Informação para maior impacto social N.16 Julho/Agosto 2013 O projeto Impulso Positivo é apoiado por: Opinião • Entrevistas • Casos & Testemunhos • Artigos Técnicos • Prémios & Incentivos • Agenda 02 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 ÍNDICE 04 EDITORIAL 09 VIVA VOZ OPINIÃO Cooperação centralizada nas populações: Um Faz a Diferença. Por Catarina Lopes, FEC – ONGD FÓRUM Que papel podem e devem ter as ONGs Portuguesas e o Estado Português no alcance das metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio? Por Abílio Antunes, Médicos do Mundo; Nuno Frazão, IES; Fernando de La Vieter Nobre, AMI; e Carmo Fernandes e Filipe Pinto, ONGD Leigos para o Desenvolvimento INTERNACIONAL As consequências de não se olhar convenientemente para os ODM. Por Oliver Consolo, CONCORD 26 NO CENTRO 104ª Convenção Internacional de Rotary Miguel Silva, TESE 30 EXPERIÊNCIAS NACIONAIS VIDA, Fundação Gonçalo da Silveira, OIKOS, Monte e AIDGLOBAL INTERNACIONAIS P&G, CARE 39 PRÉMIOS & INCENTIVOS 44 ARTIGOS TÉCNICOS O papel dos cidadãos no Desenvolvimento Por Ana Teresa Santos, Instituto Marquês de Valle Flôr Fez-se Luz. LuminAid - Inovação no produto, criatividade na distribuição Por Michelle Lee, LuminAID 16 CAPA ENTREVISTAS Domingos Simões Pereira Pedro Krupenski 50 FOTOFILANTROPIA EDITORIAL Cooperação e Desenvolvimento por um mundo mais justo O trabalho em prol da Cooperação e do Desenvolvimento é, antes que tudo, um trabalho em prol da justiça. Um mundo em que pelo menos 1 em cada 8 pessoas continua a dormir com fome não é um mundo justo. Mas esta forma de perceber o trabalho da Cooperação e Desenvolvimento não é generalizada, e não o é por desconhecimento da população em geral, mas também por deficiências de comunicação de quem está na linha da frente e se esquece tantas vezes de dar a conhecer o seu trabalho. Nesta edição o Impulso Positivo quis dar voz e visibilidade a muitas organizações e pessoas que estão na linha da frente da Cooperação e Desenvolvimento, não só tendo como base Portugal como outros países, e sem esquecer a relação histórica e única existente entre os Países de Língua Oficial Portuguesa. É um número que contou com a parceria da Plataforma das ONGD, que abraçou desde o início com entusiasmo o nosso desafio de contribuírem para esta tarefa. Fica aqui o agradecimento escrito à Plataforma. “Olha-se já para o Pós-2015” Hoje olha-se já para o pós-2015, na certeza de que muito se fez em prol dos Objetivos para o Desenvolvimento do Milénio, mas de que muito está ainda por fazer. Até breve e uma boas férias, Raquel Campos Franco *Siga-nos em diretora www.impulsopositivo.com facebook.com/impulsopositivo twitter.com/impulsopositivo O projeto impulso positivo é apoiado por: Julho/Agosto 2013 Administração Raquel Campos Franco | António Gil Machado • Direção Raquel Campos Franco | rcfranco@ impulsopositivo.com Edição Leonor Rodrigues | [email protected] • Colaboradores Pedro Lopes | [email protected] • Projecto Gráfico Gonçalo Forte (Brandscape Leisure & Lifestyle, Lda) • Design Gráfico tê[email protected] • Impressão Uniarte Gráfica S.A, Rua Pinheiro de Campanhã, 342, 4300-414 Porto Assinaturas Paula Moreira • Propriedade Positivagenda – Edições Periódicas e Multimédia, Lda. • Preço Assinatura anual (6 números): 45€ | Avulso: 12€ Tiragem 5000 exemplares Redação, Administração e Assinaturas PORTO – R. Gonçalo Cristovão nº 185, 6º 4049-012 PORTO Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 • Lisboa Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6 – 4º andar, 1069-106 Lisboa | Tel. 217 970 029 | Fax. 217 970 030 • Nº Registo ERC 126045 BREVES Educação para um Mundo mais Justo e Sustentável Marca SOS Pobreza lançada pela AMI celebra 1 ano A marca SOS Pobreza foi lançada pela AMI há exatamente um ano. Este projeto de características inovadoras insere-se no âmbito da Missão de Emergência Nacional da AMI de combate à pobreza em Portugal e consiste na criação de uma marca de produtos de consumo básico, de origem nacional, envolvendo produtores que recebem de forma justa e sustentável, respondendo assim às três vertentes da sustentabilidade: económica, ambiental e social. As empresas do retalho alimentar envolvidas neste projeto proporcionaram condições especiais para a marca, tendo em conta os seus objetivos sociais. Os consumidores compram um produto a preço justo, podendo ajudar uma causa sem desembolsar mais dinheiro, apenas adquirindo produtos que já comprariam para seu próprio consumo. A gama SOS Pobreza, disponibiliza 30 produtos de 9 produtores distintos, como sejam farinhas, arroz, azeite, frutas e legumes, águas, refrigerantes, papel higiénico, rolos de cozinha ou guardanapos. A marca SOS Pobreza está presente em 109 lojas das cadeias de 6 distribuidores Grupo Auchan, E. Leclerc, Continente, Pingo Doce, El Corte Inglés e Staples - em 61 cidades do país e, no ano de implementação deste projeto, a marca vendeu mais de 632 mil artigos, com os quais conseguiu 20 mil euros de receitas líquidas, valor que equivale aproximadamente aos custos mensais de funcionamento do Centro Porta Amiga de Cascais, que apoia 2200 pessoas. Em comunicado, a organização refere que espera que a crescente implementação e aceitação da marca SOS Pobreza permita reforçar a sua atuação de combate à pobreza em Portugal. Para além de ser mais uma opção de baixo custo para os consumidores, as receitas permitirão à AMI dar uma resposta mais pronta e mais eficaz ao cada vez maior número de solicitações de que é alvo em termos de apoio social. 06 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 A Organização Não Governamental para o Desenvolvimento AIDGLOBAL nasceu há sete anos com a missão de promover o acesso à Educação, nos países de língua portuguesa, e a Educação para Cidadania Global, em Portugal. Através do projeto “Educar para Cooperar”, que já vai na sua sexta edição, a Organização tem vindo a sensibilizar para os problemas do desenvolvimento mais de 2.300 alunos, em 11 estabelecimentos de ensino. Para o tempo de férias escolares, a AIDGLOBAL oferece os ateliês “O Mundo em Nós”, convidando as crianças a realizarem “uma viagem intercontinental” para descobrirem outras culturas. Nas bibliotecas, a animação do conto moçambicano da Formiga JUJU permite aos mais pequenos aproximarem-se de valores como a diversidade, a inclusão, a participação e a defesa do meio ambiente, fomentando uma cidadania mais justa e responsável. BREVES Balanço positivo no final do Programa Young VolunTeam Chegou ao fim o projeto piloto do Young VolunTeam, um programa educativo dirigido aos alunos do Ensino Secundário, desenvolvido pela Caixa Geral de Depósitos, em parceria com a ENTRAJUDA e a Sair da Casca e com o apoio da Direção-Geral da Educação do Ministério da Educação e Ciência. Tendo como principal objetivo a promoção do voluntariado junto das escolas de todo o país, este programa pretende reforçar o reconhecimento da importância do seu contributo para o desenvolvimento de competências fundamentais nos jovens em diferentes eixos: inclusão social, empreendedorismo, educação, emprego e cidadania. Tendo contado com a inscrição de 25 escolas do Ensino Secundário de norte a sul do país, que participaram com um pequeno grupo de alunos, os 101 alunos embaixadores mobilizaram 576 colegas nas suas escolas e conseguiram excelentes resultados! O programa conseguiu beneficiar 108 Entidades com 50.687 kg de bens alimentares, 400 kg de tampinhas, 1.580 kg de papel para reciclagem, 1.175 kg de roupa, 834 kg de brinquedos, 1.083 kg de livros e ainda 6.774.00€! O Programa contou com 216 Sessões de formação ao Ensino Básico para 1.504 alunos, 70 Ações de Voluntariado no Ensino Básico e 94 Ações, Campanhas e Projetos de Voluntariado no Ensino Secundário. "Servir com a Liberty" chegou a Portugal No âmbito da sua política de Responsabilidade Social e enquadrado no projeto global Serve With Liberty – “Servir com a Liberty” – que a Liberty Mutual está a promover em todas as unidades internacionais do Grupo, a Liberty Seguros levou a cabo, em Portugal, um conjunto de ações cujo objetivo foi prestar apoio à comunidade em duas áreas: ajuda social e formação profissional. O projeto global “Serve With Liberty” consiste em mobilizar os seus colaboradores e parceiros de negócio em cada país onde a marca está presente para atuarem, localmente, em benefício das causas sociais mais prementes e que carecem de intervenção imediata nos seus países. A implementação da primeira ação consistiu na recolha de alimentos que foram doados pelos colaboradores e parceiros de negócio da Liberty Seguros e que se destinaram a ajudar duas associações que prestam apoio direto a dezenas de famílias em Portugal, a saber, a Legião da Boa Vontade, no Porto, e a Associação de Solidariedade Social – Próximo Presente, em Lisboa. Outra das ações que a Liberty Seguros implementou recentemente, no âmbito deste projeto global, uma ação de formação destinada a familiares e amigos de colaboradores e parceiros de negócio da seguradora que se encontram atualmente em situação de desemprego, com o objetivo de os preparar para futuras entrevistas de emprego. No âmbito deste projeto de intervenção, a Liberty Seguros recuperou ainda o jardim da Instituição Irmãs Dominicanas, em Oeiras, onde um grupo de voluntários destinados para esta intervenção plantaram novas espécies de flores e recuperaram as madeiras dos canteiros que se encontravam em mau estado, criando assim um espaço mais aprazível e seguro para as crianças acolhidas por esta instituição. Em termos globais, este projeto mobiliza mais de 25.000 colaboradores, num total de 2000 projetos, em que são beneficiadas 850 instituições de Solidariedade Social em 21 países, em todo o mundo. Câmara de Beja cria programa de voluntariado para os colaboradores A Câmara de Beja está a desafiar os seus colaboradores a participarem em ações de voluntariado, em horário laboral, para apoiar instituições particulares de solidariedade social (IPSS) a atingirem os respetivos objetivos, planos de atividades e necessidades. "Atenta à realidade social do concelho, onde existem muitas instituições de caráter social", a Câmara de Beja, com o projeto "Particip(e) Ajude", "pretende, num contexto de restrição orçamental, contribuir, através do voluntariado, para o apoio às IPSS", explica a autarquia em comunicado. Ao "incentivar" ações de voluntariado dos seus colaboradores em horário laboral, a autarquia refere que "contribui para a satisfação das necessidades das instituições e associações do concelho de Beja, que manifestem interesse em receber este tipo de apoio". Além dos colaboradores da autarquia, o projeto abrange os funcionários da Empresa Municipal de Água e Saneamento de Beja e os utentes do Centro Social do Lidador, refere a autarquia, explicando que na primeira ação um grupo de voluntários colaborou na limpeza e na pintura do edifício da antiga escola básica n.º 4 e que agora é a sede de algumas associações do concelho. Orquestra Geração de Mirandela em Paris Foi no passado dia 21 de junho que a orquestra constituída por vinte e oito jovens de Mirandela, doze de Murça e oito de Amarante, se deslocou a França para realizar três concertos em Paris, dois na Embaixada de Portugal e um no Palais de la Porte Dorée. Todos estes jovens têm em comum o gosto pela música e o facto de pertencerem ao projeto Orquestra Geração em Mirandela, apoiado pela Fundação EDP e pelos respetivos municípios. As apresentações resultaram no aplauso entusiasta do público e da comunicação social presente. Foram ainda muitos os transmontanos que assistiram aos concertos, alguns deles familiares dos instrumentistas, que os aplaudiram com redobrado orgulho. No âmbito desta atividade realizou-se ainda uma ação designada EDP "Exportar Trás-os-Montes e Alto Douro" - Empreendedores e Instituições Sociais Transmontanos que contou com a participação da APPACDM de Mirandela e algumas empresas de Mirandela. julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 07 BREVES 25 anos da Oikos em Portugal Fundo IKEA Colabora remodela áreas do Hospital D. Estefânia Três salas de espera, dois gabinetes, uma sala de trabalho para adolescentes e várias áreas do Pavilhão de Otorrino do Hospital Dona Estefânia foram remodelados por colaboradores IKEA no passado dia 28 de junho. No âmbito da etapa final do Fundo IKEA Colabora II, os colaboradores IKEA ajudaram a renovar as zonas de espera, o gabinete de Serviço Social e o de Psicologia, a sala de trabalho da Unidade de Adolescentes e o Pavilhão de Otorrino para utentes, pais e acompanhantes do Hospital Dona Estefânia. “Sabemos como as crianças são as pessoas mais importantes do mundo e conhecemos as necessidades existentes nas instituições e hospitais nacionais. Assim sendo, acreditamos ser fundamental contribuir para a melhoria das condições de vida das crianças que são utentes deste Hospital e também melhorar as condições de trabalho dos profissionais do setor da saúde. Queremos ajudar a construir um melhor dia-a-dia nas instituições e nas comunidades”, sublinha em comunicado a responsável de Comunicação e Sustentabilidade da IKEA em Portugal, Ana Teresa Fernandes. O Fundo IKEA Colabora apoia, anualmente, entidades por tuguesas sem fins lucrativos, através da doação de 50 mil euros para projetos sociais nas áreas da saúde ou educação de crianças em situações de risco ou de exclusão social. Na primeira edição, lançada em 2009, foi remodelada a casa da ACAPO – Associação dos Cegos e Amblíopes de Por tugal, em Coimbra. A segunda edição, anunciada em 2012, permitiu aos colaboradores da IKEA elegeram, pela primeira vez, dois vencedores para a doação de 50 mil euros no total – 25 mil euros para cada uma das instituições – sendo que os contemplados foram o Hospital Dona Estefânia e a IPSS Ajuda de Mãe. 08 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 Apesar de ser mais conhecida pelo seu trabalho em África e na América Latina, sobretudo em Ação Humanitária e promoção do desenvolvimento sustentável, ao longo dos seus 25 anos de existência a Oikos tem desenvolvido um vasto trabalho em Portugal. Tendo como foco principal a Educação para a Cidadania Global, a Oikos tem promovido dezenas de projetos de formação nas escolas, de sensibilização da população e de influência das políticas públicas, sobretudo no âmbito das políticas sociais. Há mais de duas décadas que a Oikos tem sido uma presença constante nas escolas portuguesas com sucessivos projetos de educação para a cidadania, tendo inclusive contribuído tecnicamente para melhorar alguns curricula em áreas como a geografia ou a economia. Este trabalho tem sido possível graças a profissionais dedicados, mas sobretudo à colaboração voluntária de um grupo de especialistas em educação (GedOikos) e de núcleos de professores espalhados pelo território nacional (NedOikos). Uma das lições que a Oikos partilha, destes 25 anos de trabalho nas escolas, é que é preciso inovar constantemente e encontrar o público-alvo onde ele está, em vez de ficar preso a metodologias que vão ficando desatualizadas à medida que o tempo passa. Por isso, a Oikos tem feito um esforço para fazer sair a Educação para a Cidadania Global das salas de aulas e levá-la aos jovens em novos e inovadores formatos e abordagens. Com o projeto Energy for Life, a Oikos desenvolveu um jogo de computador online, que sensibilizou os jovens para a importância do uso de energias limpas e colocou jovens de 5 países a competirem por um prémio. Já com o projeto Cinema Documental ODM, os jovens portugueses e espanhóis foram desafiados para criarem micro-filmes de 3 minutos sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (mais de 150 filmes e mais de 200.000 visualizações). Com o aumento da pobreza em Portugal, a Oikos está a desenvolver esforços para aumentar o seu trabalho em Portugal, procurando trazer a sua experiência e metodologias de combate à pobreza em países em desenvolvimento, adaptando-as e aplicando-as em contexto nacional. Uma das áreas que mais atenção merece é a Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional; por isso, a Oikos tem em vista projetos de integração de políticas agroalimentares (contribuir para reposicionar a agricultura nacional para a promoção da alimentação saudável, o desenvolvimento rural e a conservação dos recursos), de promoção de negócios sociais, de combate aos desperdícios alimentares e de ligação direta entre produtores e consumidores. Segundo a própria organização, contribuir para um mundo mais justo e equitativo ao tornar-se Associado da Oikos, não só não tem um preço elevado (10 cêntimos por dia) como ainda dá acesso a uma série de descontos e benefícios. Número recorde de voluntários missionários 405 jovens e adultos vão realizar este ano projetos de voluntariado missionário em países em desenvolvimento e 1073 em Portugal, segundo a Fundação Fé e Cooperação (FEC), da Igreja Católica. Este é o maior número de voluntários em missão fora de Portugal desde que a FEC começou a publicar dados relativos a estas iniciativas, em 2003. A organização aponta para 114 pessoas que partem para Moçambique, 98 para Cabo Verde e 69 para Angola, São Tomé e Príncipe acolhe 48 voluntários, a Guiné-Bissau 31, o Brasil 25 e Timor-Leste 14. Além dos países lusófonos, três voluntários marcam ainda presença no Perú, um nas Honduras, um em El Salvador e um outro na República Centro Africana. Os dados são resultado de um inquérito feito às 61 entidades que integram a Rede de Voluntariado Missionário coordenada pela FEC, das quais 37 (menos sete que no ano passado) enviam voluntários em missão. Educação/formação, animação sociocultural, pastoral, construção de infraestruturas e saúde são as áreas de intervenção das entidades que atuam nos países em desenvolvimento, promovendo ações de voluntariado missionário. 350 pessoas vão fazer voluntariado nos países em desenvolvimento, integradas em projetos considerados de curta duração, ou seja, entre 1 a 6 meses; 55 pessoas dedicam um ou dois anos da sua vida ao voluntariado para a cooperação de inspiração cristã. A maioria dos voluntários que parte para missões internacionais é estudante (49%), tem entre os 18 e os 25 anos (65%); e é do sexo feminino (69%). “É de salientar que 20% dos voluntários de curta duração estão empregados e disponibilizam as suas férias para desenvolver projetos de voluntariado em países em desenvolvimento”, sublinha a FEC. A organização católica acrescenta que “jovens em idade ativa pedem licenças sem vencimento e desempregam-se para partir em missões de longa duração”. Dos voluntários que dedicam 1 ou mais anos ao voluntariado missionário, 38% têm entre os 18 e os 25 anos. A área de “educação/formação” é a que tem maior intervenção e as crianças são o públicoalvo preferencial. Em Portugal, os voluntários trabalham com crianças, jovens e idosos, na área da animação sociocultural (72%), da pastoral (58%) e da educação (55%). VIVA VOZ Vila Real de Santo António, capital da Inovação Social "Papel por Alimentos" continua a contribuir para o sucesso do BA Com um ano de vida a Campanha “Papel por Alimentos” permitiu recolher mais de 3.000 toneladas, conseguindo assim reforçar os cabazes distribuídos pelos Bancos Alimentares. Incentivando as pessoas a entregar papel usado (jornais, revistas, folhetos, livros, etc), a Campanha lançada há um ano pelos Bancos Alimentares recolheu, até final de Novembro, 3.005.668 kg de papel usado encaminhados para reciclagem, aliando assim uma campanha com contornos ambientais à atividade social desenvolvida por estas instituições.A Campanha é desenvolvida em parceria com a Quima, empresa de recolha e recuperação de resíduos, que por cada tonelada de papel recolhido entrega o equivalente a 100 euros em alimentos. No primeiro ano o valor do papel recolhido (mais de 300 mil euros) foi convertido em leite, atum, salsichas e azeite, produtos não perecíveis muito importantes para os cabazes mensalmente entregues às instituições de solidariedade apoiadas pelos Bancos Alimentares que participam na iniciativa. A campanha “Papel por Alimentos” mobilizou mais de 2.000 instituições apoiadas pelos 17 Bancos Alimentares do Continente e ainda muitas pessoas, escolas e universidades, empresas e entidades que, de Norte a Sul do país, quiseram participar doando o seu papel e ajudando a conseguir mais alimentos para distribuir localmente a quem mais precisa. Com um pequeno gesto, todos podem contribuir e ser solidários com quem mais precisa. Esta Campanha, que irá continuar, tem também como objetivo instituir hábitos e gestos simples que podem ser importantes para a proteção do planeta, apelando ao papel que cada um de nós pode desempenhar. O secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Marco António Costa, classificou Vila Real de Santo António como a “capital da inovação social”, durante a cerimónia de lançamento de dois programas sociais, realizado em junho. O Banco de Resgate de Vila Real de Santo António, uma das estruturas lançadas, visa ajudar as famílias a ultrapassar situações de insolvência ou sobre-endividamento originadas pela crise económico-financeira. Para Luís Gomes, presidente da autarquia, “mais do que atribuir apoios diretos, este banco de resgate pretende ativar uma plataforma de proximidade e representa um projeto inovador que inicia um novo paradigma na forma de olhar a política e as pessoas”. Para o Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Marco António Costa, “esta nova estrutura de apoio consolida a imagem de Vila Real de Santo António como capital da inovação social, onde é possível desenvolver soluções integradas e eficazes entre o Estado e a administração local”. Para garantir uma resposta integrada, o futuro Banco de Resgate será articulado com as valências sociais já em vigor na autarquia de Vila Real de Santo António, como a Agência de Combate à Crise (Agarra) – criada em 2008 para minorar as consequências da crise económica na vida dos munícipes –, a prestação de apoio alimentar, o apoio ao arrendamento habitacional ou adesão às medidas de apoio ao emprego, como é o caso dos Contratos Emprego Inserção (CEI). Também no mês passado, a autarquia de Vila Real de Santo António (VRSA) em articulação com o Centro de Emprego de VRSA, apresentou publicamente o Gabinete de Apoio ao Emprego, Empreendedorismo e à Economia (Arranca). Inovadora na sua vertente de proximidade, a estrutura apoia a integração ou reintegração de pessoas em situação de desemprego ou à procura do primeiro emprego e acompanha os munícipes que pretendam apostar no seu próprio negócio. Em funcionamento desde o início do ano, o Arranca já efetuou mais de 400 atendimentos e, em paralelo com o Centro de Emprego de VRSA, assegurou 134 colocações entre os meses de janeiro e abril de 2013, duplicando os dados homólogos de 2012. Em termos de ofertas, as duas estruturas já puseram à disposição dos utentes, entre janeiro e abril de 2013, mais de 200 ofertas de emprego, o que representa uma igual duplicação dos valores face ao período homólogo de 2012, em que o Arranca ainda não se encontrava em funcionamento. Portugal, campeão do mundo de Atletismo Adaptado Portugal revalidou o título de campeão do mundo, masculino e feminino, de Atletismo Adaptado, que já tinha conseguido em Itália há dois anos. As equipas portuguesas terminaram o 9º Campeonato do Mundo de Atletismo INAS, que decorreu em Praga, na República Checa, no lugar mais alto do pódio por nações, conquistando um total de 26 medalhas. De acordo com a Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Intelectual (ANDDI), os atletas portugueses arrecadaram, no último dia de competição, mais cinco medalhas - três de prata e duas de bronze. Inês Fernandes, Tiago Duarte, Erica Gomes, Lenine Cunha, Samuel Freitas, Cristiano Pereira, Cláudia Santos, Raquel Cerqueira, Maria Graça Fernandes, Cátia Almeida, Ricardo Marques e Bruno Gaspar foram os atletas medalhados. De realçar ainda o papel do atleta Lenine Cunha, considerado o "Melhor Atleta do Campeonato", ao terminar com seis medalhas, das quais três de ouro, e com o recorde do Mundo no salto com vara. julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 09 VIVA VOZ OPINIÃO Cooperação centralizada nas populações: um faz a diferença. Benefícios de ações conjuntas entre estados e sociedade civil Catarina Lopes Num contexto económico e financeiro de crise, falar-se em Cooperação para o Desenvolvimento pode constituir para o cidadão europeu um contrassenso. Dados de 2012 do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) refletem os cortes significativos de muitos países membros. Dos 27, em 2012, 12 tinham reduzido os seus orçamentos de Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD). Portugal tem apresentado globalmente um desempenho abaixo da média europeia, registando um volume da APD sempre inferior às metas com as quais se comprometeu internacionalmente (média europeia de 0,34%; média portuguesa de 0,28% até 2011). Nesta conjuntura, a equação da austeridade e do aumento da pobreza generalizada constituem um desafio para o engenho de todos, sejam cidadãos a título individual seja organizacionalmente. Como fazer com menos, não deixando de responder a realidades humanas gritantes? Talvez os princípios da Eficácia da Cooperação para o Desenvolvimento1 possam ser uma resposta concreta e realista: harmonização, alinhamento e apropriação. De forma a concretizar estes princípios, proponho uma incursão por projetos desenvolvidos pela FEC| Fundação Fé e Cooperação, ONGD portuguesa, esperando não cair na teia da «língua dos workshops», como critica o escritor moçambicano Mia Couto, e evitando o discurso encriptado de siglas e conceitos feitos. Numa lógica de contracorrente, a FEC aceitou, em 2000, o desafio de formar professores sem formação académica, e sem oportunidades de a poder vir a ter na Guiné-Bissau, para lecionarem. Desde 2001 que a História do país tem sido pautada por homicídios de figuras representativas do Estado, por alterações governamentais, com consequências económicas e sociais, nomeadamente no pagamento salarial atempado de Por Catarina Lopes FEC – ONGD funcionários. Desde 2001 e de forma ininterrupta, os princípios que têm norteado os projetos da FEC têm por base as necessidades sentidas pelas populações e pelos organismos estatais e nãogovernamentais guineenses, as potencialidades do que possuem em termos de dinâmicas sociais, recursos locais, e a oferta de outras entidades para responder aos problemas. Os diagnósticos evidenciam globalmente falta de recursos humanos qualificados com apenas 40,5% dos professores com habilitação académica para o exercício, numa proporção de 1 professor para 35,9 alunos.2 Para além desta escassez, verifica-se que o desempenho educativo guineense apresenta uma «esperança de vida baixo» (48% das crianças a concluírem o ciclo obrigatório de 6 anos3), interrompido e sem resultados de médio prazo e uma alocação de recursos financeiros escassa para fazer face às necessidades. Muitos são os atores de desenvolvimento na Guiné-Bissau: a nível micro, as comunidades têm cotizado para terem uma escola e um professor na sua aldeia; a nível mezzo, muitas organizações da sociedade civil desenvolvem projetos para alterar os indicadores de pobreza; a nível macro, o Estado da Guiné-Bissau, juntamente com outros doadores europeus em termos de Cooperação entre Estados e Agências Internacionais de Desenvolvimento, definem programas multianuais para o setor da educação. Como se tem articulado o pouco, com estes múltiplos apoios? Nem sempre o paradigma tem sido o da harmonização e o alinhamento. A título de exemplo, refira-se o papel das Câmaras Municipais (CM) na Cooperação para o Desenvolvimento, numa lógica de poder local, descentralizado. Desde 2002 que a FEC estabelece contactos com CM. O objetivo destes contactos insere-se nos princípios subjacentes à sua metodologia de trabalho: parcerias & redes; sustentabilidade e profissionalismo & transparência. Das visitas a 1. Declaração de Paris (2005): http://www.oecd.org/dac/effectiveness/38604403.pdf 2. Dados provisórios de 2007 Educação para Todos (Ministério da Educação Nacional da Guiné-Bissau) 10 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 VIVA VOZ municípios, constatou-se que existiam diversos constrangimentos para o estabelecimento de relações de cooperação: i) descrédito em cooperar com países frágeis; e ii) dificuldades em legitimar junto dos munícipes/contribuintes apoios em países marcados pela imagem de falta de organização e de prestação de contas, em detrimento das necessidades das comunidades do município. Para uma análise destes constrangimentos, a FEC promoveu o «Encontro de Cooperação Descentralizada Portugal e Guiné-Bissau: a geminação e os acordos de cooperação de CM com os PALOP como instrumentos de aprendizagem na criação de capacidades no Norte e no Sul» (22/05/2003). Numa primeira fase 4, o desenvolvimento de projetos plurianuais na Guiné-Bissau, com reforço de competências locais, constituiu o desafio lançado a duas CM: Cascais e Santa Maria da Feira. O êxito levou a FEC a conceber um projeto de formação em serviço de professores, diretores e agentes da comunidade, com entidades guineenses, portuguesas e internacionais, entre as quais cinco CM, com ação em três regiões. O envolvimento das CM de Faro, Portimão, Santa Maria da Feira, Vagos e Santarém concretizou o próprio título do projeto em crioulo: Djunta Mon (Juntar as mãos). De 2009 até agora, a FEC passou a envolver mais municípios em projetos de Educação para o Desenvolvimento (Enlaces 2007 – 2010) e de cooperação. É possível verificar que o paradigma de cooperação municipal está paulatinamente a mudar: de ações pontuais para programas plurianuais; de apoios micros para ações de ciclo de projeto; de intervenções com cidades geminadas para ações com impacto regional e de escala; de intervenções exclusivas para consórcios com outras entidades; de ações mais concertadas dentro de cada CM. Estas mudanças evidenciam o benefício das ações conjuntas entre municípios e ONGD, sobretudo para as populações de cada país, centro da atenção destes atores, reforçando o lema eficiente de «djunta mon». Harmonização e alinhamento são portanto possíveis não apenas em termos macro, mas também a nível mezzo e micro. E a apropriação? Como refere Henning Mankel, escritor sueco que vive em Moçambique, «nós sabemos como morrem os africanos, mas nunca sabemos como vivem». A questão da apropriação na história do desenvolvimento e da cooperação tem sido sempre marcada por mitos dos quais András Biró destacou alguns como perniciosos na participação. Segundo Biró, é possível que pessoas externas à comunidade assumam (entre outras) uma atitude missionária (uma espécie de «nós sabemos o que é que os outros precisam») ou uma atitude hippy («eles é que sabem o que precisam, eu não sei nada») , desvirtuando toda a interação que as palavras «cooperação» e «desenvolvimento» pressupõem. A outra falácia é assumir-se que um africano conhece a multiplicidade de realidades do seu continente e do seu próprio país. E que as necessidades identificadas por africanos são, indubitavelmente válidas para todos. Cada contexto, uma realidade; cada realidade, uma variedade de leituras. Em 2009, a FEC reuniu um conjunto de entidades para poder fazer uma radiografia que permitisse entender quais eram os problemas efetivos que conduzem Angola a ser considerado um país do mundo com uma taxa de mortalidade materno-infantil elevada. A participação da Cooperação Portuguesa (atualmente IPAD), Fundação Calouste Gulbenkian, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Alto Comissariado para a Saúde, em Portugal, a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe em Angola, permitiu à Caritas de Angola e à FEC identificar as prioridades para que a taxa de mortalidade materna e para que se evite que 1 em cada 39 mulheres morram em Angola. Até 2014, a equipa conta com a colaboração especializada da empresa Ambisig e da Escola Superior de Enfermagem S. Francisco das Misericórdias. As trocas e experiências entre estes atores internacionais permitem de um lado combater a mortalidade angolana, e por outro, trabalhar outras abordagens junto de enfermeiros angolanos e portugueses, e a utilização de software, que permite à Ambisig poder conhecer de uma forma mais ampla um país com o qual querem estabelecer relações comerciais. A Cooperação para o Desenvolvimento exige novas abordagens, uma alteração do «modus operandi» dos anos cinquenta e sessenta. As ações «made in» de uma só organização ou país de cooperação deixam de fazer sentido, não porque a conjuntura de austeridade assim o exige, mas porque o desperdício de recursos (financeiro, material, mas igualmente humano) afigura-se ofensivo para quem não possui o maior recurso disponível: o tempo de viver fora da pobreza. Além do mais, a harmonização de apoios entre instituições reforça que «um pode fazer a diferença», e que, parafraseando um provérbio africano, para ir depressa, vai-se sozinho, mas se quisermos ir longe, o ideal é irmos acompanhados. 3. RESEN 2009 4. Para consulta de projetos ver ao site da FEC: http://www.fecongd.org/projectos_guine.asp; http://www.fecongd.org/projectos_portugal_finalizados.asp julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 11 FÓRUM "Que papel podem e devem ter as ONGs Portuguesas e o Estado Português no alcance das metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio?" Numa altura em que já se faz o balanço dos resultados que se têm vindo a alcançar em prol dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio e se prepara um novo caminho Pós-2015, o Impulso Positivo quis saber o que é que se espera das ONGs e do Estado português. A relação entre as ONG´s portuguesas e o Estado, em particular após Junho de 2011, encontra-se num período de hibernação prolongado. A falta de diálogo e a redução significativa de verbas destinadas ao cofinanciamento de projetos da responsabilidade das ONGD evidencia um retrocesso no papel atribuído a estas como parceiros estratégicos, seja na implementação de projetos e intervenções para o Desenvolvimento, seja na definição de políticas para aquele fim. Desta forma, torna-se difícil concretizar os 8 Objetivos do Milénio de Desenvolvimento a serem atingidos até 2015, que muitas ONG adotaram, dentro da sua área, particularmente para aquelas que desenvolvem projetos internacionais: Abílio Antunes Presidente da Médicos do Mundo 1. Reduzir a pobreza extrema e a fome, poderá ser alcançado por cerca de 60% da população mundial, desde que sejam criados empregos. 2. Assegurar que todas as crianças terminem o ensino primário, parece difícil de ser atingido, nomeadamente na África subsaariana. 3. Eliminar as desigualdades entre os sexos, ao nível da educação, do emprego e no acesso ao poder político, em algumas regiões em desenvolvimento. 4. Reduzir a mortalidade infantil, passa pelo combate à malnutrição, à falta de acesso a cuidados primários de saúde e pela criação de infraestruturas. 5. Reduzir em ¾ a taxa de mortalidade materna, passa pela prestação de cuidados prénatais e de assistência ao parto por pessoal de saúde. 6. O combate ao VIH/SIDA, à tuberculose, ao paludismo e outras doenças graves, fazse através da difusão do conhecimento da forma de transmissão, pelo acesso a meios de prevenção e de tratamento, combate ao vetor da malária e vacinação. 7. Garantir a sustentabilidade ambiental, passa pelo acesso a água potável e saneamento, fomentando políticas e programas ambientais. 8. Criar uma parceria global para o Desenvolvimento, passa pelo aumento da ajuda dos países doadores e facilitando os problemas da dívida dos países em desenvolvimento. Para que tal seja possível, é necessário mostrar o poder da sociedade civil unida na luta, mobilizando o maior número de pessoas para estas causas solidárias. Para mais e melhor cooperação e desenvolvimento portuguesa rumo aos ODM, podemos ter em conta os seguintes passos: 1.Identificação das necessidades sociais de cada região dos países da CPLP a nível da intervenção nas áreas rurais em geral, no apoio às crianças mais pobres, na promoção da igualdade de género e no acesso à energia e educação; 2.Identificação de Iniciativas e Soluções locais de Inovação e Empreendedorismo Social, de forma participada, sistematizando o conhecimento local e analisando a performance e potencial de impacto nestas regiões. Estas devem ter os seguintes critérios: a.Resolverem problemas Sociais/Ambientais negligenciados b.Terem elevado impacto positivo efetivo nos beneficiários com baixos recursos aplicados c.Promoverem o empoderamento e a inclusão local d.Desafiarem a visão tradicional, utilizando modelos de negócio inovadores e sustentáveis e.Apresentarem potencial de crescimento e/ou de capacidade de replicação geográfica Nuno Frazão Coordenador da Área de Identificação e COO do IES em Moçambique 12 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 3.Criação de soluções com base nos passos anteriores, e da criação de parceiras transetoriais, capacitadoras de apropriação pelos beneficiários locais por intermédio das organizações nacionais de referência, com maior performance por região e sector de forma a implementarem em conjunto soluções no terreno acolhendo e capacitando outras ONGDs nacionais e locais presentes para a maximização de performance e impacto local; 4.Investigação, Monitorização e Avaliação de Impacto, através da recolha e análise de um conjunto significativo de informação sistemática dos resultados no terreno e da performance dos implementadores, de forma a assegurar o cumprimento e maximização dos resultados; 5.Criação de Soluções de financiamento alternativo, angariando financiadores de Hardware (para criação de infraestruturas) e de Software (para formação e capacitação) com maior relevância para o caso português; negociar montante perto dos grandes financiadores multilaterais e bilaterais para alavancar mais financiamento em “challenge funding” com iniciativas (produtos e projetos) de referência das organizações sociais portuguesas com projetos com potencial de replicação nas áreas atrás identificadas. Fernando de La Vieter Nobre Presidente e Fundador da AMI Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa (Regente da disciplina de Medicina Humanitária) A 3 anos do prazo estabelecido para o alcance dos ODM, o relatório de 2013 sobre os progressos identificados em África, revela que 15 dos 20 países que mais progressos fizeram no sentido de alcançar os ODM, pertencem ao continente africano, indicando que a região está no bom caminho para alcançar 4 dos 8 objetivos (Ensino Primário, Igualdade de Género, HIV/ SIDA, Malária e outras doenças, Parceria Global para o Desenvolvimento).Ciente da sua responsabilidade enquanto agente de mudança, a AMI procura alinhar os seus projetos de desenvolvimento com a estratégia para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, tendo, inclusivamente já vindo a apostar em algumas das áreas recomendadas pelo relatório de 2013, nomeadamente, através de um projeto de nutrição em S. Tomé e Príncipe, no âmbito do qual são ministradas consultas de nutrição, efetuadas avaliações nutricionais em clínica móvel a crianças, e é acompanhado e supervisionado o trabalho realizado pelos professores e cantineiras nas escolas; através de projetos de capacitação de organizações locais em áreas rurais da GuinéBissau e de S. Tomé e Príncipe, sendo de destacar um projeto desenvolvido na Guiné-Bissau com uma associação comunitária, constituída maioritariamente por mulheres; através da formação a técnicos de saúde locais na Guiné-Bissau e em S. Tomé e Príncipe; e através do apoio, em 2013, a 28 projetos em parceria com 27 organizações locais em 19 países. Na passada semana, a FAO anunciou que 38 países atingiram a meta de erradicar a fome e o relatório de progresso dos ODM de 2012 indicava que as metas de redução da pobreza extrema e da proporção de pessoas que não têm acesso seguro a fontes melhoradas de água potável para metade haviam sido atingidas, o que são sinais evidentes de progresso, mas não devem ser motivo para reduzir os esforços, uma vez que, segundo o relatório de progresso dos ODM de 2013, 1 em cada 8 pessoas permanece com fome e mais de 2,5 biliões de pessoas não têm condições de saneamento melhoradas. Neste sentido, só resta às ONG’S portuguesas e ao Estado português intensificarem o seu esforço com escolhas criteriosas das suas ações e maior capacitação de recursos humanos e financeiros. É nesse sentido que a Fundação AMI está empenhada. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) definidos na Cimeira do Milénio das Nações Unidas, em 2000, e subscritos pela totalidade dos Estados Membros das Nações Unidas, definiram pela primeira vez, à escala mundial, um compromisso concreto, focado e com metas objetivas e calendarizadas, com vista à redução da pobreza e à promoção de Direitos Humanos fundamentais. 2015 é o dead line e já se fazem balanços e se prepara a agenda pós-2015. Algumas metas foram alcançadas mas muitas estão a ficar aquém. Portugal, como subscritor deste compromisso, naturalmente tem o desafio de programar a sua política de cooperação e de desenvolvimento, de forma concertada com os ODM, negociando com os países beneficiários da ajuda, nomeadamente com os países da CPLP como Estados prioritários, a devida adequação à realidade concreta de cada país e região, a respetiva priorização de recursos, bem como a mobilização de parcerias estratégicas. Neste sentido é muito importante considerar o papel das ONGD portuguesas, como atores chave na implementação direta de projetos que concorrem para os 8 ODM, graças ao grande conhecimento que têm dos contextos e das problemáticas locais, à sua forte experiência de trabalho em parceria, à flexibilidade no ajuste de respostas às necessidades reais de cada comunidade e à sua capacidade de inovação e experimentação. Mas o grande desafio, infelizmente muitas vezes perdido, decorre da conciliação estreita entre a necessidade de alcançar resultados e a verdade de os atingir de forma realmente transformadora e sustentável. De pouco adianta garantir que todas as crianças completem um plano de estudos de escolaridade primária, se a resposta disponibilizada pelas escolas não procura a qualidade e a garantia da aprendizagem dos seus alunos. Os fins não justificam todos os meios, e Estados, ONGD, empresas, financiadores, entre outros, todos devem ser responsáveis pela exigência e rigor com que se aplicam recursos, se implementam programas, se analisam resultados, se coordenam e complementam entre si. De forma mais profunda, todos são responsáveis pela forma como interferem com a vida de milhares de pessoas e, por isso, nenhuma intervenção deveria ser desenhada, promovida e avaliada sem ter como ator central estas pessoas e as suas organizações. Carmo Fernandes e Filipe Pinto Diretora Executiva e Presidente da ONGD Leigos para o Desenvolvimento julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 13 VIVA VOZ Viva Voz Internacional As consequências de não se olhar convenientemente para os ODM. O novo papel das ONG’s e instituições internacionais Oliver Consolo Os ODM estão a chegar ao fim, já que o prazo fixado em 2000 foi o ano de 2015. Hoje, nós (ONGs) já temos em conta um cenário pós-2015/ pós ODM. Mas como a UE se vangloria de ter alcançado uma boa parte dos ODM, temos de olhar de forma apropriada para os mesmos, para além dos dados, e emitir a nossa avaliação do trabalho feito. O melhor exemplo, para mim, é o Objetivo de erradicar a pobreza. A figura mais famosa é a de que os mil milhões mais pobres vivem com menos de 1,25 dólares por dia. Isto tornou-se um componente essencial dos slogans de campanhas das ONGs, convites para conferências de instituições globais e relatórios dos media. Mas se olharmos mais de perto, vemos que o conceito de viver com 1,25 dólares por dia cobriria, na melhor das hipóteses, aqueles que as Nações Unidas consideram viver em "pobreza extrema". Fora deste estreito cálculo estão outros milhares de milhões - aí está a árvore que esconde a floresta de vários milhares de milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza. E a erradicação da pobreza é o primeiro dos ODM. A realidade é que 2,7 mil milhões de pessoas estão atualmente a viver com menos de 2 dólares por dia - a linha de pobreza das Nações Unidas. E essa é uma figura enganosa para as perceções públicas e políticas acerca da escala da pobreza global. Se adicionarmos as outras centenas de milhões que oficialmente vivem na pobreza em países ricos, a figura da pobreza real é de mais de 3 mil milhões de pessoas. E isto é se olharmos apenas para as credenciais económicas. Mais de 2,6 mil milhões de pessoas, mais de 40% da população mundial, não tem saneamento básico, segundo a Organização Mundial de Saúde. E quase metade da população mundial, cerca de 3 mil milhões de pessoas não tem acesso a gás ou eletricidade para cozinhar. Mais pessoas ainda não gozam dos seus direitos e liberdades, como aqueles que não possuem serviços de saúde, boas oportunidades de educação, ou aqueles que são vítimas de ditaduras e conflitos. No total, se combinarmos os números oficiais da ONU, do Banco Mundial e da OCDE, mais de 60% da população mundial está a lutar pelos seus direitos básicos. Políticas focadas nos chamados mil milhões mais pobres reforçam a perceção errada de que um tratamento social da pobreza é suficiente. Dá a impressão de que o sistema político e económico mundial está a alcançar as suas promessas, enquanto que, infelizmente, deixa 15% da população (mil milhões mais pobres) para trás. A realidade mostra um quadro diferente. A economia global atual, as instituições internacionais vigentes, com base em acordos e mecanismos intergovernamentais, assim como os governos 14 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 Por Oliver Consolo Diretor da Confederação Europeia das ONG de Emergência e Desenvolvimento (CONCORD) nacionais, não estão a facultar uma vida digna à maioria da população mundial. Estão a trabalhar para uma minoria de seres humanos (um terço da população mundial). Olhando para o copo de água meio cheio, nós (sociedade civil e algumas instituições, incluindo a União Europeia) conseguimos salvaguardar princípios fundamentais como a luta pela erradicação da pobreza enquanto principal objetivo do Quadro de Cooperação para o Desenvolvimento. Atores e governos do Sul foram chamados para parcerias verdadeiramente igualitárias. A Sociedade Civil comprometida com a agenda de desenvolvimento, conseguiu reconstruir a confiança de instituições e doadores, no papel que desempenhamos enquanto agentes de desenvolvimento no nosso próprio direito. Durante os últimos 10 anos, muitos fora sociais regionais e mundiais contribuíram para conectar milhares de organizações, experiências, boas práticas no mundo inteiro. Milhões de atores locais têm vindo a desenvolver soluções e a criar inovações que dizem respeito a todo o tipo de problemas e desafios em todos os cantos do mundo, a tendência que representa o maior potencial para o futuro. Mas o copo de água meio cheio engloba os seguintes fracassos e desafios: combater a pobreza ao mesmo tempo que se lida com a "extrema riqueza", o acesso aos direitos e serviços básicos, as alterações climáticas, a alteração do consumo e os padrões económicos e de desenvolvimento. A estes desafios acrescentaria: temos de criar novas instituições internacionais democráticas e de construir um ambiente propício para as Organizações da Sociedade Civil. Quase todas as negociações internacionais falharam durante a última década. As pessoas têm cada vez mais dúvidas sobre os modelos de democracia e das instituições atuais, incluindo na União Europeia. O espaço político para a sociedade civil está a diminuir em todo o lado, incluindo na Europa. O mundo nunca foi tão rico (mais 220% nos últimos 20 anos), mas essa riqueza não foi alocada às questões essenciais. Existe um sentimento e perceção crescentes entre a opinião pública de que os "affairs" internacionais são conduzidos por uma liderança económica antidemocrática, institucional e política que resiste a perseguir os interesses de muitos, a que muitos ativistas chamaram "nós, os 99%". A Sociedade civil no mundo inteiro e a CONCORD, apelamos a uma próxima década que alcance as promessas e expectativas da população mundial. Esta ambição exige que as Organizações da Sociedade Civil revejam e adaptem de forma justa as suas estratégias para a mudança. CAPA Domingos Simões Pereira 16 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 CAPA CPLP: Mar de oportunidades para um futuro mais próspero A propósito da importância e da força potencial da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), Domingos Simões Pereira, ex-secretário-executivo da organização, reflete: “Quando o mundo perceber que existe uma comunidade representativa de 250 milhões de pessoas que falam a mesma língua em quatro continentes, ninguém quererá ou poderá ignorar essa realidade ou ainda, desperdiçar a enorme oportunidade que tal encerra.” O Impulso Positivo quis ver o mundo através dos olhos deste guineense que liderou a CPLP entre 2008 e 2012 e saber como é que países e povos que partilham uma história, uma língua e um passado, podem, juntos, ser mais e melhor. Texto: Leonor Rodrigues Impulso Positivo (IP): Qual é o papel que a CPLP deseja ter no desenvolvimento sustentável dos países que a compõem? Domingos Simões Pereira (DSP): À CPLP incumbe certamente o papel que se reserva às organizações que não se circunscrevem a delimitações nem de ordem geográfica nem a especializações por domínios específicos de intervenção. A CPLP resulta de uma declaração soberana de vontades que congrega países e povos de várias latitudes geográficas e uma extraordinária diversidade identitária e de interesses. Ao se assumir como uma entidade global na cooperação multilateral, a CPLP reconhece e recomenda a integração regional, económica, política e cultural de cada um dos seus membros nos espaços geográficos correspondentes. Tem contudo de desafiar cada uma destas soberanias a representar parte do todo comunitário, incorporar nas políticas nacionais uma representação do interesse global e proporcionar janelas de oportunidade a cada um dos demais membros. Ora hoje, antes de mais, as sociedades têm de ambicionar a construção de Estados democráticos onde impere o respeito pela diversidade, a liberdade e a busca do desenvolvimento. Premissas que estão impregnadas no que se convencionou designar por boa governação, e na qual a CPLP pode ser uma charneira para a partilha das melhores práticas e a promoção da cooperação, para facilitar a todos em conjunto o que seria bastante mais dificil de atingir de forma individual e fragmentada. Se e quando o mundo perceber que existe uma comunidade representativa de 250 milhões de pessoas que falam a mesma língua em quatro continentes, ninguém quererá ou poderá ignorar essa realidade ou ainda, desperdiçar a enorme oportunidade que tal encerra. IP: Como é que se pode tirar proveito do privilégio de ter uma história e língua comuns entre culturas tão diferentes, potenciando um crescimento sustentável dos países da CPLP? DSP: O homem é um ser que anda incessantemente à procura da sua identidade e pertença passadas. A existência de uma história com muitas interceções, de uma língua comum e de um passado, em muito partilhado, devia e pode no futuro representar um grande leque de oportunidades. Portugal através do Instituto Camões, fez um estudo sobre o valor económico da língua portuguesa para o seu contexto e os resultados foram surpreendentes. A conjugação dessas valências individuais num todo partilhado pode representar um mundo ainda a descobrir e a explorar, seja no domínio político e da estabilidade, seja no social e cultural, importante para o conhecimento mútuo, seja do ponto de vista económico seja em relação a oportunidades de investimento e crescimento. Muito depende agora é da atenção dos países e povos em trabalhar na concretização dessas vantagens. julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 17 CAPA IP: Quais são as grandes dificuldades sentidas pelos países da CPLP? DSP: A CPLP enfrenta várias dificuldades ou barreiras, mas felizmente transponíveis. A CPLP não pode reclamar qualquer tipo de soberania territorial, tal é a descontinuidade dos territórios dos Estados que a constituem. A CPLP não é uma Associação de Estados ricos ou prósperos e portanto, cada um também traz para o espaço comum parte dos problemas que ainda enfrenta a nivel interno. A CPLP não tem uma vocação estabelecida e, por isso, nem sempre é fácil fazer coincidir a prioridade dos Estados individualmente com a prioridade da organização como um todo. São várias a vicissitudes, mas eu acrescentaria ainda uma – a CPLP é uma das mais jovens organizações de carácter multilateral e pluridisciplinar, mas da qual a comunidade reclama provas de relevância e utilidade objectiva num momento em que ainda está em processo de consolidação a própria firmeza dos Estados que a constituem. Contudo, se desta perspectiva se pode auferir dificuldades redobradas, estas em conjunto podem significar flexibilidade e adaptabilidade, que podem ser factores determinantes para os desafios actuais da humanidade. IP: Os PALOP tiveram desde sempre um papel primordial no que diz respeito ao destino da Cooperação Internacional Portuguesa. Contudo, com a situação atual de Portugal, o seu papel enquanto doador tem vindo a sofrer alterações, fazendo com que a relação entre todos seja hoje mais homogénea. Que retrato faria da Cooperação entre os Países da CPLP na atualidade? DSP: Primeiro, numa avaliação puramente pessoal, dizer que dá a impressão de demasiada hesitação em momentos cruciais e que podiam ter sido determinantes: o período da integração na Europa, foi para muitos apresentado como o reencontro de Portugal com a sua identidade e vocação, em detrimento das teses anteriores do lusotropicalismo; com a crise dos mercados e da economia mundial, Portugal seguiu a “manada” e não reclamou o conhecimento privilegiado de que dispõe, comparativamente a vários Estados Europeus, para a criação de novos espaços de negócio. São oportunidades que se perdem e que poucas vezes se reproduzem. A Comunidade Europeia é por demais relevante para a economia mundial e, tal como se vê acontecer com a França e a Inglaterra, Portugal (e já agora na sua nova orientação sobre a diplomacia económica) deve aprender a falar em nome de todos quantos conhece e cujos interesses pode representar. O Brasil, que reclama e difunde uma grande proximidade a África, evidencia pouca inclinação para a tradução dessa proximidade em relações concretas de cooperação e parceria. O “entusiasmo Lula” disfarçou isso durante o tempo do seu mandato, mas quase desapareceu com a sua partida e os níveis de intercâmbio 18 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 “A existência de uma história com muitas interceções, de uma língua comum e de um passado, em muito partilhado, devia e pode no futuro representar um grande leque de oportunidades.” económico-cultural são incipientes e quase negligíveis. Também os Estados Africanos pouco têm feito para um melhor aproveitamento do que podia ser um enorme potencial de cooperação. As estruturas competentes para o efeito nos países africanos tende a priorizar a ligação com instituições doadoras de fundos de investimento, o que não é certamente o caso da CPLP. Por outro lado, muitas das reformas estruturais acompanham sobretudo exigências das instituições de Bretton Woods e não resultantes de avaliações próprias, o que nem sempre permite o estabelecimento de mecanismos compativeis para o incremento do relacionamento entre os nossos países, seja na definição de prioridades, seja na estruturação institucional, seja na concretização das vontades que se afirmam mas que depois se perdem. Todos têm algo a aprender e a corrigir, e essa atitude altruista pode definir um novo rumo e importantes ganhos para a comunidade em construção. IP: O que é que tem sido feito pela união entre os países da CPLP? DSP: Muito, em termos da definição de políticas sectoriais comuns. Neste momento existe cooperação em quase todos os domínios da atividade pública, da educação e saúde à defesa e segurança, passando pela cultura e meio ambiente, aos direitos humanos, ao emprego e solidariedade social, na informação e comunicação, assim como no documentário e cinema, dentre muitos mais setores. Mesmo junto das Associações académicas e profissionais, das fundações, da sociedade civíl em geral. Também junto das organizações políticas e económicas de integração dos seus Estados membros. São muitos os casos da existência de protocolos de cooperação, tais como com a CEDEAO e a UEMOA, a SADC, a União Africana, a Ibero América e a União Europeia, para além de beneficiar de um estatuto especial junto das Nações Unidas. Também existem intercâmbios importantes com organizações homólogas como a OIF e a União latina, ou seja, a nível de políticas e de cooperação institucional, a CPLP tem desenvolvido um trabalho bastante relevante. CAPA IP: Quais são os principais erros cometidos, tanto pelos doadores como pelos recetores dos programas de Cooperação? DSP: Primeiro os que parecem voluntários: da parte dos doadores, priorizar ações inscritas na sua agenda própria e não necessariamente do interesse do beneficiário. Depois, como consequência deste, condicionar o acesso aos fundos de cooperação à realização de reformas estruturantes nem sempre devidamente avaliados e consensualizados a nivel interno. Da parte dos receptores há muitas vezes um aproveitamento indevido e excessivo do poderio e da credibilidade das instâncias doadoras para condicionar o debate interno com os parceiros nacionais e para se livrar da correspondente prestação de contas. Como resultado, mesmo quando os indicadores sugerem que o programa atingiu os resultados, esta constatação não corresponde ao sentimento popular e não reforça necessariamente as instituições nacionais na consolidação dos procedimentos. IP: O que é que falta fazer por esta união e pela construção de uma relação mais frutífera? DSP: Falta o tempo, para que naturalmente as políticas produzam resultados palpáveis e ajudem a mobilizar as comunidades; falta um envolvimento mais efetivo dos Estados, para que detalhes e pormenores não condicionem ou comprometam a execução das decisões; falta em alguns momentos visão para discernir a verdadeira oportunidade deste espaço. Mas falta também uma maior mobilização e confiança dos povos, por forma a aproveitarem e porem em aplicação (ou em teste) os vários acordos que se vão estabelecendo a nível político. Só uma conjugação dinâmica destes factores permitirá os avanços que se reclamam à organização. Hoje há uma atenção mais acentuada em relação à questão da cooperação económica e há trabalhos em curso que poderão facilitar esse domínio. Contudo, mais uma vez se corre o risco de provocar um avanço exclusivamente induzido pelos Estados e não necessariamente resultante do interesse e envolvimento das populações. IP: Para si, o que é que define um bom programa de Cooperação Internacional? DSP: Eu prezo muito o realismo na identificação das áreas de intervenção, o respeito mútuo na definição dos mecanismos dessa cooperação, assim como a avaliação dos resultados e finalmente a responsabilização das partes. Quaisquer desequilíbrios nessas três componentes desvirtuam todo o edifício da Cooperação. Tanto o doador como o principal beneficiário de qualquer programa de cooperação são igualmente responsáveis pelo seu sucesso, e a falta de cumprimento de uma das partes não pode ser compensado pela outra. IP: No seu entender, o que é que é primordial fazer neste momento de forma a contribuir eficazmente para o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres? DSP: A maior responsabilidade é incumbir aos próprios países mais pobres que têm de desenvolver capacidades internas para a conceção das suas políticas públicas, e de estratégias concretas para o desenvolvimento dos setores. É fundamental que a cooperação surja como um esforço de materialização de uma visão estratégica produzida internamente e largamente consensualizada. A importância dos parceiros internacionais é, uma vez estabelecidos os compromissos, não só cumprir com as promessas feitas, como ajudar a assegurar a transparência do processo e a viabilidade dos programas. Aqui, a capacitação, a transferência tecnológica e o financiamento, jogam um papel muito forte e podem ser determinantes. “Tanto o doador como o principal beneficiário de qualquer programa de cooperação são igualmente responsáveis pelo seu sucesso.” julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 19 CAPA IP: Em que áreas é fundamental investir? DSP: Na formação e na capacitação. África é um continente com extensos recursos naturais, mas que tem registado um grande atraso por ainda não competir com os outros continentes no fator conhecimento, o que se exige e se impõe. As vantagens comparativas que os mais atrasados possuem, só terá o impacto económico que se perspetiva se se fizer acompanhar por uma cada vez mais afinada capacidade de incorporação de competências próprias, de sua utilização e aproveitamento. Depois, ou paralelamente nalguns casos, após a identificação e estabelecimento das prioridades, assistir os países na estruturação institucional por forma a implementar as políticas e consolidar as reformas assim realizadas. IP: O que é que os doadores têm obrigatoriamente de saber quando decidem ajudar pessoas doutro país? DSP: Que não podem nem devem substituir esse país na sua função primária e que a sua função é complementar o que o próprio país tem de desenvolver. Que a pobreza de um Estado nem sempre se deve à ausência dos recursos, mas muitas vezes à incapacidade de identificar a existência desses recursos ou de produzir consensos sobre a sua utilização e aproveitamento. Finalmente, que um envolvimento excessivo pode sempre criar a desconfiança de uma vantagem indevida a favor do doador ou parceiro internacional. Por via de todos estes fatores, o envolvimento popular, a transparência dos procedimentos e a criação de mecanismos de prestação de contas pela entidade nacional correspondente deve ser uma condição obrigatória a colocar em qualquer programa de cooperação. 20 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 IP: Por onde passa o futuro da CPLP? DSP: O futuro da CPLP depende grandemente da visão, vontade e ambição dos governantes dos oito países que a constituem. Se continuar a ser um espaço marginal de afirmação de vontades e de encontros setoriais periódicos, corre o risco de desacreditação e esmorecimento. Mas as circunstâncias são muito favoráveis a um importante crescimento. Se as políticas internas passarem a refletir os consensos globais, se os países conferirem ao Secretário Executivo o mandato e os meios necessários, e se os povos derem uma chance à organização, acreditando nas suas potencialidades, a CPLP pode em pouco tempo transformar-se numa referência da cooperação multilateral, política, económica e cultural, tanto a nível do Estado como sobretudo da Sociedade Civil. IP “A CPLP pode em pouco tempo transformar-se numa referência da cooperação multilateral, política, económica e cultural, tanto a nível do Estado como sobretudo da Sociedade Civil.” “Este livro [...] tem condições para se revelar como um instrumento essencial não apenas para todos aqueles que trabalham nas organizações sem fins lucrativos, mas também para um público mais alargado que se revê e se interessa pela missão deste sector.” Emílio Rui Vilar in Prefácio PVP 24 € ENC OM ENDAS ______ _________ _ Contactos: [email protected] m telef.: 222 085 009 PEDIDOS PARA: R. Gonçalo Cristóvão nº 185. 6º | 4049-012 Porto Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 | [email protected] (recortar ou fotocopiar) Nome Morada C. Postal E-mail r Solicito o envio de Nº Contribuinte exemplar(es) do livro Gestão de Organizações Sem Fins Lucrativos - 3ª Edição. r Para o efeito envio cheque/vale nº r Junto envio cópia do comprovativo bancário no valor de € , s/ o (NIB: 0036 0073 99100069316 21 – Montepio) r Solicito o envio à cobrança. (Acrescem € 4 para despesas de envio e cobrança). ASSINATURA , no valor de € , CAPA Portugal no caminho da Cooperação para o Desenvolvimento para projetos Desenhar estratégias eficazes, envolver organizações, Estado, Sociedade Civil e empresas, apelar à sustentabilidade das organizações da sociedade civil e fazer mais e melhor para que os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio sejam alcançados. O Impulso Positivo conversou com Pedro Krupenski, Diretor de Desenvolvimento da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento e Presidente da Plataforma Portuguesa das ONGD sobre o compromisso português em prol da Cooperação para o Desenvolvimento. Impulso Positivo (IP): Como vê o caminho que Portugal tem percorrido nos últimos anos em prol da Cooperação para o Desenvolvimento? Pedro Krupenski (PK): Nos últimos anos, desde que o atual governo tomou posse, a cooperação para o desenvolvimento sofreu significativos retrocessos. Tais retrocessos verificaram-se a três níveis: a nível político, a nível da arquitetura e governança do setor e a nível financeiro. A nível político, sem que até à data tenha sido elaborada e apresentada uma estratégia política pública para a cooperação, que defina o seu rumo e constitua, como tal, um farol orientador para todos os atores da cooperação, algumas decisões têm vindo a ser feitas. Com efeito, a “Visão Estratégica para a Cooperação Portuguesa” lavrada e aprovada em Conselho de Ministros em 2005 estabelecia o seu próprio termo de vida. Em 2009 deveria ser revista e refeita em função das conclusões. Foi revista, mas nunca foi refeita. O atual governo tomou-a como válida e, no entanto, muitas das decisões que foi tomando, eram, senão contraditórias, inconsistentes com os objetivos estratégicos estabelecidos. Contrariando o bom princípio do “desligamento da ajuda”, segundo o qual a transferência de apoios para um determinado país não pode estar condicionado à obrigação do beneficiário adquirir bens e/ou serviços ao país doador - princípio esse plasmado na “Visão Estratégica” e assumido como compromisso por Portugal em fora internacionais e objeto de recomendação do CAD/OCDE -, a atual política de cooperação está subordinada à promoção da língua portuguesa, à internacionalização da economia portuguesa e à captação de investimento estrangeiro. Estas três opções, no 22 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 contexto atual de crise económica e financeira que o país atravessa são definitivamente imperativos nacionais. Não devem, contudo, ser feitos à custa e em vez da cooperação para o desenvolvimento. Boa notícia é que o novo Secretário de Estado está a rever a atual Estratégia, que publicará em Setembro. Avaliando pelo que nos tem sido dito, será muito mais conforme as boas práticas e padrões internacionais no que diz respeito aos objetivos, à quantidade e à qualidade da cooperação para o desenvolvimento. A nível da arquitetura e governança do setor, foram feitas mudanças com estragos irrecuperáveis: a fusão entre o Instituto Camões e o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (dando origem ao Camões – Instituto da Cooperação e da Língua), foi efetuada apenas obedecendo a imperativos de redução da despesa pública e optimização de recursos. Mais uma vez, tais medidas são necessárias para o país de hoje. Porém, teria sido sensato avaliar se a Cooperação para o Desenvolvimento sairia a ganhar ou a perder com esta fusão. Ainda estão a ser feitos ajustes – difíceis e demorados num país burocratizado como o nosso – mas as vantagens para a cooperação não estão ainda à vista. Reduziu o capital humano afeto a estas questões; a governança dividida entre os ditames da língua e as exigências da cooperação leva ao cumprimento, na melhor das hipóteses, dos mínimos obrigatórios. A nível financeiro, o setor levou uma machada de 40% de redução no que diz respeito aos dinheiros afetos ao setor. As ONGD viram as linhas de financiamento aos seus projetos reduzidos em 57% e a Plataforma Portuguesa das ONGD que recebia, à semelhança do que se passa em toda a Europa, um apoio ao financiamento, viu-o eliminado a 100%. Mais uma vez, se todos os setores sofreram CAPA cortes, não seria justo defender que o da cooperação fosse exceção. Contudo, a Plataforma e muitos outros atores do setor construíram várias propostas sobre formas alternativas de financiamento da Cooperação que não oneram o orçamento de Estado, apresentouas e foram estoicamente ignoradas. O actual Secretário de Estado já se comprometeu a olhar para estas propostas e a devolver o apoio institucional à Plataforma. IP: O que é urgente fazer hoje para que a Cooperação para o Desenvolvimento em Portugal seja uma realidade cada vez mais forte? PK: Em primeiríssimo lugar, construir-se de forma participada uma estratégia nacional de cooperação para o desenvolvimento. A existir será o que permitirá que todos os atores do setor unam esforços para um fim comum e não prossigam trabalhando – como tem sido tendência – de costas voltadas, duplicando esforços e recursos, promovendo gastos desnecessários, contribuindo para a ineficácia da ajuda. Se a cooperação para o desenvolvimento lida com problemas multidimensionais, a abordagem para os resolver tem que ser multidimensional. Só uma estratégia comum pode permitir identificar esse fim comum e, em função dele, definir planos, articular esforços, alocar recursos, identificar oportunidades, gerar o bem-comum. Sem estratégia ninguém sabe para onde deve rumar. A tendência será seguir caminhos diversos e incoerentes que anulam os efeitos (incluindo os positivos) de outros caminhos trilhados por outros. IP: Que retrato faz do impacto de se terem traçado os Objetivos do Milénio? PK: O facto de se terem traçado os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) foi um acontecimento de extrema importância e sem precedentes. Na verdade, foi a primeira vez na história da humanidade que, com tamanho consenso, se estabeleceram objetivos e metas para a erradicação da pobreza, comuns a todos os países do mundo. Isso, só por si, já é um facto notável. Uma agenda global comum para a construção em 15 anos de um mundo mais justo e equitativo, é algo de extrema importância e de extremo impacto. Teriam tido, contudo, mais impacto se não fossem apenas um compromisso político, se tivessem contido alguma força vinculativa e se não fossem discriminatórios na sua própria formulação: oito objetivos não abrangem todas as temáticas necessárias para de facto ser erradicada a pobreza; alguns objetivos deixam propositadamente de fora algumas “vítimas”. Veja-se o ODM 4 que pretende reduzir em 2/3 a mortalidade de crianças com menos de 5 anos. Então e as restante 1/3 das crianças, aceitamos que morram? O ODM 5 prescreve a redução da mortalidade materna em ¾. Então e o restante ¼ das mulheres, podem morrer? Pedro Krupenski IP: A procura pelo cumprimento dos Objetivos excedeu as suas expectativas ou desiludiram-no? PK: De alguma forma desiludiram. Apesar de a sua formulação e consensualização ter sido – repito – um avanço civilizacional muito significativo e, talvez por isso, tenha criado algumas ilusões de que desta vez iria ser diferente, na verdade cometeram-se os mesmos erros que quotidianamente se cometem face a referenciais axiológicos de humanidade: perante outros interesses, aqueles referenciais são penhorados sem hesitação. Veja-se um exemplo: quando foi aprovada a Declaração do Milénio, em 2000, por todos os países do mundo reunidos na Assembleia-geral das Nações Unidas, alguns economistas de renome internacional procuraram perceber quanto dinheiro seria globalmente necessário para custear o cumprimento destes objetivos. Surgiram então várias vozes autorizadas, descrentes, que afirmaram ser impossível angariar tamanho montante em 15 anos. Em 2009, quando eclodiram os efeitos da crise financeira global, entre Março e Maio, portanto em apenas 2 meses, angariou-se globalmente 30 vezes mais do que era impossível angariar em 15 anos para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, e apenas para injetar nos mercados financeiros. Algo está profundamente errado. Mas certo é que não são os recursos que faltam, mas sim a vontade política de os distribuir equitativamente de acordo com as exigências da dignidade humana. julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 23 IP: Qual é a sua opinião sobre os Objetivos Pós 2015? PK: Os Objectivos pós-2015 estão ainda em processo de conceção. Existem dezenas de documentos que procuram orientar o seu sentido: vários emanados da Sociedade Civil, a declaração da Cimeira Rio+20 que sugere a inclusão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na formulação dos Objetivos Pós-2015, a posição da União Europeia, o primeiro draft do Painel de Peritos de Alto Nível da ONU (presidido pelo Presidente da Indonésia, pela Presidente da Libéria e pelo Primeiro Ministro Britânico), e entre outros documentos de relevo, a declaração do Secretário-geral da ONU. Avaliando as tendências dos documentos oficiais, a perspetiva não é particularmente animadora: como na Declaração do Milénio, faltalhe o caráter (mais) vinculativo. É que, como se verificou com os ODM, caso não tenha estes objetivos um caracter vinculativo, e caso não exista um regime sancionatório para o seu incumprimento, voltarão a passar para segundo, terceiro, quarto plano quando outros interesses se impuserem. E a verdade é que nada se deve sobrepor ao respeito pela dignidade humana. Como poderia então ser conferida essa forma vinculativa aos Objectivos pós-2015? Assentá-los nos Direitos Humanos e nos padrões que os regulam. Se assim fosse, isto é, se os objetivos pós-2015 se centrarem nos Direitos Humanos, existem desde logo três ordens de vantagens: (i) a centralidade da pessoa e a universalidade e indivisibilidade dos Direitos Humanos: ninguém – como nos ODM – ficaria de fora. (ii) a força vinculativa: a Declaração Universal dos Direitos Humanos não tem força de lei. Contudo, muito tratados, convenções, protocolos facultativos que destilaram e desenvolveram a referida declaração, ainda que de adesão voluntária, têm muito mais força do que só meramente a política. (iii) Os mecanismos de avaliação e responsabilização: para monitorização e avaliação do (in)cumprimento dos Direitos Humanos pelos países, já existem mecanismos estabelecidos nas 24 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 Nações Unidas. Existe um dispositivo chamado “Revisão Periódica Universal” que consiste na avaliação periódica conduzida por um conjunto de peritos independentes que compõem a Comissão de Direitos Humanos da ONU e que inclui quer a Sociedade Civil quer outros países, quer ainda o próprio país em avaliação, sobre a situação de Direitos Humanos no seu país face aos compromissos que assumiu. Desta avaliação resulta um conjunto de recomendações às quais o país avaliado tem que responder, demonstrando que as cumpriu ou explicando porque não o fez. Ora, bastaria ampliar o mandato destas comissões para incluir os objetivos pós-2015 como objeto do seu trabalho de avaliação. IP: Em que áreas de intervenção incidem mais os projetos de Cooperação de ONGD's portuguesas? PK: As ONGD, para poderem ter esse estatuto, têm que atuar (alternativa ou cumulativamente) em três grandes áreas: Cooperação para o Desenvolvimento, Ajuda Humanitária e de Emergência e/ou Educação para o Desenvolvimento. Na área da Cooperação para o Desenvolvimento levam a cabo essencialmente projetos ligados às seguintes áreas: Água e Saneamento básico, Ambiente e desenvolvimento, Capacitação pessoal (empoderamento) e institucional, Desenvolvimento comunitário, Desenvolvimento rural, Desenvolvimento sustentável, Direitos Humanos e desenvolvimento, Educação, Formação técnica, Segurança e Soberania Alimentar, Saúde, Melhoria e reabilitação de habitat, Micro-crédito e microfinanças, entre outros. Mais recentemente algumas trabalham também sobre Alterações climáticas, Biocombustíveis, Energias alternativas e renováveis, etc. Na área da ajuda humanitária e de Emergência, as intervenções incidem sobre a preparação para catástrofes naturais, a prevenção para catástrofes naturais, a prevenção de conflitos provocados pelo Homem, intervenção de emergência nas áreas Médica, Alimentar, Habitacional, Refúgio e asilo e Reabilitação. O eixo da Educação para o Desenvolvimento inclui áreas como a Educação formal e informal (em temas como Cooperação, Cultura, Cidadania global, Direitos Humanos, entre outros), Sensibilização e consciencialização, Lobby, advocacy e influência pública (Política, legislativa, financeira, ambiental, etc.) IP: Que áreas de intervenção poderiam ser mais trabalhadas tendo em conta o nosso potencial? PK: As ONGD portuguesas, bem como a Sociedade Civil organizada em geral, poderiam/deveriam desenvolver mais a sua capacidade e potencialidades de intervir na vida política ativa. Convém, para este efeito, distinguir o que os anglo-saxónicos fazem muito claramente: “politics” e “policy”. Refiro-me a esta última, pois, sobretudo em Portugal “politics” é pouco mais que ação partidária e não é isso que defendo que as ONGD assumam. Defendo, isso sim, que as ONGD portugueses tirem maior proveito das relações de proximidade que têm com as comunidades locais dos países onde atuam, com outras organizações de outros países, com as redes internacionais de que fazem parte e/ou se relacionam, para construir visão crítica sobre os vários assuntos de relevo para a sua atuação e atuem na promoção das boas práticas de modo a serem adoptadas como as políticas oficiais, à escala nacional, regional e global. São poucas as ONGD portuguesas que o fazem. Não é, por um lado, um hábito cultural português. Por outro lado, os decisores políticos (e legislativos) não esperam das ONGD esse papel. Os que esperam esgotam a participação na construção de políticas numa mera consulta. IP: As empresas portuguesas podiam atuar de forma mais impactante junto das ONGD portuguesas em projetos de Cooperação, ou isso, para si, não faz sentido? PK: Faz o maior dos sentidos e julgo que o futuro próximo da cooperação para o desenvolvimento passa (também) por aí. Aliás, a doutrina oficial mundial (através da declaração final do IV Fórum de Alto Nível sobre a qualidade da Ajuda ao Desenvolvimento que teve lugar em Novembro de 2011 em Busan, na Coreia do Sul) aponta nesse sentido: o sector privado passou a ser considerado ator de pleno direito no palco da cooperação. Na verdade, existem interesses comuns: o sector privado, no contexto da internacionalização, procura mercado. Cada vez mais - as boas práticas do desenvolvimento sustentável assim o recomendam – só a ele conseguem aceder, e sobretudo nele perdurar e frutificar, se assegurarem respeito pelas dimensões sociais e ambientais do desenvolvimento e estas dimensões, neste contexto, podem ser asseguradas pelas ONGD, pois é essa a sua especialidade e é o que lhe permite o conhecimento do terreno, das comunidades, das autoridades locais, dos impactos dos investimentos e intervenções. Julgo que a história recente nos ensina que apostar apenas na dimensão económica é tão insensato quanto esventrar a galinha dos ovos de ouro. Surge o lucro (para poucos), mas com elevadíssimos custos sociais e ambientais, levando por vezes à destruição destas dimensões. Ora, destruída a dimensão social (as pessoas) e a ambiental (o planeta) quem serão os consumidores? Onde estará o mercado? De que servirá o lucro? Ao dar igual importância às dimensões económica, social e ambiental, estará garantida a longevidade da galinha de ovos de ouro e a satisfação de todos quantos beneficiam destes ovos: as empresas que obtêm os seus dividendos num (novo) mercado, as ONGD que cumprem o seu papel social e ambiental de forma sustentável e, mais importante, as populações visadas que vêem, de forma equilibrada e duradoura, a satisfação das suas necessidades. IP: O que é que as ONGD portuguesas têm de ter bem presente no seu dia-a-dia para trabalharem para alcançar os Objetivos Pós 2015 com eficácia? PK: Que terão que ser melhores e fazer com que os decisores políticos nacionais, regionais e globais sejam melhores daquilo que foram nos últimos 15 anos. Muito de positivo se fez para o cumprimento dos ODM, mas os resultados estima-se muito aquém do que teria sido possível e desejável. IP: O que é que é necessário melhorar? PK: Definitivamente, a situação de fragilidade financeira é o que é necessário melhorar. Na verdade, as ONGD, como instituições sem fins lucrativos, vivem numa enorme incerteza permanente sobre se podem/conseguem fazer aquilo que sabem e para o que foram criadas devida à escassez dos recursos para o efeito. Esta situação é de responsabilidade repartida: se, por um lado, muitas ONGD encaram o lucro como algo a evitar, não se pautando pela eficácia na sua geração para aplicar aos seus fins sociais (pelo que nunca desenvolveram técnicas eficazes de angariação de fundos), por outro lado a legislação portuguesa aplicável (desde a lei fiscal, do mecenato, dos benefícios fiscais, de bases da economia social, utilidade pública, etc., etc., etc.,) torna praticamente impossível a eficácia na produção de excedentes por parte das ONGD. IP julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 25 NO CENTRO “Lisboa, um porto de paz”, transforma a cidade no mundo CD: Rotary International Lisboa acolheu a 104ª Convenção Internacional de Rotary Lisboa 2013, entre os dias 22 e 26 de junho, reunindo 30 mil membros internacionais da organização Rotary, oriundos de 225 países e áreas geográficas, sob o lema “Lisboa, um porto de paz”. Segundo Luís Miguel Duarte, presidente da Comissão Anfitriã de Rotary, “em 108 anos de serviços humanitários de Rotary, esta será a primeira vez que Portugal organiza uma Convenção de Rotary International. Esta será a maior convenção alguma vez realizada em Portugal onde membros de Rotary de todo o mundo se juntarão para seguir o espírito universal português de compreensão e boa vontade”, afirmou em comunicado. O evento transformou por completo a cidade, tendo passado essencialmente pela Feira Internacional de Lisboa (FIL) e partido do Pavilhão Atlântico, envolvendo mais de 100 eventos turísticos pelo país, nas semanas anterior e seguinte à convenção. O Caminho Rotary A 23 de Fevereiro de 1905, Paul P. Harris, advogado em Chicago, fundou o primeiro clube de prestação de serviços do mundo – o Rotary Club de Chicago. A ideia era juntar um grupo de profissionais que partilhassem o mesmo espírito de amizade comum em cidades pequenas tais como aquelas a que estava habituado na sua juventude. Em 1921, o Rotary contava já com clubes nos seis continentes e um ano mais tarde adotou o nome Rotary International. Hoje 1,2 milhões de rotários integram cerca de 32.000 Rotary Clubs 26 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 em mais de 200 países e áreas geográficas, liderando projetos de incontestável importância internacional tal como o Pólio Plus descrito pelo ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan como um exemplo maravilhoso das conquistas alcançadas graças à cooperação entre a Organização das Nações Unidas e organizações não-governamentais. O Projeto mais mediático da Rotary Internacional é realmente a erradicação da poliomielite. O esforço foi iniciado em 1988 em conjunto com as Nações Unidas, Unicef e passou a contar com o apoio da Fundação Bill & Melinda Gates. NO CENTRO “Paz através do Servir” No discurso de boas vindas da 104ª Convenção, o presidente do Rotary Internacional, Sakuji Tanaka, começou por contar a sua história de aproximação ao lema que o guiou, no último ano, “Paz através do Servir”. Ainda novo, Sakuji Tanaka ouviu o imperador Hirohito anunciar a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial. “Até àquele dia a nação estava empenhada em vencer a guerra; mas, de repente, o enfoque mudou. Chegara a hora de reconstruir e dar uma nova identidade ao país — um Japão comprometido com a paz.” Anos depois, quando se associou ao Rotary Club de Yashio, aprendeu o conceito de “Dar de Si Antes de Pensar em Si”. “Através do Rotary percebi que o meu trabalho era melhorar a vida de outras pessoas. Passei a servir ainda melhor os meus clientes, não visando apenas o lucro. A satisfação dos clientes traduz-se em satisfação dos funcionários, aumento da produtividade e da felicidade de todos os envolvidos neste processo. O serviço rotário não tem que ficar só no Rotary Club. Tudo o que fazemos pelo próximo faz deste um mundo melhor.” Tanaka sublinhou o papel diferenciador dos rotarianos na sociedade, uma vez que estes espalham a paz diariamente ao suprir necessidades humanas básicas e ao participar em projetos internacionais. O Presidente da Rotary Internacional fez ainda o paralelismo entre o mundo ideal e o ambiente vivido em Lisboa naqueles dias. “Aqui em Lisboa vemos como o mundo devia ser: gente de todos os continentes reunida com o intuito de melhorar o mundo em que vivemos. Isto é um testemunho de que as nossas diferenças não têm importância, pois o mais importante é sermos felizes e úteis.” Já Pedro Mota Soares, Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, não poupou elogios aos rotarianos: “O que é importante para o Rotary é importante para Portugal, para qualquer país e para o mundo. Vocês deixam de lado os seus interesses pessoais em troca de um bem maior. Isto é algo que os políticos, assim como eu, temos que fazer com mais frequência.” Rotary Internacional e Fundação Bill & Melinda Gates, pela erradicação da Pólio A Convenção do Rotary International em Lisboa foi o palco de mais um grande passo na luta contra a erradicação da poliomielite, com o anúncio de um novo capítulo da parceria Rotary-Fundação Bill & Melinda Gates. “A partir de agora a Fundação Gates fará a equiparação de 2:1, até um máximo de US$35 milhões por ano, por cada dólar que o Rotary destinar ao remate da lacuna de financiamento para completar a erradicação da pólio até 2018”, disse Jeff Raikes, CEO da Fundação Gates, durante a sessão plenária de 25 de junho num vídeo pré-gravado. “Isto significa que podemos chegar a mais de $500 milhões com as doações do Rotary e a nossa equiparação.” O anúncio não poderia ter chegado numa altura melhor para a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio. O custo estimado do plano estratégico 2013-18 para o fim da pólio é de $5,5 mil milhões. Os termos de compromisso anunciados na Cúpula de Vacinação Global em abril totalizam $4 mil milhões. Se a lacuna de financiamento de $1,5 mil milhões não for fechada, as atividades de imunização em países afetados pelo vírus não alcançarão os objetivos previstos. Isto sem contar que se a poliomielite voltar, mais de 200.000 crianças no mundo todo ficarão paralíticas anualmente no espaço de uma década. “Iremos combinar o poder de networking do Rotary com os nossos recursos e, juntamente com os demais parceiros da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio poremos fim a uma doença e mudaremos a saúde pública para sempre”, afirmou Raikes. John Germ, vice-chair da Comissão Internacional Pólio Plus, pediu aos rotarianos que motivassem os seus amigos e conhecidos que não pertencem ao Rotary a doarem para esta causa. Já o Chair do Conselho de Curadores da Fundação Rotária, Wilfrid Wilkinson, falou dos excelentes trabalhos da entidade e mencionou a decisão de outorgar subsídios para os trabalhos voluntários tomada na década de 60 pelos líderes do Rotary de então. “Graças àquela decisão, todos nós podemos ter orgulho destes 50 anos de transformações que operamos no mundo através da Fundação, e podemos já aguardar ansiosos o que está por vir, um mundo sem pólio”, disse Wilkinson. “Future Vision” Outro assunto de destaque durante a convenção foi a implementação ativa do novo sistema de apoios da Rotary, desde dia 1 de julho, anteriormente chamado “Future Vision”. A Fundação Rotary oferece subsídios que financiam uma variedade de projetos rotários e que se dividem em três tipos: Distritais, Globais e Pré-definidos. Este modelo é considerado mais eficiente e sustentável, e irá contribuir para um maior impacto no mundo inteiro. A fase piloto deste novo modelo foi desenvolvida ao longo dos últimos 3 anos, tendo para isso contado com a participação de 100 distritos Rotary, e as áreas de atuação abrangidas eram Paz e prevenção/resolução de conflitos; Prevenção e tratamento de doenças; Recursos hídricos e saneamento; Saúde maternoinfantil; Educação básica e alfabetização; Desenvolvimento económico e comunitário. A este propósito, o novo presidente eleito, Ron Burton sublinhou a importância da sustentabilidade. “O objetivo da Fundação Rotary continua a ser “Fazer o Bem no Mundo”. A partir de 1 de julho este bem ganhará uma dimensão muito maior, com iniciativas que tomam vida própria.” Mobilizar para Transformar Céline Cousteau, fundadora e diretora-executiva da CauseCentric Productions; Jane Goodall, fundadora do The Jane Goodall Institute e mensageira da ONU para a paz; e Craig Kielburger, co-fundador da Free The Children e Me to We, foram alguns dos intervenientes nesta Convenção. Os três chamaram a atenção para a importância do envolvimento e motivação das pessoas para que haja ação. Cousteau explicou que contar uma história com enfoque numa causa cria laços e inspira as pessoas a agirem. Por sua vez, Goodall falou das quatro coisas que a fazem ter esperança num planeta mais saudável: o entusiasmo e energia dos jovens, o potencial do cérebro humano, o poder transformador da natureza e o indomável espírito humano. Kielburger lembrou a ajuda que o Rotary lhe deu no início da sua instituição de caridade, dando-lhe as verbas e a hospedagem em casas de família quando viajou ao Sudeste Asiático com somente 12 anos de idade. A próxima Convenção está já agenda para o próximo ano e terá lugar em Sidney, Austrália, entre os dias 1 e 4 de junho. O Presidente Ron Burton e a sua mulher Jetta, convidam todos os Rotarianos a participarem em mais um encontro e juntos celebrarem o lema 2013-2014, “Viver Rotary, Transformar Vidas”. IP julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 27 NO CENTRO Inovação, Solução, Ação A TESE é uma das ONGD’s portuguesas que mais se tem destacado na procura incessante de soluções inovadoras para fazer face aos maiores desafios da humanidade em todo o mundo. A coragem, a imaginação e o céu como limite foram desde a origem desta organização características únicas que permitiram alcançar muitas vezes aquilo que se julgava impossível. O Impulso Positivo falou com Miguel Silva, Diretor da Unidade Internacional, Programa Engenheiros Sem Fronteiras da TESE - Associação para o Desenvolvimento. Impulso Positivo (IP): A TESE – Engenheiros sem Fronteiras tem desenvolvido desde a sua origem um trabalho marcante na área da Cooperação e Desenvolvimento. Quais são as áreas de atuação da TESE e em que países estão a trabalhar neste momento? Miguel Silva (MS): A TESE - Engenheiros sem Fronteiras atualmente está envolvida em projetos subvencionados, de médiaduração e em várias prestações de serviços. Embora já tenhamos desenvolvido atividade no Quénia e em Cabo Verde, neste momento atuamos em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. A TESE – Engenheiros sem Fronteiras trabalha essencialmente na promoção do acesso a energia, a partir de fontes renováveis, água e saneamento, especialmente em contextos rurais e periurbanos, em África. Vamos muito além da questão da construção de novas infraestruturas - na verdade procuramos sempre aproveitar e desenvolver infraestruturas já existentes -, pois trabalhamos toda a cadeia de valor destas utilities, desde a produção à comercialização. Mas não o fazemos sozinhos - desenvolvemos modelos de gestão que garantam a sustentabilidade das infraestruturas, a permanência da oferta e o incremento da procura em conjunto com associações locais. São estas últimas as responsáveis pela gestão da cadeia de valor e esta é uma das nossas linhas mestras de atuação. Outra é o conceito de consumidor/pagador, acreditamos que só deste modo será possível a sustentabilidade dos projetos. Para que este modelo funcione é fundamental desenvolver estudos que permitam aferir a possibilidade de pagar por parte das populações, desenhando muitas vezes níveis de serviço e tarifários ou modelos de pagamento para segmentos diferentes. Um exemplo: tarifários com sistemas pós-pagos e pré-pagos, ou pagamento semanal e pagamento mensal. A relação com os Estados é outra das nossas preocupações procuramos que o nosso trabalho incorpore a estratégia dos países que nos acolhem. Em Estados transitoriamente fragilizados esta premissa é fundamental. Acreditamos que os setores em que atuamos necessitam de um Estado/ator e nós procuramos também reforçar esta possibilidade. Uma das preocupações diárias é que os nossos projetos resolvam problemas imediatos mas que possam ser mais tarde utilizados para soluções globais nos países que nos acolhem. Mais ainda, para tal desenvolvemos todos os nossos projetos em parceria com as autoridades locais dos setores de intervenção, numa ótica de reforço permanente de capacidades. Para que tudo tenha possibilidade de sucesso, colocamos muito esforço na questão do “needs assessment”, utilizando metodologias participativas para, em conjunto com as populações, para quem e com quem trabalhamos, identificarmos problemas e construirmos soluções. 28 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 IP: Existe alguma razão para atuarem com especial enfoque em países africanos? MS: As razões são históricas, quer da própria organização, quer da história de Portugal. A TESE-Engenheiros sem Fronteiras nasceu da vontade de um grupo de amigos e estudantes da Universidade Nova de Lisboa em promoverem ações de cooperação com os Países Africanos de Língua oficial Portuguesa, e o nosso primeiro espaço de atuação foi Moçambique. Por outro lado há uma tradição forte das Organizações NãoGovernamentais para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesas trabalharem nestes países do continente Africano. Finalmente, a nossa missão de trabalhar para a melhoria da vida dos mais pobres dos pobres (bottom of the pyramid) enquadra-se perfeitamente neste continente onde, infelizmente, ainda está a maior percentagem de pessoas em situações extremas de pobreza. No entanto, na TESE - Engenheiros em Fronteiras estamos a preparar-nos para atuar em África também fora dos PALOP e, quem sabe, a médio prazo noutro continente. IP: Na sua opinião, o que é que é vital para que um projeto de Cooperação e Desenvolvimento tenha sucesso, independentemente da área de atuação? MS: Diria, em resumo: trabalhar realmente cooperando com atores locais; perceber profundamente as necessidades das populações, o que só é possível vivendo nos países onde se atua, imergindo na sua cultura, procurando tirar os nossos óculos e olhar sem preconceitos – é necessário ter a coragem de desenvolver “orelhas com radar”, lembrando uma letra célebre de Sérgio Godinho; ter dúvidas e incertezas, obrigando-nos a um esforço de investigação contínuo; termos a certeza que erramos e que devemos não ter medo do erro – numa frase de um autor que muito aprecio – Samuel Becket – “Errar, errar de novo, errar melhor”. Este podia ser o mote da TESE – Engenheiros sem Fronteiras! Acreditamos muito no que fazemos e com quem fazemos, mas não temos medo de aprender e melhorar. Talvez o mais importante seja acreditarmos realmente que um mundo melhor é possível. IP: Quais são os maiores desafios que a TESE enfrenta neste momento, em relação aos seus projetos de Cooperação e Desenvolvimento? MS: O grande desafio neste momento é não nos deixarmos contaminar pelas vitórias de ontem. Pretendemos escalar os nossos projetos para novas regiões; queremos promover uma maior integração das nossas soluções, desenhando projetos integrais de acesso a água, energia e saneamento, para zonas rurais e periurbanas. O resto é business as usual: os problemas de instabilidade crónica de alguns países, algumas políticas e outras (mais) politiquices NO CENTRO do hemisfério norte mais “desfocadas” da missão de construir um mundo melhor; a dureza de trabalhar por vezes em condições difíceis, entre outros. Mas para estes problemas estamos preparados, o que queremos é instituir o reinado do business not as usual. IP: Quais sãos os grandes projetos neste momento? MS: Poderia falar de vários, mas escolho três que exemplificam a nossa atuação. Bambadinca Sta Claro (que significa Bambadinca está iluminada), um projeto de criação de serviço de energia na vila de Bambadinca, na Guiné-Bissau, a partir de uma Central Híbrida PV-Diesel essencialmente fotovoltaica. A Associação Comunitária de Desenvolvimento do Setor de Bambadinca (ACDB) é o parceiro a partir do qual se implementa todo o serviço, e o Estado, via Direção-Geral da Energia, participa ativamente, quer porque atribuiu a concessão de atuação à ACDB, quer porque é o garante institucional da conformidade do projeto com os eixos estratégicos do Estado guineense para este setor. Bafata Misti Mas Iagu (sinónimo de Bafata quer mais água) e que vem no seguimento do projeto Bafata Misti Iagu. Este projeto é gémeo do anterior, agora no abastecimento de água na cidade de Bafatá, também na Guiné-Bissau. Neste caso trabalhamos em grande proximidade com a ASPAB, associação local, e com a Direção Geral dos Recursos Hídricos da Guiné-Bissau. A ASPAAB é concessionária do Serviço e a TESE-Engenheiros Sem Fronteiras trabalha na assistência técnica à operação e manutenção de todo o serviço. A proximidade de Bambadinca e de Bafata não é inocente – é um passo na possibilidade de integração completa destes serviços num espaço a selecionar e num futuro breve. Emprego e criação de valor na gestão dos resíduos é um projeto em São Tomé e Príncipe (STP), que completa a exemplificação da “triologia” TESE – Engenheiros Sem Fronteiras. Neste projeto procuramos, através de parcerias com os municípios são-tomenses e com a parceria da Santa Casa da Misericórdia de STP, promover e operacionalizar iniciativas produtivas locais vocacionadas para a valorização de resíduos, através de parcerias público-privadas. IP: Quão importante é para a TESE trabalhar em parceria com outras organizações? MS: É fundamental, e nós temos conseguido estabelecer parcerias de longa duração com o setor do Estado, o que é normal no mundo das ONGD, e com o setor privado, o que não é tão comum. Também o fazemos com regularidade com outras organizações da economia social, sejam ONGD, associações ou cooperativas. IP: Há quanto tempo trabalha nesta área e por onde tem passado? MS: Trabalho nesta área desde 2007 e já passei por Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Mauritânia. IP: Qual é o maior retorno que recebemos ao trabalhar em projetos com uma carga humana e com condições tão especiais? MS: Esta é uma pergunta clássica! Respondo a tentar fugir dos lugares comuns: esta é, primeiro que tudo, a profissão que escolhi e aquela em que sinto que as minhas competências rendem mais. É um universo onde muitas vezes somos olhados como benfeitores dos “coitadinhos”, o que é completamente errado. A carga humana é sentida com responsabilidade, mas não deveria ser esta responsabilidade comum a todas as áreas de atividade? Quanto às condições especiais, consideramo-las antes condições reais – onde as pessoas vivem realmente (não gosto da palavra “sobrevivem”) e aí são uns dias felizes, outros não. No final o que queremos, e o que nos guia, é que essa felicidade seja evidente no maior número possível de dias. Essa felicidade é, por exemplo, a possibilidade de escolha, a liberdade de poderem decidir sobre as suas próprias vidas. E permita-me que acrescente: apesar de por vezes vivermos em condições difíceis, elas são sempre melhores do que as da esmagadora maioria das pessoas com quem e para quem trabalhamos. IP: Existe uma metodologia transversal a todos os projetos de Cooperação da TESE? MS: As metodologias participativas são a base de todo o nosso trabalho. Sem a participação das pessoas das comunidades onde trabalhamos a nossa atuação não faz sentido. IP: A TESE aposta desde sempre num modelo de negócio que seja sustentável. Neste momento, este modelo baseia-se em que pilares? Qual a importância deste modelo de negócio para a estabilidade na forma de atuar noutros países? MS: Os pilares do modelo de sustentabilidade da TESE são a contínua diversificação do mix de financiamentos e de parceiros; a aposta nas pessoas com elevado potencial técnico e humano (na realidade, a equipa com quem trabalho é nestes dois níveis muito acima da média – um privilégio para mim); a diversificação de atuação, por isso desenhamos projetos mas também prestamos serviços de consultoria; e termos realmente uma grande dose de criatividade, só possível com uma pitadinha de loucura… Que também temos! IP: Que balanço faz da atuação da TESE até ao momento? MS: Um balanço claramente positivo. Mas o que nos preocupa mesmo é o “balanço” de futuro. IP: Que metas pretendem alcançar a curto e médio prazo, no âmbito da atuação da TESE nesta área? MS: A curto prazo queremos levar a bom porto os projetos e prestações de serviços do nosso portefólio atual. A médio prazo pretendemos aumentar o número de espaços onde atuamos, desenhar, apresentar e financiar projetos de verdadeira inovação, garantindo o acesso a água, energia e saneamento a um maior número de famílias. Acima de tudo, desejamos ser cada vez mais um player respeitado, especialmente pelas pessoas dos países que nos acolhem. IP julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 29 EXPERIÊNCIAS © VIDA VIDA O acesso à água potável para melhorar a vida e a sustentabilidade das comunidades – campanha VIVA! Com a colaboração de: A VIDA – Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento Africano – é uma ONGD portuguesa que existe desde 1992 e trabalha nas várias áreas do Desenvolvimento (Saúde, Ambiente e Água, Educação, Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar). A VIDA implementa projetos integrados com recurso a tecnologias adaptadas aos locais e às comunidades com quem trabalha de modo a garantir a sustentabilidade. Neste momento, a VIDA desenvolve projetos em Moçambique na área do Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar e na Guiné- Bissau com projetos na área da Saúde - Saúde Materno – Infantil, Saúde Comunitária e Água e Saneamento. Em Março de 2010 arrancou na Guiné-Bissau o PROJETO VIVA/Mumelamu com o objetivo de mudar a vida de milhares de pessoas que percorrem centenas de quilómetros para adquirir um dos bens essenciais para a sobrevivência: água potável! Foram envolvidos neste projeto a Associação dos Poceiros de S. Domingos, parceiro local, a cadeia de supermercados LIDL e a Cooperação Portuguesa. Foi uma campanha gratificante para todos os envolvidos e os resultados estão à vista! Organização: VIDA Projeto de Cooperação: Projeto VIVA Necessidades identificadas: O trabalho realizado no setor da Saúde ao longo dos anos na GuinéBissau permitiu verificar a relação entre a inexistência de acesso e qualidade da água com a incidência de doença e má qualidade de vida. As intervenções ao nível dos sistemas de abastecimento de água têm um enorme potencial ao nível da saúde, bem como no aumento do tempo disponível das mulheres. O subsector de S. Domingos que inclui as aldeias que beneficiaram desta ação (Varela, Suzana e S. Domingos), região do Cacheu onde a VIDA atua, é extremamente carente em fontes de água limpas e as mulheres têm que percorrer longas distâncias para ter acesso a este bem essencial. 30 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 E de Sofia Vieira, adjunta do Conselho de Administração da VIDA Descrição do Projeto: O Projeto VIVA/ Mumelamu foi lançado em Dezembro de 2009, através da campanha nacional realizada com a cadeia de supermercados LIDL (www.projectoviva.com), com o objetivo de abrir um total de 46 furos. Dado o sucesso da 1ª campanha, que contou com o apadrinhamento da atleta Rosa Mota, o LIDL decidiu repetir aquela campanha em Julho e Agosto de 2010. Os resultados alcançados foram de tal maneira positivos que conseguiram valores para a abertura de 50 furos. A esta data faltam abrir 2 furos, um atraso provocado pelo golpe de estado na Guiné-Bissau em Abril de 2012 e da tentativa de contragolpe em Outubro desse ano. O sistema criado permite às comunidades participarem não só no controle e gestão da utilização da água como na manutenção do sistema abastecedor. Resultados obtidos: Conseguiu-se sensibilizar e mobilizar as comunidades para a implementação de um programa rural de higiene e água através do diagnóstico participativo da situação de base e caracterização dos beneficiários, de ações de formação para a decisão e gestão comunitárias – comités de gestão, do desenho participativo de programas de educação para a higiene e do programa de intercâmbio e demonstração. Foi ainda possível capacitar os atores locais para a construção e manutenção de sistemas de acesso a água melhorados, para a construção de furos artesianos compatíveis com bombas manuais e com bombas solares e a consolidação das capacidades e recursos da associação com vista a poder assumir o papel de entidade de referência no sector da água. Pontos fortes e fracos do projeto: Em matéria de pontos fortes há a assinalar a gestão participada das comunidades através dos comités de água e de gestão bem como a capacitação técnica e de gestão da Associação dos Poceiros de S. Domingos. Não há registo de pontos fracos, apenas de alguns constrangimentos que tiveram sobretudo a ver com o isolamento e dificuldade de acessos a algumas tabancas, bem como o Golpe de Estado na Guiné-Bissau em Abril do ano passado. IP FGS © FGS EXPERIÊNCIAS Acolher órfãos de pais vítimas de VIH/Sida – “Sementes do Amanhã” Com a colaboração de: O estigma e a negligência muitas vezes de mãos dadas com o facto de se ser filho e tantas vezes órfão de pais com VIH/Sida fez com que em 2004 nascesse o projeto “Sementes do Amanhã” pelas mãos da Fundação Gonçalo da Silveira. Hoje existem 6 casas nas quais vivem 64 crianças num ambiente familiar e propício a um crescimento e desenvolvimento digno. Organização: Fundação Gonçalo da Silveira Projeto de Cooperação: “Sementes do Amanhã” Necessidade identificada: Por toda a África é preocupante a condição em que vivem diariamente crianças órfãs – de pai, mãe ou ambos – devido ao flagelo do VIH/Sida. De acordo com a INSIDA (2009), em Moçambique a prevalência do vírus do VIH nestas crianças é de 3.2%, a que se associa uma maior vulnerabilidade e acesso mais limitado à educação, saúde e alimentação. A norte de Moçambique, no Planalto de Angónia, Província de Tete, encontra-se a Missão Jesuíta de Fonte Boa. Da proximidade desta Missão com as comunidades locais, em 2003 surgiu um pedido específico para resposta ao crescente número de crianças estigmatizadas e negligenciadas por serem órfãs de pais vítimas de VIH/Sida. Assim nasceu, em 2004, o projeto de construção de seis casas-lar para acolhimento destas crianças. A FGS - Fundação Gonçalo da Silveira e a Região Moçambicana da Companhia de Jesus (parceiro local) procuraram, desta forma, responder diretamente a uma necessidade local com meios locais. Descrição do Projeto: O processo de construção das habitações foi faseado e decorreu entre 2004 e 2009 com o apoio de várias entidades entre as quais a Cooperação Portuguesa, a Fundação Calouste Gulbenkian e a ONGD Manos Unidas. Foram construídas habitações nas comunidades de Bintoni, Makodza Kodza, Kayia, Chingamba, Mangombo e Nkhawo, evitando assim a deslocação e institucionalização desenraizada das crianças. A identificação das crianças beneficiárias foi progressiva e a seleção feita em coordenação com entidades oficiais (as Direções Provinciais de Educação, da Mulher e Ação Social, e de Saúde), seguindo critérios previamente identificados. Todo o processo foi público e participado – desde a localização das casas, à seleção dos beneficiários e equipa técnica. As 6 casas-lar estão localizadas em zonas acessíveis mesmo em tempo de chuvas, para além de próximas da escola e do posto médico. Procurou-se a sua inserção plena no seio das comunidades através de construção e equipamento em tudo semelhante às restantes habitações locais. Promoveu-se ainda a criação de um ambiente familiar para estas crianças, incentivando-se a manutenção do constante contacto com os seus parentes - na cultura africana, a “família ampliada” – favorecendo, assim, a sua posterior reintegração social. O dia-a-dia em cada uma destas casas é hoje assegurado por uma equipa composta por duas mulheres de cada comunidade – uma “mamã” (coordenadora) e uma “tia” (auxiliar). O responsável da Missão da Fonte Boa, P. Vítor Lamosa, presta apoio semanal aos lares assegurando o seu normal funcionamento. Mensalmente realizam-se ainda Conselhos Comunitários para avaliação e prestação de contas. Resultados obtidos: Em pleno funcionamento há 4 anos as 6 casas beneficiam hoje 64 crianças - com idades compreendidas entre os 0 e os 12 anos – que frequentam a escola e beneficiam dos cuidados de saúde. Têm proporcionado um ambiente familiar com dignidade, relações de vinculação estáveis, com apoio e supervisão de adultos. Garantem, como tal, um desenvolvimento humano digno às crianças que delas beneficiam. As 6 casas-lar constituem um legado para as comunidades em que estão inseridas pois o projeto conseguiu não só a sua construção e equipamento como tem procurado dinamizar, pequenas atividades geradoras de rendimento, fator necessário à manutenção da autonomia das casas e favorável à dinamização económica local. Pontos fortes e fracos do projeto: Os pedidos da comunidade para acolhimento de crianças são constantes, não sendo possível aos lares responder no imediato a todos eles. Algumas outras fragilidades são verificadas localmente: o roubo de animais e produtos agrícolas e as constantes necessidades de reparação dos moinhos têm comprometido uma maior estabilidade financeira das casas. Por outro lado, existe um potencial agrícola por explorar – o que representaria um reforço financeiro. A resposta eficaz a um problema ainda tão expressivo na região, a presença e apoio permanente da Missão Jesuíta da Fonte Boa e o grande envolvimento e contribuição das comunidades no dia-a-dia destas casas constituem-se como mais-valias fundamentais. A rede criada entre comunidade, coordenação do projeto e autoridades locais permite a concretização dos objetivos traçados. IP julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 31 EXPERIÊNCIAS Prevenção e alerta precoce são chave na redução dos impactos das catástrofes naturais © OIKOS OIKOS Com a colaboração de : A Oikos, única ONG Portuguesa a atuar na América Central, trabalha frequentemente em zonas vulneráveis aos desastres naturais. Auxiliar as comunidades a desenvolver estratégias de Prevenção e Preparação de Catástrofes tornou-se uma prioridade. Organização: OIKOS Projeto de Cooperação: Criação e consolidação de um sistema regional de informação e monitorização de alerta rápido de catástrofes naturais Necessidade identificada: O departamento de Ahuachapan é o mais ocidental dos que constituem El Salvador, sendo um dos mais suscetíveis de ser atingido por fenómenos naturais, e afetando especialmente famílias em zonas costeiras e montanhosas, caracterizadas por elevados níveis de pobreza. Era necessário criar sistemas de alerta precoce rápido e eficaz, melhorando a capacidade de informação, coordenação e resposta das populações vulneráveis, minimizando os impactos de uma catástrofe nas suas comunidades. Descrição do Projeto: Durante cinco anos a Oikos, em parceria com a Fundación Salvadoreña para la Promoción Social y el Desarrollo Económico (FUNSALPRODESE) e financiamento da Direção Geral de Ajuda Humanitária da União Europeia (ECHO) e Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I. P., trabalhou na criação e consolidação de um sistema regional de informação e monitorização de alerta rápido. Foi criado o Centro Micro-regional de Informação, Monitorização e Alerta Precoce (CEMIMM), que recebe informação diária e controlada das comunidades de Ahuachapan, por monitores selecionados de cada uma e através de sistemas de comunicação por rádio instalados nas mesmas. Esta informação é por sua vez transmitida à Proteção Civil e ao Ministério do Ambiente. Comissões Municipais da Proteção Civil receberam formações 32 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 em temáticas como primeiros socorros, resgate, extinção de incêndios, segurança, manutenção de albergues comunitários. Também a população escolar recebeu formação para estar preparada em caso de catástrofe e as diversas aldeias abrangidas foram preparadas e sinalizadas com rotas de fuga, pontos de encontro, sistemas de recolha de lixo e foram criados hábitos de limpeza regulares. Resultados Obtidos: Um total de 125 comunidades beneficiárias estão interligadas num sistema de comunicação por rádio. Foram criadas Comissões Comunitárias e monitores responsáveis que, diariamente, monitorizam e reportam ao CEMIMM. As instituições locais e municipais foram interligadas e fortalecidas, tendo agora uma capacidade de resposta a futuras catástrofes. Foram elaborados diversos "Planos Municipais de Resposta a Catástrofes", planos locais de "Emergência Sanitária" e planos de "Proteção Escolar", com apoio de professores e estudantes. Todos foram desenvolvidos em conjunto com órgãos do governo, Direção Geral de Proteção Civil, Ministério da Saúde e Ministério da Educação. Também foram criados planos de emergência para o setor da saúde, tendo sido ainda promovida a integração de Equipas Comunitárias de Saúde – vocacionadas para gestão de risco e primeiros socorros. A população escolar na região de Ahuachapan está melhor preparada para agir em caso de catástrofe e contribuir para a prevenção nas suas comunidades. No total, foram beneficiadas 126.713 pessoas. Pontos fortes e fracos do projeto: As dificuldades enfrentadas prendem-se com a falta de cobertura nas comunicações, a mobilidade nas comunidades de difícil acesso e alguma dependência entre o CEMIMM e as autoridades municipais. De resto, os resultados previstos no projeto foram amplamente superados, tendo sido um dos grandes pontos fortes a sua sustentabilidade. As comunidades assumiram a causa como primariamente sua e os hábitos criados no decorrer do projeto são rotina diária. O CEMIMM é atualmente uma referência de monitorização e resposta a nível departamental, e tornou-se numa importante ferramenta de interligação entre todos os atores envolvidos na gestão de risco. IP MONTE © MONTE EXPERIÊNCIAS Capacitar localmente por um Desenvolvimento Sustentável – “Nos Junte” Com a colaboração de : O Projeto Nos Junte - Aprender e Construir Desenvolvimento, Lutar Contra a Pobreza, promovido pelo Monte, em parceria com o Conselho Regional de Parceiros de Santo Antão, Cabo Verde, tinha como principal objetivo capacitar Associações Comunitárias de Desenvolvimento e reforçar a Governança local, apoiando desta forma o desenvolvimento sustentável e luta contra a pobreza, em Santo Antão. O sucesso do projeto permite hoje, não só dar início a novas iniciativas de forma sustentável como alcançar novos territórios chegando a outras ilhas do arquipélago. Organização: Monte Projeto de Cooperação: Nos Junte Necessidade identificada: As necessidades sentidas pelas entidades da sociedade civil de Santo Antão, as Associações Comunitárias de Desenvolvimento (ACD), no contexto da sua participação na implementação do Programa Local de Luta Contra a Pobreza, foi o principal problema a que o Nos Junte pretendeu responder. A capacitação técnica das estruturas organizativas das ACD, para melhorar a sua intervenção no combate à pobreza em Cabo Verde, foi o desafio proposto pelo Nos Junte. Descrição do Projeto: O Nos Junte foi um projeto cofinanciado pela Cooperação Portuguesa, que decorreu entre 2009 e 2012 em Santo Antão Cabo Verde, sendo resultado do trabalho de cooperação que foi sendo desenvolvido ao longo dos anos entre a ONGD Monte e o Conselho Regional de Parceiros de Santo Antão, para a implementação do Plano Local de Luta contra a Pobreza. As atividades desenvolvidas foram principalmente de caracter formativo com vista a promover o reforço de capacitação técnica dos técnicos e dirigentes das ACD e reforço institucional das organizações. Num total de 120h formativas, realizaram-se ações nas seguintes áreas de capacitação: Desenvolvimento Comunitário; Planeamento, Gestão e Avaliação de projetos; Participação e Animação Comunitária; Igualdade de Género; Identificação e Disseminação de Boas práticas; as TIC e as ferramentas de trabalho à distância e colaborativo, onde participaram 72 técnicos e dirigentes de ACD de Santo Antão. Resultados obtidos: Um resultado da realização destas ações foi a administração, por parte dos formandos capacitados, de 11 edições da ação de formação de Animadores Comunitários: 4 ações no concelho da Ribeira Grande, 4 ações em Porto Novo e 3 ações no Paul, que corresponderam a 359 horas de formação e ao reforço de competências em mais 182 elementos de ACDs locais. Com o objetivo de apoiar a área da capacitação dos agentes locais o projeto criou o Centro de Recursos para o Desenvolvimento Rural (CRDR), equipado com computadores e internet, destinado às ACD e população de Santo Antão. Foi também criada a plataforma on line do CRDR, que inclui informação sobre as diferentes iniciativas e projetos em dinamização pela Monte e o CRP-SA na área da Cooperação para o Desenvolvimento; constitui-se como um espaço para disponibilização de informação; cadernos temáticos e documentação de apoio ao associativismo e ao desenvolvimento e animação comunitária e permite continuar o processo de capacitação das organizações locais, à distância. A plataforma do CRDR esta disponível através do endereço: http://www.moodle.monte-crdr.com. Outro dos resultados do projeto foi a elaboração de um Manual onde é apresentada a experiência realizada através do Nos Junte para a identificação de práticas na área da Animação comunitária, desenvolvidas pelas ACD, as quais poderão constituir processos de desenvolvimento e de combate à pobreza, noutros lugares. Trata-se de um instrumento de trabalho, com base no registo de histórias e protagonistas que foram capazes de encontrar mecanismos para ultrapassaram por si mesmos, situações de privação económica e social, muito graves. O Manual “Desenvolvimento Comunitário, Manual de Boas Práticas - A Experiência de Santo Antão (Cabo Verde)” está disponível no CRDR. O Nos junte, incluiu ainda a disseminação dos resultados atingidos em mais 5 ilhas, São Vicente, Brava, São Nicolau, Fogo e Santiago, com a colaboração das respetivas Comissões Regionais de Parceiro e o apoio da Unidade de Coordenação do Programa de Luta Contra a Pobreza. Pontos Fortes e Fracos do Projeto: O Nos Junte permitiu contribuir para a concretização do seu objetivo global: capacitação das Associações Comunitárias de Desenvolvimento e reforço da governança local para apoio ao desenvolvimento sustentável e luta contra a pobreza, em Santo Antão. O trabalho realizado pelos parceiros Nos Junte permanece para além do final do projeto, o que permite sustentar as iniciativas iniciadas e desenvolver novos projetos, articulados de forma direta com o novo Plano em desenvolvimento para o Combate à Pobreza para a Ilha de Santo Antão, no quadro do Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza - Programa de Promoção de Oportunidades socioeconómicas Rurais. IP julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 33 AIDGLOBAL Conhecer os livros - Projeto “Rede de Bibliotecas Escolares do Distrito do Chibuto, Moçambique © AID GLOBAL EXPERIÊNCIAS Com a colaboração de : O Projeto “Rede de Bibliotecas Escolares do Distrito do Chibuto, Moçambique” é promovido pela AIDGLOBAL com o intuito de combater a alta taxa de iliteracia e os baixos níveis de leitura no Distrito do Chibuto, decorrentes essencialmente das dificuldades do acesso ao livro. Depois de já se terem construído 3 bibliotecas, reforçado mais duas e criado uma biblioteca móvel, a AIDGLOBAL é já conhecida no terreno como “a ONG das Bibliotecas”. Organização: AIDGLOBAL Projeto de Cooperação: Rede de Bibliotecas Escolares do Distrito do Chibuto, Moçambique Necessidade identificada: O projeto “Rede de Bibliotecas Escolares do Distrito do Chibuto” surge para combater a alta taxa de iliteracia e os baixos níveis de leitura no Distrito do Chibuto, decorrentes essencialmente das dificuldades do acesso ao livro. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique, 54,1% da população do Distrito é analfabeta, sendo que apenas 37,1% fala português. Com uma estrutura mínima e quase inexistente de bibliotecas escolares, o projeto nasceu não só para facilitar o acesso ao livro, como também para promover a leitura num universo de 9.620 alunos de oito escolas primárias e secundárias, através da criação de bibliotecas escolares, reforço dos fundos das já existentes e visitas à Biblioteca Municipal do Chibuto e, ainda, para desenvolver ações de formação para os docentes. Descrição do Projeto: Financiador: Instituto Camões (antigo IPAD) Parcerias locais: Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia do Chibuto, Concelho Municipal do Chibuto e Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa – Instituto Médio de Ciências Documentais (CIDOC). Apoiantes: Rede de Bibliotecas Escolares de Portugal, Delta Cafés, Miranda Correia Amendoeira & Associados, Fundação Calouste Gulbenkian, Editorial Ndjira e Texto Editores. Numa primeira fase, iniciada em março de 2011, o projeto centrou-se na reabilitação dos espaços das bibliotecas escolares, no apetrechamento das escolas envolvidas e, também, 34 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 da Biblioteca Municipal do Chibuto, com novos livros e mobiliário escolar, sempre em estreita colaboração com as instituições locais parceiras. Seguidamente, numa segunda fase, foram dinamizadas ações de formação e capacitação de professores e técnicos em Gestão de Bibliotecas Escolares e Dinâmicas de Promoção da Leitura, a fim de envolver docentes no funcionamento das bibliotecas. Numa última fase, foram organizadas várias visitas de alunos às bibliotecas escolares e à Biblioteca Municipal para apresentar as novas instalações aos beneficiários e fomentar o gosto pela leitura. O projeto terminou com um seminário, promovido pela AIDGLOBAL, para a partilha de boas práticas com as escolas envolvidas e os parceiros locais, a fim de ultrapassar obstáculos e assegurar a continuidade das bibliotecas. Resultados obtidos: Ao longo dos 19 meses de implementação do projeto, entre março de 2011 e setembro de 2012, foram criadas três bibliotecas escolares, designadamente na Escola Secundária de Mohambe, na Escola Secundária de Malehice e na Escola Primária Completa do Bairro da Unidade. Foram, também, reforçadas com novos livros e equipamento mais duas bibliotecas escolares − Escola Secundária do Chibuto e Escola Primária Completa de Macunene – e, ainda, a Biblioteca Municipal do Chibuto. A Escola Primária Completa de Muxuquete recebeu a “Bibliotchova”, um modelo de biblioteca móvel com 436 volumes. Num total, foram entregues às escolas 17 computadores e 3.011 livros, além dos 119 exemplares adquiridos para a Biblioteca Municipal do Chibuto. Complementarmente, foram formados 15 técnicos em Gestão de Bibliotecas e 43 professores em Dinâmicas de Promoção da Leitura. Pontos Fortes e Fracos do Projeto: Após cinco anos de presença no terreno, a AIDGLOBAL, já conhecida como “a ONG das bibliotecas”, contribuiu com este projeto para a efetiva criação de uma rede de bibliotecas escolares no Distrito do Chibuto, atuando num universo de 9.620 alunos. O ponto forte do projeto foi o envolvimento das escolas e instituições locais, tendo sido promovida a participação de todos os parceiros no projeto, logo desde a fase de diagnóstico. Entre os pontos fracos, é de apontar a falta de tempo salientada pelos professores-bibliotecários para realizar todas as tarefas inerentes ao funcionamento normal das bibliotecas, assim como algumas dificuldades na implementação da “Bibliotchova” na escola de Muxuquete, que resultou demasiadamente pesada para ser deslocada pelas instalações. Estes aspetos constituirão pontos de referência para um aperfeiçoamento aquando da aplicação de projetos a desenvolver na área. IP EXPERIÊNCIAS © P&G / CSDW P&G A água que é vida A empresa P&G, no âmbito da sua Política de Responsabilidade Social, desenvolve desde 2004 o Programa de apoio às populações sem acesso a água potável – o Children’s Safe Drinking Water -, que já permitiu, entre outras coisas, salvar mais de 26.000 vidas. Organização: P&G Projeto de cooperação: Children’s Safe Drinking Water Necessidade identificada: A água potável é um problema para mais de mil milhões de pessoas, tantas vezes mulheres e crianças que vivem em países em desenvolvimento e que têm de andar 6 quilómetros por dia para recolher água, muitas vezes contaminada, para as suas famílias. A diarreia causada pela ingestão de água contaminada ainda é uma das principais causas de doenças e morte entre os bebés e crianças dos países em desenvolvimento. Mais de 2000 crianças morrem por dia vítimas de doenças que causam diarreia, o que significa que morrem mais crianças com doenças diarreicas, como a cólera, a disenteria e a febre tifóide, do que com VIH/SIDA e malária juntos. Descrição do Projeto: A empresa P&G tem colaborado com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) desde 1995, para desenvolver sistemas de água potável seguros que as pessoas possam utilizar facilmente em suas casas. Providenciar água limpa, purificada e potável é o suficiente para reduzir o risco de doença e morte em cerca de 50%. Em 2004, a P&G, em parceria com uma rede diversificada de organizações, criou o Programa Children’s Safe Drinking Water (CSDW), sensibilizando a sociedade para esta questão global tão significativa e possibilitando a outros que se juntassem para ajudar a resolver este problema. O CSDW é o programa filantrópico principal do programa global de Responsabilidade Social da P&G, que por sua vez se concentra em ajudar crianças necessitadas em todo o mundo. A P&G, em parceria com os Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, criaram um inovador pacote de purificação de água, o PUR, que rapidamente transforma 10 litros de água suja e potencialmente mortal em água limpa e potável. Criado para permitir que as pessoas em qualquer lugar do mundo possam purificar a água suja de uma forma simples, acessível e conveniente, o pacote é baseado na tecnologia similar aos sistemas municipais de água nos países desenvolvidos. A P&G trabalha com mais de 120 parceiros para fornecer estes pacotes de purificação de água. O programa responde a emergências, incluindo surtos de cólera, terremotos, inundações e outros desastres naturais. O CSDW e os seus parceiros fornecem água potável nas escolas, desenvolvem ações de sensibilização para mães em clínicas de saúde, providenciam água potável a crianças desnutridas, e também ajudam pessoas que vivem com SIDA a viver positivamente. Resultados Obtidos: Até à data, a P&G já investiu mais de 35 milhões de dólares destinados à água potável. Mais de 5 mil milhões de litros de água potável foram providenciados por organizações globais, utilizando os pacotes PUR da P&G, incluindo a AmeriCares, CARE, IFRC, PSI, Save the Children e a World Vision, prevenindo a doença em mais de 200 milhões de dias e salvando mais de 26.000 vidas. Para além disso, desde a sua implementação em 2004 o Programa tem sido reconhecido internacionalmente tendo recebido logo nesse ano o World Business Award atribuído pela Câmara de Comércio Internacional, pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas e pelo Prince of Wales International Business Leaders Forum, e o Action Against Hunger Humanitarian Award, entre muitos outros. A nova meta é salvar uma vida a cada hora, oferecendo mais de 2 mil milhões de litros de água potável por ano até 2020. Pontos fortes e fracos do projeto: Como o criador e produtor dos pacotes de purificação de água utilizados no programa, a P&G oferece tanto a sua experiência técnica e apoio financeiro para o desenvolvimento deste trabalho, como recursos humanos, instalações de fabricação, pesquisa e advocacia para este problema global, reduzindo também desta forma ao mínimo os custos de produção e concentrando o apoio prestado. O facto de trabalhar em parceria com várias ONG’s no terreno permite não só reconhecer as verdadeiras necessidades como também chegar a um maior número de pessoas. O único ponto fraco existente é o facto de os pacotes resolverem o problema no momento, mas não permitirem resolver o problema na “fonte”, a longo prazo, havendo por isso uma dependência dos pacotes PUR. IP julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 35 EXPERIÊNCIAS © 2011 Josh Estey/CARE care usa Sobreviver à gravidez e ao parto não é um direito de todos Com a colaboração de Jesse Rattan, Diretor do Projeto de Planeamento Familiar CARE USA Necessidade identificada: Segundo a Organização Mundial de Saúde, 99% das mortes de mães durante o parto ocorrem em países em desenvolvimento. A mortalidade materna é inaceitavelmente alta. Em 2010, 287 mil mulheres morreram durante e após a gravidez e o parto. Quase todas estas mortes poderiam ter sido evitadas. O direito de sobreviver à gravidez e ao parto é um dos direitos básicos que são críticos para a missão da CARE. Alguns dos maiores perigos enfrentados pelas mulheres durante o parto são a septicémia, a pré-eclâmpsia, sangramentos e o nascimento obstruído. Quinze por cento dos nascimentos podem ter complicações como estas. Portanto, as mulheres estão a morrer de causas evitáveis. Alguns dos maiores problemas são a falta de acesso a assistentes de parto qualificados e a falta de acesso ao planeamento familiar. As mulheres que não têm parteiras com formação podem morrer ou passarem a ser portadoras de deficiência o resto da vida por causa de complicações durante o parto. Descrição do Projeto: Há vários anos atrás, a CARE lançou um programa – Mothers Matter - para reduzir a elevada taxa de mortalidade materna nos países mais pobres do mundo. O objetivo era garantir que as mulheres sobrevivem à gravidez e ao parto e que os bebés sobrevivem à infância. A sua sobrevivência é um direito básico e não deve ser um jogo de sorte ou azar. A CARE dá formação a pessoas em regiões mais isoladas para que possam ser parteiras e que saibam lidar com complicações durante o parto, sempre focada no fortalecimento dos cuidados obstétricos e de saúde neonatal. Em plena colaboração com as comunidades, parceiros nacionais e globais, a CARE está a trabalhar para ajudar milhões de mulheres e as suas famílias para que consigam melhorar as suas condições de saúde, assim como as dos seus filhos, pretendendo chegar a cerca de 30 milhões de pessoas de África, Ásia e América Latina, até 2015. 36 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 Resultados Obtidos: A CARE está a trabalhar em programas de saúde materna em 41 países, e 50 milhões dos 83 milhões de participantes nos programas da CARE conseguiram obter informações e acesso a serviços para melhorar a saúde materna. Graças aos esforços da CARE e aos de muitas ONGs e pessoas interessadas, a mortalidade materna no mundo inteiro decresceu 50% entre 1990 e 2010. Pontos fracos do projeto: O grande problema é a falta de profissionais de saúde qualificados. Não existe simplesmente o número suficiente de pessoas com formação em determinadas zonas mais isoladas ou periféricas. Existem ainda problemas de acesso ou outras barreiras para a obtenção de planeamento familiar ou de cuidados maternos. Nos países pobres, as mulheres muitas vezes não são capazes de viajar até uma clínica. Por vezes as estradas são más, outras vezes não há dinheiro para o transporte. Existem também barreiras sociais: por exemplo, nalguns países, as mulheres não têm autorização para viajar em determinadas circunstâncias. IP © 2011 Josh Estey/CARE Organização: CARE USA Projeto de cooperação: MOTHERS MATTER: Healthy Mothers, Healthy Societies Uma mãe segura no seu filho antes de um profissional de saúde lhe dar uma injeção para combater a desnutrição na criança no encontro comunitário sobre saúde e nutrição de mães e crianças na aldeia de Balibo, em Timor-Leste. PRÉMIOS & INCENTIVOS em aberto CPV lança 5ª edição do Troféu Português do Voluntariado A Confederação Portuguesa do Voluntariado (CPV) lança a 5ª edição do Troféu Português do Voluntariado, atribuído anualmente com a finalidade de homenagear o trabalho dos voluntários e incentivar a prática do voluntariado. As candidaturas decorrem até 15 de setembro de 2013, devendo todos os interessados submeter as suas inscrições através de ficha de candidatura, disponível no site da CPV, para o email informa.cpv@ gmail.com . Podem candidatar-se voluntários e respetivos projetos de voluntariado apresentados por organizações de voluntariado ou promotoras de voluntariado, legalmente constituídas e sediadas em território nacional. Cada organização pode apresentar mais de uma candidatura. O prémio consta de um troféu, consubstanciado numa peça de cristal, acompanhado de um certificado emitido no nome do vencedor. A organização proponente receberá também um certificado, mencionando o nome do projeto associado ao vencedor. O Júri do Troféu Português do Voluntariado é constituído por Rui Rama da Silva, da Liga dos Bombeiros Portugueses, que preside em representação da CPV; Paula Guimarães, da Fundação Montepio, membro da CPV; Maria José Ritta, Duarte Caldeira e Conceição Lino. Novo programa da UE para o Emprego e Inovação Social A Comissão Europeia congratula-se com o acordo político alcançado com o Parlamento Europeu e o Conselho relativo ao programa da União Europeia para o Emprego e Inovação Social (EASI), com um orçamento proposto de € 815.000.000 para o período 2014-20. O EASI integra e estende a cobertura de três programas já existentes: Progress (Programa para o Emprego e Solidariedade Social), a rede EURES (Serviços Europeus de Emprego) e o Instrumento Europeu Progress Microfinance, aos quais serão destinados, respetivamente, 61%, 18% e 21% do orçamento. O EASI permitirá à Comissão aumentar a coerência política e o impacto de seus instrumentos, que têm objetivos comuns, contribuindo assim para a Estratégia Europa 2020 para o Emprego e Crescimento. O EASI vai apoiar os esforços dos Estados-Membros na conceção e implementação de emprego e das reformas sociais a nível europeu, nacional, regional e local, por meio de coordenação política, identificação, análise e partilha das melhores práticas. Isto beneficiará especialmente as autoridades nacionais, regionais e locais, bem como os parceiros sociais e organizações da sociedade civil. Projetos e atividades concretas ajudarão a testar reformas no terreno antes da possível ampliação das mais bem-sucedidas, inclusive através do Fundo Social Europeu (FSE). Neste contexto, o EASI vai dedicar cerca de €100 milhões para lançar tais experiências nos domínios mais críticos, como o emprego dos jovens ou a inclusão de grupos desfavorecidos. Juntamente com o FSE, o Fundo para a ajuda europeia aos mais desfavorecidos e o Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização, o EASI irá constituir o quarto pilar da Iniciativa da UE para o Emprego e a Inclusão Social 2014-2020. O acordo político seguirá o procedimento ordinário e deve ser aprovado pelo Parlamento e Conselho Europeu, antes do final de 2013 para permitir o lançamento do EASI em janeiro de 2014. 38 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 Mecanismo de Apoio à Elaboração de Projetos de Cooperação para o Desenvolvimento, até dezembro No âmbito de uma iniciativa conjunta entre a Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação EDP, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Fundação Portugal – África (Fundações promotoras), com o apoio do Instituto da Cooperação e da Língua - Camões, e às quais se juntou posteriormente o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, foi lançado o Mecanismo de Apoio à Elaboração de Projetos de Cooperação para o Desenvolvimento para ONGD Portuguesas, cujas candidaturas estão abertas desde Janeiro de 2011. Tendo em conta os resultados alcançados, os parceiros concordaram na extensão do período de funcionamento do Mecanismo até 31 de Dezembro de 2013 sendo agora também considerada uma nova área elegível “Resiliência/Redução dos Riscos de Catástrofes” e a majoração do apoio das candidaturas que envolvam Centros de Investigação e Câmaras Municipais. Este é um fundo financeiro de apoio à elaboração de projetos de Cooperação para o Desenvolvimento, por parte das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesas. Destina-se a apoiar financeiramente as ONGD na elaboração de candidaturas a diversos financiamentos internacionais, matéria que requer preparação, conhecimentos e recursos financeiros. Podem candidatar-se ao Mecanismo de Apoio as organizações que estabeleçam parceria com entidades públicas e privadas sem fins lucrativos, em particular dos países parceiros, nas seguintes áreas: Ensino, educação e cultura; Assistência científica e técnica; Saúde, incluindo assistência médica, medicamentosa e alimentar; Emprego e formação profissional; Proteção e defesa do ambiente, incluindo o abastecimento de água, saneamento e energia; Integração social e comunitária; Desenvolvimento rural; Reforço da sociedade civil, através do apoio a associações congéneres e associações de base nos países em vias de desenvolvimento; Resiliência/Redução dos Riscos de Catástrofes. PRÉMIOS & INCENTIVOS já atribuidos Conhecido o vencedor do Prémio Maria José Nogueira Pinto O projeto “Sobre Rod@s” da Associação de Defesa do Património de Mértola, foi distinguido pelo Júri do Prémio Maria José Nogueira Pinto em Responsabilidade Social, como o projeto que melhor corresponde ao conceito “socialmente responsável na comunidade em que nos inserimos”, máxima defendida por Maria José Nogueira Pinto na sua prática diária, tendo-lhe sido atribuído o Primeiro Prémio. Para além do Primeiro Prémio, o Júri deliberou atribuir duas Menções Honrosas: uima Menção Honrosa ao projeto “Brigada da Higiene” da Delegação de Ovar da Cruz Vermelha, e outra Menção honrosa ao projeto “Mestre Jardim” da Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos – ADEIMA. A Cerimónia Pública de atribuição do Prémio Maria José Nogueira Pinto em Responsabilidade Social, realizou-se dia 4 de julho no Auditório da Fundação Montepio. O Primeiro Prémio foi entregue pela Dra. Maria Cavaco Silva. de faturação de 177 milhões (dos quais 168 milhões tiveram naturalmente origem nos centros de inovação). Grupo Portucel Soporcel dá cartas na área da Responsabilidade Social A iniciativa “Dá a Mão à Floresta”, concebida e dinamizada pelo grupo Portucel Soporcel, obteve a distinção de Melhor Campanha de Responsabilidade Social no Grande Prémio APCE, realizado anualmente pela Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa. Esta distinção constitui um reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo Grupo na área da Comunicação Organizacional e, em particular, no domínio da Responsabilidade Social. No âmbito da iniciativa “Dá a Mão à Floresta”, no ano de 2013 foram distribuídas milhares de plantas de espécies florestais e ornamentais provenientes dos viveiros do Grupo – os maiores da Europa, com capacidade de produção anual de 12 milhões de plantas certificadas de diversas espécies – às populações de seis municípios de Norte a Sul do País. Na categoria “Melhor Campanha de Responsabilidade Social”, para além do Grupo, as empresas finalistas foram os CTT, com as campanhas “Biblioteca CTT” e “Pai Natal Solidário”, e ainda a empresa Guess What com a campanha “Cuide de si, esteja atenta”. Entregues os Prémio BES Realize o Seu Sonho e InovPortugal A Associação Acredita Portugal entregou os prémios aos finalistas dos concursos BES Realize o seu Sonho e InovPortugal, numa cerimónia realizada no passado dia 30 de Maio, no Centro de Congressos de Lisboa. Na gala, apresentada por Laurinda Alves, para uma audiência de 700 pessoas, tiveram destaque as presenças de diversas personalidades do cluster do empreendedorismo. Destaque também para os oradores, como o Dr. Joaquim Goes, do Banco Espírito Santo, o Dr. João Trigo da Roza, presidente do júri e João Gonçalo Cunha e José Miguel Queimado em representação da Acredita Portugal. No entanto, as cabeças de cartaz foram mesmo os 13 projetos finalistas, que realizaram um pitch de minuto e meio para uma audiência composta pelas suas claques, participantes dos concursos, parceiros, patrocinadores, investidores, conselheiros, media e, de um modo geral, promotores e curiosos do empreendedorismo. Os grandes vencedores do BES Realize o Seu Sonho foram a Recibos Online (Prémio Star Now) e o Projecto Táctil (Prémio de Empreendedorismo Social). Já no caso do InovPortugal, o primeiro classificado foi a Vitaldi, o segundo, a Ployester e o terceiro, a Bewarket. Já estão abertos os pré-registos para a próxima edição dos concursos em www.acreditaportugal.pt . julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 39 JÁ VIU? SITES NUV Online Volunteering O inovador serviço de voluntariado online dos Voluntários das Nações Unidas liga voluntários com organizações que estejam a trabalhar para um desenvolvimento humano sustentável. Os voluntários podem contribuir online com as suas capacidades para ajudar organizações a superarem os desafios de desenvolvimento que enfrentam. Por sua vez, as organizações conseguem, através das colaborações com os voluntários via online, reforçar o impacto das suas ações de cooperação para o desenvolvimento. É possível contribuir para esta causa sem sair de casa. Concord Europe A Concord é a Confederação Europeia das ONGs dedicadas à Ajuda de Emergência e Desenvolvimento. Composta por 27 associações nacionais, 18 redes internacionais e dois membros associados, a Concord representa mais de 1800 ONGs, apoiadas por milhões de cidadãos de toda a Europa. Fundada em 2003, o seu principal objetivo é atuar como principal interlocutor com as instituições da UE sobre a política de desenvolvimento. www.concordeurope.org www.onlinevolunteering.org CSO Partnership for Development Effectiveness The World We Want Trata-se da base da campanha "The World We Want" que visa reunir as prioridades das pessoas de todos os cantos do mundo e ajudar a construir uma visão global que será depois usada diretamente pelas Nações Unidades e pelos líderes mundiais para planearem a nova agenda de desenvolvimento que deverá ser lançada em 2015. Aqui irá encontrar informações sobre os mais diversos tópicos referentes a todas as regiões do mundo, campanhas que estão a decorrer, esforços que estão a ser feitos, dados e estatísticas, e muito mais. www.worldwewant2015.org/ 40 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 A parceria das Organizações da Sociedade Civil para a Eficácia do Desenvolvimento foi criada em 2012 como uma plataforma aberta que reúne organizações da sociedade civil de todo o mundo à volta da eficácia do desenvolvimento. Através dela, a sociedade civil pode contribuir para moldar e informar para as mudanças na forma de ajudar e para a eficácia do desenvolvimento. Aqui encontra-se muita informação sobre Desenvolvimento, é possível contribuir para o diálogo sobre a sua eficácia, aprender, agir e partilhar, contribuindo para que “a eficácia do desenvolvimento onde o respeito pelos direitos humanos, a democracia participativa, justiça social e ambiental, a sustentabilidade, igualdade de género, o trabalho decente, a mudança sustentável, a paz e a segurança sejam alcançados”. http://csopartnership.org JÁ VIU? FONTES Código de Boas Práticas sobre Participação Civil no Processo de Tomada de Decisão Por recomendação do Fórum do Conselho da Europa para o futuro da democracia, a Conferência das ONGs do Conselho da Europa elaborou um Código de Boas Práticas sobre Participação Civil no Processo de Tomada de Decisão. O principal objetivo do Código de Boas Práticas é a definição de um conjunto de princípios e orientações europeias para a participação das ONGs em processos de decisão que estão a ser implementados a nível local e nacional nos Estados membros do Conselho da Europa. www.coe.int/t/ngo/Source/Code_English_final.pdf Mountains Beyond Mountains: One Doctor's Quest To Heal The World (reedição: 2011) Este é um livro biográfico, do vencedor de um Prémio Pulitzer, Tracy Kidder, que conta a história do médico e antropólogo Paul Farmer. Paul Farmer é responsável pela fundação da organização Partners in Health que luta por corrigir a distribuição desigual dos serviços de saúde em todo o mundo. Através da narrativa é possível reviver parte da história deste médico singular, com foco particular no seu trabalho de combate à tuberculose no Haiti, Perú, Cuba e Rússia. Uma história, no mínimo inspiradora, que não deixa ninguém indiferente. Revista da Plataforma das ONGD’s Portuguesas Trata-se de uma publicação bianual muito recente mas que já se revela um ótima fonte de informação. No número zero da Revista questionou-se o futuro da Cooperação Portuguesa. O número um, a edição de Maio/Junho de 2013 dedica-se, por sua vez, ao tema da “Sociedade Civil e Eficácia do Desenvolvimento”. O dossier integra um artigo sobre accountability nas Organizações da Sociedade Civil, da autoria de Filipe Pinto, Presidente da ONGD Leigos para o Desenvolvimento e uma entrevista ao Coordenador do CSO Partnership for Development Effectiveness, uma parceria global das Organizações da Sociedade Civil, com base em António Tujan Jr. http://issuu.com/plataformaongd/docs/revista_plataforma_ ongd-mai_ jun2013 Uma Nova Parceria Global: Erradicar a Pobreza e Transformar Economias através do Desenvolvimento Sustentável O relatório delineia uma agenda universal para erradicar a extrema pobreza até 2030 e que responda à promessa de um desenvolvimento sustentável. Sublinha também que a nova agenda de desenvolvimento deve ser universal – aplicável igualmente aos países do Sul e do Norte – e inculcado com um espírito de parceria. www.post2015hlp.org/wp-content/uploads/2013/05/UN-Report.pdf julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 41 JÁ VIU? LEGISLAÇÃO Promoção do desporto escolar e prática desportiva Resolução da Assembleia da República n.º 94/2013, DR Série I, N.º 129, de 08 de julho Novo modelo institucional de governação dos fundos europeus Resolução do Conselho de Ministros n.º 39/2013, DR Série I, N.º 113, de 14 de junho Recomenda ao Governo que promova o desporto escolar e a prática desportiva pelos jovens. Estabelece um novo modelo institucional de governação dos fundos europeus. Alteração à portaria que estabelece o novo regime de proteção social na eventualidade de doença Revisão do sistema de proteção de crianças e jovens em perigo e do regime jurídico de adoção Portaria n.º 220/2013, R Série I, N.º 127, de 04 de julho Resolução do Conselho de Ministros n.º 37/2013, DR Série I, N.º 111, de 11 de junho Primeira alteração à Portaria n.º 337/2004, de 31 de março, que estabelece o novo regime jurídico de proteção social na eventualidade doença, no âmbito do subsistema previdencial de segurança social. Autorização para a substituição dos ativos em outros Estados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico por dívida pública portuguesa Determina a abertura do debate tendente à revisão do sistema de proteção de crianças e jovens em perigo e do regime jurídico da adoção. Alteração à resolução que aprova o “Impulso Jovem” Resolução do Conselho de Ministros n.º 36/2013, DR Série I, N.º 107, de 4 de junho Portaria n.º 216-A/2013, DR Série I, N.º 125, de 02 de julho Autoriza o Conselho Diretivo do Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, I.P., a proceder à substituição dos ativos em outros Estados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico por dívida pública portuguesa até ao limite de 90% da carteira de ativos do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. Nomeação do presidente do conselho fiscal da CASES Procede à primeira alteração à Resolução do Conselho de Ministros que aprova o Plano Estratégico de Iniciativas de Promoção de Empregabilidade Jovem - «Impulso Jovem» (Resolução do Conselho de Ministros n.º 51-A/2012, de 14 de junho). Criação do Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro Decreto-Lei n.º 72/2013, DR Série I, N.º 105, de 31 de maio Despacho n.º 8327/2013, DR Série II, N.º 121, de 26 de junho Procede à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 134/2006, de 25 de julho, que cria o Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro. Nomeação, do Licenciado Luís Alberto Silva, para o cargo de presidente do conselho fiscal da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social. Utilização de Imagens de Museus, Monumentos e outros imóveis Aprovação o Regulamento do Programa de Ocupação de Tempos Livres (OTL) Despacho n.º 6891/2013, DR Série II, N.º 102, de 28 de maio Portaria n.º 205/2013, DR Série I, N.º 116, de 19 de junho Aprova o Regulamento de Utilização de Imagens de Museus, Monumentos e outros Imóveis afetos à Direção-Geral do Património Cultural. Aprova o Regulamento do Programa de Ocupação de Tempos Livres (OTL). Aprovação o Regulamento do Programa de Ocupação de Tempos Livres (OTL) Criação da medida de Apoio à Contratação Via Reembolso da Taxa Social Única (TSU) Portaria n.º 205/2013, DR Série I, N.º 116, de 19 de junho Portaria n.º 204-A/2013, DR Série I, N.º 115, de 18 de junho Aprova o Regulamento do Programa de Ocupação de Tempos Livres (OTL). Cria a medida de Apoio à Contratação Via Reembolso da Taxa Social Única (TSU). Determinação dos critérios de seleção das entidades promotoras de Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional Criação da medida Vida Ativa – Emprego Qualificado Despacho n.º 6904/2013, DR Série II, N.º 102, de 28 de maio Portaria n.º 203/2013, DR Série I, N.º 114, de 17 de junho Cria a medida Vida Ativa - Emprego Qualificado. Determina os critérios de seleção das entidades promotoras de Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional (CQEP) e de apreciação do plano estratégico de intervenção previsto no artigo 8.º da Portaria n.º 135-A/2013, de 28 de março. AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA SECÇÃO BASEIAM-SE NOS TEXTOS LEGAIS, MAS NÃO DISPENSAM A CONSULTA DOS DIPLOMAS ORIGINAIS. 42 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 JÁ VIU? Desafios e constrangimentos da Cooperação para o Desenvolvimento Por Tânia Barbosa, Diretora do Departamento Internacional da AMI Trabalhar em Cooperação para o Desenvolvimento é um desafio permanente e dinâmico, tendo em conta a constante e acelerada transformação das sociedades contemporâneas. Ao longo das cerca de três décadas de Cooperação para o Desenvolvimento, a AMI já realizou centenas de missões de desenvolvimento com equipas expatriadas, em países como Angola, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe e República Democrática do Congo, entre tantos outros. A experiência singular de cada projeto resultou num conhecimento acumulado e numa experiência superior. No entanto, atualmente existem desafios e constrangimentos que merecem reflexão. A ajuda caritativa baseada unicamente na boa vontade está há muito ultrapassada. Não basta querer, é necessário saber. Atualmente, os projetos de cooperação são extremamente profissionalizados e complexos, exigindo estratégia, resiliência e motivação. Preparação A capacidade de financiamento é o primeiro imperativo para as Organizações Não Governamentais (ONG) planearem uma estratégia coerente e realista no terreno. O segundo desafio prende-se com a seleção e mobilização das equipas. Os voluntários internacionais devem possuir um perfil adequado à função definida para a realização do projeto e uma disponibilidade mínima de seis meses. A permanência prolongada no terreno é favorável e desejável, permitindo uma maior integração e um conhecimento mais profundo da realidade local. A inclusão num cenário por vezes adverso, o convívio diário com uma equipa diversa, o isolamento dos grandes centros urbanos, a inexistência de água, luz e outros confortos, os inúmeros imprevistos e a singularidade da cultura local requerem, desde logo, dos voluntários características psicológicas e sociais essenciais para o sucesso do projeto. A legislação é outro aspeto essencial. Em Portugal, o voluntário é regulado pela Lei n.º 71/98, de 3 de novembro, e pelo DecretoLei n.º 389/99, de 30 de setembro. Porém, ambos os diplomas legais têm uma aplicação prática muito complicada, quando conjugados com outros diplomas legais, designadamente no caso de voluntários integrados nos quadros da Administração Pública. Por exemplo, ao serem proibidas as licenças sem vencimento, no Serviço Nacional de Saúde, os médicos não conseguem obter as devidas autorizações, devido à elevada carência de pessoal especializado que se faz sentir, mesmo que aleguem a cedência de interesse público ou peçam uma licença sem vencimento fundada em circunstâncias de interesse social que são as duas exceções existentes a esta proibição decorrente da Circular Informativa n.º 29/2011/UORPRT, de 22 de Agosto. Assim, os voluntários internacionais podem dividir-se em dois grupos: os voluntários desvinculados de qualquer entidade ou em regime de licença sem vencimento. Comparativamente com outros países europeus, a legislação sobre o voluntariado é ainda muito parca e escassa no que respeita às atividades específicas que implicam um conhecimento diferenciado e passível de uma compensação económica. A legislação francesa, a mero título exemplificativo, promove a distinção entre voluntários benévolos (regidos por uma lei de voluntariado de caráter geral) e outro tipo de voluntariado, nomeadamente o que integra missões internacionais, precisamente para acautelar a não perda de retribuição, bem como de outros direitos e regalias que teriam, caso não fossem voluntários. No terreno Aspeto crucial nos projetos de Cooperação para o Desenvolvimento e Ação Humanitária (emergência) é a logística. Sempre que possível, os materiais devem ser adquiridos no terreno, de forma a acelerar os procedimentos logísticos, reduzir custos de transporte e ainda potenciar a economia local. A opção de envio internacional aplica-se unicamente quando os recursos locais estão indisponíveis ou os critérios de qualidade são insuficientes. Nesta circunstância, a ONG poderá enviar o material através dos “procurement centres” reconhecidos pela União Europeia ou a partir do país de origem. Neste último caso, poderá beneficiar de algumas isenções alfandegárias, embora a carga burocrática seja extraordinariamente pesada, sobretudo no processo de desalfandegamento. Perante múltiplos desafios e imprevistos, a questão da segurança é outra das prioridades essenciais. As ONG têm planos de segurança internos, que definem um conjunto de medidas a respeitar em missão, entre as quais o ponto de encontro da equipa em situação de catástrofe e locais para evacuação. Estas informações devem ser do conhecimento prévio de toda a equipa. Encerramento Outro aspeto crucial nos projetos de Cooperação para o Desenvolvimento é o fecho das missões. Este processo acarreta, desde logo, um conjunto de procedimentos logísticos relacionados com a entrega dos bens a beneficiários, encerramento da casa de acolhimento, cessação dos contratos de trabalho com pessoal local, entre várias outras atividades com estruturação prévia. Terminada a missão com expatriados, é ainda fundamental assegurar a sustentabilidade do trabalho realizado. A AMI adota como estratégia o estabelecimento de parcerias com organizações locais. Uma forma equilibrada e sustentada de assegurar que o projeto seja, de facto, de desenvolvimento e a longo prazo. julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 43 ARTIGO TÉCNICO O papel dos cidadãos no Desenvolvimento Ana Teresa Santos Num artigo de 2004, o Professor Ananta Kumar Giri do Madras Institute for Development Studies referia que muitas vezes os projetos de Cooperação para o Desenvolvimento são executados tendo por base uma agenda ética que envolve uma postura caritativa, focando-se numa relação de doador poderoso versus recetor agradecido. Tal agenda acaba por fazer do Desenvolvimento uma atividade centrada nos outros, onde muitos atores não percebem que a teoria e a prática do Desenvolvimento fornecem também uma oportunidade de aprendizagem, de autodesenvolvimento e autotransformação tanto para quem é objeto como para quem é sujeito do Desenvolvimento. Assim, o autor defende que “há necessidade de repensar o Desenvolvimento como uma iniciativa em prol do autodesenvolvimento no sentido de sermos ao mesmo tempo sujeitos e objetos do Desenvolvimento (…) não só como um compromisso no cuidado do outro mas também como um compromisso no cuidar de si mesmo (…). O Desenvolvimento é uma responsabilidade humana partilhada, e (…) uma possibilidade humana partilhada”1. Partindo deste entendimento do Desenvolvimento como uma responsabilidade partilhada que vai muito para além da vertente económica, mas que engloba também a vertente ambiental e social, temos de incluir no processo de Desenvolvimento todos os cidadãos independentemente da sua pertença geográfica. Neste campo, a Educação para a Cidadania Global2 desempenha um papel crucial. É urgente que os cidadãos se sintam parte do processo de Desenvolvimento. O mundo globalizado em que vivemos assim o exige. E é neste campo que a Educação para a Cidadania Global, entendida como educação para a mudança com uma perspetiva global, tem um papel importante a desempenhar. No Eurobarómetro 392 “Europeans and Development Por Ana Teresa Santos Instituto Marquês de Valle Flôr Aid”3, publicado em Outubro de 2012, 61% dos portugueses afirmou total desconhecimento acerca do destino da Ajuda ao Desenvolvimento em resposta à pergunta “Em que medida acha que sabe para onde vai (nacionalidade) a Ajuda ao Desenvolvimento?”. Para além disso, quando confrontados com a pergunta “Estaria disposto a pagar mais por bens alimentares ou outros produtos (por exemplo por produtos de comércio justo) provenientes de Países em Desenvolvimento para a apoiar as pessoas que vivem nesses países?” 83% dos portugueses responderam que não, a taxa de rejeição mais alta da UE. Estes dados demonstram que a temática do Desenvolvimento e a atuação das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) são ainda realidades e processos muito distantes do dia-a-dia dos cidadãos portugueses, o que pode colocar em causa a legitimidade das ações levadas a cabo no setor do Desenvolvimento. Em tempos de crise, como os que vivemos, é comum as ONGD serem questionadas sobre o porquê de “ajudar lá fora, quando há tanto para fazer cá dentro”. A pergunta é legítima mas só é feita porque há um desconhecimento das causas da crise e há uma enorme ignorância não só sobre o contexto e âmbitos de atuação das ONGD como sobre a sua importância para as populações dos chamados Países em Desenvolvimento. A somar a este desconhecimento é clara também a falta de reflexão sobre as temáticas do Desenvolvimento no geral, incluindo sobre as temáticas que afetam o dia-a-dia dos Países Desenvolvidos. De forma a tentar contrariar esta tendência de enfoque nos problemas nacionais, como se esses problemas fossem passíveis de ser isolados dentro das fronteiras de um país, a Educação para a Cidadania Global, através de um processo de aprendizagem e 1. A.K. Giri, P.Q. van Ufford, A Moral Critique of Development: Ethics, Aesthetics and Responsibility, Aalborg 2004, página 20. 2. Utilizamos o termo Educação para a Cidadania Global como termo equivalente a Educação para o Desenvolvimento (ED) no contexto do Modelo das 5 Gerações da ED desenvolvido por Manuela Mesa Peinado. Neste modelo a Educação para a Cidadania Global é apresentada como sendo a 5ª geração da ED. 3. http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_392_en.pdf 44 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 ARTIGO TÉCNICO sensibilização participativo e transformativo, promove valores que permitem às pessoas envolver-se num diálogo respeitoso e aberto com os outros, identificando agendas partilhadas para benefícios mútuos. Foca-se na cidadania global ativa com enfâse na Justiça Social, Globalização e Desenvolvimento Humano, aplicando uma abordagem baseada nos Direitos Humanos ao ensino, aprendizagem e campanhas. A Educação para a Cidadania Global promove assim o envolvimento do público, e esse envolvimento é essencial uma vez que o Desenvolvimento precisa de um apoio público forte e informado. O apoio público dá legitimidade às ONGD e ao governo para tomarem decisões fortes na luta contra a pobreza e contra a desigualdade. Para além disso, a nível individual, cada um tem a possibilidade de fazer a diferença no mundo alterando os seus comportamentos diários para adotar um estilo de vida mais sustentável, opção que poderá passar por escolhas de consumo mais responsáveis, por uma maior consciência ambiental, por fazer voluntariado num grupo comunitário, entre outras mudanças em prol de um mundo melhor. O envolvimento do público permite também debater os temas do Desenvolvimento, e a necessidade de existir uma mudança no sistema e questionar muitas das práticas que são realizadas tanto a nível individual, como político, bem como das organizações da sociedade civil e também a nível económico. Num mundo de crescente interdependência global com fronteiras cada vez mais ténues, e onde para problemas globais se exigem soluções também globais, a Educação para a Cidadania Global fomenta igualmente a criação de uma Sociedade Civil Global que é fundamental para tornar o processo de globalização um processo positivo, sobretudo através da criação de espaços de diálogo que promovam a aprendizagem e o respeito mútuo, bem como a identificação de problemas comuns e soluções para esses mesmos problemas. Tal Sociedade Civil Global terá potencial para funcionar como monitor das políticas, contra poder e motor da mudança. Muitos dos debates que acontecem no setor do Desenvolvimento, seja o debate sobre a Coerência das Políticas para o Desenvolvimento, a Eficácia da Ajuda, a o Código de Conduta de Mensagens e Imagens, entre outros, acontecem no seio da Educação para a Cidadania Global, e surgem muitas vezes porque já há uma consciência crítica por parte dos cidadãos para as desvantagens de um processo de Desenvolvimento baseado numa relação vertical entre doador e recetor. Assim, se envolvermos os cidadãos num processo participativo de aprendizagem global, os cidadãos irão: • Evoluir de um processo de entendimento básico das políticas internacionais do Desenvolvimento para uma compreensão das causas e efeitos dos assuntos globais, podendo envolver-se e agir de uma forma informada; • Desenvolver uma compreensão crítica das interdependências globais e do seu próprio papel, responsabilidades e estilos de vida em relação a uma sociedade globalizada; • Sentir-se encorajados a participar nos esforços mundiais da erradicação da pobreza e na luta contra a exclusão social através da ação consciente informada e responsável; • Defender valores como solidariedade, igualdade, inclusão e cooperação; • Promover atitudes positivas em prol da diversidade, respeito dos Direitos Humanos e compromisso com a justiça social e igualdade. A Educação para a Cidadania Global passa assim também por um processo de empoderamento dos cidadãos para que estes se sintam capazes de agir em prol da mudança que querem ver no mundo. Uma cidadania ativa que envolve não só o conhecimento das temáticas, mas também uma tomada de consciência sobre o papel do “eu” na comunidade em que está inserido e no mundo. Num mundo onde 1.540.000.000 de pessoas, vivia com menos de 1,25 dólares por dia, em 2010, e 1 em cada 8 pessoas continua a dormir com fome4, é necessário que os cidadãos percebam que o Desenvolvimento para além de ser uma responsabilidade partilhada é também uma questão de justiça e não de caridade. Só assim, o trabalho na área da Cooperação para o Desenvolvimento fará verdadeiro sentido, será sustentável e irá atingir o objetivo universal de acabar com a pobreza e com as desigualdades. Se todos assumirmos a nossa responsabilidade enquanto cidadãos no mundo, cidadãos que podem agir a nível local tendo um impacto global, entendendo o Desenvolvimento como uma responsabilidade partilhada, certamente que o trabalho feito na área da Cooperação para o Desenvolvimento passa a ser muito mais facilitado, não só porque é melhor compreendido e legitimado, mas sobretudo porque a responsabilidade do Desenvolvimento não recai só sobre os cooperantes no terreno e sobre os beneficiários, mas sim sobre todos os cidadãos do mundo. E se o Desenvolvimento é uma responsabilidade partilhada, afinal, qual vai ser o seu papel?5 4. Relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio 2013, publicado pelas Nações Unidas. 5. Mote do Projeto do IMVF – Coerência.pt - www.coerencia.pt julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 45 ARTIGO TÉCNICO Fez-se Luz LuminAid - Inovação no produto, criatividade na distribuição Por Michelle Lee, LuminAID Durante uma visita de estudo ao Japão para estudar arquitetura e design, Anna Stork e Andrea Sreshta encontraram-se inesperadamente no meio do terramoto de março de 2011. Depois de terem experienciado em primeira mão a forma como um desastre pode impactar negativamente milhões de vidas, elas produziram e lançaram no mercado a sua invenção, uma lâmpada alimentada por energia solar, insuflável, criada para contextos de ajuda de emergência. A LuminAID é a primeira lâmpada de sempre insuflável e alimentada por luz solar. Seguro, sustentável e portátil, o produto é embalado de forma plana e é enchido a sopro para criar uma lanterna leve, que atua para difundir a luz e reduzir o brilho dos LEDs extra brilhantes. Por cada 8 lanternas pequenas convencionais, podem ser embaladas dentro do mesmo volume cerca de 50 LuminAID. A LuminAid trabalha em parceria com organizações nãogovernamentais, escolas, igrejas e muitas mais organizações. Por cada pacote “Give Light, Get Light” que uma organização ou cliente compra, 1 lâmpada LuminAid é doada a um dos projetos “Give Light, Get Light”. Os projetos variam entre projetos educacionais e de desenvolvimento da comunidade e projetos com refugiados e de ajuda humanitária. Como os programas de doação são completados, muitas vezes, rapidamente, a LuminAID também oferece lâmpadas subsidiadas para grupos de ajuda humanitária, o que permite que as lâmpadas sejam distribuídas de uma forma mais ampla e livre. A lâmpada é também à prova de água e pode flutuar na água, permitindo que seja utilizada numa variedade de ambientes e climas. Pode ser usada para trabalhos e tarefas, tais como leitura e escrita, ou como luz de segurança ou de presença. É simples e segura de usar, com material PVC e três ajustes diretos (Off, Baixo e Alto). A tecnologia solar-insuflável LuminAid está atualmente com patente pendente nos Estados Unidos da América, e internacionalmente a partir de vários registos que cobrem uma ampla gama de aplicações e utilidades. A lâmpada LuminAid é a primeira aplicação desta tecnologia. Modelo de Negócio 1.6 mil milhões de pessoas no mundo inteiro não têm o acesso adequado a eletricidade. Muitas dessas pessoas são forçadas a depender de lanternas de querosene, tóxicas e caras enquanto fonte primária de luz. A missão da LuminAID é fazer com que a luz seja mais barata e acessível através do seu programa "Give Light, Get Light", que distribui lâmpadas LuminAid doadas àqueles que necessitam de uma fonte de luz melhor, mais segura e mais limpa. 46 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 A lâmpada é insuflável e difunde a luz como uma lanterna. A capa insuflável protege os olhos da claridade extra brilhante do LED. A LuminAID flutua quando se enche. Por cada 8 pequenas lanternas convencionais em termos de volume, é possível embalar e enviar cerca de 50 lâmpadas LuminAID. O material insuflável pode ainda ser impresso com padrões e logotipos desejados. ARTIGO TÉCNICO Projetos Até à data a LuminAID já distribuiu mais de 4.000 luzes em mais de uma dúzia de países através do seu programa "Give Light, Get Light”. Em 2012, a LuminAID trabalhou com a Pencils of Promise para distribuir mais de 450 lâmpadas doadas a crianças das escolas primárias de Na Mai, Xongja e Phayong, no Laos. As lâmpadas faziam parte de pacotes de bolsas de estudo para estudantes que precisavam de luz para estudarem à noite. A LuminAID trabalhou ainda com várias organizações na Índia, incluindo a Root Aliance no Rajistão, onde 1 em cada 2 famílias não possuem energia elétrica, distribuindo lâmpadas em escolas rurais, casas e pequenas empresas. A LuminAID continua a expandir o seu programa "Give Light, Get Light”, chegando a mais países, comunidades e famílias, a cada dia que passa. Local: Haiti Parceiro da LuminAID: CAN-DO A CAN-DO (Compassion into Action Network - Direct Outcome Organization) dedica-se a fornecer soluções duradouras para alguns dos problemas mais críticos do mundo, situações de catástrofe natural, crises humanitárias e desigualdades educacionais. Em 2012, a LuminAID em parceira com a CAN-DO distribuíram cerca de 1000 lâmpadas a famílias que vivem em acampamentos haitianos afetadas tanto pelo terramoto de 2010 como pelo furacão Isaac. Um dos desafios na adoção de tecnologia renovável em todo o mundo é a falta de comunicação. Quando a tecnologia renovável é transmitida de pessoa para pessoa no terreno (por exemplo, do assistente social para o destinatário), a informação crucial é muitas vezes perdida no processo, fazendo com que os beneficiários não tenham depois a certeza de como se usa a tecnologia. A LuminAID proporciona uma solução para este problema através da impressão de instruções visuais simples diretamente no produto. O que também é único na abordagem LuminAID é a sua flexibilidade e universalidade na aplicação. Embora a LuminAID seja dirigida ao setor de ajuda em situações de catástrofe e emergência humanitária, também pode ser utilizado por paramédicos, engenheiros, para campismo e atividades relacionadas com a natureza. A lâmpada vem equipada com um mecanismo para fixação fácil a um mosquetão para caminhadas ou viagens com mochilas. As LuminAID podem ser utilizadas numa variedade de contextos, desde a preparação para desastres a presentes de natal. Local: Phon Hom, Laos Parceiro: Pencils of Promise A Pencils of Promisse acredita que todas as criançasdevem ter acesso a uma educação de qualidade. Construindo escolas e programas de educação sustentável, a organização tem como objetivo aumentar o acesso à educação de qualidade impactando positivamente os estudantes e os seus pais em comunidades de alta-necessidade. Em 2012, a LuminAID juntamente com a Promise of Pencils distribuiu lâmpadas no Laos como parte da campanha IndieGoGo Give Light, Get Light. Mais de 450 lâmpadas foram distribuídas em escolas primárias de Phon HOm como parte de pacotes de bolsas de estudo para estudantes que vivem sem eletricidade. julho/agosto 2013 | impulso positivo n. 16| 47 AGENDA MOVes – Movimentos da Economia Social Data: 14 e 15 de setembro, 2013 Local: Lisboa Organização: CASES - Cooperativa António Sérgio para a Economia Social e a BACKGROUND spp Info: As organizações interessadas devem inscrever-se e sugerir uma atividade com que pretendem participar! Esta será uma oportunidade única de mostrar publicamente a diversidade da oferta cultural portuguesa e de cada projeto promover o seu trabalho! III ISEP Portugal Data: 23 a 27 de setembro 2013 Local: Cascais Organização: IES Info: Destinado a quem lidera uma iniciativa com uma missão social, o INSEAD Social Entrepreneurship Programme (ISEP), lançado em 2005, é pioneiro no seu foco em formar empreendedores ou gestores de iniciativas sociais já implementadas e que lidam com desafios de crescimento e sustentabilidade. O ISEP consiste numa semana intensiva que sistematiza o que é Empreendedorismo Social. Para mais informações contacte a organização através do email formaçã[email protected] Seminário Infovítimas – O Direito das Vítimas de Crime à Informação Data: 23 e 24 de setembro 2013 Local: Fundação Calouste Gulbenkian Organização: APAV Info: O Seminário abordará todas as questões relacionadas com o direito das vítimas de crime à informação, com especial ênfase nos desafios que este direito acarreta para as autoridades judiciais e policiais, quer a nível nacional, quer a nível Europeu. Este evento é organizado no âmbito do Projeto Infovítimas (2011-2013), promovido pela APAV e cofinanciado pela Comissão Europeia ao abrigo do Programa Justiça Criminal – Direcção-Geral da Justiça, em parceria com o Victim Support Europe, Weisser Ring Austria, Crime Victim Compensation and Support Authority (Suécia) and Bily Kruh Bezpeci (República Checa). Mais informações em www.apav.pt/infovitimas VII Colóquio Ibérico de Cooperativismo e Economia Social Vitamina os Sonhos Data: 27 de Setembro 2013 Local: Parque Florestal de Monsanto , Lisboa Organização: Vitamina-te e Terra dos Sonhos Info: O evento solidário Vitamina os Sonhos, iniciativa integrada no âmbito da celebração do Dia Mundial do Turismo, pretende ajudar a Terra dos Sonhos a realizar os sonhos de mais crianças com a organização de um evento divertido e saudável para a angariação de fundos. No lugar de uma inscrição, os participantes podem fazer um donativo no valor de €15 que lhes dará acesso a todas as atividades e irá reverter na totalidade para a Terra dos Sonhos. Saiba mais em vitamina-te.blogspot.pt 48 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 Data: 19 e 20 de setembro 2013 Local: Sevilha Organizadores: Ciriec Espanha, Ciriec Portugal e Cepes Andalucia Info: O evento terá como tema “Empresas Sociais, Economia Social e crise do Estado do Bem-Estar na União Europeia”. Todas as informações em www.ciriec.es IV Congresso Internacional para investigadores da Economia Social do CIRIEC Data: 24 a 26 de outubro 2013 Local: Universidade de Antuérpia, Bélgica Organização: CIRIEC Bélgica Info: O primeiro dia será dedicado a conhecer organizações e os resultados alcançados e os dias seguintes contarão com workshops e sessões plenárias. O evento versará sobre 10 temas. Toda a informação em www.ciriec-ua-conference.org FOTOFILANTROPIA Mulheres meninas, meninas mulheres. Não têm idade, são vaidosas meninas. Cabeças deitadas nos colos de outras, esperam pacificamente que dedos ágeis trancem os seus cabelos negros. Assim se passam horas, um tempo que não tem pressa. Teresa Marques, Voluntária na Ilha de Moçambique com a MOVE (http://microfinance.catolicamove.com/pt/), de julho de 2012 a janeiro 2013. 50 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013 52 | impulso positivo n.16 | julho/agosto 2013