USOS E COSTUMES Moçambique Nomes de clãs e sua origem O povo Vatshwa é constituído por vários clãs. Entre outros, contam-se os Xiruki, Valoyi e os Nheve. Histórias transmitidas de geração em geração explicam a origem dos seus nomes texto Alceu Agarez foto Ana Paula Xiruki: No tempo em que não havia fósforos, era normal conservar o fogo sempre aceso para não ter de o acender todas as manhãs, com os métodos primitivos. Era difícil e moroso. Ainda hoje muitas famílias conservam tições acesos em suas casas. Aconteceu que uma família nómada e errante recebeu uma área para habitar e cultivar. Para cozinhar e aquecer-se, dirigiu-se a casa dos vizinhos para lhes pedir fogo. O pedido foi satisfeito, mas não tinham onde levar as brasas. Foram a um ninho de térmitas, que levantam um monte de barro de enorme dureza, chamado «ruka», em língua local. Partiram um pedaço de ruka onde levaram algumas brasas para casa. Assim, os vizinhos passaram a chamar-lhes os «Xiruki», ou seja, a família «va ka Xiruki». mentando que, levando a mulher, o esqueceria a ele, à mulher e aos filhos, abandonando-os a uma grande solidão. O irmão mais novo insistiu que não e prometeu ajuda, convidando-o a nadar e a atravessar o rio. Seguindo o mais novo que levava a esposa às costas, a um certo ponto, o irmão mais velho começou a afundar-se e acabou por afogar-se. Quando o irmão mais novo regressou para levar a cunhada e os sobrinhos, estes recusaram-se a atravessar o rio, chamando-lhe intrujão e, pior ainda, feiticeiro que empurrava as pessoas para a morte. Feiticeiro na língua local diz-se «Muloyi» e «Valoyi» Deslocação de clãs Valoyi. Quando Gungu nhana fez guerra contra os portugueses, dois irmãos viviam com as respectivas famílias numa área assolada pelo conflito. Decidiram procurar refúgio noutra terra. Quando chegaram junto a um rio, o irmão mais novo, que era muito inteligente e sabia nadar, atravessou o rio a nado, levando o filho, às costas, até à outra margem. Quando voltou atrás para levar a esposa, o irmão mais velho protestou, argu- no plural. Os membros do clã deste homem, que atravessou o rio com a esposa e o filho, ficaram a ser chamados Valoyi, isto é, feiticeiros. Entre os Vatshwa há muitas famílias com este apelido. Os sobrinhos e a cunhada, que ficaram do outro lado do rio, são chamados «Magala-Chombe», ou seja, «os que vivem na margem do rio», onde habitavam os «Nheve» ou «va ka Nheve». Quando um homem dos «va ka Nheve» encontrou a mulher à beira-rio, decidiu levá-la consigo e desposou-a, tendo tido filhos dela. Assim os filhos de ambos os maridos são irmãos maternos. É por isso que, ainda agora, os membros dos clãs «Magala-Chombe» e «va ka Nheve» se consideram irmãos maternos. Na antiguidade, conservava-se o fogo sempre aceso FÁTIMA MISSIONÁRIA 22 AGOSTO/SETEMBRO 2010 Ao longo dos tempos, vários clãs entraram nas terras dos Vatshwa. As deslocações aconteceram, sobretudo, em períodos de guerra. São exemplos a invasão da tribo Ngone da África do Sul, sob o comando de Chaka Zulu, e a da guerra de Ngungunyane contra as tropas coloniais portuguesas. Por exemplo, os Matsinye são originários da Ponta do Ouro, região do Katembe, na província de Ma puto. Mas, por causa da invasão Ngone, ter-se-ão deslocado para junto da lagoa de Xikungusa, no distrito de Morrumbene, confinante com o distrito de Massinga, espalhando-se por toda esta área, através do casamento. Embora de origem Ronga (no Maputo), assumiram com muita facilidade a cultura dos Vatshwa.