2005-04-28 - 00:00:00 Emboscada na curva do Outeirinho Inspector João Melo Como morreu o inspector A Polícia Judiciária (PJ) estava em campo desde meados de 2000 decidida a travar um perigoso gang que assolava o Norte do País com assaltos à mão armada a carrinhas de transporte de valores. As investigações policiais, conduzidas pela Secção Regional do Porto da Direcção Central de Combate ao Banditismo, deram finalmente resultado na última semana de Janeiro de 2001 – quando os investigadores conseguiram uma informação preciosa: os assaltantes iriam atacar em breve uma carrinha da Prosegur, à porta de um hipermercado, em Amarante. Brigadas da Polícia Judiciária revezaram-se nos dias seguintes ao redor da cidade, prontas a caírem em cima dos assaltantes. Ao final da tarde de 25 de Janeiro, seis investigadores da PJ, divididos por três carros, mantinham-se em posição no parque de estacionamento do Lidl, em Amarante. Observaram dois carros suspeitos, um Fiat Uno preto e um Volkswagen Golf azul escuro, com cinco homens a bordo. Esperaram. Viram chegar a carrinha blindada – e testemunharam o golpe. Os carros dos assaltantes arrancam a grande velocidade. Já a noite tinha caído. A Polícia Judiciária acelera atrás deles. A chuva dificulta a perseguição. Os carros da PJ abrem caminho com relâmpagos azuis – mas os criminosos conhecem melhor as estradas da zona e metem-se por caminhos secundários. O carro dos inspectores João Melo e Jorge Guiomar lidera a perseguição. Atrás deles, segue o dos inspectores Sobreiro da Silva e Sandra Vicente. Por fim, o carro com o inspector-chefe Júlio Santos e o inspector Vítor Ferreira. A chuva cai agora com maior intensidade. Ainda assim, João Melo e Jorge Guiomar colam-se à traseira do último carro dos assaltantes. Melo vai ao volante e Jorge Guiomar dá pelo rádio indicações ao resto da equipa – mas as frases são recebidas roufenhas e entrecortadas: “Tenho um à minha frente... Casa amarelada com um portão de ferro... À direita um muro semidestruído...” Estão, sem saber, a atravessar o lugar de Outeirinho, no concelho de Marco de Canaveses. A estrada é alcatroada e estreita. João Melo e Jorge Guiomar são surpreendidos à saída de uma curva. Caem numa emboscada. Os assaltantes atravessaram os carros na estrada – e esperaram traiçoeiramente pela Polícia armados com metralhadoras Kalashnikov. Os dois homens da PJ travam a fundo e saem do carro de armas na mão. Mas são atacados à rajada. O poder de fogo dos criminosos é intenso. João Melo procura abrigo na berma. Cai varado por balas. Os seus companheiros, mais atrás, conseguem ouvir o tiroteio infernal. Quando a segunda equipa da PJ chega ao local, menos de um minuto depois, já o polícia tombara sem vida. Surge também o carro conduzido pelo inspector-chefe Júlio Santos. A experiência ensinou-lhe o que fazer nestes casos: ultrapassar quanto antes o local da emboscada. Ele nem hesitou. Acelerou pela berma, passou o último grupo de assaltantes, atravessou o seu carro na estrada, saiu e procurou um lugar seguro para atirar: os bandidos ficavam com a fuga cortada e no meio de fogo cruzado. O inspector-chefe subiu para a varanda de uma casa, mas foi atingido a tiro num braço e numa perna. Os criminosos meteram-se nos carros, tentaram atropelar Júlio Santos, abalroaram a viatura da Polícia – e fugiram. CRIMINOSOS APANHADOS HORAS DEPOIS DO CRIME CAÇA AO HOMEM A Polícia Judiciária fez ponto de honra em capturar os cinco assaltantes em fuga. Ainda cheirava a pólvora no local da emboscada, diversas brigadas da PJ estavam lançadas numa verdadeira caça ao homem. CAPTURA Nas horas seguintes à embosca que matou o inspector João Melo, a Polícia Judiciária capturou quatro dos assaltantes: José Ferreira Barbosa, José Maria Bessa, António Augusto Ferreira e Paulo Ferreira da Cunha. ESPANHA Um dos assaltantes, José Augusto Ferreira Barbosa, sobre quem recaem fortes suspeitas de ter sido o autor dos disparos fatais contra João Melo, acabou por ser detido em Espanha – onde foi condenado por tráfico de droga. METRALHADORAS Não havia memória no nosso país de uma emboscada montada por assaltantes contra a Polícia: o caso que custou a vida a João Melo foi o primeiro. Até aí, também não havia notícias de tiros de armas Kalashnikov.