12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354 RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: UM ELO ENTRE DUAS CORRENTES- O CASO DE UMA INDÚSTRIA DO RAMO ALIMENTÍCIO NO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU Patricia Asunción Loaiza Calderón (Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy UNIGRANRIO) Luciana Sousa Coelho Marson (Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy UNIGRANRIO) Maria Rosa da Silva de Oliveira (Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy UNIGRANRIO) Benjamin Salgado Quintans (Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy UNIGRANRIO) Resumo A fim de se tornarem mais competitivas, vêm crescendo o número de organizações que desenvolvem programas de caráter social voltados para o público interno e externo. Há casos que esses programas se restringem a ações isoladas, periféricas aao negócio da organização. Em outros, a responsabilidade social é considerada estrategicamente e permeia todo o negócio da empresa. O objetivo deste artigo foi identificar se os programas sociais desenvolvidos por uma determinada indústria carioca, do ramo alimentício, estão inseridos em âmbito estratégico empresarial. Para tanto, foram utilizados parâmetros desenvolvidos por alguns reconhecidos autores especializados na literatura que trata sobre o assunto, que classificam os programas de caráter social desenvolvidos por organizações privadas segundo sua abrangência e finalidade. As classificações consideradas neste estudo foram: filantropia empresarial e responsabilidade social; responsabilidade econômica, legal, ética e filantrópica; e empresa com negócio, empresa com organização social e empresa-cidadã, descritos no referencial teórico deste trabalho. Além das classificações citadas também foi considerado o conceito de estratégia empresarial. A seguir foram realizadas pesquisas em VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 documentos da organização e uma entrevista semi-estruturada com o consultor-coordenador do núcleo de RS da empresa. Foram então feitas comparações entre as classificações utilizadas pelos diferentes autores abordados e suas relações com o conceito de estratégia empresarial; bem como comparações entre as características dos programas sociais da organização e os parâmetros utilizados por esses autores. Concluiu-se que as ações sociais da organização durante muitos anos se constituíram como ações pontuais, periféricas ao negócio da organização. Mas que, a partir de 2005, quando o planejamento estratégico da empresa foi redefinido, e os programas de caráter social passaram a ser considerados de âmbito estratégico, esses programas têm tido seu escopo e finalidade ampliados, caminhando rapidamente para a classificação de maior abrangência segundo os parâmetros utilizados por todos os autores considerados neste estudo. Palavras-chaves: Responsabilidade social empresarial. Filantropia. Estratégia. Vantagem Competitiva. 2 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 1 INTRODUÇÃO O tema Responsabilidade Social Empresarial nos últimos anos tem sido abordado de forma regular e urgente, em virtude dos acontecimentos que estão impactando violentamente o meio ambiente, as empresas e principalmente o ser humano, num cenário de mudança contínua favorecido por diversos fatores como a abertura de mercados entre as nações, a competitividade e o avanço tecnológico. Conseqüentemente, as organizações foram mergulhadas em uma aldeia global de negócios, propiciada pela revolução tecnológica que fez expandir as informações. Surge então uma população de consumidores mais exigente, conhecedora de seus direitos e não mais fiel a uma marca, como outrora, diante de tantas ofertas similares em um mercado aberto, a opção é para aquelas que têm seu nome associado a projetos de responsabilidade social. Em muitas organizações esses programas se restringem a ações isoladas e periféricas ao negócio da organização, enquanto que em outras, a responsabilidade social é considerada estrategicamente e permeia todo o negócio da empresa. Diante desse contexto, o problema que norteou esta pesquisa foi: Até que ponto os programas sociais aplicados pela empresa, alvo da pesquisa, estão inseridos em sua estratégia empresarial para o desenvolvimento de seus negócios? O objetivo geral decorrente do problema foi: Identificar, descrever e analisar os programas sociais aplicados pela empresa pesquisada para verificar se estão inseridos em sua estratégia empresarial. Com finalidade de obter resposta ao problema de pesquisa, foi necessária uma revisão da literatura recente que trata da RSE e estratégia empresarial; a descrição dos programas ditos de RSE desenvolvidos pela empresa pesquisada, considerando sua gênese e desenvolvimento; a descrição dos objetivos estratégicos divulgados pela empresa; e, por fim, a confrontação desses programas e objetivos com a literatura de RSE e estratégia empresarial buscando relações que permitam caracterizar esses programas como sendo de âmbito estratégico empresarial. Vale ressaltar que o estudo limitou-se focar a relação entre os programas sociais com a questão estratégica empresarial, o que não inclui uma análise para verificar a eficácia ou eficiência dos programas, ou o resultado destas práticas com os seus 3 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 beneficiários, sendo estudo limitado às praticas das ações alinhada aos negócios em um caso único. Justifica-se o tema porque permite mostrar a conscientização cada vez mais crescente das empresas sobre seu papel construtivo e transformador de seu entorno social, preenchendo espaços e lacunas deixados pelo poder público. Nesse sentido é necessário compreender os fenômenos que ocorrem nas esferas entre empresas e sociedade em geral, face ao cenário atual da nação brasileira, onde é cada vez mais notório o envolvimento de empresas questões sociais. Quando não obstante, trata-se de um tema complexo e abrangente que gera de fato impacto em toda a sociedade, que por sua vez, espera que as organizações atuem com ética e fazendo jus à denominação de “empresas socialmente responsáveis”. Entre as características que formalizam tal compromisso podemos citar a integração das ações de caráter social com os negócios empresariais, transformando isso em estratégia empresarial, com finalidade de serem mais competitivas e consequentemente maximizar seus lucros. Observa-se, então a importância de uma gestão empresarial administrar estrategicamente as atividades organizações orientada por uma responsabilidade social corporativa. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Conceitos De Responsabilidade Social Diversos autores e estudiosos, têm dedicado certa atenção em investigar o tema Responsabilidade Social, com a finalidade de definir seu conceito de forma mais precisa, como também compreender as diversas ferramentas que a sua gestão demanda. Entende-se que o foco da responsabilidade social é tratar das questões sociais, de forma a ampliar a estratégia de atuação da empresa trazendo benéficos para a imagem da mesma. De acordo com Ashley (2005, p. 7) a responsabilidade social é “toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida na sociedade”. Segundo Medeiros e Reis (2007, p.14) responsabilidade social “é um comportamento da organização que, sendo responsável, toma decisões orientadas por uma conduta ética, porque tem consciência de que seus atos não poderão gerar conseqüências sociais negativas seja a um dos stakeholders, seja à sociedade em geral”. Assim mesmo, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade que é referência mundial em RS, a define da seguinte forma: 4 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais se relaciona e pela elaboração de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (INSTITUTO ETHOS, 2006). Carrol (1979 Apud OLIVEIRA 2008) considerado um autor clássico sobre o tema propôs um modelo piramidal, descrevendo quatro faces da responsabilidade social ordenados em grau de importância, da base ao ápice com características distintas, porém não excludentes, ou seja, uma dependente e interagindo com as demais: Responsabilidade Econômica, Responsabilidade Legal, Responsabilidade Ética e Responsabilidade Filantrópica. Isto quer dizer que “boas empresas-cidadãs deveriam ser lucrativas, obedecer às leis, ter comportamento ético e retribuir à sociedade em forma de filantropia” Ashley, Coutinho e Tomei (2000) Outro ponto importante a destacar é que a empresa socialmente responsável investe no bem-estar de seus funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, além de preservar o meio ambiente e investir em ações sociais. Dessa forma a responsabilidade social compreende dois focos, a saber, foco no público interno e público externo (MELO NETO e FRÓES, 1999, p.85). Na perspectiva de Melo Neto e Brennand (2004) a responsabilidade empresarial, atua em uma dimensão mais ampla, e com um modelo de gestão empresarial, onde desenvolve não simplesmente um pacote de ações comunitárias e sim atende a todos os seus stakeholders: clientes, fornecedores, parceiros, acionistas, governo, mídia, funcionários e membros comunitários em geral. Martinelli (1997) destaca que para uma organização receber o título de empresa-cidadã, é necessário passar por três estágios distintos de práticas socialmente responsáveis: 1 Empresa como Negócio – Estágio inicial, onde centro de interesses empresarial é o investidor e os stakeholders são instrumentos para aumentar os lucros. 2 Empresa como Organização Social – Estágio em que se impõe o caráter social das empresas e os stakeholders são reconhecidos pela empresa como principal grupo de interesse. O que leva a percepção da empresa como um instrumento de desenvolvimento social. 5 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 3 Empresa-Cidadã – Neste último a empresa assume compromissos, define políticas em relação a cada um de seus parceiros. O conjunto de valores que pratica e cultiva normalmente são expressos no código de ética, elaborado em consenso com a cultura interna com função de referência de ação. A organização, então vincula suas operações a uma visão estratégica e sob um compromisso ético. Neste estágio mais avançado a empresa como cidadã já age na transformação do ambiente social, avalia a sua contribuição à sociedade, é pró-ativa nas contribuições para os males sociais. 2.2 Características da Responsabilidade Social: Abordagens Conceituais Compreende-se que a responsabilidade social é caracterizada pelas ações que são desenvolvidas com a intenção de beneficiar a comunidade, e estende a sociedade no todo. As variáveis que compõe a responsabilidade social corporativa são: ética nos negócios, responsabilidade social e responsabilidade ambiental. Grajew (2002, apud MELO NETO e BRENNAND, 2004, p. 30). Percebe-se que a responsabilidade social é uma das esferas da responsabilidade social corporativa. Melo Neto e Brennand (2004) apontam os seguintes itens como característicos das empresas que agem com responsabilidade social: Ética – “a gestão de procedimentos éticos não é tarefa fácil na empresa. Em primeiro lugar, é necessário que sejam definidos, explicitados e divulgados os “princípios éticos” a serem colocados em prática pela empresa em todas as suas atividades e esfera de atuação.” Educativa – A empresa deve desenvolver campanhas e projetos educacionais que se destinem à comunidade, empregados e públicos de interesse da empresa. (ASHLEY, 2005) Sustentável – Segundo Andrade e Tachizawa (2008, p. 29) “A responsabilidade social, (...) é convergente com estratégias de sustentabilidade de longo prazo e incluem a necessária preocupação dos efeitos das atividades desenvolvidas no contexto da comunidade em que se inserem as empresas” A responsabilidade social não constitui ações praticadas momentâneas, sua prática deve ser encarada de forma continua nas organizações e com foco. Melo Neto e Brennand (2004), apontam três características principais que a organização deve ter no modelo empresarial de gestão social. Regularidade: programas, projetos e campanhas constantes; Intensidade: ferramentas com foco e objetivos claramente definidos; Qualidade: Ações de responsabilidade social e de sustentabilidade. 6 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Segundo os autores, caso a empresa não pratique ações sociais em continuo e não tenha foco; não poderá ser classificada como responsavelmente social. Segundo eles a classificação se estende muito mais. Responsabilidade social não é apenas ser ético e fazer o bem. É assumir um comportamento individual ético, contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável, justa e harmoniosa e para um mundo de negócios e uma vida mais justa, digna e de qualidade (...) Implica uma atitude e um compromisso permanente, aliados a uma visão de transformação social da sociedade e à prática de um modelo de gestão inovador. (MELO NETO e BRENNAND, 2004, p.13). Coerente com essas variáveis, Oliveira (2008) aponta que o estudo da RS é de interesse inter e multidisciplinar, propondo quatro abordagens conceituais para trata o tema da responsabilidade social (vide Quadro 1). Quadro 1: Abordagens conceituais sobre Responsabilidade Social Abordagem Descrição Ética Empresarial A RS da empresa pode-se examinada sob o ponto de vista moral e ético. Gestão Social Busca estudar estratégias de ação social das empresas (filantropia estratégica) e maneiras de introduzir as questões sociais na estratégia da empresa. Recursos Ambientais e Empresa Estuda a relação entre as empresas e o meio ambiente. Busca saber se há uma relação positiva entre boa gestão e desempenho ambiental e resultados financeiros das empresas. Empresas e Sociedade Estuda como as empresas respondem as demandas da sociedade e como essa reage as ações das empresas. Fonte: OLIVEIRA (2008, p 10). De fato essas quatro abordagens estão imbrincadas e retratam o caráter multifacetado da Responsabilidade Social empresarial, que está muito mais cobrada pela sociedade. 2.3 Indicadores de Avaliação da RSE Existem várias iniciativas para poder dimensionar o nível de Responsabilidade Social de uma empresa. Para Andrade e Tachizawa (2008, p. 79), por exemplo, “O conjunto de indicadores [..] é definido de forma associada ao processo decisório da organização e dentre eles salientam-se os indicadores ambientais e sociais.” Tais indicadores podem ser decisivos para definir os parâmetros que a organização levará em consideração no momento de definir 7 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 quais os programas sociais desenvolverá. “Os indicadores a serem utilizados dependem do porte e do estágio de vida em que se encontra a organização. Assim, para uma empresa de pequeno porte em inicio de vida, bastam alguns poucos indicadores que mensurem e monitorem os negócios em nível estratégico.” (ANDRADE e TACHIZAWA, 2008, p. 79). Os mesmos autores ressaltam que “Diante da exigência crescentes partes interessadas por transparência, as empresas devem estar preparadas pra responder pela integridade dos indicadores apresentados”. Os indicadores citados por Oliveira (2008, p.156) são considerados relevantes para a RSE, os mesmos foram desenvolvidos pelo Instituto Ethos e utilizados no Guia Exame de Boa Cidadania Corporativa: (a) Valores, Transparência e Governança; (c) Público Interno; (d) Meio Ambiente; (e) Fornecedores; (f) Consumidores e Clientes, (g) Comunidade; (h) Governo e Sociedade. Vale ressaltar que tanto o Balanço Social quanto as Normas e Certificações são essenciais para divulgação das práticas de RSE. 2.4 Responsabilidade Social x Ação Social (filantropia) O Instituto Ethos, por meio de seus Indicadores (2000) define as linhas gerais que separam ações exclusivamente filantrópicas, das práticas e peculiaridades que caracterizam as verdadeiras atitudes de responsabilidade social, conforme a seguinte descrição: Filantropia, no sentido de ações pontuais privilegia ações assistencialistas que ajudam grupos sociais, desfavorecidos e que assumem a forma de simplesmente a forma de doações (MELO NETO e FROES, 2001). Os autores apontam algumas diferenças: Quadro 2: Caracterização de Filantropia e Responsabilidade Social Filantropia Responsabilidade Social Ação individual e voluntária Ação coletiva Fomento da caridade Fomento da cidadania Base assistencialista Base estratégica Restrita a empresários filantrópicos e abnegados Extensiva a todos Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento Decisão individual Decisão consensual Fonte: MELO NETO e FROES (2001, p.28) 2.5 Estratégia Empresarial 8 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 De acordo com Hyden apud Albuquerque (2002, p.38), a administração estratégica é o processo de administrar uma entidade de forma a atingir seu propósito. Sua definição mais ampla é a administração da vantagem competitiva que inclui identificar objetivos analisando o ambiente, reconhecer ameaças e oportunidades formulando estratégias, implementando e monitorando-as de forma a sustentar as vantagens ao mercado. Para Chiavenato e Sapiro (2003) o modelo geral do processo estratégico está baseado em cinco partes: (i) Concepção estratégica – Intenção estratégica; (ii) Gestão do conhecimento estratégico – Diagnóstico externo e interno, construção de cenários; (iii) Formulação estratégica – Planejamento Estratégico, modelos dinâmicos de concorrência; (iv) Implementação estratégica – Governança corporativa, liderança estratégica; (v) Avaliação e reavaliação estratégica - Auditoria de desempenho de resultados. A estratégia empresarial pressupõe que na prática, o caminho é direcionado a partir da definição dos objetivos principais e o planejamento estratégico evidencia como caminhar nele, de forma metafórica pode-se afirmar que o planejamento estratégico é a bússola que orienta os gestores no mar de turbulências que as cercam. De acordo com Carvalho (2000) reduzir ou minimizar pelo menos os impactos sociais ocasionados pelas atividades das empresas, deveria ser um atributo de planejamento estratégico de qualquer organização, que se mostra comprometida com o futuro. 2.5.1 Responsabilidade Social expressa em Estratégia na criação de vantagem competitiva O acirramento competitivo de mercados, decorrente pela quebra de fronteiras nos campos de competição elevam as organizações a focarem estratégias e assim assegurar estáveis no mercado. Segundo Mendonça (2002): Observa-se a existência de um movimento, por partes das organizações, no sentido de eliciar suas práticas no âmbito da responsabilidade social. Tal decisão corporativa tende a refletir de forma cada vez mais nítida, o caráter e a preocupação estratégica observada no desenvolvimento das atividades, executadas num ambiente de competição acirrada. Segundo Melo Neto e Brennand (2004, p. 16) “Diante de clientes cada vez mais exigentes, e em busca de valor (menor preço, maior qualidade, mais serviços) as empresas descobriram uma nova fonte de vantagem competitiva – o valor ético institucional.”. Coerente com essa afirmação, Chiavenato e Sapiro (2003 p. 330-332) indicam que a responsabilidade social está deixando a sua antiga roupagem paternalista para “avançar na direção da proteção 9 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 ativa e da promoção humana, em função de um sistema definido e explicitado de valores éticos”. Ainda os autores indicam que uma organização socialmente responsável é aquela que cumpre as seguintes obrigações: a) Incorpora objetivos sociais em seus processos de planejamento estratégico; b) Aplica normas comparativas de outras organizações em seus programas sociais; c) Apresenta relatórios aos membros organizacionais e aos parceiros sobre os progressos na sua responsabilidade social; d) Experimenta diferentes abordagens para medir o seu desempenho social; e) Procura avaliar os custos dos programas sociais e o retorno dos investimentos em programas sociais Assistimos também a uma emergente preocupação com as questões ambientais, conforme indica Oliveira (2008 p.23) principalmente depois da publicação do Relatório final da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ou Comissão Brundtland, denominado “Nosso Futuro Comum” e que foi publicado em 1987. A principal contribuição desse relatório foi chegar à conclusão de que “crescimento econômico e proteção ambiental não são incompatíveis”, e que é preciso colocar na mesa de discussões “a pobreza e as questões sociais, e não só as econômicas”. Assim como “devemos levar em conta as consequências das nossas ações, não só para a geração atual, mas também para as gerações futuras”. Pode-se deduzir então que “a responsabilidade social, é convergente com as estratégias de sustentabilidade de longo prazo e incluem a necessária preocupação dos efeitos das atividades desenvolvidas”. (ANDRADE e TACHIZAWA, 2008, p.29). Neste sentido, aliada aos negócios, o encontro entre ambas, podem formar um elo, e assim, estas duas correntes integradas sob uma postura ética, resultam em vantagem competitiva. Reafirmando o anteriormente exposto, quando a empresa é socialmente responsável a sua imagem perante o público interno e externo torna-se positiva favorecendo a vantagem competitiva a longo prazo. Neto e Froes (2001, p.40) frisam que “o exercício da responsabilidade social é orientada para a melhoria da imagem institucional da empresa. O que se traduz na melhoria da sua reputação”. Nessa perspectiva, Bueno et al,(2002) defende que a empresa pode atuar em quatro esferas quanto aos problemas sociais: qualidade de vida, capacitação pessoal, convivência 10 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 pessoal e sobrevivência. Assim, atuando em uma destas, a empresa já estará associando a sua imagem à preocupação com a sociedade, igualmente, definindo o seu foco estratégico concernente à responsabilidade social. A responsabilidade social é essencial para que de fato o Brasil seja um país de todos e não concentrado somente em mãos de uma minoria detentora dos efeitos positivos da globalização, portanto as organizações têm destaque chave para essa realização. 3 METODOLOGIA DA PESQUISA A abordagem da pesquisa foi de natureza qualitativa e utilizou a classificação proposta por Vergara (2004). a) Quanto aos fins foi descritiva, porque expôs características de determinada população ou determinado fenômeno, sem compromisso de explicá-los, ainda que sirva de base para tal explicação. b) Quanto aos meios investigatórios: empregou-se um estudo de caso circunscrito a uma única empresa estudada em detalhe; ao mesmo tempo foi pesquisa de campo, bibliográfica e documental. O participante da pesquisa foi o consultor-coordenador do núcleo de RS da empresa pesquisada e objeto do estudo. A escolha se justifica pelo fato de ser ele o coordenador, onde parte do fenômeno ocorre, assim pressupõe ser o sujeito habilitado como informante-chave a fornecer os dados precisos ou parte. Com base na orientação de Yin (2005) que aponta a relevância do “informante-chave”. Por outro lado é importante frisar a indisponibilidade de outros participantes na contribuição da pesquisa. O instrumento de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada em profundidade que recebeu tratamento qualitativo. 4 Caracterização da Organização Por questões éticas a razão social da empresa foi mantida em sigilo. Trata-se de uma indústria alimentar, de origem e administração familiar, localizada no Município de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense do RJ. Sua fundação foi em 1951, mas foi em 1963, com um novo controle acionário, ampliação das suas instalações que a empresa adotou uma nova razão social, que atualmente figura e originou a marca de seus produtos. 11 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Por volta de 1999, a sua presidência passou por nova direção. A partir de então, conta com uma presença feminina, atenta a novos projetos sociais e de qualidade de vida no trabalho. O parque industrial ocupa 40 mil m2 com refinarias, divisão de caldeiras, silos e galpões. Com atividades de beneficiamento, embalagem e distribuição de gêneros alimentícios em geral, extração e comércio de óleos vegetais, armazenamento dos produtos e fabricação de alimentos para animais o que soma mais de 85 produtos diferentes. Seu corpo funcional totaliza aproximadamente 560 colaboradores, os quais 10% feminino e 90% masculino. Seus produtos chegam ao consumidor final através dos pequenos e grandes mercados em geral. Seus fornecedores de matéria prima concentram-se nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, todavia importa alguns produtos da Argentina, Portugal, Canadá, Chile e EUA. 5 Resultados da Pesquisa Neste item apresentam-se as informações obtidas por meio da entrevista com o Consultor de responsabilidade social e a partir da análise de documentos da empresa, confrontar as mesmas com a literatura sobre responsabilidade social e estratégia empresarial, buscando relações e evidências que possibilitem afirmar se as ações de caráter social desenvolvidas pela empresa voltadas para seu público interno e externo podem ou não ser caracterizadas como estratégicas e, consequentemente, ações de responsabilidade social corporativa, em sentido restrito. 5.1 Fase I de ações filantrópicas (de 1951 até 2005) Desde a fundação em 1951 até 2005, a empresa apoiou a comunidade com doações voluntárias, ações sociais do tipo, pontuais, sem gerenciamento, sem coletividade no sentido de prestar assistência às solicitações da comunidade local e exclusa dos negócios empresariais, o atendimento partia de setores não definidos. Tais práticas são ações sociais que segundo Melo Neto e Froes (2001, p.28) São caracterizados como ações filantrópicas, e não correspondem com programas de ações de responsabilidade social empresarial. O Quadro 3 evidencia a relação desta diferença, conforme explicação dos autores. Quadro 3: Caracterização de Filantropia e Responsabilidade Social na empresa pesquisada Ações sociais Filantropia Responsabilidade 12 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 praticadas Social Pela empresa Fase I (até 2005) Ações pontuais, com baixa coletividade. Ação individual e voluntária Ação coletiva Voluntária sem foco nos negócios Fomento da caridade Fomento da cidadania Base assistencialista sem visão estratégica Base assistencialista Base estratégica Restrita a empresários Extensiva a todos Voltada à comunidade filantrópicos e abnegados Sem sistematização e setor definido Prescinde de gerenciamento Decisão individual- sem parceria formal Decisão individual Demanda gerenciamento Decisão consensual Fonte: Elaborado a partir de MELO NETO e FROES (2001, p.28) 5.2 Fase II das mudanças e adequações (Março de 2005 até hoje) Consolidada no Estado (RJ) em 2005, a empresa decide expandir seus negócios a nível nacional. O que faz redefinir o seu planejamento estratégico, aumentando a importância atribuída ao bem-estar de seus colaboradores e das comunidades de seu entorno em seu planejamento geral. O Setor produtivo recebeu novos investimentos em segurança do trabalho e também ações voltadas para o público externo foram privilegiadas. Diante desta perspectiva formalizou no início de 2006 um novo setor em suas dependências, o Núcleo de Responsabilidade Social, coordenado por profissional externo, para desenvolver e coordenar os projetos sociais da empresa, que até então se restringiam a ações pontuais, caracterizadas como filantrópicas. Passou então a um gerenciamento e sistematização das ações. Porquanto, a empresa estabelece novas diretrizes a partir de uma nova visão, declara então, sua missão incluindo na mesma o seu exercício e compromisso com a responsabilidade socioambiental, conforme mencionou na entrevista o consultor coordenador do núcleo de RS da empresa. “Do ponto de vista estratégico, a empresa percebeu a sua importância para a comunidade local. Existia uma demanda muito grande na parte social da comunidade com a empresa, formou-se assim, um núcleo para atender esta demanda, formalizar parcerias e fortalecer este trabalho”. Em consonância com esse novo olhar a empresa redefiniu sua missão e sua visão da seguinte maneira: 13 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Declaração de Missão: Desenvolver e fornecer produtos de qualidade priorizando a satisfação do consumidor, assegurando a rentabilidade, sempre com base em princípios éticos e de responsabilidade socioambiental. Declaração de Visão de 2008 a 2013: Ser líder atuante em âmbito nacional, referência em qualidade de produtos, serviços e excelência em gestão, inovando em tecnologia e desenvolvendo novos produtos e mercados. No intuito de atender as necessidades mais prementes do seu publico interno, primeiro a ser atendido nesta nova concepção da RSE, são relevantes as palavras do entrevistado. “Identificamos um ponto crítico com os funcionários que foi a questão educação, após identificamos outro ponto crítico que foi a questão do lazer e cultura, o ponto de partida em RS foi com o público interno, onde o primeiro projeto foi “O classe anexa” em parceria com o SESI.” “O classe anexa” é um programa de ensino básico, administrado pelo SESI, e aplicado nas dependências na empresa após o expediente, os funcionários têm aulas de educação básica. Vale ressaltar, que o programa classe anexa, assim como, os programas de lazer, foram programas implantados após ter feito uma pesquisa com os funcionários o lazer foi apontado por eles. O que evidencia uma demanda gerenciada, fomento de cidadania e decisão consensual, representando assim caracteres práticos de responsabilidade social. 5.3 Programas Sociais desenvolvidos pela empresa a) Público Interno Em consonância com a necessidade de atender primeiro as necessidades dos seus funcionários, a empresa desenvolveu uma serie de projetos que são citados a seguir: Curso de inglês e informática, Graduação e Pós-Graduação; Programas de Qualidade de Vida no Trabalho, Saúde e Beleza Corporativa; Shiatsu, Acupuntura; Massoterapia; Ginástica Laboral; Convênios com clínicas de assistência médica e odontológica; Lazer e Esporte, Eventos Culturais e Festivos, Coral na empresa, Integrando (evento de reunião descontraída interna, onde os colaboradores expõem opiniões e participam dos acontecimentos dos negócios da empresa); Preparação para aposentadoria, (nesta fase do colaborador, a empresa disponibiliza um serviço de acompanhamento e orientação). Após iniciar as mudanças internas, a empresa se volta para a comunidade, no sentido de buscar uma adequação pautada em uma responsabilidade social formalizada. b) público externo; 14 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 a1) Banco Rio de Alimentos - doações mensais de alimentos, com objetivo de erradicar a fome. É realizado em parceria com o SENAC e também é vinculado ao Programa Fome Zero do governo, a2) Projeto educacional nas Escolas – Projeto Alimentação Equilibrada, voltado para Educação infantil – Objetivo assegurar uma geração futura saudável, realizado em parceria com escolas da região, com oficinas e palestras educativas. A escola disponibiliza o espaço, onde as nutricionistas da empresa realizam todo o trabalho. a3) Programa Nacional do Excepcional – A empresa disponibiliza recursos financeiros para o evento que ocorre anualmente e faz parte da Comissão organizadora, incluindo outras empresas da região e órgãos do governo em parceria com a APAE- Nova Iguaçu, promotora do evento, a4) Programa Educacional de combate ao desperdício – o mais recente e realizado em parceria com o SESI. É realizado com profissionais de cozinha, visando o aproveitamento integral dos alimentos; Entre outros programas há também doações de alimentos, de recursos financeiros a hospital, assistência jurídica, a saber todos de caráter contínuo. Os Programas para este público também passaram por inovações com a implantação do Núcleo de Responsabilidade Social. Em 2008, foram realizadas parcerias com ONGs e entidades educacionais, dando início a novos projetos. O foco principal desses projetos foi a segurança alimentar e o combate à fome para o público infantil. 5.4 Valores e Transparência Os valores e transparência da empresa pesquisada, podem ser entendidos mediante publicação de seu Balanço Social, a partir de 2007 sob padrões do IBASE. No que tange a relacionamento, comunicação e gestão participativa, existe um programa “Integrando” baseado em descontração e sociabilidade, com finalidade de ouvir as sugestões dos funcionários e repassar informações da organização aos mesmos. Também por pesquisa, em necessidade individual, há liberdade de acesso direto à presidência, quadro mural, boletim mensal, na comunidade e mais parcerias com reuniões semanais, onde há um feedback continuo de avaliação dos projetos, Conforme descrições acima, é notórias a presença do acompanhamento, avaliação e a decisão consensual, caracterizando assim a responsabilidade social, o que é contrário à filantropia. Por outro lado até o momento da entrevista, o código de ética, segundo as palavras do entrevistado, estava em processo de formação. 15 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Outro dado relevante é que o índice de rotatividade na empresa é baixíssimo, tem funcionário com 39, 14 anos de tempo na empresa, como consta no boletim informativo interno. O que pode ser um motivo de satisfação, como sendo firmado um contrato psicológico. Em relação à contratação de pessoas com deficiência, mesmo antes da regulamentação da lei que torna obrigatório a contratação de um percentual mínimo de deficientes físicos, a empresa já incentivava a sua contratação. 5.5 Cuidados com o meio ambiente A empresa possui coleta seletiva: de resíduos sólidos, do óleo da cozinha do restaurante interno e lixo industrial, com destinação correta feita por cooperativas e instituições credenciadas pelo Instituto Estadual do Ambiente, reciclagem de refugos (transformação do refugo do milho em ração animal), até então, antes era vendido, a partir de 2003 a empresa diversificou os seus produtos e criou uma nova linha de produtos em outro segmento (animal). 5.6 Certificação A empresa recebeu em 2006 a certificação de Empresa-Cidadã Regional de Contabilidade assim como o pelo Conselho Prêmio Sesi de QVT em 2007. Quanto às certificações, a empresa ainda não possui a certificação ISO e os demais certificados de RSE, embora o entrevistado reconheça a sua importância. “A empresa tem a referência e os requisitos; a certificação com a ISO é complexo, é preciso um alto investimento, mas, eu considero importante a certificação para a empresa” 5.7 Características gerais da Responsabilidade Social Corporativa na empresa pesquisada Com base na literatura apresentada por Melo Neto e Froes (2001, p.28) foram identificadas as seguintes características para um comportamento responsavelmente social: Ação Coletiva, Fomento da cidadania, Base estratégica, Demanda por gerenciamento, decisão consensual. Os autores incluem também a característica “extensão a todos”, esta última a empresa ainda precisa incluir com maior abrangência, ou seja, precisa definir políticas e metas em sua cadeia de valores quanto às práticas das ações sociais. 16 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Ainda, identificou-se as seguintes características, seguindo os critérios propostos por Melo Neto e Brennand (2004,p.8) no relacionado a: Ética – Em primeiro lugar é preciso definir, explicitar e divulgar os “princípios éticos” e postos em pratica pela empresa em todas as atividades e esferas de atuação. A questão encontra-se em andamento, percebe-se face colocações e observações diversas, tratar-se de uma empresa com postura ética. Educativa – Já demonstrada tal qualidade anteriormente, com os programas para o público interno. Sustentável – Andrade e Tachizawa (2008, p.20) Frisam que “a responsabilidade social converge com estratégias de sustentabilidade de longo prazo e incluem a necessária preocupação dos efeitos das atividades desenvolvidas no contexto da comunidade em que se inserem as empresas.” A empresa pertence a um setor econômico com baixo impacto negativo ao meio ambiente. Porém não se exclui desta questão, haja vista que utiliza os recursos naturais. Mas como foi explicitado no decorrer do artigo, não só contribui ao ambiente como cuida dos recursos naturais, o maior entre todos, que é o homem em seu ambiente de trabalho. O projeto nas escolas e outros que direcionam. 5.14 Tipos de Responsabilidade social da empresa Foram identificadas as quatro faces da RSE indicadas por Carrol (vide p.3): Responsabilidade econômica – preocupação o resultado, qualidade e diversificação dos seus produtos, Responsabilide Legal – Evidências de bom relacionamento e cumprimento legal, Responsabilidade Ética - posição de respeito, atuação correta atenta ao que deve ou não fazer. Discricionária ou Filantrópica – no sentido de prover, como atender a comunidade com uma qualidade de vida sustentável. Pode-se ainda identificar a presença das três características do modelo de gestão social pontuadas por Melo Neto e Brennand (2004) : regularidade, intensidade e qualidade Na perspectiva de Martinelli (1997) o mesmo que estabelece três estágios classificatórios, quanto à atuação empresarial, a análise das informações obtidas sugere que a empresa pesquisada encontra-se no segundo estágio, sendo uma Organização Social, aproximando-se do terceiro que é o de Empresa-Cidadã. Para que a empresa possa ser classificada no terceiro estágio, existem algumas lacunas a preencher, como uma atuação mais ampla na formalização de políticas e compromissos mais abrangentes, multiplicação em cadeia, elaboração participativa do código de ética (o que está em andamento). Como empresa-cidadã, Neto e Froes (1999) ressalvam que a organização extrapola a comunidade e 17 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 já atinge a sociedade como um todo. O que é relevante, pois ainda são recentes as mudanças na empresa, entretanto, parece que o seu caminhar é a passos largos. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se afirmar que os programas sociais desenvolvidos pela empresa pesquisada estão integrados estrategicamente aos negócios empresariais e que as ações sociais praticadas, conforme fundamentação teórica, a colocam muito perto de uma empresa-cidadã, todavia necessita ampliar mais as ramificações por sua cadeia de valores, assim como definir políticas e compromissos socioambientais com os demais stakeholders, multiplicando assim valores e práticas, finalidade principal da responsabilidade social para um desenvolvimento sustentável. A pesquisa apontou que a empresa passou recentemente por um período de mudanças, uma vez que até ano de 2005, a mesma praticava ações voluntariamente, caracterizadas filantrópicas. Está nova mudança fez com que a empresa com uma nova missão e visão, definisse novas diretrizes e políticas e passou por todo um processo de adequação e formalizou assim o seu comportamento socialmente responsável e implantou o Núcleo de Responsabilidade Social na coordenação das ações sociais, com objetivo de incluir tais práticas nos seus negócios integradas assim aos seus objetivos. Quanto ao tipo classificatório de responsabilidades sociais, exercidas pela empresa, foi possível identificar as quatro categorias defendidas por Carrol (1979) as responsabilidades econômicas, legal, ética e discricionária constituindo assim a responsabilidade social corporativa, a defendida por Melo Neto e Froes (1999) referente ao público interno e externo e também as três características determinantes para um modelo de gestão social empresarial sugerida por Melo Neto e Brennand (2004): regularidade, intensidade e qualidade. O elo entre a responsabilidade social e a estratégia sob uma postura ética conduz, em longo prazo, o ganho de vantagem competitiva como é defendido pelos autores e por outro lado contribuirá para o desenvolvimento social e econômico, reduzindo as desigualdades sociais, que é tão imperativa na sociedade brasileira. Como sugestões para futuras pesquisas pode-se propor a necessidade de pesquisar como motivar o comportamento ético corporativo para a prática de uma responsabilidade social corporativa, partindo do pressuposto que na falta de uma a outra inexiste. Por fim, deixar registrado que é um imperativo para as organizações exercitar a sua cidadania corporativa, o que implica que as empresas, assim como os cidadãos, têm deveres e direitos para com a sociedade e os devem cumprir y respeitar para diminuir as grandes desigualdades vivenciadas na sociedade brasileira. 18 VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011 Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, Lindolfo Galvão de. A gestão estratégica de pessoas. In: Fleury, Maria Teresa Leme (Coord). As pessoas na Organização. São Paulo: Editora Gente, 2002. ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; TACHIZAWA, Takeshy. Gestão Socioambiental: Estratégias na nova era da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. ASHLEY, Patrícia A. (Coord.). Ética e responsabilidade social nos negócios. 2 ed. SP: Saraiva 2005. ASHLEY, P. A; COUTINHO, R. B. G.; TOMEI, P.A. Responsabilidade social corporativa e cidadania Empresarial: uma análise conceitual comparativa. Setembro 2000. 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