REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013.
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Artigo original
A PRESENÇA DA CÓPIA NA ESCOLA: ESTRATÉGIA PARA ENSINAR OU
RITUAL MECÂNICO?
GUIMARÃES, C. F.
Nome Completo: Cleber Ferreira Guimarães
Artigo submetido em: 07/03/2013
Aceito em 15/05/2013
Correio eletrônico: [email protected]
RESUMO
O presente artigo compreende um estudo acerca da presença da cópia na escola. Seu
objetivo foi mostrar como esta estratégia é usada pelos professores em meio a
determinada interação didática. O trabalho tem como propósito mostrar que nem sempre
a cópia pode ser utilizada como estratégia de ensino, uma vez que deve haver objetivos
claros para usá-la em sala de aula, para não se tornar uma atividade mecânica, exaustiva
e sem finalidade.
Palavras-chave: Cópia, Ensino, Metodologia.
ABSTRACT
This article includes a study on the presence of the copy in the school. His goal was to
show how this strategy is used by teachers in the midst of certain didactic interaction.
The paper aims to show that not always the copy can be used as a teaching strategy,
since there must be clear objectives for using it in the classroom, not to become a
mechanical, exhaustive and aimless activity.
Keywords: Copy, Teaching, Methodology.
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1) INTRODUÇÃO
Comumente há o questionamento de pesquisadores quando o assunto é o
uso da cópia como estratégia de ensino. Muito se questiona se essa estratégia pode ser
utilizada como recurso didático. Se utilizada de maneira adequada e variada, a cópia
pode servir no processo de ensino. Entretanto, podemos perceber que, na maioria das
vezes, esta é usada de maneira mecânica, ou seja, os estímulos e respostas são os
mesmos, caindo em um ensino comportamentalista. A cópia envolve estímulos e
respostas motoras, tendo como produto, a reprodução dos estímulos textuais. De acordo
com Mizukami (1998) o comportamento é modelado/moldado a partir de algum
estímulo, caracterizando assim, uma metodologia tradicionalista, mecanicista.
A cópia está arraigada de tal forma na metodologia de alguns professores
que, mesmo os alunos das escolas estaduais, particulares e municipais terem à sua
disposição livros didáticos, os professores ainda fazem uso da cópia em suas respectivas
aulas. A desculpa de muitos, quando se trata da cópia, é que, às vezes, os livros, os
materiais os quais os alunos têm acesso, não têm determinado texto, determinada
atividade pedagógica, logo, fazem uso da cópia como forma de transmissão desses
textos, como nos dizem Carbonari e Silva (1998).
Sabemos é claro que, muitas vezes, os professores procuram incrementar
suas aulas, suas atividades, levando outros materiais. Contudo, não é necessário que
esses complementos sejam copiados pelos alunos, uma vez que algumas escolas
disponibilizam impressões aos professores para diminuir a perca de tempo. Levar
materiais extras é de grande valia, mas fazer com que os alunos os copiem é, na maioria
das vezes, perca de tempo.
Quando pretendemos colocar em prática um plano, convém pensar em
estratégias. Devemos ter claros os objetivos que queremos alcançar com tal plano.
Assim, para que a cópia seja estratégia de ensino coerente, convém que tenhamos
objetivos claros. A cópia na escola deve ter finalidades objetivas, pois, se usada de
forma velada, não conseguiremos alcançar os objetivos, uma vez que estes estarão
perdidos em meio a tanto trabalho mecânico.
O presente artigo divide-se em cinco partes: na primeira discutiremos sobre
a presença da cópia na escola; na segunda, as funções que a cópia pode e exerce na
escola; na terceira seção, mostraremos o porquê da cópia na sala de aula e por último
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exporemos nossas considerações finais. Para tal intento, utilizamos a pesquisa
bibliográfica a partir do tema proposto, com o propósito de investigar o uso da cópia na
instituição de ensino/sala de aula.
Se reconhecermos que a cópia é somente uma das atividades que
contribuem para a aquisição da escrita, se a incluirmos como recurso para resolver
problemas de produção, se não esperarmos que o resultado seja cópia fiel do modelo e
apreciarmos as diferenças como expressão da atividade intelectual dos nossos alunos no
processo de reprodução; então, podemos dar lugar à cópia no processo de ensino.
2) A presença da cópia na escola
As pesquisadoras Ana Claudia da Silva e Rosemeire Carbonari (1998)
fizeram uma pesquisa em quinze escolas, em salas de 3ª, 5ª e 8ª séries, em que
constatou-se que a cópia é fortemente utilizada para que os alunos desenvolvam
habilidades motoras e de memorização ortográfica. Foram constatados 366 episódios de
cópia, sendo que a maioria ocorreu em escolas estaduais. Dentre esses episódios, foram
constatadas diversas funções as quais a cópia exerce. Às vezes, em um mesmo episódio,
a cópia pode exercer mais de uma função.
Na pesquisa realizada pelas professoras Carbonari e Silva (1998), diversas
foram as funções as quais a cópia pode exercer, entretanto, uma delas nos chama a
atenção: a cópia como recurso disciplinar e/ou punitivo. Considerando a cópia como
punição ou meio para manter a disciplina de uma sala de aula, podemos fazer uma
analogia à abordagem comportamentalista, cujo objetivo era modelar o comportamento
dos alunos de acordo com as aspirações do docente.
Quando falamos em sala de aula comportada, nos vem à mente uma sala na
qual os alunos respeitam o professor, fazem a lição, ficam quietos. Hoje em dia, as salas
de aula são dinâmicas. O mundo é dinâmico. Somos a todo o momento, bombardeados
por informações e nossos alunos chegam à sala agitados, prontos para expor aquilo que
ouviram e viram fora da escola. Assim, o professor inevitavelmente, perde de certa
forma o controle da classe, pois todos falam ao mesmo tempo (no mínimo 30, se
pensarmos em escolas públicas).
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Mas, voltando à sala de aula disciplinada, nos questionamos como os
professores há algum tempo atrás, conseguiam manter a disciplina de sua sala. Quem
pode nos responder essa indagação é Mizukami (1998, p.20)
Os modelos são desenvolvidos a partir da análise dos processos por
meio dos quais o comportamento humano é modelado e reforçado.
Implicam recompensa e controle, assim como o planejamento
cuidadoso das contingências de aprendizagem, das sequências de
atividade de aprendizagem, e a modelagem do comportamento
humano, a partir da manipulação de reforços, desprezando os
elementos não observáveis ou subjacentes a este mesmo
comportamento.
A citação acima revela como muitos professores há tempos atrás, conseguiam
manter a disciplina dos alunos em suas aulas através da manipulação, modelagem do
comportamento. Desta forma, podemos muito bem associar a cópia ao comportamentalismo das
seguintes formas: primeiro, se não houver objetivos a serem alcançados com a cópia e segundo,
se a cópia exercer efetivamente a função disciplinadora. Será que é copiando que se aprende a
escrever bem? Certamente não, pois a cópia leva à mecanização, ao desenho de símbolos
(palavras), à codificação e não à reflexão. Escrever, assim como ler, é exercício que envolve
raciocínio e experimentação e não apenas codificação e decodificação. A cópia é uma prática
que sem dúvidas, faz parte da atmosfera escolar, contudo, fora dela, a cópia ocupa um espaço
pequeno. Copiamos receitas, números de telefones, endereços, pensamento de determinado
autor. Porém, não é copiando que aprendemos a escrever textos.
Muitos professores não mudaram sua metodologia. Muitas escolas (assim como
muitos professores) acreditam em um ensino tradicional, ou seja, no qual o aluno é passivo.
Contudo, na contemporaneidade, o professor deve ter uma visão mais ampla dos conceitos de
ensino e aprendizagem. Ao rever sua visão sobre o ensino e aprendizagem, o professor deve
envolver a revisão sobre a metodologia, que de acordo com Libâneo (1995, p. 177)
Na escola, a aula é a forma predominantemente de organização do
processo de ensino. Na aula se criam, se desenvolvem e se
transformam as condições necessárias para que os alunos assimilem
conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções e, assim,
desenvolvem suas capacidades cognoscitivas.
Uma aula para ser considerável boa, deve propiciar meios com os quais os
alunos possam criar, assimilar, transformar e desenvolver conhecimentos, uma vez que
a escola é, efetivamente, o lugar no qual são oferecidas tais condições. Entretanto,
professores usam a cópia em suas aulas de maneira a reduzir esse conceito de aula. Não
é copiando que os alunos aprendem a ler e escrever, mas sim em situações reais de
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comunicação. Situações contextualizadas que levem o aluno a saber ler e escrever não
só na escola, mas fora dela também.
3) As funções que a cópia pode exercer
No estudo feito pelas pesquisadoras Ana Claudia da Silva e Rosemeire
Carbonari (1998), foi possível verificar as funções que a cópia exerce, como;
- recurso didático-pedagógico: neste tipo de recurso, a cópia se manifesta
através, por exemplo, dos exercícios de treino ortográfico, cuja finalidade principal é
fazer com que o aluno memorize a correta grafia das palavras, reduzindo, assim, sua
margem de erro na produção de um texto escrito. Porém, como se trata de um exercício
puramente mecânico, muitas vezes, os alunos acabam copiando vocábulos errados, pela
falta de atenção.
- recurso “técnico- instrumental”: utilizada como esse recurso, a cópia é um
instrumento de transmissão e circulação dos diversos tipos de textos.
- forma de preenchimento de tempo: os casos em que a cópia exerce a
função de preenchimento de tempo ocorrem, basicamente, quando o professor é
obrigado a adiantar aula em outra sala e, a fim de deixar seus alunos ocupados, solicita a
um aluno que passe um texto na lousa ou mesmo quando o professor não preparou sua
aula.
- recurso disciplinar e/ou punitivo: a cópia utilizada como este recurso,
serve para “acalmar os alunos”, ou mesmo como castigo. Este tipo de recurso está
associado à utilização da cópia como recurso de preenchimento de tempo, pois enquanto
os alunos estão copiando as inúmeras atividades do livro didático o professor consegue
manter a disciplina da sala.
- registro de conteúdo: designa-se aqui, a cópia de textos e exercícios
contidos em materiais que o aluno tem à sua disposição, geralmente no livro didático
adotado. Nesses casos, muitas vezes, ocorrem várias funções concomitantemente, ao
passo que causa uma falsa impressão de produção, de trabalho cumprido.
Essas funções não se encontram necessariamente isoladas. A cópia pode
exercer, e efetivamente exerce, mais de uma função concomitantemente.
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4) Por que da cópia?
Às vezes nos perguntamos o porquê de várias coisas. Em relação à cópia,
não é diferente. Mas podemos dar uma, mas não a única, resposta a essa questão. Muitas
vezes os professores são orientados a prepararem seus próprios materiais. Assim,
utilizam a cópia como recurso “técnico-instrumental”, uma vez que somente ele possui
o material. De acordo com CARBONARI; SILVA (1998, p. 100)
É nas escolas estaduais que a cópia desempenha uma quantidade mais
diversificada de funções. Um mesmo episódio, em alguns casos,
possui mais de uma finalidade, como se verifica nos exercícios de
treino ortográfico, que não são usados somente para treinar ortografia,
mas também para “acalmar os alunos”, preencher tempo e até mesmo
para corrigir pronúncia de palavras ditas incorretamente.
Mas nas escolas estaduais, não existem os livros didáticos, os quais
pertencem aos alunos? Então para que fazê-los copiarem conteúdos que eles já têm
acesso? Essas indagações podem ser respondidas da seguinte maneira
Sob pretexto de que o livro não pertence aos educandos, por ele
geralmente ser doado pela FAE, os professores os submetem à prática
constante da cópia de grande parte das lições e exercícios que nele
constam. Tal procedimento se dá em todas as séries, mas ocorre
principalmente na 3ª e na 5ª. (CARBONARI; SILVA, 1998, 101)
Percebemos que os professores, de certa forma, tendem a seguir um modelo
de ensino tradicional, mesmo sendo ultrapassado, no qual Mizukami (1986) relata que
A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno, de forma automática e
sem variações, na maioria das vezes, é considerada como um poderoso
e suficiente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto,
o produto está assegurado. A didática tradicional quase que poderia
ser resumida, pois, em “dar a lição” e em “tomar a lição” (p.15).
Se na escola há materiais, geralmente os livros didáticos, à disposição dos
alunos, a cópia de seus conteúdos se tornam unidades de ensino incoerentes, pois os
alunos têm acesso aos livros, os pertencem. Em muitas escolas, a quantidade de livros é
inferior ao número de alunos, entretanto, não justifica a prática constante da cópia, ao
passo que o professor pode formar grupos e usar os livros didáticos existentes na escola
para determinada série.
A cópia pode sim, ser usada como estratégia de ensinar, desde que seja
usada de forma diversificada, para que não se torne algo mecânico e cansativo. Deve
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haver um objetivo a ser alcançado com a cópia. Por exemplo, qual seria a contribuição
que a cópia traria a um aluno que teve de copiar duas páginas de exercícios do livro
didático pela balbúrdia causada na sala de aula? Nenhuma, pois esse aluno não estará
produzindo, apenas reproduzindo por obrigação.
Muitos professores acreditam que, com a cópia, os alunos podem diminuir
os erros ortográficos. Porém, é somente em práticas significativas que o aprendizado de
uma língua acontece. “O domínio de uma língua, repito, é o resultado de práticas
efetivas, significativas, contextualizadas” (POSSENTI, 2002, p. 19). Sendo a cópia um
exercício mecânico, alguns alunos acabam copiando vários vocábulos de forma errada,
pois não prestam atenção ao que se copia. De acordo com Possenti (2002, p.49)
Falar é um trabalho (certamente menos cansativo que outros). Ler e
escrever são trabalhos. A escola é um lugar de trabalho. Ler e escrever
são trabalhos essenciais no processo de aprendizagem. Mas, não são
exercícios. Se não passarem de exercícios eventuais, apenas para
avaliação, certamente sua contribuição para o domínio da escrita será
praticamente nula.
O que Possenti (2002) quis dizer na citação acima é que a escola é um lugar
de trabalho e que ler e escrever são trabalhos. No entanto, se ler e escrever não passarem
de exercícios eventuais e sem fins, sua contribuição será mínima, ao passo que é a partir
de situações contextualizadas e pensadas, que o domínio da leitura e da escrita se
efetiva. A cópia usada de forma inadequada faz com que os alunos apenas reproduzam o
que lêem na lousa/quadro ao invés de produzirem. Vários são os alunos que sabem
copiar o que o professor passa na lousa, porém, não sabem ler, pois o exercício de
copiar se tornou tão freqüente, que ele não consegue atribuir sentido àquilo que é
copiado. Copiar para esse aluno se tornou algo tão mecânico, que ele nem precisa
pensar, refletir sobre aquilo que é copiado.
Os professores devem pensar em maneiras corretas de inserir a cópia em
suas aulas. Talvez essa fosse uma das melhores soluções, uma vez que a maioria acha
que a cópia propicia bons resultados ao ensino e à aprendizagem dos alunos. De nada
valerá a cópia de três páginas de exercícios do livro didático se o aluno não for capaz de
produzir por si mesmo um bom texto. A cópia, em algumas circunstâncias, torna-se
necessária, mas com muita cautela.
4.1- Algumas reflexões acerca da cópia
Na escola,
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A cópia está de tal forma disseminada na instituição escolar que, em
alguns casos, tem chegado a substituir até mesmo o precário trabalho
de leitura, incluindo aquele caracterizado pela simples emissão de voz
do aluno, em que não ocorre produção de sentido (CARBONARI;
SILVA, 1998, p. 109).
A citação acima retrata muito bem a situação da cópia nas escolas. Muitas
vezes, a cópia substitui a leitura em sala de aula, uma vez que os alunos apenas
reproduzem o que lhe é solicitado sem a menor preocupação em ler o que se copia.
Quanto à cópia e a leitura são apropriadas as palavras de CABONARI;
SILVA (1998, p. 111)
Tomando-se os atos de leitura e escrita como forma de conhecimento
do homem e do mundo, a atividade motora de copiar não leva o aluno
a atribuir valores ao que transcreve, pois ele não reflete sobre o que
copia. Também a leitura oral mecanicista não contribui para tal
conhecimento, pois a realização sonora da palavra escrita não implica
necessariamente a consciência daquilo que está sendo reproduzido.
Agindo dessa forma, a escola, em vez de formar leitores críticos,
capazes de se moverem livremente dos significados específicos para
os gerais, dos significados superficiais e literais para os implícitos,
forma apenas leitores acríticos.
Percebemos certa incoerência entre a proposta da escola e as práticas
pedagógicas, pois em seus planejamentos e replanejamentos, a escola propõe formar
indivíduos críticos, aptos a se afirmarem no mundo.
Ao mesmo tempo em que se propõe formar indivíduos críticos, como
demonstram os planejamentos anuais, a escola, paradoxalmente, faz
uso de recursos didáticos que levam à automatização dos alunos e,
quando tenta reverter esse quadro, esbarra nas dificuldades
apresentadas pelos próprios educandos em aceitar um novo tipo de
postura, já que têm incorporado um outro comportamento
(CARBONARI; SILVA, 1998, p. 112).
Mais uma vez caímos na questão do comportamento, do condicionamento.
Os alunos, por estarem acostumados com o modo de aprender instaurado pela escola,
pelos professores, não sabem como agir perante situações nas quais são exigidas
capacidades e habilidades que neles não foram construídas. Portanto, repito, é de
extrema importância para a escola e para os professores, pensarem, refletirem,
planejarem, replanejarem sempre suas aulas, seus métodos, se realmente o desejo for
formar sujeitos autônomos, críticos, com capacidade de responderem às exigências
cobradas dentro e fora da escola. Para formarmos alunos/sujeitos críticos é de suma
importância refletir sobre nossas próprias práticas.
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Ao falarmos da cópia, logo nos vem à cabeça a produção textual. A cópia
não leva o aluno a redigir textos, ao passo que para produzirmos textos é necessário
criarmos textos e não reproduzir modelos fiéis. Entretanto, ao copiarmos um texto, um
número de telefone etc., não é permitido pular frases, mudar letras, esquecer pontos,
vírgulas, mas sim, reproduzir de forma fiel o que pretendemos copiar para que não
mudemos o sentido do que está sendo copiado, afinal, estamos copiando algo que
alguém escreveu.
Muito se fala sobre o fracasso escolar, de que muitos alunos saem da escola
sem saber ler e escrever. Isso é verdade. Há um grande número de alunos que terminam
o ensino médio, mas não sabem interpretar um texto e muito menos redigir um texto de
maneira adequada.
É papel fundamental de a escola formar leitores e escritores, pois são
habilidades extremamente cobradas fora e dentro da escola. Todavia, isso quase não
ocorre, uma vez que muitos professores continuam ensinando a partir de métodos,
concepções que quase não obtém resultados significativos. Como nos diz Trevisan
(1998)
A metodologia frequentemente utilizada pelos professores do ensino
fundamental escolar tem se apoiado exclusivamente, na organização
formal da aula, isto é, na utilização da metodologia como mera
seleção e organização seqüenciada de passos (atividades
cronometradas) para se chegar a um fim, ou seja, para se chegar ao
cumprimento do conteúdo programático (p.35-36).
Em se tratando de “metodologia como mera seleção e organização de passos
para se chegar a um fim”, logo relacionamos a cópia a essa concepção de metodologia,
pois os professores utilizam a cópia para chegar a alguns fins: treinar a coordenação
motora, melhorar a caligrafia (pois acreditam que seguindo modelos os alunos podem
“introjetar” as formas corretas de se escrever- mesmo os professores sabendo que há
variações lingüísticas), manter a disciplina da sala e como meio punitivo.
Voltando a produção textual, sabemos que a cópia nada mais é do que a
reprodução fiel de determinado texto. Será que a cópia auxilia na produção textual? De
que forma?
Primeiramente, devemos fazer a distinção entre redação e texto. Segundo
Geraldi (1997), as redações seriam textos produzidos na e para a escola; já os textos
seriam produzidos na escola, porém com intenções. Será que quem copia produz
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redações ou textos? Para que se redigem redações? E textos? Qual é o critério de
produção de ambos?
A resposta para o motivo da produção de redações na escola é unânime:
para obter nota e “verificar” a escrita dos alunos. Contudo, a temática é sempre a
mesma, quando não é “Minhas férias”, é o “Dia das mães” etc. Essa redação só será lida
pelo professor que terá como trabalho corrigir os diversos erros (já que os alunos apenas
copiam modelos considerados corretos, ao invés de produzirem) e atribuir-lhe uma nota.
Muitas vezes o aluno não tem nem o trabalho de ler as anotações feitas pelo professor.
Na maioria dos casos, após a correção do docente, o aluno logo joga esse “texto” no
cesto de lixo. Provavelmente o aluno tomará uma atitude dessas, pois ele não vê um
propósito para a realização daquela atividade, uma vez que somente o professor tem
conhecimento do que foi escrito pelo aluno. Os professores acabam falsificando a
produção de textos- já que são produzidas redações- causando nos alunos a impressão
de estarem escrevendo textos.
Podemos pensar em qualquer tipo de texto: oral ou escrito. Mas em se
tratando do escrito, caracterizamos como algo social, com função e estrutura próprias.
Na escola, a produção de textos é muito escassa, talvez, o resultado desse fracasso pode
vir da concepção de texto do professor (muitos acham que texto é um aglomerado de
frases organizadas e com sentido) e de sua metodologia. Para desenvolver qualquer
atividade na sala de aula, o professor deve esclarecer o propósito de tal atividade, para
que os alunos atribuam sentido àquilo.
É necessário mudar o processo de ensino da língua escrita, pois hoje se tem
um novo conceito de leitura e escrita, e de letramento, que vai além do conceito de
alfabetização. De acordo com Soares (2001, p.3), letramento significa o estado e
condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e
escrita na sociedade na qual vive. Uma pessoa letrada, portanto, não é apenas aquela
que sabe ler e escrever, pelo contrário, é aquela que sabe fazer uso da leitura e da escrita
nas práticas sociais de sua vida. É necessário desenvolver a competência da leitura, ou
seja, formar leitores proficientes, e da escrita, formando escritores críticos de todos os
tipos de textos. De acordo com Geraldi (1997, p. 137)
para produzir um texto (em qualquer modalidade) é preciso que:
a)
se tenha o que dizer;
b)
se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer;
c)
se tenha para quem dizer o que se tem a dizer;
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d)
o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que
diz para quem (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no
jogo);
e)
se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d).
São os aspectos acima mencionados que são levados em consideração no ato
de produzir um texto. Contudo, para redigir uma redação, o aluno não leva em
consideração estes aspectos, pois já sabe que somente o professor lerá seu “texto”. Além
disso, muitas redações produzidas em sala de aula são feitas de forma a agradar o
professor. Em outras palavras, às vezes o aluno nem teve férias maravilhosas (se o tema
for “Minhas férias”), mas é obrigado a realizar tal atividade, pois todos estão fazendo e
ele também precisa de nota. Assim, os alunos se apropriam de textos copiados
anteriormente com a mesma temática e acabam transcrevendo no papel e entregando
para o professor. A atividade então se torna artificial para o aluno, já que na verdade ele
não teve uma experiência efetiva de férias.
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que discutimos anteriormente, podemos constatar que a escola
e os professores em sua maioria, continuam persistindo em um ensino tradicional,
visando apenas a transmissão de conteúdos.
Não queremos aqui dizer que o uso da cópia em sala de aula é um crime.
Pelo contrário, queremos refletir sobre essa prática, pois ela, a cópia, pode sim ser usada
como estratégia de ensino. Para que a cópia seja trabalhada de modo a propiciar a
aprendizagem dos alunos, ela deve ter um objetivo, um propósito, como qualquer
atividade que pretendemos aplicar em nossos alunos.
Os professores podem tomar como exemplo as escolas particulares, uma vez
que nelas os alunos fazem pouco uso da cópia, pois usam os chamados “livros
consumíveis”, que diminuem o trabalho e o tempo de copiar. Além disso, nas escolas
público-estaduais do Estado de São Paulo há os cadernos dos alunos, os quais
pertencem aos alunos. O caderno do aluno na rede estadual de São Paulo veio para
facilitar o ensino, diminuir o exaustivo trabalho de copiar extensos textos. Assim, os
alunos resolvem os exercícios no próprio caderno do aluno sem que haja o trabalho de
estar copiando textos, atividades no caderno a parte.
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A cópia por ser algo meramente mecânico, pode acabar fazendo com que
nossos alunos sejam moldados, ou seja, condicionados a copiar. A prática da cópia pode
ser relacionada com a concepção de ensino comportamentalista, na qual, segundo
Mizukami (1986) o professor molda o comportamento do aluno através de exaustivas
atividades repetitivas. Nessa concepção de ensino, o professor tem a responsabilidade
de manusear e planejar o processo de aprendizado de forma que o aluno aprenda
igualmente. O aluno é visto como máquina, uma vez que todos devem ter o mesmo
comportamento. Dessa forma, se a cópia for utilizada de maneira indevida, o professor
fará com que seus alunos se tornem “máquinas de cópias xerográficas”, as quais apenas
reproduzem aquilo o que é solicitado. Além disso, essas “máquinas” são falíveis, pois
distorcem algumas palavras, cometendo erros ortográficos e gramaticais.
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REFERÊNCIAS
CARBONARI, Rosemeire e SILVA Ana Claudia da. Cópia e leitura oral: estratégias
para ensinar? In: CHIAPPINI, Ligia (coord.) Aprender e ensinar com textos
didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 2001.
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 4ª Ed.- São Paulo: Martins Fontes,
1997.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Ed Cortez, 1995.
LUCKESI. C.C. Avaliação da aprendizagem Escolar, 17. ed, São Paulo, Cortez 1998.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São
Paulo: EPU, 1986.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. 9 reimp. Campinas:
Mercado das Letras, 2002.
SOARES, Magda. (2001). Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. B. H.:
Autêntica.
TREVISAN, Z. As malhas do texto. São Paulo: Clíper Editora, 1998.
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