ambiente da inovação brasileira
Julho/Agosto/Setembro 2009
no 57 • Ano XV
Compromisso
com a mudança
Depois da campanha pela qualidade, setor produtivo elege a
inovação como grande tema estratégico da atualidade. Para
competir na economia do conhecimento, empresas brasileiras
devem protagonizar movimento pela inovação no país.
Cooperativismo
Negócios que transformam a
realidade social dos empreendedores
Oportunidade
Setor de energia demanda soluções
inovadoras e garante espaço para MPEs
Índice
ambiente da inovação brasileira
Julho/Agosto/Setembro 2009 • n o 57 • Ano XV
28
ISSN 1980-3842
A revista Locus é uma publicação
da Associação Nacional de
Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores
A indústria mobilizada
Como ocorreu com a qualidade no início dos anos 90, a
inovação surge como necessidade cada vez mais latente no
setor industrial. De olho na competitividade, empresas de
todos os portes tentam integrar o conceito ao cotidiano, na
forma de novos produtos e processos.
Conselho editorial
Carlos Américo Pacheco, Gina
Paladino, Mauricio Guedes,
Maurício Mendonça, Jorge Audy e
Josealdo Tonholo (presidente interino)
Coordenação editorial
Débora Horn
Márcio Caetano
Colaboração
Adriane Alice Pereira, Bruno
Moreschi, Caroline Mazzonetto,
Cora Dias, Eduardo Kormives, João
Werner Grando, Júlia Pithann e
Maykon Oliveira.
Jornalista responsável
Débora Horn – MTb/SC 02714 JP
Direção de arte
Luiz Acácio de Souza
Edição de arte
João Henrique Moço
Revisão
Sérgio Ribeiro
Foto da capa
Shutterstock
6
10
16
22
25
Presidente
Guilherme Ary Plonski
Diretoria
Francilene Procópio Garcia, Gisa
Bassalo, Josealdo Tonholo, Silvestre
Labiak Junior e Paulo Gonzalez
Superintendência
Sheila Oliveira Pires
Coordenação de Comunicação e Marketing
Márcio Caetano Setúbal Alves
Endereço
SCN, quadra 1, bloco C,
Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211
Brasília / DF – CEP 70711-902
Contatos
(61) 3202-1555
E-mail: [email protected]
Website: www.anprotec.org.br
Anúncios: (61) 3202-1555
[email protected]
Produção
Patrocínio
36
38
40
44
46
Apoio
Impressão
Gráfica Brasil Uberlândia
Tiragem
5.000 exemplares
c a p a
48
50
E n t re v i s t a
Jean Guinet, economista diretor de Ciência, Tecnologia e Indústria da OCDE, revela
como a inovação pode ajudar o mundo a retomar o crescimento.
E m
m o v i me n t o
A reintegração social por meio do empreendedorismo, a ampliação da Incubadora
de Santa Rita do Sapucaí (MG), os planos para o Parque Tecnológico da Bahia, a
programação do Seminário Nacional e do Fórum Global e muitas boas notícias
vindas de empresas graduadas e incubadas. As novidades do movimento estão aqui.
Ne g ó c i o s
Empreendimentos abrigados em incubadoras sociais demonstram a força da união
entre pessoas dispostas a crescer e a superar todo tipo de obstáculo.
I n v es t i me n t o
Agências regionais de fomento ampliam capilaridade das ações de apoio à área de
Ciência, Tecnologia e Inovação, concedendo crédito a micro e pequenas empresas
de diversos estados brasileiros.
O p o r t u n i d a de
Ao investir pesado na área de energia, a Vale indica um mercado em expansão e
repleto de demandas, que atrai cada vez mais empreendedores.
I n t er n a c i o n a l
Por meio de encontros periódicos entre especialistas, Brasil e Estados Unidos
trocam experiências na área de empreendedorismo inovador. Saiba quais são os
principais temas discutidos no Laboratório de Aprendizagem em Inovação.
S u c ess o
O acaso e a vocação inovadora marcam a trajetória da BioLogicus, empresa
residente no Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP) que se tornou destaque
no setor de biotecnologia.
Ges t ã o
Descubra como o marketing pode contribuir para adiantar demandas e desenvolver
produtos que atendam as reais necessidades do público-alvo.
E d u c a ç ã o
Sob nova regulamentação, mestrado profissional promete aproximar programas de
pós-graduação do cotidiano das empresas.
Cr i a t i v i d a de
Em meio a peças surpreendentes, a Oficina Brennand, em Recife, dá lições de arte e
de empreendedorismo.
C u lt u r a
Exposições para comemorar o Ano da França no Brasil, um livro sobre o pensar
criativo e outras dicas de entretenimento.
O p i n i ã o
Mauricio Guedes: o maior de todos os desafios será fazer com que o esforço do présal se transforme em algo sustentável, que sirva às gerações futuras.
carta ao leitor
A
o tratar dos diversos temas que envolvem o empreendedorismo inovador, Locus sempre buscou demonstrar a
importância de empresários, gestores públicos e pesquisadores tentarem aplicar o
conceito de inovação no cotidiano. Como
resultado desse esforço, teremos novos
produtos, sólidos programas de fomento
à área de Ciência e Tecnologia e, principalmente, geração de conhecimento. Nesse cenário, apesar de indispensável, o entusiasmo do governo e da academia só faz
diferença quando o terceiro agente, o setor produtivo, também se engaja.
Na reportagem de capa desta edição,
Locus traz uma grande análise do esforço da indústria brasileira – e também da
ausência dele – para inovar. Grandes
empresas, como a 3M, revelam de que
forma a inovação se insere no dia a dia
e como as boas ideias são cultivadas. O
resultado não é instantâneo. Mas a espera vale a pena e se resume em uma
palavra mágica: competitividade. A matéria também mostra que, enquanto as
gigantes se debatem em busca de métodos eficientes para inovar, muitas micro
e pequenas empresas já nascem com a
inovação no DNA. Boa parte delas passou pelo movimento ou ainda está em
incubadoras e parques tecnológicos.
Além de empreendimentos inovadores, muitas incubadoras abrigam um
modelo especial de negócios, baseado
na solidariedade e na ajuda mútua: o
cooperativismo. Na seção Negócios
desta edição, Locus conta uma série de
boas e animadoras histórias, com personagens que se uniram para enfrentar
dificuldades e buscar uma vida melhor.
Apoiados por incubadoras, eles conseguiram criar e profissionalizar negócios capazes de transformar sua realidade social.
Transformação também é palavra-
chave na BioLogicus,
case apresentado na
seção Sucesso desta
edição. Focada na produção de probióticos,
a empresa que nasceu
da iniciativa de dois
pesquisadores, em
2004, não para de
crescer. Na matéria, os
empreendedores Djalma Marques e Fátima
Fonseca relatam os
primeiros desafios,
que incluíram o ceticismo do mercado e das instituições de
pesquisa em relação a seus projetos. Ao
ingressar na incubadora do Instituto de
Tecnologia de Pernambuco (ITEP), a
BioLogicus deu o primeiro passo para
se transformar em referência em sua
área de atuação. Nessa história cheia de
surpresas, a participação no reality experience Empreender é Show, promovido pela Anprotec em 2007, foi fundamental ao crescimento da empresa.
Esses são alguns destaques desta edição, que traz ainda reportagens sobre
agências regionais de fomento, mestrado
profissional e oportunidades na área de
energia, entre outras. Vale lembrar que
nossas matérias são resultado do trabalho de uma equipe de jornalistas, que
conta sempre com a colaboração dos
membros do Conselho Editorial na busca pelas melhores pautas e fontes. Até
esta edição, o time de conselheiros tinha
entre seus titulares a economista Helena
Lastres, que agora deixa o Conselho para se dedicar a outros compromissos.
Nosso sincero agradecimento a Helena
pelo companheirismo e por compartilhar com os leitores de Locus todo seu
conhecimento.
Boa leitura!
C onselho E ditorial
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
5
6
Foto: Caroline Mazzonetto Colaboração: Kênia Hernandes/FIESP
Entrevista
J oão Werner G rando
Inovar para crescer
A
inovação pode guiar o mundo para
fora do buraco da crise, e para isso
não é preciso recorrer a fórmulas
mágicas, alerta Jean Guinet, economista
diretor de Ciência, Tecnologia e
Indústria da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Especialista no
assunto, ele aposta na inovação como
ferramenta para os países recuperarem a
produtividade e assim retomarem o
crescimento. Na receita, nada além dos
ingredientes básicos: estabilidade
macroeconômica e ambiente de
competição entre as empresas.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
Recuperado esse cenário, Guinet
indica que o governo deve cumprir
seu papel de suporte à inovação,
com políticas públicas e
infraestrutura, além de dividir os
riscos inerentes ao processo de
inovação, com incentivos e
financiamentos subsidiados. Mas,
deixa claro: “Os maiores atores
nesse processo são as empresas”. A
seguir, os principais trechos da
entrevista concedida por Guinet à
Locus durante o 3° Congresso
Brasileiro de Inovação na Indústria,
em agosto, em São Paulo.
Locus: Uma vez superada a crise
econômica atual, a inovação pode ser
um dos principais caminhos para os
países se recuperarem e buscarem a
sustentabilidade?
Guinet: Na OCDE, estamos nos concentrando bastante nas consequências desta crise e na maneira de sair dela. A inovação deve ser um dos pilares da
estratégia para sair da crise, por muitas
razões. Crises, como os chineses falam,
trazem perigo, mas também oportunidades. Se queremos nos afastar do perigo e nos aproximar da oportunidade, o
melhor caminho é a inovação. Também
é preciso ficar claro que mesmo antes da
crise nós já tínhamos sinais de que a forma como o mundo estava crescendo não
era sustentável. Por diferentes razões,
entre elas os aspectos ambientais, o encarecimento das matérias-primas, todas
essas indicações de estresse do modelo
de desenvolvimento, que precisava ser
repensado. Antes da crise também notávamos uma desaceleração na produtividade na maioria dos países da OCDE.
Portanto, como acreditamos que a inovação é uma forma de melhorar a performance da produção, ela já despontava, mesmo antes da crise, como algo
extremamente necessário.
Locus: Qual a importância da inovação
para o desenvolvimento de um país?
Guinet: Quando fazemos o que os economistas chamam de decomposição do
crescimento, um cálculo que busca medir o efeito de diferentes fontes no avanço econômico, percebemos que cada vez
mais a inovação age sobre o potencial de
crescimento. Portanto, tanto de um ponto de vista puramente econômico quanto também social, o crescimento depende da inovação, seja de novos produtos,
serviços ou formas de atender necessidades básicas. A China é um caso interessante porque há alguns anos eles perceberam que o crescimento do país
dependeria cada vez mais da inovação.
Há duas décadas, as empresas chinesas
usavam máquinas comuns e apostavam
no uso intensivo de sua mão de obra barata. Mas esse modelo estava perto de se
esgotar e, por isso, eles escolheram uma
estratégia ambiciosa. Miraram no avanço tecnológico, fazendo da inovação seu
principal motor do desenvolvimento
econômico e social. Isso fica muito claro
Mesmo antes da crise nós já tínhamos
sinais de que a forma como o mundo
estava crescendo não era sustentável
na economia e nas políticas de desenvolvimento da inovação na China, especialmente quando você analisa um simples
indicador, o de investimento em P&D, que
cresceu cerca de 20% ao ano nos últimos
20 anos. Isso significa que a capacidade de
P&D cresceu aproximadamente o dobro
da expansão econômica do país, que também foi bastante expressiva.
Locus: A inovação demanda
investimentos em novos conhecimentos,
nova ciência, nova informação. Como
convencer empresas a fazerem
investimento no que é desconhecido?
Guinet: Em países de economia avançada ou que estão crescendo, como o Brasil, existem políticas de apoio à pesquisa
e à inovação baseadas nesse raciocínio.
Inerentemente, o processo de inovação
carrega risco. De alguma forma esse risco tem de ser compartilhado. No caso
das parcerias público-privadas ele é claramente compartilhado, assim como as
receitas resultantes da inovação. Mas para os investimentos puramente privados
o que pode ser feito é compensar esse
risco, como, por exemplo, com incentivos à P&D, financiamentos, custos subsidiados. Outro risco é o da apropriação
da inovação. Mesmo criando a inovação
você não terá certeza de que todos os
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
7
Entrevista
benefícios dela serão seus, alguns irão
para outros, outras companhias. Tudo
isso é levado em conta na hora de fazer
o investimento. Além dos mecanismos
de proteção governamental há a área financeira, que criou mecanismo como o
venture-capital, que ajudou a dar segurança a esses investimentos. O fato é que
sem mecanismos de segurança haverá
queda nos investimentos.
Locus: A OCDE acredita que para
encorajar a inovação um país precisa
dispor de estabilidade política. Como
países emergentes, como o Brasil,
podem oferecer essas condições?
Guinet: Antes de promover inovação
por meio de estruturas especializadas,
como parques tecnológicos ou incubadoras, o primeiro passo é se assegurar
de que não se está inibindo aquilo que
quer promover. Nós nos referimos a um
conjunto de políticas que não são diretamente para inovação, mas que têm
grande influência sobre a inovação – e
geralmente influência negativa. Nós temos uma check list sobre elas. São, principalmente, condições que desencorajam
investimentos, como hiperinflação, instabilidade macroeconômica. Também é
importante garantir competição entre as
Inerentemente, o processo de inovação
carrega risco. De alguma forma esse risco tem
de ser compartilhado
empresas. Não que em situações de monopólio não haja inovação, mas em geral
o desempenho inovador é muito menor
que nas condições de competição. Há
empresas inovadoras em praticamente
qualquer ambiente. A diferença está no
número de empresas inovadoras. O Brasil passou por dificuldades macroeconômicas, que de fato foram deteriorantes
para o desenvolvimento desse novo seg-
8
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
mento da economia, mas agora isso está
superado. E é por isso que inovação deve
estar na agenda de todos os governos.
Não é uma questão de especialistas. É importante que todos os líderes acreditem
e tenham responsabilidade sobre isso.
Locus: A inovação também demanda
pessoas capacitadas. Quais as
habilidades necessárias a quem lida
com inovação?
Guinet: Empresas inovadoras precisam
de pessoas com certo nível de habilidades. Inovação é uma combinação de elementos e quanto mais as pessoas tiverem
esses elementos em mente maiores são as
chances de combiná-los. É preciso conhecimento, referências, experiência. Nós
podemos descrever organizações inovadoras como organizações ideais, que concedem espaço e tempo a seus funcionários e que entendem quando ocorrem
falhas. Na realidade, porém, isso não
ocorre assim. O risco da inovação é sempre um risco para o inovador, mesmo em
uma empresa em que, digamos, a inovação está no DNA. Isso é um processo de
aprendizado, individual e coletivo, sobre
os benefícios da inovação. Logo se percebe que inovação não pode ser feita de maneira fácil, sem expressivos investimentos, sem elevar os níveis de educação.
Locus: Qual o papel o Estado e o da
iniciativa privada na criação de um
sistema nacional de inovação? É possível,
por exemplo, que a indústria brasileira
lidere um esforço nesse sentido?
Guinet: O principal responsável pela
maioria das atividades de inovação e os
maiores atores nesse processo são as empresas. Por outro lado, há setores e áreas
específicas que precisam da atenção do poder público, que deve agir com suporte para os negócios. Os governos também devem agir com políticas específicas, como a
de infraestrutura – o que eu chamo de plataforma de inovação, como incubadoras e
parques científicos. Essas estruturas, às ve-
zes, podem ser financiadas pela iniciativa
privada, mas há boas razões para que o poder público tome conta disso. Além disso,
ambos os lados têm a responsabilidade de
compartilhar os riscos da inovação. Algumas formas de fazer isso seria reduzir o
custo dos investimentos para a inovação,
usando diferentes mecanismos; fazer parcerias público-privadas, ajustar marcos regulatórios para as empresas se conectarem
a universidades e institutos de pesquisa,
vários tipos de ação. Na OCDE, acreditamos que os governos têm o papel, principalmente, de dar suporte às empresas, pois
elas não podem ficar sozinhas nem conseguem fazer tudo sozinhas.
Locus: Qual a importância e o papel
de estruturas como parques científicos
e incubadoras para um sistema
nacional de inovação?
Guinet: Não há dúvidas de que quando
eles são bem planejados, gerenciados e localizados, eles são muito úteis. Parece óbvio, mas eu digo isso porque eles não funcionam simplesmente como uma mágica.
Em alguns casos, iniciativas como essas
não foram bem executadas. Portanto, fazer
investimentos exagerados nesse tipo de infraestrutura é um erro. Também há problemas com a criação de competições entre essas estruturas. Cada universidade,
região ou município acaba querendo criar
essa instituição “mágica”, da qual acreditam que emergirá o desenvolvimento. Mas
não há dúvida de que são muito úteis. Hoje há experiência internacional sobre como
planejá-los, onde estabelecê-los, formas
de gerenciá-los. Por isso, é possível evitar
erros em sua estruturação, como parques
tecnológicos que degeneram para loteamentos ou que estão junto a universidades
mas acabam se tornando apenas parques
de negócios. É preciso gerenciar com cuidado e evitar esses riscos. Acima de tudo,
são instituições que fazem parte de uma
economia regional e devem ser vistas e geridas dessa maneira. A maioria dos países
emergentes está investindo nesses parques.
Na China, é inacreditável o número de
parques científicos e incubadoras que foram criados recentemente.
O Brasil passou por dificuldades macroeconômicas,
que de fato foram deteriorantes para o
desenvolvimento desse novo segmento da economia,
mas agora isso está superado.
Locus: Quais as características das
políticas públicas de inovação em
países que alcançaram elevado
crescimento econômico nos últimos
anos? Pode citar alguns exemplos?
Guinet: Os Estados Unidos são bastante
estudados e conhecidos. Nós sabemos que
eles desenvolveram um poderoso modelo
de inovação e tiveram sucesso em mobilizar universidades e institutos públicos de
pesquisa em prol do desenvolvimento econômico. Eles também têm tido muito sucesso, especialmente nas últimas duas décadas, desenvolvendo o modelo de
inovação empreendedora, com startups,
venture-capital. Tudo isso ocorreu graças
aos mecanismos do mercado e de competição juntamente com a atuação de atores
públicos ou de fora do mercado. Há vários
outros exemplos. A Finlândia é muito interessante atualmente. Eles viveram um
grande sucesso em políticas de inovação e
também uma grande crise. Eles usaram a
inovação para sair da crise que enfrentaram durante os anos 90. Tiveram queda de
10% do PIB e 20% de desemprego e de repente conseguiram reunir forças para traçar um novo modelo de desenvolvimento,
evidentemente baseado na inovação. Para
isso, usaram, é claro, ingredientes básicos,
como investimento em educação de alto
nível e também interessantes parcerias público-privadas. Eles foram um dos primeiros países a fazer essas parcerias continuamente e sistematicamente, assim como o
Brasil pretende fazer.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
9
E M
M O V I M E N TO
Empreendedorismo para reintegração social
Mais espaço para inovar
O polo tecnológico de Santa Rita do Sapucaí (MG), conhecido
como Vale da Eletrônica, ganhará mais espaço para incubação de
empresas. Incorporado ao Condomínio Municipal de Empresas
Ruy Brandão, em Santa Rita do Sapucaí, o novo empreendimento
terá dois mil metros quadrados e será custeado pelo governo do
estado de Minas e pela prefeitura. No local funcionarão também
a Incubadora de Empresas Sinhá Moreira e a Secretaria Municipal
de Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio. A obra custará R$
3,6 milhões e será entregue no segundo semestre de 2010.
A contrapartida do governo de Minas será de R$ 2,5 milhões.
Segundo o secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino, Evaldo Vilela, a parceria do estado nas
ações voltadas para as incubadoras é fundamental para o avanço do empreendedorismo e da inovação. “Santa Rita do Sapucaí
tem potencial enorme, temos que aumentar ainda mais o número de incubadoras e, consequentemente, o número de empresas
incubadas”, afirma. O Vale da Eletrônica possui 140 empresas
do setor eletroeletrônico, que formam um Arranjo Produtivo
Local (APL).
10
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
shutterstock
Tornar-se referência na elaboração de políticas públicas
do sistema penitenciário. Esse
é o objetivo do projeto Incubadora de Empreendedorismo
para Egressos (IEE), que busca
contribuir para a reintegração
social de egressos do sistema
penitenciário do estado do Rio
de Janeiro, por meio do incentivo ao empreendedorismo.
Atualmente estão em desenvolvimento 80 novos empreendimentos, ainda em fase de préincubação.
Em três anos de atividade, a
IEE selou parcerias com a
Ashoka – instituição de empreendedorismo social –, a Secretaria
de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro e a
Fundação Getulio Vargas (FGV), que tem contribuído para o enquadramento das empresas da IEE no Simples. Além do Rio de
Janeiro, o projeto realizou ações em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia e Santa Catarina.
Empresa da Incubadora
de Empresas da Coppe/
UFRJ recebe Prêmio Bitec
A Ambidados, que presta serviços
de processamento e análise de dados
meteoceanográficos e batimétricos,
recebeu o segundo lugar do Prêmio
Bitec de apoio às micro e pequenas
empresas (MPEs), promovido pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
O projeto “Monitoramento Ambiental Meteoceanográfico”, desenvolvido pela aluna Talita Soares Lucena, mostrou como a empresa
incubada da Coppe/UFRJ incentiva
a transferência de conhecimento universitário para MPEs. A premiação
ocorreu no dia 3 de setembro, na sede da Firjan.
Incubadora Softex Campinas
recebe novas empresas
Expectativa na Bahia
Em fase de implantação, o Parque TecnoBahia
será o principal instrumento do governo da Bahia
para atrair pesquisa de ponta para o estado e induzir o surgimento de empreendimentos inovadores. O parque abrigará um consórcio de pesquisas universitárias, incubadoras e empresas de
base tecnológica, além de servir como um centro
de convergência do sistema estadual de inovação,
envolvendo governo, entidades de pesquisa e empresas privadas.
As obras foram iniciadas em agosto de 2008, pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. O
Tecnocentro, principal estrutura predial do parque, já foi licitado por R$ 34 milhões. A previsão
é que o parque inicie as atividades em julho de
2010, quando todas as obras devem ser finalizadas.
A construção do parque segue os preceitos de sustentabilidade, utilizando materiais ecologicamente corretos. O sistema viário, por exemplo, terá
piso intertravado, que tem maior aderência em relação ao asfalto, é menos poluente e mais permeável do que os pisos tradicionais – o que possibilita maior absorção da água da chuva. Já a rede de
energia elétrica terá postes de madeira provenientes de áreas de reflorestamento e as ciclovias e trilhas ecológicas serão estruturadas com baba-decupim, liga que substitui o cimento.
divulgação
divulgação
Com capacidade para 10 empresas residentes, a
Incubadora Softex Campinas recebeu quatro novos
empreendimentos neste ano. Por meio de um edital
de fluxo contínuo, os projetos apresentados são avaliados e aprovados por uma banca composta por cinco pessoas, entre técnicos, especialistas da área e
representantes do Sebrae/SP, entidade parceira da
incubadora de empreendimentos da área de Tecnologia da Informação e Comunicação.
A CiteSpace, incubada desde janeiro, desenvolve um
portal na internet, chamado “Innovation Space”, que
permite aos usuários encontrar informações técnicas
para o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores dentro de suas empresas. A Flextom, que ingressou na incubadora no mesmo período, trabalha com
automação residencial. A Sofist, que oferece serviços
de outsourcing, consultoria e treinamento em testes de
software, era pré-incubada na Softex e tornou-se incubada em junho. No mês seguinte foi a vez da MobWise, que presta serviços para dispositivos portáteis,
principalmente celulares, smartphones e PDAs.
Atualmente, a Softex possui nove empresas residentes e está avaliando mais quatro projetos, dois
residentes e dois não residentes. Este é o ano em que
a incubadora está recebendo mais propostas. “O fato de atendermos a incubadas não residentes permite que aceitemos um maior número de empresas”,
explica Cidinha Freitas Navas, responsável pela seleção de novos empreendimentos.
Incubadora de Campinas
abriga nove empresas e
avalia mais projetos
Projeto do Parque
Tecnológico da Bahia
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
11
E M
M O V I M E N TO
A Cryopraxis, empresa
instalada no Polo BioRio, firmou acordo com a
americana CryoCell International para desenvolver pesquisas sobre as
células-tronco presentes
no fluido menstrual. Segundo os pesquisadores,
essas células podem ser
úteis ao tratamento de diversas doenças. A parceria entre as empresas permitirá o desenvolvimento
de uma técnica para facilitar a identificação e o
tratamento da endometriose, doença que atinge
até 15% das mulheres em
idade fértil.
A Cryopraxis utilizará uma tecnologia CryoCell nos
Estados Unidos. Conforme o acordo, a empresa brasileira conduz as pesquisas e torna-se coproprietária dos
resultados obtidos. A nova técnica deve diagnosticar
previamente a doença que causa deformação interna do
útero, dor pélvica intensa e infertilidade – estima-se que
no Brasil cerca de 10 milhões de mulheres sofram de
endometriose. O diagnóstico precoce representa um
grande avanço, já que, na maioria das vezes, o diagnóstico é obtido apenas sete ou 10 anos após o início dos
sintomas, quando o tratamento tende a ser mais difícil.
Com a nova técnica, os médicos também poderão traçar prognósticos mais precisos sobre as chances de uma
paciente contrair a doença.
A endometriose é normalmente diagnosticada por
procedimentos laparoscópicos dolorosos e invasivos.
divulgação
Empresa aposta na pesquisa com células-tronco
Pesquisas devem gerar
técnica para tratamento
da endometriose
“Milhões de mulheres devem se beneficiar da coleta
do fluido menstrual, técnica não invasiva das célulastronco, em lugar dos métodos convencionais, dolorosos e trabalhosos”, adianta Mercedes Walton, presidente da CryoCell.
A parceria internacional é o primeiro passo para o
desenvolvimento também de terapias celulares úteis
ao tratamento de doenças degenerativas (Parkinson,
Alzheimer, esclerose múltipla etc.) e de disfunções como a incontinência urinária feminina. A Cryopraxis
foi classificada pela publicação americana Business
Week em 2009 como líder global em tecnologias em
medicina regenerativa.
Outplan faz parceria com RBS
A Outplan, empresa graduada do Centro de Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), acaba de firmar parceria com o Grupo RBS, o maior conglomerado de comunicação da região Sul, para comercialização do “Futebolcard” — um sistema pioneiro na venda online de ingressos para partidas de futebol e acesso aos estádios que utiliza o cartão de crédito. O Grupo RBS vai atuar na venda de ingressos online e
on-site (bilheterias) para nove grandes clubes de futebol brasileiros — Palmeiras, São Paulo, Botafogo, Santos, Figueirense, Ponte Preta, Avaí, Guaratinguetá e Bahia.
12
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
Micro, pequenas e médias empresas que faturam
até R$ 60 milhões por ano podem financiar a contratação de serviços de pesquisa, desenvolvimento
e inovação (PD&I) com o Cartão Bndes. Com crédito rotativo e pré-aprovado no valor de até R$ 500
mil por banco emissor (Banco do Brasil, Bradesco e
Caixa Econômica Federal) e sem a necessidade de
apresentação de projeto, os empresários poderão
contratar junto às Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), por exemplo, serviços de prototipagem, design, ergonomia e resposta técnica de alta
complexidade, bem como a aquisição de tecnologia
e avaliação da qualidade de produto e processo de
software.
Além disso, o cartão pode financiar as contrapartidas exigidas das MPEs em programas executados
pela Finep, como o Sibratec, o Progex e o Prumo,
voltados a projetos de inovação e extensão tecnológica em cooperação com ICTs. A iniciativa atenderá,
ainda, a demanda por crédito das empresas que necessitam de financiamento de baixo valor para investir em inovação.
Criado em 2003, o Cartão Bndes oferece uma linha de crédito rotativo e pré-aprovado, com taxa de
juros que beira 1% ao mês e pagamento em até 48
prestações mensais fixas, sem cobrança de tarifa ou
anuidade. As transações são realizadas pela internet,
através do Portal de Operações do Cartão Bndes
(www.cartaobndes.gov.br). Até o momento, foram
emitidos 203 mil cartões, somando mais de R$ 7,2
bilhões em limite de crédito pré-aprovado para investimentos. Em 2008, o banco viabilizou 63 mil
transações, que representaram R$ 934 milhões em
negócios, com crescimento superior a 60% em relação ao ano anterior.
Para aprender em casa
Reconhecido como pioneiro na criação de metodologias de ensino para incentivar o empreendedorismo, Fernando Dolabela – autor de O segredo de
Luísa, com mais de 200 mil livros vendidos no Brasil – dedicou seu último livro, Quero construir minha
história, aos pais de empreendedores. “Eu já escrevi
para alunos e professores de todas as idades. Mas
nenhum livro meu era dirigido aos pais, que são mais
importantes do que a escola na formação empreendedora”, explica Dolabela.
Baseado em uma pesquisa acadêmica realizada
com 1.309 empreendedores e empregados de 11 países, Dolabela usa a ficção para ilustrar como a família pode influenciar a atitude empreendedora dos
filhos. “O livro explica o que é o potencial empreendedor e como estimulá-lo. Normalmente a família e a escola o inibem”, afirma o autor. Como em
O segredo de Luísa e A ponte mágica, o novo livro
traz uma história que conduz o leitor. Desta vez, a
narrativa conta a trajetória engenheiro Rodrigo,
sua mulher, Rita, e o filho André, de 8 anos, que
demonstra enorme talento criativo e potencial empreendedor. As ideias do menino, porém, não são
bem acolhidas pelos pais, que sonham em ver o filho desenvolver uma carreira estável de médico,
engenheiro ou advogado. Tudo muda a partir de
um revés no trabalho do pai, que faz a família rever conceitos.
divulgação
Cartão Bndes financia
investimentos em inovação
divulgaç
ão
Livro de Dolabela
alerta os pais sobre
a importância do
empreendedorismo
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
13
E M
M O V I M E N TO
De 26 a 30 de outubro
deste ano, Florianópolis
(SC) será sede do XIX Seminário Nacional de Parques
Tecnológicos e Incubadoras
de Empresas e também do
3º Fórum Global de Inovação e Empreendedorismo.
Ocorrendo pela primeira
vez de forma paralela, os
eventos reunirão representantes de órgãos governamentais e de entidades de
apoio ao empreendedorismo, gestores de incubadoras
e parques tecnológicos, empresários e pesquisadores.
Sob o tema central “Inovação e empreendedorismo para o desenvolvimento”,
o Seminário e o Fórum discutirão eixos estruturantes
de uma agenda de desenvolvimento sustentável. Além
de discutir políticas e estratégias para o empreendedorismo inovador no Brasil, os participantes poderão
realizar diversas atividades de capacitação.
No Seminário estão previstos dois treinamentos –
estratégias de cooperação internacional e valoração
da tecnologia – e dois workshops paralelos. Um desses workshops ensinará aos gestores de incubadoras
como preparar a instituição para ser um Centro de
Referência para apoio a Novos Negócios (Cerne). A
programação inclui, ainda, sete sessões plenárias e
quatro sessões técnicas paralelas, que tratarão dos
principais temas relacionados ao movimento de empreendedorismo inovador.
O Fórum Global intensifica a capacitação, ofere-
divulgação
Florianópolis sedia Seminário Nacional e Global Fórum
Último Seminário
ocorreu em Aracaju (SE)
cendo oito treinamentos paralelos, que tratarão de
marketing a financiamento para micro e pequenas
empresas, passando por processos de incubação. Nas
nove sessões plenárias, discussões sobre economias
emergentes e modelos sustentáveis de incubadoras e
parques tecnológicos.
Neste ano, os responsáveis locais pela organização dos
eventos são a Rede Catarinense de Entidades Promotoras de Empreendimentos Tecnológicos (Recepet) e a
Fundação Certi (Centros de Referência em Tecnologias
Inovadoras). Os realizadores do evento são Anprotec,
Sebrae, Ministério da Ciência e Tecnologia e infoDev/
Banco Mundial. A programação completa pode ser conferida no site www.seminarionacional.com.br.
Conselheiro da Anprotec é eleito presidente da IASP para a América Latina
No dia 23 de setembro, o conselheiro e ex-presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores (Anprotec), José Eduardo Fiates, foi escolhido presidente da Associação Internacional de Parques Científicos – International Association of Science Parks (IASP) para a América Latina.
A eleição ocorreu em assembleia da entidade, realizada em Monterrey, no México. “Como em ocasiões anteriores, ao assumir essa responsabilidade, coloco-me a serviço da Anprotec, membros da IASP, Relapi, entre
outras entidades, e espero que esse espaço venha a ser muito útil para o sucesso de nossas iniciativas e propósitos”, afirmou Fiates.
14
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
High-Tech
Agenda
A BrasilOzônio,
empresa graduada pelo
Centro de Inovação,
Empreendedorismo e
Tecnologia (Cietec) de
São Paulo (SP), lança a
Autoclave Ozônio que
esteriliza todo e qualquer
instrumento cirúrgico.
Para descontaminar
o material, o processo,
inédito no Brasil, utiliza o ozônio – gás
produzido a partir do oxigênio presente no ar –,
que não prejudica o meio ambiente e tem alto
poder germicida contra bactérias, vírus e fungos.
Outra vantagem é o baixo consumo de energia
elétrica: o produto consome 10 vezes menos do
que um esterilizador convencional.
Saiba mais: www.brasilozonio.com.br
divulgação
Ozônio contra germes
Outubro
5ª Inovatec – Feira de Inovação Tecnológica
Com o tema “Integração para a Inovação – Empresas, ICTs e
Governos”, o evento divulgará mecanismos e instrumentos para
fomentar e induzir a inovação e o empreendedorismo, além de
apresentar vários cases de inovação em produtos e processos.
Quando: 6 a 9 de outubro
Onde: Belo Horizonte (MG)
Informações: www.semanaglobal.org.br
Na Lei
Novembro
Produzido pela Ambplan Engenharia
Ambiental e Segurança do Trabalho, residente
na Incubadora de Empresas Barão de Mauá
(SP), o Amblegis é um software que faz todo o
gerenciamento e adequação de legislações de
meio ambiente, saúde e segurança do trabalho
que são aplicáveis a cada indústria, de acordo
com seu ramo de atividade. Além de garantir o
cumprimento da legislação, o programa é ideal
para o pleno atendimento das normas ISO 14001
e OHSAS 18001.
Saiba mais: www.ambplan.com.br
Semana Global do Empreendedorismo
Com o objetivo de despertar a atitude empreendedora nas
pessoas, o evento, que no ano passado ficou conhecido pelo
bordão “Bota pra fazer”, acontecerá simultaneamente em 90
países. Durante sete dias ocorrerão palestras, workshops, jogos,
feiras e outras iniciativas em todo o Brasil.
Quando: 16 a 22 de novembro
Onde: em todo o país
Informações: www.semanaglobal.org.br
A Sandbox, residente no MIDI Tecnológico,
de Florianópolis (SC), lança o Tangu, que
permite a criação de um evento com todas as
informações necessárias,
como nome, data, local
e período. Com o Tangu
é possível customizar o
formulário de inscrição e
as formas de pagamento
em uma plataforma
amigável, que permite
a criação e organização
com maior agilidade.
Saiba mais: www.sandbox.com.br
shutterstock
Evento seguro
3º Congresso da Rede Brasileira de
Tecnologia de Biodiesel
A terceira edição do congresso prevê a realização de palestras
envolvendo os principais temas trabalhados na Rede:
agricultura, armazenamento, caracterização e controle da
qualidade, coprodutos e produção do combustível. Também
serão realizados debates por meio de mesas-redondas, com
a participação de expoentes nacionais do setor, bem como a
apresentação de trabalhos científicos e a exposição de produtos
e serviços.
Quando: 9 e 10 de novembro
Onde: Brasília (DF)
Informações: www.congressorbtb.com.br
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
15
e
g
ó
c
i
o
s
FOTOS: DIVULGAÇÃO
N
Integrantes da Delícias
do Rio: unidas para
enfrentar desafios
em comum
A cooperação que transforma
Em todos os cantos do Brasil, são cada vez mais comuns
os grupos de pessoas que se unem para desenvolver
negócios capazes de alterar a realidade social
B runo M oreschi
16
L
úcia Maria do Espírito Santo fala ao
telefone como alguém que tem pressa
para vencer os compromissos de um dia
cheio. Desde 2007, sua rotina transformouse: de uma dona de casa deprimida, ao ver
o filho com câncer, para alguém que, com
a ajuda de outras mães em situação semelhante, decidiu mudar a realidade nada
animadora.
São 9 horas da manhã de uma sexta-feira e Lúcia faz questão de contar três coisas
que julga importantes para classificar sua
personalidade: acordou às quatro e meia
da manhã; não terá feriado, o 7 de Setembro, e, principalmente, que não reclama
jamais da rotina agitada. “Fico feliz...”, comenta quando descobre que fala para uma
revista sobre empreendedorismo. “Sou isso mesmo. Mas uma empreendedora diferente. Que não visa apenas o lucro, mas
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
sim o efeito social de minhas investidas.
Dá mais orgulho do que ficar rica, sabia?”,
garante.
Com a ajuda da Casa de Apoio à Criança com Câncer Santa Teresa, que cede um
espaço para o projeto e ajuda médica, no
bairro carioca do Estácio, Lúcia aliou-se a
outras 22 mães para criarem a Delícias do
Rio. A cooperativa pode até ser pequena,
mas com menos de dois anos de existência
já oferece um variado cardápio. Entre as
opções, salgados quentes e frios, biscoitos,
tortas, bolos, doces simples, caramelizados,
tudo sob encomenda, congelado ou pronto
para comer, além de um serviço completo
de bufê.
Lúcia não é a coordenadora-chefe da Delícias do Rio – experimente intitulá-la assim para ver como ela fica furiosa. Isso
porque a pequena associação não possui
nenhuma hierarquia rígida que faz com que
um membro se sinta mais poderoso que
outro. Quando Lúcia reuniu pela primeira
vez outras mães que também tinham seus
filhos em tratamento para os mais diversos
tipos de câncer, a cooperativa nasceu com
menos de 10 integrantes. Já na primeira
reunião, notou que todas tinham algo em
comum: eram mulheres que viviam quase
que exclusivamente para seu filhos, cada
uma por si, no isolamento característico
que tal situação produz. Além de solitárias,
as mães, todas bastante pobres, estavam
com dificuldade em arcar com o tratamento e a alimentação, muitas vezes tão diferenciada quanto cara, de suas crianças.
Em 2008, a Delícias do Rio estava ficando cada vez mais apertada. As mães quase
nunca podiam se reunir no mesmo período do dia, pois não havia utensílios domésticos, tampouco espaço físico suficiente. A notícia que faria o negócio crescer
veio da Holanda, mais precisamente do
banco ABN AMRO. Alguns funcionários
da instituição financeira ficaram sabendo
do projeto pela internet e decidiram fazer
uma doação conjunta de R$ 11 mil. “Todas
as mães se reuniram e discutimos as prioridades, o que realmente precisávamos e
não tínhamos. E, claro, o que seria possível fazer com essa adicional no orçamento”, conta Maria mostrando uma linguagem
já típica de quem se tornou uma legítima
empreendedora.
Após as conversas, as decisões: o grupo
de mães decidiu alugar um salão para servir de sede para a Delícias do Rio. Além
disso, compraram os utensílios que faltavam para o aumento da produção e deram
início a uma especialização a todas da equipe para aprenderem a fazer bombons e cestas de café da manhã. Assim que o caixa
estiver mais reforçado, elas pretendem diversificar os negócios, vendendo também
artesanato.
Cadeia forte
O Rio de Janeiro também é palco de outro exemplo de empreendedorismo social.
Desde 1997, alguns pacientes do Sistema
Único de Saúde (SUS) que apresentavam
problemas mentais melhoraram consideravelmente a qualidade de suas vidas. O
número de internações diminuiu, assim
como a dependência de remédios controlados. Tudo graças a um projeto influenciado pelo pensamento do psiquiatra italiano Franco Basagla. Ele defendia que
mais importante do que internar pessoas
com problemas mentais em manicômios
era criar para eles oportunidades de trabalho e renda, dando-lhes um novo sentido à vida.
Seguindo esse preceito, nasceu a cooperativa Praia Vermelha, localizada no hospital Philippe Pinel, no bairro da Urca.
Atualmente, 17 pessoas fazem parte do projeto, mas há perspectivas que esse número
aumente ainda mais neste ano. O grupo
produz bombons, bolos, biscoitos, salgados
e embalagens. Há, porém, um diferencial
que faz com que as guloseimas da Praia
Cooperada da Delícias do Rio: satisfação
por produzir e crescer em conjunto
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
17
N
e
g
ó
c
i
o
s
Inez Maria da Silva, a terapeuta ocupacional da cooperativa, explica que nada ali
é exigido, tudo precisa ser flexível de acordo com a pessoa. “Nosso principal objetivo
é resgatar a cidadania dos participantes por
meio do trabalho digno. A atividade é uma
forma de tratamento que, por acaso, é rentável”, explica. Durante os trabalhos, os
pacientes recebem terapia gratuita, almoço
e passagens de ônibus, metrô e trem. Regularmente, suas famílias são convidadas
a participar de reuniões e discutir o andamento do tratamento, bem como opinar
sobre o projeto social.
Ajuda essencial
A concretização tanto da Delícias do Rio
quanto da Praia Vermelha só foi possível
graças à ajuda da Incubadora Tecnológica
de Cooperativas Populares (ITCP), ligada ao
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe)
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). O ITCP nasceu há 12 anos com o
objetivo de ser um centro de tecnologia
capaz de gerar, por meio de incubadoras,
empreendedorismo na área social. Hoje é
uma das referências nacionais para alterDIVULGAÇÃO
Vermelha sejam procuradas por muitos
consumidores do campus Praia Vermelha,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
– sucesso garantido nos muitos seminários
promovidos na instituição de ensino.
Uma das principais matérias-primas dos
produtos é a castanha-do-pará, vinda de
reservas extrativistas do Acre. A ideia veio
de uma das cooperadas, que descobriu as
reservas acreanas por acaso, ao visitar parentes na região. Após a sugestão, a cooperativa firmou parcerias com diversas associações do Acre que realizam projetos
sociais ligados à economia sustentável, tendo como premissa o respeito à Floresta
Amazônica. O sucesso das parcerias serve
como uma dica valiosa para quem deseja
desenvolver negócios na área social: aliarse a outras entidades do terceiro setor permite o crescimento mútuo.
O dinheiro arrecadado com as vendas da
Praia Vermelha é dividido entre um fundo
social, para ajudar quem mais precisa, uma
reserva para o capital de giro da cooperativa e a parte restante é distribuída entre
quem faz e vende. Alguns deles produzem
em casa, outros na própria cooperativa. O
critério para o paciente participar é possuir
entre 23 e 66 anos, não ter crises recentes
e estado de saúde apto para o trabalho.
Produção na Praia
Vermelha: parte da
matéria-prima vem
de projetos sociais
desenvolvidos no Acre
18
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
Sob medida
É possível destacar uma característica
das associações bem-sucedidas que visam
a melhora de qualidade de vida de seus
participantes. Todas são pensadas de dentro para fora, ou seja, de acordo com as
necessidades e a capacidade de cada asso-
DIVULGAÇÃO
nativas de geração de trabalho, renda e cidadania entre grupos em situação de vulnerabilidade social e econômica. Nesse
variado grupo, destacam-se trabalhadores
desempregados ou subempregados, pessoas que estão saindo do mercado formal e
ingressando no informal, usuários do sistema de saúde mental e grupos de catadores de lixo.
Os recursos financeiros da ITCP vêm da
própria universidade aliados a aportes financeiros de órgãos governamentais, agências de fomentos, ONGs e doações de empresas privadas e pessoas físicas.
Anualmente, suas contas são auditadas pelo Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro e pelo Tribunal de Contas da União.
Pioneira no Brasil ao articular o conhecimento produzido na universidade às iniciativas populares, a ITCP comprova que
a união, por si só, não basta. “As pessoas
unidas fazendo as mesmas coisas muitas
vezes só representam mais custos. A diferença está em unir, mas também criar algum diferencial tecnológico inovador”, afirma Gonçalo Guimarães, um dos
responsáveis pela ITCP.
Atuante há anos no setor de cooperativas
sociais, Gonçalo não cansa de repetir que
de nada adianta criar novas linhas de fomento para esse tipo de negócio. “Não existe a necessidade de criar uma nova Secretaria só para as cooperativas sociais no
Ministério da Ciência e Tecnologia, por
exemplo. Isso só iria criar mais burocracia.
O que realmente precisamos é permitir que
elas tenham acesso às linhas de crédito e
outras facilidades que já existem para as
empresas maiores. Simples assim”, diz.
ciado. É o caso da associação Entre Nós
de São Sebastião, incubada no Centro de
Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico
da Universidade de Brasília (CDT/UnB)
e localizada na cidade-satélite que dá nome ao grupo.
Maria das Graças Mota, de 50 anos, é a
costureira da associação que produz e vende bordados, crochê, bijuterias, pinturas e
artesanato em papel machê. Mas nem todas
as outras seis participantes gostam do ofício ou têm habilidade na máquina de costura. “Não iria adiantar eu ou qualquer outra pessoa colocá-las em uma função que
elas não se sintam confiantes”, avalia. Por
isso, antes mesmo da criação do grupo, em
fevereiro de 2005, as mulheres reuniramse e cada uma apontou suas habilidades.
Hoje, a Entre Nós de São Sebastião possui
participantes especializadas em costura,
pintura e artesanato. Os produtos são vendidos na própria cidade de São Sebastião,
mas frequentemente vão para feiras especializadas em roupas na capital federal, em
São Paulo e em Salvador. A associação vai
tão bem que Maria das Graças, por exemplo, pôde largar a profissão de faxineira
para se dedicar à produção de roupas, atividade que lhe agrada mais.
É bem verdade que, em outros casos, a
necessidade fala mais alto que a habilidade. Em Cuiabá, os moradores da Baixada
Cuiabana sempre enfrentaram diversos problemas. Um dos mais graves era o período
da piracema, entre março e outubro, que
Cooperativa de
reciclagem residente
na ITCP: incubadora
ajuda pessoas em
situação vulnerável
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
19
N
e
g
ó
c
i
o
financeiro e desorganização, as causas do
fracasso de diversas cooperativas e associações de pessoas de baixa renda no país. Mas
a dedicação de pesquisadores da UFMT fez
com que a Coorimbatá não virasse apenas
estatística negativa. “Havia desconfiança de
todos os lados. Os ribeirinhos não acreditavam que queríamos ajudá-los sem exploração. E muitos acadêmicos achavam que ajudar a comunidade local seria apenas uma
excentricidade”, afirma Priante.
Hoje, porém, a Coorimbatá possui 36 cooperados que atuam principalmente no processamento de frutas regionais na forma de
passas e doces, além da produção de húmus
de minhoca feito a partir dos resíduos sólidos do processamento de frutas e de frigoríficos da região. Outros 50 cooperados trabalham exclusivamente no processamento
da carne de jacaré, vinda de abates na cidade de Poconé. Graças a essa última atividade, em tempos de piracema o frigorífico
continua em funcionamento, transformando a carne exótica em um alimento saudável
para a merenda das escolas da região.
proíbe os pescadores de retirar peixes dos
rios. Além disso, os moradores da região
possuíam um baixo nível escolar e profissional e nenhuma tradição em empreendimentos coletivos. Era comum entre os agricultores e pescadores a crença de que,
para evitar problemas, seria melhor cada
um cuidar da sua própria vida e não atrapalhar o vizinho.
Até que um grupo de pescadores e pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) resolveu mudar esse
cenário. Com ajuda da Petrobras, criaram
em 1997 a Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (Coorimbatá). Não à toa o nome é um trocadilho com um peixe muito abundante no Rio
Cuiabá, o curimbatá. Quando a associação
foi criada esse peixe era pouco valorizado
e muitos evitavam o consumo. A primeira
ideia da Coorimbatá foi montar um frigorífico para processar o curimbatá na forma
de linguiça e hambúrguer. O lucro foi direto para o bolso dos pescadores e ribeirinhos das comunidades de Pai André e Bonsucesso, localizadas em Várzea Grande. A
comunidade percebeu que a ideia de “cada
um por si” poderia ser substituída por algo
como “a união faz a força”.
O professor aposentado da UFMT Nicolau
Priante Filho foi um dos idealizadores da associação. Ele lembra que a cooperativa sofreu
até 1999 com problemas como a falta de apoio
No setor privado
DIVULGAÇÃO
Equipe da Coorimbatá,
que encontrou
apoio na Arca Multiincubadora, da UFMT
s
20
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
Ainda é minoria, mas já existem exemplos de empresas que identificaram nichos
de mercado nas diversas carências sociais
existentes no Brasil. É o caso da Adunare
Arquitetura Sustentável, residente na Incubadora Raiar, da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
A empresa se dedica à arquitetura sustentável, com foco em eficiência energética.
No escritório da Adunare foi desenvolvido o projeto de arquitetura do primeiro prédio público do Brasil destinado à moradia
popular, o Residencial Utopia e Luta. O prédio pertencia ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), localizado no centro de
Porto Alegre, e será destinado à moradia de
42 famílias com renda média de três salários
mínimos. A Adunare desenvolveu o projeto
arquitetônico de reforma e foi responsável
pela fiscalização das obras. A empresa este-
FOTOS: DIVULGAÇÃO
ve envolvida no projeto desde o começo das
obras, em fevereiro de 2008.
De acordo com a arquiteta e diretora, Clívia Espinosa, toda a obra foi pensada de
acordo com as necessidades dos moradores.
As salas da edificação foram transformadas
em 42 apartamentos ou quitinetes, com tamanho médio que varia de 25 a 30 metros
quadrados. O prédio conta com lavanderia
coletiva, coleta seletiva de lixo, horta comunitária, teatro de arena, cozinha coletiva e
espaço para uso coletivo de internet. Todo
o projeto foi desenvolvido visando a economia e a sustentabilidade. Os moradores terão 20 anos para pagar seu novo lar, que
custará cerca de R$ 25 mil. A opção por esse nicho de mercado ainda é uma exceção
entre a maioria das empresas privadas, mas,
se depender dos exemplos bem-sucedidos
das associações que se espalham Brasil afora, a mudança desse cenário será apenas
uma questão de tempo.
Cooperados na
Coorimbatá cuidam
da distribuição da
carne de jacaré,
uma das principais
fontes de renda
Para saber mais:
Casa de Apoio à Criança com Câncer Santa Teresa (Caccst)
Rua Santos Rodrigues, 60, Estácio – Rio de Janeiro (RJ)
Telefone: (21) 2502-8343
www.caccst.org.br
Cooperativa Praia Vermelha
Rua Venceslau Brás, 65, Urca – Rio de Janeiro (RJ)
Telefone: (21) 2542-3049 – ramais: 2199/2115
www.cooperativismopopular.ufrj.br
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP)
Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Praça Jorge Machado Moreira – Rio de Janeiro (RJ)
Caixa Postal 68012
Telefone: (21) 2598-9240
www.itcp.coppe.ufrj.br
Associação Entre Nós de São Sebastião
Rua 12, casa 50, Vila Nova – São Sebastião (DF)
Telefone: (61) 3335-1002
[email protected]
Cooperativa de Pescadores e Artesãos de Pai André e Bonsucesso (Coorimbatá)
www.coorimbata.com.br
Adunare Arquitetura Sustentável
Telefone: (51) 3286-7948
www.pucrs.br/agt/raiar
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
21
i nv e s t i m e n t o
Uma rede de incentivos
Agências regionais de desenvolvimento fortalecem
sistema de fomento à inovação e ampliam abrangência
do financiamento a micro e pequenas empresas
J úlia P itthan
oncentrado, de difícil acesso e escasso
são alguns dos adjetivos que costumam caracterizar programas de fomento à
pesquisa e à criação de empreendimentos
inovadores. Considerado um gargalo no
desenvolvimento local, o financiamento
dessas atividades tem se tornado um nicho
de atuação de agências regionais. Por meio
de órgãos de fomento próprios, os estados
brasileiros arranjam novas maneiras de
conceder crédito a iniciativas locais, garantindo a geração de emprego e renda.
Atualmente, são 13 agências de fomento
no Brasil ligadas à Associação Brasileira
das Instituições Financeiras de Desenvolvimento (ABDE). Entre os veteranos, está
o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), de 1962. O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), de
1967, e o Banco de Desenvolvimento do
Estado de Santa Catarina (Badesc), de
1973, completam a lista das instituições
mais antigas. Entre as mais novas, estão a
Agência de Fomento de Alagoas (AFAL) e
DIVULGAÇÃO
Lançamento da
Agência de Fomento
de Alagoas: busca
por parceiros
internacionais
C
22
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
a Agência de Fomento do Estado de São
Paulo (Nossa Caixa Desenvolvimento), que
começaram a operar neste ano.
Com as recentes adesões, o patrimônio
total das agências atingirá cerca de R$ 3
bilhões. A estimativa é que as instituições
possam alavancar juntas, no país, R$ 22
bilhões. A grande maioria das agências, no
entanto, surgiu no final dos anos 1990.
Mas, independentemente da data de fundação, o objetivo das entidades sempre foi
fortalecer as economias regionais e trabalhar para diversificar o setor produtivo.
Iniciativa capixaba
No Espírito Santo, o Bandes foi criado
para diversificar um estado que dependia
fortemente da economia do café. Assim, o
nome do banco ficou ligado à atração de
indústrias para o estado e associado ao financiamento de grandes empresas. No começo dos anos 2000, foi alterada a política
de atuação do Bandes,
que passou a focar no
fortalecimento de micro
e pequenas empresas.
O programa Nossocrédito, do Bandes, emprestou, somente em
2009, R$ 17 milhões a
empresas com renda
bruta inferior a R$ 240
mil por ano. Os juros ficam na faixa de 1% ao
mês. Para o presidente
da instituição, João Guerino Balestrassi, as linhas para pequenos em-
Impulso regional
Programas nacionais de fomento também ganham capilaridade com a ajuda de
agências regionais. É o caso do Programa
Juro Zero, da Finep, que na Bahia é coordenado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e tem
se destacado no incentivo a empreendimentos de base tecnológica. As linhas de
crédito atendem empresas com faturamento anual entre R$ 333 mil e R$ 10 milhões.
Os empréstimos são concedidos com um
valor de até 30% do faturamento da empresa, com limite de R$ 900 mil.
Dos R$ 20 milhões garantidos pela Fapesb, já foram investidos R$ 3,2 milhões,
restando ainda R$ 16,8 milhões para o financiamento. A Medical System, com sede
em Salvador, foi uma das empresas beneficiadas pelo programa. Ao todo, R$ 250
mil foram financiados para a instalação de
um laboratório de calibração e metrologia
de equipamentos eletromédicos de suporte, utilizados por hospitais e clínicas em
terapias críticas.
Os recursos vêm sendo aplicados há um
ano e meio, e o projeto de montagem do laboratório está em fase de conclusão. O dinheiro foi usado para a compra de equipa-
DIVULGAÇÃO
preendimentos são uma forma de conter o
êxodo do interior do estado e atender uma
das principais metas definidas no planejamento estratégico da entidade: a interiorização do desenvolvimento econômico. “O
programa Nossocrédito tem muita capilaridade. Temos postos de atendimento em
78 municípios do estado”, explica.
Entre as iniciativas voltadas à inovação,
a TecVitória é um dos principais projetos
financiados com recursos do Bandes. Criada em dezembro de 1995, é uma incubadora de empresas ligadas ao setor de tecnologia da informação. O Bandes faz parte do
Conselho de Administração da TecVitória
e atua como instituição financiadora das
iniciativas ligadas à incubadora.
mentos, consultoria e contratação de mão
de obra, além de capacitação para o uso das
novas máquinas. A Medical System quer
agora obter certificação do Inmetro e se credenciar como certificadora de calibração.
No Rio Grande do Sul, um projeto de
desenvolvimento de energias renováveis a
partir da casca do arroz, elaborado pela
Geradora de Energia Elétrica Alegrete
(GEEA), já recebeu R$ 27,2 milhões a partir da Agência de Desenvolvimento do Rio
Grande do Sul (CaixaRS). A parcela mais
recente dos recursos – de R$ 8,6 milhões
– foi liberada no começo deste ano, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais (Sedai).
O projeto da GEEA faz parte do Programa RS Energia para Investidores, que quer
tornar o estado gaúcho um novo polo de
energias renováveis. Nesse projeto, a intenção é inovar na produção de sílica para uso industrial a partir do resíduo da
casca do arroz, que representa 22% da
massa de um grão.
Os investimentos em agronegócio estão
na base dos interesses da CaixaRS, que
também está atenta a projetos de prefeituras, de setores industriais, do comércio, de
serviços, de infraestrutura e de microcrédito produtivo. A agência de fomento opera com ativos totais de R$ 1,42 bilhão. Desse total, 1,1 bilhão representa ativos de
crédito produtivo. A carteira de clientes é
Balestrassi, do Bandes:
agências ajudam
a descentralizar o
desenvolvimento
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009 23
i nv e s t i m e n t o
representada por cerca de 15 mil projetos
de micro, pequeno, médio e grande portes
já apoiados. Só nos primeiros sete meses
do ano, a CaixaRS já liberou R$ 320 milhões. Até o final de 2009, o valor deve ultrapassar R$ 400 milhões.
Novo cenário
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Hartmann e a sede da
CaixaRS: R$ 1,1 bilhão
para crédito
Se as agências de fomento já tinham
certa agilidade na liberação de crédito,
uma resolução do Conselho Monetário
Nacional (CMN) de junho deste ano veio
aumentar as possibilidades das instituições. As novas regras permitem, por
exemplo, a utilização de recursos de organismos nacionais e internacionais de
desenvolvimento, a participação acionária
minoritária em instituições não financeiras, desde que não sejam controladas por
unidades da federação, operações de câmbio e arrendamento mercantil (mediante
consulta prévia ao Banco Central), bem
como financiamentos a empreendimentos
de natureza profissional – inclusive a pessoas físicas.
Para o presidente da CaixaRS, Carlos
Rodolfo Hartmann, a decisão do CMN é
mais um passo importante na consolidação da função institucional dos agentes
24
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
financeiros de fomento através dos estados, que atuam em consonância com as
políticas de desenvolvimento estaduais e
como agentes credenciados pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (Bndes).
A nova regra, que permite que as instituições internacionais colaborem com
as agências de fomento estaduais, deve
ajudar a desenvolver projetos inovadores
em Alagoas. De acordo com o presidente da AFAL, Marden Soares, a Agência
Espanhola de Cooperação para o Desenvolvimento (Aecid), o Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID) e
o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) estão sendo
procurados para fortalecer a base financeira da instituição.
Lançada este ano, a AFAL dispõe de R$ 6
milhões em capital, além de US$ 3,5 milhões em recursos captados junto aos organismos internacionais para ofertas de financiamento. O montante é considerado
escasso até por Marden. “Realmente, R$ 6
milhões de capital é muito pouco. Ainda
mais se comparados com a média nacional,
que gira em torno de R$ 140 milhões. Entretanto, contamos com a possibilidade de
atuar mediante repasses, principalmente via
Bndes, e com instrumentos criativos, como,
por exemplo, financiamento
de fornecedores de compras
governamentais”, avalia.
Apesar das dificuldades iniciais, Marden acredita que a
agência vai desempenhar um
papel importante no desenvolvimento regional. “Organizando as forças sociais em torno
de arranjos produtivos, cooperativas e associações de microempreendedores, a AFAL fortalecerá cadeias produtivas e
oferecerá financiamento adequado às reais necessidades
das populações não atendidas
de forma natural pelos bancos”, sinaliza.
SHUTERSTOCK
o p o r t u n i d a d e
Energia em expansão
Novas fontes e formas de utilização dos recursos energéticos
estimulam surgimento de negócios em diversas áreas de atuação
C
om sete usinas hidrelétricas de grande
porte em operação, uma em construção, outra em fase de licenciamento ambiental prévio e quatro Pequenas Centrais
Hidrelétricas (PCHs) em funcionamento,
a Vale responde por quase 4,5% de toda a
energia elétrica gerada no Brasil e é a maior
investidora privada do país nesse setor. No
ano passado, a empresa estreou com atitude de protagonista no mercado de energias
renováveis. Em associação com o Banco
Nacional do Desenvolvimento Econômico
e Social (Bndes) lançou a Vale Soluções em
Energia (VSE).
Focada em processos de geração ambientalmente sustentáveis e no uso de fontes
energéticas renováveis, a VSE pode ser
considerada o símbolo do crescimento desse mercado no Brasil. A empresa propõe
criar um inédito programa de desenvolvimento de soluções para a área de energia.
Para isso, implantou um Centro de Tecno-
logia no Parque Tecnológico de São José
dos Campos, interior de São Paulo.
O programa de desenvolvimento prevê
cerca de R$ 420 milhões em investimento
pelos próximos quatro anos. Além disso,
projeta o desenvolvimento de atividades
nas áreas de gaseificação de carvão térmico e de biomassa. Também estão previstas
pesquisas para a produção de turbinas a
gás e motores pesados multicombustíveis,
enfatizando a aplicação de novos processos
e a combinação dessas tecnologias para a
autogeração de energia limpa, de forma
sustentável.
A driane A lice Pereira
MPEs mobilizadas
O mercado de soluções para energia também garante espaço para as pequenas
empresas. Residente na Incubadora de
Empresas da Coppe/UFRJ, a Recriar
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
25
DIVULGAÇÃO/RECRIAR
Raposo, da Recriar:
empresa voltou
serviços de consultoria
para o mercado
de energia
Tecnologias e Engenharia está se preparando para conquistar o mercado com consultorias especializadas em qualidade de energia elétrica, eficiência energética e fontes
renováveis. “O mundo inteiro fala em energia. É um mercado em grande expansão e
ainda com muito pouca gente atuando”,
avalia Isidoro Raposo, um dos três sócios
da empresa.
Atualmente, a Recriar tem três produtos em sua linha de desenvolvimento,
sendo dois voltados para a melhoria da
qualidade de energia e um para o aproveitamento de energias renováveis. O
Statcom (Compensador Estático de Reativos) é voltado para aplicações na correção em tempo real do fator de potência
e regulação da tensão, e o UPQC (Condicionador Universal de Qualidade de
Energia), que tem funcionalidade adicional de filtragem ativa de tensões harmônicas e compensação de afundamentos
na tensão.
Para a área de energias renováveis a empresa desenvolve o SIGE (Sistema Inteligente de Geração de Energia), que consiste em conversores eletrônicos para operar
em conjunto com geração por fontes alternativas, como eólica e solar, adequando essa energia para alimentação de cargas isoladas ou a integração da geração com a
rede elétrica existente. A empresa, que é
26
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
SHUTERSTOCK
o p o r t u n i d a d e
uma spin-off do Laboratório de Eletrônica
de Potência e Média Tensão (LEMT) da
Coppe/UFRJ, está pesquisando atualmente dois novos produtos. Para subsidiar esse
processo de desenvolvimento, a empresa
conquistou recursos da Subvenção Econômica e Pappe Subvenção, da Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep), e do programa Pesquisador na Empresa, do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Recursos de programas de fomento também estimulam o crescimento de outra pequena empresa que atua na área de energia.
A EcoEnergia Gestão Energética, residente na Incubadora do Instituto Tecnológico
de Pernambuco (Incubatep), desenvolve e
comercializa soluções em eficiência energética para redução do desperdício de
energia elétrica. “Estamos sentindo os esforços do Brasil em apoiar soluções inovadoras em eficiência energética e energias
alternativas. Vários são os editais públicos
de apoio a fomento de micro e pequenas
empresas que possuem como áreas prioritárias energia”, avalia Rodrigo Reis, diretor
de pesquisa, desenvolvimento e inovação
DIVULGAÇÃO/ECOENERGIA
da EcoEnergia.
Recentemente, a empresa aprovou dois
projetos no Pappe Subvenção, sendo a segunda empresa que mais captou recursos
financeiros. “Isso permitiu a contratação
de profissionais qualificados para estruturação da equipe de P&D, hoje composta
por dois doutores consultores, três mestrandos, um graduado e cinco graduandos”, diz o diretor da empresa. Em maio
de 2009, a EcoEnergia também aprovou
um projeto Bitec (Programa de Iniciação
Científica e Tecnológica para Micro e Pequenas Empresas) junto ao CNPq/IEL e
foi uma das aprovadas na primeira fase do
Programa Primeira Empresa Inovadora –
Prime, da Finep.
Sócios da EcoEnergia: equipe de P&D foi estruturada com recursos de editais
O mercado para soluções em energia possui como
característica a formação de cadeias de empresas
com atuações, produtos e serviços complementares.
A própria Vale Soluções em Energia comprova esse
aspecto com a instalação do seu Centro de Tecnologia
no Parque Tecnológico de São José dos Campos. “São
José dos Campos tem a maior concentração de mão de
obra e fornecedores especializados em alta tecnologia.
Temos convênios e sinergias com várias instituições,
inclusive no parque tecnológico”, afirma James Pessoa,
diretor-presidente da VSE.
A empresa possui acordos de cooperação
tecnológica já estabelecidos com a Escola de
Engenharia de São Carlos/USP, Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (ITA), Instituto de Estudos Avançados
(IEAV) e outras instituições. Para o Parque de São José
dos Campos, a VSE representa uma nova área na qual a
instituição se tornará referência. “Temos a expectativa
que esse empreendimento consolide o parque como
desenvolvedor de tecnologias para energia”, diz Marco
Antonio Raupp, diretor geral do Parque Tecnológico de
São José dos Campos.
Outro objetivo da administração do parque é atrair
pequenas e médias empresas com atuação na área de
energia para o local com a instalação da VSE. “Vamos
inaugurar no final deste ano um condomínio com
capacidade de instalar até 50 empresas de pequeno e
médio portes. Muitas devem procurar o espaço diante
da chegada da Vale”, projeta Raupp.
DIVULGAÇÃO/VSE
Ambiente de cooperação
Operações da VSE: empresa deve atrair MPEs ao Parque
Tecnológico de São José dos Campos
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
27
s
p
e
c
i
a
l
SHUTERSTOCK
e
Compromisso com a mudança
Indústria se mobiliza para vencer o desafio do qual dependerá
a inserção do Brasil na nova economia: a inovação
C aroline M azzonetto e
C ora D ias
28
S
uperar o descompasso em relação aos
países desenvolvidos. Essa pode ser a
premissa de muitas campanhas focadas na
ampliação da competitividade brasileira,
criando um ambiente favorável aos negócios. Mas, em meio a tantas demandas sujeitas ao desempenho do Estado, como reformas estruturais e melhoria da educação,
uma se destaca por depender prioritariamente do setor privado: a inovação.
Se há alguns anos inovar representava
uma tendência sem muita importância estratégica, agora é uma necessidade cada vez
mais latente. Nesse cenário, empresários,
gestores públicos e pesquisadores tentam
integrar o conceito ao cotidiano, na forma
de novos produtos, programas de fomento
ou geração de conhecimento. Embora todos os agentes sejam importantes, o histórico da inovação no Brasil revela que o entusiasmo de governos e academia faz
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
pouca diferença quando não repercute no
setor privado.
De acordo com a última Pesquisa de Inovação Tecnológica realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (Pintec/
IBGE), 33,4% das empresas industriais brasileiras fizeram algum tipo de inovação em
produtos ou processos entre 2003 e 2005.
Em países mais desenvolvidos, como Espanha e Itália, esse índice é de 34,7% e 36,3%,
respectivamente. Pode parecer animador,
mas o conceito de ações inovadoras adotado pelo IBGE inclui práticas que são novas
apenas para as próprias empresas e não necessariamente para o mercado. Se reduzirmos o recorte, apenas 9,7% das empresas
nacionais consideradas inovadoras lançaram novos produtos ou processos no mercado. No caso das espanholas, esse índice
chega a 20,9%, enquanto nas italianas se
aproxima de 31,1%.
Investimento pesado
Os números da 3M mostram que o modelo deu certo. A empresa está presente em
60 países e faturou, em 2008, US$ 25,3 bilhões ao redor do mundo. Nos últimos cinco anos, US$ 6,6 bilhões foram direcionados
para Pesquisa e Desenvolvimento – investimentos que resultam em inovações não só
no desenvolvimento de produtos, mas também em gestão dos negócios, recursos humanos e processos produtivos. “Como dizemos internamente, a inovação está no
DNA da empresa”, acrescenta Espeleta.
No Brasil, a 3M inaugurou recentemente um laboratório para o desenvolvimento
local de tecnologias com foco corporativo.
Em Sumaré, interior de São Paulo, pesquisadores da empresa estão trabalhando, desde junho do ano passado, em projetos globais que interessam a toda a corporação. O
foco do laboratório brasileiro está no desenvolvimento de tecnologias e produtos
sustentáveis. Segundo a multinacional, o
país foi escolhido graças às
características do mercado
e às diversidades geográfica,
climática e de recursos naturais.
Para Espeleta, as empresas brasileiras ainda têm
muito que aprender sobre
inovação. “Falta o entendimento do que é a inovação
e por isso elas não conseguem definir claramente a
cultura e o modelo a ser implementado em suas orga-
Produtos da 3M: nos
últimos cinco anos
empresa destinou US$
6,6 bilhões para P&D
Monteiro, da CNI:
inovação deve
estar no centro da
política industrial
CAROLINE MAZZONETTO
A divergência nos números mostra o
quanto a inovação pode variar de objetivo,
forma e aplicação. Entre os principais
agentes, estão as micro e pequenas empresas de base tecnológica, muitas vezes saídas
de incubadoras, com foco no desenvolvimento de soluções feitas sob medida para
grandes indústrias. Há ainda as empresas
que inovam para aperfeiçoar processos
produtivos, mas não fazem da prática uma
prioridade. Nesse sentido, também sem
ações sistemáticas para a inovação, estão
as empresas que têm na criatividade da gestão ou infraestrutura um importante diferencial competitivo, sem que isso necessariamente se reflita no mix de produtos.
Para completar o elenco, existe ainda
uma outra categoria, completamente ligada à capacidade de introduzir a inovação
no mercado e torná-la parte do cotidiano
do consumidor. São as indústrias inovadoras por essência, nascidas com foco em novos produtos e soluções, que desenvolvem
desde a pesquisa até o produto final. São
empresas cientes de que a sobrevivência
depende da inovação e não de políticas públicas, cenário mundial favorável ou conceitos da moda.
Presentes em casas e escritórios do mundo todo, as soluções da 3M – como o PostIt e a fita Durex – tornaram a empresa norte-americana um exemplo de inovação
genuína. “A 3M tem na inovação, desde os
primórdios, um de seus principais pilares.
É o modelo de negócios adotado pela empresa”, explica o diretor de pesquisa e desenvolvimento da multinacional no Brasil,
Antônio Carlos Espeleta.
divulgação
Diferentes atores
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009 29
e
s
p
e
c
i
a
l
nizações”, comenta. Apesar disso, ele acredita que o panorama vem mudando na
última década, puxado por fatores conjunturais como a estabilização da economia,
a conquista pelo Brasil de credibilidade no
cenário internacional e o aumento da qualidade dos produtos brasileiros. Além disso, completa, muitas companhias foram incorporadas por multinacionais e se
contaminaram com o conceito de inovação
aplicado em outros países, segundo o qual
é preciso pensar em evolução de processos
e produtos como um diferencial competitivo embasado na inovação e não apenas
na eficácia produtiva.
Larga escala
CAROLINE MAZZONETTO
Industriais se reuniram
no evento promovido
pela CNI para
debater inovação
Envolver governo e sociedade, generalizando a visão estratégica da inovação, é o
que buscam hoje os líderes industriais brasileiros. A perspectiva de retomar o crescimento econômico interrompido pela crise mundial e o novo cenário de competição
que se desenha fez com que o empresariado brasileiro passasse a perseguir com mais
vigor as metas para aumentar o investimento em inovação.
No 3° Congresso Brasileiro de Inovação na
Indústria, realizado no último dia 19 de agosto, a Confederação Nacional da Indústria
(CNI) reuniu lideranças políticas e empresariais para debater e lançar um manifesto,
30
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
assinado por representantes de diversos segmentos do setor secundário. No documento,
o compromisso do setor em investir em estratégias inovativas. “Inovação é uma atividade coletiva, em que a empresa é o ator
principal, mas que depende de boa infraestrutura, sólidas instituições de pesquisa e boas universidades”, afirma o manifesto.
Não é a primeira vez que a classe empresarial se une em prol de uma causa comum.
Um movimento semelhante ocorreu em
meados dos anos 1990, com as campanhas
que buscavam qualidade e produtividade
no setor industrial. “O que a CNI procura
neste momento é reproduzir o entusiasmo,
o mesmo comprometimento com a causa
da inovação”, afirmou o presidente da entidade, Armando Monteiro, em discurso
durante o evento.
O manifesto traz metas ousadas. Uma
delas a de duplicar, nos próximos quatro
anos, o número de empresas brasileiras
inovadoras. “A inovação, em qualquer país, é fruto de uma forte parceria entre governo e setor privado. Passos importantes
foram dados ao posicionar a inovação no
centro da política industrial”, conclui o
presidente da CNI.
Esforço conjunto
Embora tenha chamado para si a responsabilidade por transformar o Brasil em um
celeiro de inovações, a indústria
espera que o sistema brasileiro de
inovação corresponda a suas expectativas. Diante
da plateia formada
por grandes empresários, o Ministro
da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, reconheceu
que apesar de o país estar consolidan-
nômica e financeira – o que
permite investir mais e melhor no desenvolvimento
nacional. Se o governo aprovar, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do
Ministério da Ciência e Tecnologia, vai disponibilizar ao setor de inovação R$ 2,7 milhões já em 2010.
divulgação
do sua política de C&T, os entraves burocráticos ainda são grandes, mas as
perspectivas são boas. Segundo o ministro,
até 2010 o Sistema Brasileiro de Tecnologia
(Sibratec) deve estar completo, para formar
redes de entidades e centros de pesquisa
públicos e privados, bem como núcleos de
universidades aptos a cooperar com o setor
produtivo, em um esquema semelhante ao
aplicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Promessas para reverter o baixo índice
de inovação no Brasil não faltam, tanto no
setor público quanto no privado. Segundo
o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes),
Luciano Coutinho, hoje a economia brasileira admite que o país tenha estratégias de
longo prazo nas políticas monetária, eco-
Produtos da Brasilata:
empresa envolve
funcionários no
processo de inovação
Novas cabeças
A injeção de capital e um punhado de
boas intenções, entretanto, não serão suficientes para alterar o panorama da
inovação no Brasil. Será necessário também mudar a mentalidade das pessoas.
“Todo mundo acredita que, para acon-
Tamanho não é documento
divulgação
divulgação
reconhece a importância de
A inovação é o que aproxima
desenvolver projetos dentro dos
o Laboratório Cristália, com 37
laboratórios de universidades:
anos de experiência, da empresa
“Laboratórios trabalham para
de farmoquímicos graduada
desenvolver, para servir a
em 2005 pelo Centro Incubador
população, não adianta ter isso em
de Empresas Tecnológicas de
documento, paper. Tem que virar
São Paulo, a Alpha BR. Embora
produto”, conclui Pacheco.
tenham portes diferentes,
Com a mesma intenção
ambos utilizam pesquisa,
de aplicar o conhecimento
desenvolvimento e inovação
Laboratório Cristália: 37 anos de
atuação calcada em P&D resultaram
gerado pela universidade, a
(PD&I) para diferenciar seus
em um mix de 250 produtos
Alpha BR, quando foi criada em
produtos, que possuem um alto
2002, pretendia desenvolver
valor agregado.
O Cristália tem um mix de
tecnologias ainda não dominadas
pelos laboratórios nacionais.
250 produtos, principalmente
“No entanto, durante o curso
anestésicos, dos quais a
do plano de negócios da nossa
maioria foi desenvolvida
empresa percebemos que
pelo departamento de PD&I da empresa. “A inovação
além da tecnologia podíamos
está presente no laboratório
comercializar o produto, que
principalmente nos produtos,
teria uma baixa demanda física e
um alto valor agregado”, explica
não apenas em moléculas
Alpha BR, incubada no Cietec: foco
William Carnicelli, sócio do
novas, mas fórmulas novas de
no desenvolvimento de produtos
laboratório. A empresa, que neste
administrar a mesma molécula,
de alto valor agregado
ano já dobrou o faturamento de
embalagens e até na forma de se
administrar a empresa”, conta Ogari de Castro Pacheco,
2008, está num período de expansão, de aumento da
presidente e um dos fundadores da companhia. Parceiro capacidade de produção. A meta de lançar um novo
de instituições de pesquisa do país todo, o Cristália
produto a cada ano continua.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009 31
s
p
e
c
i
a
divulgação
e
Álvares, da Brasilata:
mais importante
que infraestrutura,
são pessoas
dispostas a inovar
tecer, a inovação precisa de cientistas,
dinheiro e laboratório. É importante,
mas não essencial. O que precisa é ter
um meio inovador interno: pessoas preocupadas em inovar, criar, modificar as
coisas”, contrapõe Antônio Carlos Teixeira Álvares, CEO da Brasilata Embalagens Metálicas.
A indústria paulista, com unidades em
Estrela (RS) e Rio Verde (GO), produz latas de aço, especialmente para tintas, e conquistou o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2008 na categoria Grande
Empresa. O principal mérito da Brasilata
é justamente ajudar a construir essa nova
mentalidade, envolvendo todos os funcionários no processo de inovação. Por meio
do Projeto Simplificação – criado há 22
anos a partir do modelo de manufatura enxuta da japonesa Toyota – a empresa oferece um canal para que colaboradores sugiram melhorias em gestão, processos,
produtos e uso de insumos, entre outras
práticas do dia a dia da indústria.
As ideias podem ser aprovadas ou não.
A cada semestre, a Brasilata promove uma
confraternização na qual as melhores sugestões recebem prêmios simbólicos. Durante o “apagão”, em 2001, propostas para
reduzir o consumo de energia fizeram a
empresa economizar 35%. Não há contrapartida financeira e nenhum funcionário
divulgação
Fábrica da Artecola:
sistema de gestão de
ideias gerou 106 novos
produtos no primeiro
semestre deste ano
l
32
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
é obrigado a participar. Ainda assim, em
2008, o Projeto Simplificação recebeu 135
mil ideias.
De ponta a ponta
Assim como o envolvimento dos colaboradores, a atenção às influências do próprio mercado também pode levar à adoção
de estratégias inovadoras. Observar insights da concorrência, levar a sério as demandas dos clientes e buscar soluções em
fontes diferentes são atitudes que podem
ajudar a manter uma empresa no caminho
da inovação. A Artecola Indústrias Químicas, empresa gaúcha com plantas na Argentina, no Chile, no Peru, na Colômbia
e no México, aposta na criatividade e na
interação dos funcionários com os clientes
para prospectar novas soluções. “Nosso
posicionamento é o de sermos diferenciados pela customização de produtos e a proximidade com os clientes em cada uma das
regiões e mercados que trabalhamos propicia muito mais a inovação”, explica Eduardo Kunst, presidente executivo do Grupo Artecola.
Como na Brasilata, a Artecola tem um
sistema de gestão de ideias instituído. Até
junho, 350 sugestões de colaboradores haviam sido postas em prática. A meta para
2009 é que esse sistema gere
uma economia de R$ 1,8 milhão. Quanto ao lançamento
de soluções no mercado, o
objetivo da empresa é chegar
ao final do ano com 157 novos produtos – até junho, já
foram 106.
Anualmente, a Artecola
investe 3% da receita líquida
em inovação – o que equivale, em 2009, a cerca de R$ 10
milhões. A indústria possui
laboratórios de pesquisa e
desenvolvimento em todas as
plantas, no Brasil e no exterior. “Temos equipes dedica-
Cooperação
Um exemplo de relacionamento saudável
e duradouro entre academia e mercado foi
consolidado no Sul do país, entre a Embraco e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Quando foi criada, em 1971,
a Embraco era o resultado da associação entre as fabricantes de refrigeradores Consul,
Springer e Prosdócimo. Os primeiros produtos da indústria eram compressores, fabricados a partir do licenciamento de uma
tecnologia dinamarquesa.
Na década de 1980, porém, os sócios se
deram conta que para sobreviver no mercado era preciso ter domínio tecnológico. Em
1982, a Embraco buscou pesquisadores do
Centro Tecnológico da UFSC, com o objetivo de desenvolver uma tecnologia própria.
Cinco anos depois chegava ao mercado o
primeiro compressor com 100% de tecno-
logia brasileira.
Atualmente a empresa tem uma estrutura formal de
inovação com mais
de 400 funcionários,
distribuídos em cerca de 40 laboratórios
de pesquisa e desenvolvimento. As parcerias com a UFSC,
no entanto, seguem
sólidas. “Temos uma
rede de conhecimento com cerca de
600 parceiros. É bastante grande, mas os
principais estão no
Brasil, e mais especificamente na UFSC”,
explica Guilherme Lima, gestor de Relações
Institucionais em Pesquisa e Desenvolvimento da Embraco.
divulgação
das exclusivamente ao desenvolvimento de
produtos e outras parcialmente. A área comercial, de apoio técnico aos clientes, também se envolve”, complementa Kunst. Os
dois principais laboratórios estão no Brasil,
em Campo Bom (RS) e Diadema (SP).
Outra fonte de inovação para a empresa
são as parcerias com universidades e centros de pesquisa. Atualmente, há dois projetos em andamento com a Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), um com
a Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) e outro com o Centro Universitário Feevale, na cidade gaúcha de Novo
Hamburgo. “Essa é uma área que devemos
ampliar, pois estamos cada vez mais atentos aos conceitos de inovação aberta”, assegura Kunst. A prática, também conhecida como open innovation, caracteriza
parcerias feitas entre empresas ou entre
empresas e instituições de pesquisa. No
Brasil, o segundo caso é o mais comum – a
associação do conhecimento produzido nas
universidades e centros de pesquisa com a
aplicabilidade oferecida pelas indústrias
inovadoras.
Laboratório da
Embraco: parceria
com universidades
e 400 funcionários
voltados à inovação
Pequenas inovadoras
A cooperação com o setor produtivo amplia o importante papel desempenhado por
universidades e centros de pesquisa no sistema de inovação brasileiro. Além de oferecerem soluções para empresas já estabelecidas, essas instituições tornaram-se
fundamentais no fomento a empreendimentos inovadores ao implantarem incubadoras e parques tecnológicos, que favorecem o surgimento de micro e pequenas
empresas calcadas em pesquisa e desenvolvimento.
O clássico motivo que leva um universitário, mestrando ou doutorando a tornarse um empreendedor é a posse de uma
ideia inovadora. À incubadora cabe ajudar
o futuro empresário a viabilizar o negócio,
transformando essa ideia em um empreendimento de verdade. Foi assim que, em
2005, alguns alunos de Engenharia do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), de Santa Rita do Sapucaí (MG), criaram a Nib Tec Inovações.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009 33
e
s
p
e
c
i
a
divulgação
Gouvêa, da Nib Tec:
apesar de inovador,
primeiro produto
lançado pela empresa
não tinha mercado
34
l
A empresa desenvolve e fabrica equipamentos para segurança eletrônica e identificação por radiofrequência – RFID. Aos 26
anos de idade, o diretor da empresa, Bruno
Mecchi Gouvêa, lembra que o início da Nib
Tec foi marcado por uma grande decepção.
“Lançamos um produto que, apesar de inovador, não tinha demanda no mercado”, explica. O produto era uma pulseira para identificação de recém-nascidos em maternidades.
Com tecnologia inovadora, era capaz de evitar trocas e até roubo de bebês. Premiada
pelo caráter inovador, a pulseirinha da Nib
Tec não teve apelo comercial, pois os custos
inviabilizavam a implantação.
Orientados pela incubadora, os empreendedores da Nib Tec aprenderam com o
erro. Antes de começar a investir no segundo produto, realizaram uma extensa pesquisa de mercado. “Desenvolvemos um sistema de controle de acesso para o
primeiro cliente e, só depois, o produto foi
aperfeiçoado para ser distribuído no canal
de vendas”, explica Gouvêa. Atualmente a
empresa faz parte do Grupo Giga, composto pela Nib Tec e outras duas empresas,
também de base tecnológica. Com 60 funcionários, o grupo já possui um faturamento acima de R$ 5 milhões.
Buscar validação no mercado também
foi a estratégia usada pela I.Systems, empresa incubada no Núcelo Softex Campinas. Com a ideia de desenvolver um sistema de controle inteligente
para processos fabris e equipamentos, os sócios entraram em contato com um gerente de fábrica da
Coca-Cola, que achou o
projeto interessante e
apoiou a iniciativa. A certeza de que a inovação seria
bem-sucedida no mercado
fez a ideia sair do papel.
Assim iniciava o trabalho
de transformar o projeto
em produto, para depois
criar uma empresa a fim de
comercializá-lo.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
Outros caminhos
Após um ano de incubação, a I.Systems
já atua fortemente nas vendas. A empresa
tem um contrato para aplicação dos controles inteligentes nas fábricas brasileiras
da Rockwel e está desenvolvendo a tecnologia para aplicá-la nas multinacionais
B&R e Bosch. “Procuramos a Bosch, eles
se interessaram e mandaram gratuitamente toda a plataforma de desenvolvimento
para realizarmos o trabalho de importar
tecnologia para o equipamento deles”, explica Igor Santiago, CEO da empresa.
A tecnologia que baseia todas as operações da I.Systems nasceu da união de dois
mestrados, mas a forte ligação com o meio
acadêmico não é requisito para criar um
negócio inovador. Exemplo disso é a SK
Bombas, de Limoeiro do Norte (CE). Tradicional fabricante de bombas centrífugas,
a empresa Bombas King atuava no mercado nacional há 48 anos. Em 2002, por demanda de projetistas e fabricantes de usinas de biodiesel, a empresa iniciou o
fornecimento de bombas centrífugas, adaptadas de sua linha seriada, para bombear
fluidos como óleo vegetal, álcool, ácido
sulfúrico e o próprio biodiesel.
Por se tratar de um mercado novo e
devido à inconstância das características
físico-químicas dos fluidos, as bombas
fornecidas alternavam o desempenho
constantemente. Com a produção em andamento, os engenheiros da empresa não
podiam simplesmente parar tudo e procurar alguma solução para o impasse.
Foi então que surgiu a proposta de criar
uma empresa incubada, de modo a abrigar um departamento de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos para
a Bombas King.
Residente no Centro de Tecnologia do
Ceará, a nova empresa, SK Bombas, buscou
formas de subvencionar seus projetos. Com
propostas aprovadas pelo CNPq e pelo programa Pappe da Finep, atualmente a incubada conta com uma equipe de 23 pesquisadores e 28 colaboradores no setor
divulgação
operacional. A iniciativa permitiu que a
fabricante desse um salto no seu mix de
produtos, atendendo aos mercados de carcinicultura (camarões em cativeiro) e de
sistemas de abastecimento público.
Com diversos parceiros, como centros
de pesquisa e universidades do Ceará, a
SK Bombas está trabalhando em três novos projetos. Um deles em parceria com
a Trump Eletronics, empresa alemã de
geradores de ozônio. “Estamos aguardando a oportunidade para pleitear os recursos necessários que são imprescindíveis
ao desenvolvimento de cada um dos projetos”, conclui Fernando Castro Alves,
diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e
Inovação da empresa. Seja com ou sem
apoio governamental e parcerias com
universidades, a inovação no Brasil, em
grandes ou pequenas indústrias, já não
assusta ninguém.
Bombas produzidas
pela SK: novas
demandas originaram
segmento inovador
De portas abertas
divulgação
Repetida como mantra em
implementar a parte de comercialização de
eventos sobre inovação, a ideia de
tecnologias, que é difícil de fazer, contatar
que os diferenciais resultantes de
empresas que tiverem interesse. Isso já era
práticas inovadoras podem garantir
feito antes, mas em escala menor”, explica
competitividade às indústrias ainda está
o diretor executivo da Inova Unicamp,
longe de ser completamente difundida
Roberto Lotufo. A importância da agência
no Brasil. Embora o país participe com
pode ser mensurada pelo desempenho da
2% do PIB mundial, somente 0,2% das
universidade no cenário brasileiro: estimapatentes registradas internacionalmente
se que 15% de toda pesquisa nacional saia
Lotufo, da Inova
saem daqui. Uma causa provável dessa
da Unicamp.
Unicamp: capacidade da
deficiência são as falhas na comunicação
Em 2008, a Inova assinou contratos que
academia de interagir
com empresas é limitada
entre empresas e centros de pesquisa,
trarão à instituição o aporte de cerca de R$
institutos tecnológicos e universidades.
8 milhões. Além disso, os licenciamentos de
O manifesto lançado por empresários no 3º
tecnologia feitos desde 2003 já renderam em torno de R$
Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria retoma
900 mil em royalties. “Na hora que as empresas procuram
esse problema: “Temos feito progresso na pesquisa
parcerias, as universidades estão abertas. O relacionamento
acadêmica, mas nossos centros de excelência
é difícil em qualquer lugar do mundo, mas é um mito
ainda são poucos. E precisamos fortalecer a relação
dizer que no Brasil as empresas inovam pouco porque as
universidade-empresa”. Para ajudar nesse processo,
universidades não ajudam”, assinala Lotufo.
a Lei de Inovação, de 2004, deu às universidades
O professor cita como prova dessa abertura da
brasileiras a oportunidade de criar núcleos de
academia para as indústrias o fato de que talvez o
inovação – instrumentos responsáveis por otimizar
maior case de interação entre universidade e empresa
o relacionamento com as indústrias, cuidar da
do mundo está aqui. “É difícil encontrar alguma
propriedade intelectual e facilitar a entrada no mercado universidade que não tenha parceria com a Petrobras”,
da tecnologia produzida nas universidades.
acrescenta. Para ele, o que os industriais precisam ter
A Unicamp foi pioneira na criação de uma agência
em mente – e que pode ser erroneamente confundido
de inovação, ainda antes do advento da Lei, em 2003.
com ineficiência – é que a capacidade da academia de
Até o final do ano passado, a Inova Unicamp já havia
interagir com empresas é limitada. “A universidade não
articulado mais de 240 convênios de transferência de
é um lugar para prestar serviço, não tem como atender
tecnologia e de desenvolvimento cooperativo entre a
se todas as empresas quiserem fazer projetos médios.
universidade, empresas e o setor público. “A Inova veio
Ela não foi feita para isso”, explica.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009 35
i n t e r n a c i o n a l
Para aprender e ensinar
Brasil e Estados Unidos se aproximam para trocar
experiências sobre empreendedorismo inovador e discutir
temas essenciais ao desenvolvimento sustentável
N
o último dia 20 de agosto, uma delegação norte-americana desembarcou
em solo carioca para participar de mais
uma edição do Laboratório de Aprendizagem em Inovação, um encontro que discutiu maneiras viáveis de transformar
boas ideias em empreendimentos inovadores. Diferentes de tantos outros eventos
multilaterais que logo caem no esquecimento, as reuniões, que ocorreram na
SHUTERSTOCK
B runo M oreschi
36
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
sede da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e no Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (Cepel), não parecem
iniciativas isoladas.
Desde o início do ano, representantes
do Brasil e dos Estados Unidos encontram-se na ânsia de concretizar negócios
inovadores e, dessa maneira, promover o
crescimento econômico e a geração de
empregos nos dois países. Os temas dos
encontros, que são realizados alternadamente nos dois países, variam. As reuniões em Porto Alegre (22 e 23 de abril) e
em Chicago (12 e 13 de maio) trataram de
investimentos e políticas de infraestrutura para fortalecer a capacidade de pesquisa. Já em São Paulo (13 e 14 de julho) e no
Vale do Silício (5 a 7 de agosto), as discussões tinham como foco as formas de
transformar essas pesquisas em negócios.
Na reunião de agosto, no Rio de Janeiro,
seguida de outra em Denver, entre 9 e 11
de setembro, o assunto foi o desenvolvimento da força de trabalho para projetos
inovadores. Em comum, todos os encontros avançaram no debate sobre incubadoras de empresas, eficiência energética e
tecnologias limpas.
A ideia de reunir representantes do
Brasil e dos Estados Unidos em uma mesma sala para discutir inovação partiu da
Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI), em conjunto com o
Movimento Brasil Competitivo (MBC) e
o Conselho de Competitividade dos Estados Unidos (CoC). “Os dois países discutem ações bilaterais que vão desde a pesquisa até a realização de um negócio
empreendedor”, resume o presidente da
ABDI, Reginaldo Arcuri.
As conclusões a que chegaram os participantes dos seis laboratórios serão relatadas em um documento único, repleto de
recomendações para os setores público e
privado. Essa lista de sugestões servirá
como base para as discussões da 2a Conferência sobre Inovação Brasil-EUA, que a
ABDI, o MBC e o CoC organizarão na
Universidade de Georgetown, em Washington, no mês de abril de 2010.
A prova de que os encontros não se limitaram ao falatório é que nem bem terminaram e um resultado concreto já começou a tomar forma. Na reunião de
Porto Alegre, ABDI e MBC assinaram um
acordo de cooperação técnica para desenvolvimento de um programa similar ao
International Computer Sciences Institute (ICSI). Nos Estados Unidos, essa associação sem fins lucrativos é uma referência nos estudos avançados de redes de
computadores, bioinformática e inteligência artificial.
Criado em 1988 na Universidade de
Berkeley, o ICSI recebe pesquisadores do
mundo inteiro e seus diretores são pesos
pesados da tecnologia de ponta. Um deles, por exemplo, é Scott Shenker, vencedor de dois dos maiores prêmios de tecnologia do mundo, o Sigcomm Award e o
IEEE Internet Award. Sem as reuniões
com os norte-americanos neste ano, dificilmente a criação de um ICSI verde e
amarelo seria cogitada no Brasil.
Segundo os organizadores do Laboratório, inúmeros são os exemplos norte-americanos que podem ser replicados por
aqui. “Os Estados Unidos têm a cultura de
inovação consolidada e precisamos aprender a fazer com que esse tema entre em
nossa agenda”, afirma Claudio Gastal,
presidente do MBC. Não é novidade que
os Estados Unidos estão à frente do Brasil
em relação à inovação. Segundo Gastal, o
medo de falhar entre as empresas brasileiras ainda é muito grande, reflexo da ausência de uma cultura inovadora no país.
DIVULGAÇÃO/ABDI
Ações efetivas
“O principal fator de incentivo ao empreendedorismo está na sala de aula. Os Estados Unidos possuem essa cultura de implementar o empreendedorismo na grade
curricular de escolas e universidades,
além de possuírem cursos específicos sobre isso em diversas instituições de ensino”, completa.
Encontro realizado
em São Paulo, no
mês de julho, discutiu
formas de transformar
pesquisas em negócios
Brasil professor
Mas os Estados Unidos, esse país indiscutivelmente empreendedor e inovador,
têm algo a aprender com o Brasil? Gastal
acredita que sim. “Como temos visto nos
encontros e pela nossa própria vivência, o
brasileiro possui o empreendedorismo no
seu DNA. O problema é que muitos não
levam suas ideias adiante justamente por
carecerem de incentivo e pela ausência de
uma cultura empreendedora. Temos muita criatividade, inteligência, além da característica de tirarmos leite de pedra e
jogo de cintura.”
O presidente norte-americano Barack
Obama não cansa de repetir sua vontade
de promover uma economia “mais verde”.
Atualmente, o que mais chama a atenção
dos Estados Unidos e de outros países no
Brasil é justamente sua busca por alternativas de energia, como o biodiesel. A liderança nesse processo, bem como a capacidade de empreender e inovar em ambientes
desfavoráveis, permitiu que o Brasil deixasse de ser apenas um aluno na sala de
aula global.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
37
s
u
c
e
s
s
o
Empreendedorismo em família
Empresa pernambucana desponta na área de biotecnologia e comprova
que pesquisas acadêmicas podem se transformar em excelentes negócios
Eduardo K ormives
fotos: divulgação
Djalma Marques
e Fátima Fonseca:
dedicação à pesquisa
U
m negócio familiar. Assim poderia ser
caracterizada a BioLogicus, empresa
incubada no Instituto de Tecnologia de
Pernambuco (ITEP), em Recife. E mesmo
esse detalhe, o fato de ter se desenvolvido
em família, pode soar inovador para um
empreendimento de ponta na área de biotecnologia, que desenvolve alimentos funcionais probióticos, cosméticos e cremes
dermatológicos.
A trajetória pouco convencional da BioLogicus confunde-se com o trabalho de
pesquisa na área de probióticos do casal
Djalma Marques, dermatologista PhD em
medicina preventiva, e Fátima Fonseca, engenheira química com doutorado em tecnologia de alimentos, ambos adeptos da
medicina natural. Antônimo de antibiótico, o termo probiótico vem do grego e significa pró-vida. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) define probióticos como “organismos vivos que, quando administrados
38
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro”.
Esses microorganismos podem ser utilizados na formulação de alimentos industrializados, como leites fermentados ou iogurtes, para atuar no equilíbrio bacteriano
intestinal, no controle do colesterol e na redução do risco de câncer, entre outros benefícios. Os iogurtes e leites fermentados
no mercado não contêm mais do que dois
tipos de probióticos. A BioLogicus conseguiu isolar mais de 70 espécies e as colocou
em matrizes, tornando-as estáveis por tempo indeterminado. Djalma explica que a
ideia é, num futuro próximo, oferecer para
o mundo esse banco de microorganismos.
Por acaso
O contato com probióticos começou em
1997, quando Djalma e Fátima seguiram
para a Espanha a fim de cursar doutorado – ele na universidade de Barcelona e ela na
de Cádiz. Teve início por acidente, quando Fátima, que
pesquisava leveduras, sofreu
uma queimadura no laboratório. “Ela não tinha o que usar
na hora. Pegou espuma de levedura de vinho e colocou em
cima da queimadura. Para
surpresa dela, a cicatrização
foi rápida e não deixou absolutamente nenhuma marca ou
bolha”, lembra Djalma. A pomada que cura queimaduras
de terceiro grau em apenas 48
dias, sem deixar marcas, viria
a se transformar em um dos
primeiros produtos da BioLogicus.
Na mesma época, o dermatologista descobriu pela internet os grãos de kéfir, microorganismos encontrados na região do
Cáucaso, Rússia, com os quais se produzem
bebidas funcionais fermentadas ricas em
nutrientes, bacilos e leveduras que regulam
o funcionamento renal e hepático. A BioLogicus é a única empresa brasileira que
produz o kéfir real de leite de vaca, búfala,
soja e frutas. As bebidas a partir de frutas
e probióticos são resultado de suas pesquisas pioneiras.
A empresa pernambucana descobriu
uma maneira de fazer com que os bacilos
e as leveduras do kéfir fermentassem em
frutas, reproduzindo-as nos sucos de uva
e de abacaxi. Além disso, isolou as enzimas
produzidas pelos microorganismos do kéfir para confeccionar biocosméticos. A
BioLogicus tem uma linha de cremes antiidade e antiacne, sabonetes argilofitobióticos que atuam na prevenção e no rejuvenescimento da pele, xampus antiqueda,
óleos de banho e perfumes.
Desafios superados
De volta ao Brasil em 2001, Djalma e Fátima buscaram uma forma de transformar
as pesquisas em produtos. Djalma lembra,
bem-humorado, que eles foram vistos com
certa desconfiança, e seu trabalho rotulado
de “meio hippie”. Além do preconceito dentro do mundo acadêmico, as empresas interessadas não pareciam dispostas a oferecer mais do que bolsas de pesquisa em
troca do produto final.
A saída foi fundar a BioLogicus em 2004,
tendo como funcionários estudantes da
Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). A empresa se tornaria incubada
do ITEP dois anos mais tarde. Mas a visibilidade necessária para fazer deslanchar
o negócio viria de uma maneira bastante
original: a participação no reality experience Empreender é Show, promovido pela
Anprotec em 2007.
Única representante das regiões Norte e
Nordeste, a BioLogicus foi selecionada entre mais de 50 inscritos para participar do
programa. E fez bonito. Nos seis meses de
competição, venceu duas das cinco missões
propostas e acabou em terceiro lugar. A
exposição na mídia ajudou a fechar negócios que mudaram os rumos do empreendimento. “O programa abriu negociações
interessantíssimas. Ainda hoje, há o contato de gente que nos chega por causa do
reality”, conta Djalma.
Hoje a BioLogicus está na lista das 20 empresas nacionais de biotecnologia que recebem incentivos de pesquisa de diversas instituições de fomento. Neste ano, a empresa
foi contemplada em diferentes editais, que,
somados, reforçarão o caixa em cerca de R$
700 mil. Além disso, a BioLogicus conseguiu
R$ 1,5 milhão no edital de Subvenção Econômica da Finep para o apoio ao desenvolvimento de dermocosméticos.
A empresa, que nasceu com três pesquisadores, já conta com uma equipe de 19
pessoas. E os planos não param por aí. A
BioLogicus abriu negociação com um fundo de capital-semente com possibilidade
de receber um aporte de R$ 3 milhões. É
o investimento necessário para industrializar a tecnologia desenvolvida em Pernambuco e levá-la além das farmácias homeopáticas e redes de produtos naturais
locais. Bom para a BioLogicus, melhor
ainda para os consumidores.
Equipe da BioLogicus:
empresa conquistou
cerca de R$ 2,2 milhões
em recursos de editais
somente neste ano
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
39
Ã
O
Shutterstock
GEST
Marketing certeiro
Ações voltadas à venda de produtos e serviços
devem fortalecer a imagem da empresa e
ampliar o relacionamento com clientes
D ébora H orn e C ora D ias
40
P
ara grande parte das empresas inovadoras, sair do laboratório e ir ao mercado para lançar produtos sem precedentes
representa um enorme desafio. Afinal, as
estratégias traçadas para este momento definem se todo o esforço de concepção e desenvolvimento valeu a pena. Baseado nessa premissa, o conceito de marketing
evoluiu e sua compreensão se tornou fator
fundamental a qualquer empresa que busque a sustentabilidade.
Segundo o consultor de marketing do
Sebrae/SP, Wlamir Bello, o planejamento
das ações de marketing começa pelo conhecimento dos principais diferenciais
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
competitivos do produto. “Hoje os clientes
têm uma gama enorme de opções para praticamente todos os produtos e serviços. É
preciso gerar algo novo, com vantagem clara, mensurável, em relação ao que já existe”, explica. Para isso, é fundamental conhecer o mercado em que se pretende
atuar e, principalmente, as necessidades
reais do cliente. “Quando se mostra ao
cliente as vantagens de determinado produto ou serviço, o preço deixa de ser o fator preponderante na escolha, ou seja, ele
se dispõe a, se preciso, pagar mais caro por
algo diferenciado”, afirma.
Nesse processo, o gestor de marketing
da do software. A
combinação de baixos custos de produção e um novo
perfil de consumidores resultou em
um aumento significativo no patrimônio da empresa.
Divulgação
deve, primeiro, entender as políticas de comercialização vigentes no mercado em que
busca se inserir. Isso inclui conhecer profundamente o que os concorrentes oferecem e de que forma suas mensagens chegam aos consumidores. “É preciso atender
as necessidades do público-alvo e ir além
do óbvio, se colocando no lugar do cliente”, explica Bello. Boa parte do sucesso do
Wii, videogame da japonesa Nintendo, vem
da simples compreensão de que ficar se
mexendo é mais divertido que ficar sentado e que quando se mexem as pessoas interagem mais naturalmente com quem está ao seu redor do que quando estão
sentadas. Usar os braços para controlar
uma raquete de tênis ou uma luva de box
é mais interessante do que apenas mexer
os polegares.
Apesar do público-alvo do Wii ter maior
poder aquisitivo que os consumidores tradicionais de videogame, sua maior vantagem em termos financeiros é que, diferentemente dos fanáticos por jogos
eletrônicos mais jovens, esses consumidores não exigem desempenho máximo em
termos de velocidade, gráficos e outros
componentes. Esse fator permitiu que a
Nintendo tornasse o hardware muito mais
lucrativo que o de seus concorrentes, habituados a vender seus equipamentos a
preço de custo e lucrar apenas com a ven-
Sinalizadores
Bello, do Sebrae/
SP: se colocar no
lugar do cliente
ajuda a empresa a
ir além do óbvio
Segundo Bello, o preço é um sinalizador
do mercado em que o produto pretende
circular. “Dependendo do produto, oferecer o menor preço pode ser uma estratégia
perigosa, pois em determinados mercados
o custo mais elevado é visto como um valor importante de diferenciação”, conclui.
Da mesma forma, a distribuição do produto e sua abrangência são determinadas
pelo conhecimento prévio de cada mercado potencial. A coleta de informações sobre o perfil do cliente permitirá à empresa definir com mais segurança quando e
onde seu produto estará disponível. Nessa etapa, especificidades regionais devem
ser analisadas com afinco. “Às vezes, os
produtos são competitivos em uma determinada região do país, mas não em outras”, afirma Bello.
4Ps x 4Cs
O composto de marketing,
também chamado 4Ps, traz um
conjunto de aspectos que devem
ser considerados pelas empresas
na hora de elaborar uma estratégia
de venda de produtos. Do outro
lado, há as necessidades do
cliente, que deram origem ao
composto chamado 4Cs. Segundo
o Sebrae, prosperam as empresas
que conseguem atender às
necessidades dos clientes de modo
econômico e conveniente, a partir
de uma comunicação efetiva.
4Ps
4Cs
Produto
Cliente (solução para o cliente)
Preço
Custo (para o cliente)
Praça (pontos de venda)
Conveniência
Promoção
Comunicação
Fonte: Sebrae
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
41
Ã
O
Shutterstock
GEST
Com Wii, Nintendo
agradou aos que não
gostavam de ficar
parados para jogar
videogame
Após compreender todas as reais necessidades dos clientes potenciais, chega a
hora de divulgar o produto. “A empresa
precisa ser descoberta, ou seja, comunicar
ao mercado que existe e que é inovadora”,
explica Bello. Segundo o consultor, uma
das estratégias mais eficientes nesse sentido é a mídia espontânea, gerada a partir
da divulgação realizada por uma assessoria de imprensa. “A divulgação gera demanda. Por isso, o investimento necessário
às ações de marketing deve compor o pre-
ço final do produto. A empresa deve encarar esse investimento como um custo
fixo”, aconselha o consultor.
Para Armando Leite Ferreira, autor do
livro Marketing para Pequenas Empresas
Inovadoras, a forma de comunicação mais
adequada varia de acordo com o públicoalvo. Dependendo do setor, a divulgação
do produto em feiras e seminários pode
ser muito eficiente. “Mas o mais importante é que, ainda antes de concluir o projeto, o empresário saia à rua e pergunte
aos clientes potenciais se o produto atende
a suas necessidades”, afirma. Nesse momento, alerta Ferreira, o gestor de marketing não pode acreditar piamente nas respostas. “O comum é que as pessoas digam
que o produto é bom, por educação. Cabe
à empresa perguntar: você realmente compraria? Quando e por quanto?”, explica.
Iniciar o relacionamento com o cliente
ainda na fase de concepção do produto
pode ajudar a antecipar a demanda. “A
proximidade com o usuário permite desenvolver um produto realmente focado
nas necessidades do cliente, que atende a
suas expectativas, evitando o desperdício
de tempo e de recursos por parte da empresa”, afirma Ferreira.
Na rede
Com o advento da internet, as oportunidades de marketing passaram a ser ilimitadas. Saber utilizar a rede como um
instrumento eficiente para venda de produtos e fortalecimento de marcas tem sido
o grande desafio das empresas inovadoras.
A divisão do marketing
Marketing Estratégico - engloba funções que
precedem a produção e a venda do produto. Inclui
o estudo de mercado, a escolha do público-alvo, a
concepção do produto, a fixação do preço, a escolha
dos canais de distribuição e a elaboração de uma
estratégia de comunicação e produção.
Marketing Operacional - trata das operações de
marketing posteriores à produção, como a criação
e o desenvolvimento de campanhas de publicidade
e promoção, a ação dos vendedores e do marketing
direto, a distribuição dos produtos, o merchandising e
os serviços pós-venda.
Fonte: Sebrae
42
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
“O fato de ser uma comunicação em duas
vias, com resposta imediata do públicoalvo, é o grande diferencial dessa técnica
de marketing”, explica Guilherme Delorenzo, publicitário e diretor de novos negócios da Riot, agência publicitária de São
Paulo que utiliza o marketing viral para
levar a marca ao consumidor, de forma que
haja uma troca de experiência.
A ideia de utilizar a internet como ferramenta surgiu da percepção de que a web
proporciona um ambiente favorável à interação empresa/consumidor, que outras
mídias não ofereciam. “Há inúmeras formas de se fazer esse trabalho, porque há
inúmeras ferramentas, inúmeros fóruns,
inúmeros agentes: blogueiros, twitteiros,
flickeiros, orkuteiros, youtubeiros e outros
mais”, afirma Delorenzo.
Os formatos de comunicação variam de
acordo com os veículos utilizados e com
os propósitos da empresa, que vão desde
divulgar uma informação, um lançamento,
um produto ou um serviço, até criar um
canal para desenvolvimento de uma ideia
associada a uma marca. Isso pode ser feito, por exemplo, por meio de comentários
(pagos) de blogueiros sobre produtos, produção de conteúdos em fóruns de discussão e links patrocinados em comunidades
de mídias sociais. Foi o caso da ação promocional realizada por meio do aplicativo
Buddypoke, do Orkut, para divulgar o filme Wolverine, lançado em abril deste ano.
A partir dessa ação, o avatar (espécie de
boneco virtual) do usuário do Orkut pode
receber alterações que o deixam mais parecido com o personagem Wolverine.
Nesse mercado há, ainda, serviços de
monitoramento que podem ajudar organizações a identificar o que se fala sobre
a marca na rede, possibilitando que a empresa descubra pontos fracos e fortes do
negócio. Para Delorenzo, ainda há receio
por parte dos empreendedores em colocar sua marca nas mídias sociais. “Fazemos um trabalho de ‘evangelização’ dos
nossos clientes quanto à importância e
às formas de se posicionar na rede, estabelecendo conversas com o seu públicoalvo”, conta.
O Twitter, servidor para microblogging,
no qual o usuário tem que se expressar
em apenas 140 caracteres por post, está
se tornando cada vez mais comercial,
pois os consumidores utilizam a ferramenta para dizer tudo o que pensam sobre o que consomem. “Nessa ferramenta
as pessoas agem pelo impulso, pela emoção, ‘pensam alto’. Imagine o poder de
disseminação de coisas negativas a seu
respeito se você comete algum deslize. É
imprescindível estar atento e bem posicionado”, explica Delorenzo.
Marketing inovador
O manual de Oslo, desenvolvido pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) em parceria com a Eurosat, é a principal
fonte internacional de diretrizes para coleta e uso
de dados sobre atividades inovadoras da indústria.
Em sua terceira edição, lançada em 2005, o Manual
traz duas novas formas de inovações: de marketing e
organizacional.
Esses novos modelos ampliam o conjunto de
inovações tratadas pelo Manual em relação à edição
anterior, que abordava apenas as inovações de
produtos e de processos. Uma inovação na área,
segundo o Manual, “é a implementação de um novo
método de marketing com mudanças significativas
na concepção do produto ou em sua embalagem, no
posicionamento do produto, em sua promoção ou na
fixação de preços”.
Segundo o Manual, o que caracteriza a inovação
de marketing é a implementação de um método que
ainda não tenha sido utilizado pela empresa para
divulgar seus produtos. Esse novo método pode ser
desenvolvido ou importado de outras organizações.
Inovações de marketing compreendem, ainda,
mudanças substanciais no design do produto, como
uma mudança significativa no estilo de uma linha de
móveis para ampliar seu apelo, por exemplo.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
43
d
u
c
a
ç
ã
o
SHUTERSTOCK
e
Um novo perfil de mestre
Capes altera regulamentação de mestrados profissionais
e permite novas formas de avaliação de cursos e alunos.
Critérios para contratação de professores também mudam
M aykon O liveira
44
F
ormar 45 mil mestres e 16 mil doutores por ano até 2010. Essa era a meta do Plano Nacional de Pós-Graduação,
lançado em 2005 pelo Ministério da Educação (MEC). Elaborada com base em cenários distintos, que incluíam investimentos e ações estratégicas que acabaram
não se concretizando, a meta ainda está
longe de ser alcançada. Segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes), atualmente são
formados cerca de 30 mil mestres e 10 mil
doutores por ano.
A busca por reduzir o déficit tem gerado
algumas mudanças nas regras que regem a
pós-graduação no Brasil. Uma das mais recentes mexeu em uma polêmica antiga: a
regulamentação do mestrado profissional.
O ensino superior brasileiro permite duas
modalidades de mestrado: a acadêmica e a
profissional. A primeira é voltada aos alu-
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
nos que desejam seguir carreira científica
ou atuar como professores universitários.
Nesse caso, o enfoque do curso é mais teórico, com disciplinas abrangentes e a busca de profundo conhecimento no tema sobre o qual se pretende dissertar.
No mestrado profissional, a premissa e
os objetivos são outros. De ênfase mais
mercadológica, a modalidade é direcionada a um público formado por profissionais que procuram ampliar conhecimentos e habilidades práticas em sua área de
atuação. Seu crescimento também era meta do Plano Nacional de Pós-Graduação
2005-2010, visto pelo MEC como um instrumento de aproximação entre universidades e empresas, que resultaria em inovação tecnológica.
Apesar dos objetivos distintos, as duas
modalidades seguiam regras idênticas até
o último dia 22 de junho, quando o Minis-
mo algum tipo de produção artística, de
acordo com a natureza da área e a finalidade do curso.
A avaliação dos cursos do mestrado
profissional, alvo de críticas por causa
do viés acadêmico, também irá mudar. A
partir de agora, a Capes adotará novos
critérios, levando em conta as especificidades do ensino, o que pode elevar as
notas desses cursos. Um dos objetivos é
é atrair instituições que tenham boas especializações, transformando-as em mestrados profissionais.
O que muda
O Brasil hoje contabiliza 218 cursos de
mestrado profissional. Na Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) existe
um exemplo pioneiro no Departamento de
Engenharia Mecânica, que já ministrou
três cursos na modalidade. “Eles foram
criados para atender uma demanda específica de determinadas empresas, oferecendo uma carteira diferenciada no que se refere às disciplinas e ao foco”, afirma o
coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFSC,
Eduardo Alberto Fancello.
Ele explica que a criação de cursos de
mestrado profissional é sazonal e resulta
de uma parceria com empresas do setor
industrial, como a Fiat e a WEG, que buscam uma maior qualificação dos seus empregados. “Essa modalidade ocupou um
espaço que estava vago no atendimento às
empresas”, ressalta.
Embora ainda vista com alguma desconfiança no meio acadêmico, a nova regulamentação publicada pelo MEC pode servir
para estreitar os laços entre empresas e instituições de pesquisas. Mesmo assim, o panorama do ensino superior no Brasil revela que a formação de mestres e doutores
representa a ponta de um problema social
ainda mais preocupante: de cada mil pessoas que ingressam no Ensino Básico, apenas três chegam ao nível superior.
A Portaria Normativa No 7 estabeleceu
mudanças no credenciamento, na implantação e na avaliação dos cursos de mestrado profissional, além de ampliar a variedade de formatos nos trabalhos de
conclusão (TCCs) da modalidade. Agora,
a análise de propostas de cursos será feita
pela Capes utilizando fichas de avaliação
específicas, diferentes das utilizadas para
o mestrado acadêmico.
Outra alteração significativa ocorrerá
no quadro docente. Para ministrar aulas
na modalidade profissional, poderão ser
admitidos professores que não tenham
mestrado ou doutorado, mas com expertise reconhecida na área de ensino – hoje,
em um mestrado acadêmico, todos os professores precisam ser doutores. Conforme
a Capes, a permissão não exime o corpo
docente do mestrado profissional de comprovar alta qualificação por meio de produção científica.
Também serão mais variadas as formas
de apresentação do trabalho de conclusão
de curso do mestrado profissional. No lugar da tradicional dissertação, exigida na
modalidade acadêmica, o mestrando poderá apresentar artigo, estudo de caso, patente de um produto ou protótipo, projetos,
desenvolvimento de aplicativos e até mes-
divulgação /Capes
tério da Educação (MEC) publicou portaria com uma regulamentação específica para o mestrado profissional.
Segundo o diretor de Avaliação da Capes, Lívio Amaral, a regulamentação foi
modernizada conforme as diretrizes do
Plano Nacional de Pós-Graduação. “O mestrado profissional existe desde o final dos
anos 90. Porém, o instrumento que o disciplinava era bastante sucinto. A nova portaria coloca objetivos e condições para esse tipo de curso de modo bastante
explícito. Portanto, serve de orientação para o sistema de pós-graduação brasileiro
no seu todo”, afirma.
Amaral, da Capes:
nova regulamentação modernizou sistema
de pós-graduação
Foco específico
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
45
c r i a t i v i d a d e
Misto de arte e negócio
Como um artista afoito em mostrar e vender suas
obras transformou um engenho abandonado em
galeria de arte e atração turística de Pernambuco
M
uito se ouve histórias de empreendedores bem-sucedidos. Seus protagonistas são quase sempre empresários e o
enredo se passa no mundo corporativo. Todavia, exemplos de boas estratégias de negócios existem em qualquer área. As artes
plásticas é uma delas. Visitar a Oficina
Brennand, em Recife, é se deparar com um
empreendimento que deu certo.
Nas agências de viagens, dificilmente será possível encontrar um pacote turístico
para visitar o local, exclusivamente. “Quem
viaja para Pernambuco está interessado em
praia, sol e água fresca”, conta a funcionária de uma empresa de turismo local. A
máxima pode até ser verdadeira, mas os
mais curiosos garantem que vale a pena
dedicar algumas horas para o passeio alternativo. E dão a dica: com qualquer taxista de Recife, basta combinar com ante-
cedência de um dia a ida e a volta à
Oficina Brennand – o valor da corrida, com
o motorista esperando seu passeio terminar, fica em torno de R$ 80.
Na entrada, somos recebidos por um
conjunto de quatro esculturas de saltimbancos chamado Os Comediantes. O terreno de 3,5 hectares é cercado por um pedaço preservado da Mata Atlântica e pelo
Rio Capibaribe. Até o início do século XX,
aquele solo massapê era local para o Engenho Santos Cosme e Damião, no bairro
histórico de Várzea. Quando herdou as
terras do pai, o artista plástico Francisco
Brennand começou em 1971 um projeto
de revitalização do espaço. Seu objetivo
era construir um lugar agradável, misto de
opção turística e ateliê onde pudesse produzir e vender suas obras com a tranquilidade que sempre prezou na vida. Para
FOTOS: Marinez Teixeira
B runo M oreschi
Oficina Brennand,
em Recife: lugar para
produzir e vender obras
46
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
Espaço ideal
A arte de Brennand é assumidamente
mística. Com longa barba branca e olhar
atento, ele parece um ermitão, misto de Papai Noel com o mago Gandalf, do filme O
Senhor dos Anéis. Seu discurso pode assustar aqueles que não acreditam em tanto poder transcendental. No livro Testamento I:
o oráculo contrariado, publicado em 2005,
Brennand explica suas duas obsessões artísticas: “Ovos e aves são recorrentes no
meu trabalho e têm acompanhado todo o
percurso de minha obra cerâmica. Definem
a presença do ovo primordial, da forma
primitiva, o ovo cósmico: o começo da vida. Sabe-se­ que em sepulcros pré-históricos russos e suecos encontram-se ovos de
argila, depositados como emblemas da
imortalidade. As coisas são eternas porque
se reproduzem.” Em seguida, faz a ressalva
de que não pertence a nenhuma religião:
“Não me atrevo a qualquer espécie de subterfúgio religioso (...)
Temos por vocação o
desejo de complicar os
motivos de uma escolha, achando sempre
haver por trás de tudo
um sentido que nos
escapa.”
Goste-se ou não das
estátuas, pinturas e do
falatório de Brennand,
é inegável que ele conseguiu criar um espaço
ideal para mostrar sua
arte. Entrar na Oficina
Brennand é se deparar
com uma espécie de
representação física de
uma mente que não teme negar suas influências – por mais clichês
que possam parecer.
O local é também o
retrato de um empreendimento de sucesso.
A Oficina Brennand
recebe, em média, 2,5
mil pessoas por mês.
Em período de férias
escolares, o público ultrapassa os 5 mil. Há
dois tipos de peças
vendidos no local. Um
deles são esculturas e painéis que levam a
assinatura de Brennand. Os preços variam
bastante: entre R$ 3 mil e R$ 90 mil. Mas
há também peças bem mais simples que
se encontram na pequena loja de lembranças. Entre vários objetos, fruteiras, jarros,
pratos, camafeus e abajures custam de R$
45 a R$ 2,7 mil. Para completar esse misto artístico e comercial, como bom empreendedor que busca vender seus produtos, Brennand faz questão de colocar no
site da Oficina as imagens de todas as peças que produz. Vale a pena conferir:
www.brennand.com.br
Helder Ferrer
isso, convidou o paisagista brasileiro Burle Marx, autor, entre muitos outros mundo
afora, dos jardins do Aterro do Flamengo,
no Rio de Janeiro, e do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, para repensar toda a
disposição do gramado. Junto com as curvas de Marx, estão várias esculturas de
Brennand – entre elas, uma jocosa serpente marinha em argila vitrificada queimada
em alta temperatura que parece mergulhar
num dos canteiros.
Em outro canto, há um espaço para refeições rápidas e venda de peças assinadas
por Brennand. Mais à frente, um anfiteatro
que lembra uma sala de banho romana, um
espaço dedicado à realização de eventos –
com 128 lugares – e um salão com suas
principais esculturas, além de painéis feitos de argila e pintados com tintas preparadas no local. No centro da Oficina Brennand, a atração que o artista julga a mais
importante: um templo com cúpula oval
azul que representa algo chamado por ele
de “ovo primordial”, um suposto símbolo
da imortalidade.
O artista e suas
obras: arte
assumidamente
mística
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
47
CULTURA
r u n o M o r e s c h i
B
A França no Brasil
Diversos eventos relacionados à cultura francesa ocorrem em
território brasileiro ao longo de 2009, o Ano da França no Brasil.
Uma ótima exposicão de fotógrafos franceses contemporâneos esteve
em Porto Alegre, as pinturas de Fernand Léger foram expostas em
São Paulo e uma mostra do estilista Yves Saint Laurent ocorreu
no Rio de Janeiro. Mas, desde o início do ano, já era sabido quais
seriam as duas grandes atrações dentre os cerca de 600 projetos
culturais que viriam ao Brasil: uma exposição do pintor francês
Henri Matisse (1869-1954) e outra do russo Marc Chagall,
que pintou alguns de seus importantes quadros em Paris.
Suor discreto
E X POSIÇ Ã O
Matisse Hoje. Pinacoteca do Estado de São Paulo (Praça da Luz, 2, São
Paulo - SP), telefone: 11 - 33241000). De 5/9 a 1/11. R$ 6. Grátis aos sábados.
Matisse foi um obstinado pela cor. Nas cerca de 80 obras expostas em São Paulo, os visitantes irão se
deparar com os quadros de um artista que aparentemente pintava com alegria e de forma espontânea.
Ledo engano. A composição de suas telas mais importantes é fruto de uma mente obstinada que
passava horas a fio em seu ateliê, buscando a maneira mais pertinente de esconder suas dificuldades.
Para Matisse, o esforço era tema pessoal, que não necessariamente precisa ficar evidente aos olhos
dos outros.
48
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
Aberto ao mundo
E X POSIÇ Ã O
O Mundo Mágico de Marc
Chagall – O Sonho e a Vida. Casa Fiat
de Cultura (Rua Jornalista Djalma de
Andrade, 1.250 - Nova Lima - MG), telefone:
31 - 32898900. De 4/8 a 4/10. Grátis.
Se Matisse foi o pintor racional que se escondia
em vestes de um artista passional, o russo Chagall
foi aquele que soube absorver as influências ao
seu redor – do construtivismo russo às vanguardas
europeias que fervilhavam na capital francesa. Mas
o trunfo de Chagall foi justamente observar o que se
produzia. O mundo fantasioso retratado, como a tela
com noivos que pairam no céu, é sua marca pessoal
inconfundível e pode ser conferido nas 275 gravuras,
duas esculturas e 26 pinturas em exposição.
l e i t u r a
O Artíficie, de
Richard Sennett
Editora Record,
2009, 360
páginas.
O professor da
London School of
Economics e da
Universidade de
Nova Iorque Richard
Sennett discorre
nessa obra sobre
o valor do fazer.
Sua tese principal
é de que o mundo
contemporâneo
esqueceu que produzir as coisas é também
uma forma de pensar. Não se trata em negar
as facilidades do mundo contemporâneo, mas
de não esquecer que a humanidade sempre
caminhou através do pensar criativo. Para ele, o
fazer depende não só da máquina, mas do cérebro
humano – o único capaz de subjetivamente
constatar o resultado final das coisas.
Um trecho instigante: “A educação moderna
evita aprendizado repetitivo (...) desse modo
impede que as crianças tenham a experiência de
estudar a própria prática e modulá-la de dentro
para fora. (p. 49).
Veja Gran Torino, de Clint
Eastwood.
Im p e r a t i v o
O diretor
e ator norteamericano
interpreta um
homem durão
que, com a ajuda
de um jovem
vizinho, aos
poucos percebe
a importância de
aprender com o
outro. Em DVD.
Ouça 50 Years of Island Records.
Uma homenagem ao selo musical
criado pelo produtor Chris Blackwell,
que ajudou a lançar bandas como U2.
Em CD.
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
49
o
p
i
n
i
ã
o
Independência ou sorte?
Divulgação
A
Mauricio Guedes*
*Mauricio Guedes é
diretor da Incubadora
de Empresas da
Coppe/UFRJ e do
Parque Tecnológico da
UFRJ e vice-presidente
da International
Association of Science
Parks (IASP).
50
onda de ufanismo com as gigantescas
reservas de petróleo descobertas na
camada pré-sal cruzou o oceano. Em Portugal, o presidente da GALP Energia,
Manuel Ferreira, declarou no mês passado a independência energética do país.
Segundo ele, a empresa portuguesa detém, nos cinco blocos do pré-sal brasileiro em que tem participação, reservas
que supririam por 15 anos toda a demanda de combustíveis da antiga corte.
As estimativas mais conservadoras
anunciam que as reservas brasileiras de
petróleo irão triplicar, chegando a 50 bilhões de barris. Fala-se até em 100 bilhões de barris. Somente nos campos de
Tupi e Iara, as reservas são de 8 a 12 bilhões de barris. Mas os desafios que o
país terá que enfrentar são também gigantescos, a começar pelo necessário
acordo político para a distribuição de
royalties e participações especiais entre
estados e municípios. Esse é um debate
obviamente fundamental, em que todas
as partes têm razão, e caberá ao Congresso a busca de uma solução constitucional, justa e duradoura.
Toda essa riqueza está, porém, a mais
de 300 quilômetros da costa, a 2 mil metros de profundidade no mar e começa a
ser encontrada após 3 mil metros de perfuração. A produção só deverá atingir
um nível significativo em 2017 e as demandas por novas tecnologias são as
mais variadas e desafiadoras. Milhares
de técnicos e pesquisadores estão sendo
mobilizados para o esforço de inovação
necessário à caracterização de reservatórios, perfuração na camada de sal, produção de risers com mais de 2 mil me-
Locus • Julho/Agosto/Setembro 2009
tros, concepção das unidades f lutuantes,
logística para a operação a 300 quilômetros de distância da costa e para o armazenamento e transporte de gás, entre
tantas outras áreas.
Os investimentos feitos nos últimos
anos em PD&I no setor já são significativos. Somente a Petrobras investiu no
período 2006-2008, por meio do Cenpes,
R$ 560 milhões na infraestrutura experimental das universidades e institutos
de pesquisa brasileiros. Mas serão necessários investimentos muito superiores
para buscar as soluções de que precisamos e, para isso, já estão sendo convocadas universidades e empresas de todos
os portes e de muitas partes do mundo.
Está certíssimo o governo quando inclui a ciência e tecnologia entre as áreas
a serem privilegiadas. O país precisa dar
o salto da inovação, transformando a
nossa capacidade em ciência e tecnologia
em fator de geração de riqueza. O maior
de todos os desafios será fazer com que
esse esforço do pré-sal se transforme em
algo sustentável, que sirva às gerações
que vierem depois de esgotadas – ou desvalorizadas pelo surgimento de fontes
mais limpas de energia – as nossas reservas de petróleo.
Já mostramos muita competência tecnológica, acumulamos recordes mundiais na produção de petróleo em águas
profundas e descobrimos as reservas do
pré-sal. Mas devemos cuidar para que
este golpe de sorte – afinal, não fomos
nós, brasileiros, que colocamos esse óleo
no nosso quintal há cerca de 120 milhões
de anos – se transforme em independência para as gerações futuras.
ambiente da inovação brasileira
Julho/Agosto/Setembro 2009
no 57 • Ano XV
Compromisso
com a mudança
Depois da campanha pela qualidade, setor produtivo elege a
inovação como grande tema estratégico da atualidade. Para
competir na economia do conhecimento, empresas brasileiras
devem protagonizar movimento pela inovação no país.
Cooperativismo
Negócios que transformam a
realidade social dos empreendedores
Oportunidade
Setor de energia demanda soluções
inovadoras e garante espaço para MPEs
Download

Versão completa em PDF