i UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA RODRIGO JOSÉ SARAIVA DE BARROS QUANTIFICAÇÃO DE CÍRCULOS EXCISADOS DURANTE O REARRANJO DO RECEPTOR DE CÉLULA T (TREC) EM PACIENTES INFECTADOS POR HTLV-1 BELÉM 2011 ii RODRIGO JOSÉ SARAIVA DE BARROS QUANTIFICAÇÃO DE CÍRCULOS EXCISADOS DURANTE O REARRANJO DO RECEPTOR DE CÉLULA T (TREC) EM PACIENTES INFECTADOS POR HTLV-1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. Orientadora: Profa. Dra. Hellen Thaís Fuzii BELÉM 2011 iii RODRIGO JOSÉ SARAIVA DE BARROS QUANTIFICAÇÃO DE CÍRCULOS EXCISADOS DURANTE O REARRANJO DO RECEPTOR DE CÉLULA T (TREC) EM PACIENTES INFECTADOS POR HTLV-1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, aprovado com o conceito ___________________ Belém (PA), 12 de Dezembro de 2011. Banca Examinadora: __________________________________ Profa. Dra. Hellen Thaís Fuzii NMT – UFPA (Orientadora) __________________________________ Profa. Dra. Esther Iris Christina Freifrau von Ledebur ICB – UFPA (Membro) __________________________________ Profa. Dra. Fabíola Elizabeth Villanova NMT – UFPA (Membro) _________________________________ Profa. Dra. Denise da Silva Pinto ICS – UFPA (Suplente) iv “Depois de algum tempo, você aprende... Que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser; Que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto; Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo; E você aprende que realmente pode suportar... Que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida.” (Willian Shakespeare) v DEDICATÓRIA Aos meus pais e irmã por todo amor, carinho e compreensão dedicados a mim ao longo da vida, sem o qual jamais poderia me erguer diante dos desafios. A todos os pacientes infectados pelo HTLV que colaboraram com este trabalho... As dificuldades trazidas pela doença não comprometeram sua esperança. Um forte exemplo de luta. vi AGRADECIMENTOS A minha orientadora, Profa. Dra. Hellen Thaís Fuzii, obrigado pela paciência, pelo apoio, incentivo, pelos ensinamentos fundamentais ao meu aprendizado, amizade e acima de tudo obrigado por acreditar na realização deste trabalho. Quero expressar os meus sinceros agradecimentos ao Prof. Dr. Juarez Antônio Simões Quaresma, não só por ser um de meus orientadores, mas pela amizade e por acreditar em minha capacidade para atuar nos projetos sob sua coordenação e, sobretudo pela ajuda em meu crescimento científico, lutando pelas minhas causas no decorrer deste ciclo. A grande Profa. Dra. Fabiola Elizabeth Villanova, pessoa que esteve sempre disposta a me ajudar, ensinando as variadas técnicas, cedendo seus reagentes e contribuindo com a minha formação; agradeço pelas conversas calorosas acerca de diversos assuntos, como computadores e Argentina; por me apresentar a história da ciência, tornando meu aprendizado mais estimulante, particularmente no que diz respeito à genética e virologia. Devo confessar que antes de conhecê-la sabia pouco sobre “gigantes”. A Profa. Dra. Lourdes Garcez, que facilitou meu acesso a fontes bibliográficas. Além disso, conseguiu, em poucas palavras, me fazer compreender a importância dos princípios e valores éticos na pesquisa e na vida. Aos amigos do Laboratório de Imunopatologia, em destaque George Alberto Dias, pela imensa ajuda na coleta de dados e amostras biológicas dos pacientes neste estudo, pelo companheirismo e troca de informações. A todos meus familiares e amigos, pelo carinho e apoio. A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. vii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1 1.1 RETROVÍRUS 1 1.2 VÍRUS LINFOTRÓPICO DE CÉLULAS T HUMANA (HTLV) 2 Biologia do HTLV 5 Patologias associadas ao HTLV 11 1.3 PARAPARESIA ESPÁSTICA TROPICAL/MIELOPATIA ASSOCIADA AO 12 HTLV (PET/MAH). 1.4 RESPOSTA IMUNOLÓGICA CONTRA O HTLV-1 NA PET/MAH 16 1.5 O TIMO HUMANO 18 2 OBJETIVOS 21 2.1 OBJETIVO GERAL 21 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 21 3 MATERIAL E MÉTODOS 22 3.1 CASUÍSTICA 22 Pacientes 22 Critérios de inclusão 22 Critérios de exclusão 22 Aspéctos éticos 23 Avaliação clínica 23 MÉTODOS LABORATORIAIS 23 Separação das células linfomononucleares 23 3.2 viii Extração do ácido nucléico 24 Clonagem de TREC 24 Purificação do DNA plasmidal de Escherichia coli contendo TREC 25 Quantificação do DNA 26 Detecção e quantificação de partículas TREC 26 Análise estatística 27 4 RESULTADOS 28 4.1 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA DOS PACIENTES 28 4.2 CONTAGEM DE LINFÓCITOS T CD4+ E CD8+ 28 4.3 RAZÃO CD4+/CD8+ 30 4.4 QUANTIFICAÇÃO DE PARTÍCULAS TREC 31 4.5 CORRELAÇÃO DE PEARSON ENTRE CD4+, CD8+ E TREC COM A 33 IDADE Linfócitos T CD4+ e idade 33 Linfócito T CD8+ e idade 33 Partículas TREC e idade 34 5 DISCUSSÃO 35 6 CONCLUSÕES 37 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 38 ANEXOS 47 ix LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1 Hipóteses da possível disseminação do HTLV-1 por meio do fluxo 3 migratório humano, deduzida a partir da topologia da árvore filogenética e fundo antropológico. Figura 2a Mapa ilustrando a distribuição global da prevalência da infecção pelo 4 retrovírus HTLV-1. Figura 2b Mapa ilustrando a distribuição global de populações endêmicas e epidêmicas para a infecção pelo retrovírus HTLV-2. 4 Figura 3 Representação esquemática da estrutura morfológica do HTLV. 6 Figura 4 Representação esquemática do ciclo de replicação do retrovírus HTLV. 8 Figura 5 Estrutura esquematizada do genoma do HTLV. 9 Figura 6a Esquema demonstrando as células gliais infectadas pelo HTLV de acordo com a hipótese da citotoxidade direta. 14 Figura 6b Representação esquematizada da hipótese da autoimunidade na patogênese da PET/MAH. 15 Figura 6c Representação esquemática da hipótese do dano colateral na patogênese da PET/MAH. 15 Figura 7 Comparação entre a contagem de linfócitos T CD4+ (a) e CD8+ (b) entre os grupos NPA e PA. 30 Figura 8 Comparação da razão CD4+/CD8+ entre os grupos PA e NPA. 31 Figura 9 Comparação do número de TREC entre os grupos NPA e PA. 32 Figura 10 Correlação de linfócitos T CD4+ com a idade nos grupos NPA e PA. 33 Figura 11 Correlação de linfócitos T CD8+ com a idade nos grupos NPA e PA. 34 Figura 12 Correlação de partículas TREC com a idade nos grupos NPA e PA. 34 Tabela 1 Resumo dos dados referentes aos indivíduos incluídos nos grupos NPA e PA. 28 Tabela 2 Contagem fenotípica de Linfócitos T em indivíduos dos grupos NPA e PA 29 Tabela 3 Dados referentes à quantificação de TREC em indivíduos dos grupos PA e NPA. 31 x LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS °C Graus Centígrados µL Microlitro µM Micromolar AIDS Acquired immunodeficiency syndrome (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) ATLV Adult T cell Leukemia Virus (Vírus da Leucemia de Células T do Adulto) CD Cluster of Differentiation (Grupo de diferenciação) cDNA Complementary deoxyribonucleic acid (Ácido desoxirribonucleico complementar) cj Code Junction (Junção Code) CTLs Cytotoxic T Lymphocytes (Linfócitos T Citotóxicos) CWC Column Wash Solution (Solução de lavagem da coluna) DNA deoxyribonucleic acid (Ácido Desoxirribonucleico) EDTA ethylenediamine tetra acetic (Ácido Etilenodiamino Tetra Acético) EIE Ensaio Imunoenzimático ERB Endotoxin Removal Wash FeLV Feline Leukemia Virus (Vírus da Leucemia Felina) GLUT-1 glucose transporter 1 (Receptor transportador de glicose 1) gp Glicoproteína HIV Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana) HTLV Human T-cell Lymphotropic Vírus (Vírus Linfotrópico de Células T Humanas) ID Identificação IL Interleucina INF Interferon Kb Kilobase KDa Kilodaltons xi LCR Líquido Cefalorraquidiano LLcTA Leucemia/Linfoma de Células T de Adultos LTR Long Terminal Repeats (Longa Repetição Terminais) mL Mililitro mRNA Messenger ribonucleic acid (RNA Mensageiro) n Número Amostral ng Nanograma nm Nanômetro NMT Núcleo de Medicina Tropical p Valor de Significância Estatística PBS Phophate Buffered Saline (Tampão Fosfato Salino) PCR Polymerase Chain Reaction (Reação em Cadeia da Polimerase) PET/MAH Paraparesia Espástica Tropical/Mielopatia Associada ao HTLV q-PCR Quantitative Polymerase Chain Reaction (PCR Quantitativa) r Coeficiente de Correlação de Pearson RNA Ribonucleic Acid (Ácido Ribonucleico) RPM Rotações por Minuto RTEs Recently Thymus emigrated cells (Células Recém-emigradas do Timo) SD Sem Dados SIV Simian Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Símio) STLV Simian T-Cell Leukemia Virus (Vírus Linfotrópico de Células T de Símio) TBE Tris Borato EDTA TCR T-cell Receptor (Receptor de Células T) TGF Transforming growth factor beta (Fator de Crescimento Transformador) Th Linfócitos T Helper xii TNF Tumor necrosis factor (Fator de Necrose Tumoral) TREC T cell receptor excision circle (Círculo de Excisão do Receptor de Célula T) Tregs Linfócitos T reguladores UFPA Universidade Federal do Pará xiii RESUMO O vírus linfotrópico de células de T humanas tipo 1 (HTLV-1) é reconhecido como agente etiológico da paraparesia espástica tropical/mielopatia associada ao HTLV-1 (PET/MAH). Sabe-se que o HTLV-1 infecta preferencialmente linfócitos T e que o timo é o órgão essencial para o desenvolvimento destas células em forma naives. Este trabalho objetivou avaliar a função tímica de pacientes portadores da infecção pelo vírus HTLV-1 através da quantificação do número de partículas TREC em células mononucleares do sangue periférico. O presente estudo envolveu pacientes de ambos os gêneros, residentes no estado do Pará e atendidos no Ambulatório do Núcleo de Medicina Tropical da UFPA, com diagnóstico positivo da infecção pelo HTLV-1. Desta população foram selecionados 23 pacientes com idades entre 30 e 78 anos, divididos em dois grupos: pacientes acometidos por PET/MAH (PA) e pacientes que não desenvolveram a doença neurológica (NPA). Neste estudo, a análise comparativa da quantificação de partículas TREC entre o grupo PA e NPA mostrou que os pacientes PA apresentavam menor número de partículas em relação aos pacientes NPA, apesar de não ser estatisticamente significante (p = 0,3326) e a correlação do número destas partículas com a idade, mostrou o declínio de TRECs com a idade em ambos os grupos. Em relação às contagens de células T CD4+ e CD8+ e a razão CD4/CD8, foi encontrado que não há diferenças entre os pacientes PA e NPA na contagem de células T CD4+ e na razão CD4+/CD8+. Verificou-se que os pacientes PA apresentam maior número de células CD8+ em relação aos pacientes NPA (p = 0,2369). Os resultados deste trabalho demonstraram que há a diminuição do número de partículas TREC em pacientes acometidos por PET/MAH em relação a pacientes que não desenvolveram PET/MAH, o que sugere diminuição da função tímica nesses pacientes além de indicarem uma provavel expansão de células T de memória em pacientes com PET/MAH. Palavras-chave: HTLV-1, Timo, TREC, Linfócitos T, Paraparesia, Mielopatia. 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 RETROVÍRUS Os retrovírus são microrganismos pertencentes á família Retroviridae, cujos membros são compostos por ácido ribonucleico (RNA) e providos de uma enzima RNAdependente-DNA-polimerase, como particularidade de sua estratégia para incorporar seu genoma na célula hospedeira (Baltimore, 1970; Temim & Mizutani, 1970). Possuem um capsídeo, constituído por glicoproteínas imunogênicas e, apresentam ainda, um envoltório lipoprotéico o que, por este motivo, são ditos vírus envelopados (Goff, 2001). Alguns dos mais conhecidos são o vírus da leucemia felina (FeLV), a infectar felinos domésticos e silvestres (Jarret, 1999); o vírus da imunodeficiência símio (SIV), a infectar macacos; o vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV) e o vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) a infectar humanos (Gallo, 2002). Os retrovírus são conhecidos há mais de oito décadas e foram, a princípio, associados ao aparecimento de sarcoma em galinhas. Posteriormente, foram incriminados no surgimento de adenocarcinoma mamário e de leucemias em camundongos, fato que elevou o interesse da comunidade científica em estudar a família Retroviridae (Gallo, 2005). Os membros desta família foram os primeiros vírus descritos dentre aqueles que causam infecção em mamíferos. Várias doenças estão associadas a eles, incluindo neoplasias, doenças neurológicas, imunodeficiências e doenças hematológicas. No entanto, a relação dos membros da família Retroviridae com algumas doenças em seres humanos permaneceu obscura até o final da década de 70, quando Poiesz et al. (1980) identificaram e descreveram um retrovírus em uma linhagem de células T de um paciente posteriormente diagnosticado com linfoma de células T do adulto (LcTA). Em paralelo a esta descoberta, estudos realizados no Japão por Yoshida et al. (1982) identificaram um retrovírus que, a principio, foi denominado de vírus da leucemia de células T do adulto (ATLV). Posteriormente, verificouse que o vírus descrito por Poiesz et al. (1980) e o ATLV japonês eram, na verdade, semelhantes e, sendo assim, adotou-se a denominação de vírus linfotrópico de células T Humanas (HTLV) para ambos (Coffin, 1996; Gallo, 2002; Yoshida, 2005). 2 1.2 VÍRUS LINFOTRÓPICO DE CÉLULAS T HUMANA (HTLV) O vírus linfotrópico de células T humana foi o primeiro retrovírus com potencial oncogênico a ser identificado em humanos (Matsuura et al., 2010). É um vírus pertencente ao gênero Deltaretrovírus, no qual atualmente são descritos quatro tipos: HTLV-1, HTLV-2, HTLV-3 e HTLV-4 (Champs et al., 2010). O HTLV-1 tem sido associado principalmente a duas doenças: a leucemia/linfoma de células T de adultos (LLcTA) e a paraparesia espástica tropical/mielopatia associada ao HTLV (PET/MAH), segundo Gessain et al. (1985). O HTLV-2 está associado a raros casos neurológicos, e foi identificado em 1982, quando Kalyanaraman et al. (1982), descreveram por meio de ensaios imunológicos, a existência de um novo tipo de retrovírus que estaria relacionado ao vírus descrito por Poiesz em 1980. Em 2005, foram descritos dois novos retrovírus humanos, denominados HTLV-3 e HTLV-4, ambos encontrados em indivíduos da África Central. O HTLV-3, descrito por Calattini et al. (2005), foi isolado a partir de um habitante do Sul da República de Camarões, e estudos mostraram que este retrovírus é filogeneticamente relacionado ao vírus linfotrópico de células T de símio tipo 3 (STLV-3). O vírus descrito por Wolfe et al. (2005), o HTLV-4, foi identificado em populações residentes em áreas rurais também de Camarões e não pôde ser relacionado filogeneticamente com nenhum tipo de STLV. Presume-se que a transmissão do HTLV às pessoas deu-se a partir de primatas não humanos, pois outros retrovírus já foram isolados destes animais em localidades do continente africano e asiático. Estudos realizados por Yamashita et al. (1998) formularam hipóteses quanto a origem do HTLV em povos da América do Sul. Assim, segundo estes autores, a primeira hipótese supõe que o HTLV foi trazido por imigrantes infectados, vindos da Ásia, que chegaram via América do Norte há cerca de 10.000 anos (Figura 1); a segunda hipótese levantada é que o vírus foi introduzido na América do Sul por escravos durante o período de colonização no século XVI. Ambas as hipóteses se baseiam em estudos filogenéticos que foram realizados em populações étnicas Sul americanas. A imigração japonesa do início do século XX pode também ter contribuído para a entrada do HTLV no Brasil. Esta hipótese foi reforçada por Yanagihara et al. (1994) através de um estudo multicêntrico entre o Brasil e o Japão, onde foi observada pouca variabilidade genética entre os vírus encontrados nos dois países (Miura et al., 1994; Oliveira & Avelino, 2007). 3 Figura 1 – Hipóteses da possível disseminação do HTLV-1 por meio do fluxo migratório humano, deduzida a partir da topologia da árvore filogenética e fundo antropológico (Adaptado de Miura et al. 1994). O continente africano, o Japão, a Melanésia, as Ilhas do Caribe e o Brasil, juntos abrigam as cinco maiores aglomerações de indivíduos infectados pelo vírus HTLV-1 e 2 (Segurado, 2010). Estima-se que 10 a 20 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas pelos dois tipos de vírus (Matsuura et al., 2010; Romanelli et al., 2010; Saito, 2010). O HTLV-1 é visto como endêmico em diversas regiões do mundo, a exemplo do Japão (Santos et al., 2005), Caribe e América do Sul (Kazanji & Gessain, 2003), África Equatorial (Diop et al., 2006) e Melanésia. Segundo Santos et al. (2005), o Sul do Japão é a área endêmica mais afetada no mundo pelo HTLV-1 (Figura 2a). A distribuição geográfica do HTLV-2 apresenta um perfil diferenciado daquele descrito para o HTLV-1 (Figura 2b). É o tipo mais prevalente em populações indígenas do continente Americano, apresentando taxas elevadas nos Seminoles da Flórida, nos Navajos e Pueblos no Novo México, nos Guaymis no Panamá, nos Wayuus e Tunebos na Colômbia, nos Tobas e Matacos da Argentina e nos Pume da Venezuela. Soroprevalências de 14% e de 23 % do HTLV-2 foram descritas respectivamente em povos pigmeus do Zaire e em povos da República de Camarões, na Africa. (Ishak et al., 2003; Oliveira, 2010). 4 Figura 2a – Mapa ilustrando a distribuição global da prevalência da infecção pelo retrovírus HTLV-1 (Adaptado de Prietti et al., 2005). Figura 2b – Mapa ilustrando a distribuição global de populações endêmicas e epidêmicas para a infecção pelo retrovírus HTLV-2 (Fonte: Loureiro, 2008). 5 No Brasil, estima-se haver 2,5 milhões de pessoas infectadas pelo HTLV-1, o que representa a segunda maior prevalência para este tipo do retrovírus no mundo (CarneiroProietti et al., 2002). O HTLV-2 está presente de forma significativa nas populações indígenas brasileiras, principalmente na região Amazônica, incluindo os Kayapó, Yanomami e os Krahô, que apresentam uma soroprevalência variando entre 3,6% a 38%, dependendo da tribo estudada (Ishak et al., 2003; Oliveira, 2010). A transmissão do HTLV ocorre, principalmente, através de três vias de contágio: a) horizontal, pelo contato sexual, presumindo-se que a ocorrência da infecção por esta via seja consequente da presença de linfócitos infectados no sêmen e na secreção vaginal (Proietti et al., 2005; Sousa, 2010) ou pela amamentação (Ishak et al., 2001); b) vertical, da mãe para o filho, caracterizada por transmissão transplacentária (Van Dooren et al., 2004); c) parenteral, pelo sangue, sobretudo mediante transplante de órgãos, transfusão de sangue ou de seus constituintes contaminados, no canal de parto e ainda por meio do uso compartilhado de seringas e agulhas também contaminadas (Borducchi et al., 1999). A transmissão do HTLV via transfusão sanguínea vem sendo minimizada no Brasil em decorrência da obrigatoriedade da triagem sorológica em bancos de sangue desde 1993; porém, os usuários de drogas intravenosas apresentam alto risco de contrair a infecção pelo HTLV devido ao uso compartilhado de seringas e agulhas contaminadas. Diversos estudos apontam este como o fator responsável pelo alto índice de prevalência da infecção pelo vírus neste grupo de indivíduos, principalmente para o HTLV-2 (Biggar et al., 1991; Proietti, 2000). Biologia do HTLV Sobre a sua morfologia, o HTLV consiste em uma partícula viral esférica, com tamanho de aproximadamente 100 a 140 nm, sendo que o core (região central) contribui com cerca de 80 a 100 nm de diâmetro do tamanho total. Assim como os demais retrovírus, o HTLV apresenta um genoma constituído por duas moléculas semelhantes de RNA de fita simples com polaridade positiva, medindo aproximadamente 9 Kb, contidas por um capsídeo protéico constituído pelas proteínas p15, p19 e p24, formando assim o seu nucleocapsídeo (Hjelle, 1991; White & Fenner, 1994; Tangy, 1996; Blut, 1999). As enzimas transcriptase reversa, integrase, protease e RNase H também estão presentes no nucleocapsídeo e são 6 essenciais para o estabelecimento da infecção viral pelo HTLV (Höllsberg, 1999). O núcleocapsídeo é coberto pelo envelope lipoprotéico, formado a partir da membrana plasmática da célula hospedeira, contendo as glicoproteínas virais gp46 e gp21, que são codificadas pelo gene viral env (Tangy, 1996; Le Blanc et al., 2001; Gessain, 2004;Figura 3). Figura 3 – Representação esquemática da estrutura morfológica do HTLV (adaptado de Tangy, 1996). O HTLV possui a capacidade de infectar vários tipos celulares, tais como: Linfócitos T e B, células dendríticas e, eventualmente monócitos e células sinoviais. No entanto, possui tropismo por linfócitos T CD4+, posto que a eficiência de sua entrada dependa de Proteoglicanas de Heparan Sulfato (HSPGs), moléculas estas que atuam como coreceptores da infecção pelo HTLV e que estão em grande quantidade na superfície de linfócitos T helper, cruciais na resposta imunológica adquirida. A infecção da célula hospedeira pelo vírus pode ocorrer de célula a célula através de uma “sinapse viral” induzida, ou seja, o vírus induz eventos de polarização das células e facilita a junção das células infectadas com as não infectadas, facilitando assim a passagem da partícula viral entre uma célula e outra; ou ainda, através do vírion de forma livre, o que é visto como uma forma de 7 infecção menos eficiente (Jones et al., 2006; Majorovits et al., 2008; Satou & Matsuoka, 2010). O ciclo de replicação do HTLV se inicia com a adsorção do retrovírus à célula hospedeira por meio da interação entre a glicoproteína gp46, do envelope viral, com o receptor transportador de glicose 1 (GLUT-1), presente na superfície de linfócitos T CD4+ e T CD8+. Estima-se que esta interação também possa ocorrer através de regiões hidrofóbicas dos aminoácidos na porção terminal da glicoproteína gp21, que atua como âncora, penetrando na membrana da célula e assim facilitando a fusão entre o envelope viral e a membrana da célula hospedeira (Coffin, 1996; Karpas, 2004; Oliveira, 2010) (Figura 4). Posteriormente a etapa de interação, o retrovírus torna-se capaz de penetrar na célula, ocorrendo o seu desnudamento, liberando todo o conteúdo viral no citoplasma. Em seguida, a fita simples de RNA viral é transcrita a um híbrido de RNA e DNA (cDNA) pela transcriptase reversa (Gallo et al., 1981). O RNA viral utilizado como molde é degradado pela a ação da RNase H, e, posteriormente origina uma molécula de DNA de dupla fita. O DNA então é transportado para o núcleo e integra-se de forma aleatória ao genoma hospedeiro através da ação da integrase viral (Seiki et al., 1984; Santos et al., 2005). Uma vez integrado à célula hospedeira, o provírus utiliza a maquinaria celular para promover sua transcrição (Oliveira, 2010). Durante a transcrição do DNA viral são formados três tipos de mRNA: um mRNA de 4,2 Kb, apresentando um evento de processamento por splicing, e que codificará as proteínas do envelope; um mRNA de 2,1Kb, apresentando duplo evento de processamento splicing, que será traduzido nas proteínas reguladoras Tax e Rex; e um mRNA subgenômico longo de 8,5 Kb, sem nenhum evento splicing (unspliced), que codifica os genes gag, pro e pol (Ferreira Junior et al., 1997). As proteínas precursoras Gag/Pol são codificadas pelo mesmo mRNA longo. A proteína precursora p52 é clivada em p19 (proteína da matriz), p24 (proteína do capsídeo) e p12 (nucleoproteína). Em seguida, o core viral é montado e a partícula viral é liberada da superfície celular por brotamento, levando consigo parte da membrana bilipídica celular como um constituinte de seu envelope (Oliveira, 2010). 8 Figura 4 – Representação esquemática do ciclo de replicação do retrovírus HTLV (Adaptado de Lopes, 2006). O genoma viral do HTLV-1 é constituído por três genes estruturais semelhantes aos demais vírus pertencentes à família Retroviridae: os genes gag, pol e env, ladeados por duas regiões de sequências repetidas não codificantes, denominadas como longas repetições terminais (LTR, do inglês: Long Terminal Repeats) localizadas nas extremidades 5’ e 3’ do provírus, que contêm o sítio de ligação para a RNA polimerase e para as regiões regulatórias que controlam o nível de transcrição viral (Hjelle, 1991; Hall et al., 1996; Ferreira Jr. et al., 1997; Souza, 2007). Cada região LTR é formada por três domínios iguais (U3-R-U5) com a função de iniciador e finalizador da transcrição, respectivamente. Sendo a porção U3 o domínio onde se encontram os elementos regulatórios de controle da transcrição viral (Franchini et al., 2000). Além dos genes estruturais, o genoma viral do HTLV apresenta uma região denominada pX, no qual são codificadas as proteínas Tax (do inglês translator) e Rex (regulator of expression), e outro segmento denominado pro, sobreposto aos genes gag e pol, com a função de codificar a enzima protease (White & Fenner, 1994; Coffin et al., 1996; Tangy, 1996; Souza, 2007) (Figura 5). 9 Figura 5 - Estrutura esquematizada do genoma do HTLV. Fonte: Nicolete, 2009. O gene gag é o primeiro gene do HTLV a ser transcrito e posteriormente traduzido na célula hospedeira após a infecção. Codifica uma poliproteína precursora de 48 kDa que, após sofrer clivagem, fornece as proteínas estruturais do capsídeo (p24), da matriz proteica (p19) e do nucleocapsídeo (p15) (Ciminale et al., 1992). Proteínas estas que constituem os principais componentes dos retrovírus, portando um papel central na replicação viral, nos passos iniciais e tardios do ciclo de replicação (Mazurov et al., 2006; Souza, 2007). O gene pol é o responsável por codificar as enzimas virais necessárias à replicação, são elas: a transcriptase reversa (RT, do inglês: reverse transcriptase), que consiste em uma DNA polimerase dependente de RNA, necessária para a transcrição do RNA viral em DNA complementar ao RNA molde (cDNA); a RNAse H, que remove a fita de RNA do híbrido RNA-DNA, originando uma segunda fita de DNA; e a enzima integrase que atua sobretudo no processo de integração do genoma viral ao da célula hospedeira (Hjelle, 1991; Coffin, 1996; Burmeister, 2001). Sobreposta aos genes gag e pol encontra-se a região pro cuja função é codificar uma protease responsável pela clivagem das proteínas virais de gag e pol (Shimothono et al., 1985; Souza, 2007). 10 O produto de tradução da região codificadora do gene env consiste na proteína precursora gp64 com peso molecular de 69 kDa. Esta proteína, após sofrer ação da protease e ser glicosilada, origina a glicoproteína transmembrana gp21, que auxilia na fusão do envelope à membrana celular, e a glicoproteína de superfície do envelope viral gp46, que está envolvida na ligação ao receptor transportador de glicose 1 (GLUT-1) presente em vários tipos de células do organismo humano (Coskun & Suton, 2005; Hall et al., 1994; Le Blanc et al., 2001). As glicoproteínas gp46 e gp21 demonstraram ser altamente imunogênicas em indivíduos infectados além de serem cruciais para o desenvolvimento do processo infeccioso pelo HTLV (Rudholf et al.,1993). A presença da região pX no genoma do HTLV o distingue dos demais retrovírus. Tal região é responsável por codificar duas proteínas com funções reguladoras da expressão viral, as proteínas Tax e Rex. A Tax é uma fosfoproteína nuclear que tem a capacidade de regular a transcrição do genoma proviral, interagindo com fatores de transcrição celulares. Um subproduto da proteína Tax, denominado p40tax, ativa um gene localizado no domínio U3 da região LTR, o que consequentemente dá início ao processo de transcrição dos provírus (Fujisawa et al., 1986; Lopes, 2006). Alguns estudos indicam que a atividade regulatória da proteína Tax é fundamental para o desenvolvimento de doenças relacionadas ao HTLV-1. Porém para o HTLV-2, esta relação ainda está pouco esclarecida (Orland et al., 2003). A Rex por sua vez, é uma fosfoproteína nuclear que atua como regulador do genoma do HTLV ao controlar o processamento do mRNA viral. Seu mecanismo de ação é tido em forma de feedback negativo, de modo que, o produto de Rex, quando atinge níveis de concentração mais elevados que os demais produtos da replicação viral, passa a inibir a transcrição de novos mRNA. Este mecanismo é capaz de regular os níveis de expressão dos genes codificadores dos componentes virais, determinando uma maior ou menor síntese de partículas infectantes (Cann & Chen, 1996; Lima, 2006). As proteínas Tax e Rex não somente regulam a expressão viral como podem interferir nas funções da célula hospedeira, de modo a afetar a transcrição e a tradução de vários genes celulares no hospedeiro. A expressão da proteína Tax é um fator importante para a patogênese da PET/MAH, além de ser o principal antígeno de reconhecimento pelas células imunológicas do hospedeiro durante a resposta contra o HTLV1 (Franchini, 1995; Ferreira et al., 1997; Malta, 2009). Recentemente, estudos realizados por Boxus & Willems (2009) identificaram uma nova proteína denominada HBZ (HTLV-1 b-ZIP factor), localizada na região pX do genoma viral, que, junto à proteína Tax, estão implicadas na patogênese viral do HTLV-1 (Boxus & Willems, 2009; Satou & Matsuoka, 2010). É 11 importante comentar que, de acordo com Cann et al. (2001), Lima (2006) Segurado (2010), a região LTR tem como uma de suas características ser a região do genoma viral na qual se detecta o maior número de variações genéticas, ao contrário da região pX acima descrita, que por possuir caráter regulador, é altamente conservada. Patologias associadas ao HTLV Dentre os quatro tipos de HTLV, apenas o HTLV-1 e, possivelmente, o HTLV-2 estão associados a efeitos patológicos da infecção. Até o momento, os vírus HTLV-3 e HTLV-4 não são considerados agentes etiológicos de doença, assim como é desconhecida sua forma de transmissão aos humanos. Várias são as manifestações clínicas associadas à infecção pelo HTLV-1, embora a maioria dos indivíduos infectados permaneça assintomática ao longo da vida. A Leucemia/Linfoma de Células T do Adulto (LLcTA) e a Paraparesia Espástica Tropical/Mielopatia Associada ao HTLV (PET/MAH) são duas doenças claramente relacionadas com este tipo do retrovírus. Dos indivíduos infectados, somente cerca de 2% a 3% desenvolvem LLcTA e 0,25% a 3,8% a doença neuroinflamatória crônica PET/MAH. É possível que atividades transativadoras específicas de proteínas virais associadas a eventos genéticos secundários específicos, em diferentes tipos de células, determinem se a infecção pelo HTLV-1 se manifestará como leucemia, doença neurológica ou permanecerá assintomática (Sousa, 2010). Diferenças no sistema imunológico relacionadas à eficiência da resposta dos linfócitos T citotóxicos dos indivíduos infectados, quando associadas às diferenças no provírus (partícula viral não envelopada), estariam relacionadas ao risco de desenvolvimento de doenças inflamatórias como a PET/MAH (Bangham & Osame, 2005). Em relação ao HTLV-2, que apresenta grande homologia com o HTLV-1, já existe um conjunto de evidências e estudos que afirmam seu poder patogênico pela ocorrência de distúrbios hematológicos e neurológicos em indivíduos infectados. Sendo assim, há de se considerar seu papel como agente etiológico de doenças neurológicas semelhantes a PET/MAH, além de outras patologias hematológicas (Peters et al., 1999; Silva et al., 2002 e Macêdo et al., 2004). Contudo, mais estudos são necessários para elucidar essa questão. 12 1.3 PARAPARESIA ESPÁSTICA TROPICAL/MIELOPATIA ASSOCIADA AO HTLV (PET/MAH). Trabalhos realizados por Gessain et al. (1985) constataram a soropositividade do HTLV-1 em 68% dos pacientes acometidos por Paraparesia Espástica Tropical (PET) na Martinica, no qual associaram o retrovírus como seu agente causal. No ano seguinte, estudos realizados por Osame et al. (1986) relataram uma doença semelhante no Japão, onde fora denominada Mielopatia Associada ao HTLV-1 (MAH). Porém, somente em 1988, Román e Osame concluíram que ambas tratavam-se da mesma doença, que desde então passou a ser denominada como PET/MAH. A PET/MAH é uma doença inflamatória crônica progressiva do sistema nervoso central de baixa letalidade, caracterizada clinicamente por uma paraparesia espástica com sinais piramidais, comprometimento da função esfincteriana e distúrbios sensitivos, podendo se desenvolver de forma rápida ou lentamente, sem possibilidades de remissão (Araújo & Silva, 2006; Malta, 2009). A mielopatia leva a um processo inflamatório de desmielinização (Coral et al., 1998). A inflamação envolve a medula espinhal, provocando comprometimentos motores como a fraqueza e espasticidade em membros inferiores; comprometimentos sensitivos como parestesias e dores neuropáticas; distúrbios esfincterianos vesicais e intestinais, disfunção erétil no homem, assim como outros sinais e sintomas que culminam com o declínio da qualidade de vida do paciente (Ribas & Melo, 2002; Oliveira, 2010). Do ponto de vista patológico, o paciente acometido por PET/MAH possui um comprometimento da medula espinhal a um nível torácico inferior, com espessamento leptomeningeo e atrofia medular em diferentes graus. Os achados histopatológicos incluem infiltração linfocitária perivascular, desmielinização, degeneração axonial e das células gliais. A intensidade da reação inflamatória está relacionada com a duração da doença, ou seja, na fase inicial, ocorre um processo meningo-mielítico com proliferação capilar e infiltrado linfomonocitário acometido, predominantemente na região torácica da medula espinhal. Progressivamente, ocorre uma degeneração da substância branca, particularmente, do trato córtico-espinhal lateral, com pouco envolvimento da substância cinzenta (Montanheiro, 2007). De acordo com os trabalhos realizados por Yoshioka et al. (1993) e Iwasaki et al. (1993), constatou-se que os casos mais avançados da patogênese ocorreram em indivíduos já acometidos por um longo período pela PET/MAH, além de observarem que o processo de 13 degeneração acaba predominando sobre a inflamação, embora relatos definem que há persistência de atividade inflamatória após longos períodos de doença. Segundo Cravois et al. (2000) e Champs et al. (2010), o retrovírus atravessa a barreira hemato-encefálica através da migração de linfócitos infectados, e, semelhante ao que ocorre na circulação periférica, a proliferação das células infectadas no interior do liquor é confrontada por uma intensa resposta imunológica celular anti-HTLV. O predomínio de anormalidades na coluna lombar da medula torácica pode ser explicado pelo processo hemodinâmico desta região. No encéfalo de pacientes com PET/MAH, observam-se áreas de inflamação perivascular na substância branca central e com menor frequência no cérebro e no tronco encefálico (Montanheiro, 2007). Embora o mecanismo pelo qual o HTLV induza o desenvolvimento da PET/MAH seja desconhecido, existem três hipóteses principais que tendem a explicar a patogênese desta doença (Araujo & Silva, 2006; Malta, 2009): a) Hipótese da citotoxidade direta, onde o HTLV infectaria as células gliais, as quais passam a expressar antígenos virais em sua superfície. Os linfócitos T CD8+ citotóxicos (CTLs) HTLV-específicos, por sua vez, atravessariam a barreira hemato-encefálica, e ao reconhecerem principalmente a proteína Tax, destruiriam as células infectadas através da atividade citotóxica direta ou por liberação de citocinas (Ijichi & Osame, 1995; Ijichi et al., 1996; Nakamura, 2000; Furukawa et al., 2003; Figura 6a). Além disso, de acordo com estudos realizados por Hamasaki et al. (2001), linfócitos CD4+ infectados pelo HTLV-1 parecem resistir a apoptose, o que contribui para a cronicidade do processo inflamatório. Numa variante da teoria citotóxica, a resposta inflamatória seria dirigida contra células nervosas infectadas pelo HTLV-1, em que existiria uma linhagem neurotrópica do vírus (Watanabe et al., 2004; Malta, 2009). 14 Figura 6a – Esquema demonstrando as células gliais infectadas pelo HTLV de acordo com a hipótese da citotoxidade direta (Fonte: Taylor, 1998). b) Hipótese da autoimunidade, onde as células da glia possuem em sua superfície antígenos self semelhantes aos epítopos virais. Desta maneira, linfócitos T CD4+ reconheceriam células gliais normais, assim como as células infectadas pelo HTLV, acarretando em uma resposta auto-imune, o que resultaria na morte de células nervosas e consequente lesão neural (Figura 6b). Em estudo realizado por Krees et al. (2005) foi identificada a proteína neuronal hnRNP-A1 que apresenta reação cruzada com a proteína viral Tax, configurando um processo de mimetismo molecular. Outro estudo realizado por Banki et al. (1994) observaram um processo semelhante de mimetismo molecular entre a proteína viral Gag e a enzima transaldolase presente em oligodendrócitos. Outro mecanismo capaz de induzir reatividade cruzada seria a perda da tolerância periférica de linfócitos T auto-reativos através de um processo autoimune, ocasionado durante a seleção negativa de linfócitos T imaturos no timo. Esta teoria pode justificar a associação de manifestações autoimunes sistêmicas nos pacientes com PET/MAH (Rodgers-Johnson et al., 1990; Gessain & Gout, 1992; Furuya et al., 1998; Lee et al., 2005; Montanheiro, 2007; Malta, 2009; Cabral, 2010). 15 Figura 6b – Representação esquematizada da hipótese da autoimunidade na patogênese da PET/MAH (Fonte: Malta, 2009). c) Hipótese do dano colateral ou circundante, onde os linfócitos T CD4+ infectados pelo HTLV se infiltrariam no interior do sistema nervoso central através da barreira hemato-encefálica., Sendo assim, as células T CD8+ citotóxicas (CTLs) específicas anti-Tax desencadeariam uma resposta inflamatória contra as células infectadas, promovendo a liberação de citocinas, quimiocinas e metaloproteinases que acabariam por lesar o tecido nervoso (Hollsberg & Hafler, 1995; Nagai & Osame, 2003; Montanheiro, 2007; Malta, 2009; Figura 6c). Figura 6c – Representação esquemática da hipótese do dano colateral na patogênese da PET/MAH (adaptado de Araujo & Silva, 2006; Malta, 2009). 16 1.4 RESPOSTA IMUNOLÓGICA CONTRA O HTLV-1 NA PET/MAH O sistema imunológico desempenha um importante papel frente à infecção pelo HTLV, especialmente durante o desenvolvimento da PET/MAH, devido à natureza inflamatória desta doença. É provável que a eficiência da resposta imunológica seja um determinante da carga proviral, e consequentemente do risco apresentado pelo portador em desenvolver mielopatia (Bangham, 2000). No entanto, sabe-se que para o desenvolvimento das manifestações clínicas específicas da PET/MAH, os pacientes acometidos pela doença apresentam uma série de parâmetros imunológicos alterados quando comparados aos indivíduos infectados assintomáticos. Dentre os mais relevantes, destacam-se o aumento da capacidade migratória dos leucócitos circulantes; o aumento percentual de linfócitos T CD8+ ativados específicos para o HTLV; a expressão do gene viral de forma intensificada; um aumento na produção de citocinas pro-inflamatórias nas regiões afetadas da medula espinal, tais como: INF-γ, TNF-α, IL-1 e IL-6; e finalmente, altos títulos de anticorpos específicos contra o HTLV, que são encontrados tanto no soro quanto no líquido cefalorraquidiano (LCR) (Nagai et al., 2001; Araújo et al., 2009; Best et al., 2009; Castro-Costa et al., 2009; Romanelli et al., 2010). Conforme elucidado anteriormente, os linfócitos T CD4+ são as células preferencialmente infectadas pelo HTLV-1 e, portanto, constituem o principal reservatório do retrovírus in vivo. A infecção pelo HTLV promove a ativação e proliferação precoce destas células, que exercem a função de direcionar as respostas dos linfócitos B e linfócitos T CD8+ citotóxicos (CTLs) contra o vírus, embora também sejam responsáveis pela liberação de citocinas que possivelmente contribuem para as lesões inflamatórias no SNC, associadas a PET/MAH (Grant et al. 2002). No entanto, são as células CTLs que parecem desempenhar um papel fundamental no curso da infecção e desenvolvimento desta patologia. Estas células HTLV-específicas encontram-se na forma ativadas e são abundantes durante a infecção; quando reconhecem principalmente a proteína viral Tax, ocorre a liberação dos grânulos citotóxicos e lise de células infectadas, além da supressão da replicação viral pela produção de citocinas pró-inflamatórias. Portanto, a resposta imunológica específica em indivíduos paraparéticos é característica do tipo Th1, apresentando-se com uma produção aumentada de citocinas inflamatórias como INF-γ e TNF-α pelos linfócitos presentes no sangue periférico, o que para alguns autores, leva a uma maior circulação destas células entre o sangue periférico e 17 o sistema nervoso central, propiciando a inflamação e lesão tecidual local. Em estudo realizado por Matsuura et al. (2010) foi observado que em indivíduos acometidos por PET/MAH, há um predomínio de citocinas cujo perfil é de resposta Th1 e uma diminuição nas citocinas do perfil Th2, como a IL-4 que apresenta baixo nível de expressão. (Ahuja et al., 2007; Matsuura et al., 2010; Toulza et al., 2008; Yamano et al., 2009). De acordo com Bangham (2000) e Malta (2009), na infecção pelo HTLV-1, as células CTLs HTLVespecíficas desempenham uma importante função em limitar a replicação viral estabelecendo um equilíbrio na concentração de partículas virais. Deste modo a eficiência com que as células T CD8+ citotóxicas eliminam as células infectadas pelo retrovírus está relacionada com a carga viral do indivíduo e consequentemente com o risco de desenvolvimento de PET/MAH. No decorrer dos últimos anos, tem-se estudado bastante o papel das células T reguladoras (Tregs) na infecção pelo HTLV, células estas que foram descritas com os marcadores CD4+CD25+ e identificadas pela expressão intracelular de Foxp3+. As Tregs são subpopulações de células T CD4+ responsáveis por suprimir a atividade de células T durante a resposta inflamatória. Estudos têm mostrado que a infecção pelo HTLV pode modificar os níveis de expressão de Foxp3 no hospedeiro. Segundo alguns autores, em pacientes acometidos por PET/MAH relata-se a diminuição da expressão de Foxp3 assim como a diminuição na produção das citocinas anti-inflamatórias, IL-10 e TGF-β responsáveis pela função supressora da resposta imunológica, o que determina um desequilíbrio no processo inflamatório mantido durante a doença. Em estudo realizado por Yamano et al. (2009), observaram que, a ativação persistente da resposta imunológica induzida por TAX, estaria associada a uma diminuição da expressão de células T CD4+ supressoras e a um acúmulo da população de células T CD4+CD25+Foxp3-, ou seja, em pacientes acometidos por PET/MAH ocorreu um aumento na subpopulação de células T com o fenótipo de CD4+CD25+CCR4+Foxp3- produtoras de IFN-γ, o que se correlaciona com a severidade nos quadros inflamatórios da PET/MAH. Para Toulza et al. (2008), indivíduos paraparéticos possuem níveis de TGF-β consideravelmente baixos quando comparados a indivíduos sadios, além de observarem uma forte correlação negativa entre a frequência de células T CD4+foxp3+Tax- na circulação e a taxa de lise mediada pelos CTLs de células infectadas pelo HTLV, o qual concluíram que a frequência das células T CD4+foxp3+Tax- é um importante determinante da eficiência da resposta imunológica mediada pelas CTLs contra o HTLV e consequentemente no desenvolvimento da PET/MAH (Heraud et al., 2007; Toulza et al., 18 2008; Michaëlson et al., 2008; Yamano et al., 2009; Bewick et al., 2009; Montes et al, 2009; Saito, 2010). Não há, até o presente momento, um tratamento específico comprovadamente eficaz para PET/MAH. As medidas terapêuticas utilizadas visam o alívio sintomático das dores e o combate de infecções associadas à doença (Malta, 2009). 1.5 O TIMO HUMANO O timo é um órgão linfóide primário, essencial para ontogenia de células T, pois fornece um ambiente exclusivo para a o desenvolvimento destas células, através de um processo conhecido como timopoiese (Ye et al., 2004). A população de células T no sangue periférico é mantida em homeostase no decorrer da vida humana. Tanto a produção de células recém-emigradas do timo (RTEs) quanto a proliferação de células T já presentes na periferia contribuem para o pool total de linfócitos T no individuo. Estima-se que geralmente em crianças, as células T periféricas são mantidas predominantemente através das células recémemigradas do timo, enquanto que em adultos o número de linfócitos T é predominantemente complementado através da expansão destas células já existentes na periferia (Haynes, 1999). Além das diferenças quantitativas entre essas duas fontes de células T recémgeradas, existem ainda as diferenças qualitativas (Mackall et al., 1997). Linfócitos T recémgerados no timo sofrem rearranjos no receptor de células T (TCR), proporcionando uma diversidade no repertório de células T periféricas, o que é necessário para a resposta a numerosos neoantígenos em potencial. As novas células T geradas através da proliferação de células T já existentes na periferia preservam o fenótipo de seus progenitores e respondem a um número limitado de antígenos encontrados. Consequentemente, timócitos recémexportados são críticos para a manutenção da funcionalidade e tamanho do pool de células T periféricas. Até o final do primeiro ano de vida, o timo atinge o seu tamanho máximo e continua a fornecer células T com diversidade de TCR à periferia, estabelecendo assim, o pool de células T periféricas (Haynes et al., 1998). A timectomia no primeiro mês de vida pode resultar em algum grau de imunodeficiência, como evidenciado pelo número significativamente menor de células T e suas subpopulações, além da diminuição na resposta 19 imunológica mediada por estas células. Durante o envelhecimento, a região do espaço epitelial tímico, onde ocorre a timopoiese, revela uma involução contínua, a partir do 1º ano até o final da vida, de modo que a região do espaço perivascular tímico, região esta de tecido não funcional do timo, expande o seu tamanho (Ye & Kirschner, 2002). Embora o tamanho do timo humano permaneça inalterado, o número absoluto de timócitos diminui drasticamente com a redução da região do espaço epitelial tímico. As evidências que apóiam a involução do timo em adultos vem dos estudos em crianças e adultos após tratamento de câncer e trasplante de células-tronco. As crianças tendem a ter uma reconstituição de células T muita mais rápido do que os adultos, sugerindo um timo mais ativo (Mackall et al., 1995; Douek et al., 2000). No entanto, atualmente, alguns estudos demostram que o timo adulto permanece ativo ao passar dos anos gerando células T funcionais para o repertório linfoide periférico, embora em quantidades menos intensa com o passar dos anos (Jamieson et al., 1999; Paolin et al., 1999). A involução tímica durante o envelhecimento humano afeta a timopoiese de forma quantitativa e não qualitativamente. As distribuições das subpopulações de timócitos nos adultos são similares às observadas no feto, e timócitos adultos continuam a sofrer o rearranjo de TCR em níveis semelhantes aos do timo fetal. Além disso, células do estroma tímico continuam ativas, fornecendo sinais para a sobrevivência dos timócitos e maturação destes ao longo da vida. Em contrapartida, a timopoiese murina é menos eficiente durante o envelhecimento, como evidenciado pelo declínio das concentrações de círculos de excisão do rearranjo de receptores de células T (TREC) em timócitos de animais idosos (Sempowski et al., 2002). Recentemente, situações onde as células T estão comprometidas, como na infecção pelo HIV e/ou pelo HTLV, assim como na síndrome de DiGeorge, têm mostrado que a medida da função tímica pode ser comparável com a produção de novas células T recém emigradas do timo (RTEs) (Zhang et al., 1999; Yasunaga et al., 2001; Fomin, 2009). Na população de células T de interesse, estas células podem ser estimadas a partir da frequência de particulas TREC (Fugimoto & Yamagashi, 1987; Hazenberg et al., 2001; Ye & Kirschner, 2002). Atualmente a quantificação de TREC tem sido amplamente utilizada para representar os níveis de RTEs na saúde e na doença, ao explorarem uma característica intrínseca do processo de rearranjo do TCR no timo. Para gerar a diversidade no repertório de TCR, os linfócitos T precursores sofrem um processo de rearranjo gênico, fase esta em que ocorrem excisões de segmentos de DNA, dando origem a pequenos círculos de DNA epissomal, que são exportados a partir do timo no interior de células recém-emigradas (Ribeiro & Perelson, 20 2007). Estas particulas de DNA epissomal (TREC) são estáveis e não são duplicadas durante a mitose; portanto, suas concentrações encontram-se diluídas a cada divisão celular. Desta forma, as concentrações de TREC podem refletir o número de células RTE presentes no sangue periférico. A geração de novos linfócitos T no timo é especialmente importante em condições de imunodeficiência, como a infecção pelo HIV-1, transplante de células tronco hematopoiéticas, quimioterapia e, de acordo com alguns autores, pacientes infectados pelo HTLV-1 e acometidos por LLcTA, que possuem indícios de um estado de imunodeficiência semelhante à encontrada em pacientes com AIDS. Desta forma, nestes indivíduos, a geração de linfócitos no timo é vista de forma crítica pelos estudiosos, uma vez que permite a recuperação da imunidade mediada por células T, melhor do que se a recuperação for através apenas da expansão destas células pré-existentes na periferia (Yasunaga et al., 2001; Ye & Kirschner, 2002). De acordo com estudos realizados por Yasunaga et al. (2001), a baixa porcentagem de linfócitos T naive em portadores infectados pelo HTLV-1 com idade de 50 anos, sugere que a função tímica é prejudicada. Muito se tem utilizado a quantificação de TRECs como um indicador para medição da produção tímica em indivíduos infectados pelo HIV. Portanto, pode-se inferir a partir da análise de TRECs se a geração de células T naives é reduzida ou não em portadores da infecção pelo HTLV e acometidos por PET/MAH. Nos trabalhos de Yasunaga et al. (2001), foi observado que em indivíduos infectados pelo HTLV1 a concentração de TRECs diminuiu conforme a idade, o que é consistente com o achado de diminuição relativa à idade dos linfócitos T naive. Os resultados deste estudo indicam que a baixa contagem de linfócitos T naive pode estar ocorrendo em decorrência de uma linfopoiese T prejudicada. Na literatura existem poucos estudos quantificando as partículas TREC em indivíduos HTLV positivo e, até o momento não há nenhum estudo publicado de pacientes acometidos por PET/MAH na população brasileira. 21 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a função tímica de pacientes portadores da infecção pelo vírus HTLV-1 através da quantificação do número de TREC em células mononucleares do sangue periférico. 2.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS Quantificar o número de partículas de TREC em células mononucleares de sangue periférico de pacientes infectados por HTLV- 1 que desenvolveram PET/MAH; Quantificar o número de partículas de TREC em células mononucleares de sangue periférico de pacientes infectados por HTLV- 1 que não desenvolveram PET/MAH; Correlacionar os resultados obtidos nos dois grupos de pacientes infectados por HTLV-1. 22 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 CASUÍSTICA Pacientes Foram selecionados 23 pacientes com idade entre 30 e 78 anos atendidos no Ambulatório do Núcleo de Medicina Tropical (NMT) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Deste total foram estabelecidos dois grupos de pacientes: grupo PA composto por sete pacientes infectados por HTLV-1 e acometidos por PET/MAH e, grupo NPA compreendido por 16 pacientes infectados por HTLV-1 que não desenvolveram PET/MAH ou LLcTA. Critérios de inclusão Foram incluídos neste estudo pacientes de ambos os gêneros residentes no estado do Pará que recebessem acompanhamento médico no ambulatório do NMT-UFPA, cujo diagnóstico através de teste de triagem por ensaio imunoenzimático (EIE) fosse positivo e confirmado pelo teste da reação em cadeia da polimerase (PCR) para o HTLV-1; acompanhados das características de espasticidade no momento da avaliação clínica (apenas para o grupo PA); pacientes que não apresentassem clínica para espasticidade embora apresentassem outros sintomas como: fibromialgia, artrite, artrose, entre outros (para inclusão no grupo NPA). Critérios de exclusão Foram excluídos deste estudo pacientes que não fossem atendidos pelo ambulatório do NMT-UFPA e que não se tenha detectado a presença de anticorpos específicos para o HTLV-1 por teste triagem por EIE e negativo por PCR; da mesma forma foram excluídos pacientes que, mesmo que tenham apresentado os critérios de inclusão acima descritos, fossem soropositivo para a infecção pelo HIV ou outro agente infeccioso que ocasione imunossupressão; e aqueles que não concordaram em participar deste estudo. 23 Aspectos éticos O presente trabalho foi submetido à comissão de ética em pesquisa (Anexo A) do Núcleo de Medicina Tropical (NMT) da UFPA e por ela aprovado tendo seguido as diretrizes e as normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos (Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde). As amostras de sangue só foram colhidas mediante concordância dos pacientes consultados em participar do projeto. Tal concordância foi oficialmente documentado em Termo de Consentimento Livre e Esclarecido devidamente assinado por cada paciente (Anexo B). Toda e quaisquer informação de identificação pessoal do paciente envolvido no estudo foram consideradas confidenciais e, portanto, mantidas sob sigilo, do modo que somente os membros do grupo de pesquisa têm acesso a elas. Avaliação clínica Tais pacientes foram submetidos à avaliação clínica no ambulatório do NMTUFPA com médico reumatologista e infectologista, ocasião esta em que se procedia à anamnese e ao exame físico. Desses pacientes, foram selecionados sete acometidos por PET/MAH (grupo PA) e 16 sem o diagnóstico para a doença neuroinflamatória (grupo NPA). Os dados clínicos utilizados neste estudo foram obtidos a partir de informações contidas nas fichas de avaliação clínica decorrente das consultas realizadas no ambulatório, onde constavam informações como idade, sexo, sintomas e contagem da população de linfócitos T CD4+ e CD8+ (Anexo C). 3.2 MÉTODOS LABORATORIAIS Separação das células linfomononucleares Para cada paciente selecionado foram coletados 5 mL de sangue em tubo cilindrico contendo anticoagulante ácido etilenodiamino tetra acético (EDTA), homogeneizando-se a mistura manualmente por inversão, imediatamente após a coleta. O sangue então era diluído em 1:2 com solução tampão fosfato salina (PBS) 1x em tubo cônico Falcon® de 50 mL. Em outro tubo de 50 mL foi adicionado 5 mL de Ficoll-Hypaque e em seguida a amostra diluida foi adicionada lentamente para que se formasse duas interfaces. Em 24 seguida, o tubo cônico foi centrifugado a 2000 RPM por 30 minutos, utilizando a centrífuga Heltich Zentrifugen Universal 320 R. Após a centrifuação, na região interfásica ocorria a formação de camada de células linfomononucleares, a qual era recolhida por pipetagem e trasnferida para outro tubo de 50 mL. Para finalizar, as células foram lavadas por mais uma vez com PBS 1x, sendo centrifugadas a 4000 RPM por 20 minutos a 15ºC. O sobrenadante foi desprezado, e o pellet de células foi ressuspendico em 1 mL de PBS 1x e armazenadas em microtubo de 1,5 mL a -80°C para posterior extração de DNA. Extração do ácido nucléico Para obtenção do ácido desoxirribonucleico (DNA) das células ® linfomononucleares foi utilizado o kit QIAamp DNA Mini and Blood Mini Kit (Qiagen®), segundo instruções do fabricante. Para a execução da técnica, em microtubo estéril de 1,5 mL foram adicionados 20 µL de Proteinase K/Protease ER, 200 µL de Buffer AL e 200 µL do espécime. A mistura foi suavemente homogeneizada com auxílio da própria pipeta e incubada em banho Maria à temperatura de 56 °C por 10 minutos. Ao final do tempo de incubação, foram adicionados 200 µL de ethanol absoluto (Merck®) e agitou-se vigorosamente por 15 segundos. Em seguida transferiu-se o produto para o microtubo-filtro (coluna) para dar início ao procedimento de lavagem. Após centrifugar a 8000 RPM por um minuto, foram adicionados ao microtubofiltro 500 µL de solução Buffer AW1 e centrifugou-se novamente a 8000 RPM por um minuto. Adicionou-se 500 µL de solução Buffer AW2 e procedeu-se uma nova centrifugação a 13000 RPM durante três minutos. Finalmente, para eluir o DNA na coluna utilizou-se 100 µL de água MiliQ previamente aquecida à 37 °C e centrifugou-se a 8000 por um minuto. A solução resultante desta centrifugação contém o DNA extraído da amostra. Clonagem de TREC O DNA amplificado de TREC foi clonado utilizando TOPO TA Cloning Kit ® (Invitrogen ). Resumidamente, foi realizada uma PCR comum, utilizando os óligos iniciadores para o fragmento cjTREC. Em seguida, em um microtubo de 1,5 mL foi adicionado 1 µL da PCR, 3 µL de água MilliQ, 1uL de solução de sal e 1 µL de vetor, e foi 25 incubado a 5 °C de um dia para o outro. O próximo passo foi transformar as bactérias competentes com os vetores contendo o inserto. Em um tubo de One Shot® competent cells (Invitrogen®), foi adicionado 2 µl do vetor e a transformação foi realizada por eletroporação. As bactérias transformadas foram incubadas em placas de Petri contendo meio LB com 50 µg/mL kanamicina e X-Gal. Colônias que cresceram de cor branca foram selecionadas e crescidas em meio S.O.C. a temperatura de 37°C. Purificação do DNA plasmidal de Escherichia coli contendo TREC O DNA plasmidal correspondente ao vetor contendo o amplicon foi purificado com o Kit Pure Yeld™ Plasmid Miniprep System (Promega®), conforme recomendações do fabricante e descrito a seguir: Em microtubo estéril de 1,5 mL foram adicionados 600 µL do inóculo de cultura bacteriana, 100 µL de solução Cell Lysis Buffer e homogeneizado seis vezes por inversão. Adicionou-se 350 µL de Neutralization Buffer previamente refrigerado, homogeneizou-se seis vezes por inversão e procedeu-se a centrifugação a 13000 RPM por três minutos. O sobrenadante foi então transferido para o microtubo filtro (coluna) cuidadosamente sem misturar ao pellet formado. Após o microtubo-filtro ser centrifugado a 13000 RPM por 15 segundos, o material eluido foi descartado e acrescentou-se ao tubo 200 µL de solução Endotoxin Removal Wash (ERB) e centrifugado novamente a 13000 RPM por 15 segundos. Descartado o material eluído, foram adicionados 400 µL de Column Wash Solution (CWC) e procedeu-se a centrifugação a 13000 RPM por 30 segundos. Finalmente, para a eluir o DNA plasmidal utilizou-se 30 µL de solução Elution Buffer e procedeu-se centrifugação a 13000 RPM por 15 segundos. O material resultante desta centrifugação contém o DNA plasmidal extraído da cultura de E. coli contendo o amplicon de TREC. Para verificar se o plasmídeo continha o inserto, outro procedimento de PCR foi realizado com óligos iniciadores M13 Forward e Reverse. A banda esperada em gel de agarose 1% em TBE era de aproximadamente 600 pb. Com a presença da banda, este produto foi submetido a seqüenciamento para verificar se o inserto possuía a sequência de cjTREC. 26 Quantificação do DNA A avaliação qualitativa e quantitativa de DNA foi realizada para verificar a concentração e grau de pureza do DNA extraído das amostras de sangue coletada dos pacientes e do padrão cjTREC plasmidal. Este procedimento foi realizado utilizando o Kit Quanti-iT™ dsDNA BR Assay *2-1000 ng* para o equipamento Invitrogen Qubit® Fluorometer e procedeu-se à leitura das amostras seguindo as instruções do fabricante. Detecção e quantificação de partículas TREC Para a curva padrão absoluta, foi realizada a quantificação e cálculo do número de partículas TREC a partir do produto clonado. Para isso, foi realizado um calculo que levou em consideração a massa molecular do plasmídeo acrescido da massa molecular do inserto. Foram, então, realizadas diluições seriadas com fator 10, variando de 101 a 107 para o desenho da curva padrão. A quantificação da concentração de partículas TREC foi determinada pelo método de reação em cadeia da polimerase quantitativo em tempo real (q-PCR), utilizando o equipamento StepOnePlus™ (Applied Biosystems®). A PCR em tempo real foi realizada utilizando-se, para um volume de 20 µL: 40 ng de DNA de cada amostra; 0,5 µL de cada óligo (sentido e reverso) a 100 µmol e 12,5 µL de reagente QuantiFast® SYBR® Green PCR (Qiagen®). Os primers de cjTREC utilizados para a reação de PCR foram: Sentido 5’-CCT GTT TGT TAA GGC ACA TTA GAA TCT CTC ACT G-3’, Reverso 5’-CTA ATA ATA AGA TCC TCA AGG GTC GAG ACT GTC3’. O tamanho do produto gerado foi de 360 pb. As condições de ciclagem da PCR foram: 10 minutos a 95 °C, seguidos de 20 segundos a 95 °C, um minuto e 20 segundos a 63,5 °C por 40 ciclos consecutivos. Os ensaios foram realizados em duplicata incluindo a série de diluições do padrão cjTREC plasmidal em concentrações de 101 a 107 números de partículas. 27 Análise estatística Os dados obtidos foram armazenados em banco de dados elaborado no Programa Excel (Windows, Microsoft®) para posterior realização da análise estatística. Para análise estatística, foram utilizados os softwares BioEstat 5.0 e Prism 5. Os testes utilizado para a comparação entre grupos foram o teste de Mann-Whitney e teste T, e para a análise de correlação foi utilizado o teste de correlação de Pearson. Foi adotado valor de p ≤ 0,05 como nível de significância. 28 4. RESULTADOS 4.1 CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA DOS PACIENTES Para a realização deste trabalho foram utilizadas células mononucleares de 23 pacientes (n = 23) infectados por HTLV-1. Os pacientes foram divididos em dois grupos, de acordo com as manifestações clínicas. Um dos grupos foi formado por 7 pacientes que desenvolveram PET/MAH (PA) e, o outro com 16 pacientes que não desenvolveram PET/MAH (NPA). Dos indivíduos que compuseram o grupo NPA, 15 (93,75%) eram do sexo feminino e apenas um (6,25%) do sexo masculino. No que se refere a idade, o grupo NPA variou de 16 a 78 anos (média de 50 anos). No grupo PA, 5 (71,43%) pacientes pertenciam ao sexo feminino e 2 (28,57%) o sexo masculino, ambos variando a idade entre 35 e 61 anos (média de 48,4 anos) (Tabela 1). Tabela 1 - Resumo dos dados referentes aos indivíduos incluídos nos grupos NPA e PA. Grupo N° de Indivíduos Idade média Sexo (%) F M NPA 16 50 93,7 6,3 PA 7 48,4 71,4 28,6 4.2 CONTAGEM DE LINFÓCITOS T CD4+ E CD8+ A contagem de CD4+ e CD8+ obtidas dos prontuários dos pacientes foram comparadas entre os dois grupos (Tabela 2). A análise de CD4+ mostrou para o grupo PA a média de 1638,6 linfócitos CD4+/ mm3, variando de 1245 a 3024 células/mm3, e para o grupo NPA, a média de 1353,2 linfócitos T/mm3, variando de 603 a 2301 células/mm3. 29 A contagem de células CD8+ mostrou para o grupo PA a média de 828,8 linfócitos CD8+/mm3, variando de 442 a 1167 células/mm3, e para o grupo NPA, a média de 612,5 linfócitos T CD8+/mm3, variando de 395 a 907 células/mm3. Tabela 2 - Contagem fenotípica de Linfócitos T em indivíduos dos grupos NPA e PA. Grupos Grupo PA Grupo NPA ID Contagem absoluta CD4+ Contagem absoluta CD8+ Razão CD4+/CD8+ PA-01 PA-02 PA-03 PA-04 PA-05 PA-06 PA-07 MÉDIA SD 1245 SD 3024 1292 1330 1302 1638,6 SD 1167 SD 817 442 595 1123 828,8 SD 1,07 SD 3,70 2,92 2,24 1,16 2,22 NPA-01 NPA-02 NPA-03 NPA-04 NPA-05 NPA-06 NPA-07 NPA-08 NPA-09 NPA-10 NPA-11 NPA-12 NPA-13 NPA-14 NPA-15 NPA-16 MÉDIA 1610 1666 1451 1450 1133 1036 SD 776 603 907 2288 2301 1303 1067 SD SD 1353,2 532 669 493 649 653 499 SD 395 401 639 852 907 567 706 SD SD 612,5 3,03 2,49 2,94 2,23 1,74 2,08 SD 1,96 1,50 1,42 2,69 2,54 2,30 1,51 SD SD 2,19 ID: Identificação; SD: Sem dados. 30 Em relação aos linfócitos T CD4+, não foi observada diferença em sua quantificação conforme mostra a figura 7a (p = 0,6221, pelo teste T). A análise do número dos linfócitos T CD8+ mostrou ligeiro aumento para o grupo PA, porém não foi estatisticamente significante, com valor de p = 0,2369 (Figura 7b). a b p = 0,6221 p = 0,2369 1500 Linfócitos T CD8 + 3000 2000 1000 1000 500 PA PA A NP A 0 0 NP Linfócitos T CD4 + 4000 Figura 7 – Comparação entre a contagem de linfócitos T CD4+ (a) e CD8+ (b) entre os grupos NPA e PA. 4.3 RAZÃO CD4+/CD8+ O significado clínico da quantidade de sub-populações de linfócitos T circulantes no sangue periférico pode ser um indicativo da integridade da resposta imunológica do hospedeiro. Assim, quando a razão entre CD4+/CD8+ está abaixo de 1,2 a resposta adaptativa do indivíduo pode estar comprometida (Malta, 2009). Para o grupo PA a razão ocilou entre 1,07 e 3,70 com média de 2,22. O grupo NPA apresentou razão entre 1,42 e 3,03 com média de 2,1 (Tabela 2). A comparação dos valores de razão entre os dois grupos estudados não mostrou diferença (p = 0,9215) (Figura 8). 31 p = 0,9215 Razão CD4+/CD8+ 4 3 2 1 N P A P A 0 Figura 8 – Comparação da razão CD4+/CD8+ entre os grupos PA e NPA. 4.4 QUANTIFICAÇÃO DE PARTÍCULAS TREC A quantificação de partículas TREC foi determinada por meio de PCR em tempo real quantitativa (q-PCR), utilizando a técnica de quantificação absoluta por meio de curva absoluta, como descrita em Materiais e Métodos. Para os pacientes do grupo NPA, a quantificação de partículas apresentou média de 321,48 partículas TREC/40ng DNA, variando de 15,91 a 811,46 partículas. Para os pacientes PA, a média foi 212,07 partículas TREC/40ng DNA, variando de 29,51 a 623,18 partículas (Tabela 3). Tabela 3 – Dados referentes a quantificação de TREC em indivíduos dos grupos PA e NPA. Grupos Grupo PA ID N° de partículas TREC/40ng DNA PA-01 PA-02 PA-03 PA-04 PA-05 PA-06 PA-07 MÉDIA 83,35 81,94 23,18 326,15 221,39 29,51 119,00 212,07 32 NPA-01 NPA-02 NPA-03 NPA-04 NPA-05 NPA-06 NPA-07 NPA-08 NPA-09 NPA-10 NPA-11 NPA-12 NPA-13 NPA-14 NPA-15 NPA-16 MÉDIA Grupo NPA 93,03 550,67 672,85 463,82 73,68 182,25 187,40 263,80 230,45 354,87 461,22 811,46 528,30 15,91 76,94 176,98 321,48 Embora estes resultados não tenham demonstrado diferença significante entre os grupos (p = 0,3326) pode-se notar pela figura 9 que, o grupo PA tende a apresentar menor número de particulas TREC que os pacientes do grupo NPA. p = 0,3326 TREC/40 ng DNA 1000 800 600 400 200 P A N PA 0 Figura 9 – Comparação do número de TREC entre os grupos NPA e PA. 33 4.5 CORRELAÇÃO DE PEARSON ENTRE CD4+, CD8+ E TREC COM A IDADE Linfócitos T CD4+ e idade O próximo passo na análise de dados foi a análise de correlação entre as quantificações realizadas para os pacientes. Inicialmente, correlacionou-se o número de linfócitos T CD4+ com a idade e observou-se que, para os dois grupos NPA e PA, não houve correlação, mostrando que com a idade, o número de células CD4+ se mantém constante. Para o grupo NPA o r foi de 0,04 (p = 0,8501) e para o grupo PA r = 0,04 (p = 0,9321) conforme demonstrado na figura 10. a b Grupo NPA 4000 r = 0,04 p = 0,8501 2000 Linfócitos T CD4+ Linfócitos T CD4+ 2500 Grupo PA 1500 1000 500 0 0 20 40 Idade 60 80 r = 0,04 p = 0,9321 3000 2000 1000 0 30 40 50 60 70 Idade Figura 10 – Correlação de linfócitos T CD4+ com a idade nos grupos NPA (a) e PA (b). Linfócito T CD8+ e idade Quando correlacionado a quantidade de linfócitos T CD8+ com a idade, notou-se que houve uma fraca correlação positiva em ambos os grupos. Para o grupo NPA os resultados demonstraram um r = 0,20 (p = 0,3603) e para o grupo PA r = 0,18 (p = 0,9268) (Figura 11). 34 a b Grupo NPA Grupo PA 2500 r = 0,20 p = 0,3603 Linfócitos T CD8+ Linfócitos T CD8+ 1500 1000 500 0 30 40 50 60 70 2000 r = 0,18 p = 0,9268 1500 1000 500 0 30 80 40 Idade 50 60 70 Idade Figura 11 - Correlação de linfócitos T CD8+ com a idade nos grupos NPA (a) e PA (b). Partículas TREC e idade A correlação entre a quantidade de partículas TREC e a idade demostrou que há uma fraca correlação negativa em ambos os grupos. Porém, o grupo PA (r = -0,37) apresentrou um valor de r menor que o grupo NPA (r = -0,19), como mostra a figura 12. Com isso, verfica-se que o grupo PA tende a ter maior queda de particulas TREC com a idade. a b Grupo NPA 800 r = - 0,19 p = 0,4881 800 TREC/40ng DNA TREC/40ng DNA 1000 Grupo PA 600 400 200 0 40 60 Idade 80 100 r = - 0,37 p = 0,4119 600 400 200 0 30 40 50 60 70 Idade Figura 12 - Correlação de partículas TREC com a idade nos grupos NPA (a) e PA (b). 35 5. DISCUSSÃO O HTLV-1 infecta preferencialmente células T, em particular CD4+. As células T que são desenvolvidas no timo são um importante braço do sistema imunológico. Sabe-se que a involução tímica ocorre com o passar da idade, porém, estudos mostram que há presença de tecido tímico em adultos com idade superior a 107 anos (Steinman, 1985). A importância da função tímica tomou novos rumos com o aparecimento de doenças como a infecção por HIV, após tratamento com antiretrovirais, e em câncer, após quimioterapia. Para avaliar a atividade tímica, como a obtenção de amostras teciduais de timo é difícil, técnicas de avaliação indireta tem sido utilizadas. A quantificação de TREC em sangue periférico é uma das técnicas mais utilizadas. A avaliação da função tímica em infecções virais que acometem células T, como na infecção pelo HIV e HTLV, é de grande importância para que se possa compreender melhor a patogenia dessas doenças. Neste estudo, a análise comparativa da quantificação de partículas TREC entre o grupo PA e NPA mostrou que os pacientes PA apresentavam menor número de partículas em relação aos pacientes NPA, apesar de não ser estatisticamente significante, isto pode ser demonstrativo de que a geração de linfócitos T naives tende a estar prejudicada nestes pacientes. Estes achados são correlatos aos encontrados por Yasunaga et al. (2001). Porém estes autores mostraram a diminuição de partículas TREC em portadores de HTLV em relação a indivíduos não infectados. Embora neste estudo não se tenha analizado a carga proviral de ambos os grupos de indivíduos estudados, outros trabalhos demonstraram que a extensão da diminuição de células T naives em infectados pelo HTLV-1, não está correlacionada com o aumento da carga proviral, porém foi associada à infecção pelo retrovírus (Yasunaga, 2001). Sabe-se que com a idade existe o decaimento da produção de células T naives pelo timo, porém isso não afetaria a resposta imunológica. Com isso, também se correlacionou o número de TREC com a idade dos pacientes. A correlação de número de partículas TREC com a idade, mostra declínio destas partículas com a idade em ambos os grupos, PA e NPA, porém foi mais acentuado para o grupo PA. Isso corroborando com os achados de Yasunaga et al. Apesar de apresentar menor número de TREC, ou seja, menor número de células naives sendo produzidas, ao correlacionar o número de células CD4+ e CD8+ e a idades, não foi verificado correlação. Isso provavelmente ocorreu pela expansão de 36 células de memória nos pacientes PA, o que já foi relatado em outros estudos (Worner, 1990; Yasunaga, 2001). Em relação às contagens de células T CD4+ e CD8+ e a razão CD4+/CD8+, foi encontrado que não há diferenças entre os pacientes PA e NPA na contagem de células T CD4+ e na razão CD4+/CD8+. Apenas verificou-se que os pacientes PA apresentam maior número de células CD8+ em relação aos pacientes NPA. Este dado reforça ainda mais a indicação de proliferação de células de memória. Estudos mostraram que o número de células de memória CD8+ específicas contra TAX, correlaciona positivamente com a carga viral de HTLV. Apesar deste dado de carga viral não ter sido avaliado, sabe-se que pacientes com PET/MAH apresentam alta carga viral, o que explicaria a expanssão clonal de células T, principalemente de CD8+ (Nagai, 1998; Nagai, 2001). 37 6. CONCLUSÕES - Há diminuição não significante do número de partículas TREC em pacientes acometidos por PET/MAH em relação a pacientes que não desenvolveram a doença, isto é sugestivo de que possa haver provável diminuição da função tímica em pacientes acometidos por PET/MAH. - Os dados indicam provável expansão de células de memória nos pacientes que desenvolveram PET/MAH. - Não houve diferenças entre as contagens de células T CD4+, CD8+, nem mesmo no cálculo de Razão CD4+/CD8+ entre os grupos de pacientes. 38 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ARAUJO, A. Q. & SILVA, M. T. The HTLV-1 neurological complex. Lancet Neurol 5(12): 1068-1076. 2006. ARAUJO, A. Q., A. C. LEITE, et al. HTLV-1 and neurological conditions: when to suspect and when to order a diagnostic test for HTLV-1 infection? Arq Neuropsiquiatr 67(1): 132-138. 2009. BALTIMORE, D. RNA-dependent DNA polymerase in virions of RNA tumour viruses. Nature 226 (5252): 1209-1211. 1970 BANGHAM, C. R. & OSAME, M. Cellular immune response to HTLV-1. Oncogene 24(39): 6035-6046. 2005. BANGHAM, C. R. The immune response to HTLV-I. Curr Opin Immunol 12(4): 397-402. 2000. BANKI, K., E. ABLONCZY, et al. Effect of p40tax trans-activator of human T cell lymphotropic virus type I on expression of autoantigens. AIDS Res Hum Retroviruses 10(3): 303-308. 1994. BEST, I., G. LOPEZ, et al. IFN-gamma production in response to Tax 161-233, and frequency of CD4+ Foxp3+ and Lin HLA-DRhigh CD123+ cells, discriminate HAM/TSP patients from asymptomatic HTLV-1-carriers in a Peruvian population. Immunology 128(1 Suppl): 777-786. 2009. BIGGAR, R. J., Z. BUSKELL-BALES, et al. Antibody to human retroviruses among drug users in three east coast American cities, 1972-1976. J Infect Dis 163(1): 57-63. 1991. BORDUCCHI, D. M., J. KERBAUY, et al. Lymphoma/leukemia of T cells in adults. Rev Assoc Med Bras 45(1): 63-70. 1999. BOXUS, M. & L. WILLEMS, L. Mechanisms of HTLV-1 persistence and transformation." Br J Cancer 101(9): 1497-1501. 2009. BURMEISTER, T. Oncogenic retroviruses in animals and humans. Rev Med Virol 11(6): 369-380. 2001. 39 CALATTINI, S., S. A. CHEVALIER, et al. Discovery of a new human T-cell lymphotropic virus (HTLV-3) in Central Africa. Retrovirology 2: 30. 2005. CARNEIRO-PROIETTI, A. B., J. G. RIBAS, et al. Infection and disease caused by the human T cell lymphotropic viruses type I and II in Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 35(5): 499-508. 2002. CHAMPS, A. P., V. M. PASSOS, et al. HTLV-1 associated myelopathy: clinical and epidemiological profile in a 10-year case series study. Rev Soc Bras Med Trop 43(6): 668-672. 2010 COFFIN, J. M. Retrovirus restriction revealed. Nature 382(6594): 762-763. 1996. CORAL, L. C., L. P. DE QUEIROZ, et al. HTLV-I associated myelopathy/tropical spastic paraparesis: report of 2 cases diagnosed in Florianopolis, Santa Catarina, Brazil. Arq Neuropsiquiatr 56(1): 120-122. 1998. COSKUN, A. K. & SUTTON, R. E. Expression of glucose transporter 1 confers susceptibility to human T-cell leukemia virus envelope-mediated fusion. J Virol 79(7): 4150-4158. 2005. DIOP, S., S. CALATTINI, et al. Seroprevalence and molecular epidemiology of human TCell leukemia virus type 1 (HTLV-1) and HTLV-2 in blood donors from Dakar, Senegal. J Clin Microbiol 44(4): 1550-1554. 2006. DOUEK, D. C., R. A. VESCIO, et al. Assessment of thymic output in adults after haematopoietic stem-cell transplantation and prediction of T-cell reconstitution. Lancet 355(9218): 1875-1881. 2000. FERREIRA, O. C., JR., V. PLANELLES, et al. Human T-cell leukemia viruses: epidemiology, biology, and pathogenesis. Blood Rev 11(2): 91-104. 1997. FRANCHINI, G. Molecular mechanisms of human T-cell leukemia/lymphotropic virus type I infection. Blood 86(10): 3619-3639. 1995. FUJISAWA, J., M. SEIKI, et al. A transcriptional enhancer sequence of HTLV-I is responsible for trans-activation mediated by p40 chi HTLV-I. EMBO J 5(4): 713-718. 1986. 40 FURUKAWA, Y., M. SAITO, et al. Different cytokine production in tax-expressing cells between patients with human T cell lymphotropic virus type I (HTLV-I)-associated myelopathy/tropical spastic paraparesis and asymptomatic HTLV-I carriers. J Infect Dis 187(7): 1116-1125. 2003. FURUYA, T., T. NAKAMURA, et al. HTLV-I-associated myelopathy associated with multiorgan inflammatory disease: a case report. J Neurol Sci 157(1): 109-112. 1998. GALLO, R. C. Human retroviruses after 20 years: a perspective from the past and prospects for their future control. Immunol Rev 185: 236-265. 2002 GALLO, R. C. The discovery of the first human retrovirus: HTLV-1 and HTLV-2. Retrovirology 2: 17. 2005. GALLO, R. C., B. J. POIESZ, et al. Regulation of human T-cell proliferation: T-cell growth factor and isolation of a new class of type-C retroviruses from human T-cells. Haematol Blood Transfus 26: 502-514. 1981. GESSAIN, A. GOUT, O. Chronic myelopathy associated with human T-lymphotropic virus type I (HTLV-I). Ann Intern Med 117(11): 933-946. 1992. GESSAIN, A., F. BARIN, et al. Antibodies to human T-lymphotropic virus type-I in patients with tropical spastic paraparesis. Lancet 2(8452): 407-410. 1985. GOFF, S. P. Retroviridae. In: Fields Virology. David M. Knipe & Peter M. Howley (eds). 4°ed. New York, Raven Press, 2001. GRANT, C., K. BARMAK, et al. Human T cell leukemia virus type I and neurologic disease: events in bone marrow, peripheral blood, and central nervous system during normal immune surveillance and neuroinflammation. J Cell Physiol 190(2): 133-159. 2002. HALL, W. W., R. ISHAK, et al. Human T lymphotropic virus type II (HTLV-II): epidemiology, molecular properties, and clinical features of infection. J Acquir Immune Defic Syndr Hum Retrovirol 13 Suppl 1: 204-214. 1996. HAMASAKI, S., T. NAKAMURA, et al. Resistance of CD4-positive T lymphocytes to etoposide-induced apoptosis mediated by upregulation of Bcl-xL expression in patients with HTLV-I-associated myelopathy. J Neuroimmunol 117(1-2): 143-148. 2001. 41 HAYNES, B. F. & HALE, L. P. The human thymus. A chimeric organ comprised of central and peripheral lymphoid components. Immunol Res 18(3): 175-192. 1998. HAYNES, B. F. HIV infection and the dynamic interplay between the thymus and the peripheral T cell pool. Clin Immunol 92(1): 3-5. 1999. HERAUD, J. M., F. MERIEN, et al. Immunological changes and cytokine gene expression during primary infection with human T-cell leukaemia virus type 1 in squirrel monkeys (Saimiri sciureus). Virology 361(2): 402-411. 2007. HJELLE, B. Human T-cell leukemia/lymphoma viruses. Life cycle, pathogenicity, epidemiology, and diagnosis. Arch Pathol Lab Med 115(5): 440-450. 1991. HOLLSBERG, P. Mechanisms of T-cell activation by human T-cell lymphotropic virus type I. Microbiol Mol Biol Rev 63(2): 308-333. 1999. IJICHI, S. & OSAME, M. Human T lymphotropic virus type I (HTLV-I) associated myelopathy/tropical spastic paraparesis (HAM/TSP): recent perspectives. Intern Med 34(8): 713-721. 1995. IJICHI, S., M. NAKAGAWA, et al. HAM/TSP: recent perspectives in Japan. J Acquir Immune Defic Syndr Hum Retrovirol 13 Suppl 1: S26-32. 1996. ISHAK, R., A. C. VALLINOTO, et al. Epidemiological aspects of retrovirus (HTLV) infection among Indian populations in the Amazon Region of Brazil. Cad Saude Publica 19(4): 901-914. 2003. ISHAK, R., A. C. VALLINOTO, et al. Molecular evidence of mother-to-child transmission of HTLV-IIc in the Kararao Village (Kayapo) in the Amazon region of Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 34(6): 519-525. 2001. IWASAKI, Y. Human T cell leukemia virus type I infection and chronic myelopathy. Brain Pathol 3(1): 1-10. 1993. JAMIESON, B. D., D. C. DOUEK, et al. Generation of functional thymocytes in the human adult. Immunity 10(5): 569-575. 1999. JARRETT, O. Strategies of retrovirus survival in the cat. Vet Microbiol 69(1-2): 99-107. 1999. 42 JONES, K. S., K. FUGO, et al. Human T-cell leukemia virus type 1 (HTLV-1) and HTLV-2 use different receptor complexes to enter T cells. J Virol 80(17): 8291-8302. 2006. KALYANARAMAN, V. S., M. G. SARNGADHARAN, et al. A new subtype of human Tcell leukemia virus (HTLV-II) associated with a T-cell variant of hairy cell leukemia. Science 218(4572): 571-573. 1982. KARPAS, A. Human retroviruses in leukaemia and AIDS: reflections on their discovery, biology and epidemiology. Biol Rev Camb Philos Soc 79(4): 911-933. 2004. KAZANJI, M. & GESSAIN, A.. Human T-cell Lymphotropic Virus types I and II (HTLVI/II) in French Guiana: clinical and molecular epidemiology. Cad Saude Publica 19(5): 1227-1240. 2003. LE BLANC, I., M. P. GRANGE, et al. HTLV-1 structural proteins. Virus Res 78(1-2): 5-16. 2001. LEE, S. M., Y. MORCOS, et al. HTLV-1 induced molecular mimicry in neurological disease. Curr Top Microbiol Immunol 296: 125-136. 2005. MACEDO, O., T. V. RIBEIRO-LIMA, et al. Human T-cell lymphotropic virus types I and II infections in a cohort of patients with neurological disorders in Belem, Para, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 46(1): 13-17. 2004. MACKALL, C. L., F. T. HAKIM, et al. Restoration of T-cell homeostasis after T-cell depletion. Semin Immunol 9(6): 339-346. 1997. MACKALL, C. L., T. A. FLEISHER, et al. Age, thymopoiesis, and CD4+ T-lymphocyte regeneration after intensive chemotherapy. N Engl J Med 332(3): 143-149. 1995. MAJOROVITS, E., M. NEJMEDDINE, et al. Human T-lymphotropic virus-1 visualized at the virological synapse by electron tomography. PLoS One 3(5): 2251. 2008. MATSUURA, E., Y. YAMANO, et al. Neuroimmunity of HTLV-I Infection. J Neuroimmune Pharmacol 5(3): 310-325. 2010 MAZUROV, D., G. HEIDECKER, et al. HTLV-1 Gag protein associates with CD82 tetraspanin microdomains at the plasma membrane. Virology 346(1): 194-204. 2006. 43 MIURA, T., T. FUKUNAGA, et al. Phylogenetic subtypes of human T-lymphotropic virus type I and their relations to the anthropological background. Proc Natl Acad Sci U S A 91(3): 1124-1127. 1994. MONTES, M., C. SANCHEZ, et al. Regulatory T cell expansion in HTLV-1 and strongyloidiasis co-infection is associated with reduced IL-5 responses to Strongyloides stercoralis antigen. PLoS Negl Trop Dis 3(6): e456. 2009. NAGAI M, KUBOTA R, GRETEN TF, SCHNECK JP, LEIST TP, JACOBSON S. Increased activated human T cell lymphotropic virus type I (HTLV-I) Tax11-19-speci®c memory and effector CD8. cells in patients with HTLV-I-associated myelopathy/tropical spastic paraparesis: Correlation with HTLV-I provirus load. J Infect Dis 183: 197±205. 2001 NAGAI M, USUKU K, MATSUMOTO W, KODAMA D, TAKENOUCHI N, MORITOYO T, HASHIGUCHI S, ICHINOSE M, BANGHAM CR, IZUMO S, OSAME M. Analysis of HTLV-I proviral load in 202 HAM/TSP patients and 243 asymptomatic HTLV-I carriers: High proviral load strongly predisposes to HAM/TSP. J Neurovirol 4:586±593. 1998. NAGAI, M. & OSAME, M. Human T-cell lymphotropic virus type I and neurological diseases. J Neurovirol 9(2): 228-235. 2003. NAGAI, M., Y. YAMANO, et al. Increased HTLV-I proviral load and preferential expansion of HTLV-I Tax-specific CD8+ T cells in cerebrospinal fluid from patients with HAM/TSP. Ann Neurol 50(6): 807-812. 2001. NAKAMURA, T. Immunopathogenesis of HTLV-I-associated myelopathy/tropical spastic paraparesis. Ann Med 32(9): 600-607. 2000. ORLAND, J. R., J. ENGSTROM, et al. Prevalence and clinical features of HTLV neurologic disease in the HTLV Outcomes Study. Neurology 61(11): 1588-1594. 2003. OSAME, M., K. USUKU, et al. HTLV-I associated myelopathy, a new clinical entity. Lancet 1(8488): 1031-1032. 1986. PETERS, A. A., J. J. OGER, et al. An apparent case of human T-cell lymphotropic virus type II (HTLV-II)-associated neurological disease: a clinical, molecular, and phylogenetic characterisation. J Clin Virol 14(1): 37-50. 1999. 44 POIESZ, B. J., F. W. RUSCETTI, et al. Detection and isolation of type C retrovirus particles from fresh and cultured lymphocytes of a patient with cutaneous T-cell lymphoma. Proc Natl Acad Sci U S A 77(12): 7415-7419. 1980. PROIETTI, F. A., A. B. CARNEIRO-PROIETTI, et al. Global epidemiology of HTLV-I infection and associated diseases. Oncogene 24(39): 6058-6068. 2005. RIBAS, J. G. & MELO, G. C. Human T-cell lymphotropic virus type 1 (HTLV-1)-associated myelopathy. Rev Soc Bras Med Trop 35(4): 377-384. 2002. RODGERS-JOHNSON, P. E., S. G. ONO, et al. Tropical spastic paraparesis and HTLV-I myelopathy: clinical features and pathogenesis. Res Publ Assoc Res Nerv Ment Dis 68: 117-130. 1990. ROMAN, G. C. & OSAME, M. Identity of HTLV-I-associated tropical spastic paraparesis and HTLV-I-associated myelopathy. Lancet 1(8586): 651. 1988. ROMANELLI, L. C., P. CARAMELLI, et al. Human T cell lymphotropic virus (HTLV-1): when to suspect infection? Rev Assoc Med Bras 56(3): 340-347. 2010 SAITO, M. Immunogenetics and the Pathological Mechanisms of Human T-Cell Leukemia Virus Type1 (HTLV-1) Associated Myelopathy/Tropical Spastic Paraparesis (HAM/TSP). Interdiscip Perspect Infect Dis 2010: 478461. 2010 SATOU, Y. & M. MATSUOKA. HTLV-1 and the host immune system: how the virus disrupts immune regulation, leading to HTLV-1 associated diseases. J Clin Exp Hematop 50(1): 1-8. 2010. SEIKI, M., T. WATANABE, et al. Characterization of simian retrovirus genome related to human T-cell leukemia virus type I. Princess Takamatsu Symp 15: 241-249. 1984. SEMPOWSKI, G. D., M. E. GOODING, et al. T cell receptor excision circle assessment of thymopoiesis in aging mice. Mol Immunol 38(11): 841-848. 2002. SILVA, E. A., K. OTSUKI, et al. HTLV-II infection associated with a chronic neurodegenerative disease: clinical and molecular analysis. J Med Virol 66(2): 253-257. 2002. 45 TAYLOR, G. P. Pathogenesis and treatment of HTLV-I associated myelopathy. Sex Transm Infect 74(5): 316-322. 1998. TOULZA, F., A. HEAPS, et al. High frequency of CD4+FoxP3+ cells in HTLV-1 infection: inverse correlation with HTLV-1-specific CTL response. Blood 111(10): 5047-5053. 2008. VAN DOOREN, S., O. G. PYBUS, et al. The low evolutionary rate of human T-cell lymphotropic virus type-1 confirmed by analysis of vertical transmission chains. Mol Biol Evol 21(3): 603-611. 2004. WATANABE, A., M. KAWAJIRI, et al. HTLV-1-associated myelopathy/tropical spastic paraparesis accompanied with psoriasis. J Neurol Sci 221(1-2): 95-97. 2004. WOLFE, N. D., W. HENEINE, et al. Emergence of unique primate T-lymphotropic viruses among central African bushmeat hunters. Proc Natl Acad Sci U S A 102(22): 79947999. 2005. WORNER I, MATUTES E, BEVERLEY PC, CATOVSKY D. The distribution of CD45R, CD29 and CD45RO (UCHL1) antigens in mature CD4 positive T-cell leukaemias. Br J Haematol. 74:74:439-444. 1990. YAMANO, Y., N. ARAYA, et al. Abnormally high levels of virus-infected IFN-gamma+ CCR4+ CD4+ CD25+ T cells in a retrovirus-associated neuroinflammatory disorder. PLoS One 4(8): e6517. 2009. YAMASHITA, M., G. PICCHIO, et al. HTLV-Is in Argentina are phylogenetically similar to those of other South American countries, but different from HTLV-Is in Africa. J Med Virol 55(2): 152-160. 1998. YANAGIHARA, R. Geographic-specific genotypes or topotypes of human T-cell lymphotropic virus type I as markers for early and recent migrations of human populations. Adv Virus Res 43: 147-186. 1994. YASUNAGA, J.; SAKAI, T. et al. Impaired production of naive T lymphocytes in human Tcell leukemia virus type I–infected individuals: its implications in the immunodeficient state. Blood 97(10): 3177-3183. 2001. 46 YE, P. & E. KIRSCHNER D. E. Measuring emigration of human thymocytes by T-cell receptor excision circles. Crit Rev Immunol 22(5-6): 483-497. 2002. YE, P., D. E. KIRSCHNER, et al. The thymus during HIV disease: role in pathogenesis and in immune recovery. Curr HIV Res 2(2): 177-183. 2004. YOSHIDA, M. Discovery of HTLV-1, the first human retrovirus, its unique regulatory mechanisms, and insights into pathogenesis. Oncogene 24(39): 5931-5937. 2005. YOSHIDA, M., I. MIYOSHI, et al. A retrovirus from human leukemia cell lines: its isolation, characterization, and implication in human adult T-cell leukemia (ATL). Princess Takamatsu Symp 12: 285-294. 1982. YOSHIOKA, A., G. HIROSE, et al. Neuropathological studies of the spinal cord in early stage HTLV-I-associated myelopathy (HAM). J Neurol Neurosurg Psychiatry 56(9): 1004-1007. 1993. 47 ANEXOS 48 ANEXO A: PARECER DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO NMT 49 ANEXO B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE MEDICINA TROPICAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL Correlação entre a avaliação clínica, padrão de resposta periférica e a função tímica de pacientes acometidos por paraparesia espástica tropical/mielopatia associada ao HTLV. As pessoas que são infectadas pelo HTLV-1 podem desenvolver várias doenças, dentre elas, uma lesão na coluna que leva a dificuldade de caminhar, a paraparesia espástica. No entanto, a maioria dos indivíduos infectados não adoece. Para adoecer, o vírus causa mudanças na defesa do corpo. Para entender e tratar melhor as doenças causadas pelo HTLV, este trabalho se propõe a estudar as defesas do corpo juntamente com as alterações dos pacientes infectados com HTLV. Para isso, coletaremos amostras de sangue e realizaremos avaliação clínica, sem qualquer outra intervenção. Se você tiver qualquer dúvida sobre este estudo, você pode entrar em contato com George Alberto da Silva Dias, aluno do curso de Mestrado em Doenças Tropicais pela UFPA pelo telefone (91)8108-9582. Se você tiver dúvidas sobre seus direitos ou com relação aos aspectos éticos do trabalho, você pode entrar em contado com o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEP) do Núcleo de Medicina Tropical - UFPA – Av. Generalíssimo Deodoro, 92, Umarizal, Belém – PA; Telefone 3241-0032. É garantida a liberdade de retirar o consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem qualquer prejuízo à continuidade de tratamento na instituição. As informações serão analisadas em conjunto a outros pacientes, não divulgadas as suas identificações. Não há nenhuma despesa pessoal adicional ao participante do estudo e nenhuma compensação financeira relacionada à sua participação. Os dados obtidos por sua participação serão apenas utilizados para este estudo. Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Correlação entre a Avaliação Clínica, Padrão de Resposta Periférica e a Função Tímica de Pacientes Acometidos por Paraparesia Espástica Tropical/Mielopatia Associada ao HTLV”. Eu discuti com o George Alberto da Silva Dias sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim, quais são os propósitos, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço. ______________________________ Belém __/__/20__ Participante ______________________________ Belém __/__/20__ Testemunha Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente para a participação neste estudo. ___________________________ Pesquisador Belém __/__/20__ 50 ANEXO C: FICHA DE AVALIAÇÃO MÉDICA FICHA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA Origem: Número ____ RG-NMT __________ RG-HUJBB __________ [1] NMT Iniciais_____________ [2] URE-Reduto Sexo [1] Masc [2] Fem Idade_____ anos Etnia [1] Branco [2] Pardo [3] Amarelo [4] Índio [5] Negro HTLV [0]Negativo [1]HTLV 1 [2]HTLV 2 Método [1]ELISA [2]Western Blot [3]PCR Modo de infecção: [1]Vertical [2]Transfusão sangüínea [3]Agulha contaminada [4]Contato sexual [5] Desconhecido Tempo provável de infecção _____ [ ] anos / [ ] meses / [ ] Desconhecido Comorbidades:___________________________________Medicações:__________________ Investigação reumatológica ⊗ Artralgia [1] Tempo _____ [ ] anos / [ ] meses / [ ] dias Artrite [2] Tempo ______ [ ] anos / [ ] meses / [ ] dias Pedir RX [1] Monoarticular [2] Oligoarticular (2-4) [3] Poliarticular (≥5) Rigidez Matinal [0] Não [1] < 1h [2] ≥ 1h RX___ [1] ____ [2] ____ [3] ___ [4] ___ [5] _____ RX___ [1] ____ [2] ____ [3] ___ [4] ___ [5] _____ RX___ [1] ____ [2] ____ [3] ___ [4] ___ [5] _____ [1] Redução do espaço articular [2] Osteófitos [3] Esclerose subcondral [4] Osteopenia justa-articular [5] Erosão 51 Outras manifestações reumatológicas: [1] Bursite_____________________ [2] Tendinite___________________ [3] Epicondilite_________________ [4] Outras______________________ Síndrome sicca Xerostomia [0] Não [1] Sim Tempo _____ [ ] anos / [ ] meses / [ ] dias Xeroftalmia [0] Não [1] Sim Tempo _____ [ ] anos / [ ] meses / [ ] dias Se algum achado positivo: * Oftalmologia: - T. Schirmer [0] > 5mm [1] ≤ 5mm - Rosa Bengala [0] NL [1] ≥ 4 (Sistema de van Bijsterveld) * Serviço de Patologia Bucal e Medicina Nuclear: - Bx gl salivar_______________________________________________________________ - Cintilo de gls salivares [0] NL [1] Deficit de função [1] Nenhuma anormalidade ao exame Avaliação muscular [2] Nenhuma anormalidade ao exame, fatigabilidade fácil ou diminuição da tolerância Mialgia [0] Não [1] Sim ao exercício Fraqueza Proximal [0] Não [1] Sim [3] Grau discreto de atrofia de um ou mais grupos musculares - Graduação [1] [2] [3] [4] [5] [6] - Mingazzini [4] Marcha alterada; incapacidade para correr, mas hábil p/ subir escadas s/ suporte para as mãos MMSS [1] ≥ 2’ [2] < 2’ __ segs [5] Marcha muito alterada; lordose acentuada, incapacidade p/ subir escadas ou se MMII [1] ≥ 2’ [2] < 2’ __segs - Biópsia muscular ___________________________________________________________________________ - ENMG ___________________________________________________________________________ 52 Outras manifestações Cutâneas ___________________________________________________________________________ Biópsia _________________________________________________________________ Linfonodomegalias ___________________________________________________________________________ Biópsia ___________________________________________________________________________ Oculares: [ ]Uveíte [1]Dor [2]Hiperemia [3]Fotofobia [4]Turvação [5]Redução da acuidade [1] Unilateral [2] Bilateral Encaminhar para OFTALMO [ ] Confirmado [1] Anterior [2] Posterior [3] Intermediária [4] Panuveíte [ ] Afastado Diagnóstico__________________________________________ [ ] Outras __________________________________________________________ Neurológicas [ ] PET / MAH [ ] Outras _______________________________________________________ Outros órgãos e sistemas [ ] LTA ___________________________________________________________________________ 53 Laboratório Hemograma Hb Ht Leuco Seg Linfo PAIs VHS PCR EFP Alfa1 Plaqt Alfa2 Beta Albumina Gama Anti-DNA Anti-Sm Anti-P Anti-Ro Anti-La Anti-RNP Anti-Jo-1 Látex WR Anti-CCP Anti-HCV HbsAg Anti-HBc Anti-HIV [0] Indetectável [1] Detectável cópias -610Fas IVS3nt169FasL IVS2nt-124FasL Outros TSH T4L ALT Creat Outros CD4 Perfil Autoanticorpos Sorologias Carga Proviral Polimorfismos CPK AST CD8 Critérios de Exclusão [SIm] [Não] Sorologia positiva para Hepatite B [SIm] [Não] Sorologia positiva para Hepatite C [SIm] [Não] Sorologia positiva para HIV [SIm] [Não] Tireoidopatia [SIm] [Não] Hepatopatia (AST e/ou ALT > 2x o limite superior da normalidade) [SIm] [Não] Nefropatia (Creatinina > 1,5mg/dl) [SIm] [Não] Uso de glicocorticóides sistêmicos, atual ou nos últimos 6 meses [SIm] [Não] Uso de imunossupressores, atual ou nos últimos 6 meses [SIm] [Não] Uso de antiretrovirais, atual ou nos últimos 6 meses [SIm] [Não] Manifestações/doenças reumatológicas com sorologia para HTLV 1 / 2 (+) e PCR negativa [SIm] [Não] Não assinar o termo de consentimento 54 Critérios para classificação da Artrite Reumatóide – ACR [1] Rigidez Matinal ≥ 1h* [2] Artrite em 3 ou + áreas articulares observada pelo médico* [3] Artrite de mãos* [4] Artrite simétrica* [5] Nódulos reumatóides [6] Fator reumatóide positivo [7] Alterações radiológicas Artrite Reumatóide [0] Não (<4critérios) [1] Sim (≥4 critérios) Critérios de Classificação Internacional Revisados para Síndrome de Sjögren Você tem olho seco, diariamente, persistentemente, há mais de 3 meses? [1] Sintomas oculares Você tem sensação recorrente de areia nos olhos? Você necessita usar lágrima artificial mais de 3 vezes ao dia? Você tem sensação de boca seca, diariamente, há mais de 3 meses? [2] Sintomas orais Você tem inchaço das glândulas salivares, recorrente ou persistente, enquanto adulto? Você frequentemente ingere líquidos para facilitar a deglutição, principalmente de alimentos sólidos? Teste de Schirmer (≤5mm em 5 minutos) [3] Sinais oculares Escore de Rosa Bengala ou outro corante (≥4 no Sistema de van Bijsterveld) [4] Histopatologia Sialadenite linfocítica focal em glândula salivar menor Fluxo salivar não-estimulado (≤1,5mL em 15 minutos) [5] Envolvimento de glândula salivar Sialografia de parótida com sialectasias sem evidência de obstrução Cintilografia de glândula salivar com déficit de função 55 [6] Auto-anticorpos Anti-Ro e/ou Anti-La [ ] Síndrome de Sjögren primária 4 dos 6 itens, sendo positivo o item 4 ou 6 3 dos 4 critérios objetivos (3,4,5,6) [ ] Síndrome de Sjögren secundária [ ]Critérios de exclusão Qual doença? História de radioterapia em cabeça e pescoço, HCV, Linfoma preexistente, SIDA, sarcoidose, Doença enxerto versus hospedeiro, uso de anticolinérgicos Critérios diagnósticos para Miopatias Inflamatórias Idiopáticas – Bohan e Peter [1] Fraqueza muscular proximal e simétrica [2] Evidência de miosite ao exame histopatológico [3] Elevação de enzimas musculares [4] ENMG com padrão miopático [5] Lesões cutâneas típicas da dermatomiosite [ ] Polimiosite [ ] Dermatomiosite [ ] Definitiva Todos de 1-4 [ ] Provável 3 de 1-4 [ ] Possível 2 de 1-4 [ ] Definitiva 5 + 3 de 1-4 [ ] Provável 5 + 2 de 1-4 [ ] Possível 5 + 1 de 1-4 Critérios para Classificação da Fibromialgia – ACR [1] Dor difusa pelo corpo, definida como dor acima, abaixo ou em ambos os lados da cintura, com pelo menos 3 meses de duração e comprometimento de pelo menos um segmento da coluna [2] 11 dos 18 Tender points positivos 56 Critérios para osteoartrite de mãos, joelhos e quadris – ACR [ ] Mãos – Clínico [1] Dor ou rigidez nas mãos pela maioria dos dias do mês [2] Alargamento rígido de 2 ou + articulações das mãos, dentre 10 (2/3 IFP e IFD; 1 carpoMTC) [3] Edema de até 2 MTC [4] Alargamento duro de de 2 ou + IFD [5] Deformidade de 1 ou + articulações, dentre 10 1,2,3,4 ou 1,2,3,5 [ ] Quadril – Clínico e Radiológico [1] Dor no quadril pela maioria dos dias do mês [2] VHS ≤ 20mm/h [3] RX com osteófitos femorais e/ou acetabulares [4] RX com redução do espaço articular 1,2,3 ou 1,2,4 ou 1,3,4 [ ] Joelhos – Clínico [1] Dor no joelho pela maioria dos dias do mês [2] Crepitação à movimentação [3] Rigidez Matinal ≤ 30 minutos [4] Idade ≥ 38 anos [5] Alargamento ósseo ao exame 1,2,34 ou 1,2,5 ou 1,4,5 [ ] Joelhos – Clínico e Radiológico [1] Dor no joelho pela maioria dos dias do mês 1,2 ou 1,3,5,6 ou 1,4,5,6