Nome: Turma: Nº: Estudos Literários 3º ano Rev. Gabarito – RealismoNaturalismo Wilton Out/10 O que você deve saber sobre REALISMO/NATURALISMO A segunda metade do século XIX foi marcada por um grande avanço nas ciências naturais, na filosofia, na política e na economia. Não havia mais espaço para as idealizações românticas, por isso a literatura que surgiu no período procurou expressar “objetivamente” a realidade, descrevendo o mundo de maneira, por vezes, distanciada e racional. As escolas Realista-naturalista e parnasiana combateram o Romantismo e propuseram uma nova forma de análise da sociedade. Na França, surgiu o Realismo, inaugurado pela publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857; o Naturalismo teve como marco a obra Thérèse Raquin, de Émile Zola, em 1867; o Parnasianismo surgiu, a partir de 1866, com a publicação das antologias Parnase contemporain. O Naturalismo foi uma tendência do Realismo que procurou analisar o homem a partir de uma perspectiva determinista, materialista e reduziu os fenômenos sociais aos fatores biológicos, principalmente. Neste tópico, retomaremos a obra do principal escritor brasileiro do século XIX, Machado de Assis, e dos autores Aluísio Azevedo e Raul Pompéia. Contexto histórico geral Surgimento da Geração Materialista ou Geração de 70 (1870-1900); Comuna de Paris (1871); Socialismo utópico de Proudhon: publicação, em 1846, da obra Sistemas de contradições econômicas ou filosofia da miséria; Publicação do Manifesto comunista, em 1848, por Marx e Engels; Positivismo de Augusto Comte (Sistema de filosofia positiva, 1850): rejeição da metafísica, valorização do empirismo e do conhecimento científico; Negação do Cristianismo: publicação, em 1848, da obra O futuro da Ciência, de Ernest Renan; Darwinismo: publicação da obra Origem das espécies, em 1859, por Charles Darwin, em que o cientista apresenta ao mundo a teoria da seleção natural; Determinismo histórico e geográfico de H. Taine: teoria que defende que o comportamento humano é condicionado por três fatores: meio, raça e momento histórico. Características gerais do Realismo/Naturalismo Entre as características do Realismo/Naturalismo, destacam-se: Literatura como veículo de denúncia; Universalismo; Descritivismo: a realidade deve ser descrita como uma “fotografia”; Objetividade: o narrador deve manter-se imparcial diante dos fatos que relata; Valorização do momento histórico presente; Linguagem acessível ao público leitor; Respeito à lei da causalidade: as ações dos personagens devem apresentar relação de causa e efeito; Nos romances naturalistas, principalmente, os personagens são condicionados a fatores naturais (comportamento, raça e clima) e a fatores sociais; Não-idealização das personagens; Valorização dos espaços miseráveis nas narrativas, principalmente entre os autores naturalistas; Análise crítica da burguesia; Tendências anticlericais. Naturalismo O Naturalismo foi uma tendência, um desdobramento do Realismo. Dessa forma, toda obra naturalista é realista, mas nem toda obra realista é naturalista. Os naturalistas se inspiraram fortemente na teoria da evolução de Darwin para compor sua arte, por isso acreditavam que os seres humanos estavam aprisionados às leis que regem a natureza. Os artistas naturalistas colocaram sua obra a serviço da ciência. O escritor francês Émile Zola, por exemplo, criou os chamados romances experimentais, por meio dos quais pretendia transformar a sociedade. Diferentemente dos realistas, que enfocavam os aspectos psicológicos individuais dos personagens (na maior parte, burgueses), os naturalistas privilegiaram os fenômenos coletivos e o proletariado, classe social pouco enfocada na literatura até então. Realismo/Naturalismo no Brasil O Brasil da segunda metade do século XIX é um país em intensa transformação. Em 1850, foi extinto o tráfico negreiro, intensificando a luta pela abolição da escravatura; devido ao crescimento da produção agrícola, sobretudo cafeeira, houve o deslocamento do eixo econômico para a região sul; em 1853, surgiu o Banco do Brasil; entre 1864 e 1870, houve a Guerra da Tríplice Aliança (ou Guerra do Paraguai). Como um observador agudo desse cenário conturbado do Segundo Império, surge o escritor Machado de Assis. Além de Machado, destacam-se no cenário do Realismo/Naturalismo brasileiro: Aluísio Azevedo, autor bastante influenciado pelo Naturalismo de Émile Zola e pelo Realismo de Eça de Queirós, e Raul Pompéia, escritor que inaugurou a tendência impressionista em nossas letras. Marcos literários do Realismo/Naturalismo brasileiro Início: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis e O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo. Final: em 1893, são publicados Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa, obras consideradas iniciadoras do Simbolismo no Brasil, todavia o final “definitivo” do Realismo está mais ligado ao surgimento do Pré-Modernismo e do Modernismo (a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922). Aluísio Azevedo (1857-1913) O autor maranhense foi um dos iniciadores do Realismo/Naturalismo no Brasil, em 1881, com a publicação de O mulato. Sua principal realização, entretanto, é O cortiço (1890), obra naturalista marcada pela defesa da tese de que o ser humano é fruto do meio em que está inserido. No romance, João Romão é um ambicioso comerciante que constrói um cortiço em que vive uma série de famílias trabalhadoras de uma pedreira do qual o personagem também é proprietário. Para o degradado cortiço se muda Jerônimo, imigrante português de bem, casado com Piedade e pai de uma filha. Jenônimo envolve-se pela sensualidade de Rita Baiana e sua vida honesta começa a ruir. O ambiente degradado do cortiço vai, aos poucos, degenerando o português e mergulhando o personagem num caminho sem volta. Raul Pompéia (1863-1895) Pompéia se imortalizou por ter escrito o romance O Ateneu – Crônica de saudades (1888). Nele, Sérgio narra sua trajetória no internato Ateneu, dirigido pelo inescrupuloso Aristarco, em tom impressionista, particularidade que destoa das narrativas realistas/naturalistas. A instituição é retratada como uma espécie de metonímia da sociedade. Machado de Assis (1839-1908) Machado de Assis foi um escritor múltiplo. Escreveu romances, contos, poemas, crônicas, peças teatrais, crítica literária e artigos jornalísticos. Embora sua infância tenha sido bastante humilde, o autor alcançou posição de destaque como funcionário público e intelectual em sua época. Em 1896, fundou a Academia Brasileira de Letras, da qual foi eleito primeiro presidente e perpétuo. O autor carioca iniciou sua carreira literária produzindo romances ainda bastante influenciados pelo Romantismo, mais tarde, após 1881, suas narrativas foram se modificando e os jogos de interesse presentes nas relações sociais, os contrastes entre as máscaras e os reais desejos das personagens, a ironia, a intertextualidade, o adultério se colocaram em primeiro plano na obra do autor. É difícil enquadrar Machado de Assis como um autor realista típico. De maneira diferente de seus contemporâneos Eça de Queirós, Raul Pompéia ou Aluísio Azevedo, o autor refletiu insistentemente sobre a questão: até que ponto a ética e os valores morais resistem aos interesses individuais? Machado investigou o homem do século XIX de maneira não-esquemática (bastante comum no Realismo/Naturalismo), com humor fino e sutil, em enredos não-lineares, utilizando-se da metalinguagem. Fases de Machado de Assis De maneira didática, a obra de Machado de Assis pode ser dividida em duas fases: 1ª. fase/romântica: nessa fase, embora já trabalhe muitos de seus temas da fase realista, como a hipocrisia, as aparências, os interesses financeiros, Machado de Assis apresenta em seus romances traços típicos da estética romântica, sobretudo em relação à estrutura formal deles. Pertencem a essa fase: Ressureição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878); 2ª. fase/realista: nessa fase, o autor centra sua análise pessimista e irônica nos interesses obscuros que marcam as relações humanas, na vaidade, no convencionalismo e na prevalência do poder financeiro. Os romances realistas de Machado, em geral, inovam também na ruptura que promovem com a ordem cronológica da narrativa, nas digressões feitas pelo narrador e na análise psicológica das personagens. Pertencem a essa fase: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). Ao longo de sua trajetória literária, Machado de Assis também produziu contos, considerados por parte da crítica especializada a melhor parte de sua produção. Destacam-se de sua vasta obra, as narrativas curtas: “O alienista”, “O espelho”, “A igreja do diabo”, “Cantiga de esponsais”, “Noite de almirante”, “Missa do galo”, “A cartomante”, “Uns braços”, “Um homem célebre”, “A causa secreta”, “O enfermeiro”, entre outros. Imagens http://opmymanier.files.wordpress.com/2008/11/madame-bovary.jpg http://www.fantasticfiction.co.uk/images/n37/n188372.jpg http://lh6.ggpht.com/molotov.coquetel/R7zpQfUAFI/AAAAAAAABwk/aUfsZsRKhSM/387pxCommunistmanifesto_thumb2 http://literatura.moderna.com.br/capas/Moderna/85-16-03989-7.jpg http://www.klickeducacao.com.br/Klick_Portal/Enciclopedia/images/Li/9761/3410.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8f/Origin_of_Species.jpg/370 px-Origin_of_Species.jpg http://www.sebodomessias.com.br/loja/imagens/produtos/produtos/63010_995.jpg http://janeladecima.files.wordpress.com/2009/05/21361098_4.jpg http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/agosto2008/images/img_406-04a.jpg http://cdn.dipity.com/uploads/events/87c84e008cf1ae11d284d9a17aad02af.jpg REALISMO/NATURALISMO no vestibular Os principais vestibulares do país exigem que os candidatos tenham um conhecimento considerável da obra machadiana. As questões propostas a seguir têm como base textos do escritor carioca e constituem uma amostra do nível de exigência dos concursos propostos pelas instituições brasileiras de excelência. Há disponível para consulta um site bastante completo, elaborado pela Academia Brasileira de Letras, sobre a obra de Machado de Assis. Se for possível, peça que os alunos o utilizem como fonte de estudo: http://www.machadodeassis.org.br/ UFAC – 2008 Questão 1 Do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, podemos considerar que: (A) é marcada pela projeção subjetivista e otimista do narrador. (B) revela aspectos semânticos da narrativa ufanista da geração de 45, do século XX. (C) a linguagem é entremeada de cinismo e de desencanto diante da existência. (D) é vazada de aspectos conceptistas. (E) indica aspetos estilísticos predominantemente da narrativa modernista. Resposta: C As questões a seguir, propostas pela UNESP, trata de Memórias póstumas de Brás Cubas e de Quincas Borba¸ importantes obras da fase realista machadiana. Há vários estudos importantes sobre a obra do escritor carioca. Indicamos especialmente o texto de abertura do livro Ao vencedor as batatas, de Roberto Schwarz, um dos maiores especialistas brasileiros de Machado de Assis. O texto trata da consequência da herança escravista para o Brasil e da configuração sui generis de nosso liberalismo, assuntos direta ou indiretamente presentes na ficção de Machado de Assis. A seguir, transcrevemos alguns fragmentos do referido artigo: As idéias fora do lugar Roberto Schwartz Toda ciência tem princípios, de que deriva o seu sistema. Um dos princípios da Economia Política é o trabalho livre. Ora, no Brasil domina o fato “impolítico e abominável” da escravidão. Este argumento – resumo de um panfleto liberal, contemporâneo de Machado de Assis – põe fora o Brasil do sistema da ciência. Estávamos aquém da realidade a que esta se refere; éramos antes um fato moral, “impolítico e abominável”. Grande degradação, considerando-se que a ciência eram as Luzes, o Progresso, a Humanidade etc. Para as artes, Nabuco expressa um sentimento comparável quando protesta contra o assunto escravo no teatro de Alencar: “Se isso ofende o estrangeiro, como não humilha o brasileiro!”. Outros autores naturalmente fizeram o raciocínio inverso. Uma vez que não se referem à nossa realidade, ciência econômica e demais ideologias liberais e que são, elas sim, abomináveis, impolíticas e estrangeiras, além de vulneráveis. “Antes bons negros da costa da África para felicidade sua e nossa, a despeito de toda a mórbida filantropia britânica, que, esquecida de sua própria casa, deixa morrer de fome o pobre irmão branco, escravo sem senhor que dele se compadeça, e hipócrita ou estólida chora, exposta ao ridículo da verdadeira filantropia, o fado de nosso escravo feliz”. Cada um a seu modo, estes autores refletem a disparidade entre a sociedade brasileira, escravista, e as idéias do liberalismo europeu. Envergonhando a uns, irritando a outros, que insistem na sua hipocrisia, estas idéias – em que gregos e troianos não reconhecem o Brasil – são referências para todos. Sumariamente está montada uma comédia ideológica, diferente da européia. É claro que a liberdade do trabalho, a igualdade perante a lei e, de modo geral, o universalismo eram ideologia na Europa também; mas lá correspondiam às aparências, encobrindo o essencial a exploração do trabalho. Entre nós, as mesmas idéias seriam falsas num sentido diverso, por assim dizer, original. A Declaração dos Direitos do Homem, por exemplo, transcrita em parte na Constituição Brasileira de 1824, não só não escondia nada, como tornava mais abjeto o instituto da escravidão. A mesma coisa para a professada universalidade dos princípios, que transformava em escândalo a prática geral do favor. Que valiam, nestas circunstâncias, as grandes abstrações burguesas que usávamos tanto? Não descreviam a existência – mas nem só disso vivem as idéias. Refletindo em direção parecida, Sérgio Buarque observa: “Trazendo de países distantes nossas formas de vida, nossas instituições e nossa visão do mundo e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos uns desterrados em nossa terra”. Essa impropriedade de nosso pensamento, que não é acaso, como se verá, foi de fato uma presença assídua, atravessando e desequilibrando, até no detalhe, a vida ideológica do Segundo Reinado. Freqüentemente inflada, ou rasteira, ridícula, ou crua, e só raramente justa no tom, a prosa literária do tempo é uma das muitas testemunhas disso. Embora sejam lugar-comum em nossa historiografia, as razões desse quadro foram pouco estudadas em seus efeitos. Como é sabido, éramos um país agrário e independente, dividido em latifúndios, cuja produção dependia do trabalho escravo por um lado, e por outro do mercado externo. Mais ou menos diretamente, vêm daí as singularidades que expusemos. (...) (...) se insistimos no viés que escravismo e favor introduziram nas idéias do tempo, não foi para as descartar, mas para descrevê-las enquanto enviesadas, – fora de centro em relação à exigência que elas mesmas propunham, e reconhecivelmente nossas, nessa mesma qualidade. Assim, posto de parte o raciocínio sobre as causas, resta na experiência aquele “desconcerto” que foi o nosso ponto de partida: a sensação que o Brasil dá de dualismo e factício – contrastes rebarbativos, desproporções, disparates, anacronismos, contradições, conciliações e o que for – combinações que o Modernismo, o Tropicalismo e a Economia Política nos ensinaram a considerar. (...) Ao longo de sua reprodução social, incansavelmente Brasil põe e repõe idéias européias , sempre em sentido impróprio. É nesta qualidade que elas serão matéria e problema para a literatura. O escritor pode não saber disso, nem precisa, para usá-las. Mas só alcança uma ressonância profunda e afinada caso lhes sinta, registre e desdobre – ou evite – o descentramento e a desafinação. SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: formas literárias e processo social no inícios do romance brasileiro – São Paulo; Duas Cidades; Ed. 34, 5ª. edição. 2000. p. 11-31) UNESP – JULHO/2008 INSTRUÇÃO: As questões de números 02 e 03 tomam por base trechos de duas obras de Machado de Assis (1839-1908). — Mas, enfim, que pretendes fazer agora? perguntou-me Quincas Borba, indo pôr a xícara vazia no parapeito de uma das janelas. — Não sei; vou meter-me na Tijuca; fugir aos homens. Estou envergonhado, aborrecido. Tantos sonhos, meu caro Borba, tantos sonhos, e não sou nada. — Nada! interrompeu-me Quincas Borba com um gesto de indignação. Para distrair-me, convidou-me a sair; saímos para os lados do Engenho Velho. Íamos a pé, filosofando as coisas. Nunca me há de esquecer o benefício desse passeio. A palavra daquele grande homem era o cordial da sabedoria. Disse me ele que eu não podia fugir ao combate; se me fechavam a tribuna, cumpria-me abrir um jornal. Chegou a usar uma expressão menos elevada, mostrando assim que a língua filosófica podia, uma ou outra vez, retemperar-se no calão do povo. Funda um jornal, disse-me ele, e “desmancha toda esta igrejinha”. — Magnífica idéia! Vou fundar um jornal, vou escachá-los, vou… — Lutar. Podes escachá-los ou não; o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal. Daí a pouco demos com uma briga de cães; fato que aos olhos de um homem vulgar não teria valor. Quincas Borba fez-me parar e observar os cães. Eram dois. Notou que ao pé deles estava um osso, motivo da guerra, e não deixou de chamar a minha atenção para a circunstância de que o osso não tinha carne. Um simples osso nu. Os cães mordiam-se, rosnavam, com o furor nos olhos… Quincas Borba meteu a bengala debaixo do braço, e parecia em êxtase. (Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas) Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia [Humanitas]. Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida, mas, tão acanhada, que os suspiros do namorado ficavam sem eco. Chamavase Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris a levou. Foi esse trechozinho de romance que ligou os dois homens. (…) Rubião achou um rival no coração de Quincas Borba — um cão, um bonito cão, meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de preto. Quincas Borba levava-o para toda parte, dormiam no mesmo quarto. De manhã, era o cão que acordava o senhor, trepando ao leito, onde trocavam as primeiras saudações. Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio nome; mas, explicava-o por dois motivos, um doutrinário, outro particular. — Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o princípio da vida e reside em toda a parte, existe também no cão, e este pode assim receber um nome de gente, seja cristão ou muçulmano… — Bem, mas por que não lhe deu antes o nome de Bernardo? disse Rubião com o pensamento em um rival político da localidade. — Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome do meu bom cachorro. Riste, não? Rubião fez um gesto negativo. — Pois devias rir, meu querido. Porque a imortalidade é o meu lote ou o meu dote, ou como melhor nome haja. Viverei perpetuamente no meu grande livro. Os que, porém, não souberem ler, chamarão Quincas Borba ao cachorro, e… O cão, ouvindo o nome, correu à cama. Quincas Borba, comovido, olhou para Quincas Borba. (Machado de Assis, Quincas Borba.) Questão 2 Em Quincas Borba, a opção por um enunciador em terceira pessoa, que apenas relata os fatos, difere da solução encontrada por Machado de Assis para Memórias póstumas de Brás Cubas, sua obra anterior, a qual marcara o início do Realismo no Brasil. Transcreva dois exemplos que caracterizam o tipo de enunciador presente em Memórias póstumas, dando explicações resumidas. Na obra Memórias póstumas de Brás Cubas, o foco narrativo é de primeira pessoa, o que comprovam os verbos: “perguntou-me”, “interrompeu-me”, “distrair-me”. O defunto-autor, com o devido grau de distanciamento que essa condição lhe garante, relata de maneira reflexiva fatos ligados à sua existência, como se pode notar no fragmento: “Estou envergonhado, aborrecido. Tantos sonhos, meu caro Borba, tantos sonhos, e não sou nada.” Questão 3 Em Quincas Borba, as razões para o protagonista dar seu próprio nome ao cachorro de estimação se fundamentam em dois argumentos — um doutrinário e outro particular. Explique em que consiste a primeira razão, tendo em vista os dados fornecidos pelo texto. A razão doutrinária que fez com que Quincas Borba desse seu nome ao cachorro de estimação está ligada à teoria formulada pelo personagem. Segundo o Humanitismo, “Desde que Humanitas (...) é o princípio da vida e reside em toda parte, existe também no cão, e este pode receber um nome de gente, seja cristão ou muçulmano”. Dessa forma, quando Quincas Borba dá seu nome ao animal, reforça o caráter universal de Humanitas, o que justifica tratar o cachorro como um igual a ele. Resolução UFR – 2009 Questão 4 Uma das discussões que a obra de Machado de Assis Dom Casmurro suscita é a possível traição de Capitu. Marque a afirmativa que NÃO justifica tal ambigüidade. A) Os ciúmes de Bento podem ser fruto das condições em que foi criado, sempre lisonjeado por agregados e parentes que viviam em torno à casa de sua família. B) A origem humilde de Capitu, uma razão para a não aceitação inicial do casamento, pode ter levado Bento a desconfiar dos reais interesses da esposa quanto ao casamento. C) Percebendo que, desde a infância, era mais decidido e engenhoso do que Capitu, Bentinho tem a esperteza necessária para flagrar a traição. D) A semelhança entre Escobar e Ezequiel é vista como prova das relações ilícitas de Capitu, entretanto há várias personagens que são mostradas como semelhantes sem terem qualquer parentesco. E) O narrador escreve a partir de sua memória, depois de os fatos já terem ocorrido, sem nenhum familiar para servir-lhe como testemunha. Resposta: C A questão a seguir tem como base a obra Dom Casmurro. Recomenda-se que seja feita a leitura integral do romance Dom Casmurro, obra considerada uma das mais bem construídas do autor carioca. Um estudo comparativo da obra também é uma boa estratégia de análise. Sugerimos para essa comparação a adaptação televisiva feita pelo diretor Luiz Fernando Carvalho, em 2008 (minissérie produzida pela TV Globo e disponível em DVD). Essa adaptação, intitulada Capitu, apresenta o texto de Machado na íntegra e de forma bastante teatral, como se fosse uma ópera. Há também disponível um livro sobre a minissérie, editado pela Casa da Palavra, e um site: http://capitu.globo.com/Capitu/0,,16142,00.html. UNICAMP – 2008 Questão 05 Na seguinte passagem do capítulo LXXX (“Venhamos ao capítulo”), de Dom Casmurro, o narrador trata da promessa feita por D. Glória. Um dos aforismos de Franklin é que, para quem tem de pagar na páscoa, a quaresma é curta. A nossa quaresma não foi mais longa que as outras, e minha mãe, posto me mandasse ensinar latim e doutrina, começou a adiar a minha entrada no seminário. É o que se chama, comercialmente falando, reformar uma letra. O credor era arquimilionário, não dependia daquela quantia para comer, e consentiu nas transferências de pagamento, sem querer agravar a taxa do juro. Um dia, porém, um dos familiares que serviam de endossantes da letra, falou da necessidade de entregar o preço ajustado; está num dos capítulos primeiros. Minha mãe concordou e recolhi-me a S.José. a) Quem lembrou D. Glória da promessa e qual seu vínculo com a família dela? Resposta esperada pela banca No terceiro capítulo do livro, intitulado “A denúncia”, José Dias alerta D.Glória sobre a convivência de Bentinho e Capitu, que se tornava cada vez mais freqüente, ameaçando a realização da promessa da matriarca de entregar o rapaz à Igreja. Ao “denunciar” o perigo da intimidade crescente entre os dois adolescentes, José Dias deixa D. Glória emocionada, lembrando-a de que a antiga promessa é um “dever amargo”, amaríssimo, que deve ser cumprido. José Dias, segundo consta no capítulo V (“O agregado”) é um agregado, que mora num quarto da casa, embora não tenha laços sangüíneos com D. Glória. Em razão dos serviços prestados como falso médico homeopata, conquistou o afeto e a proteção dos pais de Bentinho, sendo tido como “pessoa da família”. b) Explique o uso da linguagem comercial no trecho citado anteriormente e no romance. Resposta esperada pela banca A comparação da promessa, que a devota D.Glória fez a Deus, com uma dívida comercial (uma letra) sugere a importância do dinheiro no romance. No episódio citado, a linguagem financeira, com a qual o narrador faz menção a juros e promissórias vencidas, que poderiam ser futuramente cobradas pelo credor divino, aponta para a razão econômica, própria do mundo dos negócios, subjacente ao vínculo de D. Glória com a Igreja e, num plano maior às relações pessoais, de amor e amizade que permeiam as memórias do protagonista. Assim, a lógica do dinheiro e do interesse financeiro estaria presente em todo o romance, seja no casamento de Capitu com Bentinho, seja na amizade com Escobar, cuja facilidade nos cálculos e o sucesso comercial são motivos de desconfiança. UFES - 2009 Questão 06 No ano de 2008, completaram-se 100 anos da morte de Machado de Assis. O seu romance Quincas Borba, publicado em 1892, narra as desventuras de um personagem discípulo e herdeiro do louco filósofo Quincas Borba. Sobre o romance Quincas Borba, é CORRETO afirmar: A) É narrado em terceira pessoa e utiliza as relações econômico-sociais do Brasil do século XIX como pano de fundo para a relação Rubião / Palha. B) É narrado em terceira pessoa, e Quincas Borba, apaixonado por Sofia, cria o lema “Aos vencedores as batatas”. C) É narrado em terceira pessoa e utiliza a figura de Brás Cubas como uma metáfora das recentes relações capitalistas que estavam se firmando no Brasil do século XIX. D) É narrado em primeira pessoa, e o enredo apresenta a ascensão de Palha, às custas de Rubião, apaixonado por Sofia, que mantém a conveniência do triângulo amoroso. E) É narrado em terceira pessoa, e Rubião, criador da filosofia do Humanitismo e apaixonado por Sofia, enlouquece e morre na indigência. Resposta: A UNICAMP – 2009 Questão 7 Leia o seguinte capítulo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis: Capítulo XL Uma égua Ficando só, refleti algum tempo, e tive uma fantasia. Já conheceis as minhas fantasias. Contei-vos a da visita imperial; disse-vos a desta casa do Engenho Novo, reproduzindo a de Matacavalos... A imaginação foi a companheira de toda a minha existência, viva, rápida, inquieta, alguma vez tímida e amiga de empacar, as mais delas capaz de engolir campanhas e campanhas, correndo. Creio haver lido em Tácito que as éguas iberas concebiam pelo vento; se não foi nele, foi noutro autor antigo, que entendeu guardar essa crendice nos seus livros. Neste particular, a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre; mas deixemos de metáforas atrevidas e impróprias dos meus quinze anos. Digamos o caso simplesmente. A fantasia daquela hora foi confessar a minha mãe os meus amores para lhe dizer que não tinha vocação eclesiástica. A conversa sobre vocação tornava-me agora toda inteira, e, ao passo que me assustava, abria-me uma porta de saída. «Sim, é isto, pensei; vou dizer a mamãe que não tenho vocação, e confesso o nosso namoro; se ela duvidar, conto-lhe o que se passou outro dia, o penteado e o resto...» (Dom Casmurro, em Machado de Assis, Obra Completa em quatro volumes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008: p. 975.) a) Explique a metáfora empregada pelo narrador, neste capítulo, para caracterizar sua imaginação. Resposta esperada pela banca: Nesse capítulo, o narrador compara sua imaginação às éguas iberas. A metáfora empregada pelo narrador indica que sua imaginação corre livre e solta. É também fértil e ambiciosa, porque diante da “menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre”. Desse modo, a metáfora utilizada sugere que a natureza imaginativa do narrador permite que supostos indícios se transformem rapidamente em verdades. b) De que maneira a imaginação de Bentinho, assim caracterizada, se relaciona com a temática amorosa neste capítulo? E no romance? Resposta esperada pela banca: A metáfora da égua ibera remete à natureza fantasiosa do narrador, Bento Santiago, que, no capítulo citado, recorre à imaginação para escapar da carreira eclesiástica. Como justificativa para a falta de vocação religiosa, imagina confessar à mãe, a devota D. Glória, seu relacionamento amoroso às escondidas com Capitu. No romance, a imaginação fecunda de Bento Santiago justifica a hipótese de adultério, fazendo crescer o ciúme, que sustenta a acusação e condenação de Capitu sem provas concretas. UFPR – 2008 Questão 8 Considere as afirmativas abaixo sobre o romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. 1. A obediência de Bentinho às convicções religiosas maternas é um exemplo da importância dada pelo autor, na construção do enredo, à presença do catolicismo na sociedade brasileira, importância que se reflete também na construção de outras personagens da obra. 2. O fato de o narrador-personagem deter-se mais demoradamente no relato do período da infância, adolescência e namoro de Capitu e Bento, do que no relato do período adulto, quando casados, está relacionado, sobretudo, ao sentimento de plenitude e de felicidade que representaram aquelas fases para o protagonista. 3. O narrador protagonista, homem de cultura refinada, apresenta em longos trechos metalingüísticos a típica ironia machadiana em relação à tradição literária e aos autores estabelecidos. 4. No processo de enxergar no filho Ezequiel a imagem e semelhança do seu amigo morto Escobar, Bento Santiago procura convencer tanto a si mesmo como ao leitor da traição de Capitu. 5. O personagem José Dias reflete o caráter precário da autonomia social de certos indivíduos que não eram escravos nem proprietários na sociedade brasileira da época. Assinale a alternativa correta. a-) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b-) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. c-) Somente as afirmativas 2, 3 e 5 são verdadeiras. d-) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 5 são verdadeiras. e-) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras. Resposta correta: e UEMG – 2007 As questões 8 a 11 referem-se à obra DOM CASMURRO, de Machado de Assis. QUESTÃO 8 Assinale a alternativa em que se identificou CORRETAMENTE elementos estruturais do romance Dom Casmurro. A) A obra apresenta um texto em terceira pessoa, em que o protagonista central, Bentinho, é abandonado por Capitu, em virtude dos ciúmes exagerados desta. B) O narrador de primeira pessoa escreve o romance, buscando a ilusão de resgatar o seu passado através de sensações revivenciadas no presente, tentando explicar a sua “casmurrice” e, com ela, a sua própria vida. C) O romance é narrado em primeira pessoa por D.Casmurro, que deseja registrar, memorialisticamente, o seu passado glorioso e cheio de atos dignos de serem revivenciados. D) A narração do romance obedece ao único propósito de registrar os momentos felizes de Bentinho, vivenciados ao lado de Capitu, o que explica, em parte, a tendência do narrador pelas minúcias e pelo detalhismo. Resposta: B QUESTÃO 9 Com relação às técnicas e estratégias narrativas adotadas na obra, SÓ NÃO é CORRETO afirmar que A) o narrador estabelece diálogos com um suposto ‘leitor incluso’. B) o texto apresenta relações intertextuais com a tradição filosófica, artística e literária. C) a narrativa contém recursos metalingüísticos, sobretudo no diálogo narrador / leitor. D) o memorialismo da narrativa é comprometido com a fidelidade dos fatos ocorridos. Resposta: D QUESTÃO 10 Sobre o conteúdo e a estrutura do romance Dom Casmurro, todos os comentários das alternativas abaixo são coerentes e adequados, EXCETO: A) Pela leitura da trama que orienta o enredo, o leitor é levado à conclusão de que o narrador protagonista foi, de fato, traído pela sua amada, Capitu. B) A reconstrução da casa no Engenho Novo para recuperação do espaço perdido em Mata- Cavalos não permite ao narrador a recuperação do seu passado. C) O título do romance constitui uma referência irônica ao narrador e aponta o seu estado de conflito em relação ao passado. D) A força da narrativa não se concentra no enredo, mas nas reflexões, digressões e na maneira ambivalente com que o narrador tenta reconstituir os fatos. Resposta: A UEMG – 2007 QUESTÃO 11 Leia o fragmento da obra, abaixo. “Enfim chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desepero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas.” A partir do trecho acima, e tendo em vista o enredo da obra, SÓ É CORRETO afirmar que A) a cena descrita é tipicamente romântica, de acordo com o estilo da obra, que tematiza a felicidade amorosa de Bentinho e Capitu. B) o instante focalizado enfatiza a extrema sensibilidade de Bento Santiago, diante do cadáver do amigo Escobar. C) o momento descrito é crucial para o relacionamento de Bentinho e Capitu, pois, uma vez instaurada a dúvida na mente do marido, o casamento se deteriorará, encaminhandose para a separação. D) o trecho comprova que Sancha é uma personagem trágica, pois, após a morte dos filhos, ela perde o marido num naufrágio. Resposta: C UFG – 2008 Questão 12 A modernidade do romance brasileiro já se faz notar na segunda fase da obra de Machado de Assis, antecipando essa tendência na literatura brasileira. Em Memorial de Aires, uma marca dessa modernidade é (A) a presença recorrente do pano de fundo histórico. (B) a crítica social aos diversos desmandos políticos. (C) o retrato incisivo do cotidiano artificial burguês. (D) o comentário metalingüístico sobre fatos relatados. (E) a expressão rigorosa de ideologias antagônicas. Resposta: D FGV – 2009 TEXTO 2 Capitu Composição: Luiz Tatit De um lado vem você com seu jeitinho Hábil, hábil, hábil E pronto! Me conquista com seu dom De outro esse seu site petulante WWW Ponto Poderosa ponto com É esse o seu modo de ser ambíguo Sábio, sábio E todo encanto Canto, canto Raposa e sereia da terra e do mar Na tela e no ar Você é virtualmente amada amante Você real é ainda mais tocante Não há quem não se encante Um método de agir que é tão astuto Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo É só se entregar, é não resistir, é capitular Capitu A ressaca dos mares A sereia do sul Captando os olhares Nosso totem tabu A mulher em milhares Capitu No site o seu poder provoca o ócio, o ócio Um passo para o vício, o vício É só navegar, é só te seguir, e então naufragar Capitu Feminino com arte A traição atraente Um capítulo à parte Quase vírus ardente Imperando no site Capitu http://letras.terra.com.br/luiz-tatit/163882. Acesso em 09/09/08 FGV – 2009 Questão 13 O texto preserva algumas características da Capitu machadiana. Assinale a alternativa em que tais características estão indicadas. A) vício, feminilidade, arte. B) sabedoria, realidade, desencanto. C) olhares, ócio, petulância. D) habilidade, poder, ambigüidade. E) passo, ardor, conquista. Resposta: D FGV – 2009 Questão 14 Nos primeiros versos do poema, a ambigüidade da Capitu de Tatit é tomada como uma oposição entre: A) encanto e melodia. B) poder e sabedoria. C) habilidade e atrevimento. D) capitulação e entrega. E) ócio e vício. Resposta: C FGV – 2009 Questão 15 A canção de Luiz Tatit retoma o tema de Capitolina Pádua, a famosa Capitu de Machado de Assis. O eu lírico a vê com os olhos do homem contemporâneo. O poema refere-se a ela, entre outros termos, como raposa e sereia (verso 5, 3ª estrofe). No poema, a esses dois termos correspondem, respectivamente, as seguintes características: A) a ressaca dos mares / um capítulo à parte. B) não há quem não se encante / imperando no site. C) captando os olhares / sábio, sábio. D) método de agir que é tão astuto / encanto, canto, canto. E) poderosa ponto com / quase vírus ardente. Resposta: D FGV – 2009 Questão 16 No poema composto de oito estrofes, ao redesenhar Capitu, o eu lírico lança mão de pelo menos um termo usual da informática, exceto na: A) 1ª estrofe. D) 4ª estrofe. B) 2ª estrofe. E) última estrofe. C) 3ª estrofe. Resposta: A 17. (ITA) Leia as proposições acerca de O Cortiço. I. Constantemente, as personagens sofrem zoomorfização, isto é, a animalização do comportamento humano, respeitando os preceitos da literatura naturalista. II. A visão patológica do comportamento sexual é trabalhada por meio do rebaixamento das relações, do adultério, do lesbianismo, da prostituição etc. III. O meio adquire enorme importância no enredo, uma vez que determina o comportamento de todas as personagens, anulando o livre-arbítrio. IV. O estilo de Aluísio Azevedo, dentro de O Cortiço, confirma o que se percebe também no conjunto de sua obra: o talento para retratar agrupamentos humanos. Está(ão) correta(s) a) todas. b) apenas I. c) apenas I e II. d) apenas I, II e III. e) apenas III e IV. Resposta: A 18. (UFV-MG) Leia o texto abaixo, retirado de O Cortiço, e faça o que se pede: Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. […]. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviamse gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29. Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do fragmento citado: a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colméia humana. b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos. c) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza nos personagens de O Cortiço o aspecto animalesco, “rasteiro” do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir. d) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico. e) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista. Resposta: D 19. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913): O cortiço Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas. Os sinos da vizinhança começaram a badalar. E tudo era um clamor. A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca. Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço) Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão críticoanalítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em: a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas. c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos... d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada... Resposta: E 20. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913): O cortiço Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas. Os sinos da vizinhança começaram a badalar. E tudo era um clamor. A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca. Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço) O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece, de maneira figurada, um retrato de nosso país, no final do século XIX. Põe em evidência a competição dos mais fortes, entre si, e estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres, mestiços e escravos africanos. No ambiente de degradação de um cortiço, o autor expõe um quadro tenso de misérias materiais e humanas. No fragmento, há várias outras características do Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas características apresentadas são corretas: a) Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos sociais contemporâneos ao escritor. b) Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; tensão conflitiva entre o ser humano e o meio ambiente. c) Preferência pelos temas do passado, propiciando uma visão objetiva dos fatos; crítica aos valores burgueses e predileção pelos mais pobres. d) A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a idéia de Deus; utilização de preciosismos vocabulares, para enfatizar o distanciamento entre a enunciação e os fatos enunciados. e) Exploração de um tema em que o ser humano é aviltado pelo mais forte; predominância de elementos anticientíficos, para ajustar a narração ao ambiente degradante dos personagens. Resposta: A 21. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913): O cortiço Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamoresapopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas. Os sinos da vizinhança começaram a badalar. E tudo era um clamor. A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca. Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço) Releia o fragmento de O cortiço, com especial atenção aos dois trechos a seguir: Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. (...) E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas. No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções literárias que configuram imagens plásticas no espírito do leitor, Aluísio Azevedo apresenta características psicológicas de comportamento comunitário. Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos têm em comum: a) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação de poucos em relação à tragédia comum, no segundo trecho. b) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios, no segundo trecho. c) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho. d) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, e desespero que se expressa por apatia, no segundo trecho. e) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e anonimato da cooperação e do “todos por todos”, no segundo trecho. Resposta: E 22. (ESPM) Dos segmentos abaixo, extraídos de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, marque o que não traduza exemplo de zoomorfismo: a) Zulmira tinha então doze para treze anos e era o tipo acabado de fluminense; pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios, faces levemente pintalgadas de sardas. b) Leandra...a Machona, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo. c) Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. d) E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa começou a minhocar,... e multiplicar-se como larvas no esterco. e) Firmo, o atual amante de Rita Baiana, era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito... Resposta: A 23. (UEL) A questão refere-se aos trechos a seguir. “Justamente por essa ocasião vendeu-se também um sobrado que ficava à direita da venda, separado desta apenas por aquelas vinte braças; e de sorte que todo o flanco esquerdo do prédio, coisa de uns vinte e tantos metros, despejava para o terreno do vendeiro as suas nove janelas de peitoril. Comprou-o um tal Miranda, negociante português, estabelecido na rua do Hospício com uma loja de fazendas por atacado.” “E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado diante daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes piores e mais grossas do que serpentes miravam por toda parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.” (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 23; 33.) Com base nos fragmentos citados e nos conhecimentos sobre o romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo, considere as afirmações a seguir: I. A descrição do cortiço, feita através de uma linguagem metafórica, indica que, no romance, esse espaço coletivo adquire vida orgânica, revelando-se um “ser” cuja força de crescimento assemelha-se ao poderio de raízes em desenvolvimento constante que ameaçam tudo abalar. II. A inquietação de Miranda quanto ao crescimento do cortiço deve-se ao fato de que sua casa, o sobrado, ainda que fosse uma construção imponente, não possuía uma estrutura capaz de suportar o crescimento desenfreado do vizinho, que ameaçava derrubar sua habitação. III. Não obstante a oposição entre o sobrado e o cortiço em termos de aparência física dos ambientes, os moradores de um e outro espaço não se distinguem totalmente, haja vista que seus comportamentos se assemelham em vários aspectos, como, por exemplo, os de João Romão e Miranda. IV. Os dois ambientes descritos marcam uma oposição entre o coletivo (o cortiço) e o individual (o sobrado) e, por extensão, remetem também à estratificação presente no contexto do Rio de Janeiro do final do século XIX. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV. Resposta: D 24. (UFLA) Relacione os trechos da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, às características realistas/naturalistas seguintes que predominam nesses trechos e, a seguir, marque a alternativa CORRETA: 1. Detalhismo. 2. Crítica ao capitalismo selvagem. 3. Força do sexo. ( ) “(...) possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estepe cheio de palha.” ( ) “(...) era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas de fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras.” ( ) “E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer (...) Era um pobre diabo caminhando para os setenta anos, antipático, muito macilento.” a) 2, 1, 3 b) 1, 3, 2 c) 3, 2, 1 d) 2, 3, 1 e) 1, 2, 3 Resposta: D 25. (UNIFESP / SP) Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico- analística dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em: a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes que se despejavam sobre as chamas. c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos... d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada... Resposta: E 26. (UEL) Texto 1 De cada casulo espipavam homens armados de pau, achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo os agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa, como se ficassem desonrados para sempre se a polícia entrasse ali pela primeira vez. Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois rivais, estava direito! ‘Jogassem lá as cristas, que o mais homem ficaria com a mulher!’ mas agora tratava-se de defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém ou alguma coisa querida. (AZEVEDO, Aluísio, O cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 139.) Texto 2 O cortiço é um romance de muitas personagens. A intenção evidente é a de mostrar que todas, com suas particularidades, fazem parte de uma grande coletividade, de um grande corpo social que se corrói e se constrói simultaneamente. (FERREIRA, Luiz Antônio. Roteiro de leitura: O cortiço de Aluísio Azevedo. São Paulo: Ática, 1997. p. 42.) Sobre os textos, assinale a alternativa correta. a) No Texto 1, por ser ele uma construção literária realista, há o predomínio da linguagem referencial, direta e objetiva; no Texto 2, por ser ele um estudo analítico do romance, há o predomínio da linguagem estética, permeada de subentendidos. b) A afirmação contida no Texto 2 explicita o modo coletivo de agir do cortiço, algo que também se observa no Texto 1, o que justifica o prevalecimento de um termo coletivo como título do romance. c) Tanto no Texto 1 quanto no Texto 2 há uma visão exacerbada e idealizada do cortiço, sendo este considerado um lugar de harmonia e justiça. d) No Texto 1 prevalece a desagregação e corrosão da grande coletividade a que se refere o Texto 2. e) O que se afirma no Texto 2 vai contra a idéia contida no Texto 1, visto que no cortiço jamais existe união entre os seus moradores. Resposta: B