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Cultura
Edmilson Sanches
Réquiem para saturnino
H
oje, a coluna abre espaço para uma crônica da escritora Allanna C. R.
Sanches. Na semana passada ele morreu em Pastos Bons (MA), sua
cidade natal e final. Saturnino -- o nome dele – já havia passado uns
tempos em Imperatriz, onde, afirma-se, tem parentes ricos, bem de vida.
Contrariamente à justa vida boa de seus familiares imperatrizenses, a vida
de Saturnino era... saturnina. Uma vida sinônima ao nome que, predestinadamente?, recebera: sombria, triste...
Toda cidade tem seus loucos -- e todos nós temos um pouco deles, seja
em quietude, em devaneios, em desvarios... Saturnino era assim, um louco,
ou enlouquecido. Sobre ele escreve Allanna C. R. Sanches, que em tempos
da meninice e em dias da adultez viu, conviveu e sentiu por Saturnino -um ser humano, que, menos que loucura, era um retrato do abandono, do
não-amor, da solidão. (Edmilson Sanches)
***
Loucura de Saturno
I
– Tem um homem pelado no meio da rua!
Era o doido da rua Enoque Mota, no município de Pastos Bons, Maranhão – os meninos gritavam e sorriam, apontando para aquele homem que
praticava seu ritual vespertino, num sol pleno das três da tarde. Caminhava alguns passos enquanto balbuciava qualquer coisa e, minuciosamente,
ajoelhava-se e beijava o chão poeirento, como um islamita que faz suas preces. Estava completamente nu, no seu corpo, rabiscos de caneta azul e cicatrizes de alguma surra. Saturnino aparentava seus trinta anos, era branco,
alto e fisicamente magro, porém robusto. Tinha um rosto sofrido e retorcido, como que por alguma dor latente, talvez no juízo que não tinha mais.
Quando espiávamos, com curiosidade e medo infantil, nossa avó fechava a janela, bradando de maneira rigorosa e constrangida:
– Passem pra dentro, meninas, ele é doido, não é coisa pra ficar olhando
não! Deus tenha pena!
– Ele é doido, vó? Por que ele fica pelado? Ele não tem pai nem mãe?
II
Todo mês de julho mamãe me mandava pra Pastos Bons. Eu e minha
prima. Esperávamos ansiosas pelas férias, pelos festejos de São Bento e pelos quitutes da tia Bete. Não havia meninas na rua e nossas brincadeiras eram na poeira com os meninos. Claro, ouvindo sempre a vó Cristina ralhar
conosco: “ -- Num vão se sujar... ‘desatrepa’ daí, menina!! Já são cinco horas,
venham tomar banho pra jantar!”
Por sermos meninas, os moleques viviam nos fazendo medo, dizendo:
“– O Saturnim vai pegar vocês! Ele é drogado, vai pegar vocês de noite! Cuidado com o Saturnim!”
E que medo que sentíamos... Quando estávamos na calçada, bastava que
alguém dissesse “Lá vem o Saturnim!” que corríamos pra dentro de casa.
–Por que ele é doido, vó?
–Ele ficou doido de tanto fumar cigarro!
“De tanto fumar cigarro?” Minha tia fumava, eu sempre ia comprar cigarro pra ela, todo dia. E se ela ficasse doida? Já pensou, andando pelada
por aí... O que iam dizer?
Claro, eu não era tão ingênua, sabia que ninguém ficava doido da noite
pro dia. Mas naquele tempo menino pequeno não fazia pergunta, eu não
conhecia qualquer fundamento psicológico. Respondiam-me o que todo
mundo dizia pra menino, e eu tinha que me dar por satisfeita.
III
Muito tempo se passou e deixei de ter medo dos doidos. Aliás, interessava-me, agora, por toda e qualquer loucura alheia e tinha grande curiosidade em saber qual pensamento permearia uma mente enlouquecida. “Será se sabem que são doidos, meu Deus?”
No verão de 2009, levei meu marido pela primeira vez a Pastos Bons,
ficamos hospedados numa das casas de minha tia. Eram cinco da manhã
quando acordamos com a voz alguém que chamava bem alto:
– Bete, me dá bolo! Bete, bolo, bolo! Bete!
Era o Saturnino. Fui até a calçada e senti um cheiro forte de excremento e urina. É que agora ele vivia confinado na pequena casa ao lado da que
O Estado do Maranhão - São Luís, 1º de fevereiro de 2010 - segunda-feira
Morre o escritor
Wilson Martins aos
88 anos em Curitiba
Divulgação
Morte foi em
decorrência de
complicações
de cirurgia
para retirada
da bexiga.
Ele é autor da
obra em 12
volumes
“História da
Inteligência
Brasileira"
O
escritor e crítico literário Wilson Martins, de
88 anos, morreu no sábado (30), em Curitiba, em decorrência de complicações de
uma cirurgia para a retirada da
bexiga. Ele estava internado no
Hospital Nossa Senhora das
Graças.
O velório está sendo realizado na capela 3 do Cemitério Luterano, ao lado do Estádio Couto Pereira. Após as 17h, o corpo
do escritor será encaminhado
para o Crematório Vaticano, onde será cremado em cerimônia
reservada à família.
Wilson Martins é autor da
Rápidas
estávamos. Por isso sua voz soava tão alto – pensei.
– Gente, coitado! Por que deixam ele assim, trancado?
– Ele é doido, come bosta! E tá doente; tuberculose, parece. Colocaram
um dreno no pulmão dele, por isso tem essa ferida aí, que não sara nunca.
Mesmo assim, pra todo mundo que passa ele pede um cigarro.
Pude ver que, às sete da manhã, um homem chegou, usando máscara
de respiração e botas de açougueiro.
“Dizem que é irmão dele, vem aí e joga uma sacola com resto de comida” – falavam. O cheiro era horrível. O homem trazia, de fato, uma sacola e
uma mangueira de lavar a jato. Arrastou até a calçada um colchão velho e
imundo e alguns trapos, pendurou na cerca de um terreno que ficava em
frente e começou a esguichar água, lavando a sujeira.
– E a família, tio Zezinho? Ninguém cuida não? Só deixam o coitado aí,
sozinho, morando nessa casa suja, trancado?
– Já levaram ele pra fazer tratamento em Teresina, ele já deu muito problema, dizem que ficou doido depois que foi preso e que deram tanto na cabeça dele que ele ficou assim, perturbado. Ele é viciado em fumo, quando
ele tava bom fumava tudo o que davam pra ele. Quando ninguém dava, ele
fumava qualquer coisa. Uma vez fumou as folhas tudo de um pé de laranja
que tinha lá no quintal. Fumava mato, casca de pau, qualquer coisa. Não tem
juízo, não. Olha ali, lá está ele, pedindo um cigarro pra aquele homem...
V
Terminava janeiro e eu estava dentro da casa de Saturnino, ele estava
tão magro, quase morrendo e eu lhe dizia: “Não se entregue, vou te ajudar!
Você vai viver, todo mundo tem uma chance”. Eu o abracei e senti toda a sua
magreza e a aspereza de suas feridas. Suas mãos compridas e frias tocavam
meus ombros e eu não sentia asco ou repulsa. Eu o colocava numa cadeira
de rodas, pois ele já não podia andar. Ele dizia o tempo todo: “Eu tô morrendo, vou morrer. Mas obrigado".
Acordei atordoada, não entendia o motivo do sonho. Bem cedo meu primo ligou e lhe contei tudo, inclusive para o meu marido.
Ao meio dia, abri o Messenger e vi uma mensagem da minha prima, deixada dez minutos atrás: “Você sabe quem morreu?”
Hesitei ao perguntar, mas acabei escrevendo um receoso “Quem?”
“O Saturnim da tia Bete”. Achei que era brincadeira de mau gosto, meu primo deveria ter lhe contado sobre meu sonho e agora tiravam sarro de mim.
– Alô, vó? Vó Cristina, como tá o Saturnino?
– Ô, minha filha, ele morreu... Encontraram ele morto hoje de manhã... Deus
guarde a alma dele, minha filha, ele tá melhor agora, acabou o sofrimen...
Nãoouvi mais nada e desliguei o telefone num choro desesperado e infantil. Nesse dia, e somente nesse dia, fiz uma prece ao doido da rua. Por que
não a fiz enquanto estava vivo?
“Para onde vai, de que serve a sensatez? O mais incrível acontece lá, e a
lucidez não é necessária, pois tudo é um grande quadro surrealista. Ninguém
tem sede ou frio, tosse ou desalento... Eu sei que há um céu dos doidos...
Por favor, acolham ele muito bem, anjos sem juízo...”
(Allanna C. R. Sanches)
[email protected]
obra em 12 volumes “História
da Inteligência Brasileira”. Entre outras obras estão “A Idéia
Modernista”, “A Crítica Literária
no Brasil” e “A Palavra Escrita”.
Wilson Martins nasceu em
São Paulo, em 1921. Tornou-se
professor de literatura francesa
na Universidade Federal do Paraná e deu aulas de literatura
brasileira em universidades dos
Estados Unidos. Na Universidade de Nova York ele trabalhou
por 26 anos, em que se tornou
professor emérito, e se aposentou em 1992.
Martins foi colunista dos jornais “Jornal do Brasil”, “O Glo-
Wilson Martins, frase retirada
de crônica publicada no
Jornal do Brasil
bo” e a “Gazeta do Povo”. O crítico recebeu prêmios como o
Jabuti, da Câmara Brasileira do
Livro, por duas vezes, por volumes do livro “História da Inteligência Brasileira”, e o prêmio
Machado de Assis, da Academia
Brasileira de Letras, em 2002,
pelo conjunto de sua obra.
Áries (de 21/03 a 20/04)
ÁRIES: (de 21/03 a 20/04) Regente: Marte
Cabeça firme e lúcida. Muita facilidade para o
raciocínio lógico e perfeita articulação de
idéias. Boa disposição geral e humor
excelente. Aproveite este momento para
estudar, ler, colocar as contas em ordem,
fazer alguma palestra ou vender o seu peixe.
Touro (de 21/04 a 20/05)
Atenção com a saúde. Não se acostume com
as pequenas mazelas: elas minam a alegria
de viver. Não somos só o nosso corpo, mas
ele é o nosso bem mais importante; é
somente através dele que podemos nos
expressar aqui na Terra. E essa expressão
pode ser sempre aperfeiçoada.
Gêmeos (de 21/05 a 20/06)
Dia particularmente delicado para a vida
afetiva. Você está com o pensamento em
outras coisas e poderá ser frio e
desagradável com as pessoas carentes. Se
alguém insistir em chamar a sua atenção
poderá acabar levando um fora daqueles
inesquecíveis. Para ambos.
Cãncer (de 21/06 a 22/07)
Dificuldade de se autoafirmar. Quando
alguém invadir os seus domínios, você tende
a guardar para si o seu desagrado e
acumular raiva. Isso sobrecarrega o coração.
Vá logo defendendo o que é seu e afastando
os abusados com suas potentes pinças de
caranguejo.
Leão (de 23/07 a 22/08)
Você está um pouco mais individualista do
que de costume. Cuidado para não passar
por cima dos sentimentos dos outros sem
nem olhar para ver as consequências. Evite
criar inimizades. Tente consertar um pouco
as coisas com um olhar mais amoroso e
generoso.
Virgem (de 23/08 a 22/09)
Disposição um tanto retraída; você está mais
calado e distante. Pode parecer que você
não está bem, mas não é nada disso: você
está tentando encontrar a sua
individualidade, parar de repetir idéias que
não são suas e modos de ser com os quais
apenas se acostumou.
Libra (de 23/09 A 22/10)
O signo de Aquário incentiva as pessoas a se
expressar de uma maneira muito própria,
independente da influência dos outros. Seu
regente vem recebendo vibrações deste
signo, e você vai mudar certas regras que
vinha aceitando só por comodismo ou medo
da crítica alheia.
Escorpião (de 23/10 a 22/11)
Hoje as suas obrigações do dia-a-dia
poderão parecer mais penosas do que de
costume: você está precisando de muita
liberdade. Chato é que às vezes quem vai ao
ar perde o lugar. Se resolver fazer alguma
travessura, tenha preparada uma boa
desculpa.
Sagitário (de 23/11 a 21/12)
“Dizem que é irmão dele,
vem aí e joga uma sacola
com resto de comida”
IV
No réveillon, visitamos novamente minha tia. Moro a 600 km de Pastos
Bons, mas sempre que tenho oportunidade, corro pra lá. Na primeira manhã, meu marido sentiu falta de uma coisa: “Não ouvi o nosso despertador!”
– falava de Saturnino, que, para a nossa surpresa, não dera um pio desde
que chegamos.
– Cadê ele, vó?
– Ah, minha filha, ele agora tá que nem uma criança, só engatinhando,
não fala nem nada. É a tuberculose, coitado...
No dia de ano novo, deixaram que ele saísse. Me partiu o coração ver que
ele, timidamente, sentou-se na calçada, com as mãos entre as pernas e a cabeça baixa. Além da magreza, ele tinha toda a solidão do mundo nos olhos.
Não era mais o doido da rua. O típico doido que resmunga as mesmas
coisas, que os meninos tiram graça e ele sai correndo atrás. Não era o doido que pedia cigarro ou comida de casa em casa. Não metia mais medo no
povo. Ele tava doente, definhava e todos da rua sentiam pena.
“O que passa na tua mente? No que pensa? Quer conversar? Conversaria comigo?” -- que vontade de ter perguntado!...
Tive medo de que ele fosse mesmo o doido da minha infância. Mas ele
não poderia, estava tão fraco, magro e triste. Precisava de ajuda, mas como?
O escritor Wilson Martins
“
Por que não
protestamos
e nos
conformamos
em viver num
lugar
esburacado,
calçadas
podres,
ruas sujas,
poluição
visual?”
Horóscopo
Quadrinhos
Bidu - Maurício de Souza
Bidu - Maurício de Souza
Magali - Maurício de Souza
Cascão - Maurício de Souza
Prisão
Sundance
O ator americano Elmore
'Rip' Torn, ganhador do
Emmy, foi preso após ter
sido encontrado alterado e
armado dentro de um banco
no estado americano de
Connecticut no fim de
semana, segundo as
autoridades. Torn, de 78
anos, era mantido em
detenção sob fiança de US$
100 mil. Ele foi preso depois
que a polícia respondeu a um
chamado do banco Litchfield,
na cidade de Salisbury, onde
o ator vive. Ele estava
dentro das dependências do
banco, com um revólver
carregado e "altamente
intoxicado", segundo
relatório da polícia.
Os filmes norte-americanos
"Restrepo" e "Winter's
bone" conquistaram na
madrugada de ontem o
Grande Prêmio do júri do
Festival de Sundance.
"Restrepo", dos
jornalistas de guerra Tim
Hetherington e Sebastian
Junger, mostra o
inferno de um conflito
armado através da vida
cotidiana de um pelotão de
15 soldados americanos em
uma das regiões mais
perigosas do Afeganistão.
"Winter's bone", de Debra
Granik, retrata uma
adolescente que
busca seu pai, um
traficante de drogas.
Cruzadas
Se você está sentindo a sua vida meio
parada, tudo indo a passo de tartaruga e às
vezes até andando para trás, lembre-se: a
gente só tem velocidade quando está no
caminho certo, que é ser o que
verdadeiramente somos. E nele a velocidade
vai aumentando a cada passo.
Verifique sua rota.
Capricórnio (de 22/12 a 20/01)
Neste momento convém evitar se envolver
com problemas alheios. Às vezes a sua
vontade de ajudar invade a privacidade do
outro, que reage mal e você acaba
recebendo pedradas de volta. Neste período
você está mais tolerante, e sem intenção de
ensinar nada a ninguém.
Aquário (de 21/01 a 19/02)
Fique atento e não se arrisque nos gastos;
possibilidade de aborrecimentos envolvendo
finanças ou complicações com documentos.
Agora, mais do que nunca, cuidado para não
ser enrolado como consumidor: procure
conhecer bem os seus direitos. E evite
dívidas de longo prazo.
Peixes (de 20/02 a 20/03)
Facilidade e harmonia: aproveite para
descansar da pressa e da ansiedade.
Momento favorável para começar algum
tratamento, estudo, dieta ou ginástica. Cuide
de si mesmo, do seu corpo e da sua alma.
Acompanhe atentamente os acontecimentos
do grande mundo.
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