POLÍTICA EXTERNA E INDUSTRIALIZAÇÃO I. Referência: 4º Capítulo da Ordem do Progresso (Sérgio Besserman Vianna) II. Eixos Argumentativos: a. Governo Dutra teria padecido de uma “ilusão liberal” (no que diz respeito à ordem política mundial): i. Finda a Guerra, o governo parecia esperar uma injeção de capital americano aos moldes do Plano Marshall. Mas sabemos que isso não ocorreu; ii. O governo era depositário de expectativas domésticas de liberalização capital. Afinal, havia um clima geral de euforia no pós-guerra, fértil à compressão das turbulências vividas pela economia mundial entre 1930-45 como um mero parêntesis que ora se fechava; b. Governo Dutra não teria exatamente enveredado pelo liberalismo econômico (a marca da gestão foi relativamente pragmática): i. A política cambial efetivamente principia com uma liberalização radical que se provaria inconsistente. Mas, logo, o governo caminharia para um crescente intervencionismo; forços. Na área da saúde, o Hospital dos Servidores do Estado (RJ) — a seu tempo o maior hospital da América Latina — e o hospital do Subúrbio de Salvador são construídos. Na área de transportes, é concluída a Rodovia Rio/ Bahia e a nova Rodovia RJ/SP (Rodovia Presidente Dutra). Na área de energia, temos a construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, no Rio São Francisco. c. A política cambial: ii. O governo não paralisa o esforço da CSN, que é por Dutra inaugurada; iii. O governo lançou o Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), englobando diversos es- i. Inicialmente, o câmbio é liberalizado com a manutenção da taxa vigente desde 1939 (que equivalia a Cr$ 18,5 por US$, mantida desde então sob regime de “câmbio por cooperação” e nas circunstâncias da Guerra, onde não era plena a oferta internacional de manufaturas); ii. Como houve razoável inflação no Brasil durante a Guerra, podemos afirmar que a taxa cambial se tornara valorizada (especialmente nas novas circunstâncias de plena oferta de manufaturas): ↑ Importações; ↓ Reservas Internacionais iii. Em 1947, com o rápido consumo das divisas disponíveis, é retomado o câmbio por cooperação (30% das divisas iam compulsoriamente para o BB, e o governo advertia que caso parcela desse volume não fosse necessária ao saldo de seus compromissos, poderia ser revendida conforme critérios de essencialidade); 1 iv. A sangria de divisas não é contida (mas o governo a um primeiro momento ainda achava que a escassez de moeda forte seria passageira); v. Em 1948, é criado um sistema de licenças prévias de importação, concedidas de acordo com critérios de essencialidade; vi. O preço do café melhora substancialmente desde o imediato pósguerra, o que auxilia que o novo esquema tenha tido êxito em conter o risco de colapso cambial; vii. Em 1949, o sistema de licenciamento evolui para um “Regime de Orçamento de Câmbio com Licenças”. Especialmente após o afastamento do Ministro Correa e Castro nesse mesmo ano, o sistema passa a ser conscientemente utilizado como um mecanismo de promoção ativa da substituição de importações. III. A chamada “Teoria dos Choques Adversos” e a pressão estrutural à continuidade da industrialização: i. Podemos compreender o retorno de Dutra ao intervencionismo depois de um intento de liberalização a partir dos argumentos de Maria da Conceição Tavares (precisamente no clássico “Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro”); ii. Para a autora, o dilema básico da “substituição de importações” é o paradoxal aumento do volume de importações que decorre da própria tentativa de promover sua substituição. Isto ocorre- ria em função de dois eixos de fatores: 1. Em um mundo já industrializado, o processo de industrialização envolve importação de máquinas, licenciamento de tecnologias, compra de peças e insumos, entre outras numerosas necessidades, e, além disto; 2. A industrialização desloca trabalhadores de atividades de baixa produtividade para outras de alta produtividade, promovendo o crescimento econômico, elevando a massa salarial, incrementando o consumo e, logo, o consumo de importados. Sem uma estratégia satisfatória para lidar com o paradoxo acima, a industrialização tardia é impossível: seu projeto termina em uma crise cambial aguda; iii. Enxergando a realidade cambial brasileira desse prisma, o próprio êxito da industrialização sob o Estado Novo deve ter alterado o equilíbrio cambial do país que, com crescentes pressões estruturais por importações, podia reagir apenas de duas formas: 1. Restringir seletivamente o uso de divisas (como fez Dutra após 1947); 2. Encontrar alguma forma de ampliar a capacidade de importar em um ritmo sempre superior ao crescimento da demanda de importações (o que necessariamente teria de vir da introdução de outros bens em nossa pauta de exportações); 2