GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
COORDENAÇÃO ESTADUAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA – COECT
INSTITUTO DE APOIO À PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO
JONES DOS SANTOS NEVES – IPES
ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DO MAMÃO
Vitória, fev. 2004
GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Paulo César Hartung Gomes
COORDENAÇÃO ESTADUAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Fernando Luiz Herkenhoff Vieira
INSTITUTO DE APOIO À PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO
JONES DOS SANTOS NEVES
Maria José Schuwartz Ferreira
DIRETORIA TÉCNICO-CIENTÍFICA
Antonio Luiz Caus
DIRETORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA
Andréa Figueiredo Nascimento
COORDENAÇÃO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Ana Luzia Fregonazzi Bottécchia
EQUIPE TÉCNICA
Ana Luzia Fregonazzi Bottécchia
Renato de Castro Gama
Shella Bodart Garneiro
Teófilo Henrique Pereira de Paula
Vanuza da Silva Pereira
EQUIPE DE APOIO
Altêmia Maria Mombrini
Geneviéve Viana Vilela
COORDENAÇÃO DE PRODUTOS E RELAÇÕES COM O MERCADO
Ivete Lucia Orlandi
Djalma J. Vazzoler
Maria de Fátima Pessotti de Oliveira
Sandra Soares Marques Campeão
APRESENTAÇÃO
Elaborado originalmente em meados de 2003, o presente documento, seguindo o
Roteiro para Caracterização de Arranjos Produtivos Locais, estabelecido pelo
conjunto de instituições MCT/Finep/CNPq, teve como objetivo precípuo sistematizar
o processo de seleção de Arranjos Produtivos Locais (APLs) — na forma
consensuada entre os citados órgãos — através do levantamento de informações
socioeconômicas, institucionais e tecnológicas/de inovação dos principais pólos
produtivos estaduais, de forma a contribuir para o processo de desenvolvimento dos
estados e regiões brasileiras.
Desta feita, este documento procura caracterizar brevemente o Arranjo Produtivo do
Mamão, certamente o APL mais importante do Espírito Santo no campo da
fruticultura tropical.
O texto está dividido em três itens. O primeiro, de uma forma geral e tomando
apenas o essencial, busca caracterizar a economia capixaba. O segundo, já
entrando no APL do mamão, busca sua contextualização básica, além da sua
justificativa — apontando para a sua importância na socioeconomia regional. Por fim,
o terceiro traz uma apresentação do perfil do setor fruticultura do mamão nos
aspectos empresariais, tecnológicos e institucionais.
Vale destacar que a elaboração deste estudo contou com dados e informações
disponibilizados pelo Incaper e pela Brapex.
Com a edição deste trabalho, a Coordenação de Ciência e Tecnologia do Instituto de
Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Jones dos Santos Neves (Ipes) pretende
divulgar o que foi produzido, seja através da biblioteca do órgão, seja através de seu
site.
4
SUMÁRIO
1. CARACTERIZAÇÃO DA ECONOMIA DO ESPÍRITO SANTO ..........................................................5
1.1 Informações básicas ......................................................................................................................5
1.2 Indicadores de Infra-estrutura ........................................................................................................6
1.3 Agregados macroeconômicos........................................................................................................8
2. O ARRANJO PRODUTIVO DO MAMÃO .........................................................................................12
2.1 Justificativa do APL .....................................................................................................................12
2.2 Delimitação do APL .....................................................................................................................12
2.3 Caracterização do APL do mamão ..............................................................................................16
2.3.1 A produção mundial de mamão ................................................................................................17
2.3.2 A produção de mamão no Brasil ...............................................................................................18
2.3.3 A produção de mamão no Espírito Santo..................................................................................18
2.3.4 Capacitação inovativa e tecnológica .........................................................................................23
3. COOPERAÇÃO E GOVERNANÇA................................................................................................27
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - População do Espírito Santo – 1991 / 2000 ..........................................................................5
Tabela 2 - Taxa de crescimento médio anual da população residente nas principais cidades do
Estado do Espírito Santo - 1991/2000 .................................................................................6
Tabela 3 - Consumo de energia elétrica no estado do Espírito Santo - 1994/2000 ..............................6
Quadro 1 - Portos do Espírito Santo - 2000 ...........................................................................................7
Tabela 4 - Ligações de água no Estado do Espírito Santo e principais cidades- 2000 ..........................8
Tabela 5 - Produto Interno Bruto a preços de mercado, no Estado do Espírito Santo e no Brasil 1985-1999 ...........................................................................................................................9
Tabela 6 - Taxa média anual de crescimento real do Valor Adicionado Bruto a preços básicos, no
Estado do Espírito Santo – 1985/1990-1999 .......................................................................9
Tabela 7 - Principais municípios capixabas a partir do critério renda per capita ..................................10
Tabela 8 - Investimentos totais por setores, número de projetos, empregos e investimento total, no
Estado do Espírito Santo - 2000-2005 ..............................................................................11
Tabela 9 - População da região delimitada pelo APL no Espírito Santo - 2000 ...............................16
Tabela 10 - PIB da área de abrangência do APL - 1997.....................................................................17
Tabela 11 - Principais países produtores de mamão, 1998 .................................................................17
Tabela 12 - Principais municípios produtores de mamão do Estado do Espírito Santo - 1999...........19
Tabela 13 - Evolução do programa de exportação de mamão papaia do Espírito Santo para os EUA 1998-2001 .........................................................................................................................21
Quadro 2 - Comparação da evolução do Programa de Exportação de Papaia do Espírito Santo para
os EUA - 1997/2001 ..........................................................................................................21
Quadro 3 - Maiores empresas produtoras e exportadoras de mamão do Espírito Santo .....................23
Quadro 4 - Projetos de controle fitossanitário desenvolvidos na cultura do mamoeiro - 2001/2002.....24
Quadro 5 - Cultura do mamoeiro: diagnóstico dos principais problemas tecnológicos.........................26
5
1.
CARACTERIZAÇÃO DA ECONOMIA DO
ESPÍRITO SANTO
1.1 Informações básicas
O estado do Espírito Santo localiza-se na região Sudeste, tendo como capital a
cidade de Vitória, e possui uma superfície de 46.184,10 km², segundo dados do
Idaf/Ipes, 2002.
Um expressivo crescimento urbano tem caracterizado o estado nos últimos anos,
sobretudo na Região Metropolitana da Grande Vitória. Como indica a tabela 1, no
ano de 2000 o estado totalizava uma população de 3.097.232 habitantes,
significando um crescimento de 1,91% em relação a 1991, de acordo com
informações do IBGE. Em 2000, 79,5% da população residia em áreas urbanas e
20,5%, na zona rural. Observa-se que entre 1991 e 2000 a população urbana
aumentou em 1,28% (crescimento anual de 2,78%), enquanto a rural sofreu uma
redução de 0,94% (decréscimo anual de 0,71%).
Tabela 1 - População do Espírito Santo – 1991 / 2000
Ano
Rural
Urbana
Total
1991
676.030
1.924.588
2.600.618
2000
634.183
2.463.049
3.097.232
-0,71
2,78
1,96
Taxa anual de crescimento 1991/2000 (%)
Fonte: IBGE , Ipes
O estado possui 78 municípios (2000), e suas principais cidades, em termos de
população e de centralização das atividades produtivas e institucionais, são Vitória,
Vila Velha, Cariacica, Serra, Viana e Guarapari, seis dos sete municípios integrantes
da Região Metropolitana da Grande Vitória.
Considerando a classificação do IBGE relativa ao porte das principais cidades, na
qual incluem-se aquelas cuja população supera os 45 mil habitantes, e com base
nas respectivas taxas de crescimento populacional, descritas na tabela 2, outras
cidades do estado se destacam; entre elas, Aracruz, Cachoeiro de Itapemirim,
Linhares, Colatina e São Mateus.
As cidades que apresentam as maiores taxas anuais de crescimento populacional na
comparação entre os anos de 1991 e 2000 são Guarapari e Serra, com 4,07 e
4,18%, respectivamente. A que apresenta o menor crescimento e Vitória, com
1,39%.
6
Tabela 2 - Taxa de crescimento médio anual da população residente nas
principais cidades do Estado do Espírito Santo - 1991/2000
Cidade
1991
Serra
2000
(*)
TGMC
222.158
321.181
4,18%
Guarapari
61.719
88.400
4,07%
Vila Velha
265.586
345.965
2,98%
Aracruz
52.433
64.637
2,35%
São Mateus
73.903
90.460
2,27%
143.449
174.879
2,23%
43.866
53.452
2,22%
Cariacica
274.532
324.285
1,87%
Linhares
97.074
112.617
1,66%
Colatina
89.553
103.437
1,61%
258.777
292.304
1,36%
Cachoeiro de Itapemirim
Viana
Vitória
Fonte: Ipes, IBGE
Nota: (*) Taxa Geométrica Média de Crescimento.
1.2 Indicadores de Infra-estrutura
Como se observa na tabela 3, o consumo de energia elétrica vem crescendo
consideravelmente nos últimos anos, com aumento de 33% no número de
consumidores e de 45% no consumo total entre os anos de 1994 e 2000.
Tabela 3 - Consumo de energia elétrica no estado do Espírito Santo - 1994/2000
Anos
Número de consumidores
Consumo (kwh)
1994
692.619
4.865.178.158
1995
729.723
5.456.343.874
1996
767.126
5.692.888.069
1997
798.295
6.003.110.334
1998
839.659
6.435.578.477
1999
879.047
6.610.225.308
2000
920.591
7.044.557.255
Fonte: Escelsa
O estado possui excelente posicionamento estratégico para o comércio exterior e um
eficiente sistema de logística de transportes e serviços, já consolidado através de
uma moderna infra-estrutura de retaguarda para o processamento das exportações
e importações do país.
7
A malha ferroviária integra o Espírito Santo à região Centro-Oeste e ao Corredor de
Transportes Centroleste. As rodovias mais importantes que cortam o território
capixaba são a BR-101, ligando as regiões Norte e Sul, e a BR-262, ligando Vitória a
Corumbá (MS). Dispõe ainda de um aeroporto internacional de cargas localizado na
Grande Vitória.
O complexo portuário do Espírito Santo é considerado um dos mais eficientes do
país, composto pelos seguintes portos: Tubarão, Praia Mole, Vitória, Regência,
Barra do Riacho e Ubu. Também possui vários terminais privados, contando ainda
com cinco Eadis, entre outras estruturas de apoio. Seu complexo portuário é um dos
mais amplos e eficientes da costa brasileira. Tornou-se, assim, a porta de entrada e
de saída de mercadorias de uma vasta hinterlândia, abrangendo áreas
consideráveis dos estados de Minas Gerais e Goiás, do Distrito Federal, do Sul da
Bahia e do Leste de Mato Grosso do Sul.
Quadro 1 - Portos do Espírito Santo - 2000
Portos
Situação de domínio
Principais mercadorias
Tubarão
Privado, operado pela CVRD
Minério de ferro, calcário, escória, ferro
gusa, rocha fosfática, soja em grãos,
fertilizantes, pelotas, manganês, granéis
líquidos, farelos de soja, contêiner.
Praia Mole
Privado, operado pela CST
Carvão mineral, coque, minério de ferro,
antracito e manganês,
enxofre e
fertilizantes
Vitória
Público, operado pela CODESA
Café, papel, celulose e trigo
Regência
Privado, operado pela Petrobras
Petróleo
Barra do Riacho
Público, operado pela Portocel
Celulose e sal
Ubu
Privado, operado
Mineração
pela
Samarco Pelotas de minério de ferro
Fonte: Codesa
Sua localização estratégica, em meio aos maiores centros de consumo do país —
aliada à sua malha rodoferroviária e, acima de tudo, ao seu complexo portuário —,
determina sua alta competitividade em termos da logística de transporte em âmbito
nacional.
O índice de mortalidade infantil entre crianças menores de um ano é de 6,08% e
entre crianças de um a quatro anos, de 1,01% (IPES, 2000). Doenças infecciosas e
parasitárias foram responsáveis por 3,48% do total de óbitos em 1999. O acesso a
água encanada é significativamente maior nas cidades que compõem a região
metropolitana, como se observa na tabela 4.
8
Tabela 4 - Ligações de água no Estado do Espírito Santo e principais cidades2000
Municípios
1998
%
Serra
38.053.701
27,3
Vitória
32.225.501
23,1
Vila Velha
22.179.850
15,9
Cariacica
17.707.809
12,7
Guarapari
6.136.393
4,4
Viana
2.202.244
1,6
139.492.969
100,0
Espírito Santo
Fonte: Ipes
Embora ainda elevada, a taxa de analfabetismo no Espírito Santo apresentou uma
queda expressiva entre os anos de 1991 e 1998, passando de 17% para 12%. O
tempo médio de estudo para a população maior de 25 anos é de 4,9 anos.
O estado conta com inúmeras instituições de ensino superior; em 2000 este número
era de 56, passando para 64 em 2002 (PROSSIGA/ES). Neste campo, destaca-se a
Universidade Federal do Espírito Santo.
Quanto às regulamentações e políticas públicas estaduais e municipais de
capacitação tecnológica, científica e educacional, pode-se destacar, como
instrumentos de estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento (P&D):
Funcitec - Apoia projetos de pesquisa em diversas áreas, tais como: automação,
informática, telemedicina e controle fitossanitário. Entre 2001 e 2002 o fundo apoiou
a execução de 13 projetos de pesquisa, envolvendo a Ufes e o Incaper.
Facitec - Desde que começou efetivamente a funcionar, em 1993, o Conselho
Municipal de Ciência e Tecnologia (CMCT) vem destinando recursos do Facitec às
várias modalidades de financiamento, como: bolsas de pós-graduação, projetos de
pesquisa e de base tecnológica, apoio à elaboração de teses, eventos e outros.
1.3 Agregados macroeconômicos
A análise da evolução do PIB capixaba mostra que, assim como o da economia
nacional, o primeiro tem apresentado sensíveis oscilações de ano para ano.
Observa-se, ao longo da década de 90, um ligeiro aumento da sua participação no
PIB nacional, como mostra a tabela 5. É importante destacar que a partir da segunda
metade da década de 90 a participação do agregado estadual no nacional cresceu,
alcançando uma média de 1,94% entre 1995 e 1999.
9
Tabela 5 - Produto Interno Bruto a preços de mercado, no Estado do Espírito
Santo e no Brasil - 1985-1999
Ano
Moeda
PIB ES
PIB BR
Relação ES/BR (%)
(*)
TACR-ES
1985
Cr$bilhão
22.278
1.297.835
1,72
-
1986
Cz$milhão
59.966
3.403.526
1,76
3,28
1987
Cz$milhão
160.783
10.945.726
1,47
-1,55
1988
Cz$milhão
1.269.190
83.700.531
1,52
3,71
1989
NCz$milhão
21.476
1.263.436
1,70
2,84
1990
Cr$milhão
526.664
31.759.185
1,66
-3,01
1991
Cr$milhão
2.746.222
165.786.498
1,66
6,79
1992
Cr$milhão
29.708.065
1.762.636.611
1,69
2,74
1993
CR$milhão
639.248
38.767.064
1,65
2,85
1994
R$milhão
6.369
349.205
1,82
6,70
1995
R$milhão
12.858
646.191
1,99
0,43
1996
R$milhão
14.909
778.886
1,91
6,03
1997
R$milhão
16.198
870.743
1,86
1,74
1998
R$milhão
17.369
914.187
1,90
2,85
1999
R$milhão
18.599
963.868
1,93
2,68
Fontes: IBGE , Ipes
Nota: (*) Taxa anual de crescimento real, Espírito Santo.
Quanto ao Valor Adicionado por setores da atividade econômica na década de 90,
as atividades primárias foram as que mais se destacaram, apresentando uma taxa
média de crescimento da ordem de 5,52% entre 1990 e 1999, como mostra a tabela
6. As demais — secundárias e terciárias — cresceram 3,62 e 3,34% nos respectivos
períodos. Em todos os setores as taxas se apresentam superiores àquelas
verificadas no período anterior (1985 a 1999).
Tabela 6 - Taxa média anual de crescimento real do Valor Adicionado Bruto a
preços básicos, no Estado do Espírito Santo – 1985/1990-1999
Em %
Atividades
1985-1999
1990-1999
Primárias
2,21
5,52
Agropecuária
2,21
5,52
Secundárias
3,20
3,62
Indústria extrativa e de transformação
3,31
4,17
Extrativa mineral
1,27
1,03
Transformação
3,41
4,33
Produção e distribuição de eletricidade, água e esgoto
4,49
4,46
Construção
3,49
2,70
Terciárias
2,79
3,34
Continua
10
Tabela 6 - Taxa média anual de crescimento real do Valor Adicionado Bruto a
preços básicos, no Estado do Espírito Santo – 1985/1990-1999
Em %
Conclusão
Atividades
1985-1999
1990-1999
Comércio e reparação
3,73
4,51
Alojamento e Alimentação
3,11
2,70
Transporte, armazenagem
1,65
2,96
Comunicações
Intermediação financeira
Ativ. imobil., aluguéis e serv. prestados às empresas
Administração pública
Saúde e educação
Outros serv. coletivos, sociais e pessoais
Serviços domésticos
Total
8,15
2,65
3,18
1,80
1,91
4,57
4,77
2,68
7,82
3,66
3,63
1,60
1,77
4,16
6,63
3,61
Fonte: Ipes
A tabela 7 apresenta a renda per capita dos principais municípios capixabas,
observando-se que os valores mais elevados estão diretamente relacionados à
presença de empresas importantes na economia capixaba, como é o caso de Vitória,
Serra e Aracruz: Cia. Vale do Rio Doce, Cia. Siderúrgica de Tubarão e Aracruz
Celulose.
Tabela 7 - Principais municípios capixabas a partir do critério renda per capita
Municípios
PIB a preços de mercado
População
Renda per capita
Aracruz
1.247.908
62.833
19,86
Vitória
3.701.632
269.135
13,75
Serra
2.858.734
292.523
9,77
Cachoeiro de Itapemirim
989.839
153.559
6,45
Viana
273.228
50.100
5,45
Colatina
512.966
106.472
4,82
1.456.276
312.059
4,67
Linhares
460.751
105.308
4,38
Guarapari
317.587
77.776
4,08
São Mateus
280.731
86.631
3,24
Cariacica
993.448
313.427
3,17
Vila Velha
Fonte: Ipes
Nota: (Em R$ 1.000,00 de 1998)
Considerando-se o período 2000-2005, os dados referentes a projetos em
andamento indicam que os empreendimentos industriais e na área de energia
deverão liderar o crescimento do investimento produtivo nos próximos anos. Em
11
menor grau, também se destacam os investimentos nas áreas portuárias, de
serviços e de transportes. A tabela 8 especifica tais observações.
Tabela 8 - Investimentos totais por setores, número de projetos, empregos e
investimento total, no Estado do Espírito Santo - 2000-2005
Setores
N.º de projetos
Empregos
Investimento total(*)
%
Indústria
65
11.847
3.473,22
45,96
Energia
17
2.270
2.071,11
27,41
Term. port., aeroporto e armaz.
17
1.148
579,06
7,66
Comércio, serviço e lazer
27
20.323
419,44
5,55
Transporte
6
0
389,11
5,15
Educação
3
0
160,44
2,12
Agroindústria
37
3.875
128,50
1,70
Ação Social
6
0
107,83
1,43
Meio Ambiente
8
67
80,89
1,07
Irrigação/Barragem e Açudes
5
0
74,11
0,98
Saúde
2
0
45,67
0,60
Saneamento
2
0
27,28
0,36
Total
195
39.530
Fonte: Ipes
Nota: Valores em R$, com a seguinte cotação: US$ 1,00 = R$ 1,80 (agosto de 2000).
(*) Em US$ milhões.
7.556,67 100,00
12
2.
O ARRANJO PRODUTIVO DO MAMÃO
2.1 Justificativa do APL
Do mamão exportado pelo Brasil, cerca de 90% é produzido no Espírito Santo, que,
graças ao alto nível tecnológico empregado na exploração de suas lavouras, alcança
os maiores índices de produtividade do país. Além disso, os frutos comercializados
pelos exportadores do estado apresentam alto padrão de qualidade. Não é, pois, de
surpreender que o mamão seja a principal fruta de exportação do estado do Espírito
Santo.
O estado produz mais de 330 mil toneladas anuais, em aproximadamente 7.100 ha,1
distribuídos em cerca de 194 propriedades, segundo levantamento realizado pelo
DFA-ES. O cultivo gera uma renda bruta da ordem de R$ 50 milhões por ano e
emprega cerca de 9 mil pessoas no processo de produção e comercialização ao
longo de todo o ano, posicionando tal fruta entre as mais importantes, também no
que diz respeito a geração de novos postos de trabalho e manutenção dos já
existentes.
Conforme indica o mapa da página seguinte, a cultura é desenvolvida nas regiões
Nordeste e Extremo Norte do estado, cujas condições edafoclimáticas favoráveis
possibilitam sua exploração como atividade agrícola de alta rentabilidade e de
significativa importância social para o estado.
Neste sentido, ao se considerar os aspectos comuns das abordagens de Arranjos
Produtivos Locais (APLs) — a) aglomeração produtiva e geográfica; b) presença de
atores como grupos de pequenas empresas, nucleadas por uma grande empresa ou
não, com empresas- âncoras ou não, associações, instituições de suporte, serviços,
ensino e pesquisa, fomento, financeiras, entre outros; c) certas características
importantes, como fluxo intenso de informações, relação de confiança entre os
agentes, complementaridades e sinergias —, conclui-se que é plenamente possível
o amadurecimento e a consolidação do APL do mamão no Espírito Santo.
2.2 Delimitação do APL
Conforme já explicitado, O APL do mamão abrange as regiões Nordeste e Norte do
Espírito Santo. Naquela porção do território, o clima predominante é o tropical úmido
(Aw), com estação chuvosa no verão e seca no inverno. A precipitação pluviométrica
varia de 1.000 a 1.200 mm anuais. A temperatura média da região situa-se entre
22°C e 24°C, com amplitude anual não ultrapassando 5°C. A média da umidade
relativa do ar é de 84% (Incaper, 2000).
Segundo entrevista com o técnico do Incaper José Aires Ventura, em 22 de outubro de 2003,
esta área já se teria expandido para algo em torno de 11 a 11,5 mil ha.
1
13
A área produtora de mamão caracteriza-se por solos arenosos e com temperatura
média na “faixa ótima” para o desenvolvimento da cultura. Porém, com a má
distribuição de chuvas — ocorrendo até oito meses no ano em que a
evapotranspiração é menor que a precipitação mensal —, torna-se obrigatório o uso
da irrigação nas lavouras comerciais.
Os principais municípios produtores são os seguintes: Aracruz, Jaguaré, Linhares,
Pinheiros, São Mateus e Sooretama.2
A seguir, passa-se a um breve histórico das empresas-âncoras, com base nas
informações repassadas pela Brapex.
a) Gaia Importadora e Exportadora Ltda.
A empresa foi constituída em dezembro de 1992, com sede em Linhares, onde está
instalado seu packing house3 voltado para exportação. Possui atualmente quatro
filiais, sendo a unidade instalada em Linhares a filial da área agrícola que coordena
o plantio de mamão, além de outra que tem por função o atendimento ao mercado
interno. Em Santa Leopoldina (ES) localiza-se o packing house para o
processamento de raízes. Possui ainda filiais na Grande Vitória (no Ceasa) e em
Ceará Mirim (RN).
Gera atualmente cerca de 635 empregos diretos; destes, 25 empregados portadores
de deficiência física. No total, a empresa envolve indiretamente cerca de 2.500
pessoas. Também disponibiliza em sua área agrícola uma creche para as crianças
das funcionárias, onde recebem alimentação e educação adequadas para a primeira
infância.
Suas lavouras são desenvolvidas numa região perfeita para produção de papaia de
alta qualidade durante todo o ano.
Há quase 20 anos seus sócios têm trabalhado com papaia de forma a conseguir a
tecnologia certa para produzir frutos de ótima qualidade. Acreditam que um padrão
de alta qualidade para seu produto é conseguido através de manejo adequado,
desde as lavouras até os tratamentos pós-colheita realizados no packing house.
A Gaia possui cerca de 400 ha de lavouras custeadas com recursos próprios, de
forma a garantir volume e qualidade necessários para atender a seus clientes. Além
disso, conta com alguns fornecedores que seguem os rígidos padrões de manejo
2 Entretanto, conforme visto no mapa do Incaper, também outros municípios fazem parte da
área de produção: Boa Esperança, Conceição da Barra, Mucurici e Pedro Canário, totalizando dez. Mas
pode-se afirmar que a região possui como cidade de referência o município de Linhares. Além da sua
conurbação urbana, na condição de cidade-pólo do Nordeste capixaba, com uma agricultura
extremamente dinâmica, a cidade também é sede das duas empresas-âncoras do APL: a Gaia Importadora
e Exportadora Ltda. e a Caliman Agrícola S/A.
Packing house — “casa de embalagem”. Local em que são depositados os frutos depois de
colhidos, selecionados, lavados e acondicionados em caixas, para a distribuição, tanto no mercado interno,
quanto externo.
3
14
estabelecidos e controlados pela empresa. Atualmente, cerca de 50% do volume
exportado é proveniente de produtores parceiros da empresa.
As lavouras estão localizadas em uma mesma região, divididas em seis unidades,
todas num raio de 20 km de distância da central de processamento e
acondicionamento; esta, situada em Linhares. Tais unidades foram escolhidas em
virtude da facilidade de irrigação e abundância de água.
A empresa investe permanentemente em máquinas e equipamentos que permitem
uma otimização dos resultados, possuindo em seu imobilizado: tratores, sistemas de
irrigação por aspersão e outros por gotejamento, barra irrigadora, pulverizadores e
implementos diversos.
Um novo packing house foi construído para preparar frutos com qualidade para
exportação. Nele chegando, a papaia é lavada e classificada através de uma única
máquina, que é de origem espanhola, adquirida pela empresa em julho de 2000.
Quatro linhas de termoterapia são utilizadas para controlar doenças e garantir uma
maior vida de prateleira ao produto.4 O pré-resfriamento ajuda a garantir uma melhor
conservação do fruto.
A empresa possui em seu packing house um total de 2.160 m3 frigorificados,
distribuídos em oito câmaras. Com dois caminhões próprios e através de uma
empresa contratada, a Gaia transporta seus pallets de papaia em baús refrigerados
que são desembarcados diretamente nas aeronaves. Desta forma, garante uma
perfeita cadeia de frio, além de um maior tempo de vida dos frutos em exposição.
A Gaia investe constantemente em pesquisa, de forma a garantir práticas com
impactos cada vez menores ao meio ambiente. Novas variedades estão sendo
pesquisadas, de forma a introduzir no mercado uma fruta de melhor qualidade.
A título de exemplo, a empresa foi uma das primeiras a introduzir o Golden papaya
no mercado: com aparência limpa, casca com cor característica, expressando o
amadurecimento homogêneo, polpa doce e alaranjada, o fruto permanece bastante
firme ao tornar-se totalmente amarelo (maduro). Esta nova variedade obteve
aceitação imediata dos consumidores, facilitando assim o incremento das vendas
nos últimos anos.
Desde 1993 a Gaia vinha exportando papaia para vários países da Europa, além do
Canadá e outros do Mercosul. Entretanto, em 1998 a empresa conseguiu a
permissão do USDA para competir no mercado norte-americano. Desde então, vem
conquistando novos consumidores devido à alta qualidade do seu produto. Com sua
entrada no mercado estadunidense, a Gaia conseguiu ter suas exportações
incrementadas nos últimos três anos em patamares que chegam a 100% ao ano.
Hoje, a empresa exporta cerca de 300 toneladas semanais de papaia.
Segundo informações do Incaper (entrevista citada, 2003), trabalha-se hoje com a seguinte
perspectiva: a) entre o transporte e a armazenagem com a tecnologia do frio, 20 dias; b) quatro dias de
prateleira.
4
15
b) Caliman Agrícola S/A
Esta é uma empresa com tradição na fruticultura, processamento de frutas e
comércio internacional. Nos últimos 15 anos voltou-se exclusivamente para o cultivo,
embalagem e comércio de mamão papaia.
Seu primeiro plantio no Espírito Santo ocorreu há 24 anos, numa área com 2 mil
mamoeiros, sendo, portanto, a empresa pioneira nessa atividade. Em 1984
iniciaram-se as exportações para o mercado europeu. Em 1998, após dois anos de
pesquisa em que foram investidos cerca de US$ 120 mil, foram iniciadas as
exportações para o mercado norte-americano.
As atuais áreas de cultivo estão localizadas nas fazendas Romana e Santa
Terezinha, ambas no município de Linhares; totalizam cerca de 600 mil mamoeiros,
plantados em 400 ha, com uma produtividade de 50 t/ha/ano.
É hoje a maior exportadora brasileira de papaia, com aproximadamente um terço do
total exportado. Noventa por cento da produção é enviada para os seguintes países:
Alemanha, Espanha, França, Inglaterra, Itália e Suíça, além do Canadá e Estados
Unidos. O mercado americano encontra-se atualmente em expansão.
Oito meses após o plantio, os mamoeiros começam a produzir, permanecendo em
ritmo de produção durante todo o ano. A colheita dá-se diariamente. A produção se
estende por 16 meses. Após esse período, devido ao declínio na produtividade e a
dificuldades na colheita, as plantas são erradicadas, e o solo é deixado em
descanso por pelo menos dois anos.
Hoje, a empresa emprega mais de 600 funcionários, criando assim cerca de 1.800
empregos indiretos. Em 1998, o Carrefour outorgou à Caliman seu selo “Garantia de
Origem”. Assim, a papaia Caliman tornou-se o décimo produto brasileiro a receber
este selo, qualificando-se a ser comercializado em todos os supermercados
Carrefour, tanto no Brasil quanto no exterior.
A Caliman é também uma “Empresa Amiga da Criança”, certificado conferido pela
Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos às empresas que desenvolvem
projetos direcionados à infância e à juventude.
O certificado Europe-GAP é um atestado que garante ao mercado varejista europeu
um padrão de excelência a toda papaia produzida pela empresa, sob um programa
rigoroso, o “Boas Práticas Agrícolas”: ou seja, é higiênica e segura para a
alimentação, sendo cultivada com respeito ao consumidor, ao meio ambiente e
5
garantindo qualidade de vida e de trabalho aos funcionários.
A empresa também foi indicada para a certificação do Hazard Analysis and Critical
6
Control Point (HACCP), atestando as boas práticas de produção em relação ao
Trata-se do controle social no que diz respeito à certificação do fruto. Em outras palavras, isto
significa a não-utilização de mão-de-obra infantil, boas condições de higiene (com fiscalização periódica),
alimentação e transporte aos funcionários.
6 Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle.
5
16
manuseio e embalagem da papaia no packing house, garantindo a higiene e
segurança alimentar neste processo.
A organização empresarial também reafirmou seu pioneirismo ao ser a primeira do
Brasil e do mundo a produzir comercialmente a papaia orgânica, certificada pelo
Instituto Biodinâmico de Botucatu (IBD), organização filiada à Fundação
Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam).
Entre todos esses programas, a empresa ainda possui um sistema de gestão
integrado, buscando a qualidade do produto, além da preservação ambiental.
Realiza pesquisas com produtos para a cultura de papaia, desenvolve tecnologias
de produção de frutas e pós-colheita, melhoramentos genéticos e ambientais, além
de outras linhas de pesquisa, sempre buscando uma fruta de qualidade superior e
técnicas de cultivo mais rentáveis, com maiores benefícios sociais e menores
impactos ao meio ambiente.
2.3 Caracterização do APL do mamão
Praticamente duas cidades representam mais da metade (66%) da população
residente na área em que o arranjo produtivo se reproduz: Linhares (37%) e São
Mateus (29%). As demais — Aracruz, Pinheiros e Sooretama — representam 34%.
Tal contingente populacional significa apenas 10% da população total do Espírito
Santo, conforme mostra a tabela 9.
Tabela 9 - População da região delimitada pelo APL no Espírito Santo - 2000
Discriminação
Linhares
Total
%
112.608
37
São Mateus
90.342
29
Aracruz
64.391
21
Pinheiros
21.305
7
Sooretama
18.270
6
306.916
100
Total da região
Espírito Santo
Brasil
3.093.171
-
169.590.693
-
Região / ES
-
9,92
Região / BR
-
0,18
ES / BR
-
1,82
Fonte: IBGE/ Censo Demográfico, 2000
Com relação ao PIB dos municípios situados na área de abrangência do APL,
Linhares e São Mateus somam juntos 79% das riquezas geradas na região, que, por
sua vez, representa 5,35% do PIB do Espírito Santo, como mostra a tabela 10.
17
Tabela 10 - PIB da área de abrangência do APL - 1997
(*)
Discriminação
PIB Total
%
Linhares
430.196
50
São Mateus
251.648
29
Sooretama
47.839
6
Pinheiros
67.331
8
Aracruz
64.391
7
861.405
100
16.088.240
-
870.743.000
-
Região / ES
-
5,35
Região / BR
ES / BR
-
0,10
1,85
Total Região
Espírito Santo
Brasil
Fonte: IBGE/ PIB a preços correntes, 1997
(*) Em R$ mil.
No que se refere à educação formal, a região em que se insere o APL representa
cerca de 13% dos alunos matriculados em relação ao total do Espírito Santo,
destacando-se as cidades de Linhares e São Mateus, que, juntas, representam 66%
do total da região (IBGE. Censo escolar, 2000).
2.3.1 A produção mundial de mamão
A produção mundial de mamão vem evoluindo nos últimos anos, passando de
4.232.344 toneladas em 1992 para 4.801 mil toneladas em 1999, com uma área
colhida atualmente de cerca de 261 mil hectares (AGRIANUAL, 2000).
De acordo com dados da FAO (2000), o Brasil é o principal produtor, tendo
participado com 1,7 milhão de toneladas em 1998, representando 35,4% do total
produzido no mundo. A seguir vêm a Nigéria (500 mil t), o México (498 mil t) e a
Indonésia (450 mil t), como mostram os dados da tabela 11.
Tabela 11 - Principais países produtores de mamão, 1998
Países
Área colhida (ha)
Produção (1000 t)
Participação na produção mundial
(%)
Brasil
27.500
1.700
35,4
Nigéria
60.000
500
10,4
México
17.500
498
10,3
Índia
40.000
450
9,4
Indonésia
23.551
336
6,9
Outros
92.457
1.397
27,6
Total
261.008
4.801
100,0
Fonte: Agrianual, 2000
18
2.3.2 A produção de mamão no Brasil
O Brasil é um dos três maiores produtores mundiais de frutas, com uma produção
que supera os 34 milhões de toneladas. A base agrícola da cadeia produtiva das
frutas abrange 2,2 milhões de hectares, gerando 4 milhões de empregos diretos e
um PIB agrícola de US$ 11 bilhões. Este setor demanda mão-de-obra intensiva e
qualificada, fixando o homem no campo de forma única, pois permite uma vida digna
de uma família em pequenos estabelecimentos, igualmente nos grandes projetos. É
possível alcançar um faturamento bruto que varia de R$ 1 mil a R$ 20 mil por
hectare.
Além disso, para cada 10 mil dólares investidos em fruticultura, geram-se três
empregos diretos permanentes e dois indiretos. Vistos por outro ângulo, 2,2 milhões
de hectares com frutas no Brasil significam aproximadamente 4 milhões de
empregos diretos (duas a cinco pessoas por hectare).
Por ser uma cultura de curto ciclo de produção, proporcionando rápido retorno do
capital investido ao produtor, a produção brasileira de mamão encontra-se
distribuída por todo o território nacional.
Sendo o Brasil o maior produtor mundial, com uma área colhida de
aproximadamente 39.733 ha, o Nordeste é o maior produtor da fruta, concentrando
cerca de 61% do total da produção nacional. Em seguida estão as regiões Sudeste e
Norte, com 32% e 5,3%, respectivamente, da produção total. Os estados de maior
produção são a Bahia (367.562 t) e o Espírito Santo (197.840 t). Considerando-se a
área colhida, nota-se que o Espírito Santo possui maior produtividade (35,54 t/ha)
que a Bahia (14,16 t/ha). Isso se deve ao maior nível tecnológico deste estado
(AGRIANUAL, 2001).
O cultivo do fruto no Brasil concentra-se nas regiões Sudeste e Nordeste,
representando 87,5% da produção nacional. Trata-se de uma cultura com relevante
conteúdo social por sua capacidade de gerar empregos e absorver mão-de-obra o
ano inteiro.
Além disso, tem-se constituído numa importante fonte de divisas. As exportações,
que em 1997 somavam 7.868 toneladas de frutos, passaram, em 2001, para 22.804
toneladas, significando uma evolução de 190%. Nesse mesmo período, o volume
das receitas com exportações ampliou-se de US$ 7,3 para US$ 17,7 milhões
(boletins TODAFRUTA, 2002).
2.3.3 A produção de mamão no Espírito Santo
Além do mamão, em 2001 o Espírito Santo produzia as seguintes frutas mais
importantes: abacate, abacaxi, acerola, ameixa, banana, cacau, caju, caqui, coco,
cupuaçu, figo, goiaba, graviola, jabuticaba, laranja, limão, macadâmia, manga,
maracujá, melancia, morango, nêspera, pêssego, pinha/atemóia, tangerina e uva.7
Segundo dados do IBGE, 2001 e outros estimados pelo Incaper, disponíveis em:
<http://www.incaper.es.gov.br/fruticultura/fruticultura.htm>.
7
19
Do ponto de vista da produção (em t) e da produtividade (t/ha), o mamão se destaca:
quanto ao primeiro critério, representava 42% do total produzido naquele ano, num
ranking de dez frutas mais importantes;8 no que se refere ao segundo, sobressaía-se
num significativo patamar de 57,8 t/ha, considerando uma relação de oito frutícolas
mais importantes.9 Note-se que a produtividade do mamão naquele ano superava a
média em 45 pontos. Já em relação à última das oito frutas relacionadas (melancia),
a produtividade do mamão estava à frente em 37,8 pontos. No que se relaciona à
área plantada (ha), o mamão estava em quarto lugar, representando 12,2% da área
total no Espírito Santo.10 Por fim, a partir do critério área em produção, o mamão
colocava-se também em quarto lugar, representando 9,3% da área total em
produção no Espírito Santo.
A tabela 12 mostra os dez municípios que mais produzem o fruto no estado. Se em
1999 a área total plantada situava-se em torno dos 6,5 mil ha, em 2003 ela
expandiu-se para um mínimo de 11 mil e um máximo de 11,5 mil ha (INCAPER,
2003).
Tabela 12 - Principais municípios produtores de mamão do Estado do Espírito
Santo - 1999
Municípios
Área (ha)
Plantada
Em produção
Produção (t)
Produtividade
(t/ha/ano)
Pinheiros (*)
2.300
2.300
184.000
80
Linhares
1.646
1.200
43.200
36
Conceição da Barra
600
600
21.000
35
Pedro Canário
450
370
12.950
35
Aracruz
316
250
8.375
33
Sooretama
273
273
7.371
27
São Mateus
230
230
6.900
30
Jaguaré
218
218
8.720
40
Mucurici (*)
200
200
2.400
120
Boa Esperança (*)
118
118
9.440
80
Outros
210
183
12.637
69
6.561
5.942
338.593
53,2(**)
Total
Fonte: IBGE/ LSPA
(*) Predominância do mamão formosa, com mais de 85% da área plantada
(**) Produtividade média (t/ha/ano)
Segundo dados do Ipes, em 2001 o Espírito Santo exportava papaia para os
seguintes países, em ordem de importância: EUA, Países Baixos, Reino Unido,
Alemanha, Canadá, Portugal, Suíça, França, Espanha, Itália e Argentina. Os quatro
11
primeiros, em termos de valor exportado, foram responsáveis por US$ 11.521
milhões, o que representou aproximadamente 77% do total exportado naquele ano.
8
cacau.
Incluindo o mamão, naturalmente: coco, banana, abacaxi, maracujá, laranja, limão, tangerina e
Idem: coco, morango, goiaba, abacaxi, limão, tangerina e melancia.
Além do mamão, as demais frutas (11) em ordem de importância: banana, cacau, coco, abacaxi,
laranja, maracujá, macadâmia, abacate, tangerina e limão.
11 US$ mil, FOB.
9
10
20
No que diz respeito à quantidade exportada, os números foram os seguintes:
12
12.841 t., correspondendo a 75% do total.
A evolução dos valores e quantidades de exportação da papaia no período 19922001 pode ser assim resumida: a) no âmbito do Espírito Santo, valores em US$:
1.346%; b) idem, em relação a quantidades (t.): 812,6%; c) quanto à participação do
estado no conjunto das exportações brasileiras do fruto, em US$, houve uma
evolução de 37% em nove anos e no que diz respeito à quantidade (t.), 32,4%. Já o
Brasil como um todo teve um desempenho no período de 659,4% (em valores) e de
438,6% (em quantidades). Fica claro, portanto, que, tanto do ponto de vista de
valores quanto de quantidades, o desempenho do Espírito Santo foi bem mais
13
significativo que o do Brasil no período: 686,6 e 374% respectivamente.
A cultura ainda é responsável pela diversificação agrícola dos municípios envolvidos,
contribuindo para a geração de emprego, renda e a conseqüente redução do êxodo
rural. Em vista da aptidão natural do estado, além da sua localização geográfica
privilegiada — em termos de infra-estrutura disponível —, a tendência da cultura é
14
de expansão, ocupando áreas que no passado recente eram ocupadas por
pastagens.
É importante ressaltar que atualmente o potencial do mercado mundial de frutas é de
15
mais de US$ 20 bilhões / ano, e, segundo estudos, o acesso depende de um
conjunto de fatores, dentre os quais se destacam as barreiras não alfandegárias e
os requisitos de qualidade e competitividade exigidos pelos países importadores.
Ressalta-se que, através de tecnologia desenvolvida por pesquisadores do Incaper
16
— denominada systems approach — e aplicada pela primeira vez no Brasil (no
APL do mamão do Espírito Santo), a papaia brasileira penetrou no mercado norte-
Os totais: US$ 14.837, relativos a 16.901 t.
Isto é, diferenciais a favor do Espírito Santo.
14 Entretanto, segundo Antonio A. Amaro, do Instituto de Economia Agrícola de S. Paulo (IEA
– SP), que proferiu palestra intitulada “Análise Conjuntural do Mercado do Mamão” [In: Papaya Brasil
(Simpósio do Papaya Brasileiro), evento de âmbito nacional realizado em Vitória, ES, no período de 19 a
21 de novembro de 2003], os preços da papaia deverão sofrer retração em 2004, sobretudo em
conseqüência do significativo aumento da área plantada, vis-à-vis quantidade ofertada. Para o estudioso,
este fenômeno acontecerá não somente na esfera do mercado externo, mas também na do interno. Obs.:
neste mesmo evento, o Sr. Roberto Pacca do Amaral Jr., representando a Brapex, informava que em 2003
a papaia havia chegado a um preço recorde no mercado norte-americano: US$ 19,20 a unidade (sic).
15 Conforme a entrevista citada com José Aires Ventura (2003), hoje as exportações brasileiras
respondem por apenas 9% do potencial de demanda do mercado externo.
16 Systems approach — consiste principalmente em: a) monitorar e controlar a praga toda vez que a
densidade populacional atingir sete indivíduos de C. capitata ou A. fraterculus / armadilha / semana; b)
colher os frutos antes que um quarto da superfície da casca esteja amarelecida; c) manter as plantas livres
de frutos com maturação acima desse estágio; d) manter o campo de produção em boas condições de
sanidade; e) retirar da lavoura e destruir os frutos refugados e caídos; f) levar imediatamente os frutos
colhidos para uma casa de embalagem (packing house) totalmente protegida contra a entrada de pragas; g)
tratar os frutos com água quente a 49 ± 1ºC por 20 minutos e h) transportar os frutos em pallets telados e
lacrados ou contêineres lacrados, que só serão abertos no país de destino (EUA).
12
13
21
americano, derrubando uma barreira fitossanitária que impedira, durante 13 anos, a
exportação da fruta para aquele país.
Do estudo em vista do desenvolvimento dessa tecnologia, foi implementado o
Programa de Exportação de Papaia Brasileira para os Estados Unidos, caracterizado
por uma forte interação entre o setor público de pesquisa e o produtivo. As
exportações iniciaram-se através das duas empresas-âncoras (Caliman e Gaia), por
serem as únicas, na época, a atender às exigências determinadas pelo plano de
trabalho que regulamenta tal programa, assinado pelos governos brasileiro e norte17
americano. Posteriormente, outras três empresas também passaram a fazer parte
do programa.
Tabela 13 - Evolução do programa de exportação de mamão papaia do Espírito
Santo para os EUA - 1998-2001
Discriminação
N.º de propriedades de mamão no ES
N.º de propriedades monitoradas no ES
N.º de empresas exportadoras
1998
1999
2000
2001
TCA(*)
169
176
203
293
14,75
9
14
30
51
54,29
2
6
8
8
41,42
5.077
5.468
7.186
8.915
15,11
Área monitorada (ha)
353
742
1.035
1.745
49,11
Área monitorada (**)
147
460
908
1.522
79,38
Volume exportado (t.)
572,69
3.111,30
5.041,33
5.966,32
79,66
Valor exportado (US$1.000)
595.71
2.520.01
4.135.83
5.316.62
72,84
Área plantada (ha)
Fonte: Incaper / DFA-ES, 2001
Obs.: Evolução após a implantação do systems approach.
(*) Taxa de crescimento anual, em percentual.
(**) Liberada para exportação (em ha).
Em 2002 havia cinco empresas que exportavam para os Estados Unidos. Os
resultados alcançados nos primeiros 40 meses de vigência do programa podem ser
observados comparando a situação em que as empresas se encontravam em
dezembro de 1997, um ano antes do início do programa, e em dezembro de 2001, o
que é evidenciado no quadro 2.
Quadro 2 - Comparação da evolução do Programa de Exportação de Papaia do
Espírito Santo para os EUA - 1997/2001
Parâmetros
Área de produção (ha)
N.º de propriedades parceiras/fornecedoras
N.º de empregados das empresas exportadoras
N.º de empregados nas áreas de empresas parceiras /
fornecedoras
1997
2001
TCP(*)
231
1.793
676
2
43
2.050
281
1.322
370
-
1.164
Continua
Em 2000, a Agra Produção e Exportação Ltda. Em 2001, a Fruta Solo Ltda., além da Brasfruit
Exportação e Importação.
17
22
Quadro 2 - Comparação da evolução do Programa de Exportação de Papaia do
Espírito Santo para os EUA - 1997/2001
Conclusão
Parâmetros
1997
2001
TCP(*)
Volume total produzido (t.)
9.066
35.293
289
Volume total exportado (t.)
5.116
20.473
300
Volume exportado para os EUA (t.)
-
5.966
-
N.º de países atingidos pela exportação das empresas
8
11
38
15.821.300
61.319.750
288
2.984.310
-
-
Faturamento bruto (R$ 1,00)
Investimentos
mercado (R$)
realizados
para
atendimento
ao
novo
Fonte: Incaper
(*) Taxa de crescimento no período (em percentual)
Analisando o quadro, observa-se:
• Um aumento da área de produção de 231 para 1.793 ha, representando um
acréscimo de 676% no período;
• que o número de empresas, propriedades e parceiras e fornecedoras, que em
1997 era de apenas duas, passou para 47 em 2001; essas empresas, para
fornecerem frutos para as exportadoras, também tiveram que adequar o seu
sistema de produção às exigências do plano proposto;
• que a efetivação do programa obrigou, literalmente, a uma maior organização do
setor produtivo e exportador, primeiramente com a criação da Acemade, que
mais tarde foi sucedida pela Brapex, que organiza e coordena as ações do
agronegócio do mamão no Brasil;
• a geração de 2.486 novos postos diretos de trabalho, sendo 1.322 nas empresas
de exportação e 1.164 nas novas áreas de produção das empresas parceiras;
estas, criadas para o atendimento de contratos com as exportadoras do
programa;
• a instalação de três novas empresas de exportação no município de Linhares,
com o objetivo de atender ao mercado americano;
• o incremento de cerca de 289% no volume total de produção de mamão,
passando de 9.066 t., em 1997, para 35.293 t., em 2001, sendo 14.820 t. (42%)
para o mercado interno e 20.473 t. (58%) para o externo;
• naquele período o volume de exportação para os EUA foi de 14.691,64 t.,
correspondendo a US$ 12,6 milhões de divisas para o país;
• consolidação do mercado externo atual, representado pelos países da Europa,
uma vez que estarão sendo satisfeitas as exigências fitossanitárias mais
abrangentes, além da ampliação de novos mercados (de 8 para 11 países);
• o incremento de investimentos para adequação da infra-estrutura, aquisição de
equipamentos e novas tecnologias, da ordem de R$ 2,98 milhões, para as áreas
de produção, colheita e processamento da fruta, com o objetivo de atender a
esse novo mercado; e
• aumento de cerca de 288% no faturamento bruto das empresas envolvidas no
programa naquele período, passando de R$ 15,8 para R$ 61,3 milhões.
23
Com efeito, desse panorama é possível observar os seguintes aspectos mais
importantes na região produtora de mamão:
• proximidade geográfica dos principais municípios produtores — Aracruz,
Linhares, Pinheiros, São Mateus e Sooretama;
• maior especialização setorial;
• predominância de pequenas e médias empresas;
• estreita interação entre os atores envolvidos;
• busca incessante de inovações tecnológicas e
• uma atividade que gera oportunidades de emprego, sendo relevante na
promoção do desenvolvimento econômico local.
Quadro 3 - Maiores empresas produtoras e exportadoras de mamão do Espírito
Santo
Empresa
Localização
Agra Produção e Exportação Ltda.
Linhares
Brasfruit Exportação e Importação Ltda.
Linhares
Caliman Agrícola S.A.
Linhares
Gaia Importação e Exportação Ltda.
Linhares
Frutas Solo Ltda.
Sooretama
Fonte: Incaper
Assim, pode-se afirmar que está constituído o Arranjo Produtivo Local do Mamão
neste estado, cuja consolidação e desenvolvimento dependem de ações que visem
ao fortalecimento da cadeia produtiva, através do incremento de inovações
tecnológicas, da difusão de novas tecnologias e de pesquisas que elevem o padrão
de qualidade do produto, com vistas ao aumento da competitividade do setor.
2.3.4 Capacitação inovativa e tecnológica
A inserção do produto no mercado internacional contribuiu para que, mediante uma
série de reuniões efetuadas no Espírito Santo tratando do tema — envolvendo
representantes do setor produtivo, dos exportadores, dos fornecedores de insumos,
das instituições de pesquisa, do Governo estadual e de outras instituições públicas e
privadas —, fossem desenvolvidos e encaminhados à Finep, para financiamento,
projetos que traduzem as principais demandas por pesquisa dos atores envolvidos
no setor produtivo.
Com efeito, os produtores de papaia no Brasil (e particularmente no Norte do
Espírito Santo) vêm realizando investimentos de grande porte ao longo das duas
últimas décadas em melhorias tecnológicas e científicas, nas áreas de produção,
colheita e pós-colheita.
24
Grande parte das inovações vem ocorrendo em função de problemas fitossanitários,
em que tem sido constatada a ocorrência de pragas e doenças associadas ao
sistema produtivo da cultura do mamoeiro e que causam sérios prejuízos a sua
produtividade, à qualidade dos frutos, além de interferir na sua comercialização para
a maior parte dos países, sobretudo para os EUA, Japão e Comunidade Européia.
Dentre as pragas, destacam-se a mosca-das-frutas e os afídeos.18 Entre as
doenças, destaque para a meleira.
Os trabalhos mais importantes realizados por técnicos do Incaper e da Ufes, em
parceria com o setor produtivo, são os seguintes:
a) Melhoramento das populações de mamoeiros para o estado do Espírito Santo;
b) Valorização do lodo de lagoas de estabilização anaeróbia como fonte de matéria
orgânica e de nutrientes no cultivo do mamoeiro no Espírito Santo;
c) Fertirrigação do mamoeiro (Carica papaya) na região Norte do estado do Espírito
Santo;
d) Estudo do efeito de diferentes lâminas de irrigação aplicadas por gotejo e
microaspersão na cultura do mamoeiro;
e) Transmissão, epidemiologia e controle cultural da meleira;
f) Controle de viroses através do cultivo protegido do mamoeiro;
g) Epidemiologia e controle da antracnose e da varíola do mamoeiro;
h) Manejo de doenças do mamoeiro;
i) Monitoramento e levantamento de espécies e hospedeiros de mosca-das-frutas na
região produtora de papaia no estado do Espírito Santo.
O quadro 4 mostra uma síntese dos projetos de controle fitossanitário desenvolvidos
na cultura da papaia no período de 2001 a 2003.
Quadro 4 - Projetos de controle fitossanitário desenvolvidos na cultura do
mamoeiro - 2001/2002
Ano
(início)
2001
2001
Projeto
Executor /
Coordenador
Co-Executor
Pesquisador(a)
Manejo das doenças do
mamoeiro para a
produção de frutos com
qualidade para
exportação (Madoma)
Incaper
Aprucenes
José Aires
Ventura
Redução do risco de
infestação de moscasdas-frutas e afídeos na
cultura do mamoeiro no
Estado do Espírito Santo
(Mofama)
Incaper
Ufes
Aprucenes
Vigência
David Martins
Brapex
Continua
Afídeos — “Família de insetos da ordem dos homópteros, vulgarmente chamados pulgões. São
pequenos insetos de 1 a 5 mm, esbranquiçados, que parasitam a seiva dos vegetais. Os mais conhecidos
são o pulgão-da-roseira, o pulgão-da-laranjeira. Produzem secreção adocicada, que atrai as formigas.”
(Aurélio)
18
25
Quadro 4 - Projetos de controle fitossanitário desenvolvidos na cultura do
mamoeiro - 2001/2002
Conclusão
Ano
(início)
Projeto
Executor /
Co-Executor Pesquisador(a)
Coordenador
2002
Análise de riscos de
pragas na cultura do
mamoeiro
Brapex
2002
Manejo integrado e uso
Ufes / Dpto.
de recursos biológicos
de Biologia
para o desenvolvimento
Vegetal
sustentável do mamoeiro
no norte do Espírito
Santo
Incaper
Vigência
David Martins
Diolina M. Silva
20/fev/2001 a
20/fev/2003
Fonte: Ipes
De uma forma geral, o resultado tem sido a elevação das empresas do estado à
categoria de detentoras da tecnologia para produção do mamão em âmbito mundial.
Com efeito, o Espírito Santo é o único estado brasileiro autorizado a exportar papaia
para os Estados Unidos. Conforme já explicitado, esta autorização foi obtida após a
realização de vários estudos que serviram de base para desenvolver um programa
de redução de riscos de infestação do mamão, denominado systems approach, com
forte base biológica e ecológica, envolvendo tratamento hidrotérmico pós-colheita.
O quadro 5 sintetiza os principais problemas tecnológicos enfrentados pela cultura
da papaia no Espírito Santo, bem como os projetos19 que visem a sua solução.
Quadro 5 - Cultura do mamoeiro: diagnóstico dos principais problemas
tecnológicos
Diagnóstico
Projeto
1. Meleira – doença que mais ameaça o
Transmissão, epidemiologia e controle cultural
sistema de produção de mamão no Norte do da meleira do mamão
Espírito Santo
Avaliação de fungicidas no controle do oídio
(Ovulariopsis sp) do mamoeiro
2. Falta de registro de moléculas químicas para Avaliação da eficiência do fungicida azoxystrobin
uso na cultura do mamoeiro. Portaria n.º 120 no controle do oídio do mamoeiro
do Ministério da Agricultura
Epidemiologia e controle da antracnose e da
varíola do mamoeiro
Fitotoxidez de fungicidas triazóis no mamoeiro
3. O cultivo do mamoeiro na região do Extremo
Norte do Espírito Santo vem sendo
prejudicado pelo mosaico, cujas fontes de
inóculos estão em plantios da Bahia
Cultivo de mamoeiro em ambiente protegido
visando à prevenção de doenças viróticas
Levantamento da entomofauna associada ao
agrossistema do mamoeiro (Carica papaya)
Continua
19
Já iniciados, ainda não iniciados, em andamento e concluídos.
26
Quadro 5 - Cultura do mamoeiro: diagnóstico dos principais problemas
tecnológicos
Conclusão
Diagnóstico
4. Os cultivares de mamão utilizados não são
resistentes às principais doenças,
apresentando alta heterozigose e baixa
conservação pós-colheita
Projeto
Melhoramento de germoplasma de mamoeiro no
estado do Espírito Santo
Melhoramento de germoplasma de mamão
(Carica papaya L.) para o Espírito Santo
Propagação vegetativa do mamoeiro (Carica
papaya L.)
Fertirrigação do mamoeiro (Carica papaya) na
região Norte do Espírito Santo
Estudo de diferentes lâminas de irrigação
aplicadas por gotejo e microaspersão na cultura
do mamoeiro
Manejo da irrigação na cultura do mamoeiro
5. Os sistemas de irrigação e adubação
precisam ser aprimorados
Plantios adensados de mamoeiro do grupo
“Solo” em condições de irrigação localizados no
Norte do Espírito Santo
Uso da matéria orgânica na cultura do mamoeiro
Levantamento e identificação de espécies de
fungos micorrízicos na cultura do mamão no
estado do Espírito Santo
Efeito do boro e cálcio na incidência de
antracnose em frutos do mamoeiro
Influência do manejo da irrigação na incidência
da antracnose do mamoeiro
6. O mercado externo para o mamão capixaba Monitoramento e levantamento de espécies e
já está consolidado nos EUA e CEE;
hospedeiros de mosca-das-frutas na região
entretanto, o Mercosul e outros precisam ser produtora de papaia no Espírito Santo
melhor trabalhados
Levantamento de espécies de moscas-das-frutas
e seus hospedeiros no Estado do Espírito Santo
7. Falta de tecnologia para a pré e a póscolheita do mamão
Eficiência de fungicidas no controle da
antracnose e da podridão peduncular em frutos
do mamoeiro
Controle biológico da antracnose em frutos de
mamoeiro em pós-colheita no Espírito Santo
Fonte: Incaper
27
3.
COOPERAÇÃO E GOVERNANÇA
Tanto a cooperação quanto a governança são atributos fundamentais para o bom
funcionamento de um APL. Mesmo competindo entre si — e não poderia ser
diferente numa sociedade capitalista —, as unidades produtivas são chamadas a um
determinado nível de cooperação, que se dá, por exemplo, na troca de experiências,
de conhecimentos tácitos e codificados, de uma certa base tecnológica comum, que,
mesmo já sendo dominada pelo conjunto do APL, é fundamental para a sua
reprodução no tempo. Mesmo havendo diferenças significativas entre as empresas
— pois também num APL existem as naturais “barreiras à entrada” —, na medida
em que as menores vão dominando a base técnico-científica, todas acabam
ganhando no final do processo, pois acaba ocorrendo um crescimento e
desenvolvimento (sustentado) do arranjo no seu conjunto.
A governança diz respeito à maior ou à menor capacidade de o arranjo se autogerir.
Relaciona-se também ao nível de organização presente em seu seio, através de
instituições que representem formalmente as unidades produtivas na defesa dos
seus interesses gerais e particulares. Reporta-se, da mesma forma, à capacidade de
o arranjo articular-se exogenamente, seja com outros agentes socioeconômicos,
seja com organizações governamentais e com ONGs representativas da sociedade
civil organizada. O progresso técnico só será possível no interior do arranjo caso
existam políticas de crédito e de pesquisa científica que possam estabelecer as
bases tecnológicas das empresas, sempre carentes de novas conquistas, visando à
qualidade final do produto. Neste caso concreto [a papaia para a exportação], além
do suprimento das demandas do mercado interno. O mesmo se dá em relação ao
constante treinamento e capacitação da força de trabalho que sustenta o APL
(investimento em recursos humanos).
Este item mostra o que já existe, mesmo que sinteticamente, neste campo específico
do APL do mamão (ou seja, no que diz respeito à cooperação e à governança).
Quanto às principais empresas representantes do arranjo, tem-se:
• Agra Produção e Exportação Ltda.
• Brasfruit Exportação e Importação Ltda.
• Caliman Agrícola S/A
• Gaia Importação e Exportação Ltda.
• Frutas Solo Ltda.
No que diz respeito às instituições articuladoras e parceiras:
• Aprucenes
• Assipes
• Brapex
• DFA / ES
• Incaper
• Ipes
28
Instituições de apoio:
• CNPq
• Embrapa
• Finep
• Funcitec
• Mapa
• MCT
No campo da colaboração técnica, tem-se as seguintes instituições de ensino:
• Faesa
• Incaper
• Ufes
• UFNF
• UFV
• USP
Para o devido aprimoramento do APL — não somente do cultivo da papaia, mas dos
produtos agrícolas em geral — em âmbito estadual requer-se uma série de ações
governamentais, a serem concretizadas em diretrizes básicas para a agricultura
capixaba: a) recuperação e conservação da base de produção agrícola (solo, água e
florestas); b) adequação e melhoramento da infra-estrutura rural; c) redução dos
riscos de produção, especialmente os climáticos e os de caráter fitossanitário; d)
aumento da produtividade e melhoria da qualidade dos produtos; e) agregação de
valor na produção, transformação e comercialização de produtos agropecuários e
advindos da silvicultura e f) vinculação da atividade agrícola às necessidades do
mercado.
No caso específico do APL do mamão, aponta-se para as principais ações e metas:
• Implantação de dez câmaras frigoríficas, cinco packing houses e aquisição de
três veículos frigorificados, objetivando aumentar o período de conservação dos
produtos e melhorar sua qualidade, possibilitando ganhos na comercialização e
conquistas de novos mercados;
• implantação de unidades e campos de demonstração com diversas frutícolas,
num total de 15, visando a divulgar aos produtores rurais as várias tecnologias de
produção possíveis nessas culturas;
• definição de normas e padrões de produção e qualidade de mudas, objetivando
melhorar o padrão genético e minimizar problemas fitossanitários nas mudas;
• geração e/ou adaptação de 21 tecnologias com assistência técnica e extensão
20
rural a cerca de 32 mil fruticultores.
20 Que teriam o objetivo prioritário de: a) desenvolver variedades e introduzir espécies comerciais
adaptadas às condições agroecológicas regionais; b) avaliar os sistemas orgânicos de produção; c) reduzir o
uso de agrotóxico, a partir de monitoramento de resíduos químicos; d) apoiar ações de melhoria de
qualidade do produto, com ênfase em padronização, classificação e embalagem; e) incentivar a construção
de pólos de produção, visando a gerar economia de escala, facilitar a organização da produção, a
agroindustrialização e o marketing dos produtos.
29
Para o período 2001-2002, foram previstas as seguintes ações e metas no sentido
de sedimentar e aprimorar o APL:
• reuniões em Linhares e em Vitória, objetivando a aproximação entre empresas e
centros de pesquisa;
• reuniões para esclarecimentos e informações acerca dos objetivos dos trabalhos
nos APLs propostos para o Espírito Santo;
• apoio à formulação e formatação dos projetos submetidos às instituições: MCT /
Finep / CNPq;
• repasse contínuo de informações sobre possibilidades de financiamento, estudos
e pesquisas de interesse do APL;
• financiamento de pesquisas a partir de demandas definidas pelo setor produtivo
com recursos do Funcitec.
Em relação a outros APLs que existem em estados tanto da região Sudeste, quanto
da Nordeste, articular conhecimentos, trocas de experiência e eventos comuns:
a) no Rio de Janeiro, junto ao Pólo Agroindustrial para a região Norte Fluminense; b)
em Minas Gerais, junto ao Programa Mineiro de Incentivo à Fruticultura e c) no
Nordeste, junto ao Programa de Apoio e Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do
Nordeste.
No período de 2001-2003 foram realizados alguns eventos de apoio ao APL do
mamão:
• Feira de Agronegócios do Espírito Santo (Feagro), Linhares, ES;
• Feira do Agronegócio Frutas (Agrifruti), Linhares, ES;
• Papaya Brasil — Simpósio do Papaya Brasileiro, Vitória, ES.
Apesar do sucesso do APL nos últimos anos, muitos são ainda os desafios
encontrados. Os de maior destaque — necessidade de: a) uma maior generalização
dos padrões de produção seguidos pelas empresas-líderes; b) maior capacitação
empresarial; c) criação de mecanismos adequados de capitalização; d) ações
integradas para um maior aprimoramento da qualidade do mamão capixaba; e)
implementação do projeto de produção integrada, que busca a garantia de
monitoração do produto, de acordo com exigências do mercado internacional.
Mesmo o Espírito Santo sendo o segundo maior produtor nacional do fruto, é
fundamental que haja também uma maior articulação com APLs de outros estados,
como, por exemplo, buscar um maior nível de parceria no que tange a um projeto de
produção integrada entre os pesquisadores que atuam no Espírito Santo e os da
Bahia.
Por outro lado, a pesquisa técnico-científica no Espírito Santo praticamente lidera o
que hoje existe em âmbito nacional, vindo a subsidiar grupos de técnicos de outros
estados brasileiros, sobretudo os da Bahia, do Ceará e do Rio Grande do Norte.
30
Glossário de Siglas
Agrianual - Anuário da Agricultura Brasileira
APL - Arranjo Produtivo Local
Aprucenes - Associação de Produtores Rurais do Centro-Norte do Espírito Santo
Assipes - Associação dos Irrigantes do Espírito Santo
Brapex - Associação Brasileira de Exportadores de Papaya
Ceasa/ES - Centrais de Abastecimento do Espírito Santo
CMCT - Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia (município de Vitória)
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Codesa - Companhia Docas do Espírito Santo
DFA/ES - Delegacia Federal de Agricultura (regional Espírito Santo)
Eadis - Estações Aduaneiras do Interior
Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Facitec - Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia (município de Vitória)
Faesa - Faculdade Espírito-Santense
FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
Finep - Financiadora de Estudos e Projetos
Funcitec - Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Idaf - Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo
Incaper - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
Ipes Neves
Instituto de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Jones dos Santos
Mapa - Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento
MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia
Prossiga/ES - Informação e Comunicação para Ciência e Tecnologia (regional
Espírito Santo)
Ufes - Universidade Federal do Espírito Santo
UFNF - Universidade Federal do Norte Fluminense
UFV - Universidade Federal de Viçosa
USDA - United States Department of Agriculture (Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos)
USP - Universidade de São Paulo
31
REFERÊNCIAS
21
Além do conteúdo pesquisado na Internet, o presente documento foi baseado em
dados e informações das seguintes instituições:
Associação Brasileira de Exportadores de Papaya;
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
Instituto de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento Jones dos Santos Neves;
22
Instituto de Pesquisa e Extensão Rural do Espírito Santo.
21
Disponível em <http://www.agricultura.gov.br/; http://www.cnpq.br/;
http://www.codesa.com.br/; http://www.embrapa.br/; http://www.faesa.br/; http://www.fao.org.br/;
http://www.finep.gov.br/; http://www.fnp.com.br/foldia2/zMkt/agri2004/; http://www.ibge.gov.br/;
http://www.mct.gov.br/; http://www.prossiganosestados.es.gov.br/;
http://www.seplog.es.gov.br/scripts/sea0711.asp; http://www.usdabrazil.org.br/exe/br/somos.html e
http://www.vitoria.es.gov.br/secretarias/sedec/poltecno.htm>.
22
Através de entrevistas com os pesquisadores envolvidos nos projetos aprovados.
Download

arranjo produtivo local do mamão - Instituto Jones dos Santos Neves