ADYn l^rRAÇÂO e OFICIXAS Edüòn <0 LUTADOR^ — Manhun=riri, <MG).— DIRETOR GERP:XTE; S^Miâo Batista Viana, S. D. N. REDAÇÃO: Dirttor: Tc- Pasfhoal R u f t L S-D.X. — Seminário Maior Pe. Júlio CAixa postal 2428 — Horizonte, M.G. CORPO REDATCRlAL: Prrf^Asôres do Instituto Ctxtnl áe Filosofia e Teologia (ICFT) DA UCMG. <ATUALIZAÇÃOy — Revista de Divn^açáo Teológica para o cristão de hoje — puK:-tação mensal. Preço da assinatura para 1970: XCr$ 23,00 — Número avulso: XCr$ 2,00. — TMa correspondência seja endereçada ao Pe. Pnchoal Range) — Caixa Postal 2428 — Belo Hcrizonte MG. — Os originais dos artigos, mesmo não publicados, não serão devolvidos. COLABORAM XESTE NÚ3BERO: J. B. LIBÃXIO — Professor de Teologia ca Pont. Universidade Católica — Pio de Jír.tin — G. B. e no Inst. Cfrtral de Fil. e Teol. de Belo Horizonte — M. G. ULPIAXO V.Í5QUEZ — Professor de Teologia no Instituto Central de Filosofia e Teologia — Belo Horizonte — M. G. PE. ALBERTO AXTOMAZZI — natm-aíde Milão fltália). Sacerdote da Arqui-ü&cís? de Belo Horizonte. Doulcr em Hlosofia pela Universidade Cstó!i:ia :e Mülo. Professor de História do Cristianismo do I. C. F. T. da Universidade Católica de M.G. Presidente da Comissão de Esh:5' s do Mcrtrr.ento Ecumênico Cristío de Belo Horizonte. F^EI RAUL RUU5— Xatural de Kctht: en Spaland (Holanda). Pcr!<- í í : Frínd^esna. Doutor cm pela Universidade de Xirafga. - ce Exegese Bíblica M ICFT. fia Universidade Ca? J-Í.G. j da <Liga de Bíblicos^. Autor dc: <A Eítrulura da C: -s .cs Romanos^ (Xirr^za. 1%4). BE. PASCHOAL RANGEL, S. D. X.— natural dc Castelo (E. S.). P.-r de Tt-t!^zia Sistemática e Intr^' j á Hlosofia^no I.C. F.T. 1, * tf/" ^ ! (A/ JÚm^nova busca do sentido de Deus: a tpoiogia da esperança ^ y ^ L B. LiMnio As vezes parece desconcertante para o cristão de hoje perceber que a teologia católica, depois de tantos séculos de reflexão, de repente se volta com todas as suas forças para o prob!ema fundamental: quem é Deus. Será que durante tantos séculos não sabíamos quem era Deus e somente os teólogos modernos é que têm a pretensão de encontrar o verdadeiro sentido de Deus? Será que milhões, bilhões de cristãos que creram em Deus durante sua vida, que chegaram mesmo a testemunhar sua fé cm Deus sofrendo morte violenta ou padecendo as injustiças dos homens, adoraram um deus-mito e somente nós que o descobrimos? De fato, certas maneiras precipitadas de tratar êste problema podem dar a impressão de uma rejeição categórica de todas as expressões tradicionais sobre Deus, como falsas, e de quererem apresentar a sua como a única viável, verdadeira. ( O sentido dêsse esforço da teologia moderna de voltar-se sôbre ò problema de Deus não é nenhuma auto-suficiência em relação às correntes teológicas que a precederam, mas uma tarefa, que incumbe sempre a tôda teologia de buscar falar de Deus ao homem de seu tempo. O problema não está cm Deus, mas. no.homem. O homem, com sua múltipla experiência, sofre continuas mudanças, e e limitado pelas categorias espáciotemporais do momento de sua história. Necessita, pois, de uma linguagem sempre nova, de uma comunicação que corresponda a sua experiência?) Deus continuará sempre Absoluto, o Nunca-possuido-pelo-homem, o Nunca-colccado-à-disposição-dohomem, o Imprevisível, o Etcrtia-novidade, o Pura-surpresa, o Dom-gratuito-absolutamente-livre, o Nunca-exigido-pelo-homem, Aquêle-quc-cternamcntc-sc-revcla sem jamais ser totalmente revelado. Tõdas as categorias teológicas no decorrer da história sempre se defrontarão com esta realidade abissal de ^ Deus. Todo o problema é do modo de exprimir a realidade de Deus para dentro da experiência do homem. O esforço, portanto, da teologia moderna não pode ser entendido como uma violação do mistério insondável de Deus, cdo abismo de riqueza, de sabedoria da ciência de Deus, cujos decretos são insondáveis c cujos caminhos incompreensíveis* (R 11 33). TTata-se^de um .esfôrço_.para_ajudar_a^pmem_moderno a descobrir o sentido da experiência de Deus, Sente-se sem dúvida, uma discrepância entre o que é ensinado pela Igreja oficial, o que é pregado nos púlpitos, o que é lido nos catecismos, o que é vivido por uma maioria de fiéis e a exigência de uma nova geração, que já não entende existencialmente tudo isto (1). Encontra-se essa geração diante de tais ensinamentos e das experiências dos mais velhos como diante de uma esfinge. Muitos dessa geração jovem, depois de ouvirem falar de Deus, talvez possam perguntar com certa ironia: de quem estão falando? Não porque sejam ateus, mas porque já ' não compreendem a linguagem com que se lhes fala de Deus. Isso não nos faz lembrar a 1". Apologia de S. Justino que defendia os cristãos da acusação de ateus, porque não criam nos deuses do império romano? . . . 1. Deus lá de cima: esquema cosmológico primitivo. Uma das maneiras mais tradicionais de falar dc Deus, que corresponde a um estado do desenvolvimento cultural da humanidade, é a do esquema cosmológico. Coincide com uma interpretação material, literal e ingênua da Bíblia. A Bíblia nos apresenta uma imagem estática do mundo, que retrata a mentalidade cultural da época. Dentro dêsse esquema, que não difere do dos outros povos antigos vizinhos, o mundo é dividido em três partes: céu, terra c mundo subterrâneo (sheol). O firmamento era concebido como algo fixo, sustentado por colunas, de onde pendiam os astros — sol, lua e estrelas — na parte inferior, enquanto que na parte superior estavam represadas as águas que desciam à terra em forma de chuva, orvalho, granizo, quando se abriam as comportas celestes. E Javé nos é apresentado habitando a parte superior do céu, por cima das águas. «Tu constróis sobre as águas teus altos aposentos^- (S! 104 3), diz o salmista. Ezequicl fala de Javé habitando por cima da abóboda brilhante dc cristal (Ez 1 22s) e o livro dos reis nos diz que nem os céus, nem os céus dos céus — i. é. a parte superior dos c é u s — podem conter a Javé (1 Re 8 27). O Antigo Testamento não íala do número dos compartimcntos celestes, como os babilônios, que falavam de três ou sete céus, colocando o Pai dos deuses — Anu — no mais elevado dós céus. No judaísmo íarrlio sc falará do 3" céu, corra lugar de Deus (2 C 12 2). A própria oração do Pai Nosso r-.os faladêsse esquema: Pai Ncsso que estais nos céus (Mt 6 9). A mentalidade científica moderna, criada pelas descobertas e progresso cientifico-tecnológico, desterrou para sempre êsse modo de fadar de Deus, como mítico. Os possantes telescópios penetrarem a irsondabilidade dos céus e não descobriram nenhum trono celeste. Xuito antes que o astronauta russo, que passeou peles céus. pudesse, com uma ingenuidade e ignorância religiosa infante. fazer sua declaração ateista de não existir nenhum Deus lã em cima. a reflexão exegética, com um instrumental mais rico e diversificado, nos permitia distinguir a verdadeira mensagem teológica da Sagrada Escritura, como revelação de Der?- de sua existência, de seu poder, da fundamental dependência da criatura, e a língua e linguagem cultural da época, caduca, sempre superável. Assim êste esjuema cosmológico foi um instrumental ou como dizem os exegetas alemães, um 'Iiitemretameut* — L é. um meio de interpretar uma realidade religiosa, teológica, sem que êle pertença ao conteúdo desta mensagem. Como J. L- Segundo e J. P. Sanchis analisaram (2), no cristianismo latino-americano se encontram ainda elementos das etapas vétero-testamentárias da descobema de Deus. Então um esquema cesmolc-gico, que a ciência já superou com suas descobertas, ainda existir e mesmo existe m mente de muitos homens simples, para es quais Deus é um ser que habita o céu. Numa vera?feira pastoral, tal fato deve ser levado em conta, não no sentido de se continuar pregando êsse esquema, pois pode levar a muitas falsas inteleccões. mas a uma lenta correção, a partir do fato ce cue êle ainda existe. 2. Deus lá foru do mundo: esquema oníclógico transcendental. É sem dúvida um esquema teológicc-biblico mais elaborado. ccm? superação do primeiro esquema bibüco primitivo. Na -própria Bibüa já há a reflexão de que Deus não se localiza num lugar, em opcsíçáo ao homem e ao mundo. Êle transcende qualquer localizarão. é onipresente. <<mde me poderei esconder de ti e escapar do alcance de teu emar? Se subir para o espaço, eu t e encontro lá. Se fôr morar em baixo da terra, também ai escarro contigo. Mesmo que eu v á me esconder lá atrás dos horizontes, será ainda a tua mão que me conduz, e até lá ela me protege-> fS! 133: trad. F. Teixeira e C. Mesters Rezar Salmcs Hoje. SP 1970). Deus su^snta or mundo e ( homem rs? seu ser. E*e é o ser por excelência. Partindo do da do bíblico fundamental da transcendência de Deus, a teologia, sobretudo escolástica, elaborou êste esquema. Busca-se a Deus, como o Ser que__explica a multiplicidade, dos sêres. Será a perfeição absoluta, que explica as perfeições limitadas existentes, Será o início-motor de todo movimento e mutação, sendo êle mesmo o imóvel, imutável, não por passividade, mas por perfeição. ^]Êle é o fim supremo, que explica todos os outros fins, que encontramos no mundo criado. Êle é o ser, único, necessário, de quem todos os sêres participam enquanto são ser e que explica todos os sêres criados, em sua contingência?) 0_que_caractcriza__fundamcntalmente_êste esquema é a_ preocupação de explicar a existência do ser contingente, que não encontra em si sua última razão de existir e que exige, portanto, como possibilidade de auto-inteligibilidade, a existência de u m . s e r necessário, supremo; Deus, Tal esquema se move numa linha de pensamento metafísico, em certo sentido, cosmológico-ontológico e não espacial, como o primeiro esquema. O ser é a principal preocupação do esquema. Ora, êle, num mundo todo orientado para a práxis, para a transformação, para o devir, para a história, e não para o ser, parece desatualizado. Ele vem satisfazer ainda a mentaüdades formadas dentro de uma filosofia escolástica, de uma metafísica clássica, onde o problema da unidade e multiplicidade do ser se situa numa posição central. Também aqui vale a mesma consideração pastoral feita a propósito do esquema anterior. Muitos ainda se movem nesse esquema e é ai aue querem e podem captar o significado de Deus na sua vida. Os catecismos tradicionais e sobretudo as apologéticas estão repletas de considerações sôbre Deus neste esquema mental. Talvez a maior lacuna de tal modo dc falar de Deus seja o descuido pelo aspecto antropológico, histórico, existencial da experiência humana. O homem moderno se sente estranho r. um modo abstrato, frio, lógico, dc f a l a r de Deus. Neste esquema Deus aparece mais como o resultado de raciocínio lógico,concludente e menos como. uma Pessoa que vem responder aos desejos profundos do homem, ou como aquele, que^.dá .sentido à história, como veremos nos esquemas seguintes. 3. Deus fora do homem: esquema antropológico-transcendental. O esquema anterior era acusado dc essencialismo e a cultura moderna fôra lentamente sendo dominada por uma visão personalista, existencialista, sobretudo com a «descoberta moderna da 'subjetividade' e com a dissolução da imagem antiga do mundo e com a construção de uma nova imagem na forn do universo científico-técnico* (3). Esta corrente moderna de pensamento é inauumrada n turalmente por Descartes, mas se elabora sobretudo) depois < Kant, Hegel, Kierkegaard, Heidegger, das diversas Formas ' existencialismo e do personalismo de Mounier. No inundo < teologia, o grande teólogo, que fêz uma reflexão de emvergadu numa linha antropológico-transcendental, foi K. Ra&mer. E «I-Iõrer des Wortes» (*) êle elabora tôda uma análise d b home: como espirito aberto para a Palavra de Deus, seja físlada, se possível. O homem é radicalmente um «Ouvinte da Fíalavra < do Silêncio de Deus», mas ouvinte. O homem é esssncilmen transcendência, abertura para o indizivel, contínua superaç: de sua realidade espácio-temporal. Está além de tôda definiç: e possui um dinamismo que o orienta fundamentalmente pa Deus (4). Todo conhecimento e tôda opção, que o h e m e m fiz livremente na sua existência, só é possível porque êle possui c te horizonte a-priori, a-temático, transcendental. Partindo das experiências cotidianas do h o m e m — des jos, perguntas que faz, atos de amor, de escolha —. EI. Rahn se interroga por aquilo que existe por detrás de tais; -experiê cias, e aue as faz possíveis (5). Nenhum amor satisfaz totí mente o homem, nenhuma resposta esgota-lhe a sêde tde inte rogações, nenhum conhecimento lhe sacia completamente o a dente desejo de saber. Existe um horizonte supremo de tod< os atos humanos: o Ser. Este ser está para além dg todos < nossos sentimentos, conhecimentos, desejos possiveis e imac nários, sem jamais ser esgotado. É portanto o Ser Absolut Deus. Reconhecer e afirmar a finitude de qualquer ser, é í mesmo tempo afirmar implicitamente, como condição mesn de inteligibilidade e possibilidade desta afirmação. o In) nito está por detrás desta afirmação. Não se atinge a Deu em tôdas as afirmações e decisões, de modo reflexo, eonceituí explícito, traduzível em têrmos, mas de modo a-coinr.eitual ; temático, na obscuridade do dinamismo do espírito,, contra horizonte transcendental do espírito (G). Nesta visão rahneriana, Deus surge como a rrspost como. .^..consistência mesma dêste dinamismo do e s t r i t o ln !Dano. ÚNICA resposta total ao homem,^ a ÚNIC auto-realização possível para o homem. Todo o problema c (*) Hürcr de3 Wortes é titulo de uni )ivro <!e Hatnmr tr signifi; ^Ouvinte da Palavras. (X da R.). sa/vnção do homem se colocará na aceitação opcional livre denta sua situação de finitude, e portanto de só poder realizau-se na afirmação e aceitação existencial de Deus. Sua f r u s t r a ç ã o total, portanto sua condenação, se fará por uma re^migão dessa sua situação criatural, numa não-aceitação de suai realização cm Deus, de um orgulho fundamental e radãrH, de não-aceitação de ser Ouvinte de Deus, para tornarse ã ú n e n t e ouvinte de si mesmo. Tal consideração, muito rica, vem responder à problemática de tôda u m a gama de pessoas que sentem sobretudo, dc modo agudo, a inquietude das perguntas existenciais sôbre o sentido da vida, da dor, do sofrimento, do amor, da -ulegria. dos desejes, das preocupações, das buscas e que ncífmm então encontrar um sentido num Deus: Resposta Transcendental. Há contudo limitações em tal maneira de considerar a experiência e sentido de Deus: ainda se fica muito ligado a u m a linha metafísica transcendental. 4. Deus em nentista. nós: esquema ontológico-antropológico !ma^ J. A. T. Robi. son chama de «reluetant revolution* a superação do esquema do Deus metafísica e espiritualmente «Gur There», já que esta idéia de Deus é muito mais difícil de c o r r e r (7). A necessidade de abolir tal concepção perturbaria gravemente a maioria das pessoas, pois é o seu Deus e r;ão teriam nada p a r a pôr em seu lugar. Aste é o esquema mental do Deus de nossa infância, de nossas conversas, o Deutp de nossa religião e de nossos pais. Estamos numa época em que a concepção de um Deus «out There». que nos foi tão útil depois do desmoronamento da concepção cosmológica d o universo em três camadas, se está tornando um impedimento em vez de ajuda. A passagem do esquema de um Deu:? exterior a nós (out There) para um nôvo esquema imaner"ista é muito mais violenta que foi a passagem do esquema cosmológico (up Thcrc) para o esquema transcendental <íout There). pois êle parece ser uma negação da própria existência dc Deus (8). P. Tillich, num sermão aparecido em 1949, nos chama a arenção para uma transformação que sofreu boa parte de ncs;:u< simbolismo religioso Iradicional com o uso das categoria- de 'profundidade'. «O nome desta infinita e inexauriveí' profundidade e fundamento de todo ser é Deus. Esta profundidade é o sentido mesmo da palavra-Deus. Se esta paia-í-ra não tem muito sentido para ti, traduze-a e fala então f:m têrmos de profundidade dc tua vida, de fonte de teu ser, daquilo que em úitima análise te diz mais respeito, daqujIo quç. lcYas^a^sério . scm^qualqucnJYg^rja. Para^ conseguires isto, deves esquecer tudo aquüo que tradicionalmente aprendeste a respeito de Deus, talvez mesmo o próprio nome de Deus. Pois se sabes que a palavra Deus significa 'profundidade', sabes muita coisa a respeito dê'e. Não pedes chamar-te a ti mesmo de ateu ou descrente, já çue não podes pensar ou dizer: a vida não tem nenhuma profundidade^ A vida e banal. O próprio ser é pura superfície. Se pudesses dizer isto, com tôda seriedade, serias então de fato um ateu. mas do contrário, não. Quem conhece algo sobre a profundidade, conhece algo sobre Deus» (9). Trata-se, pois, de uma mudança para uma nova dimensão de inteligibilidade, abandonando uma linha metafísica transcendental para uma concepção de profundidade do ser, que vai mais de acordo com a simbologia moderna. A categoria de profundidade não se aplica sêmen ta a todo ser. em geral, mas de modo explícito à nossa existência histórica e social, ao núcleo da pessoa. «Deus é o nome deste fundo infinito e inesgotável da História?- (10). Se as palavras Reino de Deus e Providência Divina não têm sentido para nós, então falemos da profundidade da história, do fundo e da meta de nossa vida social, de tudo aquilo oue levamos a sério sem nenhuma reserva nas nossas atiiddadss morais e políticas (11). Deus é, na expressão d? D Eonhõffer, o «beyond in the midst of our life* — o ALÉM no ecn tro de nossa vida (12). E' no Tu finito, que se encontra c Tu eterno (13). Deus se encontra no núcleo do homem. Reconhecer a transcendência de Deus é reconhecer nas relações condicionadas da vida o incondicional e responder a por uma relação pessoal incondicional (14). Nesta visãp„. _ Deus,„já,., compreendido _ec-mo.. fardam ^" * o fonte e fim_j3e nosso ser, e que só pode ser represem ^ i ao mesmo tempo como afastado da banalidade e su-erficie re cadora de nossas vidas pela distância e profundidade influi tas, e portanto mais perto ainda de nós q'*e nós mesmos (15) E' o Deus apresentado como a profundidade da experiên-^ cotidiana não religiosa (16). Concluindo estas considerações, baleadas sôbre o E vro de J. A. T. Robinson, Honest to God. todo o esfõrç dêste esquema de intelecção de Deus é de procurar delrc e superar a linha metafísica transcendental — porque iní teligivel para o homem de hoje — pata descobrir c sent do de Deus na profundidade dos sêres, sobretudo no núci. do homem, de tal modo que nosso relacionamento com D ? adquire tcológicamente uma orientação antropeeêntrica. E parte, isto nos faz lembrar de Sto. Agostinho com sua céle& frase das Confissões sobre Deus: «interior intimo meo et superior summo meo» (17). . Este esquema imanentista para falar de Deus pode ajudar a muitos a encontrar-se com Ele. Contudo há a limitação de ficar-se demasiadamente preso a uma dimensão imanentista, comprometendo talvez o próprio ser transcendente de Deus. Robinson não nega a transcendência do ser dc Deus (18), mas julga como inadequado hoje o esquema metafísico da transcendência para traduzir a realidade de Deus. Mas mesmo para a mentalidade de hoje, o esquema dc Robinson me parece carente. Desconhece a dimensão social histórica dos homens e se prende a uma filosofia mais subjetivista, existencialista, personalista. Dentro de uma perspectiva filosófica histórico-coletiva, social, escatológica, sente-se dificuldade de entender e interpretar tal experiência de Deus. 5. D?us diante de nós: esquema de uma teologia da história e da esperança* O esforço da teologia da esperança talvez se coloque numa busca de uma nova intepretação de Deus. O homem se sente cada vez mais envolvido no contexto histórico e se compreende como um ser essencialmente histórico. Seu pensar, seu agir, seu ser, todo ôle é determinado pelas categorias da história. Cotno ser determinado pela categoria espácio-temporal, como natureza-tarefa a ser criada com o seu desenrolar, como existência que precede a essência a ser construída ao longo do próprio existir, o homem atual se define como criador da história. A história se constrói por esta ação criadora do homem, não na sua singularidade indi, vidual, mas numa conjugação comum de ações. E s t e ho^ A'^ ^ mcm,_.quc_cria ajhistória cm comunhão com seus irmãos ..homens, num desejo cada vez maior de construir uma comuni^ ^ade...verdadeira, de_ amor, dc compreensão, de fr.atornir </*/ dade. já não_ se satisfaz com .uma experiência de Deus numa linha puramente imanentista-antropológico-individual e muito menos cosmológica e antropológico-transcendentál. Deus só po^e ser experimentado por êle como o FUTURO, çomo aquele Ser que está diante dele, não como realidade CS: íát!ra. M-.^ emio um - r.u-n-ondp* <'!i)tâmi<-o. { Na niedida em que o homem vai construindo sua história, cm comunhão com seus irmãos, nesta mesma medida vai experimentando Deus, vai-lhe descobrindo o verdadeiro sentido: um Deus que emerge da história, que nasce sempre nôvo, que jamais c abarcado, mas tudo abarca, que jamais é possuído, mas tudo possui, porque é sempre FUTURO^) Deus será sempre aquêie de que não podemos 'dispor', manusear, manipular. Êle é a imprevisibilidade, o futuro sempre nôvo, é ESPERANÇA. O homem como indivíduo não consegue explicar a história. Aqui entra a diferença radica! entre a experiência cristã teísta e a utopia marxista. O marxista apresenta uma utopia intramundana, uma esperança intraterrena, enquanto que o cristianismo, aceitando todo o trabalho de humanização, de aperfeiçoamento do cosmo, de criação de uma sociedade fraterna, humana, cheia de compreensão e amor entre os homens, não coloca nisto todo o sentido da existência, mas apresenta uma experiência de De"s Futuro, Futuro oue nos vem ao encontro, a cada homem e a tôda a humanidade. E ' um Futuro gratuito, jamais criado, produzide e exigido pelo homem, mas livremente doado ao homem (19) Portanto uma verdadeira experiência do sentido da história é, em linguagem da tradição religiosa: Deus (20). Neste campo de reflexão, um grande teólogo protes tante, Jürgen Moltmann nos oferece riquíssimas considera ções. Na sua célebre obra «Thcologie der IIoffnung)> (Teolo gia da Esperança) e em inúmeros artigos, explicita esta ex periência de Deus, como o De"s da Esperança. Esperança re cebe todo um nôvo enfoaue, bem diferente das consideraçõe tradicionais desta virtude teologal. Como o campo de reflexão dêste autor é muito vaste aparecerão brevemente dois artigos, nesta revista, de um jc vem teólogo espanhol Ulpiano Vásquez, sôbre alguns elementos da teologia moltmaniana. Não se pode falar hoie d teologia escatológica. teologia da revolução, teoloaia da e: perança, sem conhecer as contribuições profundas de J. Mol mann, que, por sua vez, se inspira no filósofo marxista alem? E m s t Bloch, autor da clássica obra: «Das Prinxip Hoffnunp (O Princípio Esperança). Sem dúvida poderemos encontrar nesta linha de pe; samento uma nova interpretação da experiência de Deus valiosos subsídios para uma renovação da pregação sôbre tema central da teologia: Deus. Deus será sempre o ce tro de tôda reflexão teológica. Teologia sem Deus só tem se tido, quando êste 'sem Deus' significa uma desmitoiogizaç; de uma falsa idéia de Deus, para criar, sim, uma verdad< r.a Teo-logia, ciência de Deus. Tôdas estas expressões que i ram lançadas pelos teólogos radicais, sobretudo americant cristãos ateus, teologia da morte de Deus, teólogos sem Dei para não serem um puro sem-sentido, devem ser uma tf tativa, em muitos pontos infeliz, de re-interpretar a experic cia fundamental de tôda teologia: a experiência de Deus. Deus será sempre o divisor imprescindível de tôda teologia e sua negação. Todo o nosso esforço deve ser de re-encont r a r para o homem de hoje uma base experiencial na sua existência que possa ser um fundamento de sua experiência religiosa, teológica. Por isso, não nos deve escandalizar ver que teólogos de valor acabem de publicar um livro com o titulo: «Quem é na verdade, Deus?)> Como dizíamos no início do artigo, êste ó desde o princípio da história da teologia, o problema fundamental e continuará sempre a ser o problema central da teologia de hoje. Não nos sintamos frustrados se, depois de 20 séculos de teologia cristã, ainda estamos às voltas com o problema de Deus. A teologia da Esperança, que agora irrompe com vigor para dentro da teologia católica, como rica contribuição do mundo marxista e protestante para nossa reflexão católica, pode ser uma válida consideração que nos ajude a penetrar cada vez mais no mistério de Deus. ^Mistério insondável, mistério jamais possuído e sempre diante de nós. Inacessível, não por ser obscuridade, mas por ser, sim, plenitude de luz e força, que supera a fragilidade de nossa percepção^ Caminhar com a nossa reflexão para dentro do mistério dc Deus não é nenhuma pretensão orgulhosa do homem, mas uni chamado de amor do mesmo Deus. que o convida para viver dêste mistério, que é vida, que é luz, que é Esperança. Por isso a teologia da esperança vem responder a esta vocação fundamental do homem de viver dc Deus, de aprofundar durante tôda sua. existência a sua experiência de Deus, como um início de uma experiência muito mais profunda que o espera, em comunhão com seus irmãos, no momento da chegada do Futuro gratuito de Deus. NOTAS ( 1) ( 2) ( 3) ( 4) ( 5) ( 6) ' 7) W. Kasper, Moglichkciten der G o t t e s c r f a h r u n g heute, e m : Grist u n d L e b c n 42 (1969,5) 329. J. I.. S e g u n d o — J. P. Sanchis, As etapas pré-cristãs da descoberta de Deus, Petrópolts, 1968. U. Vaz, Cristianismo e Consciência histórica, São Paulo, 1963, p. 5. K.Paliner, Mission e! grâce, v. 1: XXe. siòcle, siecle de g r a c c ? , trad. fr., P a r i s , 1962, p. 190. Ch. Müller — li. V o r g r i m l e r , Karl Hahner, Paris, 1965, p. 71s. K. R a h n c r , Hõrer des W o r t e s , München, 1963, p. 71ss. Jolin A. T. Robinson, Honest to God, l.ondon, 1963, p. 14. ( 8) ( 9) (10) (11) (12) (13) (14) (15) (1C) (17) (18) (19) (20) J. A. T. Robinson, o. c. p p . 14-17. P. TiHich, T h e Shaking of the F o c i ^ í ^ m * . <nm; J . A. T. Robinsí^!, o. c. p. 22. P. TiHich, id. e m : J. A. T . RobínaMi, p. 47. P. TiHich, id. c m : J. A. T . RobicstxL. o . e . 4 7 . D. B o n h õ f f c r , citado p o r J. A. T . R ^ c a a m . o. c. p. 47. J. A. T. Robinson, o. c. p. 53. J. A. T. Robinson, o. c. p. 55. J. A. T. Robinson, o. c. p . 59. J. A. T. Robinson. o. c. p p . 82s. S. Agostinho, Conf. III, 6, 11. J. A. T. Robinson, Exploration ínto G:*i- íntuion, 1967, p. 15. K. R a h n e r , Marxistische U t o p i e E=ti cnriatUche Z u k u n f t des Menschen, Schriftcn zur Theologíe, 1965, Band p. 78. W. Kasper, Mõgüchkeiten d e r GoMi&Rrf^ínstg heute, c m : Geist und Lebcn 42 (19G9, 5) p. 344. TEXTOS SEMPRE ATUAIS O p r e f e i t o imperial der o bispo (de Valente) tmta r x ^ H o a missão de p r e n - Basilio, campeão da f é tn-iLÍcu. no Oriente, e teve s u r p r e s a de encontrar-se com ura heis^at. a pL^no sentido da p a - hoje, a ciH-ÜE ie falar-me com tal berdadc>, disse a Basilio; e êste l h e òm i rsspcsia memorável, q c e a p a g a tôda a desonra dos bispos co C^Knix. ordinariamente muito l a v r a . t K i n g u é m teve, até servis: <Sem dúvida não cncontra.síe í í a ã t iim bupoi>. (Hugo Rahner, o.c., p. 92, citín^o t zianzeno na m o r t e de Basilio, O r . 4$. H Je S. Gregório Na 560 D ) ) .