Sumário UM ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES DO SOFRIMENTO MARIANO NAS IMAGENS DA CRUCIFICAÇÃO DE GIOTTO ..................................................................................................................2 UM ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES DO SOFRIMENTO MARIANO NAS IMAGENS DA CRUCIFICAÇÃO DE GIOTTO1 A SURVEY OF REPRESENTATIONS OF MARIAN SUFFERING ON THE IMAGES OF CRUCIFIXION OF GIOTTO Discente: André Luiz Marcondes Pelegrinelli2 – Universidade Estadual de Londrina / Fundação Araucária. Orientadora: Angelita Marques Visalli – Universidade Estadual de Londrina RESUMO: Este estudo pretende tecer considerações sobre a imagem de Maria em dor, a Mater Dolorosa nas obras da crucificação do pintor florentino Giotto (1267-1337). São analisadas três imagens: um afresco da Capela Arena, Pádua; outro afresco da Basílica de São Francisco, Assis; e um pedaço de políptico que se encontra na Alte Pinakothek de Munique, realizamos uma análise da imagem a partir das compreensões metodológicas de Jérôme Baschet, Jean-Claude Schmitt, Michael Baxandall e Carlo Ginzburg. A crucificação é um dos momentos cruciais para o cristianismo, e que ganha grande importância a partir da espiritualidade que acompanha os mendicantes, é nela que o Cristo se apresenta como humano, sofrendo. Acompanhando o sofrimento de Cristo percebemos a figura de Maria, que segundo a doutrina de mediadora se apresenta como Mater Dolorosa, a mãe em dor que sofre junto com o seu filho. Essa doutrina resultaria em uma das mais conhecidas formas de ver Maria, como aquela que sofre, e que, mais tarde se disseminaria em grande parte do culto cristão. Há um grande reconhecimento por parte do fiel frente a mãe que sofre, pois esse sofre diariamente, e, vendo o sofrimento da Mãe de Deus se sente confortado por partilhar da mesma experiência. PALAVRAS-CHAVE: Imagem medieval, Giotto, crucificação. ABSTRACT: This survey intends to comment on the image of Mary in pain, Mater Dolorosa in the works of the Florentine painter Giotto Crucifixion (1267-1337). It analyzes three images: a fresco of the Arena Chapel, Padua, another fresco of St. Francis, Assisi, and a piece of polyptych that lies at the Alte Pinakothek in Munich, conducted an analysis of the image from the methodological insights of Jérôme Baschet JeanClaude Schmitt, Michael Baxandall and Carlo Ginzburg. The crucifixion is one of the crucial moments for Christianity, and that is of great importance from the spirituality that accompanies the mendicant, is it that Christ is presented as human suffering. Accompanying the suffering of Christ we see the figure of Mary, which according to the doctrine of mediator presents as Mater Dolorosa, the mother in pain suffering along with your child. This doctrine would result in one of the most popular ways to see Mary as the one who suffers and who later would spread largely Christian worship. There is a great recognition by the faithful against the mother who suffers because it suffers every day, and seeing the suffering of the Mother of God feels comforted by sharing the same experience. KEYWORDS: Medieval image, Giotto, crucifixion. O sofrimento é um dos sentimentos mais perenes do existir humano. É próprio do ser humano sofrer e transmitir essa dor. Neste estudo pretendemos acessar o 1 Pesquisa resultante de participação no projeto “ILUMINURAS FRANCISCANAS: A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM E HERANÇA DE FRANCISCO DE ASSIS NA FRANCESCHINA (1474)” (financiado pelo CNPq) como Iniciação à Pesquisa Cientifica (Fundação Araucária) 2 Graduando em História pela Universidade Estadual de Londrina. sofrimento do divino, através da figura de Maria. Analisaremos a representação da Mater Dolorosa, aqui, identificaremos sua presença dentro da pintura de Crucificação de Giotto (1267-1337). Nossos levantamentos apontaram que Giotto produziu cinco cenas de crucificação: dois afrescos, um na Capela Arena, em Pádua; outro na Basílica de São Francisco, em Assis; e três painéis, que hoje se encontram na Alte Pinakothek de Munique, no Musée Municipal de Estrasburgo e no Staatliche Museen de Berlim. Considerando a quantidade de material disponível referente a cada obra, centraremos nossa análise da Mater Dolorosa na crucificação de Giotto a partir dos dois afrescos e do painel que se encontra na Alte Pinakothek de Munique. O estudo parte de uma análise de imagens, campo este que por muito tempo explorado somente pelos historiadores da arte, e que, a partir da Nova História Cultural vê crescer seu interesse também por parte dos historiadores. Analisamos as imagens aqui dentro do quadro de imagens do medievo, encarando-as como Imagens-objeto (BASCHET: 1996).Nos servimos também dos estudos de Jean-Claude Schmitt (2007), Carlo Ginzburg (1989) e Michael Baxandall (2006). A partir desta analise adentramos no campo da espiritualidade da Baixa Idade Média e da história do culto à Mater Dolorosa. Nas três imagens estudadas Maria está presente na cena da Crucificação, cena essa que é centro do culto cristão, momento e ato mais importante de Cristo e apresentada pelos quatro evangelistas canônicos. Maria é representada ao lado esquerdo, sendo amparada por João ou pelas mulheres que acompanhavam a crucificação. A imagem traduz o novo olhar que a Baixa Idade Média tem para com a religiosidade, buscando um Deus mais humanos, o Cristo agora não é o Pantokrator, mas o que sangra e sofre; Maria não é mais a Theotokos (aqui não me refiro a tradição que a sustenta como Mãe de Deus, mas sim a tradição pictórica de representá-la como tal) mas uma mãe que sofre ao ver o filho ser injustiçado e crucificado. Essa nova religiosidade, iniciada e impulsionada pelas ordens mendicantes busca uma maior participação leiga, e também uma maior correspondência entre o simples fiel leigo e a divindade. Para tal, todo o evangelho é humanizado, os santos também, e as virtudes cristãs são mais valorizadas enquanto atos de piedade do que enquanto atos extraordinários, dignos das grandes hagiografias. E nisto reflete a doutrina da Mater Dolorosa, que acompanha a de mediadora (PELIKAN: 2000), segundo a qual Maria assume de tal forma as dores humanas que se torna um elo entre a humanidade e a divindade, e, assimilando a humanidade dos fiéis sofre e partilha os mesmos sentimentos destes. Giotto soube bem perceber os ares da religiosidade de seu tempo, e neste nosso estudo, na doutrina segundo a qual Maria é representada em pranto e sofrimento diante da crucificação de seu filho. A forte assimilação entre a Mãe de Deus e os fiéis contribuiu no avanço deste, ela sofre e através deste sofrimento o fiel percebe-se inserido dentro de um contexto que partilha os mesmos sentimentos deste. REFERÊNCIAS BASCHET, J. A Civilização Feudal. São Paulo: Globo, 2006. _________. Introdução: a imagem-objeto. In: SCHMITT, Jean-Claude; BASCHET, J. L’image. Fonctions eu usages des images dans l’Occident medieval. Paris: Le Léopard d’Or, 1996. p. 7-26 (tradução: Maria Cristina C. L. Pereira). BAXANDALL, Michael. Padrões de Intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. GINZBURG, Carlo. Indagações sobre Piero: o Batismo, o Ciclo de Arezzo, a Flagelação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. GORDON, D. A Dossal by Giotto and His Workshop. In: The Burlington Magazine, v. 131, n. 1037, Aug. 1989, pp. 524-531. PELIKAN, J. Maria através dos séculos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. SCHMITT, Jean-Claude. O Corpo das Imagens. Ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Bauru, SP: EDUSC, 2007. WOLF, N. Giotto. Taschen, 2007.