Artigo publicado no Informativo CRQ-V, ano XI, n.º105,
novembro/dezembro/2007, págs. 06 e 07.
Adriana Nunes Wolffenbüttel é Bacharel em Química,
Mestre em Engenharia Ciências dos Materiais, Química
Toxicologista e Especialista em Óleos Essenciais.
Na sua opinião: “O bacharelado iluminou o caminho, o
mestrado ensinou como caminhar através da metodologia
científica, a toxicologia mostrou o perigo e os cuidados,
entretanto os óleos essências me evidenciaram a beleza, a
harmonia e o potencial terapêutico da Química.”
Nos últimos anos muito se tem ouvido falar de óleos essenciais em produtos
cosméticos, em revistas para leigos, em propagandas de televisão. A
publicidade descobriu o potencial positivo do marketing
dos óleos
essenciais. Mas afinal, o que são óleos essenciais? Onde se encontram na
espécie vegetal? Qual sua relação com a aromaterapia? Apresenta
fundamentação científica? Estes produtos que encontramos facilmente em
oferta nas gôndolas de lojas com artigos populares são óleos essenciais
terapêuticos?
Óleos essenciais são compostos voláteis produzidos pelas plantas para sua
sobrevivência. A espécie vegetal produz compostos primários, tais como
açúcares e nitrogenados, e também compostos secundários* (*definição
não aceita por unanimidade), que não são utilizados diretamente para sua
alimentação e nutrição. Entre os compostos secundários estão os alcalóides,
os flavonóides, as saponinas e os óleos essenciais. Os óleos essências são
substâncias químicas que exercem as funções de auto-defesa e de atração
de polinizadores. A planta produz óleos essenciais nas seguintes partes:
flores, cascas de frutos (denominados cítricos), folhas e pequenos grãos
(“petitgrain”), raízes, cascas da árvore, resinas da casca, sementes.
Denominam-se tricomas as ”bolsas” onde ficam encapsulados o óleo
essencial na planta. Estes tricomas são rompidos naturalmente pela espécie
vegetal, liberando o óleo essencial, que forma uma espécie de “nuvem
aromática” ao seu redor. Por isto são denominados como sendo "A alma da
planta" ou " A energia vital da planta".
Figura 1 - Tricoma de superfície contendo óleo essencial da
Lavanda Lavandula officinallis
(fotografia autorizada: MACHADO, C.A e STEIGER, A. 2006)
Os tricomas também são rompidos durante os processos intencionais de
extração do óleo essencial. Existem inúmeros processos industriais e
artesanais de extração, alguns deles são: Extração a vapor (mais conhecido
e comum); Extração por hidrodestilação (bastante utilizado em bancada de
laboratório);
Extração
supercrítica
(utilizado
em
pesquisas
de
universidades); Extração subcrítica; Extração por gás refrigerante; Extração
por extrusão ou prensagem (utilizado pela indústria de sucos cítricos);
Artigo publicado no Informativo CRQ-V, ano XI, n.º105,
novembro/dezembro/2007, págs. 06 e 07.
Extração a vácuo; Extração enfleurage (tradicional e ainda utilizado);
Extração por solvente; Extração por óleo (para fins culinários e de
massagens). Não se pode declarar indistintamente que exista um método
de extração melhor que todos os outros, pois cada um deles gera óleo
essencial puro com composição química específica. Deste modo, não existe
uma única composição química para um óleo essencial, esta difere quando
forem extraídos de partes diferentes da mesma espécie vegetal, cultivados
de formas diferentes, os métodos utilizados para sua extração forem
diferentes. Esta variação na composição química dos óleos essenciais pode
ser facilmente entendida e aceita ao percebermos que estes são partes do
metabolismo da planta, portanto estão em constante flutuação enquanto
houver vida. Assim as modificações ocorrerão transformando uns
compostos em outros, de acordo com a parte da planta, o momento de seu
desenvolvimento ou crescimento, o horário do dia de sua colheita. E
mesmo após sua extração, devido a complexidade de sua composição
podem sofrer modificações físico-químicas através de reações químicas
entre seus constituintes e o próprio meio, como a luz solar, enzimas e o
vasilhame.
O óleo essencial não é um produto simples de 1 componente, é um produto
composto podendo a ultrapassar 300 componentes químicos diferentes. Tal
diversidade e complexidade fazem do óleo essencial puro um produto
altamente valorizado, com aplicação em diversas áreas: área da saúde
devido ao seu potencial terapêutico, área da perfumaria e cosmética devido
a sua refinada e complexa composição aromática, área alimentícia devido
ao seu potencial como aditivo flavorizante, área de aromatização ambiental
e produtos domosanitários, e a mais nova área, que é a da moda,
confeccionando fibras onde os óleos essenciais inicialmente retidos vão
sendo liberados na medida da utilização das peças em couro, bolsas, cintos,
roupas.
Os componentes químicos dos óleos essenciais apresentam
estruturas diversas como terpenos, sesquiterpenos, fenólicos, fenil
propanóicos, alifáticos não-terpênicos, heterocíclicos, álcoois, cetonas,
aldeídos, ácidos carboxílicos, ésteres, acetatos, cada qual com sua
característica aromática e ação bioquímica. Tem-se registros da utilização
dos óleos essenciais desde épocas anteriores ao antigo Egito, passando pela
Idade Média e chegando ao início do século XX através de tratados de
Aromaterapia. As pesquisas científicas atuais, dando origem a novas
nomenclaturas como Aromacologia e Aromatologia, têm comprovado a ação
dos óleos essenciais como bactericida, analgésica, sedativa, estimulante,
antifúngica, antiprurido, antidepressiva, repelente de insetos, outros.
Figura 2 – Visualização do halo da atividade antimicrobiana do óleo
essencial de Eucalipto Eucaliptus citriodora
(fotografia autorizada: PEREIRA, M. A. A. 2006)
Artigo publicado no Informativo CRQ-V, ano XI, n.º105,
novembro/dezembro/2007, págs. 06 e 07.
Os óleos essenciais são absorvidos pelo organismo humano através da pele,
da inspiração, da ingestão oral. Seus metabólitos (princípios ativos
metabolizados) são encontrados no sangue, na urina, no ar exalado, no
suor, demonstrando que o óleo essencial sofreu interação com o organismo.
Por este motivo devemos estar atentos a possibilidades de intoxicações e
reações aos seus componentes, como por exemplo as queimaduras na
derme ao ser exposta a irradiação solar após o uso de óleos essenciais
contendo furanocumarinas, presentes nos óleos de cítricos. Várias são as
metodologias utilizadas para fins de pesquisa e estudo científico, tanto in
vitro como in vivo. Em pacientes (in vivo) divide-se o grupo em: A- grupo
exposto ao tratamento com óleo essencial, B- grupo controle testado com
placebo (formulação básica sem o óleo essencial) e C-grupo tratado com
medicação alopática. Recentes pesquisas utilizando medições de RMN
(Ressonância Magnética Nuclear) da região cerebral mostram que todo o
sistema límbico é ativado durante a inalação de óleo essencial de Lavanda
Lavandula officinallis, esclarecendo porque os aromas proporcionam um
resultado tão imediato nas nossas emoções, sensações, lembranças e
recordações. Óleos essenciais específicos estão sendo utilizados no
tratamento de pacientes com problemas na área da memória e mesmo em
casos de amnésia total, Mal de Alzheimer e Demência Vascular. Em 2004, o
Prêmio Nobel de Medicina em Fisiologia foi concedido a dois cientistas,
Richard Axel e Linda B. Buck, por suas descobertas sobre os receptores
odoríficos e a organização cerebral do sistema olfativo, o que mostra a atual
importância desta área para a ciência. Outro fato interessante, em se
tratando dos óleos essenciais, é que a sua atuação e aroma depende tanto
da presença dos componentes majoritários, que estão em alta concentração
na mistura total (20% a 80%), como dos minoritários e mesmo os que
estão em níveis de traços (0,01%). Saiba que para se obter 300 mililitros
de óleo essencial de Rosa damascena necessitamos de 1000 Kg (1
tonelada) de pétalas oriundas de plantação sem a utilização de agrotóxicos,
justificando o elevado custo do óleo essencial. Entendo que temos um belo
trabalho a continuar realizando, e também estarmos atentos para não
permitir que os produtos falsificados, com baixo custo, que por vezes
podem ser encontrados nas gôndolas de lojas com artigos populares
enganem perigosamente os leigos.
Original fornecido ao site www.oleoessencial.com.br para publicação pela
autora Adriana Nunes Wolffenbüttel.
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Mas afinal o que são ÓLEOS ESSENCIAIS?