Publicação da associação brasileira de distribuidores volkswagen Ano 31 • n• 263 DEZEMBRO 2008 ENTREVISTA COMO CRIAR GRANDEZA A Novas oportunidades e foco no cliente Por Elias Monteiro o fazer o balanço de 2008 vemos que foi um ano muito bom. Nossa marca se fortaleceu internacionalmente e no Brasil destacou-se por sua performance e atendimento das expectativas dos consumidores. Os lançamentos do Novo Gol e do Voyage, aplaudidos pela imprensa especializada e aprovados pelo público, foram dois dos vários eventos bemsucedidos ocorridos no ano. Mas já antes, em maio, a Convenção Nacional da Assobrav, realizada em Lisboa para celebrar os 35 anos da Associação, anunciava o clima de otimismo da marca e a vontade da Rede VW em realizar novos projetos. A Cenassobrav reuniu 450 pessoas, entre titulares, seus familiares e executivos das concessionárias, da Volkswagen e do Banco VW em um dos maiores eventos já realizados pela entidade. Mas o ânimo dos empresários não parou por aí. Em setembro foi a vez de festejar os 20 anos do Consórcio dos Concessionários Volkswagen, um empreendimento que orgulha não só os associados mas toda a Rede VW, porque o seu valor não está apenas na rentabilidade que proporciona, mas na força de sua imgem: sinônimo de bom atendimento e respeito ao cliente. Em outubro, mais uma iniciativa conjunta da Assobrav e da Montadora mostrou que a sinergia entre os segmentos que compõe o Sistema Volkswagen flui da melhor maneira possível. O I Encontro Nacional de Pós-Vendas, ocorrido entre 9 e 11 de outubro em Costão do Santinho, surpreendeu até mesmo os organizadores. Mil e cem participantes, em sua maioria gerentes das concessionárias, mas também boa parcela de empresários, assistiram a palestras de especialistas e participaram de workshops em uma intensa jornada de trabalho, elevando definitivamente o pós-vendas à condição de prioridade em nosso negócio. Todas estas ações, enfim, demonstraram o quanto estamos confiantes em nossa atividade, ao mesmo tempo em que diagnosticaram o quanto estamos alertas e preparados para qualquer contratempo futuro. Estamos convencidos de que as oportunidades são muitas, porém, nosso mercado é extremamente dinâmico e exige de todos nós igual agilidade. Nesse sentido, nossa recomendação continua sendo a famosa equação do bom senso: rigor administrativo, com controle de estoques e preservação da liquidez. No mais, confiamos na competência da Rede Volkswagen, que desde sempre vem reafirmando o seu profissionalismo e atenção ao consumidor. Renovamos também o nosso agradecimento a você, leitor de Showroom, que por mais um ano nos prestigiou com sua leitura e crítica elevada. Feliz Natal e um início de ano virtuoso a todos. SHOWROOM Elias Monteiro é presidente da Assobrav/Grupo Disal 3 A opinião de sua entidade. 5 Cartas O que dizem sobre Showroom. 6 Quem Passou Por Aqui Amigos e personalidades que visitaram a Assobrav e o Grupo Disal. 8 Gente Mauro Halfeld, o especialista em mercado financeiro, colunista da Rádio CBN e do jornal O Globo, pós-doutorado pelo MIT e professor da Universidade Federal do Paraná, autor dos livros “Seu imóvel – Como comprar bem” e “Investimentos – Como administrar melhor seu dinheiro” fala sobre investimentos, inclusive descomplicando a Bolsa de Valores, e de como é possível poupar mesmo em momentos de crise. 13 TechMania O que acontece nos laboratórios e pistas de testes da indústria automobilística, segundo o jornalista Fernando Calmon. 16 Consulta SEBRAE As dicas dos consultores do SEBRAE. 18 Capa 4 Referência no mundo dos negócios, Stephen Covey, um dos mais aclamados oradores sobre liderança e habilidades de gerenciamento, conselheiro de chefes de governo, políticos e líderes empresariais e autor do super bestseller “Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes”, esteve em São Paulo e falou sobre o que realmente diferencia um líder: princípios morais e comportamento ético. “Quem governa ou lidera deveria ter princípios como generosidade, respeito com os outros, senso de justiça, integridade e confiabilidade. A força de um líder vem da admiração que ele desperta, e não do medo que inspira”, diz ele, entre outras coisas. 30 A Passeio 24 Cotidiano 36 RH O conto curto do escritor Marco Antonio de Araújo Bueno. 26 Comportamento “Por serem mais empáticas, as mulheres denotam uma postura mais observadora em seus contatos, o que pode fazer com que se mostrem receptivas para escutar as pessoas e entender com facilidade suas necessidades”. Esta é apenas uma das qualidades apontadas pelo estudo com executivas realizado pela Caliper Brasil, que procurou identificar o desempenho de empresas cujos cargos de liderança e comando estavam em mãos femininas. Os números são relevantes: as empresas com mais mulheres na diretoria apresentaram desempenho 53% melhor no quesito “Retorno sobre o Patrimônio”, e o mesmo se verificou nas análises “Retorno sobre as Vendas” e Retorno sobre o Investimento”. CAPA A PASSEIO COMPORTAMENTO 3 Recado Stephen Covey Cenário de grandes obras arquitetônicas e lugares charmosos, personagens célebres, eventos que mudaram o mundo e referência de elegância, bom gosto, pioneirismo e vanguarda, Paris é a cidade que todo mundo quer conhecer. Mesmo quem nunca foi a Paris, conhece Paris. Mas como disse o poeta Fernando Pessoa, “Não se conhece uma cidade até se perder nela”. Pois bem, se perca em Paris, nas ruas, monumentos, nos cafés, no perfume, no crepe, no brie, no vinho, no Champagne, nas vitrines. Paris é ótima para se perder, sem pressa e com prazer. Ao tratar sobre o desenvolvimento humano, é prudente que se considere a quantidade e a qualidade do saber. O conhecimento é a porta de acesso ao progresso e a diferentes perspectivas de vida. 38 Freio Solto A opinião, a crítica e a ironia do jornalista Joel Leite. 40 Novidades O que há de novo em eletrônica digital, periféricos de informática e outras utilidades. 41 Livros & Afins Nossas recomendações para a sua biblioteca, cedeteca e devedeteca. 42 Vinhos & Videiras A opinião abalizada de Arthur Azevedo, diretor executivo da ABS – Associação Brasileira de Sommeliers – SP, editor da Revista Wine Style e do site Artwine (www.artwine.com.br). Sinceramente acho meio chato ficar lendo teses e resumos de livros desses gurus norte-americanos, mas devo admitir que os que falam à Showroom tem bastante conhecimento de causa. O mais recente e consistente comentário sobre “o que esperar do futuro” que li foi precisamente nas páginas da revista na matéria intitulada “Como participar do crescimento dos emergentes” (Edição 260 – Setembro 2008) onde o indiano Vijay Govinfarajan, doutro por Harvard, sintetiza o consumidor do amanhã com o seguinte conceito: “Ser inovador hoje é mudar a definição que temos sobre quem é nosso cliente, mesmo porque, na era digital, o mundo inteiro passa a ser nosso cliente em potencial”. Esta definição passa a ser óbvia depois que é lida, mas poucas ainda são as pessoas que entenderam realmente o que isso quer dizer. Talvez por isso ainda estejamos entre os países sub-emergentes. Carlos José Setehij Pós-vendas Não sou do meio, nem entendo nada de mecânica, mas achei bem bacana saber que vocês da Volkswagen estão se preocupando mais com a qualidade dos serviços que prestam. O suplemento “Aftermarket” que veio junto com a revista passada (Edição 262 – Novembro 2008) demonstra que vocês estão querendo melhorar mais ainda. Parabéns. Roberto D Junqueira Crise X Otimismo É sempre bom ler o que o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros (Edição 261 – Outubro 2008) pensa, mesmo não concordando 100% com o que diz. Foi ótimo vocês terem publicado a opinião dele sobre a crise financeira internacional logo em seguida à sua explosão. Parabéns à equipe. Denise S Huol Atualidade Faço Sociologia e preciso ter muitas fontes de informação. Uma delas tem sido a revista Showroom, que meu pai recebe. A revista tem me ajudado bastante em temas sobre comportamento, pois aborda os mais diferentes e atuais assuntos de maneira simples, resumida e objetiva. Por ser uma leitora assídua, gostaria de sugerir um tema, embora, em princípio, ele possa ir contra o interesse de vocês: que tal produzir uma matéria sobre as pessoas que abriram mão do carro? Ou seja, aqueles que preferiram investir o dinheiro que empatariam em um automóvel em outros bens ou outras atividades, como viagens por exemplo. Na minha opinião poderia render um ótimo texto, a exemplo do que vocês fizeram sobre os single (Edição 262 – Novembro 2008). O que acham? Maria Silvia Olpe Publicação mensal da Ano 31 – Edição 263 – dezembro de 2008 Conselho Editorial Antonio Francischinelli Jr. , Evaldo Ouriques, Juan Carlos Escorza Dominguez, Mauro I.C. Imperatori e Silvia Teresa Bella Ramunno. Editoria e Redação Trade AT Once - Comunicação e Websites Ltda. Rua Itápolis, 815 • CEP 01245-000 São Paulo •SP • Tel (11) 5078-5427 [email protected] Editora e Jornalista Responsável Silvia Teresa Bella Ramunno (13.452/MT) Redação - Rosângela Lotfi (23.254/MT) Projeto Gráfico e Direção de Arte Azevedo Publicidade - Marcelo Azevedo [email protected] Publicidade Disal Serviços - Maria Marta Mello Guimarães Tel (11) 5078-5480 [email protected] Impressão Gráfica Itú Tiragem 6.000 exemplares Revista filiada à ABERJ Permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte. As matérias assinadas são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição da Assobrav. Registro nº 137.785 – 3º Cartório Civil de Pessoas Jurídicas da Capital de São Paulo. Assobrav Av. José Maria Whitaker, 603 CEP 04057-900 São Paulo – SP Tel: (11) 5078-5400 [email protected] Diretoria Executiva Presidente: Elias dos Santos Monteiro Vice-presidentes: Carlos Roberto Franco de Mattos Jr., Evandro Cesar Garms, Heloisa Souza Ribeiro Ferreira, Luiz Sérgio de Oliveira Maia, Mauro Pinto de Moraes Filho, Mauro Saddi, Nilo Augusto Moraes Coelho Filho, Rogério Wink e Walter Keiti Yaginuma. Presidentes dos Conselhos Regionais Região I: Antonio Carlos Nazzar Região II: Luiz Alberto Reze Região III: Alexandre Viel Região IV: Luis Maria Belisanda Região V: Helder Tenório Lins Região VI: Ignacy Goldfeld Região VII: Eric Braz Tambasco Conselho de Ex-Presidentes Sérgio Antonio Reze, Paulo Pires Simões, João Cláudio Pentagna Guimarães, Orlando S. Álvares de Moura, Amaury Rodrigues de Amorim, Carlos Roberto Franco de Mattos, Roberto Torres Neves Osório, Elmano Moisés Nigri e Rui Flávio Chúfalo Guião. Foto de capa: divulgação SHOWROOM Futurologia 5 Com a marca VW na palma da mão, muitos números na cabeça e mais energia ainda nos pés, Osmair Garcia, diretor do Planejamento Financeiro da Volkswagen do Brasil, para reunião de calendário na Assobrav... Na Rede VW desde abril, o simpaticíssimo Marcelo Jallas, da VW Amazon, autorizada com instalações no tradicional bairro da Mooca, na capital paulista, para uma apresentação muito mais cortês do que oficial à diretoria da Assobrav... Willians Jonsson Zultanski, da VW Copauto, de Curitiba, em rápido momento de desatenção para o close especial da coluna... Admirado com as sempre presentes flores na sede da Assobrav, Luiz Carlos Paladino, superintendente de Riscos Industriais e Comerciais da SulAmérica, em visita à Disal Corretora de Seguros... Sem reclamar, Paulo Medeiros Pereira, da VW Futura de Florianópolis, deixando as praias da Ilha para atender a mais um chamado da base... 6 E diretamente da Volkswagen Argentina, Lorenzo Brizzi, “Export Sales manager”, em visita aos colegas brasileiros, com passagem assegurada pela Assobrav e pose para a coluna... O professor Cesar Romão, escritor e um dos palestrantes mais requisitados do momento, em break após batepapo motivacional com os executivos da Rede VW... E o presidente da Unipar, Clemir Begnini, da VW Assicar, de Assis Chateaubriand (PR), analisando com seus pares, o mercado regional... Oswaldo de Mello Bof, da VW Gravel, de Gravataí (RS), saboreando um pedaço de bolo, ainda que rapidamente, durante mais uma reunião de UNI... SHOWROOM Estrategista de Preços, o executivo da Volkswagen do Brasil, Regis Nagazaki, checando informações, números, as oscilações do mercado... 7 Fotos: Lafstudio “Empreender ainda é o melhor investimento” Por Silvia Bella M 8 auro Halfeld, o autor, é conhecido do grande público por seus comentários na Rádio CBN e a coluna que assina no jornal O Globo, mas antes disso já tinha credenciais de sobra para assinar este e seu outro bestseller “Seu imóvel – Como comprar bem”, que têm ajudado muita gente a investir suas economias com mais vantagens. Com pós-doutorado no MIT, o ex-Professor Doutor da Escola Politécnica e da Faculdade de Economia Mau Halfel uro alfeld e Administração da USP e atual Professor Titular na Universidade Federal do Paraná, somou seus 20 anos de experiência no mercado financeiro para transmitir muito simplesmente quais são os mecanismos das aplicações e como é possível poupar nos momentos de crise. Aliás, foi esta a razão que o levou ao I Encontro Nacional de Pós-Vendas, realizado pela Assobrav e a Volkswagen entre os dias 9 e 11 de outubro no Costão do Santinho. Num bate-papo informal com o jornalista Chico Pinheiro, Halfeld respondeu às perguntas dos mais de mil participantes sobre como aplicar dinheiro durante a crise financeira atual. Sem subestimá-la, procurou tranqüilizar a platéia dizendo que “uma crise sempre deve ser vista como oportunidade” e que a melhor maneira de enfrentá-la é trabalhando, poupando diaa-dia, controlando o caixa e, se possível, investindo de maneira diversificada. A pergunta é inevitável: o brasileiro ganha mal, como ele pode poupar? Mauro Halfeld: Como inferior. Isto é, apesar de terem enfrentado grandes dificuldades na infância, os adultos criados em orfanatos conseguiram reunir importantes qualidades, como senso de responsabilidade, disciplina, dedicação ao trabalho e habilidade para relacionamentos. O Sr. quer dizer que a poupança não é um hábito exatamente ligado à riqueza, mas à educação? Sem dúvida, a educação é a grande ferramenta para a redução das desigualdades sociais. Quando o filho do pobre tiver chances de se educar da mesma forma que o filho do rico, teremos um País com igualdade de oportunidades. Infelizmente – e digo isso em meu livro - são muito divulgados os exemplos de pessoas que, com pouco estudo, ficaram ricas da noite para o dia. Isso faz com que alguns jovens acreditem que essas exceções sejam a regra. Qual é a dificuldade, então, que tanta gente tem em poupar? Eu diria que a maior dificuldade que as pessoas têm para poupar dinheiro é a confusão que fazem entre os verbos precisar e desejar (risos). Tem muita gente que ganhar super bem e não consegue guardar dinheiro. Por que? Porque ela diz que “precisa” fazer uma viagem ao exterior nas férias, quando na verdade deveria dizer para si mesma: “eu desejo fazer uma viagem ao invés de guardar o dinheiro”. O fato é que é preciso resistir à tentação de cair no consumismo. Isso pode significar a aquisição da casa própria e até da aposentadoria mais cedo. Em termos práticos, eu diria que o correto para poupar com disciplina é, tendo um salário mensal, separar um valor fixo no dia do pagamento para a poupança. É provado que as pessoas que poupam Poupar é mesmo sinônimo de sacrifício... apenas o que sobra no fim do mês correm Eu diria que é sinônimo de perseverança. o risco de gastar demais. Pela ordem de Para demonstrar isso gosto de citar uma importância, o melhor é separar primeiro pesquisa realizada com 1.600 adultos o dinheiro mensal para a “velhice”. Depois, criados em nove orfanatos no sul dos se der, uns 10% do seu ganho para Estados Unidos. Esse estudo revelou que investimentos a longo prazo. o nível de escolaridade daquele pessoal era 40% superior à média nacional, assim como a renda familiar era entre 10 e 60% superior à média, enquanto a taxa de desemprego no grupo era sensivelmente disse Benjamin Franklin, “Um centavo poupado é igual a um centavo ganho”. Mas o mais recomendado, não só para os brasileiros que, de fato, ainda têm salários pequenos se comparados aos dos países desenvolvidos, é empregar bem o tempo livre. E isto quer dizer “trabalhar” nesse tempo livre. É ocupar os fins de semana, por exemplo, prestando serviços. Garçons, cozinheiras, babás, faxineiros, porteiros e seguranças são bastante requisitados aos sábados e domingos. O mesmo vale para profissionais liberais que podem dar aulas particulares, revisar textos, digitar e formatar projetos. A idéia é arregaçar as mangas, com motivação e um objetivo futuro. SHOWROOM “Halfeld conseguiu descomplicar o universo dos investimentos financeiros e traduzi-los de maneira clara e didática”. Esta é a opinião da crítica literária do jornal O Estado de São Paulo sobre o livro “Investimentos – Como administrar melhor seu dinheiro”, que já está na terceira edição, e atualizado. 9 Hoje em dia já tem gente pensando diferente, especialmente os jovens, mas a sociedade brasileira ainda está muito ligada em ter a casa própria, certamente uma característica de nossa colonização...Nos seus livros o Sr. alerta sobre o risco de investir em imóveis. Afinal, é ainda um bom negócio? 10 Claro!. Todas as famílias devem procurar adquirir a casa própria, especialmente porque o sonho de ter a casa própria impõe disciplina ao investidor, além de dar um enorme prazer, recompensando o sacrifício de poupar. Mas o que deve cair por terra é a idéia de que “é impossível perder dinheiro com imóveis”. Costumo contar o que me disse um corretor conhecido: “Todos os dias saem de casa um esperto e um trouxa, e eles vão fechar um negócio” (risos), por isso, todo cuidado é pouco ao investir em imóveis. Em primeiro lugar, não deixe de ter um advogado ao seu lado no momento da compra. É preferível perder o negócio por causa da papelada que precisa ser analisada a concluir uma péssima compra, especialmente se o objetivo é o de investimento. Lembre-se da Lei do Inquilinato, da depreciação, das invasões em terrenos, do risco que é comprar imóveis na planta, de comprar imóveis velhos e ter que reformá-los, o preço dos condomínios, a baixa liquidez dos imóveis de lazer e até o trabalhoso que é construir a própria casa. Por isso, nem sempre vale o ditado “Pagar aluguel é jogar dinheiro fora”. Se você pretende morar por pouco tempo nele ou se ainda não constituiu família, o aluguel é uma boa opção, desde que o imóvel seja compacto e sem luxos. Ainda vale a pena investir em dólares? O investimento em dólares – como aconteceu no passado brasileiro – pode até dar certo em alguns momentos de grande instabilidade econômica, mas a longo prazo é corroído pela inflação. Afinal, os Estados Unidos também tem inflação. E apenas para ilustrar: se você tivesse guardado uma nota de U$ 1,00 em janeiro de 1968, hoje ela estaria valendo – num cálculo aproximado pelo IGP -DI, não mais do que U$ 0, 20. E em ouro? O ouro é interessante como reserva de valor em momentos de crise, como uma alternativa aos investimentos em renda fixa. Mas observe que ele teve péssimo desempenho nos anos 90 e só agora, de 2000 para cá, tem se recuperado. Então, o ouro representa bastante segurança na crise mas o seu preço é bem instável. E as ações? É mesmo um bom negócio investir em ações? Sim, é. Se você analisar o rendimento proporcionado pela Bolsa de Valores em comparação à Poupança, imóveis, moeda estrangeira, ouro ou dinheiro vivo no colchão, você verá que as ações são muito mais interessantes, com a grande ressalva: são um investimento a longo prazo, ou melhor dizendo, você não deve imaginar dispor delas de hoje para amanhã, e mais: deve-se evitar fazer carteiras muito diferentes do Ibovespa, pois não é fácil navegar contra a correnteza, considerando principalmente que a maioria das pessoas não é experts em mercado financeiro e não têm tempo para acompanhar minuciosamente a oscilação do preço das ações. O que se vê é que investir em uma carteira semelhante ao Índice Ibovespa a longo prazo tem sido um ótimo negócio. E para isso você não precisa saber selecionar as ações. A própria Bolsa cuida de rebalancear a carteira do Ibovespa a cada quatro meses. Então, por que tantas pessoas perdem na Bolsa? Porque a maioria das pessoas quer ganhar muito e muito rápido. Então o que fazem? Apostam em duas ou três ações apenas. Colocam todo o dinheiro nessas ações e se elas caírem a maioria das pessoas quer ganhar muito e muito rápido. Então o que fazem? Apostam em duas ou três ações apenas. Colocam todo o dinheiro nessas ações e se elas caírem acabam com a sua liquidez num piscar de olhos. Qual é a sua recomendação para quem quer começar a investir na Bolsa? Se você já tem um seguro de vida, um seguro saúde, uma reserva para emergências, não “precisa” ganhar dinheiro nos próximos cinco anos e pode enfrentar eventuais quedas de mais 30% em um ano, aí sim você pode começar a investir em ações. Caso contrário, faça tudo o que dissemos antes de se lançar à Bolsa. Como ficar o mais prevenido possível quanto à possibilidade de a Bolsa baixar? Ou seja, como prever se a Bolsa vai descer ou subir? É muito difícil prever isso. A chance de a Bolsa subir ou descer é exatamente a mesma, isto é, 50%. Mas fiz um estudo sobre as variações diárias do Ibovespa de 1968 até 2003 e concluí que o Ibovespa subiu, acima do dólar, em 51% dos dias úteis e caiu em 49% deles. Fiz o mesmo trabalho considerando variações semanais desde 1968 e caiu em 47% delas. Para períodos mensais, o Ibovespa subiu em 54% dos meses. Para intervalos trimestrais, ganhou também em cerca de 55% dos trimestres. Para anuais, em 56% dos anos. Para períodos de dois anos, em 59% deles. Para intervalos de três anos, em 61% dos períodos. Para períodos de cinco anos, em 71% deles e para intervalos de oito anos, em 89% dos períodos. Finalmente, para 10 anos, o Ibovespa ganhou em 97% dos períodos. Esta análise mostra que o risco de investir em Bolsa diminui quanto maior for o tempo de aplicação. Então não devemos confiar nos analistas... Como todos os profissionais, os analistas acertam e erram, principalmente quando suas análises olham o curto prazo. Mesmo assim, acho que os analistas têm uma importante papel no instante em que pressionam os dirigentes das companhias a serem mais transparentes, pois exigem resultados mais precisos das empresas que têm ações na Bolsa. A conclusão é a de que a Bolsa é um bom investimento a longo prazo, para gente sem problemas financeiros e com sangue frio; praticamente para milionários (risos)... Não, não! A Bolsa não é um jogo de milionários, mas as pessoas – digamos - que estão dentro do padrão normal de dinheiro não devem sair vendendo seus imóveis ou transferindo todo o saldo de suas aplicações em renda fixa para investir em ações. O certo é ir investindo aos poucos, ao longo de três a cinco anos. Dessa forma se estará reduzindo o risco de efetuar uma mudança às vésperas de uma forte queda nas Bolsas. Agora, realmente a Bolsa é um bom investimento a longo prazo. Um período de 10, 20, 30 ou 40 anos, dependendo de sua idade atual, deve ser o horizonte do tempo. E isto deve ser decidido independentemente dos escândalos políticos, financeiros, guerras ou pesquisas eleitorais que acontecem no mundo. A Bolsa vai bem num mundo que inquestionavelmente prospera, apesar de tudo. Bem, tendo esta certeza, o melhor é empreender. O Sr. é um defensor do negócio próprio, não? Certamente. Os maiores ganhos sempre são obtidos pelas mãos dos empreendedores. Praticamente todos os bilionários do mundo ficaram ricos com negócios próprios. E no Brasil, particularmente, há inúmeras oportunidades para novos e pequenos empresários. São motoristas de caminhão que se tornam proprietários de grandes empresas de transporte, jornalistas que viram donos de editoras, garçons que constroem redes de restaurantes, mecânicos que se tornam concessionários de veículos, médicos que passam a ter clínicas ou hospitais. Claro que sabemos dos casos que deram errado: funcionários de estatais que pediram demissão para montar seu próprio negócio e perderam tudo em menos de um ano ou engenheiros bem empregados que desistiram de seus cargos para montar suas próprias construtoras e se viram endividados em pouco tempo. Há também os herdeiros que quando assumiram os negócios comprometeram todo o patrimônio da família. Ou seja, os negócios próprios oferecem enormes oportunidades, mas também vêm atrelados a grandes riscos. Quais são os riscos mais comuns ou quais são os erros mais comuns cometidos pelos que tentam empreender? Normalmente o novo empreendedor concentra todos os seus recursos e sua força motivacional, criativa e pessoal em um só negócio, em uma única atividade. O certo seria ele se beneficiar da diversificação. É claro que se o único negócio der certo ele vai ganhar muito mais dinheiro, mas a chance de perder tudo é igualmente proporcional. Outro fator definitivo para a quebra de uma empresa iniciante é a dedicação que ela demanda. Nem todos os que pretendem empreender consideram que pelo menos por um bom tempo terão que trabalhar umas 15 horas por dia, inclusive aos fins de semana, sem férias. Para ser bemsucedido é preciso trabalhar duro; mais e melhor que os seus concorrentes. SHOWROOM acabam com a sua liquidez num piscar de olhos. Outro erro é entrar na Bolsa e sair dela com muita rapidez, ao menor sinal de que a Bolsa está caindo. Isto é deixar de ser investidor para tentar ser especulador, mas o fato é que para especular é preciso ter muito, muito dinheiro, e mesmo assim é um erro. 11 Halfeld em bate papo com o jornalista Chico Pinheiro O Sr. também orienta as pessoas a fazer investimentos de acordo com a idade que têm. Pode dar alguns exemplos? Gosto de adotar a Regra 100, que consiste no seguinte: tome o número 100 e subtraia sua idade. Esse é o percentual a ser aplicado em renda variável, ou seja, ações, imóveis, negócios próprios etc. Por exemplo, se você tem 35 anos, deve alocar em renda variável e em ativos pouco líquidos 100 – 35 = 65% do seu patrimônio. Os restantes 35% devem ser distribuídos entre fundos de renda fixa e outros ativos bastante líquidos, como o ouro, para citar um deles. Já uma pessoa de 65 anos, segundo a Regra 100, deve investir 100 – 65 = 35% em ativos de renda variável pouco líquidos, mas que gerem um bom aluguel ou um bom dividendo. Os restantes 65% devem ser aplicados em fundos de renda fixa, ouro e outros ativos muito líquidos, pois é importante uma pessoa já a caminho da terceira idade dispor de liquidez. Ela precisa de recursos disponíveis para custear sua aposentadoria e eventuais problemas com saúde. Nesse aspecto ter uma Previdência Privada é importante... 12 Certamente. Sou bastante favorável a esse tipo de investimento, mesmo porque ele cria uma disciplina que deve ser recompensada. Mas é importante que o consumidor escolha bem os administradores de sua previdência. Ele deve procurar instituições sólidas, evitando pagar taxas de administração elevadas e procurar diversificar, quer dizer, não concentrar seus investimentos em apenas um administrador. Voltando a falar sobre a origem da crise financeira que o mundo todo está vivendo...Parece que o brasileiro ainda não percebeu que terá que pagar com juros muito altos o que tomou emprestado. Em resumo, o brasileiro não sabe poupar, mas sabe pedir financiamento sem medo. Por quê? É verdade, o brasileiro médio olha para a carteira e vê se pode pagar a prestação daquele bem, mas não se considera se tem a perspectiva real e concreta de juntar o valor total daquele bem. Um tanto desse hábito de tomar crédito remonta à nossa história. No final da década de 50, a inflação começava a surgir e não havia correção monetária. Isso foi muito bom para aqueles que fizeram dívidas de longo prazo com juros fixos, mas esse tempo passou. Então o raciocínio que se deve fazer é que o crédito é um dos melhores instrumentos para o desenvolvimento social de um país, mas as atuais taxas de juros oferecidas aos consumidores brasileiros têm um efeito contrário. Em que situação se deve recorrer ao crédito? Naturalmente, em uma emergência. E por isso mesmo é fundamental que você tenha cadastro atualizado no seu Banco, quer dizer, que o Banco saiba que você é um bom cliente, um bom pagador, alguém que não fica devendo. O crédito se justifica também quando se vai comprar alguma coisa cujo preço irá sofrer um grande aumento nos próximos dias ou quando se pretende investir em um negócio cuja rentabilidade será bem maior que os juros a serem pagos. Tomar empréstimo para pagar uma dívida antiga que tinha juros superiores aos cobrados pelo empréstimo atual pode ser válida momentaneamente, mas não deve passar a ser uma regra, como fazem muitos brasileiros. O “rolar a dívida”, especialmente do cheque especial ou do cartão de crédito, pode se transformar em um vício e colocar a pessoa em uma bicicleta que não pode parar de rodar. Isso é estressante e não leva à concretização de patrimônio nenhum. Por Fernando Calmon grande avanço da segurança passiva dos automóveis – diminui conseqüências do acidente aos ocupantes – deu-se por intermédio de testes de colisão contra barreira fixa e deformável em laboratórios. Em particular, no interior dos carros avaliados, os dummies (bonecos com sensores que registram ferimentos) evoluíram ao longo do tempo, formando novas famílias capazes de reproduzir o nosso corpo. Aqueles bonecos feitos de borracha e aço em breve terão a ajuda da próxima geração de HBM (Modelo do Corpo Humano, em inglês) projetada com pormenores de grande precisão obtidos em computação gráfica e realidade virtual. Poderão se prever melhor os efeitos dos traumas graças à representação detalhada de ossos e tecidos internos e externos. Esses HBMs avançados suportam simulações por computador de acidentes virtuais. Inicialmente cinco regiões do corpo estão sendo estudadas: cabeça, pescoço, tórax/membros superiores, abdômen e pélvis/membros inferiores. Engenheiros automobilísticos, pesquisadores, médicos e cirurgiões vão colaborar em busca de técnicas para construir reproduções mais próximas possíveis da realidade. Os modelos se valerão de informações já obtidas em testes de colisão e de novas ferramentas computacionais, Com dummies mais sofisticados em breve poderão se prever melhor os efeitos dos traumas graças à representação detalhada de ossos e tecidos internos e externos. além de ressonância magnética, tomografia computadorizada e “escaneamento” de superfície a laser para captação de imagens. A engenharia de computação é uma grande aliada por meio de CAD (Projeto com Apoio de Computador, em inglês) e o método de análise de elementos finitos. Esse último é o mesmo utilizado em simulações de acidentes que demonstraram incrível semelhança com as deformações de carroceria nos testes reais. Objetivo é ajudar a avaliar as conseqüências a que estão sujeitos os órgãos humanos em colisões automobilísticas reais. Quatro diferentes modelos – dois masculinos e dois femininos – serão criados, de início, cobrindo uma larga faixa de similaridade com o biotipo humano. Há planos para estender a família de HBMs, desde crianças a pessoas idosas, cujos órgãos reagem de forma diferenciada às forças aplicadas. O programa está sendo coordenado, em nível mundial, por um consórcio de nove produtores de veículos: Chrysler, Ford, General Motors, Honda, Hyundai, Nissan, Renault, Peugeot-Citroën e Toyota. Dois produtores de componentes participam: Takata e TRW, fabricantes de airbags. No total, incluindo universidades, cerca de 40 dos mais renomados laboratórios e instituições ao redor do globo. Fernando Calmon é engenheiro e jornalista especializado, tendo começado em 1967. Colunista desde 1999 de uma rede de 41 jornais, revistas e sites brasileiros. Correspondente para América do Sul do site Just-Auto (Inglaterra). Conferencista e consultor técnico de automóveis, de mercado automobilístico e de comunicação. SHOWROOM O Modelos virtuais, resultados reais 13 Os tipos de compras Para incentivar a compra por impulso, muito importante no varejo de auto-serviço, as empresas devem investir em técnicas de exposição e promoção de produtos na loja A Por Gustavo Carrer I. Azevedo 16 imensa diversidade de clientes atendida diariamente pelas farmácias e drogarias pode nos levar a crer que é simplesmente impossível compreender o seu comportamento de compra, buscando caminhos de incentivo às vendas. Apesar das motivações que predominam durante a aquisição de um produto, serem individuais e muitas vezes de natureza subjetiva, ainda assim, podemos preparar nossa empresa segundo os tipos ou enfoques mais comuns de compra. Cada enfoque trata de um conjunto de características e atributos considerados relevantes pelo consumidor no ato da compra. Acreditase que todos os elementos citados estão presentes em todas as compras, porém um deles, ou um conjunto deles, suplantará os demais em cada compra. A seguir, detalharei os principais tipos de compras: Compra Planejada: a compra planejada é aquela onde o consumidor prepara, antecipadamente, uma lista dos produtos a serem adquiridos na loja. No caso de supermercados, pesquisas mostram que mais de 75% das compras não são planejadas. Já no caso das farmácias e drogarias, as receitas médicas exercem o papel da lista, porém, grande parte dos produtos disponíveis para a venda nestes estabelecimentos é isento desta formalidade. Este tipo de compra é bastante racional e, desta forma, leva muito em consideração a disponibilidade dos produtos, seus preços e condições de pagamento. Para não perdê-la, a empresa deve cuidar para que a variedade de produtos no estoque esteja ajustada à demanda, e que os preços estejam próximos dos praticados pela concorrência, pois, na maior parte das vezes, ele será pesquisado. por impulso ocorre quando um consumidor, por alguma razão, decide, dentro da loja, comprar algo que não estava previsto seja na lista escrita no papel, ou na intenção da visita. Para incentivar a compra por impulso, muito importante no varejo de autoserviço, as empresas devem investir em técnicas de exposição e promoção de produtos na loja, bem como cuidar de todo visual interno e externo do estabelecimento. O conjunto de técnicas, que visa tornar a venda mais fácil e agradável, é chamado de merchandising. Este busca os caminhos práticos para incentivar a compra por impulso, que pode ser a correta escolha do produto que deve ser colocado numa ponta de gôndola, ou até mesmo a iluminação da vitrine da farmácia. Compra por Sugestão ou Influência do Vendedor: neste tipo de compra, ocorre a interatividade do cliente com um ou mais funcionários da loja. O vendedor da empresa convence o cliente a levar um determinado produto, contido ou não numa lista prévia, através de argumentos consistentes e técnicas de vendas. Para que uma empresa obtenha bons resultados neste tipo de compra, é necessário uma equipe de atendimento com perfil adequado para vendas, bem como de treinamentos e incentivos. Como o processo de compra pode ser controlado pelo vendedor, muitas vezes é possível a substituição de produtos da lista ou intencionados pelo cliente por similares mais interessantes para o consumidor e/ ou rentáveis para a empresa. Devese tomar cuidado para não dar a impressão de que a empresa está empurrando os produtos ou forçando a mudança de uma vontade declarada ou não do cliente. Compra Comparada: diz respeito a produtos, geralmente com ciclo de consumo mais longo. Dá-se dentro de uma mesma loja, comparando marcas ou especificações técnicas diferentes, porém que visam atender a uma mesma necessidade do consumidor. Um exemplo de compra comparada é a de produtos de puericultura, como mamadeiras, chupetas e acessórios, mas também podemos citar escovas para cabelos, alicates de unha, prendedores etc. Este tipo de compra exige mais tempo para do comprador, e desta forma a colocação dos produtos deve ser planejada para evitar problema de fluxo dentro da loja. A compra comparada pode e deve ser apoiada pela equipe de atendimento, principalmente quando o consumidor é inexperiente. Compra de Maior ou Menor Envolvimento: o envolvimento da compra se mede a partir da percepção do cliente quanto ao investimento naquele produto, a importância emocional e o grau de exclusividade da proposta. Trocando em miúdos, quanto maior for o investimento, mais exclusivo e importante emocionalmente for o produto para o cliente, maior o envolvimento da compra. A compra de produtos de maior envolvimento fortalece o relacionamento do cliente com a empresa, fazendo com que ele continue retornando à loja, mesmo que por outros motivos. Geralmente os produtos encontrados em farmácias e drogarias de maior envolvimento são: dietéticos, complementos alimentares, energéticos, alimentos para bebê e as novidades de um modo geral. No caso das farmácias que trabalham com manipulação de medicamentos e cosméticos, a gama de produtos aumenta bastante, pois abre a possibilidade de produtos exclusivos e sob medida. Como vimos, para aproveitar todas as possibilidades de compra, a empresa deve investir na melhoria contínua da gestão de compras e estoques, no merchandising de loja e principalmente no treinamento e motivação da equipe de atendimento. As empresas que buscarem aproveitar ao máximo os diferentes tipos de comportamento de compra, atenderão melhor os anseios dos seus clientes, tornando-se mais competitivas. Gustavo Carrer I. Azevedo é consultor do Sebrae-SP SHOWROOM Compra por Impulso: a compra 17 Corporações virtuosas Pela defesa de princípios e comportamento ético 18 Imagine um estrangeiro chegando pela primeira vez a São Paulo, tendo que honrar uma agenda de compromissos e precisando se locomover entre vários pontos. Para cumprir a tarefa, aluga um carro no aeroporto e, como única orientação, recebe um mapa, mas do Rio de Janeiro. Não é preciso ser sábio para saber que não chegaria a lugar algum. Seria inútil percorrer os caminhos com maior velocidade [se conseguisse driblar o trânsito de São Paulo] e manter uma atitude positiva e enérgica. Mesmo assim não iria longe. A analogia foi utilizada por Stephen Covey para explicar por que os mercados mundo afora estão colapsando. “As empresas continuam a trabalhar com os mapas da Era Industrial, que é um mapa ruim para a Era do Conhecimento. O velho mapa bem-sucedido começa a fracassar.” Por rosÂNGELA LOTFI tephen Covey é um dos mais aclamados oradores sobre liderança e habilidades de management. Viaja o mundo aconselhando chefes de governo, políticos e líderes empresariais. Bill Clinton já foi aconselhado individualmente por ele e, segundo contou em sua apresentação na ExpoManagement 2008, promovida pela HSM, Barack Obama já entrou em contato pedindo conselhos. O grande público conhece Covey pelo livro “Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes”, que ocupou as listas de best-sellers durante anos consecutivos, vendeu mais de 20 milhões de exemplares em 75 países e foi traduzido para 38 idiomas. Sua mais recente obra, “O 8º hábito” também já se tornou um best-seller. Os livros concederam a Covey o status de referência no mundo dos negócios, mas o que o destaca é a defesa de princípios e comportamento ético sobre os quais discorre com conhecimento sistematizado e pragmático. Segundo Covey, quem governa ou lidera deveria ter princípios como generosidade, respeito com os outros, senso de justiça, integridade e confiabilidade. As empresas deveriam alinhar seus sistemas e processos ao mesmo conjunto de valores. “Em meu trabalho com 400 das 500 maiores empresas do mundo [Fortune 500] um de cada quatro CEOs está no lugar errado porque não reúne as qualidades básicas de um bom chefe. Isto é, são incompetentes ou prescindem de caráter. Os incompetentes não têm a capacidade de fazer julgamentos e tomar decisões acertadas. Já os que não têm caráter estão tão voltados para o próprio ego e seu projeto pessoal de carreira que deixam de lado um princípio básico da liderança: o de que é necessário inspirar os liderados valendo-se de uma conduta moral exemplar. A força de um chefe vem da admiração que ele desperta – e não do medo que inspira. Uma gestão baseada no medo leva a conseqüências fatais para a produtividade”, disse. “Todo grande progresso está relacionado a uma ruptura com o passado, mesmo que ele tenha sido glorioso. Nada fracassa como o sucesso” A globalização dos mercados, a tecnologia e a conectividade universal democratizaram a informação e fomentaram o aumento exponencial da concorrência. Ao mesmo tempo, impulsionaram as necessidades pessoais, segundo ele: aprender, deixar um legado, amar (relacionamentos), viver (sobrevivência), crescer e se desenvolver, ter um significado (espiritual) e dar contribuição (bondade social). “Os mapas não nascem em função do nosso conceito. É uma função natural como a terra girando em torno do sol ou a lei da gravidade. São paradigmas, estruturas, teorias mentais, o modo como entendemos o mundo, mas o mundo está diferente e é preciso novas maneiras de fazer e resolver os problemas antigos.” Para Covey, todo grande progresso está relacionado a uma ruptura com o passado, mesmo que ele tenha sido glorioso. “Nada fracassa como o sucesso”, disse. As planilhas contábeis classificam as pessoas como despesas e os objetos coisas como ativos. “Pessoas que pensam são despesa! Que mapa é esse?”, questiona o presidente da FranklinCovey, empresa voltada para a eficácia corporativa. “Na Era do Trabalhador do Conhecimento, com mudanças rápidas o tempo todo, a nova riqueza está nas pessoas e não nas coisas.” O mapa da Era Industrial impõe paradigmas como: comando de cima para baixo, burocracia, hierarquia, mais velocidade, mais afinco. “A realidade atual exige maior nível de eficiência, o que não significa trabalhar com mais velocidade, nem com mais afinco, nem manter uma atitude positiva. É preciso um novo mapa.” A cultura corporativa impõe às atividades uma sensação de urgência e emergência constante. Os princípios, os valores, segundo Covey, não mudam. Ele usa outra analogia, uma bússola, para explicar que as virtudes são nosso norte magnético. Não importa o que se faça, o norte nunca muda. A bússola vira e vira, mas o ponteiro sempre aponta para o norte. Não há como mudar a direção do ponteiro; SHOWROOM S Ruptura 19 muda-se a bússola de posição até alinhar o ponteiro com a posição “N”. O ato de mexer a bússola (organização) de forma a alinhar o ponteiro (princípios) com a letra “N” (estratégia), chama-se management. Podem surgir imprevistos no meio do caminho, um imã, por exemplo, desvia a direção do ponteiro e deixa a todos desorientados. “A maioria de nós perde o sentido do norte, fica confuso e acaba tomando decisões erradas.” Desperdício de tempo 20 Graças à tirania da urgência, as pessoas desperdiçam muito tempo de sua força de trabalho fazendo coisas que não são importantes e não conseguem se alinhar com as metas da empresa. Assemelhamse a crianças que vão jogar uma partida de futebol, mas não sabem o que fazer, concentram-se no meio do campo, saem sozinhos com a bola, brigam umas com as outras, enquanto o goleiro, entediado, dorme sob as traves e outros jogadores estão fazendo outras coisas, que nada têm a ver com o jogo (veja vídeo no YouTube -http://www.youtube.com/watch?v=owzw nn1I8a4&feature=related). Quais os propósitos de sua empresa? Quais são as metas? No seu trabalho com 400 das 500 da Fortune, Covey diz que a maioria não consegue responder a essas questões. “Não há entendimento do propósito da visão e do posicionamento estratégico da empresa. Conseqüência do mapa da Era industrial - muitas metas -, mas a equipe não sabe o que fazer para alcançálas. Resultado: controle, necessidade de motivação externa, passividade, sensação de urgência. Cultura co-dependente e comportamentos que justificam resultados ruins são uma auto-profecia.” Organizações eficientes à la Deming (William Edwards Deming, norteamericano disseminador do movimento da qualidade, precussor do que viria a se tornar o Sistema Toyota de Produção) usam seu tempo com coisas tidas como “Organizações eficientes usam seu tempo com coisa tidas como não urgentes, como planejar, prevenir, identificar novas oportunidades, renovar e recrear, enquanto as ineficientes gastam o tempo com o que é urgente, mas não importante, como projetos, reuniões, relatórios, jogos políticos, adivinhação do futuro etc” não-urgentes como: planejar, prevenir, atividades de capacidade produtiva, identificar novas oportunidades, estabelecer relações, renovar, recrear. Enquanto as outras gastam seu tempo no que é urgente, mas não importante como: crises, problemas prementes, projetos, reuniões e preparativos com prazos rigorosos; interrupções e relatórios desnecessários; reuniões; atividades disfuncionais como comunicações para se proteger e acobertar; conflitos interpessoais e rivalidades interdepartamentais; jogos políticos; “adivinhar o futuro”; elaborar e pôr em prática agendas ocultas; telefonemas e correspondência desnecessários; questões menores de outras pessoas; ocupações triviais; atividades que desperdiçam tempo e de “escape”; excesso de TV etc. Confiança Na Era da Informação, empresas e pessoas precisam ser dignas de confiança. As pessoas precisam ser liberadas para se desenvolver e mostrar seu talento. Em um ambiente em que não se tem voz ou se tem medo de expressarse, não há inovação. Era Industrial Filosofia = controle Liderança = posição, autoridade formal Cultura = centralização do chefe Pessoas = despesas Motivação = externa Gerenciamento = o chefe é responsável por tudo “Liderança é referir-se com tanta clareza ao valor e ao potencial das pessoas que elas são inspiradas a ver essas qualidades em si mesmas.” Stephen Covey Era do Conhecimento Filosofia = talentos desencadeados Liderança = escolha, legitimada Cultura = equipes, complementaridade Pessoas = vozes ativas Motivação = interna, inspiração Gerenciamento = a cultura, os grupos, as equipes são responsáveis por tudo Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes 1) Seja proativo, responsável pela sua vida 2) Comece com o objetivo em mente, defina sua missão e metas 3) Primeiro o mais importante; priorize! 4) Pense ganha-ganha; tenha a atitude de que todos podem ganhar 5) Procure primeiro compreender para depois ser compreendido; ouça as pessoas atentamente 6) Crie sinergia; trabalhe junto para conseguir mais 7) Afine o instrumento; renove-se regularmente SHOWROOM Na Era Industrial, liderança era uma posição, uma autoridade formal, na Era do Conhecimento é autoridade moral. A gestão deve ser de baixo para cima e agir de acordo com princípios que regem a vida. “As pessoas se identificam mais com autoridade moral e é essa liderança que vale.” À medida que a cultura organizacional deixa de ser centrada no chefe e passa a ser centrada na equipe, onde as pessoas não são mais vistas como custo, mas com voz ativa e o principal ativo, não há necessidade de motivação externa. A motivação é interna, é uma inspiração. Essa cultura é responsável pelos resultados, portanto, se autogerencia. “Liderança é referir-se com tanta clareza ao valor e ao potencial das pessoas que elas são inspiradas a ver essas qualidades em si mesmas.” Para Covey, líderes confiáveis focam no que é crucialmente importante, traduzem metas em ações específicas e mantém todos na empresa comprometidos com atitudes como ouvir, cumprir compromissos primeiro, falar francamente, estender confiança a outros, mostrar respeito, promover transparência, demonstrar lealdade e competência, apresentar resultados, corrigir erros, melhorar, enfrentar a realidade, esclarecer expectativas e, por fim, assumir responsabilidade. “Esse é o processo de criar grandeza.” 21 Esse tempo insondável D 24 Por Marco Antônio de Araújo Bueno espedaçada, invadida pelas entranhas; vísceras expostas como caqui despencado ribanceira abaixo. Quase que jazia sobre superfície lajeada, viscosa, eivada de fibras viscosas vermelhas e globulências esbranquiçadas. Ao redor daquele mosaico destroçado, instrumentos pontiagudos de incisão e sondagem perfurantes e ferramentas percussivas em estado de repouso gritante, transpiravam ainda ofegantes. Imersos naquela pulsação sinistra dos atos irreversíveis. A marcha wagneriana de fundo enroscou e emitia guinchos agudos de estourar os ouvidos. Um celular reclamando em sons de urgência. Bêbado, com seu avental branco entreaberto, a genitália exposta à fresta da persiana que prometia mais calor pelo nublado metálico, ele estava confuso e exausto apoiandose de costas numa geladeira escancarada ainda, o pulso esquerdo latejando de tanto cortar e mexer e perfurar, distendia-se ao longo do corpo exangue enquanto o direito alcançava o aparelho numa torpeza que se dissolvia – dever cumprido – pelos ladrilhos ensebados, escorregadios. Hora de prestar contas e planejar as ações seguintes, meticulosamente, contra o tempo e as expectativas tão desfavoráveis ao feito, atendeu: Alô! “Tânia, demorou! Operação melindrosa, deu trabalho sim, ufa! Ta feito!” Cambaleou, tomou mais uma talagada e começou a jogar água naquele cenário que o manteve em tensão ótima até então. Ao passar o rodo lembrou-se que a área externa estava imunda e escorregadia também, mas o sol já ofuscava a vista pela porta de vidro toda embaçada. Pegou o celular, tonto, meio em êxtase. Nem precisava ir pro México, regozijou-se. Tamanha perícia, planejamento e muita fé no seu taco. Riu-se e lembrou-se do perito...Mas concentrou-se em limpar os vestígios todos daquela lambança. Depois arranjaria o resto, telefonaria... Teria esquecido algum detalhe? Franziu a testa, e aquela...: “Tânia, minha tesuda, quase ia esquecendo, aquela sua bermudinha verde-musgo, bota ela que o almoço vai ser na mesa da piscina. Vou ligar pro meu amigo, aquele perito do churrasco do hospital. Virá com a namorada, ela faz a salada. Não disse que dava um ranguinho tropical hoje? Quer saber, antes de tudo vou me dar um choque térmico! É, um mergulhão de avental e tudo, pra cortar esta narcolepcia, essa aura de lagosta e caldeirada que me descalderou todo”, e gargalhou em disparada em direção à porta da área, sem ouvir o mas o caseiro não vinha pra limpar de manhãzinha? Vinha. Veio, esvaziou a piscina e limpou toda a sujeira de folhagem do temporal da noite. Foi-se em silêncio. Ficou a foice: uma mancha vermelhoesbranquiçada de um metro e noventa, a três metros da porta de vidro esfumaçada; dois metros e meio da superfície escorregadia. Quase um simulacro do prato exposto sobre a bancada da cozinha, naquele instante em que Tânia entrou, sentou-se em posição de lótus e ficou meditando se fratura de crânio com morte cerebral não podia virar, com o tempo, alguma forma alentadora de...narcolepcia, depois de tudo. Qualquer virada; com tempo. Não irreversível! Marco Antonio de Araújo Bueno é psicanalista lacaniano com especialização em psiocoterapia de família. Mestre pela Faculdade de Educação – Núcleo de Semiótica da Unicamp, especialista – doutor em Psicologia Educacional e doutorando em Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte, também pela Unicamp. Escreve para diversas publicações e é cronista premiado. wwwaraujobueno.blogspot.com www.literaujobueno.blogspot.com À frente de pessoas, números e resultados As mulheres executivas ou em postos de comando surpreendem os acionistas e a si mesmas, tamanha é a dedicação que dispensam à companhia e a habilidade que desenvolveram para lidar com a vida privada. Por Mariana Bonnet 26 N inguém mais questiona: elas são árduas trabalhadoras, competentes, perseverantes, detalhistas, organizadas, persuasivas, capazes de linkar vários pontos dentro do mesmo raciocínio ou projeto e, fundamentalmente, são mais humanas ao lidar com a equipe. As mulheres executivas ou em postos de comando surpreendem os acionistas e a si mesmas, tamanha é a dedicação que dispensam à companhia e a habilidade que desenvolveram para lidar com a vida privada. Um estudo de outubro do ano passado da ONG Catalyst, que levou o sugestivo título “The bottom Line: Corporate Performance anda Women´s Representation on Boards” demonstrou que, entre as 500 maiores empresas dos EUA listadas na famosa revista Fortune, as que tinham maior representação de mulheres na direção conseguiram performance significativamente maior, na média, que aquelas com menos mulheres no comando. Os números são relevantes: as empresas com mais mulheres na diretoria apresentaram desempenho 53% melhor no quesito “Retorno sobre o Patrimônio”, e o mesmo se verificou nas análises “Retorno sobre as Vendas” “Por serem mais empáticas, as mulheres denotam uma postura mais observadora em seus contatos, o que pode fazer com que se mostrem receptivas para escutar as pessoas e entender com facilidade suas necessidades” Abaixo do Equador No Brasil, não é muito diferente. Há quatro meses, um estudo feito pela Caliper Brasil – filial da empresa norte-americana de mesmo nome especializada em gestão estratégica de talentos – em parceria com a HSM com 66 mulheres que ocupam cargos de presidência, vice-presidência e diretoria de organizações de diversos setores da economia no Brasil, mostrou que guardadas as proporções e algumas diferenças de estratégia e estilo administrativo, as executivas se parecem. As principais diferenças que elas têm com relação aos seus colegas homens são, em primeiro lugar, um estilo de administração mais humano, onde se busca o bem-estar das pessoas, enquanto os executivos homens são mais orientados para si mesmos. Essa característica maternal, aliás, também fica mais evidente nas executivas que são mães, porque “sabem que as pessoas amadurecem ao longo do tempo, por isso são mais pacientes e flexíveis”. De conseqüência, destaca-se a segunda qualidade apontada pelas executivas como seu diferencial de gestão: a habilidade de realizar múltiplas tarefas, graças ao aprendizado de séculos e transmitido nos genes de cuidar da casa e dos filhos, administrando tempo, recursos, crises e interesses. Também intimamente relacionada à maternidade, vem como um plus para as CEOs a famosa intuição, enquanto os homens na mesma posição a valorizam e utilizam muito menos, se tanto. O estudo evidenciou o estilo de Brasileiras x européias e norte-americanas Quando comparado ao perfil das executivas anglo-saxãs, as brasileiras ainda têm o que aprender. Segundo o presidente da Caliper no Brasil e um dos mentores do estudo, José Geraldo Recchia, “os perfis apresentam semelhanças, mas as norte-americanas e britânicas tendem a levar vantagem em alguns aspectos: elas se mostram mais assertivas, mais abertas à inovação e flexíveis na mudança de pontos de vista que as colegas brasileiras. Por outro lado, saímos ganhando no que diz respeito à atenção à equipe. As executivas brasileiras ouvem SHOWROOM e Retorno sobre o Investimento”. As companhias com mais mulheres na direção obtiveram índices de 42% e 66% superior, respectivamente, a das suas concorrentes mais “machistas”. liderança feminino, que se caracteriza pela comunicação assertiva ao expor estratégias e metas para a equipe de trabalho, o gosto por envolver as pessoas em torno do que elas acreditam, e o poder de convencimento e persuasão que facilita a negociação com parceiros estratégicos e a liderança das equipes, como as qualidades mais marcantes e evidentes das executivas frente a seus colegas homens. “Por serem mais empáticas, as mulheres denotam uma postura mais observadora em seus contatos, o que pode fazer com que se mostrem receptivas para escutar as pessoas e entender com facilidade suas necessidades”, destaca o relatório da Caliper, acrescentando: ”Por isso tendem a esclarecer as dúvidas dos outros e oferecer informações adicionais, o que lhes permite, dessa forma, conduzir suas argumentações e apresentações visando atender também às necessidades de sua equipe. Por fim, as executivas são rápidas e voltadas para resultados, o que as leva a imprimir um ritmo mais acelerado na execução de suas atividades – a realização é um grande motivador e as ajuda a se envolver com responsabilidades que exijam resultados a curto prazo.” 27 “As executivas brasileiras ouvem mais os funcionários e apresentam um perfil mais maternal”. mais os funcionários e apresentam um perfil mais maternal”. Ainda segundo Recchia, as diferenças são conseqüência da formação cultural das profissionais. “Nos Estados Unidos, todos os alunos são estimulados desde cedo a trabalhar muito com a lógica e o raciocínio rápido. Isso também tem ocorrido no Brasil, mas é um fenômeno mais recente, que provavelmente vai traçar novos perfis de liderança num futuro próximo.” Pela comparação das pesquisas, as anglo-saxãs mostram maior gratificação para se envolver com questões mais complexas e que fujam da rotina. Elas também nos superam na ousadia. Enquanto têm índice de exposição a riscos de 77%, nós ficamos em 54%. Finalmente, as estrangeiras se mostram mais desenvoltas que as brasileiras para estabelecer novos contatos e vínculos, daí a conclusão do estudo da Caliper Brasil em recomendar às executivas brasileiras o exercício do network, ou seja, por mostrarem-se mais seletivas nos relacionamentos, é importante que as brasileiras desenvolvam maneiras de ampliar o círculo de conhecidos no mercado, especialmente em novos ambientes sociais, a fim de alargar a rede de contatos. Outra recomendação da Caliper é melhorar a administração do tempo e a organização pessoal, definindo as prioridades na agenda e contornando as interrupções em seu dia-a-dia. Novo perfil 28 A pesquisa também indica que o perfil da executiva brasileira nos últimos quatro anos mudou. Hoje elas assumem posições de alto comando ainda muito jovens, antes dos 44 anos, e já são maioria nos MBAs, porque investem fortemente na sua formação, não só para se sentirem preparadas para o mercado altamente competitivo, mas para comprovar maior competência. Isto é, o clássico chavão “para ocupar a mesma posição a mulher precisa ser bem mais preparada que o homem”, continua valendo; ao menos na cabeça das executivas. Entre os fatores que levam em consideração na hora de aceitar trabalhar em uma empresa, assumem grande proporção os valores corporativos, ética e responsabilidade social, acima de aspectos antes tidos como prioritários como treinamento ou plano de carreira. Outra revelação interessante, surpreendente e acalentadora é o fato de que 65% das entrevistadas são casadas e somente 28% moram sozinhas ou com os pais. Muitas delas citaram a família como uma das maiores conquistas pessoais e contam com ela para poder seguir sua carreira executiva. Na verdade, a pesquisa identificou também uma mudança no perfil de maridos e pais, que apóiam e dão retaguarda às executivas quando surgem reuniões e viagens de negócios. Ainda assim, as entrevistadas destacaram a necessidade de as organizações adotarem políticas mais flexíveis quanto à jornada de trabalho para que possam cumprir seu papel de mães em situações como doenças dos filhos e outras emergências. Como responderam as entrevistadas à pergunta: “O que é ter sucesso para você?” • Equilibrar vida pessoal e profissional (27%) • Fazer o que gosta, no lugar que gosta, onde se possa construir algo e ter esse reconhecimento, equilibrando tudo isso com a família e amigos (17%) • É fruto da inteligência, coragem e perseverança. É acreditar aonde se quer chegar(17%) • Não é subir na vertical; tornar-se presidente de uma empresa, mas estabelecer suas metas, seus objetivos, sejam eles quais forem, e conseguir atingi-los e ser feliz (13%) • É ser ouvida, ser solicitada a dar nossa opinião, por reconhecerem que agregamos valor profissional e pessoalmente (10%) • É a realização pessoal e profissional 10% • É conseguir contribuir para o crescimento de outras pessoas (7%) Fonte: www.caliper.com.br Paris é difícil de definir sem ser redundante. É a cidade luz. Berço do luxo. Uma das capitais do planeta, uma das mais atraentes da Europa, mas não é uma metrópole como qualquer outra, é a mais linda e a mais charmosa de todas. É um caldeirão de culturas, que já foi homenageada com centenas de livros, filmes e guias em diversas línguas. Todas as suas atrações já foram mapeadas e publicadas. Mesmo quem nunca foi a Paris, conhece Paris. Mas como disse o poeta Fernando Pessoa, “Não se conhece uma cidade até se perder nela”. Pois bem, se perca em Paris, nas ruas, monumentos, nos cafés, no perfume, no crepe, no brie, no vinho, no Champagne, nas vitrines. Paris é ótima para se perder, sem pressa e com prazer. Por Sophia Zahle 30 Sempre Paris..., Ainda mais agora, no fim do ano P lazer, a comida, a arte, a vida. São eternos bon-vivants e até têm um verbo para isso: flâner (flanar) que significa perder-se pelas ruas com prazer. Flanar é bem conjugado quando as ruas são parisienses. O filósofo Walter Benjamin consagrou o verbo em seus ensaios sobre o poeta Baudelaire. Este, por sua vez, definiu Paris como “paisagem composta de vida pura”. Paris é linda o ano inteiro, mas em dezembro à noite, especialmente durante o Natal e o Ano Novo, é que dá para entender a expressão “cidade luz”. Os monumentos arquitetônicos ficam ainda mais bonitos ressaltados pela iluminação abundante. Paris é uma metrópole moderna, intelectual e artística com jeito de vilarejo antigo. É ótima para se conhecer a pé, ou no máximo de metrô, mas fuja do taxi que é caro. Prefira guardar o dinheiro para pagar banhos extras no hotel. Pois é, essa é outra fama verdadeira dos franceses. SHOWROOM aris é marcada por grandes obras arquitetônicas e lugares anônimos, personagens célebres, eventos que mudaram o mundo. Uma tribo celta conhecida como Parisii, por volta de 250 a.C. colocou esse lugar no mapa e deu o nome à cidade. Os parisii eram navegadores comerciantes, ricos o suficiente para fabricar moedas de ouro. Paris nasceu na Île de la Cité, uma ilha no meio do rio Sena, onde fica a Catedral de Notre-Dame, à época, uma cidade primitiva e fortificada. Depois dos gauleses [as populações celtas que habitaram a Gália, território que corresponde hoje à França, Bélgica e Itália], veio a dominação romana, a ascensão de Luís XVI, a Revolução Francesa que desbancou o clero e a nobreza e deu início à Idade Contemporânea com seus ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, (Liberté, Egalité, Fraternité). Várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia constitucional, dois impérios, diversos movimentos artísticos, duas guerras mundiais, um título de Copa do Mundo de futebol. É notável o gosto dos franceses pela arte de contemplar e desfrutar a vida, e o inesperado. Não à toa, reinventam constantemente o 31 A pé, às margens do Rio Sena Na cidade onde tudo é caro, da hospedagem aos passeios, passando pelos restaurantes e pelas compras, uma das mais belas e imprescindíveis atrações é grátis: caminhar às margens do Rio Sena. Em duas horas é possível conhecer vários prédios históricos e turísticos que estão em suas margens. Comece na Catedral de Notre-Dame, na margem esquerda do rio, na Île de la Cité. Notre-Dame é uma catedral gótica construída entre 1.163 a 1.334. A nave central é um dos seus encantos com 127 metros de comprimento, outros são os vitrais coloridos e janelas que filtram a luz criando um espetáculo único, além dos portais e pinturas que transportam o turista à Idade Média. Ali Napoleão foi coroado em 1804 e é possível ver as estátuas de Carlos Magno e Joana d’Arc. Entrar na catedral é gratuito, mas quem quiser ter acesso as torres e subir a pé os 387 degraus, paga entrada. A ilha vizinha a la Cité, a Île de St. Louis, igualmente merece uma visita. Na 32 rua batizada com o nome da ilha há um monte de lojinhas e bazares chiques, e o sorvete imperdível do Berthillon. De volta a Île de la Cité passe pela Conciergerie, prédio construído no século XIV como palácio real, que virou uma prisão durante o Reinado do Terror (1.793/94), quando milhares de prisioneiros aguardavam a decapitação na guilhotina, entre eles a rainha Maria Antonieta, Danton e Robespierre. Como presídio continuou até 1914 e hoje é possível visitar os quartos reconstituídos, as celas especiais e a câmara de tortura. Entre a Conciergerie e a Notre-Dame, a Saint-Chapelle é outro ponto que merece uma parada. Construída em 1.248 por ordem de Luís IX, é uma capela belíssima, iluminada por seus quinze vitrais ilustrando passagens da Bíblia. Cruze a famosa Pont Neuf, e é hora de passear pela margem direita do rio, onde está o Museu do Louvre, o Museu d’Orsay, o majestoso Les Invalides com sua cúpula dourada e um pouco mais adiante a colossal Torre Eiffel. Louvre O Museu do Louvre é um daqueles pontos que precisa ser visitado, se não, você não esteve em Paris. Construído no final do século XII como um forte, convertido em palácio no século XVI, transformou-se em museu em 1793. É imenso e impossível de visitar em um único dia. Dividido em três diferentes pavilhões: Sully, Denon e Richelieu, abriga obras de diferentes períodos da arte européia, asiática, antigüidades egípcias, romanas, gregas e etruscas, esculturas, gravuras etc. A asa norte do complexo abriga o museu de artes decorativas e o museu da moda e do tecido. Na linha precisa-ser-visto-senão-não-esteve-lá, as três damas: a Vênus de Milo, a Gioconda (Mona Lisa) e a Victoire de Samothrace (escultura tem uma bela fonte, esculturas de bronze e dois prédios simétricos de colunas que abrigam quatro museus. Depois, o Arco do Truinfo, verdadeiro símbolo da nacionalidade francesa. Na sua base, La Tombe du Soldat Inconnu (túmulo ao soldado desconhecido), idealizado por Napoleão para celebrar as suas vitórias. O túmulo representa todos os soldados que morreram em batalhas, em especial na Primeira Guerra Mundial. Finalizado em 1.836, o Arco testemunhou momentos históricos como a invasão do exército alemão e as comemorações de libertação de Paris com o general Charles de Gaulle à frente. Suba para ter uma bela vista da avenida ChampsElysées, e depois, no chão, passeie pela imponência dessa avenida que é uma das mais famosas no mundo com mais de 300 anos de história. Vá à Place de La Concorde, local que testemunhou fatos marcantes e banhados de sangue na história francesa. Ali ficava a guilhotina que decapitou mais de 1.300 pessoas, entre elas o rei Luís XVI, Maria Antonieta e os líderes revolucionários Danton e Robespierre. Além do Louvre Há muitos museus em Paris que merecem uma visita. Além do Louvre, dois não se pode perder: o Museu Picasso e o Rodin. Em ambos é possível chegar de metrô. Paris abriga o museu mais significativo de Picasso fora da Espanha. Está em um prédio que abrigava um hotel, restaurado e transformado em museu no estilo modernista, isto é, tudo branco e simples, com boa parte das obras de Picasso, pinturas e esculturas de todas as fases. E a coleção particular do artista espanhol, que inclui entre essas obras, quadros de Cézanne e Matisse. A curiosidade é que tudo foi doado ao governo francês por seus herdeiros como pagamento de impostos. No Musée Rodin estão expostas as obras do mais famoso dos escultores franceses, entre elas, a clássica “O Pensador” (há dois exemplares da obra, a outra está sobre o túmulo do artista). SHOWROOM grega, artista anônimo). Na mesma ala da Mona Lisa, pode-se também admirar a magnífica tela de Delacroix, a “Liberdade Guiando o Povo”. Antes de ir embora, tome um café ou um vinho num dos dois cafés em terraços do Louvre, o Richelieu ou o Mollien, com vista para a pirâmide de vidro. E depois, flane no jardim de Tuilleries. No começo da noite, quando Paris começa a se iluminar, suba à Torre Eiffel. Uma experiência única. A Torre Eiffel leva o nome de seu construtor, o engenheiro e empreendedor Gustave Eiffel, foi inaugurada em 1.889 e exibe números fantásticos: 324 metros de altura, mais de 10 mil toneladas de peso e 1 710 degraus. No século XIX, escritores, pintores, artistas, escultores e arquitetos divulgaram um abaixo-assinado indignado contra “a inútil e monstruosa Torre de Babel”. Agora, isenta de polêmicas, é imperdível. Há até um restaurante panorâmico no vigésimo andar, o Jules Verne. Caro, mas vale a vista. Usufrua do Jardin du Trocadér, ponto de chegada ou saída da Torre Eiffel, Como marco histórico, onde as cabeças rolaram, hoje existe o Obelisco de Luxor – com duas versões sobre sua origem: presente dos egípcios ou confisco dos franceses. O monumento está alinhado com o Arco do Triunfo e com o Arco de La Défense 33 34 Vale conhecer, sabendo que o museu foi idealizado pelo próprio Rodin, que doou todas as suas obras ao governo francês. Não deixe de visitar o jardim. Há muito mais coisas em Paris...Passeios famosos, imperdíveis, como o Centro Cultural Georges Pompidou, conhecido como Beaubourg ou a atração mais visitada da cidade que resguarda um acervo de arte moderna e contemporânea, o Musée National d’Art Moderne, com obras de Duchamp, Brancusi e Chagall. Ou ainda o majestoso Les Invalides e Montmartre, bairro que tem a imponente Basílica de Sacré-Coeur, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e um mirante para contemplar toda a cidade. O Palácio de Versailles, o mais impressionante palácio da França e de todo o planeta. Construído em meados do século XVII por Luís XIV, o Rei Sol, dividido em quatro partes: o prédio principal do palácio, com seus salões, quartos e corredores imensos (atenção para o Salão dos Espelhos); os suntuosos jardins com seus desenhos geométricos e luxuosas fontes, e os dois palácios menores, Grand Trianon e Petit Trianon. Cemitérios famosos O Panthéon, idealizado durante a Revolução Francesa, foi convertido num Panteão (edifício em que se depositam os restos mortais daqueles que ilustraram a sua pátria ou prestaram grandes serviços à humanidade). Lá estão os túmulos de Voltaire, Rousseau, Victor Hugo e Louis Braille, entre outros. E até um cemitério de verdade: - Cemetière du Père Lachaise, - situado num morro com uma bela vista de Paris, é o cemitério “cultural” mais famoso do mundo. Entre seus ocupantes, a cantora Edith Piaf, o compositor Chopin, a atriz Simone Signoret, Allan Kardec, o polêmico escritor Oscar Wilde e o túmulo que atrai multidões, incluindo levas de americanos, o de Jim Morrison, líder da banda The Doors. Mas evidentemente há inúmeros outros locais e monumetos imperdíveis na cidade luz: a Opéra de Paris, o Museu d’Orsay, o bairro Quartier Latin, na esquerda do Sena, um dos lugares O alternativo Marais Saia do circuito dos endinheirados e vá ao bairro de Marais, que tem um encanto alternativo. É um bairro jovem com ruas pitorescas como Franc-Bourgeois e du Temple. Já foi o lugar favorito dos nobres e aristocratas no século XVII. Hoje, galerias de arte se misturam a bares e butiques descoladas. Na rue de Pavée existe uma sinagoga projetada em 1913 por Hector Guimard, e, na rue de Rosiers, inúmeras delicatessens com iguarias judaicas. No Marais fica uma das praças mais harmônicas do mundo, com uma arquitetura simétrica de arcadas e fachadas de pedra e tijolos, a Place des Vosges, construída de 1.605 a 1.612. É uma jóia rara, cercada de antiquários e butiques e ideal para sentar-se nos bancos e ver a vida passar, olhando para os prédios e o chafariz ou escutando os músicos de rua. Perto da Place des Vosges está a rua de comércio des Francs Bourgeois e Saint-Germain-des-Prés com suas boutiques de roupas, livros, sapatos, coisinhas para a casa, as Galeries Lafayette e Bon Marché, um espaço democrático dividido por grifes consolidadas e estilistas começando. Não deixe de visitar o Belleville, bairro de imigrantes, com produtos árabes, turcos e tunisianos. E se for domingo, vá à feirinha Marché aux Puces, o mercado ao ar livre que tem de tudo, de peças de antiquário a coleções usadas de CDs. Mas, acima de tudo, para o consumidor de vinhos, existem caves escondidas, pequenos paraísos à meia luz, cuja descoberta é uma saborosa surpresa. Só depois de fazer tudo isso é possível dizer com propriedade, como Humphrey Bogart diz à belíssima Ingrid Bergman em Casablanca: “Nós sempre teremos Paris”. SHOWROOM mais contemplativos de Paris, junto ao Jardim de Luxemburgo e a renomada Universidade de Sorbonne no bairro de tradição boêmia, filosófica e intelectual, repleto de cafés e livrarias, restaurantes e bares. Ali nasceram e se fortaleceram as históricas revoltas estudantis de 1968. Esqueça-se de que é um turista, dê uma de francês, desfrute os cafés, as ruas, as mesas dos bares, os parques. Pratique um dos esportes nacionais dos franceses: lèche-vitrine, ou traduzindo literalmente, seja um “lambe-vitrine”. Observe a sedução que exercem. A rua de comércio chique é a Faubourg SaintHonoré, onde andar pelas calçadas equivale a assistir a um desfile com as últimas tendências da moda. Todas as grifes de alta-costura estão nessa área. Vá até a meca das guloseimas, o Fauchon (Place de la Madeleine), que desde 1886 atrai estrangeiros com seus queijos, pâtisseries, patês, foie gras, escargots, marrons glacês, frutos do mar. Estique em direção à rue Saint-Honoré (continuação da Faubourg), e visite a Colette, uma multiloja que é uma farra. 35 A revolução causada pelo conhecimento Boa parte da cegueira reside na falta de saber a importância do saber A 36 Por Armando Correa de Siqueira Neto o tratar sobre o desenvolvimento humano, é prudente que se considere a quantidade e a qualidade do saber, ontem, hoje e amanhã. A análise histórica da convivência social permite que se reflita sobre o passado e o presente comparativamente, e, em conseqüência, se julgue cada mudança ocorrida. Assim, avizinha-se rica oportunidade de se preparar para o futuro. O conhecimento é, pois, a porta de acesso ao progresso e a diferentes perspectivas de vida. O governo que pouco preza o aperfeiçoamento de significativa parcela da sua população sofre diretamente com o nível de miséria, além de estimular a manutenção da passividade tanto do progresso pessoal quanto da cidadania. (Não se oculte o fato de que a ignorância produz a escravidão de si mesmo, haja vista ela turvar as expectativas dos alcances futuros, fazendo da esperança o claro refém do presente.) Cumpre lembrar, todavia, que não há fogueira sem fogo, porquanto existe também gente que se opõe ao próprio crescimento, evitando passar pelos sacrifícios típicos de qualquer processo evolutivo. Portanto, tais comportamentos comprometem o avanço e a liberdade de escolha de novos e melhores rumos. As justificativas, fruto do auto-engano, assumem tristemente o lugar da responsabilidade, evitando-se tocar diretamente o dedo na enorme ferida chamada atraso. Por outro lado, nem só de escolas, ainda que numerosas, conseguirá se desenvolver o homem. É claro que a falta de vagas e as distâncias podem desestimular pais e alunos a prosseguirem no projeto educacional. Quantidade é importante, não se discute. A qualidade, contudo, deve ser observada igualmente. Bom nível de formação e aprimoramento dos educadores, cobrança e monitoramento dos resultados, estímulo à interação e maior participação dos parentes na vida educativa dos seus, investimento em recurso tecnológico e material convenientemente selecionado para a prática pedagógica, avaliação constante, planejamento e alterações a novas demandas ajudam a alicerçar e sustentar bons programas na área que pode transformar a vida de muita gente: a educação. Boa parte da cegueira, porém, reside na falta de saber sobre a importância do saber, resultando ora em objeto ignorado, ora em desprezo, aquilo que merecia, sem qualquer átomo de dúvida, a devida atenção. O conhecimento não está em mira. Não como deveria. Seu grau de importância está erroneamente rebaixado, no aguardo de ajuste; reparo este que não chega devidamente. Ainda não se fez mais luz do que sombra, a fim de clarear a escuridão que faz muitos tropeçarem no próprio desnível do chão irregular a que estão submetidos. Somente quando o saber fizer sentido no interior, no âmago das decisões pessoais, é que ocorrerá o despertar para o tempo de maior domínio sobre si mesmo, ampliando a chance de escolha ante os caminhos que, embora inexistentes porque cada qual deve trilhar o seu, carecem de direcionamento consciente. A revolução educacional só ocorre se houver amor à bandeira da evolução, sem a qual inexiste o ardor por superar-se. Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Co-autor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: [email protected] Visões encomendadas do além O homem é criativo e está sempre aberto para receber nossas interpretações e fantasias. Vê na Lua a imagem de São Jorge montado a cavalo atacando valentemente o dragão com sua poderosa lança. M 38 Por Joel Leite inha filha de 12 anos acordou assustada, acomodou-se na minha cama e contou um sonho perturbador: estava num lugar estranho com dona Eulália, a tia Yolanda, o vovô e o seu Henrique. Os três primeiros queriam “voltar”, apenas Henrique não manifestou o desejo de viver. Os personagens são reais, todos faleceram nos últimos três ou quatro anos, tendo sido os contatos de Claudia com a morte. Henrique se suicidou. Quando relatei o sonho para a família, provoquei um tremor geral. Pálida, uma sobrinha lembrou que era dia de Finados; uma tia teve um calafrio e um terceiro creditou a “visão” do sonho a poderes mediúnicos da menina. Ninguém lembrou que na noite anterior falávamos sobre a importância de lembrar dos que já nos deixaram e que o dia de Finados tinha esse propósito. Todos preferiram nutrir fantasias sobre poderes pessoais, extraterrenos. Lembrei da Nossa Senhora que “apareceu” na janela da casa do senhor Antonio Rosa, em Ferraz de Vasconcelos, Grande São Paulo, em julho de 2002. A “aparição” levou ao local mais de 160 mil pessoas, inclusive de famosos como Elba Ramalho e Gugu, graças à irresponsabilidade da mídia sensacionalista, especialmente os programas de TV de final de tarde (a propósito, basta assistir a um desses jornais que você terá plena convicção de que sua vizinha vai jogar o filho pela janela, sua mãe vai ser assassinada a pauladas pelo entregador de cartas e você vai ser seqüestrado amanhã cedo). Os casos de aparições são incentivados pelas religiões. Exploram as necessidades emocionais que a dura realidade não nos oferece. Nutrem fantasias, incentivam um sedutor poder espiritual. O caso de Ferraz de Vasconcelos foi enigmático, prato cheio para quem gosta de explorar a crença popular. Após a divulgação do caso pela mídia, outras imagens de Nossa Senhora foram “vistas”, no mesmo dia, em São Miguel Paulista (bairro paulistano vizinho a Ferraz de Vasconcelos), Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Sul, todas elas com a imagem estampada na janela, tal como em Ferraz de Vasconcelos! O homem é criativo e está sempre aberto para receber nossas interpretações e fantasias. Vê na Lua a imagem de São Jorge montado a cavalo atacando valentemente o dragão com sua poderosa lança. Tal como a Nossa Senhora de Ferraz de Vasconcelos, São Jorge é fruto de uma imaginação criativa e da exploração da fé do povo, dos desejos transcendentais da religião, crença e misticismo. Quem é que já não “viu” nas nuvens do céu imagens de santos, animais, objetos e monstros? O uso lúdico das imagens formadas pelas nuvens e estrelas é uma deliciosa brincadeira. Faça a experiência. Deite com as crianças de barriga pra cima num gramado numa noite de lua cheia, melhor no inverno, solte a imaginação e delicie-se com o espetáculo. À noite você vai ver as estrelas se movimentarem, inspirando a piração que você desejar. De dia as nuvens vão desenhar os monstros dos quais você ainda não conseguiu se livrar. Em “O mundo assombrado pelos demônios”, Carl Sagan (companhia das Letras, 2006) faz uma viagem fantástica sobre o tema. Num determinado momento, cita uma famosa berinjela que se parecia muitíssimo com Richard Nixon. E ironiza: “O que devemos deduzir desse fato: intervenção divina ou extraterrestre? Reconhecemos que há muitas berinjelas no mundo e que, mais cedo ou mais tarde, encontraremos uma que se assemelha com uma face humana e até um rosto em particular”. Dom Mascarenhas Roxo, bispo emérito da Diocese de Mogi das Cruzes, criou uma comissão para analisar a suposta imagem da santa de Ferraz de Vasconcelos. Quando o resultado foi anunciado, todos se fingiram de mortos: não era a Nossa Senhora na janela, mas um fenômeno chamado irisação, que é a decomposição da luz reproduzindo várias cores do espectro visível, resultado do uso de um produto de limpeza na vidraça. Recomendo o livro de Carl Sagan. Joel Leite é jornalista, formado pela Fundação Cásper Líbero, com pós-graduação em Semiótica, Comunicação Visual e Meio Ambiente. Diretor da Agência AutoInforme, assina colunas em jornais, revistas, rádio, TV e internet. Não tem nenhum livro editado e nunca ganhou nenhum prêmio de jornalismo. Nem se inscreveu. DVD portátil Câmera que agüenta tudo Solução para entreter as crianças nas férias, o DVD portátil modelo DVP-FX820 da Sony oferece monitor LCD widescreen de oito polegadas, com destaque para a tela giratória de até 180° de rotação, que permite uma visualização flexível, imagens mais nítidas e luminosas e com ótima definição. O aparelho possui duas entradas para caixas acústicas com controle de volume, um potente alto-falante incorporado, controle remoto e adaptador para automóvel incluído. O DVD Player tem ainda entrada e saída de áudio e vídeo, que por meio de chaveador, permite a utilização como tela portátil para vídeo game, como reprodutor de DVD para TV ou mesmo ser conectado a um receiver multicanal. Vem chegando o verão. Hora de viajar, pegar Preço sugerido: R$ 999,00. Onde encontrar: revendedores autorizados uma praia e registrar todos os instantes ou em www.sonystyle.com.br. divertidos sem preocupação com areia e água. Uma câmera digital que agüenta tudo é ideal para esses momentos. Essa é Para quem não abre mão de ficar conectado, a proposta da Olympus com a Stylus 1050 mas é, digamos desastrado, dois acessórios SW. À prova d’água, pode ficar submersa prometem ajudá-lo na proteção dos em uma profundidade de até 3 metros; à equipamentos e informações. O primeiro é prova de choque, resiste a tombos de até 1,5 case portátil em neoprene da linha BestoPro metros; e até, para quem prefere o frio do Notebook Series, da Extralife, que oferece hemisfério norte nas férias, à prova de frio, proteção em caso de contato com líquidos, suportando temperaturas de até -10º C. Além quedas e riscos. O fechamento com zíper e velcro e a alça reforçada da resistência, o gadget traz a tecnologia xodó garantem segurança no transporte e na utilização rápida do dos aficionados: o controle por toque. Todos os equipamento, como, por exemplo, em aeroportos, já que não é modos do menu podem ser ativados por um necessário retirar a máquina do case. Para notebooks com tela de 14 toque na parte superior, traseira e laterais do e 15 polegadas. equipamento, graças a um acelerômetro 3D Já para os dados, a OCZ traz para o mercado pen drives da ATV, que detecta a direção da força no corpo da também confeccionados em material emborrachado (neoprene). câmera. 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Plug & Play (dispensa drivers paisagem e emendá-las, para criar uma de instalação) e com capacidade de 8GB e 16GB. imagem panorâmica, no próprio visor da Case: preço sob consulta, disponível em www.extralife.com.br/ondecomprar Pen Drive ATV: 16 GB R$239,00 e 8GB R$120,00, disponível em www.superkitb2b.com.br câmera e a função de estabilização digital, para capturar imagens mais nítidas, sem tremores, mesmo com a câmera em movimento completam os diferenciais da Stylus 1050 SW. Tem design moderno, está disponível Design, cores, mobilidade, conectividade e nas cores preta, prata e azul, com armazenagem foram as palavras de ordem no visor de LCD de 2,7 polegadas e 10.1 cenário de eletro-eletrônicos em 2008. Além de megapixels de resolução. computadores, câmeras digitais, filmadoras e Proteção contra acidentes Vasta biblioteca musical R$ 1.080,00 Onde encontrar: Submarino, Americanas. 40 outros, agora até micro systems têm HD interno. E de grande capacidade, 80 GB no caso do NAS-E35HD, mais recente lançamento da Sony, que permite armazenar até 15.000 músicas no formato MP3, criando uma ampla biblioteca musical. Músicas de CDs, rádios AM/FM, e de entradas auxiliares (MP3 player, pen drive ou celular Walkman Sony) podem ser gravadas diretamente no HD por intermédio da função USB rec&play, além de “portas” para conexão com outros aparelhos portáteis. Recurso útil, dada à vastidão da biblioteca, é o Gracenote que permite incluir automaticamente informações, como o título da música, em um banco de dados também armazenado no HD. Durante a reprodução das músicas, funções do aparelho melhoram o desempenho dos sons graves, garantido a qualidade sonora. O design é refinado e o display sofisticado de três linhas permite a navegação amigável entre os menus. Preço sugerido: R$ 1.999,00. Onde encontrar: www.sonystyle.com.br Para quem é fã de Woody, um livro memorável Woody Allen está em cartaz nos cinemas com “Vicky Cristina Barcelona” e nas livrarias com “Conversas com Woody Allen”, escrito pelo jornalista norte-americano Eric Lax, que reuniu 36 anos de conversas neste livro, lançado no Brasil pela Cosac Naify. Allen fala sobre todo processo cinematográfico, da elaboração do roteiro à montagem. Sacia a curiosidade dos fãs, reflete sobre seu trabalho, faz comentários por vezes hilariantes, ora autodepreciativos, mas sempre honesto. Embora seja seu biógrafo oficial, Lax não fala sobre a vida pessoal de Allen, apenas sobre o diretor e sua obra. O livro foi organizado acompanhando ano a ano a produção do cineasta; cada conversa foi registrada na época, sem modificações e sem cortes, segundo Dirigido pelo ótimo Ridley Scott, “Rede de mentiras” é a grande aposta da o autor. Mostra Allen como ele é: com uma visão melancólica da vida. “Allen, Warner neste verão. Assim como o diretor, o elenco é estelar: Leonardo DiCaprio, é um homem de sentimentos fortes, mostrando mais uma vez ser bom ator e não somente um rostinho bonito; um embora controlado. Ele não se permite Russell Crowe, obeso (engordou 23 quilos para interpretar esse papel), excelente sentimentos extremos de euforia como de hábito. Com roteiro de William Monahan de “Os infiltrados”, todos ou infelicidade. Nunca encontrei em premiados com o Oscar. É uma história baseada no romance homônimo de minha vida alguém tão disciplinado”, David Ignatius, jornalista do Washington Post, que durante dez anos cobriu a declarou o autor. Nas entrevistas, CIA e as ações no Oriente Médio. Woody Allen não explica seu lado anti“Rede de mentiras” é um filme de suspense sobre espionagem, inteligente, bem social, nem porque se recusa a receber escrito, narrado em alta velocidade e em permanente tensão, bem ao estilo de prêmios, o que já revela sua filosofia de Ridley Scott. DiCaprio é Roger Ferris, um agente de campo inteligente, capaz, vida. Para Allen, a platéia-alvo de seus que se imiscuiu na cultura do Oriente Médio, conhece o idioma a cultura filmes é ele mesmo, pouco se importa com e respeita as atitudes e os costumes locais. Suas ações dependem de um o público ou com a crítica. Como explica veterano estrategista, Ed Hoffman (Crowne) um cínico que, de sua casa em o jornalista Otavio Frias Filho na quarta um bairro classe média nos EUA, enquanto toma café ou leva os filhos à capa: “Allen tem uma admirável imaginação escola, manipula informações, traça estratégias e acompanha a ação com o dramática disciplinada pela técnica e pela moderno (e real) Sistema Predador uma espécie de ‘Big Brother’ que está severidade para com o próprio trabalho”, talvez sempre por perto capturando, via satélite, imagens do solo com riqueza por isso o resultado acabe agradando crítica de detalhes (para simular o Predador, Scott usou dois helicópteros e público. Entre os filmes preferidos, o próprio durante as filmagens nos Marrocos). Ferris sabe que não pode Allen destaca “A rosa púrpura do Cairo”, “Match confiar em ninguém. Se descuidar-se será usado e descartado do point” e “Maridos e esposas”. O primeiro trata da tabuleiro de xadrez virtual de Hoffman. Ao mesmo tempo em diferença entre a fantasia e realidade e “Match point”, que confiar é perigoso, é a única maneira de ficar vivo. o mais emblemático, traduz a desconfiança do cineasta de que não há nenhum Deus olhando por nós para nos recompensar ou punir. “Rede de Mentiras” (Body of Lies) Obrigatório para quem gosta de cinema ou não. Direção: Ridley Scott, com Leonardo DiCaprio, “Rede de Mentiras”, com Russel e DiCaprio Russel Crowe, Mark Strong, entre outros. SHOWROOM “Conversas com Woody Allen, entrevistas a Eric Lax”, Editora Cosac Naify, quarta capa: Otavio Frias Filho Preço sugerido: R$ 65,00 41 Rillettes de salmão defumado Por ISABEL CALDEIRA Vertical Limit, privilégio para poucos Por Arthur Azevedo Em 1810, Madame Clicquot, uma pioneira em champanhe e criadora de muitas das inovações da região, decidiu separar uvas de uma mesma safra para produzir um champanhe com data de nascimento, um vinho com a memória de um único ano, projetado para ser guardado por muitos anos. Nascia ali o conceito do Champagne Vintage. Com uma trajetória de sucesso ao longo de muitos anos, os champanhes safrados sempre foram produzidos pela Veuve Clicquot com as melhores uvas de seus vinhedos Grand Cru e Premier Cru, plantados em 515 hectares próprios. Sinônimo de luxo e sofisticação, eles refletem não só a qualidade excepcional das uvas do ano, como também a habilidade e o talento dos enólogos da casa. Associando-se à Porsche Design, empresa que costuma criar verdadeiras obras de arte, a Veuve Clicquot acaba de lançar um dos mais sofisticados objetos de desejo para os enófilos, a Vertical Limit by Porsche Design Studio. Trata-se de um móvel único, projetado para acomodar 12 safras míticas de Veuve Clicquot Vintage, elaboradas por quatro gerações de chefs de cave: Roger Zéches assina as safras 1955, 1959, 1961 e 1962; Jean Boureaux as de 1969 e 1975; Charles Delhaye,1979 e 1982; e Jacques Péters, 1985,1988, 1989, 1990. Medindo 2 metros de altura e com 60 cm de largura, o móvel é um monolito de aço inoxidável, com 12 gavetas individuais iluminadas, projetadas para acomodar cada uma das garrafas magnum (1,5 litros) de Veuve Clicquot. A temperatura é rigorosamente controlada a exatos 12ºC, exatamente a mesma das caves da Veuve Clicquot em Reims. A criação futurista é também à prova de som e vibração, constituindo-se na mais incrível adega jamais sonhada. Das quinze peças produzidas, somente uma será vendida no Brasil. Preço? Uma verdadeira pechincha, considerando-se a exclusividade dos vinhos e o requinte do móvel: R$ 240.000,00. Ainda dá tempo de incluir o mimo na listinha do Papai Noel... 42 Arthur Azevedo é diretor executivo da ABS- Associação Brasileira de Sommeliers - SP (www.abs-sp.com.br), editor da revista Wine Style (www.winestyle.com.br) e do website Artwine (www.artwine.com.br) Por volta de 1326 surgiu em cena Guillaume Tirel da Normandia. Era praticamente um garoto quando foi introduzido na cozinha pela mão de Jeanne d’Èvreux, esposa do Rei Cherles IV, tornando-se o primeiro grande cozinheiro francês e deixando a sua marca na história da gastronomia. Seu aprendizado foi longo e cruel e tudo quanto aprendeu lhe foi transmitido verbalmente. Apelidado “Taillevent” por sua rapidez e destreza, em 1346 tornou-se cozinheiro chefe do Rei Philippe VI e na seqüência, sob Charles VI, alcançou o pináculo, tornando-se “écuyer de cuisine” (gerente) e “maître des garnisons du roi” (chef das tropas do rei). Sua ilustre carreira durou quase 60 anos, tendo servido a cinco reis. Taillevent compilou um livro – “Le Viandier de Taillevent”, contendo dois manuscritos anônimos – o “Petit Traité de 1306” e o Manuscrito de Sion, datado de 1326 – além das suas próprias experiências. O livro foi sucesso de vendas até o século XVII, tendo sido regularmente reeditado até o início do século XVIII. Todavia, a mais pujante coleção de receitas da Idade Média não foi obra de um cozinheiro, mas de um idoso burguês parisiense, que em 1390 decidiu escrever um manual sobre moral e economia doméstica, para sua jovem esposa. Tomou emprestadas receitas do “Le Viandier de Taillevent” e acrescentou seus comentários e receitas simples, que utilizavam vegetais e ingredientes típicos. Preparou cardápios para ocasiões especiais e registrou conselhos para o adequado gerenciamento das cozinhas e técnicas que ainda estão presentes nas cozinhas de hoje. A França Medieval aperfeiçoou a arte do banquete, refeição teatral, rica em ritual, que dava ao anfitrião oportunidade para exibir e afirmar sua posição social, sua prosperidade e seu prestígio. Essa tradição foi rigidamente conservada na cultura francesa em cada festa, fosse ela de cunho oficial, social ou familiar. Para conhecer bem o significado, a pompa e a dimensão desses eventos, é importante a leitura do livro “Carême cozinheiro dos reis”, Jorge Zahar Editor, sobre a vida de um dos pilares da Moderna Gastronomia Francesa, Antonin Carême. Ao longo de cinco capítulos resumimos a Tradição da Culinária Francesa na Era Medieval e nos preparamos para ingressar na fase Renascentista. Dessa longa, rica e espetacular caminhada, trazemos uma receita que demonstra como a criatividade é importante para a evolução da gastronomia: “Rillettes de salmão defumado”. Originalmente, “rillettes” eram preparadas na época em que se abatia o porco para a salga e preservação. Peças de sua carne (de ganso também) eram longa e lentamente cozidas em banha, formando uma pasta salgada que podia ser comida durante meses, com pão. Esta receita, partindo de uma fórmula tradicional, substitui os ingredientes e cria uma verdadeira “delicatesse”. Dissolva, em fogo baixo, 5 gramas de gelatina em pó, sem sabor, numa colher de sopa de creme de leite; retire a panela do fogo, misture 90 ml de creme de leite fresco e deixe esfriar. Pique 250 gramas de salmão defumado e leve ao processador com o creme de leite já frio, mais a casca ralada de um limão siciliano, uma colher de chá de pimenta-do-reino branca moída, três pitadas de pimenta de caiena em pó e uma colher de sopa de dill fresco, picado, processando por 10 segundos. Num “bowl” prepare o tempero com uma colher de sopa de azeite extra-virgem e uma colher de sopa de suco do limão, misturando bem. Pique mais 250 gramas de salmão, tempere com esse molho e adicione lentamente e misturando bem, o creme batido. Transfira para uma forma retangular, cubra com filme plástico (encoste o filme na superfície do creme) e refrigere por 24 horas. Desenforme e sirva as “rillettes” acompanhadas com torradas, cebolinha jovem picada e bastões de pepino japonês sem as sementes. Isabel Caldeira é cozinheira, estudiosa e especialista em receitas e cardápios especiais.