girista.com Ano I - Ed. 3 - Março/2013 A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Waldyr Barbosa de Oliveira Junior girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê É uma revista temática em busca de um resgate histórico de uma raça que ao descer em terras brasileiras, oriunda da Índia, se sentiu em casa. Exalando magia e mistério transformou em girista todo aquele que com ela poetou. É um projeto desafiador pela sua veiculação digital. Mas foi essa a maneira encontrada para deixar registrada a história e ações dos que a preserva. É um resgate daqueles que foram além da simples criação, transformando-a em estado de espírito. O editor Expediente Jornalista Responsável Luiz Humberto Carrião MTb GO 01438 JP Editor Luiz Humberto Carrião [email protected] girista.com Ano I - Ed. 3 - Março/20 13 A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Waldyr Barbosa de Oliveira Junior Revisora Carmem Marize Lima Diagramador Thales Moraes [email protected] Goiânia – Goiás 2 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Editorial Não são poucos os anos que a Lei que estabelece e mantém a harmonia do Universo tem me privilegiado nessa arte de escrever, e agora, com uma experiência por mim já exercida, a de editor, porém, com uma diferença: sem a intervenção de patrocinadores sobre a linha editorial do que se escreve como vergonhosamente ocorreu com as escolas de samba do último carnaval no Rio de Janeiro, ou de censura ao pensamento como ocorreu em veículos anteriores. Poderia estar editando uma revista sobre história, literatura, música, política, filosofia, educação, religião, esoterismo ou resenhas de livros como chegamos a fazer em alguns blogs, com um sucesso de visitação gratificante, mas aqui estamos para falar de Gir. Falar de magia, do que gosta, propondo um resgate histórico e com um olhar crítico sobre a mesma. Resgate histórico numa parceria editorial com historiadores que testemunharam e viveram a história da raça. Dito isto, uma justificativa. Como a revista está enquadrada em um eixo temático, a raça gir e seus criadores, normal seria uma entrevista referenciada, porém, num ato não muito comum, diria até surrealista, a revista faz uma entrevista “in memoriam” com o escritor e poeta Francês Victor–Marie Hugo sobre o gênero humano: masculino e feminino, cuja resposta é dada através do poema O homem e a Mulher, onde na visão do poeta completam-se, embora reconheça a supremacia divinização da mulher. Embora, referenciando-a ao dia Internacional da Mulher, não se trata de simples comemoração à data, ou homenagem às mulheres, em especial, às “mulheres do gir”, carinhosamente assim chamadas. Também, uma proposta de discussão mais ampliada sobre o que queremos da raça dentro de uma ótica de responsabilidade e respeito à mesma. Com cumprimentos a revisora Carmem Marize Lima e a articulista Patrícia Sibin, esta revista estende esse gesto a todas as mulheres deste planeta, em especial, àquelas que no gir, têm apresentado-se como lideranças classistas, criadoras, selecionadoras, simpatizantes, pesquisadoras, escritoras, articulistas, etc. Boa leitura! girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 3 Nesta edição 5 7 10 14 17 18 20 28 30 4 32 Entrevista Ao ressuscitar nesta entrevista o escritor e poeta francês Victor-Marie Hugo sobre sua visão a respeito do gênero humano, referenciando-o ao dia Internacional da Mulher, 8 de março, não se trata de simples comemoração à data, mas uma proposta de discussão sobre o papel da mulher no criatório gir nacional. Matéria de capa Waldyr Barbosa de Oliveira Junior por Waldyr Barbosa de Oliveira Junior Hélio Ronaldo Lemos – de A a Z P de Puhspano “... Juntamente com Roberto Azevedo, contornamos o caminhão e lamentamos com lágrimas nos olhos a escolha de Celso para cobrir as filhas e netas de Krishna. Pushpano frustrou toda nossa expectativa. Era de um fenótipo nada agradável. Um animal grosseiro e de mãe grosseira”. Cartas de Curvelo-MG “Quanto a Puspano, cuja “produção” não se tem uma opinião convergente, uns falam “isso” outros “aquilo” foi posto à disposição do Dr. Evaristo, Fazenda do Cortume/ Curvelo, por Celso Garcia com o propósito suponho, de testá-lo com uma vacada uniforme e de alto valor genético”. Confissões Sexagenárias “... eu disse a ele que em minha opinião o seu melhor touro era o Sagrado ZS. Baixou a cabeça por alguns instantes e disse: _ professor, o Secretário vem para o doutor Bezerra para coletar, e com ele, o Sagrado para o senhor. É um presente meu. Esse era o jeito Zeid de ser”. Paty Sibin A proibição da prova exclusivamente testemunhal em contratos de compra e venda de gado. Livro: Vida e morte de um touro, por Aristóteles Góes, 1951, 6 p. “... O seu berro era puríssimo, igual aos melhores gires de Kathiawar: baixo, profundo e cavernoso. Curto, gutural e vibrado”. Pedro Wilson Sustentabilidade: ... . “Aliança entre a humanidade e a natureza, toda natureza de Deus...”. Tiãozinho Cunha “... Tiãozinho Cunha mostrava a Aderbal um livro do Gondin da Fonseca, sob o título Camões e Miraguarda, editora Fulgor, 1962, que traz na apresentação uma informação interessante: “Uma das maiores riquezas atuais do Brasil é a pecuária”. Possuímos talvez uns cinquenta ou sessenta milhões de bois. Qual o capim que cria esses bois em grande parte das zonas de pastagens? O colonião. E como chegou aqui o colonião”? Retratos no Gir Homenagem ao saudoso girista Jairo de Andrade. Entrevista Victor-Marie Hugo Autor de “Os miseráveis” e “O Corcunda de Notre Dame”, entre outros. Filho de Joseph Hugo e de Sophie Trébuchet. Nasceu em Besançon, mas passou a infância em Paris. Em 1819 fundou, com os seus irmãos, uma revista, o “Conservateur Littéraire” (Conservador Literário) e no mesmo ano ganhou o concurso da Académie des Jeux Floraux, instituição literária francesa fundada no século 14. Aos 20 anos publicou uma reunião de poemas, “Odes e Poesias Diversas”, mas foi o prefácio de sua peça teatral “Cromwell” que o projetou como líder do movimento romântico na França. Casou-se com Adèle Foucher e durante a vida teve diversas amantes, sendo a mais famosa Juliette Drouet, atriz sem talento, a quem ele escreveu numerosos poemas. O período 1829-1843 foi o mais produtivo da carreira do escritor. Seu grande romance histórico, “Notre Dame de Paris” - mundialmente conhecido como “O Corcunda de Notre Dame” - (1831), conduziu-o à nomeação de membro da Academia Francesa, em 1841. Criado no espírito da monarquia, o escritor acabou tornandose favorável a uma democracia liberal e humanitária. Eleito deputado da Segunda República, em 1848, apoiou a candidatura do príncipe Luís Napoleão, mas se exilou após o golpe de Estado que este deu em dezembro de 1851, tornando-se imperador. Hugo condenou-o vigorosamente por razões morais em “Histoire d’un Crime”. Durante o Segundo Império, em oposição a Napoleão 3º, viveu exilado em Jersey, Guernsey e Bruxelas. Foi um dos poucos girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê a recusar a anistia decidida algum tempo depois. A morte da sua filha, Leopoldina, afogada por acidente no Sena, junto com o marido, fez com que o escritor deixasse-se levar por experiências espíritas relatadas numa obra “Les Tables Tournantes de Jersey” (As Mesas Moventes de Jersey). A partir de 1849, Victor Hugo dedicou sua obra à política, à religião e à filosofia humana e social. Reformista, desejava mudar a sociedade, mas não mudar de sociedade. Em 1870 Hugo retornou a França e reatou sua carreira política. Foi eleito primeiro para a Assembleia Nacional, e mais tarde para o Senado. Não aderiu à Comuna de Paris, mas defendeu a anistia aos seus integrantes. De acordo com seu último desejo, foi enterrado em um caixão humilde no Panthéon, após ter ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo. 5 Girista.com – Feminismo é um movimento social, filosófico e político buscando objetivar direitos equânimes e uma vivência humana libertária de padrões opressores baseados em normas e gênero, nascido na transição do século XIX ao século XX, WikpédiA, 2013. O livro A mística feminina, 1963, de Betty Freidan, critica a ideia de que as mulheres poderiam encontrar satisfação apenas através da criação de filhos e das atividades do lar. Em 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano. No ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o dia 8 de março passaria a ser referenciado como o “Dia Internacional da Mulher”, em homenagem as mulheres mortas na fábrica nova-iorquina. Em 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU. Passados 100 anos de seu início, o movimento encontra-se reivindicando o reconhecimento dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais das mulheres; necessidade do reconhecimento do direito universal à educação, saúde, previdenciária; defesa dos direitos sexuais e reprodutivos; reconhecimento do direito das mulheres sobre a gestação, com acesso a qualidade de concepção e/ou contracepção; descriminalização do aborto como um direito de cidadania e questão de saúde pública; e, em especial, a violência contra a mulher. Na raça Gir um avanço extraordinário! Cada dia mais mulheres estão a participar. Sejam como líderes classistas, criadoras, escritoras, pesquisadoras, etc. E nesse embate de gênero, com a palavra Victor Hugo (1802 – 1885): O que é o homem e o que é a mulher? 6 Victor Hugo - O homem e a Mulher! Digo-vos: O homem é a mais elevada das criaturas. A mulher é o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem um trono. Para a mulher, um altar. O trono exalta. O altar santifica. O homem é o cérebro; a mulher o coração. O cérebro fabrica a luz; o coração produz amor. A luz fecunda. O Amor ressuscita. O homem é forte pela razão. A mulher é invencível pelas lágrimas. A razão convence. As lágrimas comovem. O homem é capaz de todos os heroísmos. A mulher de todos os martírios. O heroísmo enobrece. O martírio sublima. O homem tem supremacia. A mulher, a preferência. A supremacia significa a força. A preferência representa o direito. O homem é um gênio; a mulher, um anjo. O gênio é imensurável; o anjo, indefinível. Contempla-se o infinito. Admira-se o inefável. A aspiração do homem é a suprema glória. A aspiração da mulher é a virtude extrema. A glória faz tudo grande. A virtude faz tudo divino. O homem é um código. A mulher um evangelho. O código corrige. O evangelho aperfeiçoa. O homem pensa. A mulher sonha. Pensar é ter no crânio uma larva. Sonhar é ter na fronte uma auréola. O homem é um oceano. A mulher um lago. O oceano tem a pérola que adorna. O lago a poesia que deslumbra. O homem é a águia que voa. A mulher o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço. Cantar é alegrar a alma. O homem é o tempo. A mulher é o sacrário. Ante o tempo nos descobrimos. Ante o sacrário nos ajoelhamos. Enfim, o homem está colocado onde termina a terra. E a mulher onde começa o céu. girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Capa Waldyr Barbosa de Oliveira Por Waldyr Barbosa de Oliveira Minha trajetória no gir remonta a primeira metade da década de 60, na Fazenda Bocaina Guará SP, e assim se passa: A Fazenda Bocaina foi adquirida por meu tataravô, por volta do ano 1850. Mineiro, oriundo da cidade de Ouro Preto MG, entrou no estado de São Paulo pelo lado do Sul de Minas, tendo se radicado inicialmente em Delfinópolis MG girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê que fica nas redondezas de Passos. Seu nome Major Joaquim Dias de Oliveira, era casado com Armanda Malvina Borges de Campos. Inicialmente adentrou o Estado de São Paulo por Franca vindo adquirir terras onde hoje é a Bocaina (nome que o próprio deu as terras), teve cinco filhos, entre eles meu bisavô Capitão Antônio Dias de Oliveira (ambos os títulos da guarda na7 cional) que veio a casar-se com Bernardina Barbosa Sandoval (aqui meu nome mais forte BARBOSA) que residia em Ituverava SP. Em Ituverava SP, meu avô Marcílio Dias de Oliveira tinha um primo em primeiro grau que se chamava José de Freitas Barbosa, por ser um homem alto e corpulento tinha a alcunha de Jucão Barbosa, e já nos anos 40 dedicava-se a pecuária zebuína (Gir e Indubrasil). Assim meu avô abastecia-se de fêmeas e machos da raça Gir do criatório de seu primo Jucão, o qual chegou nos anos 60 a expor na afamada exposição agropecuária de Franca, inclusive tendo um touro de destaque nacional Ipiranga filho de Czar do Nicolau Maluf, o qual sempre que encontro Hélio Lemos ele se refere ao touro. Assim, no início da década de 60, quando de meu nascimento, o gado da Bocaina já possuía uma base sólida no gir, por animais oriundos de Ipiranga que por sua vez vai a Czar. No ano 1966, com apenas cinco anos, foi a 8 minha primeira EXPOZEBU. Acompanhava meu Pai à Capital do Zebu, quando encontramos um primo de meu pai, Hilário de Freitas Barbosa, que estava expondo Indubrasil em Uberaba. Havia feito o Grande Campeão Nacional Indubrasil de Uberaba em 1963, um touro cinza chamado Pagé. Meu pai como entregava leite a COONAI, uma cooperativa antiga com raízes em Franca e Ribeirão Preto, gostava de Gir. Assim fomos apresentados ao Sr. Josias Ferreira Sobrinho pelo primo, e naquela exposição fomos até a Chácara Maracanã onde adquirimos Gandhi da Maracanã que veio apadrinhar as vacas da Bocaina. Meu encanto de criança com o touro Gandhi era incrível. Manso, chitado, meu pai colocava-me em seu dorso, onde eu sonhava. Ali com a compra de Gandhi da Maracanã nasceu um girista, deslumbrado com a mansidão da raça que tanto amamos. Os anos 70 foram difíceis na Bocaina, e ao mesmo tempo veio uma transformação econômica no final da década. A propriedade de 280 alqueires foi dividida, restando ao meu pai apenas 41 alqueires. Onde era pasto de gir, transformou-se em área de soja, o gado que era em comum com meus tios, repartido. Como havia necessidade de fazer “renda” na propriedade, a parte que coube ao meu pai no gado foi alienada, restando poucas vacas Gir e algumas Indubrasil, as quais nos anos 80 ele me presenteou. Em 1981 adquiri umas fêmeas registradas do criador Ayrthon Alves Ferreira, filhas de Ganges e Lembrado, touros que eram genéticas de Malsim que por sua vez era Cajubi e Mineirinho, dava início aos meus próprios passos, até que em 1988 fiquei sócio da ABCZ. Confesso que me encantei com a pecuária zebuína, com o mundo que gira ao redor de Uberaba e do Parque Fernando Costa, mesmo que ilusório e efêmero, mas magia pura. Dando seguimento no ano 1997, fiz minha primeira exposição, em Cássia-MG, terra de Roberto Azevedo, tendo recebido alguns prêmios, e fiz um campeonato bezerra. Em Cássia, naquele ano adquiri de Roberto Azevedo duas fêmeas, uma por nome Urca RGD 2473 e outra Pantera. Ainda no ano seguinte adquiri duas fêmeas de seu primo Flávio Azevedo Borges, que eram crias de Aderbal e Leda Góes, uma delas Raquete da Favela RGD X 2696 que era Monge (Colosso X Esti- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Da esq/dir: Waldyr Barbosa, Leda e Aderbal Góes mada) e Lauda da Favela (Lord Junior x Câmara que vai a GORI II). Em 1999, adquiri algumas fêmeas Gir Mocho e um Touro de Manoel Carlos Barbosa, o qual estava desfazendo-se do gado GIR para dedicar-se exclusivamente ao nelore. No mesmo ano iniciei a inseminação artificial, e digo que foi um ano importante porque passei a fazer parte do Sindicato Rural de Ituverava, onde pude ser um dos organizadores da Exposição local. Em 2.000, vou a ASSOGIR/UBERABA onde conheço Leda Goés e Luiz Humberto Carrião e torno-me sócio da entidade, onde mais tarde ocupei cargos na diretoria. Em 2.003 fiz minha primeira EXPOZEBU como expositor levei Gir e Gir Mocho. Nesse primeiro ano, enfrentando Carlos Mário de Morais, Alesson Pereira e outros criadores. Fiz meu primeiro Campeonato Na- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê cional com a novilha Dama. Em 2005 consegui mais um Campeonato Nacional, agora na raça Gir com a novilha Fidalga. Ano passado, 2012, fui novamente expositor na EXPOZEBU e digo que o encantamento é como o da primeira vez. Ver tremular aquela bandeira no Parque Fernando Costa é algo contagiante. Digo que fiz vários amigos na pecuária nacional, como já disse é efêmero, mas de pura magia. Além de Uberaba participei de exposições em Araxá, São José do Rio Preto, Franca, Ituverava e outras cidades menores. O Gir é uma magia! Espero ter saúde e continuar a participar dessa pecuária maravilhosa que é a zebuína. Waldyr Barbosa de Oliveira é funcionário do TJSP e criador de Gir 9 História Hélio Ronaldo Lemos de A a Z P de Pushpano Por Hélio Ronaldo Lemos A importação de 1920 trouxe da Índia para o Brasil 804 cabeças zebuínas. No ano seguinte, 1921, devido à peste bovina, o governo brasileiro proibiu as importações. A partir daí, somente através de Licença Especial até a liberação pelo governo Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1961, voltando a ser proibitivas durante o governo militar de 1964. Em 1930 a outorga dessa Licença Especial coube a Manoel de Oliveira Prata (Nequinha Prata) e Ravísio Lemos, com os quais vieram, dentre outros, o touro Gandi vendido ao criador baiano Otávio Ariani Machado, que com Cabana II produziu Bey, vendido ao Cel. Rodolfo Machado Borges, Uberaba – MG, por 50 contos, uma fortuna à época, e, com Serena, produziu White, cedido ao doutor Evaristo Soares de Paula, Curvelo – MG, dando origem à linhagem EVA. Uma observação: quando em julgamento em Vitória da Conquista -BA, o doutor Jaime Machado, filho de Otávio Machado, mostrou-me no Hotel em que estávamos hospedados, uma foto do White, escrito no verso a punho pelo seu pai, identificando White como filho de Bey com Serena. Doutor Jaime Machado, engenheiro, muito amigo meu, fazia aniversário em 24 de dezembro, um dia antes do meu. Em 1934, através do Decreto nº 24.548, de 3 de julho, o Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, Getúlio Vargas, aprovou o regulamento do Serviço de Defesa Sanitária Animal com o objetivo de executar medidas de profilaxia, preservando o país de invasão de zoonoses exóticas e combater as moléstias infectocontagiosas e parasitárias existentes no território brasileiro. Também, como defesa dos rebanhos nacionais, ficou terminantemente proibida à entrada de animais em território pátrio,e, de produtos ou despojos de animais, forragens ou qualquer outro material presumível veiculador de agentes etiológicos de doenças contagiosas. Em 1957, Joaquim Martins Borges, mais conhecido como Quinca Borges, com propriedade na cidade goiana de Anicuns, mesmo com a vigência desse decreto, enviou à Índia um despachante uberabense, Paulo Roberto Rodrigues da Cunha, com a determinação de comprar animais da raça Gir, inclusive o touro Krishna, uma recomendação de Pedro Cruvinel Borges que havia estado em território indiano. Negócio que, em relação ao Krishna não foi concretizado pelo representante de Quinca Borges. Porém, 72 cabeças fêmeas, entre bezerras, novilhas e vacas foram adquiridas, além de vários touros e garrotes. Proi- Pushpano importado 10 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê bido de desembarcar o gado em território brasileiro, ameaçado de rifle sanitário, seguiu para a Bolívia e depois, através do “jeitinho brasileiro” entrou no Brasil. Em 1960, Celso Garcia Cid tendo indeferido seu pedido de importação de gado indiano através da chamada Licença Especial pelo Ministério da Agricultura, mandou para a Índia seu gerente, Ildefonso, para procurar, identificar e comprar os animais zebuínos puros. O ocorrido com Quinca Borges repetiu-se. Foi necessário Celso fazer a doação dos animais ao governo do Paraná, interferências políticas para que os mesmos fossem finalmente desembarcados no Porto de Paranaguá e levados para a Fazenda Cachoeira, ao norte do Estado do Paraná. Em 1961, através do Decreto nº 50.194, de 28 de janeiro foi autorizada as importações de reprodutores zebuínos, bubalinos e outros animais domésticos e silvestres, procedentes de países, domínios, possessões, protetorados ou regiões dos continentes asiático e africano, condicionados à prévia manifestação do Ministério da Agricultura, através do Departamento Nacional Relação do gado Gir/importação de 1960/62 da Produção Animal, desde que, a solicitação partisse de órgãos dos governos, estaduais ou federais, e da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM). Também, nesse mesmo dia foi publicado o Decreto nº 50.193 criando um quarentenário destinado a disciplinar e assistir as exportações e importações de animais que fossem objeto de transações entre o Brasil e demais países que delas participassem. A presença de Celso na Índia levou-o a uma amizade estreita com o Marajá de Bhavnagar, proprietário do Krishna comprado por Celso, e ainda, um dos que mantinha um rebanho fechado contra a inserção de cruzamentos com animais de rua, ou mesmo de outras raças que não fosse a Gir. girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Em retribuição a gentileza por parte do Marajá de Bhavnagar com Celso na Índia, este fez um convite para que o mesmo viesse conhecer o Brasil. O livro “O tempo de ‘seo’ Celso”, Domingos Pellegrini, 1990, narra que quando o Marajá de Bhavnagar (filho) chegou à Fazenda Cachoeira e viu o gado belo, gordo e bem tratado, debruçou a cabeça em um mourão e chorou copiosamente. Nesta mesma oportunidade, Celso fez várias homenagens a ele, na Fazenda Cachoeira e no Parque de Exposições da cidade de Londrina, no Paraná. A partir de então, essa amizade consolidouse de tal forma, que o mesmo livro narra uma passagem interessante. “Agora Celso tem mais um forte motivo para conseguir a importação. Enviou seu filho Fernando à Índia em 64, e em 65 recebeu uma carta de Virbadrasingh, filho do Marajá de Bhavnagar: ‘Meu caro senhor Cid: Escrevo esta carta para que saiba que, na última vez que estive com meu pai, pouco antes dele expirar, seu desejo foi de presentear-lhe todas as vacas. Em tais circunstâncias, permita-me pedir-lhe que gentilmente nos visite o mais breve, conforme sua conveniência. Tudo isso seria um presente de meu estimado pai ao senhor”. Quando da chegada do Krishna, Celso colocou -o para apadrinhar suas melhores vacas, inclusive aquelas oriundas da importação. Com Sakina II produziu Krishna Sakina POI DC, que ficou conhecido como Krishninha do Celso, o 6666, seu número de registro. Este com sua mãe produziu Sakina II, produzindo dois machos: ambos nominados de Krishna Sakina Sakina, com a diferenciação determinada pelo número do registro. Um deles, o mais velho, deveria ter sido mais bem aproveitado. Comentei no livro Gir: a raça mais utilizada no Brasil, Rinaldo dos Santos, 1994, que o trabalho de Celso Garcia Cid deveria ter seguido essa linha, ao invés de tentar utilizar o touro Pushpano. Explico! 11 Quando da chegada do touro Pushpano, juntamente com sua mãe Pushpa, e as vacas Krishnaia, a filha da Pushpa com Roopano do Jasse e uma filha do krishna em vaca da India, havíamos pernoitado na cidade de Sertanópolis-PR, na espera do caminhão que deveria chegar pela manhã, e que só o fez às 14 h. Em minha companhia estava o Tio Nilo Lemos (Ribeirão Preto-SP), Mário Silveira (Anápolis-GO), doutor Benjamim Ferreira Guimarães (Taquaritinga-SP), Roberto Batista de Azevedo (Cássia -MG), este meu compadre. A foto do Pushpano saindo do caminhão, divulgada na página 242 do Livro Gir: a raça mais utilizada no Brasil, Rinaldo dos Santos, 1994, foi tirada por mim. Nela visualiza-se Celso Garcia Cid à direita do touro segurando o cabresto e Tio Nilo do outro lado. Juntamente com Roberto Azevedo, contornamos o caminhão e lamentamos com lágrimas nos olhos a escolha de Celso para cobrir as filhas e netas de Krishna. Pushpano frustrou toda nossa expectativa. Era de um fenótipo nada agradável. Um animal grosseiro e de mãe grosseira. Em relação ao Krishna importado, seus filhos e netos, Pushpano pecava na caracterização racial. Para quem trouxe o melhor touro do mundo, Pushpano deixava a desejar. Em meio a tantas 12 dificuldades, Celso foi à Índia e trouxe na primeira importação um verdadeiro diamante, e depois, com todas as facilidades pela liberação das importações no governo Juscelino, acrescido da amizade gozada junto ao Marajá de Bhavnagar, de quem passou a ser hóspede na Índia, trouxe um cascalho. Toda importação gera euforia, talvez, a maioria dos criadores não pensava como eu e meus companheiros de viagem de quilômetros para esperar a chegada dos animais da segunda importação. Muitos achavam que Pushpano daria certo nas filhas e netas do Krishna importado. Acreditavam nisso! Outros, pelo instinto da bajulação diziam que Celso havia acertado na escolha. A realidade é que Pushpano retrocedeu todo trabalho levado a efeito através da linhagem Krishna. Sou da opinião, e já manifestei isso publicamente, de que os touros filhos de Krishna Sakina 6666 coma sua própria mãe, os “Krishnas Sakinas Sakinas” deveriam dar seguimento ao trabalho, e não, um touro muito aquém. Talvez, na tentativa de abrir a consanguinidade “Krishna” Celso foi à Índia em busca desse touro, e, infelizmente, errou. O único filho de renome de Pushpano é o Bahadursinghji – DC, com a vaca Krishna Sakina Virbay III DC, girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê uma vaca excepcional de tipo, carcaça, leite e grande-campeã em quase todas as pistas em que participou. Em idade adulta seu peso médio era de 700 quilos. Uma curiosidade é que nessa 2ª importação Celso adquiriu todas as fêmeas filhas do Krishna que encontrou na Índia, quase todas oriundas do “gado do povo”. O posicionamento dos chifres do Krishna saindo na linha dos olhos para baixo e para trás não era o tipo recomendado para tração, que sob a influência dos ingleses, optavam por chifres tipo torquês que melhor seguravam e amparavam a ganga. Com isso, emprestado a uma sociedade campesina, Krishna passou a enxertar o “gado do povo”. Dessa 2ª importação destacaram-se duas vacas filhas do Krishna, inclusive muito próximas as que vieram na 1ª importação fenotipicamente, Krishna Sakina Dhamal e Krishnaia. Com o modismo do importado, objetivando mercado, mesmo contra a sua íntima vontade, doutor Evaristo, com o seu tino comercial, aceitou Pushpano na Fazenda do Cortume, Curvelo-MG, onde trabalhou em todo o gado EVA, indistintamente. Com uma vaca EVA chamada Harpa, descendente da Baianinha, Pushpano produziu um filho lindo! Chita de vermelho, muito bem caracterizado e conformado. Com isso, muitos achavam que Pushpano daria certo. Só que, seus filhos não reproduziam a expectativa. Quanto às filhas de Pushpano nascidas na Fazenda do Cortume, José Lúcio Rezende propôs uma troca entre vacas EVA adquiridas junto ao doutor Evaristo, a livre escolha deste, pela cabeceira das “Pushpanos”, que face ao vigor híbrido eram muito boas de leite e tipo. Foram trocas dez vacas tiradas na cabeceira. Nesse negócio doutor Evaristo recuperou 10 vacas puríssimas dentro do trabalho de EVA, tiradas em mais de 200 vacas anteriormente adquiridas por José Lúcio. A falta de consistência genética, a descendência de Pushpano diluiu-se ao longo dos anos em vários plantéis brasileiros. Às vezes me vejo perguntando a mim mesmo se essa visão sobre o touro Pushpano não é pelo que representou e representa o Krishna no rebanho brasileiro Gir, mas nunca consegui convencer-me disso. Hélio Ronaldo Lemos, jurado das raças zebuínas, criador de Gir e Nelore, Com a colaboração de Luiz Humberto Carrião. Pushpano importado girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 13 Cartas de Curvelo-MG Prezado Hélio Lemos: Há mais de cinquenta anos nos conhecemos e desde então, em permanente convivência, “trocando ideias”, sabemos de “coisas” que a maioria de nossos companheiros giristas desconhece. Nesse passo, tenho ouvido versões sobre rebanhos, fatos, situações e pessoas, dentre as quais me reporto apenas a duas delas reservando para outra oportunidade “estender o papo”. É sabido que a estória do nosso Gyr é cheia de versões e por sabermos que a versão do fato supera, em muito, a verdade que o fato revela, considerei oportuno deixar registrado dois fatos “nomeando” você, eventualmente, minha testemunha. O primeiro, diz respeito sobre a permanência de Puspano em Curvelo, na Fazenda do Cortume. O outro se trata de uma questão hoje muito polemizada: o gir leiteiro. Referentemente a Puspano até hoje não pude entender porque Celso Garcia, ao importar Krishna, importou também na mesma época, dentre alguns outros espécimes, o touro Puspano. Para que não fiquem dúvidas sobre a importação (1962) promovida por Celso Garcia, considero essencial fazer uma ligeira interrupção para um breve destaque a Krishna. A contribuição deste touro é indiscutível; valendo o seguinte registro. Sendo um reprodutor de uma seleção consanguínea (terreiro de Marajá) e tendo “trabalhado” num rebanho também consanguíneo, digase Gaiolão, provocou um fenômeno da heterose legando aos currais paulistas animais funcionais bem superiores aos então existentes. Fato também recorrente em rebanhos oriundos da genética Ghandy. O que quero dizer é que a participação de krishna foi positiva, todavia, não fora Ghandy e Gaiolão... É o meu ponto de vista, ele, Krishna, se pontificou através da parceria genética com Gaiolão de onde foi gerado o touro Alecrim. Já lhe falei numa ocasião, lá nas Caraíbas, a admiração e respeito que sempre tive, seja por Gaiolão ou por Redino, através dos quais, não há como negar, a linhagem de Krishna melhor se conformou. Quanto a Puspano, cuja “produção” não se tem uma opinião convergente, uns falam “isso” outros “aquilo” foi posto à disposição do Dr. Evaristo, Fazenda do Cortume/Curvelo, por Celso Garcia com o propósito, suponho, de testá-lo com uma vacada uniforme e de alto valor genético. O Dr. Evaristo atendeu ao pedido de Celso Garcia e apartou na ocasião sessenta (60) reses na “cabeceira” de seu rebanho e acasalou-as com Puspano que lá permaneceu durante aquela safra, retornando ao Paraná no final daquele ano, ou seja, 1965. 14 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê De toda a produção, no meu ponto de vista, destaco dois descendentes de Puspano no rebanho EVA, por considerá-los racialmente bons: uma fêmea filha de Uranga que integrou a apartação do Dr. José Lúcio e um macho filho de Harpa de nome Cajuí; esse o Dr. Evaristo presenteou a um filho. Também, foram vendidas, ao Dr. José Lucio Resende, cerca de dez fêmeas, apartadas de toda a produção de Puspano. Registra-se, por se tratar de um acasalamento que envolvia animais de origens genéticas diversas (White x Puspano), o fenômeno da heterose não foi correspondente à intensidade admitida, ou mesmo suposta. Racialmente a sua descendência mostrouse de “fraca” qualidade: os cupins (giba) das crias “sumiram”; os chifres grossos e arredondados; os aprumos posteriores não eram bons; perfil destoou, inclusive, com o chanfro curto (Kankrej); e, com um temperamento “enérgico”. No rebanho EVA não ficou uma única rês descendente de Puspano. Todas foram descartadas. Se, ao invés de Puspano, tivesse sido o Redino... No que diz respeito aos comentários que tenho dirigido ao gir leiteiro, criticando a gestão da A.B.C.Z., no tocante à política adotada com relação a esse segmento da pecuária leiteira, são criticas, a meu sentir, válidas, respeitosas e desprovidas de radicalismos. Na verdade, o que tenho procurado demonstrar é a existência de um fato que por si só, além de gerar, concorrer e encorpar incertezas, dúvidas e indefinições, também as dissemina: as quais, munidas de forte potencial publicitário, provocam consequências desastrosas: seja em relação aos conceitos raciais; seja em relação à produtividade dos rebanhos. Por esta forma, atraindo dúvidas, desorienta o processo seletivo a ser adotado pelo criador/selecionador e ainda, relativamente à produtividade dos rebanhos, contraria um espaço há muito conquistado pelo produtor rural quando sua intuição guiou seu empirismo e garantiu-lhe “explorar a aptidão leiteira das raças europeias, sem propriamente criá-las”. Razão pela qual, prejuízos mais intensos e de maiores proporções poderão ser levados a efeito, porquanto não seria nenhum absurdo admitir, com o passar do tempo, a permanecer como se encontra a situação, ocorra uma indesejável supremacia (qual dos dois gires sobreviveria?) o que se desbordaria em prejudicial hegemonia: ou então, se assim não for, o engessamento da raça. O gir leiteiro passou a ostentar tal rótulo, não por ter sido submetido a um procedimento ad- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 15 ministrativo específico ou mesmo via de testes confiáveis, ou melhor, incontestáveis, mas clandestinamente por ter sido gerado de duas fontes: uma primeira, omissiva e oriunda de uma parcela do segmento de criadores coadjuvada com a leniência da ABCZ; uma segunda: proveniente de um expediente comercial, aliás, compreensível, imposto pela perseverança e determinação de alguns criadores, impulsionados pelo intensivo “marketing” posto à sua disposição a entronar o gir leiteiro numa área de penumbra que se localiza entre uma “realidade plantada” e o imaginário, uma corruptela, diria, da evocação leiteira da Raça Gir propriamente dita. Paradoxalmente, quero crer, se projeta um ponto de convergência nesta divergência: se por um lado existe a determinação e perseverança de alguns criadores no sentido de se submeterem às regras do Regulamento Racial e claro, sem perder de vista a produtividade do rebanho, não é menos verdade que, por via oblíqua, a gestão do órgão oficial (ABCZ), quanto ao gir leiteiro está mais voltada e empenhada na sua melhoria funcional. Todavia, quem corre o risco é a ABCZ. Temos exemplo disto. Para formação do Indubrasil e “com a corrida para o gado gir, consequente de sua extraordinária valorização” – é o que nos relata o professor Alberto Santiago – as raças nelore e guzerá estiveram ameaçadas de desaparecimento, não se consumando o fato, é o que deixar entrever o autor, em virtude da dedicação de Pedro Marquês Nunes pela raça nelore, e João de Abreu Jr., pela raça guzerá. Um abraço, o Amigo Certo, José Alfredo de Alencar Barreto ( Fazenda Caraíbas/Curvelo/MG. Marca do Gado: EVA WHITE. Janeiro de 2.013) 16 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Confissões sexagenárias O jeito Zeid de ser Por Luiz Humberto Carrião A segunda exposição que participei foi na cidade de Rio Verde, sudoeste goiano, a convite de Alberto Ferreira Motta e Wagney Azevedo Leão. Uma das mais qualificadas em Gir no Brasil. Ali comparecia criadores de sucesso como Zeid Sab, Edmardo Naves Pereira, Leda e Aderbal Góes, Luiz Antônio Figueiredo, Fábio André, dentre outros. Naquela época encontrava com um gado novo provindo de umas matrizes com a marca BIG (Bigatão) originárias da marca Favela, de Aderbal Góes, ainda na cidade de Barretos – SP, que haviam sido enxertadas por dois touros ZS, Tereré (Napy ZS x Quicanga) e Tabó (Napy SZ x Saquina). Entrando no pavilhão, à esquerda ficou o gado do Zeid com um touro enorme, chamado Viratro ZS, seguido da Olhada e suas filhas que enchiam os olhos de todos nós e em seguida a marca LHC, seguida da marca ADAO. A expectativa era muito grande com a chegada do Zeid. Todos nós tínhamos por ele uma enorme admiração. Era um companheiro diferenciado. Lembro-me que uma vez discutia-se numa reunião da ASSOGIR a questão financeira. As associações promotoras das raças sempre, pela sua própria estrutura de entidade sem fins lucrativos, estão de pires na mão. Foi então que o Zeid ofereceu dez novilhas mestiças (gir x holandês) para levantar fundos para a associação, no que foi seguido pelo Carlos Mário de Moraes, de BH, à época numa parceria com o Jairo de Andrade, no gado Gir Mocho, com o qual, aliás, levantou o troféu José Zacarias Junqueira, por ter conseguido por três anos consecutivos fazer o maior número de pontos na EXPOZEBU. Aderbal Góes perguntou qual era o preço e fez o cheque. Assim funcionava a coisa com a “velha guarda”. Zeid chegou muito festejado pelos companheiros e na primeira escapada daquele assédio entrou pelo corredor a observar o gado. Olhava de um lado, olhava de outro e ao final veio a pergunta: e aí Zeid, o que achou do gado? Meteu a mão no bolso da camisa, tirou um maço de cigarros Charme, acendeu e olhando para o lado esquerdo do pavilhão disse: _ Tem dois gados muito bons neste pavilhão. O meu e o do professor. Claro! Fiquei muito lisonjeado com aquela observação feita pelo Zeid, mas só que, excetuando as cinco novilhas e um garrote com a girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê marca ENE, o restante era todo oriundo de seus touros. Mas, enfim, não deixava de ser uma declaração de muita importância para um principiante. Um dia, o Alberto Motta ligou-me dizendo que o Zeid havia comentado com ele que gostaria de ter um animal com sua marca em meu plantel. Foi então, que adquiri um dos animais mais extraordinários que conheci: Sagradinha ZS, filha de Sagrado e mãe de Gioconda LHC que tem no balde, honrado a mãe, o avô e a marca ZS na produção de Leite. Posteriormente, na mesma cidade de Rio Verde, durante um jantar, perguntou-me qual era o seu melhor touro. Já sabia o que ele queria ouvir. Porém, a resposta que lhe satisfaria não era o que eu concordava. Disse que não gostaria de emitir esse juízo de posição. Que todos os seus touros eram extraordinários. Mas, de imediato vem a “cornetagem” dos companheiros para que você desça do muro. Foi aí, descendo do muro, que eu disse a ele que em minha opinião o seu melhor touro era o Sagrado ZS. Baixou a cabeça por alguns instantes e disse: _ professor, o Secretário vem para o doutor Bezerra para coletar, e com ele, o Sagrado para o senhor. É um presente meu. Esse era o jeito Zeid de ser. Luiz Humberto Carrião Jornalista Profissional e editor da Girista.com 17 Direito A proibição da prova exclusivamente testemunhal em contratos de comprae venda de gado Por Patricia Sibin Escrever para agropecuaristas é uma tarefa árdua, especialmente pelo fato de não ter a disposição um ramo específico da Ciência do Direito que permita delimitar os acontecimentos tais como eles são- in loco- no campo, nas fazendas. A lei básica do Direito Agrário (Estatuto da Terra - Lei Federal nº 4.504) remonta quase 50 anos de existência, não sendo capaz de suprir as necessidades do Homem do campo. Atualmente, a mania nacional é o Direito do Agronegócio, mas por anos estamos falando, escrevendo e arriscando implantar a ideia da necessidade de atribuir-se um novo ramo da Ciência do Direito, qual seja, Direito Agropecuário, pelo qual entendemos ser o mais adequado para definir e, a partir daí, tutelar as especificidades nas atividades agropecuárias. A nosso ver, Direito Agropecuário, é o que melhor define esse ramo, pois a partir daí absorve-se o agronegócio, não o agronegócio o engloba. Definir, reconhecer as problemáticas do homem do campo é trazer-lhe uma nova perspectiva jurídica, um novo modelo de atuação do advogado. O tema desta edição é apresentado tomando em conta que a cada novo assunto que propomos discorrer ponderamos a importância de angariar as provas do fato ocorrido em cada caso concreto. A razão de elucidar, ainda que sucintamente, sobre a questão da prova nos contratos de compra e venda de cabeças de gado cujo valor ultrapasse o limite legal, dar-se-á na medida em que o cotidiano negocial e o costume de determinada região permitiu uma concreta “exceção” à regra. Dispõe o artigo 401 do Código de Processo Civil que: “A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados.” Desta mesma forma determina a legislação civil no seu o artigo 227: 18 “Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.” Pois bem, a letra nua, crua e fria da lei, proíbe a utilização da prova exclusivamente testemunhal em negócios jurídicos que ultrapassem o valor equivalente hoje a R$ 6.780,00 (seis mil, setecentos e oitenta reais). Como base exemplificativa, na hipótese de uma compra e venda de 2 (duas) cabeças de gado GIR a um valor médio de R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) cada uma, pago o valor e não entregue as reses ou, entregues e não pago, ou ainda, pago, porém entregues defeituosas/ doentes, pela legislação apontada acima, não é permitido fazer a prova, exclusivamente, testemunhal da existência desse contrato, podendo consubstanciar-se de um conjunto probatório, desde que não seja unicamente testemunhal. Entretanto, a interpretação de um caso ocorrido há anos na cidade de Barretos, Estado de São Paulo, fez com que o Tribunal de Justiça deste estado, prolatasse julgamento inédito até então, vejamos: “Contrato de alto valor. Admissão de prova meramente testemunhal. Segundo os usos e costumes dominantes no mercado de Barretos, os negócios de gado, por mais avultados que sejam, celebram-se dentro da maior confiança, verbalmente, sem que entre os contratantes haja troca de qualquer documento. Exigi-lo agora seria, além de introduzir nos meios locais um fator de dissociação, condenar de antemão, ao malogro, todos os processos judiciais que acaso se viessem a intentar e relativos à compra de gado (Revista dos Tribunais - RT 132/660).” Digna de aplausos, a decisão do TJSP de fato ocorrido nas terras internacionais do Rodeio- Barretos fez a jurisprudência da época, aliás, até os dias de hoje esta decisão é consolidada em todos os Tribunais brasileiros. Com muita propriedade, diga-se de pas- girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê sagem, os Desembargadores daquele Tribunal tiveram sensibilidade ímpar ao analisar o caso apresentado em grau de Recurso, o Juiz singular da época não agiu da mesma forma, visto ter decidido pela improcedência dos pedidos do Autor da ação judicial. In casu, embora a corrente doutrinária dominante analisando a mesma jurisprudência entenda estar se decidindo contra a Lei, pelo que dispõe o já citado artigo 401 do Código de Processo Civil, o fato é que ditas normas devem ser afastadas porque o rigor legal que nelas contém é incompatível com a Constituição Federal de 1.988, além disso, o uso e costumes negocial do Homem do campo, especialmente na cidade de Barretos, como também na capital do Zebu- Uberaba, os costumes locais hão de prevalecer em detrimento da letra fria da Lei. No entanto, faz prudente frisarmos, ainda que a jurisprudência brasileira declina-se pela aceitação da prova exclusivamente testemunhal de negócios que ultrapassem o décuplo girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê do maior salário mínimo vigente no país face aos costumes da atividade agropecuária, conforme, ainda, o local do acontecimento, não significa dizer que o agropecuarista deva agir sem as cautelas necessárias a fim de evitar transtornos e aborrecimentos. Ditas ressalvas são bem vindas, especialmente na assessoria preventiva, retirando-se a ideia enraizada de que o Advogado serve para resolução de problemas previamente implantados. Por fim, o caso ocorrido há muitos anos na cidade de Barretos, Estado de São Paulo, exprime a máxima criada pelo respeitado e competente Juiz Gaúcho, Dr. Moacir Danilo Rodrigues, de que: “A lei é injusta. Claro que é. Mas a Justiça não é cega? Sim, mas o Juiz não é. “ (cfr. Sentença de um Juiz gaúcho, publicada no Suplemento Jurídico: DER/SP nº 108 de 1982, extraída do site: atualidadesdodireito.com.br). *Patricia Sibin, advogada focada no Agronegócio. 19 Leitura Vida e morte de um touro, por Aristóteles Góes, 1951, 6 p “O livro é muito mais que o limite mínimo de 48 páginas para ser tributado.” Royalties a Stella Dauer, 2011. Por Luiz Humberto Carrião A Escola dos Annales substituiu o tempo breve e cronológico do registro dos fatos históricos pela visão de processo que implica longa duração objetivando a inteligir o que se chama de Civilização e Mentalidades. Todavia, me sinto no desejo de voltar aos conceitos de antanho que dividia o caminhar do homem no tempo e no espaço em Pré-História e História. O período anterior à invenção da escrita ficou convencionado como pré-história e o do aparecimento da escrita aos dias atuais, História. Faço isso para uma maior facilidade didática no assunto aqui abordado, o Livro. Na História Antiga – do aparecimento da escrita ao ano de 476 da nossa era marcado pela queda do Império Romano do Ocidente – apareceu na Mesopotâmia o registro de tabuletas de argila. Ainda neste período, no Egito, o registro sendo feito através de papiros extraídos de vegetal. Este foi substituído pelo pergaminho confeccionado a partir de peles de animais nas civilizações clássicas. Na Grécia Antiga, o “volumen”, registro em forma de rolo, foi substituído pelo “Códex”, mais tarde aperfeiçoado pelos romanos “Códice” com o apare- Aderbal Góes com o touro Nagpur, filho de Gaiolão do Norte 20 cimento da costura na fixação das páginas. Na Idade Média – do ano de 476 a queda de Constantinopla aos Turcos Otomanos, em 1453 – período em que predominou fortemente a Igreja Católica no Mundo Ocidental, os livros eram exclusivos aos mosteiros. Uma característica marcante nesse período foi o surgimento dos monges copistas. Com eles o aparecimento das margens e páginas em branco na estética dos mesmos. Também se dá notícia de índices, sumários e resumos. Aos poucos o pergaminho foi sendo substituído pelo papel utilizandose da gravação do conteúdo de cada página numa placa de madeira, como uma escultura, que, depois de molhada na tinta era pressionada sobre o papel em branco. Uma espécie de carimbo. Em 1405, surgiu na China através de Pi Sheng a prensa de tipo móvel. Na Idade Moderna – do ano de 1453 ao surgimento da Revolução Francesa, em 1789 – mais precisamente em 1455, Johannes Gutenberg, na Alemanha, inventou a prensa com tipos móveis reutilizáveis inaugurando-a com a impressão da Bíblia. Com o italiano Aldus Manitius o que hoje é chamado de desing gráfico ou editorial. Na Idade Contemporânea – do ano de 1789 aos dias atuais – um avanço extraordinário com o aparecimento de publicações digitais, o E-book. Para André Maurois, “A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde”. O livro de Aristóteles Góes registrando sua relação com o touro Gaiolão do Norte é um desses livros que “fala e a alma responde”. Chamá-lo de opúsculo é reduzir sua grandeza. Seis páginas compõem a obra que se colocada à apreciação da alma, esta responderá em centenas de outras páginas. Pelo seu projeto gráfico, 1951, e numa homenagem ao autor, com a autorização de sua nora, Leda Ferreira Góes, a revista publica-o no original. Luiz Humberto Carrião Jornalista Profissional e editor da Girista.com girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 21 22 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 23 24 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 25 26 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 27 Sustentabilidade Sustentabilidade /Desenvolvimento “Nós prosperamos e sobrevivemos no planeta terra como uma única família humana. E uma das nossas principais responsabilidades é deixar para as gerações sucessoras um futuro sustentável.” Koffi. A. Annan Por Pedro Wilson Guimarães O que é sustentabilidade? É uma forma de crescer a economia com mais e melhor produção para a população do país e do planeta. Produzir com mais tecnologia, insumos, habilidades, oportunidades, quantidades e qualidades para que o objeto produzido seja consumido pela população humana, animal. E mesmo vegetal mantendo a preservação das espécies naturais, habitats, nascentes, covais, berçários, floras, faunas, clima. E condições de sobrevivência e evolução da vida ampla, geral e irrestrita na terra/água. Sustentabilidade significa que uma plantação, criação, melhoramentos estão fundados nas teorias e práticas tradicionais, modernas, científicas, tecnológicas, culturais locais, regionais, nacionais e mundiais respeitando a natureza. E a sua biodiversidade, potencialidade, com usos, modos que permitem alargar o presente e o futuro de um bioma, ecossistema terrestre. Sustentabilidade é ter consciência e jeito de ver, avaliar e 28 agir na natureza para que ela exista hoje e amanhã no terceiro milênio. Sustentável é tudo aquilo que pode sustentar/segurar pela base, por baixo, pela raiz, suportar, manter, firmar, alimentar, prover deviveres, defender com argumentos, conservar, suster, equilibrar, aguentar, nutrir e amparar. Sustentabilidade é colocar em prática os direitos humanos e dos animais e vegetais universais nos variados aspectos biodiversidades, materiais, culturais e espirituais. Direitos econômicos, sociais, políticos, culturais e ambientais para que as riquezas, bens, matérias e suas apropriações públicas, comunitárias, cooperativas, comunais, familiares, privadas sejam reconhecidas. Reconhecidas como bens de toda humanidade do planeta azul. Toda natureza toda seja ela qual for. E suas histórias, posses, domínios, usos, manejos, empreendimentos e ganhos e perdas devem ser olhadas continuadamente face as precisões, necessidades, interesses e aspirações da própria natureza. E da humanidade planetária e no girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê futuro quem sabe sideral? Sustentabilidade deve ser uma prática humana de amizade, amor, relação, vivencia com boa convivência com a natureza, para o desenvolvimento crescente numa espiral ascendente criativa e evolutiva até Deus. A terra e água deste planeta já sofreram muitos impactos, tremendos tsunamis vindos do mundo sideral e do centro do planeta. Muitos colocaram a terra/água em perigo e destruíram muitas áreas e animais aquáticos e terrestres segundo públicos e provados estudos de nossas arqueologias. Temos tido muitos estudos científicos e filmes sobre os dinossauros, eras do gelo, dilúvios. E maremotos, terremotos, placas tectônicas. E mesmo recentes tsunamis que atingiram a Indonésia e Fukushima no Japão. No século XVIII um atingiu Lisboa e arredores, numa época que o Brasil era colônia de Portugal. E Portugal obrigou nosso país mandar muito ouro, prata e diamante e madeira para restaurar a querida capital lusitana. Não será por isso que Tiradentes e outros revolucionários lutaram contra o domínio opressor que depois foi invadido por forças napoleônicas. E assim obrigou Maria I, a louca e seu filho João VI e sua mulher a espanhola Carlota e grande corte, fugir para o Brasil, com seu filho Pedro I.E ele que em 1822, declarou nossa independência? Ai é outra história. Queremos dizer em tempos de outrora os perigos vinham dos céus estelares. Agora o perigo pode vir de cima das nossas cabeças/céus, mas pode também vir não do centro da terra, mas da ação da própria humanidade. Na virada dos séculos XX para XXI o homem cientista, político/poder, econômico proprietário/concentrador de bens teve a imensa e irresponsável possibilidade de destruir nossa terra com as bombas, nucleares e químicas? E mais as poluições, agrotóxicos, consumismos, experimentos, lixos, degradações aquáticas e terrestres, terrorismos de grupos e de estados. E muitas fomes, misérias, êxodos. E as intolerâncias religiosas e políticas, podem hoje ajudar a destruir a terra. Não precisa nem do calendário maia. Hoje podemos destruir a terra. E tem os perigos com monoculturas rurais e aglomerações urbanas metropolitanas sociopáticas na expressão do professor Luiz Pereira da USP, sob o tema sociologia e desenvolvimento. Assim e assado a sustentabilidade em grande parte está nas mãos de todos nós homens e mulheres. Uns que fingem nada ver ou responsabilizar por esta situação preocupante de nossa nave terrestre denunciada na conferência Rio +20. Outros como o Brasil da Eco/Rio 92 e desta agora tem lutado para que haja responsabilidades compartilhadas entre todas as nações. E a própria ONU (um poder que pouco pode fazer), está depois da Rio +20 elaborando os objetivos do desenvolvimento sustentável. Entretanto nós podemos ir adiante e contribuir com políticas públicas municipais, regionais latinas, africanas. E mesmo com ajudas europeias, americanas e asiáticas gestar novas, boas políticas públicas, girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê comunitárias mesmo privadas (tem muitos movimentos sociais e empresariais que tem responsabilidades de ações concretas, contínuas pela sustentabilidade), para a terra crescer, incluir e proteger hoje. E amanhã não termos desertificações, tsunamis que coloquem nosso lugar em perigo na galáxia via láctea. Precisamos ter mais atenção, consciência, sensibilidade, criatividade e ação nos nossos empreendimentos urbanos e rurais, públicos e privados. Toda a viabilidade de negócios de terra /água passa pela sua sustentabilidade. Passa por boas ações, boas práticas rurais e urbanas que devem ser replicantes, terem efeitos demonstrativos e multiplicadores face pesquisas, estudos e extensões. E planos, planejamentos, indicadores, programas realizadores do desenvolvimento econômico e social harmônico com nossos ecossistemas. E os biomas interligados por geologias, hidrologias, sociologias, agronomias, geografias, engenharias, biologias, arquiteturas do saber e poder democrático e ou arbitrário? Pensar, avaliar, comparar maneiras de intervenção humana e técnica na natureza. Ver as que levam o desenvolvimento material, cultural e espiritual para a humanidade e para sempre. E aquelas intervenções que levam para a realidade que estamos vivendo hoje. Levem a humanidade para as guerras, mortes, envenenamentos do planeta, misérias, migrações. E para violências financeiras, bancárias, armações de estados e de grupos urbanos, detentores dos domínios e controles da própria violência pública e privada (vide SP, Rio, Goiânia, Oriente, Ásia e África). Nossa resposta é pela sustentabilidade. Novo nome da paz e da justiça e prá o desenvolvimento econômico e social sustentável. Aliança entre a humanidade e a natureza, toda natureza de Deus. Crescer, incluir e proteger sempre, a árvore da vida digna de viver, conviver. Pedro Wilson Guimarães. Secretário Municipal da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) de Goiânia-GO. Deputado Federal de 1993-2011 PT/GO. Professor da UFG e da PUC-GOIÁS Militante dos Movimentos de Direitos Humanos, Fé e Política, Educação, Cerrados e Participação Social. e-mail:[email protected] 29 Histórias e estórias de Tiãozinho Cunha Essa vaca dá Leite? Por Luiz Humberto Carrião Éramos três sentados defronte o pavilhão que abrigava o gado Gir na Exposição da cidade de Uberaba – MG. Luiz Humberto Carrião, professor de História e girista; Aderbal Góes, engenheiro Civil e pecuarista, e Tiãozinho Cunha, ex-empresário no ramo de transporte coletivo interestadual, que vendeu tudo, transformou em barras de ouro legalizadas junto ao Banco Central e entrou como ele mesmo dizia, em “lua de mel permanente” com Tia Fiúca após 60 anos de vida conjugal. Tiãozinho nunca teve um imóvel, sempre viveu de aluguel. Diz que o dinheiro que iria imobilizar na compra de um apartamento ou casa, bem aplicado na produção ou mesmo na ciranda financeira, pagaria o aluguel e as taxas básicas com o que chamamos de residência. Conta de luz, IPTU, telefone, etc.. Ou então um bom quarto de hotel, aliás, segundo ele, a melhor residência para a 3ª, 4ª, 5ª e sucessivas idades. Tiãozinho Cunha mostrava a Aderbal um livro do Gondin da Fonseca, sob o título Camões e Miraguarda, editora Fulgor, 1962, que traz na apresentação uma informação interessante: “Uma das maiores riquezas atuais do Brasil é a pecuária. Possuímos talvez uns cinquenta ou sessenta milhões de bois. Qual o capim que cria esses bois em grande parte das zonas de pastagens? O colonião. E como chegou aqui o colonião? Cid de Castro Prado explica num de seus livros: pretas escravas transportaram sementes nos cabelo. Transportaram sem saber. Lavando aqui as cabeças desprenderam-nas. Nasceu o capim e logo o colonizador o aproveitou em largas plantações, para a invernada de rezes. Sem o colonião, impossível a grande pecuária no Brasil”. Aderbal franziu o cenho como que concordando com o livro e acrescentou: _ Sempre tenho dito que comida de vaca é capim, e de bezerro é leite. Mal acabara de pronunciar a frase, um cidadão aproximou-se de ambos e perguntou: _esse gado Zebu é do senhor? Ao que Aderbal respondeu afirmativamente que sim. Daí estabeleceu-se o seguinte diálogo: _Meu avô e meu pai criaram esse gado, retrucou o ilustre visitante. _E você, cria? Perguntou Aderbal. _Não. Mas estou com vontade de iniciar um pequeno rebanho numa nesga de terras que herdei de meu pai. _Muito bem. Expressou em sinal de concordância Aderbal. Olhando para uma vaca da marca Favela chamada Tribuna, voltou ao diálogo: _Essa vaca dá leite? Aderbal já desconfortável naquela conversa respondeu: _pergunte a ela? Coincidência ou não, neste exato momento a Tribuna fez Muuuuuu! Tiãozinho não se fez de rogado: _Olha aí Aderbal, ela tirou a palavra de minha boca. O cidadão saiu de fininho e com ar de desconfiado. Enquanto Aderbal resmungava, Tiãozinho dava suas singulares gargalhadas. Luiz Humberto Carrião Jornalista profissional e editor da revista Girista.com Tiãozinho Cunha é um personagem ficto, qualquer semelhança é mera coincidência. 30 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê Dia internacional da mulher Emy Whinehouse “Lindo é o que a natureza faz de belo” Asseverou em um de seus sermões O padre Antônio Vieira. Pena que essa mesma natureza que faz Dá, nega e tira. girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê 31 Retratos no GIR 32 girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê gir LHC Luiz Humberto Carrião Espanto AMJ MOT 36 (Krishna II POI DC x Douçura da Mata) (62) 9917 3341 Goiânia - Goiás girista.com A revista do Gir que o mundo vê e o girista lê A revista digital do gir