A Matemática entra em Campo José AyslanCarlos Monteiro(1); RoselaniMaas(2); Sandra Aparecida Silva(3);Margaret Aparecida Carvalho(4) (1) Professor orientador de Educação Física da EEB Dr. Hermann Blumenau, Trombudo Central, SC, Rua Blumenau, nº 137, Trombudo Central, SC,CEP 89176-000, [email protected], (2) RoselaniMaas, professora orientadora Língua Portuguesa, EEB Dr. Hermann Blumenau, Trombudo Central, SC, Rua Blumenau, nº 137, Trombudo Central, SC, CEP 89176-000, [email protected], (3) Sandra Aparecida Silva, professora orientadora de Matemática, EEB Dr. Hermann Blumenau, Trombudo Central, SC, Rua Blumenau, nº 137, Trombudo Central, SC, CEP 89176-000, [email protected], (4) Margaret Aparecida Carvalho, professora orientadora de Artes, EEB Dr. Hermann Blumenau Trombudo Central, SC, Rua Blumenau, nº 137, Trombudo Central, SC, CEP 89176-000, [email protected]. RESUMO:O futebol é considerado hoje o mais difundido dos esportes, é o jogo coletivo mais praticado no mundo, transformou-se no esporte nacional e representa o Brasil e os brasileiros em todas as circunstâncias. As representações sociais veiculadas através do futebol (jogos, lazer, esporte) podem, portanto, ser tema de estudo na escola, já que todos os olhares se voltam para a dinâmica dos jogos e a união dos povos. Desse modo, abordar a temático futebol torna-se uma alternativa para o desenvolvimento de atividades diversificadas e interdisciplinares que visem à reflexão sobre as ideias evalores culturais. Esse projeto teve como objetivo a associação de todas as disciplinas do currículo no reconhecimento do futebol como um esporte que integra aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais; incentivar a participação dos alunos na prática de esportes como meio de interação social; discutir as mudanças ocorridas no futebol nos últimos anos; analisar a importância que os brasileiros dão ao futebol; desenvolver conteúdos matemáticos de uma maneira mais prazerosa. Sendo a turma Correção de Fluxo, que possui apenas quatro disciplinas (Matemática, Língua portuguesa, Artes e Ed. Física) podese integrar os conteúdos da outras disciplinas no currículo do projeto. A matemática foi a disciplina principal, na qual foi possível inserir os conteúdos básicos para a turma: geometria (cálculo de área e perímetro nos campos de futebol); estatística (tabelas, gráficos de colunas e barras, pictogramas dos times de preferência dos alunos, Campeonato Catarinense); operações Fundamentais (números inteiros e Racionais); Sistema de Medidas (Medidas de Massa, tempo no jantar realizado para família após um amistoso, medida da bola, tempo de cada jogo); conversão de Euros em reais nos salários dos jogadores, programação da viagem a Florianópolis (valor da passagem, tempo da viagem)realizado aos estádios do Figueirense e Avaí.Pode-se concluir que o projeto não só trouxe ânimo de voltar a estudar para os alunos fora da série- idade, mas também mostrou a importância do trabalho coletivo englobando todos os fatores voltados as regras do futebol. Aprender e ensinarpodem ser ainda mais prazerosos se realizado de maneira objetiva e vinculada a realidade do aluno. Palavras-chave: números, coletivo, futebol. INTRODUÇÃO A 8ª série correção de fluxo foi um projeto desenvolvido pelo Governo do Estado de SC com o intuito de corrigir a série-idade de alunos com mais de quatorze (14) anos que ainda estavam no Ensino Fundamental. De acordo com dados do INEP, em todo o Estado, 16% dos estudantes estavam fora da série-idade (BITELLBRUN, 2013). Mesmo estando abaixo da média nacional que é de 34%, ainda assim representam 40 mil estudantes que reprovaram várias vezes e tinham interesse em continuar os estudos. Conforme Projeto Político Pedagógico, a EEB Dr. Hermann Blumenau de Trombudo Central, a princípio, disponibilizou matrículas para uma turma 1 de correção de fluxo. Como o índice de alunos fora da série idade era muito grande viuse a necessidade de desdobro já que a turma havia totalizado 50 alunos. A oportunidade também foi oferecida aos alunos da rede municipal que estavam na mesma situação. A turma com cinquenta (50) alunos, sendo quarenta e três (43) meninos e sete (7) meninas precisava de um trabalho diferente e motivador para garantir o sucesso e sua permanência na sala de aula. O histórico dos mesmos era de repetência, abandono escolar, necessidade de auxiliar a família financeiramente além de problemas sociais e de convívio escolar. Sendo a maioria desses alunos acompanhados por Assistentes Sociais e Conselho Tutelar. No projeto os alunos teriam apenas quatro (4) disciplinas: Matemática (10 aulas), Português (10 aulas), Educação Física (2 aulas) e Artes (3 aulas). Sabendo-se que Português e Matemática são duas disciplinas consideradas difíceis pelos alunos, chegou-se a um impasse de como tornar o ano letivo mais prazeroso, rentável e motivador. Em anos anteriores a maioria dos alunos vinha com apenas uma bola na mochila e nos dias de Educação Física, tendo pouca assiduidade nos demais dias e aulas. Os docentes resolveram então trabalhar em forma de projetos interdisciplinares tendo em cada bimestre uma disciplina titular. O projeto “Matemática entra em Campo” foi desenvolvido no 1° bimestre associado às regras do futebol voltado a área da matemática de forma interdisciplinar com Português, Artes e Educação Física. Os alunos passaram a relacionar teoria a prática e vice-versa. MATERIAL E MÉTODOS No primeiro momento os alunos foram levados a um campo para se socializarem e aprenderem a importância do coletivo. Puderam observar detalhadamente o tamanho e o formato do campo. Começou-se a verificar qual seria a melhor maneira de medi-lo. Os alunos sugeriram a utilização de vários instrumentos de medida (fita métrica, metro de carpinteiro e trena). Tais instrumentos já conhecidos, mas não empregados pelos mesmos. Como o campo era de grande extensão, concluiu- se que a melhor ferramenta era a trena. Com as medidas já em sala, foi possível trabalhar transformações de medidas de comprimento, cálculo de perímetro e área. Com base nesses cálculos os alunos construíram uma maquete, podendo nela melhor visualizar as figuras geométricas planas. Puderam fazer comparações com outras quadras esportivas (vôlei, futsal, basquete). Foi possível também descobrir o espaço que cada jogador de meio dominava em campo e a área que o goleiro terá de defender. Nas aulas de Educação Física os alunos aprendiam as jogadas táticas e nas aulas de Matemática descobriam as figuras geométricas formadas pelas mesmas. Em seguida calculavam o perímetro, área e ângulos. Falar de futebol sem falar da bola é impossível! Estudou-se então a sua evolução, especialmente no tocante a sua fabricação mediante novas tecnologias. Os alunos já familiarizados com as figuras geométricas identificaram na bola ainda: hexágonos e pentágonos (calcularam suas quantidades e o valor de seus ângulos). Comparada com bolas de outras modalidades, foi possível trabalhar medidas de massa, circunferência e figuras geométricas não planas. Após todo esse estudo os alunos confeccionaram sua própria bola. 2 Depois de aprender sobre campo, bola e jogadas, chegou-se no momento tão esperado pelos alunos: falar do time de sua preferência. Realizou- se uma pesquisa entre eles. Com os dados coletados, confeccionou-se a tabela e partiu-se então para a construção de gráficos (barras e colunas). Ao analisar esses dados, percebeu- se que nenhum aluno torcia por times catarinenses. Após discussões, para incentivá-los, foi sugerido pelos professores uma visita aos Estádios do Figueirense e Avaí em Florianópolis. Observou-se que para realizar a viagem era necessário transporte e alimentação. Novamente recorreu-se a Matemática. O transporte era cobrado por quilômetro rodado. Com mapa em mãos e utilizando a escala, calculou-se o menor trajeto, já que da cidade de partida até Florianópolis havia duas possibilidades. Após cálculo do valor do transporte, verificou-se o valor em reais de quanto cada aluno teria de pagar, valores de combustíveis, operações administrativas e gastos salariais. Constatando-se o custo da quilometragem, feita por hora rodada, além disso, foi possível determinar o horário de chegada ao destino e velocidade média, podendo assim organizar as atividades propostas para o dia. De volta à sala de aula não se conseguiu torcedores para os times, mas sim um interesse em acompanhar o Campeonato Catarinense que ocorria naquele período. Com informações (tabela de classificação) coletadas dos jornais, trabalharam-se os Números Inteiros com o saldo de gols pós e contra com construção de gráficos de colunas e barras duplas. Depois de entrevistas com jogadores profissionais, despertou a curiosidade nos alunos em saber se os mesmos jogavam por amor ao time ou por valores salariais. Após pesquisas, constatou-se que a maioria dos jogadores eram remunerados com moeda estrangeira, por isso houve a necessidade de trabalhar sistema monetário brasileiro, convertendo os salários dos mesmos em reais e em quantidade de salários- mínimos para um melhor entendimento. Puderam também comparar o salário dos jogadores com outras profissões inclusive de seus familiares com quem até então não tinham um relacionamento tão próximo. Como um dos maiores problemas entre esses alunos era a carência familiar, pois a maioria dos mesmos provinha de famílias com pais separados, pensou-se em um amistoso para trazer os pais à escola, já que tinham convivência diária apenas com as mães. Em sala de aula, partiu-se para a organização do evento, pois sendo duas turmas deduziu-se também a formação de dois times de pais. Com esses dados os alunos puderam montar as possibilidades de finais dos jogos, e concluída, arriscaram um palpite do resultado final do amistoso. Através de medidas de tempo estipularam o horário de início e o tempo que cada time teria para jogar. O horário deveria ser rigidamente cumprido, pois no final do amistoso seria feito um jantar para resgatar o vínculo familiar. Novamente a Matemática deixou a teoria para entrar em prática, foi necessário fazer um levantamento do número de pessoas que viriam e escolher um cardápio e calcular a despesa com a compra dos ingredientes para seu preparo (medidas de volume, massa, razão e proporção). Como o cálculo foi preciso, não houve desperdício nem falta de alimentos no jantar, demonstrando a evolução no raciocínio matemático. RESULTADO E DISCUSSÃO 3 Depois de três meses ao término do projeto, pode-se constatar que mesmo os alunos não terem aprendido todos os conteúdos necessários para uma turma de 8ª série, muitos avanços e conquistas foram obtidos. Muitos desses nem sequer apresentavam um trabalho em público e queriam desistir de estudar já que sua perspectiva futura era mínima. Os alunos perceberam que estudar Matemática não era tão complicado quanto eles imaginavam e suas aplicações na vida habitual. A partir do momento em que ela passou a fazer parte do seu cotidiano constataram a sua importância e sua necessidade. Como no futebol há craques, com esse projeto, verificaram-se também craques na Matemática, tornando assim a disciplina mais odiada em mais prazerosa. Ensinar Matemática de maneira nada maçante e tradicional mostra ao profissional da área que é possível obter bons resultados na aprendizagem. O projeto além do êxito no âmbito educacional, tevetambém no social. De fato, sua participação no projeto repercutiu diretamente em seu comportamento, de modo que, alunos antes assíduos frequentadores do Conselho Tutelar, Ministério Público, CRAS e GERED, agora se mostravam comprometidos com a escola e o bom convívio social.Os pais, que nunca compareciam na escola, agora se faziam presentes e participavam ativamente da vida escolar de seus filhos. CONCLUSÕES Alunos antes indisciplinados que viviam pelos corredores da escola ou “matando aula”, agora assistiam assiduamente às aulas para não perderem nenhuma vantagem que esse projeto lhes proporcionou. Para que o projeto alcançasse o resultado esperado, os quatro professores, também tiveram de trabalhar de forma unida! Aprendia-se Matemática nas aulas de Português, Artes e Educação Física sempre inter-relacionado com o conteúdo ministrado dentro do projeto. Desde o início os professores sabiam que as dificuldades seriam imensas, mas mesmo antes do ano letivo iniciar, os mesmos se propuseram a enfrentar mais este desafio e fazer a diferença na vida desses alunos. O ano letivo foi extremamente proveitoso e exaustivo, pois quando se quer alcançar algum objetivo indiferente da clientela abrangida, a dedicação vai além do que se espera. É necessário dosar pulso firme com carinho. Entrar na sala de aula disposto a enfrentar fracassos com ideias que não deram certo e em seguida partir para outras até elas funcionarem. O trabalho coletivo superou as expectativas! A turma, os pais e os professores passaram a ser uma família! É gratificante olhar para trás e saber que todos foram para o Ensino Médio, talvez não com todo conteúdo curricular tradicional necessário e vencido, mas ter certeza que todos eles perceberam que são capazes se der o melhor de si! Os pais compreenderam que precisam estar presentes na vida escolar de seus filhos, até mais do que quando eles ainda eram crianças e os professores constataram que é preciso uma visão muito além da sala de aula e se sujeitar a novos desafios todos os dias! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 4 BITTELBRUN,Gabrielle. Mais de 16% dos alunos do ensino médio de Santa Catarina não estão na série correspondente à idade. Disponível em: <http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/precisamosderespostas/19,1430,3887337,Maisde-16-dos-alunos-do-ensino-medio-de-Santa-Catarina-nao-estao-na-seriecorrespondente-a-idade.html> . Acesso em: 10 jan. 2012. PPP. Planejamento político pedagógico. Escola de Educação Básica Dr. Hermann Blumenau. Trombudo Central: E.E.B. Dr. Hermann Blumenau, 2012. 5