O Nordeste e a Mortalidade por Infarto Agudo do Miocárdio: uma preocupação constante Natália Herculano Pereira1 Frederico Fávaro Ribeiro 1 Renata Newman Leite Cardoso dos Santos1 Bruna Lopes da Silva 1 Eufrásio de Andrade Lima Neto2 César Cavalcanti da Silva2 1 Introdução As doenças do aparelho circulatório (DAC), por sua importância e magnitude, representam um dos mais importantes problemas de saúde da atualidade, tanto em países desenvolvidos quanto em países emergentes, dentre eles o Brasil. Dentre as DAC, destacamse as doenças isquêmicas do coração (DIC) e as doenças cerebrovasculares (DCBV)(1,2). Fazendo parte das DIC está o infarto agudo do miocárdio (IAM), que representa uma das principais causas de óbito e incapacidade em homens e mulheres acima de trinta anos de idade. Apesar da tendência de declínio observada a partir da década de 80 em vários países, a mortalidade por doença isquêmica permanece elevada no Brasil(1,4,5). As regiões Nordeste e Centro-Oeste lideram o ranking das taxas de mortes por IAM, representando 28% do total no país. Vários estudos têm mostrado a importância da inclusão dos fatores ambientais, diferenças sociais associadas à renda, escolaridade, ocupação e classes sociais relacionados a esse agravo para a compreensão de como o contexto afeta a saúde de grupos populacionais(6,8). Mesmo após o profundo aperfeiçoamento assistencial e terapêutico que o Brasil vem apresentando nos últimos anos a taxa de mortalidade por IAM continua a crescer. Então, o objetivo deste estudo foi avaliar a mortalidade por IAM e determinar as áreas de risco nos noves estados da Região Nordeste. 2 Material e métodos Trata-se de uma pesquisa documental, com abordagem quantitativa. Foram utilizadas as bases de dados referentes ao Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), disponibilizadas no DATASUS. As informações sobre a população residente, dos Estados da Região Nordeste que possui uma área de 1.554.257 km2, dividida entre os Estados de Maranhão, Piauí, Ceará, 1 2 Discentes do Programa de Pós-graduação em Modelos de Decisão e Saúde – UFPB. e-mail:[email protected] Doscentes do Programa de Pós-graduação em Modelos de Decisão e Saúde – UFPB. 1 Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia que juntos formam uma população de 51.871.449 foram obtidas através do Censo Demográfico de 2010 (IBGE). Foram analisados os óbitos cuja causa básica foi IAM (código I21 da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – 10 a Revisão (CID-10)), ocorridos na Região Nordeste entre o ano de 2000 e 2010. Inicialmente foi calculada a razão de mortalidade por IAM (RM/IAM) nos estados da Região Nordeste, nos anos censitários de 2000 a 2010, em relação ao total de óbitos ocorridos nos referidos estados no período considerado no estudo. Com o objetivo de estimar o risco de morrer por IAM nos estados da Região Nordeste, procedemos ao cálculo do coeficiente de mortalidade bruto (CMB), por 100.000 habitantes, nos estados da Região Nordeste, no mesmo período. Para se avaliar a intensidade do IAM na Região Nordeste, calculou-se o risco relativo (RR), que consiste no quociente entre a RM/IAM em um Estado e a RM/IAM em toda área da Região Nordeste. Matematicamente falando, tendo uma região geográfica formada por áreas continuas e disjuntas denotado por A1, A2, A3,...,Aj, onde Xi (i = 1, 2, 3,..., j) representa a variável aleatória correspondente a ocorrência da doença ou agravo e Ni (i = 1, 2, 3,..., j) a população residente em uma área Aj, o RR denotado por θj de uma região Aj a dada por (3): (1) Na pesquisa em questão, foi calculado o RR para cada estado da região Nordeste em relação a toda região. Quando o RR de algum estado for inferior a um, isso implica dizer que ele apresenta um risco menor que o da Região Nordeste e quando for superior a 1, que o RR do estado é maior que o da Região Nordeste. Com base no exposto, para a elaboração dos mapas de risco, procedemos com a criação dos intervalos de classe referentes aos valores de RR obtidos, onde a cada intervalo será vinculado uma cor, que representarão, no mapa plotado, o RR de cada estado, permitindo uma melhor visualização para as análises comparativas(7). A formulação dos mapas de risco foi realizada através do software R versão 2.14.2 com os pacotes DCluster e maptools (R, 2012). 2 3 Resultados e discussões Mediante a análise dos dados secundários foi possível constatar que ocorreram 167.095 mortes por IAM no período de 2000 a 2010 no Nordeste, das quais os Estados de Pernambuco (46.563 óbitos) e Bahia (34.152 óbitos) foram os com maior quantidade de óbitos, seguidos pelo Ceará (24.771), Maranhão (13.496), Paraíba (13.492), Rio Grande do Norte (11.220), Piauí (9.561), Alagoas (7.879) e Sergipe (5.230). Para melhor compreensão da situação, no Nordeste, as razões de mortalidade por IAM foram avaliadas anualmente, sendo assim possível constatar que a mesma apresenta uma evolução crescente nos 11 anos analisados. Todos os anos obtiveram um incremento na RM/IAM, e esse aumento foi de 64 % em 2010 se comparado a 2000. Ocorrendo apenas uma diminuição discreta do ano de 2006 para 2007. Figura 1: Taxa de mortalidade por IAM no Nordeste no período de 2000 a 2010. Fonte: DATASUS, 2013. Pesquisas veem demonstrando que a tendência de risco de morte por DAC nas regiões geográficas brasileiras, mais especificamente o risco de morte por DCbV e DIC, no período de 1979 a 1996, havia diminuído nas regiões Sul e Sudeste, as mais desenvolvidas do país, e aumentou nas menos desenvolvidas, particularmente no Nordeste e Centro-Oeste, dados que corroboram com a pesquisa em questão, uma vez que a região Nordeste apresentou aumentos em sua RM/IAM(2,5). O declínio anual das taxas de mortalidade por DIC tem sido descrito em diversas capitais do Brasil. Estudos que analisavam as tendências de mortalidade por IAM em Curitiba entre 1980 até 1998 e 1998 até 2009 evidenciaram tendência de diminuição de mortalidade por IAM, dados que não corroboram com os encontrados na pesquisa em questão, já que a tendência de mortalidade aumentou com o passar do tempo na região nordeste(1). Apesar de estudos apontarem o declínio das taxas de mortalidade por DAC no Brasil, e que esse declínio começou pouco mais de 40 anos após o início do período de crescimento econômico, nos estados da região nordeste as taxas de mortalidade por IAM só fazem crescer com o passar dos anos. Como explicações pode-se apontar: áreas com condições 3 desfavoráveis, as regiões com níveis sócio-econômicos muito baixos, o difícil acesso ao tratamento adequado e o inadequado preenchimento dos atestados de óbito e das estatísticas de saúde, questões essas que podem corroborar com o aumento da RM/IAM(4,8). Para a melhor compreensão da situação epidemiológica do IAM mediante as informações obtidas até o momento, também foram calculados os Riscos Relativos (RR) para um indivíduo morrer por IAM nos noves Estados, o que permitiu a comparação dos Estados com o Nordeste e entre os Estados, e avaliar evolução do risco com o passar dos anos (Figura 2). Figura 2: Mapas de risco relativo para óbito por IAM durante o período de 2000 a 2010. Com a análise da figura 2 foi possível constatar que durante os 11 anos analisados, a área de maior risco de óbitos por IAM permanece praticamente inalterada, sendo composta pelos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, os quais apresentam um risco igual ou superior ao do Nordeste. Os estados do Maranhão, Bahia, Sergipe, Ceará e Alagoas possuem um risco menor ou igual ao do Nordeste. O estado do Piauí apenas em 2000, 2002, 2004 e 2005 permanece com o risco relativo menor ou igual ao do Nordeste. E por fim, o estado da Paraíba a partir de 2004 apresenta um risco igual ou superior ao do Nordeste. Para os estados que apresentavam risco de morte por IAM inferior ao do Nordeste nos primeiros anos, a melhora no diagnóstico da causa de morte pode explicar parcialmente o aumento na tendência da taxa de mortalidade por doenças circulatórias nesses estados. No entanto, com o passar dos anos e com o desenvolvimento econômico do Brasil essa mortalidade era para estar sendo reduzida, onde se note que as ações de Saúde Pública não estão sendo eficazes para a detecção dos fatores de risco e assim redução dessa mortalidade(2,6). Uma das limitações do presente estudo é que os dados utilizados para a discussão datam de anos anteriores e evidencia a dificuldade em publicar análises com dados de vários anos pela demora em preparar os dados e de se ter acesso aos bancos de dados. Outra limitação é 4 que os vários trabalhos publicados até agora analisam os dados de mortalidade das DAC e não apenas por IAM, no entanto, esses dados remetem em parte a realidade do IAM, por ser esta a doença mais frequente dentre as DAC, fazendo parte das DIC. 4 Conclusões Os resultados desse estudo sugerem um progressivo aumento na mortalidade por IAM na Região Nordeste. No entanto, deve-se ter em mente que as regiões geográficas do Brasil e suas respectivas capitais, por sua heterogeneidade cultural, demográfica, socioeconômica e política, têm suas populações submetidas a fatores de risco diferentes. Também são diferentes nas diversas regiões a qualidade da assistência prestada, a capacidade diagnóstica e a qualidade das informações fornecidas, mas, a fim de reduzir as taxas de mortalidade é primordial a intensificação do controle dos fatores de risco e do maior acesso da população aos serviços de saúde. 5 Bibliografia [1] BAENA, C.P.; OLANDOSKI, M.; LUHM, K.R.; COSTANTINI, C.O.; GUARITA-SOUZA, L.C.; FARIA-NETO, J.R. Tendência de Mortalidade por Infarto Agudo do Miocárdio em Curitiba (PR) no Período de 1998 a 2009. Arq Bras Cardiol. n.98, v.3, p.211-217, 2012. [2] CESSE, E.A.P.; CARVALHO, E.F.; SOUZA, W.V.; LUNA, C.F. Tendência da Mortalidade por doenças do Aparelho Circulatório no Brasil: 1950 a 2000. Arq Bras Cardiol. n.93, v.5, p.490-497, 2009. 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