Capı́tulo 4 Funções e Gráficos 4.1 Motivação Vimos no capı́tulo anterior que problemas onde é necessário a determinação dos valores máximos e/ou mı́nimos de uma função aparecem comumente no nosso dia a dia e que, embora aparentemente dissociados, o problema de determinar tais pontos extremos está intimamente relacionado com o problema de determinar a inclinação da reta tangente a uma curva em um dado ponto. Tentaremos abaixo analisar um problema desse tipo com os conhecimentos matemáticos de que dispomos até o momento. 4.1.1 O problema da caixa Considere uma folha de plástico quadrada de lado igual a 20 cm. Como se deve cortar os cantos desta folha de modo a formar uma caixa sem tampa que contenha o maior volume de água possı́vel, quando completamente cheia? Considerando a figura ao lado, o problema consiste em determinar o valor de x, a ser cortado, para obtermos tal caixa. x x x x x x x x Observe que à medida que x varia o volume também varia, isto é, o volume da caixa depende da variável x , que neste problema representa o tamanho do corte que determinará a altura da caixa a ser montada. Dizemos, então, que o volume é uma função de x. Neste caso, a expressão matemática que fornece o volume da caixa para cada valor particular de x é dada por: V = x (20 − 2 x)2 . Repare ainda que x só pode assumir valores entre 0 e 10. (Por quê?) Análise Numérica Para determinar o valor de x, a ser cortado, a fim de que o valor do volume atinja o seu máximo, podemos fazer uma tabela ou lista mostrando o valor do volume para vários valores de x. Como x varia entre 0 e 10, iremos formar uma tabela com n+1 pontos, incluindo 0 e 10. [ x V (x) 0 1 2 3 0 324. 512. 588. 4 5 6 7 8 9 10 576. 500. 384. 252. 128. 36. 0 ] Pela análise da lista acima, verificamos que o valor máximo do volume parece ocorrer para valores de x entre 2 e 4. Podemos melhorar nossa tabela calculando o valor do volume para um maior número de valores de x, melhorando assim a precisão do resultado encontrado anteriormente: 42 Cap. 4. Funções e Gráficos x 0 .2500000000 .5000000000 .7500000000 1. 1.250000000 1.500000000 1.750000000 2. 2.250000000 2.500000000 2.750000000 3. V(x) 0 95.06250000 180.5000000 256.6875000 324. 382.8125000 433.5000000 476.4375000 512. 540.5625000 562.5000000 578.1875000 588. x 3.250000000 3.500000000 3.750000000 4. 4.250000000 4.500000000 4.750000000 5. 5.250000000 5.500000000 5.750000000 6. 6.250000000 V(x) 592.3125000 591.5000000 585.9375000 576. 562.0625000 544.5000000 523.6875000 500. 473.8125000 445.5000000 415.4375000 384. 351.5625000 x V(x) 6.500000000 318.5000000 6.750000000 285.1875000 7. 252. 7.250000000 219.3125000 7.500000000 187.5000000 7.750000000 156.9375000 8. 128. 8.250000000 101.0625000 8.500000000 76.50000000 8.750000000 54.68750000 9. 36. 9.250000000 20.81250000 9.500000000 9.500000000 10. 0 O valor máximo para V parece ser, agora, 592,3125 e este máximo parece ocorrer para valores de x entre 3 e 3,5. Como poderı́amos aumentar a precisão do resultado obtido acima? As listas apresentadas poderiam ser calculadas facilmente sem o auxı́lio de um computador? Mesmo para quem dispõe de um computador, este é um bom método para determinar o máximo de uma função? Análise gráfica Outro modo de tentar calcular o valor máximo de V é fazer uma análise gráfica onde se explicite visualmente a relação existente entre as duas variáveis envolvidas no problema: V (volume da caixa) e x (tamanho do corte). Para isso, vamos usar as tabelas anteriores para tentar obter o gráfico da equação y = V (x). Volume x Corte 600 500 400 300 200 100 0 2 4 x 6 8 10 Verificamos, mais uma vez, que à medida que x varia os valores correspondentes para V crescem até atingir um valor máximo e depois decrescem até zero (veja o gráfico abaixo à esquerda). O problema é como determinar exatamente onde ocorre o valor máximo dessa ou de outra função qualquer. Esses pontos tem uma caracterı́stica geométrica especial: existe uma reta horizontal que é tangente ao gráfico da função no seu ponto de máximo. Veja à direita: 593 593 593 593 593 619 Esta caracterı́stica especial pode nos ajudar a determinar precisamente estes pontos. Como isso pode ser feito? Conclusão Para resolver problemas desse tipo, temos que: 1. Encontrar uma relação entre as variáveis envolvidas, nesse caso VOLUME E CORTE No caso do problema que estudamos no exemplo anterior, a relação encontrada fornece o valor do volume da caixa para cada tamanho x do corte. Neste caso, dizemos que o volume V é uma função do corte x. W.Bianchini, A.R.Santos 43 2. Determinar os pontos onde existe uma reta tangente horizontal ao gráfico da função encontrada no primeiro passo. Este capı́tulo é destinado ao estudo destas correspondências especiais que relacionam as diversas variáveis que aparecem num problema, isto é, ao estudo das funções e seus gráficos. Começaremos este estudo com alguns exemplos. 4.2 Exemplos Exemplo 1 Um dos problemas encarado como um passatempo até poucos anos atrás e que se tornou de importância crucial atualmente, é o de transmitir mensagens codificadas ou, em termos técnicos, criptografar mensagens. Este problema surge e revela toda a sua importância quando é necessário enviar dados sigilosos por meio de uma rede de computadores, saldos e senhas bancárias, informações pessoais, número de cartão de crédito, etc. É preciso criar, então, meios seguros de transmitir esses dados de modo que somente pessoas autorizadas tenham acesso a eles. O primeiro passo para que seja criado um código seguro é estabelecer, de alguma maneira predeterminada, uma correspondência entre letras e números. Existem muitas formas de se definir tal correspondência, a mais simples das quais é dada pela tabela: letras números a 1 b 2 c 3 d 4 e 5 ... ... v 21 x 22 z 23 Essa tabela define uma correspondência que associa a cada letra do nosso alfabeto um único número natural entre 1 e 23. • Por essa correspondência, qual letra está associada ao número 15? • Qual o número correspondente a letra x ? • Você é capaz de estabelecer uma correspondência diferente dessa que associe as letras do alfabeto aos números naturais? É claro que, para transmissão de mensagens, não se pode usar um código tão simples assim. O sigilo dos dados não estaria garantido, porque seria muito fácil descobrir a chave do código e então decodificar a mensagem. Por isso, em geral, depois dessa primeira etapa, em que se faz corresponder letras a números de maneira simples, os números obtidos são ainda operados algebricamente, usando-se regras conhecidas somente pelo receptor e pelo transmissor da mensagem. Suponha que ao número obtido usando-se a tabela anterior, sejam somadas 4 unidades e o resultado multiplicado por 3. • Após esta segunda etapa, qual seria o novo número associado à letra x ? • Qual letra corresponderia ao número 42? • Use o código estabelecido acima para “transmitir” a palavra mar. Exemplo 2 Considere uma caixa d’água cúbica com base de 4 m2 de área. Uma torneira aberta despeja água a uma vazão de 1 3 m /h. A que altura estará o nı́vel de água 1 hora depois? E depois de 2 horas? E depois de 3 horas? 2 Vamos raciocinar juntos: Em primeiro lugar, note que o volume, assim como a altura do nı́vel da água, varia com o tempo. Sabemos também que o volume de água na caixa d’água em qualquer instante de tempo é igual à área da base da caixa vezes a altura do nı́vel da água. Assim, denotando-se por V(t) e h(t) o volume e a altura do nı́vel da água, respectivamente, num certo instante de tempo t teremos: V (t) = 4 h(t) Por outro lado, o volume de água que entrou até o instante t é igual à vazão vezes o tempo transcorrido (no nosso caso, t horas), isto é: t V (t) = . 2 Igualando as equações anteriores, obteremos: t h(t) = . 8 Esta equação fornece a altura do nı́vel da água em cada instante de tempo t. Portanto, para determinarmos a altura do nı́vel da água para t = 1h, t = 2h, t = 3h, ..., basta substituirmos t na equação acima pelo valor desejado. Dizemos que a altura do nı́vel da água depende ou é uma função do tempo. Essa dependência pode ser expressa em notação funcional pela expressão h(t) = 8t , que é chamada de representação analı́tica da função. 44 Cap. 4. Funções e Gráficos Usando o Maple teremos: Definição da função h(t): > h:=t->t/8; h := t → 1 t 8 Cálculo da função para vários valores de t. > h(1); 1 8 > h(2); 1 4 > h(3); 3 8 > h(a); 1 a 8 > h(qualquer_tempo); 1 qualquer tempo 8 Uma outra maneira de representar funções é usando uma tabela. Para esse exemplo, teremos: t h 1 1/8 2 1/4 3 3/8 4 1/2 5 5/8 a a/8 Podemos, também, representar funções graficamente. Uma representação gráfica para a função h, definida neste exemplo, pode ser obtida por meio da tabela anterior, como vemos a seguir. 5 4 3 h(t) 2 1 0 1 2 t 3 4 5 Repare que, como no caso de equações, o gráfico de uma função é o conjunto de todos os pontos (x, y) do plano cartesiano tais que y = h(x), isto é, a abscissa representa a variável independente x e a ordenada o valor da função calculada nesse ponto. A expressão, ou fórmula, y = h(x) como já dissemos, é chamada de representação analı́tica da função h. O gráfico anterior foi obtido calculando-se o valor de h(t) em alguns pontos particulares (por exemplo em t = 1, 2, 3, 4 e 5 e ligando-se os pontos (1, h(1)), (2, h(2)), (3, h(3)), (4, h(4)) e (5, h(5)) por segmentos de reta. Esse método funciona sempre? (Veja no capı́tulo Retas Tangentes o projeto: Programando o Computador para Traçar Gráficos de Funções.) Por que é um ótimo método nesse caso? Exemplo 3 Determinar a área da região limitada pelas retas y = x, x = z e pelo eixo-x, conforme mostrado na figura a seguir à esquerda. Observe a animação apresentada na versão eletrônica deste texto para constatar que esta área depende da escolha de z. Neste caso, como a figura à esquerda é um triângulo retângulo e isósceles (explique!), sua área é 2 dada pela fórmula A(z) = z2 (por quê?) e temos a seguinte representação gráfica para A(z) à direita. y=x 8 6 4 2 x=z 0 1 2 z 3 4 W.Bianchini, A.R.Santos 4.3 45 O conceito de função Para resolver os problemas propostos nos exemplos da seção anterior, foi preciso deduzir uma lei ou fórmula matemática que determinasse precisamente a dependência existente entre as variáveis envolvidas em cada caso. Essa lei ou correspondência é o que chamamos de função. Resumindo: Sejam D e I dois conjuntos quaisquer. Uma função f definida em D é uma regra ou lei de correspondência que associa a cada elemento do conjunto D um único elemento do conjunto I. Em particular, se os conjuntos D e I forem conjuntos de números reais, a cada número real x de D deve corresponder, pela f, um único número real y em I. O conjunto D dos valores permitidos para x chama-se domı́nio da função e o conjunto dos valores correspondentes de y chama-se imagem da função. O conjunto imagem portanto, é um subconjunto de I. O conjunto I é denominado contradomı́nio de f. Costuma-se chamar x de variável independente, porque ela é livre para assumir qualquer valor do domı́nio, e chamar y de variável dependente, porque seu valor depende da escolha de x. Observe que na definição de função exigimos que a cada elemento do domı́nio, fosse associado um único (um e apenas um) elemento da imagem. A razão dessa exigência não se deve a nenhuma restrição matemática. É uma convenção que tem por origem as descrições de fenômenos fı́sicos e biológicos que são feitas por funções do tempo, ou seja, funções cuja variável independente é o tempo. O tempo, como os fı́sicos o concebem, é uma grandeza monótona estritamente crescente, isto é, que não volta nunca para trás, portanto, as relações que descrevem fenômenos fı́sicos associam a cada tempo um só evento, dando origem à definição de função na forma como a entendemos hoje. Exemplo 1 A correspondência que associa a cada número real x o seu quadrado x2 é uma função definida pela equação f (x) = x2 . O domı́nio de f é o conjunto R de todos os números reais. A imagem de f consiste de todos os valores de f (x), isto é, de todos os números que são da forma x2 . Como x2 ≥ 0, qualquer que seja o número x, temos que a imagem de f é o conjunto { y ∈ R; y ≥ 0} = [ 0, ∞ ). Exemplo 2 Se definirmos uma função por g(x) = x2 para 0 ≤ x ≤ 3, então o domı́nio de g é o intervalo fechado [ 0, 3 ] e sua imagem é o intervalo [ 0, 9 ]. Essa função é diferente da função dada no exemplo anterior, porque seus domı́nios e suas imagens são diferentes. Nos exemplos 1 e 2, o domı́nio da função foi dado explicitamente. Se uma função é dada por uma fórmula e seu domı́nio não é indicado explicitamente, entende-se que o seu domı́nio é o maior possı́vel, isto é, o conjunto de todos os números para os quais a fórmula faça sentido e defina um número real. 1 Exemplo 3 Ache o domı́nio da função f (x) = 2 . x −x 1 1 Solução Como f (x) = 2 = e a divisão por zero não faz sentido, vemos que f não está definida x −x x (x − 1) quando x = 0 e x = 1. Conseqüentemente, o domı́nio de f é { x ∈ R; x ̸= 0, x ̸= 1 } ou em notação de intervalo ( −∞, 0 ) ∪ ( 0, 1 ) ∪ ( 1, ∞ ). √ Exemplo 4 Ache o domı́nio de h(x) = 2 − x − x2 . Solução Como no conjunto dos números reais raı́zes quadradas de números negativos não estão definidas, o domı́nio de h consiste de todos os valores de x para os quais 2 − x − x2 ≥ 0. Resolvendo esta inequação, temos que o domı́nio de h é { x ∈ R; −2 ≤ x ≤ 1 } = [ −2, 1 ]. Como vimos na seção anterior, podemos representar uma função por uma tabela, por uma expressão matemática do tipo y = f(x), ou por um gráfico. Devido à importância da representação gráfica de uma função, iremos estudá-la com mais detalhes na próxima seção. 4.4 Gráficos de funções: Definição e exemplos Como já vimos, o termo gráfico em matemática geralmente é usado quando estamos descrevendo uma figura por meio de uma condição que é satisfeita pelos pontos da figura e por nenhum outro ponto. Uma das representações gráficas mais comuns e importantes em matemática é o gráfico de uma função. Podemos representar graficamente uma função usando vários tipos de gráficos: gráficos de barras, correspondência ou relação entre conjuntos e gráficos cartesianos. 46 Cap. 4. Funções e Gráficos Como já vimos nos exemplos da seção anterior, o gráfico cartesiano de uma função é o conjunto de todos os pontos (x, y) do plano que satisfazem a condição y = f(x), ou seja, o gráfico de uma função é o conjunto de todos os pontos do plano da forma (x, f(x)), com x variando no domı́nio de f. Os gráficos cartesianos permitem visualizar “a forma” geométrica de uma função e suas principais caracterı́sticas. Além disso, como a coordenada y de qualquer ponto (x, y) do gráfico de uma função f é igual ao valor desta função calculada em x, podemos obter o valor de f (x) por meio de seu gráfico. Este valor é, simplesmente, a altura do gráfico correspondente ao ponto x. Veja a seguir alguns exemplos de gráficos de funções. Estes gráficos foram obtidos usando-se o comando plot do Maple. Exemplo 1 : Gráfico da função y = x2 > plot(x^2-1,x=-2..2); Exemplo 2 : Gráfico da função y = x3 − 3 x > plot(x^3-3*x,x=-2..2); 2 3 1 2 –2 1 –1 1 x 2 –1 –2 0 –1 1 x 2 –2 –1 O gráfico de uma função é, portanto, uma curva plana. A questão que surge agora é: Qualquer curva plana representa o gráfico de alguma função? Para responder a esta pergunta, verifique quais das curvas a seguir representam gráficos de funções. (Lembre-se: uma função é uma correspondência especial que a cada ponto do seu domı́nio associa um único ponto na sua imagem.) 2 5 2 1 4 1 –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0.2 0.4 x 0.6 0.8 1 –1 3 0 2 –1 –2 –1 0 1 x 2 1 1 0.8 0.8 1.6 0.6 0.6 0.4 1.2 2 0.4 0.2 1 0.2 0.8 –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 –0.2 0.6 –0.4 –0.4 0.4 –0.6 –0.6 0.2 –0.8 –0.8 0 1.2 1.4 1.6 1.8 2 1.8 1.4 –1 1 –2 –2 –2 0.2 0.4 0.6 0.8 1 x 0.2 0.4 0.6 0.8 1 –2 –1 –1 2 –0.2 1 x 2 –1 As curvas anteriores que representam gráficos de funções são aquelas em que nenhuma reta vertical as interceptam em mais de um ponto. Isto porque se uma reta vertical x = a intercepta uma curva em um único ponto ( a, b ), então há somente um valor definido para f (a), e este valor é b. Se, por outro lado, a reta x = a intercepta a curva em mais de um ponto, então a curva não pode representar uma função porque, neste caso, dois valores diferentes estariam associados, pela função, a x = a. Agora responda: o gráfico de uma função pode ser simétrico em relação ao eixo x ? E em relação ao eixo y? O que representam os pontos onde o gráfico de uma função corta o eixo x ? Exercı́cio 1 Cada gráfico abaixo, representa uma função y = f(x). O que se pode concluir em relação ao número de raı́zes reais da equação f(x) = 0 ? Em cada caso, determine os valores de x para os quais y > 0 e os valores de x para os quais y < 0. 4 3 2 1 1.8 0.8 1.6 0.6 y 0.4 1.4 1.2 0.2 y1 2 –2 0.8 1 –1 0 1 x 2 –2 –1 0 –0.2 0.6 –0.4 0.4 –0.6 0.2 –2 –1 0 –0.8 1 x 2 –1 1 x 2 W.Bianchini, A.R.Santos 47 Exercı́cio 2 Observe ao lado os gráficos das funções y = 1 e y = x traçados em conjunto. > plot([1,x],x=-2..2,color=[red,blue]); • Determine, graficamente, o ponto de interseção das duas retas. • Como se pode determinar analiticamente os pontos onde o gráfico dessas funções se interceptam? 2 1 –2 –1 1 x 2 –1 –2 18 16 Exercı́cio 3 Na figura ao lado, estão representados em conjunto os gráficos das funções y = 2 (x − 1)2 e y = x. > plot([2*(x-1)^2,x],x=-2..4, color=[red,blue]); • Quais são os pontos de interseção dessas curvas? 14 12 10 8 6 4 2 –2 –1 0 –2 1 2 x 3 4 Exemplo 3 Considere a função f definida por { f (x) = 1 − x se x ≤ 1 x2 se x > 1 Calcule f (0), f (1) e f (2) e esboce o gráfico desta função. Solução Uma função é uma regra. Neste exemplo em particular, a regra é a seguinte: se x ≤ 1, então o valor de f (x) é dado por 1 − x. Se, por outro lado, x > 1, então o valor de f (x) é dado por x2 . Assim, temos que f (0) = 1 − 0 = 1, f (1) = 1 − 1 = 0 (repare que 1 ≤ 1) e f (2) = 22 = 4. Para traçar o gráfico de f , observe que se x ≤ 1, então f (x) = 10 1 − x. Assim, a parte do gráfico de f que está à esquerda da reta vertical x = 1 coincide com a reta y = 1 − x, cuja declividade 8 é −1 e a interseção com o eixo y é o ponto (0, 1). Se x > 1, 6 então f (x) = x2 e a parte do gráfico de f que está à direita da y 4 reta x = 1 deve coincidir com o gráfico de y = x2 , que é uma parábola. O gráfico desta função está esboçado na figura ao lado. 2 O disco sólido indica que o ponto em questão faz parte do gráfico –4 –2 2 x 4 da função e o cı́rculo vazio indica que o ponto não faz parte do gráfico. Exercı́cio 4 Ache uma fórmula para a função cujo gráfico é dado abaixo. 4 3 2 1 0 Exemplo 4 Considere agora a função y = com a ajuda do Maple. > x2 −1 x−1 1 2 3 4 . Qual o seu domı́nio? Observe o gráfico dessa função traçado plot((x^2-1)/(x-1),x=-3..3); 4 3 2 1 –3 –2 –1 0 1 x 2 3 –1 –2 Compare o domı́nio de y = y = x + 1? Por quê? x2 −1 x−1 com o de y = x +1. Este gráfico está correto? Esta função é igual a função Definição Dizemos que duas funções y = f (x) e y = g(x) são iguais se elas têm o mesmo domı́nio e se f (x) = g(x) para todos os valores de x do seu domı́nio comum. 48 Cap. 4. Funções e Gráficos Assim, no exemplo acima as funções y = x2 −1 x−1 e y = x + 1 não são iguais porque têm domı́nios diferentes. O ponto x = 1 pertence ao domı́nio de y = x + 1, mas não pertence ao domı́nio de y = 4.5 x2 −1 x−1 . Operando com funções Duas funções f e g podem ser combinadas para formar novas funções f + g, f − g, f g e ao modo como somamos, subtraı́mos, multiplicamos e dividimos números reais. A soma f + g é definida pela equação (f + g)(x) = f (x) + g(x). f g, de uma maneira análoga Repare que o lado direito desta equação só faz sentido se f (x) e g(x) estão definidas, isto é, se x pertence tanto ao domı́nio de f quanto ao domı́nio de g. Assim, se o domı́nio de f é A e o domı́nio de g é B, o domı́nio de f + g é a interseção destes domı́nios, isto é, A ∩ B. Note, ainda, que o sinal de + no lado esquerdo da equação indica uma adição de funções, mas o mesmo sinal do lado direito da equação indica a adição dos números reais f (x) e g(x). Analogamente, define-se a diferença f − g e o produto f g, e seus respectivos domı́nios são também A ∩ B. Para definir o quociente fg de duas funções, devemos lembrar que a divisão por zero não faz sentido. Em resumo: Sejam f e g duas funções com domı́nios A e B, respectivamente. Então, as funções f + g, f − g, f g e fg são definidas como se segue: Função (f + g)(x) = f (x) + g(x) Domı́nio A∩B (f − g)(x) = f (x) − g(x) A∩B (f g)(x) = f (x) g(x) f f (x) (x) = g g(x) A∩B { x ∈ A ∩ B; g(x) ̸= 0 } Operar com funções tem muitas aplicações práticas. Por exemplo, se a função f (t) representa um registro de som, então a função 2 f (t) efetivamente amplifica este som por um fator de 2. Este é o princı́pio por detrás do processo de digitalização de sinais de vı́deo e de audio. Se f (x) representa um sinal de vı́deo e g(x) representa um outro, então f (x) + g(x) representa os dois sinais sobrepostos. Combinando-se a operação de adicionar funções com a operação de multiplicar funções por constantes pode-se obter alguns efeitos interessantes. A seqüência abaixo representa uma seqüência de sinais de vı́deo que começa com f (x) e então muda suavemente para g(x). f (x) 0, 9 f (x) + 0, 1 g(x) 0, 8 f (x) + 0, 2 g(x) .. . 0, 1 f (x) g(x) + 0, 9 g(x) Este efeito é freqüentemente usado em televisão e cinema para fazer a transição de uma cena para outra. Execute na versão eletrônica a animação correspondente e observe o efeito produzido! O produto e o quociente de funções são úteis em diferentes contextos. Assim, se uma função f (t) descreve o consumo de energia per capita em um determinado paı́s em cada perı́odo de tempo t, por exemplo, a cada mês, e a função p(t) fornece a população do paı́s, então a função produto E(t) = f (t) p(t) fornece o consumo total de energia daquele paı́s para cada perı́odo de tempo t. Da mesma maneira, se a função f (t) fornece a produção total de um paı́s qualquer em um determinado perı́odo de tempo t e, como antes, a função p(t) fornece a população deste paı́s, então (t) fornece a produção per capita de alimentos. Se uma região retangular muda de tamanho e se o quociente C(t) = fp(t) o seu comprimento e sua altura variam de acordo com as funções f (t) e g(t), respectivamente, em cada instante de tempo t, então a sua área é dada pelo produto A(t) = f (t) g(t). Uma outra forma de combinarmos funções para obter uma nova função é por composição que estudaremos mais tarde, no decorrer deste texto. Exercı́cio Em cada um dos itens abaixo ache f + g, f − g, f g e fg e seus respectivos domı́nios: √ √ (a) f (x) = x3 + 2 x2 , g(x) = 3 x2 − 1 (b) f (x) = 1 + x, g(x) = 1 − x W.Bianchini, A.R.Santos 4.6 49 Um pouco de história Em termos intuitivos, uma função é uma regra ou lei que nos diz como duas ou mais quantidades variam entre si. Já no século XIII os filósofos escolásticos – que seguiam a escola de Aristóteles – discutiam a quantificação de formas variáveis. Entre tais formas, eles estudavam a velocidade de objetos móveis e a variação da temperatura de ponto para ponto de um sólido aquecido. No século XIV, Oresme – teólogo e matemático francês – teve a brilhante idéia de traçar uma figura ou gráfico das grandezas que variam. Esta foi, talvez, a primeira sugestão do que hoje é chamado de representação gráfica de uma função. A idéia de Oresme foi aprofundada mais tarde, no século XVII, por m Fermat e Descartes, que definiram um sistema de coordenadas no plano, estabeleceram a correspondência entre uma equação f(x, y) = 0 e a curva plana consistindo de todos os pontos de coordenadas (x, y) que satisfazem a equação dada e introduziram a noção de variável. Em particular, Descartes verificou que uma relação algébrica do segundo grau tinha como imagem gráfica uma curva cônica, isto é, uma elipse, uma hipérbole, uma parábola ou uma circunferência. Fermat também estudou as cônicas e estabeleceu que as retas são as curvas descritas por meio de uma relação algébrica de primeiro grau. O estudo desses dois gênios contribuı́ram, significativamente, para estabelecer os fundamentos que permitiram, mais tarde, o desenvolvimento da teoria do Cálculo Diferencial e Integral, por Newton e Leibniz. 4.7 Atividades de laboratório Usando um computador e o Maple, faça as atividades propostas no arquivo lab1.mws da versão eletrônica deste texto. 4.8 Exercı́cios 1. No exemplo 1 da seção Exemplos, estabelecemos uma correspondência entre as letras do alfabeto e um subconjunto dos números naturais. Essa correspondência define uma função f ? Qualquer correspondência define uma função? Você é capaz de dar outros exemplos de funções definidas em conjuntos não numéricos? E de funções definidas em conjunto não numéricos tomando valores em conjuntos numéricos? 2. Nos exemplos 2 e 3 da seção Exemplos, determine o domı́nio e a imagem de cada função. √ √ 3. (a) Se f (x) = 2 x2 + 3 x − 4, ache f (0), f (2), f ( 2), f (1 + 2), f (−x), 2 f (x) e f (2 x). (b) Se g(x) = x3 + 2 x2 − 3, ache g(0), g(3), g(−x) e g(1 + h). 4. Em cada um dos ı́tens abaixo ache f (2 + h), f (x + h) e f (x+h) h x (a) f (x) = x − x2 (b) f (x) = x+1 5. O domı́nio de uma função f é { 1, 2, 3, 4, 5, 6 } e f (1) = 2, f (2) = 1, f (3) = 0, f (4) = 1, f (5) = 2 e f (6) = 4. Qual é a imagem de f ? 6. Ache o domı́nio e a imagem das seguintes funções: √ (a) f (x) = 2 x + 7, −1 ≤ x ≤ 6 (d) h(x) = 2 x − 5 √ (b) f (x) = 6 − 4 x, −2 ≤ x ≤ 3 (e) F (x) = 1 − x2 1 2 (c) g(x) = 3 x−5 (f) h(x) = (7 − 3 x) 4 7. Ache o domı́nio das seguintes funções: (a) f (x) = x+2 x2 −1 1 (b) g(x) = (x2 − 6 x) 4 (c) f (x) = x4 x2 +x−6 √ (d) x2 −2 x x−1 (e) g(x) = (f) f (x) = √ x2 − 2 x − 8 √ (g) F (x) = 1 − √ x √ (g) t2 + 1 √ (h) t − 1 x π−x 8. (a) A expressão y = | xx | define y como função de x ? Em caso afirmativo, qual o seu domı́nio e qual a sua imagem? (b) Idem para y = x2 + x + 1? (c) Esboce o gráfico das funções dadas nos ı́tens anteriores. 9. Sob que condições a expressão y 2 + x2 = 1 define y como função de x? 50 Cap. 4. Funções e Gráficos 4.9 Problemas Propostos 1. Um industrial deve fabricar latas cilı́ndricas tampadas com um volume fixo V. O material usado custa R$ 0,50 o m2 . Determine o custo unitário das latas como função de seu raio. 2. De um pedaço de papelão quadrado com L cm de lado, deve-se construir uma caixa sem tampa de base quadrada. Determine a área lateral da caixa como função de sua altura. 3. Um arame de comprimento L deve ser cortado em dois pedaços. Com um dos pedaços constrói-se um quadrado e com o outro um triângulo equilátero. Determine a soma das áreas dessas figuras como função do comprimento de um dos pedaços. 4. Na escala Fahrenheit, para medir temperaturas, a água congela a 320 e ferve a 2120 . Na escala centı́grada, a água congela a zero grau e ferve a 1000 . Ache uma lei matemática que possa ser usada para converter graus centı́grados em Fahrenheit. 5. Um boêmio perambulando pela calçada numa noite escura observa ao passar sob um poste iluminado que o comprimento de sua sombra depende da sua posição em relação ao poste. Sabendo que o comprimento do poste é a metros e a altura do boêmio é de b metros, determine o comprimento da sombra como função da posição do boêmio em relação ao poste. 6. (a) Uma função f é dita crescente quando f (x) cresce à medida em que x cresce, isto é, quando o gráfico de f ascende para a direita. Essa condição deve valer para todo x no domı́nio de f. Quando essa condição vale somente para os valores de x num determinado intervalo, diz-se que f é crescente naquele intervalo. Como se pode exprimir essa condição matematicamente? Dê exemplos de funções crescentes. (b) Uma função f é dita decrescente, quando f(x) decresce à medida que x cresce, isto é, quando o gráfico de f descende para a direita. Essa condição deve valer para todo x no domı́nio de f. Quando essa condição vale somente para os valores de x num determinado intervalo, diz-se que f é decrescente naquele intervalo. Como se pode exprimir essa condição matematicamente? Dê exemplos de funções decrescentes. 7. Uma funçãof é dita par se f (−x) = f (x) para todo x de seu domı́nio e é dita ı́mpar se f (−x) = −f (x) para todo x de seu domı́nio. Nos dois casos, entende-se que −x está no domı́nio de f toda vez que x está. Determine se cada uma das funções a seguir, ou nenhuma da duas, é par ou ı́mpar. (a) f(x) = x3 (c) f(x) = x2 + x1 (e) f(x) = x (x3 + x) (b) f(x) = | x | (d) f(x) = x (x + 1) (f) Trace o gráfico de cada uma das funções acima. Confira a sua resposta usando o comando plot do Maple. (g) Qual o aspecto geométrico caracterı́stico do gráfico de uma função par? E de uma função ı́mpar? (h) O que se pode afirmar a respeito da soma de funções pares? E de funções ı́mpares? (i) O que se pode afirmar a respeito do produto de funções pares? E de funções ı́mpares? E do produto de uma função par por uma função ı́mpar? 8. A figura mostra a parte situada à direita do eixo y do gráfico de uma função f . 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 –1 –2 Trace o gráfico de f no intervalo [ −5, 5 ] se (a) f é uma função par. (b) f é uma função ı́mpar. Nesse caso, quanto vale f (0)? (Veja Atividades de Laboratório:Funções e Gráficos- Atividade 3 ). W.Bianchini, A.R.Santos 51 9. A figura a seguir representa o gráfico de uma função f , definida no intervalo [−4, 4], como a união dos segmentos de reta que ligam os pontos ( −4, −1 ), ( −3, −2 ), ( −2, −2 ), ( −1, 1/2 ), ( 0, 1 ), ( 1, 2 ), ( 2, 0 ), ( 3, −1 ), ( 4, 0 ). 2 1 –4 –2 2 4 –1 –2 (a) Quais os valores de x para os quais f (x) = 0? (b) Em cada um dos ı́tens abaixo, esboce os gráficos das funções definidas a partir de f , identificando, em cada caso, a transformação geométrica ocorrida no gráfico de f . Você é capaz de justificar analiticamente a sua resposta? (Veja Atividades de laboratório: Funções e gráficos - Atividade 1 ) i. f1 (x) = −f(x) iv. f4 (x) = 2 f(x) vii. f7 (x) = f(x − 1) ii. f2 (x) = f(−x) v. f5 (x) = f(x) + 1 viii. f8 (x) = | f(x) | iii. f3 (x) = −f(−x) vi. f6 (x) = f(x + 1) ix. f9 (x) = f(| x |) 10. Trace o gráfico de cada uma das funções abaixo. Não marque pontos! Comece com um gráfico de uma função que você conheça e então aplique, neste gráfico padrão, as transformações apropriadas (translações, reflexões, dilatações, etc.). 1 (h) y = | x2 − 2 x | (a) y = −1 (e) y = 2 + x+1 x √ 3 1 (b) y = −x (i) y = x + 2 (f) y = x−3 √ (c) y = 1 + x (j) y = 1 + 2 x + x2 (g) y = x2 + x + 1 √ 3 (d) y = (x − 1) + 2 (k) y = | x | 11. O sı́mbolo [x ] é usado para indicar o maior inteiro que é menor ou igual a um número real x. Por exemplo, [ 1 ] = 1, [ 2, 1 ] = 2, [ π ] = 3 e [ −1, 7 ] = −2. Esboce os gráficos das funções abaixo no intervalo (−4, 4): (a) y = [ x ] (b) y = x − [ x ] 12. Quando um foguete de provas é lançado, o propelente queima durante alguns segundos, acelerando o foguete para cima. Após a queima total do combustı́vel, o foguete ainda continua subindo durante um certo tempo, e então inicia-se o perı́odo de queda livre de volta à Terra. Uma pequena carga explosiva arremessa um para-quedas logo após o foguete começar a descer. O para-quedas diminui a velocidade de queda do foguete o suficiente para evitar que ele se quebre ao aterrissar. O gráfico abaixo, representa a velocidade desenvolvida pelo foguete a partir do seu lançamento. Use o gráfico para responder as perguntas abaixo: 60 40 20 0 2 4 6 t 8 10 12 –20 (a) Com que velocidade o foguete subia quando o motor parou? (b) Durante quantos segundos o motor funcionou? (c) Quando o foguete atingiu a sua maior altura? Qual era a sua velocidade nesse momento? (d) Quando foi lançado o para-quedas? (e) Com que velocidade o foguete estava caindo nessa ocasião? 52 Cap. 4. Funções e Gráficos 13. No capı́tulo Alguns Problemas do Cálculo vimos que podemos aproximar a área da região limitada pelo eixo x, por duas retas verticais quaisquer e uma curva dada, aproximando-a pela soma das áreas de retângulos inscritos ou circunscritos. Determine a área aproximada da região limitada pela parábola y = x2 , pelo eixo x e pelas retas x = 0 e x = 1 em função do (a) número de retângulos inscritos na região. (b) número de retângulos circunscritos à região. Sugestão: Considere, em cada caso, n retângulos de base igual a n1 e use a notação de somatório para expressar a soma das áreas dos retângulos considerados. (c) Repita esse exercı́cio para a região limitada pela parábola y = x2 , pelo eixo x e pelas retas x = 0 e x = h. (d) Uma reta que intercepta uma parábola em dois pontos define uma região do plano chamada de setor parabólico. Há dois milênios atrás Arquimedes descobriu um método de achar a área de um setor parabólico. Mostre que o problema de achar a área de um setor parabólico é equivalente ao problema descrito nos ı́tens anteriores, isto é, calcular a área da região limitada pela parábola, duas retas verticais e o eixo x. Veja figura abaixo. 4 3 2 1 –2 –1 0 1 x 2 –1 14. No Capı́tulo Alguns Problemas do Cálculo vimos que podemos aproximar o comprimento de um arco de curva por segmentos de reta cujas extremidades são pontos do arco em questão. Determine um valor aproximado para o comprimento do arco de parábola y = x2 , definido no intervalo [ 0, 1 ], em função do número de subdivisões do arco. Use, como no problema anterior, a notação de somatório. 4.10 Para você meditar: Circunferências podem ser quadradas? A distância entre dois pontos do plano pode ser definida como uma função d que a cada par de pontos P1 e P2 associa um número real positivo, com as seguintes propriedades: 1. 0 ≤ d(P1 , P2 ) e d(P1 , P2 ) = 0 se e somente se P1 = P2 . 2. d(P1 , P2 ) = d(P2 , P1 ) (Simetria). 3. d(P1 , P2 ) ≤ d(P1 , P3 ) + d(P3 , P2 ), onde P3 é um ponto do plano. (Desigualdade Triangular). Essas condições somente traduzem em linguagem matemática as propriedades que intuitivamente esperamos de uma função-distância: 1. A distância entre dois pontos deve ser sempre positiva e só deve se anular quando os pontos coincidirem. 2. A distância medida de um ponto P1 até um ponto P2 deve ser a mesma, quer essa medida seja feita de P1 a P2 ou de P2 a P1 . 3. Essa propriedade nos diz simplesmente que, dados três pontos no plano, qualquer lado do triângulo por eles formado é menor que a soma dos outros dois. Por isso essa desigualdade é chamada desigualdade triangular. Em que caso vale a igualdade? Num sistema de coordenadas cartesianas, a função que usualmente empregamos para medir a distância entre dois pontos P1 e P2 de coordenadas (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ), respectivamente, é dada pela fórmula √ d(P1 , P2 ) = d((x1 , y1 ), (x2 , y2 )) = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 que é uma decorrência do teorema de Pitágoras da geometria euclidiana plana e por isso é chamada de distância Euclidiana. W.Bianchini, A.R.Santos 53 • Verifique que a função que define a distância Euclidiana no plano satisfaz as três condições dadas acima, e portanto é uma boa função para medir distâncias. Qual o seu domı́nio e qual a sua imagem? Existem outras funções que satisfazem as propriedades acima e que, portanto, podem ser empregadas para medir distâncias no plano. • Verifique que a função d1 (P1 , P2 ) = d1 ( ( x1 , y1 ), ( x2 , y2 )) = |x1 − x2 | + |y1 − y2 | pode ser empregada para medir distâncias no plano. Podemos definir uma circunferência como o lugar geométrico dos pontos que eqüidistam de um ponto fixo C. O ponto fixo é chamado centro da circunferência e a distância de qualquer dos seus pontos ao centro é o raio dessa circunferência. Usando a distância euclidiana, que é definida no Maple pelo comando distance do pacote student, e a propriedade geométrica que caracteriza esse lugar geométrico, traçamos o gráfico da circunferência de centro em (0, 0) e raio 1 e calculamos a sua equação. > distance([0,0],[x,y])=1; √ x2 + y 2 = 1 1 0.8 0.6 y 0.4 0.2 –1–0.8 –0.4 0 –0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 1 x –0.4 –0.6 –0.8 –1 − Usando a distância d1 e a propriedade geométrica que caracteriza a circunferência de centro em (0, 0) e raio 1, trace o gráfico e escreva a equação dessa circunferência. (Usando o Maple, utilize o comando abs para calcular a distância d1 .) − Você é capaz de explicar por que a circunferência agora é um “quadrado”? 4.11 Projetos 4.11.1 Melhor escolha (1) Um provedor oferece aos seus associados 4 planos diferenciados de pagamento para acesso à Internet, de acordo com a tabela abaixo: Plano Laranja Plano Verde Plano Azul Plano Vermelho Assinatura mensal (R$) 17,95 27,95 49,95 75,95 Tempo de acesso incluı́do (h) —– 15 60 150 Taxa por hora adicional (R$) 0,73 0,53 0,35 0,35 • Qual dos planos é o mais econômico se você pretende acessar a Internet durante cerca de 45h por mês? • Deduza, em cada caso, a tarifa paga em função das horas de acesso. • Esboce os gráficos das funções deduzidas no item anterior usando a mesma janela para os quatro planos. • Note que a escolha do plano mais econômico varia de acordo com o número de horas de acesso à Internet. Decida para quais faixas de uso cada um dos planos é o mais econômico. 54 Cap. 4. Funções e Gráficos 4.11.2 Contas a pagar As companhias fornecedoras de luz, água, telefone em geral fazem a cobrança pelo fornecimento residencial segundo faixas de consumo como descrito na tabela abaixo para o fornecimento de água: Faixa de Consumo (m3 ) 0 − 15 acima de 15 até 25 acima de 25 até 40 Tarifa (R$/m3 ) 0,353 0,696 1,153 Fonte: CEDAE - Fevereiro/96 • Que valor deve ser cobrado a uma famı́lia que consumiu 38 m3 de água ? • Compare o seu resultado com o valor real cobrado pela CEDAE: R$37, 68. • Sabendo que, além do fornecimento de água, a CEDAE cobra uma taxa fixa pelo tratamento do esgoto domiciliar, calcule qual a taxa de esgoto cobrada no caso acima. • Explicite a tarifa cobrada em função da quantidade de água consumida e esboce seu gráfico. O imposto de renda também é cobrado de acordo com a faixa de renda das pessoas fı́sicas com base na tabela a seguir: Faixas de renda (R$ ) Até 8803,44 Acima de 8803,44 até 171666,30 Acima de 17166,30 até 158457,39 Acima de 158457,39 Alı́quota (%) Isento 15 % 26,6 % 35 % Parcela a deduzir (R$ ) —1320,52 3313,45 16622,63 Fonte: Receita Federal - Ano base 1995 • Você é capaz de explicar o que significa a parcela a deduzir nesta tabela ? • Calcule, explicitamente, o imposto cobrado em função da renda. • Complete, com as parcelas a deduzir, a tabela anual do Imposto de Renda (1991). Faixas de renda (*) Até 328628,00 Acima de 328628,00 até 1095408,00 Acima de 1095408,00 Alı́quota (%) isento 10 % 25 % Parcela a deduzir (*) —– .......... .......... (*) Em unidades monetárias da época. 4.11.3 Melhor escolha (2) Um produtor teatral precisa decidir se monta sua próxima peça num teatro da Zona Sul do Rio de Janeiro ou se opta por um teatro na Zona Norte. Para tomar tal decisão, ele levantou os seguintes dados: Investimento Inicial (cenários, figurinos, ensaios, propaganda, administracão,etc.) Despesas Semanais (aluguel do teatro, salários,aluguel de luzes e som, pagamento de royalties e comissões, etc.) Capacidade do teatro Preço do Ingresso Teatro Zona Sul Teatro Zona Norte R$ 129 500,00 R$ 44 000,00 R$ 7 025,00 200 lugares R$ 15,00 R$ 1 750,00 100 lugares R$ 10,00 A peça será apresentada durante 6 dias na semana e estima-se que seja possı́vel vender 75% dos ingressos em ambos os teatros. Seja Y1 o lucro ou a perda da produção na Zona Sul e seja Y2 o lucro ou perda da produção na Zona Norte. • Expresse Y1 e Y2 como função do número X de semanas em que a peça permanece em cartaz. W.Bianchini, A.R.Santos 55 • Calcule, em cada caso, quantas semanas a peça deverá permanecer em cartaz para que o produtor não tenha prejuı́zo. • Refaça o cálculo do item anterior se for possı́vel vender 100 % dos ingressos. • Suponha que em ambas as produções seja possı́vel vender C % dos ingressos semanais. Em cada um dos casos estudados determine: – o número X de semanas, em que a peça deverá permanecer em cartaz para que a produção não dê prejuı́zo, como função de C. – o menor valor de C para que não haja prejuı́zo? Seja P1 o lucro ou prejuı́zo da produção na Zona Sul, X semanas após a noite de estréia, expresso como uma porcentagem do investimento inicial. Seja P2 essa mesma porcentagem para a produção na Zona Norte. • Expresse P1 e P2 em função de X (considere que 75% dos ingressos são vendidos). • Esboce os gráficos de P1 e P2 na mesma janela. • Discuta o que acontece com P1 e P2 quando X aumenta. • P1 será maior que P2 para algum valor de X ? O que se pode concluir daı́?