East Timor Agriculture Network and Virtual Library Rede agrícola e biblioteca virtual de Timor Leste Documento:TA039 Notas fitopatológicas II — Fungos da folha de bananeira Author: Mª DE LOURDES BORGES Date: 1967 Published by: Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar Summary Phytopathological studies. II Fungi of banana leaves The author studies the fungi present on the leaves of banana in Timor, S.Tomé and Guiné. The fungi ident ified on the leaves are: a) Mycosphaerella musicola Leach and its imperfect form Cercospora musae Zimm in S.Tomé and Guiné and only of the imperfect form in Cape Verde and Timor b) of Leptosphaeria eustoma (Fries) Sacc. f. musarum Sacc. et Berl. in S.Tomé and Guiné and of de Deightoniella torulosa (Sydow) Ellis in Guiné and in Cape Verde. The report presents pictures of the fungi causing the diseases. The report presents a detailed description of diseases and the fungi that cause it. The typical lesions of Mycosphaerella musicola Leach. on the leaves of banana are yelow elongated stains, following the secondary nerves, around 1-2mm in width and 5-12mm long, of a light brown color, with well defined dark brown margins. There has been reference to the presence of the imperfect form Cercospora musae Zimm. which causes the light stain of the banana leave, but they do not consider it serious for the crop, in the cases studied so far. Resumo O autor estuda os fungos presentes nas folhas da bananeira em Timor, S. Tomé e Guiné. Os fungos identificados nas folhas são: a) Mycosphaerella musicola Leach e respectiva forma imperfeita Cercospora musae Zimm. em S. Tomé e Guiné e apenas a forma imperfeita em Cabo Verde e Timor; b) Cordana musae (Zim.) van Hohn. e Leptosphaeria eustoma (Fries) Sacc. f. musarum Sacc. et Berl. em S. Tomé e Guiné e de Deightoniella torulosa (Sydow) Ellis na Guiné e em Cabo Verde. O relatório apresenta fotografias dos fungos que causam a doença. É apresentada uma descrição detalhada da doença e dos fungos que a causam. As lesões típicas de Mycosphaerella musicola Leach são, pequenas manchas alongadas segundo as nervuras secundárias, com 1-2mm de largura por 5-12 mm de comprimento, de cor castanho-claro com margem bem definida em castanhoescuro. Existe referência à forma imperfeita do Cercospora musae Zimm, que provoca a mancha clara da folha da bananeira, mas não é considerada grave para a cultura, nos casos até agora observados. Resumo Nota ba fitopatológicas II — Fungos nebe ataka ba Hudi (bananeira) nia tahan Autor estuda kona ba fungo sira nebe iha Hudi nia tahan iha Timor, S. Tome no Guiné. Fungo sira nebe maka identifika iha hudia nia tahan maka hanesan: a) Mycosphaerella musicola Leach no ho nia imperfeita Cercospora musae Zimm. iha S. Tomé no Guiné no ho nia forma imperfeitaiha Cabo Verde no Timor; b) Cordana musae (Zim.) van Hohn. no Leptosphaeria eustoma (Fries) Sacc. f. musarum Sacc. et Berl. iha S. Tomé e Guiné no de Deightoniella torulosa (Sydow) Ellis iha Guiné no iha Cabo Verde. Relatório ida ne’e apresenta mos fotografias ba fungos bebe fo moras ba Hudi. Apresenta mos deskrisaun ida nebe diak tebes kona ba moras no mos kona ba fungos sira nebe maka causa. Kanek sira nebe tipikas husi Mycosphaerella musicola Leach maka hanesan mancha nebe maka naruk husi nia nervuras ho luan 1-2 mm no naruk 1-12 mm nebe apresenta kor castanha claro ho nia margem nebe difina diak ho kor kastanho nakukun. Iha mos referencia ba forma imperfeito husi Cercospora musae Zimm, ida nebe provoka manchas clara ba hudi nia tahan mai be la konsidera hanesan ida nebe grave ba ai oan to’o caso ida ne’e halo hela abservasaun to’o agora. Disclaimer: The availability of a digital version of this document does not invalidate the copyrights of the original authors. This document was made available freely in a digital format in order to facilitate its use for the economic development of East Timor. This is a project of the University of Évora, made possible through a grant from the USAID, East Timor. info: [email protected] Fungo da folha de bananeira parte II Notas fitopatológicas II — Fungos da folha de bananeira (1)1 Mª DE LOURDES BORGES Orientadora do Grupo de Trabalho de Fitopatologia da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar MAUD L. DE BARROS Fitopatologista da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar No decurso da prospecção fitopatológica a que se procedeu em S. Tomé de Setembro a Outubro de 1963, a bananeira mereceu especial atenção, por estar a promover-se o desenvolvimento da sua cultura. Depois de se terem assinalado os fungos da palmeira-do-azeite então observados (Borges, 1964), apresentam-se agora os fungos da folha de bananeira identificados naquela província e, também, os recebidos de Cabo Verde (ilha de Santiago), Guiné e Timor, para consulta fitopatológica. Reconheceu-se a presença: de Mycosphaerella musicola Leach e respectiva forma imperfeita Cercospora musae Zimm. em S. Tomé e Guiné e apenas da forma imperfeita em Cabo Verde e Timor; de Cordana musae (Zim.) van Hohn. e de Leptosphaeria eustoma (Fries) Sacc. f. musarum Sacc. et Berl. em S. Tomé e Guiné e de Deightoniella torulosa (Sydow) Ellis na Guiné e em Cabo Verde. Durante a estada em S. Tomé, observou-se ainda, e com grande frequência, outro tipo de manchas das folhas constituídas por numerosas pontuações necróticas, que se designaram por «sardas da folha de bananeira». Pelo facto de ser atribuída, na literatura da especialidade, grande diversidade de causas a sintomas semelhantes e de não ter sido ainda possível realizar um estudo exaustivo do material proveniente de diversas zonas da ilha, não se incluem nesta nota referências aos causadores desta última enfermidade. 1- Mycosphaerella musicola Leach (Cercospora musae Zimm.) Em 1962, receberam-se, provenientes de Campeane, região de Cacine, na Guiné Portuguesa, pedaços de folhas de bananeira colhidos em Maio por J. Ascenso, com o pedido 1 Entregue para publicação em Dezembro de 1966. 1 Ma. de Lourdes Borges et al., de identificação duma enfermidade que vinha a acentuar-se há cerca de um ano e que afectava seriamente a cultura naquela região. Durante a estada de um de nós em S. Tomé, colheram-se, em Outubro de 1963, fragmentos de folhas de bananeira com sintomas semelhantes ria Roça Amparo II (Herb. Fitop. M. E. A. U. 50). Em Março de 1964, recebeu-se novamente da Guiné material idêntico, da região de Ponta Ferreira (Herb. Fitop. M. E. A. U. 1001), enviado por A. Noronha, e, a partir de Janeiro de 1965, a nosso pedido, têm-se recebido regularmente para estudo fragmentos de folhas de bananeira da região de Granja do Pessubé (Herb. Fitop. M. E. A. U. 1001, 1012), enviados por R. Sardinha. Também de Cabo Verde (Herb. Fitop. M. E. A. U. 2004) e de Timor (Herb. Fitop. M. E. A. U. 3007, 3008 e 3009) se recebeu material semelhante. Notaram-se sempre as lesões típicas da mancha foliar da bananeira, ou seja, pequenas manchas alongadas segundo as nervuras secundárias, de 1 a 2 por 5 a 12 mm, de cor castanho-claro com QUADRO I Cercospora Musae Zimm — Dimensões dos conídios (II) Compriment o Largura Médias 60-80 4 — Java 60-75 7-8 — Fiji 30-65 2,5-5 46,2 x 4,2 Congo Steyaert, 1948 20,5-60,5 4-5 36 x 4,5 Guiné Bouriquet et al., 1958 32,8-79 3-3,8 54 x 3,1 Costa do Marfim Brun, 1963 (a) 18-78 (a) 28-4,8 Guine Brun, 1963 (b) 23-81 (b) 2,1-3,4 Guine Brun, 1963 (c) 19-110 (c) 2,4-3,6 Guine Brun, 1963 32,1-64,2 3,2-4,8 (a) 43,3 x 3,6 (b) 56,5 x 2,9 (c) 72,5 x 2,9 51,6x3,7 Guiné Portuguesa - 22,5-80,6 2,9-5,1 46,9 x3,9 Timor - Local Autor Zimmermann, 1902 Massee, 1914 (a) Medidas obtidas em material colhido em Fevereiro. (b) Medidas obtidas em material colhido em Julho. (c) Medidas obtidas em material mantido em câmara húmida. margem bem definida em castanho-escuro (Est. I, fig. 1). A observação microscópica de cortes histológicos das lesões permite verificar a presença de frutificações típicas de Cercospora Musae Zimm. (Est. 1, fig. 2). Dos conidióforos muito curtos, pardo - acastanhados, partem os conídios com 1 a 5 septos e com as dimensões máximas, mínimas e médias, respectivamente, de 80,6 x 5,1 µ, 22,5 x 2,9 µ, e 46,9 x 3,9 µ, no 2 Fungo da folha de bananeira parte II material proveniente de Timor, e de 64,2 x 4,8 p., 32,1 x 3,2 µ, e 51,6 x x3,7 no material da Guiné. Para o material proveniente de Cabo Verde e de S. Tomé a escassez de esporos não permite a apresentação de medidas. Estes valores estão dentro das variações dos valores apresentados por diversos autores (quadro I) e por Chupp (1953). Assim, quando este fungo foi descrito pela primeira vez, em 1962, por Zimmermann, em folhas de bananeira provenientes de Java, foi dado como tendo conídios de 4 a 5 septos e 60 a 80 µ, de comprimento por 4 µ de largura. Massee (1914), desconhecendo a citação do autor anterior, designou-o por Cercospora Musae Massee ao descrevê-lo em material observado em Fiji e atribuiu aos conídios 60 a 75 µ de comprimento e 7 a 8 µ de largura. Por sua vez, Steyaert (1948) citou a Cercospora Musae Zimm. como muito frequente no Baixo Congo e bastante prejudicial para a cultura da bananeira, mas considera que não penetrou no interior do território. Indica para os conídios 1 a 6 septos e 30 a 60 µ de comprimento por 2,5 a 5 µ de largura (Me=46,5 x 4 µ). Brun (1963) compara os valores obtidos para as dimensões dos conídios por diversos autores, incluindo os já citados, e também os valores que encontrou em diversas épocas no mesmo local ou em câmara húmida e atribui as variações às diversas condições de ambiente, principalmente a variações de humidade. A forma perfeita, Mycosphaerella musicola Leach observou-se em fragmentos de folha de bananeira colhidos em S. Tomé, nas Roças Amparo II, Santa Catarina, Diogo Vaz, Milagrosa e Santa Margarida (Herb. Fitop. M. E. A. U. 50, 63, 64, 68, 88 e 91), e também em material recebido da Granja do Pessubé, na Guiné (Herb. Fitop. M. E. A. U. 1011). Nos cortes histológicos notavam-se as peritecas escuras, dispersas nas lesões, com ostíolo pouco destacado e os diâmetros mínimos de 54,6 a 64,2 p. e máximos de 83,5 a 89,9 µ Não se observaram paráfises. Os ascos hialinos oblongo - clavados de 28,9 a 32,1 µ por 8,0 a 12,8 µ contêm os ascósporos (Est. I, figs. 3 e 4), também hialinos de 12,8 a 17,7 µ por 3,2 a 4,8 µ (Me=15,2 x 3,7 II ) , monosseptados, elipsoidais, com uma das extremidades mais larga e arredondada. Em 1964, Leach atribui a uma nova espécie de Cercospora as «estrias negras da folha da bananeira», que alguns cultivadores designam por «morte negra» devido à severidade que apresenta. Propõe o nome específico Mycosphaerella fijiensis Leach para a respectiva forma perfeita, por ter surgido em Fiji. As dimensões dadas para os ascos e ascósporos são bastante próximas nas duas espécies (Leach, 1964), as dimensões dos conídios 21,2 a 117,0 µ (Me=68,6 p.) assemelham--se aos valores indicados por Brun para os conídios formados em câmara húmida (quadro I ) . No mapa de distribuição de doenças do Commonwealth Mycological Institute (7, 1963), podem avaliar se as zonas do globo em que é conhecidas Mycosphaerella 3 Ma. de Lourdes Borges et al., musicola Leach. Do território português, apenas vem citado Moçambique (Carvalho, 1948). Serafim (1963) refere a presença de Cercospora musae Zimm. em Angola, causando a mancha clara da folha da bananeira, mas não a considera grave para a cultura, nos casos até agora observados (comunicação verbal, 1965). Com o presente trabalho fica citada também para Cabo Verde (ilha de Santiago), Guiné, S. Tomé e Timor. 2. Deightoniella torulosa (Sydow) Ellis A partir de fragmentos de folhas de bananeira, recebidos da Granja do Pessubé, na Guiné, de Janeiro a Abril de 1965 (Herb. Fitop. M. E. A. U. 1011, 1012, 1013, 1015, 1018 e 1019), isolou-se um fungo que, pelas suas características morfológicas (Est. II fig. 2), se identificou como Deightoniella torulosa (Sydow) Ellis. A inoculação desse fungo em folhas de bananeira levou à formação das lesões que lhe são típicas e idênticas às observadas no material original (est. II fig. 1) geralmente designadas por «manchas negras da folha da bananeira». Também se identificou em folhas de bananeira (Herb. Fitop. M. E. A. U. 2004) provenientes da Quinta do Serrado, na ilha de Santiago de Cabo Verde. Descrito pela primeira vez em folhas mortas de bananeira, no Brasil (Sydow, 1909), como Brachysporium torulosum Sydow, foi considerado por Ashby (1913) como causador da «mancha negra» da folha da bananeira Gros Michel, na Jamaica, com a designação de Cercospora musarum Ashby. O próprio Ashby (Mason, 1928) reconhece tratar-se do mesmo fungo referido por Sydow; verifica também não poder manter-se no género Cercospora e passa a designá-lo Helminthosporium torulosum (Sydow) Ashby. Também Torrend (1914), ao descrevê-lo em material colhido no Brasil, o inclui nesse género com a designação de Helminthosporium nodosum Torrend. Ellis (1957), ao apresentar algumas espécies do género Deightoniella então recentemente criado por Hughes (1952), propõe nova arranjo Deightoniella torulosa (Sydow) Ellis. Baseia-se para isso nas características atribuídas ao género que considera presentes nesta espécie, ou seja, no processo de crescimento dos conidióforos por alongamento de proliferações apicais, subglobosas, sucessivas e na formação dos conídios por gemulação da extremidade dos conidióforos ou das subsequentes proliferações Para o território português está citada por Carvalho & Mendes (1958) para Marracuene, Moçambique, onde causa a «mancha negra» na folha e o enegrecimento da extremidade apical do fruto. Serafim (comun. verbal, 1965) não a observou em Angola. Só a notamos até agora em material proveniente de Cabo Verde e da Guiné 3. Cordana musae (Zimm.) van Hahnel Em 1961 receberam-se, provenientes de S. Tomé e enviados por A. S. Cardoso, fragmentos de folha de bananeira que apresentavam lesões necróticas, zonadas, mais claras do 4 Fungo da folha de bananeira parte II que a folha quando seca. Quando em S. Tomé, tive-mos ocasião de observar nas Roças Potó, Boa Nova, Ribeira Peixe, Rio do Ouro, Amparo II e Santa Catarina (Herb. Fitop. M. E. A. U. 6, 11, 16, 43 e 63), muito frequentemente, lesões necróticas semelhantes e que se caracterizam, sobretudo, pelo aspecto zona do que apresentam (est. II fig. 3), tendo as zonas mais claras 2 a 3 mm e as mais escuras 1 mm. As dimensões das manchas variam, tendo muito frequentemente 3 por 5 cm, forma oval ou elíptica e, quando coalescem, inutilizam extensas zonas foliares. O exame à lupa permitiu observar e destacar conidióforos. Os conidióforos, ao microscópio, apresentam-se fuscos, septados, bolbosos na base e de dimensões variáveis com a idade, de 57,8 a 160,5 µ de comprimento e 4,8 a 6,6 µ de largura, com conídios dispostos em verticilo, na extremidade ou em pontos intermédios dos conidióforos (est. u, fig. 4). Os conídios de forma oval, com ligeira papila na extremidade proximal, são monosseptados de dimensões muito semelhantes entre si, 16 a 20,9 µ por 9,6 a 11,2 µ), (Me =16,9 x 10,5 µ) (Herb. Fitop. M. E. A. U. 6). Também se observaram conídios e conidióforos semelhantes em fragmentos de folha de bananeira enviados da Guiné, de Janeiro a Abril de 1965 (Herb. Fitop. M. E. A. U 1011, 1012, 1013 e 1014). As dimensões nestes casos oscilaram de 14,4 a 20,8 µ por 7,2 a 12,0 µ (Me=16,6 x 9,3 µ) para os conídios. Os sintomas causados nas folhas e as características morfológicas do patogéneo demonstraram (Wardlaw, 1961) estar-se em presença das lesões devidas a Cordana musae (Zimm.) van Hohnel descrito pela primeira vez por Zimmermann em 1902, em folhas de bananeira provenientes de Java, como Scolecotrichum musae Zimm. e transferido para o género Cordana por van Hohnel (1923). Com efeito a descrição apresentada por QUADRO II Leptosphaeria spp. — Dimensões ( µ ) Peritecas Leptosphaeria musarum (=L. eustoma f . musarum) ……………………125 a 166 Leptosphaeria musicola ( = Leptosphaerella musicola) …………… 120 a 125 24x6 Espécie de S. Tomé …………………………………………………. {60,0-112,5x37,5-67,5 22,5x4,4-5,0 (Me=79,1x46,1) (Me=20,5x4,8) Espécie da Guiné ……………………………………………………. {96,3-102,7 x 89,8-99,5 4,8 ( Me=99,5x95,5) (Me=17,9x4,3) Ascos 60x10-12 60x12 35,3-53x8,0-9,6 Ascósporos 15-18x5-6 1817,5- (Me =44,7x8,6) 38,5-54,6x6,4-9,6 16,1-22,5x3,2- (Me=43,9x7,4) Zimmermann (1902) concorda perfeitamente com o caso presente incluindo nas dimensões dos esporos, 20 µ de comprimento por 8 a 10 µ de largura, e com os pormenores apresentados a respeito dos conidióforos. 5 Ma. de Lourdes Borges et al., Pelo que nos foi dado observar em S. Tomé, esta enfermidade, que designaremos por «mancha tonada da folha», está muito difundida, sendo mais notada nas plantas cultivadas com sombreamento, chegando a causar necroses de extensas zonas foliares, mas não parece prejudicar a cultura de forma sensível. Em relação à Guiné apenas se assinala a presença. Está também citada para Moçambique como sendo de ocorrência geral (Carvalho e Mendes, 1958) e causando a mancha escura da folha. Serafim (comun. verbal, 1965) reconheceu a sua existência em Angola. 4. Leptosphaeria eustoma Em folhas de bananeira colhidas em S. Tomé, em Outubro de 1963, nas Roças Amparo II, Milagrosa e Santa Margarida (Herb. Fitop. M. E. A. U. 50, 51, 90, 94 e 95), notaram-se, ao examinar à lupa, minúsculas pontuações escuras. A observação de cortes histológicos fez notar a presença de peritecas globos as, castanhos-escuros, de 37,5 a 67,5 p. de diâmetro. No interior das peritecas (Est. II fig. 5) pôde observar-se ascos hialinos com Ascósporos fuscos, rectos, trisseptados, estreitando gradual e insensivelmente para as extremidades, com o comprimento de 17,5 a 22,5 µ e a largura de 4,4 a 5,0 µ (Me = 20,5 x 4,8 µ). Mais tarde, em Outubro de 1965, recebeu-se da Guiné material semelhante (Herb. Fitop. M. E. A. U. 1019). Pelas características observadas, considerou-se estar em presença dum fungo do género Leptosphaeria. Consultando a bibliografia sobre as espécies deste género já identificadas em folha de bananeira, verificou-se que a citação mais antiga (Saccardo & Berlese, 1889) corresponde a material colhido em S. Tomé, na Roça Nova Man, e diz respeito à espécie Leptosphaeria musicola Sacc. et Berl. Esta referência é dada mais tarde por Saccardo (1891). Berlese, em 1894, apresenta, porém, novo arranjo: Leptosphaeria eustoma (Fries) Sacc. f. musarum Sacc. et Berl. Ainda Saccardo, em 1913, cita Leptosphaeria musicola (Speg.) Sacc. et Trott., que considera como sinónimo da espécie descrita para a Argentina por Spegazzini em 1909 como Leptosphaerella musicola Speg., pondo em dúvida também que seja distinta da anterior (quadro n) a ponto de se manter separada. Todas estas citações se referem a fungos observados em folhas mortas. O nosso material provém de folhas colhidas vivas, mas não se nota distinção apreciável entre as características que apresentam e as descrições dadas pelos autores citados, a não ser nas dimensões que diferem ligeiramente (quadro II). Stahel (1937) refere-se a Leptosphaeria sp. também com ascósporos trisseptados. Por sua vez, Bouriquet & Battaille (1958) assinalam a presença de Leptosphaeria sp., também em folhas de bananeira, mas com ascósporos bisseptados. Afigura-se-nos que as diferenças registadas nas dimensões de esporos e peritecas entre as espécies trisseptados referidas (quadro II) não justificam a consideração de mais do que uma 6 Fungo da folha de bananeira parte II espécie, mas é de aconselhar o estudo comparado de material de diversas proveniências, e por especialistas neste género. Assim, entretanto, considera-se como pertencendo à espécie Leptosphaeria eustoma (Fries) Sacc. f. musarum Sacc. et Berl. a identificada no material proveniente de S. Tomé e da Guiné. M a se lhe atribui qualquer gravidade e não se tem conhecimento de citações para outros territórios portugueses. AGRADECIMENTOS A Dr.ª Maria Teresa Lucas o apoio dado à identificação das espécies. Ao Eng.°Silv. R. Sardinha, Eng.°-gr.°. M. Mayer Gonçalves e Reg.Agr. Oliveira e Sousa cuidado posto no envio de material da Guiné, de Timor e de Cabo Verde, respectivamente BIBLIOGRAFIA ASHBY, S. F. — Banana diseases in Jamaica. Bull. Dep. Agric. (Jamaica) 2: 95-128, 1913. (in Ellis, 1957, e Ward law, 1961). BERLESE, A. — Icones fungorum omnium hucusque cognitorum. 1. Abelini, 218 pp., 1894. BORGES, Maria de Lourdes & BARROS, Maud L.—Notas Fitopatológicas — I. Est. agron. (Lisboa) 5 (1): 41-46, 1964. BOURIQUET, G. & BATAILLE, J.—Deux champignons parasites du bananier à Madagascar. «Cercospora musae» et «Alternaria musae» nov. sp. Fruits (Paris) 13: 47-52, 1958. BRUN, J. - La cercosporiose du Bananier en Guinée. Ètude de la phase ascoporée du «Mycosphaerella musicola» Leach. These Fac. Sci. Univ. Paris. Sér. A. Orsay, 196 pp., 1963. CARVALHO, T. de — Relação Prelimir deDoenças Encontradas em Plantas e Insectos, com Anotações Fito patológicas. Lourenço Marques. Serv. de Agric. Moçambique, 1948 [in Rev. appl. Mycol. (London) 29: 89, 1950]. CARVALHO, T. de & MENDES, 0. — Doenças de Plantas em Moçambique. Lourenço Marques. Dir. Ger. de Agric. e Florestas, 84 pp., 1958. CHUPP, C. A.—A Monograph of the fungus genus «Cercospora». New York (Ithaca), 667 pp., 1953. ELLIS, M. B. — some species of «Deightoniella». Mycol. Inst. Kew Surrey, 1957. (Mycol. Pap.48) HOHNEL, F. van- studien uber Hyphomyzeten. Zbl. Bakt 60: 1-26, 1923. HUGHES, S. J. – fungi from the Gold Coast.—I commmonw. Mycol. Inst. Kew surrey (Mycol. Pap. 48)1952. 7 Ma. de Lourdes Borges et al., LEACH, R.—Black leaf streak. World Crops (London) 16 (4): 60-64, 1964. MASON, E. W. — Annoted account of fungi received at the Imperial Bureau of Mycological Institute. Kew Surrey (Mycol. Pap. 2), 1928. MASSEE, G. — Fungi exotici. XVIII, Kew Bull. 1914. SACCARDO, A. — Sylloge fungorum omnium hucusque cognitorum. 9, 1891. Sylloge fungorum omnium hucusque cogniorum, 22, 1913. SACCARDO, A. & BERLESE, A. N. — Mycetes aliquot guineenses. Bol. Soc. Broteriana (Coimbra) 7: 110-114, 1889. SERAFIM, F. J. D., SERAFIM, Mª C. & PAIVA, A. C. — Comunicação Preliminar sobre a Inventariação das Doenças das Principais Culturas de Angola. Angola. Quartas Jornadas Silvo-agron., 1963. STAHEL, G.—Notes on cercospora leaf spot of bananas ( « Cercospora musae»). Trap. Agric. (Lon-don) 14: 257-264, 1937. STEYAERT, R. L. — Contribution à l'étude des para-sites des végétaux du Congo Belge. Bull. Soc. bot. Belg. (Bruxelles) 80: 11-58, 1948. SYDOW, H. & P. —Fungi Paraenses. Hedwigia : 78-84, 1910. TORREND, C.—Fungi Selectti exciccati. Brotéria (bot.) 12: 53-71, 1914. WARDLAW, C. W. — Banana diseases. Edinburgh. Longmans. Green and Co. Ltd., 648 pp., 1961. ZIMMERMANN, A. — fiber einige tropischer Kulturpflanzen beobachtete Pilze — II. Zbl. Bakt. 8: 216-221, 1902. 8 Fungo da folha de bananeira parte II LEGENDAS DAS ESTAMPAS ESTAMPA I Fig.1. Lesões em folhas de bananeira devidas a Mycosphaerella musicola Leach (Cercospora musae Zimm.) Fig.2. Comidióforos e conídios de Cercospora musae. Figs.3 e 4. Ascos e ascósporos de Mycosphaerella musicola. ESTAMPA II Fig.1. Lesões em folha de bananeira causadas por Deightoniella torulosa (Syd.) Ellis. Fig.2. Conidióforos e conídios de Deightoniella torulosa. Fig.3. Lesão ozonada em folha de bananeira causada por Cordana musae (Zimm.), van Hohnel. Fig.4.Conidióforo e conídios de Cordana musae. Fig.5. Periteca com ascos e ascósporos de Leptosphaeria eustoma (Fries) Sacc. f. Musarum Sacc. & Berlese. 9 Ma. de Lourdes Borges et al., 10 Fungo da folha de bananeira parte II 12 11 Ma. de Lourdes Borges et al., ALGUMAS ANOMALIAS MORFOLÓGICAS E FUNCIONAIS OBSERVADAS EM THYSANIEZIA GIARDI (MONIEZ, 1879) (CESTODA, ANOPLOCEPHALIDAE) J. A. CRUZ E SILVA Investigador do Centro de Zoologia da Junta de Investigações do Ultramar M. MANUELA DE SERPA SOARES Estagiária do Centro de Zoologia da Junta de Investigações do Ultramar RESUMO Os autores descrevem vários casos de anomalias morfológicas e funcionais observadas num mesmo espécime de Thysaniezia giardie em porções de diferente estado de desenvolvimento dos segmentos do estróbilo. Essas anomalias consistem na fusão incompleta de dois anéis e suas consequentes modificações estruturais, na duplicação de órgãos genitais, na localização anormal de alguns deles e na ausência total de outros. Os autores incluem igualmente uma descrição da morfologia normal do cestóide. RSUMO Autor sira descreve caso barak kona ba anomalias morfologicas ho funcionais nebe observar iha especimo hanesan e porsaun nebe diferente iha nia estado desenvolvimento ba segmentos do estrolio. Anomalias hotu cinsistem iha fusaun incompleta ho aneis rua ho nia consequentes modificadas QUELQUES ANOMALIES MORPHOLOGIQUES ET FONCTIONELLES OBSERVÉES CHEZ THYSANIEZIA GIARDI (MONIEZ, 1879) (CESTODA, ANOPLOCEPHALIDAE) RESUME Les auteurs décrivent quelques anomalies morphologiques et fonctionelles observées chez un même spécimen de Thysaniezia giardi et situêes en différentes portions du strobile. Ces anomalies sont •consistées par la fusion incomplète de deux segments et par leurs conséquentes modifications structurales, la duplication des organes génitaux, 1a localisation anormale ou, méme, l'absence totale de quelques-uns. Pour mettre plus en évidence ces anomalies, les auteurs ont fait aussi la description de la morphologie normale du cestode. 12 Fungo da folha de bananeira parte II SOME CASES OF MORPHOLOGICAL AND FUNCTIONAL ABNORMALITIES OBSERVED IN THYSANIEZIA GIARDI (MONIEZ, 1879) (CESTODA, ANOPLOCEPHALIDAE) SYNOPSIS The authors describe some cases of morphologica.1 and functional abnormalities all observed in an unique specimen of Thysaniezia giardi, in different portions of the strobile. They were as follow: an incomplete fusion of two proglottides and their consequent structural changes, duplication of some parts of the genital system, abnormal localization or even a total absence of some ones. The authors include a description of the normal morphology of the cestode. 13