Gramado – RS De 29 de setembro a 2 de outubro de 2014 VERIFICAÇÃO DE USABILIDADE E DESENVOLVIMENTO DE MOBILIÁRIO PÚBLICO SUSTENTÁVEL Natalia Botteon Tomazela Graduanda do Curso de Design, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” email: [email protected] Tomás Queiroz Ferreira Barata Professor Doutor, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” email: [email protected] Resumo: O objetivo do artigo aqui apresentado é efetuar a verificação de usabilidade de protótipos de mobiliário públicos desenvolvidos a partir de parâmetros de design para a sustentabilidade em comparação com o mobiliário atual da Estação Experimental de Bauru - Instituto Florestal. A partir da análise dos resultados dos protocolos de usabilidade e experiência do usuário, iniciou-se o processo de projeto e produção de mobiliário público produzidos a partir de madeira de eucalipto de reflorestamento. Palavras-chave: Design, Usabilidade, Sustentabilidade, Mobiliário público. 1. INTRODUÇÃO Uma das demandas atuais da sociedade se refere à aplicação de conceitos sustentáveis na concepção de novos produtos. Assim, pode-se estabelecer como função do designer, projetar conciliando questões funcionais, estéticas e ergonômicas aos novos parâmetros ambientais. Surgido da preocupação central de conceber protótipos de mobiliários urbanos com conceitos de sustentabilidade, foi necessário entender o quanto o mobiliário estaria satisfazendo o usuário, pois além de conceitos de sustentabilidade, também se fez necessário incorporar princípios quanto às necessidades funcionais dos usuários, como conforto e segurança no uso do equipamento. Este trabalho tem como objetivo analisar os resultados da verificação de satisfação e usabilidade de mobiliários públicos implantados na Estação Experimental de Bauru (EEB) do Instituto Florestal do Estado de São Paulo (IF). A partir da análise dos dados, pretendeu-se realimentar a atividade projetiva e promover o processo produtivo de protótipos de mobiliários, com o emprego de materiais renováveis de base florestal e a aplicação de conceitos de sustentabilidade no design de produto. 2 A sociedade atualmente demanda a produção e o consumo responsável de produtos inovadores que incorporem conceitos de sustentabilidade no seu ciclo de vida. O Conselho Internacional de Sociedades de Design Industrial (ICSID, 2013) considera o design, um fator crucial para transformações culturais e econômicas, propondo assim, uma definição de Design mais abrangente, mais correlacionada com as atuais demandas econômicas, sociais e ambientais, como por exemplo, a preocupação com a sustentabilidade global e a proteção do meio ambiente. A relevância deste trabalho está vinculado à demanda de mobiliário público de qualidade em termos de usabilidade e satisfação do usuário, vinculado ao estudo da utilização de materiais de fontes renováveis no design de produto. De maneira geral, a pesquisa aborda questões sociais, ambientais e projetivas, com intuito de contribuir para a qualificação dos espaços e equipamentos urbanos. O artigo pretende, além do estudo da relação entre usuário e o mobiliário urbano, auxiliar com seus resultados na ampliação de dados disponíveis para pesquisa. Este trabalho, por fim, pode ser definido como um ciclo de atividades tanto de análises como projetivas, onde primeiramente, foram estudados o usuário e sua experiência com o mobiliário, por meio de testes de usabilidade. Com base nos resultados desse estudo, foram propostos planos de melhorias de mobiliários de madeira reflorestada, que propunham em seu projeto, conceitos de ergonomia e satisfação de usuário, sustentabilidade e usabilidade de mobiliário. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Referencial Teórico 2.1.1 A relação entre design, espaço urbano e mobiliário público A definição de mobiliário urbano é de mudança constante conforme autores e disciplinas. Segundo a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), pode ser definido como mobiliário urbano: "Todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder público em espaços públicos e privados" (ABNT, 1986, p.1). Por outro lado, para CREUS (2005), a concepção do mobiliário se dá de forma diferente. O autor cita em sua obra que a expressão 'mobiliário urbano' não é a mais correta, pois deriva da tradução de outras línguas, sendo associada à ideia de decoração. Sendo então, o design uma ferramenta de aproximação e interface entre objeto e homem, sua aplicação em projetos de equipamentos públicos se faz necessária, considerando um contexto local específico articulado com uma postura global de preservação do planeta. SATO (2012), em sua pesquisa na EEB-IF, promoveu a aplicação de questionários com os visitantes a respeito do ambiente e do mobiliário atual da área de visitação pública. Os resultados apontam a necessidade de um maior número de equipamentos urbanos qualificados, especificamente: bancos, mesas, lixeiras, placas de sinalização, brinquedos, área de recreação infantil, entre outros. Baseado na pesquisa de MACHADO (2013) com os usuários da estação, foi perceptível como muitas vezes os mesmos expressam opiniões e sugestões acerca de algo antes não 3 observado ou sobre questões subjetivas (ex: bancos à sombra). Assim, é visível como a EEB-IF é plena em material para estudos pedagógicos e científicos, além de uma área de socialização dentro da cidade de Bauru, porém, ainda pouco trabalhada para a visitação da população em geral. 2.1.2 Ergonomia aplicada no mobiliário público e seus estudos avaliativos É considerada Ergonomia, a ciência que estuda a relação entre o homem e o objeto, suas interações, na intenção de melhorá-lo e adaptá-lo ao homem (IIDA, 2005) Esta ciência quando estudada, permite a melhoria desta relação, podendo ser aplicada à objetos e sistemas. Ainda segundo IIDA, a ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Nesta pesquisa, o significado de trabalho será entendido como não sendo somente a utilização de máquinas e equipamentos, mas também a utilização de objetos em geral. Assim, a ergonomia inicia-se com o estudo do usuário, para que posteriormente possa-se projetar com base nesses estudos, ajustando o projeto às capacidades e limitações do homem na grande maioria das vezes. No que se refere à usabilidade de artefatos, CYBIS et al (2007) menciona: "...a usabilidade é a qualidade que caracteriza o uso de programas e aplicações.", ou seja, um sistema de aprimoramento das interações entre homem (usuário) x objeto (mobiliário). Para IIDA, a relação produto/usuário é um dos enfoques principais da área, se objetivando em como evitar estresses e erros de manuseio, perigos para o usuário que podem surgir no ato do uso ou com o seu uso contínuo. Segundo a ISO 9241-210, usabilidade seria a capacidade em permitir que usuários específicos se utilizem de um sistema com eficácia, eficiência e satisfação. User experience (UX) seria a experiência do usuário e suas respostas a determinado produto e sua utilização. Pode-se assim, chegar a algumas conclusões sobre as semelhanças entre ambos os termos, como: ambos avaliam a qualidade dos usuários com os produtos e sistemas, incluem aspectos objetivos e subjetivos, ambas incluem a visão do avaliador e da interatividade do homem com os artefatos como: prazer; alegria; excitação; medo; ânsia e entre outros. Se fazem necessários a exploração de fatores secundários, como: composição dos materiais, estética e acabamento final. Segundo MORAES, atualmente os fatores secundários são os de maior peso para o usuário, pois são os que estimulam desejos e emotividades individuais. Assim, a ergonomia torna-se um estudo pensado na relação usuário/objeto e de caráter indispensável para esta pesquisa, pois visa melhorias no produto, baseados na análise de usabilidade e na experiência do usuário, impedindo estresses no uso e/ou acidentes e visando a melhoria da percepção do usuário acerca do produto, por exemplo. Também foi foco desta pesquisa, a análise da aceitação do usuário, bem como sua opinião quanto à valores subjetivos que o mobiliário possa trazer. 2.1.3 Design para a sustentabilidade com mobiliário público de madeira reflorestada MORAES observa que, nos dias atuais, os consumidores não foram chamados como partícipes do destino do mundo industriais, mesmo sendo os usuários dos objetos descartáveis e dos bens não duráveis (2010, pág. 59). Isso acontece pois não foi considerada a conscientização ecológica de forma sistemática e coletiva, sendo os 4 cidadãos modernos não educados e preparados para viverem em cenário diferente do previsto, o de um progresso acelerado. Assim, o autor complementa que "[...] o debate sobre a escassez de recursos naturais, previsões de impacto ambiental, controle do consumo de bens não renováveis e descarte consciente, não fizeram parte das disciplinas que construíram a sociedade moderna." (pág. 59) Para MANZINI e VEZZOLI, o papel do design pode ser compreendido como uma atividade que liga o tecnicamente possível com o ecologicamente necessário, fazendo assim, nascer novas propostas que sejam social e culturalmente apreciáveis. Portanto assim, o design para a sustentabilidade significa promover o sistema produtivo à procura social de bem-estar utilizando quantidades de recursos ambientais drasticamente inferiores aos níveis atuais. (2002, p.23) Deste modo, o design sustentável necessita, desde o começo de sua atividade produtiva, reconhecer todas as condicionantes que o determinam sustentável durante seu ciclo de vida, aprofundando estas propostas nas diferentes soluções técnica, econômica e socialmente aceitáveis. O que no caso, os autores citam como Life Cycle Design, que trata de uma maneira de conceber novos produtos, tendo como objetivo, que durante toda sua cadeira projetiva e produtiva sejam consideradas possíveis implicações ambientais ligadas a cada fase, sendo elas: pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte). Os autores nos explicam porque agrupar essas questões tão divergentes requer uma habilidade primordial de design: "[...] a habilidade de gerar visões de um sistema sociotécnico sustentável; organizá-las num sistema coerente de produtos e serviços regenerativos, as soluções sustentáveis; e comunicar tais visões e sistemas adequadamente para que sejam reconhecidos e avaliados por um público suficientemente amplo, capaz de aplicá-las efetivamente." (MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo, 2002, p.27) 2.1.4 O eucalipto-citriodora e sua utilização no processo de produção sustentável Segundo a EMBRAPA ( Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o eucalipto, madeira estrangeira, foi introduzido no Brasil no começo do século XX com intuito de suprir as necessidades de lenha e postes das estradas de ferro da região Sudeste. Após isso, começa a ser utilizado como matéria prima para fábricas de papel e celulose. O eucalipto, segundo a empresa, é uma espécie vegetal de rápido crescimento, que se adaptou às situações climáticas brasileiras. BIRKELAND (2002) afirma que a madeira oferece diversos benefícios em construções e produção de produtos devido sua alta durabilidade, propriedades térmicas, acústicas e estéticas, versatilidade e grande trabalhabilidade. Contudo, impactos ambientais são criados em todos os estágios de seu ciclo de vida. Para o autor, a madeira compete com outros produtos, pois possui impactos ecológicos baixos em relação à aplicação. Porém, o desperdício excessivo ocorre em todos os estágios: crescimento, extração, transporte, processamento, utilização e eliminação. Por isso, o manuseio da madeira pela indústria madeireira pode reduzir dramaticamente este desperdício na fonte, diminuindo da destruição do habitat e emissões de CO², assim como o design inovador pode também ajudar a diminuir esses 5 desperdícios de matéria prima, agregar valor e assim, tornar os recursos mais eficientes. A premissa de que a madeira é um material renovável não basta, pois é necessário entender e respeitar a ordem natural, onde os ecossistemas de florestas nativas não podem ser renovados. Logo, a utilização da madeira só pode ser considerada um recurso renovável, somente se manuseada sob parâmetros ecológicos estritos que garantem a sustentabilidade do ecossistema e a preservação da biodiversidade à longo prazo. Em relação ao material, a madeira serrada de eucalipto proveniente de florestas plantadas pode ser considerada como uma alternativa para o atendimento da demanda por matéria-prima de fonte renovável, visando à produção de mobiliário público e equipamentos urbanos em geral para a área pública da EEB. 2.1.5 Localização temporal e características do local da retirada da madeira Possuindo 43 hectares e localizada dentro da área urbana de Bauru, a EEB-IF (Estação Experimental de Bauru - Instituto Florestal) foi criada em 1929, após a idealização do reflorestamento do estado, com a criação de cinco distritos florestais com sede no interior. Hoje em dia, a EEB-IF, antigo Horto Florestal, leva este nome, Estação Experimental, por se tratar de uma área destinada à realização de atividades e pesquisas científicas, onde são dispostas importantes coleções de espécies florestais nativas e viveiros de mudas. (IF, 2012) SATO (2012), que promoveu um estudo na EEB-IF, indica que nessa área foram plantadas diversas espécies florestais desde sua inauguração, o que a tornou uma área de grande importância para estudos científicos e pedagógicos. Entre essas espécies, existem muitas de origem internacional, como o Pinus sp, Eucalyptus sp. e Corymbia citriodora, esta última sendo uma das matérias primas fundamentais na produção dos protótipos criados no projeto MUDAdesign para a EBB-IF. Segundo o IF (Instituto Florestal), a EEB se localiza numa região cujo ecossistema é o cerrado. Segundo a EMBRAPA (2014), é possível observar que a produção silvicultural em áreas de cerrados permite um maior número de plantas por hectare, onde o sistema de produção se desenvolve mais com o uso da mecanização. 2.2 Metodologia Esta pesquisa pode ser caracterizada como pesquisa aplicada, pois seus conhecimentos adquiridos pretendem propor aplicações práticas no desenvolvimento de produtos e processos. Neste caso, existe como propósito a geração de novos conhecimentos e melhoramentos do mobiliário atual da EEB, através de pesquisas de usabilidade e experiência do usuário, com ênfase na aplicação de conceitos de sustentabilidade. 2.2.1 Participantes A amostragem dessa pesquisa consistiu de 10 voluntários, usuários do espaço em questão. Apresentaram médias de idade e altura de 21 anos e 1,67m para mulheres e 26,8 anos e 1,76m para homens. Todos os participantes responderam os questionários para os três bancos avaliados: banco de cimento e madeira já instalado no local, Banco 6 W com encosto e Banco W sem encosto. Para a aplicação dos questionários, optou-se pela área de visitação pública da EEB, onde os mobiliários estão implantados. Os participantes serão recrutados de ordem aleatória, sendo um total de 10 visitantes locais. Todos os participantes assinaram o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, atendendo a Resolução 196/96-CNS-MS e o “Código de Deontologia Certificado – Norma ERG BR 1002 – ABERGO”. 2.2.3 Objeto de estudo Para a avaliação de usabilidade da EEB, foram considerados 3 objetos de estudo: o banco atualmente instalado na área de uso público da estação, o Banco W sem encosto e o Banco W com encosto, ambos concebidos e produzidos pelo projeto MUDAdesign. Atualmente, segundo SATO, existem oito bancos de concreto e madeira distribuídos na Estação, onde foram instalados há alguns anos na intenção de melhorar as condições de infraestrutura da área. Figura 1- Objetos de estudo (Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada) Os bancos de concreto instalados na EEB atualmente possuem dimensões de 50x200x50cm (altura, comprimento e profundidade). Já os bancos produzidos pelo projeto de extensão, possuem dimensões de 45x230x45cm. Os dados de usabilidade foram obtidos a partir de entrevistas e questionários aprofundados através do método SUS, desenvolvido por BROOKE (1996), aplicados em usuários da EEB sobre o tema específico, mobiliário e ambiente, entendendo assim quais são suas aspirações e necessidades. Os participantes responderam perguntas acerca dos mobiliários do local. 2.2.4 Medidas e instrumentos Nível de aceitação geral do mobiliário - Método DS No método de diferencial semântico (DS) a entrevista qualitativa aborda questões através de um processo de reflexão junto ao usuário. Todos os fatos e acontecimentos, mesmo que subjetivos, são expressivos e considerados, tais como: opiniões sobre o móvel e material, conforto, qualidade estética, ou seja, o nível de aceitação do mobiliário. Ela auxiliará no desenvolvimento de conceitos, projetos e a provar teorias. Juntamente com este método, outro meio de obtenção de resultados foi a escala linear, que consiste em uma linha graduada ou não, com opções opostas de aceitação. A partir na marcação do entrevistado, é possível obter resultados em escala de satisfação. 7 Na parte superior do protocolo foi elaborada a instrução para o participante de como este deveria proceder para a avaliação: Quadro 1 - Instrução de protocolo DS Observe o banco que está em sua frente. Você poderá sentar-se, tocá-lo, manipular e observar atentamente cada detalhe, cada aspecto, cada função. Em seguida, assinale à caneta, apenas um único ponto da escala. Quanto mais próximo de um dos critérios nas extremidades, maior sua concordância ao mesmo e menor ao critério oposto. Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada Logo abaixo da instrução foi introduzida uma escala de aceitação, onde o usuário deveria responder, em uma escala de 1 a 7, sendo 1 o grau de menor aceitação e 7 o de maior aceitação sobre os seguintes tópicos: resistência, tradicionalidade, sustentabilidade, beleza, conforto, utilidade, durabilidade, harmonia e segurança. Nível de satisfação na interação com o mobiliário - Método SUS No presente projeto, a usabilidade dos mobiliários é definida com o modelo SUS. Este modelo apresenta ao usuário um sistema de perguntas em escalas que devem ser assinalados de acordo com o nível de concordância de cada questão. Após respondidas, codificam-se as respostas e calcula-se, através de um coeficiente, o grau de usabilidade do produto. Na parte superior do protocolo foi especificada a instrução para o participante de como este deveria proceder para a avaliação, como pode ser visto abaixo: Quadro 2 - Instrução de preenchimento do protocolo SUS Observe o banco que está em sua frente. Você poderá sentar-se, tocá-lo, manipular e observar atentamente cada detalhe, cada aspecto, cada função. Em seguida, assinale à caneta, apenas um único ponto da escala (coluna à direita), correspondente às afirmações apresentadas na coluna à esquerda. Lembre-se: Avalie com rigor o banco! Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada Na coluna à esquerda do protocolo foram feitas 10 afirmações de forma alternada, sendo 5 delas de modo positivo e as outras 5 de modo negativo. As declarações procuravam entender questões sobre: a satisfação com o material utilizado no banco, segurança, resistência, durabilidade, harmonia, atratividade, dimensões, conforto, sustentabilidade, estabilidade e funcionalidade. Os resultados foram obtidos à partir da soma das respostas dadas pelos usuários para cada uma das afirmações referentes às diretrizes escolhidas para análise. A partir da soma destes resultados, os mesmos foram convertidos para porcentagem, sendo 40 pontos referente à 100%, pois se trata do valor máximo das somas das notas para cada afirmação. 3. CONCLUSÕES 3.1 Resultados dos protocolos de avaliação de usabilidade Protocolo DS (Diferencial Semântico) 8 O banco de madeira com cimento obteve notas mínimas nos quesitos de Modernidade, Beleza, Harmonia e Conforto. Já para os quesitos Sustentabilidade e Segurança obteve notas médias, isso pode ser creditado ao material utilizado em sua produção: concreto e madeira maciça e suas dimensões percebidas como fora dos padrões de medidas considerados ideais pela literatura. Sua soma de notas total foi de 45,6 pontos, podendo ser considerado aceito. O Banco W sem encosto obteve notas maiores nos quesitos Beleza, Utilidade e Harmonia, o que acredita-se se dar ao fato do banco ser de desenho mais simplificado, o que pode ser agradável aos olhos dos usuários da Estação. A soma de sua nota foi de 58,1, podendo ser considerada aceitável. O Banco W com encosto obteve notas maiores nos quesitos Resistência, Modernidade e Segurança, e no geral, suas notas foram consideradas medianas para altas. Sua soma total foi de 60,3, sendo considerado aceitável, porém próxima do nível mínimo de amplamente aceitável (61 pontos). É interessante lembrar apesar do nível de aceite do banco atual é de valor próximo ao do Banco W com encosto no protocolo SUS, o segundo banco obteve notas maiores no protocolo DS. Protocolo SUS (System Usability Scale) O banco de cimento e madeira obteve notas satisfatória nos termos: Material Utilizado, Segurança e Resistência. Podemos inferir destas afirmações que o banco de madeira e cimento é acertadamente considerado mais rígido e estável devido à utilização de grandes peças de madeira aliada ao cimento, que o fixa no solo. Também podemos perceber que os quesitos de dimensão são considerados mínimos e obtiveram nota baixa. Os demais tópicos obtiveram nota mediana. Para o banco W sem encosto, foi possível perceber notas altas nos quesitos: Material utilizado, Segurança, Resistência, Harmonia e Atratividade, obtendo o penúltimo, nota máxima de aceitação. Apesar de um nível de aceitação baixo, o quesito Dimensão obteve consideravelmente nota maior que o banco de madeira e cimento. Já em quesitos de Funcionalidade, recebeu nota equivalente ao banco W com encosto . O banco W com encosto obteve nível de aceitação maior na maioria dos quesitos, obtendo pontuação máxima em Harmonia e Atratividade. Materiais utilizados, Segurança e Resistência receberam notas de grande aceitação perante o público. O banco W com encosto também pareceu ser mais ecológico e estável do que os demais avaliados. 3.2 Estruturação e eleição de requisitos ergonômicos passíveis de aplicação em projeto Após a aplicação dos questionários na EEB, foi possível o estudo aprofundado dos requisitos e diretrizes de projeto a serem seguidos para o novo mobiliário. As características escolhidas foram elencadas conforme suas diretrizes ergonômicas e de usabilidade. Será utilizado o percentil 50 em um desenvolvimento de protótipo ergonômico numa média corpórea, seguindo as alturas e larguras específicas recomendadas na literatura, que são, respectivamente de 38 à 55 cm para alturas e 38 à 47 cm para larguras. Também foram elencados requisitos percebidos durante a avaliação de usabilidade quanto a estética do mobiliário: 9 Resistência e estabilidade:. A escolha das formas de assento e pés, e sistemas de fixação nesta etapa são de grande importância, pois o mobiliário deve mostrar resistência na acomodação durante seu uso, mostrando-se estável ao usuário. Durabilidade: A escolha do material deve aparentar e ser de grande durabilidade ao usuário. Desta forma, as pranchas devem ser escolhidas com cuidado, sem sinais de pragas ou fendas. Após a produção, o mobiliário deve passar pelas etapas de acabamento, com tratamento com cupinicida e vernizes à base d'água. Segurança: A presença de quinas e arestas retas apresentou desaprovação perante os usuários, já que o local onde o mobiliário será instalado conta com a presença de crianças, o que poderia causar acidentes. Deste modo, foi perceptivo que o usuário prefere um mobiliário com formas mais arredondadas para áreas públicas pelas questões de segurança envolvidas. Estética e conforto: Durante a aplicação dos questionários, os usuários se mostraram atraídos ao mobiliário de linhas mais simples, sem tantos detalhes, que aparentassem modernidade. Também foi percebido como a utilização de encostos e assentos com medidas de dimensões não adequadas afeta a percepção do usuário, trazendo desaprovação e mal-estar. 3.4 Estruturação e eleição de diretrizes de design para a sustentabilidade na atividade projetiva A pesquisa define o desenvolvimento de mobiliário público como foco, com a produção a partir de eucalipto reflorestado. Tal material se mostrou de grande resistência com o uso e exposição à intempéries. Assim, o eucalipto se mostra uma matéria prima qualificada para a produção de um mobiliário que necessite resistir à umidade ou excesso de sol, não precisando ser trocada tão brevemente. Como já descrito na literatura, o eucalipto se torna uma alternativa de matéria-prima de cunho sustentável desde que seu manejo e processo de confecção seja conduzido de maneira limpa e ecologicamente correta. MORAES também cita premissas básicas e linhas guias que foram utilizadas nesta pesquisa durante a atividade projetiva do mobiliário, como por exemplo, o pouco uso de matérias primas, que gera maior economia de materiais utilizados, reduzindo sua retirada da natureza e maior processo de reciclagem. Para a produção do móvel, foi somente utilizado madeira de eucalipto reflorestada e componentes de fixação. A escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental também é uma linha guia citada pelo autor e utilizada na pesquisa, onde a escolha dos materiais corretos e processos de produção adequados permite o baixo impacto ambiental e redução de resíduos. Para a atividade projetiva em si, foi escolhida a diretriz que entende da facilidade do desmembramento e de substituição de componentes, onde é facilitada a troca de partes, proporcionando sobrevida aos produtos e agilização na linha de desmontagem. Para o desenvolvimento do projeto, também foram elencados alguns conceitos de design para a sustentabilidade como: desenho antimoda, montagem facilitada, peças com componentes planos, multifuncionalidade e tração humana. 10 3.5 Processo de desenvolvimento e produção de protótipos O mobiliário foi desenvolvido para que a maior parte de sua montagem seja promovida por meio de encaixe. Os pés também são produzidos em madeira, e possuem desenho anti envelhecimento e de formas simples. Cada extremidade dos assentos possui forma arredondada para o encaixe no suporte. O conceito do projeto se baseia na concepção de um mobiliário que agregasse valores sustentáveis em seu processamento, mas que possuísse também, conceitos de auto montagem, tração humana, desenho modular, e utilização de materiais reduzido. Além de agregar aspectos ergonômicos e ser um produto de posse comunitária. Assim, o projeto possui se insere no contexto de mobiliário giratório, que pudesse ser movimentado pela tração humana em torno de um mourão, de raio de 15 à 20 cm. O móvel possuiria níveis que pudessem ser utilizados pelo usuário de modo que o mesmo escolhesse sua função: banco, mesa, uma pequena arquibancada. Quadro 3 - Processo de desenvolvimento do mobiliário 1. Estudo dos resultados dos protocolos de usabilidade e experiência do usuário 4. Elaboração de sketches manuais 2. Pesquisa por referências e análise de similares 3. Estabelecimento de diretrizes de sustentabilidade e ergonômicas 5. Seleção de alternativas e modelagem 3D 6. Desenvolvimento do projeto executivo 7. Processo de produção de protótipos CONCLUSÃO Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada Quadro 4 - Processos de produção e montagem As atividades práticas de produção foram conduzidas no Laboratório Didático de Modelos e Protótipos (LDMP/Unesp) e na marcenaria da EEB, com orientação no processo de transformação da matéria prima, processo de montagem e acabamento final dos protótipos. 11 Etapa Equipamento Descrição do processo Registro fotográfico Não há registros fotográficos 1 Não há utilização de equipamento nesta etapa. A pré produção se iniciou com a escolha dos pranchões de eucalipto já serrado. Nesta fase, é possível ver a aplicação de conceitos de sustentabilidade, onde a escolha do pranchão mais adequado evita o desperdício de material e geração excessiva de resíduos. Durante todo o processo de produção, houve a coleta de resíduos para cada operação e registro do tempo decorrido durante as atividades. 2 Com o planejamento de corte já definido deu-se início aos processos de corte. Após o corte inicial com a motosserra, o material passou para o desempeno (no intuito de deixar as peças planas) 3 Motosserra para corte transversal; Desempenadeira; Serra circular para corte longitudinal e latitudinal; Desengrossadeira. Serra circular. 4 Serra de fita Esta etapa foi necessária para deixar os cantos da peça arredondados. 5 Furadeira de bancada. Não há utilização de equipamento nesta etapa. Nesta etapa as peças são perfuradas e Não há registros escariadas. fotográficos Nesta etapa, as peças foram lixadas, para Não há registros se retirar quaisquer imperfeições. fotográficos 6 Terminado o corte do pranchão em peças, realizou-se o destopo, para deixar as peças no comprimento correto Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada 3.6 Considerações finais O estudo aqui apresentado surgiu da ideia da qualificação do mobiliário público e da ampliação dos estudos do projeto de pesquisa já em andamento que visa à produção de mobiliários sustentáveis para a avaliação, pelos usuários, da usabilidade dos protótipos produzidos. Nesse estudo, procurou-se avaliar os mobiliários in loco e com isso, espera-se que este estudo contribua para outras pesquisas que avaliem o efeito do ambiente na usabilidade dos produtos. Durante a pesquisa, diversos estudos sobre o mobiliário público e as percepções estéticas, funcionais e simbólicas do usuário foram efetuados. Foi possível perceber a comprovação dos estudos da literatura em prática, como a afirmação de OLIVEIRA em dizer que seria impossível pensar na vida de hoje do homem urbano sem a sua coexistência com o espaço público, onde muitas das histórias de cada cidadão está ligada de algum modo à cidade. 12 Também foi possível perceber como a utilização do eucalipto como matériaprima sustentável para a produção de mobiliários urbanos externos se mostra viável. Pôde-se perceber como a madeira é de grande estabilidade, usinagem, resistência e de bom acabamento. REFERÊNCIAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9283: Mobiliário Urbano. Rio de Janeiro, 1986. BIRKELAND, Janis. 2005. Design for Sustainability. London: Earthscan. BONSIEPE, Gui. Design, Cultura e Sociedade. São Paulo: Blucher, 2011 BROOKE, J. "SUS: a "quick and dirty" usability scale". in P. W. Jordan, B. Thomas, B. A. Weerdmeester, & A. L. McClelland. Usability Evaluation in Industry. London: Taylor and Francis, 1996. 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