Nome: ___________________________________________________ _______________________________________________ N.º ______ 8º ano A do Ensino Fundamental. Praia Grande, _____ de outubro de 2015. Profª Vivian Intervenções e performances efêmeros “A arte não cabe, ela sempre vai além” MOTTA, Flávio. Textos informes. São Paulo, 1973, p70 1 - Arte e ecologia Atualmente muitas pessoas estão preocupadas em equilibrar a relação do ser humano com o meio ambiente, diminuindo graves consequências que a exploração dos recursos naturais pela sociedade vem causando no planeta Terra, como o aquecimento global, a poluição dos rios e o desmatamento de grandes florestas. Nas últimas décadas muitos artistas estão chamando atenção da sociedade para os ricos da destruição da natureza. Assim, em vez de utilizar materiais convencionais, como a tela e o pincel, esses artistas, utilizam escavadeiras e tratadores para remover a areia de um deserto e formar grandes fendas, ou colocar pedras em um lago e criar uma grande forma espiral. Apesar de serem tridimensionais, muitas dessas obras não podem ser chamadas de esculturas. Elas foram denominadas arte da terra. Essa manifestação prevê o respeito ao habitat natural dos materiais empregados, já que os artistas trabalham com os elementos naturais no ambiente onde são encontrados. Essas obras de confundem também com grandes instalações, de certa maneira, já que permitem a participação e a presença do público nos locais. Christo Vladimirov Javacheff (1935) e sua esposa, Jeanne-Claude (1935), realizam projetos de intervenção na paisagem. Nesse trabalho de 1983, eles circundaram onze ilhas da região de Miami, com mais de seiscentos mil metros quadrados de um tecido cor de rosa, cobrindo a superfície da água. Durante duas semanas o tecido flutuou numa extensão de 61 metros, a partir de cada ilha. A ideia do trabalho era chamar atenção do público para as formas da paisagem. Surround islands (“Ilhas Rodeadas”), de Christo Vladimirov Javacheff, 1983. Baia de Biscayne, Miami Em 1991, duas intervenções na paisagem puderam ser vistas simultaneamente: uma nos Estados Unidos e outra no Japão. Eles instaram 1340 guarda-sóis azuis, com mais de seis metros de diâmetro, em Ibaraki, no Japão,1760 guarda-sóis amarelos do mesmo tamanho em um imenso vale da Califórnia, no Estados Unidos. No Japão, eles foram dispostos muito próximos um dos outros e, por vezes, organizados de acordo com o percurso geométrico dos campos cultivados. Na Califórnia foram espalhados em todas as direções, em um terreno não cultivado, no qual as montanhas eram cobertas por uma vegetação também cor amarelada. Ao produzirem essa obra, os artistas enfatizaram as diferenças no modo de vida e na forma de utilização da terra nas duas regiões do planeta. Os guarda sóis, Vista aérea de parte do projeto ecológico com 3100 guarda sois abertos, perto de Gorman, Califórnia, 1991 O artista americano Robert Smithson (1938-1973) foi um dos pioneiros da arte da terra. Ele se interessou por realizar grandes intervenções na natureza e criou diversos projetos, como este quebra-mar em forma de espiral. Algumas das suas ideias, como a de uma ilha artificial que navegasse ao redor da cidade de Nova York, só puderam ser construídas após a sua morte. Quebra mar espiral, de Robert Smithson, 1970. Barro, pedras, cristais de sal e tubos de água em forma de serpentina. A espiral mede 4,5m de largura e tem aproximadamente 450 metros de comprimentos. Great Salt Lake, Utah. O artista inglês Andy Goldsworthy costuma trabalhar com o que está disponível na natureza. Durante o outono utiliza folhas secas caídas das arvores empilhando grande quantidade delas para formas desenhos. No inverno faz esculturas com neve. Tem uma obra bem peculiar de trabalhar: ele faz montagens utilizando materiais naturais, como folhas, galhos pedras e gelo. Depois de passar horas trabalhando, ele registra suas montagens por meio da fotografia, pois seu trabalho dura pouco tempo. As folhas, as pedras, os galhos e o gelo com os quais o artista faz suas montagens nos parques aos poucos retornam à desorganização habitual do mundo natural. As fotos são expostas e comercializadas. Fatia de neve, de Andy Goldsworthy, 1987. Instalação com neve e pedaços finos de bambu. Izumi Mura, Japão O artista polonês nascido em 1921, veio para o Brasil em 1948 e naturalizouse brasileiro. O artista viaja pelo Brasil fotografando e recolhendo restos de madeira provenientes de queimadas. Posteriormente ele trabalha com esse material, cortando, tingindo e reorganizando os galhos e troncos de arvores, para criar as suas esculturas. Sem título, de Frans Krajcberg, 1992. Madeira queimada e pigmento natural, 300X900cm. Fundação Frans Krajcberg, Jardim Botânico, Curitiba. - Arte efêmera nas cidades Feitas de gelo, as esculturas possuem no máximo de 20 cm de altura, e as figuras representadas não tem rosto definidos. Com seu monumento mínimo, Néle busca representar o inverso daquilo que entendemos por monumento: no lugar de grandes esculturas, esculturas bem pequenininhas. Em vez de obras de arte que servem para homenagear um herói, uma autoridade, Néle homenageia o homem comum, que enfrenta com coragem o seu dia a dia. No lugar da dureza da pedra, do metal, ela usa a fragilidade do gelo, que derrete devagarinho... frágil também como a vida humana. Além disso, Néle busca colocar suas pequenas esculturas no chão das cidades, o palco da nossa história, o palco dos cidadãos comuns. Monumento Mínimo, Néle Azevedo (1951) Arte efêmera: muitas obras existem somente por um tempo determinado. São obras passageiras. Mesmo que sejam novamente feitas em outros lugares, provavelmente irão gerar novas impressões no público, já que o ambiente e as relações com a vida, com o cotidiano influenciam a percepção de quem toma contato com elas. O que sobra de uma obra efêmera, em sua totalidade são registros. Só é possível ter uma ideia por meio de fotografias, textos ou vídeos, de como foi vivenciá-la pessoalmente. Muitos artistas utilizam ainda materiais perecíveis, que só duram o tempo da obra, às vezes precisam ser substituídos se ela for refeita. 2 – Linguagens que se misturam A arte pode ir além dos limites e definições. Ela está sempre mudando e nos surpreendendo. No início do século XX, muitas pessoas se escandalizavam com as novas formas que os artistas inventavam para apresentar suas ideias. Hoje, vive-se em uma sociedade que está em permanente mudança e as pessoas se acostumaram a conviver com as novidades. A arte não consegue mais nos surpreende, mesmo assim, diante de algumas obras o público pode perguntar: isto é arte? Desde a pré-história, muitos rituais religiosos envolviam algum tipo de pintura corporal, dança ou encenação, com a participação de toda a comunidade. Com o tempo, na civilização ocidental, as diferentes formas de expressão artística passaram a ser realizadas separadamente, divididas em categorias: teatro, dança, poesia, pintura e música. A partir da década de 1960, esse tipo de representação, em que o artista usa o próprio corpo como parte de uma ação artística, recebeu o nome de performance, termo inglês que quer dizer “atuação em sequência de gestos ou atitudes desenvolvidas pelo artista” performances: atividades nas quais o artista usa o próprio corpo como elementos principal de expressão. Inspiramse especialmente no teatro e muitas vezes incluem dança, música e poesia e projeção de imagens. Começou a ser praticada em 1970, com a produção das instalações, realizando uma arte até então considerada experimental. Esta foto registra uma das primeiras performances feitas no Brasil. Em 1956, o artista plástico Flávio de Carvalho (18991973) saiu andando pelo centro da cidade de São Paulo vestido com este traje que ele chamou de New Look, uma roupa para o “novo homem dos trópicos”. Era uma proposta para substituir o terno, que é tão pouco adequado ao clima de nosso país, mas naquela época, obrigatório nas cidades. Você pode imaginar a confusão que deu nas ruas? Foto de Flávio de Carvalho desfilando pelas ruas de São Paulo em 1956 com o modelo da roupa New Look A performance é diferente do teatro, em que existe uma história a ser contada, e distingue-se também da dança, em que o movimento do corpo está diretamente relacionado à música. A performance pode ser muitas coisas: uma ação que envolve um texto ou apenas sons, objetos em movimento e projeções. Pode também envolver a participação do público ou ser uma intervenção totalmente surpreendente. O artista brasileiro Hélio Oiticica propôs, nos anos 1960, ambientes que podiam ser percorridos pelos espectadores. Em 1964, criou os “parangolés”, espécie de capas que podiam ser vestidas pelo público. O parangolé não existe como objeto; ele só existe quando é usado por alguém que dança ao som de uma música. Dessa forma, o artista reuniu neste trabalho elementos como tecido, cor, música, dança, buscando aproximar a obra e o espectador. Péricles de Araújo Fortunato com Parangolé (feito com panos coloridos), de Hélio Oiticica, 1965. Museu de Arte Contemporânea. - Proposição e participação – Por que o público é chamado a participar da arte? Por muito tempo a arte ocidental desenvolveu-se a partir da separação entre o público, a obra de arte e o artista. Com características específicas, definiram-se espaços para cada linguagem. A partir de 1960 essa relação entre a arte e o público começou a ser questionada e a arte passou a ser pensada como algo integrado à vida. Esse conceito pode ser entendido em vários sentidos. Muitos artistas não queriam mais a arte restrita ao espaço dos museus, aos teatros e as salas de concerto. A arte passa a ser pensada como a própria vida, do mundo, acontecendo em lugares comuns, não tradicionais, e convidando o público a fazer parte da obra. Essas novas propostas em arte aconteceram em vários lugares do mundo mais ou menos ao mesmo tempo. Lygia Clark (1920-1988) foi uma das primeiras artistas brasileiras a propor obras que convidavam o público à interação. Assim partiu de uma produção bidimensional, abstrata e geométrica, chegando a propostas em que o objeto se desloca do seu espaço tradicional (o quadro, a parede) para o espaço tridimensional. Mas isso não ocorre como na criação de esculturas, e sim de objetos manipuláveis. No contato e interação com Bicho, as pessoas podem criar suas próprias formas, fazendo da obra de arte também um resultado de sua participação. Seu nome Bicho, nesse sentido, é sugestivo de uma atitude mais orgânica, mais próxima da vida e mais distante dos objetos inanimados que são os quadros. Esse processo de rompimento com o quadro bidimensional, preso na parede muitas vezes é chamado de “quebra de moldura”, ou seja, romper com aquilo que isola a obra de arte da relação direta com o público e o espaço. - FlashMob – É oriundo do happening, traduzida do inglês “acontecimento”, termo criado por Allan Kapro, para destacar um tipo de ação artística flexível, em que a espontaneidade e o acaso são assumidos pela obra. Os artistas costumam propor uma ação ou instrução, e contam com o público para executá-la, deixando em aberto quando a ação irá terminar. O flashmob é uma manifestação conhecida dos espaços públicos e urbanos, que reúne pessoas a fim de realizar uma ação coletiva, inusitada, previamente organizada e/ou ensaiada. Podem ou não ter viés crítico, político, ou simplesmente reunir e agrupar pessoas com interesses e situações de interesses sociais/comemorativos. Referências Bibliográficas: BRIOSCHI, Gabriela. Arte hoje. São Paulo: FTD, 2003. FRENDA, Perla. Arte e interação. São Paulo: IBEP, 2013. MEIRA, Béa. Projeto RADIX: Arte/9ºano. São Paulo: Scipione, 2009. POUGY, Eliana. Todas as artes. São Paulo: Ática, 2011.