Introdução
Geologia é uma ciência que nasce da curiosidade do Homem pelo passado da
Terra, mas tem sido construída pelo presente.
Por descobertas recentes, verifica-se que a Terra, como a conhecemos, resulta
da interacção de um grande conjunto de processos, muito ou pouco violentos, que
a têm modificado continuamente ao longo dos tempos.
Por isso, verificamos que qualquer vulcão ou região sísmica potencialmente
activa já terá concerteza exercido a sua influência na formação da Terra e quase de
certeza continuará a contribuir para a constante mutação deste planeta.
A Geologia é, então, a ciência que estuda a Terra, desde a sua origem e
formação até à actualidade, a sua estrutura e as sucessivas transformações que vão
afectando os diferentes subsistemas que a compõem.
À esquerda: evolução da
deriva dos continentes.
O entrave às novas ideias
Desde muito cedo o Homem começou a questionar a fragmentação dos
continentes e de que forma a Terra evoluiu ao longo da história.
As primeiras teorias propostas pelo Homem para explicar todos estes
acontecimentos foram apresentadas numa época em que qualquer teoria, qualquer
resposta a um acontecimento, tinha uma explicação intrinsecamente ligada ao
culto religioso. Todas as grandes catástrofes eram interpretadas como
manifestações da intervenção divina. A Igreja desempenhava um papel
importante na sociedade e, desta forma, as teorias desta época não se opunham à
interpretação bíblica da origem da Terra.
O nascimento da Geologia moderna
O aparecimento desta ciência é indefinido, pois sempre existiram estudos
geológicos à margem das comunidades cientificas de cada era, mas a sua
primeira aparição como ciência oficial data do séc. XVIII, altura em que
apareceram teorias que contribuíram sobremaneira para a estabilização da
Geologia como a ciência que conhecemos: racional, autónoma e influente no
nosso dia-a-dia.
Actualismo geológico - Teoria do Uniformitarismo
Elaborada por James Hutton em meados do séc.XVIII, um século de aceso
duelo entre as teorias religiosas as teorias científicas. Este aceso duelo ciênciareligião é passível de ser observado nesta teoria, que se debruça sobre o passado
geológico da Terra, que tinha sido explicado pela Igreja como o resultado de um
grande dilúvio. Hutton, ao observar que em vários locais, rochas estratificadas
tinham dois conjuntos de estratos em posições diferentes, sendo o inferior
ligeiramente inclinado em relação ao conjunto de estratos mais recente, que
estavam em posição horizontal.
continua…
Á esquerda: estratos na vertical sob
estratos horizontais.
À direita: James Hutton
Hutton serviu-se deste facto para afirmar que estes estratos significariam a
história da Terra, dado representarem um conjunto de modificações no interior
do planeta por intermédio de forças deformativas e erosivas, no caso dos estratos
mais inferiores , não apresentando qualquer sinal de um começo nem de uma
perpesctiva de fim definidos.
A Teoria do Uniformitarismo defendia duas ideias principais:
- os acontecimentos geológicos do passado são o resultado de forças da natureza
idênticas às que se observam hoje em dia;
- os acontecimentos geológicos são o resultado de lentos e graduais processos da
Natureza.
As ideias descritas anteriormente representam duas noções da Geologia moderna:
a noção de Actualismo Geológico e a noção de Gradualismo Uniformitarista, ou
apenas Gradualismo.
Estes princípios podem ser exemplificados recorrendo a situações referentes a
diferentes fenómenos geológicos.
Exemplo a) se se quiser estudar um jazigo de carvão formado numa bacia
pantanosa, devemos estudar um pântano actual, por forma a descobrirmos a
maneira como a qual as coisas se processavam. Isto resulta numa melhor
compreensão e numa melhor interpretação da formação de um jazigo de carvão
que tenha ocorrido há milhões de anos.
Á direita: aspecto de uma floresta do período
carbonífero
Exemplo b) – ao analisar-se fosseis de camadas sedimentares, onde ocorre um
jazigo de carvão, verifica-se que se trata de fosseis aparentados com plantas
actuais, que se caracterizam por ocuparem um habitat tropical. Assim pode-se
concluir que o referido jazigo de carvão, com aquele conjunto de fosseis, aquando
da sua formação, localizar-se-ia numa região de clima tropical.
Em baixo: Fósseis associados a um
jazigo de carvão
Exemplo c) – se analisarmos a dinâmica de um rio actual, poderemos interpretar
de forma mais correcta os depósitos de rochas sedimentares que tenham tido na
sua origem um curso de água antigo. Assim, sedimentos de grandes dimensões
são transportados por rios com muita energia, pelo que se analisarmos um
depósito sedimentar de origem fluvial, com sedimentos de grande dimensões,
podemos concluir que foram transportados por um rio muito energético.
À direita: Dinâmica de um rio na actualidade
Processos violentos e tranquilos
Catastrofismo
Como referido anteriormente, até parte do séc.XVIII muitos acontecimentos
geológicos eram explicados com uma intervenção divina. Uma erupção vulcânica, ou
um sismo eram situações grandiosas o suficiente para que fosse considerada a
existência de mão divina. Achar fósseis de animais marinhos em montes altos eram
acontecimentos que até meados do séc.XVIII só eram explicados tendo por base o
conceito de catastrofismo. Este tipo de ideologia ficou conhecido exactamente por
catastrofismo
À direita: Vulcão em erupção.
Uniformitarismo
Apartir de meados do séc.XVIII, o catastrofismo viria a ser combatido por
uma outra tese – o uniformitarismo – defendido primeiro por Hutton, e depois
por Charles Lyell, assumindo-se este como o principal defensor desta teoria. Para
difundir a tese de Hutton, Lyell opôs as ideias catastrofistas às ideias
uniformitaristas, alegando que a maior parte dos fenómenos geológicos
resultavam de processos lentos e graduais. Em oposição aos processos violentos e
rápidos, defendiam-se processos tranquilos e lentos, como sejam a erosão de uma
montanha, por exemplo.
À direita: Erosão de uma montanha
As placas tectónicas e os seus movimentos
As placas tectónicas
A crosta terrestre não é contínua, mas dividida em vários blocos chamados
placas tectónicas. São separadas por grandes fendas vulcânicas em permanente
actividade no fundo do mar. Através dessas fendas, o magma sobe do manto para
a superfície, adicionando novos materiais à crosta. Expande-se assim o fundo do
mar e movimenta os blocos que formam a superfície em diferentes direcções.
O conceito de “placa tectónica” é relativamente recente. Nele indica-se que
terramotos, actividades vulcânicas e processos de formação de montanhas são
causados pelo movimento contínuo de blocos rígidos chamados “placas” que
compõem a litosfera. Os movimentos de deriva são os responsáveis pela
formação dos actuais continentes que se formaram a partir de um único bloco
chamado Pangea.
Diagrama das Placas
Tectónicas.
A deriva continental
Em 1915, o alemão Alfred Wegener publicou a Teoria da Deriva dos
Continentes, propondo que há 200 milhões de anos atrás todos as massas emersas
de terra estariam reunidas num único super-continente, denominado Pangea,
envolto por um mar universal, a Panthalassa. Posteriormente, essa massa
continental fraturou-se em partes menores que se dispersaram em consequência
de movimentos horizontais. Além da semelhança entre as margens dos
continentes, que se encaixam como um grande quebra-cabeça, Wegener buscou
evidências geológicas, paleontológicas e climáticas, particularmente nos
continentes do hemisfério sul, para fundamentar sua hipótese. Grande revolução
científica aconteceu nos anos 60 com o advento de inúmeras e novas
informações, particularmente no campo da geologia e da geofísica marinha:
melhor conhecimento do fundo dos oceanos desenvolvimento do
paleomagnetismo, da localização mais precisa dos terremotos etc. A partir dessas
idéias, entre 1967 e 1968 nasce a teoria da Tectônica de Placas com os trabalhos de
J. Morgan, X. Le Pichon e D. McKenzie, entre outros.
A evolução do Mapa
Mundo nos últimos 200
milhões de anos.
Teoria da Tectónica de Placas
A Teoria da Tectónica de Placas defende que a litosfera – que engloba toda a
crosta e a parte superior do manto, até cerca de 100Km de profundidade – está
dividida num determinado número de placas rígida (de tamanho variável entre
si), que se deslocam com movimentos horizontais.
Limite Divergente
Limites Divergentes
Ocorre quando as placas se movimentam para direcções contrárias entre si.
Este processo acontece principalmente nas áreas ao longo das cadeias mesooceânicas. Estas cadeias são extensas elevações submarinas, cuja topografia é
muito mais acentuada e exuberante do que as tradicionais zonas montanhosas
existentes nos continentes - podem alcançar mais de 1.000 km de largura e 20.000
km de extensão e sua crista é marcada por profundas fendas ou fissuras. Quando
as placas se afastam uma da outra, o material em estado de fusão - o magma existente no topo da astenosfera, sobe através das fendas, situadas na crista das
cadeias submarinas, e vaza formando um novo fundo oceânico.
Limite Convergente
Limite convergente
Este caso ocorre quando duas placas colidem. Na maior parte das vezes, uma
delas desliza por debaixo da outra, formando uma profunda trincheira que segue
a zona de subducção. A placa inferior desliza no interior da astenosfera segundo
um plano inclinado - entre 40º a 60º com relação a horizontal. Essa região de
junção de placas recebe o nome de Zona de Subducção. Mais de 3/4 dos
terramotos do mundo ocorrem neste tipo de limite de placas. A placa que
mergulha gera sismos ao longo de uma zona em declive. É aí também que se
encontram os sismos de foco profundo, com 300 a 700 km de profundidade.
Limite Conservativo
Limite Conservativo
Separa placas que se deslocam lateralmente. O atrito entre as placas é de tal
modo grande que podem ocorrer grandes esforços e deformações nas rochas
que, periodicamente, são libertadas por meio de grandes terramotos. Para esse
caso, o melhor exemplo é a falha de Santo André, na Califórnia.
Conclusão
Os princípios básicos do raciocínio geológico, bem como outros princípios
geológicos menos recentes resultaram de divergências entre as teorias
apresentadas pela Igreja Católica, e os geólogos de então cujas teorias nunca se
conseguiam implementar verdadeiramente numa sociedade que acreditava mais na
religião que na ciência.
Assim, verificou-se uma grande mudança de mentalidades que resultou numa
sociedade mais afecta à ciência que às crenças religiosas.
O presente é, efectivamente, a peça-chave do desvendar de alguns mistérios do
passado, intervindo de modo decisivo na vida do Homem, ajudando-o a não
menosprezar a força da Natureza.
Pela teoria da Tectónica das Placas pode-se verificar que a Terra está em
constante mutação, podendo daqui por milhões de anos andar-se a pé pelo lugar
onde está agora o Mar Mediterrâneo.
“O presente é a chave do passado”
James Hutton
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A Terra, um Planeta em mudança