UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE ARTES E HUMANIDADES
COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO
BRUNO DE OLIVEIRA LIMA
DOCUMENTÁRIO
“O FABULOSO DESTINO DE ANÍSIO PIU PIU”
VIÇOSA
2008
BRUNO DE OLIVEIRA LIMA
DOCUMENTÁRIO
“O FABULOSO DESTINO DE ANÍSIO PIU PIU”
Projeto Experimental apresentado ao curso de
Comunicação Social da Universidade Federal
de Viçosa, em cumprimento parcial às
exigências para a obtenção do título de
bacharel em Jornalismo.
Orientação: Profa. Dra. Soraya Maria Ferreira
Vieira
VIÇOSA
2008
2
DOCUMENTÁRIO
“O FABULOSO DESTINO DE ANÍSIO PIU PIU”
BRUNO DE OLIVEIRA LIMA
Aprovado em _____ / _____ / _____ .
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Dra. Soraya Maria Ferreira Vieira (orientadora)
Professora adjunta do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – UFV
____________________________________________________
Ms. Carlos Frederico de Brito d’Andréa
Professor assistente do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – UFV
____________________________________________________
João Batista Mota
Jornalista membro da Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância – CEAD – UFV
3
AGRADECIMENTOS
Aqui vão uns agradecimentos para aqueles que estiveram comigo durante a minha
estadia em Viçosa, onde vivi experiências e aprendi coisas que levarei para os outros ciclos da
minha vida.
Agradeço principalmente aos meus pais, que foram as pessoas que possibilitaram a
minha permanência em Viçosa, enviando religiosamente a grana no fim do mês assim como
dando conselhos e palavras de incentivo.
Agradeço a Paula, pelos ótimos momentos que passamos juntos e pelas várias vezes
que me ajudou ao longo do tempo.
Agradeço também aos poucos bons professores que tive durante a graduação, cujas
aulas eram uma troca de idéias entre amigos, bem distante rigor hierárquico do velho
academicismo. E, por que não, agradeço aos maus professores também, pois me alertaram
para situações que, com certeza, terei de enfrentar pela frente. Logo, as situações em que eles
me colocaram, pelo menos, serviram de treinamento.
Agradeço a professora Soraya pela orientação e, sobretudo, pela liberdade criativa que
me concedeu durante a realização de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu.
E, por fim, quero agradecer aos meus amigos e a todas as pessoas que conheci em
Viçosa, pois me levaram a olhar o mundo de outra forma e a construir alguma parte de mim,
até mesmo quando não riram das minhas piadas super engraçadas.
Valeu!
4
RESUMO
Este é um trabalho experimental de produção de um documentário audiovisual. Trata-se da
história do comerciante e ex-detento Anísio Antonio Marques, mais conhecido como Anísio
Piu Piu, que ficou famoso em Carmo do Rio Claro, no sul de Minas Gerais, após ter,
supostamente, deixado um bilhete para o delegado durante uma fuga da prisão. Condenado a
oito anos de cadeia, o personagem desta história real não fugiu apenas uma vez, mas sim três
vezes, e sempre de um jeito criativo e engraçado. Em meio a prisões, fugas e esconderijos, O
Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu conta uma história de reintegração social, onde a luta e a
força de vontade caminham lado a lado com o bom humor.
Palavras-chave: documentário, reintegração social, anísio piu piu, bilhete, carmo do rio
claro.
5
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 7
1.1 A reintegração social......................................................................................................... 7
2 REFERÊNCIAS TEÓRICAS ................................................................................................ 10
2.1 Relação entre documentário e jornalismo ....................................................................... 10
2.2 Documentário e mobilização social ................................................................................ 11
3 RELATÓRIO TÉCNICO ...................................................................................................... 13
3.1 Pré-produção ................................................................................................................... 13
3.2 Produção ......................................................................................................................... 14
3.3 Fotos da produção ........................................................................................................... 15
3.4 Pós-produção................................................................................................................... 16
3.5 Blog da produção ............................................................................................................ 17
3.6 Orçamento ....................................................................................................................... 18
3.7 Lançamento ..................................................................................................................... 18
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 19
5 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 20
6 ANEXOS ............................................................................................................................... 22
6.1 Roteiro............................................................................................................................. 22
6.2 Matérias em Jornais ........................................................................................................ 43
6.3 Projeto de Patrocínio ....................................................................................................... 44
6.4 Modelo do termo de autorização de uso de imagem e som ............................................ 48
6
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso trata de um vídeo-documentário intitulado
“O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu”. A história contada através do documentário é a
trajetória do ex-detento Anísio Antonio Marques, nascido e residente na cidade de Carmo do
Rio Claro, sul de Minas Gerais. Anísio, além de uma personalidade forte, é dono de uma
história de vida de muita luta e, ao mesmo tempo, trágica e cômica.
Nesta nota introdutória, destacamos as linhas narrativas que norteiam a produção do
documentário. Inicialmente, devemos considerar que o documentário é sobre a vida de uma
pessoa, portanto, tem um tom biográfico. A parte da vida deste personagem retratada com
maior destaque vai desde quando ele foi preso até o momento de sua libertação, lembrando
que antes de sua liberdade total, ele passou cerca de quatro anos solto em liberdade
condicional.
Enfocamos, também, a personalidade do personagem, uma vez que ele é uma pessoa
marcante e de humor aguçado. A essa característica, soma-se o fato de que ele, durante o
tempo em que esteve preso, fugiu três vezes, e algumas delas de maneira espetacular. Por fim,
há a questão de sua reintegração à sociedade, pois, ao fim da pena, conseguiu abrir um
negócio próprio de venda de móveis usados, sem que ninguém o ajudasse.
Em resumo, o documentário conta com estes quatro pilares: o recorte da vida do
personagem, a sua personalidade, as fugas e a reintegração à sociedade. Dentre esses itens, a
linha narrativa que traduz a reincorporação do ex-preso Anísio à vida em sociedade funcionou
como uma espécie de ponto de encontro de todas as temáticas tratadas no documentário.
1.1 A reintegração social
O documentário é uma forma de resgate de temas e assuntos que estão distantes ou
que são vistos pela mídia como irrelevantes. Por vezes, o documentário atua fazendo um
estudo aprofundado daquilo que é visto como sem valor notícia pelos meios de comunicação.
Além disso, a linguagem mais livre favorece a reflexão sobre os assuntos apresentados.
Segundo Manuela Penafria:
O seu olhar [do documentário] não se reduz ao que é óbvio, antes leva-nos a olhares diferentes
sobre o mundo e permite-nos olhar o mundo de modo diferente. Por esta razão há um apelo ao
debate de idéias, à reflexão e ao envolvimento crítico confrontados que somos com
experiências diversas, sejam elas sociais ou pessoais. (1999:04)
7
É por isso que o documentário “O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu” busca trazer à
tona a discussão de um assunto importante, mas ao qual não é dado o devido valor. Entre
outras possibilidades temáticas, o presente documentário questiona a capacidade de
recuperação de um preso pelo sistema carcerário brasileiro.
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), de 2003, estima-se
que o índice de reincidência criminal no Brasil é de 82%. Isso significa dizer que a cada cinco
presos que são postos em liberdade no Brasil, apenas um não volta a cometer crimes,
revelando a fragilidade do sistema prisional que não consegue recuperar os cidadãos que
cometem erros.
Sobre a porcentagem dos que não voltam a cometer crimes, podemos dizer que boa
parte deles conta com a ajuda de entidades civis para voltar à vida em sociedade. Um exemplo
é o caso da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do Distrito Federal, que trabalha com
presos e recém-libertos, dando-lhes educação e formação profissional para enfrentar de novo
a vida em sociedade.
A violência no Brasil pode estar atrelada mais a um problema estrutural do que
meramente numérico. A cada dia são inaugurados novos presídios, mais policiais são postos
nas ruas e mais prisões são efetuadas, mas mesmo assim os índices de violência se elevam a
cada ano.
As penitenciárias foram criadas com os seguintes objetivos: punir os transgressores,
proteger a sociedade, prevenir crimes futuros e reabilitar criminosos. Dessas metas, a única
que parece ser cumprida é a punição dos transgressores, aplicando-lhes a exclusão do meio
social e encarcerando-os em prisões onde, na maioria das vezes, são submetidos a condições
ultra degradantes.
Há uma visível contradição entre o que diz a Lei de Execução Penal e a reinserção de
um preso na sociedade. Como se concilia o fato de que a possível reinclusão de um indivíduo
que transgrediu as regras sociais, pode se dar pela sua exclusão do meio social através do
encarceramento? O que uma prisão pode oferecer a um individuo para que ele possa voltar a
viver em liberdade e, a partir daí, aceitar as normas sociais? De acordo com Vânia Sequeira:
A Lei de Execução Penal defende um tratamento prisional que deve propiciar a reeducação e a
ressocialização do preso. O sistema penal trabalha com a idéia da reabilitação do preso; esse é
o discurso oficial que legitima o aprisionamento. Acredito que precisemos discutir essas
concepções e suas raízes ideológicas, porque a reinserção por meio da exclusão é uma
incoerência a ser decifrada. (2006:667)
8
Apesar de não levantar o tema da ressocialização de modo direto e institucional, o
documentário “O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu” dialoga com essa questão, fazendo
com que o público telespectador reflita sobre algo que aparentemente está muito longe de suas
vidas.
Dentro deste parâmetro, o personagem do documentário, Anísio Marques, pode ser
considerado uma anomalia de um sistema cuja normalidade é devolver o criminoso ainda
mais criminoso. Quando ele saiu da prisão, sem trabalho ou mesmo sem idéia do que fazer,
conseguiu se estabelecer sozinho no meio social. Usando sua capacidade de comerciante,
conseguiu montar um negócio próprio sem a ajuda de ninguém. O documentário questiona os
possíveis porquês de Anísio não ter voltado a cometer crimes e qual é o papel do sistema
prisional na recuperação do personagem.
Diante disso, o personagem e a história reúnem as condições necessárias para dar força
ao documentário. Além disso, a busca pela liberdade e a luta para recomeçar são atributos
reconhecidos por todos, logo o tema adquire um forte respaldo social.
9
2 REFERÊNCIAS TEÓRICAS
2.1 Relação entre documentário e jornalismo
O documentário é um gênero cinematográfico marcado, fundamentalmente, pelo
compromisso com a realidade. Mesmo que ele possa ter cenas ficcionais, como é o caso das
simulações, o documentário quer sempre passar ao telespectador a realidade.
O documentário pode ser encarado, também, como uma forma de fazer jornalismo,
uma vez que segue as premissas básicas do campo. Assim como no jornalismo, o
documentário busca a verdade e a objetividade. Segundo a pesquisadora Cristina Melo (apud
ZANDONADE; FAGUNDES, 2003, pág. 32), “o fato de ser um discurso sobre o real e
utilizar imagens in loco são características que aproximam o documentário da prática
jornalística.”
No começo do século 20, o cinema tinha uma vertente acoplada ao jornalismo nos
chamados cinejornais, termo utilizado para definir pequenos documentários de caráter
informativo produzidos para serem exibidos em salas de cinema. Essas peças
cinematográficas, no Brasil, versavam mais comumente sobre crimes, e aproveitavam uma
notícia que estivesse sendo amplamente coberta pelos jornais impressos da época.
Com o passar do tempo e com o advento da televisão, os cinejornais deixaram de ser
produzidos, entretanto, como ressalta Gustavo Souza (2006:07), “as relações entre
documentário e jornalismo se mantiveram. O documentário clássico parece ter servido de
base para o jornalismo atual, especialmente o jornalismo televisivo (...)”.
Atualmente, o documentário é visto como uma maneira de extravasar as possibilidades
do jornalismo. De acordo com Gustavo Souza:
Diante do caráter superficial dispensado pelos media, o documentário, mesmo com seu alcance
ainda em expansão, tem se apresentado como um espaço privilegiado onde o debate
sobre
os diversos matizes que constituem a sociedade brasileira acontece dissociado das regras da
imprensa. Uma série de fatores possibilita essa inferência. Inicialmente, o caráter marginal do
documentário, reflexo do vínculo rarefeito com o mercado, deixa o documentarista livre para
novas possibilidades temáticas e estéticas. O tratamento dispensado ao tema toma como baliza
o aspecto autoral do cineasta, indispensável para qualquer documentário, que empresta ao
filme uma singularidade própria. (...) Além disso, o tempo de preparação de um documentário
(em alguns casos os personagens são acompanhados por anos) permite a elaboração de novas
narrativas. Esse aspecto faz o documentário divergir de uma reportagem, mais preocupada em
relatar os acontecimentos no calor da hora, fazendo com que o documentarista estabeleça um
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vínculo mais estreito com os personagens, ao contrário da matéria jornalística, mais
interessada na construção de um tipo ou de alguém que vai citar ou confirmar o que se espera.
(2006:07)
A diferença entre os tipos de produção permite ao documentário uma capacidade de
apresentar razões, causas e desdobramentos que ultrapassam a condição descritiva do
jornalismo diário.
O documentário é marcado pela característica autoral, que por sua vez, também pode
ser ligada à prática jornalística, já que o repórter vê e opina sobre o fato que relata. Além
disso, o documentário pode representar certo revigoramento da prática jornalística, tendo por
base que essas produções em vídeo respondem a uma das perguntas que mais ficam sem
resposta no jornalismo diário: o porquê (ZANDONADE; FAGUNDES, 2003).
2.2 Documentário e mobilização social
Atualmente, são poucas as emissoras que produzem e exibem documentários. Por
exemplo, na TV Globo, existe apenas um programa que veicula documentários: o Globo
Repórter. O programa foi criado em 1973, e nos primeiros dez anos figurou como um espaço
de liberdade de criação e inovação. No entanto, com o passar do tempo, o programa
abandonou o seu caráter de experimentação de novas linguagens, passando a adotar uma
postura padronizada, preferindo temas como lugares e animais exóticos a temas sociais e
investigativos.
A TV Cultura, contudo, ainda abre sua programação para a veiculação de
documentários em programas como o DOC TV, Repórter Eco e Cine Brasil. Entretanto, esses
programas têm audiência limitada devido ao sinal pouco abrangente da TV Cultura e à
concorrência com as outras emissoras.
As emissoras investem muito mais na produção de programas de entretenimento do
que na formulação de programas educativos em busca de altos retornos comerciais. Na guerra
pela audiência, as empresas televisivas se esquecem da função social e cívica que cabe aos
meios de comunicação, principalmente no caso da televisão, que impera frente aos outros
veículos por seu grande alcance.
No telejornalismo, existe a concepção de que as matérias devem ser sucintas, rápidas e
claras, para que o telespectador não tenha o trabalho de pensar depois de um dia cansativo de
trabalho. Sobre isso, Zandonade e Fagundes ressaltam:
11
“que as notícias diárias abordadas nos telejornais das emissoras comerciais não contribuem
para a clareza das idéias, ou seja, não despertam o sentido crítico dos telespectadores fazendo
com que eles não tenham uma visão mais apurada sobre os assuntos apresentados.” (2003:34)
Em contrapartida, o documentário tem um cunho mais interpretativo e valoriza as
peculiaridades dos fatos, diferente do tratamento uniforme dispensado a todas as matérias nos
telejornais. Além disso, tem uma linguagem mais aprofundada dos assuntos propostos, o que
contribui para a criação da consciência crítica e para a mobilização social. O documentarista
Paulo Barouck (apud ZANDONADE; FAGUNDES, 2003, pág. 41) afirma que “o
documentário é uma poderosa ferramenta educacional, não só na transmissão do
conhecimento como na formação da consciência crítica e fomentação de reflexão a respeito
dos temas que apresenta”.
O documentário trabalha as ligações entre os assuntos tratados e o mundo onde estão
inseridos os telespectadores. Com isso, busca-se um novo valor-notícia, bem diferente do que
é usado pelos telejornais. Por exemplo, lança-se um novo olhar sobre a periferia, que deixa de
ser assunto somente porque alguém cometeu um crime, mas também porque existe alguém
trabalhando lá ou fazendo arte.
Dessa maneira, é possível dizer que o documentário valoriza as potencialidades dos
indivíduos e das comunidades, produzindo a mobilização social. Com isso, as pessoas são
levadas a participar mais ativamente na busca do bem comum e da cidadania.
12
3 RELATÓRIO TÉCNICO
3.1 Pré-produção
A pré-produção do documentário começou em fevereiro de 2008. Até o mês de junho,
foram cinco meses de pesquisa para construir o roteiro do filme. A pesquisa baseou-se em
várias entrevistas com o próprio personagem e com a mãe dele. Nesse processo, também
pesquisamos em arquivos de jornais e TVs locais em busca de reportagens sobre o período em
que Anísio estava foragido. Nada constava nos arquivos de jornais, no entanto, encontramos
uma reportagem na TV local que até entrou para o documentário.
A pesquisa também contou com o estudo de arquivos jurídicos referentes ao processo
de Anísio. Esses arquivos foram encontrados no Fórum de Carmo do Rio Claro assim como
em posse de Anísio e de seus advogados.
Terminada a pesquisa, construímos um roteiro contando a história de Anísio, que nos
orientou durante a filmagem e edição posteriores. É bom ressaltar que optamos por fazer
apenas um esboço do filme e não um roteiro preciso, evitando assim uma rigidez que poderia
engessar a produção e deixar escapar formas mais criativas de narrar a ação dramática.
Nesse momento, também, escolhemos o título do filme. O Fabuloso Destino de Anísio
Piu Piu é uma óbvia alusão ao filme francês Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, dirigido
por Jean-Pierre Jeunet. No entanto, não foi uma escolha aleatória, pois ambos os filmes
contam uma história de vida em que o humor figura como uma visão de mundo para seus
personagens.
Com roteiro em mãos, calculamos os custos e fizemos o orçamento do filme. A partir
daí, escrevemos um projeto de patrocínio para fazer a captação de recursos financeiros para a
produção.
Durante o mês de julho, trabalhamos exaustivamente em busca de patrocínio. O
projeto foi apresentado a numerosas casas comercias de Carmo do Rio Claro, tendo uma
resposta bastante pessimista a princípio. Entretanto, para esclarecer sobre o projeto e tentar
fazer com que o financiassem, fizemos também um exaustivo trabalho de divulgação nos
meios de comunicação. Ao total, foram três entrevistas em rádios, uma entrevista na TV local
e matérias em dois jornais regionais.
Após esse trabalho, conseguimos o patrocínio necessário para produção e depois, com
a publicidade provocada pelas filmagens na cidade, conseguimos também o dinheiro para a
finalização.
13
Em agosto, elaboramos o plano de produção, definindo locações e também marcando
as entrevistas que integrariam o documentário. Encontramos muita dificuldade nessa etapa,
pois se trata de um assunto sobre o qual as pessoas tinham certa resistência a falar.
Por fim, durante a primeira quinzena de setembro, fizemos a contratação da equipe
que iria trabalhar nas filmagens de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu, encerrando assim o
processo de pré-produção.
3.2 Produção
As gravações do documentário O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu aconteceram
entre os dias 22 e 27 de setembro, no total, seis dias de locações em Carmo do Rio Claro. A
equipe foi bastante reduzida, formada por quatro pessoas: diretor, produtor, assistente de
produção/microfonista e motorista.
Nesses seis dias de gravações, rodamos em vários pontos característicos da cidade
assim como em lugares que marcaram a história de vida do personagem, como os locais na
zona rural que serviram de esconderijo durante as fugas da prisão de Anísio.
Fomos também até Passos, uma cidade localizada a 70 quilômetros de Carmo do Rio
Claro, onde vive hoje o policial que estava de plantão durante a primeira fuga de Anísio. Ele
confirmou uma história bem engraçada, segundo a qual Anísio deu-lhe um copo de café
supostamente cheio de calmantes. Após tomar a bebida, o policial dormiu, enquanto isso, o
personagem aproveitou para cavar um buraco na parede e fugir.
Ao total, fizemos 19 entrevistas com pessoas tiveram alguma relação com a história de
Anísio. Entre elas estão: familiares, advogados, delegado, promotor, amigos, policiais,
companheiros de cela, investigadores e proprietários de fazendas onde o personagem se
escondia durantes as fugas.
Em seis dias de locações, gravamos cerca de 15 horas de material bruto para serem
transformados em 55 minutos do presente documentário. Trabalhamos com uma grande
margem de descarte para conseguir a edição mais rica possível. Nesse sentido, para cada
minuto aproveitado no corte final, gravamos cerca de 17 minutos de material bruto.
Os equipamentos usados durante a produção foram os seguintes:
-
1 Câmera Sony HDR-HC7 / HDV
-
2 Tripés
-
1 Spot de luz
-
1 Vara de boom
14
-
1 Microfone ATR-55 Audio-Technica tipo boom
-
1 Microfone EW 112P-G2 Sennheiser sem fio tipo lapela
-
1 Rebatedor três cores (branco, prata e dourado)
-
1 Difusor
3.3 Fotos da produção
Gravação
Gravação
15
Equipe de gravação
3.4 Pós-produção
O primeiro passo da pós-produção foi a decupagem do material bruto. Das quinze
horas gravadas, fizemos uma pré-seleção de cerca de seis horas de vídeo aproveitável, as
quais foram capturadas para uma ilha de edição não-linear. Essa etapa demorou 10 dias para
ser feita.
É necessário ressaltar que a edição na realização deste documentário tem um papel tão
fundamental quanto a produção. Isso se deve ao fato de que a construção narrativa do filme é
praticamente feita durante o processo de montagem. Sem o papel da edição, teríamos quinze
horas de vídeo que não dizem absolutamente nada. Ao contrário da ficção, onde a edição tem
um papel que diz respeito mais a organizar as cenas de um roteiro preciso, no documentário a
edição é um processo criativo e que dá sentido ao material gravado.
O programa usado para edição de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu foi o Sony
Vegas versão 8.0. Foi escolhido por trabalhar bem tanto com a plataforma operacional
Windows quanto com o formato HDV, usado na gravação deste documentário. O trabalho de
edição durou três semanas.
Após a conclusão do primeiro corte, o vídeo passou por mais uma triagem, para
eliminar algumas cenas que, apesar de boas, não faziam tanto sentido ou apenas bloqueavam
o curso da ação dramática. Ao final deste processo, chegamos à versão final com 55 minutos.
Com o corte final, partimos para a etapa de finalização de áudio e vídeo. A finalização
de áudio foi feita pelo técnico de som Juliano Coutinho, usando os programas Sony Sound
Forge 9.0 e o Pro Tools 5.0. E a finalização de vídeo foi feita utilizando os próprios plug-ins
de correção de cor e de efeitos do programa de edição.
A última etapa foi a inserção de créditos e da trilha sonora. Quanto a esta última,
16
foram utilizadas músicas sob licença CREATIVE COMMONS1, para não termos de pagar
direitos autorais. Com o vídeo pronto, fizemos a autoração do DVD usando o programa Sony
DVD Architect 4.5.
3.5 Blog da produção
Para divulgar a realização do documentário O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu,
produzimos um blog contando as etapas de produção do filme.
Layout do blog
1
Também conhecida pela sigla CC. É um conjunto de licenças padronizadas para gestão aberta, livre e compartilhada de conteúdos e informação. No caso das trilhas sonoras, podemos usá‐las gratuitamente no filme desde que citemos o autor e não as usemos para fins comerciais. 17
3.6 Orçamento
PRODUTO
QUANT.
VALOR (R$)
FITAS MINI-DV
15
160,00
PASSAGENS VIÇOSA-CARMO DO R. CLARO
4
460,00
CAMISETAS PRODUÇÃO
4
60,00
GASTOS PRODUÇÃO (GASOLINA, TELEFONE,
250,00
TÁXI, SEDEX)
CACHÊ ASSIST. PROD.
1
50,00
CACHÊ PROD.
1
50,00
CACHÊ DESIGNER
1
150,00
EDIÇÃO (ALGUEL DE ILHA)
1
200,00
PRODUÇÃO DE DVDS
100
600,00
MATERIAL GRÁFICO (CARTAZES, CONVITES)
200,00
FINALIZAÇÃO DE ÁUDIO
70,00
FINALIZAÇÃO DE VÍDEO
200,00
TOTAL
2450,00
3.7 Lançamento
Após a apresentação para a banca examinadora, O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu
volta para Carmo do Rio Claro, onde será lançado em uma sessão na Câmara Municipal no
dia 21 de dezembro.
Haverá também a venda de DVDs do filme assim como distribuição em locadoras da
cidade. Já no início de 2009, o filme será exibido pelo canal de televisão local, a TV Onda
Sul.
Por último, durante todo o ano de 2009, o documentário segue para tentar uma vaga
nas mostras de uma extensa lista de festivais de cinema por todo o Brasil.
18
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A finalização de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu deixou ainda mais clara a
aproximação do jornalismo e do cinema documental. O processo de produção de ambos é
muito parecido, no entanto, o documentário oferece uma riqueza e uma possibilidade
narrativa muito maior.
Contar a história de Anísio Piu Piu através de uma pirâmide invertida2 é o mesmo que
reduzir a vivacidade da história a zero. Portanto, acredito que deve haver mais investimento
por parte das emissoras de televisão para a produção de documentários. É uma alternativa
muito mais interessante para levantar questões importantes para a sociedade do que durante a
correria de um telejornal.
A fase atual da televisão exige que haja programas mais criativos e mais aprofundados
para sobreviver frente à concorrência com as novas mídias. Mais uma vez, pode-se lançar
mão do documentário, privilegiando produções que aliem informação e criatividade bem
como produções que sejam assistidas com interesse pelos telespectadores.
2
Pirâmide Invertida é uma técnica de redação jornalística cuja construção textual sugere que as informações devem vir em ordem decrescente de importância. Pela pirâmide invertida, as informações essenciais já devem vir destacadas no primeiro parágrafo. Alvo de muitas discussões, o uso dessa técnica pode produzir um texto objetivo, entretanto, também pode cercear a construção de um texto mais criativo. 19
5 BIBLIOGRAFIA
ALVIM, Wesley Botelho.
A ressocialização do preso brasileiro.
Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/artigos/x/29/65/2965/> Acesso em: 15 outubro 2008.
ANDREW, James Dudley. As principais teorias do cinema: uma introdução. Tradução,
Teresa Otoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
BUCCI, E.; KEHL, M. R. Videologias: ensaios sobre televisão. São Paulo: Boitempo,
2004.
LABAKI, Amir. Introdução ao documentário brasileiro. São Paulo: Francis, 2006.
LUPORINI, Marcos Patrizzi. O cinejornal no estado novo: a relação do poder com a
propaganda política. Disponível em: <http://www.preac.unicamp.br/
memoria/textos/Marcos%20Patrizzi%20Luporini%20-%20completo.pdf> Acesso em: 05
junho 2008.
MONTEIRO, Adalberto. Reintegração Social do Preso – Utopia e Realidade. Disponível
em: <http://www.cjf.jus.br/revista/numero15/mesaredonda21.pdf> Acesso em: 12 abril 2008.
O MOSSOROENSE. É possível a recuperação de presos? Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/omossoroense/110802/especial.htm> Acesso em: 15 outubro 2008.
PENAFRIA, Manuela. Perspectivas de desenvolvimento para o documentarismo.
Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/penafria-perspectivas-documentarismo.pdf>
Acesso: 15 outubro 2008.
PIRES, A. A. C.; GATTI, T. H. A reinserção social e os egressos do sistema prisional por
meio de políticas públicas, da educação, do trabalho e da comunidade. Disponível em:
<http://www.ibict.br/revistainclusaosocial/include/
getdoc.php?id=153&article=20&mode=pdf%20-> Acesso em: 12 abril 2008.
20
SEQUEIRA, Vania Conselheiro. Uma vida que não vale nada: prisão e abandono políticosocial . Psicol. cienc. prof., dez. 2006, vol.26, no.4, p.660-671. Disponível em:
<http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932006000400012>
Acesso em: 15 outubro 2008.
SOUZA, Gustavo. Aproximações e divergências entre jornalismo e documentário.
Disponível em: <http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/
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ZANDONADE, V.; FAGUNDES, M. C. J. O vídeo documentário como instrumento de
mobilização social. Disponível em: < http://www.bocc.ubi.pt/pag/
zandonade-vanessa-video-documentario.pdf> Acesso em: 01 junho 2008.
21
6 ANEXOS
6.1 Roteiro
ROTEIRO DA VERSÃO FINAL
Título: O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu
Direção: Bruno Lima
Duração: 54’57”
CRÉDITOS INICIAIS SOB
TRILHA SONORA
FADE PARA
NARRAÇÃO SOB
Esta é a história de Anísio Piu Piu. Um comerciante que
IMAGENS DE ANÍSIO PIU
nasceu e viveu a maior parte da vida na cidade de Carmo do
PIU ABRINDO A LOJA
Rio Claro, no sul de Minas Gerais.
Nessa cidade, ele realizou uma aventura que o tornou famoso
e também originou o apelido que hoje praticamente faz parte
do seu nome.
Todos na cidade, dizem que Anísio Piu Piu fugiu da cadeia e
deixou um bilhete para o delegado.
TRANSIÇÃO PARA
ANÍSIO PIU PIU
Aí fui saindo assim, e falei, mas ele vai sentir muita saudade
de mim, eu vou tentar deixar um bilhetinho pra ele. Aí falei
lá, Sanhaço Piu Piu, o Anísio Fugiu.
CORTA PARA
NARRAÇÃO SOB IMAGEM Mas como toda história tem um início, O Fabuloso Destino
ESTÁTICA DE ANÍSIO PIU de Anísio Piu Piu começa um pouco antes desse episódio.
PIU
CORTA PARA
IMAGENS REVERSAS DE
ANÍSIO PIU PIU FALANDO
E ABRINDO A LOJA, SOB
TRILHA SONORA
FADE PARA
TILT DOWN – PRAÇA DA
CIDADE
CORTA PARA
ANISIO PIU PIU EM OFF, Eu peguei, e falei assim, vou mandar um cartão de natal pra
SOB IMAGENS DIVERSAS aquela pessoa. E, como era no final do ano, tinha formatura
DO PERSONAGEM
dela. Tava formando acho que na oitava série. Aí fui na
formatura dela, cheguei lá, ela... parece que ela não queria
dançar comigo, eu fui insistindo até conseguir. E daí pra
frente rolou.
Foi meio conturbado, o véio não queria de jeito nenhum.
Sempre ficando com o pé atrás. Ah, não sei, achava que eu
era meio molecão pra ela.
Eu lembro que uma vez ele não queria deixar ela sair de
carro comigo de jeito nenhum. Aí eu pegava a moto, falava
comigo, já que não pode sair de carro, eu vou de moto.
Punha ela na garupa e picava a mula.
CORTA PARA
22
ANÍSIO PIU PIU
O pedido foi meio à força mesmo, porque o véio não queria
de jeito nenhum. Ele falou assim, pode casar, mas dentro de
um mês, aí eu muito burro aceitei.
CORTA PARA
DONA ALVINA - MÃE
Esse Anísio, na hora de casar, mas ele não queria ir de jeito
nenhum. Até hoje eu alembro eu dou risada, quando eu
alembro, eu dou risada sozinha, seja em que lugar que eu
tiver.
A noiva chegar atrasada tudo bem, mas o noivo chegar
atrasado é muita complicação pra uma pessoa só.
Depois, por fim, nós, quando nós conseguiu encaminhar ele
no carro, eu falei assim, meu Deus, até que enfim.
Aí eu fui imaginando, quando nós subiu, eu fui imaginando,
agora só falta ele correr lá e, ó!
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Aí chegou lá na frente, na hora que o padre perguntou, você
aceita não sei o quê, casar com Lúcia, não sei o quê. Aí eu
olhei prum lado, olhei pro outro, pra ver se tinha alguém que
dizia, não, não casa não.
Eu tinha uma amiga minha que falou que ia, uma tal de
Estér, amiga minha do coração.
Piu, eu vou lá, eu não deixar você casar não.
FADE PARA
PAN – PRAÇA DA CIDADE
CORTA PARA
ANISIO PIU PIU EM OFF, Muita gente pensa que casamento é fácil, é a coisa mais
SOB IMAGENS DIVERSAS difícil que tem é manter um casamento. Porque entre quatro
DO PERSONAGEM
paredes ninguém sabe o que passa.
Às vezes, eu chegava nove e meia a mulher ficava brava, uai,
virava um leão, pegava som jogava no chão...
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
... quebrava televisão. Foi indo indo que eu perdi a paciência,
briguei com ela.
CORTA PARA
CARLINHOS - AMIGO
Até tem uma que ele tava assistindo um filme lá, eu tava aqui
em casa também, na segunda-feira assistindo Tela Quente.
Aí ele chegou aqui com o olho tudo roxo, que tava dormindo
com a mulher dele lá, no sofá assistindo o filme, aí ele
cochilou, sonhou com uma mulher, falou alto.
Eu falo que ele fala demais. Tomou um muro no olho,
chegou aqui de noite. Ô Carlinhos, deixa eu dormir aí, deixa
eu dormir aí.
Mas quem tinha dado o muro era a esposa dele?
A esposa dele, socou ele, no sofá, no colo dela.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Uma vez ela chegou aqui pertinho, aqui nessa praça mesmo,
eu tava conversando com três moças, ela pegou e jogou a
aliança fora descendo ali.
Nossa, ela era histérica sobre ciúme, morria de ciúme do Piu.
Não sei o que que o Piu tem de tão bão assim.
FADE PARA
23
TÍTULO
–
ENVOLVIMENTO
CRIME
ANÍSIO PIU PIU
O
NO
FADE PARA
Uma vez eu fazia jogo do bicho, eu tava lá na vargem, perto
da Edmil ali, lá era CAMIG... CAMIG, COMIG, não sei.
Eu tava lá fazendo jogo do bicho, passou o delegado e o
detetive. Aí veio um rapaz, um tal de Toizinho Limão,
Toizinho da CAMIG. Ele pegou e desligou a minha moto, aí
a hora que a polícia chegou, não deu pra mim vazar, porque
de moto você vaza. Você vaza ou come os papeizinhos ou
joga fora, né?
Aí o cara pegou e desligou a minha moto, e não teve como
eu ligar. A partida da moto tava meio durinha, não teve como
eu voltar atrás. Até eu ligar a moto de novo, eles chegou e
encaixou, não deu como eu fugir.
DONA ALVINA - MÃE
Aí quando o Antonio ficou sabendo, nossa, mas esse véio
ficou “enfavorado”. Era meia-noite e eles tava tentando tirar
ele e tirou. Aí, depois como ele entrou na fria de novo, aí ele
não conformava, ele virava assim, eu já passei tanta aflição
pra tirar ele de lá.
CORTA PARA
ANISIO PIU PIU
Eu tava construindo a casa, e todo final de semana tinha que
pagar os pedreiros, os serventes, e deu uma época que a
minha loja tava vendendo pouco. Aí eu tinha um amigo lá
em Passos que mexia com droga, essas coisas, aí eu ia lá
pegava um pouco de droga, vinha aqui no final de semana e
vendia, voltava lá, pegava mais um pouco e vendia.
E, até que foi bom eu ter sido preso vendendo droga, que já
tava querendo uma quantidade maior.
Uai, eu chegava e matava a pessoa de vergonha. Ô, quer
comprar maconha? Eu vou lá em Passos buscar pra você.
O Piu agora é traficante, é o Pablo Escobar da cidade.
Eu tinha até uma cadernetinha que eu falava assim, compre
que eu faço pra você no crediário, você compra hoje, paga
semana que vem, no fim de semana.
CORTA PARA
CARLINHOS - AMIGO
Aí nisso passou os tempos, ele foi preso, até pelo que eu falo
pra ele direto, por ele falar demais.
Como assim?
Ah, ele fala demais. Na época, ele não tinha nada a ver,
puseram um negócio de droga pra ele, não sei o que e tal.
Não era nada a ver, porque ele falava demais, punha negócio
de caderneta, coisa de droga, não era nada.
Os “pessoal” vieram aqui e mexeram com ele com negócio
de droga, as coisas... Acho que chegou até a mexer uns dias,
mas ele falava que tinha um quilo, que tinha dois quilos, era
tudo mentira, ele falava demais. Mentiroso demais.
CORTA PARA
LUCAS
–
EX- Quem chamou a polícia pra ele foi a ex-mulher dele. Eu
COMPANHEIRO DE CELA falava pra ele assim, nossa Anísio, como é que você deixa
24
uma coisa dessas e não faz nada. Ele falava, eu vou fazer o
quê?
CORTA PARA
ANISIO PIU PIU
Então, ela gritou lá pra prima dela, a tal de Zilda, a Lúcia,
que eu tava batendo nela. Ah, o Piu tá me batendo, aí
chamou a polícia. Aí ela foi num cachorrinho de louça, e
tirou três graminhas de droga e entregou pra polícia. Eu
lembro direitinho, era o Sargento Canarinho e o Jean. Aí eu
peguei e fiquei com medo né, vai me prender. A hora que eu
vi a polícia, eu corri. Peguei meu Passat sem farol, fui daqui
até no Barro Preto, dormir na casa de uma amiga minha.
Aí o carro tava sem farol, eu pedi o rapaz da moto pra ir
piscando, uma CV 400, piscava a seta e eu ia. Fui daqui no
Barro Preto sem farol, no escuro.
Aí no outro dia eu voltei, me chamaram na delegacia, eu fui
lá e prestei depoimento e saí.
Fiquei esperando em liberdade.
CORTA PARA
CRISTIANO CASSIOLATO Não era nada escandaloso, nem uma quantidade absurda,
- PROMOTOR
mas era uma situação em que dava a entender, né, a
interpretação era de que ele estava praticando o tráfico de
drogas, não é?
Aí ele foi condenado, e quando eu cheguei aqui, já havia esta
setença sendo executada, ele já estava cumprindo pena.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Eu fui preso com tês gramas de maconha, paguei seis anos
hediondo, tive que tirar três e tanto na tranca. Aqui na cidade
teve um cara que caiu com meio quilo e saiu, por que, só por
causa do dinheiro?
Eles falam que a justiça é cega, a balança não funciona, né,
pros dois lados. Funciona só pro lado do pobre.
Eu confirmei, é minha mesmo, não sei o que mais, eu
poderia ter negado na hora. Aí eu falei, não, já que se eu for
preso, ela cuida da menina direito.
Até então, nós era casado, mas como ela me entregou, aí
depois que eu caí atrás das grades, eu falei eu não quero
saber dessa mulher nem pintada de ouro. Sua própria mulher
te denunciar pra polícia.
FADE PARA
TÍTULO – A PRIMEIRA
FUGA,
SOB
TRILHA
SONORA
FADE PARA
IMAGEM DE ANÍSIO NO
ALTO DA SERRA DA
TORMENTA, SOB TRILHA
SONORA
CORTA PARA
ANISIO PIU PIU EM OFF, Eu sempre tentei levar da melhor forma possível, só que os
SOB IMAGENS DIVERSAS primeiros dias é terível, você acorda, vê aquela grade na tua
DO PERSONAGEM
frente. E eu sempre gostei de andar muito.
Sempre pensei comigo, a pior coisa que aconteceria comigo,
25
ANISIO PIU PIU
OLIVEIRA – POLICIAL
QUE ESTAVA DE
PLANTÃO DURANTE A
FUGA
ANISIO PIU PIU
era eu ficar na cadeira de rodas.
Mas, na minha vida, eu sempre tive assim uma visão lá na
frente, eu sabia que eu passar por isso tudo. Assim, eu vi
uma mancha preta nesse tempo, sempre eu sonhava,
acordava assim, eu via aquela mancha.
Nesse tempo meu, eu já sabia que eu ia passar por alguma
coisa, então lá na cadeia mesmo eu lembrava, eu já sabia que
eu ia passar por isso.
FADE PARA
A primeira tava eu, o Ailton, mais uns dois caras de fora, aí
eu fiço, fui programando o guarda. Fiquei seguindo o guarda
vários meses, 78 dias, se me lembro. Aí fui seguindo a
guarda, entrava um saía outro, fui marcando.
Aí todo mês trocava os guardas, quatro guardas, três guardas.
Aí a gente sabia o horário que ia entrar e que ia sair. Aí a
gente fez o projeto lá de sair da cadeia, você entendeu?
Tem que fazer tudo certinho pra não dar errado.
Mas anotado assim?
Tudo anotadinho. Um ficava vigiando na porta o guarda,
outro ficava cavucando, outro ficava jogando a terra fora.
Um ficou de arrumar as ferramentas, nós teve que quebrar
um som lá pra pegar uma chave de fenda.
Colocamos a vassoura lá pra dentro, nós quebramos ela pra
ajudar a cavar né. Colher, garfo, tudo isso serviu de ajuda.
Em dois ou três dias o buraco tava pronto. Aí nós colocamos
uma mulher pelada lá, o guarda mesmo, um tal de Amaraci
queria a mulher. Eu falei de jeito nenhum, minha vida tá
nessa mulher aí. E lá atrás tava o buraco.
Aí no dia de domingo, eu peguei uns comprimidos de
calmante que nós juntou durante a semana, cada um tomava
um. Nós fomos juntando, chegamos a dezessete
comprimidos e meio. Aí nós demos pro guarda beber, ô toma
um cafezinho, ele falou, não, eu já tomei, eu falei, não, toma.
Ele falou, hum, mas que café “amargoso”. Eu falei, não, tem
um biscoitinho de manga aqui pra você tirar o gosto. Assim
que ele tomou os comprimidos, um minuto ou dois, o
pescoço dele caiu.
CORTA PARA
Se não me engano, era um dia de domingo, e eu entrei pra
trabalhar normalmente às seis da tarde. E, por um motivo ou
outro, o Anísio tava preso. Ele e mais alguns, que eu não me
recordo quantos.
Em determinado momento, o senhor Anísio me ofereceu um
gole de café. Como assim uma pessoa do interior de Minas,
muito afetiva, aceitei e me recordo que sentei na guarita pra
observar, depois sumiu...
CORTA PARA
Aí eu joguei lá na cadeia, não tinha nem uma pedrinha, que
nós tinha dado descarga em tudo né, só tinha um tijolão
grandão, como é que eu ia jogar um tijolo lá, como que eu ia
26
OLIVEIRA – POLICIAL
QUE ESTAVA DE
PLANTÃO DURANTE A
FUGA
ANISIO PIU PIU
DONA ALVINA - MÃE
explicar um tijolo grande. Eu punha debaixo do colchão.
Aí eu joguei dois prestobarba novinho, daqueles azuis da
Gilette. Aí eu falei, ah, tá dormindo mesmo. Aí eu peguei e
pedi o cara, ó, pode arrancar a casca né, que a gente deixava
a casquinha, o reboco. Nós furou com uma caneta, faz um
barulhão, faz POF. O reboco dá aquele estalo.
Aí o rapaz ajudou eu a descer, desci pro pátio, saí e fui
embora.
Foi só você?
Só eu, combinei com ele de sair só eu.
Mas eles ajudaram?
Ajudaram. Aí passou nem meia hora o homem falou, ah, eu
vou também. Aí passou pouco tempo ele foi preso de novo.
Eu não, eu vazei.
CORTA PARA
No dia da fuga, teve um culto evangélico, que geralmente os
evangélicos, eles fazem algum... algum barulho, tentando
uma conexão com o criador. E, nesse barulho, os presos
aproveitaram. Começaram a furar parede, depois finalizando
com a minha distração.
Mas só sei que eu tive um sono profundo, eu acordei com um
preso, que não me recordo, era albergado, dormia lá à noite,
me acordando e me falando que tinha havido uma fuga lá na
cadeia.
Quando eu olhei, meio sonolento, percebi que havia mesmo
um buraco na parede, e alguém tinha foragido mesmo da
cadeia.
Aí me dei conta assim, parcialmente, nos meus poucos
sentidos que me restavam. Aí consegui ligar no quartel do
Carmo e acionar a viatura de plantão.
CORTA PARA
Ah, passei por aqui tudo, em dois três dias, tinha dia que
tinha cinquenta pessoas caçando eu aqui. Polícia de Alfenas,
de Passos, eu saí em todo quanto é jornal, Folha da Manhã,
Folha da Tarde, Folha de não sei que mais.
Foi o maior comentário, Piu Piu fugiu.
Mas nessa época, ainda, você não era o Piu Piu?
Não, na primeira não, Anísio fugiu.
CORTA PARA
Aí quando ele fugia, porque ele fugiu acho que cinco vezes
ou mais, aí eu ficava agoniada. Nossa, quantos terços eu não
rezei de joelho falando assim, meu Deus, onde que o Anísio
está, protege ele pra mim.
Teve dia dele sair daqui duas horas, duas e meia da
madrugada, quando ele tava fugido. Ele chegava pelo fundo,
sabe, sujava tudo de barro, que ali não tinha esgotamento
direito ainda, era tudo sujo ali. Não é como agora.
Eu tinha uma dó daquilo, aí eu não dormia o resto da noite,
ficava imaginando, aonde será que o safado está?
CORTA PARA
27
ANISIO PIU PIU
ANÍSIO PIU PIU
DONA INÊS - TIA
SIMONE - PRIMA
ANISIO PIU PIU EM OFF –
Meu esconderijo ficava nesse ponto aqui, até tem um resto
de bloco aqui, ó, tinha uma pilha de blocos, mais ou menos
uns mil blocos. ‘
Aí aqui assim, eu colocava três blocos assim, e mais três e
mais três, nove. Aí aonde eu entrava e ficava debaixo do... lá
dentro dos blocos. Eu colocava uma placa, uma placa dessa
por cima, e depois colocava os blocos pra disfarçar por cima,
pros blocos não caírem na minha cabeça.
E quantas vezes a polícia bateu aqui?
Umas três, quatro vezes. E eles nunca me acharam. Até um
dia passou um policial e debruçou assim em cima dos blocos,
será onde esse vagabundo tá? Eu tava bem do lado dele.
E que que você teve vontade de fazer na hora?
Na hora? Ficar quietinho. Tinha uma galinha ali dentro do
meu ninho, eu tive que enforcar ela.
Matou a galinha?
Não. Só na hora só.
Por que eles batiam aqui?
Por causa da minha tia que mora aqui né. Primeiro lugar que
eles vinham, ah, ele deve tá lá no Dito Paulino. Aí um dia o
Tião Tatu falou, o Piu não tá por aí não, você não pode ficar
recebendo ele aí não, porque é crime né, não sei o que mais.
Ele falou, não, aqui em casa em recebo quem eu quiser, e ele
ainda tá em lugar de meu sobrinho, pode vir a hora que ele
quiser, por que vocês deixam ele escapulir lá?
CORTA PARA
Eu sei que em pouco tempo, aí eu fiquei andando por aí,
vendendo cd, corrente de ouro, essas coisas. Aí eles me
pegaram lá no meu tio lá em baixo. Aí eu voltei pra cadeia
de novo.
CORTA PARA
Os cachorros latiram, latiram. Eu fui e falei assim, uai, mas
que diacho é esse, não vai sair ninguém lá fora não, e abri a
porta. Tava um frio, acho que era mês de junho ou julho,
uma data assim. Sei que tava frio.
Eles falou assim, o Anísio tá aí? Eu falei não, não tá. Aí eles
saíram, e falei pode olhar até debaixo das camas se vocês
quiserem. E ele olhou, o homem.
CORTA PARA
E o Anísio foi pra porta da cozinha pra cascar no mato,
porque ele tinha o costume de fazer isso né. Só que aí, na
porta da cozinha, já tinha dois esperando ele. Aí eles
prenderam ele, algemaram. Só que não deu nenhum
problema pro meu pai, porque aí o Dito Sargento mesmo
falou assim, não, não vamos pôr o nome do seu Benedito
nisso não, porque meu pai é uma pessoa muito honesta.
Foi assim, até minha vó tava lá, minha vó ficou chorando,
que é a vó dele também.
FADE PARA
É, eu tava de carro lá no Mandembo, o tenente tava
28
SOB IMAGENS DELE
ANDANDO PELO SÍTIO
ONDE FICAVA
ESCONDIDO –
EFEITO FILME ANTIGO
TÍTULO – A SEGUNDA
FUGA
SOB TRILHA SONORA
PAN – PAISAGEM DE
CARMO DO RIO CLARO
SOB TRILHA SONORA
ANISIO PIU PIU EM OFF –
SOB IMAGENS DIVERSAS
ANISIO PIU PIU
trabalhando lá no Itajaó. Aí eu pensei que ele já tinha
descido, subi de carro, aí ele viu né, o carro. E falou, esse
carro aqui é do Anísio. Aí eu tava com umas fitas dentro do
carro, fita de vídeo. Aí eu saí correndo na hora que eu vi ele,
pulei a cerca assim, lá no Jeromo Lopes. Saí pra uma roça
milho, aí ele viu, esse carro é do Piu.
Aí ele ligou aqui no Carmo, aí eles foi todo num carro
disfarçado, aí chegou lá na minha tia. A hora que eu vi,
aquele monte de homem, eles tavam de short azul, jogando
bola, sei lá. Aí chegou, pegou eu de surpresa lá na minha tia.
FADE PARA
FADE PARA
CORTA PARA
Eu lembro que eu fui lá no Fórum conversar com a juíza, pra
ver se eu saía, aí ela falou assim, ah, mas você fugiu.
Eu falei, escreve aí que eu vou fugir de novo. Aí passou 78
dias e eu fugi de novo.
CORTA PARA
Quinze dias antes, eu tinha brigado com o promotor, é o
mesmo de hoje, Cristiano Cassiolato. Aí eu falei pra ele que
tava fazendo uma greve de fome, deixei uma pilha de
marmita lá. Aí, pra mim emagrecer em torno de uns dez
quilos pra mim passar no vitrô.
Tinha um cara que bebia muito lá na minha cela, ele saía de
dia e chegava com um frango e uma garrafa de pinga, não
como que ele entrava com isso lá.
Aí eu falei pro Luís Tonho que trabalhava lá na época, ô, dá
pra tirar esse cara daqui, que eles tá brigando. Então, eles tá
brigando, vamos tirar ele daqui que eu não vou ficar
separando briga não.
Isso, eu tava interessado na cama dele, que dava certinho pra
mim fugir pra sala do delegado. E já tava tudo programado,
você vai ter que fugir daqui. Aí eu tirei o cara de lá né, dei
mais uns troquinhos pra eles. Ele falou, não, nós briga aqui,
nós programamos dele brigar dentro da cela. Começaram a
brigar, eu chamei o carcereiro lá, jogaram ele pra outra cela,
e eu fiquei com a cama que eu precisava para fugir.
Eu lembro que tinha quebrado o som lá no dia, uns dois dias
antes. Aí eu tinha que pedir ali pras quatro horas, cinco horas
da tarde, nesse tempo ele esquecia e não pedia a chave de
fenda de volta. Aí no outro dia eu ia usar ela pra fazer o
buraco.
Coloquei um cabo de vassoura já mais fácil de quebrar,
porque ficando assim ele raspa o tijolo bem fácil. Colher,
garfo também, eles não gostavam de deixar garfo, eu sempre
mantinha um garfo lá.
29
Na sexta-feira, eu fiquei escutando lá na parede pra ver se o
Clesinho ia trancar a porta. Ele não trancou, eu falei, pessoal,
tá beleza, vai ser dessa vez mesmo.
Aí quando foi no sábado o delegado não foi lá, de vez em
quando ele era muito trabalhador, tinha o costume de ir lá.
Não foi, eu falei, vamos torcer pra ele não vir aqui no
domingo. Aí pegou, nem passou lá cedo, foi viajar. Ele ia
muito pra Alterosa.
Aí eu falei, pessoal, já era, vai dar tudo certinho.
Aí minha mãe chegou, eu falei, ó, vai embora que eu vou
começar a fugir agora. Ela, pelo amor Deus, não faz isso, eu
falei assim, mãe, vai embora. Aí ela falou pro guarda, ah,
vou embora, não tô sentindo muito bem.
Aí eu comecei né, comecei a cavar. Eu dei tanta sorte que
tinha um cabo Carumelo, ele tinha ido no baile. Aí ele
chegou meio baleado, aí ele olhava no som, tocando a
musiquinha, e eu bem lá fazendo o buraco, olhando no
guarda e fazendo o buraco.
Uma hora quase que ele me viu com a mão suja de... da
poeira, né, do tijolo. Eu cavava lá uns dois, três litros, dava
descarga na terra, e colocava o tijolo debaixo do colchão.
Passando pelo buraco, eu falei pro rapaz, eu vou lá dar uma
olhada, se tiver tudo beleza, se não tiver, a casa caiu. Vou ter
que ligar pro delegado, e nós vai ter que tomar um cacete
aqui dentro.
Então, eu passei pela sala do delegado, depois a abri a porta,
fui pra sala do Clesinho, que é o escrivão, e fui tentar passar
no vidro. Na hora, deu um estrondo no vidro, aí o Valtudi,
nossa, jogaram pedra lá. Aí eu fiquei escondido um segundo,
aí ele falou, não, não é nada não, é menino de rua.
Já tinha combinado com os outros, ó, joga uma pedra aí, pra
passar susto nele.
Aí a hora que eu caí lá embaixo, do vidro sô, tomei um taio
nas costas.
Falei, a blusa até esgatalhou lá, que não cabia. Falei, deixa a
blusa, no meio do caminho, passei frio até três horas e meia
da manhã.
FADE PARA
TÍTULO – O BILHETE
FADE PARA
ANÍSIO PIU PIU
Aí fui saindo assim, e falei, mas ele vai sentir muita saudade
de mim, eu vou tentar deixar um bilhetinho pra ele. Aí falei
lá “Sanhaço Piu Piu, Anísio Fugiu”.
Porque ele chegava e já dava de cara com o bilhete né.
CORTE PARA
MARCOS TADEU – ATUAL E o que o pessoal conta, é que ele teria feito um buraco, que
DELEGADO
nessa parede aqui antes era uma cela, do outro lado aqui era
uma cela. E a parede era fraquíssima.
Não é mais?
Não, aqui agora, atrás aqui, funciona o setor de trânsito. A
cadeia foi toda reformada, a cadeia foi demolida, hoje é uma
30
CRISTIANO CASSIOLATO
- PROMOTOR
ANA - IRMÃ
ANTONIO TOMÉ - AMIGO
LUCAS
–
EXCOMPANHEIRO DE CELA
JEAN – EX-DETETIVE
CRISTIANO CASSIOLATO
– PROMOTOR
MARCOS TADEU – ATUAL
DELEGADO
ANÍSIO PIU PIU
outra cadeia. As instalações da época do Anísio, hoje não
tem mais nada, tá, foi tudo reconstruído.
Então, como ela era muito frágil, ele fez um buraco nessa
parede, veio pra sala do delegado, e daqui ele fugiu por uma
janela que tinha, um vitrô, também já mudou tudo, não tem
mais nada como era nessa época.
CORTA PARA
Existe aquela em que ele deixa o recado, né, onde teria
havido esse recado, em que ele estaria fugindo, dizendo Piu
Piu, o Anísio Fugiu.
CORTA PARA
Piu Piu, o Anísio Fugiu, uma coisa assim? Eu não lembro
muito bem.
CORTA PARA
Piu Piu, o Anísio Fugiu, né?
CORTA PARA
Sanhaço Piu Piu, o Anísio fugiu, que era o doutor Clóvis.
CORTA PARA
A história que todo mundo fala, que ele deixou um bilhete,
isso eu não sei te falar se foi verdade ou não, mas que na
cidade inteira ficou conhecido né. Que ele deixou o bilhete
Piu Piu, o Anísio fugiu pro antigo delegado que trabalhava
aqui na época, o doutor Clóvis.
CORTA PARA
Eu não vi esse bilhete, esse bilhete é uma lenda. Seria
interessante questionar isso junto a direção da cadeia pra
saber se ele existe ou não.
CORTA PARA
O pessoal conta, o pessoal conta que ele deixou, teria escrito,
Sanhaço Piu Piu, Anísio fugiu. O pessoal conta isso. Agora
se isso realmente aconteceu, só duas pessoas que podem
falar, seria no caso o próprio Anísio e o doutor Clóvis, que
era o delegado aqui na época disso.
Cujo apelido era Sanhaço?
Isso.
CORTA PARA
Eu vou explicar melhor, todo mundo fala a mesma coisa, que
eu deixei o bilhete, eu não deixei o bilhete. Então, um vai
falando e falando, então onde há a fumaça há fogo, como o
povo diz, mas eu mesmo não deixei.
Algum preso deixou, Piu Piu fugiu, põe lá, Sanhaço Piu Piu,
Anísio fugiu. Então todos os presos estavam com essa mente,
eu não, eu sempre tirando meu corpo fora, que eu não gosto
de mal feito.
O dia que eu fugi lá, tinha uma arma lá, tinha uma caixa de
bala, não mexi em nada, a minha intenção era fugir dali.
Sempre tem algum preso que não gosta um do outro, sabe,
aqueles presos ti-ti-ti, preso vagabundinho, não é preso
mesmo. Aí eles pegou, ah, vamos ferrar mais o Piu, não sei o
que mais, e deixaram esse bilhete. Eu nunca vi esse bilhete,
31
nem voltei lá pra ver.
ANA – IRMÃ
ANÍSIO PIU PIU
ANÍSIO PIU PIU
ANISIO PIU PIU EM OFF
SOB PAISAGENS
CORTA PARA
Uai, nunca ouvi falar, mas ele mesmo afirma que deixou esse
bilhete uai. Ou não deixou esse bilhete? Agora eu é que
fiquei curiosa.
FADE PARA
Eu comentei mas não deixei.
Mas você comentou e falou a frase?
Isso! Vou deixar um bilhete delegado Piu Piu, o Anísio
fugiu. Como todo mundo sabia o nome do Clóvis lá né, o
nome dele era Sanhaço, apelido né.
Porque lá, se chegasse lá, e falasse Sanhaço, ele brigava na
hora. Um dia, o cara passou na rua e gritou, ô Sanhaço.
Sanhaço é a sua mãe sô, bravo sabe, não aceitava ninguém
chamar ele de apelido. Até hoje ele briga com qualquer um
que chama ele desse nome.
CORTA PARA
Sempre o Piu esteve junto do Sanhaço. Aí, ó, tá voando
pertinho de mim.
FADE PARA
Eu fui pra Barrinha, perto de Sertãozinho, abri uma locadora
de vídeo no nome da minha prima.
Piu, mas isso não vai dar rolo não?
Não, abre a locadora aí, se eu for embora, você fica com a
locadora pra você.
Aí eu vinha pro Carmo toda quinzena, toda semana, tirava
dinheiro de lá, alugava 200, 300 fitas por semana.
Eles foram num casamento lá, passou na rua, aí eu olhei de
longe. Eles falaram, nossa, ali o Piu gente. O Piu tá aqui, já
era Piu, né, na segunda fuga.
Conversei com eles, eles falou, não, pode ficar sossegado
que eu não vou contar nada. Eu como o pessoal do Carmo
inteiro gosta muito de você, ninguém vai te entregar pra
polícia.
Aí passou pouco tempo, eu vim embora também.
FADE PARA
TÍTULO – A PRISÃO NO
CARNAVAL
FADE PARA
ANISIO PIU PIU
Sempre eu entrava pelo fundo, porque o Luis Tonho morava
bem de frente à minha casa.
Quem é o Luis Tonho?
Luis Tonho era o que tomava conta da delegacia, tipo o
manda-chuva lá quando o delegado não tava. Ele que abria a
cela, fechava.
Aí ele morava em frente à minha casa, eu entrei pelo fundo.
E na hora lá eu pulei carnaval na sexta, no sábado, no
domingo. Aí no domingo eu tava andando lá em frente à
minha casa, cumprimentando o povo, e ele de longe vendo. E
eu percebi que ele tinha visto.
Aí eu coloquei uma camiseta de bandido, toda riscada de
32
branco e preto, uma máscara preta, uma peruca.
CORTA PARA
JEAN – EX-DETETIVE
Tava no meu dia de folga, o carnaval aqui é na rua, à noite,
carnaval de rua. Aí tava no meu dia de folga, tava lá com a
minha esposa, parado na rua conversando, tava conversando
com a minha mãe, tava o meu tio, a minha tia conversando,
uma turminha.
Aí passou uma pessoa atrás, com uma camisa listrada, com
uma peruca, um lenço no rosto, e o rosto em cima tudo de
preto, tudo preto né.
Só que o que me chamou a atenção foi a voz né, reconheci
pela voz, passou nas minhas costas e cumprimentou, parou
pra conversar com uma turminha do lado. Pela voz, eu falei,
uai, tá parecendo o Anísio, né.
Aí eu saí, deixei a minha esposa assim, já virei e abracei o
rapaz.
Que eu peguei e abracei ele, falei, Anísio? Aí eu puxei o
pano do rosto dele, que eu reconheci ele né.
CORTA PARA
ANISIO PIU PIU
Então, eu tava passando com duas moças, passeando, duas
ou três. É, no carnaval. Quando ver, chega o Jean atrás de
mim, me dá um cutucão aqui assim. Piu, é você né? Sou, é o
Piu mesmo.
Aí, quando ver, eu passei com dois soldados de braços
dados, essa foi boa.
CORTA PARA
JEAN – EX-DETETIVE
Até foi um fato que tinha uma Sargenta, que era de Passos,
ela tava de serviço lá, não conhecia, era de fora, tava só pra
dar apoio. Aí eu falei, esse rapaz é foragido da justiça, da
cadeia. Aí ela olhou pra mim e começou a rir, né.
CORTA PARA
MARCOS TADEU – ATUAL Aí ela começou a rir, o policial pegou e mostrou a arma, pô,
DELEGADO
eu sou policial, tá aqui a minha arma, o cara tá preso, esse
cara é foragido, eu não tô brincando.
Aí ela assustou com o negócio e chamou o reforço, pra poder
prender o Anísio, o Anísio já tava preso. Aí o Anísio foi
mais uma vez preso.
CORTA PARA
ANISIO PIU PIU
Como que é no Brasil, funciona assim, você é pobre, você
rala lá e fica. E um rico não, eles dão um jeito, tem caso aí na
cidade mesmo, pessoa cheia da grana sai rapidinho mesmo.
É, gasta com advogado, dá os pulos deles lá em cima. Aí eu
ficava brincando com o promotor, ó, essa cela aqui é de rico
e essa nossa aqui é de pobre. De pobre é o que fica preso e
não sai, você entendeu?
Aí eu comecei a discutir com o promotor um dia lá, xinguei
ele lá. Aí ele pegou, vou te mandar pra Unaí, falei assim,
demorou, anota aí, pode mandar, tô nem aí não.
FADE PARA
TÍTULO – A TERCEIRA E
33
ÚLTIMA FUGA
ANISIO PIU PIU
DONA ALVINA – MÃE
ANÍSIO PIU PIU
LUCAS – EXCOMPANHEIRO DE CELA
FADE PARA
Ah, no dia lá, eu até fiquei com medo. Mas chegou lá, era de
boa. Lá é muito melhor que aqui, lá eu trabalhava na roça,
hora dessa, eu tava lá na roça sossegado.
À noite eu ia pra escola, eu só voltava mesmo bem
noitezinha pra cadeia lá.
Lá é muito bom, em termo de cadeia, né. Lá é, tipo assim,
você tá comendo filé, porque aqui é osso, fechado dia e
noite.
CORTA PARA
Foi muito triste, porque durante o tempo que ele tava lá em
Unaí, eu não vi ele.
Quanto você ficou sem ver ele?
Acho que foi mais de ano e meio, por aí, não marquei muito
bem não, eu já esqueci, mas deve de ser.
E até lá ele conseguiu fugir né, você vê que ele é esperto né.
CORTA PARA
Então, eu já peguei uma camisa branca por baixo da roupa
azul. Na hora lá, ele desconfiou, fez eu tirar, aí eu falei, não,
mas o tênis eu ganhei, tinha ganhado um tênis duma amiga
minha aqui, da Jacqueline.
Onde é que você tava?
Eu tava saindo, era sete e pouco, oito horas.
Você tava saindo de onde?
Tava saindo pra ir trabalhar, na plantação de maracujá eu
cuidar de porcos que tinham lá.
Sete horas da manhã?
Sete horas da manha.
Tá. Conta mais.
Aí eu deixei lá na cela, um dois três, Piu Piu fugiu outra vez.
Aí ainda dei um cinquinho pro cara, ó, onze horas você vai lá
e abre a minha cela, que aí dez e pouco eu já tava longe.
O guarda tava lá uai, ele ficava assim, igual estamos nós
assim. Ele vigiava dez, quinze, trabalhando...
Mas ele não te parou não?
Nada, eu vou disfarçando assim, tipo assim, você vai no
banheirinho ali, e vaza. Saí andando, caminhando, já tava de
tênis novo
Primeira fazenda que eu tinha, eu lembro que eu tinha uns
vinte reais, trinta reais, que eu levei né. Que não podia sair
com mais de trinta reais, e lá tinha uma roupa nova, passei
num sitiozinho lá, tinha uma calça nova e uma calça tudo
suja de picão.
Eu falei pro cara, vou catar logo a mais velha do cara, que
ele não vai ficar tão sentido né.
E peguei, ainda coloquei acho que quinze ou dez reais pra
ele, pra ele comprar outra calça. Deixei no bolso da nova lá.
CORTA PARA
Aí ele contando que quando ele fugiu lá de Unaí né, que ele
vestiu a roupa por baixo do uniforme, né, juntou um monte
34
de doce, que na penitenciária eles dão doce sabe, no almoço,
assim de sobremesa. Juntou aquele monte de doce assim, e
ganhou o pasto lá e sumiu, e veio pegando carona de lá até
aqui. Poxa, novecentos quilometros, o cara tem que ser
artista, né, véio. Baixar lá daquele fim de mundo lá, pelo
amor de Deus, de carona, sem um real no bolso.
CORTA PARA
Eu liguei pra Baú, meu irmão, lá no açougue do meu irmão.
Ele pegou e falou, Piu, ainda bem que você fugiu, porque o
mundo vai acabar, explodiram uma bomba lá em Nova
Iorque.
Aí eu fiquei mais aliviado né, se eu morrer pelo menos eu tô
livre. Fugi na hora certa.
CORTA PARA
Primeiro, abriu a porteira da entrada, aí o Toninho saiu na
porta, é o Anísio, é o Anísio. Aí nós tudo até ficou alegre,
coitado, porque nós tudo conhecia ele demais, né.
Aí já recebemos ele lá, ele contou que tava fugitivo da
polícia, e tava andando pros matos. E pra nós, tava
mostrando a calça dele, molhada, desde madrugada andando
né.
Ele chegou e entrou pra dentro, nós conversou um pouco. Eu
perguntei pra ele se ele tinha assistido à morte do pai dele, se
ele foi no velório, ele disse que não pôde, não pôde ir.
Aí sentado ali conversando mais um pouco, eu arrumei pra
ele, a comida pra ele comer. Ele almoçou bem, já foi
apanhando mais ânimo.
E quando ele tirou o retrato da filhinha dele, que ele não
podia ver a filhinha, aquilo pra mim eu achei ruim de mais
né. Porque é doído uai, um pai quer ficar junto com a
filhinha um pouco, ao menos né. E ele não, ele disse que
carregava ela no bolso. E ali, ele ficou ali mais um pouco,
tomou um café depois do almoço, saiu outra vez.
FADE PARA
ANÍSIO PIU PIU
JOSÉ – AMIGO
TÍTULO – A
RECAPTURA
ANÍSIO PIU PIU
ÚLTIMA
FADE PARA
Lá eu tinha um esconderijo no meio do cafezal, né. Aí eu fui
lá pro Mandembo, e me veio uma sensação, não lá não que
eles vai te pegar. Eu falei, ah, se pegar foda-se, quem tá
fudido mesmo.
CORTA PARA
ANTONIO TOMÉ – DONO Nós jogava truco aqui no Carmo, e o Zé Vicente, que é
DA FAZENDA ONDE PIU soldado, um dia me perguntou se ele tava lá em casa. Aí eu
ESTAVA ESCONDIDO
fui e falei, tá, tá lá, porque não podia esconder né. Aí, ele foi
e me perguntou como é que prendia ele.
Uai, lá é tudo lavoura de café, junto lá da casa, se vocês não
forem nem de carro de polícia, nem de soldado, que se ele
ver, ele corre.
Aí que que eles fez, pegou ele lá, prendeu ele lá na cozinha
de casa. A gente tava até esquentando um almoço pra ele lá,
35
eles chegaram e pegaram ele.
CORTA PARA
ITAMAR – FILHO DE Tava lá conversando assim, ele tava lavando roupa né.
ANTONIO TOMÉ
Quando ver foi só aquela bomba, eu falei, uai, vortê! Que
que é isso?
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Eu falei, ah, eles não tão me procurando mais. Já foram
embora. Eu vi um carro descendo, e era mentira, era outro
carro. Na hora que eu cheguei, rapaz, o Itamar quase morreu
de susto, foi só sabe aqueles tiros de... como é que fala?
Espoleta?
Festim?
De festim. Aí deu um monte de tiro e falou, deita aí Piu!
Eu falei, ó, normal, normal.
CORTA PARA
ITAMAR – FILHO DE Eu falei pra eles, falei, uai, mas que falta de educação chegar
ANTONIO TOMÉ
metendo fogo na casa dos outros, né.
Aí eles falou, você fica quieto, senão nós leva você também.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Aí eu fui ver, era cinco amigos meus que foram lá me
prender. Tem um que até falou, Piu, tô com dó de levar você,
mas é nossa obrigação. Eu falei, não, normal, normal, me dá
o telefone aí que eu vou ligar pro advogado.
FADE PARA
TÍTULO – DE VOLTA À
PRISÃO
FADE PARA
IMAGEM – PÔR DO SOL
FADE PARA
LUCAS
–
EX- Ele foragiu de Unaí, da penitenciária de Unaí. E parece que
COMPANHEIRO DE CELA ficou no mundão aí, depois veio pra casa duns parentes dele
na roça aqui, os homens foi e pegou ele. Aí chegou o Anísio
lá, aí o delegado foi, colocou ele na mesma cela que eu tava.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Chegando lá, o delegado foi buscar eu lá na escada, lá no
meio da rua. Piu, é verdade que você deixou um bilhete
Sanhaço Piu Piu, Anísio fugiu?
Não, doutor Marcos, não é bem assim.
CORTA PARA
LUCAS
–
EX- Doença? Nossa. O cara é dodoizinho de tudo, ele tomava uns
COMPANHEIRO DE CELA três, quatro vidrinho de magnopyrol, novalgina, por semana.
Por quê?
Uai, dizia ele que era uma dor de cabeça que ele tem lá, que
ninguém entendia.
Banho também não gostava de tomar não, não gostava não,
era o maior porquinho.
Tomava de quanto em quanto tempo?
Ah, tinha que tomar todo dia, nós pegava no pé dele e ele
tomava todo dia. Mas era banho assim de dois, três minutos,
nem secar o corpo ele secava. Ficava lá, cheirando cachorro
molhado. Os caras ficavam doidos, querendo pegar ele lá.
CORTA PARA
36
MARCOS TADEU – ATUAL Como preso, nunca deu trabalho pra gente, um cara
DELEGADO
tranquilo, na dele, sossegado. Um cara inteligente, eu viu
assim, poxa, que que eu tenho de fazer, eu tenho que pagar,
eu tenho que cumprir a pena que me foi imposta pelo Estado,
e depois beleza.
CORTA PARA
LUCAS
–
EX- Ele dava muita mancada, então, ontem mesmo eu tava
COMPANHEIRO DE CELA falando pro meu pai e pra minha mãe aqui, sabe. Dava uns
vacilinhos besta assim, só que cadeia é foda né, os caras logo
já quer cobrar.
Então, muitas vezes ele passou batido lá, mas, porque a gente
sabia o jeito dele também. O cara era humildão, é humilde,
você entendeu, então ninguém fazia nada.
Mas sempre tava lá, puxando a orelha sabe.
Como assim?
Tipo assim, na hora da alimentação, a gente tava
alimentando, ele já entrava no banheiro e ia fazer umas
coisas e tal.
CORTA PARA
MARCOS TADEU – ATUAL Porque se a gente for analisar, boa parte da vida dele, ou ele
DELEGADO
estava preso ou estava fugindo. São duas condições
péssimas, aquela tensão de, poxa vida, a qualquer momento
eu posso ser preso ou estou preso. Intimamente e
psicologicamente, ele estava preso, porque ele tava fugindo,
mas tava fugindo preocupado. Na hora que ele falou assim,
não, agora eu vou cumprir a minha pena, ele terminou de
cumprir a pena dele aqui em Carmo do Rio Claro, foi pra
rua, e agora eu vou correr atrás do prejuízo. E correu atrás do
prejuízo.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Aí todo dia eu ficava lá, doutor Marcos Tadeu, prende outro
e solta eu! Toda hora eu chamava um tal de Edinho lá.
Edinho, vem aqui! Leva o bilhetinho lá pro doutor Marcos.
Doutor Marcos Tadeu, prende outro e solta eu. Todo dia. Aí
um dia ele encheu o saco, sai Piu!
Eu falei, nossa, não acredito.
Aí você foi pra onde?
Saí pra trabalhar, trabalhei na APAE. Aí, olha pra você ver a
responsabilidade, há um dia atrás eu era presidiário, no outro
dia tomando conta dos meninos da APAE.
FADE PARA
TÍTULO – A ELETROPIU
FADE PARA
ANA – IRMÃ
Nesses anos que ele ficava preso, fugia, preso, fugia, ele, sei
lá, ficou mais atrapalhado da cabeça e ficou muito agressivo.
Então, ele, qualquer coisa mandava minha mãe calar a boca,
falava uns palavrões meio assim, aí você tinha que apelar
com ele.
Aí, uns dois anos atrás, ele começou a falar algumas coisas
de mim aí na rua, falar da minha vida pessoal e aumentou
algumas coisinhas. Eu fiquei muito furiosa, peguei e queria
37
dar uns tapas da orelha dele, só que ele fugiu porque ele é
muito bundão.
Aí. logo depois, ele alugou esse cômodo lá em cima e
começou a vender os móveis usados, fazer esses rolos.
FADE PARA
IMAGENS DE ANÍSIO PIU
PIU ABRINDO A
ELETROPIU, SOB TRILHA
SONORA
ANÍSIO PIU PIU
FADE PARA
Aí no primeiro dia que eu cheguei aqui, chegou um moço e
me vendeu quatro móveis, um tal de Quinzé. Aí eu comprei
dele, falei, ó, só posso te pagar daqui a quarenta dias, tô
acabando de sair da cadeia, sem dinheiro. Como ele já me
conhecia, amigo há muito tempo, ele falou, tá bom. Aí eu
montei a Eletropiu aqui, ó, nessa casa antiga, cinco cômodos.
FADE PARA
REPORTAGEM EXIBIDA LOCUÇÃO: De Palm Tops a vitrolas, passando por móveis,
PELA TV ONDA SUL
animais e eletroeletrônicos. Aqui, se vende e se compra de
tudo. Com uma variedade de produtos de botar inveja nas
melhores lojas de departamentos, o show-room da Eletropiu
chama a atenção pela disposição das mercadorias,
cuidadosamente amontoadas.
Este comércio informal foi a maneira que Anísio Marques, o
Piu Piu, encontrou para ganhar a vida. O gosto pelo
comércio é herança de família.
ANÍSIO PIU PIU: Desde da minha mãe e do meu pai né,
porque meu pai sempre tinha venda. E eu sempre gostei de
pegar dinheiro, toda hora, ter dinheiro na mão.
FADE PARA
CENAS DE ANÍSIO PIU PIU ANÍSIO PIU PIU: Ô, depois das filmagens, eles tentaram
TRABALHANDO NA
arrombar aqui, ó. Larguei a janela aberta. Aqui Bruno. Aqui
ELETROPIU
ó. Eles vieram aqui tentar arrombar, pularam a janela,
tentaram abrir aqui, ó.
Ah, não, tá aqui, eu pensei que tinha sumido.
Esse aqui é de ouro.
Quanto é que vale tudo isso que você tem aí?
Ah, já tive quinze mil.
COMPRADOR: Quero um chiqueirinho.
ANÍSIO: Só pra semana.
COMPRADOR: Não, é pra abril ainda, do ano que vem. Mas
eu queria comprar agora, sabe. E se aparecer um bercinho
mais novo aí.
ANÍSIO: Deixa eu anotar ali, que hoje eu tô...
COMPRADOR: Com a agenda lotada?
COMPRADOR: Agora se aparecer um berço novo também,
eu quero comprar um berço novo. Aí, se aparecer um bão aí
você me fala.
ANÍSIO: Aí, ó, Bruno, o menino nem nasceu o berço com o
chiqueirinho.
38
MARCOS TADEU – ATUAL
DELEGADO
LUCAS
–
EXCOMPANHEIRO DE CELA
ANÍSIO PIU PIU
CRISTIANO CASSIOLATO
- PROMOTOR
MARCOS
TADEU
DELEGADO
–
Por quanto você vai vender pra ele?
ANÍSIO: Bem caro, ele tem muito dinheiro. Pela cara do
cliente é o meu preço.
CORTA PARA
É um bom exemplo pra quem tá preso, é um bom exemplo
pra sociedade, que demonstra duas coisas. Para o que está
preso, para o que está preso, o Anísio demonstrou o seguinte,
se eu consegui, você também consegue.
Para a sociedade, é um camarada que a vida, de repente, se
transformou num limão, e ele foi lá e fez uma limonada e
começou a vender essa limonada.
CORTA PARA
Sinceramente, que pro crime, o Anísio não volta mais não.
Não volta não e ponho a mão no fogo. Eu ponho. Porque ele
não aguenta não.
Olha pra você ver, ele tá tocando a vida dele, né, porque eu
não posso também. Perdi sete anos da minha vida, por
besteira, sabe. Então hoje eu tô aí, tenho um emprego, tô
comprando minhas coisinhas, comprei minha motinha, tô
noivo, certo, e é isso aí, é bola pra frente. Eu também não
quero mais o crime.
E ele é, com certeza, um exemplo não só pra mim, mas pra
muita gente, viu. Tá achando que o negócio é brincadeira,
mas enquanto a pessoa não sente na pele, não vê, né.
CORTA PARA
A coisa que mais dá lucro pra mim é cachorro, assim,
cachorrinho. Um dia, eu peguei e vendi um cachorrinho
assim, pintadinho, por 160 reais.
Eu vendi um por 400, pouco tempo atrás.
Essa cachorra é sua, né?
Essa é!
E ela pariu e vai dar pra você tirar quanto dinheiro?
Quase dois mil, mil e pouco. Todos os cachorros eu vendi,
menos essa. Essa eu não vendo por preço nenhum.
Uma juíza, lá de Itajubá, me dava mil reais nela. Eu falei
assim, eu vendo eu, mas a cachorra fica.
CORTA PARA
Infelizmente, o Estado, o Estado quando eu me refiro ao
próprio Estado brasileiro mesmo, ele não tem dedicado a
atenção que deveria dedicar na recuperação dessas pessoas
que cometem crimes.
As pessoas são presas, permanecem encarceradas, mas não
há um trabalho de recuperação, um trabalho de resgate social
dessas pessoas. De modo que, muitas vezes, quando elas
saem às ruas, elas voltam pra quê? Pra atividade que elas
sabem fazer, que é cometer crime.
CORTA PARA
Infelizmente, como é o nosso sistema prisional brasileiro, é
um em dez que consegue dar a volta por cima, é um em dez
que consegue fazer o que o Anísio fez.
39
Ele deu a volta por cima, é uma pessoa querida na cidade, é
uma pessoa folclórica até aqui em Carmo do Rio Claro, né.
Por quê? Por que ele é um cara violento, é um bandidão?
Não, é um cara inteligente, bem humorado. E hoje tá aí com
o comércio dele.
FADE PARA
IMAGEM DO MURO COM
PROPAGADANDA
DA
ELETROPIU
FADE PARA
TÍTULO: E O BILHETE?
FADE PARA
ANÍSIO PIU PIU
Mas você planejou também que ia deixar esse recado pro
delegado? Como é que foi isso?
Não, isso aí é uma invenção dos outros presos. Nunca pensei
nisso. É que saiu na rua, sabe aqueles caras de bar que fica
aumentado as coisas, ah, o Piu Piu fugiu e deixou um bilhete
pro delegado. Aí cada um foi aumentando um pouco.
CORTA PARA
CARLINHOS – AMIGO
Ele saiu da cela, entrou na sala do delegado, e deixou um
bilhete lá. Doutor Sanhaço Piu Piu, o Anísio fugiu.
Isso ele contou pra você?
Contou pra mim, o povo tudo contou. Na época que ele
fugiu, na cidade, foi o comentário direto.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Pelo pessoal da cidade, foi escrito. Por mim, não! Eu quero
que alguém chegue e mostre com a minha letra que esse
bilhete tá lá. Se alguma autoridade tem, me mostre, porque
eu não conheço.
CORTA PARA
ANA - IRMÃ
Ele acha graça até hoje, né. Ele enche a boca pra falar assim,
é o Piu. Até quando ele atende o celular, ele enche a boca pra
falar, é o Piu que tá falando. Eu, sinceramente, não acho
graça nenhuma nisso, sabe.
Mas ele acha engraçado a história dele, né. Ter passado a
perna no delegado, nos detetives... Bobo, né. Fazer o quê!
Mas tá aí, né.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Mas todo mundo acredita que ele foi escrito?
Todo mundo acredita, mas esse bilhete não existe.
Foi escrito por você?
É, ele não existe. Eu conheço a minha letra, pode mostrar,
não tem esse bilhete.
Mas, que que você acha disso, de todo mundo acreditar,
todo mundo achar que esse bilhete foi escrito, dessa
história?
Ah, interessante, acho engraçado, uma comédia.
CORTA PARA
CARLINHOS - AMIGO
Você acreditaria se alguém te falasse que a história do
bilhete nunca existiu, foi história que ele contou também?
Não, não, nesse ponto não. Porque na época ele nem tava
aqui, ele tava fugido, eu não acompanhava ele. E gente de
40
dentro da delegacia, gente aqui na cidade, todo mundo falou,
e isso, bem dizer, foi comprovado, essas coisas.
Isso não é história demais, não, ele fala, mas esse não foi ele
que me falou a primeira vez, certo. Quando ele fugiu, ele
tava fugido, e o comentário na cidade era esse, de gente de
dentro da delegacia.
CORTA PARA
ANÍSIO PIU PIU
Essa história do bilhete mudou a sua vida?
Bastante.
Se você tivesse fugido, e não tivesse...
O bilhete?
Não tinha nada disso...
Não tinha nada do quê?
Não tinha ficado tão famoso com esse bilhete.
CORTA PARA
LUCAS
–
EX- Uai, ele falava, que o doutor Clóvis ficava mexendo com ele,
COMPANHEIRO DE CELA sabe, porque prendeu ele e tal. Aí ele falou, parece que ele
avisou pro doutor e, falou pra ele assim, que ia fugir, pela
sala dele. Só que quem dá alguma coisa pro Anísio? Você
olha aquele hominho, lá, Nossa Senhora da Aparecida!
Aí, diz que ele cavou, cavou lá a parede com a colher e tal, e
saiu na sala do homem. E parece que pegou até o papel lá em
cima da mesa dele mesmo. Aí foi e escreveu, Sanhaço Piu
Piu, o Anísio Fugiu. E montou no porco!
Isso ele contou pra você?
Isso foi ele que contou. Aí diz que o delegado não pode nem
olhar nele. Pode nem ver ele.
FADE PARA
FABRICIO MENICUCCI – Oi, bom dia. Esse telefone é do doutor Clóvis? Eu poderia
PRODUTOR
falar com ele, por favor?
LIGANDO PARA O EX- Oi, bom dia doutor Clóvis, é Fabricio que tá falando. O
DELEGADO CLÓVIS
senhor não me conhece não, eu tou aqui em Carmo do Rio
Claro, fazendo uma filmagem. E, se não me engano, até já
convesaram com o senhor, o Bruno, a respeito de um filme
que tá sendo feito sobre a reinserção social de uma pessoa
daqui de Carmo do Rio Claro. E eu queria assim, pelo
menos, conversar pessoalmente com o senhor, só pra pegar
algumas informações, será que o senhor poderia...
Entendi, é porque as informações que o senhor tem a gente
não conseguiu ainda. Mesmo, a gente conversou com o
promotor e o atual delegado, eles têm informações do que o
povo fala, né, as pessoas na rua.
Não, mas a gente não quer que o senhor fale bem, não. De
forma nenhuma, a gente quer exatamente, por exemplo, esse
fato do tear, a gente não sabia.
É, esse recado, por exemplo, é uma coisa que virou um
folclore e a gente não sabe se aconteceu ou não.
Não aconteceu esse recado? Nunca teve?
Entendi...
Porque, às vezes, o próprio Piu fala que...
41
É, não, às vezes, o próprio Piu diz que escreveu, outra vez
ele diz que não escreveu... É mentira, né?
Entendi... aí, outras vezes, ele diz que ele não escreveu, que
foi alguém pra prejudicar ele que escreveu na parede... Não
teve nada disso, né?
Entendi... entendi...
Bom, tudo bem, o senhor acha que nem umas informações só
por escrito, o senhor não quer passar pra gente, não quer
conversar com a gente?
Tudo bem, tá ok. Mas tudo bem então. Falou, então,
obrigado, de qualquer forma, pela atenção aí. Bom dia pro
senhor. Até mais.
FADE PARA
Onde há fumaça, há fogo, como sempre dizem. Mas eu não
escrevi esse bilhete, tem essa história mesmo do bilhete. Vai
ficar pra sempre, né. A história do Piu Piu.
FADE PARA
ANÍSIO PIU PIU
IMAGENS DIVERSAS DE
ANÍSIO,
SOB
TRILHA
SONORA
ANÍSIO PIU PIU
Sanhaço Piu Piu, o Anísio Fugiu!!!
CORTA PARA
FADE PARA
CRÉDITOS FINAIS,
TRILHA SONORA
ANÍSIO PIU PIU
SOB
FADE PARA
Gente! Um abraço! Tchau pra vocês!
FADE PARA TELA EM PRETO
42
6.2 Matérias em Jornais
Matéria Expresso Carmelitano – 02 de agosto
Matéria Folha da Manhã – 07 de agosto
43
6.3 Projeto de Patrocínio
Projeto de Documentário
O Fabuloso Destino de Anísio Piu-Piu
Este projeto pretende realizar um filme documentário sobre a vida do ex-preso, natural e
morador de Carmo do Rio Claro, Anísio Antonio Marques. Entende-se como documentário o
filme cujo conteúdo tem o compromisso em explorar a realidade.
É necessário ressaltar que este será o primeiro filme realizado em Carmo do Rio Claro,
constituindo-se uma iniciativa pioneira que divulgará o nome da cidade por todo o país,
através dos diversos festivais de cinema acontecem todo ano pelo Brasil. Além disso, vale
dizer que o documentário é uma obra eterna, ficando à disposição para ser visto sem
restrições temporais.
44
Sinopse
Um bilhete deixado ao delegado durante uma fuga da prisão fez de Anísio Antonio Marques
um homem famoso em Carmo do Rio Claro, sul de Minas Gerais. Condenado a oito anos de
cadeia, o personagem do documentário é dono de uma trajetória de vida que se aproxima
de uma epopéia.
Durante o tempo em que esteve preso, Anísio Piu-Piu, como hoje é conhecido, conseguiu
fugir três vezes da prisão. E isso não é tudo, pois todas as fugas que promoveu são
marcadas por grande ousadia: ora deixando um bilhete para o delegado, ora dando café
batizado ao carcereiro ou mesmo aproveitando o cochilo do vigia.
Se for somado todo o tempo que ele passou como fugitivo da polícia, Anísio acumula cerca
de seis anos. Por esse período, o personagem viveu em diversas cidades e fez de tudo para
sobreviver.
Após ser recapturado pela polícia pela terceira vez, Anísio não fugiu mais e terminou de
cumprir o restante da pena na cadeia de Carmo do Rio Claro.
Quando voltou à vida do lado de fora das grades, Piu-Piu passou por grandes dificuldades.
Mas, com esforço, foi capaz de abrir sozinho um próprio negócio de móveis usados, ao qual
deu o nome de EletroPiu.
Hoje, a loja faz sucesso na cidade e possibilita ao personagem tirar o seu sustento e ajudar
familiares. Essa é uma história real de reintegração social e de perseverança que existe nos
caminhos do fabuloso destino de Anísio Piu-Piu.
Objetivos
Produzir um documentário em vídeo digital no formato HD (Alta Definição) para veiculação
em televisão e em festivais de cinema. O tema, como já tratado acima, é retratar a vida do
ex-detento carmelitano Anísio Antonio Marques.
Numa visão humanista, o vídeo-documentário cumprirá a função social de usar a arte
cinematográfica para dar visão a um tema pouco explorado no Brasil: a reintegração social
de ex-presos.
Segundo o Departamento Penitenciário Nacional, órgão do Ministério da Justiça, cerca de
90% dos presos volta a cometer crimes após saírem da cadeia. Assim sendo, a história de
Anísio, além de possuir intensa ação dramática, consiste num caso raro de reintegração à
sociedade.
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Cotas de Participação
O Patrocínio Cultural é uma forma extremamente eficiente de marketing. Muito mais que
divulgar uma marca, ele mostra o quanto uma empresa acredita e investe em ações que
contribuem para a construção da cultura de uma nação. Em se tratando de um filme, o
patrocínio tem um retorno ainda mais efetivo, pois as marcas serão visualizadas toda vez
que ele for exibido.
O apoio privado às iniciativas culturais é ainda mais fundamental para as pequenas cidades,
uma vez que a população não tem acesso aos grandes eventos que, geralmente, ficam
restritos às capitais.
Cota Apresentador
O apresentador terá espaço DESTACADO na tela de abertura, nos créditos do filme e em
toda a mídia do projeto. Terá direito a explorar a campanha publicitária proposta na página
três e ganhará quinze DVDs do documentário para distribuição entre clientes e funcionários.
Além disso, serão oferecidos dez convites para a cerimônia de lançamento do filme.
Como bônus, a produção do documentário desenvolverá um vídeo institucional em alta
definição para a empresa apresentadora com duração de um minuto. Desta cota, somente
duas empresas poderão participar.
Valor -------------------- R$ 1200,00
Cota Patrocínio
O Patrocinador estará presente na tela de abertura, nos créditos do filme e em toda a mídia
do projeto. Também terá direito a explorar a campanha publicitária proposta na página três
e ganhará três DVDs do documentário. Além disso, o patrocinador contará com cinco
convites para a cerimônia de lançamento.
Valor -------------------- R$ 300,00
Cota Apoio
O Apoiador estará presente na tela de abertura, nos créditos do filme e em toda a mídia do
projeto. Também terá direito a explorar a campanha publicitária proposta na página três e
ganhará um DVD do documentário. Além disso, três convites serão oferecidos ao apoiador
para a cerimônia de lançamento.
Valor --------------------- R$ 250,00
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Contrapartida aos Parceiros
Campanha Publicitária
Mídia Impressa:
DVDs – 100 unid.
Cartazes – 50 unid. – A3 papel couchet colorido
Convites – 100 unid. - A5 Papel couchet colorido
Exibição:
O documentário terá exibição garantida no mês de dezembro de 2008 pela TV Onda Sul,
emissora cujo sinal chega às cidades de Carmo do Rio Claro, Conceição da Aparecida e
Campo do Meio. A produção terá papel de destaque na programação da emissora, com um
espaço reservado à exibição do documentário assim como para uma pequena entrevista com
o diretor do filme, momento em que será possível citar o nome dos apresentadores,
patrocinadores e apoiadores do projeto.
Mídia Espontânea*:
Matérias nos principais jornais locais.
Entrevista nas rádios locais, matérias em jornais e revistas regionais.
Festivais de Cinema:
Após a finalização do documentário, a produção enviará cópias do filme para os principais
festivais de cinema do país, contribuindo para a divulgação da cidade e da marca dos
apresentadores, patrocinadores e apoiadores do projeto. A produção selecionará e enviará o
produto para os festivais da agenda do ano de 2009.
Lançamento:
O filme finalizado será exibido, pela primeira vez, em uma sessão exclusiva destinada aos
apresentadores, patrocinadores, apoiadores, personalidades, autoridades e imprensa. O local
será definido posteriormente pela produção do projeto, levando em conta a facilidade de
acesso e tendo presença garantida da equipe do filme assim como o personagem do
documentário. A previsão é de uma cerimônia para 100 pessoas.
Locadoras:
Venda dos DVDs do documentário para as principais locadoras de vídeo da cidade. Além
disso, serão fixados cartazes nos pontos onde o filme estará disponível para locação e em
locais de grande circulação de pessoas.
Marketing cultural:
O patrocínio cultural gera uma série de vantagens, além de divulgação do evento, tais como:
• Divulgação em jornais, revistas e imprensa em geral;
• Simpatia e identificação com a marca;
• Oportunidade de realizar campanhas e divulgações a um público específico.
* Os patrocinadores, apoiadores e apresentadores estarão presentes em toda a divulgação enviada à imprensa,
mas a exibição de seus nomes e marcas será feita de acordo com a decisão dos próprios jornais, rádios e tvs, não
podendo a produção dar tal garantia.
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6.4 Modelo do termo de autorização de uso de imagem e som
Eu, _________________________________________________________, abaixo-assinado,
residente à _________________________________________________________________
_________________________________________________________, portador da cédula de
Identidade _________________________ e CPF ____________________________ concedo
para livre utilização, direitos sobre a minha imagem e som da minha voz a qualquer tempo
para integrar o vídeo documentário intitulado O Fabuloso Destino de Anísio Piu-Piu, sob a
direção de Bruno de Oliveira Lima, residente à rua Randolfo Fabrino, número 238, Centro,
portador da cédula de Identidade 14373950 / SSPMG e CPF 073803286-70.
Declaro ainda estar ciente da proposição do projeto e que aceito participar do mesmo,
autorizando conseqüentemente e universalmente qualquer exploração comercial, distribuição
e exibição da obra, por todo e qualquer veículo, ou meio de comunicação e publicidade
existentes ou que venham a serem criados, como: Cinema, Televisão, TV por assinatura “Pay
TV”, TV a cabo, “Pay per View”, Vídeo, Vídeo Laser Disc, Home Vídeo, Disco, Disco Laser,
CD ROM, exibições publicas ou privadas, circuitos fechados, aeronaves, navios,
embarcações, ou qualquer outro meio de transporte, assim como divulgação / publicidade da
obra em rádio, revistas, internet, jornais, cinema e televisão, para exibição pública ou
domiciliar, reprodução no Brasil ou no Exterior, podendo as cenas da obra em questão ser
utilizadas para fins comerciais ou não, exibições em festivais ou outros meios que se fizerem
necessários.
_____________________________________________
Nome:
Carmo do Rio Claro, _______ de ______________________ de 2008.
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BRUNO DE OLIVEIRA LIMA DOCUMENTÁRIO “O FABULOSO