UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARTES E HUMANIDADES COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO BRUNO DE OLIVEIRA LIMA DOCUMENTÁRIO “O FABULOSO DESTINO DE ANÍSIO PIU PIU” VIÇOSA 2008 BRUNO DE OLIVEIRA LIMA DOCUMENTÁRIO “O FABULOSO DESTINO DE ANÍSIO PIU PIU” Projeto Experimental apresentado ao curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa, em cumprimento parcial às exigências para a obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Orientação: Profa. Dra. Soraya Maria Ferreira Vieira VIÇOSA 2008 2 DOCUMENTÁRIO “O FABULOSO DESTINO DE ANÍSIO PIU PIU” BRUNO DE OLIVEIRA LIMA Aprovado em _____ / _____ / _____ . BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Dra. Soraya Maria Ferreira Vieira (orientadora) Professora adjunta do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – UFV ____________________________________________________ Ms. Carlos Frederico de Brito d’Andréa Professor assistente do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – UFV ____________________________________________________ João Batista Mota Jornalista membro da Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância – CEAD – UFV 3 AGRADECIMENTOS Aqui vão uns agradecimentos para aqueles que estiveram comigo durante a minha estadia em Viçosa, onde vivi experiências e aprendi coisas que levarei para os outros ciclos da minha vida. Agradeço principalmente aos meus pais, que foram as pessoas que possibilitaram a minha permanência em Viçosa, enviando religiosamente a grana no fim do mês assim como dando conselhos e palavras de incentivo. Agradeço a Paula, pelos ótimos momentos que passamos juntos e pelas várias vezes que me ajudou ao longo do tempo. Agradeço também aos poucos bons professores que tive durante a graduação, cujas aulas eram uma troca de idéias entre amigos, bem distante rigor hierárquico do velho academicismo. E, por que não, agradeço aos maus professores também, pois me alertaram para situações que, com certeza, terei de enfrentar pela frente. Logo, as situações em que eles me colocaram, pelo menos, serviram de treinamento. Agradeço a professora Soraya pela orientação e, sobretudo, pela liberdade criativa que me concedeu durante a realização de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu. E, por fim, quero agradecer aos meus amigos e a todas as pessoas que conheci em Viçosa, pois me levaram a olhar o mundo de outra forma e a construir alguma parte de mim, até mesmo quando não riram das minhas piadas super engraçadas. Valeu! 4 RESUMO Este é um trabalho experimental de produção de um documentário audiovisual. Trata-se da história do comerciante e ex-detento Anísio Antonio Marques, mais conhecido como Anísio Piu Piu, que ficou famoso em Carmo do Rio Claro, no sul de Minas Gerais, após ter, supostamente, deixado um bilhete para o delegado durante uma fuga da prisão. Condenado a oito anos de cadeia, o personagem desta história real não fugiu apenas uma vez, mas sim três vezes, e sempre de um jeito criativo e engraçado. Em meio a prisões, fugas e esconderijos, O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu conta uma história de reintegração social, onde a luta e a força de vontade caminham lado a lado com o bom humor. Palavras-chave: documentário, reintegração social, anísio piu piu, bilhete, carmo do rio claro. 5 ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 7 1.1 A reintegração social......................................................................................................... 7 2 REFERÊNCIAS TEÓRICAS ................................................................................................ 10 2.1 Relação entre documentário e jornalismo ....................................................................... 10 2.2 Documentário e mobilização social ................................................................................ 11 3 RELATÓRIO TÉCNICO ...................................................................................................... 13 3.1 Pré-produção ................................................................................................................... 13 3.2 Produção ......................................................................................................................... 14 3.3 Fotos da produção ........................................................................................................... 15 3.4 Pós-produção................................................................................................................... 16 3.5 Blog da produção ............................................................................................................ 17 3.6 Orçamento ....................................................................................................................... 18 3.7 Lançamento ..................................................................................................................... 18 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 19 5 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 20 6 ANEXOS ............................................................................................................................... 22 6.1 Roteiro............................................................................................................................. 22 6.2 Matérias em Jornais ........................................................................................................ 43 6.3 Projeto de Patrocínio ....................................................................................................... 44 6.4 Modelo do termo de autorização de uso de imagem e som ............................................ 48 6 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso trata de um vídeo-documentário intitulado “O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu”. A história contada através do documentário é a trajetória do ex-detento Anísio Antonio Marques, nascido e residente na cidade de Carmo do Rio Claro, sul de Minas Gerais. Anísio, além de uma personalidade forte, é dono de uma história de vida de muita luta e, ao mesmo tempo, trágica e cômica. Nesta nota introdutória, destacamos as linhas narrativas que norteiam a produção do documentário. Inicialmente, devemos considerar que o documentário é sobre a vida de uma pessoa, portanto, tem um tom biográfico. A parte da vida deste personagem retratada com maior destaque vai desde quando ele foi preso até o momento de sua libertação, lembrando que antes de sua liberdade total, ele passou cerca de quatro anos solto em liberdade condicional. Enfocamos, também, a personalidade do personagem, uma vez que ele é uma pessoa marcante e de humor aguçado. A essa característica, soma-se o fato de que ele, durante o tempo em que esteve preso, fugiu três vezes, e algumas delas de maneira espetacular. Por fim, há a questão de sua reintegração à sociedade, pois, ao fim da pena, conseguiu abrir um negócio próprio de venda de móveis usados, sem que ninguém o ajudasse. Em resumo, o documentário conta com estes quatro pilares: o recorte da vida do personagem, a sua personalidade, as fugas e a reintegração à sociedade. Dentre esses itens, a linha narrativa que traduz a reincorporação do ex-preso Anísio à vida em sociedade funcionou como uma espécie de ponto de encontro de todas as temáticas tratadas no documentário. 1.1 A reintegração social O documentário é uma forma de resgate de temas e assuntos que estão distantes ou que são vistos pela mídia como irrelevantes. Por vezes, o documentário atua fazendo um estudo aprofundado daquilo que é visto como sem valor notícia pelos meios de comunicação. Além disso, a linguagem mais livre favorece a reflexão sobre os assuntos apresentados. Segundo Manuela Penafria: O seu olhar [do documentário] não se reduz ao que é óbvio, antes leva-nos a olhares diferentes sobre o mundo e permite-nos olhar o mundo de modo diferente. Por esta razão há um apelo ao debate de idéias, à reflexão e ao envolvimento crítico confrontados que somos com experiências diversas, sejam elas sociais ou pessoais. (1999:04) 7 É por isso que o documentário “O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu” busca trazer à tona a discussão de um assunto importante, mas ao qual não é dado o devido valor. Entre outras possibilidades temáticas, o presente documentário questiona a capacidade de recuperação de um preso pelo sistema carcerário brasileiro. Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), de 2003, estima-se que o índice de reincidência criminal no Brasil é de 82%. Isso significa dizer que a cada cinco presos que são postos em liberdade no Brasil, apenas um não volta a cometer crimes, revelando a fragilidade do sistema prisional que não consegue recuperar os cidadãos que cometem erros. Sobre a porcentagem dos que não voltam a cometer crimes, podemos dizer que boa parte deles conta com a ajuda de entidades civis para voltar à vida em sociedade. Um exemplo é o caso da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do Distrito Federal, que trabalha com presos e recém-libertos, dando-lhes educação e formação profissional para enfrentar de novo a vida em sociedade. A violência no Brasil pode estar atrelada mais a um problema estrutural do que meramente numérico. A cada dia são inaugurados novos presídios, mais policiais são postos nas ruas e mais prisões são efetuadas, mas mesmo assim os índices de violência se elevam a cada ano. As penitenciárias foram criadas com os seguintes objetivos: punir os transgressores, proteger a sociedade, prevenir crimes futuros e reabilitar criminosos. Dessas metas, a única que parece ser cumprida é a punição dos transgressores, aplicando-lhes a exclusão do meio social e encarcerando-os em prisões onde, na maioria das vezes, são submetidos a condições ultra degradantes. Há uma visível contradição entre o que diz a Lei de Execução Penal e a reinserção de um preso na sociedade. Como se concilia o fato de que a possível reinclusão de um indivíduo que transgrediu as regras sociais, pode se dar pela sua exclusão do meio social através do encarceramento? O que uma prisão pode oferecer a um individuo para que ele possa voltar a viver em liberdade e, a partir daí, aceitar as normas sociais? De acordo com Vânia Sequeira: A Lei de Execução Penal defende um tratamento prisional que deve propiciar a reeducação e a ressocialização do preso. O sistema penal trabalha com a idéia da reabilitação do preso; esse é o discurso oficial que legitima o aprisionamento. Acredito que precisemos discutir essas concepções e suas raízes ideológicas, porque a reinserção por meio da exclusão é uma incoerência a ser decifrada. (2006:667) 8 Apesar de não levantar o tema da ressocialização de modo direto e institucional, o documentário “O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu” dialoga com essa questão, fazendo com que o público telespectador reflita sobre algo que aparentemente está muito longe de suas vidas. Dentro deste parâmetro, o personagem do documentário, Anísio Marques, pode ser considerado uma anomalia de um sistema cuja normalidade é devolver o criminoso ainda mais criminoso. Quando ele saiu da prisão, sem trabalho ou mesmo sem idéia do que fazer, conseguiu se estabelecer sozinho no meio social. Usando sua capacidade de comerciante, conseguiu montar um negócio próprio sem a ajuda de ninguém. O documentário questiona os possíveis porquês de Anísio não ter voltado a cometer crimes e qual é o papel do sistema prisional na recuperação do personagem. Diante disso, o personagem e a história reúnem as condições necessárias para dar força ao documentário. Além disso, a busca pela liberdade e a luta para recomeçar são atributos reconhecidos por todos, logo o tema adquire um forte respaldo social. 9 2 REFERÊNCIAS TEÓRICAS 2.1 Relação entre documentário e jornalismo O documentário é um gênero cinematográfico marcado, fundamentalmente, pelo compromisso com a realidade. Mesmo que ele possa ter cenas ficcionais, como é o caso das simulações, o documentário quer sempre passar ao telespectador a realidade. O documentário pode ser encarado, também, como uma forma de fazer jornalismo, uma vez que segue as premissas básicas do campo. Assim como no jornalismo, o documentário busca a verdade e a objetividade. Segundo a pesquisadora Cristina Melo (apud ZANDONADE; FAGUNDES, 2003, pág. 32), “o fato de ser um discurso sobre o real e utilizar imagens in loco são características que aproximam o documentário da prática jornalística.” No começo do século 20, o cinema tinha uma vertente acoplada ao jornalismo nos chamados cinejornais, termo utilizado para definir pequenos documentários de caráter informativo produzidos para serem exibidos em salas de cinema. Essas peças cinematográficas, no Brasil, versavam mais comumente sobre crimes, e aproveitavam uma notícia que estivesse sendo amplamente coberta pelos jornais impressos da época. Com o passar do tempo e com o advento da televisão, os cinejornais deixaram de ser produzidos, entretanto, como ressalta Gustavo Souza (2006:07), “as relações entre documentário e jornalismo se mantiveram. O documentário clássico parece ter servido de base para o jornalismo atual, especialmente o jornalismo televisivo (...)”. Atualmente, o documentário é visto como uma maneira de extravasar as possibilidades do jornalismo. De acordo com Gustavo Souza: Diante do caráter superficial dispensado pelos media, o documentário, mesmo com seu alcance ainda em expansão, tem se apresentado como um espaço privilegiado onde o debate sobre os diversos matizes que constituem a sociedade brasileira acontece dissociado das regras da imprensa. Uma série de fatores possibilita essa inferência. Inicialmente, o caráter marginal do documentário, reflexo do vínculo rarefeito com o mercado, deixa o documentarista livre para novas possibilidades temáticas e estéticas. O tratamento dispensado ao tema toma como baliza o aspecto autoral do cineasta, indispensável para qualquer documentário, que empresta ao filme uma singularidade própria. (...) Além disso, o tempo de preparação de um documentário (em alguns casos os personagens são acompanhados por anos) permite a elaboração de novas narrativas. Esse aspecto faz o documentário divergir de uma reportagem, mais preocupada em relatar os acontecimentos no calor da hora, fazendo com que o documentarista estabeleça um 10 vínculo mais estreito com os personagens, ao contrário da matéria jornalística, mais interessada na construção de um tipo ou de alguém que vai citar ou confirmar o que se espera. (2006:07) A diferença entre os tipos de produção permite ao documentário uma capacidade de apresentar razões, causas e desdobramentos que ultrapassam a condição descritiva do jornalismo diário. O documentário é marcado pela característica autoral, que por sua vez, também pode ser ligada à prática jornalística, já que o repórter vê e opina sobre o fato que relata. Além disso, o documentário pode representar certo revigoramento da prática jornalística, tendo por base que essas produções em vídeo respondem a uma das perguntas que mais ficam sem resposta no jornalismo diário: o porquê (ZANDONADE; FAGUNDES, 2003). 2.2 Documentário e mobilização social Atualmente, são poucas as emissoras que produzem e exibem documentários. Por exemplo, na TV Globo, existe apenas um programa que veicula documentários: o Globo Repórter. O programa foi criado em 1973, e nos primeiros dez anos figurou como um espaço de liberdade de criação e inovação. No entanto, com o passar do tempo, o programa abandonou o seu caráter de experimentação de novas linguagens, passando a adotar uma postura padronizada, preferindo temas como lugares e animais exóticos a temas sociais e investigativos. A TV Cultura, contudo, ainda abre sua programação para a veiculação de documentários em programas como o DOC TV, Repórter Eco e Cine Brasil. Entretanto, esses programas têm audiência limitada devido ao sinal pouco abrangente da TV Cultura e à concorrência com as outras emissoras. As emissoras investem muito mais na produção de programas de entretenimento do que na formulação de programas educativos em busca de altos retornos comerciais. Na guerra pela audiência, as empresas televisivas se esquecem da função social e cívica que cabe aos meios de comunicação, principalmente no caso da televisão, que impera frente aos outros veículos por seu grande alcance. No telejornalismo, existe a concepção de que as matérias devem ser sucintas, rápidas e claras, para que o telespectador não tenha o trabalho de pensar depois de um dia cansativo de trabalho. Sobre isso, Zandonade e Fagundes ressaltam: 11 “que as notícias diárias abordadas nos telejornais das emissoras comerciais não contribuem para a clareza das idéias, ou seja, não despertam o sentido crítico dos telespectadores fazendo com que eles não tenham uma visão mais apurada sobre os assuntos apresentados.” (2003:34) Em contrapartida, o documentário tem um cunho mais interpretativo e valoriza as peculiaridades dos fatos, diferente do tratamento uniforme dispensado a todas as matérias nos telejornais. Além disso, tem uma linguagem mais aprofundada dos assuntos propostos, o que contribui para a criação da consciência crítica e para a mobilização social. O documentarista Paulo Barouck (apud ZANDONADE; FAGUNDES, 2003, pág. 41) afirma que “o documentário é uma poderosa ferramenta educacional, não só na transmissão do conhecimento como na formação da consciência crítica e fomentação de reflexão a respeito dos temas que apresenta”. O documentário trabalha as ligações entre os assuntos tratados e o mundo onde estão inseridos os telespectadores. Com isso, busca-se um novo valor-notícia, bem diferente do que é usado pelos telejornais. Por exemplo, lança-se um novo olhar sobre a periferia, que deixa de ser assunto somente porque alguém cometeu um crime, mas também porque existe alguém trabalhando lá ou fazendo arte. Dessa maneira, é possível dizer que o documentário valoriza as potencialidades dos indivíduos e das comunidades, produzindo a mobilização social. Com isso, as pessoas são levadas a participar mais ativamente na busca do bem comum e da cidadania. 12 3 RELATÓRIO TÉCNICO 3.1 Pré-produção A pré-produção do documentário começou em fevereiro de 2008. Até o mês de junho, foram cinco meses de pesquisa para construir o roteiro do filme. A pesquisa baseou-se em várias entrevistas com o próprio personagem e com a mãe dele. Nesse processo, também pesquisamos em arquivos de jornais e TVs locais em busca de reportagens sobre o período em que Anísio estava foragido. Nada constava nos arquivos de jornais, no entanto, encontramos uma reportagem na TV local que até entrou para o documentário. A pesquisa também contou com o estudo de arquivos jurídicos referentes ao processo de Anísio. Esses arquivos foram encontrados no Fórum de Carmo do Rio Claro assim como em posse de Anísio e de seus advogados. Terminada a pesquisa, construímos um roteiro contando a história de Anísio, que nos orientou durante a filmagem e edição posteriores. É bom ressaltar que optamos por fazer apenas um esboço do filme e não um roteiro preciso, evitando assim uma rigidez que poderia engessar a produção e deixar escapar formas mais criativas de narrar a ação dramática. Nesse momento, também, escolhemos o título do filme. O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu é uma óbvia alusão ao filme francês Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, dirigido por Jean-Pierre Jeunet. No entanto, não foi uma escolha aleatória, pois ambos os filmes contam uma história de vida em que o humor figura como uma visão de mundo para seus personagens. Com roteiro em mãos, calculamos os custos e fizemos o orçamento do filme. A partir daí, escrevemos um projeto de patrocínio para fazer a captação de recursos financeiros para a produção. Durante o mês de julho, trabalhamos exaustivamente em busca de patrocínio. O projeto foi apresentado a numerosas casas comercias de Carmo do Rio Claro, tendo uma resposta bastante pessimista a princípio. Entretanto, para esclarecer sobre o projeto e tentar fazer com que o financiassem, fizemos também um exaustivo trabalho de divulgação nos meios de comunicação. Ao total, foram três entrevistas em rádios, uma entrevista na TV local e matérias em dois jornais regionais. Após esse trabalho, conseguimos o patrocínio necessário para produção e depois, com a publicidade provocada pelas filmagens na cidade, conseguimos também o dinheiro para a finalização. 13 Em agosto, elaboramos o plano de produção, definindo locações e também marcando as entrevistas que integrariam o documentário. Encontramos muita dificuldade nessa etapa, pois se trata de um assunto sobre o qual as pessoas tinham certa resistência a falar. Por fim, durante a primeira quinzena de setembro, fizemos a contratação da equipe que iria trabalhar nas filmagens de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu, encerrando assim o processo de pré-produção. 3.2 Produção As gravações do documentário O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu aconteceram entre os dias 22 e 27 de setembro, no total, seis dias de locações em Carmo do Rio Claro. A equipe foi bastante reduzida, formada por quatro pessoas: diretor, produtor, assistente de produção/microfonista e motorista. Nesses seis dias de gravações, rodamos em vários pontos característicos da cidade assim como em lugares que marcaram a história de vida do personagem, como os locais na zona rural que serviram de esconderijo durante as fugas da prisão de Anísio. Fomos também até Passos, uma cidade localizada a 70 quilômetros de Carmo do Rio Claro, onde vive hoje o policial que estava de plantão durante a primeira fuga de Anísio. Ele confirmou uma história bem engraçada, segundo a qual Anísio deu-lhe um copo de café supostamente cheio de calmantes. Após tomar a bebida, o policial dormiu, enquanto isso, o personagem aproveitou para cavar um buraco na parede e fugir. Ao total, fizemos 19 entrevistas com pessoas tiveram alguma relação com a história de Anísio. Entre elas estão: familiares, advogados, delegado, promotor, amigos, policiais, companheiros de cela, investigadores e proprietários de fazendas onde o personagem se escondia durantes as fugas. Em seis dias de locações, gravamos cerca de 15 horas de material bruto para serem transformados em 55 minutos do presente documentário. Trabalhamos com uma grande margem de descarte para conseguir a edição mais rica possível. Nesse sentido, para cada minuto aproveitado no corte final, gravamos cerca de 17 minutos de material bruto. Os equipamentos usados durante a produção foram os seguintes: - 1 Câmera Sony HDR-HC7 / HDV - 2 Tripés - 1 Spot de luz - 1 Vara de boom 14 - 1 Microfone ATR-55 Audio-Technica tipo boom - 1 Microfone EW 112P-G2 Sennheiser sem fio tipo lapela - 1 Rebatedor três cores (branco, prata e dourado) - 1 Difusor 3.3 Fotos da produção Gravação Gravação 15 Equipe de gravação 3.4 Pós-produção O primeiro passo da pós-produção foi a decupagem do material bruto. Das quinze horas gravadas, fizemos uma pré-seleção de cerca de seis horas de vídeo aproveitável, as quais foram capturadas para uma ilha de edição não-linear. Essa etapa demorou 10 dias para ser feita. É necessário ressaltar que a edição na realização deste documentário tem um papel tão fundamental quanto a produção. Isso se deve ao fato de que a construção narrativa do filme é praticamente feita durante o processo de montagem. Sem o papel da edição, teríamos quinze horas de vídeo que não dizem absolutamente nada. Ao contrário da ficção, onde a edição tem um papel que diz respeito mais a organizar as cenas de um roteiro preciso, no documentário a edição é um processo criativo e que dá sentido ao material gravado. O programa usado para edição de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu foi o Sony Vegas versão 8.0. Foi escolhido por trabalhar bem tanto com a plataforma operacional Windows quanto com o formato HDV, usado na gravação deste documentário. O trabalho de edição durou três semanas. Após a conclusão do primeiro corte, o vídeo passou por mais uma triagem, para eliminar algumas cenas que, apesar de boas, não faziam tanto sentido ou apenas bloqueavam o curso da ação dramática. Ao final deste processo, chegamos à versão final com 55 minutos. Com o corte final, partimos para a etapa de finalização de áudio e vídeo. A finalização de áudio foi feita pelo técnico de som Juliano Coutinho, usando os programas Sony Sound Forge 9.0 e o Pro Tools 5.0. E a finalização de vídeo foi feita utilizando os próprios plug-ins de correção de cor e de efeitos do programa de edição. A última etapa foi a inserção de créditos e da trilha sonora. Quanto a esta última, 16 foram utilizadas músicas sob licença CREATIVE COMMONS1, para não termos de pagar direitos autorais. Com o vídeo pronto, fizemos a autoração do DVD usando o programa Sony DVD Architect 4.5. 3.5 Blog da produção Para divulgar a realização do documentário O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu, produzimos um blog contando as etapas de produção do filme. Layout do blog 1 Também conhecida pela sigla CC. É um conjunto de licenças padronizadas para gestão aberta, livre e compartilhada de conteúdos e informação. No caso das trilhas sonoras, podemos usá‐las gratuitamente no filme desde que citemos o autor e não as usemos para fins comerciais. 17 3.6 Orçamento PRODUTO QUANT. VALOR (R$) FITAS MINI-DV 15 160,00 PASSAGENS VIÇOSA-CARMO DO R. CLARO 4 460,00 CAMISETAS PRODUÇÃO 4 60,00 GASTOS PRODUÇÃO (GASOLINA, TELEFONE, 250,00 TÁXI, SEDEX) CACHÊ ASSIST. PROD. 1 50,00 CACHÊ PROD. 1 50,00 CACHÊ DESIGNER 1 150,00 EDIÇÃO (ALGUEL DE ILHA) 1 200,00 PRODUÇÃO DE DVDS 100 600,00 MATERIAL GRÁFICO (CARTAZES, CONVITES) 200,00 FINALIZAÇÃO DE ÁUDIO 70,00 FINALIZAÇÃO DE VÍDEO 200,00 TOTAL 2450,00 3.7 Lançamento Após a apresentação para a banca examinadora, O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu volta para Carmo do Rio Claro, onde será lançado em uma sessão na Câmara Municipal no dia 21 de dezembro. Haverá também a venda de DVDs do filme assim como distribuição em locadoras da cidade. Já no início de 2009, o filme será exibido pelo canal de televisão local, a TV Onda Sul. Por último, durante todo o ano de 2009, o documentário segue para tentar uma vaga nas mostras de uma extensa lista de festivais de cinema por todo o Brasil. 18 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A finalização de O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu deixou ainda mais clara a aproximação do jornalismo e do cinema documental. O processo de produção de ambos é muito parecido, no entanto, o documentário oferece uma riqueza e uma possibilidade narrativa muito maior. Contar a história de Anísio Piu Piu através de uma pirâmide invertida2 é o mesmo que reduzir a vivacidade da história a zero. Portanto, acredito que deve haver mais investimento por parte das emissoras de televisão para a produção de documentários. É uma alternativa muito mais interessante para levantar questões importantes para a sociedade do que durante a correria de um telejornal. A fase atual da televisão exige que haja programas mais criativos e mais aprofundados para sobreviver frente à concorrência com as novas mídias. Mais uma vez, pode-se lançar mão do documentário, privilegiando produções que aliem informação e criatividade bem como produções que sejam assistidas com interesse pelos telespectadores. 2 Pirâmide Invertida é uma técnica de redação jornalística cuja construção textual sugere que as informações devem vir em ordem decrescente de importância. Pela pirâmide invertida, as informações essenciais já devem vir destacadas no primeiro parágrafo. Alvo de muitas discussões, o uso dessa técnica pode produzir um texto objetivo, entretanto, também pode cercear a construção de um texto mais criativo. 19 5 BIBLIOGRAFIA ALVIM, Wesley Botelho. A ressocialização do preso brasileiro. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/x/29/65/2965/> Acesso em: 15 outubro 2008. ANDREW, James Dudley. As principais teorias do cinema: uma introdução. Tradução, Teresa Otoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. BUCCI, E.; KEHL, M. R. Videologias: ensaios sobre televisão. São Paulo: Boitempo, 2004. LABAKI, Amir. Introdução ao documentário brasileiro. São Paulo: Francis, 2006. LUPORINI, Marcos Patrizzi. O cinejornal no estado novo: a relação do poder com a propaganda política. Disponível em: <http://www.preac.unicamp.br/ memoria/textos/Marcos%20Patrizzi%20Luporini%20-%20completo.pdf> Acesso em: 05 junho 2008. MONTEIRO, Adalberto. Reintegração Social do Preso – Utopia e Realidade. Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/revista/numero15/mesaredonda21.pdf> Acesso em: 12 abril 2008. O MOSSOROENSE. É possível a recuperação de presos? Disponível em: <http://www2.uol.com.br/omossoroense/110802/especial.htm> Acesso em: 15 outubro 2008. PENAFRIA, Manuela. Perspectivas de desenvolvimento para o documentarismo. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/penafria-perspectivas-documentarismo.pdf> Acesso: 15 outubro 2008. PIRES, A. A. C.; GATTI, T. H. A reinserção social e os egressos do sistema prisional por meio de políticas públicas, da educação, do trabalho e da comunidade. Disponível em: <http://www.ibict.br/revistainclusaosocial/include/ getdoc.php?id=153&article=20&mode=pdf%20-> Acesso em: 12 abril 2008. 20 SEQUEIRA, Vania Conselheiro. Uma vida que não vale nada: prisão e abandono políticosocial . Psicol. cienc. prof., dez. 2006, vol.26, no.4, p.660-671. Disponível em: <http://scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932006000400012> Acesso em: 15 outubro 2008. SOUZA, Gustavo. Aproximações e divergências entre jornalismo e documentário. Disponível em: <http://www.unirevista.unisinos.br/_pdf/ UNIrev_Souza.pdf> Acesso em: 12 abril 2008. ZANDONADE, V.; FAGUNDES, M. C. J. O vídeo documentário como instrumento de mobilização social. Disponível em: < http://www.bocc.ubi.pt/pag/ zandonade-vanessa-video-documentario.pdf> Acesso em: 01 junho 2008. 21 6 ANEXOS 6.1 Roteiro ROTEIRO DA VERSÃO FINAL Título: O Fabuloso Destino de Anísio Piu Piu Direção: Bruno Lima Duração: 54’57” CRÉDITOS INICIAIS SOB TRILHA SONORA FADE PARA NARRAÇÃO SOB Esta é a história de Anísio Piu Piu. Um comerciante que IMAGENS DE ANÍSIO PIU nasceu e viveu a maior parte da vida na cidade de Carmo do PIU ABRINDO A LOJA Rio Claro, no sul de Minas Gerais. Nessa cidade, ele realizou uma aventura que o tornou famoso e também originou o apelido que hoje praticamente faz parte do seu nome. Todos na cidade, dizem que Anísio Piu Piu fugiu da cadeia e deixou um bilhete para o delegado. TRANSIÇÃO PARA ANÍSIO PIU PIU Aí fui saindo assim, e falei, mas ele vai sentir muita saudade de mim, eu vou tentar deixar um bilhetinho pra ele. Aí falei lá, Sanhaço Piu Piu, o Anísio Fugiu. CORTA PARA NARRAÇÃO SOB IMAGEM Mas como toda história tem um início, O Fabuloso Destino ESTÁTICA DE ANÍSIO PIU de Anísio Piu Piu começa um pouco antes desse episódio. PIU CORTA PARA IMAGENS REVERSAS DE ANÍSIO PIU PIU FALANDO E ABRINDO A LOJA, SOB TRILHA SONORA FADE PARA TILT DOWN – PRAÇA DA CIDADE CORTA PARA ANISIO PIU PIU EM OFF, Eu peguei, e falei assim, vou mandar um cartão de natal pra SOB IMAGENS DIVERSAS aquela pessoa. E, como era no final do ano, tinha formatura DO PERSONAGEM dela. Tava formando acho que na oitava série. Aí fui na formatura dela, cheguei lá, ela... parece que ela não queria dançar comigo, eu fui insistindo até conseguir. E daí pra frente rolou. Foi meio conturbado, o véio não queria de jeito nenhum. Sempre ficando com o pé atrás. Ah, não sei, achava que eu era meio molecão pra ela. Eu lembro que uma vez ele não queria deixar ela sair de carro comigo de jeito nenhum. Aí eu pegava a moto, falava comigo, já que não pode sair de carro, eu vou de moto. Punha ela na garupa e picava a mula. CORTA PARA 22 ANÍSIO PIU PIU O pedido foi meio à força mesmo, porque o véio não queria de jeito nenhum. Ele falou assim, pode casar, mas dentro de um mês, aí eu muito burro aceitei. CORTA PARA DONA ALVINA - MÃE Esse Anísio, na hora de casar, mas ele não queria ir de jeito nenhum. Até hoje eu alembro eu dou risada, quando eu alembro, eu dou risada sozinha, seja em que lugar que eu tiver. A noiva chegar atrasada tudo bem, mas o noivo chegar atrasado é muita complicação pra uma pessoa só. Depois, por fim, nós, quando nós conseguiu encaminhar ele no carro, eu falei assim, meu Deus, até que enfim. Aí eu fui imaginando, quando nós subiu, eu fui imaginando, agora só falta ele correr lá e, ó! CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Aí chegou lá na frente, na hora que o padre perguntou, você aceita não sei o quê, casar com Lúcia, não sei o quê. Aí eu olhei prum lado, olhei pro outro, pra ver se tinha alguém que dizia, não, não casa não. Eu tinha uma amiga minha que falou que ia, uma tal de Estér, amiga minha do coração. Piu, eu vou lá, eu não deixar você casar não. FADE PARA PAN – PRAÇA DA CIDADE CORTA PARA ANISIO PIU PIU EM OFF, Muita gente pensa que casamento é fácil, é a coisa mais SOB IMAGENS DIVERSAS difícil que tem é manter um casamento. Porque entre quatro DO PERSONAGEM paredes ninguém sabe o que passa. Às vezes, eu chegava nove e meia a mulher ficava brava, uai, virava um leão, pegava som jogava no chão... CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU ... quebrava televisão. Foi indo indo que eu perdi a paciência, briguei com ela. CORTA PARA CARLINHOS - AMIGO Até tem uma que ele tava assistindo um filme lá, eu tava aqui em casa também, na segunda-feira assistindo Tela Quente. Aí ele chegou aqui com o olho tudo roxo, que tava dormindo com a mulher dele lá, no sofá assistindo o filme, aí ele cochilou, sonhou com uma mulher, falou alto. Eu falo que ele fala demais. Tomou um muro no olho, chegou aqui de noite. Ô Carlinhos, deixa eu dormir aí, deixa eu dormir aí. Mas quem tinha dado o muro era a esposa dele? A esposa dele, socou ele, no sofá, no colo dela. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Uma vez ela chegou aqui pertinho, aqui nessa praça mesmo, eu tava conversando com três moças, ela pegou e jogou a aliança fora descendo ali. Nossa, ela era histérica sobre ciúme, morria de ciúme do Piu. Não sei o que que o Piu tem de tão bão assim. FADE PARA 23 TÍTULO – ENVOLVIMENTO CRIME ANÍSIO PIU PIU O NO FADE PARA Uma vez eu fazia jogo do bicho, eu tava lá na vargem, perto da Edmil ali, lá era CAMIG... CAMIG, COMIG, não sei. Eu tava lá fazendo jogo do bicho, passou o delegado e o detetive. Aí veio um rapaz, um tal de Toizinho Limão, Toizinho da CAMIG. Ele pegou e desligou a minha moto, aí a hora que a polícia chegou, não deu pra mim vazar, porque de moto você vaza. Você vaza ou come os papeizinhos ou joga fora, né? Aí o cara pegou e desligou a minha moto, e não teve como eu ligar. A partida da moto tava meio durinha, não teve como eu voltar atrás. Até eu ligar a moto de novo, eles chegou e encaixou, não deu como eu fugir. DONA ALVINA - MÃE Aí quando o Antonio ficou sabendo, nossa, mas esse véio ficou “enfavorado”. Era meia-noite e eles tava tentando tirar ele e tirou. Aí, depois como ele entrou na fria de novo, aí ele não conformava, ele virava assim, eu já passei tanta aflição pra tirar ele de lá. CORTA PARA ANISIO PIU PIU Eu tava construindo a casa, e todo final de semana tinha que pagar os pedreiros, os serventes, e deu uma época que a minha loja tava vendendo pouco. Aí eu tinha um amigo lá em Passos que mexia com droga, essas coisas, aí eu ia lá pegava um pouco de droga, vinha aqui no final de semana e vendia, voltava lá, pegava mais um pouco e vendia. E, até que foi bom eu ter sido preso vendendo droga, que já tava querendo uma quantidade maior. Uai, eu chegava e matava a pessoa de vergonha. Ô, quer comprar maconha? Eu vou lá em Passos buscar pra você. O Piu agora é traficante, é o Pablo Escobar da cidade. Eu tinha até uma cadernetinha que eu falava assim, compre que eu faço pra você no crediário, você compra hoje, paga semana que vem, no fim de semana. CORTA PARA CARLINHOS - AMIGO Aí nisso passou os tempos, ele foi preso, até pelo que eu falo pra ele direto, por ele falar demais. Como assim? Ah, ele fala demais. Na época, ele não tinha nada a ver, puseram um negócio de droga pra ele, não sei o que e tal. Não era nada a ver, porque ele falava demais, punha negócio de caderneta, coisa de droga, não era nada. Os “pessoal” vieram aqui e mexeram com ele com negócio de droga, as coisas... Acho que chegou até a mexer uns dias, mas ele falava que tinha um quilo, que tinha dois quilos, era tudo mentira, ele falava demais. Mentiroso demais. CORTA PARA LUCAS – EX- Quem chamou a polícia pra ele foi a ex-mulher dele. Eu COMPANHEIRO DE CELA falava pra ele assim, nossa Anísio, como é que você deixa 24 uma coisa dessas e não faz nada. Ele falava, eu vou fazer o quê? CORTA PARA ANISIO PIU PIU Então, ela gritou lá pra prima dela, a tal de Zilda, a Lúcia, que eu tava batendo nela. Ah, o Piu tá me batendo, aí chamou a polícia. Aí ela foi num cachorrinho de louça, e tirou três graminhas de droga e entregou pra polícia. Eu lembro direitinho, era o Sargento Canarinho e o Jean. Aí eu peguei e fiquei com medo né, vai me prender. A hora que eu vi a polícia, eu corri. Peguei meu Passat sem farol, fui daqui até no Barro Preto, dormir na casa de uma amiga minha. Aí o carro tava sem farol, eu pedi o rapaz da moto pra ir piscando, uma CV 400, piscava a seta e eu ia. Fui daqui no Barro Preto sem farol, no escuro. Aí no outro dia eu voltei, me chamaram na delegacia, eu fui lá e prestei depoimento e saí. Fiquei esperando em liberdade. CORTA PARA CRISTIANO CASSIOLATO Não era nada escandaloso, nem uma quantidade absurda, - PROMOTOR mas era uma situação em que dava a entender, né, a interpretação era de que ele estava praticando o tráfico de drogas, não é? Aí ele foi condenado, e quando eu cheguei aqui, já havia esta setença sendo executada, ele já estava cumprindo pena. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Eu fui preso com tês gramas de maconha, paguei seis anos hediondo, tive que tirar três e tanto na tranca. Aqui na cidade teve um cara que caiu com meio quilo e saiu, por que, só por causa do dinheiro? Eles falam que a justiça é cega, a balança não funciona, né, pros dois lados. Funciona só pro lado do pobre. Eu confirmei, é minha mesmo, não sei o que mais, eu poderia ter negado na hora. Aí eu falei, não, já que se eu for preso, ela cuida da menina direito. Até então, nós era casado, mas como ela me entregou, aí depois que eu caí atrás das grades, eu falei eu não quero saber dessa mulher nem pintada de ouro. Sua própria mulher te denunciar pra polícia. FADE PARA TÍTULO – A PRIMEIRA FUGA, SOB TRILHA SONORA FADE PARA IMAGEM DE ANÍSIO NO ALTO DA SERRA DA TORMENTA, SOB TRILHA SONORA CORTA PARA ANISIO PIU PIU EM OFF, Eu sempre tentei levar da melhor forma possível, só que os SOB IMAGENS DIVERSAS primeiros dias é terível, você acorda, vê aquela grade na tua DO PERSONAGEM frente. E eu sempre gostei de andar muito. Sempre pensei comigo, a pior coisa que aconteceria comigo, 25 ANISIO PIU PIU OLIVEIRA – POLICIAL QUE ESTAVA DE PLANTÃO DURANTE A FUGA ANISIO PIU PIU era eu ficar na cadeira de rodas. Mas, na minha vida, eu sempre tive assim uma visão lá na frente, eu sabia que eu passar por isso tudo. Assim, eu vi uma mancha preta nesse tempo, sempre eu sonhava, acordava assim, eu via aquela mancha. Nesse tempo meu, eu já sabia que eu ia passar por alguma coisa, então lá na cadeia mesmo eu lembrava, eu já sabia que eu ia passar por isso. FADE PARA A primeira tava eu, o Ailton, mais uns dois caras de fora, aí eu fiço, fui programando o guarda. Fiquei seguindo o guarda vários meses, 78 dias, se me lembro. Aí fui seguindo a guarda, entrava um saía outro, fui marcando. Aí todo mês trocava os guardas, quatro guardas, três guardas. Aí a gente sabia o horário que ia entrar e que ia sair. Aí a gente fez o projeto lá de sair da cadeia, você entendeu? Tem que fazer tudo certinho pra não dar errado. Mas anotado assim? Tudo anotadinho. Um ficava vigiando na porta o guarda, outro ficava cavucando, outro ficava jogando a terra fora. Um ficou de arrumar as ferramentas, nós teve que quebrar um som lá pra pegar uma chave de fenda. Colocamos a vassoura lá pra dentro, nós quebramos ela pra ajudar a cavar né. Colher, garfo, tudo isso serviu de ajuda. Em dois ou três dias o buraco tava pronto. Aí nós colocamos uma mulher pelada lá, o guarda mesmo, um tal de Amaraci queria a mulher. Eu falei de jeito nenhum, minha vida tá nessa mulher aí. E lá atrás tava o buraco. Aí no dia de domingo, eu peguei uns comprimidos de calmante que nós juntou durante a semana, cada um tomava um. Nós fomos juntando, chegamos a dezessete comprimidos e meio. Aí nós demos pro guarda beber, ô toma um cafezinho, ele falou, não, eu já tomei, eu falei, não, toma. Ele falou, hum, mas que café “amargoso”. Eu falei, não, tem um biscoitinho de manga aqui pra você tirar o gosto. Assim que ele tomou os comprimidos, um minuto ou dois, o pescoço dele caiu. CORTA PARA Se não me engano, era um dia de domingo, e eu entrei pra trabalhar normalmente às seis da tarde. E, por um motivo ou outro, o Anísio tava preso. Ele e mais alguns, que eu não me recordo quantos. Em determinado momento, o senhor Anísio me ofereceu um gole de café. Como assim uma pessoa do interior de Minas, muito afetiva, aceitei e me recordo que sentei na guarita pra observar, depois sumiu... CORTA PARA Aí eu joguei lá na cadeia, não tinha nem uma pedrinha, que nós tinha dado descarga em tudo né, só tinha um tijolão grandão, como é que eu ia jogar um tijolo lá, como que eu ia 26 OLIVEIRA – POLICIAL QUE ESTAVA DE PLANTÃO DURANTE A FUGA ANISIO PIU PIU DONA ALVINA - MÃE explicar um tijolo grande. Eu punha debaixo do colchão. Aí eu joguei dois prestobarba novinho, daqueles azuis da Gilette. Aí eu falei, ah, tá dormindo mesmo. Aí eu peguei e pedi o cara, ó, pode arrancar a casca né, que a gente deixava a casquinha, o reboco. Nós furou com uma caneta, faz um barulhão, faz POF. O reboco dá aquele estalo. Aí o rapaz ajudou eu a descer, desci pro pátio, saí e fui embora. Foi só você? Só eu, combinei com ele de sair só eu. Mas eles ajudaram? Ajudaram. Aí passou nem meia hora o homem falou, ah, eu vou também. Aí passou pouco tempo ele foi preso de novo. Eu não, eu vazei. CORTA PARA No dia da fuga, teve um culto evangélico, que geralmente os evangélicos, eles fazem algum... algum barulho, tentando uma conexão com o criador. E, nesse barulho, os presos aproveitaram. Começaram a furar parede, depois finalizando com a minha distração. Mas só sei que eu tive um sono profundo, eu acordei com um preso, que não me recordo, era albergado, dormia lá à noite, me acordando e me falando que tinha havido uma fuga lá na cadeia. Quando eu olhei, meio sonolento, percebi que havia mesmo um buraco na parede, e alguém tinha foragido mesmo da cadeia. Aí me dei conta assim, parcialmente, nos meus poucos sentidos que me restavam. Aí consegui ligar no quartel do Carmo e acionar a viatura de plantão. CORTA PARA Ah, passei por aqui tudo, em dois três dias, tinha dia que tinha cinquenta pessoas caçando eu aqui. Polícia de Alfenas, de Passos, eu saí em todo quanto é jornal, Folha da Manhã, Folha da Tarde, Folha de não sei que mais. Foi o maior comentário, Piu Piu fugiu. Mas nessa época, ainda, você não era o Piu Piu? Não, na primeira não, Anísio fugiu. CORTA PARA Aí quando ele fugia, porque ele fugiu acho que cinco vezes ou mais, aí eu ficava agoniada. Nossa, quantos terços eu não rezei de joelho falando assim, meu Deus, onde que o Anísio está, protege ele pra mim. Teve dia dele sair daqui duas horas, duas e meia da madrugada, quando ele tava fugido. Ele chegava pelo fundo, sabe, sujava tudo de barro, que ali não tinha esgotamento direito ainda, era tudo sujo ali. Não é como agora. Eu tinha uma dó daquilo, aí eu não dormia o resto da noite, ficava imaginando, aonde será que o safado está? CORTA PARA 27 ANISIO PIU PIU ANÍSIO PIU PIU DONA INÊS - TIA SIMONE - PRIMA ANISIO PIU PIU EM OFF – Meu esconderijo ficava nesse ponto aqui, até tem um resto de bloco aqui, ó, tinha uma pilha de blocos, mais ou menos uns mil blocos. ‘ Aí aqui assim, eu colocava três blocos assim, e mais três e mais três, nove. Aí aonde eu entrava e ficava debaixo do... lá dentro dos blocos. Eu colocava uma placa, uma placa dessa por cima, e depois colocava os blocos pra disfarçar por cima, pros blocos não caírem na minha cabeça. E quantas vezes a polícia bateu aqui? Umas três, quatro vezes. E eles nunca me acharam. Até um dia passou um policial e debruçou assim em cima dos blocos, será onde esse vagabundo tá? Eu tava bem do lado dele. E que que você teve vontade de fazer na hora? Na hora? Ficar quietinho. Tinha uma galinha ali dentro do meu ninho, eu tive que enforcar ela. Matou a galinha? Não. Só na hora só. Por que eles batiam aqui? Por causa da minha tia que mora aqui né. Primeiro lugar que eles vinham, ah, ele deve tá lá no Dito Paulino. Aí um dia o Tião Tatu falou, o Piu não tá por aí não, você não pode ficar recebendo ele aí não, porque é crime né, não sei o que mais. Ele falou, não, aqui em casa em recebo quem eu quiser, e ele ainda tá em lugar de meu sobrinho, pode vir a hora que ele quiser, por que vocês deixam ele escapulir lá? CORTA PARA Eu sei que em pouco tempo, aí eu fiquei andando por aí, vendendo cd, corrente de ouro, essas coisas. Aí eles me pegaram lá no meu tio lá em baixo. Aí eu voltei pra cadeia de novo. CORTA PARA Os cachorros latiram, latiram. Eu fui e falei assim, uai, mas que diacho é esse, não vai sair ninguém lá fora não, e abri a porta. Tava um frio, acho que era mês de junho ou julho, uma data assim. Sei que tava frio. Eles falou assim, o Anísio tá aí? Eu falei não, não tá. Aí eles saíram, e falei pode olhar até debaixo das camas se vocês quiserem. E ele olhou, o homem. CORTA PARA E o Anísio foi pra porta da cozinha pra cascar no mato, porque ele tinha o costume de fazer isso né. Só que aí, na porta da cozinha, já tinha dois esperando ele. Aí eles prenderam ele, algemaram. Só que não deu nenhum problema pro meu pai, porque aí o Dito Sargento mesmo falou assim, não, não vamos pôr o nome do seu Benedito nisso não, porque meu pai é uma pessoa muito honesta. Foi assim, até minha vó tava lá, minha vó ficou chorando, que é a vó dele também. FADE PARA É, eu tava de carro lá no Mandembo, o tenente tava 28 SOB IMAGENS DELE ANDANDO PELO SÍTIO ONDE FICAVA ESCONDIDO – EFEITO FILME ANTIGO TÍTULO – A SEGUNDA FUGA SOB TRILHA SONORA PAN – PAISAGEM DE CARMO DO RIO CLARO SOB TRILHA SONORA ANISIO PIU PIU EM OFF – SOB IMAGENS DIVERSAS ANISIO PIU PIU trabalhando lá no Itajaó. Aí eu pensei que ele já tinha descido, subi de carro, aí ele viu né, o carro. E falou, esse carro aqui é do Anísio. Aí eu tava com umas fitas dentro do carro, fita de vídeo. Aí eu saí correndo na hora que eu vi ele, pulei a cerca assim, lá no Jeromo Lopes. Saí pra uma roça milho, aí ele viu, esse carro é do Piu. Aí ele ligou aqui no Carmo, aí eles foi todo num carro disfarçado, aí chegou lá na minha tia. A hora que eu vi, aquele monte de homem, eles tavam de short azul, jogando bola, sei lá. Aí chegou, pegou eu de surpresa lá na minha tia. FADE PARA FADE PARA CORTA PARA Eu lembro que eu fui lá no Fórum conversar com a juíza, pra ver se eu saía, aí ela falou assim, ah, mas você fugiu. Eu falei, escreve aí que eu vou fugir de novo. Aí passou 78 dias e eu fugi de novo. CORTA PARA Quinze dias antes, eu tinha brigado com o promotor, é o mesmo de hoje, Cristiano Cassiolato. Aí eu falei pra ele que tava fazendo uma greve de fome, deixei uma pilha de marmita lá. Aí, pra mim emagrecer em torno de uns dez quilos pra mim passar no vitrô. Tinha um cara que bebia muito lá na minha cela, ele saía de dia e chegava com um frango e uma garrafa de pinga, não como que ele entrava com isso lá. Aí eu falei pro Luís Tonho que trabalhava lá na época, ô, dá pra tirar esse cara daqui, que eles tá brigando. Então, eles tá brigando, vamos tirar ele daqui que eu não vou ficar separando briga não. Isso, eu tava interessado na cama dele, que dava certinho pra mim fugir pra sala do delegado. E já tava tudo programado, você vai ter que fugir daqui. Aí eu tirei o cara de lá né, dei mais uns troquinhos pra eles. Ele falou, não, nós briga aqui, nós programamos dele brigar dentro da cela. Começaram a brigar, eu chamei o carcereiro lá, jogaram ele pra outra cela, e eu fiquei com a cama que eu precisava para fugir. Eu lembro que tinha quebrado o som lá no dia, uns dois dias antes. Aí eu tinha que pedir ali pras quatro horas, cinco horas da tarde, nesse tempo ele esquecia e não pedia a chave de fenda de volta. Aí no outro dia eu ia usar ela pra fazer o buraco. Coloquei um cabo de vassoura já mais fácil de quebrar, porque ficando assim ele raspa o tijolo bem fácil. Colher, garfo também, eles não gostavam de deixar garfo, eu sempre mantinha um garfo lá. 29 Na sexta-feira, eu fiquei escutando lá na parede pra ver se o Clesinho ia trancar a porta. Ele não trancou, eu falei, pessoal, tá beleza, vai ser dessa vez mesmo. Aí quando foi no sábado o delegado não foi lá, de vez em quando ele era muito trabalhador, tinha o costume de ir lá. Não foi, eu falei, vamos torcer pra ele não vir aqui no domingo. Aí pegou, nem passou lá cedo, foi viajar. Ele ia muito pra Alterosa. Aí eu falei, pessoal, já era, vai dar tudo certinho. Aí minha mãe chegou, eu falei, ó, vai embora que eu vou começar a fugir agora. Ela, pelo amor Deus, não faz isso, eu falei assim, mãe, vai embora. Aí ela falou pro guarda, ah, vou embora, não tô sentindo muito bem. Aí eu comecei né, comecei a cavar. Eu dei tanta sorte que tinha um cabo Carumelo, ele tinha ido no baile. Aí ele chegou meio baleado, aí ele olhava no som, tocando a musiquinha, e eu bem lá fazendo o buraco, olhando no guarda e fazendo o buraco. Uma hora quase que ele me viu com a mão suja de... da poeira, né, do tijolo. Eu cavava lá uns dois, três litros, dava descarga na terra, e colocava o tijolo debaixo do colchão. Passando pelo buraco, eu falei pro rapaz, eu vou lá dar uma olhada, se tiver tudo beleza, se não tiver, a casa caiu. Vou ter que ligar pro delegado, e nós vai ter que tomar um cacete aqui dentro. Então, eu passei pela sala do delegado, depois a abri a porta, fui pra sala do Clesinho, que é o escrivão, e fui tentar passar no vidro. Na hora, deu um estrondo no vidro, aí o Valtudi, nossa, jogaram pedra lá. Aí eu fiquei escondido um segundo, aí ele falou, não, não é nada não, é menino de rua. Já tinha combinado com os outros, ó, joga uma pedra aí, pra passar susto nele. Aí a hora que eu caí lá embaixo, do vidro sô, tomei um taio nas costas. Falei, a blusa até esgatalhou lá, que não cabia. Falei, deixa a blusa, no meio do caminho, passei frio até três horas e meia da manhã. FADE PARA TÍTULO – O BILHETE FADE PARA ANÍSIO PIU PIU Aí fui saindo assim, e falei, mas ele vai sentir muita saudade de mim, eu vou tentar deixar um bilhetinho pra ele. Aí falei lá “Sanhaço Piu Piu, Anísio Fugiu”. Porque ele chegava e já dava de cara com o bilhete né. CORTE PARA MARCOS TADEU – ATUAL E o que o pessoal conta, é que ele teria feito um buraco, que DELEGADO nessa parede aqui antes era uma cela, do outro lado aqui era uma cela. E a parede era fraquíssima. Não é mais? Não, aqui agora, atrás aqui, funciona o setor de trânsito. A cadeia foi toda reformada, a cadeia foi demolida, hoje é uma 30 CRISTIANO CASSIOLATO - PROMOTOR ANA - IRMÃ ANTONIO TOMÉ - AMIGO LUCAS – EXCOMPANHEIRO DE CELA JEAN – EX-DETETIVE CRISTIANO CASSIOLATO – PROMOTOR MARCOS TADEU – ATUAL DELEGADO ANÍSIO PIU PIU outra cadeia. As instalações da época do Anísio, hoje não tem mais nada, tá, foi tudo reconstruído. Então, como ela era muito frágil, ele fez um buraco nessa parede, veio pra sala do delegado, e daqui ele fugiu por uma janela que tinha, um vitrô, também já mudou tudo, não tem mais nada como era nessa época. CORTA PARA Existe aquela em que ele deixa o recado, né, onde teria havido esse recado, em que ele estaria fugindo, dizendo Piu Piu, o Anísio Fugiu. CORTA PARA Piu Piu, o Anísio Fugiu, uma coisa assim? Eu não lembro muito bem. CORTA PARA Piu Piu, o Anísio Fugiu, né? CORTA PARA Sanhaço Piu Piu, o Anísio fugiu, que era o doutor Clóvis. CORTA PARA A história que todo mundo fala, que ele deixou um bilhete, isso eu não sei te falar se foi verdade ou não, mas que na cidade inteira ficou conhecido né. Que ele deixou o bilhete Piu Piu, o Anísio fugiu pro antigo delegado que trabalhava aqui na época, o doutor Clóvis. CORTA PARA Eu não vi esse bilhete, esse bilhete é uma lenda. Seria interessante questionar isso junto a direção da cadeia pra saber se ele existe ou não. CORTA PARA O pessoal conta, o pessoal conta que ele deixou, teria escrito, Sanhaço Piu Piu, Anísio fugiu. O pessoal conta isso. Agora se isso realmente aconteceu, só duas pessoas que podem falar, seria no caso o próprio Anísio e o doutor Clóvis, que era o delegado aqui na época disso. Cujo apelido era Sanhaço? Isso. CORTA PARA Eu vou explicar melhor, todo mundo fala a mesma coisa, que eu deixei o bilhete, eu não deixei o bilhete. Então, um vai falando e falando, então onde há a fumaça há fogo, como o povo diz, mas eu mesmo não deixei. Algum preso deixou, Piu Piu fugiu, põe lá, Sanhaço Piu Piu, Anísio fugiu. Então todos os presos estavam com essa mente, eu não, eu sempre tirando meu corpo fora, que eu não gosto de mal feito. O dia que eu fugi lá, tinha uma arma lá, tinha uma caixa de bala, não mexi em nada, a minha intenção era fugir dali. Sempre tem algum preso que não gosta um do outro, sabe, aqueles presos ti-ti-ti, preso vagabundinho, não é preso mesmo. Aí eles pegou, ah, vamos ferrar mais o Piu, não sei o que mais, e deixaram esse bilhete. Eu nunca vi esse bilhete, 31 nem voltei lá pra ver. ANA – IRMÃ ANÍSIO PIU PIU ANÍSIO PIU PIU ANISIO PIU PIU EM OFF SOB PAISAGENS CORTA PARA Uai, nunca ouvi falar, mas ele mesmo afirma que deixou esse bilhete uai. Ou não deixou esse bilhete? Agora eu é que fiquei curiosa. FADE PARA Eu comentei mas não deixei. Mas você comentou e falou a frase? Isso! Vou deixar um bilhete delegado Piu Piu, o Anísio fugiu. Como todo mundo sabia o nome do Clóvis lá né, o nome dele era Sanhaço, apelido né. Porque lá, se chegasse lá, e falasse Sanhaço, ele brigava na hora. Um dia, o cara passou na rua e gritou, ô Sanhaço. Sanhaço é a sua mãe sô, bravo sabe, não aceitava ninguém chamar ele de apelido. Até hoje ele briga com qualquer um que chama ele desse nome. CORTA PARA Sempre o Piu esteve junto do Sanhaço. Aí, ó, tá voando pertinho de mim. FADE PARA Eu fui pra Barrinha, perto de Sertãozinho, abri uma locadora de vídeo no nome da minha prima. Piu, mas isso não vai dar rolo não? Não, abre a locadora aí, se eu for embora, você fica com a locadora pra você. Aí eu vinha pro Carmo toda quinzena, toda semana, tirava dinheiro de lá, alugava 200, 300 fitas por semana. Eles foram num casamento lá, passou na rua, aí eu olhei de longe. Eles falaram, nossa, ali o Piu gente. O Piu tá aqui, já era Piu, né, na segunda fuga. Conversei com eles, eles falou, não, pode ficar sossegado que eu não vou contar nada. Eu como o pessoal do Carmo inteiro gosta muito de você, ninguém vai te entregar pra polícia. Aí passou pouco tempo, eu vim embora também. FADE PARA TÍTULO – A PRISÃO NO CARNAVAL FADE PARA ANISIO PIU PIU Sempre eu entrava pelo fundo, porque o Luis Tonho morava bem de frente à minha casa. Quem é o Luis Tonho? Luis Tonho era o que tomava conta da delegacia, tipo o manda-chuva lá quando o delegado não tava. Ele que abria a cela, fechava. Aí ele morava em frente à minha casa, eu entrei pelo fundo. E na hora lá eu pulei carnaval na sexta, no sábado, no domingo. Aí no domingo eu tava andando lá em frente à minha casa, cumprimentando o povo, e ele de longe vendo. E eu percebi que ele tinha visto. Aí eu coloquei uma camiseta de bandido, toda riscada de 32 branco e preto, uma máscara preta, uma peruca. CORTA PARA JEAN – EX-DETETIVE Tava no meu dia de folga, o carnaval aqui é na rua, à noite, carnaval de rua. Aí tava no meu dia de folga, tava lá com a minha esposa, parado na rua conversando, tava conversando com a minha mãe, tava o meu tio, a minha tia conversando, uma turminha. Aí passou uma pessoa atrás, com uma camisa listrada, com uma peruca, um lenço no rosto, e o rosto em cima tudo de preto, tudo preto né. Só que o que me chamou a atenção foi a voz né, reconheci pela voz, passou nas minhas costas e cumprimentou, parou pra conversar com uma turminha do lado. Pela voz, eu falei, uai, tá parecendo o Anísio, né. Aí eu saí, deixei a minha esposa assim, já virei e abracei o rapaz. Que eu peguei e abracei ele, falei, Anísio? Aí eu puxei o pano do rosto dele, que eu reconheci ele né. CORTA PARA ANISIO PIU PIU Então, eu tava passando com duas moças, passeando, duas ou três. É, no carnaval. Quando ver, chega o Jean atrás de mim, me dá um cutucão aqui assim. Piu, é você né? Sou, é o Piu mesmo. Aí, quando ver, eu passei com dois soldados de braços dados, essa foi boa. CORTA PARA JEAN – EX-DETETIVE Até foi um fato que tinha uma Sargenta, que era de Passos, ela tava de serviço lá, não conhecia, era de fora, tava só pra dar apoio. Aí eu falei, esse rapaz é foragido da justiça, da cadeia. Aí ela olhou pra mim e começou a rir, né. CORTA PARA MARCOS TADEU – ATUAL Aí ela começou a rir, o policial pegou e mostrou a arma, pô, DELEGADO eu sou policial, tá aqui a minha arma, o cara tá preso, esse cara é foragido, eu não tô brincando. Aí ela assustou com o negócio e chamou o reforço, pra poder prender o Anísio, o Anísio já tava preso. Aí o Anísio foi mais uma vez preso. CORTA PARA ANISIO PIU PIU Como que é no Brasil, funciona assim, você é pobre, você rala lá e fica. E um rico não, eles dão um jeito, tem caso aí na cidade mesmo, pessoa cheia da grana sai rapidinho mesmo. É, gasta com advogado, dá os pulos deles lá em cima. Aí eu ficava brincando com o promotor, ó, essa cela aqui é de rico e essa nossa aqui é de pobre. De pobre é o que fica preso e não sai, você entendeu? Aí eu comecei a discutir com o promotor um dia lá, xinguei ele lá. Aí ele pegou, vou te mandar pra Unaí, falei assim, demorou, anota aí, pode mandar, tô nem aí não. FADE PARA TÍTULO – A TERCEIRA E 33 ÚLTIMA FUGA ANISIO PIU PIU DONA ALVINA – MÃE ANÍSIO PIU PIU LUCAS – EXCOMPANHEIRO DE CELA FADE PARA Ah, no dia lá, eu até fiquei com medo. Mas chegou lá, era de boa. Lá é muito melhor que aqui, lá eu trabalhava na roça, hora dessa, eu tava lá na roça sossegado. À noite eu ia pra escola, eu só voltava mesmo bem noitezinha pra cadeia lá. Lá é muito bom, em termo de cadeia, né. Lá é, tipo assim, você tá comendo filé, porque aqui é osso, fechado dia e noite. CORTA PARA Foi muito triste, porque durante o tempo que ele tava lá em Unaí, eu não vi ele. Quanto você ficou sem ver ele? Acho que foi mais de ano e meio, por aí, não marquei muito bem não, eu já esqueci, mas deve de ser. E até lá ele conseguiu fugir né, você vê que ele é esperto né. CORTA PARA Então, eu já peguei uma camisa branca por baixo da roupa azul. Na hora lá, ele desconfiou, fez eu tirar, aí eu falei, não, mas o tênis eu ganhei, tinha ganhado um tênis duma amiga minha aqui, da Jacqueline. Onde é que você tava? Eu tava saindo, era sete e pouco, oito horas. Você tava saindo de onde? Tava saindo pra ir trabalhar, na plantação de maracujá eu cuidar de porcos que tinham lá. Sete horas da manhã? Sete horas da manha. Tá. Conta mais. Aí eu deixei lá na cela, um dois três, Piu Piu fugiu outra vez. Aí ainda dei um cinquinho pro cara, ó, onze horas você vai lá e abre a minha cela, que aí dez e pouco eu já tava longe. O guarda tava lá uai, ele ficava assim, igual estamos nós assim. Ele vigiava dez, quinze, trabalhando... Mas ele não te parou não? Nada, eu vou disfarçando assim, tipo assim, você vai no banheirinho ali, e vaza. Saí andando, caminhando, já tava de tênis novo Primeira fazenda que eu tinha, eu lembro que eu tinha uns vinte reais, trinta reais, que eu levei né. Que não podia sair com mais de trinta reais, e lá tinha uma roupa nova, passei num sitiozinho lá, tinha uma calça nova e uma calça tudo suja de picão. Eu falei pro cara, vou catar logo a mais velha do cara, que ele não vai ficar tão sentido né. E peguei, ainda coloquei acho que quinze ou dez reais pra ele, pra ele comprar outra calça. Deixei no bolso da nova lá. CORTA PARA Aí ele contando que quando ele fugiu lá de Unaí né, que ele vestiu a roupa por baixo do uniforme, né, juntou um monte 34 de doce, que na penitenciária eles dão doce sabe, no almoço, assim de sobremesa. Juntou aquele monte de doce assim, e ganhou o pasto lá e sumiu, e veio pegando carona de lá até aqui. Poxa, novecentos quilometros, o cara tem que ser artista, né, véio. Baixar lá daquele fim de mundo lá, pelo amor de Deus, de carona, sem um real no bolso. CORTA PARA Eu liguei pra Baú, meu irmão, lá no açougue do meu irmão. Ele pegou e falou, Piu, ainda bem que você fugiu, porque o mundo vai acabar, explodiram uma bomba lá em Nova Iorque. Aí eu fiquei mais aliviado né, se eu morrer pelo menos eu tô livre. Fugi na hora certa. CORTA PARA Primeiro, abriu a porteira da entrada, aí o Toninho saiu na porta, é o Anísio, é o Anísio. Aí nós tudo até ficou alegre, coitado, porque nós tudo conhecia ele demais, né. Aí já recebemos ele lá, ele contou que tava fugitivo da polícia, e tava andando pros matos. E pra nós, tava mostrando a calça dele, molhada, desde madrugada andando né. Ele chegou e entrou pra dentro, nós conversou um pouco. Eu perguntei pra ele se ele tinha assistido à morte do pai dele, se ele foi no velório, ele disse que não pôde, não pôde ir. Aí sentado ali conversando mais um pouco, eu arrumei pra ele, a comida pra ele comer. Ele almoçou bem, já foi apanhando mais ânimo. E quando ele tirou o retrato da filhinha dele, que ele não podia ver a filhinha, aquilo pra mim eu achei ruim de mais né. Porque é doído uai, um pai quer ficar junto com a filhinha um pouco, ao menos né. E ele não, ele disse que carregava ela no bolso. E ali, ele ficou ali mais um pouco, tomou um café depois do almoço, saiu outra vez. FADE PARA ANÍSIO PIU PIU JOSÉ – AMIGO TÍTULO – A RECAPTURA ANÍSIO PIU PIU ÚLTIMA FADE PARA Lá eu tinha um esconderijo no meio do cafezal, né. Aí eu fui lá pro Mandembo, e me veio uma sensação, não lá não que eles vai te pegar. Eu falei, ah, se pegar foda-se, quem tá fudido mesmo. CORTA PARA ANTONIO TOMÉ – DONO Nós jogava truco aqui no Carmo, e o Zé Vicente, que é DA FAZENDA ONDE PIU soldado, um dia me perguntou se ele tava lá em casa. Aí eu ESTAVA ESCONDIDO fui e falei, tá, tá lá, porque não podia esconder né. Aí, ele foi e me perguntou como é que prendia ele. Uai, lá é tudo lavoura de café, junto lá da casa, se vocês não forem nem de carro de polícia, nem de soldado, que se ele ver, ele corre. Aí que que eles fez, pegou ele lá, prendeu ele lá na cozinha de casa. A gente tava até esquentando um almoço pra ele lá, 35 eles chegaram e pegaram ele. CORTA PARA ITAMAR – FILHO DE Tava lá conversando assim, ele tava lavando roupa né. ANTONIO TOMÉ Quando ver foi só aquela bomba, eu falei, uai, vortê! Que que é isso? CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Eu falei, ah, eles não tão me procurando mais. Já foram embora. Eu vi um carro descendo, e era mentira, era outro carro. Na hora que eu cheguei, rapaz, o Itamar quase morreu de susto, foi só sabe aqueles tiros de... como é que fala? Espoleta? Festim? De festim. Aí deu um monte de tiro e falou, deita aí Piu! Eu falei, ó, normal, normal. CORTA PARA ITAMAR – FILHO DE Eu falei pra eles, falei, uai, mas que falta de educação chegar ANTONIO TOMÉ metendo fogo na casa dos outros, né. Aí eles falou, você fica quieto, senão nós leva você também. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Aí eu fui ver, era cinco amigos meus que foram lá me prender. Tem um que até falou, Piu, tô com dó de levar você, mas é nossa obrigação. Eu falei, não, normal, normal, me dá o telefone aí que eu vou ligar pro advogado. FADE PARA TÍTULO – DE VOLTA À PRISÃO FADE PARA IMAGEM – PÔR DO SOL FADE PARA LUCAS – EX- Ele foragiu de Unaí, da penitenciária de Unaí. E parece que COMPANHEIRO DE CELA ficou no mundão aí, depois veio pra casa duns parentes dele na roça aqui, os homens foi e pegou ele. Aí chegou o Anísio lá, aí o delegado foi, colocou ele na mesma cela que eu tava. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Chegando lá, o delegado foi buscar eu lá na escada, lá no meio da rua. Piu, é verdade que você deixou um bilhete Sanhaço Piu Piu, Anísio fugiu? Não, doutor Marcos, não é bem assim. CORTA PARA LUCAS – EX- Doença? Nossa. O cara é dodoizinho de tudo, ele tomava uns COMPANHEIRO DE CELA três, quatro vidrinho de magnopyrol, novalgina, por semana. Por quê? Uai, dizia ele que era uma dor de cabeça que ele tem lá, que ninguém entendia. Banho também não gostava de tomar não, não gostava não, era o maior porquinho. Tomava de quanto em quanto tempo? Ah, tinha que tomar todo dia, nós pegava no pé dele e ele tomava todo dia. Mas era banho assim de dois, três minutos, nem secar o corpo ele secava. Ficava lá, cheirando cachorro molhado. Os caras ficavam doidos, querendo pegar ele lá. CORTA PARA 36 MARCOS TADEU – ATUAL Como preso, nunca deu trabalho pra gente, um cara DELEGADO tranquilo, na dele, sossegado. Um cara inteligente, eu viu assim, poxa, que que eu tenho de fazer, eu tenho que pagar, eu tenho que cumprir a pena que me foi imposta pelo Estado, e depois beleza. CORTA PARA LUCAS – EX- Ele dava muita mancada, então, ontem mesmo eu tava COMPANHEIRO DE CELA falando pro meu pai e pra minha mãe aqui, sabe. Dava uns vacilinhos besta assim, só que cadeia é foda né, os caras logo já quer cobrar. Então, muitas vezes ele passou batido lá, mas, porque a gente sabia o jeito dele também. O cara era humildão, é humilde, você entendeu, então ninguém fazia nada. Mas sempre tava lá, puxando a orelha sabe. Como assim? Tipo assim, na hora da alimentação, a gente tava alimentando, ele já entrava no banheiro e ia fazer umas coisas e tal. CORTA PARA MARCOS TADEU – ATUAL Porque se a gente for analisar, boa parte da vida dele, ou ele DELEGADO estava preso ou estava fugindo. São duas condições péssimas, aquela tensão de, poxa vida, a qualquer momento eu posso ser preso ou estou preso. Intimamente e psicologicamente, ele estava preso, porque ele tava fugindo, mas tava fugindo preocupado. Na hora que ele falou assim, não, agora eu vou cumprir a minha pena, ele terminou de cumprir a pena dele aqui em Carmo do Rio Claro, foi pra rua, e agora eu vou correr atrás do prejuízo. E correu atrás do prejuízo. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Aí todo dia eu ficava lá, doutor Marcos Tadeu, prende outro e solta eu! Toda hora eu chamava um tal de Edinho lá. Edinho, vem aqui! Leva o bilhetinho lá pro doutor Marcos. Doutor Marcos Tadeu, prende outro e solta eu. Todo dia. Aí um dia ele encheu o saco, sai Piu! Eu falei, nossa, não acredito. Aí você foi pra onde? Saí pra trabalhar, trabalhei na APAE. Aí, olha pra você ver a responsabilidade, há um dia atrás eu era presidiário, no outro dia tomando conta dos meninos da APAE. FADE PARA TÍTULO – A ELETROPIU FADE PARA ANA – IRMÃ Nesses anos que ele ficava preso, fugia, preso, fugia, ele, sei lá, ficou mais atrapalhado da cabeça e ficou muito agressivo. Então, ele, qualquer coisa mandava minha mãe calar a boca, falava uns palavrões meio assim, aí você tinha que apelar com ele. Aí, uns dois anos atrás, ele começou a falar algumas coisas de mim aí na rua, falar da minha vida pessoal e aumentou algumas coisinhas. Eu fiquei muito furiosa, peguei e queria 37 dar uns tapas da orelha dele, só que ele fugiu porque ele é muito bundão. Aí. logo depois, ele alugou esse cômodo lá em cima e começou a vender os móveis usados, fazer esses rolos. FADE PARA IMAGENS DE ANÍSIO PIU PIU ABRINDO A ELETROPIU, SOB TRILHA SONORA ANÍSIO PIU PIU FADE PARA Aí no primeiro dia que eu cheguei aqui, chegou um moço e me vendeu quatro móveis, um tal de Quinzé. Aí eu comprei dele, falei, ó, só posso te pagar daqui a quarenta dias, tô acabando de sair da cadeia, sem dinheiro. Como ele já me conhecia, amigo há muito tempo, ele falou, tá bom. Aí eu montei a Eletropiu aqui, ó, nessa casa antiga, cinco cômodos. FADE PARA REPORTAGEM EXIBIDA LOCUÇÃO: De Palm Tops a vitrolas, passando por móveis, PELA TV ONDA SUL animais e eletroeletrônicos. Aqui, se vende e se compra de tudo. Com uma variedade de produtos de botar inveja nas melhores lojas de departamentos, o show-room da Eletropiu chama a atenção pela disposição das mercadorias, cuidadosamente amontoadas. Este comércio informal foi a maneira que Anísio Marques, o Piu Piu, encontrou para ganhar a vida. O gosto pelo comércio é herança de família. ANÍSIO PIU PIU: Desde da minha mãe e do meu pai né, porque meu pai sempre tinha venda. E eu sempre gostei de pegar dinheiro, toda hora, ter dinheiro na mão. FADE PARA CENAS DE ANÍSIO PIU PIU ANÍSIO PIU PIU: Ô, depois das filmagens, eles tentaram TRABALHANDO NA arrombar aqui, ó. Larguei a janela aberta. Aqui Bruno. Aqui ELETROPIU ó. Eles vieram aqui tentar arrombar, pularam a janela, tentaram abrir aqui, ó. Ah, não, tá aqui, eu pensei que tinha sumido. Esse aqui é de ouro. Quanto é que vale tudo isso que você tem aí? Ah, já tive quinze mil. COMPRADOR: Quero um chiqueirinho. ANÍSIO: Só pra semana. COMPRADOR: Não, é pra abril ainda, do ano que vem. Mas eu queria comprar agora, sabe. E se aparecer um bercinho mais novo aí. ANÍSIO: Deixa eu anotar ali, que hoje eu tô... COMPRADOR: Com a agenda lotada? COMPRADOR: Agora se aparecer um berço novo também, eu quero comprar um berço novo. Aí, se aparecer um bão aí você me fala. ANÍSIO: Aí, ó, Bruno, o menino nem nasceu o berço com o chiqueirinho. 38 MARCOS TADEU – ATUAL DELEGADO LUCAS – EXCOMPANHEIRO DE CELA ANÍSIO PIU PIU CRISTIANO CASSIOLATO - PROMOTOR MARCOS TADEU DELEGADO – Por quanto você vai vender pra ele? ANÍSIO: Bem caro, ele tem muito dinheiro. Pela cara do cliente é o meu preço. CORTA PARA É um bom exemplo pra quem tá preso, é um bom exemplo pra sociedade, que demonstra duas coisas. Para o que está preso, para o que está preso, o Anísio demonstrou o seguinte, se eu consegui, você também consegue. Para a sociedade, é um camarada que a vida, de repente, se transformou num limão, e ele foi lá e fez uma limonada e começou a vender essa limonada. CORTA PARA Sinceramente, que pro crime, o Anísio não volta mais não. Não volta não e ponho a mão no fogo. Eu ponho. Porque ele não aguenta não. Olha pra você ver, ele tá tocando a vida dele, né, porque eu não posso também. Perdi sete anos da minha vida, por besteira, sabe. Então hoje eu tô aí, tenho um emprego, tô comprando minhas coisinhas, comprei minha motinha, tô noivo, certo, e é isso aí, é bola pra frente. Eu também não quero mais o crime. E ele é, com certeza, um exemplo não só pra mim, mas pra muita gente, viu. Tá achando que o negócio é brincadeira, mas enquanto a pessoa não sente na pele, não vê, né. CORTA PARA A coisa que mais dá lucro pra mim é cachorro, assim, cachorrinho. Um dia, eu peguei e vendi um cachorrinho assim, pintadinho, por 160 reais. Eu vendi um por 400, pouco tempo atrás. Essa cachorra é sua, né? Essa é! E ela pariu e vai dar pra você tirar quanto dinheiro? Quase dois mil, mil e pouco. Todos os cachorros eu vendi, menos essa. Essa eu não vendo por preço nenhum. Uma juíza, lá de Itajubá, me dava mil reais nela. Eu falei assim, eu vendo eu, mas a cachorra fica. CORTA PARA Infelizmente, o Estado, o Estado quando eu me refiro ao próprio Estado brasileiro mesmo, ele não tem dedicado a atenção que deveria dedicar na recuperação dessas pessoas que cometem crimes. As pessoas são presas, permanecem encarceradas, mas não há um trabalho de recuperação, um trabalho de resgate social dessas pessoas. De modo que, muitas vezes, quando elas saem às ruas, elas voltam pra quê? Pra atividade que elas sabem fazer, que é cometer crime. CORTA PARA Infelizmente, como é o nosso sistema prisional brasileiro, é um em dez que consegue dar a volta por cima, é um em dez que consegue fazer o que o Anísio fez. 39 Ele deu a volta por cima, é uma pessoa querida na cidade, é uma pessoa folclórica até aqui em Carmo do Rio Claro, né. Por quê? Por que ele é um cara violento, é um bandidão? Não, é um cara inteligente, bem humorado. E hoje tá aí com o comércio dele. FADE PARA IMAGEM DO MURO COM PROPAGADANDA DA ELETROPIU FADE PARA TÍTULO: E O BILHETE? FADE PARA ANÍSIO PIU PIU Mas você planejou também que ia deixar esse recado pro delegado? Como é que foi isso? Não, isso aí é uma invenção dos outros presos. Nunca pensei nisso. É que saiu na rua, sabe aqueles caras de bar que fica aumentado as coisas, ah, o Piu Piu fugiu e deixou um bilhete pro delegado. Aí cada um foi aumentando um pouco. CORTA PARA CARLINHOS – AMIGO Ele saiu da cela, entrou na sala do delegado, e deixou um bilhete lá. Doutor Sanhaço Piu Piu, o Anísio fugiu. Isso ele contou pra você? Contou pra mim, o povo tudo contou. Na época que ele fugiu, na cidade, foi o comentário direto. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Pelo pessoal da cidade, foi escrito. Por mim, não! Eu quero que alguém chegue e mostre com a minha letra que esse bilhete tá lá. Se alguma autoridade tem, me mostre, porque eu não conheço. CORTA PARA ANA - IRMÃ Ele acha graça até hoje, né. Ele enche a boca pra falar assim, é o Piu. Até quando ele atende o celular, ele enche a boca pra falar, é o Piu que tá falando. Eu, sinceramente, não acho graça nenhuma nisso, sabe. Mas ele acha engraçado a história dele, né. Ter passado a perna no delegado, nos detetives... Bobo, né. Fazer o quê! Mas tá aí, né. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Mas todo mundo acredita que ele foi escrito? Todo mundo acredita, mas esse bilhete não existe. Foi escrito por você? É, ele não existe. Eu conheço a minha letra, pode mostrar, não tem esse bilhete. Mas, que que você acha disso, de todo mundo acreditar, todo mundo achar que esse bilhete foi escrito, dessa história? Ah, interessante, acho engraçado, uma comédia. CORTA PARA CARLINHOS - AMIGO Você acreditaria se alguém te falasse que a história do bilhete nunca existiu, foi história que ele contou também? Não, não, nesse ponto não. Porque na época ele nem tava aqui, ele tava fugido, eu não acompanhava ele. E gente de 40 dentro da delegacia, gente aqui na cidade, todo mundo falou, e isso, bem dizer, foi comprovado, essas coisas. Isso não é história demais, não, ele fala, mas esse não foi ele que me falou a primeira vez, certo. Quando ele fugiu, ele tava fugido, e o comentário na cidade era esse, de gente de dentro da delegacia. CORTA PARA ANÍSIO PIU PIU Essa história do bilhete mudou a sua vida? Bastante. Se você tivesse fugido, e não tivesse... O bilhete? Não tinha nada disso... Não tinha nada do quê? Não tinha ficado tão famoso com esse bilhete. CORTA PARA LUCAS – EX- Uai, ele falava, que o doutor Clóvis ficava mexendo com ele, COMPANHEIRO DE CELA sabe, porque prendeu ele e tal. Aí ele falou, parece que ele avisou pro doutor e, falou pra ele assim, que ia fugir, pela sala dele. Só que quem dá alguma coisa pro Anísio? Você olha aquele hominho, lá, Nossa Senhora da Aparecida! Aí, diz que ele cavou, cavou lá a parede com a colher e tal, e saiu na sala do homem. E parece que pegou até o papel lá em cima da mesa dele mesmo. Aí foi e escreveu, Sanhaço Piu Piu, o Anísio Fugiu. E montou no porco! Isso ele contou pra você? Isso foi ele que contou. Aí diz que o delegado não pode nem olhar nele. Pode nem ver ele. FADE PARA FABRICIO MENICUCCI – Oi, bom dia. Esse telefone é do doutor Clóvis? Eu poderia PRODUTOR falar com ele, por favor? LIGANDO PARA O EX- Oi, bom dia doutor Clóvis, é Fabricio que tá falando. O DELEGADO CLÓVIS senhor não me conhece não, eu tou aqui em Carmo do Rio Claro, fazendo uma filmagem. E, se não me engano, até já convesaram com o senhor, o Bruno, a respeito de um filme que tá sendo feito sobre a reinserção social de uma pessoa daqui de Carmo do Rio Claro. E eu queria assim, pelo menos, conversar pessoalmente com o senhor, só pra pegar algumas informações, será que o senhor poderia... Entendi, é porque as informações que o senhor tem a gente não conseguiu ainda. Mesmo, a gente conversou com o promotor e o atual delegado, eles têm informações do que o povo fala, né, as pessoas na rua. Não, mas a gente não quer que o senhor fale bem, não. De forma nenhuma, a gente quer exatamente, por exemplo, esse fato do tear, a gente não sabia. É, esse recado, por exemplo, é uma coisa que virou um folclore e a gente não sabe se aconteceu ou não. Não aconteceu esse recado? Nunca teve? Entendi... Porque, às vezes, o próprio Piu fala que... 41 É, não, às vezes, o próprio Piu diz que escreveu, outra vez ele diz que não escreveu... É mentira, né? Entendi... aí, outras vezes, ele diz que ele não escreveu, que foi alguém pra prejudicar ele que escreveu na parede... Não teve nada disso, né? Entendi... entendi... Bom, tudo bem, o senhor acha que nem umas informações só por escrito, o senhor não quer passar pra gente, não quer conversar com a gente? Tudo bem, tá ok. Mas tudo bem então. Falou, então, obrigado, de qualquer forma, pela atenção aí. Bom dia pro senhor. Até mais. FADE PARA Onde há fumaça, há fogo, como sempre dizem. Mas eu não escrevi esse bilhete, tem essa história mesmo do bilhete. Vai ficar pra sempre, né. A história do Piu Piu. FADE PARA ANÍSIO PIU PIU IMAGENS DIVERSAS DE ANÍSIO, SOB TRILHA SONORA ANÍSIO PIU PIU Sanhaço Piu Piu, o Anísio Fugiu!!! CORTA PARA FADE PARA CRÉDITOS FINAIS, TRILHA SONORA ANÍSIO PIU PIU SOB FADE PARA Gente! Um abraço! Tchau pra vocês! FADE PARA TELA EM PRETO 42 6.2 Matérias em Jornais Matéria Expresso Carmelitano – 02 de agosto Matéria Folha da Manhã – 07 de agosto 43 6.3 Projeto de Patrocínio Projeto de Documentário O Fabuloso Destino de Anísio Piu-Piu Este projeto pretende realizar um filme documentário sobre a vida do ex-preso, natural e morador de Carmo do Rio Claro, Anísio Antonio Marques. Entende-se como documentário o filme cujo conteúdo tem o compromisso em explorar a realidade. É necessário ressaltar que este será o primeiro filme realizado em Carmo do Rio Claro, constituindo-se uma iniciativa pioneira que divulgará o nome da cidade por todo o país, através dos diversos festivais de cinema acontecem todo ano pelo Brasil. Além disso, vale dizer que o documentário é uma obra eterna, ficando à disposição para ser visto sem restrições temporais. 44 Sinopse Um bilhete deixado ao delegado durante uma fuga da prisão fez de Anísio Antonio Marques um homem famoso em Carmo do Rio Claro, sul de Minas Gerais. Condenado a oito anos de cadeia, o personagem do documentário é dono de uma trajetória de vida que se aproxima de uma epopéia. Durante o tempo em que esteve preso, Anísio Piu-Piu, como hoje é conhecido, conseguiu fugir três vezes da prisão. E isso não é tudo, pois todas as fugas que promoveu são marcadas por grande ousadia: ora deixando um bilhete para o delegado, ora dando café batizado ao carcereiro ou mesmo aproveitando o cochilo do vigia. Se for somado todo o tempo que ele passou como fugitivo da polícia, Anísio acumula cerca de seis anos. Por esse período, o personagem viveu em diversas cidades e fez de tudo para sobreviver. Após ser recapturado pela polícia pela terceira vez, Anísio não fugiu mais e terminou de cumprir o restante da pena na cadeia de Carmo do Rio Claro. Quando voltou à vida do lado de fora das grades, Piu-Piu passou por grandes dificuldades. Mas, com esforço, foi capaz de abrir sozinho um próprio negócio de móveis usados, ao qual deu o nome de EletroPiu. Hoje, a loja faz sucesso na cidade e possibilita ao personagem tirar o seu sustento e ajudar familiares. Essa é uma história real de reintegração social e de perseverança que existe nos caminhos do fabuloso destino de Anísio Piu-Piu. Objetivos Produzir um documentário em vídeo digital no formato HD (Alta Definição) para veiculação em televisão e em festivais de cinema. O tema, como já tratado acima, é retratar a vida do ex-detento carmelitano Anísio Antonio Marques. Numa visão humanista, o vídeo-documentário cumprirá a função social de usar a arte cinematográfica para dar visão a um tema pouco explorado no Brasil: a reintegração social de ex-presos. Segundo o Departamento Penitenciário Nacional, órgão do Ministério da Justiça, cerca de 90% dos presos volta a cometer crimes após saírem da cadeia. Assim sendo, a história de Anísio, além de possuir intensa ação dramática, consiste num caso raro de reintegração à sociedade. 45 Cotas de Participação O Patrocínio Cultural é uma forma extremamente eficiente de marketing. Muito mais que divulgar uma marca, ele mostra o quanto uma empresa acredita e investe em ações que contribuem para a construção da cultura de uma nação. Em se tratando de um filme, o patrocínio tem um retorno ainda mais efetivo, pois as marcas serão visualizadas toda vez que ele for exibido. O apoio privado às iniciativas culturais é ainda mais fundamental para as pequenas cidades, uma vez que a população não tem acesso aos grandes eventos que, geralmente, ficam restritos às capitais. Cota Apresentador O apresentador terá espaço DESTACADO na tela de abertura, nos créditos do filme e em toda a mídia do projeto. Terá direito a explorar a campanha publicitária proposta na página três e ganhará quinze DVDs do documentário para distribuição entre clientes e funcionários. Além disso, serão oferecidos dez convites para a cerimônia de lançamento do filme. Como bônus, a produção do documentário desenvolverá um vídeo institucional em alta definição para a empresa apresentadora com duração de um minuto. Desta cota, somente duas empresas poderão participar. Valor -------------------- R$ 1200,00 Cota Patrocínio O Patrocinador estará presente na tela de abertura, nos créditos do filme e em toda a mídia do projeto. Também terá direito a explorar a campanha publicitária proposta na página três e ganhará três DVDs do documentário. Além disso, o patrocinador contará com cinco convites para a cerimônia de lançamento. Valor -------------------- R$ 300,00 Cota Apoio O Apoiador estará presente na tela de abertura, nos créditos do filme e em toda a mídia do projeto. Também terá direito a explorar a campanha publicitária proposta na página três e ganhará um DVD do documentário. Além disso, três convites serão oferecidos ao apoiador para a cerimônia de lançamento. Valor --------------------- R$ 250,00 46 Contrapartida aos Parceiros Campanha Publicitária Mídia Impressa: DVDs – 100 unid. Cartazes – 50 unid. – A3 papel couchet colorido Convites – 100 unid. - A5 Papel couchet colorido Exibição: O documentário terá exibição garantida no mês de dezembro de 2008 pela TV Onda Sul, emissora cujo sinal chega às cidades de Carmo do Rio Claro, Conceição da Aparecida e Campo do Meio. A produção terá papel de destaque na programação da emissora, com um espaço reservado à exibição do documentário assim como para uma pequena entrevista com o diretor do filme, momento em que será possível citar o nome dos apresentadores, patrocinadores e apoiadores do projeto. Mídia Espontânea*: Matérias nos principais jornais locais. Entrevista nas rádios locais, matérias em jornais e revistas regionais. Festivais de Cinema: Após a finalização do documentário, a produção enviará cópias do filme para os principais festivais de cinema do país, contribuindo para a divulgação da cidade e da marca dos apresentadores, patrocinadores e apoiadores do projeto. A produção selecionará e enviará o produto para os festivais da agenda do ano de 2009. Lançamento: O filme finalizado será exibido, pela primeira vez, em uma sessão exclusiva destinada aos apresentadores, patrocinadores, apoiadores, personalidades, autoridades e imprensa. O local será definido posteriormente pela produção do projeto, levando em conta a facilidade de acesso e tendo presença garantida da equipe do filme assim como o personagem do documentário. A previsão é de uma cerimônia para 100 pessoas. Locadoras: Venda dos DVDs do documentário para as principais locadoras de vídeo da cidade. Além disso, serão fixados cartazes nos pontos onde o filme estará disponível para locação e em locais de grande circulação de pessoas. Marketing cultural: O patrocínio cultural gera uma série de vantagens, além de divulgação do evento, tais como: • Divulgação em jornais, revistas e imprensa em geral; • Simpatia e identificação com a marca; • Oportunidade de realizar campanhas e divulgações a um público específico. * Os patrocinadores, apoiadores e apresentadores estarão presentes em toda a divulgação enviada à imprensa, mas a exibição de seus nomes e marcas será feita de acordo com a decisão dos próprios jornais, rádios e tvs, não podendo a produção dar tal garantia. 47 6.4 Modelo do termo de autorização de uso de imagem e som Eu, _________________________________________________________, abaixo-assinado, residente à _________________________________________________________________ _________________________________________________________, portador da cédula de Identidade _________________________ e CPF ____________________________ concedo para livre utilização, direitos sobre a minha imagem e som da minha voz a qualquer tempo para integrar o vídeo documentário intitulado O Fabuloso Destino de Anísio Piu-Piu, sob a direção de Bruno de Oliveira Lima, residente à rua Randolfo Fabrino, número 238, Centro, portador da cédula de Identidade 14373950 / SSPMG e CPF 073803286-70. Declaro ainda estar ciente da proposição do projeto e que aceito participar do mesmo, autorizando conseqüentemente e universalmente qualquer exploração comercial, distribuição e exibição da obra, por todo e qualquer veículo, ou meio de comunicação e publicidade existentes ou que venham a serem criados, como: Cinema, Televisão, TV por assinatura “Pay TV”, TV a cabo, “Pay per View”, Vídeo, Vídeo Laser Disc, Home Vídeo, Disco, Disco Laser, CD ROM, exibições publicas ou privadas, circuitos fechados, aeronaves, navios, embarcações, ou qualquer outro meio de transporte, assim como divulgação / publicidade da obra em rádio, revistas, internet, jornais, cinema e televisão, para exibição pública ou domiciliar, reprodução no Brasil ou no Exterior, podendo as cenas da obra em questão ser utilizadas para fins comerciais ou não, exibições em festivais ou outros meios que se fizerem necessários. _____________________________________________ Nome: Carmo do Rio Claro, _______ de ______________________ de 2008. 48 49