JEAN CARLOS FERREIRA AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DA CIDADE E DO MUNICÍPIO DE PRATA -MG Uberlândia-MG 2008 2 JEAN CARLOS FERREIRA AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DA CIDADE E DO MUNICÍPIO DE PRATA -MG Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Geografia, como requisito para conclusão do curso de Geografia/Bacharelado da Universidade Federal de Uberlândia. ORIENTADOR: Prof. Dr. Júlio César de Lima Ramires Uberlândia - MG 2008 3 RESUMO Nas últimas décadas os estudos sobre as pequenas cidades despertaram um interesse maior nos estudiosos, tornando-se uma excelente área de estudos. Assim, este estudo tem como objetivo analisar os processos de urbanização e industrialização da cidade de Prata-MG, enfatizando as transformações que provocaram na área urbana, com o conseqüente desenvolvimento da cidade. A partir das transformações no campo e da industrialização, o processo de urbanização é acelerado, pois a chegada de indústrias na cidade começa a atrair pessoas para o centro urbano. Nessas circunstancias, é grande o impulso tomado pela urbanização através da chegada de industrias na cidade. A modernização das áreas rural, também, contribui para uma acentuação do processo de urbanização, uma vez que as pessoas que saem do campo vão se instalar na cidade. Assim, a cidade é um espaço dinâmico sujeito à ação de agentes sociais urbanos que modificam seu espaço, criando novas áreas, ou seja, modelam o espaço urbano. Palavras Chaves: urbanização, pequenas cidades, espaço urbano, cidade de Prata. 4 LISTA DE FOTOGRAFIAS FOTO 1: Vista parcial da Praça XV de Novembro na cidade de Prata, em 1924 ................... 14 FOTO 2: Construção da Praça XV de Novembro na cidade de Prata, em 1967 ..................... 15 FOTO 3: Construção do Conjunto Habitacional Nossa Senhora do Carmo na cidade de Prata, em 1982 .......................................................................................................... 17 FOTO 4: Bairro Conjunto Nossa Senhora do Carmo na cidade de Prata, em 2007 ............... 17 FOTO 5: Aspecto do centro da cidade de Prata em 1981 ....................................................... 19 FOTO 6: Aspecto da ampliação do bairro Bela Vista na cidade de Prata, em 1983 .............. 20 FOTO 7: Conjunto Habitacional Jardim Brasil na cidade de Prata, em 1993 ........................ 21 FOTO 8: Bairro Colina Park Boulevard na cidade de Prata, em 2007 ................................... 21 FOTO 9: Bairro Progresso I na cidade de Prata, em 2007 ...................................................... 23 FOTO 10: Bairro Primavera II na cidade de Prata, em 2007 .................................................. 23 FOTO 11: Vista parcial da Avenida Brasília na cidade de Prata, em 2007 ............................ 26 FOTO 12: Agencias do Banco Itaú, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal na cidade de Prata, em 2007 .................................................................................................... 27 FOTO 13: Residências no Bairro Esperança na cidade de Prata, em 2007 ............................ 28 FOTO 14: Área destinada ao Centro de Desenvolvimento Industrial na cidade de Prata, em 2007 .................................................................................................................... 29 FOTO 15: Área utilizadas para criação de gado na cidade de Prata, em 2007 ....................... 29 FOTO 16: Praça XV de Novembro na cidade de Prata, em 2007 ........................................... 34 FOTO 17: Vista aérea da cidade de Prata em 2007 ................................................................ 35 FOTO 18: Antigo prédio da “Fábrica de Manteiga Rádio” ainda com a denominação de “Pádua & Cia” na cidade de Prata, em 1972 .................................................... 37 FOTO 19: Departamento de Insumos da Cooprata na cidade de Prata, em 2007 ................... 38 FOTO 20: Faber-Castell na cidade de Prata, em 2007 ............................................................ 39 FOTO 21: Instalações da Campofert na cidade de Prata em 2007 ......................................... 40 FOTO 22: Casas construídas pela Usina de Açúcar e Álcool Zanin na cidade de Prata, em 2007 .................................................................................................................... 42 FOTO 23: Galeria Center Prata na cidade de Prata, em 2007 ................................................ 50 5 LISTA DE TABELAS TABELA 1: Prata: População total, urbana e rural no período de 1960-2000 ....................... 31 TABELA 2: Prata: População urbana e rural: participação na população total (%) no período de 1960-2000 ........................................................................................ 32 TABELA 3: Prata: Faixa etária da população nos anos de 2000 e 2004 ................................ 32 TABELA 4: Prata: Composição da população pelo sexo no período de 1970-2001 .............. 33 TABELA 5: Prata: População atendida pela COPASA (%) no período de 1990-2004 .......... 34 TABELA 6: Prata: Número de estabelecimentos industriais nos anos de 1994 e 2004 ......... 44 TABELA 7: Prata: População ocupada por setores econômicos nos anos de 1980 e 2000 .... 44 TABELA 8: Prata: Principais efetivos da pecuária no período de 1994-2005 ....................... 45 TABELA 9: Prata: Principais Produtos Agrícolas em 2003 ................................................... 47 TABELA 10: Prata: Principais Produtos Agrícolas em 2005 ................................................. 47 TABELA 11: Prata: Número de estabelecimentos de ensino nos anos de 1990 e 2006 ......... 50 TABELA 12: Prata: Produto Interno Bruto (PIB) no período de 1998-2004 ......................... 53 6 LISTA DE MAPAS MAPA 1: Localização do município de Prata ........................................................................ 11 MAPA 2: Evolução da área urbana da cidade de Prata .......................................................... 13 MAPA 3: Bairros da cidade de Prata em 2007 ....................................................................... 24 MAPA 4: Uso e ocupação do solo da cidade de Prata ............................................................ 25 MAPA 5: Localização das principais indústrias da cidade de Prata em 2007 ........................ 43 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 7 1. CAPÍTULO I: UMA CARACTERIZAÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE PRATA ..................................................................................................................... 11 1.1. A evolução urbana da cidade de Prata .......................................................................... 11 1.2. O uso e ocupação do solo urbano ................................................................................... 25 1.3. Alguns aspectos da dinâmica populacional .................................................................. 30 2. CAPÍTULO II: UMA BREVE CARACTERIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO MUNICÍPIO DE PRATA ........................................................... 36 2.1. O desenvolvimento industrial ....................................................................................... 36 2.2. A agropecuária no município de Prata ........................................................................ 45 2.3. O setor de serviços .......................................................................................................... 48 3. CAPÍTULO III: AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS RECENTES NA VISÃO DOS ATORES SOCIAIS .................................................................................. 54 3.1. O poder público .............................................................................................................. 54 3.2. Dirigentes da Faber-Castell e da Cooprata ................................................................. 56 3.3. EMATER ........................................................................................................................ 57 3.4. Trabalhadores urbanos ................................................................................................. 58 3.5. Trabalhadores rurais ..................................................................................................... 58 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 60 REFERENCIAS .................................................................................................................... 62 ANEXOS ................................................................................................................................ 63 Anexo I – Entrevista com o Prefeito Municipal ................................................................. 64 Anexo II – Entrevista com gerente da Faber-Castell ......................................................... 65 Anexo III – Entrevista com gerente administrativo da Cooprata .................................... 66 Anexo IV – Entrevista com engenheiro agrônomo da EMATER .................................... 67 Anexo V – Entrevista com trabalhadores da Faber-Castell ............................................. 68 Anexo VI – Entrevista com trabalhadores rurais .............................................................. 69 8 INTRODUÇÃO A cidade é um espaço geográfico dinâmico, onde se concentra a maior parte da população brasileira. A cidade é natureza transformada onde os diversos atores sociais agem sobre o espaço construindo-o e reconstruindo-o. As pequenas cidades brasileiras representam uma porcentagem significativa de nossa realidade, sendo consideradas um importante tema para estudo, tendo em vista que os estudiosos da temática sempre privilegiaram as grandes metrópoles. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar as transformações socioespaciais ocorridas no município de Prata-MG, levando em consideração os processos de urbanização e industrialização do município. Conforme destaca Sposito (1991, p.42), As expressões industrialização e urbanização têm aparecido sempre associadas, como se se tratasse de um duplo processo, ou de um processo com duas facetas. A identidade entre estes dois ‘fenômenos’ é tão forte, que não podemos fugir de suas análises, se queremos refletir sobre a sociedade contemporânea. O principal problema encontrado no estudo das pequenas cidades gira em torno do conceito do que é pequena cidade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), leva em consideração o contingente populacional para determinar a pequena cidade. Segundo esse critério as cidades pequenas são aquelas que possuem até 20.000 habitantes, as cidades médias são aquelas que possuem até 500.000 habitantes e aquelas com mais de 500.000 habitantes são consideradas grandes cidades. Segundo Ribeiro (2005, p. 63) “A maior característica da cidade é justamente a concentração populacional. Por isso é que as cidades ainda são classificadas em pequena, médias, grandes ou metrópoles, de acordo com a quantidade de pessoas que nela vivem”. O aspecto populacional é significativo para caracterizar a pequena cidade, mas não é o único dado que se deve levar em consideração. Santos (1979) no livro Espaço e Sociedade denomina as pequenas cidades de cidades locais, argumentando que, Aceitar um número mínimo, como o fizeram diversos países e também as Nações Unidas, para caracterizar diferentes tipos de cidades no mundo inteiro é incorrer no perigo de uma generalização perigosa. O fenômeno urbano, abordado de um ponto de vista funcional, é antes de tudo um fenômeno qualitativo e apresenta certos aspectos morfológicos próprios a cada civilização e admite expressão quantitativa sendo isto outro problema”. (SANTOS, 1979, p.69-70). 9 Apesar da dificuldade de conceituação da pequena cidade, é possível afirmar que a urbanização também atingiu esse segmento de cidades, provocando transformações em sua estrutura urbana. A partir de 1970 o Triângulo Mineiro passa a sofrer uma intensa transformação socioespacial, onde se tem a intensificação do processo de urbanização. Clark (1985, p. 101) afirmou, a respeito do processo de urbanização que, De início, essas mudanças estão restritas e são experimentadas por aqueles que realmente residem na cidade mas, com o passar do tempo são difundidas e adotadas por aqueles que vivem nas áreas rurais, de tal modo que o conjunto da sociedade vem a ser dominado por valores, expectativas e estilos de vida urbanos. Este processo de mudança comportamental e relacional é reconhecido como urbanização. No município de Prata a modernização agrícola iniciada nos anos de 1970, fez com que o processo de urbanização se acentuasse, uma vez que expulsou trabalhadores do campo para a cidade, promovendo o aumento populacional na zona urbana. Essas transformações provocaram uma reestruturação do espaço urbano, pois a cidade não possuía uma infraestrutura condizente para acomodar essa população. A partir deste momento a cidade passa a agregar uma quantidade maior de população e no final da década de 1980 e início da década de 1990, instala-se no município uma grande industria multinacional. Carlos (1991, p.47) complementa essa afirmação explicando que “A cidade vai ganhando expressão à medida que nela vai se desenvolvendo num primeiro momento a manufatura e em seguida, a grande indústria, e para ela vai convergindo uma grande massa de trabalhadores”. A chegada de indústrias na cidade, juntamente com a migração de pessoas do campo para a cidade, intensificaram ainda mais o processo de urbanização da cidade de Prata. Carlos (1991, p. 49) ainda afirmou que, O processo de industrialização intensificou o processo de urbanização a ponto de ambos se tornarem indissociáveis. Produziu-se um novo urbano a partir da criação de novos padrões de produção e consumo. Criaram-se novas formas de convívio entre as pessoas a partir da construção de um novo modo de vida. Gerou-se profundas alterações de valores e crenças que afetaram os costumes e as relações tradicionais. À medida que ocorre o desenvolvimento urbano, acontece uma reestruturação da cidade, com o surgimento de novas atividades econômicas. A cidade que antes era estritamente rural começa a receber população e a implantar uma infra-estrutura urbana para receber esse contingente populacional. Dessa maneira, a industrialização vai provocar o crescimento de outros setores da economia na cidade de Prata. Carlos (1997, p. 46) discutindo 10 a realidade das cidades, afirmou que com a industrialização “Surgem escritórios diversos, centros bancários e financeiros, centros comerciais e de serviços sofisticados, além de técnicas de gestão e políticas”. Além disso, a urbanização provocou mudanças no espaço urbano da cidade, ou seja, áreas que tinham um determinado uso, passam a ter seu solo usado para outros fins, ocorrendo a valorização de determinadas áreas da cidade que antes não eram utilizadas e, também, acontece o surgimento de novos bairros que passam a compor o espaço urbano da cidade. “Na medida em que a densidade da população aumenta, há uma especialização espacial. A competição pelo espaço torna-se tão grande que cada área na cidade tende a ser destinada aos usos que resultam em maiores retornos econômicos”. (CLARK, 1985, p. 106). Destruída e construída diuturnamente, a cidade, enquanto objeto de estudo, apresenta certas peculiaridades. Modernamente, isoladas ou em redes, as cidades guardam alguma semelhança umas com outras e, no entanto, são e permanecem extremamente singulares. Neste sentido, pensar a cidade, pressupõe pensá-la enquanto objeto de estudo que, em sua essência, apresenta múltiplas possibilidades e combinações. Assim, nós geógrafos, ao pensar e discutir a cidade, permitimo-nos imaginá-la como espaço privilegiado de vivências, de troca de experiências, local de encontros, de embates, de construção. (SILVA, 1997, p. 89). Deve-se levar em consideração que nem sempre o binômio industrialização/urbanização pode ser verificado de forma tão direta em todo o território brasileiro, especialmente para esse segmento das pequenas cidades que em muitos casos ainda tem uma vinculação muito forte com o mundo rural. Este fato torna-se extremamente relevante quando se analisa a realidade das pequenas cidades brasileiras, já que muitas delas surgiram como lugares centrais de pequenas hinterlândias agropastoris tendo a sua dinâmica afetada pela modernização do campo. Corrêa (2004), por exemplo, estabelece uma tipologia dessas pequenas cidades: prósperos lugares centrais em áreas agrícolas nas quais a modernização econômica não afetou radicalmente a estrutura fundiária e o quadro demográfico, pequenos centros especializados esvaziados pela modernização do campo; pequenos centros nascidos ou transformados em reservatórios de força de trabalho, e pequenos centros em áreas esvaziadas tanto em termos econômicos como demográficos. Wanderley (2001) em seus estudos sobre os pequenos municípios em Pernambuco também destacou a necessidade de incorporar as articulações entre o rural e o urbano dessa realidade, procurando estabelecer a trama espacial e a dimensão social. Nessa análise procurou estabelecer o exercício das funções propriamente urbanas atribuído a toda 11 aglomeração; a intensidade do processo de urbanização; a presença do mundo rural percebida através de vários indicadores socioeconômicos e demográficos; o modo de vida dominante e a dinâmica da sociabilidade local. Como a cidade é um espaço dinâmico, é essencial que se faça uma abordagem das transformações ocorridas ao longo do tempo na cidade para que se possa entender o processo de urbanização ocorrido na cidade de Prata. Para isso deve-se considerar, também, as transformações ocorridas no campo, uma vez que essas transformações influenciaram na urbanização da cidade. A metodologia utilizada para a realização do estudo baseou-se em análises sobre a urbanização da cidade de Prata. Para isso foi analisado o histórico da evolução da área urbana da cidade, bem como a sua evolução demográfica e a intensidade do processo de urbanização, ou seja, a infra-estrutura urbana disponibilizada à população. Isso foi feito a partir de um levantamento de dados e informações da cidade/município disponibilizadas pela Prefeitura Municipal de Prata. Foi levantado material bibliográfico existente sobre a temática da pesquisa, bem como levantamento de dados secundários sobre a dinâmica econômica do município através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da Assembléia Legislativa de Minas Gerais e da Prefeitura Municipal de Prata. Para alcançar os objetivos do trabalho, também foram realizadas entrevistas com diversos atores sociais (prefeito, dirigentes de empresas locais, trabalhadores), além de observações in loco, visando contemplar as transformações mais recentes ocorridas na cidade. A monografia está estrutura em três capítulos. No primeiro capítulo foi feita a caracterização socioespacial da cidade de Prata, analisando a evolução urbana do município. No segundo capítulo é apresentada a caracterização das atividades econômicas realizadas no município. E no terceiro capitulo são apresentadas o conteúdo das entrevistas realizadas com alguns atores sociais. 12 CAPÍTULO I UMA CARACTERIZAÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE PRATA 1.1 – A evolução urbana da cidade de Prata O município de Prata localiza-se na zona central do Triângulo Mineiro, fazendo parte da microrregião do Pontal do Triângulo Mineiro. Foi criado pela Lei Provincial n° 668, de 27 de Abril de 1854, tendo se emancipado politicamente e tornando-se uma cidade em 15 de Novembro de 1873. . O município possui uma grande extensão territorial, sendo o maior município do Triângulo Mineiro, com uma área de 4.856 Km2. É constituído de três distritos: Jardinésia, Patrimônio do Rio do Peixe, Monjolinho e o povoado de Três Barras. Mapa 1 – Localização do Município de Prata Fonte: Base Cartográfica de Minas Gerais – IGA – 1996. Organizador: Jean Carlos Ferreira, 2007. Deve-se ressaltar que a microrregião do Pontal do Triângulo é formada por um conjunto de municípios com uma pequena concentração de habitantes, tais como Prata, 13 Campina Verde, Comendador Gomes, Monte Alegre de Minas, Frutal, Itapagipe, Iturama, Pirajuba e São Francisco Sales. A globalização da economia provocou mudanças significativas nas áreas destes municípios, provocando uma reordenação de seus territórios. Segundo Soares (1997, p. 118) A refuncionalização da rede urbana do Triângulo Mineiro orientou-se principalmente pela modernização do campo, que expulsou uma parcela significativa da população rural; pelo dinamismo de algumas aglomerações; pela intensificação dos fluxos de transportes e comunicações, bem como, pela diversificação dos serviços, que possibilitaram uma maior diferenciação entre as cidades. Esses pequenos municípios do Triângulo Mineiro possuem sua economia voltada para as atividades rurais, uma vez que essas atividades orientam a dinâmica urbana destas cidades. Dentre os municípios citados, o de maior concentração demográfica é Frutal com 49.788 habitantes e o de menor população é Pirajuba, com 2.509 habitantes.1 Como já foi dito, as atividades agropecuárias são a base da economia destes municípios. Campina Verde tem como principais produtos agrícolas a cultura de abacaxi, laranja, milho e soja. Porém, destaca-se com a pecuária bovina para corte, apresentando em 2003 um rebanho de 362.032 cabeças. A presença do frigorífico (Frigobelo Frigoríficos LTDA), incentiva a pecuária de corte na região. Campo Florido e Pirajuba destacam-se no cultivo de cana-de-açúcar devido à presença de Usinas Sucroalcooleiras em seus municípios. Em Campo Florido está instalada a Usina Coruripe e em Pirajuba a Usina Santo Ângelo encontra-se presente. As culturas de soja e sorgo, também, são relevantes para a economia dos dois municípios. Monte Alegre de Minas é conhecido regionalmente pela produção de abacaxi. A proximidade com a cidade de Uberlândia fez com que empresas desta cidade instalassem filiais no município, como é o caso da CALU (Cooperativa Agropecuária Ltda. de Uberlândia). A presença de granjas no município é visível, uma vez que a produção é destinada, em sua grande maioria, para a cidade de Uberlândia. Pela proximidade com o Estado de São Paulo, Frutal teve um crescimento maior que os demais municípios, apresentando uma economia bastante diversificada, mas a agropecuária é a principal atividade do município. Como pode ser visto, atualmente a economia destes municípios gira em torno da agricultura e da agroindústria. ______________ 1 IBGE, 2002. Disponível em: <www.ibge.com.br> 14 O município de Prata se configura como sendo um dos municípios mais importantes do Triângulo Mineiro. Isso se deve ao fato do município apresentar indústrias que trazem desenvolvimento para a região, apresenta um bom nível de urbanização e possui, dentre os municípios citados o segundo maior PIB, ficando atrás apenas da cidade de Frutal. Mapa 2: Evolução da área urbana da cidade de Prata. Fonte: Prefeitura Municipal de Prata. Organizador: Jean Carlos Ferreira, 2007. Nos primeiros anos de 1.800 o Major Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, vem até a região do Arraial do Desemboque, Sertão da Farinha Podre e em junho de 1811 acampa 15 diante dos dois morrinhos e dá nome ao Córrego do Carmo, que hoje corta a cidade. As primeiras residências foram construídas ao longo da Rua Tiradentes, às margens do córrego que corta a cidade. Até 1890 a cidade tinha apenas algumas quadras e as residências se concentravam entorno da atual Praça XV de Novembro, como pode ser observado no mapa 2. Entre 1890 e 1950 a cidade se expande formando o que, hoje, é o bairro Central da cidade. Além disso, ela se expande na direção sul, surgindo o bairro Cruzeiro do Sul. Em 1960 ocorre a expansão do bairro Cruzeiro do Sul, formando o atual bairro Vila de Fátima e o surgimento do bairro Bela Vista. No início do século XIX a cidade era pouco desenvolvida, a infra-estrutura era precária e não tinha poder de atrair população. Somente em 1907 é que foi construído o primeiro grupo escolar do município, onde hoje se situa o prédio da Prefeitura Municipal. Ainda neste ano é instalada a iluminação das praças e ruas a gás acetileno ou carbureto de cálcio. Em 1908 foi inaugurados o telefone com uma linha Prata-Veríssimo-Uberaba. Em 1913 é instalado o Cinema de carbureto2, que se situava onde hoje é o prédio ocupado pelo Banco Bradesco. Em 1920 a população total do município era de 11.800 habitantes, enquanto que na área urbana residiam apenas 1.872, segundo dados apresentados por Soares (1997). Foto 1: Vista parcial da Praça Getúlio Vargas na cidade de Prata, em 1924. Fonte: Departamento de Educação e Cultura de Prata. Na foto acima se pode observar a vista parcial da atual Praça Getúlio Vargas no ano de ______________ 2 Cinema onde a queima da pedra de carbureto possibilita a geração energia luminosa, refletindo as imagens do projetor na tela. 16 1924. Nesta ocasião havia na praça somente um largo, algumas residências e o prédio do Fórum e da Cadeia Pública, inaugurado em 1° de Setembro de 1923, que se destacavam das demais construções. Em 1930 surge o cargo de prefeito e Edmundo Novais se tornou o primeiro prefeito da cidade. Na década de 1940 é instalado o Ginásio São Luiz, com o objetivo de melhorar o ensino na cidade. Hoje o prédio é a sede da Escola Estadual do Prata, que se configura como sendo a única escola estadual da cidade que abrange o Ensino Médio. Em fins da década de 1940, são implantados novos equipamentos na Usina de Poções resolvendo, em partes, o problema da energia elétrica da cidade. Na década de 1950, as políticas de interiorização do país redefiniram o papel do Triângulo Mineiro na divisão territorial do trabalho, tornando-a uma região estratégica entre a futura capital federal em construção e o centro econômico representado por São Paulo. Em 1962 inicia-se o asfaltamento da BR-153 em direção à Brasília, fato este que contribuiu para o desenvolvimento da cidade. Em 1968 são construídas a atual Praça XV de Novembro, Praça Cívica e o Parque de Exposições Virgílio Galassi. Na foto 2 pode-se observar a construção da Praça XV de Novembro. Ao fundo temos a visão do prédio da Prefeitura Municipal e do Banco do Estado de Minas Gerais, que atualmente é o prédio do Banco Itaú. Neste período o prédio do Banco do Brasil, que se situa ao lado do prédio do Banco Itaú, ainda não havia sido construído. Foto 2: Construção da Praça XV de Novembro na cidade de Prata, em 1967. Fonte: Departamento de Educação e Cultura de Prata. 17 Para se ter uma idéia do pequeno crescimento urbano da cidade basta verificar que a população urbana em 1960 era de 5.841 habitantes e em 1970 a população passou para 7.945 habitantes, comprovando a falta de dinamismo nas atividades urbanas, fazendo com que as pessoas permanecessem na zona rural. Como em vários municípios brasileiros, em Prata, até meados de 1970, as atividades rurais predominavam sobre as atividades urbanas, com destaque para a agricultura e a pecuária. Portanto, nesse período a cidade não consegue alavancar seu desenvolvimento, pois apresenta uma economia estritamente voltada para a dinâmica rural, mantendo e atraindo pessoas para a zona rural. A partir de 1970 o país passa a sofrer mudanças estruturais que contribuem para o aumento da urbanização e a expansão das indústrias, uma vez que a modernização da agricultura provocou a diminuição dos empregos no setor e a saída dessas pessoas do campo para a cidade. O Estatuto da Terra, também, influenciou o êxodo rural, pois as leis propostas pelo Estatuto propunham o desenvolvimento da agricultura, ou seja, a mecanização do campo, o que provocou a saída de inúmeros trabalhadores para a cidade. A partir de 1980 a cidade de Prata passa a receber melhorias na sua infra-estrutura urbana, tendo como objetivo o desenvolvimento da cidade e sua inserção na dinâmica econômica regional. A partir desta data, começam a serem asfaltadas as primeiras ruas da cidade, sendo implantadas cerca de 95 mil metros quadrados de pavimentação asfáltica. Outros projetos de urbanização como a construção da Praça Juscelino Kubitscheck, o Terminal Rodoviário e a construção do novo prédio do Fórum também ganham destaque e são considerados muito importantes para o desenvolvimento urbano na época. A construção do novo Terminal Rodoviário que se iniciou em 1979 e foi finalizado em 1982, facilitou a circulação dos ônibus que traziam e levavam passageiros para a cidade, pois o prédio foi construído mais próximo à BR-153, ou seja, mais próximo à saída da cidade. Nesse período a cidade recebia 40 horários diários de ônibus, o que justifica a construção de uma Rodoviária que atendesse à demanda que a cidade exigia. Ainda em 1982, foram concluídas as obras do primeiro conjunto habitacional do município, que tinha como objetivo atender à população de baixa renda da cidade, sendo, para isso, construídas cem unidades habitacionais da COHAB. Atualmente esse conjunto habitacional transformou-se em um bairro da cidade (Conjunto Nossa Senhora do Carmo). Na foto 3, tem-se uma vista da construção do Conjunto Habitacional Nossa Senhora do Carmo e da rua Tenente Reis, uma das mais importantes da cidade, ainda sem asfaltamento. 18 Foto 3: Construção do Conjunto Habitacional Nossa Senhora do Carmo na cidade de Prata, em 1982. Fonte: Departamento de Educação e Cultura de Prata. Porém, com o passar dos anos, o seu conteúdo social passou a ser outro, ou seja, devido ao crescimento da cidade e da valorização do local, as casas construídas para atender a população de baixa renda, hoje é habitado por pessoas com um poder aquisitivo mais elevado, fazendo com que os antigos moradores procurassem bairros mais afastados para residirem. O novo conteúdo social pode ser verificado na fisionomia das construções e nas mudanças da paisagem em 2007, na foto 4, tendo em vista a consolidação da infra-estrutura. Foto 4: Bairro Conjunto Nossa Senhora do Carmo na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. 19 Verifica-se, portanto, em uma cidade de pequeno porte, alguns elementos do processo de segmentação socioespacial que alimenta o processo de expansão dos espaços periféricos, tão comuns nas grandes cidades. Deve-se, entretanto, guardar as devidas proporções da dinâmica de crescimento urbano para cidades de diferentes portes. Outro fato marcante ocorrido na década de 1980 e que contribuiu para o desenvolvimento urbano da cidade relaciona-se à energia elétrica. A energia elétrica era fornecida por alguns motores movidos a óleo diesel, o que reduzia a possibilidade de desenvolvimento e de atração de indústrias para o município. Por meio de esforços do poder público local, o fornecimento de energia elétrica passou ao encargo da CEMIG (Centrais Elétricas de Minas Gerais), contando com um moderno sistema, para o período. Foi construída a subestação da CEMIG na cidade, sanando o problema da eletricidade, dotando o município de um sistema de eletrificação condizente com o progresso e o crescimento da cidade. A zona rural também se beneficia com o processo de eletrificação, que passou a levar energia elétrica para a zona rural, sendo o distrito de Jardinésia o primeiro a receber eletrificação rural. Através da eletrificação previa-se um maior desenvolvimento social, econômico e industrial do município, que nesta época contava somente com a indústria da COOPRATA, que não tinha conseguido ainda a importância que tem hoje para o município. Com a chegada da energia elétrica fornecida pela CEMIG o município passa a ter condições de receber indústrias que possam trazer benefícios para o município, como a geração de empregos e maior dinâmica econômica. A partir de 1980 a cidade de Prata começou a apresentar um crescimento urbano mais acelerado, ou seja, a cidade começa a expandir-se e novos bairros são formados (vide mapa 2). Antes deste período a cidade possuía, com exceção da região central, residências esparsas nos bairros existentes. Em 1980 a área urbana conta com 8.633 habitantes, demonstrando que a população urbana continua se desenvolvendo lentamente, não tendo um aumento significativo de sua população. As habitações se concentravam na área central de uma maneira mais densa, ao contrário do que acontecia nos outros locais da cidade. Na foto 5 pode-se observar uma vista panorâmica do centro da cidade nesta época. 20 FOTO 5: Aspecto do centro da cidade de Prata em 1981. Fonte: Departamento de Educação e Cultura de Prata. Com a construção da Avenida Brasília ainda na década de 1980, a cidade começa a se expandir em torno do seu eixo e surgem os bairros Edna, Oliveira e Esperança. A Avenida Brasília foi construída para facilitar o acesso à cidade, mas com o passar do tempo a área em seu entorno foi se valorizando e se tornou, juntamente com a área central, a mais importante e mais valorizada da cidade, uma vez que concentra uma grande quantidade de atividades e estabelecimentos comercias. Nesse período de 1980, o bairro Cruzeiro do Sul já apresentava sua configuração atual, porém, as residências não eram distribuídas de forma uniforme, porém o bairro Primavera, que é limítrofe ao bairro Cruzeiro do Sul, possuía a maioria de suas poucas habitações situadas em torno da rua Coronel Emídio Marques. Outros bairros, como o Bela Vista, o bairro Oliveira tiveram uma ampliação de suas áreas. No bairro Bela Vista as habitações se encontravam, principalmente, entre a rua Major Carvalho e a rua João Pinheiro. Além disso, as construções urbanas vão tomando o lugar dos espaços vazios existentes nos bairros contribuindo para a expansão dos mesmos ou para o surgimento de novos bairros. Na foto 6 tem-se a visualização de construções no bairro Bela Vista, que culminou com o aumento de sua área. 21 FOTO 6: Aspecto da ampliação do bairro Bela Vista na cidade de Prata, em 1983. Fonte: Departamento de Educação e Cultura de Prata. Em 1987 é instalada a unidade da Faber-Castell em Prata, uma indústria multinacional que trouxe inúmeros benéficos ao município, que serão apresentados no capítulo seguinte. A empresa está instalada às margens da BR-153, o que facilita o transporte e o escoamento da produção até sua unidade em São Carlos-SP. A instalação da Faber-Castell provocou transformações sociais e econômicas no município, gerando empregos com boa remuneração aos seus funcionários. A partir da década de 1980, como foi possível verificar, a cidade começa a expandir-se e, em 1991, sua população urbana aumenta para 13.125 habitantes, onde se constata a ocorrência de um aumento populacional que não acontecia desde 1960. Em 1991 é construído o Anel Viário que interliga a rodovia MG-497 à saída norte com destino à Frutal, facilitando o acesso de veículos e diminuindo a circulação de veículos de grande porte dentro da cidade. Em 1990 tem inicio a urbanização do Bairro Jardim Brasil, sendo construídas casas populares dotadas de boa infra-estrutura urbana, ou seja, iluminação pública, ruas pavimentadas, serviços de água e esgota. Todo esse contexto contribui para o que o bairro seja logo habitado e estabelecimentos comerciais como supermercados, panificadoras, sacolões, etc. comecem a se instalar no local. Na foto 7 tem-se uma visão da construção do Bairro Jardim Brasil em 1993, com as residências praticamente prontas, porém, as vias urbanas do bairro ainda não tinham recebido pavimentação. 22 FOTO 7: Conjunto Habitacional Jardim Brasil na cidade de Prata, em 1993. Fonte: Departamento de Educação e Cultura de Prata. Assim sendo, surgiram novos bairros, como o Conjunto Habitacional Nossa Senhora do Carmo, o Esperança, o Jardim Brasil e o Vila de Fátima. Essas áreas representadas no mapa 2 evidenciam um início de espraiamento do tecido urbano. Em meados de 1995 surgem os bairros Vila Juliana e o Bairro Colina Park. Este último tem sua área mais valorizada nas proximidades da rua Tenente Reis, onde se podem observar construções da população com um poder aquisitivo mais elevado. Nessa área as ruas são asfaltadas, bem iluminadas, com encanamento de água e esgoto, ou seja, possui toda a infra-estrutura necessária para os moradores do local. Na parte situada mais ao sul do bairro, existem os loteamentos, porém, os mesmos são constituídos por residências esparsas, as ruas não são asfaltadas, a sujeira e o mato estão presentes no local e, também, não possuem boa iluminação pública, como pode ser observado na foto 8. FOTO 8: Bairro Colina Park Boulevard na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIA, Jean Carlos, 2007. 23 No início da década de 1990 tem-se a instalação da Faber-Castell na cidade e, também, as empresas Sucocítricas, principalmente aquelas voltadas para o cultivo da laranja, vão se instalando no município. A intensa mecanização do campo fez com que essa população se deslocasse para as cidades em busca de melhores condições de vida. Assim, a cidade passa a receber todo esse contingente populacional, que vão, em sua maioria, trabalhar na zona rural como bóias-frias. Com isso acontece o aumento da população urbana que, no ano de 2000 atinge o total de 16.968 habitantes enquanto o campo passa a perder habitantes, e sua população cai para 6.456 habitantes e, conseqüentemente, acontece a expansão da cidade, com a expansão ou o surgimento de novos bairros. O processo de urbanização resulta numa maior concentração urbana, significando alterações no ritmo e no modo de vida das pessoas, além de provocar transformações no espaço urbano. “A urbanização é a mudança social em grande escala. Ela significa transformações profundas e irreversíveis que afetam cada aspecto da vida social e todas as seções da sociedade”. (CLARK, 1985, p. 125) A partir do ano 2000, a expansão da cultura de soja nos cerrados brasileiros, e o aumento do preço da saca do grão fez com que vários fazendeiros investissem no cultivo da soja. Como uma grande área para cultivo, a produção de soja foi bastante significativa no município, propiciando a instalação da industria CampoFert, localizada às margens da MG497. É uma empresa voltada para o beneficiamento de grãos que foi atraída para o município graças à sua grande potencialidade agrícola. Devido à grande área que o município possui as empresas mais importantes que estão instaladas no município tem suas atividades relacionadas à agricultura ou à pecuária. Em 2007 uma nova tendência do mercado começa a chegar ao município. Trata-se das industrias Sucroalcooleiras que estão se instalando no município. Está prevista a instalação de duas indústrias do setor, sendo uma a Usina Coruripe a outra é a Usina Zanin que já iniciou suas atividades. No ano de 2007, segundo estimativas do IBGE, a população total do município de Prata é de 25.504 habitantes. De 1995 a 2007 a cidade cresceu ainda mais, somando-se aos bairros já existentes os bairros Progresso I e II, o bairro Alegria, o bairro Morada do Sol, o bairro dos Arantes, o bairro Dona Regina, o Bairro Primavera II e o Residencial Jacarandá. É importante ressaltar que estes novos bairros ainda não possuem uma infra-estrutura completa que vá garantir o bem estar dos moradores destas áreas. O bairro Alegria veio receber asfaltamento em suas ruas quatro ruas somente em 2007, enquanto que o bairro Progresso I e II tiveram apenas algumas de suas ruas asfaltadas (vide foto 9). 24 FOTO 9: Bairro Progresso I na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. O bairro Morada do Sol, Dona Regina e o Primavera II não possuem asfaltamento em suas ruas. O Residencial Parque do Jacarandá ainda é uma área que está sendo implantado um loteamento para o qual está prevista a construção de 250 casas que serão financiadas. Lindeiro à Rua Coronel Emídio Marques surgiu o bairro Primavera II, que foi uma área adquirida pela administração municipal e feita doação de seus lotes para as famílias de baixa renda do município. Na foto 10 temos a visualização do bairro Primavera II e da rua Coronel Emídio Marques, que é asfaltada, mas apenas dá acesso ao bairro, pois as ruas entre os lotes não possuem asfaltamento. Nota-se, também, que a rede elétrica passa pela rua, porém, o bairro não é dotado de iluminação. Isso explica a desvalorização da área e a falta de interesse da população em construir no local, uma vez que a área não oferece uma infraestrutura adequada e que incentive as pessoas a se instalarem no local. FOTO 10: Bairro Primavera II na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. 25 Além disso, o setor industrial passa a ser destinado para uma área às margens da MG497, com a criação do Centro de Desenvolvimento Industrial (CDI), que é uma área destinada a receber indústrias de médio e grande porte, evitando suas instalações dentro da área urbana e prejudicando o meio urbano. Assim sendo, constatou-se que a economia voltada para as atividades agrícolas e pecuárias fez com que o município tivesse um lento desenvolvimento, provocando um crescimento da área urbana através da abertura de novos bairros que foram surgindo e anexados ao núcleo original. No mapa 3 é possível visualizar os bairros que integram o espaço urbano da cidade de Prata em 2007. Mapa 3: Bairros da cidade de Prata em 2007. Fonte: Prefeitura Municipal de Prata. Organizador: Jean Carlos Ferreira, 2007. 26 1.2 – O uso e a ocupação do solo urbano A cidade se caracteriza por apresentar diferentes usos da terra. Para Corrêa (1989, p.7) “Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, ares industriais, áreas de residências distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão”. No mapa 4 é apresentado o uso e ocupação do solo da cidade de Prata. Mapa 4: Uso e Ocupação do Solo da cidade de Prata. Fonte: Prefeitura Municipal de Prata. Organizador: Jean Carlos Ferreira, 2007. 27 De acordo com o mapa 4, a zona comercial da cidade se concentra principalmente ao longo da Avenida Brasília, que é a principal via de acesso de quem chega à cidade. Aí se encontram estabelecimentos comerciais diversos, como supermercados, lojas de eletrodomésticos, restaurantes, lojas de roupas, oficinas mecânicas, postos de combustíveis, revendedora de automóveis, farmácias, etc, como pode ser observado na foto 11. A Avenida Brasília se configura como um espaço privilegiado para a realização de atividades comerciais, sendo um dos locais mais valorizados economicamente da cidade. FOTO 11: Vista parcial da Avenida Brasília na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Na zona central da cidade, no entorno da Praça XV de Novembro e em suas proximidades, tem-se uma concentração dos usos comerciais e também de serviços, uma vez que os prédios das agencias bancárias existentes na cidade (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Itaú, Banco Bradesco), estão localizados nesta área (vide foto 12). Em breve estará se instalando na cidade uma agência do Banco HSBC, que irá se localizar na área central, como os demais bancos. Pode-se notar que, apesar do crescimento da cidade, com surgimento de novos bairros, as atividades ligadas aos serviços bancários estão concentradas na área central da cidade. Para complementar Corrêa (1989, p. 40) afirma que “Em razão de suas vantagens locacionais, o preço da terra e dos imóveis é aí o mais elevado. Isto leva a uma seleção de atividades”. 28 Foto 12: Agências do Banco Itaú, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Às margens da BR-153 existe outro ponto de concentração de usos comerciais, representados pelos postos de combustíveis e pelo comércio de peças e acessórios para veículos, além de apresentar alguns hotéis e motéis. A localização destes estabelecimentos é privilegiada em virtude do grande movimento de veículos e pessoas na BR-153. Na Rua Major Carvalho que dá acesso ao Bairro Bela Vista e na Avenida Tenente Reis, que corta a cidade de norte a sul, temos a consolidação de usos comerciais e mistos, porém, de forma menos concentrada e mais branda. As áreas com usos residenciais distribuem-se por toda a cidade. Dessa maneira podese dizer que: “As áreas residenciais segregadas representam papel ponderável no processo de reprodução das relações de produção, no bojo do qual se reproduzem as diversas classes sociais e suas frações: os bairros são os locais de reprodução dos diversos grupos sociais”. (CORRÊA, 1989, p. 9) As áreas de proteção ambiental compreendem todo o conjunto de áreas dos fundos de vale, onde estão situados os córregos que cortam a cidade. As áreas com ocupações irregulares ou que apresente problemas ambientais constituem um problema para o desenvolvimento urbano da cidade. De acordo com o mapa 4, a cidade apresenta nove áreas com problemas em suas ocupações. No bairro Progresso II, o problema diz respeito à infra-estrutura, uma vez que a topografia não permite o esgotamento sanitário e da drenagem pluvial, causando risco de degradação do córrego Sidnei, que fornece água para o abastecimento da cidade. 29 O Bairro Alvorada está localizado próximo de uma nascente, nos Bairros Esperança e Primavera existem áreas com habitações localizadas nos fundos de vale, em áreas ambientalmente frágeis, além de erosões e voçorocas que aparecem em alguns locais dos Bairros Residencial Parque do Jacarandá e Jardim Brasil. O Bairro Mutirão, Alvorada e Morada do Sol constituem ocupações irregulares, apesar da existência de uma certa infra-estrutura. Esses três bairros formam a Zona Especial de Interesse Social, que é onde se concentra a população mais carente, sendo áreas que necessitam de uma melhor infra-estrutura urbana para atender aos interesses dos moradores dessas localidades. FOTO 13: Residências no bairro Esperança na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Através da foto 13, pode-se observar a construção de habitações em uma área de fundo de vale, onde existe risco ambiental. Nessa área, situada no bairro Esperança, os problemas causados pelas chuvas são constantes, uma vez que toda a água que cai na parte mais alta deságua nestes fundos de vale causando grandes erosões. A cidade possui duas áreas destinadas ao uso industrial. Uma se localiza às margens da BR-153 e é onde está instalada a Faber-Castell, uma das principais industrias da cidade. A outra área se localiza às margens da MG-497, sendo destinada à implantação do Distrito Industrial, com a finalidade de receber indústrias de médio e grande porte. Na área destinada ao Distrito Industrial existe apenas uma empresa instalada que é a Campofert. Na foto 14 pode-se observar, ao fundo, a área destinada à instalação de indústria às margens da MG-497. 30 FOTO 14: Área destinada ao Centro de Desenvolvimento Industrial na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Existem, também, os vazios urbanos, ou seja, áreas que ainda não foram urbanizadas (vide foto 15). Essas áreas, geralmente constituem pequenas chácaras dentro da área urbana, cujos proprietários utilizam para a criação de gado e também para o cultivo de alguns produtos como milho e cana, guardando traços rurais dentro da área urbana. FOTO 15: Área utilizada para criação de gado na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Como o espaço urbano é dinâmico e caracteriza-se por ser constantemente transformado pelos agentes sociais que o compõem e, conseqüentemente, o uso das áreas urbanas para determinadas atividades também pode sofrer alterações. 31 Corrêa (1989), no seu estudo sobre o “espaço urbano”, considerou que, A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade. (CORRÊA, 1989, p. 10) Assim, esse conjunto de usos e ocupação do solo, que pode ser alterado de acordo com a ação dos agentes sociais urbanos, é a organização espacial da cidade, ou seja, é o espaço urbano. 1.3 – Alguns aspectos da dinâmica populacional Retomando alguns aspectos do crescimento populacional apresentados anteriormente, podemos constatar que em 1960 o Prata era um município que tinha 16.816 habitantes, sendo que 5.841 residiam na zona urbana e 10.975 na zona rural. Em 1970 a população subiu para 18.501, apresentando um pequeno crescimento da população urbana que passou para 7.945 habitantes contra 10.556 habitantes na zona rural, mostrando que o campo conseguiu manter a sua população. Em 1980 a população total aumenta para 19.544 habitantes e, novamente, a população urbana tem um pequeno aumentou e a zona rural matem sua população em torno de quase 11.000 habitantes. Em 1991 a população de Prata atinge os 24.424 habitantes, sendo 13.125 na zona urbana e 11.513 na zona rural. Em 1991 a população urbana representava 53,09% da população e a população rural 46,91% (vide Tabela 2), mostrando um certo equilíbrio entre ambas. É importante ressaltar que o movimento migratório do campo para a cidade gerado pela mecanização agrícola e, também, pelo melhoramento dos equipamentos urbanos, fez com que as pessoas fossem procurar empregos na cidade, uma vez que no campo já não encontravam. Este foi um dos fatores que contribuiu para que, no ano 2000, a cidade de Prata apresentasse uma população urbana de 16.968 habitantes. 32 Tabela 1 Prata: População total, urbana e rural no período de 1960-2000. Anos Urbana Rural Total 1960 5.841 10.975 16.816 1970 7.945 10.556 18.501 1980 8.633 10.921 19.554 1991 13.125 11.513 24.638 2000 16.968 6.456 23.424 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) De acordo com a tabela 1, nas décadas de 1960, 1970 e 1980 a população rural era superior à população urbana, o que pode ser explicado pelo início da ocupação das áreas de cerrado, incentivando a agricultura e atraindo pessoas para o campo. Em 1980 a diferença entre a população urbana e a população rural é relativamente pequena, uma vez que a área urbana contava com 8.633 habitantes e a zona rural com 10.921. Posteriormente, em 1991, a população urbana atinge os 13.125 habitantes, porém a população rural, também, aumenta passando de 10.921 em 1980 para 11.513 habitantes em 1991, mostrando que o município recebeu um grande contingente populacional tanto no campo quanto na cidade. No ano de 2000, a população residente no campo diminui drasticamente para 6.456 habitantes, correspondendo a 27,56% da população total (ver Tabela 2). Com isso, a quantidade de habitantes na zona urbana salta para 16.968, ou seja, 72,44% da população total. Apesar do crescimento da população da zona urbana, a população total diminui de 24.638 habitantes em 1991 para 23.424 habitantes, contrariando o que se viu nos anos anteriores. Essa pequena queda no número de habitantes total do município se deve à migração de pessoas, tanto do campo quanto da cidade, para centros mais desenvolvidos. Esse movimento migratório tem como principal destino a cidade de Uberlândia, uma vez que a mesma se configura como sendo o grande pólo atrativo e centro regional do Triângulo Mineiro. Na cidade de Prata é notória a migração de jovens para a cidade de Uberlândia em busca de melhor qualificação escolar e oportunidades de emprego. Vale ressaltar que Uberlândia é o principal destino dessa população migrante, porém não é o único destino dessa população que sai da cidade de Prata, pois existem outros centros que atraem essa população. 33 Tabela 2 Prata: População urbana e rural: participação na população total (%) no período de 19602000. Anos População urbana População rural 1960 34,73 65,26 1970 42,94 57,06 1980 44,15 55,85 1991 53,09 46,91 2000 72,44 27,56 Fonte: FIBGE, Censos Demográficos do Estado de Minas Gerais. Na tabela 2, é possível perceber que a taxa de urbanização veio aumentando desde 1960 até o ano 2000, quando atinge o valor de 72,44%. A dinamização econômica, a melhora da infra-estrutura urbana, aliada à mecanização do campo, contribuiu para que a cidade se desenvolvesse e tivesse condições de receber a população que saiu do campo em direção a área urbana. Tabela 3 Prata: Faixa etária da população nos anos de 2000 e 2004. Faixa etária Ano de 2000 Ano de 2004 Menores de 15 anos 3.572 3.536 De 15 a 64 anos 18.477 17.723 De 65 anos a mais 1.527 1.772 Fonte: Prefeitura Municipal de Prata. Através da tabela 3, pode-se observar que a população com faixa etária de 65 anos ou mais teve um pequeno aumento, enquanto as outras duas tiveram uma redução. Isso pode ser explicado pela saída de pessoas mais jovens para cidades maiores, como Uberlândia, para dar continuidade aos seus estudos. Apesar desse aumento da população idosa, o município pode ser considerado como sendo formado predominantemente por jovens e adultos. Na Tabela 4, pode-se observar que nas décadas de 1970 e 1980 os homens representavam mais de 52% do total de habitantes, demonstrando uma pequena superioridade masculina. No entanto, em 2001, a superioridade masculina na porcentagem populacional diminuiu, ficando praticamente numa situação de igualdade, onde os homens representam 34 50,96% da população e as mulheres 49,04%, ou seja, apresentando uma diferença de apenas 1,92%. Tabela 4 Prata: Composição da população pelo sexo no período de 1970-2001 Anos 1970 1980 2001 Homens 9.656 10.197 12.015 Participação (%) 52,20 52,15 50,96 Mulheres 8.845 9.357 11.561 Participação (%) 47,80 47,85 49,04 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE) A cidade de Prata possui uma boa infra-estrutura urbana para atender a população local, evidentemente que essa infra-estrutura pode ser melhorada. A cidade oferece à maioria de sua população rede de água e esgoto, coleta de lixo, energia elétrica, rede telefônica, ruas pavimentadas, postos de saúde e hospitais, rodoviária e um grande número de equipamentos urbanos que dão uma melhor qualidade de vida à sua população. A coleta de esgoto e a coleta de lixo é responsabilidade da Prefeitura Municipal. De acordo com a Prefeitura Municipal, o serviço de coleta de lixo abrange toda a área urbana, ou seja, todas as residências. Para a realização do serviço a Prefeitura disponibiliza dois caminhões compactadores de lixo que percorrem todos os bairros da cidade. O horário destinado à coleta de lixo causa problemas, principalmente no transito da cidade, uma vez que a coleta de lixo é realizada durante o dia, começando às cinco horas da manha. O lixo coletado é depositado em um aterro controlado, pois não existe um aterro sanitário, usina de compostagem e de triagem do lixo. A captação de esgotos, segundo a Prefeitura, abrange quase 100% das residências (dados não registrados). O esgoto coletado nas casas é destinado aos córregos que cortam a cidade, pois não existe uma Estação de Tratamento de Esgotos. A construção da Estação de Tratamento de Esgotos está prevista no Plano Diretor da Cidade. A concessionária fornecedora de água do município é a COPASA, que atende quase 100% dos domicílios. Em 2002, a população atendida pela COPASA chegou a atingir 98,69%, ficando próximo de atingir os 100%. Após esse período, com o crescimento da cidade, o número caiu um pouco, passando para 97,15% em 2004, como pode ser observado na Tabela 5. 35 Tabela 5 Prata: População atendida pela COPASA (%) no período de 1990-2004. Anos 1990 2000 2001 2002 2003 2004 População atendida (%) 91,30 97,27 98,62 98,69 97,00 97,15 Fonte: COPASA A cidade de Prata possui muitos espaços destinados ao lazer da população. Existem onze praças públicas que são bem arborizadas e proporcionam uma melhor qualidade de vida para a população da cidade. Na foto 16 é possível observar a população caminhando pela Praça XV de Novembro, localizada na área central da cidade e que se caracteriza como a praça mais importante da cidade. FOTO 16: Praça XV de Novembro na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Em 1995 a cidade contava com 4.066 habitações urbanas, sendo a maioria construções em alvenaria. No ano de 2001, com uma população estimada em torno dos 16.968 habitantes na zona urbana, o número de domicílios passou para 6.659. Em 2007, de acordo com censo preliminar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população total atingiu o número de 25.504 habitantes, com um crescimento ainda maior da população urbana. Para abrigar esse efetivo populacional o número de habitações subiu para 8.680. Além disso, foram 36 contabilizados 983 terrenos sem construções e sem nenhum tipo de uso, sendo classificados como terrenos baldios, que aos poucos vão se valorizando e sendo utilizados para a construção de novos domicílios. Nota-se que nesse intervalo de tempo, o número de habitações quase dobrou, o que pode ser explicado pelo grande desenvolvimento urbano pelo qual a cidade vem passando nos últimos anos. Na foto 17 tem-se uma vista aérea da cidade, onde é possível avistar a área urbana da cidade com suas residências e a BR-153 e MG-497, que passam pelo entorno da cidade. FOTO 17: Vista aérea da cidade de Prata em 2007. Fonte: Câmara Municipal de Prata. 37 CAPÍTULO II UMA BREVE CARACTERIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO MUNICÍPIO DE PRATA 2.1- O Desenvolvimento industrial O município de Prata passou por muitas mudanças nas últimas décadas, fazendo com que o espaço urbano passasse a concentrar uma quantidade maior de pessoas e, também, maiores desigualdades sociais e econômicas. No início da década de 1930, a industrialização dava passos decisivos com a utilização do capital nacional, apontando para uma nova etapa de desenvolvimento econômico que o país seguiria. A partir do final da década de 1950, o Brasil passa de nação essencialmente agrícola, exportador de matéria prima, a produtor também de produtos industrializados. No entanto, nesse mesmo período, a economia do município de Prata continuou girando em torno da agricultura e da pecuária. Em 1965 surge a Cooperativa dos Produtores Rurais de Prata, uma indústria do ramo de laticínio, com o objetivo de aproveitar o potencial do município na produção de leite, cuidando do preparo do leite para o consumo e fabricando derivados do mesmo. Com o passar dos anos a Cooprata tornou-se uma das empresas mais importantes do município. A década de 1970 foi muito importante para o desenvolvimento do cerrado mineiro, pois a mecanização do campo provocou a saída de uma grande quantidade de pessoas do campo para a cidade. Com isso, as cidades tiveram que se adequar para receber esse contingente populacional vindo do campo, tendo que melhorar sua infra-estrutura urbana. Até 1980 a economia de Prata era baseada nas atividades rurais, principalmente na agricultura e na pecuária, onde se destacava a produção leiteira. A única indústria significativa para o município era a Cooprata, que ainda não tinha atingido o patamar de desenvolvimento em que se encontra hoje. Em 1972, a Cooprata adquiriu as instalações da fábrica de Manteiga Pádua e Cia e a marca Rádio, dobrando sua capacidade de recepção do leite produzido pelos fazendeiros do município (vide foto 18). Neste local funciona hoje o escritório da Cooprata. A partir desse momento a Cooprata passou a desenvolver-se cada dia mais, melhorando sua infra-estrutura, adquirindo novos equipamentos e diversificando suas atividades. 38 FOTO 18: Antigo prédio da “Fábrica de Manteiga Rádio” ainda com a denominação de “Pádua & Cia” na cidade de Prata, em 1972 Fonte: Departamento de Educação e Cultura de Prata. Com o avanço da tecnologia, a Cooprata teve que modernizar seu modo de produção e, em 2001, a empresa efetivou a granelização do leite, passando toda a coleta do leite de latão para tanques. Com essa mudança no processo a Cooperativa passou a sofrer com a diminuição do número de cooperados, uma vez que muitos pequenos produtores, que forneciam leite para a empresa, não tiveram condições de adquirir os tanques para armazenamento do leite. Apesar da diminuição dos fornecedores de leite, a produção da empresa vem aumentando. A Cooprata conta hoje com: supermercado, loja veterinária, departamento técnico, técnico terceirizado para curva de nível, departamento de granelização, departamento de compras, departamento de recursos humanos, laticínio e fábrica dos produtos Rádio: manteiga, queijo mussarela, queijo prato, queijo provolone, doce de leite em pasta, doce em barra puro e com coco, queijo minas frescal, requeijão, ricota, leite tipo C e longa vida, e recebe hoje 145 mil litros de leite/dia. Possui também uma oficina para concertos de máquinas, um escritório, departamento de insumos e fabrica de sal mineral e ração, composta primordialmente por um núcleo de profissionais de diversas áreas. Na foto 19 pode-se visualizar o local onde são fabricados sal mineral e ração. 39 FOTO 19: Departamento de Insumos da Cooprata na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Em 1981, a Souza Cruz S/A iniciou suas atividades no município de Prata. Com uma área de 2.834 hectares, a empresa realiza o florestamento e o reflorestamento da área com eucalipto. Dentre os fatores que contribuíram para a instalação da empresa no município destacam-se: a localização da unidade, pois a madeira produzida é destinada à unidade da Souza Cruz em Uberlândia para aproveitamento industrial; o baixo custo da terra em relação à Uberlândia; a área contínua que possibilita a empresa ter uma única escritura da propriedade; a qualidade da malha rodoviária; a facilidade de mão-de-obra e as terras serem apropriadas para o plantio de florestas. Estes fatores foram fundamentais para a instalação da Souza Cruz S/A no município. A estrutura da fazenda onde está instalada a empresa é muito boa, com diversas casas de alvenaria, alojamentos, almoxarifados, água de poços artesianos, luz elétrica fornecida pela CEMIG, tratamento de esgoto, pára-raios, etc. Além disso, a empresa possui equipamentos como dois caminhões pipas, veículos utilitários, tratores, motocicletas, etc. Com relação aos funcionários, a Souza Cruz S/A possui quatro funcionários diretos e noventa e dois funcionários indiretos, que são, em sua maioria, do próprio município, porém alguns são de outras localidades. A maior dificuldade encontrada pela empresa é a má conservação das estradas municipais que são muito utilizadas para o escoamento da madeira para a unidade de Uberlândia. A empresa é muito importante para o município, pois todos os impostos e encargos inerentes ao seu ramo de atividades são recolhidos em Prata, aumentando a arrecadação do município. 40 Em 1988 a indústria multinacional Faber-Castell instala-se na cidade, o que propiciou um maior desenvolvimento para a cidade (vide foto 20). Fatores como disponibilidade de matéria-prima e mão-de-obra, além de incentivos fiscais oferecidos pelo município e da proximidade com a unidade base de produção da empresa que se localiza na cidade de São Carlos propiciou a instalação da empresa no município. A unidade industrial da Faber-Castell em Prata possui uma área de 2.600 m2, com aproximadamente 9.000 hectares de plantações de pinus que são utilizados na fabricação da madeira. FOTO 20: Faber-Castell na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Atualmente a Faber-Castell recebe matéria-prima de empresas de outros municípios, como da Satipel de Monte Carmelo e da Caxuana de Nova Ponte. Isso se deve ao fato do custo da matéria-prima na região ser alto, o que é apontado como um dos problemas que a empresa enfrenta. Na unidade industrial a madeira passa pela serraria, impregnação e secagem, antes de chegar ao produto final aqui em Prata que são as tabuinhas. Posteriormente, toda a produção da unidade é destinada para a matriz em São Carlos para a produção do lápis. Hoje, a Faber-Castell emprega 520 funcionários distribuídos em três turnos. Os funcionários residem no próprio município e apenas alguns funcionários especializados são contratados de outros lugares. A indústria possui uma importância muito grande para o município, pois é geradora de muitos empregos que garante a sustentabilidade de diversas famílias e impulsiona o comércio local. É a maior empresa de contratação de mão-de-obra e maior renda do município. 41 Carlos (1991, p. 44), complementando essa abordagem afirmou que, O desenvolvimento do urbano apresenta-se como condição sine qua non do processo de produção assentado no sistema capitalista. Todavia é necessário esclarecer que a indústria capitalista não só se desenvolve apenas quando tem uma base urbana como determina uma aceleração do processo urbano. (CARLOS, 1991, p. 44) Com a modernização do campo, onde o homem incorporou padrões modernos que substituíram as antigas estruturas de produção, novos manejos aplicados às terras de cerrados, paralelamente a uma modernização dos meios de produção, fizeram com que os solos do cerrado se tornassem produtivos e rentáveis, especialmente para a produção de soja. Em 2003, os principais produtos agrícolas do município de Prata eram o arroz (300ha), o feijão (490ha), o milho (2000ha) e a soja (25000ha). Devido à grande extensão do município e do grande potencial agrícola do mesmo, aliado ao potencial produtivo das áreas de cerrado, no ano de 2004 a indústria Campofert Guairá Com. Ind. Exp. Imp. Ltda instalou uma unidade na cidade de Prata, conforme pode ser visto na foto 21. FOTO 21: Instalações da Campofert na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. A Campofert atua na prestação de serviços e comércio de produtos agrícolas, sendo considerada uma das maiores empresas privadas em recepção, limpeza, secagem, armazenagem e comercialização de cereais (milho sorgo e soja). A Campofert recebe milho, sorgo e soja do município de Prata, Uberlândia, Monte Alegre e Campina Verde, sendo que a 42 produção da unidade industrial é de 8.000 toneladas. A produção é destinada para Uberlândia, Porto Santos e Guairá. O crescimento da área agrícola foi o principal fator que contribui para que a empresa viesse para o município e, também, a facilidade em obter mão-de-obra. A Campofert possui quatro funcionários diretos, além dos funcionários indiretos, sendo que todos os seus funcionários são da própria cidade. Com a chegada da indústria o município ganhou com a arrecadação de impostos e com a geração de mais empregos. Atualmente, a Campofert encontra dificuldades devido à redução da área plantada. Além de indústrias de grande importância para o município, como é o caso da FaberCastell e da Cooperativa que são as duas empresas de maior destaque no município, começaram a surgir pequenas indústrias e que passam a ganhar importância no contexto local. No ano de 2002, foi criada a indústria de doces Docisbell Izabel Rezende, onde se produz uma grande quantidade de doces de leite e de frutas, que são comercializados no município e gera empregos para a população. Ainda no ano de 2002 é fundado o Laticínio Melo, que tem sua atenção voltada ao pequeno produtor rural. Com obrigatoriedade do uso de tanques pela Cooprata, muitos pequenos produtores que forneciam leite para a mesma não tiveram condições de se adaptarem às exigências, uma vez que o preço do tanque é muito alto para o pequeno produtor e, estes se viram obrigados a deixar de fornecer seu produto à empresa. Assim, sendo o referido laticínio passou a ser uma alternativa para estes pequenos produtores. A empresa começou recebendo dois mil litros de leite por dia e hoje recebe seis mil litros por dia, tendo 320 fornecedores de leite. O Laticínio Melo resfria o leite e vende para várias indústrias que envazam o leite Longa Vida e já estão organizando a documentação para a produção de mussarela. Com a finalidade de produzir álcool em grande escala para a importação, os canaviais começam a se expandir para além das áreas tradicionais, chegando até os cerrados mineiros. Essa nova fase é marcada pela forte presença das grandes empresas privadas, pois as expectativas em torno do álcool continuam crescendo. Atualmente, cerca de 40 novas usinas estão em projeto ou em fase de implantação e totalizam um investimento calculado em U$3 bilhões. No ano de 2007 essa nova tendência da economia atingiu o município de Prata. Estão previstas as instalações de duas Usinas de Açúcar e Álcool no município (Usina Coruripe e Usina Zanin). A Usina Zanin já iniciou a terraplanagem do terreno onde será construída a unidade industrial e já começou o plantio de cana em algumas propriedades que foram 43 arrendadas. A Usina Coruripe já comprou a área onde será instalada, porém, suas atividades ainda não iniciaram. A criação de novas usinas de cana-de-açúcar tem aumentado a geração de emprego e, principalmente, os investimentos no campo. A chegada destas novas indústrias sucroalcooleiras no município irá provocar várias transformações no espaço urbano da cidade, como o aumento da população e maiores investimentos nos setores de moradia, saúde, educação e segurança. Para Carlos (1991, p.38), “O rápido crescimento industrial traz à cidade mudanças significativas, tanto no que se refere ao modo de vida da população quanto ao processo espacial”. Na cidade de Prata, a Usina Zanin iniciou a construção de 37 unidades habitacionais que serão localizadas lindeiras à Avenida Brasil, onde ficarão hospedados os funcionários que vierem trabalhar na construção da usina (vide foto 22). FOTO 22: Casas construídas pela Usina de Açúcar e Álcool Zanin na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. A tendência é que o cultivo de cana-de-açúcar aumente cada vez mais no município, pois o crescimento está chegando diretamente nos produtores, já que as usinas estão pagando mais para arrendar as terras para o cultivo da cana-de-açúcar. No mapa 5 estão representadas as principais indústrias que estão instaladas dentro do perímetro urbano da cidade. 44 Mapa 5: Localização das principais indústrias na cidade de Prata em 2007. Fonte: Prefeitura Municipal de Prata. Organizador: Jean Carlos Ferreira, 2007. Através do mapa 5 é possível notar que, dentre as indústrias instaladas no perímetro urbano, somente o Laticínio e a fábrica de Insumos da Cooprata estão localizadas na área mais central da cidade. Como as unidades estão nestes locais desde a sua fundação, fica difícil tirar toda a estrutura das fábricas para deslocá-la para o setor industrial da cidade. A localização das mesmas dentro da cidade causa muitos transtornos à população, principalmente a fábrica de insumos. Um dos problemas causados é a dificuldade em trafegar no local, uma vez que a circulação de caminhões de grande porte que realizam ações de carga 45 e descarga é muito grande. O outro problema são as doenças pulmonares causadas pelo pó exalado da fábrica, principalmente na época da seca. A atividade industrial vem crescendo cada vez mais nas últimas décadas. O número de unidades industriais passou de 15 em 1994 para 55 unidades no ano de 2004, como pode ser visto na Tabela 6. Além disso, em 2007, as Usinas de Açúcar e Álcool, Coruripe e Zanin, estão se instalando na cidade, aumentando mais esse número. Tabela 6: Prata: Número de estabelecimentos industriais nos anos de 1994 e 2004. Atividade N° estabelecimento 1994 N° estabelecimento 2004 Indústria extrativa 2 5 Industria de transformação 13 50 Total 15 55 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Os empregos gerados pela atividade industrial também aumentaram muito, o que demonstra o crescimento da atividade no município. Na Tabela 7, pode-se observar que na década de 1980 o pessoal ocupado nas atividades industriais era de apenas 490 pessoas, passando para 1742 em 2000, ou seja, em 20 anos, o número de pessoas ocupadas no setor triplicou. Vale ressaltar que a Faber-Castell, uma grande indústria, é uma grande geradora de empregos para a cidade. A Cooprata, também, é responsável por grande parte dos empregos gerados na cidade, com suas indústrias de beneficiamento de leite e ração. Tabela 7: Prata: População ocupada por setores econômicos nos anos de 1980 e 2000. Setores N° de pessoas 1980 N° de pessoas 2000 Agropecuário 4179 3587 Industrial 490 1712 Comércio de mercadorias 399 1471 Serviços 1755 3326 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 46 Além disso, o desenvolvimento das indústrias contribui para que outras atividades econômicas também se desenvolvam. “... a produção do espaço urbano realiza-se, concretamente, a partir do trabalho industrial que subordina, cria e determina outras atividades não produtivas (como o comércio e os serviços)”. (CARLOS, 1991, p.36). 2.2- A agropecuária no município de Prata. O município de Prata possui uma grande extensão com cerca de 4.856 Km2, onde estão inseridas cerca de 1800 propriedades rurais em seu território, o que favorece o desenvolvimento de atividades agrícolas e pecuárias na região. Historicamente o município tem a atividade de pecuária leiteira como principal, destacando-se como uma das principais bacias leiteiras da região. Hoje, conta com 98 mil cabeças de gado leiteiro, tendo um dos maiores rebanhos do estado de Minas Gerais, destacando-se também na pecuária de corte, com 161 mil cabeças e na pecuária mista com 70 mil cabeças. Assim sendo, a atividade agropecuária é muito diversificada e tem grande importância para o município. As áreas onde não é possível desenvolver a agricultura, geralmente são aproveitadas para o desenvolvimento da pecuária, principalmente a bovinocultura e a avicultura, como pode ser visto na tabela 8. Tabela 8: Prata: Principais efetivos da pecuária no período de 1994-2005. Especificação Asininos Bovinos Bubalinos Caprinos Eqüinos Galináceos Muares Ovinos Suinos N° de cabeças 1994 323.773 86 148 4.190 124.200 550 1.255 20.500 N° de cabeças 2003 102 369.304 572 338 4.657 167.292 281 1.036 4.631 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) N° de cabeças 2005 152 342.089 642 390 5.482 197.041 330 1.185 5.472 47 De acordo com a tabela 8, é possível observar que a criação de asininos, bovinos, bubalinos, caprinos, eqüinos e galináceos tiveram um crescente aumento. A criação de suínos diminuiu drasticamente, passando de 20.500 no ano de 1994 para 4.631 em 2003, posteriormente tendo um pequeno aumento em 2005. Os bovinos e os galináceos são os efetivos mais importantes para a atividade pecuária do município. A criação de gado, tanto leiteira quanto de corte, sempre foi muito praticada no município, podendo ser constatado pelo número de cabeças de gado durante esse período. Os galináceos, a partir de 1994 começam a aumentar, passando de 124.200 cabeças em 1994 para 197.041 cabeças em 2005. Isso propiciou o aumento do número de granjas instaladas no município, localizadas, principalmente, nas proximidades da divisa do município de Prata com o município de Uberlândia, uma vez que a produção das mesmas é destinada, em sua maioria, à cidade de Uberlândia. Com a inserção da agricultura nas terras de cerrado, a atividade começa a se desenvolver melhor no município. As características físicas da região contribuíram para o desenvolvimento de atividades agrícolas. O relevo do município de Prata é composto por 75% plano, 15% ondulado e 10% montanhoso, ou seja, a maior parte do território pode ser mecanizada. Além disso, os solos são de fácil conservação, de textura média, com teor de argila variando de 18 a 25%. Com relação à fertilidade do solo, pode-se dizer que pode variar de baixa a média alta, dependendo do local analisado. Nas partes mais altas e planas, temos um solo de fertilidade natural baixa, mas de recuperação relativamente fácil, possibilitando a realização de atividades agrícolas no local. Nas partes mais baixas, localizadas próximas aos rios, a fertilidade natural do solo varia de média a alta, porém, nestes locais, existem algumas limitações com relação ao uso, uma vez que essas áreas exigem maiores cuidados de conservação. Em 1994, os produtos agrícolas mais importantes cultivados no município eram o arroz (4.000ha), o milho (3.500 há), a soja (1.600 há) e o feijão (190ha). Com o desenvolvimento da agricultura, acontece uma maior diversificação das culturas no município de Prata, como pode ser visto na Tabela nas Tabelas 9 e 10. 48 Tabela 9: Prata: Principais Produtos Agrícolas em 2003. Produto Abacaxi Arroz em casca Cana-de-açúcar Café Feijão Laranja Mandioca Milho Soja Coco-da-Bahia Área colhida (ha) 40 321 450 50 490 3.300 257 2.000 25.000 20 Produção (t) 800 495 36.000 50 870 49.500 5.140 7.000 53.000 300 Rendimento médio (Kg/ha) 20.000,00 1.500,00 80.000,00 1.000,00 1.800,00 15.000,00 20.000,00 3.500,00 2.120,00 15.000,00 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Tabela 10: Prata: Principais Produtos Agrícolas em 2005 Produto Abacaxi Arroz em casca Cana-de-açúcar Café Feijão Laranja Mandioca Milho Soja Coco-da-Bahia Área colhida (ha) 20 422 400 30 690 3.164 144 2.000 29.000 30 Produção (t) 360 400 32.000 30 1.068 69.608 2.880 6.000 52.200 330 Rendimento médio (Kg/ha) 18.000,00 947,00 80.000,00 1.000,00 1.547,00 22.000,00 20.000,00 3.000,00 3.000,00 11.000,00 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Comparando-se com o ano 1994 as culturas de arroz e milho sofreram reduções em suas áreas plantadas, o que provocou uma diminuição na sua produção. Entre 2003 e 2005, a cultura de arroz teve um aumento de 101 hectares na sua área colhida, porém, houve uma redução de 95 toneladas em sua produção. A área colhida de milho foi de 2000 hectares em 2003 e 2005, mas a produtividade foi menor em 2005 (6.000 toneladas) do que em 2003 (7000 toneladas). Ao contrário, as culturas de soja e feijão aumentaram desde 1994. A soja passou de 1600 hectares em 1994 para 25.000 hectares em 2003 e, posteriormente, 29.000 hectares em 2005. No entanto, apesar do aumento da área colhida em 2005, a produção de soja diminuiu 800 toneladas. A cultura de feijão passou de 190 hectares em 1994 para 490 hectares em 2003. Em 2005, a área colhida passou para 690 hectares, aumentando, também, a produção do mesmo. 49 A fruticultura, com destaque para a cultura de laranja, também, é uma atividade relevante para o município. Em 2003 a cultura de laranja teve uma área colhida de 3.300 hectares diminuindo para 3.164 hectares em 2005. Um fato marcante é que, ao contrario das outras culturas, com a diminuição da área a produção aumentou passando de 49.500 toneladas em 2003 para 69.608 toneladas em 2005. Entre 2003 e 2005, a cana-de-açúcar sofreu uma redução de 50 hectares em sua área colhida, o que conseqüentemente diminuiu sua produção no município. Agora, com a instalação das duas Usinas de Açúcar e Álcool, a previsão é que a plantação de cana aumente ainda mais. Portanto, o agronegócio é uma grande alavanca para a economia nacional. A cultura de pinus e eucalipto, também, é muito importante para a economia municipal, uma vez que o município é um grande produtor destes produtos. Tais produtos servem como matéria-prima para industrias instaladas no município, como a Faber-Castell e para industrias com matriz em outros municípios, como, por exemplo, a Souza Cruz. As florestas de eucalipto possuem uma área de 5.500 hectares, destacando-se as áreas da Cargil e da Souza Cruz. As florestas de Pinnus têm uma área de 6.870 hectares e são cultivadas principalmente pela Faber-Castell. De acordo com a Tabela 6, o número de pessoas ocupadas no setor agropecuário sofreu uma redução, passando de 4.179 em 1980 para 3.587 em 2000. Isso se deve ao fato de acorrer a mecanização das atividades agrícolas, fazendo com que os trabalhadores desse setor busquem trabalho em outros setores da economia. 2.3- O setor de serviços O setor de serviços engloba atividades muito diferenciadas, que abrange categorias como comercio, alojamento (hotelaria), alimentação (restaurantes), transportes, telecomunicações, intermediação financeira, seguros e previdência privada, atividades imobiliárias, serviços de informática, administração pública, pesquisa e desenvolvimento, educação, saúde e serviços sociais e serviços pessoais e domésticos. Na cidade de Prata o setor de serviços também começou a ganhar espaço e diversificar suas atividades. O comércio da cidade, principalmente o varejista, começa a sofrer grandes mudanças a partir da década de 1990. De acordo com a Tabela 7, em 1980 o número de pessoas ocupadas no comércio de mercadorias era de 399 e, no ano de 2000 esse número aumentou para 1.471, demonstrando o desenvolvimento do setor. 50 A partir de 1990, os pequenos estabelecimentos comerciais passaram a ser substituídos pelos supermercados, que são mais amplos e oferecem uma maior diversificação de seus produtos. Corrêa (1989, p. 51) afirma que, Por toda a cidade ocorrem pequenos agrupamentos de lojas localizadas em esquinas: duas a cinco lojas, como padaria, açougue, quitanda, farmácia, armazém, botequim, que atendem às demandas muito freqüentes da população que habita os quarteirões imediatos ao agrupamento. Os comerciantes são moradores do bairro e conhecidos dos fregueses. É sobre estes pequenos núcleos comerciais que incidem os efeitos da expansão dos supermercados: em muitos bairros desapareceram ou diminuíram de importância. Atualmente existem dez supermercados na cidade, a maioria de pequeno porte, distribuídos por vários bairros da cidade. Dentre eles, destacam-se o Supermercado da Cooprata e o Smart Lucas. Ainda existem muitos estabelecimentos comerciais pequenos que atendem a população. É importante destacar que a maior parte da população realiza suas compras mensais nos supermercados existentes, utilizando os pequenos comércios para comprarem produtos que necessitem no dia-a-dia. Nos pequenos estabelecimentos comerciais, comumente chamados de mercearias, é comum o sistema de compra com caderneta, uma vez que todos se conhecem. O comércio de combustíveis também teve um crescimento a partir da década de 1990, impulsionado pelo aumento do preço dos combustíveis e pelo aumento da frota de veículos. A cidade conta com sete postos de combustíveis, sendo que três deles se localizam às margens da BR-153, um às margens da MG-497 e três deles encontram-se dentro da cidade. Destes, o de maior movimentação financeira e o que emprega um número maior de pessoas é o Posto Pratão. Este se localiza às margens da BR-153, que tem um grande movimento de veículos leves e de grande porte, o que propicia um grande movimento diário de veículos em suas instalações. A infra-estrutura que o Posto Pratão oferece aos seus usuários contribui para que este tenha um grande movimento, pois, além de abastecimento, o consumidor tem acesso a restaurante, lanchonete, loja de acessórios, borracharia, oficina mecânica e elétrica e estacionamento coberto para veículos. O comércio de lojas de departamento de eletrodomésticos, móveis e artigos de vestuário fazem parte do comércio local, refletindo o crescimento do setor. Além disso, o setor comercial da cidade atende as demandas agropecuárias através do comércio com a presença de lojas de produtos agrícolas. As lojas de autopeças, oficinas mecânicas e revendedoras de veículos também podem ser encontradas na cidade. 51 Como o crescimento das atividades comerciais é evidente, os empresários começaram a investir em empreendimentos comerciais. Exemplo disso foi a criação da Galeria Center Prata (Vide foto 23), onde a população tem à sua disposição inúmeros serviços. Na Galeria podem-se encontrar lojas de artigos para vestuário, lojas de aparelhos eletrônicos (celulares) e informática, lan hause, lanchonete, administradora de crédito e uma agência de viagem. Foto 23: Galeria Center Prata na cidade de Prata, em 2007. Fonte: FERREIRA, Jean Carlos, 2007. Os serviços comerciais são os mais utilizados na cidade, no entanto, a população utiliza bastante os estabelecimentos bancários, os estabelecimentos de ensino (público e particular) e os estabelecimentos de saúde. A cidade de Prata possui vários estabelecimentos de ensino, sendo que a educação no município está na média das outras cidades do Estado. Tabela 11 Prata: Número de estabelecimentos de ensino nos anos de 1990 e 2006. Condição N° de escolas em 1990 N° de escolas em 2006 Estadual 11 4 Municipal 54 9 Particular 1 4 Filantrópicas 2 2 Fonte: Prefeitura Municipal de Prata. 52 De acordo com a Tabela 11 o número de estabelecimentos de ensino era bem maior em 1990 do que no ano de 2006. O número de escolas estaduais diminuiu de 11 em 1990 para 4 em 2006, já que algumas foram municipalizadas. Estas escolas estaduais encontram-se situadas na região central da cidade. Em 1990 existiam 54 escolas municipais, sendo que a maioria delas se tratavam de escolas rurais. Em 2006 esse número reduziu para 9 unidades. Essa redução se deve ao fato da concentração das escolas municipais na zona urbana, num total de 4 escolas municipais na cidade. Para que houvesse essa redução o poder público aumentou o número de vagas nas escolas municipais urbanas e disponibilizou transporte escolar gratuito para os alunos que residem na zona rural, mantendo apenas 5 escolas municipais na zona rural, que se situam na sede dos distritos. O número de escolas particulares aumentou de 1 para 4 em 2006. As duas escolas filantrópicas, que são a APAE e a creche, mantiveram-se. O ensino superior também é incentivado no município através do transporte escolar gratuito. A cidade de Uberlândia é o destino dos alunos da cidade de Prata que cursam ensino superior. A administração municipal disponibiliza ônibus para levar os alunos da cidade para Uberlândia. De acordo com o Departamento de Educação, diariamente são levados para Uberlândia cerca de 300 alunos que vão estudar nas diferentes Universidades e Cursos Técnicos Profissionalizantes. Para quem não tem disponibilidade de ir para Uberlândia todos os dias, já existe na cidade uma faculdade para atender a população. A Uninter (que era denominada de Uniprata) possui cursos de Pedagogia, Processos Gerenciais (Administração), Comércio Exterior, Gestão Comercial, Gestão Financeira, Gestão Pública, Gestão de Produção Industrial, Logística, Marketing e Secretariado. As aulas são transmitidas de Curitiba via satélite, sendo que fica uma tutora em sala de aula para sanar as dúvidas dos alunos. É importante lembrar que, segundo os responsáveis pela instituição de ensino, os cursos fornecidos são autorizados pelo MEC. Os serviços de saúde são bastante utilizados e de grande importância para a população do município. A infra-estrutura da saúde na cidade melhorou muito nos últimos anos, porém, está longe de ser a ideal para atender as necessidades da população do município. Os pacientes que não podem ser tratados na cidade devido à falta de equipamentos são levados para Uberlândia, que é o centro de referência de saúde na região. 53 Em 1994 a infra-estrutura na área da saúde era precária, onde a cidade contava com apenas 1 hospital da rede privada e 3 postos de saúde que não ofereciam tratamento especializado. Nessa época o hospital municipal ainda estava em fase de construção. De acordo com o IBGE, atualmente a cidade conta com dezesseis estabelecimentos de saúde, sendo que dez são estabelecimentos públicos e seis estabelecimentos privados. Com a construção do hospital municipal (PAM - Pronto Atendimento Municipal) o número de hospitais passou para 2. Apenas o hospital particular conta com serviços de internação, tendo disponível 41 leitos, sendo que 28 deles são disponíveis ao SUS. Foi construído o Centro Odontológico Municipal (COM), onde a população conta com serviços odontológicos diversos. A cidade possui poucos equipamentos de saúde e falta profissionais em determinadas áreas, obrigando a população a buscar atendimento em cidades vizinhas, principalmente em Uberlândia. Para compensar esse problema o poder público disponibiliza à população o transporte dos mesmos para realizar consultas ou tratamentos nas cidades vizinhas sem nenhum custo para os pacientes. Os carros e ambulâncias transportam pacientes para as cidades de Uberlândia, para o Hospital do Câncer em Barretos e para fazerem consultas especializadas em Uberaba, Brasília e São Paulo. O turismo é pouco desenvolvido na região, existindo dois pontos turísticos em Prata: os Morrinhos Seios de Moça e a Serra do Bonito, onde se encontram o sítio arqueológico com pinturas rupestres e fósseis de dinossauros. O potencial turístico da região não é aproveitado ao máximo, pois faltam investimentos para que o setor se torne importante para o município. Com o desenvolvimento do setor turístico, outros segmentos de serviços como hotelaria, alimentação, diversão e cultura vão desenvolver também, pois o turismo é um setor que agrega esses outros segmentos. Portanto, o setor de serviços caracteriza-se pelo forte dinamismo na geração de empregos. De acordo com a Tabela 7, o pessoal ocupado no setor de serviços no município de Prata passou de 1.755 em 1980 para 3.326 em 2000, demonstrando o crescimento do setor na cidade. Na tabela 12 temos a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do município de Prata, onde se constata o crescimento dos setores agropecuário, de indústria e o de comércio. Dentre os setores, entre 1998 e 2004, verifica-se um aumento crescente na composição do PIB municipal. Apenas disso, o setor da indústria teve um pequeno decréscimo em 2002, porém em 2004 se recuperou. Nesse período, o setor agropecuário teve um aumento de 124%, o setor 54 da indústria de 83,55% e o setor de serviços teve um crescimento de 112%, o que culminou em um aumento de 111,73% no total do PIB municipal. Tabela 12: Prata: Produto Interno Bruto (PIB) no período de 1998-2004 – Unidade R$(mil) Ano 1998 1999 2000 2001 2002 2004 Agropecuário 42.498 46.759 43.014 42.307 59.391 95.326 Indústria 21.050 24.513 27.330 32.603 30.516 38.639 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Serviço 38.982 46.787 51.509 59.477 68.354 82.742 Total 102.530 118.059 121.853 134.387 158.261 217.089 55 CAPITULO III AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS RECENTES DA CIDADE DE PRATA NA VISÃO DOS ATORES SOCIAIS Para analisar as transformações socioespaciais recentes, foram realizadas um conjunto de entrevistas com diferentes atores sociais que formam a estrutura social da cidade. A abordagem foi feita utilizando-se da aplicação de questionários, sem a preocupação com os rigores do método estatístico, tendo em vista as limitações do tempo para a realização dessa monografia. Julgamos que as mesmas serviram para complementar a análise das transformações socioespaciais mais recentes da cidade. Assim sendo, realizamos uma entrevista com o Prefeito, 15 entrevistas com os trabalhadores de indústrias, 10 entrevistas com trabalhadores rurais, uma entrevista com responsável da EMATER, duas entrevistas com gerentes de indústrias, com o intuito de avaliar as transformações ocorridas na cidade de Prata na visão desses habitantes (os questionários elaborados para as entrevistas estão nos anexos deste trabalho). 3.1- Poder público A primeira preocupação foi em saber a própria opinião do Poder Público Municipal, na voz do Prefeito, com relação às transformações que a cidade vem sofrendo. Na entrevista foi perguntado ao Prefeito como ele avalia as transformações ocorridas na cidade, e o mesmo respondeu que “Desde a emancipação da cidade muita coisa aconteceu. Cada governo tem o seu mérito e o resultado é que hoje temos indústrias, escolas, ruas asfaltadas, água tratada, praças públicas, rodoviária, fórum municipal, um grande comércio, instituições financeiras, etc...”. Como em toda a cidade, a Administração Municipal enfrenta algumas dificuldades no crescimento urbano. De acordo com o Prefeito, o principal problema relaciona-se com a infraestrutura, uma vez que na cidade existem problemas como a drenagem das águas pluviais, que causam transtornos à população e existem ruas que ainda estão sem asfaltamento, principalmente nos bairro mais recentes. Além disso, a limpeza pública é outro problema que a administração busca solucionar, no entanto, falta conscientização e ajuda por parte da 56 população para que esse problema seja resolvido. Vale ressaltar que este é um problema que não é exclusivo da administração atual, ou seja, é um problema que a cidade vem enfrentando desde as administrações passadas. Quando perguntado como é possível solucionar estes problemas, o Prefeito respondeu que “O Poder Público busca, através de recursos, sanar os principais problemas, sendo que a obtenção de verba é fundamental para que isso ocorra. Na cidade as ruas foram asfaltadas e recuperadas, serviços de drenagem pluviais foram construídos em nove das principais vias que apresentavam graves problemas”. Outro ponto abordado na entrevista foi o desenvolvimento da economia local, que historicamente girou em torno da agricultura e pecuária. Segundo o Prefeito “A administração está se empenhando em trazer indústrias para o município oferecendo incentivos fiscais para que se instalem no município. As Usinas de Açúcar e Álcool, Coruripe e Zanin estão se preparando para instalarem-se no município. Está em fase de licenciamento ambiental a implantação de duas usinas hidrelétricas no Rio Tejuco e em breve o banco HSBC irá se instalar na cidade”. A expansão das atividades sucroalcooleiras no município está gerando expectativas muito positivas, pois a instalação dessas duas Usinas irá gerar novos empregos e trará um desenvolvimento maior para a cidade. O mercado imobiliário é pouco desenvolvido na cidade, o que pode comprometer a futura expansão da cidade. “O mercado imobiliário da cidade ainda não está preparado para uma maior expansão da cidade, mas a administração está procurando ajudar, principalmente com o auxílio moradia, com a construção de unidades habitacionais. Com a expansão da cidade a prefeitura tem que investir mais na saúde, educação e moradia, uma vez que a demanda por estes serviços irá aumentar. As expectativas são positivas e a prefeitura está trabalhando para melhorar a infra-estrutura da cidade para que ela possa comportar essa expansão. Assim, a administração tem investido muito na moradia, saúde, educação e segurança” Essa futura expansão da cidade será baseada nas diretrizes contidas no Plano Diretor do município e as novas residências serão construídas nas áreas destinadas à esse fim. Um exemplo disso é a construção de trinta e sete unidades residenciais da Usina Zanin, que servirá como moradia para os funcionários que virão trabalhar na Usina. Para o Prefeito, a cidade está em franco progresso, com construções em todos os quarteirões. Quando isto acontece significa que a economia local está positiva e a 57 administração pública tem muito a ver com esta realidade, uma vez que a educação, a saúde, estradas, obras sociais estão vinculadas a ela e são princípios básicos para dar suporte a uma sociedade que quer se desenvolver. 3.2- Dirigentes da Faber-Castell e da Cooprata A outra entrevista teve como alvos os dirigentes das duas maiores indústrias do município, que são a Faber-Castell e a Cooprata. A presença destas e de outras indústrias no município exige uma melhor infra-estrutura urbana, uma vez que estas indústrias estimulam o aparecimento de outras atividades econômicas na cidade. A Faber-Castell possui uma importância fundamental para o desenvolvimento da cidade e da região. Ronaldo, supervisor Florestal/Ambiental da empresa, comenta que “A Faber-Castell é muito importante para o município porque dá sustentabilidade às famílias dos seus funcionários, uma vez que é a empresa de maior contratação de mão-de-obra e maior renda do município”. Além disso, a empresa desenvolve inúmeros projetos sociais que beneficiam as famílias carentes da cidade. A empresa faz doações de materiais para a creche, realiza festas para crianças carentes e, também, doações de cestas básicas, mostrando que a empresa também se preocupa com o social e procura ajudar da maneira que é viável, promovendo ações sociais por toda a cidade. Na Cooprata a entrevista foi realizada buscando-se saber como a empresa está assimilando a chegada das indústrias de beneficiamento da cana-de-açúcar e quais as perspectivas futuras da empresa, que hoje possui cerca de 1.250 cooperados. Também foi perguntado se há uma diferenciação entre os Cooperados, ou melhor, entre o pequeno e o grande produtor de leite, se o preço pago ao fornecedor é o mesmo, ou existe uma diferença entre o preço pago ao pequeno e ao grande fornecedor. Segundo o gerente administrativo “Não existe diferença entre pequeno e grande produtor, todos recebem o mesmo preço de leite, o que existe de diferente é o adicional de volume que a Cooprata paga que pode variar de R$0,02 a R$0,07 centavos por litro, mas as condições são iguais para todos. Ex: se você compra 20 bezerros e contrata um caminhão para levar para sua fazenda pagando R$100,00 de frete o custo para cada bezerro é de R$ 5,00. Se você compra apenas 10 bezerros e contrata o caminhão ela vai te cobrar os mesmos R$100,00 pelo frete porque ele vai percorrer a mesma distancia, mas o custo para 58 você será de R$10,00 por bezerro, o adicional de volume foi criado para corrigir estas distorções, mas com um grande diferencial o adicional varia a cada litro de leite e todos tem a chance de ganhar, a mesma chance de crescer e ganhar mais.” Com relação à instalação das indústrias sucroalcooleiras no município, o Gerente Administrativo/Financeiro da Cooprata, afirmou que “é muito bom para a região, para a Cooprata e para os associados. A maioria das fazendas estão degradadas e produtores não têm capital de giro para corrigir a terra. Com o arrendamento de parte das terras o produtor vai investir na parte que não arrendou e poderá aumentar a sua produção”. A Cooprata pretende se expandir cada vez mais e densificar suas atividades, crescendo a parte de laticínios e a parte comercial. 3.3- EMATER Para melhor entender a dinâmica da área rural do município e as transformações que o meio rural pode sofrer devido à instalação das industrias sucroalcooleiras região, foi necessário procurar o engenheiro agrônomo da EMATER para saber qual a sua opinião sobre tais transformações causadas pela dinâmica capitalista. Para o engenheiro agrônomo da EMATER, a chegada das Usinas Zanin e Coruripe não pode fazer com que o cultivo de outros produtos seja prejudicado. Segundo ele “o município tem capacidade e área para suportar essas culturas, e a tendência é que as lavouras de cana apareçam em áreas de pastagens e em algumas áreas que eram plantadas soja”. A Usina Zanin está arrendando terras para o cultivo de cana-de-açúcar na região, porém, os produtores não estão deixando de cultivar os seus produtos ou produzir leite para cultivarem a cana. O que está ocorrendo é que os fazendeiros que já cultivavam a cana-deaçúcar aumentaram a sua produção. As perspectivas para a cultura de cana-de-açúcar no município são bastante promissoras, pois a tendência é que essas lavouras aumentem e o município se torne um grande produtor, sem deixar os outros produtos agrícolas de lado e a pecuária leiteira, que é o ponto forte do município. 59 3.4- Trabalhadores urbanos Os trabalhadores urbanos entrevistados fazem parte do corpo de funcionários da Faber-Castell, a principal indústria da cidade. A entrevista foi realizada com quinze funcionários de vários setores da indústria. Num total de quinze trabalhadores da Faber-Castell entrevistados, dez deles nasceram ou viveram na zona rural e somente depois vieram para a cidade. Quando questionados sobre o motivo pelo qual escolheram trabalhar na empresa, a maioria respondeu que era por falta de opção e que era a melhor empresa de se trabalhar na cidade. Nota-se, também, que a maioria dos funcionários possuem o segundo grau do ensino médio, pois, segundo os mesmos, a empresa incentiva os funcionários a estudarem. A importância da Faber-Castell para o município é inegável. Para seus funcionários a maior importância da empresa é a geração de empregos, pois emprega cerca de 520 funcionários. De acordo com um funcionário que trabalha como acertador de máquinas “A Faber-Castell é muito importante, pois trouxe desenvolvimento e mais empregos para a cidade. Na época em que ela chegou muitas pessoas vieram para a cidade em busca de serviço na empresa”. A principal reclamação dos funcionários entrevistados diz respeito aos salários, que veio se desvalorizando com o tempo, ficando na faixa de dois a três salários para aqueles que trabalham no setor de produção. Porém, a maioria afirmou que não sairia da empresa para trabalhar em outro local na cidade, ou seja, a Faber-Castell ainda continua sendo o melhor local para se trabalhar na cidade. 3.5- Trabalhadores rurais Com relação aos trabalhadores rurais, a entrevista foi realizada com aqueles que residem na cidade, mas trabalham no campo, ou seja, são os chamados bóias-frias. A presença destes trabalhadores se deve, principalmente, à colheita de laranja e das culturas de cana-deaçúcar que existem na região e exigem a participação deste tipo de trabalhadores. Dentro deste grupo de trabalhadores é notória a presença de nordestinos que vieram para a cidade trabalhar neste ramo. Com a entrevista, foi possível verificar que todos possuem residência fixa na cidade e no período da entressafra não vão buscar serviço em outra região, 60 não caracterizando trabalhadores sazonais. Segundo aqueles que trabalham como colhedores de laranja, a empresa para a qual trabalham assinam as suas carteiras e no final da safra, que ocorre em Dezembro, é dada baixa em suas carteiras. Com isso eles recebem benefícios como seguro desemprego, FGTS, o que garante a sua subsistência até o início da safra, que ocorre em meados do mês de Março. Alguns relataram que realizam pequenos serviços temporários na cidade ou em fazendas do próprio município até iniciar a colheita. Foram entrevistados, também, trabalhadores rurais que atuam nas culturas de cana da região. Alguns entrevistados estão trabalhando no plantio de cana para a Usina Zanin no próprio município. No entanto, um outro grupo de entrevistado estão trabalhando no município de Campo Florido no corte de cana para a Usina Coruripe, ou seja, eles saem do município de Prata para trabalharem no município de Campo Florido. Esse grupo de trabalhadores é composto, principalmente, por nordestinos. Eles chegaram no município há aproximadamente seis anos e como a oferta de empregos oferecida pelo município no campo é muito grande, eles permaneceram na cidade. De acordo com as entrevistas realizadas, os trabalhadores rurais afirmaram que as atividades agrícolas são muito importantes para a cidade de Prata, pois são responsáveis pela geração e manutenção de muitos empregos e contribuem para o desenvolvimento econômico da cidade. Após a realização das análises, foi possível constatar que esses agentes sociais contribuem para que o espaço urbano esteja em constante transformação. São estes agentes que vão atuar sobre a cidade influenciando o processo de urbanização e desenvolvimento da cidade. De acordo com Souza (1996, p. 13) “o meio urbano é potencialmente um suporte para a introdução e propagação de valores ‘modernos’, assim como a crescente urbanização é um indicador de desenvolvimento”. 61 CONCLUSÃO Diante das considerações expostas no trabalho, Prata é um município que passou por muitas transformações em seu espaço urbano. Esse desenvolvimento urbano foi possível graças à modernização ocorrida no campo a partir de 1970, que provocou o êxodo rural e, conseqüentemente, a instalação dessas pessoas na cidade. Esse processo provocou uma reestruturação da cidade, uma vez que a rede urbana da região do Triângulo Mineiro apresentava um pequeno grau de desenvolvimento. Com o aumento populacional a cidade passou a melhorar sua infra-estrutura urbana para que essa população pudesse se instalar na cidade. O desenvolvimento urbano e a concentração de mão-de-obra na cidade possibilitaram a instalação, no final da década de 1980, da indústria Faber-Castell, que teve grande importância para a cidade. A presença de indústrias na cidade influenciou o desenvolvimento de outros setores da economia, desenvolvendo o comércio local e estabelecimentos de prestação de serviços. Nesse sentido, pode-se dizer que a industrialização contribuiu para que o processo de urbanização se desenvolvesse mais rapidamente, transformando ainda mais o espaço urbano. Como a agropecuária é a principal atividade desenvolvida no município de Prata, as principais indústrias instaladas no município são direta ou indiretamente ligadas à agropecuária. A importância das atividades agropecuárias na economia da cidade pode ser indicada pelas grandes empresas que estão instaladas no município, como, por exemplo, a Faber-Castell, a Cooprata, a Souza Cruz, a Campofert, a Sucocítrico Cutrale, a Sucos Fischer, a Plantar, a Sintagro e, mais recentemente, as Usinas de Álcool Zanin e Coruripe. A importância da agropecuária, somada à presença de indústrias são responsáveis pelo desenvolvimento da economia da cidade, pois propiciam o desenvolvimento de atividades ligadas ao comércio e à prestação de serviços. O aumento da população urbana fica evidente a partir de 1990, quando o número de habitantes urbanos ultrapassou a quantidade de pessoas que residiam no campo. No entanto, acontece perda de população para centros maiores, principalmente Uberlândia, que é o grande centro regional. Essa proximidade com cidades como Uberlândia acaba interferindo no desenvolvimento de atividades ligadas ao comércio, serviços e, até mesmo, impede um aumento maior da população, uma vez que estas cidades apresentam mais alternativas e perspectivas de crescimento para as pessoas. 62 Assim sendo, as pequenas cidades passaram a ser o foco de processos que transformam o seu espaço, dando-lhes outras configurações. Essas mudanças são possíveis graças à ação de agentes sociais urbanos que modelam a cidade de acordo com os seus interesses. Com isso, o estudo mais aprofundado do processo de urbanização e industrialização da cidade de Prata, proporciona a análise de elementos importantes para a compreensão das transformações ocorridas no espaço urbano e da atuação dos agentes sociais urbanos na cidade. Espera-se que esta pesquisa passe a ser um referencial sobre a cidade de Prata, que até então não possuía nenhum trabalho acadêmico sobre a sua organização e dinâmica socioespacial. Trabalhos futuros poderão ser desenvolvidos tendo em vista que a cidade/município estão sofrendo transformações passíveis de serem analisadas em outras pesquisas, como por exemplo, o impacto das atividades sucroalcooleiras, tanto no campo como na cidade. 63 REFERENCIAS ALMG – ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Prata. Disponível em: <http//:www.almg.gov.br> Acesso em: Setembro de 2007. CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço e Indústria. 4ª edição. São Paulo: Contexto, 1991. CLARK, David.Introdução à Geografia Urbana. São Paulo: DIFEL, 1985. CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1989. ________. Rede urbana: reflexões, hipóteses e questionamentos sobre um tema negligenciado. Cidades, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 65-78, 2004. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http//: www.ibge.gov.br>. Acesso em: Setembro de 2007. PREFEITURA MUNICIPAL DE PRATA/MG. Disponível em: <http: www.prata.mg.gov.br>. Acessado em: Setembro de 2007. RIBEIRO, Wagner Costa. Cidades ou sociedades sustentáveis? In. CARLOS, Ana Fani Alessandri; CARRERAS, Carles (orgs.). Urbanização e mundialização: estudos sobre a metrópole. São Paulo: Contexto, 2005. p 60-69. SANTOS, Milton. Espaço e Sociedade. Petrópolis:Vozes, 1979. SEBRAE. Sistema de Informações Mercadológicas Municipais: Prata Diagnóstico Municipal. Belo Horizonte: D&P Editora: 1995. SILVA, José Borzacchiello da. Discutindo a cidade e o urbano. In. SILVA, José Borzacchiello da (org.). A Cidade e o Urbano: temas para debates. Fortaleza: EUFC, 1997. p 85-92. SOARES, Beatriz Ribeiro. Urbanização no Cerrado mineiro: o caso do Triângulo Mineiro. In. SILVA, José Borzacchiello da (org.). A Cidade e o Urbano: temas para debates. Fortaleza: EUFC, 1997. p 105-122. SOUZA, Marcelo José Lopes de. Urbanização e Desenvolvimento no Brasil Atual. São Paulo: Ática, 1996. SPOSITO, Maria Beatriz Encarnação. Capitalismo e Urbanização. 3ª edição. São Paulo: Contexto, 1991. WANDERLEY, M. N. Urbanização e ruralidade: relações entre a pequena cidade e o mundo rural – estudo preliminar sobre pequenos municípios em Pernambuco. Disponível em : < www.ipese.com.br/manabawa.ift>. Acesso em: 20 dez. 2001. 64 65 Anexo I – Entrevista com o Prefeito Municipal Nome: Luiz Roberto Santos Vilela. 1- Quais são os principais problemas vivenciados pelo município? 2- Como os governos (atual e anteriores) têm lidado com esses problemas? 3- Quais as possíveis soluções? 4- Como tem sido a atuação do governo municipal na atração e desenvolvimento de atividades econômicas para o município? 5- Quais as expectativas do governo local em relação à expansão das atividades sucroalcooleiras? 6- O mercado imobiliário está preparado para a futura expansão da cidade? Tem expectativas positivas? 7- Como o prefeito está pensando a futura expansão da cidade? Tem projetos habitacionais? Isto tem relação direta com a economia canavieira? 66 Anexo II: Entrevista com gerente da empresa Faber-Castell Nome do entrevistado: _________________________________________ Função que exerce na empresa: __________________________________ 1- Em que ano a empresa se instalou no município? 2- Qual é a área ocupada pelas plantações da empresa? 3- Quais atividades são realizadas pela empresa? 4- A empresa recebe matéria-prima somente do município do Prata ou recebe matéria-prima de outros municípios? 5- A Faber-Castell desenvolve muitos projetos ambientais. Qual é a maior preocupação que a empresa tem com relação ao meio ambiente? 6- Qual é a produção da unidade industrial? 7- Para onde é destinada os produtos fabricados pela indústria? 8- Qual é a infra-estrutura que a industria possui? 9- Quais fatores contribuíram para a instalação da empresa no município? 10-Quais são as etapas por qual passa a madeira (matéria-prima) até o produto final na unidade industrial? 11-Quantos funcionários a empresa possui? 12-A mão-de-obra utilizada é do próprio município ou a empresa utiliza mão-de-obra especializada de outros lugares? 13- Qual a importância econômica da empresa para o município? 14- Qual a maior dificuldade que a empresa possui atualmente? 67 Anexo III – Entrevista com gerente administrativo da Cooprata Nome entrevistado: Valdenir Gouveia de Moura Cargo exercido: Gerente Administrativo/financeiro 1- Qual o número de Cooperados que a empresa possui? 2- Quais os principais problemas enfrentados pela Cooprata? Como eles foram/estão sendo enfrentados? 3- Como o poder público tem estimulado a pecuária leiteira na região? 4- Há uma diferenciação entre os Cooperados, ou melhor, entre o pequeno e o grande produtor de leite? O preço pago ao fornecedor é o mesmo, ou existe uma diferença entre o preço pago ao pequeno e ao grande fornecedor? 5- Como a Cooprata está vendo as perspectivas de expansão das lavouras de cana na região? A empresa acha que pode perder cooperados, uma vez que eles podem se interessar em mudar de atividade, o que acabaria diminuindo o volume de leite recebido dos produtores? 6- Quais as perspectivas futuras com relação à empresa? 68 Anexo IV – Entrevista com engenheiro agrônomo da Emater Nome entrevistado: José Geraldo Cargo exercido: Engenheiro Agrônomo responsável pela EMATER. 1- Com a chegada da cana-de-açúcar os produtores estão deixando de suas culturas antigas para cultiva a cana? 2- A chegada das usinas Zanin e Coruripe pode fazer com que o cultivo de produtos como soja, milho, arroz, dentre outros, diminuam para dar lugar a culturas de cana? 3- Como anda a produção agrícola do município? 4- Qual é a relação dos produtores com a Zanin, que já iniciou o plantio da cana? 5- Qual a sua expectativa com relação à cana? 69 Anexo V – Entrevista com trabalhadores da Faber-Castell Nome: ________________________________________________ Função exercida: ________________________________________ 1- Qual a sua idade? 2- Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 3- Local de residência? Quando você nasceu a sua residência era na zona rural ou na zona urbana? 4- Qual o seu grau de escolaridade? 5- Por que escolheu trabalhar na Faber-Castell? 6- Qual é o seu tempo de serviço na empresa? 7- Qual o seu rendimento mensal? 8- Quais as expectativas em relação à empresa? 9- Qual o significado da Faber-Castell para a cidade de Prata? 10- Você tem alguma reclamação com relação à empresa? 11- Você deixaria de trabalhar na Faber-Castell para trabalhar em outra empresa no Prata? 70 Anexo VI: Entrevista com trabalhadores rurais Nome: _________________________________________________ 1- Local de nascimento? 2- Local de residência? 3- Tipo de atividade que exerce? 4- Qual é o seu rendimento mensal? 5- Qual o seu tempo de trabalho nessa atividade? 6- Qual é o tempo de duração dessa atividade no município de Prata? 7- Que tipo de atividade desenvolve no período de entressafra? 8- Quais as suas expectativas de oportunidades de emprego com a expansão das lavouras de cana-de-açúcar?