Nome:
Estudos
Literários
Turma:
Nº:
3º ano
Rev. Gabarito – Romantismo Prosa II
Wilton
Out/10
O que você deve saber sobre
ROMANTISMO PROSA II
José de Alencar, pelos seus importantes romances urbanos e indianistas,
Joaquim Manuel de Macedo, pelo pioneirismo e por sua prosa popular, Visconde de
Taunay e Franklin Távora, pelos romances regionalistas, e Manuel Antônio de Almeida,
pela subversão ao gênero, compõem o quadro de escritores mais significativos da prosa
romântica no Brasil.
José de Alencar (1829-1877)
O autor é considerado pela crítica o principal romancista do período. A amplitude de
sua obra torna clara a existência de um projeto de construção de um painel literário
abrangente sobre o Brasil. Tendências indianistas, urbanas, regionalistas e históricas
estão presentes na extensa obra do escritor cearense.
a) romances indianistas – A existência de um “consórcio” benéfico entre o povo
indígena (“detentor” e fornecedor de um solo bom e de uma natureza intocada) e o
invasor, colonizador europeu (fornecedor da civilidade, da cultura e da religião), é
defendida por José de Alencar nesse tipo de romance. Em O Guarani (1857), Ceci
(Cecília), filha de um fidalgo português, envolve-se amorosamente com Peri, índio
goitacá protagonista da história que tem como pano de fundo a colonização do Vale
do Paraíba, no século XVI. Na narrativa poética Iracema (1865), Alencar criou uma
lenda para narrar as origens da América. Nela, a índia Iracema se une ao colonizador
europeu Martim. No romance Ubirajara (1874), enfocam-se a cultura e os hábitos
indígenas anteriores à chegada dos colonizadores ao Brasil.
b) romances urbanos – nesses romances, Alencar, além de criar enredos marcados por
intrigas amorosas, amores impossíveis e surpresas reveladoras – num Rio de Janeiro
do século XIX – também realiza uma análise crítica consistente da (falsa) moral
burguesa da época. Estão presentes em alguns desses romances urbanos “perfis
femininos” criados pelo autor. Alencar escreveu as obras Cinco minutos (1856), A
viuvinha (1860), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d’ouro (1872),
Encarnação (publicação póstuma de 1877), mas destacam-se, nessa tendência,
Lucíola (1862) por discutir a prostituição presente na elite carioca da segunda
metade do século XIX e Senhora (1875) que trabalha com o tema do casamento por
interesse.
c) romances regionalistas – esses romances apresentavam ao leitor as peculiaridades
culturais, lingüísticas e étnicas, esbarrando por vezes em estereótipos, de um povo
bastante distante do ambiente urbano da corte. Estão presentes nessa tendência as
obras O gaúcho (1870), O tronco do Ipê (1871), Til (1872) e O sertanejo (1875).
d) romances históricos – essas narrativas enfocam o Brasil-colônia: a aventura dos
Bandeirantes está presente em As minas da prata (1865); os conflitos entre Recife e
Olinda, ocorridos no início do século XVIII, são tema de A guerra dos mascates
(1874); entre outros.
e) dramaturgia – Alencar escreveu ainda teatro: Demônio familiar (1857), Verso e
reverso (1857), As asas de um anjo (1860), Mãe (1862) e O jesuíta (1875).
Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)
Por optar pela criação de romances marcados pelo humor, pelas aventuras de
jovens estudantes casadoiros ricos, pelos desfechos-surpresa, pela apologia ao
casamento, pelo sentimentalismo fácil, Macedo tornou-se extremamente popular entre
um público essencialmente burguês e obteve êxito em suas dezoito publicações.
De sua extensa produção, destaca-se A Moreninha (1844), romance marcado por
um duplo pioneirimo: foi a primeira narrativa do gênero a alcançar popularidade e a
primeira a introduzir uma personagem morena, muito diferente das brancas heroínas
européias com as quais o público brasileiro estava habituado a “conviver” .
No romance A Moreninha, um grupo de amigos viaja para a casa da avó do
jovem Filipe, situada numa ilha próxima ao Rio de Janeiro, para passar o Dia de
Sant’Ana. Filipe aposta com os colegas que eles irão interessar-se por sua irmã Carolina
(a Moreninha do título) ou por uma de suas primas, também convidadas para passar o
dia na ilha. Quem perder a aposta terá de produzir uma narrativa relatando o fato aos
outros. Augusto aceita a aposta e a perde e seu relato será a própria história narrada por
ele em A Moreninha.
Visconde de Taunay (1843-1899)
Alfredo d’Escragnolle Taunay mostrou-se um observador atento de um Brasil
distante do Rio de Janeiro em que ele nasceu. Sua carreira militar possibilitou ao carioca
uma série de viagens pelo país que motivou a escritura de sua obra mais significativa:
Inocência.
O romance, narrativa mais importante do regionalismo romântico, apresentou ao
leitor da corte os costumes, a língua, a cultura, a rusticidade e o rigoroso código moral
dos habitantes da região do Mato Grosso.
O romance se passa na dos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e São
Paulo. O enredo está centrado no amor impossível entre Cirino, prático de farmácia que
se apresenta como médico, e Inocência, bela e delicada filha de Pereira, a quem o pai
prometeu em casamento a Manecao Doca, bruto e rude fazendeiro local.
Franklin Távora (1842-1888)
O escritor lutou pela afirmação de uma voz literária nordestina distinta daquela
que denominou típica da “literatura do Sul”.
Sua obra mais importante é O Cabeleira (1876) na qual antecipou temas que
seriam explorados com profundidade pelos regionalistas modernistas como a fome, a
seca, a miséria, o cangaço, os deslocamentos populacionais, entre outros.
O Cabeleira é um romance que mistura ficção e realidade e trata da vida de José
Gomes (o Cabeleira), filho de Joaquim Gomes, um bandido poderoso e muito temido.
José e Joaquim, pai e filho, se juntam ao cangaceiro Teodósio e passam a aterrorizar a
província de Pernambuco.
Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)
Almeida é considerado um autor particular dentro do panorama da prosa
romântica brasileira. Diferentemente de seu contemporâneo Joaquim Manuel de
Macedo, Manuel Antônio de Almeida focalizou em sua narrativa um ambiente nada
sofisticado: as ruas e os casebre modestos do Rio de Janeiro de sua época.
Sua obra mais significativa é Memórias de um sargento de milícias (1855). Esse
romance foi inicialmente publicado em forma de folhetim no jornal Correio Mercantil
assinado pelo autor com o pseudônimo “Um Brasileiro”.
Memórias de um sargento de milícias é um romance bastante diferente das
populares prosas românticas em voga no século XIX. Nele, o autor se utiliza de uma
linguagem coloquial, bastante influenciada pela crônica jornalística, para narrar as
aventuras de um personagem central construído com pinceladas picarescas. Quem
protagoniza a narrativa é um anti-herói malandro e simpático e não há nela grandes
idealizações do amor e das figuras femininas. A ironia perpassa toda a obra.
Com olhar sarcástico, o autor focaliza a época de D. João VI no Brasil, no início
do século XIX. A história se inicia quando o português Leonardo Pataca, em viagem de
navio ao Brasil, conhece Maria das Hortaliças, quitandeira das praças de Lisboa, e a
engravida. Nasce o protagonista Leonardinho, que será criado mais tarde por um
barbeiro e por uma parteira, seus padrinhos.
Textos
“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa
da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
(...)
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do
Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal
roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o
corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia
silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros
ameigavam o canto.
(...)
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o
sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e
não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o
mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos
cobrem-lhe o corpo.”
(ALENCAR, José. Iracema. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. – (Bibliotec
Folha, 3, p. 32-3)
“A fundação do Ceará, os amores de Iracema e Martim, o ódio de duas nações
adversárias, eis o assunto do livro. Há um argumento histórico, sacado das crônicas,
mas esse é apenas a tela que serve ao poeta; o resto é obra da imaginação. Sem perder
de vista os dados colhidos nas velhas crônicas, criou o autor uma ação interessante,
episódios originais, e mais que tudo, a figura bela e poética de Iracema. Apesar do valor
histórico de alguns personagens, como Martim e Poti (o célebre Camarão, da guerra
holandesa), a maior soma de interesse concentra-se na deliciosa filha de Araquém. A
pena do cantor de O Guarani é feliz nas criações femininas; as mulheres dos seus livros
trazem sempre um cunho de originalidade, de delicadeza e de graça, que se nos gravam
logo na memória e no coração. Iracema é da mesma família. Em poucas palavras
descreve o poeta a beleza física daquela Diana selvagem”.
(ASSIS, Machado. In Iracema. José de Alencar. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha,
1997. – (Bibliotec Folha, 3, p. 21)
“A chegada de Filipe, Fabrício e Leopoldo veio dar ainda mais viveza ao prazer
que reinava na gruta. O projeto de casamento de Augusto e D. Carolina não podia ser
um mistério para eles, tendo sido como foi, elaborado por Filipe, de acordo com o pai
do noivo, que fizera a proposta, e com o velho amigo, que ainda no dia antecedente
viera concluir os ajustes com a senhora D. Ana; e, portanto, o tempo que se gastaria em
explicações passou-se em abraços.
- Muito bem! muito bem! - disse por fim Filipe -, quem pôs o fogo ao pé da
pólvora fui eu, que obriguei Augusto a vir passar o dia de Sant'Ana conosco.
- Então estás arrependido?...
- Não, por certo, apesar de me roubares minha irmã. Finalmente para este
tesouro sempre teria de haver um ladrão: ainda bem que foste tu que o ganhaste.
- Mas, meu maninho, ele perdeu ganhando...
- Como?...
- Estamos no dia 20 de agosto: um mês!
- É verdade! um mês!... - exclamou Filipe.
- Um mês!... - gritaram Fabrício e Leopoldo.
- Eu não entendo isto! - disse a senhora D. Ana.
- Minha boa avó - acudiu a noiva - isto quer dizer que finalmente está presa a
borboleta.
- Minha boa avó - exclamou Filipe - isto quer dizer que Augusto deve-me um
romance.
- Já está pronto - respondeu o noivo.
- Como se intitula?
- A Moreninha.”
(MACEDO, Joaquim Manuel. A Moreninha. São Paulo: Moderna, 1994 (Coleção Travessias), p.
135)
“Corta extensa e quase despovoada zona da parte sul oriental da vastíssima
província de Mato Grosso a estrada que da Vila de Sant'Ana do Paranaíba vai ter ao
sítio abandonado de Camapuã. Desde aquela povoação, assente próximo ao vértice do
ângulo em que confinam os territórios de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso até ao Rio Sucuriú, afluente do majestoso Paraná, isto é, no desenvolvimento de
muitas dezenas de léguas, anda-se comodamente, de habitação em habitação, mais ou
menos chegadas umas às outras, rareiam, porém, depois as casas, mais e mais, e
caminham-se largas horas, dias inteiros sem se ver morada nem gente até ao retiro de
João Pereira, guarda avançada daquelas solidões, homem chão e hospitaleiro, que
acolhe com carinho o viajante desses alongados páramos, oferece-lhe momentâneo
agasalho e o provê da matalotagem precisa para alcançar os campos de Miranda e
Pequiri, ou da Vacaria e Nioac, no Baixo Paraguai.
Ali começa o sertão chamado bruto”.
(TAUNAY, Visconde. Inocência. 16ª edição. Série Bom livro. São Paulo: Ática, 1988, p. 9)
“Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada
a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em
disponibilidade.
Era rica e formosa.
Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois
esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante.
Quem não se recorda da Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da
Corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que
produzira o seu fulgor?
(..)
Aurélia era órfã; e tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina
Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade.
Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os
escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa
emancipação feminina.
(...)
Assaltada por uma turba de pretendentes que a disputavam como o prêmio da
vitória, Aurélia, com sagacidade admirável em sua idade, avaliou da situação difícil em
que se achava, e dos perigos que a ameaçavam.
(...)
Na sala, cercada de adoradores, no meio das esplêndidas reverberações de sua
beleza, Aurélia bem longe de inebriar-se da adoração produzida por sua formosura, e do
culto que lhe rendiam; ao contrário parecia unicamente possuída de indignação por essa
turba vil e abjeta.
(...)
Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem exceção de um, a
pretendiam unicamente pela riqueza, Aurélia reagia contra essa afronta, aplicando a
esses indivíduos o mesmo estalão.
Assim costumava ela indicar o merecimento de cada um dos pretendentes,
dando-lhes certo valor monetário. Em linguagem financeira, Aurélia cotava os seus
adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial”.
(ALENCAR, José. Senhora. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997 – Biblioteca
Folha; 19, p. 19-21)
Há no Romantismo certas obras de ficção que poderíamos chamar de excêntricas
em relação à corrente formada pela outras. Num conjunto de livros que exprimem, de
modo mais ou menos simultâneo, as diversas tendência da ficção romântica para o
fantástico, o poético, o cotidiano, o pitoresco, o humorístico, elas encarnam de modo
quase exclusivo uma ou outra dentre elas, ficando assim meio à parte, como as
Memórias de um sargento de milícias. Consideremos, porém, que nem o seu ponderado
realismo nem o satanismo d’A noite da taverna ou a poesia em prosa de Iracema se
afastam ou se opõem à corrente romântica: apenas decantam alguns dos seus aspectos.
(CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, 1750-1880. 10ª
edição revista pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul 2006, p. 531)
Romantismo Prosa nos
VESTIBULARES
Retome os objetivos de José de Alencar ao escrever suas obras indianistas. Segundo o
autor, Iracema pertence à fase primitiva “(...) que se pode chamar aborígene, são as
lendas e mitos da terra selvagem e conquistada; são as tradições que embalaram a
infância do povo, e ele escutava como o filho a quem a mãe acalenta no berço com as
canções da pátria, que abandonou”. Para Alencar, “Iracema pertence a essa literatura
primitiva, cheia de santidade e enlevo, para aqueles que veneram na terra da pátria a
mãe fecunda — alma mater, e não enxergam nela apenas o chão onde pisam”. Essas
considerações foram feitas por José de Alencar no prefácio que escreveu para a obra
Sonhos d’ouro, em 1872, e são reveladoras de sua visão. Antes de partir para a
resolução da questão 1, retome essas idéias do romancista cearense.
1) (PUC-SP 2007)
Considere os dois fragmentos extraídos de Iracema, de José de Alencar.
I. Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a
grande vela? Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do
oceano? Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora.
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um
rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma
terra selvagem.
II. O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará,
levando no frágil barco o filho e o cão fiel. A jandaia não quis deixar a terra onde
repousava sua amiga e senhora. O primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra
da pátria.
Havia aí a predestinação de uma raça? Ambos apresentam índices do que
poderia ter acontecido no enredo do romance, já que constituem o começo e o fim da
narrativa de Alencar. Desse modo, é possível presumir que o enredo apresenta
a) o relacionamento amoroso de Iracema e Martim, a índia e o branco, de cuja união
nasceu Moacir, e que alegoriza o processo de conquista e colonização do Brasil.
b) as guerras entre as tribos tabajara e pitiguara pela conquista e preservação do
território brasileiro contra o invasor estrangeiro.
c) o rapto de Iracema pelo branco português Martim como forma de enfraquecer os
adversários e levar a um pacto entre o branco colonizador e o selvagem dono da terra.
d) a vingança de Martim, desbaratando o povo de Iracema, por ter sido flechado pela
índia dos lábios de mel em plena floresta e ter-se tornado prisioneiro de sua tribo.
e) a morte de Iracema, após o nascimento de Moacir, e seu sepultamento junto a uma
carnaúba, na fronde da qual canta ainda a jandaia.
O romance Iracema constitui uma alegoria da formação do povo brasileiro. Iracema
(índia) une-se a Martim (colonizador) e ambos geram Moacir, o primeiro cearense.
Resposta: alternativa A
Aproveite a questão 2 para revisar as seguintes figuras de linguagem: comparação,
antítese, pleonasmo, hipérbole, metonímia, prosopopéia e metáfora.
2) (PUC-SP 2007)
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da
graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como
seu hálito perfumado. (...) Cedendo à meiga pressão, a virgem reclinou-se ao peito do
guerreiro, e ficou ali trêmula e palpitante como a tímida perdiz (...) A fronte reclinara, e
a flor do sorriso expandia-se como o nenúfar ao beijo do sol (...). Em torno carpe a
natureza o dia que expira. Soluça a onda trépida e lacrimosa; geme a brisa na folhagem;
o mesmo silêncio anela de opresso. (...) A tarde é a tristeza do sol. Os dias de Iracema
vão ser longas tardes sem manhã, até que venha para ela a grande noite.
Os fragmentos acima constroem-se estilisticamente com figuras de linguagem,
caracterizadoras do estilo poético de Alencar. Apresentam eles, dominantemente, as
seguintes figuras:
a) comparações e antíteses.
b) antíteses e inversões.
c) pleonasmos e hipérboles.
d) metonímias e prosopopéias.
e) comparações e metáforas.
Resposta: alternativa E
Utilize a questão 3 para retomar o enredo de Memórias de um sargento de milícias, de
Manuel Antônio de Almeida.
Trabalhe o conceito de “homem cordial”, defendido por Sérgio Buarque de Hollanda
em Raízes do Brasil, e o associe ao romance de Almeida.
Outro texto muito importante para a análise da principal obra de Manuel Antônio de
Almeida é Dialética da malandragem, de Antonio Candido. Nele, o crítico defende que
Leonardo não é um pícaro propriamente dito, mas o primeiro malandro presente num
romance brasileiro:
“Digamos então que Leonardo não é um pícaro, saído da tradição espanhola; mas o
primeiro grande malandro que entra na novelística brasileira, vindo de uma tradição
quase folclórica e correspondendo, mais do que se costuma dizer, a certa atmosfera
cômica e popularesca de seu tempo, no Brasil. Malandro que seria elevado à categoria
de símbolo por Mário de Andrade em Macunaíma e que Manuel Antônio com certeza
plasmou espontaneamente, ao aderir com a inteligência e a afetividade ao tom popular
das histórias que, segundo a tradição, ouviu de um companheiro de jornal, antigo
sargento comandado pelo major Vidigal de verdade.
O malandro, como o pícaro, é espécie de um gênero mais amplo de aventureiro
astucioso, comum a todos os folclores. Já notamos, com efeito, que Leonardo pratica a
astúcia pela astúcia (mesmo quando ela tem por finalidade safá-lo de uma enrascada),
manifestando um amor pelo jogo-em-si que o afasta do pragmatismo dos pícaros, cuja
malandragem visa quase sempre ao proveito ou a um problema concreto, lesando
freqüentemente terceiros na sua solução. Essa gratuidade aproxima "o nosso
memorando" do trickster imemorial, até de suas encarnações zoomórficas - macaco,
raposa, jabuti -, dele fazendo, menos um "anti-herói" do que uma criação que talvez
possua traços de heróis populares, como Pedro Malasarte. É admissível que modelos
eruditos tenham influído em sua elaboração; mas o que parece predominar no livro é o
dinamismo próprio dos astuciosos de história popular. Por isso, Mário de Andrade
estava certo ao dizer que nas Memórias não há realismo em sentido moderno; o que
nelas se acha é algo mais vasto e intemporal, próprio da comicidade popularesca.
Dialética da Malandragem (caracterização das Memórias de um sargento de milícias). in: Revista do
Instituto de Estudos Brasileiros, nº 8, São Paulo, USP, 1970, pp. 68.
3) (Unicamp 2008)
O trecho abaixo pertence ao capítulo XXII (“Empenhos”), de Memórias de um Sargento
de Milícias.
Isto tudo vem para dizermos que Maria-Regalada tinha um verdadeiro amor ao Major
Vidigal; o Major pagava-lho na mesma moeda. Ora, D. Maria era uma das camaradas
mais do coração de Maria-Regalada. Eis aí porque falando dela D. Maria e a comadre se
mostraram tão esperançadas a respeito da sorte do Leonardo.
Já naquele tempo (e dizem que é defeito do nosso) o empenho, o compadresco, era uma
mola real de todo o movimento social.
(Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias. Mamede
Mustafá Jarouche (org.). Cotia: Ateliê Editorial, 2000, p. 319.)
a) Explique o “defeito” a que o narrador se refere.
O narrador se refere ao hábito da utilização de relações pessoais para obtenção de
benefícios e privilégios. Segundo ele, trata-se de um “defeito nosso”, ou seja, do povo
brasileiro.
b) Relacione o “defeito” com esse episódio, que envolveu o Major Vidigal e as três
mulheres.
A comadre, ajudada por D. Maria, procura o auxílio de Maria-Regalada, de modo que
esta utilize suas “influências amorosas” em favor de Leonardo, preso pelo Major
Vidigal.
A canção presente na questão proposta pela UNICAMP foi composta por Chico
Buarque e estabelece intertextualidade evidente com o romance alencariano Iracema.
Aproveite para retomar o conceito de intertextualidade.
4) (UNICAMP 2009)
Leia, abaixo, a letra de uma canção de Chico Buarque inspirada no romance de José
de Alencar, Iracema — uma lenda do Ceará:
Iracema voou
Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá
Tem saído ao luar
Com um mímico
Ambiciona estudar
Canto lírico
Não dá mole pra polícia
Se puder, vai ficando por lá
Tem saudade do Ceará
Mas não muita
Uns dias, afoita
Me liga a cobrar:
— É Iracema da América
(Chico Buarque, As Cidades. Rio de Janeiro: Marola Edições Musicais Ltda.,1998.)
a) Que papel desempenha Iracema no romance de José de Alencar? E na canção de
Chico Buarque?
Os papéis desempenhados pelas “personagens” são bastante distintos. No romance
de Alencar, a personagem Iracema está inserida harmonicamente na natureza
tropical em que vive. Além disso, é filha do pajé, apresenta conduta moral
irrepreensível e ocupa lugar de destaque na hierarquia de sua tribo, pois está
destinada ao importante culto de Tupã. A Iracema apresentada por Chico Buarque,
por sua vez, abandona sua terra para viver nos Estados Unidos e vive de subempregos na “América” por não falar inglês. Diferentemente do forte amor que
Iracema mostrar nutrir por Martim no romance de Alencar, a “personagem” de
Chico Buarque mostra descompromisso com seu relacionamento. Além disso, a
Iracema de Chico encontra-se marginalizada na terra em que vive, diferentemente
do status que ocupa a de Alencar.
b) Uma das interpretações para o nome da heroína do romance de José de Alencar é de
que seja um anagrama de América. Isto é, o nome da heroína possui as mesmas letras de
América dispostas em outra ordem. Partindo dessa interpretação, explique o que
distingue a referência à América no romance daquela que é feita na canção.
No romance de José de Alencar, a América se refere ao continente americano. Na
canção “Iracema voou”, o termo se refere aos Estados Unidos da América
Aproveite a questão 5, proposta pela UFG-PS, para estabelecer um contraponto entre a
idealização do índio, feita por José de Alencar, e a desconstrução desse modelo,
proposta por Chico Buarque na canção “Iracema voou”. Iracema de Chico Buarque está
tão descaracterizada que sequer pode ser chamada de índia.
5) (UFG-PS 2007)
No tocante à descrição dos costumes indígenas, José de Alencar, em Ubirajara, retoma
um procedimento já utilizado nos relatos dos cronistas do século XVI. No romance, o
tratamento das informações referentes à cultura indígena resulta na
(A) transformação do passado colonial do Brasil.
(B) idealização da figura do indígena nacional.
(C) indicação dos sentidos da cultura autóctone.
(D) apresentação dos primeiros habitantes do Brasil.
(E) introdução do índio na literatura brasileira.
Resposta: alternativa B
6) (FUVEST 2009)
Leia o trecho de abertura de Memórias de um sargento de milícias e responda ao que se
pede.
Era no tempo do rei.
Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se
mutuamente, chamava-se nesse tempo — O canto dos meirinhos —; e bem lhe
assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos
dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não
são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente
temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável
cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era
entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores.
Manuel Antônio de Almeida. Memórias de um sargento de milícias.
a) A frase “Era no tempo do rei” refere-se a um período histórico determinado e
possui, também, uma conotação marcada pela indeterminação temporal.
Identifique tanto o período histórico a que se refere a frase quanto a mencionada
conotação que ela também apresenta.
O “tempo do rei” a que o narrador faz menção na abertura do livro refere-se ao
período em que D. João VI esteve no Brasil, entre 1808 e 1821. A expressão “Era no
tempo do rei” dialoga também com o universo atemporal dos contos de fadas (“Era
uma vez”).
b) No trecho aqui reproduzido, o narrador compara duas épocas diferentes: o seu
próprio tempo e o tempo do rei. Esse procedimento é raro ou frequente no livro? Com
que objetivos o narrador o adota?
Esse procedimento é bastante freqüente na obra. O narrador parece se utilizar desse
recurso para mostrar o quanto a sociedade do Rio de Janeiro de “seu próprio tempo” era
semelhante àquela do “tempo do rei” (período joanino). Não havia, portanto, grandes
progressos. Por outro lado, o narrador, adotando tal procedimento, pode tomar certa
liberdade para criticar um tempo que já passou.
A questão a seguir utiliza um fragmento da obra Senhora, um dos romances mais
importantes do Romantismo. Utilize a questão para retomar alguns elementos típicos da
tendência urbana da prosa romântica: o casamento, os dramas amorosos, os desfechos
felizes etc. Trabalhe a crítica que Alencar faz em relação ao casamento por interesse, tão
típico no século XIX.
(UFBA 2009) Texto para as questões 7 e 8:
— Então nunca amou a outra?
— Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher, que não
fosse minha mãe. O meu primeiro beijo de amor, guardei-o para minha esposa, para ti...
Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia
operado na fisionomia de sua noiva.
Aurélia estava lívida, e a sua beleza, radiante há pouco, se marmorizara.
— Ou para outra mais rica!... disse ela retraindo-se para fugir ao beijo do marido, e
afastando-o com a ponta dos dedos.
A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que
lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço.
— Aurélia! Que significa isto?
— Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com
perícia consumada. Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos
excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nos estamos
escarnecendo mutuamente, senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e
resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.
— Vendido! Exclamou Seixas ferido dentro d’alma.
ALENCAR, J. de. Senhora. In: José de Alencar: ficção completa e outros escritos. 3. ed. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1965, v. 1, p. 714.
7) Constitui uma afirmativa verdadeira sobre esse fragmento destacado do romance:
(01) Aurélia e Seixas são caracterizados como seres movidos pela razão.
(02) Os termos “ti” e “esposa”, em “O meu primeiro beijo de amor, guardei-o para
minha esposa, para ti...”, equivalem-se semanticamente.
(04) A expressão “com a ponta dos dedos” acentua a delicadeza de Aurélia em relação
ao marido.
(08) Aurélia, ao referir-se à sua relação matrimonial como “comédia”, nega o drama por
ela vivenciado.
(16) Constata-se, no fragmento, que Aurélia considera Seixas um marido interesseiro,
um objeto de comércio.
(32) O fragmento reproduzido põe em cena as duas personagens como se vivessem
numa representação, segundo avaliação da protagonista.
Resposta: 02+16+32=50
8) Quanto ao uso da linguagem utilizada no fragmento apresentado, é correto afirmar:
(01) “outra” e “outra” referem-se a diferentes seres.
(02) “o” em “guardei-o” e “isto” em “Que significa isto?” completam ações verbais.
(04) “lhe” em “alcançar-lhe” e “lhe” em “lhe sublevava” expressam idéia de posse.
(08) “que” refere-se a “face”.
(16) “eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio” esclarece a
expressão “timbre cristalino”.
(32) “eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido” é um fragmento cujas
vírgulas são facultativas.
Resposta: 01+04+16=21
9) (FUVEST)
Iracema faz parte da tríade indianista de José de Alencar, juntamente com outros dois
romances;
a) Quais?
Os outros dois romances são O Guarani e Ubirajara.
b) Cada um desses romances teria uma finalidade histórica. Qual teria sido a
intenção do autor com Iracema.
José de Alencar intencionava criar uma lenda indígena, mostrando, por meio da união
de uma índia com um europeu, a origem do povo brasileiro.
10) (CEFET-PR)
O Romantismo brasileiro foi (...) tributário do nacionalismo; embora nem todas suas
manifestações concretas se enquadrassem nele, ele foi o espírito diretor que animava a
atividade geral da literatura.”
(Antonio Candido: Formação da Literatura Brasileira)
Analise os fragmentos a seguir, extraídos de romances românticos:
I) “A casa da farinha não era mais do que um vasto alpendre aberto por todos os lados e
coberto de palhas de pindoba.
No centro via-se o forno onde tinha de ser cozida a massa já apertada pela prensa e livre
da manipueira. Parte dela, porém, tanto que saía do pé das rodas, era lavada em gamelas
e alguidares onde deixava o resíduo ou goma para os beijus e tapiocas.
A prensa estava armada a um dos lados do alpendre; no outro viam-se as duas ordas que
não cessavam de girar. Quando cansavam os matutos ou escravos que as moviam, eram
logo substituídos por gente fresca.
Os dois matutos, ali bem conhecidos, foram saudados pelas pessoas que estavam
trabalhando, e, como é costume em tais ocasiões ainda hoje, trataram eles de concorrer
gratuitamente com o auxílio dos seus braços descansados, o que a muitos não deixou de
ser agradável.”
(Franklin Távora)
II) “Naquele tempo é certo que o gado barbatão multiplicava-se com prodigiosa rapidez;
e os vastos campos incultos, bem como as florestas ainda virgens, ofereciam às manadas
selvagens refúgios impenetráveis.
Daí provinham essas famosas correrias tão celebradas nas cantigas sertanejas, e nas
quais os vaqueiros gastavam semanas e meses à caça de um boi mocambeiro, que eles
perseguiam com uma tenacidade incansável, menos pelo interesse, do que por satisfação
de seus brios de campeadores.”
(José de Alencar)
III) “Corria um belo tempo; a vegetação reanimada por moderadas chuvas ostentava-se
fresca, viçosa e luxuriante; a água do rio ainda não turvada pelas grandes enchentes,
rolando com majestosa lentidão, refletia em toda a pureza os esplêndidos coloridos do
horizonte, e o nítido verdor das selvosas ribanceiras. As aves, dando repouso às asas
fatigadas do contínuo voejar pelos pomares, prados e balsedos vizinhos, começavam a
preludiar seus cantos vespertinos.”
(Bernardo Guimarães)
Confirma(m) a afirmação do crítico:
A) I, II e III.
B) somente III.
C) somente II e III.
D) somente II.
E) somente I e II.
Resposta: a
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