O ACESSO DA POPULAÇÃO NEGRA AOS CURSOS DE PÓSGRADUAÇÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO CURSO DE FORMAÇÃO PRÉACADÊMICA AFIRMAÇÃO NA PÓS Fábio Luiz da Silva de Sousa Leão1 Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG [email protected] Santuza Amorim da Silva2 Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG [email protected] GT 04 – Ações Afirmativas de Base Racial na Sociedade Brasileira Palavras chave Ações Afirmativas, desigualdades educacionais, pós-graduação Nas últimas décadas, ampliaram-se as discussões em torno do acesso ao ensino superior pelos grupos historicamente sub-representados nesse nível de ensino. A expansão universitária e o alargamento das oportunidades de ingresso nos cursos superiores através das políticas afirmativas vêm contribuindo para mudar esse panorama no nível da graduação. Não obstante as desigualdades educacionais entre negros e brancos nesse nível de ensino ainda persistem e tornam-se mais perversas se considerarmos os cursos de pós-graduação. Este estudo visa compreender as trajetórias escolares de estudantes negros egressos do Curso de Formação Pré-Acadêmica Afirmação na Pós, identificando as estratégias desenvolvidas por esses indivíduos para ingressarem em cursos de Pós-graduação. O Afirmação na Pós é fruto de um consórcio entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) a partir de um financiamento da Fundação Ford. Esse curso ainda contou com a parceria do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). Este curso integra um programa maior que abrange outras universidades do nosso país. No consórcio entre a UFMG e a UEMG o curso recebeu o nome de Afirmação na Pós. Ao todo foram realizadas quatro turmas compostas por uma média de 30 alunos. O Curso teve como objetivo a preparação de candidatos para participarem da seleção de programas de pósgraduação (stricto sensu) em nível de mestrado. Para atingir este objetivo o curso ofereceu disciplinas que auxiliaram na elaboração dos projetos de pesquisa, promovendo seminários, oferecendo disciplinas de língua estrangeira, produção de textos e acompanhando os(as) candidatos(as) desde a construção dos projetos até a inscrição nos processos seletivos de diferentes programas de pós-graduação. A seleção dos alunos para cursar o Afirmação na Pós priorizou àqueles pertencentes a grupos historicamente excluídos do acesso aos cursos de pós-graduação como negros, indígenas, pessoas provenientes de famílias com poucas oportunidades econômicas e 1 Formado em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – Unibh. Mestrando em Educação pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Atua como professora no Ensino Superior nos cursos de Pedagogia e Mestrado em Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais. Coordenadora Adjunta do Programa de Mestrado em Educação e Formação Humana da Faculdade de Educação FaE – UEMG. educacionais, pessoas com deficiência, egressos de programas de ações afirmativas no ensino superior, na modalidade de cotas ou bônus. Esse estudo filia-se a abordagem qualitativa, mas pretende-se lançar mão de dados quantitativos, alguns já disponíveis, tendo em vista que foram produzidos na disciplina de Metodologia de Tratamento de Dados ofertada pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET/MG. Essa disciplina teve como uma de suas propostas a aplicação de um questionário com o objetivo de investigar as situações econômicas e sociais, a vivencia escolar, as características pessoais e a atuação destes alunos em suas comunidades e organizações civis. A aplicação desse questionário fomentou um leque de possibilidades de investigação, permitindo uma análise mais profunda em relação às trajetórias dos estudantes participantes do curso Afirmação na Pós. O questionário em questão foi aplicado as quatros turmas do curso Afirmação na Pós. Como instrumento de coleta de dados esta pesquisa utilizará o grupo focal. Será enviado convite para três estudantes de cada uma das quatro turmas do Curso Afirmação na Pós que se autodeclararam negros, no questionário aplicado pelo CEFET/MG, propondo que os mesmos possam participar de um grupo focal, visando compreender suas trajetórias e os fatores que os levaram até este curso de formação pré-acadêmica. A escolha pelo desenvolvimento do grupo focal deve-se ao fato da potencialidade desta técnica de pesquisa na compreensão da realidade vivenciada por esses indivíduos. A realização dessa pesquisa vem sendo orientada a partir de alguns pressupostos teóricos desenvolvidos no campo das relações étnico-raciais e da sociologia da educação. A escolha por esses dois campos teóricos está relacionada ao fato de que os mesmos estão intrinsecamente ligados ao objeto da pesquisa. Dessa maneira, essa pesquisa apoia-se nos estudos de Lahire, Zago e Dubet para compreender o processo de construção de estratégias realizado pelos estudantes negros do curso Afirmação na Pós para ingressarem nos cursos de mestrado. A discussão fomentada por esses autores nos permite uma reflexão acerca das desigualdades educacionais que permeia o sistema educacional brasileiro. Diante das desigualdades raciais presentes na pós-graduação brasileira, essa pesquisa também se apoia em estudos que tratam das relações raciais no Brasil. Dessa maneira torna-se importante problematizar o contexto em que se propagou a ideia de que vivemos em uma democracia racial. Diante disso, esse estudo busca suporte nos estudos de Silvério, Gomes e Fernandes. O interesse em pontuar a questão das desigualdades raciais se deve ao fato de que o sistema de pós-graduação, assim como, o sistema educacional brasileiro, em geral, seja sustentado pela ideia de que todos os indivíduos possuem as mesmas oportunidades educacionais, sendo, nessa concepção, o mérito individual a única maneira de diferenciar esses indivíduos na competição pelo acesso a pós-graduação.