1 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS LEANDRO DA SILVA WARMLING RATEIO DOS CUSTOS INDIRETOS DE BENEFICIAMENTO AOS PRODUTOS DE UMA EMPRESA MINERADORA LOCALIZADA NA REGIAO DA AMREC-SC CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. 2 LEANDRO DA SILVA WARMLING RATEIO DOS CUSTOS INDIRETOS DE BENEFICIAMENTO AOS PRODUTOS DE UMA EMPRESA MINERADORA LOCALIZADA NA REGIAO DA AMREC-SC Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel no curso de Ciências Contábeis da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Profª. Esp. Andréia Cittadin CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. 3 LEANDRO DA SILVA WARMLING RATEIO DOS CUSTOS INDIRETOS DE BENEFICIAMENTO AOS PRODUTOS DE UMA EMPRESA MINERADORA LOCALIZADA NA REGIAO DA AMREC-SC Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do grau de Bacharel no curso de Ciências Contábeis da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Criciúma, 7 de Dezembro de 2010. BANCA EXAMINADORA Profª. Andréia Cittadin, Esp. Orientadora Prof. Manoel Vilsonei Menegali, Esp. Examinador 1 Prof. Esp. Fabrício Machado Miguel, Esp. Examinador 2 4 Dedico este trabalho primeiramente a Deus e aos meus pais que são meu maior tesouro, que sempre foram e sempre serão as pessoas mais importantes da minha vida. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela minha existência e por me guiar em todos os momentos da minha vida. Aos meus pais Valdir Warmling e Ana Eli da Silva Warmling, minha irmã Talya Warmling de Souza e meu cunhado Sandro de Souza, pessoas que estão sempre ao meu lado me ajudando e dando forças ao longo de toda minha vida. Minha namorada Elisiane Rosa, sempre me incentivando para a realização deste trabalho, obrigado pela compreensão nos momentos que tive que me ausentar. Aos meus amigos e colegas, que estiveram ao meu lado durante esta caminhada, em especial: Ana Lúcia Mondardo, André Eyng, Bruna Pessetti, Felipe Freitas, Gabriela Schulter, Jorge Mollenhauer, Juliana Della Bruna, Karin Lopes, Luana Ramos, Lucas Meller, Mariana Mondardo, Mateus Mezzari, Rafael Vieira e Samuel Tiscoski. Agradeço a minha orientadora Andréia Cittadin, pela dedicação, competente orientação e acima de tudo pela amizade e sinceridade, o meu muito obrigado. Aos meus colegas de trabalho Adair Lopes, Djalma Ladislau e Renato Barata, pelo auxílio com informações que serviram como base para a elaboração deste trabalho. A todos os professores do curso de Ciências Contábeis, pelo conhecimento e experiências compartilhadas ao longo do curso. Enfim, agradeço a todos que de alguma forma colaboraram para a realização deste trabalho. 6 “Administrar bem um negócio, é administrar seu futuro, e administrar seu futuro, é administrar informações.” Marion Harper Jr. 7 RESUMO WARMLING, Leandro da Silva. Rateio dos Custos Indiretos de Beneficiamento aos Produtos de uma Empresa Mineradora Localizada na Região da AMREC-SC. 2010. 61 p. Orientador (a): Andréia Cittadin. Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Contábeis. Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Criciúma – SC. Diante do atual contexto econômico, as organizações necessitam desenvolver mecanismos de gestão que as auxiliem no gerenciamento das atividades, e desta forma destacar-se neste ambiente competitivo. A contabilidade de custos é um instrumento que pode contribuir para o gerenciamento dos negócios, uma vez que é responsável pelo registro de dados e disponibilização de informações referentes aos processos produtivos. Com base nas informações fornecidas pela área de custos os gestores poderão desenvolver ações no intuito de oferecer produtos e serviços de qualidade e com preços adequados, e assim, a empresa continuará atuando no mercado. Porém, um dos fatores que merece atenção na contabilidade de custos é forma de distribuição dos custos indiretos, pois com o avanço tecnológico houve um aumento significativo nesses gastos e sua alocação indevida pode levar a tomada de decisão equivocadas, principalmente, em relação a definição do preço de venda. Diante disso, o objetivo deste estudo consiste em verificar a forma mais adequada para ratear os custos indiretos aos produtos acabados de uma empresa mineradora. Deste modo, esta pesquisa enquadra-se como descritiva, com procedimentos bibliográficos e estudo de caso, realizado por meio de entrevista e pesquisa documental, cujas análises ocorreram de forma qualitativa. Com este estudo identificou-se que a empresa possui 9 (nove) centros de custos, sendo 7 (sete) produtivos e 2 (dois) de apoio; destes departamentos o centro de custo Britagem e Jigue geram mais custos indiretos. Os resultados apontaram, também, que a forma utilizada pela empresa objeto de estudo atualmente para distribuir os custos indiretos aos produtos considera apenas a quantidade produzida, o que resulta em um custo indireto unitário igual para todos os produtos. Com a metodologia proposta, que aloca os custos indiretos conforme o fluxograma do processo produtivo, constatou-se que o custo indireto unitário que era de R$ 9,34 para todos os produtos passou a ser de R$ 6,42 para o carvão CE 4500, R$ 26,31 para o Carvão Flotado a Vapor, R$ 17,30 para o Energético Finos, R$ 21,26 para o Finos Metalúrgico e R$ 11,92 para o Carbotrat AP. Com isso, pode-se observar uma alteração no percentual dos custos indiretos em relação ao preço de venda. Palavras-chave: Contabilidade de Custos, Rateio de Custos Indiretos, Setor Carbonífero. 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Custo da Mercadoria Vendida .................................................................. 20 Quadro 2: Principais produtos beneficiados e comercializados ................................ 49 Quadro 3: Centros de custo que compõe o processo produtivo ............................... 50 Quadro 4: Processo de Beneficiamento .................................................................... 52 Quadro 5:Custo anual do beneficiamento ................................................................. 53 Quadro 6: Custo unitário conforme cálculo da empresa ........................................... 54 Quadro 7: Custo unitário conforme nova metodologia .............................................. 55 Quadro 8: Relação Custos Indiretos x Preço de Venda ........................................... 57 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Comportamento dos Custos Fixos ............................................................. 30 Figura 2: Comportamento dos Custos Variáveis ....................................................... 31 Figura 3: Custos Semifixos ....................................................................................... 32 Figura 4: Custos Semivariáveis ................................................................................. 33 Figura 5: Custeio por Absorção ................................................................................. 35 Figura 6: Custeio Baseado em Atividades (ABC) ...................................................... 37 Figura 7: Esquema do Custeio Variável .................................................................... 40 Figura 8: Fluxograma de produção ........................................................................... 51 10 LISTA DE GRÁFICO Gráfico 1: Variação dos custos de beneficiamento .................................................. 56 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABC – Activity Based Costing (Custo Baseado em Atividades) ADM = Administração AMREC = Associação dos Municípios da Região Carbonífera CIFs= Custos Indiretos de Fabricação CMV= Custo da Mercadoria Vendida CV= Custos Variáveis DV= Despesas Variáveis Esp. = Especialista IBRAM = Instituto Brasileiro de Mineração Prof. = Professor REC. = Recuperação RWK – Reichskuratorium für Wirtschaftilichkeit (Método das Seções Homogêneas) R$ = Reais S/A= Sociedade por Ações SATC= Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina SIECESC= Sindicato da Indústria da Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina % = Por Cento 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14 1.1 Tema e Problema............................................................................................... 14 1.2 Objetivos da Pesquisa ...................................................................................... 15 1.3 Justificativa........................................................................................................ 15 1.4 Metodologia ....................................................................................................... 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 19 2.1 Origem e Evolução da Contabilidade de Custos ............................................ 19 2.2 Terminologia de Custos ................................................................................... 22 2.2.1 Conceitos de Contabilidade de Custos ........................................................ 23 2.2.2 Gasto ............................................................................................................... 23 2.2.3 Investimento ................................................................................................... 24 2.2.4 Custo ............................................................................................................... 25 2.2.5 Desembolso .................................................................................................... 25 2.2.6 Despesa .......................................................................................................... 26 2.2.7 Perda ............................................................................................................... 26 2.2.8 Desperdício ..................................................................................................... 27 2.3 Classificação de Custos ................................................................................... 27 2.3.1 Custo Direto .................................................................................................... 28 2.3.2 Custo Indireto ................................................................................................. 28 2.3.3 Custos Fixos ................................................................................................... 29 2.3.4 Custos Variáveis ............................................................................................ 30 2.3.5 Custos Semifixos e Semivariáveis ............................................................... 31 2.3.6 Classificação das Despesas.......................................................................... 33 2.5 Métodos de Custeio .......................................................................................... 34 2.5.1 Custeio por Absorção .................................................................................... 34 2.5.2 Método de Custeio Baseado em Atividades (ABC) ..................................... 36 2.5.3 Custeio Variável ............................................................................................. 39 2.5.4 RKW ................................................................................................................. 41 2.6 Rateio ................................................................................................................. 41 2.7 Formação do Preço de Venda ......................................................................... 42 2.7.1 Método Baseado nos Custos ........................................................................ 43 13 2.7.2 Método Baseado nas Decisões das Empresas Concorrentes ................... 44 2.7.3 Método Baseado nas Características do Mercado ...................................... 45 2.7.4 Método Misto .................................................................................................. 45 3 ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 47 3.1 Caracterização da Empresa e Respectivo Processo Produtivo .................... 47 3.1.1 A Empresa....................................................................................................... 47 3.1.2 Principais Produtos ....................................................................................... 48 3.1.3 Fluxograma de Produção .............................................................................. 49 3.2 Custos Indiretos de Produção ......................................................................... 53 3.3 Distribuição dos Custos Indiretos conforme Processo Produtivo ............... 54 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 58 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 60 14 1 INTRODUÇÃO Neste capítulo apresenta-se o tema e problema desta pesquisa, que busca verificar a forma de rateio de custos indiretos aos produtos fabricados mais adequada para uma empresa do setor carbonífero. Em seguida, expõem-se os objetivos e a justificativa, que demonstra a relevância do estudo. Por último, destaca-se a metodologia utilizada para sua realização. 1.1 Tema e Problema As organizações, de modo geral, necessitam desenvolver mecanismos de gestão que as auxiliem na administração dos negócios. Isso porque, no atual contexto econômico as empresas que disponibilizarem produtos e serviços de qualidade e com preços adequados poderão destacar-se neste ambiente competitivo e assim continuarem atuando no mercado. A contabilidade de custos é um instrumento que pode auxiliar no gerenciamento das atividades, pois é a área da ciência contábil responsável pelo registro de dados inerentes aos processos produtivos e pelo fornecimento de informações aos gestores. Estas informações subsidiam o processo de tomada de decisões em relação aos seguintes assuntos: que produto fabricar, quanto e quando produzir, qual o melhor preço de venda, entre outras. No entanto, um dos fatores preocupantes na contabilidade de custos refere-se a distribuição dos custos indiretos, uma vez que devido ao avanço tecnológico houve um aumento significativo nestes gastos, principalmente pelo crescente uso de máquinas e equipamentos nos processos produtivos atuais. Diante disso, faz-se necessário identificar, registrar e distribuir corretamente os custos indiretos, pois uma gestão inadequada destes gastos pode comprometer a valorização dos produtos finais. Observa-se, assim, que falhas na apropriação dos custos indiretos poderá ocasionar equívocos na tomada de decisão relacionada à formação de preço de venda ou na manutenção do produto no mercado, comprometendo desta forma a continuidade da organização. 15 Deste modo, deve-se estudar com cautela a forma mais adequada de distribuição destes gastos e respectivo acúmulo ao custo final do produto, principalmente nas empresas do segmento industrial onde os valores dos custos indiretos normalmente são representativos. No setor carbonífero esta situação não é diferente, pois o valor dos custos indiretos é relevante em relação ao preço final do produto. Por se tratar de uma atividade de extração de mineral, sua estrutura produtiva requer investimentos e manutenções constantes nos maquinários, além disso, o consumo de energia elétrica no processo também é elevado. Nesse contexto, levanta-se o seguinte questionamento: como ratear os custos indiretos aos produtos beneficiados por uma empresa mineradora? 1.2 Objetivos da Pesquisa O objetivo geral deste estudo consiste em verificar a forma mais adequada para ratear os custos indiretos aos produtos acabados em uma empresa mineradora. Em relação aos objetivos específicos pretende-se: - caracterizar o processo produtivo da empresa; - identificar os custos indiretos de produção da organização em estudo por centro de custo; e - apresentar uma metodologia de distribuição dos custos indiretos de produção com base no processo produtivo. 1.3 Justificativa Com o avanço tecnológico e a globalização do mercado, as organizações precisam estar atentas aos gastos inerentes ao processo produtivo. Isso faz-se 16 necessário devido à constante busca pela redução dos custos dos produtos e serviços ofertados e, consequentemente, a formação de um preço de venda mais competitivo. Portanto, é preciso desenvolver e implementar um sistema de custeio eficaz, ou seja, que transmita, em tempo hábil, informações confiáveis que auxiliem os gestores na tomada de decisão. Este sistema deve ser configurado para atender as necessidades da organização no que tange a gestão do seu processo produtivo. Diante disso, observa-se que um fator relevante na implantação de um sistema de custos é a definição da forma de distribuição dos custos indiretos de fabricação, pois segundo Martins (2003, p.83): é bastante fácil também de se perceber que a alteração de um critério poderá provocar mudanças no valor apontado como custo de um produto, sem que de fato nenhuma outra modificação tenha ocorrido no processo de produção. Verifica-se assim, que a alocação indevida dos gastos indiretos aos produtos, pode elevar o custo de um produto e diminuir o valor de outro, podendo levar os gestores à tomada de decisões equivocadas em relação a definição do preço de venda. Desta forma, a contribuição teórica deste estudo consiste reunir conhecimentos sobre a contabilidade de custos, com ênfase nos métodos de distribuição dos custos indiretos de fabricação. Por sua vez, a contribuição prática da pesquisa baseia-se no auxílio a uma empresa mineradora na identificação da forma mais adequada de distribuição dos seus custos indiretos. Deste modo, acredita-se que será possível contribuir com o processo de gestão desta organização, tendo em vista que obterá informações mais confiáveis em relação ao processo produtivo. Este estudo, também, poderá servir de base para outras entidades do mesmo ramo, sobretudo em relação aos critérios de distribuição dos custos indiretos de produção. Nesse sentido, a relevância social pode ser visualizada no auxílio à gestão destas organizações, que se beneficiarão das análises e estudos que demonstram a melhor forma de direcionar seus custos indiretos. Com isso, é possível reduzir estes gastos, melhorar o processo produtivo, ampliar sua produção 17 e assim gerar novos empregos garantindo o desenvolvimento da região onde estão inseridas. 1.4 Metodologia Para a elaboração do presente trabalho foram utilizados métodos e técnicas científicas que nortearam a coleta, tratamento e análise dos dados. Assim, quanto aos objetivos este estudo caracteriza-se como descritivo, pois busca descrever a maneira mais adequada para distribuir os custos indiretos de produção aos produtos fabricados em uma empresa do ramo carbonífero. De acordo com Silva (2003, p. 65) a pesquisa descritiva, tem com objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno, estabelecimento de relações entre variáveis. A coleta de dados nesse tipo de pesquisa possui técnicas padronizadas, como o questionário e a observação sistemática. Quanto aos procedimentos, efetuou-se uma pesquisa bibliográfica que, segundo Silva (2003, p.60), é um tipo de pesquisa realizada pela maioria dos pesquisadores mesmo em seu preâmbulo. Essa pesquisa explica e discute um tema ou problema com base em referências teóricas já publicadas em livros, revistas, periódicos, artigos científicos, etc. Diante disso, buscou-se na literatura específica reunir conceitos, termos e variáveis sobre o assunto pesquisado que se trata de apropriação dos custos indiretos de produção. Foi realizado, também, um estudo de caso que conforme Fachin (2001) consiste em um método de estudo intensivo, onde são predominantes a compreensão, como um todo, do assunto investigado. Nesse sentido, Silva (2003, p.63) observa que, é um estudo que analisa um ou poucos fatos com profundidade. A maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias e no inicio de pesquisas complexas. [...] pode ser utilizado para desenvolver pesquisas estruturadas ou não, questionário, observações de fatos, análise documental. 18 Deste modo, o estudo de caso foi realizado em uma empresa do setor carbonífero, localizada na região da AMREC. Para coleta de dados foi efetuada entrevista com os responsáveis pelos setores de gestão de custos e de beneficiamento. De acordo com Cervo e Bervian (2002, p. 46), “a entrevista não é simples conversa. É conversa orientada para um objetivo definido: recolher, por meio do interrogatório do informante, dados para a pesquisa.” Outro instrumento utilizado foi à pesquisa documental, sendo que a verificação ocorreu em um período de 12 meses, de Setembro de 2009 até Agosto de 2010. Assim, os valores dos custos indiretos foram identificados mediante planilhas e relatórios internos, como o balancete de verificação. Segundo Martins e Theóphilo (2009), a pesquisa documental utiliza-se de documentos, informações e evidencias como fonte de dados. Os documentos são dos mais variados tipos escritos ou não, tais como documentos arquivados em entidades públicas e privadas, gravações, correspondências pessoais e formais, fotografias, filmes, mapas, diários, entre outros. Em relação à abordagem do problema, fez uso de pesquisa qualitativa, que de acordo com Richardson (1999, p.70), este tipo de estudo descreve, a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos pro grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. Desta forma, este estudo enquadra-se como descritivo, cujos procedimentos utilizados foram pesquisa bibliográfica e estudo de caso, realizado mediante entrevistas e pesquisa documental, sendo que as análises ocorreram de modo qualitativo. 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo, abordam-se aspectos sobre a origem e evolução da contabilidade de custos, terminologias e classificações referentes ao tema. Serão apresentados, também, métodos de custeio tais, como: custeio por absorção, método de custeio baseado em atividades (ABC), custeio variável e RKW. Finalizase apresentando algumas metodologias que servem de auxílio na determinação do preço de venda. 2.1 Origem e Evolução da Contabilidade de Custos A contabilidade surgiu há muito tempo, quando o homem sentiu a necessidade de controlar seus bens, como por exemplo: rebanhos, caça, pesca, entre outros. Iudícibus (2000) afirma que havia o pensamento de contabilizar recursos desde o início da civilização, ou seja, desde o período primitivo. Assim, para controlar o patrimônio era preciso a utilização de técnicas de auxílio, dando origem à contabilidade. O autor ainda salienta que alguns historiadores descrevem que a contabilidade existe desde 4.000 anos antes de Cristo com a teoria da identificação das ovelhas com pedras, onde separava-se uma pedra para cada ovelha, executando deste modo, o que se chama atualmente de inventário. Com o passar do tempo a contabilidade foi se desenvolvendo tendo em vista as modificações que ocorreram nos ambientes social, econômico, político e cultural. Diante disso, ressalta-se que uma dessas modificações ocorreu na época da revolução industrial com o surgimento da contabilidade de custos. Este fato se deu, principalmente devido a necessidade das indústrias de mensurar os valores de estoques e também avaliar seus resultados. Nesse sentido, Viceconti (2003, p. 6) afirma que esta área da contabilidade, teve sua origem com o advento da revolução industrial e conseqüente proliferação das empresas industriais, a Contabilidade viu-se às voltas com o problema de adaptar os procedimentos de apuração de resultado em empresas comerciais (que apenas revendiam mercadorias compradas de 20 outrem) para as empresas industriais, que adquiriam matérias – primas e utilizavam fatores de produção para transformá-las em produtos destinados à venda. De acordo com Crepaldi (2004), a área de custos desenvolveu-se com a revolução industrial, pois a contabilidade precisou se adaptar a nova realidade econômica, com o surgimento das máquinas e a produção em grande escala. Deste modo, “até a Revolução Industrial (século XVIII), quase só existia a contabilidade Financeira (ou Geral), que, desenvolvida na Era Mercantilista, estava bem estruturada para servir as empresas comerciais.” (MARTINS, 2003, p. 19). Diante disso, ressalta-se que antes do surgimento das indústrias o cálculo do custo da mercadoria vendida (CMV) era efetuado de forma simples e direta, conforme se apresenta no quadro 1, exposto a seguir: CMV = Estoque Inicial + Compras Líquidas – Estoque Final Quadro 1: Custo da Mercadoria Vendida Fonte: Crepaldi (2004, p. 14) De acordo com o Quadro 1, nota-se que a apuração do custo da mercadoria vendida era realizado por meio das compras líquidas, excluídos os impostos, que eram adicionadas ao estoque inicial e diminuídas do saldo do estoque final. Cabe salientar que após a revolução industrial houve a necessidade de mudança no modo de valorizar os estoques. Desta forma, os gastos presentes no decorrer do processo produtivo também deveriam compor o custo produto, uma vez que estes fazem parte de sua fabricação. Assim, a matéria-prima, mão de obra, depreciação de máquinas, insumos, energia elétrica, dentre outros, passaram a compor o valor do estoque do produto acabado. Martins (2003, p. 20) reforça esta afirmação ao enfatizar que, o valor do estoque dos produtos existentes na empresa, fabricados por ela,deveria então corresponder ao montante que seria o equivalente ao valor de “Compras” na empresa comercial. Portanto, passaram a compor o custo do produto os valores dos fatores de produção utilizados para sua obtenção, deixando-se de atribuir àqueles outros que na empresa comercial já eram considerados como despesas no período de sua ocorrência: despesas administrativas, de vendas e financeiras. 21 Portanto, o ingresso das indústrias exigiu mudanças na mensuração dos custos dos produtos para uma melhor valorização dos estoques, e consequentemente a apuração adequada do resultado da organização. Nesse contexto, é possível observar que no início as funções da contabilidade de custos concentravam-se na valorização dos estoques e apuração do resultado nas indústrias. No entanto, ao longo do tempo ela veio acompanhando o desenvolvimento econômico, e assumiu atribuições de caráter gerencial como controle e auxílio ao processo de tomada de decisão. Segundo Martins (2003, p. 21), a contabilidade de custos tem duas funções relevantes: o auxílio ao controle e as ajuda às tomadas de decisões. No que diz respeito ao controle, sua mais importante missão é fornecer dados para estabelecimento de padrões e outras formas de previsão e, num estágio imediatamente seguinte, acompanhar o efetivamente acontecido para comparação com os valores anteriormente definidos. Para Crepaldi (2004), a área de custos surgiu da contabilidade geral, não apenas para possibilitar um maior controle sobre os valores que devem ser atribuídos aos estoques de produtos na indústria, mas também pela necessidade de saber o que produzir e poder mensurar a quantidade a ser produzida. Martins (2003) destaca que, no que tange a decisão o papel da contabilidade de custos é de suma importância, pois consiste na disponibilização de informações que dizem respeito ás consequências de curto e longo prazo sobre medidas de introdução ou corte de produtos, administração de preços de venda, opção de compra ou produção. Para Leone, (2000, p.47) a contabilidade de custos em relação ao controle, projeta e opera sistemas de custos, determina os custos por departamentos, por função, por centros de responsabilidades, por atividades, por produtos, por territórios, por períodos e por outros segmentos, faz a estimação de custos, estabelece padrões, manipula custos históricos, compara custos de diferentes períodos, calcula custos reais com custos calculados, determina custos de alternativas, interpreta e apresenta informações de custos como um auxílio à gerência no controle de operações correntes e futuras. 22 Neste sentido, Crepaldi (2004, p.16) aborda que, com a crescente complexidade do mundo atual empresarial, a Contabilidade de custos está tornando-se cada vez mais importante na área gerencial da empresa, passando a ser utilizada no planejamento, controle de custo, na tomada de decisões e no atendimento as exigências fiscais. Para Leone (2000), esta área é responsável por acumular dados físicos e monetários, transformando-os em indicadores gerenciais com grande poder informativo em nível de administração e operação. Em relação aos dados operacionais, a contabilidade de custos abrange “dados históricos, estimados (futuros), padronizados e produzidos [...] ela pode (e deve) fornecer informações de custos diferentes para atender as necessidades gerenciais diferentes.” Leone (2000) ainda observa que a contabilidade de custos auxilia na definição da rentabilidade, bem como na mensuração do desempenho das diversas atividades da entidade. Além disso, pode ajudar a gerência na tomada de decisões, pois contribui para o planejamento, controle e administração das operações. Diante disso, nota-se que a contabilidade de custos apresenta-se atualmente como uma ferramenta de auxílio à tomada de decisões, não mais sendo utilizada apenas para a valorização de estoques e apuração de resultado. Portanto, é considerada como um dos principais ramos da contabilidade, pois possui o papel de identificar, registrar, mensurar e analisar os dados sobre o processo produtivo das organizações e transformá-los em informações que darão subsídios aos gestores na tomada de decisão em relação à quais produtos fabricar, como otimizar o processo produtivo, qual o melhor preço de vendas, entre outros. 2.2 Terminologia de Custos Para melhor compreender a contabilidade de custos, convém apresentar os significados das terminologias usadas nesta área. Assim, inicialmente apresentase o conceito de contabilidade de custos e em seguida expõem-se as nomenclaturas utilizadas. 23 2.2.1 Conceitos de Contabilidade de Custos Conforme destacado anteriormente, a área de custos é o ramo da contabilidade responsável por identificar e mensurar os gastos incorridos durante o processo produtivo em um determinado período, com a finalidade de transmitir informações para o processo decisório. Koliver (2008, p.43) ao abordar sobre contabilidade de custos destaca que esta é, parte da contabilidade que trata da fundamentação teórico-doutrinária, das técnicas, métodos e procedimentos utilizados na apreensão, classificação e avaliação das mutações patrimoniais que ocorrem no ciclo operacional interno das entidades, com vista à correta delimitação dos agregados de valores a bens ou serviços produzidos e às funções exercidas na entidade, durante determinado período de tempo. Desse modo, Ferreira (2007, p. 25) complementa sobre a contabilidade de custos, afirmando que sua função “é identificar, acumular e processar os dados, gerando informações de custos.” Verifica-se, diante dessas afirmações, que a contabilidade de custos tornou-se cada vez mais indispensável para o desenvolvimento das atividades das empresas, tanto no ramo industrial, como comercial e prestação de serviços. Isso porque, é responsável pelo registro, acumulação e processamento dos dados referentes ao processo produtivo, transformando-os em informações de caráter gerencial e auxílio no controle das operações e respectivos gastos. 2.2.2 Gasto Os gastos são considerados os sacrifícios financeiros realizados pelas empresas para a obtenção de bens ou serviços. Neste sentido, Martins (2003, p. 24) afirma que “gasto é a compra de um produto ou serviço qualquer que gera sacrifício financeiro para a entidade (desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro).” 24 Segundo Wernke (2005, p.3) entende-se que, o termo gasto é utilizado para descrever as ocorrências nas quais a empresa despende de recursos ou contrai uma obrigação (dívida) perante terceiros (fornecedores, bancos, etc.) para obter algum bem ou serviço que necessite para suas operações cotidianas. Conforme Ribeiro (1999, p.22), gasto nada mais é que “desembolso a vista ou a prazo para a obtenção de bens ou serviços, independentemente da sua destinação dentro da empresa.” Para Leone (2000, p.53) gasto é “o compromisso financeiro assumido por uma empresa na aquisição de bens ou serviços, o que sempre resultará em uma variação patrimonial seja apenas qualitativa no início e certamente quantitativa em seguida.” O autor complementa dizendo que o gasto pode ser classificado como gasto de investimento ou de consumo. Gasto de investimento ocorre quando o bem ou serviço são utilizados em vários processos produtivos; o de consumo, refere-se a utilização do bem ou serviço no momento de seu uso na produção ou prestação de serviço. Dependendo da destinação do gasto de consumo, poderá transformar-se em custo ou despesa. Desse modo, o termo gasto é empregado na obtenção de bens ou serviços pela empresa, que no ato ou em um período futuro irá gerar um desembolso, podendo ser considerado investimento, custo ou despesa. Pode-se citar como exemplos: compra de imobilizado, consumo de matérias-primas, depreciação dos equipamentos da área administrativa, entre outros. 2.2.3 Investimento Martins (2003, p.25) define que investimento é um “gasto ativado em função de sua vida útil ou benefícios a futuro(s) período(s).” De acordo com Wernke (2005, p.3) “classificam-se como investimentos os gastos efetuados na aquisição de ativos (bens e direitos registrados em conta do Ativo no Balanço Patrimonial) com a perspectiva de gerar benefícios econômicos em períodos futuros.” Conforme Ribeiro (1999, p.22), “investimentos compreende, geralmente, os gastos com a obtenção de bens de uso da empresa.” 25 Dessa forma, considera-se investimento o gasto que irá gerar benefícios à longo prazo. Assim, pode ser citada como exemplo, uma máquina ou equipamento usado no processo produtivo de uma empresa, pois sua aquisição é um investimento, uma vez que sua utilização visa benefícios futuros. 2.2.4 Custo O termo custo é utilizado para classificar os gastos relativos ao processo produtivo. Segundo Ribeiro (1999, p.22), “custo compreende os gastos com a obtenção de bens e serviços aplicados na produção.” Cita-se como exemplo: mãode-obra e matéria prima, que são gastos que de forma direta ou indireta, devem compor o valor final do produto ou do serviço prestado. Para Martins (2003, p.25), custo é um gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços.O custo também é um gasto, só que reconhecido como tal, isto é, custo, no momento da utilização dos fatores de produção (bens e serviços), para a fabricação de um produto ou execução de um serviço. Conforme Wernke (2005, p.4), “como custos são classificados os gastos efetuados para fabricar produtos ou prestar serviços.” Assim, todo o gasto que a empresa utilizou para a fabricação de bens ou serviços, é considerado custo, pois está ligado a fabricação dos mesmos. 2.2.5 Desembolso O desembolso representa a saída de recursos financeiros da entidade. Assim, para Martins (2003, p. 25) desembolso é “o pagamento resultante de um bem ou serviço. Pode ocorrer antes, durante ou após a entrada da utilidade comprada, portanto defasada ou não no momento do gasto.” 26 Conforme Ribeiro (1999, p.22), desembolso é “entrega de numerário antes (pagamento antecipado), no momento (pagamento à vista) ou depois (pagamento à prazo) da ocorrência dos gastos.” Desta forma, verifica-se que desembolso nada mais é que a utilização de recursos financeiros para o pagamento de um bem ou serviço contratado, como por exemplo: pagamento de fornecedores, energia elétrica, salários. 2.2.6 Despesa Enquanto que os custos são gastos relativos ao processo produtivo, as despesas referem-se aos dispêndios para a obtenção de receita. Nesse sentido, segundo Martins (2003, p.25), despesa é “bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para obtenção de receitas.” Ribeiro (1999, p.22) diz que “despesa compreende os gastos decorrentes do consumo de bens e da utilização de serviços das áreas administrativa, comercial e financeira, que direta ou indiretamente visam obtenção de receitas.” Para Wernke (2005, p.4), o conceito de despesa abrange todo o valor despendido voluntariamente com bens ou serviços utilizados para obter receitas, seja de forma direta ou indireta. Este conceito é empregado para identificar, no caso de uma fábrica, os gastos não relacionados com a produção, mas que são necessários ao funcionamento da organização. Desta forma, a despesa é um gasto relacionado à obtenção de receita e não está ligado ao processo produtivo, mas é necessário para o funcionamento da entidade, como por exemplo, gasto com setor de vendas e administrativo. 2.2.7 Perda Martins (2001, p. 26) define perda como “bem ou serviço consumido de forma normal e involuntária.” Segundo Wernke (2005, p.3), as perdas abrangem, 27 as ocorrências fortuitas, ocasionais, indesejadas ou involuntárias no ambiente das operações de uma empresa. Assim, o valor relacionado com a deterioração anormal de ativos causados por incêndios ou inundações, os furtos de mercadorias ou matérias-primas, o corte equivocado de uma peça (tornando-a imprestável para uso ou reaproveitamento), entre outras possibilidades, são classificáveis como perdas, pois não fazem parte da normalidade das operações da entidade. De acordo com Berti (2006, p.21), “são gastos não intencionais decorrentes de fatores externos ou na atividade produtiva normal da empresa. As perdas não mantêm nenhuma relação com a operação da empresa e geralmente ocorrem de fatos não previstos.” Diante disso, podem ser classificados como um gasto anormal dentro do processo produtivo, e não poderão ser repassados aos produtos ou serviços. Servem como exemplos: incêndios, enchentes, furtos, entre outros. 2.2.8 Desperdício Em relação ao termo desperdício, Wernke (2005, p.4) define que esta nomenclatura, é mais difundido na área da Engenharia de Produção do que na seara contábil ou administrativa e pode englobar os custos e as despesas utilizados de forma não eficiente. São considerados desperdícios os gastos relacionados com atividades que não agregam valor, do ponto de vista do cliente, que implicam dispêndio de tempo e dinheiro desnecessários aos produtos (ou serviços). Desse modo, pode-se afirmar que desperdício não gera nenhum tipo de receita para a empresa, pois não adicionam valor ao produto. E diferentemente das perdas que ocorrem de forma involuntária e imprevista, o desperdício pode ser identificado e eliminado do processo produtivo. 2.3 Classificação de Custos Os custos podem ser classificados em relação à sua alocação aos produtos em diretos e indiretos; e em função do volume produzido, em fixos e variáveis, conforme demonstra-se a seguir. 28 2.3.1 Custo Direto São considerados diretos, os custos que estão diretamente ligados aos produtos e para serem alocados não necessitam de critérios de rateio. De acordo com Martins (2003, p. 48), alguns custos, podem ser diretamente apropriados aos produtos, bastando haver uma medida de consumo (quilogramas de materiais consumidos, embalagens utilizadas, horas de mão-de-obra utilizadas e até quantidade de força consumida). São os Custos Diretos com relação aos produtos. Conforme Dutra (2003, p. 42), custo direto “é o custo que pode ser diretamente apropriado a cada tipo de bem ou órgão no momento de sua ocorrência, isto é, está ligado diretamente a cada tipo de bem ou função de custo.” Neste sentido, Megliorini (2002) afirma que o custo direto é aquele que é apropriado ao produto pelo efetivo consumido. Como por exemplo, a matéria-prima que é alocada pela quantidade que efetivamente foi consumida. No caso de mão-deobra direta, sua distribuição ocorre pelas horas que foram utilizadas. Dessa forma, entende-se que custo direto é o gasto que está relacionado diretamente a elaboração de um bem ou serviço, sem sua presença estes não existiriam. Podem ser exemplos: mão-de-obra direta e matéria prima. 2.3.2 Custo Indireto Os custos indiretos são aqueles que não estão diretamente relacionados a fabricação de produtos ou prestação de serviços, porém são necessários para o processo produtivo. Deste modo, para serem apropriados aos produtos ou serviços precisam da utilização de rateios. Segundo Ferreira (2007, p. 53) os custos indiretos, são aqueles que ocorrem genericamente em um grupo de atividades, ou em um grupo de departamentos, ou em empresa em geral, sem possibilidade de apropriação direta em cada uma das funções de acumulação de custos. 29 Ferreira (2007) ainda explica que, o custo indireto geralmente surge quando uma empresa fabrica mais de um produto ou tipo de serviço, e quanto maior o número de produtos e serviços oferecidos, maior será a quantidade dos custos indiretos e menores a quantidade dos diretos. Nascimento (2001) esclarece que este tipo de gasto mesmo que não incida diretamente sobre a produção ou a venda, faz parte das atividades de apoio ao processo de produção, transformação e comercialização de um produto ou serviço. Para Wernke (2005), os custos indiretos englobam os itens de custos em que existe dificuldade de identificá-los às unidades de produtos fabricados no período. Assim, não é possível mensurar a quantidade utilizada, fazendo-se necessário sua atribuição aos objetos por intermédio de rateios. Portanto, custos indiretos são os gastos que não possibilitam a mensuração de seu consumo à um determinado produto ou serviço, tem como principal característica a necessidade de rateio para sua distribuição. Pode-se citar como exemplos: depreciação, mão-de-obra dos supervisores, aluguel de um prédio, entre outros. 2.3.3 Custos Fixos Martins (2003, p. 52) define custos fixos como os que “num período têm seu montante fixado não em função de oscilação na atividade.” Complementa afirmando que, esse custo se repete todo mês, mesmo não havendo variação de produção. Megliorini (2002, p. 13) afirma que custos fixos “são aqueles decorrentes da estrutura produtiva instalada da empresa, que independem da quantidade que venha a ser produzida dentro do limite da capacidade instalada.” De acordo com Koliver (2008, p. 67), “custos fixos são aqueles que tendem a permanecer num determinado nível, entre certos limites no uso da capacidade instalada da entidade.” A Figura nº 1 demonstra com maior clareza, como os custos fixos se comportam em relação ao volume de produção. 30 Figura 1: Comportamento dos Custos Fixos Fonte: Adaptado de Megliorini (2001 p. 12) Desse modo, observa-se que custos fixos são todos os gastos que não se alteram em virtude do aumento ou diminuição do volume de produção. Assim estão presentes em valor constante independente do volume produzido. Cita-se como exemplo: aluguel da fabrica, que independente do volume de produção o valor apropriado será o mesmo. 2.3.4 Custos Variáveis Ao contrário dos custos fixos, os custos variáveis são aqueles que se alteram de acordo com a oscilação da produção. Diante disto, Leone (2000, p. 53) define custo variável como “aquele que varia com o volume de qualquer atividade que tenha sido escolhida como referência.” Nesse sentido, de acordo com Megliorini (2002, p. 13) custo variáveis, são aqueles que aumentam ou diminuem, oscilando ao sabor do nível de produção. São exemplos deste comportamento o custo da matéria-prima (quanto mais de produz, maior a sua necessidade, portanto, maior o custo) e custo da energia elétrica (quanto mais se produz, maior o uso de máquinas e equipamentos elétricos, consequentemente, maior o consumo e o custo). Segundo Koliver (2008, p.69), os custos variáveis somente existem quando se produz algum produto ou serviço, seja ele destinado à venda ou não, e quando eles são vendidos. O exemplo mais claro de custo variável é o do material insumido na fabricação de um produto qualquer - material direto-, pois se ele não for produzido, não 31 haverá o insumo, ocorrendo, portanto, uma correlação direta entre a geração do custo e a existência do bem. Para um melhor entendimento, a Figura 2 demonstra o comportamento dos custos variáveis em relação à produção. Figura 2: Comportamento dos Custos Variáveis Fonte: Adaptado de Megliorini (2001, p. 14) De acordo com a Figura 2, observa-se que o custo variável oscila conforme o volume de produção, ou seja, quando ocorrer aumento da quantidade produzida, maiores serão os custos variáveis; e com a diminuição deste volume, menores serão esses gastos. 2.3.5 Custos Semifixos e Semivariáveis Verificou-se anteriormente que, de acordo com o volume de produção os custos podem ser classificados como fixos e variáveis, mas existem alguns casos em que estes apresentam uma parcela fixa e outra variável. Segundo Martins (2003), alguns custos possuem componentes das duas naturezas, ou seja, compreendem uma parcela fixa e outra variável, deste modo são classificados em semifixos e semivariáveis. Neste sentido, observa-se que os custos semifixos são considerados gastos fixos até uma determinada faixa, sendo que ele pode variar ultrapassando essa faixa. Segundo Maher (2001, p.77) custos semifixos, 32 são os custos que aumentam em degraus quando o volume aumenta. [...] Um exemplo seria um posto de corpo de bombeiros, onde houvesse a necessidade de um supervisor para cada quatro bombeiros. O custo dos supervisores, então, aumentaria em degraus, à medida que a quantidade de bombeiros aumentasse. Apresenta-se na Figura 3 o comportamento dos custos semifixos. Figura 3: Custos Semifixos Fonte: Santos (2005, p.41). Os custos semivariáveis, por sua vez, conforme Leone (2000, p.74) são, aqueles que dispõem de uma parcela fixa e de uma outra parcela variável.São tipos de custos muito encontrados na pratica [...] o custo semivariável deverá ser sempre analisado para determinar essas duas partes. Entende-se dessa forma, que os custos semivariáveis, possuem uma parcela fixa, independente do processo produtivo e outra parcela variável, que varia de acordo com a produção. Como por exemplo, cita-se a energia elétrica, pois uma parte é definida em função do potencial do consumo instalado e a outra depende diretamente do consumo. Por meio da Figura 4 é possível obter um melhor entendimento sobre os custos semivariáveis, 33 Figura 4: Custos Semivariáveis Fonte: Santos (2005, p.40). Assim, de acordo com as figuras expostas anteriormente, pode-se observar que os custos semifixos apresentam-se estáveis em determinada escala de produção e variam de acordo com a alteração do volume produzido. Já os custos semivariáveis possuem uma parcela fixa, na qual mesmo que não haja produção ocorrerá e posteriormente se alteram conforme o consumo. 2.3.6 Classificação das Despesas As despesas de acordo com o volume de vendas também podem ser classificadas como fixas e variáveis. Para Martins (2003), as despesas podem ser classificadas como fixas e variáveis, já que oscilam de acordo com o volume de vendas, diferentemente os custos fixos e variáveis, que oscilam de acordo com o volume de produção do período. De acordo com Ferreira (2007, p.24), “pode-se dizer que a despesa é o dispêndio ocorrido fora da área de produção de um bem ou serviço. É o esforço financeiro relativo à realização de uma venda.” Nesse contexto, pode-se afirmar que esses gastos são incorridos visando obtenção de receitas, sendo de natureza comercial, administrativa e financeira. Assim, como despesas fixas tem-se os gastos relativos a administração da empresa, 34 tais como: honorários da diretoria, depreciação dos equipamentos da área administrativa, aluguel do escritório, entre outros. Enquanto, que as despesas variáveis referem-se aos gastos que se alteram em função da quantidade vendida, como por exemplo: comissões, tributos sobre vendas e frete de vendas. 2.5 Métodos de Custeio Neste tópico apresentam-se os principais métodos de custeio utilizados para apropriar os custos aos produtos, tais como: custeio por absorção, ABC, variável e RKW. 2.5.1 Custeio por Absorção O método de custeio por absorção consiste na metodologia que aloca todos os custos, sejam eles diretos, indiretos, fixos ou variáveis aos produtos, ou seja, estes absorvem todos os gastos ocorridos no processo produtivo. Segundo Nascimento (2001, p. 58), custeio por absorção “consiste em apurar ao produto final ou à produção todos os seus custos variáveis diretos mais os custos indiretos e fixos.” Megliorini (2002, p. 03) define que custeio por absorção, é o método de custeio que consiste em atribuir aos produtos fabricados todos os custos de produção, quer de forma direta ou indireta (rateios). Assim, todos os custos, sejam eles fixos ou variáveis, são absorvidos pelos produtos. É o método utilizado para custear os estoques, cujos saldos constam do Balanço Patrimonial, e determinar o Custo dos Produtos Vendidos, constante da Demonstração de Resultados do Exercício. Nesse sentido, destaca-se que são considerados custos diretos aqueles possíveis de mensurar seu consumo aos produtos, com mão de obra direta e matéria-prima; enquanto que os custos indiretos exigem uma forma de rateio para 35 determinar seu percentual de utilização em relação aos produtos, como por exemplo, a depreciação das máquinas da fábrica e o aluguel da área industrial. Salienta-se, conforme Martins (2003, p.37), que custeio por absorção é, o método derivado da aplicação dos Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos [...] consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, só de produção; todos os gastos relativos ao esforço de produção são distribuídos para todos os produtos ou serviços feitos. Nesse contexto, Nascimento (2001, p.58) complementa que “o método de custeio por absorção é o método mais adotado no Brasil, já que segue as exigências da Lei Federal nº. 6.404/76, que refere-se as Sociedades Anônimas e demais pessoas jurídicas do direito privado.” De acordo com Wernke (2005, p.19), custeio por absorção “é o método mais adequado para finalidades contábeis, como avaliar estoques e determinar o valor de custo dos produtos vendidos a ser registrado na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). ” Diante disso, percebe-se que o método de custeio por absorção é a metodologia mais utilizada no Brasil, pois segue os princípios contábeis, principalmente relacionado a confrontação da receita com as despesas. Além disso, está de acordo com a legislação fiscal. A figura demonstrada abaixo expõe como os gastos são tratados neste método. Figura 5: Custeio por Absorção Fonte: Martins (2003, p.37) 36 Com base na Figura 5, é possível verificar a sistemática do processo de alocação dos custos utilizando o método de custeio por absorção. Deste modo, primeiramente os gastos são classificados em custo e despesa, sendo que as despesas são alocadas ao resultado do exercício. Os custos são subdivididos em diretos e indiretos, onde os diretos são alocados diretamente aos produtos e os indiretos são distribuídos mediante rateio. Assim, após valorizar os produtos estes são transferidos para o estoque e, posteriormente, alocados no demonstrativo do resultado do exercício de acordo com a quantidade vendida. Nascimento (2001, p. 58), apresenta algumas vantagens do método de custeio por absorção, 1. agregação ao produto final de todos os custos fixos indiretos de atividades ligadas ao processo produtivo, como os custos com manutenção industrial e administração da produção; 2. formação do valor de estoques a custos mais reais; 3. determinação do custo final da produção, agregando os valores que direta e indiretamente são componentes indissolúveis e fazem parte do processo produtivo, ora envolvendo atividades-fins, ora de apoio à produção. Entretanto, Bomfim e Passarelli (2006) ressaltam que o método de custeio por absorção dificulta o processo decisório das empresas, uma vez que requer uso de rateio para apropriar os custos indiretos, o que pode distorcer o valor alocado aos produtos. Nesse contexto, Wernke (2005, p. 21) ressalta que “como nem sempre tais critérios são objetivos ou adequados a todos os fatores de custos, podem distorcer a rentabilidade dos produtos, penalizando alguns e beneficiando outros.” Desse modo, verifica-se que o método de custeio por absorção caracteriza-se pela valorização de estoques e atendimento à legislação. Porém, não é o critério mais indicado para fins gerenciais, uma vez que a utilização de rateio pode interferir no resultado do produto, podendo até inviabilizá-lo em alguns casos. 2.5.2 Método de Custeio Baseado em Atividades (ABC) O custeio baseado em atividades consiste na alocação de todos os custos aos produtos, sendo utilizadas as atividades como forma de mensuração dos valores à eles atribuídos. 37 Segundo Martins (2003, p.103) “o ABC é uma ferramenta que permite melhor visualização dos custos através da análise das atividades executadas dentro da empresa e suas respectivas relações com os produtos.” Assim, nesta metodologia primeiramente são identificadas às atividades que consomem recursos, e efetuada a alocação destes às atividades. Desta forma, para Wernke (2005, p.27), o ABC caracteriza-se pela tentativa de identificação dos gastos de diversas atividades desempenhadas por uma empresa, independentemente de que sejam executadas dentro ou fora dos limites físicos de um setor, departamento ou até mesmo da própria organização. Após identificar essas atividades, busca-se conhecer o montante de recursos consumidos por estas no período (geralmente de um mês), com relação aos salários, ao material de expediente, à energia elétrica, ao aluguel, à depreciação do equipamento fabril etc. Na sequência, de acordo com Sakurai (1997, p. 99) “os custos são levados de uma atividade aos produtos determinando-se a parcela da atividade dedicada a cada produto. Dessa forma, a base de apropriação do custo ABC é uma medida da atividade desempenhada.” Segundo Dubois, Kulpa e Souza (2006), o método ABC possibilita conhecer todas as atividades executadas pela empresa de forma mais apurada, utiliza-se de direcionadores que apropriam os gastos indiretos aos produtos de uma forma mais real, deste modo reduz a necessidade de rateios. A figura a seguir, demonstra a sistemática do método de custeio por atividades – ABC. Figura 6: Custeio Baseado em Atividades (ABC) Fonte: Dubois, Kulpa e Souza (2006, p. 155) 38 Verifica-se na Figura 6 que os recursos, inicialmente são alocados por atividade de acordo com sua utilização. Logo que identificados e devidamente calculados, são distribuídos aos produtos ou serviços, conforme a passagem por cada atividade. Destaca-se, segundo Nakagawa (2001, p. 30), que um objetivo do método ABC “é facilitar a mudança de atitudes dos gestores de uma empresa, a fim de que os mesmos, paralelamente à otimização dos lucros para os investidores, busquem também a otimização do valor dos produtos para os clientes, sejam eles internos ou externos.” Para Cogan (1999), o sistema de custeio ABC proporciona resultados mais precisos, demonstrados quando uma empresa apresenta quantidades elevadas de gastos indiretos no seu processo produtivo, bem como diversidade nos produtos, processos de produção e clientes. Esses fatores transmitem a relevância de sua utilidade, permitindo que as atividades sejam acompanhadas com o intuito de obter redução nos gastos e constante aperfeiçoamento do processo. Segundo Dubois, Kulpa e Souza (2006, p. 162) “embora contando com inegáveis vantagens sobre o método tradicional, traz em si o sério problema da própria complexidade e, consequentemente, a pesada estrutura administrativa que decorre disso.” Nesse sentido, Ferreira (2007, p.91), destaca que, um dos pontos fracos ressaltados por muitos autores para o ABC é a complexidade do sistema, que implica um dispêndio de tempo e de recursos que dificulta a estimativa de suas reais vantagens em termos de custobenefício. Outro ponto fraco está no fato de misturar custos fixos e variáveis. Para alguns autores, a distinção é vital na tomada de decisão, pois os custos relevantes são os variáveis, já que variam com a decisão específica. Portanto, verifica-se que o método de custeio por atividade, o ABC, pode ser de grande utilidade nas empresas que possuam elevados custos indiretos e diversidade de produtos e serviços. No entanto, exigem uma adequada estrutura para ser implementado, tendo em vista sua complexibilidade. 39 2.5.3 Custeio Variável O custeio variável, também denominado de direto, é o método de custeio que considera somente os custos variáveis para valorização dos produtos. Meglirioni (2002, p.89) comenta que custeio variável é o, método de custeio que consiste em alocar os produtos somente os custos variáveis, quer seja, eles diretos ou indiretos [...] enquanto no custeio por absorção os custos indiretos são rateados aos produtos, no custeio variável, são tratados como custo do período, indo diretamente para o resultado igualmente as despesas. Observa-se, deste modo, que diferentemente do método de custeio por absorção, o variável não utiliza todos os custos referentes ao processo produtivo para valorizar os produtos e serviços, considera somente os variáveis; e dá aos custos fixos o mesmo tratamento das despesas, ou seja, são lançados na demonstração do resultado. Cabe destacar, que este método é um instrumento de auxílio à gestão, uma vez que excluídos os gastos fixos do cálculo do custo dos produtos é possível definir a margem de contribuição destes. Diante disso, salienta-se conforme Crepaldi (2004, p. 231) que “no custeio variável, todos os custos e despesas variáveis (inclusive as despesas de vendas e administração) são deduzidas da Receita de Vendas, embora as despesas variáveis não façam parte do custo do produto, resultando na Margem de Contribuição.” Segundo Martins (2003), a margem de contribuição fornece informações para analisar se o produto vendido no mercado está sendo viável para empresa, e auxilia a administração no planejamento e classificação de seus produtos, como os mais vendidos ou lucrativos. Nesse contexto, Megliorini (2001, p.37) salienta as vantagens de conhecer a margem de contribuição como auxílio a tomada de decisão, que são: a) quais produtos contribuem mais para a lucratividade da empresa; b) determinação de quais produtos devem ter suas vendas incentivadas, reduzidas ou mesmo ser excluídos da linha de produção; c) que produtos proporcionam a melhor rentabilidade quando existirem fatores que restringem a produção; d) qual o preço mínimo a ser praticado em condições especiais, tal como venda de capacidade ociosa; e) decisão entre comprar ou fabricar; 40 f) determinação do nível mínimo de atividades em que o negócio passa a ser rentável; g) definição, em uma negociação com o cliente, de qual o limite de descontos permitido. Assim para um melhor entendimento, a Figura 7 apresenta a sistemática do custeio variável. Figura 7: Esquema do Custeio Variável Fonte: Crepaldi (2004, p.230) Conforme a Figura 7, é possível verificar que a apuração do resultado, por meio do custeio variável, é formada a partir da receita líquida de vendas, diminuídos os custos e despesas variáveis, obtendo-se a margem de contribuição. Em seguida são subtraídos os custos e despesas fixos, resultando no lucro líquido. Cabe ressaltar, segundo Megliorini (2001, p. 137), que “enquanto o custeio por absorção atende às disposições legais quanto à apuração de resultados e à avaliação patrimonial, o custeio variável atende a administração da empresa através de seus resultados, auxiliando na tomada de decisões.” Portanto, observa-se que o método de custeio variável, não é aceito legalmente, sendo utilizado somente na parte gerencial da empresa, já que reduz a carga tributária. Contudo, de acordo com Martins (2001, p. 220), a não-aceitação do Custeio Variável não impede que a empresa o utilize para efeito interno, ou mesmo que o formalize completamente na Contabilidade durante o ano todo. Basta, no final do exercício, fazer um lançamento de ajuste para que fique tudo amoldado aos critérios exigidos. Nem a Auditoria Externa nem a legislação fiscal impedem a adoção de critérios durante o ano diferentes dos adotados nas demonstrações contábeis de final de período. Deste modo, pode-se descrever o método de custeio variável como uma ferramenta de auxílio a tomada de decisões, uma vez que considera apenas os 41 custos variáveis para valorização dos produtos, determinando assim a margem de contribuição de cada produto, e aloca os custos fixos diretamente ao resultado. 2.5.4 RKW Martins (2003) destaca o RKW (Reichskuratorium fürWirtschaftlichtkeit) como um método que surgiu na Alemanha no início do século XX, que consiste no rateio dos custos e despesas da empresa aos produtos fabricados. Para Gelbcke, Iudícibus e Martins (2000, p. 303), “esse método consiste em ratear, aos produtos, todos os gastos da empresa; não só os custos, mas também despesas comerciais, administrativas e até mesmo as despesas financeiras e os juros sobre o capital próprio.” Segundo Ferreira (2007, p. 105), “no RKW, primeiro, os custos e despesas são distribuídos entre os diversos setores ou departamentos e, em seguida, alocados aos produtos.” De acordo com Lunkes (2007, p.64), o RKW gera, informações de custos dos produtos e serviços, incorporando todos os custos e despesas do período, porém ocorre que essa forma de determinação dos preços dos produtos inclui gasto gerado por ineficiência administrativa e que num mercado competitivo o cliente não está disposto a pagar. Neste contexto, pode-se observar que com o uso do método RKW a empresa aloca não só custos, mas também as despesas aos produtos, mesmo que alguns desses gastos não se façam presentes no processo produtivo. Deste modo, estes gastos acabam influenciando de forma significativa na formação do preço de venda dos produtos ou serviços. 2.6 Rateio Conforme destacado anteriormente, os custos indiretos de fabricação devem ser distribuídos aos produtos por meio de critérios de rateio. Para Leone 42 (2000), o ato de ratear pode ser denominado de apropriação, alocação, distribuição e atribuição. Dutra (2003, p.189) define rateio como “uma divisão proporcional pelos valores de uma base. Esses valores devem estar distribuídos pelos diferentes produtos ou funções dos quais se deseja apurar o custo, devendo ser conhecidos e estar disponíveis no final do período de apuração.” Deste modo, Leone (2000, p. 61) observa que o rateio é “realizado mediante o emprego de critérios e taxas que resultam na divisão proporcional de um montante global e comum.” Assim, de acordo com Martins (2003, p.86), “os custos indiretos devem ser rateados segundo os critérios julgados para relacioná-los aos produtos em função dos fatores mais relevantes que conseguir.” Portanto, é muito importante que os responsáveis pela escolha do critério de rateio conheçam o processo produtivo da empresa e o façam de modo a identificar a forma mais adequada de distribuição dos custos indiretos aos produtos. Isso porque, o critério inadequado pode distorcer informações e levar os gestores a decisões equivocadas em relação aos custos dos produtos. 2.7 Formação do Preço de Venda A formação do preço de venda é uma tarefa importante para as organizações, tendo em vista que esta variável deve ser estabelecida de modo que cubra os custos de produção, demais gastos que a empresa possui como despesas de vendas e administrativas e ainda gere lucro. Além disso, o produto ou serviço deve ter um preço competitivo. Segundo Crepaldi (1998, p.209) embora a fixação dos preços de venda dos produtos de fabricação da empresa seja uma tarefa bastante complexa, que leva em consideração vários fatores [...] sem duvida o CUSTO de fabricação dos produtos é uma variável que desempenha um papel importante, principalmente pelo fato de que, a não ser em circunstâncias muito especiais, a empresa não pode vender por um preço abaixo do custo. Diante disso, Lunkes (2007, p. 131) ressalta que “as empresas devem estabelecer preços que vão cobrir os custos e geram o lucro desejado.” 43 Salienta-se que existem alguns aspectos que devem ser considerados em relação à formação do preço de venda. De acordo com Crepaldi (1998, p. 213), os principais são: - características do produto (aspectos da elasticidade, sazonalidade, moda, ciclo de vida); - situação econômica-financeira da empresa (nível de estoque, grau de endividamento etc.); - metas mercadológicas (crescimento, penetração, imagem); - situação macroeconômica (recessão, excesso de oferta, excesso de demanda etc.); - estrutura de custos da empresa. Deste modo, a empresa ao fixar seu preço de venda deve analisar estes fatores para que possa obter lucratividade e manter-se competitiva no mercado. Existem, alguns métodos que auxiliam na determinação do preço de venda, tais como: método baseado nos custos, baseado nas decisões dos concorrentes, baseado no mercado e misto, os quais serão apresentados na seqüência. 2.7.1 Método Baseado nos Custos Martins (2003, p. 219) afirma que, esse método de calcular preços com base em custos é muito utilizado pelas empresas, porém apresenta algumas deficiências, como: não considerar, pelo menos inicialmente, as condições de mercado, fixar o percentual de cobertura das despesas fixas de forma arbitraria etc. No entanto, conforme Lunkes (2007, p. 133), “em grande parte dos segmentos de mercado, o custo continua sendo o referencial na definição do preço de venda. Até porque não se pode ter lucro vendendo abaixo dos custos.” Bruni e Fama (2004, p. 322), justificam a utilização da formação do preço de venda com base nos custos, devido aos seguintes fatores, simplicidade – ajustando preços a custos, não é necessário preocupar-se com ajustes em função da demanda; segurança – vendedores são mais seguros quanto a custos incorridos do que a aspectos relativos à demanda e a mercado consumidor; justiça – muitos acreditam que o preço acima dos custos é mais justo tanto para consumidores, quanto para vendedores, que obtêm um retorno justo por seus 44 investimentos, sem tirar vantagens do mercado quando ocorrem elevações de demanda. Observa-se, que este método utiliza o do custo dos produtos e serviços como base para a formação do preço de venda. Contudo, não considera outros fatores que também podem influenciar no resultado, como as condições do mercado e a concorrência. 2.7.2 Método Baseado nas Decisões das Empresas Concorrentes O método de formação de preço de venda baseado nas decisões das empresas concorrentes é caracterizado pela comparação dos preços da entidade com os concorrentes dentro do mercado em que atuam. Para Lunkes (2007, p. 134), este método pode ser classificado em: - método de preços correntes: parte das empresas do setor utilizam preços similares; - método de imitação de preços: preço baseado em concorrente forte no mercado; - método de preços agressivos: preços menores que os concorrentes com objetivo de se estabelecer rapidamente ou tirá-lo do mercado; - método de preços promocionais: alguns produtos são colocados a preços menores ou até a preço de custo. Nesse contexto, Bruni e Fama (2004, p. 323) complementam que “os preços podem ser de oferta – quando a empresa cobra mais ou menos que seus concorrentes, ou de proposta – quando a empresa determina seu preço segundo seu julgamento sobre como os concorrentes irão fixar seus preços.” Assim, quanto à utilização deste método, pode-se observar que é com base nos preços determinados pelos concorrentes que a empresa estabelece seu preço de venda. 45 2.7.3 Método Baseado nas Características do Mercado Para a formação do preço de venda com base nas características do mercado é necessário conhecer e analisar o mercado onde a empresa atua. Nesse sentido, Lunkes (2007, p. 134) afirma que, com base no conhecimento do mercado, a empresa pode estabelecer seu preço de venda, considerando fatores ambientais, objetivos e demanda etc. Diante disso, ela pode optar em atender determinada classe social ou região com um tipo de produto ou serviço, considerando um conjunto de atributos na formação do preço para atender melhor os consumidores em particular. Segundo Santos (1995, p. 122), “o método baseado nas características de mercado exige conhecimento profundo do mercado por parte da empresa.” Portanto, nesta metodologia é preciso conhecer e analisar muito bem o mercado onde a empresa está atuando, para que o preço estabelecido possa enquadrar-se neste ambiente de negócios. 2.7.4 Método Misto A formação de preço de venda utilizando o método misto, como o próprio nome diz, é uma combinação dos três fatores apresentados anteriormente. Assim, segundo Lunkes (2007, p. 134), o método deve observar a combinação das seguintes variáveis: “custos envolvidos, decisões da concorrência, características do mercado.” De acordo com Santos (1995, p. 122) “seria bastante temeroso para a administração de uma empresa estabelecer preços sem a combinação desses fatores. Cedo ou tarde ela teria de arcar com as conseqüências de sérios erros que poderiam deixar de ser cometidos.” Desse modo, pode-se observar a necessidade de conhecer variáveis tanto internas quanto externas, já que estas influenciam na formação do preço de venda. Desta forma, é preciso identificar o custo dos produtos, as decisões das 46 empresas concorrentes e o mercado onde a entidade irá atuar para estabelecer o preço de venda adequado. 47 3 ESTUDO DE CASO Neste capítulo apresentam-se dados referentes ao processo produtivo da empresa em estudo, a forma de rateio dos custos indiretos de beneficiamento utilizado por esta organização, proposta para alocação destes gastos conforme o fluxograma de produção e a comparação dos resultados entre as duas metodologias. 3.1 Caracterização da Empresa e Respectivo Processo Produtivo Neste item, primeiramente faz-se uma breve descrição do histórico da empresa pesquisada. Na seqüência, apresentam-se seus principais produtos e respectivos fluxos de produção. 3.1.1 A Empresa Este estudo foi realizado na Carbonífera Criciúma S/A, que iniciou suas atividades em 1943 com a fusão da empresa de mineração Carbonífera Caeté Ltda. com a Carbonífera Cocal Ltda, e atualmente encontra-se entre as líderes no ramo da mineração de carvão no Brasil. Assim, por meio da jazida própria atende o setor enérgico nacional garantindo combustível necessário ao mercado de geração termelétrica, bem como colabora para o desenvolvimento da economia da região. Neste contexto, cabe observar o desempenho desta entidade, que destaca-se entre as empresas brasileiras do ramo da mineração de carvão, contribuiu nos últimos anos com mais de R$ 10.000.000,00 para o tesouro nacional, sob a forma de impostos diretos e de obrigações sociais e trabalhistas. Desta forma, além de sua extensão e crescimento econômico a empresa preocupa-se com a valorização de seus colaboradores, implementando políticas sociais para o atendimento de suas necessidades e expectativas. Realiza, também, 48 investimentos na recuperação e na preservação ambiental, promovendo, assim, qualidade de vida para a região. Ressalta-se, que além de outras instituições, a Carbonífera Criciúma S.A. é filiada ao IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração, entidade nacional que representa as empresas e instituições que atuam na indústria da mineração, e ao SIECESC – Sindicato da Indústria da Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina, entidade defensora dos interesses e necessidades do setor de mineração e ao apoio institucional e tecnológico na área jurídica, operacional, ambiental e de política setorial. O SIESESC é a entidade mantenedora da SATC – Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina, instituição de ensino e pesquisa que visa à formação humana e profissional dos filhos dos trabalhadores da indústria carbonífera. Atualmente a organização pesquisada possui 905 funcionários, alocados em duas unidades: o escritório central, onde se encontra a parte administrativa da empresa; e a unidade mineira, na qual ocorre o processo produtivo. Cabe salientar que este estudo foi realizado na unidade produtiva localizada no município de Forquilhinha-SC. O método de custeio utilizado pela empresa é o custeio por absorção, pois este é o único método aceito pela lei 10303/2001. Cabe salientar, que esta metodologia será o foco deste trabalho. 3.1.2 Principais Produtos A Carbonífera Criciúma/SA produz aproximadamente 41.000 toneladas por mês, sendo que os principais produtos beneficiados e comercializados são: Carvão Energético 4500, Carvão Flotado Vapor, Carvão Energético Finos, Carvão Finos Metalúrgico e Carbotrat AP. Para melhor entendimento, apresenta-se quadro que expõe as finalidades de cada produto. 49 Utilizado para geração de energia termelétrica e em Carvão CE 4500 cimenteiras para fim energético. Carvão Flotado Vapor Utilizado em coquerias quando possui as especificações exigidas, quando está fora da tolerância é utilizado na mistura com outro tipo de carvão, como, por exemplo, o CE4500. Carvão Energético Finos Geração de energia elétrica (o cliente aceita 10% do fornecimento); utilizado em industrias cerâmicas como combustível; utilizado também em coquerias, pois possui 30% de carvão metalúrgico. Carvão Finos Metalúrgico Usado em coquerias. Este carvão entra na mistura com o coque de petróleo e outros mix para produção de coque fundição. Carbotrat AP Destinado ao saneamento básico no tratamento de água potável, água industrial e tratamento terciário de efluentes industriais. Sua principal característica, além da filtração, é a remoção de metais pesados da água. Quadro 2: Principais produtos beneficiados e comercializados Fonte: Elaborado pelo autor Assim, após apresentar os principais produtos da organização em estudo e suas finalidades, descreve-se, na sequência, o fluxograma do processo produtivo destes. 3.1.3 Fluxograma de Produção Antes de demonstrar o fluxograma do processo produtivo, apresentam-se os centros de custos integrantes deste processo. CENTROS DE CUSTOS PRODUTIVOS Britagem Setor responsável pelo condicionamento do carvão que vem direto da jazida e chega até esse setor nas mais diversas dimensões. Assim, neste centro de custo prepara-se o carvão para o beneficiamento. Continua 50 Conclusão Jigue Separação do carvão tipo grado (grosso) e carvão do tipo finos do rejeito. Circuito de Finos Setor que classifica e alimenta a ciclonagem e a flotação com o carvão tipo finos. Possui a função de separar o carvão em duas partes de acordo com sua especificação, ou seja, conforme a densidade. Após este processo é destinado a fabricação do produto. Ciclonagem Flotação Recuperação de Finos bacia (FLOTADO VAPOR) Recuperação de Finos bacia (REJEITO DE FINOS) Faz a separação do carvão flotado a vapor, carvão flotado metalúrgico e rejeito. Como é um produto de dimensões milimétricas, ocorrem perdas no processo produtivo, essas matérias não ficam nas peneiras, pois escorre pela água. Este setor é responsável por recuperar essa parcela de perda do flotado a vapor; Como é um produto de dimensões milimétricas, ocorrem perdas no processo produtivo, essas matérias não ficam nas peneiras, pois escorre pelas águas. Este setor é responsável por recuperar essa parcela de perda do rejeito de finos. CENTROS DE CUSTOS DE APOIO Administração do beneficiamento Laboratório Setor onde está localizada a mão-de-obra dos supervisores do processo produtivo Responsável pela análise dos produtos para verificar se os mesmos estão dentro dos padrões exigidos pelos clientes . Quadro 3: Centros de custo que compõe o processo produtivo Fonte: Elaborado pelo autor Observa-se conforme Quadro 3, que nesta organização o beneficiamento de carvão é realizado nos centros de custos produtivos, tais como: Britagem, Jigue, Ciclonagem, Flotação, recuperação de finos bacia Flotado Vapor e rejeito de Finos. No entanto, existem dois setores de apoio de produção que são: Administração do Beneficiamento e Laboratório. Assim, neste momento, expõe-se o fluxograma do processo produtivo da empresa de modo geral. 51 Figura 8: Fluxograma de produção Fonte: Elaborado pelo autor 52 Destaca-se que o processo produtivo inicia com a extração do carvão mineral nas jazidas que são de propriedade da empresa. Assim, após ser extraído, este mineral é transportado do subsolo até a superfície nas mais diversas dimensões e por isso passa por um processo de britagem para ficar do tamanho adequado ao seu beneficiamento. Logo após este procedimento, o carvão é encaminhado ao jigue setor de beneficiamento, onde será definida a sequência do processo. Assim, depois de passar pelo jigue, uma parte vai para o processo grado e outra para o fino. Da parte do grado é retirado o rejeito, restando apenas o carvão CE 4500. Enquanto que a matéria prima que é destinada a fabricação de produtos finos passam por hidrociclones, que são espirais responsáveis em separar o carvão por meio de um processo químico leve (over flow) e pesado (under flow). Assim, a matéria-prima caracterizada como leve, passa pela Flotação, dando origem ao Carvão Flotado Vapor, Carvão Finos Metalúrgico e rejeito. Já a matéria-prima caracterizada como pesada, passa pelas espirais, resultando no Carvão Energético Finos e Carbotrat AP. Ressalta-se que em todos os produtos são realizadas análises em laboratório, para que os mesmos estejam dentro dos padrões exigidos pelo mercado consumidor. Com base neste fluxograma, elaborou-se um quadro no qual são demonstrados os setores onde cada produto passa para ser beneficiado. CIRCUITO PRODUTO BRITAGEM JIGUE DE CICLONAGEM FLOTAÇÃO FINOS CE 4500 X X FLOTADO VAPOR X X X X ENERGETICO FINOS X X X X X X X X X X X X FINOS METALURGICO CARBOTART AP Quadro 4: Processo de Beneficiamento Fonte: Elaborado pelo autor X REC.FINOS REC.FINOS ADM. DO FLOTADO REJEITO BENEFICI VAPOR FINOS AMENTO X X X LABORATÓRIO X X X X X X X X X X 53 De acordo com o Quadro 4 pode-se observar que, todos os produtos passam pelo setor de Britagem, Jigue, Administração do Beneficiamento e Laboratório. No setor de Ciclonagem assim como no circuito de Finos, somente o carvão CE 4500 não passa. O centro de custos Flotação é utilizado pelos produtos Flotado a Vapor e Finos Metalúrgico; enquanto que os setores de Recuperação de Finos Flotado a Vapor e Recuperação de Rejeito de Finos referem-se, respectivamente, aos produtos Flotado a Vapor e Energético Finos. 3.2 Custos Indiretos de Produção Neste tópico foram identificados os custos indiretos de produção dos centros de custos do beneficiamento da empresa, no período de setembro de 2009 à agosto de 2010. Assim, conforme quadro abaixo apresentam-se os valores acumulados neste período e a média anual. Quadro 5:Custo anual do beneficiamento Fonte: Elaborado pelo autor 54 Cabe observar que os custos indiretos que compõe o total dos gastos dos centros de custos, são constituídos por custos com: salários e encargos, energia elétrica, manutenção, depreciação e outros. Verifica-se conforme Quadro 5, que o centro de custo Britagem é o que gerou maior valor de custos indiretos, representando 31,66% do total dos custos indiretos de fabricação; seguido pelo setor Jigue com 27,20%. Ressalta-se, novamente, que todos os produtos passam por esses dois centros de custos, justificando o gasto mais elevado nestes setores. 3.3 Distribuição dos Custos Indiretos conforme Processo Produtivo A empresa atualmente distribui os custos indiretos de beneficiamento igualmente a todos os produtos, independente do processo produtivo. Desta forma, apresenta-se este método de rateio que considera apenas a quantidade produzida, bem como o custo indireto unitário de cada produto conforme esta metodologia. PRODUTOS MÉDIA MENSAL DE PRODUÇÃO (TN) CE4500 RATEIO DOS CIFs POR PRODUTO (R$) CUSTO INDIRETO UNITÁRIO (R$) 31.000 289.391,39 9,34 FLOTADO VAPOR 1.200 11.202,25 9,34 ENERGÉTICO FINOS 8.000 74.681,65 9,34 FINOS METALURGICO 500 4.667,60 9,34 CARBOTRAT AP 95 886,84 9,34 40.795 380.829,73 9,34 TOTAL Quadro 6: Custo unitário conforme cálculo da empresa Fonte: Elaborado pelo autor Verifica-se, assim que utilizando esta forma de rateio que desconsidera o ciclo de operações dos produtos, e baseia-se apenas na quantidade produzida, o 55 custo indireto é distribuído igualmente a todos os produtos, e neste caso corresponde à R$ 9,34 por tonelada. Diante disso, apresenta-se proposta de rateio dos custos indiretos de produção que considera o fluxograma do processo produtivo de cada produto. Assim, os custos indiretos são apropriados aos produtos com base na quantidade produzida, porém cada produto acumula apenas os gastos dos setores que realmente contribuem para a sua produção. CUSTO INDIRETO MÉDIO Custos Britagem Custos Admin. e Benefic. Geral Jigue Custos Ciclonagem Custos Circuito de Finos FLOTADO VAPOR ENERGÉTICO FINOS FINOS METALURGICO CARBOTRAT AP 120.557,78 91.611,50 3.546,25 23.641,68 1.477,60 280,74 15.326,58 103.567,22 7.091,80 11.646,62 78.700,42 450,84 3.046,47 868,83 3.005,58 20.309,79 5.792,18 187,85 1.269,36 362,01 35,69 241,18 68,78 5.734,71 11.201,92 662,60 38.231,39 2.389,46 4.667,47 276,08 454,00 10.629,84 1.132,85 500 21,26 95 11,92 Custos Flotação Custos Laboratório 46.809,56 15.869,39 22.525,75 Custos Rec. Finos Flotado Vap. 6.055,92 Custos Rec. Finos Rejeito Finos 43.025,73 CUSTO INDIRETO TOTAL DO BENEFICIAMENTO CE4500 380.829,73 QUANTIDADE PRUDUZIDA CUSTO MÉDIO UNITÁRIO 17.117,25 4.417,36 52,46 6.055,92 43.025,73 199.075,80 31.000 6,42 31.567,54 1.200 26,31 138.423,70 Quadro 7: Custo unitário conforme nova metodologia 8.000 17,30 Fonte: Elaborado pelo autor Os custos foram distribuídos de acordo com o processo produtivo de cada produto, ou seja, os produtos só absorveram valores inerentes aos setores produtivos onde realmente passam para serem beneficiados. Deste modo, pelo método utilizado pela empresa observou-se que o custo indireto unitário era de R$ 9,34 para todos os produtos. Pela nova metodologia constatou-se que o carvão CE 4500 passou a ter um custo indireto equivalente à R$ 6,42 por tonelada, o Carvão Flotado a Vapor R$ 26,31, Energético Finos R$ 17,30, Finos Metalúrgico R$ 21,26 e Carbotrat AP R$ 11,92. 56 Assim, para melhor visualização dos resultados apresenta-se um gráfico que demonstra a variação ocorrida no custo indireto unitário de cada produto pelas duas metodologias. Gráfico 1: Variação dos custos de beneficiamento Fonte: Elaborado pelo autor Conforme Gráfico 1, é possível verificar que com a aplicação da nova metodologia de rateio resultou na alteração dos custos indiretos unitários. Deste modo, o Carvão CE4500 apresentou diminuição de 31,26% destes gastos, pois passou de R$ 9,34 para R$ 6,42 . O Carvão Flotado a Vapor teve um aumento de 181,69% dos custos indiretos, o Carvão Energético Finos 85,22%, o Carvão finos Metalúrgico 127,62% e o Carvão Carbotrat AP 27,62% em relação ao método anterior. Apresentam-se a seguir, a relação entre o custo indireto dos produtos e o preço de venda, com base na metodologia de rateio usada pela empresa e pela proposta de rateio apresentada neste trabalho. 57 PRODUTOS RELAÇÃO CUSTOS INDIRETOS X PREÇO DE VENDA METODOLOGIA ANTERIOR METODOLOGIA PROPOSTA VARIAÇÃO CE4500 5,56 % 3,82% 1,74% FLOTADO A VAPOR 6,77% 19,07% (12,30%) ENERGÉTICO FINOS 6,67% 12,36% (5,69%) FINOS METALURGICO 4,32% 9,84% (5,52%) CARBOTART AP 1,56% 1,99% (0,43%) Quadro 8: Relação Custos Indiretos x Preço de Venda Fonte: Elaborado pelo autor Coforme Quadro 8, é possível verificar que os custos indiretos do produto CE4500 representam 5,56% do preço de venda na forma de rateio utilizada pela entidade. Enquanto que na metodologia apresentada neste trabalho passou a ser 3,82%. A mesma situação aconteceu com os demais produtos, sendo que o percentual de variação mais representativo refere-se ao Carvão Flotado a Vapor. Neste caso, o percentual dos custos indiretos que correspondia a 6,77% na metodologia anterior passou com a proposta para 19,07% em relação ao preço de venda. É importante destacar que para formar o preço de venda do Carvão CE 4500 a empresa baseia-se no valor determinado por um contrato de compra e venda do seu principal cliente. Para os demais produtos, leva-se em consideração o método misto. Diante disso, constata-se que as organizações devem estar atentas à forma de distribuição dos custos indiretos de fabricação aos produtos. Pois, conforme observado, a modificação do critério de rateio destes gastos pode comprometer o processo de formação do preço de venda. 58 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer deste estudo, verificou-se que a contabilidade de custos é um instrumento de suma importância para as organizações, uma vez que pode auxiliar no gerenciamento das atividades produtivas e comerciais. Isso porque, esta área é responsável pelo registro de dados inerentes aos processos produtivos e pelo fornecimento de informações que subsidiam a tomada de decisões, principalmente no que tange ao que fabricar, quanto e quando produzir, qual o melhor preço de venda, entre outros. No entanto, um dos fatores preocupantes na contabilidade de custos tratase da distribuição dos custos indiretos aos produtos, tendo em vista que nos últimos anos o crescente uso de máquinas e equipamentos nos processos produtivos ocasionou aumento nestes gastos. Neste sentido, é preciso identificar, registrar e alocar corretamente os custos indiretos, pois uma gestão inadequada destes gastos pode comprometer a valorização dos produtos e serviços. Deste modo, este estudo buscou verificar a forma mais adequada para ratear os custos indiretos aos produtos acabados de uma empresa mineradora. Assim, com sua realização constatou-se que a entidade pesquisada possui 9 (nove) centros de custos, sendo que 7 (sete) são produtivos e 2 (dois) de apoio. Destes setores, os departamentos de Britagem e Jigue geram mais custos indiretos, pois todos os produtos beneficiados por essa mineradora passam por estes centros de custos durante o processo produtivo. Os resultados apontaram, ainda, que a forma utilizada pela empresa objeto de estudo para a distribuição dos custos indiretos aos produtos considera apenas a quantidade produzida, o que resulta em um custo indireto unitário igual para todos os produtos. Com a metodologia proposta, que aloca os custos indiretos conforme o fluxograma do processo produtivo, constatou-se que o custo unitário que era de R$ 9,34 para todos os produtos se modificou. Assim, pelo novo método houve uma mudança considerável nos custos indiretos de cada produto, sendo que o carvão CE 4500 passou a ter um custo indireto equivalente à R$ 6,42 por tonelada, o Carvão Flotado a Vapor R$ 26,31, Energético Finos R$ 17,30, Finos Metalúrgico R$ 21,26 e Carbotrat AP R$ 11,92. Deste modo, o Carvão CE4500 apresentou diminuição de 31,26% destes gastos, pois passou de R$ 9,34 para R$ 59 6,42. Enquanto que o Carvão Flotado a Vapor teve um aumento de 181,69% dos custos indiretos, o Carvão Energético Finos 85,22%, o Carvão finos Metalúrgico 127,62% e o Carvão Carbotrat AP 27,62% em relação ao método anterior. Diante disso, pode-se concluir que cada vez mais as organizações devem estar atentas a forma de distribuição dos custos indiretos de fabricação aos produtos, uma vez que o modo de rateio adotado pode comprometer a formação do preço de venda e a tomada de decisão de quais produtos devem ser fabricados, como por exemplo. Em relação a futuras pesquisas, este trabalho abre oportunidades para realização de novos estudos relacionados a alocação dos custos indiretos, tais como: distribuir primeiramente estes gastos dos setores de apoio aos setores produtivos para posteriormente rateá-los aos produtos. Além disso, sugere-se que sejam realizados testes estatísticos, como por exemplo, de correlação para identificar a maneira mais indicada de distribuir os custos indiretos aos produtos nesta empresa. 60 REFERÊNCIAS BERTI, Anélio. Contabilidade e análise de custos. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2006 BOMFIM, Eunir de Amorim; PASSARELLI, João. Custos e formação de preços. 4. ed São Paulo: Thomson, 2006. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 12C e Excel. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002. CHIZZOTTI, Antonio. 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