Vivendo a ação de Pedagogas em ações sociais do Corpo de Bombeiro Militar de Pernambuco. Iágrici Maria de Lima1 Maria Thereza Didier de Moraes2 RESUMO: O presente artigo pretende focar questões acerca da ação de Pedagogas em um ambiente militar, sendo esse especificamente o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco onde um grupo de alunas de Pedagogia desenvolveram um projeto de extensão, com a finalidade de intervir no trabalho de palestras e visitas realizado pelos Bombeiros. Foram realizadas observações e entrevistas com os participantes a fim de levantar os aspectos necessários para a investigação de como ocorre a ação do Pedagogo fora da escola. A especificidade do Pedagogo abre espaços para a ação desse profissional em diversos espaços auxiliando na elaboração e orientação de processos educacionais. Isso pode ser comprovado durante a ação desenvolvida no CBMPE. Palavra – chave: educação formal/não formal, Pedagogos, Bombeiros. 1. Introdução. Após uma apresentação realizada por bombeiros numa escola da rede municipal de Jaboatão a crianças do ensino fundamental, alunas do curso de Pedagogia desenvolveram, junto a Universidade Federal de Pernambuco, um projeto de extensão que intervisse num trabalho realizado pelo Corpo de Bombeiro Militar de Pernambuco (CBMPE), que são as palestras e visitas (do público externo – civil – as instalações dos quartéis), auxiliando na elaboração, execução das palestras, assim como nas atividades desenvolvidas durante as visitas do público ao espaço interno dos grupamentos3. Com a elaboração do projeto de extensão, surge uma necessidade pessoal de pesquisar como 1 Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE – [email protected] Professora, Doutora do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino – Centro de Educação – UFPE – [email protected]. 3 O Grupamento de Bombeiros (GB) é uma Organização Militar Estadual (OME) do tipo Organização Bombeiro Militar (OBM) que funciona sob a forma de quartel militar com ações de cunho operacional. Sua principal finalidade, entre outras, é defender a sociedade dos sinistros a que está suscetível, colocando nas ruas, equipes especializadas compostas por bombeiros, viaturas e equipamentos. Para tanto, atua com suas forças na prevenção e combate a incêndios, salvamentos, resgates, etc. 2 ocorre a ação do Pedagogo em ambientes externos a escola, e que impacto essa atuação causa a esse espaço. Tendo em vista que havia um projeto de extensão sendo realizado por Pedagogas num espaço externo a escola – O CBMPE – decidiu-se acompanhar essas atividades que as Pedagogas estavam desempenhando através da extensão. Outro fator relevante para escolha desse espaço, foi o conhecimento de que essa instituição desenvolve uma atividade educativa, as palestras e visitas, que são muito requisitadas e que ao serem observadas, apresentaram a ausência de aspectos pedagógicos necessários para que as atividades ocorressem com um aprendizado significativo. Entre outros aspectos dados como ausentes pelas Pedagogas podemos elencar o planejamento, metodologias que auxiliassem a construção do conhecimento e adequação da linguagem ao público alvo. Articular teoria e prática, integrar os saberes científico-tecnológicos bem como associar os conhecimentos específicos da formação profissional e os saberes implícitos advindos das experiências sociais e profissionais à sua prática, relacionando-os e adequando-os aos lugares em que trabalham são alguns dos desafios a serem enfrentados pelo Pedagogo em sua atuação, se for levado em conta que os avanços na comunicação, na informática e outras mudanças tecnológicas e científicas, têm influenciado os novos sistemas de organização do trabalho e das relações profissionais, os quais requerem cada vez mais que os processos de educação se realizem para além dos muros das escolas e isso, conseqüentemente, têm implicado numa redefinição dos espaços de atuação do Pedagogo e dos seus saberes. Verificamos assim, um momento social em que o pedagógico perpassa toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal abrangendo esferas mais amplas da educação informal e não-formal, criando formas de educação paralela e desfazendo praticamente todos os nós que separavam escola e sociedade, ou seja, um novo modelo de sociedade onde a educação tem um papel fundamental para o desenvolvimento humano, tecnológico e econômico, levando a um surgimento de propostas desafiadoras para que o Pedagogo inclua novas abordagens metodológicas, assim como novos conteúdos sociais vinculados a esse modelo original. 2 É interessante que ao constatar a importância que a educação tem recebido atualmente, percebe-se que esse “novo” sistema educacional, requer um profissional com múltiplas competências, o que nos remete ao Pedagogo e sua ampla formação que o torna um profissional capaz de atuar em diversos ambientes. Essa mudança no perfil de um Pedagogo decorre da concepção atual que a educação não formal recebe, sendo considerada segundo LIBANEO (2001) como uma forma de educar e construir, diferente do trabalho realizado na escola, mas nem por isso menos importante. Se levarmos em conta que as atividades educacionais que são realizadas na modalidade não formal, são de grande importância, assim como se refletirmos que nas palestras e visitas realizadas pelos bombeiros não há um olhar específico de um profissional preparado para tal atividade4, encontramos uma justificativa para examinar a ação do Pedagogo no Corpo de Bombeiro Militar de Pernambuco e o que essa atuação ocasiona de novo a esse ambiente tendo em vista a formação de disseminadores de educação preventiva. 2. O Pedagogo e a Pedagogia. Há séculos existe entre muitos estudiosos da educação, um discernimento de que Pedagogia é o modo de ensinar e o pedagógico, seria o modo de fazer o ensino acontecer. Segundo LIBÂNEO (2001), esse entendimento é simples: educação e ensino dizem respeito a crianças, inclusive porque “peda”, do termo Pedagogia, é do grego “paidós”, que significa criança. Logo, ensino se aponta a crianças; então quem ensina para crianças é Pedagogo e para ser Pedagogo, ensinador de crianças, é preciso fazer um curso de Pedagogia. Porém afirmar que o curso de Pedagogia dá-se apenas para formação de professor é simplista e reducionista, pois de fato a Pedagogia se ocupa com a formação escolar de crianças, com processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas antes disso, ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. A Pedagogia é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. 4 Durante as observações realizadas ainda no projeto de extensão, foram levantadas questões como falta de planejamento, organização, contato prévio com o público alvo para que facilitasse a preparação do que seria exposto, dos materiais didáticos e da linguagem a ser utilizada. 3 A visão dos significados e representações das finalidades da educação, que supervalorizam a organização e a instrução e subestimam os destinos e valores educativos, apequenam e alteram a identidade da Pedagogia, fazendoa distanciar de seus ideais político-transformadores e encerrando-a nas salas de aula, onde seu papel passa a ser apenas o de racionalizar ações para qualificar a eficiência do ensino, na perspectiva instrumental. Neste sentido a Pedagogia vai sendo subsumida à docência e assim, como enfatiza LIBÂNEO (2001), a formação pedagógica vai significando, cada vez mais, a preparação metodológica do professor, e, cada vez menos, campo de investigação sistemática da realidade educativa. De acordo com as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia, a formação do Pedagogo traz a importância da docência na Educação Infantil, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos do Ensino Médio na modalidade Normal e em cursos de Educação Profissional, nas áreas de serviço e apoio escolar, mas também levanta a relevância da ação do Pedagogo em outras áreas onde estejam previstas ou se façam necessários conhecimentos pedagógicos como: § Planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares; § Produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares. (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia – 2005)5 Ainda seguindo as Diretrizes Curriculares, pode-se considerar o Pedagogo como o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e a processos de transmissão, assimilação de saberes e modo de ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua contextualização histórica. Segundo LIBÂNEO (2002) esse entendimento permite a abordagem sobre três tipos de Pedagogos: § Pedagogos lato sensu, se ocupam de domínios e problemas da prática educativa em suas várias manifestações e modalidades. São incluídos, aqui, os professores de todos os níveis e modalidades de ensino; 5 Site do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.http:// www.ce.ufpe.br. Acesso em: 20 de Ago de 2006. 4 § Pedagogos stricto sensu, sendo aqueles especialistas que, com a contribuição das demais ciências da educação e sem restringir sua atividade profissional ao ensino, trabalham com atividades de pesquisa, documentação, formação profissional, educação especial, gestão de sistemas escolares e escolas, coordenação pedagógica, animação sócio cultural, formação continuada em empresas, escolas e outras instituições; § Pedagogos ocasionais, que dedicam parte de seu tempo em atividades conexas à assimilação e reconstrução de uma diversidade de saberes. Diante da abordagem de quem é o Pedagogo e qual a sua função, é necessário de igual modo especificar um conceito sobre o que é a educação e qual seu papel na sociedade. Segundo BRANDÃO, citado por CADINHA (2006, p. 23) este afirma que: Não há uma única forma, nem um único modelo de educação... Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela, para aprender, para ensinar, para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Portanto, a educação é um processo contínuo que ocorre durante a vida e tem como tarefa conduzir e tornar produtivo o desenvolvimento humano, sendo mediadora entre teoria e prática, entre o sujeito e a sua interação com o meio ambiente. Dessa forma, as mudanças relacionadas às concepções sobre educação e Pedagogo, ocasionam desafios aos quais o Pedagogo precisa superar como reorganizar seu tempo de trabalho, trabalhar em equipe, se envolver com a comunidade, atualizar-se constantemente, tornando-se um pesquisador, investigador da realidade local articulando-a com os conhecimentos disponíveis e oferecendo espaços de reflexão à comunidade sendo facilitador da produção de conhecimento e de busca de soluções. Com todos esses novos desafios pode-se compreender que o eixo da formação do Pedagogo está nos trabalhos pedagógicos escolares e não escolares que tem na docência o seu fundamento (ANFOPE, ANPED, CEDES – 2004). Logo, é possível afirmar que a docência não se limita ao trabalho em sala de aula, mas compreende processos e práticas de produção, organização, difusão e apropriação de conhecimentos que se desenvolvem em espaços educativos escolares e não-escolares, sob determinadas condições históricas, 5 definindo também o docente como um sujeito em ação e interação com o outro produtor de saberes na e para a realidade. Nesse contexto do que é a ação do Pedagogo, podemos afirmar que o curso de Pedagogia porque forma o profissional de educação para atuar no ensino, na organização e gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da educação, é, ao mesmo tempo, uma Licenciatura e um Bacharelado (CEEP 2002)6, porém essa não é a concepção de muitos estudiosos da Pedagogia tão pouco das instituições de ensino superior que em sua grande maioria tem a Pedagogia como Licenciatura Plena. Mesmo em um momento onde o aprendizado se faz extremamente necessário, assim como a ação de um profissional capacitado para a realização de atividades coerentes com o que tem sido solicitado, o Pedagogo muitas vezes, ainda é visto como o profissional que deve atuar apenas na instância escolar, reduzindo assim conseqüentemente o papel da Pedagogia. Todavia é essa abrangência de oportunidades que faz com que percebamos várias formas de educação, como também vários campos de ação para o Pedagogo e seus conhecimentos. 3. Educação não formal, formal, informal e a ação do Pedagogo. À medida que a educação da escola se mistura a educação que ocorre na sociedade, o processo educativo é adotado como uma condição essencial para que os indivíduos tenham acesso aos serviços disponíveis na sociedade. Dessa forma é relevante pensar sobre como e onde a educação pode acontecer de maneira a trazer aspectos indispensáveis para que ocorra “o aprendizado”, sendo esse tão importante para o indivíduo quanto ser social. Entretanto é imprescindível do mesmo modo refletir sobre as instâncias que desenvolvem a educação e seus paradigmas; a educação formal, não formal e informal. 6 Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Pedagogia encaminhada por: Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia e Comissão de Especialistas de Formação de Professores. Representantes da Comunidade acadêmica junto a SESu/MEC 6 A educação formal corresponde a toda atividade educacional organizada, sistematizada tendo como objetivo oferecer ensino a grupos sociais, seguindo uma diretriz educacional organizada centralizada, como o currículo, com estruturas hierárquicas através de órgãos fiscalizadores. Já a educação informal, está intrinsecamente relacionada às aquisições de conhecimento que não acontecem somente nas escolas e universidades, mas nos locais de trabalho, nas cidades, nos movimentos sociais, nas associações civis, nas organizações não-governamentais, dentre outros, sendo processual e incidindo durante toda a vida. A educação não-formal pode ser definida como toda a atividade educacional preparada fora do quadro de aparelhos formais, para proporcionar tipos de instrução a subgrupos da população, sendo mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática, não precisando seguir necessariamente um sistema seqüencial podendo ainda ter uma duração variável, concedendo assim aos que a recebem, tempo para verificar a aprendizagem. Segundo Gadotti (2005 p. 2), a educação não formal, não se estabelece em negação à educação formal, antagonicamente ela apenas se sustenta sobre um espaço diferente de ser realizada, mas constituí-se em uma modalidade educativa de natureza intencional, assim como a formal. A intencionalidade educativa da educação não formal surgiu a partir dos movimentos de educação popular e de todo um contexto que antecedeu a promulgação da Lei n° 8.69 de 13 de julho do mesmo ano – o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Porém é esse documento que recomenda a educação como princípio formativo de sujeitos, minimizando, portanto, o caráter de contenção, prevenção de delitos e exposição a situações de risco. Nessa perspectiva as instituições sem fins lucrativos passam a atuar diante de um novo paradigma: desenvolver a educação em tempo integral para crianças, adolescentes e jovens, como sujeitos de direitos que necessitam de uma educação capaz de lhes oferecer o desenvolvimento integral. Suas ações deveriam funcionar como complementar à escola, levando o público infantojuvenil ao sucesso escolar. Segundo Gonh (2006 p. 3) o paradigma da educação não formal cria um processo com quatro campos ou dimensões, que correspondem às suas áreas de abrangência. O primeiro envolve a aprendizagem política dos direitos dos 7 indivíduos enquanto cidadãos; o segundo, a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e /ou desenvolvimento de potencialidades. O terceiro, a aprendizagem e exercício de práticas que capacitem os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltados para a solução de problemas coletivos cotidianos. E o quarto é a aprendizagem dos conteúdos de escolarização formal escolar. A postura complementar da educação não formal à ação da escola – e não dissociada tampouco pretensamente substutiva – vem possibilitando um novo um novo alinhamento de programas e projetos sociais que representam uma grande força da educação que acontece fora do âmbito escolar, pois as atividades oferecem conhecimentos importantes que podem auxiliar no sucesso escolar, como também no social. De modo geral as atividades de educação não formal extra escolar, mas que ocorrem por meio de uma ação docente necessita de uma maior atenção tendo em vista que atualmente há um grande número de projetos sociais e educativos que visam complementar a ação da escola. 4. O Corpo de Bombeiro Militar de Pernambuco enquanto um espaço realizador de educação não formal. Em 1996, o Corpo de Bombeiro Militar de Pernambuco inicia um projeto denominado BOMBEIROS NAS COMUNIDADES, onde tal trabalho era dividido em 4 (quatro) áreas, quais sejam: • Bombeiro comunitário (ato de ministrar palestras “in loco” nos vários setores da comunidade); • Agentes comunitários (trabalhos junto a prefeituras, para a conscientização de adultos); • Bombeiros na escola (trabalho junto às comunidades, onde o profissional passaria cerca de uma semana à disposição de escolas públicas, ministrando aulas de acordo com um calendário de atividades) e; • Bombeiro mirim (onde os bombeiros recrutavam garotos nas diversas comunidades e os traziam para dentro dos quartéis e construíam conhecimentos de bombeiros, de modo que o garoto fosse, realmente, um bombeiro mirim). 8 Com a realização desse projeto, os bombeiros começam a ministrar palestras em diversos campos e de diversas formas, sem ser necessariamente nos quais haviam sido delimitados a princípio, escolas e outros espaços. A título de abertura, essas apresentações seguiam um modelo de aulas por faixa etária, que definiam quais os materiais didáticos, meios auxiliares à instrução e equipamentos seriam necessários para o desenvolvimento das atividades. Todavia, por questões administrativas ou até mesmo por falta de orientação na área pedagógica, o projeto foi esquecido, restando apenas, as palestras do bombeiro comunitário, que são realizadas mesmo com a ausência de inúmeros aspectos relevantes como o planejamento, a linguagem trazida de uma forma inacessível ao público, materiais didáticos, entre outros. O trabalho das palestras e visitas promove, a educação preventiva é abordada em diversos estudos, que trazem a importância desse trabalho, não apenas em países que demandem a necessidade de complementar a educação escolar, mas em todos os lugares possíveis agenciando a importância da prevenção. Um desses estudos é apresentado através da UNESCO7 que concebe a educação preventiva como o desenvolvimento de uma consciência crítica favorecendo adoção de atitudes e práticas as quais evitem situações que incidam riscos e vulnerabilidades. Da mesma forma os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem a importância do trabalho com atitudes e procedimentos mostrando em que contexto esse deve ser realizado, trazendo conhecimentos úteis e que possam ser utilizados no dia-a-dia, pois são conteúdos que se referem a como atuar para atingir uma finalidade. O trabalho com procedimentos requer uma série de ações ordenadas e não aleatória, havendo necessidade de que se realize um trabalho planejado, no qual se leve em consideração, informações sobre os indivíduos sociais. (PCNs, 1997. P. 49). Nas palestras e visitas, um dos objetivos de acordo com o projeto “Bombeiro nas comunidades”, é promover a aprendizagem que segundo Antunes (2002), pode ser definida como uma mudança relativa de comportamento que resulta da experiência. Logo podemos afirmar que essas experiências vividas ao longo da vida de um indivíduo proporcionam um 7 Entre 1993 e 1996, a UNESCO elabora um documento denominado Educação para todos, onde traz inúmeras bases para que essa educação ocorra de forma igualitária e com qualidade. Numa dessas bases consta a educação como preventiva, trazendo um papel fundamental para a precaução de situações indesejáveis. 9 aprendizado único onde cada qual absorve de uma maneira e a coloca em prática visando aprimorar sua realidade. Visando auxiliar a realização desse serviço, abrangendo o atendimento a população levando informações importantes que ajudem os indivíduos a prevenirem acidentes ou fazer com que essas pessoas consigam praticar, noções de primeiros socorros, a ação das Pedagogas chega ao espaço do CBMPE e verificar como essa atuação ocorre e o que ocasiona a esse ambiente é o norte dessa pesquisa. 5. Metodologia: Para a elaboração desse artigo, foi observado um projeto de extensão denominado “O pedagógico em ações sociais das instituições militares” 8, realizado por alunas de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco no Corpo de Bombeiro Militar de Pernambuco, logo, essa pesquisa esteve inserida numa experiência em curso onde foram implantados novos elementos para obtenção de dados que subsidiasse a compreensão de como ocorre à ação do Pedagogo num ambiente externo a escola, sendo esse espaço nesse caso especificamente o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco9. Os participantes da pesquisa resumem-se a dois grupos, sendo um de 20 (vinte) militares, com formação entre ensino fundamental (completo e incompleto) a pós-graduação, e outro, formado por 9 (nove) alunas de Pedagogia que corresponde a equipe executora do projeto10. Além de inserir a pesquisa para a produção desse artigo na execução do projeto de extensão, outros procedimentos utilizados para a coleta de dados foram a observação estruturada/ participante, assim como entrevistas semi-estruturadas com o intuito de levantar questões inerentes do trabalho realizado e necessário para a compreensão da atuação do profissional Pedagogo em ambientes que não seja a escola. Lüdke e André (1986 p. 41) afirmam que a observação possibilita um contato estreito com o fenômeno pesquisado, conhecendo as perspectivas e concepções dos sujeitos, assim como também a entrevista tem um papel 8 Projeto de extensão registrado junto a PROEXT e orientado/coordenado pela Professora Doutora Thereza Didier. 9 CBMPE – Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco 10 Vale salientar que das alunas que compõem a equipe do projeto apenas 2 (duas) já tinham experiências com educação fora do ambiente escolar e 1 (uma), a autora desse projeto, participou ativamente de todas as atividades elaboradas e realizadas no projeto como integrante da equipe de Pedagogas. 10 importante, pois através dessa técnica é permitido o tratamento de assuntos de natureza complexa além de atingir assuntos que não poderiam ser atingidos por outra técnica de coleta de dados. Com a justificativa de que o questionamento sobre o trabalho do Pedagogo com a educação não formal surge juntamente com a realização do projeto de extensão, fez-se necessário acompanhar desde a preparação do que as Pedagogas estavam propondo aos militares, como também a execução das ações, visando perceber como as Pedagogas atuariam, suas concepções e objetivos sobre esse tipo de trabalho, qual o interesse na realização e como se deu a escolha do ambiente. Da mesma forma, fez-se necessário acompanhar palestras e visitas antes da intervenção com a finalidade de compreender quais as percepções dos bombeiros acerca da educação e do trabalho realizado por eles nas apresentações. As observações das oficinas ocorreram de maneira estruturada e participante11, tendo como finalidade examinar o trabalho desenvolvido pelas Pedagogas junto aos militares e que ocorreram no mês de setembro de 2006, tendo como campo de realização o 3° Grupamento de Bombeiros localizado na Rua Arão Lins de Andrade, Bairro de Prazeres, município de Jaboatão dos Guararapes. Vale salientar que como o projeto de extensão estendeu-se a toda corporação do CBMPE, limitamos nossa amostra a esse grupamento, tendo em vista que diante do contingente a ser analisado seria possível trabalhar as informações e trazer conclusões sobre as ações realizadas no quartel. Durante as observações foram analisados no trabalho das Pedagogas, elementos como o planejamento, levando em conta as atividades, os textos trabalhados, as dinâmicas realizadas, que tipo de debates seriam levantados, a interação com o grupo de militares e os objetivos para cada um desses elementos, enquanto que para os militares as observações seriam relacionadas à participação nos debates e atividades propostas, a atenção e o interesse no trabalho da equipe do projeto, e ainda a atuação em palestras após as oficinas, visando perceber se a ação das Pedagogas surtiu algum efeito dentro do trabalho de palestras e visitas. 11 A observação participante tem como finalidade à integração do pesquisador ao grupo para compreender-lhe o sentido de dentro. 11 As entrevistas foram primeiramente realizadas com os militares, no intuito de que as ações das Pedagogas não intervisse no discurso dos militares acerca das idéias que eles concebiam sobre educação, enquanto que com as Pedagogas as entrevistas foram realizadas após as oficinas com a finalidade de propiciar primeiro a vivência para que após pudessem relatar as impressões apreendidas por elas. É importante ressaltar que os questionamentos para ambos os grupos foram elaborados de forma semelhante com o objetivo de perceber as “semelhanças e diferenças” de idéias para esses profissionais em torno da educação. Para o registro das observações, assim como a entrevista, foi usada, máquina fotográfica, para registrar algumas imagens dos trabalhos realizados pelos Bombeiros durante as oficinas e gravadores. As transcrições das entrevistas e das oficinas levantaram aspectos relevantes que durante as observações não puderam ser apreendidos. Com relação a categorização e análise dos dados, foram alcançadas as classificações homogeneizando as respostas dadas pelos grupos e comparando essas colocações, com os fatos ocorridos durante as oficinas, no intuito de subsidiar a análise sobre a ação das Pedagogas e de que forma essa ação contribui no serviço de palestras e visitas realizadas pelos Bombeiros. 6. Apresentação e Análise dos Resultados. As observações e entrevistas tiveram como objetivo levantar dados para nortear a construção do artigo visando trazer o debate sobre a importância do profissional Pedagogo em diversos ambientes externos a escola. Ao reler e analisar todos os dados levantados resolveu-se iniciar a apresentação e análise dos dados com as entrevistas realizadas antes da intervenção, em seguida a intervenção proposta no projeto de extensão que se concretiza na ação propriamente dita e logo após, de que maneira o trabalho de palestras e visitas passa a ser estruturado após a intervenção, assim como todas as percepções dos militares sobre o trabalho das Pedagogas realizados nos quartéis. 6.1 – A compreensão dos militares e Pedagogas acerca da educação (formal e não formal). Se levarmos em conta que ao longo de sua formação como ser humano e social, os indivíduos apreendem tradições, constroem conceitos e valores, 12 podemos compreender que esse indivíduo no momento em que é questionado, organiza todos seus pontos de vista e edifica seu argumento. Aproximando-se dessa diversidade em conceitos que a educação possui, LIBÂNEO (2001. p 7) afirma que: A educação é um conjunto dos processos, influencias, estruturas e ações que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais visando à formação do ser humano. Dessa forma, compreende-se a razão das dessemelhanças nas respostas dos grupos quando perguntados acerca de “O que é educação?”. Para os militares 38.8% percebem a educação como transmissão ou troca de conhecimentos, assim como 38,8% compreendem a educação como a essência da formação humana. Outros 11,11% afirmam que a educação é a instrução de pessoas para que as mesmas exerçam a cidadania de uma forma responsável, enquanto que 5,5% vêem que a educação é a solução para que um país ascenda e seja reconhecido como potência e ainda 5,5% percebem a educação como transformação e construção. No grupo de Pedagogas, 55,56% afirmam que a educação é um ato de instruir seja na sala de aula ou na vida e para a vida; 22,22% compreendem que a educação é uma prática histórica que consiste na proliferação de conhecimentos socialmente exigidos; enquanto que outros 22,22% entendem que a educação não pode ter uma única definição, tão pouco ser vista como única, porém como várias compreensões de educação que se complementam e tem o papel de humanizar o homem. À medida que lemos as respostas percebemos que os conceitos de educação estão influenciados do cotidiano, da formação que receberam, dos paradigmas em que acreditam e isso de certa forma contribui para a função que exercem como educador, papel esse que ocasiona a sociedade uma perspectiva de fortalecimento para as atividades educativas, a medida que os profissionais estão levando conhecimentos, interagindo com a população e propiciando o aprendizado. Ainda é possível afirmar que as incompatibilidades nas respostas dão-se por conta da própria formação dos grupos, pois se o Pedagogo durante seu período acadêmico debate e reflete sobre o objeto educativo e seus paradigmas, logo esse terá sobre a educação um olhar 13 diferenciado dos militares que não estiveram examinando a educação, seus avanços e retrocessos. Isso não quer dizer que o Pedagogo seja um “generalista em educação”, pois outros profissionais também compreendem e analisam processos educacionais, entretanto a especificidade do Pedagogo para com a educação o capacita para trabalhos diversos com atividades educativas, seja na educação formal ou não formal. Essa discussão nos remete novamente ao conceito de docência, pois se a docência caracteriza-se como processos e práticas de produção, organização, difusão e apropriação de conhecimentos que se desenvolvem em espaços educativos escolares e nãoescolares, podemos concluir que a ação do Pedagogo não se resume ao trabalho escolar - já que a docência também não se resume a sala de aula fazendo com que esse profissional perceba atividades educativas de uma forma diferente de outros profissionais que atuam na educação. LIBANEO (2001. p. 12,13) afirma que no campo da ação pedagógica extra escolar, existem profissionais que exercem sistematicamente atividades pedagógicas e que conseqüentemente desenvolvem um papel de mediador e educador. Especificamente nesse caso, na realização das palestras e visitas os bombeiros desenvolvem uma atividade educativa e por fim exercem um papel de intercessor do conhecimento, porém não da mesma forma, tão pouco com o mesmo olhar do Pedagogo. Esse fato de que os militares se percebem como educadores, demonstra que o trabalho de educação realizado por eles, desempenha uma função importante e por isso requer uma reflexão sobre a organização necessária em qualquer tipo de atividade educativa, como os aspectos, planejamento, a rotina de atividades, o conteúdo, a linguagem direcionada ao público alvo e o material didático12. Para os grupos há uma eqüidade quando todos conseguem admitir que a educação é importante, seja por uma razão ou por outra, mas de fato é interessante quando os militares percebem que educam e a importância dessas atividades, as palestras e visitas, para a sociedade. Podemos ver isso claramente na fala do militar exposta abaixo: 12 É importante ressaltar que essa falta de orientação implica em muitas reclamações por parte dos militares, pois apesar de estarem conscientes da importância dessa atividade, protestam por falta de materiais e de capacitações que supram a ausência desse olhar pedagógico. 14 A educação acontece no trabalho, na rua, na igreja e em outros lugares. E a partir do momento que recebemos ou que repassamos informações, conceitos e valores, somos sim educadores“ (Soldado Vieira). Antes da intervenção a percepção dos militares sobre a educação consistia em opiniões de um profissional cuja formação não compreende o estudo de processos educativos. Logo, entende-se que a visão do militar sobre a educação não poderia ser como as das Pedagogas, se levarmos em conta a formação de ambos. Os militares possuem um olhar sobre a educação como a maioria da população, indivíduos cobradores dos seus direitos, que percebem a importância da educação para a ascensão profissional e social, assim como a relevância do acesso a educação para todos. Esse fato pode ser embasado por LIBANEO (2001) quando afirma que a educação é um bem social, mas que não atende a toda demanda da população e como todo o direito oferecido a sociedade, a educação também é cobrada por sua importância. Outro elemento embasador da visão dos militares pode ser visto na fala de um Capitão exposta a seguir: “A educação é a única solução para um país que deseja ser reconhecido pelos demais como potência mundial. É um processo em longo prazo, mas que deve inserir todo e qualquer indivíduo social como direito”. (Capitão Lúcio). Ainda foi possível observar que alguns militares por terem um certo grau de experiência nas palestras utilizam-se de “brincadeiras” para tornar as atividades mais atrativas, porém essas mesmas “brincadeiras” além de não tornar a apresentação interessante, são colocadas de forma a trazer relação com elementos sexuais que não fazem parte da proposta das palestras, mas que, entretanto poderiam ser trabalhados em outra área educativa focando também a prevenção. Dessa forma, levar conhecimentos pedagógicos a um ambiente que desenvolve atividades educativas e por fim fazer com que essas pessoas percebam a importância do serviço que prestam é um dos elementos do trabalho realizado pelas Pedagogas, que veremos a seguir nas observações das oficinas realizadas no 3° Grupamento. 6.2 - Levando o pedagógico para o ambiente militar. Nos dias 14, 21 e 28 do mês de setembro de 2006, foram realizadas as oficinas no 3° Grupamento de Bombeiros, já mencionado na metodologia como ambiente de nossa amostra. As oficinas foram planejadas pela equipe de Pedagogas, com o objetivo de trabalhar elementos essenciais a uma atividade 15 educativa, levantados por elas durante a primeira parte do projeto que consistia na observação das palestras e visitas. Iniciando as oficinas foram apresentados, ao grupo de militares, o projeto e qual a finalidade do mesmo e a equipe executora do projeto, formada pelas Pedagogas. Foi proposto um tema que nortearia o desenvolvimento geral das oficinas: A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DOS BOMBEIROS PARA A SOCIEDADE CIVIL e sub - temas que traziam particularidades para cada uma das oficinas associadas aos eixos que a equipe de Pedagogas queriam trabalhar, como: A primeira oficina trazia o sub tema “A adequação da linguagem ao público alvo”, onde através das teorias de Vygotsky, a equipe de Pedagogas trabalhou a Zona de Desenvolvimento Proximal e a importância da linguagem para a mediação e construção do conhecimento. A segunda oficina o sub-tema “Princípios básicos para trabalhar com grupos”, trouxe aspectos necessários para o trabalho com grupos como a individualidade de cada um no grupo, o papel do educador no trabalho com grupo, os limites e vínculos e ainda os vários perfis dos grupos. A terceira oficina trouxe como sub-tema “O planejamento” onde foi enfatizada a importância desse elemento tanto para as atividade do nosso cotidiano, quanto para o trabalho de um educador. As oficinas foram programadas e divididas em três momentos: Um primeiro instante, onde era colocada uma música, e feita uma reflexão sobre a mesma; logo após era realizada uma dinâmica e a leitura de um texto e finalizando, o terceiro momento que culminava numa apresentação criativa do que foi trabalhado durante as oficinas. À medida que as oficinas iam sendo realizadas era possível constatar que os militares, colocavam suas opiniões acerca do serviço de palestras e visitas. Na percepção dos militares, as exposições constituem um trabalho educativo importante, porém que recebe pouca atenção e fazem referência a alguns elementos que causam essa desatenção: o contingente de homens para atender palestras e ocorrências, a falta de materiais e treinamentos que auxiliem a realização do trabalho, ou seja, uma das maiores fontes de queixa entre os militares é a falta de apoio por parte da instituição, tendo em vista que as solicitações para a realização das palestras e visitas são aceitas, mas não é disponibilizado tempo para que os bombeiros planejem, tão pouco, se dispõe 16 de materiais didáticos para a execução das palestras, o que acarreta atividades realizadas sem a organização necessária e ainda trazendo outro fator extremamente prejudicial às apresentações, a má vontade e a falta de dedicação dos militares.Outro elemento interessante observado nas oficinas é, que esse projeto iniciou debates acerca da educação onde os militares levantavam questionamentos e faziam colocações sobre seu trabalho, o relacionamento dos Bombeiros com a população e que isso acarretava para o trabalho de palestras e visitas, uma peculiaridade no sentido de que o público – sejam crianças ou adultos – paravam para ouvir as apresentações. Ainda é relevante abordar como um diferencial desse trabalho para inúmeros outros realizados num ambiente externo a faculdade, sejam em projetos de extensão ou em trabalhos realizados por Pedagogos fora da escola, é que esse espaço se constitui em bases hierárquicas, militarismo, o que a princípio poderia representar um obstáculo para o trabalho construtivista das Pedagogas. Porém foi proposto no contrato didático realizado na primeira oficina, que fossem esquecidas todas as patentes e que nos momentos das oficinas todos estivessem ali como instrutores que realizam palestras e visitas. Mesmo durante a realização das atividades criativas propostas pela equipe de Pedagogas, foi possível perceber que essa ausência de materiais didáticos, o que representa um dos maiores pontos de críticas, não é um problema, pois à medida que foi disponibilizado um tempo para que os militares criassem as atividades, todas foram realizadas com êxito por todos os grupos de militares. É importante salientar que as oficinas propostas no projeto, retratam uma ação de apoio a uma instituição que desenvolve um trabalho educativo, mas que, no entanto não possuem um olhar diferenciado sobre essa atividade, nem sobre sua importância. Todavia as Pedagogas no intuito de levar conhecimentos específicos da educação levantaram reflexões importantes entre os militares acerca da educação e do seu papel enquanto educadores. 6.3 – Os pontos de vista dos Militares e Pedagogas acerca das ações desenvolvidas por Pedagogas no Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco. Com o intuito de constatar a ação do Pedagogo num espaço não formal, militar, assim como também se essa intervenção trouxe algum elemento novo 17 para o serviço de palestras e visitas, foi perguntado aos dois grupos (militares e Pedagogas) o que poderia ser destacado como mais importante e significativo no trabalho realizado pelas Pedagogas dentro do espaço militar do CBMPE, e apenas para as Pedagogas foi indagado de que forma elas perceberam que contribuíram para o aprimoramento da realização das palestras e visitas. As respostas aparecem da seguinte forma: 38,18% dos militares destacam o repasse dos conteúdos e a aplicação das atividades de forma responsável e interessante; outros 27,77% garantem que o auxilio trazido até o CBMPE através das oficinas, visando melhorar a sociedade é o aspecto mais interessante; e ainda 22,2% colocam como elemento mais importante da ação das Pedagogas a forma inovadora de trabalhar e 16,66% destacam como item mais relevante no trabalho das Pedagogas, o conhecimento específico levado até o grupamento, a auto confiança e a interação com o grupo de militares. Com relação às respostas dadas pelas Pedagogas, é interessante expor que todas fazem referência a abordagem feita durante as oficinas sobre a importância do serviço desenvolvido pelos Bombeiros nas palestras e visitas, pois elas afirmam que à medida que trabalhavam a importância das palestras e visitas, os militares compreendiam a relevância de um olhar diferenciado para a educação quando lidamos com a sociedade em atividades educativas. Outros 66,66% percebem como mais importante no trabalho desenvolvido nos grupamentos, a didática oferecida como forma de levá-los a pensar sobre a necessidade dos aspectos educativos, e ainda 33,3% afirmam que o mais importante dessas ações desenvolvidas nos grupamentos foi o fato de vivenciar uma experiência extra-escola aonde a gratificação vem através da possibilidade de trabalhar aspectos que são importantes para uma atividade desenvolvida por eles, porém que eles não tinham conhecimento até a intervenção das Pedagogas. No instante em que alguns militares destacam como aspecto mais importante do trabalho das Pedagogas, a autoconfiança, o querer ajudar, a responsabilidade e a forma inovadora de trabalhar, percebemos que em certos ambientes os aspectos educacionais tão trabalhados com os Pedagogos durante a sua formação, ainda se fazem ausentes e distantes de outros ambientes, mesmo que esse desenvolva atividades educativas. À medida que um ambiente como os grupamentos de bombeiros, uma instituição militar, 18 realizadora de uma atividade educativa, concebe a importância da atividade que realizam e acolhem as orientações de um grupo de Pedagogas, percebemos que a educação extrapolou os limites da escola e que projetos sociais tem uma força diante da sociedade, pois complementam e auxiliam os ensinamentos escolares específicos que a escola não detém, ou seja, os espaços de educação não formal não atuam em contravenção a escola, apenas traz mais um ambiente onde a educação pode acontecer. LIBANEO (2001 p. 12) coloca que é preciso distinguir o pedagogo especialista, do pedagogo docente, pois em um leque amplo de atividades educativas existem até aqueles que por desenvolverem atividades sistemáticas educativas, desempenham o papel de pedagogos, ficando claro que a contemporaneidade mostra uma “sociedade pedagógica”, revelando amplos campos de atuação pedagógica, isso nos é demonstrado através do trabalho pelos bombeiros ante as palestras e visitas. Obviamente não cabe imaginar que o curso de Pedagogia venha a incluir a formação de todos os profissionais que realizam atividades educativas, mas que não tem a devida formação, porém deveria ser previsto para esses profissionais, formas de capacitação, cursos de aperfeiçoamento ou atualização, dentro de atividades de extensão universitárias, até mesmo retirando a visão de que a universidade é lugar do ócio e que o conhecimento produzido se torna patrimônio da instituição e não da sociedade. Ainda foi possível perceber que a atuação das Pedagogas, pouco interviu nas concepções de alguns militares, que ainda sim durante as oficinas relutaram em aceitar as colocações propostas pelo projeto. Isso pode ser observado durante as oficinas nos instantes em que dois militares demonstraram insatisfação em participar do processo. Isso, no entanto não quer dizer que o trabalho das Pedagogas não teve relevância, mas só ratifica que a instituição não provém capacitações para que esses militares compreendam a relevância do trabalho que realizam nas palestras e visitas. 6.4 – O serviço de palestras e visitas após as oficinas realizadas no 3° Grupamento de Bombeiros. Após a intervenção das Pedagogas, ainda foram observadas palestras do grupo de militares participantes das oficinas, com o objetivo de verificar se as informações repassadas de fato levaram os bombeiros a construir algum 19 conhecimento partindo dos princípios pedagógicos trabalhados durante as oficinas. É importante relatar que durante as oficinas, a aplicação e o cuidado dos militares com tudo o que estava sendo abordado trouxe uma expectativa para equipe de Pedagogas, de que daqueles momentos em diante, as palestras e visitas seriam trabalhadas de forma diferenciada. E toda essa perspectiva de mudança começou a ocorrer nas palestras e visitas ministradas pelo grupo dos militares que participaram das oficinas, o que vem ratificar que as ações das Pedagogas desenvolvidas nessa instância militares tiveram um papel importante, que no geral foi o de modificar as velhas concepções de que aquele trabalho realizado com o público externo aos quartéis poderia ser realizado de qualquer forma, com qualquer intenção, de qualquer maneira. É certo de que o número de oficinas foi pequeno para o que necessitava ser trabalhado, porém foi o proposto no projeto e foi o realizado. No entanto, podemos afirmar que mesmo o número de palestras sendo de pequena quantidade e mesmo com alguns militares não participando espontaneamente, foi importante perceber que os conteúdos trabalhados durante as oficinas, iniciaram um processo de reflexão nos militares. Nas primeiras palestras pós-oficinas, foi observado que além de planejar tempo, assunto, métodos de linguagem, também foram preparados minuciosamente o material didático, como também foram usados métodos trabalhados pelas Pedagogas com a equipe de militares como o contrato didático. Faz-se necessário narrar que diante dessas alterações as Pedagogas concluíram seu trabalho nesse Grupamento, com o sentimento de que a formação oferecida, na Universidade Federal de Pernambuco, a essas profissionais Pedagogas, as capacitou para desenvolver trabalhos nos mais diversos ambientes, fazendo com que a educação não se restrinja apenas ao ambiente escolar, mas que possa ser compartilhada e oferecida com qualidade também em espaços extra escolares. 7. Considerações finais: Estar num ambiente distinto da escola e realizar um trabalho diferenciado de uma aula, trabalhando com outros educadores, proporcionou um grande aprendizado a equipe de Pedagogas. Se levarmos em conta que o ambiente ainda apresentava um agravante que era o fato de ser um espaço 20 militar, impregnado de autoritarismo, de uma cultura dominante e hierarquias, esse aprendizado torna-se ainda mais valioso à medida que durante o trabalho proposto pelo projeto quebrou esse paradigma autoritário por alguns instantes. Vale salientar que a participação no projeto de extensão dificultou o olhar crítico sobre as atividades realizadas pelas Pedagogas, o que não quer dizer que a ação dessa equipe esteja livre de críticas. No entanto, compreendemos que o esforço de levar esse conteúdo, a dinâmica dos trabalhos, superam as dificuldades quando é observado que o número de oficinas foi pequeno e o horário dificultoso, entre tantos outros aspectos que poderiam ser listados como obstáculos para a realização do trabalho. À medida que foi percebido que as palestras e visitas – serviço prestado a sociedade pelo CBMPE - mesmo tendo um papel importante, estavam sendo desenvolvidas num caráter de irrelevância, onde não se levava em conta o público pra quem seria desenvolvida tal atividade, tão pouco a linguagem e o material didático, e foi se trabalhando durante as oficinas um processo educativo e sua importância modifica-se (não integralmente) parcialmente a concepção de que podemos realizar qualquer atividade, de qualquer forma. Os militares puderam aprender que realizam um trabalho educativo não formal, o qual já havia sido planejado pelo CBMPE, mas que por falta de inúmeros elementos veio a deixar de acontecer da forma como havia sido esquematizado, ficando apenas as palestras e visitas convencionais. Os militares também puderam compreender a importância desse trabalho e de idealiza-lo num formato coerente, da mesma maneira tantos outros aspectos e assuntos abordados, que de alguma forma trabalharam suas concepções levando-os a refletir sobre o que é educar, qual a importância da educação e qual a importância dos projetos de educação não formal para a complementação do ensino escolar. Os indícios da importância do aprender ocorrem na nossa interação com o outro, fazendo com que essa influência mútua traga a mediação do aprendizado que estamos construindo. O que acontece conosco é que se o que aprendemos não tem sentido, não atender alguma necessidade, não “apreendemos”. O que aprendemos tem que “significar” para nós. Alguma coisa ou pessoa é significativa quando ela deixa de ser indiferente. Esquecemos o que aprendemos sem sentido, o que não pode ser usado logo, é coerente 21 trazer esse sentido da importância da educação nas palestras e visitas, fazendo com que a utilização do conhecimento construído, aconteça por parte da população de uma forma consciente. Gadotti (2005 p.3) afirma que as novas tecnologias da informação criaram novos espaços do conhecimento e agora além da escola outros espaços podem fornecer educação, propiciando o aprendizado. Percebendo então através dessa fala que o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco através das palestras e visitas desenvolvem uma atividade extra escolar educativa, compreende-se que há um espaço para a ação do Pedagogo nesses ambientes, tendo em vista que esse profissional esteve durante toda sua formação, debatendo acerca de práticas e processos educacionais, refletindo sobre temáticas sociais e sendo capacitado para orientar atividades educativas, mesmo que essas atividades sejam realizadas fora do ambiente escolar. É notório que o Pedagogo já realiza ações externas ao espaço escolar em capacitações, projetos de prefeituras e governos, ONGs, etc, porém ampliar esse leque de espaços para ação desse profissional não quer retirar a responsabilidade do Pedagogo para com a docência, mas leva-lo a perceber que sua ação pode intervir de forma benéfica e relevante em diversos ambientes. Por exemplo, uma das discussões pertinentes nesse caso é o fato de o Pedagogo atuar em locais que antes se faziam fechados para esse profissional, como empresas, quartéis. Vivenciar três dias de ação de uma equipe de Pedagogas e perceber que de alguma forma as ações ali realizadas trouxeram um novo significado para o trabalho de palestras e visitas, fez com a que a formação de anos se tornasse nova e que trouxesse com ela novos aprendizados. Hoje em dia ainda é limitado o número de estudiosos que acreditam na atuação do pedagogo em outros ambientes não formais. Porém essa perspectiva de crescimento da educação não-formal e na atuação do pedagogo é relevante, precisando ser trabalhada com seriedade. Se essa busca por novos horizontes na docência é necessário, faz parte dos saberes desse profissional continuar indagando, sobre o sentido do que estão fazendo na atividade educativa, aprimorando assim o sentido da educação enquanto processo de ascendência social. 22 No contexto contemporâneo onde se faz relevante promover a educação, é importante também trazer essa discussão sobre de que forma o Pedagogo pode atuar ante a sociedade, sem reduzir seu trabalho na escola, mas também não restringindo essa ação apenas a esse ambiente. Não se trata aqui de cobiçar que o curso de Pedagogia adote a “Pedagogia empresarial” e faça desse apenas seu único norte. Não se trata também de querer que a partir dessa pesquisa o Pedagogo não atue mais nas salas de aula. Mas o alvo dessa pesquisa é levantar o debate sobre a ação do Pedagogo em outros ambientes que não seja restritamente a escola, mas em ONGs, hospitais, etc. Se a docência não se resume ao trabalho formal da escola, qual a razão de demarcarmos o espaço onde o Pedagogo pode ou não atuar? Por qual razão tem de ser apenas a escola? A escola é o espaço oficial onde ocorre o aprendizado, porém não o único. Respeitar o ambiente escolar, reconhecer que esse local também necessita da ação do Pedagogo é relevante e imprescindível, mas porque não aproveitar que outros locais podem auxiliar o trabalho realizado na escola através da educação não formal e trabalhar a ação do Pedagogo fora do espaço formal? A educação atualmente levanta novos desafios para todos os profissionais que estão envolvidos com o ensino. Refletir sobre a importância do Pedagogo, seu papel e os vários espaços para ação desse profissional representa apenas um, das muitas provocações que os novos paradigmas educacionais trazem para nossa ponderação. 8. Referências Bibliográficas: ALMEIDA, Arnóbio José de WASHINGTON, Vieira de Barros. Implementação das Instruções de Manutenção e Atualização do efetivo do CBMPE, segundo os padrões da NBR Iso 10015: “Diretrizes Para Treinamento”. Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais Bombeiros Militares. Jaboatão dos Guararapes, 2005. ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar, novas formas de aprender/ Celso Antunes- Porto Alegra: Artmed: 2002. 23 ARAÚJO, Meyre Lúcia de.RIBEIRO, Maria Souza. RIBEIRO, Luzia Souza. Atuação do Pedagogo em espaços não escolares. Revista Acadêmica Alfa. Outubro de 2004. BRANDÃO, Carlos R. Ousar utopias: da educação cidadã à educação que a pessoa cidadã cria. In: AZEVEDO, José Clóvis de, GENTILLI, Pablo, KRUG, Andréa e SIMON, Kátia (orgs). 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