Reflexão sobre a relação entre resultados de FWD e Viga
Benkelman
Lilian Ribeiro de Rezende
Universidade Federal de Goiás, [email protected]
Francisco Hélio Caitano Pessoa
Instituto Federal de Brasília, [email protected]
José Camapum de Carvalho
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected]
RESUMO: As camadas e mesmo as estruturas de pavimento são comumente avaliadas a partir de
ensaios de Viga Benkelman e por meio do ensaio FWD (Falling Weight Deflectometer). No entanto,
essas duas técnicas de ensaio geralmente conduzem a resultados distintos. Este artigo busca analisar
a relação entre os resultados obtidos pelas duas técnicas de ensaio em trechos experimentais. Esses
ensaios foram realizados em um trecho experimental cuja estrutura era composta por revestimento
em tratamento superficial com capa selante, base e subleito. Em termo de base, o trecho
experimental se dividiu em subtrechos com as seguintes composições: base de solo fino, base de solo
fino com geotêxtil na face superior, base de solo fino com geotêxtil na face inferior, base de solo fino
envelopada com geotêxtil, base em misturas de solo fino-cal, base em solo-brita e base em expurgo
de escavação em rocha. O artigo apresenta a comparação entre os resultados obtidos a partir dos
dois ensaios, mostrando que a relação entre eles está associada ao modo como a estrutura de
pavimento é solicitada e depende também dos materiais constituintes da estrutura de pavimento.
PALAVRAS-CHAVE: Correlação, Trechos Experimentais, Adensamento.
1
INTRODUÇÃO
A estrutura de pavimento submete-se ao longo
de sua vida útil a solicitações oriundas de ações
indiretas e diretas de variações de energia. As
ações indiretas são principalmente aquelas
oriundas das variações climáticas e as diretas
oriundas do tráfego de veículos. Geralmente, o
que se avalia em campo é a estrutura de
pavimento em função das solicitações oriundas
de ações diretas. Isso é feito por meio de
ensaios como os de Viga Benkelman e FWD
(Falling Weight Deflectometer). No entanto,
tais avaliações são influenciadas por aquelas
solicitações oriundas de ações indiretas devido
ao clima presentes no momento do ensaio.
Em estruturas de pavimento flexíveis, a
temperatura é o principal agente climático
atuando sobre o revestimento e a umidade,
função das precipitações, da posição do freático,
da hidrogeologia e do próprio estado do
revestimento, aquele que atua sobre as demais
camadas inclusive o subleito. Enquanto a ação
direta é perfeitamente definível no momento do
ensaio, a indireta é função do clima em um
determinado período que o antecede, período
esse cuja influência depende por sua vez de uma
série de fatores, como nível e distribuição das
precipitações, morfologia e configuração
geométrica do local (exemplos: corte ou aterro,
trecho curvo ou linear, área urbana ou rural).
A avaliação estrutural dos pavimentos
asfálticos devido às ações diretas pode ser feita
por métodos destrutivos, semidestrutivos e não
destrutivos. Nos métodos destrutivos são feitas
análises de campo ou retiradas amostras para
estudos em laboratório ou ainda removidas
camadas para a realização de ensaios como o de
placa em camadas pré-definidas. Nos métodos
semidestrutivos, a avaliação do comportamento
estrutural é feita in situ, gerando algum dano na
estrutura de pavimento. Já nos métodos não
destrutivos, o estudo é feito preservando-se a
integridade da estrutura de pavimento. Este
artigo analisará as técnicas não destrutivas de
campo correspondentes ao ensaio de viga
Benkelman e ao ensaio FWD.
2
SUBTRECHOS ESTUDADOS
O estudo foi realizado em um trecho
experimental da DF 205 Oeste apresentando
baixo
volume
de
tráfego
(VDM
aproximadamente igual a 200 veículos). Ele foi
executado em agosto de 1998 e possui 480 m de
extensão. Sua estrutura é composta de subleito,
base
compactada
na energia Proctor
Intermediário e revestimento em tratamento
superficial duplo (TSD) com capa selante. O
trecho foi dividido em subtrechos onde variouse o material componente da base (Tabela 1).
Tabela 1 – Divisão do trecho experimental segundo as
camadas de base (REZENDE, 1999)
SubExtenSubBase
Revestrecho
são (m)
leito
(20 cm)
timento
Solo-brita
1
80
Corte
(1:4)
Aterro
2
80
Expurgo
Aterro
3
80
Solo fino
4
80
Corte Solo-cal (2%)
Solo fino
TSD
com geotêxtil
5
40
Corte
com
entre base e
capa
revestimento
selante
Solo fino
com geotêxtil
6
40
Corte
entre subleito
e base
Solo fino
7
40
Corte
com
envelopado
Nas camadas de base de solo fino, solo fino
com adição de 2% de cal, solo-brita e naquelas
onde se usou geotêxtil, o solo fino usado foi um
solo argiloso encontrado no próprio local da
obra, classificado no Sistema Unificado como
MH, na AASHTO como A-7-5 e na
classificação MCT como LG’.
O subtrecho em solo fino foi executado
segundo o procedimento proposto por Villibor
(1981) e Villibor et al. (2000), sendo que nesse
caso não foi executa a chamada camada de
bloqueio ou “pé-de-moleque”. Após o
espalhamento e ajuste da umidade a camada de
base de solo fino foi compactada com rolo péde-carneiro vibratório, com espessura um pouco
superior a especificada em projeto de modo a
possibilitar a realização do acabamento após o
período de cura realizado com exposição ao ar e
ao sol por um período superior a 48h para
provocar a perda de cerca de 30 a 40% do teor
de umidade de compactação. A secagem levou a
uma intensa contração da base, desenvolvendo
trincas com abertura de 3,0 a 6,0 mm e
formando,
como
consequência,
placas
quadrangulares com aproximadamente 15 cm x
15 cm. Após essa etapa de cura, a base foi
umedecida para posterior corte de acabamento
da mesma no qual as trincas de grande abertura
são preenchidas com o próprio material
proveniente do corte. Executou-se em seguida
uma imprimadura ligante com uso de emulsão
asfáltica de ruptura rápida, misturada com 40%
de água, na taxa de 1,0 a 1,4 l/m2 não se
permitindo o tráfego sobre a superfície
imprimada. Cabe destacar que a penetração da
emulsão nas trincas preenchidas com o solo fino
proveniente do acabamento e mesmo naquelas
que tenham permanecido sem preenchimento
gera suas colmatações.
Na camada de base com incorporação de 2%
cal usou-se uma cal hidratada do tipo CH-I
(Tabela 2). A mistura solo-cal foi previamente
feita na jazida de solo fino. Após a compactação
dessa camada de base e sua imprimadura com
emulsão asfáltica de ruptura rápida, diluída em
40% de água, na taxa de 1,0 a 1,4 l/m2,
aguardou-se um período de cura de
aproximadamente sete dias para depois executar
a camada de revestimento.
A camada de base em solo-brita era
constituída de uma mistura de 80% de pó de
pedra, pedrisco e brita com graduação variando
entre 1,2 mm e 9,5 mm, com 20% do solo fino
já definido. A mistura solo-brita foi previamente
feita na jazida de solo fino e após espalhamento
na pista compactado com rolo liso vibratório).
Tabela 2 - Características físico-químicas da cal
hidratada (REZENDE, 1999)
Parâmetros
CaO total
MgO
Perda ao fogo
CO2
CaO disponível
Fe2O3
Al2O3
SiO2
S
SO3
Óxidos totais
Óxidos não hidratados
Retido na peneira 0,6 mm
Retido na peneira 0,075 mm
Valores (%)
72,80
0,50
24,60
1,50
66,10
0,30
0,40
1,20
0,09
0,40
97,5
0,20
0,00
3,50
Nos subtrechos onde se utilizou geotêxtil,
teve-se um duplo objetivo: reforçar a estrutura
do pavimento e evitar a penetração de água na
base por infiltração a partir do revestimento ou
por ascensão capilar a partir do subleito.
Estudou-se o uso do geotêxtil em três situações
em relação à camada de base: envelopando toda
a base de solo fino, recobrindo a camada de base
de solo fino e sob a camada de base de solo fino.
Para tanto optou-se por fazer uso de geotêxteis
não tecidos com gramatura menor como o
Bidim OP-20, Bidim XT-4 e o Geogrim GR-06
que é um geotêxtil composto de material
reciclado. As principais características desses
geotêxteis utilizados estão apresentadas na
Tabela 3 e foram fornecidas pelo fabricante.
de CM-30 impossibilitou a compactação do
geotêxtil tanto com rolo liso como com rolo
pneumático. Após a cura por 24 horas,
executou-se o espalhamento do solo fino sobre a
camada inferior do geotêxtil e procedeu-se a sua
compactação. Depois de compactada a base de
solo fino e executados os ensaios de campo,
realizou-se a imprimação de todas as bases do
subtrecho experimental com CM-30 e esperouse a cura de 72 h.
No subtrecho com geotêxtil entre a base e o
revestimento, aplicou-se a emulsão RR-2C
numa taxa de 0,5 l/m2 para promover a ligação
entre a manta e a base imprimada. Nesse caso
possou-se em seguida um rolo liso CA-15 sobre
a manta.
No subtrecho envelopado, depois de
finalizada a colocação do geotêxtil sobre a base,
aplicou-se novamente a emulsão numa taxa
maior (1,2 l/m2) e iniciou-se a execução do
revestimento.
No subtrecho com base executada com
expurgo de pedreira, o material utilizado foi
proveniente da pedreira Contagem - DF,
localizada aproximadamente a 12 km da obra.
Todo o processo executivo foi realizado da
forma convencional. No entanto, na fase de
espalhamento do material na pista, excluiu-se as
frações com diâmetro superior a 10 cm.
Tabela 3 - Características dos geotêxteis (REZENDE,
1999)
Propriedade
OP-20 XT-4 GR-06
Gramatura (g/cm2)
200
180
200
Espessura nominal (mm)
2,0
1,9
2,0
Porosidade (%)
93
93
93
Retenção de asfalto (l/m2)
2,0
2,0
2,0
3
ENSAIOS REALIZADOS
Para cumprir a função impermeabilizante os
geotêxteis foram impregnados com asfalto
diluído de petróleo (CM-30) onde o querosene é
o diluente, ou emulsão asfáltica (RR-2C) onde a
água é o diluente.
Nos subtrechos onde existe geotêxtil entre o
subleito e a base, o subleito foi imprimado com
CM-30 a uma temperatura de 65 oC numa taxa
de 0,9 l/m2. Depois das mantas totalmente
abertas e sem rugas executou-se a segunda
imprimação com CM-30 a uma temperatura de
40 oC e taxa de 1,2 l/m2. A utilização dessa taxa
Em laboratório, foram realizados os seguintes
ensaios:
A execução dos subtrechos experiemtais
envolveu nas fazes de projeto, acompanhamento
da execução e monitoramento subsequente a
execução de ensaios de laboratório e de campo.
 Granulometria, limites de liquidez e
plasticidade;
 Ensaios
da
metodologia
MCT
de
classificação de solos;
 Compactação, expansão e CBR;
 Sucção segundo o método do papel filtro.
Foram ainda realizadas microscopias de
varredura cabendo destaque nessas análises o
fato da cal gerar certa desagregação do solo fino
utilizado conforme mostram as Figuras 1, solo
fino compactado dinamicamente na umidade
ótima da energia Proctor intermediária, e 2,
solo-cal compactado dinamicamente na umidade
ótima da energia Proctor intermediária.
 Falling Weight Deflectometer (FWD) - PRO
273/96 (DNER,1996);
 Dynamic Cone Penetration - DCP;
 Pressiômetro Pencel;
 Ground Penetration Radar - GPR (somente
no Trecho Experimental 1);
Efetuou-se ainda identificação periódica de
defeitos.
Neste artigo serão discutidos apenas, e de
modo comparativo, os resultados de ensaios de
campo obtidos a partir da viga Benkelman e do
ensaio de FWD para as etapas que
complementaram a realização desses dois
ensaios. Detalhes sobre os demais resultados de
ensaios poderão ser vistos em Rezende (1999) e
Rezende (2003).
Figura 1 – Solo fino compactado na umidade ótima da
energia Proctor intermediária.
4
ANÁLISE
COMPARATIVA
DOS
RESULTADOS DE VIGA BENKELMAN E
FWD OBTIDOS
Figura 2 – Solo-cal compactado na umidade ótima da
energia Proctor intermediária.
Durante a execução dos subtrechos
experimentais, foram realizados ensaios in situ
em cada camada do pavimento. Depois, eles
foram realizados periodicamente para verificar o
comportamento do pavimento ao longo do
tempo e a influência das variações climáticas e
de tráfego. Dentre os ensaios realizados destacase:




Frasco de areia;
CBR in situ;
Prova de carga sobre placa;
viga Benkelman – ME 24-75 (DNER,1975);
Antes de se discutir comparativamente os
resultados,
cabe
discorrer
ainda
que
suscintamente sobre o clima regional e sobre o
nível de precipitação registrado na região
quando da realização dos ensaios: etapa 1 outubro de 2000 e etapa 2 – agosto de 2001.
Com relação à precipitação pluviométrica a
região do Distrito Federal, na qual se insere o
trecho experimental analisado, apresenta sob a
forma de totais mensais, um regime de chuvas
característico da região dos cerrados, ou seja,
com duas estações bem definidas, um verão
chuvoso e um inverno seco (BAPTISTA, 1999).
A Tabela 4 apresenta as precipitações médias
oriundas da EMBRAPA – Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária e do INMET - Instituto
Nacional de Meteorologia. Na etapa 1 os dois
ensaios Viga Benkelman e FWD, ao serem
realizados no mesmo mês, apresentavam em
termos de umidade condições semelhantes. No
entanto, para a etapa 2, os ensaios de FWD
foram realizados no mês de agosto e, portanto,
em condições de umidade da estrutura de
pavimento provavelmente inferiores àquelas em
que se realizou os ensaios de viga Benkelmen,
uma vez que esses só foram realizados no mês
de outubro. Logo, na etapa 2, parte das
diferenças entre os resultados dos dois ensaios
Os resultados apresentados por Rezende
(2003) mostram que existe tanto para as bases
em solo fino como para aquelas em material
granular (solo-brita e expurgo de pedreira) uma
relação quase que direta entre os índices de
precipitação médios e a umidade média dos
materiais.
Cabe ainda destacar que conforme indicado
na Tabela 1, os subtrechos executados com base
de solo fino e de expurgo apresentavam o
subleito composto de aterro e nos demais casos
tratava-se de subleito em corte. Rezende (2003)
observou que as umidades de subleito dos
trechos em aterro eram mais influenciadas pelas
precipitações que aquelas em corte. É evidente
que tal observação se restringe ao local do
estudo devendo ser evitada sua extrapolação
para outras localidades sem a devida verificação.
As Figuras 3 e 4 apresentam as bacias de
deformação obtidas a partir da viga Benkelman
e as Figuras 5 e 6, as obtidas a partir do ensaio
de FWD.
Observa-se nas Figuras 3 e 4 oriundas dos
ensaios com a viga Benkelman que ocorre um
ponto de inflexão a uma distância entre 50 cm e
70 cm do local de medida da deflexão máxima.
Já nos ensaios FWD (Figuras 5 e 6), esse ponto
se localiza a aproximadamente 30 cm do ponto
de deflexão máxima, local onde é aplicada a
carga dinâmica. Logo, depreende-se desses
resultados que para as configurações estruturais
de pavimento analisadas, as bacias de deflexão
oriundas da viga Benkelman e do FWD são
distintas.
Nos resultados de viga Benkelman, a mistura
de solo-brita sempre apresentou a menor
deflexão máxima. Na primeira etapa realizada
em outubro de 2000 a maior deflexão máxima
0
25
50
75
Distância (cm)
100 125 150
175
200
225
0
10
Deslocamento (x 0,01 mm)
Tabela 4 – Precipitações médias mensais (REZENDE,
2003)
Período do Estudo
Precipitação (mm)
Etapa
Mês/ano
EMBRAPA
INMET
1
Outubro/2000
54,9
88,4
2
Agosto/2001
32,4
0,0
2
Outubro/2001
77,3
119,8
foi registrada para o subtrecho com base de solo
fino com geotêxtil na parte inferior. Já na
segunda etapa realizada em outubro de 2001, os
subtrechos com base de solo fino, base de solo
fino envelopada com geotêxtil e base de
expurgo de pedreira apresentaram a maior
deflexão máxima.
20
30
40
50
Solo-brita
Expurgo
Solo fino
Solo-cal
Solo fino geotêxtil superior
Solo fino geotêxtil inferior
Solo fino envelopado
60
70
80
90
Figura 3 – Bacias de deslocamento obtidas com a viga
Benkelman em outubro de 2000, etapa 1 (REZENDE,
2003)
Distância (cm)
0
25
50
75
100
125
150
175
200
225
0
10
Deslocamento (x 0,01 mm)
podem ser devidas as essas prováveis diferenças
de umidades. No entanto, para os fins
pretendidos neste artigo, essa diferença não
deve intervir de modo marcante nas análises.
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Solo-brita
Expurgo
Solo fino
Solo-cal
Solo fino geotêxtil superior
Solo fino geotêxtil inferior
Solo fino envelopado
110
Figura 4 – Bacias de deslocamento obtidas com a viga
Benkelman em outubro de 2001, etapa 2 (REZENDE,
2003)
Já nos resultados oriundos do FWD as
menores deflexões máximas foram obtidas para
o solo-brita e solo-cal e as maiores para os
subtrechos com base em solo fino e em expurgo
de pedreira. Mas é importante salientar que nas
duas etapas e em especial na primeira, as
deflexões medidas com o FWD foram muito
semelhantes para as três configurações de base,
o que aponta para o fato de que essa técnica de
ensaio tem seus resultados afetados pela
presença do geotêxtil.
Distância (cm)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
Desclocamento (x 0,01 mm)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Expurgo
Solo fino
Solo-cal
Solo fino geotêxtil superior
Solo fino geotêxtil inferior
Solo fino envelopado
Solo-brita
100
Figura 5 – Bacias de deslocamento obtidas a partir do
FWD em outubro de 2000, etapa 1 (REZENDE, 2003)
Figura 7 – Deslocamentos provenientes da viga
Benkelman x os provenientes do FWD, etapa 1
Distância (cm)
Desclocamento (x 0,01 mm)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
Expurgo
Solo Fino
Solo-cal
Solo fino geotêxtil superior
Solo fino geotêxtil inferior
Solo fino envelopado
Solo-brita
Figura 6 – Bacias de deslocamento obtidas a partir do
FWD em agosto de 2001, etapa 2 (REZENDE, 2003)
As Figuras 7 e 8 apresentam os resultados
dos deslocamentos oriundos da viga Benkelman
em relação aos provenientes do FWD até a
distância de 120 cm do ponto de aplicação da
carga
máxima
e
energia
dinâmica,
respectivamente. Nessas figuras, a linha
tracejada indica os pontos onde os resultados
oriundos dos dois ensaios seriam iguais.
Levando-se em conta essa linha, percebe-se que
os resultados dos dois ensaios só se aproximam
um do outro nos pontos de aplicação da carga
máxima e mesmo assim tal aproximação
depende dos materiais que compõem a estrutura
de pavimento.
Figura 8 – Deslocamentos provenientes da viga
Benkelman x os provenientes do FWD, etapa 2.
Para os subtrechos com bases de expurgo e
de solo fino com e sem a interposição de
geotêxtil, as deflexões máximas oriundas do
FWD tenderam a superar as provenientes da
viga Benkelman. Já para o subtrecho em solocal, as deflexões máximas oriundas da viga
Benkelman foram superiores àquelas oriundas
do FWB e para o subtrecho em solo-brita, esse
comportamento também ocorreu na etapa 1,
mas na dois os resultados foram similares.
Se comparadas as Figuras 7 e 8 com as
definidoras das bacias de deflexão mostradas nas
Figuras 3 a 6, verifica-se que o ponte de inflexão
nas Figuras 3 a 6 correspondem ao ponto de
inflexão das Figura 7 e 8. Cabe, no entanto,
destacar que no trecho após a inflexão nas
Figuras 3 a 6, aparecem nas Figuras 7 e 8
resultados muito distintos entre os dois ensaios,
ou seja, por mais que as deflexões máximas se
aproximem nos dois ensaios, as bacias de
deflexão são muito distintas entre eles.
Para explicar essas diferenças nas bacias de
deflexão faz-se necessário considerar não só o
tipo de energia que as gera como também a
forma como essa energia atua durante a
realização dos ensaios.
No ensaio de viga Benkelman, as deflexões
são medidas em fase de descarregamento
enquanto no FWD ela se dá em fase de
carregamento. Quando se solicita um solo
contendo finos como é o caso das estruturas de
pavimento analisadas, em que mesmo para o
expurgo de pedreira se tem a contribuição do
subleito argiloso, se a umidade do solo
encontra-se abaixo da linha ótima geralmente
não ocorre geração de pressão neutra positiva.
No entanto, se a umidade encontra-se acima da
linha ótima, a tendência é gerar pressões neutras
positivas, mas com presença de grande
compressão no sistema. Com o alívio das
tensões a estrutura tende a expandir refletindose
em
deslocamentos
significativos.
Provavelmente, é esse o efeito que conduz a
valores mais significativos dos deslocamentos
quando se afasta do ponto de aplicação da carga
máxima. Esse mesmo sistema de oclusão pode
impedir a propagação de energia nos ensaios de
FWD atenuação que é aparentemente auxiliada
no caso de presença de geotêxtil.
Os resultados de deslocamentos mais
relevantes de deflexão máxima registrados para
as bases de solo fino com ou sem geotêxtil,
podem estar atrelados ao fato de que no ensaio
de viga Benkelman permaneçam deformações
residuais oriundas do próprio modo como é
feito o ensaio.
Pessoa (2012) associa a diferença entre os
resultados dos dois ensaios ao ensaio de
adensamento considerando que no ensaio de
viga Benkelman as deformações sendo medidas
em fase de descarga seriam superiores às
oriundas do FWD correspondentes à fase de
carga.
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados apresentados neste artigo,
conclui-se que a relação entre as deflexões
medidas nos ensaios de viga Benkelman e FWD
são função dos materiais que compõem a
estrutura do pavimento e na localização do
ponto de aplicação de carga em relação ao local
da medida realizada.
Os resultados mostram ainda que devido aos
mecanismos distintos de atuação das energias
aplicadas para se avaliar as bacias de deflexão,
os dois sistemas de controle, viga Benkelman e
FWD, oferecem respostas distintas em especial
quando o ponto se afasta daquele
correspondente à deflexão máxima.
Assim, considera-se que são necessários mais
estudos envolvendo outras configurações de
estruturas de pavimento para que se conclua de
modo mais preciso sobre a melhor opção de
ensaio para se definir as deflexões máximas e
sobretudo para a definição das bacias de
deflexão uma vez que nos subtrechos analisados
elas foram muito distintas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq, à CAPES pelo
apoio dado para a realização dessa pesquisa.
REFERÊNCIAS
BAPTISTA,
G.M.M.
(1999).
Caracterização
Climatológica do Distrito Federal. CD-ROM Inventário Hidrogeológico e dos Recursos Hídricos
Superficiais do Distrito Federal, SEMATEC/MMA,
Brasília, DF.
INMET (2002). Precipitação Anual (www.inmet.gov.br).
Homepage do Instituto Nacional de Meteorologia,
29/jan/2002.
PESSOA, F.H.C. (2012). Avaliação funcional e
estrutural de trechos de rodovias no Distrito Federal
construídos com diferentes materiais. Brasília, DF:
UnB. Tese de Doutorado G.TD-78/2012, Programa
de Pós-Graduação em Geotecnia, Universidade de
Brasília, 210 fl.
REZENDE, L.R. (1999). Técnicas alternativas para a
construção de bases de pavimentos rodoviários.
Dissertação
de
mestrado,
G.DM-055A/99,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
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REZENDE, L.R. (2003). Estudo do comportamento de
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pavimentos flexíveis. Brasília, DF: UnB. Tese de
Doutorado G.TD-014A/03, Programa de PósGraduação em Geotecnia, Universidade de Brasília,
372 fl.
VILLIBOR, D.F. (1981). Pavimentos econômicos. Novas
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de Vias de Transportes e Topografia. Escola de
Engenharia de São Carlos da USP, São Carlos, SP,
224p.
VILLIBOR, D.F., NOGAMI, J.S., BELIGNI, M. &
CINCERRE, J.R. (2000). Pavimentos com solos
lateríticos e gestão de manutenção de vias urbanas.
Associação Brasileira de Pavimentação/ Universidade
Federal de Uberlândia, São Paulo, SP, 138p.
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Reflexão sobre a relação entre resultados de FWD e Viga Benkelman