reação transfusional refletindo que existem dificuldades na monitorização e notificação das reações ocorridas neste hospital; 2. As subnotificações podem ser responsáveis pela baixa representatividade encontrada neste trabalho, pois representa uma inconsistência da definição de caso por falta de conhecimento técnico-científico dos envolvidos na terapia transfusional; 3. Há uma necessidade de se elaborar estratégias para a capacitação da equipe clínica nas identificações, investigações e notificações de reações transfusionais a fim de que possam ser introduzidas medidas corretivas e preventivas. REFERÊNCIAS 1. SOUZA, M. H. L.; REGO, M. M. S. Reações às Transfusões. In: Princípios de Hematologia e Hemoterapia. Disponível em: http:// www.perfline.com/curso-sangue/ sangue15.htm. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária: Manual Técnico de Hemovigilância. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. 3. LOPES, M. E. D.; AMORIM FILHO, L. Reações Transfusionais. In: Textos de Apoio em Hemoterapia. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000. v. 2. p. 91-107. 4. SILVA, D. R.; CARVALHO, R. V. F.; DIAS, R. P. Incidência de reações transfusionais em pacientes atendidos pela agência transfusional da Hemominas na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte: importância da notificação dos casos. In: CONGRESSO NACIONAL DO COLÉGIO BRASILEIRO DE HEMATOLOGIA, 17, 1999. Foz do Iguaçu, Anais... Foz do Iguaçu: Série de Monografias da Escola Brasileira de Hematologia, 1999, v. 6. Sup. 1, p. 142. 5. DITZEL, D. R. C.; BALDANZI, G. R.; MEROLLI, R.; ALMEIDA, P. T. R. Incidência e tipo de reações transfusionais descritas em um Hospital Universitário. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA, 25, 2002, Salvador, Anais... Salvador: Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 2002, p. 113. 6. ROCHA, J. M. Reação transfusional e a importância de um sistema de notificação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA, 25, 2002, Salvador, Anais... Salvador: Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 2002, p. 114. 7. GOULART, G. L.; COZAC, A. P.; GONÇALVES, L. L.; FERREIRA, O.; ÂNGULO, I. L.; revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 15 CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS OCORRIDAS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS, AMAZONAS, BRASIL, NO PERÍODO DE 2001 A 2003 MIGUEL, C. E. Reações transfusionais imediatas no ambulatório de transfusão do Hemocentro de Ribeirão Preto. In: Congresso Nacional do Colégio Brasileiro de Hematologia, 17, 1999, Foz do Iguaçu, Anais... Foz do Iguaçu: Série de Monografias da Escola Brasileira de Hematologia, 1999, v. 6, Sup. 1, p. 143. 16 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 8. ADDAS-CARVALHO, M. Hemovigilância: avaliação do registro das reações transfusionais no período de 5 anos nos Hospitais Universitários da Unicamp. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA, 25, 2002, Salvador, Anais... Salvador: Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 2002, p. 112. AVALIA ÇÃ O CLÍNIC O-CIRÚR GIC A DOS P ACIENTES ALIAÇÃ ÇÃO CLÍNICO-CIRÚR O-CIRÚRGIC GICA PA SUBMETIDOS A RESSECÇÃ O PULMON AR POR RESSECÇÃO PULMONAR BR ONQUIECT ASIAS BRONQUIECT ONQUIECTASIAS CLINICAL-SURGICAL EVALUATION OF PATIENTS WERE SUBMITTED TO THE LUNG RESSECTION BY BRONCHIECTASIS FERNANDO LUIZ WESTPHAL*, LUIZ CARLOS LIMA**, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO***, CINTIA TEIXEIRA SOARES ****, BRENA LUIZE FERREIRA***** RESUMO: A alta prevalência de doenças infecciosas e o caráter endêmico da tuberculose, em nossa região, determinam um alto índice de complicações pulmonares, dentre elas as bronquiectasias. Estes pacientes são acometidos de infecções recorrentes, além do transtorno social conseqüente à grande produção de secreção que leva a um comprometimento do estado nutricional. Objetivos: Analisar os aspectos epidemiológicos, clínicos e cirúrgicos dos pacientes submetidos à ressecção pulmonar para o tratamento de bronquiectasias. Método: Estudo retrospectivo dos pacientes operados no Hospital Universitário Getúlio Vargas e Hospital Sociedade Beneficente Portuguesa de Manaus entre janeiro de 1993 a dezembro de 2003. Os dados foram tratados estatisticamente para a comparação entre algumas variáveis. Resultados: 70 pacientes foram avaliados, com a idade média de 43,6 anos e predominância do sexo feminino (66,6%). As etiologias mais comuns foram as seqüelas de processo tuberculoso prévio e as infecções pulmonares. A hemoptise foi o sinal mais freqüente e as bronquiectasias localizadas as mais encontradas. O tipo de ressecção mais utilizado foi a lobectomia. Não houve diferença significativa quanto às complicações pósoperatórias entre as bronquiectasias localizadas e as multissegmentares. O tempo médio de cirurgia foi de 287 minutos e da retirada dos drenos 4,4 dias. A permanência hospitalar foi em média 16,6 dias. A mortalidade foi de 1,85%. Conclusão: Houve um alto índice de complicações, provavelmente relacionadas ao processo inflamatório intenso encontrado na cavidade pleural destes pacientes, aliado ao comprometimento nutricional, o que acarretou um tempo de internação elevado. Palavras-chave: Bronquiectasia, Etiologia, Tratamento, Complicações. ABSTRACT: The high prevalence of infectious diseases and the endemic character of the tuberculosis, in our area, determine a high index of pulmonary complications, among them the bronchiectasis. These patients have recurrent infections, besides the social upset in consequence of the great secretion production that leads to a nutritional state compromise. Objectives: To analyze the epidemiological, clinical and surgical aspects of the patients submitted to the lung resection to the bronchiectasis treatment. Methods: A retrospective study of the patients operated at the University Hospital Getulio Vargas and Portuguese Beneficent Society of Manaus from January of 1993 to December of 2003. The data were studied statically to comparison between some variables. Results: 70 patients were evaluated and the average age was of 43,6 years and it was a female predominance (66,6%). The most common etiologies were the sequels of previous tuberculosis disease and the pulmonary infections. The hemoptysis was the most frequent sign and the localized bronchiectasis the most found. The most used resection type was the lobectomy. There was not significant difference in the postoperative complications between the localized bronchiectasis and the multisegmental. The average surgery time was 287 minutes and the chest tube was removed in 4,4 days. The usual duration of hospital staying was 16,6 days. The mortality was of 1,85%. Conclusion: There was a high index of complications, probably related to the intense inflammatory reaction in the pleural cavity of these patients with the nutritional compromise, what determined a high time of hospital staying. Keywords: Bronchiectasis, Etiology, Treatment, Complications. Doutor Cirurgião torácico – Ufam/HUGV/UEA Doutor Cirurgião torácico – Ufam/HUGV/UEA *** Especialista Cirurgião torácico – HUGV **** Acadêmica de Medicina – bolsista Fapeam/UEA ***** Acadêmica de Medicina – UEA * ** revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 17 AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA DOS PACIENTES SUBMETIDOS À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS INTRODUÇÃO A bronquiectasia é uma doença caracterizada pela dilatação e distorção irreversível dos brônquios em decorrência da destruição dos componentes elástico e muscular de sua parede.1 Sua patogenia está relacionada à agressão infecciosa e deficiência na depuração das secreções brônquicas, associada à resposta imune deficiente do hospedeiro que promove a perpetuação do processo inflamatório local com posterior destruição da parede brônquica.2 Nos países com um alto índice de doenças infecciosas a possibilidade da ocorrência de bronquiectasias é maior, pois, além da agressão pulmonar ocasionada pelo processo infeccioso, há o fator de defesa do hospedeiro, usualmente alterados por problemas de desnutrição. Assim, no Primeiro Mundo, as bronquiectasias são geralmente decorrentes de doenças congênitas ou hereditárias e nos países em desenvolvimento causadas por processos infecciosos.3 Várias infecções pulmonares têm sido associadas ao desenvolvimento da bronquiectasia. Alguns indivíduos com provável infecção viral, ou por micoplasma, desenvolvem infecções respiratórias repetidas e bronquiectasias. Além da lesão tecidual direta, as seqüelas das infecções tuberculosas podem incluir linfadenopatia caseosa em torno dos brônquios ou vias aéreas lesionadas, que predispõe a colonização bacteriana e, conseqüentemente, a bronquiectasia.4 Nos achados clínicos, com freqüência, os pacientes relatam acessos constantes de «bronquite» que exigem séries repetidas de antibioticoterapia. Na maioria dos pacientes os sinais e sintomas consistem em tosse diária produtiva de escarro mucopurulento, hemoptise intermitente, pleurisia e dispnéia.5 As principais indicações e objetivos da cirurgia na bronquiectasia consistem na remoção do pulmão destruído parcialmente, eliminando os episódios infecciosos, eliminando a produção substancial de escarro purulento e eliminação das vias aéreas bronquiectásicas que causam 18 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 hemorragias e abrigam microrganismos resistentes.6 O tratamento cirúrgico se baseia em algumas premissas: doença com distribuição segmentar ou lobar e unilateral; sintomas persistentes ou recorrentes, quando o tratamento clínico é interrompido e hemoptise importante. Algumas séries de casos estudados, nos últimos 30 anos, mostram uma morbidade de 3-33% e uma letalidade de 0,4-8,3%.7 O objetivo imediato da extirpação cirúrgica é a remoção dos segmentos ou lobos mais comprometidos, com preservação das áreas não supurativas ou sem sangramento. Ressecções dos lobos médio e inferior são realizadas com maior freqüência. As complicações são empiema, hemorragia, escape de ar prolongado e expansão insuficiente do pulmão remanescente em função da atelectasia persistente ou supuração.8 A nossa região é uma área endêmica em tuberculose, com muitos pacientes com seqüelas pulmonares passíveis de tratamento cirúrgico, e em doenças infecciosas, o que determina um grande número de pacientes candidatos à cirurgia para o tratamento de bronquiectasias. Portanto, o objetivo deste trabalho é a avaliação clínica e cirúrgica dos pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico de bronquiectasias no Serviço de Cirurgia Torácica. CASUÍSTICA E MÉTODO Trata-se de um de estudo retrospectivo por meio da revisão de prontuário dos pacientes operados no Hospital Sociedade Beneficente Portuguesa (SBP) e Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), no período de janeiro de 1993 a dezembro de 2003, de ambos os sexos, com o diagnóstico de bronquiectasia. O critério de exclusão utilizado foi ausência de informação nos prontuários que impossibilitava o preenchimento do protocolo utilizado no estudo. O trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Amazonas. FERNANDO LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA A revisão dos prontuários permitiu o preenchimento de um protocolo com os seguintes itens: perfil epidemiológico; diagnóstico préoperatório, etiologia; tipo de bronquiectasia, tipo de ressecção cirúrgica, tempo de permanência na UTI, tempo para a retirada de dreno torácico, complicações, tempo de internação e óbito. Os dados foram analisados por meio de análise estatística descritiva para as variáveis. Para avaliar a associação entre as variáveis foi utilizado o teste do qui-quadrado com nível de 5% de significância. A cirurgia mais comumente realizada é a lobectomia com ligadura em seqüência da artéria, veia e brônquio. Sempre utilizamos a ligadura dupla dos vasos, com a segunda ligadura transfixante com seda 3-0. O brônquio é suturado com fio absorvível 4-0, com sutura em figura de 8. Para as lobectomias inferiores utilizamos um dreno pleural e para as superiores utilizamos dois drenos pleurais. Normalmente o pós-operatório é realizado na Unidade de Terapia Intensiva no primeiro dia de pós-operatório e após o paciente é enviado para a enfermaria de Cirurgia Torácica. CONDUTA DO SERVIÇO DE CIRURGIA TORÁCICA As indicações para o tratamento de bronquiectasias são a infecção pulmonar de repetição e a hemoptise. Uma vez que o paciente é atendido no Ambulatório, é solicitado uma interconsulta com o Serviço de Pneumologia para a maximização do tratamento clínico nos casos de infecção pulmonar. Em caso de processos infecciosos ativos dos seios nasais ou na cavidade oral com acometimento dos dentes ou gengiva, o paciente é encaminhado para tratamento antes da cirurgia. A prova de função pulmonar segue as orientações baseadas nos achados espirométricos e naqueles casos de função pulmonar limítrofe, indicamos a realização da cintilografia pulmonar qualitativa e quantitativa para determinar o grau de função pulmonar remanescente no pósoperatório. Com esta conduta conseguimos avaliar adequadamente cerca de 90% dos pacientes candidatos a cirurgia. A anestesia sempre é realizada com entubação seletiva, com tubo de dupla luz. Quando há dificuldade para tal, realizamos a entubação seletiva com tubo simples orientado por broncoscopia. Em dois casos desta série operamos o paciente em posição de Overholt – decúbito ventral – para evitar a aspiração de secreção contralateral. É utilizado a antibioticoterapia profilática na indução anestésica. RESULTADOS Foram analisados os prontuários de 70 pacientes submetidos à ressecção pulmonar por bronquiectasia. Houve predominância do sexo feminino (66,6%) e a idade média foi de 43,6 anos. O fator etiológico mais freqüentemente encontrado neste trabalho foi a seqüela de tuberculose (34,2%), seguido de processos infecciosos (Tabela 1). Observa-se um grande número de casos em que não foram identificados a etiologia, alguns devem ser decorrentes da impossibilidade de definir a etiologia com as informações do paciente. Tabela 1 – Etiologia e tipo de bronquiectasias nos pacientes submetidos à ressecção pulmonar Etiologia Localizada multissegmentar n % n % Turbeculose Infecção Respiratória Discinesia Ciliar Sinusite Corpo estranho Não identificada 19 40,4 5 40,4 5 10,6 3 10,6 2 4,2 1 4,2 - - 1 1 - 21 44,7 12 44,7 Total 47 100 23 100 Quanto ao tipo de bronquiectasia, localizada ou multissegmentar, observa-se uma predominância do tipo localizada (67,1%) quando comparado com a multissegmentar. Os sinais e revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 19 AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA DOS PACIENTES SUBMETIDOS À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS sintomas mais freqüentes nesta amostra foram a hemoptise (54,3%), a tosse (38,5%) e a infecção de repetição (11,4%) (Tabela 2). torácica, febre e hipertensão arterial sistêmica também em 1 paciente (Tabela 4). Tabela 4 – Complicações ocorridas nos pacientes ope- Tabela 2 – Sinais e sintomas em pacientes submetidos à rados ressecção pulmonar por bronquiectasia com e sem turbeculose ETIOLOGIA Sinais e Sintomas Turbeculose Não turbeculose Hemoptise Tosse produtiva Infecção respiratória Refluxo gastroesofágico Emagrecimento 17 (24,3%) 9 (12,9%) 3 (4,3%) 0 (0%) 1 (1,4% 21 (30,0%) 18 (25,7%) 5 (7,1%) 1 (1,3%) 0 (0%) Quanto ao tratamento cirúrgico, os tipos de ressecções realizadas foram assim distribuídos: lobectomia 72,6%, bilobectomia em 9,6%, lobectomia média mais lingulectomia em 6,8%, pneumectomia em 5,5%, segmentectomia em 2,7%, lobectomia superior esquerda mais lobectomia média em 1,4% e lobectomia média mais lobectomia inferior em 1,4% dos pacientes (Tabela 3). Observa-se um número maior de ressecções em relação ao número de casos, pois três pacientes realizaram mais de uma cirurgia para ressecção pulmonar para o tratamento de bronquiectasias. Tabela 3 – Tipos de ressecção pulmonar utilizada TIPOS DE RESSECÇÃO Tipos Nº de ressecção % Lobectomia Bilobectomia Lobectomia média mais lingulectomia Pneumectomia Segmentectomia Lobectomia sup. Esq. mais Lobectomia média Lobectomia média mais Lobectomia inferior Total 53 7 5 4 2 1 1 73 72,6 9,6 6,8 5,5 2,7 1,4 1,4 100 Observamos complicações em 34,2% dos pacientes, sendo as mais comuns o escape aéreo em 9 pacientes, pneumonia em 4, sangramento em 3, coágulo intrapleural em 2, hematoma de parede em 2 pacientes, empiema em 1, dor 20 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 TIPOS Nº de complicações % Fuga aérea Pneumonia Sangramento Coágulo intrapleural Hematoma de parede HAS Empiema Dor torácica Febre Total 9 4 3 2 2 2 1 1 1 25 12,3 5,4 4,2 2,7 2,7 2,7 1,4 1,4 1,4 34,2 As complicações pós-operatórias foram mais evidentes nos pacientes sem passado de tuberculose quando comparado aos pacientes com passado de tuberculose, porém este dado não foi estatisticamente significante (p=0,96) (Tabela 5). Tabela 5 – Complicações pós-operatórias com relação à etiologia ETIOLOGIA Complicações TB Não TB Total Sem 15 (34,1%) 29 (65,9%) 44 (100%) Com 9 (34,6%) 17 (65,4%) 26 (100%) Total 24 (34,3%) 46 (65,7%) 70 (100%) Não houve diferença significativa quanto às complicações pós-operatórias entre as bronquiectasias localizadas e as segmentares (p= 0,81) (Tabela 6). Tabela 6 – Complicações pós-operatórias com relação à localização Localização Complicação Localizada 30 (63,8%) Multissegmentar Total Total 17 (36,2%) 47 (100%) 14 (60,9%) 9 (34,1%) 23 (100%) 44 (62,9%) 26 (37,1%) 70 (100%) Foram encontradas doenças associadas em 18% dos pacientes, dentre elas: sinusite, asma, hipertensão e miastenia gravis. O tempo médio da cirurgia foi de 287 minutos (4,7h), o tempo para a retirada do dreno torácico foi de 4,4 dias e FERNANDO LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA o tempo de internação no pós- operatório dos pacientes operados foi de 16,6 dias. A mortalidade foi de 1,85%. DISCUSSÃO As bronquiectasias adquiridas podem acometer o paciente em qualquer idade, desde que ele seja submetido a condições desencadeantes durante alguma fase de sua vida, tais como: processos infecciosos, aspiração de corpo estranho e outros. Por outro lado, quando a etiologia é congênita, a ocorrência dos sintomas ocorre em uma faixa etária mais jovem, como, por exemplo, nos casos de fibrose cística. 9 A faixa etária média encontrada em nosso trabalho foi de 42,6 anos, semelhante ao em outras séries.10 No passado, as infecções de infância, sarampo e coqueluche, eram as principais causas de bronquiectasias em adultos jovens, porém houve um declínio acentuado nesta incidência com a implantação de programas de vacinação efetivos.3 Entretanto, em nosso meio, a tuberculose é considerada uma doença endêmica e determina uma alta incidência de complicações pulmonares como as bronquiectasias. Em nosso estudo, a tuberculose foi a principal causa de bronquiectasias, diferentemente do apresentado por outros autores 10,11 que demonstraram o antecedente de infecção pulmonar na infância como o fato etiológico mais comum. A etiologia desconhecida das bronquiectasias, neste estudo, foi de 48,2%, um índice elevado, porém esta dificuldade foi relatada por Gomes e cols. (2000), que não identificaram a etiologia em 16,4%, um valor inferior ao nosso, talvez pelo caráter prospectivo do seu estudo. O sinal mais freqüente na nossa casuística foi a hemoptise, diferente de outras séries (10) nas quais os sintomas de tosse e infecção pulmonar de repetição são os mais freqüentes. A maior ocorrência de hemoptise em nossa casuística devese ao fato de operarmos pacientes em que os sintomas são mais alarmantes, como a hemoptise, visto a alta demanda do serviço com o baixo grau de resolutividade, conseqüente às condições do Hospital Universitário, que não comporta um volume maior de cirurgias de grande porte, impossibilitando a realização de procedimentos cirúrgicos como nos casos de infecções recorrentes. O advento de antibióticos potentes e o tratamento precoce das infecções pulmonares diminuíram a incidência de bronquiectasias, porém há o espaço para o tratamento cirúrgico como nas bronquiectasias localizadas, nas obstruções brônquicas e na resistência ao bacilo da tuberculose.3 Na prática médica os resultados são significativamente melhores nos pacientes tratados cirurgicamente. Annest e cols. (1982) relataram um índice de cura de 46% de pacientes submetidos à ressecção pulmonar, no seguimento de 40 pacientes, enquanto somente 2% dos pacientes tratados clinicamente ficaram assintomáticos. Estes resultados, aliados à redução da mortalidade cirúrgica para cifras próximas de 1%, contribuíram definitivamente para a retomada do espaço da cirurgia no tratamento da bronquiectasia.12 Outro estudo comparativo10 entre doentes operados e pacientes tratados clinicamente demonstrou a superioridade da cirurgia. No pósoperatório imediato verificou-se transitoriamente, em todos os casos, 88 pacientes que foram submetidos à ressecção pulmonar, apreciável redução de secreções broncopulmonares. Houve complicações maiores em 12 (13,6%), cinco pacientes apresentaram pneumonia, três pneumotórax, dois empiemas e dois coágulos intrapleurais. Não foi registrado nenhum óbito entre os pacientes cirúrgicos. O seguimento destes mostrou que ficaram praticamente livres de secreções e infecções broncopulmonares. A maioria dos pacientes cirúrgicos (84,0%) não necessitou ser reinternada, e somente um deles foi readmitido mais de duas vezes no pósoperatório. Os pacientes tratados clinicamente foram internados repetidas vezes (dois deles mais de 10 vezes), ou freqüentemente tiveram de ser atendidos ambulatorialmente. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 21 AVALIAÇÃO CLÍNICO-CIRÚRGICA DOS PACIENTES SUBMETIDOS À RESSECÇÃO PULMONAR POR BRONQUIECTASIAS O sucesso do tratamento cirúrgico está REFERÊNCIAS diretamente relacionado à adoção rigorosa dos critérios de operabilidade. Nos casos em que a ressecção completa de todos os segmentos dilatados é possível, os resultados cirúrgicos são excelentes. Nos pacientes com doença multissegmentar é de fundamental importância que se determine claramente no préoperatório a extensão da ressecção a ser feita, porque é difícil fazer tal avaliação durante a cirurgia (6) . O objetivo da cirurgia é remover todos os segmentos comprometidos ao mesmo tempo em que se preserva o máximo de função pulmonar. 13 O tipo de ressecção pulmonar vai depender da localização e comprometimento pulmonares pela bronquiectasia. A ressecção mais comum é a dos segmentos basilares juntamente com o lobo médio do pulmão direito ou a língula do pulmão esquerdo. Os resultados da cirurgia na doença localizada serão sempre melhores do que na doença difusa ou multissegmentar. 8 Esse fato reflete o resultado obtido em nosso estudo quanto à prevalência de bronquiectasias localizadas nos pacientes submetidos à ressecção pulmonar. As complicações pós-operatórias incluem fuga de ar prolongada, fístula broncopleural, empiema e pneumonia por contaminação intraoperatória do pulmão normal.14 Em conclusão, a análise desta amostra revelou, em nossa realidade, que a bronquiectasia acomete principalmente mulheres e indivíduos em uma faixa etária relativamente jovem. A principal etiologia da bronquiectasia foi a tuberculose e os achados clínicos mais encontrados foram a hemoptise e a tosse. Houve um grande número de complicações, mas isto é um achado esperado, visto que os pacientes operados tinham seqüelas de tuberculose ou comprometimento nutricional acentuado. A cirurgia é um método de tratamento definitivo na bronquiectasias localizadas e com baixa mortalidade quando devidamente indicada. 22 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 1. SILVA, L. C. Bronquiectasias. In: SILVA, S C.; PORTO, N. S.; CAMARGO, J. P. Compêndio de Pneumologia. 4. ed. São Paulo: Fundo Editorial BYK, 1988. p. 195-206. 2. BETHLEM, N. et al. Supurações broncopulmonares. In: BETHLEM, N. Pneumologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 1995. p. 371-377. 3. BARKER, A. F. «Medical Progress: Bronchiectasis». N. Eng J. Med, 2002, 346(18): 1.383. 4. LIMA, L. S.; BOGOSSIAN, M. Avaliação da resposta clínica ao uso de antibióticos por via oral e via inalatória em pacientes portadores de bronquiectasias». Assoc. Méd. Bras., 1999, 45(3): 229236. 5. ROMALDINI, H. Supurações Pulmonares.. In: PRADO, F. C.; RAMOS, J. A.; VALLE, J. R. Atualização Terapêutica. 21. ed. São Paulo. Ed. Artes Médicas, 2003. p. 1.461-65. 6. SCHNEITER, D.; MEYER, N.; LARDINOIS, D. et al. Surgery for non-localized bronchiectasis. Brit. J. Surg, 2005, 92: 836-39. 7. GUIMARÃES, A. G. Bronquiectasias: uma abordagem baseada em evidências. In: AIDÊ, et al. Pneumologia: aspectos práticos e atuais. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. p. 123-129. 8. MAZIÈRES, J.; MURRIS, M.; DIDIER, A. et al. Limited operations for severe multisegmental bilateral bronchiectasis. Ann Thorac Surg, 2003; 75: 382-87. 9. WHEELER, D. Bronchiectasis: a brief review. J. Resp. C. S. Med. Fall, 2004, 2: 28. 10. MOREIRA, J. S.; PORTO, N. S.; CAMARGO, J. J. P. et al. Bronquiectasias: aspectos diagnósticos e terapêuticos: estudo de 170 pacientes. J. Pneumol, 2003, 29(5): 258-263. 11. GOMES, N. A.; MEDEIROS, M. L.; GIFONI, J. M. M. Bronquiectasia localizada e FERNANDO LUIZ WESTPHAL, LUIZ CARLOS LIMA, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO, CINTIA TEIXEIRA SOARES, BRENA LUIZE FERREIRA multissegmentar: perfil clínico-epidemiológico e resultado do tratamento cirúrgico em 67 casos. J. Pneumol, 2000, 27(1): 1-6. 12. ANNEST, L. S.; KRATZ, J. M.; CRAWFORD, F. A. JR. Current results of treatment of bronchiectasis. J. Thorac Cardiovasc Surg, 1982, 83(4): 546-50. 13. SANCHO, L. M. N..; PASCHOALINI, M. S..; VICENTINI, F. C. et al. Estudo descritivo do tratamento cirúrgico das bronquiectasias. J. Pneumol, 1996, 22(5): 241-6. 14. MERCURIO, N. S.; ALVES JÚNIOR, A.; COSTA, G. P. R. et al. Tratamento cirúrgico das bronquiectasias. J. Pneumol, 1989, 15(2): 82-8. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 23 24 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 O DEPRIMIDO DIANTE DO ENTREVIS TADOR CLÍNIC O ENTREVIST CLÍNICO INICIANTE THE DEPRESSED FACING THE STARTER CLINICAL INTERVIEWER DAVI ARAÚJO DA CUNHA*, FABIOLA GOUDINHO DE LIMA*, LESIRMY BINDÁ SADALA*, ROSÂNGELA DE LIMA GIL*, SUELY DA SILVA MAIA* RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo fazer uma abordagem do processo de entrevista com pacientes deprimidos, e, ao conhecer mais de perto este processo, à luz da literatura existente, propor contribuições no sentido de levar a uma otimização desta técnica, que é, sem dúvida, imprescindível em qualquer situação interventiva. O entrevistador clínico iniciante tem uma responsabilidade muito grande, e muito do seu pouco preparo será exigido. As atuais formas de receber o paciente deprimido para a entrevista são abordadas, objetivando chegar à singularidade deste paciente. Conceituando sucintamente o processo de entrevista, o estado depressivo e como entrevistar tal paciente, pretende-se com este artigo torná-lo fonte auxiliar para os que diariamente lidam com o sofrimento mental, contribuindo para o levantamento de novos questionamentos e apontar novos caminhos. Com isto, esperase que o jovem psicólogo utilize-se da entrevista clínica como uma base segura ao se deparar com o paciente deprimido em suas primeiras entrevistas clínicas. Palavras-chave: Entrevista clínica, depressão, paciente deprimido. ABSTRACT: The present paper has as an objective describing the process of interview with depressed patients, and with a closer knowledge of this process, with the existent literature, offers contributions to carry through to an optimization of this technique, which is with no doubts, indispensable in anyone situation of intervention. The Clinical Starter Interviewer has a larger responsibility and a lot of his/her short preparation will be full required. The current forms of receiving the depressed patient for an interview are utilized, objecting the discovery of the singularity of this patient. Considering, clearly, the interview process, the depressive state and how to interview this patient, this article aims to make it as an auxiliary source for the ones who works daily with the mental suffering, contributing to the discovery of new questions and to point new ways of treatment. Thus, it hopes that the youth Psychologist makes use of the Clinical Interview for safe basis when facing the depressed patient in the first Clinical Interviews. Keywords: Clinical Interview, Depression, Depressed Patient. INTRODUÇÃO Atualmente se fala muito em depressão. Este transtorno tem merecido a preocupação de muitos estudiosos, pesquisadores e pessoas comuns, todas com manifestada intenção de conhecer para prevenir. A década de 90, que ficou conhecida como a «década do cérebro», propiciou um significativo aumento de pesquisa e descobertas relacionadas à forma de funcionamento cerebral, resultando em tratamentos mais eficazes e prognósticos mais otimistas. Contudo, sabe-se que, desde muito tempo, a depressão tem ocupa- * do espaço na literatura, seja ela científica, religiosa ou mitológica. Somente no Brasil são mais de dez milhões de deprimidos,¹ sendo atualmente este transtorno a quarta causa de incapacitação no mundo, e a previsão é de que em 2020 seja a segunda, perdendo apenas para as doenças coronarianas.² Com um problema desta magnitude, cada vez fica mais desafiante a abordagem e o tratamento da depressão, principalmente quando se sabe que os fatores causais ainda não foram isolados, recebendo o seu surgimento diversas explicações.³ Acadêmicos do 10.º Período de Psicologia do Centro Universitário do Norte – Uninorte. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 25 O DEPRIMIDO DIANTE DO ENTREVISTADOR CLÍNICO INICIANTE Do ponto de vista psicopatológico, os quadros depressivos têm como elemento central o humor triste. Contudo, tais quadros caracterizamse por uma multiplicação de sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relativos à autovaloração, à volição e a psicomotricidade.4 Com isto, ganha fundamental importância uma entrevista clínica em que se prioriza o indivíduo e tem-se segurança ao usar esta técnica. Benjamim 5 trata a entrevista como diálogo sério e com propósito, fazendo já do primeiro encontro do clínico com um paciente deprimido uma oportunidade para importantes direcionamentos, a partir da fala do paciente ou de seus acompanhantes. DESENVOLVIMENTO A entrevista clínica Othmer & Othmer,6 tratando especificamente da entrevista clínica, e mais especificamente ainda da entrevista que solicitam profissionais em saúde mental, afirmam ser natural certo grau de incerteza, desconfiança e ansiedade por parte do paciente, cabendo ao clínico sentir-se à vontade para depois deixar seu entrevistado à vontade. Considerando que é um outro ser humano que está ali, com certeza espera ser compreendido em seus questionamentos e anseios, uma conversa introdutória leve, portanto, ajuda você e o paciente a se acalmarem e a superarem qualquer constrangimento inicial. Ainda segundo os autores, antes mesmos de se iniciar uma conversa, a comunicação já teve início por meio de sinais que são difíceis de controlar. O conceito de sinal aqui é aquela linguagem não falada verbalmente, mas que é expressa pelo rosto, pelo corpo e inflexão da voz, somente para citar alguns exemplos. Em um território estranho, o paciente estará mais comunicativo gestualmente e o entrevistador perspicaz procurará saber um pouco deste cliente por intermédio da observação, por exemplo, da distância que ele chegou de 26 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 você, ou quanto ele ficou próximo da porta. Houve evitação no aperto de mão? Sua mesa é um grande obstáculo para ele? Pode ocorrer, entretanto, que ele seja capaz de ligar o computador ou colocar os pés na escrivaninha.6 Nesta fila de tênues limites e seguindo o pensamento acima exposto, a entrevista clínica envolve ainda outros pontos igualmente fundamentais, não somente para o paciente se sentir à vontade, mas também para perceber que aquela pessoa que está com ela tem competência para ajudá-la. A competência, vista por este ângulo, tem como metas principais identificar o sofrimento do paciente, avaliar este sofrimento, responder com simpatia, avaliar a capacidade de insight, separar a parte doente do paciente, apelando para o que está intacto, demonstrar conhecimento, inspirar esperança, estabelecer liderança, e equilibrar papéis. A percepção de que a tarefa é árdua salta a vista e deve impulsionar o clínico para uma capacitação cada vez maior. Estes critérios, quando seguidos ou almejados, tendem preparar o entrevistador clínico para uma coleta de dados muito rica, onde o foco foi estabelecido e os objetivos estão bem nítidos e plausíveis. A entrevista com o paciente deprimido A depressão refere-se tanto a um sintoma quanto a um grupo de enfermidades que possuem determinados traços em comum. Como sintoma, a depressão caracteriza-se por um tom afetivo de tristeza acompanhada de sentimentos de desamparo e redução da auto-estima. Sua segurança parece ameaçada. Dados diagnósticos mundialmente aceitos podem ser encontrados no DSM, em sua quarta edição.7 De acordo com Mackinnon,8 o deprimido não só se sente mal como é também, tipicamente, seu pior inimigo, podendo servir-se dessa frase específica ao descrever a si próprio. Tendências autodestruidoras ou masoquistas, assim como depressivas, coexistem com freqüência no mesmo indivíduo. O suicídio, uma complicação dramática de grave depressão, é fenômeno de im- DAVI ARAÚJO DA CUNHA, FABÍOLA GOUDINHO DE LIMA, LESIRMY BINDÁ SADALA, ROSÂNGELA DE LIMA GIL, SUELY DA SILVA MAIA portância crucial na compreensão do funcionamento psicológico da pessoa deprimida. A entrevista com o paciente deprimido exige participação ativa do entrevistador. Comumente, o paciente fala de sua dependência, embora o caráter de seu distúrbio deixe-o pessimista a respeito do resultado do tratamento, ou ainda fique em uma posição passiva ou mesmo imóvel, com pouquíssima intenção em colaborar, exigindo do entrevistador uma postura diferenciada de atendimento. Dificilmente o paciente gravemente deprimido costuma vir desacompanhado à entrevista. Normalmente é o amigo ou parente, que o acompanha, que começa a conversa. Embora seja importante em algum momento da primeira entrevista o clínico conversar com o acompanhante, este deve entrar com o paciente somente em situações extremas, quando no caso do paciente deprimido não conseguir falar, por exemplo. Caso a depressão não seja grave, o paciente pode chegar sozinho, porém sua postura, aparência, expressão facial, movimentos e as qualidades físicas de sua voz revelam seu problema já bem no começo de sua fala. Embora seja mais comum a demonstração de tristeza e abatimento, sua cólera pode surgir no decorrer da entrevista. Sua dependência se manifesta na espera por escolher uma cadeira. Neste momento não é prudente fazer interpretações, pois pode funcionar como um mau acolhimento. Em função da lentificação de seus processos mentais o paciente responderá de forma curta, monossilábica e repetitiva, e o entrevistador deve demonstrar interesse, apoiando seu estado de ânimo ao invés de provocá-lo. Neste momento o entrevistador também cuidará para não demonstrar o que pode parecer para o paciente sinal de que ele não tolera sua melancolia. Devem ser evitados, por isso, comentários joviais e humorísticos, um ritmo demasiado rápido ou enérgico ou ainda um sorriso. O entrevistador deve conceder tempo para que o paciente responda. A exploração dos sintomas depressivos só será alcançada provavelmente a partir da segun- da entrevista, pois o paciente fica mais à vontade quando é orientado pelo entrevistador. O entrevistador terá, então, a responsabilidade de, ao mesmo tempo em que organiza a entrevista, proporcionar aprovação para que o paciente participe, sem forçá-lo, para que não se sinta frustrado, incompetente e, portanto, mais deprimido. As pessoas moderadamente deprimidas choram com freqüência, enquanto as deprimidas mais graves dificilmente choram. Se há choro, o entrevistador espera com simpatia, oferecendo quem sabe um lenço (ou vários). Pode acontecer de o paciente tentar ignorar as próprias lágrimas, neste caso o entrevistador pode estimular a aceitar seus sentimentos, ou mesmo perguntar a respeito do que está se sentindo mal. Deve prosseguir a entrevista quando sentir que o paciente é capaz de continuar, pois esperar demasiado pode levar a novas lágrimas. Existem outros aspectos da conduta do deprimido que ele pode tentar esconder. O mais destacado é sua agressão. O entrevistador clínico, principalmente o iniciante, deve então considerar a possibilidade de ocorrer tal comportamento e utilizá-lo de forma a clarificá-lo e, no momento certo, manifestar aos poucos estes comportamentos a fim de torná-los como parte do processo terapêutico. Tão importante quanto à história do sintoma é conhecer o restante da vida do paciente. Laços importantes por vezes são deixados de lado e, neste momento, podem ser ventilados. Os comentários concretos prematuros devem ser deixados de lado, pois tendem mais levar a negação, motivado pela vergonha daquilo que sente, que verá como fraqueza e tenderá a dissimulá-lo. Outro fator importante na entrevista com paciente deprimido é a investigação do risco de suicídio. A conduta suicida constitui atalho final comum que brota de muitos tipos de pensamentos, fantasias e impulsos. O entrevistador clínico deve, de forma cautelosa, investigar quão seriamente o paciente tem pensado em suicídio, se já fez projetos, em caso afirmativo, que tipos de projetos, quais os passos em sua realização e sua atirevistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 27 O DEPRIMIDO DIANTE DO ENTREVISTADOR CLÍNICO INICIANTE tude ante a esses sentimentos. Ao mesmo tempo, ele investiga o significado do suicídio para esta pessoa em particular. Quais os resultados inconscientes do ato? (deseja matar você ou seu problema?). O entrevistador clínico principiante, embora temendo ofender o paciente, deve fazer tal investigação, pois demonstrará interesse em seu problema e de fato estará levando-o a sério. Pode ainda diminuir a ansiedade do paciente que teme em levantar esta questão ou se envergonha dela. Princípios do tratamento Mackinnon8 baseia o tratamento do deprimido em dois princípios fundamentais. O primeiro é o alívio do sofrimento e da culpa, o estímulo da esperança e a proteção do paciente contra o dano que causa a si mesmo: em resumo, a terapia de apoio. Para esta fase pode-se usar a psicoterapia, medicamentos ou outras terapias orgânicas. O segundo princípio é o da exploração psicodinâmica do significado e das causas da depressão, com o objetivo de resolver o problema imediato e prevenir sua repetição. Na psicoterapia, o objetivo básico é aliviar a dor e o sofrimento do paciente. Deverá ser estimulado a desenvolver sua motivação e vislumbrar um futuro que não seja deprimido. As decisões importantes devem ser orientadas a ser tomada depois, até que esteja se sentindo melhor. Deve haver preocupação em proteger o paciente contra a autodestruição. O entrevistador deverá identificar estes comportamentos e utilizar sua autoridade para evitar que o paciente cometa dano irreparável contra si próprio. O segundo princípio fundamental, que é a exploração psicodinâmica da depressão, requer um paciente moderadamente deprimido, o que permitirá fazer insights. Já desde os primeiros encontros, o entrevistador pode fazer interpretações com o objetivo de perceber a capacidade para insights. A conduta interpretativa, no entanto, nunca deve ser feita de forma apressada. Entretanto, um paciente que afirma que sua depressão é apenas uma questão médica, pode está negan- 28 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 do os fortes fatores psicológicos envolvidos e orientando-o para a depressão. Está, na realidade, percebendo que é responsável por seus problemas e, por isso, defende-se. Tal comportamento deve ser visto como positivo pelo entrevistador. Quando se fala em exploração psicodinâmica, faz-se naturalmente referência à visão psicanalítica da depressão, que, para Bergeret,9 psicopatólogo-psicanalista francês, o funcionamento mental do caráter depressivo é baseado em ambivalências. Uma alternância de tendências afetuosas e hostis, sem haver predominância de uma ou outra. CONSIDERAÇÕES FINAIS A entrevista feita com o paciente deprimido apresenta desafios ao entrevistador clínico, seja ele iniciante ou experimentado. A singularidade desse transtorno, que vem crescendo rapidamente aliado ao compromisso de utilizar a entrevista como ferramenta valiosa, deve levar a um interesse cada vez maior da compreensão dos vários momentos que podem ser vivenciados pelo entrevistador diante do paciente deprimido. Esta compreensão passa também por uma observação dos métodos utilizados até agora, adequando-os a uma realidade em constante mutação. Seguindo esta linha, observa-se que no atendimento ao paciente deprimido, o entrevistador de início de carreira pode somatizar com muita facilidade, saindo da entrevista tão exausto, ou mais, que o entrevistado. Sua sincera dedicação e escuta clínica tendem, por assim dizer, traí-lo, e o relato do paciente, ou antes mesmo, a sua aparência de desalento e fracasso, pode mobilizá-lo de tal forma que venha sentir-se com um mal-estar geral. Se o impacto não for tão visível assim, o entrevistador pode inclusive perceber-se desanimado, sem, no entanto, relacionar este desânimo ao atendimento de um paciente deprimido. Outro fator importante são os ganhos secundários oriundos de um paciente deprimido. Este ganho pode ser para o paciente ou para a DAVI ARAÚJO DA CUNHA, FABÍOLA GOUDINHO DE LIMA, LESIRMY BINDÁ SADALA, ROSÂNGELA DE LIMA GIL, SUELY DA SILVA MAIA família. Para o paciente porque pode ocorrer, após sua depressão, haver conquistado um tempo maior com alguém que lhe é querido, ele continua então com os sintomas agora apenas com a finalidade de manter esta companhia. Uma família que explore a dependência de um deprimido pode preferir que a depressão perdure. Neste caso, a depressão funciona não mais apenas como um transtorno e sim como resposta a demandas que não puderam ser expressas de outras formas. Um fato que salta aos olhos é que, mesmo com toda a sofisticação da medicina e avanços tecnológicos, acompanhados de muita pesquisa e artigos, não se pode abrir mão de uma presença que ouça e dê cuidados. Embora alguns considerem que a depressão seja um transtorno da escolha,10 ou de uma pessoa que deixou de ser bondosa consigo mesma, ela tem valor e deve ser respeitada enquanto pessoa. No grande labirinto que é o psiquismo humano, não será o avanço científico-tecnológico que substituirá o contato sincero de humano com humano, do que está com dor com aquele que embora não tenha sentido esta mesma dor, compartilha dela, não como profissional, mas como outro ser humano. Um profissional que se debruçou sobre aquela dor para que o outro a sinta menos. Tal responsabilidade, de ser o depositário das dores e sofrimentos dos outros, não requer, também, um preparo adequado e sistemático depois da graduação? Como de fato era na década de 1960?11 Esta é uma reflexão que precisa ser feita. Outro fator a considerar é que toda depressão deve ser acompanhada por um médico e deve ser por ele tratada. A depressão está dentro das grandes síndromes psiquiátricas e o médico deve ser procurado tão logo surja o evento. As psicoterapias, nas suas mais variadas abordagens, contribuem para a diminuição e entendimento dos sintomas depressivos, sendo necessário, em muitos casos, aguardar os efeitos dos medicamentos para se obter resultados no atendimento psicoterápico. Finalmente, espera-se haver proporcionado, aos interessados em conhecer a depressão, um acúmulo de conhecimentos que facilitarão o entrevistador clínico desde a chegada do paciente em seu consultório até o tratamento proposto e posterior prognóstico. A entrevista com o paciente deprimido guarda, assim, momentos que tendem a tornar o desafio clínico de atender pacientes deprimidos com menos obstáculos e manejo mais adequado para as mais variadas situações que se apresentam na prática clínica. Conhecendo as principais características do paciente deprimido e devidamente informado sobre as mais recentes técnicas de entrevista para este atendimento, o profissional terá mais segurança na realização de seu trabalho e produzirá resultados com um índice bem maior de sucesso. REFERÊNCIAS 1. VASCONCELOS F. Os caminhos do tratamento. Rev. Mente & Cérebro, n. 160, 64, 2006. 2. MALDONATO, M. Os aposentos vazios da depressão. Rev. Mente & Cérebro, n. 160, 38, 2006. 3. HOLMES. D. S. Psicologia dos transtornos mentais. Trad. Sandra Costa. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 4. DALGALARRONDO. P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes médicas, 2000. 5. BENJAMIM. A. A entrevista de ajuda. Trad. Urias Correa Arantes. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 6. OTHMER, E.; OTHMER, S. A entrevista clínica utilizando o DSM-IV-TR. Trad. Claudia Dornelles. Porto Alegre: Artmed, 2003. 7. DSM-IV. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad. Sandra Costa. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 8. MACKINNON R. A.; MACKINNON M. R. A entrevista psiquiátrica na prática diária. Trad. Helena Mascarenhas de Souza. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 29 O DEPRIMIDO DIANTE DO ENTREVISTADOR CLÍNICO INICIANTE 9. BERGERET. J. A personalidade normal e patológica. Trad. Maria Elisia Valliatti Flores. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. 10. MACMAHON, S. O terapeuta de bolso. Trad. Cecília Bonamini. São Paulo: Gente, 2005. 11. CODO, W.; LANE. S. Psicologia social: o homem em movimento. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. Agradecimento: José Carlos Pereira Júnior. Correspondência para: Davi Araújo da Cunha. Av. Gov. Danilo Areosa, 139 – Dist. Industrial. CEP: 69075351 – Manaus-AM. E-mail: [email protected] 30 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 ES TUDO SOBRE A A TITUDE DO PR OFISSION AL DE ESTUDO ATITUDE PROFISSION OFISSIONAL A DE VID A SAÚDE C OM REL AÇÃ O À PERSPECTIV COM RELA ÇÃO PERSPECTIVA VIDA ATIV A DE P ACIENTES C OM SEQUEL AS DE TIVA PA COM SEQUELAS TRA UMA TISMO RA QUI-MEDUL AR TRAUMA UMATISMO RAQUI-MEDUL QUI-MEDULAR STUDY ON THE ATTITUDE OF THE PROFESSIONAL OF HEALTH WITH RELATION TO THE PERSPECIVE OF ACTIVE LIFE OF PATIENTS WITH SPINAL CORD INJURY KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES*, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA*, ROSANGELA SANTOS DA SILVA** RESUMO Objetivo: O objetivo desta pesquisa foi investigar as atitudes dos profissionais de saúde em relação à perspectiva de vida ativa e a prática de atividade física por pacientes com traumatismo raqui-medular. Metodologia: Para este estudo, foi elaborada uma escala tipo Likert com 26 questões que foi aplicada a 105 profissionais da área de saúde (assistentes sociais, médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, profissionais de educação física, terapeuta ocupacional, nutricionista) que atuam com pacientes com lesão medular. Na análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico SPSS, que tabulou os dados com referência aos escores classificadores de atitudes favorável, desfavorável e neutro. Os sujeitos da pesquisa foram agrupados em três áreas. Resultados: Os resultados da análise nos levaram a inferir que os profissionais de saúde da área 1 (médicos e enfermeiros) e os da área 3 (serviço social e psicólogos) tiveram atitudes neutras. Os da área 2 (fisioterapeuta, profissional de educação física, terapeuta ocupacional e nutricionista) apresentaram atitudes mais favoráveis. Conclusão: Em função das especificidades das áreas de atuações em relação às atitudes, observaram-se diferenças que podem estar relacionadas ao momento de intervenção de cada profissional. Palavras-chave: Atitude, lesão medular, escala Likert. ABSTRACT Objective: The goal of this research was to investigate professionals’ health attitudes regarding the perspective of active life and the practice of physical activity by patients with spinal cord injury. Methodology: For this study, it was elaborated a scale Likert with 26 questions that were applied to 105 professionals of the health area (Social workers, doctors, male nurses, psychologists, physiotherapists, professionals of physical education, occupational therapist, nutritionist) that work with patients with spinal cord injury. In the analysis of the data it was used the statistical package SPSS which tabulated the data according to the classifying scores of favorable, unfavorable and neutral attitudes. The people of the research were grouped in 3 areas. Results: The results of the analysis carried us out to deduce that the health professionals of the area 1 (doctors and male nurses) and of the Area 3 (social service and psychologists) had neutral attitudes. The ones of the area 2 (physiotherapist, professional of physical education, occupational therapist and nutritionist) demonstrated more favorable attitudes. Conclusion: Because of the specificities of the performances areas in related to the attitudes, it was observed differences that can be related to the work intervention moment of each professional. Keywords: Attitude, Spinal cord injury, Scale Likert. * ** Professora Doutora da Faculdade de Educação Física da Ufam Professora de Educação Física do Programa de Atividades motoras para deficientes – PROAMDE/UFAM revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 31 ESTUDO SOBRE A ATITUDE DO PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR INTRODUÇÃO desfavorabilidade em relação ao que é estudado. Existem vários métodos escalares para medir O presente estudo teve como objetivo atitudes e os mais utilizados foram elaborados por investigar as atitudes dos profissionais de saúde Thurstone, Likert e Guttman. Os métodos em relação à perspectiva de vida ativa de elaborados por Thurstone e Likert são utilizados pacientes com lesão medular. Este trabalho é para elaboração de escalas afetivas e o método fundamentado na teoria de atitudes que indica elaborado por Guttman enquadra-se na medição uma relação interdependente entre a atitude do dos três tipos de variáveis. Existe ainda o método profissional e a do paciente. Os profissionais de elaborado por Bogardus para escalas condutuais saúde que atuam diretamente com o lesado e afetivas.2 Optou-se pela escala do tipo Likert por medular, agora uma pessoa com deficiência, se preocupar em verificar o nível de concordância geralmente são os primeiros indivíduos com quem do sujeito com uma série de afirmações que este recém-deficiente tem contato. Isto implica na expressam algo favorável ou desfavorável em probabilidade de que as atitudes desses profissio- relação ao objeto de estudo. As afirmações são nais, em relação à perspectiva de vida ativa dessa respondidas numa escala de cinco pontos em pessoa, incorram na determinação do espaço de função de este método determinar diretamente a tempo que o paciente levará para conhecer e existência de uma ou mais atitudes no grupo de explorar as suas potencialidades. Para alcançar itens, pois o uso de uma escala de 5 (cinco) pontos o objetivo deste estudo, foram investigadas as proporciona maior informação que uma escala atitudes dos profissionais de saúde (assistentes dicotômica «concordo ou discordo». Na escala do sociais, médicos, enfermeiros, psicólogos, tipo Likert, os sujeitos marcam cada item em uma fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas das categorias: concordo plenamente, concordo, ocupacionais, profissional de educação física e não tenho opinião, discordo e discordo acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas) plenamente.3 Na escala Likert, o número inicial em relação à perspectiva de vida ativa de de itens é de 30 a 50 e a forma final contém de 20 pacientes com seqüelas de lesão medular, além a 30 afirmativas enquanto que as escalas de elaborada uma escala de atitudes do tipo Likert elaboradas na técnica Guttman e Thurstone, 4 a utilizando os dados obtidos na primeira etapa 10 e 100 ou mais, respectivamente. Resumida- deste estudo onde foram obsevadas as crenças mente: as vantagens da utilização da escala Likert desses profissionais em relação ao lesado medular. sobre as outras escalas com mais itens são as 1 seguintes: maior facilidade na construção da METODOLOGIA escala. Likert elimina o emprego dos juízes que é um meio sumamente custoso. A escala apresenta as cinco possíveis respostas para cada item da escala. variáveis das atitudes podem ser cognitivas, A escala Likert com menos itens consegue a condutuais e afetivas. As escalas cognitivas se mesma precisão do que as outras escalas com mais referem à informação ou conhecimento que uma itens. Dentro de uma perspectiva psicométrica, pessoa possui em relação ao fenômeno atitudinal algumas etapas precisam ser seguidas para estudado. As escalas condutuais referenciam os elaboração de um instrumento escalar: Escolha do atos voluntários de se realizar uma ação que objeto/sujeitos – atitudes dos profissionais de saúde envolve o objeto atitudinal. As escalas afetivas são que atuam com pacientes com seqüelas de escalas construídas para medir o sentimento das traumatismo raqui-medular. A amostra esteve pessoas associado a um objeto atitudinal de constituída de 105 sujeitos sendo profissionais das acordo com o grau de favorabilidade ou seguintes áreas: medicina-neurocirurgia, serviço De acordo com Harry Upshaw, 32 2 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA SANTOS DA SILVA social, enfermagem, fisioterapia, terapia feita da seguinte forma: 1) consideraram-se os 25% ocupacional, educação física, nutrição, psicologia dos questionários com notas mais altas (grupo e acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas. superior mais favorável) e os 25% com notas mais Elaboração das afirmativas: por meio das crenças baixas (grupo inferior que mais desfavorável), ou pesquisadas anteriormente foram elaboradas 47 seja, as oito maiores notas e as oito menores notas afirmativas que compuseram o questionário piloto num grupo de 30 sujeitos. 2) calcularam-se as da pesquisa, após a verificação da consistência diferenças entre médias para todas as notas por interna pelo teste t de Student foram estabeleci- meio do teste t de Student e toda vez que t foi das quais afirmativas permaneceriam na escala superior a 1,75 a frase foi aceita ao nível de final (com t superior a 1,75). A construção das significância de 0,05. Selecionamos 30 afirmativas afirmativas obedeceu aos grupos de crenças: 1 – que compuseram a forma final da escala entre os potencialidades e ação multidisciplinar; 2 – ex- maiores valores de t, procurando balancear ploração de capacidades; 3 – suporte emocional afirmativas favoráveis e afirmativas desfa- e familiar; 4 – acessibilidade como fator voráveis. Após essas etapas, a escala final foi imprescindível; 5 – cuidados hospitalares; 6 – aplicada aos sujeitos os quais a escala foi indiferença ao gênero; 7 – transferência da res- construída. ponsabilidade ao outro profissional; 8 – atividade RESULTADOS física e social restrita; 9 – preconceitos e incapacidades; 10 – impotência; 11 – necessidade de suporte financeiro; 12 – sempre dependentes; A amostra foi constituída por 105 profis- 13 – ao lesado medular: o ônus. A disposição na sionais e acadêmicos do último ano de graduação escala foi feita de forma aleatória, buscando não do Ensino Superior de cursos da área de saúde. agrupá-las. Para satisfazer as diretrizes para Dividimos em subcategorias com as seguintes ca- construção dessa escala foram levados em racterísticas etárias: até 25 anos, 44%; de 26 a 35 consideração os seguintes aspectos: a) as anos, 30%; acima de 35 anos, 26%. Quanto ao afirmativas não deviam conter respostas gênero: 24%, masculino e 76%, feminino. Não ambíguas; b) utilização de uma linguagem houve correlação entre os aspectos citados acima compreensível e utilização de frases envolvendo e o escore dos respondentes. uma única idéia; c) as frases deveriam ser curtas A variável formação acadêmica deu evitando-se afirmações radicais ou irrelevantes; origem a três categorias, conforme mostra a Fi- d) as afirmativas foram dispostas aleatoriamente gura 1, pós-graduados, 25%; residência médica na apresentação da escala. Aplicação experimental: completa ou incompleta e graduação completa, o instrumento piloto (escala) contendo 47 20%; acadêmicos finalistas, 55%. afirmativas foi aplicado em 30 sujeitos com as Nível de Formação mesmas características para os quais foi construída, ou seja, medicina-neurocirurgia, serviço social, enfermagem, fisioterapia, terapia 60% 50% ocupacional, educação física, nutrição, psicologia 40% e acadêmicos finalistas de cada uma dessas áreas. 30% Elaboração da escala: Após a aplicação do 20% questionário piloto com as 47 afirmativas, 10% passamos para a elaboração da escala final. A 0 seleção das afirmativas na técnica de Likert foi Figura 1 – Percentual de respondentes por formação acadêmica revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 33 ESTUDO SOBRE A ATITUDE DO PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR Tempo de serviço em anos Os profissionais participantes eram das áreas de medicina, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, educação física, nutrição, psicologia e serviço social. Após inspeção da distribuição da amostra, decidiu-se pela criação de novas subcategorias cuja classificação esteve exclusivamente baseada na diferença do tipo e do momento de atuação profissional e nas ca- 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0 racterísticas das áreas de formação. Área 1, composta por profissionais cujo tipo e o momento graduando 1 a 10 acima de 11 Figura 3 – Percentual de respondentes por tempo de serviço de atendimento estão enfatizados pela situação de urgência e incluem os médicos e os enfermeiros; área 2, composta por profissionais cujo tipo e o Os escores de atitudes momento de atendimento estão principalmente associados à situação de manutenção do potencial funcional do paciente: fisioterapia, nutrição, educação física, terapia ocupacional fizeram parte deste grupo; área 3, composta por profissionais cuja atuação é principalmente caracterizada pelas ações de suporte ao paciente que vai além do âmbito hospitalar, atingindo também a família: psicologia e serviço social. O resultado para distribuição destas novas categorias está mostrado na Figura 2: área 1,27%; área 2,28% e área 3,45%. A análise dos dados foi realizada a partir do estabelecimento de escores que teoricamente poderiam ser considerados como classificadores de atitudes como favorável, desfavorável e neutras. Os intervalos, para os escores de atitudes, ficaram assim distribuídos: de 26 a 47 pontos, atitudes desfavoráveis; de 48 a 69 pontos, atitude parcialmente desfavorável; de 70 a 90, escore neutro; de 91 a 111, escore de atitude parcialmente favorável, e de 112 a 130 escores de atitude totalmente favorável. O escore geral Área da saúde 50% A média dos escores para toda amostra de 92,4 ( 10,4). A distribuição foi normal, mas com tendência da curva de distribuição para atitude neutra. (Figura 4). O escore mínimo foi de 72 pontos e o máximo de 126 pontos. 45% + 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 0 área 1 área 2 área 3 Figura 2 – Percentual de respondentes por área Freqüência 5% Os dados tempos de serviço dos sujeitos e a distribuição por percentil deram origem a seguinte classificação (Figura 3): acadêmicos Std. Dev = 10,44 Mean = 92 N = 105,00 finalistas, 54%; entre um a dez anos de atuação, 26%; acima de 11 anos, 20%. Não houve Escore nenhuma correlação destes dados com o resultado dos escores dos respondentes. 34 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 Figura 4 – Distribuição dos escores KATHYA AUGUSTA THOMÉ LOPES, MARGARETH VASCONCELOS MONTEIRO E LIMA, ROSANGELA SANTOS DA SILVA Área 3 A média dos escores para área 1 foi de 89,1 ( 7,4). O escore mínimo foi de 76 pontos e o máximo de 108 pontos. O gráfico de distribuição mostra uma tendência para escores de atitude neutra. + Freqüência Os escores por área Std. Dev = 9,05 Mean = 90,8 N = 47,00 Freqüência Área 1 Escore Figura 7 – Distribuição dos escores DISCUSSÃO Std. Dev = 7,47 Mean = 89,1 N = 28,00 Escore Figura 5 – Distribuição dos escores A classificação dos escores foi distribuída a partir da somatória de todas as alternativas para cada resposta e a média dos escores para a área 2 foi 98,3 (+ 12,5). O escore mínimo foi de 78 e o máximo de 126. A tendência da curva de distribuição dos escores foi maior para o lado dos escores de atitudes parcialmente favoráveis (Figura 6). Freqüência Área 2 Std. Dev = 12,56 Mean = 98,3 N = 30,00 Escore Figura 6 – Distribuição dos escores A Área 3 apresentou média dos escores de 97 (+ 9,04). O escore mínimo de 72 pontos e o máximo de 111 pontos com tendência para escore de atitude parcialmente favorável (Figura 7). A área de atuação e o nível de formação acadêmica são fatores importantes para a formação de atitudes,4 seria esperado que profissionais com formação acadêmica mais alta apresentassem atitudes mais favoráveis. No entanto, de acordo com os resultados obtidos, podemos afirmar que não houve correlação entre as variáveis, formação acadêmica, idade e gênero com as atitudes dos profissionais. Outro fator importante a ser considerado é o tempo de atuação. Se for correto esperar que profissionais com mais tempo de serviço tenham atitudes mais favoráveis, então esperaria que os escores das áreas que apresentam profissionais com maior tempo de atuação fossem mais favoráveis. Ao contrário, a área que teve menos profissionais com tempo de atuação maior que 11 anos (área 2) obteve escore mais alto, revelando atitudes mais favoráveis. De acordo com os resultados do escore geral de profissionais, podemos inferir que as atitudes dos profissionais de saúde com relação à perspectiva de vida ativa de pacientes com lesão medular, é neutra, o que implica também numa ação neutra com relação a estes pacientes; no entanto, a atitude neutra é melhor do que se apresentassem atitudes desfavoráveis, pois, segundo5 atitudes negativas de profissionais que atuam com pessoas com deficiência ou doença crônica, contribuem para um tratamento cuja qualidade tende a ser inferior quando comparada revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 35 ESTUDO SOBRE A ATITUDE DO PROFISSIONAL DE SAÚDE COM RELAÇÃO À PERSPECTIVA DE VIDA ATIVA DE PACIENTES COM SEQUELAS DE TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR à qualidade do tratamento por profissionais com atitude neutra ou positiva. Partindo então para especificidade das subcategorias de áreas de atuação em relação às atitudes, observou-se diferenças significativas que podem estar relacionadas ao momento de intervenção. 6 A área 1, composta por médicos e enfermeiros, apresentou escores configurando atitudes neutras com relação à perspectiva de vida ativa do paciente com lesão medular. Podemos inferir que, como o momento de atuação é o de urgência, a preocupação desses profissionais está voltada para a condição de sobrevivência, não restando talvez uma disposição para se pensa em possibilidades futuras, o importante é garantir a vida deste paciente. A área 2, compostas por profissionais de educação física, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e nutricionista, apresentou escore de atitudes favoráveis, pois atuam no momento em que o paciente já está estabilizado, e como as linhas de atuação nestas profissões se direcionam para o desenvolvimento das potencialidades motoras do indivíduo, é provável então que o seu olhar seja, portanto, na busca da reabilitação e habilitação de potencial remanescente. A área 3, composta por profissionais de serviço social e psicologia, apresenta escore de atitude parcialmente favorável, e isto pode está relacionado a não oportunização na prática profissional, do conhecimento do potencial motor que o lesado medular pode possuir mesmo com a lesão, atuando apenas nos aspectos legais, assistenciais e emocionais deles. CONCLUSÃO Ao propor este trabalho, tinha-se a convicção de que as atitudes dos profissionais de saúde, em relação ao paciente com lesão medular sob os seus cuidados, influenciariam na perspectiva de vida dessas pessoas, agora deficientes. Os resultados indicaram uma atitude favorável dos profissionais como um todo, mas com diferença entre algumas áreas específicas de 36 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 atuação. Isto pode ser explicado pela diferença no tipo de formação acadêmica, ou na especificidade da atuação. Acredita-se que as atitudes favoráveis podem proporcionar às pessoas com seqüelas de lesão medular possibilidades de descobrir suas potencialidades o mais breve possível. Evitando os comprometimentos secundários, e não inerentes à lesão medular, seu restabelecimento é otimizado e possibilita maiores oportunidades de readaptação. Na verdade, acredita-se que é necessário este compromisso dos profissionais de saúde, da família e do Estado para que a deficiência possa ser encarada de maneira positiva e que seja proporcionada ao lesado medular uma qualidade de vida ativa. Estudos como este podem subsidiar programas de humanização do atendimento, especialmente de pacientes cuja patologia o transforma em pessoa com deficiência. REFERÊNCIAS 1. FISHBEIN, M.; AJZEN, L. Attitude-behavior relations: A theoretical analysis and review of empirical research. Psychological Bulletin, v. 84, p. 888-918. 1977. 2. WANDERLEY, J. C. V. Medição de Atitudes nas Ciências da Conduta. 2. ed. João Pessoa, 1981. 3. PASQUALI, L. Instrumentos Psicológicos: Manual Prático de Elaboração. Brasília, 1999, p. 56-120. 4. MARTINS, A. E. O. Atitudes frente ao doente mental: Influência do tipo e do nível de treinamento universitário. Psc. Teor. e Pesq., Brasília, v. 3, n. 2, p. 92-103, 1987. 5. WOLFF, M. S. et al. Blood levels of organochlorine residues and risk of breast cancer. Journal of the National Cancer Institute, 1993. 6. FIGUEIREDO, M. A de C; FIORINI, L. N. Atitudes Frente à Aids e Lócus de Controle: Um Estudo com Estudantes e Profissionais de Enfermagem. Medicina, Ribeirão Preto, 29, p. 301308, abr./set., 1996. TREIN AMENT O MUSCUL AR INSPIRA TÓRIA EM TREINAMENT AMENTO MUSCULAR INSPIRAT TR UTIV A PACIENTES C OM DOEN ÇA PULMON AR OBS COM DOENÇ PULMONAR OBSTR TRUTIV UTIVA * CRÔNICA INSPIRATORY MUSCLE TRAINING IN PATIENTS WITH COPD MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO**, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO***, CIBELE TAVARES SOUZA*** RESUMO: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada por uma limitação progressiva ao fluxo aéreo, que não é completamente reversível e resulta na perda da função pulmonar. Indivíduos com DPOC apresentam disfunção muscular inspiratória em conseqüência de uma combinação de efeitos, gerando um decréscimo na força e endurance muscular inspiratória, o que, funcionalmente, apresenta-se como dispnéia e diminuição da tolerância aos exercícios. Apesar do treinamento muscular inspiratório (TMI) não ser um componente essencial na reabilitação, estudos bem desenhados metodologicamente, investigando o uso de tal treinamento na redução da dispnéia e melhora na capacidade de exercícios em indivíduos com DPOC, são promissores, mas não conclusivos, havendo a necessidade de mais pesquisas sobre uma estratégia ótima de treinamento, que possibilite a execução de um tratamento eficaz, baseado em evidências. O objetivo deste trabalho foi descrever os mecanismos e as repercussões da disfunção muscular inspiratória em pacientes portadores de DPOC e revisar estudos que investigaram os efeitos do TMI nesses pacientes, de modo a prover uma atualização sobre a eficácia desse treinamento sobre a musculatura inspiratória, dispnéia, capacidade de exercícios e qualidade de vida. Palavras-chave: Doença pulmonar obstrutiva crônica, treinamento muscular inspiratório, dispnéia, capacidade de exercícios, qualidade de vida. ABSTRACT: The Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is characterized by the progressive development of airflow limitation that is not completely reversible and it results in a loss of the lung function. Individuals with COPD show inspiratory muscular dysfunction due to a combination of effects, resulting in decreasing inspiratory muscle strength and in the endurance, what functionally presents as dyspnea and decreasing of exercise tolerance. Although the inspiratory muscular training (IMT) is not an essential component in the rehabilitation, results of randomized controlled trials, that investigate the use of IMT in the reduction of dyspnea and an improving in the exercise capacity in individuals with COPD, are promising, but not conclusive and further researches are required to identify an optimal strategy of training that makes possible the execution of an efficacious evidence-based treatment. The objective of this study was to describe the mechanisms and effects of inspiratory muscular dysfunction in patients with COPD and to review articles that investigated the benefits of IMT in these patients in order to provide an update about the efficacy of such training on inspiratory muscles, dyspnea, exercise capacity and quality of life. Keywords: Chronic obstructive pulmonary disease, inspiratory muscle training, dyspnea, exercise capacity, quality of life. INTRODUÇÃO A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma enfermidade respiratória prevenível e tratável, caracterizada pela limitação ou pela obstrução crônica ao fluxo aéreo, que não é completamente reversível, sendo geralmente progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos, causada principalmente pelo tabagismo.1, 2 Pacientes com DPOC apresentam diversos níveis de dispnéia e deterioração da capacidade de exercícios em associação com a debilidade das Trabalho realizado no Curso de Especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória da Universidade Presidente Antônio Carlos – Unipac/Educare: Centro de Educação Continuada – Belo Horizonte-MG ** Supervisor de Estágio em Fisioterapia Respiratória da Universidade Paulista – Unip – Manaus-AM, realizado no Hospital Universitário Getúlio Vargas – HUGV. *** Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória * revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 37 TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA funções pulmonar e cardiovascular. Sendo assim, o programa de reabilitação pulmonar (PRP) tem sido requisitado como método adicional à terapia convencional, uma vez que é capaz de reduzir os sintomas, melhorar a qualidade de vida e aperfeiçoar a participação física e emocional em atividades cotidianas desses pacientes.2,3 Segundo a Global Iniciative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD),2 o PRP consiste de três componentes: educação, acompanhamento nutricional e treinamento de exercícios com ênfase nos membros inferiores, mostrando evidência «A» para benefícios como redução na sensação de dispnéia e melhora na capacidade de exercícios, com conseqüente melhora na qualidade de vida. Apesar do Treinamento Muscular Respiratório (TMR) não ser um componente terapêutico essencial no PRP, cuja evidência «B» não apóia o seu uso rotineiro,2 sua recomendação baseia-se no fato de que, melhorando a força e/ou endurance da musculatura inspiratória, seja possível reduzir a dispnéia e melhorar a capacidade de exercícios.1 A primeira meta-análise envolvendo o Treinamento Muscular Inspiratório (TMI)4 concluiu que havia pouca evidência apoiando o seu uso em pacientes com DPOC. Contudo, algumas críticas5 lhe foram feitas e o próprio autor recomendou mais estudos. Posteriormente, uma segunda meta-análise foi publicada,6 apoiando a adição do TMI no PRP, apesar de não ter deixado claro os modos e a intensidade de treinamento aplicados. Recentemente, uma revisão sistemática5 mostrou que o tipo de treinamento, a freqüência, a duração e a intensidade dos exercícios devem ser considerados e que o TMI melhora a força e endurance muscular inspiratória, reduzindo a dispnéia em adultos com DPOC estável. Metodologicamente, este estudo trata de uma revisão bibliográfica de trabalhos científicos que analisaram as repercussões do TMI em pacientes com DPOC. A identificação dos artigos foi feita por meio da busca bibliográfica nas Bases de Dados MEDLINE e LILACS, referentes aos anos 38 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 de 1976 a 2006 e envolveu combinações entre as palavras: Chronic obstructive pulmonary disease, inspiratory muscle training, dyspnea, exercise capacity, quality of life. Foram considerados critérios de inclusão, estudos experimentais e de observação analíticos, publicados em português ou inglês, abordando as alterações e adaptações dos músculos inspiratórios em indivíduos portadores de DPOC, bem como o TMI e suas repercussões nessa população. O objetivo deste trabalho foi descrever os mecanismos e as repercussões da disfunção muscular inspiratória em pacientes portadores de DPOC e revisar estudos que investigaram os efeitos do TMI nesses pacientes, de modo a prover uma atualização sobre a repercussão desse treinamento sobre a musculatura inspiratória, dispnéia, capacidade de exercícios e qualidade de vida. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Disfunção Muscular Inspiratória na DPOC A obstrução crônica ao fluxo aéreo (gerada pelo broncoespasmo e destruição alveolar, inflamação e presença de muco nas vias aéreas7) associada à reduzida complacência dinâmica pulmonar, faz com que os músculos inspiratórios trabalhem cronicamente contra cargas mecânicas aumentadas – fato que requer maior geração de força por parte desses músculos para deslocar o ar,8 porém com capacidade reduzida em função da desvantagem mecânica pelo encurtamento das fibras diafragmáticas produzido pela hiperinsuflação. Considerada uma das mais importantes anormalidades da mecânica respiratória nestes pacientes, a hiperinsuflação dinâmica (aumento dinâmico no volume pulmonar expiratório pela perda de recolhimento elástico e estreitamento das pequenas vias aéreas, resultando na sua compressão e conseqüente aprisionamento de ar durante a expiração) piora a capacidade dos músculos inspiratórios de gerar pressão, sendo que há evi- MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA dência indicando que o diafragma é o músculo mais afetado da caixa torácica,8 pela piora na relação comprimento-tensão, diminuição na zona de aposição (constituindo apenas 40% da área total do diafragma em pacientes com DPOC) e diminuição da sua curvatura (Equação de Laplace).8,9 Outros fatores como: aumento no consumo de oxigênio pelos músculos respiratórios, perda de massa muscular, fadiga muscular respiratória, fatores morfológicos e bioquímicos, uso de esteróides e anormalidades na troca gasosa são condições que reduzem a eficiência e a força muscular inspiratória contribuindo para a dispnéia e limitação ao exercício.9 Suporte Teórico para o Uso do Treinamento Muscular Inspiratório na DPOC Uma queixa comum dos pacientes com DPOC é a limitação à atividade física gerada pela dispnéia,2 definida como uma sensação subjetiva de desconforto respiratório, que varia em intensidade, cuja origem é determinada por uma integração complexa de múltiplos sinais aferentes e eferentes,10 refletindo um desequilíbrio entre a capacidade e a demanda ventilatória. Essa dissociação neuromecânica pode explicar a contribuição da disfunção muscular respiratória na gênese da dispnéia, que aumenta quando o feedback aferente relatando mudanças na pressão intra-torácica, comprimento muscular respiratório e movimento da parede torácica é interpretado como insuficiente para o correspondente comando motor.11 A diminuição de atividades como uma estratégia de limitar a experiência de dispnéia, resultante primariamente da disfunção respiratória, leva a um estilo de vida sedentário,9,11 com conseqüente descondicionamento dos músculos da deambulação, piorando a sensação de dispnéia, até que esta se torne um sintoma de incapacidade dos pacientes com DPOC durante as atividades de vida diária.11 Baseando-se nisto é que o TMR tem ganhado relevância, pois, uma vez que o desequilíbrio entre a capacidade e a demanda ventilatória é reduzido, uma melhora na eficiência dos músculos respiratórios produziria uma diminuição na dispnéia melhorando a capacidade de exercícios.11 Treinamento Muscular Inspiratório O conceito de treinar especificamente os músculos respiratórios veio a se desenvolver a partir de 1976, quando Leith e Bradley12 mostraram aumento na força e endurance desses músculos após o TMI em indivíduos saudáveis. Desde então, um número substancial de estudos envolvendo os efeitos de tal treinamento em várias desordens, incluindo a DPOC, tem sido publicado. De acordo com Reid e Samrai,13 os princípios gerais do treinamento, a saber: especificidade, sobrecarga e reversibilidade são os mesmos adotados para a musculatura esquelética e os músculos da respiração podem ser treinados quanto à força, endurance ou ambas. Baseados nesses princípios, os programas de treinamento são designados para melhorar a função muscular. Tipos de Treinamento Muscular Inspiratório Treinamento com Cargas de Baixa Pressão e Alto Fluxo Hiperventilação ou Hiperpnéia Normocápnica ou Isocápnica: Esta modalidade de TMR é realizada por meio de altos níveis de ventilação voluntária, sem a adição de carga externa,14 cuja intensidade do treinamento é marcada com uma porcentagem da Ventilação Voluntária Máxima,5 por um período de 15 minutos.13 O equipamento é constituído por uma escala visual (para que o paciente realize um nível adequado de ventilação) e o uso de um sistema de reinalação a fim de manter constante o nível de dióxido de carbono durante a hiperventilação. 13,15 Em razão desse complexo e custoso equipamento, o uso deste treinamento tem sido reservado para estudos laboratoriais, com poucos trabalhos relatando sua utilização na prática clínica.5,15 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 39 TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA Treinamento com Cargas de Alta Pressão e Baixo Fluxo Cargas Resistidas (alineares): O TMI com cargas resistidas é realizado por intermédio de um aparelho constituído de um bocal, anexado a uma peça T conectada a uma válvula unidirecional de um lado e a um sistema de resistência inspiratória alinear do outro, dada por meio da variação de orifícios de diferentes diâmetros.13 Uma desvantagem deste método é a interdependência ao fluxo, pois os indivíduos freqüentemente alteram a respiração, realizando inspirações mais lentas e profundas, a fim de tolerar mais facilmente a resistência inspiratória, reduzindo a carga para um nível abaixo daquele necessário para induzir o treinamento14 e, dessa forma, gerando resultados insatisfatórios,16,17 questionando, assim, os seus benefícios.13 Para minimizar este efeito, o padrão respiratório dos indivíduos tem sido controlado por uma escala ou marcador visual (um sistema de feedback para indicar a magnitude da pressão gerada).5,18 Portanto, o treinamento com cargas resistidas é classificado como: sem carga-alvo ou com carga-alvo e este último tem consistentemente mostrado melhores resultados.18 Geralmente, os programas de TMI usando cargas resistidas são compostos por repetidos esforços inspiratórios submáximos, com sessões de 15-30 minutos, 1-4 vezes ao dia, sete dias por semana, durante 6 a 8 semanas, com a intensidade de 30-70% da Pressão Inspiratória Máxima (Pi max). 18 Cargas Limites (lineares): O TMI com cargas limites, atualmente, é o tipo de escolha mais popular para se treinar os músculos inspiratórios.11 Isto é explicado pela vantagem da resistência imposta pelo aparelho ser independente do fluxo do indivíduo.19 O treinador consiste de um bocal conectado a uma válvula unidirecional que, por sua vez, é acoplada a um sistema de resistência dado por uma mola (springloaded) calibrada em cmH2O, que impõe uma carga de treinamento predeterminada constante.5,13 Durante o treinamento, inicialmente os múscu- 40 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 los inspiratórios realizam uma contração isométrica até que a válvula se abra, permitindo, assim, o fluxo inspiratório, e, a partir daí, a contração se torna isotônica.11 Em geral, os programas de treinamento usando cargas limites têm aplicado estratégias similares àquelas descritas usando cargas resistidas.20,21 Repercussões do TMI sobre a Musculatura Inspiratória do Portador de DPOC A atividade contrátil é um dos mais eficazes estímulos que modificam o tipo e o tamanho da fibra muscular e, apoiando-se nisto, os treinamentos de endurance (longas sessões de contrações submáximas) e de resistência (curtas sessões de contrações máximas) podem promover adaptações na musculatura esquelética.22 Um aumento na velocidade de encurtamento pode ser induzido por um treinamento moderado22 e, associadas à melhora na força e endurance dos músculos inspiratórios, mudanças morfológicas (aumento na proporção de fibras tipo I e aumento no tamanho das fibras tipo II) foram recentemente relatadas em pacientes com DPOC após um programa de TMI.23 O treinamento de resistência é capaz de causar significante aumento na força e na massa muscular, enquanto que o treinamento de endurance melhora a atividade das enzimas aeróbicas.13 Estudos bem desenhados metodologicamente, empregando protocolos de repetidos esforços submáximos impostos por cargas externas, relatam ganho na força ou endurance dos músculos inspiratórios, quando comparados com os valores iniciais dos grupos experimental e controle. 21,23,24,25,26 Quantificação das Cargas de Treinamento Muito tem se debatido sobre quantificação das cargas de treinamento. Atualmente sabe-se que cargas prescritas com 22% da Pimax são capazes de melhorar apenas a endurance muscular respiratória 27 e parece que um mínimo de carga MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA marcada em 30% da Pimax é necessário para que um aumento da força muscular inspiratória seja atingido.20 Vários trabalhos têm empregado os protocolos de treinamento contínuo (sem intervalo de repouso), com cargas prescritas em 3050% da Pimax,21, 23, 24, 26 enquanto outros relatam o uso de cargas de treinamento marcadas em 7080% da Pimax.18 Estudos mais recentes mostram uma tendência dos protocolos de TMI com cargas elevadas, baseados nos princípios fisiológicos de que a magnitude da resposta do treinamento é proporcional à duração e à intensidade do estímulo aplicado28 e que a força muscular tem uma importante influência sobre a endurance.14 Contudo, pela dificuldade de se manter altas cargas por períodos prolongados, em função do acúmulo de lactato e resultante fadiga, as cargas aplicadas na maioria dos treinamentos contínuos têm sido baixas, variando de 15-50% da Pimax.21,23,24,26 Um recente estudo, porém, aplicando um protocolo de treinamento intervalado (com períodos de descanso), permitiu a utilização de alta carga (95% da Pi max ), explicada pelo reabastecimento de fosfocreatina, diminuindo a velocidade de acúmulo de lactato e resultante decréscimo na fadiga muscular, induzindo, assim, ganhos máximos na função muscular inspiratória.28 DPOC. Recentemente, uma revisão sistemática Efeitos do Treinamento Muscular Inspiratório na Dispnéia, Capacidade de Exercícios e Qualidade de Vida do Portador de DPOC a dispnéia e a capacidade de exercícios em paci- Não há mais dúvidas de que o TMI bem prescrito em pacientes com DPOC é capaz de aumentar a força e endurance dessa musculatura. 5,6 A questão é se tal aumento repercute de maneira positiva na sensação de dispnéia, capacidade de exercícios e qualidade de vida desses pacientes. Em sua meta-análise, Lötters et al.6 concluíram que o TMI sozinho ou associado a exercícios gerais de recondicionamento é capaz de reduzir a dispnéia, e que há uma tendência a melhorar a capacidade de exercícios em pacientes com mento durante os exercícios, cujas freqüência, publicada por Geddes et al.5 indicou resultados satisfatórios com o uso do TMI com carga-limite ou resistido com carga-alvo, sobre a dispnéia e a capacidade de exercícios, concluindo sua eficácia em pacientes com DPOC. Estudos bem desenhados metodologicamente vão ao encontro das conclusões observadas por Lötters et al.6 e Geddes et al.,5 mostrando a eficácia do TMI na redução da dispnéia 23,26,29 e melhora na capacidade de exercícios em pacientes com DPOC.20,23,24,26,27,29 Com relação à avaliação da qualidade de vida nos pacientes com DPOC, após o programa de TMI, Geddes et al. 5 indicarem evidência inconclusa a respeito desta variável, uma vez que não foi possível realizar uma meta-análise, pois os únicos dois estudos que apresentavam critérios metodológicos satisfatórios usaram diferentes tipos de questionários, com um trabalho mostrando mudança significativa na sua pontuação, a favor do TMI,26 e o outro não apresentando nenhuma alteração. 20 Tendências Atuais dos Protocolos de Treinamento Muscular Inspiratório O modo de TMI é importante para melhorar a força e endurance dos músculos inspiratórios, entes com DPOC. O uso de treinadores que oferecem cargas-limite ou resistidas-alvo assegura a ativação e manutenção da intensidade do treinaduração e supervisão devem ser consideradas.5 Os estudos disponíveis sugerem uma freqüência de treinamento de 1-2 vezes ao dia, com uma duração de 20-30 minutos e o número de sessões variando de 5-7 dias por semana.20,21,23,24,26,29 A tendência tem sido a utilização de cargas elevadas, maiores que 50% da Pimax21,30,31,33 e incrementais,27,28,29 por intermédio de treinamento intervalado,27,28 sugerindo que os protocolos de TMI que induzem maiores benefícios na força muscular podem resultar em grandes reduções na revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 41 TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA dispnéia, porém esta relação requer mais estudos. 11 mas em que os resultados mostrem relevância na prática clínica. Obedecendo ao princípio da reversibilidade, o treinamento deve ser mantido, uma vez que REFERÊNCIAS os benefícios adquiridos podem declinar-se gradualmente,29 o que sugere que o TMI deva se tornar parte da rotina individual do programa de exercícios e, ao prescrevê-lo para pacientes com DPOC, o fisioterapeuta considere as comorbidades, motivação, nível de dispnéia e severidade da doença.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Há boas razões teóricas para pensar que os indivíduos com DPOC podem desenvolver disfunção muscular respiratória, contribuindo, desse modo, para a dispnéia e limitação ao exercício. Desde que se comprovou que o TMI é capaz de gerar aumentos significativos na força e endurance desses músculos, tal treinamento tem sido alvo de inúmeras pesquisas e os resultados de estudos bem desenhados metodologicamente, investigando a eficácia do TMI na redução da dispnéia e melhora na capacidade de exercícios em pacientes com DPOC são promissores, mas não conclusivos. Atualmente, o TMI não é considerado um componente essencial do PRP e isto tem sido justificado, em parte, por treinamentos inadequados e estudos mal conduzidos, refletindo resultados insatisfatórios que explicam tal consideração. Além das diferenças nas estratégias de treinamento e qualidade metodológica, as características dos pacientes, tais como grau de hiperinsuflação, severidade da doença e fraqueza muscular respiratória podem também influenciar a eficácia do TMI. Verifica-se, portanto, a necessidade de mais estudos bem conduzidos e de um consenso sobre uma estratégia ótima de treinamento, que possibilitem a execução de um tratamento eficaz, baseado em evidências, cujas prescrição, intensidade e duração tenham fundamento em progra- 42 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 1 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. II Consenso Brasileiro sobre Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. J. Pneumol, 2004; 30: Suppl 5, p. 1-52. 2 – PAUWELS, R. A; BUIST, A. S; CALVERLEY, P. M. A; JENKINS, C. R; HURD, S. S. Global Strategy for Diagnosis, Management and Prevention of Chronic Obstructive Lung Disease: NHLBI/WHO Global Iniciative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) Workshop Summary. Am. J. Respir. Crit. Care Med., 2001, 163: 1.256-76. 3 – American Thoracic Society. ATS statement: pulmonary rehabilitation-1999. Am. J. Respir. Crit. Care Med., 1999; 159: 1.666-82. 4 – SMITH, K; COOK, D; GUYATT, G. H; MADHAVAN, J; OXMAN, A. D. Respiratory muscle training in chronic airflow limitation: a meta-analysis. Am. Rev. Trespir. Dis., 1992; 145: 533-9. 5 – GEDDES, E. L; REID, W. D; CROWE, J; BRIEN, K. O; BROOKS, D. Inspiratory muscle training in adults with chronic obstructive pulmonary disease: A systematic review. Respir. Med., 2005; 99: 1.440-1.458. 6 – LÖTTERS, F; VAN TOL, B; KWAKKEL, G; GOSSELINK, R. Effects of controlled inspiratory muscle training in patients with COPD: a metaanalysis. Eur. Respir. J., 2002; 20: 570-6. 7 – REID, W. D; DECHMAN, G. Considerations When Testing and Training the Respiratory Muscles. Phys. Ther., 1995; 75: 971-82. 8 – De Troyer A. Effect of hyperinflation on the diaphragm. Eur. Respire. J., 1997; 10: 708-13. 9 – LACHI, F; TOBIN, M. J. Disorders of the Respiratory Muscles. Am. J. Respir. Crit. Care Med., 2003; 168: 10-48. MARCOS GIOVANNI SANTOS CARVALHO, CARLOS FREDERICO COELHO SAMPAIO, CIBELE TAVARES SOUZA 10 – American Thoracic Society: Dispnea mechanisms, assessment, and management: a consensus statement. Am. J. Respir. Crit. Care Med., 1999; 321-40. 20 – LARSEN, J. L; KIM, M. J; SHARP, J. T; LARSON, D. A. Inspiratory muscle training with 11 – HILL, K; JENKINS, S. C; HILLMAN, D. R; EASTWOOD, P. R. Dyspnoea in COPD: Can inspiratory muscle training help?. Aust. H. Physiother., 2004; 50: 169-80. Rev. Respir. Dis., 1988; 138: 689-96. 12 – LEITH, D. E; BRADLEY, M. E. Ventilatory muscle strength and endurance training. J. Appl. Physiol., 1976; 41: 508-16. power output in COPD. Eur. Respir. J., 1998; 11: 13 – REID, W. D; SAMRAI, B. Respiratory Muscle Training for Patients with Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Phys. Ther., 1995; 75: 9961.005. R; REGGIANI, C. Respiratory muscle fibres: 14 – GOLDSTEIN, R. S. Ventilatory muscle training. Thorax, 1993; 48: 1.025-33. LEVI, 15 – SCHERER, T. A; SPENGLER, C. M; OWASSAPIAN, D; IMHOF, E; BOUTELLIER, U. Respiratory muscle endurance training in chronic obstructive lung disease. Am. J. Respir. Crit. Care Med., 2000; 162: 1.709-14. al. Inspiratory muscle training in patients with 16 – GUYATT, G; KELLER, J; SINGER, J; HALCROW, S; NEWHOUSE, M. Controlled trial of respiratory muscle training in chronic airflow limitation. Thorax, 1992; 47, p. 598-602. «Inspiratory muscle training in Chronic airflow 17 – JONES, D. R; THOMPSON, R. J; SEARS, M. R. Physical exercise and resistive breathing training in severe chronic airways obstruction – are they effective?. Eur. J. Respir. Dis., 1985; 67: 159-66. 18 – DEKHUIJZEN, P. N. R; FOLGERING, H. T. M; VAN HERWAARDEN, C. L. A. Target-flow inspiratory muscle training during pulmonary rehabilitation in patients with COPD. Chest., 1991; 99: 128-33. 19 – NICKERSON, B. G; KEENS, T. G. Measuring ventilatory muscle endurance in humans as sustainable inspiratory pressure. J. Appl. Physiol., 1982; 52, p. 768-72. a pressure threshold breathing device in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Am. 21 – VILLAFRANCA, C; BORZONE, G; LEVIA, A; LISBOA, C. Effect of inspiratory muscle training with na intermediate load on inspiratory 28-33. 22 – POLLA, B; D’ANTONA, G; BOTTINELLI, specialisation and plasticity. Thorax, 2004; 59: 80817. 23 – RAMIREZ-SARMIENTO, A; OROZCOM; GUELL, R; BARREIRO, E; HERNANDEZ, N; MOTA, S; SANGENIS, M et chronic obstructive pulmonary disease. Am. J. Respir. Crit. Care Med., 2002; 166: 1.491-97. 24 – LISBOA, C; VILLAFRANCA, C; LEVIA, A; CRUZ, E; PERTUZE, J; BORZONE, G. limitation: Effect on exercise performance». Eur. Respir. J., 1997; 10, p. 537-42. 25 – WEINER, P; MAGADLE, R; BERARYANAY, N; DAVIDOCICH, A; WEINER, M. The cumulative effect of long-acting bronchodilators, exercise, and inspiratory muscle training on the perception of dyspnea in patients with advanced COPD. Chest, 2000; 118, p. 672-78. 26 – RIERA, H. S; RUBIO, T. M; RUIZ, F. O; RAMOS, P. C; CASTILLO, D. D; HERNANDEZ, T. E. et al. Inspiratory muscle training in patients with COPD: effect on dysnea, exercise performance, and quality of life. Chest, 2001; 120, p. 748-56. 27 – PREUSSER, B. A; WINNINGHAM, M. L; CLANTON, T. L. High-vs-low-intensity inspiratory muscle interval training in patients with COPD. Chest, 1994; 106: 110-17. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 43 TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA 28 – STURDY, G. A. N; HILLMAN, D. R; GREEN, D. J; JENKINS, S. C; CECINS, N; EASTWOOD, P. R. Feasibility of high-intensity respiratory muscle training in COPD. Chest, 2003; 123: 14250. 44 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 29 – WEINER, P; MADADLE, R; BECHERMAN, M; WEINER, M; BERAR-YANAY, N. Maintenance of inspiratory muscle training in COPD patients: one year follow-up. Eur. Respir. J., 2004; 23: 61-65. TRA TAMENT O DE FRA TURAS F ACIAIS OC ASION AD AS TRAT AMENTO FRATURAS FA OCASION ASIONAD ADAS POR PR OJÉTEIS DE ARMA DE F OGO (P .A .F): REL ATO PROJÉTEIS FOGO (P.A .A.F): RELA DE CASO CLÍNICO TREATMENT OF FACIAL FRACTURES BY PROJECTILE OF FIREARM: CASE REPORT PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR.*, MARCELLO DA GAMA MENDES**, GIORGE PESSOA DE JESUS*** RESUMO: Com o aumento da violência urbana, tem se tornado comum o atendimento de pacientes vítimas de acidente por arma de fogo nos serviços de emergência hospitalar. A região maxilo-facial, por sua localização, é um alvo comum neste tipo de injúria. O presente trabalho tem como objetivo relatar o tratamento cirúrgico de fraturas faciais de um paciente vítima de ferimento por projétil de arma de fogo, seguindo o protocolo AO/ASIF (Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen/Association for the Study of Internal Fixation). O resultado obtido foi o restabelecimento estético e funcional, diminuindo as seqüelas do trauma e reintegrando o paciente ao seu convívio social. Concluímos que o cirurgião buco-maxilo-facial deve estar inserido em uma equipe multidisciplinar, possibilitando reparo tanto das fraturas faciais como também das funções mastigatórias. Palavras-chave: Violência urbana, Arma de fogo, Tratamento cirúrgico. ABSTRACT: In consequence of the increasing of urban violence, it has been common the attendance of patients that are accident victims by a firearm in the hospital emergency services. The maxillofacial region, because of the location, is a common target in this type of injury. This work aims to report the surgical treatment of facial fractures of a patient that is victim of injury by firearm projectile, following the protocol AO/ASIF (Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen/Association for the Study of Internal Fixation). The result was the aesthetic and functional restoration, decreasing the patients’ trauma sequels and restoring their social interaction. Conclusion revealed that the maxillofacial surgeon should be inserted in a multidisciplinary crew, to make possible the repair of facial fractures and the masticate functions too. Keywords: Urban violence, Firearm, Surgical treatment. INTRODUÇÃO Os ferimentos por arma de fogo constituem problema um de saúde pública, e a região maxilo-facial, por sua localização anatômica, tem sido alvo constante deste tipo de injúria.1,2,3 Estes ferimentos podem causar desde extensas lesões ósseas e de tecidos moles até seqüelas estéticas, funcionais e psicológicas. Em função do grau de destruição tecidual, comumente são necessários vários tempos cirúrgicos e períodos longos de tratamento.4 Geralmente por se tratar de fraturas cominutivas, a fase reconstrutiva em seqüelas de fraturas baseia-se no restabelecimento anátomofuncional, buscando uma estética aceitável, permitindo, assim, a reintegração do indivíduo ao seu convívio social.1,5 RELATO DO CASO CLÍNICO Paciente J.V.M., 32 anos, sexo masculino, feoderma, foi encaminhado ao serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF) da Faculdade de Odontologia (FAO) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com queixa principal de dificuldade de abertura bucal. Graduando em Odontologia da Ufam. Aluno do Curso de Aperfeiçoamento em CTBMF da Ufam. *** Professor auxiliar de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Ufam. * ** revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 45 TRATAMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASIONADAS POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A.F.): RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente relatou ter sido vítima de ferimento por projétil de arma de fogo, ocorrido havia dois meses. Ao exame clínico, verificou-se paralisia parcial do lábio superior do lado esquerdo, desoclusão dentária, assimetria facial, limitação de abertura bucal (Fig. 1), disfonia e disfagia. Após realização de exames pré-operatórios, o paciente foi internado no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) para realização de tratamento cirúrgico sob anestesia geral, com o objetivo de redução dos cotos fraturados e reabilitação da oclusão dentária. O acesso de escolha foi o submandibular (Fig. 4) na região da fratura cominuitva mandibular esquerda, onde foi realizada a refratura e mobilização dos cotos (Fig. 5), seguido do Bloqueio maxilo-mandibular (Fig. 6), restabelecendo a oclusão dentária. Figura 1 – Aspecto clínico pré-operatório: Limitação de abetura bucal. Foram solicitados exames de imagem, com incidências póstero-anterior e panorâmica (Fig. 2) de face, nos quais foram observados traços de fraturas na região mandibular e maxilar do lado esquerdo, e fragmentos do projétil da arma de fogo na região de ramo mandibular do mesmo lado. Figura 4 – Planejamento da incisão com linhas de referência. Figura 2 – Radiografia panorâmica pré-operatória. Para estabelecer um adequado plano de tratamento e delimitar mais precisamente a área das fraturas, solicitou-se Tomografia Computadorizada (TC) de face (Fig. 3). Figura 3 – TC de face: Corte coronal: fratura mandibular cominutiva do lado esquerdo. 46 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 Figura 5 – Abordagem da fratura cominutiva. Figura 6 – Bloqueio maxilo-mandibular trans-operatório. PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR., MARCELLO DA GAMA MENDES, GIORGE PESSOA DE JESUS Em seguida foram reduzidos os cotos fraturados e estabilizados por meio da Fixação Interna Rígida (FIR) (Fig. 7), utilizando duas miniplacas de titânio e parafusos do sistema 2.0mm, seguindo o protocolo AO/ASIF. Figura 9 – Pós-operatório de 1 ano e 9 meses: abertura bucal satisfatória. Figura 7 – Fixação interna rígida. Na região maxilar não houve alteração do plano oclusal dentário, sendo realizado o acesso em fundo de vestíbulo, para remoção dos fragmentos ósseos desvitalizados, além da desinserção do tecido fibroso e plastia da fístula decorrente do trajeto do projétil da arma de Figura 10 – Oclusão dentária restabelecida. fogo. Paciente esteve de alta hospitalar após dois dias, permanecendo em acompanhamento pós-operatório com exames clínicos e radiográficos (Fig. 8) periódicos, onde foi orientado para realização de higiene bucal e fisioterapia para restabelecimento da função mastigatória. Após um ano e nove meses, paciente encontrava-se com abertura bucal (Fig. 9) e oclusão dentária satisfatória (Fig. 10), permitindo com isso uma reinserção no seu convívio social. Figura 8 – Radiografia panorâmica pós-operatória. DISCUSSÃO As situações de violência têm sido uma constante na sociedade, afetando indivíduos de todas as classes sociais, principalmente nos grandes centros urbanos.4,6 As fraturas ocasionadas por projéteis de arma de fogo, geralmente, provocam dilacerações extensas, envolvendo os tecidos moles e duros, além da vascularização e inervação.1 Embora, no caso relatado, o paciente não soubesse informar o tipo de arma utilizada pelo agressor; observaram-se características de lesões ocasionadas por projéteis de arma de fogo de baixa velocidade, promovendo laceração e esmagamento tecidual, os quais, quando atingem regiões ósseas, formam-se projéteis secundários; ocasionando fratura cominutiva no corpo mandibular e perfurações no osso maxilar. O objetivo principal do tratamento das fraturas mandibularevistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 47 TRATAMENTO DE FRATURAS FACIAIS OCASIONADAS POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO (P.A.F.): RELATO DE CASO CLÍNICO res é restabelecer a oclusão dentária e a função mastigatória com movimentação adequada da Articulação Têmporo Mandibular (ATM).7 O tratamento de escolha para a fratura cominutiva mandibular foi a redução aberta e fixação dos cotos com uso de miniplacas de titânio do sistema 2.0mm, seguindo o protocolo AO/ASIF. Este sistema, o qual utilizou a F.I.R., promove melhor estabilidade das fraturas, principalmente em comparação à osteossíntese com fios de aço; além de apresentar a vantagem fundamental da biocompatibilidade. Antes da adaptação e fixação das miniplacas aos cotos fraturados, foi realizado o bloqueio maxilo-mandibular, possibilitando o restabelecimento da oclusão dentária, importante para reabilitação funcional no pós-operatório.8 A remoção do projétil é feita se este estiver superficialmente ou provocando limitação funcional.9,10 No caso relatado, optou-se pela manutenção dos fragmentos do projétil, por não haver comprometimento funcional, mesmo sendo evidenciado, na imagem da TC, a localização do projétil próximo à coluna cervical. Geralmente os pacientes submetidos a intervenções cirúrgicas, no complexo maxilo-madibular, apresentam como conseqüências no pós-operatório recente, trismo e dificuldade na mastigação, as quais devem ser gradualmente recuperadas por meio do trabalho fisioterápico. 2 CONCLUSÃO Podemos concluir que, no contexto atual da violência dos grandes centros urbanos, é imprescindível que o profissional da área da saúde esteja cada vez mais preparado para o atendimento do paciente com ferimentos ocasionados por arma de fogo, já que este tipo de injúria apresenta alto grau de complexidade e difícil reabilitação. O relato deste caso demonstra a importância do profissional buco-maxilo-facial dentro da equipe multidisciplinar no atendimento e planejamento do tratamento à vítima, possibilitando uma recuperação funcional e estética, devolvendo-o às suas atividades cotidianas. 48 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 REFERÊNCIAS 1. MARZOLA, C.; CAMPOS, C. R. N.; PENA, E. O.; FILHO, J. L. T. Tratamento das lesões faciais causadas por arma de fogo. Revista da Associação Maringaense de Odontologia, v. 1, n. 2, jan./mar., 2000. 2. PERREIRA, C. C. S.; JACOB, R. J.; TAKAHASHI, A.; SHINOHARA, E. H. Fratura mandibular por projétil de arma de fogo». Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo- Fac., Camaragibe, v. 6, n. 3, p. 39-46, julho/setembro, 2006. 3. SILVA, J. J.; MACHADO, R. A.; NASCIMENTO, M. M.; BRAINER, D.; MACEDO, T.; VALENTE, R. Lesão por arma de fogo em terço inferior de face de criança: relato de caso. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial, v. 4, n. 3, p. 163-168, jul./set., 2004. 4. GOLDMAN, R. S. et al. Protocolo para atendimento cirúrgico a paciente vítima de ferimento por arma de fogo com perda de substância de mandíbula. Revista online APCD, São Paulo, 2000. 5. XAVIER, L. R.; MACEDO, E. B.; PADILHA, W. W. N.; QUINTANILHA, L. E. L. Incidência e tratamento inicial das fraturas mandibulares por arma de fogo na cidade do Rio de Janeiro. Rev. FOB, v. 8, n. 1/2, p. 31-35, jan./jun., 2000. 6. OGATA, E.; ONO, H. Y.; LEANDRO, L. F. L. Fraturas mandibulares por projétil de arma de fogo. RBC, v. 1, n. 3, p. 212-217, 2003. 7. ANDRADE FILHO, E. F. et al. Fraturas de mandíbula: análise de 166 casos. Rev. Ass. Med. Bras., v. 46, n. 3, p. 272-276, 2000. 8. CUNNINGHAM, L.; HAUG, R. H.; FORD, J. Firearm injuries to the maxillofacial region: an overview of currents thoughts regarding demografics, pathophysiology, and management. J. Oral Maxillofac. Surg., Philadelphia, v. 61, p. 932-942, 2003. 9. GOMES, A. C. A.; SILVA, E. D. O.; CARVALHO, R.; GOMES, D. O.; FEITOSA, D. S.; MAIA, PAULO ROBERTO PIRES DE SOUZA JR., MARCELLO DA GAMA MENDES, GIORGE PESSOA DE JESUS S. M. H. Tratamento das fraturas mandibulares: 10. NEUPERT III, E. A.; BOYD, S. B. Retrospective relatos de caso clínico. Rev. Cir. Traumat. Buco- analysis of low-velocity gunshot wounds to the Maxilo-Facial, v. 1, n. 2, p. 31-38, jul./ dez., 2001. mandible. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol, St. Louis, v. 72, p. 383-387, 1991. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 49 50 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 DEFICIÊN CIA DE 11 β- HIDR OXIL ASE - REL ATO DE DEFICIÊNCIA 11β HIDRO XILASE RELA CASO E REVISÃ O DE LITERA TURA REVISÃO LITERATURA 11β - HIDROXYLASE DEFICIENCY – A CASE REPORT AND LITERATURE REVIEW FERNANDA DE AZEVEDO CORRÊA* , DANIELLE ABREU DA COSTA** RESUMO: Neste artigo, apresentamos um caso de puberdade precoce associado à hipertensão arterial sistêmica em paciente pediátrico do sexo masculino atendido no ambulatório Araújo Lima do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Após investigação diagnóstica, foi constatada disfunção congênita da esteroidogênese adrenal, especificamente hiperplasia congênita de adrenal secundária à deficiência de 11β-Hidroxilase. Dispomos aqui o relato, discussão do caso clínico e uma breve revisão sobre esta rara deficiência. Palavras-chave: Puberdade precoce, hiperplasia congênita de adrenal, deficiência de 11β-Hidroxilase. ABSTRACT: This article presents a case of precocious puberty associated to systemic and arterial hypertension in a male pediatric patient attended at the Araujo Lima Ambulatory of the University Hospital Getúlio Vargas. After the diagnostic investigation, it was found congenital dysfunction of the adrenal steroidogenesis, specifically congenital adrenal hyperplasia secondary to the 11β-Hidroxilase deficiency. Here in the report, there is the discussion of the case in a brief review on this rare deficiency. Keywords: Precocious puberty, congenital adrenal hyperplasia, deficiency of 11β-Hydroxylase. INTRODUÇÃO A glândula adrenal é dividida funcionalmente nas camadas: glomerulosa, reticular e fasciculada responsáveis pela produção de mineralocorticóides, hormônios sexuais e glicocorticóides, respectivamente. Nesta última camada, para a produção do cortisol são necessárias cinco enzimas, entre as quais está a 11β-Hidroxilase. Essa produção hormonal é regulada principalmente pelo ACTH em um mecanismo de retrocontrole negativo. A deficiência de 11β-Hidroxilase é causada por mutações no gene CYP11B1, sendo a segunda causa de hiperplasia adrenal congênita (HAC). Esta condição é bastante rara, ocorrendo em menos de 5% dos casos. O bloqueio na via de formação do cortisol implica em perda do retrocontrole negativo e conseqüente aumento do ACTH. Ocorre então hiperestimulação das * ** adrenais com acúmulo de mineralocorticóides, andrógenos e precursores do cortisol resultando em puberdade precoce em meninos, virilização em meninas e hipertensão arterial (HAS).1,3,8 RELATO DO CASO JVSP, sexo masculino, natural e procedente de Manaus (AM). Iniciou, aos três anos, quadro de acne, sudorese, surgimento de pêlos no púbis e axila, aumento do pênis e da estatura. Evoluiu com progressão dos sintomas e, aos cinco anos e oito meses, foi levado ao ambulatório de endocrinologia pediátrica para investigação diagnóstica. Antecedentes: Parto normal, não chorou ao nascer, peso: 4,210 kg, comprimento: 53 cm, PC: 35 cm. Andou aos onze meses, falou ao 1 ano e 2 meses, não estuda. Vacinação completa para a idade. Mãe relata varicela aos três anos. Especialista em Endocrinologia e Endocrinologia Pediátrica, Médica Assistente do Serviço de Endocrinologia do HUGV – Faculdade de Medicina da Ufam Médica Residente de Clínica Médica (R2) – HUGV revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 51 DEFICIÊNCIA DE 11β-HIDROXILASE – RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA Ao exame físico, apresentava pêlos pubianos P4 pelos critérios de Tanner, testículos pré-púberes, medindo 1,5 e 2,0 cm nos seus maiores diâmetros e pênis com aumento do diâmetro e 7,5 cm de comprimento (aproximadamente 2 desvios padrões acima da população de mesma faixa etária). Desvio padrão de altura de + 5,21, velocidade de crescimento de 16 cm/ano e idade óssea de 12 anos (aos quatro anos e onze meses). PA: 140 x 80 mmHg, elevada para a faixa etária. Demais órgãos e sistemas sem alterações. Em função da virilização com presença de testículos pré-púberes, a hipótese diagnóstica no ambulatório foi de puberdade precoce periférica, uma vez que a puberdade precoce de origem central, com aumento das gonadotrofinas, causaria o aumento testicular com produção de testosterona nessa localização. A localização adrenal é a mais prevalente nesses casos com produção elevada de andrógenos.7 As hipóteses etiológicas foram tumor adrenal produtor de testosterona e, pela presença de HAS, hiperplasia adrenal congênita por deficiência de 11β-Hidroxilase. } Puberdade precoce periférica ou Independente de gonadotrofinas 1. Tumor adrenal produtor de testosterona; 2. Hiperplasia adrenal congênita (deficiência de 11β- Hidroxilase pela presença de HAS). Figura 1 – Hipóteses diagnósticas Na figura 2, verificamos o aumento das gonadotrofinas produzidas na hipófise: Hormônio Luteinizante (LH) e Folículo Estimulante (FSH); aumento dos andrógenos (testosterona e 17α hidroxiprogesterona); níveis normais de estradiol e cortisol. Estes valores serão discutidos mais adiante. Após exames iniciais, em função da hipótese de HAC por deficiência de 11β-Hidroxilase, foi realizado o teste da cortrosina (250 mcg) para definição diagnóstica com o seguinte resultado: TEMPOS 0 min 0 min 0 min Cortisol (µg/dL) 7,9 8,6 8,7 17-OHP (ng/dL) 920 989 878 1 1–Desoxicortisol (ng/ mL) 397 420 432 Referência: <8ng/mL Figura 3 – Teste da Cortrosina (250mcg) O teste confirma a hipótese de HCA por deficiência de 11β-Hidroxilase por elevação sérica do composto 11–desoxicortisol (também chamado de composto S) formado imediatamente proximal a deficiência enzimática. Observa-se ainda elevação discreta da 17-hidroxicortisona, pois esta também está localizada acima do defeito da 11β-Hidroxilase. Aventadas estas hipóteses etiológicas foram solicitados os seguintes exames: NOME 08.05.07 µg/dl [DHEA] soro 113µ 10.05.07 16.07.07 28.09.07 Referência 3,15ng/ml 1070ng/ml Estradiol-17β 16pg/ml <5 a 20pg/ml Testosterona 1,9mg/ml Total Cortisol basal 2,8-85,2µg/dl 0,3-3,5nµ/ml 293pg/ml 4,5µ µg/dl 0,03-0,32mg;ml 40 a 300pg/ml 6,2-19,4µ µg/dl 17α hidroxigest 1630ng/ dl 1 a 82ng/dl FSH 20.11mUl/ ml 1,5 a 15,5mUl/ml LH 15.16mUl/ ml 1,4-7,8mUl/ml Na/K 139/3,6 Figura 2 – Exames hormonais basais 52 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 Figura 4 – Tomografia computadorizada de abdome evidenciando formação expansiva em adrenal esquerda A tomografia de abdome revelou formação expansiva em adrenal esquerda com provável hiperplasia de adrenal direita. FERNANDA DE AZEVEDO CORRÊA E DANIELLE ABREU DA COSTA Confirmado o diagnóstico de HAC por deficiência de 11β-Hidroxilase, foram tomadas as seguintes condutas: Captopril 25 mg/dia (posteriormente substituído por Espironolactona), Prednisolona (2 mg/m 2 SC/dia) e Acetato de Leuprorrelina (pela ativação precoce do eixo conforme elevação de LH e FSH). Programação: Realizar estudo genético e manter o tratamento por 1 ano observando se ha- latada em cinco pacientes negros apontando para uma origem semelhante.1,2 O quadro clínico é semelhante ao da HCA por deficiência de 21-Hidroxilase (21-OH) forma não perdedora de sal. Na ausência de 11 β Hidroxilase, ocorre uma falha na última etapa da síntese de glicocorticóides, havendo então diminuição da produção de cortisol com superprodução de andrógenos e mineralocorticóides. verá resolução das massas adrenais, uma vez que estes tumores podem tornar-se autônomos, o que implica em retirada cirúrgica. DISCUSSÃO Neste paciente, do serviço do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), durante a consulta ambulatorial, já foi feita a hipótese de puberdade precoce periférica ou independente de gonadotrofinas pelo exame físico. A presença de HAS foi fundamental para suspeitar de HAC por deficiência de 11β-Hidroxilase. Nos exames basais iniciais ficou constatado o aumento das gonadotrofinas coriônicas humanas produzidas pela hipófise, porém essa elevação não afasta a disfunção adrenal, uma vez que valores permanentemente elevados de andrógenos podem ativar o eixo hipotálamo-hipófise-testículo,3 e o pa- Figura 5 – Córtex Adrenal na deficiência de 11β-Hidroxilase. A sín- tese normal de cortisol está prejudicada, causando aumento do ACTH por perda do feedback negativo. O resultado é a deficiência de cortisol com excesso de mineralocorticóide e desoxicorticosterona, além da excessiva secreção adrenal de andrógenos. Fonte – KRONENBERG, Henry M. et al. Williams Textbook of Endocrinology. 10. ed. Philadelphia: Saunders, 2003. p. 532-538. ciente em questão havia passado anos sem acompanhamento médico mesmo com alto grau de virilização. A HAC causada pela deficiência da enzima 11β-Hidroxilase é o segundo tipo mais comum, correspondendo, no máximo, a 5% de todos os casos.1 A freqüência estimada é de 1:100.000 nascimentos, podendo ser maior em populações com alto grau de endogamia, chegando a 1:30.000 em Israel. Esta deficiência enzimática decorre de mutações no gene CYP11B1 que a codifica. Nestas populações de maior prevalência, são observadas mutações recorrentes, sendo características as mutações R448H e R448C. Uma terceira mutação, a Q356X, foi descrita em americanos de origem africana. Entre brasileiros, esta última foi re- Como conseqüência, ocorre virilização do feto feminino em graus variados, que vão desde clitoromegalia a uma genitália externa indistinguível de uma genitália masculina criptorquídica. Neste último caso, uma menina pode ser criada como menino até a idade adulta. Esta conduta deve ser evitada porque as estruturas genitais internas encontram-se intactas, podendo a doença ser tratada com reposição hormonal e cirurgia. Alguns poucos estudos relatam que a deficiência de 11 β -Hidroxilase constitui uma infreqüente, mas não rara causa de hirsutismo e/ou oligomenorréia hiperandrogênica na mulher adulta.4 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 53 DEFICIÊNCIA DE 11β-HIDROXILASE – RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA No sexo masculino, a doença se manifesta como puberdade precoce. Outros sinais de excesso de andrógenos incluem acne, diminuição da espermatogênese, crescimento somático e maturação esquelética acelerados, causando fechamento prematuro das epífises e baixa estatura no adulto. Um sinal marcante na deficiência de 11βHidroxilase, e que geralmente a distingue da deficiência de 21-OH é, sem dúvida, a hipertensão arterial (30 a 60% dos casos) geralmente associada à alcalose metabólica, ambos conseqüentes ao excesso de desoxicorticosterona (DOC), um precursor da aldosterona. Tendo em vista o mecanismo fisiopatológico da doença, ficam mais claros os critérios laboratoriais para diagnóstico. Como o 11desoxicortisol e a desoxicorticosterona não podem ser convertidos em cortisol e corticosterona na zona fasciculada, não ocorre a inibição fisiológica do ACTH que persiste estimulando a adrenal. Dessa forma, a deficiência de 11â-Hidroxilase é confirmada pela elevação sérica basal ou após estímulo com ACTH destes precursores (o 11desoxicortisol costuma apresentar valores basais extremamente elevados, sendo imprescindível a sua dosagem). O paciente aqui relatado apresentou o nível sérico de 11-desoxicortisol basal quase 40 vezes o valor normal, mantendo sempre valores alterados pós-estímulo com cortrosina. O cortisol está baixo ou no intervalo esperado. O ACTH está muito acima da normalidade e também se mostram elevados os compostos androgênicos (testosterona e sulfato de desidroepiandrosterona). Os valores de 17-hidroxiprogesterona estão aumentados, mas não o suficiente para caracterizar uma deficiência de 21-OH.1 O tratamento consiste na reposição de glicocorticóides na forma de hidrocortisona oral (10 a 20 mg/m2/dia) em duas tomadas ou acetato de cortisona 25 mg/dia em duas tomadas. Naqueles que apresentam maturação de epífises, podem ser usados prednisona e dexametasona pela meia vida maior. Em situações de estresse ou infecção, a dose deve ser aumentada.1 Segundo um estudo publi- 54 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 cado em 2004, pacientes com deficiência de 21OH, tratados por um ano com dose única matinal de prednisolona, parecem alcançar melhor controle clínico e hormonal que aqueles usando três doses diárias de hidrocortisona.6 A hipertensão pode ser tratada com espironolactona ou amiloride (ideal para HAS leve com hipocalemia em razão da ação da aldosterona). Se um outro anti-hipertensivo for necessário está indicado um bloqueador de canais de cálcio. Para correção de genitália ambígua, no caso de feto feminino, existe a reconstrução cirúrgica e psicoterapia. REFERÊNCIAS 1. MELLO, Maricilda P.; CASTRO, Margaret de. Deficiência da 11β-Hidroxilase. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v. 48, n. 5, p. 713-723, 2004. 2. MONTE, Osmar; KOCHI, Cristiane. Endocrinologia para o Pediatra. 3. ed. São Paulo: Ed. Atheneu, 2006. p. 269-276. 3. KRONENBERG, Henry M. et al. Williams Textbook of Endocrinology. 10. ed. Philadelphia: Ed. Saunders, 2003. p. 532-538. 4. E. CARMINA, G. Malizia; PAGANO, M.; JANNI, A. Prevalence of Late-onset 11βHydroxylase Deficiency in Hirsute Patients. J. Endocrinol Invest., september 1, 1988. 5. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis . Tratado de Medicina Interna. Tradução da 22. ed. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, p. 1.650-1.651. 6. C ALDATO, Milena C. F.; KATER, Claudio E. One-Year Clinical Evaluation of Single Morning Dose Prednisolone Therapy for 21 – Hydrosylase Deficiency. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v. 48, n. 5, p. 705-712, 2004. 7. GREENSPAN, Francis S.; GARDNER, David G. Basic & Clinical Endocrinology. 20. ed. EUA: McGraw-Hill Companies, 2001. p. 362-384. 8. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2006. p. 451-457. PNEUMONIA NECR OS ANTE: REL AT O DE C ASO NECROS OSANTE: RELA CASO NECROTIZING PNEUMONIA: CASE REPORT FERNANDO LUIZ WESTPHAL*, LUIZ CARLOS DE LIMA*, JOSÉ CORREA DE LIMA NETTO**, LAURA BIANCA CABRAL FRAIJI***, INGRID LOUREIRO DE QUEIROZ LIMA****, DANIELLE CRISTINE WESTPHAL**** RESUMO: Relatar um caso de pneumonia necrotizante tratado por ressecção pulmonar da área acometida. RELATO DE CASO: Paciente do sexo masculino, 2 anos, com história de tosse produtiva e febre, derrame pleural e sinais de consolidações confirmado pela radiografia de tórax. Após admissão hospitalar, evolui com piora progressiva e não responsivo ao esquema de antibióticos, quando se decide então proceder-se à toracotomia. Palavras-chave: Pneumonia necrosante, toracotomia, cirurgia torácica. ABSTRACT: To report a case of necrotizing pneumonia treated by pulmonary resection of the involved area. CASE REPORT: A 2-years-old patient, male, presenting productive cough of purulent sputum and fever, with pleural effusion and signs of consolidation confirmed by radiography. After hospital admission, the patient does not show a good evolution and does not respond to antibiotics, when it is decided to proceed with thoracotomy. Keywords: Necrotizing pneumonia, thoracotomy, thoracic surgery. INTRODUÇÃO RELATO DE CASO A pneumonia necrosante (PN) é uma complicação pouco freqüente da pneumonia lobar,1 caracterizada por focos de necrose e liquefação de tecido pulmonar com formação de múltiplas cavidades não coalescentes, e que, acompanhada de complicações pleurais, exige a adoção de medidas mais agressivas para o seu tratamento.1,2 A maioria dos casos de PN é tratada clinicamente, porém em determinadas situações, apesar da otimização e maximização do tratamento clínico, o paciente persiste com sinais de septicemia associado ou não a complicações pleurais. Nestes casos a indicação cirúrgica pode ser a única terapia para a resolução do quadro. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de PN tratado por ressecção pulmonar da área acometida. Paciente do sexo masculino, dois anos de idade, natural de Manaus-AM, com história de tosse produtiva, dispnéia e febre há aproximadamente duas semanas. À admissão hospitalar, apresentava-se taquidispnéico, febril, hipocorado +/+4 e, à ausculta pulmonar, murmúrio vesicular diminuído em base esquerda e estertores crepitantes bilateralmente. A radiografia de tórax à admissão revelou imagem sugestiva de consolidação em lobo inferior esquerdo e velamento do seio costofrênico ipsilateral (Fig.1). O hemograma mostrou o hematócrito de 34,4%, leucócitos/µL de 1.140 e 140.000 plaquetas. A amostra do líquido pleural coletada para a análise laboratorial demonstrou os seguintes resultados: glicose-50 mg/dl, pH-8, desidrogenase láctica-2161U/L. A cultura do líquido pleural e a Hospital Beneficente Portuguesa de Manaus – Serviço de Cirurgia Torácica; Hospital Universitário Getúlio Vargas – Serviço de Cirurgia Torácica Hospital Universitário Getúlio Vargas – Serviço de Cirurgia Torácica *** Médico Residente do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) **** Acadêmico da Universidade Federal do Amazonas * ** revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 55 PNEUMONIA NECROSANTE: RELATO DE CASO bacterioscopia foram negativas. Confirmado o diagnóstico de derrame pleural complicado, procedeu-se à drenagem do hemitórax esquerdo com dreno tubular, e à antibioticoterapia com oxacilina, ceftriaxona e claritromicina. O paciente foi admitido em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no 1.º dia de internação, apresentando-se com toxemia, hipocorado +2/+4 e taquidispnéico. No 2.º dia de internação em UTI, paciente apresentava-se séptico, sendo iniciadas dopamina e dobutamina. No 7.º dia de internação em UTI o dreno torácico estava sem débito e o Figura 1 – Radiografia de Tórax mostrando sinais de cavitação em uma área pulmonar com condensação à esquerda e velamento do seio costofrênico ipsilateral, sugestivo de derrame pleural. quadro clínico manteve-se inalterado a despeito da antibiocoterapia. Diante da persistência do quadro, foi solicitada Tomografia Computadorizada (Fig. 2). No 9.º dia de internação hospitalar, visto a piora do quadro clínico do paciente, com picos febris freqüentes e leucocitose (16.600), optou-se por suspender o esquema anterior e iniciar teicoplanina e cefepime. O dreno torácico foi retirado no 11.º dia de internação por ele estar sem débito. Figura 2 – Tomografia Computadorizada de Tórax No 15.º dia de internação hospitalar, sem melhora importante do quadro clínico, paciente foi submetido à toracotomia lateral esquerda, sob anestesia geral e entubação seletiva, colocandose o paciente em decúbito lateral direito. Durante a abertura da cavidade pleural e descolamento do parênquima pulmonar, observou-se sangramento difuso e abundante. Decorridos quarenta minutos de cirurgia, o paciente apresentou parada cardiorrespiratória, que foi revertida após manobras de ressuscitação. Procedeu-se ao desbridamento, lobectomia inferior esquerda e drenagem do espaço pleural com dreno tubular em selo d’água. Houve melhora progressiva do estado geral, com normalização da temperatura e leucocitose. A retirada do dreno torácico foi feita no 10.º dia pós-operatório, quando não havia drenagem de secreção ou escape de ar por ele. Paciente recebeu alta da UTI no 14.º pós-operatório. 56 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 DISCUSSÃO Pneumonia Necrosante (PN) e gangrena pulmonar são freqüentemente usados como sinônimos e normalmente são associados à desvitalização do tecido pulmonar em função da infecção.3 Há poucos estudos na literatura sobre as características clínicas de PN em crianças. Vários agentes etiológicos e mecanismos patogênicos têm sido implicados na gênese da PN, sendo conseqüência de uma combinação de fatores do hospedeiro e virulência do microrganismo. Está associada mais comumente com infecções pulmonares por Streptococus pneumoniae, mas outros agentes etiológicos estão implicados, tais como Streptococus viridans, Staphylococus aureus e Haemophilus influenzae, entre outros.4 Em alguns casos, entretanto, não se consegue definir o agente etiológico tal como observado neste relato, no qual não houve crescimento na cultura. FERNANDO L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., LAURA B. C. FRAIJI, INGRID L. DE QUEIROZ LIMA, DANIELLE C. WESTPHAL O diagnóstico inicial de pneumonia bacteriana do paciente relatado baseou-se no exame físico e radiológico. O quadro inicial de pneumonia necrosante não difere de outras pneumonias, porém normalmente as complicações são mais freqüentes e relacionadas com necrose do tecido pulmonar.2,5 Mais comumente a suspeita de pneumonia necrosante começa por achados radiológicos, nos quais se evidenciam sinais de cavitações em uma área pulmonar com condensação, assim como no caso relatado. Para o melhor diagnóstico radiológico, porém, há necessidade da Tomografia Computadorizada (TC) que é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico de pneumonia necrosante, além de propiciar um diagnóstico mais precoce e determinar a possibilidade e extensão da cirurgia.1 Para o nosso paciente, a TC foi solicitada porque não houve melhora clínica, mesmo na vigência de antibioticoterapia e drenagem torácica adequada. Os achados tomográficos para o diagnóstico são perda da arquitetura normal do parênquima pulmonar, o que não ocorre com os abscessos, diminuição do realce parenquimatoso e desenvolvimento de múltiplas cavidades (< 2 mm) contendo ar ou líquido. De acordo com a fase do derrame parapneumônico, foram postulados diferentes tipos de tratamento: para a fase exudativa opta-se pela antibioticoterapia (ATB) e drenagem torácica fechada (DTF); na fase fibrinopurulenta, outros métodos devem ser aplicados, como ATB + DTF +/- fibrinolíticos ou ATB + Cirurgia Torácica Vídeo-Assistida (VAST) ou ATB + decorticação por toracotomia; e, por último, para a fase organizacional, ATB e desbridamento cirúrgico.6 O tratamento da pneumonia bacteriana, que evolui para necrosante, é um tema controverso na literatura, enquanto alguns autores situam a cirurgia como segunda opção ao tratamento clínico, outros sugerem a ressecção cirúrgica do tecido necrótico como mandatória para evitar disfunção orgânica múltipla, sepse e morte. 1,2 Ressecção pulmonar raramente é indicada na população pediátrica, porém a abordagem conservadora pode falhar, situação em que outros recursos terapêuticos podem ser utilizados.1 O paciente do caso em foco apresentou infecção refratária ao tratamento conservador, por isso optou-se pela intervenção cirúrgica. Sinzobahamvya 7 observou que a ressecção pulmonar, na vigência de empiema, aumenta a incidência de complicações no pós-operatório, sendo a fístula broncopleural a mais freqüente, fato não observado em nosso paciente. No entanto, não contra-indica o procedimento em casos de emergência.7 De acordo com Rafaely e Weissberg 5, a ressecção pulmonar de emergência é indicada quando a necrose pulmonar é diagnosticada em pacientes septicêmicos ou com fístula broncopleural de alto débito, visando à melhora do prognóstico dessas crianças, mesmo cientes de que o índice de morbimortalidade nesses casos é alto.5 Conclui-se que a pneumonia necrosante é uma complicação rara, porém grave, da pneumonia bacteriana, na qual há trombose de vasos pulmonares, gerando desvitalização e necrose do parênquima pulmonar. O quadro clínico inicial não difere de outras pneumonias, porém as complicações são mais freqüentes. Nos achados radiológicos são evidenciados sinais de condensação e cavitação, porém, para um melhor diagnóstico, a Tomografia Computadorizada é o método de escolha. A abordagem conservadora pode falhar, situação em que outros recursos terapêuticos, como a ressecção pulmonar, podem ser utilizados. REFERÊNCIAS 1. AYED, A. K.; ROWAYEH, A. Lung resection in children for infectious pulmonary diseases. Pedatr. Surg. Int., 2005, n. 21, p. 604-608. 2. DONNELLY L. F.; KLOSTERMAN L. A. The yield of CT of children who have complicated pneumonia and noncontributory chest revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 57 PNEUMONIA NECROSANTE: RELATO DE CASO radiography. ARJ Am J. Roentgenol, v. 170, p. 1.627-1.631, 1998. 3. VELHOTE, C. E. P.; VELHOTE, M. C. P. O papel da cirurgia torácica vídeo-assistida – CTVA – no tratamento da pneumonia necrosante na criança. Rev. Col. Bras. Cir., n. 33, p. 11-14, 2006. 4. HACIMUSTAFAOGLU, M.; CELEBI, S.; SARIMEHMET, H.; GURPINAR, A.; ERCAN, I. Necrotising pneumonia in children. Acta Paediatr., vol. 93, p. 1.172-1.177, 2004. 58 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 5. RAFAELY, Y.; WEISSBERG, T. Gangrene of the lung: treatment in two stages». An Thorac. Surg., n. 64, p. 970-974, 1997. 6. DÍAZ, M. L.; SÁNCHEZ, J. L. A. P.; VÁZQUEZ, A. G.; NOVILLO, I. C.; BARBANCHO, D. C.; GORDO, M. I. B. Empiema pleural. Tratamiento toracoscópico. Cir. Pediatr., n. 19, p. 160-162, 2006. 7. SINZOBAHAMVYA, N. Emergency pulmonary resection for pneumonia. Scand J. Thorac. Cardiovasc. Surg., n. 25, p. 69-71, 1991. TRA TAMENT OD A DISCR OMIA GEN GIV AL: TRAT AMENTO DA DISCROMIA GENGIV GIVAL: COMP ARA ÇÃ O DE DU AS TÉCNIC AS OMPARA ARAÇÃ ÇÃO DUAS TÉCNICAS TREATMENT OF GINGIVAL DYSCHROMIA: COMPARISON OF TWO TECHNIQUES REYCE S. KOGA*, RODRIGO M. C. HIRAISHI*, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL**, SAMUEL LUNGAREZE***, FIKRIYE V. YURTSEVER**** RESUMO: Tem sido constante a busca por melhorias na estética do sorriso, a pigmentação melânica pode comprometê-lo, causando assim incômodo ao paciente. A técnica cirúrgica periodontal de despigmentação visa à redução ou eliminação desta alteração, por meio do uso de brocas diamantadas e/ou lâmina de bisturi. Ao realizar qualquer tipo de cirurgia periodontal, deve-se dar muita atenção ao diagnóstico, aos passos envolvidos nos procedimentos cirúrgicos para, assim, maximizar a previsibilidade do tratamento. Palavras-chave: pigmentação melânica, cirurgia periodontal, dermo-abrasão. ABSTRACT: The search for improvements in the aesthetic of the smile has been constant; the gingival pigmentation can influence it, and cause bothering on the patient. The periodontal surgical technique of depigmentation aims the reduction or the elimination of this modification, with the use of diamond burs and/or blade of bistouries. When carrying through any type of periodontal surgery, it must be given much attention to the diagnosis, to the steps involved in the surgical procedures, thus to maximize the previsibility of the treatment. Keywords: Gingival pigmentation, periodontal surgery, dermo-abrasion. INTRODUÇÃO A estética do sorriso constitui um componente essencial para a harmonia facial. Pigmentações marrons ou negras e a descoloração do tecido gengival, sejam fisiológicas ou patológicas, podem causar problemas estéticos, especialmente em indivíduos que apresentam sorriso gengival.1 A cor da gengiva é determinada por diversos fatores, incluindo número e tamanho dos vasos sangüíneos, espessura do epitélio, quantidade de queratinização e pigmentos do epitélio. Melanina, caroteno e hemoglobina são os pigmentos naturais mais comuns que contribuem para coloração normal da mucosa oral.2, 3, 4 O excesso de deposição de melanina nas camadas basal e suprabasal do epitélio podem freqüentemente ser a causa da hiperpigmentação do epitélio.5 A melanina é elaborada por células específicas, os melanócitos. Os grânulos de melanina, presentes nos melanossomos, são produzidos por melanócitos presentes entre células epiteliais na camada basal do epitélio oral e epiderme.6 A gengiva é o tecido intra-oral mais freqüentemente pigmentado e, diferente da opinião geral das pessoas, a pigmentação gengival não é confinada somente à população negra. Pessoas de outras nacionalidades também apresentam a pigmentação melânica gengival Alunos do 6.º período da Faculdade de Odontologia da Ufam; Professora titular da Disciplina de Periodontia da Ufam, mestranda em Periodontia, especialista em Periodontia e Endodontia; *** Professor substituto da Disciplina de Periodontia da Ufam, especialista em Periodontia e mestrando em Patologia Tropical; **** Professora substituta da Disciplina de Periodontia da Ufam, especialista em Periodontia. * ** revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 59 TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS como os franceses, filipinos, árabes, chineses, indianos, alemães, italianos e gregos2. Diversas técnicas foram apresentas para a resolução deste problema, dentre estas estão a cirurgia utilizando dermo-abrasão com brocas diamantadas ou lâminas de bisturi 6 , uso de agentes químicos3, 7, criocirurgia e eletrocirurgia8, com diferentes graus de sucesso. Recentemente lasers também estão sendo usados4. A técnica abrasiva utilizando-se brocas esféricas diamantadas com copiosa irrigação é utilizada em grande escala em função da sua facilidade e baixo custo. Deve manter-se, porém, um cuidado no controle da profundidade para remoção do epitélio9, 6. Na dermo-abrasão com bisturi a frio podem ser utilizados cabos de bisturi acoplados a lâminas 15 ou 15c, ou gengivótomo de Kirkland posicionado em 45 graus em relação ao tecido gengival. Com movimentos suaves atrita-se o epitélio e tecido conjuntivo até a completa remoção da pigmentação presente6. O objetivo do trabalho é o relato de caso onde foram comparados os resultados de duas técnicas: dermo-abrasão com broca diamantada e lâmina de bisturi, para o tratamento da discromia gengival. Foram enfocados os aspectos de conforto, intensidade da dor e cicatrização relatados pelo paciente. RELATO DE CASO Paciente E .G .D., 13 anos, compareceu à clínica de periodontia II da Ufam com queixa principal de mancha escura na gengiva. No exame gengival intra-oral foi detectada a presença de pigmentação melânica na gengiva inserida no seguimento anterior superior e inferior (Fig. 1). A gengiva apresentava-se edemaciada em algumas regiões. Foram examinadas todas as fases de todos os dentes com sonda tipo Williams da marca Trinity. O exame periodontal consistiu de índice de placa O’Leary, índice de sangramento Aimano e Bay, profundidade de 60 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 bolsa, recessão e hiperplasia, nível de inserção clínica (NIC), lesão de furca e mobilidade dentária, além de exame radiográfico. Figura 1 – Aspecto do vestíbulo do paciente. O índice de placa e índice de sangramento corresponderam respectivamente a 86,6% e 30,3% ao exame inicial, com nível de inserção clínica em média de 1 – 3mm, a gengiva apresentava-se com sinais de inflamação. Após análise dos achados clínicos, radiográficos e embasado na literatura, o diagnóstico foi de gengivite induzida por biofilme dental e discromia gengival. O tratamento inicial consistiu na terapia básica periodontal (fase I) e cirúrgica (fase II). Na fase I, foram passadas instruções sobre técnica de escovação, profilaxia com escova de Robson, taça de borracha e pasta abrasiva. Em função da deficiência na remoção mecânica do biofilme, foi orientado ao paciente a mastigação, durante 8 dias, de uma pastilha evidenciadora de placa e em seguida remoção das áreas coradas com o auxílio de escovação, mostrando ao paciente as regiões onde havia dificuldade de higienização. Na reavaliação o IP e o IG estavam menores que 20%, portanto dentro dos limites aceitáveis para que pudéssemos prosseguir para a segunda etapa do tratamento. MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização deste relato optamos por fazer a comparação das técnicas de dermoabrasão com bisturi e broca esférica diamantada no arco superior. O paciente era menor de idade, então a responsável autorizou a realização do tratamento REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER e publicação do relato de caso por meio de um termo de consentimento livre e esclarecido. Os parâmetros a serem avaliados foram: o tempo cirúrgico, conforto do paciente, intensidade da dor pós-operatória e cicatrização, Os seguimentos foram escolhidos aleatoriamente mediante sorteio prévio. A técnica de dermo-abrasão com broca foi realizada no hemiarco direito, ficando o hemi-arco esquerdo com a técnica por lâmina de bisturi. Para avaliação do tempo cirúrgico, ambas as técnicas foram cronometradas. Na avaliação da intensidade da dor, ela foi estratificada, onde o grau 0 equivale à ausência de dor até 10 correspondente à dor intensa.10 Ao final do procedimento, foi entregue ao paciente uma escala de dor para avaliação da intensidade dela e um questionário para anotação de qualquer observação pós-operatória. Foi orientado ao paciente que ele avaliasse individualmente cada hemi-arco. com a mesma broca. O tempo cirúrgico aproximado de 4 minutos Figura 2 – Identificação do vestíbulo. Figura 3 – Broca 1016HL em posição. DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA A medicação usada na pré e pós-cirúrgica foi Dexametazona 4mg, 1 comprimido 1 hora antes da cirurgia. Analgésico (Paracetamol 750mg), 1 comprimido de 6 em 6 horas durante 1 dia. Enxágüe bucal com clorexidina 0,12% duas vezes ao dia durante 10 dias. A anti-sepsia intra e extra-oral foram realizadas clorexidina 0,12% e 2%, respectivamente. 1.º Procedimento cirúrgico – Técnica de dermo-abrasão com broca esférica diamantada (hemi-arco direito). Primeiramente foi feita a identificação do vestíbulo (Fig. 2). No lado direito fez-se bloqueio do nervo infra-orbitário e houve complementação com anestesias infiltrativas na gengival marginal, até as áreas ficarem isquêmicas. Foi removido o epitélio com o auxílio de broca esférica diamantada 1016HL e instrumento de alta rotação com copiosa irrigação (Fig. 3 e 4). Em seguida foi realizada a regularização da gengiva Figura 4 – Remoção do epitélio com broca esférica diamantada 2.º Procedimento cirúrgico – técnicas de dermo-abrasão com bisturi lâmina 15c (hemi-arco esquerdo). No lado esquerdo também fez-se bloqueio do nervo infra-orbitário e complementação com anestesias infiltrativas. O epitélio foi removido com lâmina de bisturi 15c, com movimentos suaves de raspagem (Fig. 5 e 6). A área foi constantemente irrigada com solução fisiológica 0,9%. A regularização da gengival também foi efetuada. O tempo cirúrgico de aproximadamente 13 minutos. Ao final dos procedimentos foi realizada hemostasia da região com gaze embebida em solução fisiológica gelada para a vasoconstrição (Fig. 7). revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 61 TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS Figura 5 – Lâmina de bisturi 15c em posição. Não houve diferença estatística no que diz respeito à intensidade da dor entre um lado e outro, pois ele relatou não ter apresentado sintomatologia no pós- operatório. O paciente sentiu maior conforto no lado em que foi utilizada a técnica com broca, relatando uma textura lisa, enquanto o outro lado apresentava uma textura áspera. Quanto à cicatrização, o lado executado pela lâmina de bisturi ainda não tinha completado a epitelização (Fig. 8, 9 e 10). Figura 6 – Remoção do epitélio com lâmina 15c. Figura 8 – Cicatrização do lado direito. Figura 7 – Aspecto final do procedimento. RESULTADOS Após uma semana, o paciente retornou para a avaliação do procedimento, tendo preenchido a escala de dor e o questionário de observações. O Gráfico 1 representa a diferença do tempo cirúrgico gasto entre as duas técnicas. O tempo utilizado pela técnica utilizando broca e lâmina de bisturi foi respectivamente: 4 e 13 minutos. O percentual diferencial entre as duas técnicas foi de 69,23%. Figura 9 – Cicatrização do lado esquerdo. Figura 10 – Aspecto após 7 dias. DISCUSSÃO Gráfico 1 – Tempo cirúrgico gasto entre as duas técnicas. 62 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 O sucesso para remoção da discromia gengival tem sido amplamente relatado. Embora a pigmentação melânica étnica e fisiológica seja comum, ela não é um problema médico. Alguns indivíduos podem se tornar conscientes desta alteração durante o sorriso ou gargalhada e requerer a sua remoção11, 5, 4. REYCE S. KOGA, RODRIGO M. C. HIRAISHI, MIRIAM R. ARDIGÓ WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE V. YURTSEVER A escolha da técnica de dermo-abrasão com broca diamantada tem sido largamente uti- executado com lâmina de bisturi apresentou-se uma superfície áspera. lizada para o tratamento de discromias gengivais, A cicatrização por segunda intenção da tendo sido introduzida por Fox em 1955. Segundo área tratada ocorre pelo processo de reepitelização Haertel , as vantagens desta técnica incluem a fácil (epitelização secundária), pois a área da gengiva realização e o baixo custo, sendo realizada sob marginal foi despida de epitélio e a epitelização é efeito de anestesia infiltrativa local. Como pontos dada pelo epitélio adjacente que se lastra pelo leito contrários discutem-se a dificuldade em se da ferida12. Podemos perceber, clinicamente, que controlar a profundidade da dermo-abrasão, o após uma semana o lado direito estava sangramento como dificultador para completa praticamente epitelizado, enquanto o lado remoção dos pigmentos, bem como dificuldade em esquerdo apresentava-se edemaciado e com se obter adequado acesso . No caso relatado alguns pontos sangrantes. 6 1 observou-se que a técnica utilizando broca A repigmentação melânica refere-se ao diamantada foi mais vantajosa em relação ao reaparecimento clínico da pigmentação depois de tempo, já que nesta técnica foram gastos 4 minutos, um determinado período, e tem sido descrita em a facilidade no manuseio do instrumental e no estudos com animais e humanos 13, controle da hemostasia. ocorrência é descrita como espontânea e tem sido 3, 8 . Esta Na dermo-abrasão com lâmina de bisturi a associada com a migração de células produtoras de frio realizam-se movimentos suaves e atritam-se o melanina das áreas próximas ao sítio tratado. Em epitélio e tecido conjuntivo até a completa remoção nosso estudo não foi avaliado recidiva em razão do da pigmentação presente. Esta técnica requer tempo de cicatrização ser ainda muito prematuro. anestesia infiltrativa local previamente à sua CONCLUSÃO realização. O sangramento presente pode dificultar a completa remoção dos pigmentos 6. Em concordância com o autor, a técnica utilizando A ocorrência da pigmentação melânica é lâmina de bisturi apresentar facilidade de realização vasta, podendo acarretar problemas estéticos ao e baixo custo, porém o tempo cirúrgico é maior, paciente. Há várias técnicas cirúrgicas para aproxima-damente 13 minutos, requer uma maior correção, dentre elas podemos destacar o uso de destreza manual do cirurgião no ato e apresenta dermo-abrasão com brocas diamantadas ou maior dificuldade no controle da hemostasia. lâminas de bisturi. Estas técnicas, além de A intensidade da dor é descrita com muita apresentarem baixo custo, serem relativamente subjetividade e relacionada não apenas com o en- simples e de curta duração, trazem resultados volvimento patológico e limiar de dor do paciente, favoráveis, devolvendo a harmonia do sorriso ao como também a emotividade e aspecto paciente. Diante do momento cirúrgico e dos psicológico. A tentativa de quantificação da dor, resultados avaliados pós-operatórios, concluímos determinando o grau 0 (zero – ausência de dor) a que a técnica de dermo-abrasão com broca 10 (dez – dor intensa), auxilia na avaliação da diamantada mostra-se mais vantajosa em relação dor . De acordo com a avaliação individual do à técnica com lâmina de bisturi. 10 paciente para cada hemi-arco, não houve incômodo relacionado à dor, porém no lado em REFERÊNCIAS que foi executada a técnica de dermo-abrasão com broca houve maior conforto, apresentado uma textura lisa e uniforme, enquanto o lado 1. ATSAWASUWAN, P. et. al . «Treatment of Gingival Hyperpigmetation for esthetic Purposes revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 63 TRATAMENTO DA DISCROMIA GENGIVAL: COMPARAÇÃO DE DUAS TÉCNICAS by Nd: YAG Laser: Report of 4 cases». J. Periodontology, 2000, 71, p. 315-321. 8. PERLMUTTER, S. TAL, H. «Repigmentation of the gingival following surgical injury». J. Periodontal, 1986, 57, p. 48-50. 2. GOLDZIEHER, J. A, ROBERTS, J. S, RAWLS, W. B, et. al. «Chemical analysis of the intact skin by reflectance spectrophotometry». Arch Dermatol Syph., 1951, 64, p. 533-537. 9. BISHOP, K. Treatment of insightly oral pigmentation: A case report. Dent Update, 1994, 21, p. 236-237. 3. DUMETT, C. O. «Oral pigmentation. First symposium on oral pigmentation». J Periodontol, 1960, p. 356-360. 10. ESTRELA, C. et. al. Endodontia – Princípios Biológicos e Mecânicas. 1.ª ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. 4. TAL, Haim et. al. «Gingival Depigmentation by Erbium: YAG Laser: Clinical Observations and Patient Responses». J. Periodontology, 2003, 74, p. 1.660-1.667. 11. FARNOOSH, A. A. «Treatment of gingival pigmentation and discoloration for esthetic purposes». Int. J. Periodontics Restorative Dent, 1990, 10, p. 313-319. 5. MARTINI, F. H. TIMMONS, M. J. Human Anatomy. New Jersey: Prentice Hall Publishers Company, 1995, p. 88-93. 12. PETTERSON, L, ELLIS, E III, HUPP, J, TRUCKER, M. Cirurgia oral e maxilofacial al contemporânea. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 6. HAERTEL, G. B. Discromias Gengivais. Campinas, São Paulo, novembro, 2006. 7. GLICKMAM, I. SMULOW, J. B, E. D. S. «Gingival pigmentation». In: Periodontal Disease Philadelphia. Philadelphia: W. B. Saunders CO, 1974, p. 3-5. 64 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 13. HIRSCHFELD, I. HIRSCHFELD, L. «Oral pigmentation and a method of removing it». Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol., 1951, 4, p. 1.0121.016. HAMAR TOMA HIPO TALÂMIC O C AUS ANDO HAMART HIPOT ALÂMICO CA USANDO PURBED ADE PREC OCE CENTRAL: REL ATO DE C ASO PURBEDADE PRECOCE RELA CASO HAMARTOMA HYPOTHALAMIC CAUSE CENTRAL PRECOCIOUS PUBERTY: CASE REPORT REJANE NINA MARTINS NEVES*, FERNANDA DE AZEVEDO CORRÊA** RESUMO: A puberdade precoce central (PPC) ou verdadeira, também chamada de dependente de gonadotrofinas, é causada por ativação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Trata-se de uma desordem rara, com incidência de 1:5.000 a 1:10.000 crianças/ano. É mais comum em meninas do que em meninos, em uma proporção de 5-10:1. Apresenta-se com um quadro clínico-laboratorial idêntico ao da puberdade normal, e muitos desses pacientes tornam-se potencialmente férteis. O prejuízo mais significativo da PPC, a longo prazo, é a redução da estatura do adulto. Distúrbio do sistema nervoso central (SNC) é uma das principais causas de PPC, entre eles o hamartoma do túber cinério tema deste relato de caso. Palavras-chave: Puberdade precoce central, eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, hamartoma do túber cinério. ABSTRACT: Central precocious puberty (CPP) or complete, it is also called dependent of gonadotrofine; it is caused by premature activation of the hypothalamic-pituitary-gonadal axis. It is a rare disorder, with incidence from 1:5.000 to 1:10.000 children/year. It is more common in girls than in boys, (5-10:1). The clinical and laboratorial picture are identical to the one of normal puberty, and many of these patients become potentially fertile. The most significant damage of CPP is the decreasing of the final height. Central nervous system (CNS) disorder is one of the major causes of CPP, including the tuber cinereum hamartoma which is the theme of this paper. Keywords: Central Precocious Puberty, hypothalamic-pituitary-gonadal axis, tuber cinereum hamartoma. INTRODUÇÃO Hamartomas hipotalâmicos (HHs) ou do túber cinério não são verdadeiros tumores. Tratase de malformações congênitas compostas de uma massa heterotrópica de neurônios neurossecretores, feixes de fibras e células gliais. Os HHs causam PPC geralmente antes dos três anos de idade por secretarem o hormônio GnRH (Hormônio Liberador de Gonadotrofinas), que estimula a hipófise a produzir LH (Hormônio Luteinizante) e FSH (Hormônio Folículo Estimulante), os quais, por sua vez, estimulam as gônadas a produzir os esteróides sexuais. Em alguns casos, contudo, o HH secreta o fator de crescimento transformante-á (TGF-á) que, por sua vez, estimula a secreção de * ** GnRH. Outras possíveis manifestações incluem convulsões, sendo as mais características as crises convulsivas gelásticas (o paciente parece estar sorrindo permanentemente), cefaléia, sintomas visuais, retardo mental, distúrbios do comportamento e síndromes dismórficas. RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 3 anos, natural e procedente de Manaus/AM, apresentou aos 1 ano e 5 meses de idade aumento do pênis, dos testículos e surgimento de pêlos pubianos. Mãe afirmava que pronunciava poucas palavras, negou déficit auditivo e não relatou crises convulsivas. Médica residente de Clínica Médica do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Médica especialista em endocrinologia e endocrinologia pediátrica assistente do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 65 HAMARTOMA HIPOTALÂMICO CAUSANDO PUBERDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO Ao exame físico inicial com idade cronológica de três anos apresentava acne na face, altura de 106 cm (acima do percentil 95) e com desvio padrão de altura de + 3,0 (Figura 1). O peso na época era de 20,4 kg com índice de massa corpórea de 18 (no percentil 90). A idade óssea aos 3 anos era de 7 anos (Figura 2). A altura-alvo do paciente (altura da mãe + altura do pai + 13 / 2) era de 160,6 cm. O exame dos caracteres sexuais secundários e das gônadas revelou: pênis de 7 cm de comprimento (desvio padrão para a idade de + 2,0); testículos de 3 cm no maior diâmetro, normal para a idade de 12 anos, G2/G3 no critério de Tanner e pêlos pubianos pigmentados e grossos no monte pubiano, P3 no critério de Tanner (Figura 3). Os exames laboratoriais mostraram LH: 2,3 UI/L (> 0,6); FSH: 2,6 mUI/L (1,5-12,4); Testosterona total: 1,7 ng/ml (1 a 6 anos 0,03-0,32); TSH (Hormônio Tireostimulante): 7,2 fUI/mL (0,274,2); T4 livre (Tiroxina): 12 pmol/l (12-22); DHEAS (Sulfato de De-hidropiandrosterona): 13 (1 a 4 anos 0,47-19,4); 17-OHP (17- Hidroxiprogesterona): 0,59 mg/24h (3-9), confirmando puberdade precoce central. Nos exames de imagem, a ultra-sonografia (US) de testículos revelou TD: 3,44 cm,3 TE: 3,35 cm3, o valor normal para idade é de 0,8 cm3. A Ressonância Nuclear Magnética (RNM) de hipófise revelou uma formação expansiva, pedunculada, medindo perto de 1,9 x 1,6 cm, isointensa em relação à substância cinzenta em T1 e T2, sem impregnação pós-contraste, sugerindo hamartoma do túber cinério (Figura 4). Foi 66 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 então iniciado tratamento preconizado com o acetato de leuprorrelida 3,75 mg intramuscular a cada 28 dias. DISCUSSÃO Diante da suspeita de um caso de puberdade precoce (PP), devemos lembrar as variantes normais de desenvolvimento pubertário como a telarca precoce, a telarca exagerada, a adrenarca precoce e a menarca precoce. Nestes casos, em geral, há uma progressão lenta e não compromete a altura final das crianças, raramente necessita de intervenção terapêutica. O primeiro passo para o diagnóstico é colher uma história clínica determinando a idade do início das manifestações. É considerada PP em meninas o surgimento de caracteres sexuais secundários antes dos oito anos de idade, e em meninos antes dos nove anos. Ainda na história clínica, devemos determinar a velocidade de progressão, pesquisar antecedentes mórbidos (infecções do SNC, traumatismo craniano, exposição a esteróides sexuais) e questionar sobre sintomas neurológicos ou sugestivos de hipotiroidismo.1 No exame físico inicial são dados importantes: altura, peso e altura-alvo da criança. Em seguida, verificar no gráfico de altura e peso se a criança encontra-se muito acima do esperado para a família, fato comum na PP; o exame das mamas e dos pêlos pubianos nas meninas e o exame dos testículos – maior diâmetro em centímetros – pênis e pêlos pubianos em meninos. Os caracteres sexuais devem então ser classificados REJANE NINA MARTINS NEVES, FERNANDA DE AZEVEDO CORRÊA de acordo os critérios de Tanner. É importante também buscar manifestações de excesso de androgênios em ambos os sexos (acne, hirsutismo e cliteromegalia), bócio e alterações cutâneas. O exame neurológico deve ser feito incluindo a fundoscopia. Com a história clínica compatível e o exame físico alterado e/ou não esperado para a idade, devemos prosseguir solicitando radiografia de punho e mão para avaliar a idade óssea, a qual está usualmente avançada, US de testículos visando descartar neoplasia em caso de aumento testicular unilateral e US pélvica para avaliar a morfologia do útero e ovários, cujo tamanho está aumentado na PPC e normal nas variantes normais citadas acima. A RNM de hipófise ou a tomografia computadorizada (TC) de crânio são úteis para pesquisar a etiologia da PPC, mas devem ser realizadas somente após a confirmação bioquímica da PPC. Os exames bioquímicos são extremamente úteis no diagnóstico diferencial das formas de precocidade sexual e compreendem as dosagens hormonais em condição basal e o teste após estímulo com GnRH exógeno. Com o advento de novos imunoensaios mais sensíveis, como o IFMA (imunofluorométrico), tem sido proposto que a dosagem basal do LH poderia indicar o início da secreção aumentada de gonadotrofinas, distinguindo entre PPC, outras causas de PP e indivíduos pré-púberes. Níveis basais, portanto, de LH > 0,6 UI/L em indivíduos com PP seriam indicativos de PPC em ambos os sexos. No nosso paciente, o LH basal foi de 2,3 UI/L. O teste do GnRH se faz necessário apenas nos casos com valores basais d» a 0,6 UI/L com forte suspeita clínica. 1 O teste consiste na administração de GnRH 75 ìg/m2, máximo de 100 ìg, e dosagem do LH e FSH nos tempos: 0, 15, 30, 45 e 60 min. O teste é considerado positivo se houver pico de 6,9 UI/L em meninas e 9,6 UI/L em meninos. A avaliação do FSH basal não é útil para o diagnóstico de PP. Quanto aos esteróides sexuais, os níveis de testosterona total têm maior sensibilidade diagnóstica em meninos do que os níveis de estradiol (E2) em meninas. Se os exames bioquímicos iniciais mostrarem o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas bloqueado, deve-se prosseguir a investigação para puberdade precoce periférica (PPP), por meio da dosagem de 17-OHP, androstenediona, DHEA e cortisol basais e após estímulo com ACTH na suspeita de hiperplasia adrenal congênita (HAC); testes de supressão com dexametasona para diferenciar tumor adrenal de HAC; e dosagem da â-hCG na pesquisa de tumores secretores de hCG.1 Embora os análogos agonistas GnRH tenham se tornado um tratamento estabelecido para PP, há poucos estudos a longo prazo sobre a recuperação do eixo hipófise-gonadal (função reprodutiva) e a saúde geral após a interrupção da terapia.2 A indicação de tratamento deve estar vinculada à idade de apresentação dos caracteres puberais, como também à rapidez de sua progressão. Vários estudos correlacionam a eficiência terapêutica à menor idade de manifestação e de tratamento da PP, em especial antes dos cinco ou seis anos de idade.1 No caso apresentado neste artigo, o curto tempo de tratamento não permite que sejam feitas conclusões a respeito da eficácia do tratamento em longo prazo, principalmente com relação à altura final atingida. A patogênese da PPC e das convulsões gelásticas em função de um HH ainda está em debate. Foi avaliada em um estudo a relação dos sintomas clínicos com a morfologia e a localização dos HHs em 34 pacientes. A maioria dos HHs dos pacientes com PPC isolada (86,4%) era do sexo feminino (N = 22; 68,2%). Os HHs apresentaram uma posição para-hipotalâmica sem afetar o terceiro ventrículo em 91% dos casos, metade deles era pedunculada e 40,9% apresentaram um diâmetro < 10 mm. Em contrapartida, 11 dos 12 pacientes com crises epilépticas apresentaram hamartoma séssil intra-hipotalâmico, em dez dos quais havia distorção do terceiro ventrículo. É mais provável que a posição do HH e envolvimento do terceiro ventrículo sejam mais preditivos das revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 67 HAMARTOMA HIPOTALÂMICO CAUSANDO PUBERDADE PRECOCE CENTRAL: RELATO DE CASO características clínicas do que o tamanho e a forma do HH.3 Em outro estudo com dez crianças apresentando sinais físicos de puberdade (cinco meninas e cinco meninos) com PPC em função de HH com idade média de 2,2 +/- 1,6 ano. Dois dos dez tinham uma massa pedunculada, e oito dos dez tinham uma massa séssil. O HH variou de diâmetro de 4-25 mm e não mudou com o tempo (3,5-8,7 anos). Quatro pacientes tinham crises epilépticas: três com convulsões gelásticas e um com convulsão tônico-clônica. As formas do HH, séssil ou pedunculado, não se relacionaram com a ocorrência de convulsões. Os dados clínicos eram comparáveis as dez pacientes do sexo feminino com puberdade precoce idiopática (PPI). Nove dos dez pacientes com HH e todos com PPI foram tratados com o agonista do GnRH. A resposta ao tratamento foi excelente em ambos os grupos e indistinguível. Embora ressecção cirúrgica do HH tenha sido recomendada em alguns artigos, observou-se um aumento da morbi-mortalidade, e se a remoção for incompleta, não há melhora clínica. Na experiência do estudo em questão, a terapia com agonistas do GnRH é preferível à abordagem cirúrgica.4 Para estudar a resposta terapêutica ao agonista GnRH, foi realizado um estudo de segmento com 11 meninos com HH após 8,8 ± 3,2 anos do tratamento. Os níveis de FSH e LH, testosterona, volume dos testículos e índice de massa corporal (IMC) foram comparados com os de seis rapazes normais em estágio puberal IV-V. Verificou-se que o LH, o FSH e a testosterona normalizaram por um ano após a interrupção terapêutica. Os pacientes com testículos de volumes menores permaneceram normais até dois anos após a terapêutica. Após quatro anos do tratamento, todos os pacientes tinham pêlos pubianos em estágio puberal V; seu IMC não foi diferente dos rapazes normais. Os HHs não se alteraram durante ou após a terapêutica, e nenhum paciente relatou novos sintomas neurológicos ou sinais sugestivos de aumento da lesão.5 68 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 Este relato de caso chama a atenção para a importância do reconhecimento e da investigação da PP por ter um impacto psicossocial significativo nas famílias dos pacientes que quase sempre desconhecem as etiologias e o prognóstico da PP. O controle da progressão puberal propicia redução do grau de ansiedade dos familiares e do maior risco de abuso sexual a que as crianças com PP estão sujeitas. Pode ainda atuar de maneira benéfica na fertilidade futura e na redução do risco de câncer de mama associado à menarca precoce,1 além de preservar a estatura final destes indivíduos. REFERÊNCIAS 1. VILAR, L. Endocrinologia Clínica. 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2006, p. 204 a 217. 2. Feuillan P. P., et al. «Reproductive Axis after Discontinuation of Gonadotropin-Releasing Hormone Analog Treatment of Girls with Precocious Puberty: Long Term Follow-Up Comparing Girls with Hypothalamic Hamartoma to Those with Idiopathic Precocious Puberty». The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 84, n. 1, p. 44-49, 1999. 3. Jung, H., Probst, et al. «Association of Morphological Characteristics with Precocious Puberty and/or Gelastic Seizures in Hypothalamic Hamartoma». The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 88, n. 10, p. 4.590-4.595, 2003. 4. Mahachoklertwattana P., Kaplan S. L., GRUMBACH M. M. «The luteinizing hormonereleasing hormone-secreting hypothalamic hamartoma is a congenital malformation: natural history». Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, vol. 77, p. 118-124, 1993. 5. Feuillan P. P., et al. «Boys with Precocious Puberty Due to Hypothalamic Hamartoma: Reproductive Axis after Discontinuation of Gonadotropin-Releasing Hormone Analog Therapy». The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 85, n. 11, p. 4.036-4.038, 2000. A IMPOR TÂN CIA DO PL ANEJ AMENT O N A IMPORT ÂNCIA PLANEJ ANEJAMENT AMENTO NA REABILIT AÇÃ O ES TÉTIC A DO SORRISO PEL A REABILITA ÇÃO ESTÉTIC TÉTICA PELA CIR UR GIA PL ÁS TIC A PERIODONT AL: REL ATO DE CIRUR URGIA PLÁS ÁSTIC TICA PERIODONTAL: RELA CASO THE IMPORTANCE OF PLANNING THE SMILE AESTHETIC REHABILITATION THROUGH PLASTIC PERIODONTAL SURGERY: CASE REPORT LISSA YUKA MENEZES SATO*, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES*, MIRIAM RAQUEL ARDIGÓ WESTPHAL**, SAMUEL LUNGAREZE***, FIKRIYE VIGA YURTSEVER**** RESUMO: A estética é uma ciência que nos dias de hoje está cada vez mais presente e almejada no tratamento odontológico. Nesse contexto, o planejamento é uma ferramenta essencial para a obtenção de um resultado favorável para harmonia estética do sorriso. O presente artigo tem por objetivo relatar um caso clínico de planejamento de cirurgia plástica periodontal empregada na correção do sorriso gengival, com um auxílio de um guia cirúrgico, no qual foi possível contribuir para sucesso do tratamento e a estética do sorriso. Palavras-chave: Planejamento, guia cirúrgico, sorriso gengival, erupção passiva alterada, cirurgia plástica periodontal. ABSTRACT: The aesthetic is a science that, currently, it is more present and desired in the dental treatment. In this context, the planning is an essential tool to obtain a favorable result to the aesthetic harmonic smile. This article aims to report a case of periodontal plastic surgery planning, using a surgical template, used in the correction of the gummy smile, that contributed to improve the success of the treatment and the smile aesthetics. Keywords: planning, surgical template, gummy smile, delayed passive eruption, periodontal plastic surgery. INTRODUÇÃO A Periodontia mudou o enfoque nos últimos anos, deixando de preocupar-se exclusivamente com a prevenção e tratamento das doenças, e passando a buscar alternativas efetivas para reconstrução de uma estética dos tecidos periodontais perdidos1. No século 21, para o sucesso dos tratamentos odontológicos, os cirurgiões-dentistas deverão ter a destreza de acompanhar os avanços científicos e novas tecnologias, assim como compreender aspectos culturais e hábitos do paciente, proporcionando-lhe os cuidados necessários para melhoria de sua condi- ção de saúde bucal, sem comprometer sua expectativa em relação à estética2. Condições estéticas relacionadas à saúde gengival são componentes essenciais para a imagem e alguns dos parâmetros estéticos envolvidos no que se diz «sorriso ideal» estão incorporados à estética facial e gengival, macroestética e microestética3, 4. Numerosas situações podem comprometer as características normais da gengiva influenciando a condição estética dentofacial, dentre elas podemos destacar os processos infecto-inflamatórios, hiperplasias, alterações de cor e recessões gengivais5. Uma das alterações a ser destacada é Acadêmicas da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas Professora titular da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Endodontia e Periodontia, mestranda em Periodontia – SLMandic/SP *** Professor substituto da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Periodontia, mestrando em Patologia Tropical – Ufam **** Professora substituta da Disciplina de Periodontia – FO-Ufam, especialista em Periodontia * ** revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 69 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA DO SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIODONTAL: RELATO DE CASO definida como a exposição de mais de 3mm de gengiva durante um sorriso moderado constituindo o sorriso gengival6. Este artigo, embasado em evidências científicas, tem como objetivo o relato de caso clínico ressaltando a importância do planejamento cirúrgico para o sucesso da correção do sorriso gengival. REVISÃO DE LITERATURA Mudanças atuais nos paradigmas clínicos do tratamento periodontal têm criado um ambiente no qual os procedimentos estéticos periodontais são, muitas vezes, tão comuns como as terapias ressectivas realizadas anteriormente. Pode notar-se na população a tendência em direção ao reconhecimento da estética gengival e a comercialização de saúde em benefício próprio, por isso a demanda torna-se mais sofisticada e exigente aos profissionais em relação aos procedimentos odontológicos4, 7. Primordialmente, os elementos que contribuem para a estética do periodonto do segmento anterior estão relacionados no plano facial e labial e dependem da disposição dentária e da gengiva; no entanto, é importante correlacionar conjuntamente todos esses elementos para obter uma harmonia estética global8. No “design” do sorriso, o ponto de partida para o plano de tratamento estético é a linha sagital mediana, pois esta referência é utilizada como guia estético facial porque, além de coincidir com a linha interincisiva, permitindo sua localização, também avalia as discrepâncias transversais nas posições dos dentes. Vale salientar que sua verticalidade é mais importante do que seu eventual afastamento lateral3, 4. A linha do sorriso, um dos fatores de grande influência da estética dos dentes e da face, define-se pelo paralelismo na curvatura entre as linhas incisal e labial inferior. Este fator estético é classificado em três categorias: alta, representada pela extensão coronária dos dentes anteriores superiores e uma faixa contínua de gengiva; média, que compreende os dentes anteriores superi- 70 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 ores e gengiva interproximal; e baixa, que corresponde somente aos dentes anteriores superiores, assim determinando a orientação da linha do sorriso, o profissional pode projetar sua curvatura e forma8. No entanto, quando as bordas incisais dos incisivos centrais superiores localizam-se abaixo dos caninos superiores, a linha do sorriso tem um design convexo, ocasionando um aspecto harmônico com a linha do lábio inferior. Entretanto, quando a borda oclusal dos caninos e pré-molares superiores está localizada além da borda incisal dos incisivos centrais superiores, define-se a «linha do sorriso reversa» resultando na desarmonia dentofacial4. De acordo com os fatores estéticos abordados, a observação do tipo de sorriso é de fundamental importância no planejamento estético dos casos clínicos1. Há dois padrões aceitáveis de sorriso classificados de acordo com relação à altura da margem gengival em áreas estéticas: 1) a margem gengival dos incisivos centrais superiores (ICS) e caninos (CS) devem estar com a margem dos incisivos laterais (ILS) posicionada à incisal de 1 a 2mm (Classe I); e 2) o ICS, ILS e CS na mesma altura (Classe II). Outro aspecto fundamental para o planejamento estético compreende o zênite gengival, o qual corresponde à porção mais apical da margem gengival. Em função da inclinação dos dentes ser mesial em relação à linha média e interincisiva, o zênite gengival no segmento anterior é levemente distal ao eixo axial dos dentes. Isso é valido para o ICS e CS; já nos ILS o zênite é normalmente coincidente com seu longo eixo, provavelmente pela diminuta largura do seu diâmetro cervical9. No entanto, comumente os cirurgiões-dentistas se depararam com os desvios da normalidade que podem ocasionar no colapso estético periodontal, por isso a necessidade de o profissional estar apto a diagnosticar alterações acometidas ao periodonto, dentre elas destaca-se o sorriso gengival o qual é considerado um achado antiestético pelos pacientes. Este tipo de sorriso pode ser definido como a exposição de mais de LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER 3mm de gengiva durante um sorriso moderado. Erupção passiva alterada, aumento do volume de gengiva pelo acúmulo de biofilme dental ou uso de medicamentos, excesso vertical de maxila, lábio superior curto e extrusão dentoalveolar estão dentre os fatores etiológicos desta condição1, 6. A erupção passiva alterada (EPA) desenvolve quando a margem gengival encontra-se incisalmente da coroa anatômica em indivíduos Figura 1 – Aspecto Clínico Inicial adultos e não migra apicalmente para uma posição próxima do limite amelocementário (LAC)10. A EPA foi classificada correlacionando a quantidade de gengiva queratinizada à crista óssea. Esta classificação abrange dois tipos e subtipos, sendo que o tipo I possui a margem gengival coronária a LAC, considerável largura gengival e junção mucogengival (JMG) geralmente apical à crista óssea e o tipo II determina que a JMG e LAC são geralmente concordantes e a largura gengival diminuída em relação à média e localizada na coroa anatômica. Os subtipos são os seguintes: subtipo A envolve 1,5mm entre o LAC e a crista óssea, e o subtipo B define que a distância entre a LAC e a crista óssea está no mesmo nível8, 11. RELATO DO CASO CLÍNICO Paciente A. P. B, gênero feminino, leucoderma, 32 anos, compareceu à Clínica de Periodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Amazonas para a realização de um exame semiológico de rotina. No exame físico extra-oral, foi observada linha alta Após análise dos achados clínicos e radiográficos, foi diagnosticado que a paciente apresentava sorriso gengival em função de uma alteração no desenvolvimento dos processos de erupção, denominada como erupção passiva alterada, sendo classificada em tipo I – subgrupo A. O tratamento preconizado foi o periodontal básico de suporte, alisamento radicular, controle da higiene bucal, orientação da técnica de escovação de Bass e motivação. A reavaliação foi executada após 15 dias e foi verificada que o IG e IP reduziram para 32 e 47%, respectivamente; entretanto, não houve a remissão do quadro hiperplásico. No planejamento da correção do sorriso gengival, primeiramente foi confeccionado um modelo de gesso para auxiliar o estudo do caso. Em seguida, foi realizada a demarcação dos pontos nas medidas do NIC da paciente, sendo que em cada dente foram demarcados três pontos, localizados na mesial, vestibular e distal (Fig. 2). Após a demarcação dos pontos, foi confeccionado o traçado da altura desejada da margem gengival (Fig. 3). do sorriso, a qual proporcionava o aparecimento de mais de 3mm de gengiva. No exame intrabucal foi constatado que a paciente apresentava periodonto espesso no segmento superior anterior com características de hiperplasia gengival (Fig. 1). No exame periodontal obteve-se 34% do Índice Gengival (IG) de Aimano e Bay, 94% do Índice de Placa (IP) de O’Leary, e no Nível de Inserção Clínico (NIC) a média obtida foi de 3-4mm, sendo comprovado pelas radiografias. Figura 2 – Mapeamento do NIC revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 71 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA DO SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIODONTAL: RELATO DE CASO Após a seqüência do planejamento descrito, foi possível a realização da cirurgia plástica periodontal, proposta para a correção do sorriso gengival da paciente deste caso clínico. A técnica cirúrgica adotada foi de gengivectomia com osteoplastia utilizando o retalho de Widman Modificado, sendo que o guia Figura 3 – Traçado da altura da margem gengival cirúrgico foi utilizado para a demarcação dos O seguinte passo do planejamento foi a demarcação dos zênites de cada dente para servir de base na confecção do guia cirúrgico (Fig. 4), sendo que os zênites dos elementos dentários 13, 11 e 21 foram dispostos para a distal e dos elementos 12 e 23 direcionou-se para a eixo axial dos respectivos elementos. Entretanto, é preconizado que o zênite dos CS seja deslocado para a distal, sendo que, neste relato de caso, o zênite do 23 foi deslocado para sua linha média, pois em razão da ausência do elemento 22, este se reposicionou no lugar do ILS. A alteração do zênite do CS para ILS permitiu a transformação do CS em ILS reabilitando a paciente para obtenção de um sorriso harmônico e esteticamente aceitável. pontos sangrantes. Em seguida, foram realizadas as incisões do retalho de Widman Modificado para a remoção do colarinho gengival (Fig. 6 e 7). Subseqüentemente, o retalho total foi descolado removendo o tecido de granulação, o que viabilizou a remodelação do recontorno ósseo com a osteoplastia, a fim de promover o restabelecimento do espaço biológico e conseqüentemente a melhoria da estética periodontal (Fig. 8). Figura 6 – Incisões do Retalhe de Widman Modificado Figura 4 – Demarcação dos zênites Conforme as marcações realizadas, o guia cirúrgico foi confeccionado em resina composta fotopolimerizável, a qual foi colocada sobre as superfícies dos dentes a serem cirurgicamente tra- Figura 7 – Remoção do colarinho gengival tados (Fig. 5). Figura 5 – Confecção do guia cirúrgico 72 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 Figura 8 – Recontorno ósseo com aparecimento do LAC LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER Concluindo a cirurgia periodontal, depois da devida irrigação com soro fisiológico e limpeza da área cirúrgica, reposicionou-se o retalho para a realização da sutura em colchoeiro vertical e ponto simples na região das papilas (Fig. 9). Após 7 dias, foram retiradas as suturas e pôde observar-se o aspecto clínico final com a reanatomização do CS em ILS (Fig. 10). As recomendações pós-operatórias dadas foram que a paciente deveria evitar a escovação na região da área cirúrgica e somente fazer a higienização com digluconato de clorexidina 0,12%. Figura 9 – Sutura em colchoeiro vertical Figura 10 – Aspecto clínico final com reanatomização do CS em ILS DISCUSSÃO Com a evolução das técnicas plásticas periodontais e o melhor entendimento dos aspectos ligados à estética do sorriso, diversas alternativas estão disponíveis no arsenal terapêutico para contribuir numa abordagem multidisciplinar do tratamento odontológico. A obtenção do sucesso estético requer um planejamento criterioso que envolva a avaliação detalhada de todos os fatores que interfiram na harmonia e simetria dos elementos que compõe o sorriso1. Os planejamentos dos procedimentos odontológicos clínicos ou cirúrgicos devem ser baseados em evidências científicas comprovadas que irão promover o sucesso do tratamento12. Sem antecipar potenciais falhas, qualquer expectativa almejada e satisfação imediata do paciente são limitadas e ignora futuros acidentes que possam vir a ocorrer durante o trans- e pós-operatório dos procedimentos. Baseado no modelo de gesso para estudo, pôde fazer-se o criterioso planejamento estético para a correção do sorriso gengival da paciente, sendo que o excesso gengival não causa somente problemas estéticos, mas também funcionais, como a proteção diminuída ao traumatismo da função mastigatória ou colaborando com a doença periodontal. Certos autores preconizam o planejamento estético periodontal deve-se avaliar a forma, cor e disposição dos dentes anteriores e o seu relacionamento com os tecidos moles que determinam o sorriso, conferindo um contexto de harmonia em relação à face do paciente, além de avaliar a condição periodontal, biótipo periodontal, linha do sorriso e exposição gengival, contorno e zênite gengival1,3. De acordo com a paciente do caso em questão, ela se enquadra nos padrões antiestéticos em relação ao contorno gengival, pois, quando sorri, fica evidente mais de 3mm de gengiva caracterizando o sorriso gengival. A erupção passiva alterada é caracterizada pela presença de coroa clínica curta com um excesso de gengiva que cobre parte da coroa anatômica, sendo que o diagnóstico pode realizar-se verificando a distância entre a margem gengival e o limite amelocementário em relação à borda incisal, altura de gengiva queratinizada, localização da crista alveolar, posição dos dentes, situação do freio, nível de inserção clínica e grau de inflamação5. As características clínicas do periodonto e dente da paciente eram condizentes com as características supracitados, o que nos sugeriu o diagnóstico de erupção passiva alterada. A linha estética gengival pode ser definirevistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 73 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA REABILITAÇÃO ESTÉTICA DO SORRISO PELA CIRURGIA PLÁSTICA PERIODONTAL: RELATO DE CASO da como uma linha que une as tangentes dos zênites gengivais marginais dos ICS e dos CS e ângulo desta linha é formado pela intersecção dessa linha com a linha interincisiva.3 Partindo dos valores normais da relação comprimento/largura, da anatomia, da posição e do alinhamento do segmento dentário anterior, a melhor escolha estética para paciente foi a classificação tipo II da linha estética gengival, a qual é definida que localização dos elementos dentários ICS, ILS e CS estão na mesma altura, formando o ângulo de 90º com a linha interincisiva. Entretanto, a classificação tipo I da linha estética gengival é considerada a mais aceitável no padrão estético, porém, em função da ausência do elemento dentário 22 e com concomitante migração do CS para a distal ICS, a classificação do tipo I não foi considerada estética para a paciente deste caso, optando-se assim pela utilização da classe II também considerada esteticamente aceitável. O zênite gengival, fator necessário para o planejamento estético, é caracterizado por ser a porção mais apical da margem gengival, sendo que nos ICS e CS está deslocado para a distal em relação à linha média e interincisiva, e nos ILS o zênite normalmente coincide com seu longo eixo, provavelmente pela diminuta largura do seu diâmetro cervical1, 8. A marcação dos zênites da paciente foi baseada neste dado direcionando os zênites dos elementos dentários 11 e 13 para a distal, e do 12 e 23 para linha média do dente em questão. O planejamento cirúrgico com o uso do guia de resina no sextante anterior permite que o cirurgião-dentista possa visualizar com exatidão a posição da margem gengival em relação à coroa, principalmente quando estão envolvidos múltiplos dentes13. Neste caso, o uso do guia cirúrgico inserido no planejamento auxiliou na alteração do zênite do CS para o ILS, o que contribuiu para a melhoria estética periodontal após a reabilitação da paciente.13 Em um sorriso gengival, foi utilizado a técnica de gengivectomia com osteoplastia dando ênfase que a localização precisa da junção amelocementária é essencial para atingir uma 74 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 melhora estética significativa14. Em um trabalho mais recente, os autores relatam que no manejo de um caso de sorriso gengival realizaram procedimentos de frenectomia, gengivectomia interna, osteotomia, osteoplastia e confecção de facetas de porcelana, alcançando dessa forma a estética almejada6. No atual relato de caso, foi utilizada a técnica de gengivectomia com o recontorno ósseo pela osteoplastia, a fim de esculpir arquitetura gengival desejada e restabelecer o espaço biológico, já que a crista alveolar estava acima da JAC, o que nos possibilitou realizar o diagnóstico conclusivo de erupção passiva alterada. Portanto, o estudo do caso e aplicação de um planejamento, embasado em evidências científicas, para a correção do sorriso gengival, permitiu que o resultado estético final fosse almejado, sendo de suma importância a expectativa positiva do paciente e do profissional, visto que as mudanças provocadas por esses procedimentos cirúrgicos são irreversíveis. CONCLUSÃO O planejamento estético depende do entendimento pleno dos conceitos periodontais, procurando inter-relacioná-los com informações relevantes de outras especialidades odontológicas afins. A importância desta ferramenta está relacionada ao sucesso do resultado final dos procedimentos odontológicos, além de concretizar a expectativa do paciente no restabelecimento de suas condições estéticas. Em suma, o procedimento cirúrgico obteve êxito, pois foi alcançado o padrão estético proposto no planejamento para a correção do sorriso gengival. REFERÊNCIAS 1. SILVA, R. C., CARVALHO, P. F. M, JOLY, J. C. «Planejamento Estético Em Periodontia». In: Macedo M. C. S., Filho R. B. Book 25o Ciosp-APCD. São Paulo, p. 299-341, 2007. LISSA YUKA M. SATO, NAIR PRISCILLA DA SILVA PAES, MIRIAM RAQUEL A. WESTPHAL, SAMUEL LUNGAREZE, FIKRIYE VIGA YURTSEVER 2. CHESTER, W. D., CHERILYN, G. S. «Patients’ Expectations for Oral Health Care in The 21st Century». Journal of American Dental Association, v. 131, p.3s-7s, june, 2000. 3. BORGHETTI, A.; MONNET-CORTI, V. «Cirurgia Plástica Periodontal». In: Estética do Periodonto. Porto Alegre: Editora Artmed, cap. 3, p. 99116, 2002. 4. MORLEY, J., EUBANK, J. «Macroesthetic elements of smile design». Journal of American Dental Association, v. 132, p. 39-45, january, 2001. 5. FERNÁNDEZ, R. G.; ARIAS, J. R.; SIMONNEAU, G. E. «Erupción pasiva alterada. Repercusiones em la estética dentofacial». Revista del Consejo de Odontológos y Estomatólogos, v. 10, n. 3, p. 289-302, maio-junho, 2005. 6. ARAÚJO, M.; KINA, S.; BRUGERA, A. «Manejo do sorriso gengivoso». Revista Dental Press de Periodontia Implantologia, v. 1, n.º 1, p. 68-75, janeiro-março, 2007. 7. REDDY, M. S. «Achieving gingival esthetics». Journal of American Dental Association, v. 134, p. 295-304, march, 2003. 8. DUARTE, C. A. «Cirurgia Periodontal PréProtética e Estética». In: Cirurgia Periodontal Estética. 2.ª ed. São Paulo: Editora Santos, cap. 9, p. 341-406, 2003. 9. CHICHE, G., PINAULT, A. Artistic and scientific principles applied to esthetic dentistry. Chicago: Quintessence Books, p. 13-32, 1994. 10. BALDA, I. G.; HERRERA, J. U.; FRÍAS, M. L.; CARASOL, M. C. «Erupción pasiva alterada. Implicaciones estéticas y alternativas terapêuticas». Revista del Consejo de Odontológos y Estomatólogos, v. 11, n.º 5-6, p. 563-571, setembro-dezembro, 2006. 11. COSLET, J., VARNARSDALL, R., WEISGOLD, A. «Diagnoses and Classification of Delayed Passive Eruption of the Dentogingival Junction in the Adults». Alpha Omega, v. 70, n.º 3, p. 24-28, 1977. 12. NOWZARI, H. «Aesthetic periodontal therapy: introduction». Periodontology 2000, v. 27, p. 7, 2001. 13. WALKER, M., HANSEN, P. «Template for Surgical Crown Lengthening: Fabrication Technique». J Prosthod., v. 7, n.º 4, p. 265-267, December, 1998. 14. REDLICH, M., MAZOR, Z., BREZNIAK, N. «Severe high angle Class II Division 1 malocclusion with vertical maxillary excess and gummy smile: A case report». Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., v. 116, n.º 3, p. 317-320, september, 1999. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 75 76 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 REL ATO DE C ASO: INSUFICIÊN CIA RESPIRA TÓRIA RELA CASO: INSUFICIÊNCIA RESPIRAT PÓS-PLEUR ODESE PÓS-PLEURODESE CASE REPORT: ACUTE RESPIRATORY FAILURE AFTER POST-PLEURODESIS FERNANDO LUIZ WESTPHAL*, LUIZ CARLOS DE LIMA*, JOSÉ CORRÊA DE LIMA NETTO**, INGRID LOUREIRO DE QUEIROZ LIMA***, ANA MÁRCIA FREITAS CARLOS***, DANIELLE CRISTINE WESTPHAL*** RESUMO: Relatar caso de insuficiência respiratória pós-pleurodese em paciente com derrame pleural com células malignas. RELATO DE CASO. Paciente de 51 anos, sexo feminino, com história pregressa de neoplasia de mama, com queixas de dispnéia, exames de imagem referindo derrame pleural e presença de células malignas à análise do líquido pleural, tratada com pleurodese com talco e evoluindo com sinais e sintomas de congestão pulmonar. Palavras-chave: Pleurodese por talco, Insuficiência respiratória, Câncer. ABSTRACT: To report a case of respiratory failure post-pleurodesis in a patient with pleural effusion of malignant cells. CASE REPORT. A 51-year-old woman, with previous breast cancer, reporting dyspnea, pulmonary images revealing pleural effusion and the presence of malignant cells under pleural effusion analysis, treated with talc pleurodesis and undergoing signs and symptoms of pulmonary congestion. Keywords: Talc pleurodeses, Respiratory failure, Cancer. INTRODUÇÃO Acúmulo de derrame pleural com células neoplásicas pode acompanhar a disseminação maligna e causar sintomas significativos com comprometimento na qualidade de vida dos pacientes. Pleurodese é um procedimento que visa obliterar a cavidade pleural aliviando os sintomas e melhorando a qualidade de vida do paciente. Diversos agentes têm sido utilizados na obtenção da pleurodese, e, dentre eles, o talco parece ser o de maior eficácia.1 Talco é um silicato de magnésio hidratado, foi utilizado pela primeira vez em 1935 pelo cirurgião Norman Bethune e tornou-se popular na segunda metade do século 20 por induzir pleurodese em diversas doenças pleurais, dentre elas pneumotórax espontâneo, doenças benignas e malignas. Comparado com outros agentes indutores de pleurodese, o talco ainda parece ser o agente com os melhores resultados em termos de eficácia e com menor recorrência de efusão.2 Efusões pleurais malignas são uma das principais causas de efusão pleural recorrente e ocorre mais comumente devido a um câncer de pulmão disseminado em homens e câncer de mama em mulheres, e a pleurodese é considerada efetiva no controle da recorrência destas efusões pleurais.3 Seu uso, entretanto, não está livre de efeitos adversos. A literatura em geral demonstra que febre, dor de intensidade variável, empiema e falência respiratória podem ocorrer, principalmente quando usadas altas doses de talco,3 além do desenvolvimento de hipóxia e síndrome da angústia respiratória do adulto, associada a seu significativo espectro de toxicidade.2,5 O objetivo deste trabalho é relatar um caso de derrame pleural após pleurodese em um paciente do sexo feminino com efusão pleu- Hospital Beneficente Portuguesa de Manaus – Serviço de Cirurgia Torácica; Hospital Universitário Getúlio Vargas – Serviço de Cirurgia Torácica. ** Hospital Universitário Getúlio Vargas – Serviço de Cirurgia Torácica. *** Acadêmicas de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). * revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 77 RELATO DE CASO: INSUFCIÊNCIA RESPIRATÓRIA PÓS-PLEURODESE ral maligna e história pregressa de câncer de mama. HISTÓRIA CLÍNICA Paciente do sexo feminino, 51 anos, queixase de dispnéia associada a mudanças de decúbito e em posição ortostática há cerca de 10 meses. Relata que apresentou neoplasia de mama esquerda em junho de 2005 e, ainda, metástase óssea no fim do referido ano. Houve recidiva local em agosto/2006, quando realizou nova QT e radioterapia. Refere fratura patológica do colo do fêmur fazendo prótese total do quadril. Ao Rx de tórax foi observado derrame pleural bilateral com maior volume à direita. À análise do derrame pleural, obteve-se resultado positivo para células neoplásicas. A tomografia computadorizada de tórax revelou derrame pleural bilateral volumoso além de lesões osteolíticas nas vértebras. Indicou-se videopleuroscopia com pleurodese com talco para o tratamento do derrame pleural neoplásico. O procedimento transcorreu sem intercorrências e a paciente foi encaminhada à unidade de terapia intensiva, extubada. Após cerca de 18 horas, iniciou quadro de dispnéia e desconforto respiratório e a radiografia de tórax neste momento revelava presença de congestão pulmonar (Fig. 1). O quadro evoluiu com piora clínica acentuada, necessitando do suporte ventilatório não-invasivo. Associado a isto, o padrão radiológico revelava áreas de consolidação algodonosas esparsas, mais evidentes à direita (Fig. 2). Figura 1 – Radiografia de tórax demonstrando congestão pulmonar. 78 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 Figura 2– Radiografia de tórax com áreas de consolidações algodonosas esparsas. Iniciou-se corticoterapia e restrição hídrica com períodos de ventilação não-invasiva. Após 4 dias, houve involução do quadro de dispnéia e melhora do quadro radiológico. O diagnóstico da complicação pós-operatória foi de edema pulmonar pós-pleurodese. DISCUSSÃO O câncer de mama é uma das neoplasias mais comuns, causando aproximadamente um terço de todos os derrames pleurais com células malignas. A maioria dos pacientes com derrame pleural neoplásico decorrentes de tumores sólidos evolui a óbito em 6 meses, enquanto aqueles com derrame pleural neoplásico por causa da carcinoma de mama apresentam sobrevida média maior, fato este que estimula a utilização de estratégias paliativas para controle da dispnéia na primeira abordagem cirúrgica e assegura benefícios a longo prazo com conseqüente melhora na qualidade de vida.1,6 Dentre os agentes que causam esclerose pleural, o talco mostra-se superior a outros agentes comumente utilizados, com um índice de sucesso de 81 a 100%, comparado aos 70-85% de sucesso mostrado pela Tetraciclina. Ainda, com a utilização do talco livre de asbesto, não há o aumento de risco de desenvolvimento de mesotelioma, nem significativo impacto na função respiratória.7 FERNANDO L. WESTPHAL, LUIZ C. DE LIMA, JOSÉ C. DE LIMA N., INGRID L. DE QUEIROZ L., ANA MÁRCIA FREITAS C., DANIELLE C. WESTPHAL No caso em questão, a paciente tinha história de câncer de mama e procurou assistência médica relatando dispnéia causada por derrame pleural bilateral, confirmado por exames de imagens, sendo detectado, após análise do líquido, presença de células neoplásicas, justificando então a intervenção conservadora por pleurodese com talco. Até o momento, entretanto, não há um consenso acerca da segurança da utilização do talco na pleurodese.2 Dentre as complicações mais comuns na literatura, febre é uma das mais comuns,8 seguido de dor e dispnéia. A intensa reação inflamatória ao talco como a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), falência respiratória aguda e lesão pulmonar aguda, todos estes ocorrendo mais raramente após a pleurodese.1 A paciente, neste relato, evoluiu com edema pleural após a realização da pleurodese, acreditando-se ser este evento causado por uma síndrome da resposta inflamatória sistêmica desencadeada pela utilização do talco. Acredita-se que o mecanismo de pleurodese com talco esteja relacionado a uma resposta inflamatória na superfície pleural. Em animais, está reação esta relacionada a desnudamento de células mesoteliais e recrutamento de infiltrado mononuclear no tecido conjuntivo subepitelial e periférico do pulmão e formação de matrizes de fibrina, podendo o talco penetrar abaixo da superfície pleural pela quebra da camada mesotelial e elástica.1,5 Na análise radiológica do derrame pleural da paciente, neste relato, pode-se perceber a presença de consolidações algodonosas esparsas, causadas pela resposta inflamatória do organismo ao talco. Pesquisadores no Brasil e nos Estados Unidos descreveram casos de síndrome do estresse respiratório agudo após pleurodese com talco; contudo, casos semelhantes não foram relatados em grandes estudos de revisão europeus ou israelenses. Estudos com animais no Brasil e Estados Unidos revelaram deposição do material no parênquima pulmonar e ainda em outros órgãos,2,5 enquanto que ele não pode ser visto nos estudos europeus. Esta discrepância pode ser explicada pelo tamanho das partículas de talco, no qual as partículas menores costumam induzir maior resposta inflamatória do que as maiores. É difícil, todavia, obter-se certeza das diferenças nas técnicas com relação ao tamanho das partículas pelo fato de quase nenhum dos estudos acerca deste assunto descreveu as particularidades das partículas de talco utilizadas, levando, portanto, as complicações causadas pelo talco a serem superestimadas.2 Conforme demonstrado pela literatura, a pleurodese com agentes químicos induz inflamação e produção de líquido pleural e, portanto, parece ser mandatória a drenagem do líquido pleural para atingir a melhor aproximação das superfícies pleurais. No entanto, em estudo no qual se propôs a drenagem do líquido pleural para drenagem por cerca de 2 horas após menos de 24 horas da realização da pleurodese, efusão recorrente foi mais freqüente do que nos outros estudos sem a drenagem pós-pleurodese.8 Embora diversos estudos tentem demonstrar os mecanismos envolvidos na respostas inflamatórias à pleurodese por talco, de fato ainda não há causas consagradas e sua etiologia ainda encontra-se obscura e considerada multifatorial. 1,2,3 A pleurodese química por videotoracoscopia é considerado procedimento seguro e eficaz para tratar o derrame pleural neoplásico e deve ser considerado o tratamento padrão-ouro para completa reexpansão pulmonar.6 Em conclusão, a evolução da paciente após a pleurodese foi favorável, pois após 6 meses de evolução houve estabilização do quadro de derrame pleural, sem necessidade de novas toracocenteses. Ao indicar-se a pleurodese por talco, devemos estar cientes das complicações advindas do método, incluindo a insuficiência respiratória aguda, assim como devemos estar aptos a tratá-las adequadamente. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 79 RELATO DE CASO: INSUFCIÊNCIA RESPIRATÓRIA PÓS-PLEURODESE REFERÊNCIAS 1. KUZNIAR, T., BLUM, M., KASIBOWSKAKUZNIAR, K., MUTLU, G. «Predictors of Acute Lung Injury and Severe Hypoxemia in Patients Undergoing Operative Talc Pleurodesis». Ann Thorac Surg, n.º 82, p. 1.976-81, 2006. 2. JANSSEN, J., COLLIER, G., ASTOUL, P., TASSI, G. «Safety of pleurodesis with talc poudrage in malignant pleural effusion: a prospective cohort study». Lancet, vol. 369, mai., 2007. 3. KOLSHMANN, S., BALLIN, A., GILLISSEN, A. «Clinical efficacy and Safety of Thoracoscopic Talc Pleurodesis in Malignant Pleural Effusion». Chest., vol. 128, p. 1.431-1.435, 2005. 4. MASKELL, N., LEE, Y. C., GLEESON, F. V., HEDLEY, E. L., PENGELLY, G., DAVIES, R. J. «Randomized trials describing lung inflammation after pleurodesis with talc of varying particle size». Am J. Respir Crit Care Med., vol. 15, n.º 4, p. 377-382, ago., 2004. 80 revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 5. REFOSCO, T., DUTRA, I., SCHNEIDER, A. «Estudo das alterações ultra-estruturais em pleura de ratos pós-pleurodese por talco». Col. Bras. Cir., vol. 31, n.º 6, nov.-dez., 2004. 6. GASPARRI, R., LEO, F., VERONESI, G., DEPAS, T., COLLEONI, M., MAISONNEUVE, P., PELOSI, G., GALIMBERTI, V., SPAGGIARI, L. «Video-Assisted Management of Malignant Pleural Effusion in Breast Cancer». Cancer, vol. 106, n.º 2, jan., 2006. 7. CARDILLO, C., FACCIOLO, F., CARBONE, L., REGAL, M., CORZANI, F., RICCI, A., DI MARTINO, M., MARTELLI, M. «Long-Term Follow-up of Video-Assisted Talc Pleurodesis in Malignant Recurrent Pleural Effusion». European Journal of Cardio-thoracic Surgery, vol. 21, p. 302306, 2002. 8. LAISAAR, T., PALMISTE, V., VOODER, T. «Life expectancy of patients with malignant pleural effusion treated with video-assisted thoracoscopic talc pleurodesis». Interactive Cardiovascular and Thoracic Surgery, n.º 5, p. 307310, 2006. RESUMO IMUNIZA ÇÃ O ERITR OCIT ÁRIA EM P ACIENTES C OM DOEN ÇA IMUNIZAÇÃ ÇÃO ERITROCIT OCITÁRIA PA COM DOENÇ FAL CIF ORME N O ES TADO DO AMAZON AS ALCIF CIFORME NO EST AMAZONAS ERITROCITY IMMUNIZATION IN PATIENTS WITH SICKLE DISEASE IN THE STATE OF AMAZON MIHARU M. MATSUURA, JOSÉ ORLANDO BORDIN RESUMO: O propósito deste estudo foi analisar o perfil imunohematológico dos pacientes com doença falciforme do Estado do Amazonas por meio da detecção e identificação de alo e auto-anticorpos antieritrocitários, bem como caracterizar os principais sistemas de grupo sangüíneo desses pacientes e investigar a freqüência de aloimunização eritrocitária causada pelas diferenças fenotípicas entre os pacientes com doença falciforme e doadores de sangue do Hemocentro do Amazonas – Hemoam. A taxa de aloimunização eritrocitária encontrada, neste estudo, foi de 18,0%, 64,3% dos aloanticorpos antieritrocitários detectados nos pacientes com doença falciforme do Hemoam foram do sistema Rh e Kell. A taxa de auto-imunização eritrocitária encontrada, neste estudo, foi de 8,3%, sendo todos os auto-anticorpos do tipo quente (IgG) e um paciente tinha fração de complemento C3d, além do auto-anti IgG. A análise estatística mostrou que a taxa de imunização não foi influenciada pelo sexo, faixa etária, número de gestação ou número de transfusão, mas foi observada diferença estatisticamente significante na relação dos auto-anticorpos eritrocitários com aloimunização e reação transfusional. Acredita-se que a presença prévia de aloanticorpos pode predispor a formação de auto-anticorpos eritrocitários e esses auto-anticorpos podem freqüentemente estar associados com a ocorrência de reação transfusional nos pacientes falcêmicos. Verificou-se que as diferenças encontradas na fenotipagem eritrocitária entre os doadores e receptores deste estudo não influenciaram a aloimunização eritrocitária, permitindo supor que os doadores de sangue e pacientes com doença falciforme no Amazonas são semelhantes nos principais fenótipos de sistema de grupos sangüíneos. Em conclusão, este estudo permitiu contribuir para um melhor conhecimento da imunização eritrocitária, nos pacientes com doença falciforme, podendo prevenir o aparecimento de reações transfusionais e promover uma maior segurança e eficácia transfusional. Palavras-chave: Doença falciforme; Aloimunização; Antígenos eritrocitários; Transfusão sangüínea; Auto-imunização. ABSTRACT: The intention of this study was to analyze the immunohematologic profile of the patients with sickle cell disease of the State of Amazon by detecting and identifying irregular allo and selfantibodies against red blood cells antigens, as well as characterize the main sanguineous group systems of these patients, and investigate the frequency of eritrocity aloimmunization, caused by phenotypic differences between Amazon Blood Center HEMOAM’s blood donors and the patients with sickle cell disease. The found rate of red cell antigens alloimmunization in this study, was of 18,0%, 64,3% of the detected alloantibodies against red blood cell in the patients with sickle cell disease of the HEMOAM had been of the system Rh and Kell. The found rate of eritrocity selfimmunization in this study was of 8,3%, with all the selfantibodies being of the hot type (IgG) and a patient had complement fraction of C3d, as well as the auto-anti IgG. The statistical analysis showed that the immunization rate was not influenced by the sex, age, number of gestations or number of transfusions but observed a statistical significant difference in the relation of the eritrocity selfimmunization with alloimmunization and transfusional reaction. It is believed that the previous presence of alloantibodies can predispose the eritrocity selfantibodies formation and these antibodies can frequently be associated with transfusional reaction in the sickle patients. It was observed that the found differences in the phenotypied red blood cells between blood donors and blood receivers of this study had not influenced the red cell antigens alloimmunization, allowing one to assume that the blood donors and patients with sickle cell disease in the Amazon are similar in the main phenotipies of sanguineous groups systems. In conclusion, this study allowed contributing for better knowledge of the immunization against the red blood cells in patients with sickle cell disease, being useful to prevent the appearance of transfusional reactions and to promote a greater security and transfusional effectiveness. Key-words: Sickle cell disease; Alloimmunization; Red blood cell antigens; Blood transfusion; Selfimmunization. Correspondência para: Miharu Maguinoria Matsuura Matos Rua 23 n.º 935 Conj. Castelo Branco – Parque 10 69055-410 – Manaus – Amazonas – Brasil E-mail: [email protected] Dissertação apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Mestre em Ciências Hematológicas. Área de concentração: Hematologia e Hemoterapia. revistahugv hugv – Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v. 5. n. 1-2 jan./dez. – 2006 81 REVISTA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS INSTRUÇÕES AOS AUTORES Verificar os manuscritos antes do Envio (checklist) Ao enviar seu artigo, o(s) autor (es) dever (á/ão) observar os seguintes itens: Anexar 03 cópias do trabalho (incluindo figuras, tabelas e gráficos com as respectivas legendas). Incluir uma (01) cópia em disquete ou CD (gravado em programa Microsoft Word), contendo tabelas e gráficos com as respectivas legendas. O texto deverá ser redigido em letra Time News Roman, tamanho da fonte 12, com espaçamento entre as linhas de 1,5, impressão em uma só face e páginas enumeradas. O envio do trabalho deve incluir os seguintes itens: 1) Carta de Apresentação do trabalho; 2) Carta de Permissão para Reprodução (incluindo autorização para reprodução de publicação prévia) e Cessão de Direitos Autorais. 3) Página de Identificação (folha de rosto identificada) contendo Titulo completo em português e inglês; Nome com Titulação dos autores; Instituição de origem do trabalho; Endereço, Telefone e e-mail do autor principal; 4) página não-identificada (folha de rosto sem identificação) com Título Completo e Abreviado; 5.a) Resumo e Abstract: Incluir os Objetivos do trabalho, assim como os Materiais (ou Pacientes, Casuística) e Métodos empregados, comentando os Resultados e Conclusões, sendo que o número de palavras deverá ter de até 250 palavras.Checar os Descritores (em português e inglês). 5.b) O corpo do trabalho deve constar 1. Introdução – deve constar os objetivos 2. Material/Pacientes e Métodos – 3. Resultados 4. Discussão – 5. Conclusão – 6. Referências 5.c) Verificar a seqüência de Subtítulos das Seções (de acordo com o tipo de trabalho). 5.d) Checar se as Referências estão de acordo com o padrão da revista, numeradas de modo consecutivo de acordo com a seqüência de citação no texto. 5.e) Verificar Legendas de Figuras, Gráficos e Ilustrações, que deverão ser apresentadas em folhas separadas. 5.f) Verificar a seqüência de Subtítulos das Seções (de acordo com o tipo de trabalho). A revista do HUGV é uma publicação em preto e branco e todas as ilustrações serão reproduzidas em arquivo digital medindo no mínimo 12 x 17 cm e no máximo 20 x 25 cm e somente em preto e branco; Na submissão de estudos com seres humanos é necessária a apresentação do Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa indicado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Categorias dos manuscritos • Artigos originais – máximo 08 páginas • Resumo e abstract; Introdução; Método; Resultados; Discussão; Referências Bibliográficas • Breves comunicados – máximo 2 páginas • Relato de caso – 3 páginas • Resumo e abstract; Introdução; Relato do Caso; Discussão; Referências Bibliográficas • Revisões – máximo 05 páginas • Debates • Resumos de teses – máximo 2 páginas • Cartas ao editor – máximo 2 páginas • Imagem OBS: O conteúdo e conceitos emitidos nos textos são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião do Editor e dos membros do Conselho Editorial. Os manuscritos deverão ser encaminhados para: Coordenação de Ensino e Pesquisa-Hospital Universitário Getúlio Vargas Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Rua Apurinã, 04 – Praça 14 Tel: (92) 3305-4782 CEP: 69020-170 Manaus/AM E-mail: [email protected]