APTIDÃO CARDIORRESPIRATÓRIA E RISCO CARDIOVASCULAR EM ADOLESCENTES Luiz Roberto Paez Dib (PIBIC/Fundação Araucária-UENP), Rinaldo Bernardelli Junior (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências da Saúde. Campus Jacarezinho, PR. Ciências da Saúde – Educação Física. Palavras-chave: Doença arterial coronariana, aptidão cardiorrespiratória, adolescentes. Resumo: Estilos de vida potencialmente causadores de aterosclerose iniciam-se durante a infância, portanto a intervenção precoce sobre esses estilos de vida poderia ter impacto sobre o comportamento adulto, reduzindo a prevalência dessa patologia. Estudos desta natureza com a população adulta demonstram uma relação negativa entre alto nível de aptidão cardiorrespiratória e o risco de doença arterial coronariana (DAC), porém os estudos com crianças e adolescentes são contraditórios e escassos. O presente estudo pretende verificar se a aptidão cardiorrespiratória está associada com a predisposição ao desenvolvimento de DAC em crianças e adolescentes da cidade de Jacarezinho. Foram avaliados 200 indivíduos, sendo que 100 meninos e 100 meninas. Os adolescentes foram submetidos a avaliações hemodinâmicas, bioquímicas, antropométricas e a um teste para predição da aptidão cardiorrespiratória. Nas associações entre aptidão cardiorrespiratória foi observado associação negativa significativa com os triglicerídeos (r=-0,2; p<0,05). O presente estudo demonstrou que quanto maior o VO2máx. menor são as concentrações de triglicerídeos plasmático. Introdução A DAC é indiscutivelmente a doença mais encontrada na população brasileira, tendo seu ônus econômico crescido exponencialmente nas últimas décadas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2001). Dentre os fatores de risco para aterosclerose, os mais freqüentes são a hipercolesterolemia, tabagismo, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia, obesidade, diabetes mellitus, sedentarismo e história familiar de DAC precoce (GERBER; ZIELINSKY, 1997). O exercício físico pode atuar como um mecanismo preventivo, pois além da melhora da função cardiovascular, ele também promove alterações bioquímicas e hemodinâmicas significativas (redução na pressão arterial, aumento da high density lipoprotein cholesterol (HDL-C), redução da low density lipoprotein cholesterol (LDL-C) e triglicérides plasmáticos e aumento Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. da tolerância à glicose), resultando na melhora da saúde do indivíduo (BOREHAM; RIDDOCH, 2001; TWISK, 2001). Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo associar nível de aptidão cardiorrespiratória com os fatores de risco cardiovascular em adolescentes de Jacarezinho de ambos os sexos. Materiais e métodos A amostra foi composta por crianças e adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 10 e 17 anos, matriculadas na rede de ensino pública da cidade de Jacarezinho, PR. A amostra final foi de 200 indivíduos, sendo 100 meninos e 100 meninas avaliados. Este estudo foi aprovado pelo comitê e ética em pesquisa com seres humanos da UENP. Para predição do VO2máx, foi utilizado o teste de vai-vem de 20m proposto e validado por Léger et al. (1988). A pressão arterial foi mensurada através do método auscultatório, seguindo os parâmetros estabelecidos pelo The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents (2004). Pressão arterial sistólica foi definida com o som de Korotkoff fase 1 e diastólica com o Korotkoff fase 5. Os sujeitos foram instruídos com uma semana de antecedência sobre alguns cuidados que deveriam tomar para participarem da coleta sanguínea, conforme recomendações da Sociedade Brasileira de Cardiologia ( 2001): a) jejum prévio obrigatório de no mínimo 12h; b) evitar o consumo de álcool 3 dias antes do teste; e c) evitar o abuso alimentar (em especial gordura) no dia anterior. Para dosagem do CT, HDL-C e TG foi usado o método enzimáticocolorimétrico automatizado (ABBOTT SPECTRUM, modelo CCX). O LDL-C calculado pela fórmula de Friedewald et al. (1972) (LDL-C = TC – HDL-CTG/5). Os valores de referências adotados para definir o perfil de risco aterogênico estão de acordo com a proposta apresentada para crianças e adolescentes na I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e Adolescência (2005): colesterol total: limítrofes 150-169 mg/dL, aumentados ≥170 mg/dL; colesterol HDL-C: diminuídos < 45 mg/dL; colesterol LDL-C: limítrofes 100-129 mg/dL; aumentados ≥130 mg/dL; triglicérides: limítrofes 100-129 mg/dL; aumentados ≥130 mg/dL. Para analise estatística foi utilizado o Software SPSS for Windows, versão 13.0. O método de distribuição de freqüência foi usado para descrição das prevalências e para as associações à correlação de Pearson, nível de significância de p<0,05. Resultados e Discussão Para o sexo masculino os valores médios para as variáveis avaliadas foram: VO2máx: 47,94 ± 5,37ml kg min ; PAS: 96,6 ± 13,7 mmHg; PAD: 69,1 ±10,9 mmHg; Colesterol Total: 138,7 ± 28,1 mg/dL; HDL-C: 44,5 ±9,9 mg/dL; LDL-C: 77,2 ±27,7 mg/dL; Triglicerídeos: 84,9 ±32,6 mg/dL. .-1 .-1 -1 Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Para o sexo feminino: VO2máx: 40,83 ± 4,69 (ml kg min ); PAS: 91,8 ±12,4 mmHg; PAD: 67,8 ±11,5 mmHg; Colesterol Total: 141,5 ±27,1 mg/dL; HDLC: 47,1 ±14,3 mg/dL; LDL-C: 77,2 ±26,3 mg/dL; Triglicerídeos: 80,1 ±37,1 mg/dL. Nas associações entre aptidão cardiorrespiratória e os parâmetros descritos acima foi observado associação negativa significativa com os triglicerídeos (r=-0,2; p<0,05) demonstrando que quanto maior o VO2máx. menor são as concentrações de triglicerídeos plasmático. Já para o sexo feminino, não foi observada significância estatística entre as variáveis avaliadas. Percentual das prevalências limítrofes e aumentados para o risco de DAC: Sexo masculino: PA: 23,2%, CT (mg/dL): 35,1%, HDL-C (mg/dL): 60,2%, LDL-C (mg/dL): 22,2%, Triglicerideos (mg/dL): 22,2%. Sexo Feminino: PA: 25,5%, CT (mg/dL): 33,4%, HDL-C (mg/dL): 49,2%, LDL-C (mg/dL): 19,3%, Triglicerideos (mg/dL): 22,7%. O presente estudo vai de encontro com o observado em estudos anteriores, no qual a melhor aptidão cardiorrespiratória está diretamente associado a um menor risco cardiovascular. As medidas da aptidão física têm sido sugeridas como preferíveis em relação às da atividade física, por sua maior objetividade e menor possibilidade de erros (RODRIGUES et al., 2007). Indivíduos com melhor aptidão cardiorrespiratória apresentam também nível de atividade física mais satisfatório. Apesar de o presente estudo ter levado em consideração apenas a aptidão cardiorrespiratória, outros parâmetros podem ser determinantes para desenvolvimento dos fatores de risco, como hábitos alimentares, por exemplo, porém essa única variável de fácil obtenção pode ser utilizada com segurança. Guedes e Guedes (2001) mostram que um cotidiano mais ativo fisicamente, juntamente com estimativas mais elevadas do consumo máximo de oxigênio demonstraram relações significativas inversas com níveis comprometedores de pressão arterial. Em outro estudo com adolescentes Stabelini et al. (2008), comprovaram as evidências prévias de que existe uma relação inversa entre os índices de VO2máx com os fatores de risco em adolescentes do sexo masculino. .-1 .-1 -1 Conclusões Como a aptidão cardiorrespiratória está associada ao desenvolvimento dos fatores de risco para doenças cardiovasculares, este parâmetro deve fazer parte de um conjunto de avaliações para a determinação do risco cardiovascular em crianças, adolescentes e adultos em virtude de sua fácil obtenção e alta confiabilidade. Agradecimentos Fundação Araucária e Laboratório de Análises OURILAB da cidade de Ourinhos. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Referências III Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias e diretriz de prevenção da aterosclerose do departamento de aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2001;77(sIII):1-48. Gerber ZRS, Zielinsky P. Fatores de risco de aterosclerose na infância. Um estudo epidemiológico. 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