Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. A Estética da Tradição – Uma Análise da Embalagem do Sabonete Phebo Odor de Rosas1 Andreza Jackson de VASCONCELOS2 Scarleth Yone O´HARA3 Universidade Federal do Pará, Belém, PA RESUMO O presente artigo propõe analisar a importância da comunicação visual na performance da embalagem do tradicional sabonete Odor de Rosas, produto mais importante e representativo da Perfumaria Phebo, uma empresa paraense. Inspirada nos sabonetes ingleses e nos perfumes franceses, a Perfumaria Phebo foi famosa nas décadas passadas pela qualidade de seus produtos, que se associavam a requinte e elegância, conceitos esses, claramente refletidos em suas embalagens. Este artigo pretende estudar o resgate da tradição mantida pela Perfumaria Phebo ao longo das décadas, no sentido da reafirmação de suas ações mercadológicas, em prol da manutenção de sua imagem “artesanal” e “nostálgica”, frente a um tempo de grandes avanços tecnológicos. PALAVRAS-CHAVE: comunicação visual; embalagem; tradição; Perfumaria Phebo; sabonete Odor de Rosas. INTRODUÇÃO Em meados dos anos de 1930, baseando-se no famoso sabonete inglês da época, o Pears Soap, começou a história do lendário sabonete Phebo Odor de Rosas, oval, transparente e negro, que logo se tornou o principal produto da fábrica A.L. Silva. Por conta do tamanho sucesso que o sabonete alcançou, a fábrica mudou a sua razão social, passando a chamar-se Perfumaria Phebo. Ao longo dos anos, a Perfumaria Phebo passou por várias mudanças na sua administração e atualmente, pertence a Granado Pharmárcias do Rio de Janeiro, que a reposicionou no mercado e criou produtos que se associam aos conceitos de moda, estilo e elegância. A Phebo se modernizou e resgatou a sua essência, passou a reafirmar sua tradição e qualidade, e as embalagens, todas reformuladas, passaram a refletir esse posicionamento. Por esse motivo, este artigo propõe-se analisar a importância da estética4 da comunicação visual para o resgate do conceito tradição na embalagem do sabonete Odor 1 Trabalho apresentado na Divisão Temática DT02 – Publicidade e Propaganda, da Intercom Júnior – Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), e-mail: [email protected]. 3 Orientadora do trabalho. Professora Doutora do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Pará (UFPA), e-mail: [email protected]. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. de Rosas, produto mais importante e representativo da Perfumaria Phebo, que existe há mais de 80 anos. Mesmo possuindo um amplo portfolio de novos produtos, o mais antigo e tradicional, o sabonete Phebo Odor de Rosas, continua sendo o carro chefe nas vendas e por incrível que possa parecer, a comunicação visual de sua embalagem continua praticamente a mesma desde seu surgimento. MAIS QUE MIL PALAVRAS – A IMPORTÂNCIA DO VISUAL NA COMUNICAÇÃO ENTRE MARCA E CONSUMIDOR A comunicação visual refere-se àquela comunicação que utiliza recursos visuais, como imagens, desenhos, gráficos, entre outros. Surgiu com as pinturas feitas nas cavernas. O homem primitivo utilizava essas pinturas para se comunicar: transmitir ideias, desejos, sentimentos, conhecimentos, experiências ou informações. Com o tempo, há o aparecimento da escrita, que vem assumir importante papel na comunicação. Mas, atualmente, em uma sociedade marcada pela rapidez e pela acirrada concorrência, comunicar-se muitas das vezes torna-se um desafio. Por conta disso, a imagem (o visual) assume um papel fundamental. A imagem é imediatista, ou seja, para compreendermos um texto precisamos ler primeiro, no caso da imagem é o oposto, a imagem impacta primeiro para depois ser entendida. Além disso, ela facilita a comunicação. Uma mensagem escrita pode ser difícil de entender, mas quando ela utiliza ou é totalmente uma mensagem visual, a facilidade na compreensão aumenta. Uma imagem vence barreiras de idioma, espaço e tempo. É possível perceber isso quando estamos em um local de cultura e idioma diferentes, onde é a imagem quem nos guia, ou seja, é o visual. Observa-se que a imagem é mais fácil de ser lembrada, do que palavras. Por exemplo, as crianças conseguem distinguir imagens antes mesmo de aprender a falar (STRUNK, 2003). 4 O termo estética foi cunhado no século XIX pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten a partir da palavra grega aisthetikós (que significa “perceptivo, principalmente através dos sentimentos”). De acordo com Baumgarten, o termo refere-se a um ramo especial da filosofia que tem como objetivo produzir “uma ciência de conhecimento sensorial em contraste com a lógica, cuja meta é a verdade” [...] A questão como o benefício estético acontece ainda é assunto de debate no meio filosófico [...] Os filósofos sustentam, todavia, visões divergentes sobre como o valor estético é proporcionado. Alguns argumentam que objetos proporcionam valor estético por possuírem determinadas características estruturais que atraem as pessoas, como unidade formal, boa Gestalt ou outras qualidades atraentes. Outros afirmam que objetos proporcionam benefício estético graças a sua referenciabilidade, isto é, por funcionar como símbolos que lembram outras coisas agradáveis (SCHIMITT e SIMONSON, 2002, p. 33). 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. Para existir, a mensagem visual é composta de uma lista básica de elementos, como a linha, a forma, a cor, a textura, entre outros. São esses elementos que são a matériaprima de toda mensagem visual. Diante disso, conclui-se que o visual assume um papel importantíssimo em uma marca, que deve sempre trabalhar a sua identidade visual, especialmente nas suas embalagens5, para assim comunicar-se de forma eficiente com os seus clientes. NASCENDO PARA BRILHAR: A TRAJETÓRIA DE SUCESSO DA TRADICIONAL PERFUMARIA PHEBO 1. Da antiga Fábrica Minerva à Perfumaria Phebo S/A No Brasil, os imigrantes representavam os maiores comerciantes e industriais no início do século XX (MARCOVITH apud CHIACCHIO, 2010). Em Belém do Pará, nessa época, os Santiago, família de imigrantes portugueses, possuíam uma fábrica de cigarros chamada Fábrica Minerva Ltda., a qual era liderada por João da Silva Santiago, o patriarca da família. Por ser uma fábrica pequena e familiar, a produção de cigarros, charutos e fumo em geral, era feita de modo manual, como também a sua venda, pelos próprios membros da família. Contudo, procurando expandir os negócios da família, a Fábrica Minerva associou-se com a A.L. Silva Companhia Ltda. e foi registrada em 1931, mas funcionava desde 1924. Então, a A.L. Silva começou a produzir chapéus, pois nessa época, a sociedade belemense aspirava à cultura europeia (DAOU, 2000). Com isso, também nesse período, houve uma forte concorrência dos chapéus importados, mas com o tempo, o uso de chapéus foi ficando ultrapassado. Desse modo, procurando outro ramo de negócios, a A.L. Silva começou a produzir produtos de perfumaria, mas foi com a incorporação da Perfumaria Lusitana, ainda durante a década de 1930, recebida como pagamento de uma dívida, que a fábrica passou a dedicar-se de fato, ao ramo de perfumaria e higiene pessoal, destacando-se a produção de sabonetes. É nessa época que surgiu o sabonete Odor de Rosas. A criação do sabonete Odor de Rosas representou uma grande novidade, pois era o único sabonete negro e com odor forte do mercado. Portanto, o sabonete logo se tornou 5 Diferente do anúncio, a embalagem exerce um papel de proximidade muito maior com o consumidor. Está ali, na gôndola, em frente aos olhos, pronta para fisgar quem está olhando. O poder de sugestão e persuasão é indiscutível (CESAR, 2006, p. 192). 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. famoso e o principal produto da A.L. Silva, tanto que sua razão social foi alterada em 1931 (mas registrada só em 1936), passando a chamar-se de Perfumaria Phebo Ltda. Devido ao sucesso que o sabonete Odor de Rosas alcançou, ocasionando o aumento do lucro da perfumaria, a Phebo Ltda., em 1937, ampliou suas instalações e fundiu-se com a fábrica de Perfumarias Paraenses, que além de perfumes, produzia produtos de higiene pessoal, cosméticos e embalagens. Anos depois, na década de 40, durante a Segunda Guerra Mundial, houve uma escassez de matérias-primas. A Phebo utilizava essências regionais para a composição dos seus produtos, mas muitas ainda eram importadas. Diante disso, a Phebo começou a dedicar-se a produção de embalagens. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Phebo voltou a produzir normalmente os seus produtos. É então que em meados de 1940, lançou a Seiva de Alfazema, uma colônia suave inspirada nos Alpes suíços, que torna-se o segundo produto mais importante da perfumaria e grande responsável pela conquista de mercados no sul e sudeste do país. Um comercial da Seiva de Alfazema, veiculado na década de 1980, produzido pelo publicitário Vander Cairo Levi, conquista o Leão de Ouro em Cannes, na França, um dos mais importantes prêmios da propaganda mundial. Esse prêmio representou uma grande conquista para a Phebo, que ainda era uma empresa familiar. Devido ao crescimento que a Phebo obteve nas décadas de 1940 e 1950, proporcionado principalmente pelo sabonete Odor de Rosas e pela Seiva de Alfazema, a perfumaria altera novamente a sua razão social em 1957, passando a chamar-se de Phebo Sociedade Anônima ou simplesmente, Phebo S/A. Esse crescimento que a Phebo obteve, conquistando mercados nacionais e internacionais, possibilitou sua expansão para fora do Estado, e em 1961 foi criada uma filial em São Paulo, que dedicou-se a produção de perfumes, desodorantes, colônias e a Seiva de Alfazema. Em 1973, a Phebo criou a sua mais moderna fábrica, desta vez em Feira de Santana na Bahia, onde começaram a serem produzidos sabonetes opacos, como o sabonete da Turma da Mônica. Nos anos 80, o Brasil viveu a chamada “década perdida” e a Phebo passou por grandes dificuldades, como a diminuição de sua receita e do seu lucro, entretanto, ainda continuou entre as principais empresas no setor de perfumaria, higiene e limpeza do país. Outro problema enfrentado foi quando Mário Santiago, diretor geral da empresa, afastou-se da administração por problemas de saúde e membros da família começaram a 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. brigar por cargos administrativos sem terem qualificações necessárias. Por conta dessas disputas internas, a Phebo foi vendida para a multinacional americana Procter & Gamble Company (P&G) em 1988, que desejava entrar no mercado brasileiro de cosméticos e perfumes. Tempos depois, apresentando uma queda nas vendas, principalmente por ter alterado a fórmula original do sabonete Odor de Rosas, que logo foi percebida pelos consumidores, a Procter & Gamble vendeu a fábrica da Phebo para a Granado Pharmácias do Rio de Janeiro em 1988 e a marca6 Phebo para a empresa holandesa Sara Lee DE/Household & Bodycare. Seis anos depois, em 2004, a Sara Lee vendeu a marca Phebo para a Granado, que obteve o controle total da empresa e, a partir de então, a marca Phebo passou por várias mudanças. 2. A nova Phebo Ao longo de décadas, a Phebo conseguiu estabelecer uma fidelidade muito forte com seus consumidores e era vista por eles como uma perfumaria de luxo, tanto que “o sabonete Phebo era o que havia de mais sofisticado, e as pessoas costumavam usá-lo em dias especiais”, como conta Sissi Freeman, atual diretora de marketing da Granado (DIÁRIO DO PARÁ, 2010). A qualidade artesanal dos produtos foi praticamente perdida com a Procter & Gamble, como também, com o tempo, a Phebo passou a ser vista como uma marca envelhecida, que ficou parada no tempo. Por esse motivo, a Granado resolveu reposicioná-la e procurou descobrir o que fez os consumidores se afastarem dos produtos da empresa. Foi feita então uma pesquisa, como conta Sissi Freeman: “Fizemos uma pesquisa com dois produtos: um com o odor que estava sendo produzido e outro com o antigo. Quando mostrávamos para as pessoas, elas diziam que o primeiro não era Phebo, mas quando sentiam o odor do segundo, começavam a lembrar de histórias, do avô, por exemplo”. (DIÁRIO DO PARÁ, 2010). A pesquisa, além de revelar que os consumidores perceberam a mudança no perfume original do produto e desejavam tê-lo de volta, também revelou que os produtos traziam 6 A marca é um nome, normalmente representado por um desenho (logotipo e/ou símbolo), que, com o tempo, devido às experiências reais ou virtuais, objetivas ou subjetivas que vamos relacionando a ela, passa a ter um valor específico. Quando nos referimos a marcas, quase sempre nos lembramos de empresas, seus produtos ou serviços, mas elas são igualmente importantes para designar religiões, partidos políticos, instituições, clubes esportivos e até pessoas (Pelé, Xuxa, etc.), além de uma infinidade de outras atividades humanas [...] A teoria da comunicação nos ensina que todo signo tem uma função e uma representação. Em nossa economia não existem marcas só com uma função (valor de uso). Todas têm também uma representação, que nos é transmitida pela experiência de seu consumo, pelo que nos é relatado por terceiros ou por suas ações de comunicação (STRUNK, 2007, p. 18). 5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. boas lembranças, fato esse importante, ao indicar que a marca não estava esquecida. Diante desses dados, a Granado resolveu resgatar o que havia de mais essencial na marca Phebo: o seu odor característico. Com a Granado, a Phebo reformulou a sua identidade visual, sem perder a sua essência e seu ar nostálgico. Portanto, inspiradas nas suas antigas embalagens, todas foram reformuladas, tornando-se mais atrativas, porém, essas alterações, não descaracterizaram os produtos, apenas os modernizaram. A ideia foi resgatar toda a tradição da marca, tornando-a atual, por isso, adotou a estética retrô7. Deixou a efêmera popularidade, resgatou os seus valores tradicionais dos tempos áureos e pretende firmarse como grande perfumaria, investindo fortemente no desenvolvimento de novos produtos. A sua identidade com a Amazônia está cada vez mais forte, e é assim que deseja ser vista daqui para frente, como uma empresa genuinamente paraense, por esse motivo, a sua fábrica nunca saiu de Belém. MUITO MAIS QUE “ODOR DE ROSAS”: A MARCA PHEBO – ESSÊNCIA E INSPIRAÇÃO Nos anos de 1930 em Belém, os primos e imigrantes portugueses Mário e Antônio Santiago, detentores da fábrica A.L. Silva Companhia Ltda, tiveram a ideia de criar um sabonete brasileiro tão bom quanto os sabonetes importados, que eram de origem inglesa. Os primos então, inspirando-se no sabonete mais famoso da época, o Pears Soap8, começaram a pesquisar e analisar essências naturais típicas da região amazônica para a composição do sabonete, chegando a uma mistura de pau-rosa e diversas outras essências, como cravo da Índia, sândalo e canela de Madagascar. Assim nasceu, o sabonete Odor de Rosas. O sabonete primeiramente foi chamado de “London Otto Rosa” uma clara cópia do sabonete Pears – Otto of Roses, tanto que seu slogan de lançamento era “sabonete de 7 O retrô, refere-se ao passado, ou seja, são produtos atuais que remetem há outros tempos, é uma espécie de saudosismo (observação da autora, baseando-se no site MUNDO DO MARKETING. Disponível em <http://migre.me/fn4GJ>. Acesso em: 15 out. 2011. 8 O Pears Soap (sabão Pears), que recebeu este nome por causa de seu criador, Andrew Pears, foi criado em Londres no ano de 1789. Entre seus clientes, incluíam muitas socialites, que preocupadas em manter a pele clara (pois associavam a pele queimada de sol aos trabalhadores), compravam os seus pós e cremes, como também, utilizavam esses produtos para aliviar os danos causados a pele, por uso de sabonetes, que na época, muitos continham chumbo e arsênico na composição. Diante disso, Andrew começou a fazer experiências para criar um sabonete que não agredisse a pele. Foi então, que chegou a uma fórmula suave, a base de glicerina e outros produtos naturais, como o alecrim, criando assim, o primeiro sabonete registrado no mundo. PEARS SOAP. Disponível em: <http://migre.me/fn4JX>. Acesso em: 10 out. 2011. 6 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. charme inglês”. A A.L. Silva nunca negou a imitação ao Pears Soap, pelo contrário, foi uma estratégia usada para promover o produto, fazendo com que a qualidade do sabonete inglês fosse vista também no London Otto Rosa, mas com um diferencial: ser um produto brasileiro, especificamente paraense, que utilizava essências regionais para a sua fabricação. Com isso, o desenvolvimento do sabonete foi estrategicamente pensado pelos primos perfumistas, para ser um produto de grande qualidade e consumido por pessoas de classe alta, assim, a sua embalagem também exercia função importante para repassar esse conceito, e o London Otto Rosa vinha luxuosamente embalado, da mesma forma, que o Pears Soap. Pouco tempo depois, o London Otto Rosa passou a chamar-se “Londres Odor de Rosas” e ao tentar-se registrar o nome do sabonete, a A.L. Silva encontrou dificuldades, pois já havia no mercado um produto com mesmo nome. Então, Antônio Santiago sugeriu o nome Phebo, inspirado no Deus do Sol da Mitologia Grega. E em 1931, o sabonete negro da empresa, passou a chamar-se de “Phebo Odor de Rosas”. Sua embalagem foi totalmente inspirada no Pears Soap e desde a sua criação, é essencialmente a mesma. Com o tempo, precisou se atualizar devido às necessidades do mercado, e pequenas modificações foram feitas, como mostra a imagem abaixo: Figura 1: Evolução da embalagem do sabonete Phebo Odor de Rosas. Fonte: Montagem e arquivo da autora (fotografia tirada em: 27 out. 2011) e imagens disponíveis em: <www.sendex.net>, <www.frugar.com> e <www.phebo.com.br>. Acesso em: 02 nov. 2011. A seguir, será feita a análise de cada elemento visual que compõe a atual embalagem do sabonete Odor de Rosas, destacando como cada elemento tem fundamental importância para o resgate e a reafirmação da tradição da marca Phebo. O nome O nome Phebo foi escolhido em referência a Apolo, filho de Leto e Zeus, que depois de seu pai, foi o Deus mais importante da Mitologia Grega. Apolo associa-se ao Sol, e sua 7 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. irmã gêmea, Ártemis, a Lua. Além de ser chamado de Apolo, o deus grego é conhecido também como Phoebe, em latim, ou seja, Febo em português. Febo refere-se a “brilhante”, por ser o deus solar, dos astros e da luz, seu arco e suas flechas podem ser comparadas ao sol e aos raios. Segundo Brandão (2001), o deus Febo possui mais de duzentos atributos, podendo ser considerado também como o deus da beleza, da música, das artes, da poesia, da agricultura, da medicina, entre outros. Não é à toa, porém, que se escolheu o nome Phebo. Êle (sic) lembra realmente o Sol, deus da beleza. Em Belém do Pará, no ano de 1936, nossa Emprêsa (sic) nasceu para brilhar, tal como o sol, sempre se dedicando à fabricação de produtos de higiene e cuidados pessoais9. Portanto, a escolha do nome Phebo simbolizou o nascimento de uma nova era na perfumaria brasileira e associa-se diretamente com beleza, fazendo alusão aos produtos da marca. Antigamente, na escrita em língua portuguesa, a letra “f” costumava ser substituída pelo “ph”10 (a exemplo de sua utilização na marca Granado Phamárcias), pois sofria influência do latim e da cultura grega, desse modo, o nome Febo foi alterado. Hoje em dia, o uso do “ph” foi extinto, mas a sua permanência no nome da marca foi mantida para fazer alusão ao passado, representando assim, a tradição da empresa. As cores Ao analisar-se a embalagem do sabonete, observamos que as suas principais cores são o amarelo e o vermelho. O preto e o branco aparecem em segundo plano. Na categoria de sabonetes, geralmente predomina o branco, azul claro, verde claro, amarelo claro, rosa claro, lilás, isto é, cores suaves que na maioria das vezes, se confundem nas gôndolas, por acabarem apresentando tonalidades muito parecidas entre eles. As cores amarelo e vermelho, mais utilizadas no segmento alimentício, por exemplo, despertam o apetite. Utilizadas em outros segmentos em que predominam cores mais suaves, o amarelo que é mais fácil de ser memorizado, e o vermelho que chama mais atenção (FARINA, 1987), geram um efeito interessante, diferente e atrativo, garantindo assim, uma boa visibilidade. Porém, o amarelo não transmite a sensação de limpeza e frescor que deveria haver na embalagem de um sabonete, muito menos o vermelho, que nesse caso, geralmente dá a ideia de “paixão” e “sedução”. 9 RELATÓRIO INSTITUCIONAL INTERNO. Phebo na década de 70. Belém, PA: [s.d.]. 10 A partir da segunda metade do século XVI, a língua portuguesa sofre influência do latim e da cultura grega, graças ao Renascimento e à necessidade de valorização do idioma. O critério passa ser o de respeitar as letras originárias das palavras, isto é, sua origem etimológica. Empregam-se ph, th, ch, rh e y, que representavam fonemas gregos: philosophia, theatro, chimica (química), rheumatismo, martyr, sepulchro, thesouro, lyrio. No início do século XIX, o escritor Almeida Garrett defende a simplificação da escrita e critica a ausência de normas que regularizem a ortografia [...] No final do século XIX, cada um escreve da maneira que acha mais adequada. GUIA DO ACORDO ORTOGRÁFICO. Disponível em: <http://migre.me/fn4DQ>. Acesso em: 10 out. 2011. 8 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. Segundo Farina (1987), o amarelo pode associar-se a “iluminação”, „luz”, “conforto”, “alerta”, etc. O amarelo deriva do latim amaryllis e simboliza a cor da luz que irradia em todas as direções. Pode-se então, chegar a conclusão de que a utilização do amarelo na embalagem do sabonete, faz clara alusão ao deus grego do Sol “Phebo”, que dá o nome a marca. O vermelho é associado a “força”, “energia”, “calor”, “emoção”, entre outras. Do latim vermiculos, simboliza uma cor de aproximação, de encontro. Nesse caso, deduz-se que o vermelho foi escolhido para representar a essência de pau-rosa que dá fragrância ao sabonete, ou até mesmo, o vermelho do pôr-do-sol, referindo-se ao deus grego. Além das cores citadas, o preto e o branco também são utilizados na embalagem. O preto é associado a “noite”, “morte”, “melancolia”, “sombra”, ou seja, associações negativas. Derivado do latim niger (escuro, negro), nas Artes Gráficas representa nobreza, seriedade e sobriedade. Na embalagem, a sua presença dá um “ar” de requinte, principalmente no logotipo11 “Phebo” e na borda do selo oval. Já o branco, originário do germânico blank (brilhante), ao contrário do preto nas culturas ocidentais, associa-se a “limpeza”, “pureza”, “paz”, “divindade” e simboliza a luz. É utilizado tanto no logotipo “Phebo”, como na tipografia12 de “Odor de Rosas” e nos contornos da ilustração de rosas presente na borda do selo oval. O branco, nesse caso, remete à limpeza, por se tratar de um produto de higiene e uma empresa desse ramo. O sabonete Odor de Rosas é composto por essência de pau-rosa e vários outros ingredientes, inclusive de 2% de perfume. Todos esses componentes proporcionam a tonalidade negra do sabonete, e por ser transparente, dependendo da luminosidade ao qual esteja exposto, chega a apresentar uma tonalidade rosa-avermelhada, devido à presença de pau-rosa. Farina (1987) afirma que é importante vincular a cor da embalagem com o produto, independentemente das suas qualidades, por isso, o vermelho e o preto, presentes na embalagem, podem associar-se ao sabonete, não isolando a embalagem do produto, pelo contrário, eles acabam criando uma relação de correspondência. 11 O logotipo é a particularização da escrita de um nome. Sempre que vemos um nome representado por um mesmo tipo de letra (especialmente criado ou não), isso é um logotipo. Toda marca tem sempre um logotipo. Um logotipo sempre tem letras (STRUNK, 2007, p. 70). 12 Tipologia ou tipografia é o conjunto de caracteres – letras, algarismos e sinais -, seu estilo, formato, tamanho e arranjo visual, que constituem a composição dos textos, usada num projeto gráfico (PERREIRA, 2004, p. 4). 9 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. O logotipo O logotipo “Phebo” presente no selo oval da embalagem, é o primeiro a ser visto. Depois, vemos as palavras “sabonete” (categoria do produto), “Odor de Rosas” (fragrância) e “Desde 1930” (tempo de existência), estabelecendo uma hierarquia de informações por causa do tamanho e tipografias. Desde que foi criada a embalagem, a tipografia utilizada no logotipo “Phebo” é exatamente a mesma, e o selo oval com a ilustração de rosas13, símbolo14 do sabonete Odor de Rosas, sofreram algumas alterações, porém, a sua essência ainda é a mesma. Não se sabe ao certo, se a tipologia utilizada no logotipo “Phebo” existe ou foi desenhada, deduz-se a segunda opção. De acordo com Ribeiro (2003, p. 71) “uma letra desenhada pode ser a adaptação de um caráter tipográfico e uma circunstância particular ou uma criação original”. Então, supõe-se que um dos critérios da criação da tipologia do logotipo “Phebo”, baseou-se no logotipo Pears Soap, além de outros critérios desconhecidos que devem ter servido de base para sua criação. Apesar de existirem milhares de tipografias, a maioria delas pode ser classificada em categorias. No caso da tipologia do logotipo “Phebo”, por ser supostamente desenhada, apresenta influência de duas categorias: a gótica e a moderna. A tipologia gótica tem como característica, traços apertados, os caracteres iniciais de um texto são adornados de pontas e espirais, as maiúsculas tem traços retos, uniformemente perpendiculares e são mais grossas e escuras (RIBEIRO, 2003). Já na tipologia moderna, é predominante a verticalidade dos caracteres, há um contraste muito grande entre hastes 15 finas e grossas, e as serifas16 são retas e finas (PEREIRA, 2004). As letras da tipologia do logotipo “Phebo” são grossas e em caixa alta (maiúsculas), e representam vigor, solidez e autoconfiança, de uma empresa que se tornou exemplo no ramo da perfumaria brasileira, e nunca teve prejuízos, mesmo em momentos de crise. E ao mesmo tempo, as serifas finas e as linhas dentro das letras dão leveza, delicadeza, 13 O selo oval com a ilustração de rosas é símbolo somente do sabonete Odor de Rosas. O selo oval ainda é utilizado nos outros produtos da empresa, porém sem a ilustração. Já o logotipo “Phebo” é utilizado tanto para representar a empresa, quanto o sabonete e os outros produtos (observação da autora). 14 O símbolo é um sinal gráfico que, com o uso, passa a identificar um nome, ideia, produto ou serviço. Nem todas as marcas têm símbolo. Qualquer desenho pode ser considerado um símbolo, se um grupo de pessoas o entender como a representação de alguma coisa além dele mesmo [...] É importante não confundir signo com símbolo. Os desenhos usados nas placas de sinalização viária são signos, pois têm um significado específico, destituído de emoção. Já um símbolo nos desperta uma série de informações e experiências que tenhamos armazenados sobre uma marca. Um signo pode ter um significado apenas para uma cultura ou ser de uso internacional (STRUNK, 2007, p. 70). 15 Haste (stem) é o traço vertical das letras e a diagonal principal na letra N (ROCHA, 2005, p. 39). 16 Serifa é o traço colocado no início ou no final da haste de uma letra (ROCHA, 2005, p. 93). 10 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. requinte e refinamento, sendo à base da empresa que vende produtos de higiene e perfumes de fragrâncias ímpares para consumidores de classe mais alta. As letras H, E, B e O são em versalete, ou seja, maiúsculas do mesmo tamanho que minúsculas. A letra P está em versal (maiúscula) rebaixada, e a barriga17 dessa letra equivale mais ou menos, a altura das outras letras. Portanto, a letra P é a mais importante e se destaca no logotipo, possui um adorno (enfeite) em espiral que transmite um “ar” clássico, elegante e sofisticado à marca. Outra tipologia presente na embalagem é da categoria sem serifa, utilizada nas palavras “sabonete” em bold (negrito), “base vegetal” (composição), “90g” (peso) e nas informações técnicas do produto. Essa categoria é caracterizada pela ausência das serifas, possui tipos mais simples e mais legíveis, as variações entre hastes finas e grossas quase não existem, todos os caracteres possuem praticamente a mesma espessura. Essa tipologia sem serifa remete a modernidade, o que significa que mesmo o sabonete tendo 83 anos de existência, ele não está ultrapassado, é antigo e atual ao mesmo tempo, pela valorização que a Phebo dá ao artesanal. Nas palavras “Odor de Rosas” e “Desde 1930”, a tipologia é da categoria com serifa ou estilo antigo. Essa tipologia possui serifa, há maior ou menor contraste entre finos e grossos e o encontro das hastes com as serifas são mais arredondadas. A palavra “Odor de Rosas” está em bold e em itálico, possui serifas transitivas, ou seja, há passagens mais brandas e mais integradas às hastes (ROCHA, 2005), e representa elegância (característica da tipografia estilo antigo) e suavidade (pelo uso do itálico e serifas transitivas), no qual a utilização do bold ainda pode associar-se a forte fragrância do produto. Enquanto o uso dessa tipologia em “Desde 1930”, está integralmente relacionada com o que ela significa (estilo antigo), isto é, reporta-se à tradição da marca. O selo oval e a ilustração de rosas são outros elementos importantes na embalagem do sabonete. O selo oval faz clara alusão à forma presente na embalagem do sabonete Pears, como também, ao formato do sabonete. Esse formato oval agrega valor ao produto, apesar de sua falta de praticidade (o sabonete é mais fácil de escorregar das mãos), traz a sensação de sabonete antigo, o que não quer dizer velho, contudo remete aos nossos pais e/ou avós, aos banhos relaxantes e demorados, e principalmente, a 17 Barriga é quando os caracteres possuem hastes curvas, como é o caso dos caracteres p; b; d; a; etc. (BAER, 2004, p. 37). 11 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. produto artesanal. Ainda hoje, ao ver o sabonete Odor de Rosas, tem-se a impressão de que ele é feito praticamente à mão, mesmo sabendo que atualmente ele é um produto totalmente industrializado. As formas esféricas e curvas do selo oval, também podem associar-se a harmonia, suavidade, perfeição e feminilidade, ou seja, remetem a qualidade dos produtos e ao principal público-alvo da marca, que são as mulheres (LIMA, 2011). Já o selo oval no tamanho grande na embalagem, dá a sensação de poder e força, enquanto a linha fina e branca, presente na borda do selo, é percebida como delicada e frágil (SCHMITT e SIMONSON, 2002), remetendo ao que o sabonete representa. A ilustração de rosas é utilizada desde a primeira embalagem do sabonete, mas sofreu algumas alterações com o tempo. Antes, essa ilustração era um pouco confusa e não muito legível, por isso a alteração se fez necessária, além disso, precisava se modernizar. Essa ilustração pode remeter aos ornamentos gráficos presentes em algumas tipografias, que segundo Rocha (2005, p. 68) é chamado de florão (fleuron) e é o mais aristocrático dos ornamentos tipográficos. Pode ainda, lembrar o estilo Art Nouveau18, no qual os desenhos imitavam folhas, troncos, caules, insetos e filamentos de flores, e podiam ser utilizados sozinhos ou em adornos19 e vinhetas20. Comecemos com um desenho então. Enquanto ele estiver sozinho, quer esteja como um rabisco inicial, um estudo num bloco de esboços ou mesmo finalizado, será sempre isso, um desenho ou estudo isolado. No momento em que esse desenho for usado para acompanhar um texto, um conceito ou um produto, por exemplo, ele estará ilustrando algo. Ele agora é uma ilustração. O mesmo acontece com uma pintura ou uma gravura isolada. Por essa definição, uma fotografia também é uma ilustração, no sentido literal, quando acompanhar um texto, etc., pois também estará ilustrando algo Assim sendo, uma ilustração sempre estará acompanhando algo, servindo para transmitir visualmente o conceito do texto ou outra forma de comunicação a que estiver associada. Sozinho, ela poderá ser um desenho ou uma pintura, pois não estará ilustrando nada. Ilustrar é portanto: descrever com imagens um conceito, texto ou produto, 18 A Art Nouveau surge em 1883, da necessidade de exaltar a natureza e principalmente falar da vida bucólica que começava a desaparecer com a rápida industrialização da Europa. Além da ilustração, a Art Nouveau era encontrada, na confecção de objetos de vidro, no ferro ornamentado na arquitetura, na madeira trabalhada como tronco de árvores para móveis, e nos metais para o desenho de jóias (AZEVEDO, 2006, p. 22-23). 19 Um adorno é composto da fusão de tipos, porém com desenho simbólico, de fantasia, baseado na geometria, reino animal ou vegetal (RIBEIRO, 2003, p. 82). 20 O nome vinheta, dado inicialmente só aos ornamentos dos livros, vem da palavra vinha. Todos os iluministas de livros manuscritos tinham, no século XV, predileção para empregar nas suas decorações folhas de vinhas, a forma de cachos de uvas e espigas de trigo. Mais tarde, essa designação ficou generalizada para todo adorno original baseado em linhas geométricas, flores, folhagens, seres vivos ou coisas inanimadas (RIBEIRO, 2003, p. 83). 12 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. especialmente ampliando sua visualização para além do que apenas palavras isoladas podem transmitir21. De acordo com essa definição, o “desenho” de rosas é considerado uma ilustração e não somente um desenho ou um florão, por que acompanha o logotipo “Phebo” e é utilizada para representar um conceito e um produto. Representa claramente o “Odor de Rosas”, a principal e mais famosa fragrância da empresa, como também, pode associar-se às coroas de Febo. E hoje em dia, o uso da ilustração de rosas na embalagem do sabonete, gera um “ar retrô” e enfatiza os valores tradicionais do produto. O papel De acordo com Roberto Lima (2011), atual gerente da sede da Phebo em Belém, o sabonete antigamente era embalado com dois papéis, que além de proteger o produto, era considerado uma embalagem de luxo. Primeiramente, embalava-se com um papel mais grosso e mais resistente a rasgo e água, em seguida, era revestido com a embalagem propriamente dita, no qual, consistia em um papel menos resistente. Todos os sabonetes eram embalados manualmente, e as embalagens eram feitas na própria fábrica de Belém. Atualmente, a impressão das embalagens é feita por duas gráficas paulistas, e os sabonetes são embalados por uma máquina, que agilizou o processo de produção. Ainda segundo Roberto Lima (2011), durante o tempo em que a Phebo esteve com a Procter & Gamble, a embalagem do sabonete Odor de Rosas foi praticamente descaracterizada. O papel que desde a sua origem tinha um acabamento fosco, passa a ter brilho, e ao invés de dois papéis, passa-se a utilizar só um. Já com a Granado, o papel é alterado novamente e volta a ser fosco, a empresa resgatou o papel utilizado por volta dos anos de 1960 e 1970. Hoje em dia, a embalagem é impressa em offset22, e depois, um plástico é colado utilizando parafina e outras substâncias químicas, na superfície inferior do papel. Esse processo é feito para dar mais resistência ao papel e proteger o sabonete sem a necessidade da utilização de outro papel, que encareceria a produção. 21 RAJABALLY, Robert. O que é Ilustração? Conheça mais sobre esta fascinante profissão! Disponível em: <http://migre.me/fn4MK>. Acesso em: 21 set. 2011. 22 Offset é um moderno processo de impressão litográfica, em que a imagem gravada em uma folha de metal flexível, geralmente alumínio, é transferida para o papel por intermédio de um cilindro de borracha, baseado no princípio físico da repulsão da água/óleo (CARRAMILLO, 1997, p. 232). 13 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. Esse resgate do papel fosco significa também, o resgate da essência da marca, porém com um toque moderno. Os recursos e os materiais disponíveis atualmente, foram utilizados para criar uma embalagem de maior qualidade, mais atraente e também retrô. Desde 1930 O “Desde 1930” começou a ser utilizado a partir da terceira reformulação da embalagem do sabonete Odor de Rosas. A sua introdução tanto na embalagem, quanto no logotipo da empresa, se deu para representar a tradição da Phebo, é um modo de dizer ao consumidor, principalmente os mais jovens, que a marca tem história, que se encontra presente no mercado por muitos anos, e se sobreviveu, é porque seus produtos antes de terem qualidade, trazem outros valores emocionais, como a nostalgia, a lembrança dos pais e/ou avós que utilizavam o produto. Ainda, o “Desde 1930” promove a lealdade, confia-se mais na marca por ela ter tradição, e sua presença na embalagem, como afirma Healey (2009, p. 30), faz com que “os clientes a aceitem como parte do jogo: pago mais pela tua marca e deixas-me fazer parte da tua história”. CONSIDERAÇÕES A partir desse estudo, verificou-se que o sabonete Odor de Rosas, foi o grande responsável pelo crescimento da Perfumaria Phebo. Por meio deste, a empresa paraense conquistou mercados nacionais e internacionais, e se tornou referência em qualidade de produtos de higiene e perfumaria em geral, especialmente, na categoria de sabonetes glicerinados. O sabonete tornou-se um produto marcante, e além de seu formato, cor e perfume inconfundíveis, a embalagem o diferenciava e agregava valores, como requinte e elegância. Concluiu-se também que o sabonete foi o grande responsável por criar a identidade da empresa. Todos os conceitos que lhe foram atribuídos, como também, o nome “Phebo”, o logotipo e a ilustração de rosas, os elementos mais representativos da sua embalagem, remetem de fato, ao conceito geral da Perfumaria. Igualmente, a utilização da embalagem foi importante para reposicionar a marca no mercado. Com o tempo, e mais precisamente a sua administração (destaca-se o tempo que esteve com a Procter & Gamble), a marca passou a ser vista como parada no tempo e vendedora de produtos de segunda linha, por isso reposicioná-la foi imprescindível. Sob essa perspectiva, este artigo propôs-se também, criar uma maior reflexão em torno da importância de se pensar na estética da embalagem e deixar a sua contribuição 14 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013. histórico-teórica acerca da embalagem e do sabonete Odor de Rosas, um produto genuinamente paraense, que a indústria local deve se orgulhar, por ter se tornado exemplo de marca de sucesso e símbolo de tradição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACCIOLY, Anna et al. Marcas de valor no mercado brasileiro = valuable trademarks in brazil. Rio de Janeiro: Senac, 2000. AZEVEDO, Wilton. O que é design. 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