REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 48 Artigo original A PRESENÇA DA CÓPIA NA ESCOLA: ESTRATÉGIA PARA ENSINAR OU RITUAL MECÂNICO? GUIMARÃES, C. F. Nome Completo: Cleber Ferreira Guimarães Artigo submetido em: 07/03/2013 Aceito em 15/05/2013 Correio eletrônico: [email protected] RESUMO O presente artigo compreende um estudo acerca da presença da cópia na escola. Seu objetivo foi mostrar como esta estratégia é usada pelos professores em meio a determinada interação didática. O trabalho tem como propósito mostrar que nem sempre a cópia pode ser utilizada como estratégia de ensino, uma vez que deve haver objetivos claros para usá-la em sala de aula, para não se tornar uma atividade mecânica, exaustiva e sem finalidade. Palavras-chave: Cópia, Ensino, Metodologia. ABSTRACT This article includes a study on the presence of the copy in the school. His goal was to show how this strategy is used by teachers in the midst of certain didactic interaction. The paper aims to show that not always the copy can be used as a teaching strategy, since there must be clear objectives for using it in the classroom, not to become a mechanical, exhaustive and aimless activity. Keywords: Copy, Teaching, Methodology. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 49 1) INTRODUÇÃO Comumente há o questionamento de pesquisadores quando o assunto é o uso da cópia como estratégia de ensino. Muito se questiona se essa estratégia pode ser utilizada como recurso didático. Se utilizada de maneira adequada e variada, a cópia pode servir no processo de ensino. Entretanto, podemos perceber que, na maioria das vezes, esta é usada de maneira mecânica, ou seja, os estímulos e respostas são os mesmos, caindo em um ensino comportamentalista. A cópia envolve estímulos e respostas motoras, tendo como produto, a reprodução dos estímulos textuais. De acordo com Mizukami (1998) o comportamento é modelado/moldado a partir de algum estímulo, caracterizando assim, uma metodologia tradicionalista, mecanicista. A cópia está arraigada de tal forma na metodologia de alguns professores que, mesmo os alunos das escolas estaduais, particulares e municipais terem à sua disposição livros didáticos, os professores ainda fazem uso da cópia em suas respectivas aulas. A desculpa de muitos, quando se trata da cópia, é que, às vezes, os livros, os materiais os quais os alunos têm acesso, não têm determinado texto, determinada atividade pedagógica, logo, fazem uso da cópia como forma de transmissão desses textos, como nos dizem Carbonari e Silva (1998). Sabemos é claro que, muitas vezes, os professores procuram incrementar suas aulas, suas atividades, levando outros materiais. Contudo, não é necessário que esses complementos sejam copiados pelos alunos, uma vez que algumas escolas disponibilizam impressões aos professores para diminuir a perca de tempo. Levar materiais extras é de grande valia, mas fazer com que os alunos os copiem é, na maioria das vezes, perca de tempo. Quando pretendemos colocar em prática um plano, convém pensar em estratégias. Devemos ter claros os objetivos que queremos alcançar com tal plano. Assim, para que a cópia seja estratégia de ensino coerente, convém que tenhamos objetivos claros. A cópia na escola deve ter finalidades objetivas, pois, se usada de forma velada, não conseguiremos alcançar os objetivos, uma vez que estes estarão perdidos em meio a tanto trabalho mecânico. O presente artigo divide-se em cinco partes: na primeira discutiremos sobre a presença da cópia na escola; na segunda, as funções que a cópia pode e exerce na escola; na terceira seção, mostraremos o porquê da cópia na sala de aula e por último REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 50 exporemos nossas considerações finais. Para tal intento, utilizamos a pesquisa bibliográfica a partir do tema proposto, com o propósito de investigar o uso da cópia na instituição de ensino/sala de aula. Se reconhecermos que a cópia é somente uma das atividades que contribuem para a aquisição da escrita, se a incluirmos como recurso para resolver problemas de produção, se não esperarmos que o resultado seja cópia fiel do modelo e apreciarmos as diferenças como expressão da atividade intelectual dos nossos alunos no processo de reprodução; então, podemos dar lugar à cópia no processo de ensino. 2) A presença da cópia na escola As pesquisadoras Ana Claudia da Silva e Rosemeire Carbonari (1998) fizeram uma pesquisa em quinze escolas, em salas de 3ª, 5ª e 8ª séries, em que constatou-se que a cópia é fortemente utilizada para que os alunos desenvolvam habilidades motoras e de memorização ortográfica. Foram constatados 366 episódios de cópia, sendo que a maioria ocorreu em escolas estaduais. Dentre esses episódios, foram constatadas diversas funções as quais a cópia exerce. Às vezes, em um mesmo episódio, a cópia pode exercer mais de uma função. Na pesquisa realizada pelas professoras Carbonari e Silva (1998), diversas foram as funções as quais a cópia pode exercer, entretanto, uma delas nos chama a atenção: a cópia como recurso disciplinar e/ou punitivo. Considerando a cópia como punição ou meio para manter a disciplina de uma sala de aula, podemos fazer uma analogia à abordagem comportamentalista, cujo objetivo era modelar o comportamento dos alunos de acordo com as aspirações do docente. Quando falamos em sala de aula comportada, nos vem à mente uma sala na qual os alunos respeitam o professor, fazem a lição, ficam quietos. Hoje em dia, as salas de aula são dinâmicas. O mundo é dinâmico. Somos a todo o momento, bombardeados por informações e nossos alunos chegam à sala agitados, prontos para expor aquilo que ouviram e viram fora da escola. Assim, o professor inevitavelmente, perde de certa forma o controle da classe, pois todos falam ao mesmo tempo (no mínimo 30, se pensarmos em escolas públicas). REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 51 Mas, voltando à sala de aula disciplinada, nos questionamos como os professores há algum tempo atrás, conseguiam manter a disciplina de sua sala. Quem pode nos responder essa indagação é Mizukami (1998, p.20) Os modelos são desenvolvidos a partir da análise dos processos por meio dos quais o comportamento humano é modelado e reforçado. Implicam recompensa e controle, assim como o planejamento cuidadoso das contingências de aprendizagem, das sequências de atividade de aprendizagem, e a modelagem do comportamento humano, a partir da manipulação de reforços, desprezando os elementos não observáveis ou subjacentes a este mesmo comportamento. A citação acima revela como muitos professores há tempos atrás, conseguiam manter a disciplina dos alunos em suas aulas através da manipulação, modelagem do comportamento. Desta forma, podemos muito bem associar a cópia ao comportamentalismo das seguintes formas: primeiro, se não houver objetivos a serem alcançados com a cópia e segundo, se a cópia exercer efetivamente a função disciplinadora. Será que é copiando que se aprende a escrever bem? Certamente não, pois a cópia leva à mecanização, ao desenho de símbolos (palavras), à codificação e não à reflexão. Escrever, assim como ler, é exercício que envolve raciocínio e experimentação e não apenas codificação e decodificação. A cópia é uma prática que sem dúvidas, faz parte da atmosfera escolar, contudo, fora dela, a cópia ocupa um espaço pequeno. Copiamos receitas, números de telefones, endereços, pensamento de determinado autor. Porém, não é copiando que aprendemos a escrever textos. Muitos professores não mudaram sua metodologia. Muitas escolas (assim como muitos professores) acreditam em um ensino tradicional, ou seja, no qual o aluno é passivo. Contudo, na contemporaneidade, o professor deve ter uma visão mais ampla dos conceitos de ensino e aprendizagem. Ao rever sua visão sobre o ensino e aprendizagem, o professor deve envolver a revisão sobre a metodologia, que de acordo com Libâneo (1995, p. 177) Na escola, a aula é a forma predominantemente de organização do processo de ensino. Na aula se criam, se desenvolvem e se transformam as condições necessárias para que os alunos assimilem conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções e, assim, desenvolvem suas capacidades cognoscitivas. Uma aula para ser considerável boa, deve propiciar meios com os quais os alunos possam criar, assimilar, transformar e desenvolver conhecimentos, uma vez que a escola é, efetivamente, o lugar no qual são oferecidas tais condições. Entretanto, professores usam a cópia em suas aulas de maneira a reduzir esse conceito de aula. Não é copiando que os alunos aprendem a ler e escrever, mas sim em situações reais de REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 52 comunicação. Situações contextualizadas que levem o aluno a saber ler e escrever não só na escola, mas fora dela também. 3) As funções que a cópia pode exercer No estudo feito pelas pesquisadoras Ana Claudia da Silva e Rosemeire Carbonari (1998), foi possível verificar as funções que a cópia exerce, como; - recurso didático-pedagógico: neste tipo de recurso, a cópia se manifesta através, por exemplo, dos exercícios de treino ortográfico, cuja finalidade principal é fazer com que o aluno memorize a correta grafia das palavras, reduzindo, assim, sua margem de erro na produção de um texto escrito. Porém, como se trata de um exercício puramente mecânico, muitas vezes, os alunos acabam copiando vocábulos errados, pela falta de atenção. - recurso “técnico- instrumental”: utilizada como esse recurso, a cópia é um instrumento de transmissão e circulação dos diversos tipos de textos. - forma de preenchimento de tempo: os casos em que a cópia exerce a função de preenchimento de tempo ocorrem, basicamente, quando o professor é obrigado a adiantar aula em outra sala e, a fim de deixar seus alunos ocupados, solicita a um aluno que passe um texto na lousa ou mesmo quando o professor não preparou sua aula. - recurso disciplinar e/ou punitivo: a cópia utilizada como este recurso, serve para “acalmar os alunos”, ou mesmo como castigo. Este tipo de recurso está associado à utilização da cópia como recurso de preenchimento de tempo, pois enquanto os alunos estão copiando as inúmeras atividades do livro didático o professor consegue manter a disciplina da sala. - registro de conteúdo: designa-se aqui, a cópia de textos e exercícios contidos em materiais que o aluno tem à sua disposição, geralmente no livro didático adotado. Nesses casos, muitas vezes, ocorrem várias funções concomitantemente, ao passo que causa uma falsa impressão de produção, de trabalho cumprido. Essas funções não se encontram necessariamente isoladas. A cópia pode exercer, e efetivamente exerce, mais de uma função concomitantemente. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 53 4) Por que da cópia? Às vezes nos perguntamos o porquê de várias coisas. Em relação à cópia, não é diferente. Mas podemos dar uma, mas não a única, resposta a essa questão. Muitas vezes os professores são orientados a prepararem seus próprios materiais. Assim, utilizam a cópia como recurso “técnico-instrumental”, uma vez que somente ele possui o material. De acordo com CARBONARI; SILVA (1998, p. 100) É nas escolas estaduais que a cópia desempenha uma quantidade mais diversificada de funções. Um mesmo episódio, em alguns casos, possui mais de uma finalidade, como se verifica nos exercícios de treino ortográfico, que não são usados somente para treinar ortografia, mas também para “acalmar os alunos”, preencher tempo e até mesmo para corrigir pronúncia de palavras ditas incorretamente. Mas nas escolas estaduais, não existem os livros didáticos, os quais pertencem aos alunos? Então para que fazê-los copiarem conteúdos que eles já têm acesso? Essas indagações podem ser respondidas da seguinte maneira Sob pretexto de que o livro não pertence aos educandos, por ele geralmente ser doado pela FAE, os professores os submetem à prática constante da cópia de grande parte das lições e exercícios que nele constam. Tal procedimento se dá em todas as séries, mas ocorre principalmente na 3ª e na 5ª. (CARBONARI; SILVA, 1998, 101) Percebemos que os professores, de certa forma, tendem a seguir um modelo de ensino tradicional, mesmo sendo ultrapassado, no qual Mizukami (1986) relata que A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno, de forma automática e sem variações, na maioria das vezes, é considerada como um poderoso e suficiente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado. A didática tradicional quase que poderia ser resumida, pois, em “dar a lição” e em “tomar a lição” (p.15). Se na escola há materiais, geralmente os livros didáticos, à disposição dos alunos, a cópia de seus conteúdos se tornam unidades de ensino incoerentes, pois os alunos têm acesso aos livros, os pertencem. Em muitas escolas, a quantidade de livros é inferior ao número de alunos, entretanto, não justifica a prática constante da cópia, ao passo que o professor pode formar grupos e usar os livros didáticos existentes na escola para determinada série. A cópia pode sim, ser usada como estratégia de ensinar, desde que seja usada de forma diversificada, para que não se torne algo mecânico e cansativo. Deve REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 54 haver um objetivo a ser alcançado com a cópia. Por exemplo, qual seria a contribuição que a cópia traria a um aluno que teve de copiar duas páginas de exercícios do livro didático pela balbúrdia causada na sala de aula? Nenhuma, pois esse aluno não estará produzindo, apenas reproduzindo por obrigação. Muitos professores acreditam que, com a cópia, os alunos podem diminuir os erros ortográficos. Porém, é somente em práticas significativas que o aprendizado de uma língua acontece. “O domínio de uma língua, repito, é o resultado de práticas efetivas, significativas, contextualizadas” (POSSENTI, 2002, p. 19). Sendo a cópia um exercício mecânico, alguns alunos acabam copiando vários vocábulos de forma errada, pois não prestam atenção ao que se copia. De acordo com Possenti (2002, p.49) Falar é um trabalho (certamente menos cansativo que outros). Ler e escrever são trabalhos. A escola é um lugar de trabalho. Ler e escrever são trabalhos essenciais no processo de aprendizagem. Mas, não são exercícios. Se não passarem de exercícios eventuais, apenas para avaliação, certamente sua contribuição para o domínio da escrita será praticamente nula. O que Possenti (2002) quis dizer na citação acima é que a escola é um lugar de trabalho e que ler e escrever são trabalhos. No entanto, se ler e escrever não passarem de exercícios eventuais e sem fins, sua contribuição será mínima, ao passo que é a partir de situações contextualizadas e pensadas, que o domínio da leitura e da escrita se efetiva. A cópia usada de forma inadequada faz com que os alunos apenas reproduzam o que lêem na lousa/quadro ao invés de produzirem. Vários são os alunos que sabem copiar o que o professor passa na lousa, porém, não sabem ler, pois o exercício de copiar se tornou tão freqüente, que ele não consegue atribuir sentido àquilo que é copiado. Copiar para esse aluno se tornou algo tão mecânico, que ele nem precisa pensar, refletir sobre aquilo que é copiado. Os professores devem pensar em maneiras corretas de inserir a cópia em suas aulas. Talvez essa fosse uma das melhores soluções, uma vez que a maioria acha que a cópia propicia bons resultados ao ensino e à aprendizagem dos alunos. De nada valerá a cópia de três páginas de exercícios do livro didático se o aluno não for capaz de produzir por si mesmo um bom texto. A cópia, em algumas circunstâncias, torna-se necessária, mas com muita cautela. 4.1- Algumas reflexões acerca da cópia Na escola, REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 55 A cópia está de tal forma disseminada na instituição escolar que, em alguns casos, tem chegado a substituir até mesmo o precário trabalho de leitura, incluindo aquele caracterizado pela simples emissão de voz do aluno, em que não ocorre produção de sentido (CARBONARI; SILVA, 1998, p. 109). A citação acima retrata muito bem a situação da cópia nas escolas. Muitas vezes, a cópia substitui a leitura em sala de aula, uma vez que os alunos apenas reproduzem o que lhe é solicitado sem a menor preocupação em ler o que se copia. Quanto à cópia e a leitura são apropriadas as palavras de CABONARI; SILVA (1998, p. 111) Tomando-se os atos de leitura e escrita como forma de conhecimento do homem e do mundo, a atividade motora de copiar não leva o aluno a atribuir valores ao que transcreve, pois ele não reflete sobre o que copia. Também a leitura oral mecanicista não contribui para tal conhecimento, pois a realização sonora da palavra escrita não implica necessariamente a consciência daquilo que está sendo reproduzido. Agindo dessa forma, a escola, em vez de formar leitores críticos, capazes de se moverem livremente dos significados específicos para os gerais, dos significados superficiais e literais para os implícitos, forma apenas leitores acríticos. Percebemos certa incoerência entre a proposta da escola e as práticas pedagógicas, pois em seus planejamentos e replanejamentos, a escola propõe formar indivíduos críticos, aptos a se afirmarem no mundo. Ao mesmo tempo em que se propõe formar indivíduos críticos, como demonstram os planejamentos anuais, a escola, paradoxalmente, faz uso de recursos didáticos que levam à automatização dos alunos e, quando tenta reverter esse quadro, esbarra nas dificuldades apresentadas pelos próprios educandos em aceitar um novo tipo de postura, já que têm incorporado um outro comportamento (CARBONARI; SILVA, 1998, p. 112). Mais uma vez caímos na questão do comportamento, do condicionamento. Os alunos, por estarem acostumados com o modo de aprender instaurado pela escola, pelos professores, não sabem como agir perante situações nas quais são exigidas capacidades e habilidades que neles não foram construídas. Portanto, repito, é de extrema importância para a escola e para os professores, pensarem, refletirem, planejarem, replanejarem sempre suas aulas, seus métodos, se realmente o desejo for formar sujeitos autônomos, críticos, com capacidade de responderem às exigências cobradas dentro e fora da escola. Para formarmos alunos/sujeitos críticos é de suma importância refletir sobre nossas próprias práticas. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 56 Ao falarmos da cópia, logo nos vem à cabeça a produção textual. A cópia não leva o aluno a redigir textos, ao passo que para produzirmos textos é necessário criarmos textos e não reproduzir modelos fiéis. Entretanto, ao copiarmos um texto, um número de telefone etc., não é permitido pular frases, mudar letras, esquecer pontos, vírgulas, mas sim, reproduzir de forma fiel o que pretendemos copiar para que não mudemos o sentido do que está sendo copiado, afinal, estamos copiando algo que alguém escreveu. Muito se fala sobre o fracasso escolar, de que muitos alunos saem da escola sem saber ler e escrever. Isso é verdade. Há um grande número de alunos que terminam o ensino médio, mas não sabem interpretar um texto e muito menos redigir um texto de maneira adequada. É papel fundamental de a escola formar leitores e escritores, pois são habilidades extremamente cobradas fora e dentro da escola. Todavia, isso quase não ocorre, uma vez que muitos professores continuam ensinando a partir de métodos, concepções que quase não obtém resultados significativos. Como nos diz Trevisan (1998) A metodologia frequentemente utilizada pelos professores do ensino fundamental escolar tem se apoiado exclusivamente, na organização formal da aula, isto é, na utilização da metodologia como mera seleção e organização seqüenciada de passos (atividades cronometradas) para se chegar a um fim, ou seja, para se chegar ao cumprimento do conteúdo programático (p.35-36). Em se tratando de “metodologia como mera seleção e organização de passos para se chegar a um fim”, logo relacionamos a cópia a essa concepção de metodologia, pois os professores utilizam a cópia para chegar a alguns fins: treinar a coordenação motora, melhorar a caligrafia (pois acreditam que seguindo modelos os alunos podem “introjetar” as formas corretas de se escrever- mesmo os professores sabendo que há variações lingüísticas), manter a disciplina da sala e como meio punitivo. Voltando a produção textual, sabemos que a cópia nada mais é do que a reprodução fiel de determinado texto. Será que a cópia auxilia na produção textual? De que forma? Primeiramente, devemos fazer a distinção entre redação e texto. Segundo Geraldi (1997), as redações seriam textos produzidos na e para a escola; já os textos seriam produzidos na escola, porém com intenções. Será que quem copia produz REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 57 redações ou textos? Para que se redigem redações? E textos? Qual é o critério de produção de ambos? A resposta para o motivo da produção de redações na escola é unânime: para obter nota e “verificar” a escrita dos alunos. Contudo, a temática é sempre a mesma, quando não é “Minhas férias”, é o “Dia das mães” etc. Essa redação só será lida pelo professor que terá como trabalho corrigir os diversos erros (já que os alunos apenas copiam modelos considerados corretos, ao invés de produzirem) e atribuir-lhe uma nota. Muitas vezes o aluno não tem nem o trabalho de ler as anotações feitas pelo professor. Na maioria dos casos, após a correção do docente, o aluno logo joga esse “texto” no cesto de lixo. Provavelmente o aluno tomará uma atitude dessas, pois ele não vê um propósito para a realização daquela atividade, uma vez que somente o professor tem conhecimento do que foi escrito pelo aluno. Os professores acabam falsificando a produção de textos- já que são produzidas redações- causando nos alunos a impressão de estarem escrevendo textos. Podemos pensar em qualquer tipo de texto: oral ou escrito. Mas em se tratando do escrito, caracterizamos como algo social, com função e estrutura próprias. Na escola, a produção de textos é muito escassa, talvez, o resultado desse fracasso pode vir da concepção de texto do professor (muitos acham que texto é um aglomerado de frases organizadas e com sentido) e de sua metodologia. Para desenvolver qualquer atividade na sala de aula, o professor deve esclarecer o propósito de tal atividade, para que os alunos atribuam sentido àquilo. É necessário mudar o processo de ensino da língua escrita, pois hoje se tem um novo conceito de leitura e escrita, e de letramento, que vai além do conceito de alfabetização. De acordo com Soares (2001, p.3), letramento significa o estado e condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita na sociedade na qual vive. Uma pessoa letrada, portanto, não é apenas aquela que sabe ler e escrever, pelo contrário, é aquela que sabe fazer uso da leitura e da escrita nas práticas sociais de sua vida. É necessário desenvolver a competência da leitura, ou seja, formar leitores proficientes, e da escrita, formando escritores críticos de todos os tipos de textos. De acordo com Geraldi (1997, p. 137) para produzir um texto (em qualquer modalidade) é preciso que: a) se tenha o que dizer; b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 58 d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo); e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d). São os aspectos acima mencionados que são levados em consideração no ato de produzir um texto. Contudo, para redigir uma redação, o aluno não leva em consideração estes aspectos, pois já sabe que somente o professor lerá seu “texto”. Além disso, muitas redações produzidas em sala de aula são feitas de forma a agradar o professor. Em outras palavras, às vezes o aluno nem teve férias maravilhosas (se o tema for “Minhas férias”), mas é obrigado a realizar tal atividade, pois todos estão fazendo e ele também precisa de nota. Assim, os alunos se apropriam de textos copiados anteriormente com a mesma temática e acabam transcrevendo no papel e entregando para o professor. A atividade então se torna artificial para o aluno, já que na verdade ele não teve uma experiência efetiva de férias. 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no que discutimos anteriormente, podemos constatar que a escola e os professores em sua maioria, continuam persistindo em um ensino tradicional, visando apenas a transmissão de conteúdos. Não queremos aqui dizer que o uso da cópia em sala de aula é um crime. Pelo contrário, queremos refletir sobre essa prática, pois ela, a cópia, pode sim ser usada como estratégia de ensino. Para que a cópia seja trabalhada de modo a propiciar a aprendizagem dos alunos, ela deve ter um objetivo, um propósito, como qualquer atividade que pretendemos aplicar em nossos alunos. Os professores podem tomar como exemplo as escolas particulares, uma vez que nelas os alunos fazem pouco uso da cópia, pois usam os chamados “livros consumíveis”, que diminuem o trabalho e o tempo de copiar. Além disso, nas escolas público-estaduais do Estado de São Paulo há os cadernos dos alunos, os quais pertencem aos alunos. O caderno do aluno na rede estadual de São Paulo veio para facilitar o ensino, diminuir o exaustivo trabalho de copiar extensos textos. Assim, os alunos resolvem os exercícios no próprio caderno do aluno sem que haja o trabalho de estar copiando textos, atividades no caderno a parte. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 59 A cópia por ser algo meramente mecânico, pode acabar fazendo com que nossos alunos sejam moldados, ou seja, condicionados a copiar. A prática da cópia pode ser relacionada com a concepção de ensino comportamentalista, na qual, segundo Mizukami (1986) o professor molda o comportamento do aluno através de exaustivas atividades repetitivas. Nessa concepção de ensino, o professor tem a responsabilidade de manusear e planejar o processo de aprendizado de forma que o aluno aprenda igualmente. O aluno é visto como máquina, uma vez que todos devem ter o mesmo comportamento. Dessa forma, se a cópia for utilizada de maneira indevida, o professor fará com que seus alunos se tornem “máquinas de cópias xerográficas”, as quais apenas reproduzem aquilo o que é solicitado. Além disso, essas “máquinas” são falíveis, pois distorcem algumas palavras, cometendo erros ortográficos e gramaticais. REVISTA SABER ACADÊMICO N° 15 / ISSN 1980-5950 – GUIMARÃES, C. F. 2013. 60 REFERÊNCIAS CARBONARI, Rosemeire e SILVA Ana Claudia da. Cópia e leitura oral: estratégias para ensinar? In: CHIAPPINI, Ligia (coord.) Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 2001. GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 4ª Ed.- São Paulo: Martins Fontes, 1997. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Ed Cortez, 1995. LUCKESI. C.C. Avaliação da aprendizagem Escolar, 17. ed, São Paulo, Cortez 1998. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. 9 reimp. Campinas: Mercado das Letras, 2002. SOARES, Magda. (2001). Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. B. H.: Autêntica. TREVISAN, Z. As malhas do texto. São Paulo: Clíper Editora, 1998.