PROGRAMA DE ESTUDOS DO PORTUGUÊS POPULAR DE SALVADOR – PEPP
INQ Nº 16 – Homem – idade: 70 anos – Escolaridade: 2º Grau
DOCUMENTADOR: NORMA LOPES
DATA: 14/11/1999
TRANSCRIÇÃO: Alessandra Fontoura
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DOC : Pois é, então o nosso assunto eu já conversei com o senhor que é sobre educação, eu
queria que primeiro o senhor dissesse mais ou menos como o senhor era quando
criança, muito pintão?
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Razoavelmente pintão.
DOC : É, como era?
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Briguento.
DOC : É?
16:
É, de fazer futebol no meio da rua...
DOC : Hum, as brincadeiras eram exatamente na rua, como eram? Diga mais ou menos
como era?
16:
É, normalmente, normalmente na rua, era, era futebol, era, era corrida, tudo na, na
rua, jogo de bola de gude, etc...
DOC : É, sim tudo aqui mesmo no bairro onde o senhor morava.
16:
Na Estrada da Rainha.
DOC : Hum.
16:
Aqui na Baixa de Quintas né.
DOC : Sim, e hoje as crianças tem mais ou menos as mesmas brincadeiras que o senhor?
16:
Não, as brincadeiras já foram extintas, acabaram, não existem mais não, as
brincadeiras hoje é, é outro, outro tipo de brincadeira, hoje mesmo não tem aquela
brincadeira sadia, inocente que a gente brincava né.
DOC : Hum, sim e o que é que o senhor acha da, o senhor falou que agora não são tão
inocentes, mas como eram essa história da inocência? Descreva mais ou menos a
diferença.
16:
É, a gente brincava, empina arraia, jogava bola de gude né, fazia bola de, de meia,
meia né pra jogar, hoje não, hoje nego quer jogar dominó, brigar essas coisas assim
né, não é um troço tão puro como era antes
DOC : Hum, sim mas as crianças pequenas, as menores, como eram as brincadeiras, como
são...
16:
O que é que você fala de menores?
DOC : As brincadeiras dos meninos menores?
16:
Em que, em que faixa de idade você chama de menores?
DOC : Assim como, correspondente ao primário por exemplo, é somente também assim de
brigas hoje?
DOC2 :Meninos de até dez anos.
16:
Até os dez anos mais ou menos, normalmente esse pessoal só pensa hoje em brigar,
é brigar e formar gang né, formar blocos, blocos pra briga que...
DOC : Hum.
DOC2 :Já com dez anos já fazem isso?
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Já fazem sim, fazem o, o, pessoal, pessoal briga um bloco com o outro aí, essas
briguinhas bestas né, não é....
DOC : É, de menino.
16:
Briga mais violenta não.
DOC : Sim, e por que é que o senhor acha que o senhor acha que os meninos estão tão
diferentes de antes? O que é que está levando essa mudança na sua opinião?
16:
Eu acho que a, a própria estrutura né, é a evolução dos tempos né, a própria, a
própria televisão né, está desenvolvendo muitas coisas que as, as pessoas não
sabiam, até como matar, como se livrar da perseguição, tudo isso a própria televisão
ensina, a televisão.
DOC : Então a televisão ao mesmo tempo ensina o bom...
16:
Mas instrui também.
DOC : Instrui pra exatamente essa questão da violência.
16:
Instrui...
DOC2 :Instrui pro mau.
16:
E orienta pra, orienta, você vê, você vê cada filme aí pesadíssimo, você criança de
dez anos assistindo cenas de sexo em plena televisão que as vezes nem, nem sabe o
que é aquilo e aí passa a despertar, a maldade que...
DOC : Mesmo em programas infantis não é?
16:
Mesmo em programas infantis tem, eu acho impressionante.
DOC : É, e a educação mesmo antiga, antes, na, antiga e a de hoje será que também não
contribuiu pra esses meninos serem diferentes hoje?
16:
Eu acho que sim.
DOC : Como era?
16:
Existia mais o respeito pelos professores antigamente, professores tinham
autoridade entendeu? Professores tinham autoridade, deixe que ela atende lá
dentro...
DOC : Hum.
16:
Entendeu? Eh, antes de começar as aulas se, se cantava o hino nacional, hoje
dificilmente você...
DOC : É verdade.
16:
Vai encontrar, você vai encontrar um aluno que saiba o hino nacional completo, não
é?
DOC : É verdade.
16:
As vezes quando é uma, um colégio de freiras você tinha que rezar, eh, antes de
almoçar você tinha que rezar não é? Antes de dormir, hoje dificilmente você
encontra quem faça isso.
DOC : É, e em casa será também que as coisas não mudaram?
16:
Mudaram muito, mudaram muito.
DOC : Como era antes em casa?
16:
Assim você, tinha os pais, que você respeita os seus pais, você não dizia um
palavrão na vista de seu pai, você não puxava um cigarro pra acender na frente de seu
pai, hoje não, hoje está tudo liberado.
DOC : Então tinha mais respeito?
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É, respeito, hoje não, hoje você, pode estar o seu pai aí, você está se chupando ali, se
beijando com o namorado, você como pai e como mãe é que tem que virar a cara
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porque o negócio está tão, oh, é, você é que tem que virar a cara porque filho não
está nem aí.
DOC : Mas por que é que eles são assim hoje?
16:
Acho que é, é, eu não sei nem dizer se eles perderam o pudor, você vê que
antigamente pra se usar um, um maiô era uma coisa que nego fala, hoje nego olha,
usa biquíni, usa cordão...
DOC : Cheiroso né?
16:
Cheiroso, aquele negócio assim, um negócio sério, perdeu o controle da moralidade.
DOC : É, será que também a educação, a televisão deve ter ajudado nisso né?
16:
Ajudou também, em parte sim, e também a evolução né? A evolução.
DOC : É, as roupas de praia, o senhor falou em maiô e biquíni, aqui...
16:
Maiô, antigamente quando se botava um maiô todo mundo ficava olhando, hoje não,
hoje é biquíni, é cordão cheiroso, é, as vezes é até sem nada.
DOC : (risos) Praias de nudismo.
16:
Praia de nudismo, tem, isso é normal, todo mundo passa...
DOC : É isso mesmo.
DOC2 :O senhor falou a respeito de que hoje os meninos ficam fumando na frente dos pais,
o senhor fuma né?
16:
Eu fumo.
DOC : Na época que o senhor começou a fumar...
16:
Eu escondia...
DOC : Fumava na frente dos pais?
16:
Não, eu escondia, eu escondia o cigarro no bolso, as vezes queimava até o bolso
quando coincidia meu pai me ver fumando, metia no bolso assim, escondia, botava a
mão pra trás, eles as vezes percebia que eu estava fumando porque a fumaça não
esconde né, fumaça, (...inint...) fumaça, começa a subir o cheiro, eu me lembro que
ele chegou uma vez disse, “olhe meu filho”, eu tinha o que, dezessete anos, “olhe
meu filho, não precisa esconder o cigarro não, pode fumar a vontade agora não
presta viu, se você quiser deixar, por mim você deixa, mas que presta não presta,
(...inint...) não precisa se esconder cigarro não”, eu passei se eu fumava digamos
cinco cigarros, eu passei a fumar um ou dois, diminui, por que? Porque encontrei a
liberdade, né, é a mesma coisa se você hoje liberar a maconha quem fuma quatro,
quatro cigarros ou cinco escondido porque é proibido, talvez até fume um ou talvez
até nenhum, e tudo que é proibido nego quer insistir em usar.
DOC : Então a repressão de antigamente né?
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A repressão prejudica sim.
DOC : Havia muita repressão.
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Muita repressão, muita repressão.
DOC : Em sua casa as pessoas reprimiam muito?
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Sim.
DOC : O que é que era reprimido?
16:
Meu pai por exemplo era um re, um opressor, quase todo, ele não admitia que a filha
saísse eh, sete horas da noite sozinha, nego sai, aqui minha neta sai dez horas volta
quatro da manhã, normal, tudo normal, está entendendo?
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DOC : Hum, é, e a, a, hoje não existe essa repressão, mas a violência lá fora também de
alguma forma não reprime a gente? Que a vida é mais violenta né, os pais tem mais
medo?
16:
Eu não entendi bem a pergunta.
DOC : Hoje a, a educação é mais livre não é, mas a violência lá fora também nos abriga a
ficar mais contidos com medo de ir lá pra, pra, não acha que não?
16:
Eu acho que não, você vê aí, você vai num, num sambão ou num pagode, você vai
num reggae, ou não sei o que, quanta gente ali, começa dez horas, vai até quatro,
cinco da manhã, não estão nem aí pra violência, eu não acho que isso influenciou
nada não, que, o que tem que ser feito eles fazem, o que o jovem tem que fazer não
adianta você dizer, “olhe, não vá, nego está matando aí por, só porque você olhou
atravessado nego está matando”, (...inint...) não.
DOC2 :O senhor falou em repressão de sua família, nesse, nessa situação de repressão os
seus pais chegavam a castigar alguma vez? Ou algumas vezes? Por alguma coisa feita
indevida?
16:
Sim, chegava, trancava no quarto não deixava sair, eh, quando, falei pra minha mãe
insisti, saí escondido, ele saber, chegava, pegava no dia seguinte trancava ela no
quarto.
DOC : Trancava?
16:
Trancava no quarto.
DOC2 :Fugiu alguma vez?
16:
Como é?
DOC 2:Você fugiu alguma vez?
16:
Se eu fugi?
DOC 2:Sim.
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Não.
DOC2 :Não, obedecia mesmo né?
16:
Eu obedecia.
DOC : Nem pra nenhuma festa? Não houve nenhum caso assim de tentativa?
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Não, ele, ele, aos homens ele não tinha essa restrição toda não entendeu, aos homens
ele...
DOC2 :Liberava mais.
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Liberava mais, agora com mulher ele era mais ríspido e mais rigoroso.
DOC : Não houve nenhum caso assim que merecesse ser registrado.
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Que eu me lembre não.
DOC : Não? Pois é.
DOC2 :Vocês eram quantos?
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Heim?
DOC2 :Irmãos?
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Éramos treze, éramos....
DOC2 :Então era difícil administrar uma casa com treze filhos né?
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Éramos treze, treze irmãos, depois morreu meu pai, logo em seguida, não, morreu
meu pai, logo em seguida morreu minha mãe, assim mesmo (...inint...), aí pronto os
irmãos já estavam casados, então eu mesmo absorvi eh, dois, tomei conta de dois,
criei, os outros tomaram um, um foi pro convento, o outro foi pra casa da, da outra
irmã...
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Um é padre é?
Hum?
Foi pro convento.
Foi pra convento.
Vida religiosa?
Sim, pra convento, e aí foi depois, o negócio foi se espalhando (...inint...), eu na
verdade comecei a criar filhos, depois criei irmãos, (...inint...), que vinha um pra cá
(...inint...) se arrumava, arranjava emprego e se arrumava, quando vinha pegava os
menores e trazia pra cá, os moleques é, adorava, criava, criava os irmãos, depois os
filhos né, aí a, uma das filhas se separou do marido, e ela lá em Natal chorando, e
eu, “vumbora lá pra casa”, peguei, a mais velha com os três filhos, “vumbora pra
casa todo mundo”, todo mundo ficou comigo.
DOC : Claro, é.
16:
Entendeu? Os três netos, os três netos e tal, aí, aí, um fez, está fazendo direito casou
(...inint...), a outra está fazendo ciências contáveis e está trabalhando, essa outra mais
nova está fazendo, vai fazer o vestibular agora pra medicina, estuda, nunca vi uma
pessoa estudar tanto.
DOC : Mais medicina é difícil mesmo né?
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Mas ela estuda domingo, feriado, meia noite, duas horas da manhã, você vê, as
vezes eu chego uma hora da manhã aqui ela está dormindo em cima do livro.
DOC : Ah, que bom, isso é bom.
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Então quer dizer eu não me arrependo de ter...
DOC2 :Dado essa força
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Dar essa força não, está entendendo?
DOC : Que bom.
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Não me arrependo, aí a neta veio, a neta mais velha casou, com sete meses de
casado o marido disse, “olhe, eu não gosto mais de você”, “então tudo bem, pode ir
embora agora nessa casa, pode dormir dez homens você nunca mais dorme nessa
cama, pode se picar”, aí ele foi embora, aí ela pagando apartamento, ele pagava né,
(...inint...) no Vila Laura, ela lá e tal, “vumbora lá pra casa”, aí veio, ela e a filha, a
minha bisneta, que a gente...
DOC : O coração é grande viu?
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A gente está criando também a bisneta, a neta e bisneta que está aí, levando
(...inint...).
DOC : Que bom mas é isso mesmo, é a vida né?
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Oh.
DOC : Sim.
DOC2 :Coração generoso.
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Oh, a, a velha que adora isso.
DOC : Mas isso é bom.
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A gente chama ela de, de irmã M..., porque tem irmã Dulce ela é irmã M...
DOC : Sim, agora diga uma coisa, então vamos comparar a educação que o senhor teve
com essa educação que o senhor deu aos seus irmãos, filhos, netos, compare aí. Quais
as diferenças?
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Ah, olhe eu posso, eu posso dizer o seguinte que isso, a educação não dependeu de
mim, foi questão de índole, (...inint...) foi dom de Deus, eles são o que são por eles
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mesmos, não foi nada imposto não está entendendo, não foi nada imposto, eles
realmente se dedicaram, a gente só, apenas orienta.
DOC : É isso mesmo.
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O certo é isso aqui (...inint...), você conhece o que é maconha, o que é cocaína,
nunca queira experimentar, e conversar com ele de homem pra homem, olhe rapaz
esse negócio de querer experimentar não é bom, eu conheço um bocado de
homossexual que só foi experimentar e gostou e aí virou homossexual, não queira
experimentar não, eu conheço um cara, aí comecei assim a contar a história pra ele,
“eu conheço um cara que não tolerava cocaína, mas um amigo mentiu (...inint...), oh
rapaz, leve, só pra provar, o cara provou...
DOC : Já era...
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Gostou, e hoje é traficante.
DOC : É mole?
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O irmão é da polícia federal prendeu ele, o irmão...
DOC : O próprio irmão.
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O próprio irmão, polícia federal prendeu ele, o irmão, eu digo, “você está vendo aí”,
aí dissertei quem eram as pessoas né, (...inint...) que o irmão prendeu, e passou a ser
traficante, e o irmão contando pra, pra o meu filho, o meu filho é advogado, ele
contando, “é b...”, ele chamava o meu irmão de b..., o meu filho de b..., “é b... você vê
que começou nunca, não tolerava quando falava esse (...inint...), quando um dia ele
experimentou e gostou, e hoje eu peguei ele com um pacote de cocaína quase
(...inint...), eu dei voz de prisão a ele e levei ele preso”, a mãe revoltada chorou,
(...inint...) policial, polícia federal, botou como policial, “como irmão se eu puder
fazer alguma, alguma coisa pra tirar ele eu vou fazer, mas como policial...”
DOC : Como policial é a função dele.
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Eu vou cumprir a minha..., mas foi um negócio rapaz, impressionante.
DOC2 :Até porque a família com pena termina incentivando mais ou prejudicando...
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Prejudicando, mas é claro que prejudica, eu acho o seguinte que a própria, os
próprios colegas dele se puder dar cobertura vai dar, daqui a pouco, “o cara pegou o
irmão dele, vou dar cobertura, esse cara é”, aconteceu isso, então ele, eles seguem
religiosamente aquela orientação (...inint...), você sai de noite, você antes de parar o
carro em algum lugar você olhe antes se tem algum suspeito, na hora de entrar no
carro você, antes de entrar você olhe, se você vê você nem entra, passa direto, quer
dizer, essas coisas de você, que a gente aprendeu a gente ensina, passa pra eles.
DOC : Ensina né.
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O que é que pode dizer mais.
DOC2 :Eu queria ainda voltar ao período de vocês, treze filhos no caso...
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Treze filhos.
DOC2 :Eh, se havia briga...
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Ah isso sim.
DOC 2:Como é que eram essas coisas? Você se lembra de alguma passagem interessante?
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Ah bem, brigava, brigava, briga normal de irmão né.
DOC : Hum, mas me conte aí alguma que, alguma que merecesse assim um registro.
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Eu, eu lembro que, eu mesmo com o meu irmão, estava namorando, estava morando
na rua da Lama.
DOC : Rua da Lama?
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Rua da Lama.
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DOC : Muita lama?
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Não, não, hoje é, é, é aquela ladeira do, do Garcia que você desce ali e sai no Vale,
ali é Vale.
DOC : Ah, sim, hoje já não, já não tem mais esse aspecto.
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Eu casei e fui morar ali, na rua da Lama que era (...inint...), estava lá sentado
namorando com a, o namoro de antigamente, ele numa cadeira (...inint...), a cadeira
do outra aqui, a mãe lá.
DOC : Bem comportado.
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Bem comportado, quando, quando o meu irmão passava eu olhava se está tudo bem,
(...inint...), está tudo bem, e aí o movimento do carnaval (...inint...) do meu irmão ele
desceu todo fantasiado, “eh leva (...inint...)”
DOC : Seu irmão?
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Meu irmão, ele estava o que com dezoito anos, pra mais, “seu viado, coisa e tal”, aí
eu disse pra namorada, “(...inint...)”, pra (...inint...) aquele negócio né, se sentiu
ofendido, “ah, oh pra aí, está namorando, coisa e tal”, ele com os amigos descobriu, aí
minha amiga larguei ela e disse, “fique aí que eu vou ali em cima e volto já”
(...inint...) a gente quebrou o pau na ladeira do Veríssimo.
DOC : Ladeira?
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Ladeira do Veríssimo.
DOC : Veríssimo.
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A gente se embolou na lama, porrada pra chuchu, eu e ele e tal, quando a gente ser,
se apartar essa briga foi preciso chamar o meu pai, o condutor do, do ônibus que
conhecia o meu pai foi lá, “olhe seu (...inint...), seu filho está...”, ele veio, “pra casa
todos os dois”, saiu assim e tal.
DOC : A namorada ficou lá.
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A namorada ficou lá, eu vim me embora, eu e o meu irmão, pra casa, e meu pai
tinha tomado o negócio né, e eu não, meus colegas não bebia não, não tolerava
bebida, hoje eu tomo uma cervejinha aí, agora tomo, nesse tempo, aí ele começou a
conversar, (...inint...), estava bêbado, por isso que ele foi lá e disse assim, ele “eh,
cala boca se não eu meto cacete em todos os dois”.
DOC : O pai.
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O pai, cadê que ninguém disse nada, “vá dormir, tomar banho e dormir”, ele entrou
pro banho, atrás do banho (...inint...) me melei todo, depois, depois fomos dormir, ele
dormia aqui numa cama eu dormia aqui nessa outra cama, juntos, ninguém dava uma
palavra com ninguém.
DOC : Aparentemente em paz.
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Em paz, e não tinha mais não, não tinha mais problema não.
DOC : O respeito do pai.
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Respeito não tinha problema não.
DOC : Acabou ali.
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Acabou ali a briga.
DOC : Eh, hoje as brigas elas rendem mais né?
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Ah, hoje é, hoje é, hoje é violência mesmo, hoje nego mete a faca, se tiver um
revólver atira, mata o irmão, um mata o outro, o negócio, antigamente mais...
DOC : Mas hoje, hoje...
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(...inint...) uma autoridade, no tempo que a autoridade do pai era o suficiente.
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DOC :
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É e não só com os irmãos, mas com os amigos também né.
Os amigos também.
As brigas acabavam logo não era?
Acabavam logo, a gente brigava, que a gente jogava futebol no meio da rua, o cara
que é o dono da bola, que fazia a bola, fica, ficava de fora, (...inint...), “não tem
lugar pra você, você joga outra partida”, “não mas eu quero entrar”, então o pau
comia né, a gente brigava ali, acabava ali mesmo, terminava a gente se entendendo,
no outro dia está rolando os dois no mesmo lado contra o resto, era assim, não tinha
esse negócio de essa rivalidade toda, hoje que é um negócio, se olhou atravessado o
camarada não gosta, “está me olhando porque?”, pá...
DOC : É verdade.
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Assim, só porque você olhou atravessado.
DOC : É isso mesmo, agora eu queria entrar pra um outro campo, escola...
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Escola?
DOC : Fale da sua escola, desde quando o senhor começou.
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Olha, pra ser honesto eu não lembro mais nada de escola não.
DOC : Estudou onde no primário?
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Eu estudei o primário com o professor A ... na, na, essa aí eu me lembro, aqui na
Estrada da Rainha, no Beco do (...inint...), tinha uma escola né, era um escurinho
baixinho, aquele sabia ensinar, fazia sabatina de, de tabuada, fazia sabatina de
português, perguntava se eu errasse o que respondeu me dava bolo, eu era muito
bom de matemática, sempre, (...inint...)
DOC2 :Dava bolo nos outros.
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Dava bolo, mas quando chegava na hora de português...
DOC : O senhor apanhava?
16:
Eu apanhava, tomava bolo, palmatória (...inint...), eu disse, “você me aguarde”, que
ela batia forte, batia com raiva né, quando chegava a minha vez eu, era muito bom
um negócio....
DOC : Era bom o que? Essa, o método?
16:
O método.
DOC : Era? Funcionava?
16:
Funcionava, você queria mostrar que era o melhor pra não, apanhar menos, o cara
pergunta dois e dois a você, dois e dois vezes dois, multiplicado por quatro quando é
que é, heim?
DOC : Rápido, tinha que ser rápido né?
16:
Dezesseis, é, duas vezes duas, quatro vezes quatro quanto é, dois vezes dois, eh,
dois vezes dois vezes quatro quando é que é? Você ficava dois vezes dois quatro,
vezes dois oito, vezes dois dezesseis, quer dizer você tinha que responder
imediatamente né, e a ...
DOC2 :Não podia nem fazer um rascunhozinho de (...inint...)...
16:
Nada era sim olhe tete a tete, era...
DOC : Sim, então esse professor ele era bom.
16:
Muito bom, muito bom ele, depois ele foi trabalhar na prefeitura né, acabou a escola
eu fui pro semi, colegas que estudaram lá comigo chegaram a ser capitão do corpo de
bombeiro, colegas mesmo de lá.
DOC : Hum, depois de lá?
16:
De lá eu fui pro Central, de lá eu fui pra o, estudei no Luís Viana, Luís Viana...
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DOC : Fale um pouco sobre esse experiência. Essas escolas.
16:
Como?
DOC : O que o senhor lembra dessas escolas?
16:
Normal, não tenho nada pra, pra comentar.
DOC : Não?
16:
Não, tudo normal.
DOC : Era...
DOC2 :Algum professor se destacava?
16:
Não, eu, eu me lembro na parte de contabilidade, que eu fiz contabilidade né?
DOC : Hum.
16:
Eu me lembro que uma vez apareceu uma professora de contabilidade pública, essa
era, essa criatura era rigorosa né, essa era rigorosíssima...
DOC : Hum.
16:
Eu per, eu perdi o, perdi o semestre, não era semestre era o ano.
DOC : Deve ser o ano, é.
16:
Perdi o ano por causa de meio ponto, a mulher ensinava contabilidade pública, era
funcionária da secretaria da fazenda.
DOC : Hum, era muito duro o estudo?
16:
Era rigoroso, o estudo, o ensino era rigoroso, não é esse negócio de completar ponto
pra, pra ajudar não, você antes fazia a sua média assim, se, se você fizesse quatro
vírgula nove você estava eliminado.
DOC : Os professores eram muito próximos, amigos?
16:
Não, eu não achava não, eles sempre se isolavam muito, se isolavam muito, hoje
não, hoje, hoje, acho que hoje é mais ligados nos alunos, (...inint...)
DOC : E você, o que acha disso? Bom, ruim.
16:
Acho que isso é ruim, isso é ruim, eu acho o seguinte, que o professor tem que ser
amigo do aluno, “olha você precisava de meio ponto né”, ora o cara que faz noventa e
nove e meio não consegue fazer dez, não consegue fazer cem, (...inint...) eu acho isso
realmente uma estupidez.
DOC : Absurdo né?
16:
“Eu vou lhe dar o meio ponto mas você fica me devendo esse meio ponto, cobro
oportunamente”, né?
DOC : É.
16:
Quer dizer o cara perde um ano de colégio por causa de meio ponto, quer dizer se
você, se eu puder olhar esse professor e, num buraco e eu puder meter o pé e empurrar
ele eu vou fazer isso.
DOC : (risos)
16:
Não, você veja o meu ra, o meu raciocínio deve ser o de todo mundo.
DOC : De muita gente.
DOC 2:Marcar o carro
16:
Mas não é? Vai fazer o que puder de maldade com ele vai fazer, que o cara fazer
perder o ano por causa disso.
DOC : É uma violência.
16:
Eu vendo ele na porta do, do, do buraco aí, meter o pé pra ele cair, ele vai cair que
eu vou empurrar.
DOC : (risos)
DOC2 :Houve alguém que fizesse isso alguma vez?
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16:
Não, que eu saiba não, estou fazendo apenas uma comparação né, uma suposição.
DOC2: Só uma...
DOC : É, eu sei
16:
É rapaz.
DOC2 :A vontade ficou pelo menos no ar.
16:
No ar, mas que ficou, ficou.
DOC2 :Ficou.
DOC : (risos) Mas me diga uma coisa, quando a metodologia, você falou aí eh, houve
muita mudança na metodologia no ensino, você acha? Você acompanhou o estudo de
filho né, sabe que a escola foi diferente.
16:
Ah houve, houve muita mudança, por exemplo, hoje você não tem mais negócio de
curso científico, você fazia o primário né...
DOC : Hum, é.
16:
E fazia o, o científico.
DOC : O ginásio.
16:
O ginásio, depois passei pro científico, pra depois entrar pra faculdade, o científico
acabou né.
DOC : É segundo grau né, fundamental.
16:
Segundo grau agora né.
DOC : É, mudou o nome.
DOC2 :Fundamental e ensino médio.
DOC : Ensino médio.
16:
É, ensino médio, mudou, e parece até que eles querem acabar com o vestibular né.
DOC : É.
16:
Eles querem o que, seqüenciar a sua, o seu currículo né.
DOC : É, avaliação seja observada, seja feita né, desde o início.
16:
Através do currículo né.
DOC : Através da...
16:
Do currículo.
DOC : É, observação da...
16:
Eu estou doido que acabe, porque essa minha neta aí, as notas dela são invejáveis,
ela, ela, ela vai ser a maior frustração se ela fizer o vestibular agora e não passar, ela
já chora antes da hora.
DOC : Mas passa, tem que ficar calma.
16:
É, eu disse a ela, “olhe minha filha, a sua, sua obrigação você já cumpriu, já está
passada, é você terminar o seu segundo grau, você terminou, você não tem
obrigação de passar no vestibular, que vestibular existe o tempo todo da vida, se não
passar nesse você passa no outro, ou no outro”...
DOC : Exatamente.
16:
“Não se, não se desespere, não se desanime se você não conseguir passar, porque o
primeiro seu ano sempre é difícil, agora no segundo se torna mais fácil”, meu neto,
meu neto terminou aí eu, “avô eu vou fazer vestibular, você paga a minha
matrícula?”, eu digo, “pago”, aí matriculei ele na Facs, na Católica e na Federal.
DOC : Federal.
16:
A, Católica e Federal, “eu vou fazer direito”, estudava como a zorra, chegava uma
hora, duas da manhã ele estava no, estudando...
DOC : Estudando.
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Com a cara enterrada no livro, a televisão ligada, e a televisão ligada, “rapaz é uma e
meia”, “eu tenho prova amanhã, não deixe eu vou já”, (...inint...), desligava a
televisão, aí fez o vestibular, passou na Federal, não em direito, passou na segunda
opção, economia, passou na Facs, Ciências Contábeis, Facs chegou a ligar pra cá,
“olha matrícula é tal, (...inint...) pode”, passou na Católica, economia....
DOC : Puxa tudo que ele não queria.
16:
Não queria, segunda opção, “poxa meu filho, você já é universitário, vá se
matricular”, paguei quatrocentos e noventa e dois reais (...inint...), ele começou a ir,
depois “meu avô”...
DOC : Não era o que ele queria.
16:
“Não é o que eu quero”, “ mas rapaz você vai, faz no meio do ano, você já é
universitário”, essa é a (...inint...), “já é isso mesmo, pede você, estudar, eu,
(...inint...)”, eu já dei tchau pra coordenadora, disse a ela que não ia mais freqüentar,
que não é isso que eu quero, eu quero é fazer direito”, “poxa cara você deixou eu
pagar quatrocentos e noventa e dois reais de matrícula”, “não, mas eu estou sabendo
que você recebe de volta setenta por cento”, eu digo, “menos mal”.
DOC : É.
16:
E recebi né, “rapaz você (...inint...)”, “eu não quero, o que eu quero é fazer direito”,
isso era, já estava em janeiro mais ou menos, fevereiro.
DOC : Foi logo no início do curso.
16:
Era, “aí eu em julho vai ter o vestibular, eu vou fazer e vou passar”, eu tenho até as
fotografias dele no meu quarto, (...inint...), o bicho estudou, quando chegou aqui que
deu o resultado ele passou, chegou “oh!!!!”, aqui na rua que satisfação viu.
DOC : É tão bom né?
16:
É.
DOC : A gente vê que o ...
16:
É, eu não sabia de nada, o povo gritando ele, “velho, venha”, eu digo, “o que é
menino, o que foi?”, “passei porra, passei”, que alegria né.
DOC : Alegria isso que é bom né, é um retorno.
16:
Aí vem fazendo né, vem fazendo, aí chamaram ele pra fazer um estágio, “vô, eu
estou fazendo um estágio com uma doutora aí, mas eu estou notando que eu estou
sendo um boy de luxo, cheio de gravata e paletó, aí, pagar o negócio aí”...
DOC : O estagiário (...inint...).
16:
“Eu vou largar ela, está me pagando um salário mínimo”, eu digo, “larga essa merda
que eu lhe pago o seu salário”, e largou, “agora meu avô eu vou, vou me inscrever
no procon pra, pra fazer estágio no procon”, e está fazendo estágio de graça na
OAB.
DOC : Mas está aprendendo.
16:
Está aprendendo, ele disse, “eu quero alguma coisa pra aprender, eu não quero
ganhar dinheiro, eu quero aprender”.
DOC2 :Aprender.
16:
Se tiver em condições boas aí tudo bem.
DOC : Mas é, o caminho tem que ser esse mesmo.
16:
É o que ele quer, quer aprender, não quer, ganhar dinheiro é depois que tiver
formado pra ganhar dinheiro.
DOC : É, ainda bem, está vendo como ele tem cabeça?
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DOC2 :Ele lhe tem assim como um pai né?
16:
É sim.
DOC: Que bom.
16:
Desde pequeno, o pai largou a (...inint...), mas quando faz aniversário a filha mais
velha, “mas meu pai é um sacana nem pra dar um alô pra gente”.
DOC : Mas tem um...
16:
As vezes o pai vem aqui, “oi F...”, “oi pai”, é assim, passa por ele, (...inint...) “está
tudo bem, está tudo bem pai”.
DOC : Falta o respeito até né?
16:
É, só assim com indiferença, como se fosse mais de que um estranho, porque um
estranho a gente ainda vê, “oi, tudo bem”, isolamento to tal.
DOC : O gelo né? Sim, pelo que eu vejo a sua educação não foi marcada por casti, castigos.
16:
Não, não, não.
DOC : Mas nunca deu nenhum? Conte aí algum castigo.
16:
Castigo? Eu já dei, já dei castigos sim.
DOC2 :Mais nos filhos, ou nos netos?
16:
Nos filhos, nos netos não.
DOC2 :Nos netos não.
16:
Nos filhos dava, dava até bolo, bolo sabe o que é?
DOC : Sei.
16:
Eu já cheguei a dar bolo nos meus filhos, hoje eu tenho um arrependimento da zorra.
DOC : É isso.
16:
Mas não teve jeito, eu acho que isso também contribuiu de, de, de certa forma na
educação.
DOC : Ajudou.
16:
Ajudou um pouco, não deixou de ajudar.
DOC : Então hoje será que a falta desses castigos...
16:
Ah sim, sim, tem que ter, tem que existir isso, se você deixar o jovem fazer o que
eles querem, porque todo o jovem tem que ter o limite, ah você porque quer ser um
pai excelente, uma mãe excelente, o filho mesmo, “pai eu vou fazer não sei o que”,
“vá”, “pai eu quero isso”, “faça”, “oh, agora eu quero isso”, “tome”, não existe, tem
que ter um limite, “isso não, porque isso não é certo, você não pode fazer”, quer dizer,
sabe que não é certo e, e libera, isso prejudica, isso está prejudicando as crianças,
então o meu ponto de vista é saber dizer não na hora certa, não, não pode, não deve e
não vou concordar e pronto.
DOC : Pois é.
DOC2 :E os seus netos, como é que estão educando os, os filhos, quer dizer os seus
bisnetos?
16:
Não os...
DOC2 :Você sente a mesma direção?
16:
Olha eu tenho, eu tenho uma filha, uma neta....
DOC2 :Uma neta.
16:
E uma bisneta que mora aqui, tenho uma outra neta com uma bisneta que mora na
casa dos pais lá na Pituba sempre entendeu, mas os pais de, os pais do, o meu genro, o
meu genro, meu genro é espetacular, o marido de minha filha, é uma beleza, o cara
que faz comida, cuida, faz mingau pra, pra neta, tudo, um cara fora de série.
DOC : Que bom.
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Ele realmente não tenho queixa.
DOC : E uma coisa, acompanhamento de escola dos filhos o senhor se envolveu?
16:
Sempre.
DOC2 :Ensinou dever?
16:
Sempre.
DOC : Hum.
16:
Sempre ensinava dever.
DOC : O que o senhor acha, você acha que...
16:
Hoje, hoje, hoje quase ninguém quer saber nem da nota dos filhos, (...inint...) “ah eu
vou pra praia”, eu, “não, essa semana não vai não”.
DOC : Pra onde?
16:
Pra praia, “pra praia não, você não vai não, você vai estudar pra recuperar essa nota
perdida, a partir daí quando você recuperar você sai”, pra isso...
DOC : Horário de estudo você acha que deve ser assim rígido? A tarde por exemplo em
casa.
16:
Não, não, não acho não.
DOC : Os seus sempre estudaram muito né?
16:
Sempre, eu acho que o, o horário de estudo, é o horário quem faz é a pessoa, tem
pessoas por exemplo meu neto só gosta de estudar de meia noite em diante, eu vou
achar que está errado, é a hora que está, que ele está satisfeito, que está em total
silêncio, é a hora que ele quer, entendeu? Não tem que estabelecer regras pra horário
não.
DOC : Não deve ser rígido, e quando o aluno, quando o menino não é muito interessado o
que é que o pai deve fazer, o que é que você acha?
16:
Ah, isso é uma boa pergunta, isso é uma boa pergunta.
DOC2 :Porque tem os meninos preguiçosos né.
16:
Tem os desinteressados, os desinteressados quando eles não se interessam pela
leitura, pela, pelos estudos é porque normalmente eles se interessam por outras
coisas.
DOC : É.
16:
Então você tem que impedir essas outras coisas dele até que ele volte a equilibrar a
coisa, então, “você gosta de que?”, “eu gosto de futebol, não gosto de estudar”,
“bom, mas futebol você só vai jogar quando você voltar a estudar, aí sim você vai
fazer as duas coisas, agora só isso não vai não”.
DOC : Tipo uma chantagemzinha.
16:
É, tem que fazer isso, porque se não o camarada vai ser um Ronal, um Ronaldinho,
um craque de bola e da cabeça zero, não existe isso.
DOC2 :É, só queria só pra complementar, em relação pelo menos que você já está
aposentado hoje.
16:
Já estou aposentado.
DOC2 :E como é que você vê a vida hoje, com o que você se ocupa?
16:
Ah hoje...
DOC 2:Só pra a gente fechar um pouquinho.
16:
Hoje eu sou, olhe, hoje eu só me preocupo, eu marquei ponto cinqüenta anos, você
sabe o que é marcar ponto né.
DOC : Diga aí o que é?
16:
É cumprir horário né.
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DOC : Ah sim.
DOC 2:Ah sim.
DOC : Está tudo bem.
16:
Eu marquei ponto cinqüenta anos, com horário rígido pra almoçar, horário rígido pra
acordar, pra voltar pra casa, pra almoçar e retornar pro trabalhar, era tudo ali...
DOC2 :Até cinqüenta anos.
16:
Não eu fiz isso até, eu trabalhei...
DOC : Ele tem cinqüenta anos de trabalho.
DOC2 :Ah, cinqüenta anos de trabalho.
16:
Eu trabalhei cinqüenta anos.
DOC2 :Muito tempo.
16:
Então você pergunta porque, porque hoje eu só quero almoçar hoje quatro horas da
tarde, vou almoçar quatro horas da tarde.
DOC : O seu relógio é outro.
16:
É, é só pra enfeitar, na verdade eu não uso, hoje eu vou dormir até dez horas, eu
durmo até dez horas.
DOC : Isso é que é bom.
16:
Hoje eu vou dormir...
DOC2 :É o relógio biológico.
16:
É, é, eu vou dormir hoje meia noite e vou acordar seis horas da manhã porque eu
preciso fazer um exame, eu vou dormir e acordo seis horas da manhã, então na
verdade eu não quero horário pra mim pra nada, eu quero fazer o que eu gosto de
fazer e ninguém impeça.
DOC : Que bom.
16:
Gosto de beber eu gosto, vou parar num barzinho, vou tomar uma cervejinha, ficar
olhando a maré, (...inint...), um tira gosto, estou com sono vou pra casa.
DOC2 :E essa história do biriba?
16:
Eu tenho aqui, tenho aqui, tem um coronel, um advogado, tem um médico, doutor
H..., um coronel comandante da polícia militar (...inint...), comandante da polícia
militar, tem um advogado M..., conhece não, (...inint...), e a gente fica (...inint...)...
DOC2 :Mas são boas amizades.
16:
Ah são, graças a Deus, são amizades ótimas, (...inint...), quatro cervejas, quatro
cervejas, cada um bebe, ninguém bebe mais do que quatro.
DOC : Não existe excesso né?
16:
As vezes, as vezes, as vezes a gente pede quatro cervejas pro garçom fica uma quase
cheira que ninguém toma viu? É uma turma boa.
DOC : Bem seu V... o senhor contribuiu, nós queremos agradecer.
16:
Não, não tem que agradecer nada, a gente passa a realidade está entendendo, passa a
realidade pra você o que a gente pode fazer pra colaborar.
DOC : Obrigada viu.
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