Estudo Prospectivo Aeronáutico Série Cadernos da Indústria ABDI Volume XIV Brasília, 2009 © 2009 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI Série Cadernos da Indústria ABDI – Volume XIV Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Supervisão Maria Luisa Campos Machado Leal Equipe da ABDI Evando Mirra de Paula e Silva - Gerente de Tecnologia e Inovação Rosane Argou Marques - Coordenadora de Inovação Maria Olívia de Souza Brandão - Técnica Bruce Ferreira - Técnico Equipe técnica do CGEE Marcio Miranda santos - Diretor Lélio Fellows Filho - Assessor Regina Maria Silverio - Coordenadora Cristiane Pamplona - Técnica Cláudio Chauke Nehme - Consultor Mauricio Pazini Brandão - Consultor Elyas Ferreira de Medeiros - Consultor Revisão de texto Ronaldo Conde Aguiar Fotos Arquivo da Embraer e Via Brasília Projeto Gráfico e Diagramação Via Brasília Editora Ficha Catalográfica AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Estudo prospectivo areonáutico: relatório geral. / Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, – Brasília: Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial, 2009. 216p.: il.; graf.; tab. (Série Cadernos da indústria ABDI, v.XII.) 978-85-61323-17-2 1 – Setor aeronáutico, aeronaves regionais, tecnologia aeronáutica CDD 681.761 ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Setor Bancário Norte Quadra 1 - Bloco B - Ed. CNC 70041-902 - Brasília - DF Tel.: (61) 3962-8700 www.abdi.com.br CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos Setor Comercial Norte Quadra 2 - Bloco A Ed. Corporate Financial Center - Sala 1102 70712-900 - Brasília - DF Tel.: (61) 34249607 www.cgee.org.br República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Presidente Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel Jorge Ministro Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Reginaldo Braga Arcuri Presidente Clayton Campanhola Diretor Maria Luisa Campos Machado Leal Diretora Tânia Arantes Chefe de Gabinete Fábio Estorti Gerente Administrativo-Financeiro Evando Mirra de Paula Silva Gerente de Tecnologia e Inovação Rosane Argou Marques Coordenadora de Inovação Comitê Gestor do Estudo Prospectivo Aeronáutico Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio – MDIC Secretaria de Desenvolvimento Produtivo Carlos Eduardo Macedo Coordenador-Geral das Indústrias de Transporte Aéreo, Aeroespacial e Naval Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES Márcio Nobre Migon Gerente da Área de Comércio Exterior Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC Cláudio Passos Simão Diretor Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil – AIAB Walter Bartels Presidente Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. – Embraer Hugo Borelli Resende Gerente de Análise da Indústria, Aviação Comercial Consórcio High Technology Aeronautics – HTA Urbano C. de Fleury Araújo Membro do Conselho de Administração Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI Evando Mirra de Paula e Silva Gerente de Tecnologia e Inovação Rosane Argou Marques Coordenadora de Inovação Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE Márcio Miranda Diretor Regina Silvério Coordenadora Elyas Medeiros Consultor Sumário Lista de siglas ..................................................................................................... 16 Sumário Lista de quadros e figuras .................................................................................. 14 Apresentação ..................................................................................................... 20 Sumário executivo .............................................................................................. 23 Introdução .......................................................................................................... 35 1. Panorama da indústria aeronáutica ............................................................... 41 1.1 Mercado aeronáutico .................................................................................................... 42 1.2 Desafios e soluções tecnológicas .................................................................................... 46 1.3 Exemplos e necessidades de infraestrutura ...................................................................... 48 1.4 Desafios em RH de engenharia ...................................................................................... 50 1.5 Necessidades de financiamento ..................................................................................... 51 1.6 Necessidades do ambiente político-institucional .............................................................. 51 2. Roadmap estratégico ...................................................................................... 55 2.1 Ações para o fortalecimento do ambiente político-Institucional ......................................... 57 2.2 Ações para o fortalecimento da cadeia produtiva ............................................................ 60 2.3 Ações para PD&I de tecnologias competitivas .................................................................. 64 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D ...................................... 69 3.1 Introdução, contexto e objetivos ..................................................................................... 70 3.2 Macrodesafios para as tecnologias aeronáuticas ............................................................. 74 3.2.1 Macrodesafio da competitividade industrial............................................................ 75 3.2.2 Macrodesafio da segurança de operações ............................................................. 76 3.2.3 Macrodesafio da atividade de aviação e seus efeitos na sociedade.......................... 77 3.3 Desafios da competitividade industrial ............................................................................ 79 3.3.1 Desafio da minimização dos custos operacionais ................................................... 79 3.3.1.1 Minimização dos custos de aquisição da aeronave........................................ 79 3.3.1.2 Minimização dos custos de manutenção ....................................................... 81 9 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 10 3.3.1.3 Minimização dos custos de tripulação .......................................................... 82 3.3.1.4 Minimização dos custos dos combustíveis ..................................................... 82 3.3.1.5 Minimização dos custos referentes às taxas e encargos .................................. 83 3.3.2 Desafio da atratividade ao usuário para a competitividade ..................................... 83 3.3.2.1 Conforto como fator de atratividade ............................................................ 84 3.3.2.2 Serviços de bordo como fator de atratividade ............................................... 84 3.3.2.3 Tempo de voo e de viagem como fatores de atratividade ............................... 84 3.3.2.4 Ambiente de trabalho da tripulação como fator de atratividade ...................... 84 3.3.3 Desafio do ciclo de vida da aeronave para a competitividade ................................. 85 3.3.3.1 Desenvolvimento de produtos15 sob a ótica dos custos e da atratividade ......... 85 3.3.3.2 Envelhecimento da aeronave sob a ótica dos custos e da atratividade ............ 85 3.3.3.3 Reconfigurações da aeronave sob a ótica dos custos e da atratividade ........... 85 3.3.3.4 Cadeia de suprimentos sob a ótica dos custos e da atratividade..................... 86 3.4 Desafios da segurança de operações dos produtos .......................................................... 86 3.4.1 Desafios da segurança na cabine de comando ...................................................... 86 3.4.1.1 Eliminação do CFIT .................................................................................... 86 3.4.1.2 “Zero” Human failure .................................................................................... 87 3.4.1.3 “Zero” Machine failure.................................................................................. 87 3.4.1.4 Integração homem-máquina ....................................................................... 87 3.4.1.5 Pousos e decolagens seguros ...................................................................... 87 3.4.2 Desafios das operações aéreas no século XXI ......................................................... 87 3.4.2.1 Voos em quaisquer condições climáticas ...................................................... 88 3.4.2.2 Safe-separation............................................................................................. 88 3.4.2.3 SESAR21 – NGATS22 – SATS .......................................................................... 88 3.4.2.4 Segurança nas operações em solo ............................................................... 88 3.4.2.5 Free-flight no século XXI .............................................................................. 89 3.4.2.6 Antiterrorismo............................................................................................. 89 3.4.3 Desafios para mitigar consequências ..................................................................... 89 3.4.3.1 Crash worthiness ........................................................................................... 90 3.4.3.2 Evacuação ................................................................................................. 90 3.5 Desafios da atividade de aviação e seus efeitos na sociedade .............................. 90 3.5.1 Desafios para operação verde .............................................................................. 91 3.5.1.1 Emissões de poluentes ................................................................................ 91 Sumário 3.5.1.2 Ruído externo ............................................................................................. 92 3.5.1.3 Procedimentos de operação ........................................................................ 93 3.5.2 Desafio de preservação para as futuras gerações ................................................... 94 3.5.2.1 Descarte de aeronaves ................................................................................ 94 3.5.2.2 Substâncias tóxicas, manufatura e manutenção ............................................. 95 3.6 Linhas de pesquisa tecnológica ...................................................................................... 95 3.6.1 Competitividade industrial (MD) ............................................................................ 97 3.6.1.1 Custos operacionais (D/DD) ........................................................................ 97 3.6.1.2 Atratividade ao usuário (D/DD) ................................................................... 98 3.6.1.3 Ciclo de vida28 (D/DD) ................................................................................ 99 3.6.2 Segurança dos produtos (MD)............................................................................... 99 3.6.2.1 Cabine de comando (D/DD) ....................................................................... 99 3.6.2.2 Operações aéreas no Século XXI (D/DD) .................................................... 100 3.6.2.3 Mitigação das consequências (D/DD) ........................................................ 100 3.6.3 Atividade de aviação e seus efeitos na sociedade (MD) ......................................... 100 3.7 Resultados da agenda tecnológica de P&D ................................................................... 101 3.8 Recomendações sobre a agenda de P&D ...................................................................... 103 4. Considerações finais .................................................................................... 107 5. Anexos ......................................................................................................... 111 Anexo I P&D Pré-competitivo da cadeia produtiva ............................................................. 112 I.1 Estruturas leves ............................................................................................................ 117 I.1.1 Estruturas leves e eficientes .................................................................................. 117 I.1.2 Manufatura avançada ......................................................................................... 117 I.1.3 Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivência em caso de acidentes ................................................................................................ 117 I.1.4 Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves ....................................................................................... 117 I.2 Sistemas embarcados ................................................................................................... 118 I.2.1 Sistemas embarcados e equipamentos .................................................................. 118 I.2.2 Sensoriamento e saúde da aeronave .................................................................... 118 I.2.3 Integração de sistemas e software embarcado ....................................................... 118 11 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 12 I.2.4 Motores aeronáuticos de baixa potência ............................................................... 119 I.2.5 Combustíveis alternativos na aviação ................................................................... 119 I.2.6 Tecnologias para um ambiente de cabine diferenciado .......................................... 119 I.2.7 Tecnologias para prevenir e evitar acidentes .......................................................... 120 I.2.8 Integração de tecnologias embarcadas para CNS/ATM (Communication Navigation Surveillance/Air Traffic Management) ........................... 120 I.2.9 Tecnologias CNS/ATM ........................................................................................ 120 I.2.9.1 Novos sistemas para navegação aérea........................................................ 120 I.2.9.2 Sistemas de comunicação VHF/UHF digitais ................................................ 121 I.2.9.3 Sistemas de enlaces de dados digitais ......................................................... 121 I.2.9.4 Sistemas de vigilância automática dependente (ADS) .................................... 121 I.2.9.5 Sistemas de gerenciamento de tráfego aéreo ............................................... 121 I.3 Modelagem virtual ....................................................................................................... 121 I.3.1 Eficiência aerodinâmica e baixo consumo ............................................................. 121 I.3.2 Aeroacústica....................................................................................................... 122 I.3.3 Avançadas ferramentas de engenharia e simulação ............................................... 122 I.3.4 Otimização do projeto aeronáutico ...................................................................... 122 I.3.5 Métodos, ferramentas e processos em Engenharia de Sistemas (Systems Engineering) ........................................................................ 123 Anexo II Diretrizes (Fatores críticos de sucesso) .................................................................. 125 II.1 Diretrizes: Financiamento (DF) ...................................................................................... 126 II.2 Diretrizes: Infraestrutura (DIE) ....................................................................................... 127 II.3 Diretrizes: Mercado (DM) ............................................................................................. 129 II.4 Diretrizes: Político-Institucional (DPI) .............................................................................. 130 II.5 Diretrizes: Recursos Humanos (DRH) ............................................................................. 132 II.6 Diretrizes: Tecnologia (DT) ............................................................................................ 134 Anexo III Características industriais marcantes da aeronáutica no Brasil .............................. 138 Anexo IV Características institucionais marcantes da indústria aeronáutica no Brasil ............ 153 IV.1 A Indústria aeronáutica inserida no poder nacional ....................................................... 153 IV.2 Políticas públicas do setor aeronáutico.......................................................................... 155 IV.3 Justificativas para priorizar a indústria aeronáutica nas políticas públicas......................... 157 IV.4 Benefícios da priorização da indústria aeronáutica nas políticas públicas ........................ 163 Anexo V Reflexões de base ao estudo sobre a indústria aeronáutica brasileira ..................... 166 Sumário V.1 O Setor industrial aeronáutico ...................................................................................... 166 V.2 A problemática ............................................................................................................ 169 V.3 As necessidades........................................................................................................... 171 V.4 A construção do programa estratégico .......................................................................... 177 Bibliografia ...................................................................................................... 181 13 Lista de quadros e figuras Figura 1 Fortalecimento político-institucional............................................................................. 59 Figura 2 Fortalecimento da cadeia produtiva ............................................................................ 62 Figura 3 Fortalecimento da base de PD&I ................................................................................. 67 Figura 4 Diagrama das interrelações da indústria no setor de transporte aéreo ............................ 72 Figura 5 Agenda de P&D para a competitividade no horizonte 2023 .......................................... 73 Figura 6 Macrodesafios da competitividade industrial ................................................................ 76 Figura 7 Macrodesafios da segurança de operações ................................................................. 77 Figura 8 Atividades aeronáuticas e efeitos na sociedade ............................................................ 78 Figura 9 Determinação da ação específica dos poluentes .......................................................... 92 Figura 10 Fontes de ruído em uma aeronave ............................................................................ 93 Figura 11 Redução de ruído por técnicas de aproximação ......................................................... 94 Figura 12 Legenda: Como as informações na agenda devem ser lidas ....................................... 97 Figura 13 Escoamento laminar para redução de arrasto aerodinâmico ....................................... 97 Figura 14 Física da geração e propagação do som ................................................................... 98 Figura 15 Avião cargueiro ....................................................................................................... 98 Figura 16 Cabine de passageiros de nova geração ................................................................... 99 Figura 17 Segurança de operações ....................................................................................... 100 Figura 18 Aviação e sociedade .............................................................................................. 101 Figura 19 P&D Pré-competitivo da cadeia produtiva para o horizonte de 2012 ......................... 113 Figura 19 Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho, 1904-2000 ......................................... 167 Figura 20 Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). ............................................................... 168 Figura 21 Região em estudo para o Parque Tecnológico de São José dos Campos .................... 179 Lista de Quadros e Figuras FIGURAS QUADROS Quadro 1 Estudo prospectivo aeronáutico CGEE – Ações estratégicas para a elaboração de planos de ação em 2008 ............................................................... 28 Quadro 2 Dados do panorama da indústria aeronáutica mundial .............................................. 42 Quadro 3 Investimento para impulsionar a competitividade via o P&D pré-competitivo (em R$ 1 milhão) .................................................................................................. 124 15 Lista de siglas Lista de Siglas ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial AIAB – Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil APEX-BRASIL – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos AVIC – Aviation Industry Corporation of China BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDESPAR – BNDES Participações S.A. CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CREDN – Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos CRE – Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional CTA – Centro Técnico Aeroespacial EUA – Estados Unidos da América FAA – Federal Aviation Administration FAPs – Fundações e Entidades de Amparo à Pesquisa FGPC – Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos GT3 – Grupo de Trabalho Tributário Aeronáutico HTA – High Technology Aeronautics ICAO – International Civil Aviation Organization ICTs – Instituições de Ciência e Tecnologia IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica JIT – Just in time MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MD – Ministério da Defesa MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MPE – Micro e Pequena Empresa 17 Apresentação O setor aeronáutico brasileiro é um dos mais competitivos do mundo, disputando a terceira posição na produção de aeronaves comerciais para transporte de até 108 passageiros. Em 2007, o setor representou 3,2% do total das exportações brasileiras, equivalente a U$5.204 milhões FOB de um total exportado de U$160.549 milhões FOB. Ele é um dos setores contemplados no Programa para Consolidar e Expandir a Liderança da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada pelo Governo Federal em maio de 2008. A PDP - Indústria Aeronáutica contempla os desafios, metas, instrumentos e ações para o fortalecimento da competitividade internacional, medida pela participação nas exportações brasileiras e pela participação no mercado global na área específica de atuação. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) participa da Secretaria Executiva da PDP, ao lado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Ministério da Fazenda. O BNDES é o coordenador do Programa para Consolidar e Expandir a Liderança e gestor do Comitê Executivo da PDP. A PDP é resultado da articulação público-privada realizada pela ABDI e pelas instituições parceiras. As quatro metas para 2010, definidas na PDP desta indústria, são: sustentar a terceira posição no mercado mundial de aeronaves comerciais; ampliar a participação no mercado mundial de aeronaves executivas; aumentar as exportações de helicópteros para a América do Sul; e aumentar a produtividade das empresas produtoras de aeropeças. Desde 2006, a ABDI desenvolve o Programa de Competitividade Setorial cujo objetivo é contribuir para a articulação, construção, coordenação, monitoramento e avaliação de uma estratégia para elevar a competitividade e inovação nos setores da economia e também pela construção de uma visão de longo prazo acordada com os representantes público e privados. A Indústria Aeronáutica é um dos setores contemplados pelo Programa de Competitividade, para o qual foi elaborado um Estudo Prospectivo Setorial em 2006-2007. A visão de 19 Estudo Prospectivo – Aeronáutico futuro construída, bem como os mapas estratégicos e tecnológicos, apoiaram na construção da PDP - Indústria Aeronáutica. Para a elaboração desse estudo prospectivo, a ABDI contratou o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), especializado na elaboração de estudos e pesquisas prospectivas na área de Ciência e Tecnologia. A metodologia empregada pelo CGEE envolveu a constituição de um Comitê Gestor que teve participação ativa na delimitação e construção das rotas tecnológicas e estratégicas, da visão e da missão da Indústria Aeronáutica Brasileira. 20 As instituições privadas que compuseram o Comitê Gestor foram: a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (Embraer) e o Consórcio High Technology Aeronautics (HTA). Os representantes do governo foram: a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Agradecemos a participação e colaboração dos membros dos comitês e dos especialistas que participaram das oficinas de trabalho realizadas representando a iniciativa privada, órgãos públicos, instituições de apoio, as universidades e as instituições de pesquisa de diferentes regiões do Brasil. MRE – Ministério das Relações Exteriores NASA – National Aeronautics and Space Administration OSCIPs – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PCS – Programa de Competitividade Setorial PDP – Política de Desenvolvimento Produtivo PD&I – Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação PES – Programa Estratégico Setorial PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior P&D – Pesquisa & Desenvolvimento PME – Pequena e Média Empresa PUC – RS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul RJU – Regime Jurídico Único RHAE – Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais VHF – Very High Frequency UHF – Ultra High Frequency SisCTID – Sistema de C,T&I de interesse da Defesa Nacional 21 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 22 Sumário executivo Xxxxxx Estudo Prospectivo – Aeronáutico A construção da visão de futuro, dos pilares estratégicos e dos mapas tecnológicos e estratégicos considerou acordos geopolíticos multilaterais para a participação das empresas da indústria aeronáutica em cooperação tecnológica internacional e em programas multinacionais de desenvolvimento e produção, sob a coordenação do MDIC, MCT, MRE, AIAB, ABDI e CGEE. A visão de futuro considera, ainda, a priorização do setor na política industrial, atual Política de Desenvolvimento Produtivo, pela sua participação no Programa de Competitividade Setorial da ABDI e a garantia do acesso aos fundos de investimentos públicos e privados para as empresas da cadeia aeronáutica, com a revisão de normas e estatutos para adequação as características próprias desta indústria. 24 A visão de futuro (2008-2023) da indústria aeronáutica tem a seguinte formulação-síntese: ampliar a participação no mercado mundial de aeronaves, com simultânea dinamização, atualização tecnológica e uma maior inserção internacional da cadeia produtiva do Brasil. Definida por profissionais brasileiros de diversas áreas e setores do governo, da indústria e da universidade, ela se sustenta em três pilares estratégicos: 1. Fortalecimento da base de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) 2. Aperfeiçoamento do ambiente institucional 3. Fortalecimento da cadeia produtiva Esses pilares estratégicos, definidos para um setor de alto valor agregado e superavitário nas transações externas brasileiras, significam: 1. Fortalecer o parque de ciência e tecnologia aeronáutico na oferta de produtos e serviços certificados, com potencial de incorporação pelas empresas no curto (cinco anos), médio (dez anos) e longo prazo (quinze anos). A atuação deve se concentrar prioritariamente em PD&I das tecnologias aeronáuticas pré-competitivas de curto prazo, mediante: a) especialização e retenção de talentos; b) fomento aos programas mobilizadores de interesse da defesa e da aviação comercial; c) ampliação de financiamento pela utilização dos mecanismos da Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, regulamentada pelo decreto nº 5.563, de 11 de outubro de 2005 e regulamentações posteriores, conhecida como Lei de Inovação, e da Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005, e regulamentações posteriores, conhecida como Lei do Bem; d) consolidação da aplicação de cláusulas de compensação tecnológica (offsets) nas compras governamentais. 2. Aperfeiçoar o ambiente institucional da indústria aeronáutica, o que implica na definição de mecanismos para a consolidação das compras governamentais, simplificação aduaneira, isonomia tributária e oferta de crédito, compatíveis com as características das empresas que compõe essa indústria. Sugere-se, para tanto, a construção de planos de longo prazo para o aparelhamento, revitalização e manutenção da Força Aérea, da Marinha e do Exército Brasileiros, além da modernização da política de transporte aéreo. A simplificação da regulamentação da logística de importação e exportação permitirá a inserção das pequenas e médias empresas fornecedoras em cadeias globais just in time, por exemplo, pela flexibilização da Linha Azul. A revisão da legislação para a criação de um regime tributário isonômico em relação às empresas competidoras estrangeiras irá, também, auxiliar na internacionalização da PMEs fornecedoras. Além disso, o aperfeiçoamento do ambiente financeiro, particularmente a revisão e flexibilização dos mecanismos de garantia de crédito exigidos nos contratos com as empresas do setor, por exemplo, o FGPC, Bid Bonds e Performance Bonds, são ações de políticas públicas complementares importantes. 25 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 3. Fortalecer a cadeia produtiva aeronáutica com o objetivo de adensar o número de empresas e a agregação de valor no Brasil, o que pressupõe a utilização de mecanismos de financiamento para o desenvolvimento tecnológico, o fortalecimento da qualificação dos recursos humanos e o desenvolvimento de competências em gestão para apoiar as empresas fornecedoras e a ampliar a participação destas na agregação de valor dos itens integrados às aeronaves. O adensamento da cadeia produtiva aeronáutica implica na utilização de mecanismos de financiamento para o desenvolvimento tecnológico, no fortalecimento da qualificação dos recursos humanos e no desenvolvimento da gestão, com vistas a apoiar as empresas que participam da cadeia de fornecimento e a ampliar a participação de empresas brasileiras na agregação de valor dos itens integrados às aeronaves. 26 As medidas e ações devem mobilizar a cadeia produtiva aeronáutica na execução da agenda de tecnologias pré-competitivas no médio e longo prazo (indicadas neste estudo com meta de 2010 e 2023), observando as tendências de consumo de produtos e serviços aeronáuticos internacional com foco no mercado consumidor. Para tanto, será importante a mobilização da cadeia produtiva aeronáutica na execução da agenda de tecnologias pré-competitivas (indicadas neste estudo com a meta de 2010), observando as tendências de consumo de produtos e serviços aeronáuticos dos demais clientes globais. E, ainda, mobilizá-la para os desafios tecnológicos e as linhas correspondentes de pesquisa tecnológica (indicadas neste estudo para o horizonte até 2023) de interesse e desafio da atividade aeronáutica no mundo. A visão de futuro considera ainda a utilização do Programa ABDI/PCS, de forma a dar prioridade ao setor na política industrial e garantir às empresas da cadeia aeronáutica o acesso aos fundos de investimentos públicos e privados, com a revisão de normas e estatutos. Sumário executivo A realização da visão de futuro ocorrerá com base em acordos geopolíticos multilaterais que levem à participação das empresas do setor em cooperações tecnológicas internacionais em programas multinacionais de desenvolvimento e produção, por meio da coordenação do MDIC, MCT, MRE, AIAB, ABDI e CGEE. Destaca-se também a necessidade de se priorizar e institucionalizar uma política de atração de investimentos externos (via APEX, MRE, MD, MDIC e mecanismos próprios dos governos estaduais), por meio da transparência de regras e incentivos fiscais, desburocratização da logística de importação e exportação, disponibilidade de recursos humanos especializados de baixo custo e demanda do mercado local. Considera-se essencial a ampliação do financiamento para o crescimento e modernização da capacidade produtiva das empresas do setor, mediante a oferta de recursos financeiros adequados (BNDES, FINEP e fundos de participação) e pela revisão da legislação tributária relativa a similares nacionais de bens de capital, os quais têm especificação diferenciada. Os representantes da indústria enfatizam a necessidade da constituição de um programa PME (de inserção das Pequenas e Médias Empresas no e-Business global), mediante financiamento e mecanismos que facilitem a sua inclusão nas redes Aero Chain (Embraer), Boost Aero (Airbus) e Exostar (Boeing), disponibilizando-o, possivelmente, no Parque Tecnológico de São José dos Campos, sob a coordenação da AIAB e com apoio da FINEP e do BNDES 27 Estudo Prospectivo – Aeronáutico As recomendações apresentadas para o setor aeronáutico estão detalhadas no Capítulo 2 e sumarizadas no Quadro 1. Quadro 1 Estudo prospectivo aeronáutico CGEE – Ações estratégicas para a elaboração de planos de ação em 2008 Segmento da Estratégia Fortalecimento da Institucionalidade Ação Estratégica Meios / Recursos Desburocratizar e flexibilizar a regulamentação aduaneira de forma a permitir a inserção de empresas do setor em cadeias just in time; Flexibilização da Linha Azul para o setor; inserção em cadeias JIT; Desburocratização e flexibilização da regulamentação aduaneira para o setor. Criar regime tributário isonômico em Revisão da legislação para estender relação aos competidores internacionais incentivos tributários à cadeia produtiva; com incentivos tributários do Fortalecer a atuação do grupo GT31. exportador principal estendidos aos fornecedores na cadeia produtiva; 28 Fortalecimento da Cadeia Produtiva Revisar e flexibilizar os mecanismos de garantia de crédito das empresas do setor; FGPC (BNDES, FINEP, FAPs); BID BOND; Performance BOND, revisão e flexibilização da regulamentação com a participação do setor. Exercer o poder de compras públicas de qualidade favorecendo o desenvolvimento industrial; PITCE, Agenda Política; Fortalecimento da Institucionalidade MD + AIAB + Frente Parlamentar (CREDN/Câmara, CRE/Senado e MRFA). Institucionalizar a inclusão do setor em acordos geopolíticos multilaterais, para cooperação tecnológica internacional, e em programas para desenvolvimento e produção; Cooperação tecnológica; desenvolvimento e produção (programas multinacionais); inclusão do setor nos acordos multilaterais; implementação por meio da coordenação entre MDIC/MCT/MRE/AIAB/ABDI/CGEE. Priorizar o setor na Política de Desenvolvimento Industrial, de forma a gozar de incentivos semelhantes aos setores constantes da PITCE; Priorização do setor na Política de Desenvolvimento Industrial/ABDI (Programa PES). Continua Quadro 1 – Continuação Financiamento ou Equit - BNDES/PAR + FINEP + Fundos Público/Privado/Reestruturação das normas aplicáveis, estatutos. Ampliar financiamento para o crescimento e modernização da capacidade produtiva das empresas; Captação de recursos mais competitivos; revisão do similar nacional de bens de capital para o Setor/BNDES; Fundos de participação (venture capital). Priorizar recursos financeiros no reforço da gestão de PD&I, na multidisciplinaridade, na integração de tecnologias, em plataformas tecnológicas e em programas planejados de pequeno, médio e grande porte; Reforçar a gestão de P&D; multidisciplinaridade; integração de tecnologias; plataformas tecnológicas; programas de pequeno, médio e grande porte/FINEP e FAPs; Fundos Setoriais com representante da AIAB. Instituir programas mobilizadores, priorizando o planejamento de PD&I; Planejamento de P&D; multidisciplinaridade; integração de tecnologias; plataformas tecnológicas; programas de pequeno, médio e grande porte; fortalecimento do SisCT&I de Interesse da Defesa (MD e MCT) e da Rede Nacional de P&D de interesse da Aviação Civil (ANAC) com engajamento do MDIC e AIAB; Investir R$660 milhões no P&D Pré-competitivo da cadeia produtiva em 5 anos. Fomentar recursos humanos (talentos) buscando remover gargalos pela Lei de Inovação para atuação empreendedora de funcionários públicos; Finep e FAPs; CNPq/ Capes/RHAE; fundos setoriais; financiamento privado com compensações; fundações de apoio; OSCIPs; remoção de gargalos legais para atuação de funcionários RJU; Lei de Inovação/ Fortalecimento da institucionalidade MD + AIAB + Frente Parlamentar (CREDN/Câmara, CRE/Senado, entre outros). Fomentar o empreendedorismo por meio de recursos financeiros competitivos priorizando a qualificação aeronáutica; FINEP/Inovar; Fundos de Angel Capital/Seed money; Lei de Inovação; qualificação aeronáutica/revisar/implantar regulamentação e mecanismos de facilitação. Impor contrapartidas às compras públicas, priorizando a subcontratação no país para fomentar tecnologias; Offsets; contrato de longo prazo; direcionamento para subcontratação no país; órgãos gerenciadores. Sumário executivo Fortalecimento da base de P&D Fomentar fundos de investimentos públicos e privados para participação com ações em empresas do setor; Fonte: Oficina setor aeronáutico - CGEE, 2007 29 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Este relatório descreve, portanto, as orientações estratégicas que permitirão materializar a visão de futuro. Elas estão registradas no capítulo do roadmap estratégico, de tal forma que os tomadores de decisão não só poderão identificar as ações estratégicas como os meios, metas e diretrizes necessárias à formulação de planos de ação. Essas diretrizes, definidas pela visão de futuro, pela missão social, econômica e política da atividade aeronáutica e pelos valores institucionais e históricos do setor, auxiliarão os gestores da cadeia industrial a identificar as oportunidades e a elaborar os planos de ação em sintonia com o negócio de aeronáutica, mediante atitudes proativas. 30 Para tanto, as diretrizes estratégicas, contidas no Anexo II, foram distribuídas nas seis dimensões (ou seis fatores críticos de sucesso) que causam impactos na atividade industrial aeronáutica. Estes fatores críticos são: mercado, financiamento, tecnologia, recursos humanos, infraestrutura física e fator político-institucional. Ainda com base nas dimensões de análise e de suporte à decisão, o presente relatório fornece, no Capítulo 1, síntese do relatório Panorama Aeronáutico (parte integrante do estudo prospectivo). Neste capítulo podemos identificar os aspectos comparativos que caracterizam a competitividade do Brasil e dos concorrentes mundiais nas janelas de oportunidades de mercado, de financiamento, de tecnologia, de recursos humanos, de infraestrutura física e da conjuntura político-institucional. Após o capítulo do roadmap estratégico, este documento apresenta uma agenda de linhas de pesquisa tecnológica estratégicas, em lugar do convencional roadmap tecnológico. O estudo seguiu a linha do observador externo às empresas de base tecnológica. A exemplo de estudos realizados em países concorrentes ao Brasil (Anexo V; o Programa Quadro da Comunidade Europeia, e os programas dos EUA, Canadá, entre outros países), o estudo decidiu por apontar a cadeia de empresas brasileiras e as principais linhas de desenvolvimento tecnológico com potencial de competitividade global. A indicação do conjunto de possibilidades de sucesso à cadeia aeronáutica teve por fundamento o mapeamento dos desafios tecnológicos do setor no mundo. O conhecimento tecnológico é multidisciplinar. Ele se acha em estágios diferenciados de maturação, da pesquisa básica ao mais elevado, o de uso generalizado. O relatório tenta indicar os estágios de maturidade dos conhecimentos no Brasil e nos mercados concorrentes. Com isso, procurou-se desenvolver um modelo de enquadramento das tecnologias aeronáuticas que permitisse às empresas da cadeia produtiva e ao governo conciliar os planos de investimento público-privado às estratégias de PD&I de tecnologias competitivas ou de suprimento das tecnologias essenciais de curtíssimo prazo (2010 a 2012). Sumário executivo Como os desafios tecnológicos são variados, complexos e interdependentes, procurou-se definir as linhas de pesquisa tecnológica a partir do desdobramento dos macrodesafios tecnológicos. Em seguida, os desafios foram desmembrados em linhas de pesquisa tecnológica estratégica e essas em assuntos tecnológicos de interesse atual. Um exemplo das tecnologias essenciais à sobrevivência e à promoção da cadeia aeronáutica brasileira, a partir do modelo desenvolvido para abrigar os desafios tecnológicos, encontra-se no Anexo I P&D Pré-competitivo da Cadeia Produtiva. Nele, são indicadas as linhas ou áreas de pesquisa tecnológica (e seus assuntos tecnológicos derivados) que as empresas devem dominar para permanecer no mercado em curto prazo. Com base nas informações, documentos e oficinas de trabalho, indicaram-se os seguintes produtos de mobilização da cadeia aeronáutica brasileira: estruturas leves; e sistemas embarcados e modelagem virtual. Estas são indicações perceptíveis ao público especializado. Portanto, constituem apostas de financiamento e fomento que o país necessita fazer com urgência e com elevado grau de acerto. Superada a fase emergencial de permanência no mercado por iniciativas estratégicas de âmbito político-institucional e de fortalecimento da cadeia produtiva com base nas tecnologias pré-competitivas, a agenda de linhas de pesquisa tecnológica estará apta a referenciar os desafios tecnológicos de interesse em médio e longo prazo (após 31 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 2023). A agenda poderá servir ainda para a confecção de roadmaps tecnológicos específicos das empresas. Ressalta-se ainda ser imprescindível que documentos executivos sejam produzidos por organismos institucionais, priorizando e planificando as ações estratégicas de maior sustentabilidade em P&D pré-competitivo da cadeia produtiva aeronáutica brasileira. O Estudo Prospectivo Setorial Aeronáutico identificou estratégias voltadas para o aumento da participação do Brasil no mercado mundial de produtos aeronáuticos, além de extrair algumas lições das análises político-institucional, das tecnologias competitivas, do mercado e da estrutura de suporte à atividade. Quatro observações, contudo, precisam ser destacadas, de modo a subsidiar setores governamentais e indústrias na escolha das rotas de desenvolvimento competitivo da cadeia produtiva, nos horizontes de curto (2010) e de longo prazos (2023). São elas: 32 1°) Há no setor aeronáutico do país uma marca de brasilidade cara à sociedade. De 1709, com a primeira demonstração do balão de ar quente realizada pelo brasileiro Bartolomeu de Gusmão às vendas internacionais dos modernos jatos Embraer 195, passando por SantosDumont e pelo marechal Montenegro, o Brasil percorreu um caminho de alto valor estratégico, político e econômico. O fortalecimento das instituições do setor, a formação de um parque tecnológico aeronáutico de ponta e a formulação de políticas adequadas à cadeia produtiva são os elementos que permitirão manter aquela marca, cujos dividendos vão além dos superávits comerciais e alcançam o próprio orgulho nacional. 2°) Há no setor aeronáutico do país um percentual de poder econômico a expandir. Na carteira de clientes da Embraer constam 70 companhias aéreas e bandeiras comerciais de 43 países. Ela é responsável por 2,4% das exportações gerais no país, vendendo produtos de alta e médio-alta intensidade tecnológica. O mercado aeronáutico cresce globalmente a Sumário executivo taxas anuais de 5%, superior em média aos PIBs internacionais. O Brasil é o segundo maior mercado de helicópteros do planeta. Conta com cerca de 950 aparelhos de todos os tipos. País de dimensões continentais, mas carente de outros meios de transporte, a taxa de crescimento do modal aéreo brasileiro é praticamente o dobro da taxa mundial, o que demonstra a existência de uma demanda reprimida. Contudo, o faturamento do setor aeroespacial brasileiro representa apenas cerca de 2% do faturamento mundial, excluído o bloco asiático2. Portanto, está no fortalecimento das instituições do setor, na formação de um parque tecnológico aeronáutico de ponta e na definição de políticas adequadas à cadeia produtiva, (tais como, a desregulamentação da logística de importação e exportação; um regime tributário isonômico; garantias de crédito as empresas, o uso estratégico do poder de compras e demais ações dos roadmap do estudo), o aumento do faturamento do setor pela elevação do nível de competitividade das empresas brasileiras. 3°) Há no setor aeronáutico do país um grau de urgência que requer imediata mobilização dos órgãos, empresas e instituições públicas e privadas. O estoque de tecnologias pré-competitivas para a próxima geração de aeronaves pode ser considerado esgotado por falta de um empreendimento colaborativo de P&D aeronáutico entre o governo brasileiro e as empresas. Quase todos os governos das nações desenvolvidas têm ampliado seu apoio à P&D colaborativa e précomercial. Os EUA têm mantido uma legislação federal importante de apoio à P&D colaborativa desde os anos de 1980. O Japão e a União Europeia têm incentivos até mais fortes. A partir da década de 1990, 80% do orçamento de governo japonês para P&D são alocados para projetos que envolvem a colaboração de consórcios de indústrias, associações de pesquisa, universidades e centros de pesquisa gerenciados por grupos de empresas. A americana Boeing tem centros de P&D que ultrapassam as fronteiras norte-americanas (na Espanha, Rússia, Austrália e Reino Unido). Da mesma forma, a europeia Airbus mantém centros de P&D nos EUA, na Rússia e China. 33 Estudo Prospectivo – Aeronáutico A canadense Bombardier, na Irlanda do Norte e na Índia3,4,5,6. A brasileira Embraer e as demais indústrias aeronáuticas, necessitam, no curtíssimo prazo, da cooperação dos governos municipal, estadual e federal para o desenvolvimento das tecnologias pré-competitivas ligadas a estruturas leves e eficientes, sistemas embarcados e modelagem virtual. Passo seguinte às ações estratégicas e de P&D emergenciais, caberá um trabalho coordenado (empresas e governo), de modo a traçar sua sustentabilidade frente aos novos entrantes (concorrentes diretos) e garantir a viabilidade de parcerias oportunas com os que detêm bases fortes de P&D aeronáutico. 4°) O setor aeronáutico brasileiro necessita de uma liderança políticoinstitucional explícita. Temos todos os componentes políticoinstitucionais (AIAB, ABDI, MD, MDIC) de atendimento ao setor, mas falta a todos eles um plano de desenvolvimento da indústria aeronáutica que articule e coordene os interesses do Estado (economia, defesa, social), do setor empresarial e da Universidade, apoiados nos parques tecnológicos, ICTs e bases industriais de P&D. Os roadmaps do estudo, ao ensejarem planos específicos de ação, podem oferecer uma plataforma emergencial que permita o exercício de liderança formalmente expresso e anunciado ao país e ao exterior. 34 Para tanto, este documento oferece recomendações gerais para a construção dos Planos Executivos que se seguirão ao Estudo Prospectivo. NOTAS 1 Grupo de trabalho tributário composto por membros do BNDES, MDIC, AIAB e Consórcio HTA 2 Embraer Airline Market Overview. Disponível em http://www.embraer.com 3 Ilan Oshri, Boeing Corporation: Strategic Challenges Facing the Future of Flight, Rotterdam School of Management, Erasmus University, 2005. 4 Flight International Online http://www.flightinternational.com 5 Aerospace Enginering at IIt Bombay. Apresentação Microsoft Powerpoint elaborada por A. Chatterjee. 6 Commission on the Future of the United States Aerospace Industry – Final Report. Introdução Estudo Prospectivo – Aeronáutico Este documento é a versão consolidada dos relatórios referentes ao Estudo Prospectivo do Setor Aeronáutico, contratado pela ABDI em 2006 e executado pelo CGEE no período 2006-2007. Os relatórios apresentados dissertam sobre o panorama aeronáutico no Brasil e no mundo, as perspectivas históricas, industriais e político-institucionais e prospecções de estratégias e tecnologias para o fortalecimento da competitividade das empresas do setor. Sob a coordenação técnica do CGEE foram organizadas oficinas de trabalho, seminários e reuniões para a validação de dados e de informações e a construção do Estudo. Participaram do debate organizado nesses eventos engenheiros aeronáuticos, economistas, pesquisadores e executivos da academia, da indústria e do governo brasileiro com destacado conhecimento e experiência no setor aeronáutico. 36 A indústria aeronáutica brasileira é considerada como modelo internacional para a construção de políticas de desenvolvimento industrial pelos países de industrialização recente, tais como a China, a Índia e a África do Sul, além de outros. Particularmente, a Empresa Brasileira de Aeronáutica S. A. (Embraer), disputa a terceira posição no mercado aeronáutico comercial com a canadense Bombardier, ficando atrás, apenas, da Boeing e da Airbus. A Bombardier é um dos principais competidores da Embraer no mercado de aeronaves regionais com capacidade para transportar até 108 passageiros. A Embraer é, de fato, a única empresa de sucesso nesse mercado do Hemisfério Sul1. O mercado aeronáutico comercial é caracterizado pela concentração da produção de aeronaves em poucas empresas, grande concentração de empresas fornecendo sistemas, baixa escala comparado com outros setores produtores de bens de transporte, produto de alto valor agregado, necessidade de investimentos constantes e elevados em pesquisa e desenvolvimento, entre outros. Ele tem um importante papel para o desenvolvimento da competitividade industrial pelo seu potencial na difusão de novas tecnologias e efeito multiplicador na Introdução modernização industrial. Além disso, o valor agregado de uma aeronave é de U$ 1.300,00 à U$ 2.000,00 por 1kg2, tendo um impacto positivo na balança comercial. Em 2007 o setor aeronáutico representou 3,2% do total das exportações brasileiras, equivalentes a US$ 5.204 milhões FOB de um total exportado de US$160.549 milhões FOB3. Diante do exposto, o Governo Brasileiro está implantando medidas específicas para a consolidação e expansão da liderança mundial do setor aeronáutico a partir do lançamento da Política de Desenvolvimento Produtivo em 12 de maio de 20084. Historicamente, diversas ações para o desenvolvimento desse setor foram implantadas durante o século XX pelo esforço conjunto do governo brasileiro, das Forças Armadas, da indústria e da comunidade. Inicialmente, esforços de jovens empreendedores, representados por Santos Dumont e por Casimiro Montenegro Filho, e a criação do Departamento de Aviação Civil em 19325 foram o "motor" para a consolidação da importância da aeronáutica para um país continental como o Brasil. Durante a II Guerra Mundial, o papel da Força Aérea foi claramente identificado como estratégico, tanto para as missões da guerra, quanto para o transporte de passageiros e dos correios. A importância do setor para a soberania nacional ficou mais clara para o governo brasileiro a partir da Segunda Guerra Mundial. Desde então, esforços para o desenvolvimento de competências nacionais foram realizados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S. A. (IPT) e pela criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ComandoGeral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), além de outras instituições responsáveis pela formação de engenheiros e realização de pesquisas aeroespaciais. Resultado dos esforços para o desenvolvimento de um avião nacional, a Embraer foi fundada em 1969 como um spin-off do CTA. Desde então, o Brasil passou a produzir aeronaves de maior porte, ou seja, do transporte de 2-4 passageiros pela Neiva (Industria Aeronáutica), a 37 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Embraer passou a produzir aeronaves para transporte de até 15 passageiros. Isso representou um salto significativo na capacidade de integração e produção da indústria aeronáutica nacional, caracterizado pelo aumento na complexidade dos sistemas de propulsão e aerodinâmica, além dos outros componentes. 38 A Embraer tornou-se a principal empresa produtora de aeronaves brasileira, sendo a única produtora de aviões para transporte de 35 passageiros até 108 passageiros. Ela consolidou-se pela conquista de mercados externos, tais como os Estados Unidos da América e países da União Europeia e Ásia, e pelo desenvolvimento de competências estratégicas nesse segmento, tais como gestão logística, produção, marketing, atendimento ao cliente e pesquisa e desenvolvimento, entre outras. Considerando o sucesso da Embraer, o Governo Brasileiro identificou algumas oportunidades para promover a consolidação e a expansão da liderança mundial desse segmento industrial pelo fortalecimento do ambiente político-institucional, adensamento da cadeia produtiva e o fortalecimento das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. O estudo conclui que a visão no horizonte 2008-2023 do setor aeronáutico brasileiro é: “ampliar a participação no mercado mundial de aeronaves, com simultânea dinamização, atualização tecnológica e uma maior inserção internacional da cadeia produtiva do Brasil”. 1 Esse estudo considerou o segmento de produção de aeronaves comerciais de asas fixas, de transporte regional de 35 até 108 passageiros. 2 Informação fornecida pela Associação das Indústrias Aeroespaciais Brasileira (AIAB) em apresentação realizada na ABDI no dia 10/10/2007. 3 Fonte: SECEX/Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comercio Exterior >http://www2.desenvolvimento.gov.br/ arquivo/ascom/imprensa/Exp_Intens_Tecno_Out_2007_resu.xls< 13.10.08 às 12:30 4 A íntegra da Política de Desenvolvimento Produtivo está disponível no endereço web http://www.desenvolvimento.gov.br. Introdução NOTAS 5 Malagutti, Antônio Osller. “Evolução da Aviação Civil, no Brasil”. Estudo. Consultoria Legislativa. Agosto de 2001. Brasília: Câmara dos Deputados. http://apache.camara.gov.br/portal/arquivos/Camara/internet/publicacoes/estnottec/pdf/109712.pdf, acesso em 13.10.2008, 17h48. 39 1. Panorama da indústria Xxxxxx aeronáutica Estudo Prospectivo – Aeronáutico O presente capítulo foi produzido com base no relatório sobre o Panorama da Indústria Aeronáutica Mundial, publicado em outubro de 2007. As informações estão seccionadas e comentadas segundo a sua dimensão de análise, ou seja, mercado, tecnologia, infraestrutura, talentos, financiamento e político-institucional. Importa lembrar que essas dimensões balizaram todo o referido relatório e constituem fatores críticos de sucesso definidos como os que mais causam impacto e definem o ambiente da indústria aeronáutica. As informações contidas oferecem, sobretudo, um encadeamento para o processo de análise e, posteriormente, deverão ser objeto de referência aos Planos de Ações que se sucederão. 1.1 Mercado aeronáutico Quadro 2 – Dados do panorama da indústria aeronáutica mundial Comparativo 42 Mundo Brasil Para o exemplo; a Boeing Airbus pa- A Embraer pagaria mensalmente por parFinanciamento1,2 Exemplo: uma aeronave de garia parcelas mensais de US$ 227 cela US$ 246 mil (9% a mais). US$ 28 milhões, com 85% mil. financiado, no prazo de 12, seguro de crédito de 2%. Exportação3,4,5,6. Nos últimos 10 anos (1997-2006) a indústria aeronáutica mundial entregou ao mercado, 32.103 aeronaves, a um preço total de US$ 920,5 bilhões. Para a próxima década (2007-2016), a expectativa é que haverá produção de 44.364 aeronaves (um acréscimo de 38,2%), com um faturamento bruto de US$ 1,3 trilhão (um acréscimo de 41,2%). Portanto, além do mercado crescente de aeronaves, há agregação de valor por aeronave, já que o faturamento é maior que o número de aeronaves no mesmo período. O setor aeroespacial brasileiro exportou, em 2006, US$ 3,9 bilhões, equivalente a 3,1% das exportações brasileiras de produtos industrializados. O faturamento das indústrias aeroespaciais do país é inferior a 2% do faturamento do mundo ocidental (excluídos China, Índia e Rússia). Continua Quadro 2 – Continua Tem sido observada uma trajetória solidária ao processo de globalização das cadeias de fornecimento das empresas integradoras em sistemas produtivos regionais de inovação. Muitas das cadeias estão localizadas em centros de excelência (produtivos e de serviços) organizados em torno de uma empresa-âncora. São exemplos: o caso de Seattle (EUA), base produtiva da Boeing, e Montreal (Canadá), base da Bombardier. Vários fornecedores internacionais da Embraer se instalaram no Brasil para dar apoio à cadeia de produção dos novos aviões 170/190 e também foram atraídos por outras boas condições do país, como mão-de-obra qualificada e de custo relativamente modesto. O 2o nível da cadeia brasileira é constituído de um conjunto de 155 PMEs, grande parte das quais tem na empresa-âncora seu principal mercado. Essas empresas atuam em quatro segmentos de mercado: bens industriais, ferramental, processos industriais e serviços técnicos e de engenharia. São empresas majoritariamente de pequeno porte, com faturamento abaixo de R$ 9 milhões e que têm, por essa razão, limitada capacidade de autofinanciamento e de fomento financeiro. Embraer11,12 A integradora brasileira Embraer (empresa âncora da indústria aeronáutica brasileira) tem 70 empresas aéreas clientes e está presente em 43 países. Novos entrantes concorrentes diretos da Embraer e da canadense Bombardier: Sukhoi/Alenia (parceria Rússia/Itália); Avic I (China); Mitsubishi (Japão), no nicho de aeronaves regionais. A Embraer é a 3a maior empresa integradora de aeronaves civis do planeta, atrás da Bombardier, Boeing e Airbus. O faturamento é modesto (24ª no ranking de 2006). 1. Panorama da indústria aeronáutica Cadeia Produtiva Aeronáutica7,8,9,10 Tendência do mercado13, 14, As estratégias de países como a Chi- A Embraer prevê vender 7.950 aeronaves 15 na, Coréia do Sul e Japão têm se con- entre 2006-2025, US$180 bilhões; desse, Há tendência para aeronaves de cretizado através de programas de 4.230 aos EUA, Canadá e Caribe. maior capacidade, na faixa de cooperação, políticas agressivas de 61-120 assentos, compondo offset e parcerias de risco com em74% da frota no segmento de presas líderes desde o segmento de 30-120 passageiros em 2025. aviões regionais assim como com os Este segmento de mercado está fabricantes de aeronaves de longo alatraindo o interesse de vários cance, notadamente Boeing e Airbus. países e novos produtos estão A China criou dois programas: o AVIC programados para disputá-lo I, que prevê a produção local de um (China, Rússia, Japão). modelo estrangeiro já desenvolvido na faixa dos 100 assentos, e o AVIC II, para aviões de 50 passageiros. Continua Quadro 2 – Continuação 43 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Crescimento do mercado16. A indústria aeronáutica mundial é regida, em maior parcela, pelo mercado do transporte aéreo. Esse mercado está crescendo globalmente com taxas anuais por volta de 5%, superior ao crescimento dos PIB nacionais, o que está acontecendo na ordem de 3% ao ano. No Brasil, a taxa de crescimento do modal aéreo é praticamente o dobro da mundial, demonstrando haver uma demanda reprimida neste setor. A perspectiva de todos os fabricantes de aeronaves é de que o crescimento mundial do transporte aéreo continue acontecendo nas próximas décadas. 44 O FAA prevê o crescimento da frota de aeronaves comerciais de 7.836 em 2005 para 10.677 em 2017 – um crescimento médio anual de 2,6% ou de 237 aeronaves-ano. A frota comercial cresce de 154 em 2006 e 188 em 2007; e, a maior parte desse crescimento ocorre entre os grandes jatos de passageiros (acima de 90 assentos). Nos 10 anos seguintes da previsão, o crescimento esperado é de 137 aeronavesano, atingindo 5.481 em 2017. Após 2008, a aviação regional deverá crescer 80 aeronaves (2,3%) anualmente alcançando 3.851 aeronaves em 2017. O número de jatos regionais (de 90 assentos ou menos) é estimado crescer de 1.758 em 2005 para 2.819 em 2017, um crescimento médio anual de 4,0%. Quase todo o crescimento da aviação regional ocorrerá nas aeronaves de 70 a 90 assentos. VANTs - Veículos aéreos não- Distribuição: EUA (34%), Inglaterra O Brasil tem 1% do mercado com a Aerotripulados17: mais de 9.000 (10%), Israel (9%), França (6%), Chi- mot e Aeroeletrônica. serão comercializados apenas na (5%) e outros países (13%). nos EUA até 2017. Investimento anual neste mercado de US$ 250 milhões ano. Estima-se em 2015, de US$18 bilhões. Recursos Humanos Faltam recursos humanos especializados na cadeia de indústrias aeronáuticas brasileira. Há emprego: nos últimos dez anos, somente a Embraer contratou 3.600 profissionais para trabalhos de desenvolvimento e engenharia. 62 escolas de engenharia aeronáutica nos EUA - duas exclusivamente militares; as escolas do Reino Unido graduam mais de 250 engenheiros aeronáuticos/ano; Quadro semelhante se repete na França. ITA (23 engenheiros aeronáuticos por ano); Nos últimos anos, ocorreu, em função da demanda, a criação de outros cursos de engenharia aeronáutica no Brasil: USP – campus de São Carlos; UFMG. Cursos de Bacharelado e de Tecnologia em Ciências Aeronáuticas, dentre os quais da PUC-RS, em Porto Alegre, e o da Universidade Braz Cubas (UBC), em Mogi das Cruzes. Aviões brasileiros3. O número de aeronaves de transporte, na faixa de 37-120 assentos, de fabricação nacional, operados por empresas aéreas domésticas, é zero. Em agosto de 2007, a BRA – Transportes Aéreos (atualmente fora do mercado) fez um pedido firme de 20 aeronaves Embraer-195 e mais 20 opções de compra com financiamento do BNDES. Seria a primeira empresa nacional a fazer pedido dos E-Jets. Para tal, trabalhou-se na eliminação de uma série de assimetrias tributárias que favoreciam a importação de aeronaves desse tipo. Isto representaria um avanço considerável em relação ao fornecimento do ERJ-145 a Rio-Sul - Linhas Aéreas, pois estas aeronaves foram inicialmente exportadas e, subsequentemente, importadas de modo a evitar a significativa carga tributária então existente sobre aeronaves fabricadas no país. 1. Panorama da indústria aeronáutica Cadeia produtiva1,2. Se a cadeia de fornecedores de partes, componentes e serviços de engenharia aeronáutica no Brasil e os integradores de aeronaves (aviões, helicópteros, vants) não se capacitarem adequadamente, correm o risco de alijamento do mercado. Há carência de produtos nacionais na aviação agrícola, na geral e na de asas rotativas. Na aviação executiva, onde o Brasil é o segundo maior mercado do mundo, a Embraer está desenvolvendo vários novos produtos, que certamente terão boa aceitação no país. Novos entrantes4. O mercado na faixa de 60-120 assentos nos próximos 20 anos é expressivo, mas estará sendo disputado por vários novos entrantes. Não é uma situação inusitada, pois a Embraer disputou com outras empresas o mercado regional de aeronaves de 30-34 assentos. Posteriormente, vários novos entrantes chegaram ao mercado: o Dornier 328 e o Jetstream 41. Apesar de a Embraer ter se mantido na segunda posição em vendas com o EMB-120 Brasília, os novos entrantes foram capazes de fazer vendas significativas. Tendência5,6. Em face do elevado preço do barril de petróleo, da redução 45 Estudo Prospectivo – Aeronáutico de salário dos pilotos de aeronaves de grande porte e das equipes de terra (manutenção), há uma maior atratividade para aeronaves de maior capacidade. Assim, a Bombardier fechou a linha de montagem do CRJ200. A Embraer produz o ERJ-145 apenas na China. Contudo, dentro de 10 anos haverá necessidade de substituição das aeronaves de 50 ou menos assentos, movidas a jato. Certamente, a nova geração desse tipo de aeronaves deverá sofrer considerável redução do custo direto operacional, relativos ao CRJ-200 e às aeronaves da família 145. 1.2 Desafios e soluções tecnológicas 46 Infraestrutura de PD&I7. O parque tecnológico brasileiro encontrase desatualizado e as pesquisas sofreram cortes com o processo de contenção dos gastos governamentais. Tal fato é preocupante principalmente em relação ao futuro do setor aeroespacial e aeronáutico. É necessário definir um novo modelo de infraestrutura de PD&I com visão de futuro. Pesquisas, laboratórios e formação da mãode-obra no Centro Tecnológico da Aeronáutica e nas universidades paulistas foram, e continuam sendo, fundamentais para a consolidação do setor aeronáutico no Brasil e a manutenção da sua competitividade no mercado mundial. Contudo, tal sistema possui enormes carências, o que dificulta o seu poder de competição na vanguarda mundial das tecnologias aeronáuticas. Ambiente institucional8,9. A falta de um projeto para as empresas brasileiras ou para as instituições que geram externalidades dinâmicas para o setor aeronáutico, constituem óbices para a manutenção da competitividade futura ou a própria apropriação pela sociedade brasileira da tecnologia gerada pela Embraer. Recorda-se que, ao contrário dos ambientes dos concorrentes internacionais, o setor aeronáutico no Brasil é pouco nacionalizado e pouco integrado ao sistema industrial e de serviços. Uma política de capacitação local ou de fortalecimento da cadeia produtiva brasileira é essencial. Linhas de Desafio das integradoras, solução estratégica10,11. As passagens aéreas têm os seus preços constantemente reduzidos, o que obriga as operadoras de transporte aéreo a trabalharem com margens de lucro reduzidas que, por sua vez, obrigam os fabricantes a dar grandes descontos nas vendas de aeronaves. Por sua vez, os equipamentos, os aviônicos e os investimentos em segurança, exigem grandes investimentos e tornam caro os preços finais dos aviões, o que força as empresas fabricantes a adotarem políticas agressivas de redução de custo. Com isso, sobram poucos recursos para os gastos internos em PD&I. Aqui entram estrategicamente os governos das concorrentes. 1. Panorama da indústria aeronáutica financiamento ou alianças para investimentos em PD&I também serão fatores cruciais, uma vez que as margens de rentabilidade do setor são cada vez menores. Arranjos globais12,13. Como em qualquer estudo de interesse da humanidade, os desafios e metas das pesquisas tornam-se mais e mais complexos, como o são, por exemplo, os estudos sobre o efeito estufa, o genoma humano e, mesmo, o projeto de uma aeronave. Com isso, a necessidade de inteligência coletiva e PD&I global aumentam em importância. Os cientistas são movidos mais pela curiosidade intelectual que por recompensas financeiras. Contudo, os avanços atuais provocados pela globalização e pelo uso extensivo da internet estão permitindo oportunidades de colaboração sem precedentes entre a comunidade científica, as universidades, agências de governo e sociedades anônimas de todos os portes. Convergência de interesses. Se ocorrer progresso permanente nos mecanismos de colaboração (limites organizacionais flexíveis, integração regional, facilidade de comunicação, aceitações culturais) haverá necessidade de uma maior competência na administração 47 Estudo Prospectivo – Aeronáutico da complexidade, da ambiguidade, do risco, da propriedade compartilhada, do desenvolvimento de uma infraestrutura de comunicações apropriada, que ajude a conectar as inteligências espalhadas por todo o globo. Roadmap aeronáutico14,15,16. É necessário que o governo federal, articulado com a comunidade aeronáutica, esteja solidário com a visão de futuro do setor e efetive uma agenda (ou roadmap) para atingir os seus objetivos. Recomenda-se que seja adotado, como referência, o modelo do Advisory Council for Aeronautical in Europe (ACARE) e sejam estabelecidos quadros de desenvolvimento tecnológico, em especial para o setor aeronáutico. 1.3 Exemplos e necessidades de infraestrutura 48 Offset de tecnologias17. Os gastos globais na área de defesa estão associados a mecanismos de compensação tecnológica. Esses mecanismos de offset injetam PD&I na indústria aeronáutica de outros países concorrentes. O offset tecnológico ainda é um excelente e poderoso mecanismo de indução da indústria aeronáutica – que é, no Brasil, minimamente beneficiada por ele. A estratégia tecnonacionalista da China é emblemática. Ela combina as expectativas internacionais de crescimento do seu mercado interno de transporte aéreo e as vantagens relacionadas aos baixos custos operacionais em seu território, de modo a atrair investimentos. Com o poder de barganha governamental das suas empresas nacionais aeronáuticas, a China adotou políticas informais de offset para transferência de tecnologia, capacidade produtiva e acesso a mercados globais. De outro lado, conferiu alta prioridade e investiu maciçamente na construção de infraestrutura e capacitação tecnológica em aeronáutica. MPME e Clusters18,19. Criação e fortalecimento de centros regionais A organização e o funcionamento de MPMEs (micro, pequenas e médias empresas) do segmento aeronáutico em sistemas produtivos inovadores, a exemplo do que foi feito em Toulouse (França), Seattle (Estados Unidos) e Montreal (Canadá), mostrou-se um caminho fundamental para a consolidação dessas indústrias. Evidências históricas internacionais demonstram, ainda, ser necessário construir as etapas posteriores, que compreendem trajetórias de internacionalização e inovação. Contudo, as MPMEs mantêm uma relação de dependência ou influência gerada pelas estratégias das empresas-âncoras desses espaços produtivos. 1. Panorama da indústria aeronáutica especializados e/ou sistemas produtivos regionais de inovação. A experiência internacional demonstra que a organização das indústrias e dos serviços organizados em sistemas produtivos regionais de inovação ou parques tecnológicos especializados em P&D produz inúmeros resultados positivos, como: especialização tecnológica e produtiva; economias de escala; e aprendizado dinâmico, com o aproveitamento de P&D colaborativa e a própria criação de uma marca tecnológica internacional. Ainda assim, como a França, os Estados Unidos e o Canadá possuem estruturas produtivas mais encadeadas (clusters) e com forte presença dos setores de alta tecnologia, empresas locais desenvolvem relações mais densas e diversificadas, o que atenua a situação de dependência econômica, em alguns casos, até com relativa autonomia. Infraestrutura aeroportuária20,21. O crescimento do tráfego aéreo no Brasil está limitado pelos investimentos insuficientes em aeroportos e nos problemas do controle de tráfego aéreo. O transporte aéreo poderia ter no Brasil uma participação muito maior do que apresenta atualmente. Naturalmente, este é um fator limitante para venda de aeronaves e equipamentos nacionais no mercado interno. Compras públicas22,23. O perfil dos produtos da principal integradora 49 Estudo Prospectivo – Aeronáutico brasileira não foi acompanhado pela cadeia produtiva nacional, o que impediu que ela crescesse (tanto do ponto de vista estratégico quanto do volume de negócios) a um nível satisfatório de competitividade. Portanto, faz-se necessário um plano de encomendas à cadeia produtiva, que também seja de interesse da integradora e da empresa âncora. Exceção foi o Programa AMX que contemplou o desenvolvimento e o estabelecimento da cadeia de fornecedores qualificados no Brasil. 1.4 Desafios em RH de engenharia Os recursos humanos são flexíveis e de qualidade. Os profissionais formados no Brasil conseguem colocação em empresas estrangeiras (Airbus, Bombardier e Boeing, por exemplo). Para aprimorar o ensino de engenharia no Brasil será necessário: 50 1. Modernizar e adequar os currículos de escolas de engenharia e de instituições de ensino e pesquisa; 2. Coordenar os trabalhos de várias universidades; 3. Identificar as competências e divulgar para a comunidade; 4. Fortalecer a pós-graduação para ampliar o número de profissionais formados. Existe a urgência em diminuir o descompasso entre a pesquisa brasileira e os outros países, por exemplo EUA, China e Coréia do Sul; 5. Implantar efetivamente a cultura empreendedora entre os alunos e professores universitários e de nível secundário; 6. Premiar a inovação ou o espírito inovador. Pode-se, também, fazer isto por meio de competições ao estilo do Aerodesign que é organizado pela Sociedade de Engenharia Automotiva (SAE); 7. Valorizar os profissionais voltados para criação e inovação nas empresas nacionais; 8. Melhorar o processo seletivo dos estudantes pelas instituições privadas, o qual é eficiente nas universidades públicas; 9. Fortalecer o compromisso com a qualidade na maioria das 1.5 Necessidades de financiamento 1. Assegurar linhas de financiamento às Micro, MPMEs de modo a garantir crédito de exportação e assegurar linhas específicas, com juros menores, para bens de capital, giro e leasing. 2. Criar mecanismos facilitadores de importação de máquinas, equipamentos e outros bens de capital. 3. Fortalecer mecanismos não-reembolsáveis, tornando disponíveis recursos mais significativos para projetos pré-competitivos. 4. Desenvolver mecanismos de garantia ao crédito, criando uma gestão integrada do suporte, assim como tornar flexível e ágil o processo de análise e contratação dos recursos, incluindo a questão de garantias reais. 5. Criar fundos de capital de risco e de recebíveis. 6. Elevar o nível de atividade industrial das MPMEs mediante apoio de uma política operacional específica do BNDES. 1. Panorama da indústria aeronáutica universidades privadas; 10. Fortalecer a qualidade nos cursos técnicos e de nível médio. 11. Melhorar o apoio administrativo e reduzir a burocracia para ampliar a participação dos professores universitários em projetos de pesquisa financiados por indústrias ou agências de fomento. 1.6 Necessidades do ambiente políticoinstitucional24,25,26 1. Viabilizar compras de governo prioritariamente de produtos nacionais e de produtos importados somente com arranjos inteligentes de offset com vistas à absorção de novas tecnologias. 2. Criar uma política específica para o setor aeronáutico, tratando-o como estratégico e prioritário. 3. Fortalecer a estrutura de certificação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), possibilitando operações na fronteira 51 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 4. 5. 6. 7. 8. 9. 52 10. tecnológica por meio de mecanismos adequados de sustentação. Estabelecer mecanismos institucionais para integrar os esforços das ICTs nas atividades de PD&I consideradas estratégicas. Conceber, aperfeiçoar e disseminar instrumentos de apoio à inovação, de modo a fortalecer todas as etapas do desenvolvimento tecnológico das empresas e identificar as instituições responsáveis em cada uma dessas etapas. Tornar simples e ágeis os processos aduaneiros. Fortalecer e estruturar uma entidade para realizar a gestão de acordos de compensação (offset) aplicáveis à aviação civil em coordenação com a indústria e atualizar a legislação pertinente. Estabelecer à isonomia tributária de toda a cadeia produtiva, promovendo a desoneração de modo a garantir a competitividade com os fornecedores estrangeiros desde a importação da matériaprima. Criar legislação diferenciada para aquisições governamentais no setor de CT&I. Buscar mecanismos para fortalecer a engenharia da aeronáutica nacional. NOTAS 1 Evando Braga de Oliveira, “MRO Aeronáutico, Gerando Riquezas para o Brasil – O Adensamento da Cadeia Produtiva na Indústria Aeronáutica Brasileira”, VARIG Engenharia e Manutenção, 2004 2 Helibrás – Helicópteros do Brasil - http://www.helibras.com.br/mercado.asp 3 Agência Nacional de Aviação Civil - http://www.anac.gov.br/estatistica/estat26.asp 4 Airline Market & Embraer Programs Overview – A Perspective from 30-120 Market Segment http://www.embraer.com 5 Embraer, Regra 70-110 - http://www.embraer.com.br/portugues/content/imprensa/press_releases_detalhe.asp?id=603 6 50-Seat RJ Market Implodes, Aerospace America Magazine, 2006 7 Mauro Arruda, Roberto Vermulm e Sandra Hollanda, “Inovação Tecnológica no Brasil: A indústria em busca da competitividade global”, ANPEI, 2006 8 Roberto Bernardes, “Passive Inovation system and local Learning: a case study of Embraer in Brazil,” Conferência Internacional Sobre Sistemas de Inovação e Estratégias de Desenvolvimento Para o Terceiro Milênio, novembro de 2003 John Robison-Berry, Oliver Leslie, & Fred Taylor, “Small Business Innovation Research (SBIR) and Historical Black Colleges & Universities/ Minority Institutions (HBCU/MI) Initiatives,” Boeing Co., 2007 10 Jean-Paul Rodrigues, “The Geography of Transport Systems,” Hofstra University, NY, 2007 11 Liam Breslin, “The European Strategic Agenda for Aeronautics Research and the 7th FP of the European Commission,” European Commission Aeronautics, 2005 12 McPherson, A. & Pritchard, D., “The International Decentralization of US Commercial Aircraft Production: Implications for US Employment and Trade,” United States Trade Center, Department of Geography, Buffalo, N.Y., 2002 13 Pritchard, D. e McPherson, A., “Industrial Subsidies and the Politics of World Trade: the Case of the Boeing 7E7,” The Industrial Geographer, Vol. 1, Issue 2, pp. 57-73, 2004 14 Advisory Council for Aeronautics Research in Europe (ACARE) - http://www.acare4europe.org/ 15 European Aeronautics A Vision for 2020 – Meeting Society’s Needs and Winning Global Leadership, Report of a Group of Personalities 16 Liam Breslin, “The European Strategic Agenda for Aeronautics Research and the 7th FP of the European Commission,” European Commission Aeronautics, 2005 17 Sam Perlo Freeman, “Offsets and the Development of the Brazilian Arms Industry,” Middlesex University, September 2002. 18 “Perfil do Parque Tecnológico de São José dos Campos - A construção de um Cluster Aeroespacial e de Defesa em São José dos Campos,” Macrotempo – Kaiser Associates, 2007. 19 Dziomba, B., “Technology Acquisition of European Aeronautical SMEs,” Dziomba Aeronautical Consultant. 20 “Crise do Setor Aéreo Brasileiro”, Wikipédia 21 Relatório Preliminar do Tribunal de Contas da União Sobre o Apagão Aéreo, 2007 22 Franko-Jpnes, P. M., “The Brazilian Defence Industry”. Boulder: Westview Press. 23 Roberto Portela Bertazzo, “A Crise da Indústria Aeronáutica Brasileira 1945-1968”, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2003 24 GOVERNMENT of CANADA, “National Aerospace and Defense Strategic Framework,” 2005 25 NEVEN, D. e Seabright, “European industrial policy: the Airbus Case,” Economic Policy, Vol. 21, pp. 313-344, 1995 26 Pritchard, D. e McPherson, A., “Industrial Subsidies and the Politics of World Trade: the Case of the Boeing 7E7,” The Industrial Geographer, Vol. 1, Issue 2, pp. 57-73, 2004 1. Panorama da indústria aeronáutica 9 53 2. Roadmap estratégico Xxxxxx Estudo Prospectivo – Aeronáutico 56 As ações estratégicas estão agrupadas nos seus respectivos segmentos: 1. Fortalecimento da base de P&D. 2. Aperfeiçoamento da institucionalidade setorial. 3. Adensamento da cadeia industrial aeronáutica. 2. Roadmap estratégico O estudo enfatiza as medidas propostas que permitam aos tomadores de decisão, do governo e da indústria, providências prioritárias e urgentes sobre o conjunto de ações produzidas. As medidas surgiram em extensos e criteriosos debates entre especialistas e executivos do setor aeronáutico industrial. Para cada ação são apontados os meios e a meta. São informações sugestivas ao trato mais aprofundado de elaboração dos Planos de Ação em etapa posterior ao estudo. Os planos necessitam ser efetivados celeremente nas instituições da indústria aeronáutica: ABDI, AIAB e instituições congêneres. Maiores informações sobre o processo de obtenção dos resultados deste capítulo estão contidas no Relatório Prospectivo Setorial Aeronáutico, concluído pelo CGEE em agosto de 2007. As diretrizes vinculantes de cada ação aos fatores críticos de sucesso (políticoinstitucional, financiamento, infraestrutura, recursos humanos, e tecnologia) são reapresentadas no Anexo II. As diretrizes da dimensão mercado não vinculam diretamente uma ação estratégica. Elas mesmas deram origem à macroestratégia expressa nos segmentos acima relacionados. 2.1 Ações para o fortalecimento do ambiente político-Institucional As ações voltadas para fortalecimento e adequação do apoio do ambiente político-institucional, hoje implícito, geram uma sinergia de 57 Estudo Prospectivo – Aeronáutico movimentação da situação atual (volatilidade do apoio políticoinstitucional) para a situação futura, explícita, de apoio políticoinstitucional (institucionalidade adequada) como mostra a Figura 1. Conforme a atividade industrial venha se adequar ao ambiente de competitividade internacional torna-se necessário a execução criteriosa e completa do conjunto de ações até 2016 (preferencialmente até 2008, conforme as metas mais conservadoras). A efetividade de todas as ações está ligada às dimensões político-institucional; e à dimensão financiamento, nas ações garantia de crédito e priorização de compras públicas com contrapartidas de desenvolvimento. AÇÃO 1 Desregulamentação da logística da importação e exportação - Desburocratizar e tornar flexível a regulamentação aduaneira aplicável ao setor, de forma a permitir a inserção de empresas em cadeias globais just-in-time (JIT). 58 Meios – JIT Cadeia. Recursos – Desburocratização/flexibilização da regulamentação aduaneira setorial. Meta – em aberto. Diretrizes Político-institucionais – 2, 4-7, 9-10. AÇÃO 2 Regime tributário isonômico em relação aos competidores internacionais/cadeia produtiva - Revisar a legislação de forma a criar um regime tributário especial para o setor, onde os incentivos tributários do exportador principal sejam estendidos aos seus fornecedores que compõem a cadeia produtiva. Meios – Revisão da legislação para estender incentivos tributários à cadeia produtiva. Recursos – Fortalecer a atuação do grupo GT3. Meta – 2008. Diretrizes Político-institucionais – 1-2, 4-6, 9-10. Garantia de crédito – Revisar e flexibilizar os mecanismos de garantia de crédito das empresas do setor, por meio de FGPC (BNDES, FINEP, FAPs), Bid Bonds e Performance Bonds. Fortalecer a participação da representatividade do setor. Meios – FGPC (BNDES, FINEP, FAPs); Bid Bond1; Performance Bond2. Recursos – Revisão/flexibilização da regulamentação; participação dos representantes setoriais. Meta – 2008. Diretrizes Político-institucionais – 2, 4-8. Diretrizes de Financiamento – 1-8. 2. Roadmap estratégico AÇÃO 3 AÇÃO 4 Poder de compras públicas – Priorizar compras públicas de qualidade incluindo desenvolvimento, por meio da inserção do setor na agenda política de desenvolvimento industrial. Meios – PITCE, Agenda Política. Recursos – Fortalecimento da Institucionalidade – MD, AIAB e Frente Parlamentar (CREDN/ Câmara, CRE/Senado e MRFA). Meta – 2008. Diretrizes Político-institucionais – 1-2, 4-9. Diretrizes de Financiamento – 1-8. Figura 1 Fortalecimento político-institucional Fonte: Oficina setor aeronáutico - CGEE, 2007 59 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Apesar de todas serem emergenciais e simultâneas em relação ao seu início, a garantia de crédito e a priorização de compras públicas com contrapartidas têm nível de prioridade mais elevada que as demais. 2.2 Ações para o fortalecimento da cadeia produtiva AÇÃO 5 Acordos internacionais – Institucionalizar a inclusão do setor em acordos geopolíticos multilaterais, fomentando a participação das empresas em cooperação tecnológica internacional e em programas multinacionais de desenvolvimento e produção. Meios – Cooperação tecnológica; desenvolvimento e produção (programas multinacionais); inclusão do setor nos acordos multilaterais. Recursos – Adoção por meio de coordenação entre MDIC/MCT/MRE/AIAB/ABDI/CGEE. Meta – 2007. Diretrizes Político-institucionais – 2, 6-7, 10. 60 AÇÃO 6 PITCE (Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior) – Utilizar o Programa PES, da ABDI, para fomentar a priorização do setor na política de desenvolvimento industrial, de forma a gozar de incentivos semelhantes aos setores constantes da PITCE. Meios – Priorização do setor na política de desenvolvimento industrial. Recursos – ABDI (Programa PES). Meta – 2007. Diretrizes Político-institucionais – 2, 4-10. Diretrizes de Financiamento – 2, 7-8. Participação em empresas – Fomentar fundos de investimentos públicos e privados a participarem como acionistas de empresas do setor, a partir da reestruturação, regulamentação e implementação de normas e estatutos aplicáveis. Meios – Financiamento ou investimento, por exemplo, venture capital e private equity: BNDESPAR; FINEP; Fundos Público/Privado. Recursos – Reestruturação das normas aplicáveis; estatutos; regulamentar e instituir. Meta – 2008. Diretrizes Político-institucionais – 2, 5-7, 9. Diretrizes de Financiamento – 1-8. 2. Roadmap estratégico AÇÃO 7 AÇÃO 8 Atração de investimentos externos – Dar prioridade e institucionalizar a política e a promoção comercial pela APEX, MRE, MD, MDIC e os governos estaduais, para atrair investimentos externos no setor, por meio da transparência de regras e incentivos fiscais, desburocratização da logística de importação/exportação, disponibilidade de recursos humanos especializados de baixo custo e demanda do mercado local. Meios – Incentivos fiscais; desburocratização da logística de importação e exportação; RH especializado de baixo custo; Demanda do mercado local; promoção externa da política e transparência das regras. Recursos – Priorização/institucionalização da política pela APEX; MRE; MD; MDIC; governos estaduais. Meta – em aberto. Diretrizes Político-institucionais – 1-10. Diretrizes de Financiamento – 1-8. Diretrizes de Infraestrutura – 1-5. AÇÃO 09 Capacidade produtiva – Ampliação do financiamento para o crescimento e modernização da capacidade produtiva das empresas do setor, por meio da captação de recursos financeiros mais competitivos e sua disponibilização pelo BNDES e fundos de participação; e pela revisão da legislação tributária relativa a similares nacionais de bens de capital, os quais têm especificação diferenciada para o setor. Meios – Captação de recursos mais competitivos; revisão do similar nacional de bens de capital para o Setor. Recursos – BNDES; Fundos de participação (venture capital). Meta – 2008. Diretrizes Político-institucionais – 1-10. Diretrizes de Financiamento – 1-8. Diretrizes de Infraestrutura – 1-5. 61 Estudo Prospectivo – Aeronáutico AÇÃO 10 ePME (inserção das Pequenas e Médias Empresas no e-Business Global) – Institucionalização de um programa ePME para inserção das pequenas e médias empresas do setor no ebusiness global, por meio do financiamento e de mecanismos de facilitação para suas inclusões nas redes Aero chain (Embraer), Boost Aero (Airbus) e Exostar (Boeing), a ser disponibilizado no Parque Tecnológico de São José dos Campos, sob a coordenação da AIAB e com apoio de FINEP e BNDES. Meios – Aero chain; Boost aero; Exostar. Recursos – AIAB; FINEP; BNDES; Parque Tecnológico de São José dos Campos. Meta – 2009. Diretrizes Político-institucionais – 1-8. Diretrizes de Financiamento – 1-5. Diretrizes de Infraestrutura – 1-17. 62 Figura 2 Fortalecimento da cadeia produtiva Fonte: Oficina setor aeronáutico - CGEE, 2007 Contudo, para o setor criar seu diferencial de competitividade no mercado global, além de necessitar de uma “institucionalidade fortalecida adequada” (Figura 1), todas as ações desse segmento devem obter total êxito até 2016 (preferencialmente até 2009, meta mais conservadora). 2. Roadmap estratégico As ações para o fortalecimento da cadeia produtiva aeronáutica geram uma sinergia de movimentação da situação atual de fragilidade da cadeia produtiva da indústria aeronáutica brasileira para a situação desejada, traduzida por uma cadeia de adensamento da cadeia produtiva da indústria aeronáutica brasileira (Figura 2). Observa-se na figura 2 que a dimensão político-institucional influencia quase todas as ações, excetuando-se a ação intitulada ePME. Desenvolver este quadro de ações depende de atuação conjunta nas quatro dimensões: político-institucional, financiamento, infraestrutura e tecnologia. A dimensão financiamento é fundamental para o fortalecimento da cadeia produtiva, excetuando-se a ação sobre acordos internacionais. A dimensão infraestrutura influencia de forma mais direta as ações que tratam da atração de investimentos externos, da capacidade produtiva e da ePME. E, por último, a dimensão tecnologia influencia diretamente a ação de ePME. Todas as ações são emergenciais e deverão ser iniciadas de imediato e simultaneamente. Contudo há uma escala de prioridade entre elas, destacada na representação de cores. Elas ocupam três níveis de prioridade. As ações de cores mais rubras e escuras são mais prioritárias que as ações de cores mais claras: Ação 9 – Capacidade produtiva; Ação 5 – Acordos Internacionais. 63 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 2.3 Ações para PD&I de tecnologias competitivas AÇÃO 11 Premiações ao espírito inovador – Criação de premiações que estimulem: (a) o espírito inovador, com prioridade em soluções de arquiteturas abertas reutilizáveis, assim como tecnologias especiais selecionadas para cada edição; e (b) a atuação cooperativa em relação à indústria, mediante o uso de critérios de avaliação pertinentes ao impacto resultante do incremento de novos produtos e serviços. Meios – Soluções abertas; concursos; pesquisador do ano (produtividades com relação à indústria); tecnologias selecionadas para premiação; premiação de patentes. Recursos – FINEP; FAPs; ABDI. Meta – 2008. Diretrizes Político-institucionais – 1-8. Diretrizes de Financiamento – 1-11. Diretrizes de Infraestrutura – 1-17. 64 AÇÃO 12 Pesquisa e desenvolvimento – Dar prioridade à aplicação dos recursos financeiros da FINEP, Fundações de Amparo à Pesquisa e Fundos Setoriais na realização de projetos tecnológicos alinhados com a agenda de P&D, assim como o desenvolvimento de novos produtos, por meio do fortalecimento da representação do setor pela AIAB. Meios – Reforçar a gestão de P&D; multidisciplinaridade; integração de tecnologias; plataformas tecnológicas; programas de pequeno, médio e grande porte. Recursos – FINEP; FAPs; Fundos Setoriais; Representante AIAB. Meta – 2009. Diretrizes Político-institucionais – 1-3, 6-10. Diretrizes de Financiamento – 4, 7-8. Diretrizes de Infraestrutura – 1-5. Diretrizes de Recursos Humanos – 1-11. Diretrizes de Tecnologia – 1-17. Programas mobilizadores – Instituição de programas mobilizadores, com prioridade no planejamento de P&D, na multidisciplinaridade, na integração de tecnologias, nas plataformas tecnológicas e nos programas planejados de pequeno, médio e grande porte, por meio do fortalecimento do Sistema de CT&I de interesse da defesa (MD e MCT) e da Rede Nacional de P&D de interesse da aviação civil (ANAC) com engajamento do MDIC e AIAB. Meios – Planejamento de P&D; multidisciplinaridade; integração de tecnologias; plataformas tecnológicas; programas de pequeno, médio e grande porte. Recursos – Fortalecimento do Sistema de CT&I de interesse da defesa (MD e MCT) e da Rede Nacional de P&D de interesse da aviação civil (ANAC) com engajamento do MDIC e AIAB. Meta – 2009. Diretrizes Político-institucionais – 1-10. Diretrizes de Financiamento – 1-8. Diretrizes de Infraestrutura – 1-5. Diretrizes de Recursos Humanos – 1-11. Diretrizes de Tecnologia – 1-17. 2. Roadmap estratégico AÇÃO 13 AÇÃO 14 Especialização e retenção de talentos – Fomentar a especialização de talentos, disponibilizando recursos financeiros para este fim (provenientes de FINEP, Fundações de Amparo à Pesquisa, CNPq, CAPES, Fundos Setoriais, financiamento privado com compensações, OSCIPs), buscando remover gargalos legais do Regime Jurídico Único, relativos à atuação empreendedora de funcionários (conforme a Lei de Inovação), por meio do fortalecimento da institucionalidade de MD, AIAB e Frente Parlamentar. Meios – FINEP e FAPs; CNPq, CAPES, RHAE; fundos setoriais; financiamento privado com compensações; OSCIPs; remoção de gargalos legais do RJU relativos à atuação de funcionários; Lei de Inovação. Recursos – Fortalecimento da institucionalidade MD; AIAB; Frente Parlamentar (CREDN/Câmara, CRE/Senado e MRFA). Meta – 2008/2010. Diretrizes Político-Institucionais – 1-3, 6-7. Diretrizes de Financiamento – 4, 7-8. Diretrizes de Recursos Humanos – 1-11. 65 Estudo Prospectivo – Aeronáutico AÇÃO 15 Empreendedorismo – Fomentar o empreendedorismo por meio da disponibilização de recursos financeiros competitivos pelo FINEP/Inovar e fundos de Angel capital/seed money, com prioridade na qualificação aeronáutica necessária para atuar no setor, por meio da revisão e implantação de regulamentação (Lei de Inovação) e de mecanismos de facilitação. Meios – FINEP/Inovar; Fundos de Angel capital/Seed Money; Lei de Inovação; qualificação aeronáutica. Recursos – Revisar/implantar regulamentação e mecanismos de facilitação. Meta – 2009. Diretrizes Político-Institucionais – 1-2. Diretrizes de Financiamento – 1-8. Diretrizes de Recursos Humanos – 1-11. AÇÃO 16 Contrapartidas: Tecnologias – Estabelecar contrapartidas às compras públicas, priorizando a subcontratação de longo prazo no país, que fomente o desenvolvimento tecnológico do setor. Institucionalizar órgãos gerenciadores da política de contrapartidas. 66 Meios – Offsets; contrato de longo prazo; direcionamento para subcontratação no país; órgãos gerenciadores. Recursos – Órgãos gerenciadores. Meta – 2008. Diretrizes Político-Institucionais – 1-2, 4-10. As ações estratégicas devem gerar a sinergia necessária para movimentar a situação atual onde há uma base de P&D concentrada em poucas ICTs (investimento no setor pré-competitivo) para a situação desejada de base de P&D ampliada para o meio empresarial com competitividade (competitividade mundial em segmentos da cadeia). A dinâmica das ações de PD&I não têm origem numa situação de carência. Contudo, adequados investimentos nas tecnologias pré-competitivas são considerados indispensáveis para aumentar a competitividade do setor. A Figura 3 destaca o rearranjo dos investimentos em impactos diretos na cadeia produtiva, dando o suporte necessário para o setor obter seu diferencial de competitividade no mercado global. 2. Roadmap estratégico Figura 3 Fortalecimento da base de PD&I Fonte: Oficina setor aeronáutico - CGEE, 2007 Outro ganho na execução dessas ações diz respeito à construção de uma infraestrutura física e à formação de recursos humanos que potencializam a PD&I de tecnologias portadoras de futuro. Tais iniciativas têm a capacidade de elevar o setor a um patamar mais elevado de suporte à competitividade. As dimensões político-institucional, financiamento e recursos humanos têm ampla influência nas ações conforme a Figura 3. A dimensão político-institucional de forma isolada não influencia as premiações em inovação. Somente as dimensões de financiamento e recursos humanos não influenciam nas contrapartidas tecnologias. As dimensões 67 Estudo Prospectivo – Aeronáutico tecnologia e infraestrutura têm influências mais direcionadas. Elas atuam nas ações pesquisa e desenvolvimento e programas mobilizadores. A dimensão tecnologia atua na ação premiações em inovação. O exercício de priorização das ações estratégicas desse segmento importante - fortalecimento da base de PD&I de tecnologias competitivas – indicou a seguinte ordem de Ações: 12 – Pesquisa e desenvolvimento; Ação 13 – Programas mobilizadores; Ação 14 – Especialização e retenção de talentos; Ação 15 – Empreendedorismo; Ação 16 - Contrapartidas: tecnologias. 68 NOTAS 1 Bid Bond: Seguro garantia do concorrrente. 2 Performance Bond: Seguro garantia do executante contrutor, fornecedor e prestador de serviços 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 3.1 Introdução, contexto e objetivos A presente agenda tecnológica tem por finalidade ampliar áreas de P&D em tecnologias aeronáuticas, que permitam a competitividade e o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira com foco em 2023. Colaboraram diretamente na arquitetura e na produção dos resultados desta agenda os engenheiros aeronáuticos Bento Silva de Mattos, Elyas Ferreira de Medeiros, Luis Marcelo Coelho Acosta, Maurício Pazini Brandão e Victor Rafael Resende Celestino. As contribuições foram iniciadas em oficina específica (onde outros especialistas tiveram a oportunidade de apontar sugestões) e concluídas depois das considerações do Comitê Gestor no encontro de validação do relatório prospectivo do estudo. Com base nos desafios iminentes (que podem ser considerados também sob o enfoque das oportunidades) dos principais mercados consumidores de produtos aeronáuticos, e em razão da importância que este setor possui no cenário econômico brasileiro, a presente agenda constitui uma referência indispensável à construção das futuras carteiras de projetos de pesquisa, especialmente aquelas de P&D Pré-Competitivo (a agenda do P&D Pré-Competitivo, em 2010, construída pelo estudo é parte dos anexos deste relatório). Não se pretende listar todas as possibilidades de pesquisa tecnológica em aeronáutica. A intenção desta agenda é propor áreas estratégicas de pesquisa, da qual se espera recolher os maiores benefícios para o país e para a indústria nacional. Duas notas importantes devem ser feitas neste momento sobre o conteúdo e sobre a forma das informações aqui apresentadas: 2. Forma. O capítulo está disposto em três seções: Seção 1 – Desafios; Seção 2 – Desdobramentos dos Desafios; Seção 3 – Áreas de P&D para Tecnologias. Os comentários acerca dos desafios e seus desdobramentos tiveram a intenção de fornecer subsídios que permitam ao leitor compreender o contexto – no âmbito da aviação e da indústria aeronáutica – em que há demanda por pesquisa tecnológica (P&D para tecnologia aeronáutica) nas áreas indicadas. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 1. Conteúdo. O capítulo não visa oferecer uma lista de tecnologias, isto é, de soluções específicas a determinados problemas ou demandas tecnológicas. Todas as listas estão sujeitas a constantes e, muitas vezes, drásticas revisões, o que as torna, com o tempo, desatualizadas. Assim, a proposta foi a de apresentar elementos que permitam a construção de uma agenda tecnológica de longo prazo, que favoreça a operacionalização da estratégia setorial e facilitem a administração da carteira de projetos de pesquisa. Como consequência da execução de pesquisas nas áreas tecnológicas indicadas, espera-se colher produtos brasileiros para o mercado global, o que significa favorecer a dinâmica da academia, da empresa âncora da indústria aeronáutica e, principalmente, da cadeia produtiva aeronáutica do país. De modo a ajudar o entendimento das áreas de pesquisa tecnológica constantes da agenda, é necessário identificar algumas das interrelações da indústria fabricante de aeronaves não limitadas a aviões (asas fixas), podendo referir-se a helicópteros (asas rotativas) e componentes com os demais atores presentes no transporte aéreo, que são esboçados na Figura 4. 71 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 72 Figura 4 Diagrama das interrelações da indústria no setor de transporte aéreo Fonte: Adaptado de Aeronautics for Europe No caso desta agenda de tecnologias aeronáuticas, os desafios da aviação são encarados sob a perspectiva da indústria fabricante de aeronaves, de peças e de componentes aeronáuticos. Embora o êxito da atividade de transporte aéreo dependa de diversos fatores, o escopo deste capítulo é centrado nas tecnologias embarcadas na aeronave1. Dessa forma, esta agenda tecnológica é endereçada aos fabricantes (aeronaves, peças e componentes aeronáuticos), à academia (instituições de ciência e tecnologia), e aos órgãos certificadores e governamentais, os quais possuem papel central na moderna indústria aeronáutica brasileira. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D Embora relevantes, não são objetos da análise, por exemplo, as indústrias fabricantes de equipamentos para aeroportos (GSEs2, carros elétricos etc.), torres de controle, tecnologia da informação para empresas aéreas (reservas e vendas de bilhetes, controle de check-in, por exemplo), dentre outros. Por fim, uma nota sobre a dualidade civil-militar de tecnologias aeronáuticas. Uma vez que os desafios para a aviação civil e de defesa são muitas vezes conflitantes, ou pelo menos são avaliados sob perspectivas distintas (exemplos: ruídos, emissões, dimensão dos sistemas, e gerenciamento da energia), a avaliação dos desafios e das respostas tecnológicas restringem-se ao campo da aviação civil, no qual se concentra a maior parcela dos investimentos e receitas da indústria aeronáutica brasileira. Isso não quer dizer que a tecnologia de uso militar esteja excluída desta agenda, pois é possível citar vários casos de tecnologias de utilização dual, tanto na esfera civil quanto na defesa (exemplos: estruturas, materiais, leis de controle, células de combustível, comunicação de dados, aerotermodinâmica, tecnologias para o desenvolvimento de produtos, dentre outras). Figura 5 Agenda de P&D para a competitividade no horizonte 2023 COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL Desafios Desdobramentos do Desafio Linhas para Pesquisa Tecnológica Objetivos Redução do custo de viagem Aumento da eficiência operacional da aeronave Custos operacionais Custos de aquisição de aeronave Custos de manutenção Custos de tripulação Custos de combustíveis Custos de taxas e encargos • • • • • • Atratividade ao usuário Conforto Serviços a bordo Tempo de voo e de viagem Ambiente de trabalho para a tripulação • Tecnologias para um ambiente de cabine diferenciado Viagens mais confortáveis Custos de desenvolvimento razoável, apesar do aumento de complexidade Ciclo de vida Desenvolvimento de produtos Aging, envelhecimento de aeronaves Reconfigurações Cadeia de suprimentos Serviços e MRO • Avançadas ferramentas de engenharia e simulação • Otimização do projeto aeronáutico Métodos, Ferramentas e Processos em Engenharia de Sistemas (“Systems Engineering”) • Operação continuada de aeronaves usadas Time-to-market competitivo Eficiência aerodinâmica e baixo consumo Sensoriamento e saúde da aeronave Aeroacústica Integração de sistemas e software embarcado Estruturas leves e eficientes Manufatura avançada Combustíveis alternativos na aviação Continua 73 Estudo Prospectivo – Aeronáutico SEGURANÇA DE OPERAÇÕES Figura 5 Continuação Cabine de Comando CFIT (eliminação) “Zero” human failure “Zero” machine failure Integração homem-máquina Pousos e decolagens seguros • • • • Operações no Séc. XXI Voos em quaisquer condições climáticas Safe-Separation SESAR – NGATS – SATS Segurança nas Operações em Solo Free Flight no Séc. XXI Antiterrorismo • Integração de tecnologias embarcadas para CNS/ATM • Tecnologias para operações seguras - antiterrorismo Adequação segura às novas realidades do transporte aéreo Redução das possibilidades de sucesso das ações terroristas Crash Worthiness Evacuação • Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivências em caso de acidentes Aumento da possibilidade de sobrevivência em caso de acidentes Emissões Ruído externo Procedimentos de operação • • • • • • • Redução das emissões de CO2 Redução das emissões de Nox Descarte Substâncias tóxicas, manufatura, e manutenção • Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves • Manufatura avançada Mitigar as consequências 74 COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL A operação “verde” Preservar para as futuras gerações Tecnologias para prevenir e evitar acidentes Integração de sistemas e software embarcado Avançadas ferramentas de engenharia e simulação Métodos, ferramentas e processos em engenharia de sistemas (“Systems Engineering”) Rotores aeronáuticos de baixa potência Operação com reduzido volume de emissões Estruturas leves e eficientes Eficiência aerodinâmica e baixo consumo Aeroacústica Avançadas ferramentas de engenharia e simulação Métodos, ferramentas e processos em engenharia de sistemas (“Systems Engineering”) Redução das taxas de acidentes Redução das possibilidades de ocorrências de acidentes por erro humano Redução nos níveis de ruído externo Aumento da qualidade ambiental na manufatura e descarte 3.2 Macrodesafios para as tecnologias aeronáuticas Minimizar as externalidades negativas da aviação, a segurança e o compromisso com a sociedade (nela incluídas as futuras gerações) são os grandes desafios da indústria aeronáutica no próximo decênio. Em consequência, terão preferência sobre os demais aqueles empreendimentos que melhor se posicionarem em relação aos benefícios sociais. Desafios sociais também estão definidos nas agendas da política de pesquisa tecnológica de outras nações3,4. Na construção da agenda tecnológica do Brasil, procurou-se explicar cada um desses macrodesafios em sentenças curtas com a finalidade Os macrodesafios estão assim agrupados: competitividade dos produtos industriais; segurança dos produtos; aviação e sociedade. 3.2.1 Macrodesafio da competitividade industrial Refere-se às características que a aeronave deverá possuir, tanto do ponto de vista da engenharia quanto do comércio, a fim de ser uma opção economicamente viável para as empresas de transporte aéreo ou proprietários particulares. Compreende a aeronave como um bem de produção (para empresas aéreas) ou um bem durável (para particulares) e como um ativo que deve ser mantido em condições operacionais (garantida a segurança). Não se deve esquecer que a preferência por uma determinada aeronave é, muitas vezes, favorecida pela imagem positiva do produto junto à tripulação e aos passageiros usuários. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D de captar mais plenamente o seu significado. Como medida adicional, cada desafio, assim como seus desdobramentos, foram descritos de forma sintética, sem pretender, contudo, esgotar o assunto. As descrições são, portanto, um guia referencial, cujo objetivo é dirimir as dúvidas surgidas a partir da leitura da agenda tecnológica e das medidas propostas. Esse desafio também se refere aos aspectos de desenvolvimento de produtos. São aspectos importantes para manter adequados os custos de desenvolvimento e time-to-market. Estão incluídas também nesse desafio as soluções para o envelhecimento de aeronaves, reconfigurações5, fluxo de materiais na cadeia de suprimentos, serviços e MRO6. Embora os aspectos ligados ao impacto da aeronave no meio-ambiente também sejam levados em conta na competitividade dos produtos, esse assunto é um desafio à parte (aviação e sociedade). 75 Estudo Prospectivo – Aeronáutico ROTA TECNOLÓGICA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL Desafios Desdobramentos do Desafio Linhas para Pesquisa Tecnológica Objetivos Redução do custo de viagem Aumento da eficiência operacional da aeronave Custos operacionais Custos de aquisição de aeronave Custos de manutenção Custos de tripulação Custos de combustíveis Custos de taxas e encargos • • • • • • Atratividade ao usuário Conforto Serviços a bordo Tempo de voo e de viagem Ambiente de trabalho para a tripulação • Tecnologias para um ambiente de cabine diferenciado Viagens mais confortáveis Custos de desenvolvimento ra-zoáveis, apesar do aumento de complexidade Ciclo de vida Desenvolvimento de produtos Aging, envelhecimento de aeronaves Reconfigurações Cadeia de suprimentos Serviços e MRO • Avançadas ferramentas de engenharia e simulação • Otimização do projeto aeronáutico Métodos, Ferramentas e Processos em Engenharia de Sistemas (“Systems Engineering”) • Operação continuada de aeronaves usadas Time-to-market competitivo Eficiência aerodinâmica e baixo consumo Sensoriamento e saúde da aeronave Aeroacústica Integração de sistemas e software embarcado Estruturas leves e eficientes Manufatura avançada Combustíveis alternativos na aviação Resultados 2010 76 COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL • Estruturas leves • Sistemas Embarcados • Modelagem A operação “verde” Preservar para as futuras gerações Emissões Ruído Externo Procedimentos de Operação • • • • • • • Rotores aeronáuticos de baixa potência Operação com reduzido volume de emissões Estruturas leves e eficientes Eficiência aerodinâmica e baixo consumo Aeroacústica Avançadas ferramentas de Engenharia e Simulação Métodos, Ferramentas e Processos em Engenharia de Sistemas (“Systems Engineering”) Descarte Substâncias Tóxicas, Manufatura, e Manutenção • Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves • Manufatura avançada Redução das emissões de CO2 Redução das emissões de Nox Redução nos níveis de ruído externo Aumento da qualidade ambiental na manufatura e descarte Figura 6 Macrodesafios da competitividade industrial 3.2.2 Macrodesafio da segurança de operações É um desafio que envolve todo o sistema de transporte aéreo, com desdobramentos além da esfera a que se destina essa análise. Para os propósitos dessa agenda, segurança diz respeito aos aspectos de projeto e engenharia (incluem-se os fatores humanos da relação homem-máquina), assim como procedimentos de operação, serviços e manutenção, destinados a evitar acidentes e incidentes aeronáuticos7. Particular atenção deve ser dada à operação segura da aeronave nos novos ambientes de tráfego aéreo que gradativamente estão sendo introduzidos. Figura 7 Macrodesafios da segurança de operações ROTA TECNOLÓGICA SEGURANÇA Desafios Desdobramentos do Desafio Linhas para Pesquisa Tecnológica Objetivos Redução das taxas de acidentes Redução das possibilidades de ocorrências de acidentes por erro humano Cabine de Comando CFIT (eliminação) “Zero” human failure “Zero” machine failure Integração homem-máquina Pousos e decolagens seguros • • • • Operações no Séc. XXI Voos em Quaisquer Condições Climáticas Safe-Separation SESAR – NGATS – SATS Segurança nas Operações em Solo Free Flight no Séc. XXI Antiterrorismo • Integração de tecnologias embarcadas para CNS/ATM • Tecnologias para operações seguras - antiterrorismo Adequação segura às novas realidades do transporte aéreo Redução das possibilidades de sucesso das ações terroristas • Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivências em caso de acidentes Aumento da possibilidade de so-brevivência em caso de acidentes Mitigar as consequências Crash Worthiness Evacuação Tecnologias para prevenir e evitar acidentes Integração de sistemas e software embarcado Avançadas ferramentas de Engenharia e Simulação Métodos, Ferramentas e Processos em Engenharia de Sistemas (“Systems Engineering”) 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D A fim de manter, e mesmo aumentar os níveis de segurança nos espaços aéreos mais congestionados do mundo, no qual voa parcela significativa dos aviões fabricados no Brasil, novos sistemas de comunicação ar-terra têm sido propostos, aumentando a exigência tecnológica tanto em terra quanto no ar (sistemas embarcados na aeronave). Além dos aspectos acima mencionados, esse desafio também envolve a busca de soluções que aumentem a chance de sobrevivência em caso de acidentes. Por fim, medidas antiterrorismo, as que fazem uso de tecnologia embarcada, também são objetos desse desafio da segurança no projeto e na engenharia. Resultados 2010 • Estruturas leves • Sistemas Embarcados • Modelagem 3.2.3 Macrodesafio da atividade de aviação e seus efeitos na sociedade Nesses primeiros anos do Séc. XXI tem havido uma gradual, mas perceptível e significativa mudança de posicionamento dos formadores de opinião no que diz respeito ao impacto da atividade de transporte aéreo nas questões relativas ao meio-ambiente e assuntos correlatos. Nesse curto 77 Estudo Prospectivo – Aeronáutico período, essa atividade econômica teve seu status alterado de poluidor não significativo para potencial grande poluidor. Ainda que essas previsões não tenham se concretizado de forma plena até o presente momento, elas foram suficientes na mobilização de um considerável contingente de recursos financeiros e intelectuais na busca de soluções para os problemas que a aviação pode acarretar ao equilíbrio ambiental. Estão inseridos, na perspectiva do equilíbrio ambiental, importantes esforços de redução das emissões de gases poluentes produzidos pela combustão dos motores, valendo o mesmo para a poluição sonora. Outro aspecto deste desafio é a busca por processos produtivos que poluam menos, assim como procedimentos de manutenção menos agressivos ao meio-ambiente. 78 Por fim, há o desafio de se projetar sistemas e aeronaves completas considerando, dentre outros fatores, o futuro descarte do produto. Figura 8 – Atividades aeronáuticas e efeitos na sociedade ROTA TECNOLÓGICA Desafios AVIAÇÃO E SOCIEDADE A operação “verde” Preservar para as futuras gerações Desdobramentos do Desafio Linhas para Pesquisa Tecnológica Objetivos Emissões Ruído Externo Procedimentos de Operação • • • • • • • Redução das emissões de CO2 Redução das emissões de Nox Descarte Substâncias Tóxicas, Manufatura, e Manutenção • Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves • Manufatura avançada Rotores aeronáuticos de baixa potência Operação com reduzido volume de emissões Estruturas leves e eficientes Eficiência aerodinâmica e baixo consumo Aeroacústica Avançadas ferramentas de Engenharia e Simulação Métodos, Ferramentas e Processos em Engenharia de Sistemas (“Systems Engineering”) Redução nos níveis de ruído externo Aumento da qualidade ambiental na manufatura e descarte Resultados 2010 • Estruturas leves • Sistemas Embarcados • Modelagem A finalidade das descrições anteriores e das que se seguirão é contribuir para formar um melhor entendimento do contexto do setor e auxiliar na identificação de áreas estratégicas para pesquisa tecnológica na indústria aeronáutica brasileira. Logo, o desafio de manter a competitividade dos produtos aeronáuticos concebidos e fabricados no Brasil, requer soluções tecnológicas que favoreçam a redução dos custos diretos de operação, o aumento da atratividade da aeronave ao usuário e as características de projeto refletidas positivamente ao longo de todo o ciclo de vida da aeronave. Seguem algumas breves descrições: 3.3.1 Desafio da minimização dos custos operacionais Os custos de operação das aeronaves são usualmente divididos em custos operacionais diretos (DOC) e custos operacionais indiretos (IOC). No cálculo do DOC são computados fatores diretamente relacionados a operação da aeronave (custos de aquisição da aeronave, leasing, por exemplo: custo do combustível; manutenção do avião; salário dos tripulantes, que variam conforme a aeronave; e outros custos relativos a taxas e encargos). Os custos relacionados a postos de vendas de passagens, comissários de bordo (seu número varia de companhia para companhia), propaganda, entre outros, entram no cálculo do IOC. Há controvérsia quanto à colocação de alguns itens como sendo diretos ou indiretos e a seguir é considerado o modo mais usual de classificação. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 3.3 Desafios da competitividade industrial 3.3.1.1 Minimização dos custos de aquisição da aeronave Há duas maneiras de minimizar os encargos financeiros, decorrentes da propriedade, na operação de uma aeronave: 79 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 1. A aeronave é adquirida sob a operação de leasing e isso representa um custo mensal desembolsado pelo operador. Normalmente costuma-se atribuir uma taxa mensal sobre o preço da aeronave nova (se nova) ou sobre o preço de mercado da aeronave usada (se usada). Estes são chamados custos de propriedade (uma parte dos custos de aquisição). Normalmente esses custos entram apenas no cômputo geral do DOC e ficam fora do COC (Cash Operating Costs), que são os custos que a linha aérea contabiliza no fim do dia. 2. O operador compra a aeronave com recursos próprios ou contrai um empréstimo bancário. Em qualquer um dos casos, paga-se o custo do capital envolvido na transação. No segundo caso, paga-se os juros do empréstimo contraído. No primeiro (recursos próprios), o custo é “de oportunidade”. 80 Assim, se a aeronave foi adquirida com recursos próprios, certamente significou perder os juros que poderiam ser captados caso esse dinheiro fosse investido no mercado financeiro. Neste caso o operador deve procurar recuperar esse capital de alguma forma. Uma possível solução é separar parte do faturamento do voo para repor a quantidade de capital originalmente disponível. Esses são chamados custos de capital, parte dos custos de aquisição. Há ainda um segundo fator a ser considerado: o custo de depreciação. Na medida em que uma aeronave é colocada em serviço, o natural desgaste físico e tecnológico faz com que seu valor diminua até um valor residual, que pode ser pré-definido pelo construtor, ou acertado em contrato entre o fabricante e o operador. Assim, durante a vida útil da aeronave, o operador deve conseguir recursos para, ao final do período de depreciação, repor o bem depreciado mediante a compra de um similar novo, tecnologicamente mais avançado. Assim, tanto o conteúdo tecnológico (tecnologias embarcadas) quanto o valor de aquisição da aeronave, consequência (entre outros) dos custos não-recorrentes da indústria, são fatores importantes na competitividade do produto. Uma nota importante sobre esses custos. Os custos não-recorrentes são aqueles associados ao desenvolvimento da aeronave e não se repetem durante a produção de cada unidade (número de série). Já os custos recorrentes são aqueles que incidem sobre cada número de série produzido (exemplos: custo do alumínio, custo dos equipamentos instalados na aeronave, custo da logística de transporte das matériasprimas, entre outros). 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D Para cobrir o custo de depreciação, pode-se recorrer a uma retirada do valor faturado por voo, o que incorre em um aumento do custo do bilhete caso haja o desejo de manter o lucro constante. Por isso é usual considerar o custo de depreciação como um custo operacional da aeronave. De volta aos custos não-recorrentes. Uma forma de manter as empresas competitivas é utilizar tecnologias de desenvolvimento de produtos8 que possam evitar ou diminuir erros de projeto, entre outros. Nesse contexto, inserem-se técnicas, métodos, processos de engenharia de sistemas9, ferramentas para o desenvolvimento de produtos (desempenho ótimo multidisciplinar, por exemplo), dentre outras opções. 3.3.1.2 Minimização dos custos de manutenção Tais custos são uma função do número e do porte das operações de manutenção a serem realizadas. Para cada operação, deve-se somar os custos referentes ao material utilizado no reparo, bem como os de mão-de-obra10. Há operações de manutenção programadas e não-programadas. Para as programadas, busca-se evitar a retirada 81 Estudo Prospectivo – Aeronáutico da aeronave de serviço, mediante o exame e constatação de que os componentes verificados ainda estão nas condições de uso especificadas pelo fabricante. O ideal é parar a aeronave quando for realmente necessário realizar a troca de um componente. Os recentes desenvolvimentos tecnológicos nas áreas de prognósticos e diagnósticos de saúde de sistemas e estruturas estão caminhando nesse sentido. Espera-se também que essas inovações tecnológicas sirvam como elementos adicionais para a segurança de voo. 3.3.1.3 Minimização dos custos de tripulação Tais custos são determinados principalmente pela categoria de aeronave (grande ou pequena, por exemplo), complexidades da operação, horas anuais de voo, dentre outros fatores. 3.3.1.4 Minimização dos custos dos combustíveis 82 É o resultado da quantidade de combustível consumida pelo preço do combustível. A fim de realizar um mesmo trajeto, nas mesmas condições11, consumindo, porém, menos combustível, busca-se soluções tecnológicas tanto no nível do motor, quanto no do avião. A diferença entre os dois está em que, no primeiro caso, interessa apenas o consumo específico do motor, ao passo que no segundo são incluídas as contribuições da aerodinâmica, estruturas e sistemas. Pois que: a) aeronaves aerodinamicamente mais eficientes possuem uma maior razão de sustentação por arrasto12 e tendem a consumir menos combustível nas mesmas condições de operação que outra menos eficiente; b) a eficiência estrutural também é um fator relevante na contabilidade do custo de combustíveis uma vez que estruturas mais leves, porém capazes de suportar o mesmo carregamento, contribuem para que a aeronave consuma menos combustível; 3.3.1.5 Minimização dos custos referentes às taxas e encargos As taxas aeroportuárias estão fortemente submetidas à política tributária da autoridade local, razão pela qual não é possível obter uma formulação geral. Não obstante, as principais são: taxas de manuseio da aeronave (handling), taxas de pouso, taxas referentes às emissões de ruídos, taxas de navegação e controle do espaço aéreo. O mais usual é que essas taxas sejam uma função do peso da aeronave, das emissões medidas, do número de passageiros e do tempo de voo. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D c) novos sistemas ou novas arquiteturas de sistemas também podem gerar ganhos em combustível, mediante sistemas que exijam menos energia do motor13, ou sistemas de desempenho ótimo de trajetórias de navegação, dentre outros; d) além dos aspectos mencionados anteriormente, o uso de combustíveis alternativos na aviação pode reduzir a quantidade de petróleo consumida (cujo preço tem se elevado muito nesta primeira década do século), nas mesmas condições de operação. 3.3.2 Desafio da atratividade ao usuário para a competitividade Nesse desafio à competitividade dos produtos aeronáuticos comerciais, estão agrupados os fatores que podem contribuir para a escolha de uma aeronave segundo a perspectiva do usuário do serviço: o passageiro (no caso de uma linha aérea) ou o proprietário do avião (no caso da aviação executiva). Embora o aspecto de aeronave como meio de produção seja bastante significativo no momento da escolha, a atratividade ao usuário, desdobrada nos itens a seguir, também conta para a competitividade dos produtos 83 Estudo Prospectivo – Aeronáutico comerciais. No caso das aeronaves executivas, esse fator é determinante. Para a tripulação de aeronaves civis e para os operadores de aeronaves militares de vigilância14, as qualidades da aeronave, na perspectiva do ambiente de trabalho, são também bastante relevantes. 3.3.2.1 Conforto como fator de atratividade Conforto diz respeito aos aspectos de ergonomia, ao design de interiores e ao ambiente experimentado na cabine. Compõem o ambiente de cabine: a luminosidade, a temperatura, a pressão de cabine, o ruído interno e a umidade, entre outros. 3.3.2.2 Serviços de bordo como fator de atratividade 84 São funcionalidades presentes na aeronave, capazes de atrair o usuário seja pela comodidade oferecida (entretenimento, por exemplo) seja pelos recursos oferecidos àqueles que optam por executar atividades de escritório durante o voo. Estão incluídos os conceitos de Office-inthe-Sky e IFE (In-Flight-Entertainment), por exemplo. 3.3.2.3 Tempo de voo e de viagem como fatores de atratividade O desdobramento do desafio competitividade neste item faz menção à necessidade de buscar soluções inovadoras que possam, mediante uma maior integração da aeronave ao aeroporto e com melhor uso do espaço aéreo, contribuir para a redução dos tempos de espera nos aeroportos e, consequentemente, para a redução do tempo total de viagem. 3.3.2.4 Ambiente de trabalho da tripulação como fator de atratividade Valem as observações relativas ao conforto para os passageiros. Esse desafio para a competitividade das tecnologias aeronáuticas trata dos aspectos de desenvolvimento de produtos cujo impacto se faz notar desde o momento da compra até o descarte da aeronave. Muitas das soluções apresentadas neste item são ferramentas para o desenvolvimento de produtos que possibilitam alcançar os resultados esperados nos custos operacionais e na atratividade ao usuário. 3.3.3.1 Desenvolvimento de produtos15 sob a ótica dos custos e da atratividade São ferramentas, métodos e processos que podem ser aplicados no projeto aerodinâmico, estrutural, de sistemas e gestão de requisitos técnicos, entre outros. 3.3.3.2 Envelhecimento da aeronave sob a ótica dos custos e da atratividade 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 3.3.3 Desafio do ciclo de vida da aeronave para a competitividade Phase-out (envelhecimento de aeronaves – aging) refere-se às soluções para a manutenção da vida útil da aeronave, com segurança, após vários anos (em geral, décadas) de operação. 3.3.3.3 Reconfigurações da aeronave sob a ótica dos custos e da atratividade Refere-se às soluções que possibilitam transformações de aeronaves de passageiros para cargueiras, de forma econômica e segura. Estão incluídas as tecnologias, processos e métodos que favoreçam a adequação da aeronave em serviço à novas realidades de operação (incorporação de Boletins de Serviço e Diretrizes de Aeronavegabilidade). Inclui Serviços e MRO16. 85 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 3.3.3.4 Cadeia de suprimentos sob a ótica dos custos e da atratividade Refere-se à interação entre o fabricante da aeronave e a respectiva cadeia de suprimentos a fim de manter a rastreabilidade de responsabilidades técnicas durante o ciclo de vida da aeronave (que é de longo prazo). 3.4 Desafios da segurança de operações dos produtos 86 O desafio da segurança17 dos produtos aeronáuticos necessários à segurança no presente século envolve obter soluções tecnológicas que favoreçam a perfeita execução das tarefas na cabine de comando, diminuindo drasticamente os conflitos potenciais entre a ação dos pilotos e o automatismo das máquinas, ao mesmo tempo em que aumenta a segurança e confiabilidade das decisões tanto do piloto quanto da máquina. Este desafio também pressupõe operar com segurança em ambientes altamente congestionados, que caracterizará as operações no século XXI, com intenso automatismo no controle do tráfego aéreo. Por fim, devem ser consideradas soluções tecnológicas que possibilitem mitigar as consequências de acidentes aeronáuticos. 3.4.1 Desafios da segurança na cabine de comando 3.4.1.1 Eliminação do CFIT CFIT é abreviatura do termo em inglês Controlled Flight Into Terrain, ou seja, voo controlado em direção ao solo. Este tipo de acidente, que se busca eliminar, em conjunto com os ocorridos em pousos e 3.4.1.2 “Zero” Human failure Uma meta audaciosa, não alcançável segundo as leis da probabilidade. Não obstante, este tópico traduz-se pelo desejo de melhorar as condições de cabine, incluindo a gestão da tripulação, a fim de reduzir os fatores humanos causadores de acidentes aeronáuticos. 3.4.1.3 “Zero” Machine failure Significa reduzir a níveis próximos do zero os acidentes causados por falhas nas indicações nos painéis, falhas nos sistemas, mau funcionamento, dentre outros fatores. 3.4.1.4 Integração homem-máquina Significa reduzir os acidentes causados por dificuldade de leitura de indicações dos instrumentos, cansaço da tripulação, dentre outros fatores presentes na relação homem-máquina. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D decolagens, é responsável por aproximadamente 80% dos acidentes aeronáuticos18. 3.4.1.5 Pousos e decolagens seguros Na segurança de voo os acidentes devidos às decolagens são tratados em separado dos acidentes devido ao pouso (ALA19 - Aproach and Landing Accident). Este tópico busca destacar a busca de soluções tecnológicas que contribuam para a redução desse tipo de acidente. 3.4.2 Desafios das operações aéreas no século XXI O ambiente de operações nos principais espaços aéreos em que operam as aeronaves fabricadas no Brasil tende a ser mais congestionado, 87 Estudo Prospectivo – Aeronáutico com denso tráfego de aviões de diversos portes, amparado em alta tecnologia de solo, conectada a satélites (Conceito CNS/ATM20 – Communication, Navigation, Surveillance/Air Traffic Management), contando também com a presença de ameaças terroristas. 3.4.2.1 Voos em quaisquer condições climáticas Significa o conjunto de tecnologias que possibilita o voo em condições de baixa visibilidade (chuva, ventos, neve, grandes variações de temperatura, raios, entre outros fatores). 3.4.2.2 Safe-separation Significa o conjunto de tecnologias que possibilita a operação segura de aeronaves em níveis de voo autorizados mais próximos do que os atualmente praticados. 88 3.4.2.3 SESAR21 – NGATS22 – SATS SESAR é o programa europeu de reestruturação do controle de tráfego aéreo com o objetivo da criação do espaço aéreo unificado da Europa (SES – Single European Sky). NGATS é a sigla em inglês para o programa americano Next Generation Transportation System (Sistema de Transporte da Próxima Geração). Este sistema baseiase no controle e navegação por satélites, comunicação digital de dados (ou seja, redução da comunicação por voz entre pilotos e controladores) e sistemas avançados de redes (netcentric). Também é um dos objetivos do NGATS a transferência, para a cabine de comando, de diversas operações atualmente executadas pelo controlador. Para tanto, será necessário o avanço em tecnologias embarcadas na aeronave. SATS é a abreviatura inglesa para Small Aircraft Transporta- 3.4.2.4 Segurança nas operações em solo Significa o conjunto de tecnologias capaz de evitar colisões com a aeronave no solo dos aeroportos cada vez mais congestionados. 3.4.2.5 Free-flight no século XXI Este tópico é uma espécie de resumo dos anteriores. Aqui devem estar agrupadas as áreas de pesquisa tecnológica para produção de tecnologias que permitam a operação segura em solo, pousos, decolagens, em cruzeiro e em espera, ligadas a CNS/ATM. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D tion System. É um programa da NASA, com o objetivo de demonstrar tecnologias que permitam o adensamento do tráfego aéreo de pequenas aeronaves, em condições climáticas desfavoráveis, incluindo a operação com apenas um piloto. O SATS está, atualmente, descontinuado como programa independente, tendo suas competências incorporadas ao NGATS. 3.4.2.6 Antiterrorismo Significa o conjunto de tecnologias que permite evitar os desastres originados de ações terroristas, incluindo o sequestro de aeronaves e o uso de man-pads (lança-mísseis portáteis). 3.4.3 Desafios para mitigar consequências Ainda que todos os esforços sejam eficazes no âmbito do macrodesafio segurança dos produtos e serviços aeronáuticos, é razoável admitir a ocorrência de acidentes não fatais e fatais. Embora nada ou muito pouco se possa fazer após a ocorrência de determinadas catástrofes, é possível que haja, em alguns casos, um número maior de sobreviventes. Nesse sentido, justifica-se a 89 Estudo Prospectivo – Aeronáutico busca de soluções razoáveis que visem mitigar as consequências dos acidentes aeronáuticos, a partir da incorporação de novas características aos produtos. 3.4.3.1 Crash worthiness Significa o conjunto de tecnologias que trata de soluções de projeto estrutural que possibilitem maior chance de sobrevivência, ou menor dano aos passageiros, na ocorrência de determinados tipos de acidentes. 3.4.3.2 Evacuação Aspecto similar ao anterior, mas com foco na evacuação da aeronave. Portanto, significa o conjunto de projetos tecnológicos que dificulte, por exemplo, a propagação de incêndios. 90 3.5 Desafios da atividade de aviação e seus efeitos na sociedade Pelo título deste terceiro macrodesafio (aviação e sociedade) entende-se que o compromisso da aviação deve transcender o de ser meramente amigo do meio-ambiente, apesar do apelo mercadológico que tal postura possa render nestes primeiros anos do século XXI. Este compromisso estende-se, em primeiro lugar às pessoas, sujeitas às externalidades de ruídos e emissões de gases poluentes, que podem afetar tanto os habitantes de comunidades próximas de aeroportos como aquelas em localidades mais distantes. Estende-se também tal compromisso às futuras gerações, na medida em que parte da responsabilidade pelos recursos naturais – que é um patrimônio da sociedade – pertence ao setor aeronáutico. 3.5.1.1 Emissões de poluentes Significa o conjunto de tecnologias que minimiza as emissões de poluentes da combustão nos motores da aeronave para a atmosfera. Para um motor turbo-fan (do tipo que equipa a maioria das aeronaves atualmente fabricadas no Brasil), as emissões atmosféricas podem ser classificadas em: 1. Emissões primárias dos gases de combustão: CO2, vapor de água, NOx, particulados (principalmente fuligem), e SO. 2. Emissões secundárias do produto da reação das emissões primárias com a atmosfera circundante: aerossóis e alguns tipos de particulados. O impacto que estes resíduos podem ter sobre a atmosfera é classificado da seguinte forma: 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 3.5.1 Desafios para operação verde 1. Ação local, impactos de resíduos que se restringem às áreas próximas aos aeroportos. 2. Ação regional, impactos de resíduos que podem ser sentidos em grandes regiões. São os casos das regiões com alta densidade de rotas (Nova Iorque/Londres, Paris/Londres, Paris/Berlin, Rio/ São Paulo, Nova Iorque/Boston, entre outras). 3. Ação global, impactos que, provavelmente, terão reflexos no comportamento atmosférico do globo terrestre. A determinação precisa da ação específica de cada poluente (quem causa o quê) ainda não é consenso na comunidade científica23. Entretanto, para efeito de ilustração, a Figura 9, adaptada de uma publicação norte-americana24, pode ser bastante útil. 91 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Table 3-1 Tipical Aircraft Turbine Engine Exhaust Gas Composition at Cruise Operating Conditions Constituent Concentration Emission (vol %) (ppm) Index Combustion products CO2 3,200 4,1 Pollutants Water 1,200 3,7 NOx as NO2 15 190 1 20 1 9 HC (as CH4) 0.20 7 Soo (as C) 0.02 1 CO ? ? ? SOx Note: For Jetg A fuel (Cn H1.8m) and an overall fuel/air ratio of 0.020. Ação Local 92 Ação Regional Ação Global Figura 9 Determinação da ação específica dos poluentes Muito embora todos os componentes listados na Figura 9 possam ter um impacto global na atmosfera, seus respectivos efeitos são de intensidade bastante variável. De fato, a três componentes (CO2, vapor de água, e NOx) estão sendo dedicados os maiores esforços de redução. As metas na Comunidade Europeia, por exemplo, propõem um esforço para reduzir em 80% as emissões de NOx até 2020. Concomitantemente, trabalha-se para uma redução de 50% nas emissões de CO2 por passageiro por quilômetro, no mesmo período25. 3.5.1.2 Ruído externo Significa o conjunto de tecnologias aplicáveis à redução dos níveis de ruído externo das aeronaves. Neste caso, exclui-se a redução desses níveis pelo uso de novos procedimentos de operação (este tópico é tratado em separado no item seguinte). 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D Para identificar o conjunto de áreas de pesquisa tecnológica para redução dos níveis de ruído externo, é importante reconhecer que as suas fontes de ruído provem de diversas partes em uma aeronave, conforme ilustrado na figura abaixo: Figura 10 Fontes de ruído em uma aeronave 3.5.1.3 Procedimentos de operação Significa o conjunto de soluções tecnológicas aplicáveis à operação de uma aeronave com menor assinatura de ruído. Estas soluções podem afetar a programação de computadores de bordo, tornando necessário o envolvimento não só do fabricante do equipamento, mas também do fabricante da aeronave. A Figura 11, extraída de um projeto norte-americano de redução de ruído26, mostra as áreas sonoramente afetadas na região de aproximação de um aeroporto. 93 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Figura 11 Redução de ruído por técnicas de aproximação Fonte: Partner – MIT 94 O modelo apresentado à esquerda foi construído a partir de dados de aeronaves em operação usual. O da direita foi construído a partir de operações com uso de novos procedimentos sugeridos no projeto de redução de ruído. Verifica-se que ocorreram modificações sensíveis de um cenário para outro27. 3.5.2 Desafio de preservação para as futuras gerações Enquanto no tópico anterior (operação verde) o foco era a atmosfera, neste a atenção está voltada para os ambientes terrestres afetados, principalmente pela manufatura e manutenção de aeronaves e componentes aeronáuticos. A isto, deve-se somar o final da aeronave após a sua vida útil. 3.5.2.1 Descarte de aeronaves Trata-se de técnicas, métodos e processos que visam facilitar a utilização dos materiais da aeronave para outras finalidades, após a utilização da máquina. Consiste nas soluções de manufatura e manutenção que produzem reduzida contaminação (exemplo: substituição de solventes, alteração na tecnologia de manufatura, entre outros). A seguir, são apresentadas as áreas para pesquisa tecnológica (ou P&D de tecnologias formadoras de produtos competitivos que atendam aos macrodesafios do setor aeronáutico global). 3.6 Linhas de pesquisa tecnológica A fim de superar os desafios tecnológicos, descritos anteriormente, e compartilhados pela indústria global aeronáutica, a cadeia produtiva aeronáutica brasileira terá nessas linhas de pesquisa um referencial de ação. Enquanto o projeto de elaboração desta agenda teve por objetivo a cadeia local, o exercício demonstra ser amplo bastante para abrigar todo o conjunto de tecnologias aeronáuticas utilizável em qualquer parte do mundo. A escolha da rota a ser construída recairá no âmbito local, conforme o plano estratégico concebido. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 3.5.2.2 Substâncias tóxicas, manufatura e manutenção O Anexo I, dedicado ao P&D Pré-competitivo, estabelece para a cadeia brasileira um conjunto de áreas de pesquisa tecnológica, necessárias no curto prazo, consoante às ações estratégicas em pesquisa e desenvolvimento do Capítulo 2. Conforme inicialmente exposto, não há aqui uma lista de tecnologias, mas sim áreas de pesquisa tecnológica, com exemplificações do assunto (ou tema) que se enquadra em cada área. Assim, por monitoramento de saúde estrutural, por exemplo, não se pretende dizer que deve haver um projeto exatamente com esse nome, nem muito menos que só pode haver um único projeto ligado ao assunto. O termo monitoramento de saúde estrutural deve ser entendido como um 95 Estudo Prospectivo – Aeronáutico assunto que faz sentido dentro da área sensoriamento e saúde, a qual, por sua vez, pretende garantir maior competitividade aos produtos da indústria brasileira nos mercados mundiais. É plenamente possível que existam diversos projetos, de diversas escalas (investimentos em equipamentos e instalações, despesas gerais e recursos humanos, por exemplo), executados por diversas instituições (em consórcio ou não), relacionados ao monitoramento de saúde estrutural. Ganha-se rastreabilidade (quando uma determinada pesquisa tecnológica ou projeto faz sentido dentro de um contexto maior), e diversidade (quando se permite e se incentiva a criatividade nas soluções). Em outras palavras, os benefícios dessa abordagem podem ocorrer de três maneiras: 1. 96 Estabilidade: Em primeiro lugar se alcança uma razoável estabilidade para a composição e para a administração da carteira de projetos de pesquisa. 2. Atualidade: Ao não recorrer à apresentação de uma lista de tecnologias, pretende-se evitar que o documento fique desatualizado à primeira novidade tecnológica importante não incluída na lista. 3. Seletividade: Ao mesmo tempo, as áreas de pesquisa tecnológica sugerem macrocritérios para a seleção de propostas de desenvolvimento tecnológico para a indústria aeronáutica (com base na qualidade das propostas, na adequação do conteúdo técnico à solução dos desafios identificados na estratégia, e nas restrições orçamentárias). Em resumo, áreas para pesquisa tecnológica apresentadas não constituem uma carteira de projetos. São sugestões de áreas de pesquisa a partir das quais as instituições (ICTs, empresas) podem propor projetos de pesquisa para parcial financiamento pelo Estado. Os assuntos ou temas citados abaixo de cada área de pesquisa tecnológica são apenas indicações. De forma alguma constituem propostas efetivas Para cada Macrodesafio (MD) 1. DESAFIO (D) Indica-se o 1. Desdobramento do Desafio (DD) Seguido, então, da Área para Pesquisa Tecnológica (APT) Figura 12 Legenda: Como as informações na agenda devem ser lidas 3.6.1 Competitividade industrial (MD) 3.6.1.1 Custos operacionais (D/DD) APT APT Sensoriamento e saúde da aeronave Eficiência aerodinâmica e baixo consumo 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D de pesquisa, pois essas são prerrogativas dos tomadores de decisão nos âmbitos da Indústria e do Governo. Figura 13 Escoamento laminar para redução de arrasto aerodinâmico Fonte: CGEE 97 Estudo Prospectivo – Aeronáutico APT Aeroacústica Figura 14 Física da geração e propagação do som 98 Fonte: CGEE Figura 15 Avião cargueiro Fonte: CGEE APT APT APT APT Integração de sistemas e software embarcado Estruturas leves e eficientes Manufatura avançada Combustíveis alternativos na aviação 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 3.6.1.2 Atratividade ao usuário (D/DD) APT Tecnologias para um ambiente de cabine diferenciado Figura 16 Cabine de passageiros de nova geração Fonte: CGEE 3.6.1.3 Ciclo de vida28 (D/DD) APT APT APT APT Avançadas ferramentas de engenharia e simulação Desempenho ótimo do projeto aeronáutico Métodos, ferramentas e processos em engenharia de sistemas ("Systems Engineering") Operação Continuada de Aeronaves Usadas 3.6.2 Segurança dos produtos (MD) 3.6.2.1 Cabine de comando (D/DD) 99 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Tecnologias para prevenir e evitar acidentes APT 3.6.2.2 Operações aéreas no Século XXI (D/DD) APT APT Tecnologias CNS/ATM (Communication navigation surveillance/air traffic management) e sua integração em aeronaves. Tecnologias para operações seguras – antiterrorismo 3.6.2.3 Mitigação das consequências (D/DD) APT Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivência em caso de acidentes As áreas de pesquisa tecnológica (as APTs listadas para o macrodesafio Segurança dos Produtos) podem ser visualizadas na figura a seguir: 3.6.3 Atividade de aviação e seus efeitos na sociedade (MD) 100 Operação verde Figura 17 Segurança de operações ROTA TECNOLÓGICA SEGURANÇA Desafios Desdobramentos do Desafio Linhas para Pesquisa Tecnológica Objetivos Cabine de Comando CFIT (eliminação) “Zero” human failure “Zero” machine failure Integração homem-máquina Pousos e decolagens seguros • • • • Redução das taxas de acidentes Redução das possibilidades de ocorrências de acidentes por erro humano Operações no Séc. XXI Voos em Quaisquer Condições Climáticas Safe-Separation SESAR – NGATS – SATS Segurança nas Operações em Solo Free Flight no Séc. XXI Antiterrorismo • Integração de tecnologias embarcadas para CNS/ ATM • Tecnologias para operações seguras - antiterrorismo Adequação segura às novas realidades do transporte aéreo Redução das possibilidades de sucesso das ações terroristas • Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivências em caso de acidentes Aumento da possibilidade de so-brevivência em caso de acidentes Mitigar as consequências Crash Worthiness Evacuação Tecnologias para prevenir e evitar acidentes Integração de sistemas e software embarcado Avançadas ferramentas de Engenharia e Simulação Métodos, Ferramentas e Processos em Engenharia de Sistemas (“Systems Engineering”) Resultados 2010 • Estruturas leves • Sistemas Embarcados • Modelagem APT Operação com reduzido volume de emissões Preservar para as futuras gerações Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de Aeronaves As áreas de pesquisa tecnológica (as APTs listadas para o macrodesafio Atividade de Aviação e seus Efeitos na Sociedade) podem ser visualizadas na figura a seguir: 3.7 Resultados da agenda tecnológica de P&D Figura 18 Aviação e sociedade ROTA TECNOLÓGICA Desafios AVIAÇÃO E SOCIEDADE A operação “verde” Preservar para as futuras gerações Desdobramentos do Desafio Linhas para Pesquisa Tecnológica Objetivos Emissões ¾¾ Ruído Externo ¾¾ Procedimentos de Operação • • • • • • • Redução das emissões de CO2 Redução das emissões de Nox Descarte ¾¾ Substâncias Tóxicas, Manufatura, e Manutenção • Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves • Manufatura avançada Rotores aeronáuticos de baixa potência Operação com reduzido volume de emissões Estruturas leves e eficientes Eficiência aerodinâmica e baixo consumo Aeroacústica Avançadas ferramentas de Engenharia e Simulação 'Métodos, Ferramentas e Processos em Engenhari de Sistemas (“Systems Engineering”) 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D APT Redução nos níveis de ruído externo Aumento da qualidade ambiental na manufatura e descarte Resultados 2010 • Estruturas leves • Sistemas Embarcados • Modelagem Os resultados, no horizonte de 2023, obtidos da execução da agenda tecnológica, através do engajamento da cadeia produtiva aeronáutica brasileira nas áreas de pesquisa tecnológica indicada, e em coordenação com as empresas âncoras do setor no país, deverão se traduzir nos seguintes valores agregados à agenda: Quanto aos Desafios da Minimização dos Custos Operacionais (item 6.3.1): 101 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 1. Redução do custo de viagem. 2. Aumento da eficiência operacional da aeronave. Quanto aos Desafios da Atratividade ao Usuário para a Competitividade (item 6.3.2): 1. Viagens mais confortáveis. 2. Custos de desenvolvimento razoáveis, apesar do aumento de complexidade. Quanto aos Desafios do Ciclo de Vida da Aeronave para a Competitividade (item 6.3.3): 1. Time-to-market competitivo. 102 Quanto aos Desafios da Segurança na Cabine de Comando (item 6.4.1): 1. Redução das taxas de acidentes. 2. Redução das possibilidades de ocorrência de acidentes por erro humano. Quanto aos Desafios das Operações Aéreas no Séc. XXI (item 6.4.2): 1. Melhor uso do espaço aéreo e otimização do fluxo aéreo. 2. Adequação segura às novas realidades do transporte aéreo. 3. Redução das possibilidades de sucesso das ações terroristas. Quanto aos Desafios para Mitigar Consequências (item 6.4.3): 1. Aumento da possibilidade de sobrevivência em caso de acidentes. 1. Redução das emissões de CO2. 2. Redução das emissões NOx. Quanto aos Desafios de Preservação para as Futuras Gerações (item 6.5.2): 1. Redução dos níveis de ruído externo. 2. Aumento da qualidade ambiental na manufatura e descarte. 3.8 Recomendações sobre a agenda de P&D 1. Divulgar para toda a cadeia produtiva aeronáutica brasileira o P&D Pré-competitivo deste estudo, no sentido de fomentar o engajamento das ICTs e MPMEs do setor nas aéreas de pesquisa tecnológica de indução à geração, em torno de 2010, dos produtos macrodenominados de Estruturas leves, Sistemas embarcados e Modelagem virtual da aeronave completa. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D Quanto aos Desafios para Operação “Verde” (item 6.5.1): 103 Estudo Prospectivo – Aeronáutico NOTAS 1 É certo que muitas das tecnologias embarcadas interagem com os sistemas em solo. Estes, porém, não estão considerados na agenda porque os desdobramentos dos desafios ocorrem de maneira diferente. 2 GSE: Sigla em inglês para Equipamentos de Suporte à Operação em Solo (Ground Support Equipment). 3 Desafios e perspectivas para a pesquisa tecnológica (Estados Unidos): FAA – Federal Aviation Administration, http://www.faa.gov/ education_research/research/ , NASA – National Aeronautics and Space Administration, http://www.nasa.gov/about/budget/index. html, OSTP – Office of Science and Technology Policy, http://ostp.gov/html/NationalAeroR&DPolicy12-19-06.pdf 4 Desafios e perspectivas para a pesquisa tecnológica (Europa): ACARE – Advisory Council for Aeronautics Research in Europe, www. acare4europe.org , Também: Comissão Europeia – Diretório Geral de Pesquisa, 7° Programa Quadro http://cordis.europa.eu/fp7/ cooperation/transport_en.html 5 Por exemplo: Conversões de aeronaves de transporte de passageiros para aeronave cargueira; adequação a novos boletins de serviços e diretrizes de aeronavegabilidade, entre outros. 104 6 Da sigla em inglês Maintenance, Repair and Overhaul (Manutenção, Reparos e Revisão Geral) 7 Na nomenclatura aeronáutica, a diferença entre acidentes e incidentes é que no primeiro há vítimas fatais. 8 Utiliza-se aqui a nomenclatura da The Design Society, http://www.designsociety.org 9 Systems Engineering: INCOSE – International Council On Systems Engineering, http://www.incose.org/ 10 Na nomenclatura aeronáutica são chamados, respectivamente, de material costs e de labour costs 11 Mesmas condições atmosféricas, de carga paga, entre outras. 12 Força física contrária ao movimento da aeronave, originada pelo fato de a aeronave deslocar-se em meio a um fluido, neste caso, o ar. 13 O motor é a fonte primária de energia na aeronave. Nele, a energia da queima do combustível é transformada em energia mecânica, que por sua vez é transformada em energia elétrica, pneumática, e hidráulica 14 A maioria dessas aeronaves utilizam plataforma originalmente civil. 15 Tecnologias, métodos e processos referentes a Desenvolvimento Integrado de Produtos, entendidas segundo as definições da The Design Society. 16 Da sigla em inglês Maintenance, Repair and Overhaul (Manutenção, Reparos e Revisão Geral) 17 Para mais informações do contexto segurança, veja também http://www.flightsafety.org a página do Flight Safety Foundation. 18 Segundo informações da Flight Safety Foundation. 19 Abreviatura do termo inglês Aproach and Landing Accident, ou seja, Acidentes no pouso e aproximação 20 CNS/ATM (Communication Navigation Surveillance / Air Traffic Management), ICAO, Conferência do Rio de Janeiro, http://www.icao. int/icao/en/ro/rio/index.html 21 Políticas e perspectivas para o tráfego aéreo na Europa: SESAR, http://www.sesar-consortium.aero, Também: Comissão Europeia: http://ec.europa.eu/transport/air_portal/sesame/ Políticas e perspectivas para o tráfego Aéreo nos Estados Unidos: Joint Planning and Development Office: http://www.jpdo.gov/ 23 As referências para este assunto são o comitê CAEP (Committee on Aviation Environmental Protection) da ICAO e o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) da ONU. 24 For Greener Skies: Reducing Environmental Impacts of Aviation, Committee on Aeronautics Research and Technology for Environmental Compatibility, National Research Council, 2002. 26 PARTNER – Partnership for AiR Transportation Noise and Emissions Reduction (MIT – Massachusetts Institute of Technology), 2005, http://web.mit.edu/aeroastro/partner/index.html 27 Esta iniciativa em particular afirma ter conseguido redução média de 6 dB por operação (Aeronave de referência: Boeing B767), economia de 500 lb de combustível e redução de 30% no NOx emitido abaixo de 3.000 pés 28 Tecnologias, métodos e processos referentes a Desenvolvimento Integrado de Produtos, entendidas segundo as definições da The Design Society. 3. Agenda de tecnologias para a competitividade P&D 22 105 4. ConsideraçõesXxxxxx finais Estudo Prospectivo – Aeronáutico A conclusão do estudo indicou as seguintes características principais do ambiente da indústria aeronáutica brasileira: • • • • Há uma marca de "brasilidade" cara à sociedade. Há um percentual de poder econômico a expandir. Há um grau de urgência que requer imediata mobilização. Há a necessidade de liderança político-institucional explícita. Ações coordenadas e efetivas (sobre esses e demais aprendizados registrados nos quatro relatórios produzidos) deverão operacionalizar os três pilares de estratégia para que a visão de futuro – ampliação da participação no mercado global – se estabeleça no período de 2008-2023: 108 1. Fortalecimento da base de P&D. 2. Aperfeiçoamento da institucionalidade setorial. 3. Fortalecimento da cadeia industrial aeronáutica. A lista de recomendações a seguir não esgota o aprendizado do estudo. Tanto é verdade que a primeira é no sentido da leitura e reflexão sobre o acumulado nos relatórios e principais documentos de referência à disposição do CGEE. 1. Validar o Estudo Prospectivo Setorial Aeronáutico, submetendo os quatro relatórios, principais referências e o conhecimento construído ao exame atento dos que assessorarão os tomadores de decisão. 2. Validar a priorização das ações estratégicas oferecidas no Capítulo 2 para maior impacto (a) no aperfeiçoamento do ambiente político-institucional da atividade industrial em aeronáutica; (b) no adensamento da cadeia produtiva aeronáutica; e (c) no fortalecimento das atividades de P&D pré-comercial ou (précompetitivo) via ação colaborativa indústria/governo. 4. Considerações finais 3. Validar o programa da cadeia produtiva, denominado P&D Pré-competitivo, consistindo de linhas de desenvolvimento de produtos ou tecnologias em estruturas leves e eficientes, sistemas embarcados e modelagem virtual. 4. Validar a proposta de financiamento público ao P&D Précompetitivo contido no Anexo I. 5. Validar a agenda de linhas de pesquisas tecnológicas que desdobram macrodesafios tecnológicos em desafios e esses em assuntos de pesquisa de interesse e vocação das MPMEs da cadeia industrial, comprometidas em elevarem-se a players no mercado global nas tecnologias de futuro. 6. Produzir e publicar na internet o documento de políticas públicas para o fortalecimento da competitividade da indústria aeronáutica brasileira tomando por referência os relatórios de perspectivas, de prospecção e o geral do estudo. Dar ênfase à mobilização do setor industrial e das bases de P&D das empresas no Brasil sobre o PréCompetitivo do Anexo I. 7. Realizar a gestão estratégica competitiva da agenda de linhas de pesquisa tecnológica do Capítulo 3, via participação de representantes da academia, indústria, governo, empresas aéreas, provedores de serviço e agências reguladoras, de acordo com a visão de futuro validada, aqui incluídas as revisões e conferências de resultados das ações estratégicas do Capítulo 2. 8. Produzir os Planos Executivos e fazer a gestão no sentido de que seus objetivos e metas sejam cumpridos. 109 5. Anexos Xxxxxx Estudo Prospectivo – Aeronáutico Anexo I P&D Pré-competitivo da Cadeia Produtiva O Estudo Prospectivo Aeronáutico elaborou uma agenda para o desenvolvimento de tecnologias aeronáuticas certificadas e competitivas no curto prazo (P&D Pré-Competitivo, na nomenclatura da indústria brasileira e estrangeira). Tal agenda necessita ter um pronto atendimento para gerar, de forma coordenada, uma oferta de produtos por volta de 2010, de modo que a Embraer possa incorporá-los às aeronaves da próxima geração. Não se trata de uma indicação de necessidades exclusivas da indústria nacional, mas, sobretudo, de oportunidades de exportação, em benefício de toda cadeia produtiva. 112 O item de capacitação tecnológica do setor, considerando principalmente a questão do P&D Pré-Competitivo, exige investimentos da ordem de R$ 1 bilhão no período de 2008-2012 (segundo a AIAB). Tais investimentos garantiriam a competitividade tanto de novos produtos lançados pela Embraer, a partir de 2010, quanto do setor no sentido de permitir o seu adensamento e penetração no comércio exterior. As principais áreas de desafio tecnológico são descritas no documento e estão relacionadas a estruturas leves, sistemas embarcados e modelagem. Os trabalhos deverão em parte ser realizados pelas próprias empresas, por meio do instrumento de subvenção, mas também deverão ser realizados projetos cooperativos com universidades e institutos de pesquisa, públicos ou privados. Sugerese criar redes de pesquisa nas principais áreas de interesse, assim como alguns laboratórios específicos, sempre levando em consideração aspectos multisetoriais, de modo a permitir a transferência para outros setores. A previsão em relação ao mercado comercial, executivo e de defesa é que entre 2010 e 2012 sejam lançados novos modelos pela Embraer, que já poderiam utilizar extensivamente avanços tecnológicos realizados entre 2008 e o momento de seu lançamento. Por outro lado, tipicamente Estruturas Leves e Eficientes P&D Pré-Competivivo Sistemas embarcados 5. Anexos o investimento em P&D, aliado ao aumento de produtividade e capacidade industrial, é da ordem de 6% do faturamento, com algumas exceções como deve acontecer em 2007/2008: previsão de investimento de US$ 460 milhões, com um aumento do faturamento moderado em relação aos US$ 3,8 bilhões de 2006. Materiais e Processos • Novos materiais metálicos; • Novos conceitos estruturais; e • Processos de fabricação em materiais compósitos [RTM (Resin Transfer Molding), RFI (Resin Film Infusion), Fiber-placement, entre outros]. Manufatura avançada • Novos métodos de junção de componentes e segmentos; • Ferramental flexível e reconfigurável; • Processos automatizados de montagem. Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivência em caso de acidentes • Projeto estrutural considerando crash worthiness (i.e., capacidade de a estrutura proteger seus ocupantes durante um impacto). Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves • Processos produtivos menos agressivos ao meio-ambiente. Sensoriamento e Saúde da Aeronave • Prognóstico e diagnóstico da saúde de sistemas; • Monitoramento de saúde estrutural; • Redes de sensores, incluindo aplicações de nanotecnologia. Integração de Sistemas e Software Embarcado • • • • • • • • • Combustíveis Alternativos para a Aviação • Procedimentos de operações ( pouso, decolagens e cruzeiro) para baixo nível de emissões atmosféricas; • Tecnologias de sensores para combustíveis alternativos; • Métodos, técnicas e processos de engenharia, e análises de segurança para permitir o uso de combustíveis alternativos. Tecnologias para um Ambiente de Cabine Diferenciado • Tecnologias para a redução de altitude de cabine; • Conceitos de Office-in-the-sky e Home-in-the-sky; • Tecnologias inovadoras para interiores de aeronaves (controle ativo de umidade, temperatura e iluminação; dispositivos eletrônicos; revestimentos; entre outros); • Design de interiores. Tecnologias para Prevenir e Evitar Acidentes • Métodos e processos para análise integrada de segurança de sistemas aero- Integração de Tecnologias Embarcadas para CNS/ATM Fly-By-Wire (sistemas de controle de voo assistidos por computador); Controle adaptativo; Comunicação de dados sem fio; Fusão de dados; Software embarcado; Tecnologias para Aeronave mais Elétrica; Células a Combustível; IMA (Integrated Modular Avionics) e IME (Integrated Modular Eletronics); Métodos e processos para projeto e certificação de sistemas complexos e integrados. náuticos (Integrated Safety Assessment); • Tecnologias embarcadas (sensores, sistemas, etc.) para a detecção de ameaças atmosféricas, tais como: windshear (variações abruptas de vento); vorticidade de esteira (no pouso em voo); gelo, ventos adversos, e entre outros; • Automatização das rotinas de pouso. Verificação automática de segurança; • Rotinas e sistemas de correção de erros humanos na pilotagem; • Tecnologias de suporte a uma melhor integração homem-máquina no cockpit (na cabine de comando). • Sistemas para suportar, com segurança, decisões colaborativas piloto-controlador de voo; • Sistemas que permitam trafegar em ambientes de gestão de trajetórias, planejamento colaborativo de rotas, e redução de separação mínima. Continua 113 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Figura 19 Continuação P&D Pré-Competivivo Modelagem virtual 114 Eficiência Aerodinâmica e Baixo Consumo • Métodos e ferramentas para predição de gelo (icing), e voo em condições atmosféricas adversas; • Aeroelasticidade (modelamento das interações entre forças inerciais, elásticas e aerodinâmicas); • Projeto aerodinâmico com novos dispositivos hipersustentadores. Aeroacústica • Conceitos e tecnologias para redução de ruído na fonte (soluções estruturais e aerodinâmicas de baixo ruído externo); • Procedimentos de operações geradores de baixo ruído externo (Noise abatement); • Estudos de configurações acusticamente ótimas para a instalação dos motores; • Simulações aeroacústicas para ruído externo, considerando projeto integrado de aerodinâmica-estrutura para minimização de efeitos sonoros; • Simulações aeroacústicas para ruído interno. Avançadas Ferramentas de Engenharia e Simulação • Realidade virtual; • Simulações para engenharia em sistemas aeronáuticos (pneumático, mecânico, hidráulico, aeronave mais elétrica, etc.): ferramentas VIB – Virtual Iron Bird (modelo computadorizado de aeronave para verificação de seus sistemas). Otimização do Projeto Aeronáutico • Ferramentas de Engenharia Baseada no Conhecimento (automação de processos de engenharia); • Otimização multidisciplinar. Métodos, Ferramentas e Processos em Engenharia de Sistemas • Modelagem de sistemas aeronáuticos utilizando Engenharia de Sistema (Systems Engineering); • Processos de V&V (Validação e Verificação); • Métodos e técnicas para a integração de sistemas (Systems Integration). Figura 19 P&D Pré-competitivo da cadeia produtiva para o horizonte de 2012 Dos recursos mencionados acima, uma parcela de R$ 660 milhões viriam do Governo, com uma contrapartida financeira e econômica da ordem de R$ 350 milhões do setor como um todo. O Quadro 1, que resume os recursos governamentais por área tecnológica encontra-se no final do presente anexo. O desafio tecnológico de curto/médio prazo para manter a competitividade do setor aeronáutico está ligado essencialmente a três linhas de ação, que estão interligadas: 1. Estruturas leves: o foco é a capacidade de projetar, analisar, produzir, ensaiar e certificar estruturas que incorporam novos 5. Anexos conceitos estruturais, novos materiais e novos processos de junção de componentes e segmentos. A questão chave aqui está em estudar novos conceitos estruturais, que permitam a aplicação tanto de tecnologias já dominadas como novos materiais em arranjos inovadores, tirando o máximo proveito de processos avançados de manufatura. 2. Sistemas Embarcados: o foco está na capacidade de desenvolver e integrar sistemas, incluindo o software embarcado, em arquiteturas avançadas (com alta complexidade e integração), assim como a aplicação de processos de certificação mais eficazes e robustos. Além disso, também são relevantes os aspectos ligados ao design, conforto e entretenimento na cabine de passageiros, a questão ambiental (principalmente combustíveis alternativos) e a segurança de voo (incluindo fatores de navegação e controle). 3. Modelagem: o foco está no desenvolvimento de metodologias que permitam a integração de tipos diversos de modelos, de forma a se poder ter um “avião virtual” completo, que considerem tanto os seus sistemas individuais (hidráulico, ar condicionado, aviônico, elétrico, propulsão e outros) quanto questões estruturais, aerodinâmicas, acústicas e de desempenho. Além disso, é relevante a capacidade de se ter um processo de desempenho multidisciplinar ótimo, que permita tirar o máximo proveito do modelo integrado da aeronave, buscando soluções mais eficazes com menor custo de desenvolvimento. Tecnologias CNS/ATM: O objetivo das tecnologias CNS/ATM (Communication Navigation Surveillance/Air Traffic Management) é alcançar o paradigma que muda o gerenciamento do controle de tráfego de um sistema tradicional (no qual os provedores de serviços de navegação aérea – ANSP - impõem soluções para os usuários do 115 Estudo Prospectivo – Aeronáutico espaço aéreo) para a condição onde os próprios usuários possuem uma trajetória quadridimensional (na qual o tempo é a quarta dimensão para cada voo e há uma gestão colaborativa das mesmas). Em resumo: o gerenciamento do controle de tráfego aéreo passa da centralização pelo provedor de serviço para a centralização pelo usuário, cuja concepção é a de que cada voo terá uma trajetória ideal: rota direta, de decolagem ou pouso, nas melhores altitudes e velocidades, aliado ao conceito de espaço aéreo flexível e dinâmico. Estas três linhas de ação (onde Tecnologias CNS/ATM poderiam constituir uma quarta) são relevantes para o setor aeronáutico brasileiro, tanto para a Embraer (como empresa-âncora) quanto para as outras empresas, cujos negócios hoje estão centrados em manufatura (desde usinagem até produção de segmentos) e serviços de engenharia/ desenvolvimento de produtos. 116 Com o objetivo de fortalecer o setor e garantir a sua perpetuidade, tais empresas devem buscar oportunidades no exterior, sem depender exclusivamente da Embraer, uma vez que o faturamento do setor aeroespacial brasileiro representa cerca de 2% do faturamento mundial (excluindo China, Índia e Rússia). Assim, para manter as chances de vendas no exterior de componentes e segmentos, por exemplo, será necessário que as empresas incorporem a capacidade de produzir estruturas leves dentro dos novos conceitos que estão sendo desenvolvidos (ver item 1 acima). Da mesma forma, as empresas que trabalham com a venda de serviços de engenharia também precisam ter familiaridade com as técnicas de modelagem avançadas tratadas no item 3, assim como ter capacidade instalada de desenvolver software embarcado, conforme as regras mencionadas no item 2. O cruzamento entre essas linhas de ação e as linhas de pesquisa tecnológica do capítulo 3, permite concluir que os principais temas de I.1 Estruturas leves 5. Anexos interesse são os que se seguem. I.1.1 Estruturas leves e eficientes: Aplica-se ao uso de novos materiais (metálicos, compósitos ou híbridos, inclusive com recursos de nanotecnologia), explorando novos conceitos estruturais que levem em conta processos de junção ainda em desenvolvimento (tipo friction stir welding) assim como tecnologias de fabricação em materiais compósitos (RTM, RFI e FP, entre outros). As características de propagação de ruído e vibração pela estrutura, assim como outros aspectos ligados a sistemas (tais como uso da asa como tanque de combustível e comportamento eletromagnético), precisam ser mantidos ou melhorados em relação às estruturas tradicionais. I.1.2 Manufatura avançada: Aplica-se ao estudo de novos métodos de junção de componentes e segmentos, incluindo processos automatizados de montagem e conceitos de ferramental flexível/reconfigurável. I.1.3 Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivência em caso de acidentes: No curto prazo, este item está principalmente associado ao I.1.1, considerando aspectos de crash worthiness. I.1.4 Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves: No curto prazo, este item está associado aos dois primeiros, I.1.1 117 Estudo Prospectivo – Aeronáutico e I.1.2, considerando a utilização de processos produtivos menos agressivos ao meio-ambiente. I.2 Sistemas Embarcados I.2.1 Sistemas embarcados e equipamentos: Refere-se ao desenvolvimento de tecnologias que permitam o domínio desses sistemas e equipamentos no país, considerando suas aplicações em aeronaves leves ou atualizações tecnológicas necessárias de aeronaves de maior porte. I.2.2 Sensoriamento e saúde da aeronave: 118 Aplica-se ao estudo de metodologias e sensores associados ao prognóstico e diagnóstico da saúde de sistemas em geral, assim como da própria estrutura, considerando, neste último caso, aspectos de fadiga, propagação de trincas e corrosão, por exemplo. O mais importante é identificar a provável vida útil de sistemas e componentes estruturais, de modo a permitir realizar atividades de manutenção apenas quando necessário. A questão de rede de sensores é de extrema relevância, considerando-se questões de transmissão de dados, confiabilidade dos componentes, capacidade de controle e atuação dos sensores utilizados, entre outros. I.2.3 Integração de sistemas e software embarcado: Aplica-se ao estudo de uma série de tecnologias, conforme lista a seguir: • Fly-By-Wire; • Controle adaptativo; Comunicação de dados sem fio; Fusão de dados; Software embarcado; Tecnologias para a aeronave mais elétrica. Células a Combustível; IMA (Integrated Modular Avionics) e IME (Integrated Modular Electronics); • Métodos e processos para projeto e certificação de sistemas complexos e integrados. 5. Anexos • • • • • • I.2.4 Motores aeronáuticos de baixa potência: Aplica-se ao desenvolvimento de tecnologias que permitam estabelecer o domínio tecnológico no país de motores aeronáuticos de baixa potência. I.2.5 Combustíveis alternativos na aviação: Aplica-se ao estudo de combustíveis alternativos. Inclui métodos e processos de engenharia e visa realizar análises de segurança e de compatibilidade de modo a permitir o uso de possíveis novos combustíveis em aeronaves atuais. Também está incluído aqui o estudo de procedimentos de operações (pousos, decolagens e cruzeiros) que possam minimizar o nível de emissões atmosféricas. I.2.6 Tecnologias para um ambiente de cabine diferenciado: Aplica-se ao estudo de tecnologias inovadoras de interiores de aeronaves (controle ativo de umidade, temperatura e iluminação, dispositivos eletrocrômicos e novos revestimentos, entre outros), bem como do próprio design do interior, com o objetivo de fornecer maior conforto aos passageiros, incluindo aspectos ergonômicos. Na questão de conforto 119 Estudo Prospectivo – Aeronáutico e facilidade, podem também ser consideradas técnicas para redução da altitude de cabine, assim como a implantação de sistemas que permitam adotar os conceitos de Office-in-the-sky (principalmente para aviação executiva) e Home-in-the-sky (com alguma ênfase em entretenimento). I.2.7 Tecnologias para prevenir e evitar acidentes: Aplica-se ao estudo de métodos e processos para análise integrada de segurança de sistemas aeronáuticos (Integrated Safety Assessment), assim como tecnologias embarcadas para a detecção de ameaças atmosféricas (windshear, vorticidade de esteira, gelo, ventos adversos, entre outros). Também inclui tecnologias de suporte a uma melhor integração homemmáquina na cabine de comando (cockpit), considerando automatização das rotinas de pouso e sistemas de correção de erros humanos na pilotagem. 120 I.2.8 Integração de tecnologias embarcadas para CNS/ATM (Communication Navigation Surveillance/Air Traffic Management): Aplica-se ao estudo de sistemas para suportar, com segurança, decisões colaborativas piloto-controlador de voo, assim como sistemas que permitam trafegar em ambientes de gestão de trajetórias, planejamento colaborativo de rotas e redução de separação mínima. I.2.9 Tecnologias CNS/ATM I.2.9.1 Novos sistemas para navegação aérea: Aplica-se ao uso de novos sistemas que permitam aumentar a precisão dos dados de localização, a serem manuseados pelos usuários e para a automação do sistema de gerenciamento de tráfego aéreo em todas as fases de operação em voo e no solo. Aplica-se ao uso de novos sistemas que transmitam dados e comunicações de forma digital (sem uso de voz) para execução da automação do processo de controle e gerenciamento de tráfego. 5. Anexos I.2.9.2 Sistemas de comunicação VHF/UHF digitais: I.2.9.3 Sistemas de enlaces de dados digitais: Aplica-se a equipamentos que realizam interface entre os sistemas de solo e de bordo para transmissão de dados digitais. I.2.9.4 Sistemas de vigilância automática dependente (ADS): Aplica-se a equipamentos que, ao fazer uso de sistemas de aumentação de posicionamento de navegação na área terminal, transmite dados da posição, velocidade e outros, das aeronaves para o solo e aumenta a sua precisão, eliminando o uso de radares secundários. I.2.9.5 Sistemas de gerenciamento de tráfego aéreo: Aplica-se ao desenvolvimento do software necessário à referida atividade de automação de todo processo de vigilância e gerenciamento do tráfego aéreo, garantindo desempenho ótimo e racionalidade no uso do espaço aéreo. I.3 Modelagem virtual I.3.1 Eficiência aerodinâmica e baixo consumo: Aplica-se ao estudo de métodos e ferramentas para predição de gelo (icing) e voo em condições atmosféricas adversas, aeroelasticidade (principalmente aspectos de controle, ou seja, aeroservoelasticidade) e projeto aerodinâmico inovador, tais como novos dispositivos hiper121 Estudo Prospectivo – Aeronáutico sustentadores e configuração da fuselagem. I.3.2 Aeroacústica: Aplica-se ao estudo de metodologias e ferramentas para análise de ruído externo. Corresponde a projeto integrado de aerodinâmicaestrutura para minimização de efeitos sonoros, além do estudo de conceitos e tecnologias para redução de ruído na fonte, incluindo configurações acusticamente ótimas para a instalação dos motores. Além disso, devem ser considerados procedimentos de operações geradores de baixo ruído externo, o que é conhecido com noise abatement. Por último, também se aplica ao estudo de metodologias e ferramentas para ruído interno. 122 I.3.3 Avançadas ferramentas de engenharia e simulação: Aplica-se ao estudo de técnicas avançadas de realidade virtual, assim como metodologias e ferramentas que permitam melhorar a capacidade de integração do ambiente de desenvolvimento colaborativo. Além disso, visa o estudo de metodologias e ferramentas que permitam a simulação integrada de sistemas aeronáuticos (pneumático, mecânico, hidráulico, aeronave mais elétrica, etc.), de modo a se ter um Iron Bird virtual. I.3.4 Otimização do projeto aeronáutico: Aplica-se ao estudo de metodologias e ferramentas de engenharia baseada no conhecimento (ou seja, a automação de processos de engenharia), assim como o estudo de ambientes integrados que permitam a realização em larga escala de desempenho multidisciplinar ótimo do projeto aeronáutico. 5. Anexos I.3.5 Métodos, ferramentas e processos em Engenharia de Sistemas (Systems Engineering): Aplica-se ao estudo de modelagem de sistemas aeronáuticos utilizando práticas de engenharia de sistemas (Systems Engineering), incluindo aqui os processos de validação e verificação (V&V) e métodos e técnicas para integração de sistemas. O investimento total necessário para impulsionar a competitividade nas áreas tecnológicas mencionadas acima (pré-competitivo da cadeia produtiva aeronáutica) é estimado como sendo da ordem de R$ 1 bilhão no período de 2008-2012. Desses recursos, uma parcela de R$ 660 milhões deve vir do governo, com uma contrapartida financeira e econômica da ordem de R$ 350 milhões do setor como um todo. O resumo dos recursos governamentais por área do pré-competitivo é apresentado a seguir. 123 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Quadro 3 Investimento para impulsionar a competitividade via o P&D pré-competitivo (em R$ 1 milhão) 2008 2009 2010 2011 2012 I.1 Estruturas leves 37 35 37 38 40 I.1.1 Estruturas leves e eficientes 25 20 22 23 25 I.1.2 Manufatura avançada 8 10 10 10 10 I.1.3 Tecnologias para maximizar as possibilidades de sobrevivência em caso de acidentes 2 3 3 3 3 I.1.4 Técnicas e processos para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte de aeronaves 2 2 2 2 2 2008 2009 2010 2011 2012 124 I.2 Sistemas embarcados I.2.1 Equipamentos e sistemas embarcados I.2.2 59 59 60 60 59 2 2 3 5 5 Sensoriamento e saúde da aeronave 15 15 12 13 13 I.2.3 Integração de sistemas e software embarcado 18 18 20 17 17 I.2.4 Motores aeronáuticos de baixa potência 5 5 -- 5 5 I.2.5 Combustíveis alternativos na aviação 7 7 7 7 7 I.2.6 Tecnologias para um ambiente de cabine diferenciado 5 5 5 5 5 I.2.7 Tecnologias para prevenir e evitar acidentes 3 3 3 3 3 I.2.8 Integração de tecnologias embarcadas para CNS/ATM 4 4 5 5 4 I.2.9 Tecnologias CNS/ATM 24 24 22 10 5 I.2.9.1 Sistemas de aumentação para navegação aérea 5,5 5,5 5,5 3 -- I.2.9.2 Sistemas de comunicação VHF/UHF digitais 5 5 5 -- -- I.2.9.3 Sistemas de enlaces de dados digitais 3,5 3,5 3,5 -- -- I.2.9.4 Sistemas de vigilância automática dependente (ADS) 4 4 3 2 -- I.2.9.5 Sistemas de gerenciamento de tráfego aéreo 6 6 5 5 5 2008 2009 2010 2011 2012 I.3 Modelagem virtual 19 21 18 17 16 I.3.1 Eficiência aerodinâmica e baixo consumo 5,5 5,5 5,5 3 -- I.3.2 Aeroacústica 5 5 5 -- -- I.3.3 Avançadas ferramentas de engenharia e simulação 3,5 3,5 3,5 -- -- I.3.4 Otimização do projeto aeronáutico 4 4 3 2 -- I.3.5 Métodos, ferramentas e processos em Engenharia de Sistemas 6 6 6 5 5 139 139 137 125 120 Total de investimentos do Governo R$ 660 milhões = O histórico da indústria aeronáutica brasileira (documentado para o estudo por meio do relatório de perspectivas setoriais) e a análise de outros mercados competidores (vide relatório do panorama setorial) permitem identificar fatores críticos de sucesso, necessários à base industrial e ao governo para a construção de uma estratégia para o setor: 5. Anexos Anexo II Diretrizes (Fatores críticos de sucesso) 1. Uma liderança empreendedora, bem articulada e perseverante, com capacidade de gestão dos processos envolvidos. 1. 1. Massa crítica de recursos humanos especializados. 1.1.1 Produtos voltados para a dinâmica do mercado. 1.1.2 Acesso a tecnologias modernas e adequadas aos produtos desenvolvidos. 1.1.3 Disponibilidade de sistemas e de materiais de construção aeronáutica. 1.1.4 Disponibilidade de infraestrutura para desenvolvimento. 1.1.5 Apoio político-institucional. 1.1.6 Linhas de financiamento para desenvolvimento, produção e comercialização de aeronaves. O estudo identifica ainda os seguintes motivadores de estratégias, que nortearam os debates de formulação de diretrizes para o setor: 1. Há um significativo impacto na projeção internacional do Brasil. 2. Há tentativas de controle transnacional, por meio de ações de governos, tratados e regimes informais. 3. Há a necessidade de suporte governamental, em incentivos fiscais e financiamentos, de modo a fazer frente à intensividade de capital e de investimentos em inovação para elevação dos níveis de competitividade aeronáutica brasileira. 125 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Para o agrupamento das diretrizes produzidas pelos colaboradores do Estudo, as seguintes dimensões setoriais, de significativa correlação com a competitividade da indústria aeronáutica, foram estabelecidas: financiamento, infraestrutura física, mercado, político-institucional, recursos humanos e tecnologia. Assim, para cada dimensão, por debates de ideias entre os colaboradores, consultores e equipe do estudo, tanto em ambiente de oficina de trabalho quanto em articulações técnicas interpessoais, foram elaboradas as seguintes diretrizes por dimensão setorial: II.1 Diretrizes: Financiamento (DF) 126 Conforme indica o relatório prospectivo aeronáutico, no segundo nível da cadeia produtiva encontra-se 155 fornecedores que desenvolvem na aeronáutica os seus mais importantes negócios. A maioria deles é composta por pequenas e médias empresas, sem capacidade de se autofinanciar ou de levantar financiamentos no mercado. Além disso, por suas dimensões, essas empresas não têm base tecnológica e não usufruem de benefícios de escala, particularmente de insumos importados. Sob essas perspectivas e embasados nos fatores críticos de sucesso e nos motivadores de estratégia para a indústria aeronáutica, as oficinas produziram as seguintes diretrizes em financiamento: 1. Assegurar linhas de financiamento às MPMEs para garantir crédito à exportação e linhas específicas com juros razoáveis para a compra de bens de capital ou para o leasing de máquinas e equipamentos necessários à modernização e à expansão do parque produtivo doméstico, assim como para capital de giro. 2. Criar mecanismos facilitadores de importação de máquinas, equipamentos e outros bens de capital, sem similares nacionais. 5. Anexos 3. Criar mecanismos de financiamento aplicáveis a meios de produção importados. 4. Fortalecer mecanismos não-reembolsáveis, principalmente pela adoção de mecanismos eficientes para o acompanhamento das alocações já efetuadas, assim como para as futuras alocações, disponibilizando recursos mais significativos para projetos précompetitivos. Dada a dimensão atual do setor, são necessários cerca de R$ 60 milhões em cinco anos. 5. Desenvolver mecanismos de garantia ao crédito, criando uma gestão integrada do apoio público ao setor (desde as fases mais arriscadas) de desenvolvimentos tecnológicos embrionários (até a fase de produção em escalas comerciais), o que tornará flexível e ágil o processo de análise e contratação futura dos recursos, incluindo a questão de garantias reais. 6. Criar fundos de capital de risco e de recebíveis. 7. Elevar o nível de atividade industrial das MPMEs mediante o apoio de uma política operacional específica do BNDES que contemple não só o financiamento aos investimentos, como também leve em consideração a necessidade de que as empresas do setor passem por processos de consolidação societária (fusões e aquisições). 8. Ter como mecanismo principal o fomento direto às empresas, mesmo quando existirem programas simultâneos de cooperação com ICTs via fundos setoriais ou outros instrumentos de apoio. II.2 Diretrizes: Infraestrutura (DIE) A infraestrutura da indústria aeronáutica no país pode ser identificada nos subconjuntos do setor aeroespacial. Nela estão compreendidos (conforme aponta o relatório prospectivo desse Estudo) todos os aeroportos, parques tecnológicos e logísticos, instalações de integração e teste de sistemas aeroespaciais, laboratórios, centros de conhecimento, redes, sistemas de informação, de radares, de 127 Estudo Prospectivo – Aeronáutico comunicações, navegação, vigilância e controle do espaço aéreo e todos os serviços correlatos dispostos no Código Brasileiro de Aeronáutica. Participam deste segmento a Infraero e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), do Comaer. A disponibilidade de uma infraestrutura laboratorial para apoio à indústria no desenvolvimento e certificação de novos produtos aeronáuticos é fundamental para a manutenção do setor. Como ela é cara e específica, apenas grandes empresas ou centros de pesquisa governamentais são capazes de possuí-las e de mantê-las em operação e atualizadas. Sob essas perspectivas e embasados nos fatores críticos de sucesso e nos motivadores de estratégias para a indústria aeronáutica, as oficinas produziram as seguintes diretrizes em infraestrutura: 128 1. Fortalecer o Parque Tecnológico de São José dos Campos nos seus papéis de incubador, formador de clusters, adensador de cadeia, indutor da profissionalização da gestão das empresas, apoiador e empregador de recursos humanos. 2. Fortalecer todos os segmentos e sistemas de infraestrutura, previstos no Código Brasileiro de Aeronáutica. 3. Fortalecer e direcionar a infraestrutura científico-tecnológica para o desenvolvimento de tecnologias definidas como prioritárias. 4. Fortalecer a infraestrutura de certificação da ANAC e do CTA, aplicável tanto a produtos civis como a produtos militares, sem prejuízo da relevância da certificação de sistemas produtivos industriais ou prestadores de serviços. 5. Estimular os agrupamentos industriais e de disseminação tecnológica em suas diferentes dimensões (parques tecnológicos, clusters, incubadoras e arranjos produtivos locais). Entre as 100 maiores empresas mundiais aeroespaciais, a Embraer, (empresa âncora da indústria aeronáutica brasileira), ocupava, em 2006, o 24º lugar. No campo da aviação civil, a empresa encontravase em 6º lugar e no campo de aviões comerciais, em 3º lugar. Ela é responsável por 2,4% das exportações gerais no país. Apenas a indústria aeronáutica tem apresentado saldo exportador positivo na balança comercial do país, no setor de alta e médio-alta intensidade tecnológica. 5. Anexos II.3 Diretrizes: Mercado (DM) Contudo, as empresas da cadeia produtiva aeronáutica brasileira (nela incluída a Embraer) devem buscar oportunidades no exterior, uma vez que o faturamento do setor aeroespacial brasileiro (do qual o aeronáutico é subconjunto) representa somente cerca de 2% do faturamento mundial, excluídas as receitas de China, Índia e Rússia. Sob essas perspectivas (e outros dados de mercado levantados para os relatórios do panorama e prospectivo do Estudo) e embasados nos fatores críticos de sucesso e ainda nos motivadores de estratégia para a indústria aeronáutica, as oficinas produziram as seguintes diretrizes na dimensão mercado: 1. Estabelecer a política pública de compra governamental, dando prioridade à empresa nacional. 2. Elevar o nível de atividade industrial das MPMEs do setor por meio de uma linha específica do BNDES (semelhante aos mecanismos da diretriz de financiamento 7). 3. Agregar demandas para viabilizar a produção aeronáutica em insumos e sistemas já identificados como estratégicos (Exemplo: materiais avançados e sistemas sensores). 4. Aplicar os mecanismos existentes do poder concedente de 129 Estudo Prospectivo – Aeronáutico compra do governo, visando à ampliação do mercado a ser explorado pelas MPMEs do Brasil, decorrente da aquisição de aeronaves comerciais no exterior. 5. Estimular as MPMEs a se transformarem em empresas sistêmicas (fornecedoras de peças acabadas, de segmentos estruturais e de subsistemas), assumindo um nível mais elevado dentro da cadeia de suprimentos, de modo a agregar maior valor na sua produção e conquistar novos mercados. 6. Apoiar a promoção comercial externa das MPMEs. II.4 Diretrizes: Político-Institucional (DPI) A dimensão político-institucional da indústria aeronáutica foi identificada como prioritária e, consequentemente, para a elaboração de uma pauta de diretrizes, já na primeira fase do estudo, i.e., do panorama. 130 Expediram-se alertas quanto à volatilidade do apoio políticoinstitucional no Brasil. Sem esse apoio, dificilmente uma indústria de alta tecnologia pode se tornar viável no país. Além disso, várias iniciativas de industrialização que receberam apoio políticoinstitucional no início de suas operações não prosperaram justamente quando o apoio foi cortado. A perenidade do apoio políticoinstitucional é, por conseguinte, muito importante como empuxo de partida para a decolagem e como combustível para manter as indústrias em voo de cruzeiro. O apoio político-institucional constitui, de fato, ferramenta indispensável aos ganhos de competitividade das empresas brasileiras. Tal a importância do apoio político-institucional que, nas fases conclusivas do estudo, a criação de uma institucionalidade adequada tornou-se parte da macroestratégia para o setor. Por uma institucionalidade adequada entende-se a consolidação de mecanismos de apoio, tais como a infraestrutura de PD&I, um ambiente nacional propício para 5. Anexos atender a indústria aeronáutica (de alta tecnologia dual), mediante a criação de políticas públicas de apoio ao setor (política de compras governamentais e o fortalecimento da cadeia produtiva). Com base nesses pontos nos fatores críticos de sucesso, nos motivadores de estratégia para a indústria aeronáutica, as oficinas definiram, na dimensão político-institucional, as seguintes diretrizes: 1. Viabilizar compras de governo prioritariamente junto à indústria brasileira e de produtos importados somente com arranjos inteligentes de offset para absorção de novas tecnologias. 2. Criar uma política estratégica e prioritária para o setor aeronáutico, inserida tanto na PITCE como numa política industrial voltada para a indústria de defesa. 3. Dar prioridade à indústria nacional, mediante uma lei de compra de produtos aeroespaciais, que favoreça os produtos nacionais. 4. Fortalecer a estrutura de certificação da ANAC, tanto de produtos como de sistemas produtivos, possibilitando-a operar na fronteira tecnológica por meio de mecanismos adequados de sustentação. 5. Estabelecer mecanismos institucionais para integrar os esforços das ICTs nas atividades de PD&I consideradas estratégicas. 6. Conceber, aperfeiçoar e disseminar instrumentos de apoio à inovação, fortalecendo todas as etapas do desenvolvimento tecnológico das empresas e identificando as instituições responsáveis por cada uma dessas etapas. 7. Simplificar e tornar ágeis os processos aduaneiros. 8. Fortalecer e estruturar uma entidade responsável pela gestão de acordos de compensação (offset) aplicáveis à aviação civil, em coordenação com a indústria. 9. Proceder à isonomia tributária de toda a cadeia produtiva, promovendo a desoneração para a competitividade com os 131 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 132 fornecedores estrangeiros desde a importação da matéria-prima. 10. Fortalecer uma instituição representativa do setor que possa servir de interlocutora entre os diversos atores. 11. Desenvolver mecanismos para melhor aproveitamento das parcerias nacionais e internacionais, em particular com foco na manutenção da representatividade e da relevância do papel do Brasil frente à ICAO. 12. Investir na dualidade civil/militar como fator de agregação de demanda, aumento de escala e possibilidade de exportação. 13. Criar legislação diferenciada para aquisições governamentais no setor de CT&I. 14. Atualizar o Código Brasileiro de Aeronáutica face às recentes mudanças no cenário da aviação civil. 15. Revisar a estrutura da Comissão de Coordenação do Transporte Aéreo Civil – COTAC, incluindo todos os segmentos do poder aeroespacial. 16. Buscar mecanismos para fortalecer a engenharia da aeronáutica nacional, civil e militar. II.5 Diretrizes: Recursos Humanos (DRH) A dimensão de recursos humanos é tão fundamental para a geração de riquezas através da tecnologia que o próprio Alberto Santos-Dumont percebeu, no início do século passado, a sua importância para as aeronaves do futuro. Ele recomendou a criação de instituições de ensino de aerodinâmica, de materiais e processos, de estruturas e construções de aparelhos aéreos e de pesquisa de materiais e motores, bem como de ensino de comunicações aéreas e de meteorologia. Cada país, dizia ele, deveria desenvolver sua própria tecnologia. Com isto, a primeira política adotada no país foi a de formação de recursos humanos especializados, com o ato do governo de criação do ITA, em 1945, e a segunda, a de independên- A criação da Embraer demonstrou existir no Brasil, duas décadas após a criação do ITA, massa crítica de recursos humanos especializados e capacidade técnica para tornar viável a visão de Santos-Dumont. Esta conjunção de fatores permitiu manter vivo o objetivo por ele proposto, apesar das dificuldades conjunturais de mercado e dos altos riscos associados aos projetos do setor aeronáutico ao longo das últimas cinco décadas. 5. Anexos cia tecnológica, conforme relatado no documento de perspectivas aeronáuticas do estudo. Pela absoluta necessidade de recursos humanos especializados e seu elevado envolvimento nas atividades de aeronáutica (só a Embraer emprega quase 20 mil pessoas), as oficinas do estudo produziram as seguintes diretrizes na dimensão de recursos humanos: 1. Viabilizar mecanismos de formação, atração e fixação de recursos humanos na cadeia produtiva, com a criação de novas escolas (corporativas ou não) de engenharia aeronáutica e de centros industriais de PD&I. 2. Ampliar a formação de engenheiros e de pós-graduados para atender às necessidades de engenharia de produção, desenvolvimento, concepção e certificação da indústria aeronáutica. 3. Ampliar a formação de técnicos de nível médio e de tecnólogos para atender as necessidades de engenharia de certificação, de operação, de manutenção e de produção da indústria aeronáutica. 4. Estimular a cooperação com organismos nacionais e internacionais, públicos e privados, com o objetivo de preparar recursos humanos qualificados. 5. Preparar recursos humanos especializados em aeronáutica com 133 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 6. 7. 8. 9. 10. 134 11. uma visão moderna e percepção global, incluindo aspectos multidisciplinares em engenharia e em ciências sociais (economia, sociologia, administração, entre outras) e da saúde (fisiologia, psicologia e ergonomia). Preparar aeronautas, aeroviários e pessoal de apoio em solo em quantidade e qualidade compatíveis com as crescentes demandas, tanto produtivas como de certificação e de fiscalização, da aviação civil. Estimular o desenvolvimento de competências em inteligência de mercado e em planejamento de negócios, com foco no empreendedorismo. Estimular o desenvolvimento de educação superior e continuada para consolidar e profissionalizar a gestão empresarial. Gerar programas, projetos, atividades e oportunidades para emprego de recursos humanos especializados em aeronáutica no Brasil. Adequar a regulamentação do sistema de aviação civil aos novos cursos de formação e de especialização em aeronáutica no Brasil Promover a cultura aeronáutica na cadeia produtiva e na sociedade em geral. II.6 Diretrizes: Tecnologia (DT) Na avaliação da AIAB (conforme registrado no relatório prospectivo do presente estudo), ações governamentais continuadas e coerentes ao longo de anos, bem como o processo de privatização da Embraer em 1994, conduziram o setor, em síntese, aos frutos que hoje se colhem. São os seguintes: − A Embraer é a maior indústria aeronáutica do hemisfério sul. − Sua cadeia produtiva possui tecnologia, produtos e marcas próprios. − A indústria aeronáutica brasileira dispõe de capacidade 5. Anexos para exportar tecnologia e licenciar fabricações no exterior. − Possui capacidade para atuar numa economia globalizada. − A indústria aeronáutica brasileira é permanentemente confrontada, comercial e estrategicamente, por concorrentes de nações desenvolvidas, face à sua reconhecida competitividade. Essa e outras características da cadeia produtiva aeronáutica brasileira (detalhadas nos relatórios do estudo) resultam da competência desenvolvida para conceber, desenvolver, certificar, produzir e apoiar a operação de novos sistemas. Contudo, estudos recentes (Alternativas para o Adensamento da Cadeia Produtiva Aeronáutica Brasileira, BNDES Setorial, setembro/2006 e A Construção de um Cluster Aeroespacial e de Defesa em São José dos Campos, Macrotempo Consultoria, março/2007) e relatos oficiais de colaboradores do estudo, alertam para o esgotamento do estoque de tecnologias pré-competitivas na cadeia produtiva brasileira. Embora as razões desse esgotamento de tecnologias no parque tecnológico brasileiro não tenham sido objeto de análise no Estudo Prospectivo, a construção do roadmap tecnológico visa estimular, emergencialmente, uma mobilização da cadeia para o suprimento de tecnologias pré-competitivas (horizonte de 2010), enquanto oferece uma agenda de áreas de pesquisa tecnológica que se estende ao horizonte de 2023. Com base nisso e nos fatores críticos de sucesso e nos motivadores de estratégias para a indústria aeronáutica, as oficinas produziram as seguintes diretrizes na dimensão das tecnologias aeronáuticas: 135 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 136 1. Criar centros de PD&I em indústrias nacionais e internalizar centros de PD&I de empresas estrangeiras, de modo que elas possam amadurecer tecnologias aeronáuticas em território nacional. 2. Acompanhar a maturação de tecnologias pré-competitivas de integração de sistemas e de software embarcado para rápida incorporação a produtos brasileiros. 3. Acompanhar a maturação de tecnologias pré-competitivas que levem a uma maior eficiência das aeronaves produzidas pela indústria brasileira. 4. Promover a transferência das tecnologias emergentes e précompetitivas das Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) ao setor produtivo, visando contribuir para o incremento da competitividade da indústria brasileira no cenário global. 5. Fomentar arranjos inovadores que viabilizem os investimentos e que facilitem o processo de registro de patentes das inovações tecnológicas resultantes das atividades de PD&I. 6. Promover a integração de centros de excelência em tecnologias para o setor aeronáutico mediante a criação de Redes de Inteligência Tecnológica – RITs. 7. Racionalizar e integrar todos os esforços, evitando investimentos paralelos em tecnologias concorrentes. 8. Lançar programas de desenvolvimento e certificação de veículos aéreos não-tripulados (vants), de asas fixas (aviões) e de asas rotativas (helicópteros). 9. Desenvolver novos materiais e estruturas leves com monitoramento de saúde. 10. Acompanhar o desenvolvimento e incorporar tecnologias inovadoras de processamento e seus efeitos no desempenho de novos materiais. 11. Desenvolver novas metodologias de inspeção de estruturas aeronáuticas. 12. Desenvolver processos de manutenção e reparo em tempo real 5. Anexos de estruturas aeronáuticas. 13. Desenvolver novas capacidades de modelagem e simulação de forma a apoiar todas as tarefas de desenvolvimento de sistemas aeronáuticos. 14. Desenvolver bancos de dados e padrões industriais para melhorar a consistência dos produtos finais, considerando inclusive a possibilidade de transbordamento desses padrões para outras cadeias produtivas industriais do Brasil. 15. Apoiar o desenvolvimento de sistemas embarcados inteligentes de tecnologia nacional. 16. Viabilizar a produção no Brasil de serviços, produtos e processos com maior valor agregado, ao longo de toda a cadeia produtiva. 17. Divulgar as aplicações das novas tecnologias para o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira. 137 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Anexo III Características industriais marcantes da aeronáutica no Brasil Dois brasileiros ajudaram a plantar as primeiras sementes da atividade aeronáutica em nosso planeta. Bartolomeu Lourenço de Gusmão realizou em 1709 a primeira experiência pública de que se tem registro de um modelo de balão a ar quente. Alberto Santos-Dumont foi o responsável pelo início da navegação aérea controlada com o desenvolvimento do dirigível em 1901 e do avião em 1906. 138 A história da indústria aeronáutica começou com Santos-Dumont. Há exatos cem anos, após ter experimentado o Demoiselle, o inventor espalhou generosamente as plantas do projeto para publicação em revistas técnicas. Assim, despertou a atenção de várias pessoas interessadas em aeronáutica. Não se pode falar, neste caso, de produção seriada, mas pode-se falar de produção distribuída, pois existem registros de que três centenas dessas máquinas foram fabricadas na França, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos e em outros países. Certamente, o Demoiselle foi o primeiro modelo de avião que deixou de se materializar apenas como um protótipo. Além disso, Santos-Dumont foi o primeiro gerador de políticas públicas para o setor aeronáutico brasileiro. Ao perceber a importância que as aeronaves teriam no futuro, ele recomendou nas primeiras décadas do século XX a criação de instituições de ensino de aerodinâmica, de materiais e processos, de estruturas e construções de aparelhos aéreos e de pesquisa de materiais e motores, bem como de ensino de comunicações aéreas e de meteorologia. Cada país, dizia ele, deveria desenvolver sua própria tecnologia. Com isto, a primeira política do setor, formulada por Santos-Dumont, Os trabalhos de Santos-Dumont foram realizados na França, país que reunia à época as melhores condições de infraestrutura e de recursos tecnológicos e humanos para isso. No Brasil, a primeira tentativa de industrialização de aviões foi realizada pelo oficial do Exército, Marcos Evangelista Villela Júnior. No dia 11 de novembro de 1918, no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, perante inúmeras autoridades civis e militares, realizou-se a demonstração aérea do avião biplano Alagoas, projetado por Villela, com manobras arrojadas e perfeitas, incluindo voos de dorso, passagens rasantes e pouso suave. Além do projeto, todos os materiais de construção do Alagoas eram nacionais. Apenas o motor era importado. 5. Anexos foi a de formação de recursos humanos especializados, e a segunda, a de independência tecnológica. O momento histórico da I Guerra Mundial, sem dúvida, estimulava tais ousadias. O show do Alagoas entusiasmou militares, governo e povo. Oficiais militares passaram a defender a necessidade de um aumento do número de aeronaves nas duas forças (Exército e Marinha) e a advogar a prioridade da fabricação dessas aeronaves no Brasil. Por outro lado, políticos começaram a cogitar a criação de uma arma de aviação independente, já que o Exército e a Marinha desenvolviam esforços separados para constituírem suas próprias aviações e uma integração desses esforços numa única unidade parecia ser uma medida inteligente. Se, por um lado, a I Guerra Mundial estimulou um rápido desenvolvimento da aviação, por outro, ela inviabilizou as primeiras tentativas brasileiras de industrialização de aeronaves. A oferta de aviões como sobras de guerra a preços baixos confrontava os altos investimentos exigidos para implantar uma indústria genuinamente brasileira. A indisponibilidade de bons motores radiais produzidos no país e a inexistência de especialistas versados em aeronáutica eram outros argumentos utilizados para justificar e dar prioridade às compras de aeronaves produzidas no exterior. 139 Estudo Prospectivo – Aeronáutico A primeira produção seriada de aviões no Brasil foi liderada pelo oficial do Exército, Antonio Guedes Muniz. Ele obteve em 1928 o seu diploma de engenheiro aeronáutico na Escola Superior de Aeronáutica de Paris. Como parte de seus estudos, desenvolveu projetos de diversos aviões. Ele sabia que a teoria desenvolvida em sala de aula não lhe conferia competência para a concepção, projeto e desenvolvimento de aeronaves. Assim, Muniz procurou complementar seus estudos com estágios em indústrias aeronáuticas francesas. 140 Muniz desenvolveu com o apoio da fábrica francesa Caudron o protótipo de um avião de treinamento de dois lugares designado por M-5. O avião foi testado e aprovado na França antes de ser transportado de navio para o Brasil. Em 10 de julho de 1931, como parte dos festejos de 12º aniversário da Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, houve uma demonstração pública deste protótipo. A demonstração foi tão bem sucedida que o chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, apresentou-se como voluntário para realizar um voo no avião. Entusiasta da aviação, Vargas sempre procurou apoiar iniciativas de produção de aviões no Brasil. A experiência de voo agradou Vargas, que aproximou Guedes Muniz do industrial Henrique Lage. O interesse governamental fez despertar no armador carioca a vontade de ressuscitar uma fábrica que ele sonhara ter dez anos antes. Muniz desenvolveu, então, o modelo M-7, um avião biplano feito com materiais nacionais, exceto o motor. Como solução propulsora, foi utilizado um motor inglês de 130 HP. O protótipo do M-7 fez o seu primeiro voo em 17 de outubro de 1935. Esta data marca o Dia da Indústria Aeronáutica Brasileira, pois o M-7 foi o primeiro avião de projeto nacional a ser produzido em série no Brasil. Dos hangares da Ilha do Viana, no Rio de Janeiro, saíram um total de 28 aviões deste tipo. 5. Anexos A Notícia Técnica, editada em 1941 pela Fábrica Brasileira de Aviões, divulgou as características gerais do M-7, instruções para montagem, desmontagem, cuidados periódicos, reparações e utilização do avião, detalhes dos sistemas de alimentação de combustível e elétrico e descrição e funcionamento do motor. Um encarte preparado pelo capitão Magalhães, em 1938, inserido na citada Notícia Técnica, fala das vantagens dos aviões brasileiros sobre os importados. O encarte acentua a maior disponibilidade para voo dos aviões de fabricação nacional, com maior e mais rápido suporte pós-venda, através do fornecimento de componentes e de sistemas produzidos no Brasil. Enquanto Henrique Lage e Guedes Muniz, no Exército, lideravam uma bem sucedida associação com um fabricante inglês, Raymundo Vasconcellos Aboim, na Marinha, desenvolvia um programa paralelo com um fabricante alemão. Em razão do interesse dessa força em adquirir aviões leves de treinamento, Aboim propôs que se fizesse o nosso primeiro contrato de offset. A compra da Marinha foi atrelada à instalação no Brasil de uma fábrica de aviões. O plano era ambicioso: começar com um avião de treinamento básico e progredir, fase a fase, para uma aeronave de treinamento avançado, um bimotor e, finalmente, um quadrimotor. As fases deveriam ocorrer em função da capacidade brasileira de absorver os conhecimentos e as técnicas dos parceiros alemães. Os alemães certamente viam nesse acordo alguma vantagem. Desejosos de ocupar espaço geográfico e político para expandir as bases do nazifascismo, a possibilidade de possuir uma fábrica de aviões no Brasil era uma oportunidade que não podia ser desprezada. Assim foi que a Marinha construiu os ainda hoje existentes pavilhões industriais do Galeão, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro e recebeu máquinas, ferramental e especialistas para dar cabo do que fora planejado. A Fábrica do Galeão construiu, sob licença, os Fokker T-21 e T-22, uma 141 Estudo Prospectivo – Aeronáutico escola onde engenheiros formados pelo ITA trabalharam incorporando a tecnologia de produção. Dois fatores contribuíram para por fim a essa associação com os alemães: a criação do Ministério da Aeronáutica (MAER), em 20 de janeiro de 1941 e a entrada do Brasil na II Guerra Mundial contra os países do Eixo, em agosto de 1942. A associação técnica, então, passou a ser com os norte-americanos. 142 A criação do MAER e a participação do Brasil na II Guerra Mundial ressaltaram a importância das duas políticas públicas propostas por Santos-Dumont. A guerra deixou evidente a inexistência de recursos humanos especializados em aeronáutica e a dependência brasileira em materiais e sistemas aeronáuticos produzidos no exterior. Além disso, com a coalescência das aviações militar e civil na década de 1940, surgiram duas outras políticas igualmente importantes para a aeronáutica brasileira: a sua missão dual (civil/militar) e a integração de recursos para consecução de objetivos comuns. A preocupação com a motorização dos aviões levou Muniz a conduzir uma perseverante luta para a fabricação de motores aeronáuticos no Brasil. Essa luta levou à criação, nas serras de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, da Fábrica Nacional de Motores (FNM), no começo da década de 1940. Aproveitando-se da colaboração brasileira para o esforço de guerra contra os países do eixo, Muniz conseguiu muitas vantagens técnicas e financeiras para a produção no Brasil de motores norte-americanos. Infelizmente, essa iniciativa morreu na mesma década em que nasceu. Em 1947, a FNM deixou de ser empresa estatal, transformando-se em sociedade anônima e, em 1949, ela começou a fabricar motores de caminhões, abandonando a sua destinação aeronáutica inicial, à qual nunca retornaria. 5. Anexos Na capital paulista, no ano de 1931, foi constituída a Empresa Aeronáutica Ypiranga (EAY). Os estatutos da empresa previam o projeto, a construção e a venda de aeronaves. Em 1935 foi desenvolvido e aprovado em testes o protótipo do avião EAY-201 Ypiranga. Tratavase de um monomotor, monoplano, asa alta, com um motor francês de 40 HP. Este protótipo merece um destaque como tendo sido a primeira aeronave de fabricação nacional a ter sido inscrita no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), com a matrícula PP-TBF. A Companhia Aeronáutica Paulista (CAP), do empresário Francisco Pignatari, foi criada em 1942. Seu primeiro passo foi adquirir o protótipo e os direitos de fabricação do EAY-201, agora rebatizado de CAP-4 Paulistinha. Em 1943, a CAP produzia rodas, freios, instrumentos para painel, cabos e tubos de aço, peças usinadas de ligas especiais, trincos e fechaduras para portas e cadeiras. As hélices de madeira, as chapas de contraplacado, as telas para cobertura externa e as tintas também eram nacionais, assim como os pneus e os tanques de combustível. Apenas os motores vinham dos Estados Unidos. O Paulistinha foi o maior sucesso industrial da CAP, em função das inegáveis qualidades técnicas do modelo. Em 1943, a empresa chegou a produzir uma aeronave por dia. Ao todo, foram 777 unidades produzidas, algumas das quais exportadas para os Estados Unidos, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Portugal e Itália. O Brasil inscrevia assim o seu nome na galeria das indústrias mundiais de aeronaves. Ao tomar posse em 1941, o primeiro Ministro da Aeronáutica, Joaquim Pedro Salgado Filho, herdou um legado muito pobre. Ele recebeu o seguinte patrimônio: o Brasil tinha apenas 189 aviões biplaces registrados, dos quais somente uma centena em condições de voo. Não faltavam apenas aviões e pilotos, como faltava também uma cadeia de suprimentos e uma infraestrutura de manutenção e de reparo de aeronaves. Providências urgentes eram necessárias. 143 Estudo Prospectivo – Aeronáutico A Campanha Nacional de Aviação foi um movimento de âmbito nacional com o objetivo de estimular a compra de aviões produzidos no Brasil, a distribuição desses aviões pelos aeroclubes e a formação de pilotos. A campanha contou com o apoio do presidente Getúlio Vargas e do interventor paulista Adhemar de Barros, além do suporte de marketing do empresário Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, proprietário da rede jornalística Diários Associados. Essa articulação política foi essencial para o sucesso da CAP. Por trás deste apoio político, havia também o apoio técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo. 144 Novamente, devido à oferta e aos preços baixos de aviões estrangeiros de bom desempenho que eram sobras da II Guerra Mundial, as aeronaves brasileiras deixaram de ter a preferência. Além desta razão, a desativação da indústria aeronáutica paulista foi motivada pelo deslocamento do foco de suporte para a área federal, pela falta de articulação política entre as esferas federal e estadual, pela falta de recursos financeiros para modernização e acompanhamento de novas tecnologias – dentre elas, os motores a jato – e, finalmente, pela falta de coordenação interna do próprio governo paulista. Ao retornar ao Rio de Janeiro, em 1933, Henrique Lage contratou o engenheiro belga René Marie Vandaele, que trabalhava na fábrica aeronáutica francesa Potez. Em 1940, Vandaele dedicou-se ao projeto do HL-1, cujo protótipo voou em 18 de junho daquele ano e recebeu homologação do MAER em julho do ano seguinte. Foi o primeiro avião homologado pelo recém-criado ministério. Visualmente muito parecido com o CAP-4 Paulistinha, o HL-1 foi, porém, menos popular: 123 dessas aeronaves foram construídas, sendo algumas exportadas. A morte de Lage em 1941 e as sobras de guerra baratas fizeram as atividades aeronáuticas de suas empresas 5. Anexos se encerrarem em 1948. Vandaele tornou-se professor de projetos aeronáuticos no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), até falecer em 1974. Em contraste com tais insucessos paulistas e cariocas, a década de 1940 viu nascer a mais promissora iniciativa de industrialização aeronáutica no Brasil: o chamado caso Montenegro. Desde 1939, a aviação militar vinha realizando a formação de recursos humanos em Engenharia Aeronáutica. Os cursos eram ministrados na então Escola Técnica do Exército (ETE), atual Instituto Militar de Engenharia (IME). Dentre os engenheiros aeronáuticos formados na primeira turma, em 1941, estava o major Casimiro Montenegro Filho. Em 1945, atendendo sugestão do major Oswaldo Nascimento Leal, aluno do Massachussetts Institute of Technology (MIT), o já então coronel Montenegro entrou em contato com o professor Richard Herbert Smith, chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica daquele instituto. Desse contato surgiu a concepção de uma escola de alto nível, destinada à formação de engenheiros aeronáuticos para a aviação civil e militar e não apenas para atender aos interesses da FAB. Montenegro montou uma equipe e contratou o professor Smith para, juntos, definirem o Plano Geral do futuro Centro Técnico de Aeronáutica (CTA). Este Plano foi aprovado pelo Presidente da República em 16 de novembro de 1945. Segundo o plano, o centro seria constituído por dois institutos autônomos: o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), dedicado ao ensino técnico superior e o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD), dedicado à pesquisa e colaboração com a indústria aeronáutica e com as aviações militar e civil. Dentre os locais que se candidataram para sediar o CTA, foi escolhida 145 Estudo Prospectivo – Aeronáutico a cidade de São José dos Campos. Diversos fatores concorreram para esta decisão, podendo-se citar entre eles facilidades de transporte, comunicações, topografia, energia, clima, acesso a indústrias de médio e grande porte e relativa proximidade de São Paulo e do porto de São Sebastião. Foi importante também a vontade de a cidade de receber o centro, manifestada através da doação à União de grande área, denominada de Campo dos Alemães, para a construção dos prédios, laboratórios, residências, campo de pouso de aeronaves e outras instalações. As instalações do ITA foram concluídas ainda em 1950, a tempo de permitir que a turma de engenheiros que estudava provisoriamente no Rio de Janeiro pudesse vir a colar grau em São José dos Campos. Essa é considerada a turma pioneira do ITA, aquela que começou a tornar realidade a política primeira de Santos-Dumont: a formação de recursos humanos especializados em construção aeronáutica no Brasil. 146 Além de oferecer o curso de engenharia aeronáutica, o ITA implantou os cursos de Engenharia Eletrônica em 1951, de Engenharia Mecânica em 1962, de Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica em 1975 e de Engenharia de Computação em 1989. O ITA também foi pioneiro no Brasil no oferecimento de cursos de pós-graduação stricto sensu em engenharia, nos níveis de mestrado e doutorado, a partir de 1961. A formação de recursos humanos permitiu, a partir de 1950, a realização de projetos de P&D no centro ainda em organização. Para estimular essas atividades, foram criados projetos para capacitar profissionais e gerar massa crítica para fases subsequentes da política brasileira de independência tecnológica. Assim, o CTA recebeu a visita de equipe liderada pelo professor alemão Heinrich Focke, que tentou desenvolver no Brasil o Convertiplano, aeronave semelhante ao atual V-22 Osprey. A mesma equipe trabalhou mais tarde no desenvolvimento de um helicóptero, também de características inovadoras, chamado Beija-Flor. 5. Anexos Os projetos do Convertiplano e do Beija-Flor não foram além de protótipos ou demonstradores de tecnologia. As razões para o insucesso dessas tentativas são diversas. Porém, as mais significativas foram a falta de recursos financeiros e de massa crítica de recursos humanos especializados. O fato dos projetos serem tecnologicamente avançados, mas sem conexão imediata com o mercado aeronáutico e a restrição de acesso, por governos estrangeiros, a sistemas importados avançados, como motores a reação, também contribuíram para a frustração dos projetos. Embora os projetos liderados pelo professor Focke não tenham levado à produção industrial de aeronaves, criaram condições para a ativação, em 1954, do IPD e para a declaração de maturidade do CTA. Muitos especialistas que participaram desses projetos foram mais tarde empregados na indústria e vieram a criar a Empresa Brasileira de Aeronáutica S. A. (Embraer). Os trabalhos de José Carlos de Barros Neiva começaram na década de 1940 com planadores. A luta de mais de uma década começou a render frutos com o planador BN-1 Monitor, que colecionou recordes nacionais e algumas bem sucedidas participações internacionais. Mas foi o acordo firmado com o Grupo Pignatari que permitiu retomar, em Botucatu, São Paulo, a construção do Paulistinha-56, uma versão renovada do antigo CAP-4. Mais de 240 aeronaves foram fabricadas, as quais, somadas às 777 produzidas anteriormente pela CAP atinge o número de 1.017, o segundo maior sucesso industrial aeronáutico brasileiro de todos os tempos. Algumas dessas aeronaves foram incorporadas ao acervo da FAB, mas a maioria foi utilizada em aeroclubes na formação de pilotos, evitando a importação de modelos similares de treinamento. Na década seguinte, a Neiva desenvolveu dois modelos de aeronaves que apresentaram bons resultados. O primeiro foi um avião monoplano de asa alta chamado de Regente. A FAB fez um pedido de 60 unidades, pro- 147 Estudo Prospectivo – Aeronáutico duzidas entre 1968 e 1971 seguidos por 40 unidades do Regente ELO. A seguir veio o Universal, um treinador de asa baixa que se revelaria um sucesso ainda maior. A FAB fez uma encomenda de 150 dessas aeronaves e até hoje as utiliza no adestramento de seus cadetes aviadores na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, São Paulo. Essas aeronaves marcaram a transição da Neiva da madeira e tela do Paulistinha para o metal e chapa de alumínio do Universal. Isso representou, certamente, uma elevação do nível tecnológico da empresa e o estabelecimento de uma nova cultura na construção aeronáutica nacional. 148 Os trabalhos da Neiva com o Universal prosseguiram até 1979. O fracasso no desenvolvimento de uma nova versão remotorizada desse modelo levou a empresa a uma crise que foi contornada com a absorção da mesma, em 1980, pelo grupo Embraer. Ao longo de seus 25 anos de atuação independente, a Neiva produziu mais de mil aeronaves. Hoje, a Neiva produz componentes de aviões para a Embraer e o avião agrícola Ipanema, o maior sucesso industrial aeronáutico brasileiro, com mais de mil unidades produzidas. Recentemente, o avião Ipanema foi certificado pelo Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), do CTA, para operar com motor a álcool. Essa modificação reduziu os custos operacionais e adequou a operação dessa aeronave à realidade agrícola do País. A Sociedade Aerotec surgiu em São José dos Campos em 1962. Após muitas dificuldades, ali foi desenvolvido o protótipo do modelo A-122 Uirapuru, um treinador metálico de asa baixa. A FAB contratou a produção de 70 unidades desta aeronave. Essa foi mais uma ocasião histórica em que o poder de compra do estado, particularmente para a Aviação Militar, foi essencial para viabilizar a sobrevivência de uma iniciativa industrial do setor. No desenvolvimento do protótipo militar T-23 do Uirapuru ocorreu 5. Anexos um acidente no dia 19 de novembro de 1968 em que faleceu o piloto de provas, major-aviador José Mariotto Ferreira, formando em engenharia pelo ITA. Devido à impossibilidade de se utilizar o túnel aerodinâmico do CTA nas investigações das causas do acidente, a Aerotec teve que recorrer a experimentos realizados no Instituto de Mecânica dos Fluidos de Lille, na França. Esse fato demonstrou a importância de se dispor de uma infraestrutura laboratorial para apoio à indústria no desenvolvimento e certificação de novos produtos aeronáuticos. Como esta infraestrutura é cara e específica, apenas grandes empresas ou centros de pesquisa governamentais são capazes de possuí-las e de mantê-las em operação e atualizadas. Apesar do acidente e de outras dificuldades, ao longo da década de 1970 a Aerotec conseguiu desenvolver um modelo civil do Uirapuru e exportar modelos militares para a Bolívia e o Paraguai. Foram, talvez, as primeiras exportações nacionais de caráter comercial, pois, além dos aviões, foram exportadas peças de reposição, equipamento de apoio em terra, assessoria técnica e operacional. No final da década, porém, sobreveio uma crise no mercado brasileiro de aviões leves. Apesar de também produzir componentes para outras aeronaves da Embraer, as dificuldades da Aerotec aumentaram. Possibilidades aparentemente promissoras de exportação não se concretizaram. Apesar de ter produzido 130 unidades do Uirapuru, de ter exportado 26 delas e de ter experimentado um apogeu, em 1977, quando contava com 320 funcionários, a Aerotec passou a definhar, sobrevivendo de poucos serviços de suporte a seus próprios produtos. A falta de apoio governamental foi crítica para a sua sobrevivência. A empresa prosseguiu seus trabalhos até 1986, ano em que fechou suas portas de maneira melancólica. O Grupo Aeromot estabeleceu-se em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a partir de 1967. Inicialmente, voltado para atividades de manutenção, 149 Estudo Prospectivo – Aeronáutico grandes reparos e modificações em aeronaves e comercialização de aviões, peças e equipamentos, o Grupo passou a fabricar motoplanadores a partir da década de 1990. Essas máquinas têm suas estruturas feitas em fibra de vidro e carbono e empregam motores alemães. Até hoje, a empresa produziu cerca de 180 aeronaves da classe Ximango, sendo várias delas exportadas para países como Austrália, França, Alemanha, Japão e Reino Unido. Um dos seus mais recentes clientes foi a Academia da Força Aérea norte-americana, que recebeu aeronaves com motores de 100 HP, designadas por TG-14A, de training glider. 150 Voltando a São José dos Campos, a partir de 1964, sob a liderança do projetista francês Max Holste, iniciou-se no IPD, do CTA, o projeto de um avião bimotor que viria a ser chamado de Bandeirante. Este avião, cujo primeiro voo ocorreu em 26 de outubro de 1968, permitiu criar no ano seguinte a Embraer, com a encomenda firme de oitenta aeronaves pela FAB e a fabricação sob licença de 112 aeronaves a reação EMB-326 Xavante. A criação da Embraer demonstrou existir no Brasil, duas décadas após a criação do ITA, massa crítica de recursos humanos especializados e capacidade técnica para tornar viável a visão de Santos-Dumont. Essa conjunção de fatores permitiu manter vivo o objetivo por ele proposto, apesar das dificuldades conjunturais de mercado e dos altos riscos associados aos projetos do setor aeronáutico ao longo das últimas cinco décadas. Em 38 anos de vida, a empresa sobreviveu no adverso cenário aeronáutico global com a sua própria quota de dificuldades. O sucesso com o Bandeirante (500 unidades produzidas e que criaram o nicho de mercado relativo à aviação comuters) nas décadas de 1970 e 1980, e com o Brasília (352 unidades produzidas) nas décadas de 1980 e 1990, não se repetiu com o Xingu nos anos 1980 nem com o CBA123 Vector no começo dos anos 1990. 5. Anexos O Xingu, apesar de não ter atingido o break-even point, foi uma excelente escola para a empresa. Por ter sido a primeira aeronave pressurizada produzida no Brasil, forçou a Embraer a atingir um novo patamar tecnológico. Já o Vector, desenvolvido em parceria com a Fábrica Militar de Aviones (FMA) da Argentina, não foi além do protótipo. Era um modelo tecnologicamente avançado, mas inadequado para o mercado naquele momento de crise aeronáutica mundial, cuja tecnologia incorporada foi adaptada no futuro projeto do seu jato regional. Na aviação militar, a Embraer obteve sucesso com o Tucano, mas dificuldades com o programa AM-X. Neste caso, destaca-se como dificuldade principal o longo prazo requerido para a definição do modelo de negócio – que acabou sendo a criação de uma empresa binacional – e a baixa escala de produção do modelo. Apesar do pequeno número de aeronaves produzidas e das dificuldades de exportação, a associação com a Itália nesta joint-venture permitiu a incorporação, pela empresa, de novas tecnologias que foram, mais tarde, aplicadas com enorme sucesso nos novos desenvolvimentos da empresa. A crise que se abateu sobre a indústria aeronáutica mundial no começo da década de 1990 quase levou a Embraer à falência. Os investimentos acumulados sem o esperado retorno levaram à sua descapitalização e à demissão de milhares de empregados. O projeto do EMB-145, posteriormente renomeado ERJ-145, também teve os seus próprios percalços. Até possuir configuração definida, o projeto passou por duas modificações sérias, todas envolvendo a motorização. A consequência foi que este produto chegou muito tarde ao mercado (conceito timeto-market), porém sua qualidade e o posicionamento do produto ERJ145 no mercado viabilizaram a privatização da empresa em 1994 e é hoje o seu maior sucesso comercial. Já foram produzidas e entregues a operadores mais de mil aeronaves da família. Elas acumulam mais de 7 151 Estudo Prospectivo – Aeronáutico milhões de horas de voo, transportando mais de 150 mil passageiros por dia nas diversas rotas regionais exploradas ao redor do mundo. O modelo tem potencial de sobra para suplantar os dois maiores sucessos industriais da aeronáutica brasileira: o CAP-4 Paulistinha e o Embraer Ipanema. A privatização da Embraer significou a fusão de duas culturas: uma tecnológica e industrial (oriunda da sua fase estatal) e outra empresarial (oriunda dos novos acionistas). Após a privatização, a Embraer desenvolveu jatos regionais das famílias 170 e 190, aeronaves executivas das “famílias” Legacy, Phenom, Lineage e aeronaves militares como o A-29 e R-99 empregados no Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). 152 Em síntese, podemos dizer que, após duros aprendizados, o Brasil dispõe hoje de projetos e de marcas próprias, reconhecidas internacionalmente, o que lhe assegura, em certos nichos de mercado, alta competitividade. Contribuem para isto uma cadeia produtiva, com dezenas de empresas, e a capacidade de certificação reconhecida internacionalmente mediante acordos binacionais de produtos aeronáuticos, desenvolvida a partir dos anos 1970 pelo IFI/CTA e transferida para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Estas são demonstrações inequívocas da competência dos profissionais de aeronáutica no Brasil, da qualidade dos produtos brasileiros, do nível de independência tecnológica alcançada e da capacidade de integração de sistemas produzidos por diferentes parceiros nacionais e estrangeiros. 5. Anexos Anexo IV Características institucionais marcantes da indústria aeronáutica no Brasil A indústria aeronáutica, pelas suas características singulares, é parte integrante do poder nacional, com inserção em todas as suas cinco expressões. É apreciável a contribuição dessa indústria, por exemplo, para a expressão econômica e a expressão científico-tecnológica do poder nacional. Porém, por razões históricas e doutrinárias, essa indústria tem tido nos países mais desenvolvidos uma identificação mais forte com uma parcela da expressão militar chamada de poder aeroespacial. IV.1 A Indústria aeronáutica inserida no poder nacional O poder nacional aeronáutico, no Brasil, é coordenado conjuntamente pelo Ministério da Defesa e pelo Comando da Aeronáutica (Comaer), sendo composto por seis segmentos, a saber: 1. Aviação Civil. Coordenado pela Anac, esse segmento compreende a indústria aeronáutica, todas as companhias de transporte aéreo regular e não-regular, empresas de táxi aéreo, de aviação charter, aeroclubes e centros de instrução aérea, aviação geral e aerodesportiva de caráter não-militar, através de exploração comercial ou privada, com ou sem fins lucrativos. O Conselho de Aviação Civil (Conac) criado em 2000, tem por finalidade assessorar o Presidente da República para a formulação da política de ordenação da aviação civil. Entre outras, são da competência desse conselho: • Promover a coordenação das atividades de proteção ao voo e de 153 Estudo Prospectivo – Aeronáutico regulação aérea; • Propor o modelo de concessão de infraestrutura aeroportuária. Compõem o Conselho: o ministro da Defesa, o ministro de Relações Exteriores, o ministro do Turismo, o chefe da Casa Civil, o ministro da Fazenda, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o comandante da Aeronáutica. São ainda convidados permanentes o diretor-presidente da Anac, o presidente da Infraero, o diretor-geral do Decea e o diretor do Departamento de Política de Aviação Civil do MD. A Anac, criada em 29 de setembro de 2005, incorporou as atividades do extinto DAC. Essa agência tem, basicamente, as seguintes competências: 154 • Instaurar e programar a política de aviação civil. • Regular e fiscalizar as atividades de aviação civil, bem como adotar as medidas necessárias para o atendimento do interesse público. • Incentivar e desenvolver a aviação civil e infraestrutura aeronáutica e aeroportuária. 2. Aviação Militar. É o segmento exclusivamente militar do poder nacional. Compreende todas as unidades aéreas, aeronaves, tripulantes e recursos humanos de apoio da FAB, da aviação naval, da aviação do Exército e das aviações das polícias militares dos estados brasileiros. A FAB, parte integrante do Comaer, é o principal braço armado do poder aeroespacial. Centenas de aeronaves, a maior parte delas de fabricação nacional, integram esta força. 3. Infraestrutura aeroespacial. Essa compreende todos os aeroportos, parques tecnológicos e logísticos, instalações de integração e teste de sistemas aeroespaciais, laboratórios, centros de conhecimento, redes, sistemas de informação, de radares, de comunicações, navegação, vigilância e controle do espaço aé- 5. Anexos reo e todos os serviços correlatos dispostos no Código Brasileiro de Aeronáutica. Participam deste segmento a Infraero e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) do Comaer. 4. Indústria aeroespacial. Essa compreende todas as MPMEs e grandes empresas que cuidam da análise de mercado, concepção, pesquisa, desenvolvimento e, essencialmente, da produção, comercialização e serviços de suporte a sistemas, subsistemas, componentes, subcomponentes e demais produtos do setor aeroespacial. A indústria aeroespacial brasileira está entre as mais avançadas do mundo. 5. Complexo científico e tecnológico aeroespacial. Esse compreende todas as organizações, com os seus recursos materiais, humanos e de infraestrutura, onde são trabalhados temas de CT&I de interesse aeroespacial, onde são preparados e especializados recursos humanos para o setor, onde se faz P&D de novas tecnologias, técnicas, processos e produtos e onde são estabelecidos e mantidos padrões de qualidade, certificações de produtos e de empresas, auditorias e transferências de tecnologia para a indústria aeroespacial brasileira. 6. Recursos humanos especializados. Compreende todas as pessoas que desempenham atividades relacionadas com o espaço aéreo (aeronautas e aeroviários) e com os estabelecimentos de formação, especialização e treinamento desses profissionais. Esse segmento retém o poder oriundo do conhecimento cumulativo e integrado, das habilidades e das atitudes das pessoas, parcela de poder que constitui um bem intangível, mas indispensável para o pleno emprego do poder aeroespacial brasileiro. IV.2 Políticas públicas do setor aeronáutico Os seis segmentos do poder aeroespacial, acima listados, dentre os 155 Estudo Prospectivo – Aeronáutico quais se insere a indústria aeronáutica, vêm atuando há mais de seis décadas de maneira integrada e executando atividades de forma a atingir os objetivos fixados pelas políticas públicas do setor aeronáutico. As mais importantes dessas políticas são: 156 1. Política de formação de recursos humanos especializados. SantosDumont propôs a formação de recursos humanos especializados em aeronáutica no Brasil. Dizia ele: “Penso que, sob todos os pontos de vista, é preferível trazer professores da Europa ou dos Estados Unidos, em vez de para lá enviar alunos”. Com base nessa visão, foi criado o ITA, no final da década de 1940. Assim, consolidou-se no país a formação regular de especialistas de nível superior em aeronáutica, o que permitiu o fortalecimento do setor nas décadas seguintes. 2. Política de independência tecnológica. Segundo uma visão profética, Santos-Dumont defendia a independência e autodeterminação técnica dos povos como condição de alcance da paz. É graças a essa política pública que temos hoje indústria aeroespacial autóctone e programa espacial independente de outras potências aeroespaciais. Como consequência desse pensamento, o objetivo nacional da soberania requer o desenvolvimento, no Brasil, de tecnologias aeronáuticas próprias. 3. Política da dualidade civil/militar – Diferentemente de outros países, em que a aeronáutica civil e a aeronáutica militar seguiram caminhos distintos, no Brasil, desde a criação do MAER, em 1941, buscou-se uma solução única, dual, para o trato das questões da aviação. A criação do Ministério da Defesa (MD), em 1999, e a ativação da ANAC, em 2005, introduziram aspectos de modificação, mas não de anulação desta política, pois a aviação civil continua inserida administrativamente no contexto da defesa nacional. 4. Política de integração de recursos. Consoante com a política de dualidade é natural que em um país de recursos financeiros limitados sejam compartilhados recursos humanos, materiais e 5. Anexos de infraestrutura para atendimento a todas as necessidades das aviações civil e militar. Assim é que, no Brasil, o Sistema de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Sisdacta) é único e integrado, sendo esse o mais importante exemplo de materialização dessa política pública. 5. O Brasil é um país de índole pacífica e conciliatória. Não se envolve em conflitos diretos com países vizinhos há 140 anos e temos presença permanente, diplomática e militar, em operações de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil tem dado provas da intenção de desenvolver políticas pacíficas no uso do espaço aéreo, tais como as adesões a tratados e regimes de controle de tecnologias sensíveis, como o Tratado de NãoProliferação de Armas Nucleares (NPT) e o Regime de Controle da Tecnologia de Mísseis (MTCR). IV.3 Justificativas para priorizar a indústria aeronáutica nas políticas públicas O exercício do poder aeroespacial, conforme aqui discriminado em seus segmentos e as políticas públicas que surgiram ao longo da história para regular o desempenho do setor aeronáutico, formam o cenário em que evoluiu a indústria aeronáutica brasileira. A evolução estratégica dessa indústria descrita na seção anterior à luz dos conceitos dispostos nesse capítulo permite extrair importantes lições. Uma delas é a de que casos industriais de sucesso requerem doses oportunas, suficientes e harmoniosas de oito fatores críticos. São eles: 1. Uma liderança empreendedora, bem articulada e perseverante, com capacidade de gestão dos processos envolvidos; 2. Massa crítica de recursos humanos especializados; 3. Produtos voltados para a dinâmica do mercado; 4. Acesso a tecnologias modernas e adequadas aos produtos desenvolvidos; 157 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 5. Disponibilidade de sistemas e de materiais de construção aeronáutica; 6. Disponibilidade de infraestrutura adequada de desenvolvimento; 7. Apoio político-institucional; 8. Linhas adequadas de financiamento para desenvolvimento, produção e comercialização de aeronaves. 158 Uma segunda grande lição que emana da evolução apresentada é que a maior vilã da indústria aeronáutica nacional é a aquisição, principalmente pelo governo, de aeronaves e seus sistemas no exterior. Esta circunstância se manifesta em detrimento de soluções tecnológicas genuinamente brasileiras já disponíveis ou em fase précompetitiva, a começar pelo caso Villela, em 1918, e pelo desprezo ao desenvolvimento ou maturação de uma capacidade brasileira potencial, ainda não devidamente explorada. Desta maneira, perde-se a oportunidade de estimular toda a cadeia através do amadurecimento tecnológico, desde as universidades até os centros de PD&I e empresas de base tecnológica. Uma terceira grande lição diz respeito à volatilidade do apoio institucional. A história mostra que, sem o apoio político-institucional, dificilmente uma indústria pôde se viabilizar. Além disso, várias iniciativas de industrialização, que tiveram início com este apoio, morreram quando ele faltou. A perenidade do apoio político-institucional é, por conseguinte, muito importante como empuxo de partida para a decolagem e como combustível para manter as indústrias em voo de cruzeiro, em condições de competir num mercado difícil. As indústrias do setor aeroespacial brasileiro são representadas pela Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB). A Associação foi fundada em 1993. Tem sede na cidade de São José dos Campos, São Paulo, onde está localizado o maior polo industrial aeronáutico. As indústrias associadas à AIAB atuam em toda gama 5. Anexos de atividades aeroespaciais, desde a concepção, desenvolvimento, produção, comercialização e assistência pós-venda, além de serviços técnicos especializados em todas as áreas dos segmentos aeronáutico, espacial e de defesa. A AIAB articula a ação conjunta das empresas do setor junto ao governo brasileiro, à sociedade e às entidades internacionais. Na avaliação da AIAB, ações governamentais continuadas e coerentes ao longo dos anos, bem como o processo de privatização da Embraer completado em 1994, conduziram o setor, em síntese, à seguinte situação, que são aqui apresentadas como justificativas para priorizálo no âmbito das políticas dos Governos: 1. A justificativa da priorização por ser a maior indústria aeronáutica do hemisfério sul. A Embraer, empresa âncora da indústria aeronáutica brasileira, ocupa hoje a terceira posição mundial na indústria da aviação civil para aplicações comerciais. Também é a única empresa brasileira que aparece na lista das cem maiores companhias do mercado mundial de defesa, embora produza apenas aviões para a aviação militar e não armamentos. 2. 2. A justificativa da priorização por possuir tecnologia, produtos e marcas próprias. A AIAB tem atualmente 37 empresas associadas. Várias delas atuam no Brasil e no exterior, fazendo-se conhecidas por seus produtos e processos, aos quais associam o poder de suas marcas. Em particular, a Embraer tem uma atuação global, com sedes no Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia. Os aviões produzidos pela empresa operam hoje em 70 companhias, de 43 países. 3. A justificativa da priorização por possuir elevada maturidade tecnológica. A indústria aeronáutica brasileira dispõe de capacidade para exportar tecnologia e licenciar fabricações no exterior. É o caso das joint-ventures da Embraer com a empresa suíça Liebherr, na área de equipamentos, com a chinesa Harbin, 159 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 4. 5. 6. 160 7. na produção de jatos regionais e com a portuguesa Ogma, na área de componentes e serviços. A justificativa da priorização por ser executora do maior programa de cooperação no Eixo Norte-Sul. A Embraer é responsável por 30% do Programa AM-X. Esse Programa está em desenvolvimento desde 1982 através de parceria com empresas italianas. Esse é o maior programa em alta tecnologia e em volume de recursos entre países dos dois hemisférios. A justificativa da priorização pela capacidade para atuar numa economia globalizada. A Embraer sozinha foi responsável por 2,4% das exportações brasileiras em 2006. No triênio 1999/2001, ela foi a maior exportadora nacional. Segundo a AIAB, a indústria aeroespacial como um todo (civil e militar) foi responsável, em 2002, por mais de 4% da pauta brasileira de exportações. A justificativa da priorização pela capacidade de competir com vantagens diferenciadas. A indústria aeroespacial brasileira é permanentemente confrontada, comercial e estrategicamente, por concorrentes de nações desenvolvidas, face à sua reconhecida competitividade. Essa característica resulta da competência desenvolvida para conceber, desenvolver, certificar, produzir e apoiar a operação de novos sistemas. A justificativa da priorização pela capacidade de certificar sistemas aeronáuticos. Desde o começo da década de 1970, o governo brasileiro procurou desenvolver essa capacidade e obter reconhecimento internacional desta competência. O primeiro acordo bilateral desse tipo foi obtido em 1976 com a Federal Aviation Administration (FAA) dos EUA. Outros acordos se seguiram. Esta capacidade foi recentemente transferida para a ANAC, no que diz respeito à aviação civil. A indústria aeronáutica, inclusive a cadeia produtiva, tem suas características próprias. As justificativas de sua priorização nas políticas públicas do país, são as seguintes: 5. Anexos 1. A justificativa da priorização pelo caráter integrador da indústria aeronáutica. A atividade da navegação aérea envolve máquinas, equipamentos, infraestrutura e pessoas, com todas as suas competências, habilidades, limitações, características biológicas e psicológicas. A prática do voo se desenvolve em meio à atmosfera, mistura gasosa capaz de impor aos aeronautas e às aeronaves caprichosos fenômenos. O completo domínio desta atividade envolve a integração das ciências, das técnicas e das artes associadas a vários campos do saber. Esta integração gera várias inter e multidisciplinaridades, o que exige do profissional de aeronáutica uma capacidade de síntese diferenciada dentre os setores da atividade humana. 2. A justificativa da priorização pela geração de produtos complexos. As máquinas e equipamentos utilizados em aeronáutica são de grande complexidade. Longos prazos são requeridos para a geração de especificações, concepção, projeto, desenvolvimento, teste e certificação de produtos aeronáuticos. Esses prazos, associados ao emprego de recursos humanos especializados e de insumos de alto desempenho, conferem aos produtos aeronáuticos uma elevada densidade de valor, liderando, nesse quesito, as listas da indústria mundial. 3. A justificativa da priorização pela rápida dinâmica evolutiva. Os produtos aeronáuticos são desenvolvidos nas indústrias a partir de tecnologias pré-competitivas, que estão próximas ao limite do conhecimento humano. Este conhecimento evolui a taxas elevadas e continuamente aceleradas. Tecnologias aplicadas hoje em um dado projeto, podem se tornar obsoletas amanhã. O acompanhamento dessa rápida evolução demanda uma interação permanente entre as indústrias, os centros de pesquisa e as universidades, assim como investimentos crescentes em PD&I pelas indústrias. 4. A justificativa da priorização pelo elevado envolvimento humano. Os recursos humanos empregados em aeronáutica são de alta 161 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 162 capacitação. Os técnicos de nível médio, tecnólogos e engenheiros devem ter especializações além daquelas tradicionalmente requeridas em outros segmentos produtivos. Por outro lado, a escala de produção industrial é baixa, diminuindo o nível de automação requerido, em comparação com outros setores. Em síntese, há um elevado envolvimento humano com processos, produtos e serviços aeronáuticos. (12) A justificativa da priorização pelo poder disseminador de inovações. A característica multidisciplinar do setor aeronáutico tem como consequência a disseminação de novos conhecimentos e técnicas para outros setores industriais, via spin-offs. Os setores que mais se beneficiaram disso foram os de telecomunicações, energia, petróleo, segurança e saúde. Essa transferência provoca um aumento de escala que realimenta positivamente o setor aeronáutico pela redução de preços de componentes e sistemas. A alta qualidade do setor também contribui para o aumento da qualidade de toda a indústria nacional, na medida em que padrões, normas e requisitos de certificação aeronáutica estimulam outras indústrias a aprimorarem os seus próprios sistemas de qualidade. 5. A justificativa da priorização pela agregação de demanda via dualidade tecnológica. O desenvolvimento de sistemas de defesa requer o emprego de tecnologias sofisticadas e, de início, especificamente devotadas a emprego militar. Nos países mais desenvolvidos, são os Estados que costumam arcar com o ônus de tais desenvolvimentos. Em prazos cada vez menores, empresas desenvolvem aplicações civis dessas tecnologias. Essas aplicações têm a virtude de aumentar a escala de produção e baixar custos, com realimentação positiva para o segmento de defesa. A exploração da dualidade é questão chave para o Brasil que, devido à sua índole pacífica, faz emprego limitado de sistemas de defesa. 6. A justificativa da priorização pela baixa eficiência na gestão da cadeia de suprimentos. Indústrias aeronáuticas integradoras podem perder eficiência por duas razões. Uma é a tolerância 5. Anexos zero por falhas. Segurança é a mais importante e permanente preocupação da indústria aeronáutica, mas ela não deve gerar ineficiência. Outra pode ser a falta de um sistema único, totalmente automatizado, de gestão eletrônica dos processos da cadeia. No caso de existir tal sistema, a cadeia de suprimentos pode ter desempenho ótimo, o que facilitaria o projeto de um produto online através da reunião e do compartilhamento de dados. IV.4 Benefícios da priorização da indústria aeronáutica nas políticas públicas A combinação dessas e de outras características do setor aeronáutico produz uma série de decorrências ou benefícios, dentre as quais destacamos as seguintes: 1. Impacto na projeção internacional. A indústria aeronáutica tem um forte impacto na imagem projetada e nos rumos do desenvolvimento nacional. De 1999 a 2001, aviões lideraram a lista de produtos exportados pelo Brasil, superando tradicionais commodities. Mas o impacto não é apenas econômico. Por requerer a maior força-tarefa da engenharia nacional, a indústria tem implicações em toda área de CT&I do país. Finalmente, por gerar muitos empregos diretos e indiretos de alta qualificação, tem influência positiva na área psicossocial, através da educação e de programas sociais. 2. Recurso estratégico de Governo. Os países detentores de tecnologias aeronáuticas procuram cercá-las com ações de proteção. Inúmeros são os exemplos existentes de dificuldades para o estabelecimento de offsets comerciais e industriais em acordos no setor aeronáutico por envolverem, necessariamente, tais tecnologias. Apesar do alto interesse comercial das indústrias no fechamento de vários negócios, critérios políticos de proteção do conhecimento associado a produtos aeronáuticos podem irremediavelmente tornar tais negócios inviáveis. 163 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 164 3. Controle externo. Países tecnologicamente emergentes, como o Brasil sofrem controles externos de países mais evoluídos. Existem controles informais, como o Missile Technology Control Regime (MTCR) que, apesar de ser voltado para o setor de defesa, produz impactos no setor aeronáutico como um todo, em função dos sistemas e componentes compartilhados por dualidade. Também é sabido que os países mais evoluídos apontam para os países emergentes políticas e estratégias de desenvolvimento consideradas boas, mas que são opostas àquelas que eles próprios utilizaram para viabilizar os seus crescimentos econômicos. O objetivo é atrasar o desenvolvimento de potenciais novos entrantes em mercados estratégicos, dentre os quais encontra-se o mercado aeronáutico. 4. Suporte governamental. As indústrias aeronáuticas são fortemente apoiadas pelos seus respectivos governos. Esse apoio se manifesta de três formas: mediante políticas de incentivo fiscal e tecnológico, políticas protecionistas nas compras governamentais e suporte político de alto nível nas exportações. Os governos procuram estimular a geração de inovações para aumento de competitividade. Os governos utilizam os seus poderes de compra para controlar a distribuição de carga industrial. Finalmente, os governos empregam todos os seus esforços políticos e diplomáticos na viabilização dos negócios internacionais considerados de interesse. 5. Intensividade de capital. Qualquer programa ou projeto aeronáutico requer o investimento de grande volume de capital na indústria. Novos programas, até a certificação de protótipos, duram tipicamente cinco anos. O retorno do investimento ocorre, no caso de sucesso, apenas em médio prazo. Os riscos tecnológicos e financeiros envolvidos são, portanto, enormes. Raramente empresas desenvolvem novos programas com capital próprio. Pelo contrário, elas sempre buscam o apoio governamental, através da viabilização de pedidos firmes de aquisição ou o compartilhamento de riscos com parceiros nacionais ou internacionais. 6. Investimento em inovação. O nível de investimento em inovação 5. Anexos na indústria aeronáutica é elevado, da ordem de 5 a 20% do faturamento. Apenas inovações são capazes de gerar diferenciais competitivos e assegurar melhores posições comerciais. Assim, as indústrias devem possuir seus próprios grupos de inteligência de mercado, fazer contínua prospecção tecnológica, ter universidades corporativas associadas e centros próprios de PD&I. Dessa forma as indústrias aeronáuticas podem interagir sinergicamente com outros institutos de PD&I, universidades e órgãos de fomento à pesquisa, a fim de incrementar as oportunidades que levem a inovações significativas de produtos, processos produtivos e métodos de gestão organizacional. 165 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Anexo V Reflexões de base ao estudo sobre a indústria aeronáutica brasileira Na fase preliminar ao estudo, foi produzido internamente à equipe técnica, esse texto como um indutor primário para os debates e subsídios que transcorreram. A ideia foi estimular a interlocução, articulação e interação de personalidades da ciência, tecnologia, governo e indústria, afetos ao setor aeronáutico, a fim de se levantar contribuições para a elaboração do Programa Estratégico Setorial Aeronáutico, demandado pela ABDI ao CGEE. O texto é transcrito com pequenos ajustes ao objetivo de um anexo, que é o de prover informações de base: 166 O CGEE organizou e conduziu um workshop sobre Políticas Públicas e Institucionalidade para a Indústria Aeronáutica no Brasil, com o objetivo de subsidiar ações de governo e de instituições públicas e privadas voltadas para o crescimento social e econômico do país. O foco do estudo é a atividade industrial de aeronáutica, que compreende não só a empresa âncora, a Embraer, e as demais empresas participantes da cadeia produtiva aeronáutica, nela incluídas a Aeromot e a Helibrás, e outras, tais como as de carteira nos setores aeroespacial e de defesa. V.1 O Setor industrial aeronáutico As páginas públicas da Embraer registram-na como a maior exportadora brasileira entre 1999 e 2001, e a segunda maior em 2002, 2003 e 2004. Ela emprega cerca de 20 mil pessoas (86% no país), das quais 25% são engenheiros, e contribui para a criação de outros 5.000 postos indiretos de trabalho. Entre todos os fabricantes de aeronaves de asa fixa no mundo, ela é a terceira maior fornecedora de jatos Um tour pelas instalações de projeto, desenvolvimento, testes e integração da multinacional brasileira justifica a qualidade de vida em São José dos Campos e municípios próximos, que abrigam alguns fornecedores e parceiros industriais e de P&D da empresa. Há, no entanto, por todo o horizonte de voo da Embraer a formação ameaçadora de nuvens do tipo cumulus-ninbus, que obrigam os aeronavegantes em serviço a fazer ajustes importantes e constantes em seu plano de voo, sem descartar a necessidade de pouso de emergência. Figura 19 Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho, 1904-2000 5. Anexos comerciais e executivos, além de fornecer sistemas aéreos de defesa ao Brasil e a outras 20 forças aéreas no exterior. Em toda minha vida profissional, jamais acreditei em messianismo, estrelismo, concentração do poder e do mérito em um só indivíduo. Sempre trabalhei em equipe. E se algum merecimento tenho, é o de ter sabido despertar em meus companheiros o entusiasmo, delegar-lhes autoridade com responsabilidade, exortá-los ao pleno uso de suas potencialidades e qualidades, em proveito do povo brasileiro. Óbices à atividade de qualquer empresa privada não deveriam incomodar a sociedade – afinal, ela é uma atividade de risco. Empresas, como pessoas, nascem e morrem. O fato é que o Estado brasileiro distanciouse do papel de investidor que desempenhou no setor de fabricação seriada de aeronaves nacionais, com berço em datas anteriores à II Guerra, e que culminou com a idealização e construção, por Casimiro Montenegro Filho, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1950, e, em seu campus, dos institutos do então Comando-Geral de 167 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Tecnologia Aeroespacial Técnico Aeroespacial (CTA). O CTA, com seus institutos de pesquisa, homologação, ensaios em voo, entre outras atividades, constituíram a plataforma de lançamento da indústria brasileira que originou, desde a Aerotec à Embraer, derivações para a área espacial. A Embraer, bem como o INPE, no lado das atividades espaciais, é uma realidade sonhada por uma ilustre galeria de brasileiros que embarcaram na aventura de gerar riqueza e soberania pela produção e uso, em sinergia, do conhecimento e do domínio de tecnologias de ponta. Essas referências importantes podem ter no Estudo Prospectivo Aeronáutico a oportunidade de o Brasil reafirmar suas âncoras nesse setor ultracompetitivo e estratégico da mobilidade aeroespacial. 168 Figura 20 Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). É tempo de se instalar uma escola de verdade num campo adequado. Margeando a linha da Central do Brasil, especialmente nas imediações de Mogi das Cruzes, avistam-se campos que me parecem bons. (...) Os 5. Anexos alunos precisam dormir junto à escola, ainda que para isso seja necessário fazer instalações adequadas. (...) Penso que, sob todos os pontos de vista, é preferível trazer professores da Europa e dos Estados Unidos, em vez de para lá enviar alunos. (...) Meu mais intenso desejo é ver verdadeiras escolas de aviação no Brasil. Ver o aeroplano, hoje poderosa arma de guerra, amanhã meio ótimo de transporte, percorrendo as nossas imensas regiões, povoando nosso céu, para onde, primeiro, levantou os olhos o padre Bartolomeu de Gusmão - vaticinando a criação do ITA, em “O que eu vi, o que nós veremos” (SANTOS DUMONT, 1873-1932). A reflexão implícita no texto não peca por identificar na empresa âncora um centro de gravidade da indústria aeronáutica. A análise mais ampla para o setor deverá, contudo, incluir outros participantes históricos e igualmente colunas importantes do setor, tais como: a Aeromot, a Helibrás, os parques industriais de manutenção das frotas aéreas das forças armadas e demais, mantendo-se a lista aberta. Ainda, é preciso ter claro que o desenvolvimento das políticas públicas e uma institucionalidade construída para o setor industrial aeronáutico devem considerar os desdobramentos e afetações nos demais pilares do setor aeronáutico brasileiro: o transporte aéreo, a infraestrutura aeroportuária, e o controle do espaço aéreo. V.2 A problemática Mas a qual problema da empresa âncora, em particular, este texto se refere? Numa ótica simplificadora, nenhum; o problema não é majoritariamente da empresa, mas alerta para os interesses do Estado brasileiro. Há informações que a mais recente família de jatos regionais, o ERJ-195, incorpora todo o saldo de tecnologias de seu almoxarifado. Isso pode 169 Estudo Prospectivo – Aeronáutico significar uma dificuldade de acesso a novas tecnologias pré-competitivas para os produtos da próxima geração de aeronaves. A partir desse ponto, ao ser procedente a escassez de parceiros fornecedores de produtos competitivos, pode-se esperar um déficit tecnológico frente aos conhecidos concorrentes e novos entrantes internacionais. Uma alternativa de solução para essa situação seria o de se realizar um esforço coordenado de atualização do parque tecnológico aeronáutico brasileiro, sem descartar desdobramentos para a formação de um cluster aeronáutico na região, a exemplo dos clusters de países concorrentes. Quando 70% do PIB brasileiro produzem spin-offs no exterior, indica por que o Brasil produz cinco milhões de televisores por ano sem que nenhum brasileiro projete televisor. Ou seja, há sintomas de que um ponto de inflexão ao desenvolvimento tecnológico se avizinha. 170 Ainda, na tecla de alerta, cabe inserir uma visão externa sobre a soberania tecnológica de um Estado, conforme escreveu Alain Juliet, responsável do Governo da França para Inteligência Tecnológica, em artigo recente: As bases da soberania de um Estado já não são o nível de vida, o Produto Interno Bruto ou a capacidade exportadora. Nem sequer a sua capacidade nuclear. O cenário mundial está mudando e é um pequeno grupo de tecnologias estratégicas que irá assegurar a independência real das nações. Mas a experiência científica requerida para trabalhar nesses campos e o volume dos investimentos necessários impedirão que muitos países permaneçam na corrida tecnológica. Por isso, o lançamento de programas comuns em âmbito europeu se torna indispensável. O nível de vida, o PIB ou a capacidade exportadora já não garantem a independência e a soberania 5. Anexos de um Estado. Para poder existir em um mercado ultracompetitivo, que se converteu em mundial ou global, um Estado deve possuir e desenvolver uma excelência tecnológica permanente em alguns campos cruciais e assegurar a sua manutenção. Essa capacidade de controlar os aspectos-chave, e as novas tecnologias, vai muito além da defesa e da segurança. Incluídas estão as tecnologias de informação, da transmissão do saber, a robótica, as energias do futuro, as nanotecnologias, a manipulação genética, o meio-ambiente e muitas outras atividades. Ainda mais, o desenvolvimento desses setores de vanguarda alimenta uma poderosa corrente de criação de empregos de elevado valor agregado e gera, ao mesmo tempo, um aumento da produtividade. Em um mundo em evolução cada vez mais rápida, é preciso superar o nível de desenvolvimento das pesquisas científicas, da política industrial ou do liberalismo absoluto, e tomar consciência de que os desafios são culturais e sociais. No campo da informação e do conhecimento, a Europa não tem sabido dotar-se, a tempo, da independência que soube manter anteriormente nos campos nuclear, aeronáutico e espacial. V.3 As necessidades Apresenta-se a seguir uma síntese das principais necessidades identificadas preliminarmente para a indústria aeronáutica brasileira, segundo as oficinas de trabalho em políticas públicas e institucionalidade: 171 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Para o setor aeronáutico manter-se competitivo faz-se necessário que o Brasil: 1. Crie sua política específica para a indústria aeronáutica, tratando-a como estratégica e prioritária. 2. Invista recursos não-reembolsáveis da ordem de R$ 100 milhões anuais para projetos pré-competitivos do setor. 3. Fomente diretamente as micro e pequenas empresas, sem detrimento da infraestrutura científico-tecnológica do setor. 4. Crie uma gestão integrada de suporte, torne flexíveis e ágeis o processo de análise e contratação dos recursos, dando garantias reais de financiamento ao setor. 172 Em contribuição aos trabalhos que se seguirão e, em benefício da clareza e foco dos responsáveis pela montagem de uma política específica para o setor industrial aeronáutico brasileiro, deve-se observar que o país ainda não produziu um instrumento de políticas públicas e institucionalidade, que garanta a sobrevivência do setor nas próximas décadas. Concorrentes e parceiros externos como o Canadá, Europa e EUA dão-nos, contudo, guias oportunos. The Canadian government has released the National Aerospace and Defence Strategic Framework, a 20year vision aimed at helping Canada’s leaders in the aerospace, defense and space sectors identify where and how they can be globally competitive. The document is the result of the Canadian Aerospace Partnership process that began in April 2005 among industry, regional & national government, academia, and labour. The report addresses both global aerospace industry trends, and matters specific to Canada’s situation (http://strategis.ic.gc.ca/epic/ site/ad-adnsf/en/ad03860e.html). Aeronautics is a key asset for the future of Europe. Its direct contribution to economic prosperity is a measure of its success in pioneering the “knowledge society” that the European Union is now urgently seeking to achieve. As users, developers and suppliers of advanced innovative technologies, aeronautics companies know the value and importance of continuously developing human skills. This report is an attempt to demonstrate that Europe can continue to meet the challenge of change by mobilizing all of those interests and actors-nowadays known as “stakeholders” - behind the task of producing the competitive products and the air transport system that will be needed in the first decades of this new centur (http://ec.europa.eu/research/growth/ aeronautics2020/en/aero02.html). 5. Anexos Em demonstração à seriedade do discurso, o governo canadense injeta, em abril de 2007, US$ 700 milhões em subsídios à Bombardier. The integral role aerospace plays in our economy, our security, our mobility, and our values makes global leadership in aviation and space a national imperative. Given the real and evolving challenges that confront our nation, government must commit to increased and sustained investment and must facilitate private investment in our national aerospace sector. The Commission therefore recommends that the United States boldly pioneer new frontiers in aerospace technology, commerce, and exploration (http://www.globalsecurity.org/space/library/ report/2002/03chapter01.pdf). 173 Estudo Prospectivo – Aeronáutico Para registro da ordem de grandeza nas batalhas de subsídios entre Boeing e Airbus, em março de 2007, os EUA acusaram a Europa de subsidiar a Airbus em mais de US$ 100 bilhões para o A380 e A350. Quando a indústria aeronáutica brasileira informa que o país precisa investir recursos da ordem de R$ 100 milhões anuais para projetos pré-competitivos do setor industrial aeronáutico, é preciso incluir na análise que setores industriais, desde o ano de 2004, investem crescentemente no pré-competitivo até o limite de R$ 60 milhões por ano, suportável até 2009 ou 2010. 174 Portanto, é preciso trabalho árduo a fim de viabilizar um programa de investimentos para o setor, tendo por referência a necessidade e a previsão de cobertura de R$ 160 milhões anuais. Essa cifra deverá permitir o sucesso de uma estratégia de elevação de patamar tecnológico, das empresas brasileiras do setor e assegurar a incorporação de diferenciais competitivos em um horizonte até 2023 (15 anos). Setores industriais defendem que é preciso fomentar diretamente às micro e pequenas empresas, sem esquecer a infraestrutura científicotecnológica do setor aeronáutico industrial. Os sinais emitidos pelo setor são considerados como importante referência para a composição de uma política e adequação de sua institucionalidade. Estudo produzido pela Macrotempo & Kaiser Associates (2007), sobre o perfil do parque tecnológico, aborda a questão da ausência no país de um cluster aeroespacial e de defesa, em clara desvantagem com as concorrentes Bombardier, Airbus e Boeing, entre outras. O que se deseja é construir e fomentar um agregado de empreendimentos fornecedores de partes, tecnologias, talentos e serviços à Embraer. Primeiramente, cabe validar a preocupação com o déficit de infraestrutura física, educacional, científica e tecnológica no entorno A Airbus está apoiada principalmente em Toulouse, Hamburgo e Illescas (Toledo). Conta com 14 centros de pesquisa, aproximadamente 350 laboratórios, estímulo fiscal focado nas MPEs, linhas de crédito para a implantação do A380 e A350, fomento para educação e capacitação de talento, e excelente infraestrutura urbana; 5. Anexos da Embraer por referência aos ambientes de seus competidores: A Boeing, em Seattle, tem fortíssima interação com universidades, linhas de crédito para P&D e para a implantação do Boeing 787, incentivos fiscais por 20 anos, acima de US$ 4 bilhões em adequações de rodovias e do porto de Everett, reformas no sistema trabalhista, reformas nas estruturas dos currículos das universidades e colégios regionais, parcerias com a Ford Motor Company e outras; A Bombardier, em Montreal, conta com mais de 300 MPEs fornecedoras. O Estado está implantando programas para o desenvolvimento de mais MPEs, uma rede de 12 centros de P&D, e contam com subvenção para P&D, benefícios fiscais trabalhistas para pesquisadores estrangeiros e linhas de fomento para MPE; O México criou forte esquema para entrar no mercado de fabricação de aviões. Ele produz componentes e peças para a Boeing; a indústria já emprega mais de 11 mil pessoas; conta com suporte do governo mexicano e dos governos locais; as universidades mexicanas estão firmando acordos com as empresas do setor. Além de China, Índia, Rússia e Coréia do Sul, o Japão está de volta com o voo do Mitsubishi Jet previsto para 2012; seu parque fabril produz, com altíssima qualidade, fibra-carbono, titânio aeronáutico e outros materiais nobres para o setor; acumulou conhecimento fornecendo para a Boeing ao longo de 30 anos; detém 35% em parceria de risco pela cabine de passagens do Boeing 787; a Mitsu175 Estudo Prospectivo – Aeronáutico bishi Jet recebe incentivos governamentais para P&D, desde 2003; por política pública local, essa empresa já tem demanda garantida por empresas de transporte aéreo japonesas via financiamentos, aparentemente, do Estado. O Brasil tem que mostrar a que veio nesta corrida de potências em aeronáutica. É preciso construir um projeto de país a partir também do conceito de soberania tecnológica. Os setores de aeronáutica, espaço e defesa são ótimos fornecedores de proa tecnológica. Antes de submeter algumas linhas de ação sugeridas por especialistas do setor, vale complementar e lembrar a quarta necessidade apontada pela indústria aeronáutica brasileira: o país deve criar uma gestão integrada de suporte, tornar flexível e ágil o processo de análise e contratação dos recursos, dando garantias reais de financiamento ao setor. 176 Tal recomendação remete diretamente à questão da institucionalidade setorial. São José dos Campos não é um cluster aeronáutico coordenado. Afora o justo enaltecimento das atividades aeroespaciais e de defesa, a partir do Vale do Paraíba, não se justifica a ausência de sinergia entre as entidades maiores da região, senão pela inexistência de um modelo bem estruturado de gestão de suas especificidades técnicas e culturas organizacionais. Ao CTA e ao INPE cabem a oportunidade e a primazia de liderarem um processo agregador de soluções frente à sociedade que os têm em altíssima conta de investimento. As questões de âmbito legal, burocrático e financeiro, indicadas pela empresa, reclamam por um maior e melhor articulado emprego de instrumentos de apoio vertical, tais como, compras governamentais, subvenção econômica e financiamento pelos órgãos do Governo Federal. E de apoios horizontais, do governo municipal e estadual, por meio de incentivos fiscais. 5. Anexos Contudo, verifica-se que é preciso deliberar sobre a participação estatal, não-eventual, nos custos de P&D da indústria privada. Entrevistas com stakeholders unanimemente apontam para a existência de hiatos de comunicação e coordenação com órgãos de financiamento e fomento como BNDES, Finep e Fapesp para os projetos de importância estratégica para o país. Daí espera-se que essa questão da institucionalidade para o setor seja muito bem discutida e claramente equacionada. V.4 A construção do programa estratégico Dadas as considerações acima, com foco na motivação e problematização do setor industrial aeronáutico, é necessário fazer uma menção à visão futura da Embraer, por ser a empresa âncora, e seu resumo de linhas estratégicas, de modo a facilitar a cooperação de especialistas externos com os esforços da mesma para, daí, o país extrair os benefícios econômicos e sociais decorrentes de uma política e institucionalidade próprias: Visão de futuro da empresa âncora – Existência de uma indústria aeronáutica brasileira dinâmica e competitiva, representadas por empresas detentoras de processos maduros e com estruturas industriais e comerciais confiáveis, com capacidade de investir, inclusive a risco, e de vender para o mercado internacional. Resumo de linhas estratégicas da empresa âncora – O esforço de fortalecimento da indústria aeronáutica exigirá um projeto estratégico de longo prazo, de forma a eliminar os bloqueios existentes, de modo a viabilizar o crescimento da indústria aeronáutica brasileira de forma sustentada: 1. Fontes de financiamento competitivas para investimentos e capital de giro. 2. Uma estrutura fiscal e tributária simplificada que desonere produção e exportação. 3. Linhas de financiamento competitivas para exportação. 177 Estudo Prospectivo – Aeronáutico 4. Projeto de nacionalização para alavancar a transferência de atividades para o Brasil. 5. Acesso a tecnologias críticas. 6. Desenvolvimento da capacidade de gestão dos fornecedores. A visão da empresa âncora que sugere um posicionamento em curto e médio prazo da sociedade é oferecida em sua carteira de necessidades de desenvolvimentos pré-competitivos. De forma abreviada e assumindo uma abordagem conceitual inerente à empresa de avião lógico, em contraste ao avião físico, o parque tecnológico brasileiro pode disponibilizar o seguinte portfólio de desenvolvimento tecnológico, com um grau de qualidade em nível de exigência do mercado internacional: 178 A. Sistemas integrados e software embarcado A.1 Monitoramento da saúde da aeronave A.2 Desenvolvimento de software embarcado A.2.1 Fly-by-wire A.2.2 Sistemas aviônicos B. Eficiência de Estrutura B.1 Novas estruturas metálicas B.2 Interiores B.3 Novas estruturas de compósitos C. Simulações C.1 Ruído externo C.2 Ruído na cabine C.3 Aerodinâmica. Em um levantamento preliminar, foram selecionadas as seguintes tecnologias-chave para abastecer a indústria aeronáutica brasileira de forma competitiva no próximo horizonte: fibra de carbono, titânio aeronáutico e materiais nanoestruturados. Nota: Perspectiva de construção de uma soberania tecnológica para o Brasil a partir da vocação aeroespacial e de defesa da região do Vale do Paraíba. Há indícios favoráveis de que o processo de construção de âncoras brasileiras para o setor aeronáutico está em rápido amadurecimento nos âmbitos municipal de São José dos Campos e no estadual do governo de São Paulo. Estudos foram feitos quanto à necessidade e oportunidade ligadas ao desenvolvimento do Núcleo do Parque Tecnológico de São José dos Campos em uma instituição de governança de referência e pólo de materiais avançados, impulsionando também as atividades de ensino, ciência, tecnologia e inovação aeroespacial e de defesa. Registre-se que a construção de estratégias em médio e longo prazo, dentro do estudo Prospectivo Aeronáutico, deve considerar e cooperar com estes esforços locais, sob pena de deformar e fragilizar o projeto como um todo. A trajetória de prosperidade para o setor depende de o governo federal somar esforços, dispensando às iniciativas da empresa âncora, dos governos locais e das instituições cooperadas uma prioridade de Estado, com estratégias e instrumentos de apoio, rumo a um melhor patamar de soberania tecnológica com a garantia do crescimento econômico e social no país. Figura 21 Região em estudo para o Parque Tecnológico de São José dos Campos Fonte: http://earth.google.com. 179 Bibliografia Xxxxxx Estudo Prospectivo – Aeronáutico Aeroálcool (2007). Histórico do Uso do Álcool em Motores no Brasil. Disponível em: <http://www.aeroalcool.com.br/historico.htm#9> Acesso em: junho de 2007. AIRBUS (2004), Global Market Forecast 2004-2023, Disponível em: <http://www.airbus.com/store/mm_repository/pdf/att00003033/ media_object_file_GMF2004_full_issue.pdf> Acesso em: junho de 2007. ALMEIDA, S. F. M., BRANDÃO, M. P. e GERENCER, R. (1993), A Filosofia CIM e a Tecnologia da Mobilidade. 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Disponível em http://www.embraer.com 13 Boeing Co. Market Outlook 2007. Disponível em http://www.boeing.com 14 Prof. R. John Hansman, “Overview of Recent Trends in the Airline Industry,” Massachusetts Institute of Technology, 2005 15 Bombardier Aerospace Commercial Market Forecast 2007-2026 16 Boeing Co. Boeing Market Outlook 2007 http://www.boeing.com. 17 Unmanned Aircraft Systems Roadmap 2005-2030 – United States Department of Defense. 1 196