PRINCESA SELVAGEM – Annie West Um príncipe regente…uma princesa relutante. Raul, o príncipe de Maritz, não aceita ser subjugado a uma lei arcaica que o obriga a casar. Entretanto, escândalos e distúrbios se tornaram rotina em sua vida. Somente a união com a princesa Luisa Hardwicke trará estabilidade à monarquia. Mas Luisa é uma mulher franca, criada em fazenda, bem longe dos luxos da realeza. Ela não tem medo de se sujar para concluir suas tarefas e nem de expor o que pensa. Transformada em uma dama da corte à força, Luisa desafiará o príncipe a todo o momento…e fará Raul desejar cada vez mais a noite de núpcias com sua rainha. O PREÇO DO SUCESSO – Maya Blake Ela só pensava em vencer…ele só queria possuí-la. Dono da escuderia Espiritu, Marco de Cervantes achava que sabia exatamente o que se passava na bela cabecinha de Sasha Fleming. Ela certamente não poderia se considerar superior por ser a primeira mulher a fazer parte da equipe de corredores! O problema é que a campeã das pistas não tem nenhum interesse em se tornar uma esposa-troféu. Ela só pensa em subir ao pódio e provar para todos o seu valor. Entretanto, Marco está acostumado a conseguir o que deseja, e não aceitaráum “não” como resposta. Querida leitora, Quando duas mulheres geniosas e decididas encontram dois homens fortes e poderosos, o resultado só pode ser explosivo. Em Princesa selvagem, de Annie West, o príncipe Raul terá que usar todo o seu poder de sedução para convencer a rebelde Luisa a ser sua rainha. Ela está bastante relutante, o que deixa Raul cada vez mais apaixonado. Em O preço do sucesso, de Maya Blake, Sarah Fleming fará de tudo para vencer. Até mesmo se subjugar às regras do implacável Marco de Cervantes, ainda que seja difícil resistir a esse atraente magnata. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books Annie West Maya Blake ESCÂNDALO & SUCESSO Tradução Deborah Mesquita de Barros Joana Souza 2014 SUMÁRIO Princesa selvagem O preço do sucesso Annie West PRINCESA SELVAGEM Tradução Deborah Mesquita de Barros CAPÍTULO 1 RAUL OLHAVA, sem ver nada, para o lado de fora do helicóptero que saíra de Sidney e seguia a costa sul. Não deveria estar ali, quando a situação em casa estava tão delicada. Mas não possuía escolha. Que confusão! Suas mãos se fecharam em punhos, enquanto ele movimentava as pernas, agitadamente. O destino de sua nação e o bem-estar de seus súditos estavam em risco. Sua coroação, seu direito a herdar o reinado para o qual ele tinha nascido e devotado sua vida, era incerta. Mesmo agora, ele mal podia acreditar nisso. Desesperadamente, os advogados haviam procurado um caminho legal após outro, mas as leis de herança não podiam ser mudadas, não até que ele se tornasse rei. E para se tornar rei... A alternativa era ir embora e deixar seu país vítima das rivalidades que tinham se tornado perigosas sob o último rei, o pai de Raul. Uma guerra civil quase dividira o país, duas gerações atrás. Raul precisava proteger seu povo disso, independentemente do custo pessoal. Seu povo, sua necessidade de trabalhar por eles, o fizera superar o mar de desilusões, quando seu mundo se tornara amargo, anos atrás. Quando paparazzi fizeram escândalo e insinuações, e seus sonhos haviam desmoronado ao seu redor, o povo de Maritz o apoiara. Raul deveria apoiá-los agora, quando eles mais precisavam dele. Ademais, a coroa era sua. Não apenas por direito de primogenitura, mas também por cada dia, cada hora que ele devotara às responsabilidades da realeza. Ele não renunciaria à sua herança. Ao seu destino. A raiva o percorreu. Apesar da dedicação de uma vida inteira à nação, apesar de sua experiência e capacidade, tudo se reduzira à decisão de uma estranha. O fato de que seu futuro, o futuro de seu país, dependia desta visita feria seu orgulho. Raul abriu o relatório do investigador, procurando detalhes familiares. Luisa Katarin Alexandra Hardwicke, 24 anos, solteira. Independente. Ele desejou que o arquivo contivesse uma foto da mulher que faria um papel tão importante em sua vida. Fechou o relatório. Não importava a aparência dela. Raul não era fraco como seu pai. Aprendera que beleza podia mentir. Emoções faziam um homem de tolo. Raul regrava sua vida, assim como seu reinado, com a cabeça. Luisa Hardwicke era a chave para proteger seu reinado. Ela podia ser feia como o pecado, e isso não faria diferença. A VACA se mexeu, quase derrubando Luisa. Cansada, ela lutou para recuperar o equilíbrio no lamaçal à beira do riacho. Tinha sido uma manhã longa com ordenha logo cedo, problemas com o gerador e um telefonema inesperado do gerente do banco. Ele mencionara uma inspeção na propriedade que soava ameaçadoramente como um primeiro passo para a execução hipotecária. Ela tremeu. Eles tinham lutado por tanto tempo para manter a pequena fazenda cooperativa funcionando através das secas, doenças e enchentes. Certamente, o banco não poderia lhes negar ajuda agora. Não quando eles tinham uma chance de reverter a situação. O barulho de um helicóptero soou acima. A vaca agitou-se. – Turistas? – disse Sam. – Ou você estava escondendo alguns amigos prósperos? – Bem que eu gostaria! – Os únicos que ela conhecia com tanto dinheiro eram os bancos. A ansiedade a percorreu. O tempo para a cooperativa estava acabando. Inevitavelmente, sua cabeça voltouse para aquele outro mundo que ela conhecera tão brevemente. Onde dinheiro não era objeção. Onde riqueza era uma realidade certa. Se ela escolhesse, poderia estar lá agora, uma mulher rica sem uma única preocupação financeira na vida. Se tivesse colocado riqueza antes de amor e integridade, e vendido sua alma naquele acordo do demônio. Somente o pensamento lhe causava náuseas. Preferia estar ali, na lama, enfrentando falência, com pessoas que amava, do que estar milionária, se isso significasse desistir de sua alma. – Pronto, Sam? – Luisa forçou-se a se concentrar. Pressionou seu ombro contra a vaca. – Agora! Devagar e com firmeza. Finalmente, entre os dois, eles conseguiram desatolar o animal e movê-lo na direção certa. – Ótimo. – Luisa ofegou. – Só mais um pouco e... – Suas palavras foram abafadas quando o helicóptero apareceu acima da colina. A vaca se assustou, colidindo com Luisa. Ela balançou, agitando os braços, então tombou para a frente, caindo. A lama sujou-a do rosto aos pés. – Luisa! Você está bem? – Seu tio parecia mais preocupado do que divertido. Ela levantou a cabeça e viu a vaca andando para o solo firme, sem olhar para trás. Atordoada, Luisa ajoelhou-se na terra encharcada, então ficou de pé. – Perfeito. – Ela esfregou o rosto, tentando limpá-lo. – Dizem que lama é boa para pele, não é? – acrescentou e sorriu para Sam. – Talvez nós devêssemos engarrafar esta lama e tentar vendê-la como tônico para pele. – Não ria, garota. Talvez, tenhamos de chegar a isso. DEZ MINUTOS depois, com o rosto duro pela lama seca, Luisa deixou Sam e andou para sua casa. Sua mente estava no telefonema daquela manhã. A situação financeira deles parecia assustadoramente ruim. Ela movimentou os ombros rígidos. Pelo menos, um banho estava a minutos de distância. Depois, uma xícara de chá e... Luisa diminuiu o ritmo dos passos quando chegou ao topo do morro e viu um helicóptero no gramado atrás da casa. Metal e vidro brilhavam ao sol. Era uma aeronave cara e sofisticada... um contraste total com as velhas tábuas da casa, e com o galpão antigo que mal cobria o trator, e com seu sedan enferrujado. O medo a envolveu e um peso instalou-se em seu estômago. Aquela podia ser a inspeção que o banqueiro mencionara? Tão rápido? Não, o banco não desperdiçaria dinheiro num helicóptero, pensou ela com lógica. Uma figura apareceu atrás do helicóptero e Luisa parou. O sol silhuetava um homem alto, magro e elegante. O epítome da masculinidade urbana. Ela podia distinguir cabelos escuros, um terno que provavelmente custava mais do que o trator e seu carro, juntos, além de um incrível par de ombros. Então, ele se virou e andou alguns passos, falando com alguém atrás do helicóptero. O corpo másculo movia-se com uma graça que falava de poder. A pulsação de Luisa acelerou. Definitivamente, não um banqueiro. Não com aquele corpo atlético. Ele estava de perfil, agora. Testa alta, nariz aristocrata, boca esculpida e queixo firme. Luisa leu determinação naquele maxilar sólido, e nos gestos decisivos dele. Determinação e alguma coisa desafiadoramente masculina. Um calor percorreu seu corpo. Consciência. Ela respirou fundo. Nunca experimentara uma atração tão instantânea antes. Não pôde reprimir sua reação perturbadora. Apesar das roupas elegantes, o homem parecia... perigoso. Luisa abafou uma risada. Perigoso? Ele provavelmente desmaiaria se sujasse seus sapatos polidos de lama. Atrás da casa, jeans surrado, camisas desgastadas e meias grossas estavam pendurados no varal. Ela fez uma careta. O homem, que parecia ter saído de uma revista, não poderia estar mais fora de lugar. Ela se forçou a se aproximar. Quem era ele? – Posso ajudá-lo? – Sua voz soou rouca. Luisa assegurou-se que isso não tinha nada a ver com o impacto do olhar enigmático dele. – Olá. – Ele sorriu. Ela tremeu. Ele era lindo. Impossivelmente lindo de um jeito muito masculino. Com olhos brilhantes e intrigantes. E uma covinha sexy no queixo. Luisa engoliu em seco e forçou um sorriso. – Você está perdido? – Ela se distanciou alguns passos. Precisou inclinar o queixo para fitá-lo nos olhos. – Não, não perdido. – A voz profunda tinha um leve sotaque estrangeiro. – Eu vim falar com srta. Hardwicke. Estou no lugar certo? Luisa franziu o cenho, perplexa. Aquela era uma pergunta retórica. Desde o tom de voz seguro até a postura fácil, como se ele fosse o dono da fazenda, e ela a intrusa, o homem irradiava confiança. Com um aceno da mão, ele parou a aproximação de uma figura robusta rodeando o canto da casa. O olhar dele voltou-se para a propriedade, como se esperando mais alguém. – Você está no lugar certo. Ela olhou da figura atrás da casa, cuja postura cautelosa indicava que era um guarda-costas, para o helicóptero, onde o piloto fazia uma checagem do equipamento. Outro homem de terno estava ali perto, falando ao telefone. Os três homens olhavam para ela. Alertas. Quem eram aquelas pessoas? Por que estavam lá? A apreensão a envolveu. Pela primeira vez desde sempre, sua casa pareceu perigosamente isolada. – Você tem negócios aqui? – perguntou ela. O instinto, e o ar de comando do estranho, disse-lhe que aquele homem não tinha nada a ver com o gerente do banco local. – Sim, eu preciso falar com srta. Hardwicke. – Ele a olhou, então desviou o olhar. – Sabe onde posso encontrá-la? Alguma coisa naquele único olhar para seu rosto, nem uma vez descendo para suas roupas sujas, deixou-a envergonhada. Não apenas da lama, mas do fato de que, mesmo limpa e no seu melhor traje, ela se sentiria sem classe. Luisa endireitou a coluna. – Você a encontrou. Desta vez, ele realmente olhou-a. Com uma intensidade que a aqueceu inteira. Os olhos do homem se arregalaram, e ela viu que eram verdes. Do tom profundo de esmeraldas. Luisa viu choque na expressão dele. E, podia ter jurado, horror. Segundos depois, ele mascarara as emoções, tornando o semblante inexpressivo. Apenas uma sobrancelha preta erguida sugeria que ele não estava feliz. – Srta. Luisa Hardwicke? Ele pronunciou seu nome do jeito que sua mãe fazia, com aquele sotaque cantado que transformava o mundano em alguma coisa bonita. Um pressentimento arrepiou a nuca de Luisa. O sotaque tinha de ser uma coincidência. Aquele outro mundo estava fora de seu alcance agora. Luisa limpou a maior parte da sujeira de sua mão e estendeu-a. Era hora de tomar o controle daquela situação. – E você é...? Ele hesitou por um momento, então envolveu os dedos dela na mão grande. Abaixou a cabeça, quase como se para beijar sua mão. O gesto era charmoso e estranho, fazendo-a ofegar. Especialmente uma vez que a mão quente e poderosa ainda segurava a sua. Um calor escaldou seu rosto, e ela ficou grata pela sujeira, que escondia o rubor. Ele endireitou o corpo. – Eu sou Raul de Maritz. – Ele falou com tanta autoconfiança que Luisa quase podia imaginar o som de trombetas nos fundos. – Príncipe Raul. RAUL OBSERVOU-A enrijecer. Ela puxou a mão da sua e deu um passo atrás, cruzando os braços de maneira protetora sobre o peito. Não as boas-vindas que ele geralmente recebia, pensou ele, intrigado. Demonstrar excitação era mais comum. – Por que você está aqui? – Desta vez, a voz dela não soou brusca, fazendo-a parecer vulnerável e feminina. Feminina! Ele não percebera que ela era mulher! Considerando a voz rouca, as botas enlameadas, o macacão largo e o chapéu surrado, que sombreava o rosto sujo, ela possuía qualquer coisa, menos atrativos femininos. E aquele andar! Rígido como um robô. Ele congelou, imaginando-a na sociedade de Maritz, onde protocolo e boas maneiras eram valorizados. Isso era pior do que temera. E não havia saída. Não se ele quisesse reivindicar seu trono e proteger seu país. Cerrou os dentes, silenciosamente censurando as legalidades arcaicas que o colocaram nesta situação. Quando ele fosse rei, haveria algumas mudanças. – Eu perguntei o que você está fazendo nas minhas terras. – O tom dela era de animosidade. Mais e mais intrigante. – Eu peço perdão. – Ele sorriu, suavizando seu lapso. Não era desculpa que o choque dela o distraísse. – Nós temos assuntos importantes para discutir. Ele esperou por um sorriso em resposta. Por um relaxamento na postura rígida da mulher. Não houve nenhum. – Nós não temos nada a discutir. – Ela ergueu o queixo. Ela o estava dispensando? Que absurdo! – Na verdade, temos. Raul esperou que ela o convidasse para entrar. Ela não se moveu. Ele começou a se sentir impaciente. E desgostoso com o destino, que decretava que ele tinha de colocar esta mulher debaixo de sua asa. Transformar este material nada promissor em... – Eu gostaria que você fosse embora. Raul enrijeceu com indignação. Ao mesmo tempo, sua curiosidade aumentou. Ele desejou poder vê-la sem a máscara de lama. – Eu viajei da minha terra natal na Europa para falar com você. – Isso é impossível. Eu não tenho... – Longe de ser impossível, eu fiz a viagem com este único propósito. – Raul aproximou-se, deixando sua altura superior enviar uma mensagem silenciosa. Quando falou novamente, foi num tom que não aceitava oposição. – Eu não irei embora até concluirmos nossos negócios. HAVIA UM nó no estômago de Luisa, e seus nervos estavam à flor da pele, enquanto ela atravessava a casa, voltando para a varanda, onde deixara seu visitante. O príncipe da coroa de Maritz, a terra natal de sua mãe, estava na sua casa! Isso não podia ser bom. Ela tentara mandá-lo embora. Não queria encontrar ninguém daquele lugar. As memórias eram dolorosas demais. Porém, ele não se movera. Uma única olhada para aquele maxilar de aço lhe dissera que ela não teria sucesso. Além disso, precisava saber por que ele estava lá. Agora, de banho tomado e com roupas limpas, Luisa tentou conter seu pânico. O que ele queria? Ele preenchia a varanda com sua presença maior que a vida, fazendo-a se sentir pequena e insignificante. Ele a lembrava de fotos do velho rei em sua juventude... impossivelmente bonito, com maçãs do rosto salientes e postura orgulhosa. Desde o traje elegante até o ar de comando, este homem era alguém. Todavia, membros da realeza não apareciam simplesmente para uma visita. Ele se virou para ela, que se sentiu em desvantagem, instantaneamente. Com feições aristocráticas esculpidas e um ar de pura masculinidade, ele era... espetacular. A boca de Luisa secou. Com uma onda de choque, ela percebeu que era o homem em si, tanto quanto a identidade dele, que a perturbava. Luisa uniu os dedos, em vez de endireitar sua camisa larga, a única limpa depois de semanas de chuva. Afastou mechas úmidas do rosto, ignorando o friozinho na barriga. Recusava-se a ser intimidada em sua própria casa. – Eu estava admirando sua vista – disse ele. – É um lugar adorável. Luisa olhou para as montanhas familiares. Apreciava a beleza natural, mas não se lembrava da última vez que encontrara tempo para apreciá-la. – Se você tivesse visto o lugar dois meses atrás, depois de anos de seca, não teria ficado tão impressionado. – Ela respirou fundo, escondendo seu nervosismo. – Não vai entrar? Ela se moveu para abrir a porta, mas, com um passo longo, ele chegou lá antes, gesticulando para que ela o precedesse. Luisa não estava acostumada com alguém lhe abrindo portas. Por isso, enrubesceu. Inalou um sutil aroma exótico que subiu direto à sua cabeça, deixando-a levemente tonta. Nenhum homem que ela conhecia tinha uma aparência e uma voz tão lindas, ou um cheiro tão delicioso como Raul de Maritz. – Por favor, sente-se. – Ela gesticulou para a mesa da cozinha. Não tivera a chance de mover os baldes e lonas impermeáveis da sala de estar, onde eles haviam recebido os pingos da última chuva. Ademais, Luisa aprendera, muito tempo atrás, que nascer na aristocracia não era medida de valor. Ele poderia sentar-se onde seus amigos e parceiros de trabalho se reuniam. – É claro. – Ele puxou uma cadeira e sentou-se de maneira altiva, como se aquele fosse um trono almofadado. Ela pegou a chaleira, enquanto reprimia hostilidade. Precisava ouvi-lo. – Gostaria de chá ou café? – Não, obrigado. O coração de Luisa acelerou quando ela lhe encontrou o olhar resoluto. Relutantemente, ela se sentou na cadeira oposta. – Então, Vossa Alteza. O que eu posso fazer por você? Por um longo momento, ele a estudou, então, inclinou-se um pouco para a frente. – Não se trata do que você pode fazer por mim. – A voz dele era profunda e hipnótica, contendo uma promessa a qual Luisa instintivamente respondeu, apesar de sua cautela. – Trata-se do que eu posso fazer por você. Cuidado com estranhos prometendo presentes. A vozinha dentro de sua cabeça enviou um tremor através dela. Anos antes, ela recebera promessas de presentes maravilhosos. O futuro parecera uma terra mágica e brilhante. Entretanto, tudo tinha sido uma farsa vazia. Ela aprendera a desconfiar pelo caminho mais duro... não somente uma, mas duas vezes. – Realmente? Ele assentiu. – Primeiro, eu preciso confirmar que você é a única filha de Thomas Bevan Hardwicke e Margarite Luisa Carlotta Hardwicke. Luisa congelou, alarmada. Ele parecia um advogado, prestes a lhe dar más notícias. A voz de aviso em sua cabeça tornou-se mais estridente. Certamente, seus laços com Maritz haviam sido completamente cortados, anos atrás. – Isso está correto, embora eu não veja... – Vale a pena ter certeza. Diga-me, quanto você sabe sobre meu país e seu governo? Luisa lutou para permanecer calma, quando lembranças dolorosas vieram à tona. Este encontro parecia mais um pesadelo. Ela queria gritar para que ele fosse direto ao ponto, antes que seus nervos explodissem. Mas aquele olhar brilhante era implacável. O homem faria aquilo do jeito dele. Luisa conhecera homens como ele, antes. Cerrou os dentes. – O suficiente. – Mais do que Luisa gostaria. – É um reino alpino. Uma democracia com um parlamento e um rei. Ele assentiu. – Meu pai, o rei, faleceu recentemente. Eu serei coroado em alguns meses. – Sinto muito por sua perda – murmurou Luisa, esforçando-se para dar sentido àquilo. Por que ele estava lá, interrogando-a? – Obrigado. – Ele pausou. – E Ardissia? Ela lhe deu um olhar desafiador, lutando contra a impaciência. – É uma província de Maritz, com seu próprio príncipe hereditário, que deve lealdade ao rei de Maritz. Minha mãe nasceu lá, como tenho certeza que você sabe. Luisa tremeu, enquanto memórias amargas lhe preenchiam a mente. – Agora, minha vez para uma pergunta. – Ela plantou as palmas sobre a mesa e inclinou-se para a frente, encarando-o. – Por que você está aqui? Luisa esperou, seu coração batendo freneticamente, observando-o estudá-la com olhos estreitos. Ele se mexeu na cadeira. Subitamente, ela imaginou se ele também estava desconfortável. – Eu vim para encontrá-la. – Por quê? – O príncipe de Ardissia está morto. Estou aqui para lhe dizer que você é a herdeira dele, princesa Luisa de Ardissia. CAPÍTULO 2 RAUL empalidecer sob o bronzeado. Ela balançou na cadeira. Ia desmaiar? Ótimo. Uma mulher hipersensível! Ele ignorou o fato de que qualquer um ficaria abalado. Que sua raiva diante desta situação diabólica o tornava irracional. Ela não era a única que tivera a vida virada de ponta-cabeça! Por anos, Raul ASSISTIU-A vinha dirigindo o próprio destino, tomando todas as decisões. Ser restringido dessa maneira era ultrajante. Mas a alternativa... virar as costas para seu povo, e para a vida a qual ele se devotara... era impensável. – Você está bem? – É claro. – Mas a expressão nos olhos dela era confusa. Eram olhos surpreendentemente bonitos, vistos sem aquele chapéu que os sombreara. Azuis-acinzentados um momento atrás, agora azuis como um céu de verão nos Alpes de Maritz. O tipo de olhos nos quais um homem podia se perder. Com o rosto lavado, as feições dela também eram agradáveis, e até mesmo atraentes. Se você gostasse do estilo simples e natural. Raul preferia suas mulheres sofisticadas e bem arrumadas. Que tipo de mulher não dedicava tempo para arrumar os cabelos? Claros e molhados, os cabelos dela estavam penteados para trás do rosto, e o corte parecia... torto. Ela era totalmente inapropriada para... – Eu não posso ser herdeira dele! – Luisa soou quase acusadora. Raul arqueou as sobrancelhas. – Acredite, é verdade. Ela piscou, e ele teve a impressão de que havia mais coisa acontecendo atrás daqueles olhos azuis do que simples surpresa. – Como isso é possível? Raul abriu a pasta que Lukas levara. – Aqui está o testamento de seu avô e sua árvore familiar. Ele planejara que seu secretário, Lukas, discutisse tais detalhes com ela. Mas mudara de ideia ao ver como Luisa Hardwicke estava despreparada para este papel. Quanto menos gente lidasse com ela neste estágio inicial, melhor. Raul reprimiu uma careta. O que começara como uma missão delicada, agora tinha potencial ilimitado para desastre. Ele podia imaginar as manchetes, se a imprensa a visse como ela era! Não permitiria que a coroa de Maritz fosse foco de fofocas da mídia, novamente. Rodeou a mesa e espalhou os papéis diante de Luisa. Ela se agitou em sua cadeira, como se a presença dele a contaminasse. Raul enrijeceu. Mulheres geralmente ansiavam por sua proximidade. – Aqui está sua mãe – indicou ele na árvore familiar. – Acima dela, seu avô, o último príncipe. Ela levantou a cabeça. Mais uma vez, o impacto daqueles olhos azuis o atingiu. Raul podia jurar que o olhar produziu um eco dentro de seu peito. – Por que meu tio não é o herdeiro? Ou minha prima, Marissa? – Você é a última de sua família. As sobrancelhas de Luisa se uniram. – Ela devia ser tão jovem. Isso é horrível. – Sim. O acidente foi trágico. E alterou a sucessão. Ela meneou a cabeça. – Mas eu não sou parte da família! Minha mãe foi deserdada quando se apaixonou por um australiano, e recusou-se a casar com o homem escolhido pelo pai. Ela sabia sobre aquilo? Isso explicava a animosidade dela? – Seu avô ameaçou, mas nunca a deserdou, realmente. Nós só descobrimos isso recentemente, quando o testamento dele foi lido. – O príncipe de Ardissia tinha sido um tártaro irascível, mas muito orgulhoso de sua linhagem para cortar um descendente direto. – Você é definitivamente elegível para herdar. – Eu lhe digo que isso é impossível! – Ela se inclinou para a frente, estudando os papéis. O aroma de lavanda chegou a ele. Raul inalou, intrigado. Estava acostumado aos perfumes mais caros. Todavia, essa fragrância simples era estranhamente agradável. – Isso não pode estar certo. Ele me deserdou, também. Nós fomos informadas disso! Raul fitou-a para encontrar os olhos azuis brilhando. O pequeno queixo estava angulado no ar, e, pela primeira vez, havia cor nas faces de Luisa. Ela estava... bonita. De uma maneira não sofisticada. E sabia mais do que ele esperara. Fascinante. – Apesar do que foi informada, você é herdeira dele. Herdou a fortuna e as responsabilidades de seu avô. – Ele lhe deu um sorriso encorajador. – Eu vim para levá-la para casa. – PARA CASA? – Luisa levantou-se. – Esta é minha casa! É aqui que pertenço – disse, gesticulando para a cozinha aconchegante que conhecera durante toda sua vida. Lutou contra um senso de irrealidade. Aquilo só podia ser um erro horrível. – Não mais. – Do outro lado da mesa, ele sorriu. Ele era inacreditavelmente lindo. Até que você focasse naqueles olhos frios. No sorriso que não alcançava os olhos. – Você tem uma vida nova à sua frente. Seu mundo mudará para sempre. – O sorriso dele mudou, tornando-se mais íntimo, e para sua surpresa, Luisa sentiu um calor não familiar se espalhando por seu corpo. Como isso tinha acontecido? – Você terá riqueza, posição, prestígio... o melhor de tudo. Levará uma vida de luxo, como princesa. Princesa. A palavra reverberou na mente de Luisa. Uma onda de náusea ameaçou subir à sua garganta. Aos 16 anos, ela ouvira as mesmas palavras. Tinha sido como um sonho se tornando realidade. Que garota não se sentiria excitada ao descobrir que possuía sangue da realeza e um avô prometendo uma vida de excitação e privilégio? O coração de Luisa apertou, enquanto ela se lembrava de sua mãe, pálida, porém sorrindo bravamente, sentada a essa mesa, dizendo-lhe que ela precisava decidir sobre o próprio futuro. Explicando que, embora ela tivesse dado as costas para aquela vida, Luisa teria de escolher se queria descobrir seu direito de primogenitura. E, inocente como era, Luisa tinha ido. Seduzida por uma fantasia de conto de fadas. A realidade havia sido brutalmente diferente. No momento que ela rejeitara o que seu avô oferecia e voltara para casa, sentira-se grata que ele não a apresentara publicamente como sua parente. Que ele a mantivera uma hóspede enclausurada durante seu período de “teste”. Somente sua família mais próxima sabia que ela um dia ficara tentada pelas falsas promessas de seu avô de uma reunião familiar alegre. Luisa fora ingênua, porém não mais. Agora, conhecia bem a realidade feia daquela sociedade aristocrática, onde nascimento e conexões importavam mais do que amor e decência. Se as ações de seu avô não tivessem bastado, ela apenas tinha de recordar-se do homem que pensara amar. Como ele planejara seduzi-la, quando descobrira sua identidade secreta. Tudo por ambição. O estômago de Luisa embrulhou, e ela balançou a cabeça para afastar as lembranças horríveis. – Eu não quero ser princesa. Silêncio. Lentamente, ela se virou. A expressão do príncipe Raul era de impaciência e choque. – Você não pode estar falando sério. – Acredite, eu nunca falei mais sério. A repulsa preencheu Luisa quando ela se lembrou de seu avô. Ele a convidara para se juntar a ele, de modo que pudesse transformá-la no tipo de princesa que ele queria. Para que ela lhe obedecesse sem questionar. Para que ela fosse o tipo de filha que sua mãe fracassara ser. No começo, Luisa estivera cega para o fato de que ele meramente queria um peão para manipular, não uma neta para amar. Ele mostrara quem realmente era quando a notícia da doença terminal de sua mãe chegara. Tinha recusado as súplicas desesperadas de Luisa para retornar. Em vez disso, seu avô lhe dera um ultimato... que ela rompesse qualquer contato com seus pais, ou desistisse da nova vida. Quanto às súplicas de Luisa para que ele pagasse tratamento médico, ele respondera que não perderia tempo com uma mulher que dera as costas ao seu mundo. A traição cruel ainda causava revolta em Luisa. E era de quem ela herdeira! De um tirano cruel e sem coração. Não era de admirar que jurara não ter nada a ver com sua família de sangue azul. Recordava-se de seu avô reclamando de sua ingratidão. Da inabilidade de Luisa ser o que ele queria. Alguém tocou seu braço e tirou-a de seus pensamentos. Raul estava assustadoramente perto. Luisa engoliu em seco, e os olhos dele seguiram o movimento. Um olhar que perdera sua distância, e agora parecia incendiar-se com calor inesperado. – O que foi? O que você está pensando? – perguntou ele. Luisa respirou fundo, desorientada pela carga de eletricidade que podia sentir entre eles. Pela sensação de familiaridade que sentia com este estranho bonito. – Eu estou pensando que você deveria me soltar. Imediatamente, ele deu um passo atrás, abaixando a mão. – Perdoe-me. Por um momento, você pareceu fraca. Ela assentiu. Sentira-se enjoada. Isso explicava sua falta de firmeza. Não tinha nada a ver com o toque dele. A eletricidade entre eles era imaginária. Luisa virou-se para beber um copo de água, esperando restaurar um pouco da normalidade. Sentia como se tivesse sido virada do avesso. Erguendo o queixo, virou-se. Ele estava encostado contra o balcão, os braços cruzados, um tornozelo casualmente descansando sobre o outro. Parecia incrivelmente sexy. – Quando você tiver tempo de absorver as notícias, verá que ir para Maritz é a coisa sensata a fazer. – Obrigada, mas eu já absorvi as notícias – replicou ela, irritada com o jeito arrogante do príncipe. Ele não se moveu, mas o corpo grande enrijeceu visivelmente. De súbito, ele parecia predatório, em vez de elegante. A pele de Luisa arrepiou-se. – Você não fica tentada pelo dinheiro? – A boca de Raul se comprimiu. Obviamente ele achava que dinheiro era mais importante do que tudo. Assim como seu avô e os amigos dele. Luisa abriu a boca, então fechou-a quando seu cérebro finalmente entrou em ação. Dinheiro! No seu choque, nem registrara isso. Ela pensou nas dívidas enormes, nos reparos que eles tinham adiado, na velha máquina de ordenha de Sam, no seu carro enferrujado. A lista era infinita. – Quanto dinheiro? – Ela não queria nada com a posição na alta sociedade. Mas o dinheiro... O príncipe descruzou os braços e nomeou uma quantia que fez a cabeça de Luisa girar. Ela se apoiou contra a mesa. – Quando eu recebo o dinheiro? Estava imaginando o brilho de satisfação naqueles olhos verdes? – Você é princesa, use ou não o título. Nada pode alterar isso. – Ele pausou. – Mas há condições para herdar sua fortuna. Você deve se estabelecer em Maritz e assumir suas obrigações da realeza. Os ombros de Luisa baixaram. O que ele sugeria era impossível. Ela rejeitara aquele mundo por sua própria sanidade. Aceitar seria uma traição a si mesma e a tudo que acreditava. – Eu não posso. – É claro que você pode. Eu farei os arranjos. – Você não ouve? Eu não vou! – A vida naquela sociedade fria e cruel a mataria. – Esta é minha casa. Minhas raízes estão aqui. Ele endireitou o corpo para ficar alto e imponente. O cômodo encolheu, e, apesar de sua raiva, Luisa sentiu o magnetismo formidável de Raul atraíla. – Você também tem raízes em Maritz. O que você tem aqui, além de trabalho duro e pobreza? No meu país, você terá uma vida privilegiada, misturando-se nos círculos sociais de elite. Ele falava igualzinho ao seu avô esnobe. – Eu prefiro os meus círculos sociais – retrucou ela. – As pessoas que eu amo estão aqui. Ele fez uma careta. – Um homem? – O príncipe Raul aproximou-se, e, involuntariamente, Luisa deu um passo atrás, diante da luz feroz nos olhos dele. – Não, meus amigos. E o irmão do meu pai e a esposa dele. – Sam e Mary, quase uma geração mais velha que os pais de Luisa, tinham sido como avós amados durante sua infância feliz, e nos piores momentos. Ela não os deixaria, envelhecendo e com dívidas, por uma vida glamourosa vazia, longe dali. – Obrigada por ter vindo me dar esta notícia pessoalmente. – Ela juntou os papéis com movimentos precisos. – Mas você terá de encontrar outro herdeiro. – Luisa ergueu o queixo. – Eu o acompanho até lá fora. A BOCA de Raul se comprimiu enquanto o helicóptero subia. Luisa Hardwicke não tinha reagido como ele esperara. Ainda bem que ele lhe contara apenas sobre a herança, não sobre os aspectos mais desafiadores de seu novo papel como princesa. Ela parecera tão arisca que era melhor dar tal notícia mais tarde. Ele nunca conhecera uma mulher mais teimosa. Ela praticamente o expulsara de lá! A indignação o preencheu. Alguma coisa sobre a qual ele não sabia a motivava. Raul precisava descobrir o que era. Mais, precisava descobrir o gatilho que a faria mudar de ideia. Por um instante lá, ele ficara tentado a sequestrá-la. O sangue de gerações de guerreiros e barões ladrões, assim como monarcas, corria em suas veias. Teria sido fácil erguê-la nos braços e sequestrá-la, até que ela visse a razão. Tão satisfatório. Uma imagem de Luisa Hardwicke, com olhos azuis desafiadores, preencheu sua mente. Raul lembrou-se da camisa dela se erguendo quando ela pegou o copo de água, revelando um traseiro firme e arredondado no jeans justo. Das curvas femininas delineadas pela camisa quando ela se movia. Um corpo destoando de sua impressão original. Um fogo instalou-se no seu baixoventre. Talvez, houvesse compensações, afinal de contas. Luisa Hardwicke possuía uma beleza autêntica que o atraía mais do que deveria. Nos últimos oito anos, ele fizera questão de cercar-se apenas de mulheres sofisticadas que entendessem suas necessidades. Fez uma careta, encarando a verdade que raramente admitia. Que, se ele algum dia tivesse tido uma fraqueza, havia sido pelo tipo de honestidade e franqueza aberta que Luisa projetava. O tipo no qual ele um dia acreditara. A realidade sórdida o curara de quaisquer fragilidades. Todavia, estar com ela era como ouvir um eco de seu passado, lembrando-o de fragmentos de sonhos que ele um dia nutrira. Sonhos agora destruídos por enganação e traição. E, apesar de sua indignação, ele respondera ao orgulho e à coragem dela. Aquela era uma inconveniência que complicava seus planos. Entretanto, perversamente, Raul admirava o desafio que ela representava. Que mudança das mulheres ansiosas e submissas que ele conhecia! Em outras circunstâncias, ele teria aplaudido a postura de Luisa. Ademais, ele via agora, uma pessoa sem personalidade nunca seria adequada para o que estava por vir. Raul precisava descobrir uma maneira de fazê-la ver o bom-senso. Fracasso não era uma opção, quando sua nação dependia dele. – Lukas, você disse que a cooperativa da fazenda está com dívidas? – Sim, senhor. Dívidas pesadas. É um milagre que ainda esteja funcionando. Raul olhou para a pequena mancha que era o lar de Luisa. Uma ponta de remorso o preencheu. Quisera evitar coerção, mas ela não lhe deixara escolha. – Compre os débitos. Imediatamente. Eu quero isso resolvido hoje. O BARULHO de um helicóptero fez Luisa levantar a cabeça. Não podia ser. Após rejeitar sua herança no dia anterior, não havia razão para que seu caminho e o do príncipe Raul se cruzassem novamente. Ela foi para a janela. Não podia ser, mas era. Príncipe Raul estava lá! Para a irritação de Luisa, seu coração disparou. Vinte e quatro horas tinham lhe dado tempo de se assegurar que ele não era tão imponente quanto ela lembrava. Estivera enganada. Luisa pesquisara sobre ele na internet, no dia anterior, descobrindo sua reputação para trabalho árduo e riqueza. Os artigos também falavam de casos discretos com mulheres maravilhosas. Todavia, as fotos não faziam justiça ao impacto dele em carne e osso. Ela arfou enquanto ele subia os degraus. Felizmente, ela era imune. – Luisa. – Ele parou à sua frente, os ombros largos preenchendo o vão da porta, a voz sensual ao falar seu nome. – Vossa Alteza. Por que você está aqui? Nós encerramos o assunto ontem. Ele inclinou-se sobre sua mão novamente, quase a beijando, causando-lhe um friozinho na barriga. Luisa precisava lembrar-se de não se impressionar por charme superficial. Já fizera isso antes. Mas seu olhar foi para o rosto bonito, quando ele endireitou o corpo. O brilho de fogo nos olhos verdes fez sua pulsação acelerar. – Chame-me de Raul. Aquilo não parecia natural, mas recusar seria rude. – Raul. – Era loucura, mas ela quase pôde sentir o gosto do nome em sua boca, como um vinho rico e encorpado. – Você não vai me convidar para entrar? Luisa mordeu o lábio. Ele devia ter motivo para ter voltado. Quanto antes ela ouvisse, mais depressa ele iria embora. – Por favor, entre. – Ela liderou o caminho para a sala de estar. Em vez de sentar-se, ele parou diante da janela. Uma posição de comando, notou ela, nervosa. Luisa não gostava da postura de Raul, como se ele estivesse em seu próprio território. Ela permaneceu de pé, encarando-o, recusando-se a ser dominada. – Você não mudou de ideia? Ela ergueu o queixo. – Não se o dinheiro vem com elos atados. Apesar de estar precisando desesperadamente de dinheiro, ela não poderia concordar. Luisa passara a tarde anterior consultando seu advogado. Devia haver um jeito de acessar parte do dinheiro da herança, sem desistir de sua vida ali. Não confiava que Raul, um homem com seus próprios objetivos, fosse honesto com ela a esse respeito. Era muito cedo para saber, mas a possibilidade de negociar fundos suficientes para levantar a cooperativa lhe dera uma noite de sono melhor do que ela tivera em séculos. A mesma possibilidade fortaleceu sua confiança agora. – Posso persuadi-la a reconsiderar? – Os lábios dele se curvaram num pequeno sorriso. – De jeito nenhum. – O mero pensamento de aceitar deixava-a enjoada. – É uma pena. Uma grande pena. – Ele pareceu triste. Finalmente, enfiou a mão do bolso do paletó. – Neste caso, estes são para você. Confusa, Luisa aceitou os papéis. – Você quer que eu assine, desistindo de minha herança? – Ela não assinaria nada sem conselho legal. Ele meneou a cabeça. – Leia com calma. Os documentos são autoexplicativos. Confusa, ela estudou os papéis. Diferentemente do dia anterior, não eram de rico pergaminho. Pareciam mais os documentos de empréstimo que eram a maldição de sua vida. Luisa forçou-se a se concentrar. Quando finalmente começou a entender, seu mundo girou à sua volta. – Você comprou os débitos da cooperativa. – Incrédula, ela manuseou os papéis. – Todos eles! E num dia. Cada papel tinha a data do dia anterior. Aquilo era possível? Confusa, ela olhou para cima. A gravidade da expressão dele convenceua mais do que as palavras digitadas. Luisa sentou-se no braço da cadeira, os joelhos muito fracos para suportarem seu peso. – Por quê? – perguntou ela. Ele se aproximou. – No dia que você assinar os documentos, aceitando sua herança, eu lhe darei esses papéis de presente, de modo que você possa picá-los em pedacinhos. Um alívio a percorreu tão de repente que Luisa tremeu. Ele era tão obstinado! Ainda não aceitava sua rejeição. Sem dúvida, achava embaraçoso que a herdeira de um título real estivesse tão endividada. Era um gesto generoso. Um pelo qual ela o compensaria, se descobrisse um jeito de acessar os fundos. – Mas eu não vou. Ficarei aqui. – Não, você não ficará. Alguém alguma vez negara o que ele queria? Uma energia impaciente irradiava-se dele. E ela nunca vira uma fisionomia mais determinada. Luisa levantou-se. Precisava ser firme e fazê-lo aceitar sua decisão. – Eu não tenho planos de partir. Ele lhe prendeu o olhar por longos momentos. – Sabendo como você se importa com o bem-estar de sua família e amigos, tenho certeza que irá mudar de ideia. – A voz dele era dura sob a inflexão aveludada. – A menos que queira que eles percam tudo. Luisa congelou. Sua garganta se fechou. Chantagem? Ela abriu a boca, mas nenhum som emergiu. Os papéis caíram de suas mãos trêmulas no chão. – Você... não pode estar falando sério! – Eu nunca falei tão sério, Luisa. – Não me chame assim! – O jeito que ele falava seu nome, com o mesmo sotaque que sua mãe usara, era como uma imitação de um termo carinhoso familiar. – Princesa Luisa, então. Ela fechou as mãos em frustração. – Você não pode fazer isso! Destruiria o meio de vida de uma dúzia de famílias. – E o sonho de seu pai. Algo para o que ela trabalhara a maior parte de sua vida. Depois que Luisa voltara para casa, a fim de cuidar de sua mãe, nunca encontrara tempo para retornar aos estudos. Em vez disso, tinha ficado para ajudar seu pai, que nunca se recuperara completamente da perda da esposa. – A decisão é sua. Você pode salválos, se eles significam tanto para você. Ele falava sério! – Mas... por quê? – Luisa balançou a cabeça. – Você pode encontrar outro herdeiro, alguém que ficaria radiante em levar a vida que está oferecendo. – Alguém que ficaria contente em desistir da alma pelas riquezas que ele prometia. – Eu não levo jeito para ser princesa! O brilho nos olhos verdes sugeriu que ele concordava. – Não há mais ninguém, Luisa. Você é a princesa. – Você não pode ditar meu futuro! – Luisa plantou as mãos nos quadris, deixando o desafio mascarar seu medo. – Por que você está se envolvendo tão pessoalmente? Quando seu avô fizera contato, tinha sido através de mensageiros. Ele não fora até ela. Todavia, Raul, como príncipe da coroa, era muito mais importante do que seu avô. Ele lhe pegou a mão, antes que ela pudesse puxá-la. Um calor inundou-a, apesar de as intenções dele lhe causarem calafrios. – Eu tenho um interesse no seu futuro – murmurou ele. Automaticamente, Luisa ergueu o queixo em desafio. – Verdade? – Um interesse muito pessoal. – Ele segurou sua mão com firmeza, o polegar acariciando sua palma, fazendoa tremer. – Você não é apenas a herdeira de Ardissia, como também está destinada a ser a rainha de Maritz. – Raul pausou, prendendo-lhe o olhar. – É por isso que eu estou aqui. Para levá-la como minha noiva. CAPÍTULO 3 LUISA OBSERVOU os lábios firmes de Raul formarem a palavra “noiva”. Sua cabeça girou. Não havia risada nos olhos dele. Apenas uma certeza que a impedia de protestar. Ainda segurando sua mão, ele usou a outra para tocar seu ombro, como se para apoiá-la. De maneira violenta, ela se afastou e foi para a janela, ofegando. – Não me toque! Os olhos verdes se estreitaram, e ela sentiu que, sob a calma exterior, havia um homem de paixões voláteis. – Explique. Agora! – disse ela quando recuperou o fôlego. – Talvez você devesse se sentar. De modo que ele pudesse se agigantar sobre ela? – Não, obrigada! Eu prefiro ficar de pé. – Mesmo que suas pernas estivessem tremendo. – Como quiser. – Você ia explicar por que precisa se casar. – Para ascender ao trono, eu preciso estar casado. É uma lei antiga, objetivando assegurar uma linhagem real inquebrável. Um tremor a percorreu diante da ideia de “assegurar a linhagem real”. Com ele. Não importava quão bonito ele fosse. Ela aprendera que beleza podia esconder um coração negro. Era o interior que contava. Pelo que ela vira, Raul era tão orgulhoso, obstinado e egoísta quanto seu avô detestável. O coração de Luisa estava disparado quando ele continuou: – É tradição que o príncipe da coroa tome uma noiva de um dos principados de Maritz. Quando nós éramos adolescentes, um contrato foi redigido para meu casamento com sua prima, Marissa, princesa de Ardissia. Mas Marissa morreu logo depois. – Lamento – disse Luisa. – Depois disso, eu não tive pressa de me unir em casamento. Mas quando meu pai morreu, recentemente, foi hora de encontrar outra noiva. – De modo que você pudesse herdar. – Luisa tremeu, lembrando-se daquele mundo, onde casamentos eram contratos dinásticos, desprovidos de amor. – Meus planos foram abreviados quando o testamento de seu pai foi lido, e nós descobrimos que você herdaria. Antes disso, considerando o que ele falara sobre deserdar sua mãe, seu ramo da árvore familiar não estava em nossas considerações. Ele falava como se eles fossem uma complicação enfadonha no grande plano das coisas! Indignada, ela questionou: – O que o testamento tem a ver com seu casamento? – O contrato é irrevogável, Luisa. – Ele se aproximou, causando-lhe falta de ar. – Mas como? – Luisa começou a andar, precisando de espaço. – Se Marissa está... – Todo mundo, inclusive os genealogistas e advogados, acreditavam que a linhagem de seu avô morreria com ele. A notícia de que ele tinha uma neta que não fora deserdada foi uma bomba. Você deveria estar grata por nós conseguirmos encontrá-la, antes da mídia. Ou teria a imprensa acampada aqui dia e noite. – Você está dramatizando. Eu não tenho nada a ver com seu casamento. Uma sobrancelha escura arqueou-se. – O contrato diz que eu devo me casar com a princesa de Ardissia. – Ele pausou, a expressão de desgosto. – Seja ela quem for. – Você está louco! – exclamou Luisa, em pânico. – Eu nunca assinei contrato algum! – Isso não importa. O documento é legal. As melhores mentes no país não conseguiram achar uma escapatória disso. Luisa balançou a cabeça, encostandose contra a janela. – Independentemente do que diz seu contrato, você não pode me levar para lá como... – Minha noiva? Acredite, eu farei o que for necessário para reivindicar meu trono. – O príncipe Raul ergueu o queixo de maneira régia, deixando claro que não queria se casar com alguém de um nível tão inferior ao seu. Alguém tão sem atrativos. Por que ele estava tão desesperado? O poder significava tanto assim? Luisa reprimiu uma onda de raiva. Tinha 24 anos e recebera duas propostas de casamento... ambas de homens ambiciosos que a viam como um meio de adquirir poder! Por que não poderia encontrar um homem honesto, que a amasse por quem ela era? Sentiu-se suja e vulgar. – Espera que eu desista da minha vida e me case com você, um completo estranho, de modo que você possa se tornar rei? – De que século ele saíra? – Isso é bobagem antiquada. O olhar dele era gelado. – Pode ser antiquado, mas eu preciso me casar. – Case-se com outra pessoa! Alguma coisa perigosa brilhou nos olhos verdes. Mas quando ele falou, as palavras foram medidas: – Se eu pudesse, faria isso. Se você não existisse, ou se já estivesse casada, o contrato seria anulado, e eu poderia escolher outra esposa. – A voz profunda enviou um tremor pelo corpo de Luisa. – Não há mais tempo de encontrar uma saída. Eu preciso estar casado dentro do prazo constitucional, ou não poderei herdar. – Por que eu deveria me importar? Nem sequer o conheço. E o que conhecia, ela não gostava. Ele deu de ombros, e Luisa pensou que aqueles eram ombros típicos de um salva-vidas ou de um fazendeiro australiano, não de um aristocrata privilegiado. – Eu sou a melhor pessoa para o reino. Treinei para ser rei durante uma vida inteira. – Outros poderiam aprender. Ele meneou a cabeça. – Não agora. Não a tempo. Há uma inquietude crescente pelos últimos anos de reinado de meu pai. Um rei forte é o que o país necessita. O fervor nos olhos dele tirou o fôlego de Luisa. – Isso deixa apenas uma opção. Ela era a opção dele! – Eu não me importo! Não sou um carneiro de sacrifício para o massacre. Ele deu um sorriso presunçoso. – Você acha que se casar comigo seria um sacrifício? – A voz profunda tornou-se subitamente sedutora. – Que eu não sei como dar prazer a uma mulher? Luisa engoliu em seco, usando as mãos para se ancorar ao peitoril atrás de si, em vez de ser atraída em direção aos olhos verdes, que pareciam prometer deleites inimagináveis. Ele era muito mais perigoso do que ela percebera. – Tenha certeza, Luisa, que você encontrará prazer em nossa união. Eu lhe dou minha palavra nisso. Uma onda de poder, de calor, pulsou entre eles, e ela soube como um animal se sentia, hipnotizado por um predador. – A resposta ainda é não – sussurrou ela, chocada por seu corpo traidor responder à promessa sensual. Por que seus hormônios adormecidos subitamente ganhavam vida perto dele? Por um longo momento, eles se entreolharam, como adversários numa batalha silenciosa de força de vontade. – Então, infelizmente, você não me deixa escolha. – O ardor nos olhos verdes foi substituído por frieza. – Apenas lembre que a decisão, e o resultado, são inteiramente seus. Ele já tinha se virado. Luisa tocou-lhe o cotovelo para detê-lo. – O que você quer dizer? – perguntou ela, sentindo o gosto amargo do medo. Ele não se virou. – Eu tenho negócios para finalizar, antes de partir. Alguns fazendeiros para demitir. O pânico a inundou. Os dedos de Luisa agarraram a lã do paletó fino. Então, ela se posicionou na frente dele. – Você não pode executar a hipoteca! Eles não lhe fizeram nada. Encarando-a com intensidade, Raul afastou a mão dela. – Numa escolha entre seus parentes e meu país, não há concorrência. – Ele inclinou a cabeça. – Adeus, Luisa. – EU TENHO certeza que Mademoiselle ficará feliz com este novo estilo. Um pouco mais curto, um pouco mais chique. Sim? Luisa saiu de seu devaneio e encontrou os olhos da jovem francesa no espelho. Claramente, a cabeleireira estava excitada por ter sido chamada à residência parisiense do príncipe. Diferentemente da manicura, que praticamente bufara seu desprazer quando Luisa recusara unhas postiças, sabendo que não conseguiria conviver com elas. Ou da costureira prepotente que tirara suas medidas com óbvio desprezo pelas roupas de Luisa. A cabeleireira não se assustara diante da perspectiva de trabalhar em alguém tão comum como Luisa. Talvez, ela gostasse de um desafio. – Tenho certeza que ficará adorável. – Noutra época, ela teria adorado ter seus cabelos cortados por alguém com tanto entusiasmo. Mas não hoje, apenas horas depois que o avião particular de Raul aterrissara em Paris. Tudo acontecera rapidamente demais. Até mesmo sua despedida de Sam e da emocionada Mary, chorando diante da notícia feliz que Luisa finalmente tomaria sua herança há muito tempo perdida. Como ela desejava estar com eles agora. De volta ao mundo que conhecia, ao qual pertencia. Luisa cerrou os dentes, lembrando como Raul lhe tirara a iniciativa até mesmo em suas despedidas. Quando ela fora dar a notícia, descobrira que ele estivera lá antes. Sua família e amigos já estavam empolgados com a história de Luisa finalmente assumir seu “lugar legítimo” como princesa. E com a notícia de que as dívidas deles seriam canceladas. Todavia, Luisa demandara que Raul colocasse um administrador de fazenda capaz em seu lugar, para levantar a coorporativa. Recusava-se a deixar seus amigos na mão. Diante da alegria deles, Luisa se sentira quase egoísta, querendo ficar, quando tanta coisa boa resultaria de sua partida. Todavia, ela deixara parte de si mesma para trás. Sua família e amigos teriam ficado desgostosos, se soubessem por que ela partira. Não teriam tocado o dinheiro da princesa, se conhecessem a verdade. Mas ela não poderia fazer isso com eles. Não poderia arruiná-los por seu orgulho. Ou por seu medo do que a aguardava em Maritz. Ela tremeu ao pensar em entrar no mundo de Raul. Estar com um homem que deveria repeli-la, entretanto... – Estas camadas irão complementar a linha do queixo, entende? E tornar estes cabelos adoráveis fáceis de cuidar. Luisa assentiu, vagamente. – E, permita-me dizer, um corte com comprimento igualado dos dois lados fica melhor em você. Luisa corou ao lembrar-se de seu corte torto anterior. – Minha amiga queria tornar-se cabelereira. Ela treinou comigo. – Os instintos dela eram bons, mas a execução... – A outra mulher deu uma última cortada nas pontas, então, afastou-se. – Viola! O que você acha? Pela primeira vez, Luisa realmente se olhou no espelho, para ver seu novo visual. Não era um novo visual. Era uma nova mulher! Seus cabelos compridos demais agora dançavam em volta do pescoço quando ela mexia a cabeça. Mal tocavam os ombros, mas davam forma aos contornos de seu rosto. Cabelos castanho-claros opacos tinham ganhado uma luz dourada natural. – O que você fez? Luisa não reconheceu a mulher no espelho. Uma mulher cujos olhos pareciam maiores, o rosto quase esculpido e... atraente. A francesa deu de ombros. – Algumas luzes para acentuar seu louro natural, e um bom corte. Você aprova? Luisa assentiu, incapaz de encontrar palavras para descrever o que sentia. Lembrou-se dos últimos meses cuidando de sua mãe, olhando revistas de moda com ela, emprestadas da biblioteca local. Sua mãe, com um olho infalível para estilo, apontava que corte ficaria perfeito em Luisa. E Luisa participava da brincadeira, fingindo que iria a um salão de beleza e faria um corte exatamente como aquele. Como se tivesse tempo ou dinheiro para gastar com qualquer coisa, exceto com os cuidados de sua mãe e as constantes demandas da fazenda. – Está longo o suficiente para prender em ocasiões formais. Um nó se formou no estômago de Luisa diante do pensamento de enfrentar ocasiões formais quando eles chegassem a Maritz. Aquilo não podia ser real. Como ela concordara? Subitamente, precisava escapar. Respirar ar fresco. Sair dos confins da mansão repleta de ouro, com móveis antigos e servos discretos. Ocorreu-lhe que, desde o momento que Raul lhe dera o ultimato, ela não ficara sozinha. Os homens de segurança dele estiveram a serviço na última noite que ela dormira em casa. Provavelmente para garantir que ela não fugisse no meio da noite! Depois disso, houvera comissários de bordo, mordomos, chofer. E o próprio Raul invadindo seu espaço pessoal, mesmo quando estava o mais longe dela possível. A cabeleireira mal tinha tirado a capa protetora dos ombros de Luisa, quando ela estava de pé, agradecendo o corte maravilhoso e indo para a porta. Seus pensamentos congelaram quando a francesa olhou para alguma coisa sobre o ombro de Luisa, então fez uma cortesia. – Ah, Luisa, Mademoiselle. Vocês acabaram? – veio a voz profunda de Raul. – Sim, nós acabamos. – Enrijecendo a coluna, ela se virou. Mais uma vez, o esplendor dele atingiu-a com força total. Não somente a elegância da figura alta e forte num terno impecável. O impacto da personalidade forte estava estampado nas feições austeras dele. – Eu gosto do seu novo visual. – O sorriso de Raul foi como mel quente. O brilho de apreciação nos olhos verdes parecia genuíno. Ela disse a si mesma que não se importava. Mesmo que seu coração estivesse freneticamente disparado. – Obrigada. Quando a cabelereira se dirigiu para a porta, Luisa seguiu-a. Devia ter sabido que não seria fácil. Uma mão firme segurou seu cotovelo, quando ela passou por Raul. – Aonde você vai? – Sair. – Ela olhou de modo significativo para a mão que a prendia. – Isso é impossível. Você tem outro compromisso. Uma fúria envolveu-a. – Verdade? Que estranho. Eu não me recordo de ter marcado algum compromisso. Desde que concordara em acompanhá-lo era assim. Educação da parte dele e deferência do staff. No entanto, todas as decisões tinham sido tomadas por ela. No começo, Luisa estivera num estado de choque, muito perplexa para fazer mais do que ceder à força de vontade de Raul. Mas sua indignação crescera a cada hora. Especialmente quando ela fora informada, não questionada, sobre compromissos com manicura, pedicura, cabelereira, costureira... Como se ela fosse uma boneca animada, não uma mulher com cérebro próprio. Ele baixou a mão. – Está aborrecida. – Você notou! – Ela respirou fundo, lutando por controle. Luisa passara tempo suficiente lutando contra intimidadores. Desde seu avô tirânico até grandes bancos ansiosos por retorno imediato. Até esse homem, que tomara conta de sua vida. Deveria ser capaz de enfrentá-lo! Nunca se sentira tão impotente. Isso a assustava. E instigava seu espírito de luta. – Você está cansada, após a longa jornada. Luisa não dormira um segundo, mesmo na cama luxuosa designada para ela durante o longo voo para a Europa. Todavia, fadiga era a menor de suas preocupações. – Estou cansada de ter você dirigindo minha vida. Apenas porque eu cedi à chantagem não significa que perdi a habilidade de pensar. Não sou um capacho. – Ninguém presumiria... – Você presume, o tempo inteiro! Não me perguntou uma única vez sobre nada. Seu staff simplesmente me informa o que você decidiu. Os olhos velados de Raul não entregavam nada, mas o ângulo do queixo disse-lhe que ela o atingira. Ótimo! A ideia de irritar aquele homem era atraente. Já era hora de ele descobrir como era a sensação de não conseguir o que queria. – Membros da realeza têm um horário rígido. – E pessoas que trabalham em fazendas de gado leiteiro não? – Ela pôs as mãos nos quadris. – Depois que você passar sua vida acordando antes do amanhecer, para fazer a ordenha, fale comigo sobre gerenciar meu tempo! – Não é a mesma coisa. – Não, não é. – Luisa esforçou-se para manter a voz calma. – Minha vida podia não ser excitante, mas era sobre trabalho árduo e honesto. Um trabalho de verdade, fazendo alguma coisa útil. Não – ela gesticulou para o salão decorado e o homem prepotente à sua frente –, não brilho e privilégios vazios. O maxilar esculpido de Raul enrijeceu, e os dedos longos se flexionaram e se curvaram. A energia irradiava dele como uma força tangível. – Você vai descobrir que a vida de uma realeza não é ociosa. Governar um país é um emprego exigente de período integral. Luisa ignorou-o. Nada desculpava a maneira que ele a tratava. Aquilo tinha de mudar. Agora. – Sob extrema coação, eu concordei em vir para seu país e aceitar minha herança. Isso não lhe dá carta-branca para gerenciar a minha vida. – Aonde você estava indo? – A pergunta de Raul surpreendeu-a. Luisa olhou pelas janelas, para a vista de um bulevar elegante e um parque a distância. – Eu nunca estive em Paris. – Ela nunca viajara. Exceto para a casa de seu avô, e para Sidney, quando sua mãe visitara especialistas. Nenhuma delas havia sido uma experiência prazerosa. – Quero explorar. – Não há tempo. Suas roupas novas chegaram, e você precisa se arrumar. É importante parecer uma princesa quando descer do avião, em Maritz. – Do contrário, eu posso não sair bem nas fotos da imprensa? – Luisa zombou, então notou o jeito que ele se fechou diante de sua menção da imprensa. – É por você, também, Luisa. Imagine-se chegando no meio da agitação do público, vestida como está. Havia uma ponta de compaixão na voz dele, ou ela imaginou isso? – Não há nada errado com minhas roupas. Elas são... Baratas, confortáveis e um pouco surradas. Não era que Luisa não quisesse roupas lindas. Era a ideia de fingir ser alguém que não era, como se não valesse a pena conhecer a Luisa verdadeira. Todavia, uma vozinha interior admitia que ela não queria enfrentar a imprensa da nação como estava. Não queria enfrentar a imprensa, em absoluto! – Roupas são como armaduras. Você se sente mais confiante em roupas que melhoram sua aparência. Ele falava por experiência própria? Vendo a inclinação orgulhosa da cabeça escura, Raul provavelmente poderia ficar nu diante de uma multidão e não perder sua atitude régia. Sua respiração acelerou diante da ideia de Raul nu. Com aquelas pernas longas e fortes, e aquele torso poderoso... Com esforço, Luisa focou-se no assunto em mãos. – Eu não preciso de permissão para sair. Não lhe devo satisfações, e pretendo ver um pouco da cidade. – Então, e seu eu levá-la para sair, esta noite? – Luisa piscou em perplexidade. – Tenho compromissos pelo resto do dia, mas depois do jantar, se você quiser, eu lhe mostrarei alguns dos pontos turísticos de Paris. – Ele pausou, quase sorrindo. – Que tal isso? A ideia de sair daquela casa claustrofóbica era tão irresistível que ela não questionou por que Raul estava cedendo. – Combinado. SEIS HORAS depois, Luisa estava num cruzeiro de barco no rio, inclinando-se sobre o parapeito conforme cada ponto turístico surgia à vista. Desde a Ile de la Cité, com a catedral de Notre Dame iluminada contra a escuridão, até a Ponte Nova e a brilhante Torre Eiffel. Paris deslizava em volta deles, maravilhosa e sedutora. Todavia, ela ainda se sentia tensa. Ela e Raul eram os únicos passageiros. Outro lembrete do que o dinheiro dele podia comprar. Como suas roupas. Calça de lã preta, com uma túnica chique cor de creme. Botas e um casaco longo de couro macio. Um lenço de seda azul e cor de laranja, que levava cor às suas faces. Exceto que suas faces já queimavam com o lembrete dos sussurros do estilista para o assistente de Raul sobre sua forma, tamanho, postura e andar. Sua postura era boa, aparentemente, mas o andar! Como o de um homem. E ela não tinha noção de como ostentar uma roupa! Todavia, apesar de sua aparente insubordinação, ela havia sido transformada. Não que Raul tivesse notado. Ele a escoltara para o carro sem uma palavra. O orgulho de Luisa ficara ferido por ele não ter comentado sobre sua aparência. Era óbvio que aquilo lhe era indiferente. E esse homem que falara de casamento! Ela respirou fundo. Em Maritz, consultaria advogados. Devia haver uma saída do contrato de casamento. – Você está se divertindo? – No escuro, ela viu movimento, quando Raul parou ao seu lado. Uma onda de calor a inundou. Luisa detestava como seu corpo traidor respondia, entretanto, não conseguia conter a excitação. Nem quando adolescente, época na qual se acreditara apaixonada, sentira-se dessa maneira. – A cidade é linda. Obrigada pelo cruzeiro. – Então você admite que há vantagens em nosso arranjo? – Elas não são maiores do que as desvantagens – retrucou ela, frustrada. Ele fez um movimento abrupto com a mão, um raro sinal de impaciência que a surpreendeu. Raul era normalmente tão calmo. – Você se recusa a ficar satisfeita, independentemente do que lhe é oferecido. – Eu não me recordo de nenhuma oferta. Oferta implica em escolha. – Você preferiria estar com suas vacas preciosas a estar aqui? – O gesto dele englobava a vista mágica. – Eu lhe dei a chance de ser rainha. – Casando-me com você. – Ela deu um passo atrás. – Eu irei com você para Maritz, mas quanto ao casamento... – Luisa meneou a cabeça. O brilho feroz nos olhos dele deixoua ansiosa, instigando-a a acrescentar: – Você não pode me dar nada que eu verdadeiramente desejo! Anos antes, um homem tentara tomá-la, não por paixão, mas por ambição calculada. Aquilo a fizera se sentir suja. Foi quando Luisa decidira que nunca se contentaria com nada menos do que amor. – Eu quero me casar com um homem que faça meu coração disparar e meu corpo cantar... Mãos fortes agarraram seus braços, e ela fitou o rosto esculpido, tão perto. Um calor preenchia os olhos verdes. A expressão dele enviou adrenalina pelo corpo de Luisa. Raul abaixou a cabeça e a respiração quente soprou-lhe o rosto. – Assim, você quer dizer? CAPÍTULO 4 A de Raul cobriu a de Luisa, pressionando, demandando, até que ela entreabriu os lábios num suspiro, e ele tomou posse. Tarde demais para perceber seu erro. A faísca de indignação e culpa que o instigara a silenciá-la se transformou numa chama ardente. Ele explorou a boca doce de Luisa e descobriu alguma coisa inesperada. BOCA Única. E subitamente, precisava de mais. Suspeitara, quase desde o começo, que havia alguma coisa única sobre Luisa. Mas isto...! Ele aprofundou o beijo, e lá estava a sensação, novamente. Uma excitação que não experimentava desde que era adolescente. Raul puxou-a para mais perto e entrelaçou a mão nos cabelos sedosos que quisera tocar desde que entrara no salão aquela tarde. O fogo baixou para sua barriga, então, espalhou-se por todas as direções. Quando ela circulou seu pescoço com os braços, um tremor o abalou. Como um beijo podia fazer aquilo com seus sentidos? O beijo continuou, inacreditavelmente provocante, enquanto ela o explorava de maneira sensual e arrepios de deleite o percorriam. Raul deslizou a mão por baixo do casaco longo dela, sobre a curva do traseiro firme. Abrindo os dedos, pressionou-a contra si, e sentiu a suavidade feminina lhe dando as boasvindas. A luxúria inundou-o. Ele engoliu o gemido de Luisa, correspondendo ao beijo dela com fervor crescente. Luisa tinha gosto de sol, era quente, suave e deliciosa. E ele percebeu que nunca se sentira tão sem controle na vida. Queria deixar a paixão seguir seu curso inevitável. Uma luz brilhante caiu sobre eles, um banho de sanidade. Raul piscou na luz de uma ponte acima. Levantou a cabeça, mas suas mãos continuaram em Luisa, as partes inferiores de seus corpos unidas, mesmo quando eles passaram por um grupo de turistas, olhando para o rio Sena abaixo. Mesmo agora, o desejo o inundava. Deus! O que estava fazendo, dando liberdade à paixão, em público? Isso era absurdo! Raul mantinha sua vida sexual escrupulosamente privada, depois do terrível escândalo, oito anos atrás. Trabalhara incansavelmente desde então para restaurar a crença de seu povo e o respeito pela monarquia. Entretanto, não conseguia tirar os olhos de Luisa, não conseguia se forçar a dar um passo atrás. Os lábios dela estavam entreabertos. Os cílios escuros estavam baixos, escondendo os olhos. Ela parecia devassamente convidativa, e o calor em seu sexo intensificou-se. Esta podia ser a mesma mulher que ele uma vez pensara que não era feminina? Ela era linda. Mas ele conhecia mulheres lindas o tempo inteiro. E nenhuma o fazia se sentir assim. As mulheres em sua vida eram companhias fáceis. Elas satisfaziam sua necessidade por sexo. Raul as tratava bem, e elas eram ansiosas para agradar. Simples. Descomplicado. Todavia, com Luisa, ele não respondia meramente a uma mulher bonita. O fogo, a determinação e a força dela eram únicos. Ele também se sentia desejado. Ela se mexeu contra ele, e uma carga de energia erótica o preencheu. Não! Estava imaginando coisas. Este desejo era tão intenso porque ele lhe permitira provocar raiva. Raul evitou analisar o fato de que isso em si era incomum. Aprendera, anos atrás, a canalizar todas as suas energias no trabalho. A emoção o levara à beira do desastre. A consequência de tal erro tinha destruído sua família e ameaçado o país. Agora, ele sabia controlar seu mundo. Nunca mais seria um refém do sentimento. Os olhos de Luisa se abriram, e ela o encarou. O coração de Raul disparou, enquanto suas racionalizações ameaçavam virar pó. Abruptamente, ele a liberou e deu um passo atrás. O QUE ela havia feito? Luisa balançou, suas pernas bambas, sensações não familiares percorrendo-a. Ela certamente não podia ter beijado o homem que a chantageara? Certamente, não... gostara daquilo? O ar frio batia no seu rosto. Todavia, um calor instalara-se em sua barriga e entre as pernas. O que acontecera com a reserva que a mantivera impérvia para o sexo oposto por tanto tempo? Com a cautela nascida de desilusão e dor? Raul a envolvera nos braços, beijando-a, e ela passara de indignada a desejosa e ansiosa por mais. Como podia responder a um homem que certamente odiava? E ter revelado sua inexperiência para ele! De jeito algum, seu entusiasmo desavergonhado tinha compensado por sua falta de habilidade. Ele sabia como ela era ingênua. Devia estar zombando dela, pensando que agora tinha a camponesa comendo na palma de sua mão. Ecos do passado preencheram o cérebro de Luisa. Ela não aprendera? Como podia estar suscetível, novamente? Com relutância, abriu os olhos. Instantaneamente, ele se afastou, a expressão carrancuda, como se não pudesse acreditar que a tocara. A dor a percorreu. Sem dúvida, ela não correspondera aos padrões do príncipe. Luisa experimentou uma sensação de déjà vu, lembrando-se das terríveis revelações de seu expretendente. – Eu não quero que você me toque. – A voz dela foi ríspida. – Não foi essa a impressão que você me deu um momento atrás. – Raul puxou a camisa, endireitou o paletó. – Eu não o convidei para tais intimidades. – Convenientemente, ela ignorou o jeito que se entregara ao beijo. Na iluminação fraca, enquanto o barco se afastava da ponte, ele parecia ter enrubescido. Mas isso devia ser imaginação sua. A fisionomia de Raul ainda era arrogante. – Eu peço desculpas. Fique tranquila, pois não tenho o hábito de forçar minhas atenções onde elas não são desejadas. Raul fez uma reverência formal. – Eu a deixarei para que você contemple a vista. Ele se virou e andou para a cabine do leme. Parecia muito calmo, como se a paixão deles tivesse sido imaginação de Luisa. Como se não tivesse sentido nada. Mas ele estivera tão sedento por ela quanto ela por ele. Ou não? A possibilidade de que Raul tivesse fingido desejo abalou-a. Por que ele faria isso? A resposta veio rapidamente demais. Para torná-la uma submissa sonhadora. Luisa balançou contra o parapeito. Funcionara. Quando ele a beijara, todas as suas dúvidas e raiva haviam desaparecido. Os beijos ardentes tinham nublado sua mente e preenchido seu corpo com ânsia desesperada. Sua posição impossível acabara de se tornar impossivelmente complicada. RAUL REPRIMIU uma onda de tristeza quando Luisa saiu de sua suíte. Era uma infelicidade que ele tivera de chantageá-la ao casamento. A vulnerabilidade e o orgulho feroz dela o tocavam. E aquela paixão... Não! A noite anterior tinha acabado. Uma fraqueza passageira. Ele estava no controle agora. Era impossível que seus sentimentos estivessem envolvidos pela mulher no topo da escadaria. Raul não tinha sentimentos. Não mais. Um erro desastroso o curara. Todavia, numa calça cor de mel e blusa de seda preta, Luisa estava linda. O traje realçava as curvas que ele segurara apenas horas atrás. Seus dedos se flexionaram com as memórias, ainda vívidas depois de uma noite de insônia. Ela deu uma rápida olhada na sua direção e mordeu o lábio. Uma onda de desejo perturbou sua calma interior. Estoicamente, ele ignorou isso, observando-a descer a escada. Ela segurava no corrimão com força, claramente insegura nos saltos altos. Como ele suspeitara. Luisa precisaria de ajuda quando eles chegassem a Maritz, em poucas horas. Ele não queria que ela caísse da escada do avião e quebrasse o pescoço. Ele olhou para a longa linha do pescoço delicado. Ela possuía uma elegância natural, que as roupas de fazenda tinham camuflado. Seus olhares se encontraram, e a pulsação de Raul acelerou. Ele franziu o cenho. Uma coisa era sentir desejo com o corpo quente de uma mulher pressionado intimamente contra o seu. Outra bem diferente era experimentar isso ali, quando seu mordomo esperava para conduzi-los a caminho do aeroporto. Pior, aquilo parecia mais complexo do que luxúria. Em dois dias, Luisa, de alguma maneira, entrara em sua cabeça. Instantaneamente, ele rejeitou a ideia. Era simples desejo que experimentava. – Luisa. Espero que você tenha dormido bem. Ela se aproximou quando acabou de descer a escada. Tropeçou, e Raul estendeu a mão para firmá-la, mas ela puxou o braço, passando apressadamente por ele. Raul respirou fundo. Depois de uma vida inteira esquivando-se de mulheres muito ávidas, descobriu que não gostava da alternativa. – Sim, obrigada. Eu dormi bem. Mentirosa! Apesar da maquiagem realçando os olhos azuis, Raul via os sinais de fadiga. – E você? – A expressão de Luisa era desafiadora, como se ela soubesse que ele passara a maior parte da noite acordado, revivendo aqueles momentos quando ela se derretera em seus braços como uma sedutora de nascença. Mesmo agora, ele não tinha certeza sobre Luisa. Houvera mais do que uma dica da inocência dela, na noite anterior. Mas então, fingir inocência podia ser uma arma tão efetiva. E ele sabia disso por experiência própria. Um calafrio o percorreu. – Eu sempre durmo bem em Paris. – Ele ofereceu o braço, novamente, desta vez, prendendo-lhe o olhar até que ela cedesse. Raul cobriu-lhe a mão com a sua, segurando-a de maneira possessiva. Quanto antes ela se acostumasse com ele, melhor. – E agora, se você está pronta, nosso avião está esperando. Ele a sentiu tremer. Viu os olhos azuis se arregalarem no que parecia ansiedade. Não havia nada a temer. A maioria das mulheres venderia a alma para estar no lugar de Luisa, casando-se com um homem que a imprensa rotulava como um dos solteiros mais elegíveis do mundo. Mas era óbvio que Luisa não era como as outras mulheres. Raul ouviu-se dizendo: – Eu cuidarei de você, Luisa. Não precisa ficar ansiosa. FOI DURANTE o caminho para o aeroporto que Raul descobriu o custo de suas ações impulsivas da noite anterior. O discreto toque de seu celular, e a breve conversa com Lukas, já os esperando no aeroporto, o fez pedir licença e abrir seu notebook. Não que Luisa tivesse notado. Ela estava ocupada pressionando o nariz na janela, enquanto o carro percorria as ruas de Paris. Raul acessou a página de notícias em seu computador. O tipo de manchete que ele habitualmente ignorava: “AMANTE SECRETA DO PRÍNCIPE”. “INTERLÚDIO PARISIENSE DE RAUL”. “SEDUÇÃO ARDENTE NO RIO SENA”. Não havia muito nos artigos, aparte especulações sobre a identidade de sua nova amante. Todavia, a raiva o inundou, enquanto ele via foto após foto do beijo da noite anterior. Ele franziu o cenho, perplexo por sua reação. Essa não era a primeira vez que os paparazzi o fotografavam com uma mulher. Ele era um assunto favorito. Geralmente, não se importava com aquele tipo de artigo. Mas dessa vez... A compreensão lhe causou uma onda de náusea. Dessa vez, o fotógrafo o pegara num momento de rara vulnerabilidade. A imprensa não poderia saber, mas Raul estivera sem controle, dominado por forças não familiares. Por uma compulsão que não experimentara em anos. Oito anos, na verdade. Desde a especulação da imprensa sobre um triângulo amoroso da realeza. A memória o enojava. Desde que aprendera a desconfiar dos protestos femininos de amor e demonstração de inocência. Desde que ele reconstruíra seu mundo despedaçado com determinação, orgulho e uma completa falta de emoções. Seu estômago se contraiu quando ele se lembrou de enfrentar a imprensa, ávida pelo cheiro de sangue... do seu sangue. O esforço de parecer inabalado diante da maior traição. De como ele tivera de reconquistar seu autorrespeito depois de cometer o maior erro de sua vida. Como, dia após dia, tivera de permanecer forte. Até que, finalmente, a fachada se tornara realidade, e Raul aprendera a viver sem elos emocionais. Exceto por seu amor a Maritz. Ele fechou o notebook. As causas não eram as mesmas. Ele sofrera com a intensidade de emoções juvenis. Agora, aos 30 anos, estava no controle de seu mundo. O que sentira na noite anterior tinha sido luxúria, nada mais. Além disso, o interesse público em Luisa poderia ser usado para vantagem. Não seria ruim insinuar que havia mais em suas núpcias iminentes do que a realização de um contrato legal. As pessoas gostavam de acreditar em contos de fadas, e isso poderia facilitar o caminho para ela. Raul planejara uma chegada discreta a Maritz, a fim de dar a Luisa tempo para se ajustar ao ambiente novo. Todavia, nas circunstâncias, revelar a identidade dela tinha, definitivamente, benefícios. Ele combinaria isso com Lukas no aeroporto. – VOCÊ PODE tirar o cinto, madame. – A comissária de bordo sorriu para Luisa, em seu caminho para a porta aberta do avião. Um nó se formou na boca do estômago de Luisa. A ideia de sair do avião e entrar no país que um dia tinha sido de sua mãe, e de seu avô detestável, apavorava-a. Um pressentimento a avisava que esse próximo passo seria irrevogável. Mais uma vez, ela experimentou a sensação do mundo se encolhendo para um túnel escuro, onde o futuro à sua frente era imutável. – Aqui. – Uma voz profunda interrompeu seus pensamentos. – Deixe-me ajudá-la. – Mãos grandes e capazes desafivelaram seu cinto e o tiraram de seu colo. Luisa levantou a cabeça para encontrar Raul inclinado sobre ela, os olhos calorosos. Seu coração disparou, fazendo-a lembrar mais uma vez da intimidade deliciosa da noite anterior. Então ele deu um passo atrás e estendeu um braço. – É hora de ir. Luisa assentiu, incapaz de falar. O que estava lhe acontecendo? Não tinha desejo de cair nos braços de Raul novamente, entretanto, imaginou calor nos olhos dele. Quando tudo que ele se importava era com o quanto ela lhe era útil. Silenciosamente, Luisa o deixou colocar um casaco de cashmere sobre seus ombros, então andou para a porta. Quanto antes chegasse ao destino deles, mais depressa poderia falar com os advogados e achar uma saída para aquela situação. Uma gritaria preencheu seus ouvidos, e ela parou abruptamente no topo da escada, piscando contra a luz do sol. – Está tudo bem – disse Raul. – Eles estão apenas felizes em nos ver. Ele deslizou um braço ao seu redor. Luisa tentou afastar-se, mas Raul não permitiu. – Relaxe. Eu estou me certificando que você não tropece nestes saltos altos. Então eles desceram, Luisa segurando o corrimão, e estranhamente grata pelo apoio dele. Pura bravata a induzira a usar os saltos mais altos de seu novo guarda-roupa, determinada a parecer sofisticada. A ação se provara um erro quando ela descobrira que sua altura extra apenas a deixava mais perto do olhar perspicaz de Raul. Luisa focou-se na cena abaixo. Uma multidão gritava e balançava bandeiras de Maritz atrás da cerca, na extremidade da pista de decolagem. O maritzian de Luisa estava enferrujado, de modo que tudo que ela podia entender era o nome de Raul. E o seu. Ela parou e olhou para Raul. – O que está acontecendo? – Uma recepção de boas-vindas. Nada mais. Luisa franziu o cenho, lutando contra uma sensação de irrealidade. – Mas como eles sabem meu nome? Ele deu de ombros. – Sua identidade não é um segredo, é? Ela meneou a cabeça. – Mas isso não faz sentido. Como pode... A visão de um cartaz no meio da multidão a fez parar no meio da sentença. Mostrava seu nome e o de Raul, unidos num grande coração, com uma coroa no topo. Luisa virou-se e leu satisfação nos olhos dele. – O que você fez? – Eu autorizei meu staff a confirmar sua identidade, se interrogada. Agora, vamos. Muda, Luisa o encarou, sua mão apertando o corrimão. Os olhos verdes brilharam, então Raul sorriu. – Como quiser, madame. Ele fez uma reverência. Mas não era uma reverência, percebeu ela quando braços fortes a circularam. Segundos depois, ele a ergueu contra seu peito. A multidão vibrou em aprovação. Mas Luisa mal ouviu os gritos. Deveria odiar ser tratada dessa forma. Odiava! Quase. Ele sorriu, aninhando-a mais junto a si. – Carregando minha noiva escada abaixo. CAPÍTULO 5 LUISA ATRAVESSOU a pista de decolagem em direção à multidão. Era assustador. Por um momento insano, desejou que estivesse de volta nos braços dele. Para seu horror, ela se sentira... segura lá. Seus joelhos tremiam com cada passo. O braço de Raul em volta de sua cintura era tanto um tormento como um apoio. Ela engoliu em seco, nervosa. E furiosa. – Não desmaie agora, Luisa. – Sem chance – disse ela, e tentou responder aos sorrisos em muitos rostos. – Eu não vou desmaiar nos seus braços. Nem pela sua audiência. – Nossa audiência. Uma série de flashes disparou ao redor deles. Raul ergueu a mão em reconhecimento, e a multidão vibrou mais. As informações que ela encontrara na internet mencionavam a dedicação de Raul ao país, mas Luisa não percebera o quanto ele era popular. Cinicamente, estudou a multidão, e notou que havia aproximadamente três vezes mais mulheres do que homens. Isso explicava um pouco da excitação do povo. Seria fácil apaixonar-se por Raul, se você não conhecesse o homem por trás do exterior maravilhoso. Ele a conduziu para uma limusine brilhante. Eles tinham quase chegado ao carro, quando Luisa viu o que provocara tanto interesse. Alguém erguia uma página de jornal, com uma foto de um casal se abraçando apaixonadamente. Levou um minuto para ela perceber a verdade. O homem que olhava de maneira tão possessiva para a mulher era Raul. O rosto sério falava de desejo sexual feroz. Ou de maquinação intensa. E a mulher, aparentemente desmaiando nos braços dele, era ela! Luisa engoliu em seco, freneticamente. Sentia-se... violada diante do conhecimento que alguém mais tinha visto aquele momento, visto sua vulnerabilidade. Já era ruim o bastante que Raul soubesse de sua fraqueza, mas ter outros testemunhando isso, colocando no jornal... Ela arfou, diminuindo os passos. – Vamos, Luisa. – Raul impulsionoua para a frente. – Não pare aqui, na frente das câmeras. A menção às câmeras colocou-a em movimento, até que ela estivesse sentada, tremendo, e batendo os dentes, numa limusine. – Luisa? – Mãos quentes esfregaram as suas geladas. Então um paletó foi colocado sobre suas pernas. – Eu não preciso disto. Estou bem. – Sua voz soou alta no silêncio, agora que a tela divisória tinha subido. Mas uma olhada pela janela, para as pessoas observando o veículo deles a fez encolher-se no banco de couro. – Você sofreu um choque. Peço desculpas. Eu deveria tê-la avisado. – Luisa quase acreditou que havia arrependimento genuíno na voz profunda. Mas sua mente estava marcada com a memória da expressão dele naquela foto. Ela não era tola para acreditar que ele estivera tomado por paixão. Raul se recuperara muito depressa. Provavelmente estivera analisando se sua sedução fora bem-sucedida. Avaliando quão obediente ela seria no futuro. A fúria substituiu o choque. – Você fez aquilo! – acusou ela. – Armou para que aquela foto fosse tirada. O gelo cobriu as feições de Raul. – Eu não negocio com paparazzi. Luisa balançou a cabeça. – Alguém fez isso! Eles estavam lá, esperando por nós. Você não pode me dizer... – Eu lhe digo, Luisa, que não tenho nada, exceto desprezo por repórteres e fotógrafos que passam seu tempo atrás de tais histórias. – O maxilar dele enrijeceu. Talvez ela fosse ingênua, mas tudo em Raul, desde os ombros tensos, até o brilho feroz nos olhos, a convenceram que ele estava falando a verdade. – A imprensa está sempre espreitando por oportunidades para fotografar. Eles me seguem constantemente, todavia, graças à minha equipe de segurança, geralmente a distância. Isso faz parte de ser um membro da realeza. – Eu não gosto muito da ideia de ser da realeza, então. Para sua surpresa, Raul deu um sorriso raro, que fez alguma coisa em seu interior se suavizar. – Eu também não. Não dessa parte. A mão dele envolvia a sua, e, por um instante, Luisa teve vontade de sorrir de volta, compartilhando um momento de intimidade. Exceto que aquilo era uma miragem. Não havia intimidade. – Lamento a foto, Luisa. Se eu tivesse percebido que estávamos visíveis... – Ele deu de ombros. E ela se pegou querendo acreditar nele. – Mas mesmo se a imprensa tivesse reportado nosso... nosso passeio no rio, não entendo por que a multidão ficaria excitada sobre a minha chegada. Certamente, eles não se reúnem para ver todas as suas... namoradas. – Luisa puxou a mão da dele. – Eu lhe disse. Instruí meu staff para explicar quem você é, se isso fosse questionado. – Mas meu nome não significaria nada! – Seu título significa. Princesa Luisa de Ardissia. Luisa congelou quando entendeu as implicações. – Eu não sou princesa ainda. Não assinei... – Mas assinará. Foi para isso que você veio aqui, não foi? Ela assentiu, experimentando novamente aquela sensação de estar encurralada. – Isso não foi tudo que eles falaram, foi? – perguntou ela, desconfiada, tirando o paletó dele de cima de suas pernas. – Eles mencionaram o contrato de casamento, não é? Raul prendeu-lhe o olhar, e, por um momento, ela sentiu um eco das emoções da noite anterior, quando ele a puxara para mais perto e dera-lhe puro prazer. – Isso não é segredo, Luisa, embora os detalhes não sejam amplamente conhecidos. Ela se recostou, o coração bombeando. – Você nunca desiste? O que esperava conseguir? Pressionar-me para que eu concordasse? Era como se ele soubesse que Luisa ainda tinha esperança de evitar o casamento. – Eu não serei forçada ao casamento, porque seu público precioso espera isso. Se eu saísse de cena, a história seria toda sobre você. Como foi rejeitado. Não sobre mim. Raul empalideceu. Uma energia irradiou-se dele. Um senso de poder mal controlado. De perigo. – Não haverá rejeição. – Fascinada, Luisa viu músculos pulsando no maxilar de Raul. – Eu não deixarei meu povo no caos que se seguiria se eu desistisse do trono. – Ele pausou. – Lembre por que você concordou em vir para cá. Olhos determinados encontraram os seus, e qualquer esperança de que ele não cumprisse a ameaça desapareceu. Este homem faria qualquer coisa para conseguir o que queria. Como ela permitira que o carinho falso da noite anterior a cegasse para isso? Ou a solicitude dele, ali no carro? Luisa fechou mais seu casaco e virouse para a janela. Eles tinham saído da estrada e se dirigiam à parte velha da cidade. Atravessaram uma praça larga, com construções em estilo barroco, que hospedavam lojas caras. O carro virou, e diante deles surgiu uma ladeira íngreme, quase um penhasco. No topo, parecendo crescer de uma pedra viva, estava o castelo real. Pedras cinza, com torres redondas e telhados cobertos de folhagem, eram visíveis atrás da enorme muralha. Livros turísticos diziam que o castelo era um grande exemplo de construção medieval, modernizado com salões espetaculares do século XVIII, de onde se tinha vistas extraordinárias dos Alpes e do rio abaixo. Que a casa era única na Europa central, e seu salão de bailes, uma joia arquitetônica. Mas o que não saía da cabeça de Luisa era que, em quase um milênio de uso, ninguém nunca escapara dos calabouços do castelo, uma vez presos por ordem do rei. SUA SUÍTE de cômodos era arejada, clara e suntuosa. Nada parecida com uma cela de prisão. Todavia, Luisa mal absorvia a beleza à sua volta. Estava diante das janelas, olhando as montanhas cobertas de neve a distância. Era onde Ardissia ficava. O lugar que a unia à riqueza e posição, e a uma vida de brilho vazio, em vez de calor e segurança emocionais. Unida a Raul. Um homem cuja ambição a repelia, entretanto a fazia tremer de excitação. Luisa trilhou os dedos sobre a mesa antiga. Não que ela não gostasse de coisas bonitas ou das roupas de grife. Era que sabia que tais coisas não eram substitutas de felicidade. De carinho e amor. Ela crescera com amor, e sua única experiência em romance lhe ensinara que não poderia aceitar outra coisa. Num impulso, Luisa pegou o telefone. Consultando o relógio, calculou a diferença de fuso horário. Com a ajuda de uma lista telefônica, achou o código internacional e ligou para casa. – Oh, querida! É tão bom ouvi-la. – A voz animada de Mary acalmou um pouco de sua tensão. Luisa sentou-se numa cadeira diante da mesa. – Você está bem? Como foi a viagem? O adorável príncipe Raul está cuidando de você? Luisa mordeu o lábio ao pensar em como Raul estava cuidando dela. – A viagem foi boa, Mary. Nós paramos em Paris... – Paris? Verdade? Luisa contou um pouco sobre a viagem, respondendo as perguntas de Mary, até que, finalmente, a conversa focou-se no lar. – Nós sentimos a sua falta, querida. Parece estranho com aquele novo homem e o filho dele, na sua casa. Mas não posso negar que eles começaram bem. Ele parece ser um administrador decente. E está avaliando as mudanças que você e seu pai começaram, para modernizar a coorporativa. E, cá entre nós, é um alívio saber que as dívidas foram canceladas. Sam é um novo homem, sem aquele peso sobre ele. E Josie está empolgada sobre se mudar para a cidade, a fim de estudar, agora que nós podemos ajudá-la com o aluguel. E a pequena Julia Todd, que está grávida e estava preocupada em como sustentaria outra criança, agora está radiante. Luisa pôs o cotovelo sobre a mesa, e baixou a cabeça na mão. Com cada nova revelação de Mary ficava mais claro que Luisa não poderia voltar. Seu passado, a vida que ela amara, estava fechado para ela. O último fio de esperança acabara hoje, quando ela estudara os olhos verdes no rosto bonito. Raul faria qualquer coisa que fosse necessária para obter a coroa que cobiçava. As pessoas que ela amava já estavam seguindo em frente, antecipando o cancelamento das dívidas da cooperativa. Luisa tinha entendido isso, mas só agora a realidade devastadora a atingia com força total. Luisa não tinha escolha. Levantou a cabeça e olhou ao redor do cômodo delicado. Um cômodo para uma princesa. Tremeu diante da enormidade do que enfrentaria. Mas o exemplo de seus pais era vívido em sua mente. Independentemente do que a vida lhes despejava, eles lutavam, fazendo o melhor que podiam, sem reclamar. Luisa ergueu o queixo. Era hora de enfrentar seu futuro. – RAUL. Ele ergueu os olhos dos papéis que estava discutindo com Lukas... relatórios perturbadores sobre mais inquietação. Luisa estava parada junto à porta. Havia alguma coisa diferente sobre ela. A mulher nervosa de meras horas atrás tinha desaparecido. Esta era a Luisa que ele vira pela primeira vez... confiante e no controle, entretanto, sem a aparência de alguém que trabalhava numa fazenda. Ela estava... magnífica. Ele se levantou. – Nós continuaremos mais tarde, Lukas. – Seu assistente juntou os relatórios e saiu do estúdio, fechando a porta. – Por favor, sente-se. Ela atravessou a sala e parou na frente da mesa. – Isto não vai demorar. Raul rodeou a mesa. – O que eu posso fazer por você, Luisa? – Esta era a primeira vez que ela o procurava. Olhos azuis encontraram os seus. – Eu vim para lhe dizer que farei isso. Eu me casarei com você. Raul respirou fundo, quando o nó de tensão que apertara sua barriga por tanto tempo se soltou. Apesar de sua determinação e de seu desespero, ainda tivera dúvidas se ela iria até o fim naquilo. – O que a fez mudar de ideia? Ela deu de ombros. – Isso importa? Raul abriu a boca. Parte sua acreditava que sim. A parte que queria conhecer Luisa melhor. E parte, ele supunha, que o tornara emocionalmente suscetível, todos aqueles anos atrás. A parte que pensara ter apagado de seu ser. Ele meneou a cabeça. O que importava era a concordância dela. – Creio que não. – Raul pegou-lhe a mão na sua. Ela não resistiu. – Eu lhe prometo, Luisa, que farei tudo que estiver em meu poder para que você nunca se arrependa disto. Ele lhe ergueu a mão para seus lábios, pensando em tudo que aquilo significava para ele e para seu povo. – Você terá minha gratidão e minha lealdade. – A pele de Luisa estava fria, a expressão fechada, todavia, ele sentia a pulsação acelerada no pulso dela. Inalou o aroma feminino delicado. Alguma coisa que parecia mais forte do que gratidão o tocou. – Você me deve mais. Perplexo, ele levantou a cabeça. Ela liberou a mão da sua. – O que você quer? Ela quase o convencera que não se importava com riqueza e glamour. Ele devia ter sabido. Ana não lhe ensinara nada? Qual era o preço de Luisa? – Eu quero... Eu não quero ser tratada como uma boneca sem cérebro. Sempre que possível, quero tomar minhas próprias decisões. Não espere ditar minha vida. Raul observou o brilho desafiador nos olhos azuis, o ângulo determinado do pequeno queixo, e sentiu sua tensão se dissolver. Sem demandas absurdas? Sem acessos de nervos ou lágrimas? Orgulho e respeito por esta mulher notável o inundaram. Talvez, afinal de contas, Luisa fosse tão única quanto parecesse. Ele sorriu com prazer genuíno. – Eu não esperaria menos de você. RAUL VIU Luisa passar pelos conselheiros reais, e atravessar a vasta sala de recepção. A futura princesa de Ardissia estava muito elegante em tons de caramelo e creme. As costas estavam eretas e o queixo erguido, como se ela estivesse inabalada pela presença de tantos nobres. Todavia, Luisa estava pálida, e parecia um pouco frágil. A culpa o assolou. Poucos dias atrás, ela estivera levando uma vida completamente distinta. Ele fizera a coisa certa em cimentar aquele arranjo tão rapidamente? Raul reprimiu o pensamento. Isso era para o bem da nação. A alternativa levaria o país ao caos. Quanto antes aquilo fosse feito, melhor. Ele atravessou a sala para recebê-la. Quase a alcançara à mesa ornada, quanto ela o viu e recuou. Um desapontamento envolveu-o. Esta não era a primeira vez que ela reagia como se seu toque contaminasse. E no movimento abrupto para tirar o braço do alcance dele, Luisa derrubou um tinteiro de cristal. O líquido preto caiu no tapete tecido à mão, que era uma relíquia de família, e no seu terno. Todos arfaram ao mesmo tempo. Num momento, Luisa tinha pegado mata-borrão da mesa e se ajoelhado, absorvendo a tinta. Servos correram para ajudá-la, mas ela não notou. – Nós precisamos de alguma coisa para absorver isto. Raul tirou um lenço impecável do bolso e ajoelhou-se ao seu lado. – Isto ajuda? – Não muito. Mas é melhor do que nada. O pano branco juntou-se ao líquido preto no tapete. – Com licença, senhora. Senhora? – Um dos membros do staff apareceu com produtos para limpar o pior da mancha. – Luisa. – Raul segurou-lhe o cotovelo, fazendo-a olhar para cima. – O staff lidará com isto. Ela abriu a boca para protestar, então olhou por sobre o ombro dele, e arregalou os olhos. Como se somente agora lembrasse que todos os membros da Suprema Corte e os conselheiros da realeza estavam lá para testemunhar as formalidades. Enrubescendo, ela desviou o olhar. Gentilmente, ele a ajudou a ficar de pé. – Sinto muito. – Ela observou o staff lidando com uma mancha que era provavelmente irremovível. – Está tudo bem – murmurou ele, conduzindo-a para o outro lado da mesa. – Mas o tapete! É antigo e valioso, certamente? – Não importa. É incrível quão bem eles fazem reproduções, hoje. Ele ouviu seu mordomo arfar diante da mentira. Na época do pai de Raul, danificar uma relíquia de família como aquela resultaria em punição severa. Mas, vendo o desconforto de Luisa, sentindo o braço delicado tremer sob sua mão, Raul não se importou com nada, exceto em aliviar a culpa dela. – Venha – disse ele. – Aqui está um assento para você. Ela se sentou na cadeira, e Raul afastou o mata-borrão de lado, gesticulando para que o documento fosse colocado à sua frente. Enfiando a mão no bolso, retirou sua própria caneta. Maritz precisava acompanhar os tempos modernos. Não havia necessidade de continuar a tradição de assinar e testemunhar documentos importantes com canetas de pena antiquadas. Lukas apresentou o documento que, quando assinado, confirmaria Luisa como princesa de Ardissia, herdeira da fortuna do avô. E futura esposa de Raul. Estava espalhado sobre a mesa, e as testemunhas se aproximaram. Raul entregou a caneta a ela. E esperou. Pois Luisa não assinou. Em vez disso, ela leu a tradução em inglês, lenta e metodicamente. Apontou um dedo para uma cláusula difícil e levantou a cabeça, virando-se para Lukas, que estava do seu outro lado. – Você poderia me explicar esta referência? – pediu ela, suavemente. – É claro, senhora. – Lukas inclinouse sobre o pergaminho, explicando a cláusula. Então, depois de alguns momentos, outra. A audiência começou a ficar inquieta. Raul notou algumas sobrancelhas arqueadas entre os conselheiros mais antiquados. Podia imaginar o que eles estavam cochichando. Que a mulher deveria aceitar, agradecida, o que era oferecido, sem questionar. Luisa estava ciente dos sussurros na sala. Suas faces coraram e o pescoço elegante enrijeceu. Mas ela continuou lendo cada linha. Aquela demora para concretizar seus planos deveria ter irritado Raul. Entretanto, sua impaciência foi temperada com admiração. Luisa era naturalmente cautelosa. Como ele. Raul nunca assinava nada sem cuidadosa consideração. Recordou-se das informações que recebera recentemente. Que, através de investigação, tinha sido descoberto que a fazenda de Luisa era surpreendentemente bem administrada. Que as dificuldades financeiras se deviam à grande seca e a diversos problemas de saúde, incluindo a morte do pai dela, no ano anterior. Segundo os contadores, os negócios tinham o potencial de ser tornar muito bem-sucedidos, uma vez que dinheiro fosse liberado para novos equipamentos. Luisa fizera um excelente trabalho. Ela não era como outras mulheres. Ele estivera tão focado em alcançar seus fins que, inicialmente, pensara em Luisa como uma esposa conveniente, não como uma mulher de verdade. Agora, ponderava sobre o tipo de mulher com quem se casaria. Olhou para a cabeça loura abaixada, notando como ela mordia o lábio em concentração. Ela o fascinava, admitiu ele agora. Aquele jeito obstinado, prático e orgulhoso. A maneira despretensiosa e a sensualidade natural. Há quanto tempo uma mulher não o intrigava tanto? Desde quando um beijo o fizera perder a cabeça? Finalmente, com um movimento ágil, Luisa levantou a caneta e assinou. Somente Raul, posicionado bem perto ao seu lado, viu como a mão dela tremeu. Feria-o ver como aquilo custava a ela. Todavia, um alívio o inundou. Estava quase feito. Logo, a coroa seria sua. Seu destino estava em suas mãos. Seu país ficaria seguro. Raul pegou a caneta e, com um floreado, adicionou sua assinatura como primeira testemunha. – Obrigado, Luisa – murmurou ele. Ela inclinou a cabeça e seus olhos se encontraram. Um calor inundou seu baixo-ventre, as reverberações daquele ato o envolvendo, mesmo quando ela desviou o olhar. Agora, esta mulher intrigante, tão sem sofisticação, entretanto com graça e integridade tão inatas, estava unida a ele. O casamento seria de conveniência. Pelo bem da nação. Entretanto, para sua perplexidade, Raul registrou uma satisfação puramente pessoal diante da perspectiva. CAPÍTULO 6 – EU poderia ter feito um trabalho melhor de estragar aquilo, nem se tivesse tentado. – Luisa fez uma careta, enquanto seguia Lukas, através de um labirinto de corredores, para sua suíte. Um calafrio a percorreu diante da memória dos olhos críticos sobre ela: uma estrangeira desajeitada. NÃO – Discordo, senhora. Você se comportou com grande compostura. Luisa sorriu. Lukas era um homem gentil. – Obrigada, Lukas, mas não precisa fingir. Eu vi o jeito que eles me olharam, e a impaciência de todos, porque eu quis ler o que assinei. – É verdade que alguns conselheiros são antiquados. – Lukas gesticulou para que ela o precedesse em outro corredor. – Tenho certeza que Sua Alteza não se importaria se eu dissesse que esse tem sido um dos desafios dele em governar o país como uma nação moderna. Não ocorrera a Luisa que Raul pudesse ter dificuldades. Com a atitude de comando dele, não podia imaginar isso. – Você fala como se ele estivesse governando o país por um longo tempo. Eu pensei que o rei tivesse morrido recentemente. – Isso está correto, senhora. – Lukas pausou, então, parecendo tomar uma súbita decisão, acrescentou: – Mas Sua Alteza era, de muitas maneiras, responsável por governar o país, muito antes disso. O rei anterior... deixava muitas coisas nas mãos do príncipe. Luisa pensou em pressionar Lukas por uma explicação, até que sentiu o desconforto dele. – E isso ainda é difícil? Lukas deu de ombros. – O príncipe fez até os cortesões mais antiquados enxergarem os benefícios. Mas alguns se ressentem da mudança. Alguns que prefeririam competir por poder pessoal, em vez de cooperar num esforço nacional para modernizar. Luisa diminuiu o ritmo dos passos. A avaliação de Lukas ecoava as palavras de Raul. Palavras que ela ignorara, acreditando que ele apenas cobiçava a coroa. Todavia, vendo-o com outros, ela notara vislumbres de um homem altruísta. Ele alegava que agia pelo país tanto quanto por si mesmo. Isso podia ser verdade? Era tentador esperar que sim. Todavia, nada desculpava o comportamento de Raul em relação a ela. – Quanto a hoje, senhora – murmurou Lukas –, eu sei que o príncipe ficou muito satisfeito com sua primeira aparição oficial. Luisa apostava que sim! Ela assinara o documento precioso dele. Seu coração bombeou perante as implicações do que fizera. Não havia volta, agora. – Lukas, eu mudei de ideia. Pode me mostrar o caminho para os jardins? Preciso de ar fresco. QUARENTA MINUTOS depois, Luisa sentiase menos claustrofóbica. Andando pelos pátios, ela encontrara um jardineiro. Eles haviam discutido os terrenos com entusiasmo e linguagem de sinais, uma vez que seu maritzian era escasso, e Gregor, o jardineiro, falava um dialeto incompreensível. Eles tinham andado pelos terraços e jardim de rosas, onde Luisa reconheceu os nomes de lindas rosas que sua mãe mencionara. Visitaram pomares, um jardim murado com fontes e o jardim da cozinha, onde Luisa lutara para identificar as ervas mais raras. Pela primeira vez em dias, sentira-se no mundo real, com o cheiro rico do solo e a natureza ao seu redor. Respirou fundo enquanto subia a escada em espiral dentro das muralhas. Gregor parecera dizer que ela veria o jardim ornamental dali. Luisa lera que ver tais jardins do alto dava muito mais efeito. Todavia, ela não gostava muito de altura, e quando olhou pela janela aberta ao seu lado, que dava vista para a cidade abaixo, sentiu-se levemente tonta. Pressionando a mão úmida contra a parede, continuou subindo. Logo, emergiu a uma abertura baixa, com vista para o castelo. Alguém estivera trabalhando lá, e ela desviou de uma pilha de ferramentas. A abertura era tão baixa que Luisa sentiu-se mais segura ajoelhada, as mãos sobre a construção de pedras. O jardim era espetacular, embora estivesse excessivamente crescido. Ela distinguiu os remanescentes do dragão de Maritz, aquele voando na bandeira da torre superior, exibida na cerca viva abaixo. Arbustos com folhagem dourada denotavam os olhos dele, e um grupo de folhas vermelhas devia ter sido a representação do fogo saindo da boca do dragão. A cauda estava faltando, e um caminho atravessava uma garra, mas ainda assim, era magnífico. Encantada, Luisa inclinou-se um pouco para a frente. Herdara o amor de sua mãe por jardins. Um movimento chamou sua atenção. Então ela viu uma figura familiar andando pelo jardim. Raul. Instantaneamente, sua pulsação acelerou. Ele a viu e gritou alguma coisa enquanto se aproximava da escada, correndo. Instintivamente, Luisa recuou, sentindo-se como se tivesse sido pega invadindo uma propriedade ou algo assim. Novamente, foi tomada por uma tontura. Apenas que desta vez, não era somente sua cabeça que girava. Para seu horror, a parede sob suas mãos se moveu. Seu movimento empurrou-a mais para fora, a pedra deslizando para a frente com um terrível barulho de tritura. Ela tentou ir para trás, mas seu centro de gravidade estava muito para a frente. Com um ruído, o velho peitoril sob suas mãos caiu no solo abaixo. Luisa foi jogada para a frente, seus braços suspensos no espaço, caindo de pé sobre rocha irregular. A pedra áspera feria suas costelas, mas o medo de que outra parte da construção desmoronasse, desta vez, com ela, congelou-a no lugar. Ela não podia ver Raul agora, e sua garganta estava fechada, de modo que não conseguia gritar. Após alguns momentos, tentou rastejar para trás, apenas para escorregar mais para a frente, quando outro bloco da construção caiu. A qualquer minuto agora, poderia ser ela. – ESTÁ TUDO bem. – A voz profunda mal penetrou sua consciência. – Eu peguei você. – E braços fortes envolveram sua cintura. – Não! – gritou Luisa, aterrorizada. – Recue. É muito perigoso. Certamente, o peso de Raul com o seu sobre a parede instável faria os dois caírem. – Não se mova. Apenas relaxe e me deixe fazer isto. – Relaxar? – Ele devia estar brincando. Luisa fechou os olhos quando experimentou mais uma onda de vertigem. Seu corpo estava rígido quando ele a puxou para trás, os braços ao seu redor. Ela esperou, ofegante, pelo barulho assustador de pedra sobre pedra. Em vez disso, ouviu Raul arfar, quando ele segurou o peso dela contra si, arrastando-a lentamente para a segurança. A respiração dele soprava seu pescoço, e mãos fortes a seguravam. Ela ainda estava tremendo. – Está tudo bem. Eu juro. – Mas os tremores não passaram. – Eu... n-nunca... gostei de alturas. – Abra os olhos. Ela obedeceu, e ele a abaixou para sentá-la no chão. Luisa tombou como uma boneca de trapo, seu corpo mole. Mesmo agora, a vista abaixo, das pedras distantes, estava estampada em seu cérebro. – Aqui, incline-se para a frente. – Ela fez isso, e o calor envolveu-a quando Raul pôs o paletó ao redor de seus ombros trêmulos. Luisa levantou a cabeça. Ele estava à sua frente, mãos nos quadris e sobrancelhas arqueadas. Ela o vira sem paletó apenas uma vez, brevemente, na limusine. Ele estava sempre impecavelmente vestido. Agora, seus olhos trilharam o torso poderoso, e Luisa arfou, lembrando-se daqueles músculos sólidos pressionados contra seu corpo, no barco em Paris. Não era de admirar que a sensação tivesse sido tão boa! – Nós precisamos levá-la para dentro, onde está quente. – Mas ela não se moveu. Ele via o quanto ela estava fraca? Tremendo, Luisa assentiu, aninhando-se mais ao paletó. – Logo. Eu preciso recuperar meu... fôlego. – Aqui. – Com um passo rápido, Raul moveu-se para trás dela. Então as mãos capazes estavam levantando-a e colocando-a sobre o colo dele, enquanto ele se inclinava contra a parede oposta ao buraco. Luisa deveria protestar. Não queria estar tão perto dele. Mas não tinha energia para resistir, apesar de não conseguir ignorar o calor do corpo sólido, das pernas musculosas ao redor das suas! – Espero que esta parede seja segura! – Não se preocupe. Apenas o outro lado é problema. – Ele a puxou para mais perto, aninhando-a contra o peito largo. – Você não viu a placa de aviso? Ela se recordou de ter visto uma placa na base na torre, mas mal olhara para a mesma. – A porta estava aberta. – Não estará no futuro. Não até que seja seguro. – Ele suspirou. – Por que você veio aqui? Há vistas melhores do outro lado do castelo. Luisa deu de ombros. – Eu queria ver o jardim ornado. Gregor me mostrou, mas eu não queria o efeito do solo. – Gregor? – Um tom duro na voz de Raul a fez virar-se para olhá-lo. Os olhos verdes tinham escurecido, e, assim de perto, ela descobriu um brilho dourado neles, também. – Sim, um de seus jardineiros. Raul franziu o cenho. – Ele não a encorajou a subir aqui, certo? – É claro que não. – Somente agora, ela percebeu que os gestos de Gregor tinham avisado que ela ficasse longe da estrutura insegura. – Obrigada por me salvar. – Eu só fico feliz por ter visto você no momento que vi. – A expressão de Raul tornou-se feroz subitamente, como se ele quisesse culpar alguém. Luisa estudou-lhe a expressão preocupada, e tentou lembrar como ele era implacável. Que ele a forçara ao casamento. – Se você não tivesse me alcançado, talvez não tivesse uma princesa para se casar. Então nunca herdaria. Uma mão firme segurou seu queixo, e ela arfou. O dourado nos olhos dele pareceu mais brilhante. Raul meneou a cabeça. – Se não houvesse princesa, o contrato não me amarraria mais. Eu estaria livre para me casar com quem quisesse. – Há alguém com quem você quer se casar? – Não se preocupe, Luisa. – Ele aproximou mais o rosto. – Você não está interferindo entre eu e o amor da minha vida. – Então não existe ninguém especial? – Aquilo confirmava o sangue-frio de Raul para abordar o casamento. Mas no momento, ofuscada pelos olhos brilhantes, tranquilizada pela carícia do polegar no seu rosto e pelo calor do corpo forte envolvendo o seu, Luisa não conseguiu energia para ficar ultrajada. Sentia-se... distanciada da dor. Quem teria pensado que ela encontraria consolo no abraço de Raul? Havia um prazer inesperado na sensação de que, por este momento, pelo menos, eles poderiam ser francos. – Ninguém que importa. – A respiração quente acariciou seu rosto, e ela lutou para encontrar a raiva que a consumira antes. Certamente, não poderia gostar de estar lá, com ele? – Você é realmente implacável, não é? – O tom de Luisa era mais curioso do que acusador. Ele se mexeu, e ela descobriu sua cabeça descansando contra o ombro largo. Luisa quase suspirou diante da sensação deliciosa. Sentia-se relaxada, como uma gata sendo acariciada no sol. – Se você quer dizer que eu planejo para conseguir o que quero, então sim – replicou Raul. – Você sempre conseguiu tudo que queria? Ele meneou a cabeça. – Longe disso. Eu não fui mimado, em absoluto. Minha mãe morreu no parto, e meu pai era impaciente com crianças. O coração de Luisa apertou. Não era de admirar que Raul fosse tão autossuficiente. Ela olhou para a boca esculpida, feita para seduzir mulheres. – Mas como adulto. Com mulheres, aposto que você sempre... – Luisa. – A mão que estava em seu queixo deslizou para segurar sua nuca. Os olhos verdes brilhavam com fogo. – Você está falando demais. Ela viu aqueles lábios descendo em câmera lenta. Como se ele lhe desse uma chance para se libertar. Ou para saborear o beijo iminente. Uma excitação a percorreu. No momento que a boca de Raul tocou a sua, os lábios de Luisa estavam se abrindo para ele, e seu coração bombeava freneticamente. O beijo foi uma troca lenta e prazerosa. O deleite inundava-a numa onda ardente. Isso não era como a paixão feroz que eles haviam compartilhado em Paris. Uma voz em sua cabeça tentou apontar que, em Paris, eles não tinham compartilhado coisa alguma. Raul não sentira nada. Ali, naquele momento, parecia ser uma troca, dando e recebendo. Sem domínio ou submissão. Mas algo mutuamente satisfatório. Luisa deslizou um braço em volta da cintura dele, deleitando-se ao sentir os músculos poderosos ficarem tensos, depois relaxarem sob seu toque. O beijo se aprofundou, enquanto o desejo crescia em seu interior. Ela sentiu uma pulsação insistente entre as pernas, e seus mamilos enrijeceram. Sua mão livre foi para o pescoço de Raul, descobrindo a pulsação acelerada ali. Então, ela entrelaçou os dedos nos cabelos sedosos. Raul gemeu. O som rouco aumentou o prazer de Luisa, e ela se moveu contra ele, querendo mais. Então, abruptamente, Raul afastouse. Apenas o bastante para que ela visse o rosto dele. Luisa levou um momento para ler o ardor nos olhos verdes, e perceber que ele estava ofegando. Ele lhe capturou o pulso e segurou-o longe de si. – Da próxima vez que você quiser um tour, peça para mim. – Raul respirou fundo. – Eu acompanharei você, ou pedirei que alguém a guie. Combinado? Silenciosamente, Luisa assentiu, sua mente confusa. Podia culpar o choque pelo fato de que queria cair novamente nos braços do homem que detestava? DUAS SEMANAS depois, enquanto conversava com um curador da galeria, Raul descobriu seu olhar desviando para Luisa. Ela estava diante de uma exibição de estudos botânicos, conversando com o curador júnior, que organizara a exposição. O olhar de Raul desceu para as pernas delgadas. Aquela era a primeira vez que ele a via num vestido, e não conseguia tirar os olhos dela. Especialmente quando ela sorria calorosamente para o jovem curador. Luisa estava se desabrochando numa linda mulher. Isso tinha de explicar por que ele a desejava com tanta avidez desde Paris. E por que sucumbira à tentação e a beijara na torre. Sua pulsação acelerou, e algo que parecia medo apertou seu peito com a memória de Luisa sobre aquelas pedras prestes a caírem de uma altura fatal. A necessidade de abraçá-la e nunca mais soltá-la tinha sido enorme. O desejo por outro gosto doce daqueles lábios, inexplicável. A força daquela atração inesperada perturbava-o. Ela não era sofisticada, preferia sapatos sem saltos, e evitava até mesmo as joias herdadas mais simples. Possuía o hábito de falar com todo mundo, e preferia falar com o staff a falar com pessoas importantes. Parecia tão feliz conversando com os jardineiros quanto indo a alguma estreia brilhante. Todavia, seu coração se alegrava na presença de Luisa. Disse a si mesmo que aquilo era uma bobagem sentimental. Entretanto, havia definitivamente alguma coisa sobre sua futura esposa. Raul balançou a cabeça. Por que Luisa não saía de seus pensamentos? Por que ele achara tão difícil liberá-la aquele dia na torre? Ou cuidar de seus próprios compromissos, enquanto ela começava aulas no idioma, aulas de etiqueta, história e cultura? Porque ele a queria. E quase tanto quanto a queria, ele queria sua companhia. Raul voltou-se para o curador. – A princesa e eu podemos ter algum tempo, sozinhos, para ver o resto da exposição? Dois minutos depois, Raul e Luisa estavam a sós. – Obrigada. – Ele se virou e viu que os olhos dela estavam marejados. Com o coração disparando, Raul pegou-lhe a mão. – Você está bem? – Ele quisera agradá-la com aquela visita, não aborrecê-la. Mostrar-lhe que ela possuía uma conexão com sua terra natal. – Eu não esperava ver o trabalho de minha mãe exposto. Foi uma surpresa adorável. Raul deu de ombros. – Ela era uma artista talentosa. É uma pena que ela não continuou suas pinturas botânicas. Luisa desviou o olhar. – Minha mãe dizia que esta era uma disciplina que necessitava de dedicação. Algo que ela não podia dar. Não com a fazenda. Ele assentiu. A mãe de Luisa abandonara o trabalho artístico por uma vida de trabalho duro. Tudo pelo suposto amor de um homem que podia lhe dar tão pouco. Pessoas eram tolas, acreditando em fantasias de amor. Amor era uma ilusão. Uma armadilha para os descuidados. Ele não aprendera isso, pagando seu próprio preço? – Foi gentileza sua me trazer aqui. – Ela lhe tocou a manga de um jeito quase amável. – Lukas me contou que você raramente tem tempo para este tipo de coisa, principalmente agora. – Não foi nada. Fazia tempo que eu não visitava a galeria, e havia assuntos para discutir. – Raul não queria que ela pensasse que ele mudara sua agenda por ela. Mesmo se isso fosse verdade. Luisa não reclamara de nada durante suas primeiras semanas em Maritz, embora a mudança devesse ser difícil para ela. Apesar de todas as aulas que ela estava tendo, sempre que Raul a via andando pelos jardins, tinha a impressão de que Luisa estava se sentindo solitária. A culpa o assolou. Ela estava lá por sua causa, por seu país, por suas necessidades. O que Luisa ganhava pessoalmente com aquilo? Ela não estava interessada em riqueza ou prestígio. O único dinheiro que queria era para salvar os amigos. Não o via como um prêmio, mesmo se não pudesse esconder a paixão que brilhava nos olhos azuis quando ele a beijava. Luisa Hardwicke era uma lição útil para o ego de Raul. – Eu não sabia que o trabalho de mamãe era tão estimado. – Ela se virou para examinar o desenho delicado de uma flor selvagem na montanha, e ele a seguiu. – Fale-me sobre ela. Luisa virou-se. – Por quê? Ele deu de ombros, não querendo confessar sua necessidade de entender a família dela, e entendê-la. – Ela deve ter sido forte para enfrentar seu avô. Luisa fez uma careta. – Talvez, este seja um traço de família. – Perdão? Ela balançou a cabeça. – Eu a achava notável. E meu pai também. Raul entrelaçou os dedos de ambos, contente quando ela não se afastou. – Conte-me. Por um longo momento, ela o fitou. Então, pareceu decidir. – Ela era como outras mães. Trabalhadora, administrando uma casa e fazendo a contabilidade. – Luisa pausou. – Ela fazia os melhores biscoitos de canela de Natal, e dava os abraços mais carinhosos... garantidos a fazer você se sentir melhor, todas as vezes. Adorava rosas, e tinha um olho para moda, mesmo que nós não pudéssemos comprar roupas da moda. Luisa moveu-se para o próximo quadro, e ele seguiu. – Ela odiava passar roupa, e detestava acordar cedo. – Não adequada para ser uma esposa de fazendeiro, então. – A mudança do palácio para a fazenda devia ter sido difícil. O casamento fora um desastre? Aparentemente, não. Luisa riu, um som rico que mexeu com os sentidos de Raul. – Era o que papai costumava dizer. Ele balançava a cabeça e fingia estar com medo que ela voltasse para seu mundo glamouroso. Mamãe dava aquele sorriso especial, que reservava para ele, e dizia que ela não poderia partir até que conseguisse fazer bolos fofos tão bem quanto minha tia. Papai diria que ninguém jamais faria bolos como Mary, de modo que mamãe teria de ficar para sempre. Então, ele a beijava. Raul observou um sorriso nostálgico nas feições de Luisa. Sentiu um enorme desejo de experimentar o que ela experimentara. O carinho, o amor. Uma infância com biscoitos de canela e abraços. Tão diferente de seu próprio crescimento! – Mas o casamento deu certo? – Raul descobriu-se curioso. – Eles eram tão diferentes. – Eles vinham de mundos diferentes, mas criaram seu próprio mundo, juntos. Papai dizia que ela o fazia se sentir um rei. Mamãe dizia que ele a fazia sentir mais princesa do que ela algum dia se sentira, vivendo no palácio. – Luisa virou-se para olhá-lo. – A vida com meu avô não era prazerosa. Ele tentou forçá-la a se casar com alguém que ela detestava, apenas para cimentar uma negociação. Não havia risadas, divertimento. Não como na nossa casa. Alguém que ela detestava. Raul se encaixava nessa categoria para Luisa? – Eles se amavam; esse era o segredo. Não era preciso ser um gênio para saber que Luisa quisera aquilo para si mesma. Até que ele aparecera. O dever para Raul nunca parecera tão oneroso, antes. Ele estava condenado a desapontá-la. Nem mesmo acreditava em amor. Nunca experimentara o sentimento. – Mas ela amava aqui. – Luisa sorriu. – Mamãe queria nos trazer um dia, para conhecer o país. – Fico feliz. Com o tempo, espero que você passe a amá-lo, também. É um lugar especial. Não há pessoas como os maritzians. Raul conduziu-a para ver o resto da exposição, contando-lhe uma história local tradicional. Surpreendeu-o quanto ele queria ouvi-la rir, novamente. RAUL ANDOU rapidamente para seu estúdio. Havia muito trabalho a fazer, e embora a inquietude nas províncias tivesse se abatido um pouco, ele não podia ser complacente. Mas o casamento no dia seguinte... um evento pequeno, uma vez que a nação estava de luto por seu pai... pavimentaria o caminho para sua coroação e ajudaria a resolver seus problemas. Levar sua esposa para cama resolveria a dor permanente em seu sexo. Luisa o fascinava cada vez mais. Ela era vibrante, envolvente, independente. E diferente de qualquer mulher que ele conhecia. Lukas abordou-o, quando ele chegou ao estúdio. – Vossa Alteza. – Sim? Eu estou atrasado para minha reunião? – Não, não isso. – Seu secretário hesitou. – Você tem uma visita. Eu queria avisá-lo... – Raul, querido! – A voz feminina veio da porta à frente. Em choque, Raul fechou as mãos em punhos. Então, preparando-se, aproximou-se lentamente da loura parada à porta. – Isto é inesperado, Ana. O que você está fazendo aqui? – Certamente, você não esperava que eu perdesse seu casamento, querido? – Os lábios pintados de vermelho formaram um biquinho. – Eu não recebi seu convite. Por sorte, ouvi sobre o casamento através de fofocas. Ele parou a um metro de distância, o desgosto o preenchendo. Eles não estavam em público, portanto, não havia necessidade para uma reverência. E o inferno congelaria antes que ele aceitasse o convite implícito naquele biquinho. Não quando ela era a mulher que, oito anos atrás, o levara para o inferno. CAPÍTULO 7 – LUISA, VOCÊ está adorável! – disse Tamsin. – Esta cor de creme perolado fica maravilhosa com o tom dourado de sua pele. – Você acha? – Luisa estava rígida, desconfortável com o vestido longo de seda. O corpete justo era coberto de renda fina. A coroa da cabeça era de ouro e pérolas. O vestido de noiva mostrava os produtos tradicionais mais finos de Maritz. Renda de uma província. Seda de outra. A gargantilha de ouro que deixava seu pescoço elegante era feita por um artesão de outra província. Apenas a noiva não estivera envolvida no design de seu traje de casamento. Luisa virou-se para o espelho, sentindo-se uma fraude. Todavia, a imagem que viu tirou-lhe o fôlego. Poderia ser realmente ela? Uma mulher que até recentemente passava seus dias em jeans e botas de borracha? – Você parece uma princesa de conto de fadas – comentou Tamsin. – Eu não me sinto como uma. – A náusea embrulhou seu estômago. Luisa nem conseguira almoçar. Ela, cujo apetite era sempre saudável! – Acredite. – Tamsin sorriu. – Você vai roubar o fôlego de todos. Especialmente o de Raul. Ele não conseguirá tirar os olhos de você. Luisa viu o sorriso secreto da outra mulher, e imaginou se ela estava pensando em seu recente casamento com o príncipe Alaric, primo distante de Raul. Era óbvio que o homem grande, com o rosto quase tão bonito quanto o de Raul, estava profundamente apaixonado por sua nova esposa inglesa. Por um momento, Luisa permitiu-se imaginar como seria casar por amor. Ela sempre ansiara por vivenciar amor verdadeiro, mas estivera tão enterrada na fazenda que não se abrira para a possibilidade? Luisa, às vezes, fantasiava que sua união com Raul pudesse se tornar especial. Mas tal fantasia era muito dolorosa. Porque ele não a escolhera por amor. Nem mesmo por conveniência. Mas porque não tivera outra opção! – Foi gentileza sua me ajudar a me arrumar. – Ela sorriu para Tamsin. – Tudo vai dar certo. – Tamsin pegou-lhe a mão, num gesto caloroso. – Eu sei que é assustador casar-se com alguém de um mundo novo. Da realeza. Mas Raul irá cuidar de você. Ele é como Alaric. Forte e protetor. – Ela deu um olhar especulativo para Luisa. – E, eu desconfio, muito apaixonado por trás daquela aparência composta. Luisa enrubesceu. Tamsin riu, corando, também. – Desculpe. Eu não pretendia embaraçá-la. É apenas que, às vezes, tenho vontade de me beliscar. Tudo parece tão irreal. – Eu sei o que você quer dizer. – Tamsin também era estrangeira... uma plebeia que se casara com seu príncipe por amor, e intrigara todo mundo. Mas Tamsin se apaixonara. Luisa enfrentaria seu casamento real e o peso da expectativa pública, sem amor. – Fico feliz que você esteja aqui – acrescentou Luisa, grata pela presença da mulher calorosa. – Eu também! E depois de sua lua de mel, espero que nós possamos passar mais tempo juntas. Luisa assentiu, não querendo desapontá-la. Raul era viciado em trabalho. Não tiraria dias de folga para uma lua de mel. Não com uma esposa que não queria realmente. Uma esposa que era apenas uma solução para um problema. Um nó se formou em seu estômago quando uma batida soou à porta. – Está na hora, Vossa Alteza. A MÚSICA aumentou de volume, as grandes portas se abriram, e Luisa atravessou a soleira da capela do castelo. Luzes multicoloridas brilhavam através das janelas antigas. O aroma de plantas, incenso e uma variedade de perfumes preenchia o ar. Centenas de rostos se viraram para olhá-la. Ela não reconheceu um único. Uma onda de pânico quase fez Luisa virar-se e correr. Seu coração batia contra as costelas e seus joelhos tremiam. Ela parou, curvando a mão na manga de Alaric. Ele lhe cobriu a mão com a sua e inclinou-se para mais perto. – Luisa? – Este é um casamento pequeno? – Atordoada, ela viu bandeiras heráldicas, incluindo algumas do dragão vermelho de Maritz, penduradas do teto alto. – Coragem, pequena. Tudo logo acabará. – Ele deu um passo à frente, e ela não teve escolha senão seguir. – Tamsin e eu fizemos uma aposta sobre quem usa o chapéu mais absurdo. Casamentos incitam mulheres a usarem as coisas mais monstruosas em suas cabeças, não acha? Ele continuou brincando ao longo do corredor, quase a distraindo dos convidados. Convidados que observavam. Julgavam. Achando-a insatisfatória. Subitamente, ela capturou um sorriso. Era Tamsin, encorajando-a. Atrás dela havia outra mulher, loura platinada, repleta de joias, mas com expressão mal-humorada. Então eles estavam no fim do corredor, e Luisa voltou os olhos para o homem que evitara olhar desde que entrara. Raul, alto e maravilhoso num uniforme vermelho e preto, parecia o modelo para Príncipe Encantado. A expressão dele era austera e orgulhosa. Não havia uma centelha de prazer no rosto bonito. Uma completa ausência de qualquer coisa que pudesse um dia se transformar em amor. Ela piscou contra as lágrimas, detestando-se, porque mesmo agora, deparada com a indiferença de Raul, ansiou pelo carinho que ele tinha começado a lhe mostrar. Como ela podia ser tão fraca para desejar o impossível? Alaric impulsionou-a para a frente, e Raul pegou-lhe a mão na sua, a outra mão segurando-lhe o cotovelo, quando Luisa balançou. Ela precisava controlar sua ansiedade. Tinha concordado com aquilo. Desviou o olhar, para as flores no altar: um rio de rosas e lírios, a fragrância muito forte para seu estômago embrulhado. O padre falou, mas Luisa não ouviu. Estava pensando que lírios, no seu país, eram tradicionais para funerais. – QUEM É aquela mulher? – Luisa observou a loura platinada inclinar-se contra Raul, a mão possessiva no braço dele. O vestido vermelho combinava com o paletó dele, e o decote avantajado mostrava um lindo colo. Ela sorria, o semblante muito diferente daquele que Luisa vira na capela. – Ela não estava na fila da recepção – acrescentou Luisa. Raul estava do outro lado do salão de festas, de costas para Luisa, mas dali, ela podia quase jurar que a mulher flertava com ele. A raiva inundou-a. – Ela é uma ex-namorada? Ao seu lado, Tamsin engasgou com champanhe. – Você está bem? – Sim, eu inalei algumas bolhas. Não estou acostumada com champanhe. Luisa assentiu, então perguntou: – Você não a conhece? Finalmente, Tamsin olhou para cima. E corou. – Tamsin? – A expressão de sua nova amiga deixou Luisa tensa. – A mulher com Raul? Ninguém com quem você precisa se preocupar. – As palavras saíram de maneira afobada. – Ela mora nos Estados Unidos, agora. – Mas quem é ela? Tamsin deu outro gole do champanhe. – É Ana. A madrasta de Raul. Madrasta? – Mas ela é muito jovem! – E não agia como madrasta. A mulher estava flertando descaradamente. O único consolo de Luisa era que Raul estava rígido, embora inclinasse a cabeça para ouvi-la. – Eu acho que ela e Raul têm aproximadamente a mesma idade. Luisa percebeu o desconforto de Tamsin, que desviou o olhar, como se procurando uma diversão. A intuição disse-lhe que havia alguma coisa que Tamsin não estava lhe contando. Luisa virou-se, notando como os convidados mantinham distância do par. Ninguém abordara Raul desde que a madrasta demandara a atenção dele, mas todos olhavam de modo especulativo. Sussurros aconteciam em volta deles. A onda de desconforto se transformou em desconfiança. Não! Luisa se recusava a tirar conclusões sobre os relacionamentos de Raul. Independentemente do que seus olhos lhe dissessem. Entretanto, não podia sufocar um sentimento de traição. Como se sentindo seu escrutínio, Raul virou-se, encontrando seu olhar. Ela enrubesceu ao perceber que havia sido pega observando-o. Mas tinha todo direito de estar lá. Esta era a sua festa de casamento. Seu dia. Mesmo se não fosse sua escolha. Uma risada histérica quase escapou de sua garganta. Hoje deveria ser o dia mais feliz de sua vida! Se ela não risse do absurdo, certamente choraria. Prendendo os olhos de Raul, ela levantou o queixo e bebeu o resto de seu champanhe. – Se você me der licença, Tamsin, é melhor eu me apresentar para minha sogra. – Luisa entregou sua taça para um garçom. Ergueu as saias do vestido formal, e fez convidados se moverem para o lado, enquanto ela passava. ELA ERA magnífica. Abria caminho entre a multidão como se esta não existisse, os olhos prendendo os dele. Uma onda de calor o percorreu diante da visão de Luisa. Distraidamente, Raul afastou a mão de Ana do seu braço. Ele fizera o que tivera de fazer... aceitara a presença dela publicamente. Mas agora bastava. Ele já tivera o bastante, oito anos atrás! Mal registrou o protesto de Ana, enquanto andava em direção à sua nova esposa, e o prazer o inundava. O dia inteiro, ele estivera rígido de tensão. Preocupações com o país. Fúria pelo retorno de Ana. Desconforto diante da ideia de casamento. Culpa por ter forçado a mão de Luisa. A necessidade de enterrar seus pensamentos atrás de uma capa de calma real. Agora, a tensão se transformara em alguma coisa que não tinha nada a ver com preocupações, e tudo a ver com necessidades reprimidas por muito tempo. E, com o desafio, ele leu a expressão e a postura de sua noiva. Havia um brilho feroz nos olhos azuis. Ele respirou fundo, a primeira respiração livre do dia. Tinha cumprido seu dever, casandose. Agora, queria esquecer sobre dever, diplomacia, construir pontes com políticos intransigentes e acalmar os egos feridos dos amigos de seu pai. Queria esquecer suas próprias dúvidas. Queria... Luisa. Ele sorriu. – Luisa, você está encantadora. – Ela ameaçou tropeçar, e ele parou à sua frente, pondo a mão na cintura delgada para firmá-la. Através de renda e seda, sentiu músculos se flexionando quando ela suspirou. Raul pegou-lhe a outra mão na sua e levou-a aos lábios. Então, virou-lhe a mão e pressionou os lábios no pulso delicado. Ouvindo-a arfar, ele moveu a boca lentamente, beijando-lhe a palma e tocando a língua no centro desta. Luisa tentou recolher a mão, mas ele não permitiu. – Você vai me apresentar para sua mãe? Ele viu a dúvida e o orgulho ferido nos olhos azuis, e, silenciosamente, aplaudiu a coragem dela. – Você quer dizer, a segunda esposa de meu pai. Não minha mãe. – Meu erro. – Ela mordeu o lábio. – Vocês dois pareceram tão próximos... O tom de ciúme na voz de Luisa o inundou de prazer. O desejo dela combinava com o seu? Uma onda de excitação o percorreu. Ele se lembrou da paixão de Luisa, do jeito que ela se derretera em seus braços. Pensou em como ela o observava quando achava que ele não estava olhando. Raul inclinou-se para a frente e sussurrou: – Eu não vou apresentá-la. Você não gostaria dela. Luisa arfou diante de sua honestidade. Ele queria beijar aqueles lábios até que ela esquecesse como falar. Queria aquela energia poderosa canalizada em direções mais satisfatórias. – Por que não? – Luisa pareceu perplexa. – Porque ela não é uma boa pessoa. – Mas certamente eu preciso conhecê-la. – Dificilmente. Ela partirá para Los Angeles, esta noite. De carona com o mais novo namorado, um produtor de Hollywood. Ele nem sequer sentiu a raiva usual. Ana não podia se incomodar em fingir estar de luto pelo marido. O casamento deles tinha sido uma farsa, seu pai fazendo vista grossa para qualquer coisa no comportamento de sua jovem esposa que pudesse ferir seu orgulho. Raul estava cansado de fingir que o casamento de seu pai não fora uma farsa. Seu pai estava morto, e não podia mais ter o ego ferido. Ana não merecia mais do que a mera observância da cortesia. A tentativa dela de arrancar mais dinheiro dos cofres reais tinha sido esperada, porém o momento que ela escolhera para fazer aquilo surpreendera até mesmo Raul, que a conhecia bem. – Venha – disse ele, virando Luisa em direção ao palco, onde o trono real estava. Ela segurou as saias e acompanhou-o. Raul inalou o refrescante aroma de lavanda e ajudou sua esposa a subir os degraus. O rubor nas faces de Luisa era charmoso. O olhar dele desceu para o lindo colar de ouro, então para onde o topo dos seios se movimentava com a respiração. Suas mãos coçavam de vontade de tocá-la. Sair cedo da festa causaria agitação. Mas Raul não estava no humor de preocupar-se com protocolo. Depois de anos cumprindo deveres e convenções, tentando compensar pelo trauma do escândalo real anterior, ele escolheu, pela primeira vez, desconsiderar tradição. A sensação era boa. Ele ignoraria as fofocas. Pegou a mão de sua esposa, apreciando a presença dela ao seu lado. – Senhoras e senhores. – Raul dirigiu-se aos convidados. Quando terminou o breve discurso, uma salva de palmas se seguiu. Ele levantou a mão em reconhecimento, então, virou-se para Luisa. – É hora de sairmos da festa. Os olhos azuis se arregalaram, mas um momento depois, ela sorriu e acenou para a audiência. Ela era realmente incrível. Logo, eles estavam andando ao longo de um corredor privado, de mãos dadas. As portas se fecharam, emudecendo o som dos aplausos. A satisfação o preencheu. Estava sozinho com sua esposa. TUDO ACONTECERA tão rapidamente que Luisa sentia-se atordoada, enquanto ele a conduzia pelo labirinto de corredores. Apenas duas coisas eram reais. A mão quente de Raul envolvendo a sua, e o fato de que ela estava casada. Mesmo na capela não parecera real. Mas ouvindo Raul dizer aos convidados que aproveitassem a hospitalidade do casamento, vendo a curiosidade, a boa vontade, a até a inveja em alguns dos rostos que a encaravam, a verdade atingira-a. Ela se unira a este homem. Não havia volta. Luisa tremeu quando Raul parou diante de uma porta não familiar, então deu um passo ao lado, esperando que ela o precedesse. Ela entrou, então parou. Não deveria estar ali, nos aposentos privados dele. A porta foi fechada, o silêncio os envolvendo. – Venha. – A mão em seu cotovelo impulsionou-a para a frente. – Você precisa de comida. Não comeu nada na recepção. – Como você sabe? – Pela maior parte da recepção, eles tinham ficado em lados opostos do salão. – Eu observei você. A ideia de que Raul se concentrara nela durante o tempo que conversara com dignitários enviou uma onda de calor pelo corpo de Luisa. – E você só tomou uma taça de champanhe. Ela o fitou. O ardor que viu na expressão dele a fez desviar os olhos. – Talvez comer alguma coisa seja uma boa ideia. – Depois, ela iria embora. Estava muito consciente de Raul ao seu lado. Consciente de si mesma, também. Do farfalhar do tecido rico ao redor de suas pernas, quando ela se movia. Do corpete justo contra seu peito, enquanto ela se esforçava para inalar oxigênio. O tecido do sutiã parecia subitamente abrasivo, arrepiando os bicos de seus seios. Ela se distanciou um passo, apenas para parar abruptamente. – Isto parece... íntimo. – Isso importa? – É claro que importa! – Ela soou como uma adolescente, não como uma mulher madura. Uma mesa baixa estava posicionada diante de um sofá imenso. Almofadas de veludo pareciam macias e convidativas. Uma garrafa de champanhe descansava num balde de prata. Uma lagosta estava arranjada de maneira suntuosa ao lado de uma cumbuca de gelo, que aninhava caviar. Luisa deu um passo atrás, apenas para colidir com Raul. Ela se virou, as mãos plantadas no peito largo, como se para detê-lo. Então, por que seus dedos se curvaram no paletó dele? Apressadamente, ela recuou. – Isto é algum tipo de brincadeira? É como um cenário clichê para uma sedução. – Você não gosta de lagosta? – Bem, sim. – Ela só experimentara uma vez, ali no castelo, e adorara cada garfada. – Ou de frutas? – Ele gesticulou, e ela viu uma travessa com suas frutas favoritas: pêssegos, cerejas e amoras. Atrás desta, havia uma cesta com pães... não os pães finos que agraciavam a mesa do palácio, mas pães integrais, grossos com sementes, que Luisa descobrira quando se convidara para a cozinha. O cardápio tradicional dos camponeses, tinham lhe dito. O melhor pão que ela já provara. Luisa inclinou-se para a frente e viu uma tábua de queijo, uma cumbuca com castanhas de caju. Suas favoritas. Um pote familiar na ponta da mesa chamou sua atenção. A letra de Mary no rótulo: geleia de framboesa. Luisa piscou contra as lágrimas. Estendeu a mão e pegou o pote da geleia de sua tia, a geleia que ela ajudava a fazer desde que era criança. Um gosto de lar. Ela mal podia acreditar que ele se dera o trabalho de pedir aquilo para Mary. Raul não tinha apenas estalado os dedos e ordenado uma festa. Aquilo era apenas para ela. Algo especial. A consideração dele a pegou de surpresa. – Como você...? – Sua garganta fechou com emoção. – Como eu soube que você prefere fruta a doces, queijos a chocolate? – Ele pausou. – Porque eu noto tudo sobre você. – A voz de Raul era profunda. – Você é minha esposa, agora. Eu quero fazê-la feliz. Nem para si mesma, Luisa admitiu como aquelas palavras aliviavam sua alma ferida. – Mas não assim. – Ela gesticulou, englobando o sofá, as taças de cristal, a cena inteira de sedução. – Nós concordamos com um casamento de conveniência! Ela estava tentando convencê-lo ou convencer a si mesma? Desde que entrara na câmara dele, experimentava uma deliciosa excitação. Raul não disse nada. Todavia, o olhar dele queimava. A boca era uma linha sensual de tentação, a qual ela precisava resistir. Parte de Luisa queria desesperadamente tocá-lo. Para não fazer isso, levou as mãos para trás das costas e as manteve lá. – Nós nos casamos por razões legais. De modo que você possa herdar, lembra? – Eu lembro. – A voz dele era baixa, ressonando através do seu corpo para lugares cuja existência ela não conhecera antes. – Também me lembro de como foi a sensação de beijá-la. Você lembra, Luisa? Do fogo entre nós? Do desejo? Ela negou com a cabeça, e seu véu balançou entre eles. – Não foi assim. Você apenas... Luisa perdeu o fôlego quando ele lhe removeu o véu. Os dedos másculos estavam a centímetros de seu peito, e ela respirou fundo, tentando não pensar em Raul tocando-a ali. Mas a respiração significou movimento. Seu peito roçou a mão dele, fazendo-a tremer. Ele não olhou para cima, mas ela viu os lábios de Raul se curvarem. – Eu não sou um divertimento passageiro – disse ela. – Eu nunca pensei que você fosse. Leva as coisas muito a sério para isso. – Os olhos verdes encontraram os seus, e Luisa esqueceu sobre respirar. As mãos dele baixaram e seguraram as suas, quentes e firmes. – Você é minha esposa. Será a mãe de meus filhos. Eu levo isso a sério. O sorriso que ele deu causou impacto no corpo inteiro de Luisa. Seu coração disparou... em indignação, assegurou a si mesma. Todavia, indignação não tinha nada a ver com o calor de desejo inundando seu corpo. – Eu não concordei em compartilhar sua cama. – Você não quer filhos? – Ele arqueou uma sobrancelha. – É claro que eu quero... – Ela parou e tentou organizar seus pensamentos confusos. – Um dia. – Uma vez, Luisa sonhara com uma família. Mas com Raul? Pensara que aquele fosse um casamento apenas no papel. Ou se enganara deliberadamente? O problema era que ele a instigava com cada coisa que ela tentava, sem sucesso, negar querer: ele. Desde o começo, tinha sido incapaz de impedirse de responder a ele no nível mais básico. Para Raul, desejo era uma coisa corriqueira, mas para Luisa, era algo que transformava a vida. Ela aprendera a desconfiar muito cedo. Ele sorriu, então, ergueu-a contra seu peito num único movimento fluído. – Eu nunca disse... Raul atravessou o cômodo como se ela não pesasse nada, entrando em outra câmara e fechando a porta. A visão de uma cama enorme secou a boca de Luisa. Ele a colocou no chão, e ela fechou os olhos, desejando que não se deleitasse na fricção de cada centímetro que seu corpo deslizava contra o dele. – Pensei que você fosse corajosa, Luisa. Por que está com medo? Alguém machucou você? Ela abriu os olhos. – Não, eu não fui machucada. – Não fisicamente, pelo menos. Todavia, ele estava certo. Ela estava com medo: de seus novos sentimentos intensos. Com medo de se perder, se cedesse ao desejo. Isso era uma traição ao seu código de moral... entregar-se a um homem que não amava. Entretanto, parada ali, sentindo a respiração de Raul no seu rosto e o corpo poderoso tão perto, seu desejo era profundo. Desejo por uma intimidade que nunca tivera. E nunca a teria com amor, não agora que aceitara uma barganha prática e fria. Ele lhe roubara essa chance. A percepção foi como uma mão fria em seu coração. Ela nunca experimentara amor verdadeiro. Nunca experimentaria o que seus pais haviam compartilhado. Aquilo sempre fora seu maior desejo, especialmente depois do desastre de seu primeiro romance. O conhecimento diminuiu seus medos e tornou-a muito zangada. A raiva, mais forte que tristeza ou dúvida, inundou-a. Raul lhe roubara tanta coisa. – É tão errado encontrar prazer, juntos? – Ele vociferou os pensamentos que já estavam preenchendo a mente de Luisa. – Você me desaponta, Luisa. Pensei que fosse mulher o bastante para admitir o que sente. Luisa fitou os olhos verdes ardentes, e a raiva ajudou-a a decidir entregar-se à autossatisfação. Deu um passo à frente e pressionou-se contra o corpo forte. Segurando-lhe o rosto nas palmas, beijou-o na boca. Inclinou-se sobre ele, até que, no meio de um farfalhar de seda, ambos caíssem na cama. CAPÍTULO 8 ERA COMO segurar uma chama. Luisa era pura energia. Seu toque, seu corpo, fazendo o sangue de Raul ferver nas veias. Um tremor o percorreu quando ela inseriu a língua em sua boca e aprofundou o beijo. Havia pouca delicadeza, mas a avidez de Luisa incitou seus impulsos mais possessivos. Ela lhe segurou a cabeça, como se para aprisioná-lo em paixão ardente. Raul deu boas-vindas ao ato, correspondendo ao beijo que era mais uma batalha por supremacia do que uma carícia. Sentia-se vivo como nunca antes, capturado por uma força pulsante que apagava todos os seus pensamentos, exceto um. Sua necessidade por Luisa. Agora. Ele a posicionou em cima de seu corpo, em contato com seu sexo, enquanto afundava na cama grande. Estava em chamas. Ela se contorceu de prazer, encorajando-o, e ele ergueu as camadas de saias, puxando-as para cima da cintura de Luisa, até que, finalmente, tocou a pele sedosa nua. Seu sexo pulsou quando ele abriu as mãos sobre as nádegas firmes. O gemido de Luisa contra sua boca tornou seu nível de tensão impossivelmente alto. Um momento depois, ele a tinha deitada sobre as costas. Ela estava corada, os olhos brilhando, os lábios entreabertos num convite. O peito se movia contra o corpete justo, e Raul permitiu-se um momento de diversão. Cobriu um dos seios com a mão, sentindo-a arquear-se sob seu toque. Então, movimentou a mão em círculos, e Luisa gemeu, fechando os olhos e se contorcendo. Com a outra mão, Raul estava novamente levantando as saias. Mas um homem podia fazer duas coisas ao mesmo tempo. Ele abaixou a cabeça e, com a boca aberta, beijou-lhe o seio, sentindo o bico enrijecer através de seda e renda. Agarrando sua cabeça, Luisa arfou em deleite. Sob ele, continuava se contorcendo, como se procurando o peso de seu corpo sobre o dela. Raul nunca tivera uma mulher tão enlouquecida por ele. Não havia jogos ou sutilezas, apenas um desejo devastador que combinava com o seu. Tamanha paixão era libertadora. Raul subiu a mão pela coxa de Luisa, pressionou o sexo feminino através da calcinha e descobriu que estava úmido. Esse era todo o encorajamento que precisava. Segundos depois, tinha aberto sua calça e se libertado o bastante para deslizar sua extensão contra o ápice quente, num movimento tão excitante que ele teve de pausar e se recompor. Luisa não esperaria. Ela circulou seus quadris de um jeito tão voraz que acabou com o último vestígio de controle de Raul. Apoiado sobre um braço, Raul rasgou o delicado tecido da calcinha e acomodou-se sobre ela. – É isto que você quer? – perguntou ele com voz rouca e a promessa de prazer incomparável. Os olhos azuis brilharam. Ele leu paixão e alguma outra emoção não familiar neles. Mas o corpo feminino relaxou sob o seu. Ela estava incrivelmente suave, e, ao mesmo tempo, vibrando com energia erótica. Ela ofegou, mas ele queria ouvir as palavras. Por que, não tinha ideia. Levou uma das mãos ao seio arrepiado. – Fale, Luisa. – Raul pressionou-se contra ela, torturando ambos com a fricção de seus corpos. – O que você quer? Em vez de responder, Luisa puxoulhe a cabeça para baixo e beijou-o ardentemente. Raul lutou contra a força daquele ardor. Mas era demais. Era irresistível. Com um gemido abafado, ele cedeu e correspondeu ao beijo, enquanto, usando suas coxas, abria-lhe mais as pernas e se acomodava à entrada dela. Deslizou a mão sobre os cachos louros e encontrou o botão do prazer de Luisa. Um toque ali, e ela tremeu. – Raul! – Seu nome falado de maneira ofegante rompeu seu controle frágil. Um momento depois, beijando-lhe a boca, ele a penetrou. Uma pressão se construiu em seu interior, quando paredes quentes e sedosas o envolveram. A passagem era mais apertada do que parecia possível. Raul sentiu as coxas de Luisa tremendo contra seus quadris. Atônito, ele tentou recuar, mas Luisa entrelaçou os dedos em seus cabelos e beijou-o com um desespero que fez sua cabeça girar. Ela envolveu as pernas ao seu redor, e Raul afundou mais. Segurando-lhe os quadris, ele inclinou o corpo para trás, vendo estrelas atrás de seus olhos fechados, enquanto incríveis sensações o percorriam. Após um momento, investiu novamente, cedendo à força de um desejo que o perseguia desde aquela noite em Paris. – Sinto muito, eu não posso... – Suas palavras foram engolidas pelo som de um grito cortando o ar. Luisa convulsionou-se ao seu redor, roubando-lhe a força e a consciência, enquanto ele se perdia em deleite. Somente os gemidos de Luisa o levaram de volta à realidade. Então ele começou os movimentos, os quais se tornaram cada vez mais frenéticos, até que, com a respiração ofegante, Raul mergulhou no esquecimento. APESAR DO peso de Raul sobre ela, Luisa sentia como se estivesse flutuando. Ecos de prazer incrível ainda percorriam seu corpo. Finalmente, ela reuniu forças para se mexer, e deixou suas pernas, impossivelmente pesadas, afundarem contra o colchão. Até mesmo a dor nos músculos não usados era satisfatória. Seus braços se apertaram em volta de Raul. Ela pensou em abrir os olhos, mas a ideia de que a realidade interferisse na experiência mais notável de sua vida impediu-a de fazer isso. Mesmo agora, não podia dar um nome aos sentimentos que experimentara quando confrontara Raul na recepção do casamento deles. Ou quando Raul a desafiara a fazer amor com ele. Não... fazer sexo com ele. Luisa engoliu em seco, tentando ignorar o aperto no coração. Se aquilo era fazer sexo, como seria fazer amor? Como alguma coisa tão gloriosa podia ter resultado de emoções tão turbulentas? Luisa esperou pela vergonha que sentiria. Pela tristeza de ter se entregado a um homem que, apesar de ser seu marido, não a amava. Sim, havia tristeza. Tristeza porque nunca conheceria como era estar com um homem que amava e que a amava. Todavia, não podia negar o fato de que, com Raul, ela sentia-se... diferente, gloriosa, poderosa. As palavras não faziam justiça à sensação de flutuar, de vida, excitação e prazer que tinham percorrido suas veias quando eles atingiram o orgasmo, juntos. Mesmo quando eles discutiam, havia uma promessa escondida que a instigava a desafiá-lo. O que isso significava? Luisa franziu a testa, enquanto tentava entender seus sentimentos. Mas pensar era muito difícil, quando apenas estar deitada ali, com Raul, era tão maravilhoso. Um dedo gentil alisou sua testa. – Sem rugas de preocupação. Este não é o fim do mundo. Luisa abriu os olhos para ver o rosto de Raul. Ele parecia tão perplexo quanto ela se sentia. Uma mecha de cabelo escuro caía sobre a testa larga, fazendo-o parecer ainda mais jovem, mais acessível. Ela queria afastar a mecha dali, mas, apesar do que eles haviam acabado de compartilhar, o ato parecia íntimo demais. Ele se moveu, colocando o peso sobre os cotovelos, e ela enrubesceu, percebendo que eles ainda estavam unidos, intimamente. Luisa desviou o olhar, mas ele lhe virou a cabeça na sua direção. – Você não me contou. – Não contei o quê? – Que você não tinha feito isto antes. Aquilo não havia sido óbvio? Enquanto a paixão durara, tal fato não importara para Luisa. Tudo que contava era seu desejo feroz, e o fato de que Raul correspondera com a mesma avidez. Ele ficara desapontado? – Isso importa? – perguntou ela. – É claro que importava. Eu teria me certificado que fosse melhor para você. Luisa quase perguntou como era possível que fosse melhor do que aquilo, mas conteve-se a tempo. – Eu poderia fazer isso agora – ofereceu Raul com um sorriso. Para sua surpresa, Luisa sentiu seu corpo inundar de desejo. Tão breve! Mas não podia esquecer que, para Raul, ela era uma conveniência. Se Luisa tentasse, talvez conseguisse se convencer de que o que eles tinham acabado de fazer significava tão pouco para ela quanto devia significar para ele. Apenas tinha de tentar mais arduamente. – Eu preciso levantar. Este vestido irá ficar destruído. Abruptamente, ele se retirou de seu interior, o sorriso desaparecendo. Luisa imediatamente sentiu a falta do peso sobre si. Tremendo, ela desceu as saias, enquanto Raul se levantava e fechava a calça. Luisa precisava lembrar que ele estava acostumado a lidar com sexo. Para ele, aquilo não era especial. – Deixe-me ajudá-la. – Ele lhe segurou o braço e puxou-a para uma posição sentada. Evitando-lhe o olhar, Luisa estudou a seda amassada. – Está arruinado. – Bobagem. O vestido apenas precisa de alguma atenção. O palácio tem tintureiros especializados. Luisa alisou o tecido, notando um rasgo na renda fina, sentindo umidade no corpete, onde Raul lambera. – Eles saberão o que nós fizemos. – Ninguém espera que sejamos celibatários. – Ele lhe inclinou o queixo. – Você não deve se envergonhar do que nós fizemos. – Sentindo-a hesitar, Raul perguntou: – Está envergonhada? Alguma coisa se passou entre eles, uma onda de calor, de paixão. Então aquilo não tinha acabado, afinal de contas. Ela ainda o desejava. Foi quando encarou a verdade. – Não, eu não estou envergonhada. – Ótimo. Porque eu pretendo que isso aconteça com frequência. – Ele lhe acariciou o rosto, e ela arfou ao ver a promessa nos olhos verdes. – Vire-se, e eu a ajudarei remover o vestido. Você se sentirá melhor depois de um banho. Luisa virou-se de lado, dizendo a si mesma que era natural que apreciasse sexo com seu marido bonito e viril. Eles eram jovens e saudáveis. Tais... impulsos eram esperados. Todavia, ela não conseguia se livrar da sensação de que as coisas não eram tão simples assim. Ela não entendia seus sentimentos. Num minuto, ele a irritava. No minuto seguinte, intrigava-a. Às vezes, gostava muito dele. Talvez tivesse caído pela sedução habilidosa de Raul? Ele era altamente experiente, e ela era uma completa novata. Entretanto, houvera pouca sedução. Ele parecera tão descontrolado quanto ela. O toque dos dedos de Raul em sua nuca a fez arfar, quando o colchão afundou atrás dela. – Isso levará um tempo. – O costureiro insistira numa infinidade de botões, cada um com sua casa minúscula. Raul sentou-se perto, a respiração soprando na pele desnuda de Luisa. Ela endireitou a coluna, os mamilos formigando. No silêncio, ouvia sua própria respiração ofegante. – Fico pensando... – Sim? – Ela nunca ouvira Raul tão hesitante. – Por que você era tão contra vir para cá? Não era apenas a perspectiva do casamento. Desde o começo, você se opôs à ideia de ser herdeira. – Incomoda você que eu não caí aos seus pés? – Se eu algum dia esperei isso, já sei o quanto me enganei, agora. Ademais, eu prefiro você como é. – Ela pensou ter ouvido admiração na voz dele. Seus sentidos conspiravam para enganá-la? Dedos quentes roçaram suas costas, e uma pulsação começou em sua barriga. Ele destruía suas defesas. Luisa respirou fundo, buscando controle. – Você não vai me contar? – A voz dele era sedosa como uma carícia. Ela fechou os olhos. Que mal isso faria? – Quando eu tinha 16 anos, minha mãe foi diagnosticada com uma doença terminal. Eu cuidei dela. – Sinto muito. Isso deve ter sido difícil. Luisa assentiu, um nó na garganta. – Pelo menos, eu estava com ela. Mas a questão é, antes disso, alguns estranhos foram à fazenda, querendo falar comigo. Tinham sido enviados por meu avô. – Não para visitar sua mãe? – Não. – Um gosto amargo preencheu a boca de Luisa. – A oferta era somente para mim. Ele me convidou para morar com ele e aprender a ser uma princesa, de verdade. – Ela pausou, lembrando-se das promessas e das demandas. – No começo, eu fiquei excitada. Eu queria vê-lo, estar na casa dele. Era como um conto de fadas. Mesmo que ele me mantivesse ocupada no palácio, me treinando, ele dizia, para quando eu estivesse pronta para assumir meu lugar com ele. – Você veio para cá? Eu não sabia. Ela assentiu. – Ninguém sabia. Obviamente, eu não correspondi aos altos padrões de meu avô. Mas fiquei aqui tempo suficiente para avaliá-lo, e avaliar as pessoas com quem ele convivia. Isso fez com que eu nunca mais quisesse voltar. – Luisa deu uma risada vazia. – Eu era ingênua. Levei um tempo para perceber que eu era apenas uma marionete para ser manipulada. Sem escolhas. Sem carreira. Sem controle do meu próprio destino. Os toques de Raul em suas costas eram gentis. Ela experimentou um desejo ridículo de inclinar-se contra ele. – Quando a notícia da doença de minha mãe chegou, eu enxerguei quem ele realmente era. Meu avô insistiu que eu cortasse todos os elos com meus pais. Detestava que minha mãe houvesse escapado da vida que ele planejara para ela... uma esposa obediente para algum amigo dele. Meu avô nunca a perdoou. Quando eu supliquei por ajuda, para um melhor tratamento, ele ficou furioso, alegando que minha mãe parara de existir no momento que saíra de casa. Luisa tremeu ao se recordar do sarcasmo do homem mais velho. Da crueldade dele. Um xingamento furioso em maritzian cortou o ar. – Eu sabia que ele era antiquado. – A voz de Raul era um sussurro letal. – Mas isso foi cruel. Luisa sentiu lágrimas nos olhos ao ouvir ultraje e compaixão na voz dele. Ela jamais contara aquilo aos seus pais, embora suspeitasse que sua mãe tivesse adivinhado parte do que acontecera. Um alívio inundou-a por ter revelado a terrível verdade. – Então, você voltou para a fazenda. – Mamãe precisava de mim. Assim como papai. Quando ela morreu, ele ficou devastado. – Foi quando você começou a assumir a responsabilidade pela cooperativa. Lamento, Luisa. Ela enrijeceu. – Não há nada para lamentar. Eu queria estar com eles. – Eu quis dizer que lamento que seu primeiro contato com Maritz tenha sido tão ruim. Não é de admirar que você tenha detestado a ideia do lugar. A risada dela foi amarga. – Eu pensei que o lugar fosse repleto do pior tipo de pessoas. – Não apenas seu avô? Ela hesitou, ciente de que, mais uma vez, estava entrando num território que jamais compartilhara. – Luisa? – Ele pausou. – Você quer me contar? – Foi a preocupação na voz de Raul que fez aquilo. A gentileza. – Havia um sujeito um pouco mais velho do que eu, no palácio de meu avô. – Ela respirou fundo. – Ninguém sabia que eu era a neta do príncipe, mas quando nós nos encontramos nos jardins, não pareceu importar quem eu era. Nós conversamos por horas. – Luisa parou. Como tinha sido ingênua! – Nós nos víamos todos os dias. E eu... me apaixonei. – Ele a beijara, e Luisa se acreditara apaixonada. – Ele quis fugir para que nos casássemos, mas eu me recusei. – Ela quisera seus pais no seu casamento. – Aquilo o irritou. Ele tentou... me forçar, mas eu lutei. Ele partiu com um olho roxo, mas não antes de explicar que só se aproximara de mim por causa de quem eu era. Tinha descoberto, e queria me usar para sua vantagem. Ele era um homem ambicioso. Casar-se com uma princesa seria uma vitória. – Luisa. – A voz de Raul era rouca. – Eu sinto muito. – Não é culpa sua. – Mas é meu país, meu povo. Ela sentiu um beijo terno em suas costas, e ficou tentada a pedir que Raul fizesse amor com ela novamente, até que as memórias perturbadoras desaparecessem, e tudo que ela conhecesse fosse êxtase. Raul a fazia sentir coisas que ela não deveria sentir. Sobre pernas bambas, Luisa levantou-se, segurando o vestido, agora solto. Precisava tomar o controle. Já revelara demais. – Eu posso me virar agora, se você me disser onde é o banheiro. – Deixe-me ajudar. – Por trás, ele puxou o vestido. Resistir rasgaria o tecido, então ela cooperou, apenas para descobrir que seu sutiã, de alguma maneira, abrira com o vestido. Ela cruzou os braços para cobrir os seios nus. – Basta. Eu... Ele puxou a seda até que o vestido caísse aos pés dela. Tarde demais para lembrar que sua calcinha estava rasgada, em algum lugar. Não havia um roupão ou uma toalha para cobrir sua nudez. Ele a circulou, vestido em suas roupas finas, enquanto ela não usava nada além de meias de nylon presas às coxas por uma faixa elástica. Sentia-se vulnerável, especialmente diante daquele corpo tão alto. – Você é maravilhosa. Deixe-me olhar para você. O brilho ávido nos olhos verdes e a respiração ofegante dele falavam de um homem prestes a perder o controle. Luisa sentiu as mãos másculas tremendo, quando ele pegou as suas. Ela nunca ficara nua na frente de um homem. O embaraço ruborizou sua pele. Mas com isso, veio uma onda de excitação, uma crescente sensação de poder. Porque Raul parecia... hipnotizado. Com esforço visível, ele ergueu o olhar para o rosto dela. Lentamente, balançou a cabeça. Então, liberou-a e deu um passo atrás. – Você era virgem. Ficará dolorida. Eu não deveria... Luisa não se sentia dolorida. Não muito. Sentia-se maravilhosa. Porque ele a queria como ela o queria? Ou por que Raul se importava o bastante para se conter? Para colocar as necessidades dela em primeiro lugar. Ela abraçou o conhecimento. Era uma coisa pequena, mas parecia significativa. Quando ele gentilmente ergueu-a nos braços, Luisa aninhou-se contra o corpo forte. Deleitou-se nas batidas firmes do coração de Raul, enquanto ele a carregava para o banheiro. Minutos depois, ela estava dentro de uma banheira com água aromática. Um bálsamo para seus músculos levemente doloridos. Sob cílios baixos, observou Raul remover o paletó, enrolar as mangas da camisa e pegar uma esponja. A antecipação a percorreu. Os movimentos circulares que ele fazia com a esponja eram impossivelmente eróticos. E Raul cuidava dela com tanta gentileza. Como se ela fosse preciosa. O suor brilhava no rosto de Raul, escorrendo pelo pescoço, e ela queria deslizar a mão ao longo da pele dele. Mas a expressão tensa no rosto bonito dissuadiu-a. Até que ela notou o volume dentro da calça masculina. Não era de admirar que ele parecesse estar com dor. Ou que as mãos grandes tremessem tanto que ele derrubou o sabonete mais de uma vez. O conhecimento deixou-a em chamas. – Eu vou sair. – Luisa esforçou-se para se levantar. – Espere! – Não se importando com a água, Raul tirou-a da banheira com facilidade. Ela se inclinou contra o peito largo e abriu as mãos sobre a camisa dele. – Você precisa descansar. – O maxilar de Raul estava rígido de tensão. – Não é disso que eu preciso. – Luisa ergueu o queixo e encontrou-lhe os olhos. – Preciso de você. Pronto, ela falara aquilo, e o mundo não desmoronara ao seu redor! Na verdade, a sensação era ótima. – Agora. – Seus dedos se curvaram na camisa ensopada. Ela se colocou na ponta dos pés e beijou-lhe os lábios. Num movimento apressado, ele a ergueu nos braços e carregou-a para colocá-la sobre a cama. Segundos depois, estava sem camisa. A pulsação de Luisa acelerou enquanto ela estudava o torso esculpido, com pelos escuros. As mãos grandes foram para a calça, enquanto ele se livrava dos sapatos. Um momento depois, Raul estava nu e imponente. Ela se esqueceu de respirar enquanto admirava o corpo perfeito, sentia o poder irradiando-se dele. Então, ele se juntou a ela, e todos os pensamentos desapareceram. Raul deslizou as mãos por seu corpo inteiro, acariciando-a e provocando-a, até que Luisa se contorcesse e tentasse retribuir as carícias. Mas ele a segurava, as coxas grossas imobilizando-a, as mãos hábeis capturando-lhe os pulsos. A tortura começou quando ele usou lábios, dentes e língua em seu corpo. Minutos se transformaram numa infinidade de prazer. Era como se ele tentasse compensá-la pela velocidade do ato sexual anterior. Luisa estava em chamas, tremendo com desejo e prazer. Aquilo era intenso demais. – Por favor, Raul. Pare de me enlouquecer. Ele olhou para cima, então tomou um mamilo na boca. Prendeu-lhe o olhar, enquanto circulava o bico com a língua. Quando ela gemeu, Raul deslizou a mão ainda mais para baixo, massageando seu ponto mais sensível. E Luisa gritou, deleitando-se nas ondas de êxtase que abalaram seu corpo inteiro. Ele ainda prendia seu olhar, mesmo enquanto o mundo girava à volta dela. A sensação era tão maravilhosa que a deixou sem fala. Mas não era Raul. Luisa agarrou os ombros largos e, finalmente, quando ela tombou contra o colchão, ele se acomodou entre suas coxas. A sensação da carne quente ali renovou as energias dela, e uma sensação de familiaridade preencheu-a. Desta vez, ele deslizou para seu interior com facilidade. Com cada investida, a fricção se construiu para níveis inflamáveis. Mas eram os olhos dele que a hipnotizavam. A conexão entre eles era diferente, desta vez. Ela leu excitação e contenção nos olhos verdes. E mais. Alguma coisa desprotegida e vulnerável. Honesta. Raul acelerou o ritmo, e Luisa ergueu os quadris para encontrá-lo. O prazer crescente inundava a ambos. Então o clímax veio. Um clímax de abalar a terra, que continuou e continuou. Durante o tempo inteiro, eles se entreolhavam em comunicação silenciosa. A sensação era de que eles compartilhavam como iguais. CAPÍTULO 9 A REALIDADE atingiu-a quando Luisa acordou. Na noite anterior, ela quase acreditara que eles tinham compartilhado mais do que seus corpos. Mas acordar sozinha na cama de Raul relembrou-a quais eram as prioridades dele. O casamento era sobre o desejo dele pelo poder. Sexo era um bônus. Seu peito apertou quando ela se forçou a pensar naquilo como sexo. Sentira como se eles tivessem feito amor. Todavia, Raul incumbira uma criada de acordar sua esposa, discretamente fingindo não notar que Luisa estava nua entre os lençóis emaranhados. Ela enrubesceu ao ver a garota pegando o vestido de noiva, dobrando os metros de seda e renda com a reverência que este merecia. Então assentiu quando a criada apontou em direção à porta que conectava ao seu quarto, para quando ela quisesse se vestir. Luisa nem soubera que os apartamentos eram conectados. Nem mesmo reconhecera o corredor, quando Raul a levara para lá! Estivera tão envolvida em sua reação a ele. Finalmente sozinha, Luisa olhou para o travesseiro vazio ao seu lado. Não tinha direito de sentir-se desapontada. Soubera o que estava fazendo. Ela começara aquilo! Mas durante uma noite de intimidade, aninhada nos braços dele, esquecera. O que eles tinham compartilhado era puramente físico. Seu sonho de um dia encontrar amor, como seus pais, estava morto. Ela teria de contentar-se com isso... o êxtase e a solidão. Ignorando a bandeja de café da manhã, Luisa foi para a porta de conexão, determinada a não se render a lamentações. Arrumaria sua cama e... Ela agarrou a maçaneta da porta e parou quando um pensamento ocorreulhe. Seus joelhos tremeram tanto que ela temeu cair. Eles não tinham usado contracepção! Como ela só percebera isso agora? O fato de Raul confundir seus pensamentos assustava-a. Luisa mudava quando estava ao seu lado. Ele lhe despertava paixões que ela jamais conhecera. Todas as suas emoções, de raiva à alegria, pareciam muito mais intensas por causa dele. Entregar-se a Raul certamente tornava-a mais vulnerável à influência potente dele. No entanto era tarde demais para voltar atrás. Tudo que podia fazer era tentar ser sensata, lembrar que eles compartilhavam um relacionamento conveniente. Não cairia na armadilha de sonhos tolos. Começaria com contracepção. Não estava pronta para trazer um bebê em tal situação. – VOSSA ALTEZA, bem-vindo. – O prefeito fez uma reverência, a cabeça careca brilhando ao sol. Mas a atenção de Raul não estava na figura resplandecente diante da prefeitura. Estava em Luisa. Num traje claro, os cabelos dourados presos no topo da cabeça, ela estava muito elegante. E uma olhada para os lábios carnudos e pescoço delgado fez memórias virem à superfície. De Luisa sob ele na noite anterior, se contorcendo com paixão irrestrita, enquanto o enlouquecia completamente e lhe roubava todo controle. Como se ele fosse virgem, e ela a sedutora! Mesmo a sensação do braço de Luisa, enquanto ele a guiava sobre o piso irregular de pedras, fazia seu desejo ganhar vida. Ele precisou acessar toda sua experiência para mascarar seus sentimentos. Era isso que o preocupava. O fato que ela o fazia sentir. Não meramente luxúria. Não apenas alívio e gratidão porque a coroa estava assegurada. Um coquetel de emoções o abalara na noite anterior, quando ela falara sobre o avô e o suposto sedutor. Um desejo feroz de protegê-la o consumira. Fúria pelo sofrimento de Luisa. Tristeza. Uma ternura que ele jamais conhecera. E uma alegria tão profunda que o chocara e o tirara da cama esta manhã, procurando trabalho como uma distração. Instintivamente, Raul tentou negar a intensidade de suas emoções. Não lidava com sentimentos. Era assim que tinha sobrevivido e reconstruído sua vida diante da humilhante especulação pública e dor privada. O que Luisa fazia com ele? Mesmo quando jovem, quando ele fora golpeado pelo que, tolamente, considerara amor, Raul comportara-se melhor do que isso. A multidão vibrou e Raul teve de se esforçar para se lembrar de acenar em reconhecimento. Pela primeira vez, teve dificuldade de lembrar seu dever. A percepção apavorou-o. O dever tinha sido sua vida. Ele se devotara ao seu país com uma dedicação que outros homens ofereciam a esposas e famílias. Isso lhe dava propósito. Ajudara-o a prosseguir nos piores momentos, quando o mundo desmoronara à sua volta. – Príncipe Raul, princesa Luisa, bemvindos. – Os olhos do prefeito brilharam com admiração, antes que ele fizesse uma reverência para Luisa. Raul experimentou uma vontade irracional de puxar Luisa para trás de si e tirá-la de visão. Ou levá-la para o castelo e trancá-la em seu quarto. Lutando por controle, Raul cumprimentou o prefeito adequadamente, que logo se voltou para Luisa, segurando uma enorme chave ornamental, que simbolizava a entrada livre dela em todos os prédios na capital. – Bem-vinda à nossa cidade, Vossa Alteza. Espero que você seja tão feliz aqui, como estamos em tê-la conosco. – Ele falou em maritzian, depois em inglês, e a multidão aplaudiu. – Muito obrigada. É um prazer estar aqui. – Para a surpresa de Raul, Luisa falou num maritzian lento, porém claro, quando se voltou para as pessoas alinhadas na praça. – É gentileza de todos vocês terem vindo para me dar as boas-vindas em sua cidade adorável. Estou ansiosa para conhecê-la. A multidão gritou em alegria. Não importava que Luisa se virara do microfone, de modo que o som saiu baixo, ou que o sotaque dela não era perfeito. O fato de ela ter se esforçado para falar o idioma, quando todos sabiam que ela não era fluente, encantou o povo. O prefeito sorriu. Mais aplausos se seguiram. O orgulho o percorreu quando Raul observou-a sorrir para o público. Somente ele, ao seu lado, viu como as pequenas mãos tremeram quando ela pegou a chave pesada. Somente ele, o homem que a forçara a abandonar tudo que ela conhecia, e adotar um papel que Luisa rejeitara repetidamente, imaginava o que aquela fachada custava a ela. A dor o preencheu. Ele fizera o que precisara fazer por sua nação, e tinha sido Luisa quem sofrera. Ele se recordou de quando ela lhe contara sobre a manipulação do avô. Raul fechou as mãos em punho. Suas próprias demandas deviam ter sido como um eco daquela época horrível. O pensamento era desconfortável. A sensação era de culpa. – Aqui, deixe-me ajudá-la. – Raul pegou a chave, perturbado pela vergonha que sentia. Não estava acostumado a questionar suas ações. Passara tanto tempo seguro no conhecimento de que agia para o bem do povo. – Acabou – murmurou ele. – Já podemos voltar para o carro. Finalmente, Luisa encontrou-lhe os olhos, e chocou-o. Não havia mais a surpresa e o calor que tinham transformado a noite anterior em alguma coisa notável. Alguma coisa que ele recusava-se a analisar. Pela primeira vez desde que ela concordara com o casamento, o olhar de Luisa era distante. Raul experimentou uma inexplicável sensação de perda. Ele pensara que eles haviam começado a compartilhar alo mais do que aceitação de dever. Instintivamente, estendeu o braço para tocá-la, mas ela se afastou. No último momento, ele se lembrou de agradecer ao prefeito. Quando terminou, Luisa já estava na sua frente, a coluna ereta numa postura perfeita. Aquilo não fora aprendido na última semana. A mãe dela lhe ensinara? Ele a seguiu, o olhar na saia feminina que se movia sobre as curvas deleitosas com cada passo. Por isso, Raul não viu o tumulto na extremidade da multidão. A próxima coisa que viu foi um dos guardas de segurança abrindo espaço, enquanto outro se inclinava para a frente. Instantaneamente alerta, Raul atravessou as pedras, a adrenalina o bombeando, preparando-o para protegê-la. Ele parou ao seu lado, e ela se abaixou. Foi quando Raul viu o cachorro vira-lata, peludo e com a língua de fora, saltando aos pés dela. O coração de Raul disparou. Quando ele vira seus homens de segurança entrando em ação, temera o pior. Se alguma coisa acontecesse a ela... – Luisa, ele está sujo. – As palavras soaram mais bruscas do que ele pretendera, enquanto o alívio o inundava. Sua esposa tinha lhe dado um susto. – Ele é apenas um cãozinho inofensivo. – Ela pegou o vira-lata, murmurando num tom tão suave que fez o cachorro lambê-la em êxtase. Se Luisa lhe sorrisse daquele jeito, sussurrando e esfregando sua barriga, ele lamberia, também. Ela apenas precisava sorrir, e ele ficava excitado como um adolescente. Raul não entendia isso. Uma comoção capturou-lhe o olhar. Um garotinho estava tentando passar pelo staff de Raul, que assentiu para que eles o deixassem passar. A criança olhou, com medo, sobre o ombro, então correu em frente. Raul viu um homem carrancudo de rosto vermelho, na multidão, onde o garoto estivera. Uma memória de seu próprio pai, usando aquela mesma expressão numa das poucas ocasiões que se dignava a passar tempo com seu filho mais novo, lhe veio à mente. Raul não recordava o que tinha feito para ganhar a ira de seu pai. Arranhado seus sapatos, talvez, ou ganhado uma nota menos que perfeita nos estudos. Não era preciso muita coisa para desapontar o velho homem. A amargura o preencheu, e ele estreitou os olhos. O garoto parou na frente deles, a cabeça baixa. – Este cachorro é seu? – Raul esperou que o menino assentisse, silenciosamente, então sentiu a mão de Luisa no seu braço. O quê? Ela achava que ele ia agredir a criança? – Sim, senhor. Ele não faz mal a ninguém. A corda arrebentou e... – Completamente compreensível – disse Raul. – Com todo este barulho, é normal que ele tenha ficado superexcitado. O garoto levantou a cabeça e olhouo, como se incapaz de acreditar nos seus ouvidos. – Ele deve ter sentido que a princesa gosta de cães. – Raul descobriu-se querendo tranquilizá-lo. Não tivera ideia que Luisa gostava de cachorros, até que a vira acariciar um. Ela sorriu para o garoto e agachou-se no nível dele. Boa com crianças e cachorros. Raul observou o nervosismo do menino desaparecer sob a aprovação calorosa de Luisa, e percebeu que ela era natural com ambos. Daria uma boa mãe... amável e afetuosa. Ela entregou o cachorro para o menino e acariciou-lhe a cabeça. Raul imaginou-a preferindo jogar bola com as crianças no jardim do palácio a aperfeiçoar seu latim, antes que todos fossem chamados para jantar. E uma emoção o percorreu. Aquelas crianças seriam seus filhos. Pela primeira vez, a ideia de paternidade o agradou, embora ele não tivesse experiência de vida em família. Tentou imaginar Luisa carregando um bebê seu, e achou a ideia estranhamente satisfatória. Embora não tão prazerosa quando tê-la para si mesmo, nua e desejosa. – É hora de ir. – Ele lhe pegou o braço e ajudou-a a se levantar. Então conduziu sua esposa e o garoto em direção ao homem carrancudo, na frente da multidão. Queria sua esposa para si mesmo, quisera isso desde que fora forçado a deixá-la esta manhã. Mas antes, tinha um problema a resolver. LUISA ACENOU para a multidão reunida junto à estrada. Era mais seguro olhar para eles do que para o homem ao seu lado, que continuava confundindo-a. Ela cruzou as pernas sobre o ponto da meia que o cachorro puxara. Então limpou as manchas de lama em suas roupas. – Não mexa nas suas roupas. Ninguém mais pode ver a sujeira. Assustada, ela se virou. Pensara que Raul estivesse focado na multidão do outro lado da estrada. Mesmo agora, ele não se virou. Ela podia ver-lhe o perfil, enquanto ele acenava. Observando os lábios cheios, lembrouse do jeito que ele a beijara na noite anterior. Um calor inundou-a, e ela engoliu em seco. Não adiantou. Não podia reprimir o desejo que ele lhe despertara. Obviamente, Raul não compartilhava o sentimento. Ele estava muito composto. Sem dúvida, desgostoso por ela ter pegado um cachorrinho que não passava de um vira-lata. Luisa fechou os olhos e imaginou as fotos da imprensa. Raul parecendo régio, e ela com um rasgo na meia. Bem, ela não pedira para ser princesa. Ele a obrigara a isso. Agora deveria aguentar o fato de que ela não se encaixava no molde. Ela vira o comportamento sério de Raul durante a cerimônia de hoje. Como se esperando que ela se embaraçasse. Nem mesmo suas frases ensaiadas, aprendidas com a ajuda de Lukas, tinham suavizado o semblante severo dele. Somente uma vez durante todo o procedimento a fisionomia de Raul se suavizara. Com o garoto. – Por que você foi até aquele homem na multidão? – perguntou ela. Raul virou-se, e uma onda de desejo abalou-a quando seus olhares se encontraram. Como ele fazia aquilo? Era igual com todas as mulheres que ele levava para cama? A ideia era pura tortura. – Eu quis me certificar de que não houvesse problema. – Problema? – Ele estava reclamando, em voz alta, sobre o filho ser descontrolado. E sobre como o cachorro era irritante. – Está brincando? – exclamou Luisa. – Peter era uma gracinha, mas muito sério, não descontrolado. Se alguma coisa, ele parecia muito velho para a idade que deve ter. Raul deu de ombros. – Viver com pais críticos faz isso. Luisa queria questionar a afirmação de Raul, mas a expressão fechada dele a fez desistir. – O que você falou para o pai dele? – Eu o parabenizei pelo bom filho. – Bela atitude! Olhos verdes atônitos encontraram os seus, e, por um momento, Luisa perdeu o fio da meada. – E eu convidei o garoto e o cachorro para visitar o castelo. Luisa tentou, sem sucesso, ler a expressão de Raul. Entretanto, o instinto disse-lhe por que ele fizera aquilo. – Você quis se certificar de que ele não se livrasse do cachorro? Raul prendeu-lhe o olhar por mais um instante, antes de virar-se para a janela e levantar a mão em reconhecimento das pessoas aglomeradas na lateral da estrada. – Um garoto deveria poder ter um cachorro como companhia. Você não acha? O tom dele indicava que o assunto não era importante. Entretanto, ela se lembrou do medo no rosto de Peter, e do jeito nervoso que ele olhara para o pai. Raul tinha se dado o trabalho de falar com eles, quando não falara com mais ninguém na multidão, preferindo acenar a distância. Luisa sentiu que o episódio do menino mexera com ele. Franzindo o cenho, percebeu que não sabia quase nada sobre o homem com quem se casara. CAPÍTULO 10 A MÃE de Raul morrera no parto, o pai era impaciente com crianças e Raul não tinha irmãos. Isso era tudo que Luisa sabia, aparte o fato de que ele se distanciava atrás de uma terrível reserva. O que isso dizia sobre ele? – Você teve um cachorro quando era criança? Raul deu-lhe um olhar surpreso, enquanto o carro atravessava os portões do castelo. – Não – replicou ele. – Cachorros e relíquias antigas não é uma boa combinação. Luisa olhou para o enorme pátio e pensou sobre o labirinto de terraços, jardins murados e canais em volta do castelo. – Há muito espaço aqui fora. Se ela tivesse um filho, deixaria a criança ter um ou mais cachorros, e descobriria um meio de proteger as antiguidades. O choque fechou sua garganta ao perceber que estava imaginando um garotinho correndo no pátio, com cabelos pretos e olhos verdeesmeraldas. Olhos como... – Você está pronta, Luisa? – Ela olhou para cima, e descobriu que Raul já estava de pé ao lado da limusine, oferecendo a mão. Não havia como evitar tocá-lo, sem ser rude. Ainda assim, mesmo preparada, o toque dele enviou eletricidade por todo seu corpo. E quando ele enganchou o braço no seu, e conduziu-a para a entrada, Luisa teve de reprimir tremores de excitação. – Com quem você brincava? – Ela procurou distração. – Eu tinha pouco tempo para brincar. Príncipes precisam ser moldados para o papel. Luisa ficou horrorizada. Mas o tom frio dele sinalizava o fim do assunto, enquanto Raul acelerava os passos e conduzia-a para o elevador. – Mas quando você era pequeno, deve ter brincado. Ele deu de ombros. – Eu não lembro. Tive tutores e aulas desde os 4 anos. Hora de brincar não era agendada, embora, mais tarde, esportes foram incluídos no currículo. – Isso parece... organizado. – Ela reprimiu seu ultraje. Certamente, eles poderiam ter permitido algum tempo para ele ser criança! Aquilo reforçou sua resolução de não se arriscar a ter um bebê. Nenhum filho seu seria tratado dessa forma. Raul chamou o elevador. – Meus dias eram movimentados. Movimentados, mas não felizes. O castelo antigo era perfeito para brincar de esconde-esconde e de outras fantasias que crianças adoravam. O coração de Luisa se comprimiu pelo garotinho que Raul tinha sido, tão solitário. Tal solidão explicava a atitude distante dele? O autocontrole formidável? – Você via muito seu pai? – Como o fato de o pai ter sido impaciente com crianças o impactara? Eles entraram no elevador, e quando começaram a subir, ele respondeu: – Meu pai era ocupado. Ele tinha um país para reinar. As portas do elevador se abriram, e Luisa não se moveu. – Quer dizer que ele não tinha tempo para você? O semblante de Raul fechou-se completamente. E ela teve vontade de abraçá-lo. A imagem de Peter, o garotinho na praça, tão formal, lhe veio à mente. Raul tinha sido assim quando criança? Sua própria infância gloriosa, repleta de risadas e amor, dias felizes no rio, ou andando de trator com seu pai, brincando com cachorros e até com um lagarto, era tão alegre em comparação. – Por que você quer saber? – Por que não quer me contar? Eu sou sua esposa. – Ela nem gaguejou com a palavra. – É certo que eu o conheça melhor. Raul permaneceu imóvel, o rosto tenso e ilegível. Então ela capturou um brilho nos olhos dele que a fez tremer. – Exatamente o que eu tinha em mente. – A voz dele baixou para um tom sedutor. – Nos conhecermos melhor. – Raul puxou-a para dentro do hall acarpetado, e ela percebeu que eles estavam na frente da suíte dele. O brilho nos olhos verdes era inconfundível. Desejo puro. Alguma coisa feroz e perigosa enviou deliciosas ondas de excitação através dela. Luisa esperou que o orgulho que lhe desse forças para rejeitá-lo. Em vez disso, o desejo fechou sua garganta. Ele a introduzira ao prazer, e ela era muito inexperiente para esconder o fato de que ansiava por mais. Raul devia ter lido seus sentimentos, porque sorriu. Sem palavras, ele abriu a porta, impulsionou-a para dentro, e encostou-se contra a madeira, fechando a porta com seu corpo. O fogo explodiu no sangue de Luisa. E ela reprimiu a memória da desolação daquela manhã, e a desconfiança de que o desejo de Raul agora mascarava uma determinação de fazê-la parar de questionar sobre seu passado. Neste momento, era a paixão de Raul que ela queria. Talvez por causa do vazio que vira nos olhos verdes, quando ele falara sobre sua infância, que, para ela, parecia assustadoramente fria. Ao se casar com ele, Luisa estaria se condenando a uma solidão similar? Todavia, não era medo que a impulsionava. Nem simples luxúria. Luisa percebeu que queria entregarse ao seu marido na esperança de curar um pouco da dor profunda que vira no rosto dele por um momento. – Luisa? Você quer isto? – Sim. Quando ele abaixou a cabeça para roçar seu pescoço com os dentes, todos os pensamentos de Luisa desapareceram. Ela lhe segurou os ombros quando Raul removeu seu casaco e desabotoou sua blusa, abrindo as laterais. – Você foi magnífica esta manhã – sussurrou ele com voz rouca, então, beijou-lhe o topo dos seios, antes de remover-lhe a blusa aberta. Sua saia se seguiu, momentos depois, e ela tremeu em deleite quando mãos grandes deslizaram para seus quadris. – Eu só fiz o que era esperado. – Entretanto, as palavras dele lhe causaram prazer. Luisa arfou quando ele levou a boca ao seu sutiã de renda, provocando, até que o bico estivesse ereto. Ela tremeu de excitação, puxando-o para mais perto, impressionada por sua súbita necessidade de abraçá-lo e confortá-lo. Este homem grande que não precisava de ninguém. Raul levantou a cabeça e encontrou seus olhos. Os dele estavam sombreados, entristecendo-a. Ele se esforçava tanto para manter distância. Nunca aprendera a compartilhar nada? Ela era louca por pensar que eles pudessem fazer o casamento dar certo? No momento que Raul abaixou-a sobre a cama e despiu ambos com uma habilidade que falava de prática e urgência, os pensamentos de Luisa tinham quase se dispersado. – Contracepção! – exclamou ela quando estava abaixo dele. – Eu não quero engravidar. Ele arqueou as sobrancelhas. – Nós estamos casados, Luisa. Ter um filho ou uma filha é um resultado natural. Ela meneou a cabeça. – Não. Eu não estou pronta. Tudo aconteceu muito rapidamente. Pelo que pareceu uma eternidade, Raul olhou-a, como se a estivesse vendo pela primeira vez. Finalmente, assentiu e rolou para o lado, alcançando o criado-mudo. Quando retornou, ele não a cobriu com seu corpo, imediatamente. Para um homem que se casara por necessidade, Raul tinha um jeito de fazê-la se sentir o foco de seu mundo. Como se nada existisse, exceto ela. A concentração dele, a intensidade do olhar, e o toque sedutor das mãos fortes em seu corpo eram excitantes. O olhar de Raul suavizou-se com cada carícia, e Luisa sentiu alguma coisa se mover em seu interior. Ela se arqueou no toque, o coração disparado. Ele sussurrou no seu ouvido, a respiração como uma carícia em seu lóbulo: – Atinja o clímax para mim, Luisa. Entregue-se às sensações. Arfando, ela se focou nele, sentindo a intensa conexão entre os dois. O rosto de Raul estava sério, tenso em concentração. Do nada, o orgasmo veio, sacudindo o corpo de Luisa e roubando-lhe o fôlego. O calor inundou-a quando ele abaixou a cabeça para tomar sua boca num beijo longo que, de alguma maneira, intensificou os espasmos do prazer. Sem forças, ela afundou na cama. Agora, ele viria para ela. Sonhadoramente, Luisa sorriu, seus músculos internos pulsando, prontos. Apesar de sua exaustão, era Raul que ela queria. Ele se moveu, mas não como ela esperava. Chocada, ela o viu se abaixando, roçando o rosto no interior de suas coxas. – Não! Eu quero... O beijo de Raul silenciou-a. Ela não deveria querer mais, depois do êxtase que ainda ecoava através de seu corpo, mas as carícias da língua, dos lábios de Raul, despertavam seu desejo, novamente. Aquilo era apenas o começo. Atordoada, Luisa entregou-se às sensações, até tudo que conhecia era Raul e o prazer que ele dava ao seu corpo ansioso. O gosto dele estava em sua língua, o aroma, em suas narinas, enquanto ela se sintonizava com os toques e com o som da voz profunda. Cegamente, virou-se para ele, quando Raul finalmente tomou-a. Luisa respirou fundo, aceitando o corpo poderoso dentro do seu, enquanto parecia absorver a essência dele em seus poros. Raul gritou, e o prazer inundou-a diante do som de seu nome naquela voz rouca. Instintivamente, abraçou de maneira protetora. ela o RAUL ESTAVA completamente exausto, apenas com força suficiente para abraçar mais Luisa, o corpo dela sobre o seu. Disse a si mesmo que o momento após o orgasmo era sempre intenso, mas sabia que mentia. Desde a primeira vez que dormira com sua esposa, soubera que sexo era diferente. Por quê?, perguntou-se. Porque ela não obedecia aos seus desejos, docemente? Porque, apesar de concordar com o casamento, Luisa ainda era independente, não como as mulheres que davam o que ele quisesse, por causa do que Raul poderia lhes proporcionar em retorno? Com Luisa, ele tinha a sensação de que segurava um presente precioso nos braços. Ela era muito mais do que um corpo quente para saciar sua luxúria. Este era um território desconhecido. Ou, se fosse honesto consigo mesmo, um pouco como os sentimentos que descobrira em sua juventude, quando acreditara em amor. O pensamento deveria apavorá-lo. Não acreditava mais em tais coisas. Era por isso que seduzira sua esposa assim que eles tinham voltado da cerimônia civil. Não somente porque a queria, mas também a fim de parar de questionar o que ela o fazia sentir. E a fim de parar as perguntas de Luisa. Raul acariciou os cabelos sedosos. Era possível que tivesse usado sexo para evitar falar sobre seu passado? Mesmo sobre algo tão simples como sua infância? Ele era realmente tão covarde? Sua vida era um livro aberto. Tinha sido dissecada pela mídia durante anos. Todavia, o desconforto que ele sentira respondendo as perguntas de Luisa o surpreendera. Assim como sua estranha vontade de se abrir com ela o surpreendera. Talvez experimentasse essa vontade por achar que devia a Luisa, por ela ter concordado com o casamento? Qualquer que fosse a razão, quando ela se moveu para se afastar, ele deslizou a mão ao redor da cintura delgada e pigarreou. – Meu pai só estava interessado em mim como herdeiro ao trono. – Isso é horrível. – Ela murmurou as palavras contra seu peito, sem olhar para cima. De alguma maneira, aquilo facilitou. – Eu fui criado por empregados. Sempre foi assim na família real. Ele aparecia apenas para me lembrar que eu tinha de me sobressair em tudo, e estar pronto para usar a coroa, um dia. – E você se pergunta por que eu não estou pronta para ter filhos! O choque o abalou. Ele falara vagamente sobre a possibilidade de gravidez, mas não absorvera a realidade. Luisa, grávida com um bebê seu... – Nenhum filho nosso seria criado dessa forma – declarou ele com firmeza. – Verdade? Raul assentiu. Ele passara anos aderindo à tradição, enquanto lutava para estabilizar a monarquia e a nação, trabalhando por trás dos bastidores, enquanto o foco de seu pai estava em agradar sua jovem esposa caprichosa. Tinha sido Raul quem tentara reparar os danos depois do fiasco com Ana. Mas algumas tradições precisavam mudar. – Você tem a minha palavra. Talvez, ele não fosse um sucesso como pai. Certamente, seu modelo de amor paternal tinha sido distante e frio. Pensou em Peter, o menino com seu cachorro. Pelo menos, Raul sabia o que não fazer. E Luisa compensaria por suas falhas. Ela nascera para ser mãe. Ele sorriu, satisfeito diante da perspectiva. – Conte-me... – Ela hesitou. – Sim? – Ontem, na recepção. Por que todos olhavam para você e sua madrasta como se esperassem uma cena? Raul suspirou, a satisfação se dissipando num instante. Mas Luisa tinha o direito de saber. Como ela apontara, era sua esposa. Melhor saber dos fatos por ele do que através de fofocas. – Porque eles sabem que eu não gosto dela. – Por que não? – Ela fingiu se casar com meu pai por amor. Ele era orgulhoso e arrogante, e nunca se apaixonara antes, mas não merecia o que teve. – Raul não gostara de ver seu pai sofrendo, definhando-se numa sombra do homem que tinha sido. – Ele foi dispensado por uma caçadora de fortunas com a metade de sua idade, que queria riqueza e prestígio. Ela passava a maior parte do tempo com outros homens. Os últimos anos de meu pai foram infernais. Mesmo em sua raiva, Raul sentiu um peso saindo de seus ombros. Guardara suas opiniões para si mesmo por tanto tempo, sabendo que uma palavra descuidada inflamaria as fofocas e especulações que ele tentara tão arduamente conter. A verdade do casamento de seu pai tinha sido adivinhada por muitos, porém nunca provada. Ele trabalhara incansavelmente para proteger a reputação de sua família, ajudando seu pai, quando ele se tornou menos capaz de controlar seu reinado. Superando um desejo de expor Ana pela bruxa que ela era. Seu país precisava de fé na monarquia para mantê-la segura. – Há mais, não há? Mais que você não está me contando? Raul sentiu movimento, e baixou os olhos para ver Luisa estudando-o. Brevemente, ele hesitou. Então, olhou para o teto e lhe contou: – Eu conheci Ana quando tinha 20 e poucos anos. Ela era da minha idade, mas diferente de qualquer garota que eu conhecia. Não era aristocrata. Não sorria com afetação, não falava de política e não se importava com fofocas. Os lábios dele se torceram perante a memória. – Ela era um sopro de ar fresco. Vibrante, extrovertida, engraçada. Não tinha medo de embaraçar os cabelos andando num conversível, ou de apreciar um piquenique ao ar livre, em vez de jantar num restaurante chique. – Ou pelo menos, assim parecera. – Eu me apaixonei. – Raul parou, respirando fundo. Era a primeira vez que admitia aquilo. – Oh, Raul! – A tensão na voz e no corpo de Luisa era óbvia. A história não era bonita. De repente, ele queria contar o mais rapidamente possível. – Eu estava errado sobre Ana. Ela parecia inocente e descomplicada, mas não era realmente assim. Eu não fui o único enganado. Apresentei-a ao meu pai, e ele se apaixonou por ela com toda a força de um velho tolo por uma mulher jovem, linda e muito inteligente. Raul lembrava-se daquela época vividamente. Ana o rejeitara quando tinha o pai dele aos seus pés. Afinal de contas, por que ter um príncipe, quando um rei estava disponível, com uma riqueza imensa à sua disposição? – Meu pai casou-se com ela, quatro meses depois. Raul havia pensado que seu mundo acabara. Ele se refugiara em dever, mergulhando em qualquer coisa que aliviasse a dor da traição. Tinha se tornado hábito direcionar toda sua paixão, todas suas energias para as obrigações da realeza. Aquilo funcionara. Durante anos, ele renunciara à necessidade de elos emocionais. – Raul, eu sinto muito. Isso deve ter sido devastador. Luisa não imaginava o quanto. Mas o sofrimento o tornara mais forte. Ele era autossuficiente, e grato por isso. Então, por que se sentia desnudado de um jeito que não tinha nada a ver com a falta de roupas? – Você ainda... gosta dela? Raul olhou-a. – Gosto? – Ele quase cuspiu a palavra. – Da mulher que me enganou e instigou meu próprio pai a me trair? Da mulher que riu de mim? Ela quase destruiu a monarquia com seu comportamento escandaloso. Destruiu o orgulho e honra de meu pai, com seus casos. Raul balançou a cabeça. – Eu aprendi uma lição valiosa com Ana. Jamais confiar. Nunca ser ingênuo, novamente. O amor é uma armadilha para os descuidados. Ocorreu-lhe que o que o atraíra em Ana todos aqueles anos atrás era o que o atraía em Luisa. A inocência dela num mundo de maquinações políticas. Seu jeito direto e honesto. Sua beleza. Exceto que em Luisa, aquilo era real. Em Ana, tinha sido falso, designado a armar uma cilada. Ana havia ido ao seu apartamento uma manhã, poucos meses depois do casamento, com a audácia de esperar que Raul a satisfizesse no departamento que seu pai não fora capaz de satisfazêla. O desgosto o preencheu. Raul levara muito tempo para banir a mancha daquela memória, embora ele a tivesse rejeitado, evitando-a sempre que podia. No final, Ana lhe fizera um favor. Ele nunca mais cairia na fantasia do amor. A CABEÇA de Luisa girava com a verdade chocante. A luz dura nos olhos de Raul, quando ele falara da madrasta, a fez tremer. Ou isso era por causa da revelação de que ele, um dia, amara Ana? Ele ainda a amava? Apesar da negação veemente de Raul, era evidente que Ana ainda evocava emoções fortes nele. A náusea a envolveu. Raul a tomara com a compulsão de um homem declarando sua posse. Ou um homem querendo apagar o passado. Ele realmente a quisera? Ou a paixão voraz tinha sido pela mulher que o rejeitara? Luisa era uma substituta? Ela mordeu o lábio. Raul dissera que não acreditava em amor. Já se apaixonara tão perdidamente por Ana que não podia escapar de seus sentimentos? E se não fosse isso, por que a ideia de Raul, privado de amor quando criança, e agora rejeitando amor enquanto adulto, enchia Luisa de tristeza? CAPÍTULO 11 LUISA ESPIAVA, através de olhos estreitos, enquanto Raul se vestia. Exausta, ela adormecera, apesar dos pensamentos perturbadores que as revelações tinham produzido. Horas atrás, eles haviam alcançado o paraíso, e ela sentira como se tivesse encontrado a outra metade de sua alma nos braços dele, especialmente quando Raul começara a se abrir um pouco sobre sua vida. Mas as últimas revelações sobre Ana tinham diminuído o prazer e lhe causado dúvidas. O que Raul sentia? Ela algum dia saberia? Ela suspirou. O melhor que podia fazer por si mesma, e pelo homem que temia estar gostando demais, era ser sensata... viver um dia de cada vez e tentar construir um casamento que desse certo. Nunca poderia haver amor entre eles. Raul fechara essa possibilidade. A amargura que ele sentira em relação à esposa do pai o abalara tanto que ele admitira que nunca mais confiaria numa mulher, ou amaria. Quem poderia culpá-lo, depois da traição devastadora que ele sofrera? Não era de admirar que ele se fechara atrás do dever e do excesso de trabalho. E que preferisse casar-se sem emoção. Era possível que ele algum dia aprendesse a confiar? A amar? – Está acordada? – Olhos escuros a fitaram e alguma coisa se derreteu dentro de Luisa. – Você precisa ir? – De onde tinha vindo aquilo? Ela soava tão carente. – Eu pretendia ficar aqui. – Um calor brilhou nos olhos verdes quando ele observou o formato dela sob o lençol. E subitamente, Luisa sentiu aquela familiar onda de desejo ganhar vida. Tolice ficar feliz porque ele, obviamente, não queria ir embora. Isso apenas significava que seu marido era viril, com apetite para sexo. Um apetite muito saudável. – Houve um telefonema. – Ele se virou para pegar o paletó. – Negócios urgentes. Luisa quase perguntou que negócios eram tão importantes para interromper uma lua de mel, quando lembrou que eles não estavam compartilhando uma. Eles não tinham esse tipo de casamento. A união deles era de conveniência. Ela se virou, lutando contra tristeza. – Sinto muito, Luisa. – Ele a assustou, falando do lado da cama. – Esse é um assunto que eu não posso ignorar. Tem a ver com a inquietação que mencionei. Eu sou necessário. Ela assentiu. Ele tinha um país para governar. Essa sempre seria a prioridade de Raul. Somente agora, Luisa começava a entender como isso era importante para ele. Durante as crises pessoais, as responsabilidades da realeza, pelo menos, tinham permanecido constantes. Elas haviam oferecido consolo quando ele mais precisara? – Você tem uma agenda apertada – murmurou ela para preencher o silêncio. – Você se acostuma. Eu fui preparado para trabalhar desde que tinha 4 anos. O lembrete enviou um tremor pela coluna de Luisa. Raul dissera que os filhos deles seriam criados de modo diferente, e ela lutaria com unhas e dentes para que nenhum filho seu fosse “moldado” daquela forma cruel. Ela precisava defender-se e defender sua família, se tivesse uma. Luisa sentou-se contra a cabeceira, puxando o lençol sobre os seios, e tentando ignorar o brilho de interesse nos olhos de Raul. – Eu vou levantar, também. Tenho planos para esta tarde. – Planos? Não há compromissos agendados. – Eu quero encontrar Gregor e os outros jardineiros. Você não faz objeção que o jardim ornamental e alguns outros espaços sejam renovados, faz? – Foi uma decisão tomada naquele momento, mas ela se recusava a passar a tarde ali, pensando sobre o estado de seu casamento. – Não, é claro que não. A renovação é uma boa ideia. Mas eu posso designar alguém do meu staff para supervisionar isso. O projeto precisará de consulta, não apenas com os jardineiros, mas com os historiadores do castelo, assim como com o staff da cozinha e de eventos. – Essa será uma boa maneira de conhecê-los. – Luisa precisava de alguma atividade na qual se focar, além de Raul. Não queria pensar nas emoções que ele inspirava, por medo do que descobriria. – Você não precisa trabalhar, Luisa. Ela arqueou as sobrancelhas. – Espera que não faça nada, enquanto você trabalha no dia seguinte ao nosso casamento? – Lamento por isso. Eu preferiria ficar. – Eu preciso de alguma coisa para fazer. De um propósito. Eu enlouqueceria sem isso. Estou acostumada a trabalhar. Raul levantou a mão para a gravata já perfeitamente amarrada, e pareceu desconfortável. – Suas aulas não mantém você ocupada? – Não é o suficiente. – Ela nunca fora boa em aulas formais. Suas habilidades no idioma estavam melhorando, mas se ela tivesse de aprender sobre mais um monarca de Maritz, ou sobre a maneira correta de cumprimentar um duque, gritaria. Ademais, as aulas intensivas evocavam memórias sobre a época que ela estivera em Ardissia. A disciplina rígida e os rostos críticos não estavam lá, mas ela não podia livrar-se da sensação de que jamais correspondia às expectativas. Raul estudou-a, a expressão inescrutável. – Logo, você estará ocupada com os deveres oficiais. Como minha consorte, será requerida em muitos eventos. – Ser vista em inaugurações e festas? – Luisa meneou a cabeça. – Esta não sou eu. – Usando aquelas roupas de alta-costura, ela se sentiria uma fraude. Não ela mesma. Não ajudava lembrar que Raul a comprara, assim como comprara lindas roupas para ela. – Eu começarei esta tarde. – Ela lhe encontrou o olhar, quase o desafiando a protestar. Quando ele meramente assentiu, Luisa respirou fundo. Se ela ia recomeçar, havia mais uma coisa que precisaria enfrentar. – Eu estou planejando visitar Ardissia, também. – Era hora de enterrar o fantasma de seu avô. Talvez, indo lá, confrontando o lugar que significara tanto para ele, e que continha memórias tão horríveis para ela, ajudasse Luisa a enterrar seu ódio. Ele franziu o cenho. – Minha agenda está muito cheia no momento. Ela ergueu o queixo. – Eu preciso esperar por você? Não sou a princesa de Ardissia? É hora de eu assumir minhas responsabilidades. Raul aproximou-se da cama. – O lógico é irmos juntos. As pessoas esperarão isso. – Mas você está ocupado todos os dias. Acabou de dizer que não está livre. – Após as grandes mudanças em sua vida, Luisa também queria tempo sozinha para se reorganizar. Estava numa montanha-russa de emoções nas últimas semanas. – Há questões de protocolo e planos a serem feitos. Membros da realeza não aparecem simplesmente para visitar um lugar ou alguém. Por que ele estava contra sua ida? – Não é perigoso, é? Ele meneou a cabeça. – Ardissia é segura. – Ótimo. Tenho certeza que serei bem-vinda. Eu avisarei que estou indo. Em dois dias. Isso é suficiente? – Quando ele ainda hesitou, Luisa acrescentou: – Certamente, isso é a coisa certa a fazer? É educado visitar, agora que eu aceitei a minha herança. As sobrancelhas baixas de Raul disseram-lhe que ele não via aquilo dessa maneira. Mas então ele murmurou: – O momento não é ideal, mas você está certa. Uma visita faz sentido. Deixe isso comigo. Por que Luisa sentiu como se tivesse perdido a discussão, quando ele assentiu, virou-se e saiu do quarto, a mente obviamente ocupada com assuntos de trabalho? Ela não esperara que ele a beijasse, esperara? – POR AQUI, Vossa Alteza. – O camareiro conduziu Luisa para dentro do estúdio de seu avô. Ela deixara isso por último em seu tour pelo palácio real de Ardissia. Imaginou o velho homem ali, sentado em sua enorme mesa, ornada com ouro. Lembrava-se dele em sua posição de príncipe, e da sua como a da neta pobre e insatisfatória. – Obrigada – falou ela para o camareiro, sorrindo, apesar da rigidez do homem. – Isto é tudo. Quando ele se retirou, Luisa estudou os retratos alinhados nas paredes. Ancestrais com expressões distantes e prepotentes. Ela olhou para o retrato do homem que desonrara filha e neta, quando elas não se dobraram diante do seu domínio. – Quem diria, avô? A filha do fazendeiro é princesa, e logo será rainha. Contudo, não havia prazer no triunfo vazio. Ela não fora lá para tripudiar, mas para tentar deixar o passado para trás e seguir em frente. Cruzou os braços, suprimindo um tremor. Apesar de sua determinação de aceitar sua herança, de representar o papel e seguir o protocolo, Luisa não conseguia imaginar o futuro. O que este lhe reservava? Anos infinitos de recepções públicas e conversas superficiais? Momentos de deleite quando fizesse sexo com Raul? Ela se agarraria a esses momentos, desesperada pelo pouco que Raul podia lhe dar, quando queria muito mais? Sua vida seria estéril de amigos e família? Se ela tivesse filhos, como poderia protegê-los do mundo que produzira um monstro como seu avô? E Raul se tornara um homem tão reservado emocionalmente que Luisa tinha dúvidas se algum dia construiria um relacionamento com ele. Um movimento lhe chamou a atenção. Um grupo de jovens estava atravessando o pátio. Num impulso, Luisa abriu a janela. Risadas alegres cortaram o ar, antes que elas entrassem por uma porta nos fundos do pátio. Qualquer que fosse o lugar para onde elas estavam indo, parecia mais atraente do que este estúdio frio. Ela fechou a janela e dirigiu-se para a porta. RAUL LEVANTOU a mão para as pessoas alinhando a rua, enquanto a limusine seguia para o palácio de Ardissia. Estava ansioso por um intervalo, depois daquela semana intensa. Planejara ir dias atrás, mas desenvolvimentos políticos tinham impossibilitado isso. Agora, poderia dar prazer a si mesmo. Sentia prazer em ver sua esposa. Ela estava fora há cinco dias. Sua cama parecia tão vazia. Seus dias eram organizados e previsíveis, apesar das crises políticas que eles evitavam. A vida parecia... menos, sem Luisa. Ele se lembrou do dia que ela anunciara que ia para Ardissia. Luisa ficara sentada lá, a boca doce numa linha determinada, exigindo ocupação. Exigindo mais. Claramente, ele não era o bastante para satisfazê-la! O orgulho masculino o feriu diante do fato de que ela ficara inabalada pelo que acontecera entre os dois, enquanto ele saíra completamente do equilíbrio. Estivera na ponta de sua língua suplicar que ela não partisse. Porque precisava de Luisa. Não só sexualmente. Nunca se sentira assim em relação a uma mulher. Nem mesmo Ana, no auge de sua atração, invadira seus pensamentos dessa forma. Raul suspirou. De noite, pegava-se tentando tocar Luisa. Sentia-se desolado quando ela não estava lá. Pior, era sua sensação de culpa, pensou ele quando a limusine parou na frente do palácio ancestral. Porque aquela não era a vida que ela escolhera. Era a vida que ele demandara, de modo que pudesse herdar. Sim, Maritz necessitava de um monarca forte para superar dificuldades, e, com o apoio de um governo democrático, evitar uma guerra civil. Mas também não era verdade que ele necessitara ser rei? A monarquia havia sido sua salvação, assim como seu fardo, enquanto ele lutava para tirar seu país do buraco que o casamento de seu pai o colocara. E por isso, Raul intimidara Luisa a entrar no seu mundo. Quisera acreditar que ela encontraria uma vida satisfatória ao seu lado. Nas últimas semanas, ele entendera que ela poderia ser uma boa esposa, e fazer uma enorme diferença para seu povo, mesmo que seu jeito não fosse tradicional. Luisa poderia ser feliz lá? Se ele pensara que ela estaria esperando junto à grande escadaria para cumprimentá-lo, enganara-se. Quem o recebeu foi Lukas, que Raul enviara para lá, a fim de que ele apoiasse Luisa. – Vossa Alteza, bem-vindo. E parabéns pelos resultados de suas recentes negociações. Raul sorriu. – Obrigado, Lukas. Espero que isso signifique paz, novamente. – Ele olhou ao redor, mas não viu sinal de Luisa. – Sua Alteza planejava estar aqui. Ela está atrasada, mas não deve demorar. – Enquanto falava, ele se virou, andando com Raul para dentro do palácio. Era tão grandioso e sombrio quanto Raul recordava. Ele tremeu com o pensamento de Luisa lá, uma adolescente inocente, à mercê do velho malvado que a tratara de modo tão horrível. – Perdão? – Eu disse que o camareiro requisitou uma audiência. Raul parou. – Certamente, o assunto dele é com minha esposa. Esta é a propriedade dela. Uma olhada para Lukas informou Raul de que havia problema à frente. Ele suspirou. Dias sem dormir estavam causando efeito. Tudo que ele queria era sua esposa e uma cama, nesta ordem. – RAUL! – LUISA parou à porta de sua suíte. Planejara voltar mais cedo. Arrumar-se, para cumprimentá-lo com cortesia calma. Uma olhada para ele, e sua respiração já estava ofegante, seu coração batendo freneticamente. Ela estivera tão ocupada nos últimos dias. Era ridículo que sentisse saudade de Raul, mas sentia. Mais do que esperara. Se as coisas fossem diferentes, ela correria para os braços dele e o beijaria. Mas o semblante de seu marido era sério, desaprovador. – Luisa. – Ele inclinou a cabeça, mas não se aproximou. – Como vai você? – Bem, obrigada. – Ela endireitou a gola do casaco que vestira às pressas. – Como foi sua viagem? – Excelente. – A tensão vibrava no ar. – Todavia, assim que eu cheguei, seu camareiro veio a mim. Luisa franziu o cenho. Agora, entendia a desaprovação de Raul. Sem dúvida, o oficial fizera uma série de reclamações. O homem tinha sido negativo desde que ela chegara. – Entendo. – Luisa respirou fundo. Supunha que violara todo tipo de regras. Mas recusava-se a ser intimidada. Queria tomar suas próprias decisões. Ela fechou a porta e adentrou mais o quarto. Gesticulou para uma poltrona. Raul ignorou-a. – Ele vociferou um número de preocupações. – Tenho certeza que sim. Com o que ele começou? A proposta de abrir os cômodos de recepção da propriedade para eventos públicos? – Não – replicou Raul. – Foi o seu plano de transformar os apartamentos privados do príncipe num museu. Luisa ergueu o queixo. – Eu nunca irei usá-los, então por que não colocá-los em uso? – Ela gesticulou a mão para englobar seu quarto moderno, com sua vista para os Alpes. – Isto é mais adequado para quando eu visitar. Toda aquela decoração pomposa no andar de baixo é demais para mim. – Para nós. – Raul aproximou-se. – Perdão? – Nós viremos juntos para cá, no futuro. O quê? Ele agora não confiava nela para ir lá sozinha? – A que mais ele protestou? – Ele tinha uma lista. Está preocupado sobre os planos de um playground para a comunidade no anexo leste. A boca de Luisa comprimiu-se. – O terreno é perfeito, e facilmente acessível da praça principal. Talvez você não saiba, mas não há provisões para grupos comunitários nesta parte da cidade. Parecia que seu avô tinha frustrado planos locais para apoiar a comunidade, especialmente os jovens. A mentalidade dele estivera enraizada no passado. – E a escola de culinária? Ela pôs as mãos nos quadris. – Eu encontrei estudantes visitando as velhas cozinhas. Os cômodos foram danificados quando a fiação velha causou um incêndio. O chef do palácio ofereceu uso temporário das cozinhas. É uma combinação perfeita. As instalações estão aqui, assim como a especialidade. Não é como se fosse haver muitos banquetes, uma vez que eu não estou aqui, permanentemente. – E o mesmo para os mecânicos? Ela o olhou. – Como você sabe sobre isso? – Luisa acabara de voltar de uma reunião de professores, no que tinham sido estábulos, mas agora hospedava uma oficina mecânica. Raul aproximou-se mais um passo, e deu-lhe um olhar que fez o corpo inteiro de Luisa esquentar. Ele levou a mão ao rosto dela. Luisa tremeu em excitação. – Foi um palpite. – Ele levantou a mão para que ela visse uma mancha escura. – Óleo de motor? Ele estava tão perto que o calor do corpo poderoso invadia seu espaço. – Nós estávamos checando as instalações, e eu fiquei um pouco... envolvida. Raul estreitou os olhos. – Como você ficou envolvida ao ver aquela vaca? Luisa fechou as mãos. A imprensa tivera um dia cheio com aquilo, e desde então, ela vinha evitando ler jornais. Um jornal em particular gostava de retratá-la como voluntariosa e desrespeitosa, embora a maioria das pessoas parecesse positiva. O animal em questão era lindo, com guirlandas de flores em volta do pescoço e dos chifres, e um imenso sino alpino. – Aquilo era parte das boas-vindas oficiais à Ardissia. Lukas explicou que era um sinal de grande respeito da população rural. Eu não podia recusar! – Mas você precisava tirar leite da vaca? – O maxilar de Raul estava tenso. Ela deu de ombros. – Certo, então não era um protocolo apropriado. Sei que princesas reais não sonhariam com isso. Mas nós estávamos falando sobre gado leiteiro, e subitamente eles me ofereceram um banco e um balde... – Ela jogou as mãos no ar. – Você insistiu neste casamento. Não reclame agora, porque eu não sou ortodoxa. Estou tentando. E – Luisa pôs um dedo na camisa impecável dele –, apesar de estar aberta para ouvir sugestões para o palácio, a decisão final é minha. De mais ninguém! – Exatamente o que eu falei para seu camareiro. – Perdão? – Luisa estava tão confusa que mal notou que Raul fechara a mão sobre seu dedo cutucando-o. – Eu disse a ele para guardar os pensamentos para si mesmo, até que tivesse a chance de compartilhá-los com você. Luisa estava atônita. – Você não se importa? – Eu me importo muito em ser abordado por um oficial que critica sua empregadora pelas costas dela. E estou furioso. – Raul pausou. – Furioso porque não tive o direito de demitir o encrenqueiro na hora. Ele é seu empregado, contudo, está mais preocupado com o próprio prestígio do que com o emprego! – Raul? – Ele tinha usado o outro braço para puxá-la para mais perto, e ela inalou o aroma másculo inebriante. – A decisão é sua, Luisa. Mas precisa considerar encontrar alguém melhor. Alguém que possa trabalhar com você nos seus planos, em vez de frustrá-los. – Você não se importa com o que eu tenho feito? – Luisa tivera tanta certeza da desaprovação de Raul que não conseguia acreditar no que estava ouvindo. – Por que eu me importaria? – Ele lhe alisou as costas em movimentos circulares, relaxando-a. – É bom vê-la se envolvendo e ouvindo seu povo. Estou orgulhoso do que você conseguiu em tão pouco tempo. Mas é sensata o bastante para aceitar conselho, e não tomar atitudes precipitadas sem a devida consideração. Ela piscou, fitando os olhos verdes que brilhavam calorosamente. Uma onda de calor, que não tinha nada a ver com a proximidade de Raul, envolveu-a. Um calor interno, que vinha do conhecimento de que ele a defendera para seu camareiro. Que ele estava pronto para apoiá-la. Que parecia importar-se. Luisa colocou outra mão trêmula no peito dele, abrindo os dedos para sentir as batidas do coração ali. O braço de Raul se apertou mais ao seu redor. – Mas o que eu mais quero saber, esposa, é o que o prefeito disse quando você o presenteou com um balde de leite morno. Ela lhe estudou a fisionomia séria, e percebeu que Raul estava tentando não rir. – Ele ficou muito impressionado, e falou que eu tinha talentos escondidos. – Luisa sorriu. – Então ele me mostrou uma velha técnica que ajuda a agarrar melhor a teta da vaca. Raul inclinou a cabeça para trás e deu uma gargalhada contagiante, que fez os lábios de Luisa se curvarem num sorriso, e seu coração dançar. Uma sensação deliciosa a preencheu. Felicidade. CAPÍTULO 12 AQUELA continuou. Era como uma brasa brilhante, aquecendoa por dentro e destruindo o frio que a envolvera por tanto tempo. A cada semana, Luisa sentia-se mais contente. Passou a gostar de seu novo lar e do povo que vivia lá. A nação de Maritz, e até o pequeno principado de Ardissia estavam parecendo mais e mais seu lar. Ela poderia ser feliz ali. Então FELICIDADE havia Raul. Ele podia ser gentil e carinhoso, mas existia sempre uma paixão explosiva entre eles que a deixava sem fôlego. A intimidade física deles era fora deste mundo, e, naqueles momentos, ela sempre achava que chegava mais perto do homem verdadeiro por trás da fachada. O homem que ela queria conhecer melhor. Raul era um solitário. Nada surpreendente, considerando a infância que ele tivera, criado por um staff, em vez de por pais amorosos. Então, havia a traição do pai com a mulher por quem Raul se apaixonara. Ele passara tanto tempo privado de elos emocionais; os momentos quando baixava a guarda com ela eram tão especiais, tão preciosos. Cada vez mais, Raul compartilhava seu senso de humor, surpreendendo-a e fazendo-a rir. A última coisa que ela esperara do homem com quem se casara para reivindicar a coroa. Mas enquanto Luisa observava-o trabalhar incansavelmente pelo país, e via o povo responder a ele, soube que Raul era o homem certo para o trabalho. Também sabia que Raul não era o vilão insensível que ela o pintara uma vez. Era apenas um homem ferido que escondia sua vulnerabilidade atrás de uma fachada. Luisa sentia-se melancólica. Porque, apesar de ele a apoiar, mesmo quando ela não era ortodoxa com os deveres da realeza, ela não podia esquecer que, para Raul, ela era uma esposa indesejada. A esposa que ele precisava ter. Com peito comprimido, Luisa olhou cegamente para o jornal à sua frente, sobre a mesa. Aquilo doía porque ela fizera o impensável. Apaixonara-se. Apesar da dor, a felicidade a inundava. O amor era uma emoção maravilhosa, que a fazia superar seus medos. Tinha de haver um jeito de fazer seu casamento dar certo. Talvez um dia ele pudesse amá-la, como ela o amava? – Sentada sozinha, Luisa? – A voz de Raul a fez virar-se. Seu coração disparou. Ela ansiava por se atirar nos braços dele. Declarar seus sentimentos e exigir que ele a amasse, também. Se fosse tão simples. – Minha aula de língua estrangeira acabou, e eu estava tentando ler o jornal. – Ela olhou para baixo, escolhendo um arquivo qualquer. – Há uma foto sua, mas as palavras são tão difíceis. Ele parou atrás dela. – É um relatório judicial. Por que não tenta algo mais simples? – A respiração dele soprou no seu ouvido quando ele se inclinou para ver o jornal. Luisa fechou os olhos, querendo que ele esquecesse o jornal e a abraçasse. – Luisa? Ela abriu os olhos. – Sobre o que é o artigo? – Sobre o tribunal de pessoas estocando armas ilegalmente. Por que nós não... – Mas por que você foi uma testemunha? – Ela finalmente entendeu a legenda. – Não é uma história emocionante. Luisa franziu o cenho, agora se concentrando no artigo. – Fala alguma coisa sobre um assalto armado. E uma trama. Um golpe. – Ela apontou para o próximo parágrafo. – Que palavra é esta? Um suspiro moveu seus cabelos. Ele hesitou por tanto tempo que ela pensou que ele não responderia. – Assassinato. Luisa virou-se, arregalando os olhos chocados. – Quem eles queriam assassinar? – O gelo percorreu seu corpo, enquanto ela lia resignação na fisionomia de Raul. – O gabinete. Quantos oficiais do governo eles conseguissem. – Ele endireitou o corpo e distanciou-se. Luisa se levantou sobre pernas trêmulas. – E o príncipe? – As palavras não passaram de um sussurro. – Eles queriam matar você? Para seu horror, Raul não negou aquilo, apenas deu de ombros. – Não se preocupe, Luisa, isso aconteceu semanas atrás, quando você foi para Ardissia. Sentindo-se gelada, ela envolveu os braços ao redor de si mesma. – Você não me contou. Ele se aproximou e esfregou-lhe os braços rígidos. – Você não tem o que temer, honestamente. Está tudo acabado. – Acha que eu estou preocupada por mim? Um brilho de choque surgiu nos olhos verdes. Então Raul puxou-a para mais perto. Sob sua orelha, Luisa ouviu as batidas fortes do coração dele. Deslizou as mãos por baixo do paletó, sentindo o calor do torso musculoso. Ele estava tão vivo. Tão vibrante. Se alguma coisa acontecesse a ele... Esse era o lado ruim do amor. Amava tanto Raul que o pensamento de perdêlo era insuportável. – Ouça, Luisa, a ameaça acabou. Era apenas um grupo de lunáticos. A polícia os estava monitorando por um tempo, então não houve perigo. Na verdade, o esquema deles fez um favor a todos. – Como? – Ela se afastou um pouco para encontrar os olhos dele. – Eu lhe disse que havia inquietude. Isso piorou nos estágios finais do reinado de meu pai. – Raul pausou. – Havia limites do que eu poderia realizar como príncipe. Nos últimos anos, enquanto o casamento de meu pai se deteriorava, ele se tornou... errático. Deixou os companheiros adquirirem muito poder, e não pensou estrategicamente sobre o bem-estar da nação. Coligações poderosas estavam competindo por posição. – Lukas disse que você trabalhava para manter a paz. – Ele disse? Em determinado estágio, pareceu que os diversos grupos conseguiriam dividir o país. A notícia de que elementos instáveis viam isso como uma oportunidade para um massacre fez todos repensarem e perceberem como nossa paz e democracia são importantes. Isso os trouxe de volta para a mesa de negociações. – Ele lhe acariciou os cabelos. – Quando a coroação acontecer e o parlamento for retomado, nós trabalharemos juntos. – Mas e quanto... Raul pôs um dedo nos lábios de Luisa, calando-a. – Não há motivo de preocupação. – Ele se virou para o jornal. – Deixe-me encontrar uma leitura mais fácil para você. A mente de Luisa girava. Raul correra risco de vida. Ela assumira que o discurso dele sobre proteger o país era exagerado para cobrir um desejo de herdar a coroa. Seu estômago se revolveu, percebendo que ela poderia tê-lo perdido. Que Raul não considerara compartilhar a verdade com ela. Mesmo agora, ele não queria que ela soubesse. E Luisa pensara que eles estavam construindo um entendimento. Raul podia apoiar suas tentativas de tornar-se princesa. Podia levá-la ao paraíso com seu corpo. Mas quanto a compartilhar alguma coisa mais significativa... A angústia inundou-a. Mesmo se ele não gostasse mais de Ana, a desconfiança de Raul era tão enraizada que Luisa via poucas chances de ele se conectar com ela. Luisa enganara-se, acreditando que depois de um tempo juntos, ele começaria a sentir alguma coisa por ela, também. Ele não quereria ouvir sua declaração de amor. Raul não queria compartilhar quem era. Como ele reagiria se ela lhe contasse que suspeitava que ele compartilhara o bastante de si mesmo para criar um filho com ela? CAPÍTULO 13 – POR AQUI, Vossa Alteza. Raul seguia o projetista urbano ao longo do terreno gasto, ouvindo-o exaltar as virtudes do local que se tornaria um jardim comunitário. Outro dos projetos de Luisa. Tinha sido necessária apenas a menção de um terreno público não utilizado, numa área desvantajosa, para que Luisa achasse um uso para o mesmo. O staff do castelo emprestou habilidade para ajudar a comunidade a construir um lugar para que as pessoas se reunissem, brincassem e plantassem. Mas foi Luisa, com a ajuda de Lukas, que checara zonas de restrições, negociara com o conselho e se reunira com residentes. Sua esposa possuía habilidades extraordinárias de organização. Ele a vira, com prazer, colocar tais habilidades em uso em Ardissia, e ali na capital. Raul admirava o jeito prático de sua esposa, o incentivo para melhorar coisas. Quem pensaria que uma garota de fazenda seria tamanho sucesso? Ela era um sopro de ar fresco, violando o protocolo conservador com um sorriso, entretanto sensível o bastante para ver quando a tradição era necessária. O povo a amava, encantados pelo charme e jeito caloroso de Luisa, e o romance de conto de fadas era uma fonte de prazer depois de tempos políticos difíceis. Raul direcionou o projetista para um grupo no centro do terreno. Luisa estava lá, usando suas roupas chiques casuais, que eram sua marca registrada. Ele reprimiu um sorriso, vendo duas garotas em trajes quase iguais ao de Luisa. Os vestidos sofisticados de Luisa agora só eram vistos em eventos formais. Em vez disso, ela criara sua própria marca, a primeira realeza de Maritz a usar roupas casuais para encontrar pessoas. Mas em Luisa, roupas casuais ficavam bem. Hoje, ela usava jeans justo, botas de salto baixo e um lenço vermelho e uma jaqueta combinando sobre uma blusa branca. Ela estava elegante em suas roupas de estilo. E pálida, notou ele. Raul estreitou os olhos. Pálida demais, certamente? No geral, ela era a garota dourada com seu bronzeado, que complementava o sorriso contagioso, enquanto conversava com qualquer tipo de pessoa. Agora, apesar de cercada por pessoas, ela parecia um pouco distante. E o sorriso que ela usava não era o mesmo que ele estava acostumado. Ninguém mais parecia perceber alguma coisa errada. Mas ele passara a conhecer sua esposa. A tensão o envolveu, enquanto Raul recordava-se das mudanças recentes nas quais preferira não pensar. Vezes quando Luisa se tornava mais fria, exceto nos picos da paixão. Então ela era toda sua, exatamente como ele a queria. Diversas vezes, Raul percebera que ela não queria mais compartilhar coisas pessoais, como se tentasse esconder a mulher em quem ele passara a pensar como a Luisa verdadeira. Aberta, honesta e exuberante. Ou como se esta Luisa deixara de existir. Uma terrível sensação de déjà vu o preencheu. Ele reprimiu o pensamento. Luisa não era Ana. Apenas a imaturidade de Raul e a cegueira do suposto amor o tinham convencido um dia que Ana era o tipo de mulher em quem ele podia confiar. Todavia, Raul não podia evitar um pressentimento. – ESTÁ TUDO bem? Luisa virou-se das pessoas acenando em despedida. Raul se movera do banco oposto da limusine para se sentar ao seu lado. E erguera a divisória de privacidade. A excitação a percorreu, enrijecendo seus mamilos. Seu corpo a traía. Ela não conseguia resistir a Raul, mesmo sabendo que o relacionamento deles era unilateral. Ultimamente também, quanto mais ela tentava distanciar-se, mais ele parecia determinado a invadir seu espaço. Entretanto, não havia ardor nos olhos verdes agora, apenas uma expressão preocupada. – É claro. Tudo está bem. – Luisa forçou um sorriso, enquanto mentia. Sentia-se à beira do desespero. Tinha dado seu coração a um homem que não podia corresponder seus sentimentos. E agora, parecia possível que houvesse uma criança. Suas emoções oscilavam. Num momento, ela estava radiante com a ideia de estar carregando um bebê de Raul. No instante seguinte, o medo a assolava diante da ideia de criar um filho numa família tão diferente daquela que sonhara. Amor para Raul era uma impossibilidade, enquanto para Luisa era seu segredo. Que tipo de mundo era este para criar uma criança? Era quando esperava que a gravidez fosse um alarme falso, e a culpa a corroía, por não desejar um presente tão precioso. Não podia culpar Raul. Com o passado dele, não era de admirar que ele evitasse emoções profundas. Talvez, Raul nem mesmo acreditasse em amor! – Luisa? – Sim? – Ela olhou por sobre o ombro dele e acenou. – O que você achou do local do jardim? Tem potencial, não acha? E as pessoas da região estão muito entusiasmadas. – Ótimo. Agora, estava tagarelando. – O local é excelente. – Ele pausou. – Você parece... não tão exuberante como geralmente. O estômago de Luisa se revolveu. – Eu não pensei que exuberância numa princesa fosse uma coisa boa. – Nervosa, ela pensou num tópico neutro. – O projeto está indo bem, não acha? – Muito bem. Você deveria estar satisfeita. – Eu estou. Os voluntários têm trabalhado duro. – Você também tem trabalhado muito. Não está exagerando, está? Luisa arfou. Ele adivinhara? Ela saía da cama cada dia mais cedo, pelo que suspeitava que fosse enjoo matinal. Não queria que Raul a visse pálida e com náuseas. Especialmente quando não sabia como ele reagiria à novidade. Uma coisa era ele dizer que quebraria a tradição no que dizia respeito à criação dos filhos. Outra era dar as boas-vindas ao bebê com o amor que este merecia. Naquele momento, Luisa decidiu. A ideia de uma viagem para casa, a fim de ver Mary e Sam, estava em sua cabeça há dias. Agora, a necessidade do carinho e apoio incondicional deles era demais para resistir. Ela os visitaria e marcaria uma consulta num médico, algo que era impossível ali. Imagine comprar um teste de gravidez numa farmácia de Maritz! A notícia estaria na imprensa antes que a noite caísse. Luisa precisava de tempo e espaço para lidar com as mudanças em sua vida. Iria assim que a coroação acabasse. – É claro que eu não estou exagerando. Sinto-me ótima. Ele lhe cobriu as mãos com as suas, e Luisa ficou tensa. – Você não atravessou o terreno para cumprimentar as pessoas do outro lado do quarteirão. Ela respirou fundo. – Não deu tempo. Eu sei que você tem uma reunião, e eu já estava lá por um tempo, antes de você chegar. – Ainda assim – ele a fitou com intensidade –, você normalmente acha tempo para todos. – Você queria vê-las? – Ela estivera tão ansiosa para escapar, a fim de poder pensar. – Não, você está certa. Eu estava sem tempo. Apenas pareceu... tão diferente de você. Luisa flexionou os dedos, e ele lhe liberou as mãos. Uma dor apertou o peito dela. Não era que ele quisesse tocá-la. Exceto, é claro, quando eles faziam sexo. Raul apenas queria se certificar de que ela estava bem o bastante para cumprir seus deveres. A REUNIÃO de Raul parecera interminável, com ele consultando o relógio frequentemente, calculando quanto tempo antes que pudesse escapar dali. Deveria estar satisfeito. Estava tudo pronto para a coroação na semana seguinte, e negociações com os líderes locais anteriormente difíceis tinham se provado frutíferas. Todavia, ele não conseguia concentrar-se. Luisa parecera tensa, mais cedo. Esta manhã, Raul acordara para encontrá-la fora de sua cama, novamente. Aquilo parecia estar se tornando um hábito. Ele gostava de acordar com ela. Não apenas pela satisfação física do sexo matinal. Mas porque Luisa o fazia se sentir bem. Relaxado. Contente. Estranho, quando no passado, ele preferira dormir sozinho. Mas tantas coisas sobre este casamento eram incomuns. Como o jeito que ele observava Luisa. Ela era vibrante e atraente, embora não tão maravilhosa como algumas mulheres que ele conhecera. Todavia, ele a observava o tempo inteiro, sorrindo quando ela sorria, apreciando as interações dela com outros, e a combinação de coragem e inteligência durante discussões entre os dois. Embora não houvesse muitas dessas, ultimamente. Seus dedos apertaram o gargalo da garrafa gelada de champanhe. Esta noite seria diferente. Ele pôs a cabeça para fora do escritório, antes de sair para os apartamentos privados. – Cancele meus compromissos para os 15 dias após a coroação, por favor. – Raul estava determinado a passar um tempo sozinho com Luisa. Agora que as coisas estavam estáveis, ele lhe daria a lua de mel que ambos apreciariam. Não podia pensar em nada que quisesse mais do que estar com sua esposa. – Sim, senhor – respondeu a secretária. – Não marque nada na agenda de minha esposa, também. Eu falarei com ela sobre cancelar os compromissos. Ele sorriu. Duas semanas no seu retiro isolado perto do lago. O lugar estaria lindo nesta época do ano. Luisa adoraria, e eles poderiam ficar sozinhos. – Sinto muito, senhor. – A garota franziu o cenho. – A princesa tem um voo marcado para o dia seguinte da coroação. – Um voo? Isso deve ser um engano. – Não, senhor. Eu mesma fiz a reserva, algumas horas atrás. Raul experimentou uma curiosa sensação de vazio no peito. Andou para o computador. – Mostre-me. Silenciosamente, ela encontrou o agendamento, então virou a tela para ele. Um voo para Sidney, sem escalas. Sem passagem de volta. O vazio no peito de Raul expandiuse, causando-lhe falta de ar. – Houve um telefonema da Austrália? – Talvez fosse doença na família. Luisa era próxima dos tios. – Não que eu saiba, Vossa Alteza. Raul forçou um sorriso. – Tudo bem. Eu conversarei com ela sobre isso. – Ele se virou, um sexto sentido esfriando sua pele. Uma passagem só de ida para Sidney. Sozinha. Ele reprimiu o pensamento de que Luisa nunca o perdoara por ele a ter levado para Maritz, e planejava partir para sempre. Abandoná-lo. Raul acelerou os passos. Haveria uma explicação, pensou enquanto se dirigia para os aposentos reais. Bateu à porta da suíte dela e esperou. Estranho. Segundo a secretária, Luisa tinha ido para lá, uma hora atrás, a fim de descansar. Ele bateu novamente, e girou a maçaneta. Talvez, ela tivesse adormecido. Raul entrou e fechou a porta. Então congelou, bile subindo à sua garganta, enquanto sua mente absorvia os detalhes. Déjà vu. Aquilo já lhe acontecera. Exceto que desta vez era pior. Muito pior. Esta era Luisa... Luisa e Lukas. Claramente não numa reunião de negócios, mas em alguma coisa mais íntima. Luisa usava saia e blusa justa, as mãos curvadas em volta dos ombros do homem. Lukas, a quem ele teria confiado sua vida! O homem que ele designara para ajudar Luisa em tudo. Os braços de Lukas estavam ao redor da cintura dela, de maneira possessiva. As cabeças louras dos dois estavam muito perto. Raul lembrou-se da frieza recente de sua esposa, do jeito que ela deixava sua cama e tentava se distanciar. Ele tinha sido um covarde, ignorando sinais que não queria ver? Luisa poderia tê-lo traído como Ana o traíra? Era como se alguém tivesse enfiado a mão em seu peito e arrancado seu coração. Lukas removera o paletó e a gravata. O colarinho estava aberto. Luisa estivera começando a despi-lo? A dor dilacerava Raul, até que ele mal conseguisse ficar em pé. Ele deve ter arfado ou produzido algum ruído, porque subitamente o casal virou suas cabeças e o viu. O rubor cobriu o rosto de Luisa, e ela baixou as mãos. Lukas endireitou o corpo e liberou-a, ajustando o colarinho. A mente de Raul foi preenchida com uma imagem de Ana e seu pai, emergindo de um quarto, depois que o velho homem tinha levado um visitante de Raul num tour pessoal. Ana enrubescera e desviara o olhar. Seu pai endireitara o corpo, mexendo nas abotoaduras. O começo da traição deles. Raul respirou fundo. Estes eram Luisa e Lukas. Não Ana e seu pai. Ignorando a adrenalina que bombeava em seu sangue, ele adentrou mais o quarto. E viu o rosto rubro de Luisa empalidecendo. – Luisa. – Sua voz soou estranha. – Vossa Alteza – começou Lukas, apressadamente. – Eu sei que isto deve parecer... Raul levantou a mão para silenciá-lo. Era com Luisa que precisava falar. – Mas, Vossa Alteza... Raul... Raul virou-se, focando em seu secretário. Durante todos os anos que eles trabalhavam juntos, Lukas insistira na formalidade, recusando a sugestão, que Raul fizera, mais de uma vez, de chamá-lo pelo primeiro nome, quando eles estavam sozinhos. O medo o inundou por Lukas ter escolhido este momento para atravessar aquela lacuna. Para colocá-los em posição igual. Por quê? Porque ele e Luisa...? – Deixe-nos a sós, Lukas. Lukas não se moveu, mas olhou nervosamente para Luisa. – Vá, Lukas – sussurrou ela. – Tudo ficará bem. Finalmente, ele saiu, fechando a porta silenciosamente. Entretanto, Luisa não encontrou seus olhos. Ele cerrou as mãos, forçando-se a esperar até que ela estivesse pronta para falar. – Não é o que você pensa. – Você não sabe o que eu estou pensando. – Nessas alturas, o pensamento racional estava quase além da capacidade de Raul. Apenas a voz que repetia em sua cabeça, dizendo que Luisa era diferente, era sua, o manteve são. Ela levantou a cabeça e olhou-o. – Você não vai perguntar sobre Lukas? – Eu sei que você vai me contar. – Ele apenas rezou que fosse homem suficiente para ouvir a verdade. Ela começou a andar, desviando o olhar. – Ele estava me ajudando. – Continue. – Ele estava me ensinando a dançar. – Perdão? – Raul ficou confuso pela resposta inesperada. – Ele estava me ensinando a valsar, para o baile da coroação. – Luisa deu- lhe um olhar desafiador. – Eu nunca aprendi dança formal. E não queria envergonhar você no seu grande dia. Raul franziu o cenho. Havia alguma coisa tão íntima sobre a ideia de ensinar Luisa dançar. – Você poderia ter me pedido para ensiná-la. O fato de ela pedir para seu secretário ajudá-la, em vez de pedir ao marido, dizia o que a respeito do casamento deles? Ela corou. – E deixar óbvio que essa era mais uma coisa que eu não sabia fazer? Tem ideia de como é difícil tentar fazer tudo certo... o protocolo, os costumes e o idioma... e eu ainda cometo tantos erros. – Luisa suspirou. – Além disso, seria embaraçoso não saber algo tão básico quanto dançar uma valsa. Ela piscou contra as lágrimas e o coração de Raul amoleceu. – Eu não me importo se você não sabe dançar. – Mas eu me importo. Eu queria... – Ela mordeu o lábio. – Achou que alguém se importaria com sua habilidade em dançar? Que eu me importaria? Isto é absurdo! – Absurdo? – Luisa meneou a cabeça e recomeçou a andar. Raul queria abraçá-la, mas o jeito que ela passara os braços ao redor de si mesma lhe disse que não era a hora. – O que é absurdo é casar-se com alguém que você não conhece. Entregar-se a alguém que nunca irá gostar de você. Que não a ama, porque nunca superou os sentimentos pela mulher que o feriu, anos atrás. Raul estava chocado. Luisa acreditava que ele não superara seus sentimentos por Ana? – Isso não é verdade! Ele lhe pegou o braço, mas ela se desvencilhou. A angústia o preencheu diante da rejeição. – Tem ideia de como é saber que eu não fui sua primeira escolha de esposa, nem mesmo a segunda? Que você se casou comigo por causa de quem meu avô era? Ela deu um suspiro trêmulo, e Raul sentiu o peso do arrependimento por tudo que fizera com esta mulher vibrante e especial. Durante todo o relacionamento deles, suas necessidades tinham vindo primeiro. Luisa lhe dera mais do que Raul sonhara ser possível, e ela sofrera o tempo inteiro. A realidade atingiu-o como uma facada no coração. – Foi por isso que você reservou um voo para Sidney, na próxima semana? Luisa o olhou, boquiaberta. – Você sabe sobre isso? – Acabei de descobrir. Há alguma emergência familiar? Ela meneou a cabeça. – Eu queria ir para casa. – Aqui é a sua casa. – A voz de Raul era rouca, a emoção evidente em cada palavra. Ela balançou a cabeça vigorosamente, e o coração dele sofreu outro golpe. – Eu preciso de tempo. Um tempo longe daqui. Um tempo longe dele. Alguma emoção que ele não podia nomear o inundou. Enganara-se ao acreditar que ela passara a gostar dele? Que eles haviam começado a compartilhar alguma coisa especial? Mas não podia desistir. – Você pertence a este lugar, agora, Luisa. – Pertenço? – Ela se virou, os braços cruzados sobre o peito. – Acho que seria sábio se eu ficasse fora por um tempo. – Fugindo, Luisa? – Você será coroado. Terá o que quer. – A voz dela soou abafada. E se fosse ela que ele quisesse? Subitamente Raul percebeu, com a força da absoluta verdade, que tudo que mais queria era passar sua vida com Luisa. Por que não vira isso tão claramente antes? A coroa, mesmo seu país, não significava nada sem Luisa. Ele a perdera para sempre? Uma imagem de Luisa e Lukas surgiu em sua mente. Eles se encontrariam na Austrália? Raul recusava-se a considerar a possibilidade. – Você não pode partir no dia seguinte da coroação. Pelo menos, adie a viagem por um tempo. – Ele precisava de tempo para convencê-la a ficar. Ela enrijeceu. – Eu pensei que devesse estar lá para a cerimônia. Mas talvez, fosse melhor se... Ela parou quando o celular dele tocou. Raul tirou-o do bolso e desligouo. – É sua linha privada. É provavelmente importante. Ele aproximou-se. – Isto é importante, Luisa. Então, o telefone de Luisa tocou. Antes que ele pudesse impedi-la, ela atendeu, como se estivesse ansiosa pela interrupção. – É para você. – Ela lhe estendeu o telefone. – O conselheiro legal do governo diz que precisa lhe falar. Raul hesitou. Eles precisavam discutir aquilo agora. Mas o assunto no qual seus advogados estavam trabalhando certamente ajudaria seu caso com Luisa. Ele estava desesperado o bastante para se agarrar a qualquer coisa que ajudasse. Pegou o telefone. LUISA OBSERVOU Raul, tão compenetrado na notícia do advogado. Estivera certa sobre as prioridades dele. Como sua esposa, ela estava no fim da lista. Ele a desafiara sobre a viagem à Austrália, e Luisa rezara para que ele lhe pedisse para ficar, porque não suportaria ficar longe dela. Imaginara Raul envolvendo-a nos braços e aprisionando-a ali. Porque a amava, e recusava-se a libertá-la. A realidade era tão diferente. – Há um assunto do qual eu preciso cuidar. Ela assentiu. Havia sempre alguma coisa mais importante do que o casamento deles. Desolada, Luisa pensou que talvez fosse melhor que partisse e não retornasse. – Luisa, você me ouviu? – Perdão? – Ela olhou para cima e descobriu-o já perto da porta. – Eu disse que nós precisamos conversar, propriamente. Voltarei assim que possível. Luisa assentiu, pondo sua máscara de compostura, que agora parecia prestes a se rachar? Ou era seu coração? Sua última esperança de um casamento de verdade acabara de espatifar-se. CAPÍTULO 14 – OBRIGADO A todos. – Raul assentiu para os juízes do Supremo Tribunal, para o promotor do Estado e outras testemunhas, que tinham sido chamadas com urgência duas horas atrás, com sua ordem de testemunharem este evento que mudaria a história. Em outras circunstâncias, ele estaria excitado diante da perspectiva de iniciar uma mudança tão significante. Mas sentia-se impaciente para que todos saíssem da sala e o deixassem sozinho. Tão sozinho. Sua mente formou a imagem de Luisa, poucas horas atrás, no quarto dela, pálida e tensa, enquanto falava da necessidade de escapar. A mágoa que ela sentia pelo papel que tinha na vida dele. Quão profundamente ele a ferira, forçando-a para dentro de seu mundo. Ele estaria fazendo a coisa certa agora? Tentando amarrá-la a si mais fortemente do que nunca? Raul olhou para o pergaminho sobre a mesa, assinado, contra-assinado e testemunhado. O documento que planejara como uma surpresa para Luisa, um testemunho de sua consideração por ela. O documento que agora representava sua última chance de convencê-la a ficar. Ele tinha o direito de tentar segurála, quando a vida com ele a fazia tão infeliz? Até hoje, ele pensara que Luisa estivesse contente. Mais do que contente: feliz. Ele estava condenado a nunca encontrar aquela proximidade emocional da qual Luisa falava de maneira tão desejosa? Raul simplesmente não era o homem certo para fazê-la feliz? O terror inundou-o diante do pensamento da vida sem ela. Mas quem poderia culpá-la? Ele nunca experimentara amor verdadeiro, e, sem dúvida, isso o deixara emocionalmente incompleto. Seria incapaz de oferecer o que Luisa precisava num marido? Se ela quisesse estar lá, seria diferente. Juntos, eles enfrentariam qualquer coisa. Se ela gostasse dele... Sua risada irônica soou alta no silêncio. Como Luisa podia gostar dele, depois do que ele lhe fizera? Raul virou-se para a janela e olhou para o brilho das luzes da cidade, abaixo. Normalmente, apreciava a vista da capital que amava, o vale que era o lar de sua família por séculos. Aquela sensação de pertencer sempre trazia conforto. Não agora. Agora, tudo que sentia era uma terrível solidão. A vida sem Luisa. Pensar nisso sempre criava um imenso vazio em seu interior. Suas mãos tremeram quando ele a imaginou num avião para a Austrália, sem ele. Deveria fazer a coisa honrosa e deixá-la ir. Libertá-la da vida que ela nunca desejara. Todavia, a ideia de perdê-la era insuportável. O suor brotou em sua pele diante do pensamento de nunca mais vê-la. Nunca mais abraçá-la. Jamais contar a ela como se sentia. Uma dor dilacerante inundou sua alma. Não, não poderia libertá-la. Isso era mais do que Raul poderia suportar. Ele pegou o pergaminho e enrolou-o rapidamente. Virando-se, andou para a porta. LUISA ACORDOU devagar, agarrando-se a um sonho surpreendentemente maravilhoso. Depois de horas andando de um lado para o outro, ela se recolhera na cama. E ainda se torturara ao reviver a expressão indiferente no rosto de Raul, quando ele a deixara. O fato de que ele não ordenara que ela não fosse para Sidney. Que ele não se importava. Agora, sentia-se... segura, aconchegada num paraíso quente que a protegia de tudo. Não queria se mexer. Mas não tinha escolha. Mesmo em seu estado sonolento, registrou o enjoo, a onda de náusea. Respirou fundo, tentando reprimir aquilo, mas não adiantou. Ela se esforçou para se sentar, apenas para descobrir seus movimentos impedidos pelo homem grande abraçando-a por trás, descansando uma palma quente em sua barriga. – Raul! – Foi um sussurro rouco. O que ele estava fazendo ali? Quando ele...? Enjoada, ela afastou o braço dele, pondo as pernas para fora da cama. – Luisa! O que está errado? Ela não tinha tempo para explicações. Atravessou o quarto, uma das mãos no estômago, a outra cobrindo a boca, enquanto sentia o gosto de bile. Milagrosamente, a porta do banheiro estava aberta, e ela entrou correndo. Suas pernas estavam tão bambas que Luisa quase caiu. Mas um braço rodeou-a, mantendo-a ereta com a força formidável de Raul. Ela sentiu o corpo quente e sólido, atrás de si, ancorando-a. Então, abaixou-se sobre o vaso sanitário e deu vazão ao seu desconforto, até que não restasse mais nada em seu estômago. Luisa desmoronou, tremendo e exausta, os olhos fechados, enquanto tentava reunir forças para se mover. Sua cabeça girava, ou ela estava imaginando movimento? Quando se deu conta, estava sentada na lateral da banheira, e suspirou agradecida quando todos os seus músculos relaxaram. Raul a segurava, e Luisa não tinha energia para ordenar que ele saísse de lá. Não quando ele era tudo que a impedia de desmoronar. Então, como uma benção, um pano úmido roçou sua testa, suas faces, seu pescoço, seus lábios secos. – Beba isto. – Um copo foi colocado contra seus lábios. Agradecida, Luisa bebeu água gelada. O pano úmido esfregou sua testa, novamente, e ela quase gemeu de alívio. Estava fraca como um gatinho. Como poderia encarar Raul agora? Por que ele estava lá? Lágrimas inundaram seus olhos, quando a exaustão a inundou. – Você está doente. Eu chamarei um médico. – Ela abriu os olhos para ver a expressão preocupada no rosto de Raul. – Não. Eu não estou doente. Isto é perfeitamente normal. Um médico não pode ajudar neste caso. Atrasadamente, ela percebeu o que dissera, ao ver as sobrancelhas de Raul se arquearem. O choque cobriu-lhe as feições quando ele leu as implicações de sua náusea. Ela pretendera lhe contar em breve. Mas não assim. – Por favor, eu preciso de privacidade para me refrescar. – Ela se recusava a ter aquela conversa na borda da banheira, com seus cabelos colados à testa úmida. Luisa levantou-se e virou-se, não querendo ver desconfiança nos olhos de Raul. E depois de vê-la com Lukas, não era impossível que Raul questionasse a paternidade do bebê. Raul saiu do banheiro sem uma palavra. Ela deveria ter ficado grata, mas sentiu apenas desespero que ele estivesse tão ansioso para ir embora. Luisa fez o que tinha de fazer no banheiro, mas quando abriu a porta, Raul estava lá. Para seu espanto, ele se aproximou correndo, erguendo-a nos braços. – Eu posso andar. – Mas o abraço dele era mágico, mesmo que não significasse nada. Ele a colocou na cama, contra os travesseiros que ajeitara na cabeceira. Depois, cobriu-a e pegou alguma coisa sobre o criado-mudo. – Experimente isto. – Era um prato de biscoitos de água e sal. Ele devia ter pedido que alguém levasse, enquanto ela estava no banheiro. – Eu não estou inválida. – Luisa empurrou o prato, e lutou para não sucumbir ao doce encanto de receber cuidados. Absurdamente, o gesto de consideração levou lágrimas aos seus olhos. Não ajudava que Raul estava maravilhoso, em jeans desbotado e um suéter preto, com mangas enroladas, para revelar braços poderosos. Estava até mais lindo do que num de seus ternos impecáveis. Então ela percebeu que nunca o vira neste tipo de traje antes. Ele se sentou na cama, encarando-a. – Você está grávida. – Era uma afirmação. – Eu acho que sim. Mas se eu estiver, o bebê é seu. Isso não tem nada a ver com Lukas. Ele lhe afastou uma mecha de cabelos da testa. Luisa arfou perante o gesto carinhoso. Disse a si mesma que era tola. – Eu não pensei que tivesse. – Oh. – Você foi a um médico? – Não. Ainda é cedo. – Ela sabia exatamente quando o bebê tinha sido concebido: naquela primeira noite tempestuosa do casamento deles, quando ela descobrira sobre êxtase e dor de um coração partido. Mas a aceitação calma de Raul surpreendeu-a. – Então, você nunca pensou...? Ele balançou a cabeça. – Não posso mentir e dizer que isso não me ocorreu. – Raul desviou o olhar. – Mas quando você teria tempo para um caso? É a minha cama que você compartilha. Meu sofá. Minha mesa. – Eu já entendi! – Ele não precisava lembrá-la de como ela era carente por ele. – Pensei que você acreditasse... – Que minha esposa estava tendo um caso com meu secretário? – Raul cobriu-lhe a mão com a sua, e a sensação foi tão boa que Luisa não recolheu a mão. – Admito que foi um choque desagradável. – Ele respirou fundo, expandindo o peito. – Mas eu passei a conhecê-la, Luisa. Você nunca me trairia com outro homem. É honesta e tem consideração. Não se comportaria dessa forma. – As palavras eram como chuva nutrindo a alma seca de Luisa. Ele acreditava nela? Suas mãos tremeram com o choque diante daquilo. – Conheço Lukas, também – continuou Raul. – Trabalhamos juntos há anos. Como eu poderia acreditar no pior, conhecendo vocês dois? – Eu... – Palavras lhe faltaram. Tanta confiança, quando Raul tinha sido tão ferido antes, e diante de tal evidência, impressionou-a. Ela esperara um interrogatório, no mínimo. Seu coração alegrou-se. – Eu pensei que, depois de Ana... – Esqueça Ana. Eu fui um tolo de me acreditar apaixonado por ela, um dia. Mas superei a tolice, anos atrás. Isto é sobre você e eu, Luisa. Ninguém mais. O alívio a percorreu diante do conhecimento que a outra mulher não era rival dos sentimentos de Raul. Luisa temera aquilo por tanto tempo. Uma sensação de leveza envolveu-a. – Luisa. – Seu nome era um sussurro rouco. – Eu quero que você fique. Aqui, comigo. Não vá para Sidney. O tremor das mãos de Luisa intensificou-se, enquanto sua alegria aumentava. Ele acreditava nela! Ele a queria! Ela levou um momento para entender por quê. A desilusão inundou-a. Luisa tentou puxar as mãos, mas ele não permitiu. – Por causa do bebê! Você quer seu herdeiro. – Era por isso que Raul mudara de ideia sobre sua ida. – É claro que eu quero estar com o bebê e você. Ela meneou a cabeça, um peso instalou-se em seu peito. A dor era pior agora, mais intensa, depois de um único momento de esperança. Luisa quase chorou. Não era Luisa que ele queria, apenas seu bebê não nascido. – Por favor, solte-me. Isto não vai dar certo. – Ela conseguiu falar calmamente, quando, por dentro, sentia que estava desmoronando. Pelo que pareceu uma eternidade, ele continuou segurando suas mãos, olhando-a fixamente. Então, liberou-a e se virou, os ombros baixando em aparente derrota. Instantaneamente, Luisa sentiu falta do calor, da força dele. Olhou para suas mãos, e percebeu que não estava mais tremendo. Perplexa, olhou para Raul, para o jeito distraído que ele passava a mão pelos cabelos. E não acreditou no que viu. Era ele. Raul estava tremendo inteiro. – Raul? O que foi isso? Ele não respondeu, e ela pôs a mão no ombro dele. Sentiu os tremores percorrendo o grande corpo. – Raul? – O medo a inundou. Ele estava doente? – Eu não posso. Eu... – A cabeça dele abaixou entre os ombros. Freneticamente, Luisa puxou-lhe o braço, virando-o na sua direção. Levantou-se sobre os joelhos e se aproximou. – O que houve? Por favor, conte-me. Finalmente, ele ergueu a cabeça e olhou-a. Raul estava abatido como ela nunca o vira, a pele esticada sobre os ossos. Somente os olhos pareciam vivos no rosto pálido. Brilhavam muito. – Eu não posso perder você, Luisa. – A voz dele era um sussurro angustiado. – Que Deus me ajude, mas não posso deixá-la ir. Quando você disse que iria embora, eu sabia que não podia forçá-la a ficar. Mas... – Raul. – Ela engoliu em seco. – Eu não entendo. O que você está dizendo? Luisa olhou, atônita, para o homem que ouvira discursar em quatro idiomas, charmoso, persuasivo, lutando para pôr palavras para fora. Ela afrouxou o aperto no braço dele e alisou-o suavemente. – Eu preciso cuidar de você, Luisa. De você e do nosso bebê. – Nós faremos algum acordo. – Por mais que Luisa detestasse a ideia de pais por meio período, sabia que o bebê deles precisava de ambos. – Eu não quero um acordo. – O brilho nos olhos verdes mudou, tornando-se quase perigoso. – Quero minha esposa e meu filho. Aqui. – Ele estendeu o braço para pegar um papel enrolado aos pés da cama. – Isto provará o quanto eu quero você aqui. Com mãos trêmulas, ele lhe entregou o pergaminho, quase o rasgando em sua pressa de desenrolá-lo. – Está tudo em maritzian. – Ela leu uma olhada no documento, muito distraída para se concentrar. Tudo que absorveu foi a coluna de selos e assinaturas na parte inferior, começando pela assinatura floreada de Raul, e o selo de dragão da realeza. – O que é isto, Raul? – Luisa nunca o vira tão agitado, e queria aninhá-lo contra si. – Este documento autoriza uma mudança na sucessão real, a partir do momento que eu for coroado. No dia que você se tornará rainha. Ela franziu o cenho. – Não há mudança. Ele balançou a cabeça. – Rainha, não consorte real. Você será minha igual, minha parceira em governar o reino. – Raul encontrou-lhe os olhos, e a força neles aqueceu a alma de Luisa. – De que outra forma eu posso provar o que você significa para mim? O quanto preciso de você, e confio em você? Ela arregalou os olhos. – Mas você não pode fazer isso! Eu não... não... eu não tenho a experiência. Não saberia o que fazer. Eu... Ele lhe pegou as mãos, novamente. – Você aprenderá. Eu lhe ensinarei. – Raul beijou-lhe a palma, e arrepios de deleite a percorram. – Mas Maritz não está pronto para isso. Eu não sou boa em... – Maritz irá se adaptar. Você é capaz, honesta e amorosa. Será uma rainha perfeita. Para meu país. Para mim. Para nosso filho ou filha. – O olhar de Raul baixou para a barriga dela. – Mas eu violarei todas as regras. – Às vezes, elas precisam ser violadas. Há mais na vida do que protocolo, sabe? – Ele sorriu, um sorriso tão devastador que aqueceu Luisa da ponta dos pés ao topo da cabeça. – Você é uma princesa para deixar todos orgulhosos. Nosso povo já a respeita e a adora, porque percebem como você se importa com eles. Você os ajudou quando isso era importante. Você me ajudou. Mudou a minha vida e me ensinou a ter esperança. A mente de Luisa estava girando. Era coisa demais para compreender. – Você pode me perdoar, Luisa? O bastante para ficar e me dar outra chance? Ela o observou engolir em seco, e investigou seu coração por uma resposta. Amava-o, mas isso era o bastante para enfrentar o futuro? Para construir uma vida juntos, mesmo na luz deste incrível gesto de fé? Se ele a pegasse nos braços e a envolvesse numa onda de paixão, seria fácil dizer sim. Luisa ansiava por isso. Mas a vida não era tão simples. – Não se trata de esquecer o passado. É sobre o futuro. – Ela respirou fundo, imaginando se ele entenderia. – Eu quero um casamento de verdade. Uma família feliz. Quero que meu filho ou filha aprecie a ser criança, com pais que realmente se importam. Eu quero... – Amor – terminou ele num sussurro rouco. – E confiança e respeito. – Raul assentiu. – Você merece isso, Luisa. É o que eu quero lhe dar. Se você me deixar tentar. A respiração de Luisa ficou presa na garganta perante a expressão nos olhos dele. – Eu a amo, Luisa. E quero você ao meu lado. Atordoada, Luisa o estudou. Havia uma pulsação frenética no pescoço dele, e outra na têmpora. Raul parecia nervoso. Emocionado. – Não pode ser – sussurrou ela. – É verdade. Luisa balançou a cabeça, com medo de acreditar. – Eu também não percebi. – Raul fez uma careta. – Passei muito tempo explicando minha falta de sentimentos, porque a alternativa era muito assustadora. Durante toda minha vida adulta, trabalhei para fechar minhas emoções. Então você apareceu. E me fez sentir, tão intensamente. Raul entrelaçou os dedos nos dela, e continuou: – Eu estava arrasado, arrependido pelo jeito que eu a forcei a este casamento. Entretanto, sabendo que, no fundo, eu não podia lamentar, porque isso a trouxe para mim, e eu não poderia deixá-la ir. Quão egoísta é isso? Ele passou a outra mão pelos cabelos brilhantes num gesto distraído que fez Luisa querer abraçá-lo. – Eu disse a mim mesmo, por tanto tempo, que o amor era para os tolos. E aqui estou eu, apaixonado por uma mulher que tem todos os motivos para me odiar. – Não odeio você – murmurou ela, de forma entorpecida. A esperança brilhou nos olhos verdes. – Então isso é mais do que eu mereço. – Ele lhe acariciou o rosto. – Tenho me torturado, dizendo a mim mesmo que eu deveria encontrar forças para libertá-la e deixá-la ser feliz. Raul levou as mãos unidas de ambos à boca e beijou-lhe o pulso. – Mas eu não posso fazer isso. Preciso lutar por você. – Fale de novo – sussurrou Luisa, emocionada. – Fale que me ama. Raul soltou-lhe os dedos, então emoldurou o rosto dela com as mãos. – Eu a amo, Luisa. Nunca duvide disso. Quero estar sempre ao seu lado. Compartilhar com você, ser aquele para quem você se volta. Ensiná-la a valsar e qualquer outra coisa, se você compartilhar seu calor e risada comigo. – Oh, Raul! – A voz de Luisa era rouca de emoção. – Eu o amo há tanto tempo. Nunca pensei... – Ela piscou contra as lágrimas. – Verdade? – Ele sorriu, parecendo maravilhado ao ouvir as palavras. Ela assentiu, e dedos gentis secaram as lágrimas de seu rosto. – Verdade. Desesperadamente. – Meu amor! – Olhos verde-escuros encontraram os seus. – Eu não pretendia fazê-la chorar, querida. Só quero fazê-la feliz. Sempre. – Você me faz. – Luisa piscou e sorriu. – Eu sou feliz, aqui com você. Ela viu dúvida e medo se estamparem nas feições masculinas. Insegurança no homem que entrara em sua vida e agarrara seu destino em mãos fortes. Que governava um reino com uma facilidade que qualquer um invejaria. – Eu cometerei erros – admitiu ele. – Isto é tudo muito novo para mim. Nunca me senti assim, antes. – Raul engoliu em seco. – Não sou um bom risco, eu sei. Não tenho seu dom da proximidade e seu jeito caloroso. Não tenho experiência com vida em família. Nenhum modelo de como ser um bom pai... Os dedos de Luisa nos lábios dele pararam as palavras. Seu coração apertou-se ao ver o homem que amava tão inseguro. Vendo a insegurança dele, Luisa soube a verdade. Ela precisava superar o próprio medo. Tinha de confiar, em Raul, em si mesma, e deixar o passado para trás. – Eu estou disposta a tentar, se você estiver – sussurrou ela com voz emocionada. O amor que ela viu nos olhos que encontraram os seus apertou seu coração. – Luisa! – Raul puxou-a para mais perto, beijando-lhe o pescoço, as faces. Abraçando-a como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Aquilo era glorioso, mas não o bastante. Não quando o coração dela alçava voo, com alegria. Luisa segurou-lhe o queixo e beijouo nos lábios. Instantaneamente, ele respondeu, a boca sedenta, como se fizesse uma eternidade que eles não se beijavam. Como se nunca tivessem se beijado. Não realmente. Não assim. O beijo de Raul curava. Era exigente, possessivo, e, ao mesmo tempo, incrivelmente doce. Um dar e receber, não apenas de deleite físico, mas de amor. Amor verdadeiro. Finalmente, eles se separaram para respirar. Mas os braços de Raul a rodeavam, e as mãos de Luisa descansavam nos ombros largos. Uma felicidade tão grande inundoua que ela se sentiu incandescente com o sentimento. – Eu não acredito que isto é real. Olhos brilhantes encontraram os seus, e o coração de Luisa deu cambalhotas quando ela leu a ternura ali. – Deixe-me lhe mostrar quão real, meu anjo. – Raul puxou-a para mais perto e beijou-a, até que o mundo girou. EPÍLOGO O de bailes estava cheio. No pátio do lado de fora, mais pessoas estavam reunidas sob bandeiras da realeza se agitando, guirlandas e lanternas douradas. Um barulho alegre reverberava nos espelhos antigos e nas pinturas em afresco do teto, enquanto a multidão aplaudia seus novos reinantes: rei Raul SALÃO e rainha Luisa. Os primeiros monarcas unidos na história de Maritz. Os pelos nos braços desnudos de Luisa se arrepiaram enquanto ela ouvia os nomes deles sendo gritados uma, duas, três vezes, primeiro pelo anunciador, depois pelas vozes fortes da multidão. Em sua cabeça, havia uma delicada coroa de ouro e diamantes brilhantes. Em sua mão, descansava o globo medieval adornado com joias, e na mão de Raul, ao lado da sua, o cetro de ouro. Ela respirou fundo, mal ousando acreditar que aquele momento era real. Mas então, uma mão quente envolveu a sua e apertou-a. Luisa virou-se e viu puro amor nos profundos olhos verdes de Raul. Era real. A cerimônia, a multidão, porém, mais importante de tudo, o amor de Raul. Ele lhe ergueu a mão e deu um beijo fervoroso ali. Instantaneamente, a excitação a percorreu. E a antecipação. Raul sorriu, uma luz travessa nos olhos, e ela soube que sua expressão a entregara. Ele lera seus sentimentos por ele no seu rosto. Luisa não se importava. Deleitava-se no amor deles. E este era apenas o começo... Raul riu, e, através do mar de boasvindas, ela ouviu a multidão aplaudir novamente. Virou-se e olhou para baixo, de seu trono. Lá estava Lukas, com a nova secretária de Luisa, Sasha. Daquele ângulo, parecia que eles estavam de mãos dadas. Então havia Tamsin e Alaric, seus sorrisos conspiratórios. Mary e Sam estavam na fileira da frente, em lugares de honra, sorrindo para Luisa, como se o fato de ela estar casada com um rei e governar um país fosse a coisa mais natural do mundo. Ela balançou a cabeça em perplexidade. – Você está pronta, querida? Raul levantou-se e ajudou-a a fazer o mesmo. Oficiais apareceram para pegar o globo precioso e o cetro. – Tão pronta como eu sempre estarei. – Ele a conduziu do palco para o piso abaixo, onde espaço foi aberto para eles. – Você se sairá bem – murmurou Raul, e envolveu-a nos braços. – Se houver um problema, culpe seu professor. Luisa fitou-lhe os olhos, que reluziam com amor, sentiu-o começar a movê-la numa valsa e sorriu. A música tocava suavemente, enquanto ela girava nos braços do homem que adorava. Ela estava em casa. Maya Blake O PREÇO DO SUCESSO Tradução Joana Souza CAPÍTULO 1 OS antes do acidente passaram quase em câmera lenta. O tempo parou, depois se estendeu letargicamente no sol de domingo. E mesmo que os carros estivessem viajando a mais de 220 quilômetros por hora, parecia haver uma simetria quase hipnótica em seu movimento. Sasha Fleming ficou olhando, petrificada. Centenas de quilos de fibra MOMENTOS de carbono torcidos sobre si mesmo. O carro de corrida de renome mundial se lançou para o ar. Inevitavelmente, a gravidade venceu. – Ele bateu! Ele bateu! O atual campeão mundial, Rafael de Cervantes, bateu seu Espiritu DSII. Hoje mesmo pela manhã os jornais disseram que este carro não batia. Como puderam errar assim? Sasha arrancou seus fones de ouvido, incapaz de tolerar o enorme rugido que subiu no circuito de Hungaroring. Seu coração estava batendo tão forte e tão rápido que parecia prestes a romper sua caixa torácica. Seus olhos permaneceram colados nas telas e ela e dois membros da equipe dos boxes observavam os terríveis acontecimentos se desenrolarem. – Aumente o som – gritou alguém. Contendo a necessidade selvagem de negar a ordem, ela apertou os lábios e cruzou os braços com força ao redor da cintura. Memórias de outro tempo, outro acidente, vieram à tona com o desenrolar na tela. “Às vezes, a única maneira de sobreviver à dor é mergulhar nela. Deixe-a comer viva. Ela a libertará eventualmente.” Quantas vezes seu pai lhe disse isso? Quando ela quebrou o tornozelo andando de bicicleta. Quando ela fraturou o braço ao cair de uma árvore. Quando ela perdeu sua mãe aos 10 anos de idade. Quando ela sofreu as consequências desesperadoras de se apaixonar pelo cara errado. Ela passou por tudo isso. Bem... Quase. A perda secreta que ela havia enterrado no fundo do seu coração sempre estaria com ela. Assim como a perda de seu pai. A voz do comentarista invadiu seus pensamentos. – Não há nenhum movimento no carro. A ambulância está a caminho, mas até agora não vimos Rafael se movendo. Seu engenheiro está freneticamente tentando falar com ele. Devo dizer que o quadro não parece bom... Sasha forçou a respiração, os dedos se movendo convulsivamente para soltar sua roupa de corrida. Lembrou-se de sua última conversa com Rafael. Ele estava tão zangado com ela. E as acusações quando ela só estava tentando ajudar... Sua alma foi invadida pelo frio. Foi culpa dela? Ela teve um papel no acidente? – A ambulância está lá agora. E também o irmão de Rafael, Marco, o dono da Equipe Espiritu. Ele está a caminho do local do acidente... Esperamos notícias em breve. Marco. Outro choque percorreu seus sentidos. Ela ainda não sabia que ele finalmente havia chegado à Hungria. Em seus dois anos como piloto da Equipe Espiritu, Marco de Cervantes não havia perdido uma única corrida, até este fim de semana. Pela resposta concisa de Rafael quando ela perguntou sobre o paradeiro de seu irmão, Sasha havia concluído que os irmãos estavam brigados. Seu coração se apertou no peito ao pensar que Marco havia chegado apenas para testemunhar o acidente de seu irmão. Um ousado cinegrafista passou pelos guarda-costas e filmou Marco. Com a mandíbula contraída e apenas uma simples sugestão de palidez, ele manteve o olhar fixo, não revelando o menor indício de seu estado emocional enquanto caminhava em direção ao carro. Pouco antes de entrar no carro, ele virou a cabeça. Seus profundos olhos castanhos olharam diretamente para a câmera. Estranhamente, Sasha sabia que sua emoção ia além dos eventos que se desenrolavam naquele momento. Independentemente da emoção que Marco escondia, ia muito além do horrível acidente de seu irmão. Outro arrepio passou por ela. Afastou-se da tela, procurando cegamente uma fuga. A parte de trás da garagem onde os pneus estavam empilhados ofereceu um santuário temporário. Tom Brooks, seu assessor de imprensa pessoal, separou-se do grupo e foi direto a ela. – Precisamos nos preparar para uma entrevista. Subiu uma náusea que se juntou a todas as outras sensações que se acumulavam dentro dela. – Já? Não sei nem como Rafael está. – Exatamente. Os olhos do mundo estarão sobre esta equipe. Agora não é a hora de jogar tudo no lixo – disse ele sem simpatia. Sasha mordeu o lábio. Sua negação aquecida de um relacionamento com Rafael há apenas uma semana havia alimentado especulações da mídia e trouxe um foco indesejado para a equipe. – Não é melhor estar bem informada antes da entrevista? Seu rosto escureceu. – Você quer ser piloto reserva para sempre? Sasha fez uma careta. – Claro que não... – Bom, porque eu não quero ser assessor de imprensa de piloto reserva pelo resto da minha carreira. Você quer ser um deles? Aqui está a sua chance de provar isso. Uma onda de raiva cresceu dentro dela. – Eu não preciso ser cruel para provar nada, Tom. – Ah, precisa. Você acha que qualquer outro piloto hesitaria diante da chance que foi apresentada? – Que chance? Não sabemos nem como Rafael está ainda! – Bem, você pode deixar passar. Você pode optar por tornar-se uma estatística sem sentido ou pode se colocar no assento do piloto e provar que os rumores estavam errados. Ela não precisava perguntar o que ele queria dizer. Uma onda de dor cruzou seu corpo. – Não me importo com os boatos. Sou um bom piloto. – Você também é filha de Jack Fleming e ex de Derek Mahoney. Se quiser ser levada a sério, você precisa sair das sombras. Faça a entrevista. Por mais que ela não gostasse da atitude mordaz de Tom, uma parte dela sabia que ele estava certo. – Eu tenho um repórter pronto para... – Não. Não vou dar entrevista até saber como Rafael está. Duas ambulâncias e três carros de bombeiros já cercavam o carro destruído. Marco de Cervantes estava de pé a certa distância, ignorando a todos, com seu impressionante físico firmemente plantado no chão, as mãos cerradas e o olhar inabalável fixo em seu irmão. O coração de Sasha se apertou com mais força. Por favor, esteja vivo, Rafael. Não se atreva a morrer... O olhar severo de Tom se suavizou um pouco. – Vou preparar alguma coisa enquanto esperamos. Encontre um lugar calmo. Recomponha-se. Esta é a oportunidade pela qual você estava esperando, Sasha. Não a desperdice. MARCO DE Cervantes entrou no quarto de hospital em Budapeste, com um pavor em seu estômago. Ele cerrou os punhos para parar o tremor em suas mãos e forçou-se a caminhar para a cabeceira de seu irmão. A cada passo, a cena do acidente se reproduzia em sua mente na forma de um pesadelo vívido, horrível, que não iria parar. Havia muito sangue no local do acidente... Muito sangue... Seu peito se apertou quando ele viu o lençol branco puxado sobre o peito de seu irmão. Distraidamente, ele fez uma observação para que os funcionários substituíssem os lençóis por lençóis verdes, a cor favorita de Rafael. Lençóis hospitalares brancos pareciam... Cheiravam... A morte. Rafael não estava morto. E se dependesse de Marco, aquela seria sua última aproximação sem sentido com a morte. Já era o suficiente. Ele se emparelhou com a cama e olhou para o rosto pálido do irmão. Para o tubo inserido na boca, para ajudá-lo a respirar. Já era o suficiente. A garganta de Marco estava fechada. Ele havia escolhido dar a Rafael um tempo para que recobrasse seus sentidos, em vez de forçá-lo a ouvir a razão. E, ao fazer isso, ele permitiu que seu irmão assumisse o volante do carro mais poderoso do mundo, enquanto ainda se recuperava de uma rejeição emocional. Ao contrário dele, seu irmão nunca fora capaz de separar as diferentes áreas de sua vida, suprimir emoções supérfluas que o levam a julgamentos desnecessariamente nebulosos. Rafael fundia felicidade, tristeza, vitória e derrota, formando uma bagunça. Adicione à mistura um carro de corrida de 750 cavalos de potência e mais uma vez ele era o incumbido de catar os cacos. Sua respiração estremeceu. Estendendo a mão, ele pegou a mão imóvel de Rafael e inclinou-se até que seus lábios pairassem a uma polegada da orelha de seu irmão. – Você vai sobreviver, está me ouvindo? Juro por tudo que é sagrado, se você morrer eu vou segui-lo até o inferno – esbravejou ele. – E eu sei que você vai estar no inferno, porque com certeza não vai para o céu com aqueles olhares. Sua voz falhou e lágrimas rolaram. A mão de Rafael permanecia imóvel, morna. Marco a apertou com mais força, tentando desesperadamente bloquear as palavras do médico... Seu cérebro está inchando... Há hemorragia interna... Nada a fazer a não ser esperar... Amaldiçoando, ele saiu de perto da cama. A janela do moderno hospital particular dava para um pátio sereno, com fontes e flores com a intenção de acalmar o paciente com problemas. Marco não encontrava consolo na vista. Sobretudo quanto avistou os paparazzi perto do hospital com as poderosas lentes treinadas para atacar. Passando a mão pelo cabelo, ele voltou para perto da cama, concentrando-se na televisão, e viu o acidente de Rafael novamente em câmera lenta. Sentiu um gosto amargo na garganta. Após achar o controle remoto, viu outra imagem na TV e sentiu o ódio subir-lhe à cabeça. Cinco minutos depois, desligou o aparelho. – Eu sei que você provavelmente iria discutir comigo, mi hermano, mas teve sorte de escapar. Em mais de um sentido. Agradeceu aos céus por seu irmão não ter ouvido a entrevista que havia acabado de passar. Marco sabia do que as pessoas eram capazes em sua busca por fama e poder e o olhar de ambição nos olhos de Sasha Fleming fez seu peito arder em fúria e sua pele arrepiar. Se ela queria um gostinho do poder, ele daria a ela. Deixe-a ter o gostinho, assim como deu o gostinho de si mesma a Rafael. Então, da mesma forma que ela insensivelmente deixou Rafael de lado, Marco se encarregaria de arrancar dela tudo o que sonhava. – DESCULPE-ME, VOCÊ pode me dizer em qual quarto está Rafael de Cervantes? Sasha disse com a autoridade que conseguiu, apesar de saber claramente que ela não deveria estar ali. A enfermeira lhe lançou um olhar. – Você é da família? – Não, mas eu queria ver como ele está. Ele era... É meu companheiro de equipe. – Companheiro de equipe...? Você é Sasha Fleming! Sasha incorporou seu sorriso ensaiado. – Sim – murmurou. – Meu sobrinho ama você. Ele finge que não, mas sei que ele acha você o máximo. Ele vai ficar feliz quando eu lhe disser que conheci você. – Obrigada. Então, posso ver Rafael? Serei breve, prometo. – Desculpe, srta. Fleming. Você não está na lista de visitantes autorizados. Sasha limpou a garganta. – Marco de Cervantes está aqui? Talvez eu possa perguntar a ele. Sasha tirou a imagem da frieza implacável de Marco de sua mente. Ela estava ali por Rafael. Certamente, como sua companheira de equipe, seu irmão não iria barrá-la. – Não, ele saiu há meia hora. – Ele foi embora? A enfermeira assentiu. – Ele não parecia muito feliz, mas considerando as circunstâncias, acho que é de se esperar. Por um momento, Sasha se perguntou se a enfermeira abriria uma exceção. Mas desistiu. Com o coração pesado, ela se voltou para a porta do elevador, que estava aberta, como se para tirá-la dali o mais rápido possível. – Espere. A enfermeira acenou com um movimento rápido. – Talvez eu possa deixar você entrar escondida por alguns minutos – sussurrou ela. Sasha se sentiu aliviada. – Ah, muito obrigada! – Você se importa de assinar um autógrafo para o meu sobrinho? Uma pontinha de culpa a atravessou, mas a necessidade de ver Rafael superou o sentimento. Com um sorriso agradecido, Sasha pegou a caneta oferecida. – O QUE diabos você está fazendo aqui? Sasha se virou com a voz áspera e engasgou com a figura escura enquadrada na porta. Há poucos minutos, a enfermeira havia dito... Um rápido olhar para o relógio confirmou sua suspeita. Ela estava ali há quase uma hora! – Eu lhe fiz uma pergunta. – Eu vim ver Rafael. Não havia ninguém aqui... – Então você pensou que poderia entrar sem que ninguém soubesse? – Quase! A enfermeira... – A enfermeira o quê? Marco avançou para o quarto, sua presença formidável diminuiu o espaço. Ela ficou de pé, mas ainda tinha que inclinar a cabeça para ver seu rosto. A expressão fria como aço secou sua boca ainda mais. Ela balançou a cabeça. – Eu só queria ver como ele está. – Há quanto tempo você está aqui? Ela arriscou outro olhar para o relógio e se encolheu. – Será que realmente importa? – Há quanto tempo? – rangeu ele, com o olhar deslizando sobre seu irmão como se avaliasse os danos. – Por que você está olhando assim para ele? Acha que eu o prejudicaria de alguma forma? – desafiou ela. Seus olhos castanhos se lançaram para ela. Seu desprezo era evidente. – Eu não acho! Eu sei que você já prejudicou meu irmão. Seu tom de voz era tão contundente que Sasha se surpreendeu por ainda estar inteira. – Rafael lhe contou sobre a nossa briga? – Sim, contou. Só posso concluir que a sua presença aqui é mais um truque de mídia, não uma preocupação com meu irmão. – É claro que não! – Foi por isso que a presença da mídia nos portões do hospital dobrou na última hora? Seu olhar se desviou para a janela. As persianas estavam fechadas contra o sol de fim de tarde, mas não completamente fechadas. Ela deu um passo para olhar quando dedos de aço se fecharam em seu pulso. Um calor lhe subiu pelo braço. Foi uma reação tão estranha que ela congelou. – Se acha que vou deixar você usar o meu irmão para promover seus próprios objetivos, está redondamente enganada. Alarmada, ela olhou para ele. – Por que você acha que eu faria isso? Um sorriso melancólico apareceu, exibindo uma aparência tão assustadora que ela estremeceu. – A conferência de imprensa que deu? Sobre o quanto você se importava com ele? Como os seus pensamentos estavam com ele e sua família? Sobre como você está disposta a levantar a equipe? Quais foram suas palavras exatas? “Eu tenho a chance de correr em tempo integral. Tenho provado que tenho o necessário”. Sasha engoliu em seco, incapaz de desviar os olhos de seu olhar arrepiante, mas estranhamente hipnótico. – Eu... Eu não deveria ter... – O eco do mal-estar que sentiu antes e durante a entrevista retornou. – Eu não quis dizer que... – O que você quis dizer, então? Como exatamente você, mera piloto reserva, ganhou seu lugar na equipe? Por que merece o lugar de Rafael e não dos outros pilotos? – Porque é a minha vez! Eu mereço a chance. Ela puxou seu braço capturado. A mão dele apertou mais forte, enviando outra onda de calor através de seu corpo. – Sua vez? Por quê? – desafiou ele, novamente, aproximando-se, invadindo seu espaço e sua capacidade de respirar. – O que há de tão especial em você, Sasha Fleming? – Eu não disse que era especial. – Não foi isso que entendi da coletiva de imprensa. Na verdade eu deduzi algo na linha de que a equipe estaria cometendo um grande erro se você não recebesse o posto de Rafael. Havia ainda a ameaça velada de uma ação judicial? O pensamento de que aquela poderia ser sua única chance de crescer na equipe repercutiu no fundo de sua mente, mesmo que ela se sentisse enojada com a ideia de que o momento era inapropriado. – Nada a dizer? Ela finalmente conseguiu puxar o braço e deu um passo para trás. – Sr. de Cervantes, este não é o momento nem o lugar para discutir isto. Seu olhar deslizou para Rafael, sua garganta se fechou ao ver os tubos e o bipe horrível das máquinas que o mantinham vivo. Marco seguiu seu olhar e congelou, percebendo onde ele estava. Quando seu olhar voltou para o dela, vislumbrou um poço de angústia nas profundezas castanhas e sentiu algo amolecer. Marco de Cervantes, apesar de suas palavras assustadoras e a imposição de sua séria presença, estava sofrendo. O medo do desconhecido, de saber que a preciosa vida de alguém que você ama estava por um fio era um medo que lhe era dolorosamente familiar. Todos os pensamentos de seu trabalho desapareceram enquanto ela o observava lutar com sua dor. O desejo de conforto, de um ser humano para outro, momentaneamente superou o seu instinto de autopreservação. – Rafael é forte. Ele é um lutador. Ele vai sair desta – murmurou ela. Lentamente, ele respirou fundo, e qualquer sinal de dor desapareceu. Seu lábio superior se curvou em um sorriso de escárnio. – Sua preocupação é comovente, srta. Fleming. Mas não precisa disto. Não há câmeras aqui. A menos que tenha uma escondida com você. – Seus olhos deslizaram pelo corpo dela, estreitando enquanto procuravam. – Será que amanhã vou achar na internet imagens do meu irmão no hospital? – Isso é de mau gosto e repugnante de se dizer – girando para longe, ela correu para o sofá e pegou sua bolsa. – Tanto quanto disputar seu lugar, mesmo antes de saber ao certo se ele estava vivo ou morto? Sasha fez uma careta. – Eu concordo. Não era o momento perfeito para fazer uma entrevista. Uma pitada de surpresa iluminou seus olhos, mas seus lábios se firmaram um segundo depois. – Mas você fez, de qualquer maneira. Culpar Tom teria sido fácil. E o caminho mais covarde. A verdade era que ela queria ser piloto principal. – Eu pensei que estava agindo dentro do interesse da equipe. E, sim, eu também estava me colocando à frente como a opção mais viável. Mas o momento era errado. Por isso, peço desculpas. Aquele sorriso triste fez outra aparição. Seu corpo estremeceu. Mesmo antes de falar, Sasha teve a premonição mais forte de que ela não iria gostar das palavras que viriam a seguir. – Você deveria ter tido mais tempo para pensar, srta. Fleming. Porque, como dono de equipe, eu finalmente decidi o que é melhor para a Equipe Espiritu. Não é você. Marco passeou ao lado da cama de seu irmão e ficou olhando para ele. Sasha olhou para os dois. A semelhança entre eles era marcante. No entanto, eles não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Rafael era selvagem e sociável, o irmão parecia um vulcão adormecido. O temor de que ele poderia entrar em erupção a qualquer momento era uma ameaça muito real. E deixava sua garganta seca e seu coração disparado. Finalmente, ele se virou para ela. – A decisão é minha e só minha. Seu tempo não estava errado. Estava péssimo. O que também tornou minha decisão incrivelmente fácil. Seu coração parou. – Que decisão? – Tirá-la da equipe, é claro. – Seu sorriso se expandiu. – Parabéns. Você está demitida. CAPÍTULO 2 – SAIA. Sasha permaneceu congelada, incapaz de atender o comando de Marco de Cervantes. Finalmente, ela forçou um suspiro. – Não, você não pode fazer isto. Não pode me demitir. Em algum lugar no fundo da sua mente, ela sabia que havia algo sobre contratos e cláusulas... Mas seu cérebro não conseguia pensar. – Eu posso fazer o que eu quiser. A equipe é minha. – Sim, mas... – Ela respirou fundo e forçou-se a se concentrar. – Sim, você é dono da equipe, mas não é meu dono. E você não pode me demitir. Eu não fiz nada de errado. Claro, a entrevista coletiva foi um pouco inoportuna. Mas isso não é motivo para me demitir. – Talvez eu tenha outros motivos. – O que você está falando? Marco olhou para ela por alguns segundos. Então seu olhar deslizou para seu irmão. Estendendo a mão, ele cuidadosamente alisou o cabelo de Rafael. A pungência do gesto e do abrandamento momentâneo de seus traços, machucou o coração de Sasha, apesar de sua raiva por ele. Ninguém merecia assistir a um ente querido sofrer. Nem mesmo Marco de Cervantes. – Você está certa. A cabeceira do meu irmão não é o lugar para discutir isto. – Está bem. Eu vou embora. – Fugir? Seu passado lhe assusta, srta. Fleming? Ela engoliu, esforçando-se para manter uma expressão neutra. Marco de Cervantes não sabia. Ele não tinha como. – Eu não sei do que você está falando. Meu passado não tem nada a ver com o meu contrato com sua equipe. – Extraordinário – murmurou ele, finalmente. – O quê? – resmungou ela. – Você mente tão bem. Nem mesmo um cílio a trai. Não é à toa que Rafael estava completamente apaixonado por você. O que eu não entendo é o motivo. Ele lhe ofereceu o que queria: dinheiro, prestígio, um estilo de vida privilegiado com que milhões sonham, mas apenas poucos conseguem. Não é isso que mulheres como você querem? A oportunidade de viver no luxo inimaginável de um castillo? – Hum, eu não sei com que tipo de mulher você anda, mas não sabe nada sobre mim. Incrivelmente, suas feições se esfriaram. – Eu sei tudo o que preciso saber. Então, por que você apenas não ficou com ele? Qual é o seu ponto de vista? – Eu não tenho nenhum ponto de vista... – Chega de mentiras. Saia. Seus olhos se voltaram para Rafael. Sasha duvidava que fosse vê-lo novamente. – Diga a ele que eu vim vê-lo, por favor? – Com um pouco de sorte, no momento em que o meu irmão acordar, qualquer memória que ele tem de você será varrida de sua mente. Ela engasgou. – Não sei exatamente o que Rafael lhe disse, mas você realmente está errado. Marco deu de ombros. – E você ainda está demitida. Adeus, srta. Fleming. – Por que razão? – desafiou ela, esperando que desta vez sua voz saísse com mais convicção. – Tenho certeza que meus advogados podem encontrar algo. Entusiasmo inapropriado? – Essa é uma razão pela qual você deve me manter e não um motivo para me demitir. – Você acabou de provar que estou certo. A maioria das pessoas sabe onde traçar a linha. Parece que você não sabe. – Eu sei – ressaltou, erguendo a voz junto com o nó apertado no peito. – Esta conversa acabou. Ele olhou incisivamente para a porta. Ela saiu, sofrendo com o impacto de suas palavras. Seu contrato era hermético. Sasha tinha certeza disso. Mas ela havia visto muitas equipes descartarem motoristas perfeitamente aptos e em condições, por razões muito menores que as que Marco acabara de lhe dar. O pensamento de que ela poderia perder tudo pelo que havia lutado deixou sua boca seca. Ela lutou muito pelo seu lugar na equipe de maior sucesso na história do esporte. Ela se sacrificou muito por muito tempo. De alguma forma, tinha que convencer Marco de Cervantes a mantê-la. Ela se virou para enfrentá-lo e viu um homem baixo de terno e com uma expressão de bajulação correndo em direção a eles. Ele entregou algo a Marco e começou a falar em francês. O crachá o anunciava como administrador e o que dizia não estava tendo nenhum efeito sobre Marco. Marco o interrompeu. Quando o administrador com surpresa começou a olhar para a recepção, Sasha seguiu seu olhar. A enfermeira que a deixou entrar estava lá. O administrador implorou de novo. Marco o interrompeu de forma contundente e dirigiu-se para os elevadores. Sasha correu atrás dele. Ao passar pela recepção, ela vislumbrou a angústia nos olhos da enfermeira. Outra onda de pavor cruzou seu corpo, dando-lhe mais impulso para correr atrás de Marco. – Espere! Ele apertou o botão do elevador. Longe das luzes baixas do quarto do hospital, Sasha o viu de verdade pela primeira vez. Íntimo e pessoal, Marco de Cervantes era impressionante. Principalmente para quem gosta de homens altos, imponentes e com uma masculinidade pungente. Foco! – Podemos conversar, por favor? Ele a ignorou. O elevador chegou e ele entrou. Sasha correu atrás dele. Quando as portas fecharam, viu a enfermeira explodir em lágrimas. Indignada, ela se virou para ele. – Meu Deus. Você fez aquela enfermeira ser demitida, não foi? A raiva dissolveu seu instinto de autopreservação e levou junto a sensação estranha que ela se recusava a reconhecer que era atração. – Eu apresentei uma queixa. – O que, vindo de você, é o mesmo que mandar o administrador despedila! – Ela tem que viver com as consequências de suas ações. – Portanto, não há meio-termo? Sem misericórdia? – Você não estava na lista de visitantes autorizados. Ela sabia disso e não o considerou. Você poderia ser uma jornalista de algum tabloide. Poderia ser qualquer um. Seus olhos se estreitaram e Sasha forçou neutralidade em sua expressão. – Ou talvez ela soubesse exatamente quem você era. Ela abaixou as pálpebras conforme a culpa tomava conta de seu rosto. – Claro – provocou ele baixinho. – O que você ofereceu a ela? Entradas grátis para a próxima corrida? Erguendo a cabeça, ela encontrou seu olhar. – Sabe, seu irmão estar gravemente ferido não lhe dá o direito de destruir a vida de outras pessoas. – Perdão? – Agora você está sentindo dor e atacando, querendo que toda e qualquer pessoa pague pelo que está passando. É compreensível, mas não é justo. Essa pobre mulher está agora desempregada só porque você está com raiva. – Essa pobre mulher abusou de sua posição e quebrou a política do hospital para ganho pessoal. Ela merece. – Não era para ganho pessoal. Ela fez isso pelo sobrinho. Ele é fã. Ela queria fazer algo de bom para ele. – Meu coração está sangrando. – Você faz o mesmo, e mais, para milhares de fãs de corridas todos os anos. O que há de tão diferente nisso? Mais uma vez ela vislumbrou sua fúria. – A diferença, srta. Fleming, é que eu não comprometo a minha integridade para tal. E não coloco ninguém em perigo só para conseguir o que quero. – E a compaixão? – Não tenho. – Você vai acordar em breve arrependido de suas ações hoje. As portas do elevador abriram para revelar o estacionamento subterrâneo, onde o motorista aguardava perto de seu carro, mas Marco não fez nenhum movimento em direção a ele. Em vez disso, olhou para ela com uma expressão assustadoramente sombria. – Lamento muito pelo que aconteceu nas últimas 24 horas, ver meu irmão se acidentar na pista de corrida porque acreditava estar com o coração partido. Uma coisa a mais não fará diferença. – Você está se deixando levar pelas emoções. – Emoções? Eu não sabia que você era a psicóloga da equipe. – Zombe de mim o quanto quiser. Isso não muda o fato de que você está agindo como... – Vamos, agindo como o quê? – Como... Bem, como um idiota. – Desculpe? – Sinto muito. Você perguntou. A raiva consumiu seu corpo. Sasha preparou-se para a explosão em sua cabeça. Em vez disso, ele deu um sorriso triste. – Já fui chamado de coisa pior. Esteja avisada, minha doação muito generosa a este hospital depende de você não chegar perto do meu irmão novamente. – Não pode fazer isso. Se você não me ouvir, eu... Vou falar com a imprensa novamente. Eu vou contar tudo! – Ah, estou contente de finalmente conhecer você de verdade, srta. Fleming. – Dez minutos. É tudo que eu peço. Deixe-me convencê-lo. – Confie em mim, chantagem não é um bom começo. – Foi só um blefe. Não vou falar com a imprensa. Mas quero pilotar. E sou a melhor substituta que você encontrará para Rafael. – Você se valoriza muito, não é? – Sim, apenas deixe que eu prove que estou certa. Seu olhar se estreitou em seu rosto, em seguida, fez uma varredura preguiçosa sobre seu corpo. Como piloto do sexo feminino em um esporte predominantemente masculino, ela estava acostumada a ser o centro de atração de olhos masculinos. Havia aqueles que procuravam sinais de falhas como piloto, prontos para usar quaisquer deficiências contra ela. Havia os predadores que procuravam fraquezas simplesmente porque ela era mulher e, portanto, considerada incapaz. Os mais cruéis eram aqueles que esperavam que ela falhasse porque era filha de Jack Fleming. Esses eram os que ela mais temia. E para os quais ela jurava que provaria que estavam errados. O olhar de Marco de Cervantes era uma combinação de todos esses multiplicado por mil. E havia outra coisa. Algo que fez sua respiração pesar. Algo que deixou suas mãos úmidas e eriçou seus pelos da nuca. – Entre no carro. Sasha olhou para o escuro e luxuoso interior do carro e hesitou. Os sentimentos que aquele homem engendrava nela não eram de medo. Em vez disso, ela sentia um risco emocional, e se ele descobrisse seus piores medos, os usaria contra ela. Não podia deixar isso acontecer. – Se você quer que eu a ouça, vai entrar no carro. Agora! – disse ele, com seu tom intransigente. Ela hesitou. – Não posso. – Não posso não é algo que eu goste de ouvir – rosnou ele. – Minha moto. – Ele arqueou uma sobrancelha. – Prefiro não deixá-la aqui. Ele não acreditou ao olhar para a scooter verde e branca surrada inclinando-se precariamente contra a parede do estacionamento. – Você veio aqui com aquilo? – Sim. Por quê? – Você está usando o par mais revoltante de jeans que eu já vi e um lenço que já viu melhores dias. Óculos de sol grandes e não preciso ser um gênio para adivinhar que você estava fazendo alguma tentativa equivocada de fugir dos paparazzi. Estou certo? E ainda assim você viajou no modo mais lento de transporte motorizado conhecido pelo homem. Ela ergueu o queixo. – Mas aí está a beleza, você não vê? Consegui chegar sem uma única lente com foco em mim. Você, por outro lado... Diga-me como eles reagem quando você passa neste seu carro monstruoso? Sua mandíbula se contraiu e ele olhou para ela. – Exatamente. Não vou deixar minha moto. – A segurança aqui é... – Inadequada, de acordo com você. Afinal, eu consegui passar, não é? Ele segurou a porta do carro. – Entre no carro ou não. Eu me recuso a discutir com você sobre uma pilha de lixo. – É o meu lixo e eu não vou deixá-lo. – Chaves? – Por quê? – Romano levará a scooter para o seu hotel. Os olhos de Sasha se arregalaram. Romano pesava pelo menos cem quilos de puro músculo. O pensamento de que ele ia montar em sua pobre scooter a fez estremecer. – E antes que você comente sobre o tamanho de Romano, pare e pense sobre seus sentimentos – acrescentou Marco ironicamente. Touché, admitiu ela em silêncio. Ela relutantemente entregou as chaves. Marco as arremessou para seu guarda-costas e, em seguida, levantou uma sobrancelha imperiosa para ela. Com um suspiro de resignação, Sasha entrou na limusine. Conforme o carro saía do estacionamento, ocorreu-lhe que ela não tinha ideia de onde Marco a estava levando. Apesar de sua expressão sombria, seu perfil era incrivelmente cativante. Os contornos esculpidos de seu rosto captavam a atenção de qualquer mulher. Sob a camisa de algodão discretamente cara aqueles ombros se moviam inquietos. Ela seguiu o movimento, o olhar deslizando sobre seu peito, passando pelo abdômen e pousando em seu colo. A protuberância sob o zíper criou um redemoinho de calor em sua barriga. – Você já viu o suficiente? Ou será que você quer um striptease lento? Suas bochechas coraram. Mortificada, ela rapidamente arrancou os óculos de sol do alto de sua cabeça e colocou-os em seu rosto. – Eu... Você não disse para onde estamos indo. – Eu convoquei uma reunião com Russell e o engenheiro-chefe. Vou soltar as rédeas temporariamente para que eu possa me concentrar em transferir Rafael para a Espanha. – Você vai levá-lo? – Ainda não, mas a equipe médica está aguardando. Ele será transferido quando for seguro. – Entendo. – Entende? Você queria uma última oportunidade de reunião e ainda assim está perdendo tempo exibindo falsa preocupação com o meu irmão. Ela respirou fundo. – A minha preocupação não é falsa. Eu daria qualquer coisa para Rafael não estar naquele lugar. – Na minha experiência, qualquer coisa é um preço muito alto. Portanto, muito cuidado com sua escolha de palavras. Sasha passou a língua pelos lábios, de repente, incapaz de respirar com a expressão em seus olhos. – Acho que eu não sei o que você quer dizer. O olhar nos olhos dele endureceu. – Você realmente deveria tentar uma profissão diferente. Suas habilidades de atuação são altamente louváveis. – Pilotar me cai muito bem, obrigada. Para onde estamos indo, exatamente? – Meu hotel. – Seu hotel? – Ela repetiu estupidamente. Seus sentidos, ainda se recuperando depois de ter sido pega olhando para Marco de Cervantes, ameaçavam desaparecer. O pensamento de estar sozinha com ele, verdadeiramente sozinha, cobria sua pele de ansiedade. – Não acho que seja uma boa ideia. – Não tem escolha. Você queria esta reunião. – O resto da equipe se perguntará onde estou. Talvez eles devam saber. – A equipe estará lá fora fazendo o que eles fazem depois de cada corrida de domingo. Indo de bar em bar e experimentando as meninas locais. – Eu não acho que eles estarão fazendo isso hoje à noite. Por causa do Rafael... – Chame-os se quiser. Diga-lhes para onde está indo. E o porquê. As circunstâncias de seu passado tornavam impossível fazer amizade com alguém da equipe. Os sussurros constantes pelas costas, as conversas que paravam quando ela entrava em uma sala, tudo isso tornava difícil confiar em alguém. Tom só se preocupava em quanto suas ações impactariam sua carreira. A única pessoa que havia se importado, de verdade, era Rafael. Uma onda de dor e pesar a invadiu. Fingindo indiferença, ela deu de ombros. – Falo com eles mais tarde. – Chegamos. Sasha sentiu sua boca cair aberta pela opulência do deslumbrante hotel. Toda a atmosfera brilhava e cintilava debaixo de um enorme lustre giratório, que jogava sua luz sobre as pessoas elegantemente vestidas. Ela permaneceu em seu assento, consciente de como estava vestida de forma inapropriada em seus jeans. – Saia. E tire os óculos e o lenço. – Não podemos apenas falar no carro? – Não, não podemos. Nós dois sabemos que você não é tímida, então pare de desperdiçar meu tempo. Ela poderia argumentar, defender a sua reputação pessoal contra o rótulo que Marco decidiu colocar nela, mas duvidava que fizesse diferença. A única arma que tinha para lutar era seu talento atrás do volante. O tempo de seu pai foi cruelmente interrompido, carimbado por mentiras cruéis que o destruíram e a roubaram de uma pessoa que realmente a amava e acreditava nela. Apertando os dentes, ela ignorou sua mão e saiu do carro. MARCO ATRAVESSOU o saguão de mármore. Atrás dele, ouvia o barulho apressado de saltos, conforme Sasha Fleming lutava para manter-se no mesmo ritmo. Ele acelerou. Queria que aquela reunião acabasse logo para que pudesse voltar para o hospital. Por um único momento, Marco agradeceu a Deus por sua mãe não estar viva. Ela não poderia suportar ver seu filho querido em coma. Já foi ruim o suficiente para ela ter que lidar com a dor e o sofrimento do acidente de Marco há dez anos. Ele sentiu uma profunda vergonha e arrependimento por ter deprimido tanto sua mãe. Por ter perdido a noção da realidade na época. De forma tola e egoísta, ele achava que estava apaixonado. O sorriso ensaiado de uma manipuladora o cegou a ponto de ele jogar toda a cautela para o espaço e, no processo, isso foi prejudicial à sua família. Sua mãe se foi, sua morte ainda era um peso em sua consciência, mas Rafael estava vivo e Marco estava obstinado a certificar-se de não deixar um raio cair duas vezes no mesmo lugar. – Hum, o bar é para o outro lado. Ele parou tão de repente, que ela esbarrou nele. Marco franziu o cenho para a sensação momentânea dos seios dela contra suas costas e o calor imprevisível que surgiu em sua virilha. Todo o seu corpo se contraiu em furiosa rejeição. – Eu não discuto negócios em bares. E duvido seriamente que você queira que a nossa conversa seja ouvida por mais alguém. Virando as costas, ele caminhou até o elevador que o levaria à suíte presidencial. Desde o acidente de Rafael que ele estava lutando contra a escuridão, lutando contra memórias que não tinham lugar dentro daquele caos. – Estamos indo para sua suíte? Ok... – Vejo que esse pensamento não lhe incomoda muito. A vontade de atacar, ferir, corria dentro dele. Silenciosamente, ele admitiu que ela estava certa. Enquanto Rafael estava lutando por sua vida, ele não conseguia pensar direito. O impulso de fazer alguém pagar fervia sob a superfície de sua calma. E Sasha Fleming colocou-se na frente e no centro de sua mira. – Você está certo. Eu realmente não quero que nossa conversa esteja nas manchetes de amanhã. – Então você não está com medo de entrar na suíte de um estranho? – Você é estranho? Pensei que fosse apenas o gênio da engenharia da equipe. – Sou imune à bajulação, srta. Fleming, e a qualquer outra forma de coerção que atravesse sua cabecinha. – Que pena! Eu estava prestes a jorrar alguma informação nerd para fazê-lo gostar de mim. – Você estaria perdendo seu tempo. Tenho uma equipe especialmente selecionada para lidar com bajuladores. Ela respirou fundo e baixou o olhar. Marco pegou-se a analisar o ângulo de seu queixo, a linha sensual de seus lábios carnudos. Contra sua vontade, outra onda de calor subiu por ele. Jogou um balde de água fria mental para superar. Aquela mulher pertencia ao seu irmão. O elevador abriu diretamente na sala de estar com vista para o Danúbio. – Então, o que seria necessário para convencê-lo a me manter? – Ela se dirigiu a ele, sem tirar os olhos da visão da janela. – Você é conhecida por ter relações com seus companheiros de equipe. – Um companheiro de equipe. Há muito tempo. – Ele também bateu em circunstâncias extremas e parou de correr, não é verdade? – Ele se aposentou do automobilismo, sim. – E o lugar dele foi então dado a você? Seus olhos se estreitaram. – Você está passando dos limites, se acha que tenho alguma relação com o que aconteceu com Rafael. – Não é curioso que você traga o caos a cada equipe que participa? Você é azarenta, srta. Fleming? – Como ex-piloto, tenho certeza que você está familiarizado com acidentes de pilotos. É uma realidade do esporte. Na verdade, não foi um acidente que encerrou sua carreira? Expulsando as memórias, ele cruzou os braços. – É a sua situação que me interessa, não estatísticas. Você terminou com esse outro cara antes de uma corrida. Este parece ser o seu modus operandi. – Lamento muito. Achava que você administrava sua equipe com base no mérito e na integridade, não em rumores e hipóteses. – Aqui está a sua chance de dissipar os rumores. Como quantos outros companheiros de equipe você já dormiu? – Eu tive um relacionamento com um. Derek e eu saímos por um tempo. Depois, acabou. – Mas esse... Relacionamento foi bastante turbulento, não é verdade? Tanto que acabou destruindo a carreira dele, enquanto a sua prosperava. Ela bufou. – Eu não diria que prosperava, exatamente. Mas caminhava com suor e sangue. – Mas você começou a ser piloto reserva da equipe. E terminou com ele quando o lugar ficou vago para você? – É óbvio que você fez a sua lição de casa. Mas eu não vim aqui para discutir a minha vida pessoal com você, porque ela não lhe interessa. – Quando ela se relaciona ao meu irmão e à minha equipe, interessa sim. E suas ações nos últimos três meses têm envolvido diretamente Rafael. – Ele estendeu a mão até a caixa que estava sobre a mesa. – Sabe o que há nesta caixa? – perguntou abruptamente. – Não, como saberia? – Deixe-me esclarecer. Ela contém os objetos pessoais que foram encontrados com Rafael quando ele foi tirado do carro. Ele abriu a caixa. O interior estava manchado com sangue. O sangue de Rafael. Sangue que ele derramou por causa daquela mulher. Ele levantou uma corrente de ouro com um pequeno crucifixo. – Minha mãe deu isto a Rafael quando ele tinha 13 anos de idade. Ele sempre usa durante as corridas. Para dar sorte. Em seu rosto, tristeza e uma pitada de culpa, talvez. Colocando a mão no bolso, ele pegou outra caixa, quadrada, de veludo. Ela ficou tensa. - Sr. de Cervantes... Seus lábios se contorceram. - Você não é tão talentosa assim. Porque a sua expressão em seu rosto me diz tudo que eu preciso saber. Rafael pediu você em casamento, não foi? – perguntou ele. – Eu... – Meu irmão pediu você em casamento. E você insensivelmente o rejeitou, sabendo que ele teria de correr logo depois. Não foi? CAPÍTULO 3 SASHA CERROU os punhos. Mesmo de longe, ela podia sentir a raiva de Marco. Seu coração bateu loucamente no peito. Ela abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. – Aqui está a sua chance de falar, srta. Fleming. – Marco abriu a caixa para revelar um grande e deslumbrante diamante rosa no interior de um círculo de diamantes brancos menores. – Você rechaçou meu irmão ou não? – perguntou ele, com a voz baixa e perigosa. Suprimindo um arrepio, ela disse: – Você entendeu errado. Rafael não me pediu em casamento... – Mentirosa. – Ele fechou a caixa. – Ele me mandou uma mensagem ontem à noite. Você disse que não. – É claro que eu disse que não. Ele não quis dizer... Ele continuou como se ela não tivesse falado. – Rafael pensou que estava apenas se fazendo de difícil. Ele iria tentar novamente esta manhã. Ela observou as narinas de Marco se dilatarem com a mais profunda raiva enquanto esperava sua resposta. Ela lambeu os lábios, escolhendo cuidadosamente suas palavras, porque estava claro que Rafael, por suas próprias razões, não dera a Marco todos os fatos. – Rafael e eu somos apenas amigos. – Você está achando que sou idiota, srta. Fleming? Realmente espera que eu acredite que você viu jantares românticos a dois em Londres ou a viagem para Paris no mês passado como gestos inocentes de um mero amigo? Outra pontada de surpresa passou por ela. – Fui jantar com ele porque Rav... A namorada deu um bolo nele. – E Paris? – Fomos para nos divertir. – Divertir? E então começou a dançar a noite toda em seus braços? E as outras vezes que foram flagrados juntos pelos paparazzi? – perguntou ele. – Sei que vocês dois são próximos, mas não acha que está tendo um interesse pouco saudável na vida privada do seu irmão? Sua cabeça se sacudiu como se ela o tivesse esbofeteado. Seus olhos se escureceram e seus ombros se enrijeceram com a contenção de uma emoção sombria. – É meu dever proteger meu irmão. – Rafael é um homem adulto. Ele não precisa de proteção. – Então por que meu irmão, o atual campeão mundial, que raramente comete erros, deliberadamente enfiou o carro na parte traseira de um carro mais lento? – O acidente não foi deliberado. Ela se recusava a acreditar que Rafael teria agido de forma imprudente. – Rafael não iria colocar a si mesmo ou outro piloto em perigo. – Eu vejo meu irmão correr desde que ele tinha 6 anos de idade. Sua habilidade é lendária. Ele nunca teria sofrido aquele acidente se estivesse com a cabeça no lugar. Sasha não poderia refutar a alegação. – Talvez ele pensasse que conseguiria fazer aquela manobra – prosseguiu ela sem entusiasmo. – Ou talvez ele não se importasse. Talvez já fosse tarde demais quando ele entrou no carro. – Claro que não. Por que você diz isso? – Ele me mandou uma mensagem de uma hora antes da corrida para dizer que pretendia ter o que queria. A todo o custo. O sangue de Sasha congelou. – Eu... Não, ele não poderia ter dito isso! Além disso, ele não quis dizer... – Ela não trairia a confiança de Rafael. – Somos apenas amigos. – Você é venenosa. O que quer que mantenha sobre seus companheiros de equipe, termina agora. Deslizando a caixa contendo o anel de noivado em seu bolso, ele voltou para a mesa. Vários papéis estavam espalhados. – Seu contrato termina na próxima temporada. Meus advogados verão como será a compensação nos próximos dias. Mas a partir de agora os seus serviços não são mais necessários para a Equipe Espiritu. – Você está me demitindo por que sou amiga do seu irmão? Se ela tivesse que gritar como uma alma penada, ela gritaria para Marco de Cervantes ouvi-la. Depois de anos suportando sussurros viciosos e insensíveis, ela não seria demitida tão facilmente. Não quando sua chance de restaurar a reputação de seu pai e provar seu próprio valor estava tão próxima. – Você quer parar por um momento e pensar no quão absurdo é isto? Você realmente quer continuar com isto? – Isto o quê? – O sexismo. Ou você vai demitir Rafael também quando ele acordar? Só para nivelar as coisas? Seu olhar endureceu. – Sou dono desta equipe há quase uma década e ninguém jamais foi autorizado a causar tanta perturbação antes. – O que quer dizer? – Eu avisei a Rafael sobre você, há três meses. Eu disse a ele que você seria um problema. Que ele deveria ficar longe de você. – Como se atreve? – Infelizmente, com Rafael, você só tem que sugerir que há algo que ele não pode ter para fazê-lo ansiar desesperadamente. – Você é inacreditável, sabia? Acha que pode brincar com a vida das pessoas! – Acredite em mim, não estou brincando. Cinco milhões. Confusa, ela franziu a testa. – Cinco milhões... Para quê? – Para ir embora. Dólares, libras ou euros. Realmente não importa. – Você quer me pagar para desistir do meu lugar? Para desaparecer como algum segredo sórdido, simplesmente porque eu me tornei amiga do seu irmão? Do que exatamente você tem medo, sr. de Cervantes? – Vamos apenas dizer que eu tenho experiência com mulheres como você. – Poxa, eu pensava que era só mais uma. Gostaria de elaborar sobre essa afirmação impressionante? – Para você vender a história para o primeiro tabloide? Dispenso. Cinco milhões. Para se demitir e ficar longe do esporte. – Vá para o inferno. – É esta a sua resposta final? – perguntou ele. – Sim. Eu não preciso telefonar para um amigo e não preciso pedir uma audiência. Minha resposta final é: vá para o inferno! Ele concordou com a cabeça. Então, caminhou pelo quarto, aparentemente sem palavras. Por fim, ele passou as mãos pelo cabelo despenteado com um olhar sexy que ela não conseguia ignorar. Ela não merecia aquilo. Tudo o que fez foi tentar ser amiga de Rafael, um companheiro de equipe que parecia estar lutando contra os próprios demônios. Depois de sua experiência com Derek e a dor devastadora de perder o bebê que não sabia estar carregando, ela jurou nunca misturar negócios com prazer. O ciúme de Derek conforme ela subia no ranking das corridas corroeu quaisquer sentimentos que tinha por ele, até não sobrar nada. Felizmente Derek nunca havia descoberto a única coisa que poderia ter usado contra ela. A memória secreta de seu bebê perdido foi enterrada. O sorriso e os modos encantadores de Rafael abaixaram sua guarda, fazendo-a revelar alguns detalhes sobre seu passado. Sua amizade foi um bálsamo para a existência solitária que ela viveu enquanto filha de Jack Fleming. – Sabe, eu achei que Rafael tinha lhe contado sobre o meu passado. Mas foi o contrário, não foi? – perguntou ela. – Pelo que me lembro, fui socorrer Rafael de um arranhão ou outro. Ele é insanamente apaixonado por todos os aspectos de sua vida. Infelizmente os perigos deste mundo parecem encontrá-lo. Quando tinha 11 anos, ele descobriu cogumelos em um campo em León e decidiu comê-los. Seu estômago teve que ser bombeado ou ele teria morrido. Dois anos mais tarde, ele matou aula de seu colégio interno para correr com os touros em Pamplona. Ele foi ferido no braço. Não fosse por uma doação substancial para a escola e minha garantia pessoal de que ele iria melhorar, ele teria sido expulso imediatamente. Eu posso listar mais uma dúzia de episódios. Ele assume muitos riscos. – Como piloto, tinha que ser assim. Você não escalou o Everest sozinho há cinco anos, depois de todos em sua equipe voltarem por causa de uma nevasca? Isso é uma imprudência das grandes. – Eu sabia o que estava fazendo. – Ah, tudo bem. Que tal continuar mais da metade do rali Londres–Dakar com um braço quebrado? – Como...? – Eu disse que tinha informações sobre você. Possui a equipe de automobilismo mais bem-sucedida na história do esporte. Eu quero dirigir para você. Eu fiz a minha lição de casa. – Muito impressionante, mas mesmo antes de Rafael pilotar um carro de corrida ele era... Muito nervoso. – Se você tem que controlá-lo, então por que o deixou correr? Por que o dono da equipe compromete o seu bem-estar? – Porque a corrida está em nosso sangue. É o que fazemos. Meu pai nunca teve a chance de se tornar piloto. Corri para ele, mas porque eu tinha talento. O mesmo acontece com Rafael. Nunca houve qualquer dúvida de que a corrida era o nosso futuro. Mas é também meu trabalho cuidar do meu irmão. Para salvá-lo de si mesmo. Fazêlo ver além de seus desejos imediatos. – Você já pensou que, talvez, se deixá-lo cometer os próprios erros em vez de tentar controlar sua vida, ele vai se tocar, eventualmente? – Até agora, não. – Ele é um homem adulto. Quando é que você vai cortar o cordão umbilical? – Quando ele me provar que não vai se matar. – E você está tão certo de que pode salvá-lo a cada momento? – Eu posso tomar medidas de segurança. Ela riu de sua arrogância. – Você não é onipotente. Não pode controlar o que acontece na vida. Mesmo se você pudesse, Rafael acabaria ressentido por ter a vida controlada. Os lábios de Marco se comprimiram, suas pálpebras se abaixaram. Ela deu outra risada. – Ele já se ressente, não é? Vocês dois brigaram? Foi por isso que você não estava na pista neste fim de semana? Ele ignorou as perguntas. – O que eu faço é para o bem dele. E você não é boa para ele. Minha oferta ainda está de pé. O homem era tão impenetrável quanto a sua riqueza era imensurável. No final, tudo o que ela podia contar era com sua firme convicção do certo e do errado. – Você não pode me demitir simplesmente para me manter fora do caminho de Rafael. Não é ético. Eu acho que em algum lugar lá no fundo, você sabe disso também. – Eu não preciso de uma orientação moral de alguém como você. – Discordo. Porque está cometendo um grande erro se acha eu vou embora tranquilamente. – Rafael me disse que estava malhumorada. O que mais Rafael disse a ele? Decididamente desconfortável com a ideia de ser o assunto da discussão, ela deu de ombros. – Eu não cheguei onde estou hoje sem lutar. Não vou abaixar a voz – ressaltou novamente. Alguns minutos de silêncio se estenderam. – Sente-se. MARCO ESCONDEU um sorriso triunfante. Ele nunca teve a intenção de demitir Sasha Fleming. Não de imediato. Ele queria que ela ficasse no limite com a possibilidade de perder o que era, evidentemente, tão precioso para ela. A sede de vingança dentro dele se apaziguava ao vê-la abalada. Ele também queria testá-la, para ver até onde ela iria para lutar por aquilo que queria. Afinal de contas, quanto maior o valor, mais doce seria arrancar dela. Assim como arrancaram dele há dez anos. Impiedosamente, ele afastou a lembrança da traição de Angelique e focou-se em Sasha enquanto ela caminhava em sua direção. Mais uma vez, seus sentidos reagiram a ela de uma forma que fez sua mandíbula se contrair. A atração era abominável. Rafael estava em coma, lutando por sua vida. A última coisa que Marco queria reconhecer era uma atração pela mulher que causou todo aquele caos. – Independentemente do estado da equipe, eu tenho uma responsabilidade com os patrocinadores. Ela assentiu com a cabeça. – Rafael deveria aparecer em vários compromissos patrocinados durante o mês de agosto. Eles vão querer saber o que está acontecendo. Antes que ele pudesse responder, bateram em sua porta. Eram Russell Latchford, seu segundo comandante, e Luke Green, engenheiro-chefe da equipe. Russell se aproximou. – Acabei de ver Rafael. – Ele parou quando viu Sasha. – Sasha. Não sabia que você estava aqui. – A srta. Fleming está aqui para discutir as possibilidades futuras em função do acidente de Rafael. Como chefe de equipe, era o trabalho de Russell escolher os melhores pilotos para a equipe, com a aprovação final de Marco. Ele viu o seu descontentamento, mas Russell não disse nada. – Você trouxe a lista que pedi? – perguntou Marco a Russell. – Eu já abordei discretamente os cinco melhores, mas todos os pilotos querem dirigir para nós e a quebra dos contratos sairia caro. Um corredor de equipes secundárias poderia ser mais barato. – Nossos patrocinadores acordaram o pacote: Rafael e o carro. Não quero um piloto de segunda classe. Eu preciso de alguém igualmente talentoso e carismático. – Há também o problema da limitação dos testes na temporada. Não podemos simplesmente colocar um novíssimo motorista no meio da temporada e esperar que ele lide com o carro como Rafael – disse Luke. – Não, Rafael é insubstituível. Como está o ex-campeão que se aposentou no ano passado? Já entrou em contato com ele? Russell balançou a cabeça. – Mesmo com a pausa de agosto, ele não vai estar em forma quando a temporada recomeçar em setembro. – Então minha única opção é um piloto de outra equipe? – Não, não é. – A voz de Sasha era baixa, mas intensamente poderosa e rouca o suficiente para chamar a atenção. – Você tem algo a acrescentar? Os ferozes olhos azuis dela se voltaram para ele. Mais uma vez a força do desejo era afiada, diferente de tudo o que havia experimentado antes. – Você sabe que sim. Eu conheço o carro de dentro para fora. Eu sou o piloto em todos os treinos de sexta-feira desde a temporada passada. Acho que sou a única maneira de você ganhar o Mundial de Construtores. Além disso, iria economizar muito dinheiro e litígios desnecessários para conseguir um piloto de outra equipe no meio da temporada. Nos últimos treinos, meus tempos foram quase iguais aos de Rafael. Silenciosamente, Marco admitiu a verdade de suas palavras. Ele também sabia que corrida era mais do que o carro certo nas mãos certas. – Sim, mas você está sob a pressão dos treinos. Prefiro um motorista com experiência real de corrida. Russell limpou a garganta. – Eu concordo, Marco. Acho que Alan poderia ser uma opção melhor... – Tenho superado sempre os tempos de Alan, Luke sabe. O encolher de ombros indiferente de Luke deixou Marco irritado. – Algum problema? O outro homem pigarreou. – Não é um problema, exatamente, mas não sei como a equipe vai reagir a... Você sabe... – Não, eu não sei. Se você tem algo a dizer, então diga. – Ele quer dizer como a equipe vai reagir a um piloto do sexo feminino – declarou Sasha sem rodeios. Recordando sua acusação de sexismo, ele sentiu um surto de raiva. Ele sabia das opiniões dos outros. Era um esporte predominantemente masculino, mas ele acreditava que talento era talento, independentemente do sexo. O pensamento de que os principais membros de sua equipe não compartilhavam sua crença o irritou. – Isto é tudo, senhores. A surpresa de Russell era clara. – Você precisa de tempo para decidir? Seu olhar se fixou no de Sasha. Mais uma vez ele teve que forçar-se a não olhar para os seus seios. – Falarei com meus advogados pela manhã. Informarei vocês da minha decisão. – Sr. de Cervantes... – começou Sasha. – Deixe-me esclarecer uma coisa. Eu não estou recusando nada por causa de seu sexo. Simplesmente por causa da sua influência perturbadora dentro da minha equipe. – Ok. Mas eu queria... – Preciso voltar para o hospital. Você também saberá a minha decisão amanhã. – Ele se virou para sair. – Por favor. Eu... Preciso disso. Um pedaço de seu cabelo preto deslizou e cobriu metade do seu rosto. Seus dedos coçaram para alisá-lo e colocá-lo atrás da orelha para que ele pudesse ver sua expressão. – Por quê? Por que isso é tão importante para você? – perguntou ele. – Eu... Eu fiz uma promessa. –Promessa? A quem? Lentamente seus olhos subiram para encontrar os dele. – Não importa. Tudo o que você precisa saber é que, se me der uma chance, vou lhe dar o Mundial de Construtores. SASHA OUVIU o zumbido e amaldiçoou. Como diabos uma vespa entrou em seu quarto? Dormir não foi uma tarefa fácil e agora que tinha sido acordada por... Seu telefone! Com um grito, ela empurrou as cobertas e tropeçou cegamente na bolsa que estava no chão. – Ahn? – Perturbei seu sono? – Não – mentiu ela. – Que horas são? – São nove e meia. – O quê? Droga. Ela não havia ouvido o despertador. Mais uma vez. – Você deveria estar em algum outro lugar, srta. Fleming? – Sim. Eu tenho que pegar um avião de volta para Londres às 11. – Felizmente ela não tinha um monte de coisas para arrumar e o aeroporto era a apenas dez minutos. – Você pode querer rever este plano. – E por quê? – Tenho uma proposta para você. Abra a porta. – O quê? – Abra a porta. Eu preciso olhar em seus olhos quando descrever o meu plano, assim não haverá nenhuma dúvida. – Você está aqui? – Estou. Sasha olhou para si mesma. De jeito nenhum ela abriria a porta para Marco de Cervantes vestida daquela forma. – Eu... Você pode me dar dois minutos? – Tem cinco segundos. – Não. Espere! – Mantendo o telefone colado ao ouvido, ela correu para a porta. Abrindo-a, ela colocou a cabeça para fora, tentando proteger o resto do corpo. E lá estava ele, vestido com um terno, com os impressionantes ombros ainda mais imponentes. – Posso entrar? – Eu... Eu não estou vestida de forma apropriada. – Você tem o hábito de atender a porta nua? O calor se arrastou até seu pescoço e invadiu seu rosto. – Claro que não. Não estou nua. – Prove. – Tudo bem. Veja. Quando seus olhos se voltaram aos dela, Marco ficou sem ar. Seus olhos cor de avelã ficaram escurecidos e sua mandíbula se contraiu com mais força. Ele parecia lutar contra uma emoção assustadora. Ela deu um passo para trás. Ele a seguiu e fechou a porta. O telefone caiu de seus dedos. Com a boca seca, ela continuou recuando. E ele continuou a segui-la. – Eu faço questão de não acreditar em rumores, mas parece que, neste caso, os rumores são verdadeiros, Sasha Fleming. A maneira lenta com que proferiu seu nome com um toque latino causou arrepios em sua pele. Seus mamilos se enrijeceram e o desejo enviou uma onda úmida de calor para o ápice de suas coxas. – O que exatamente você acha que é verdade sobre mim? – O sexo é a sua arma – respirou ele. – O único problema é que você a controla não muito sutilmente. – Perdão? – Você precisa aprender a delicadeza da sua arte. – O que, em nome de Deus, você está pensando? – Nenhum homem gosta de ser desafiado com sexo. – Ou você é maluco ou está me confundido com outra pessoa. Ele continuou se aproximando. Ela se recostou na cama e sentiu a barra da camisa em suas coxas. – Pelo amor de Deus, pare! Ele parou, mas seu olhar persistia. Sasha tinha certeza de que estava prestes a entrar em combustão. Desesperada, ela disse: – Olhe... Imagino que Derek tenha dito um monte de coisas desagradáveis sobre mim quando nós terminamos. Mas não sou o que... O que você acha que eu sou. – Mesmo que eu possa ver as provas por mim mesmo? Sasha arrastou-se para o lado da cama e pegou o roupão. Ela nunca seria uma das mulheres que usavam a sua sexualidade para seduzir os pilotos. – Bem, não sei o que você pensa que vê, mas o rumor não é verdadeiro. Agora, será que podemos voltar para a razão para a qual você veio aqui? Suas palavras o despertaram. Quando ele andou até a janela e afastou a cortina, ela aproveitou para amarrar o robe. Ele se virou depois de um minuto sem expressão. – Eu decidi não contratar um novo piloto. No meio da temporada não é financeiramente viável. Além disso, todos eles têm contratos e compromissos de patrocínio para cumprir. – Então isto significa que eu tenho o posto pelo resto da temporada? – Você vai assinar um acordo prometendo honrar todos os compromissos da equipe. Metade dos patrocinadores concordou em deixá-la cumprir os compromissos de Rafael. – E a outra metade? – Sem opção, eles vão concordar. Meu pessoal está trabalhando neles. Incapaz de conter a emoção crescente, ela lutava para respirar. Finalmente. A chance de ganhar o respeito que tinha sido cruelmente negado ela e tão insensivelmente arrancado de seu pai. – Eu... Agradeço – murmurou ela. – Você não ouviu as condições. – Eu concordo. Seja o que for, eu concordo. – Ela não deixaria essa oportunidade passar por ela. – Ontem você prometeu que daria qualquer coisa para que Rafael não estivesse no hospital. Hoje você está concordando com condições que desconhece. Você é sempre tão imprudente? – Eu... Fale as condições. – Gracias. Além de outros compromissos, há dois em que estou particularmente interessado. A Equipe Espiritu tem que ganhar o Mundial de Construtores. Estamos com oitenta pontos de vantagem sobre o segundo colocado. Espero que esses pontos só aumentem. Entendido? – Absolutamente. – A segunda condição... – Espere. Eu tenho uma condição também. – Déjà vu. Suponho que não devesse estar surpreso. Sasha o ignorou. – Se... Quando eu ganhar o Mundial de Construtores, quero que meu contrato com a Espiritu seja prorrogado por mais um ano. – Vencer um campeonato significa muita coisa para você? – Sim, significa. A tensão na sala aumentou. – Muito bem. Se ganhar o Mundial de Construtores, prorrogo o seu contrato por mais um ano. Ela não podia acreditar que ele tinha concordado tão facilmente. – Uau, foi fácil. – Talvez seja porque eu não acredito em discutir cada tópico exaustivamente. Meu tempo é precioso. – Sim, claro... – Como estava dizendo, antes de ser interrompido, minha segunda condição é mais importante, srta. Fleming, então preste atenção. Você não terá nenhum contato pessoal com nenhum membro masculino da equipe, você não vai chegar perto do meu irmão. Qualquer sinal de uma relação não profissional com outro piloto ou alguém do esporte e você estará imediatamente demitida. CAPÍTULO 4 – SE VOCÊ terminou o café da manhã, vou levá-la para um tour na pista de corrida. Sasha olhou por cima de seu prato quase vazio para encontrar Marco na porta que ligava a grande sala de estar ao terraço da Casa de Leon. Com suas paredes de estuque branco, telhados de ardósia e grandes janelas, a Casa de Leon era o sonho de qualquer arquiteto. Lá fora, uma vista verde sem fim, com jardins perfeitamente bemcuidados. Percebendo que Marco esperava uma resposta, ela desviou o olhar das longas e musculosas pernas envoltas em calças escuras. – Claro. Só vou terminar o meu café. Não quer nada? Ele veio em sua direção, poderosamente elegante e masculino. – Vou tomar um café também. Quando ele se sentou e não fez nenhum movimento, ela levantou uma sobrancelha. – Sim, chefe. Com açúcar, chefe? Seus olhos castanhos brilharam e Sasha teve a nítida sensação de que ele estava se divertindo. – Puro? – Sí. Duas colheres de açúcar. – Engraçado, não achava que você era do tipo que tomava com açúcar. – E como você achava que eu gostava? – Puro, fervente e amargo. – Porque minha alma é amarga? – Ei, você que está dizendo. – Gracias. Ele pegou uma colher de prata e agitou sua bebida, o pequeno utensílio parecia muito delicado em sua mão. Sasha se viu seguindo o movimento, com o olhar percorrendo seus cabelos escuros e curtos. Tentando não se hipnotizar, ela pegou a xícara com a mão decididamente trêmula. – Como você está? – perguntou ele. – Você realmente quer saber? – Já deveria saber que eu nunca pergunto nada que não queira saber. – Estou bem. Tenho tudo o que preciso aqui. Obrigada. Como Rafael está? O olhar de Marco esfriou. – Eu concordei em ficar longe dele. Não concordei em parar de me preocupar com ele. – A mudança de Budapeste correu bem. Ele está agora sob os cuidados dos melhores médicos espanhóis em Barcelona. – Já que você provavelmente vai querer arrancar minha cabeça se eu pedir para que mande cumprimentos, deixe para lá. A pista é longe? – Três quilômetros ao sul. – É grande? – Tudo ao redor. Cerca de 65 quilômetros quadrados. – E você e Rafael são donos de tudo isso? – Sí. Pense, se você tivesse dito sim tudo isso teria sido seu. Ela não precisava perguntar o que ele queria dizer. – Bem, eu não sei. A pista de corrida teria sido útil, mas o que diabos eu faria com o resto do... O que mais há, afinal? – Há um vinhedo em pleno funcionamento e uma adega. E os estábulos abrigam alguns dos melhores puros-sangues da Andaluzia na Espanha. Há também um exclusivo resort e um spa no outro lado da propriedade. – Bem, tudo seu, então. Meu paladar é atrozmente comum, sem contar que se eu beber mais do que um copo de vinho, fico com uma dor de cabeça violenta. Quanto aos puros-sangues... Não sei montar. Então, realmente, você está muito melhor sem mim em sua família. O spa parece bom, no entanto. Uma menina pode sempre fazer uma massagem nos pés depois de um árduo dia de trabalho, embora eu ache que a graxa das minhas unhas iria amedrontar a sua equipe do resort. – Você é sempre tão jocosa ou treina? – Normalmente eu escondo esse meu lado. Só mostro quando me pedem com muito, muito carinho. Com o declínio da conversa, aceito a oferta do tour. – Você está aqui para treinar. Conhecer a pista de corrida faz parte dessa formação. Vou deixar o corretivo que você merece para outra hora. – Obrigada. Sasha o seguiu, mantendo firme o silêncio. Sem deixar de olhar e estar intensamente consciente do homem ao seu lado. Seu cheiro assaltou-lhe as narinas, observou a forte musculatura de seu torso e seus ombros poderosos. A julgar pelo seu alto nível físico, ela não se surpreendia que Marco houvesse sido campeão há dez anos. – Por que desistiu de correr? Você renunciou de forma tão abrupta, e ainda assim é óbvio que se recuperou totalmente após o acidente. – Isto não é assunto para discussão, srta. Fleming. E aconselho que não fique pensando sobre isto. Entendido? Do lado de fora, dois carrinhos de golfe estavam lado a lado. Ela se dirigiu para o mais próximo. – Aonde você vai? Ela parou. – Pensei que íamos assim. Ele acenou com a cabeça para o heliporto, onde um helicóptero preto e vermelho brilhava ao sol da manhã. – Vamos de helicóptero. – Alguma chance de você me deixar pilotá-lo? Ele lançou um sorriso sem alegria para ela. – UAU, ISTO é incrível! Há quanto tempo você tem esta pista de corrida? Marco levantou o olhar dos controles do helicóptero, então imediatamente se arrependeu. Era ruim o suficiente ouvir a emoção canalizada diretamente em seus fones de ouvido. Os efeitos visuais foram ainda mais perturbadores. Na maioria dos aspectos, sua calça branca poderia ser descrita como quase pueril. Ele havia saído com mulheres que usavam muito menos. Sua camiseta verde-claro também era muito prática. Ao mesmo tempo, Marco achou a combinação de seu entusiasmo e sua proximidade... Assustadora. Ainda mais quando se lembrava dela recostando-se na cama no quarto de hotel, revelando uma pele tão tentadora... – Eu a construí há dez anos. – Depois de se aposentar? – Não, pouco antes. Ele observou a centelha da especulação em seus olhos. – Pensei que ia passar mais tempo aqui. Ele tinha sonhos tolos sobre sua vida, sobre como tudo parecia perfeito. Ele tinha o carro perfeito, a mulher perfeita. – O que aconteceu? – Eu bati. Sasha apontou para seis carrinhos de golfe transportando mecânicos. – O que eles estão fazendo? – A pista não é usada há algum tempo. Eles estão realizando verificações de última hora nas partes móveis para garantir que estão seguras. – Não acredito que esta pista pode ser reformulada para simular outras pistas do circuito. Mal posso esperar para correr! Marco não conseguia deixar de olhar para ela. Seus olhos se iluminaram com um sorriso. – A pista foi construída antes de os simuladores serem verdadeiramente eficazes. Uma pista de concreto serviria apenas para tornar um piloto especialista em uma pista particular, por isso projetei uma pista intercambiável. A outra vantagem é a experiência adquirida na condução no asfalto. – Confie em mim, não estou reclamando. É uma ótima ideia. Só estou surpresa que outras equipes não copiaram a ideia. Ou não venderam seus primogênitos para usar a pista. – Já fizeram ofertas. – E então? – Eu ocasionalmente permito que eles usem a pista que projetei. Mas, para o pacote completo, eles também precisam do carro que projetei. Uma pequena risada explodiu de seus lábios. O som era tão inesperadamente agradável que ele perdeu momentaneamente a linha de raciocínio. – O que você disse? – Eu disse que é uma estratégia inteligente. Quanto o Cervantes Conquistador custa? Dois milhões? – Três. Ela assobiou e inclinou-se para a frente. Ele estava errado sobre a camisa ser prática. Seus seios pressionados contra o algodão e as mãos sobre as coxas enquanto olhava para baixo... Marco engoliu em seco. Sasha Fleming não era um bom presságio, lembrou-se. Rafael havia se envolvido com ela e se prejudicou gravemente. Marco não tinha a intenção de seguir o mesmo caminho. Seu único interesse nela era ter certeza que ela ganharia o Mundial de Construtores. Com o helicóptero em terra, ele arrancou os fones de ouvido. Marco andou em direção a Luke Green. Seu engenheiro-chefe iria controlar os ajustes do treino inicial. Sasha se aproximava e seu perfume o atingiu. As entranhas de Marco se contraíram. A presença dela estava se tornando insuportável. – Está tudo em ordem? – perguntou ele. Luke assentiu. – Estamos prestes a descarregar o motor. O mecânico irá verificá-lo para ter certeza de que não foi danificado durante o voo. – Demora três horas no máximo para montar o carro, poderei testar esta tarde, não é? – perguntou Sasha. – Não, você vai começar a treinar amanhã de manhã – rosnou ele. – Ah, mas se o carro está aqui... – Os mecânicos estão trabalhando desde o amanhecer. Este motor não é usado desde dezembro. Ele vai ter que passar por testes rigorosos antes que esteja pronto para correr. Isso vai até o anoitecer. Ele se virou para Luke. – Eu quero ver as leituras do motor por hora e um relatório final de telemetria quando você terminar de testar. – Claro que sim, chefe. Agarrando o braço de Sasha, ele a guiou para longe da garagem. Vários olhos os seguiram, mas ele não se importou. Abrindo a porta do passageiro do Conquistador, ele a empurrou e se sentou atrás do volante. – Por que tenho a sensação de que você está com raiva de mim? – Não é sensação. – O que eu fiz? – perguntou ela. Ele olhou para ela e encontrou seus olhos deslumbrantes atirando fogo contra ele. O azul de seu olhar era tão intenso, tão vívido, que ele queria ficar olhando para ela para sempre. Agarrando o volante, forçou-se a se acalmar. – Marco? Quando ele dera permissão para usar seu primeiro nome? Dios, ele estava perdendo a cabeça. O olhar dela ficou sobre ele, conforme acelerava o carro esporte verde e preto. Depois de alguns minutos, quando se sentiu suficientemente calmo, ele abrandou. – Não é você. Ela não respondeu. – É este lugar. – Este lugar? Sua mandíbula se apertou quando ele tentou em vão conter as memórias. – Este é o lugar onde minha mãe morreu há oito anos. – Ah, meu Deus, sinto muito. Não sabia. Você deveria ter dito alguma coisa. – As pessoas fora da minha família não sabem. Prefiro assim. Ele não tinha certeza por que disse a ela. Sasha deu um aceno rápido. – Claro. Pode confiar em mim. Sasha permaneceu em silêncio até que ele parou na frente da casa. – Como aconteceu? – perguntou ela em voz baixa. As lembranças eram muito vivas. Ele não precisava fechar os olhos para ver sua mãe rindo com a bajulação descarada de Rafael, os olhos castanhos suaves brilhando momentos antes de sair correndo de casa. – No vigésimo primeiro aniversário de Rafael, meu pai comprou uma Lamborghini. Comemoramos em uma boate em Barcelona. Depois eu voei até aqui no helicóptero com meus pais. Rafael decidiu dirigir de Barcelona cinco horas seguidas. Ele chegou logo após o café da manhã. Tentei convencêlo a dormir, mas ele queria levar meus pais para dar uma volta no carro. Rafael era o menino de ouro da minha mãe. É claro que ela concordou. – Marco sentiu um pouco a dor escoar e tentou contê-la. – Meu pai insistiu mais tarde que foi o sol que afetou a visão de Rafael quando ele virou a curva, mas uma testemunha confirmou que ele fez a curva muito rápido. Eu ouvi o estrondo da garagem. No momento em que a ambulância chegou, minha mãe já havia ido embora. – Ah, Marco, não! A voz de Sasha era um som suave e calmante. A dor interior diminuiu, mas não desapareceu. – Eu deveria ter evitado, deveria ter insistido para que ele dormisse um pouco antes de pegar o carro de novo. – Você não poderia saber. – Mas eu deveria. Vagamente, Marco se perguntou por que ele estava se abrindo daquela forma. Para Sasha Fleming, entre todas as pessoas. – E seu pai? O que aconteceu com ele? – Ele perdeu o movimento do pescoço para baixo. Ele está confinado em uma cadeira de rodas e continuará assim para o resto de sua vida. SASHA SE chocou com a revelação. Agora os motivos de Marco estavam claros. Sua atitude protetora com Rafael, sua reação ao acidente, de repente tudo fez sentido. Ver sua mãe morrer na pista de corrida que ele construiu deve causar um inferno cada vez que ele pisa ali. Então, por que ele ia? Marco de Cervantes era um engenheiro extraordinário, que se sobressaiu na construção de carros de corrida surpreendentemente rápidos, mas ele poderia facilmente ter ido embora e concentrado seus esforços em carros igualmente bem-sucedidos para sheiks árabes e oligarcas russos. Então, o que o levava a viver em um mundo que certamente causava memórias de cortar o coração? Ela lentamente subiu as escadas e entrou na casa, com a mente girando. Após o banho, vestiu uma calça jeans e uma camisa azul listrada. Prendeu o cabelo e enfiou os pés em suas rasteirinhas. Enquanto descia as escadas, encontrou Marco e seu já familiar olhar. – O almoço vai demorar a ficar pronto, mas se você quiser algo leve antes, Rosario pode preparar alguma coisa. A governanta apareceu no corredor enxugando as mãos em um avental branco. – Não, obrigada. Não estou com fome. Com um olhar, dispensou a empregada. Seu olhar se voltou a ela. – Receberei uma chamada de vídeo de Tom Brooks, meu contato com a imprensa, em cinco minutos. Posso usar o seu escritório? – Por que ele ligará? – Ele quer ver a programação de patrocínio do próximo mês. Posso lhe mostrar, se quiser. Ela deliberadamente manteve sua voz leve, não combativa. Algo lhe dizia que Marco de Cervantes estava procurando briga. Silenciosamente, ela sustentou o olhar. – Vou ajustar para você. Ela o seguiu até a sala e ficou atordoada com o estilo. – Será que o designer caiu em um túnel do tempo quando planejou este ambiente? – Esta era a sala do meu pai, seu espaço pessoal. Ele nunca permitiu que minha mãe o redesenhasse. – Ele não esteve aqui desde que ela morreu, e eu... Eu não sinto nenhuma necessidade de mudar as coisas. Um poço de empatia por sua dor aumentou dentro de Sasha. – Isso é uma cabeça de veado na parede? – Sim. De um líder de rebanho. – Ah, entendo. Se tiver que ter uma monstruosidade em sua parede, só serve ser for o líder? Ele lhe lançou um olhar irônico. – Esse é o pensamento geral, sim. – Ugh. Ele a viu estremecer e seu sorriso se alargou. O calor explodiu em seu peito, abrangeu todo o seu corpo e tirou seu fôlego. Sasha descobriu que não se importava. A necessidade de aproveitar o calor do seu sorriso deslumbrante superava a necessidade de oxigênio. Mesmo quando outra voz se intrometeu ela não conseguiu desviar o olhar. – Olá? Você pode me ouvir, Sasha? – A voz de Tom demonstrava sua habitual impaciência. O sorriso de Marco desapareceu. – Estou aqui, Tom. – Sente-se – disse Marco, atrás dela, empurrando uma cadeira enorme. Tom pigarreou. – Ah, eu não sabia que você iria se juntar a nós, sr. de Cervantes. – A decisão foi de última hora. Siga em frente – instruiu Marco. – Hum... bem... Sasha, você tem uma entrevista no site da equipe na próxima sexta-feira. Enviei por e-mail as perguntas para você. Vou precisar das respostas na quarta-feira, para revisar e obter a aprovação dos advogados. Na sexta-feira à noite você tem o prêmio Children of Bravery em Londres. Terçafeira é a sessão de fotografia da Strut, e depois a sessão da Linear em Barcelona. No Domin... Algum problema? – perguntou ele, irritado quando ela balançou a cabeça. – Isso não vai dar certo. Não posso passar todo esse tempo apenas com eventos de patrocínio. – Foi essa a programação que planejei. Você vai ter que lidar com isso. – Sério, acho que faz mais sentido agrupar tudo no mais curto espaço possível tempo. – Eu sou o responsável pela sua agenda. Eu que tenho que saber o que faz sentido. – A srta. Fleming está certa. – A voz profunda de Marco soou atrás de seu ombro. – Vários eventos durante uma semana significa muito tempo desperdiçado viajando. Você não concorda? – Mas os patrocinadores... – Os patrocinadores precisam trabalhar de acordo com sua agenda e não o contrário. Eles podem ter de quinta a sábado da semana que vem. Caso contrário, eles vão ter que esperar até o final do mês. A srta. Fleming está de folga aos domingos. Seu trabalho é o de gerir o tempo dela corretamente. Faça acontecer. E desligou. – Sou perfeitamente capaz de organizar meu próprio horário, muito obrigada. – Não parecia assim. – Só porque você não me deu uma chance. – Eu não gostei do jeito com que ele falou com você – declarou ele. Seu coração deu uma guinada. Sasha repreendeu o sentimento tolo, porém quanto mais ela tentava afastá-lo, mais ficava forte. – Acho que ele não gosta muito de mim. – Por que não? – Provavelmente pelas mesmas razões que você. Ele não acha que eu tenho que ser piloto. Ele acredita que é um motivo de chacota por associação. – Porque você é mulher ou por causa de suas imprudências do passado? – De acordo com você, dá no mesmo, não é? – respondeu ela. – Eu disse em Budapeste que o seu sexo não tinha nada a ver com a minha decisão de demiti-la. Seu talento como piloto ainda está para ser visto. Prove-se como a piloto talentosa que você pretende ser e vai ganhar o seu lugar. Até então, eu me reservo o meu julgamento. – Mas você é juiz, júri e carrasco, quando se trata da minha vida pessoal? Um brilho frio e hipnotizante surgiu em seus olhos. – Nós concordamos que você não terá vida pessoal até que seu contrato termine, não foi? Não estaria pensando em renegar esse acordo tão cedo, não é? Ela se privou de dizer que já não tinha vida pessoal. Não depois das mentiras de Derek e da perda de seu bebê. Rafael tinha sido seu primeiro e único amigo. – Sasha. O aviso enviou um arrepio por sua espinha. Ela olhou para ele e reprimiu um suspiro. Quando ele chegou tão perto? Dentro de seus olhos, ela podia ver os feixes verdes em sua íris. Lindos. Ele tinha olhos lindos. Olhos que a atraíam e enfeitiçavam. Ela respirou fundo. – Não, Marco. Sem vida pessoal. Nem mesmo um Labradoodle para abraçar quando estiver sozinha. – Um o quê? – É um cachorro. Um cruzamento entre labrador e poodle. Eu tinha um quando era pequena. Mas ele morreu. – Animais de estimação não têm lugar no circuito de corridas. – Eu não estava pensando em trazer um para trabalhar. Enfim, é um ponto discutível, uma vez que na minha agenda não há lugar para um. Seu celular vibrou em seu bolso. Ela o pegou. Vendo o e-mail de Tom, ela se virou para sair. – Aonde você vai? – perguntou ele. Ela fingiu um sorriso para esconder suas emoções perturbadoras. – Ah, eu pensei que a inquisição tivesse acabado. Tom enviou as perguntas da entrevista e eu queria fazer logo para não ocupar o tempo do treino. Seu tom sarcástico não passou despercebido. – A inquisição acabou. Mas me reservo o direito de persegui-la depois. – E eu me reservo o direito de não participar da sua caça às bruxas. Eu li o contrato e assinei na linha pontilhada. Sei exatamente o que é esperado de mim e pretendo honrar nosso acordo. Você pode me deixar ir em frente ou pode me impedir e nos causar problemas. A escolha é sua. Ela saiu, de cabeça erguida. MARCO NÃO voltou para o jantar. E Sasha ficou na expectativa de que aparecesse. Luke deixou os resultados dos testes do motor, sobre os quais ela se debruçou. Depois, colocou roupas de ginástica e correu pelos extensos jardins. Depois do exercício, Sasha vagou sem rumo, para deliberadamente esvaziar sua mente de lembranças tristes. Até quase tropeçar em um edifício de piso único. Prestes a entrar, ela saltou com o toque de seu telefone na noite silenciosa. Rapidamente, ela o pegou, mas ele ficou em silêncio antes que ela pudesse atender. Olhando para o prédio escuro, ela voltou. Seus passos ecoavam no piso de mármore. – Onde diabos você estava? A voz de Marco estava amplificada na escuridão. – Eu fui fazer exercícios e depois caminhar. – Da próxima vez que você decidir sair de casa por um longo período, tenha a cortesia de informar ao pessoal. Dessa forma, não vou precisar colocar pessoas atrás de você. – Aconteceu alguma coisa? – Ela deu um passo em direção a ele, com o coração dando um mergulho vertiginoso por ele não responder de imediato. – Marco? – Sí, aconteceu – disse ele em tom estranho. Ele deu um passo em direção à luz e Sasha reprimiu um suspiro ao ver o olhar atormentado em seu rosto. – Rafael... É Rafael. CAPÍTULO 5 O MEDO invadiu seu coração, mas ela se recusou a acreditar no pior. – Ele está...? – Ela engoliu em seco e reformulou. – Ele está muito mal? Marco enfiou o telefone no bolso e seguiu para a sala de estar. Ele pegou uma garrafa de cristal e levantou uma sobrancelha. Quando ela balançou a cabeça, derramou um pouco de conhaque em um copo e bebeu em um gole rápido. – Ele sofreu outra hemorragia cerebral. Eles tiveram que realizar uma pequena operação para aliviar a pressão. Os médicos... – Ele balançou a cabeça, com a força da emoção reprimida. – Eles não podem fazer mais nada. – Mas a operação funcionou, não foi? Ela não sabia de onde vinha o instinto de continuar falando. Tudo que ela sabia era que Marco tinha vindo à procura dela. – A hemorragia parou, sim. E ele foi colocado em coma induzido até que o inchaço diminuísse. Ela se aproximou, com o coração apertado pela dor que ele tentava esconder. – Isso é bom. Vai dar tempo para que ele se cure. Seus olhos ficaram mais sombrios. Ele olhou em volta, como se procurasse uma distração. – Eu deveria estar lá – rosnou ele. – Mas os médicos pensam que estou em seu caminho. – Bufou. – Um deles até me acusou de comportamento irracional, simplesmente porque eu pedi por uma terceira opinião. Sasha prendeu a respiração enquanto seu olhar se aguçou sobre ela. – Nada a dizer? – Ele é seu irmão. Você o ama e quer o melhor para ele. É por isso que contratou os melhores médicos para cuidar dele. Talvez você precise deixálos sozinhos para fazer seus trabalhos. – Ele parecia pronto para morder a cabeça dela. – E se ele está na UTI, eles provavelmente precisam manter o ambiente o mais estéril possível. Certamente você não quer nada que comprometa a sua recuperação. Sua careta se aprofundou e ele desviou o olhar. – Vejo que não só faz às vezes de psicóloga, mas também de diplomata e voz da razão. Embora Sasha não gostasse de seu cinismo, ela se sentiu aliviada de que sua voz não era mais atormentada pela angústia crua. – Sim, sou eu. Senhorita mil-e-umautilidades – brincou ela. Aqueles olhos que momentos antes estavam angustiados congelaram de forma implacável. – Sí. Infelizmente esse aspecto de sua natureza não funcionou bem para o meu irmão, não é? Rafael precisava que você fosse uma coisa para ele. E você falhou. Miseravelmente. – Eu tentei incutir um pouco de razão nele... Rafael não entendeu bem quando ela mostrou o quão absurda era sua proposta repentina. Ele saiu de seu hotel em Budapeste na noite antes da corrida e ela não teve a chance de falar com ele antes de seu acidente. Marco se virou e a encarou. – Não me diga que... Você convenientemente não teve sucesso? – zombou ele. – Porque ele não queria aquilo. – Por que um homem que pede uma mulher em casamento não iria querer se casar? Quando ela não respondeu de imediato, sua carranca se aprofundou. No final, ela disse: – Por causa de... Outras coisas que ele disse. – Que outras coisas? – Veio a tréplica dura. – Coisas particulares. Achei que ele estava reagindo ao seu último término. Ele fez um aceno com a mão. – Rafael e Nadia se separaram há dois meses. Você está sugerindo que era uma recaída? – perguntou Marco ironicamente. – A taxa de recaída do meu irmão é normalmente duas semanas. Sasha fez uma careta. – Rafael mudou, Marco. Para você, ele pode parecer o de sempre, mas... – Você está dizendo que eu não conheço meu próprio irmão? – perguntou ele. Lentamente, Sasha balançou a cabeça. – Estou apenas dizendo que ele pode não ter contado tudo o que estava acontecendo com ele. Sua respiração ficou presa com o brilho zombeteiro que surgiu nos olhos de Marco. – Sua mensagem me disse tudo que eu precisava saber. Ao negar seu pedido, você não lhe deu outra escolha a não ser ir atrás de você. – É claro que não! – Mentirosa! – Esta é a segunda vez que você me chama de mentirosa, Marco. Para o seu próprio bem, espero que não haja uma terceira. Ou vou ter um grande prazer em bater no seu rosto. Com ou sem o maldito contrato. Não sei o que Rafael fez com que você acreditasse, mas eu não o enganei ou encorajei a se apaixonar por mim, o que eu não acho que ele tenha feito. E eu certamente não o irritei o suficiente para causar o acidente. Parece que os demônios com que Rafael estava lutando, finalmente o alcançaram. Estou cansada de me defender. Eu estava apenas sendo amiga dele. Nada mais. Com o coração martelando, ela se sentou em um dos sofás e respirou fundo para acalmar as emoções turbulentas que a percorriam. Emoções que ela se empenhava em suprimir, mas que Marco parecia despertar tão facilmente. – Acho que é difícil acreditar que suas ações a tenham levado ao mesmo caminho duas vezes. – Uma infeliz coincidência, mas é tudo. Eu tenho que viver com isso. No entanto, eu me recuso a deixar você ou qualquer outra pessoa me rotular como algum tipo de femme fatale. Tudo o que eu quero é fazer o meu trabalho. Ele se sentou em frente a ela. Quando seu olhar se desviou para seu corpo, ela lutou para combater as alfinetadas de consciência que ele acendeu ao longo do caminho. – Você é uma lutadora. Admiro isso em você. Há também algo sobre você... Uma qualidade desconhecida que acho difícil de identificar. Você dificilmente é uma femme fatale, como diz. A maneira indiferente se vestir, sua impetuosidade, tudo aponta para uma falta de feminilidade... Uma faísca puramente feminina se incendiou dentro dela. – Muito obrigada. – E normalmente eu nem diria que você é o tipo de Rafael. No entanto, na noite antes do acidente ele estava ferozmente convencido de que você era a mulher da vida dele. Não me interprete mal, ele disse isso algumas vezes no passado, mas desta vez eu sabia que algo não estava certo. Apesar de sua acusação, a simpatia brotou dentro dela. – Vocês dois brigaram? Foi por isso que não veio para o treino de sextafeira? Seu aceno com a cabeça mostrava pesar. – Perdi a cabeça quando ele pediu o anel. – Estava com você? – Sim. Pertencia à nossa mãe. Ela não deixou especificamente para nenhum de nós, ela só queria que o primeiro de nós a casar desse à sua noiva. Eu sempre soube que iria para o Rafael já que eu nunca pretendi... – Ele parou e respirou fundo. – Rafael afirmou estar apaixonado por muitas meninas, mas esta foi a primeira vez que ele pediu o anel. – E você estava com raiva porque era eu? Sua mandíbula se apertou. – Você poderia ter esperado até que a corrida terminasse – acusou ele, com a voz áspera de emoção. – Marco... – Ele teria a pausa de agosto para se recuperar, em um iate em St. Tropez ou atrás de uma estrela de Hollywood em Los Angeles, como da forma habitual. De qualquer maneira, ele teria chegado de volta do circuito, sorrido para você e chamado você de pequeña porque esqueceu seu nome. Em vez disso, ele está em uma cama de hospital, lutando pela vida! – Mas eu não podia mentir – retrucou ela. – Ele não me queria, não de verdade. E não estou aberta a um relacionamento. Certamente não depois... – Levantou-se rápido, mas já era tarde demais. Ele se levantou e a puxou, pegou seus ombros em um aperto firme. – Depois do quê? – Não depois do meu histórico. – Você quer dizer sobre o que aconteceu com seu namorado anterior? Ela assentiu com relutância. – Derek me pediu em casamento um pouco antes de eu terminar com ele. Eu sabia há algum tempo que não estava dando certo, mas me convenci de que daria. Quando não aceitei seu pedido. Uma semana depois ele me acusou de o estar usando. Ele disse que eu só não havia aceitado porque queria me vender para a maior proposta. Derek repetiu aquela afirmação a cada chefe de jornal e de equipe que ouvisse e a carreira de Sasha quase acabou. Ela afastou as memórias dolorosas. – Rafael sabia que não havia jeito de eu me envolver com ele romanticamente. Marco apertou mais seu olhar, percorrendo o rosto dela como se quisesse desenterrar a verdade. Sasha se obrigou a permanecer imóvel, mesmo que o toque das mãos dele fosse tão quente que ela quisesse gritar com a sensação. – Você sabe a última coisa que eu disse a ele? – murmurou Marco. Com o coração dolorido por ele, Sasha balançou a cabeça. – Eu disse para ele parar de brincar e crescer. Que ele iria desonrar a memória de nossa mãe, tratando a vida como seu playground pessoal. – Suas pálpebras velaram seu olhar por alguns segundos e sua mandíbula se apertou, suas emoções estavam muito perto da superfície. – Se alguma coisa acontecer com ele... – Não vai acontecer nada. Sem pensar, ela colocou a mão em seu braço. Os músculos rígidos estavam flexionados sob seus dedos. Seus olhos se voltaram para o rosto, em seguida, para a boca. Uma sensação aguda atravessou sua barriga, fazendo a respiração parar. Sasha sentiu uma corrente elétrica de consciência, a manifestação mais profunda da consciência intensa que ela sentia quando ele estava por perto. Conforto, assegurou a si mesma. Estou lhe oferecendo conforto. Nada mais. Esta necessidade de tocá-lo era apenas uma reação passageira. – Ele vai acordar e vai ficar melhor. Você vai ver. Com o rosto tenso e os olhos tristes, ele lentamente deixou as mãos caírem. – Tenho que ir – disse ele. Sasha deu um passo para trás, trêmula. – Você está voltando para o hospital? – Estou indo para Madri. Sua barriga se contraiu com a ideia da perda. – Por quanto tempo? – perguntou ela suavemente. – Pelo tempo que levar para tranquilizar meu pai de que seu precioso filho não está morrendo. O MODERNO capacete não era páreo para o sol espanhol. Sasha sentou na cabine do Espiritu DSI, o carro com que Rafael havia vencido o campeonato do ano anterior. Com os olhos fechados, ela refez o contorno da pista de corrida belga, ansiosa. O suor escorria pelo seu pescoço, apesar do ar frio dentro do carro. Quando completou mentalmente o circuito, ela abriu os olhos. Eles queimavam por falta de sono. Ela estava acordada desde antes do amanhecer. Durante horas, enroscou-se aos lençóis de cetim, incapaz de ignorar o olhar angustiado no rosto de Marco. Ou o calor do toque dele em seu corpo. Firmando seus lábios, ela forçosamente limpou a mente. Ela colocou as mãos com luvas à prova de fogo ao redor do volante e pensou no trajeto. Manteve a respiração constante e finalmente conseguiu a calma mental que precisava para bloquear o barulho dos mecânicos e da garagem. Quando veio o sinal, ela saiu da garagem para a pista. A adrenalina corria por suas veias conforme o poderoso carro vibrava embaixo dela. Freando na primeira curva, sentiu as forças que empurravam sua cabeça para a esquerda e sorriu. Aquela batalha com as leis da física dava uma emoção extra conforme ela voava pela pista, a sensação de liberdade a tornando indiferente ao estresse em seu corpo volta após volta. – Você está sendo muito dura com os pneus, Sasha. A voz de Luke saiu em seus fones de ouvido e ela imediatamente ajustou o equilíbrio do carro para ajudar a manobrar melhor nas curvas. – Assim é melhor. Em condições de corrida você vai precisar deles por, pelo menos, 15 voltas. Não pode se dar o luxo de usá-los em apenas oito. É cedo ainda, mas as coisas parecem boas. Sasha sorriu pelo respeito relutante na voz de Luke. – Como é que o carro está? – Er... ótimo. Está ótimo. – Ainda bem. Venha e vamos dar uma olhada nos tempos de volta juntos. Ela voltou para a garagem e estacionou. Mantendo seu foco em Luke conforme ele se aproximava dela, Sasha saiu e tirou o capacete. – Nós não podemos compará-lo ao desempenho do DSII, mas a partir desses números as coisas estão parecendo muito boas. Lendo os dados, Sasha sentiu um burburinho de excitação. – O DSII é bom em curvas lentas, então eu deveria ser capaz de ir ainda mais rápido. Luke sorriu. – Quando você tem o melhor aerodinamicista do mundo como chefe, tem uma vantagem inicial. Vamos ter uma batalha nas seções retas, mas se você mantiver esse desempenho devemos lidar bem o suficiente para nos manter à frente. Mais uma vez ela pegou a nota alterada em sua voz. Embora ela tentasse não pensar nisso, durante todo o dia e nos dias seguintes, durante os treinos, Sasha sentiu lentamente a mudança de atitude de sua equipe. Eles começaram a falar com ela com menos condescendência. E a primeira vez que Luke pediu sua opinião sobre como evitar o problema de direção que surgiu, Sasha se obrigou a conter as estúpidas lágrimas que ameaçaram surgir. MARCO OUVIU o carro enquanto descia as escadas. Passos leves soaram segundos antes de a porta da frente se abrir. A silhueta de Sasha contra a luz fez faíscas de desejo dispararem. Cerrando os dentes contra a intensidade desse desejo, ele teve um vislumbre de um ombro suave. Seu cabelo sedoso escuro estava amarrado em um nó descuidado no topo da cabeça. Ela era alta, esbelta e tinha as pernas bem torneadas em seu jeans. Fechando a porta, ela tirou as botas e as chutou em um canto. Ela se virou e tropeçou, com a respiração ofegante. – Marco! Droga, você realmente precisa parar de se esconder em corredores escuros. Quase me matou de susto! – Eu não estava me escondendo. – Ele ouviu a irritação em sua voz e se forçou a se acalmar. – Onde você esteve? Eu liguei várias vezes. – Eu saí para tomar um drinque com a equipe. Eles vão viajar amanhã de manhã e eu queria me despedir. Eu sei que não fazia parte do contrato, socializar com eles, mas eles insistiram e teria sido grosseiro recusar. O aborrecimento o abalou. A última coisa que ele queria era discutir sobre a equipe ou o acordo que havia feito com Sasha Fleming. Dios, ele nem ao menos sabia por que havia voltado. Ele deveria estar com seu irmão. – E você estava muito ocupada e decidiu não atender o telefone? – Eu acho que está sem bateria. – Você acha? – Está chateado comigo. Por quê? Ninguém em sua vasta organização global se atreveria a falar com ele daquele jeito. E pior... Ele descobriu que gostava. Caminhando em sua direção, sentiu o cheiro do perfume dela invadir suas narinas. Marco se viu desejando se aproximar ainda mais. – Por que se preocupar em ter telefone se você não pode garantir que ele vai funcionar? – Porque ninguém me liga. Para um homem que comandava um império de bilhões de euros de seu BlackBerry, Marco achou surpreendente sua observação. – Ninguém liga para você? – Meu telefone nunca toca. Acho que você foi a última pessoa a me ligar. Recebo mensagens ocasionais de Tom ou Charlie, meu fisioterapeuta, mas fora isso... Nada. A perplexidade de Marco aumentou. – Você não tem amigos? – Obviamente nenhum deles se importa o suficiente para ligar. E, antes que você sinta pena de mim, estou bem quanto a isso. – Você está bem sendo solitária? – Sendo sozinha. Há uma diferença. Então, há outra razão para você estar chateado comigo? Ela ergueu o queixo de uma forma desafiante que atraiu seu olhar. – Não estou irritado. Estou cansado. E com fome. Rosario já havia ido para a cama quando cheguei. – Ah, bem, isso é bom. Não a parte de estar cansado e com fome. A parte de não estar irritado. – Ela mordeu o lábio, os olhos arregalados enquanto ele se movia para ainda mais perto. – E sobre Rosario... Espero que você não se importe, mas eu disse a ela para não esperar por mim. Marco balançou a cabeça. – Então, onde foi o drinque? Ele se esforçou para manter a voz casual. – Em uma bodega perto da Plaza Mayor, em Salamanca. Ele balançou a cabeça, ansioso para alisar o fio de cabelo que tinha caído na têmpora dela. – E você aproveitou a noite? – Leon é bonito. Gostei de sair daqui. – Você não gosta daqui? – Eu não me importo com a proximidade com a pista, mas eu estava cansada de andar por aqui sozinha. Marco endureceu. – Você quer ir para o hotel com o resto da equipe? Ela pensou. – Não. A equipe e eu estamos quebrando o gelo, mas não quero me tornar excessivamente próxima deles. – Sábia decisão. Às vezes manter distância é a única maneira de chegar à frente. – Você, obviamente, não pratica esse dogma. Está sempre rodeado por uma multidão. – A Corrida X1 Premier é um esporte de milhões de espectadores. Eu não posso existir em um vácuo. – Ok. Hum... Pode acender as luzes? Parece que estamos criando o hábito de conversar no escuro. – Às vezes pode-se encontrar conforto na escuridão. Enfrentar a dura luz da realidade após o acidente, há dez anos, o fez desejar que tivesse ficado inconsciente. A expressão satisfeita de Angelique certamente o fez desejar a escuridão. Sasha deu uma leve risada e os olhos de Marco recaíram sobre seus lábios, fazendo-o experimentar o desejo de beijá-la. – Qual é a graça? – Ou você está com muita fome ou está muito cansado, porque parece muito enigmático. Ele estava com fome. E não apenas por comida. – Eu poderia fazer um lanche. Você quer? – Você cozinha? – Sim. Morar sozinha significava aprender ou morrer de fome. Então, fiz um curso intensivo de culinária, há dois anos. Abrindo a geladeira, ela começou a retirar ingredientes. – Sanduíche de rosbife? Ou se você quiser algo quente eu posso fazer macarrão carbonara. Marco puxou uma cadeira, sem conseguir tirar os olhos dela. – Aceito o sanduíche. – Ok. Parte do sedoso cabelo escorregou para acariciar seu pescoço. Ela se moveu pela cozinha com movimentos rápidos, eficientes. Em menos de cinco minutos ela colocou um prato e uma garrafa de água mineral na frente dele. Marco deu uma mordida, mastigou. – Está muito bom. Seu olhar de prazer enviou outra onda de calor através dele. Marco esperou até que ela se sentasse em frente a ele. – Então, há quanto tempo você mora sozinha? – Desde que... – Ela hesitou. – Desde que meu pai morreu há quatro anos. Ela desviou o olhar, mas não antes de ele observar sombras de dor nas profundezas azuis de seus olhos. – E sua mãe? Ela não está por perto? Ela balançou a cabeça e pegou o sanduíche. – Ela morreu quando eu tinha 10 anos. Depois disso, foi apenas meu pai e eu. A dor aguda de perder sua própria mãe veio à tona. Impiedosamente, ela a afastou. – A equipe está se perguntando como está Rafael – disse Sasha, puxando-o para longe de seus pensamentos perturbadores. – Só a equipe? Ela encolheu os ombros. – Estamos todos preocupados. – Sim, eu sei. Sua condição não mudou. Eu atualizei Russell. Ele vai falar com a equipe. Ele não queria falar sobre o irmão. Porque falar de Rafael só o lembrava do motivo pelo qual aquela mulher que fez o melhor sanduíche que ele já havia provado estava sentada na frente dele. – Como seu pai está? Ele não queria falar sobre o pai também. – Viu o acidente do filho ao vivo na TV. Como você acha que ele está? Um flash de preocupação escureceu seus olhos azuis. – Será que ele... Que ele sabe sobre mim? – Será que ele sabe que a causa do acidente de seu filho é a mesma pessoa que toma o seu lugar? – Ele riu. – Ainda não. O olhar de Sasha procurou o seu, quase implorando. – Eu não causei o acidente, Marco. Uma raiva frustrada queimou em seu peito. – Não? Ela balançou a cabeça e o nó de seu cabelo finalmente se desfez completamente. Escuros, sedosos e em cascata sobre seus ombros. O desejo de Marco surgiu como fogo em suas veias. – Então, o que causou? Algo deve ter acontecido. Seus lábios se franziram. Seu olhar estava relutante. Então ela suspirou. – Vi-o logo antes da corrida. Ele estava discutindo com Raven. Marco franziu a testa. – Raven Blass? Sua fisioterapeuta? Ela assentiu com a cabeça. – Tentei me aproximar dele, mas ele se afastou. Eu pensei em deixá-lo se acalmar e falar novamente após a corrida. Marco murmurou um palavrão. Ele entrou na alcova em que estavam seus vinhos. – Preciso de uma bebida. Branco ou tinto? – Não posso. Já bebi uma cerveja. Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Observando o movimento, ele teve várias ideias incrivelmente imprudentes. Estendendo a mão, ele pegou a garrafa mais próxima. – Não gosto de beber sozinho. Beba um pouco comigo. – O grande Marco de Cervantes está admitindo um ponto fraco? – Ele está admitindo que seu irmão o deixa loco. – Tudo bem. Eu ia acrescentar mais 20 minutos aos meus exercícios para equilibrar as tapas incríveis que comi. Acrescento meia hora. O olhar de Marco deslizou sobre ela. – Você está em boa forma. Outra risada feminina doce se formou em seus lábios. – Charlie discorda de você. Aparentemente o meu índice de massa corporal está muito acima dos níveis aceitáveis. – Quantas horas por dia você faz exercícios? – Tecnicamente três horas, mas Charlie me mantém até que eu grite de agonia ou esteja prestes a desmaiar. Ele normalmente para quando estou completamente pingando de suor. Todo o seu corpo congelou, preso pela imagem do corpo tonificado de Sasha suado. Dios, aquilo estava ficando ridículo. Ele não deveria estar se sentindo daquela forma, especialmente não por uma mulher que era como Angelique: implacavelmente ambiciosa, que não se importa com nada que estivesse em seu caminho. Sasha quase destruiu seu irmão da maneira como Angelique havia destruído o desejo de Marco de estabelecer uma relação duradoura. Ele respirou fundo e se controlou. Enquanto seu irmão estava em coma, a única coisa na qual ele precisava se concentrar era em vencer o Mundial de Construtores. E dar uma lição em Sasha Fleming. – Eu vi os relatórios dos treinos. Você terá que abaixar três décimos de segundo em Eau Rouge para ter uma chance decente ou vai ficar exposta à ultrapassagem. A Bélgica é um circuito difícil. – O DSII vai lidar melhor com as curvas. – Você não parece nervosa. Outra risada. Madre de Dios. Há tempos ele não tinha sexo bom à moda antiga. A frustração sexual tornava a tentação desagradável, mas aquele... Aquele anseio era insano. Mentalmente, folheou sua agenda e encontrou vários nomes. Mas rapidamente descartou todos eles. – Acredite em mim, eu fico muito nervosa. Mas não me importo. – Porque ganhar é tudo, não importa o custo? – provocou ele. Seus olhos se escureceram. – Não, porque o nervosismo tem um propósito. Ele faz você se lembrar que é humano, aguça seu foco. Eu ficaria apavorada se não estivesse nervosa. Mas 18 anos de experiência também ajudam. Faço isso desde que tinha 7 anos. Ter um pai protetor que descaradamente ignorou o fato de eu não ser um menino ajudou com a minha confiança também. – Não são todos os pais que concordam que seus filhos corram. Você teve sorte. Ela sorriu. – Eu ficava com raiva cada vez que ele ameaçava me deixar com a babá. Ganhei eventualmente. Apesar de eu ter a sensação de que ele estava me testando para ver o quanto eu queria. – E você foi aprovada. Bravo. – Opa, eu detectei certo cinismo, Marco? Ele cerrou os dentes enquanto seu controle caiu mais um ponto. – Alguém já disse para você não ser tão direta? – Eu fui? Pensei que estivéssemos tendo uma conversa para nos conhecermos melhor. Pelo menos até você ficar um pouco estranho. – Perdón. Não era minha intenção ficar estranho. Ele tomou um grande gole de vinho. – Primeiro admite um ponto fraco. Agora pede desculpas. Uau, deve ser minha noite de sorte. Está se sentindo bem? Talvez ajudasse falar sobre o que assustou você. Talvez fosse o efeito do vinho. Talvez fosse o fato de ele não ter uma conversa envolvente como aquela há um tempo. Marco ficou surpreso quando se viu rindo. – Não me lembro de ter me assustado. Mas, só por curiosidade, qual papel você está interpretando nesta conversa? Diplomata ou psicóloga? – Que tal o de amiga? – perguntou ela. Sua risada secou. Ela queria ser sua amiga. Marco não conseguia se lembrar da última vez que alguém havia lhe oferecido amizade. Sempre havia traição por trás. Ele aprendeu bem e completamente essa lição. Ele deu outro gole no vinho. – Eu respeitosamente recuso sua oferta. Obrigado mesmo assim. Um pequeno sorriso se curvou em seu lábio. – Ai. Pelo menos você não riu na minha cara. – Teria sido cruel. – E você não é cruel? Chegou muito perto de ser no passado. – Você era uma ameaça para o meu irmão. – Era? Não estou mais sob esta suspeita? Percebendo o deslize, ele fez uma pausa. Você não pode controlar o que acontece na vida... Rafael vai se ressentir de você por controlar sua vida... – Estou disposto a suspender o meu julgamento até que Rafael seja capaz de interpretar os fatos por ele mesmo. Seu sorriso desapareceu. – Você não confia em mim mesmo, não é? – A confiança é conquistada. Vem com o tempo. Assim me ensinaram. Até o momento, ninguém havia resistido ao teste do tempo. Sasha Fleming já tinha falhado. Ela só estava sentada em frente a ele por causa do que poderia lhe dar. – Bem, então chegamos ao ponto de ganhar confiança. E nos tornarmos amigos. Marco não respondeu, parte dele lamentava o fato de que a amizade entre eles nunca seria possível. CAPÍTULO 6 – ASSIM, SASHA! – Aqui! – Sorria! O prêmio Children of Bravery ocorria no mês de agosto em um dos hotéis mais chiques em Mayfair. No ano passado, Sasha chegou em um táxi com Tom, que a ignorou pelo resto da noite. Dessa vez, os flashes explodiram em seu rosto no momento em que Marco a ajudou a sair da parte de trás de seu deslumbrante Rolls-Royce prata. Piscando várias vezes, ela viu que Tom havia se materializado ao lado dela. Antes que pudesse falar, Marco entrou na frente dele. – A srta. Fleming não vai precisar de você hoje. Desfrute da sua noite. A dispensa se deu com uma voz suave, envolta em aço. – Isso não foi muito legal – murmurou ela, embora secretamente houvesse ficado satisfeita. – Mas obrigada. – De nada – murmurou ele com uma voz suave e profunda. Quando ele a pegou pelo braço, a sensação se intensificou, em seguida, transformou-se em um tipo diferente de calor, como um sentimento de estar protegida, amada... Ela usou freios mentais para evitar que seu cérebro entrasse em colapso. – Pela primeira vez eu concordo com os paparazzi. Sorria. Seu rosto parece congelado – disse Marco lentamente, completamente à vontade em ser objeto de intenso escrutínio. Ele parecia perfeitamente bem com centenas de fãs do sexo feminino gritando seu nome por detrás das barreiras, enquanto ela só podia pensar sobre a cerimônia e as lembranças que iria ressuscitar. – Provavelmente porque estou. Além disso, você não pode falar. Não está sorrindo. – Não sou a estrela do show. – Ele a olhou mais de perto. – O que você tem? Não disse uma palavra no caminho e agora está pálida. – É porque eu não gosto de estar aqui. Odeio usar estas roupas e a maquiagem faz com que meu rosto fique estranho. – Você está bonita. Mais do que bonita. A estilista escolheu bem. – Ela não escolheu este vestido. Eu escolhi. Se eu tivesse vindo com o que ela escolheu, eu estaria seminua com uma fenda até o meu... – Ela limpou a garganta. – Por que você me mandou uma estilista, aliás? – Eu não queria correr o risco de que você aparecesse aqui em calças jeans e um top hippie. – Eu nunca teria feito isso...! Ela viu o brilho de diversão em seus olhos e relaxou. Outro fotógrafo gritou o nome de Sasha e ela ficou tensa. – Relaxe. Você escolheu bem. – Seu olhar deslizou sobre ela mais uma vez. – Você está linda. – Obrigada. Ela passou a mão nervosa sobre o vestido, grata por seu novo contrato vir com uma remuneração lucrativa para pagar pelo vestido de seda preta que usava. – Pare de ficar se mexendo – ordenou ele. – É fácil para você dizer. De qualquer forma, por que está aqui? Eu não preciso de um guarda-costas. – Eu peço desculpa, mas não concordo. Este evento está hospedando muitas personalidades do esporte, incluindo os outros pilotos do circuito. A única coisa que você precisa é um guarda-costas. – E você é isso? Não tem mais o que fazer? – A equipe sofreu com a ausência de Rafael. Vai ser bom para os patrocinadores eu estar aqui. O calor de seus braços desapareceu. Ela sentiu seu olhar penetrante conforme aliviava o aperto. – Quanto tempo temos que ficar aqui fora? O centro das atenções definitivamente não era seu lugar. – Até que o problema com o assento esteja resolvido. Ela virou para ele. – Que problema com o assento? O alívio a inundou quando ele a conduziu para longe das câmeras e do tapete vermelho do hotel de cinco estrelas. A multidão pareceu fazer uma pausa, homens e mulheres olhando avidamente conforme entravam. Alheio à reação, Marco pegou duas taças de champanhe e entregou uma a ela. – Parece que temos uma linha cruzada. – Quer dizer que fui rebaixada porque meu sobrenome é Fleming e não de Cervantes? Ele olhou perplexo. – Por que seu nome importa? – Qual é? Sei como isso funciona. Sasha sabia que estava sendo julgada pela desonra de seu pai. – O seu sobrenome não tem nada a ver com isso – respondeu Marco, mandando cumprimentos a várias pessoas que tentavam chamar sua atenção. – Quando o comitê da premiação soube que eu estaria presente, eles naturalmente presumiram que eu estaria com mais alguém. – Ah, então eu deveria fazer sala para sua convidada. Não é por que...? Ele levantou uma sobrancelha. – Por que...? Balançando a cabeça, Sasha tomou um gole de seu espumante. – Então, por que não? Por que não trouxe uma convidada? Sei que certamente não é por falta de pretendentes. Quero dizer, um homem como você... – Um homem como eu? Quer dizer O Idiota? – perguntou ironicamente. – Não, não quis dizer isso. Um homem incrivelmente rico, bemsucedido, que é decente de se olhar... – Gracias... Eu acho. – Você sabe o que eu quero dizer. Mulheres escalam claraboias, arriscam a vida para estar com você, pelo amor de Deus. – Escalar claraboias é um pouco demais para mim. Prefiro que minhas mulheres usem a porta da frente. Convidadas por mim. Um calor acendeu em seu corpo. Ele se inclinou sobre ela. Como se... Como se... Seu olhar caiu sobre os lábios. Ela engoliu em seco. O champanhe desceu mal. Ela tossiu, limpou a garganta e tentou desesperadamente encontrar algo para dizer para dissipar a atmosfera. – Para responder sua pergunta, este é um evento especial para homenagear as crianças. Não é um evento para trazer uma convidada que vai passar a noite verificando joias de outras mulheres ou celebridades. – Que incrivelmente superficial! Ah, eu não quis dizer que você sai com mulheres superficiais... Quero dizer... Inferno, troquei os pés pelas mãos? O sorriso que ela havia vislumbrado ameaçou se quebrar. – Seu papel de diplomática está indo por água abaixo, Sasha. Acho que devemos entrar antes de me insultar um pouco mais e destruir completamente o meu ego. – Eu não acho que isso seja possível – murmurou ela baixinho. – Sério, você deveria sorrir mais. Parece quase humana quando sorri. O retorno da risada baixa e profunda percorreu deliciosamente sua pele, insinuando-se em seu coração. Quando a mão dele tocou suas costas para dirigila até o salão, ela foi tomada por um imenso prazer. O sentimento foi pateticamente curto. As imagens de crianças penduradas no teto do salão com candelabros foi como um soco. Sua respiração ficou presa conforme a dor a dilacerava. Se seu bebê estivesse vivo, teria 4 anos. – Tem certeza de que está bem? – perguntou Marco em voz baixa. – Sim, estou bem. Recusando-se a arriscar seu olhar incisivo, ela correu para a mesa e cumprimentou um ex-jogador de futebol, que recentemente tinha sido condecorado por seu trabalho com crianças. Respirando com dificuldade por causa da dor que sentia, ela levou um momento para perceber que era alvo de olhares e sussurros das outras duas ocupantes da mesa. – Oi, sou Lisa. Esta é minha irmã, Sophia – disse a esposa-troféu do jogador. Marco balançou a cabeça como forma de saudação e apresentou Sasha. Sophia lançou um sorriso a Marco, quase o devorando, e mal olhou para Sasha. Uma forma diferente de mal-estar assaltou Sasha, enquanto observava as mulheres se derreterem sob o carisma deslumbrante de Marco. Seus olhos ávidos comandavam seu físico imponente, a beleza dura de seu rosto, a boca sensual e um ar de autoridade e poder que camuflava. Ele murmurou algo que fez Sophia rir com prazer. Quando seu olhar encontrou Sasha, tinha um toque de triunfo que a fez querer arrancar o aplique da mulher. Em vez disso, ela manteve o sorriso e se virou para o homem mais velho. Se Marco gostava de silicone e cílios postiços, podia ficar. MARCO CERROU o punho e se forçou a se acalmar. Ele nunca foi tão completamente ignorado por uma acompanhante em sua vida. Então Sasha não era tecnicamente sua acompanhante. E daí? Ela chegou com ele. E sairia com ele. Será que era muito esforço para ela conversar com ele em vez de se envolver em uma discussão aprofundada sobre a atual Premier League? Lentamente afrouxou seu punho e pegou sua taça de vinho. Sasha riu. Toda a mesa parecia estar em uma pausa para beber, mesmo as duas mulheres que tão rudemente a ignoravam. No momento em que os pratos do jantar foram retirados, ele não aguentou. – Sasha. Ela deu um sorriso para o homem mais velho antes de se voltar a ele. – Sim? Ao ver seu sorriso largo e genuíno, o mesmo que havia usado quando ofereceu sua amizade na Casa de Leon, algo em seu peito se contraiu. Obrigou- se a se lembrar da razão pela qual Sasha Fleming estava ali ao lado dele. A razão pela qual ela estava em sua vida. Rafael. O irmão mais novo que ele sempre havia cuidado. Mas ele não é mais uma criança... Marco suprimiu a voz inquietante. – A cerimônia está prestes a começar. Você apresentará o segundo prêmio. Seus olhos se arregalaram, então foram tomados de ansiedade. – Sim, é claro. Eu... O discurso está pronto. É melhor eu ler mais uma vez, vai que... – Suas mãos tremiam quando ela pegou um pequeno pedaço de papel de sua bolsa. Sem pensar, ele cobriu a mão dela com a sua. – Respire fundo. Você vai ficar bem. Seus olhos se travaram nos dele, e Sasha balançou a cabeça lentamente. – Eu... Agradeço. O apresentador subiu ao palco e anunciou o primeiro prêmio. Sasha sorriu e bateu palmas, mas, observando-a de perto, Marco teve um vislumbre da dor em seus olhos. Forçando-se a se concentrar no discurso, ele ouviu a história de uma criança de 4 anos que havia salvado a vida de sua mãe ligando para uma ambulância e dando indicações precisas, depois que sua mãe havia caído em um barranco. O gelo tomou seu peito enquanto observava a menina no palco com roupa azul brilhante e o rosto envolto em sorrisos. Esforçando-se para não pensar no passado, ele se virou para avaliar a reação de Sasha. Ela estava congelada, com o corpo todo tenso. Franzindo a testa, ele se inclinou em direção a ela. – Isto é ridículo. Diga-me o que está errado. Agora. Ela pulou, com os olhos arregalados, obscuramente assombrados, com lágrimas não derramadas. Forçou um sorriso, só que faltava calor ou substância. – Eu disse a você, estou bem. Ou estaria se tivesse me lembrado de trazer um lenço. Sem dizer nada, ele enfiou a mão no paletó e lhe entregou um lenço, com um milhão de perguntas ateando fogo em sua mente. Aceitando, ela enxugou os olhos. – Se eu estiver horrível, não me conte até que eu volte do palco, certo? – implorou ela. – Certo. Marco a observou se recompor. Esticou a coluna e um olhar de determinação caiu sobre seu rosto. No momento em que ela subiu para apresentar o prêmio, seu sorriso estava no lugar. Observando o jogo de luzes sobre seu cabelo escuro, iluminando as belas feições e a curva generosa dos seios, Marco sentiu o aperto familiar em sua virilha e reprimiu um grunhido de frustração. – Como a maioria de vocês sabe, Rafael de Cervantes deveria apresentar o prêmio Toby hoje à noite. Em vez disso, ele está fugindo desta situação em algum lugar na ensolarada Espanha. Risos ecoaram pela sala. – Não, sério, assim como Toby fez uma oração antes de sair correndo para sua casa em chamas para salvar sua irmã e irmão, todos nós devemos também tirar um momento para fazer uma oração pela recuperação rápida de Rafael. Toby lutou por sua família para viver. Em nenhum momento ele desistiu. Mesmo quando a equipe de resgate disse que não havia nenhuma esperança para seu irmão mais novo. Ele ignorou e o salvou. Por quê? Porque ele tinha prometido à mãe que iria cuidar de seus irmãos. E ele nunca se afastou da promessa. Há lições para todos nós na história de Toby. E a principal é: nunca desistir. Não importa o quão grandes ou pequenos sejam seus sonhos, não importa o quão difícil ou impossível pareça o caminho, nunca desista. Tenho muito prazer em apresentar este prêmio a Toby Latham, por sua bravura excepcional diante das probabilidades. A voz de Sasha quebrou nas últimas palavras. Embora tentasse esconder, Marco viu a tensão em seu rosto e a dor por trás do seu sorriso, mesmo quando muitos aplausos irromperam no salão. Automaticamente, Marco seguiu o exemplo, mas dentro dele, um gelo cortava seu coração, até que ele não pudesse respirar. Era sempre assim quando ele se permitia lembrar o que Angelique tinha tirado dele. O que sua fraqueza lhe custou. Ele deixou de cuidar de si mesmo. Nunca mais, jurou silenciosamente. Sasha desceu do palco e voltou para o seu lugar. Apesar da onda de memórias, ele não conseguia tirar os olhos dela. Na verdade, ele queria pular, agarrar a mão dela e levá-la para longe do salão. Ela chegou à mesa e sorriu para ele. – Graças a Deus, eu não me embaralhei. Deslizando graciosamente para a cadeira, ela colocou o cabelo atrás da orelha. Naquele momento, Marco, lutando para respirar e amaldiçoandose, sabia que ele a desejava. Incrivelmente. Desesperadamente. SASHA PERCEBEU a expressão no rosto de Marco e seu coração parou. – Qual é o problema? Ah, meu Deus, se me disser que tenho comida presa nos dentes eu mato você – jurou ela febrilmente. Desesperadamente afastando lágrimas ameaçadoras, ela tentou conter as memórias dolorosas que olhar para o rosto de Toby Latham tinha trazido. Ela não podia permitir que Marco visse sua dor. – Seus dentes estão bem – respondeu ele com uma voz profunda e áspera. – Então o que é? Meu discurso foi tão ruim assim? – Não. Seu discurso foi... Perfecto. Seu coração deu uma guinada em sua pequena pausa. Antes que ela pudesse questioná-lo, o apresentador apresentou o próximo convidado. Sem escolha, manteve um silêncio respeitoso, e cruzou as mãos trêmulas no colo. Freneticamente, ela tentou recordar seu discurso palavra por palavra. Marco estava, obviamente, reagindo a algo que ela disse. Ela errou ao mencionar Rafael? Sua piada foi muito grosseira? Uma onda de vergonha tomou conta dela com o pensamento. Ela esperou até que o próximo prêmio fosse apresentado, em seguida, inclinou-se. – Desculpe – sussurrou ela em seu ouvido. Sua cabeça girou para ela. Sua mandíbula roçou sua bochecha, milhares de pequenas correntes elétricas correram por ela. – Pelo quê? – perguntou ele. – Eu não deveria ter feito a piada sobre Rafael. Foi de mau gosto... – Seria exatamente o que o próprio Rafael teria feito se a situação fosse inversa. Todos estão contornando o assunto ou fingindo que não está acontecendo nada. Você deu às pessoas a liberdade de reconhecer o que aconteceu e deixá-las à vontade. Já não sou objeto de olhares compadecidos e especulações. Eu é que deveria agradecer. – É mesmo? – Sí – afirmou ele. – Então por que você parece tão... Desligado? Seus olhos escureceram. – Suas palavras foram poderosas. Fiquei tocado. Não sou feito de pedra, Sasha, ao contrário do que se poderia pensar. A reprovação em sua voz a envergonhava. – Ah, desculpe. É só que... Eu pensei... – Esqueça. Ele deu um sorriso tenso e dirigiu-se a Sophia. Assim que o último prêmio foi entregue, Sophia se virou para Marco. – Estamos indo dançar, adoraríamos que você se juntasse a nós, Marco. Sasha rangeu os dentes, mas permaneceu em silêncio. Se Marco queria ir para a festa com as Irmãs Falsificadas era escolha dele. Sasha prendeu a respiração enquanto esperava pela resposta, odiando-se enquanto o fazia. – Dançar não é a minha, mas obrigado pelo convite. – Ah, não tem que ser dançar. Talvez possamos fazer alguma coisa... Outra coisa? Sasha se levantou e foi embora antes que pudesse ouvir a resposta de Marco. Ela quase chegou às portas do salão quando sentiu sua presença ao lado dela. A onda de alívio que inundou seu corpo ameaçava enfraquecer seus joelhos. – Tem certeza de que você não preferiria ter saído com a Fal... Sophia? Ela parecia muito ansiosa para estar com você. Sério, eu posso pegar um táxi. Sua limusine parou. Ele a levou para dentro, em seguida, sentou-se ao lado dela. – Eu prefiro terminar minha noite sem silicone, gracias. Ela riu. – Exigente, exigente! A maioria dos homens não se importaria. Seus dentes perfeitos brilhavam na semiescuridão da limusine. – Não sou como a maioria dos homens. Sem dúvida, você vai acrescentar isso à minha lista de pontos fracos? Seus olhos desceram para os seios dela, cortando sua risada. – Melhor que você não esteja tentando ver se eu tenho silicone. Estes aqui são naturais. – Confie em mim, sei perceber a diferença – disse ele, em voz baixa, intensa. Ela engoliu em seco. Freneticamente, tentou pensar em um assunto seguro. – Então você não gosta de dançar? – Não é assim que eu escolho passar uma noite, não. – Deixe-me adivinhar, você é do tipo que gosta de ópera? – Errado de novo. Ela estalou os dedos. – Eu sei, você gosta de ficar em casa e assistir programas de auditório. Ela recebeu um riso baixo. – Relatórios de telemetria e cálculos aerodinâmicos? – Agora você está ficando quente. – A-ha! Eu sabia que você era um nerd enrustido! Ele lhe lançou um olhar irônico. – Eu prefiro chamar de paixão. Ela encolheu os ombros. – Um nerd apaixonado que se envolve com uma multidão, mas mantém distância. Ele endureceu. – Está me analisando psicologicamente de novo. – Você facilita. – E você faz suposições infundadas. – Boa tentativa, mas não pode me congelar com esse tom. Eu pesquisei sobre você. Tem mais dinheiro do que jamais poderia gastar em dez vidas e ainda assim não deixa que ninguém se aproxime. Você tem algumas relações estranhas, mas nada que dure mais do que algumas semanas. Há um limite de tempo para cada relacionamento. – Você não deve acreditar em tudo que lê, especialmente na imprensa sensacionalista. – Diga-me qual parte é falsa – desafiou ela. Seu olhar endureceu. – Eu vou dizer qual parte é verdadeira: todo relacionamento termina. Para sempre é um conceito feito para vender romances. – Você não teve um relacionamento duradouro quando ainda corria? Qual era o nome dela...? Angela? Ange...? – Angelique – rosnou ele, com o rosto congelado como se fosse talhado em pedra. – E não foi um relacionamento. Fomos noivos. – Ela deve ser a razão, então. – A razão? – Pela qual você é assim. – Será que Derek Mahoney a transformou na mulher intrusiva que você é hoje? – Eu gostaria de encontrá-lo e estrangulá-lo. Sasha sabia que deveria deixar para lá. Mas de alguma forma ela não podia. – Sim. Não. – Ela suspirou e olhou pela janela para a vida noturna de Kensington. – Putz, eu queria fumar. – Por quê? – Porque tentar ter uma conversa com você é exaustivo o suficiente para levar as pessoas a beberem. Mas como tenho que acordar cedo amanhã e cheguei ao meu limite bebendo uma taça, o tabagismo seria a outra opção, se eu fumasse. – Abandonando a vista, ela se virou para ele. – Onde eu estava? Um sorriso melancólico surgiu no canto de sua boca. – Você estava dissecando a minha vida e achando-a muito deficiente. – Sarcasmo? É esse o seu modo padrão? Marco baixou o olhar para os seus lábios e suas entranhas se contorceram. A limusine virou uma curva fechada. Ela agarrou seu braço para tentar se equilibrar. Tarde demais, ela percebeu que a ação fez com que seus seios saltassem. O olhar de Marco caiu. Um calor se agrupou em sua barriga. Seus seios doíam e ela se sentia mais completa do que nunca. Ele se inclinou mais. Seu coração trovejou. – Não, Sasha – disse ele com a voz rouca. – Este é o meu modo padrão. Suas mãos fortes seguraram o rosto dela com firmeza. Cheios de calor, seus olhos olhavam dentro dos dela, sua intensidade chocante acendia um fogo profundo dentro dela. Sasha prendeu a respiração, quase com medo de se mover no caso... No caso... Ele prendeu sua boca na dela, dando-lhe um beijo nada gentil que fez com muito sangue corresse por suas veias. Tinha gosto de calor e vinho, força e desejo latino. De paixão vermelho-sangue e prazer inebriante. Sasha sentiu um gemido em sua garganta e o reprimiu. Ela não era assim tão fácil. Embora, naquele momento, com a boca de Marco causando estragos insanos em sua pressão arterial, ser fácil era deliciosamente tentador. Sua língua acariciou a dela e o gemido escapou, ecoando na caverna escura do carro em movimento. Uma das mãos dele escorregou para a nuca, inclinando sua cabeça. Embora ele não precisasse. Ela estava disposta a inclinar a cabeça cada vez mais, para melhor aprofundar a pressão e o prazer do beijo. Sua boca se abriu, corajosamente, convidando-o. O gemido dele a fez triunfante e fraca ao mesmo tempo. Em seguida, ela perdeu todo o raciocínio, mergulhando no beijo. Toda a noção de tempo foi perdida. Até que ouviram o baque de uma porta. Seus lábios se separaram com um alto ruído que atingiu o ápice de suas coxas. Marco olhou para ela, com a respiração ofegante. – Dios – murmurou ele depois de alguns segundos tensos. Você pode dizer isso de novo. Felizmente, as palavras não se materializaram em seus lábios. Os olhos caíram para sua boca, ainda molhados do seu beijo e o calor entre as pernas aumentou mil vezes. Controle-se, Sasha. Ela se freou e se afastou. Tinha beijado Marco de Cervantes. – Chegamos – murmurou ele, soltando seu cabelo. – S-sim – sussurrou ela, encolhendose por sua voz sair baixa e encharcada de desejo. Com um último olhar, ele empurrou a porta e a ajudou a sair. Eles entraram no exclusivo complexo de apartamentos em silêncio, e foram até a cobertura em silêncio. Depois de fechar a porta do apartamento, ele se virou para ela. Sasha prendeu a respiração, a culpa e o desejo se misturavam freneticamente dentro dela. – Eu acordo cedo... – Sasha... Marco fez um gesto para ela ir primeiro. Sasha limpou a garganta, mantendo o olhar baixo para que ele não visse as emoções conflituosas em seus olhos. – Eu acordo cedo amanhã. Então... Hum... Boa noite. Depois de uma pausa longa e pesada, ele assentiu. – Acho que é uma boa ideia. Buenas noches. Sentiu seus olhos sobre ela durante todo o caminho pelo corredor. Mesmo depois de fechar a porta, sua presença permanecia. Deixando a bolsa cair, ela cruzou os dedos sobre os lábios. Ainda formigavam, junto com cada centímetro de seu corpo. Descansando a cabeça contra a porta, ela prendeu a respiração desesperada. Sua mão vagou da barriga para a pélvis, onde o desejo a agarrou de forma insuportável. Desejo que tinha toda a intenção de negar. Querer Marco de Cervantes foi um erro. Mesmo se houvesse a mais remota possibilidade de uma relação entre eles, seria uma questão de semanas para acabar. E ela sabia, sem sombra de dúvida, que também significaria o fim de sua carreira. Sua experiência com Derek a havia ensinado que ninguém valia o preço dos seus sonhos. CAPÍTULO 7 – CAFÉ... cheiro de café – murmurou ela no travesseiro. – Por favor, Deus, faça com que haja café quando eu abrir os olhos. Com cuidado, ela abriu um olho. Marco estava ao pé de sua cama, em uma camiseta verde-escura e calça jeans, com uma caneca fumegante na mão. SINTO – Se eu exigir saber o que está fazendo no meu quarto tão cedo, você vai negar esse café para mim? Não houve sorriso. – Não é cedo. São oito horas. Com um gemido, ela se alavancou para cima. – Oito horas é o raiar do dia, Marco. – Ela estendeu a mão para o copo. Ele não se moveu. – Por favor – resmungou ela. Com um movimento estranho, ele contornou a cama e entregou o café a ela. Sasha tomou o primeiro gole, gemeu de prazer e caiu contra o travesseiro. – Você não é uma pessoa da manhã, não é? – Ops, meu segredo foi revelado. Acho que quem decretou que qualquer coisa era importante o suficiente para começar antes das dez da manhã deveria ser pendurado e esquartejado. – Ela embalou a caneca quente na mão. – Certo, eu acho que agora estou acordada o suficiente para perguntar o que você está fazendo no meu quarto. – Eu bati. Várias vezes. Ela fez uma careta. – Eu durmo como uma pedra, às vezes. Como você sabia que era para me trazer café? – Eu sei tudo sobre você – respondeu ele. Seu coração balançou. Marco não sabia sobre seu bebê. E ela queria que assim fosse. – Eu esqueci. Você tem habilidades místicas loucas. – Não místicas. Apenas habilidades loucas. Quanto ao porquê de eu estar aqui... Tenho uma reunião na cidade em 45 minutos. – Em um sábado? – Ela percebeu seu olhar irônico. – Ah, não importa. – Eu queria falar sobre ontem à noite antes de sair. Sua respiração parou. – Sim. Ontem à noite. Nós nos beijamos. Um silvo agudo foi emitido de seus lábios. – Sí, nós nos beijamos. Ela bravamente encontrou seu olhar, mesmo que seu coração estivesse batendo forte. – Antes de me condenar, você precisa saber que isso não é um hábito para mim. – E, no entanto, aconteceu. – Podemos culpar o vinho? Ah, espere, você mal tocou seu copo a noite toda. – Como você sabe? Estava distraída na discussão da Premier League. Ela suspirou. – O que posso dizer? Eu amo o futebol. Para qual time você torce? – Barcelona. Ela fez uma careta. – Claro. Você parece o tipo que torce para o Barcelona. Ele balançou a cabeça. – Eu não quero nem saber o que isso significa. O silêncio os envolveu. Marco levantou a cabeça e olhou para ela. O brilho em seus olhos atormentados a fez parar de respirar. – O que aconteceu ontem à noite não vai acontecer novamente. Apesar de pensar a mesma coisa, ela sentiu um desapontamento. – Eu concordo. – Você pertence ao meu irmão – continuou ele, como se ela não tivesse falado. – Eu não pertenço a ninguém. Seu olhar espetou o dela. – Isso não pode acontecer novamente. – E eu concordei com você. Está tentando convencer a mim ou a si mesmo? Ele balançou a cabeça. – Sabe, nunca conheci alguém tão franca. – Eu não sou de ninguém. Você precisa saber disso agora. Beijo quem eu quiser. Mas beijar você foi um erro. E eu espero que isso não venha a prejudicar meu contrato. Seu olhar endureceu. – Você valoriza sua profissão mais do que as relações pessoais? – Nunca tive sucesso com relacionamentos, mas sou um piloto brilhante. Eu acho que é sábio escolher o que eu faço melhor. E eu prefiro não perder meu emprego porque você se sente culpado por um simples beijo. Eu também entendo se você tem algumas reservas por causa de seu irmão. Realmente, não é grande coisa. Não precisa se martirizar por isso. Aquela era outra razão pela qual ela odiava as manhãs. Naquela altura do dia, a barreira natural entre seu cérebro e sua boca estava severamente enfraquecida. – Dios, isso não tem nada a ver com o seu contrato. Se você fosse minha, eu não teria reservas. Nenhuma. As coisas que eu faria a você. Com você. Ele nomeou algumas. Sua boca se abriu. O desejo chamuscou o ar. Seus dedos se fecharam em torno da caneca. Silenciosamente, desesperadamente, ela quis que ele fosse embora. Debaixo de sua camiseta, seus mamilos reagiram às suas palavras. – Uau! Isso é... Hum... Muito impertinente. – E isso é só o começo – murmurou ele. Em outra vida, em outro momento... Não! Mesmo em um universo paralelo, Marco seria uma má notícia. – Eu ouvi um porém em algum lugar aí. Ou você ainda acha que sou venenosa ou é outra coisa. Diga-me. Eu posso aguentar. – Ontem à noite, na premiação, você falou de Rafael como um amigo. – Porque é o que ele é. Apenas um amigo. Sua mandíbula se apertou. – Está me pedindo para acreditar em você e não no meu irmão? – Não exatamente. Estou dizendo para nos dar o benefício da dúvida. Veja aonde isso pode levá-lo. Ele balançou a cabeça. – Enquanto Rafael a considerar dele, não poderá haver nada entre nós. – A mensagem foi recebida. Mais alguma coisa? Por um minuto, ele não respondeu. – Não quero que pense que o beijo trouxe a você algum privilégio especial. – Quer dizer, como esperar que você me traga café todas as manhãs? – respondeu ela sarcasticamente. – As minhas expectativas de você como piloto não mudaram. Na verdade, nada mudou. Entendido? – Tudo isto é angústia por um simples beijo, Marco? – As mulheres têm o hábito de ler mais em uma situação do que realmente existe. Mas eu quero ser muito claro, não entro em relacionamentos. – Não estou procurando por um. Todo o seu corpo se enrijeceu. – Então não haverá problema. – Mais uma vez percebo um porém. – Porém... Por alguma razão, eu só penso em você. A declaração foi feita com franqueza, sem alegria. No entanto, seu coração saltou. – E você está aborrecido com isso? O olhar dele passou seu rosto lentamente. – Lívido. Frustrado. Intrigado. Intensamente excitado. Ela engoliu em seco conforme o calor se derramava por todo o seu ser. Olhando para fora, ela murmurou: – Não faça isto. – Eu estava prestes a exigir o mesmo de você. – Não estou fazendo nada. Você, por outro lado, você... – Eu o quê? – perguntou ele, em voz baixa, feroz. – Você está cismado... E feroz... E com raiva... E... Excitado. Está amaldiçoando o seu desejo por mim e seus olhos ainda prometem todos os tipos de sedução. Seus olhos correram de volta para a protuberância nas calças dele e um nó se formou em sua garganta. – Eu... Eu acho que você deveria sair. – Você não parece muito certa sobre isso. – Estou. Não quero você. E mesmo se eu quisesse, não posso, lembra? Então você não pode... Não pode me apresentar... Isto. – Eu nunca disse que a situação era simples. – Bem, a solução é fácil. Você me contratou para fazer um trabalho, então me deixe fazê-lo. Não temos que nos ver até que a temporada termine e nós ganhemos o Mundial de Construtores. Nós ficaremos no topo do pódio e nos jogaremos champanhe. Então vamos seguir caminhos separados até a próxima temporada começar. – E você vai cumprir esta promessa? – Em parte, sim. – Para quem você fez a promessa? Ela deixou de olhá-lo nos olhos, a súbita necessidade de contar tudo a chocou pela intensidade. Mas ela não podia. Marco não confiava nela. E ela não estava preparada para confiar-lhe a memória sagrada de seu pai. – Não é da sua conta. Você vai me deixar em paz para seguir em frente? – Tenho que ficar de olho. Você já se mostrou... – Sim, eu já ouvi tudo isto antes. Não enfeitice ninguém da equipe. Especialmente o chefe. Mensagem recebida e entendida. Talvez você possa levar suas frustrações a outro lugar. – Dios. Ninguém nunca lhe disse a diferença entre estar de mau humor e ser uma megera? – Ninguém se atreveu. – Bem, então eu digo. Você precisa parar de atirar cegamente e aprender a escolher suas lutas. Romano a levará para seu compromisso e a trará de volta. – Isso não é necessário. Eu aluguei uma scooter. Ele se virou para encará-la. – Não. Romano vai levá-la. Seu tom não admitia discussão. – Sério, Marco, você precisa deixar para lá essa coisa de ser homem das cavernas... – E você precisa assumir uma maior responsabilidade pelo seu bem-estar. Se você cair da scooter e quebrar um braço ou uma perna, o resto da temporada está terminado. Eu pensei que você quisesse pilotar? Ou acha que é invencível sobre essas pequenas pilhas de lixo em que gosta de viajar? Ela reprimiu uma réplica aquecida. Marco estava certo. – Tudo bem. Vou usar o carro. Sasha se recusou a olhar para o rosto dele. – Eu preciso me preparar para as sessões de fotografia. – Seu café da manhã será servido em meia hora. – Ele se moveu em direção à porta. – Ah, e Sasha...? Incapaz de se conter, ela olhou. Emoldurado na porta, sua figura era impressionantemente masculina e absolutamente cativante. – Sim? – respondeu ela asperamente. – A menos que você queira que as coisas saiam de controle, não use aquela camisola na minha presença novamente. A SESSÃO de fotos foi terrivelmente tediosa. Mas o resultado final a surpreendeu. Após pressionar o botão para o elevador, ela pescou as fotos de sua mochila, chocou-se mais uma vez por como estava diferente, como a maquiagem pode transformar o simples em quase... Sexy. Abrindo a porta da suíte, ela parou com o jazz que flutuava pelo ambiente. Seguindo o som, ela viu Marco descansando no sofá, com um tablet e um copo de vinho nas mãos. – Eu pensei que você fosse se atrasar. Seu olhar se concentrou nela. – Eu adiantei as coisas. – E você não poderia encontrar alguém com quem passar a noite na sua agenda? – São apenas 7h30. A noite é uma criança – respondeu ele. – Isso é típico. Vai ligar para alguma infeliz mulher do nada e esperar que ela esteja pronta para largar tudo e sair com você, não é? Um canto de sua boca se curvou. – Felizmente, as mulheres que eu conheço são gentis o suficiente para querer largar tudo por mim. Ela bufou. – Pare com isso. Nós dois sabemos que isso não tem nada a ver com gentileza. Como tinha visto em primeira mão na cerimônia de premiação, as mulheres se rastejam por Marco. – Talvez não – admitiu ele, sem um sinal de arrogância à vista. – Como foi a sessão? – Além dos sapatos de cortesia, foi um pé no saco – respondeu ela. – Claro – concordou gravemente. Então, sem aviso, ele estendeu a mão e tirou as fotos de seus dedos. Ele parou de falar, enquanto olhava para as fotos. E parecia que tinha parado de respirar. – Marco... Marco, eu não quero que você fique. Eu tenho planos. – Quais são os planos? – perguntou ele, em tom áspero. Sasha não conseguia pensar em como responder. – Deixe-me ir – murmurou ela com a sua voz crua de desejo. – Quais são os planos? – Tem certeza que quer saber? Você pode não aprovar. A mão dele apertou seu braço, seus olhos se escureceram em nuvens de tempestade que ameaçavam trovões e relâmpagos. – Então pense bem antes de falar. Ela suspirou. – Tudo bem. Você me pegou. Eu ia pedir ao seu chefe que me fizesse bife e salada, seguido de pavê de chocolate para sobremesa. Mais tarde penso sobre as calorias. Depois eu pretendo ter um encontro com Joel, LuAnn e Logan. – Perdão? Alcançando a bolsa pendurada no ombro, ela tirou o box de sua série de vampiros favorita. Ele a soltou. – Aceite o conselho, pequeña. É um erro me incitar. As consequências serão maiores do que você jamais esperaria. Sasha sentiu um arrepio passar por ela. Naquele momento, o olhar no rosto de Marco a alertou para o perigo. – Entendido. Deixe-me ir. A surpresa iluminou seus olhos. – Preciso de um banho. Acho que você já terá ido quando eu sair. Aproveite a noite. Descaradamente, ela fugiu. MARCO A observou indo, frustração e confusão lutavam dentro dele. Orgulhava-se de conhecer e compreender as mulheres. Depois de Angelique, estava determinado a nunca ser pego de surpresa novamente. Mulheres gostavam de pensar que eram criaturas complicadas, mas suas necessidades eram básicas, não importava o quanto elas tentassem esconder. “Eu quero fama, Marco. Eu quero emoção! Não posso estar com um homem cujo sucesso está no passado.” Seus olhos seguiram a figura alta e magra de Sasha pelo corredor. Ela o surpreendeu, ele admitiu com relutância. Ela também o enfureceu. Ela fazia seu sangue ferver de uma maneira tão básica, tão... Sexual, mesmo sem aquelas fotos... Dios! Com um grunhido, ele se virou para a janela. Apesar de estar totalmente envolvida no beijo, tanto quanto ele, Sasha se afastou na noite anterior. Uma situação que nunca tinha encontrado antes. Era porque ela realmente não o queria? Ou ela estava apenas esperando seu irmão acordar para que pudesse continuar de onde tinham parado? Seu estômago se corroeu com o pensamento. Mas mesmo o efeito corrosivo não poderia camuflar o desejo sexual latente. MARCO PASSOU a última hora comendo e bebendo com uma mulher cujo nome ele não se lembrava. Olhava para seus lábios escarlates e pensava em outros lábios. Lábios recém-beijados. Lábios que haviam correspondido ao seu beijo de forma a enviar um potente pulso de excitação por ele. Lábios proibidos. No final, ele derrubou o seu guardanapo. – Você vai me desculpar, mas sou uma terrível companhia esta noite. Eu não deveria ter perturbado você. – Sabe que eu perdoo você por qualquer coisa, Marco. Candy? Candice? se inclinou para a frente em outra pose cuidadosamente calculada, criada para mostrar o seu corpo. – Ouça, tenho uma ideia. Eu sei o quanto você gosta de café. Quando eu estava filmando no Brasil no mês passado, eu me apaixonei pelo café de lá e trouxe um pouco comigo. Por que não pulamos a sobremesa e voltamos para minha casa para que você prove? – Desculpe, mas fica para a próxima. Ele a levou para fora em meio a protestos suaves e mais promessas. Mas café ou sexo com Candy/Candice era a última coisa em sua mente. Sua fome repentina por pavê de chocolate se tornou insuportável. – Leve o meu carro. Eu vou a pé – disse ele. E lá estava ele, escondendo-se fora de seu próprio apartamento como um adolescente hormonal em seu primeiro encontro. Ele entrou e se aproximou da sala de estar. Ela estava encolhida no sofá, com uma tigela de pipoca no colo. Sua cabeça se virou em direção a ele. Como se estivesse procurando por ele também. O pensamento lhe agradou mais do que deveria. O azul impressionante de seus olhos o paralisou. – Você ainda está acordada. Excelente, Marco. Primeiro lugar em constatação do óbvio. Ela piscou. – São apenas 9h15. – Cadê o pavê de chocolate, afinal? – O rosto de desaprovação de Charlie me assombrou. Pipoca é mais saudável. – Ela desviou o olhar. – Então, como foi o encontro? – Você realmente quer saber? Seus lábios sensuais se contraíram e ela balançou a cabeça. A necessidade de avaliar seus verdadeiros sentimentos o puxou para mais perto. – Ciúmes? Ela respirou fundo. – Achei que não estávamos fazendo isso. Seus olhos caíram sobre os lábios dela. – Talvez eu tenha mudado de ideia. – Bem, mude de novo. Nada mudou desde esta manhã. Não posso lidar com seu... Fardo. E não quero um relacionamento. De nenhuma espécie. Marco abriu a boca para dizer que não queria nada dela também. Mas ele sabia que estava mentindo. Sua presença nesta sala desmentia isso. Proibida ou não, ele a desejava com uma necessidade compulsiva. Mas querer não é poder. Ele era conhecido por seu controle. Sentou-se ao lado dela, sentiu seu cheiro e simplesmente forçou-se a não reagir. Para forçar o corpo a relaxar, ele acenou com a cabeça em direção à televisão. – Você gosta de vampiros? – Quem não gosta? Ele queria olhar para ela, mas manteve o olhar fixo à frente. – Qual é a história? Ela hesitou, inquietou-se e sentou-se de frente para a TV. Pelo canto do olho, ele a viu lamber os lábios. O calor fervilhou em suas veias. – Ah, você sabe, é o enredo de sempre. Dois irmãos apaixonados pela mesma garota. Alguma coisa se apertou em seu peito e os músculos do estômago se contraíram. – Entendi. – Você não precisa assistir. – Por que não? Estou intrigado. – Os dois protagonistas masculinos se enfrentavam na tela, com os dentes arreganhados. – O que eles estão fazendo agora? Mais uma vez, ela hesitou. – Eles estão prestes a lutar até a morte por ela. Seus músculos se contraíram mais. – Você está torcendo para qual deles? – perguntou ele, com a nuca contraída enquanto esperava a resposta. Ocorreu-lhe o quão absurda era aquela conversa. – Nenhum dos dois. Ilogicamente, seu interior ficou oco. – Você não se importa se um deles morrer? – Não foi isso que eu disse. Eu disse nenhum dos dois porque eu sei que eles não vão se matar. Eles podem se rasgar aos pedaços, mas no final eles se amam demais para permitir que uma mulher fique entre eles. Eu sei que eles vão resolver isso. É por isso que eu amo o seriado. Pipoca? Ele se recusou e acenou para a tela quando uma personagem feminina apareceu. – Quem é ela? Sasha riu. – Sim. LuAnn, a extraordinária femme fatale. Com aqueles enormes olhos castanhos e um corpo que poderia seduzir qualquer homem. Dentro e fora da tela. – Ela pode parecer inocente na tela, mas fora é outra conversa. Suspirou. Seu controle falhou e seus olhos encontraram os olhos azuis impressionantes de Sasha. Marco se perguntou se ela sabia como eles eram apaixonantes. Cativantes. Como ela era mais bonita que LuAnn. – Você conheceu ela? – Rapidamente. Em uma das festas de Rafael. Seus olhos se voltaram para a tela. – Por mais que eu esteja morrendo de vontade de saber os detalhes sórdidos, eu realmente não quero ter a ilusão estragada. Você se importa? Mais uma vez Marco foi atingido por um contraste de Sasha e das outras mulheres com que saía. Elas o teriam atropelado por sua menção a uma celebridade, morrendo de vontade de saber todos os detalhes. Sua refrescante atitude indiferente o fez relaxar um pouco mais. Quando ele se viu comendo pipoca, ficou surpreso. Quando foi a última vez que ele relaxou daquela forma. Ele olhou para Sasha. Seus olhos estavam grudados na tela, o lábio inferior preso entre os dentes. Marco pegou outro bocado de pipoca e sua mão roçou na dela. Sua respiração ficou presa, mas ela não desviou o olhar da tela. Quando ele relutantemente forçou-se a tirar os olhos dela, viu LuAnn em uma cena picante com Joel. Como um homem de 35 anos de idade, que sabia que o sexo na tela era simulado, ele não deveria achar a cena erótica. No entanto, quando a respiração de Sasha parou pela segunda vez, ele se virou para ela, com o coração batendo alto de forma que ele não conseguia ouvir mais nada. – Você deveria estar olhando para a tela, não para mim. Seu murmúrio rouco vibrou direto em sua virilha. – Eu nunca fui muito um espectador. Eu prefiro ser um participante. Dios! Ele estava muito excitado. No entanto, ele não podia se mover. Não conseguia desviar o olhar daquela mulher que sabia que não podia ter. Seus olhos encontraram os dele. – Marco... Novamente foi uma súplica rouca. – Por que não consigo tirar você da minha cabeça? Eu levei uma mulher bonita para jantar, mas eu mal consigo me lembrar de como ela era agora. Eu comi, mas não senti o gosto. Só conseguia pensar em você. – Quer que eu peça desculpas? – Você quer pedir? – Provavelmente não. Mas acho que tenho uma explicação para você. Talvez compartilhe um traço da personalidade do seu irmão. Se algo é negado a você, passa a querer mais? Marco não precisava pensar para responder. – Não. A diferença entre mim e Rafael é que ele não teria hesitado em arcar com as consequências. Ele vê algo que quer e pega para ele. – Enquanto você agoniza sem parar, negando a si mesmo? É quase como se estivesse se testando, se punindo. Seus olhos escureceram quando ele congelou. Marco não conseguia falar, necessitava de cada grama de autocontrole. – Talvez você devesse aprender a ceder um pouco... Aceitar o que está sendo oferecido? O que está sendo oferecido gratuitamente? – Eu parei de acreditar em gratuidade há muito tempo, Sasha. Há sempre um preço. – Eu não acredito nisso. O riso é de graça. O amor é de graça. Assim como o ódio que devora você por dentro. A amargura que distorce sentimentos se você deixar. E, não, não estou filosofando. Eu experimentei isso. – É mesmo? – Para quem você fez a sua promessa? – perguntou ele, com a necessidade de conhecê-la tão forte quanto o desejo em suas veias. A desconfiança escureceu seus olhos. – Meu pai. – O que você prometeu a ele? – Que eu ganharia o campeonato para ele. – Parece-me um senso de responsabilidade equivocado. A raiva brilhou através de seus olhos. – Não é responsabilidade. É amor. E é tão equivocado quanto sua necessidade de mimar Rafael. – Há uma diferença entre a responsabilidade e seu amor ilusório – rebateu ele, irado com essa virada da conversa. – Sofro ilusões. Meu pai me amava incondicionalmente, eu também o amava. – Então você teve sorte. Nem todo mundo está imbuído de amor incondicional por seu filho ou filha. Alguns chegam a usar seus filhos nascituros como instrumentos de barganha. Sua respiração ficou presa. – Será que você...? Está dizendo a partir da sua experiência? A realidade caiu sobre ele e o quão perto estava de revelar tudo. – Eu estava apenas argumentando. Por mais que eu queira você, Sasha, eu nunca vou tê-la. As consequências seriam muito grandes. CAPÍTULO 8 AS CONSEQUÊNCIAS seriam muito grandes. Sasha tentou bloquear as palavras enquanto ajustava a tração em seu volante. O tremor nos dedos aumentava e ela cerrou os punhos enquanto se lembrava de todos os ajustes necessários. Seu coração martelava, emoção e adrenalina disparavam através dela enquanto passava pelo ritual rigoroso de visualizar todas as curvas da corrida. Em sua terceira tentativa, o medo aumentou para conviver com suas emoções. Ela garantiu a pole position pela primeira vez em sua carreira de piloto, mas, apesar da euforia da equipe, ela percebeu um aumento na especulação sobre se ela poderia fazer seu trabalho. Sasha viu em seus rostos, ouviu na voz de Luke, quando ele passou com ela a estratégia da corrida pela milionésima vez. Consequências... Responsabilidade... Última chance... O suor escorria pelo seu pescoço e ela rapidamente tomou um gole de água. Ela não podia ficar desidratada. Não era possível se dar o luxo de perder o foco. Na verdade, ela não tinha condições de fazer nada menos do que vencer. Além das luzes brilhantes do circuito que transformaram a noite em dia no Grande Prêmio de Cingapura, milhares de fãs estariam assistindo. E Marco também. Ele não tinha falado com ela desde a noite em seu sofá, em Londres, mas esteve presente em cada corrida desde que a temporada havia retomado, e Sasha sabia que ele estava em algum lugar acima dela, na suíte presidencial. Em algum momento durante as noites de insônia, quando ela estava olhando para a pista de corrida de seu quarto de hotel, ela se perguntava se ele se preocuparia em aparecer. Ou se ele estaria muito preocupado entretendo a filha loura de um magnata da indústria têxtil italiana, que sempre estava ao seu lado nos últimos dias. Ela tentou desesperadamente bloqueá-lo de sua mente. A pole era um sonho que ela perseguia por mais tempo do que podia lembrar, isso deveria deixá-la extasiada. Ela estava a um passo de retirar a sombra da vergonha do pai da mente das pessoas. Para, finalmente, retirar-se da sombra de Derek. No entanto, só conseguia pensar em Marco e em sua conversa, em Londres. A voz de Luke canalizada através de seu capacete atrapalhou seus pensamentos. – Ajuste a embreagem... Ela ajustou antes que ele terminasse de falar. A força de sua vontade de vencer era um campo de força ao seu redor. Concentrada, ela seguiu as luzes vermelhas. A adrenalina correu mais rápido em suas veias conforme ela apontava para a primeira curva. Ela passou raspando pela dianteira do segundo colocado. Seu estômago se revirava volta após volta, mesmo depois de estabelecer uma distância saudável entre ela e o carro de trás. Depois de uma eternidade, ela ouviu a voz de seu engenheiro no ouvido. – Você ganhou! Sasha, você venceu o Grande Prêmio de Cingapura! Lágrimas apareceram em seus olhos. O rosto de seu pai flutuava em sua mente e uma sensação de paz pairou momentaneamente sobre ela. Foi quebrada um segundo depois pelo barulho ensurdecedor da multidão. Saindo do carro, entre os flashes dos paparazzi e a multidão que gritava seu nome, Sasha buscou aqueles familiares olhos castanhos. Nada de Marco. Uma pontada de decepção a abateu. Com um sentimento de desapego, ela aceitou os cumprimentos de seus companheiros e chorou durante o hino nacional britânico. Papai ficaria orgulhoso, lembrou-se. Ele era tudo o que importava. Com um sorriso no rosto, ela recebeu o troféu do primeiro-ministro. Era aquilo que ela queria. Pelo que ela lutou. – Eu sabia que você conseguiria! Prepare-se, Sasha. Seu mundo está prestes a virar de cabeça para baixo! A conferência de imprensa obrigatória para os três primeiros colocados levou meia hora. Quando ela saiu, Tom a pegou pelo braço e a levou para o banco de repórteres que esperavam por trás das barreiras. – Tom, eu realmente não quero... – Você acaba de ganhar sua primeira corrida. “Eu realmente não quero” não deve figurar no seu vocabulário. O mundo é sua ostra. Mas eu não quero o mundo, gritou ela em silêncio. Eu quero Marco. Quero não me sentir sozinha em uma noite como esta. Sentindo que ia chorar, Sasha rapidamente se conteve quando um microfone foi empurrado em seu rosto. – Qual é a sensação de ser a primeira mulher a ganhar o Grande Prêmio de Cingapura? Do fundo ela convocou um sorriso. – Maravilhosa, como a do primeiro homem que ganhou, espero. Ao lado dela, ouviu a crítica aguda de Tom. Comporte-se, Sasha. – Você ainda está envolvida com Rafael de Cervantes? – perguntou um repórter odioso que ela reconheceu ser de um canal de esportes do Brasil. – Rafael e eu nunca estivermos envolvidos. Somos apenas amigos. – Então, agora que ele está em coma, não há nada que a impeça de ser amiga de seu irmão, não é? Tom deu um passo adiante. – Ouça, amigo... Sasha o deteve. – Não, tudo bem. Ela olhou para o repórter. – Marco de Cervantes é um engenheiro de classe mundial e um visionário em seu campo. O incrível design de seu carro de corrida é a razão pela qual venci a corrida de hoje. Chamá-lo de amigo seria uma honra. – Ela deu outro sorriso e observou o rosto de decepção do repórter. Tom acenou para um repórter britânico. – Próxima pergunta. – Como vencedora da corrida, você será a convidada de honra para o show. O que vai vestir? Um leve choque passou por ela, seguido rapidamente por um profundo senso de vazio. O show era obrigatório para as celebridades. Sem dúvida, Marco estaria lá com sua última namorada. – Não importa o que estarei vestindo porque não vou. SASHA CORREU para o saguão de seu hotel de seis estrelas, grata quando os dois porteiros corpulentos bloquearam os paparazzi. O abismo cada vez maior de vazio que ela não conseguia afastar ameaçou dominá-la. Rapidamente, ela tirou a roupa e tomou banho. A batida na porta veio quando ela estava se enxugando. Por um segundo, ela considerou não atender. Uma sensação de déjà vu a golpeou quando ela viu uma estilista carregando um monte de roupa. – Eu acho que você está na suíte errada. A diminuta mulher asiática em um terno rosa simplesmente sorriu e entrou. Seguida de sua assistente que segurava um buquê grande e belíssimo de lírios roxos e rosas creme. – Para você. Escolha um vestido e elas sairão. Romano está esperando lá embaixo. Sasha olhou para o rabisco ousado de Marco com descrença. Quando olhou para cima, as mulheres sorriram e começaram a puxar os cabides de roupa. – Não, espere! – Nada de “Não, espere”. Vinte minutos. – Mas... Para onde vou? – perguntou ela. A estilista deu de ombros e vibrou uma ordem em mandarim. Vinte minutos depois, Sasha saiu do carro frio para outro tapete vermelho. Desta vez, sem Marco, ela estava ainda mais autoconsciente do que antes. Em uma noite quente e abafada de Cingapura, o vestido de seda creme que ela havia escolhido a deixava mais exposta do que na segurança de seu quarto de hotel. À primeira vista, ela se recusou a usar o minivestido porque... Bem, porque não tinha parte de trás. Mas, então, a estilista fixou um material drapeado em toda a sua parte inferior das costas e Sasha se sentiu... Sexy, como uma mulher, pela primeira vez em sua vida. Seu cabelo estava preso, suas unhas polidas e reluzentes. O visual estava completo com as sandálias de salto douradas que ela nunca tinha sonhado que seria capaz de usar, mas que achou surpreendentemente fácil. Romano apareceu ao seu lado, lembrando que Marco estava esperando por ela. A área VIP estava repleta de estrelas do rock e princesas do pop. Ela tentou jogar conversa fora enquanto sorrateiramente procurava Marco na multidão. Alguém colocou uma taça de champanhe em sua mão. – Sasha? Você está indo para o palco, certo? Tom agarrou seu braço e a deteve. – O... O palco? – Sua banda favorita está prestes a tocar. Marco fez com que eles voassem até aqui só para você. – Ele o quê? Um tipo diferente de atordoamento parou seu coração. – Vamos lá, não quer que eles comecem sem você. Mil perguntas correram por sua mente, mas ela não teve tempo de expressar nada até ser impulsionada ao palco e para os braços do vocalista da banda. Dividida entre o temor de dividir o palco com sua banda favorita e a felicidade por não haver interpretado errado o bilhete de Marco, os dez minutos seguintes foram os mais surreais de sua vida. Mesmo ver-se nos telões gigantes não a assustou tanto quanto imaginava. Ela saiu do palco para o rugido ensurdecedor da multidão. Tom sorriu quando a ajudou a descer as escadas. – Você já viu Marco? – Sasha atribuiu sua falta de ar no palco à emoção, não à sua vontade em ver Marco de Cervantes. – Hum, ele estava por aqui há um momento... – Onde ele está? – Sasha... Ele suspirou e apontou para a área isolada com três guarda-costas corpulentos. No início, ela não o viu, sua visão ainda difusa pelas brilhantes luzes do palco. Quando ela finalmente conseguiu focar e ver o que sua mente se recusava a aceitar, Sasha estava convencida de que seu coração tinha sido arrancado do peito. Cada passo que ela dava para fora do show era como uma caminhada para um abismo. Mas Sasha forçou-se a continuar, a sorrir, a reconhecer os elogios e respeito que ela finalmente teve de sua equipe. Mesmo que por dentro ela estivesse entorpecida e congelada. A BATIDA aconteceu menos de dez minutos depois. Marco encostou-se no lintel. Os botões de sua camisa ainda estavam abertos, seu cabelo estava despenteado. Como se mãos, mãos femininas, tivessem percorrido seu corpo várias vezes. Ele ficou lá, arrogantemente imponente. Ela o odiava mais do que podia expressar coerentemente. – O que você quer? Vestindo um biquíni, seu olhar era intenso e irritado. – Por que você deixou o show? – Por que você não está lá sendo acariciado por sua musa italiana? – Você foi embora porque me viu com Flavia? – Sabe o que dizem: dois é bom, três é demais. Agora, se me dá licença... – Ela pegou a caixa que continha um colar de diamantes. – Aqui, leve isto de volta. Eu não quero. – É seu. Cada membro da equipe recebe um presente pela vitória. Este é o seu. – Você está brincando comigo? – Não. Aonde você vai? Ela olhou para a caixa, não sabendo como recusar o presente. – Mergulhar, não que isso seja da sua conta. – Mergulhar? A esta hora? – Cingapura é a corrida mais longa do calendário. Ainda mais quando você está ganhando e tentando defender a sua posição. Se eu não me aquecer e fizer meus exercícios, meus músculos não aguentam. Era isso que eu tinha planejado fazer antes... Enfim, você pode, por favor, sair da minha frente? Seu olhar caiu sobre as pernas dela. Um som rouco retumbou em sua garganta. – Marco, eu disse... – Eu ouvi. Ainda assim, ele não se afastou. Sasha deixou a caixa cair na cama e respirou profundamente. Seus sentidos estavam muito acelerados, prontos para explorar todo o potencial de seus sentimentos conflituosos por aquele homem. – Vamos. Ele finalmente saiu do vão da porta. – Não vou a lugar nenhum com você até que me diga o que está fazendo aqui – respondeu ela. – Importa por que estou aqui, Sasha? Você está feliz em me ver? Ela odiava o fogo que corria em suas veias. – Há menos de meia hora, tinha outra mulher em cima de você. Ele xingou baixinho. – Sabe, você é a mulher mais difícil e irritante que conheci. Apesar da veemência rouca em sua voz, ela sorriu. – Obrigada. Ele a pegou pelo braço e a levou para o elevador. – Não foi um elogio. – Eu sei. Mas eu vou entender como um. O elevador os levou para cima. Pelo canto do olho, ela o viu pegar o telefone e enfiá-lo no bolso. As portas se abriram em um espaço que era tão bonito que Sasha não conseguiu falar por alguns segundos. – Está vazio. Não havia uma única alma no terraço. – Sí. A maneira como ele respondeu a fez encará-lo. – Você tem alguma coisa a ver com isso? – Por quê? Esta é a centésima pergunta que você faz desde que eu bati na sua porta. Eu não queria que o seu mergulho fosse interrompido. Ela chutou seus chinelos, sua temperatura subiu mais um pouco quando seu olhar caiu sobre seus pés descalços. – Esta piscina é três vezes o tamanho de uma piscina olímpica. – Eu queria privacidade. Ele abriu o último botão de sua camisa e revelou um abdômen definido. O calor a inundou. Sob o biquíni, seus mamilos se apertaram e seus músculos tremeram com uma necessidade tão forte que ela mal podia respirar. – Entendo. Você vai rosnar para mim, se eu perguntar por quê? – Sim – rosnou ele. Avançando sobre ela, Marco tirou sua canga. Em seguida, prendeu seu cabelo no topo da cabeça. Novas ondas de desejo ameaçaram afogá-la. – Marco... – Quantos minutos você precisa nadar para ficar menos tensa? – Uns vinte. Ela não conseguia tirar os olhos da beleza de seu rosto, da sensualidade de sua boca. – Vinte minutos, então. – Ele tirou a camisa, em seguida, abriu o cinto. Seus olhos se arregalaram. – O que você está fazendo? – O que lhe parece? – Hum... Sem aviso, ele se inclinou e cheirou a pele entre seu pescoço e seu ombro. – Você está cheirando ao perfume do rock star. E eu a um enjoativo perfume italiano. Que tal tirar o cheiro de outras pessoas e depois conversar, sí? – Marco... Ele xingou baixinho. – Vá, Sasha. Eu preciso me refrescar ou Dios me ajude, eu não serei responsável por minhas ações. Ela foi, com o peso do olhar dele escaldando sua pele. A água foi um alívio bem-vindo, mas temporário, das sensações entre eles. Marco mergulhou atrás dela, um segundo depois, acompanhando-a. Quando ela nadou mais rápido, para escapar de sua necessidade frenética, ele se manteve com ela. – Fora – ordenou secamente, com a mão segurando uma toalha como um toureiro. Ela saiu da piscina. Ele enrolou a toalha em volta dela, usando movimentos bruscos enquanto a secava. Duas espreguiçadeiras cobertas de seda estavam lado a lado, separadas por uma mesa com vários pratos de comida, de iguarias locais a caviar. Marco a colocou na espreguiçadeira e pegou uma garrafa. Sasha forçou-se a tirar os olhos de seus músculos e olhou para a mesa. – Há o suficiente aqui para alimentar um exército. Em busca de um prato pequeno, ela pegou camarões grelhados e arroz. – Você não gosta de caviar? Ela fez uma careta. – Tem um cheiro engraçado e gosto nojento. Eu não sei por que as pessoas comem. Ela comeu um pouco de sua comida e sentiu a explosão de texturas em sua língua. Felizmente ela conseguiu engolir sem engasgar. – Agora, isto aqui é celestial. Marco se sentou em frente a ela e estendeu uma taça de champanhe, seu olhar nunca deixando os dela. – Marco... – Coma. Falaremos quando você terminar. Como posso comer? Ela queria perguntar. Especialmente quando os olhos dele seguiam cada movimento seu. Mas as palavras se recusavam a se formar em seus lábios. Era como se ele tivesse lançado algum tipo de feitiço sobre ela. Contendo sua respiração, ela colocou o prato de lado. – Vamos falar agora. Você me convidou para o show, então me ignorou para ficar com sua namorada. O que mais há para falar? – Flavia não é minha namorada e não estávamos ficando. Ela estava me parabenizando pela vitória da equipe, assim como um monte de gente fez esta noite. – Ela estava em cima de você. E você não parecia se importar. – Eu estava... Preocupado. Ela bufou. – Evidentemente. – Por el amor de Dios! Eu estava esperando você na sala VIP! O primeiro-ministro apareceu quando eu estava prestes a encontrá-la. Eu tentei fugir o mais rápido possível, só para descobrir que você estava mais interessada na sua estrela de rock favorita. Era muito evidente que você estava sem sutiã, mas, diga-me, você estava sem calcinha? A raiva tingiu suas maçãs do rosto. – Você estava com ciúmes? Sua mandíbula se apertou. – Se era aquilo o que eu esperava quando chamei a banda para você? Não. Se eu quero quebrar todos os ossos daquele magrelo? Sí. Para começar. O ar se espessou entre eles. Mil perguntas diferentes correram em sua mente. Uma emergiu. – Não sou estúpida, Marco, sei onde isto vai dar. Mas e as consequências? As que fizeram com que você me evitasse nas últimas três semanas? – Vê-la nos braços de outro homem simplificou a minha decisão. Pelo bem da minha sanidade mental e para evitar acusações de assassinato, não vou mais ficar longe – murmurou ele. – Certo. Bem, estou feliz por você e sua sanidade. Mas e o que eu quero? Seus olhos caíram para os lábios. – Se você sabe onde isso vai dar, então sabe o quanto eu quero beijar você. Venha aqui. Sua boca, objeto de intenso escrutínio, vibrava tanto que ela teve que conter a vontade de mordê-lo. – Eu quero o que eu disse em Londres. Eu não quero um relacionamento. Um olhar duro passou por seus olhos. – Eu não quero um relacionamento também. – E a sua cláusula? – Não sou um piloto de corridas e não trabalho para a equipe, estou isento. Venha aqui, Sasha. – Não. Você não está distorcendo as regras? – Posso citá-las na íntegra para você mais tarde. Agora eu quero que venha aqui e me beije. Sua respiração se encurtou. – E se eu não quiser? Seu olhar escureceu. – Então eu vou voltar para o show, encontrar sua estrela do rock esganiçada e decorar a sala VIP com ele. Um rugido subiu a poucos quilômetros de distância. O pulsar do concerto de rock ecoou de forma soberba enquanto ele continuava a observá-la. – Eu espero que você não ache que eu vou salvá-lo da cadeia. Ele deu de ombros. – Eu espero um monte de coisas, querida. Neste momento estou esperando que você pare de discutir e venha para o meu colo. Ajudaria se eu dissesse que não passei um dia destas últimas três semanas sem pensar em você? – Talvez isso ajude. Um pouco... Sem aviso, ele estendeu a mão sobre a mesa e a pegou. Colocando-a em seu colo, ele libertou seu cabelo e suspirou de prazer quando as pesadas mechas caíram em suas mãos. Apesar de seu biquíni ser discreto, Sasha nunca se sentiu mais exposta em sua vida enquanto os olhos e os dedos preguiçosos dele percorriam seu corpo. – Você está fazendo isto de novo – disse em voz sensual. – O quê? – murmurou ele, com os olhos descansando no topo de suas coxas. Por baixo, a ereção pressionava sua carne, fazendo com que se contraísse em antecipação febril. – O que você faz com os olhos. E mãos. E corpo. – Se você quiser que eu pare, vai ter que me beijar. – Talvez eu não queira que você pare. Talvez eu me permita isso antes de decidir que é uma péssima ideia. – Você acha que é uma péssima ideia? – Meu último relacionamento deixou um monte de cicatrizes. Ele ficou tenso. – Derek machucou você fisicamente? – Não, mas ele influenciou muita gente contra mim. Incluindo você. Ele balançou a cabeça. – Ninguém me influencia. Se você realmente não quiser, diga e eu paro. O pensamento de negar a si mesma fez seu coração dar uma guinada dolorosa. Seu corpo se aproximou. – Se você pretende parar, assim não é uma boa ideia, querida. Sasha teve o suficiente. Marco tinha passado muito da sua vida controlando tudo. Pela primeira vez ela desejava vêlo perder o controle. Ela se contorceu novamente. Seus olhares se conectaram. A fome escura em suas profundezas fez a respiração dela parar. Cedendo ao impulso, ela deslizou a mão por sua nuca e inclinou sua cabeça. Ele assumiu o controle de seus lábios em um beijo tão impulsionado, tão desesperado, que ela gritou contra sua boca. Ele colocou a mão em seu cabelo para mantê-la imóvel e a outra mão deslizou para arrastá-la para mais perto. Sasha foi de boa vontade, seu corpo era como um barco à deriva do desejo. Ela poderia estar arriscando tudo para experimentar algumas horas de prazer, mas Sasha não conseguia mais afastar Marco. Ela lidaria com o arrependimento pela manhã. Perdendo-se no beijo, ela corajosamente enfiou a língua contra a dele. Seu corpo estremeceu, fazendo um pequeno arrepio de prazer correr por ela. Quando os dedos dele apertaram suas nádegas, ela gemeu. – Você gosta disto? – murmurou ele com o olhar pesado. Ela assentiu com a cabeça e lambeu os lábios, já sentindo falta da sensação de sua boca contra a dela. – Diga-me do que mais você gosta, mi tentación. Ele tirou o laço da parte de cima do biquíni dela e arrastou a boca sobre sua pele. – Você... Com menos roupa... – disse ela ofegante. Outro rugido do show rasgou o ar da noite. Momentaneamente ela se lembrou de onde estavam. – Por outro lado, talvez isso não seja tão ruim... – Nós não seremos perturbados. O arranhão de seus dentes sobre um mamilo derreteu a última de suas reservas. Deixando seus sentimentos sem rédea, ela deslizou a mão sobre seus ombros, tocando a pele suave de sua nuca antes de explorar seu cabelo úmido. A urgência dela alimentava a dele. Com o vigor renovado, ele a beijou novamente. Invertendo as posições, ele a colocou na espreguiçadeira, em seguida, puxou a calcinha de seu biquíni. Na luz suave, no ambiente acolhedor em que estavam, sua pele formigava ao toque. – Eu quero tocar em você inteiro. As palavras acaloradas saíram antes que ela pudesse detê-las. Seu rosto se contorceu em uma careta de dor. Inclinando-se, ele passou a língua sobre sua boca. – Eu acho que mencionei que estive próximo à loucura nestas últimas semanas. Tocar meu corpo inteiro não é uma boa ideia no momento. A respiração se tornou cada vez mais afobada. – Ah, então eu acho que não é um bom momento mencionar que eu também pretendo morder alguns lugares estratégicos. – Faça-me um favor, mi tentación. Mantenha seus pensamentos para si mesma, por enquanto. Você tem a minha palavra. Eu vou deixar você se expressar como quiser mais tarde. Descendo, ele envolveu um mamilo exposto em sua boca. Palavras não mais podiam expressar as sensações. Um calor líquido se agrupou no topo de suas coxas, a carne do sexo inchava e pulsava com a força do desejo. Quando, ao deslizar sua boca, ele mergulhou abaixo do umbigo, ela congelou. Sentindo que se travou, ele levantou a cabeça. – Você não quer isto? – Eu quero. – Tanto que a força de seu desejo a deixou chocada. – Eu quero... Mas se você não quiser... Suas palavras fracassaram no calor escaldante dos olhos dele. – Eu passei noites intermináveis imaginando seu gosto, Sasha. – Ele abriu mais suas pernas, lambeu a pele sensível dentro da coxa, seus olhos escureceram em um gemido sem fôlego. – Mas eu sempre preferi a realidade aos sonhos. Ele se aprofundou nela, lentamente, trabalhando a língua sobre os milhões de terminações nervosas saturadas com receptores de prazer. Sasha gritou e veio em uma onda de prazer tão intensa que todo o seu corpo tremeu. Antes que seu orgasmo desaparecesse, Marco surgiu sobre ela. Seu beijo era menos frenético, mas não menos exigente. E, assim como o motor de um carro afinado, seu corpo respondeu às demandas. A tensão gritava através do corpo de Marco quando ele se levantou do beijo inebriante. O som de orgasmo de Sasha ecoou em sua cabeça como o chamado de uma sereia, prometendo-lhe prazer além da medida. Felizmente a sanidade prevaleceu na hora certa. Sasha se moveu inquieta debaixo dele, com o olhar sensual firme quando ele separou suas coxas. A verdade era que ele nunca desejou uma mulher da forma que desejava Sasha. Ele parou de tentar decifrar o que a fazia tão irresistível. Era ela. Apenas. Ele também tinha feito perguntas discretas e verificou que ela dissera a verdade, ela não tinha se envolvido com Rafael. Sasha Fleming estava sob sua pele como nenhuma outra mulher esteve e aquela era a conclusão inevitável. Suas coxas se separaram, ela pousou um olhar sensual sobre o seu. Exatamente como ele tinha sonhado... Com um gemido, ele se afundou nela. – Ainda bem – gemeu ela. – Por um segundo eu pensei que você estava prestes a mudar de ideia. Como que para impedi-lo, seus músculos se apertaram com força ao redor dele. Outro gemido escapou de sua garganta. – Eu pensei que eu tivesse dito para ficar quieta. Ele se afastou e subiu nela, mais uma vez, sentindo um prazer inédito. – Eu vou... Eu vou... Só, por favor, não pare. Cravando as unhas em suas costas, ela apertou mais. Ele não poderia, nem mesmo se quisesse. Não havia retorno. – Dios, você é maravilhosa – murmurou ele. Inevitavelmente, ele chegou ao ápice do prazer. Êxtase cavalgou seu corpo, cegando-o com a satisfação gloriosa da paixão desenfreada. Com seu grito de felicidade, esvaziou-se nela. Marco caiu sobre ela, que estava macia, com o corpo escorregadio de suor. Ali permaneceu até sua respiração se acalmar. Rolando na espreguiçadeira, ele a colocou ao seu lado. Logo, a primeira pontada do inevitável arrependimento apareceu. Ele sucumbiu à tentação. Agora, haveria o preço a pagar. E, pela primeira vez em sua vida, Marco estava com medo. CAPÍTULO 9 – QUE...? – SASHA se sacudiu, acordando. Seu corpo sólido estava ao redor dela e seu o braço a impedia de cair da espreguiçadeira. Abrindo os olhos, ela se deparou com o olhar acusador de Marco. – Você adormeceu. Ela teve relações sexuais com Marco. Relações selvagens, inacreditáveis, cheias de prazer. Depois... – Você adormeceu – apontou ele de novo, com um sentimento de afronta estampado no rosto. – Ah... Desculpe... – Tenho a sensação de que você não quis dizer isso. – E eu tenho a sensação de que não estou entendendo aonde você quer chegar. Antes que ela pudesse evitar, um grande bocejo irrompeu. Seu olhar escureceu. – Eu não agradei você? Ele parecia genuinamente perplexo e um pouco inseguro. – Claro que agradou – disse ela. Erguendo as mãos, ela emoldurou seu rosto. – Eu nunca senti mais prazer com ninguém. – Foi tão bom que você adormeceu logo depois? – Tome isso como um elogio. Você me desgastou. Suas pálpebras velaram seus olhos. – Você é a primeira, eu admito. – Que se desgasta? – perguntou ela, espantada. – Claro que não. A parte de adormecer. Uma risada borbulhou dentro dela. Inclinando-se, ela pressionou seus lábios contra os dele em um beijo leve. Marco o transformou em um beijo longo e profundo. – Como eu disse, desculpe. O que posso fazer para compensar? Ela deslizou a mão por ele e o agarrou com força. Seus lábios se separaram em outro gemido. Ela acariciou para cima e para baixo, maravilhada com sua tensão. Sua boca se arrastou sobre o rosto dela, indo para a junção entre o pescoço e o ombro. Um calor erótico passou através dela. Quando sua tensão aumentou, sua respiração estremeceu. – Sí, mi querida, este é o caminho certo. Um calor líquido se reunia entre suas coxas. Ela estava incrivelmente excitada pelo prazer que dava a ele. Em mais uma carícia, de repente, ele se ergueu. – Você está se deixando levar. Ela deslizou suas coxas por cada lado dele e abaixou-se até que seu calor úmido o tocou. A sensação de mãos fortes deslizando por suas costas a fez estremecer de prazer. – Então eu ficar por cima não foi uma boa ideia, não é? Seu olhar predatório tomou conta dela, demorando-se em seus seios. – É hora de você aprender que eu posso controlá-la independentemente da posição. Ele cresceu dentro dela, preenchendo-a tão completamente que estrelas explodiram atrás de suas pálpebras fechadas. Ele segurou sua nuca, forçou-a para baixo e tomou sua boca em um beijo ardente. Seu ritmo era frenético. Ela gemeu quando ele libertou sua boca, antes que pudesse suspirar. A sensação saiu do controle com uma velocidade impressionante. – Abra os olhos. Deixe-me ver seus olhos enquanto você goza. Ela obedeceu. – Marco... – Sí, estou sentindo também. Ela acreditou nele. O brilho do suor revestia sua pele, a mão trêmula acariciava seu rosto; tudo atestava o fato de que ele também estava apanhado naquele turbilhão incrível. O prazer arrebatou seu coração, forçando-a a gritar uma última vez quando um orgasmo explodiu através dela. Abaixo dela, ainda controlando seu prazer, Marco era empurrado para sua libertação, gemendo com a própria satisfação. Suas respirações ofegantes se misturavam, seus corações trovejavam conforme a brisa refrescava as peles suadas. Longe dali, outra explosão de fogos de artifício iluminava o céu. A intensidade do seu prazer compartilhado provocou uma ameaça de medo por ela. Para mascarar seus sentimentos, ela escondeu o rosto em seu ombro. – Eu adoraria compor um soneto para você agora. Mas eu não tenho palavras. Um pequeno estrondo de risadas ecoou em seu peito aquecido. – Sonetos são superestimados. Seus gritos de prazer são uma recompensa suficiente. Sasha suspirou, colocou a cabeça no peito dele e tentou respirar. O alarme que tinha criado raízes naquela pequena parte do seu cérebro cresceu. Algo aconteceu entre o primeiro e o segundo ato de amor. Então, ela se sentiu segura o suficiente para adormecer nos braços de Marco. Naquele momento... Naquele momento ela se sentia exposta. Com as emoções cruas, nuas. Espontaneamente, lágrimas surgiram em seus olhos. Ela se arrastou para esconder, mas Marco percebeu seus sentimentos. – Você está chorando. Por quê? Como poderia explicar algo sobre o que ela não tinha conhecimento? Quando ela tentou dar de ombros, ele balançou a cabeça. – Diga-me. – Estou me sentindo um pouco sobrecarregada. É isso. Depois de um segundo, ele balançou a cabeça e passou a mão pelo seu rosto. – Sí. Esta é a sua primeira vitória. Esse sentimento nunca pode ser igualado. Por vários segundos Sasha não entendeu o que ele falava. Quando percebeu que ele estava falando sobre a corrida e não sobre as consequências turbulentas de sua vida amorosa, seu coração balançou. – Eu queria que meu pai estivesse lá. Marco assentiu. – Ele ficaria orgulhoso de você. A surpresa arregalou seus olhos. – Você sabe quem era o meu pai? – Claro. Eu vi todas as corridas dele. É evidente que você herdou seu talento. O elogio inesperado a fez se sentir ainda mais chorosa. Ela tentou se afastar, mas ele a pegou de volta, abaixou a cabeça e a beijou. – Você sabe o que aconteceu com ele, então? – Ele apostou que outro carro venceria e deliberadamente bateu. A convicção em sua voz enviou um arrepio gelado por sua espinha. Ela se afastou com força. – Era mentira! Marco cruzou os braços atrás da cabeça. – Não de acordo com o tribunal que o considerou culpado. – Ele nunca conseguiu refutar as alegações. Mas eu acreditei nele. Meu pai nunca teria feito isso. Ele adorava correr para bater de propósito pelo dinheiro. – Eu estava no conselho que analisou as imagens, Sasha. A prova era difícil de refutar. Choque e raiva se contorceram em seu intestino. – Você foi uma das pessoas que decidiu que ele era culpado? Marco pôs os pés no chão. – Ele não fez muito para se defender. Levou semanas para reconhecer as acusações. – E isso faz dele automaticamente culpado? Ele ficou arrasado! Sim, ele deveria ter respondido às alegações antes, mas as acusações partiram seu coração. Sua voz embargou conforme as lembranças foram surgindo. – Então ele desistiu? E a deixou carregar o peso de sua culpa? – Claro que não! – Por que você prometeu o campeonato a ele? – Meu pai começou a beber muito depois do julgamento. A única vez que ele parou foi quando fui para o Mundial de Fórmula Dois. Quando bati e tive que ficar um tempo no hospital, ele começou a beber novamente. – Você foi para o hospital? E o pai que a amava incondicionalmente não estava lá para você? Lágrimas brotaram em seus olhos, mas ela se recusou a deixá-las cair. Em seus momentos mais sombrios, mais dolorosos, depois de perder o bebê, ela fez a si mesma a mesma pergunta. – Independentemente do que você quiser provar, Marco, faça isso sem ser um completo idiota. – Você contratou outro advogado para recorrer? – É claro que sim. Ele... Meu pai morreu antes do segundo julgamento. Seu olhar se suavizou. – Como ele morreu? – Ele jogou seu carro de uma ponte perto da nossa casa. – A dor cobriu suas palavras. – Todo mundo acha que ele fez isso porque era culpado. Ele estava apenas... Devastado. – E você se sente culpada por isso? – Se eu não tivesse me envolvido com Derek, eu teria ganhado um campeonato antes. Talvez isso salvasse meu pai... – A vida é sua. Você não pode vivê-la para outra pessoa. Nem mesmo seu pai. – Quem está fazendo o papel de psicanalista agora? Sua sobrancelha se ergueu. – Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Sasha tentou conter a onda de culpa que se erguia dentro dela. Após o julgamento ela sugeriu que seu pai não fosse às suas corridas, porque ela o via deslizar mais profundamente em depressão depois de cada uma. – O que quer que ele fosse, ele não era uma fraude. E eu pretendo honrar a sua memória. Marco se levantou da espreguiçadeira, completamente alheio à sua beleza masculina pura e ao efeito que teve sobre suas emoções emaranhadas. Sasha queria enterrar-se no casulo morno de seus braços. Mas ela se forçou a ficar onde estava. – Venha aqui. Ela balançou a cabeça. – Não, eu não estou gostando muito de você agora. Seu sorriso era zombeteiro. – Isso não é verdade. Você não consegue tirar seus olhos de mim. Assim como eu não posso tirar os meus de você. – Marco... Ele segurou seu queixo e levantou seu rosto. – Você fez sua promessa por culpa... – Não, eu quero ganhar o Mundial. – Às vezes, o melhor negócio é deixar para lá. – Eu não pretendo. Portanto, não fique no meu caminho. – Determinação é uma qualidade que eu admiro, querida. Mas lembre-se de que não vou tolerar nada no caminho dos meus desejos. Puxando-a firmemente em seus braços, ele a fez esquecer-se de tudo, exceto dele. Incluindo o fato de que ele jamais acreditaria na inocência de seu pai. MARCO FOI às duas corridas seguintes, viajando da Espanha, onde Rafael ainda estava em coma. Quando ela venceu no Japão, ele levou toda a equipe para comemorar, depois levou Sasha para seu apartamento para uma celebração particular. Depois de um início complicado, ela garantiu na Coreia mais uma vitória. Mas um olhar para a expressão tensa de Marco, depois da conferência da imprensa, mostrou que não haveria celebrações daquela vez. – Marco? – Vamos embora. Agora. Ele a levou do circuito de Yeongam em seu helicóptero, seus dedos possessivos tensos sobre os dela durante todo o voo por uma deslumbrante praia nos arredores da cidade de Seul, onde ele começou a retirar sua roupa de corrida. – Você sabe que essa sua atitude de me arrastar assim na frente da equipe deixou nossa situação clara, não é? – perguntou ela. Ele afastou um cacho úmido de sua bochecha e estudou seu rosto. – Isso incomoda você? Ela pensou brevemente no assunto. – Havia especulação mesmo antes de estarmos juntos. Ele se afastou um pouco. – Isto não responde à minha pergunta. Eles sabiam que eu era um bom piloto antes de começar a dormir com você. Eles simplesmente não queriam reconhecer por causa de quem eu sou. Eu só me importo com o que pensam de mim como piloto. O que pensam de mim, pessoalmente, não importa. Nunca importou. – Você é uma lutadora – disse ele com uma expressão reflexiva. – Eu tive que lutar por aquilo que consegui. – Ela lançou um olhar divertido a ele. – Como você bem sabe. Quando ele não sorriu de volta, uma nuvem apareceu no horizonte da sua neblina feliz. – Você se incomoda que eu não me importe com o que as outras pessoas pensam sobre mim? – A obstinação tem o seu lugar. – Eu sinto um porém em algum lugar. – Perseguir um único sonho é arriscado. Quando ele lhe for tirado, você não terá mais nada. – Quando? Não se? Você está tentando me dizer alguma coisa? – Nada dura para sempre. – Você deve estar sob o efeito do jetlag, porque está muito enigmático comigo. Estou há três corridas de garantir o Mundial de Construtores para você. A não ser que eu não termine mais nenhuma corrida e nosso rival mais próximo ganhe todas elas, estamos praticamente conseguindo. Ele saiu da cama e vestiu sua cueca, enviando um arrepio de desconforto por sua espinha. – Não tem nada garantido. Sua ansiedade aumentou. – Chega. O que está acontecendo, Marco? Marco andou até o balde de prata com um espumante, encheu uma taça e trouxe de volta para ela. Colocou um uísque para ele e bebeu de uma só vez. Ele bateu o copo e girou em sua direção. – Madre de Dios, você quase bateu hoje! Seus dedos se apertaram em torno da haste delicada de sua taça. O carro dela tinha parado no início da corrida, fazendo-a lutar para manter a pole position. Seus rivais não hesitaram em tentar tirar proveito da situação. Ela tocou pneus com alguns carros e quase perdeu a asa dianteira. – Eu estive em uma situação complicada. Eu lidei com isso. – Ela olhou para ele. – Você estava preocupado? – Que minha amante acabaria em uma pilha de metal amassado assim como o meu irmão há poucas semanas? O que você acha? – grunhiu ele. Ela tremeu com a dureza em seu tom de voz, mesmo quando uma parte secreta se emocionasse por ele estar preocupado. – Eu sei o que estou fazendo, Marco. Eu fiz isso quase toda a minha vida. – Rafael sabia o que estava fazendo também. Olhe onde ele foi parar. Você não pode fazê-lo para sempre. Você sabe, não é? Sasha deliberadamente evitava quaisquer pensamentos sobre o futuro. Até o final da temporada ela não pensaria nisso. Se por algum puro golpe de má sorte, ela perdesse o Mundial de Construtores, ela estaria desempregada. Se ela ganhasse, seu futuro profissional estaria assegurado por mais um ano. Mas e o seu futuro pessoal? A realidade era que tinha caído na cama de Marco esperando pouco mais de um caso de uma noite. Mas a cada dia que passava ela estava sendo consumida pela magia que experimentava. Sem nenhuma preocupação com o futuro... – Sim – sussurrou ela finalmente. – Sei que nada dura para sempre. – Bueno – respirou ele, como se a resposta lhe satisfizesse. – Você vai beber isso? Depois de assistir você quase bater, sinto uma necessidade urgente de reafirmar a vida com você novamente. Repetidamente. Ela passou a taça a ele e abriu os braços. Depois de uma sequência de orgasmos de abalar a alma, ela ficou tensa. – Marco! – O quê? – Nós não... Nós nos esquecemos... Ela começou a freneticamente fazer cálculos de datas. – Dios. Por favor, me diga que você está tomando pílula – murmurou ele. Sua voz era um som engasgado. Tranquilizada com as datas, ela balançou a cabeça, em seguida, notou sua palidez. – Ei, está tudo bem. Mesmo que a pílula não funcione, é o momento errado do mês. – Você tem certeza? – perguntou ele. Franzindo a testa, Sasha colocou uma mão em seu rosto, que estava frio e úmido. – Tenho certeza. Relaxe. MARCO SE afastou de Sasha, contra o seu protesto gutural quando ele saiu da cama. Puxando um roupão, ele entrou em seu escritório. Seu laptop estava sobre a mesa, as pastas dispostas ordenadamente por seu assistente. Atirou-se no sofá de couro e passou a mão pelo rosto. Ele não queria perder a calma com Sasha como fez antes. Mas vendo-a quase bater o deixou encurralado de medo e raiva, e ele não foi capaz de ignorar. Agora, sua perda de controle o fez esquecer sua única regra de vida: contracepção. Sempre. Ele não tinha deslizado uma vez em dez anos. Até esta noite. Graças a Deus, Sasha era contra acidentalmente conceber um filho como ele... Tomando as rédeas do seu controle, que parecia estar indo embora, ele caminhou até sua mesa e pegou uma pasta. Um pedaço de culpa aumentou dentro dele, mas ele o anulou. Basta. Ele fez o que precisava ser feito. Ele se recusava a se sentir culpado por proteger o que era importante para ele. Nada importava, exceto manter a sua família segura. Ele pegou o telefone e ligou para os médicos de seu irmão. Uma vez que ele tinha sido informado sobre o quadro de Rafael, ele fez outra chamada. Quinze minutos depois, ele bateu com a tampa do seu laptop e se afastou da mesa, em paz com a sua decisão. Sentindo um senso de retidão, ele voltou para o quarto e deslizou para a cama, seu desejo por Sasha superava a necessidade de deixá-la descansar. Com um suave murmúrio ela o abraçou. O senso de retidão aumentou, fazendo sua cabeça girar. – Senti sua falta. Onde você esteve? Outra onda de culpa o atingiu, mais do que antes. Inalou seu perfume sedutor, afastando o sentimento perturbador. – Eu precisava cuidar de algo. – Inclinando a cabeça, ele colocou seus lábios contra a pele macia do pescoço dela. Seu corpo se agitou, transmitindo sua mensagem persistente. – Hum. E você sentiu minha falta? – murmurou ela. – Sí. – Sua voz surgiu. – Está tudo resolvido. CAPÍTULO 10 SASHA ASSISTIU Marco virar a página de seu jornal, a carranca de antes havia se suavizado novamente. Observá-lo se tornou uma espécie de prazer não tão secreto nas últimas semanas. Como se sentisse seu olhar, seus olhos se encontraram por cima do jornal. – Você quer voltar para a cama? Ele riu de sua sacudida de cabeça pouco convincente. Os restos do café da manhã estavam espalhados sobre a mesa, há muito esquecidos conforme se deleitavam com o sol sul-coreano. – Eu não sabia que você podia ler coreano – disse ela, ansiosa por algo para destilar o calor sufocante do desejo que nunca saía da superfície. Marco sorriu e dobrou o jornal. – É japonês. Nunca dominei completamente o coreano. – Uau. Você está admitindo outra falha? Chocante! Ele deu de ombros. – Foi uma escolha de qual era o mais útil. Ela torceu o nariz. – Útil? Você nunca faz nada apenas por prazer? Seu olhar divertido a fez corar. – Além de sexo – murmurou ela. – Sexo com você é todo o prazer que anseio, mi corazón. – Você tem outros interesses, não é? Todo mundo tem. Sua risada gutural fez o pulso dela bater com mais força. – O que você tem em mente? – Algo cultural. Uma exposição. Algo diferente... Perturbada, ela acenou com a mão em direção à cama desarrumada. Inclinando-se, ele deslizou a mão ao redor de sua nuca e a puxou para um beijo quente. – Eu prefiro passar o dia com você na cama. Mas se você insiste... – Insisto. Sasha acordou aquela manhã com um profundo medo em seu coração. Ela estava correndo o risco de desenvolver sentimentos por Marco de Cervantes. Sentimentos que ela não ousava nomear. Sentimentos que ameaçavam dominá-la quanto mais tempo ela passasse trancada em seu abraço. Ele também acreditava que seu pai era culpado de fraude, uma pequena voz acrescentou. Uma dor aguda a perfurou. Ela não tinha sido capaz de levantar o assunto com Marco desde aquela noite em Cingapura. – Você tem 15 minutos para ficar pronta. Ela despertou para encontrar Marco encerrando uma ligação. – Pronta para o quê? Ele jogou o celular em cima da mesa. Faíscas de prazer iluminaram sua pele. – Você quer cultura, mi encantadora. A Coreia aguarda você. – AH, MEU Deus – sussurrou Sasha enquanto seus pés descalços tocavam as pedras molhadas que levavam ao templo antigo do lago, incapaz de afastar o olhar da vista magnífica diante dela. – Percebi que não gosto que você use essa expressão, a menos que ela se relacione diretamente a mim, pequeña – reclamou Marco, soltando sua mão quando ela saltou para a pedra seguinte. – Você está com ciúmes? – perguntou ela com uma risada. Ele levantou uma sobrancelha zombeteira. – Da sua adoração insana por templos e monumentos antigos? Não mesmo. Mas eu sugiro que você altere a sua fraseologia, porque cada vez que você diz “Ah, meu Deus” naquele tom sexy, eu quero subir em você na superfície mais próxima. – Não. Ela se afastou com relutância. Ele franziu o cenho. – Qué diablos? – Shh, estamos em um lugar sagrado – sussurrou ela. – Nada de beijo. Ou palavrões. Ela riu abafado e pulou o resto das pedras até chegar à frente do templo. – Uau. – Uau dá para aceitar. – Você vai ter que aceitar. Não tenho outras palavras. De onde estavam, o pequeno templo parecia flutuar na água. À luz do sol que morria, enormes nenúfares brilhavam. – É tudo tão bonito. Deslumbrante. – Com passos reverentes Sasha se aproximou das portas do templo. – Podemos entrar? Ele acenou com a cabeça. – Não é normalmente aberto aos visitantes. Mas nesta ocasião... Espontaneamente, um caroço subiu para sua garganta. – Obrigada. – De nada. Vá, explore o quanto quiser. Com pernas que tremiam e um coração que martelava, Sasha fez uma pausa para enxugar os pés, em seguida, entrou no templo. Como todo lugar em que Marco a levava, o templo era de tirar o fôlego. Os pergaminhos shoji que revestiam as paredes pareciam de papel fino e frágil, fazendo-a prender a respiração para não danificar nada. Examinando um, ela desejava ter um tradutor para explicar os símbolos a ela. – “Paz através da sabedoria. Sabedoria através da perspicácia” – murmurou Marco atrás dela. – Este templo era originalmente japonês. Ele mudou de dono algumas vezes antes de os monges Shaolin assumirem no século IV. – Deixa tudo em perspectiva, não é? – É mesmo? – Você disse que nada dura para sempre. Este templo revela que algumas coisas duram. Por um longo momento, ele não respondeu. – Vamos, é hora de sair. Romano vai pensar que você me sequestrou. – O quê? Pequena deste jeito? Ele riu. – Romano sabe que você é faixa preta em jiu-jitsu. – Eu ainda pensaria duas vezes antes de chutar um homem do tamanho dele. Então, você está seguro comigo. – Gracias. Ele enfiou os dedos nos dela, então sinalizou a Romano para trazer o carro. Ela esperou até que eles estivessem no carro antes de se inclinar e colar seus lábios nos dele. – Obrigada por me mostrar Seul. – O tour ainda não acabou. Tenho uma última surpresa para você. – É mesmo? – A noite está apenas começando. Eu conheço um pequeno lugar onde, se você for realmente gentil para os funcionários, eles criam um prato em sua homenagem. Permita-me mostrar para você? Ele pegou e beijou sua mão. Sasha experimentou aquele medo irracional de novo. Só que daquela vez era dez vezes pior. Seu coração martelava e seu pulso disparou por suas veias. Não. Ela não estava se apaixonando por Marco de Cervantes. Porque isso seria estúpido. E imprudente. Os lábios dele acariciaram a pele sensível do seu pulso. No seu suspiro impotente, ele sorriu. – Pensando bem, uma refeição com um chef famoso na praia soa muito atraente. Resistir à tentação era quase impossível. Mas Sasha se forçou a falar. – Não é justo mostrar a oportunidade de ter um prato com o meu nome e depois retirá-la. Agora está na minha lista de desejos. – Eu só tenho uma coisa na minha lista de desejos. – Você é insaciável – respirou ela, incapaz de parar de gemer quando o polegar dele passou sobre seu mamilo. Inclinando a cabeça, ele trouxe seus lábios para perto dela. – Só por você que eu tenho este desejo – murmurou ele densamente. – E, por favor, não me negue. Ele se aproximou até que suas respirações se misturassem. – E o jantar... O prato...? – sussurrou ela. – Iremos lá – prometeu ele. – Só que... Mais tarde. Com um gemido abafado, ele se aproximou mais, selando-os em um casulo quente de desejo febril. O casulo durou todo o caminho durante seu tórrido ato de amor na cama de Marco e no chuveiro, onde ele explorou cada centímetro de seu corpo, como se a visse pela primeira vez. O telefone tocou enquanto se vestiam para o jantar. No início, ela pensou que era uma ligação de negócios. Então ela notou sua palidez. Seu casulo tinha sido quebrado. – Quem era? – perguntou ela, mesmo que parte dela soubesse a resposta. – Era do hospital. Rafael sofreu outra hemorragia. – O QUE diabos você está fazendo aí embaixo? Consumindo o óleo do motor? Sasha congelou ao ouvir a voz que não ouvia há seis longas noites sem dormir e se forçou a respirar. – Dê-me a chave inglesa. – A equipe não lhe falou que não é permitido ninguém aqui? A dura censura na voz dele machucou seus nervos. – Eles provavelmente tentaram. – Você não ouviu, não é? – Eu não falo espanhol, lembra? Você vai me dar a chave inglesa ou não? Seus pés se moveram e uma chave apareceu por baixo do corpo do Berlinetta de 1954. – Não esta. A retrátil. – Obrigada. Ela enganchou a chave no parafuso e puxou. Nada aconteceu. – Vamos, saia daí. – Não. – Sasha... Sua voz tinha mais do que um toque de aviso. Sua boca se apertou. Ela não queria ver seu rosto, não queria sentir seu cheiro. Na verdade, ela queria negar tudo que tivesse a ver com Marco. Negar que cada átomo de seu ser ansiava por atirar-se nos braços dele. – Precisamos conversar. Seu coração se apertou. – Então fale. Uma jaqueta de corte fino pousou a poucos metros de sua cabeça, seguida por Marco. – O que você está fazendo? Ele a ignorou. – Dê-me a chave e afaste-se. – Por quê? Por que você acha que é maior e mais forte do que eu? – Eu sou maior e mais forte do que você. – Porco sexista. – Verdade simples. – Vejo que ainda vivem na Idade das Trevas. – Só quando se trata de proteger o que é meu. Percebendo que ele não estava indo embora, ela deu de ombros. – Tudo bem. Divirta-se. – Não há argumentos, querida? É assim que funciona entre nós geralmente, não é? Eu digo alguma coisa, então você argumenta até a morte e eu a beijo para que fique quieta. – Eu não argumento para ter seus beijos, se é isso que você está insinuando. Na verdade, eu adoraria que me deixasse em paz – sugeriu ela. – Você conseguiu isso com bastante sucesso por quase uma semana. Silenciosamente, ele estendeu a mão. Com alguns toques firmes, ele soltou o parafuso. – Exibido – brincou ela. – O que você quer? – Eu pensei que você iria querer uma atualização sobre Rafael. Seu olhar ficou intenso na dela. – Eu pensei que não pudesse. – Se eu ainda acreditasse que você e ele estavam envolvidos, eu não teria levado você para a minha cama. – Certo. Então, como ele está? – Ele está melhor. Os médicos conseguiram parar o sangramento. Eles esperam que ele acorde a qualquer momento. – Esta é uma ótima notícia. – Sí. A intensidade a deixou apreensiva. Sem aviso, seu olhar caiu sobre os lábios dele. Tardiamente Sasha percebeu que ela estava se lambendo. Parou. Mas o espaço apertado debaixo do carro tornou-se menor. O ar ficou mais rarefeito. – Você não precisava voltar aqui para me dizer isso. Um simples telefonema teria bastado. Eu vou arrumar minhas coisas e sair esta tarde. Ele endureceu. – Por que você faria isso? – Rafael vai precisar de você quando voltar para casa. Eu não posso estar aqui. – É claro que você pode. Eu quero que fique aqui. – Essa não foi a impressão que tive nos seus seis dias de silêncio. Ele prendeu a respiração e, pela primeira vez, ela percebeu as linhas de tensão ao redor dos seus olhos. – Eu não esperava ficar longe por tanto tempo. Desculpe. Quando sua boca se abriu em surpresa com o pedido de desculpas, ele fez uma careta. – Eu sei. Eu devo estar perdendo o jeito. – Como você entrou aqui? A porta está trancada. – Rosario me deixou entrar. Ela reconhece a loucura quando vê. Então... Vinte e cinco carros antigos trancados em uma garagem? Comente. Ele respirou fundo. – Eu me recuso a ter esta conversa debaixo de um carro, com graxa pingando em mim. – Devia ter pensado nisso antes de se arrastar até aqui. – Dios, eu senti falta do seu jeito insuportável. – Ele fez uma pausa. – Esta é a sua chance de me dizer que sentiu também. A necessidade gritante de fazer exatamente isso a assustava. – Você tem certeza que não quer que eu vá embora? Eu posso ir para casa por alguns dias, antes que a equipe saia para Abu Dhabi na próxima semana. Talvez seja melhor assim. – E talvez você precise se calar. Só por um maldito momento – rosnou ele, em seguida, agarrou seu braço e a abraçou. O calor de sua boca devorava a dela. Seus dedos agarraram sua nuca, deleitando-se com a pele lisa. De boa vontade, ela deixou a boca aberta, permitindo que a língua dele invadisse e deslizasse deliciosamente contra a dela. Sasha queria estar perto. Mais perto. Física e emocionalmente. Porque... Porque... Infinitamente feliz, ela explorou a grande extensão de seus ombros. Contra a sua barriga, ela sentiu a força de sua ereção. – Você percebe que nós estamos debaixo de um carro, não é? – perguntou ela com voz rouca. – É a única coisa que me impede de puxá-la para cima de mim e me enterrar dentro de você. Diga-me que sentiu minha falta. – Senti sua falta. – Bueno. – Ele a beijou mais uma vez. No momento em que ele a libertou e a puxou de debaixo do carro, seu cérebro havia se tornado uma extensão inútil de seu corpo em busca apenas do prazer que ele podia proporcionar. Quando ele a despiu e a levou até a porta de um Rolls-Royce de 1938, ela era uma escrava voluntária, pronta para satisfazer todos os seus desejos. – Você não tem ideia de há quanto tempo eu queria fazer isto. – O quê? Sua boca mergulhou e se deteve entre o ombro e o pescoço, onde seu pulso trovejava freneticamente. O sangue subiu. Quando os dentes dele roçaram sua pele, ela gritou. O erotismo era tão intenso que o calor líquido escorria entre suas pernas, onde ela pulsava. Por fim, satisfeito, ele a empurrou de costas no assento do carro. Ele a seguiu, caindo em seus braços, fazendo-a se sentir delicada e cuidada. Como se ela fosse preciosa. O que era bobagem. Para Marco, era apenas sexo. Mas para ela... – Eu pensei que você me quisesse por cima. – Daqui a pouco, mi tentación. Temos um longo caminho a percorrer. Agora, não se mova. Ele segurou seus seios, brincando com seus mamilos, torturando-a por tanto tempo que ela se contorceu de prazer. – Eu disse que para não se mover. – Ele trincou os dentes com o tesão estampado em seu rosto. – Você espera que eu fique aqui como uma prostituta barata? – Nunca fui agraciado com o atendimento de uma prostituta barata, não posso responder isso. Mas se você não parar de me atormentar com o seu corpo, eu não serei responsável por minhas ações. – Ah, agora você está me ameaçando. – Dios, mulher. Sua boca... – Você quer beijá-la? Sua cabeça se levantou do assento em busca da boca dele. Marco se afastou. – É uma arma de destruição do homem. Ela gemeu. – Você sempre pode me beijar para me calar. Ele resmungou algo baixo e conciso. E então a beijou. Um longo tempo depois, estendida ao lado de Marco no banco de trás do carro, ela finalmente admitiu seus sentimentos. Ela estava feliz. Era uma felicidade fadada ao desastre e a uma curta duração. Olhando para baixo, ela notou que a carteira de Marco caiu do carro. Espionando uma imagem que caiu, ela pegou a carteira e olhou mais de perto. O cabelo comprido e rebelde era desconhecido, assim como o fundo. Mas a determinação e o orgulho feroz naqueles olhos castanhos pareciam familiares. – Sua foto é adorável. Agora eu sei como seus filhos serão. – Ela tentou não deixar que a dor do pensamento surgisse em seu rosto. – Aposto que eles vão ser pilotos como você e Rafael. Marco endureceu, seus olhos ficaram frios e desolados. – Não. Não haverá crianças. A certeza dura em sua voz gelou sua alma. – Por que você diz isso? Por um momento longo, interminável, ele não respondeu. Então ele pegou a carteira. Alcançando a sua calça, ele abriu a porta do carro, saiu e a puxou. – Venha comigo. Apesar de já sentir falta dos seus braços ao redor, ela se sentou. – Para onde vamos? O olhar em seus olhos ficou mais sombrio. – Não muito longe. Coloque suas roupas. Eu não quero me distrair. Ela queria distraí-lo, se isso significasse que ele não iria parecer tão frio e ameaçador. Mas ela fez o que ele mandou. Marco a levou para o outro lado da garagem. Introduziu um código de segurança, abriu a porta e entrou, puxando-a. Com um clique do interruptor, a luz banhava o quarto. Sasha olhou em volta e engasgou com o conteúdo dos armários de vidro. – São todos seus? – sussurrou ela. Andando, ela abriu o primeiro armário e ergueu o primeiro troféu. – Sí. – A voz de Marco estava rouca de emoção. – Comecei a correr quando tinha 5 anos. Havia mais troféus do que ela podia contar, enchendo quatro armários enormes. – Eu sei. Ele caminhou até o armário mais distante e pegou o troféu solitário que estava sozinho. – Este foi o meu último troféu. – Você nunca me disse por que desistiu de correr – murmurou ela. Quando ele se esticou ainda mais, ela foi até ele e segurou seus punhos cerrados. – Diga-me o que aconteceu. Seus olhos perfuraram os dela, como se a julgassem para ver se ele podia confiar a ela sua dor. Depois de uma eternidade, sua mão se afrouxou o suficiente para segurar a dela. – Eu tive o meu primeiro contrato como piloto quando tinha 18 anos. Aos 21 anos eu ganhei dois campeonatos e conquistei um diploma em engenharia. Eu estava na lista de cada equipe e tinha a opção de escolher para qual delas iria pilotar. Uma semana depois de entrar para a equipe dos meus sonhos, conheci Angelique Santoro. Eu tinha 24 anos e tolamente acreditava em amor à primeira vista. Ela era... Diferente. Inteligente, sexy, excitante e muito mais madura do que seus 25 anos. Tudo o que eu queria era correr e estar com ela. Angelique me convenceu a demitir meu empresário e colocá-la em seu lugar. Seis meses depois ficamos noivos e ela engravidou. Um arrepio de medo percorreu Sasha. Profundamente dentro de seu peito um nó de dor, enterrada, mas não esquecida, se contraiu. Não haverá crianças. – Você não queria o bebê? Ele riu. Um som áspero, torturado, que contorceu seu coração. – Eu queria mais do que eu jamais quis alguma coisa na minha vida. Sasha fez uma careta. – Mas... O que aconteceu? – Eu reorganizei toda a minha vida em torno da promessa de uma família. Eu projetei a pista da Casa de Leon para que eu pudesse treinar lá, em vez de ir embora para treinar em outras pistas. Meus pais se mudaram para cá. Minha mãe estava em êxtase para ser avó. – Angelique não estava satisfeita? – Ela concordava plenamente com tudo. Até que bati. Sua mão apertou a dele. – Eu não entendi. O acidente foi grave, sim, mas nada que você não pudesse se recuperar. – Eu fiquei em coma por nove dias. A equipe contratou alguém para me substituir quando os médicos disseram aos meus pais e Angelique que era improvável que eu voltasse a correr novamente. – Eles devem ter ficado devastados por você. – Meus pais ficaram. A tristeza tocou sua alma. – Sinto muito. Eu não posso imaginar o que você deve ter passado. Ele deslizou um dedo sob seu queixo. – Nem eu quero que você saiba. Mas isso... – Ele a puxou para mais perto. – Isso ajuda. Com um sorriso, ela ergueu a boca até a dele. – Estou contente. O beijo foi suave, um bálsamo sobre suas revelações turbulentas. Quando se separaram, ela olhou novamente para os troféus. – É por isso que você não deixa ninguém vir aqui? Por que lembra que sua carreira de piloto acabou? – Quando eu aceitei que essa parte da minha vida tinha acabado, eu a tranquei. Ele a puxou para fora do gabinete. – Espere. Você disse que seus pais ficaram devastados. E Angelique? Ele endureceu novamente. – Quando eu fiquei destinado a criar carros, em vez de pilotá-los, ela perdeu o interesse – disse ele, mas seu tom era oblíquo. – Isso não é tudo, não é? A dor tomou conta de seu rosto antes que ele pudesse esconder. – Antes do acidente, Angelique estava com quase três meses de gravidez. Quando eu acordei do coma, ela não estava mais grávida. O suspiro horrorizado de Sasha ecoou pela sala. – Ela fez um aborto? Seus olhos se voltaram quase pretos de dor. – Sí. Dois meses depois, ela se casou com o chefe da minha antiga equipe. Uma onda de terror a invadiu. – Tem mesmo certeza de que ela estava grávida, antes de tudo? Os movimentos de Marco ficaram estranhamente espasmódicos conforme ele pegou sua carteira. Atrás da foto, um pequeno quadrado cinzento deslizou para fora. À luz da sala de troféus, Sasha viu o contorno de um corpo minúsculo em um exame de prénatal. Lágrimas se reuniram em seus olhos e caíram antes que pudesse detê-las. Com as mãos trêmulas, ela tirou a foto dele, a lembrança de sua própria perda marcou seu coração tão drasticamente que ela não conseguia respirar. – Eu estava lá no dia que este exame foi feito. A questão era que o tempo todo eu suspeitava que Angelique fosse capaz disso. Ela era extremamente cruel, chegando a ponto da obsessão. Mas desde que ela canalizou tudo isso para ser minha empresária, eu escolhi ver isso como algo mais. – Amor? – sugeriu ela com voz rouca. Sua mandíbula se apertou. – Eu me ceguei para suas verdadeiras intenções. Minha mãe tentou me avisar, mas eu não quis ouvi-la. Eu quase a tirei da minha vida por causa de Angelique. – Ele respirou fundo. – Eu perdi o meu filho... Ela perdeu seu neto... Porque eu escolhi enterrar a cabeça na areia. Ela ficou arrasada e eu não acho que ela realmente superou o estrago que causei para a nossa família. – Por que você guarda isso? – Eu falhei em proteger meu filho. Isso me faz lembrar de nunca deixar minha família novamente. CAPÍTULO 11 MARCO outra vez no dia seguinte e não voltou por mais dois. Quando voltou, Sasha o encontrou no corredor. Ele a arrastou para o seu escritório e começou a beijá-la com uma necessidade brutal. Sua confissão na garagem tinha lhe proporcionado um vislumbre do homem que era. Ela naquele momento realmente entendia por que ele tão PARTIU ferozmente protegia Rafael. E por que ela não podia descobrir a verdadeira profundidade de seus sentimentos. Respirando fundo, ela se forçou a dizer o que não conseguiu por telefone na noite anterior. – Marco, acho que eu deveria ir embora. Você pode ficar em Barcelona e não ficar viajando para cá para me ver. Seu rosto encobriu uma dura expressão. – O que diabos você está falando? – Ele a puxou em seus braços e a beijou novamente. – Você não vai a lugar nenhum. Ela tentou se afastar, mas ele a segurou com facilidade. – Mas... Seu sorriso estava tenso de cansaço. – Rafael acordou brevemente na noite passada. Só por alguns minutos. Mas ele parecia lúcido e me reconheceu. O alívio em sua voz era palpável. Sasha sorriu. – Estou contente. Mas eu acho que é ainda mais um motivo para você ficar em Barcelona. E se ele acordar de novo, quando você não estiver lá? Deixando-a livre, ele enfiou a mão pelo seu cabelo. – Ele foi transferido para uma suíte privada e eu configurei videoconferência, por isso tenho uma transmissão ao vivo de seu quarto. Nada vai acontecer com ele sem o meu conhecimento. Eu também contratei um pessoal extra 24 horas para quando ele chegar em casa, inclusive aquela enfermeira que foi demitida do hospital em Budapeste. Então, veja você, não sou tão idiota assim. – Eu sei que você não é. Mas está se dividindo em dois quando na verdade é Rafael que mais precisa de você agora. – Talvez eu queira colocar as minhas necessidades à frente de Rafael pela primeira vez na vida. – Ele levantou as mãos. – O que exatamente você quer de mim, Sasha? Ela não estava preparada para a pergunta. Mas ela se perguntava a mesma coisa. – O que você quer de mim? Qual é a verdadeira razão pela qual quer que eu fique aqui? Estou aqui apenas para que você possa ter relações sexuais na hora que quiser ou é algo mais...? Ela vacilou, com muito medo de expressar as palavras que brotavam em sua mente. Seus olhos se estreitaram. – Não creio que esta seja uma boa hora para uma conversa sobre os rumos deste relacionamento. – Há sempre uma hora certa para isso? Aliás, você não entra em relacionamentos, lembra? Ele tirou a jaqueta e a colocou em uma cadeira próxima. – Eu quero você aqui comigo. Não é o suficiente? – murmurou ele. Outra pergunta para a qual ela não estava preparada. Não porque não soubesse a resposta, mas porque sabia que a resposta era não. Querer não era mais suficiente. Ela estava apaixonada por Marco: pelo garoto cujo coração havia sido partido por uma mulher fria e o homem formidável que amava seu filho que não havia nascido tão completamente que fechou o coração para qualquer emoção. Ela o amava. E isso a assustava. O desejo de recuar a golpeou. A óbvia relutância de Marco para discutir a relação a assustava. Mas olhando para ele, sabia que não podia partir. Ainda não. Não quando ele ainda estava tão preocupado com Rafael. – Eu vou ficar – disse ela. Seus olhos refletiram o alívio. – Gracias. Ele a puxou para seus braços. – Não mencione ir embora novamente. Mesmo o simples pensamento me faz querer vomitar. Ela se odiava pela emoção de prazer que percorreu seu corpo. – Foi para o seu próprio bem, mesmo que você não queira vê-lo. E não apenas pelo bem de Marco. Ela precisava encontrar forças para ir embora. Porque quanto mais tempo ela ficava, mais corria o risco de perder tudo. – Se você quiser sugestões sobre o que é bom para mim, eu tenho vários ideias. Ele parou, amaldiçoando quando seu telefone começou a tocar. – Antes que comece a reclamar, vou para a garagem. Seu Impala de 1965 precisa de polimento. – Ele também tem bancos da frente muito largos, se bem me lembro. O desejo a debilitou. – Marco... – Tudo bem. Mas antes que você vá... Ele juntou seus lábios nos dela e começou a mostrar o quanto era tola sua decisão de ir embora. Sasha sabia que seu coração estava em sérios apuros. MESMO QUE ela tenha mudado de ideia sobre ir embora, Marco sentiu um afastamento em Sasha que ele não conseguia ignorar. Era quase como se o iminente aparecimento de Rafael tivesse causado uma tensão entre eles. Mas por quê? Se não havia nada entre eles, Sasha deveria estar feliz porque Rafael estava se recuperando. A menos que...? O pensamento de que Sasha tinha sentimentos por Rafael enviou uma onda de raiva e ciúme. Não, ele descartou a ideia. Ela o ouviu desnudar sua alma, o segurou em seus braços enquanto ele revivia a traição de Angelique. Sasha derramou lágrimas por ele. Marco se recusava a acreditar que a dor que tinha visto em seus olhos não era real. Mas ele não podia negar que havia algo errado. Somente quando fizeram amor, quando ele a abraçou, sentiu a verdadeira Sasha de volta. Mesmo naquele momento, poucas horas antes de ela partir para Londres, ela se trancou na garagem, teimando em restaurar seus carros antigos. Enquanto ele estava às voltas com a confusão e o desejo implacável que sentia por ela. O que sentia por Sasha era diferente... Mais profundo... Mais puro... Do que o que já havia sentido na vida. Marco endureceu, sua respiração travou enquanto tentava se familiarizar com seus sentimentos. Mas quanto mais ele tentava desvendar o sentimento desconhecido, mais caótico e frenético ele ficava. DURANTE TODO o caminho até sua suíte, Sasha se forçou a respirar. Apesar do nódulo frio de pedra no estômago, ela precisava fazer aquilo. Ela entrou na suíte e ouviu o chuveiro ligado. Sem parar, ela atravessou o cômodo e abriu a porta. A água escorria pelo corpo nu de Marco. A necessidade que sentiu ameaçou enfraquecer sua determinação. Demorou alguns segundos até que pudesse falar. – Marco, eu... Eu decidi... Não vou voltar aqui depois da próxima corrida. Ele girou, sua mandíbula se contraiu. – Eu pensei que nós já tivéssemos conversado sobre isto. – Eu tentei falar. Você estipulou as regras. Ele pegou uma toalha e saiu do chuveiro. – Você cronometrou perfeitamente, não foi? – Desculpe? – Sua estratégia de saída. No começo eu não queria acreditar, mas agora faz todo o sentido. Ela franziu a testa. – Todo o sentido... O que você está falando? – Pode deixar a pretensão de lado. Eu falei há 20 minutos com Raven Blass. Seus olhos se arregalaram de surpresa. – Raven? Por quê? – Ela está em Barcelona. Ela quer ver Rafael. Eu dei a permissão ao hospital para deixá-la vê-lo, mas curiosamente ela estava mais preocupada com como você se sente sobre a sua visita. – Marco... – Aparentemente, você é muito territorialista com Rafael. Ela disse algo sobre o aviso que você deu a Rafael para ficar longe dela no dia do acidente. – Não foi isso... – Qual era o plano? Usar-me como um paliativo até que Rafael estivesse bem e voltar para ele? – Claro que não! – Você começou a ficar distante no momento em que eu disse que Rafael estava prestes a acordar. Bem, estou contente por ter sido útil. Mas se você tem planos com meu irmão, pode esquecê-los. Ele não gosta de mulheres usadas. Ela engoliu seu suspiro. Por um momento ele pareceu se arrepender de suas palavras, então sua expressão endureceu novamente. – Uau. Certo, acho que você já está convencido. – Estou falando sério, Sasha. Chegue perto de Rafael e eu vou esmagá-la como um inseto. Sentiu um peso esmagador no peito. – Eu suspeitava disso e vejo que estava certa. Rafael sempre virá em primeiro lugar com você, não importa o quanto diga que se coloca na frente. Eu só espero que não tenha que desistir de algo que você queira. Ele franziu o cenho. – Não há nada que eu queira mais do que minha família segura. – Bem, isso diz tudo, não é mesmo? Girando, apressou-se para sair do cômodo, amaldiçoando as lágrimas estúpidas que brotaram em seus olhos. Em seu quarto, ela pegou a mala e colocou seus pertences dentro. – O que você está fazendo? – Indo embora. Obviamente. – Seu voo não é nem daqui a quatro horas. – Ah, é? E daí? Você quer uma última transa em nome dos velhos tempos...? Os olhos dele escureceram de uma forma familiar, mesmo quando sua mandíbula se contraiu. Uma risada atordoada escapou. – Deixe-me ver se entendi. Você quer mais sexo comigo mesmo que eu seja uma mulher usada que você não deixará que seu irmão toque? – Não coloque dessa forma. – Sabe quando eu disse que você não era um idiota? Eu estava estupendamente errada! Você é o maior idiota do universo. Ela caminhou em direção à porta. – Sasha... – E pensar que eu me enganei achando que estava apaixonada por você. Não merece amor. E certamente não merece o meu! SASHA VOOU para casa após o GP da Índia, a um passo de ganhar o Mundial de Construtores. Voltar para casa pela primeira vez em meses era amargo. Olhar o ambiente familiar da casa em que ela havia crescido, a fazia querer chorar. Marco havia mostrado a ela que iria lutar até a morte para proteger sua família. E provou que para ele não valia a pena lutar por ela. O pensamento doeu mais do que podia suportar. Com a mão, enxugou as lágrimas. Ela se recusava a ficar mal por ele. Seu único objetivo naquele momento era terminar a temporada. Cansada, ela se arrastou até a cozinha e ligou a chaleira. A sra. Miller, sua vizinha, havia enviado uma mensagem para ela para informar que a geladeira estava totalmente abastecida. Sasha abriu a geladeira, sentiu o cheiro de queijo e seu estômago embrulhou. Ela quase não conseguiu chegar ao banheiro antes de vomitar. Enxaguando a boca, ela decidiu abrir mão do chá em favor do sono. Arrastando-se para o chuveiro, ela tomou um banho e caiu na cama. ELA SUSPEITAVA que o problema do estômago fosse algo da Índia e, assim como metade da equipe, não melhorou imediatamente, mas quando chegou ao Brasil três semanas e meia depois, estava em plena saúde. E a três pontos de garantir o campeonato. O GP de São Paulo foi vibrante e emocionante. Sasha bancou a covarde e se escondeu em seu quarto de hotel até o último minuto, para não esbarrar com Marco. Em Abu Dhabi ela recusou o convite para uma festa pós-corrida no iate dele. Com uma pontada aguda, ela percebeu que Marco estava certo quando disse que sua culpa quanto ao seu pai a tinha cegado para o fato de que ela não precisava provar para ninguém que era boa o suficiente. Nem precisava defender a integridade de Jack Fleming. Com a sua aproximação da equipe, ela descobriu que a maioria das pessoas se lembrava de Jack Fleming pelo grande piloto que ele havia sido. Primeiro, ela teria que passar pelas entrevistas com a imprensa antes e depois da corrida. Sasha viu Tom se dirigindo a ela enquanto colocava sua roupa de corrida. Ela estremeceu com a sensibilidade de seus seios com o aperto da roupa. Ela fez uma pausa e de repente começou a calcular datas loucamente. Entrou em pânico. – Você está bem? Você ficou pálida. Aqui, um pouco de água. Tom pegou um copo de água e entregou a ela. – É o calor – respondeu ela, colocando o copo de lado. – Estou bem – enfatizou ela enquanto ele continuava a olhá-la em preocupação. – Certo. Sua última entrevista é com a TV local. – Ele revirou os olhos. – É aquele que a entrevistou em Cingapura. Eu iria cortá-lo, mas como estamos em sua casa, não temos escolha. Não se preocupe. Se ele entrar em território proibido, eu o impeço. Ela finalmente conseguiu se lembrar das datas e deu um suspiro de alívio. Ela teve seu último breve período ainda pouco antes de deixar Leon. E seu ciclo era irregular. Sossegada, ela seguiu Tom e falou com os jornalistas. A corrida em si foi sem intercorrências. Com seus oito segundos de vantagem após as primeiras seis voltas, cruzou para a vitória, garantindo a volta mais rápida já feita no circuito de Interlagos. Ela conseguiu manter um sorriso estampado em seu rosto através de todas as celebrações e entrevistas que se seguiram, suspirando de alívio quando foi para sua última entrevista. – Não se preocupe, srta. Fleming. Vai dar tudo certo. A nota de insinceridade no sotaque do entrevistador deveria ter sido o seu primeiro aviso. As primeiras perguntas foram bem. Até que... – Como é a sensação de estar namorando o chefe da equipe? Você já teve alguma vantagem? Pelo canto do olho, viu Tom levantar de seu assento. Seu “sem comentários” o fez relaxar um pouco. – Depois de vencer o Mundial de Construtores, certamente o seu lugar para o próximo ano está garantido, certo? – Sem comentários. Ele deu de ombros. – E seu ex, Derek Mahoney? Você já ouviu falar que ele está retornando às corridas? Sasha ficou tensa. – Não, não ouvi. – Ele nos deu uma entrevista esta manhã. E mencionou algo muito interessante. Um pavor penetrou sua espinha. – Seja o que for, tenho certeza que não tem nada a ver comigo. – Pelo contrário, tem tudo a ver com você. Seu entrevistador esfregou o queixo de uma forma que provavelmente deveria fazê-lo parecer inteligente. – O sr. Mahoney afirma que estava grávida dele quando se separou e que você deliberadamente bateu para perder o bebê, porque você não queria que um filho dificultasse sua carreira. Qual é a sua resposta para isso? Tudo começou a girar ao redor dela. Vagamente, ouviu Tom gritar com o câmera para parar de filmar. Por dentro, ela estava congelada, com medo de se mover. O burburinho na sala ficou mais alto. Alguém agarrou seu braço e a levou para outro lugar. – Sasha... Eu... Deus, que bagunça – gaguejou Tom. – Você vai ficar bem? Eu preciso garantir que as imagens... – Por favor, vá. Eu... Eu vou ficar bem – conseguiu dizer através dos lábios congelados. Ele rapidamente se retirou e ela estava sozinha. Deixando cair a cabeça entre as coxas, ela tentou respirar uniformemente, desesperadamente desejando não desmaiar. A TV cantarolava no fundo, mas ela não tinha forças para andar para desligá-la. Deus, como Derek descobriu? Não que isso importasse mais. Seu segredo foi revelado. Lágrimas brotaram em seus olhos. Derek era baixo, mas ela não imaginava que fosse tanto. A porta se abriu e Marco entrou. Seu olhar se chocou com o dele e cada coisa que ela disse a si mesma durante as últimas três semanas foram por água abaixo. Ele havia emagrecido. A diferença no colarinho de sua camisa azul-clara mostrava mais de suas clavículas e o paletó estava frouxo. Mas ele continuava lindo e seu coração pulou de alegria ao vê-lo. – Eu preciso falar com você – disse ele tenso. Ela lambeu os lábios secos. – Eu... Eu preciso dizer a você... Como ela conseguiria? Ela não havia expressado sua dor. – O que é isto? – Ele se aproximou e pegou suas mãos. – Seja o que for, me diga. Eu posso lidar. Aquilo lhe deu um pouco de força. – Você promete? – Sí. Preciso dizer algumas coisas também, mi corazón. As coisas que eu disse em Leon... – Ele fez uma pausa e balançou a cabeça, com uma expressão de pesar em seus olhos. – Você estava certa. Sou um idiota. – Eu não... Eu não quis dizer aquilo, ela começou a confessar, mas seus olhos se desviaram para a TV. Lá, como um pesadelo cíclico, a entrevista estava sendo repetida. Marco seguiu seu olhar. Apenas a tempo de ouvir a maldita pergunta do entrevistador. – Não! É mentira. Não é, Sasha? Não é? – gritou ele, quando ela não podia falar. – Eu... Ele empalideceu conforme se afastou dela. – Marco, por favor, não foi assim. Ela finalmente encontrou sua voz. Porém já era tarde demais. Ele tinha se afastado mais, como se não pudesse suportar respirar o mesmo ar que ela. – Você quis correr sabendo que estava grávida? Insistiu ele, com a voz áspera. – Não no dia que Derek falou... – Mas você correu sabendo que estava grávida? – Eu suspeitava que estivesse... – Dios mío! – – Eu já tinha perdido o bebê no dia do acidente. Foi por isso que bati! Correr era a única coisa que eu sabia. Depois que o médico me disse que eu havia perdido o bebê, eu não sabia mais o que fazer. – Então você voltou em seu carro? Você nem sequer teve tempo de lamentar a perda de seu filho? – condenou ele. De alguma forma, ela encontrou forças para resistir e enfrentá-lo. – O médico disse que não foi minha culpa. A gravidez não podia ter começado. Mas eu ainda chorei até dormir todas as noites por anos depois. Se você está perguntando se eu tenho uma foto para me punir ou como desculpa para afastar as pessoas, não, não tenho. Ela mora no meu coração... – Ela? Sua voz era torturada. Lágrimas caíram de seus olhos e ela assentiu. – A minha era menina também. Ela mora no meu coração. Você diz que não vive no passado, mas é exatamente isso o que está fazendo. Você está me julgando pelo que lhe aconteceu há dez anos. Ele respirou fundo. – E você me provou até onde vai. Eu disse a você sobre Angelique, sobre o meu filho, e você não disse nada. Porque uma coisa pequena como uma gravidez perdida é menos importante do que a sua próxima corrida, não é? – Você sabe por que eu queria correr! – Eu fui um idiota por acreditar que você estava tentando preservar a memória de seu pai. Você estava realmente apenas buscando se promover. Dor invadiu seu coração. – Não finja que você não acha que ele era culpado. – Eu disse que ele foi considerado culpado. Eu não disse que concordava com o veredito. – Mas... Ele cortou suas palavras. – Meus advogados investigaram o caso. Alguns dos testemunhos não batem. Se o seu pai houvesse passado menos tempo sentindo pena de si mesmo e mais tempo conversando com seus advogados, ele teria percebido isso. Essa é uma das coisas que eu vim aqui para lhe dizer. Lágrimas ardiam em seus olhos, a garganta se entupia de palavras não ditas. – Marco, por favor, podemos não falar sobre isso? Ele concordou. – Não estou interessado em nada que tenha a dizer. Apenas grato por nunca ter engravidado você. Eu não acho que poderia sobreviver tendo mais um filho com a vida tão cruelmente negada por uma questão de ambição impiedosa. Seu interior se congelou quando suas palavras cortaram sua pele. Com um último olhar de condenação, ele se dirigiu para a porta. Ela entrou em pânico. – Marco! Ele se acalmou, mas não se virou, com a mão na maçaneta da porta. – O que mais você veio para me dizer? A malícia fria em seus olhos quando ele se virou fez seu coração apertar. – Vendi a equipe há seis semanas. Na Coreia. A papelada foi finalizada hoje. Há uma hora o seu contrato não é mais válido. CAPÍTULO 12 ELA ESTAVA grávida de Marco. Sasha teve certeza assim que Marco a deixou em São Paulo. Fazer o teste de gravidez só estabeleceu o que ela já sabia em seu coração. Não havia nenhuma dúvida em sua mente de que ela iria dizer que ele estava prestes a se tornar pai. O único problema era quando. Ele deixou seus sentimentos claros. Suas próprias emoções eram muito cruas para que ela enfrentasse outro confronto com Marco. Ela duvidava que ele acreditasse no que tinha a lhe dizer. Acariciou sua barriga suavemente com os dedos. O médico confirmou que ela estava de quase três meses de gestação. Angelique havia abortado o filho de Marco de três meses. A tristeza brotou dentro dela enquanto se lembrava do rosto de Marco. Antes que perdesse a coragem, ela pegou seu telefone. Seus dedos tremiam enquanto ela discava os números. – Sí? Veio a voz profunda. – Marco, sou eu. Silêncio. – Eu sei que você não quer falar comigo... Mas há algo que eu preciso contar. – Não estou mais no negócio do automobilismo, então você está desperdiçando seu tempo. A linha ficou muda. Sasha olhou para o telefone, com raiva e dor. – Idiota. Ela jogou o telefone, prometendo fazer Marco implorar para estar perto de seu filho. DOIS DIAS depois, Sasha estava em sua geladeira empilhando mantimentos quando ouviu o som dolorosamente familiar das hélices do helicóptero. A aeronave sobrevoava diretamente sobre sua pequena casa de campo antes de pousar em um campo a 800 metros de distância. Mesmo que ela se obrigasse a terminar sua tarefa, todos os seus sentidos estavam em sintonia com a batida que ocorreu menos de cinco minutos depois. Seu coração martelou, ela abriu a porta para encontrar Marco ali de pé, alto, moreno e descabelado. – Você sabe que meus vizinhos vão especular sobre sua espetacular chegada, não é? O que diabos você está fazendo aqui? Lembro-me de você não querer nada comigo. – Deixe-me entrar, Sasha. – Eu não convido gente sem coração para a minha casa. Você pode ficar exatamente onde está. Melhor ainda, volte para o seu veículo. – Não vou embora até você ouvir o que tenho a dizer. Eu não me importo o que seus vizinhos pensam, mas tenho a sensação de que você se importa. Há uma senhora de cabelo azul olhando para nós agora. Ele acenou para a sra. Miller, que descaradamente acenou de volta e se manteve olhando para eles. Firmando os lábios, Sasha recuou e acenou para ele entrar. – Você se acha muito esperto, não é? – Não, eu não acho que sou esperto. Na verdade, agora, sou a pessoa mais idiota que conheço. Sua boca se abriu. Sua careta se aprofundou. – Sim, eu sei. Chocante. – Marco... Ela parou e finalmente fez o que estava morrendo de vontade de fazer desde que ele bateu em sua porta. Ela deixou seus olhos o devorarem. Deixe seu coração se deleitar. Ele a olhou de volta, uma infinidade de emoções que ela estava muito medo de nomear passaram por seu rosto. Ele abriu a boca algumas vezes, mas, aparentemente perdeu a coragem de falar. Por fim, ele enfiou a mão no bolso do casaco. – Isto é para você. – Sasha pegou os papéis. – O que é isto? – Depoimentos de dois ex-pilotos que juram que seu pai não estava envolvido na fraude. Ele foi o bode expiatório. Agitando as mãos, leu os documentos. – Como...? Por quê...? Lágrimas obstruíram sua garganta. Finalmente ela poderia limpar o nome de seu pai. – Como não importa. O porquê é que você merece saber. Ela não percebeu que estava chorando até que a primeira lágrima pousou em sua mão. – Eu... Eu realmente não sei o que dizer. Depois do que aconteceu... – Ela olhou para os papéis novamente e engoliu. – Obrigada, Marco – disse ela com voz rouca. – De nada – respondeu ele. – Você não precisava entregar pessoalmente, no entanto. Seu olhar se intensificou. – Eu não precisava. Mas eu precisava de uma desculpa para vê-la. – Por quê? – sussurrou ela, com muito medo de ter esperança. Ele engoliu em seco. – Rafael acordou de vez ontem. O coração dela deu uma guinada. – Ele está bem? Marco assentiu. – Eu fui vê-lo esta manhã. Ele me contou o que aconteceu em Budapeste. Sasha suspirou. – Eu sei que era estúpido. – Você quer dizer deliberadamente usar a sua amizade para deixar Raven com ciúmes? Ela assentiu com a cabeça. – Eu acho que ela se apaixonou por Rafael quando entrou pela primeira vez para a equipe. Isso mudou quando ela descobriu que ele tinha namorado a maioria das mulheres de lá. Ela se recusou a ter qualquer coisa com ele depois disso. Marco franziu os lábios. – E ele, claro, achou desafiador quando ela continuou recusando. Por que você não me contou? – perguntou ele. – Você me contou o significado do anel de sua mãe. Eu não acho que precisava saber que Rafael tinha a intenção de usá-lo para... – Tentar a sorte? – Ele fez uma careta, depois ficou sério. – Ele superou agora, eu acho. Ele parece diferente, mais... Maduro. Eu acho que o acidente foi uma chamada para ele. Sua expressão estava sombria. – Para mim também. Você estava certa. – Eu estava? Ele se moveu em direção a ela, de repente. – Sí. Eu estava vivendo no passado. Eu sabia, mesmo antes de sair de Leon. Eu sabia quando vim vê-la em São Paulo. Ouvir Rafael me dizer o que eu já sabia, como você é ótima, como foi amiga quando ele precisou... – Ele parou e engoliu em seco. – Eu mencionei que sou a pessoa mais idiota que conheço? – Hum, talvez. – O que eu disse em São Paulo foi imperdoável... – Seu olhar ansioso se enlaçou ao dela. – Eu estava em choque, mas nunca deveria ter dito o que disse. Uma pena você ter perdido o bebê. Acho que você teria sido uma mãe maravilhosa. – Você acha? – Sí. Eu vi como o Prêmio Children of Bravery afetou você. Vê-la no palco com as crianças me fez desejar que o meu filho tivesse uma mãe como você. As lágrimas encheram seus olhos. – Ah, Marco... Ela mal conseguia falar. Outra careta cortou seu rosto. – Eu já fiz você chorar de novo. – Ele se sentou ao seu lado e gentilmente limpou as lágrimas. – Não era isso o que eu queria vindo aqui. – Por que você veio aqui, Marco? Ele prendeu a respiração. – Para dizer que eu amo você. E para implorar seu perdão. – Você me ama? Ele assentiu. – Fiquei destroçado ao saber que eu tinha tido o seu amor e o perdi porque fui idiota. Quando você ligou há dois dias... – Quando você desligou na minha cara? – Entrei em pânico. O hospital tinha acabado de ligar por causa de Rafael. Eu pensei que você sabia e estava ligando para pedir para vê-lo. – Ele franziu o cenho. – Por que você ligou? – Eu tinha algo para lhe dizer. Quando você desligou na minha cara, eu escrevi uma carta. – Uma carta? – Bem, era mais uma lista. Enfiando a mão no bolso, ela tirou o papel. – Aqui. Ele olhou para o papel, mas não aceitou, com o rosto pálido. – Tem perdão em algum lugar desta lista, por acaso? Seu olhar se aguçou sobre ele. – Perdão? – Sim. O perdão para os idiotas que não conhecem o dom especial do amor, da beleza e da bondade quando recebem. – Er... – Ela olhou para a lista, o seu batimento cardíaco ecoava em seus ouvidos. – Não, mas então eu só tive dois dias para pensar. Ele segurou o rosto dela entre as mãos. – Então considere isto um pedido especial, por favor. Eu sei que não agi certo julgando você duramente desde o início. – Você estava machucado. E estava certo. Eu estava agindo por culpa. – Não, você estava fazendo o que fosse preciso para seguir em frente... Enquanto eu deixava o primeiro obstáculo me impedir. Sinto muito por isso. – Os golpes que você levou seriam suficientes para derrubar qualquer um. – Mas eu deixei isso turvar meu julgamento. Eu disse a mim mesmo que tinha me recuperado. Até você ir para Leon, eu não havia entrado naquela garagem. Você abriu meus olhos para a vida estéril que eu levei até então. – Olhe a carta, Marco. Ele respirou fundo. – Não, se você vai me condenar, prefiro ouvir isso de você. – Você pode querer se sentar. Ele enfiou os dedos nos bolsos do casaco, mas não antes que ela percebesse o tremor de suas mãos. – Apenas me diga. – Tudo bem. Mas se você desmaiar de choque não espere que eu o ajude. Você é muito grande... Quando ele fez um som incoerente, ela desdobrou o papel. A ansiedade a percorreu. Ele disse que a amava, mas e se Marco realmente não quisesse outro filho? – Sasha, Por favor. – Esta é a segunda vez que você diz “por favor” nos últimos cinco minutos – sussurrou ela. Quando seus olhos escureceram, ela leu em voz alta. “Marco, você foi um idiota por desligar o telefone na minha cara, mas eu acho que você deve saber... Você vai ser pai.” Por um minuto ele não se mexeu. Não respirava, não piscava. Em seguida, ele tropeçou na cadeira. Suas mãos visivelmente tremiam quando ele estendeu a mão e acariciou sua bochecha. – Sasha. Por favor, me diga que isto não é um sonho – murmurou ele. – Isto não é um sonho. Estou grávida de um filho seu. Um olhar de reverência completa caiu sobre o seu rosto e sua barriga. – Você está bem? Está tudo bem? – perguntou ele. – Quer dizer com o bebê? – Com vocês dois. – Sim. Eu fui ao médico. Tudo está bem. Isso quer dizer que você quer o bebê? – Mi corazón, você me deu a segunda chance que nunca tive coragem de buscar sozinho. Pode não me querer mais, mas, sim, eu quero este bebê. – Seus olhos caíram para sua barriga. – Por favor, eu posso tocar? – Você quer tocar minha barriga? – Se você me permitir. – Sabe que o bebê não é maior do que o seu polegar direito agora, não é? – Sí, mas é o que meu coração quer. Por favor? Lágrimas bloquearam sua garganta quando ela balançou a cabeça e desabotoou a calça jeans. Os dedos quentes dele acariciaram sua barriga. Observando seu rosto, ela sentiu a respiração de alegria no peito. Em seguida, com os olhos presos nos dela, seus dedos deslizaram sob o suéter, aquecendo a carne nua. Relutante, ela se retirou do seu calor sedutor. – Marco, eu não terminei de ler a carta. Um olhar de incerteza entrou em seus olhos. – Eu sei que você é muito argumentativa. Mas existe algum espaço para a negociação? – Você precisa ouvir o que está na carta primeiro. Ele deu um aceno relutante. “Se for menino, eu gostaria de homenagear meu pai. Com pelo menos um dos nomes.” – Assim será. “Eu quero que o nosso filho nasça na Espanha. De preferência em Leon.” Ele engoliu em seco. – Concordo. Ela levantou os olhos do papel. “Quero ficar lá depois que o bebê nascer. Com você.” Seus olhos se arregalaram e ele parou de respirar. – Você quer ficar em Leon? Comigo? Com o coração na garganta, ela acenou com a cabeça. – Nosso filho merece dois pais que não vivam em países separados. A decepção pairou em seu rosto. – Você está certa. – Nosso filho também merece pais que se amem. Seus olhos escureceram de dor. – Eu pretendo fazer tudo ao meu alcance para ganhar o seu amor de novo, Sasha. Ela encolheu os ombros, com o coração na garganta. – Você precisará concentrar suas energias em outras coisas, Marco. Porque eu amo você. Ele respirou fundo. – Você me ama...? – Sim – reiterou ela com simplicidade. – Eu sabia que amava em Leon, mesmo estando convencida de que não iria dar certo. – Eu não facilitei, exatamente. Senti minha vida se desfazer e fiquei desesperado. Uma onda de choque a percorreu. – Foi por isso que vendeu a equipe? Ele fez uma careta. – O acidente de Rafael e a sua quase batida na Coreia me convenceram de que era hora de sair da corrida. Mas eu deixei de lado um pequeno detalhe a respeito de sua demissão. – Ah, é? – O contrato de venda incluía uma estipulação de que você teria preferência para ser piloto titular. Se você quisesse. Levantando as mãos, ela embalou seu rosto. – Você não leu o comunicado da imprensa do Tom, na semana passada? – Comunicado da imprensa? – Eu estou aposentada do automobilismo. Ele franziu o cenho. – E a sua promessa para seu pai? – Ele teria ficado orgulhoso de saber que ajudei você a ganhar o Mundial de Construtores. Mas o que ele realmente queria era que eu fosse feliz. – E você é? – Diga-me que me ama de novo e eu conto para você. – Estou profundamente, loucamente apaixonado por você, Sasha Fleming, e mal posso esperar para que seja minha. Ela passou os braços em volta do seu pescoço. – Então, sim, sou muitíssimo feliz. EPÍLOGO – FELIZ ANIVERSÁRIO, mi preciosa. Sasha se virou de onde estava assistindo outro deslumbrante pôr do sol de Leon e colocou o cobertor em torno de seu bebê de dois meses de idade. – Shh. Você vai acordá-lo. Marco se juntou a ela no berço. Com um olhar de completa adoração em seu rosto, ele passou um dedo pelo rosto macio de seu filho. – Jack Alessandro de Cervantes dorme como uma pedra, assim como sua mãe. – Ele deu um beijo na testa de seu filho, em seguida, estendeu a mão para ela. – Venha comigo. – Marco, você não vai me dar outro presente, não é? Já me deu seis. Ah, deixe para lá. Ela sabia que não adianta dissuadir o marido quando ele estava em uma missão. – Sí, agora você está aprendendo. Conforme Marco a levava para o quarto, ela olhou para o grande anel de diamante que ele lhe deu pelo aniversário de sete meses de casamento. Não passava uma semana sem que Marco lhe desse um presente de algum tipo. Na semana passada, ele a presenteou com o mais lindo cachorro Labradoodle e depois resmungou quando ela imediatamente se apaixonou pelo cão. – Eu espero que não seja outro diamante. – Não é um diamante. Este presente é muito mais... Pessoal. Ele fechou a porta e a puxou para mais perto, seus olhos castanhos ficaram dramaticamente mais escuros ao ver que vestia uma camiseta de vampiros com os dizeres “Morda-me”. Ela deu uma risada sexy. – Dios, você é impiedosa. – Só quando se trata de você. Adoro deixá-lo excitado. Esticando-se, ela colocou os braços em volta do pescoço dele, deleitando-se com o seu longo beijo até que ela relutantemente se afastou. Em seu protesto, ela balançou a cabeça. – Eu tenho algo para lhe mostrar, antes que nos empolguemos demais. Alcançando sua mesa de cabeceira, ela lhe entregou uma folha de papel. Ele leu todo o documento antes de olhar para ela. – É isto? A felicidade explodiu em seu peito. – Sim. A prefeitura enviou uma confirmação esta tarde. Sou oficialmente patrono da Caridade da Infância De Cervantes. Meu programa para ajudar as crianças desfavorecidas que estão interessadas em ser piloto! – Entre isso e você ser a porta-voz para as mulheres que pilotam, vejo o meu plano de mantê-la ocupada na minha cama fazendo bebês rapidamente desaparecer. Ele ficou sério. – Tem certeza de que não quer voltar a correr? Você sabe que tem o meu apoio. Sasha piscou os olhos para afastar as lágrimas e pressionou sua boca contra a dele. – Obrigada, mas essa parte da minha vida acabou. A oportunidade de trabalhar com crianças é outro sonho. Quanto a fazer mais filhos com você, essa é minha prioridade número um. Junto com amar você para sempre. Seus olhos se escureceram. – Eu também amo você, mi corazón. – O suficiente para tirar proveito da instrução da minha camiseta? – perguntou ela atrevidamente. Com um grunhido, ele lhe jogou na cama e demonstrou o quão bom era em receber instruções. RETORNO AO PASSADO Lindsay Armstrong Mia Gardiner estava sozinha em casa, preparando jantar para sua mãe, quando a tempestade chegou com muito pouco aviso. Num minuto, ela estava abrindo massa, no minuto seguinte, estava correndo em volta da grande casa, conhecida como West Windward, e lar da próspera família O’Connor, fechando janelas e portas, enquanto pingos de chuva batiam no telhado como balas de revólver. Foi quando ela chegou à porta da frente, a fim de fechá-la, que viu uma figura grande e molhada na escuridão do lado de fora, andando com dificuldade na sua direção. Por um momento, seu coração disparou de medo, então ela reconheceu a figura. – Carlos! É você. O que está fazendo... Carlos, você está bem? – Ela o olhou, notando que havia sangue escorrendo pela testa dele, de um corte aparentemente profundo. – O que aconteceu? – perguntou ela, e segurouo, quando ele balançou no lugar. – Um galho caiu da árvore quando eu estava atravessando da garagem para a casa. Bateu na minha cabeça – disse ele, de modo indistinto. – É uma tempestade feia – acrescentou. – Você não está errado. – Mia pôs a mão no braço dele. – Venha comigo. Eu cuidarei de sua cabeça. – O que eu preciso é de um drinque forte! – Mas ele balançou novamente enquanto falava. – Venha – murmurou ela, e conduziu-o através da casa para a sala de estar da governanta, que ficava anexa à cozinha. Era pequena, porém confortável. Mia tirou o tricô de sua mãe de cima do sofá, e Carlos O’Connor sentou-se, grato. Na verdade, ele deitou-se, gemeu e fechou os olhos. Mia entrou em ação. Meia hora depois, tinha limpado e coberto o ferimento na cabeça dele, enquanto, não apenas água, mas também granizo caíam do lado de fora. Então, a eletricidade acabou e ela praguejou, principalmente porque deveria ter esperado isso. Eles tinham frequentes falhas de eletricidade no bairro quando havia tempestades. Felizmente, sua mãe mantinha alguns lampiões a querosene à mão, mas no escuro, ela tropeçou ao redor até localizá-los. Então, acendeu dois e levou um para a sala de estar. Carlos estava deitado imóvel, os olhos fechados, e parecia muito pálido. Ela o olhou, e sentiu uma onda de ternura inundando-a, porque a verdade era que Carlos O’Connor era maravilhoso. Com mais de 1,80m, era magro e forte, com cabelo escuro, testemunho de sua herança espanhola, que ele sempre afastava dos olhos... aqueles olhos verdes que, às vezes, brilhavam de maneira travessa para você... Mia tinha uma paixão secreta por Carlos desde seus 15 anos... como poderia não ter? , às vezes se questionava. Como alguém poderia ser imune àquela aura sexy arrasadora? Ele podia ser dez anos mais velho do que seus 18 anos, mas certamente ela poderia acompanhá-lo. Não que tivesse visto muito Carlos nos últimos cinco anos. Ele não morava na fazenda, mas ela acreditava que ele crescera lá; ele morava em Sidney, mas voltava de tempos em tempos. Geralmente, era apenas por alguns dias, mas ele montava, não apenas cavalos, como também quadricículos, e porque Mia tinha permissão de manter seu cavalo no estábulo da fazenda, e porque ficava de olho nos cavalos dele, quando ela estava em casa, eles tinham algumas coisas em comum. Ela fizera cavalgadas maravilhosas com Carlos, e se ele alguma vez adivinhara que, às vezes, fazia seu coração bater freneticamente, nunca dera sinal disso. No começo, seus devaneios haviam sido infantis, mas nos últimos dois anos, ela passara a alternar entre dizer a si mesma para esquecer tudo sobre Carlos O’Connor... ele era um multimilionário, ela era apenas a filha da governanta... e alguns devaneios mais sofisticados. Entretanto, ele estava fora de seu alcance. O que ela poderia lhe oferecer mais do que as mulheres deslumbrantes que, às vezes, o acompanhavam nas visitas de Carlos? – Mia? Ela saiu de seus pensamentos, com um susto, e viu que os olhos dele estavam abertos. – Como você se sente? – Mia ajoelhou-se ao seu lado, e pôs o lampião no chão. – Está com dor de cabeça? Ou com visão dupla? Ou qualquer sintoma estranho? – Sim. – Ele pensou por um momento. Ela esperou, então, perguntou: – O que foi? Conte-me. Eu não acho que vou conseguir que um médico venha nesta... – Mia gesticulou em direção à cacofonia no telhado acima. – Mas... – Eu não preciso de um médico – murmurou ele, e estendeu o braço para tocá-la. – Somente disto. Você cresceu, Mia. Cresceu e tornou-se linda... E leia também em Passado & Vingança, edição 239 de Harlequin Jessica, Vingança máxima, de Dani Collins. 237 – HORA DA VERDADE Preço da vingança – Trish Morey Valentina Henderson foi a única mulher que ousou abandonar o milionário Luca Barbarigo. Anos depois, ela volta lhe pedindo ajuda. Ele está disposto a cooperar, mas por um preço: uma noite de luxúria. Pedido inesperado – Catherine George O magnata italiano Dante Fortinari descobriu que tinha uma filha, fruto de uma noite inesquecível com Rose Palmer. Não havia outra opção além do casamento. Mas Rose teme que ele só a queira por dever. 239 – PASSADO & VINGANÇA Retorno ao passado – Lindsay Armstrong Carlos O’Connor queria retomar o romance que teve com Mia Gardiner, mas ela estava relutante. Então, ele a faz uma proposta audaciosa. Será que ela vai aceitar? Vingança máxima – Dani Collins Aleksy Dmtriev é um homem ambicioso. Quando conheceu Clair Daniels, decidiu que iria possuí-la. Mesmo sendo uma mulher inocente, ela tinha o seu preço, e Aleksy estava disposto a pagar… 240 – CORAÇÕES DE PEDRA Não incomodar – Anna Cleary Mirandi Summers mal podia acreditar que o bad boy Joe Sinclair se tornara um CEO renomado. Mas, ao trabalharem juntos, Mirandi logo descobrirá que o lado malicioso de Joe está apenas escondido por debaixo do terno e gravata. Apenas negócios – Anne Oliver Abby Seymour foi enganada! Sem dinheiro e sem lugar para morar, ela aceita a ajuda do empresário Zak Forrester. Eles irão dividir um teto… e uma cama. 241 – TEMPO DE PAIXÃO Amante leiloada – Annie West Callie Manolis havia virado um premio em um jogo de poder. Agora, será a amante de Damon Savakis. Ele achou que ela era apenas uma jovem ambiciosa, mas ao conhecê-la melhor, decidiu transformá-la em sua esposa. Vestido secreto – Ally Blake Paige Danforth não acreditava em casamento, mas tudo mudou quando encontrou o vestido de noiva perfeito! Agora, só precisava achar um noivo. E Gabe Hamilton era o candidato ideal. Só tinha um problema: ele não quer compromisso… CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ W537e West, Annie Escândalo & sucesso [recurso eletrônico] / Annie West, Maya Blake; tradução Deborah Mesquita de Barros, Joana Souza. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Harlequin, 2014. recurso digital Tradução de: Prince of scandal + The price of success Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-398-1675-0 (recurso eletrônico) 1. Romance australiano. I. Blake, Maya. II. Barros, Deborah Mesquita de. III. Souza, Joana. IV. Título. 14-17287 CDD: 828.99343 CDU: 821.111(436)-3 PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: PRINCE OF SCANDAL Copyright © 2011 by Annie West Originalmente publicado em 2011 por Mills & Boon Modern Romance Título original: THE PRICE OF SUCCESS Copyright © 2012 by Maya Blake Originalmente publicado em 2012 por Mills & Boon Modern Romance Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: [email protected] Capa Texto de capa Querida leitora Rosto Sumário PRINCESA SELVAGEM Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Epílogo O PREÇO DO SUCESSO Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Epílogo Próximos lançamentos Créditos