BIBLIOTECA DE REFERÊNCIA NEAB/UDESC: DISSEMINANDO A HISTÓRIA E A MEMÓRIA DOS AFRO-BRASILEIROS EM SANTA CATARINA. Área temática: Cultura Responsável pelo trabalho: Paulino de Jesus Francisco Cardoso Graziela dos Santos Lima Instituição: Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Nome dos Autores: Paulino de Jesus Francisco Cardoso 1 Graziela dos Santos Lima2 Resumo: Apresentamos, neste trabalho, as atividades realizadas no Núcleo de Estudos AfroBrasileiros – NEAB, da Universidade do Estado de Santa Catarina, com o intuito de buscar meios para disseminar informações que viabilizem, assim, o acesso de pesquisadores/as, acadêmicos/as dentre outros interessados em aspectos culturais, sócioeconômicos, educacionais dos afrodescendentes em Santa Catarina. Uma das atividades da biblioteca de referência é tornar visível a temática africana e afro-brasileira, bem como questões relacionadas a gênero e sexualidade. Temas pouco discutidos em escolas e, portanto, percebemos poucos livros sobre a temática disponíveis na biblioteca escolar e, também, pouco procurados para satisfazer as dúvidas que cercam as crianças. É por meio de oficinas, por exemplo, que algumas curiosidades são satisfeitas. Palavras-Chaves: Biblioteca de Referência, Diversidade Cultural, Afrodescendentes. Introdução Biblioteca de Referencia é um projeto de extensão vinculado ao Programa Extensão Memorial Antonieta de Barros da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. O referido Programa faz parte do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – NEAB/UDESC, que tem a finalidade de auxiliar a Universidade do Estado de Santa 1 2 Coordenador do Projeto Biblioteca de Referência NEAB/UDESC. Bolsista do Projeto Biblioteca de Referência NEAB/UDESC. Catarina, através das atividades de ensino, pesquisa e extensão a formular e executar políticas de promoção de igualdade e valorização da diversidade Étnico – Racial. Segundo Miriam Mattos3, O Memorial Antonieta de Barros foi pensado inicialmente como instrumento de suporte das atividades do Grupo de Pesquisa Multiculturalismo, possibilitando o acesso dos pesquisadores as inúmeras fontes arquivísticas espalhadas pela Ilha de Santa Catarina. (MATTOS, 2008, p. 240) Em homenagem a primeira deputada negra do Brasil, a catarinense Antonieta de Barros, o Programa de extensão possui atualmente três projetos vinculados: Centro de Memória e História das populações de origem africana de Santa Cataria; Biblioteca de Referência NEAB/UDESC; Suporte às políticas públicas de Implementação da Lei Federal 10.639/03 em Santa Catarina. As ações que serão apresentadas fazem parte do projeto Biblioteca de Referência que ao longo dos sete anos de existência, muitas ações de extensão foram desenvolvidas, tais como: atualizações dos catálogos de fontes bibliográficas das principais bibliotecas universitárias de Santa Catarina; sistematização de documentos pesquisados, coletados e transcritos de diferentes acervos históricos do Estado; seleção e aquisição de novas obras e materiais para a Biblioteca seguindo a política de desenvolvimento de coleções organizada pelo NEAB/UDESC; reorganização periódica do acervo da Biblioteca; organização das pastas de textos a partir da temática africana e afro-brasileira; disponibilização de informações referentes às ações da biblioteca através do Portal Multiculturalismo. E nestes setes anos, três bolsistas atuaram no projeto com importantes contribuições retiradas do curso de Biblioteconomia da UDESC. A Biblioteca de Referência tem o intuito de implementar meios para disseminar informações acerca de aspectos culturais, sócio-econômicos, educacionais dos afrodescendentes no estado e, neste sentido, possibilita o acesso de pesquisadores(as), acadêmicos(as), 3 professores(as), gestores(as) públicos(as) auxiliando Foi bolsista de extensão Biblioteca de Referência sob diversidade cultural no período de 2007. no desenvolvimento de estudos, pesquisas e práticas de ensino contribuindo para o processo de implementação da Lei Federal 10.639/03. A experiência de extensão que será explicitada no artigo é referente ao período de 2008 a 2010, tendo como bolsista Graziela dos Santos Lima, sob coordenação do Profº Drº Paulino de Jesus Francisco Cardoso. Material e metodologia O projeto “Biblioteca de Referência NEAB/UDESC” tem o intuito de organizar, sistematizar, armazenar e disponibilizar informações acerca da história e da cultura africana e afro-brasileira, esta, especialmente em Santa Catarina. As informações armazenadas encontram-se em diferentes suportes: DVD, CD, Livros, Dissertações, Teses, TCC, bem como, fontes documentais provenientes de pesquisas realizadas em Arquivos Públicos e Particulares (Estadual, Tribunal de Justiça, Cartório Kotzias, Cúria Metropolitana, Acervo Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos e Biblioteca Pública Estadual) que foram transcritas e digitalizadas. Todos os suportes citados compõem o acervo da Biblioteca. As obras do acervo se referem a temáticas voltadas para a história, a cultura, a educação e a memória das populações de origem africana, tanto do estado de Santa Catarina quanto de abrangência nacional. Especificamente em relação às obras catarinenses, estas contêm informações que, ainda hoje, são consideradas ou vistas como inexistente o que resulta num silenciamento. Segundo Leite, A invisibilidade do negro é um dos suportes da ideologia do branqueamento, podendo ser identificada em diferentes tipos de práticas e representações. [...] não é que o negro não seja visto, mas sim que ele é visto como não existente. [...] revelando-se como uma das principais formas de o racismo se manifestar. Como um dispositivo de negação do Outro, muitas vezes inconsciente, é produtor e reprodutor do racismo. A invisibilidade pode ocorrer no âmbito individual, no coletivo, nas ações institucionais, oficiais e nos textos científicos. (LEITE, 1996, p. 41) No entanto, são memórias que não devem ser esquecidas, silenciadas ou invisibilizadas. Segundo Silva4 e Lucas, [...] à presença dos fatos que giram em torno da história e da memória das populações afrodescendentes em Santa Catarina e possibilitando o acesso à informações da sua verdadeira importância na história brasileira que favorece o fortalecimento de tais identidades. (SILVA e LUCAS, 2006, p.85). 4 Foi bolsista de extensão Biblioteca de Referência sob diversidade cultural no período de 2003. No que se refere às obras bibliográficas, estas foram compradas de editoras especializadas na publicação de estudos acerca da temática de África, dos afrobrasileiros, das relações raciais, da diversidade étnica, de gênero e do multiculturalismo. Estas obras precisam, agora, ser catalogadas, indexadas e classificadas conforme o sistema de busca da informação. Este sistema facilita a recuperação da informação e se constitui como um dos aspectos centrais na disponibilização de forma adequada desta a partir dos parâmetros teóricos e práticos do trabalho da biblioteconomia. Em relação às fontes históricas pesquisadas, as teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso serão disponibilizados através do portal: www.multiculturalismo.udesc.br. Uma prática que está sendo realizada e deverá continuar na biblioteca de referência, com intuito de fazer a disseminação seletiva da informação, é a política de desenvolvimento de coleção. Esta envolve várias ações/etapas: 1) Análise dos acervos verificando a qualidade e quantidade dos materiais; 2) Seleção de materiais para serem adquiridos e o desbastamento quando estes se encontrarem em péssimas condições de uso, estiverem desatualizados ou em desuso pelos usuários; 3) Estudo de usuários reais e potenciais objetivando aprimorar o acervo bem como o serviço de referência que possibilita satisfazer as necessidades do mesmo. A seleção de materiais é feita pela comissão escolhida pelo coordenador do projeto de extensão. Os materiais disponíveis na biblioteca contribuem para a disseminação do conhecimento, o debate de idéias e a produção de novos conhecimentos. A Biblioteca se constitui como um aporte para estudantes de escolas públicas e privadas, de ensino superior, pesquisadores (as) e professores (as) interessados na temática e a ampliação do conhecimento e, portanto, da visão com relação à cultura afro-brasileira. As ações do projeto são organizadas e sistematizadas através do planejamento tático e operacional das atividades desenvolvidas durante o ano. Resultado e Discussões Ao longo de 2010, mais precisamente no primeiro semestre, a Biblioteca de Referência NEAB/UDESC adquiriu, por meio de vários projetos, livros referente à temática africana e afro-brasileira. As aquisições serviram para suprir a deficiência de bibliografias relacionadas às disciplinas de História da África (Graduação em História) e Multiculturalismo, Quotidiano e História (Pós-Graduação em História), bem como dos Grupos de Estudos de História da África e Diáspora, Pós-Abolição e Diversidade na Educação. Por meio de recursos de projetos internos e externos relacionados ao Centro de Ciências da Educação – FAED obteve, também, novos livros para o acervo da Biblioteca Central da UDESC, num total de aproximadamente 600 novos títulos, disponíveis no acervo “Estudos africanos e afro-brasileiros do NEAB”. A seleção e aquisição dos livros referidos anteriormente seguiram parcialmente a Política de Desenvolvimento de Coleções elaborada pela antiga bolsista do núcleo, Miriam Mattos. Segundo Weitzel, a política de desenvolvimento de coleções, [...] um instrumento importante para desencadear o processo de formação e crescimento de coleções, constituindo-se num documento formal elaborado pela equipe responsável pelas atividades que apóiam o processo de desenvolvimento de coleções como um todo. (WEITZEL,2006, p.18) Tal política serve para selecionar materiais de acordo com os objetivos da biblioteca. Portanto, a seleção foi feita com critérios relacionados aos assuntos abordados nas disciplinas e nos grupos de estudos anteriormente citados. Teve a participação de professores/as especialistas na área que enviaram bibliografias e deram sugestões de onde buscar os materiais. Além disso, foram divulgados via emails às bibliografias adquiridas com o intuito de instigar os/as usuário/as a prática da leitura. Atividade disseminadora da Biblioteca de Referência: oficinas pedagógicas A Biblioteca de Referência tem um papel importante que é disseminar a informação referente à temática africana e afro-brasileira. Conforme Barros, o processo de disseminar informações envolve dois aspectos fundamentais: o pressuposto de que há informações a serem disseminadas e que o próprio processo envolve estratégias e técnicas de comunicação. (BARROS, 2003, p. 53). A biblioteca ainda não possui meios digitais, a exemplo da Biblioteca Digital, que possibilite a disseminação na íntegra dos acervos existentes. Está em desenvolvimento o site feito pela bolsista do projeto de Extensão Centro de Memória que objetiva disponibilizar as bibliografias, textos e documentos em formato digital para os/as usuários/as externos da universidade. No entanto, ao longo do semestre surgiu à ideia de divulgar alguns materiais por meio de oficinas e, para a efetuação da tarefa, realizou-se uma parceria com a bolsista do projeto de Extensão “Suporte às políticas públicas de implementação da Lei Federal 10.639/03 em Santa Catarina”. Desenvolvemos e implementamos uma proposta de oficina para ser aplicada em escolas públicas municipais e estaduais. Escolhemos como tema da oficina a questão da “Religiosidade de Matriz Africana”, por ser polêmico devido a pouca discussão em sala de aula e estar encoberto por estereótipos construídos pela sociedade. Por outro lado, esta temática está relacionada a uma prática que adentrou no Brasil através das populações africanas escravizadas que trouxeram consigo seus valores culturais e visões de mundo, a relação com a natureza, com a vida e a morte, a força da ancestralidade, a arte, entre outros aspectos culturais que se ramificaram diasporicamente no mundo e em nosso país. Do ponto de vista pedagógico, a prática de realizar oficinas contribui na construção e na produção de conhecimento teórico e prático de forma ativa e reflexiva dos/as participantes, que nesse caso são crianças e/ou jovens junto com seus professores/as e, neste caso, compreender melhor sobre a religiosidade que tem os traços da cultura e das religiões de matriz africana. O objetivo foi de promover a disseminação de informações sobre as culturas africanas e afro-brasileiras através das atividades a serem executadas, despertando interesse dos/as participantes pela pesquisa destas populações. A intenção foi dar suporte pedagógico e cultural com o intuito de contribuir com os educadores/as na implementação da lei federal 10.639/03 5 através de outros meios disseminadores, que neste caso foram feitos por meio de oficina. Para Candau, parte-se de uma dinâmica de acolhida que visa promover o conhecimento mútuo e facilitar a interação entre os participantes. Procura-se ir provocando um movimento em que a análise da realidade, a nível pessoal, grupal e coletivo, possa ir sendo aprofundada, sempre em articulação com aportes 5 Estabelece a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas redes oficiais de ensino. teóricos diversificados que são apresentados em diferentes momentos. A preocupação pela concretização de um compromisso que leve a trabalhar na prática cotidiana os aspectos abordados está presente no desenvolvimento de toda a oficina. Nas atividades propostas são incorporadas diversas expressões culturais de modo a estimular aproximações diferenciadas à problemática analisada, assim como favorecer uma valorização positiva da própria cultura.(CANDAU,1995, p.15) As oficinas foram realizadas em diversas escolas, especificamente da rede pública, sendo muitas vezes solicitadas por professores/as, alunos/as do curso de pedagogia no período de estágio, com a intenção de suprimir eventuais dúvidas em torno do tema proposto. As escolas atendidas foram: Escola Edith Gama Ramos, Colégio Estadual Padre Anchieta, Centro de Educação Infantil Tico e Teco e Centro de Educação Infantil e Maternal Castelo Encantado (no município de São Bento do Sul). Sendo que nesses dois centros de educação infantil, foi reformulada a proposta tornando a oficina um pouco mais visual de acordo com o desenvolvimento cognitivo das crianças, pois a sua faixa etária era de 2 a 3 anos de idade. A oficina foi realizada também, no Centro de Educação Complementar Chico Mendes, que atende muitas crianças da comunidade, e que boa parte delas frequenta as religiões de matriz africana. Avaliação e dificuldades A Política de Desenvolvimento de Coleções foi parcialmente seguida, pois não houve avaliação do acervo e nem encontro da comissão com o intuito de priorizar materiais e desbastar os que não estavam sendo utilizados. Desbastar é entendido aqui como um procedimento específico de avaliação do acervo que identifica o seu valor, descartando os materiais que não são utilizados, por essa razão desbastar significa deixar o material em observação do bibliotecário em um local especifico, esperando algum usuário que queira consultar. Se num determinado período, o material não for consultado, será eliminado do acervo. As bibliografias adquiridas serviram para suprir as necessidades dos/as usuários/as potenciais e reais da biblioteca, que conforme Dias e Pires, “usuários reais são definidos como aqueles que utilizam os serviços, e usuários potenciais como o total de usuários que podem utilizar o serviço de informação.” (DIAS; PIRES, 2004, p.7). Dessa forma definimos como usuários potenciais a comunidade universitária que ao longo do ano vem ao núcleo e acaba por freqüentar a biblioteca saciando as suas dúvidas em relação à temática. Os usuários reais são professores/as, pesquisadores/as, bolsistas e acadêmicos, geralmente do curso de História, que participam do grupo de estudos. Atualmente estão cadastrados 86 usuários/as o que nos parece ser um número significativo. A oficina “Religiões de matriz africana” foi utilizada como recurso pedagógico de inserção da temática da diversidade cultural, com o intuito de auxiliar educadores/as e estudantes a perceber a história fora dos parâmetros da linearidade, num contexto de causa e consequência, que despreza práticas e experiências de outros sujeitos históricos, e que são de extrema importância para que se compreenda, neste caso, o Brasil de ontem e de hoje. Temos muito de África em nossas práticas culturais, porém, ainda observamos e aprendemos sobre o continente através de um véu de estereótipos: a África da pobreza, considerada atrasada perante os padrões de desenvolvimento da sociedade ocidental, a África dos animais, leões, zebras entre outros ou a África homogênea. Visões que homogeneízam as práticas e vivências culturais de um continente complexo e heterogêneo. Além disso, pouco se aprende nas escolas sobre as nossas ligações com o continente, muitas vezes o que se ensina é que estas estão restritas a escravidão. Procuramos com a oficina, quebrar com estereótipos, que de certa forma ajudam a aumentar o preconceito em relação à religiosidade de matriz africana, assim como, buscar algumas ligações entre as nossas práticas culturais e religiosas e algumas práticas ligadas a determinadas regiões do continente africano. Pensamos que, neste sentido, a oficina foi importante porque contribuiu para a implementação da Lei Federal nº10. 639/03, apresentando aos/as atuais educandos/as informações que não fizeram parte de sua formação. Percebemos que, das escolas visitadas, boa parte das crianças já teve em contato com a religião ou frequentam terreiros. Em virtude disso, muitas delas acabam sofrendo preconceito no ambiente escolar. Quando apresentamos a oficina nas escolas anteriormente citadas, muitas crianças se identificaram com o tema. No primeiro momento elas expressaram timidez e vergonha, após com a informação desmitificada entorno do conhecimento que elas tinham em relação a práticas religiosas, começaram a demonstrar orgulho, que antes só era expresso dentro dos terreiros de candomblé ou de umbanda. Na disciplina Tecnologia Aplicada nas Bibliotecas Digitais do curso de Biblioteconomia da FAED/UDESC no 1º semestre de 2010, elaboramos um projeto para implementação de software na biblioteca de referência com intuito de facilitar e ao mesmo tempo, agilizar o processo de busca do material no acervo. A intenção era colocar o pergamun, e que de alguma forma facilitasse o empréstimo e ao mesmo tempo recuperasse o material no acervo, bem como facilitar no tratamento dos materiais seguindo o modelo de classificação utilizado na Biblioteca Central- BC/UDESC, pois temos percebido que os livros adquiridos por meio de projetos chegam primeiro na BC e depois para a biblioteca do núcleo com a classificação escolhida pela mesma. Isso torna o acervo não uniforme em relação à numeração de classificação inserido na lombada do livro, ou seja, uns livros têm numeração outros não. Conclusão Aplicar o que é adquirido em sala de aula é um dos objetivos dos projetos de extensão. Portanto, todo conhecimento adquirido em sala de aula com os conhecimentos incorporados, por ser bolsistas de um núcleo temático que discute educação para as relações raciais, multiculturalismo, história da África, questões relacionadas a gênero e sexualidade e diversidade cultural no NEAB/UDESC, é importante para seleção, aquisição de materiais com as técnicas da área da Biblioteconomia visivelmente explícita na política de desenvolvimento de coleções para que o mesmo seja disponibilizado no acervo e acessível aos/às usuários da biblioteca. A divulgação dos conteúdos, em especial dos mais polêmicos, digo em relação às imagens estereotipadas das práticas relacionadas as religiões de matriz africana, serviu para desmistificar e ao mesmo tempo tornar visível práticas desconhecidas para muitas pessoas, inclusive alunos/as do ensino fundamental e médio a saberem que as religiões “diferentes” comparadas com as ditas religiões consideradas “normais” merecem respeito. Contudo, a importância de disseminar o que a Biblioteca de Referência tem em seu acervo mostrando para a sociedade uma temática que muitas vezes é desconhecida nas práticas de ensino. Referências BARBOSA, Rogério Andrade. Bichos da África - Lendas e Fábula. 6º edição, Melhoramento. BARROS, Maria Helena Toledo Costa de. Disseminação da Informação: entre a teoria e a prática. Marilia: [s.n.t], 2003. CANDAU, Vera Maria. Oficinas Pedagógicas de direitos humanos. 2 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. DIAS, Maria Matilde Kronka; PIRES, Daniela. Usos e usuários da informação. São Carlos: EdUFSCar,2004. LEITE, Ilka Boaventura. Descendentes de Africanos em Santa Catarina: invisibilidade histórica e segregação. In: LEITE, Ilka Boaventura. Negros no sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996. MATTOS,Miriam. Biblioteca de Referência do NEAB:Preservando a História e Memoria dos Afrodescendentes Santa Catarina e no Brasil.Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina Florianópolis, v.13, n.1, p.239-250, jan/jun, 2008. SILVA, Andréia de Souza da, LUCAS,Elaine de Rosangela de Oliveira. O memorial Antonieta de Barros como veículo de disseminação da informação e produção da informação. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina Florianópolis, v.11,n.1,p.83-96,jan/jun, 2006. WEITZEL,S.R. Elaboração de uma política de desenvolvimento de coleções em bibliotecas universitárias. Rio Janeiro: Interciência, 2006. Caminhos de Barro: Extensão Universitária e construção de conhecimento no Norte Fluminense Área temática: Cultura e Trabalho Responsável pelo trabalho: Lilian Sagio CEZAR Instituição: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) Nome dos Autores: Lilian Sagio Cezar, Marcelo Carlos Gantos, Andreza Barreto Leitão Resumo: Esse texto tem como objetivo analisar o Projeto Arte Educação e Cidadania: Oficina de Cerâmica "Caminhos de Barro", projeto de pesquisa e extensão universitária desenvolvido ao longo de dez anos pela Universidade Estadual Norte Fluminense UENF de Campos dos Goytacazes, RJ, enquanto iniciativa capaz de criar espaços de interlocução, troca e re-construção de conhecimentos e memórias entre agentes da universidade e dos municípios ao seu redor. Analisa-se o papel desta universidade nos processos de identificação e verificação de demandas sociais por ciência, tecnologia e inovação e seu consequente impacto em processos de re-configuração das redes territoriais locais. Palavras-chave: Políticas Sociais, Extensão Universitária, Artesanato Introdução O Projeto de Pesquisa e Extensão da UENF, denominado “Projeto Arte, Educação e Cidadania: Oficina de Arte Cerâmica Caminhos de Barro” desenvolve desde 2001 diversificadas atividades focadas na formação de jovens e adultos da comunidade do polo econômico e industrial de cerâmica, para o trabalho de artesanato em argila envolvendo todas as etapas de sua produção, desde sua extração, preparo, modelagem e cozimento das peças. Entre os objetivos do projeto está a geração e desenvolvimento de novas competências laborais dentro deste ramo de atividades dos setores de base mineral e produção de minerais não metálicos. O projeto “Caminhos de Barro” tem como público alvo os familiares dos trabalhadores das olarias de Campos, notadamente as mulheres, segmento geralmente excluído do processo produtivo em larga escala ou a ele incorporado de forma precária. A iniciativa deste projeto visa a construção de espaços alternativos e privilegiados para a formação artística, cultural e técnica de suas participantes. Para tanto equipes de professores, monitores e agentes ligados à Universidade elaboram e oferecem aulas sobre as diferentes técnicas que envolvem o trabalho oleiro, capacitando, ao longo desses dez anos de existência, mais de duas centenas de pessoas na arte e cultura do barro. O exercício e aplicação de métodos da educação formal para a capacitação das artesãs do “Caminhos de Barro” não impediu, porém que diferentes fluxos de memórias e conhecimentos transmitidos oralmente, incluindo arranjos geracionais e tradicionais, ocorressem. Não por acaso as peças em cerâmica produzidas pelas artesãs de Campos carregam em si o traçado e o formato do crochê como elemento estético organizador, a imagem do índio Goitacás como tipo de referência espaço-temporal para a região, bem como exploram de maneira minimalista imagens de santos de devoção festejados no município. Há de se perguntar então, como estes fluxos se processam? Material e Metodologia O artesanato por vezes é encarado como uma testemunha, fruto da utilização de técnicas e conhecimentos milenares, subterfúgio estético, marcado por um traço de ingenuidade não engajada que configura aquilo que é “tradição”, no sentido de ser exótico, “elemento de nostalgia idílica” (Herzfeld, 2004: 30). Este é um tipo de olhar que se revela exterior às redes, processos e fluxos imbricados na produção artesanal e, para o qual, um produto só é reconhecido como artesanato conquanto tenha uma marca distintiva de “autenticidade”. No plano do embate político a busca por uma suposta pureza das origens de um povo, de sua cultura popular, constitui princípio fundante dos estados nacionais modernos. Capitaneados pela burguesia nascente, a busca pelo patrimônio comum procedentes das culturas populares tem sua sustentação na nostalgia sentida em relação a uma vida mais simples ligada a uma origem comum rural em contraposição ao peso dos rótulos cosmopolitas ligados aos processos burocráticos de tornar impessoal e focado em fins científicos-econômicos (racionalização) as relações sociais (Elias, 1993). Nesses imbricados processos a legitimidade das ações do Estado moderno é auferida tanto pela soberania do povo como pela produção/construção/promoção de sua memória coletiva. O reconhecimento e proteção dos monumentos enquanto lugares de memórias, o inventário dos costumes, práticas e repertórios culturais a partir do que se denominou ciência do folclore participam da definição nacionalista das identidades políticas enquanto identidades culturais. A procura romântica pelo que pode ser considerado autêntico e, portanto representante de uma determinada cultura, é inseparável tanto do processo de edificação do Estado moderno, fundado sobre a nação enquanto comunidade de cultura, quanto da vontade política de fazer ver e reconhecer a existência eterna de uma nação cultural determinada pela posse material de traços culturais objetivos (língua, arquitetura) e praticáveis (dança, cantos etc.). Este é um fenômeno ocidental do qual o Brasil participa a partir de disputas políticas e acadêmicas. Verifica-se a partir da pesquisa empírica envolvendo a realização de entrevistas semi-estruturadas e observação participante junto ao grupo de artesãs e monitoras vinculadas ao “Caminhos de Barro” que a produção de artesanato cerâmico aí se articula de maneira densa/ tensa às redes de fornecedores de matéria-prima, aos demais produtores presentes nos mais distintos mercados consumidores (feiras, festivais etc.), às cooperativas, órgãos governamentais e não-governamentais de fomento que atuam junto ao setor. Neste âmbito, outros tipos de produção e transmissão do conhecimento vêm sendo articulados ao artesanato cerâmico, visando a ampliação dos tipos, modelos, cores das peças, implicando na utilização de novas tecnologias para a otimização da produção e garantia da qualidade/ durabilidade/ resistência do produto final. Por outro lado, este mesmo processo acarreta a promoção, divulgação e incentivo de práticas que articulam a produção local aos interesses e demandas globais, seja por meio das concorridas feiras de artesanato, seja nos websites e blogs da Internet. Resultados e Discussões A compreensão da produção de artesanato a partir do desenvolvimento do projeto de pesquisa e extensão universitária “Caminhos de Barro” nos permite questionar a própria noção e necessidade do “ser autêntico” enquanto marca distintiva relativa ao artesanal e, por conseguinte, às culturas populares. Este projeto permite que o artesanato cerâmico seja não somente uma tecnologia alienígena introduzida na região, mas um conhecimento que como todo processo de aprendizagem foi lido e re-lido a partir dos padrões, gostos e interesses locais. É nesse sentido que a produção artesanal do “Caminhos de Barro” re-inventa sua própria história a partir da reprodução das bonecas cerâmicas que foram aprendidas com as artesãs do Vale do Jequitinhonha logo no início do projeto, mas que expande seu horizontes na invenção de peças a partir da utilização de moldes de toalhas de crochês, formas de docinhos caseiros e utensílios de cozinha usados com empenho e longo tempo de dedicação às peças para que essas sejam lustradas e se tornem brilhantes após a queima sem que para isso seja aplicado qualquer produto químico do tipo verniz. Verifica-se o protagonismo e empoderamento das artesãs enquanto novos atores sociais vinculados à universidade por meio de bolsas que lhes proporcionam não somente o acesso a uma renda mínima, mas à condição de professoras de artesanato dentro deste projeto de extensão do qual elas são concomitantemente formadas e formadoras dos demais participantes do projeto. Conclusão Ao analisarmos o projeto de extensão “Caminhos de Barro” verificamos que seu desenvolvimento cumpre uma função social relevante para o município de Campos dos Goytacazes, ao abrir as portas da UENF para a sociedade envolvente e vice-versa, ao proporcionar que as demandas sociais locais ressoem no ambiente universitário. Concomitantemente este projeto foi de fundamental importância para que o corpo docente organizasse e sistematizasse ações de pesquisa e extensão universitária por meio da própria criação da Pró-Reitoria de Extensão. O desenvolvimento de projetos que vinculem pesquisa à extensão universitária exige dos mais diferentes atores da Universidade atenção à interação ensino-pesquisaextensão na composição do projeto político-pedagógico universitário, especificamente na área de formação crítica, humana e profissional, e na produção e socialização de conhecimentos à comunidade. Estas constituem ações de políticas sociais, em especial, políticas culturais desenvolvidas no âmbito da Extensão Universitária Nacional às quais tentei minimamente mapear por meio da análise da experiência desenvolvida no “Projeto de Pesquisa e Extensão Universitária Caminhos de Barro”. Bibliografia DEL PRIORI, M. (org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/ Editora da UNESP, 2000. ELIAS, N. O processo civilizador: formação do estado e civilização. Vol. 2. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo. Vértice. 1990. HERZFELD, M. The Body Impolitic, Artisans d Artifice in the Global Hierarchy of Value. Chicago: The University of Chicago Press: 2004 HOBSBAWN, E.; RANGER, T. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades – Campos dos Goytacazes. http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Plano Nacional de Extensão Universitária. Edição Atualizada. 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Os meios comunicativos constróem importante dimensão social do homem e formam-se canais de intercâmbio culturais entre ambos – homem e meios de comunicação –, fatores esses que favorecem a formação da cultura popular. Palavras-chave: Jornal mural – afro-descendentes - cultura INTRODUÇÃO A relevância desta proposta pode ser explicitada dentro de alguns eixos centrais que, como todo conhecimento, não pode ser concebido como prática desligada da vida diária e que não inspire à transformação. Outro aspecto que se deve ter em conta, vem das discussões do multiculturalismo que, certamente, ganham importância na construção de uma sociedade menos excludente. O objetivo principal do projeto é ressaltar a influência negro-africana na cultura brasileira pela veiculação do jornal mural na Comunidade São Benedito e na UCDB. Do ponto-de-vista histórico e social, o propósito é valorizar um continente historicamente 1 Angela Cristina Dias do Rego Catonio, professora da UCDB e coordenadora do projeto Hugo Dias Lopes, acadêmico de Filosofia e participante do projeto 3 Jhon Wilker Prates dos Santos, acadêmico de Filosofia e participante do projeto 2 relegado, cuja presença na cultura brasileira manifesta-se cotidianamente, além de preservar a história da comunidade Tia Eva, por meio do jornal mural exposto em pontos estratégicos da comunidade. Torna-se indispensável a problematização do conceito de cultura, história, representações sociais como elaborações coletivas, em transformação constante, em que a cultura das minorias possui aspectos específicos que devem ser levados em conta tanto em pesquisas acadêmicas quanto em ações governamentais. A crescente heterogeneidade das sociedades aliada à intensificação das migrações e das interações étnicas, a globalização das relações interculturais e os movimentos em favor dos direitos humanos apontam direções que já não podem ter suporte nos conceitos tradicionais de cultura. O respeito pelo outro diferente é cada vez mais função do modo como são reconstruídas e modificadas as interações do que do aprisionamento dos homens nas fronteiras de definições estáticas. Objetivo geral: • Ressaltar a influência negro-africana na cultura brasileira, identificando as categorias onde isto aconteceu. Objetivos específicos: • Resgatar a contribuição para o pensamento ocidental, seja no nível da filosofia, ciência política e comportamento políticos, pessoas de raça negra que tenham se notabilizado, seja no Brasil, seja em outros países. • Apresentar textual e visualmente às comunidades negras temáticas que contribuam à auto-estima. MATERIAL E METODOLOGIA O que é a Comunidade Negra Tia Eva? A comunidade São Benedito ou dos descendentes da Tia Eva é uma daqueles lugares onde a cultura popular é constantemente reelaborada de modo a atender aos novos desafios sem perder sua identidade negra e mestiça. Como muitos outros pioneiros, Tia Eva chegou na região de Campo Grande em 1905, viajando em carro de boi. Eva era uma mulher forte que só alcançou a liberdade aos 41 anos de idade. Eva Maria de Jesus, Tia Eva como era chamada, ergueu as paredes de uma igrejinha como agradecimento pela cura de uma chaga ao mesmo tempo que construiu uma comunidade. A igreja de São Benedito foi o resultado de uma promessa feita a São Benedito quando ainda estava em sua terra natal Mineiros, Goiás. A igreja de São Benedito foi inaugurada em 1919. A novena que antecede a Festa de São Benedito tem feito parte desde então de uma tradição até hoje não interrompida. Pode-se dizer que a festa nasceu e continua popular. Tia Eva morreu em 1926 e está sepultada em frente à capela. A perseverança de tia Eva, porém continuou em seus descendentes que só muito recentemente conseguiram inventariar e documentar a posse das terras onde vivem há quase um século. Dada a povoação inicial do continente americano por povos e nações indígenas, seguida da colonização invasora européia e acompanhada pelas imigrações forçadas de cativos africanos, a historia brasileira posterior a 1500 é dependente de uma tríplice herança étnica. A presença destas três frentes forja a cultura e a história nacional como receptoras destas experiências históricas passadas destes povos. No presente, os processos de educação e transmissão da cultura nacional deveriam estar assentados nos conhecimentos da história indígena, africana e européia. No universo da organização política, denominada Movimento Social Negro, esse assunto é pedra de toque, entre as muitas bandeiras: criar mecanismos que auxiliem na construção e consolidação da auto-estima dos afro-descendentes. Os meios comunicativos atuais constróem uma nova dimensão social do homem. Formam-se canais de intercâmbio culturais entre ambos, fatores que favorecem a formação da cultura popular. Como afirma Mário Erbolato (1991, p. 16) “o intercâmbio de informações é essencial para a manutenção dos grupos humanos”. Esse trabalho procura demonstrar que as pessoas têm a necessidade de incluírem se e verem-se notadas nos fenômenos sociais e que a divulgação de matérias jornalísticas sobre a cultura negra pode estabelecer valores e interesses comuns, tentando auto afirmarem se perante à sociedade. Néstor García Canclini (1997, p. 139) coloca essa questão de Identidade (com letra maiúscula mesmo) de maneira muito clara: A Identidade é uma construção que se narra. Estabelecem-se acontecimentos fundadores, quase sempre relacionados à apropriação de um território por um povo ou à independência obtida através do enfrentamento dos estrangeiros. Vão se somando as façanhas em que os habitantes defendem esse território, ordenam seus conflitos e estabelecem os modos legítimos de convivência, a fim de se diferenciarem dos outros. Assim, a comunicação entre os indivíduos será tanto mais perfeita quanto maior for o grau de interação entre os sujeitos envolvidos no processo comunicacional. As ações/etapas para a elaboração do Jornal são as seguintes: 1. Levantamento das demandas internas da Comunidade Negra Tia Eva junto às lideranças para publicação no Jornal Mural; 2.Entrevistas com moradores da comunidade sobre os problemas apontados pela lideranças; 3. Produção do Jornal Mural na comunidade Tia Eva e na Universidade Católica Dom Bosco; 4. Distribuição e exposição do Jornal Mural em pontos de grande circulação de pessoas na comunidade Tia Eva, na Universidade Católica Dom Bosco. Os trabalhos de pesquisa, coleta de dados e confecção do Jornal Mural são efetuados em conjunto com a professora responsável pelo projeto, acadêmicos e integrantes da Comunidade Tia Eva, cujos membros descendem todos de uma mesma família, a da exescrava Eva Maria de Jesus, a Tia Eva. RESULTADOS E DISCUSSÕES O projeto do Jornal Mural “Informativo São Benedito” acontece desde o ano de 2003. Ao longo desses anos é crescente o apoio da comunidade ao projeto. A ausência da História e da Filosofia Africana ou marcada pela atuação de afrodescendentes é uma das lacunas de grande importância nos sistemas educacionais brasileiros. Esta ausência tem quatro conseqüências sobre a população brasileira. Tomando o ambiente brasileiro como de exclusões étnicas, as quais se denomina de racismo, existe um processo onde são forjados verdadeiros credos sobre a inferioridade do negro, do africano e dos afrodescendentes, o que acaba se estendendo às demais manifestações negras presente na cultura popular. Desta forma a ausência de uma história e do pensamento africano, em primeiro lugar, retira a oportunidade dos afrodescendentes em construírem uma identidade positiva sobre as nossas origens, o que acaba por refletir-se na auto-estima, principalmente dos jovens. Segundo, a ausência abre espaço para hipóteses preconceituosas, desinformadas ou racistas sobre as nossas origens, criando assim terreno fértil para produção e difusão de idéias erradas e racistas sobre as origens da população negra. Em terceiro lugar a ausência da história africana e a ampla presença da abordagem européia induz à idéia de que ela não existe. Que ela não faz parte do conhecimento a ser transmitido. CONCLUSÃO A história brasileira foi conduzida a um processo de miscigenação, que permitiu uma identidade mestiça de seu país. Fatores ideológicos e culturais que permite classificar “raças humanas”: ter por base a cor da pele (falácia incoerente, pois o que determina a cor de um ser humano é a melanina encontrada na pele); interesses de classes (hierarquia); raças com diferenças aptidões, não podem qualificar as diferenças dos grupos humanos. Raça é um conceito político que pretende demonstrar a superioridade de uns sob os outros. Alguns indivíduos esquecem das desigualdades raciais que existem no Brasil e a exclusão dos negros pela elite. Os negros têm menos chances no mercado de trabalho e menores salários. Ocupam a 108º posição no Índice de Desenvolvimento Humano, contra a 49ª relativo aos brancos. Cerca de 70% dos pobres do Brasil são negros. O salário médio de um negro é inferior a de um pardo e, posteriormente, a um branco. O analfabetismo é maior entre os negros e estão mais propensos a mortes violentas. Há maior número de crianças negras no trabalho e elevado grau de mortalidade infantil. Não se pode mais esconder as diferenças raciais no Brasil. A imprensa, no caso o jornal mural, um poderoso meio de divulgação da informação, assume importante função de interação entre público e notícia. Ajuda a suscitar interesses políticos e sociais, contribui para as comunicações interpessoais, possibilita que o homem firme seus conceitos morais e éticos, forme sua opinião, convicções e propósitos. Por essas razões se enfatiza a importância do jornal mural “Informativo São Benedito” na educação e conscientização da Comunidade Negra Tia Eva. REFERÊNCIAS BARBERO, Jésus-Martin. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à Ciência da Sociedade. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1997. ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo – Redação, captação e edição no jornal diário. São Paulo: Ed. Ática, 1991. GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia Crítica. 25ª ed. Porto Alegre, Mundo Jovem, 1989. MCLUHAN, Marshall, Os meios de comunicação como extensões do homem. 5ª ed. São Paulo, Cultrix, 1964. MEKSENAS, Paulo. Sociologia. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1993. (Coleção magistério 2º grau. Série formação geral). TOMAZZI, Nelson Dacio. (Coord.) Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 1993. 1 PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE AGENTES E GESTORES CULTURAIS TERRITÓRIO LITORAL SUL DA BAHIA Área Temática: Cultura Responsável pelo trabalho: Samuel Leandro Oliveira de Mattos, M.Sc. Autores: Raimundo Bonfim dos Santos, Dr. ([email protected]); Samuel Leandro Oliveira de Mattos, M.Sc. ([email protected]); Alessandra Almeida Barreto ([email protected]). Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia (UESC). Palavras-chave: Cultura, Gestão Cultural. Resumo O Programa de Formação de Agentes e Gestores Culturais se constitui em ação de extensão implementada pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), no biênio 2008/ 2009. Resultou da parceria firmada entre a UESC, Secretaria de Cultura e Fundação Cultural da Bahia; a execução contemplou os 26 municípios do Território Litoral Sul da Bahia. O objetivo central foi capacitar pessoal e formar quadros para a gestão pública e privada de políticas, atividades e programas culturais; qualificar para planejar, elaborar projetos e captar recursos via edital público. O trabalho foi conduzido por professores, servidores administrativos e alunos. O público foi formado de: dirigentes de Secretarias Municipais de Cultura, indicados pelas prefeituras; agentes culturais, artistas e profissionais recomendados pela coordenação do Território Litoral Sul. As atividades realizadas compreenderam: pré-curso (planificação e articulação); realização do curso; pós-curso. O trabalho foi realizado com base em planejamento. Foram, ministradas aulas para três turmas, atendendo a 120 pessoas, qualificando-as conforme os objetivos da proposta. Na atividade pós-curso, foi realizado o acompanhamento aos cursistas, incluindo aulas e oficinas para orientação na elaboração de projetos. Concomitantemente, foi criado o Fórum de Agentes, Empreendedores e Gestores Culturais – FAEGSUL, o qual funciona regularmente e se constitui instrumento de representação dos interesses da comunidade militante em cultura. Acresce aos resultados alcançados o trabalho de captação de recursos que vem sendo feito pelas equipes treinadas, através da aprovação de projetos em editais públicos. Introdução Este artigo relata a execução de um programa de extensão, denominado Formação de Agentes e Gestores Culturais, executado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual de Santa Cruz, com financiamento e apoio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. O programa foi desenvolvido no biênio 2008/2009, no território de identidade Litoral Sul da Bahia (conhecido como Região Cacaueira), que engloba 26 municípios, os 2 quais, na sua maioria, nasceram e cresceram apoiados na cacauicultura desde a década de 1930. Heine afirma: A cidade de São Jorge dos Ilhéus conheceu o luxo e a opulência, por conta da riqueza gerada pela cultura cacaueira. O apogeu econômico durou cerca de cem anos, talvez um pouco mais. Em certa época a região respondeu com mais de setenta por cento da receita do Estado da Bahia (HEINE, 2009, p. 126). Os recursos oriundos do cacau, a partir dos anos de 1930, possibilitaram o surgimento de artistas plásticos, músicos e escritores, a exemplo de Jorge amado, Adonias Filho, dentre outros. No início da década de 1990, em função da praga vassoura de bruxa (crinipelles perniciosa) nos cacauais, e a queda do preço do cacau no mercado externo, emerge uma crise regional sem precedentes. Toda a região passa a conviver com fortes dificuldades e a sofrer drasticamente os efeitos nefastos do desemprego, pobreza e miséria (ALGER; CALDAS, 1996, p.30). Os impactos da crise foram sentidos na zona rural e urbana: diminuiu o excedente econômico e reduziu a circulação de capital e a poupança. Em função disso, a área cultural também sofreu: minguaram as contratações de artistas, as encomendas para obras de arte e os apoios e patrocínios, limitando as condições de trabalho. É nesse contexto que nasce a parceria UESC/SECULT, com a missão de implantar o Programa de Formação de Gestores Culturais do Litoral Sul da Bahia, com o objetivo de formar quadros para intervir na realidade regional e aperfeiçoar a gestão da cultura. Material e Metodologia Este item se apresenta em três tópicos: fundamentação teórica, concepção do projeto e procedimentos metodológicos. Conforme Santos et all (2007), a cultura externaliza conhecimentos e habilidades inerentes ao ser humano, que se manifestam, principalmente, nas artes. Retrata também a alma de um povo, propicia satisfação, além de refletir a forma de viver dos grupos sociais. Bourdieu, apud Zaluar e Leal (1996), menciona que a cultura tem consistência material e gera resultados práticos que se mostram nos mais variados planos que conformam a existência humana. Afirma-se também que a cultura transcende do abstrato para o concreto e seus produtos podem ser transformados em bens com valor de mercado, gerando postos de trabalho, emprego e renda. Santos e outros dizem: “a cultura não pode ser entendida apenas como instrumento de prazer de valor simbólico, mas também como 3 um bem de valor econômico, que se insere no mercado, gerando renda e emprego” (SANTOS; SOUZA; OLIVEIRA; PINTO, 2008, p. 159). Nessa linha, entende-se que os recursos culturais, a exemplo das manifestações populares, religiosidade, música, etc. servem de base para o chamado produto cultural, que é uma combinação de essência cultural, infraestrutura, serviços, além de promoção mercadológica e preço (CAMARGO, 2009). Noutras palavras, história, culinária, arquitetura, artesanato, rezas, cânticos, etc. podem ser matéria-prima da produção cultural na geração de bens comercializáveis, a exemplo de peças teatrais, filmes e livros. Todavia, pesquisas e constatações empíricas têm mostrado que a produção cultural, gestão e captação de recursos exigem competência técnica. Portanto, é no âmbito da formação e capacitação que se torna possível qualificar gestores para viabilizar a cultura. Manfredi diz: a qualificação de um indivíduo é a sua capacidade de resolver rápido e bem os problemas concretos, mais ou menos complexos, que surgem no exercício de sua atividade profissional. E que o exercício da capacidade implica no saber fazer (...); saber ser (...); saber agir (MANFREDI, 2007, p. 39). A concepção do programa se fundamenta em três eixos: a) consciência da importância da cultura como realização humana, que propicia prazer e alegria, que emerge do plano simbólico para viabilizar a comunicação entre os atores sociais; b) o entendimento de que a cultura gera renda e promove o desenvolvimento regional, criando mercados, produtos, estimulando o surgimento e o aperfeiçoamento de espíritos empreendedores, aproximando os dois campos: o criativo das idéias e o comercial do negócio; c) a compreensão de que a cultura necessita de apoios para a sua expansão e aperfeiçoamento: os recursos disponíveis são insuficientes e os atores sociais que gerem a atividade na região não estão devidamente qualificados. Assim, transversalmente, a cultura perpassa por esses três eixos, configurando o escopo teórico-empírico do programa. No que concerne à metodologia, a implementação do programa compreendeu a realização das seguintes atividades: planificação (pré-curso); execução do curso; ações pós curso. Na planificação, definiu-se público alvo, parcerias, recrutamento e infraestrutura. A execução do curso envolveu: 1) o introdutório, que visou a identificar a situação da cultura no contexto do aluno; 2) o da formação, com conteúdos teóricos fundamentais no campo da gestão, produção, articulação e financiamento; 3) o aprofundamento, caracterizado pela elaboração de projetos e formação de produtos. Por fim, as ações pós-curso compreenderam: a) a realização de orientações semi-presenciais; b) organização do grupo 4 e criação de um fórum para continuação dos estudos, formação de rede e atuação como interlocutor das questões culturais no território. Resultados e Discussões Na fase pré-curso, o trabalho de preparação incluiu o estabelecimento de parcerias para recrutamento dos participantes feitas com a Associação dos Municípios da Região Cacaueira – AMURC e a coordenação do Território Litoral Sul. O acordo destinou 50% das vagas para servidores municipais, indicados pela AMURC, e o restante das vagas por agentes, produtores e artistas recomendados pelo Território. A fase de execução dos cursos compreendeu a ministração de aulas com base na pedagogia participativa. Os envolvidos manifestaram contentamento, com impactos positivos na autoestima. O aprendizado foi satisfatório e o número de turmas foi elevado de um para três, num total de 120 alunos. A terceira fase (pós-curso) compreendeu a realização de: a) atividades de orientação em forma semi-presencial para elaboração de projetos; b) formação de grupo e construção de fórum. Nessa linha, foram executadas aulas e oficinas, o que resultou na aprovação de vários projetos, que competiram em edital público, entre os quais se destacam: dois na área de cinema e cultura e outros dois no campo da música e teatro. O de música contemplou a Banda Sinfônica, cujos integrantes são do Colégio da Polícia Militar de Itabuna; o de teatro, denominado FORTEATRO (Formação em Teatro e Cidadania do Território Litoral Sul da Bahia) vincula-se à Sociedade Filarmônica Capitania de Ilhéus, cujas ações envolvem 16 municípios, num total de 2.880 pessoas que, assim, terão oportunidades de participar de cursos de formação na área do teatro. Esses dois projetos obtiveram R$320.000,00 (trezentos e vinte mil reais). No que tange aos desdobramentos do programa, salienta-se que a Pró-Reitoria de Extensão viabilizou a criação do Fórum de Agentes, Empreendedores e Gestores Culturais do Território Litoral Sul da Bahia – FAEGSUL, sediado na UESC. O FAEGSUL tem realizado reuniões, encontros; promovido eventos e construído espaço para reflexões, discussões no campo da cultura regional. Em função disso, estabeleceu-se uma maior afinidade entre os segmentos que constroem as políticas públicas estaduais e as entidades dos municípios do território. Assim, o Fórum atua como interlocutor das questões culturais da região. Portanto, os resultados positivos gerados, quer pelo nível de execução do programa, quer pelo desempenho do Fórum, fizeram com que a UESC passasse a ser referência junto à SECULT e demais universidades públicas estaduais da Bahia. 5 Conclusão O desenvolvimento do programa trouxe não só resultados para os alunos, no tocante à motivação para o desenvolvimento de novos projetos culturais e parcerias em âmbito regional-territorial, como também contribuiu para a realização profissional da equipe UESC, que se motivou fortemente em torno de ações no campo da cultura. A aprovação de projetos de egressos do curso também deu visibilidade à UESC, junto às instâncias culturais, como universidade comprometida com o desenvolvimento regional. O trabalho serviu ainda para evidenciar, na comunidade, a Pró-Reitoria de Extensão – PROEX, o Departamento de Letras e Artes e o Núcleo de Artes da UESC, setores diretamente envolvidos. Sobretudo, a ação mostrou que, embora muito se fale da falta de recursos públicos para a cultura, muito dos recursos disponíveis são subaproveitados por falta de bons projetos. Referências ALGER, Keith; CALDAS, Marcellus. Cacau na Bahia: decadência e ameaça à Mata Atlântica. In: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ciência Hoje. Volume 20, número 117. jan./fev. 1996. CAMARGO, Patrícia. Turismo Cultural. Ilhéus: EDITUS, 2010. HEINE, Maria Luiza. Evolução da Divulgação do Patrimônio Cultural de Ilhéus (Ba). Importante Vetor do Desenvolvimento Turístico do Município na Mídia Local. In: HEINE, Maria Luiza (org.). Múltiplos olhares sobre a região cacaueira Sul da Bahia, Editora Beta Ltda, 2009. MANFREDI, Silvia Maria. Qualificação e Educação: reconstruindo nexos e inter-relações. In: Fundação Universitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho. Políticas Públicas de Qualificação. São Paulo. UNITRABALHO, 2007. SANTOS, Raimundo Bonfim et all. Cultura e Educação como Instrumento de Inserção Socioeconômico: o projeto PROÚNICA. In: Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras – Regional Nordeste. Anais do 1º Congresso Nordestino de Extensão Universitária – CNEU. Salvador-BA, outubro de 2007. ________; SOUZA, Marcos A.; OLIVEIRA, Suzie F. de; FERRAZ, Tereza L. B.; PINTO, Fabiane L. B. Projeto Desenvolvimento e Inclusão Social - PRODISC. In: ROCHA JUNIOR, Alberto F. (org.). Cultura e Extensão Universitária. Del Rei – MG. Editora Malta, 2008. ZALUR, A; LEAL, M. C. Cultura, Educação Popular e Escola Pública. Rio de Janeiro. Ed. Vozes, 1996. PROJETO CAPOEIRA NA FURG: INTEGRAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE E COMUNIDADE Daiane Grillo Martins Universidade Federal do Rio Grande (FURG) Área temática: Cultura Raquel da Silveira (coordenadora da ação)1; Daiane Grillo Martins2 Resumo O projeto Capoeira na FURG busca organizar e realizar atividades de capoeira com crianças e adolescentes que residem próximas à Universidade Federal do Rio Grande, na cidade do Rio Grande/RS. As atividades são orientadas por uma docente e uma aluna do curso de Educação Físicalicenciatura. Com isso, o projeto busca proporcionar ao público alvo vivências em capoeira, que trata-se de uma manifestação cultural do movimento humano de grande relevância no desenvolvimento corporal e de movimento das crianças e dos adolescentes. Além disso, a capoeira é considerada patrimônio cultural brasileiro. Assim, são utilizados elementos como a poesia, desenhos, músicas e historias, para um melhor entendimento sobre o universo da capoeira e a sua aproximação com o contexto em que as crianças vivem, discutindo principalmente o tema violência e gênero. Portanto, são ministradas aulas de capoeira para crianças e adolescentes com idades entre 12 e 16 anos, que acontecem por duas vezes semanais, no centro esportivo no campus carreiros – FURG, com duração de 1hora cada aula. Pelo trabalho desenvolvido, está sendo possível perceber a importância do elo estabelecido entre a universidade e a comunidade. Isso porque tais oportunidades proporcionam além de momentos ricos de experiências ao graduando, a fruição de vivências dentro do espaço da universidade pela comunidade. Para os alunos do projeto fica visível que além de vivenciarem uma prática corporal, a capoeira, eles participam de outras relações sociais, como por exemplo, a sociabilidade. Palavras – chaves: Capoeira, Cultura, Comunidade 1 Professora do curso de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Aluna do curso de graduação em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). 2 Introdução Um dos pressupostos da existência da Universidade é a sua integração na sociedade. É possível identificar tal integração nas atividades de extensão quando de alguma forma os recursos e os conhecimentos desta instituição são colocados à disposição da comunidade. Isso implica em possibilidades de produção de conhecimento diretamente relacionado com o direito que a população tem de usufruir e integrar-se a este processo. Assim, remetendo-se à capoeira como prática de relevância social, já que, conforme o Portal do Ministério da Cultura (2008), “depois de cerca de 300 anos de história no Brasil, a capoeira foi reconhecida como patrimônio cultural brasileiro”, procura-se, través do projeto “Capoeira na FURG”, proporcionar a vivência da capoeira à crianças e adolescentes residentes das proximidades da universidade . O projeto procura proporcionar aos alunos momentos de sociabilidade, em que são desenvolvidas atividades lúdicas que se baseiam no princípio da cooperatividade. Também são trabalhamos as questões que envolvem a violência, através de conversas, procurando diferenciar o ato de lutar ao de brigar, pois, conforme Ferreira (2009), se referindo ao conteúdo de lutas na Educação Física escolar, o que deve ser passado aos alunos é que as vivências das lutas se remetem a lutar “com” o outro e não “contra” o outro. Assim, é nessa perspectiva que tratamos a capoeira, enquanto luta que preserva a integridade física dos seus colegas de combate. Dedicamos uma aula mensal para a vivência das culturas relacionadas à capoeira, tais como o maculelê e o samba de roda. Nesse momento, procura-se proporcionar aos alunos a experimentação e a compreensão dessas manifestações, além da reflexão sobre suas referências ao universo da capoeira. Assim, são vivenciadas formas que diferem das práticas sistematizadas da capoeira e que se remetem ao seu universo, propiciando, além da vivência, a reflexão sobre sua contextualização histórica. Metodologia São desenvolvidas aulas teórico-práticas de capoeira que ocorrem duas vezes por semana (terças e quintas-feiras), no horário das 15:00h às 16:00h, no Centro Esportivo da FURG campus Carreiros. O projeto conta com a participação de aproximadamente vinte crianças, com idades entre 12 e 16 anos. Durante as aulas, realizamos atividades de aquecimento cuja principal característica se remete ao lúdico, tais como: Fuga da Senzala, Rumo ao Quilombo e Corra do capitão do mato! Atividades lúdicas relacionadas com a Capoeira: Fuga da Senzala É escolhido um dos alunos para ser o feitor, outros cinco para serem a senzala e o restante são os escravos fugitivos. Assim, o feitor é responsável por capturar os escravos fugitivos e levá-los até a senzala, que está formada pelos cinco componentes abraçados e em círculo, reservando o espaço interno para acomodar os fugitivos. Quando o feitor faz a captura, deixa o capturado dentro da senzala, que será responsável por não deixar os escravos fugir mais. Caso a fuga aconteça, o escravo pode voltar a ser fugitivo. Rumo ao Quilombo Dois alunos seguram uma corda que ficará quase estendida e no centro da sala e que representará o capitão do mato. Assim, em um dos lados do ambiente, ficam os demais, que representam os escravos que fogem da senzala, rumo aos quilombos. Daí então, os responsáveis por pegar a corda se locomovem em direção aos escravos, que tentarão passar para o outro lado sem encostar na corda. Isso ocorrerá com graus variados de dificuldade: Se os escravos encontrarem pedras no caminho, a corda passa rasteira e terão de pular; se a corda passar alta, representa as árvores, daí terão de se abaixar e se a corda passar em movimentos circulares, terão de atravessar o meio. Assim, os que vão encostando na corda ao passarem, saem do jogo. O último se torna Zumbi dos Palmares e será responsável por salvar os que já foram capturados, operando na mesma lógica de passar pelos obstáculos da corda sem encostála. Corra do capitão do mato! Todos formam uma roda e sentam-se no chão. Inicialmente, se escolhe um, de forma voluntária ou por sorteio, a ser o primeiro senhor do engenho. Esse receberá um objeto referente à capoeira denominado dobrão (pedra específica para tocar berimbau). O senhor deverá percorrer o lado externo da roda cantando uma melodia de capoeira. E os demais, respondem a musicalidade em forma de coro (interação entre os demais integrantes da roda de capoeira e o puxador). Então, o senhor tem de largar o dobrão atrás de algum dos integrantes da roda que se tornará o novo capitão do mato, (pegador). Assim que o senhor largar a pedra, pára de cantar. Daí o escolhido percebe, por si que é o pegador. Nesse momento, todos saem correndo da roda para não serem capturados. Conforme os fugitivos vão sendo pegos, devem voltar à formação da roda. Daí então, começa tudo novamente e o capitão do mato se torna o novo senhor de engenho. Utilizamos métodos que dão ênfase ao processo de aprendizagem que envolvem a técnica enquanto conteúdo da capoeira, já que essa questão é pertinente ao universo de determinadas práticas corporais, como as lutas, por exemplo. Portanto, há a necessidade de que os alunos também vivenciem as experiências vinculadas à técnica, para que não haja a negação dos aspectos da capoeira enquanto luta. Também são oferecidas práticas que envolvem exercícios de flexibilidade, força e agilidade, já que o desenvolvimento de tais capacidades físicas são importantes para a prática da capoeira, prioritariamente em suas manifestações acrobáticas. Para isso, utilizamos métodos ginásticos que envolvem os circuitos e outras atividades com bolas, cones, cordas e balões. Reservamos ao aspecto musical da capoeira dois encontros mensais, ao qual os alunos vivenciam o toque dos principais instrumentos da capoeira (berimbau, atabaque e pandeiro). Além disso, são transmitidas, aos alunos, músicas e ritmos que já se fazem presentes no contexto da capoeira, para que elas possam conhecê-las, aderi-las, através do canto e das palmas e criar outras poesias a partir dessas. Realizamos, no ano de 2010, através de uma parceria com um mestre de capoeira e professor de Educação Física, um batizado, que além da vivência da graduação, procurou desenvolver com as crianças a realização de um espetáculo teatral que apresenta as culturas relacionadas à capoeira. Essa apresentação propiciou a demonstração da puxada de rede, da dança do maculelê e do samba de roda. Os ensaios ocorreram todos os sábados pela manhã, durante o período de um mês. Para esse evento, foram convidados para a participação, capoeiristas de grupos da cidade do Rio Grande, além de familiares e amigos dos alunos, para prestigiarem o evento. Já no primeiro semestre de 2011, em parceria com a coordenadoria do curso de Educação Física, professor e alunos da prática desportiva de capoeira, foi propiciada a participação no I Encontro Étnico Cultural. Esse evento contou com a realização de uma oficina de berimbaus, em que os alunos puderam construir seus próprios instrumentos, constituindo cada etapa da confecção. Logo após, participaram de uma roda de capoeira que se realizou no Centro de Convivências da universidade. Portanto, as aulas ocorrem através de metodologias variadas, em que são abordados desde as vivências lúdicas até as questões da técnica. Também é tratada a necessidade da contextualização histórica e o conhecimento das tradições que permeiam o universo da capoeira. Assim, buscamos através dos diferenciados artifícios, abordar a capoeira como manifestação da cultura corporal em que “a expressão corporal é uma linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que igualmente precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos” (COLETIVO, 1992, p.29) e que, além disso, sua existência proporciona que o indivíduo e a realidade possam ser compreendidos em sua totalidade (COLETIVO, 1992). Desse modo, entendemos como importante a dinâmica nas aulas para que seja possível o entendimento da capoeira como manifestação da cultura corporal em seus diversos aspectos. Conclusões Pelo trabalho que estamos desenvolvendo, até então, está sendo possível perceber a importância do elo estabelecido entre a universidade e a comunidade. Isso porque tais oportunidades proporcionam além de momentos ricos de experiências ao graduando, a fruição de vivências dentro do espaço da universidade pela comunidade. Para os alunos do projeto fica visível que além de vivenciarem uma prática corporal, a capoeira, eles participam de outras relações sociais, como por exemplo, a sociabilidade. Para eles, estar no Projeto é uma forma de encontrar os amigos e poder construir novas amizades. É uma forma de aprender a conviver com a diferença e com as dificuldades de cada um. Referências COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. FERREIRA, Heraldo Simões. A utilização das lutas como conteúdo das aulas de Educação física.Revista Digital Efdesportes. Buenos Aires- año 13. N°130. Marzo de 2009. Portal do Ministério da Cultura, <http://www.cultura.gov.br/site/2008/07/18/ capoeira-vira-patrimonio-cultural-do-brasil/>. Acessado em 06 de junho de 2011. PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA DOS DOSSIÊS ACADÊMICOS DOS CURSOS PIONEIROS NA CRIAÇÃO DA FURG Área Temática: Cultura Tatiane Vedoin Viero1 – Universidade Federal do Rio Grande – FURG (FURG); Andrea dos Santos Garcez Cezar2; Karin Christine Schwarzbold3; Leonardo Goulart Machado4; Renata Felippe da Silva5 RESUMO A ação é uma proposta de conservação preventiva dos dossiês acadêmicos pertencentes aos cursos pioneiros na fundação da FURG: Engenharia Industrial, Economia, Direito, Filosofia e Medicina. O trabalho visa a preservação dos registros acadêmicos produzidos pela Divisão de Registro Acadêmico da FURG, que encontram-se custodiados no Arquivo Geral da universidade destacando a importância de medidas de conservação preventiva como forma de preservar a memória da instituição. Especificamente visa identificar as características e condições originais de conservação e guarda do acervo, através da realização de um diagnóstico; higienizar os dossiês acadêmicos; avaliar o método de ordenação empregado, estabelecer políticas de conservação do acervo. Foram identificados os fatores ambientais, a existência de agentes biológicos, as intervenções realizadas nos documentos e possíveis problemas no manuseio de documentos. Até o momento foram triados os dossiês dos cursos de Engenharia Industrial, Direito, Economia e Medicina, sendo que os dossiês de Direito já foram higienizados, triados e acondicionados em novos envelopes e caixas e reordenados de acordo com novos métodos de arquivamento 1 Coordenadora e responsável pela ação de extensão. 2 Colaboradora da ação. 3 Colaboradora da ação. 4 Acadêmico do Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande-FURG, bolsista de extensão através do Apoio: PBEXT/PDE/PRAE/PROEXC/FURG 2011. 5 Acadêmica do Curso de Arquivologia da Universidade Federal do Rio Grande-FURG, bolsista de extensão através do Apoio: PBEXT/PDE/PRAE/PROEXC/FURG 2011. (alfabético e cronológico) os dossiês estão arquivados por ordem alfabética dos nomes e cronológico por data. Palavras – chave: Conservação preventiva; FURG; Dossiês Acadêmicos. 1 INTRODUÇÃO O trabalho é uma proposta de conservação preventiva dos dossiês acadêmicos pertencentes aos cursos pioneiros na fundação da FURG: Engenharia Industrial, Economia, Direito, Filosofia e Medicina. Estão sendo identificados os fatores ambientais, a existência de agentes biológicos, as intervenções realizadas nos documentos e possíveis problemas no manuseio documental. Também se está realizando a higienização mecânica dos dossiês para preservar o suporte e avaliação do método de ordenação. A ação é executada pela equipe técnica do Arquivo Geral (três arquivistas) e por acadêmicos do Curso de Arquivologia através de bolsas de extensão disponibilizadas pela instituição. Entre muitas atividades que o Arquivo desenvolve uma delas é a busca pela realização de ações que fomentem a indissociabilidade universitária entre o ensino, pesquisa e extensão, agregado ao desenvolvimento institucional, assim os acadêmicos podem vivenciar a prática do ensino, a pesquisa e a extensão na medida em que os resultados obtidos com a execução das atividades repercute não somente na comunidade acadêmica, como também na sociedade como um todo, a partir da preservação de documentos de valor patrimonial. Os arquivos universitários são formados pela acumulação dos documentos gerados e/ou reunidos pelas instituições universitárias, tanto públicas quanto privadas no decorrer de seu ciclo de vida. A Universidade deve ter por meta o desenvolvimento do conhecimento por meio da pesquisa, a transmissão do conhecimento por meio do ensino, a preservação do conhecimento e a difusão do conhecimento por meio da publicação. Nesse sentido, a função do Arquivo Universitário é extremamente importante na vida acadêmica dos alunos e da Universidade, enquanto instituição voltada para o saber científico. (BOSO et. al, 2007, p. 123 e 124) Assim, surgiu a necessidade do tratamento dado à documentação produzido pela Divisão de Registro Acadêmico, localizado no Campus Cidade, como forma de preservar o acervo e colaborar no controle de agentes de deterioração que levam os documentos a um estado de instabilidade física ou química, com comprometimento de sua integridade e existência. O trabalho visa preservar os registros acadêmicos produzidos pela Divisão de Registro Acadêmico da Furg, que encontram-se custodiados no Arquivo Geral da FURG destacando a importância de medidas de conservação preventiva como forma de preservar a memória da instituição. Especificamente visa identificar as características e condições originais de conservação e guarda do acervo, através da realização de um diagnóstico; higienizar os dossiês dos acadêmicos; avaliar o método de ordenação empregado, estabelecer políticas de conservação do acervo. 2 MATERIAL E METODOLOGIA Bellotto (2004) afirma que a existência do arquivo justifica-se pelo seu sentido patrimonial e testemunhal. A preservação dos conjuntos orgânicos de informações serve como forma de transmissão cultural, visando à reconstituição da identidade de um grupo social e como forma de assegurar aos pesquisadores os testemunhos de cada geração. Para Martins (1992) compete às universidades, como produtoras e difusoras do conhecimento, cuidar de sua documentação histórica, existem algumas iniciativas promissoras e deve-se estimular o desenvolvimento de uma mentalidade de preservação da memória nacional, neste e em outros campos é impossível conservar todos os documentos. Portanto, deve-se tentar preservar os documentos que se prevê como de possível utilidade para a pesquisa histórica. Para o desenvolvimento deste trabalho, num primeiro momento, realizou-se um diagnóstico que determinou as características e a quantidade da documentação e o mapeamento dos problemas relativos ao seu estado de conservação, este tipo de diagnóstico é a base para a definição do cronograma de atividades, infra-estrutura necessária e estimativa de custos. Foram identificados os fatores ambientais, a existência de agentes biológicos, as intervenções realizadas nos documentos e possíveis problemas no manuseio de documentos. Também se está realizando a higienização mecânica dos dossiês (realizado com trincha de cerdas macias em ambos lados do documento) para preservar o suporte, triagem da documentação (documentos referentes a matrícula e frequência dos alunos) onde se elaborará uma listagem, que será encaminhada à Comissão Permanente de Avaliação de Documentos da FURG e o novo acondicionamento da documentação triada e higienizada (envelopes e caixas – arquivo). 3 RESULTADOS PARCIAIS Foram identificados os fatores ambientais, a existência de agentes biológicos, as intervenções realizadas nos documentos e possíveis problemas no manuseio de documentos. Também se está realizando a higienização mecânica dos dossiês (realizado com trincha de cerdas macias em ambos os lados do documento, até o momento foram triados e higienizados mecanicamente os dossiês acadêmicos dos cursos de Direito, Economia e Medicina,) para preservar o suporte, triagem da documentação (documentos referentes a matrícula e frequência dos alunos) onde se elaborará uma listagem, que será encaminhada à Comissão Permanente de Avaliação de Documentos da FURG e o novo acondicionamento da documentação triada e higienizada (envelopes e caixas – arquivo, Curso de Direito). Todos estes procedimentos são realizados com a atuação dos bolsistas da ação, com os resultados da mesma, além de atenderem a própria instituição, também atende à comunidade em geral, através da preservação da memória universitária. Os documentos são disponibilizados para consulta no Arquivo, tanto para a comunidade interna quanto externa. Figura 1: Higienização mecânica dos documentos. Constatou-se uma deficiência no método de arquivamento adotado o que dificultava a recuperação das informações, presença de umidade e fungos na documentação acarretando infelizmente na perda de muitas informações arquivísticas. 4 CONCLUSÃO Conclui-se que o projeto é de grande relevância para a comunidade acadêmica e geral, vindo contribuir para o andamento das funções e atividades administrativas e também com a preservação das informações arquivísticas, vindo a acarretar na preservação da memória institucional e servindo como um laboratório para a atuação dos acadêmicos do curso de Arquivologia. Há muito trabalho a ser realizado no que tange ao acervo arquivístico da FURG, muitas são ainda as iniciativas que se deve realizar na preservação de seu acervo, para que não sejam deterioradas muitas de suas informações, também se faz necessário a elaboração de uma política de conservação e preservação documental que englobe medidas desde a criação até o recolhimento dos documentos ao Arquivo Geral. Os arquivos universitários além de detentores de informações administrativas, também são portadores de memória. As universidades devem ser muito mais do que geradoras de conhecimento, elas devem ser também conservadoras e difusoras de conhecimento e informação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos Permanentes: tratamento documental. 2° ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. BOSO, Augisa Karla; et.al. Importância do Arquivo Universitário. Florianópolis: Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v.12, n.1, p. 123-131, jan./jun., 2007. Disponível em: http://www.acbsc.org.br/revista/ojs/viewissue.php?id=20. Acesso em 05/01/2010 MARTINS, Roberto de Andrade. O Sistema de Arquivos da universidade e a memória científica. Anais do I Seminário Nacional de Arquivos Universitários. Campinas: UNICAMP, 1992, p. 27 – 48.