CURSO DE PEDAGOGIA EM SANTA CATARINA: GÊNESE, EXPANSÃO E PERSPECTIVAS ATUAIS. Leda Scheibe Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC Zenilde Durli Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC Letícia Carneiro Aguiar Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL Esta mesa redonda pretende discutir os cursos de graduação em pedagogia no estado de Santa Catarina, tomando como base diversos trabalhos de pesquisa que estão sendo realizados no estado a respeito da temática. Em primeiro lugar, pretende analisar o momento da sua implantação, para evidenciar e discutir o contexto que criou as condições para o seu estabelecimento na capital do estado, servindo em grande parte ao projeto de desenvolvimento então em implantação. A partir das condições que permitiram e influenciaram a sua criação no estado, pretende-se uma imersão na trajetória da sua expansão em todo Estado, na qual se destaca a sua interiorização via processo de privatização do ensino superior. Os desafios colocados pelas novas diretrizes curriculares para o curso de pedagogia no país e no estado dão continuidade á discussão, apresentando aspectos centrais da nova legislação, seus limites e perspectivas. Palavras-chave: Formação de Professores. Curso de Graduação em Pedagogia. Política Educacional. PERSPECTIVAS PARA O CURSO DE PEDAGOGIA EM SANTA CATARINA: AS NOVAS DIRETRIZES Leda Scheibe Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC O presente trabalho se insere em um conjunto de estudos e debates no âmbito do grupo de pesquisa “Ensino e Formação de Educadores em Santa Catarina”, vinculado a linha de pesquisa Educação, História e Política, do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem por objetivo discutir as perspectivas para o curso de pedagogia no estado, frente às novas diretrizes. O Parecer CNE/CP Nº: 5/2005, aprovado em 13 de dezembro de 2005, define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura. Encerra assim um ciclo importante de discussões, marcado por controvérsias que durante mais de duas décadas, disputaram o encaminhamento de soluções para a sua organização curricular. O CNE decidiu-se finalmente pela aprovação das diretrizes após várias tentativas e muitos desacertos. Configurou-se uma situação particularmente difícil para a tomada das decisões necessárias, devido principalmente ás mudanças estabelecidas pela reforma educacional para a formação de professores ocorrida durante a década de 1990. Nestes anos de espera, os cursos de Pedagogia no país e em Santa Catarina se organizaram nos mais diversos formatos. Hoje, reproduzem-se no país pedidos de apostilamento de habilitações. São solicitações feitas por aqueles que cursaram uma especialidade e se julgam preparados para a docência, ou cursaram apenas uma habilitação docente e argumentam sobre sua capacidade para atuar na formação de crianças de 0 a 10 anos. O texto aprovado pelo CNE faz uma clara opção relativa à identidade do pedagogo como licenciado, estabelecendo o perfil do formando e a organização do curso de acordo com as determinações das “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena” (Parecer CNE/CP 009/2001 e Resoluções 01/02 e 02/02 ). Difere apenas da Resolução 02/02 no que tange à duração dos cursos de licenciatura, quando estabelece 3200 horas para a conclusão do mesmo, sendo 300 de estágios e 100 horas de atividades complementares. A Resolução 02/02 definiu o mínimo de 2800 horas, sendo 800 de práticas incluindo os estágios e 200 horas de atividades complementares. A opção pela licenciatura como identidade do pedagogo tem como conseqüência para os atuais encaminhamentos do curso, a exclusão do bacharelado. Esta exclusão atinge particularmente a oferta das habilitações aos profissionais da educação denominados de especialistas, nos moldes da Resolução CFE/02/69. Esta é, no momento, a questão que está sendo mais polemizada em relação ás diretrizes. No Art.64 da lei n. 9.394/96 (LDB), esta formação foi assim indicada: a formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. As atuais diretrizes para o curso de licenciatura em Pedagogia pretendem assegurar uma formação integrando docência e gestão, com o objetivo de garantir o exercício das funções relativas ás tarefas de gestão, aos próprios docentes. Dependendo do projeto pedagógico do curso, o preparo do pedagogo poderá contemplar a formação para participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares e produção e difusão de conhecimentos. (Cf. Parágrafo único, do art.4o). As determinações encaminhadas pelas diretrizes estão ferindo frontalmente as corporações que defendem as tradicionais habilitações como profissionalidades específicas, independentes de uma base docente de formação. Tais profissionalidades constituiriam, segundo o seu ponto de vista, na verdadeira identidade do pedagogo. A resolução proposta e já aprovada no âmbito do CNE, anexa ao Parecer 05/2005, ainda não foi homologada no momento em que estamos elaborando este texto, últimos dias do mês de março de 2006. Conta para isto, certamente, a pressão por conta da remoção das habilitações dos especialistas exercida, por aqueles setores profissionais junto ao Ministério de Educação (MEC). A definição das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia aprovadas em reunião do Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação em 13 de dezembro de 2005, foi acompanhada pelo movimento dos educadores, particularmente pelos representantes da ANFOPE, do CEDES, FORUMDIR, ANPAE e ANPEd. Após a reunião de aprovação, em e-mail encaminhado à lista de discussão, a professora Iria Brzezinski, parafraseando Anísio Teixeira, ponderou: “Vitória? Porém meia vitória”. Esta observação nos remete ao processo de elaboração das diretrizes curriculares para os cursos de graduação, desencadeado pelo MEC e pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) a partir de 1997 e sua inserção no movimento de ajuste das universidades às orientações dos organismos internacionais visando adequar a formação dos profissionais às demandas do mercado. No campo da formação de professores, o processo de elaboração das diretrizes expressa as contradições presentes nesse movimento e faz emergir as dicotomias presentes na história do curso de pedagogia. Esses ajustes, no entanto, considerados os diferentes interesses intrínsecos a uma sociedade de classes, não se efetivam de forma linear e vertical. O Estado, para efetuar tais adequações, precisa alcançar um mínimo de consenso para efetivar as reformas propostas na sociedade civil. Dessa forma, para consolidar as diretrizes, algumas conquistas são concedidas, mas sob o manto da vitória é preciso perceber as contradições. A concepção de docência, tal como foi aprovada pelo CNE, quando comparada às reivindicações dos educadores já expressas no documento elaborado pela Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia em 1999, revela possíveis contradições. A Comissão, composta por profissionais experientes, foi indicados por seus pares para a tarefa de assessorar a SESu/MEC e o CNE nas questões referentes ao curso. Além de examinar as propostas provenientes das IES do país, estendeu o convite às entidades nacionais ligadas ao assunto. Com base nestas colaborações, elaborou proposta de diretrizes nacionais para o curso, que foi amplamente socializada. Após incorporar as sugestões, divulgou, em 6 de maio de 1999 a Proposta de Diretrizes Curriculares-CEEP. De um lado, o Parecer 05/2005 sinaliza para um avanço que admite a docência em um espectro que ultrapassa a atuação do pedagogo na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Considera que a formação extrapola o âmbito do magistério e abrange, igualmente, a gestão de sistemas e a produção e difusão do conhecimento. Deste modo, recupera o que a Comissão de Especialistas propunha em 1999. Admite que a docência é um contexto mais amplo que o exercício do magistério e deve ser a base da formação do educador. Porém, ao titular o egresso como licenciado, retoma a indesejável dicotomia bacharelado/licenciatura na formação do pedagogo, que a tese da docência como base pretendeu sobrepujar. De outro lado, considerando o contexto da sociedade neoliberal em que estamos imersos, tanto o princípio da formação orgânica quanto da flexibilização curricular, princípios defendidos nas posições históricas dos educadores, podem assumir contornos negativos à formação do educador. Sob o discurso da formação orgânica pode emergir a sobrecarga das tarefas do professor, uma vez que as atividades de gestão, com o crescente movimento de descentralização da Educação Básica, tem gerado um acúmulo considerável de atividades extra-classe. Assim, além das atividades de ensino, também lhe caberão as atividades de gestão. A estrutura curricular aprovada, diante da perspectiva da flexibilização, poderá basear tanto um projeto pedagógico que evidencie as necessidades do acadêmico e da sociedade, no sentido de uma formação para a emancipação, quanto sucumbir aos interesses do mercado e assumir um currículo que atenda as necessidades da reestruturação produtiva, portanto, do capital. Algumas reivindicações são concedidas, algumas vitórias parecem concretas. Porém é preciso considerar que “as ações empreendidas pelo Estado não se implantam automaticamente, têm movimento, têm contradições e podem gerar resultados diferentes dos esperados” (HOFLING, 2001, p.35). Paradoxalmente, isso se atribui tanto às proposições dos educadores quanto àquelas provenientes do MEC/CNE, pois as políticas sociais implantadas sofrem os efeitos de interesses diferentes expressos nas relações de poder de uma sociedade organizada em classes. Segundo a proposta apresentada pela Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia, o perfil do pedagogo foi assim definido: Profissional habilitado a atuar no ensino, na organização e gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a docência como base obrigatória de sua formação e identidade profissionais (CEEP, 1999). Esta concepção de curso, elaborada pelo conjunto dos educadores, foi se tornando uma idéia quase generalizada a respeito do mesmo, nos debates relacionados com a implementação das reformulações apresentadas pela nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996. O curso de pedagogia encontrou-se no centro deste debate, dada a discordância de grande parte dos educadores mobilizados em associações, em retirar deste curso a formação de professores para a Educação Infantil e anos do Ensino Fundamental (SCHEIBE, 2000). Ponto importante desta concepção é a defesa da formação docente como base para o exercício de atividades pedagógicas em geral, não apenas de sala de aula, mas também nos diferentes espaços educativos da sociedade. Assume a tese de que o pedagogo pode atuar como docente na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, e ainda no exercício da organização de sistemas, unidades, projetos e experiências educacionais escolares e não-escolares, na produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico do campo educacional e nas áreas emergentes do campo educacional. No VII Seminário Nacional Sobre Formação dos Profissionais da Educação foi elaborado documento conjunto da ANFOPE, ANPEd, CEDES e FORUMDIR (2005) que sintetizou mais uma vez princípios orientadores para o curso de pedagogia, com vistas a contribuir para a definição das diretrizes curriculares. Deste documento ressaltamos as seguintes indicações: a) sólida formação teórica, inter e transdisciplinar sobre o fenômeno educacional e seus fundamentos históricos, políticos e sociais, promovendo a articulação e domínio dos saberes para a compreensão crítica da sociedade brasileira e da realidade educacional, e ainda, a apropriação do processo de trabalho pedagógico; b) interação teoria e prática, que resgata a práxis da ação educativa, como elemento inerente ao trabalho pedagógico, tendo a docência como base da formação profissional; c) a pesquisa como princípio formativo e epistemológico, eixo da organização e desenvolvimento do currículo; d) gestão democrática e trabalho coletivo como base para a organização do trabalho pedagógico em contextos educativos escolares e não-escolares; e) compromisso social, ético, político e técnico do profissional da educação, voltado à formação humana e referenciada na concepção sócio-histórica da educação e nas lutas desses profissionais articuladas com os movimentos sociais; f) articulação entre a formação inicial e a continuada do profissional da educação; g) avaliação permanente e contínua dos processos de formação. (ANFOPE, ANPEd, CEDES e FORUMDIR (2005, p. 1) Ressalta também, o documento, que o curso de pedagogia se caracteriza por ser ao mesmo tempo uma licenciatura e um bacharelado, com possibilidade, dependendo de cada projeto político pedagógico, de formar o pedagogo para as seguintes áreas que se articulam ao longo do curso: a) b) c) Docência na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e nas disciplinas pedagógicas para a formação de professores, credenciando, também, ao exercício profissional na educação especial, na educação de jovens e adultos, na educação do campo, na educação indígena, na educação em remanescentes de quilombos ou em organizações não-escolares públicas ou privadas, e outras áreas emergentes no campo sócio-educacional; Gestão Educacional, entendida numa perspectiva democrática, que integre as diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e dos processos educativos, especialmente no que se refere ao planejamento, à administração, à coordenação, ao acompanhamento, à supervisão, à inspeção, à orientação educacional e à avaliação em contextos escolares e não-escolares e nos sistemas de ensino e ao estudo e participação na formulação, implementação e avaliação de políticas públicas na área de educação; Produção e difusão do conhecimento do campo educacional. (ANFOPE, ANPEd, CEDES e FORUMDIR (2005, p. 2) São formulações que incorporam a trajetória peculiar do curso no país. Trajetória que delineou um espaço de formação que tem significação especial na superação da dicotomia que desvincula teoria e prática, pensar e fazer, conteúdo e forma na área do conhecimento e das práticas educacionais. Os conteúdos básicos do curso para atender a estas formulações colocam-se como um desafio, para poder constituir-se ao mesmo tempo numa base consistente para a profissionalização docente, e como núcleo de uma formação que permite a diversificação exigida pelas diferentes demandas sociais e aspectos inovadores do mundo contemporâneo. Tendo como foco a formação docente, o curso de pedagogia é base para outras funções do campo educacional, numa perspectiva multidimensional, capaz de romper com a tradição tecnicista. Contrapõe-se a este entendimento do curso, uma concepção que o entende como um “curso específico de formação de pedagogos para o exercício de atividades pedagógicas nas escolas e nos diferentes espaços educativos da sociedade” (LIBÂNEO et al., 2005, p.1), excluindo portanto as atividades docentes. Ao defender a pedagogia como campo científico e investigativo, portanto como ciência, e “somente por isso, um curso” (Idem, p.1), proposta a formação do bacharel pedagogo. é O curso de pedagogia, nesta alternativa, destinar-se-ia aos estudos específicos da ciência pedagógica, com a finalidade de formar pesquisadores e pedagogos(especialistas) para a escola e outros espaços educativos. Parte do pressuposto de que atividades pedagógicas são diferenciadas das atividades docentes, estabelecendo uma dicotomia no interior das ações educativas. Em face deste posicionamento, existe a compreensão de que a formação dos profissionais da educação para atuação na Educação Básica e em outras instâncias de práticas educativas, seja realizada em cursos distintos: de bacharelado em pedagogia e de formação de professores (licenciaturas). O currículo para a formação do bacharel em pedagogia é proposto no sentido de formar para a pesquisa e para o exercício de atividades educativas nas escolas e em espaços não escolares diversos, tais como sistemas escolares e escolas, movimentos sociais, mídias, empresas, sindicatos, entre outros. O exercício da profissão, por sua vez, para este bacharel, teria uma amplitude quase sem limites, pois diz respeito à inserção em todo e qualquer processo educativo, social e cultural. O Parecer CNE/CP 05/2005 atende algumas reivindicações históricas do movimento dos educadores brasileiros pela formação dos profissionais da educação. Uma delas é a docência como base da identidade do pedagogo e o respeito a uma base comum nacional de formação dos educadores. Pensa-se, ainda, a busca de uma formação integrada e integralizadora, assim como, a permissão para uma relativa flexibilidade para o projeto pedagógico institucional ao sugerir que cada instituição circunscreva áreas ou modalidades de ensino que proporcionem aprofundamento de estudos. Somado a isso, há a possibilidade de preparação para serviços de apoio educacional, tanto escolar como não escolar entre outras. Contraditoriamente, estas indicações que atendem ás reivindicações dos educadores podem, tanto resultar em uma formação orgânica do professor, quanto concebê-lo como um profissional multitarefa e prestar-se a um aligeiramento normatizado. A tese defendida pelo movimento dos educadores de que o curso de pedagogia é ao mesmo tempo um bacharelado e uma licenciatura foi perdida no que diz respeito aos aspectos legais. Mas pode ser atendida no seu significado qualitativo, na medida em que o seu currículo de formação for sólido teoricamente, com base científica consolidada. O Parecer do CNE propõe uma configuração diferenciada, sob a justificativa de que o curso trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos. Será fundamentada nos princípios da interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética. São princípios abrangentes, que arriscam uma permissividade curricular, dependendo dos interesses teórico-práticos de cada instituição. A integralização dos estudos dar-se-á mediante realização de disciplinas, seminários e atividades de natureza predominantemente teórica; práticas de docência e gestão educacional; atividades complementares – envolvendo o planejamento e o desenvolvimento progressivo do trabalho de curso; e, ainda, estágio curricular. Há um desafio posto para cada curso. No caso do estado de Santa Catarina, no qual a grande maioria dos cursos já se organiza a partir de uma base docente, fica ainda a imensa tarefa de construir o curso com a qualidade desejada, na qual a graduação de um pedagogo realmente não se restrinja a uma formação docente limitada pela visão de uma racionalidade apenas técnica da profissão. Outras questões certamente surgirão na medida da implementação das novas diretrizes na organização dos cursos de licenciatura em Pedagogia, que ocorrerá nos próximos anos. O acompanhamento permanente será um desafio para os pesquisadores desta área, não apenas no sentido de constatações diagnósticas, mas principalmente na direção de contribuir para os reencaminhamentos necessários à valorização do papel do curso de pedagogia para a área da educação e para a formação de educadores no país. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANFOPE, ANPED, CEDES, FORUMDIR. VII Seminário Nacional sobre a formação dos profissionais da educação/ANFOPE. Documento Conjunto. Brasília, 2005, mimeo. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP. 9/2001. Brasília, 17/01/2002. BRASIL. Parecer CNE/CP n. 5/2005. Brasília, 13 de dezembro de 2005. CEEP – Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia/SESU/MEC. Proposta de diretrizes curriculares. Brasília, 1999, mimeo. HOFLING, Eloísa de Mattos. Estado e políticas (públicas) sociais. In: Cadernos Cedes, ano XXI, no 55, novembro de 2001. LIBÂNEO, José Carlos et al. Manifesto de educadores brasileiros sobre diretrizes curriculares nacionais para os cursos de pedagogia. São Paulo, set. 2005, mimeo. SCHEIBE, Leda. Formação e identidade do pedagogo no Brasil. In: CANDAU, Vera Maria (org) Ensinar e aprender: sujeitos, saberes e pesquisa. Rio de Janeiro, DP&A, 2000, p. 7-22. O SURGIMENTO DO CURSO DE PEDAGOGIA EM SANTA CATARINA NO CONTEXTO DO PROJETO DESENVOLVIMENTISTA DA DÉCADA DE 1960 Letícia Carneiro Aguiar UNISUL/Universidade do Sul de Santa Catarina O presente texto procura apresentar algumas reflexões realizadas na minha tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, concluída no presente ano e cujo objeto de estudo foi o curso de Pedagogia. É uma pesquisa de natureza documental com o objetivo central de evidenciar as circunstâncias e a teia de relações que propiciaram a emergência do curso de Pedagogia do estado de Santa Catarina na década de 1960, nas duas únicas universidades públicas (respectivamente, federal e estadual) desse estado – a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC). A década de 1960 representou para Santa Catarina um marco no seu processo de modernização econômica. A ampliação e diversificação da base produtiva, desde meados da década de 1945, quando começaram a surgir elementos de um novo padrão de crescimento, encontrou na década de 1960 uma forte intervenção estatal favorecedora da acumulação privada de capital. Nesse momento, ocorreu uma profunda “politização das relações econômicas e a estruturação da ossatura material e institucional do Estado”, a partir da implantação dos Planos de Metas (PLAMEG) do governo estadual (GOULARTI Fº, 2002, p. 30). O capital industrial se consolidava e promovia, juntamente com as forças oligárquicas no comando do aparelho governamental, a integração produtiva em Santa Catarina. O golpe militar de 1964, apoiado pela oligarquia catarinense, ao procurar emudecer a oposição e acentuar o exercício da coerção, possibilitou determinadas condições para que governantes e seus aliados concretizassem políticas favorecedoras do desenvolvimento do capital, da concentração de renda e da ampliação das desigualdades sociais. As forças econômicas – historicamente hegemônicas no governo – em franco processo de organização, eram as únicas em condições de sustentar e determinar os rumos para as políticas governamentais, ao contrário dos segmentos populares, que se encontravam dispersos, desorganizados (AURAS, 1991). O aparelho governamental foi desafiado a modernizar-se e, pela primeira vez na história do estado, utilizou-se da técnica do planejamento com o objetivo de desenvolver e articular as políticas públicas para atender às exigências do modo de produção capitalista. E foi justamente o pretexto de modernizar a o sistema educacional para responder às necessidades do desenvolvimento desse modo de produção, que as questões educacionais passaram a ser enfrentada numa perspectiva global. O binômio educação e desenvolvimento foi colocado como eixo das políticas de modernização do Estado brasileiro. Nessa perspectiva a política educacional passou a ser pensada como integrante dos planos econômicos globais e, como política pública voltou-se “para atuar na correlação de forças sociais, seguindo as determinações daquele desenvolvimento” (VIEIRA, 1983, p. 10). No âmbito estadual, este binômio foi estrategicamente planejado com a criação das leis do sistema estadual de ensino, do plano estadual de educação e da realização de reformas no aparelho estatal e nos diferentes níveis e modalidades do sistema escolar. O acentuado desenvolvimento econômico em curso produziu o aumento da população urbana em Santa Catarina que, de uma população até então predominantemente rural, passou a ser marcada pelo predomínio do urbano. Ocorreu um aumento do leque de empregos, principalmente nos setores secundários e terciários, expressando “a necessidade do letramento, do avanço da escolarização”. (AURAS, 1995). Ampliou-se da rede escolar catarinense, sobretudo, a do nível primário. Por conta da necessidade de serem formados professores para o primeiro nível da escolarização, expandiu-se a rede escolar de nível médio, principalmente, as escolas normais. Cresceu, sobremodo, o número de cursos superiores e no início de 1960 foram criadas duas universidades públicas - a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC) -, e poucos anos após, surgiram escolas e faculdades isoladas (as fundações educacionais), num crescente processo de expansão da educação superior por meio do ensino privado. Vários cursos de licenciatura, e particularmente o de Pedagogia, foram criados nessas instituições, marcando o início da formação de professores em nível superior em Santa Catarina. Os primeiros cursos de Pedagogia a surgirem foram da universidade federal, em 1960, e o da universidade estadual em 1963. Na década de 1960, portanto, foram determinadas condições sócio-políticos que favoreceram a emergência do curso de pedagogia nessas universidades, condições essas que favoreceram sua criação e inserção no processo de constituição de um projeto societário que teve como principal agenciador o estado – um Estado-de-classe. Nessa perspectiva o Estado tem uma atuação fundamental através dos aparelhos privados de hegemonia utilizando-se, sobretudo, das instituições, além dos seus instrumentos próprios e específicos. Nesse sentido, o Estado teria um papel de educação das massas em termos de legitimação ideológica da hegemonia da classe dominante. Voltado à defesa dos interesses das classes dirigentes o estado catarinense proclamou sua intervenção como sendo de “interesses gerais da sociedade”. Esses “interesses gerais” foram utilizados, ideologicamente, enquanto parâmetro de motivação central para a determinação das políticas públicas. Tais interesses representaram de fato o que foi estabelecido a partir de interesses específicos de grupos (político-partidário) e/ou empresas (ramos/setores industriais) que prevaleceram no curso da ação de classe (práticas materiais), resultando assim, nos chamados “objetivos sociais” (obras, serviços, reformas) definidos pelo bloco no poder (expressão política) para a ação do Estado (programa de governo). Essas práticas materiais ou ações de classe, desempenhadas pelo estado catarinense na década de 1960, significaram, fundamentalmente, garantir a apropriação (econômica) e a dominação (política e cultural), fundamentos da unidade política e do poder institucionalizado. A década se constituiu num terreno fértil para a emergência do curso de Pedagogia já existente em outros estados, mas que aqui não havia encontrado condições objetivas para ser criado. O envolvimento do estado de Santa Catarina num projeto desenvolvimentista, de planejamento sócio-econômico de caráter mais global, capitaneado por determinadas forças políticas que formavam o poder instituído naquele momento histórico, adotou ações políticas materiais concretas (políticas públicas), que foram fundamentais para o surgimento desses cursos. Examinando os diferentes modos de formação das categorias de intelectuais, Gramsci (1982, p. 9) mostra que a “escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A complexidade da função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente medida pela quantidade de escolas especializadas e pela hierarquização [...]” . É às instituições “privadas de hegemonia”, como a escola, a universidade, e outras, que a classe dominante recorre para realizar sua função hegemônica, e delas se utilizar para também formar seus intelectuais. Essa pesquisa focalizou, portanto, um aspecto importante no desenvolvimento da superestrutura no estado de Santa Catarina, através das ações que foram engendradas na área da formação de professores e de técnicos educacionais. Objetivos superestruturais requereram uma superestrutura que possibilitasse a sua concretização. Como nos ensinou Antonio Gramsci (2001) o processo de construção da hegemonia não dispensa a negociação, sendo que esse processo se dá no conjunto das relações sociais, na luta entre diversas forças sociais que buscam o poder. A década de 1960 caracterizou-se pela força de dois grupos políticos dominantes – a oligarquia Ramos (PSD) e a oligarquia Konder-Bornhausen (UDN)-, cuja ideologia, no entanto, pouco se diferenciava no sentido de um projeto de sociedade para Santa Catarina. A própria criação da universidade no estado catarinense foi resultante do embate político-partidário entre duas forças oligárquicas (que de longa data se engalfinhavam na luta pelo controle do aparelho governamental), cujos intelectuais buscavam assegurar direção do seu grupo na condução cultural do estado. As forças populares ainda não estavam suficientemente organizadas, não encontravam condições objetivas que lhes possibilitassem interlocução no âmbito das forças políticas e contrapor o projeto do poder oligarca. Entendemos que como instituições da sociedade civil as universidades não são hegemônicas em si mesmas, mas mediadoras das forças sociais em disputa. No interior dessas instituições, a proposta de formação do pedagogo, como proposta educativa que é, estava inserida numa sociedade concreta e por ela determinada, tendo um lugar político no conjunto das relações sociais. Portanto, nossa pesquisa propôs-se a dimensionar a “natureza político-institucional” no momento de criação do curso de Pedagogia, ou seja, aquela que aponta “qual a função do pedagogo a ser formado” (SILVA, 1999) e que nos permite desvelar o caráter sócio-político do curso. Algumas indagações nortearam as análises realizadas neste estudo: em que contexto foi criado os dois primeiros cursos de Pedagogia no estado de Santa Catarina? Por que os cursos foram criados? Como sua criação esteve relacionada com a política de formação de professores do estado catarinense? Quais as tendências predominantes para esta formação do pedagogo que estiveram presentes no interior das IES e sua relação com o projeto educacional governamental? Que aspectos na criação do curso indicam relações com um projeto hegemônico de classe em desenvolvimento na década de 1960? A presente pesquisa evidenciou que, para dar continuidade a hegemonia oligárquica procurando fazer do seu projeto societário um consenso no estado, na década de 1960, os governantes catarinenses adotaram uma política educacional pautada no binômio educação e desenvolvimento e referenciada na Teoria do Capital Humano. O discurso para justificar as mudanças pretendidas pelo governo na educação foi da modernização desse “bem público”, pautado na necessidade de resolver a “crise” da educação, esta de natureza quantitativa (falta de vagas na escola pública) e qualitativa (modelo pedagógico inadequado à formação de “recursos humanos” necessários ao projeto desenvolvimentista). A prática foi de alinhamento mais estreito do sistema educacional às necessidades do desenvolvimento econômico, como demonstraram nossas análises sobre a política educacional expressa nas Leis do Sistema Estadual de Ensino (Lei nº 3.191/63 e Lei nº 4.394/69) e do primeiro Plano Estadual de Educação 1969-1980. Assim, a política de formação de professores em nível superior no âmbito estadual, embora não sendo prerrogativa dessa esfera legislar sobre esse nível de ensino, apresentou uma proposição de elevar à níveis superiores apenas os professores da escola média e dos técnicos em educação, tal qual já preconizava a legislação federal, enfatizando essa elevação à categoria dos técnicos – aqueles profissionais que deveriam atuar nas instâncias administrativas e técnicas do sistema escolar catarinense. O discurso da política educacional era o da eliminação de toda e qualquer admissão de professores não habilitados para atuar no sistema estadual de ensino, e do estímulo aos municípios para reduzirem o ingresso de não habilitados nos seus quadros de magistério. Mas, na prática, ocorreu o inverso: “os leigos eram designados para o magistério sem serem submetidos aos exames de suficiência” (LINS, 1971, p. 237). Esses “exames de suficiência”, já previstos na Lei de Diretrizes e bases da Educação nacional de 1961 (artigo 117), correspondiam à “verdadeira” forma com que a maioria desses professores estava sendo habilitada para o exercício da docência. Apesar do discurso modernizador, na prática, no sistema educacional catarinense predominava a presença do professor “leigo” e sem habilitação nas escolas públicas estaduais. Esse fato representou um flagrante descaso para com a qualidade da “escola freqüentada pela maioria da população”, aliado à sistemática desvalorização profissional e degradação econômico-social dos profissionais da educação, revelando “o real descompromisso do Estado” para com a efetiva democratização social e econômica do conjunto da sociedade, “apesar de suas históricas proclamações em contrário”. (AURAS, 1993, p. 114) Em Santa Catarina, na década de 1960 a política de formação de professores teve um caráter profundamente utilitarista, pragmático e com a função de preparar “recursos humanos” para o tão propalado desenvolvimento e conseqüente superação do “nosso atraso cultural” e econômico em relação aos demais estados da federação. Nos documentos de política educacional, coerentemente com o papel que lhe fora reservado no interior da política educacional como um todo, a formação dos docentes foi concebida numa perspectiva reducionista, ou seja, estava voltada para a instrumentalização dos professores para o uso de técnicas e métodos de ensino, tornando-os executores de proposições advindas de níveis superiores da burocracia estatal. Era uma proposição política que objetivava apenas “treinar”, “reciclar” o professor, adestrando-o para o manuseio das “modernas técnicas de ensino”. Constatamos que não ocorreu um “descaso” em relação ao tratamento dado pelos documentos de política educacional a questão da qualificação dos professores na década de 1960 em Santa Catarina. Na realidade, não houve uma desconsideração, mas sim uma clara opção por uma determinada perspectiva de formação que era considerada a mais adequada ao projeto econômico-social hegemônico na década de 1960. Essa perspectiva de formação estava assentada no ideário educacional proposto pela Teoria do Capital Humano, largamente difundido no Brasil na década de 1960 através dos programas de ajuda para o Terceiro Mundo pelas agências financiadoras internacionais, principalmente as norte-americanas. Afirmamos, portanto, que não houve uma política de desvalorização da formação de professores, mas sim de uma perspectiva mediocrizada dessa formação, agravada pela precarização das condições de trabalho docente. O que havia era uma mediocrização da área, não por sua falta de importância, mas pelo modo como os governantes, através dos seus legisladores, pensaram a educação. São raros os momentos nos quais os documentos governamentais catarinense tocaram na questão da formação do professor em nível superior. A não ser para reproduzir o que a legislação federal já determinava sobre o assunto. No entanto, a necessária formação em nível superior era afirmada sempre que se tratava da qualificação dos profissionais técnicos, que após a regulamentação do curso de Pedagogia em 1969, serão mais claramente definidos e identificados como “especialistas em assuntos educacionais” (orientador educacional, supervisor escolar, administrador escolar, inspetor escolar, etc.). Na visão dos órgãos formuladores da política educacional, houvesse “falta de condições objetivas para tanto”, e que seria muita “pretensão” querer ampliar o nível de habilitação do professor num sistema educacional ainda precário para atender toda a demanda pelo ensino primário e médio. Mas se o próprio discurso governamental, amparado em pesquisas, apontava que o sistema educacional catarinense tinha um caráter retrógrado, arcaico, tradicional, e um dos fatores responsáveis por essa realidade era o problema da existência de docentes não qualificados, por que não investir na melhoria da qualificação do professor, ampliando-a para níveis superiores e, assim, possibilitar-lhe bases mais sólidas de conhecimentos num curso mais consistente teórica e tecnicamente falando, como poderia ser um curso de graduação? Seria o trabalho docente no ensino primário e médio tão simples e elementar a ponto de dispensar aprofundamentos teóricos e preparação didático-pedagógica mais consistente? Diante de todas as proposições políticas para a educação na década de 1960, que procuramos evidenciar em nossa pesquisa, em síntese, alguns elementos constitutivos dessa política contribuiriam para a emergência do curso de Pedagogia em Santa Catarina. Considerando o contexto sócio-político e econômico dessa década que estabeleceu um determinado direcionamento para a política educacional no estado, constatamos que dois aspectos importantes favoreceram a emergência de um curso superior como o curso de Pedagogia: a expansão da escola normal e a demanda por profissionais técnico-administrativos da máquina governamental (no âmbito da Secretaria de Estado da Educação e do Sistema Estadual de Ensino). O primeiro aspecto está relacionado à política de expansão da escola primária e média. Como vimos, a necessidade de atender uma demanda por professores (normalistas) para a escola primária, produziu uma política de expansão da Escola Normal, já que para o governo ela cumpria uma dupla finalidade: atender a demanda por professores habilitados para a escola primária, e ampliar o acesso ao ensino médio sem causar o aumento de despesas dos cofres públicos. E a expansão da escola média criava sobremodo um campo de trabalho para os egressos do curso de Pedagogia. O segundo aspecto decorreu da ampliação da máquina administrativa governamental, que colocou a necessidade de pessoal administrativo e técnico habilitado para garantir a sua funcionalidade. Na década de 1960, essa ampliação da máquina governamental teve a centralização retomada com força na gestão educacional através do planejamento setorial de cunho técnico e racionalizador, imprimindo uniformidade à política educacional em curso no Estado. As reformas que se realizaram no sistema educacional procuraram garantir essa uniformidade. Mas é preciso destacar que até o final da década de 1960, a educação pública catarinense foi um setor que sofreu poucas mudanças. Não que não tenham ocorrido reformas de ensino; ao contrário, estas se sucediam com alguma regularidade (AURAS, 1993). No entanto, as reformas estavam mais voltadas para as reestruturações administrativas, pois a máquina administrativa estatal foi sendo ampliada para responder às demandas do desenvolvimento econômico e social. Foram reformas que procuravam fortalecer a dimensão, sobretudo, burocráticas e técnicas do sistema de ensino, “menos voltadas para mudanças que atingissem de modo significativo aspectos mais essenciais da educação, entendidos esses como aspectos que dizem respeito mais diretamente à organização pedagógica da escola e do ensino” (LEAL, 1989, p. 36). Teria sido a necessidade de ampliar e fortalecer setores de natureza técnica e administrativa do sistema educacional catarinense que levou a política de formação de professores a voltar-se para a elevação do nível de formação daqueles indivíduos que ocupariam cargos (planejamento, inspeção e controle) e atividades técnicas no interior do aparelho governamental. E os egressos do curso de Pedagogia poderiam encontrar na expansão do aparelho governamental um espaço adequado para, além das atividades docentes, o exercício de atividades não docentes proporcionado pela formação no curso de bacharelado. Apesar do freqüente discurso governamental sobre a “falta de professores habilitados” paradoxalmente ele não foi respaldado pela prática política de valorização e de contratação de professores para a escola média. Contribuindo para a precarização da formação de professores havia a política de remuneração: os salários pagos eram baixos, obrigando os professores a lecionarem em várias escolas, muitas vezes distantes uma da outra. Havia também o problema da instabilidade funcional (90% designados), concorrendo para o fato de que o tempo médio de permanência no magistério na escola normal fosse de apenas cinco anos, condicionado em parte pela não realização de concursos públicos e pela fuga dos professores efetivos para outros níveis do setor educacional, ou até mesmo para outras áreas. É preciso destacar também a existência de um ensino superior cujo acesso não era democratizado, ou seja, havia uma possibilidade remota dos jovens nele ingressarem, caracterizando-se como “privilégio de poucos”. Como exemplo desse privilegiamento, no ano de 1966, havia 419.869 alunos matriculados no ensino primário, 69.023 no ensino médio e apenas 2.583 no ensino superior; em 1970, 485.535 matriculados no primário, 143.712 no secundário e 6.035 no ensino superior. No período de 1960 a 1970, as exigências para que a educação participasse de um esforço integrado para a transformação da situação de atraso da economia catarinense em relação aos centros econômicos mais desenvolvidos do país, se assentou num modelo capitalista como desenvolvimento econômico e social capaz de retirar uma sociedade subdesenvolvida dessa situação. A tarefa educacional foi integrada à política geral do desenvolvimento, que, com seus princípios, objetivos e instrumentos de ação, deu racionalidade ao processo de formação do “capital humano” por meio do sistema escolar. Para o Estado e seus tecno-burocratas a escola deveria participar com eficiência no todo do processo, respondendo ativamente às necessidades que lhe caberia atender – preparar “capital humano como recurso necessário ao desenvolvimento estadual”. Essa maneira de entendê-la está inserida no interior de uma concepção imediatista e utilitarista da cultura, do saber e da educação. Em nome do “desenvolvimento do homem catarinense”, para o “bem da modernização de toda a sociedade”, significativos recursos públicos foram injetados na iniciativa privada, grandes investimentos em infra-estrutura foram realizados (beneficiando diretamente o setor privado da economia) e reformas educacionais foram implantadas. O discurso foi o do “bem comum”, da democratização. Tudo em nome de todos. Mas o “todos” significou muito mais “alguns poucos”. A modernização, sobretudo econômica, não ocorreu no sentido da transformação da ordem político-social vigente e do seu aperfeiçoamento constante no sentido da melhoria da qualidade de vida do conjunto da população. Essa modernização não se fez acompanhar da modernização política, da democratização do poder, do acesso das maiorias à cidadania econômica e social. (AURAS, 1991). A modernização foi conservadora! Assim, sob o pretexto da necessidade de modernizar a educação, os ensinos primário e médio foram reformados e instituições de ensino superior foram criadas, numa tentativa de adaptação da educação às novas necessidades do desenvolvimento do modo de produção capitalista. O contexto sócio-político e econômico da década de 1960 se constituiu num terreno fértil para a emergência do curso de Pedagogia no estado de Santa Catarina. A ênfase dada à formação de profissionais para a educação e a criação dos cursos superiores, importantes instrumentos para a construção da hegemonia pretendida, deram as condições para o seu surgimento. O contexto institucional, “faceta microscómica de um macrocosmo”, no qual foram criados os dois primeiros cursos de Pedagogia do estado de Santa Catarina – a universidade federal (UFSC) e a universidade estadual (UDESC) -, foi projetado para concretizar a idéia de uma universidade orientada pelo compromisso do desenvolvimento social. A criação do curso estava relacionada às finalidades que ao ensino superior foram atribuídas no projeto modernizador da sociedade catarinense capitaneado pelas oligarquias. O curso surgiu num contexto de embates entre as duas principais forças políticas partidárias e oligárquicas, de luta pelo controle do aparelho governamental. Essas forças percebiam o ensino superior como espaço de construção hegemônica na medida em que nele seria formada uma parcela das “elites condutoras”. Intelectuais vinculados a essas forças políticas, a rigor, não apresentavam projetos diferenciados de universidade, concebendo-a com função estratégica no desenvolvimento cultural do estado catarinense. Enquanto instituição da sociedade civil, a universidade historicamente se constitui num terreno no qual se dá a produção, difusão e reprodução das ideologias. E as forças políticas oligárquicas catarinenses tinham consciência da função que essa instituição poderia exercer no conjunto de suas proposições políticas, econômicas e culturais. A criação de um curso voltado para atender as demandas de uma sociedade em desenvolvimento, qual seja – a formação do professor do ensino médio e, por decorrência, a qualificação da escola primária e média pública -, colocou um imperativo: formar um determinado profissional da educação, aquele que pensa e faz educação numa perspectiva instrumentalizadora, portanto, fragmentada, técnica e pretensamente a-política. O curso de Pedagogia da universidade federal e da universidade estadual apresentou como objetivos formar o professor da escola normal e técnicos em educação, não definindo com clareza o que esse último significava e o que o primeiro de fato exigia. Essa proposta de formação do pedagogo na UFSC e na UDESC, no entanto, seguiu a tendência de formação dos profissionais da educação nacionalmente instituída pelos dispositivos legais. Uma tendência cujos modelos de formação - de 1939 (Decreto-lei nº 1.190/39), 1962 (Parecer nº 251/62) e 1969 (Parecer nº 252/69)-, no interior de uma racionalidade técnica, fragmenta a relação entre a teoria e a prática, o conteúdo e o método, o político e o técnico. O modelo de formação nessa perspectiva têm sido objeto de crítica pelos pesquisadores da área por sua inadequação para a formação de educadores preparados para produzir conhecimentos referidos a uma sociedade concreta e à compreensão da realidade social e das demandas oriundas das classes populares na escola pública. Um modelo que se limita a prover disciplinas como garantia da formação de determinados profissionais da educação, não se configurando como um “espaço propriamente investigativo”, resultando “num ensino a mais [sic] das vezes precário do ponto de vista da qualificação que propiciava e pouco consistente sob o aspecto da sua fundamentação teórico-científica” (SAVIANI, 2004). Como foi apontado no estudo de SILVA (1988, p. 44), “por melhor que fosse o trabalho desenvolvido no curso, em cada uma de suas disciplinas, a concepção orientadora da sua estrutura comprometia os esforços empreendidos”. Para o curso de Pedagogia, se a década de 1960 representou sua emergência no cenário cultural e político catarinense, as décadas seguintes (1970 e 1980) foram as décadas da sua expansão. No período de 1960-1970, o “curso de Pedagogia figurava entre aqueles com maior número de diplomados” (RODRIGUES, 1974, p.150). No primeiro qüinqüênio da década de 1970, o curso se situava entre os cursos de licenciatura mais procurados e com o maior número de conclusões: 1.438 alunos. No ano de 1973, dos 13.993 matriculados no ensino superior catarinense, esse curso apresentava o maior número de matrículas - 1.468 alunos. “Os licenciados em Pedagogia representavam nesse período [1960 – 1973] 25,63% de um total de 2.357 licenciados” (RODRIGUES, 1974, p. 180). Essa expansão do curso de Pedagogia também foi influenciada pela mesma ideologia desenvolvimentista que impulsionou a criação das universidades públicas (e do curso de Pedagogia) na capital do Estado. A expansão ocorreu via processo de interiorização e privatização do ensino superior catarinense. No interior do Estado, o curso de Pedagogia foi criado em instituições de ensino superior isoladas (predominando mais de 80% das vagas), caracterizadas como fundações educacionais, instituições cuja qualidade do ensino oferecido, na sua maioria, tem sido apontada como duvidosa. Em 2004, Santa Catarina possuía 18 instituições de ensino superior oferecendo curso de Pedagogia (75 cursos/habilitações regulares), em 57 municípios, ou seja, 20% dos municípios catarinenses. Foi, com certeza, uma expansão vertiginosa que, provavelmente, como a sua própria gênese, teve repercussões sobre a formação e atuação dos professores da escola pública. Essa expansão, como o próprio processo de formação inicial do curso de Pedagogia no estado de Santa Catarina, ainda deve continuar a ser objeto de estudos, debates e críticas. Sobretudo, críticas que continuem a anunciar e denunciar: para que e para quem o curso de Pedagogia continua formando e quem é o profissional que a sociedade revela ser preciso formar? (BRZEZINSKI, 2000). REFERÊNCIAS AGUIAR, Letícia Carneiro. O curso de Pedagogia em Santa Catarina: gênese, identidade e hegemonia de classe. LAFFIN, Maria Hermínia L. F.; RAUPP, Marilene D.; DURLI, Zenilde. Professores para a escola catarinense; contribuições teóricas e processos de formação. Florianópolis: UFSC, 2005, p. 193-217. AURAS, Gladys Mary Teive. A formação do professor das séries iniciais do ensino de 1º grau no âmbito da política de modernização econômica no Estado de Santa Catarina. 1993. 145 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1993. _______. 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A IDENTIDADE DO CURSO DE PEDAGOGIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA Zenilde Durli Universidade do Oeste de Santa Catarina - Unoesc Este trabalho é resultado de pesquisa de iniciação científica realizada no ano de 2005, intitulada “O curso de Pedagogia no Estado de Santa Catarina: das políticas públicas à organização curricular”. O texto tem como objetivo demonstrar o movimento pelo qual a identidade do curso se altera, provocando o deslocamento da formação de técnicos em educação à formação de professores para atuar na docência da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Com o apoio de dados empíricos, porém sem tomá-los como absolutos ou suficientes para conclusões definitivas, fazemos algumas considerações acerca do cenário que se desenha. Palavras-chave: Formação de Professores de professores em Santa Catarina / Cursos de Pedagogia/ Curso Normal Superior 2. O CURSO DE PEDAGOGIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA: GÊNESE E EXPANSÃO No Brasil, o espaço acadêmico para discussão e formação docente em nível superior foi estabelecido pelo Decreto no 19.851/31, que regulamentou o funcionamento das universidades brasileiras. A criação da Faculdade de Educação, Ciências e Letras, ao lado das faculdades então existentes, como uma das exigências para a institucionalização das universidades, não deixou de marcar o início de um processo de afirmação dos estudos educacionais na academia. O curso de Pedagogia, todavia, só seria criado a partir do Decreto-Lei no 1.190 de 04 de abril de 1.939, durante o regime ditatorial de Getúlio Vargas. O documento previa que os cursos de formação de professores fossem organizados em duas modalidades: o bacharelado e a licenciatura. O bacharelado tinha duração de três anos e, segundo a denominação da própria lei, formava os técnicos em educação que tinham como campo de atuação o Ministério da Educação e as Secretarias Estaduais de Educação. A licenciatura formava para atuação nos cursos Normais de nível médio. O diploma de licenciado para a docência era obtido por meio do curso de didática com duração de um ano, acrescido ao curso de bacharelado. Já na sua gênese, a definição da especificidade do curso e das funções dos bacharéis formados em Pedagogia era bastante fluída e indefinida tanto em termos de legislação quanto no que se refere ao campo de atuação. Com a retomada do processo democrático após a queda do governo Vargas a constituição do país é alterada promovendo mudanças na legislação educacional. A Lei de Diretrizes e Bases no 4.024/61, no bojo das demais determinações, baixa os currículos mínimos para os cursos superiores. No que se refere ao curso de Pedagogia estabelece que o bacharelado destina-se a formação do “técnico em educação” e a licenciatura ao professor das disciplinas pedagógicas do curso Normal. No entanto, é a reforma implantada pela Lei 5.540/68 que trouxe efetivas mudanças ao currículo desse curso dicotomizando-o em habilitações: para formação de especialistas, as habilitações técnicas – Orientação Educacional, Administração escolar, Supervisão Escolar, Inspeção escolar e Planejamento escolar; para atuação na docência do curso Normal a habilitação em Magistério de 2o Grau. A identidade do Pedagogo, que na sua gênese estava entre a titulação de Pedagogo ou licenciado, agora fica ainda mais complexa com a figura do especialista. Malgrado essa indefinição, a titulação passa a ser uma só, a de licenciado. É neste contexto que ocorre a gênese do curso de Pedagogia no estado de Santa Catarina. A UFSC, primeira instituição a criá-lo, recebeu autorização federal para o funcionamento em janeiro de 1.960. De acordo com Scheibe e Daniel (2002), na sua gênese tinha como finalidade formar professores para atuar tanto no ensino médio, nas escolas normais, quanto profissionais para o desempenho de tarefas não docentes da atividade educacional. Dois meses depois, em março, iniciaram-se as atividades letivas com 8 (oito) alunos matriculados. Nesta mesma oportunidade, houve a oferta do curso de Didática, destinado à formação pedagógica para bacharéis de outros cursos de graduação, visando a obtenção do título de licenciado. Alguns anos mais tarde, ainda na década de 60, o curso foi implantado pela UDESC, UNIVALI e FURB, concentrando-se no litoral do estado. Nesse período, havia paridade entre a quantidade de instituições públicas e privadas que o ofereciam, conforme demonstramos no quadro abaixo. QUADRO 01 CURSOS DE PEDAGOGIA EXISTENTES EM SANTA CATARINA, POR INSTITUIÇÃO, NA DÉCADA DE 60 INSTITUIÇAO Natureza Jurídica 1.UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Pública FEDERAL 2.UDESC – Universidade Estadual de Santa Catarina Pública ESTADUAL Fundacional 3.UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí Privada Filantrópica Fundacional MUNICÍPIO Data/ Inicio Funcionamento Florianópolis 1960 Florianópolis 01/03/1964 Itajaí 01/03/1965 Pública Municipal Blumenau Fundacional FONTE: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/. Acesso em julho de 2004. 4.FURB – Universidade Regional de Blumenau 25/05/1968 A expansão do curso no estado ocorreu nas duas décadas posteriores tendo como fulcro legal a Reforma Universitária de 1.968 e, como cenário sócio-econômico e político, o movimento desenvolvimentista que estava em ebulição no país. Desse modo, os fatores que a impulsionaram foram de ordens diversas: (a) o momento era dominado por ideais militares, decorrentes do Regime Militar no qual a educação era concebida como um canal de difusão de idéias que dariam sustentação ao sistema dominante; (b) em decorrência do movimento desenvolvimentista havia carência de mão-de-obra, especialmente aos cargos de nível intermediário, onde uma formação superior se fazia urgente; (c) incentivos financeiros provenientes tanto dos governos federal quanto estadual deram suporte ao surgimento de muitas instituições de Ensino Superior isoladas. Estudos realizados por Scheibe e Daniel (2002, p.28), dão visibilidade ao processo de crescimento do Ensino Superior que ocorre no estado de Santa Catarina, pela via das fundações educacionais, entre as décadas de 1.960 e 1.970: “(...) entre 1965 e 1970 foram criadas a FESC/UDESC, com campus em Florianópolis, Joinville e Lages; A FESSC em Tubarão; a FUCRI em Blumenau; a FURJ em Joinville; A FEDAVI em Rio do Sul; a UNIPLAC em Lages; A FUNPLOC em Canoinhas e a FUOC em Joaçaba. Já entre 1971 e 1975, criaram-se a FERJ em Jaraguá do Sul; A FEARPE em Caçador; a FEMARP em Videira; a FUNDESTE em Chapecó; a FUNORTE em Mafra e a FEBE em Brusque. Após 1975 foram criadas a FEAUC de Concórdia e a FEPLAC de Curitibanos.” No ano de 1.974, tais fundações educacionais, que a princípio eram isoladas, congregam-se dando origem a ACAFE - Associação Catarinense das Fundações Educacionais. Nesse período, não havendo criação de novas instituições públicas e quase nenhum incremento nas vagas oferecidas, a formação do Pedagogo passa a ocorrer, predominantemente, nas instituições privadas. Assim, a ampliação do oferecimento do curso de Pedagogia no estado está intimamente relacionada com a expansão das instituições de Ensino Superior que, fortalecidas em associação, instalam-se em quase todas as microrregiões catarinenses. A análise comparativa entre os dados do Quadro 01 e do Quadro 02 demonstra tanto o salto quantitativo ocorrido no período, quanto o processo de interiorização que se instala. QUADRO 02 CURSOS DE PEDAGOGIA IMPLANTADOS EM SANTA CATARINA NAS DÉCADAS DE 1970 E 1980 NATUREZA JURÍDIC A INSTITUIÇAO 1.UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina) 2.UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense) (Universidade do Contestado) 4.UNOCHAPECÓ (Universidade Chapecó) Comunitária Regional 5.FEJ (Faculdade de Educação de Joinville) de Data/ Início Func. Pública Municipal Fundacional Tubarão 26/02/1970 Pública Municipal Fundacional Criciúma 06/03/1970 Caçador Canoinhas 12/07/1972 03/03/1989 01/03/1986 P rivada Comunitária Filantrópica Fundacional Chapecó 13/03/1972 P rivada Joinville 01/06/1973 P rivada Comunitária Fundacional 3.UnC MUNICÍPIO Concórdia Joaçaba 6.UNOESC (Universidade do Oeste de Santa Catarina) 7.UNIFEBE (Centro Universitário de Brusque) 8.UNERJ (Centro Universitário de Jaraguá do Sul) 9.UNIDAVI Privada Filantrópica Fundacional 02/08/1976 01/08/1988 São M iguel d’Oeste 01/08/1988 São M iguel d’Oeste 01/08/1988 São M iguel d’Oeste Privada Comunitária Fundacional Brusque 02/03/1987 Privada Comunitária Fundacional Jaraguá do Sul 29/01/1988 Privada Comunitária Filantrópica Fundacional Rio do Sul (Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí) FONTE: http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/. Acesso em julho de 2005. 31/07/1989 A ampliação das fronteiras altera o cenário das quatro instituições, concentradas no litoral que caracterizaram a gênese do curso. Nas décadas de 1.970 e 1.980 a localização geográfica das instituições permite que o curso de Pedagogia chegue aos extremos do estado. Assim, de modo provisório, já podemos inferir algumas conclusões a partir dos dados até aqui trabalhados: a) a formação de professores teve sua gênese em instituições públicas, onde a estrutura permitia que se desenvolvessem atividades de ensino, pesquisa e extensão; b) a expansão e interiorização, no entanto, ocorre pelas instituições privadas onde a formação se dá primordialmente pelas atividades de ensino; c) as públicas, embora com as condições mais adequadas, formam um número de professores muito pequeno para o contexto do estado. Paradoxalmente, ainda que em condições consideradas inadequadas, a priori, são as instituições privadas que dão conta de formar o contingente de professores necessários ao desenvolvimento da educação no estado de Santa Catarina, especialmente para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental; d) a identidade do curso de Pedagogia, originariamente difusa, migra da formação de técnicos à formação de especialistas e docentes em conformidade com a legislação do período. 3. O CURSO DE PEDAGOGIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA NA ATUALIDADE Segundo Scheibe (2000), é a partir da década de 1.980 que a concepção do curso de Pedagogia passa mais efetivamente a preocupar os educadores que se organizaram com a finalidade de discutir sua identidade. Nesse movimento foi construída a compreensão de que o eixo principal de formação do profissional da educação é o trabalho pedagógico. Esse entendimento gerou, Por um lado, o início da institucionalização da formação, do professor para a atuação multidisciplinar, destinada ao magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível superior; por outro lado, construiu uma nova identidade para o pedagogo. Esta identidade é a de que o curso de pedagogia deve ser o local de formação de um profissional da educação, com sólida formação, capaz de articular/mediar/gerenciar atividades da educação. Neste profissional, portanto, a docência, a gestão, a supervisão e a orientação educacional fazem parte de um todo orgânico. (Ibidem, p.12) Assim, a partir dos anos 1.980, os cursos de Pedagogia passam a configurar-se em duas grandes tendências: de um lado a formação de licenciados especialistas, habilitados de acordo com o que determinava o parecer 252/69, ou seja: administradores escolares, supervisores, orientadores educacionais e inspetores que também poderiam atuar como docentes das disciplinas pedagógicas nos cursos de Magistério em nível médio; de outro lado, a formação de licenciados para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Essa última tendência ganha força em todo país e a questão da identidade do curso parecia estar resolvida. A calmaria era aparente. Com a aprovação da LDB 9.394/96 o curso de Pedagogia passou a figurar dentre os temas mais polêmicos a ser normatizado pela legislação complementar. A problemática tem base nos artigos 62, 63 e 64 da lei, e pode ser resumida em três pontos principais: a introdução da figura dos Institutos Superiores de Educação como novo lócus à formação de professores para atuar na Educação Básica; a criação do curso Normal Superior destinado à formação de docentes para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental; o estabelecimento de duas instâncias alternativas para a formação dos chamados “especialistas” da Educação Básica – os cursos de Pedagogia ou os cursos de pós-graduação. Com a reforma implantada pela LDB 9.394/96, as instituições de Ensino Superior podem assumir diferentes formatos: universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades e institutos superiores. Apenas nas universidades a pesquisa é uma exigência, nos demais é priorizado o ensino. Algumas intencionalidades das políticas vão sendo delineadas: desarticular o curso de Pedagogia retirando-o das universidades com o intuito de formar profissionais menos críticos e questionadores, alheios à dinâmica da pesquisa e do debate acadêmico, os experts em ensino; retirar a formação dos especialistas em educação da graduação formando-os na pós-graduação lato sensu, abrindo um novo nicho de mercado às instituições privadas; formar profissionais para a docência em instituições voltadas somente para o ensino, baixando custos e possibilitando a capacitação massificada. Neste contexto, dois fatores se destacam na caracterização atual do curso de Pedagogia no estado de Santa Catarina. Ao tomar para si a tarefa de formar, em nível superior, os professores que atuam na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, a identidade do curso redimensiona-se para a docência. Com a obrigatoriedade de formação superior para atuação na Educação Básica instituída pela LDB 9.394/96 a demanda pelo curso se amplia. A partir dos dados configurados no Quadro 03, em anexo, resultado de pesquisa empírica realizada no repositório on-line do INEP e nos dados estatísticos disponibilizados no site da ACAFE, o cenário atual do curso pode ser melhor apreciado. No estado de Santa Catarina os cursos de Pedagogia são ofertados por 20 instituições de três formatos, a saber: 12 são universidades, perfazendo um percentual de 60%; 6 são faculdades, ou seja, 30% delas; e somente duas caracterizam-se como centros universitários, totalizando 10%. Os índices demonstram, portanto, que o curso de Pedagogia, na sua grande maioria, é ofertado por universidades. Interessante retomar que durante o processo de interiorização do Ensino Superior catarinense, quando se deu a grande expansão dos cursos de Pedagogia, as instituições eram, na sua maioria, faculdades isoladas que se ocupavam predominantemente das atividades de ensino. Foram necessários longos anos para que se transformassem em universidades. Contraditoriamente, quando o curso de Pedagogia pode usufruir desse status das instituições e, conseqüentemente, da articulação entre ensino, pesquisa e extensão por ele propiciado, a legislação faz o movimento contrário, quando pela LDB 9.394/96 institui um novo lócus de formação fora da universidade. Após 40 anos de existência do curso no estado, as instituições de natureza jurídica privada continuam predominando no seu oferecimento. Das 20 instituições que atualmente oferecem o curso de Pedagogia somente 2 são públicas e 18 são privadas, ou seja, 90% delas. Desse total, 15 estão ligadas ao sistema ACAFE que disponibiliza dados relativos à matrícula e habilitações no período 2001-2004. Considerando essa amostra de 75%, buscamos reconhecer a identidade do curso no estado. No Quadro 04, em anexo, estão sistematizadas algumas informações que passamos a explorar. Nos últimos 4 anos, as 15 instituições ofereceram o curso de Pedagogia em 63 municípios, abrangendo, praticamente, todas as microrregiões do estado: Abelardo Luz, Apiúna, Araranguá, Balneário Camboriu, Barra Velha, Biguaçu, Blumenau, Braço do Norte, Brusque, Caçador, Campo Belo do Sul, Campos Novos, Canoinhas, Capinzal, Chapecó, Concórdia, Criciúma, Curitibanos, Florianópolis, Fraiburgo, Gaspar, Ibirama, Içara, Imbituba, Irani, Itajaí, Itapema, Ituporanga, Jaraguá do Sul, Joaçaba, Joinville, Lages, Laguna, Mafra, Maravilha, Massaranduba, Monte Carlo, Orleans, Otacílio Costa, Palhoça, Piçarras, Porto União, Pouso Redondo, Presidente Getúlio, Rio do Sul, Rio Negrinho, Santa Cecília, São Bento do Sul, São Domingos, São Joaquim, São José, São Lourenço do Oeste, Seara, Taió, Tijucas, Timbó, Tubarão, Turvo, Urubici, Urussanga, Videira, Xanxerê, Xaxim. Considerando que temos somente duas universidades públicas concentradas no litoral, são as instituições privadas que oferecem às várias microrregiões a possibilidade de formação, em nível superior, para atuação na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Nos últimos anos a UDESC formou cerca de 14.000 mil professores em todo o estado, mas essa experiência se deu pelo ensino à distância. Assim, na modalidade presencial, a formação se efetiva pela via do ensino privado. A predominância das vagas oferecidas centra-se em habilitações voltada à docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental e em segundo lugar, na Educação Infantil; aparece ainda, a docência na Educação Especial e em Matérias Pedagógicas do Ensino Médio, porém com uma incidência muito pequena quando comparada às duas primeiras. Com relação à formação de especialistas registramos três bacharelados: Tecnologia Educacional, Treinamento Empresarial e Supervisão Escolar. As duas primeiras são oferecidas de forma conjugada. Constata-se grande decréscimo no oferecimento dos bacharelados, especialmente daqueles que tradicionalmente caracterizavam o curso de Pedagogia -Administração Escolar, Supervisão Escolar, Orientação Escolar. Evidencia-se que na formação de professores a ênfase está na docência para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Comprovadamente a identidade do curso hoje difere daquela do período de expansão quando a formação de especialistas predominava. Em relação ao turno de oferecimento, encontramos quatro categorias: noturno, noturno/matutino, regime especial e regime integral. A maior incidência se encontra nas categorias noturno e regime especial. O regime especial é uma modalidade que aparece em nosso estado após as exigências de formação em nível superior imposta pela LDBEN 9.394/96. Para atender as necessidades da clientela que já estava atuando nas escolas, as universidades se viram instadas a oferecer alternativas de formação aos professores cuja carga horária de trabalho não permitia freqüentar os cursos regulares. Dessa necessidade concreta surgem algumas modalidades como alternativas àquelas convencionais, apresentando variações internas: 1) modalidade de final de semana: a) sextas-feiras no período noturno e sábado -matutino e vespertino, b) sextas-feiras no período noturno e sábado no período matutino, c) sábado matutino e vespertino; 2) modalidade de férias: a) aulas intensivas oferecidas durante o mês de janeiro e parte de fevereiro, até o início das aulas no ensino regular, b) aulas intensivas nos meses de janeiro e julho; 3) modalidades mistas: a) aulas concentradas em finais de semanas e alguns períodos de férias, b) aulas em alguns dias da semana no período noturno, com complementação em períodos de férias, c) aulas em alguns dias da semana no período noturno, com complementação em alguns sábados. Das experiências que conhecemos no estado, essas foram às modalidades identificadas, possivelmente existam outras. Nas 15 instituições associadas a ACAFE, que tomamos como amostra, o número de matrículas no curso de Pedagogia no período 2001-2004 atinge o montante de 51.167 matrículas. Nesse resultado foram computados os números do curso de Pedagogia à distância da UDESC, uma vez que nos dados do site eles aparecem na soma geral da instituição. Quando comparamos este número de matrículas com o número de funções docentes que constam na parte do diagnóstico da versão 2004 do Plano Estadual de Educação do Estado de Santa Catarina, constatamos uma diferença de quase 10.000 mil professores em formação excedentes em relação ao número de funções. Esse excedente cresce significativamente se considerarmos que do número de funções apresentadas pelo documento do estado (41.546) muitas já estão preenchidas com professores que possuem formação superior específica, o que aumenta ainda o excedente de professores formados. Para compreender a complexidade desse quadro, é importante ressaltar que foram computadas somente as matrículas de 15 instituições que oferecem o curso de Pedagogia, havendo mais cinco no estado cujos dados não foram considerados. Ainda, que a formação de professores para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental também ocorre no curso Normal Superior. No estado, o primeiro Curso Normal Superior foi aprovado em 1.999. A expansão, porém, ocorreu nos anos de 2003 e 2004, conforme apresentamos no Quadro 05, em anexo. De acordo com os dados coletados, em 2005, eram 10 instituições autorizadas ao oferecimento. Desse total, 9 estavam com o curso em funcionamento. O que podemos inferir deste cenário, é que o número de professores em formação para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental é muito superior ao número de funções docentes existentes no estado, o que poderá implicar, a curto e médio prazo, um sério problema às instituições que oferecem o curso de Pedagogia, no que se refere a necessária relação entre demanda e vagas existentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A identidade dos cursos de Pedagogia no estado de Santa Catarina se alterou, inicialmente, atendendo ao movimento da legislação nacional que impôs um deslocamento da formação de especialistas, que caracterizava sua gênese, à formação para a docência. A formação de professores em nível superior para atuação na docência da Educação Básica surge como uma demanda na década de 80 quando o curso de Pedagogia assume, inclusive no cenário nacional, a tarefa de preparar os profissionais que atuariam na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim, a identidade do curso de Pedagogia migra da formação de especialistas à formação para a docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil. Ainda que as reformas implantadas para a formação de professores pós LDBEN 9.394/96 encaminhem para um novo lócus – o curso Normal Superior – no estado de Santa Catarina predominam os cursos de Pedagogia como principal formador, em nível superior, para a docência na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Os números referentes às matrículas nos cursos de Pedagogia no estado, no período 2001-2004, são expressivos e centrados na formação para docência. Se levarmos em consideração o número de funções docentes previstas pela Secretaria de Educação do estado, em breve poderemos ter a saturação do campo de atuação desses profissionais e um elevado número de vagas excedentes nos cursos de Pedagogia. Mas é preciso considerar também que há reivindicações sempre presentes no sentido de diminuir o número de alunos em sala de aula, e de aumento do número de horas para atividades dos docentes fora de sala de aula. Estes fatos relativizam o número apresentado pela secretaria. Interessante retomar que durante o processo de interiorização do ensino superior, quando se deu a grande expansão dos cursos de Pedagogia as instituições eram, na sua grande maioria, faculdades isoladas que se ocupavam predominantemente das atividades de ensino. Atualmente a situação se inverte na medida em que as instituições se transformaram em universidades possibilitando a inclusão de atividades ligadas à pesquisa e à extensão. REFERÊNCIAS AGUIAR, Letícia Carneiro. O curso de Pedagogia em Santa Catarina: gênese, identidade e hegemonia de classe. In: Professores para a escola catarinense: contribuições teóricas e processos de formação. Florianópolis, Ed. Da UFSC, 2005. KISHIMOTO, Tizuko, Morchida. Política de formação profissional para a educação infantil: Pedagogia e Normal Superior. Educação & Sociedade, ano XX, no 68, Dezembro de 1999. SCHEIBE, Leda; DURLI, Zenilde. Os Cursos de Pedagogia em Santa Catarina no contexto atual. In: ANAIS IV Educere PUCPR – II Congresso da Área de Educação, 2004. SCHEIBE, Leda; AGUIAR, Márcia Ângela. Formação de profissionais da educação no Brasil: o curso de Pedagogia em questão. Educação & Sociedade, ano XX, no 68, Dezembro de 1999. SCHEIBE, Leda; BAZZO, Vera Lúcia. A construção de uma base comum nacional par a formação de profissionais da educação no Brasil. Contrapontos/Universidade do Vale do Itajaí. Ano 1, n.I (2001) – Itajaí: Univali, jan./jun. 2001. SCHEIBE, Leda; DANIEL, Leziany, Silveira. Formação docente para a Educação Básica: um desafio para o Ensino Superior no século XXI. In; SCHEIBE, Leda; DAROS, Maria das Dores. Formação de professores em Santa Catarina. Florianópolis : NUP/CED, 2002. SILVA, Carmem Silvia Bissolli da. Curso de Pedagogia no Brasil: história e identidade. Campinas, S.P: Autores Associados, 2003. ANEXOS QUADRO 03 CURSOS DE PEDAGOGIA EXISTENTES EM SANTA CATARINA POR INSTITUIÇÃO – 2005 INSTITUIÇAO 1.UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) 2.UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina) 3.FURB (Universidade Regional Blumenau) 4.UNIVALI (Universidade Vale do Itajaí) de do Natureza Jurídica Pública FEDERAL Pública ESTADUAL Fundacional Pública Municipal Fundacional Privada Filantrópica Fundacional Data/Inicio Func. Modalidade 19/01/1959 P resencial (Licenciatura e Bacharelado) Administração Escolar M agistério das M atérias Pedagógicas de 2o Grau M agistério das Séries Iniciais Orientação Educacional Supervisão Escolar 01/03/1964 P resencial (Licenciatura e Bacharelado) Educação Infantil Séries Iniciais do Ensino Fundamental 19/08/1999 A distância (Licenciatura) Blumenau Administração Escolar M agistério de 1a a 4a série do Ensino Fundamental e Educação Especial M agistério do Pré-Escolar à 4a Série Orientação Educacional Supervisão Escolar 25/05/1968 P resencial (Licenciatura e Bacharelado) Timbó M agistério do Pré-escolar da Educação Infantil e 1a a 4a Série do Ensino Fundamental 05/03/1990 P resencial (Licenciatura) Gaspar M agistério do Pré-escolar da Educação Infantil e 1a a 4a Série do Ensino Fundamental 03/08/1998 P resencial (Licenciatura) Ibirama M agistério do Pré-escolar da Educação Infantil e 1a a 4a Série do Ensino Fundamental 13/08/1999 P resencial (Licenciatura) Itajaí Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Educação Pré-Escolar M agistério das M atérias Pedagógicas 2o Grau Orientação Educacional 09/03/1990 P resencial (Licenciatura e Bacharelado Biguaçu Tecnologia Educacional (Ênfase em Educação a Distância) e treinamento Empresarial 24/02/1997 (Extinto) P resencial (Bacharelado) Piçarras 16/02/1998 P resencial (Licenciatura) São José 22/12/1999 P resencial (Licenciatura) São José 06/11/1999 P resencial (Licenciatura) Navegantes 26/03/1999 P resencial (Licenciatura) 26/07/1999 P resencial (Licenciatura) 05/07/1999 P resencial (Licenciatura) 26/03/1999 P resencial (Licenciatura) MUNICÍP IO Florianópolis Florianópolis Santo Amaro da Imperatriz Itajaí Ilhota Balneário Camboriu HABILITAÇÕES Docência das Disciplinas Pedagógicas Educação Especial Educação Infantil Orientação Educacional Supervisão Escolar Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 11/08/2000 P resencial (Em extinção) (Licenciatura) Piçarras 31/03/2000 P resencial (Licenciatura) Biguaçu 01/03/2001 P resencial (Licenciatura) 5.UNESC (Universidade Extremo Catarinense) do Sul 6.UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina) Pública Municipal Fundacional M agistério da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental M agistério das M atérias Pedagógicas do Ensino M édio M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental M agistério do Pré-escolar à 4a Série do Ensino Fundamental 06/03/1970 P resencial (Licenciatura) M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental 01/07/1999 P resencial (Licenciatura) M agistério das M atérias Pedagógicas do Ensino M édio e do Pré-Escolar à 4a Série do Ensino Fundamental 02/08/1999 P resencial (Licenciatura) Tubarão Educação Especial Educação Infantil M agistério das M atérias Pedagógicas do 2o Grau M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental-Educação Especial M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental – Educação Infantil Orientação Escolar Supervisão 26/02/1970 P resencial (Licenciatura e Bacharelado Araranguá Educação Especial M agistério das M atérias Pedagógicas M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental Orientação Educacional 19/02/1992 P resencial (Licenciatura e Bacharelado Palhoça Educação Infantil M agistério das M atérias Pedagógicas de 2o Grau M agistério das Séries Iniciais 15/04/1996 P resencial (Licenciatura) Criciúma Pública Municipal Fundacional 03/08/1998 Braço do Norte Laguna Içara Imbituba M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental 03/08/1998 22/02/1999 22/02/1999 P resencial (Licenciatura) Joaçaba 02/08/1976 P resencial (Licenciatura) Pedagogia Emergencial: Educação Infantil Séries Iniciais do Ensino Fundamental 18/09/1998 P resencial (Licenciatura) Pedagogia de Férias: Educação Infantil Séries Iniciais do Ensino Fundamental 03/07/1995 P resencial (Licenciatura) Administração Escolar do Ensino Fundamental e M édio Educação Infantil M agistério das M atérias Pedagógicas do Ensino M édio Orientação Educacional Séries Iniciais do Ensino Fundamental 01/08/1988 P resencial (Licenciatura e Bacharelado Educação Especial 01/08/1988 P resencial (Licenciatura) Pedagogia Empresarial 01/08/1988 P resencial (Licenciatura) Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 01/03/1990 P resencial (Licenciatura) Educação Especial 17/02/2003 P resencial (Licenciatura) Educação Infantil 08/08/2003 P resencial (Licenciatura) Séries Iniciais do Ensino Fundamental 01/08/1990 P resencial (Licenciatura) Pedagogia Empresarial 01/03/1999 P resencial (Licenciatura) Séries Iniciais do Ensino Fundamental 01/03/1999 P resencial (Licenciatura) São Domingos Séries Iniciais do Ensino Fundamental 01/08/1998 P resencial (Licenciatura) Abelardo Luz Séries Iniciais do Ensino Fundamental 18/02/2001 P resencial (Licenciatura) 02/03/1995 P resencial (Licenciatura) 02/03/1996 P resencial (Licenciatura) Joaçaba/ Capinzal Joaçaba/ Campos Novos São Miguel D’ Oeste 7.UNOESC (Universidade do Oeste de Santa Catarina) Educação Infantil Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Privada Filantrópica Fundacional Videira Xanxerê Maravilha 8.UNIVILLE (Universidade da Região de Joinville) 9.UnC (Universidade Contestado) do Privada Comunitária Fundacional Privada Comunitária Fundacional São Bento do Sul Joinville M agistério Educação Infantil (0 a 6 anos) e M agistério Ensino Fundamental (1a a 4a Série) Caçador Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Educação Especial 12/07/1972 P resencial (Licenciatura) Concórdia Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 03/03/1989 P resencial (Licenciatura) Canoinhas Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 01/03/1986 P resencial (Licenciatura) Mafra Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Educação Especial 04/03/1992 P resencial (Licenciatura) Fraiburgo 04/03/1992 Curitibanos 27/02/1995 26/02/1996 Santa Cecília Monte Carlo Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 25/09/1998 Porto União 28/08/1999 Rio Negrinho 22/02/1999 Seara 24/04/1999 P resencial (Licenciatura) 10.UNIPLAC (Universidade do Planalto Catarinense) 11.UNIFEBE (Centro Universitário de Brusque) 12.UNERJ (Centro Universitário de Jaraguá do Sul) 13.UNIDAVI (Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí) 14.UNOCHAPECÓ (Universidade Comunitária Regional de Chapecó) 15.FEAVART (FEBAVE) (Faculdade de Educação do Alto Vale do rio Tubarão) 16.FEJ (Faculdade Educação Joinville) 17.FACVEST (Faculdades Integradas) de de Lages 01/03/1997 Lages 01/03/1997 30/03/1998 São Joaquim Privada Fundacional Urubici Campo Belo do Sul Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 05/04/2000 P resencial (Licenciatura) 07/04/2000 Lages 15/07/2001 Otacílio Costa 19/07/2002 Privada Comunitária Fundacional Brusque M agistério do Pré-Escolar à 4a Série do Ensino Fundamental 02/03/1987 P resencial (Licenciatura) Privada Comunitária Fundacional Jaraguá do Sul Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental 29/01/1988 P resencial (Licenciatura) Rio do Sul Docência dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental M agistério da Pré-escola à 4a Série do Ensino Fundamental 31/07/1989 P resencial (Licenciatura) Taio M agistério da Pré-escola à 4a Série do Ensino Fundamental 02/08/1999 P resencial (Licenciatura) Pouso Redondo M agistério da Pré-escola à 4a Série do Ensino Fundamental 24/02/2003 P resencial (Licenciatura) Chapecó Complementação de Estudos Educação Infantil Educação Especial Educação Infantil Séries Iniciais do Ensino Fundamental 13/03/1972 P resencial (Licenciatura) São Lourenço do Oeste Não informa habilitação 07/10/1996 P resencial (Licenciatura) Xaxim Não informa habilitação 31/07/2000 P resencial (Licenciatura) Orleans Educação Pré-Escolar e M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental 13/09/1999 P resencial (Licenciatura) Joinville Administração Escolar Educação Infantil M agistério das M atérias Pedagógicas 2o Grau M agistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental M agistério Pré-Escolar Orientação Educacional Supervisão Escolar 01/06/1973 P resencial (Licenciatura e Bacharelado Lages M agistério da Educação de Jovens e Adultos M agistério da Educação Infantil M agistério dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental 07/08/2000 P resencial (Licenciatura) 25/09/2003 P resencial (Bacharelado) Privada Comunitária Filantrópica Fundacional Privada Comunitária Filantrópica Fundacional Privada Comunitária Filantrópica Fundacional Privada Privada 18.FCHSJ (Faculdade Gestão Escolar Joinville de Ciências Humanas Privada Tecnologia Educacional e Sociais de Joinville) 19.FCSA Faculdade Florianópolis Pedagogia com ênfase em Educação Digital de Ciências Sociais Privada de Florianópolis 20.FAAG – São José Gestão e Tecnologia Faculdade Anita Privada Garibaldi FONTE: www.inep.gov.br. Acesso em julho de 2005. 21/02/2005 01/03/2005 P resencial (Bacharelado) P resencial (Bacharelado) QUADRO 04 HABILITAÇÕES OFERECIDAS PELO CURSO DE PEDAGOGIA NAS INSTITUIÇÕES CONVENIADAS À ACAFE E NÚMERO DE MATRICULADOS – 2001-2004 INSTITUIÇAO MUNIC ÍPIO HABILITAÇÕES OFERECIDAS NO PERÍODO 2001-2004 Turno No de m atricu lado s n o pe ríodo 1.FEBAVE Orleans Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Disciplinas do Ensino M édio Noturno 193 2. UNOESC Joaçaba, Videira, Campos Novos, Xanxerê, São M iguel Do’ Oeste, Capinzal, M aravilha, São Domingos, Abelardo Luz Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Séries Iniciais do Ensino Fundamental Educação Especial Noturno e Regime Especial 4.988 3. FEHH Ibirama Magistério P ré-escolar, Educação Infantil e 1a. a 4a. Série do Ensino Fundamental Noturno 29 4. FURB Gaspar, Blumenau, Timbó, Ibirama Magistério P ré-escolar, Educação Infantil e 1 a a 4 a séries do Ensino Fundamental Educação Especial e Magistério de 1a. a 4a. Série do Ensino Fundamental P ré-escolar, Educação Infantil e 1a. a 4a. Série do Ensino Fundamental Noturno Matutino 2235 5. UDESC Não informado Educação Infantil e Séries Iniciais do Fundamental Matutino/Not urno Integral 12.936 6. UnC Caçador, Concórdia, Noturno M afra, Curitibanos, Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Noturno/sábad Fraiburgo, Porto União, Fundamental o Rio Negrinho, Canoinhas, Anos Iniciais do Ensino Fundamental Regime Santa Cecília, M onte especial Carlo, Seara, Irani 7.038 7. UNERJ Jaraguá do Sul Barra Velha M assaranduba Educação Infantil e Séries Iniciais do Fundamental Educação Infantil Ensino Ensino Noturno Matutino 910 8. UNESC Séries Iniciais do Ensino Fundamental Magistério da P ré-Escola à 4a. Série do Ensino Criciúma, Turvo, Orleans, Fundamental Urussanga Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Noturno Regime Especial 1.345 9. UNIDAVI Rio do Sul, Taió, Pouso Redondo, Presidente Getúlio, Ituporanga, Apiúna Docência dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Magistério da P ré-Escola à 4a. Série do Ensino Fundamental Regime Especial Noturno 1.486 10.UNIFEBE Brusque Magistério da P ré-Escola à 4a. Série do Ensino Fundamental Séries Iniciais do Ensino Fundamental Educação Infantil P ré-Escolar à 4º Série do Ensino Fundamental Noturno Regime Especial 888 11. UNIP LAC Lages, São Joaquim, Urubici Campo Belo do Sul, Otacílio Costa Educação Infantil e Séries Iniciais do Fundamental Matutino Noturno Regime Especial 1.687 12. UNISUL Tubarão, Araranguá,, Içara, Florianópolis, Palhoça, Laguna, Imbituba, Braço do Norte, Educação Especial Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Séries Iniciais do Ensino Fundamental Magistério Séries Iniciais e Educação Infantil Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental Regime especial Noturno 4.561 13. UNIVALI Itajaí, São José, Balneário Camboriu, Tijucas, Biguaçu, Itapema, Piçarras, Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental T ecnologia Educacional e T reinamento Empresarial – bacharelado) Supervisão Escolar – bacharelado Noturno Regime Especial 12.993 Ensino 14. UNIVILLE Joinville, São Bento do Sul Educação Especial Educação Infantil e Séries Iniciais do Fundamental 15.UNOCHAP ECÓ Chapecó São Lourenço do Oeste Xaxim Educação Infantil e Séries Iniciais do Fundamental Séries Iniciais do Ensino Fundamental Educação Infantil 1.555 Noturno Regime especial 2323 Ensino Regime especial Matutino Noturno Ensino FONTE: www.acafe.org.br. Acesso em julho de 2005. QUADRO 05 CURSOS NORMAL SUPERIOR EXISTENTES EM SANTA CATARINA 2005 INSTITUIÇÃO Natureza Jurídica 1.FACIVI Faculdades Integradas do Vale do Itajaí Privada Particular em Sentido Estrito 2.FAMEG Faculdade Metropolitana de Guaramirim Privada Particular em Sentido Estrito 3.FACULDADE DE ITAPIRANGA Privada Particular em Sentido Estrito MUNICÍPIO Indaial Data/In í. Fu n c. Modalidade Educação Infantil Ensino 22/02/1999 Fundamental – Séries Iniciais Presencial (Licenciatura) Anos Iniciais do Ensino 25/07/2002 Fundamental Educação Infantil Presencial (Licenciatura) Anos Iniciais do Ensino 17/02/2003 Fundamental Educação Infantil Presencial (Licenciatura) Licenciatura para a Educação Infantil Licenciatura para 17/02/2003 os Anos Iniciais do Ensino Fundamental Presencial (Licenciatura) Magistério da Educação Infantil Magistério dos 24/02/2003 Anos Iniciais do Ensino Fundamental Presencial (Licenciatura) Anos Iniciais do Ensino 06/03/2003 Fundamental Educação Infantil Presencial (Licenciatura) Anos Iniciais do Ensino Fundamental 29/09/2003 Presencial (Licenciatura) Anos Iniciais do Ensino 16/02/2004 Fundamental Educação Infantil Presencial (Licenciatura) Anos Iniciais do Ensino Fundamental Presencial (Licenciatura) HABILITAÇÕES Guaramirim Itapiranga 4.FACISA-CELER Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Privada Particular em Sentido Estrito Xaxim 5.FACULDADE SINERGIA Privada Particular em Sentido Estrito Navegantes Privada 6.ISESC Instituto Joinville Superior de Educação Particular em Sentido Estrito de Santa Catarina Privada 7.AVANTIS Instituto Balneário Superior de Educação Particular em Camboriú Sentido Estrito Avantis 8.FACC Faculdade de Concórdia Privada Particular em Sentido Estrito 9.IFES – Instituto Fayal Privada Filantrópica de Ensino Superior Privada 10.INESA Instituto de Ensino Superior Santo Particular em Sentido Estrito Antônio Concórdia Itajaí Joinville FONTE: www.inep.gov.br . Acesso em julho de 2005. Magistério nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental 16/02/2004 01/03/2005 Presencial (Licenciatura)