1 A DRENAGEM LINFÁTICA – TÉCNICA VODDER ASSOCIADA A CINESIOTERAPIA EM PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO DE MASTECTOMIA PARA A MANUTENÇÃO DA FUNCIONALIDADE DO OMBRO Rosenny Lima de Souza1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia2 Pós-graduação em fisioterapia dermato-funciona- Faculdade Ávila. RESUMO: O câncer de mama, apesar dos avanços no que diz respeito a seu tratamento e prevenção, continua atingindo mulheres em todo o mundo, sendo uma das patologias que mais as acometem. Devido a sua malignidade e sendo na maioria das vezes detectado tardiamente, muitas mulheres são submetidas a realizar uma mastectomia, sendo esta a sua única chance de cura. Todos os tipos de mastectomia podem deixar seqüelas, devido a presença de dor e linfedema que acometem o membro superior homolateral à cirurgia. A drenagem linfática, utilizando as manobras descritas por Vodder, juntamente com a cinesioterapia são recursos terapêutico bastante utilizado após uma mastectomia imediata, pois previnem e tratam seqüelas deixadas após esta cirurgia com técnicas de alongamento, mobilização intraarticular e um programa de exercícios cinesioterapeuticos, o objetivo deste estudo foi mostrar a importância da drenagem linfática juntemente com a cinesioterapia na reabilitação do pós operatório imediato de mastectomia, para a manutenção da funcionalidade do ombro, analisando sua eficácia na prevenção e tratamento de complicações causadas pela imobilidade articular. Para isso é necessário primeiramente conhecer a anatomia envolvida, assim como a fisiopatologia da doença e possíveis complicações pós- cirúrgicas, através de revisão bibliográfica. A drenagem linfática associada a cinesioterapia é capaz de prevenir e tratar disfunções da mobilidade do ombro, através dos efeitos positivos causados pela drenagem linfática manual e pelos movimentos realizados no decorrer do tratamento, não só contribuindo fisicamente mais também psicologicamente. Palavras-chave: Mastectomia, Drenagem linfática, Cinesioterapia. ____________________________ 1 2 Pós-graduanda em Fisioterapia Dermato-Funcional. Fisioterapeuta Especialista em Metodologia do Ensino Superior; Mestre em Bioética e Direito em Saúde. 2 1.Introdução O câncer de mama com certeza é uma das doenças mais temidas pelas mulheres, não só por seus efeitos fisiológicos mais também pelas alterações psicológicas que ele causa. As estatísticas indicam o aumento de sua freqüência tantos nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, na maioria dos casos a doença é detectada tardiamente e a malignidade já está instalada, com isso a solução seria a retirada da mama. A mastectomia pode desencadear complicações físicas imediatas à cirurgia, tais como: limitação dos movimentos do braço homolateral, conseqüentemente a diminuição dos movimentos de ombro e braço, o linfedema e variados graus de fibrose da articulação escapulo – umeral ( ARAUJO, 1988; MAMEDE, 1991). A drenagem linfática e a cinesioterapia atuam diante dessas complicações, evitando-as ou no caso de já estarem instaladas diminuindo ou debelando tais complicações, as duas são de fundamental importância na prevenção da limitação articular, linfedema, além de melhorar ou previnir fibrose muscular ou aderência tecidual causadas após a cirurgia. 2. Câncer de mama O câncer de mama é a neoplasia que mais acomete as mulheres, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, no Brasil é a primeira ou segunda mais freqüente ( GUIRRO; GUIRRO, 2004). Essa doença é um tumor maligno originado por uma multiplicação exagerada e desordenada de células, suas células tem a capacidade de originar metástases, ou seja, a formação de uma nova lesão tumoral a partir da primeira, no entanto uma não dá continuidade à outra ( BRASILEIRO, 2006). Os principais fatores associados a um risco aumentado de desenvolver câncer de mama são: sexo feminino, menarca precoce (antes dos 11 anos), menopausa tardia (após os 55 anos), nuliparidade, primeira gestação após os 30 anos, ciclos menstruais menores que 21 dias, história da doença na família, na pré-menopausa, alimentação inadequada, obesidade, radiações ionizantes, etilismo, padrão socioeconômico elevado, ausência de atividade sexual, residência em área urbana e cor branca (MEIRELLES, 1998) Portanto, a adoção de hábitos saudáveis no seu dia a dia, aliada às estratégias para a detecção precoce do câncer, como: o auto-exame, a mamografia e o diagnóstico médico precoce devem ser incentivadas, pois quanto antes o tumor maligno da mama for detectado, maiores as chances de cura. 3. Mastectomia Desde o final do século XIX, a cirurgia tem sido o tratamento tradicional do câncer de mama, baseia-se na retirada do tumor e no esvaziamento axilar . Para a retirada total do tumor pode ocorrer a amputação completa da mama com ou sem o músculo peitoral, chamada de mastectomia radical, onde na maioria dos casos devido ao seu diagnóstico tardio é a única solução ( ENTREKIN, 1997). Também é realizado o esvaziamento axilar que é parte do tratamento cirúrgico desde o final do século passado, e suas alterações foram muito poucas em relação aos tumores infiltrantes, aqueles que já romperam os canais ou ductos e invadiram os tecidos adjacentes. Esse esvaziamento é de suma importância no controle local da doença e no planejamento dos tratamentos complementares, já que os mesmos gânglios axilares já abrigaram células 3 tumorais. Será necessário um tratamento sistêmico com quimioterapia associado ou não a hormonoterapia. (FREITAS; et al, 2001) A mastectomia radical remove toda a mama e os múculos peitoral maior e menor, fazendo a dissecção de linfonodos axilares e possivelmente mediastinais. Na mastectomia radical modificada é feita a remoção total da mama, a possível retirada do músculo peitoral menor e a dissecção de linfonodos axilares através de procedimentos da massa tumoral em bloco ( ENTREKIN, 1997). As cirurgias radicais modificadas segundo Uriburu apud Mamede (1991), são melhores toleradas, mais estéticas e permitem uma melhor recuperação funcional que a cirurgia radical clássica. Apresenta-se em duas modalidades: a primeira é aquela que conserva a massa muscular peitoral maior, mas disseca sua fáscia de envoltura e o sistema clavi-peitoral-axilar, o que permite o esvaziamento ganglionar completo da axila ( Tipo Patey); a segunda é que conserva ambos os músculos peitorais ( Tipo Madden) permitindo a extirpação do nível I dos gânglios axilares, por fora do peitoral menor, mas não alcança o nível II, já que este músculo é a chave de acesso ao vértice da axila. Ainda poderá ser realizada a mastectomia setorizada (ou seja, nodulectomia ou quadrantectomia, com ou sem irradiação), sendo feita a remoção do tumor em margem de 1 centímetro de tecido normal e a dissecção de linfonodo axilar através de uma segunda incisão.( ENTREKIN, 1997). 4. Sistema Linfático O sistema linfático foi durante séculos o mais desconhecido dos sistemas do organismo (BARROS, 2001). O sistema linfático auxilia o organismo a drenar o líquido intersticial e remover resíduos celulares, proteínas, de maior tamanho que o sistema sangüíneo não consegue coletar, ele é constituído por capilares (rede muito fina que correspode a primeira estrutura do sistema linfático, permite a entrada de macromoléculas de proteínas e minerais), pré-coletores (suas paredes são formadas por tecido endotelial, possuem válvulas, por isso o fluxo da linfa é unidirecional), coletores ( com maior calibre, também possuem vávulas e conduzem a linfa no sentido centrípeto), canal ou ducto torácico direito ( termina no tronco das veias jugular interna e subclávia a direita, assim recebendo linfa do lado direito da cabeça, pescoço, tórax e membro superior direito) e canal ou ducto linfático esquerdo (se origina por uma dilatação a cisterna do quilo e continua como ducto torácico propriamente dito, termina no tronco das veias juguar interna e subclávia esquerda,coleta quase todos os vasos linfáticos do corpo, com excessão dos que são coletados pelo anal torácico direito), linfonodos ( estão localizados em trajetos nos vasos linfáticos, eles produzem linfócitos e filtram a linfa), válvulas linfáticas e linfa (GUYTON, 1984). Abaixo, figura representativa do sistema linfático – capilares e nódulos: 4 Fig. 1 Sistema linfático (capilares e nódulos) Fonte disponível em: www.vodder.comr> Acessado em 23/01/12 No que se refere a linfa, sabe-se que as vias linfáticas não possuem um órgão central bombeador, assim os movimentos da linfa dependem da capilaridade e forças externas sobre o sistema ( GUIRRO;GUIRRO, 2004) A linfa é transportada até se misturar com o sangue novamentede, devolvendo desta maneira as proteínas plasmáticas do líquido intersticial de volta ao sangue (BARRACHO, 2007). 5. Drenagem linfática - Vodder A drenagem é uma técnica de compressão manual dos tecidos, que utiliza pressões intermitentes e tem como objetivo aumentar o fluxo da circulação linfática para tratamento de patologias (CAMARGO,2000). A drenagem linfática pela técnica de Vodder baseia-se nos trajetos dos coletores linfáticos e linfonodos usando basicamente três manobras: captação ( realiza-se sobre o segmento edemaciado, aumentando a captação da linfa pelos linfocapilares), reabsorção ( são manobras nos pré-coletores e coletores linfáticos que transportarão a linfa captada pelos linfocapilares) e evacuação ( acontece nos linfonodos, os quais recebem a confluência dos coletores linfáticos (BARROS, 2001). As manobras básicas da drenagem linfática de Vodder, diferenciam-se quatro tipos de movimentos: círculos fixos, movimentos de bombeamento, movimentos do “ doador” e movimento giratório ou de rotação. Círculos fixos: Promove um estiramento do tecido, causando uma pressão/descompressão, isso é feito com a mão espalmada sobre a pele e realizando movimentos circulares com os dedos, esse movimentos são realizados de 5 a 7 vezes no mesmo lugar, como mostra a figura abaixo: 5 Fig. 2 Movimentos circulares – técnica Vooder. Fonte disponível em: www.babiunica.blogshop.com> Acessado em 24/02/12 Movimentos de bombeamento: posicionam-se as mãos no tecido a ser drenado, executando movimentos ondulatórios, com pressões decrescentes da palma da mão para os dedos de forma não contínua (compressão/descompressão), totalizando de 5 a 7 movimentos. Sendo que o direcionamento e o sentido da pressão da drenagem será detreminada pelo posicionamento das vias. Fig.3 Movimento de bombeamento Fonte disponível em: www.essenciaestetica.com> Acessado em 24/02/12. 6 Movimento do “doador”: É iniciado com as palmas das mãos em posição perpendicular às vias de drenagem, baseada em manobras que consistem em arrastar, combinando vários movimentos. Primeiramente toca-se a borda medial da mão a área que se pretende drenar, seguido dos movimentos de pronação do antebraço e abdução do braço. Em seguida a mão oposta com o polegar extentido realizar um movmento de arraste com a borda lateral, combinando movimentos de supinação do antebraço e adução do braço. O movimento se repete de imediato na região adjacente à região manipulada. Fig. 4 Movimento do doador Fonte disponível em: www.terapiasalternativascuritiba.wordpress.com> Acessado em 24/02/12 Movimento giratório ou de rotação: Este movimento é empregado em superfícies planas. O braço é posicionado em leve abdução no plano da escápula, com o antebraço em máxima pronação. A mão que inicia o movimento toca a superfície do segmento com a face palmar e realiza um movimento de desvio ulnar na direção e sentido da drenagem proposta, simultaneamente aos movimentos de supinação e adução. A outra mão terá o mesmo posicionamento e realizará os mesmos movimentos descritos anteriormente, tendo-se o cuidado para que os movimentos sejam seqüenciais e rítmicos, alternando-se as mãos para a região imediatamente adjacente. O posicionamento das mãos depende da seqüência realizada, e podem ser posicionadas proximal ou distalmente, seguindo sempre o fluxo da linfa (GUIRRO;GUIRRO, 2004). 7 Fig. 5 movimento giratório. Fonte disponível em: www.mundodastribos.com> Acessado em 24/02/12. 6. Drenagem e Cinesioterapia pós mastectomia imediata A intervenção fisioterapeutica deve ser realizada de maneira mais breve possível, para ser capaz de prevenir as possíveis complicações oriundas da cirurgia. Principais causam que levam a disfunção dos movimentos do ombro: A dor nessa etapa da cirurgia, pode levar a vários graus de imobilidade, devido ao medo de realizar os movimentos, o que poderá intervir diretamente com a dificuldade da movimentação espontânea no decorrer do tratamento, além de contribuir com o aparecimento de linfedema. As causas mais freqüentes de dor são: devido a incisão cirúrgica; o seu processo lento de cicatrização ou a incisão cirúrgica transversa; dor na região cervical e cintura escapular, que pode ser ocasionada pela sensibilidade alterada dessas regiões. Todos esses fatores levam a diminuição do movimento do membro envolvido, gerando uma pré- disposição ao ombro congelado crônico, linfedema e a proteção muscular reflexa (GUIRRO; GUIRRO, 2004). O linfedema, é uma condição crônica que necessita de cuidado constante, pois o mesmo pode ocorrer de forma insidiosa e a qualquer momento após o câncer de mama. Após a ocorrência da obstrução linfática, os coletores linfáticos do braço precisam trabalhar com uma maior resistência. A instalação do edema dependerá da fadiga e do fracasso de bombeamento dos vasos linfáticos. Quando o membro lesionado não é tratado este aumenta de volume progressivamente, assim como aumenta a freqüência das complicações relacionadas a ele, devido a linfa, que ao seu acúmulo leva a estagnação de proteínas e em conseqüência disso ocasiona o aparecimento de fibrose, tornando-se um meio de cultura propício para o desenvolvimento de linfangites e erisipelas, condições estas que agravam ainda mais o sistema linfático ( PRICE, 1997). Aderência cicatricial: As cicatrizes que se retraem diminuem a elasticidade da pele no local, o que ocasiona uma grande dificuldade de movimentação do membro superior. A falta de movimento deste membro poderá ocasionar um encurtamento da musculatura, principalmente do músculo peitoral maior, além da diminuição da produção do líquido sinovial, pois para que ela ocorra são necessários os movimentos de compressão e descompressão, os quais diminuem devido a falta de movimento desse membro, assim como também há um espessamento dos 8 ligamentos e da cartilagem articular. Essas retrações cicatriciais são um importante fator na diminuição da mobilidade do ombro (MOORE, 2005). 7. Tratamento Os programas de reabilitação foram se modificando com o passar dos anos, e deixaram de ser apenas voltados para uma reabilitação e passaram a pensar em prevenção de complicações (BARRACHO, 2007). No pós-operatório imediato a fisioterapia utilizando manabras de drenagem e exercícios cinesiterapêuticos, pode atuar de várias maneiras para a manutenção da funcionalidade do ombro, prevenido complicações oriundas da imobilização causadas pela dor, linfedema e aderência cicatricial como: rigidez articular, aderência tecidual e capsular, espasmo muscular, adesões musculares, ou seja, efeitos degenerativos e restritivos da imobilidade. 7.1. Para o tratamento e prevenção do linfedema: Drenagem linfática: Atua na otimização ou restauração de sistema linfático deficiente, impulsionando a linfa que está acumulada constituída de resto de acúmulo anormal de líquidos e proteínas, além de resto de células , bactérias e imunocomplexos, com a drenagem linfática, ocorre um impulsionamento maior dessa linfa, fazendo com que ocorra um descongestionamento da vias e reestabelecimento do fluxo linfático (CAMARGO, 2000). A drenagem linfática da mama é complexa e de particular interesse devido ao seu potencial de disseminação à distância e pelo seu valor prognóstico e terapêutico na evolução da doença. Uma rede linfática é formada sobre a superfície inteira do tórax, pescoço e abdômen e se torna densa sob a auréola. Há origens dos linfáticos da glândula nos espaços interlobulares e pré-lobulares, seguindo ao longo dos ductos e terminando em uma rede subareolar de linfáticos da pele, por isso a drenagem deve ser realizada de maneira global, atingindo os ductos torácicos direito e esquerdo para se obter um resultado positivo. ( BARRACHO, 1997). Exercícios linfocinéticos: As pressões da contrações musculares somadas à contrapressão do enfaixamento compressivo estimulam o funcionamento linfático, aumentando a absorção, a atividade motora dos linfagios e o peristaltismo dos vasos linfáticos, potencializando, assim, a circulação de retorno (BARRACHO, 2007). A mobilização intra-articular também age na prevenção e tratamento do linfedema, pois através dela ocorre a movimentação do líquido sinovial, ajudando desta forma a drenar o líquido acumulado e a levar nutrientes para aquela região (KISNER; COLBY, 1998). A prática de exercícios deve ser uma das medidas preventivas e curativas para a prevenção do linfedema, podendo-se iniciar com movimentos respiratórios para ampliar o tórax, rotação do ombro, recomendando que os exercícios sejam de acordo com a limitação individual, não forçando qualquer tipo de exercício ( GRANDA, 1994). O exercício tem um papel importante na prevenção do linfedema, pois os exercícios corretos no pós- operatório podem ajudar a desenvolver canais linfáticos colaterais nos ombros e escápula, assumindo o trabalho dos canais danificados pela cirurgia. Os exercícios também podem funcionar como bomba nestes canais e ajudar a recuperara força motora do braço, estes podem ser iniciados no primeiro dia de pós-operatório, os quais podem dirigir-se para o cotovelo, pulso e mão do lado operado; no segundo dia podem ser realizados movimentos de ombro, cujo ângulo de flexão deve ir somente à 90 graus. Após a retirada do dreno, pode-se iniciar movimentos ativos além de 90 graus de flexão (PRICE; PURTELL, 1997) 9 7.2. Para o tratamento e prevenção da dor e seqüelas do imobilismo: Alongamento Muscular O alongamento no processo de cicatrização promove melhoras no quesito elasticidade e força dos tecidos, este deve ser realizado durante a fase subaguda e crônica, porém deve ser feito com cautela, de acordo com a progressão da cicatrização, pois forças excessivas durante o início desse processo podem prejudicá-lo, pela possibilidade de haver um rompimento do tecido conjuntivo neoformado, bem como do leito vascular, causando novo sangramento, e isso terá por conseqüências dor e espasmo muscular (GUIRRO; GUIRRO, 2004). Além disso, o alongamento será realizado com a finalidade de aumentar o comprimento de estruturas de tecidos moles, as quais foram encurtadas e desta forma aumentar a amplitude de movimento, este será realizado de forma passiva, enquanto o paciente encontra-se relaxado. Alongamento passivo manual: Nesse alongamento uma força externa é aplica, a qual controla a direção, velocidade, intensidade e duração do alongamento, os tecidos são alongados além de seu comprimento de repouso. Nessa modalidade as estruturas são levadas além da amplitude de movimento livre, por isso a necessidade do paciente estar o mais relaxado possível durante o alongamento (PINTO; ET al 2004). Alongamento para ganho de abdução do ombro: Fig. 19 Alongamento dos adutores do ombro Fonte disponível em: Kisner; Colby, 1998 Hold relax: Nesse tipo de procedimento é realizada uma contração isométrica no final da amplitude do músculo a ser tratado antes que ele seja passivamente alongado, isso causará um relaxamento desse músculo, devido a inibição autogênica e desta forma seu alongamento será mais facilmente realizado. Uma variação do sustentar relaxar é o contrair-relaxar, onde após o músculo retraído ser alongado passivamente o paciente fará uma contração isotônica concêntrica contra resistência do músculo antes dele ser alongado. (MACEDO; et al, 2000). 10 7.3. Mobilização intra-articular Será usada para tratar disfunções articulares como rigidez, hipomobilidade articular reversível ou dor; é realizada de forma passiva pelo fisioterapeuta com baixa velocidade, para que o paciente seja capaz interromper o movimento. A mobilização articular pode ser aplicada com um movimento oscilatório ou um alongamento mantido de modo a diminuir a dor ou aumentar a mobilidade. Ela age de forma profilática e curativa e seus procedimentos são de fundamental importância para o aumento da amplitude de movimento (VEADO; FLÓRA, 1994). As técnicas de mobilização usadas para o alívio e prevenção da dor será a técnica de mobilização intra-articular leve, que auxiliam na manutenção das trocas de nutrientes, prevenindo desta forma os efeitos dolorosos e degenerativos da estase quando uma articulação está edemaciada ou dolorida, impedindo que seja realizado o seu movimento ao longo de sua amplitude, já a hipomobilidade articular reversível pode ser tratada com técnicas progressivamente vigorosas para alongamento conectivo capsular e ligamentar hipomóvel (KISNER; COLBY, 1998). Movimentos intra-articular: Os movimentos intra-articulares são necessários para o funcionamento articular normal no decorrer do movimento, esses movimentos podem ser realizados passivamente, mas não podem ser feitos de forma ativa pelo paciente. São movimentos que ocorrem dentro da articulação e descrevem a distensibilidade ou frouxidão na cápsula articular, que permite que os ossos se movam (SASAKI; LAMARI, 1997). Na prevenção e tratamento do pós-operatório imediato, será utilizada está técnica descrita acima, a qual é indicada para dor, defesa muscular, espasmo, manutenção da mobilidade existente, hipomobilidade articular reversível, utiliza-se mobilização intra-articular leve para estimular efeitos neurofisiológicos e mecânicos, os movimentos incluem, separação, deslizamento, compressão, rolamento, giro das superfícies articulares (PICARÓ; PERLÓIRO, 2005). Os efeitos neurofisiológicos são obtidos a medida que os movimentos oscilatórios de pequena amplitude são usados para estimular os mecanorreceptores os quais podem desencadear uma ação inibidora da transmissão de estímulos nociceptivos no nível de medula espinhal ou tronco cerebral e os efeitos mecânicos se dão pela movimentação do liquido sinovial, através de movimentos de tração ou deslizamento de pequena amplitude nas articulações, o qual transporta os nutrientes necessários para a regiões da cartilagem articular que não são vascularizadas ( SASAKI; LAMARI, 1997) 7.4. Exercícios Cinesioterapeuticos Os exercícios ativos nessa fase do tratamento são realizados para a manutenção da força muscular da paciente. Os exercícios devem ser estimulados o mais precocemente possível, podem ser iniciados no primeiro dia após a cirurgia, mantendo elevado o braço do lado operado desde o período de pós-operatório imediato. O programa de exercícios deve estar fundamentados nos movimentos em que os músculos peitorais maior e menor tenham importante participação, ou seja, rotação, flexão, extensão, abdução, anteversão, elevação e abaixamento do braço, retroversão e circundação. Assim, nos primeiros dias de pós mastectomia recomenda-se a realização dos exercícios cujo movimentos exijam uma menor força ou participação dos músculos peitorais e gradualmente deve-se aumentar a freqüência e complexidade, evitando dessa forma, bloqueios articulares, distensão e dor. A postura corporal e os movimentos respiratórios durante a 11 realização de cada exercício e períodos de relaxamento são aspectos importantes a serem considerados. O acréscimo de novos exercícios que exijam maior rendimento muscular deve ser constante. Ao exercícios de alongamento devem ser estimulados, os quais melhoram ou previnem fibrose muscular e aderência tecidual da área cirúrgica (MAMEDE, 1991). Os movimentos de escápula e do pescoço devem fazer parte do programa, visando aumento da amplitude de movimento e relaxamento muscular. Nos casos em que a paciente não apresenta complicações, os exercícios devem ser realizados em todos os arcos de movimento, seguindo um nível de complexidade cada vez maior (GUIRRO;GUIRRO, 2004, pag. 4770). A reabilitação funcional do braço homolateral à cirurgia é considerada por Spratt e Donegan (1995), como meta importante no seguimento e acompanhamento de mulheres que foram submetidas a mastectomia. Os exercícios passivos ou isométricos aumentam a formação de linfa, porém não produzem seu bombeamento como nos exercícios ativos, o programa de exercícios devem ser iniciados logo após a retirada dos drenos, monitorando o movimento do braço de forma a aproximar aos movimentos do braço oposto. 8. Metodologia O trabalho realizado é uma revisão bibliográfica, é uma pesquisa baseada em produções científicas, publicações e livros. 9. Conclusão Com a finalização deste trabalho, foi chegada a conclusão que a movimentação do ombro homolateral à cirurgia fica comprometida, a gravidade do comprometimento depende do tipo de cirurgia que foi realizada, o seu comprometimento pode ser mais ou menos intenso, havendo, portanto necessidade da realização de fisioterapia. A drenagem linfática, juntamente com a cinesioterapia tem um papel primordial e fundamental no pós- operatório imediato de mastectomia, sendo essencial para a manutenção da função do ombro com todas as suas estruturas relacionadas, porém ainda são pouco conhecidas perante a sociedade de uma forma generalizada, por isso a importância da realização deste. Estas técnicas de tratamento associadas são de singular importância na prevenção da limitação articular, linfedema, alterações posturais, além de melhorar ou prevenir fibrose ou aderência tecidual. Com esse programa de manobras e exercícios, é possível evitar tais seqüelas relacionadas aos danos causados pela cirurgia, e quando já houver uma lesão instalada logo no pós operatório, é possível diminuir e debelar tais seqüelas. Através da realização de exercícios terapêuticos, obtem-se aquisição de movimentos e funções livres de sintomas, o seu efeito positivo é a prevenção de disfunções ou manutenção de normalidades. Com o tratamento baseado na drenagem e cinesioterapia, é possível manter e devolver ao paciente seus movimentos relacionados a articulação do ombro, oferecendo a ela uma melhor qualidade de vida e sua própria aceitação na sociedade. 10. Referências bibliográficas ARAUJO, R. Z. Reabilitacão pós mastectomia. In: PIATO, S. Diagnóstico e 2.Ed. Rio de Janeiro. Atheneu, 1998. terapeutica em mastectomia. 12 BARROS, Maria Helena. Fisioterapia Drenagem Linfática Manual, Robe Editorial, São Paulo, 2001. BARACHO, Elza. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. 4.ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2007. BRASILEIRO, Geraldo Filho. Bogliolo Patologia: Patologia Geral. Guanabara Koogan..7ª Ed.2006. CAMARGO, M.C; MARX, A.G. Reabilitação física no câncer de mama. São Paulo, Rocca, 2000. ENTREKIN, N. Cancer de mama. In: CLARK,J; McGEE, R. F. Enfermagem Oncológica: um currículo básico. 2ªed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. FREITAS, Ruffo; et al. Linfedema em pacientes submetidas à mastectomia radical modificada. Revista Brasileira de ginecologia. Maio 2001, vol. 23, nº 4. GRANDA,C. Nursing management of patients with lymphedema associated with brest câncer therapy . Cancer nursing, v.17, n. 3, p. 229-35, 1994. GUIRRO, Elaine; GUIRRO, Rinaldo. Fisioterapia dermato funcional. 3.ed. São Paulo. Manole. 2004. GUYTON, A.C. Fisiologia Humana, 6° Edição, Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1984. KISNER, Carolyn; COLBY, Lynn. Exercícios terapêuticos fundamentos e técnicas. 3.ed. São Paulo. Manole. 1998. MACEDO, Joaquim; COHEN, Ruben; MARINHO, Angélica; PENA, Leonardo; MACHADO, Jean. Bloqueio do nervo supra-escapular no tratamento da capsulite adesiva da articulação glenoumeral. Rev. Bras. Ortop. Abril, 2000. MAMEDE, M. V. Reabilitação de mastectomizadas: um novo enfoque assistencial . Ribeirão Preto. 1991, p. 140. Tese ( Livre- docência). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP. MEIRELLES, Maria Cristina. Linfedema pos cirurgia por câncer de mama. : avaliação de um protocolo de tratamento. Ribeirão Preto. 1998. . p.116. Dissertação (Mestrado)- Escola de Enfermagem Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. MOORE, Kaith. Anatomia orientada para a clínica. 2 ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogam. 1994. PERLOIRO, Fátima; PICARÔ, Paulo. A evidência da intervenção precoce em mulheres mastectomizadas: Estudo comparativo. v 1, março 2005. PINTO, Marcela; DERCHAIN, SHOPIE; REZENDE, Laura; CABELLO César; MARTINEZ, Edson. Movimento do ombro após cirurgia por carcinoma invasor da mama: estudo randomizado prospectivo controlado de exercícios livres versus limitados a 90º no pós – operatório. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. Rio de janeiro.V.2, nº2, Mar. 2004. PRICE, J; PURTELL, J. R. Prvention and treatment of lymphedema after breast cancer. Am J Nurs, v.97, n.9, p. 34-37, 1997. SASAKI, Tânia; LAMARI, Neuseli. Reabilitação funcional precoce pós mastectomia. v 4, nº 2,121-7, maioago. 1997. SPRATT,J.S; DONEGAM, WL. Screening and follow –up. In: DONEGAN, WL; SPRATT,J.S; The brest cancer. 4ªed. Philadeiphia, Saunders Company, 1995, p595-619. VEADO, Marco Antonio; FLÓRA, Walace. Reabilitação pós - cirúrgica do ombro. Rev. Bras. Ortop. Vol 29, N° 9- Setembro, 1994.