UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
ÁREA DE LITERATURAS, ARTES E CULTURAS
MAPEANDO MUNDOS NO MUNDO DO FUTEBOL:
ABORDAGEM
DAGEM SEMIÓTICO-COGNITIVA
SEMIÓTICO
DOS MEDIA
DIA ALEMÃES
Bibiana Maria Fernandes de Sousa
TESE ORIENTADA POR: PROFESSORA DOUTORA MARIA CLOTILDE ALMEIDA
DOUTORAMENTO EM LINGUÍSTICA
(Linguística Alemã)
2011
ii
Agradecimentos
Gostaria de deixar aqui os meus sinceros agradecimentos a um conjunto de pessoas,
sem as quais não teria sido possível realizar a presente dissertação.
Em primeiro lugar, quero expressar o meu reconhecimento e a minha profunda
gratidão à Professora Doutora Maria Clotilde Almeida por continuar a acreditar em mim e nas
minhas capacidades. Agradeço as suas orientações e ensinamentos sábios e preciosos assim
como a sua dedicação, amizade e apoio incessante. A sua competência científica aliada à
excelente capacidade de comunicar e transmitir essa sapiência fez com que todos os nossos
seminários tivessem sido momentos de aprendizagem e de descoberta enriquecedores e
motivadores. A Professora é uma verdadeira inspiração, em todos os domínios!
Quero igualmente agradecer ao Professor Doutor Per Aage Brandt cujos comentários
representaram um valioso e estimulante contributo para a feitura da presente dissertação.
Aquando das nossas conversas, pessoais ou via e-mail, senti-me privilegiada por poder discutir
questões diversas no âmbito do paradigma semiótico-cognitivo, sendo que estou
especialmente grata pelo incentivo e encorajamento que sempre me transmitiu.
Também quero expressar um profundo e sentido agradecimento à minha família que
se mobilizou para que este projecto pudesse chegar a bom porto. À minha querida filha
Catarina e aos melhores pais do mundo, Luís e Minda, estou grata pelo amor e carinho, pelo
apoio inabalável e incondicional durante todo o período de elaboração da presente tese. Estou
segura que não teria sido possível concretizar este projecto sem a sua ajuda. À minha irmã
Belisa, ao meu sobrinho André e ao meu cunhado António José, expresso o meu
reconhecimento pelas suas palavras e gestos de apoio e de estímulo. Bem hajam! Por último, à
minha alma gémea, Sérgio, o meu porto seguro, meu apoio constante, minha fonte de
informação, particularmente nas questões relacionadas com o futebol, meu ombro e ouvido
compreensivo e paciente… em suma, agradeço ao meu amor por tudo, em todos os aspectos!
Deixo uma última palavra de agradecimento a todos os amigos e colegas
especialmente à Isabel e ao Henrique, assim como à ‘minha’ Escola, a Escola Secundária João
de Barros, também na pessoa do seu Director Manuel Porfírio que, de forma directa ou
indirecta, me ajudaram a concretizar este projecto.
i
iii
Resumo
A presente dissertação visa o estudo semiótico dos mapeamentos conducentes a
imagens metafóricas vigentes na imprensa alemã (Bild, Sportbild, Kicker, Spiegel, Focus), com
especial incidência nas suas versões on-line, durante os Campeonatos Europeus e Munidas de
Futebol de 2006 a 2010 à luz do modelo dos espaços mentais de Brandt (2004a) Brandt/Brandt
(2005a).
Na senda de outros trabalhos de estudo das construções metafóricas e mescladas na
imprensa desportiva portuguesa (Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b,
2011); Almeida, Órfão, Teixeira (2010); Almeida, Sousa (2010)), a presente dissertação
debruça-se sobre as ocorrências metafóricas elaboradas a partir dos mapeamentos dos
diversos domínios-fonte da experiência para o domínio-alvo dos eventos futebolísticos, tendo
por objectivo elencar o conjunto de imagens presentes nos textos jornalísticos alemães.
Tomando como ponto de partida a metáfora conceptual e convencional de DESPORTO
É GUERRA” (Lakoff/Johnson, 1980a), analisaremos a panóplia de entrecruzamentos dos
diversos mundos no mundo do futebol, numa dupla abordagem qualitativa e quantitativa, por
forma a aquilatar a relevância das diversas imagens mescladas na representação dos eventos
futebolísticos e dos seus protagonistas, os jogadores de futebol, na imprensa alemã.
Palavras-chave: semiótica cognitiva, mesclagens na imprensa desportiva alemã; metáforas no
futebol
ivii
Abstract
This work aims to analyse, in the light of the mental space network advanced by
Brandt (2004a) and Brandt/Brandt (2055a), metaphorical mappings that lead to blended
constructions, which are used pervasively in the German sport newspapers.
Our corpus was extracted from the German newspapers Bild, Sportbild, Kicker, Spiegel
and Focus in their paper and online versions, between 2004 and 2010, focussing primarily on
the four major football events: two European and two World Championships.
Following the footsteps of several previous studies about metaphor and metonymy in
German and Portuguese sports papers (Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a,
2010b, 2011); Almeida, Órfão, Teixeira (2010); Almeida, Sousa (2010)), we focused on the
metaphorical constructions and their underlying conceptual processes because we believe that
the identified metaphors, rooted in several different domains of our experience, reflect the
way in which we apprehend and structure social and cultural realities.
Taking the conceptual metaphor “SPORT IS WAR” (Lakoff/Johnson, 1980a) into
account, we will expand our analysis and study, from a qualitative as well as a quantitative
point of view, all the identified blended constructions in which a vast array of ‘worlds’ are
conceptually projected onto the ‘world of football’. Based on our findings, we will then assess
the relevance of those blended images in the overall representation of the football event and
its participants, namely the football players, as architectured by the German sports papers.
Keywords: cognitive semiotics, blended images in the German sports papers; football
metaphors.
iii
v
ÍNDICE
Página
0. Introdução
4
1. Postulados Teóricos da Semântica e da Semiótica Cognitiva
6
1.1. Fundamentos da Semântica Cognitiva em textos alemães de
7
Linguística
1.2. Postulados Gerais da Semântica Cognitiva
32
1.3. Da Teoria da integração conceptual à Teoria das redes de
54
espaços mentais
1.3.1. Teoria de integração conceptual
54
1.3.2. Teoria de redes de espaços mentais
70
1.3.3. Os Domínios Semânticos
81
2. Teoria de redes de espaços mentais Estado da Arte do estudo
90
das imagens mescladas na imprensa desportiva
2.1. A Metáfora no mundo do futebol
2.2. Imagens mescladas nos jornais desportivos, abordagem
90
109
semiótica
2.2.1. Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b,
109
2011), Imagens mescladas nos jornais desportivos
internacionais – abordagem qualitativa
2.2.2. Almeida, Órfão, Teixeira (2010), marcas de oralidade nos
123
jornais desportivos portugueses e alemães – abordagem
qualitativa e quantitativa
2.2.3. Almeida, Sousa (2010), Imagens mescladas nos jornais
127
desportivos portugueses e alemães - abordagem qualitativa
2.2.4. A relevância da relevância (Almeida, 2011, a publicar)
3.
131
2.3. Algumas observações conclusivas
132
Análise semiótica das imagens mescladas nos jornais desportivos
134
alemães
3.1. Linhas mestres da investigação
134
1
3.1.1. Breve história do futebol e os media
141
3.1.2. A recolha do corpus
148
3.2. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães –
153
abordagem qualitativa
3.2.1. Imagens mescladas: Futebol – Guerra, Violência e Morte
156
3.2.2. Imagens mescladas: Futebol – Forma Artística
245
3.2.3. Imagens mescladas: Futebol – Máquina
283
3.2.4. Imagens mescladas: Futebol – Jogo (outras modalidades
301
desportivas e jogos de sorte)
3.2.5. Imagens mescladas: Futebol – Religião e Mitologia
325
3.2.6. Imagens mescladas: Futebol – Alimentação e Agricultura
354
3.2.7. Imagens mescladas: Futebol – Trajectória
373
3.2.8. Imagens mescladas: Futebol – Construção/Destruição
387
3.2.9. Imagens mescladas: Futebol – Animal
402
3.2.10. Imagens mescladas: Futebol – Realeza
419
3.2.11. Imagens mescladas: Futebol – Cultura e Tourada
430
3.2.12. Imagens mescladas: Futebol – Fenómeno Natural
453
3.2.13. Imagens mescladas: Futebol – Objecto Valioso
466
(e brilhante)
3.2.14. Imagens mescladas: Futebol – Empresa
476
3.2.15. Imagens mescladas: Futebol – Cima / Baixo
484
3.2.16. Imagens mescladas: Futebol - Corpo Humano
493
3.2.17. Os restantes domínios-fonte
506
3.2.17.1. Imagens mescladas: Futebol - Magia
506
3.2.17.2. Imagens mescladas: Futebol - Meio Escolar
508
3.2.17.3. Imagens mescladas: Futebol - Mal-Estar Físico e
511
Doença
3.2.17.4. Imagens mescladas: Futebol - Sonho
513
3.2.17.5. Imagens mescladas: Futebol - Arrumação e Limpeza
517
3.2.17.6. Imagens mescladas: Futebol - Calor (Fogo) e Frio
519
(Gelo)
3.2.17.7. Imagens mescladas: Futebol - Costura, Vestuário e
522
Acessório
3.2.17.8. Imagens mescladas: Futebol - Caça
525
2
3.2.17.9. Imagens mescladas: Futebol - Comunicação
527
3.2.17.10. Imagens mescladas: Futebol - Acontecimento
530
Histórico
3.2.17.11. Imagens mescladas: Futebol - Aprisionamento/
534
Libertação
3.2.17.12. Imagens mescladas: Futebol - Navio
536
3.2.17.13. Imagens mescladas: Futebol - Sono
538
4. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães – abordagem
541
quantitativa
4.1. Distribuição de Ocorrências por Campeonato
542
4.2. Os 29 domínios-fonte
543
4.3. A distribuição dos domínios-fonte por campeonato
546
5. Observações finais
555
Bibliografia
557
3
0. Introdução
A leitura de jornais desportivos proporciona ao leitor atento um deleite muito especial,
motivado pela riqueza imagética das arquitecturas conceptuais das notícias desportivas,
construídas a partir de um vasto conjunto de mapeamentos tomando como ponto de partida
os mais diversos domínios da experiência física, social e cultural quotidianas. A análise
semiótica de mesclas metafóricas resultantes dos cruzamentos conceptuais entre o mundo
futebol e outros mundos, à luz de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), constitui, assim, o
terreno ideal para a desconstrução dos processos cognitivos subjacentes à representação dos
eventos e dos intervenientes desportivos, considerados os heróis mais populares da época
moderna.
É inegável que as representações metafóricas constituem uma ferramenta por demais
poderosa, na medida em que a riqueza das imagens mescladas torna o discurso jornalístico
desportivo mais apelativo e emotivo,
“Metaphors with animated imagery - where both the force-dynamic and the figurative
aspects of the metaphorical scenario are strongly experienced - are potentially very
effective rhetorically because their “juicy” imagery gives extra weight to the implicit
evaluation expressed; the animated hyperbolic predication involved in such “juicy
metaphors” generally yield a stronger emotional reaction than literal predication does.”
(Brandt/Brandt, 2005a:222)
sendo que activam esquemas mentais e cenários culturais partilhados por vastas comunidades
linguísticas, tal como postulado nos estudos de Brandt :
“(…) if an expression is indeed metaphorical, its immediate figurative meaning mediates a
dynamic higher-order meaning (a compelling ‘meaning of meaning’, most often reflective,
affective, and evaluative) to which the communicative agents will be sensitive.” (Brandt,
2005:1588)
“(…) the mental architecture is in itself trans-culturally and trans-historically stable, which is
our actual claim (…)” (Brandt, 2010e:28)
O primeiro ponto desta dissertação, para além de abordar os postulados gerais do
paradigma cognitivo, começa por identificar os alicerces da teoria da metáfora conceptual nas
gramáticas alemãs da segunda metade do século XX. De entre as figuras proeminentes
destaca-se Weinrich (1976), estudioso do fenómeno da metáfora ao longo de pelo menos duas
décadas a partir dos anos 50. Especial atenção mereceu-nos, igualmente, Glinz (1994) cujo
trabalho evidencia afinidades teóricas com o paradigma cognitivo, sobretudo no respeitante à
interligação das representações simbólicas com a experiência física (1.1.). Enveredamos, em
4
seguida, pela explanação da metáfora à luz do paradigma cognitivo Lakoff/Johnson (1980a),
Lakoff (1993, 2006b) (1.2.), imediatamente seguida pela exposição da teoria da integração
conceptual preconizada por Fauconnier e Turner (2002) (1.3.1.). A enunciação do
enquadramento teórico culmina com a explanação da teoria de redes de espaços mentais,
advogada por Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), pondo em destaque a aplicabilidade
deste modelo semiótico-cognitivo de índole pragmático à análise de todo o tipo de texto,
sobretudo de textos jornalísticos desportivos (1.3.2.).
O ponto dois apresenta uma resenha do estado da arte do estudo das imagens
mescladas na imprensa desportiva. Fazemos referência aos trabalhos mais significativos no
domínio da metáfora conceptual aplicada aos media desportivos internacionais, assim como
aos estudos semiótico-cognitivos sobre mesclagens na imprensa desportiva desenvolvidos e
publicados nos últimos dez anos, a saber: Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a,
2010b, 2011) (2.2.1.); Almeida, Órfão, Teixeira (2010) (2.2.2.); Almeida, Sousa (2010) (2.2.3.);
Almeida (2011, a publicar) (2.2.4.).
O terceiro ponto da presente dissertação incide sobre a questão da constituição do
corpus para análise (3.1.2.), não sem antes elaborarmos uma breve resenha acerca da história
dos media e do futebol, bem como efectuarmos uma distinção entre terminologia técnica do
futebol e imagens metafóricas cunhadas pelos media desportivos (3.1.1.). Sublinhe-se,
contudo, que este ponto três envereda fundamentalmente por uma análise semiótica das
imagens mescladas do corpus, mediante abordagem semântica qualitativa das realizações
metafóricas construídas a partir dos vinte e nove domínios-fonte identificados (3.2.). Em face
da necessidade de limitação da dimensão da dissertação, apenas os primeiros dezasseis
domínios-fonte com o maior número de ocorrências merecem uma análise exaustiva e
pormenorizada, enquanto os restantes são objecto de uma abordagem mais sintética (3.2.17.).
Complementarmente à análise qualitativa, realizamos uma análise quantitativa das
ocorrências recolhidas, com o propósito de sustentar as hipóteses avançadas na análise
qualitativa, bem como de conferir visibilidade gráfica aos resultados obtidos. Sublinhe-se que a
visualização dos gráficos permite descortinar frequências de uso no que respeita aos
mapeamentos subjacentes às arquitecturas conceptuais vigentes no jornalismo desportivo
alemão (4.).
Por último, o quinto ponto condensa algumas observações finais ancoradas nas
inúmeras conclusões parciais que fomos retirando ao longo do trabalho que entroncam
necessariamente na questão da adequação do modelo de Rede de Espaços Mentais à análise
das arquitecturas metafóricas mescladas.
5
1. Postulados Teóricos da Semântica e da Semiótica Cognitiva
“Language — spoken, written or signed — is likely to be
the main bridge between communication and cognition
in our species. At one end of this bridge, we find a
display of temporally or graphically linear flows of signs
(’strings’) grouped into words and sentences that are
shared, whether immediately or through mediating
devices, by shifting speakers and hearers, as
meaningful discourse — as debate, dialogue,
monologue, or text. At the other end of the bridge,
individual human agents are each in their singular,
embodied, isolated minds attending to concrete or
abstract personal or communal matters that call for
thinking, imagining, feeling, planning, acting — and also
call for being linguistically expressed. The result is the
community of beings that communicate important
parts of their thinking and which we call culture,
civilisation, humanity.” (Brandt, 2008:1)
6
1.1. Fundamentos da Semântica Cognitiva em textos alemães de Linguística
O paradigma cognitivo estabeleceu-se, aproximadamente, nos últimos 20 a 30 anos
como uma abordagem interdisciplinar cujo objectivo é estudar o modus operandi das línguas
naturais. Nasceu de um sentimento partilhado por alguns investigadores, na sua maioria, mas
não exclusivamente, norte-americanos, de que as correntes linguísticas desenvolvidas até
então não contemplavam cabalmente a complexidade e riqueza de uma língua viva.
Esta necessidade de encontrar pressupostos teóricos tendo em vista a clarificação, de
forma mais abrangente e dinâmica dos fundamentos cognitivos que subjazem ao uso
linguístico do falante comum, traduziu-se numa corrente linguística aberta a todas as áreas da
cognição humana. Segundo a mesma, a língua não se afigura tão-somente como um “objecto
de análise” que pode ser descrito através de um conjunto de regras objectivas mas,
principalmente, como uma forma de expressão de todas as experiências humanas, das mais
básicas e elementares às mais complexas. A língua é assim parte integrante das nossas
capacidades cognitivas, sendo motivada pela experiência humana. Daí que a língua seja
encarada como um sistema aberto e intersubjectivo que evidencia a correlação entre a
realidade física (condicionada pela experiência de nós próprios, pelo mundo exterior e a nossa
relação com esse mundo) e os processos e estratégias mentais essenciais para a aquisição e
correcto uso da mesma. Por estratégias mentais entende-se a organização mental do sistema
linguístico, por exemplo, através de processos de categorização e da criação de imagens,
modelos e esquemas mentais.
A semântica cognitiva defende, portanto, que o conhecimento semântico não se
baseia de forma alguma num sistema autónomo (tal como defendido pela semântica
estruturalista) porque depende de um conjunto de factores, tais como o conhecimento de
mundo que abarca a dimensão cultural e as experiências individuais e colectivas. Mais ainda, é
realçada a importância do contexto situacional (oral ou escrito) que assume a função de “filtro
semântico” (Jackendoff, 1992), pois é através do contexto que é feita a selecção da significação
de um determinado item lexical. Este processo de selecção pressupõe a existência de uma
espécie de dicionário mental que cada locutor possui, e que, por sua vez, é parte integrante
dos já referidos modelos mentais, com os quais se organiza todo o conhecimento.
São geralmente considerados autores mais representativos da primeira vaga de
estudos em semântica cognitiva os linguistas norte-americanos Lakoff, Johnson, Langacker e
Geeraerts. Mas muitos outros autores têm dado o seu contributo para o desenvolvimento
7
deste paradigma, tal como Rosch, no âmbito da psicologia cognitiva e da teoria do protótipo,
assim como Johnson e Gibbs na área dos esquemas imagéticos, para só referir alguns.
Há que salientar, contudo, que a semântica cognitiva não surgiu do nada, ou seja, os
autores acima mencionados basearam-se em desenvolvimentos anteriores, entre os quais
destacamos o enquadramento semântico desenvolvido por Fillmore1, que contextualizou o
significado linguístico em cenas e “frames”. Para além deste autor, na história da linguística e
até da filosofia encontram-se outras vertentes teóricas que veiculam a ideia que o significado
está intimamente ligado à conceptualização da realidade, realçando a existência de um elo
entre os mecanismos linguísticos e os da cognição humana. Destaque-se que Aristóteles
constitui o mais antigo marco no estudo da linguagem relacionada com a percepção e o
conhecimento, principalmente no que concerne o regresso à orientação hermenêutica do
estudo semântico, como também aos princípios de categorização propostos pelo mesmo
(qualificação aristotélica de categorias em termos de atributos essenciais e atributos
acidentais). É assim possível afirmar que esta distinção aristotélica serviu de ponto de partida
para a posterior elaboração da teoria do protótipo.
Teixeira2 destaca, por exemplo, as concepções de Anton Reichling (dos anos trinta e
quarenta do século XX), que defendia claramente que a noção de significado e consequente
categorização está necessariamente ligada aos processos mentais:
“A própria noção de categoria aparece, em Reichling, como ponto fulcral da estruturação
semântico-cognitiva. As categorias são construções mentais estruturadoras da realidade
linguística (...)” (cf. Teixeira – op. cit., 2001:37)
É, contudo, no estudo da metáfora (uma das principais vertentes da semântica cognitiva) que
se encontra um vasto número de textos de origem europeia, e principalmente alemã,
precursores da semântica cognitiva norte-americana, tal como Jäckel faz questão em realçar:
“Aus den metapherntheoretischen Schriften Lakoffs und Johnsons könnte ein unbedarfter
Leser den Eindruck gewinnen, die kognitive Metapherntheorie sei den Autoren Anfang der
achtziger Jahre eingefallen, ohne dass es dafür irgendwelche Vorläufer gäbe, an die es
anzuknüpfen lohnte. Das folgende Kapitel soll zeigen, dass dem keineswegs so ist. In der
europäischen Philosophie und Sprachwissenschaft gibt es seit dreihundert Jahren diverse
Ansätze, die wesentliche Thesen und Erkenntnisse der kognitiven Metapherntheorie
vorwegnehmen.” (Jäckel, 1997:121)
1
2
Fillmore, 1968, 1977, 1982
Teixeira, José, “A verbalização do espaço: modelos mentais de frente/trás”, 2001:34-45
8
Jäckel encontrou indícios de que, já na primeira metade do século XIX, gramáticos como
Wüllner e Hartung encaravam a metáfora segundo uma perspectiva de cariz cognitivo:
“Eine eigene Untersuchung wäre zum Beispiel allein das Verhältnis zwischen lokalistischer
Grammatiktheorie und Kognitiver Linguistik wert. Lokalisten wie Anderson (1971) und ihre
deutschsprachigen Vorläufer Wüllner (1827) und Hartung (1831) konstituieren schon für
sich eine eigene Ahnennreihe für den kognitiven Ansatz, indem sie – zumindest
programmatisch - wesentliche Elemente der kognitiven Metapherntheorie vorwegnehmen,
wie das folgende Zitat zeigt: «Unsere Wahrnehmung geschieht theils durch die Sinne theils
durch den Geist. Die sinnliche Wahrnehmung geht überall voran: dieser dient darum auch
die Sprache früher als der geistigen. Vermöge der Analogie des Geistigen und des Sinnlichen
wird dann das Wort auf die geistige Wahrnehmung übertragen. Denn das Volk bildet, wie
die Dichter, die Sprache durch Metaphern weiter. Gleichwie es darum keinen sinnlichen
Ausdruck gibt, der nicht auf geistige Wahrnehmung übertragen werden könnte, so,
behaupten wir, gibt es auch keine Bezeichnung geistiger Dinge, die nicht von sinnlichen
abgezogen wäre. Wo demanch sinnliche Anwendung neben der metaphorischen vorhanden
ist: da ist ohne Bedenken von jener auszugehen.» (Hartung, 1831 apud Jäckel, 1997:122123)
Para além de fazer referência aos linguistas alemães Hermann Paul, Karl Bühler, Jost Trier,
Walter Porzig e Franz Dornseiff e aos filósofos e antropólogos de expressão alemã Max Müller,
Ernst Cassirer e Arnold Gehlen, Jäckel destaca os filósofos Immanuel Kant, Hans Blumenberg e
o linguista Harald Weinrich, em virtude dos seus contributos substanciais no desenvolvimento
do estudo cognitivo da metáfora.
Jäckel considera que Kant, na sua Crítica da Razão Pura (1781/87) explora a dualidade,
i.e. a relação de complementaridade entre representação simbólica (ou o pensamento em
termos de representações linguísticas) e a percepção (ou experiência sensorial) - “begriffliches
Denken und sinnliche Anschauung”. Ao reconhecer a existência de conceitos para os quais não
é possível encontrar equivalentes perceptíveis, ou seja, conceitos abstractos que não
encontram correspondência directa no mundo físico e concreto, atribui à metáfora o poder
cognitivo de conceptualizar conceitos abstractos:
“Nun gibt es aber Begriffe, denen keine sinnliche Anschauung direkt entspricht. Diese
müssen indirekt “Versinnlicht” werden, und genau hierin liegt nach Kant die kognitive
Leistung der Metapher. (…) Kant spricht von Analogie, verstanden als «Übertragung der
Reflektion über einen Gegenstand der Anschauung auf einen ganz anderen Begriff, dem
vielleicht nie eine Anschauung direkt korrespondieren kann». Dies ist das kantische Pendant
zu Lakoffs und Johnsons kognitv-konzeptueller Metapherndefinition, verbunden mit einer
9
Notwendigkeitsthese und einer erkenntnistheoretischen Begründung der metaphorischen
Unidirektionalität: Begriffe, denen keine sinnliche Anschauung direkt entspricht, werden
vermittels analogischer Übertragung epistemisch erschlossen.” (Jäckel, 1997:125-126)
Em outras obras suas, Kant afirma que esta projecção metafórica (ou “Analogie”) para a
conceptualização de conceitos abstractos se serve de imagens mentais:
“Wir mögen unsere Begriffe noch so hoch anlegen, und dabei noch so sehr von der
Sinnlichkeit abstrahieren, so hängen ihnen doch noch immer bildliche Vorstellungen an,
deren eigentliche Bestimmung es ist, sie, die sonst nicht von der Erfahrung abgeleitet sind,
zum Erfahrungsgebrauche tauglich zu machen.” (Kant, Was heißt: sich im Denken
orientieren, (1786:267) apud Jäckel, 1997:126)
Nesta base, Kant postula que, por exemplo, o conceito abstracto de ESTADO é conceptualizado
através do conhecimento concreto de uma MÁQUINA. Convém notar que não se pretende
com este exemplo demonstrar que o ESTADO é objectivamente uma MÁQUINA, pelo
contrário, o seu contributo cognitivo vai exactamente no sentido de reconhecer a existência de
características funcionais semelhantes em ambos os domínios (o de fonte e o domínio-alvo)
que permitem esta “Analogia qualitativa”:
“Metapherntheoretisch besonders verdienstlich erscheint schließlich Kants Feststellung,
daß eine Ähnlichkeit
nicht etwa «zwischen einem despotischen Staate und einer
Handmühle», also «objektiv» zwischen Zielbereich und Ursprungsbereich der Übertragung
vorliege, «wohl aber zwischen der Regel, über beide und ihre Kausalität zu reflektieren»: Die
Reflexion per konzeptueller Metapher konstruiert erst Ähnlichkeiten im Sinne von
Analogieverhältnissen zwischen Bestandteilen und ihren funktionalen Zusammenhängen im
Zielbereich und im Ursprungsbereich.” (Jäckel, 1997:126-127)
Só é possível estabelecer estas analogias porque o ser humano possui, também segundo Kant,
por um lado, a capacidade imaginativa e, por outro, um esquema conceptual de imagens
mentais essenciais para os processos de conceptualização. Desta forma, é possível considerar
Kant como precursor dos conceitos de “imaginative capacity” e de “image schemata”
preconizados por Johnson, 1987.
“In enger Anlehnung an Kant, der in der Kritik der reinen Vernunft (1781) den Begriff des
transzendentalen Schemas als Vermittlungsgröße zwischen reinem Verstandesbegriff und
sinnlicher Anschauung einführt (Kant 1781:196ff), betont Johnson (1987:29) die
Mittelstellung der Vorstellungs-Schemata (…)” (Jäckel, 1997:33)
10
Também o filósofo alemão Hans Blumenberg (1920-1996) publicou várias obras nas
quais desenvolve uma teoria da metáfora de cariz cognitivo. Assim sendo, Jäckel (1997:128131) afirma que o seu contributo foi determinante na medida em que:
- postula que a metáfora não é um mero recurso estilístico ao serviço de uma dada
especialidade. A metáfora faz parte da língua do dia-a-dia do falante comum;
- procura encontrar no estudo das metaforizações as estruturas cognitivas que lhes subjazem
(“Bodenstruktur der Gedankenbildungen” Blumenberg, 1960:64 apud Jäckel 1997:129));
- reconhece nessas subestruturas cognitivas modelos mentais, que servem para orientar e
organizar conceitos (processo este que normalmente decorre de forma inconsciente);
- estabelece uma ligação entre a metáfora, as nossas experiências e os modelos culturais;
- destaca metáforas conceptuais cujas projecções são feitas a partir de domínios concretos
para domínios abstractos, tais como: a verdade é luz; o tempo é um espaço; documentos
históricos são fontes; a vida é uma viagem marítima.
Convém sublinhar, porém, que o maior contributo para o desenvolvimento de uma
teoria da metáfora de índole cognitiva foi dado, sem dúvida, pelo linguista alemão Harald
Weinrich. A sua obra “Sprache in Texten” de 1976 condensa um conjunto de estudos
anteriores, a saber, “Münze und Wort. Untersuchungen an einem Bildfeld” (1958), “Semantik
der kühen Metapher” (1963), “Metaphora memoriae” (1964), “Allgemeine Semantik der
Metapher” (1967) e “Streit um Metaphern” (1976), que se afiguram precursores do paradigma
cognitivo.
Weinrich inicia a sua reflexão ao afirmar que, até então, ainda não tinha encontrado
nenhuma abordagem teórica que, a seu ver, fizesse jus ao fenómeno da metáfora: não
podendo ser reduzida a um mero ornato estilístico, a metáfora é produto de uma concepção
do mundo (“sprachliches Weltbild”). Embora esta concepção do mundo seja construída por
cada indivíduo a partir da sua experiência individual, é moldada por factores ‘colectivos’ tais
como a língua, a cultura, fenómenos sociais em geral, o que leva a crer que as imagens são
partilhadas por uma dada comunidade linguística e cultural:
“Und doch kann die außerordentlich weite Übereinstimmung im Metapherngebrauch bei
den Angehörigen eines Kulturkreises, zumal einer Epoche, schwerlich auf Zufall beruhen.
Der Einzelne steht immer schon in einer metaphorischen Tradition, die ihm teils durch die
Muttersprache, teils durch die Literatur vermittelt wird
und
ihm
als sprachlich
literarisches Weltbild gegenwärtig ist.” (Weinrich, 1976:277-278)
11
Porém, a metáfora não se inscreve apenas neste eixo diacrónico, mas principalmente num eixo
sincrónico, o que leva Weinrich a defender a existência de campos conceptuais - “Bildfelder”.
Através de vários exemplos, tais como “Wortschatz” ou “Pfennigwahrheiten” afirma:
“Sie steht jedoch nicht nur – diachronisch – in einem linearen Traditionsstrang, sondern
auch – synchronisch – in sprachinternen Zusammenhängen mit anderen Metaphern, die
deskriptiv-systematisch dargestellt werden können.” (Weinrich, 1976:279)
“(…) denn diese Metapher ist nicht isoliert. Sie steht seit ihrer Geburt in einem festgefügten
Bildfeld. Das zu zeigen, ist Aufgabe der synchronischen Metaphorik.” (Weinrich, 1976:282)
Assim, o campo conceptual de “Wortmünze” equivaleria para Lakoff/Johnson (1980) à
metáfora conceptual de “a linguagem é valor monetário”. Neste sentido, Weinrich aponta
igualmente para a existência de duas áreas semânticas - “Sinnbezirke” - entre as quais se
estabelece uma analogia. É este entrosamento de domínios que dimensiona a metáfora:
“(...) und ich benutze ihn [den Begriff des Bildfeldes] in Analogie zu dem in der Linguistik
bekannten Begriff des Wortfeldes oder Bedetungsfeldes. Im Maße, wie auch das Einzelwort
in der Sprache keine isolierte Existenz hat, gehört auch die Einzelmetapher in den
Zusammenhang ihres Bildfeldes. Sie ist eine Stelle im Bildfeld. In der Metapher
„Wortmünze” ist nicht nur die Sache ,Wort’ mit der Sache ,Münze’ verbunden, sondern
jeder Terminus bringt seine Nachbarn mit, das Wort den Sinnbezirk der Sprache, die Münze
den Sinnbezirk des Finanzwesens. In der aktuellen und scheinbar punktuellen Metapher
vollzieht sich in Wirklichkeit die Koppelung zweier sprachlicher Sinnbezirke. (…)
Entscheidend ist nur, daß zwei sprachliche Sinnbezirke durch einen sprachlichen Akt
gekoppelt und analog gesetzt worden sind.” (Weinrich, 1976:283)
Mais ainda, é feita uma clara distinção entre o domínio-fonte “bildspendendes Feld” e o
domínio-alvo “bildempfangendes Feld”. A metáfora e o respectivo campo imagético só podem
existir se houver um cruzamento dos respectivos domínios:
“Denn konstitutiv für die Bildfelder ist ja, daß zwei Sinnbezirke durch einen geistigen,
analogiestiftenden Akt zusammengekoppelt sind. (...) Erst durch die Stiftung des Bildfeldes
wird der eine Sinnbezirk zum bildspendenden Feld, der andere zum bildempfangenden Feld.
(…) Solange man nicht das bildspendende Feld und das bildempfangende Feld gleichzeitig
im Auge hat, ist von Metaphorik gar nicht die Rede. Es gibt daher auch keine abstrakte
Metaphorik, sondern nur die konkreten Bildfelder eines Kulturkreises.” (Weinrich,
1976:284)
Weinrich reconhece igualmente que nem todas as metáforas se integram num campo
conceptual e admite que, graças ao poder imaginativo do ser humano, é possível ‘criar’ uma
12
metáfora isolada ou totalmente arbitrária. Afirma, contudo, que essas metáforas são raras,
exactamente devido ao facto de não serem partilhadas por uma comunidade linguística ou
cultural, i.e. de não serem convencionalizadas:
“Steht jede Metapher in einem Bildfeld? Das wäre bei weitem zu viel gesagt. Denn jedes
Wort kann metaphorische Bedeutung annehmen, jede Sache kann metaphorisch bezeichnet
werden, und der Phantasie sind keine Grenzen gesetzt. Die beliebige, isolierte Metapher ist
allezeit möglich. Aber sie ist seltener, als man denkt, und – was wichtiger ist – sie hat
gewöhnlich keinen Erfolg bei der Sprachgemeinschaft. Die Sprachgemeinschaft will eine
integrierte Metapher, vornehmlich (aber nicht ausschließlich) für den Bereich der inneren
Erfahrung. Die in einem Bildfeld integrierte Metapher hat alle Aussichten, von der
Sprachgemeinschaft angenommen zu werden, und die Sprachmeister wissen das.”
(Weinrich, 1976:28)
A metáfora emerge dum contexto mais vasto, o contexto cultural, o que leva a inferir que a
maioria dos campos imagéticos é partilhada culturalmente por comunidades linguísticas mais
vastas:
“Die konkreten Bildfelder sind wohl kaum Allgemeinbesitz der Menschheit, aber auch nicht
exklusiver Besitz der Einzelsprache (Muttersprache). Sie gehören zum sprachlichen Weltbild
eines Kulturkreises. Ein Wort prägen: man kann diese Metapher gefahrlos in unsere
Nachbarsprachen übersetzen (...) Die Inhalte sind verschieden, aber die metaphorische
Analogiestiftung ist identisch. Es gibt eine Harmonie der Bildfelder zwischen den einzelnen
abendländischen Sprachen. Das Abendland ist eine Bildfeldgemeinschaft.” (Weinrich,
1976:287)
Mas Weinrich ainda avança um pouco mais no sentido de aceitar a possível existência de
universais cognitivos, muito na linha dos modelos cognitivos idealizados de Lakoff3 (“ICMs”),
ao admitir que alguns campos conceptuais são construídos a partir de experiências
antropomórficas, partilhadas por cada ser humano:
“Bildfelder also, (...) gehören zum semantischen Bestand der einzelnen Sprachen und sind
diesen sogar häufig über die Sprachgrenzen hinweg gemeinsam, soweit es sich nämlich um
die Sprachen eines mehr oder weniger geschlossenen Kulturkreises handelt. Ich will nicht
einmal ausschließen, daß es auch zwischen verschiedenen Kulturkreisen überraschend
ähnliche Bildfelder gibt, die dann wohl gewisse anthropomorfische Grunderfahrungen des
ganzen Menschengeschlechts zum Ausdruck bringen.” (Weinrich, 1976:335)
3
Lakoff, 1982:164ff; 1987:68ff
13
Tentar-se-á, de seguida, esquematizar o processo de metaforização proposto por Weinrich:
KULTURKREIS(E)
BILDFELD
bildempfangendes
bildspendendes
Feld
Sinnbezirk A
Kontext
METAPHER
Bildspanne
Feld
Sinnbezirk B
Figura 1: Processo de Metaforização segundo Weinrich
Jäckel (1997:139) propõe uma tabela de equivalências relativamente à terminologia utilizada
por Weinrich e por Lakoff/Johnson, a saber:
Weinrich: Bildfeld
→ Lakoff/Johnson: konzeptuelle Metapher
Weinrich: Metapher
→ Lakoff/Johnson: metaphorischer Ausdruck
Weinrich: (hypothetisches) Denkmodell
→ Lakoff/Johnson: kognitives Modell (ICM)
Weinrich: bildspendendes Feld
→ Lakoff/Johnson: Ursprungsbereich
Weinrich: bildempfangendes Feld
→ Lakoff/Johnson: Zielbereich
Em síntese, Weinrich enfatiza a necessidade de um estudo sistemático de cada um dos
campos imagéticos existentes e das relações entre estes, o que indica uma clara preocupação
semântico-cognitiva. Note-se que neste esquema, as linhas que circundam o domínio-fonte A e
o domínio-alvo B estão propositadamente tracejadas para respeitar a ideia das fronteiras
14
fluidas entre estes campos, assim como está igualmente representada uma área comum para
ilustrar a possível intersecção parcial dos mesmos4:
“Wer eine allgemeine, materiale Metaphorik geben will, muß sie [Bildfelder] aufzählen,
monographisch beschreiben und sagen, wie sie sich zueinander Verhalten. Denn die
Bildfelder der Sprache liegen nicht sauber geschieden nebeneinander, sondern sie
überlagern sich teilweise und haben bisweilen einzelne Metaphernstellen gemeinsam.”
(Weinrich, 1976:285-286)
A separação ou distância entre os dois campos conceptuais é para Weinrich a “Bildspanne”
(1976:298), ou seja, a distância entre os significados (ou melhor, significados prototípicos) de
cada palavra. Tomemos um exemplo apresentado por Weinrich: “Redefluß” (1976:300). A
palavra “Rede” evoca um determinado significado da mesma forma como “Fluß” o faz.
Aparentemente, não existe qualquer ligação entre ambos os significados e, quando estas
palavras aparecem isoladamente, não nos ocorrem os possíveis traços semânticos que possam
ter em comum. Somos assim levados a pensar, tal como o fizeram, por exemplo, Aristóteles e
Ullmann, que a união de palavras semanticamente tão díspares aumenta a chamada “tensão
semântica” (“Spannung”, Weinrich 1976:301/2) assumindo a metáfora um carácter mais
“arrojado”, de “qualidade superior” (“kühne Metapher”). Contudo, Weinrich opõe-se
categoricamente a esta ideia:
“Dürfen wir dann auch dem Gesetz zustimmen, daß eine Metapher um so kühner und
folglich um so besser ist, je größer der Realabstand der in der Metapher verbundenen
Glieder ist? Wir dürfen es nicht. Dieses Gesetz, auch wenn man seine Voraussetzungen
akzeptiert, ist falsch. Um es zu widerlegen, brauchen wir nur unsere gewöhnlichen
Erfahrungen im Umgang mit Sprache durchzumustern. Wir benutzen auf Schritt und Tritt in
unserer alltäglichen Rede Metaphern, die nach diesem Gesetz die allerkühnsten wären, weil
sie äußerste Weiten überbrücken. (…) Metaphern gerade dieser Art, die Stoffliches und
Geistiges verbinden, sind so häufig, daß wir uns in unserer Rede anstrengen müssen und oft
genug vergeblich, wenn wir sie vermeiden wollen. Es ist fast kühner, solche Metaphern zu
5
vermeiden als zu verwenden.” (Weinrich, 1976:300)
Nesta base, Weinrich defende que existe uma lógica interna da metáfora e que essa lógica se
fundamenta num aparente sentimento de contradição que a metáfora suscita. Não é, contudo,
4
Fluidez e sobreposição (“Overlapping”) semelhante à que se assiste na definição das categorias lexicais: “Die
Bildfelder teilen alle semantischen Merkmale mit den Bedeutungsfeldern, sie lassen sich auffassen als die
Verbindung jeweils zweier Bedeutungsfelder. Haben die beteiligten Bedeutungsfelder unscharfe Grenzen, so sind
auch die Grenzen der Bildfelder unscharf.” (Weinrich, 1976:326)
5
De realçar a proximidade que existe entre Weinrich: “Wir benutzen auf Schritt und Tritt in unserer alltäglichen
Rede Metaphern” e os princípios defendidos por Lakoff e Johnson em “Metaphors we live by” (1980)
15
a “Bildspanne” que determina se o sentimento de contradição é superior ou inferior, mas sim
a relação que a metáfora estabelece com a realidade, com a experiência vivida por cada ser
humano. Weinrich explica através de um exemplo retirado de um poema de Paul Celan:
“schwarze Milch”:
“Mir scheint, hier zeigt sich ein bestimmtes Verhältnis zur Realität. Wenn sich eine
Wortfügung mühelos mit der sinnlichen Welt in Einklang bringen läßt, nehmen wir sie ohne
weiteres hin: weiße Milch. Wenn sich eine Wortfügung sehr weit von der sinnlich
erfahrbaren Realität entfernt und sehr verschiedene Gegenstände verbindet, etwa
Stoffliches und Geistiges, nehmen wir sie auch ohne Zögern hin: traurige Milch. Von dieser
Art sind unsere alltäglichsten Metaphern. Wenn aber eine Wortfügung um ein geringes von
den Erfahrungen der sinnlich erfahrbaren Realität abweicht, dann nehmen wir den
Widerspruch stark wahr und empfinden die Metapher als kühn: schwarze Milch.” (Weinrich,
1976:305)
Convém assinalar ainda que, na sua óptica, a metáfora também depende do contexto, tal
como foi referenciado no esquema: “Denn Metaphern kommen in lebendiger Rede nicht
isoliert vor, sondern stehen immer in einem Kontext.” (Weinrich, 1976:311). Este poder de
determinação contextual - “Kontextdetermination” - deve ser tido em conta não apenas nos
textos, mas também no âmbito das relações com outras metáforas, com outros campos
conceptuais, o que nos remete de novo para o conceito da metáfora conceptual:
“Es kommt hier ein anderer Gesichtspunkt hinzu. Nicht nur vom Gegenstand der
Beschreibung her ist die Metapher stark kontextdeterminiert, sondern auch von anderen
Metaphern her. (…) Die stärksten Stützen einer Metapher sind dabei die metaphorischen
Nachbarn, wenn sie aus dem gleichen Bildfeld stammen. Also auch das Bildfeld als die
semantische Heimat einer Metapher ist zu berücksichtigen.” (Weinrich, 1976:312-313)
É imprescindível referir ainda o carácter unidireccional da metáfora que Weinrich também
reconhece, nomeadamente, quando refere campos conceptuais já convencionalizados:
“Es [Umkehrbarkeit] gilt jedoch nicht ebenso selbstverständlich für die Bildfelder, die als
traditionelle und soziale Gebilde gewöhnlich einsinnig sind. (...) Die Metapherntradition hat
hier einer Metaphernrichtung den Vorzug gegeben, und mit dieser Gerichtetheit hat sich die
Metapher zum Bildfeld entfaltet, ist zu einer nicht mehr stilistischen, sondern sprachlichen
Realität geworden.” (Weinrich, 1976:315)
16
Acreditamos que as posições de Weinrich aqui apresentadas demonstraram que este deverá
ser aceite como um precursor da semântica cognitiva e que as suas reflexões constituem um
valioso contributo para o desenvolvimento deste paradigma.
Numa pequena reflexão sua mais recente (“Einige Kategoriale Überlegungen zur
Leiblichkeit und zur Lage der Sprache” 1995), Weinrich tece algumas considerações sobre o
pressuposto cognitivo da corporização da conceptualização (“Thought is embodied” – Lakoff
(1987))6. Weinrich aborda a importância do corpo, da fisionomia humana e do posicionamento
físico aquando de um acto comunicativo, nomeadamente em contexto de diálogo
(“kommunikative Dyade” (1995:409)):
“Die conditio humana ist in dieser Hinsicht eine conditio corporea. Die KommunikationsAnthropologie ist daher immer eine Anthropologie der Leiblichkeit, und eine Linguistik, die
sich diese Sichtweise zu eigen macht, hat sich, um es mit einem Ausdruck Nietzsches
(1966:III, 453) zu bezeichnen, «am Leitfaden des Leibes» zu orientieren.” (Weinrich,
1995:410)
Retomando um dos princípios fundamentais do paradigma cognitivo - a
conceptualização da realidade através de uma rede de imagens e modelos mentais –
considerámos pertinente fazer alusão a Leo Weisgerber, por ter desenvolvido alguns estudos
importantes neste mesmo domínio7. O ponto de partida das suas reflexões foi a tese de que o
pensamento/raciocínio humano não se desenvolve directamente com base no mundo físico
real, mas sim indirectamente através das imagens mentais que formamos desse mesmo
mundo8. O domínio mais importante, que estabelece um elo de ligação entre o mundo
6
veja-se também Lakoff/Johnson (1999)
Vide Weisgerber, Leo „Die inhaltbezogene Grammatik“, 1953; „Das Menschheitsgesetz der Sprache“, 1964; e „Die
vier Stufen in der Erforschung der Sprachen“, 1963.
8
Muito no sentido da teoria de “Weltansicht” e “innere Sprachform” de Humbold: “Die Sprache ist nichts anderes,
als das Komplement des Denkens, das Bestreben, die äußeren Eindrücke und noch dunkeln inneren Empfindungen
zu deutlichen Begriffen zu erheben, und diese zu Erzeugung neuer Begriffe miteinander zu verbinden. (...) Die
Sprache muß daher die doppelte Natur der Welt und des Menschen annehmen, um die Einwirkung und
Rückwirkung beider aufeinander wechselseitig zu befördern; oder sie muß vielmehr in ihrer eigenen, neu
geschaffenen, die eigentliche Natur beider, die Realität des Objekts und des Subjekts, vertilgen, und von beiden nur
die ideale Form beibehalten. (...) Das heißt: es soll eine freie Übereinstimmung zwischen den ursprünglichen das
Gemüt und die Welt beherrschenden Grundformen geben, die an sich nicht deutlich angeschaut werden können,
die aber wirksam werden, sobald der Geist in die richtige Stimmung versetzt ist - eine Stimmung, die
hervorzubringen gerade die Sprache, als ein absichtslos aus der freien und natürlichen Einwirkung der Natur auf
Millionen von Menschen, durch mehrere Jahrhunderte, und auf weiten Erdstrichen entstandenes Zeugnis, als eine
ebenso ungeheure, unergründliche, geheimnisvolle Masse, als das Gemüt und die Welt selbst, mehr, wie irgend
etwas andres hervorzubringen imstande ist. So wenig das Wort ein Bild der Sache ist, die es bezeichnet, ebenso
wenig ist es auch gleichsame eine bloße Andeutung, daß diese Sache mit dem Verstande gedacht, oder der
Phantasie vorgestellt werden soll. Von einem Bilde wird es durch die Möglichkeit ist, sich unter ihm die Sache nach
den verschiedensten Ansichten und auf die verschiedenste Weise vorzustellen; von einer solchen bloßen Andeutung
durch seine eigne bestimmte sinnliche Gestalt unterschieden.Das Denken behandelt nie einen Gegenstand isoliert,
und braucht ihn nie in dem Ganzen seiner Realität. Es schöpft nur Beziehungen, Verhältnisse, Ansichten ab, und
verknüpft sie. Das Wort ist nun bei nicht bloß ein leeres Substratum, in das sich diese Einzelheiten hineinlegen
7
17
concreto dos objectos e o mundo mental individual, necessariamente subjectivo, é
exactamente a língua, a “gedankliche Zwischenwelt” segundo Weisgerber:
“Neben der Humboldtschen Konzeption von Sprache als Energeia steht hier bei Weisgerber,
wieder an zentraler Stelle, ein weiterer Humboldtscher Begriff. Die sprachliche
9
Zwischenwelt ist, als zugleich `gedankliche Zwischenwelt' bzw. 'Denkwelt' (ebd., S. 14 ),
nicht einfach Abbild der Welt der Sachen, sondern sie enthält „das Ergebnis der
gedanklichen Verarbeitung dieser Welt. Es gehen also neben der Wirkung der 'Sachen'
selbst auch die besonderen Gesichtspunkte und Wertungen in sie ein, die den Menschen bei
seinem Beachten, Auffassen und Beurteilen der Erscheinungen leiten" (ebd., S. 13). Die
Begriffe 'sprachliche Zwischenwelt' und `gedankliche Zwischenwelt' werden synonym
verwendet, allerdings präzisiert Weisgerber seine Auffassung vom Verhältnis Denken —
Sprache (!) dahingehend, Sprache als Energeia trage die gedankliche Auseinandersetzung
der Sprachgemeinschaft als einer 'Erkenntnisgemeinschaft' mit ihrer Lebenswelt (vgl. ebd.,
S. 14). Aus der bereits referierten Einsicht, die Sprachgemeinschaft sei als Lebens- und
Handlungsgemeinschaft dynamisch, leitet Weisgerber schließlich ab, auch die Zwischenwelt
sei nicht statisch, in der Sprache aufgehoben, sondern „etwas Tätiges, Weiterwirkendes"
(ebd., S. 14). Daraus wiederum folgert er, die Sprache stehe „in unmittelbarster
Wechselwirkung mit allen Kräften des Menschen", sie sei „gebend wie nehmend [!] an all
seinen Werken beteiligt" (ebd., S. 15), so daß sich 'Kulturschaffen' und Aufbau/Modifikation
der Zwischenwelt in ihrer jeweiligen Form und in ihren jeweiligen Ergebnissen wechselseitig
bedingten.“ (Dittmann, 1980:49-50)
Note-se o destaque que Weisgerber atribui ao conceito lato de Lebenswelt como elemento
dinâmico da interdependência entre a língua e mundo mental. A língua sintetiza e organiza os
processos perceptivos e cognitivos ao fornecer uma estrutura ao pensamento. A metodologia
seguida por Weisgerber propõe dois níveis analíticos:
“Auf der gestaltbezogenen Betrachtungsstufe hat man sich mit der phonetischen und
morphologischen Erscheinungsweise sprachlicher Formen zu beschäftigen, d.h. mit allem,
was Träger geistiger Inhalte sein kann und was deshalb die unmittelbare empirische
Grundlage aller Sprachforschung bildet. Auf der anschließenden inhaltsbezogenen
Betrachtungsstufe hat man sich dann mit den geistigen Inhalten sprachlicher Formen zu
beschäftigen, die sich in einer Sprachgemeinschaft konventionell stabilisiert haben und die
der geistigen Zwischenwelt angehören. Diese geistigen Inhalte dürfen auf keinen Fall mit
lassen, sondern es ist eine sinnliche Form (…).“ Wilhelm von Humboldt, Schriften zur Sprache, (Hrsg. Michael
Böhler), Stuttgart 1973 in http://www.mauthner-gesellschaft.de/mauthnr/hist/humb.html [Consult. 16.10.2010]
9
Weisgerber, Leo (1949), Die Sprache unter den Kräften des menschlichen Daseins, 1. Aufl., Pädagogischer Verlag
Schwann, Düsseldorf.
18
den tatsächlichen Sachen oder Sachverhalten verwechselt werden, auf die sich sprachliche
Formen in der konkreten Sprachverwendung beziehen können, denn sie repräsentieren nur
die Interpretationsmuster, mit denen die Welt des Seienden erfaßt werden soll. Die
Sprachinhalte sind deshalb nach WEISGERBER auch nicht als bloße geistige Reflexe
vorgegebener Strukturen und Ordnungseinheiten der Welt aufzufassen, sondern als
Ergebnisse der geistigen Auseinandersetzung mit der Welt.” (apud Wilhelm Köller,
Philosophie
der
Grammatik,
Stuttgart
1988
in
http://www.mauthner-
gesellschaft.de/mauthner/tex/koell6.html [Consult. 16.10.2010])
Na sua obra Das Wunder der Sprache: Probleme, Methoden und Ergebnisse der
Modernen Sprachwissenschaft, de 1950, Walter Porzig, que pode ser considerado um dos
precursores mais significativos do paradigma cognitivo, foi claramente influenciado pela
abordagem de Weisgerber. Esta influência é particularmente visível no capítulo 9, com o título
“Die Leistung der Sprache”, pois inspira-se na obra de Weisgerber de 1932: Die Stellung der
Sprache im Aufbau der Gesammtkultur. Nele, Porzig aborda questões ligadas ao papel da
língua na vida real e concreta, nomeadamente no que concerne a forma como apreendemos a
realidade no mundo que nos rodeia e como o conceptualizamos, caracterizando a língua
como: „Vorbedingung und Mittel für die Kulturleistungen der Menschheit" (Porzig, 1950:344).
Para além deste capítulo, esta obra aprofunda e desenvolve o conceito dos campos semânticos
(“Bedeutungsfelder”), na senda de Weisgerber, desbravando o caminho para uma nova teoria
da metáfora. Este começa por abordar no capítulo “Die Richtigkeit der Namen” a questão da
origem da atribuição de nomes a novas descobertas e objectos inventados. Porzig considera
dois processos: o primeiro baseia-se numa inspiração inter-linguística, recorrendo às antigas
línguas grega e/ou latim (exemplos: automobil e bicycle); o segundo inspira-se nos campos de
conhecimento semelhantes, i.e. por “empréstimo” lexical: “Bezeichnungen aus verwandten
Sachgebieten zu entlehnen” (Porzig, 1950:35). Contudo, é possível reconhecer a activação
destes dois processos em contextos que ultrapassam a necessidade da “Namengebung” a
criações e eventos inovadores como, por exemplo, na descrição de paisagens naturais, nas
quais uma montanha era compreendida como um corpo, possuindo pés e costas10. Porzig
explica este fenómeno da seguinte forma:
10
“Die Frage der Namengebung stellt sich nicht nur, wenn ein ganz neuer Sachverhalt zum ersten Male bennant
werden muß, sondern auch, wenn ein bekannter Sachverhalt aus irgendeinem Grunde einen neuen Namen
bekommen soll. wir sprechen vom Rücken oder Kamm, von den Flanken, von der Schulter, vom Fuße, von der Nase
eines Berges - alles eigentlich Namen von Teilen des tierischen Körpers. Wer diese Bezeichnungen zuerst
anwendete, sah in dem Berge ein Tier, der Kamm läßt etwa an einen Drachen denken . (...) Bei der Landzunge liegt
offenbar die Anschauung eines Tieres zugrunde, das mit weit ausgestreckter Zunge Wasser schlürft. (...) Auch bei
einem Gefäß sprechen wir von der Schnauze.“ (Porzig, 1950:39)
19
“Die Sprechenden sahen sich in diesen Fällen vor der Aufgabe, Geländeformen und
Gefäßformen zu benennen, die in ihren Einzelheiten offenbar keine festen Namen hatten.
Nun sah man in sie menschliche oder tierische Gestalten hinein und gewann so ungesucht
die notwendigen Namen. Der Vorgang ist im Leben der Sprache sehr häufig. Man nennt ihn
Übertragung oder mit fremden Fachausdruck Metapher.” (Porzig, 1950:40)
Porzig, preferindo a tradução alemã de Übertragung, em vez do grego Metapher (até porque
Übertragung evidencia na perfeição o processo conceptual de transferência de um domíniofonte para um domínio-alvo) desenvolve o que considera serem as motivações subjacentes a
este fenómeno. Realça, por exemplo, o fenómeno da conceptualização de conceitos abstractos
ou estados emocionais através de domínios físicos, concretos e familiares, baseados na
experiência vivenciada. Mais ainda, considera que o significado emergente é prontamente
compreendido pelo falante comum, de forma inconsciente até, tornando a comunicação mais
eficaz e inteligível:
“Den Hauptvorteil bietet die Übertragung, wenn man von seelischen oder unanschaulichen
Sachverhalten sprechen will. Die heitere Stimmung ist übertagen vom heiteren, d.h.
‚leuchtenden‘ Himmel. Lahme Entschuldigungen, faule Ausreden, schiefe Darstellungen,
fadenscheinige Begründungen sagen auch dem Laien sofort, woher der übertragene
Ausdruck gekommen ist. Es leuchtet so unmittelbar ein, daß man erst nachdenken muß, um
den ‚eigentlichen‘, d.h. nicht übertragenen Ausdruck zu finden, wie ungeschickte
Entschuldigungen, ungenügende Ausreden, ungenaue Darstellungen, unzureichende
Begründungen. Der Versuch lehrt, daß die ‚eigentlichen‘ Ausdrücke weniger geläufig sind als
die übertragenen und daß sie nur verneinende Bestimmungen geben, während die
übertragenen die Sachverhalte positiv kennzeichnen können.“ (Porzig, 1950:40)
Na mesma linha, Porzig explora a divisão entre a exterioridade e interioridade, defendendo a
experiência do corpo e do espaço físico circundante como fundamental para a
conceptualização de conceitos abstractos, como, por exemplo, o tempo:
“Und wirklich kann die Sprache nur von Äusserem reden. Wo sie Inneres meint, muß sie es
gleichsam in Äusseres übersetzen. Schon die Rede von «innen» und «aussen», wenn wir
Seele und Welt meinen, ist ja eine Übersetzung. In Wirklichkeit ist das Verhältnis von Seele
und Welt gar kein Räumliches. Aber die Sprache übersetzt alle unschaulichen Verhältnisse
ins Räumliche. Und zwar tut das nicht eine oder eine Gruppe von Sprachen, sondern alle
ohne Ausnahme. Diese Eigentümlichkeit gehört zu den unveränderlichen Zügen
(«Invarianten») der menschlichen Sprache. Da werden die Zeitverhältnisse räumlich
ausgedrückt: vor und nach Weihnachten, innerhalb eines Zeitraums von zwei Jahren. Bei
seelischen Vorgängen sprechen wir nicht nur von aussen und innen, sondern auch von über
20
und unter der Schwelle des Bewußtseins, vom Unterbewußten, vom Vordergrunde und
Hintergrunde, von Tiefen und Schichten der Seele. Überhaupt dient der Raum als Modell für
alle unanschaulichen Verhältnisse (...). (Porzig, 1950:156)
Já Jean Piaget, nos estudos que realizou sobre a aquisição da linguagem e do pensamento das
crianças, assim como a criação do conceito temporal nas crianças, chegou à conclusão de que
a compreensão do tempo parte, em primeira instância, do domínio do espaço físico.
Mentalmente, a noção do espaço físico é substituída pela noção abstracta do tempo,
mantendo, contudo, os pontos de referência espaciais. Conclui-se assim, que o conceito
‘tempo’ se desenvolveu a partir do conceito espacial, o que é claramente reconhecível através
dos recursos linguísticos utilizados logo em tenra idade, durante o processo de aquisição
linguística:
“Der Raum ist eine Momentaufnahme der Zeit, und die Zeit ist der Raum in Bewegung;
beide bilden die Gesamtheit der Beziehungen der Einschachtelung
und der Ordnung,
die die Gegenstände und ihre Raumänderungen charakterisieren” (Piaget, 1946/1974:14)
“Die Zeit verstehen, heisst also durch geistige Beweglichkeit das Räumliche zu
überwinden.” (Piaget, 1946/1974:365)
É de facto indiscutível que o domínio espacial está omnipresente nas vivências do dia-a-dia,
assim como na linguagem de todos os falantes. Partindo do princípio de que toda a existência
humana decorre num contexto espacial, considera-se o espaço como o domínio fulcral de
interdependência entre a linguagem e a cognição. As expressões espaciais constituem, assim,
esquemas estruturais que servem de modelos cognitivos para expressões de carácter não
espacial, o que realça o papel determinante que a organização espacial detém na cognição
humana.
Já segundo Aristóteles, o espaço é concebido não como um local abstracto, mas sim
como um lugar de experienciação. Kant secundou esta opinião, afirmando: “Der Raum ist eine
grundlegende, [...] gar a priori gegebene Erfahrungsqualität des Menschen.”11 Registe-se que,
enquanto corrente neo-kantiana, a semântica cognitiva realça a dimensão espacial como
domínio central na cognição humana:
“Se é aceite que a Semântica Cognitiva (...) põe em relevo muitas das vivências e cognições
humanas, não custará, assim, aceitar o facto de haver uma dimensão vivencial que a mesma
Semântica Cognitiva tem demonstrado ser um referencial inultrapassável: o espaço.”
(Teixeira, 2001:15)
11
in Grabowski, 1999:18
21
Se o espaço físico, e a experiência vivida desse mesmo espaço, é uma das experiências
humanas mais elementares, e se este domínio é a base referencial das representações
linguísticas espaciais, é fácil conceber que esse mesmo espaço concreto e, consequentemente,
as suas representações linguísticas sirvam igualmente como suporte referencial a conceitos
abstractos. Através do domínio espacial, mais facilmente podemos ‘visualizar’ os modelos com
que configuramos e conceptualizamos uma realidade abstracta. Assiste-se a um mapeamento
de domínios com a consequente projecção metafórica das representações linguísticas. Isto
acontece devido ao facto de noções abstractas serem conceptualizadas como espaços
dimensionais
A presente perspectiva da função metafórica alarga o escopo da mesma, abandonando
a visão da metáfora como mero ornamento estilístico ou simples alternativa linguística
ocasional para descrever eventos. A metáfora revela processos mentais recorrentes que
evocam imagens mentais completas e ricas, o que, por sua vez, se prende com o conceito de
Frame, muito no sentido de Fillmore12, ou Umgebung, de acordo com Porzig:
“Die Übertragung ist also nicht ein gelegentlicher Notbehelf, sondern ein regelmäßiges und
verbreitetes Verfahren, anschauliche Bezeichnungen zu schaffen, wo solche nicht zur
Verfügung stehen oder unbrauchbar geworden sind. Sie setzt voraus, daß jedes Wort in
einen Bereich gehört, wo es eigentlich verwendet wird. Außerhalb dieses Bereichs steht es
‚übertragen‘, aber es bringt dabei gewissermaßen die Luft seiner eigentlichen Umgebung
mit, und darauf eben beruht seine anschauliche und eindringliche Wirkung.“ (Porzig,
1950:40)
Os já referidos campos semânticos - Bedeutungsfelder ou syntaktische Felder, segundo Porzig contribuem para uma arquitectura de mapeamentos conceptuais e Porzig reconhece que estes
têm fronteiras fluidas pelo que se interligam: “Einbegreifende und aufteilende
Bedeutungsfelder stehen nicht gleichgültig nebeneinander, sondern durchdringen sich.“
(Porzig, 1950:73), e que quanto mais latos os campos são, menos definidos são os seus limites:
“Schon die wenigen hier andeutungsweise erwähnten Wortfelder zeigen, daß die Schärfe
der Konturen nachläßt, je ausgedehnter das Feld wird. Felder wie rechts, links oder essen,
trinken leuchten auf den ersten Blick ein und bedürfen keiner Ausarbeitung aber die Namen
der Geräte oder der Hantierungen z. B. in einer Küche müssen eingehend erläutert werden
ehe die Feldgliederung klar wird.“ (Porzig, 1950:119)
12
Fillmore, C., 1977, “Scenes-and-frames semantics”, Linguistics Structures Processing, Amsterdam/New York:
North Holland Publishing Company, Antonio Zampolli (ed.), pp. 55-81; Fillmore, C., 1982, “Frame Semantics”,
Linguistics in the Morning Calm, Seoul: Hanshin Publishing Company, Linguistic Society of Korea (ed.), pp.111-37.
22
Esta teoria dos campos semânticos - Wortfeldtheorie - foi igualmente aprofundada por Jost
Trier13 na década dos anos 30 do século passado, sendo considerado uma das principais figuras
da semântica estruturalista. Apesar de Eugenio Coseriu ser de nacionalidade romena, devido
ao facto de algumas das suas obras mais proeminentes terem sido publicadas em alemão14,
merece ser aqui referenciado. Entre as principais contribuições de Coseriu para o paradigma
cognitivo, destacamos a redefinição dos conceitos saussureanos de langue e parole, ou seja,
entre a língua, enquanto sistema abstracto, e a fala, enquanto realização concreta desse
sistema. Coseriu defende que a língua deve ser perspectivada a partir de dois níveis de
abstracção: a) o sistema como entidade abstracta, colectiva e geral, memorizada na mente de
todos os falantes de um grupo linguístico e b) a norma como padrão colectivo de uso,
incluindo o modo como os falantes recorrem à língua, preferindo certas formas e preterindo
outras. Finalmente existe a fala, ou seja, o uso individual da língua por parte do falante, como
realização ou concretização do sistema em actos comunicativos com o intuito de exteriorizar
sentimentos e pensamentos, desejos e necessidades.
Todos estes linguistas contribuíram para a compreensão gradual da indissociabilidade
e a correlação entre o mundo experienciado e a língua assim como a forma como a mesma
estrutura e organiza o pensamento. A teoria dos campos semânticos e o desenvolvimento do
conceito de conhecimento linguístico revelaram-se ferramentas metodológicas úteis para o
crescimento do paradigma cognitivo, nomeadamente no que diz respeito à teoria dos modelos
cognitivos como alicerce interpretativo.
Cabe-nos ainda citar os linguistas alemães Wolf Andreas Liebert e Olaf Jäckel, pelo seu
contributo no estudo do fenómeno da metaforização. O primeiro dedicou-se a estudar a
ubiquidade da metáfora, não só nos usos linguísticos quotidianos (“Metaphernbereiche der
deutschen Alltagssprache: kognitive Linguistik und die Perspektiven einer kognitiven
Lexikographie” (1992)) mas também em domínios tão diferentes como a doença e a ciência,
respectivamente: “Metaphernreflexion in der Virologie. Das theoriesprachliche Lexikon der
Metaphernmodelle
exemplarische
als
Studie
Sprachreflexionsmittel
am
Beispiel
der
im
Forschungsprozeß
Aidsforschung“,
(TLMSF).
Mannheim
(1995)
Eine
e
13
Este defende que: “Felder sind die zwischen den Einzelworten und dem Wortschatzganzen lebendigen
sprachlichen Wirklichkeiten, die als Teilganze mit dem Wort das Merkmal gemeinsam haben, dass sie sich
ergliedern, mit dem Wortschatz hingegen, dass sie sich ausgliedern.(...) Darin liegt die Bedeutsamkeit des
Feldbegriffes: er ist das Denkmittel, das es einer empirischen Forschung ermöglicht zur Erfassung und Darstellung
des Gliederungswandels und damit zur Geschichte des Sprachinhalts vorzudringen.“ (Trier, 1934/1973:148-149)
14
Por exemplo: Coseriu, E., 1970, Einführung in die strukturelle Betrachtung des Wortschatzes. In Zusammenarbeit
mit Erich Brauch und Giesela Köhler, Hsg. Gunter Narr, Tübingen: Gunter Narr Verlag; Coseriu, E., 1973, Probleme
der strukturellen Semantik, Ed. Dieter Kastovsky, Tübingen: Gunter Narr Verlag:; Coseriu, E., 1988,
Sprachkompetenz: Grundzüge der Theorie des Sprechens, Bearbeitet und herausgegeben von Heinrich Weber,
Tübingen: Francke Verlag.
23
“Metaphernbereiche
der
virologischen
Aidsforschung“
In:
Lexicology
1.
(1995);
“Wissenstransformationen: Grundfragen Der Experten-Laien-Kommunikation Am Beispiel Der
Ozonlochdebatte” (2002).
Quanto a Jäckel, cujo estudo incide sobre a análise das metáforas no discurso
económico, para além de apresentar uma síntese bastante exaustiva das teorias semânticocognitivas actuais (particularmente da chamada corrente norte-americana), enriqueceu o seu
estudo com uma visão diacrónica da teorização sobre a metáfora desde Aristóteles à
actualidade. Dedica também um capítulo aos precursores teóricos do paradigma cognitivo, tal
como já foi desenvolvido anteriormente no presente ponto desta dissertação, no qual faz uma
justa referência aos valiosos contributos destes investigadores. Por fim, procede a uma análise
onomasiológica da conceptualização dos conceitos abstractos “Geistestätigkeit”, “Wirtschaft”
e “Wissenschaft”.
Por fim, consideramos pertinente fazer referência ao linguista alemão Hans Glinz que,
segundo afirmações do próprio, se inscreve no paradigma cognitivo, rebatendo,
consequentemente, a ideia de que um estudo de cariz semântico-cognitivo se funda
exclusivamente na abordagem cognitiva proposta pela escola americana. Referimo-nos,
concretamente, à sua obra: “Grammatiken im Vergleich” de (1994), elaborada a partir do
postulado da dimensão conceptual das representações simbólicas.
Glinz cedo se interessou pela teoria saussuriana, pois reconhecia nas mesmas
vantagens para o ensino da língua alemã (no exercício das suas funções como docente da
língua alemã) devido ao facto de explorarem questões de aquisição e de uso linguístico. Apesar
de sentir que este paradigma não o satisfazia por completo, concordava, até certo ponto, com
os pressupostos teóricos básicos de Saussure:
“But all of these minor or major modifications I made for myself in reading the Cours did by
no means diminish the usefulness of the basic views and principles I found there (…) –
primarily the view of language as a truly historical phenomenon, and therefore an "un-ideal"
system or complex of systems (which, by the way, is in full contradiction to the claims and
practices of "system-builders" like Chomsky).”
15
Porém, na tentativa de compreensão dos sistemas complexos inerentes às línguas,
familiarizou-se com os estudos de Weisgerber, tendo encontrado na obra deste autor pistas de
pesquisa valiosas que apontavam, para além da função comunicativa da língua, para aspectos
de enfoque cognitivo:
15
in “Hans Glinz: Languages and their Use” – Texto do próprio, publicado on-line em http://www.sprachtheorie.de
[Consult. 18.10.2010]
24
“I realized immediately that I had here a kind of continuation of Saussure, an essay to apply
Saussure's basic postulates to the German language. I welcomed especially that
Weisgerber emphasized the cognitive functions of the languages, aside from their
communicative functions.” (Glinz op.cit.)
Ao longo de inúmeras pesquisas e de estudos empíricos com os seus alunos, (tendo como
objecto de estudo a língua alemã do dia-a-dia do falante comum) concluiu que o uso linguístico
não depende apenas da correcta utilização de itens lexicais, gramaticais e da sintaxe, mas
principalmente de factores contextuais (linguísticos e extra-linguísticos). Empenhou-se, assim,
em desenvolver aquilo que o próprio intitulou como “uma nova gramática alemã”, de cariz
claramente pós-estruturalista, pois contemplava aspectos do uso linguístico (“Die innere Form
des Deutschen. Eine neue deutsche Grammatik”, 1952). A partir de 1955 integrou-se num
vasto grupo de trabalho, liderado por Weisgerber, com o intuito de desenvolver uma descrição
adequada da língua alemã actual, obra essa que o próprio Glinz inscreve avant la lettre no
paradigma cognitivo:
“In 1955, Weisgerber initiated an "Arbeitskreis Sprache und Gemeinschaft" (…) [to
develop] a great description of the German language of today, its grammatical structures
and its stock of words with their multiple meaning-sides – an "inhalts- und
leistungsbezogene deutsche Grammatik". In today’s terminology, this would be: "a
cognitive grammar, with full account of its pragmatic and sociolinguistic aspects", or, in
other words, with an account of the impact of the language, structured in particular ways,
on the speaking community, in this case on the thoughts and actions of German-speaking
people.” (Glinz, op. cit.)
Em 1994 publicou uma obra bastante extensa e completa “Grammatiken im Vergleich” em
que, tal como o próprio título o espelha, desenvolve uma abordagem confrontativa (AlemãoFrancês-Inglês-Latim) subdividida em três grandes vertentes: a formal, a da significação e a da
compreensão. Destacamos aqui o capítulo onze, porque é nele que encontramos alguns dos
principais postulados comuns à teoria cognitiva: a conceptualização de conceitos a partir do
espaço físico, assim como o princípio da corporização da conceptualização. Tal como muitos
outros autores anteriormente mencionados, Glinz afirma que o tempo é conceptualizado a
partir de um sistema de coordenadas elementares, ou seja, a partir da experiência física:
“Bei der Ausarbeitung zeigte sich aber immer deutlicher, daß die Einbettung in den Zeitablauf
(und in ähnlicher Weise auch die Situierung im Raum) einen besonderen Stellenwert hat und
ein besonderes Gewicht beansprucht: hier werden nicht nur speziellere gedankliche
25
Beziehungen dargestellt, sondern es werden elementare Koordinatensysteme aufgerufen
(…).” (Glinz,1994:555)
Este acrescenta que a avaliação de um determinado momento ou de uma duração temporal
obedece a princípios muitas vezes individuais, em estrita dependência dos respectivos
contextos, o que revela a preocupação de incluir no estudo aspectos de ordem subjectiva e
sociocultural:
“(...) Einschätzungen, die sich nur aus der jeweiligen Situation heraus verstehen lassen und
zum Teil ganz individuell, von den eigenen Gewohnheiten und Erwartungen, dem eigenen
Lebensrhythmus her bedingt sind.” (Glinz, 1994:565-566)
Apesar da passagem do tempo cronológico ser constante - os segundos, minutos, horas,
sucedem-se sem parar - o pensamento e o discurso humanos são livres, por outras palavras, na
prática discursiva não existem divisões estanques e esquemáticas entre passado, presente e
futuro. O tempo é encarado, por um lado, como uma dimensão do mundo e, por outro, como
uma dimensão de vida recheada de experiências. É sentido como um contínuo e o discurso
permite-nos, ao invés do que acontece com o tempo real cronológico, deslocarmo-nos
livremente de um espaço temporal para outro. O avançar fluido do tempo é medido, ou
melhor, sentido através da sucessão de experiências vividas16. No subcapítulo seguinte, e tal
como o próprio título indica (“Situierung im Raum, Lagen und Bewegungen – besondere
Raumqualitäten, besondere Perspektiven, verwurzelt in der Körperlichkeit des Menschen”),
Glinz aprofunda as noções de espacialidade e o princípio da ‘corporização’ como ponto
referencial para a conceptualização do tempo e de outros conceitos mais abstractos:
“Daß
Raumkennzeichnungen
und
Zeitkennzeichnungen
in
ihren
Grundzügen
zusammenhängen – gemeinsam fundiert im Erfahren von Bewegungen, die ebenso einen
zeitlichen wie räumlichen Aspekt haben – zeigt sich eindrücklich beim Blick auf den
Wortbestand.” (Glinz, 1994:581)
16
“Die drei Begriffe werden nicht nur im Alltag laufend gebraucht («Das liegt nun in der Vergangenheit – Wir leben
in der Gegenwart – Die Zukunft ist ungewiß» usw.), sondern sie werden auch in den Grammatiken meistens recht
unreflektiert verwendet. Man denkt sich dann irgendwie drei Bereiche oder Räume, aus denen sich «die Zeit»
insgesamt zusammensetzt, und man ist sich klar, daß die «Zukunft» laufend zu «Gegenwart» und «Gegenwart» zu
«Vergangenheit» wird. Wenn man aber genauer zusieht, ergeben sich Schwierigkeiten, und zwar vor allem für
«Gegenwart» und «Zukunft»: Was ist «schon Gegenwart», was liegt noch in der «Zukunft»? Die Beantwortung
dieser Fragen hängt offenbar gar nicht von der absoluten Zeit ab, sondern von der Einschätzung für das Erleben und
Handeln. (…) Diese Offenheit der Grenzen zwischen «Gegenwart» und «Zukunft» ist auch der Grund, warum bei der
Analyse der festen Bedeutungsbeziehungen für relative zeitliche Situierung (…) nur mit der Unterscheidung von
zwei Zeitbereichen gearbeitet wird, nämlich «Gegenwärtiges/Zukünftiges, mit Einschluß von Zeitlosem, als
überzeitlich Gesehenem» gegenüber «schon Erfolgtem, jetzt Vergangenem». (…) Wenn ein solches Ereignis erfolgt
ist, wenn ein Handlungsakt vollzogen worden ist, so ist das unwiderruflich. Man muß es als Faktum akzeptieren.”
(Glinz, 1994:578)
26
destacando diversas partículas e preposições nas quatro línguas estudadas que operam tanto
no domínio espacial como no temporal e abstracto. Esta soberania espacial fundamenta-se na
necessidade básica do homem de, em primeiro lugar, ter noção de si num determinado espaço
e, de seguida, saber orientar-se no domínio espacial. As coordenadas espaciais funcionam
como os primeiros e mais elementares eixos sobre os quais se estruturam as representações
do mundo. Desta forma, as estruturas cognitivas simplificam a realidade. A própria concepção
de vida como uma caminhada deriva desta dualidade espácio-temporal. Existe, assim, um
óbvio desejo de orientação temporal, tendo em conta a própria noção de finitude que, por ser
experiencialmente mais familiar, se serve do domínio espacial para alcançar essa ‘localização’
no tempo:
“Dieses Bedürfnis [Orientierung im Raum] ist ebenso grundlegend wie dasjenige, sich im
Zeitlauf zurechtzufinden. Geplantes und schon Gelaufenens zeitlich zu situieren, und man
kann sogar annehmen, daß die Rechenschaft von der räumlichen Lage und den darin
möglichen Bewegungen leichter ist als das bewußte Erfassen des Zeitablaufs.”
(Glinz,
1994:581)
Para além do espaço ser estruturado por marcos geográficos (a paisagem natural, todas as
construções humanas e os objectos que nele se encontram), ele é principalmente estruturado
pelas pessoas que nele habitam. Nesse contexto pode considerar-se que qualquer espaço
físico é também um espaço social. Nesse espaço social operam determinados princípios de
comportamento e de convivência, existem relações de poder e de interacção. Como o
presente é fortemente influenciado pelo passado, tal como já foi demonstrado anteriormente,
todos os comportamentos humanos neste espaço social são o resultado de acontecimentos
precedentes:
“Hier spielt nun auch die Zeit in oft verdeckter, aber nicht weniger grundlegender Weise
mit hinein, nämlich durch die soziale Prägung aller in diesem Raum lebenden Menschen –
durch das Stück Vergangenheit, das ein wirksamer Teil der Gegenwart aller Handelnden
ist.” (Glinz, 1994:582)
Retomando a questão do posicionamento do ser humano no espaço, Glinz realça que
este determina dois aspectos importantes da percepção espacial: a ‘qualidade’ e a
‘perspectiva’. A noção de qualidade equivale para Glinz à noção de interior (‘estar dentro’) e
de exterior (‘estar fora’) relativamente a um espaço restrito. A perspectiva, por outro, prendese com a identificação de indicadores locais tais como à esquerda e à direita, à frente e atrás,
em cima e em baixo. A posição também é essencial para questões relacionadas com a
27
distância. Ao calcular a distância, determina-se o que está ao nosso alcance e o que está fora
dele. A distância pode ser ultrapassada através da deslocação física real ou através da
percepção. Estas noções de qualidade e perspectiva aplicam-se também aos espaços sociais. A
deslocação é um aspecto central, não somente deste estudo, mas principalmente da vivência
humana quotidiana. Glinz distingue entre dois movimentos básicos:
- o movimento em direcção a algo, habitualmente de aproximação a um determinado ponto
de referência (“Zielorientiert”)
-
o
movimento
de
afastamento
relativamente
a
um
ponto
de
referência
(“Ausgangspunktorientiert”)
A estes movimentos é possível acrescentar as já referidas noções de qualidade e perspectiva.
Existem também movimentos sem destino (“inhärente Bewegung”) em constante alteração
pendular. Apesar de haver deslocação espacial, esta não resulta numa real mudança de
localização, o movimento vale por si, e não é motivado pelo objectivo de alcançar um destino.
Uma vez realçada, de forma pormenorizada, a importância do domínio espacial, Glinz
dedica um subcapítulo à análise das representações de conceitos abstractos a partir de
conceptualizações do domínio espacial. (“Von anschaulichen zu abstrakten Räumen –
Räumliches als Bildhintergrund beim Darstellen von Wissen, Gestimmtheit, Absichten, sozialen
Positionen und ihren Veränderungen – Räumliches in der Herkunft von heute ganz
«abstrakten» Wörtern” (Glinz, 1994:600)). Glinz explora um conjunto de casos, aos quais
subjaz a noção de mapeamentos entre domínios. Tal como em Lakoff e Johnson, é feita uma
distinção entre o domínio de origem, que nesta exposição se fundamenta sempre no espaço, e
em diferentes domínios-alvo. Assiste-se, portanto, a uma abordagem de cariz claramente
cognitivo ao defender que o domínio espacial, no qual o homem se insere, é a matriz
privilegiada para conceptualizar dimensões abstractas da realidade.
Assim, Glinz destaca os seguintes pressupostos:
•
Conceptualização de espaços abstractos: processo cognitivo de organização da
conceptualização17
•
Opiniões ou posições configuradas como espaços abstractos delimitados18
17
Para nos orientarmos com segurança num espaço físico tridimensional, recorremos a pontos de referência de
fácil reconhecimento, normalmente fixos. O mesmo acontece em domínios abstractos: “Man baut also einen
abstrakten, rein gedanklichen Raum auf, als Ordnungsrahmen für die einzelnen Begriffe. Dabei operiert man sehr
oft mit dem Bildhintergrund «Höhenlage, Niveau» oder «Ebene».” (Glinz, 1994:604) Daí surgirem expressões como
“tomada de decisões ao mais alto nível”, referindo-se às chefias de estado ou empresariais (por exemplo
“Gipfelkonferenz” ou “syntaktische Ebene”). Uma vez que se considera que locutor já não associa a dimensão
abstracta à dimensão concreta, trata-se de metáforas conceptuais completamente convencionalizadas.
18
Na óptica de Glinz, a configuração espacial dos espaços abstractos serve à sua compreensão: “Man kann
abstrakte Räume nicht nur als dauernde Ordnungs-Rahmen und Orientierungshilfen aufbauen und verwenden,
28
•
‘Em cima – em baixo’ e ‘à frente’ em “espaços sociais” (no convívio social e em
relações de poder)19
•
Intenções, conhecimento como espaços abstractos20
sondern auch in jedem Augenblick einen jeweils benötigten abstrakten Raum ansetzten, wenn man für irgend eine
Aussage angeben will, daß sie nicht unbegrenzt und allgemein gilt und zu verstehen ist, sondern daß sie nur im Blick
auf einen bestimmten Bereich gesehen (und verstanden – und evtl. kritisiert) werden soll.” (Glinz, 1994:605) Assim,
socorrendo-se do exemplo: “In der Theorie geht das.”, a teoria é representada como um espaço abstracto
conceptualizado como um contentor (esquema imagético do contentor) dentro do qual certas acções ou
procedimentos são possíveis ou viáveis.
19
É do conhecimento geral que o estabelecimento de relações interpessoais e interinstitucionais se processa no
domínio social. No seio deste, existem sub-espaços sociais (núcleos de interacção) que não possuem fronteiras
rígidas. Dentro de cada um desses sub-espaços, ocupamos um determinado lugar, uma determinada posição. Essa
posição ou ‘nível’ social é, por sua vez, mensurável através de um eixo vertical, à luz da medição dos objectos. É
também através de uma escala de valores vertical que se conceptualiza a hierarquia social, constituindo o topo a
melhor posição. Contudo, também é possível destacar valores positivos através da imagem mental do eixo
horizontal. ‘À frente’ é, por exemplo, uma posição muito mais vantajosa e positiva do que ‘atrás’. Este facto está
19
claramente relacionado com a dimensão antropocêntrica da conceptualização enquanto ser corpóreo . A
corporização do espaço decorre do facto de a dimensão física humana constituir um marco nas representações
linguísticas, até porque é consensual afirmar que a experiência no espaço é pré-existente ao uso da língua. Glinz
perfilha este ponto de vista (Glinz, 1994:606).
Embora não mencione expressamente que as conceptualizações são resultado de projecções metafóricas (neste
caso da metáfora orientacional – Lakoff/Johnson, 1980:14-21), considera pertinente referir que se trata de um
processo de ‘recriação’ mais do que de mera ‘extensão’ (Glinz, 1994:606).
É exactamente este o processo que subjaz ao princípio dos modelos/imagens mentais que Glinz classifica como
“Bild-Hintergrund”. A título exemplificativo, Glinz refere que, quando uma pessoa já não se identifica com um
determinado grupo social, quando não se conforma com as normas pré-estabelecidas ou não compactua com as
regras exigentes do mundo do trabalho ou na esfera intelectual, essa pessoa pode ser designada de “ein/der
Aussteiger”, como se estivesse a sair fisicamente de um espaço confinado (“aus einem Auto aussteigen”). Assim, o
mapeamento dos domínios através da projecção metafórica afigura-se por demais evidente.
Retomando o princípio da conceptualização corporizada, Glinz também defende que os binómios ‘dentrofora’, ‘em cima-em baixo’ e ‘à frente-atrás’ estão enraizados na condição física humana. O binómio ‘dentro-fora’
activa dois contextos espaciais: a) o espaço corporal – o próprio corpo humano é visto como recipiente, um
contentor. Dentro do corpo localiza-se a estrutura de suporte físico (o esqueleto), todos os órgãos vitais, os
músculos, o cérebro, etc., resguardados por uma camada protectora, ou seja, a pele e os cabelos, que estão em
contacto directo com o mundo exterior. É nesse interior que se situa, portanto, o centro vital e operacional do ser
humano, que comanda todas as acções que serão executadas no mundo exterior (como por exemplo, caminhar,
agarrar algo ou falar). O interior constitui igualmente o centro emotivo e racional, responsável pelas emoções por
um lado e pelo pensamento e raciocínio por outro. b) os espaços circunscritos – todos os espaços com limites mais
ou menos precisos, naturais ou construídos, nos quais é possível entrarmos e sair. Ao espaço interior (por exemplo,
uma casa ou caverna) é associada a ideia de segurança e protecção perante possíveis ameaças exteriores. Pelo
contrário, os limites de um espaço fechado também podem representar falta de liberdade, suscitando sentimentos
de aperto físico e emocional (como a “angústia”), sendo o exterior, imagem de liberdade de acção e campo de
descoberta. Ao pretender distinguir entre o que é importante do que é supérfluo (interior em oposição ao exterior),
é comum estabelecer-se uma analogia entre a configuração do corpo e a configuração do fruto, conforme
patenteado na imagem: “Er hat einen goldenen Kern in rauher Schale”. Seguindo a terminologia cognitiva, assistese a uma activação dos esquemas imagéticos do contentor e de centro-perifería. Quanto aos binómios vectoriais
‘em cima-em baixo’ e ‘à frente-atrás’ como suporte referencial do mapeamento de domínios, estes são
equacionados por Glinz, no quadro evolucionista, como adaptações à posição vertical própria da espécie humana.
Na parte frontal do nosso corpo estão dispostos quatro dos cinco órgãos dos sentidos indispensáveis à comunicação
humana. Convém sublinhar que a visão assume um papel determinante na estruturação do espaço. Além do mais, o
que é visível é (em certa medida) controlável, pelo que, ao invés, a zona situada na parte de trás do corpo engloba o
não visível que, como tal, está fora do nosso controlo. Lakoff desenvolve:
“What is the basis of the widespread KNOWING IS SEEING metaphor, as in expressions like: I see what
you’re saying. His answer was clear. This paragraph is murky. He was so blinded by ambition that he
never noticed his limitations. The experiential basis, in this case, is the fact that most of what we know
comes through vision, and that in the overwhelming majority of cases, if we see something, then we
19
know it is true. “ (Lakoff, in Lakoff on Conceptual Metaphor )
Podemos, pois, concluir que tanto o corpo como o espaço tridimensional perceptível constituem o domínio de
partida para a conceptualização de ‘espaços’ emocionais e racionais.
29
•
Espaço como campo conceptual de vivências e humores/emoções21
•
Espaço como campo conceptual para comportamentos e actos22
Apesar de Glinz nesta análise nunca referir explicitamente o termo metaforização, fica,
contudo, claro que se trata apenas de uma questão terminológica. Para este, o mapeamento
de domínios cognitivos através de processos de conceptualização metafórica é idêntico ao
princípio dos campos conceptuais e à compreensão do significado ‘figurativo’ ou ‘imagético’
(“Bildhintergrund” e “bildliche Bedeutung”). Podemos comprovar este aspecto perto do final
desta sua gramática, na medida em que inclui um subcapítulo dedicado aos processos de
metaforização (“Wörtliches und übertragenes Verstehen, «Metaphern» (Glinz, 1994:834)),
onde reconhece que é imperativo fazer-se uma clara distinção entre o sentido ‘literal’ e o
sentido ‘imagético’ ou metafórico (“wörtlich” – “bildlich”):
“Eine Unterscheidung, die im Einzelfall oft leicht zu machen ist, die aber in allen Sprachen
wichtig ist, vom Auffassen einzelner Wörter und Wendungen bis zum Verständnis ganzer
Texte, ist die Unterscheidung zwischen «wörtlich» und «bildlich, metaphorisch».” (Glinz,
1994:869)
20
Os domínios das intenções e do conhecimento, ou seja, da factualidade, são considerados como fazendo parte do
interior do homem. Assim, ao atribuir-se à cabeça o papel de centro mental e ao coração o papel de centro
emocional está a conceptualizá-los como espaços abstractos (contentores). Contudo, caso sejam partilhados estes
espaços abstractos, são configurados como exteriores ao homem (Glinz, 1994:610-611).
21
É do conhecimento geral que a experiência das vivências quotidianas (tais como o dormir e a fome, entre outros)
assim como os humores e as emoções (por exemplo: felicidade, alegria, tristeza e medo), ao fazer parte da
dimensão interior do homem, inscrevem-se nos domínios abstractos e afigura-se necessário equaciona-las à luz do
concreto. Contudo, algumas expressões que conceptualizam essas experiências afiguram-se como espaços
abstractos exteriores ao homem. Glinz destaca três situações:
- a concepção de espaço abstracto delimitado (equivalente ao conceito de metáfora do contentor de
Lakoff/Johnson, 1980:29:32);
- a objectivação, ou seja, a perspectivação do abstracto como um objecto (equivalente à metáfora ontológica de
entidade ou substância de Lakoff/ Johnson, 1980:25-29);
- a personificação, a conceptualização do abstracto à luz da pessoa humana (equivalente à metáfora de
personificação de Lakoff/Jonhson,1980:33:34).
Um dos exemplos mais sintomáticos apresentados por Glinz é o do estado febril.
22
É no âmbito do espaço real e físico que interagimos com todo o mundo envolvente: olhamos para o que nos
rodeia, agarramos objectos com as mãos, comunicamos com outras pessoas, deslocamo-nos no espaço. Todos estes
actos ‘reais’ podem ser projectos para o domínio do abstracto, por outras palavras, os paradigmas da interacção
real constituem o domínio de origem para a conceptualização de conceitos abstractos. Por exemplo: ‘dar uma
prenda a um amigo’ insere-se no domínio concreto, enquanto ‘dar uma resposta a um amigo’ faz parte do domínio
de conceitos abstractos, pois não se assiste a uma entrega física e concreta de algo que é transferido de um sujeito
para outro sujeito. Compare-se igualmente: ‘ele está preso a uma árvore’ e ‘ ele está preso a ideias antiquadas’.
Registe-se que Glinz, na exemplificação de casos paralelos se socorre do verbo “werfen”, realçando a diferença
entre “einen Stein werfen” e “einen Blick auf etwas werfen”. Daí que este autor defende uma interligação clara
entre o significado concreto (“konkrete Bedeutung”) e o significado abstracto (“abstrakte Bedeutung”). De acordo
com este princípio, também o movimento em direcção a algo tem um significado concreto que pode ser projectado
para o domínio do abstracto (tal como uma direcção/percurso emocional ou racional): “Auch solches Heranziehen
körperlicher Bewegungen, im anschaulichen Raum, zur Signalisierung von Handelns- und Verhaltensweisen an sich
(im «abstrakten Raum der Kooperation», der Abstimmung von Absichten, Willenshaltungen, Handlungen usw.) gibt
es in allen vier Sprachen (…).” (Glinz, 1994:617)
30
As metáforas são “bildliche Wendungen”, uma vez que são facilmente inteligíveis, mesmo por
crianças jovens, devido à sua base contextual:
“Solche «bildliche Wendungen» werden sehr oft ganz automatisch richtig verstanden, aus
dem Zusammenhang heraus, und das lernende Kind denkt dann ebenso wenig an die
wörtliche Bedeutung wie ein Erwachsener, wenn er etwa sagt: «Die haben den armen Mann
mächtig übers Ohr gehauen» für «sie haben ihn schamlos betrogen». (Glinz:1994:869)
Independentemente do facto do locutor recorrer a imagens metafóricas de forma consciente
ou inconsciente, é o entrosamento entre a dimensão textual e a dimensão semântica (a
experiência e o conhecimento do mundo) que garante a correcta compreensão das expressões
metaforizadas.
Em suma, Glinz postula:
a projecção metafórica das representações simbólicas do domínio espacial concreto e
tridimensional para domínios abstractos;
o campo conceptual do espaço concreto como o domínio de origem privilegiado, na
elaboração das imagens abstractas;
o campo conceptual do corpo humano e a sua interacção física com o mundo
envolvente como outro campo conceptual de grande relevância na cunhagem de
imagens abstractas;
uma correcta compreensão das representações simbólicas, independentemente da
consciência ou não consciência acerca do mapeamento de domínios;
a impossibilidade de estabelecer fronteiras rígidas entre os sentidos metafóricos e os
sentidos abstractos.
“[Man kann annehmen, daß] in einem Anfangsstadium der Sprachentwicklung nur die
Bedeutungen für räumliche Situierung und für Darstellung von Bewegungen «wörtlich»
aufzufassen waren und die meisten anderen Bedeutungen mit Hilfe dieser ersten,
raumbezogenen
Bedeutungen
aufgebaut
wurden
und
also
zunächst
«bildlich,
metaphorisch» waren, bis sie dann allmählich diesen metaphorischen Charakter verloren, in
einem Abstraktionsprozeß, und zu «reinen» Bedeutungen wurden. Wie dem auch sei, etwas
vom «Metaphorik» durchzieht offenbar den ganzen Sprachbau, und eine scharfe Grenze
zwischen «übertragen, metaphorisch» und «rein, abstrakt, wörtlich» läßt sich nicht ziehen –
ja es hat wenig Sinn, das auch nur zu versuchen.” (Glinz, 1994:870)
Salientamos que não foi feita menção a outros investigadores de língua alemã que
desenvolveram estudos semânticos em que se advoga a interligação significado - experiência.
31
O nosso propósito não foi, nem poderia ser no quadro geral desta dissertação, proceder a um
levantamento exaustivo de todos os estudos de índole semântico-cognitiva em língua alemã.
Pensamos sim, ter seleccionado textos dos autores mais representativos, com o intuito de
demonstrar que o “paradigma cognitivo” está fortemente enraizado no pensamento alemão,
constituindo uma área de investigação em franco desenvolvimento.
1.2. Postulados Gerais da Semântica Cognitiva
Serve o presente ponto desta dissertação o propósito de descrever os postulados
gerais da Semântica Cognitiva, nomeadamente no respeitante à teoria do protótipo e
características de prototipicidade, ao paradigma dos modelos mentais e aos esquemas
imagéticos, assim como à teoria da metáfora e da metonímia.
A teoria do protótipo foi sistematizada pela psico-linguista Eleanor Rosch nos anos 70
do século passado a partir de um estudo sobre as cores23. Em linhas gerais, esta teoria opõe-se
claramente à concepção clássica da categorização defendida pelos estruturalistas, na medida
em que postula que uma dada categoria lexical não pode ser definida pelas condições
necessárias e suficientes, ou seja, pela partilha de um determinado número de traços comuns
a todos os elementos de uma categoria. Assim, a tese de que um elemento só faz parte de
uma certa categoria se reunir propriedades necessárias e suficientes é rejeitada:
“One of the most philosophically cogent aspects of prototypes is that, far from being
abstractions of a few defining attributes, they seem to be rich, imagistic, sensory, fullbodied mental events that serve as reference points in all of the kinds of research effects
mentioned above.” (Rosch, 1999:67)
Refira-se ainda a rejeição da concepção tradicional de que as categorias possuem limites
nítidos e rígidos.
Em suma, a teoria do protótipo defende que em cada categoria existe sempre um
elemento mais representativo: o protótipo. Esta noção de “maior representatividade” está
ligada às imagens mentais que formamos e que, por sua vez, não podem ser dissociadas nem
do contexto em que surgem, “A very important finding about prototypes and graded structure
is how sensitive they are to context.” (Rosch, 1999:67), nem da experiência individual, social e
cultural:
23
apesar do seu estudo da prototipicidade com base no exemplo de “bird” (pássaro ou ave) ser o mais conhecido e
divulgado.
32
“The prototypes of cognitive categories are not fixed, but may change when a particular
context is introduced, and the same is true for category boundaries. More generally, the
whole internal structure of a category seems to depend on the context and, in a wider
sense, on our social and cultural knowledge, which is thought to be organized in cognitive
and cultural models.” (Ungerer/Schmid, 1996:43)
Merece destaque o facto do protótipo de uma categoria, a imagem mental que formamos da
mesma24, emergir a partir de uma determinada base experiencial. Por exemplo, para uma
pessoa que viva no campo, o protótipo de pássaro poderá eventualmente ser o pardal,
enquanto para uma outra que viva na cidade, este poderá ser o pombo, e para os habitantes
de uma aldeia piscatória, é provável que seja a gaivota. Se pensarmos noutro país, como o
Brasil, os seus habitantes poderão eleger o beija-flor, o papagaio ou mesmo o tucano como
elementos mais representativos da categoria “pássaro”. Contudo, é consensual considerar que
um pinguim ou uma avestruz são os elementos mais periféricos (menos representativos) desta
categoria. Nesta linha, a imagem mental que formamos das categorias possui fundamentos
epistemológicos, ou seja, aufere de uma base experiencial:
“Cognitive linguists believe that our shared experience of the world is also stored in our
everyday language and can thus be gleaned from the way we express our ideas. (…) Contrary
to what one might assume, prototypes and cognitive categories are not static, but shift with
the context in which a word is used and depend on the cognitive models stored in our
mind.” (Ungerer/Schmid, 1996:xii-xiii)
Na base do nosso conhecimento enciclopédico sabemos que um morcego, apesar de voar (um
dos traços semânticos da categoria de pássaro), é um mamífero. Comprova-se, assim, até na
própria natureza, a existência de características comuns entre diferentes espécies. Também no
plano linguístico se verificam sobreposições geralmente parciais entre membros de categorias
vizinhas:
“In general we find that the center of a lexical category is firmly established and clear, while
its boundaries are fuzzy and tend to overlap with the boundaries of other lexical categories.”
(Dirven/Vespoor 1998:18)
24
O conceito de “imagem mental” remete-nos para a teoria da Gestalt: “Gestalt: As originally conceived by gestalt
psychologists, the notion of gestalt was intended as an explanation of holistic perception. (…) we suggested a link
between gestalt and the notion of prototype categories. If a gestalt is organized according to the gestalt principles
and includes the functional parts of an item in functionally balanced proportions, it may be regarded as a ‘prototype
gestalt’. This ties in with the definition of prototype as an ‘image’, which was quoted above. In fact, in the case of
organisms and concrete objects where visual perception seems to be important, the prototype gestalt contributes
considerably to the ability of the prototype to function as a model or cognitive reference point.” (Ungerer/Schmid,
1996:41)
33
Também Geeraerts aponta para o fenómeno semântico das fronteiras fluidas, e destaca a
metáfora e a metonímia como fundamento dessa fluidez, criticando, simultaneamente a
abordagem da semântica estrutural:
“The fuzzy boundaries of lexical categories, the existence of typicality scales for the
members of a category, the flexible and dynamic nature of word meanings, the importance
of metaphor and metonymy as the basis of that flexibility - these are all intuitively obvious
elements of the subject matter of semantics that were largely neglected by structural
semantics.” (Geeraerts, 2006b:144).
Geeraerts procede ao sintetizar as quatro principais características da teoria do protótipo:
“i. Prototypical categories cannot be defined by means of a single set of criterial (necessary
and sufficient) attributes (…).
ii. Prototypical categories exhibit a family-resemblance structure, or more generally, their
semantic structure takes the form of a radial set of clustered and overlapping meanings (…).
iii. Prototypical categories exhibit degrees of category membership; not every member is
equally representative for a category (…).
iv. Prototypical categories are blurred at the edges (…).” (Geeraerts, 2006b:146)
Taylor (1989/1995) defende a perspectiva de Rosch relativamente à existência de diferentes
níveis de pertença a uma dada categoria - degrees of category membership - partindo do
princípio da existência de atributos prototípicos centrais e periféricos radiais:
“In addition to establishing degree of category membership as a psychologically valid
notion, Rosch also showed degree of membership to be a relevant variable in a number of
experimental paradigms. For instance, degree of membership affects verification time for
statements of the kind ‘An X is a Y’. It takes less time to verify that a robin (a highly central
member of the category) is a bird than to verify that a duck is a bird (Rosch, 1973b)” (Taylor,
1995:45)
O próprio conceito de protótipo pode ser considerado prototípico, pois não configura um
fenómeno isolado, mas sim um conjunto de fenómenos interligados. Violi (2000) postula:
“It became clear that it was not possible, at least for semantic applications, to think of the
prototype as the concrete instance of the most prototypical member of any given category,
and consequently as a real individual. Instead, it was necessary to turn it into a mental
construal: an abstract entity made up of prototypical properties.” (Violi, 2000:107)”
e sugere a seguinte figura representativa baseada em Givón (1986:79):
34
b
a
c
d
Figura 2: Conceito de Protótipo (Violi, 2000:108)
De acordo com Violi, os círculos a, b, c e d representam propriedades e não conjuntos de
indivíduos. No centro encontra-se uma área tracejada, a área de intersecção dos quatro
círculos, que representa o protótipo, i.e. a entidade abstracta composta por todas as
propriedades prototípicas existentes. Este modelo baseia-se no princípio de que: “linguistic
meaning is structured around some area of more salience, where more properties are
satisfied; the prototype represents the instance of some better kind of appropriateness.”
(Violi, 2000:108). Contudo, é necessário considerar que:
“(…) at least in some cases, the existence of a prototype does not imply scalar membership,
as predicted in Givón’s schema. We may conclude that different degrees of representatively
do not coincide with, or imply, different degrees of membership.” (Violi, 2000:109)
O fenómeno de intersecção de categorias reporta-se ao conceito de “parecenças de família”
introduzido por Wittgenstein, e pode ser esquematizado da seguinte forma:
AB → BC → CD → DE
Figura 3: Conceito de Parecenças de Família segundo Wittgenstein
Os elementos de uma categoria associam-se entre si, com base em similaridades parciais, em
que cada elemento partilha pelo menos uma propriedade com o outro. Não é, portanto,
necessário haver uma propriedade comum a todos os elementos. Neste esquema, o primeiro
elemento é definido pelos atributos A e B, enquanto o segundo elemento partilha o atributo B
com o primeiro elemento – o fenómeno da sobreposição – mas já possui outro atributo
diferente, o C. Se avançar-mos com esta cadeia, chegamos à conclusão de que o quarto
elemento já nada tem a ver com o primeiro, mas que, de certa forma, ainda está relacionado
com ele, tal como acontece no seio de uma família. A fim de realçar o conceito essencial de
intersecção entre categorias propomos o seguinte esquema:
35
A
B
C
D
E
Figura 4: Intersecção entre categorias
Em suma, pode concluir-se que a noção de prototipicidade envolve dois princípios:
•
a não-igualdade entre os elementos de cada categoria, ou seja, um centro prototípico
e zonas periféricas;
•
a não-discrição desses elementos e a existência de fronteiras fluidas entre as
categorias.
Estes dois princípios são, por sua vez, caracterizados em extensão, ou seja, ao nível referencial
e em intensão, ou seja, ao nível do significado. Segundo Geeraerts (1997), que contribuiu
significativamente para o desenvolvimento da teoria do protótipo, estas características
relacionam-se da seguinte forma:
ao
nível
extensional nos
representatividade
não-igualdade
entre
diferentes
os
graus
membros
de
de
uma
categoria lexical
ao nível intensional no agrupamento de significados
por
“parecenças
de
família” e
consequentes
intersecções entre categorias
ao nível extensional
na
fluidez
e flexibilidade
dos limites de uma categoria lexical e consequente
não-discrição
vaguidade da mesma
ao nível intensional na impossibilidade de definir itens
lexicais
em
termos de
condições
necessárias
e
suficientes25
A categorização afigura-se, assim, como um aspecto central, pois as categorias são construções
mentais que estruturaram a realidade e as representações simbólicas:
25
vide Silva (1999:29-30)
36
“There is nothing more basic than categorization to our thought, perception, action and
speech. (…) And any time we either produce or understand any utterance of any reasonable
length, we are employing dozens if not hundreds of categories: categories of speech sounds,
of words, of phrases and clauses, as well as conceptual categories. Without the ability to
categorize, we would not function at all, either in the physical world or in our social and
intellectual lives.” (Lakoff, 1987:5-6)
A categorização é, portanto, condição primária e indispensável para conceptualização do
mundo26.
Tal como já foi referido anteriormente, as categorias fundam-se em modelos
cognitivos. É através da categorização que é possível conceptualizar e organizar mentalmente
o mundo. Tanto a significação, como a estrutura interna de uma categoria, dependem das
estruturas de conhecimento do mundo, organizado por áreas ou domínios de experiência.
Estes modelos são idealizados individualmente ainda que partilhados pelos membros de um
determinado grupo social ou cultural (“cognitive models”- “cultural models”):
“(...) cognitive models for particular domains ultimately depend on so-called cultural
models. In reverse, cultural models can be seen as cognitive models that are shared by
people belonging to a social group or subgroup. Essentially, cognitive models and cultural
models are thus just two sides of the same coin. While the term ‘cognitive model’ stresses
the psychological nature of these cognitive entities and allows for inter-individual
differences, the term ‘cultural model’ emphasizes the uniting aspect of its being collectively
shared by many people.” (Ungerer/Schmid, 1996:50)
Quando ocorrem experiências novas para as quais ainda não formamos um modelo cognitivo
correspondente, recorremos a modelos familiares já existentes para compreender e
categorizar uma ocorrência desconhecida, o que comprova que os modelos cognitivos não
dependem somente do contexto situacional, mas também de outros modelos semelhantes,
que servem de referência. Assim sendo, os modelos cognitivos organizam-se em redes
(“network model” segundo Langacker (1987), “radial model” segundo Lakoff (1987) ou
“overlapping sets model” segundo Geeraerts (1989)), conforme explicado abaixo:
26
Ideia defendida também por Ellis em entrevista ao jornal electrónico Navigator em Agosto de 1998: “In LTL
(Language, Thought and Logic), I argued that the really important thing about language was what must have
happened before communication could take place - that is, a process of categorization. Communication suggests a
transfer of information from one person to another, but before communication can occur language must first
determine what kind of information there will be to transfer. And so communication presupposes a prior stage in
which the limitless variety of experience has been reduced to a finite set of categories that determine the content
of communication. In effect, this prior stage constitutes a particular analysis and understanding of our experience of
the world. This analysis is the most basic function of language, and it alone makes communication possible.” (In
http://www.objectivistcenter.org/articles/interview_john-m-ellis.asp [Consult. 20.10.2010])
37
“First, (…) cognitive models are basically open-ended. (...) Secondly, just like the contexts
that build the basis for cognitive models, cognitive models themselves are not isolated
cognitive entities, but interrelated. (…) So far, two aspects of cognitive models have
emerged (…): their incompleteness and their tendency to build networks. There is a third,
although not so obvious, property of cognitive models that should not be neglected, namely
the fact that the cognitive models are omnipresent. In every act of categorization, we are
more or less consciously referring to one or several cognitive models that we have stored.
Only in the very rare case when we encounter a totally unfamiliar object or situation will no
appropriate cognitive model be available, but even then we will presumably try to call up
similar experiences and immediately form a cognitive model.” (Ungerer/Schmid, 1996:49)
Acontece, portanto, frequentemente que uma categoria só possa envolver mais do que um
modelo cognitivo, formando assim um complexo de domínios. Lakoff refere-se a este
fenómeno como “cluster model” (modelo em cacho):
“It commonly happens that a number of cognitive models combine to form a complex
cluster that is psychologically more basic than the models taken individually. We will refer to
these as cluster models.” (Lakoff, 1987:74)
Nos diversos estudos de enfoque cognitivo, diferentes termos têm vindo a ser usados
na tentativa de melhor descrever e analisar estas estruturas de conhecimento que estão na
base das expressões linguísticas.
Convém sublinhar que, por exemplo, Fillmore, precursor da abordagem cognitiva,
formula a noção de “frame”, formas de estruturação cognitiva do conhecimento baseadas na
esquematização coerente da experiência humana num determinado contexto situacional
(cenas). Aliada a esta noção de “frame”, encontra-se a ideia de perspectiva, na medida em que
a selecção de uma determinada representação lexical ou sintáctica para referir uma ‘cena’ em
detrimento de outras opções reflecte claramente a perspectiva do interlocutor. E a
perspectivação baseia-se na capacidade cognitiva de focar ou centrar a atenção num
determinado aspecto.
Baseado no conceito de “frame”, Langacker introduz o conceito de domínios
cognitivos, ou seja, áreas do conhecimento que subjazem à significação linguística. Este
distingue entre domínios básicos (que representam as experiências humanas mais
elementares) e os domínios complexos. Paralelamente, Lakoff defende a concepção de
38
modelos cognitivos idealizados (“ICMs”) e, em conjunto com Johnson, desenvolve a teoria dos
esquemas imagéticos27.
Os esquemas imagéticos fundam-se nos pressupostos mais básicos da experiência
física humana: a consciência do próprio corpo e a consciência do espaço (principalmente
através da percepção) que, por consequência, incidem sobre configurações ou movimentos de
entidades no espaço. A partir destas noções, que desempenham um papel fulcral na
organização activa da nossa experiência, surge um vasto número de imagens mentais que,
através do processo cognitivo da organização e de abstracção, transformamos em estruturas
ou esquemas mentais que nos ajudam a compreender e verbalizar o mundo que nos rodeia.
Estes esquemas, enquanto padrões abstractos da experiência, constituem estruturas flexíveis,
pois ‘adaptam-se’ a diferentes experiências em contextos variados em virtude de possuírem
uma estrutura básica geral, de certa forma prototípica.
“(...) image schemata and their transformations constitute a distinct level of cognitive
operations, which is different from both concrete rich images (mental pictures), on the one
side, and abstract, finitary propositional representations, on the other. Image schemata exist
at a level of generality and abstraction that allows them to serve repeatedly as identifying
patterns in an indefinitely large number of experiences, perceptions, and image formations
for objects or events that are similarly structured in the relevant ways. Their most important
feature is that they have basic elements or components that are related by definite
structures, and yet they have a certain flexibility. As a result of this simple structure, they
are a chief means for achieving order in our experience so that we can comprehend and
reason about it.” (Johnson, 1987:27-28)
Os esquemas imagéticos constituem padrões gestaltianos, fruto da experiência e da cognição
(i. e. de processos fisiológicos, actividades sensório-motoras, da percepção geral ou específica,
da manipulação de objectos, da orientação espacial e temporal). Formam, só por si, uma
unidade coesa que não pode ser reduzida a nenhuma das suas partes. O fundamento
experiencialista dos esquemas imprime aos mesmos um carácter de universalidade, na medida
em que as experiências que estruturam são comuns a todos os seres humanos. Por outro, e
fazendo face à complexidade das experiências, é frequente assistir-se a uma activação
simultânea de dois ou mais esquemas. De entre um elevado número de esquemas, Johnson
(1987) destaca os seguintes:
27
O termo imagético não remete apenas para a noção da existência de imagens mentais, como também apela,
segundo Johnson (1987), para a capacidade imaginativa do ser humano.
39
contentor
equilíbrio
cheio - vazio
interacção
compulsão
bloqueio
contra-força
processo
superfície
remoção de barreira
possibilidade
atracção
sobreposição
parte - todo
da massa à multiplicidade
trajectória (perto -longe)
ligação
colecção
contacto
centro - periferia
ciclo
separação
fusão
objecto
escala
correspondência
(Tradução e adaptação de Johnson, 1987:126)
Figura 5: Tabela de esquemas imagéticos
Os esquemas imagéticos representam estruturas cognitivas pré-linguísticas e
universais que estão ancoradas na experiência humana, e mais frequentemente na experiência
de natureza espacial. Estes padrões estão sujeitos a projecções metafóricas, nomeadamente
para a conceptualização de conceitos com um elevado grau de abstracção. A língua (ou seja, o
contínuo léxico-gramática) constitui, neste sentido, uma representação simbólica do sistema
conceptual que não só estrutura o mundo mas também as interacções físicas no seio do
mesmo.
“(...) speakers have the ability to relate and then metaphorically extend prelinguistic imageschematic conceptions, which are grounded in a concrete physical domain, to more abstract
domains, including those relevant to the structuring of conceptual content for purposes of
grammatical coding (i.e. the internal structure of an image schema can be projected into
more abstract domains via metaphor).” (Smith, 1999:3)
Em suma, podemos constatar que longe vão, de facto, os tempos em que a metáfora
era vista única e exclusivamente como figura de estilo e mero artefacto retórico. Pelo
contrário, a metáfora e a metonímia constituem dois importantes processos cognitivos, duas
estratégias de conceptualização às quais recorremos na nossa linguagem quotidiana.
“Traditionally, metaphors and metonymies have been regarded as figures of speech, i. e. as
more or less ornamental devices used in rhetorical style. However, expressions like the foot
of the mountain or talks between Washington and Moscow indicate that the two
phenomena also play an important part in everyday language. Moreover, philosophers and
cognitive linguists have shown that metaphors and metonymies are powerful cognitive tools
for our conceptualization of abstract categories.” (Ungerer/Schmid, 1996:115)
A abordagem de cariz cognitivo postula que a metáfora faz parte integrante do nosso sistema
conceptual:
40
“(…), language is an important source of evidence for what that system is like. Primarily on
the basis of linguistic evidence, we have found that most of our ordinary conceptual system
is metaphorical in nature.” (Lakoff/Johnson, 1980a:3-4)
Assim, as expressões metafóricas afiguram-se ubíquas, pois são utilizadas naturalmente na
linguagem corrente de qualquer interlocutor “indeed, everyday language is filled with
metaphorical expressions”28, e estão de tal forma convencionalizadas que os sentidos
metafóricos deixam de ser sentidos como tal, na óptica de Lakoff e Johnson:
“Our concepts structure what we perceive, how we get around in the world, and how we
relate to other people. Our conceptual system thus plays a central role in defining our
everyday realities. If we are right in suggesting that our conceptual system is largely
metaphorical, then the way we think, what we experience, and what we do every day is
very much a matter of metaphor. But our conceptual system is not something we are
normally aware of. In most of the little things we do every day, we simply think and act
more or less automatically along certain lines.” (Lakoff/Johnson, 1980a:3)
O fundamento cognitivo da metáfora reside na projecção, ou seja, no mapeamento29 entre
domínios cognitivos que podem ser explicados da seguinte forma: “The essence of metaphor is
in understanding and experiencing one kind of thing in terms of another."30. A projecção ou
mapeamento cria, por sua vez, uma rede de correspondências entre os domínios, daí que uma
expressão metafórica seja a realização simbólica desta rede de correspondências conceptuais.
Mais do que um fenómeno linguístico, a linguagem metafórica dimensiona-se enquanto
manifestação superficial de uma metáfora conceptual: “Metaphor is fundamentally
conceptual, not linguistic, in nature. Metaphorical language is a surface manifestation of
conceptual metaphor.” (Lakoff, 1993:244) Assim sendo, a metáfora conceptual consiste na
projecção sistemática de um domínio-fonte num domínio-alvo, conforme referenciado abaixo:
“A metaphoric mapping involves a source domain and a target domain. (…) The mapping is
typically partial; it maps the structure of the ICM [idealized cognitive model] in the source
domain onto a corresponding structure in the target domain.” (Lakoff, 1987:288)
Ao comparar os domínios-fonte e os correspondentes domínios-alvo, reconhece-se
que os domínios-fonte se baseiam no mundo real, na esfera do concreto, enquanto os
domínios-alvo frequentemente se revestem de um carácter abstracto. Neste sentido, Lakoff e
Johnson (1980a:77) postulam que grande parte da compreensão da experiência quotidiana é
28
Ungerer/Schmid, 1996:116
“mapping” – “conceiving one thought in terms of another”, Lakoff/Johnson, 1980a:36
30
Lakoff/Johnson, 1980a:5
29
41
feita através da metáfora; compreendemos determinados domínios geralmente abstractos em
termos de domínios geralmente concretos e familiares. Nesta mesma linha de pensamento,
Ungerer e Schmid (1996:121) apresentam alguns exemplos de projecções metafóricas:
TARGET
SOURCE
anger
dangerous animal
argument
journey
argument
war
communication
sending
death
departure
ideas
plants
lifetime
day
love
war
theories
buildings
time
money
understanding
seeing
word
coin
world
theatre
(Ungerer/Schmid, 1996:21)
Figura 6: Tabela de projecções metafóricas
Por outras palavras, as noções abstractas tendem geralmente a serem conceptualizadas
metaforicamente à luz de noções concretas e familiares:
“The metaphors come out of our clearly delineated and concrete experiences and allow us
to construct highly abstract and elaborate concepts, like that of an argument.”
(Lakoff/Johnson, 1980a:105)
“(…) we find that B (the defining concept) is more clearly delineated in our experience and
typically more concrete than A (the defined concept). [There is] the tendency to understand
the less concrete in terms of the more concrete.” (Lakoff/Johnson, 1980a:108-109)
A conceptualização do abstracto depende então, em grande parte, de projecções metafóricas
a partir de domínios concretos: “abstract reason is a matter of two things: (a) reason based on
bodily experience, and (b) metaphorical projections from concrete to abstract domains”
(Lakoff, 1990:39). Preconiza-se, então, que estas projecções metafóricas são unidireccionais,
orientando-se da esfera do concreto, o domínio-fonte, para a esfera do abstracto, o domínioalvo, tanto na perspectiva sincrónica como na perspectiva diacrónica:
42
“If such metaphorical understandings do exist, then it would make sense that semantic
change would manifest a general pattern, a movement from the more concrete and physical
toward the more abstract and nonphysical. There is ample evidence of just such a
directionality of change.” (Johnson, 1987:107)
“(…) [It is] governed by an arrangement of conceptualization (…) which is unidirectional and
proceeds from concrete to abstract, and from concepts which are close to human
experience to those that as more difficult to define in terms of human cognition.”
(Claudi/Heine, 1986:328)
Mais ainda, a metáfora conceptual surge de uma necessidade cognitiva, pois a compreensão
de conceitos abstractos é apenas possível através de projecções metafóricas:
“Konzeptuelle Metaphern (“X ist Y“) liefern Denkmodelle, mittels derer ein in Frage
stehender Erkenntnisgegenstand aus einem Zielbereich (X) durch Rückgriff auf einen ganz
anderen
Erfahrungsbereich
(Y)
kognitiv
verfügbar
gemacht
wird.
Wegen
der
Erklärungsfunktion der Metapher könnte man die beiden Elemente X und Y auch als
Explanandum und Explanans bezeichnen. (...) Dadurch, daß sie explanatorische Modelle
bereitstellt und so Verständnis auch dort vermittelt, wo es ohne sie kaum oder gar nicht
möglich wäre, bekommt die Metapher eine kognitive Notwendigkeit. Bestimmte
Gegenstandsbereiche sind nämlich unserem Denken kaum anders zugänglich als durch das
Mittel der konzeptuellen Metapher (...).“ (Jäckel, 1997:31-32)
O sistema conceptual subjacente às representações simbólicas abarca um vastíssimo número
de metáforas conceptuais, das quais citamos aqui apenas algumas a título exemplificativo:
•
A vida é uma viagem:
(1) A certa altura na minha vida, não sabia que caminho escolher.
(2) Ele encontrava-se numa encruzilhada da vida.
•
Tempo é dinheiro:
(3) Rápido, que eu não tenho muito tempo a perder.
(4) Agradeço as horas que investiste em mim.
•
Ideias/pensamentos/palavras são alimento:
(5) Bebam as minhas palavras.
(6) Levei muito tempo para digerir o que ele me disse.
•
Amor é magia:
(7) Fiquei enfeitiçado por ela.
(8) Já não o amo, a magia perdeu-se.
43
Impõe-se referir outro aspecto de relevância no quadro da metáfora conceptual: o seu
carácter colectivo, cultural e socialmente partilhado:
“I (…) should think about metaphor and its relation to thought as cognitive webs that extend
beyond individual minds and are spread out into the cultural world.” (Gibbs, 1997:146)
Retomando o exemplo da metáfora estrutural TEMPO É DINHEIRO, regista-se que esta
transferência de domínios conceptuais só acontece quando inserida numa cultura capitalista e
materialista em que o dinheiro é um recurso valioso e o tempo é sempre escasso. (Não nos
parece plausível que um monge budista procedesse a uma transferência idêntica). Assim,
Gibbs exemplifica que não só a expressão do tempo, mas também da zanga, veiculam
conteúdos culturais:
“The main point is that our use of metaphors to structure concepts, such as anger or time, is
strongly shaped by (a) how we culturally conceptualize of situations, like getting angry and
sensing time, and (b) by our interactions with social/cultural artifacts around us. Under this
view, metaphor is as much a species of perceptually guided adaptive action in a particular
cultural situation as it is a specific language device or some internally represented structure
in the mind of individuals.” (Gibbs, 1997:162)
A dimensão cultural das metáforas estende-se às chamadas metáforas orientacionais,
em que a orientação espacial é predominante: para (em) cima – para (em) baixo, dentro –
fora, à frente – atrás, superficial – profundo e central – periférico. Estas orientações espaciais
advêm do facto do sujeito falante ter um corpo que funciona e que se movimenta no espaço.
Assim sendo, as metáforas orientacionais fornecem uma orientação espacial aos conceitos. Por
exemplo, a interrogação (em português do Brasil) acerca do estado de espírito do(s)
interlocutor(es):
(9) Está tudo em cima?
procura inquirir acerca do bem-estar ou da felicidade, dimensionando-a como estando em
cima. Ao invés, a tristeza ou a infelicidade são representados como associados a abaixo.
Registe-se que estas orientações metafóricas não são arbitrárias, baseiam-se na experiência
física e cultural. Embora as orientações bipolares ‘em cima’ e ‘em baixo’ sejam de natureza
física, as metáforas orientacionais fundadas nessa polaridade, variam de cultura para cultura.
Existem culturas, como por exemplo a nossa ocidental, em que o futuro é conceptualizado
como estando à nossa frente, enquanto noutras culturas esse mesmo futuro é conceptualizado
44
como estando para trás31. Há, no entanto, conceptualizações metafóricas que reúnem um
certo grau de consenso, tais como ‘a felicidade está em cima’ e ‘a tristeza está em baixo’. Este
consenso poderá dever-se ao facto de a postura física do ser humano triste ser comum nas
várias culturas: uma postura não erecta ou curvada (mais perto da horizontalidade) está
associada ao mal-estar e à tristeza enquanto uma postura erecta (associada à verticalidade)
representa bem-estar, alegria e felicidade. Por sua vez, estas noções de verticalidade (como
representação de tudo o que é positivo) e de horizontalidade (como representação de tudo o
que é negativo) estão muito provavelmente ligadas às diferentes posturas características dos
seres vivos e dos seres mortos.
No seguimento deste princípio é possível dizer que:
•
estar consciente é estar em cima – estar inconsciente é estar em baixo:
(10)
•
Ele caiu num sono profundo.
Domínio, controlo e força é estar em cima – sujeitar-se ao controlo e a forças é estar em
baixo:
(11)
•
Ela está em cima do acontecimento.
valores morais e sociais posicionam-se em cima – imoralidade e decadência estão em
baixo:
(12)
O acusado teve uma atitude muito baixa.
Da mesma forma como a orientação espacial dá origem a metáforas orientacionais, assim
também as nossas experiências e interacções com objectos físicos, principalmente com o
próprio corpo, fornecem um ponto de partida para as metáforas ontológicas:
“[…] so our experiences with physical objects (especially our own bodies) provide the basis
for an extraordinarily wide variety of ontological metaphors, that is, ways of viewing events,
activities, emotions, ideas, etc., as entities and substances.” (Lakoff/Johnson, 1980a:25)
Estas metáforas ontológicas podem ser divididas, segundo Lakoff e Johnson (1980a), em
subcategorias: as metáforas de entidade ou de substância que nos ajudam a identificar, a
verbalizar, a categorizar, a agrupar e a quantificar as nossas experiências, em suma, a
racionalizá-las; as metáforas de contentor, em que projectamos mentalmente a nossa
orientação/posição ‘dentro – fora’ para outros objectos, limitados por fronteiras mais ou
menos rígidas, conceptualizando-os como contentores (estas últimas são especialmente
frequentes quando se trata da conceptualização de emoções), e as metáforas de
31
“Die Zeitvorstellung ist räumlich – als kontinuierliche, gerichtete Bewegung über eine ‘Wegstrecke‘ – konzepiert,
die abstrakt als Zeitpfeil repräsentiert werden kann.” (Zifonun et alii, Grammatik der deutschen Sprache, Band 1,
1997:339)
45
personificação, que nos permitem compreender uma grande variedade de experiências com
entidades não-humanas recorrendo à conceptualização de motivações, características e
actividades humanas.
Com o intuito de simplificar esta classificação, Jäckel (1997:147) sugere, aliás inspirado
em Lakoff/Johnson (1980a), o seguinte esquema:
Konzeptuelle Metapher
Strukturelle
Orientierungs-
Ontologische
Metapher
metapher
Metapher
Personifizierung
Figura 7: Classificação dos tipos de metáforas - Jäckel (1997:147)
Contudo, realça tratar-se de uma divisão artificial, e pouco funcional, e propõe a inclusão de
subcategorias, como, por exemplo, a metáfora ontológico-orientacional:
“Diese Typologie ist nun nicht ganz unproblematisch. Beispielsweise sind die Definitionen
der Haupttypen nicht unbedingt trennscharf. (...) Stattdessen werden die ehemaligen
Orientierungsmetaphern seit Einführung der Vorstellungs-Schemata (...) einfach als
konzeptuelle Metaphern bezeichnet, die direkt auf einem Vorstellungs-Schema basieren.
Und statt struktureller und ontologischer Metaphern werden nunmehr innerhalb
konzeptueller
Metaphern
„ontologische
Korrespondenzen“
und
„epistemische
Korrespondenzen“ unterschieden. (...) Nach der oben vorgestellten Definitionen müßte man
allerdings auch Zwischentypen wie „ontologische Orientierungsmetaphern“ zulassen, wenn
beispielsweise das BEWUSSTSEIN als BEHÄLTER konzeptualisiert wird und damit eine
konkrete Reifizierung vorliegt, welche gleichzeitig eine eindeutige räumliche Orientierung
mit sich bringt.“ (Jäckel, 1997:147-149)
Entendemos que, neste contexto, é pertinente fazer igualmente referência à metáfora
estrutural, que destaca o espaço como um dos domínios mais significativos para a
conceptualização metafórica, tal como proposto por Lakoff32:
32
“The general mapping we have found goes as follows: The Event Structure Metaphor
• States are locations (bounded regions in space).
• Changes are movements (into or out of bounded regions).
• Causes are forces.
• Actions are self-propelled movements.
46
“What we have found is that various aspects of event structure, including notions like states,
changes, processes, actions, causes, purposes, and means, are characterized cognitively via
metaphor in terms of space, motion, and force. In our culture, life is assumed purposeful,
that is, we are expected to have goals in life. In the Event Structure Metaphor, purposes are
destinations and purposeful action is self-propelled motion toward a destination. (…) In
short, the metaphor A PURPOSEFUL LIFE IS A JOURNEY makes use of all the structure of the
Event Structure Metaphor, since events in a life, conceptualized as purposeful, are sub cases
of events in general.” (Lakoff, The Conceptual Metaphor, in http://www.ac.wwu.edu/~mark
et/semiotic/met7.html [Consult. 22.10.2010])
Em conclusão, no respeitante à metáfora, o paradigma cognitivo defende os seguintes
princípios33:
1. o princípio da ubiquidade - a metáfora convencional é omnipresente e faz parte da
linguagem comum do dia-a-dia;
2. o princípio dos domínios cognitivos – a metáfora emerge do mapeamento entre dois
domínios, a saber, o domínio-fonte e o domínio-alvo;
3. o princípio dos modelos mentais/cognitivos – a metáfora conceptual constrói modelos
mentais coerentes (“ICMs”) que sob a forma de gestalts organizam o pensamento e
estruturam a realidade;
4. o princípio da diacronia – no plano diacrónico, a metáfora contribui significativamente
para a variação lexical e para processos de gramaticalização;
5. o princípio da unidireccionalidade – após inúmeros estudos de índole sincrónica e
diacrónica é possível afirmar que, em regra, na conceptualização metafórica se parte
de domínios concretos para domínios abstractos;
6. o princípio da invariância (de Lakoff, 1990, The Invariance Hypothesis,) – articulado
com o princípio da unidireccionalidade, defende que, na metáfora, se mantém a
topologia cognitiva do domínio-fonte34;
Purposes are destinations.
Means are paths (to destinations).
Difficulties are impediments to motion.
Expected progress is a travel schedule; a schedule is a virtual traveler, who reaches pre-arranged
destinations at pre-arranged times.
• External events are large, moving objects.
• Long term, purposeful activities are journeys.”
(Lakoff, The Conceptual Metaphor in http://www.ac.wwu.edu/~market/semiotic/met7.html [Consult. 22.10.2010])
33
vide Jäckel, 1997:40-42
34
“The Invariance Hypothesis is a proposed general principle intended to characterize a broad range or regularities
in both our conceptual and linguistic systems. Given that all metaphorical mappings are partial, the Invariance
Hypothesis claims that the portion of the source domain structure that is mapped preserves cognitive topology
(though, of course, not all the cognitive topology of the source domain need be mapped). Since the cognitive
topology of image-schemas determines their inference patterns, the Invariance Hypothesis claims that imagistic
•
•
•
•
47
7. o princípio da universalidade e da interdependência cultural – existem domínios
cognitivos universais que fazem parte da experiência de cada indivíduo, como por
exemplo a consciência corporal. Daí que se considerem as projecções metafóricas com
base nestes domínios como sendo praticamente universais. Porém, existe uma
interdependência com os aspectos socioculturais que influenciam a construção de
certos modelos mentais e que, por sua vez, influenciam o “Weltbild” do indivíduo
inserido num determinado grupo cultural;
8. o princípio do ser fundamental – a metáfora assume uma função ‘explicativa’ e
constitutiva ao organizar e estruturar realidades abstractas. Sem o auxílio cognitivo da
metáfora não seria possível compreender conceitos abstractos35;
9. o princípio da criatividade – a metáfora é considerada criativa, devido à capacidade de
reestruturar modelos já existentes de acordo com o contexto e moldar, desta forma, a
experiência individual36;
10. o princípio da perspectivação – sendo o mapeamento metafórico apenas parcial, há
sempre características do domínio-alvo que são realçadas (focadas) em detrimento de
outras37.
No seu estudo de 1993 “The contemporary Theory of Metaphor”, Lakoff reforça a sua
perspectiva relativamente à metáfora conceptual38 e considera que “The word metaphor has
reasoning patterns are mapped onto abstract reasoning patterns via metaphorical mappings. It entails that at least
some (and perhaps all) abstract reasoning is a metaphorical version of image-based reasoning” (Lakoff, 1990:39)
35
Veja-se a este propósito Gibbs (1994:17) acerca dos esquemas figurativos do pensamento: ”Scientific theories ,
legal reasoning, myths, art, and a variety of cultural practices exemplify many of the same figurative schemes found
in everyday thought and language. Many aspects of word meaning are motivated by figurative schemes of thought.
(…) In recent years, cognitive linguists George Lakoff and Eve Sweetser, cognitive rhetorician Mark Turner,
philosopher Mark Johnson, and legal theorist Steven Winter, among a growing group of cognitive scientists, have
provided detailed work demonstrating that metaphor, and to a lesser extent metonymy, is the main mechanism
through which we comprehend abstract concepts and perform abstract reasoning. (…) figurative thought structures
aspects of our ordinary conceptual understanding of experience.”
36
“Creativity is possible, in part, because imagination gives us image-schematic structures and metaphoric and
metonymic patterns by which we can extend and elaborate those schemata. One image-schema (such as the PATH
schema) can structure many different physical movements and perceptual interactions, including ones never
experienced before. And, when it is metaphorically elaborated, it can structure many nonphysical, abstract
domains. Metaphorical projection is one fundamental means by which we project structure, make new
connections, and remold our experience.” (Johnson, 1987:169)
37
“The very systematicity that allows us to comprehend one aspect of a concept in terms of another (...) will
necessarily hide other aspects of the concept. In allowing us to focus on one aspect of a concept (…), a metaphorical
concept can keep us from focusing on other aspects of that concept that are inconsistent with that metaphor.”
(Lakoff/Johnson, 1980:10) “The various metaphorical structurings of a concept serve different purposes by
highlighting different aspects of that concept.” (Lakoff/Johnson, 1980a:96)
38
na senda de Reddy, M. J. (1979). The conduit metaphor: A case of frame conflict in our language about language.
In A. Ortony (Ed.), Metaphor and Thought (pp. 284–310). Cambridge: Cambridge University Press. (…) the four
categories which constitute the “major Framework” of the conduit metaphor. The core expressions in these
categories imply, respectively, that (1) language functions like a conduit, transferring thoughts bodily from one
person to another; (2) in writing and speaking, people insert their thoughts or feelings in the words; (3) words
accomplish the transfer by containing the thoughts or feelings and conveying them to others; and (4) in listening or
reading, people extract the thoughts and feelings once again from the words. Beyond these four classes of
48
come to mean a cross-domain mapping in the conceptual system.” (Lakoff, 1993:203).
Simultaneamente distingue claramente a metáfora da expressão metafórica: “The term
metaphorical expression refers to a linguistic expression (a word, phrase, or sentence) that is
the surface realization of such a cross-domain mapping (this is what the word metaphor
referred to in the old theory).” (Lakoff, 1993:203). Lakoff reconhece, igualmente que a
metáfora como fenómeno conceptual não se manifesta apenas na língua, mas que está
presente em inúmeros domínios da experiência humana: “(…) the locus of metaphor is
thought, not language, that metaphor is a major and indispensable part of our ordinary,
conventional way of conceptualizing the world, and that our everyday behavior reflects our
metaphorical understanding of experience.” (Lakoff, 1993:204) Assim sendo, o enfoque da
teoria contemporânea da metáfora conceptual centra-se no pensamento mais do que na
língua, abrindo as portas a outras ciências cognitivas. A metáfora é, então, um mecanismo
conceptual omnipresente. Neste sentido, Kövecses (2002:57-66) apresenta uma listagem
exemplificativa de realizações não-linguísticas de metáforas conceptuais: “(…) if the conceptual
system that governs how we experience the world, how we think, and how we act is partly
metaphorical, then the (conceptual) metaphors must be realized not only in language but also
in many other areas of human experience.” (Kövecses, 2002:57). Esta perspectiva partilha o
princípio da relação entre metaphor, language and thought (Ortony, 1996a, 1996b, Gibbs
2008), defendendo que a realização linguística da metáfora é uma manifestação exterior de
fenómenos interiores. Mais recentemente, assistimos a mais um passo na transição
paradigmática de análise do fenómeno metafórico, destacando a importância do acto
comunicativo39:
expressions, there are a good many examples which have different, though clearly related implications. (…) That is,
the major framework sees ideas as existing either within human heads or, at least, within words uttered by humans.
The “minor” framework overlooks words as containers and allows ideas and feelings to flow, unfettered and
completely disembodied, into a kind of ambient space between human heads. In this case, the conduit of language
becomes, not sealed pipelines from person to person, but rather individual pipes which allow mental content to
escape into, or enter from, this ambient space.” (Reddy, 1979:290-291)
39
“When we look at the old contemporary theory, there were two dimensions, metaphor in language and
metaphor in thought, and these have been at the center of discussion in a number of disciplines, though being most
central, as can be seen from the titles of Ortony (1979/1993) and Gibbs (2008). with the addition of communication,
we now have three dimensions that pertain to the phenomenon of metaphor, and these should be distinguished
from the disciplines concerning themselves with metaphor, which represent different approaches. Thus, there are
linguistic, or more broadly semiotic, approaches to metaphor in thought, the best-known of which is cognitive
linguistics; but there are also psychological approaches to metaphor in language and thought (…). In addition,
Cameron (2007) and Goalty (2007) have recently argued that the cognitive approach should be complemented by a
social approach to metaphor in language and metaphor in thought, reflecting a central concern of those applied
linguists, sociolinguists and discourse analysts who have examined the variable relation between metaphor,
language and thought across situations of use and groups of people (cf., e.g., Charteris-Black, 2004; Koller, 2004;
Caballero, 2006; Müller, 2008; Semino, 2008; Musolff and Zinken, 2009; Steen, Dorst, et al., 2010a, b). Since these
three approaches can also be distinguished for the new dimension of metaphor in communication, we can now
present a three-by-three division of the complete field of research (see table 2).
49
“The transition of metaphor from language to thought in the old contemporary theory is
being followed today by another transition, from metaphor in thought to metaphor in
language, thought and communication.” (Steen, 2011:19)
Ideias e sentimentos são, assim, transmitidas através da comunicação interpessoal. No acto
comunicativo, a espontaneidade própria do discurso oral aliada à economia linguística tendência de comunicar o máximo, da forma mais eficaz, com o mínimo de esforço40 - são
factores que podem igualmente contribuir para a proliferação da metáfora como ferramenta
conceptual de uso comum. O falante pode recorrer à metáfora de forma consciente e criativa
(conceito de metáfora viva ou criativa novel/fresh metaphor) ou mesmo de forma inconsciente
(conceito de metáfora morta ou convencionalizada - frozen metaphor) pois a metáfora já está
lexicalizada41:
“The use of metaphor pervades all language and communication. (…) Metaphor is so
pervasive in language that it would be impossible for a person to speak without using
metaphor at some point, whether knowingly or not. Metaphors fall into two categories,
“frozen” metaphors and “novel” metaphors. Frozen metaphors are those that are in
common use in the language and which are often thought to be treated as single linguistic
units by native speakers. Novel metaphors are ones in which ideas are combined in new or
unusual ways.” (Littlemore, 2001, In: Pilgrims Ltd, http://www.hltmag.co.uk/mar01/mart1
.htm [Consult. 22.10.2010])
O fenómeno do vazio lexical42 (ou lacuna) poderá ser outro factor produtivo para
processos metafóricos, assim como a necessidade da lexicalização invenções e descobertas,
Table 2 Metaphor research: Dimensions and approaches
Language
Thought (cognition)
Communication
Semiotic
The linguistic forms of
metaphor
The conceptual
structures of metaphor
The communicative
functions of metaphor
Behavioral
Psychological
Individual processes
and products of…
Individual processes
and products of…
Individual processes
and products of…
Social
Shared processes
and products of…
Shared processes
and products of…
Shared processes
and products of…”
(Steen, 2011:19-20)
Veja-se igualmente o princípio da relevância comunicativa e cognitiva: “[Es] wird von SPERBER und WILSON
(1995) ein allgemeines und allgemeingültiges, zweiteiliges Prinzip, das Relevazprinzip (‘principle of relevance‘)
vorgeschlagen: “Cognitive Principle of Relevance: Human cognition tends to be geared to the maximisation of
relevance. Communicative Principle of Relevance: Every act of overt communication conveys a presumption of its
own optimal relevance.” (SPERBER/WILSON 2005:469, s. auch CARSTON 2002:379). Das Relevanzprinzip ist als
grundlegende Annahme und Voraussetzung für die Modellierung der menschlichen Kognition und einer ihrer
Teilleistungen, der Sprachverarbeitung, formuliert worden, die beide unter Effizienz-Gesichtspunkten im Sinne der
kognitiven Kosten-Nutzen-Optimierung betrachtet werden.“ (Skirl, 2009:84)
41
Vide Lakoff/Turner (1998)
42
Vide Cruse (1986) e Proost (2007:89-158)
40
50
conduzindo a processos de conceptualização de contextos desconhecidos através de conceitos
familiares ou conhecidos43:
“The strategy of word coinage often involves “metaphoric extension” processes.
Metaphoric extension processes occur when speakers use the words that are available to
them in original or innovative ways in order to express the concepts they want. This process
is often metaphorical in nature as it involves the ability to stretch the conventional
boundaries of word meaning. The use of metaphoric processes to fill lexical gaps created by
new semantic fields has been central to change and development in language.”
(Littlemore/Low, 2006:287)
Com a chegada da revolução digital através da invenção dos computadores, surgiu
uma necessidade imperiosa de atribuir nomes a uma imensidade de objectos, acções e
situações novas. Em termos de Hardware, Software e operações informáticas, o novo
vocabulário específico, embora técnico, tinha de ser claro, sugestivo e facilmente apreensível.
A metáfora serviu adequadamente o propósito de criação terminológica. Veja-se, por exemplo:
em termos de hardware o ‘rato’ deve o seu nome à semelhança física do objecto com o animal
real; quanto ao software, os nomes do sistema operativo Windows e do programa Office
emergem de metáforas conceptuais com o propósito de, através da sugestão de imagens
mentais, melhor veicular o objectivo funcional dos mesmos. Relativamente às acções, ‘colar’,
‘cortar’, ‘arrastar’ ou ‘largar’, etc., embora virtuais, baseiam-se em acções físicas e concretas.
Assim, acções inicialmente desconhecidas, como manipular programas informáticos, perderam
muito da sua estranheza e mistério devido à familiaridade do domínio que lhes serviu de fonte
conceptual.
Consideramos pertinente fazer referência a estes fenómenos devido ao facto de a
linguagem técnica do futebol se ter apoiado em processos de conceptualização semelhantes,
como iremos demonstrar na parte 3 do presente trabalho.
Diferentemente da metáfora, a metonímia é um processo cognitivo baseado em
relações de contiguidade, geralmente do tipo: “parte pelo todo”, “instrumento pelo agente”,
“causa pelo efeito”, “autor pela obra”, “possuidor pelo possuído” ou “continente pelo
conteúdo” etc. (cf. Le Guern, 1973), ou seja, é a capacidade conceptual de relacionar
sintagmaticamente duas entidades de um mesmo domínio ou de dois sub-domínios de um
domínio:
43
Veja-se a este propósito Boyd (1993:486-489) acerca da metáfora constitutiva.
51
“In metonymy two elements are brought together, keep their existence and are construed
as forming a contiguous system. As a result, the conceptual function of metonymy must
differ fundamentally from that of metaphor, at least in the prototypical cases. (…) Both
processes result from different thought processes and serve different functions in
communication.” (Dirven, 1993:21)
A metáfora e a metonímia divergem, na medida em que na metáfora se assiste a um
mapeamento de domínios, enquanto na metonímia os dois domínios ou sub-domínios
permanecem intactos, numa dimensão de coexistência linear:
“In other words, in metonymy the two domains both remain intact, but they are seen to be
in line, whereas in metaphor only one domain viz. the target domain is kept and the other
domain viz. the source domain disappears, so to speak. The mapping process is just that: by
mapping elements of the (structure of the) source domain onto the target domain, the
source domain itself ceases to exist. This is completely different in metonymy. Therefore,
contiguity in metonymy can be defined as the existence, side by side, of two domains (or
two sub-domains of one domain) and contiguity is constituted by a conceptual act rather
than just ‘given’ in the objective environment.” (Dirven, 1993:14)
Lakoff e Johnson defendem a função referencial da metonímia, mas destacam, igualmente, a
sua função explicativa e comunicativa:
“Metonymy, on the other hand, has primarily a referential function, that is, it allows us to
use one entity to stand for another. But metonymy is not merely a referential device. It also
serves the function of providing understanding.” (Lakoff/Johnson, 1980a:36)
Em princípio, no enunciado metonímico as formulações não metonímicas e metonímicas
integram-se num mesmo domínio cognitivo. Analisemos os seguintes exemplos: Completou
quinze anos. Completou quinze primaveras. No primeiro enunciado reconhecemos uma
formulação não-figurativa. São metonímias do tipo parte pelo todo. A metonímia que usa
'primaveras' é comum e amplamente utilizada. Quando se usa a metonímia das 'primaveras', o
discurso ganha um acréscimo de significação que não teria se fosse usado o enunciado não
metonímico. Com a metonímia das 'primaveras' a mensagem, além de comunicar um facto,
transmite um juízo de valor sobre o mesmo facto. A metonímia confere uma perspectiva à
mensagem comunicada. Foi Taylor quem introduziu esta noção de perspectivação, ou seja, a
escolha de um determinado elemento de uma estrutura conceptual em detrimento de outra
ou até do todo. A esta escolha subjaz uma determinada intenção comunicativa, que, contudo,
não é completamente arbitrária, pois também a metonímia, tal como já foi mencionado
anteriormente, fundamenta-se em modelos mentais formados a partir da experiência de cada
52
indivíduo. Por exemplo: Após o incêndio ficou sem casa. Este enunciado pode ser substituído
por uma metonímia: Ficou sem tecto. Se a escolha da parte fosse arbitrária, poderíamos obter
outras metonímias, tais como: Ficou sem janela ou Ficou sem parede ou Ficou sem soalho. Mas
não é o que acontece, porque no modelo mental que temos de ‘casa’, consideramos o tecto
como sendo o elemento mais saliente e, por consequência, mais representativo de casa.
“Like metaphors, metonymies are not random or arbitrary occurrences, to be treated as
isolated instances. Metonymic concepts (…) are systematic in the same way that metaphoric
concepts are. The sentences given above are not random. They are instances of certain
general metonymic concepts in terms of which we organize our thoughts and actions.
Metonymic concepts allow us to conceptualize one thing by means of its relation to
something else. (…) Thus, like metaphors, metonymic concepts structure not just our
language but our thoughts, attitudes, and actions. And, like metaphoric concepts,
metonymic concepts are grounded in our experience. In fact, the grounding of metonymic
concepts is in general more obvious than is the case with metaphoric concepts, since it
usually involves direct physical or causal associations.” (Lakoff/Johnson, 1980a:36-39)
Convém acrescentar que, para além do que foi referenciado, Dirven distingue entre
imagens não figurativas e imagens figurativas. No primeiro tipo inclui-se a metonímia linear
não-figurativa e a metonímia conjuntiva não figurativa. O segundo tipo engloba a metonímia
conjuntiva figurativa, a metonímia inclusiva figurativa, bem como a metáfora. Esta, para além
de constituir uma imagem figurativa, inscreve-se no eixo paradigmático e não no sintagmático,
como a metonímia44:
“linear metonym
conjunctive metonym
(b)
(a)
inclusive metonym
(c)
non-figurative
(d)
metaphor
(e)
figurative
syntagmatic
paradigmatic
(a) Different parts of the country do not mean the same thing.
(b) Tea was a large meal for the Wicksteeds.
(c) His crown has not withheld its assent.
(d) I do not doubt, but he has a good head on him.
(e) Drinking Kriek-Lambik is eating and drinking together.”
(Dirven, 1993:15-16)
Figura 8: Metáforas e metonímias segundo Dirven (1993)
44
Já Jakobson (1963), baseando-se no seu estudo sobre o fenómeno da afasia, concluiu que, e em conformidade
com a perspectiva saussuriana, a metonímia e a metáfora se inscrevem em dois eixos: a primeira, no eixo
sintagmático que engloba relações de contiguidade e a segunda, no eixo paradigmático que abrange as relações de
similaridade: “Comme on l’a marque plus haut, c’est une relation externe de contiguïté qui unit les constituants
d’un contexte et une relation interne de similarité qui sert de base à la substituition.” (Jakobson, 1963:55)
53
Tal como o esquema de Dirven, devidamente ilustrado com exemplos, sugere, a
fronteira entre a metonímia e a metáfora é fluida. Sublinhe-se que ocorrem frequentemente
casos em que a metonímia é integrada na metáfora (mais raramente o caso inverso), ou em
que a metáfora surge a partir de uma metonímia num processo de cumulação (de novo, a
direcção inversa é mais rara) e, em consequência, é possível afirmar que a metonímia pode
funcionar como motivação conceptual das extensões metafóricas.
Em suma, o conhecimento do mundo assume também na metonímia um papel fulcral,
pelo que a metonímia possui uma função estruturadora da realidade, afigurando-se uma
ferramenta linguística e cognitiva pragmaticamente muito eficaz.
“Metonymies show a clear-cut cognitive background, which enables us to produce and
understand them easily, because the only thing speakers have to share are the same
conceptual relations, common world knowledge about how life is typically organized and
how the ‘things of life’ are interrelated. This makes metonymies very efficient tools for
resolving different tasks in communication.” (Blank, 1999:174-175)
1.3. Da Teoria da integração conceptual à Teoria das redes de espaços mentais
1.3.1. Teoria da integração conceptual
Ao longo dos últimos anos, muitos são os estudos no âmbito da semântica cognitiva
que procuram completar e aperfeiçoar o paradigma cognitivo e a teoria da metáfora
conceptual. A teoria da integração conceptual (Fauconnier 1985, 1997; Fauconnier/Turner
1995, 1996, 1998a, 1998b, 2002, 2003, 2006; Coulson 2001, 2006; Coulson/Oakley 2000b) é
exemplo desta tendência e postula o envolvimento de operações mentais básicas em
diferentes níveis de abstracção que estruturam o pensamento e constroem significados:
“Conceptual integration (blending) is a basic mental operation that leads to new meaning,
global insight, and conceptual compressions useful for memory and manipulation of
otherwise diffuse ranges of meaning. It plays a fundamental role in the construction of
meaning in everyday life, in the arts and sciences, in mathematics, and in religious thought.
The essence of the operation is to construct a partial match between inputs, to project
selectively from those inputs into a novel 'blended' mental space, which then dynamically
54
develops emergent structure. It has been suggested that the capacity for complex
conceptual blending ("double-scope" integration) is the crucial capacity needed for thought
and language.” (Fauconnier, Cognitive Construction of Meaning, Beijing Lectures, 2008, in:
http://www.cogsci.ucsd.edu/~faucon/BEIJING/description.html [Consult. 05.11.2010])
A integração conceptual veio, segundo Fauconnier (2001a) desenvolver e complementar o
estudo sobre o fenómeno do mapeamento nas metáforas e analogias, conceito de
mapeamento esse, que configurou, igualmente, um ponto de viragem na teoria da metáfora,
pois destacou a importância da existência de espaços mentais e da projecção conceptual: “The
structure-mapping approach to analogy and metaphor was a turning point in cognitive science.
It shifted focus from the rule-based generation of structures to the topology of mental models,
the efficiency of partial matches, and the projection from one domain to another of
conceptual and perceptual organization (…).” (Fauconnier, 2001a:255). Os mapeamentos
estruturais são responsáveis pela construção constante de significados emergentes e ajudamnos a organizar e compreender tanto o mundo real, com todas as suas envolvências, assim
como o virtual ou o imaginário que pode, até, ser contrafactual:
“(…) structure-mapping is inherent in all of our thought processes, and especially in the
permanent construction of meaning that we engage in effortlessly as we conceive the world
around us, act upon it, and stray beyond it in wild leaps of imagination, fantasy and
creativity.” (op.cit).
O significado inferido emerge do processo de transferência entre o domínio-fonte e o domínioalvo, entre os quais ocorre o fenómeno do mapeamento de estruturas, dando origem ao
fenómeno dinâmico de enriquecimento conceptual - structure projection and dynamic
simulation (op. cit.). Fauconnier/Turner (2006) acrescentaram a estes dois domínios uma
terceira estrutura - o blend - que afirmam não representar apenas a ‘fusão’ de dois domínios,
mas sim um domínio igualmente dinâmico e abrangente:
“(…) a particular process of meaning construction has particular input representations;
during the process, inferences, emotions and event-integrations emerge which cannot
reside in any of the inputs; they have been constructed dynamically in a new mental
space—the blended space—linked to the inputs in systematic ways. For example, "They
dug their own financial grave" draws selectively from different and incompatible input
frames to construct a blended space that has its own emergent structure and that provides
central inferences. In this case, the blended space has become conventional. (…) Blends are
not predictable solely from the structure of the inputs. Rather, they are highly motivated by
55
such structure, in harmony with independently available background and contextual
structure.” (Fauconnier/Turner, 2006:305-306)
Estruturas contextuais, o conhecimento background individual e colectivo, assim como a
criatividade e originalidade contribuem para a construção e compreensão dinâmica do blend.
Neste sentido, a estrutura do blend não depende exclusivamente dos espaços de input, tendo
uma estrutura própria - “The blend inherits partial structure from the input spaces, and has
emergent structure of its own.” (Fauconnier/Turner, 1996:113) - que pode emergir a partir de
uma panóplia de fenómenos, incluindo a metáfora45.
Regressando ao conceito dos espaços mentais, Fauconnier e Turner concebem-nos
como:
“(…) small conceptual packets constructed as we think and talk, for purposes of local
understanding and action. Mental spaces are very partial assemblies containing elements,
and structured by frames and cognitive models. They are interconnected, and can be
modified as thought and discourse unfold. Mental spaces can be used generally to model
dynamical mappings in thought and language. Fauconnier (1994, 1997), Fauconnier &
Sweetser (1996).” (Fauconnier/Turner, 1998a: 137).
Neste sentido, os espaços mentais são ‘blocos’ conceptuais flexíveis que abarcam experiências
do mundo real quotidiano e servem, desta forma, como alicerces cognitivos fundamentais
para a compreensão do mundo envolvente e a nossa capacidade de nos relacionar-mos com o
mesmo. São estruturados por frames46 - estruturas conceptuais abertas que fornecem
contextos interpretativos - e modelos cognitivos idealizados47 (ICMs). Jäkel (1997:149)
descreve estes modelos como: “gestalthafte Wissensstrukturen, welche den kognitiven
Hintergrund für unser Agieren in der Lebenswelt einschließlich unseres Sprachverstehens
bilden“. Veja-se o exemplo clássico apresentado por Fillmore (1982) relativamente à
45
“Many phenomena give rise to blends: inventive actions, analogy, dramatic performance, counterfactuals,
integrated meanings, grammatical constructions. All of these have partial projection, emergent structure,
counterpart mappings, and so on. Metaphor is one of the phenomena that give rise to blends. It has the appropriate
features: partial projection from input spaces; emergent structure in the blend; counterpart structure between
input spaces; projection of integration of events from the source, the unconscious status of the blend until it is
highlighted; cognitive work specific to the blend, and so on.” (Fauconnier/Turner, 1996:116)
46
Fillmore (1982, 1985) “Borrowing from the language of gestalt psychology we could say that the assumed
background of knowledge and practices — the complex frame behind this vocabulary domain — stands as a
common ground to the figure representable by any of the individual words.(…) [Words belonging to a frame] are
lexical representatives of some single coherent schematization of experience or knowledge.” (Fillmore, 1985:223)
47
Lakoff (1987) “(…) we organize our knowledge by means of structures called idealized cognitive models, or ICMs,
and that category structures and prototype effects are by-products of that organization. (…) Each ICM is a complex
structures whole, a gestalt, which uses four kind of structuring principles: - propositional structure, as in Fillmore’s
frames, - image-schematic structure, as in Langacker’s cognitive grammar, - metaphoric mappings, as described by
Lakoff and Johnson, - metonymic mappings, as described by Lakoff and Johnson. Each ICM, as used, structures a
mental space, as described by Fauconnier.” (Lakoff, 1987:68)
56
compreensão da palavra ‘solteiro’ - bachelor -, realçando a importância do contexto social ou
cultural aliado ao conhecimento enciclopédico para a construção do significado. Estes são
elementos essenciais para formação dos modelos cognitivos, baseados tanto no mundo real
experienciado como numa versão idealizada do mundo. O processo cognitivo reside na
confrontação e entre modelos cognitivos face à situação concreta que se apresenta, e.g. ‘is the
pope a bachelor?’:
“The ICM characterizes representative bachelors. One kind of gradience arises from the
degree to which the ungraded ICM fits our knowledge (or assumptions) of the world. This
account is irreducibly cognitive. It depends on being able to take two cognitive models - one
for bachelor and one characterizing one’s knowledge about an individual, say the pope - and
compare them, noting the ways in which they overlap and the ways in which they differ.
One needs the concept of “fitting” one’s ICM to one’s understanding of a given situation
and keeping track of the respects in which the fit is imperfect.” (Lakoff, 1987:71)
A combinação de vários modelos cognitivos individuais dá origem a um conjunto complexo de
modelos - cluster model. Lakoff exemplifica este modelo em cacho através do conceito
associado à palavra ‘mãe’. Não é possível compreender este conceito de forma plena com base
na análise semântica tradicional assente nas condições necessárias e suficientes, pois afigurase como demasiadamente redutor. Apenas através de um modelo complexo, construído a
partir da combinação de vários modelos cognitivos individuais, é possível caracterizar a
plenitude de um conceito, englobando todas as suas vertentes48.
Tal como já referimos anteriormente, a metáfora conceptual emerge destas supraestruturas cognitivas que organizam, diferenciam e comparam os diferentes domínios das
experiências vividas49. Neste sentido, também os espaços mentais não podem ser
compreendidos como meras representações linguísticas, são antes estruturas cognitivas
flexíveis, continuamente construídas e adaptadas ao contexto comunicativo enquanto
48
Lakoff (1987:74-76)
“Entsprechend dem Paradigma der Erfahrungsmäßigkeit bei Lakoff/Johnson verbinden sich konzeptuelle
Metaphern zu einem clusterhaft strukturierten Ganzen, einer experiential gestalt, die später auch als idealized
cognitive model (ICM) (Lakoff 1987) bezeichnet wurde; terminologisch sind sie mit Fillmores frames oder Langackers
functional assemblies vergleichbar. ICMs stellen übergeordnete Strukturen konzeptueller Metaphernbündel dar, die
alltägliche Erfahrungswelten konstruieren und differenzieren. Als grundlegende Organisationsform menschlichen
Wissens bilden sie eine Wissens- und Erfahrungsstruktur, die einen Hintergrund für Wissenseinführung,
Wissensstabilisierung und Wissenserneuerung formen. So entwickelt sich ein konzeptuell-semantisches
Sprachverständnis, wonach sich Bedeutungen ergeben können, die durch die konzeptuelle Ebene motiviert und
strukturiert sind. Der alltägliche Gebrauch dieser sprachlichen Strukturen sorgt für die Stabilisierung dieser
konzeptuellen Wissensstrukturen. Kultur könnte so - kognitiv-semantisch verstanden - als eine Konstruktion
konventionalisierter und im historischen Prozess stabilisierter metaphorischer Erfahrungsbestände gelten:
Körperliche und kulturelle Erfahrung werden gleichsam mental repräsentiert und prägen im hermeneutischen Sinn
eine sich immer weiter ausdifferenzierenden kulturellen Modellierung.“ (Döring/Osthus, 2002, In: metaphorik.de
- http://www.metaphorik.de/03/doeringosthus.htm [Consult. 05.11.2010])
49
57
pensamos e falamos. Assim sendo, o processo cognitivo da integração conceptual configura
um mecanismo mental básico, presente em muitas áreas da cognição humana:
“(…) conceptual integration - like framing or categorization - is a basic cognitive operation
that operates uniformly at different levels of abstraction and under superficially divergent
contextual circumstances. It also operates along a number of interacting gradients.
Conceptual integration plays a significant role in many areas of cognition. It has uniform,
systematic properties of structure and dynamics.” (Fauconnier/Turner, 2006:304).
Fauconnier e Turner postulam ainda que a integração conceptual é um fenómeno mais
abrangente que ultrapassa o mero mapeamento entre domínios - “Cross-space mapping is
only one aspect of conceptual integration (…)” (op.cit. p.305), sendo que o produto deste
processo conceptual não resulta de mapeamentos únicos e isolados, inserindo-se antes numa
rede de integração conceptual:
“Conceptual products are never the result of a single mapping. What we have come to call
"conceptual metaphors," like TIME IS MONEY or TIME IS SPACE, turn out to be mental
constructions involving many spaces and many mappings in elaborate integration networks
constructed by means of overarching general principles. These integration networks are far
richer than the bundles of pairwise bindings considered in recent theories of metaphor.”
(Fauconnier/Turner, 2008:53)
Neste sentido, a metáfora envolve, para além dos mapeamentos entre espaços, uma
estrutura emergente integrada numa rede conceptual: “But metaphors (…) involve more than
mappings or bindings between two spaces. They involve many spaces, and they involve
emergent structure in the network. The apparently unproblematic mapping by itself will not
account for the complex emergent structure of the network and the data that express it.”
(Fauconnier/Turner, 2008:54-55) e configura uma manifestação particularmente importante e
saliente da integração conceptual: “(…) metaphor itself is one particularly important and
salient manifestation of conceptual integration.” (op.cit. p.65). Através de um exemplo
paradigmático, ‘o enigma do monge budista’50, Fauconnier e Turner (1998a, 1998b, 2002,
50
“Consider a classic puzzle of inferential problem-solving (Koestler 1964):
A Buddhist monk begins at dawn one day walking up a mountain, reaches the top at sunset, meditates at the top for
several days until one dawn when he begins to walk back to the foot of the mountain, which he reaches at sunset.
Making no assumptions about his starting or stopping or about his pace during the trips, prove that there is a place
on the path which he occupies at the same hour of the day on the two separate journeys.
Our demonstration of the power of blending is likely to be more effective if the reader will pause for a moment and
try to solve the problem before reading further. The basic inferential step to showing that there is indeed such a
place, occupied at exactly the same time going up and going down, is to imagine the Buddhist monk walking both
up and down the path on the same day. Then there must be a place where he meets himself, and that place is
clearly the one he would occupy at the same time of day on the two separate journeys.
58
2008) e Turner (2010) constroem um modelo de uma rede de integração conceptual que
inclui: espaços mentais, espaços de input, mapeamentos entre espaços que estabelecem
ligações entre as partes homólogas, o espaço genérico, o blend, o fenómeno da projecção
selectiva, e a estrutura emergente51. Estes afirmam que:
“The network model is concerned with on-line, dynamical cognitive work people do to
construct meaning for local purposes of thought and action. It focuses specifically on
conceptual projection as an instrument of online work. Its central process is conceptual
blending.” (Fauconnier/Turner, 2006:312-313)
Generic Space
Input I2
Input I1
Blend
Figura 9: Modelo básico de Integração conceptual (Fauconnier/Turner, 2006:313)
Neste modelo minimalista, inspirado no já referido enigma do monge budista, os círculos
representam os quatro espaços mentais cruciais: o espaço genérico, os dois espaços de input e
o blend emergente. Fauconnier e Turner realçam a existência de outros modelos de integração
The riddle is solved, but there is a cognitive puzzle here. The situation that we devised to make the solution
transparent is a fantastic one. The monk cannot be making the two journeys simultaneously on the same day, and
he cannot "meet himself." And yet this implausibility does not stand in the way of understanding the riddle and its
solution. It is clearly disregarded. The situation imagined to solve the riddle is a blend: it combines features of the
journey to the summit and of the journey back down, and uses emergent structure in that blend to make the
affirmative answer apparent.” (Fauconnier/Turner, 2006:306-307)
51
Vide Coulson (2001:22)
59
mais complexos, pois podem incluir diversos espaços de input e múltiplos blends ou hyperblends que possuem blends como espaços de input52, facto que configura uma das principais
diferenças relativamente à teoria da metáfora conceptual que assenta no princípio do
mapeamento unidireccional entre dois domínios - domínio-fonte e domínio-alvo - apenas.
À medida que a projecção conceptual se revela, os elementos reconhecidos
pertencentes aos dois domínios de input - representado por pontos negros - configuram o
espaço genérico. O espaço genérico evidencia os elementos homólogos que suportam o
mapeamento. Este espaço é resultado de um processo mental de abstracção, ao contrário dos
dois espaços de input, que reflectem conjuntos de elementos baseados no conhecimento
empírico ou enciclopédico. O espaço genérico53 é então mapeado para cada um dos dois
espaços de input - linha tracejada -, definindo, assim, o mapeamento entre elementos
homólogos dos mesmos. Assiste-se, portanto, a um mapeamento parcial entre os dois espaços
de input, estabelecendo uma ligação - linha sólida - entre os elementos homólogos54. O blend é
um espaço dinâmico e original resultante da projecção dos elementos provenientes dos dois
espaços de input, em estrita relação com o espaço genérico, pois encerra a sua estrutura
genérica. Por outro, engloba estruturas mais específicas provenientes dos espaços mais
concretos de input e comporta ainda uma estrutura criativa e virtual - representada pelos
pontos brancos:
“Blending. In blending, structure from two input mental spaces is projected to a third space,
the "blend." In the monk example, the two input spaces have two journeys completely
separated in time; the blend has two simultaneous journeys. Generic spaces and blended
spaces are related: blends contain generic structure captured in the generic space, but also
contain more specific structure, and can contain structure that is impossible for the inputs,
such as two monks who are the same monk.” (op.cit. p.314)
A estrutura emergente do blend produz, consequentemente, um significado emergente
próprio:
52
“(…) there can be multiple inputs and successive and iterated blends; there can be, and usually are, hyper-blends
that have blends as inputs; a conceptual array can be decompressed in interesting ways so as to create a network in
which the original conceptual array ultimately counts as a blend; emergent structure should be thought of as arising
not only or even chiefly in the blend, but rather in the entire network; and so on.” (Turner, 2008:1)
53
“Generic space . As conceptual projection unfolds, whatever structure is recognized as belonging to both of the
input spaces constitutes a generic space. At any moment in the construction, the generic space maps onto each of
the inputs. It defines the current cross-space mapping between them. A given element in the generic space maps
onto paired counterparts in the two input spaces.” (Fauconnier/Turner, 2006:314)
54
“Cross-space mapping of counterpart connections. In conceptual integration, there are partial counterpart
connections between input spaces. The solid lines in Figure 6 represent counterpart connections. Such counterpart
connections are of many kinds: connections between frames and roles in frames; connections of identity or
transformation or representation; metaphoric connections, etc. In the monk example, the monks, paths, journeys,
days, and so on are counterparts. (Fauconnier/Turner, 2006:313)
60
“But the essence of conceptual integration is its creation of a new mental assembly, a blend,
that is identical with neither of its influences and not merely a correspondence between
them and usually not even an additive combination of some of their features, but is instead
a third conceptual space, a child space, a blended space, with new meaning. This new
meaning is "emergent" meaning, in the sense that it is not available in either of the
influencing spaces but instead emerges in the blended space by means of blending those
influencing spaces. The blend inherits some of its elements and some of its meaning from
the influencing spaces, and in this way it is the conceptual descendent of the influencing
spaces, just as a child is the biological and cultural descendent of its parents. But like the
child, the blend develops its own identity and is not merely a copy of its parents. It has
meaning that is its own: "emergent" meaning. (Turner, 2001:17)
Por fim, assiste-se ao fenómeno da projecção selectiva55 que expõe a parcialidade da
projecção a partir dos espaços de input, como se infere pelos pontos negros soltos.
De acordo com Fauconnier e Turner, a construção de um blend implica três operações
cognitivas: composição (composition), integração (completion) e elaboração (elaboration)
(Fauconnier/Turner, 2006:314).
A composição diz respeito aos elementos dos espaços de input que compõem o blend
e criam relações que não existem em cada um dos espaços de input isoladamente. Tomado o
exemplo do monge budista, a fusão entre os monges (cada espaço de input comporta um
monge budista a subir e descer um monte) que ao percorrerem os seus caminhos acabam por
se cruzar num dado ponto, é uma forma de composição. Elementos homólogos podem ser
incluídos no blend de forma isolada ou fundida. A figura 7 representa tanto uma fusão de
elementos homólogos como a inclusão de elementos homólogos isolados.
A integração evidencia a necessidade de completar as estruturas compostas, i.e. no
blend mobilizamos e reunimos, sem o reconhecer conscientemente, múltiplas estruturas
conceptuais e conhecimento de background de forma a completar a sua estrutura. Um subtipo
fundamental deste processo de mobilização é a ‘complementação de uma matriz’ (pattern
completion): uma estrutura composta minimal no blend pode ser completada através de uma
matriz convencional mais extensa. No exemplo do monge budista, a estrutura composta
(resultado do processo de composição) é completada através do cenário de ‘duas pessoas que
se deslocam em direcção uma da outra, acabam por se cruzar’. Neste sentido, Fauconnier e
Turner postulam:
55
“Selective projection. The projection from the inputs to the blend is typically partial. In Figure 6, not all elements
from the inputs are projected to the blend. (Fauconnier/Turner, 2006:314)
61
“Conceptual blending is not a compositional algorithmic process and cannot be modeled as
such for even the most rudimentary cases. Blends are not predictable solely from the
structure of the inputs. Rather, they are highly motivated by such structure, in harmony
with independently available background and contextual structure (…)” (Fauconnier/Turner,
2006:306)
A elaboração expande o blend através do processo de simulação mental imaginativa
em concordância com os princípios lógicos do mesmo. Estes princípios lógicos, ou
estabilizadores, podem ser fruto do processo contínuo e dinâmico de complementação, porém
novos princípios podem, igualmente, emergir aquando do próprio processo de elaboração.
Este fenómeno de expansão em contínuo pode originar a construção de blends extremamente
elaborados.
Destaca-se a estrutura emergente do blend, que resulta dos processos acima descritos.
O blend contém, então, uma estrutura própria que não configura uma mera cópia dos espaços
de input. Na figura 7, esta estrutura emergente é representada pelo quadrado. No exemplo do
monge budista, o momento em que os monges se cruzam (ou encontram) constitui a estrutura
emergente56, ou seja, a solução do enigma reside no reconhecimento contrafactual de que a
uma dada altura, num determinado dia, o monge, que sobe e desce a montanha, sempre no
mesmo percurso, acaba por se cruzar com ele próprio. Esta conceptualização é apenas possível
através da construção do blend no qual podemos, imaginar ou visualizar uma realidade
impossível, capacidade esta, que nos distingue como seres cognitivos: “a central human
mental ability: the ability to blend two different conceptual arrays so as to produce an
emergent outcome in the blend.” (Turner, 2010:1).
Turner explora algumas situações humorísticas, em que o humor advém de blends
contrafactuais mal compreendidos: “There are also humorous vignettes whose humor consists
in poor blending done by incompetent people.” (Turner, 2010:1). A contrafactualidade
configura, aliás, um fenómeno central da cognição humana, tanto em situações do dia-a-dia
como, por exemplo, na formulação de hipóteses ou raciocínios científicos ou políticos:
56
“The insight that comes from the mental blending includes the recognition that all the specific cases, and
therefore the abstract case, create a blend with a particular emergent structure: a meeting. In the blend, but in
neither of the inputs, there are two travelers, and they meet, necessarily at a particular time of day. The purpose of
the blend is not to replace the inputs (ascent and descent), but to allow us to reason over the network, to detect
structure in the network that is otherwise not instantly apparent. The existence of the meeting place in the blend is
connected back to structure across the network. We take the meeting place as indicating a conceptual connection
between the mental space of the ascent and the mental space of the descent: in each of those two mental spaces,
there is a location on the path corresponding to the meeting point in the blend, and there is an identity connector
between those two locations on the path in each of the input spaces—ascent and descent—such that if the monk is
positioned at the designated spot in one mental space then at the same hour of the day in the other mental space,
the monk must be located at the identical spot.” (Turner, 2010:8-9)
62
“Counterfactuals are not exotic curiosities of language. They are central to reasoning in
everyday life (Kahneman, 1995), and to scientific reasoning (Goodman, 1947). Tetlock and
Belkin (1996) show that argumentation in political science relies indispensably and
extensively on counterfactual thought. Turner (1996a) shows that political scientists and
others have not taken into account the complex blending structure and knowledge that it
recruits without our noticing it.” (Fauconnier/Turner, 2006:326).
Através do enigma do monge budista, Fauconnier e Turner procuraram demonstrar
quais as capacidades cognitivas subjacentes à integração conceptual:
“The mental ability is this:
•
Conceptual inputs (in this case, of the ascent and the descent) are blended
o
mentally
o
and selectively,
for example, we do not bring into the blend the calendrical day, or
certain background knowledge, such as that one person cannot be in
two places at the same moment
o
with crucial emergent structure arising in the blend
indeed, this is indispensable for attaining the goal: the meeting in the
blend is emergent, that is, not contained in either input, yet this
structure in the blend achieves the goal by creating something in the
mental network.
My purpose in presenting the blend of the Buddhist Monk is to give an example of this
mental ability.” (Turner. 2010:11-12)
Como já referimos anteriormente, dado que as redes de integração conceptual são
estruturadas por frames, existem, segundo Turner (2008:2-4), diferentes tipos de redes:
- redes simples - simplex networks - nas quais um espaço de input configura um frame
abstracto familiar, de forma a englobar determinados valores e princípios e um segundo
espaço de input que configura uma contexto situacional específico que reflecte os valores e
princípios em questão57;
57
“Simplex networks. A simplex network is a conceptual integration network in which one input space has a familiar
abstract frame (such as the kinship frame parent-ego) that is designed to embrace certain kinds of values, and the
other input space is a relatively specific situation presenting just such values. For example, if we wish to say that
two people—John and James—stand in a certain kin relation, we say something like "John is the father of James."
The parent-ego frame of kin relation is in one input space; the other input space has John and James. In the blended
space, John is the father of James, and there is a new role father of James.” (Turner, 2008:2-3)
63
- redes em espelho - mirror networks - nas quais os dois espaços de input partilham a
mesma topologia propiciada por um frame estruturante e organizador e que é ‘herdado’ pelo
blend58;
- redes de extensão simples - single-scope networks - nas quais os dois espaços de
input configuram frames estruturantes diferentes e apenas um desses frames é projectado
para o blend59;
- redes de extensão dupla - double-scope networks -
apresentam dois frames
estruturantes diferentes nos dois espaços de input que são projectados para o frame
mesclado, de forma a garantir que a estrutura do frame do blend contenha, nem que seja
parcialmente, elementos estruturantes, não partilhados, de cada um dos espaços de input60.
As operações mentais subjacentes aos fenómenos da contrafactualidade, do framing,
da categorização, da analogia, da metáfora e da metonímia revelam, de forma semelhante, a
capacidade cognitiva de construir double-scope blendings:
“What were previously regarded as separate phenomena and even separate mental
operations—counterfactuals, framings, categorizations, metonymies, metaphors, etc.—are
consequences of the same basic human ability for double-scope blending. More specifically,
these phenomena are all the product of integration networks under the same general
principles and overarching goals. They are separable neither in theory nor in practice: the
majority of cases involve more than one kind of integration.” (Fauconnier/Turner, 2008:54).
Este reconhecimento justificou a que o fenómeno da conceptualização metafórica fosse
repensado e reanalisado. Fauconnier e Turner (2008) no seu artigo “Rethinking Metaphor”
advogam uma abordagem mais abrangente e aprofundada no que concerne o estudo da
metáfora e tomam a metáfora clássica TEMPO É ESPAÇO como exemplo paradigmático: “To
58
“Mirror networks. In a mirror network, two input spaces share topology given by an organizing frame, and the
blend inherits that organizing frame. A standard example of a mirror network is "Regatta." In "Regatta," a freightladen clipper ship, Northern Light, set the record for an ocean voyage from San Francisco to Boston in 1853 and a
modern catamaran named Great American II is in the process of making that run in 1993. A sailing magazine named
Latitude 38 reports, "As we went to press, Rich Wilson and Bill Biewenga [the crew of the catamaran] were barely
maintaining a 4.5 day lead over the ghost of the clipper Northern Light." Here, the two inputs—we label them
"1853" and "1993"—have the organizing frame boat making an ocean voyage. The blend has an extension of that
frame: two boats making ocean voyages and moreover racing as they make them.” (Turner, 2008:3)
59
“Single-scope networks. A conceptual integration network is single-scope if the inputs have different organizing
frames and only one of those frames is projected to organize the blend. For example, a cartoon of presidential
candidates having a shoot-out evokes a single-scope network. The frame gunslingers at a shoot-out is projected
from one of the inputs to organize the blend. As long as the shoot-out frame is the only one used to organize the
blend, then the network is single-scope. But if frame-level organizing structure from the other input is later on
projected to the blend so as to play a role in the organizing frame of the blend, the network ceases to be singlescope.” (Turner, 2008:3)
60
“Double-scope networks. A conceptual integration network is double-scope if different input frames are blended
into a blended frame whose organizing frame-level structure includes at least some organizing structure from each
of the two input frames that is not shared by the other. (Single-scope networks sit atop a very slippery slope and
slide easily into double-scope structure.) Double-scope networks involve frame blending.” (Turner, 2008:3-4)
64
illustrate how metaphor has been rethought within the broader perspective of integration
networks and compression, we will revisit the classic metaphor of time as space, and show in
some detail that much of what is going on in this metaphor has gone unnoticed and therefore
unexplained.” (Fauconnier/Turner, 2008:54). Estes concluem que o processo metafórico
pressupõe múltiplos mapeamentos entre espaços ou domínios, o que implica que a estrutura
emergente complexa da rede conceptual exija outras operações mentais:
“But metaphors, this one included, involve more than mappings or bindings between two
spaces. They involve many spaces, and they involve emergent structure in the network. The
apparently unproblematic mapping by itself will not account for the complex emergent
structure of the network and the data that express it.” (op.cit. p.54-55)
“These various linguistic examples and the emergent structures that make them possible
derive from a systematic but elaborate integration network that involves a number of input
spaces, blended spaces, vital relations, and compressions.” (op.cit. p.56)
As realizações metafóricas da metáfora conceptual TEMPO É ESPAÇO, por exemplo, são
evidência da existência de uma rede complexa de integração conceptual e revelam uma
topologia intrincada da estrutura emergente no blend. Por topologia entenda-se a estrutura
interna e organizativa dos diferentes espaços mentais; esta revela estruturas elementares que
geralmente reflectem a capacidade humana de reconhecimento e organização dos espaços
físicos envolventes, assim como da relação sensório-motora entre o corpo e o espaço físico:
“(…) an oriented cognitive topology, which characterizes structures oriented relative to the
human body that apply generally to spatial situations, structures like paths, bounded
regions, tops, etc. Structures in a cognitive topology differ from semantic features in a
number of ways: they are inherently meaningful (arising from sensory-motor operations),
they have an inherent structure, they are analog rather than finitary, and the relationships
among them arise naturally via the operation of the human sensory-motor system. (…) The
topological properties of the concepts are necessary to characterize “image-schema
transformations” in terms that they are cognitively natural, rather than in terms of an
arbitrary calculus.“ (Brugman/Lakoff, 2006:110-111)
Um frame estruturante fornece a tipologia do espaço mental no que concerne a relação entre
os elementos constituintes. Assim sendo, sempre que espaços partilhem o mesmo frame
estruturante, partilham igualmente a mesma tipologia, o que facilita o processo de
mapeamento entre os espaços61. Quando todos os espaços mentais partilham o mesmo frame
61
“For any input space and any element in that space projected into the blend, it is optimal for the relations of the
element in the blend to match the relations of its counterpart.” (Fauconnier/Turner, 1998a:163) “An organizing
65
estruturante, estamos perante uma rede de frames - frame network: “A frame network is a
conceptual integration network in which all spaces, inputs, generic, and blend, share topology
given by an organizing frame. An organizing frame for a mental space is a frame that specifies
the nature of the relevant activity, events, and participants.” (Fauconnier/Turner, 1998a:163)
Contudo, a selecção do frame estruturante de um determinado espaço mental não é
uma decisão definitiva, pois o mesmo pode ser modificado e adaptado aquando da construção
da rede conceptual: “The selection of an organizing frame for a space is not a once-and-for-all
decision. The organizing frame can be modified and elaborated as the integration network is
constructed.” (op.cit. p.164) Mais ainda, existem diferentes tipos de construções de redes
conceptuais de acordo com os níveis de partilha das topologias dos espaços (shared topology
networks, one-sided networks, two-sided networks, asymmetric two-sided networks, unfilled
shared topology networks, two-sided unfilled shared topology networks e single-framing
networks (op.cit. pp.164-169)).
O modelo de integração conceptual pretende igualmente aprofundar o conceito de
inferência aquando da projecção conceptual. O fenómeno da inferência já fora abordado
anteriormente associado ao princípio da invariância (the invariance-principle) em Turner
(1987), Lakoff and Turner (1998), Lakoff (1990), Turner (1990), Lakoff (1993), e Turner (1996).
Sumariamente, o princípio da invariância pressupõe que, no processo metafórico, são
projectadas estruturas imagéticas (image-schematic structures) do domínio-fonte para o
domínio-alvo, tendo em conta que a estrutura do esquema imagético inerente ao domínioalvo não pode ser violada. Essa estrutura limita automaticamente as possibilidades de
mapeamento, devido à preservação da topologia cognitiva inerente. Contudo, se as estruturas
do domínio-fonte são indefinidas ou vagas, a importação de estruturas imagéticas distintas
para o domínio-alvo, aquando do processo de projecção, não viola o princípio da invariância,
devido ao facto de não surgir nenhum conflito entre as estruturas. O modelo das redes
conceptuais estende e adapta este princípio de invariância ao enfatizar a importância da
topologia imagética em todos os tipos de projecção conceptual, e não apenas na projecção de
natureza metafórica, pois defende a existência de combinações produtivas de estruturas
imagéticas em todos os espaços: input, genérico e blend. Mais ainda, postula, tal como já foi
frame provides a topology for the space it organizes—that is, it provides a set of organizing relations among the
elements in the space. When two spaces share the same organizing frame, they share the corresponding topology
and so can easily be put into correspondence. Establishing a cross-space mapping between inputs is straightforward
when they share the same organizing frame.” (Fauconnier/Turner, 1998a:164)
66
referido anteriormente, que o blend possui uma estrutura emergente singular, determinante
para o processo de inferência62.
Com o intuito de ampliar a teoria da metáfora baseada no modelo dos dois domínios,
Fauconnier e Turner advogam que o processo de mapeamento de uma metáfora convencional
envolve, necessariamente, a integração conceptual. Sempre que estruturas ou inferências do
blend são projectadas ‘de regresso’ para o espaço alvo, de forma a convencionalizar o
mapeamento entre a fonte e o alvo, o blend deixa de ser um espaço de construção dinâmico.
Consequentemente, na metáfora convencionalizada, tanto o blend como o espaço genérico
são secundários. Metáforas convencionais são, portanto, blends convencionais: “Additionally,
blending is always available to someone who activates a conventional metaphor, and many of
the conventional metaphors studied so far are, like ANGER IS HEAT or The Grim Reaper,
actually conventional blends.” (Fauconnier/Turner, 2006:362)
Evans e Zinken (2005) consideram, ainda, que já não se assiste a qualquer projecção
conceptual nas expressões convencionais: “Our argument entails the assumption that the
production and comprehension of conventional language does itself not require conceptual
projection.” (Evans/Zinken, 2005:7) Estes defendem a existência de uma memória semântica
em cada falante, que abarca os itens lexicais e os múltiplos conceitos associados por
convenção aos mesmos, formando uma rede semântica. A projecção conceptual está na
génese da elaboração do conceito e assume-se como um fenómeno histórico-social:
“However, conceptual projection is relevant here as a historical phenomenon: a particular
temporal concept has been elaborated in terms of a particular spatial concept by conceptual
projection over a certain period of sociohistorical time. Once the temporal concept has become
conventionally associated with the respective linguistic form, projection is no longer required
for comprehension or production.” (op.cit., p. 15) A projecção conceptual emerge apenas num
contexto explicativo: “(…) conceptual projection does come into the picture when one tries to
explain conventional figurative patterns, such as the use of spatial markers in talking about
time.” (op.cit. p. 15) Assim sendo, e reconhecendo o carácter universal da projecção
62
“But the network model and its Topology principle differ from the two-domain model of metaphor and its
invariance principle. Under the invariance principle, all the inferential structure had to be supplied by either the
target and its protected image-schematic structure or by the source image-schematic structure projected to the
target. We have demonstrated that the blend often has emergent structure available from neither input but
important for inferencing. In digging your own grave, there is important causal structure and event structure: the
person addressed is digging a grave and the existence of a satisfactory grave causes death. This structure is imageschematic, but it is not given by either input. The causal structure of the blend is the inverse of the causal structure
of the source, and in the target it is not given, prior to the blend, that the person addressed is performing bad acts,
that performing them completes in a cumulative manner a certain gradual action, or that completing that action
causes disaster. This image-schematic structure, with its inferences, is developed in the blend so as to permit the
projection of certain inferences to the target that the target can accept.” (Fauconnier/Turner, 2006:361)
67
conceptual, esta afigura-se como um processo indispensável para a mudança semântica e para
a extensão permanente das categorias.
Em suma, destacamos os seguintes pontos que consideramos os mais importantes e
inovadores para o enriquecimento da teoria da metáfora:
- as teorias da metáfora e analogia centravam-se no princípio da projecção
unidireccional - do domínio-fonte para o domínio-alvo - sem se debruçarem sobre a
construção de espaços mesclados, os blends;
- a perspectiva da integração conceptual postula uma concepção de construção de
significados bastante mais ampla e coesa, a todos os níveis: a mesclagem assume-se como um
processo generalizado, fundamental, cognitivamente indispensável, comum a um vasto
conjunto de domínios, em interacção com outras operações cognitivas63: "(…) blending is a
central,
orderly,
powerful,
systematic,
and
commonplace
cognitive
operation.”
(Fauconnier/Turner, 1998:184);
- a projecção conceptual ocorre entre dois espaços mentais de input, porém, estes
espaços não representam domínios completos, mas antes estruturas parciais relevantes, cuja
saliência depende da perspectivação. Assumem estruturas adicionais por defeito, fornecidas
pelo contexto, pela cultura e pelo conhecimento background, i.e.: “(…) space-blending is a
central, indispensable component of conceptual projection, and that crucial aspects of
meaning (inferences, emotions, creativity) cannot be accounted for without it. (…) Mental
spaces in general have only very partial explicit structure that typically includes roles, values,
and relations.” (Fauconnier/Turner, 1994:12);
- mesclar dois espaços significa projectar estruturas parciais dos espaços de input , de
forma coerente, para um terceiro espaço, o blend;
- as estruturas parciais dos espaços de input, nomeadamente os seus elementos
homólogos, compõem o espaço genérico mais abstracto que serve de elemento estabilizador
do blend;
- um blend não pode ser compreendido como uma mera soma ou amalgama das
estruturas de input. Configura antes, um espaço próprio e dinâmico de recriação estrutural.
Assim sendo, pode (embora não seja muito frequente) originar domínios conceptuais
diferentes e contribuir para a extensão de categorias;
63
“Far from being confined to problem-solving and conscious reasoning, structure-mapping is inherent
in all of our thought processes, and especially in the permanent construction of meaning that we engage
in effortlessly as we conceive the world around us, act upon it, talk about it, and stray beyond it in wild
leaps of imagination, fantasy and creativity.” (Fauconnier, 2001a:255)
68
- blending afigura-se, igualmente, como um fenómeno apropriado para processos de
compressão relativamente a ‘relações vitais’ (vital relations64), tais como o tempo, o espaço,
relações causa-efeito, identidade, mudança, etc.:
“A remarkable conclusion of recent work which was overlooked by both early metaphor
theory and early blending theory is that integration networks achieve systematic
compressions. The ability to use standard techniques and patterns of compression and
decompression enables us to work at once over elaborate integration networks. For
example, a cause-effect relation connecting different mental spaces in the network may be
compressed into a representation relation or an identity relation within the integration
network.” (Fauconnier/Turner, 2008:54)
A mensagem final veiculada por Fauconnier e Turner (2008) consiste no reconhecimento de
que o estudo do fenómeno metafórico terá de incidir sobre a complexidade das integrações
conceptuais por detrás dos sistemas conceptuais metafóricos, abordagem esta, que ultrapassa
amplamente o escopo dos processos de mapeamento entre domínios e a transferência de
inferências. É igualmente necessário considerar factores de cariz histórico-cultural dos
sistemas conceptuais, assim como compreender as estruturas emergentes por eles
construídos. Em suma, a construção do significado resulta de sistemas mentais extremamente
elaborados e dinâmicos. A metáfora emerge como uma manifestação saliente e
particularmente importante da integração conceptual, sendo que a integração de extensão
dupla, ao explorar conflitos estruturais, configura o cunho distintivo que caracteriza o ser
humano actual65.
64
Vide Fauconnier/Turner (2002:92-102)
“We do not establish mental spaces, connections between them, and blended spaces for no reason. We do this
because it gives us global insight, human-scale understanding, and new meaning. It makes us both efficient and
creative. One of the most important aspects of our efficiency, insight, and creativity is the compression achieved
through blending. (…) Certain conceptual relations, such as cause-effect, show up again and again in compression
under blending. We call these all-important conceptual relations “vital relations”. Fauconnier/Turner (2002:92)
“Vital relations are what we live by, but they are much less static and unitary than we imagine. Conceptual
integration is continually compressing and decompressing them, developing emergent meaning as it goes.”
Fauconnier/Turner (2002:102)
65
"The message for all of us metaphor theorists is that we need to go far beyond the usual focus on cross-domain
mapping and inference transfer. We need to face squarely the far greater complexity of integrations that lie behind
observable metaphorical conceptual systems, we need to take into account their cultural history, and we need to
account explicitly for the emergent structures they produce, both over cultural time and over individual time (a
child's learning of the elaborate interconnected integration networks). In the early days of contemporary linguistics,
the realization that children mastered stunningly complex syntactic and phonological structures was often met with
disbelief: how could toddlers possibly know so much? We know better today: the child's cognitive brain leaves in
the dust our most powerful computers. So there is nothing surprising in the discovery that meaning construction is
also supported and effected by highly elaborate dynamic systems. The challenge for the analyst is to delve
rigorously into these remarkable constructions of the mind. The permanent features of cognition that we have
drawn attention to in the present work are part of metaphor because metaphor itself is one particularly important
and salient manifestation of conceptual integration. Double-scope integration, which typically exploits clashes, is
69
1.3.2. Teoria de redes de espaços mentais
Como já referimos anteriormente, uma rede de integração conceptual básica inclui
quatro espaços mentais, dois espaços de input, um espaço genérico e o espaço do blend.
Assistimos a mapeamentos parciais entre estruturas e à projecção selectiva de elementos,
estando o blend, com a sua estrutura emergente dinâmica, no cerne desta abordagem. Em
“Making sense of a blend - A cognitive-semiotic approach to metaphor” de 2005, Brandt e
Brandt apresentam, com base no exemplo clássico da realização metafórica “This surgeon is a
butcher” (Grady, Oakley e Coulson, 1999), um estudo semântico-cognitivo que contempla a
teoria da metáfora conceptual (CMT), a teoria de mesclagem (blending theory BT) e propõe,
finalmente, a teoria de redes de espaços mentais como abordagem complementar ao
paradigma cognitivo da metáfora conceptual. A partir deste trabalho, que configurou um
passo seguinte significativo nos estudos semânticos e semióticos, a teoria de redes de espaços
mentais tem estado no centro de um número considerável de estudos, que contribuíram
construtivamente para o seu desenvolvimento e sua reformulação (cf. Brandt 2001a; 2004a,
2004b, 2008, 2010a). Debruçar-nos-emos agora em pormenor sobre esta teoria, à luz da qual
se desenvolverá a nossa análise semiótica das imagens mescladas nos jornais desportivos
alemães (ponto 3).
O principal intento de Brandt/Brandt (2005a) consiste na abordagem semiótica de
blends expressivos, tais como a metáfora conceptual, visto ocorrerem num contexto
comunicativo, o que atesta a sua natureza semiótica:
“It is argued that examples of expressive blends, such as metaphor, need to be accounted
for in semiotic terms, since they occur in - intersubjective as well as private communication, which is essentially semiotic in nature; expressive blends occur as signs and
are therefore a natural subject of cognitive semiotics, the study of cognition in semiosis.”
(Brandt/Brandt, 2005a:216)
Brandt/Brandt iniciam este propósito ao questionar a essência das estruturas dos espaços
mentais em termos de elementos constituintes, pois nem a teoria da metáfora conceptual,
nem a teoria da integração (BT) explicam se os elementos constituintes são de natureza
enciclopédica, categórica (prototípica), conceptual ou semântica. O conteúdo dos espaços
mentais é somente definido como representação mental, definição redutora que conduz a
uma outra ‘falha’ apontada pelos autores, que consiste no esclarecimento deficiente do
the hallmark of cognitively modern human beings. And metaphor is one of its most powerful products, one that
often drives key aspects of art, science, religion, and technology.” (Fauconnier/Turner, 2008:65)
70
fenómeno da acomodação, i.e. o que motiva a selecção e supressão de determinadas
estruturas que serão, ou não, perfilhadas pela estrutura emergente do blend: “We do not
know why suppression should happen. It is not clear what it is that makes one
representational input the target of the metaphor, apart from its losing structure - and why
the target material, if it is ‘critical knowledge’ of the target, would ‘yield’ to the alien structure.
This lack of clarity may stem from the fact that the predicative format that defines CMT is not
upheld in BT.” (Brandt/Brandt, 2005a:217).
Outra questão prende-se com a valorização do contexto comunicativo e da
importância que o discurso assume na criação de espaços mentais - space building. O termo
‘construção de espaços’ designa, segundo Fauconnier (1997) a operação cognitiva da criação
concreta de espaços mentais: “A space builder is a grammatical expression that either opens a
new space or shifts focus to an existing space.” (Fauconnier, 1997:40). Um espaço mental pode
ser constituído, para além de expressões gramaticais, por outras expressões linguísticas
(orações preposicionais ou adverbiais, etc.) e até por factores pragmáticos, contextuais e
culturais extra-linguísticos: “As Fauconnier notes, mental spaces are set up ‘not just by explicit
space-builders, but by other more indirect grammatical means, and also by nonlinguistic
pragmatic, cultural, and contextual factors.’ (Fauconnier, 1994: xxxiv).” (Brandt, L., 2008:119).
No contexto comunicativo, espaços mentais são recriados em conformidade com o contexto
discursivo: “Spaces represent such diverse things as hypothetical scenarios, beliefs, quantified
domains, thematically defined domains, fictional scenarios, and situations located in time and
space. As discourse unfolds, the language user extends existing spaces by adding new
elements and relations to the cognitive models already evoked.” (Coulson, 2001:22) e ainda
“Mental spaces are the domains that discourse builds up to provide a cognitive substrate for
reasoning and for interfacing with the world.” (Fauconnier, 1997:34) Neste sentido,
Brandt/Brandt procuram demonstrar que é imperativo complementar a abordagem cognitiva
dos processos metafóricos através de uma arquitectura de espaços mentais mais completa e
que inclua o acto comunicativo como enquadramento central na construção de significados:
“(…) we hope to improve cognitive metaphor analysis by (…) revising the architecture of the
blending network, so as to include its anchoring in communication and the meaning that
metaphor produces in communication.” (Brandt/Brandt, 2005a:118)
Com base na análise exaustiva do exemplo supra mencionado, (“This surgeon is a
butcher”) à luz da teoria de redes de espaços mentais, Brandt/Brandt comprovam que
significado intencional que emerge desta realização metafórica, após mapeamentos lineares
entre dois domínios (objectivos e meios/modos do carniceiro e do cirurgião, respectivamente)
71
e estabilizado pelo espaço genérico (um agente abstracto usa determinados meios/modos
para atingir um determinado objectivo), não aponta para a incompetência do cirurgião (tal
como defendido por Grady et.al. (1999)) mas sim para a sua irresponsabilidade ética. Para tal,
Brandt/Brandt advogam a inclusão de um espaço de input adicional, que comporta a estrutura
dos valores éticos responsáveis para um enquadramento - framing - correcto, no que concerne
a avaliação normativa dos princípios deontológicos, i.e. a convicção ética do que é certo e do
que é errado num determinado contexto. Mais ainda, Brandt/Brandt retomam o conceito de
direccionalidade da projecção - do domínio-fonte para o domínio-alvo - proposto pela CMT e
abandonada pela BT, na qual a estrutura do blend importa estruturas parciais de todos os
espaços de input envolvidos66, sem perspectiva direccional.
A produção do significado emergente ocorre quando o blend inclui uma outra
estrutura esquemática independente, neste caso a estrutura do conceito de ética. Este input
adicional funciona como complemento semântico que torna a metáfora inteligível aos
falantes. Em suma, a rede de espaços mentais proposta por Brandt/Brandt engloba um espaço
mental essencial que contém todo o cenário situacional na qual a metáfora foi proferida por
um falante concreto, num contexto específico: “Our network therefore includes a mental
space containing a scenario in which the metaphor is expressed by someone in a specific
situation.” (Brandt/Brandt, 2005a:218), o que configura um contributo semiótico valioso para
a analise semântica da metáfora: “This is a semiotic contribution to the semantics of metaphor
and is, to our knowledge, the first attempt at giving a semiotic account of metaphor, by
integrating central ideas from both CTM and BT.” (op.cit.)
O enunciado, centrado na função pragmática do significado, assume, assim, um papel
nuclear. No âmbito dos estudos em semântica cognitiva, Langacker (2002) define o conceito de
ground, próximo do conceito de enunciado67, i.e. comunicação interactiva, englobando todas
66
“CMT’s directional view of the relation between source and target - the projection goes from source to target - is
replaced by a non-directional view in BT, where the projection goes from any of a number of inputs, minimally two,
to the blend. We intend to explain that there is in fact a directional mapping from source space structure to target
space structure. This mapping connects a source structure as a generic predicate to a non-generic subject, namely
the target structure that the metaphor refers to. As in BT, there is a blended space that imports structure from both
spaces.” (Brandt/Brandt, 2005a:218)
67
“Enunciation basically concerns the presence of communicating subjects in language, from the level of
morphemes, the smallest semantic unit, to the level of sentences and whole pieces of discourse. Enunciation is the
individual act of language production, in a given situational context, structurally and pragmatically manifested as
intention-laden and interaction dependent meaning. The utterance is the product; the uttering itself is the
enunciation. The phenomenon gives rise to the study (Austin, Benveniste, Jakobson, Searle et al.) of the function
and organization of those elements in linguistic utterances which can be considered marks of the process of
enunciation – the process that brought them into existence. (…) In the perspective of enunciation, sentence
meaning is shaped by communication – both at the structural level of language and in manifested use – relative to
the pragmatic context of situated language production. Language is understood as inherently inscribed in an
interactional situatedness; and so the meaning of sentences is understood in terms of the occurrence of sentences
in an – actual or hypothetical – situation of linguistic interaction, that is, in terms of their occurrence in the form of
utterances. (…) An enunciation is always inscribed in a particular subjectivity, a subjective context characterized by
72
as suas vertentes: “The term ground is used for the speech event, its participants and its
immediate circumstances” (Langacker, 2002:29), e contempla, deste modo, o acto
comunicativo, ou seja, o uso linguístico concreto e comum, no paradigma cognitivo. A rede de
espaços mentais inclui o conceito de grounding, nomeadamente, através da inclusão do
espaço semiótico de base. Brandt/Brandt preencheram, assim, uma lacuna relativamente às
teorias anteriores (CMT e BT), igualmente identificada por Oakley (2005) que procura: “[to]
refine conceptual blending theory as an interpretive framework by arguing for the need to
incorporate the notion of a grounding space [...].” (Oakley 2005: 295) e acrescenta “Although
Fauconnier and Turner maintain the significance of local context and social interaction to
cognition and language comprehension and production, their own blending model, in my
opinion, has not sufficiently incorporated these concerns into mental space analysis.” (Oakley
2005:297)
A ideia de um espaço mental de base já fora introduzida por Fauconnier (1994) e
retomada em Fauconnier (1997:38) e é considerada essencial para a compreensão do
enunciado, pois configura o espaço de referência do mundo real, i.e. a representação mental
do mundo real do falante (op.cit. p.15). Radden/Dirven (2007) resumem-no de seguinte forma:
“The mental space that serves as the basis and starting point of any human interaction is
known as the base space. The base space pertains to the deictic ground shared by speaker
and hearer. It includes the space and time of interaction, the speech participants, and the
contextual circumstances. Elements of the base space are normally taken for granted and
therefore need not be made explicit in the discourse.” (Radden/Dirven, 2007:202)
Em Brandt/Brandt (2005a), o espaço semiótico de base assume-se como o espaço que
engloba três níveis - o mundo fenomenológico, o contexto situacional e o acto comunicativo,
aqui representados por esferas de acordo com a figura por estes proposta, e aplicada ao
exemplo em questão:
semiotic intentionality. Someone is performing the enunciation; enunciation is an act performed by a speaker who
stands in relation to an addressee. As Benveniste demonstrated, subjectivity is inherent in grammar. The notion of
subjectivity encompasses the presence of subjective attitudes and awareness of the very situation of
communication, involving (at least) a speaker and a hearer.” (Brandt, L., 2010:8-9)
73
Pheno-world (incl. butchers)
Situation (post-surgery)
Semiosis (expressive acts)
Figura 10: Espaço Semiótico de Base (Brandt/Brandt, 2005a:226)
A esfera central representa o enunciado68, que inclui os falantes (emissor e receptor) e
constitui um espaço semiótico, na medida em que o acto comunicativo configura uma acção
humana de natureza semiótica:
“To think or communicate – to ‘make sense’ of utterances and the world these utterances
are about – is to operate from inside this phenoworld which determines our acts and
processes of signification. The signification itself, the semiosis, whether it be an act of
communication or of private thinking, is thus always part of a situation influencing the act
and hence potentially the interpretation of signified.” (Brandt, L., 2010:188)
Aplicado ao exemplo em questão, o paciente comunica a outro indivíduo, recorrendo a uma
metáfora, que o seu cirurgião é um carniceiro.
A esfera intermédia configura o contexto situacional, neste caso, um quarto de um
hospital (espaço), num momento pós-operatório (tempo) perante a operação à qual fora
sujeito, ou seja, a consequência visível da operação, a cicatriz (tópico). Assim sendo, a situação
é construída pelos aspectos relevantes que a compõem: “A situation, then, consists in the
relevant aspects of the immediate environment and whatever aspects of the past and future
are of consequence to the interpretation of the present.” (Brandt/Brandt, 2005a:226)
68
Enunciado na medida em que “(…) the speaker – or, structurally put, the speaker role, the 'enunciator' role that a
speaking person must assume – is implied in the semantics of evidentiality as the presumed intentional transmitter
of the involved information, the structure underlying evidentiality is the part of linguistic semiosis that refers to and
characterizes speakers, hearers, and general relations between content and instance of speech – the dimension
that French theoreticians of language and text call l'énonciation, and which cognitive semiotics has therefore
named enunciation.” (Brandt, 2004b:1)
74
O espaço semiótico contextualizado está contido no mundo fenomenológico. Por
mundo fenomenológico entenda-se o mundo cognitivamente acessível aos humanos, o que
engloba o mundo físico, a influência que este exerce sobre a acção humana, crenças,
convicções e realidades factuais e contrafactuais69. Em suma: “The phenomenal world consists
of everything that may serve as objects of thought – regardless of any belief in their existence
outside of the minds of cognizers. It is the realm of subjective and intersubjective experience
(…).” (op.cit.) Consequentemente, o mundo fenomenológico (pheno-world) e o contexto
situacional (semanticamente identificável) nele contido, potenciam um número infindável de
possíveis actos dos falantes no espaço semiótico, que, por sua vez, poder-se-ão tornar
relevantes para os processos de cognição70:
“(…) um Espaço Semiótico de Base que dá origem a uma série de cenários ou de espaços
mentais em cadeia. Registe-se que, na qualidade de processo semiótico automático, subjaz
quer a todos os actos discursivos, quer a todos os processos cognitivos propriamente ditos,
tais como, por hipótese, os actos de recordar ou de imaginar algo.” (Almeida, 2005:559)
Partindo do espaço semiótico de base, a arquitectura da rede de espaços constrói os
espaços de apresentação (Presentation Space) e de referência (Reference Space) - semelhante
aos espaços de “input” de Fauconnier/Turner, 2002. O mapeamento entre estes espaços
origina um espaço virtual mesclado, o blend, estabilizado por um espaço de relevância. Do
blend virtual, por sua vez, resulta o significado intendido, cuja inferência emergente é
remetida de volta para o espaço semiótico de base, tal como a seguinte figura de
Brandt/Brandt (2005a) sugere:
“The model below […] illustrates the structure of semiosis in terms of mental spaces, a
general structure hypothesized to be active in cognition of blends occurring for expressive
purposes.” (Brandt/Brandt, 2005a:209)
69
Muito no sentido do mundo fenomenológico defendido por Merleau-Ponty: “As a meditating Ego […] I must even
set aside from myself my body understood as a thing among things, as a collection of physico-chemical processes.
But even if the cogitatio, which I thus discover, is without location in objective space and time, it is not without
place in the phenomenological world. The world which I distinguished from myself as the totality of things or of
processes linked by causal relationships, I rediscover ‘in me’ as the permanent horizon of all my cogitationes and as
a dimension in relation to which I am constantly situating myself. The true Cogito […] does away with any kind of
idealism in revealing me as ‘être au monde’. (Merleau-Ponty/Baldwin, 2004:69).
70
“The phenoworld and the semantically identifiable situations encompassed in it offer an infinite supply of
possible spaces to the cognizers in Semiotic space – in the sense that any feature of the communication, or the
embedding situation, or the humanly accessible world at large, can potentially become relevant to cognition.”
(Brandt/Brandt, 2005a:226)
75
Espaço Semiótico
Espaço de Apresentação
Evento
Expressivo
Espaço de Referência
Representamen
Objecto
R
O
Blend (Mescla)
O
Interpretante
é virtualmente
I
R
Espaço Virtual
Espaço de Relevância
Significado
Mesclado
Espaço do Significado
inferências emergentes
Figura 11: Modelo da rede de espaços mentais (Brandt/Brandt, 2005a:210), (tradução própria)
O espaço semiótico de base é o ponto de partida para a construção da rede de espaços
mentais. Neste sentido, o enunciado assume-se como responsável pela criação de um espaço
de referência, ao ‘delegar’ um determinado tópico: “Space delegation creates ‘sites’ in thought
and language. I claim that when this happens, and when a Reference space is thus set up (…).”
(Brandt, 2005:1589) O espaço de referência remete-nos para outras áreas da realidade e da
experiência, necessárias para a construção do significado, que ultrapassam a realidade
espácio-temporal do acto comunicativo “(…) Presence or Base space that send or delegate part
of our attention, so to speak, and of the attention of our addressee, if there is one, to other
regions of reality, to whatever we wish to think o for refer to: a Reference space out of
presence.” (op.cit.) Este espaço pode, igualmente, remeter para o mundo da imaginação, das
convicções ou crenças:
“Reference space is typically distant from the Base space in speech-act distance, in time (…)
or place (…), or both, (…) and furthermore it can shelter transmitted, encapsulated,
76
singularized and symbolized representations (reported myths and beliefs, fictions and
fantasies, signed by or ascribed to singular intentional entities, i.e., given under the seal of a
proper name (…).” (op.cit.)
aspecto que se releva particularmente importante para a análise do nosso corpus.
O Espaço de Apresentação configura o segundo espaço de input, sem o qual o não
seria possível formar a mescla (blend), tendo em conta que o mapeamento ocorre entre
ambos: “A presentation space of contents (…) that our mind tries to map onto the referencial
content in order to prepare a (blended) Representation.” (op.cit). Brandt/Brandt consideram
que no caso da metáfora, existe uma direccionalidade clara, sendo espaço de apresentação o
domínio-fonte e espaço de referência o domínio-alvo: “In the case of metaphor, the target
scenario is represented in the Reference space and the source in the Presentation space.”
(Brandt, L., 2010:192)
Estruturas dos dois espaços71 são, então, mapeados (representado no modelo pela
linha horizontal) e projectados (representado por duas setas) para o espaço mesclado, o blend.
Trata-se de um espaço virtual, na medida em que o objecto [O] passa a ser, virtualmente, o
representamen [R]:
“In the blended space, the referent (T) [O] is presented as if it were identical with the
content in Presentation space (S) [R]. By definition this identity link is virtual; if it were
actual, only one space would be needed (a Reference space). It is in this virtual sense that T
[O] can be said to be S [R]: in the blend, T [O] is S [R]. I propose it is this virtuality that makes
a blend a blend. By virtuality I mean the very as-if-ness that characterizes the blend of a
Reference space and a Presentation space. (Brandt, L., 2010:190)
Sendo que a conceptualização consiste, nesta fase, num mapeamento elementar e primário
entre os dois espaços de input e a respectiva projecção para um espaço virtual, não é possível
inferir, por enquanto, o significado intendido. Contudo, manifesta-se a estrutura metafórica,
logo a predicação será igualmente metafórica: “These projections are rudimentary and not yet
selective, so at this point there is no emergent meaning to be understood. What is understood,
however, is that the predication is metaphoric (…).” (Brandt/Brandt, 2005a:228) O blend não
configura a representação de uma realidade, contudo, sugere uma inferência real, apesar do
seu possível cariz contra-factual, surreal, imaginário ou utópico: "Virtual spaces are
momentary fictions that yield lasting inferences.” (Brandt, L., 2010:191) Estas representações
71
O mapeamento ocorre entre estruturas parciais comuns, tal como avançado por Fauconnier/Turner (2002), i.e.,
elementos homólogos de cada uma das estruturas: “The structure that the inputs have in common, the shared
structure (…) is specified by what is situationally relevant.” (Brandt/Brandt, 2005a:224)
77
de factos ou entidades virtuais ganham significado através do seu poder proposicional e
sugestivo, mas também porque se reportam a um contexto situacional concreto:
“Such representations - of virtual entities and relations - are meaningful, nonetheless,
because they are about actual situations. The blend is a virtual representation which
specifies something about the reference - the “actual situation of concern.” (Brandt/Brandt,
2005a:228)
A metáfora afigura-se como um exemplo, por excelência, de uma mescla virtual72.
Porém, a mescla virtual não seria possível sem a intervenção estabilizadora de
dimensões de relevância. Brandt/Brandt defendem a necessidade de um espaço mental73 que
contem os pré-requisitos semânticos contextuais, assim como esquemas imagéticos dinâmicos
que, depois de projectados para o primeiro blend, estabilizam-no, i.e. imprimem lógica ao seu
significado ao retirar-lhe o seu cunho virtual: “There are therefore two states of the blend, the
first being figurative and uninterrupted, the second dynamic and interpreted by the induced
schematic structure from the Relevance space.” (Brandt, 2005:1590). O significado intendido
emerge, portanto, no Espaço do Significado, fruto de uma segunda mescla74. Fauconnier e
Turner identificaram esta mescla como espaço do significado emergente, sendo que para
Brandt o significado emergente é resultado de um processo de inclusão de estruturas
esquemáticas, derivadas do espaço de relevância. Neste sentido, o espaço de relevância
procede como uma âncora, um framing relevante, motivado pelo espaço semiótico de base. É
activado com o intuito de imprimir lógica e estabilidade semiótica ao blend, ao estabelecer
uma ligação entre o mundo fenomenológico e o espaço virtual (representado por setas), i.e.
contrapor o mundo real ao irreal. Assim sendo, a ‘interpretação’ do blend poderá apoiar-se em
três níveis de relevância que correspondem às três dimensões do espaço semiótico de base:
72
Vide Langacker (1999): “This imagined entity [blend] corresponds to [the source entity] but does not exist in
actuality. It is the virtual, fanciful correspondent of a real entity, one that instantiates the metaphor and functions in
lieu of the real entity for purposes of making the metaphorical predication. This predication is thus a VIRTUAL
structure evoked to describe a facet of REALITY. The essential point here is that metaphorical expressions
commonly (perhaps always?) describe the blended, virtual structure, even though an actual situation in the target
domain is the one we are ultimately concerned with. (…) Only via and in relation to what is said about the blended
structure do we draw the intended conclusions about the actual situation in the target domain […]. The blended
structure is a kind of virtual representation created in order to indirectly specify something concerning the actual
situation of concern.” (Langacker 1999: 80-81) Vide também Fauconnier 1997: 168-171.
73
Enquanto o generic space de Fauconnier/Turner pretende englobar as estruturas comuns aos dois espaços de
input, motivado pelo contexto situacional, o espaço de relevância de Brandt apela ao conhecimento esquemático
de background proveniente do mundo fenomenológico e afecta, directamente, o blend virtual a fim de completar a
construção do significado. Vide Brandt/Brandt, 2005a:230-238.
74
“(…) a pre- and post-emergent-meaning blend, respectively Virtual space and Meaning space.” (Brandt/Brandt,
2005a:242)
78
Semiotic space
Pheno-World
Types of relevance:
Situations
Situatuional relevance
Semiosis
Argumentational relevance
Illocutional relevance
Figura 12: Espaço Semiótico de Base (Brandt/Brandt, 2005a:238)
Brandt e Brandt desenvolvem: “Relevance could be seen as composed of three types of
phenomena: the expressive base is the origin of illocutional relevance, determined by what is
happening in communication (…). The situational base creates situational relevance - here the
framing of the inputs (…).Finally, the pheno-world is the origin of the argumentational
relevance that makes description and evaluation possible (…).” (Brandt/Brandt, 2005a:237)
Esta perspectiva constitui, a nosso ver, um dos contributos mais significativos da abordagem
semiótica.
Por fim, o significado intendido condensado no segundo blend (no espaço do
significado) é projectado para o espaço semiótico de base, produzindo a inferência emergente
de cariz semântico-pragmático (representado por uma seta).
Conclui-se, então, que esta rede de espaços mentais configura um modelo analítico e
explicativo da construção e integração recorrente de significados ao expor, de forma
esquemática, os processos cognitivos subjacentes à interpretação de signos incorporados num
determinado contexto. Representa um progresso claro e complementar da teoria da metáfora
conceptual (CMT) e da teoria do mapeamento (BT), na medida em que explora e explica a
dependência do blend relativamente ao seu propósito local - preocupação igualmente gizada
por Fauconnier/Turner: “(…) on-line, dynamical cognitive work people do to construct meaning
for local purposes of thought and action. (…) Its central process is conceptual blending.”
(Fauconnier/Turner, 2006:312-313) Brandt e Brandt preconizam que esse propósito reside no
espaço semiótico:
“Such a purpose exists in a Semiotic space where discourse participants use expressive
means such as metaphor to have each other ‘see’ something in a certain way. To
understand what the speaker means is to ‘get’ the relevance right (Relevance space, insofar
79
as the speaker is conscious of the ‘getting’), so that completion of the blend can occur, to
use Fauconnier & Turner’s terminology.” (Brandt/Brandt, 2005a:242)
e postulam que a interpretação adequada do blend configura um processo cognitivo e não
automático, como fora sugerido por Fauconnier e Turner:
“(…) cognitive work is necessitated by such a completion; it is true that the conscious effort
may vary from example to example but without awareness of this relevant thought content
the blend cannot yield any emergent inferences and thus, in this sense, it is questionable that
the process of completion happens “automatically” as suggested by Fauconnier & Turner (see
for instance 2002, p.48)” (op.cit.)
Neste sentido, a abordagem proposta por Brandt e Brandt assume-se como cognitiva e
semiótica (na senda da concepção Peirceana, sendo que o signo é um elemento no qual se
correlacionam três componentes: Representamen, Objecto e Interpretante): “(…) a
Presentation of a Reference is necessarily an intentional sign relation, linking a Representamen
to an Object, and that the stabilization of such a relation through an Interpretant corresponds
strictly to the semiotic function of Relevance-making in the blending network.” (op.cit.)
No âmbito desta dissertação, consideramos relevante destacar um último aspecto
enriquecedor relativamente ao paradigma estritamente cognitivo: a importância da
componente comunicativa na apreensão do significado: “Meaning belongs to the realm of
communication and is inherently a semiotic issue.” (Brandt/Brandt, 2005a:243) A tese
avançada por Brandt (2004a) centra-se na sua percepção de que o cognitivismo lógico obstruiu
o desenvolvimento da semântica ao negligenciar a importância da comunicação real como
parte da cognição humana. Brandt arroga que:
”(…) the mind and its cognitive semantics are not vericonditional or based on inner
rumination, but instead is grounded in conceptual and schematic organization occurring in
the very interaction, expressive as well as practical, that incessantly connects real and really
communicating human minds.” (Brandt, 2005:1585)
O estudo do significado em contextos de interacção humana, como um acto comunicativo,
alarga o escopo da análise semântica ao incluir a perspectiva semiótica75
75
Resumidamente, a semiótica cognitiva postula que: “Human minds ‘cognize’ and ‘signify’ as complementary
aspects of their capacity to think and feel. If we accept the metaphor of ‘higher’ and ‘lower’ levels of cognition, and
the idea of seeing the ‘higher levels of cognition’ as those responsible for abstraction, language, discourse,
institutions, law, science, music, visual arts, and cultural practices in general, grounded in the use of conventionally
established and intentionally used signs (often called symbols), then semiotics is the discipline committed to the
study of these ‘higher levels’. Relying predominantly on expression based communication, the contents of these
higher-level cognitive feats can be shared by expressive exchanges of signified meanings (GE: Bedeutungen; FR:
sens). These meanings, in turn, can be made the subject of inquiry, their semiotic structure and significance
80
Mais ainda, explora a relação dinâmica entre o mundo real, vivido e experienciado, e o
irreal, fruto da capacidade imaginativa e criativa76 humana face à construção do significado
representacional: “(…) especially cognitive semiotics, intends to study how representational
meaning can be modeled as dynamically related both to the imaginary and to the experiential
world in which meaning is meaningful.” (Brandt, 2005:1585) De acordo com L. Brandt (2010),
esta perspectiva engloba para além da sua construção, a partilha de conteúdos mentais:
“The representations we experience when we communicate are the meanings that theories
of meaning construction aim to describe. These mental contents only represent and signify,
i.e. are only meanings, by virtue of being experienced by the minds that create and share
them. (Brandt, L., 2010:218)
Tendo em conta que o corpus da presente dissertação foi construído a partir de textos
jornalísticos, a partilha de conteúdos mentais aliada à dimensão comunicativa inerente ao
domínio em questão, afiguram-se como objectos centrais da nossa análise.
1.3.3. Os domínios semânticos
Debruçar-nos-emos agora sobre os postulados teóricos propostos por Brandt (2004a)
no que concerne a arquitectura dos domínios semânticos. Já em 1987, na sua obra
Foundations of Cognitive Grammar, capítulo 4, Langacker procurou definir os diferentes tipos
de domínios norteados pelo princípio da dependência contextual:
“All linguistic units are context-dependant to some degree. A context for the
characterization of a semantic unit is referred to as a domain. Domains are necessarily
indicators of how minds cognize together, and of the cognitive mechanisms which make their production and
comprehension possible in the first place.
The mental activities of thinking and communicating are importantly interrelated in our species. Human societies
and cultures, and civilization at large, are the results of cooperating and conflicting minds, connected through
cognitive-semiotic functions and processes. To gain scientific knowledge about these often still unexplored
phenomena, found increasingly important by the scientific community, the journal is devoted to high quality
research, integrating methods and theories developed in the disciplines of cognitive science with methods and
theories developed in semiotics and the humanities, with the ultimate aim of providing new insights into the realm
of human meaning production and the modalities of its embodiment and disembodiment.” (Andreassen
/Brandt/Vang (Eds.), 2007:3-4)
76
Imaginação e criatividade no sentido de: “Normally, when we talk about imagining things or, in a general sense,
being creative by engaging one’s imagination, we understand ‘imagination’ to involve the experience of thought
contents. When Fauconnier and Turner speak of blending as an achievement of the imagination, they may,
however, have something else in mind. They do not assume a phenomenological dimension but are mainly speaking
of unconscious processes.” (Brandt, L., 2010:293)
81
cognitive entities: mental experiences, representational spaces, concepts, or conceptual
complexes.” (Langacker, 1987:147)
Mais ainda destaca a existência de domínios básicos interligados, fundados na experiencia
vivida do mundo circundante:
“I will refer to a primitive representational field of this sort as a basic domain. (…) By
definition, basic domains occupy the lowest level in hierarchies of conceptual complexity:
they furnish the primitive representational space necessary for the emergence of any
specific conception. Basic domains constitute a range of conceptual potential, and particular
concepts can be taken as exploiting that potential in various ways. (…) All human
conceptualization is presumably grounded in basic domains (…).” (op.cit. pp. 148-149)
Também Brandt defende a correlação entre os diferentes domínios da experiência humana,
fundamentais para o processo de conceptualização e para os domínios semânticos:
“Events and their frames are further, or previously, necessarily understood as meaningful
on the background of general knowledge of the domains of experience to which they may
belong. We know from conceptual metaphor that semantic domains are ’tectonic’,
underlying regions of experiential meaning that cultures fill with items but which share
constitutive boundaries: physical (D1), social (D2), mental (D3), and communicational (D4)
experiences are cognized in different conceptual formats.” (Brandt, 2008:4)
Tudo o que ‘faz sentido’ só o faz num determinado contexto, pois é o contexto que fornece o
enquadramento relevante para a activação de um frame cognitivo, o qual produz inferências
significantes e contextualizadas. Alicerçados na plenitude da experiência física humana e
concreta no mundo, ao nível corpóreo, espacial, social e cultural, estes contextos estruturamse em diferentes domínios semânticos. O conceito de “domínio” já fora explorado por
Lakoff/Johnson (1980a) na abordagem cognitiva da teoria da metáfora, sublinhando que a
metáfora se fundamenta, essencialmente, no entendimento de um domínio cognitivo da
experiência tendo por base outro domínio cognitivo da experiência:
“We have found that metaphors allow us to understand one domain of experience in
terms of another. This suggests that understanding takes place in terms of entire domains
of experience and not in terms of isolated concepts. (...) These experiences are then
conceptualized and defined in terms of other basic domains of experience.”
(Lakoff/Johnson, 1980a:117)
82
Contudo, nenhuma explicação aturada é fornecida acerca do que é um domínio da
experiência. Para Brandt (2004a), a definição do domínio experiencial é articulada com o
domínio fenomenológico, conforme ilustrado abaixo:
“(…) experiential domains of concepts memorized by speaker or hearer, ideally shared by
speakers; offering an encyclopedic referential background of semantic frames and
articulated into regions of possible or actual knowledge (physical, social, mental,
communicational, and of higher orders).“ (Brandt, 2008:4-5)
Este universo fenomenológico afigura-se como alicerce fundamental do espaço semiótico de
base no modelo das redes de espaços mentais77. Segundo o mesmo, o ser humano possui uma
arquitectura neuro-fenomenológica que estrutura a forma como nos relacionamos com o
mundo que nos rodeia:
“This may in fact be how our neuro-phenomenological architecture thinks we are primarily
related to reality: it may be its inherent, embryonic ‘philosophy. (…) it might have the
technical advantage that it feed both the basic phenomenology of our shared or individual
experiences as living subjects, and the basic linguistic semantics we need in order to analyze
expressed meanings.” (Brandt, 2004a:27).
O seguinte esquema representa a organização dos quatro domínios principais:
D4
the spiritual domain
D1
the natural
domain
D3
the mental
domain
D2
the cultural domain
Figura 13 - The Basic Semantic Domain Panorama (Brandt, 2004a:26)
Relativamente ao domínio D4, Brandt denomina-o igualmente como domínio da
comunicação, aproximando-se da nomenclatura proposta por Sweetser (1990) - “Speech-Act-
77
Vide ponto 1.3.2.
83
Domain”78. D1, D2, e D4, compõem os domínios exteriores, enquanto D3 é único domínio
interno ao sujeito (representado pelo círculo).
“There is a subject S, namely an embodied human person for whom there is an internal
domain (D3) and a set of external domains (D1, D2, D4) of interaction with physical, social,
and performative life-world surroundings. (…) The circle is the human subject, and the
antennas indicate distinct directions of external interactions. This presentation is of course
only mnemotechnical; it foregrounds the phenomenological dimension internal–external
(only the mental domain is internal).” (Brandt, 2004a:41)
D1 configura o domínio físico ou o mundo causal dos fenómenos físicos. D2 representa o
domínio social ou cultural, i.e. a dimensão colectiva de actos intencionais que regulam a acção
individual como parte integrante de um todo cultural. D3 constitui a dimensão mental, um
palco mental e imaginário no qual se estabelecem elos com outros seres e se relaciona a
experiência vivida nos outros domínios, através de ligações afectivas, epistémicas e
associativas activadas pela memória. D4 afigura-se o domínio da comunicação que inclui a
vertente pragmática e interpessoal de todo o tipo de actos comunicativos, englobando
atitudes de vontade e empatia expressas.
“According to this view, we are thus embodied according to different basic dimensions of
reality. In one dimension, there is, we might say, a causal world of distances, gravitation,
stationary and mobile objects and backgrounds, and we are moving around in it. In another
dimension, there is an intentional world of collective acts that we attune to when
participating in some doing. In still another dimension, there is a mental theatre showing us
imaginations linked to each other and to what we externally experience by memory-based
affective, epistemic, and associative connections, and we know that these imaginative
thoughts, figures, and feelings really 'happen' within us, 'occur', whether we are awake or
asleep and dreaming. And finally, there is often a person in front of us that we react to by
empathic and volitional mechanisms. 'Cause', 'intention', 'association', and 'volition' are not
underscored as definitional criteria here, but only as typical properties of the inferential
meanings of distributed modality (…).” (Brandt, 2004a:42)
Um dos factores de distinção entre os domínios que Brandt aqui destaca é o princípio da
distribuição da modalidade. Tomem-se os seguintes exemplos:
78
“(…) our understanding of language use and our understanding of cognition itself, are inherent underpinnings to
all our use of language. We understand both these domains at least partly in terms of the external physical (and
social) domain. And we use the same vocabulary in many cases to express relationships in the speech act and
epistemic (reasoning) worlds that we use to express parallel relationships in the content domain (the “real- world”
events and entities, sometimes including speech and thought). (…) Systematic metaphorical connections link our
vocabulary of the sociophysical domain with the epistemic and speech-act domains.” (Sweetser, 1990:11-13)
84
a) “Tens de me escutar, tenho mais experiência do que tu.”
b) “Tens de parar no semáforo vermelho.”
O que distingue as duas situações é a modalidade associada à expressão “ter de fazer algo”.
Nestes exemplos, a frase a) pertence a D4 por remeter para a obrigatoriedade baseada numa
situação de interacção deíctica. A obrigatoriedade não faz parte de nenhuma norma social
convencionalizada, nasce na autoridade e assertividade do locutor (fundada na sua
experiência), enunciada neste acto comunicativo. Na frase b), este acto de comunicação
remete, pelo contrário, para um sistema de normas institucionalizadas (o código da estrada) e
daí, fazer parte de D279. Este é apenas um exemplo que visa comprovar que o ser humano,
apesar de incorporar todos estes domínios básicos simultaneamente, selecciona e destaca um
(ou mais do que um) dos domínios de acordo com o contexto situacional, de forma a
descodificar adequadamente o enunciado. Este processo é parte integrante da teoria do
grounding, não na perspectiva original de Langacker (1987, 1999) relativamente à função de
elementos gramaticais como ferramentas de contextualização situacional do falante, tais como
marcadores, quantificadores e determinantes, mas sim de acordo com os postulados
cognitivos de Brandt e Brandt (2005a)80 que advogam o processo de grounding como factor de
construção do significado alicerçado numa rede de espaços mentais.
Para além dos quatro domínios-base, Brandt defende a existência de subdomínios, ou
domínios satélite81 que dizem respeito a contextos com cariz mais prático, representações
mentais de cenários imaginários particulares e mais concretos. Estes espaços mentais,
provenientes de diferentes domínios semânticos, formam os blends - a integração conceptual
de dois domínios mapeados - e, partindo deste princípio, os domínios semânticos sofrem um
processo semelhante:
“(…) blends are obtained by such spaces as structured inputs linked by mappings between
two spaces. Direct mappings between more than two spaces would probably be mentally
chaotic. This means that the source domains of the involved mental spaces are also being
linked, or structurally attracted to each other by the blending processes they feed: binary
integrations are thus expected to happen between the semantic domains.” (Brandt,
2004a:51-52)
79
Brandt (2004a:39-40) desenvolve o princípio da distribuição da modalidade ao explorar e interpretar quatro
frases exemplificativas relativamente aos quatro domínios, usando o verbo modal inglês must.
80
Para a teoria do grounding vide Brandt/Brandt, 2005a:19-22
81
vide Langacker (1987:152): “The coordination of dimensions to form domains (or at a higher level of organization,
of domains to form a complex matrix) depends on the capacity of entities to simultaneously occupy two or more
dimensions (domains) and thus establish a link between them.”
85
Ao incluir estes domínios-satélite, a arquitectura dos domínios semânticos torna-se
mais rica e particularizada, pois a mesclagem exponencial de domínios semânticos conduz a
níveis de significado experienciado mais concretos:
“Basic semantic domains combine dually and form integrations that enrich cognition with an
additional architecture of satellite domains which are experienced as naturally as the first
series. Adults' attention is even predominantly drawn to this level, except for aesthetic
experiences. According to the same principle of pairing and integration of domains as
triggered by particularly frequent blending from dual inputs, stable satellite domains will
possibly integrate again, obtaining higher levels of experiencable meaning, all still related to
behavior.” (Brandt, 2004a:52)
Contudo, o cérebro humano aparenta ter um comportamento económico, i.e. aceder a um
máximo de significados abstractos através de um número mínimo de combinações de
domínios. A combinação, matematicamente mais elementar, que se impõe de acordo com
esta perspectiva, aponta para a conjugação dos três domínios base externos (D1, D2 e D4) sem
esquecer, contudo, o enquadramento corpóreo subjacente a todos os domínios. A integração
de D1 e D2 conduz, de acordo com Brandt, ao primeiro domínio satélite, D5, que ele denomina
como polis, o domínio sócio-físico, ou um território físico no qual decorrem actos específicos:
“Subjects have political identities referring to D5, such as national passports.” (Brandt,
2004a:53).
D6 é resultado da integração de D2 e D4, e afigura-se como oikos, o domínio
doméstico. Por domínio doméstico entenda-se a síntese emocional resultante das experiências
interpessoais vividas e as respectivas estruturas relacionais construídas:
“(…) reinforced double experiences of interacting by instrumental attunement with persons
as members of an active collective unit, a group, and also of expressive interacting with
singular persons by empathic exchange, shared feelings, facial contact, and communication in
general, then these 'familiar' persons are typically 'relatives': both 'colleagues' and intimate
co-subjects, such as 'mates', and the supporting domain is that of kinship, family life, and
domestic acts (…).” (Brandt, 2004a:53).
Relações de parentesco e nomes de família correspondem a D6.
Finalmente, D7, a integração de D1 e D4, representa o domínio das experiências
vividas em rituais e celebrações colectivas motivadas pelo sentimento da empatia, o hieron.
Engloba-se neste domínio a experiência do sagrado e a crença no sobrenatural, celebrada e
partilhada em locais próprios. Este domínio reveste-se de particular interesse devido a facto de
Brandt nele incluir todo o tipo de actos ritualizados, tais como actividades teatrais, lúdicas e
86
desportivas, destacando mesmo o futebol como ritual que promove uma identidade ‘étnica’
colectiva (‘étnico’ no sentido de característico de um grupo que partilha os mesmos interesses
ou princípios e, consequentemente, a mesma experiência):
“We might include in its range the participative experiences of ritual behaviors of all sorts.
In principle, games, sports, ludic and theatrical behaviors, by which humans celebrate
something like the intervention of contingent and 'fatal' forces, belong here; sports teams,
e. g. in soccer, are then both seen as collections of selected individuals and as a selected
collective subject that the observers identify with affectively. Subjects have 'ethnic'
identities clearly related to their commitment to some version of doings in D7.” (Brandt,
2004a:57)
De acordo com o mesmo, todos os domínios da vida existencial experienciada encontram
correspondência num dos domínios semânticos aqui explorados, i.e. todos eles fazem parte
das realidades afectivas alicerçadas nos domínios do trabalho, do amor e do culto: “Any
existential description of 'a life' has to refer to things and events of D5, D6, and D7, that is, to
items that are meaningful in the objective and affective realities of Work, Love, and Worship.”
(Brandt, 2004a:20) Estas realidades compõem os domínios mentais ao atribuir-lhes um cunho
afectivo, tal como paixões colectivas - passions - (ideais, objectivos profissionais, etc.),
emoções variadas - emotions - (o gosto, a preocupação, a satisfação, etc.) ou estados de alma moods - (luto, ansiedade, entusiasmo, etc.). Estas realidades afectivas têm reflexo nos
domínios D5, D6 e D7, respectivamente. Brandt (2004a) propõe, assim, o seguinte esquema
alargado:
(Worship)
‘hieron’
D7
D1, D2, D3, D4: gestural domains
D5, D6, D7: practical, action-based domains
‘logos’
moods
D4
D1
‘physis’
D3
passions
D5
‘polis’
(Work)
emotions
D2
D6
‘oikos’
(Love)
‘demos’
Figura 14: “A first life-world map” (Brandt, 2004a:55)
87
cuja configuração passa a explicar da seguinte forma:
“The Greek terms are only suggested as illustrative indicators of what this model aims at
grasping. Its bold arrows go from the basic input domains to the three 'practical' satellite
domains, obtained by dual integration. Since the mental domain ('psyche') does not feed
into the satellites, it can instead be an affective receptacle of these practical ongoings; it
develops a variable sensitivity to the practical events thus 'realized' as conceptualized. A
personal self seems directly related to the psychic coordination of affects.” (Brandt,
2004a:55)
Estados afectivos parecem, assim, assumir um papel relevante nos processos de
conceptualização das experiências vividas. Acredita-se, igualmente, que a distribuição e
avaliação do tipo de experiência afectiva constituem factores determinantes para os processos
de memorização: “Such an evaluative distribution is probably a prerequisite to memorization
and subsequent recollection. Memories have built-in evaluations.” (Brandt, 2004a:55). Não é,
também, de excluir a existência de um segundo nível de domínios satélite, fundados no
intercâmbio de actos práticos, de forma a poder compreender conceitos mais abstractos e
generalizados, tais como o sentido de justiça, a apreciação estética ou a economia. Brandt
defende que estes se relacionam directamente com o Espaço de Relevância, o elemento
estabilizador dinâmico que fornece o enquadramento lógico e natural à mescla:
“Exchanges would remain profoundly enigmatic without this framing and schematizing
supplement to the blending process.” (Brandt, 2004a:56).
Estes intercâmbios práticos e concretos realçam a noção de posse, valor e troca (ou
oferenda) e desenrolam-se entre os domínios D5, D6 e D7. Na vida concreta, a posse de
objectos pode ser conseguida através do trabalho (D5), ser parte inerente de um património
(D6) ou alcançada a um nível espiritual ou superior (D7). A estes é sempre atribuído um
determinado valor para que possam ser transaccionados, i.e. passar de um domínio para
outro. A estas acções correspondem os domínios da jurisdição, da estética e da economia
(Brandt, 2004a:58). Emerge, assim, o segundo nível de domínios satélite: D8 - Economia (D5 +
D6), D9 - a apreciação estética (D6 + D7) e D10 - jurisdição (D5 + D7), baseados no já referido
intercâmbio entre domínios.
Brandt reconhece que esta arquitectura se baseia numa teoria sociocultural global,
contudo, justifica esta abordagem mais genérica com o facto da semântica corpórea
(embodied) englobar noções dos domínios das ciências sociais e antropológicas, de forma a
88
tornar o paradigma cognitivo credível e fundamentado82. Brandt (2004a:59-65) desenvolve a
arquitectura dos domínios semânticos ao explorar um terceiro nível de domínios satélite (“The
grounding of discourse: D11 (D8+D9) - descriptive discourse; D12 (D9+D10) - argumentative
discourse; D13 (D8+D10) - narrative discourse”) e um quarto nível de domínios satélite (“The
genres of knowledge as a domain structure: D14 (D11+D12) - Science; D15 (D12+D13) Philosophy; D16 (D11+D13) - History”) e afirma: “There are certainly a lot of even higher
constructions and unstable domain sketches; but this is probably the last semantically stable
storey, the highest possible level of experiencable reality that humans spontaneously agree to
distinguish as natural domain addresses of representations, references, and relevances.”
(Brandt, 2004a:65)
Mais uma vez fica claro que a conceptualização se processa do nível concreto para a
esfera dos conceitos mais abstractos, i.e. da experiência corpórea vivida para significados
abstractos. Consequentemente, somos capazes de compreender, usar e manipular
construções conceptuais com naturalidade e frequência.
82
vide Silva (1997:63): “Porque a linguagem é considerada como uma parte integrante da cognição e em interacção
com outros sistemas cognitivos (percepção, atenção, memória, raciocínio, etc.), a linguística cognitiva está aberta à
interdisciplinaridade com as outras ciências cognitivas. Ela não só incorpora dados relevantes dessas ciências na
teorização e descrição da linguagem, como também contribui para o estudo da cognição humana. Gibbs esclarece
que a linguística cognitiva é especificamente cognitiva "not solely because of its commitment to incorporating a
wide range of data from other cognitive disciplines, but because it (a) actively seeks correspondences between
conceptual thought, bodily experience, and linguistic structure, and (b) because it seeks to discover the actual
contents of human cognition" (Gibbs 1996:49).”
89
2. Estado da Arte do estudo das imagens mescladas na imprensa desportiva
O presente ponto 2 tem como intuito traçar uma breve resenha sobre os estudos
semióticos das imagens mescladas na imprensa desportiva de anos mais recentes, com
especial incidência nos textos jornalísticos sobre o futebol.
2.1. A Metáfora no mundo do futebol
Nos últimos vinte anos, assistiu-se a uma elevada produção de trabalhos de
investigação no âmbito da semântica cognitiva, que centraram a sua análise no fenómeno da
quase omnipresença da metáfora conceptual no mundo do futebol. A esmagadora maioria dos
trabalhos por nós recolhidos e observados baseiam as suas análises na teoria da metáfora
conceptual de Lakoff/Johnson (1980a). O corpus é real e variado, abarcando diferentes tipos
de media: desde a imprensa desportiva (tradicional em papel ou em formato digital), a
reportagens e transmissões radiofónicas e televisivas, passando por entrevistas e artigos de
opinião. A título exemplificativo, iremos, de seguida, fazer referência a alguns destes trabalhos,
realçando o contributo dos mesmos para o estudo da metáfora conceptual.
Uma das obras mais recentes e completas intitula-se The Linguistics of Football (Lavric,
Pisek, Skinner e Stadler, eds.) de 2008, sendo composta por um conjunto de 34 artigos que,
colectivamente, pretendem apresentar uma perspectiva abrangente de análise linguística do
mundo do futebol. Este volume está subdividido em seis capítulos distintos, a saber: 1.
Terminologia futebolística (com 9 artigos), 2. A linguagem do futebol (com oito artigos), 3. O
discurso futebolístico (com seis artigos), 4. O futebol e os media (com seis artigos), 5. Os media
e o discurso: emoções (com três artigos) e 6. O futebol e o multilinguismo (com dois artigos).
No capítulo 2, os artigos debruçam-se, essencialmente, sobre o uso da linguagem idiomática e
metafórica83.
Matulina e Ćoralić procederam a um levantamento exaustivo de domínios-fonte
(baseado num corpus real de textos jornalísticos da imprensa croata, bósnia, alemã e
83 “Not surprisingly, the language of football is characterized by a great variety of idioms, as shown by
MATULINA/ĆORALIĆ in their analysis of Croatian, Bosnian, German and Austrian newspapers - and metaphors,
which can mostly be found in live football commentary. Several articles suggest that, although conflict, war and
peace are the basis of many metaphors in all cultures and languages (cf. NORDIN on German and Swedish,
VIERKANT on German - both based on Lakoff/Johnson 1980), there exist interesting differences regarding their
frequency and individual variation. AnCHIMBE, for example, shows that in the West Bank a shot at goal can be
called a ‘ground-to-ground missile’, while in Cameroon ‘banana shots’ are possible. Focusing on phrases containing
the words ‘net’, ‘minute(s)’ and ‘whistle’. LEVIN shows that the language of English football reporting largely
consists of semi-fixes phrases with conventionalized functions to describe recurring events in a game.” (Lavric,
2008:6)
90
austríaca) considerando como domínios-alvo as diferentes vertentes do futebol - a) o jogo de
futebol, b) o jogador de futebol, c) outros intervenientes do futebol (treinadores, árbitros,
dirigentes, etc.) d) actividades internas dos clubes de futebol, e e) actividades exteriores.
Como ponto de partida tomaram a definição de metáfora de Lakoff/Johnson (1980a:5):
“Metaphor is understanding and experiencing one kind of thing in terms of another.” e
concluíram:
“It can be confirmed that idioms are used in a similar way in all four subcorpora. Such
tendencies could be called international and global. Idioms in football texts belong mainly to
the same extralinguistic source-domains. The most commonly used in all four subcorpora
are idiomatic figures of the HUMAN BODY and ARTEFACTS. However, there are some
specifies in the subcorpora. So, for example, in the German subcorpus the most striking
figures come from the domains of EMOTIONS, ABSTRACT NOTIONS, and VEHICLE
MOVEMENT. The Austrian subcorpus is characterized by figures of MUSIC AND DANCE and,
like the German subcorpus, by ABSTRACT NOTIONS. In the Bosnian subcorpus, the most
widely used idiomatic figures are those from the field of SPORTS AND GAMES, then
SEAFARING and FINANCE AND TRADE. The Croatian subcorpus is characterized by figures of
NATURE, SUPERNATURAL PHENOMENA and figures of SPORTS AND GAMES, where cardplaying is most often used. (…) Word plays and modifications are not - contrary to our
expectations - a primary means of expressiveness and emotional involvement of the
recipient, as is the case of advertising and fiction. The producers in our corpus rather
achieve these effects by selecting idiomatic figures from very different extralinguistic, nonfootball domains.” (Matulina/Ćoralić, 2008:110)
Também Nordin, com base num corpus bilingue (registo de comentários proferidos por
comentadores de futebol alemães e suecos), afirma que: “One example from my data is the
concept FOOTBALL IS WAR, where we use the experience from war to structure football. Some
would say that most of us do not have any experience of war, but indirectly we have - through
television, newspapers and other media (Eckhard, 2005:241).” (Nordin, 2008:114)
Tendo como base a teoria dos modelos cognitivos idealizados assim como os
esquemas imagéticos, encontrou igualmente expressões metafóricas que sustentam
conceptualizações metafóricas do tipo ontológico, orientacional e estrutural. Porém, conclui
que:
“Many of the words we connect with war, like shooting or defending, belong to the
terminology of football (Dankert, 1969:123) (…) That war is an important source domain for
structuring football may not be so astonishing. The war-metaphor is the most central
metaphor used in ball games. But when we compare the number of metaphors from this
91
source domain used by the commentators, the result is a little unexpected. The German
commentators used 69 (…) war-metaphors, the Swedish commentators 48. What could be
the reason why the German commentators use almost twice as many war-metaphors as the
Swedes? One reason could be that war as an experience is closer to the Germans than the
Swedes, who have not been involved in a war since 1809. That language is a delayed mirror
of what happens in society (Baldauf 1997: 238) might support this conclusion. But the
reason could also be found in the media, where a lot of martial reporting appears.” (Nordin,
2008:119)
Estes resultados corroboram a conclusão avançada por Vierkant. A sua análise incide nos
primeiros dez minutos de um relato radiofónico alemão do jogo de futebol entre a Alemanha e
a Costa Rica, aquando do campeonato mundial de 2006. Este afirma que: “(…) both verb and
noun conflict metaphors represent the highest number of metaphorical expression in football
commentary (…).” (Vierkant, 2008:130) pois reconhece a quase omnipresença da
conceptualização “PLAYING FOOTBALL IS BATTLING” (op.cit.), baseada na analogia estrutural
do conflito, tanto num jogo de futebol como num cenário de guerra. Também Vierkant
organizou o seu corpus por categorias de domínios-fonte, a saber: administração, que inclui a
economia e a religião; imaginação, que inclui a mitologia; conflito, que inclui a guerra e a
morte; natureza e fauna; artes criativas, que incluem teatro e musica. Por fim, considera que:
“(…) football language in live radio commentary, and probably football language in general,
is based on the previous knowledge of conflict. Metaphor research offers the possibility of
collecting data which can be useful for cultural and linguistic studies. (…) previous
knowledge of conflict is deeply linked with football language, football reasoning and
probably football itself. (Vierkant, 2008:131)
As metáforas encontradas por Anchimbe em relatos directos de jogos de futebol,
apontam igualmente para a presença significativa de metáforas de guerra e avança a tese de
que a metáfora conceptual é, em muitos casos, culturalmente motivada: “A banana kick would
most likely be heard in Cameroon, where bananas are grown, than elsewhere, a ground to
ground missile is most familiar to the West Bank, which is due to its long acquaintance with
war.” (Anchimbe, 2008:137) Já Levin centrou a sua análise em proposições semi-fixas,
contendo as palavras rede (net), minuto(s) (minute(s)) e apito (whistle) e conclui que as
proposições utilizadas para a descrição da marcação de golos são de natureza metonímica,
enquanto aspectos cronológicos do jogo activam metáforas conceptuais: “Goal-scoring
phrases are based on metonymy (hit the back of the net) while time is usually expressed with
metaphors (in the nth minute).” (Levin, 2008:143)
92
Armin Burkhardt, reconhecido linguista alemão, publicou igualmente alguns estudos
dedicados à linguagem do futebol, dos quais destacamos: “Wenn das Leder im Kasten
klingelt... Der deutsche Fußball und seine Sprache“ de 2008 e Wörterbuch der Fussballsprache
de 2006. No seu dicionário da linguagem futebolística, Burkhardt reúne 250 páginas com cerca
de 2200 termos específicos do mundo do futebol, recolhidos da imprensa desportiva alemã
(jornais e revistas da especialidade), e fornece uma análise explicativa adequada relativamente
ao significado dos mesmos. Simultaneamente reconhece e indica quais os termos
metaforicamente ou metonimicamente motivados:
“Die wichtigsten Prinzipien, nach denen ein Grossteil der fussballsprachlichen Wörter und
Wendungen gebildet ist und weiterhin gebildet wird, sind Metapher, Metonymie und die
vereinfachende Abstaktion.“ (Burkhardt, 2006a:9)
Ao reconhecer a capacidade linguística de descrever uma circunstância através de outra,
normalmente mais familiar, devido às suas estruturas análogas, a linguagem do futebol
‘apoderou-se’ da metáfora e da metonímia conceptual para melhor descrever um vasto
conjunto de ocorrências e para melhor caracterizar os seus intervenientes. De novo, o domínio
da guerra ou do confronto afigura-se como principal domínio-fonte: “Weil in den
Ballsportarten jeweils zwei Parteien um Sieg oder Niederlage ringen, ist zur Beschreibung der
Spiele vor allem das Bild vom Krieg oder Kampf in besonderer Weise geeignet, das vielen
inzwischen gängigen Bezeichnungen zugrunde liegt.“ (op.cit.) Como o futebol, segundo
Burkhardt, não representa apenas luta e conflito, é possível descortinar diferentes domíniosfonte, tais como: outros tipos de desportos, o reino animal e vegetal, alimentos, máquinas
diversas e formas artísticas, entre outros: “Neben den kriegerischen gibt es natürlich noch
viele andere Metaphern, die aus unterschiedlichen Bildfeldern stammen” (op.cit.) Burkhardt
destaca, ainda, a importância da metonímia, cujo uso prolifera em toda a linguagem do
futebol:
“In der Fussballsprache sind es die Komponenten der Situation, die häufig mit demselben
Ausdruck bezeichnet werden. (...) So kann Ecke den abgekreideten Eckpunkt, die Situation,
(...) den Ball (...) und den (...) Ball in seiner Flugbahn (...) bedeuten.“ (op.cit.)
Tanto o jogo, como as jogadas e as tácticas, afiguram-se como áreas particularmente
produtivas para metaforizações:
“Vor allem aber ist die Spielsprache Reich na Metonymien und Metaphern. (…)
Überwiegend metaphorisch sind auch die zahlreichen Redewendungen, mit denen
Spielereignisse oder taktische Verhaltensweisen beschrieben werden (…).” (op.cit.)
93
Por fim, destaca a capacidade criativa e produtiva da linguagem do contexto
futebolístico em criar ou recriar expressões metafóricas de forma quase infinita: “Die Sprache
des Sports im Allgemeinen und die des Fussballs im Besonderen sind ein weites Feld. Wie das
Spiel selbst werden sie sich weiter ändern.” (op.cit.)
No artigo “Wenn das Leder im Kasten klingelt... Der deutsche Fußball und seine
Sprache” de 2008, Burkhardt, para além de apresentar um resumo da evolução histórica da
linguagem do futebol, reafirma a presença dos três fenómenos semânticos anteriormente
referidos (metáfora, metonímia e abstracção) no mundo linguístico do futebol. Mais ainda,
aponta o domínio da guerra como principal domínio-fonte, mas confirma a presença de um
leque variado de outros domínios-fonte. Neste estudo considera, também, o fenómeno da
convencionalização da metáfora no contexto comunicativo, aliado ao esforço cognitivo
necessário, por parte do receptor, a fim de compreender o significado e a intencionalidade de
uma dada expressão metafórica:
“Für den Rezipienten der Metapher besteht dadurch die Möglichkeit, die Sache oder Person
A nach dem Modell von B zu betrachten und (sich) zu fragen, in welchen Merkmalen die
Gemeinsamkeit beider besteht, die für den Sprecher bzw. Schreiber der Grund dafür war,
die Metapher zu verwenden. In solcher Interpretation werden die Gemeinsamkeiten
hervorgehoben, die Unterschiede aber ausgeblendet. Usuell gewordene Metaphern werden
als neue Teilbedeutungen lexikalisiert, ”verblassen” dabei gewissermaßen und müssen dann
natürlich nicht jedesmal im aktuellen Kontext neu entschlüsselt werden.“ (Burkhardt,
2008:75)
Burkhardt aponta a evolução digital dos media como um aspecto que tem vindo a potenciar a
produtividade linguística no que diz respeito às realizações metafóricas, dando como exemplo
a classificação das equipas de futebol em forma de tabela:
“Da sie [Tabellen] sich von Spieltag zu Spieltag verändern (und bei im Internet angebotenen
Live-Tabellen während des Spiels sogar von Minute zu Minute), scheinen sie gewissermaßen
ein virtuelles Eigenleben zu entfalten, das eine entsprechende sprachliche und das heißt vor
allem: bildhafte Darstellung erfordert. Notwendigerweise ist die Tabellensprache daher
überwiegend metaphorisch.“ (op.cit. p.79)
Neste contexto, as metáforas orientacionais (em/para cima e em/para baixo ou para a frente e
para trás) constroem um espaço mental ideal: Gipfelsturm, Tabellenspitze Abfahrt, Abstieg e
Talfahrt são apenas alguns exemplos. Finalmente, realça a função pragmática da análise
metafórica devido ao facto de a metáfora transmitir conteúdos sociais e culturas de uma
94
comunidade linguística, destacando, assim, a vertente cultural da conceptualização
metafórica:
“Der Fußball gehört zwar heute zur Weltkultur, ist aber auch immer ein Stück Landeskunde.
Das gilt auch für die Fußballsprache.” (op.cit. p. 85)
Em 2010, o Dudenverlag publicou um pequeno dicionário de terminologia futebolística
intitulado: Keeper, Elf und Gurkenpass, de Peter Schlobinski. Apesar de ser, essencialmente,
um dicionário multilingue de bolso, inclui pequenos excertos que apontam para a presença de
metáforas conceptuais na imprensa desportiva: “Reich an Sprachbildern ist die Sprache der
Fussballberichterstattung, die Reportsprache, in der immer wieder neue Ausdrücke geboren
werden.” (Schlobinski, 2010:7). Neste sentido, são apresentados exemplos que comprovam a
existência de diversos domínios-fonte na linguagem do futebol, a saber: “Handwerk und
Technik (…), Wirtschaft (…), Theater und Musik (…), Mythologie und Religion (…).” (op.cit. p.56)
e “Fussball ist Krieg” (op.cit. p. 76).
Aquando das nossas pesquisas, encontrámos um número considerável de publicações,
artigos, teses e dissertações que se debruçam sobre a presença da metáfora no mundo do
futebol. Não pretendemos, e tendo em conta o tanto o objectivo como a dimensão desta
dissertação, fazer referência a todos os trabalhos encontrados. Optamos, sim, por destacar
alguns, por nos parecerem os mais representativos e precisos nas suas análises.
No reconhecido jornal digital alemão, “metaphorik.de”, dedicado ao estudo da
metáfora e da metonímia84, deparamo-nos com dois artigos que abordam a temática da
metáfora no futebol.
No primeiro artigo, trata-se de uma versão revista em 2006 cujo original data de 1997,
a saber "Zur Metaphorik in der italienischen Fußballberichterstattung", de Klaus Gabriel, sendo
que recorre, tal como o título indica, a um corpus real composto por textos jornalísticos da
imprensa desportiva Italiana. O estudo assume-se como ponto de partida para posteriores
projectos dedicados a esta linha de investigação:
84
„Das online-Journal metaphorik.de Was ist metaphorik.de? metaphorik.de eröffnet ein Forum der
wissenschaftlichen Diskussion über Metapher und Metonymie. Ziel ist ein sprachen- und fächerübergreifender
Austausch, der die engen Grenzen disziplinärer Fragestellungen überwindet. Im Zentrum des Online-Projekts steht
die Zeitschrift metaphorik.de. Sie publiziert aktuelle Forschungsbeiträge, die die Komplexität des Metaphern- und
Metonymiengebrauchs in Sprache, Literatur und Medien reflektieren. Theoretische, methodische und inhaltliche
Vielfalt ist Programm. Darüber hinaus erfolgen Besprechungen neuer Literatur zu Metapher und Metonymie.
Redaktionsteam: Hildegard Clarenz-Löhnert,Bonn; Martin Döring, Hamburg/Nottingham; Klaus Gabriel, Attendorn;
Olaf Jäkel, Flensburg; Katrin Mutz, Bremen; Dietmar Osthus, Duisburg-Essen; Claudia Polzin-Haumann,
Saarbrücken;Judith Visser, Bonn; Redaktionssitz: c/o Prof. Dr. Dietmar Osthus / Universität Duisburg-Essen / Institut
für Romanische Sprachen und Literaturen, 45117 Essen (In: http://www.metaphorik.de/Journal/projektvorstell
ung.htm [Consult. 26.11.2010])
95
“Eine abschließende, über die italienische Sprache hinausgehende Betrachtung der
Internationalität und Omnipräsenz von Metaphern in der, aber auch aus der Fußballsprache
soll weitere interessante,
der
Vielfältigkeit
der
Metaphorik
gerecht
werdende
Forschungsmöglichkeiten skizzieren.“ (Gabriel, 2006)
O autor começa por realçar a importância do meio de comunicação, neste caso a
imprensa desportiva, como enquadramento fundamental na construção metafórica e sublinha
que, para além do carácter informativo, a imprensa desportiva pauta-se pelo princípio do
entretenimento. Neste sentido, a metáfora aparenta assumir a função de entretenimento do
público:
“UNTERHALTUNG: - Leseanreiz bieten (Reger, 1979:263), - komische, ironisierende und
satirische Effekte hervorrufen (Lüger, 1995:35; Reger, 1979:268), - auflockern (Lüger,
1995:38) und überraschen (Keller, 1995:190f.).“ (op.cit.).
Mais ainda, considera que, quanto maior o grau de criatividade da metáfora, mais
entretenimento proporciona:
“Die Unterhaltungsleistung von Metaphern hängt sehr stark ab von ihrer Kreativität bzw.
Habitualisierung. Metaphern mit hohem Kreativitäts- und niedrigem Habitualisierungsgrad
wird grundsätzlich eine hohe Unterhaltungsleistung zugesprochen. Allerdings ist die
ideologische Leistung bereits verbreiteter und wenig überraschender Metaphern nicht zu
unterschätzen (Schmitt, 1994:512).“ (op.cit.)
Após análise das 320 ocorrências metafóricas encontradas, o autor identificou vinte
domínios-fonte diferentes, nos quais se reconhece uma clara predominância do domínio-fonte
da guerra. Este justifica o resultado do seguinte modo:
”Als primärer Bildspenderbereich wird das Militär- bzw. Kriegswesen angegeben
(Nascimbeni 1992:113; Schweickard 1987:145f.), das aufgrund der "strukturellen
Entsprechungen zwischen dem militärischen und sportlichen Bereich“ (ebd.:145) besonders
für die Bildübertragungen geeignet erscheint (cf. auch Reger 1979:269). Dieser, wie auch die
anderen rekurrenten Bereiche erlauben "Rückschlüsse auf tragende Prinzipien des
Fußballspiels“ (ebd.).“ (op.cit.)
e
“(...) neben den die Grundstruktur des Fußballspiels bestimmenden Metaphern wie etwa
difesa ‘Abwehr’ (...), attacco ‘Angriff’ (...), truppa ‘Mannschaft’ (...) und vittoria ‘Sieg’ (...)
werden die Bilder aus diesem Sinnbereich auch auf einzelne Spielsituationen, Personen und
deren Handlungen übertragen.“ (op.cit.)
96
Os outros domínios-fonte provêm de áreas distintas, tais como: ser humano; espectáculo,
teatro, cinema e televisão; artes e literatura; jogos de sorte (e cartas); tecnologia e ciência;
geometria, medicina e saúde; economia, comércio e negócios; instrumentos e recipientes;
artesanato (ou trabalho manual); casa e edifícios; agricultura e natureza; reino animal; vida e
morte; direito legal, viagem e trânsito; religião, língua (comunicação) e tempo meteorológico
(enumeração por frequência de ocorrências). Com representatividade reduzia ainda inclui os
domínios-fonte da violência, catástrofe e infortúnio, assim como mitologia, fábulas e magia.
De seguida, organizou as ocorrências por categorias, i.e. a que contextos do mundo
futebolístico se reportam, a saber: o jogo, diferentes eventos no jogo, a equipa, o jogador, os
golos, os árbitros, vitória e derrota, os treinadores, outros intervenientes (funcionários, público
e os clubes), a época desportiva e a bola (enumeração por frequência de ocorrências). Da
totalidade das metáforas analisadas, classificou 41,6% como metáforas criativas e 58.4% como
metáforas convencionalizadas. Por fim, conclui que:
“Metaphern beschreiben den Fußballsport als Kampf- und Glücksspiel. Sie vermitteln
gegenläufig erscheinende Phänomene dieses Massen(medien)sports: Einerseits wird die
Mannschaft und nicht der einzelne Mensch (Spieler) in den Mittelpunkt gestellt,
andererseits werden dem Team wiederum menschliche Eigenschaften und Fähigkeiten
zugesprochen, die Leistungen einzelner Spieler aber werden mechanisiert dargestellt. Aus
kognitiv-kommunikativer
Sicht
kann
für
die
Metaphorik
in
der
italienischen
Fußballberichterstattung von einer Multifunktionalität gesprochen werden. Metaphern
stellen die Geschehnisse auf dem Platz präzise, leicht verständlich und somit
lesemotivierend dar. Sie können jedoch auch Information verschleiern und Komplexität und
Verantwortung
verschiedensten
verschweigen.
Die
große
Bildspenderbereichen
Anzahl
betont
den
an
kreativen
hohen
Metaphern
aus
Unterhaltungswert
der
metaphorischen Ausdrücke. Auch soll nochmals auf die Textfunktion (Bildung von Isotopien)
sowie auf die sprachökonomische Dimension aufmerksam gemacht werden.“ (op.cit.)
No segundo artigo, “Black, Blanc, Beur: Metaphorische Identität, identische
Metaphern? - Formen und Funktionen der Metaphorik in der französischen Tagespresse zum
Mondial 1998“ de 2002, Martin Döring e Dietmar Osthus arrogam que a metáfora configura
um veiculo importante para a construção e divulgação de identidades nacionais,
especialmente durante competições internacionais, ao projectar o sucesso de uma selecção
para o plano da emoção abstracta do orgulho nacional85:
85
nomeadamente através da conceptualização metonímica: “DIE MANNSCHAFTSSTRUKTUR STEHT FÜR DIE
GESELLSCHAFTSSTRUKTUR“ (Döring/Osthus, 2002b)
97
“Metaphern spielen in der Konstruktion von Identitäten eine entscheidende Rolle. In
besonderem Maße tritt bei internationalen sportlichen Großereignissen eine enge
Verbindung von Nationalmannschaften und Nationalgefühlen auf. Diese Identifizierung von
Nation und Nationalmannschaft hat immer eine starke metaphorische Komponente.”
(Döring/Osthus, 2002b)
O seu corpus é constituído por textos jornalísticos de jornais franceses ideologicamente
distintos (Le Figaro e Humanité) aquando da vitória da selecção francesa no campeonato
mundial de futebol de 1998. A tese principal reside na convicção de que as metáforas
conceptuais contribuem, significativamente, na construção de identidades colectivas, condição
inseparável da sua função comunicativa:
“Ausgehend von einer Einführung in die zentralen Begriffe der kognitiven Metapherntheorie
(…), soll ein Schwerpunkt auf die kommunikative und identitätsstiftende Funktion der
Metaphorik gelegt werden.“ (op.cit.)
Os autores reconhecem, por um lado, as vantagens do enfoque cognitivo, baseado na teoria
da metáfora conceptual de Lakoff e Johnson (1980a), mas por outro, consideram que esta
abordagem se revela insuficiente, pois omite factores importantes da função metafórica:
“Der kognitivistische Ansatz ist zu stark auf konzeptuelle Aspekte bezogen und eignet sich
als Erklärung für die Paradigmen generierende Kraft der Metapher in der ko- und
kontextuellen Umgebung nicht. Auch die historische Einbettung fehlt dem Ansatz der
kognitiven Metapherntheorie vollkommen.“ (op.cit.)
Apontam, igualmente, para a dimensão comunicativa e pragmática da metáfora, recuperando
a abordagem preconizada por Weinrich relativamente ao conceito de Bildfeld: “Ein
wesentlicher Vorzug von Weinrich gegenüber dem Ansatz von Lakoff und Johnson besteht
indes in der Verbindung zwischen der paradigmatischen Metaphernstruktur (Bildfeld) und den
von Weinrich (Weinrich et al. 1968) gewonnenen Einsichten in die Textualität einer jeden
Metapher.“ (op.cit.)86
Após análise detalhada do seu corpus, Döring e Osthus concluem e corroboram a
evidência de que a guerra e o conflito configuram o principal domínio-fonte na construção de
86
Os autores acrescentam ainda: “Weinrich akzentuiert insofern stärker als die rein kognitiv argumentierenden
Metapherntheoretiker die sich in jeder Metaphernverwendung vollziehende Verbindung zwischen ihrem
konzeptuellen Status – Weinrich charakterisiert zu Recht das Bildfeld als „Denkmodell” (Weinrich 1968:101) – und
ihre sich in der textuellen Umgebung zeigenden kommunikativen Dimensionen. Mit dem weinrichschen Modell
werden also im Gegensatz zur kognitiven Metapherntheorie zusätzlich die textuell metaphorischen Dimensionen
der Projektionsebenen greifbar. Dies ist gerade in Bezug auf nicht-metaphorische Textelemente interessant, da auf
diese Weise zumindest die angelegte Lesart nachvollziehbar wird.“ (op.cit.) perpectiva esta, que se aproxima, a
nosso ver, significativamente da teoria da rede de espaços mentais avançada por Brandt e Brandt/Brandt.
98
expressões metafóricas no âmbito do futebol. A metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA está
na génese de um número infindável de realizações metafóricas, o que leva os autores a
considerar que se, metonimicamente, a selecção nacional corresponde à sociedade de uma
nação, então a vitória da selecção corresponde à vitória da sociedade87:
“Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport
dürfte eines der gängigsten metaphorischen Verfahren sein, wie vorliegende Studien zur
Metaphorik der Fußballberichterstattung (Gil 1998; Gabriel 1998) bestätigen. Selbst die
Terminologie des Fußballsports ist im höchsten Grade durch Militärmetaphorik geprägt, wie
Begriffe der Offensive (frz. offensive), der Verteidigung (frz. défense) oder des Angriffs (frz.
attaque) unschwer erkennen lassen. In der Berichterstattung über die Weltmeisterschaft
wird diese ohnehin schon vorhandene Kriegsmetaphorik noch um eine nationale
Komponente erweitert, indem die Mannschaft metonymisch mit der Nation gleichgesetzt
wird, das Zusammenspiel der französischen Mannschaft als nationales Zusammenleben und
der sportliche Erfolg metaphorisch als ein nationaler militärischer Sieg verstanden wird.“
(op.cit.)
Os domínios-fonte das crenças religiosas e mitológicas, e do poder instituído
(Herrschaft) emergem do domínio da guerra e do confronto através da elevação da conquista
da vitória: “(...) eine mythische Überhöhung der sportlichen Mannschaftsleistungen durch eine
ausgeprägte Metaphorik klassischer Mythen und religiöser Weihe.“ (op.cit.)
Por fim, Döring e Osthus consideram ter comprovado que as realizações metafóricas
encontradas
nos
dois
jornais
franceses
ideologicamente
distintos
(“ideologische
Unvereinbarkeit von Humanité und Figaro” (op.cit.)), apesar de partilharem os mesmos
domínios-fonte, assentam em conceitos diferentes que conduzem a significados emergentes
igualmente
diferentes,
diferença
essa
que,
aparentemente,
é
determinada
pelo
enquadramento contextual: “Hier zeigt sich, dass identische Metaphernfelder noch nicht von
identischen Konzepten zeugen, da erst in einer ko- und kontextuellen Einbettung die
metaphorischen Konzepte richtig entfaltet werden. Die Unterschiede zwischen beiden
Zeitungen sind hier durchaus frappierend.“ (op.cit.)
Na revista universitária Uni Magazin Hanover, edição 1/2 de 2006, com o título
“Fussball vereint - Forschung zeigt den Ernst hinterm Spiel” encontramos dois artigos que se
ocupam com a problemática da metáfora no mundo do futebol: “Die Mega-Knaller-KnisterZitter-WM - Fußballberichterstattung auf dem sprachlichen Prüfstand” de Peter Schlobinski e
87
“Der schon erwähnten Metonymie DIE MANNSCHAFTSSTRUKTUR IST DIE GESELLSCHAFTSSTRUKTUR wird eine
weitere zur Seite gestellt: DER SIEG DER MANNSCHAFT IST EIN SIEG DER GESELLSCHAFT“ (op.cit.)
99
“Von ‘wackeligen Neubauten’, ‘produktiven Absatzkicks‘ und einem Kölner ‘Nationalheiligen‘ Metaphern in der Fußballsprache“ de Jannis Androutsopoulos, Dirk Kasten e Natascha Kreye.
Neste estudo, Schlobinski analisa as características do discurso dos media
(Mediensprache), nomadamente a elevada produção de metáforas por parte dos diferentes
textos jornalísticos no âmbito do futebol, devido ao facto deste ser considerado o fenómeno
dominante da cultura do lazer e do dia-a-dia das sociedades actuais:
“Fußball ist ein dominierendes Phänomen unserer Alltags- und Freizeitkultur. Über alle
soziale Schichten und Altersstufen hinweg ist er in der Gesellschaft tief verankert, und erst
die modernen Massenmedien haben dies ermöglicht, indem sie den Fußball sprachlich und
bildlich inszenieren. Bei der Darstellung eines sportlichen Ereignisses spielt auf der
sprachlichen Ebene die Lexik eine wichtige Rolle.“ (Schlobinski, 2006:26)
As denominadas ‘metáforas de guerra’ proliferam88 ao ponto que os conteúdos semânticos
dos campos militar e balístico já se encontram, de certa forma, diluídos: “(…) wir haben uns
offenbar an die Mediensprache der Fußballberichterstattung gewöhnt, ohne dass uns die
Metaphorik aus Bereichen wie Krieg und Militär (noch) weiter auffällt.“ (op.cit.) Contudo, o
autor destaca outros domínios-fonte que subjazem, igualmente, à produção de expressões
metafóricas, a saber:
•
a economia (“Wirtschaft: Quittung erhalten, verspekuliert, negative Bilanz” (op.cit.));
•
trabalho manual e tecnologia (“Handwerk und Technik: Mittelfeldmotor, Dampf
machen, Tore am Fließband, Anspielstation, Rumänien war sein Meisterstück“
(op.cit.));
•
musica e teatro (“Musik und Theater: Schlussakkord, Regisseur, Generalprobe, Finale
furioso, Dirigent“ (op.cit.));
•
mitologia e religião (“Mythologie und Religion: Peles Auferstehung, erwartet ein
harter Opfergang, heroisch, der Kölner Nationalheilige Lukas Podolski.“ (op.cit.)
Schlobinski considera, ainda, que o evento futebolístico - por exemplo, um
campeonato mundial - se assume como uma encenação de um espectáculo mediático89. O
88
aparentemente, o aproveitamento do domínio-fonte da guerra e da luta para a construção de expressões
metafóricas sobre o futebol, inscreve-se numa tradição de produção jornalística já antiga: “Und dies hat Tradition:
In dem bekannten Fußballmagazin KICKER ist in den erstmals 1920 erschienenen Ausgaben das Wortfeld »Kampf
und Krieg« der größte Spenderbereich für Übertragungen und Metaphern“ (Schlobinski, 2006:26)
89
“Wie bei einem Theaterstück oder einer Seriendramaturgie gibt es Protagonisten und Antagonisten, Helden und
Schurken, eine Kulisse, ein Publikum, Höhepunkte, Konflikte, Souffleure und Regisseure. Umrahmt wird dieses
Ereignis durch ein Vor- und ein Nachspiel. Konstante Themen wie die »Tugenden der deutschen Mannschaft «
durchlaufen von jeher eine Karriere von einem Medienereignis zum anderen und bilden rekurrente
Identifikationsmuster“ (op.cit.)
100
papel dos media é, consequentemente, determinante, não somente em relação aos conteúdos
que optam por transmitir, mas principalmente na forma como os divulgam:
“Denn die »Medien geben dem, was sie melden, und dem, wie sie es melden« – so schreibt
Niklas Luhmann in seiner berühmten Schrift Die Realität der Massenmedien –, »eine
besondere Färbung und entscheiden so darüber, was als nur situativ bedeutsam vergessen
werden und was in Erinnerung bleiben muss«.“ (op.cit. p.27)
De novo, é realçada a importância do contexto comunicativo (dos media) na produção
metafórica. No mesmo sentido de Döring e Osthus, Schlobinski evidencia a importância da
metáfora na construção e validação da identidade nacional. A selecção alemã, assim o autor,
para além de representar a nação, encarna os ideias e os princípios tipicamente alemães, e os
jogadores tornam-se modelos representativos da identidade nacional o que, por sua vez,
potencia a construção de metáforas: “Wie zuvor werden die »deutschen Tugenden« in den
medialen Inszenierungsmustern einen bedeutsamen Stellenwert einnehmen und sich als roter
Faden durch die Berichterstattung ziehen.” (op.cit. p.28)
Schlobinski conclui ao destacar o poder dos media que, através do futebol como
fenómeno preponderante das sociedades actuais, contribuem significativamente para
construção da realidade:
“Fußball als Medienereignis ist also mehr als Sport und Unterhaltung. Fußball ist Teil einer
Realitätskonstruktion, die der Erhaltung, Schaffung und Reproduktion von gesellschaftlichen
Werten dient. Sprache hat als Mittel der Realitätskonstruktion eine wichtige Aufgabe, und
sie ist somit mehr als ein Kommunikationsmittel, sie ist ein Instrument der Macht.“ (op.cit.)
O segundo artigo desta revista centra-se na omnipresença da metáfora no mundo do
futebol e pretende expor as estruturas metafóricas subjacentes à sua construção no contexto
comunicativo e pragmático da imprensa desportiva:
“Wenn wir über Fußball reden, sprechen wir von Krieg, von Theater, von Betonmauern:
Fußballsprache kommt ohne Metaphern nicht aus. Wissenschaftler des Deutschen Seminars
zeigen beispielhaft an der Fußballberichterstattung, wie Metaphern in der Fußballsprache
strukturiert sind und von Sportjournalisten als dramaturgische Stilmittel eingesetzt
werden.“ (Androutsopoulos/Kasten/Kreye, 2006:30)
Os autores fundamentam-se na teoria da metáfora conceptual de Lakoff e Johnson (1980a) no
que concerne o princípio do mapeamento conceptual entre domínios, o enfoque experiencial
e corpóreo - social e culturalmente dependente - como alicerce dos processos cognitivos,
assim como na possibilidade de construir de forma criativa diversas realizações metafóricas a
101
partir de uma só metáfora conceptual90. Neste sentido, exemplificam este fenómeno
recorrendo à metáfora conceptual mais recorrente: FUTEBOL É GUERRA:
“Wenn beispielsweise Fußball als Krieg verstanden wird, kann man auf üblichen
Fußballausdrücken wie schießen aufbauen und einen starken Torschützen als Kanone, einen
schwachen als Schreckpistole bezeichnen.“ (op.cit. p.31)
As metáforas do domínio da guerra que melhor descrevem aspectos estruturantes do jogo de
futebol, tornaram-se tão recorrentes e usuais, de forma que o falante comum já não lhes
reconhece a origem metafórica:
“Das Fußballspiel weist in seiner Struktur bereits viele Parallelen zu militärischen Aktionen
auf, sodass komplexe Spielsituationen durch militärische Fachwörter kurz und präzise
ausgedrückt werden können. Fußballbegriffe wie schlagen, schießen oder Zweikampf
werden heute kaum noch als Metaphern wahrgenommen.“ (op.cit.)
Quando assim é, considera-se que a metáfora está convencionalizada.
Os autores reconhecem, igualmente, que a existência de outras metáforas conceptuais
com outros domínios-fonte depende, única e exclusivamente, da criatividade humana. As
características multifacetadas do mundo do futebol revelam-se, então, como particularmente
motivadoras e propícias a mapeamentos conceptuais, o que explica a abundância de
realizações metafóricas no discurso futebolístico:
“Und da wir daran gewöhnt sind, Fußball auf ganz verschiedene Weisen metaphorisch zu
strukturieren, können geschickte Sprecher, und ganz besonders Journalisten, neue
Metaphern ad hoc einführen und ausfächern.“ (op.cit.)
Neste sentido, sugerem um conjunto de diferentes domínios-fonte, muito idênticos aos
avançados pelos outros autores aqui referenciados. Estes são: trabalho manual e tecnologia;
espectáculo artístico; forças naturais e religião, mitologia e o sobrenatural. Na senda dos
mesmos, Androutsopoulos, Kasten e Kreye destacam, igualmente, a metáfora como recurso
linguístico utilizado pelos media para tornar o texto jornalístico mais apelativo e pictórico. É de
frisar que o jornalismo desportivo se pauta por princípios económicos, pois é imperativo atrair
leitores a fim de vender os jornais e as revistas. A metáfora apresenta-se, neste sentido, como
uma opção estratégica no âmbito da linguística com fins comerciais:
90
“Die kognitive Metapherntheorie lässt erkennen, dass ganz verschiedene bildhafte Ausdrücke Ausprägungen
derselben konzeptuellen Metapher sind, und erklärt unsere alltägliche Kreativität im metaphorischen
Sprachgebrauch. Sobald die Kopplung zweier Erfahrungsbereiche kognitiv etabliert ist, können immer neue
Teilaspekte des Quellbereichs auf den Zielbereich übertragen werden.“ (op.cit. pp.30-31)
102
“Diese heutzutage »Infotainment« genannte Strategie der Nachrichtenaufbereitung ist für
die Leser- oder Zuschauerbindung ausschlaggebend, und metaphorische Kreativität ist dabei
eine ihrer wichtigsten Ressourcen.“ (op. cit.)
Por fim, e através de um exemplo baseado no conceito de nação ou povo, sublinham a
importância e a presença da metonímia conceptual no jornalismo desportivo e apontam este
fenómeno como gerador de novas metáforas:
“Metonymien sind sachlich oder logisch motivierte Relationen innerhalb desselben
Erfahrungsbereichs (…).
Zwar gehören Metonymien wie Leder (»Fußball«) schon zum
Alltagsschatz der Fußballsprache, die Spezialität der Bild sind jedoch metonymische
Volksbezeichnungen, vorzugsweise in der Schlagzeile (…). So wurden auch schon die Abwehr
der chinesischen Elf zur Chinesischen Mauer und die Brasilianer zu Samba-Tänzern.
Derartige Völker-Metonymien können wiederum den Nährboden für neue Metaphern
bilden.“ (op.cit. p.32)
Consideramos pertinente fazer, ainda, uma breve referência a três trabalhos
investigação que se debruçam sobre os diferentes processos de conceptualização recorrentes
na imprensa desportiva alemã:
- Dagmar Křencová, 2002, Phraseologismen in der deutschen Sportpublizistik, dissertação para
a obtenção do grau de doutor;
- Stefanie Dietsch, 2008, Wörter und Phraseologismen der Fußballreportage im Hörfunk - Ein
diachroner Vergleich, tese para a obtenção do grau de licenciado;
- Steven Schattemann, 2007, “Der Bomber trifft!” Eine Analyse der Fuβballberichterstattung
anhand einer Untersuchung der Periphrasen in der WM-Berichterstattung der „Welt“, tese para
a obtenção do grau de licenciado.
O trabalho de Křencová centra-se na análise de um corpus composto por textos
jornalísticos da imprensa desportiva alemã, e segue a abordagem paradigmática de Burger
(1998)91 no âmbito dos estudos fraseológicos92.
Os resultados obtidos corroboram as conclusões avançadas pelos autores já
mencionados, i.e. as realizações metafóricas encontradas reflectem, predominantemente, o
domínio da guerra como principal espaço mental de input, seguido pelo domínio da
tecnologia:
91
Burger, H., (1998) Phraseologie. Eine Einführung am Beispiel des Deutschen, Erich Schmidt Verlag, Berlin.
“A fraseologia situa-se no campo dos estudos do léxico, sendo considerada uma subdisciplina da lexicologia.
Ocupa-se das combinações estáveis de unidades lexicais, constituídas por mais de duas palavras gráficas. O seu
limite superior é a frase.” (Ceia, Dicionário de Termos Literários (In: http://www.edtl.com.pt/index.php?option=co
m_mtree&task=viewlink&link_id=214&Itemid=2 [Consult. 30.11.2010]))
92
103
“Wesentlich geprägt wurde die Sprache des Sports von der Spache des Militärwesens und
der Technik. Die Anfänge der modernen Sportbewegung fallen in die Zeit der
Industrialisierung und in die Zeit, in der das Militär einen grossen Einfluss auf das tägliche
Leben und somit auch auf die Sprache ausübte.“ (Křencová, 2002:102-103)
Contudo, reconhece, igualmente, no seu corpus a existência de processos de conceptualização
fundados em outros domínios-fonte, tais como os jogos de sorte, jogos estratégicos,
navegação marítima, teatro, economia, direito, trabalhos tradicionais (moagem manual) e
medicina e justifica:
“Der Grund für die Verwendung liegt wahrscheinlich in der Beliebtheit und Alltagsnähe des
Sports (…). Damit hängt wieder zusammen, dass Metaphern aus verschiedene
Lebensbereichen, wie z. B. aus der Sprache der Wissenschaft, der Musik, der Wirtschaft und
des Theaters, in die Sportsprache übergingen und in die Texte der Sportberichterstattung
Eingang fanden.“ (op.cit. p.103)
Tendo em conta o tipo de texto analisado e, consequentemente, o contexto
comunicativo inerente, a autora inclui uma reflexão sobre as diferentes razões e funções que
motivam o uso recorrente da metáfora, aliado a processos de renovação metafórica
constantes. Neste sentido afirma:
“Um eine gezielte Wirkung auf das Publikum auszuüben, produzieren Sportjournalisten
neue innovative Modifizierungen der Phraseologismen. Die Modifikationen spielen für die
Konstitution der Sporttexte eine wichtige Rolle. (...) Die vorliegende Untersuchung hat
jedenfalls ergeben, dass die Sportpresse mit den Phraseologismen besonders spielerisch
umgeht. Die Phraseologismen erfüllen in der Sportsprache zahlreiche Funktionen und
tragen wesentlich zur Konstituierung der publizistischen Sporttexte bei. Dabei sind
Unterschiede
in
Abhängigkeit
von
der
phraseologischen
Klasse
festzustellen:
Lesestimulierungs-, Emotionalisierungs-, Anschaulichkeits-, Kommunikationvereinfachungs-,
Bennenungs-, und Informations-, Ökonomisierungs-, Kontextualisierungs- und Bewertungsfunktion.“ (op.cit. pp.161-162)
Dietsch, cuja tese se encontra publicada na página de internet do organismo oficial
alemão Deutsche Akademie für Fussballkultur, construiu o seu corpus a partir das transmissões
radiofónicas dos jogos de futebol entre a Alemanha e a Hungria aquando do campeonato
mundial de futebol de 1954 e entre a Alemanha e Portugal aquando do campeonato mundial
de futebol de 2006. Um dos enfoques da análise deste corpus centra-se na inclusão de
realizações metafóricas no discurso futebolístico. Neste sentido, postula que “Vorgänge
[werden] im Fußball bildhaft beschrieben. Dabei werden die Wörter „in eine uneigentliche
104
Bedeutung“ übertragen. Man spricht diesbezüglich auch von Metaphern.“ (Dietsch, 2008:49) A
autora aponta razões histórico-culturais para a proliferação de metáforas de guerra, assim
como do mundo da tecnologia e destaca, igualmente, a motivação contextual deste
fenómeno:
“Eine weitere Erklärung für den Einzug militärischer und technischer Lexeme in die
93
Fußballsprache, lässt sich nach Ansicht von ROSENBAUM in der Anlage und Art des Spiels
finden: »Die Kampfsituation im Fußballspiel findet ihre Entsprechung in der Situation des
Krieges: der Kampf Mann gegen Mann, das Ringen um den Sieg, die taktischen Maßnahmen
in diesem Kampf – all das entspricht einander, verschieden ist lediglich die Intension, die
jeweils zugrunde liegt.«“(op.cit. p.50).
Para além destes domínios-fonte, a autora regista a presença de outros domínios de
áreas da experiência humana:
“Neben dem Militärwesen und der Technik wurden auch aus den Bereichen‚ Theater und
Film’ (z. B. Regisseur, Finale, Szene, Abschiedsvorstellung), ‚Natur’ (z. B. Wirbelwind,
blitzartig), ‚Jagd- und Schützensprache’ (z. B. Torschützenkönig), ‚Bauwesen’ (z. B.
aufbauen), ‚Griechische Mythologie’ (z. B. Zerberus) und ‚Seefahrt’ (z. B. Kapitän, segeln)
Wörter entnommen.“ (op.cit.)
Schattemann chega a conclusões idênticas: “Der agonale Charakter des Fussballspiels
zeigt nämlich sehr viele Ähnlichkeiten zum Krieg, was die übertrieben martialische
Fuβballsprache einigermaβen relativieren und erklären kann.“ (Schattemann, 2007:75).
Acrescenta, porém, que a elevada frequência de realizações metafóricas baseadas na metáfora
conceptual FUTEBOL É GUERRA é justificada pelo facto de grande parte da actual terminologia
futebolística de origem metafórica já se encontrar convencionalizada:
“Es ist ja unmöglich, Fussballberichte ohne bestimmte kriegerische Elemente, die schon
völlig in der Fuβballsprache eingebürgert sind, zu gestalten, aber dennoch wird in der
Fuβballberichterstattung der agonale Charakter des Spiels übertrieben.” (op.cit. p.76).
O autor sublinha, ainda, a função pragmática aliada ao uso, por vezes excessivo, deste tipo de
metáforas:
“Das Steigern dieser Kriegsmetaphorik in der Fussballberichterstattung geschieht also aus
wirtschaftlichen Gründen (...). Indem die Berichterstatter ihren Fuβballberichten eine
93
Rosenbaum (1969), Sprache der Fußballreportage im Hörfunk, p. 45f., Dissertação para a obtenção do grau de
doutor, Universität des Saarlandes, Saarbrücken
105
übertrieben kriegerische Dimension beimessen, versuchen sie ihre Berichterstattung für das
Publikum attraktiver darzustellen.“ (op.cit. pp.76-77)
A metáfora contribui, igualmente, para o chamado ‘culto do ídolo’ (“Starkult”
op.cit.p77ff), na medida em que eleva, metaforicamente, os jogadores de futebol a heróis,
deuses ou outros seres superiores. O autor fundamenta estas conclusões no seu corpus,
composto por 646 artigos desportivos do jornal alemão Die Welt, recolhidos durante o
campeonato mundial de futebol de 2006.
No que diz respeito aos estudos nacionais de enfoque cognitivo, no âmbito da análise
metafórica no mundo do futebol, destacamos a dissertação de mestrado de Andreia Monteiro,
Representações metafóricas do futebol nos media portugueses e ingleses: abordagem
cognitiva, de 2009, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
O corpus desta dissertação é composto por 139 títulos de notícias sobre o futebol,
sendo 70 recolhidos da imprensa portuguesa e 69 da imprensa inglesa. A autora propôs-se
identificar as metáforas conceptuais, assim como os diferentes mapeamentos conducentes às
realizações metafóricas, a fim de comprovar a existência diferenças e convergências culturais
nos media dos dois países. Relativamente aos alicerces teóricos, a autora apoiou-se nos
postulados da Linguística Cognitiva, mais precisamente na teoria da metáfora conceptual de
Lakoff e Johnson (1980a) e Lakoff (1986, 2006). Na linha de estudos anteriores, a metáfora
conceptual FUTEBOL É GUERRA revelou-se como a mais produtiva, dando origem a um total de
26 realizações metafóricas, seguido dos domínios da religião, animal perigoso, sofrimento,
forma artística, aprendizagem, ficção, crime, fenómeno natural, tecnologia e organismo
vivo/saudável, para só referir os dez mais frequentes. Após análise semântica detalhada, a
autora procedeu a uma abordagem quantitativa, o que revelou resultados interessantes
relativamente aos modelos culturais subjacentes às metáforas conceptuais:
“(…) registam-se algumas diferenças dignas de menção, relativamente à metáfora
conceptual FUTEBOL É REALEZA que apenas figura nos jornais ingleses. Também é de referir
que as metáforas conceptuais FUTEBOL É CIRCO MEDIÁTICO ou FUTEBOL É IMPRENSA CORDE-ROSA, a par de FUTEBOL É BOLSA DE VALORES e de FUTEBOL É DESPORTO DE
CONTACTO apenas figuram na imprensa desportiva inglesa. Na nossa óptica, tais o
surgimento de tais construções prende-se com aspectos fundamentais da vida política,
social e cultural dos britânicos, a saber, a monarquia, a imprensa cor-de-rosa, a bolsa de
valores e o desporto de contacto, o boxe. Sublinhe-se que quer na metáfora conceptual
FUTEBOL É SOFRIMENTO, quer na metáfora conceptual FUTEBOL É AQUECIMENTO
pontuam condições climatéricas de frio intenso que são próprias do clima do país em
questão.” (Monteiro, 2009:111-112)
106
Nas conclusões finais, a autora afirma ter consolidado um dos postulados basilares da
semântica cognitiva, i.e. a indissociabilidade entre o significado e a experiência física, social e
cultural. As realizações metafóricas encontradas nos jornais desportivos portugueses e ingleses
corroboram a tese de que experiências diferentes dão origem a metáforas conceptuais e
imagens metafóricas diferentes.
Por fim, consideramos pertinente referenciar o estudo apresentado por Paula Órfão
(2009) - “Frequent and not so Frequent Metaphors in the Portuguese Sports Newspaper «A
Bola»”.
A autora propôs-se analisar as metáforas conceptuais presentes nos títulos do jornal
desportivo português A Bola (entre 2003 e 2007), à luz da teoria da metáfora conceptual
proposta por Lakoff e Johnson (1980), debruçando-se tanto nos domínios cognitivos que
estruturam as metáforas conceptuais mais comuns (e.g. guerra, natureza e economia), assim
como nos domínios cognitivos que estruturam construções metafóricas menos comuns (e.g.
edifícios, festividades, touradas). Órfão postula, ainda, que: “We hold that headlines of
football news in «A Bola» mainly contain representations that become effective by means of
projections of a structural and ontological nature.” (Órfão, 2009:179-180).
Do total das 138 ocorrências identificadas, este estudo apresenta a análise de quinze
ocorrências em representação dos diferentes domínios cognitivos que serviram de base aos
processos de conceptualização metafórica. A título informativo, a autora inclui uma tabela que
indica quais os domínios-fonte identificados e o respectivo número de ocorrências, a saber:
guerra: 24 ocorrências, máquinas: 23 ocorrências, natureza: 22 ocorrências, sobrenatural: 20
ocorrências, alimentação: 13 ocorrências, economia: 11 ocorrências, outros desportos: 7
ocorrências, música: 6 ocorrências, tourada: 4 ocorrências, festividades: 3 ocorrências,
edifícios: 3 ocorrências, teatro: 1 ocorrência, cores: 1 ocorrência (op.cit. pp.185-186). Mais
uma vez, este estudo corrobora os resultados de estudos anteriores, ou seja, o domínio-fonte
da guerra é o domínio cognitivo mais frequente subjacente à construção de metáforas
conceptuais no âmbito do futebol.
A metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA consubstancia-se através de realizações
metafóricas, activadas por diversos domínios semânticos:
“(…) a wide scope of semantic elements is activated, such as adversity, the military
hierarchy, actions that are often found in the military arena, namely conquering, the
existence of intelligence agencies or ultimata, as well as weapons and various ammunition.”
(op.cit.p.186)
107
como, por exemplo: “(1) Vitórias do general amarelo (28.8.2005, p. 27)” (op.cit. p.187). A
autora aponta as origens e o contexto histórico do futebol como a razão mais óbvia para a
ocorrência deste fenómeno.
A frequência do domínio-fonte da tecnologia, principalmente a conceptualização da
equipa de futebol como uma máquina (e.g. um veículo), justifica-se à luz dos contextos
histórico-culturais. No âmbito da natureza, a autora divide o domínio da natureza em dois
subdomínios: a) organismo vivo e b) fenómenos naturais. Relativamente ao primeiro
subdomínio assistimos a conceptualizações metafóricas do tipo: a equipa é um ser vivo: “(5)
Atlético dorme a sesta (22.7.2007, p. 34)” (op.cit. p. 190); no que diz respeito ao segundo
subdomínio verificam-se conceptualizações metafóricas que conceptualizam o futebol como,
por exemplo, catástrofes naturais: “(6) Novo sismo abala futebol português (26.8.2006, p. 1)”
(op.cit.)
O domínio do super-natural é, essencialmente, activado pela metáfora conceptual
FUTEBOL É RELIGIÃO: “(7) Banco das lamentações (12.7.2003, p. 7)” (op.cit.p.191). Contudo,
contos de fadas ou histórias fantásticas configuram, igualmente, cenários produtivos para
construções metafóricas: “(8) Dois sopros de Quaresma afugentaram o fantasma (3.9.2007, p.
7)” (op.cit.p.192).
Relativamente ao domínio da alimentação, a autora argumenta que este aparenta ser
bastante produtivo no que concerne a estruturação conceptual do futebol. Neste sentido, o
futebol é conceptualizado como um determinado alimento, como uma refeição, uma ementa
ou mesmo um veneno: “(9) Vukcevic ensinou leão a comer com talheres (3.9.2007, (…))”
(op.cit. p.193). Este domínio inclui, ainda, construções que se baseiam na acção ‘comer’, em
grandes ou poucas quantidades.
Órfão apresenta e analisa igualmente um conjunto de ocorrências que evidenciam os
domínios-fonte da economia: “(11) Dar uma lição ao patrão (23.8.2006, p. 32)” (op.cit. p. 194),
do evento tradicional da tourada: “(13) Beto enorme em noite de Geovanni matador
(23.7.2005, p. 5)” (op.cit. p.196), de ocasiões festivas: “(14) As festas do rei cigano têm
animação garantida (19.8.2007, p. 13)” (op.cit.) e de edificações: “(15) Primeiro alicerce do
engenheiro (8.7.2006, p. 22)” (op.cit. p. 197) para concluir que a metáfora conceptual
constitui, de facto, um fenómeno universal e abrangente, fundado em processos conceptuais
que estruturam aspectos essenciais da vida, como, por exemplo, a comunicação: “This study
shows us that sports newspapers are a precious source of mental processes that are
manifested in their language. Our relationship with the world around us – cognition – is
mirrored in such linguistic manifestations as newspaper headlines.” (op.cit. p. 197-198).
108
Em suma, pensamos ter concluído o propósito do presente ponto: traçar uma breve
resenha dos estudos sobre a metáfora no mundo do futebol, através de uma mostra de textos
e publicações representativos94. No âmbito desta dissertação, a presente mostra não pretende
e não pode, de modo algum, ser exaustiva. Assim sendo, perdoem-nos os investigadores e
autores cujos trabalhos e publicações não foram aqui referenciados.
2.2. Imagens mescladas nos jornais desportivos, abordagem semiótica
Na senda da teoria dos espaços mentais de Fauconnier e Turner (1998a, 1998b, 1998c,
1999, 2000a, 2002, 2006), e da rede de espaços mentais de Brandt (2001a, 2004a) e
Brandt/Brandt (2005a), poucos são os trabalhos que desenvolveram as suas análises da
metáfora na imprensa desportiva a partir deste paradigma. O contraste entre os trabalhos que
apresentemos seguidamente e os referenciados no ponto anterior, reside na perspectiva
inovadora de que as “mesclas emergem da intersecção de vários espaços de input à luz dum
Espaço Genérico de índole abstracta que viabilizaria o processo de integração conceptual quer
no âmbito morfológico, quer no âmbito textual.” (Almeida, 2005:558). Estes trabalhos
configuram, portanto, um enriquecimento considerável relativamente à temática em questão,
pois inscrevem-se no âmbito dos estudos de enfoque semiótico, aliados à abordagem
semântico-cognitiva.
2.2.1. Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011), Imagens mescladas
nos jornais desportivos internacionais – abordagem qualitativa
Serve o presente ponto para destacar, sumariamente, as publicações de M.C. Almeida,
pioneira a nível nacional do estudo de enfoque semiótico aplicado à imprensa desportiva. As
publicações em questão são:
I.
2003 - “Processos de compreensão em construções mescladas: análise semântica de
ocorrências do português”
II.
2004 - “More about Blends: blending with proper names in the Portuguese media”
III.
2005 - "A Poética do Futebol: análise de representações mescladas à luz do paradigma
das Redes de Espaços Mentais”
94
vide a página de internet: http://www.grin.com/de/, para outros trabalhos sobre a metáfora no futebol
109
IV.
2006a - “Blending the Pheno-world with Fiction: the Cognitive Semiotics view”
V.
2006b - "Blend-Bildungen - und was dahinter steckt"
VI.
2010a - “Code-switching in Portuguese Sports Newspapers: the Cognitive Semiotics
View”
VII.
2011 - “On ’forbidden-fruit blending’ in Portuguese Sports Newspapers”
VIII.
2010b - “More on’ forbidden-fruit blending’: prying into the Portuguese Mind”
I. “Processos de compreensão em construções mescladas: análise semântica de ocorrências do
português”
Com base num corpus composto por títulos de textos jornalísticos dos jornais Expresso
e A Bola, e de anúncios de programas dos canais SIC e Euronews (de Agosto a Outubro de
2002), Almeida propôs-se desconstruir os diferentes “encadeamentos construídos pelos
falantes “on-line”, i.e. em situações reais de comunicação” (Almeida, 2003:67) subjacentes às
representações metafóricas. Destaca, ainda, que as ocorrências apresentadas resultam de
processos de compressão metonímica e que a sua eficácia comunicativa se deve a três factores
essenciais: o conhecimento do mundo, fruto da informação armazenada da experiência
humana, a percepção do mundo que nos rodeia, tais como as imagens televisivas, e o contexto
específico da ocorrência, neste caso, baseado em textos jornalísticos especializados numa
determinada área (A Bola - futebol). No exemplo apresentado “(5) Estudantes em adaptação à
exigente vida académica (‘A Bola’ 20.08.2002)” (Almeida, 2003:72), o conhecimento de que
esta notícia surgiu publicada no jornal a Bola reveste-se de particular importância, pois leva o
leitor a sintonizar a sua mente no domínio cognitivo do futebol, o que condiciona a
descodificação da notícia. O exemplo em questão denota uma construção mesclada por
compressão metonímica através de ligações metonímicas sucessivas do tipo parte-todo.
Reconhecem-se três espaços mentais de input, a saber: 1. Jogadores do clube Académica de
Coimbra em processo de adaptação aos treinos exigentes, 2. Coimbra é cidade académica, e 3.
estudantes têm uma vida académica exigente. Almeida explica:
“Na rede de integração conceptual confluem elementos dos três espaços de input, a saber,
do primeiro a imagem dos jogadores em adaptação aos treinos exigentes; do segundo o
frame que identifica Coimbra como a cidade dos estudantes e, assim, viabiliza a metonímia
de parte-todo entre estudantes e Coimbra. Do terceiro espaço de input a mescla herda a
informação de que os estudantes de Coimbra experienciam uma vida académica exigente.”
(Almeida, 2003:73).
110
O espaço genérico configura o esquema da trajectória, motivado pelo primeiro input, devido à
representação abstracta de um percurso de adaptação a percorrer. Os espaços de input 2 e 3,
por sua vez, contribuem para a elaboração da mescla através das representações ‘estudantes’
e ‘vida académica’. Em suma, Almeida conclui:
“(…) a construção do significado in loco não pode ser separada do nosso conhecimento do
mundo, ou seja, da esfera da experiência, nas suas vertentes perceptiva, física e cultural (cf.
Violo 2001). Deste modo, é pelo prisma da interacção constante entre construção do
significado e a esfera da experiência que é possível explicar os fenómenos linguísticos de
compressão em construções mescladas em que verdadeiramente a mente dá saltos.”
(Almeida, 2003:75)
II. “More about Blends: blending with proper names in the Portuguese media”
A fim de analisar os blends com nomes próprios nos media portugueses e para,
consequentemente “give a contribution to the clarification of the blends topology as
postulated by Fauconnier & Turner (2002), according to which ‘on-line blends’ are considered
to differ from ‘formal Blends’.” (Almeida, 2004:147), Almeida recorreu a um corpus baseado
em artigos jornalísticos dos jornais Público, Expresso e A Bola, das revistas Visão e Focus, assim
como programas televisivos dos canais RTP 1, RTP 2, SIC e Euronews (de Janeiro de 2002 a
Julho de 2003). No que concerne o mundo do futebol, a autora apresenta dois exemplos sob o
capítulo: “1.1.2. Blends resulting from the intersection of proper names with common nouns”
(Almeida, 2004:151). O primeiro apresenta o fenómeno da fusão morfológica entre dois
nomes próprios: “(7) Família Milandini - No Milan, Paolo Maldini conseguiu o impossível, ser
maior do que o seu pai. (A Bola 8.12.2002)” (op.cit.) A construção mesclada resulta da
confluência de três espaços de input: 1. o famoso jogador de futebol do clube de Milão, Paolo
Maldini, e o seu pai Pietro Maldini (antigo treinador do Milão) e 2. o clube de futebol Inter de
Milão. O primeiro blend, ‘família Maldini‘, resulta da compressão das identidades - pai e filho do espaço de input 1. Esta imagem mesclada contribui, por sua vez, para a construção de uma
segunda imagem mesclada, que configura uma ‘fusão entre o nome de família e o nome da
cidade do clube ao qual se encontram ligados: De ‘Maldini’ e ‘Milan’ resulta ‘Milandini’.
Almeida destaca: ”Notice that although the morphologically agglutinated blend “Milandini”
arises out of a phonological proximity, i.e. an alliteration between both proper names, the
complexity of “blend-on-blend process” creates the need for context reinforcement.”
(Almeida, op.cit.)
O segundo exemplo, “(8) tratado de beckhamologia - A entrevista que David Beckham
sempre desejou dar e nunca soube. Ou como a ficção pode ser a melhor forma de encontrar a
111
realidade no ruidoso universo que rodeia as paredes de Beckingham Palace. (A Bola,
19.5.2003)” (Almeida, op.cit.), expõe uma sequência de blends, o que reforça a necessidade da
informação contextual para a descodificação do significado. O primeiro blend resulta da
intersecção entre o nome próprio Beckham e um suposto domínio científico, representado
através do sufixo grego -logia assim como o nome ‘tratado’. O mero título da notícia não se
revela, de forma alguma, suficiente para que o seu significado seja plenamente compreendido,
facto este, que realça a importância do (con)texto que se segue: ‘A entrevista (…)’. O restante
texto termina com um outro blend: ‘Beckingham Palace’. De novo, este blend é fruto da
intersecção do nome próprio Beckham e o nome próprio do palácio real britânico Buckingham
Palace, o que, de certa forma, eleva o estatuto do jogador à esfera da realeza. Almeida,
contudo, afirma:
“It must be realized that the conceptual integration network in the second blend is
somewhat intricate. In fact, we only know for sure that ‘Buckingham Palace’ is used in this
context mainly due to the phonological proximity between both proper names ‘Beckham’
and ‘Buckingham’ to emphasize Beckham’s achievements. Therefore, from our point of view
all possible cross-space mappings between the input spaces culminating in the somewhat
vague meaning of ‘Beckingham Palace’ are minimized simply by the agglutination of these
two proper names.” (Almeida, 2004:152).
Almeida argumenta, assim, que a intersecção entre nomes próprios nos dois espaços de input
dá origem a blends mais vagos e imprecisos do que, por exemplo a intersecção de nomes
próprios e nomes comuns nos espaços de input, o que corrobora, segundo a própria, a
perspectiva de Pinker (1995:77): “In the blending system the properties of the combination lie
between the properties of its elements. Thus, the range of properties that can be found in a
blending system are highly circumscribed, and the only way to differentiate large numbers of
combinations is to discriminate tinier and tinier differences.” (in Almeida, 2004:156)
III. "A Poética do Futebol: análise de representações mescladas à luz do paradigma das Redes
de Espaços Mentais”
Pensamos que este pode ser considerado o primeiro trabalho, no âmbito do domínio
do futebol, integralmente
“(…) gizado à luz do enquadramento semiótico-cognitivo, mais precisamente à luz da Teoria
das Redes de Espaços Mentais (Brandt 2001, 2004; Brandt/Brandt 2003), [que]
paradigmatiza títulos mesclados do domínio do futebol constantes do jornal “A Bola”
112
enquanto elaborações poéticas que, nesta qualidade, consistem em segmentos textuais de
índole
auto-referencial
que,
organizados
na
base
de
convergências
formais,
frequentemente de índole rítmica, visam evocar conteúdos emocionais junto do público
leitor.” (Almeida, 2005:557)
O corpus reúne títulos mesclados, construídos a partir de nomes próprios, retirados do
jornal desportivo A Bola (entre Janeiro de 2002 e Outubro de 2004). Almeida relembra que,
com base em estudos anteriores de sua autoria, “o significado intendido dos títulos mesclados
decorre invariavelmente da análise da totalidade do texto da notícia.” (Almeida, 2005:158).
Para o presente trabalho, a autora privilegiou os títulos, cujas mesclas reflectiam uma
arquitectura poética com base em factores de relevância sonoros, capazes de veicular
conteúdos emocionais, como acontece, por exemplo, nas construções criativas a partir de
nomes próprios. Deste modo, foram privilegiadas as cadências intratextuais, remetendo a
função referencial da linguagem para um segundo plano. Dos cinco títulos apresentados pela
autora, 1. “Que se Danny o empate” (op.cit. p.561), 2. “Os cento e um Dalmat metidos no
congelador” (op.cit. p.562), 3. “Dança com Dragões” (op.cit. p.563), 4. “A sorte que dá ter este
Azar.” (op.cit. p.564) e 5. “Esta versão “ultra-light” do leão não podia ter ....... Bonfim” (op.cit.
p.565) seleccionámos explorar este último em detalhe por nos parecer o mais criativo.
Trata-se de um título do jornal desportivo A Bola, de 13.09.2004, relativamente ao
jogo entre o Vitória de Setúbal e o Sporting Clube de Portugal, jogado no estádio do Bomfim
em Setúbal, no qual o Sporting foi derrotado. O título surge acompanhado do seguinte
contexto: “Sporting sem futebol suficiente para aguentar o ritmo imposto pelos setubalenses,
que sete anos volvidos voltam a derrotar a equipa de Alvalade na cidade do Sado.” (op.cit. p.
565) Almeida expõe que no espaço de apresentação é possível reconhecer uma dupla
dimensão metafórica: “versão ultra-light do leão” e “não podia ter bom fim”. Na primeira, o
domínio da culinária serve de base de representação para a má prestação desportiva por parte
do leão, i.e. o Sporting. A segunda, e em consequência da má prestação, assume o sentido
metafórico de ‘não podia ter um resultado positivo’. Do mapeamento entre o espaço de
referência e o espaço de apresentação emerge a mescla 1, estabilizada pelo espaço de
relevância que evidencia a semelhança no plano lexical, mas não no plano semântico, ou
mesmo no plano prosódico, entre ‘Bomfim’ e ‘bom fim’, realçando que ‘ter um bom fim’
significa vencer. A resultante mescla 2 contém, finalmente, o significado intendido: ‘que
desilusão para o Sporting!’, tal como evidenciado no seguinte diagrama:
113
Espaço de
base
Notícia do jornal
“A Bola”
Espaço de
apresentação
Espaço de
referência
Esta versão “ultralight” do leão
Não podia ter
bom fim
Má prestação do
Sporting
No Bonfim derrota do
Sporting frente ao
Vitória de Setúbal
Espaço de
relevância
Mescla 1
bom fim
Bonfim
Ganhar é ter
bom fim
Esta versão “ultra
light” do leão não
podia ter… Bonfim
Mescla 2
Que desilusão!
Figura 15: “Diagrama 5” (Almeida, 2005:566)
Almeida termina esta análise ao destacar que: “a auto-referencialidade dos processos poéticos
nos títulos constitui uma estratégia discursiva de facilitação do acesso à informação veiculada
por ”passwords”, a saber, os nomes próprios, geralmente inscritos em paradigmas de jogos de
palavras, em torno dos quais as dimensões textuais de auto-referencialidade se transformam
em dimensões textuais de emotividade, ilustrando a realidade dos factos à luz de conteúdos
emocionais de natureza diversa que vão desde o desinteresse à alegria, passando pelo espanto
e pela desilusão.” (op.cit.)
O presente estudo de Almeida inclui, ainda, o exemplo de um título mesclado de
origem não poética, pois baseia-se no nome próprio de uma obra de ficção cinematográfica:
“O Paciente Inglês”. O título (op. cit. p.567) surgiu publicado no jornal desportivo A Bola, a
06.03.2004, antes do importante jogo da liga dos campeões entre o Manchester United e o
Futebol Clube do Porto. À luz da rede de espaços mentais, no espaço de apresentação
configura ‘O paciente inglês’, no espaço de referência encontra-se a esperada derrota do
Manchester United frente ao FCP, sendo o jogador lesionado Pedro Mendes o paciente.
Almeida desenvolve: “Sem dúvida que o mapeamento entre os dois espaços do qual emerge o
título mesclado “O Paciente Inglês” fica a dever-se à activação do seguinte factor de
relevância: “perder é ser paciente”. Porém, o significado veiculado pela construção mesclada,
114
“O Paciente Inglês”, (…) [a] mescla 2, constitui, de facto, um incitamento de coragem à equipa
do FCP.” (op.cit.)
Finalmente, a autora crê ter comprovado, através dos exemplos apresentados, que os
paralelismos estruturais consubstanciam, fundamentalmente, a expressão da emoção nas
mesclas, o que comprova que a função poética não é pertença exclusiva da poesia.
IV. “Blending the Pheno-world with Fiction: the Cognitive Semiotics view”
Tal como o próprio título indica, este estudo debruça-se sobre a omnipresença de
projecções mescladas, tendo como base, por um lado, o mundo fenomenológico e, por outro,
diversos frames de natureza ficcional. Os exemplos em análise constituem títulos da revista
Visão e do jornal desportivo A Bola, envolvendo nomes próprios. De acordo com Brandt
(1995), a autora considera que: “the unequivocal nature of proper names plays a decisive role
in the stabilization of the blended constructions, thus favouring inferential paths that
invariably lead the acknowledgement of emotional contents (…). (Almeida, 2006:50) Mais
ainda, postula que os frames de natureza ficcional, presentes nas construções mescladas dos
títulos de textos jornalísticos não pretendem apontar, directamente para as obras de ficção
correspondentes, ambicionam antes, suscitar emoções diversas mediante a activação de
‘palavras-chave’. Esta perspectiva é corroborada através da análise dos exemplos
apresentados: “Dança com Dragões” (A Bola, 25.04.2003), (Almeida, 2006:56) e “O Paciente
Inglês” (A Bola, 06.03.2004), (Almeida, 20060.58), exemplo já explorado anteriormente.
Quanto ao exemplo “Danças com Dragões”, a autora destaca no espaço de
apresentação o título da obra cinematográfica “Dança com Lobos” (título original “Dances with
Wolves”) e no espaço de Referência a alegria manifestada por quatro adeptos de renome,
relativamente à vitória e consequente apuramento para a final da Taça UEFA por parte do
Futebol Clube do Porto. Como é do conhecimento geral, o animal mitológico do dragão
representa, metaforicamente o FCP, daí configurar na primeira mescla “dança com dragões”.
No que diz respeito ao espaço de relevância, é de salientar que: “the mapping is stabilized by
reverting to the double-featured sound-meaning Relevance Space, predominately configured
by the alliterated sound sequence [consonant D]. In fact, it must be emphasized that, although
“dancing” as a manifestation of joy is highly relevant for the representation of joy, it plays
indeed a minor role in the blend featuring.” (op.cit.) Da primeira mescla emerge, então, o
significado intendido (mescla 2) i.e. a demonstração de alegria e contentamento pelo sucesso
do FCP. Neste sentido, a autora defende que o título em questão não pressupõe,
necessariamente, o conhecimento do conteúdo do filme “Dança com Lobos” por parte do
115
leitor e que a ‘descodificação’ do significado está, essencialmente, ancorada na sequência
mnemónica do som ‘D’ aliado à emoção associada ao significado da palavra ‘dança’.
A concluir, a autora resume:
“Beyond all possible doubt it must be highlighted that the pervasive interweaving of the
pheno-world with fiction calls our attention to its decisive role in the conceptualisation of
blended titles, i.e. in the re-framing of “reality” in an emotive way. Thus, it is argued that
frequently the representation of reality dimensions is unavoidably anchored in fictional
frames, even if the whole cultural frame is not activated in the mind of the readers.”
(Almeida, 2006:61)
V. "Blend-Bildungen - und was dahinter steckt"
Este trabalho destaca-se dos anteriores por se tratar de um estudo comparativo entre
construções mescladas extraídas de textos jornalísticos da imprensa alemã e portuguesa. Na
senda de estudos anteriores da autora, esta seleccionou excertos textuais mesclados com
nomes próprios e procedeu a uma análise semântica à luz do modelo de espaços mentais de
Fauconnier e Turner (1998, 1999 e 2002). Almeida afirma que: “Bei konzeptuellen
Integrationsprozessen, die aus Eigennamen von Personen des öffentlichen Lebens entstehen,
verweisen wir darauf, dass sich aus Relevanzgründen Bezeichnungen für Personen des
öffentlichen Lebens überwiegend mit anderen Personenbezeichnungen überkreuzen.“ (Almeida,
2006:242)
No que diz respeito a ocorrências no âmbito do futebol, destacamos a análise do
exemplo (6) “BARCELONA - PRIMEIRO GOLO COM A CAMISOLA BLAUGRANA E ELEITO
JOGADOR MAIS VALIOSO. O MEU NOME É QUARESMA!” (A Bola, 01.08.2003), (Almeida,
2006:248). Neste exemplo, assistimos a uma mescla entre o nome do famoso futebolista,
jogador do Clube espanhol Barcelona FC, Ricardo Quaresma e a célebre e distintiva expressão
cinematográfica “O meu nome é Bond, James Bond!”. Esta frase remete, através de
conceptualização metonímica, tanto para o personagem do agente secreto James Bond, como
para os seus feitos heróicos e capacidades extraordinárias aquando das suas missões
internacionais. Neste sentido, o processo de mesclagem resulta da projecção a partir de dois
domínios de input e contextualizado por um espaço genérico, a saber: espaço de input 1: O
golo de Quaresma; espaço de input 2: “O meu nome é Bond!”; espaço genérico: Os feitos
heróicos do agente nas suas missões internacionais. A autora salienta ainda que a afirmação
“O meu nome é Quaresma” não fora proferida pelo próprio, trata-se sim de uma construção
do um jornalista, autor da notícia, com o intuito de salientar a prestação extraordinária do
jogador no clube de Barcelona.
116
Nas considerações finais, a autora conclui que as construções mescladas analisadas,
fruto de mapeamentos conceptuais entre espaços mentais, revelam grande capacidade
criativa, tanto por parte da imprensa portuguesa como da alemã e ao acrescentar: “Die neu
entstandenen Entitäten, die zu neuen mentalen Räumen gehören, sind Zeichen dafür, dass sich
die Einkreuzung der mentalen Räume - Politik-Fiktion oder Politik-Unterhaltung oder SportFiktion - in den Köpfen der Portugiesen und der Deutschen heutzutage als relevant empfunden
werden.”, corrobora a afirmação de Sperber e Wilson (1995:265) “The Basic idea is that for an
input to be relevant, its processing must lead to cognitive gains.” (op.cit. p.254).
VI. “Code-switching in Portuguese Sports Newspapers: the Cognitive Semiotics View”
Neste artigo, a autora destaca a construção de significados em estruturas mescladas
através do fenómeno do code-switching e afirma: “(…) by focusing upon the conceptual
integration of “code-switching” frames with football scenes I wish to provide a broader answer
to the construal of the football hero image in the light of the Portuguese sports press.”
(Almeida, 2010a:17).
Por code-switching entende-se, de acordo com Auer, o uso alternado de duas línguas
num mesmo texto: “alternating use of two or more linguistic codes within one conversational
episode” (Auer, 1998:1). O crescente fenómeno da mobilidade dos cidadãos ao nível mundial,
assim como a globalização da informação, característica desta era digital, configuram factores
que potenciam a ocorrência do code-switching nos media, com especial destaque para a
comunicação social escrita. O code-switching revela-se, então, como um recurso criativo de
entretenimento público, capaz de conquistar audiências (cf. Haarmann 1986, 1989 apud
Androutsopoulos 2007:211). Contudo, esta realidade não explica, na íntegra, a razão pela qual
o code-switching é um fenómeno tão frequente e natural nas construções mescladas da
imprensa desportiva portuguesa. Neste sentido, a autora propôs-se analisar expressões
resultantes dos processos de code-switching de textos jornalísticos, a fim de desvendar as
motivações subjacentes a tais construções.
À luz da teoria de rede de espaços mentais de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a),
Almeida realça que “(…) although mapping-based blended images are really innovative as far
as mappings from source to target domains are concerned, they are also culture-specific
mental representations in that “novel metaphors must be in line with either embodiment or
cultural experience”(Kövecses 2005:264).” (op.cit.).
São analisadas nove ocorrências que revelam mapeamentos entre diversos frames e o
mundo do futebol, a saber (Almeida, 2010a:19ff):
117
1. Mapeamentos do domínio da ficção em cenas do futebol
(1) “ O FCP com uma baixa para Manchester mas carregadinho de moral - O PACIENTE INGLÊS
(…)” (A Bola, 6.3.2004).
2. Mapeamentos do domínio histórico/mítico em cenas do futebol
(2) “DO NEVOEIRO SAIU NUNO GOMES - Capitão saltou do banco para tirar a equipa do
cinzentismo que se abateu sobre a águia.” (A Bola, 25.08.2008).
3. Mapeamentos do domínio religioso em cenas do futebol
(3)“A PRIMEIRA CEIA Jesus e os seus “apóstolos” continuam invencíveis na pré-época e
somam terceira vitória consecutiva que valeu o primeiro troféu da época.” (A Bola 17.7.2009)
4. Mapeamentos do domínio histórico e cultural em cenas do futebol - Mapeamentos mistos
contrafactuais
(4) “EURO2008 PORTUGAL-TURQUIA - BANHO TURCO DE JOÃO MOUTINHO HOMEM
INVISÍVEL DA ARMADA LUSA - João Moutinho: Uma noite de sonho! (…)”(A Bola 8.6.2008)
5. Mapeamentos de code-switching em cenas do futebol
a) Factor linguístico local:
(5) “CIAO e GRAZIE” - Figo despediu-se do futebol de alto nível aos 43 minutos de jogo com o
Atalanta. No topo norte do estádio uma tarja enorme onde se podia ler “Obrigado foste um
grande campeão. Ciao Luís” (A Bola 1.6.2009)
(6)“AU REVOIR - Todos os cinco jogadores vendidos pelo FC Porto tiveram França como
destino. O encaixe foi de 22 milhões de Euros, contabilizando já a recente saída de João Paulo
para o Le Mans.” (A Bola 3.8.2009)
(7) “POR QUÉ NO TE CALLAS? - Os treinos do FCP são de matar e esfolar. Abrir o bico é andar
para trás, Jesualdo aperta com eles até ao fim. (…)” (A Bola 26.7.2009)
(8)“ EU ‘SHOW’ RONALDO (.....)
1.
(a Bola) Que diferenças entre os jornalistas espanhóis e os ingleses?
2.
(Ronaldo) Os espanhóis são fantásticos e os ingleses são ‘very good’”.(A Bola 17.7.2009)
b) Factor linguístico língua portuguesa:
(9) “VAMOS, VAMOS CISSÉ! - Palavras de incentivo em português de Katsouranis inspiraram
goleador francês. Ex-Benfiquista expressa-se muitas vezes no idioma de Camões nos treinos do
Panathinaikos.” (A Bola, 6.7.2009)
Com base nos diagramas de redes mentais avançados pela autora para cada uma das
ocorrências, apresentamos a seguinte tabela que pretende resumir a análise de forma
sintética:
118
Ocor.
ESB
EA
ERef
M1
(1)
Texto (1)
O Paciente
Inglês
Jogo FCPManUnited
(futuro)
(2)
Texto (2)
D. Sebastião do Nuno Gomes do
nevoeiro
nevoeiro
Jesus e os
apóstolos na
Última Ceia
ERel
M2
ManUnited como Um paciente não
Coragem FCP!
o Paciente Inglês
é vencedor
Nuno Gomes
como D.
Sebastião
A Última Ceia
Jorge Jesus e os
como a primeira
seus jogadores
ceia
Narrativa mítica
Parabéns
do salvador Nuno Gomes!
Narrativa
religiosa da
Última Ceia
Parabéns
Benfica!
(3)
Texto (3)
(4)
a) João Moutinho a) Banho Turco do
a) Turcos dão
no jogo Portugal - João Moutinho
a) Excelente
um banho turco
a) Banho Turco
Texto (4)
Turquia
b) João Moutinho
exibição, João!
b) Armada
b) Cenário do
b) Vitória de
a) e b)
como homem
b) Parabéns
Portuguesa vs
agente secreto
Portugal contra a
invisível da
João!
Armada Inglesa
Turquia
Armada Port.
(5)
Texto (5)
Jogo de
Adeus como Ciao
Narrativa
Ciao e Grazie despedida de Luís
Parabéns Figo!
e Grazie
biográfica (Itália)
Figo
(6)
Texto (6)
(7)
Por qué no te
Texto (7)
callas!
(Rei Juan Carlos)
Au Revoir
Ex-jogadores do
Adeus como Au
FCP transferidos
Revoir
para França
Treina-te e calate, pá!
(Jesualdo
Ferreira)
Narrativa
biográfica
(FCP/França)
Muito bem,
FCP!
Jesualdo como
Rei Juan Carlos
Narrativa
biográfica
(Espanha)
Vamos
trabalhar!
Ronaldo em
Português e
Inglês
Narrativas
biográficas
(Inglaterra vs
Espanha)
Gosto mais da
imprensa
espanhola!
Narrativa
biográfica
(Grécia)
Sinto-me
português!
(8)
Texto (8)
Ronaldo
“Fantástico” vs
entrevistado em
“Very Good”
Espanha
(9)
Texto (9)
“Vamos, vamos Katsouranis joga Katsouranis em
Cissé!”
na Grécia
Portugal
ESB
ERef
ERel
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 16: Tabela de Espaços Mentais a)
A concluir, Almeida reafirma que, através da análise exaustiva das realizações
metafóricas retiradas da imprensa desportiva portuguesa, e com base na metáfora conceptual
FUTEBOL É GUERRA, logo, os jogadores de futebol são heróis de guerra, é possível reconhecer
diversos frames dos quais emergem tipos de heróis diferentes: “(…) the fiction, mythical,
historical frame based on traditional cultural narratives of our glorious collective past history
and the code-switching frames based on shared biographical narratives of successful football
119
players playing abroad nowadays, a recent architecturing of the football hero playing in a
foreign country.” (Almeida, 2010a:26-27)
VII. “On ’forbidden-fruit blending’ in Portuguese Sports Newspapers”
Almeida apresentou uma comunicação na qual apresenta as diferenças entre
“blending” e “forbidden-fruit blending”. Mapeamentos imaginativos e engenhosos, i.e.
“forbidden-fruit blendings”, nos quais, de acordo com Turner (2003:1): "(...) we conjure up
mental stories that run counter the story we actually inhabit” multiplicam-se na imprensa
desportiva portuguesa, o que justifica o crescente interesse em estudar os processos
conceptuais subjacentes às construções mescladas. Neste sentido, Almeida explora um
conjunto de dez ocorrências, das quais destacamos apenas uma, por ser a única que ainda não
foi explorada anteriormente:
(9) Um pássaro na mão....... e outro a voar (A Bola 19.8.2007)
Esta ocorrência faz parte de uma notícia desportiva que incide sobre o jogo da segunda
volta do campeonato nacional 2007/08 entre o Futebol Clube do Porto e o Benfica, tendo o
Benfica perdido o jogo da primeira volta de forma imprudente e leviana. No jogo em questão,
a exibição segura e cautelosa do Futebol Clube do Porto conduziu a equipa à vitória. O espaço
de referência é, então, composto por estes dois eventos, sendo que no espaço de
apresentação, configura o provérbio português “Mais vale um pássaro na mão que dois a
voar”. Do mapeamento entre estes dois espaços emerge a primeira mescla, que, activada pelo
frame da prudência (no espaço de relevância), origina o significado intendido da mescla
contrastiva 2: Bem jogado Porto! Mal jogado Benfica!
Mais vale
um pássaro
na mão....
Texto
Vitória do
Porto vs
derrota do
Benfica
Benfica e
Porto como
provérbio
Frame do
provérbio
da
prudência
Bem jogado
Porto! Mau
Benfica!
Figura 17 “Diagrama 9” (Almeida, 2011:8 s.d.) (tradução própria)
120
Pensamos que, talvez, a selecção deste provérbio, em particular, tenha sido motivada não
apenas para activar o frame da prudência, mas também pelo facto do símbolo representativo
do Benfica ser uma águia, ou seja, um pássaro. Neste sentido, o pássaro na mão poderá levar à
inferência: Benfica na mão, i.e. vencer o Benfica.
A maioria das ocorrências estudadas revela, em suma, que a criatividade e
imaginação dos jornalistas portugueses relativamente a questões desportivas que envolvem o
orgulho nacional, está orientada para a construção de mesclas complexas baseadas em
cenários históricos, culturais e míticos, através das quais se louvam os feitos passados e
presentes, mesmo se para tal seja necessário construir cenários contra-factuais. Essas
construções não aparentam ser, contudo, problemáticas devido ao facto de por um lado, "(…)
all other human beings stand ready to understand it, incorporate it, and propagate it.” (Turner
2006: 112, cf. Almeida, 2011:10 s.d.) e por outro porque: “they clearly reflect a perpetuated
and cyclic celebration of the Portuguese shared mind” (op.cit.).
VII. “More on’ forbidden-fruit blending’: prying into the Portuguese Mind”
Na senda de trabalhos anteriores, este estudo foca a análise comparativa entre as
construções mescladas presentes na imprensa desportiva alemã e portuguesa. Almeida
postula que as construções mescladas revelam uma dependência marcadamente cultural,
tanto em termos de conteúdo como em termos de produtividade e infere: “(…) that the
“blendful” Portuguese corpus is prone to” forbidden-fruit blending” (Turner 2006), whereas
the almost “blendless” German corpus is prone to both referentiality and orality.” (Almeida,
2010b:123)
A arquitectura das construções mescladas da imprensa portuguesa revela que
operações mentas básicas subjazem ao ‘cruzamento’ de diferentes espaços mentais
culturalmente compatíveis. Este facto levou a autora a concluir que processos de
conceptualização, como os alicerçados na experiência corpórea, dão origem a arquitecturas
criativas e intersubjectivas, a partir das quais emerge um volume significativo de “forbiddenfruit blending” (Almeida, 2010b:123). Tendo em conta que Fauconnier e Turner (2002:19)
argumentam que: “(…) after a blend has been constructed, the correspondences – the
identities, the similarities, the analogies – seem to be objectively part of what we are
considering, not something we have constructed mentally”, Almeida realça a necessidade de
desconstrução dos mapeamentos culturalmente condicionados. Para tal, o ponto 3 deste
estudo centra-se na análise de dois textos jornalísticos, um da imprensa desportiva portuguesa
e outro da imprensa desportiva alemã motivado por um tópico semelhante: as vitórias da
121
selecção portuguesa de futebol e a selecção alemã de futebol frente à selecção da Turquia
(op.cit. pp. 128-129). Ambas as notícias evidenciaram que diferentes frames culturais
conduziram a arquitecturas conceptuais distintas:
“Football matches in the German sports newspapers are viewed in the light of coaches’ and
players’ evaluation of the matches and therefore are intended as representations of match
scenes. Differently, football matches in the Portuguese sports newspapers are frequently
enough not about the matches but about integrating victories in matches into our past
glorious feats, even at the cost of altering historical or cultural frames by cleverly fabricating
new victorious scenarios whose emergence results from contrafactually elaborated blends
or blend conglomerates (…).” (op.cit. p.130)
Para além das ocorrências já exploradas anteriormente, Almeida (2010b:131ff)
acrescenta outras 6 ocorrências por denotarem grande relevância cultural, a saber:
(4) A Fava saiu ao Dragão.
Imaginem uma fava gigante na garganta do Dragão. (A Bola 22.11.2007)
(6) Perdoai-lhes Senhor! (A Bola 11.12.2004)
(8) Os Cinco e a Ilha do Tesouro (A Bola 16.09.2004)
(10) Como é doce este D. Rodrigo! (A Bola 28.1.2007)
(11) Vitória, Vitória começa a história (A Bola 23.08.2008)
(13) “Lembram-se o que os Filipes de Espanha fizeram a Portugal, este (Filipe Soares Franco)
quer fazer o mesmo ao Sporting.” (O Dia Seguinte, SIC, 20.10.2008)
De forma a simplificar a explanação dos resultados da análise destas ocorrências,
sugerimos a seguinte tabela:
Ocor.
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
(4)
Texto (4)
Fava gigante
Derrota do FCP
no jogo
Derrota do FCP
como fava
gigante
Tradições
natalícias
portuguesas
Que derrota!
(6)
Texto (6)
Palavras de
Jogo Boavista Jesus Cristo na
Académica
cruz
“Perdoai-lhes”
como aceitação
dos factos
Conceito
cristão para o
perdão
Deixa lá!
(8)
Texto (8)
5 jogadores
As 5
Os 5 na ilha do portugueses na Os 5 jogadores personagens
tesouro
Liga dos
como os 5 jovens da literatura
Campeões
juvenil
(10)
Texto (10)
D. Rodrigo
(doce
regional)
Bom
Rodrigo como D.
desempenho do
Rodrigo
jogador Rodrigo
Doce é bom
Coragem, vão
ganhar!
Que bom,
Rodrigo!
122
Vitória…
acabou a
história
Primeira vitória
Vitória começa a
do Vitória de
história
Setúbal
(11)
Texto (11)
Os contos
portugueses
Parabéns,
Vitória!
(13)
Exemplo
Má gestão do Filipe S. Franco
Reinado
histórico de
Sporting de como Reis Filipe I
Texto (13) negativo dos
má gestão de
Reis Filipe I e II Filipe S. Franco
e II
Portugal
Cuidado!
ESB
ERef
ERel
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 18: Tabela de Espaços Mentais b)
Estas ocorrências demonstram, claramente, a importância que frames culturais
assumem nos processos de mapeamento conceptual, tal como preconizado por Turner
(2001:13): “Since basic mental operations operate over culture frames of knowledge, and
those frames can vary dramatically from culture to culture, and purposes and conditions can
also vary dramatically. Different cultures can and do look strikingly different.” (sublinhado
nosso). Em suma, os blends proliferam na imprensa desportiva portuguesa e após análise
detalhada das construções mescladas, e a divisão entre “blends that are predominantly
grounded in phono-symbolic mimetic-engineered mappings and those predominantly resulting
from non-phono-symbolic mappings” (Almeida, 2010b:140) afigura-se como tarefa complexa,
devido ao facto das construções mentais revelarem “a mixture of mimetic-mythic interweaving
among the several mental spaces.” (op.cit.) Poucos são os casos em que se assiste a uma
ausência total de mapeamentos fono-simbólicos (tal como no “Paciente Inglês”) e nestes
casos, a arquitectura é “as artful as blends can be.” (op.cit.)
2.2.2. Almeida, Órfão, Teixeira (2010), “Mündlichkeit in der Sportpresse”
Neste estudo, as autoras propuseram-se aferir as marcas de oralidade em textos
retirados da imprensa desportiva alemã e portuguesa e submeter os exemplos reunidos a uma
análise qualitativa, à luz do modelo das redes mentais de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt
(2005a), e quantitativa, à luz da teoria dos actos de fala (Speech-act Theory) de Searle (1979,
1998).
Numa primeira análise, as autoras reconheceram a existência de um elevado número
de marcas de oralidade na imprensa desportiva, e consideram que este fenómeno se deve,
essencialmente, às características dinâmicas, próprias do desporto, que conduzem a que a
123
notícia desportiva seja “ständig mit mündlichen Äusserungen der Hauptakteure des Sports,
nämlich der Trainer und der Spieler, verstrickt, so dass paradoxerweise geschriebene
Nachrichten durch die Integration zahlreicher sprechsprachlicher Interaktionssituationen
gekennzeichnet sind.” (Almeida/Órfão/ Teixeira, 2010:49), como também devido ao facto das
novas tecnologias de informação multi-mediática terem alterado o conceito tradicional de
notícia: “Zusätzlich muss man auf die multimedialen Formate der Sportnachrichten in den
Neuen Medien hinweisen, denn die multimedialen Formate im Internet führen zu einer
Neubestimmung der Funktion von Schrift und Bild (...).“ (op.cit.)
No que diz respeito à imprensa portuguesa, são frequentes as marcas de oralidade,
devido ao facto das interacções verbais favorecerem a representação de situações próprias do
mundo do futebol. É frequente a notícia ser construída e estruturada em forma de diálogo
com o intuito de criar uma realidade virtual, mesmo que a situação real seja ou tenha sido, de
facto, diferente. O primeiro exemplo em análise (op.cit. p. 51) foi retirado do jornal desportivo
A Bola:
(4) Alex Ferguson esteve em Alvalade e deu a notícia
Alô Manchester, Simão voltou! (A Bola, 3.11.2006)
Trata-se de uma encenação fictícia de uma chamada telefónica - activada pela
expressão característica de um início de conversação por telefone, ‘alô’ - entre o treinador do
Manchester United, Alex Fergusson e, provavelmente, a restante equipa e direcção do clube,
com o propósito de transmitir a última notícia: o jogador Simão Sabrosa voltou, i.e. esteve
lesionado, já está recuperado e fez um excelente jogo (voltou da lesão e voltou a ser um
excelente jogador). Por isso, e nas vésperas do jogo entre o Benfica e o Manchester United, é
preciso ter cuidado com este jogador. Neste sentido, sugere-se a seguinte rede conceptual:
Alô
Manchester,
Simão
voltou!
Texto
Frame
de
conversas
telefónicas
Boa exibição
de Simão
(opinião de
Ferguson)
Alô
Manchester,
Simão
voltou!
Cuidado
com o
Simão!
Figura 19: “Diagramm 2” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:51) (tradução própria)
124
O próximo exemplo diz respeito ao jogo de despedida do jogador do Benfica, Rui
Costa, no qual é activado o frame da despedida integrada no contexto de interacção directa
(face-to-face interaction):
(2) Esta noite, na Luz, o maestro despede-se dos relvados
Foi um prazer, Rui! (A Bola 25.5.2008)
Foi um
prazer,
Rui!
Texto
Frame
da
sequência de
despedida
Jogo de
despedida de
Rui Costa
Foi um
prazer, Rui!
Carreira
excepcional,
Rui!
Figura 20: “Diagramm 3” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:52) (tradução própria)
O elogio a Rui Costa pela sua brilhante carreira futebolística (mescla 2) é fruto da construção
“Foi um prazer, Rui” (mescla 1) que resulta do mapeamento entre o jogo de despedida de Rui
Costa (espaço de referência) e a sequência de despedida “Foi um prazer, Rui” (espaço de
apresentação), estabilizada pelo frame da despedida habitual num acto comunicativo “Foi um
prazer” (espaço de relevância).
O último exemplo resulta do mapeamento entre o cenário da oferta de uma bebida
tipicamente brasileira, uma caipirinha (espaço de apresentação) e o bom desempenho dos 23
jogadores brasileiros dos clubes de futebol do Sporting e do Marítimo (espaço de relevância).
A mescla é estabilizada pelo espaço de referência que consubstancia a oferta de uma bebida
como um gesto positivo. Daí que: “An dieser Szenerie des Anbietens eines Caipirinha (=Blend
1) lässt sich weiterhin ablesen, dass dieselben brasilianischen Spieler wahrscheinlich auch
zukünftig in den Spielen in Portugal sehr gut spielen werden (= Blend 2)“ (op.cit)
125
Vai uma
caipirinha?
Texto
Frame
da oferta
de uma
bebida
Exibição dos
jogadores
brasileiros
Vai uma
caipirinha?
Será que
continuarão
assim?
Figura 21 “Diagramm 4” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:53) (tradução própria)
Relativamente aos exemplos retirados da imprensa desportiva alemã Sportbild online,
aquando do campeonato europeu de 2008, foram analisados os actos de fala de acordo com o
postulado teórico de Schmitz (2004):
“[...] Menschen [...] mit Symbolen (insbensondere mit Sprache) ja nicht nur
Vorstellungswelten [schaffen], sondern auch „institutionelle Tatsachen“ (Searle 2001: 160),
innerhalb deren sie sich dann intentional bewegen: das macht ihr gesellschaftliches Leben
aus. Alle Möglichkeiten durch Sprechen zu handeln, die sich daraus ergeben (z.B. Gesetze
verabschieden, Prognosen verkünden) kommen in den modernen Medien auch vor [...].“
(Schmitz, 2004:21)
As autoras defendem que as selecções nacionais são encaradas como instituições nacionais.
Neste sentido, as declarações de treinadores e jogadores são encaradas como normas
discursivas institucionalizadas. Parte-se, então, do pressuposto de que, neste quadro
discursivo institucionalizado, os actos de fala assertivos traduzem a ideia de competência em
termos técnicos e tácticos por parte dos intervenientes. Daí que, raramente se encontram
actos de fala dominados por uma grande carga emocional. Mais ainda, não se pode
menosprezar que os actos de fala não surgem isoladamente, mas sim integrados em
sequências discursivas de actos de fala de tipologia variada.
De acordo com Searle (1979), as autoras destacam a seguinte classificação no que
concerne os actos de fala: a assertiva, a directiva, a comissiva, a expressiva e a declarativa
(Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:55). Os três exemplos apresentados (declarações dos
treinadores Joachim Löw e Luis Aragonês e do jogador alemão Thomas Hizlsperger)
corroboram a tese das autoras:
126
“Dementsprechend überrascht es nicht, dass beide Personengruppen sich vor und nach den
Spielen am häufigsten assertiv äussern. Sie tun dies mit dem Ziel, Vertrauen in ihre jeweilige
Taktik und Spieltechnik zu schaffen. Unserer Analyse gemäß werden emotionsfreie
Behauptungen – im Gegensatz zu emotionsgeladenen Äusserungen, die als Expressiva
betrachtet werden – als Assertiva klassifiziert (...)“ (op.cit. p.56).
Após análise quantitativa exaustiva, as autoras concluíram: “Durch die quantitive Analyse der
Gesamtzahl von 452 Sprechakt-Vorkommen im Korpus wurde festgestellt, dass Assertiva 71%
aller Sprechakte ausmachen. Expressiva beschränken sich hingegen auf 23% und Kommissiva
auf kaum 5% aller Sprechakte.“ (op.cit.)
Em suma, as duas abordagens teóricas acima explanadas, aplicadas aos textos
jornalísticos portugueses e alemães, respectivamente, conduziram aos seguintes resultados:
“Mit den Mitteln der kognitiven Semiotik konnten wir bezüglich unseres portugiesischen
Korpus von Texten aus der Sportzeitung A Bola feststellen, dass mündliche
Interaktionsituationen (Telefongespräche, Verabschiedungssequenzen und Sequenzen beim
Getränkanbieten) beim Konzipieren von Fussaballnachrichten, d.h. bei der Gestaltung von
Vorstellungswelten über Fussball, eine entscheidende Rolle spielen. Mittels der Theorie der
Sprechakte von Searle (1979, 1995, 1998) wurden häufig vorkommende Sprechakte, wie sie
während der Euro 2008 gegenüber der Zeitung Sport Bild online geäußert wurden,
untersucht. Bei deren Analyse stellte sich heraus, dass die Sprechakte der Trainer und
Spieler vornehmend konventionalisierte Äusserungen sind, wobei besonders bei den
Trainern die assertiven Äusserungen eine führende Rolle spielen.“ (op.cit. p.57)
2.2.3. Almeida/Sousa (2010), Imagens mescladas nos jornais desportivos portugueses e
alemães – abordagem qualitativa
O artigo em questão, Helden-Metaphern in der deutschen und portugiesischen
Sportpresse, publicado no volume 20 da revista do grupo de investigação dos estudos
filológicos alemães da Universidade de Sevilha, em 2010, assenta num estudo comparativo, à
luz do modelo da rede de espaços mentais de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), entre
construções mescladas identificadas nos jornais desportivos alemães e portugueses (entre
2006 e 2008).
Este estudo parte do pressuposto de que a imprensa desportiva, tanto a alemã como a
portuguesa, recorre frequentemente a construções mescladas com o propósito de exaltar os
heróis da modernidade: os jogadores (e treinadores) de futebol. Os resultados obtidos
127
corroboram a teste de que a imagem de herói depende, predominantemente, do
enquadramento cultural, i.e. o herói alemão e o herói português são frequentemente
conceptualizados de forma distinta, de acordo com os diferentes contextos culturais, históricos
e sociais. Contudo, reconhecem-se conceptualizações baseadas em espaços mentais idênticos,
baseados em conteúdos multi-culturalmente partilhados. Este facto é facilmente explicável
devido ao crescente fenómeno da globalização a todos os níveis: a mobilidade humana, o
acesso a todo o tipo de informação através dos media e, principalmente, da internet, a
distribuição a nível mundial de produtos artísticos de entretenimento, tais como a música, o
cinema, o teatro, a literatura, etc. As ocorrências (3) e (4) deste estudo exemplificam este
fenómeno:
“(3) “O FCP com uma baixa para Manchester mas carregadinho de moral O PACIENTE
INGLÊS - Décima segunda vitória para o FCP em casa, zero empates, nem uma derrota.
Números avassaladores do campeão que segue para Manchester com uma baixa de última
hora (Pedro Mendes), mas tão carregadinho de moral.” (A Bola, 06.03.2004)
(4) “Der deutsche Patient - Lahm verletzt raus, Patient Deutschland ist „malade“. Der zweite
Durchgang begann mit einem verletzungsbedingten Spielerwechsel. Für Lahm – den eine
Fleischwunde am Fuß plagte – kam Marcell Jansen. Was am Spiel wenig änderte:
Deutschland, im Rückstand, war gezwungen, Druck aufzubauen, Spanien sah sich die
bisweilen unbeholfenen Bemühungen an, fand dann zunehmend Gefallen am eigenen
Spiel.“ (Focus Sport on-line 29.06.2008)“ (Almeida/Sousa, 2010:248-249)
Ambas as ocorrências inspiram-se no sucesso cinematográfico “O Paciente Inglês” (Miramax
Films 1996), o que motivou o mapeamento entre o espaço mental do mundo da ficção e o
espaço mental do mundo do futebol. O exemplo (3) centra-se no jogo futuro entre as equipas
do Futebol Clube do Porto e o Manchester United para a Liga dos Campeões, enquanto o
exemplo (4) trata o desafio entre as selecções da Alemanha e da Espanha na final do
campeonato europeu de 2008, do qual a Alemanha saiu derrotada. De acordo com os
enquadramentos contextuais, a mescla virtual do exemplo português apresenta o blend
“Manchester United é o paciente”, enquanto a mescla virtual do exemplo alemão expõe o
blend “A selecção alemã é o paciente”. Embora o espaço de relevância seja idêntico: o
paciente não tem um final feliz, o significado que emerge da mescla final é distinto: No
exemplo português, e tendo em conta que o jogo ainda não se realizou, assistimos a um apelo
motivador e animador “Forca! Coragem FCP!”; no exemplo alemão, e considerando que o jogo
já realizado resultou na derrota da equipa alemã, reconhecemos uma expressão de lamento e
resignação perante a equipa vencedora, manifestamente superior: “Não havia hipóteses para
a vitória alemã!”
128
O Paciente
Inglês
Texto
O Paciente
é um
perdedor
Próximo jogo
entre o FCP e
o Man
United
Man United
é o Paciente
Inglês
O Paciente
Inglês
Texto
O paciente
é um
perdedor
Força e
coragem,
FCP!
Selecção
Alemã na
final do
Europeu
Selecção
Alemã é o
Paciente
Inglês
Não havia
hipóteses para
a vitória
alemã!
Figura 22 (Almeida/Sousa, 2010:249-250) (tradução própria)
O exemplo 5 apresenta uma construção mesclada baseada, igualmente, no mapeamento entre
os espaços mentais da ficção e do futebol:
“„King Knall! Prinz Peng! - BILD erklärt das beste Sturm-Duo der WM . Die Fußball-Welt staunt
über unsere „Torreichen Zwei“. Miro Klose (28) und Lukas Podolski (21). Oder besser King Knall
und Prinz Peng, denn ihr ballert Deutschland in Weltmeister-Stimmung! (...)“ (op.cit. p.250)
Estamos perante o processo de mesclagem conceptual entre as características
excepcionais do jogador de futebol alemão Miroslav Klose e da personagem mítica do mundo
cinematográfico, King Kong. Ambos intimidam os seus adversários através da sua força,
determinação e paixão. Neste sentido, no espaço de apresentação encontra-se o personagem
King Kong, no espaço de referência o jogador Klose. Com base no mapeamento entre estes
dois espaços, as características salientes de ambos são projectadas para a primeira mescla:
Klose é King Kong. Estabilizado pelo espaço de relevância “King Kong é o mais forte”, emerge a
mescla final: a força de Klose conduzirá a Alemanha à vitória.
Este mesmo exemplo apresenta uma segunda construção mesclada: “Prinz Peng”
(espaço de apresentação), i.e. o jogador alemão Lucas Podolski (espaço de referência). Peng é
nome de um pássaro gigantesco da mitologia chinesa, conhecido pela sua dimensão grandiosa
e força sublime (espaço de relevância). Poderá, então, inferir-se que Podolski é Peng (mescla
1), e que, sendo um jogador sublime e grandioso - reforçado pelo título aristocrático de
“Príncipe” - ajudará a selecção a conquistar o título de campeão europeu (mescla 2). Contudo,
as autoras consideram que as principais motivações subjacentes a estas construções
mescladas fazem parte do domínio fonético e fono-simbólico, a saber:
a) a aliteração “KKK” para “King Knall Klose” e “PPP” para “Prinz Peng Podolski”
129
b) PENG e KNALL são consideradas onomatopeias baseadas no efeito sonoro produzido por
tiros ou impactos violentos.
Por fim, Almeida e Sousa destacam que este exemplo aponta para uma outra
tendência da imprensa desportiva alemã: o uso recorrente de títulos aristocráticos como
forma de destacar e elevar o estatuto dos intervenientes do futebol.
Destacamos, ainda, o exemplo 7, que patenteia um mapeamento entre o domínio da
religião e o mundo do futebol:
“Beispiel 7 – deutsche Sportpresse: „Deutschland 3:2 gegen Portugal – grandiose
Wiederauferstehung. Als Goliath in die erste Partie gestartet, stand so plötzlich Klein-David
Deutschland vor Goliath Portugal – und dem Aus.“ (Focus Sport on-line 01.07.2008)“
(Almeida/Sousa, 2010:253)
Esta notícia surgiu publicada na edição on-line da revista Focus Sport após a vitória da
selecção alemã sobre a selecção portuguesa no campeonato europeu de 2008. O frame
religioso é activado pela expressão que define um dos princípios mais significativos da religião
cristã: a ressurreição - Wiederauferstehung. Neste contexto, a ressurreição diz respeito à
vitória inesperada e grandiosa da selecção alemã, que, publicamente dada como “morta”, ou
seja, mais fraca, surpreendeu todos com o seu regresso triunfal. O recurso às personagens
bíblicas “David” e “Golias” reforça a ideia do triunfo inesperado, tendo em conta que, de
acordo com o episódio bíblico, o “pequeno” conseguiu vencer o “grande”:
O confronto
Texto
David e Golias
Episódio bíblico
(vitória do
‘pequeno’ contra
o ‘grande’)
Jogo da Selecção
Alemã contra
Portugal
Selecção
Alemã é
David Selecção
Portuguesa é
Golias
Que bom, a
Alemanha venceu
contra todas as
expectativas!
Figura 23 (Almeida/Sousa, 2010:254) (tradução própria)
130
As autoras terminam com as seguintes conclusões: tanto a imprensa desportiva
portuguesa como a alemã, recorrem a construções mescladas de projecções metafóricas para
descrever, de forma criativa, eventos futebolísticos. Relativamente a possíveis preferências no
que concerne os diversos domínios-fonte, não foi possível, neste estudo, identificar diferenças
significativas entre a imprensa alemã e a portuguesa. Contudo, afirmam:
“Dass unsere Recherche in der deutschen Sportpresse dennoch viel zeitaufwendiger war, ist
darauf zurückzuführen, dass hier die metaphorischen Projektionen auffallend seltener
auftreten. Dieses könnte man als Indiz dafür nehmen, dass die portugiesische Sportpresse
hinsichtlich ihrer metaphorischen Blending-Kostruktionen kreativer ist als ihr deutsches
Gegenstück.“ (Almeida/Sousa, 2010:255)
2.2.4. A importância da Relevância (Almeida, 2011, a publicar)
Finalmente, à luz do paradigma do modelo da rede de espaços mentais preconizado
por Brandt (2004a, 2008 e 2010a) e Brandt/Brandt (2005a) consideramos pertinente fazer
referência a um dos mais recentes trabalhos de Almeida (2011, a publicar) intitulado A
relevância da relevância em mesclagens.
Neste trabalho Almeida pretende destacar o papel fundamental da relevância na
elaboração de imagens mescladas, na medida em que: “o cenário de relevância constitui
instrumento-chave que baliza e sanciona arquitecturas de mesclagem.” (Almeida, 2011:1)
Partindo do princípio que “o processo de semiose que se processa in loco, não tem
efeito multiplicador, é, muito pelo contrário, uma ocorrência única, pois tem lugar numa
situação de comunicação concreta, balizada por coordenadas espácio-temporais
particulares” (Almeida, 2011:2), a autora recorre a um conjunto de cinco exemplos retirados
de um vasto corpus de ocorrências mescladas da imprensa desportiva portuguesa Almeida
(2003,
2004,
2005,
2006a,
2006b,
2008,
2010,
2011a,
2011b
,
2011c);
Almeida/Órfão/Teixeira (2009) e Almeida/Sousa (2010) elucidativos do papel da relevância
na construção das mesclas, a saber:
(1) “O FCP com uma baixa para Manchester mas carregadinho de moral
O Paciente Inglês
Décima segunda vitória para o FCP em casa, zero empates, nem uma derrota.
Números avassaladores do campeão que segue para Manchester com uma baixa de
última hora (Pedro Mendes), mas tão carregadinho de moral.” (A Bola, 6.3.2004)”
131
(2) “A Fava saiu ao Dragão. Imaginem uma fava gigante na garganta do Dragão.
(A Bola 22.11.2007)”
(3) “EURO2008 PORTUGAL-TURQUIA
BANHO TURCO DE JOÃO MOUTINHO HOMEM INVISÍVEL DA ARMADA LUSA
João Moutinho: Uma noite de sonho!”
(4) “Navegadores em Duelo Ibérico
Para a História - Espanha-Portugal” ( A Bola 29.6.2010)
(5) “AU REVOIR
Todos os cinco jogadores vendidos pelo FC Porto tiveram França como destino. O
encaixe foi de 22 milhões de Euros, contabilizando já a recente saída de João Paulo
para o Le Mans.” (A Bola 3.8.2009)
(Almeida, 2011:6-9)
A análise semiótico-cognitiva dos exemplos supra citados conduziu à conclusão de que:
“vectores de relevância activados no media desportivos portugueses configuram um conjunto
diversificado de cenários (…)” (Almeida, 2011:10), tais como o cenário do DUELO (1), os
cenários culturais do NATAL PORTUGUÊS (2), do BANHO TURCO e do AGENTE SECRETO (3),
assim como o cenário dos DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES (4) e do DESÍGNIO honroso da
internacionalização do jogador de futebol (5). Em suma, a autora postula que: “a análise
semiótico-cognitiva destas notícias aponta inegavelmente para a relevância da relevância dos
cenários culturais portugueses nas arquitecturas mescladas dos jornais desportivos nacionais.”
(Almeida, 2011:10)
2.3. Algumas observações conclusivas
O presente ponto corrobora a nossa tese de que o mundo do futebol e,
particularmente, a imprensa desportiva, constitui um campo de análise ideal para a pesquisa e
desconstrução de fenómenos conceptuais - a metáfora conceptual (Lakoff/Johnson), as redes
de integração conceptual (Fauconnier/Turner) e as redes de espaços mentais (Brandt e
Brandt/Brandt) - tanto devido à quantidade, i.e. a elevada frequência de construções
conceptuais, como devido à qualidade, no que diz respeito à criatividade e à imaginação
subjacentes às ocorrências verificadas.
132
No âmbito do futebol, a arquitectura conceptual patente no jornalismo desportivo
emerge de um conjunto de diversos factores que, julgamos, terem condicionado e justificado a
sua produção, a saber:
•
O factor histórico associado à origem do futebol;
•
Os factores histórico-culturais associados ao desenvolvimento do futebol moderno;
•
As analogias entre confrontos de natureza física e confrontos de natureza desportiva,
associadas ao binómio vitória-derrota;
•
A função social, em termos do sentimento de pertença e de união grupal e de
consolidação da identidade nacional;
•
O desenvolvimento do desporto futebol como evento de entretenimento de massas;
•
A crescente importância do desporto futebol nos domínios da economia, indústria e
política;
•
O fenómeno da globalização de todo o tipo de conteúdos (informação, cultura, literatura,
entretenimento, desporto, politica, etc.)
•
O acesso a conteúdos através do desenvolvimento dos media tradicionais e a introdução
(e evolução) dos meios tecnológicos de comunicação digital (e.g. Internet)
•
Factores económicos que condicionam a notícia, i.e. a notícia deverá ser interessante,
espectacular e apelativa a fim de atrair o leitor;
•
A tendência dos textos jornalísticos desportivos configurarem actos de comunicação que
pretendem aproximar-se, cada vez mais, do conceito de interacção comunicativa real
(face-to-face interaction);
•
A crescente tendência do texto jornalístico em transmitir e evocar emoções nos leitores;
•
A crescente importância da imagem (real ou mental) como estratégia para a transmissão
de conteúdos de forma mais eficaz e rápida.
Aquando da análise do nosso corpus, no ponto 3 da presente dissertação, os factores
acima referenciados tornar-se-ão evidentes e consideramos que a exploração dos diferentes
domínios-fonte identificados confirmará esta a nossa perspectiva.
Finalmente, concordamos com Burkhardt (2006b:54) quando este afirma: “Sport,
insbesondere Fussball (ist) Super-Diskurs unserer Zeit” e simultaneamente com Weiß quando
defende que: “Fussball ist mehr als nur Sport. Er ist immer auch Ausdruck kultureller, sozialer,
wirtschaftlicher und politischer Rahmenbedingungen und steht stellverteretend für
Verhältnisse, Zustände, Veränderungen und Entwicklungen in der Gesellschaft“ (Weiß,
2004:223).
133
3. Análise semiótica das imagens mescladas nos jornais desportivos alemães
3.1. Linhas mestres da investigação
“Er
[Fussball] ist ein wichtiger Bestandteil der
Alltagskultur im Land und Integrationsfaktor quer
durch alle sozialen Milieus, er prägt die deutsche
Geschichte und zahllose Biografien, er ist Spiegel und
Brennpunkt für kulturelle, politische, ökonomische,
soziale Entwicklungen ein Phänomen, schillernd und
komplex wie kaum ein anderes."
(Konzept der Deutschen Akademie für Fußballkultur,
S. 2. Unter: http://fussball-kultur.org/v01/de/mod/
dokumente/doc.php?id=2&sp=de. Stand: 31.05.08.
[Consult. 09.12.2010])
A escolha do texto jornalístico, nomeadamente no âmbito do discurso futebolístico,
não foi, de forma alguma, uma escolha aleatória. Para além do gosto pessoal pelo desporto em
causa, a imprensa futebolística afigura-se como uma fonte criativa, quase inesgotável, de
imagens mescladas que compõem o corpus desta dissertação.
Hoje em dia, o futebol é inegavelmente mais do que um mero jogo de equipa, limitado
ao recinto desportivo e seus intervenientes. Para além de movimentar multidões a uma escala
global, tornou-se parte integrante das diferentes identidades culturais, omnipresente em
todas as esferas da sociedade. Neste sentido, o futebol é também considerado um dos
principais assuntos de discussão por parte de uma grande maioria de falantes, tornando o
evento desportivo essencialmente num evento comunicativo.
“Die
Großveranstaltungen
des
Sports
sind
heute
zugleich
kommunikative
Großereignisse - innerhalb wie außerhalb der Medien. Dies gilt erst recht für »König«
Fußball.“ (Burkhardt, 2006b:1)
Assim sendo, o futebol, metaforizado como “Desporto Rei” devido à importância e
saliência que assume, é comunicação a todos os níveis: dos encontros de família e de amigos,
passando pelo local de trabalho e, por fim, em todos os media; futebol é o super-discurso dos
nossos tempos.
134
Mais ainda, guiámo-nos pelo princípio da pesquisa empírica, defendida pelo paradigma
cognitivo, i.e. baseados em corpora autênticos, tal como defendido por Geeraerts (2006a) que
realça a necessidade de uma “revolução empírica”, a fim de ir de encontro ao postulado
fundamental emergente da própria linguística cognitiva, reivindicando para si o estatuto de
análise linguística baseada no uso:
“Turning to a second relevant feature of Cognitive Linguistics, the appeal of empirical
methods within the cognitive approach is boosted by the growing tendency of Cognitive
Linguistics to stress its essential nature as a usage-based linguistics – a form of linguistic
analysis, that is, that takes into account not just grammatical structure, but that sees this
structure as arising and interacting with actual language usage.” (Geeraerts 2006a:29)
Todas as imagens metafóricas encontradas – apresentadas em forma de listagem e
analisadas nos pontos seguintes – estão realçadas em negrito sem que tenham sido retiradas
dos contextos reais nos quais emergiram, mantendo assim o cariz de autenticidade natural:
“(…) cognitive linguistics is essentially a usage-based model. It takes actual language use as
its starting-point, and investigates the cognitive reality behind those facts of use.”
(Kristiansen, 2004:76)
Convém assinalar ainda que, na óptica de Weinrich (1976), a metáfora depende
igualmente do contexto:
“Denn Metaphern kommen in lebendiger Rede nicht isoliert vor, sondern stehen immer in
einem Kontext.” (Weinrich, 1976:311).
Apesar da dificuldade que esta metodologia apresenta, defendemos que apenas a
recolha de um corpus autêntico baseado em textos autênticos legitima a representatividade
das imagens mescladas:
“The great difficulty of linguistic metaphor interaction and analysis is how we get from the
discourse to the list of mappings in a reliable fashion. This is the challenge of the entire
undertaking of beginning with metaphor identification in authentic discourse.” (Steen,
2002:20)
A referida revolução empírica em prol de estudos baseados em dados autênticos
distingue-se também pelo reconhecimento e defesa da necessidade de uma abordagem a dois
níveis: a abordagem qualitativa por um lado e a abordagem quantitativa por outro, que
suporta as hipóteses avançadas:
135
“It is not sufficient to think up a plausible and intriguing hypothesis: you also have to
formulate it in such a way that it can be put to test. That is what is meant by
“operationalization”: turning your hypothesis into concrete data.” (Geearaerts 2006a:29)
A inclusão do tratamento quantitativo dos dados permite que as hipóteses formuladas
possam ser efectivamente testadas e, consequentemente, validadas de forma mais segura. A
recolha de dados relevantes, fundamentais para a ilustração das hipóteses teóricas avançadas,
tem de, necessariamente, ser suportada pela recolha de um conjunto suficientemente
representativo dos mesmos, a fim de ser possível comprovar com segurança as hipóteses
formuladas. A abordagem quantitativa afigura-se, assim, como complemento vital à
abordagem qualitativa, pois a primeira fornece a visão estatística e representativa do objecto,
enquanto a segunda se debruça sobre a análise semântica, o fundamento fulcral da semântica
cognitiva:
“Linguistics is not just about knowledge of the language (that´s the focus of generative
grammar), but language itself is a form of knowledge – and has to be analysed accordingly,
with the focus on meaning.” (Geeraerts 2006a:3)
A inclusão de métodos quantitativos nesta dissertação, em complementaridade com a
análise qualitativa dos dados, pretende, também pela sua magnitude, contribuir para uma
perspectiva precisa e representativa dos modelos culturais alemães espelhados nas imagens
mescladas veiculadas pelos textos jornalísticos nos jornais desportivos alemães.
Também Jäkel (1997), cujo estudo incide sobre a análise das metáforas no discurso
económico e no qual procede a uma análise onomasiológica da conceptualização dos
conceitos abstractos “Geistestätigkeit”, “Wirtschaft” e “Wissenschaft”, defende uma
abordagem mais abrangente relativamente ao estudo de imagens mescladas. Segundo o
próprio Jäckel, o seu contributo principal para a análise metafórica fundamenta-se em três
aspectos:
1. um maior rigor na selecção do corpus –
“Ein weiterer wichtiger Aspekt der methodologischen Erörterungen zur kognitiven
Metaphernanalyse betrifft die Frage, woher denn das sprachliche Material stammt, das die
Grundlage der kognitiv-semantischen Untersuchungen bilden soll. Einmal mehr geben die
Theorieväter uns hier kein überzeugendes Vorbild, dem sich nacheifern ließe. (…) Hier wäre
es eine äußerst wünschenswerte methodologische Verbesserung, wenn mit ordentlichen
Korpusuntersuchungen gearbeitet würde. Die Möglichkeiten der Korpusstellung sind dabei
vielfältig.” (Jäckel, 1997:144-145)
136
2. o desenvolvimento da metodologia onomasiológica “Unsere
methodologischen
Erörterungen
der
onomasiologisch-kognitiven
Metaphernanalyse (...) haben einige Aspekte der metaphernanalytischen Vorgehensweise
explizit gemacht, die bei Lakoff und Johnson höchstens implizit vorhanden waren und in den
bis dato vorliegenden Metaphernstudien (…) weitgehend unreflektiert praktiziert wurden.
Diese methodologische Klärung und Präzisierung findet ihren abschließenden Ausdruck in
einer dezidierten Handlungsanweisung (Abschnitt 5.4.) zur onomasiologische-kognitiven
Metaphernanalyse.”
95
(Jäckel, 1997:296)
3. a inclusão de uma perspectiva diacrónica “Primär ist die onomasiologisch-kognitive Metaphernanalyse eine Methode der kognitiven
Semantik und hat ihren Hauptwert in der systematischen Erfassung sprachlicher Phänomene
mit Hilfe eines kognitiven Theorieapparates. Wir haben den von Lakoff und Johnson
vorgegebenen Ansatz einer kognitiven Metapherntheorie kritisch aufgenommen und in der
Anwendung überprüft. Als eine der wichtigsten Erweiterungen der ursprünglichen Theorie
erscheint uns die Einbeziehung der diachronischen Dimension in die konzeptuelle
Metaphernanalyse. (…) Historische Evidenz und diachronische Perspektive unterstützen
tatsächlich
die
zunächst
synchronisch
bestimmte
Systematik
metaphorischer
Übertragungen.” (Jäckel, 1997:295-96)
Quanto ao segundo ponto – o desenvolvimento da metodologia onomasiológica – a
presente dissertação privilegia esta perspectiva, pois centra-se no conceito FUTEBOL e
procura, consequentemente, apresentar um vasto conjunto de exemplos de representações
metafóricas emergentes deste mesmo conceito. Assim sendo, partimos das diferentes
manifestações linguísticas para padrões de pensamento através da identificação das
conceptualizações metafóricas, em oposição à metodologia semasiológica. Convém, neste
contexto, que nos debrucemos um pouco sobre estas diferentes dimensões de análise96.
Os estudos semasiológicos incidem sobre a análise das categorias lexicais (ou
gramaticais), visando demarcar os seus vários significados (cf. Geeraerts (1989/1997), Almeida
(1995), Silva (1999, 2006a)). A análise centra-se numa das capacidades cognitivas mais
fundamentais: o processo de categorização que pressupõe um processo mental de
identificação, interpretação, classificação e nomeação de diferentes entidades. A análise de
cariz cognitivo de um item lexical ou gramatical (polissémico ou não) baseia-se no princípio da
95
Vide Jäckel, 1997:141:144
destaque-se que a distinção entre semasiologia e onomasiologia foi inicialmente elaborada por E. Coseriu (1958)
Sincronia, diacronia e historia. El problema del cambio lingüístico, Montevideo [dt. Übers.: Synchronie, Diachronie
und Geschichte. Das Problem des Sprachwandels, München, 1974 (Internationale Bibliothek für allgemeine
Linguistk, 3])
96
137
prototipicidade. Nem todos os membros duma mesma categoria assumem o mesmo estatuto:
uns são prototípicos (ou centrais), outros são considerados periféricos e agrupam-se por
similaridades, propriedades mais ou menos partilhadas, equacionadas sob o prisma do
conceito wittgesteiniano de “parecenças de família”. Registe-se que os limites das categorias
são fluidos e imprecisos, pelo que é frequente, em virtude da activação de analogias, assistir-se
a uma sobreposição de categorias. Segundo Geeraerts (1989, 1997) e Geeraerts et al. (1994) as
categorias lexicais caracterizam-se, portanto, pela não-discrição ou flexibilidade, e pela nãoigualdade, ou efeitos de saliência dos seus elementos.
A dimensão onomasiológica, como orientação metodológica da semântica cognitiva,
norteia-se por um determinado valor semântico ou área semântica para os vários itens lexicais
que o expressam, ou seja, parte-se do nível conceptual para o nível das estruturas simbólicas
(Lakoff/ Johnson (1980a), Kövecses (1997, 2002), Liebert (1992), Jäckel (1997) e.o.). Convém
sublinhar que estas se fundam na experiência humana, corporal, individual e colectiva.
Em suma, podemos caracterizar as duas dimensões de análise recorrendo à definição
abaixo:
“A categorização linguística é um processo (e um resultado) com duas dimensões: uma
(semasiológica), que acabamos de considerar, diz respeito à definição e à estrutura interna
das categorias, concretamente às condições pelas quais x é membro da categoria Z; e a
outra (onomasiológica) diz respeito à escolha entre categorias alternativas, nomeadamente
às condições pelas quais Z, e não W, é usado como nome de x.” (Silva, 1997:71-72)
Impõe-se uma reflexão óbvia: quais são estas condições de escolha, quais as
motivações subjacentes à selecção de uma determinada forma lexical para nomear um dado
referente em detrimento de uma outra forma lexical? Esta questão tem merecido atenção
especial por parte da análise semântico-cognitiva que se debruça sobre o papel epistemológico
dos chamados modelos cognitivos baseados na experiência humana e no mundo envolvente
(com inclusão de factores culturais). Se a linguagem é um dos meios de interacção, a sua
função é identificar, interpretar e organizar (processo de categorização e subsequente
generalização) toda a experiência humana. Ao interiorizar estes processos, o ser humano pode
eficazmente dar corpo às suas vivências individuais ou colectivas, não esquecendo toda a
envolvência social, cultural e histórica. Esse processo engloba factores de prototipicidade
semasiológica (que demarcam os protótipos das categorias das suas extensões semânticas),
factores de saliência onomasiológica e factores contextuais. Assiste-se, assim, a uma relação
de complementaridade entre o conhecimento linguístico e o conhecimento enciclopédico,
segundo o prisma construcionista. Parte-se, então, do pressuposto da existência de modelos
138
cognitivos (ou ICM: “Idealized Cognitive Models” segundo Lakoff, 1987) que organizam todo o
conhecimento humano em estruturas cognitivas:
“ (...) we organize our knowledge by means of structures called idealized cognitive models,
or ICMs, and that category structures and prototype effects are by-products of that
97
organization. (…) Each ICM is a complex structured whole, a gestalt , which uses four kinds
of structuring principles:
-
propositional structure, as in Fillmore’s frames
-
image-schematic structure, as in Langacker’s cognitive grammar
-
metaphoric mappings, as described by Lakoff and Johnson
-
metonymic mappings, as described by Lakoff and Johnson.” (Lakoff, 1987:68)
Estes modelos mentais não são, de forma alguma, estáticos nem possuem uma
estrutura rígida. Pelo contrário, caracterizam-se pela flexibilidade constante através da
adequação ao mundo ao qual se reportam (englobando assim também os aspectos sociais,
culturais e contextuais). Como estão na base de qualquer processo de categorização,
organizam-se em redes, pelo que uma categoria pode envolver um complexo de diferentes
modelos cognitivos.
Ao sermos confrontados com um objecto ou situação desconhecida, recorremos,
captando os seus traços mais salientes, a experiências anteriores semelhantes, na óptica de
uma dada cultura, e formamos, subsequentemente, um novo modelo98 na base de um
modelo cognitivo já existente. Só assim se explica como, na dimensão semasiológica, o sentido
prototípico de “cortar” (a saber “cortar o fio”) pode dar origem, em português, a “cortar uma
estrada”, com o sentido de bloquear, sendo que se assinala que é impossível estabelecer esta
mesma ligação semântica entre as duas realidades em alemão (cf. Almeida (1995)).
A dimensão cultural da conceptualização é igualmente partilhada por Langacker, que,
ao reconhecer a existência de uma relação indissociável entre o conhecimento do mundo e as
97
Entenda-se a noção de Gestalt, em traços gerais, como uma estrutura mental representativa, que ao processar
toda a informação do mundo que nos rodeia assim como das experiências nele vividas, constrói uma rede de
estruturas ou esquemas mentais. As estruturas existem enquanto um todo coerente que emergem da nossa
experiência e cognição. Unificam a experiência, levando assim a inferências no sistema conceptual. A psicologia da
Gestalt tem vindo a realçar o facto do ser humano compreender e identificar o mundo com base em padrões ou
esquemas conceptuais. Um objecto é visto como um todo coeso, a mente processa o objecto perceptível e ao
encontrar o “padrão/configuração” mental equivalente, identifica-o: “Gestalt psychology has stressed the need to
examine organized wholes, believing humans are disposed to identifying patterns. Visual objects tend to appear
stable despite continually changing stimulus features (such as ambient light, perspective, ground vs. figure
arrangement), which enables an observer to match a perceived object with the object as it is understood to exist.
Perceptions may be influenced by expectancies, needs, unconscious ideas, values, and conflicts.” (The Britannica
Concise Encyclopedia – Versão On-line [Consult. 10.12.2010])
98
“(…) cognitive models are omnipresent. In every act of categorization we are more or less consciously referring to
one or several cognitive models that we have stored. Only in the very rare case when we encounter a totally
unfamiliar object or situation will no appropriate cognitive model be available, but even then we will presumably
try to call up similar experiences and immediately form a cognitive model.” (Ungerer/Schmid, 1996:49)
139
respectivas representações linguísticas em contexto comunicativo, o que, na prática, implica
uma dissolução das fronteiras entre semântica e pragmática, conclui que essa relação assenta
no princípio da existência de domínios cognitivos, defendendo que qualquer área de
conhecimento serve como base à significação de uma expressão linguística:
“The encyclopedic view of meaning denies the existence of any precise or rigid boundary
between semantics and pragmatics or between linguistic and extralinguistic knowledge.
Instead, expressions are seen as being meaningful by virtue of evoking multiple realms of
knowledge and experience – I call these cognitive domains – in a flexible open-ended
manner.” (Langacker, 1997:229-252)
Distingue-se ainda entre os domínios cognitivos básicos (intimamente ligados às
experiências humanas mais fundamentais e cognitivamente irredutíveis) e os domínios
complexos ou “matriz de domínios”. Estes domínios cognitivos servirão de ‘plataforma’ para as
metáforas conceptuais, através do mapeamento de domínios em que um assumirá o papel de
domínio-fonte, e o outro, de domínio-alvo. No âmbito da dimensão onomasiológica, veja-se o
exemplo da metáfora conceptual “O amor é uma viagem” apresentado por Lakoff, em que o
domínio-alvo é o amor e o domínio-fonte é a viagem:
“The metaphor involves understanding one domain of experience, love, in terms of a very
different domain of experience, journeys. (…) What constitutes the love-as-journey
metaphor is not any particular word or expression. It is the ontological and epistemic
mapping across conceptual domains, from the source domain of journeys to the target
domain of love. The metaphor is not just a matter of language, but of thought and reason.
The language is a reflection of the mapping. The mapping is conventional, one of our
conventional ways of understanding love.” (Lakoff, 1990:47-49)
Qualquer mapeamento pressupõe uma correspondência epistémica, na qual o
conhecimento de um domínio, neste caso concreto, o amor, se sobrepõe ao conhecimento de
um outro domínio, no caso apresentado, uma viagem. Esta correspondência permite
conceptualizar o conceito de amor através do conhecimento e da experiência vivida da
viagem. Este exemplo é igualmente sintomático porque existe, tal como já foi referido
anteriormente, uma tendência unidireccional de conceptualizar domínios mais abstractos a
partir de domínios concretos.
Convém assinalar ainda que, na base da metáfora conceptual do amor acima
analisada, estamos perante o esquema imagético da trajectória, o padrão abstracto que
representa as acções de deslocação no espaço físico.
140
Por fim, consideramos pertinente fazer referência ao terceiro ponto apresentado por
Jäckel (1997) – a inclusão da perspectiva diacrónica. Optamos por contemplar textos
jornalísticos dos campeonatos europeus de 2004 e 2008 e mundiais de 2006 e 2010, movidos
por duas hipóteses:
a) poderá existir uma ligação estreita entre as reapresentações metafóricas e a
época/ano em que ocorreram?
b) poderá existir uma ligação estreita entre as representações metafóricas e o tipo de
campeonato (ora europeu, ora mundial) em que ocorreram?
A abordagem diacrónica complementará, por consequência, a fundamentação das
hipóteses avançadas no âmbito da análise sincrónica.
3.1.1. Breve história do futebol e os media
Tal como já foi referido anteriormente, o texto jornalístico, com especial destaque
para os jornais desportivos, afigura-se como fonte ideal para a recolha de um corpus que se
quer autêntico e dinâmico.
Convém aqui, a nosso ver, tecer algumas breves considerações acerca da relação entre
o desporto e o jornalismo desportivo.
Nos séculos XVIII e XIX o termo desporto99 descrevia a prática de um conjunto de
exercícios físicos específicos, prática essa que foi, a partir da Inglaterra, conquistando
popularidade em toda a Europa, pois a ideia de mens sana in corpore sano100 era cada vez mais
aceite e seguida. Elemento inovador desta prática desportiva era o princípio da competição,
com o objectivo de alcançar vitórias e recordes. Na Inglaterra tornou-se parte integrante do
currículo das Public Schools, frequentadas por jovens da alta burguesia e da nobreza; daí o seu
inicial cunho elitista. Sucessivamente, emergiram inúmeros clubes desportivos possibilitando a
99
Der Begriff Sport entlehnt sich dem spätlateinischen Wort disportare, was so viel heißt, wie sich zerstreuen,
vergnügen. Das Wort fand über die französische Sprache "se de(s) porter" (Erholung, Zerstreuung) den Weg ins
Englische ("to disport") und später auch ins Deutsche (1828). Es fand sich erstmals 1440 in der heute gebräuchlichen
Kurzfassung „sport“. Mit diesem Wort wurden damals Vergnügung, Spass, Zerstreuung, körperliche Erholung sowie
faires Verhalten zum Ausdruck gebracht. Später kam noch die Bedeutung als Sammelbegriff für die Leibesübungen
hinzu. (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Geschichte%20des%20Sports [Consult. 11.12.2010])
100
"Uma mente sã num corpo são é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal. A
conotação satírica da frase, no sentido de que seria bom ter também uma mente sã num corpo são, é uma
interpretação mais recente daquilo que Juvenal pretendeu exprimir. A intenção original do autor foi lembrar
àqueles dentre os cidadãos romanos que faziam orações tolas que tudo que se deveria pedir numa oração era
saúde física e espiritual. Com o tempo, a frase passou a ter uma gama de sentidos. Pode ser entendida como uma
afirmação de que somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado
expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa. (In http://dbpedia.org/page/Mens_
sana_in_corpore_sano [Consult. 11.12.2010])
141
proliferação do desporto como actividade complementar à actividade profissional, i.e. o
desporto passou a ser a actividade privilegiada dos tempos livres, na procura de encontrar um
equilíbrio entre o dever e o lazer. Este desporto não possuía qualquer cunho político, tal como
acontecia com a ginástica, praticada nas escolas públicas e colectividades, principalmente
pelas classes sociais mais baixas, fundamentalmente orientada para a exaltação de um espírito
nacionalista. Com a crescente industrialização da Inglaterra e, seguidamente da Europa,
também a popularidade do desporto cresceu, pois partilhavam os mesmos princípios da
competitividade, da concorrência e do sucesso/vitória. Tanto a indústria como o desporto
apelavam à capacidade de racionalização do esforço, à especialização e ao aperfeiçoamento
técnico. Ambos os domínios acompanhavam a mudança cultural, marcada pelo Calvinismo e
Puritanismo, exaltando o sucesso individual resultante do esforço e da dedicação, o espírito
competitivo orientado para a melhoria dos resultados, assim como o capitalismo, como
propulsor de riqueza individual e colectiva (sendo a pratica desportiva encarada como
investimento pessoal para a obtenção de sucesso) e como valor de salvação moral e social.
Acrescente-se, ainda, a paixão competitiva por parte dos britânicos, o que motivou a
organização de torneios e campeonatos patrocinados pela nobreza. Durante o século XIX
assistiu-se à necessária regulamentação das diferentes modalidades desportivas a nível global,
a fim de possibilitar campeonatos e competições internacionais. A realização dos primeiros
Jogos Olímpicos da era Moderna em 1896, movida por Pierre de Coubertin101, reflectia não
somente a necessidade de uniformização das regras das diferentes modalidades desportivas,
mas principalmente o desejo de união dos povos de todo o mundo - Völkerverständigung - em
torno de um grande evento desportivo. Pode-se assim concluir que este novo conceito de
desporto enaltece três aspectos fundamentais:
a) o treino intenso e a dedicação ao desporto e desenvolvimento do espírito competitivo
para a consequente obtenção de vitórias e recordes em torneios e campeonatos;
b) o respeito pelas regas de cada modalidade, a nível mundial, reflectindo assim uma
normalização e uniformização global, seguida por todos os atletas.
c) a internacionalização do desporto, que se reflecte nos grandes eventos desportivos
internacionais (tal como os Jogos Olímpicos) e que dá origem aos conceitos de
universalidade, fraternidade e igualdade do desporto.
101
Pierre de Frédy (Paris, 1 de Janeiro de 1863 — Genebra, 2 de Setembro de 1937), mais conhecido pelo seu título
nobiliárquico de Barão de Coubertin, foi um pedagogo e historiador francês, tendo ficado para a história como o
fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna. (In: http://dictionary.sensagent.com/Pierre_de_Coubertin/pt-pt/
[Consult. 12.12.2010])
142
O desporto, albergando um vasto leque de modalidades, tinha conquistado o mundo,
tornando-se uma actividade de massas. Para além do número de praticantes das modalidades
desportivas, assistiu-se igualmente a uma explosão em termos de adeptos e simpatizantes, ou
seja, um aumento significativo do número de não-praticantes, simples espectadores dos
eventos desportivos. Este fenómeno atraiu rapidamente a atenção dos meios de comunicação,
devido ao facto de dominar uma parte significativa da vida individual e social. A publicação de
notícias desportivas afigurava-se como fonte de rendimento económico acrescida, pois
perspectivava o alargamento do público leitor apaixonado ou interessado pelo desporto. O
desporto como espectáculo tinha de ser noticiado e divulgado, o que, por sua vez, contribuiu
ainda mais para a sua massificação. Gradualmente foram sendo criadas as condições para a
integração da notícia desportiva nos diversos jornais – por exemplo: formação de jornalistas
especializados nos diferentes desportos e presença de jornalistas nas competições desportivas
- culminado na criação da subcategoria do jornalismo desportivo e o advento das secções,
suplementos (Sportteil der Tageszeitung), jornais (Sportzeitung) e revistas (Sportzeitschrift)
exclusivamente desportivas. Na Alemanha, a institucionalização da imprensa desportiva deu-se
apenas no final do século XIX, enquanto na Inglaterra, o Morning Herald já publicava em 1821
o seu suplemento desportivo. Em 1878 surgiu em Viena o “Allgemeine Sportzeitung”, o jornal
desportivo europeu de língua alemã mais antigo e o primeiro a abranger todas as modalidades
desportivas.
Durante a primeira guerra mundial a não realização de encontros desportivos
provocou uma diminuição dramática na produção de textos da imprensa desportiva. Porém,
durante a República de Weimar (1919-1933), o jornalismo desportivo ressurgiu com o
restabelecimento das competições desportivas. Contudo, o desporto passou então a assumir,
para além do estatuto de entretenimento público, uma função marcadamente política. A
derrota da Alemanha na primeira guerra mundial e as respectivas consequências sociopolíticas
deixaram feridas profundas no orgulho nacional.
”Generell sollte man aber bedenken, in welcher politischen Situation die Weimarer Republik
entstanden ist. Durch wirtschaftlichen Ruin, hohe Anzahl der Gefallenen im Krieg, den
Versailler Vertrag und immer wieder aufkommende innerpolitische Krisen hatte die junge
Republik einen schweren Einstand. Ihr Scheitern war fast abzusehen. Diese Ereignisse
beeinflussten auch die Entwicklung des Sports. Aufgrund dieser Schwierigkeiten sollten
vielleicht die positiven Ansätze des Sports besonders betont werden. Denn anders als sonst,
breitete sich der Sport nicht (allein) von ,,oben" aus. Er fand seine Faszination und
Ausbreitung im Volk.“ (Ernst, 2001:10)
143
O sentimento generalizado de derrota e humilhação internacional era escamoteado pelas
conquistas desportivas. O espírito de competição saudável entre nações, de acordo com a
filosofia olímpica defendida por Coubertin, parecia ter sido substituído pela necessidade de
afirmação nacional.
“Der Internationalismus ließ sich nicht ohne weiteres mit dem nationalen Gedanken in
Deutschland vereinen. Viele Sportler fühlten sich durch die Niederlage im Krieg gedemütigt
und sahen daher keine Möglichkeit, sich mit diesen Nationen sportlich und vor allem auch
friedlich zu messen (...) Die Parole ,,Sport ist Kampf" traf genau in das nationale und
militärische Herz der Deutschen. Die überflüssigen englischen Elemente des Sports galt es
auszusondern. Übermäßiges Rekordstreben und Personenkult sind in der Deutschen
Interpretation nicht maßgebend. Das Streben nach Vollendung soll auf alle Lebensbereiche
übertragen werden können. Das Ziel ist das beste zum Wohl des ganzen deutschen Volkes.“
(Ernst, 2001:8-9)
Esta interpretação da função do desporto torna a motivação nacionalista e militarista
subjacente bastante clara. Não é, desta forma, de estranhar que se tenha assistido a um
desenvolvimento do aproveitamento do desporto como exaltação nacionalista, protagonizada
e amplamente difundida pelo Terceiro Reich. O desporto tornou-se uma arma política, o
jornalismo
desportivo
isento
foi
substituído
pela
propaganda
nacionalista.
A
instrumentalização do desporto por parte da política tornou-se evidente aquando dos Jogos
Olímpicos de 1936 em Berlim que decorreram inteiramente sob o signo do nacional-fascismo
alemão, e a partir de então, considera-se que o desporto nunca mais voltou à isenção
inicialmente almejada. Lembremo-nos da tragédia de Munique aquando dos Jogos Olímpicos
de 1972, dos diferentes boicotes aos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980 e de Los Angeles
em 1884, ou da polémica em torno do campeonato do mundo de futebol em 1978 na
Argentina102, ou mesmo da exaltação nacional por parte dos antigos países de leste, para lá da
cortina vermelha, por um lado e dos Estados Unidos e seus aliados por outro, durante o
período da guerra fria.
102
“Ao som dos tropéis militares, o Mundial de 1978 coroou a Argentina como campeã do Mundo, dando
finalmente o troféu que faltava à última potência do futebol mundial ainda sem título. Há dois anos que a Junta
Militar do general Videla assumiu o poder numa Argentina submetida à lei marcial e na qual os direitos humanos
são quotidianamente desrespeitados. Em Buenos Aires, as viúvas e as mães dos desaparecidos marcham em
romaria até à Plaza de Mayo e, um pouco por todas as capitais da Europa Central multiplicam-se as manifestações
apelando ao boicote do Mundial sem que isso, no entanto, tenha quaisquer resultados práticos. No dia 1 de Junho,
Alemanha Ocidental e Polónia inauguram a X Edição do Campeonato do Mundo de Futebol com um 0-0 aflitivo.
Pelas bancadas do estádio do River Plate, as fardas dos militares davam ao futebol a nota de opressão que o país
vivia. Decalcado do modelo estreado em 1974, o Mundial argentino viveu longamente mergulhado num corrupio de
críticas e acusações quanto à manipulação dos grupos orquestrada pela organização. (In: http://www.fpf.pt/portal/
page/portal/PORTAL_FUTEBOL/SELECCOES/CLUBE_PORTUGAL/HISTORIA/HISTORIA_MUNDIAIS/ARGENTINA_78
[Consult. 12.12.2010])
144
Considera-se, então, que o desporto, como parte integrante da sociedade, é e
continuará a ser um veículo de identidade nacional e consequente afirmação internacional. Os
seus intervenientes começam a ser admirados e idolatrados não somente pelas suas
qualidades como profissionais das diferentes áreas do desporto, mas também por serem
representantes ou mesmo heróis da nação. Esta tendência aponta para a existência de duas
outras formas de instrumentalização do desporto profundamente relacionadas: a economia e
os media. Existe uma relação triangular entre o desporto, os media e a economia,
caracterizada por uma dinâmica de influência e dependência mútuas.
Hoje, mais do que nunca, o desporto é também um negócio que movimenta milhões,
i.e. um vasto número de pessoas, dinheiro, interesses, ideologias e até valores sociais e morais,
e só conseguirá atingir os seus objectivos se devidamente divulgado e publicitado. É neste
enquadramento que reside o poder dos media: torna o mero evento desportivo num
espectáculo desportivo e económico de massas103. Assiste-se, assim, a uma transição a que
Hoffmann-Riem (1988) chamou: “Vom Ritual zum Medienspektakel”104. No caso específico do
futebol, centro das nossas investigações, a sua comercialização por parte das diferentes
organizações desportivas e consequente divulgação de todas as vertentes ligadas a este
desporto por via da imprensa desportiva, estações radiofónicas e televisivas, é um sector
significativo da actividade económica. Um grande número de variáveis torna os media e o
futebol mutuamente atractivos: O desporto de audiências e as audiências do desporto
influenciam-se e potenciam-se. Não é, porém, intenção deste estudo aprofundar a tríade
desporto-economia-media, mas sim centrar as atenções nas manifestações linguísticas por
parte dos media escritos relativamente ao evento futebolístico.
Na paisagem mediática, a televisão ocupa, pelo facto de constituir um meio
audiovisual, a posição dominante tendo relegado a rádio para segundo plano, neste momento
vocacionada para a divulgação de notícias variadas ligadas ao desporto. Concomitantemente, a
imprensa desportiva tem conseguido manter e cativar o interesse do público leitor ao
enriquecer as suas publicações com uma grande variedade de artigos que ultrapassam
amplamente o mero relato (escrito) do confronto, uma vez que publica as entrevistas, as
opiniões, os comentários, as análises dos intervenientes e dos especialistas da área, as críticas
103
"Als Massenkommunikation bezeichnet man in der Kommunikationswissenschaft einen Kommunikationstyp bzw.
eine Kommunikationsform, "bei der Aussagen offentlich (also ohne begrenzte und personell definierte
Empfangerschaft), durch technische Verbreitungsmittel (Medien), indirekt (also bei raumlicher oder zeitlicher oder
raumzeitlicher Distanz den Kommunikationspartnern) und einseitig (also ohne Rollenwechsel zwischen
Aussagenden und Aufnehmenden) an ein disperses Publikum [...] gegeben werden". (Maletzke, 1963 in:
http://www.bender-verlag.de/lexikon/lexikon.php?begriff=Massenkommunikation [Consult. 13.12.2010])
104
Hoffmann-Riem, W., „Sport – Vom Ritual zum Medienspektakel“ in Hoffmann-Riem, W. (Ed.) Neue
Medienstrukturen – Neue Sportberichterstattung?, Nomos-Verlagsgesellschaft, Baden-Baden/Hamburg, 1988, p.11)
145
e as diversas avaliações, etc. Ocupa-se do antes, do durante e do depois do confronto, escreve
sobre jogadores, treinadores, árbitros, adeptos, em suma, todos os que vivem o futebol. É
neste universo que a linguagem futebolística mais floresce.
Em suma, a televisão privilegia a imagem, relegando para segundo plano os aspectos
linguísticos, ao passo que a imprensa privilegia o suporte escrito, atribuindo à imagem
(fotografia) uma função de complementaridade. Daí que a análise da linguagem futebolística
da imprensa se afigura como a mais indicada e significativa devido à sua riqueza e
criatividade105.
Com o domínio da era digital, os jornais desportivos reconheceram que, para manter o
seu estatuto de meio de comunicação de massas, cativando as novas gerações de leitores,
paralelamente às edições de papel tinham de disponibilizar edições on-line gratuitamente
disponíveis a todos os leitores com acesso a um computador com ligação à internet. Assim, os
jornais conseguem alcançar um número de leitores ainda maior, e cada vez mais diversificado,
um dos principais objectivos dos media de massas. Os jornalistas e comentadores têm,
obviamente, consciência deste facto106 que é, naturalmente, tido em conta aquando da criação
e consequente publicação dos seus variados artigos. É cada vez mais reconhecida a tendência
de uma política de orientação para o público leitor – Publikumsorientiertheit107 – por parte dos
media, principalmente devido a razões económicas. Existe uma grande oferta de jornais
desportivos em concorrência directa, consequentemente, as redacções dos diversos jornais
procuram, através de estratégias diversas, atrair o maior número de leitores possível. Assistese, assim, a uma redefinição de prioridades quanto à informação a transmitir: o conteúdo e
105
Heine, Claudi, Hünnemeyer (1991a:31) distinguem três tipos de criatividade: universal, comunal e individual. A
primeira é comum a todos os homens, independentemente da cultura (por exemplo: a utilização de partes do corpo
para conceptualizar espaço). A terceira é relativa ao indivíduo. No presente estudo, debruçamo-nos sobretudo
sobre o segundo tipo, que se relaciona com aspectos sociais, culturais e políticos de uma determinada sociedade,
seus grupos étnicos, suas comunidades linguísticas, etc. A criatividade comunal abrange a maneira como uma
comunidade específica explora o domínio de objectos concretos para conceptualizar outros domínios.
106
Um recente estudo estatístico publicado na internet pela Statista (“deutsches Statistikunternehmen im Internet,
ein weltweites Statistik-Portal, das statistische Daten verschiedener Institute und Quellen professionell bündelt.“)
demonstou que em 2009, na população alemã, entre os 14 e os 69 anos de idade, 29% não se interessa pelo
desporto, 40% tem interesse pelo desporto e 31% interessam-se muito pelo desporto. (Fonte:
http://de.statista.com/statistik/diagramm/studie/106024/umfrage/interesse-sport/) O mesmo organismo concluiu
num outro estudo de 2010 que 49% da população alemã pratica, pelo menos uma vez por semana, algum tipo de
desporto. (Fonte: http://de.statista.com/statistik/daten/studie/164271/umfrage/anteil-der-sporttreibenden-nachland/ [Consult. 13.12.2010])
107
“(...)Dies bedeutet, dass der Journalismus, wie auch andere Systeme, seine Operationen am Publikum
orientierenmuss. Was in anderen gesellscaftlichen Sektoren mit Begriffen wie Kundenorientierung,
Wählerorientierung, Klientenorientierung, Studentenorientierung als Prozess beschrieben ist, trifft auch für
Journalismus zu und firmiert als Publikumsorientierung. Aus der Perspektive des Publikums bietet gerade der
aktuelle Nachrichtenjournalismus eine Chance, sich über zahlreiche gesellschaftliche Bereiche, die – wie Sport,
Politik, Wirtschaft – ebenfalls auf ein Publikum als Leistungsempfänger angewiesen sind, zu informieren. In der
Journalismusforschung wird diese Leistung als Vermittlung gesellschaftlich relevanter Informationen beschrieben.“
(In: Jornalistik Journal, „Das Publikum im Blick, Die veränderte Publikumsorientierung des Journalismus seit 1990“,
Bernd
Blöbaum,
Sophie
Bonk,
Anne
Karthaus
&
Annika
Kutscha,
http://journalistikjournal.lookingintomedia.com/?p=441, 14.04.2010 [Consult. 13.12.2010])
146
pertinência da notícia são aspectos tão importantes e significativos como a forma como a
mesma é transmitida. Os artigos devem ser tanto informativos e factuais como apelativos e
interessantes, sendo que a criatividade linguística se afigura como instrumento ideal para
atrair as atenções dos leitores mediante a construção de imagens metafóricas de elevado
impacto junto dum público diversificado. Esta construção dinâmica de significados é um
produto da relação sinergética entre o futebol, a sociedade e a cultura, conforme apontado
pelo organismo alemão abaixo referenciado:
“Der Fußball in Deutschland hat vielfältige Bezüge (...) Er ist ein wichtiger Bestandteil der
Alltagskultur im Land und Integrationsfaktor quer durch alle sozialen Milieus, er prägt die
deutsche Geschichte und zahllose Biografien, er ist Spiegel und Brennpunkt für kulturelle,
politische, ökonomische, soziale Entwicklungen – ein Phänomen, schillernd und komplex
wie kaum ein anderes.“ (Deutsche Akademie für Fussball-Kultur, 2004:2)
108
Diferentes eventos desportivos, como, por exemplo jogos de futebol, ao nível local ou
nacional, são considerados eventos culturais. Este facto torna-se ainda mais evidente aquando
dos campeonatos internacionais com equipas participantes oriundas dos quatro cantos do
mundo. Para além da competição desportiva, assiste-se a um encontro de nações e culturas, o
país anfitrião aproveita a mediatização do evento para promoção e divulgação da sua história
e de manifestações culturais locais:
“Die Welt ist zwar kein Fußball, aber im Fußball findet sich doch eine ganze Menge Welt
109
.
Und der eigentliche Gottesdienst findet schon längst in den großen Fußballarenen rund um
den Globus statt. Mit Ornamenten und Insignien geschmückte Anhänger pilgern in die
modernen Gotteshäuser, stimmen feierliche Gesänge an und geraten in ekstatische
Verzückung, wenn ihre Götter einen Sieg davontragen. Sogar Papst Johannes Paul II. hat die
Zeichen der Zeit erkannt und ist Ehrenmitglied beim F.C. Barcelona und bei Schalke 04.“
110
(Richard Steiger , Fussball – Mehr als nur ein Spiel, Wissen Media Verlag)
Por sua vez, os jornais desportivos apoiam-se nesse conhecimento partilhado, reflectindo a
experiência vivida, cultural e histórica dos seus leitores/falantes (Geeraerts, 2006b:5):
108
In: http://www.fussball-kultur.org/fileadmin/redaktion/pdfs/DE_KozeptAkademie.pdf [Consult. 14.12.2010]
“Die Welt ist zwar kein Fußball, aber im Fußball, das ist kein Geheimnis, findet sich eine ganze Menge Welt“ Ror
Wolf; Pseudónimo: Raoul Tranchirer (* 29. Junho 1932 em Saalfeld/Saale, Thüringen), escritor alemão (In:
http://www.spiegel.de/sport/fussball/0,1518,295277,00.html [Consult. 14.12.2010])
110
In http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/sport/fussball/index,page=1307370.html [Consult.
14.12.2010]
109
147
“(...) we also have a cultural and social identity, and our language may reveal that identity,
i.e. languages may reveal that identity, i.e. languages may embody the historical and
cultural experience of groups of speakers (and individuals).”
3.1.2. A recolha do corpus
Tal como já foi referido anteriormente, o presente estudo pretende apresentar uma
análise
das imagens mescladas presentes em jornais desportivos alemães, enveredando
concomitantemente por uma perspectiva sincrónica e diacrónica. Assim sendo, consultamos as
edições on-line de um conjunto de jornais desportivos considerados mais proeminentes, assim
como alguns sítios dedicados ao comentário desportivo, a saber:
www.kicker.de/www.bild.de/ www.sportbild.de/ www.focus.de/ www.spiegel.de/ www.sportal.de
Graças aos actuais meios informáticos e acesso à internet, foi possível consultar a base
de dados e de arquivo destes jornais e sítios, facto que tornou possível realizar esta
investigação. Por razões metodológicas, optámos por limitar a nossa investigação aos maiores
acontecimentos futebolísticos internacionais dos últimos anos, nomeadamente, os
campeonatos europeus de 2004 e 2008 (de 12 de Junho a 4 de Julho de 2004 e de 7 de Junho a
29 de Junho de 2008), e os campeonatos mundiais de 2006 e 2010 (de 9 de Junho a 9 de Julho
de 2008 e de 11 de Junho a 11 de Julho de 2010). Incluímos também os dias de preparação
para os eventos desportivos, assim como os dias subsequentes aos mesmos. Aquando do
campeonato mundial de 2010 foi igualmente possível recolher ocorrências da revista
desportiva bissemanal Kicker-Sportheft na sua edição em suporte de papel. Foi então possível
identificar um conjunto representativo de imagens mescladas num total de 995 ocorrências,
sendo que a análise das ocorrências foi dividida por domínio-fonte e subdividida por
competição.
Decidimos não incluir as representações metafóricas que já são consideradas
convencionalizadas111 ou lexicalizadas, fazendo parte integrante da denominada linguagem
futebolística (Fussballbegriffe). Esta prende-se, essencialmente, com as regras do jogo, a
função ou posição dos jogadores e dos restantes intervenientes no jogo, o tipo de jogadas e o
espaço físico do encontro desportivo, ou seja, as diferentes áreas do campo de futebol. Aliás,
as questões em torno da cunhagem dos termos futebolísticos alemães foram amplamente
111
vide ponto 1.1. sobre a teoria da metáfora
148
investigados por Burkhardt (2008), com especial destaque para as importações directas da
língua inglesa112.
Registe-se, porém, que com a crescente popularidade do futebol na Alemanha, já nos
finais do século XIX e a criação da Federação Alemã de Futebol (DFB- Deutscher Fussball Bund)
em 1900, a necessidade de adaptação da língua a uma nova realidade desportiva tornava-se
cada vez mais imperativa. Mais ainda, destaca-se que a Alemanha estava a viver um período
de exaltação nacionalista, uma tendência que advogava um posicionamento purista que levou
Konrad Koch113 à criação de um conjunto de termos futebolísticos alemães, traduzidos do
inglês, pelo que a “Verdeutschungsliste” (Burkhardt, 2008:72) obteve aprovação generalizada.
Contudo, alguns termos ingleses revelaram-se dominantes e continuam a fazer parte da actual
“Fussballsprache” ou “Fachtermini” alemã:
“centre-forward = Mittelstürmer
kick-off = Anstoß
corner = Ecke
linesmen = Linienrichter
corner-kick = Eckball
off side = Abseits
drawn = unentschieden
out! = aus
forwards = Stürmer
to pass = abgeben, zuspielen
free-kick = Freistoß
penalty-kick = Strafstoß
goal = Tor, Mal
referee = Schiedsrichter
goal-line = Mallinie (Torlinie)
shoot = Schuß (Stoß) aufs Tor
goal-post = Torpfosten, Malstange
to shoot = schießen”
half time = Halbzeit
(...) In manchen Fällen erwiesen sich die englischen Originale doch als stärker als die
vorgeschlagene Verdeutschung, so im Falle von ”Spielwart” für engl. captain, ”treiben” für
engl. to dribble, ”anständig, ehrlich” für engl. fair, ”ungehörig, unehrlich” für engl. foul und
”fassen, halten” für engl. to tackle.“ (Burkhardt, 2008:72-73)
Note-se que Schlobinski atribui o fracasso da aceitação de algumas traduções
sugeridas por Koch à ausência de impacto fonético apelativo e adequado à intensidade e
paixão do jogo. O mesmo afirma:
112
“O desporto moderno deve a sua importância aos jogos desportivos, com realce para o rugby e o futebol.
Mesmo que existam raízes longínquas, a forma, regras, delimitação e codificação é obra da Inglaterra do século XIX.
Dá-se aí a transformação dos jogos em desportos” (Serôdio-Fernandes, 1999, p. 24). Sendo a Inglaterra o berço do
futebol moderno, a terminologia futebolística alemã adoptou grande parte do seu vocabulário directamente da
língua inglesa, sem qualquer tradução: “(...) dass in der Anfangszeit des Fußballs in Deutschland auf den
Fußballplätzen selbst und in der frühen Berichterstattung die englische Begrifflichkeit dominierte. Valk (1935: 567f.)
verweist auf einen Spielbericht der ”Vossischen Zeitung” vom 13. September 1892, der ”von englischen Ausdrücken
wie goal, captain, half time, goalkeeper” nur so ”gewimmelt” habe.“ (Burkhard, 2008:72)
113
vide http://zeit.de/sport/2011-02/konrad-koch-fussball-portraet/seite-2 [Consult. 03.08.2011]
149
“(…) so ist bei ihrer Auswahl nicht allein darauf Rücksicht zu nehmen, dass sie möglichst
treffend sind; nein, sie dürfen auch nicht farblos und gekünstelt sein, sondern müssen ihr
voll und kräftig ins Ohr fallen. Im Kampfe gegen das hässliche Fremdwort ,Goal‘, noch
hässlicher ,Johl‘ gesprochen, hat sich unser matter Ausdruck ,Mal‘ als zu schwach erwiesen;
also ersetzen wir ihn überall, wo es angeht, durch ,Tor‘.“ (Koch, 1903:170, in Schlobinski
2010:9)
Outra possível razão do fracasso da germanização da terminologia futebolística atribuise à imprecisão terminológica dos termos alemães correspondentes. Assim, no excerto textual
abaixo
“Es war kein grobes Foul, das ihn zum Ausscheiden zwang, wie überhaupt die beiden ersten
Partien wohltuend fair abliefen.“ (www.kicker.de 09.06.2008)
tanto o termo inglês Foul como fair veiculam um conteúdo semântico preciso, i.e. Foul114: uma
acção contra a integridade física do adversário ou desrespeito pelas regras do jogo e fair115:
uma atitude que respeita a integridade física do adversário e as regras do jogo. Se
substituíssemos, de acordo com a sugestão de Koch, Foul por Ungehörigkeit ou fair por
anständig
Es war keine grobe Ungehörigkeit, das ihn zum Ausscheiden zwang, wie überhaupt die
beiden ersten Partien wohltuend anständig abliefen.
o significado das expressões não seria idêntico, pois tanto Ungehörigkeit como anständig
emergem do domínio ético e moral:
“un|ge|hö|rig <Adj.>: nicht den Regeln des Anstands, der guten Sitte entsprechend; die
geltenden Umgangsformen verletzend: ein -es Benehmen; etw. in -em Ton sagen; eine -e
(freche, vorlaute) Antwort geben; sich u. aufführen;
Un|ge|hö|rig|keit, die; -, -en: 1. <o. Pl.> das Ungehörigsein. 2. ungehörige Handlung,
Äußerung. (Dudenverlag, 1997, CD-Rom)
an|stän|dig <Adj.>: 1. a) sittlich einwandfrei; den geltenden Moralbegriffen entsprechend,
gut, korrekt: -es Betragen; er hat a. gehandelt; b) rücksichtsvoll, anerkennenswert: ein
114
“noun- (in sport) an unfair or invalid stroke or piece of play, especially one involving interference with an opponent.” (In: http://oxforddictionaries.com/view/entry/m_en_gb0312390#m_en_gb0312390 [Consult. 18.12.2010])
"Foul, das; -s, -s (Sport): regelwidriges, unfaires, unsportliches Verhalten, Spiel: ein klares F.; ein F. [an jmdm.] mit
einem Elfmeter bestrafen, ahnden." (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
115
"without cheating or trying to achieve unjust advantage: no one could say he played fair" (In:
http://oxforddictionaries.com/view/entry/m_en_gb0285240#m_en_gb0285240.044 [Consult. 18.12.2010])
"fair <Adj.> [engl. fair < aengl. fæger = schön, lieblich; vgl. asächs., ahd fagar = schön]: a) den Regeln des
Zusammenlebens entsprechend; anständig, gerecht in seinem Verhalten gegenüber anderen: ein -es Angebot
machen; das war nicht ganz f. von ihm; jmdn. f. behandeln; er hat sich mir gegenüber nicht f. benommen; b) (Sport)
den [Spiel]regeln entsprechend: ein -er Wettkampf." (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
150
Appell an den -en Kraftfahrer; das war a. von dir! 2. (ugs.) zufrieden stellend, durchaus
genügend: -es (ordentliches) Aussehen; die Leistung war ganz a.; jmdn. a. bezahlen. 3.
(ugs.) beträchtlich, ziemlich: eine -e Tracht Prügel bekommen; wir mussten a.
draufzahlen.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
Conforme registado pelo DUDEN, não é possível traduzir o conceito de fair por uma única
palavra verdadeiramente equivalente, recorrendo, assim, à paráfrase: den [Spiel]regeln
entsprechend. Ora no discurso futebolístico, que se quer, de acordo com Koch, foneticamente
apelativo, conciso e preciso, qualquer paráfrase estaria, à partida, condenada ao insucesso.
Partindo do postulado de que a língua é uma construção viva e dinâmica, também a
linguagem futebolística tem vindo a evoluir, sendo que actualmente se assiste a um
ressurgimento de anglicismos no mundo do futebol, sem oposição significativa por parte dos
linguistas. Pelo contrário, a crescente globalização e proliferação dos media internacionais
nesta era digital potencia o recurso à língua inglesa, como lingua franca, em praticamente
todos os domínios da sociedade actual, como exemplificado abaixo:
“Wie wäre das Match gelaufen, wenn Frank Lampards korrektes Tor zum 2:2 anerkannt
worden wäre?“ (In: www.kicker.de, 28.06.2010)
“Der ehemalige Nürnberger Profi Robert Vittek, mit zwei Toren gegen die Squadra Azzurra
Matchwinner, erklärte (...)“ (In: www.kicker.de, 27.06.2010)
“In neun Stadien wurde gekickt – so weit, so gut.“ (In: www.bild.de , 26.06.2006)
“Besonders schlimm bekommt Star-Keeper Gianluigi Buffon (32) sein Fett weg. Die Zeitung
„La Repubblica“ lästert nach dem schwachen 1:1 gegen Paraguay.“ (In: www.bild.de,
15.06.2010)
“Der Goalgetter des FC Liverpool, der nach überstandener Meniskusoperation auf seinen
ersten WM-Einsatz in der Startelf brennt, weiß (...)“ (In: www.kicker.de, 20.06.2010)
“Thomas Helmer war einer der letzten Kämpfer, die einen Titel holten. Beim Golden-GoalSieg über die Tschechen.“ (In: www.kicker.de, 29.06.2008)
Apesar de reconhecermos esta tendência como um fenómeno omnipresente na
imprensa desportiva, o estudo dos anglicismos não constitui parte integrante da nossa análise,
também pelo facto de que no Wörterbuch der Fussballsprache (2006a) Burkhardt sublinhar
que os anglicismos, embora cada vez mais populares, só constituem um porcento da
totalidade dos 2200 termos analisados116.
116
Schlobinski (2010) apresenta na sua edição do DUDEN – Keeper, Elf und Gurkenpass – uma listagem da actual
“Fussballsprache” alemã. Segundo o mesmo, trata-se de uma compilação proveniente de quatro domínios:
1. a terminologia técnica – “Fachsprache”
2. o jargão do futebol – “Fussballjargon”
3. a linguagem dos adeptos – “Fansprache”
151
Finalmente, convém relembrar que o presente corpus não inclui imagens mescladas
que compõem, em grande parte, a terminologia técnica117 devido ao facto de, apesar de
amplamente construídas a partir domínio-fonte da guerra, terem assumido, a nosso ver, o
estatuto de metáfora convencionalizada ou lexicalizada, e a sua motivação metafórica estar,
consequentemente, desvanecida, tal como já foi referido anteriormente:
“Usuell gewordene Metaphern werden als neue Teilbedeutungen lexikalisiert, ”verblassen”
dabei gewissermaßen und müssen dann natürlich nicht jedesmal im aktuellen Kontext neu
entschlüsselt werden. (...) Zwar bleibt die Gewalt auf diese Weise im Ballsport semantisch
präsent, doch sind die o.g. Metaphern inzwischen als normale Bezeichnungen von
Spielsituationen und Spielhandlungen usueller Bestandteil der Sportsprache geworden und
lassen so nicht ständig an ihre militärische Herkunft denken.“ (Burkhardt, 2008:75-76)
Para a construção e análise sistemática do nosso corpus aproximamo-nos dos passos sugeridos
num estudo de Schmitt118 (2005:370ff) e outro por Andriessen e Gubbins (2006:11-13) sobre
imagens metafóricas no âmbito do discurso empresarial (Defining social capital: A systematic
analysis of metaphorical conceptualisations) mas cuja metodologia se adequa perfeitamente
aos nossos propósitos:
1. Identificação do alvo da pesquisa (Identifying the Target Area for Metaphor Analysis –
Schmitt (2005:369); Andriessen/Gubbins (2006:11));
2. Recolha e compilação de amostras (Unsystematic, Broad-Based Collection of Background
Metaphors – Schmitt (2005:370), Sampling - Andriessen/Gubbins (2006:11));
3. Destaque e realce para as manifestações linguísticas das imagens mescladas (Highlighting
all phrases related to the target área - Andriessen/Gubbins (2006:12));
4. Identificação das construções mescladas no texto (Identification of metaphors and
deconstructive segmentation of the texts – Schmitt (2005:371), Identifying metaphors Andriessen/Gubbins (2006:12));
4. a linguagem dos media – “Sprache der Fussballberichterstattung.” Também Burkhardt (2006a 2006b; 2008)
procede a esta divisão: ”Mit Valk (1935: 567) verstehe ich unter Fußballsprache ”die Spezialausdrücke, deren sich
alle Personen bedienen, die in irgendeiner Beziehung zum Fussballspiel stehen”, und darüber hinaus
gemeinsprachliche Wörter, die im und um den Fußball spezielle Bedeutungen ausgebildet haben. Die
Fußballsprache kann in Fußballfachsprache, Fußballjargon, Sprache der Fußballberichterstattung (Reportsprache)
und Fansprache unterscheiden werden.“ (Burkhardt, 2008:73)
117
de acordo com uma listagem apresentada por Schlobinski (2010), seleccionamos as seguintes: Abwehr,
Abwehrspieler, Angriff, Attacke, Defensive, Feld, Feldspieler, Flanke, Flügel, Gegenangriff, Gegner, Kapitän,
Niederlage, Schuss, Sieg, Sturm, Stürmer, Stürmerfoul, Sturmspitze, Taktik, (Tor)Schütze, Verteildiger, Verteildigung,
Zweikampf.
118
Schmitt (2005), Systematic Metaphor Analysis as a Method of Qualitative Research
152
5. Sintetização e agrupamento das conceptualizações metafóricas (Synthesis of collective
metaphorical models – Schmitt (2005:372), Synthesising collective metaphorical concepts Andriessen/Gubbins (2006:12)).
A fim de complementar a análise com uma abordagem quantitativa, decidimos incluir
um sexto ponto, diferente das propostas de Schmitt (2005) e Andriessen/Gubbins (2006):
6. Conatbilização global (totalidade de domínios) e parcial (por cada domínio) das
imagens mescladas identificadas (ponto 3.3.)
Sublinhamos ainda que todas as ocorrências metafóricas recolhidas foram estudadas e
avaliadas de acordo com o processo de identificação de metáforas (MIP - preconizado pelo
Pragglejaz Group (2007)) tal como descrito por Krennmayr : “(…) the search for metaphorically
used words can be tackled from the bottom up (Pragglejaz Group, 2007) – without presuming
a specific conceptual metaphor. Only at a later stage are conceptual metaphors derived from
the linguistic expressions that have been identified. (…) Similarly, Cameron (2003) puts
metaphor in use at the center of attention, emphasizing the importance of taking context into
account.” (Krennmayr, 2011:25)
3.2. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães – abordagem qualitativa
Decidimos analisar as metáforas conceptuais, de acordo com Brandt (2004a) e
Brandt/Brandt (2005a), encontradas nas publicações on-line de um conjunto de jornais
desportivos e suplementos desportivos dos jornais generalistas mais representativos (vide
ponto 3.1.2.) aquando dos campeonatos europeus de 2004 e 2008 e campeonatos mundiais de
2006 e 2010. No que concerne o campeonato do mundo de 2010, foi, ainda, possível recolher
ocorrências metafóricas da revista bissemanal Kicker-Sportmagazin, conforme referido
anteriormente. Estas irão permitir analisar se existe alguma diferença significativa entre as
manifestações linguísticas de conceptualizações metafóricas na imprensa em suporte digital
ou de papel.
Para efeitos de análise, as ocorrências metafóricas foram então subdivididas por
domínios-fonte, tendo por base as macro-metáforas conceptuais119, conforme atestado na
seguinte tabela:
119
“All metaphors belonging to the same image source and describing the same target area are grouped into
metaphorical concepts under the main heading "target is source."” (Schmitt, 2005:372-373)
153
Futebol120 → Domínio-fonte
Descrição
Nº de
Ocorr.
1. FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e
MORTE
Dá origem a realizações metafóricas cujo domínio-fonte
incide sobre adversários, tácticas e meios técnicos e
logísticos próprios do contexto da batalha e da guerra.
Incide também sobre formas de violência física incluindo
cenários de morte.
158
2. FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA
Dá origem a imagens metafóricas cujos domínios-fonte
são formas artísticas da área do cinema, teatro, pintura e
outros espectáculos artísticos.
99
3. FUTEBOL É MÁQUINA e VEÍCULO
Concretiza-se em elaborações metafóricas cujos
domínios-fonte configuram máquinas diversas e veículos
ou componentes de veículos.
77
4. FUTEBOL É JOGO - OUTRAS
Dá origem a elaborações metafóricas cujos domíniosMODALIDADES DESPORTIVAS e JOGOS DE fonte se reportam a diferentes modalidades desportivas,
SORTE
bem como a jogos de sorte.
65
5. FUTEBOL É RELIGIÃO e MITOLOGIA
Origina a construção de imagens metafóricas cujos
domínios-fonte são relativos quer a rituais, figuras e
episódios bíblicos, quer a figuras mitológicas.
56
6. FUTEBOL É ALIMENTO e AGRICULTURA
Realiza-se em imagens metafóricas que tomam como
domínios-fonte a produção agrícola e os produtos
comestíveis.
52
7. FUTEBOL É TRAJECTÓRIA
Realiza-se nas elaborações metafóricas que têm como
domínio-fonte a imagem do percurso.
46
8. FUTEBOL É CONSTRUÇÃO/DESTRUIÇÃO
Serve à elaboração de imagens metafóricas projectadas a
partir dos domínios-fonte da construção ou demolição
de edificações.
40
9. FUTEBOL É ANIMAL
É realizada em imagens metafóricas que têm como
domínios-fonte os animais, sua morfologia e
comportamento.
39
10. FUTEBOL É REALEZA
Concretiza-se em elaborações metafóricas cujos
domínios-fonte respeitam à realeza, com especial
destaque para os títulos nobiliários.
34
11. FUTEBOL É CULTURA E TOURADA
É concretizada em imagens metafóricas construídas em
torno do domínio-fonte das narrativas de matriz cultural
europeia, bem que de matriz cultural especificamente
alemã (incluindo contos de fadas e fábulas). Arquitecta
igualmente realizações metafóricas cujo domínio-fonte é
a tourada.
34
12. FUTEBOL É FENÓMENO NATURAL
Origina a construção de imagens metafóricas cujo
domínio-fonte é relativo a fenómenos naturais, tais
como o vento e a chuva.
29
120
Entenda-se aqui como englobado no termo FUTEBOL todos seus intervenientes, individuais e colectivos, activos
ou passivos, assim como o espaço físico do campo e/ou estádio de futebol, como também o jogo em si, isolado ou
integrado num campeonato, incluindo estratégias e tácticas de jogo.
154
13. FUTEBOL É OBJECTO VALIOSO (e
BRILHANTE)
Origina imagens metafóricas cujos domínios-fonte são
objectos de valor e/ou brilho, tais como o ouro ou
diamantes.
28
14. FUTEBOL É EMPRESA (ECONOMIA)
Constrói imagens metafóricas decorrentes do domíniofonte do mundo empresarial e económico.
22
15. FUTEBOL É CIMA/BAIXO
Concretiza-se em elaborações metafóricas baseadas na
orientação espacial cima – baixo.
21
16. FUTEBOL É CORPO HUMANO
Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como
domínio-fonte o corpo humano.
21
17. FUTEBOL É MAGIA
Realiza-se em elaborações metafóricas que têm como
domínio-fonte o universo da magia.
19
Origina configurações cujo domínio-fonte
aprendizagem em contexto escolar.
18
18. FUTEBOL É MEIO ESCOLAR
é
a
19. FUTEBOL É DOENÇA OU MAL-ESTAR
FÍSICO
Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como
domínio-fonte o domínio da doença ou do mal-estar
físico.
18
20. FUTEBOL É SONHO
Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como
domínio-fonte cenários oníricos.
16
21. FUTEBOL É ARRUMAÇÃO e LIMPEZA
Dá origem a representações metafóricas cujos domíniosfonte respeitam a arrumação, a organização e o asseio.
15
22. FUTEBOL É CALOR (FOGO) e FRIO
(GELO)
Origina uma realização metafórica que decorre do
domínio-fonte do calor e do fogo, assim como do frio e
do gelo.
14
23. FUTEBOL É COSTURA, VESTUÁRIO e
ACESSÓRIO
Concretiza-se em elaborações metafóricas cujo domíniofonte respeita à costura, peças de vestuário e acessórios
de moda.
14
24. FUTEBOL É CAÇA
Realiza-se em imagens metafóricas que têm como
domínios-fonte cenários de caça.
14
25. FUTEBOL É COMUNICAÇÃO
Serve à elaboração de imagens metafóricas projectadas a
partir do domínio da comunicação.
13
26. FUTEBOL É ACONTECIMENTO
HISTÓRICO
Concretiza-se em elaborações metafóricas cujo domíniofonte respeita factos históricos.
10
27. FUTEBOL É APRISIONAMENTO/
LIBERTAÇÃO
É realizada em imagens metafóricas que possuem como
domínios-fonte objectos de aprisionamento.
9
28. FUTEBOL É NAVIO
Dá origem a realizações metafóricas que apresentam
como domínios-fonte a navegação marítima.
7
29. FUTEBOL É SONO
Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como
domínio-fonte estados de adormecimento ou de
despertar.
7
TOTAL:
995
Figura 24: Listagem dos domínios-fonte identificados (ordem quantitativa)
Não foram considerados os domínios-fonte relativamente aos quais foi encontrado um
número de manifestações metafóricas inferior a 5, devido ao facto de, a nosso ver, não
atingirem um estatuto de representatividade. A ordem dos domínios-fonte acima exposta,
corresponde à ordem decrescente do número total de ocorrências.
155
Devido ao elevado número de ocorrências e tendo em conta as dimensões deste
estudo, optamos por seleccionar cerca de um terço das ocorrências (as que julgamos as mais
interessantes) e aplicámos, a título exemplificativo, o referido modelo de redes de espaços
mentais. Cada domínio-fonte surge acompanhado de uma breve contextualização e uma
explicação sumária relativamente aos processos mentais subjacentes às respectivas
realizações metafóricas. Tal como referimos anteriormente, o nosso corpus permitiu-nos
identificar 29 domínios-fonte distintos. Contudo, por questões metodológicas de organização e
desenvolvimento no que diz respeito às análises apresentadas nesta dissertação,
consideramos pertinente fazer apenas referência aos domínios-fonte menos expressivos sem,
porém, aprofundar a análise semiótica ou explanar pormenorizadamente as redes mentais
subjacentes às diferentes realizações metafóricas identificadas. Consideramos que os
domínios-fonte, cujo número de ocorrências se situa abaixo das 20, embora consideráveis e
merecedores de menção, possuem uma representatividade relativa, tendo em conta o número
total de ocorrências incluídas no nosso corpus.
3.2.1. Imagens mescladas: Futebol - Guerra, Violência e Morte
Tendo em conta as observações já exploradas nos pontos anteriores, a metáfora
conceptual FUTEBOL É GUERRA121, confronto, violência e morte, foi, de longe, a mais
frequente e significativa, com um total de 158 ocorrências encontradas (135 ocorrências da
imprensa digital e 23 ocorrências da imprensa tradicional). Estes resultados estão em sintonia
com um conjunto interessante de estudos sobre a conceptualização metafórica do futebol,
sendo o desporto o domínio-alvo e a guerra o domínio-fonte (vide ponto 2.1.) Esta projecção
efectua-se através de uma série de correspondências, i.e. mapeamentos ontológicos e
epistémicos entre os dois domínios. A guerra é entendida, aqui, na sua dimensão de
experiência bélica concreta, executada através de um conjunto de elementos essenciais,
indispensáveis à sua realização. Como experiência concreta, mas não necessariamente vivida,
a guerra é conceptualizada como um confronto de dois adversários, dos quais se espera que
um ganhe e que o outro seja derrotado:
121
vide Kövecses (2002:75) que considera as raízes culturais e históricas como uma das bases para a
conceptualização metafórica: “the target domain took its historical origin as its source domain” e apresenta o
exemplo da metáfora conceptual “Sport is war”.
156
“Es geht dabei darum, eine bildhafte Analogie zwischen dem Gemeinten und etwas
vielleicht besser Bekannten herzustellen. Dies geschieht indem man die eine Sache einfach
als die andere bezeichnet oder beide gleichsetzt. Weil in den Ballsportarten jeweils zwei
Parteien um Sieg oder Niederlage ringen, ist zur Beschreibung der Spiele vor allem das Bild
vom Krieg oder Kampf in besonderer Weise geeignet, das vielen inzwischen gängigen
Bezeichnungen zugrunde liegt.“ (Burkhardt, 2006a:9)
O confronto realiza-se com recurso a armas específicas e é organizado por etapas, por
exemplo, avanços e recuos das partes envolvidas. O cenário é um campo de batalha para a
qual são delineadas uma série de estratégias específicas. Para que a metáfora conceptual
resulte, as características do domínio da experiência concreta são, então, mapeadas sobre o
domínio-alvo, criando, assim, um mapeamento conceptual de correspondências entre os dois
domínios:
“Natürlich gilt das auch und in besonderem Maße für den Fußball, der von Anfang an nach
dem Muster von Angriff und Verteidigung, Sieg und Niederlage konzipiert war: Im Rahmen
dieses Modells werden daher Gegner attackiert und der Ball geschossen. Der Bomber der
Nation kann eine Granate ins obere linke Eck abfeuern oder einen Kopfballtorpedo machen.
Man kann dem Gegner ins offene Messer laufen, wenn man auf dessen Kontertaktik
hereinfällt, mit offenem Visier kämpfen und das Spiel so zu einer offenen Feldschlacht
werden lassen, in deren Verlauf Gegner niedergemetzelt werden und an deren Ende der
Besiegte geschlagen vom Platz geht.“ (Burkhardt, 2008:75)
As metáforas emergentes do domínio-fonte da guerra conceptualizam a maior parte
dos desportos de competição. São frequentemente utilizadas para descrever os jogadores,
suas acções e emoções antes, durante e após os jogos. Apesar dos mesmos assumirem o papel
principal da competição, os mapeamentos estendem-se ao jogo em si, às tácticas de jogo, ao
campeonato em questão, aos árbitros, treinadores e espectadores. O cenário conceptual de
guerra torna-se quase omnipresente. Este facto é frequentemente criticado, apesar das
analogias entre os domínios serem por demais óbvias:
“In solchen Polemiken wird in der Regel übersehen, dass einige Grundzüge der Ballspiele
und insbesondere des Fussballspiels eine Metaphorik aus dem Bereich des Militärwesens
durchaus naheliegend und sinnvoll erscheinen lassen. Der Ablauf eines Fuβballspiels hat
augenfällige Parallelen zu einer ,klassischen Feldschlacht: Zwei Parteien stellen sich auf
einem Feld zum Kampfe auf und treten, angeführt von einem Spielführer, mit dem erklärten
– und im Sport legitimierten – Ziel an, den Gegner zu besiegen, zu schlagen; man spielt nicht
mit einer anderen Mannschaft, sondern spielt, kämpft gegen den Gegner. Die Aufstellung
der Mannschaft erfolgt nach einem ausgeklügelten Plan, man formiert sich in Reihen, wobei
157
jeder Reihe bestimmte, vorher verabredete und festgelegte Funktionen zukommen:
Verteidigung des eigenen Bereichs: die Defensive, Angriff auf den gegnerischen Bereich: die
Offensive.“ (Dankert, 1969:122-123)
Mapeamentos baseados na macro-metáfora da guerra são muito comuns e abrangem,
para além do desporto, outros domínios. Já Lakoff, Johnson (1980a) defendiam e existência
das metáforas estruturais LOVE IS WAR e ARGUMENT IS WAR122:
“The point here is that not only our conception of an argument but the way we carry it out
is grounded on our knowledge and experience of physical combat. Even if you have never
fought a fistfight in your life, much less a war, but have been arguing from the time you
began to talk, you still conceive of arguments, and execute them, according to the
AGRUMENT IS WAR metaphor because the metaphor is built into the conceptual system of
the culture in which you live.” (Lakoff, Johnson, 1980a:63-65)
Lakoff e Johnson (1980a:68) evidenciam claramente o contexto cultural subjacente à
conceptualização metafórica: “(…) all have a strong cultural basis. They emerged naturally in a
culture like ours because what they highlight corresponds so closely to what we experience
collectively and what they hide corresponds to so little. But not only are they grounded in our
physical and cultural experience; they also influence our experience and our actions.”
Se é verdade que a conceptualização do conceito é geralmente unidireccional123 pois
processa-se, na maioria dos casos, no sentido do conceito abstracto para o mais concreto - “If
such metaphorical understandings exist, then it would make sense that semantic change
would manifest a general pattern, a movement from the more concrete and physical toward a
more abstract and nonphysical. There is ample evidence of just such a directionally change.”
(Johnson, 1987:107f) - no caso do futebol, o processo de conceptualização não pressupõe,
aparentemente, a referida necessidade de concretização de conceitos abstractos, pois o jogo
de futebol é igualmente concreto. Assistiu-se sim, a nosso ver, a uma necessidade conferir a
este desporto, principalmente aquando do seu aparecimento na era moderna (vide ponto
3.1.1.), um conjunto de termos específicos que ilustrassem de forma eficaz a estrutura, a
construção e o funcionamento desta competição. Neste contexto, o domínio-fonte da guerra
afigurou-se como ideal para realçar e evidenciar as características do jogo competitivo, tal
como referimos anteriormente. Existem, por exemplo, evidências que reforçam o contexto
guerreiro como motivação imediata. O aparecimento e proliferação do futebol moderno, nos
122
Vide Lakoff, Johnson (1980:61-64) e Ungerer, Schmid (1996:123) que optam pelo modelo cognitivo mais
específico da batalha (BATTLE).
123
vide também Lakoff/Johnson (1980a:109), Sweetser (1990:30) e Jäkel (1999:385, 2002:28)
158
finais do século XIX e início do século XX, coincidiu não somente com o início da
Industrialização, como também se assistia à forte presença de um clima militar:
“Was das Militärische in der Fuβballsprache betrifft, so liegen die Anfänge der
Fuβballbewegung in einer Zeit, in der das Militär einen beherrschenden Einfluβ auf das
tägliche Leben ausübte. Die Zeit zwischen der Mitte des 19. und dem Beginn des 20.
Jahrhunderts war eine Ära, in der militaristische Töne eine Politik des Säbelrasselns
untermalten und das nationale wie individuelle Selbstverständnis und die Handlungsweisen,
damit auch die Sprache, prägen muβten.So entwickelte sich der Sport und gerade ein
solches betont auf Kampf eingestelltes Spiel wie der Fuβball in seiner Terminologie eine
Aufnahmebereitschaft (…)“ (Gerneth, Schaefer, Wolf, 1971:209-210)
Esta vertente bélica estava igualmente presente nas escolas e na educação em geral, daí que
muitos dos desportistas tenham, na altura, usufruído de uma educação militar o que facilitava
e potenciava a compreensão de um discurso guerreiro.
Historicamente, sempre existiu uma estreita relação entre a prática do futebol e a
guerra. Os primeiros registos de um desporto jogado com bola, extremamente violento
(muitas vezes, a cabeça decepada de um inimigo substituía a bola), em que se utilizavam os
pés para impulsioná-la, remontam à China, onde se encontram registos de 2600 a.C., sobre a
prática de um jogo chamado "Tsu Chu” (bater com os pés numa bola) usada para o treino
militar e a sua variante Japonesa chamada “Kemari”, cerca de 500 anos mais tarde124. Durante
toda a Idade Média, e por muitos séculos depois, realizou-se na Inglaterra um jogo de bola que
pode ser considerado o mais importante precursor do futebol moderno. A disputa acontecia
cada Shrove Tuesday (terça-feira gorda), entre os habitantes da cidade: um número ilimitado
de participantes (por vezes de 400 a 500 de cada lado) corria atrás de uma bola de couro com
124
“Die früheste Form des Spiels, die wissenschaftlich belegt ist, findet man in einem chinesischen Militärhandbuch
aus dem zweiten bzw. dritten Jahrhundert vor Christus. Dieses erste als "Tsu' Chu" bezeichnete Ballspiel aus der
Han-Dynastie bestand darin, einen mit Federn und Haaren gefüllten Lederball durch eine nur 30 - 40 cm breite
Öffnung in ein schmales Netz zu befördern, das an zwei langen Bambusstangen befestigt war. In einer Variante
dieser Übung konnte der ballführende Spieler nicht frei darüber entscheiden, wie ein Punkt erzielt werden sollte.
Der Ball durfte lediglich mit den Füßen, der Brust, dem Rücken und den Schultern gespielt werden, während es
gleichzeitig galt, die Gegenspieler auf Distanz zu halten. Die Zuhilfenahme der Hände war schon damals untersagt.
Eine andere Variante des Spiels, die ebenfalls in Fernost ihre Wurzeln hat, ist das japanische Kemari, das ca. 500 600 Jahre später entstand und noch heute gespielt wird. Es handelt sich hierbei allerdings um eine Variante, die im
Gegensatz zu "Tsu' Chu" auf eine kampfbetonte Balleroberung verzichtet. Die in einem Kreis stehenden Akteure
spielten sich dabei auf relativ engem Raum gegenseitig den Ball zu, ohne dass dieser den Boden berühren darf. Das
griechische "Episkyros" - von dem es nur noch wenige Überlieferungen gibt - war weitaus aktiver als das römische
"Harpastum". Letzteres wurde von zwei Mannschaften mit einem kleineren Ball auf einem rechteckigen Feld
gespielt, das über Außen- und Mittelinie verfügte. Ziel war es, den Ball über die Außenlinie der gegnerischen
Mannschaft zu befördern. Da sich die Spieler gegenseitig den Ball zuschoben, war eine ausgefeilte Technik von
Vorteil. Das Spiel blieb in den nächsten 700 bis 800 Jahren noch recht populär und wurde von den Römern auch
nach Großbritannien gebracht, doch es konnte sich nie als echtes Fussballspiel durchsetzen.“ (In FIFA – Federação
Internacional de Futebol Associado: http://de.fifa.com/classicfootball/history/game/historygame1.html [Consult.
18.12.2010])
159
o objetivo de a alcançar, dominar e levar até a meta adversária, i.e. às portas norte e sul da
cidade inglesa de Ashbourne. Nessa disputa, o jogo festivo-militar representava a expulsão dos
dinamarqueses quando estes exerciam domínio parcial do território anglo-saxónico. A bola
representava a cabeça de um oficial do exército invasor. Por fim, convém destacar os
acontecimentos bélicos que marcaram o século XX, século em que o futebol adquiriu o
estatuto de desporto mais popular do mundo125, a saber, a primeira e a segunda guerra
mundial, assim como um conjunto significativo de confrontos regionais. A acrescentar, ainda,
relembramos a época da guerra fria que deu origem a um clima global de tensão política e
militar durante mais de 40 anos (1945-1991).
Contudo, defendemos que as analogias entre os dois domínios configuram a maior
motivação para a criação de imagens mescladas e daí, ultrapassarem amplamente estes
contextos históricos. De facto, o domínio-fonte da guerra continua a evidenciar-se como
bastante produtivo: “Andererseits bleibt das Modell Krieg insofern weiterhin produktiv, als es
eine Ressource für die Bildung neuer militärischer Metaphern darstellt, über die ständig
verfügt werden kann und wird.“ (Burkhardt, 2008:76)
A função das imagens mescladas na imprensa desportiva não reside, contudo, na
instigação ou na reanimação do espírito militar, no verdadeiro sentido da palavra, apesar do
jornalismo desportivo ser frequentemente alvo dessa crítica. Ao usar a expressão Panzer
quando se refere a um determinado jogador, não tem em mente o veículo militar concreto,
mas sim as suas características mais salientes e significantes – tais como força e robustez assim
como o facto de ser de difícil de deter. Fingerhut realça:
“Der Kritiker, der Begriffe wie „Offensive“, „Defensive“, „Taktik“ und „Scharfschützen“ nicht
lesen kann, ohne an Stalingrad zu denken, legt dann wohl eine übertriebene Sensibilität an
den Tag. Schließlich basiert bei Fußballspielen die Analogie zwischen Sportsprache und
Kriegsmetaphorik auf dem natürlichen antagonistische Handlungsmuster.“ (Fingerhut,
1991:55)
Contudo, discute-se se existe algum exagero por parte do jornalismo desportivo no recurso às
metáforas de guerra – Kriegsmetaphorik – e se reflectem uma criatividade linguística genuína,
partilhada pela comunidade falante, ou se se tornou apenas uma estratégia sensacionalista
para mais facilmente vender o produto futebol. Acreditamos que possa ser uma conjugação
dos dois factores. Com efeito, o domínio-fonte da guerra revela-se como fonte quase
inesgotável de imagens análogas o que permite ao jornalismo desportivo variar e inovar o
125
“(…) one in every twenty five of the world’s population – a fact which on its own corroborates football’s position
as the number one sport in the world (…)” (FIFA, In: http://www.fifa.com/aboutfifa/media/newsid=529882.html
[Consult. 19.12.2010])
160
discurso, contando, simultaneamente, com o conhecimento partilhado por parte dos leitores
e, subsequentemente, com a descodificação imediata das imagens utilizadas:
“Die starre und gewissermaβen zementierte Metaphorik dieses Vokabulars bietet dem
Sportkommunikator den Vorteil, nicht um den jeweils adäquaten Ausdruck und die jeweils
treffende Formulierung ringen zu müssen. Mit der Verwendung dieses Vokabulars kann er
sein Fachwissen ausweisen und sich zudem darauf verlassen, daβ der Leser auf dieses
Vokabular eingespielt ist und es vielleicht mit derselben Sicherheit beherrscht.“
(Dankert,1969:58)
O nosso corpus, porém, prova que a produtividade da imprensa desportiva não se limita
exclusivamente ao domínio-fonte da guerra. A monotonia do discurso militar é quebrada com
o recurso a um número significativo de outros domínios-fonte, igualmente inteligíveis pelos
leitores devido à sua experiência vivida, ao seu conhecimento do mundo (Weltwissen) e à
partilha cultural e intercultural:
“(…) metaphor and its relation to thought as cognitive webs that that extend beyond
individual minds and are spread out into the cultural world. There are two parts of this
message. First, our understanding of what is conceptual about metaphor involves significant
aspects of cultural experience, some of which is even intimately related to our embodied
behavior. Under this view, there need not be a rigid distinction between cultural and
conceptual metaphor. Second, public, cultural representations of conceptual metaphors
have an indispensible cognitive function that allows people to carry less of a mental burden
during everyday thought and language. This possibility suggests that important parts of
metaphoric thought and language are as much part of the cultural world as they are
internalized mental entities in our heads.” (Gibbs, 1997:146)
De acordo com Brandt (2004a), Brandt/Brandt (2005a) iremos demonstrar através do
Modelo das Redes Mentais como as estruturas mescladas são construções semióticas que
ocorrem no contexto da comunicação (englobando o receptor e a situação) e são
representadas do domínio-fonte para o domínio-alvo, tal como preconizado pela teoria
conceptual da metáfora. A macro-metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA, na qual incluímos
o conceito de violência, sugere a seguinte rede mental:
161
Espaço Semiótico de Base
Espaço de Apresentação
Acções/
Tácticas
Espaço de Referência
Intervenientes
Jogador
GUERRA/
VIOLÊNCIA
Expressões
metafóricas
FUTEBOL
Outros
Intervenientes
Locais
Eventos
Equipa
Objectos
Cenário do confronto físico
entre duas partes (duelo)/
Esquema dinâmico da força
e contra-força
FUTEBOL
COMO
GUERRA
Campeonato
Jogo/
Jogada
Espaço Virtual
(Blend)
Esquema Dinâmico de
Relevância
(Relevance Schema)
Inferências
Emergentes
Futebol é luta, força,
empenho total e
organização para
Unidos pelo
desejo inabalável de vitória
Espaço do
Significado
ganhar o jogo
Figura 25: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Guerra
No espaço semiótico de base encontra-se a expressão metafórica, integrada no texto
jornalístico dos jornais desportivos que, por sua vez, fazem parte da esfera social, económica e
cultural de uma determinada comunidade linguística.
O espaço de Apresentação configura o domínio-fonte, a GUERRA, enquanto o espaço
de Referência evidencia o domínio-alvo, o FUTEBOL. No que concerne o domínio-fonte,
reconhecemos um conjunto de cinco subcategorias, a partir das quais se processam os
mapeamentos – aqui representadas por pequenas esferas inseridas no espaço de
Apresentação. Relativamente a estas sub-categorias, foram identificadas imagens mescladas
que se baseiam no princípio da homogeneidade: os intervenientes (por exemplo, soldados por
um lado e jogadores por outro) são conceptualizados de forma semelhante na medida em que
são realçadas e evidenciadas determinadas características que servem aos processos de
mapeamento. Desde o aspecto físico a traços psicológicos e emocionais, muitas são as
vertentes podem servir como base para os diferentes mapeamentos. Tendo em conta a
totalidade dos possíveis intervenientes (e entenda-se por interveniente tanto um indivíduo
162
isolado como um grupo de pessoas) que participam num cenário de guerra ou num jogo de
futebol, a riqueza de mapeamentos torna-se evidente. Registe-se a ocorrência de fenómenos
idênticos relativamente às restantes quatro vertentes ou subcategorias : os locais (por
exemplo: o campo de batalha e o estádio de futebol), os objectos (por exemplo: a bala de
canhão e a bola de futebol), os eventos (por exemplo: uma batalha e um jogo), e as acções e
tácticas (por exemplo: um disparo e um chuto). Optamos por juntar as vertentes acção e
táctica devido ao facto da execução de uma táctica só ser visível através da respectiva acção,
motivada pela mesma. No que concerne a categoria dos eventos, incluímos as ocorrências do
jogo despoletadas por acções específicas, por exemplo, um golo é um evento que resulta da
acção do remate à baliza.
As imagens mapeadas revelam-se particularmente criativas pois um interveniente do
domínio-alvo pode ser conceptualizado como um objecto do domínio-fonte, por exemplo, um
jogador é um Panzer. Assiste-se, assim, a fenómenos de personificação ou, pelo contrário, de
objectivação.
No espaço virtual, ou Blend, as referidas características mais salientes do domíniofonte GUERRA e as do mundo do futebol são conceptualmente mescladas (representado por
setas simples (
)) o que origina a mescla FUTEBOL COMO GUERRA. Para que a mescla
virtual faça sentido, os esquemas dinâmicos do espaço de relevância são projectados no
espaço virtual, imprimindo lógica e sentido ao significado final. Estes esquemas dinâmicos
provém, por sua vez, do espaço de semiótico de base, nomeadamente, da esfera do
conhecimento individual, social e cultural. Neste caso, os esquemas de relevância patenteiam
o conhecimento que o leitor possui acerca dos domínios, tanto da guerra como do jogo de
futebol: em ambas as situações trata-se de um confronto – militar ou desportivo - entre duas
partes oponentes, cujo propósito é alcançar a vitória. O Espaço semiótico de Base, o Espaço de
Relevância e o Espaço virtual estão ligados por setas de ponta preenchida (
) que
representam o percurso para a construção de significado.
O espaço de relevância não foi representado por um círculo, tal como os outros
espaços, devido ao facto do mesmo não configurar um espaço mental idêntico aos restantes.
De acordo com Brandt (2010:9) trata-se sim de “a certain schema, for example of cultural
norms and ethical principles making it relevant for consideration”, reflectindo o domínio
experiencial do conhecimento do mundo real. Mantendo a terminologia avançada pela
maioria dos estudos efectuados por Brandt e Brandt/Brandt, concluímos que a representação
deste espaço em forma de rectângulo melhor realça a diferença entre os níveis de
conceptualização.
163
O Espaço do Significado é, por fim, o resultado emergente dos processos conceptuais
anteriores (representado por uma seta em bloco (
)126). Este significado mesclado
pressupõe a compreensão concreta por parte do leitor da intencionalidade do texto
jornalístico, quando confrontado com a metáfora conceptual, ou seja, “understanding and
experiencing one kind of thing in terms of another” (Lakoff/Johnson, 1980a:5). A mensagem
subjacente à mescla FUTEBOL COMO GUERRA pode ser generalizada da seguinte forma: no
futebol há luta, poder e força, empenho total e organização de equipa. Ao reconhecer estas
características do futebol, o leitor ou espectador - adepto ou simples simpatizante deste
desporto - identifica o principal objectivo e a motivação inerente à competição: o desejo de
vencer. Esta inferência é, por último, remetida para o Espaço Semiótico de Base e poderá,
assim, ser indicadora do sentimento de união em torno de desejo de vitória.
Apresentamos, de seguida, uma tabela com as ocorrências que evidenciam as
expressões metafóricas identificadas, a fim de corroborar a teoria apresentada. A tabela está
subdividida por cinco partes - os mirco-cenários da guerra - correspondentes às subcategorias
supra mencionadas:
a) as acções/tácticas,
b) os intervenientes,
c) os eventos,
d) os objectos,
e) os locais,
organizadas por ordem decrescente de frequência em termos de número total de ocorrências.
Segue-se uma análise de cerca de um terço das ocorrências de forma a expor a arquitectura de
espaços mentais que conduziu a uma dada mensagem.
126
a diferenciação entre os tipos de setas corresponde à proposta de Brandt/Brandt (2005a:33)
164
a) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Acções/Tácticas (58 ocorrências)
EURO 2004 (12)
(1) Die Italiener steigerten sich nach der
Pause, doch der gute dänische Keeper
Sörensen entschärfte einige brenzlige
Situationen.
(www.kicker.de – 14.06.2004)
MUNDIAL 2006 (13)
(13) Andererseits musste die deutsche
Abwehr höchste Konzentration aufbieten,
denn das Mittelfeld der Costa Ricaner
suchte immer wieder Wanchope, der
permanent auf den tödlichen Pass wie vor
dem Ausgleich lauerte.
(2) Die Schweden triumphierten mit einem (www.kicker.de – 09.06.2006)
insgesamt etwas zu hoch ausgefallenen
Erfolg, da Bulgarien lange Zeit ein mehr als (14) Viduka hämmerte den Ball in mittlerer
gleichwertiger Gegner war.
Position flach links an der Abwehrmauer
(www.kicker.de – 14.06.2004)
vorbei (...).
(www.kicker.de – 12.06.2006)
(3) Der Wolfsburger Martin Petrov flankte
zu Jankovic, der den Ball aus acht Metern (15) "Les Bleus" hatten ihr Pulver bis auf
volley neben den linken Torpfosten eine Szene kurz vor dem Schlusspfiff bereits
hämmerte.
im ersten Durchgang verschossen.
(www.kicker.de – 14.06.2004)
(www.kicker.de – 13.06.2006)
(4) Zudem hatten Jankulovski, Rosicky und
Poborsky bei guten Schussgelegenheiten
das Visier nicht exakt genug eingestellt
oder scheiterten an Torhüter Kolinko.
(www.kicker.de – 15.06.2004)
(5) Marek Heinz rettet die Tschechen
Erst zwei Tore in den letzten 17 Minuten
verhinderten eine Blamage gegen die sich
tapfer wehrenden Letten.
(www.spiegel.de – 16.06.2004)
(6) Zu sehr versuchten die Nordeuropäer
durch die Mitte zum Erfolg zu kommen, und
dort stand die Innenverteidigung mit Nesta
EURO 2008 (6)
(26) (...) die Squadra Azzurra suchte mit
aller Gewalt den Weg in die Spitzen, fand
aber nicht entscheidend zum Abschluss.
(www.kicker.de – 09.06.2008)
MUNDIAL 2010 (28)
(32) WM-Vorbereitung Löw über Poldi: „Wird
bei der WM explodieren“
(www.sportbild.bild.de – 24.05.2010)
(33) „Wir haben optimale Bedingungen“, sagt
(27) Pranjic bediente von links Klasnic, der Friedrich, „und sind gerüstet für die WM.“
diesmal sein Visier besser eingestellt (Kicker Sportmagazin Nr. 47 – 23. Woche
10.06.2010, p.2/3)
hatte und die Kroaten mehr als verdient
mit 1:0 in Front schoss (53.).
(34) Bei den folgenden wütenden Attacken der
Mexikaner war auf Khune Verlass: In der 60.
(www.kicker.de – 16.06.2008)
Minute entschärfte der Schlussmann einen
(28) Kapitän Michael Ballack weiß: „(...) Schuss von dos Santos.
jeder Spieler muss natürlich auch seine (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010)
eigene Balance finden und sehen, dass er
für das nächste Spiel gut gerüstet ist. (35) Diese defensivere Marschroute mag
Entscheidend ist der Erfolg, nichts effektiver für das Team sein. Sie ist aber
definitiv schädlich für Ronaldo.
anderes.“ (www.bild.de - 22.06.2008)
(www.sportbild.bild.de – 09.06.2010)
(16) Auch kurz darauf konnte Nunez einen (29) Torbinskiy und Arshavin versetzen (36) (...) doch die Marschroute ging nicht auf,
Querpass von Ibrahimovic im letzten den Todesstoß
weil ausgerechnet die Abwehr in den
Moment vor dem einschussbereiten (www.kicker.de – 21.06.2008)
entscheidenden Momenten patzte.
Larsson entschärfen (16.).
(30) Deshalb kann die Devise nur lauten: (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(www.kicker.de – 15.06.2006)
Schlagt die Spanier in der Luft!
(37) Gegen die überfallartigen Angriffe der
(17) (...) doch auch ohne die Künste des (www.bild.de – 28.06.2008)
Südkoreaner (...) fand die Abwehr um Senior
Georgios Katsouranis auch weiterhin kein
Turiners marschierte Frankreich nun einem
sicheren Sieg entgegen.
(31) „Vamos, España!“ Vorwärts Spanien! Rezept. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(www.kicker.de – 23.06.2006)
So wollen die Spanier ihre Mannschaft (38) Der Bundestrainer sieht sich und sein Team
heute abend anfeuern. Grund: Mit
(18) In der Schlussphase agierten dann diesem Schlachtruf wurden die Spanier bestens gewappnet für das 50. Länderspiel
unter seiner Leitung.
beide Teams mit offenem Visier.
1964 zum einzigen Mal Europameister.
(www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(www.kicker.de – 12.06.2006)
(www.bild.de – 28.06.2008)
(39) Niederlande begann gegen erwartungs-
165
und Cannavaro bombensicher.
(www.kicker.de – 18.06.2004)
(19) Bondscoach Marco van Basten
unterstützte nun die offensive Marschroute mit der Hereinnahme von van der
(7) "Trapattoni verurteilt Italien zum Tode" Vaart.
Dem ehemaligen Bayern-Coach wird die (www.kicker.de - 12.06.2006)
Hauptschuld am verpassten Sieg gegen
Schweden gegeben.
(20) Bis zur Pause spielten beide Teams
(www.spiegel.de – 19.06.2004)
dann mit offenem Visier, ohne jedoch
weitere Treffer hinzufügen zu können.
(8)"Gegen Tschechien mit Wut im Bauch"
(www.kicker.de – 27.06.2006)
Für Deutschland geht es im Spiel gegen
Tschechien um alles. Nur mit einem Sieg (21) José Pekermans Spieler bewiesen ihre
erreicht die DFB-Elf auf jeden Fall das EM- taktische Reife, standen bis auf wenige
Ausnahmen bombensicher in der Ordnung
Viertelfinale.
(...). (www.kicker.de – 30.06.2006)
(www.spiegel.de - 20.06.2004)
(22) Doch damit hatten die Franzosen ihr
(9) (...) als der eingewechselte Nuno Gomes
Pulver vor der Halbzeit auch schon
nach einem Zuspiel von Figo blitz-schnell
verschossen (...)
abschloss und sein Rechtsschuss im langen
(www.kicker.de – 01.07.2006)
Eck zum Führungstreffer für das
Gastgeberland einschlug (57.). (...) Nun (23) Da ballerten sich die Klinsmänner mit
wurde die Partie rassig, weil die Spanier das ihrem tollen Offensiv-Fußball (...) in unsere
Visier öffnen mussten.
Herzen.
(www.kicker.de – 20.06.2004)
(www.bild.de – 05.07.2006)
(10) Deutschland ging bedächtig in die
Partie, wollte keinesfalls den Tschechen ins
offene Messer rennen und spielte zunächst
aus einer sicheren Deckung heraus.
(www.kicker.de – 22.06.2004)
(24) Erst killt er Deutschland im Halbfinale,
dann knallt er Italien im Elfmeterschießen
zum Weltmeister-Titel. Fabio Grosso, um
22.40 Uhr verwandelt er am 9. Juli den
entscheidenden Strafstoß zum 6:4-Finalsieg
gegen Frankreich.
(11) Im weiteren Verlauf der ersten Hälfte
(www.bild.de – 09.07.2006)
änderte sich wenig an diesem Bild. Malouda
und Ribery setzten gefährliche Fernschüsse, (25) 7. Minute: Malouda marschiert in den
die Agassa jedoch entschärfen konnte.
italienischen Strafraum.
(www.kicker.de - 23.06.2004)
(www.bild.de – 09.07.2006)
gemäß tiefstehende Japaner mit viel
Ballkontrolle. Das Leder zirkulierte flüssig
durch die Reihen der Elftal, den ersten
Torschuss feuerte Sneijder aber per direktem
Freistoß ab (9.). (www.kicker.de - 19.06.2010)
(40) Deutschland, ein harter Hieb von den
Serben. (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(41) Nach dem 1:0 kombinierten die
Portugiesen bis zum Strafraum flüssig, es fehlte
aber zunächst noch der tödliche Pass in die
Spitze. (www.kicker.de – 21.06.2010)
(42)
Die
Begegnung
bot
enormen
Unterhaltungswert, weil beide Mannschaften
mit offenem Visier agierten.
(www.kicker.de – 21.06.2010)
(43) Von Nordkorea, das sichtlich angeschlagen
war, kam derweil nichts mehr.
(www.kicker.de – 21.06.2010)
(44) (...) Die bereits früh dezimierten Franzosen
verabschiedeten sich sang- und klanglos aus
dem Turnier. (www.kicker.de – 22.06.2010)
(45) (...) doch der tödliche Pass wurde mehrfach
ausgelassen. (www.kicker.de – 23.06.2010)
(46) Die Ghaner übernahmen dann in der
Schlussviertelstunde
etwas
mehr
das
Kommando, doch Neuer & Co. waren nun
zumeist auf dem Posten.
(www.kicker.de – 23.06.2010)
(47) Miroslav Klose: „Ich hatte erwartet, dass
die Engländer angesichts ihrer historischen
Chance mit Messern zwischen den Zähnen auf
den Platz kommen. Nach fünf bis sieben
166
(12) (...) und Makaays anschließende Flanke
hämmerte van Nistelrooy per Volleyschuss
knapp daneben.
(www.kicker.de – 24.06.2004)
Minuten wusste ich aber, dass wir gewinnen.“
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(48) Mexiko hatte viel Kraft gelassen und sein
Pulver verschossen (...)
(www.kicker.de – 26.06.2010)
(49) Müller schießt England ab
(www.kicker.de – 27.06.2010)
(50) (...) Überhaupt hatten beide Mannschaften
ihr Visier bis zur Pause nicht genau genug
eingestellt. (www.kicker.de – 03.07.2010)
(51) Auch Pantelic kam noch (für Zigic) - doch
dann schlugen die Australier zu: Cahill setzte
sich im Luftduell gegen den um fünf Zentimeter
größeren Vidic durch und traf per Kopf.
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(52) Deutschland schiesst Argentinien ab – DFBElf gewinnt 4:0 (Spiel Gegen Argentinien)
(www.kicker.de/news/video)
(53) Erst das Verteildigen, dann das
Toreschiessen. (...) Der eigene Strafraum wird
verbarrikadiert, das Mittelfeld su einer
undurchdringbaren Zone verfestigt. (Kicker
Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010,
p.11)
(54) Weltweite Berühmtheit erlangte der Profi
von Ajax Amsterdam ohnehin durch eine
„Heldentat“ der etwas anderen Art. Im
Viertelfinale gegen Ghana schlug Suarez in der
letzten Minute der Verlängerung einen Kopfball
von Dominic Adiyiah mit beiden Händen von der
Linie. (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010)
(55) Mit Forlán und Suarez gegen Deutschland
167
Uruguay-Trainer: „Werden bis in den Tod
vorbereitet sein!“
(www.sportbild.bild.de – 09.07.2010)
(56) Die Festung Neuseeland muss erst mal
erobert werden. Grosser Kampf soll fehlende
Klasse wettmachen. (…) (Kicker Sportmagazin
Sonderheft WM 2010, p.174)
(57) (...) weil Lahm losdribbelt, instinktsicher
nach innen kurvt und dann feuert. (Kicker
Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.29)
(58) Ungeschlagen marschierte die Nationalelf
durch die WM-Qualifikation (...). (Kicker
Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.21)
b) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE – Categoria: Intervenientes (37 ocorrências)
EURO 2004 (8)
(59) "Legionär" Morientes, von Real Madrid
an den AS Monaco ausgeliehen, durfte sich
als einzige nominelle Spitze versuchen.
(www.kicker.de – 12.06.2004)
(60) Das Leder rauschte an Freund und
Feind vorbei, klatschte an den zweiten
Pfosten und von dort ins Tor.
(www.kicker.de – 15.06.2004)
(61)
Lettische
Tränen,
erleichterte
Tschechen und ein fulminantes Duell unter
Erzrivalen.
(www.spiegel.de – 16.06.2004)
(62) Zudem ließ er Sturmführer Vieri auf
der Bank.
MUNDIAL 2006 (3)
EURO 2008 (7)
(67) Bei Australien setzte Coach Guus (70) In dieser standen mit Keeper
Hiddink ausschließlich auf Legionäre, die in Casillas,
Abwehrchef
Puyol,
den
Mittelfeldspielern Xavi und Iniesta sowie
ganz Europa ihre Brötchen verdienen.
(www.kicker.de – 12.06.2006)
Stürmer Torres - im Übrigen der einzige
Legionär in der Anfangsformation (...)
(68) Jens Lehmann: Neben Italiens Buffon (www.kicker.de – 10.06.2008)
der beste Torwart der WM. Immer sicher,
immer cool. Gegen Argentinien als (71) Dass würde mich mit Stolz erfüllen,
Elfmeter-Killer Deutschlands Matchwinner. eines Tages Nationaltrainer zu sein",
(www.bild.de – 05.07.2006)
sagte Didier Deschamps, Kapitän der
Weltmeister- und Europameisterelf von
(69) In unserem Finale der Herzen wurde 1998 und 2000 gegenüber der
Bastian Schweinsteiger (21) zum Helden. Tageszeitung Le Monde. Der in seiner
Zwei Knaller-Baller-Tore geschossen, das aktiven Zeit (102 Länderspiele) früher als
dritte (...) per Gewalt-Schuß erzwungen.
General bezeichnete Deschamps (...)
(www.bild.de – 09.07.2006)
(www.kicker.de - 16.06.2008)
MUNDIAL 2010 (19)
(77) Unsere WM-Helden verraten: So holt
Deutschland den vierten Titel
(www.sportbild.bild.de – 10.06.2010)
(78) Der General pokert. Nach dem
sensationellen Auftaktsieg gegen Europameister Spanien will die Schweiz am Montag
(16 Uhr) gegen Chile in Port Elizabeth
nachlegen. Vor dem Duell der beiden
Gruppenführenden fordert Nationaltrainer
Ottmar Hitzfeld von seinen Spielern einen
"kühlen Kopf". Der "General" sieht sein Team
gegen die starken Südamerikaner trotz des 1:0
über die Iberer in der Außenseiterrolle.
(www.kicker.de - 20.06.2010)
(79) Beim 2:0 gegen Honduras: Spaniens Tor-
168
(www.kicker.de – 22.06.2004)
(63) England brachte Owens frühe Führung
nicht über die Runden, hielt jedoch bis zum
Schluss tapfer dagegen. Keeper Ricardo
wurde im Elfmeterschießen zum Held des
Abends.
(www.kicker.de – 24.06.2004)
(64) Griechenlands neuer Volksheld Otto
Rehhagel konnte im "Estadio Dragao"
wieder seine Stammelf auflaufen lassen.
(www.kicker.de – 29.06.2004)
(65) Niederlande: EM-Teilnahme kam für
Arjen Robben (20) unverhofft: Ein
Rückkehrer als Triumphator
(www.kicker.de – 30.06.2004)
(66) "Alle morgen ins Panathinaikon
Stadion. Wir empfangen unsere Helden",
rief das griechische Fernsehen seine
Zuschauer zum Kommen auf.
(www.spiegel.de – 05.07.2004)
(72) So blieb der Außenseiter letztlich Held Villa
doch noch auf der Strecke in der (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010)
"Todesgruppe" C.
(80) Dann foulte er den deutschen Kapitän
(www.kicker.de – 17.06.2008)
Michael Ballack so schwer, dass dieser für die
(73) Bastian Schweinsteiger ist nach WM ausfiel. Einige erklärten Boateng deshalb zu
seinem Superspiel gegen Portugal der Deutschlands Staatsfeind Nummer eins.
(www.sportbild.bild.de – 22.06.2010)
Held des Nationalteams. Es ist nicht nur
ein großes Comeback - sondern ein ganz (81) Als Tabellenerster trifft Deutschland am
Sonntag in Bloemfontein auf den Erzrivalen
persönlicher Triumph.
England.
(www.kicker.de . 23.06.2010)
(www.spiegel.de – 20.06.2008)
(74) Montag Mega-Party mit den Fans (82) Harry Kewell: „Er ist Richter, Jury und
Henker. Der Typ hat meine WM gekillt.“
EM-Helden feiern in Berlin
(Australiens
Stürmer nach seinem Platzverweis
(www.bild.de – 27.06.2008)
gegen Ghana
über Schiedsrichter Roberto
(75) Das deutsche Spiel? Tot und virtuell Rosetti) (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
im Wiener Nachthimmel, mit Kroaten,
(83)
Schweinsteiger
agierte
dabei
als
Portugiesen, Türken und all den anderen "Generalbeauftragter" in Sachen Messi, der
ausgeschiedenen Teams.
zunächst unauffällig blieb.
(www.focus.de – 29.06.2008)
(www.kicker.de – 03.07.2010)
(76) So schnell geht das im Fußball. Vom (84) Stürmer mit Killer-Instinkt: David Villa
Depp zum Helden in wenigen Tagen.
schoss bei dieser WM fünf von sechs Toren der
(www.focus.de – 30.06.2008)
Spanier. (www.sportbild.bild.de – 07.07.2010)
(85) Andres Iniesta wurde in der 116. Minute vor
den Augen der jubelnden Königin Sofia und des
spanischen Kronprinzenpaares Felipe und Letizia
zum neuen Helden des spanischen Königreichs.
(www.sportbild.bild.de – 11.07.2010)
(86) Warten auf die Entscheidung – Die müden
Helden sind zurück (WM-Elf Ankunft in
Deutschland nach der WM)
(www.kicker.de/news/video)
(87) Fiesta maxima – Millionen-Empfang für
Spaniens WM-Helden
169
(www.kicker.de/news/video)
(88) Es darf eher als Ausnaheme gelten, wie
souverän der „geborene Mittelfeld-General“ sich
am Kap verhält. (W. Sneijder) (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.9)
(89) Schweinsteiger (...) Er war der Herrscher im
Mittelfeld (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27.
Woche 05.07.2010, p.23)
(90) Abflug nach Südafrika - Das Vorkommando
meldet: Alles okay! (Kicker Sportmagazin Nr. 46
– 23. Woche 07.06.2010, p.23)
(91) Den genialen Techniker und klugen
Strategen Karim Ziani (27) kennt man beim VfL
Wolfsburg eigentlich nur aus Erzählungen. (Kicker
Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.162)
(92) Das kleine Slowenien will mithilfe der
Legionäre aus Deutschland erstmals einen Sieg
bei der WM schaffen. (Kicker Sportmagazin
Sonderheft WM 2010, p.163)
(93) Sie hoffen auf Buffon und die Helden von
2006 (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010,
p.170)
(94) (...) Zumal Portugal ausgerechnet in der
„Todesgruppe“ mit Rekord-Weltmeister Brasilien
(...) gelandet ist. (Kicker Sportmagazin Sonderheft
WM 2010, p.180)
(95) Doch in der Defensive hält er den Gegner für
verwundbar.
(www.sportbild.bild.de – 22.06.2010)
170
c) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE – Categoria: Eventos (33 ocorrências)
EURO 2004 (4)
(96) Beckham brachte einen Freistoß von
halbrechts ins Sturmzentrum, Lampard
netzte mit dem Kopf unhaltbar ins rechte,
obere Toreck ein (38.). Silvestre kam im
Duell gegen den Mittelfeldakteur vom FC
Chelsea zu spät.
(www.kicker.de - 12.06.2004)
MUNDIAL 2006 (7)
(100) Für Arne Friedrich indes, der zuletzt
wegen der beiden Gegentore arg
gescholten wurde, wird der Auftritt zum
Ritt auf der Rasierklinge.
(www.kicker.de – 12.06.2006)
EURO 2008 (5)
(107) In Unterzahl konnten die
Franzosen das Spiel nicht mehr drehen,
das zweite Tor der Azzurri entschied das
Duell nach einer guten Stunde.
(www.kicker.de – 17.06.2008)
(101) Achtelfinale, Portugal - Niederlande (108) HEUTE HAMMER-DUELL GEGEN
1:0 (1:0) Portugal gewinnt die "Schlacht von RONALDO Ballack, lass ihn wieder
weinen!
(97)
So
kam
das
"italienische Nürnberg" (www.kicker.de – 25.06.2006)
(www.bild.de – 19.06.2008)
Horrorergebnis" im Wikinger-Duell zum
Tragen und zwingt die Azzurri zur (102) So hatte Kuijt für "Oranje" die (109) Halbfinale Deutschland – Türkei
Riesenchance zum Ausgleich auf dem Fuß,
Heimreise.
brisante
Duell
(Altinopdoch im Duell mit Ricardo blieb der Das
(www.kicker.de – 22.06.2004)
portugiesische
Keeper
der
Sieger. Schweinsteiger)
(Kicker Ausgabe 52 - 23.06.2008)
(www.kicker.de - 25.06.2006)
(98) Portugal im Ausnahmezustand
Das 10-Millionen-Einwohnerland befand (103) Ein Schuß mitten ins schwarz-rot- (110) Fernando Torres hatte seine
sich
nach
dem
Abpfiff
im geile Herz. Italien führt im Halbfinale Schnelligkeit ausgenutzt und das Duell
Ausnahmezustand.
gegen Phlipp Lahm gewonnen.
Sekunden vor Schluß mit 1:0
(www.spiegel.de – 25.06.2004)
(www.sportbild.de – 29.06.2008)
(www.bild.de – 05.07.2006)
(99) Die Rückkehr wurde zum Triumphzug.
(www.kicker.de – 30.06.2004)
(104) Jetzt die Halbfinal-Schlacht gegen
Italien. In den letzten zwei Minuten der
Verlängerung verloren, aber gekämpft wie
Weltmeister.
(www.bild.de – 05.07.2006)
(105) Spaniens Turnier-Trauma hält an:
Erneut reichte es nicht für einen
Durchmarsch bis ins Finale einer WM.
(www.spiegel.de – 28.06.2006)
(106) DFB-Elf gegen Polen - Ein Spiel mit
Messer zwischen den Zähnen
(111) Und trotzdem: Ihr habt uns drei
wundervolle Wochen geschenkt: Die
Nerven-Schlacht gegen Österreich, der
Zauber-Sieg gegen Portugal, der LastMinute-Thriller gegen die Türkei.
(www.bild.de – 30.06.2008)
MUNDIAL 2010 (17)
(112) Bislang kam es erst zu einem Aufeinandertreffen zwischen beiden Nationen bei einer
WM: 1974 gewann die DFB-Auswahl 3:0. Gibt es
nun in Südafrika die Rache?
(www.sportbild.bild.de – 09.06.2010)
(113) Es war der Auftakt zu einem Privatduell,
das der Keeper aus Nigeria zu seinen Gunsten
entschied. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(114) Auf diese Duelle kommt es an.
(www.kicker.de – 18.06.2010)
(115) Sieg für die Geschichte: Deutschland ist
gefallen, es gibt Hoffnung für die Adler.
(www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(116) Serbien feiert "Blitzkrieg" gegen
Deutschland. (www.stern.de – 19.06.2010)
(117) Für Neuseeland wurde das Match zu einer
reinen Abwehrschlacht (...)
(www.kicker.de - 20.06.2010)
(118) „Sie lassen Chancen zu“, verriet Bierhoff
eine zentrale Erkenntnis Löws bei dessen
Spionagetour.
(www.sportbild.bild.de – 22.06.2010)
(119) Die heißesten Duelle mit England
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(120) Diesmal siegte auch das viel beschworene
„neue Deutschland“ mit den typisch germanischen Tugenden: Mit Kampf und Krampf, einer
rettenden Torhüter-Leistung, einer gehörigen
Portion Schlachtenglück. (Kicker Sportmagazin
Nr. 51 – 25. Woche 24.06.2010, p.2)
171
(www.spiegel.de – 13.06.2006)
(121) (...) Einzig der mangelnden Chancenauswertung hatten es die Spanier zu verdanken,
dass der Tanz auf der Rasierklinge nicht zu
Verlezungen führte. (...) (Kicker Sportmagazin
Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.37)
(122) „Portugal ist ein extrem harter Gegener.
Das wird ein Spiel auf Leben und Tod.“ Del
Bosque (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche
28.06.2010, p.37)
(123) DEUTSCHLAND - ARGENTINIEN Die
Schlacht gegen Maradona Brasilien ist schon
auf dem Heimweg. Fliegt Argentinien heute
hinterher? Deutschland gegen Argentinien mit
Trainer-Weltstar Diego Maradona (49). Es wird
eine Schlacht! (www.bild.de - 02.07.2010)
(124) Es war still an diesem strahlend hellen
Freitagvormittag in Rio, stiller als sonst vor den
Spielen der Seleção, und das lag nicht nur
daran, dass die Schlacht gegen Holland um elf
Uhr morgens Ortszeit begann und alle
Geschäfte deshalb geschlossen waren.
(www.spiegel.de - 03.07.2010)
(125) Die Presse (Österreich): „Fußball ist Krieg Spanien ist Weltmeister.“ (www.sportbild.bild.de
– 12.07.2010)
(126) Alarmstufe Rot bei den Blauen – hilft
Ribery? (www.kicker.de/news/video)
(127) Kampf, Kraft und Krampf – WM-Schlacht
überstanden (www.kicker.de/news/video)
(128) Die Niederlande im Ausnahmezustand!
(www.kicker.de/news/video)
172
d) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Objectos (26 ocorrências)
EURO 2004 (1)
(129) Jense - die tickende Torbombe
(www.spiegel.de – 18.06.2004)
MUNDIAL 2006 (12)
EURO 2006 (1)
MUNDIAL 2010 (12)
(130) "Vorne die Panzer, hinten nicht dicht" (142) Der "Bomber der Nation" ist längst (143) SPORT BILD: Herr Schwarzer, Australien wird
(www.spiegel.de – 10.06.2006)
abgetreten, dennoch "müllert" es beim bei der WM nicht viel zugetraut. Ist Ihre Mannschaft
nur Kanonenfutter? (www.sportbild.bild.de –
(131) "Mit Polen kommt eine sehr schwere Turnier in Jugoslawien wieder.
09.06.2010)
(www.kicker.de
–
27.06.2008)
Aufgabe auf uns zu und ein ganz anderes Kaliber
als Costa Rica", sagt Klinsmann.
(144) Der Auftakt der "Hammergruppe" G
(www.kicker.de – 12.06.2006)
enttäuschte über weite Strecken und bot keine Tore.
(www.kicker.de - 15.06.2010)
(132) Argentinien - Serbien-Montenegro 6:0 (3:0) Kanonenfutter für die "Gauchos"
(www.kicker.de - 16.06.2006)
(145) Jovanovic und Stojkovic haben die 'Panzer'
durchbrochen. (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(133) Muntaris Hammer flog über das Tor (28.), im
Gegenzug bedeutete Poborskys Schrägschuss (29.)
die erste vielver-sprechende Torannäherung der
Tschechen (...). (www.kicker.de – 17.06.2006)
(146) Pressestimmen: England erwartet „deutsche
Kriegsmaschine.“
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(134) Das Angriffsspiel der Spanier war zwar
variabel, Luis Garcia, Fernando Torres und Villa
erwiesen sich auch als ständige Unruheherde, der
Ausgleich wollte aber trotz des hohen Aufwands
nicht gelingen. (www.kicker.de – 19.06.2006)
(135) Aruna Dindane: Lauffreudig, dribbelstark und
abgeklärt
war
Dindane
ein
ständiger
Gefahrenherd und sorgte mit zwei Treffern für die
Wende. (www.kicker.de – 21.06.2006)
(136) Francisco Fonseca: Torschütze, ständiger
Unruheherd, spielte immer wieder seine
Kopfballstärke aus. Scheiterte zwei Mal am starken
Ricardo. (www.kicker.de – 21.06.2006)
(137) Michael Ballack, als torgefährlichster
Mittelfeldspieler der Welt gerühmt, hat bei der
WM noch Ladehemmung.
(www.spiegel.de – 26.06.2006)
(147) Robben ist zurück, der Dribbler, der Sprinter,
Oranjes Geheimwaffe, die kein Geheimnis mehr sein
kann, weil die ganze Welt sie kennt. (www.kicker.de
– 25.06.2010)
(148) „Das freut mich natürlich besonders, 40 Jahre
nach Gerd Müller den Goldenen Schuh gewonnen zu
haben“, sagte der neue Müller. Der „Bomber der
Nation“ war 1970 bester WM-Torjäger.
(www.sportbild.bild.de – 12.07.2010)
(149) Eine Frage an drei Experten: 4:0 gegen
Australien – was ist dieser Auftaktsieg wert? „Es
warten andere Kaliber“ Jürgen Kohler. (Kicker
Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.25)
(150) “(...) Rechtzeitig zur WM spielt Löws Mannschaft einen Fussball, der mit „Rumpelfüsslern“ oder
„deutschen Panzern“ nichts mehr zu tun hat.”
Andreas Zimmer. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27.
Woche 05.07.2010, p.75)
173
(138) Für Spielmacher Riquelme kam Allzweckwaffe Cambiasso, was eher für ein Halten des
Resultats sprach. (www.kicker.de – 01.07.2006)
(151) „Die Waffen des Fussballs“, titelte der kicker
schon 2006 während der SommermärchenInszenierung. (Kicker Sport-magazin Nr. 54 – 27.
Woche 05.07.2010, p.11)
(139) Die schwarzen Bundesliga Bomber - Der
unumstrittene Star des Teams ist Afrikas Spieler
des Jahres Michael Essien.
(www.bild.de – 06.07.2006)
(152) Es ist DER Hammer im Halbfinale der FußballWM: Deutschland gegen Spanien, die Neuauflage
des EM-Finales von 2008.
(www.sportbild.bild.de – 07.07.02010)
(140) Bis zur 88. Minute, als Nuno Gomes mit
einem Torpedo-Kopfball nach einer schönen
Flanke von Figo unhaltbar für Kahn das 1:3 aus
portugiesischer
Sicht
erzielen
konnte.
(www.kicker.de – 08.07.2006)
(153) (...) Er ist auf dem besten Wege, sich nach dem
Torjägertitel bei der EM 2008 auch bei der WM die
Kanone für den Torschützen zu sichern.
(www.sportbild.bild.de – 07.07.2010)
(154) Der deutsche Panzer ist wieder einmal dabei.
Aber von dem Team, das gegen Australien alle in
Angst versetzte, ist nichts mehr zu sehen.
(www.kicker.de – 24.07.2010)
(141) Dank Klinsi ist Lahm eine Rakete. Von wegen
lahm, nur Raketen-Leistungen.
(www.bild.de – 09.07.2006)
e) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Locais (4 ocorrências)
EURO 2004 (0)
MUNDIAL 2006 (1)
(155) Angeschlagen verlässt
Schlachtfeld.
(www.kicker.de – 02.07.2006)
EURO 2008 (0)
Figo
das
MUNDIAL 2010 (3)
(156) Rheinische Post (rp-online.de) Schieds-richter
am Pranger. Ein Kartenspieler und ein Torklau. Am
achten Tag der Fußball-WM in Südafrika sind die
Schiedsrichter ins Kreuzfeuer der Kritik geraten.
(www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(157) Frankreich: Nach dem WM-Desaster greift
sogar Präsident Sarkozy ein. Frankreich in
Trümmern (Kicker Sportmagazin Nr. 51 – 25. Woche
24.06.2010, p.24/25)
(158) Die Festung Neuseeland muss erst mal
erobert werden. Grosser Kampf soll fehlende Klasse
wettmachen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM
2010, p.174)
174
a) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Acções/Tácticas
Tal como já referimos anteriormente, optámos por unir as categorias ‘acções’ e
‘tácticas’ devido ao facto das tácticas de jogo serem apenas visíveis e compreendidas através
das consequentes acções em campo durante os jogos. Se a táctica adoptada pelo treinador for,
por exemplo, de ‘defesa’ de um determinado resultado, são as jogadas, i.e. as acções dos
jogadores em campo que reflectem essa táctica, nomeadamente, no controlo e conservação
da posse de bola, na protecção da bola, na velocidade do jogo, no posicionamento dos
jogadores, nas faltas cometidas, etc. Sendo a essência do jogo a sucessão contínua de diversas
acções, não é de espantar que seja esta a categoria que mais ocorrências apresenta. As
ocorrências aqui analisadas reflectem acções de jogo, descritas com recurso a imagens
provenientes do cenário de guerra, confronto físico violento, e, em alguns casos, de violência
mortífera. O jogo é conceptualizado como uma luta de grande intensidade, realçando o
espírito de sacrifício e de entrega total. É uma luta pela sobrevivência, ou seja, pela vitória, em
que todos se sacrificam para que a equipa consiga atingir o objectivo colectivo. Originalmente,
a noção de sacrifício provém do contexto religioso em que algo, ou a vida de algo ou alguém,
era oferecido aos deuses para em troca receber perdão, graça ou bênção. Com o decorrer dos
tempos essas práticas foram desvanecendo, contudo o conceito de sacrifico prevaleceu.
Actualmente subjaz a diversas construções metafóricas, activando simultaneamente o
esquema da permuta: o sacrifício em prol de um retorno compensador, seja ele material ou
emocional. A ocorrência (5)
(5) Marek Heinz rettet die Tschechen. Erst zwei Tore in den letzten 17 Minuten
verhinderten eine Blamage gegen die sich tapfer wehrenden Letten.
constrói o cenário de luta aguerrida através dos verbos “retten” e “wehren”, intensificado pelo
recurso ao adjectivo “tapfer” que activa a ideia de resistência, heroísmo e bravura. A
ocorrência (26) evidencia o recurso à força e à violência na tentativa de atingir os objectivos:
(26) (...) die Squadra Azzurra suchte mit aller Gewalt den Weg in die Spitzen (...)
Através dos esquemas de relevância, esta imagem virtual é estabilizada e o leitor compreende
o significado deste enunciado: não se trata da aplicação de força bruta e violenta por parte dos
jogadores italianos, agredindo fisicamente a equipa adversária, mas sim de uma táctica de jogo
em que os jogadores pressionam quase ininterruptamente o adversário com jogadas perigosas
de ataques directos à baliza com o intuito de marcar o golo desejado. O cenário da força e da
violência encontra-se, igualmente, na ocorrência (34):
175
(34) Bei den folgenden wütenden Attacken der Mexikaner war auf Khune Verlass.
Tanto o golo adversário como a derrota são conceptualizados como agressão física ou uma
pancada forte. O conceito abstracto da derrota é, assim, melhor compreendido através do
domínio físico e concreto. A experiência real da dor física infligida subjaz frequentemente a
imagens mescladas construídas em torno do verbo polissémico ‘bater’ (schlagen). Este surge
no nosso corpus nas variações de “angeschlagen” (ocorrência (43)), “zuschlagen” (ocorrência
(51)) e “ungeschlagen” (ocorrência (58)).
(51) Auch Pantelic kam noch (für Zigic) - doch dann schlugen die Australier zu: Cahill
setzte sich im Luftduell gegen den um fünf Zentimeter größeren Vidic durch und traf
per Kopf.
A realização metafórica patente na ocorrência (51) aponta claramente para uma jogada de
ataque com marcação de golo por parte da equipa Australiana, conceptualizado como um
golpe violento no adversário.127
Com base na identificação dos diferentes mapeamentos no que diz respeito aos
domínios-fonte e domínios-alvo, aliado aos respectivos enquadramentos contextuais, optamos
por elaborar uma tabela, de forma a expor, sinteticamente, a rede conceptual de espaços
mentais que conduzem à mescla final, i.e. à mensagem intendida:
Ocor.
(5)
(26)
(34)
ESB
EA
retten/ sich tapfer
wehren
Texto
(salvar/ lutar
corajosamente)
ERef
Golos do jogador
checo Heinz/
acções defensivas
da selecção da
Letónia
M1
ERel
M2
Golos de Heinz
Cenário do
como salvação/
Bons golos, Heinz!
confronto/duelo;
acções defensivas
Bom esforço,
Esquemas da luta
da Letónia como
Letónia!
e do sacrifício
luta corajosa
suchte mit aller
Gewalt den Weg in
Ataques da
Ataques da
die Spitzen
selecção italiana
selecção italiana no
Texto
(procurar com
como suchte mit
jogo contra a
violência o
aller Gewalt den
selecção holandesa
caminho para o
Weg in die Spitzen
ataque)
Ataques da
Ataques da
wütende Attacken selecção mexicana
selecção mexicana
Texto
der Mexikaner
no jogo contra a
como wütende
(ataques furiosos)
selecção sulAttacken
africana
Cenário do
confronto/duelo;
Ataque forte, Itália!
Esquemas da luta
e da violência
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da luta
e da violência
Bom ataque,
México!
127
Burkhadt afirma: ”schlagen; nicht: hauen o. verprügeln, sondern: 1. ein Spiel (gegen eine andere Mannschaft) →
gewinnen, (einen Gegner) → besiegen → bezwingen. (...) 2. (den Ball) → treten (…).” (Burkhardt, 2006a:261)
176
(54)
dann schlugen die Golo da selecção
Australier zu
australiana no jogo
Texto
(golpe violento dos contra a selecção
Australianos)
sérvia
ESB
ERef
ERel
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Golo da selecção
australiana como
zuschlagen
EA
M1
M2
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da luta
e da violência
Grande golo,
Austrália!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 26: Tabela de espaços mentais 1
De acordo com a perspectiva de que um jogo de futebol bem disputado patenteia
características combativas ou mesmo agressivas, assim como se exige uma postura de entrega
total e sacrificada por parte dos jogadores, as mensagens contidas nas mesclas finais são de
congratulação e elogio público às selecções ou jogadores em causa. Trata-se, por conseguinte,
de uma apreciação de carácter emocional, motivado pelo cenário do confronto/duelo que,
quanto mais intenso e combativo, mais atractivo e arrebatador. Bellinger (2008) corrobora:
“Tödliche Pässe, überfallartige Angriffe, Bruder-Duelle: Die Fußballsprache ist bildhaft,
martialisch und emotional. (...) natürlich rollten wieder „deutsche Panzer“ durch die
Medien, waren Schlachtenbummler und Spione unterwegs, rannten Spieler um ihr Leben.
„Die Fußballsprache ist eine sehr anschauliche und emotionale Sprache. Wenn man sagt:
Eine Granate schlägt im Winkel ein – anschaulicher geht’s kaum. Vor dem geistigen Auge
öffnet sich da ein ganz anderer Bild-Horizont“, sagt der Dortmunder Sprachwissenschaftler
Uwe Wiemann.“ (Bellinger, 2008, http://deutschesprachwelt.de [Consult. 05.01.2011])
A conceptualização da violência inclui o cenário das ferramentas ou das armas. Quanto
às ferramentas, o martelo afigura-se como objecto de eleição preferencial, facto evidenciado
pela frequência de realizações metafóricas construídas em torno do objecto “Hammer” (vide
segmento d)) e seu campo semântico128:
(3) Der Wolfsburger Martin Petrov flankte zu Jankovic, der den Ball aus acht Metern
volley neben den linken Torpfosten hämmerte.
O verbo estourar (“knallen”)129 ou o nome estouro (“Knaller”) apresentam intencionalidade
semelhante pois evidenciam, de forma idêntica, a força e a potência de um remate, associado
ao forte barulho provocado pelo mesmo. Neste contexto concreto, o potente remate
128
Tal como afirmado por Burkhardt (2006a), a força e a potência do remate é equiparada ao impacto vigoroso de
um martelo a bater num qualquer objecto: ”hämmern; kein heftiges Schlagen o. Klopfen, aber: den Ball mit grosser
Wucht schiessen, → ballern, →knallen (...).“ (Burkhardt, 2006a:142)
129
”knallen; keine Silvesterspielchen, sondern: (den Ball) sehr wuchtig, hart schiessen (so dass es ein Knallgeräusch
geben würde, wenn er z. B. den Pfosten träfe) (...).“ (Burkhardt, 2006a:165-166)
177
transformou-se no golo vitorioso que conduziu à atribuição do título de campeão mundial à
selecção italiana:
(24) (...) dann knallt er Italien im Elfmeterschießen zum Weltmeister-Titel.
A faca (“Messer”) é outro objecto, ou arma, utilizada para a construção conceptual de
um cenário de violência e de perigo:
(10) Deutschland ging bedächtig in die Partie, wollte keinesfalls den Tschechen ins
offene Messer rennen (...).
(47) Miroslav Klose: „Ich hatte erwartet, dass die Engländer angesichts ihrer
historischen Chance mit Messern zwischen den Zähnen auf den Platz kommen.“
A expressão ins offene Messer rennen ou laufen significa, genericamente, colocar-se
irreflectida e levianamente em perigo130. Na ocorrência (10), infere-se que a equipa alemã,
apesar de procurar a vitória, não queria correr o risco de se expor excessivamente aos ataques
da equipa checa e ser derrotada pela mesma, i.e. correr metaforicamente perigo de vida.
Consequentemente, a derrota é conceptualizada como morte, neste caso concreto, à morte
por esfaqueamento. Mais uma vez, assistimos a um processo de conceptualização metafórica,
na qual o conceito abstracto de perigo e derrota é conceptualizado através da experiência
concreta e corpórea da ameaça física e da morte131.
Pensamos que não há leitor que, ao ler estes enunciados, acredite que os jogadores
estejam em campo, armados com facas e preparados para esfaquear o adversário. A
ocorrência (46) sugere uma imagem bastante criativa e concreta – os jogadores entram em
campo com facas entre os dentes – contudo o significado emergente é claro: trata-se de uma
questão de atitude e de entrega ao jogo, de empenho total por parte dos jogadores em prol da
vitória. O jogo é conceptualizado como uma luta fatal, que inclui armas mortíferas, pelo que
perder significa morrer. Neste sentido, o nosso corpus revela uma variedade significativa de
armas. As ocorrências (15) e (48) dizem respeito à pólvora das antigas armas de fogo, tais
como espingardas ou canhões:
(15) "Les Bleus" hatten ihr Pulver bis auf eine Szene kurz vor dem Schlusspfiff bereits
im ersten Durchgang verschossen.
130
1
”Mes|ser (...) er läuft ins offene M. er verhält sich so, dass er selbst seinen Untergang herbeiführt.”
(BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?
gerqry=messer [Consult. 06.01.2011])
131
Burkhardt (2006a) considera: ”ins offene Messer laufen; kein Stichwaffengebrauch auf dem Spielfeld, sondern
(in metaphorischer Verwendung) zu →offensiv spielen, d.h. mit zu vielen Spielern zu weit → vorrücken u. dadurch bei
→ Ballverlusten der gegnerischen Mannschaft schnelle → Konter bzw. → Kontertore ermöglichen (...).“ (Burkhardt,
2006a:198)
178
(48) Mexiko hatte viel Kraft gelassen und sein Pulver verschossen (...).
A expressão das Pulver verschiessen132 realça o contexto temporal no uso de armas de fogo. A
gestão da pólvora disponível durante uma batalha, por exemplo, era essencial, pois se esta se
esgotasse antes do fim do confronto, a derrota seria certa. A ênfase está, então, na capacidade
de racionalização deste recurso por um determinado período de tempo. Julga-se que esta
expressão possa estar ligada a uma outra - etwas geht aus wie das Hornberger Schießen – que
se baseia num pequeno incidente histórico133. A ocorrência (48) aponta para uma realidade
desportiva: os jogadores de futebol têm de saber gerir o seu esforço e as suas energias tendo
em conta a duração regular da partida, 90 minutos. Se assim não o fizerem, arriscam atingir o
esgotamento físico antes do final do encontro e, em consequência, diminuírem os seus níveis
de rendimento e eficácia. No espaço virtual deste mapeamento encontramos, então, o jogador
como uma arma de fogo que necessita da pólvora, i.e. energia e rendimento físico, para ser
eficaz. Na ocorrência (15) a ausência da pólvora surge como ausência de remates perigosos e
oportunidades de golo, pois, se numa batalha, a ausência de pólvora causa a ausência de
disparos das armas de fogo, no jogo de futebol essa ausência traduz-se na inexistência de
remates certeiros, conducentes a uma vitória. Este mapeamento emerge do facto do remate
ser conceptualizado como um disparo de uma arma, sendo o jogador (ou a equipa) portador
dessa arma, ou seja, o atirador:
(23) Da ballerten sich die Klinsmänner mit ihrem tollen Offensiv-Fußball (...) in unsere
Herzen.
(49) Müller schießt England ab.
(57) (...) weil Lahm losdribbelt, instinktsicher nach innen kurvt und dann feuert.
Na ocorrência (57) não fica totalmente claro se o remate resultou em golo, apesar da potência
- realçada através do verbo “feuern”134 - do mesmo. Já na ocorrência (49) é evidente que os
132
”Pul|ver (...) 3 [kurz für] Schießpulver; er hat sein P. zu früh verschossen [übertr.] er hat seine Einwände,
Argumente verfrüht angebracht (...)” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wiss
en/services/suche/wbger/index.html?gerqry=Pulver&Start=%A0%A0Suchen%A0%A0&gertype= [Consult. 03.01.2011])
133
”Die Herkunft der Redensart liegt in einem volkstümlichen Schwank, der eine Schildbürgergeschichte aus dem
Schwarzwaldstädtchen Hornberg erzählt. 1564 kündigte der der Herzog von Württemberg seinen Besuch in
Hornberg an. Ein Wächter sollte den Gast per Hornsignal voranmelden, damit man zur Begrüßung Böller- und
Kanonendonner abfeuern konnte. Zweimal gab er jedoch falschen Alarm. Als der hohe Gast dann wirklich kam,
hatten die Hornberger buchstäblich "ihr Pulver verschossen", und so begrüßten sie den Herzog mit einem lauten
"Piff-paff" aus tausend Männerkehlen. Friedrich Schiller verewigte die Begebenheit im Schauspiel "Die Räuber"“
(Redensarten-Index, In: http://www.redensarten-index.de/suche.php?&bool=and&suchspalte%5B%5D=rart_ou&su
chspalte%5B%5D=erl_ou&suchspalte%5B%5D=bsp_ou&suchspalte%5B%5D=erg_ou&suchbegriff=Pulver&page=1
[Consult. 06.01.2011])
134
”feu|ern [V.1, hat gefeuert] I [o. Obj.] Feuer machen, heizen II [o. Obj. oder mit Präp. obj.] schießen; auf etwas
oder jmdn. f. III [mit Akk.; ugs] 1 etwas f. heftig werfen, schleudern; einen Gegenstand wütend in die Ecke f.,”
(BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html
179
remates foram vitoriosos devido à partícula “ab” do verbo composto “abschiessen”135,
partícula essa, que acrescenta ao verbo disparar o significado de ‘final’ ou ‘terminal’.136 Mais
ainda, a equipa ou nação adversária é conceptualizada como um alvo a ser abatido, i.e.
derrotado ou eliminado. Quanto à ocorrência (23), a vitória final é compreendida através do
contexto: A equipa alemã, aqui os homens do treinador Klinsmann - “die Klinsmänner” praticaram um futebol atacante espectacular - “mit ihrem tollen Offensiv-Fussball” -,
rematando múltiplas vezes - “ballerten” -, e a consequente vitória conquistou os corações dos
adeptos - “in unsere Herzen”. O verbo ballern137 constrói o cenário bélico que subjaz ao espaço
virtual. Quão armas a disparar, assim os jogadores marcaram golos vitoriosos. No consequente
espaço do significado emerge a mensagem de congratulação intendida: Parabéns Alemanha!
Tendo em conta que ballern é sinónimo de knallen, o efeito sonoro associado a esta acção,
torna a mescla ainda mais eficaz, pois estimula virtualmente o sentido da audição.
O remate e as jogadas perigosas são também conceptualizados como dispositivos
explosivos ou bombas:
(34) (...) In der 60. Minute entschärfte der Schlussmann einen Schuss von dos Santos.
(6) Zu sehr versuchten die Nordeuropäer durch die Mitte zum Erfolg zu kommen,
und dort stand die Innenverteidigung mit Nesta und Cannavaro bombensicher.
Para que estas ‘bombas’ não expludam, ou seja, o remate ou a jogada não resulte em golo,
elas têm de ser desarmadas, “entschärfen”138, e a defesa tem de demonstrar que é ‘à prova de
bomba’, “bombensicher”139, ou seja, tem de estar extremamente segura e eficaz140. O próprio
jogador é conceptualizado como sendo um engenho explosivo:
?gerqry=feuern&gertype= [Consult. 06.01.2011])
135
”ab|schie|ßen [V., hat abgeschossen] I [mit Akk.] 1 etwas a. a mittels Waffe auf den Weg bringen; ein Geschoss,
eine Kugel a. b eine Waffe a. ein Geschoss aus einer Waffe fliegen lassen; ein Gewehr, eine Kanone a. c mittels
Geschoss zerstören oder kampfunfähig machen; ein Flugzeug, einen Panzer a. 2 jmdn. a. a mittels Geschoss
heimtückisch und kaltblütig töten; Menschen a.,” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/gene
rator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=abschiessen&gertype= [Consult. 06.01.2011])
136
“abschiessen; (…) kein kaltblütiger Vogelmord, sondern: entscheidende o. viele → Treffer erzielen (häufig durch
→ Konter) u. dadurch die → Niederlage des Gegners → besiegeln.(...)“ (Burkhardt, 2006a:15)
137
”bal|lern [V., hat geballert] (...) II [o. Obj.] 1 knallen; ein Schuss ballert 2 Schüsse abgeben; durch die Gegend b.
[ugs.], ” ( BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger
/index.html?gerqry=ballern&gertype= [Consult. 06.01.2011])
138
”ent|schär|fen [V., hat entschärft; mit Akk.] 1 ein Geschoss e. aus einem Geschoss die Zündeinrichtung
entfernen; eine Bombe, Mine e. 2 eine Sache e. a aus einer Sache Teile herausnehmen, die Ärgernis, Anstoß erregen
könnten; einen Zeitungsartikel e. b einer Sache die Schärfe nehmen, vermittelnd in eine Sache eingreifen; ein
Problem e.; eine Diskussion, Auseinandersetzung e., ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/
wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=entsch%E4rfen&Start=%A0%A0Suchen%A0%A0&
gertype= [Consult. 06.01.2011])
139
”bom|ben|si|cher [Adj. ] 1 [o. Steig.] gesichert gegen Bomben; ~er Keller 2 [ugs.] ganz sicher; ein ~es Geschäft;
das ist b., ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche
/wbger/index.html?gerqry=bombensicher&gertype= [Consult. 06.01.2011])
180
(32) WM-Vorbereitung - Löw über Poldi: „Wird bei der WM explodieren“
cujo bom jogo, força e eficácia é sinónimo de explosão.
Outro mapeamento interessante prende-se com termo “Visier”141, que, nas
ocorrências identificadas, origina duas imagens mescladas diferentes, de acordo com os dois
possíveis significados de “Visier”: viseira
(9) Nun wurde die Partie rassig, weil die Spanier das Visier öffnen mussten.
(42) Die Begegnung bot enormen Unterhaltungswert, weil beide Mannschaften
mit offenem Visier agierten.
ou mira:
(4) Zudem hatten Jankulovski, Rosicky und Poborsky bei guten Schussgelegenheiten
das Visier nicht exakt genug eingestellt oder scheiterten an Torhüter Kolinko.
(27) Pranjic bediente von links Klasnic, der diesmal sein Visier besser eingestellt
hatte und die Kroaten mehr als verdient mit 1:0 in Front schoss (53.).
Nas ocorrências (9) e (42), os jogadores em questão, ou seja, toda a equipa, é conceptualizada
através da imagem do cavaleiro medieval, devidamente protegido com a sua armadura e
capacete, incluindo a viseira protectora da cara e, principalmente, dos olhos. Se por um lado a
viseira protegia os olhos, também prejudicava significativamente a capacidade de visão do
cavaleiro. Simultaneamente, a viseira, ao cobrir a cara, ocultava a identidade do cavaleiro. Se
este não usasse qualquer outro tipo de marca identificativa, tal como o escudo com o
respectivo brasão, o cavaleiro e a suas intenções revestiam-se de mistério. O abrir da viseira
pode representar, então, duas situações: a) a revelação da identidade do cavaleiro e b)
possibilitar uma visão clara e não obstruída para mais eficazmente atingir os seus propósitos.
Infere-se então, que jogar de viseira aberta indica a objectividade e clareza de jogo, a vontade
aberta de vencer, sem medo de revelar a estratégia declaradamente ofensiva para atingir esse
objectivo.142
As ocorrências (4) e (27) dizem respeito à mira, peça que numa arma de fogo regula a
pontaria. Se o jogador é, através de projecção metafórica, uma arma de fogo, este possui uma
140
“entschärfen, nicht das Entfernen der Zündvorrichtung bei einer Bombe, sondern (in metaphorischer
Verwendung): (als → Torwart) → halten u. den Ball unter Kontrolle bringen (...).“ (Burkhardt, 2006a:97)
141
”Vi|sier [n.] 1 beweglicher, das Gesicht schützender Teil des Helms 2 [an Feuerwaffen] Zielvorrichtung [<frz.
visière in ders. Bed., zu vis (veraltet) ”Gesicht“].” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/gene
rator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=visier [Consult. 08.01.2011])
142
”mit offenem Visier; zu mfrz. visière, afrz. visiere >Helmgitter<; urspr. >sich zu erkennen gebend, offen u.
ehrlich<; nicht: ritterisch kämpfend, sondern: sehr → offensiv, auf → Angriff, in Form eines → offenen
Schlagabtauschs (...).“ (Burkhardt. 2006a:340)
181
mira que o ajudará a acertar no alvo, i.e. no contexto futebolístico, afinar o seu remate de
forma a introduzir a bola na baliza. O processo de mapeamento pressupõe: a) o jogador é uma
arma de fogo, que possui uma mira; b) a bola de futebol é a bala disparada; c) a baliza é o alvo.
Consequentemente, se a mira não está afinada, o disparo não atingirá o seu alvo, logo, não
haverá golo.
Perante estas “armas”, as equipas têm de estar preparadas tanto ofensivamente,
através de um ataque eficaz, como defensivamente, sustentadas num sector defensivo seguro:
estão, portanto, devidamente armadas (“rüsten”143; “wappnen”144):
(33) „Wir haben optimale Bedingungen“, sagt Friedrich, „und sind gerüstet für die
WM.“
(38) Der Bundestrainer sieht sich und sein Team bestens gewappnet für das 50.
Länderspiel unter seiner Leitung.
Vejamos, seguidamente, a nossa proposta de rede de espaços mentais apresentada
em forma de tabela:
Ocor.
ESB
EA
ERef
(3)
den Ball
Texto
hämmern
(martelar a bola)
(24)
(zum
Remate (e golo)
Weltmeistervitorioso da selecção
Texto
Titel) knallen
italiana (selecção
(estourar para o
campeã mundial)
título)
(10)
(15)
Texto
Texto
Remate do jogador
búlgaro Jankovic
M1
ERel
Cenário do
Remate do jogador
confronto/duelo;
Jankovic como den
Esquemas da força
Ball hämmern
e da violência
Remate vitorioso
como knallen
Desempenho da
selecção francesa no
jogo contra a
selecção da Suíça
Desempenho da
selecção francesa
como das Pulver
verschossen
Grande remate,
Jankovic!
Cenário do
confronto/duelo;
Boa vitória, Itália!
Esquemas da força
e da violência
nicht ins offene
Atitude da selecção
Cenário do
Atitude da selecção
Messer rennen
alemã como nicht confronto/duelo;
alemã no jogo contra
(correr em
ins offene Messer Esquemas da luta e
a Rep. Checa
direcção à faca)
rennen
da violência
das Pulver
verschossen
(esgotar a
pólvora)
M2
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da luta e
da perseverança
Bem jogado,
Alemanha!
Má prestação,
França!
143
”rüs|ten [o. Obj.] sich mit Waffen versehen, die Anzahl der Waffen, der Munition u. Ä. vergrößern; die Staaten r.
weiter; ” (BERTELSMANN Wörterbuch , in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbg
er/index.html?gerqry=r%FCsten&gertype= [Consult. 08.01.2011])
144
”wapp|nen [V.2, hat gewappnet; refl.] sich w. 1 [veraltet] sich bewaffnen; ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=wappnen&Start=%A0%A0
Suchen%A0%A0&gertype= [Consult. 08.01.2011])
182
(23)
sich in unsere
Herzen ballern
Texto (estourar para
dentro dos
nossos corações)
(49)
Texto
(34)
Texto
(6)
Texto
(32)
Texto
(9)
Texto
(27)
Texto
(33)
Texto
ESB
ERef
ERel
Atitude ofensiva e
goleadora da
selecção alemã
Atitude ofensiva e
Cenário do
goleadora da
confronto/duelo;
selecção alemã
Esquemas da luta e
como sich in unsere
da violência
Herzen ballern
Vitória da selecção
Vitória da selecção
Cenário do
Alemã sobre a
abschiessen
alemã devido ao
confronto/duelo;
selecção inglesa
(atirar a matar)
golo de Müller
Esquemas da luta e
devido ao golo do
como abschiessen
da violência
jogador Müller
Defesa do guarda(einen Schuss)
Defesa do guardaCenário do
redes da selecção
entschärfen
redes sul-africano confronto/duelo;
sul-africana no jogo
(desarmar,
como einen Schuss Esquemas da luta e
contra a selecção do
desactivar)
entschärfen
da violência
México
Jogadores
bombensicher
Cenário do
Jogadores defensivos defensivos Nesta e
stehen
confronto/duelo;
da selecção italiana:
Cannavaro
(à prova de
Esquemas da luta e
Nesta e Cannavaro
bombensicher
bomba)
da violência
stehen
Cenário do
Futuro
Futuro desempenho
confronto/duelo;
explodieren
desempenho de
do jogador alemão
Esquemas da luta,
(explodir)
Podolski como
Podolski
violência e
explodieren
empenho
Cenário do
Reacção táctica da Reacção táctica da
confronto/duelo;
das Visier öffnen selecção espanhola selecção espanhola
Esquemas da luta,
(abrir a viseira)
no jogo contra
como das Visier
violência e
Portugal
öffnen
empenho
Cenário do
Golo do jogador
Golo do jogador
das Visier besser
confronto/duelo;
croata Klasnic no
croata Klasnic
eingestellt
Esquemas da luta,
jogo contra a
como das Visier
(afinar a mira)
violência e
selecção da Polónia besser eingestellt
empenho
Preparação da
Cenário do
Preparação da
selecção alemã
confronto/duelo;
gerüstet sein
selecção alemã para
para o mundial
Esquemas da luta,
(estar armado)
o mundial de 2010
como gerüstet sein
violência e
(Futuro)
(Futuro)
empenho
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Parabéns,
Alemanha!
Parabéns, Müller!
Excelente defesa!
Parabéns Nesta e
Cannavaro!
“Força Podolski,
acredito em ti!”
(Löw)
Bom esforço
ofensivo,
Espanha!
Boa pontaria,
Klasnic!
“Vamos vencer!”
(Friedrich)
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 27: Tabela de espaços mentais 2
Neste cenário de guerra ou de batalha, nem o grito de guerra ou de armas “Schlachtruf” - foi esquecido:
(31) „Vamos, España!“ Vorwärts Spanien! So wollen die Spanier ihre Mannschaft
heute abend anfeuern. Grund: Mit diesem Schlachtruf wurden die Spanier 1964
zum einzigen Mal Europameister.
183
Originalmente, o “grito de guerra”, normalmente uma palavra ou uma frase simples, tinha
uma função muito específica no campo de batalha: ainda antes da introdução do uniforme
como meio de identificação e diferenciação dos guerreiros, na agitação da batalha este grito
tornava-se essencial para que os soldados pudessem distinguir o amigo do adversário. Em
muitos casos, o grito de guerra evoluiu para uma divisa militar unificadora, inscrita nos brasões
e nos estandartes. Para além desta função, o grito de guerra ou de armas servia também como
motivação e incentivo ao combate e quanto mais forte e vigoroso, mais assustador e
intimidador era para o adversário, tornando-se, assim, uma “arma” psicológica. Actualmente o
grito de armas ultrapassou o domínio da guerra e assumiu-se como expressão de incentivo e
união em diversos contextos. Na ocorrência (31), são os adeptos que recorrem ao “grito de
armas”, frequentemente em forma de cântico, como forma de incentivo e apoio à sua equipa.
Tal como um batalhão de soldados a marchar (“marschieren”145), também a equipa de
futebol marcha decidida e determinadamente no campo, dividindo o mesmo em áreas de
ataque e de defesa. Esta movimentação pode, inclusivamente, fazer parte da estratégia de
jogo:
(19) Bondscoach Marco van Basten unterstützte nun die offensive Marschroute
mit der Hereinnahme von van der Vaart.
(35) Diese defensivere Marschroute mag effektiver für das Team sein. Sie ist
aber definitiv schädlich für Ronaldo.
O próprio jogo é conceptualizado como um percurso, cuja meta final é a vitória em direcção da
qual os jogadores marcham. Também o campeonato e a qualificação para o campeonato são
compreendidos através da metáfora conceptual SOURCE-PATH-GOAL146:
(17) (...) doch auch ohne die Künste des Turiners marschierte Frankreich nun
einem sicheren Sieg entgegen.
(58) Ungeschlagen marschierte die Nationalelf durch die WM-Qualifikation.
Optamos por incluir estas ocorrências no domínio-fonte da Guerra, Violência e Morte
devido ao facto do verbo “marschieren” construir, essencialmente, um cenário militar.147
145
”mar|schie|ren [V.3, ist marschiert; o. Obj.] 1 in geordneten Reihen gehen (von Truppen und Kolonnen); durch
die Stadt m.; im Gleichschritt m., ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wis
sen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=marschieren&gertype= [Consult. 08.01.2011])
146
Burkhardt (2006a) distingue igualmente estes três níveis de conceptualização: ”marschieren; (…) 1. (als Spieler)
unaufhaltsam u. mit spielerischer Leichtigkeit → dribbeln (...) 2. (als Mannschaft) im Spiel unablässig → angreifen
(...) 3. ”(als Mannschaft) unaufhaltsam, d.h. konstant erfolgreich sein u. daher die ganze → Saison hindurch auf den
vorderen → Tabellenplätzen stehen (...).“ (Burkhardt, 2006a:193)
184
Contudo, as ocorrências (17) e (58) evidenciam, ainda, um segundo domínio-fonte inspirado na
metáfora conceptual do percurso ou trajectória. Ao contrário das ocorrências (19) e (35), nas
quais se reconhece um claro padrão em termos de deslocação física, concreta e real, nas
ocorrências (17) e (58), o jogo e a competição são conceptualizados como percurso (PATH)
pelo que a vitória e a qualificação são metas (GOAL) e o início do jogo assim como o início da
fase de qualificação o ponto de partida (SOURCE)148. Este esquema imagético, alicerçado no
esquema da trajectória, é uma das estruturas mais comuns que emerge prototipicamente a
partir da experiência como o nosso corpo se desloca no espaço e como o compreende.
Saliente-se que a experiencia humana é repleta de movimentos de deslocação espacial, com
múltiplas trajectórias (movimentos de um determinado ponto para outro) que ligam o nosso
mundo espacial. Estes movimentos podem realizar-se em superfícies físicas, podem ser
mentalmente projectadas (como a previsão da deslocação de um objecto no espaço) ou
serem simplesmente fruto da nossa imaginação. Para todas estas situações existe um único
esquema recorrente, tendo uma estrutura interna fixa: a) as partes - 1. ponto de partida, 2.
ponto de chegada, 3. sequência de posições contíguas que ligam o ponto de partida ao ponto
de chegada; b) relação que reúne as partes - o movimento. Tratando-se da trajectória origempercurso-alvo, e de acordo com a dimensão espacial prototípica por um lado e o desejo de
progresso por outro, este percurso é unidireccional. Trata-se, consequentemente, de uma
construção metafórica complexa com múltiplas projecções. Fauconnier e Turner sublinham:
“Networks in other cases of conceptual integration may have yet more input spaces and even
multiple blended spaces.” (Fauconnier/Turner, 2008:13). Defende-se, então, a existência de
redes conceptuais complexas hierarquicamente organizadas:
“There are opposing pressures within an integration network to maximize topology
matching, integration, unpacking of the blend, web connections, compression, and
147
“mar|schie|ren 1. a) (von geordneten Gruppen od. Formationen) sich in gleichmäßigem Rhythmus [über größere
Entfernungen] fortbewegen: im Gleichschritt m.; die Soldaten marschieren durch die Stadt; marschierende
Kolonnen.“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM)
148
“Consider the SOURCE-PATH-GOAL schema. This schema first developes as we learn to focus our eyes and track
forms as they move throughout our visual field. From such experiences, a recurring pattern becomes manifest in
tracking a trajectory from point A to another point B. Later on as we move our bodies in the real world, ranging
from experiences of reaching for objects to moving our entire bodies from one location to another, more varied
SOURCE-PATH-GOAL experiences become salient. Although many SOURCE-PATH-GOAL experiences may vary
considerably (e.g. many objects, shapes, types of paths travelled), the emergent image-schematic structure of
SOURCE-PATH-GOAL supports literal meanings, such as seen in “He walked across the room to the door,” and can
be metaphorically projected onto more abstract domains of understanding and reasoning (Johnson, 1987). This
metaphorical mapping preserves the structural characteristics or the cognitive topology of the source domain
(Lakoff, 1990). Thus, the SOURCE-PATH-GOAL schema gives rise to conceptual metaphors such as PURPOSES ARE
DESTINATIONS, which preserve the main structural characteristics of the source domain (i.e. SOURCE-PATH-GOAL)
(...) This discussion of the SOURCE-PATH-GOAL schema shows that there are direct connections between recurring
bodily experiences, metaphorically understood abstract concepts, and both conventional and creative language that
refers to these abstract concepts.” (Gibbs, 2006:91-93)
185
intentionality. More complex integration networks ("multiple blends") allow multiple
input spaces, and successive blending in which blends at one level can be inputs at
another.” (Fauconnier, 2001:255)
No estudo Rethinking Metaphor, Fauconnier e Turner (2008:61) afirmam: “Conceptual work is
never-ending, and we can and continue to bring more spaces and even networks into play with
the elaborate integration network E/X/M.”, no qual:
“E: E is the input of Events. Human beings are expert at parsing the world into events
(selling shoes, solving math problems, dining) and objects. Here we take as given that
people can think of events and objects and refer to them. This expertise includes
understanding event shape, including ordering and event type, and categorizing different
events as belonging to the same type or to different types. Event spaces can include
subjective experience of those events.” (op.cit., p.56)
e
“X: An important kind of event for human beings is motion through physical space from
point A to point B, with corresponding objective and subjective experiences. We call this
subset of E the input of experienced motion through physical space.” (op.cit, p.57)
Estes domínios apontam para a conceptualização metafórica que nos ocupa neste momento:
Event Structure Metaphor:
“E/X: E and X are blended in routine ways to yield emergent structure. One consequence
of this blending is to create the common notion that has sometimes been called the
"Event Structure Metaphor."6 According to this notion, we can "go through the lecture"
just as we can "go through the park" because in the blend, the event is motion from one
point to another. In the blend E/X, any event has length and experienced motion
(including speed, in the everyday sense of fast and slow rather than in the technical sense
of physics). In E/X, the traveler of input X is fused with the experiencer of input E. The
event in E is fused with the event of traversing the path in X and with the path in X. By this
means, in the blend, an event becomes a path, and completing the event is traversing the
path.” (op.cit, p.57)
A dimensão temporal é: “M: The socially (and technologically) constructed notion of time is
then brought in independently as the blended domain M (…)” (op.cit, 2008:57), ou seja, a
forma como nos apreendemos o tempo. A rede conceptual E/X/M resulta do facto de qualquer
evento ter uma determinada duração temporal:
“E/X/M: Because M is a subset of E, it maps naturally onto E/X. This is the basis for an
integration with inputs E/X on the one hand and M on the other, yielding the blended
186
space E/X/M. In that blended space, universal events in M become particular local events
in E/X. They are constrained to contain local events within their span, and any local event
is contained in universal events projected from M. This gives any local event an additional
dimension.” (op.cit., p.59)
À luz destes postulados, o significado final, fruto de processos mentais complexos, acaba por
ser simples e facilmente apreensível, o que atesta a destreza mental e a aptidão própria da
mente humana no que concerne a descodificação de mensagens.
Do contexto militar consta, igualmente, a organização hierárquica dos exércitos, sendo
o comando a estrutura que dirige as operações. Neste sentido, uma equipa de futebol que
assume o comando, é uma equipa que domina e controla o jogo:
(45) Die Ghaner übernahmen dann in der Schlussviertelstunde etwas mehr das
Kommando (...).149
Um dos principais objectivos de um acto de guerra consiste na conquista territorial de
determinados locais estrategicamente relevantes. A ocorrência (56) é particularmente
interessante, pois assiste-se ao fenómeno dinâmico de força e contra-força explícita: por um
lado, o esforço de defesa e impenetrabilidade através da imagem da fortaleza - “Festung”, por
outro, o empenho em prol da conquista - “erobert werden”, e da consequente vitória150:
(56) Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden.
O conceito de esforço e organização de uma equipa em torno de uma estratégia altamente
defensiva é conceptualizado e consequentemente compreendido como um bastião defensivo
por excelência, uma fortaleza, cuja conquista se afigura como tarefa extremamente
problemática, senão impossível de executar. Infere-se assim que será, para qualquer
adversário, muito difícil vencer a equipa neo-zelandesa. Tratando-se de uma antevisão
relativamente a futuros jogos, a mescla final expressa uma postura de motivação e incentivo
dirigida a todos que irão defrontar a selecção neo-zelandesa.
É possível rever esta imagem de defesa extrema através do recurso linguístico a
obstáculos físicos, tais como barreiras ou barricadas resistentes. Veja-se a ocorrência (53):
149
”das Kommando übernehmen; kein Putsch auf dem Spielfeld, sondern: den Gegner unter → Druck setzten u. sich
dabei ein Übergewicht, d.h. mehr → Spielanteile erkämpfen, das Spiel → diktieren, → dominieren (...).“ (Burkhardt,
2006a:167)
150
“erobern; kein kriegerischer Geländegewinn, sondern (in metaphorischer Verwendung): 1. sich dem Ball
erkämpfen (...); 2. auf einen günstigen → Tabellenplatz vorrücken (...); 3. ein → Turnier, einen Pokalwettbewerb o.
die → Meisterschaft gewinnen u. dafür eine Trophäeerhalten (...).“ (Burkhardt, 2006a:99)
187
(53) Erst das Verteildigen, dann das Toreschiessen. (...) Der eigene Strafraum wird
verbarrikadiert, das Mittelfeld zu einer undurchdringbaren Zone verfestigt.
Apesar dos adjectivos “verbarrikadiert”151 e “verfestigt”152 originarem uma mescla bastante
complexa, criando diversos cenários, acreditamos que o leitor apreende o significado
intendido sem qualquer esforço. Neste sentido, é possível que o leitor siga os seguintes
processos mentais lógicos:
a) o campo de futebol é conceptualizado como um percurso dividido em três zonas,
que se estende de baliza a baliza, e cuja direcção parte da zona defensiva, atravessa o meio
campo e termina na zona atacante - a grande e a pequena área (tendo em conta o objectivo
final do jogo - marcação do/s golo/s e consequente vitória).
b) uma equipa procura defender a sua pequena e grande área (incluindo a baliza) a
todo o custo.
c) o treinador e a sua equipa adoptam uma estratégia posicional altamente defensiva,
colocando, por exemplo, mais jogadores na sua pequena e grande área ou reforçando o meio
campo.
d) à colocação estratégica desses jogadores em posições defensivas corresponde a
construção virtual de uma espécie de muro ou escudo invisível no campo, forte e
supostamente impenetrável. Ergue-se, assim, uma barreira ou barricada intransponível para
os atacantes adversários.
e) o cenário de ataque e defesa é conceptualizado como um confronto violento entre
duas fracções opostas, tal como o conceito original de barricada153 sugere.
151
”ver|bar|ri|ka|die|ren [V.3, hat verbarrikadiert] Syn. barrikadieren I [mit Akk.] mit Hindernissen versperren;
eine Straße, eine Tür v. II [refl.] sich v. sich durch Aufbauen von Hindernissen (gegen Überfall, Eindringlinge)
schützen.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/in
dex.html?gerqry=verbarrikadiert [Consult. 16.01.2011])
152
”ver|fes|ti|gen [V., hat verfestigt; mit Akk.] fester machen, festigen.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=verfestigen&gertype=) e
”fes|ti|gen [V., hat gefestigt; mit Akk.] fester, beständig machen, stärken.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=festigen&Start=%A0%A0S
uchen%A0%A0&gertype= [Consult. 16.01.2011])
153
”Eine Barrikade ist ein Schutzwall im Straßenkampf, der aus Gegenständen des alltäglichen Lebens meist
improvisiert zusammengestellt wird. Der Begriff leitet sich ab von „barriques“ (französisch: Fässer). Barrikaden
waren in der Julirevolution vom 27. Juli 1830 die maßgebliche Verteidigungsstrategie der Pariser Bevölkerung gegen
die Polizei des Königs Karl X.. Annähernd 6000 solcher Barrikaden sind während des Aufstands gezählt worden. Ihr
Fundament waren mit Erde gefüllte Fässer. Darauf wurde alles gestapelt und zusammengenagelt, was sich als
nützlich für die Abwehr erwies. Matratzen dienten als Kugelfang. War der Feind zurückgeschlagen, wurde nicht um
die Barrikade herumgelaufen. Es wurden vielmehr auf der Seite der Schutzsuchenden Pflastersteine zu einer Rampe
gefügt, über die die Aufständischen stürmten, was dem Volkszorn einen dynamischen Ausdruck verlieh. Daraus
leitet sich die heute noch gebräuchliche Formulierung auf die Barrikaden gehen ab. Der wesentliche Zweck von
Barrikaden bestand historisch darin, dass die Aufständischen, in der Regel schlecht bewaffnet, gegenüber den
militärischen Verbänden ihre unterlegene Ausrüstung wettmachen konnten. Waren die Verluste der Aufständischen
dennoch meist erheblich, so bot lediglich Barrikadenstrategie überhaupt eine Erfolgsmöglichkeit für eine
188
Um ataque é igualmente conceptualizado como um assalto repentino e inesperado:
(37) Gegen die überfallartigen154 Angriffe der Südkoreaner (...) fand die Abwehr
um Senior Georgios Katsouranis auch weiterhin kein Rezept.
Se, de acordo com as ocorrências aqui analisadas, o futebol é guerra e violência, o fim
mais trágico deste confronto é a morte. Encontramos diversas ocorrências nas quais a derrota
ou um golo sofrido são conceptualizados como morte pelo que jogadas podem ser actos
explicitamente mortíferos:
(13) Andererseits musste die deutsche Abwehr höchste Konzentration aufbieten,
denn das Mittelfeld der Costa Ricaner suchte immer wieder Wanchope, der
permanent auf den tödlichen Pass wie vor dem Ausgleich lauerte.
(24) Erst killt er Deutschland im Halbfinale, dann knallt er Italien im Elfmeterschießen
zum Weltmeister-Titel.
(29) Torbinskiy und Arshavin versetzen den Todesstoß
(55) Mit Forlán und Suarez gegen Deutschland - Uruguay-Trainer: „Werden bis in
den Tod vorbereitet sein!“
Nesta perspectiva, é possível matar tanto jogo como a equipa - “killt” - através da execução
golpes assassinos - “den Todesstoss versetzen” - e de passes mortíferos - “tödlicher Pass”.
Convém estar preparado para morrer no campo - “bis in den Tod vorbereitet sein” - ou sofrer
uma condenação à morte:
(7) "Trapattoni verurteilt Italien zum Tode" (...) Dem ehemaligen Bayern-Coach wird
die Hauptschuld am verpassten Sieg gegen Schweden gegeben.
Quanto à ocorrência (24), o uso do verbo killen155 de origem inglesa, em vez do
equivalente alemão töten revela-se como particularmente eficaz pelos seguintes motivos:
a) O verbo killen e o nome Killer de origem inglesa já foram absorvidos pela língua
alemã, e constam, como anglicismos, dos dicionários da Língua Alemã;
Insurrektion – offene Konfrontationen mit dem Militär wären gleichbedeutend mit einem Massaker gewesen. (...)“
(In: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Barrikade [Consult. 16.01.2011])
154
”über|fal|len [V., hat überfallen; mit Akk.] 1 etwas oder jmdn. ü. plötzlich über etwas oder jmdn. herfallen, einen
Überfall auf etwas oder jmdn. verüben, etwas oder jmdn. angreifen; ein Haus, ein Land ü.; er ist ü. worden 2 jmdn.
ü. a [ugs., scherzh.] unerwartet bei jmdm. auftauchen, erscheinen, jmdn. unerwartet, formlos besuchen; dürfen wir
dich einfach ü.? b jmdn. ergreifen, überkommen; Syn. übermannen; der Schlaf, die Müdigkeit überfiel ihn.”
(BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/suchergeb
nis,site=559166,node=3242990.html?gerqry=%FCberfallen&gertype=& [Consult. 16.01.2011])
155
1
”kil|len [V., hat gekillt; mit Akk.; ugs.] ermorden, umbringen [<engl. kill ”töten“, wahrscheinlich zu mengl.
quellen ”niederschlagen“].” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/servi
ces/suche/wbger/index.html?gerqry=killen&gertype= [Consult. 16.01.2011])
189
b) Trata-se de um registo mais coloquial, que imprime ao enunciado um cariz de
informalidade, acentuando a ideia de língua em uso natural;
c) Devido à aliteração com a consoante ‘k‘ em killt (…) knallt a sonoridade e cadência
fonética do enunciado realça a violência da situação156.
No que concerne a ocorrência (7), para além do contexto óbvio de morte, assiste-se
simultaneamente a um mapeamento alicerçado no cenário da lei e dos tribunais. Nesta
ocorrência, o treinador italiano é considerado como responsável principal pela derrota da sua
equipa. Assim sendo, as suas acções e decisões relativamente ao jogo em questão e à equipa
em geral, condenaram a selecção italiana à morte, i.e. devido à derrota, a Itália vê-se perante a
provável eliminação prematura do campeonato. O treinador foi, assim, o juiz responsável por
esta sentença, pelo que o jogo foi o julgamento e a equipa o réu.
O significado final emerge da mescla alicerçada no domínio da morte e no domínio da
justiça através do cenário de um julgamento e consequente condenação em tribunal. Os
esquemas de relevância realçam o conhecimento da morte (a transição do estado vivo para o
estado morto) como um acontecimento negativo e evidenciam, igualmente, o conhecimento
que o leitor possui da justiça e do funcionamento da lei e dos tribunais. Assim sendo, a derrota
extremamente negativa no final do jogo, causada pelo mau trabalho do treinador Trapattoni,
corresponde a uma sentença de morte determinada por um juiz no final do julgamento. A
mescla final expõe, igualmente, a responsabilidade de um treinador no sucesso ou insucesso
da sua equipa. Contudo, é de realçar que o treinador não é conceptualizado como o carrasco
que ‘mata’ a Itália; ele sentencia mas não executa. Esta imagem está em conformidade com as
funções de um treinador: ele planeia, organiza e orienta o jogo, mas como não é jogador, a sua
acção, apesar de determinante, é sempre indirecta.
Quando uma derrota ou uma eliminação é extremamente expressiva e inesperada, a
noção de ‘morte’ acima descrita é intensificada (“dezimieren”157):
(44) (...) Die bereits früh dezimierten Franzosen verabschiedeten sich (...) aus dem
Turnier.
A prestação da equipa francesa aquando do Campeonato Mundial de 2010 foi
desportivamente muito fraca, rodeada de controvérsia e recheada de incidentes controversos.
156
relativamente à importância dos jogos fono-simbólicos, vide Almeida (2005, 2006b)
”de|zi|mie|ren [V., hat dezimiert; mit Akk.] 1 [früher] durch Hinrichten jedes zehnten Mannes bestrafen; eine
Truppe d.; die Schlacht dezimierte die Armee empfindlich 2 [heute] durch Verluste schwächen, stark verringern
[<lat. decimare ”jeden zehnten Mann zur Bestrafung herausholen, den zehnten Teil zum Opfer auswählen, mit dem
Zehnten (als Abgabe) belegen“, zu decimus ”der Zehnte“, zu decem ”zehn“]. ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=dezimieren&gertype=
[Consult. 17.01.2011])
157
190
Os jogadores entraram em ruptura com o treinador e boicotaram os treinos; o treinador
demarcou-se do grupo de trabalho e recusou qualquer tipo de responsabilidade; seguiram-se
suspensões e demissões. Neste enquadramento conflituoso, a selecção francesa marcou
apenas um golo e obteve somente um ponto durante toda a primeira fase de grupos. Sendo a
França um pais com um passado desportivo de sucesso e conquista de títulos, este péssimo
resultado levou à eliminação inesperada e prematura da equipa francesa do torneio. A
ausência de resultados positivos e a gravidade das atitudes exibidas motivou a activação da
imagem de punição, extermínio ou mesmo chacina para melhor veicular a noção de derrota
esmagadora e eliminação terrível e devastadora.
No outro extremo encontra-se a vitória, o êxito, o sucesso triunfal:
(2) Die Schweden triumphierten mit einem insgesamt etwas zu hoch
ausgefallenen
Erfolg, da Bulgarien lange Zeit ein mehr als gleichwertiger Gegner war.
A opção pelo verbo “triumphieren” em vez do simples gewinnen ou siegen serve para
enaltecer a noção de conquista ao evocar a imagem jubilante de combatentes vitoriosos num
cortejo triunfal celebrando a vitória: “Der "Triumph" geht zurück auf lat. "triumphus" =
"feierlicher Einzug des Feldherrn", "Siegeszug", "Sieg".“ (In: http://www.etymologie.info
[Consult. 17.01.2011]). Se a vitória é um triunfo, os responsáveis pela vitória são vistos como
heróis que praticaram actos heróicos:
(54) Weltweite Berühmtheit erlangte der Profi von
Ajax
Amsterdam
ohnehin
durch eine „Heldentat“ der etwas anderen Art. Im Viertelfinale gegen Ghana
schlug Suarez in der letzten Minute der Verlängerung einen Kopfball von Dominic
Adiyiah mit beiden Händen von der Linie.
O avançado uruguaio Suarez, defendeu inadvertidamente um remate de cabeça de um jogador
adversário (da selecção do Gana) evitando, assim, que a bola atravessasse a linha de baliza.
Devido a esta falta, foi expulso do jogo mas acabou por se tornar um herói nacional158 pois
evitou o golo que significaria a derrota e a consequente eliminação do Uruguai do campeonato
mundial de 2011. A grande penalidade marcada na sequência da falta não foi convertida e
após a marcação de grandes penalidades para apuramento do vencedor, o Uruguai conseguiu
ganhar o jogo e qualificar-se para as meias-finais. Devido a este desfecho, toda a nação
uruguaia classificou o seu acto como heróico, apesar de se tratar, de facto, de uma falta grave.
158
O conceito de herói será desenvolvido no ponto seguinte.
191
Contudo, a imprensa internacional reconhece a ‘desonestidade’ por detrás deste acto e daí, ter
imprimido à notícia um certo tom irónico.
Uma vez exploradas e contextualizadas as ocorrências, propomos, finalmente, a
159
seguinte tabela de espaços mentais
Ocor.
:
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
offensive
Marschroute
(marcha
ofensiva)
Táctica atacante da
selecção holandesa
no jogo contra a
selecção portuguesa
Táctica atacante da
selecção holandesa
como offensive
Marschroute
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da
força e da
determinação
Bom empenho,
Holanda!
(17)
Texto
einem sicheren
Sieg entregenmarschieren
(marchar em
direcção à
vitória)
(46)
Texto
(56)
Texto
(29)
Texto
(55)
Texto
(7)
Texto
(19)
Desempenho
Desempenho
Cenário do
vitorioso da selecção
vitorioso da selecção
confronto/duelo;
francesa como einem
Bom esforço,
francesa no jogo
Esquema
sicheren Sieg
França!
contra a selecção do
SOURCE- PATHentgegenTogo
GOAL
marschieren
Postura da selecção
Cenário do
das Kommando Postura da selecção
do Gana (no último ¼ confronto/duelo;
übernehmen
do Gana no jogo
Bom esforço final,
de hora) como das
Esquema da
(assumir o
contra a Alemanha
Gana!
Kommando
liderança
comando)
(no último ¼ de hora)
übernehmen
(hierarquia)
Cenário do
A selecção neoconfronto/duelo;
A selecção neozelandesa como
die Festung
Esquemas da luta
zelandesa / Tácticas
Festung/ tácticas
Coragem e
erobern
e da
atacantes das
persistência!
atacantes como
(conquistar a
selecções adversárias
perseverança fortaleza)
erobern
(Futuro)
Força - Contra(Futuro)
força
Dois golos dos
den Todesstoss
Dois golos dos
Cenário do
jogadores russos
Parabéns,
versetzen
jogadores russos
confronto/duelo;
Torbinskiy e Arshavin
Torbinskiy e
(estocada de
como den Todesstoss Esquemas da luta
no jogo contra a
Arshavin!
morte)
versetzen
e da violência
selecção da Holanda
Atitude da selecção
“Vamos dar
Cenário do
bis in den Tod
Atitude da selecção do Uruguai face ao
tudo!”
confronto/duelo;
vorbereitet sein do Uruguai face ao futuro jogo contra a
(Tabarez,
Esquemas da
(estar preparado futuro jogo contra a selecção alemã como
treinador da
luta, violência e
para morrer)
selecção alemã
bis in den Tod
selecção do
sacrifício
vorbereitet sein
Uruguai)
Decisões técnicoDecisões técnicoCenário do
zum Tode
tácticas do treinador tácticas do treinador julgamento em
verurteilen
Péssimo trabalho,
italiano Trapattoni
italiano Trapattoni
tribunal;
(condenar à
Trapattoni!
(no camp. europeu
como zum Tode
Esquemas do
morte)
2004)
verurteilen
poder
159
Relembramos que devido às limitações óbvias acossadas à dimensão deste estudo, optamos por apresentar
cerca de um terço da totalidade das ocorrências identificadas à luz do modelo da rede de espaços mentais e
sistematizados em formato de tabela.
192
(44)
Texto
dezimiert
(dizimar)
triumphieren
(triunfar)
(2)
Texto
(54)
Heldentat der
etwas anderen
Texto
Art
(um acto heróico
invulgar)
ESB
ERef
ERel
Eliminação da
Eliminação da
Cenário do
selecção francesa do selecção francesa do confronto/duelo;
campeonato mundial camp. mundial de Esquemas da luta
de 2010
2010 como dezimiert e da violência
Vitória da selecção
sueca no jogo contra
a selecção búlgara
Defesa ilegal do
jogador uruguaio
Suarez
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Vitória da selecção
sueca como
triumphieren
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da
vitória e da
celebração
Péssimo
campeonato,
França
Boa vitória,
Suécia!
Defesa ilegal do
Cenário do
jogador uruguaio
confronto/duelo;
Suarez como
Parabéns, Suarez!
Esquemas de
Heldentat der etwas
bravura
anderen Art
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 28: Tabela de espaços mentais 3
b) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Intervenientes
Andrea: „Unglücklich das Land, das keine Helden hat.“
Galilei: „Unglücklich das Land, das Helden nötig hat.“
Berthold Brecht, Das Leben des Galilei
Se o jogo de futebol ganha ‘vida’ através das acções visíveis em campo, nada existiria
sem os seus intervenientes. Nesta categoria de intervenientes incluímos todos os indivíduos
que de forma directa ou indirecta participam no evento futebolístico. Encontramos 37
ocorrências que dizem respeito a jogadores, equipas isoladas ou integradas em grupos,
treinadores, à equipa de arbitragem e a elementos das comitivas das respectivas selecções.
Para além dos intervenientes per se, decidimos incluir nesta categoria mapeamentos
construídos a partir de adjectivos que descrevem ou caracterizam os intervenientes.
Com um total de 12 ocorrências, a conceptualização do jogador como herói - Held160 é, de longe a mais frequente:
160
”Held [m.] 1 jmd., der sich durch Tapferkeit im Kampf auszeichnet (Kriegs~); die ~en der germanischen Sage; kein
H. sein bei etwas wenig tapfer, nicht gut sein; die ~en sind müde [scherzh.] jmd. hat aufgegeben, resigniert; jmd.
spielt den ~en jmd. übernimmt eine Aufgabe, der er eigentlich nicht gewachsen ist 2 jmd., der sich durch bedeutende
Arbeiten zugunsten anderer auszeichnet; H. der Arbeit [in kommunistischen Staaten, heute häufig iron.] 3 männliche
Hauptrolle (einer Dichtung); der H. des Romans, des Stückes 4 [ugs., iron.] wenig heldenhafter Mensch, jmd., der
193
(63) Keeper Ricardo wurde im Elfmeterschießen zum Held des Abends.
(64) Griechenlands neuer Volksheld Otto Rehhagel konnte im "Estadio Dragao" wieder
seine Stammelf auflaufen lassen.
(66) "Alle morgen ins Panathinaikon Stadion. Wir empfangen unsere Helden", rief das
griechische Fernsehen seine Zuschauer zum Kommen auf.
(69) In unserem Finale der Herzen wurde Bastian Schweinsteiger (21) zum Helden.
(73) Bastian Schweinsteiger ist nach seinem Superspiel gegen Portugal der Held des
Nationalteams
(74) Montag Mega-Party mit den Fans EM-Helden feiern in Berlin
(76) So schnell geht das im Fußball. Vom Depp zum Helden in wenigen Tagen.
(77) Unsere WM-Helden verraten: So holt Deutschland den vierten Titel
(79) Beim 2:0 gegen Honduras: Spaniens Tor-Held Villa
(85) Andres Iniesta wurde in der 116. Minute (...) zum neuen Helden des spanischen
Königreichs.
(87) Fiesta maxima – Millionen-Empfang für Spaniens WM-Helden
(93) Sie hoffen auf Buffon und die Helden von 2006
Na ocorrência (63) o guarda-redes português Ricardo tornou-se no ‘herói da noite’ ao
defender uma grande penalidade e marcar, de seguida, o golo da vitória. Este acto heróico
conduziu a selecção portuguesa às meias-finais do campeonato europeu de 2004,
internacionalmente considerado um feito extraordinário. Já na ocorrência (64), o herói é o
treinador da selecção grega, pois foi sob sua orientação que a equipa atingiu, pela primeira vez
na história do futebol grego, a final de um campeonato europeu. Esta conquista valeu-lhe o
título de herói da nação. Após vitória no jogo final contra Portugal, a Grécia sagrou-se campeã
europeia, e toda a equipa foi considerada heróica, reconhecendo que o sucesso foi fruto de
um esforço colectivo (ocorrência (66)). O recurso ao pronome possessivo “unsere”, realça o
sentimento de união em torno do êxito alcançado. A marcação de um ou mais golos
determinantes para a vitória é, igualmente, conceptualizada como um feito heróico. Nas
ocorrências (69) e (73), trata-se do jogador Bastian Schweinsteiger que marcou três golos no
jogo contra a selecção portuguesa, selando a eliminação de Portugal do campeonato mundial
de 2006. As ocorrências (79) e (85) apresentam uma situação idêntica. A marcação de golos
decisivos por parte dos jogadores da selecção espanhola Villa e Iniesta, aquando do
wenig zustande bringt; ihr seid mir schöne ~en! 5 jmd., der (kurzfristig) im Mittelpunkt steht; der H. des Tages, des
Abends.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/
index.html?gerqry=held [Consult. 18.01.2011])
194
campeonato mundial de 2010, justificou a distinção honorífica de ‘heróis’ mais recentes do
reino. A ocorrência (74) diz respeito a um apelo colectivo, um convite para participar na festa
de consagração da equipa alemã, na capital Berlim, a fim de enaltecer os resultados positivos e
elevar os jogadores ao estatuto de heróis do campeonato europeu de 2008. O mesmo
fenómeno é descrito na ocorrência (87) referente à conquista do campeonato mundial de
2010 por parte da equipa espanhola. O estatuto de herói tanto pode ser efémero (“vom Depp
zum Helden” - ocorrência (76)), como relativamente duradouro (“die Helden von 2006” ocorrência (93)), encarado como direito adquirido devido a actos heróicos passados. Uma vez
consagrados heróis, estes ambicionam manter-se à altura das exigências (ocorrência 77)) e o
publico, por sua vez, mantém as expectativas quanto ao desempenho dos mesmos.
Mas quais serão os denominadores comuns responsáveis para a construção da
imagem de herói? O que distingue estes jogadores e treinadores dos restantes? Não é apenas
uma questão de qualidade de desempenho; o que os destaca é o reconhecimento público do
acto heróico como invulgar, excepcional e, em certa medida, surpreendente, apesar da
presença constante do sentimento de esperança.
“Ein Held (griechisch ήρως hέrōs,, althochdeutsch helido) ist die Hauptfigur einer
Geschichte, Legende oder Sage die über Kräfte verfügt die weit über die eines normalen
Menschen hinausgehen so dass er zu einer außergewöhnlichen guten Tat (einer
"Heldentat") in der Lage ist die ihm Ruhm beschert. Dabei ist nicht nur körperliche
sondern
auch
geistige
Kraft
gemeint.“
(In:
http://www.uni-
protokolle.de/Lexikon/Held.html [Consult. 19.01.2011])
O conceito de herói - heros - emerge da antiga mitologia grega, na qual a bravura física e
mental é enaltecida.
”Das Wort ''Heros'' kommt aus dem griechischen und bezeichnet den Kulturheros der
Mythologie. Die griechischen Heroen waren häufig die Gestalten, die als mythische
Gründer der griechischen Städte, Staaten und Länder galten. Diese mythischen Helden
waren nicht immer tadellose Vorbilder. Das Zeitalter, in dem Helden dieser Art wirkten,
und wo die Geschichten der griechischen Mythologie spielten, wird auch das „heroisches
Zeitalter“ genannt. Diese Ära endete kurz nach dem Trojanischen Krieg, als die legendären
Kämpfer fast ausnahmslos fielen oder auf der Heimkehr umkamen. Zuweilen vermochte
auch eine historische Person so viel Ansehen zu erzielen, dass sie ein Held in den Augen
des Volkes wurde (Volksheld, 'vgl. auch' Nationalheld). Dieses Phänomen war häufig
begleitet von einem schnellen Wachstum an Mythen um die Person; häufig wurden ihr
besondere Kräfte zugeschrieben.“ (In: http://www.uni-protokolle.de/Lexikon/Held.html
[Consult. 19.01.2011])
195
Existem, contudo, três tipos de heróis: o primeiro é o herói divino, que contribui para a
criação do mundo e das civilizações e cujas acções estão centradas nele próprio. É um herói
distante, inatingível para os comuns dos mortais. O segundo tipo é o herói semi-divino. Este
encontra-se num nível intermédio, pois era evocado, pelos humanos, para interceder junto dos
deuses a seu favor. Está mais próximo dos humanos mas devido à possibilidade de conviver
com os deuses permanecia intocável. O terceiro e último tipo de herói é o humano, elevado ao
estatuto de herói devido às suas acções extraordinárias e o reconhecimento de que estas
beneficiaram e protegeram a comunidade em geral.
“Sie (Konverationslexika) unterschieden drei Heldentypen. Zum einen den „Helden“
göttlichen Ursprungs, der als Weltengründer für die Menschen unerreichbar, nur den
eigenen Bedürfnissen gemäss lebte. Zum zweiten die „Helden“, die den Status der
Halbgötter besassen. Ihre besondere Leistung war es, von den Menschen angerufen, bei
den Göttern
für die Menschen bitten zu können. Diesem Typus entsprechen im
christlichen Abendland die Heiligen. Drittens schliesslich unterscheiden die Lexika den
„Helden“ menschlichen Ursprungs, der aufgrund der ihm zugeschriebenen Leistungen für
das Gemeinwesen verehrt wurde.“ (Schilling, 2002:24-25)
Tanto o reconhecimento do acto heróico, como os atributos que definem o herói como
tal, são cultural e temporalmente dependentes. No antigo Israel, David tornou-se um herói por
ter vencido o gigante Golias; na Grécia antiga, o semi-deus Aquiles morreu como herói troiano;
Na Idade Média, por exemplo, a condição de herói surgia representada pela figura prototípica
do cavaleiro medieval, como Lancelote, lutando corajosamente em defesa do seu rei e
reinado, ou de um Robin dos Bosques, que, segundo a lenda, assaltava os ricos para dar aos
pobres. Na China, cantos tradicionais exaltavam a heroína Mulan, a partir para a guerra em
lugar de seu pai. Passados doze séculos o herói sul-americano Simón Bolívar liberta o seu povo
da opressão espanhola. A história está repleta de feitos heróicos, principalmente porque
marcaram um ponto de viragem no destino dos povos e das nações161. À necessidade de
mudança colectiva, quer em termos sociais, económicos ou mesmo culturais, ou na procura de
reposição, reabilitação ou abolição de determinados sistemas de valores e princípios,
corresponde a necessidade de criação da imagem de um herói salvador, uma entidade
modelar que tenha a capacidade de alterar o actual paradigma de vida. Assiste-se, assim, a
uma conjugação de forças:
161
Uma abordagem interessante sobre a evolução histórica do conceito de herói encontra-se no estudo de Kerstin
Hermes, Die Kreation eines Helden durch Sportmedien und -literatur - am Beispiel von Fritz Walter, 2007, pp.4-13.
196
a) um determinado acto é apenas considerado heróico, quando é reconhecido publica
e socialmente como extraordinário e excepcional, quando é enaltecido e divulgado,
principalmente através de registos ou relatos, transmitidos de forma escrita ou oral.
”’Helden‘ an sich gibt es nicht. Sie sind immer die diskursieve Zuschreibung eines oder
mehrere Beobachter, also eine narrativ verfasste soziale Konstruktion.“ (Schilling,
2002:23)
”Zum Helden wird man erst durch die Anerkennung vonseiten Dritter", gibt Marion Meyer
zu bedenken. „Diese äußert sich in Bewunderung und - in ritualisierter Form - in Kult.““
(Online Zeitung der Universität Wien, in: http://www.dieuniversitaetonline.at/beitraege/
news/wer-sind-helden/68.html [Consult. 19.01.2011])
b) as sociedades sentem, por vezes, a necessidade de criação de heróis, pois estes
representam e potenciam valores que cultural e socialmente são considerados positivos e
indispensáveis. Funcionam como modelos e são objecto de veneração, pois representam a
capacidade quase sobre-humana de melhorar a sociedade a todos os níveis, de acordo com os
diversos padrões culturais das diferentes épocas, ou seja, personificam um ideal colectivo e
individual.
”Wer oder was Helden sind, wird immer wieder neu und anders definiert: in Europa
anders als in Amerika oder Asien, der Nationalheld anders als ein Held der Massenmedien,
der Held der Humanität anders als der Kriegsheld, den er verdrängt hat. "Heldenbilder
sind Spiegelbilder ihrer Verehrer, symptomatisch für ihre Werte und ihr kulturelles
Selbstverständnis. Die Konstruktion von Helden und der Umgang mit ihnen sind damit
außerordentlich
relevante
kulturelle
Phänomene:
Sie
markieren
kulturelle
Grundgegebenheiten und Mentalitäten, ja möglicherweise zukunftsweisende Ideale von
Gesellschaften“ so Univ.-Prof. Dr. Marion Meyer vom Institut für Klassische Archäologie“
(Online Zeitung der Universität Wien, in: http://www.dieuniversitaetonline.at/beitraege/
news/wer-sind-helden/68.html [Consult. 19.01.2011])
O acto heróico está, então, intimamente ligado ao contexto da luta e da guerra, da
conquista e do sacrifício. A história da humanidade está repleta de episódios de confrontação
e de guerra e existem teorias que defendem que as guerras conduzem, de facto, ao
desenvolvimento social e económico, porque após a destruição e devastação tanto material
como humana, aliado ao esforço de união e de reconstrução necessário, gera o progresso.
Contudo, o século XX, e principalmente o período pós-guerra fria, trouxe à luz uma nova
atitude perante os cenários de guerra e a gestão de conflitos. A Organização das Nações
Unidas (ONU), criada em 1945 com o objectivo principal da manutenção da paz mundial,
197
realça essa alteração de paradigma.162 Esta mudança influencia também o conceito de herói,
pois tal como já foi referido anteriormente, o que é considerado heróico depende do
enquadramento social e cultural de cada época:
”Das Kriterium der „Leistung für das Gemeinwesen“, das für alle Erzählungen über die
„Helden“ des dritten Typus gilt, ist in der Regel an die Entstehungszeit des Heldenmythos
und die dort geltenden Rahmenbedingungen, d.h. Werte, gebunden. Wenn diese
Rahmenbedingungen entfallen, können diese „Helden“ nicht mehr erinnert werden.“
(Schilling, 2002:25)
A partir da segunda metade do século XX, com o crescente esforço internacional em direcção à
paz mundial e à harmonia entre os povos e, mais recentemente, com o fenómeno da
globalização em todos os domínios da vida, as sociedades começaram a rejeitar o conceito de
herói de guerra, no sentido tradicional. Os “Kriegshelden163”, ou seja, aqueles que activamente
promovem e são responsáveis por actos de guerra, passaram a ser encarados de forma
negativa. Actos de guerra e de violência deixam de ser atitudes modelares e idolatradas.
Contudo, as vítimas da guerra, os “Opferhelden” conservam o seu estatuto, merecedores de
admiração e compaixão. As sociedades estabeleceram, portanto, uma nova escala de valores
de acordo com o respectivo panorama sociopolítico, no qual o verdadeiro herói é aquele que
promove e se sacrifica pela paz. Aspectos humanitários sobrepõem-se a manifestações
militares, a diplomacia a demonstrações de força.
Durante todo o século XX, viveram-se conjunturas e momentos catastróficos para a
humanidade. Marcado pela ascensão e queda de ideologias extremistas, o desmoronar de
nações inteiras e a criação de novas, o extermínio de populações e guerras de violência
extrema e até a ameaça da destruição total do planeta, este século foi fértil na produção de
mitos e heróis, pois representavam esperança e salvação:
”Das 20. Jahrhundert als eine Ära der Katastrophenerfahrungen, der extremen Ideologien,
vielfacher Staatszusammenbrüche und -neugründungen war eine Hoch-Zeit der
162
”Considering that international peace and security are essential elements for the realization of the right to
development.” (Declaração do Direito ao Desenvolvimento, ONU, 1986, In: http://daccess-ddsny.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/496/36/IMG/NR049636.pdf?OpenElement [Consult. 19.01.2011])
163
”Das Kriterium „Leistung für ein Gemeinwesen“ erlaubt ausserdem die Entwicklung einer historisierungfähigen
Typologie der Kriegshelden. Zu unterscheiden sind der Führerheld im Sinne des Feldherrn einerseits und der
Opferheld, der im Krieg stirbt andererseits. Die besondere Leistung des Führerhelden besteht in der Regel in dem
Gewinn einer bedeutenden Schlacht. Der Feldherr agiert als Führer von einer privilegierten politischen oder sozialen
Position aus, die nicht jedem zugänglich ist. Er verfügt über eine qualifizierte Ausbildung sowie über bedeutende
materielle Ressourcen. Ein Felherr kann deshalb nicht jeder werden, dieses Heldentum ist exklusiv. (...) Ihnen
gegenüber steht der Opferheld. Seine aktive Leistung besteht aus der Sicht seiner Verehrer darin, dass er bereit ist,
für das politische Gemeinwesen als Soldat zu kämpfen und zu sterben. Die besonders gewürdigte Leistung des
„Heldentods“ ist ein Merkmal, das kein exklusives Heldentum bedingt. Sie ist vielmehr inklusiv, jeder Soldat kann,
folgt man dem im 19. Jahrhundert populären Totenkult, ein „Held“ werden. ” (Schilling, 2002:25-26)
198
Mythenproduktion: Denn in Krisen- und Umbruchsphasen ist der Drang nach politischer
Mobilisierung, das Bedürfnis nach Verstehen, Trost und Sinngebung besonders dringlich,
und die Auseinandersetzungen um politische Autorität sind oft besonders heftig.
Gleichermaßen bedürfen neu etablierte politische Ordnungen der Legitimation, die sie
vielfach auf dem Wege symbolischer Politik zu erringen suchen. (...) Durch die besondere
Präsentation vorbildhafter Figuren sowie die sinnstiftende Deutung von Vergangenheit
und Gegenwart sollen Mythen für ein Kollektiv identitätsbildend wirken. Gleichermaßen
können Mythen erklärende, tröstende oder kompensatorische Funktionen erfüllen. Denn
die mythische Präsentation historisch-politischer Prozesse und Phänomene reduziert
deren Komplexität und soll sie so verständlicher machen. Gleichermaßen kann die
Geschichts- und Gegenwartsdeutung des Mythos mobilisierend für die Zukunft wirken,
indem sie an beispielgebende Figuren oder Epochen appelliert.“ (Matthias Waechter,
Mythos, Version: 1.0, in: Docupedia-Zeitgeschichte, 11.2.2010, http://docupedia.de/zg/
Mythos [Consult. 19.01.2011])
Esta tendência foi particularmente visível na Alemanha, devido ao facto da sociedade alemã
ter assistido a períodos de subversão completa de princípios e de valores. Mais que qualquer
outro país, a Alemanha viu nascer e morrer heróis ao ritmo das alterações sociopolíticas que ia
sofrendo. A oscilação entre construção nacional e destruição total revelou-se propícia à
criação de heróis nacionais. Estes cumpriam, por um lado, a função de timoneiro, de farol de
ideais e de valores a seguir e por outro, eram símbolos de unificação e de identidade
nacional.164
”The constellation and perception of German identity have been continually changing over
the centuries, as is the normal circumstance for virtually every nation state with a
growing, dynamic society. Germany, however, more than any other European country
throughout history, seems to have had a long and difficult struggle in defining its national
identity. This endeavour seems to be a German phenomena that began centuries ago and
st
has lasted until the 21 century. (...) In Shattered Past: Reconstructing German Histories,
for example, the historians Konrad H. Jarausch and Michael Geyer point to the various and
contradictory representatives of German identity during the past two centuries which:
‘[…] have ranged from unpolitical poets and thinkers to arrogant Junkers, from brilliant
scientists to fanatical SS killers, from arrogant GDR [German Democratic Republic] border
guards to high-minded dissidents, from enterprising FRG [Federal Republic of Germany]
businessmen to protesting Greens’ and which have resulted in a ‘fragmented nation’.”
(Ganter, 2008:24-25)
164
O conceito de ‘identidade nacional’ é abordado muito superficialmente, pois um estudo aprofundado deste
conceito ultrapassaria amplamente o escopo deste trabalho.
199
Após a segunda guerra mundial, o culto tradicional do herói de guerra - Kriegsheld/Führerheld
- tinha, por razões óbvias, chegado ao fim. A Alemanha derrotada, humilhada, destruída e
devastada, tanto em termos materiais como humanos, procurava um novo tipo de herói,
inspirado numa matriz de valores adaptada à nova realidade.
”Zu jeder Zeit brauchen die Menschen einer Gesellschaft Geschichten, die sie aus der
Alltäglichkeit herausheben, von ihren Ursprüngen erzählen, den Zusammenhalt
stabilisieren und zu neuen kollektiven Taten anspornen. Insofern gibt es wohl kaum eine
„mythenfreie" Gesellschaft; und die Entstehung neuer Mythen kann zu keinem Zeitpunkt
ausgeschlossen werden.” (Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in: DocupediaZeitgeschichte, 11.2.2010, http://docupedia.de/zg/Mythos [Consult. 20.01.2011])
Mais do que nunca, a Alemanha empenhou-se num esforço de união e reconstrução virado
para o progresso e a modernidade, ao serviço do bem comum, recuperando valores
humanistas em substituição dos valores militares. Domínios como a ciência, a tecnologia, as
artes e a literatura, assim como o trabalho e o desporto, foram recuperados, desmilitarizados e
libertados da sua politização.
”Des Weiteren wird im 20. Jahrhundert die moderne Technologie zum Gegenstand und
Instrument des Mythos. (...) Der Glaube an die allumfassende Wirkungsmacht der Technik,
die Machbarkeit jedweder Prozesse und die Verehrung industrieller Produkte wird so zu
einer sinnbildenden, in zahllose einzelne Erzählungen deklinierbare Mythologie der
Moderne. Sie hat ihre eigenen, transnational verehrten Helden und Heldinnen (darunter
Charles Lindbergh, Marie Curie, Albert Einstein, Juri Gagarin) (...) hervorgebracht.”
(Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in: Docupedia-Zeitgeschichte, 11.2.2010,
http://docupedia.de/zg/Mythos [Consult. 20.01.2011])
A população, em geral, procurou afastar-se de todos os vestígios reminiscentes da Alemanha
nacional-socialista e negar os modelos seguidos durante o fascismo. A presença das forças
aliadas na Alemanha do pós-guerra contribuiu igualmente para esta mudança de paradigma ao
‘banir’ socialmente símbolos representativos da Alemanha imperialista e proibir a futura
militarização do país.
”Before the defeat of Hitler and the National Socialists in 1945, a large cross-section of
Germans had supported him and the Nazi party. Afterwards, however, this positive
context turned negative and the average German citizen wanted to quickly dissociate
himself from the Nazis. As a result, a strong denial of every aspect of Nazism became the
trend. The American attempts at ‘reeducation’ and ‘denazification’ served to further
200
strengthen this sudden desire to refute and even conceal any connection to Nazism,
whether real or assumed.” (Ganter, 2008:27-28)
Mais ainda, a divisão territorial da Alemanha em quatro zonas administradas pelas potências
vencedoras proporcionou, por um lado, uma maior partilha intercultural, porém por outro,
veio a separar um país em duas nações politica e ideologicamente opostas. As duas
Alemanhas165, a ocidental Bundesrepublik Deutschland e a oriental Deutsche Demokratische
Republik, reflectiam não somente as ideologias políticas dos países que as apoiavam, como
espelhavam todo um modelo social e cultural, cunhando modos de vida e de pensar do povo
alemão dividido. Na demanda de uma ‘nova’ identidade nacional, ambas as Alemanhas
procuravam os seus heróis nacionais em representação de uma nova união e coesão interna:
”Sie [Helden] dienen, dies ist ihre kardinale Funktion, der Integration menschlicher
Gemeinschaften
–
seien
es
Nationen,
ethnisch-kulturelle
Gruppen,
politische
Bewegungen, soziale Klassen und Milieus.” (Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in:
Docupedia-Zeitgeschichte,
11.2.2010,
http://docupedia.de/zg/Mythos
[Consult.
20.01.2011])
A divisão política e territorial veio, paradoxalmente, acrescentar um novo elemento de
identificação nacional, pois um dos principais conceitos identificativos de ambas as nações
passou a ser a consciência da diferença, fomentada e extremada pelos aliados Estados Unidos
da América por um lado, e União Soviética por outro. A questão existencial: “Quem somos?”
encontrou resposta na negação: “Nós não somos eles.”, ou seja, a ‘outra’ Alemanha.
“’Who are we?’ The answer was easily found by looking across the political divide: ‘We are
not they.’ The division of Germany into two politically separate German nations under the
guidance of the victorious allies thus made the concept of ‘identity’ easier to define. (…)
As a consequence, German identity after 1949 became dependent on the existence of ‘the
other’ and was partly defined by differing political ideologies which were primarily
determined by location: East or West, i.e. Soviet Union or the USA, respectively. (…)
165
”Mit einem Festakt verabschiedet der Parlamentarische Rat am 23. Mai 1949 das Grundgesetz. Es ist die
Geburtsstunde der Bundesrepublik Deutschland. Bei den darauf folgenden Wahlen zum Bundestag am 14. August
erringen die Mitte-rechts-Parteien um CDU/CSU und FDP einen denkbar knappen Sieg. Nur mit einer Stimme
Mehrheit wird Konrad Adenauer am 15. Sepetember sum Bundeskanzler gewählt. Drei Tage zuvor wurde der
Vorsitzende der FDP, Theodor Heuss, zum ersten Präsidenten der Bundesrepublik gewählt. Als Reaktion darauf tritt
am 7. Oktober in der sowjetischen Besatzungszone der zweite deutsche Volksrat zusammen, der im Mai auf der
Grundlage der Einheitsliste gewählt wurde, und ruft die Deutsche Demokratische Republik aus. Am 11. Oktober
wählt die Volkskammer Otto Grotewohl zum Ministerpräsidenten, tags darauf wird Wilhelm Pieck erster
Staatspräsident der DDR. Zwar halten beide Staaten formal an dem Ziel fest, die Einheit Deutschlands wieder
herzustellen. Doch die Teilung wird in den nächsten Jahren weiter vertieft. Während die Bundesrepublik die
Anbindung an den Westen sucht, findet in der DDR eine Umgestaltung nach sowjetischem Vorbild statt.“ (In:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/geschichte/Jahrhundertrevue/1941~20~201950/index,page
=2470616.html [Consult. 20.01.2011])
201
Throughout the period of the Cold War, these political differences and antagonisms
between the FRG and the GDR escalated primarily due to the antagonisms between the
USA and the USSR. These unfortunate circumstances continued to position German
brother against German brother and made the question of identity even more
complicated.” (Ganter, 2008:28)
Durante o período da Guerra Fria, as duas Alemanhas tinham, igualmente, encontrado os seus
inimigos principais: a ditadura comunista por um lado e o imperialismo capitalista por outro.
Como forma de intimidação mútua, a ostentação pública e contínua do poderio militar e bélico
fez renascer o espírito guerreiro como valor socialmente aceite, embora de forma distinta na
República Democrática Alemã e na República Federal Alemã166. Neste contexto, todas as
conquistas, fossem elas militares, tecnológicas, científicas, artísticas ou desportivas eram
exploradas, por ambas as nações, como forma de enaltecimento e legitimação do seu modus
vivendi. Principalmente no domínio do desporto, os sucessos desportivos internacionais da
RDA foram particularmente glorificados, pois ultrapassavam amplamente os sucessos da sua
arqui-rival, a RFA. Esse sucesso devia-se não somente ao espírito altamente competitivo por
parte da RDA relativamente ao seu principal opositor (a RFA), como também à integração do
desporto como filosofia de vida patriótica, conforme o artigo 25, ponto 3 da antiga
Constituição da RDA atesta:
”Zur vollständigen Ausprägung der sozialistischen Persönlichkeit und zur wachsenden
Befriedigung der kulturellen Interessen und Bedürfnisse wird die Teilnahme der Bürger am
kulturellen Leben, an der Körperkultur und am Sport durch den Staat und die Gesellschaft
gefördert.“ (In: http://www.documentarchiv.de/ddr/verfddr.html#KAPITEL 1-2 [Consult.
20.01.2011])
O desporto tornava-se, assim, simultaneamente veículo de identidade nacional e de
propaganda política167. O desportista bem sucedido tinha conquistado o estatuto de herói
166
”Ein Kriegsheld in der DDR konnte und durfte nicht in der Tradition der Wehrmacht oder ihrer Vorgänger stehen.
Erlaubt waren einzig Kommunisten und Widerstandskämpfer oder eben ein Theodor Körner als „Held“ der
Freiheitskriege, der zugleich mit der Aufklärung und dem Humanismus identifiziert werden konnte. Damit schloss
man an die linksliberale und sozialdemokratische Tradition des 19. Jahrhunderts an. In der Bundesrepublik hingegen
versuchte sich ein Teil der politischen Führung und der Bundeswehr von der Wehrmacht zu distanzieren, konnte
sich dabei aber nur partiell durchsetzten. Auf nationaler Ebene mochte das Erbe der Wehrmancht und des
preussischen Militarismus nur eine untergeordnete Rolle spielen, auf kommunaler Ebene und in Verbänden und
Vereinen konnte es sich jedoch eigene Foren schaffen. Unübersehbar war allerdings, dass der Heldenkult im Westen
fakultativ war.“ (Schilling, 2002:392-393)
167
”Später konzentrierte sich die DDR-Sportpolitik auch auf den Leistungssport und schuf damit die Grundlage für
zahlreiche internationale Erfolge bei sportlichen Wettkämpfen. Sie sollten (und taten es wohl auch) zur
internationalen Anerkennung der DDR beitragen, was sich in dem sprachlichen Klischee "Diplomaten im
Trainingsanzug" niederschlägt. Grundlage dieser Erfolge waren systematische Nachwuchsförderung und -sichtung in
den Schulen, wissenschaftliche Trainingsmethodik und natürlich medizinische Begleitung (später sogar auch mit
unerlaubten leistungssteigernden Mitteln wie Doping). Im Zeitraum zwischen 1968 und 1971 wurde aus diesem
202
nacional. Este fenómeno não ocorreu apenas na RDA; a glorificação do herói desportista
emergiu em todo o mundo recuperando antigas lendas heróicas sobre feitos ou episódios de
desempenho físico extraordinários, tais como a lenda da maratona.168
Depois da reunificação oficial da Alemanha em 1990, o herói militar real - Kriegsheld foi substituído pelo herói ficcional ou metaforicamente construído. Contudo, o herói de guerra
vitimizado - Opferheld -, ou seja, aquele que está disposto a sacrificar a vida pela pátria ou por
uma causa nobre - Heldentod -, continua a merecer admiração e compaixão.
”Gibt es also im vereinigten Deutschland keine militärischen „Helden“, keinen Heldenkult
mehr? Die Pluralität sozialer, kultureller und politischer Wertsphären einer offenen
Gesellschaft bietet viele bewunderte Stars, ja vielleicht „Helden“ einer globalen Sport- und
Freizeitkultur an. Militärische Helden, so mag man meinen, spielen keine Rolle mehr. Eine
solche Annahme leugnete jedoch die Einsicht, dass in einer Gesellschaft mit pluralen
Lebensstilen ebenso ein gewiss kleines Milieu denkbar ist, indem die Verherrlichung
militärischer Traditionen möglich ist. Grüsste nicht in den 1970er Jahren von den
Zimmerwänden mancher vermutlich eher linksorientierter Jugendlicher der kubanische
Revolutionsheld Ché Guevara, der als Revolutionär in Bolivien getötet worden war. Das
Phänomen kriegerischer Männlichkeit hat in Militär- und Actionfilmen - man denke nur an
Rambo - immer noch ein grosses Publikum.“ (Schilling, 2002:393)
Também as tecnologias de comunicação e informação dos séculos XX e XXI, vieram a
enriquecer o conceito de herói mítico. Este emerge do processo de comunicação entre
emissores e receptores, suportado pelos media como meio de informação e divulgação. O acto
heróico é narrado e divulgado através de diversos meios de comunicação e a reacção do
público determinará se este foi suficientemente meritório para ser honrado e respeitado como
tal. Devido aos meios informáticos, o novo herói está à distância de um ‘click’, acessível não
somente a um indivíduo, um grupo, uma comunidade cultural ou uma nação, mas a todo o
mundo.
Grund das DDR-Sportsystem reorganisiert: Die Förderung nichtolympischer und/oder materiell oder personell
aufwendiger Sportarten wurde eingeschränkt (z. B. Pferdesport, Eishockey, Hockey, Basketball, Wasserball),
sattdessen wurde die Förderung solcher Sportarten forciert, die viele (insbesondere olympische) Medaillen
ermöglichten (z. B. Eisschnelllauf und Eiskunstlauf anstelle von Eishockey, Rudern, Kanu, Leichtathletik, Schwimmen,
nordischer Skisport). Die Förderung von Leistungssportlern und jener Talente, die dies werden sollten, erfolgte
schwerpunktmäßig in den Kinder- und Jugend-Sportschulen der Sportklubs. Sonstiger Wettkampfsport sowie
Breiten- und Gesundheitssport spielte sich in Betriebssportgemeinschaften (im weiteren Sinne, siehe dort) ab.
Disziplinen, in denen sich die DDR keine internationale Erfolge versprach, wurden nur in Ausnahmefällen gefördert,
Segeln, Motorsport und Tennis beispielsweise.“ (In: http://www.ddr-wissen.de/wiki/ddr.pl?Sport [Consult.
20.01.2011])
168
A maratona nasceu com um herói grego que, segundo a lenda, sacrificou sua vida para percorrer os 40 km entre
as cidades de Maratona e Atenas, na Grécia. O corredor era Pheidíppides que correu a distância para levar a notícia
da vitória grega sobre os persas, no ano 490 antes de Cristo. (In: http://www.infopedia.pt/$maratona [Consult.
20.01.2011])
203
”Gleichermaßen haben die Informationstechnologien des 20. und 21. Jahrhunderts die
Entstehungs- und Funktionsweisen von Mythen verändert. Diese erwachsen stets aus
einem kommunikativen Prozess, in dem es auf der einen Seite Produzent/innen und auf
der anderen Rezipient/innen gibt. Politiker/innen, Schriftsteller/innen, Journalist/innen,
Maler/innen und Musiker/innen, aber auch Historiker/innen gehören traditionell zu ihren
wichtigsten Produzenten. Die Empfängerseite reagiert auf das „Angebot" einer
Mythenproduktion äußerst kreativ, indem sie in die idealisierte Mythen-Figur alle nur
denkbaren Sehnsüchte und Wünsche projiziert. Solchermaßen perpetuieren die
Rezipient/innen den Mythos, indem sie in ihn „einsteigen", ihn fort- und umschreiben;
worauf wiederum die Produzent/innen antworten. Dieser Kommunikationsprozess ist
durch die Medien des 20. Jahrhunderts enorm beschleunigt worden. Zum einen sind die
Adressaten eines Mythos umgehend und über eine Vielzahl von Kommunikationsmitteln
erreichbar; andererseits ist die Reaktion der Empfängerseite in einer früher ungekannten
Geschwindigkeit vermittel- und abrufbar.“ (In: Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0,
in: Docupedia-Zeitgeschichte, 11.2. 2010, http://docupedia.de/zg/Mythos [Consult.
21.01.2011])
A correlação entre o feito heróico e os respectivos valores culturais, sociais e políticos, vigentes
naquele espaço temporal, determinará o valor do mesmo como modelo individual e social.
Este dinamismo realça a efemeridade da maioria dos heróis dos tempos modernos. O que hoje
é excepcional, amanhã pode ser banal. O desporto e o conceito de conquista desportiva em
constante mudança são disso exemplo.
”Gunter Gebauer schreibt in seiner Abhandlung ‚Die Mythen-Maschine‘ Von InstantMythen für Werwerfhelden mit der Lebensdauer eines Bundesliga-Wochenendes. Das
zeigt, dass der Ausdruck ‚Held‘ immer inflationärer gebraucht wird. In einer immer
schnelllebigeren Welt existieren für ihn sogar Helden für einen Tag - binnen 24 Stunden
können demnach Sportler zum Helden stilisiert werden und anschliessend wieder in
Vergessenheit geraten. Der Ausdruck ‚Held‘ ist immer interpretierbarer geworden, weil
die Eigenschaften, die einen Helden in der Antike ausgezeichnet haben, wesentlich
beliebiger geworden sind. Ausserdem können sie heute mehr Menschen besitzen als
damals.“ (Hermes, 2007:13)
Tal como já foi referido anteriormente, o desporto assume-se actualmente como um
fenómeno de massas a dois níveis:
a) é uma actividade de massas, praticada por uma faixa significativa da população
como ocupação de lazer dos tempos livres; é praticado em instituições de educação, clubes,
colectividades ou associações amadoras, ou até em casa, recorrendo a equipamento
204
desportivo doméstico e mesmo a consolas interactivas numa perspectiva de melhoria de
qualidade de vida. A profissionalização do desporto possibilitou igualmente a criação de uma
carreira profissional diferente, marcada por ambições pessoais e colectivas na busca do
sucesso desportivo e do lucro financeiro.
b) é um entretenimento de massas, acessível a toda a população através da
mediatização dos diversos eventos desportivos.
A profissionalização e mediatização do desporto são, de acordo com o supra
mencionado, factores determinantes para a ascensão de uma nova tipologia de herói:
”Die zunehmende Professionalisierung und Kommerzialisierung, die den Sport zu einem
Milliardengeschäft werden lässt, verändert die Wahrnehmung vom Helden und Idolen für
die Gesellschaft. (...) Der Sportler gewinnt stattdessen, neben den Idolen aus der
Unterhaltungsindustrie, durch eine wachsende Medialisierung dieses Genres und die
zunehmende Freizeit als Forge kürzerer Arbeitszeiten, immer mehr an Bedeutung. Der
Sportler als Träger herausragender körperlicher Fähigkeiten übernimmt eine neue Rolle in
der Gesellschaft und wird zum Vorbild, Idol und Helden. Der Sportheld nimmt Teil an
anderen Bereichen des Heldentums: der Unterhaltung und der Macht.” (Laxa, 2005:41)
Actualmente, assiste-se a uma omnipresença de competições desportivas variadas
globalmente valorizadas, assumindo uma posição de relevo devido ao destaque que lhes é
conferido por parte dos media. Os protagonistas estão no centro das atenções quer ao nível
das prestações desportivas, quer no plano das manifestações de carácter. As suas vidas
profissionais e pessoais são continuamente avaliadas pelos jornalistas e pelo público. Existem
três factores que permitem elevar o protagonista a herói:
1. o sucesso desportivo;
2. o carácter ou carisma;
3. o feito heróico enquadrado numa narrativa mítica, construída pelos media.169
O primeiro ponto assenta na dicotomia vitória-derrota, sendo a vitória objectivo final do
desporto de competição. Pressupõe-se que o herói seja o vencedor. Contudo, o desporto
alberga simultaneamente uma vertente moralizante e apaziguadora. Esta defende princípios
de fair-play e atitudes de respeito mútuo entre os atletas de acordo com o lema “participar é
tudo”170, relativizando, assim, o valor da vitória. O herói até pode ter perdido a competição,
169
vide Laxa, 2005:42
“The Olympic Creed - Pierre de Coubertin got the idea for this phrase from a speech given by Bishop Ethelbert
Talbot at a service for Olympic champions during the 1908 Olympic Games. The Olympic Creed reads: "The most
important thing in the Olympic Games is not to win but to take part, just as the most important thing in life is not
170
205
mas demonstrou possuir, de forma exemplar, um conjunto de valores éticos e morais
publicamente reconhecidos. A sua dedicação pode, por exemplo, ser factor determinante para
o reconhecimento do feito heróico. Mesmo sem ter alcançado a vitória efectiva, pode ter
conquistado uma ‘vitória moral’. Veja-se a ocorrência (74): A Selecção nacional alemã perdeu a
final do Campeonato Europeu de 2008 contra a equipa espanhola. Contudo, os jogadores
mereceram ser considerados e celebrados como heróis. Esta circunstância está directamente
relacionada com o ponto 2 acima referenciado, pois entende-se que a atitude visível do ou dos
atletas é espelho do seu carácter. Este deve ser exemplar e excepcional, de acordo com as
normas e os valores vigentes no momento, social e culturalmente partilhados. A relação do
público com os seus heróis é ambivalente:
"'Held' ist ein schillernder wie ambivalenter Begriff", erklärt Univ.-Prof. Dr. Marion Meyer
vom Institut für Klassische Archäologie (...). "Einerseits kann man durch Höchstleistung
zum 'Helden' und zur 'Heldin' werden, andererseits steht der 'Held' gerade für
unerreichbare, übermenschliche Taten. 'Helden' evozieren Bewunderung, aber auch
Abgrenzung." Der Begriff des "Helden" impliziere die Distanz zwischen Helden und NichtHelden - denn nur "Helden" können heldenhafte Leistungen erbringen!“ (In:
http://www.dieuniversitaet-online.at/beitraege/news/wer-sind-helden/68.html [Consult.
21.01.2011])
Se de acordo com Meyer (op.cit.) o herói representa distanciação e exclusividade, este
fomenta simultaneamente o sentimento de união e identificação individual e colectiva. O
fenómeno da identificação pode ser sociologicamente encarado como ‘bálsamo’ psicológico,
i.e. uma forma virtual de realização pessoal:
”So kann sich der Zuschauer mit dem Sportler identifizieren. Die Attraktivität des Sports
als Objekt des Zuschauers basiert - darin sind sich die Wahrnehmungsforscher von jeher
einig - aud Identifikationen. Die Funktion der Identifikation ist eine Stärkung und Erhöhung
des Ichs. In diesem Vorgang kann das Individuum Antriebe als erfüllt erleben, deren reale
Befriedigung ihm, teils aus gesellschaftlichen, teils aus individuellen Gründen versagt ist.
Identifikation ist also - funktional betrachtet - eine ‚Ersatzbefriedigung‘ von Antrieben, die
meist in Frustrationen ihren Ursprung haben. (...) Gesellschaftliche Grössen, die es
‚geschafft‘ haben, aus der Anonymität der Masseheraiszuragen (...) werden von den
Massenmedien zu Objekten der Identifikation aufgebaut.” (Quanz, Lothar, Der Sportler als
Idol. Sportberichterstattung: Inhaltsanalyse und Ideologiekritik am Beispiel der ‚Bild‘Zeitung. 1. Aufl., Giessen 1974, pp.49-51; In: Hermes, 2007:15-16)
the triumph but the struggle. The essential thing is not to have conquered but to have fought well." (In:
http://history1900s.about.com/od/greateventsofthecentury/a/olympicfacts.htm [Consult. 20.01.2011])
206
Não se exige, porém, que o herói seja perfeito. O reconhecimento do facto de que o herói é,
afinal de contas, humano e imperfeito, pode despertar o sentimento de compaixão e
condescendência. Esta proximidade poderá, inclusivamente, ter efeitos catárticos, idênticos
aos experienciadas através do teatro e da literatura da antiguidade clássica.
”Kennzeichnend für den Helden aber ist auch, daß er mit menschlichen Schwächen
geschlagen ist, die ihm ein böses Ende bescheren könnten. Diese Ambivalenz erhöht die
Faszination von Sporthelden.“ (Gebauer, In: http://www.spiegel.de/spiegel/print/d90861
93.html [Consult. 22.01.2011])
”Und nur die Medien schließlich sind es, die uns die Sportler als private Menschen sowie
deren Image vermitteln, so dass wir, wenn es besonders ‚menschelt‘, sogar einen kleinen
Teil von uns in ihnen wiederfinden können.“ (Knobbe, 2000:9-10)
”Der Wunsch nach Helden ist in der Gesellschaft ungebrochen. Sie sind es, die Sehnsüchte
der Gesellschaft befriedigen. Die Sporthelden übernehmen heute somit die Funktionen
innerhalb der Gesellschaft, wie sie sich bereits bei den klassischen Helden der griechischen
Mythologie finden lassen.“ (Laxa, 2005:48)
Quanto ao terceiro ponto, este depende, como já foi referido anteriormente,
exclusivamente dos media, responsáveis pela narrativa heróica ou mítica na medida em que
fabricam e divulgam a imagem do herói, alicerçada nos pontos 1 e 2.
”Das wichtigste Werkzeug zur Erschaffung der Heldengeschichten ist die (Bild-) Sprache.
Das Erzählen, Schreiben und Filmen von Geschichten, die den Helden in eine Wirklichkeit
mit einer eigenen Ordnung übertragen, führt zu einer speziellen Existenzweise, die nur
ihm möglich ist. (...) Bei der Existenz aller drei Kennzeichen zu einem Athleten kann von
einem Helden gesprochen werden, denn erst alle drei Faktoren zusammen, lassen einen
Helden im Sport entstehen.“ (Laxa, 2005:45)
A relação triangular media-atleta-público torna-se, assim, perfeita pois baseia-se no princípio
da necessidade recíproca em torno deste fenómeno:
207
ATLETA - almeja ser herói:
- reconhecimento público do seu sucesso desportivo
- realização pessoal e profissional
- estatuto social e fama
- maior poder e responsabilidade
- vantagens financeiras
171
MEDIA - necessitam de heróis:
- como produto comercial
- exercício de poder/
capacidade de influência social,
económica e política
- garante de audiências e
consequentes benefícios
económicos
HERÓI
PÚBLICO - necessita de heróis:
- reforço dos valores socioculturais
- forma de união e coesão
- forma de identificação e consequente
realização pessoal (virtual)
- satisfação emocional
- catarse
- entretenimento
Figura 29: Relação triangular Media-Atleta-Público
No que diz respeito ao conjunto de valores morais e éticos, alicerçados nos legados
históricos e culturais, convém realçar que, para além da herança histórica do Kriegs/Opferheld,
estes foram cunhados por outros domínios não menos significativos. Referimo-nos, por
exemplo, à importância da disciplina e dedicação ao trabalho. Na senda dos princípios da fé
protestante, destaca-se a obra de Max Weber “A Ética Protestante e o Espírito Capitalista”, na
qual se estabelece a ligação entre o desenvolvimento do capitalismo na Europa e as
características do protestantismo, tendo em conta o desenvolvimento da corrente calvinista a
partir do espírito reformista iniciado por Lutero, aliando os princípios de virtude religiosa ao
trabalho secular. De acordo com os ideais protestantes, seria possível alcançar bênção divina
através do esforço, da dedicação ao trabalho e da penitência. Assim sendo, os indivíduos que
171
”Die besonders seit der Öffnung des Rundfunksystems zu beobachtende Tendenz einer zunehmenden
Unterhaltungsorientierung im Sportjournalismus (auch Selbstdarstellung) hat vor keinem Medium Halt gemacht.
Diesem "Amüsieren" um jeden Preis setzen sich Tendenzen eines stärker investigativ und evaluativ orientierten
Sportjournalismus entgegen. Die notwendige Komplementärfunktion haben zahlreiche Medien mit Erfolg bereits
praktiziert - publizistisch und ökonomisch. (...) Man recherchiert sich seine "heiße Geschichte" nicht kaputt, man
inszeniert, was de facto noch gar nicht passiert ist, um das Eintreten desselben zu beschleunigen. "Self fullfilling
prophecy" wird das genannt und ist durch ungezählte Trainerentlassungen belegbar. Ob gut unterrichtete Kreise,
Stimmen aus der Nähe des Protagonisten oder Gerüchte, die sich meist bestätigen. Mit diesen Nebelkerzen werfen
längst nicht nur Boulevardjournalisten um sich - die Strukturen sind überall ähnlich, nur unterschiedlich drastisch
ausgeprägt. Bisweilen ist der gepflegte Zynismus jedoch für Betroffene und Beteiligte schmerzhafter als der direkte
Affront. Obwohl 85 Prozent der Sportjournalisten meinen, sie seien wirkungsvoll und mit "Macht" ausgestattet,
akzeptieren sie nur zu 30 Prozent die These "Opfer" zu produzieren, währenddessen sie am Heldenepos zu 60
Prozent beteiligt sein wollen. Negative Konsequenzen des professionellen Handelns werden - weltweit im
Journalismus - stets seltener gesehen als positive!“ (HACKFORTH, Josef: Greller, skrupelloser und weniger
unabhängig. Zehn Thesen zur Sportberichterstattung im dritten Jahrtausend. DIE WELT, 01.03.2000,In:
http://www.welt.de/print-welt/article496636/Greller_skrupelloser_und_weniger_unabhaengig.html
[Consult.
22.01.2011])
208
perfilhavam a religião protestante adoptavam a respeito do trabalho e da actividade
económica uma atitude centrada na produtividade e no lucro honesto172. Neste contexto
floresce o conceito de Arbeiterheld, perspectivado de duas formas distintas:
a) O herói trabalhador, masculino ou feminino, que se dedica ao trabalho e se assume
como uma peça produtiva e essencial na imensa ‘maquina’, que é o estado, contribuindo de
forma exemplar e inovadora para o progresso e o desenvolvimento da sociedade. Esta era a
filosofia defendida na antiga RDA, que levou à criação estatal da condecoração oficial “Held der
Arbeit”:
”Der Ehrentitel Held der Arbeit wurde an Personen verliehen, die durch ihre besonders
hervorragende,
bahnbrechende
Tätigkeit,
insbesondere
in
der
Industrie,
der
Landwirtschaft, dem Verkehr oder dem Handel oder durch wissenschaftliche
Entdeckungen oder technische Erfindungen sich besondere Verdienste um den Aufbau
und den Sieg des Sozialismus erworben haben und durch diese Tätigkeit die
Volkswirtschaft und damit das Wachstum und das Ansehen der DDR förderten.“ (Gestiftet:
1950; Jahres quote: bis zu 50; Preis: bis zu 10.000 Mark)“ (In: http://www.ddr-imwww.de/index.php?itemid=287 [Consult. 22.01.2011])
O acto heróico - a actividade profissional ou a concretização de um projecto profissional - está
claramente instrumentalizado e politizado, colocado ao serviço da nação e da ideologia
socialista. Em traços gerais, o verdadeiro heroísmo repousa na contribuição para o
engrandecimento e a exaltação da pátria socialista, sendo o trabalho apenas um meio para
atingir esse objectivo. Porém, após a reunificação, esta condecoração oficial foi abolida.
Contudo, o trabalho e o empenho profissional continuam a ser valorizados. A ideia do trabalho
como parte integrante da vida activa que contribui simultaneamente para a realização pessoal
e para a construção de uma sociedade próspera, permanece significativa e mesmo
institucionalmente incentivada. A estratégia do “empregado do mês” adoptada por diversas
empresas constitui um exemplo paradigmático. O funcionário excepcional merece lugar de
destaque: o nome e a fotografia do distinguido são publicamente afixados, o herói
trabalhador, embora efémero, foi criado.
b) O herói trabalhador, geralmente masculino, que ao exercer o seu trabalho valoriza a
vertente física e psicológica da actividade, tal como a força, o empenho, a resistência, entre
outros:
”Übernatürliche Kraft, körperliche Ausdauer, Unempfindlichkeit gegenüber Müdigkeit
und Schmerzen, unbändiger Leistungswillen und bedenkenloser Einsatz des Körpers
172
vide http://www.infopedia.pt/$etica-protestante [Consult. 24.01.2011]
209
selbst auf Kosten des eigenen Lebens: der Held verkörpert die geschätzten Tugenden
männlicher Arbeitsproduktivität (...). Die Analogie zwischen Heldentat und männlicher
Arbeitstätigkeit verweist somit auf eine mögliche kulturelle Dimension in der sozialen
Reproduktion menschlicher Arbeitsleistung und -belastung.“
(Florian, Michael,
Highway-Helden in Not, Genehmigte Dissertation an der Philosophischen Fakultät der
Westfälischen Wilhelms-Universität in Münster, 1993:13; In: http://www.tuharburg.de/tbg/Deutsch/Mitarbeiterinnen/Michael/Kapitel1.pdf [Consult.22.01.2011])
Este é o tipo de herói que os media procuram enaltecer no desporto, nomeadamente nos
campos de futebol. Um jogador de futebol que exiba estas características masculinas, é
elogiado, apreciado e mesmo idolatrado pela comunicação social e, consequentemente, pelo
público em geral.
Regressando à imagem mesclada FUTEBOL É GUERRA, durante um campeonato
internacional, os jogos de futebol entre selecções são frequentemente conceptualizados como
batalhas entre dois países, sendo que os heróis conterrâneos - “Freund” - defendem a nação
ameaçada pelos vilões - “Feind”:
(60) Das Leder rauschte an Freund und Feind vorbei, klatschte an den zweiten Pfosten
und von dort ins Tor.
À luz deste enquadramento conceptual, o adversário é o principal inimigo público, ou, a partir
de uma perspectiva histórica fundada numa tradição de conflitualidade, o arqui-rival:
(80) Dann foulte er den deutschen Kapitän Michael Ballack so schwer, dass dieser für
die WM ausfiel. Einige erklärten Boateng deshalb zu Deutschlands Staatsfeind
Nummer eins.
(81) Als Tabellenerster trifft Deutschland am Sonntag in Bloemfontein auf den
Erzrivalen England.
A mensagem subjacente à imagem mesclada da ocorrência (80) é clara: quem age contra um
jogador da selecção, age contra a nação. Neste sentido, a imprensa alemã exclama: abaixo
Boateng, por ter lesionado o capitão alemão Michael Ballack.
O inimigo poderá ser vulnerável e cabe ao herói explorar essas vulnerabilidades:
(95) „Ghana ist im Konter sehr gefährlich“, berichtete Löw. Doch in der Defensive hält
er den Gegner für verwundbar.
Neste caso, a estrutura defensiva da equipa, composta por vários jogadores, é conceptualizada
como sendo um só corpo (vide imagem mesclada FUTEBOL COMO CORPO HUMANO) de um
210
guerreiro ou soldado que pode ser ferido e, consequentemente, fragilizado. A missão de
defesa da própria baliza ficara, então, comprometida. Proliferam exemplos em que os
diferentes sectores de uma equipa de futebol (defesa, meio campo, ataque, alas, etc.),
formados por conjuntos de jogadores, são conceptualizadas como um único corpo. Neste
sentido, um corpo vivo pode morrer ou ser morto por alguém:
(68) Jens Lehmann: Neben Italiens Buffon der beste Torwart der WM. Immer sicher,
immer cool. Gegen Argentinien als Elfmeter-Killer Deutschlands Matchwinner.
(84) Stürmer mit Killer-Instinkt: David Villa schoss bei dieser WM fünf von sechs
Toren der Spanier.
(72) So blieb der Außenseiter letztlich doch noch auf der Strecke in der "Todesgruppe"
C.
(75) Das deutsche Spiel? Tot und virtuell im Wiener Nachthimmel, mit Kroaten,
Portugiesen, Türken und all den anderen ausgeschiedenen Teams.
(94) (...) Zumal Portugal ausgerechnet in der „Todesgruppe“ mit RekordWeltmeister Brasilien (...) gelandet ist.
Ser eliminado na fase de grupos de um campeonato equivale à morte da equipa e,
consequentemente, à morte da nação que esta representa. Na ocorrência (75) o jogo “morto”
da selecção alemã merece um lugar no céu, de acordo com a fé cristã, ao lado das outras
equipas que já pereceram, i.e. que foram eliminadas. Tendo em conta que o jogo decorreu na
cidade de Viana, o ‘céu’ do paraíso é idêntico ao ‘céu’ nocturno sobre Viena. A mescla virtual é
literalmente virtual devido ao recurso do advérbio “virtuell”. Note-se que, enquanto a morte é
uma condição física, real e visível, a ascensão da alma ao ‘céu’ é, de acordo com a fé cristã,
uma elevação invisível e incorpórea.
Quanto às ocorrências (68) e (84), as possíveis razões que poderão ter motivado o
recurso ao termo inglês “Killer” já foram exploradas anteriormente.
Também o árbitro pode ser interveniente activo no confronto futebolístico. Na
ocorrência (82), a derrota da selecção australiana e sua consequente eliminação do
campeonato mundial, deveu-se a decisões tomadas pelo árbitro (de acordo com a opinião do
jogador australiano), nomeadamente, a exibição do cartão vermelho ao atacante.
(82) Harry Kewell: „Er ist Richter, Jury und Henker. Der Typ hat meine WM gekillt.“
Neste cenário de julgamento - já explorado anteriormente relativamente à ocorrência (7) enquanto o jogador da selecção australiana é o réu, o árbitro encarna 3 entidades diferentes:
juiz, jurado(s) e carrasco, ou seja, é o único e exclusivo responsável pela morte do réu. Para o
211
jogador em questão, o seu mundial morreu, ou seja, terminou com a eliminação da selecção. O
recurso ao verbo “gekillt” espelha e reforça a perspectiva do jogador em causa: este considera
que foi vítima e que o seu campeonato foi assassinado. A construção do cenário do julgamento
(no qual se espera que seja averiguada a verdade e aplicada a justiça) serve para este
denunciar e realçar a injustiça praticada.
De acordo com as ocorrências em foco, a luta, o sacrifício e a morte afiguram-se como
domínios conceptuais essenciais para a criação do herói futebolístico. Wipper (2003:99)
justifica: “Die Schilderung der Gefahren, die bloße Möglichkeit des Todes, so stellen es die
Texte dar, adeln den Protagonisten“, corroborado por Hermes (2007:21):
“Auch dadurch entsteht beim Zuschauer eine Spannung: Sieg oder Zerstörung? (...)
Heldensagen funktionieren ähnlich - auch hier steht der Heros oft am Rande einer
Niederlage, manchmal bezahlt er sogar mit dem Tod. (...) Sporteler versuchen die
Katastrophe der Niederlage zu bekämpfen. (…) Das Risiko ist groß, um Rekorde oder Siege
zu erringen (wie beim Heros der Tod). Dadurch wird die Bewunderung umso grösser.”
Em cada campeonato, todos os intervenientes têm os seus papéis e as suas funções
bem definidas, de modo que os jogos possam decorrer de forma organizada e estruturada,
orientados para o sucesso a todos os níveis. De acordo com a abordagem semiótica que temos
vindo a seguir e baseando-nos na imagem mesclada FUTEBOL É GUERRA, podemos
conceptualizar os jogos de futebol como batalhas. Também no cenário da batalha, cada
interveniente desempenha, de acordo com a sua posição hierárquica, determinadas funções,
assumindo responsabilidades e contribuindo para que o objectivo final seja atingido: a vitória.
O mapeamento dos domínios e, consequentemente, dos cenários (jogo-batalha), torna-se
visível através do recurso a diferentes patentes militares de acordo com as suas funções no
contexto da guerra. Assim, deparamo-nos com Legionários, Generais, Coronéis, Tenentes,
Estrategas, etc., no mundo do futebol.
(59) "Legionär" Morientes, von Real Madrid an den AS Monaco ausgeliehen, durfte
sich als einzige nominelle Spitze versuchen.
(67) Bei Australien setzte Coach Guus Hiddink ausschließlich auf Legionäre, die in
ganz Europa ihre Brötchen verdienen.
O jogador é conceptualizado como soldado de uma legião estrangeira, ou seja, o jogador da
selecção do seu país, é simultaneamente jogador profissional de um clube estrangeiro,
212
participando num campeonato fora do seu país natal. O conceito do legionário - Legionär173 prende-se com a profissionalização das forças militares do antigo império romano. Assim
sendo, em troca de um contrato monetário atractivo, o jogador profissional opta por jogar
num país estrangeiro174.
Na ocorrência (88), evidencia-se a qualidade superior do jogador do meio campo da
selecção holandesa, Wesley Sneijder:
(88) Es darf eher als Ausnahme gelten, wie souverän der „geborene MittelfeldGeneral“ sich am Kap verhält.
A admiração e o respeito por este jogador são veiculados por um conjunto de opções lexicais:
a) “Ausnahme”: aquando do campeonato do mundo de 2010, o jogador destacou-se
positivamente em termos de atitude; a sua postura aparenta ser excepcional quando
comparado com os restantes elementos da equipa;
b) “souverän”: destaca-se a soberania, em termos de superioridade e excelência;
c) “geborene”: atesta-se o talento inato do jogador
d) “General”175: o jogador é merecedor do título de General, a patente militar mais elevada
dentro da hierarquia do exército e da força aérea alemãs. Este título enaltece as suas
qualidades futebolísticas e as suas capacidades de liderança pois destaca o jogador como
principal responsável do meio campo.
Na ocorrência (83) o “Generalbeauftragter” (o jogador Schweinsteiger) recebeu ordens
directas do General (pressupomos que seja o treinador Löw) para serem cumpridas em campo,
neste caso concreto, ficou responsável pela cobertura do jogador da equipa adversária, Leonel
Messi. Este comissário ou delegado assume-se como uma extensão da vontade do General,
que, como estratega, define as melhores tácticas (como, por exemplo, evitar que o jogador
Messi possa desenvolver o seu jogo perigoso devido à marcação directa) a serem executadas
pelos seus soldados/jogadores.
173
”Legionär - römischer Berufssoldat; ursprünglich wurden nur römische Landbesitzer in ein Milizheer
aufgenommen. 107 v. Chr. wurde auf Veranlassung des Konsuls Marius eine umfassende Militärreform
durchgeführt und ein Berufsheer geschaffen, um das wachsende römische Engagement in immer entfernteren
Gebieten und die umfangreichen Grenzsicherungen zu gewährleisten. Seitdem konnten auch einfache römische
Bürger Legionäre werden. - Allgemein werden Angehörige einer Legion als Legionär bezeichnet. ” (In:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/geschichte/index,page=1177014.html[Consult. 22.01.2011])
174
”Legionär, der; kein Krieger, im Dienste ausländischer Mächte, sondern (in metaphorischer Verwendung):
einheimischer Spieler, der bei einem ausländischen Verein unter Vertrag steht.” (Burkhardt, 2006a:181)
64
”Ge|ne|ral 1 höchster Rang der Offiziere 2 Offizier in diesem Rang 3 Leiter eines kath. Ordens oder einer
Kongregation [<frz. général, verkürzt aus capitaine général ”Befehlshaber einer militärischen Truppe“, eigtl.
”Befehlshaber der ganzen Truppe, Oberbefehlshaber“, zu général ”allgemein, Haupt-, Ober-“].“ (BERTELSMANN
Wörtebuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=General&
gertype= [Consult. 22.01.2011])
213
(83) Schweinsteiger agierte dabei als "Generalbeauftragter" in Sachen Messi, der
zunächst unauffällig blieb.
Para qualquer batalha são delineadas estratégias176 essenciais para a conquista da
vitória. Analisa-se o local do confronto, estuda-se o adversário, aferem-se tácticas, compõemse os meios humanos e o armamento necessário, ajustam-se os diferentes posicionamentos e
calcula-se o timing ideal para as movimentações. Tanto no domínio da guerra como no
domínio do futebol, o planeamento inicial a par da avaliação dos respectivos reajustamentos
durante o confronto, são processos vitais. Consequentemente, apelidar alguém de estratega
inteligente, é, sem dúvida, um elogio.
(91) Den genialen Techniker und klugen Strategen Karim Ziani (27) kennt man beim
VfL Wolfsburg eigentlich nur aus Erzählungen.
Assiste-se frequentemente à presença de um elemento central que domina e comanda
o evento, que se destaca na sua posição e lidera os seus colegas. As posições no futebol
podem ser divididas em 4 posições base: 1. guarda-redes, 2. defesa, 3. médio e 4. avançado.
Aquando da análise das diversas posições, é necessário ter em conta que o número de
elementos de cada sector depende da estratégia adoptada pelos treinadores.177
A ocorrência (62) diz respeito à posição habitual que o jogador italiano Vieri ocupa e pela qual
é famoso; a ocorrência (89) destaca o extraordinário domínio do jogador alemão
Schweinsteiger na sua posição (meio campo):
(62) Zudem ließ er Sturmführer Vieri auf der Bank.
176
”Stra|te|gie f .nur Sg. 1. Kunst der Kriegführung; 2. umfassende Planung zur Verwirklichung von Grundvorstellungen; Stra|te|ge [griech.] m .jmd., der sich auf Strategie versteht.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=Strategengertype=
[Consult. 22.01.2011])
177
Apresentamos aqui as diferentes posições possíveis em cada sector. No sector defensivo encontram-se os
jogadores da defesa, que são a linha imediatamente a seguir ao guarda-redes. Existem 3 suposições neste sector, a
saber:
- Defesas Laterais, que jogam pelas alas quer do lado esquerdo, quer do lado direito;
- Defesas Centrais, que jogam no entre os defesas laterais;
- Libero cuja zona de acção é entre o guarda-redes e os defesas centrais.
Logo a seguir à linha defensiva, encontra-se o sector intermediário onde jogam os médios, aqui existem 4
suposições:
- Médio Ala, que joga nas laterais, quer na esquerda quer na direita;
- Médio Centro, que joga na zona central do terreno de jogo;
- Médio Defensivo ou Trinco, que joga a meio do meio campo defensivo, ou seja, entre a linha defensiva e a linha
intermédia;
- Médio Atacante ou número “10”, que joga na zona central entre o sector intermédio e o sector avançado.
O último sector é o dos avançados e aqui encontram-se 3 suposições:
- Extremos, que jogam no último terço de terreno, quer na ala direita como esquerda, que tentam servir os
avançados através de cruzamentos;
- Avançados, que jogam na zona central e nas imediações da área de grande penalidade da equipa contrária e;
- Ponta-de-Lança, que joga dentro da área de grande penalidade da equipa contrária.
214
Aquando do campeonato europeu de 2004, o jogador italiano Vieri foi convocado para a
selecção nacional italiana por ser um avançado de qualidade, famoso pela sua postura de líder
natural da equipa. A noção de liderança nesta posição é transmitida através do termo
Sturmführer - líder do ataque. Os termos Sturm e Stürmer fazem parte do vocabulário
específico futebolístico (vide ponto 3.1.) inspirado no domínio da guerra. No contexto militar,
o Sturm178 compõe a frente de ataque, a primeira linha ofensiva, da qual se espera uma
investida arrebatadora e mortífera. Este Sturm, por sua vez, emerge da projecção conceptual a
partir do domínio-fonte dos fenómenos naturais (Sturm: vento forte ou temporal).
Historicamente, o termo Sturmführer designava uma patente militar pertencente à
organização paramilitar SA (Sturmabteilung179) durante a primeira metade do século XX na
Alemanha, tendo sido particularmente activa como organização de apoio ao partido NSDAP
(Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) no III.Reich. Contudo, com a ascensão da SS
(Schutzstaffel), SA a foi gradualmente perdendo força e estatuto, tendo sido dissolvida, tal
como o NSDAP e a SS, com o fim da segunda guerra mundial180. Consideramos, porém, que a
selecção do termo Sturmführer no contexto futebolístico, não se inspira no contexto histórico
da SA, mas apenas no domínio militar, sendo o Sturm sinónimo de ataque desportivo181.
Na seguinte ocorrência
(89) Schweinsteiger (…) Er war der Herrscher im Mittelfeld.
o jogador da selecção alemã, Schweinsteiger, é médio, ou seja, o meio campo é o ‘seu’
território. Assim sendo, o jogador domina e comanda de forma absoluta esse sector do campo,
incluindo os seus colegas de posição. Daí merecer o título elogioso de soberano.
178
”Sturm, der; -[e]s, Stürme: 1. sehr heftiger, starker Wind: ein heftiger, tobender S.; ein S. bricht los; der S. wütet,
tobt, hat sich gelegt; bei/in S. und Regen draußen sein; die Schiffe kämpfen gegen den, mit dem S.; in einen S.
geraten; Ü ein S. der Begeisterung brach los; die Stürme des Lebens; 2. heftiger, schnell vorgetragener Angriff mit
dem Ziel, den Gegner zu überrumpeln, seine Verteidigung zu durchbrechen: eine Festung im S. nehmen; den Befehl
zum S. auf die Stadt geben; zum S. blasen; Ü beim Ausverkauf setzte ein S. (Ansturm) auf die Geschäfte ein; im S. hat
er die Zuhörer für sich eingenommen (die Herzen waren ihm zugeflogen); 3. a) (Sport) Gesamtheit der Stürmer: der
S. der Nationalelf; im S. spielen; b) das Stürmen (4 b); Angriffsspiel vor dem gegnerischen Tor: im S. zu drucklos
spielen; auf S. (offensiv) spielen. ” (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM)
179
”SA, die; - (ns.): Sturmabteilung (uniformierte u. bewaffnete politische Kampftruppe als Gliederung der NSDAP).”
(Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM);
180
”Die Sturmabteilung (kurz SA) war die paramilitärische Kampforganisation der NSDAP während der Weimarer
Republik und spielte als Ordnertruppe eine entscheidende Rolle beim Aufstieg der Nationalsozialisten, indem sie
deren Versammlungen vor Gruppen politischer Gegner mit Gewalt abschirmte, bzw. deren Veranstaltungen massiv
behinderte. Nach der NS-Machtübernahme wurde die SA von Hermann Göring, dem Reichskommissar für das
preußische Innenministerium und damit Dienstherr der preußischen Polizei, kurzzeitig auch als staatliche
„Hilfspolizei“ eingesetzt. Nach dem Sommer 1934, als SS-Einheiten die SA-Führungsspitze ermordet hatten (siehe
Röhm-Putsch), verlor sie in der weiteren Zeit des Nationalsozialismus sehr stark an Bedeutung. Nach der
Kapitulation des Deutschen Reiches 1945 wurde sie wie NSDAP und SS mit dem Kontrollratsgesetz Nr. 2 verboten
und aufgelöst.(...).” (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Nationalsozialistische%20Deutsche%20Arbeiter
partei [Consult. 22.01.2011])
181
”Sturm, der; weder gefährlicher Starkwind noch gewaltsammer Massenangriff (etwa auf die Bastille), sondern 1.
das → Angreifen, → Angriffsspiel, 2. (in metonymischer Übertragung) der → Angriff, d.h. die → Angriffsspieler (...)”
(Burkhardt, 2006a:294)
215
Em sintonia com as análises previamente desenvolvidas no ponto a), os guerreiros
vitoriosos regressavam de forma triunfal aos locais de onde tinham partido para combater.
(65) Niederlande: EM-Teilnahme kam für Arjen Robben (20) unverhofft: Ein
Rückkehrer als Triumphator.
A opção pelo termo “Triumphator” em vez do mero Gewinner é significativa devido à riqueza
de imagens que o cenário do triunfo evoca: um regresso acompanhado de júbilo e exultação
devido à extrema satisfação e ao reconhecimento público do sucesso alcançado, quão cortejo
triunfante de soldados romanos182.
Por último, regista-se a ocorrência (90)
(90) Abflug nach Südafrika - Das Vorkommando meldet: Alles okay!
devido ao facto de ser um dos poucos exemplos que não diz respeito aos jogadores,
treinadores, árbitros ou ao público. Surge num contexto extra-jogo, pois trata-se da comitiva
organizacional, responsável pelas questões logísticas relacionadas com as selecções. Neste
caso particular, antes do início do campeonato mundial de 2010, a Federação Alemã de
Futebol (DFB) enviou uma delegação ao local de acolhimento da selecção alemã na África do
Sul, a fim de se certificar, se estavam criadas as condições necessárias para receber a selecção
condignamente. Sendo o primeiro grupo a chegar ao local de destino, partiram em ‘missão de
reconhecimento’ com o intuito de analisar o ‘terreno’, à semelhança das funções de um
‘batedor’ (Vorkommando ou Vorauskommando)183 no contexto da guerra. De novo, tanto as
estruturas organizacionais subjacentes ao futebol como as posições e funções dos jogadores
em campo, são conceptualizadas de acordo com a organização hierárquica e funcional do
universo militar.
Vejamos, de seguida, as nossas propostas relativamente às diversas redes de espaços
mentais:
182
”Tri|um|pha|tor, der; -s, ...oren [lat. triumphator]: 1. (in der römischen Antike) in einem Triumphzug
einziehender siegreicher Feldherr. 2. (bildungsspr.) jmd., der einen großen Sieg, große Erfolge errungen hat.”
(Dudenverlag, 1997, versão CD.ROM)
183
”Vo|raus|kom|man|do, das (Milit.): Kommando, das bes. für die nachfolgende Truppe Quartier beschafft.”
(Dudenverlag, 1997, versão CD.ROM)
”Vor|aus|kom|man|do <auch> Vo|raus|kom|man|do: Kommando, das einem regulären Kommando
vorausgeschickt wird.” (BERTELSMANN Wörtebuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/su
che/wbger/index.html?gerqry=Vorauskommando&gertype= [Consult. 28.01.2001])
216
Ocor.
ESB
EA
neuer Held
(novo herói)
(85)
Texto
(80)
Staatsfeind
Texto
(inimigo público)
(95)
Texto
verwundbar
(vulnerável)
(75)
Texto
Tod
(morte)
(82)
Richer, Jury und
Henker/ (WM)
gekillt
Texto
(Juiz, jurado e
carrasco/ matou
o mundial)
(67)
Texto
(88)
Texto
(91)
Texto
(62)
Texto
ERef
M1
O jogador espanhol
Iniesta (marcador do Jogador espanhol
golo que garantiu a Iniesta como neuer
conquista do camp.
Held
mundial de 2010)
O jogador do Gana
Boateng.
(em futuros jogos)
Jogador do Gana
Boateng (em
futuros jogos)
como Staatsfeind
Defesa da selecção
ganesa (Opinião do
seleccionador
alemão quanto ao
futuro jogo GanaAlemanha)
Defesa da selecção
ganesa como
verwundbar
(Futuro)
ERel
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas de
bravura e
excepcionalidade
Cenário do
confronto/duelo;
Esquema da
oposição (amigoinimigo)
Cenário do
confronto/duelo;
Esquema da
vulnerabilidade
Derrota da selecção
Cenário do
Derrota da selecção
alemã no jogo contra
confronto/duelo;
alemã como Tod
a selecção espanhola
Esquema da morte
M2
És o melhor,
Iniesta!
Abaixo o
Boateng!
“Vamos vencer!”
(Löw)
Adeus,
Alemanha!
O arbitro que
exibiu o cartão
Cenário do
vermelho como
julgamento;
“Sinto-me
Richter, Jury und
Esquemas do
injustiçado!”
Henker/ Expulsão poder, da morte e
(Kewell)
de Kewell como
da injustiça
gekillt
Os jogadores da
Os jogadores da
selecção australiana
selecção
Cenário do
seleccionados por
australiana
Legionäre
confronto/duelo;
Hiddink, boas
Hiddink
seleccionados por
(legionários)
Esquema da venda
escolhas!
(seleccionador
Hiddink para
de serviços
australiano) para futuros jogos como
futuros jogos
Legionäre
Cenário do
MittelfeldO jogador Sneijder confronto/duelo;
General
O jogador holandês
Sneijder, bom
como MittelfeldEsquemas da
(general do meio
Wesley Sneijder
desempenho!
General
liderança e
campo)
hierarquia
Cenário do
kluger Stratege
O jogador Karim
confronto/duelo;
O jogador argelino
Ziani, excelente
(estratega
Ziani como kluger
Esquemas da
Karim Ziani
jogador!
inteligente)
Stratege
liderança e
hierarquia
Cenário do
Sturmführer
confronto/duelo;
O jogador italiano
O jogador Vieri
(líder da frente
Esquemas da
Vieri é o melhor!
Vieri
como Sturmführer
de batalha)
liderança e
hierarquia
Expulsão do jogador
australiano Kewell
devido à exibição de
um cartão vermelho
por parte do árbitro
217
(89)
(65)
Texto
Herrscher im
Mittelfeld
(soberano no
meio campo)
Texto
Triumphator
(triunfador)
ESB
ERef
ERel
O jogador alemão
Schweinsteiger
O jogador
Schweinsteiger
como Herrscher (im
Mittelfeld)
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da
liderança e
hierarquia
Boa prestação,
Schweinsteiger!
O jogador holandês
Arjen Robben
O jogador Arjen
Robben como
Triumphator
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da
vitória e celebração
Parabéns,
Robben!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 30: Tabela de espaços mentais 4
A manifesta carga emocional associada a estas arquitecturas conceptuais reflecte e
perpetua o estado de espírito partilhado por todos os intervenientes, sejam eles activos ou
meros espectadores destes eventos futebolísticos de dimensão internacional. Laxa afirma:
“Das kollektive Erleben von Welt- und Europameisterschaften als Medienereignis (…)
verstärkt den integrativen und identifikationsstiftenden Charakter des Fussballs. Die
reglementierten Länderkämpfe - kurz Länderspiele - ersetzen dabei auf spielerische Art
und Weise die Urinstinkte der militärischen Kriegsführung. Unbeschreibliche Emotionen
werden bei den Fans freigesetzt (...)“ (Laxa, 2005:22)
c) FUTEBOL É GUERRA/VIOLÊNCIA – Categoria: Eventos
Não há dúvida que um jogo de futebol é um evento desportivo que desperta o
interesse de um número considerável de pessoas em todo o mundo. Esse interesse explica a
atenção que os media dedicam ao acompanhamento exaustivo destes eventos (antes, durante
e após os jogos) o que contribui para a transformação deste desporto num verdadeiro
fenómeno social, cultural e económico. De acordo com a abordagem seguida, um jogo de
futebol desperta emoções diversas: alegrias e desilusões, paixões e ódios, é capaz de unir ou
separar pessoas, comunidades, regiões ou mesmo nações. Sempre que o desafio de futebol
esteja integrado numa competição internacional - um campeonato europeu ou mundial - o
jogo ultrapassa amplamente o domínio desportivo, abarcando questões de identidade
nacional e cultural, afectando mesmo o poder político. Döring/Osthus postulam:
218
“Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport
dürfte eines der gängigsten metaphorischen Verfahren sein, wie vorliegende Studien zur
Metaphorik der Fußballberichterstattung (Gil 1998; Gabriel 1998) bestätigen. Selbst die
Terminologie des Fußballsports ist im höchsten Grade durch Militärmetaphorik geprägt,
wie Begriffe der Offensive (frz. offensive), der Verteidigung (frz. défense) oder des Angriffs
(frz. attaque) unschwer erkennen lassen. In der Berichterstattung über die
Weltmeisterschaft wird diese ohnehin schon vorhandene Kriegsmetaphorik noch um eine
nationale Komponente erweitert, indem die Mannschaft metonymisch mit der Nation
gleichgesetzt wird, (...) und der sportliche Erfolg metaphorisch als ein nationaler
militärischer Sieg verstanden wird.“ (Döring/Osthus, 2002, metaphorik.de 03/2002)
No presente ponto pretendemos analisar as imagens mescladas baseadas nas projecções de
eventos/acontecimentos construídas a partir do domínio-fonte da guerra e da violência.
Na categoria dos eventos, a conceptualização do jogo de futebol como um duelo
revelou-se o mais frequente, com um total de 10 ocorrências:
(96) (…) Silvestre kam im Duell gegen den Mittelfeldakteur vom FC Chelsea zu spät.
(97) So kam das "italienische Horrorergebnis" im Wikinger-Duell zum Tragen und
zwingt die Azzurri zur Heimreise.
(102) (...) doch im Duell mit Ricardo blieb der portugiesische Keeper der Sieger.
(107) In Unterzahl konnten die Franzosen das Spiel nicht mehr drehen, das zweite Tor
der Azzurri entschied das Duell nach einer guten Stunde.
(108) HEUTE HAMMER-DUELL GEGEN RONALDO - Ballack, lass ihn wieder weinen!
(109) Halbfinale Deutschland – Türkei. Das brisante Duell (Altinop-Schweinsteiger)
(110) Fernando Torres hatte seine Schnelligkeit ausgenutzt und das Duell gegen
Phlipp Lahm gewonnen.
(113) Es war der Auftakt zu einem Privatduell, das der Keeper aus Nigeria zu seinen
Gunsten entschied.
(114) Auf diese Duelle kommt es an.
(119) Die heißesten Duelle mit England.
O conceito de Duell184 - duelo - emerge naturalmente no futebol devido ao facto de se tratar
de um confronto entre duas partes, apesar da origem da palavra latina duellum significar
‘guerra’ e não ‘combate a dois’.185
184
”Du|ell, das; -s, -e [mlat. duellum < älter lat. duellum = Krieg für klass. lat. bellum; die Bed. ,,Zweikampf entstand
durch volksetym. Anschluss an das lat. Zahlwort duo = zwei]: 1. (früher) zur Entscheidung eines Ehrenhandels, zur
Schlichtung eines Streits ausgetragener Zweikampf mit Waffen: ein D. [mit jmdm.] austragen; ein D. auf Pistolen. 2.
a) (Sport) sportlicher Wettkampf zwischen zwei Sportlern od. zwei Mannschaften: die beiden Fußballmannschaften
219
Na ocorrência (97), trata-se da eliminação da selecção italiana do campeonato europeu de
2004 devido ao empate no jogo entre a Suécia e a Dinamarca. O facto de o confronto se
disputar entre duas equipas escandinavas, originou a mescla “Wikinger-Duell” que, para além
de aludir às origens etnográficas, pretende salientar o espírito guerreiro associado a estes
povos, que, aparentemente se reflectiu em campo (resultado final de 2:2). O horror do
“Horrorergebnis” da selecção italiana reside no facto da vitória no jogo contra a selecção da
Bulgária (2:1) não ter sido suficiente para evitar a sue eliminação do campeonato.
A ocorrência (108) descreve o jogo entre as selecções de Portugal e da Alemanha como
um “duelo-martelo”. Tal como já foi referido no ponto a), o martelo afigura-se como uma
ferramenta apropriada para a construção de mesclas devido ao facto, pensamos nós, de ser
um utensílio muito comum, exemplo por excelência do poder da força. A imprensa prevê,
então, que este duelo seja um confronto duro e combatido entre duas equipas poderosas.186
O duelo é, portanto, o confronto entre duas equipas, mas este pode ser limitado a
apenas dois jogadores adversários, tal como a ocorrência (113) o demonstra. Neste caso
específico, o “Privatduell” diz respeito ao guarda-redes nigeriano Enyeama e ao avançado
argentino Higuaín. A imagem do duelo tradicional, um contra um, emerge naturalmente ao
confrontar os jogadores com as posições mais antagónicos de toda a equipa: avançado e
guarda-redes, no frente-a-frente mais emotivo do jogo de futebol.
Também o recurso frequente a adjectivos que caracterizam a intensidade dos
confrontos é, em grande parte, metaforicamente motivado187 com o intuito de aumentar os
níveis de entusiasmo relativamente ao jogo vindouro.
A ocorrência (119) remete para uma metáfora conceptual simples: INTENSIDADE É
FOGO. A afirmação “Die heißesten Duelle mit England” foi retirada de um artigo que compara,
numa perspectiva cronológica, os jogos entre as selecções da Alemanha e da Inglaterra e
destaca os duelos mais ‘quentes’, i.e. os mais intensamente disputados, considerando a
rivalidade histórica entre os dois países. De acordo com Lakoff, Johnson (1980) e Kövecses
(2002) o fogo é um domínio-fonte bastante comum e produtivo. Os domínios-alvo gravitam,
lieferten sich ein packendes, spannendes D.; b) (bildungsspr.) Wortgefecht; Zweikampf mit geistigen Waffen: die
beiden Redner lieferten sich ein witziges, scharfes, erbittertes D.;” (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM)
185
” Duell, das; lat. duellum >Krieg< (später fälschlich angeschlossen an lat. duo >zwei< u. daher verstanden i. S. v.
>Zweikampf<); kein Zweikampf mit Waffen, um einen Ehrenhandel zu entscheiden, aber: 1. Wettstreit zwischen
zwei Parteien bzw. Mannschaften um den Sieg, → Spiel, → Partie, → Match, → Begegnung (...) 2. → Zweikampf
zwischen Spieler u. → Gegenspieler.” (Burkhardt, 2006a:83)
186
”Hammer, der; kein Werkzeug zum schlagen, aber ) in metaphorischer Verwendung): (...) 3. von besonderer
Brisanz, Schwierigkeit o. Wichtigkeit.(...).” (Burkhardt, 2006a:142)
187
veja-se a ocorrência (109): “bri|sant <Adj.; -er, -este> [frz. brisant, 1. Part. von: briser = zerbrechen,
zertrümmern: 1. (Waffent.) hochexplosiv, von großer Sprengkraft: ein -er Sprengstoff; b. sein. 2. (bildungsspr.) viel
Zündstoff für eine Diskussion, Auseinandersetzung o. Ä. enthaltend: das Thema des Buches ist äußerst b.;“
(Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM).
220
sobretudo, em torno do conceito da emoção. Assim sendo, experiências abstractas do foro das
emoções são metaforicamente conceptualizadas através da experiência física do fogo, i.e. do
calor. Kövecses conclui, generalizando, que a EMOÇÃO É CALOR.188
É inegável que um confronto futebolístico evoca um vasto conjunto de emoções. Essas
emoções podem reportar-se ao passado - jogos anteriores - como podem surgir em
antecipação - jogos a realizar num futuro próximo. Nestes casos, a conceptualização é
encadeada: o jogo provoca emoções e as emoções são conceptualizadas como fogo/calor,
logo, o jogo é fogo/calor. Kövecses exemplifica:
”But the heat-fire source is not limited to the emotions, as indicated by the examples below:
In other words, the scope of the metaphorical source of heat-fire extends well beyond the
emotions. Consider the additional examples that follow: (…) You need to perform well when
the heat is on. [PRESSURE-EVENT] (…) As can be seen, the fire-heat metaphorical source
domain applies to actions (argument) and events (pressure). It also applies to states of
various kinds. In general, we can claim that the source has as its scope any intense situation
(actions, events, states). (…)” (Kövecses, 2002:114)
Dos diferentes exemplos apresentados por Kövecses, destaca-se um, que conceptualiza uma
competição desportiva como uma batalha e o nível de intensidade competitiva através da
domínio-fonte do calor: “The battle for the Formula One Championship hotted up. [BATTLECONFLICT].” (Kövecses, 2002:115) Neste sentido, a inferência COMPETIÇÃO DESPORTVIA É
FOGO/CALOR deve ser considerada, segundo Kövecses, uma metáfora complexa, construída a
partir da metáfora simples INTENSIDADE É CALOR (DO FOGO), que emerge do mapeamento
“calor (do fogo) → intensidade da situação.189
A mescla virtual - os jogos entre a Alemanha e a Inglaterra como ‘duelos quentes’ estabilizada pelos esquemas relevantes associados aos conceitos de ‘duelo’ e ‘temperatura’,
conferem lógica à mensagem intendida: como os jogos entre estas duas selecções são sempre
muito bem disputados, havendo sempre uma grande entrega, luta e intensidade tanto
188
“For most people, the related concepts of fire and heat are primarily associated with the metaphorical
comprehension of emotions, such as anger, love, desire, and so on. We can generalize this by assuming the
metaphor EMOTION IS HEAT (OF FIRE). (…) The emotion concepts of anger, love, curiosity, desire, ambition can all
take heat-fire as their source domain. Other examples reflect the many metaphorical entailments that are mapped
from this source to the target of emotion: THE HIGHEST DEGREE OF EMOTIONAL INTENSITY IS THE HIGHEST DEGREE
OF FIRE (…) MAINTAINING MOTIVATION AT A HIGH INTENSITY IS MAINTAINING AN INTENSE FIRE (…)” (Kövecses,
2002:112-113)
189
“In sum, simple metaphors constitute mappings in complex ones. (…) It is the simple submetaphors (or
mappings) that provide the major theme of complex metaphors by means of the process of mapping the meaning
focus of the source onto the target. Thus, for example, the various complex fire-metaphors (…) will all be
characterized by the mapping “the heat of fire => the intensity of a state or event”. This mapping can be restated as
a simple metaphor: THE INTENSITY (OF A SITUATION) IS THE INTENSITY OF HEAT. The complex metaphors contain as
a mapping this simple one.” (Kövecses, 2002:117-118)
221
desportiva como disciplinar, podemos antecipar que o próximo jogo entre estas duas selecções
será mais um confronto interessante e emocionante. A mescla final pode, por conseguinte,
ajudar a criar expectativas positivas em relação a futuros jogos entre estas duas selecções.
A conceptualização metafórica do jogo de futebol como uma batalha está presente em
oito ocorrências, a saber:
(101) Achtelfinale, Portugal - Niederlande 1:0 (1:0) Portugal gewinnt die
"Schlacht von Nürnberg"
(104) Jetzt die Halbfinal-Schlacht gegen Italien. In den letzten zwei Minuten der
Verlängerung verloren, aber gekämpft wie Weltmeister.
(111) Und trotzdem: Ihr habt uns drei wundervolle Wochen geschenkt: Die NervenSchlacht gegen Österreich, der Zauber-Sieg gegen Portugal, der Last-Minute-Thriller
gegen die Türkei.
(117) Für Neuseeland wurde das Match zu einer reinen Abwehrschlacht (...)
(120) Diesmal siegte auch das viel beschworene „neue Deutschland“ mit den typisch
germanischen Tugenden: Mit Kampf und Krampf, einer rettenden Torhüter-Leistung,
einer gehörigen Portion Schlachtenglück.
(123) DEUTSCHLAND - ARGENTINIEN Die Schlacht gegen Maradona Brasilien ist schon
auf dem Heimweg. Fliegt Argentinien heute hinterher? Deutschland gegen Argentinien
mit Trainer-Weltstar Diego Maradona (49). Es wird eine Schlacht!
(124) (...) und das lag nicht nur daran, dass die Schlacht gegen Holland um elf Uhr
morgens Ortszeit begann und alle Geschäfte deshalb geschlossen waren.
(127) Kampf, Kraft und Krampf – WM-Schlacht überstanden.
A palavra Schlacht provém do alto alemão antigo slahta e significava matança190.
Posteriormente, começou a ser utilizada para descrever confrontos militares num cenário de
guerra. Actualmente, a palavra é metaforicamente empregue num vasto número de contextos,
incluindo alguns totalmente inofensivos: “(…) [übertr.] kleinere Prügelei, Wettkampf
(Schneeball~, Kissen~)” (Bertelsmann Wörterbuch).191 Na ocorrência (101), o jogo entre as
190
”Das Wort „Schlacht“ leitet sich von dem althochdeutschen Wort slahta ab, aus dem das mittelhochdeutsche
Wort „slaht“ hervorging. Die ursprüngliche Bedeutung dieses Wortes war „Tötung“, wie sie bis heute in den
Wörtern „schlachten, Schlachtung“ erhalten ist. Erst seit dem 16. Jahrhundert bezeichnet man damit den „Kampf
zwischen zwei Heeren.“ (In: http://de.goldenmap.com/Schlacht [Consult. 28.01.2011])
”Schlacht, die; -, -en [mhd. slaht(e), ahd. slahta = Tötung, zu schlagen]: heftiger, längere Zeit anhaltender [aus
mehreren einzelnen, an verschiedenen Orten ausgetragenen Gefechten bestehender] Kampf zwischen größeren
militärischen Einheiten: eine schwere, blutige S.; eine S. schlagen, gewinnen, verlieren; jmdm. eine S. liefern; es
sieht wie nach einer S. aus (ugs.; es herrscht ein großes Durcheinander); Ü die beiden Mannschaften lieferten sich
eine [erbitterte] S.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM)
191
In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=schlacht [Consult.
28.01.2011]
222
selecções de Portugal e da Holanda, que teve lugar na cidade de Nuremberga a 25.06.2006, é
referenciado como “a batalha de Nuremberga”. Não nos parece, contudo, que tenha sido
intenção da imprensa desportiva evocar a batalha histórica de Nuremberga na guerra dos
trinta anos, a 24 de Agosto de 1632192, nem na batalha histórica e devastadora pela conquista
da cidade de Nuremberga, perto do final da segunda guerra mundial (16 a 20.04.1945).193
Parece-nos que seja o mero conceito de batalha a servir como motivação para este
mapeamento aliado ao facto do jogo se ter realizado na cidade de Nuremberga. Tratou-se de
um jogo extremamente combativo e duro, tendo terminado com quatro expulsões e oito
advertências com cartão amarelo. A violência e dureza da batalha foram então mapeados para
a realidade do jogo de futebol.
Para melhor identificar a batalha em questão, é frequente associar a mesma ao local
onde se desenrolou, ou à data na qual ocorreu. Também as batalhas do futebol surgem
identificadas de acordo com os momentos em que se realizaram: durante o campeonato do
mundo (ocorrência (127)) ou mesmo durante uma determinada fase do campeonato
(ocorrência (104)). A batalha do futebol pode ser igualmente uma batalha de emoções
(ocorrência (111)). Assiste-se então a uma batalha não física, mas sim psicológica na qual se
testa a maior força e resistência emocional (“Nerven-Schlacht”). Pode inferir-se que se tratou
de um jogo bem disputado por ambas as equipas, em que a incerteza do resultado se manteve
até ao final, prolongando o sentimento de suspense e ansiedade.
A ocorrência (120) reveste-se de particular interesse, pois para além do facto do
jornalista desportivo encarar a sorte como um elemento determinante no jogo
(“Schlachtenglück” que pendeu a favor da selecção alemã) exalta, igualmente, o que considera
serem as virtudes tipicamente alemãs: “Kampf und Krampf” - a luta e o esforço194.
Nas ocorrências (100) e (121) a vontade de correr riscos, de jogar no limite das
capacidades ou investir estrategicamente mais no ataque e menos na defesa, é
conceptualizado através de uma dança ou cavalgada em cima de uma lâmina de barbear ou
navalha.
192
”Bernhard von Sachsen-Weimar (* 16. August 1604 in Weimar ; † 18. Juli 1639 in Neuburg am Rhein ) war einer
der berühmtesten Feldherrn des Dreißigjährigen Kriegs . Ihm zu Ehren wurde seine Büste in der Walhalla aufgestellt.
Im Dienste Schwedens: Als 1630 Gustav Adolf in Deutschland erschien, war Bernhard einer der wenigen deutschen
Fürsten, die sogleich entschieden auf die Seite des Schwedenkönigs traten. Nachdem Bernhard sich in dem Treffen
bei Werben (28. Juli 1631) ausgezeichnet hatte, ernannte der König ihn zum Obersten seines Leibregiments zu
Pferde. Zunächst kämpfte der Fürst mit dem Heer Landgraf Wilhelms in Hessen, begleitete dann jedoch den
schwedischen König auf seinem Siegeszug durch Franken, wo er die Festung Marienberg bei Würzburg einnahm,
stieß an den Rhein vor, wo er sich Mannheims bemächtigte, und ging schließlich nach Bayern. Am Sturm auf
Wallensteins Stellung bei Nürnberg am 24. August 1632 hatte Bernhard großen Anteil.“ (In: http://www.uniprotokolle.de/Lexikon/Bernhard_von_Sachsen-Weimar.html [Consult. 28.01.2011])
193
Ver: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Schlacht%20um%20N%C3%BCrnberg
194
Apesar de Krampf significar prototipicamente espasmo, convulsão ou cãibra, optamos por traduzir, de forma
interpretativa, Krampf por esforço.
223
(100) Für Arne Friedrich indes, der zuletzt wegen der beiden Gegentore arg
gescholten wurde, wird der Auftritt zum Ritt auf der Rasierklinge.
(121) (...) Einzig der mangelnden Chancenauswertung hatten es die Spanier zu
verdanken, dass der Tanz auf der Rasierklinge nicht zu Verlezungen führte. (...)
Trata-se de uma acção metafórica, pois o risco e o perigo são conceptualizados através do
objecto cortante da lâmina e tal como na vida real, uma lâmina de barbear pode ou não cortar,
dependendo da habilidade de que a manuseia. É, portanto, uma prova de capacidade e
competência. Na ocorrência (121) a imagem mental é reforçada devido à explicitação da
possível consequência desta acção, i.e. o golpe ou ferimento. Neste caso, a equipa espanhola,
apesar dos riscos corridos, não sofreu ferimentos, e entenda-se por ‘ferimentos’ a derrota do
jogo.
De acordo com o que já foi explorado nos pontos anteriores, o golo é também
conceptualizado como um tiro de uma arma de fogo. Na ocorrência (103) o alvo do tiro foi o
coração alemão:
(103) Ein Schuß mitten ins schwarz-rot-geile Herz. Italien führt im Halbfinale
Sekunden vor Schluß mit 1:0.
Assiste-se, de novo, a uma rede complexa de processos metafóricos e metonímicos. O golo da
equipa Italiana, conceptualizado como um tiro, colocou a selecção alemã a perder por 1:0 ao
intervalo. A selecção alemã, em representação da nação alemã, é, por sua vez,
metonimicamente representada através das cores da bandeira nacional. Por outro lado, a
nação alemã está emocionalmente unida em torno da sua selecção, sendo que o centro das
emoções é metonimicamente representado pelo coração - Herz.
195
A presença da carga
emocional está, igualmente presente no jogo de palavras relativamente às cores da bandeira
alemã: schwarz-rot-geil em vez de schwarz-rot-gold. Geil faz parte de um registo linguístico
bastante informal, muito comum na linguagem dos jovens.196 Este jogo fonético - geil/gold realça o envolvimento e entusiasmo emocional que o povo alemão sente relativamente ao
sucesso da sua selecção, afirmando, simultaneamente, a união nacional. A emotividade a nível
nacional está igualmente presente nas seguintes ocorrências:
195
vide: imagens mescladas FUTEBOL - CORPO HUMANO
”geil <Adj.> [mhd., ahd. geil = kraftvoll; üppig; lustig, eigtl. = gärend, aufschäumend]: 3. (salopp, bes. Jugendspr.)
in begeisternder Weise schön, gut; großartig, toll: -e Musik; eine -e Gegend; diese Möbel sind [echt] g.; jmdn., etw.
[unheimlich] g. finden;” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM)
196
224
(98) Portugal im Ausnahmezustand - Das 10-Millionen-Einwohnerland befand sich
nach dem Abpfiff im Ausnahmezustand.
(128) Die Niederlande im Ausnahmezustand!
Depois da vitória de Portugal sobre a Inglaterra e da vitória da Holanda sobre o Uruguai (e a
consequente qualificação para a final dos respectivos campeonatos), tanto Portugal como a
Holanda viveram momentos de grande felicidade e euforia nacional. Os países celebravam
efusivamente os triunfos das suas selecções mobilizando massas em manifestações públicas de
alegria colectiva. Assim sendo, os países viviam momentos excepcionais, metaforicamente
conceptualizados através de um termo do domínio político-militar: estado de emergência “Ausnahmezustand”.197
A ambiência de um cenário de guerra é veiculada através de uma variedade de
imagens, subjacentes aos mapeamentos criativos. Deste modo, assistimos a actos de
espionagem:
(118) Der Bundestrainer hatte Ghana als Tribünengast beim 1:1 der Afrikaner in
Rustenburg gegen Australien intensiv studiert. „Sie lassen Chancen zu“, verriet
Bierhoff, eine zentrale Erkenntnis Löws, bei dessen Spionagetour.
nos quais se procura desvendar eventuais segredos técnico-tácticos da equipa adversária.
Verifica-se a existência de estados de alerta, tal como num centro de operações militares, em
que a cor vermelha corresponde ao estado de alerta máximo:
(126) Alarmstufe Rot bei den Blauen – hilft Ribery?
Devido ao risco de eliminação eminente da selecção francesa do campeonato do mundo, a
selecção está sob alerta vermelho. Existem, contudo, ocorrências, nas quais o referido cenário
de guerra é explícito:
(116) Serbien feiert „Blitzkrieg“ gegen Deutschland!
(125) Die Presse (Österreich): „Fußball ist Krieg - Spanien ist Weltmeister.“
Relativamente à ocorrência (116), trata-se de um jogo, no qual a selecção alemã foi derrotada
pela selecção sérvia. A prestação da equipa sérvia revelou-se exemplar, facto que surpreendeu
197
”Ausnahmezustand · Kriegsrecht · Notstand” (In: http://www.openthesaurus.de/synonyme/ausnahmezustand
[Consult. 29.01.2011])
”Aus·nah·me·zu·stand der 1. POL. MILIT.: Zustand, in dem die Verfassung eines Staates und bestimmte Rechte nur
eingeschränkte Gültigkeit haben, weil es eine außergewöhnliche Situation erforderlich macht den
Ausnahmezustand verhängen 2. unnormale, nicht übliche Situation.” TheFreeDictionary, Deutsches Wörterbuch,
2009 (In: http://de.thefreedictionary.com/ausnahmezustand [Consult. 29.01.2011])
225
a selecção alemã, teoricamente superior. Porém, a escolha do termo “Blitzkrieg” não é, de
forma alguma, inocente. A estratégia militar do Blitzkrieg foi introduzida pela Alemanha
aquando do início da segunda guerra mundial:
“Blitzkriege - die deutschen Feldzüge gegen Polen, Frankreich, Jugoslawien und
Griechenland im 2. Weltkrieg, da sie schneller als bis dahin für möglich gehalten zur
Niederwerfung des Gegners führten. Wesentliches Merkmal des Blitzkriegs ist der
kombinierte Einsatz von Luft- und Panzerstreitkräften.“ (In: http://www.wissen.de/wde/
generator/wissen/ressorts/geschichte/index,page=1064776.html [Consult. 29.01.2011]).
Realça-se que neste contexto, são os Sérvios que celebram o Blitzkrieg e a consequente vitória
contra a Alemanha, evidenciando uma clara atitude de vingança histórica que obrigou a
Alemanha a sofrer, no plano desportivo, derrota idêntica à que infligiu, militarmente, a outros
países. A ocorrência (115) corrobora esta abordagem:
(115) Sieg für die Geschichte: Deutschland ist gefallen, es gibt Hoffnung für die
Adler.
Quanto à ocorrência (125), estamos perante o título do jornal austríaco Die Presse que afirma:
‘futebol é guerra’, referindo-se à final do campeonato mundial de 2010, marcada pela dureza
extrema e combatividade das selecções da Holanda e da Espanha198. Esta afirmação não é,
contudo, original, particularmente no que diz respeito a jogos decisivos da selecção holandesa,
pois já tinha sido proferida pelo antigo treinador da selecção holandesa, Rinus Michels, antes
da final do campeonato mundial de 1974 entre a Holanda e a Alemanha199. A filosofia de jogo
subjacente a esta perspectiva é clara e explicada pelo próprio Michels: “Bist du zu lieb, bist du
verloren."200 Neste sentido, a atitude dos jogadores e do treinador deve ser pautada pela
dureza, força, consistência e objectividade, características idênticas às dos soldados em guerra,
liderados pelo general, movidos por um único objectivo: a vitória. Neste enquadramento, a
vitória equivale à vida e a derrota à morte, tal como já referimos anteriormente.
198
Vide: http://diepresse.com/home/sport/fussball/wm/580457/Fussball-ist-Krieg-Spanien-ist-Weltmeister
[Consult. 28.01.2011]
199
„Die niederländische Mannschaft verlor 1:2, und für viele brach eine Welt zusammen. Die Mannschaft, die
unbestritten den besseren Fußball spielte, war unterlegen. Der hässliche Deutsche hatte gesiegt mit seiner
unansehnlichen, aber effektiven Spielweise. Der „deutsche Kampfgeist“ erinnerte viele Niederländer regelrecht an
den Zweiten Weltkrieg, und nun war man dieser Truppe ein zweites Mal unterlegen. „Fußball ist Krieg“, wie Rinus
Michels sich ausdrückte. Im ganzen Land war man der Ansicht, daß die Deutschen den Titel geraubt hätten, so Dik
Linthout. Da half es nichts, daß auch auf deutschen Bolzplätzen jeder Junge Johan Cruijff bewunderte.“ (In:
http://www.uni-muenster.de/NiederlandeNet/nl-wissen/kultur/vertiefung/kulturunterschiede/fussball.html
[Consult. 28.01.2011])
200
in: http://diepresse.com/home/sport/fussball/wm/580457/Fussball-ist-Krieg-Spanien-ist-Weltmeister [Consult.
28.01.2011]
226
A concluir, propomos a seguinte tabela de espaços mentais:
Ocor.
(108)
(104)
(121)
ESB
EA
ERef
M1
Futuro jogo entre as
Futuro jogo de
selecções da
Hammer-Duell
Ballack e Ronaldo
Texto
Alemanha e Portugal:
(duelo martelo)
como HammerBallack defronta
Duell
Ronaldo
Jogo das meiasdie Halbfinal- Jogo das meias-finais
finais entre as
Schlacht
do mundial de 2006
selecções da
Texto
(batalha das
entre as selecções da
Alemanha e da
meias finais)
Alemanha e da Itália
Itália como
Halbfinal-Schlacht
... der Tanz auf
Jogo da selecção da
der Rasierklinge
Espanha contra a
Jogo da selecção da
der nicht zu
selecção do Chile
Espanha contra a
Texto
Verletzungen
(2:1) como Tanz auf
selecção do Chile
führte
der Rasierklinge der
(2:1)
(dança na
nicht zu
navalha)
Verletzungen führte
(103)
Ein Schuss mitten
ins schwarz-rotTexto
geile Herz
(um tiro no
coração alemão)
(98)
Reacção de Portugal
Ausnahmeapós a vitória da
Texto
zustand
selecção portuguesa
(estado de sítio)
contra a selecção
inglesa
(118)
Texto
Observação de um
jogo da selecção
ganesa por parte do
seleccionador alemão
Löw
(126)
Expectativas face à
Alarmstufe Rot selecção francesa no
Texto
(alerta vermelho) mundial de 2010
(Futuro)
(116)
Texto
Spionagetour
(espionagem)
Blitzkrieg
Golo da selecção
italiana no jogo
contra a selecção
alemã
Vitória da selecção
sérvia sobre a
selecção alemã (1:0)
ERel
M2
Cenário do
confronto/duelo;
Esquema da luta e
da força
Será um
confronto
fantástico!
Cenário do
confronto/duelo;
Esquema da luta e
da entrega total
Parabéns ao
vencedor e ao
vencido!
Cenário do
confronto/duelo;
Esquema do perigo
e da morte
Que sorte,
Espanha!
Cenário do
Golo da selecção
confronto/duelo;
italiana à selecção
Esquema da morte;
Que desilusão!
alemã como Schuss
Cenário do corpo
mitten ins schwarzhumano; Esquemas
rot-geile Herz
emocionais
Reacção de
Portugal após a
Cenário do
vitória da selecção
confronto/duelo;
Portugal em
portuguesa contra a
Enquadramento
euforia total!
selecção inglesa
político-militar
como Ausnahmezustand
Observação de um
Cenário do
jogo da selecção
confronto/duelo;
ganesa por parte do
Boa estratégia,
Enquadramento
seleccionador
Löw!
político-militar
alemão Löw como
(espionagem)
Spionagetour
Expectativas face à
Cenário do
selecção francesa
confronto/duelo;
no mundial de 2010
Cuidado, França!
Enquadramento
como Alarmstufe
político-militar
Rot (Futuro)
Cenário do
Vitória da selecção
confronto/duelo;
“Parabéns,
sérvia sobre a
Esquema da
Sérvia!”
selecção alemã
surpresa (do
(imprensa sérvia)
como Blitzkrieg
inesperado)
227
(115)
ESB
ERef
ERel
Texto
Deutschland ist
gefallen
(a Alemanha
caiu)
Vitória da selecção
Cenário do
Vitória da selecção
sérvia sobre a
“Vitória
confronto/duelo;
sérvia sobre a
selecção alemã
fenomenal!”
Esquemas da morte
selecção alemã (1:0) como Deutschland
(imprensa sérvia)
e da derrota
ist gefallen
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 31: Tabela de espaços mentais 5
Frielingsdorf afirma acerca dos mapeamentos entre o domínio-fonte da guerra/luta e o
domínio-alvo do futebol:
“Da der Fußballsport von Beginn an nache dem Schema von Sieg und Niederlage sowie
Angriff und Verteildigung verstanden und auch konzepiert war, verwundert es nicht, dass
die zentrale Metapher dieser Sportart sich aus Krieg und Kampf zusammensetzt.“
(Frielingsdorf, 2008:20)“
O dinamismo e espírito competitivo que emerge da constante oscilação entre estes pólos
antagónicos (vitória-derrota) são responsáveis pela criação da tensão emocional associada a
um desafio de futebol. O jornalismo desportivo, com o intuito de preservar a ambiência
emocional, recorre a estas arquitecturas conceptuais não somente para descrever o evento
desportivo, como principalmente para emitir juízos de valor acerca do mesmo, na esperança
de que o leitor se identifique com as posições avaliativas assumidas e que seja invadido por um
sentimento de empatia e cumplicidade.
d) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Objectos
Um aspecto essencial que diz respeito a todas as ocorrências analisadas até ao
momento, mas cuja abordagem se torna particularmente pertinente neste ponto, é a
problemática da natureza parcial da conceptualização metafórica:
“In the case of structural metaphors, this would mean that an entire target concept is
understood in terms of an entire source concept. However, this cannot be the case because
concept A cannot be the same as another concept B. In discussing this issue the idea of
mappings is relevant. It’s been pointed out that a conceptual metaphor of the structural
kind is constituted by a set of mappings between a source and a target. However, the
mappings between A and B are, and can be, only partial. Only part of concept B is mapped
228
onto target A and only a part of target A is involved in the mappings from B.” (Kövecses,
2002:79)
Quando se assiste a um mapeamento entre um jogador, uma equipa ou uma táctica de jogo e
diversos objectos do domínio militar, é possível reconhecer que o propósito subjacente e
enfatizar e destacar determinadas características dos intervenientes (e das tácticas) metaphorical highlighting - recorrendo às características mais salientes dos objectos em
questão - metaphorical utilization201.
“Concepts in general (both source and target) are characterized by a number of different
aspects. When a source domain is applied to a target, only some (but not all) aspects of the
target are brought into focus.” (Kövecses, 2002:79)
O leitor tende a destacar as características mais prototípicas e aquelas que, devido ao seu
conhecimento do mundo e das experiências vividas, contribuem para a criação de uma mescla
virtual mas coerente, que conduz, por sua vez, a um significado lógico, enquanto outras
características são ignoradas por não ‘encaixarem’ no respectivo esquema mental (“Process of
highlighting and hiding” (op.cit.)). Kövecses destaca:
“And the sole concern of the WAR metaphor for arguments appears to be the issue or
aspect of control. (…) We can conclude, then, that different metaphors highlight different
aspects of the same target concept and at the same time hide its other aspects.”
(op.cit.,2002:80-81)
Neste sentido, e de acordo com a abordagem por nós defendida, pensamos que metáfora
conceptual SPORT (FOOTBALL) IS WAR, visa destacar os princípios da força e da luta (individual
e colectiva, espontânea ou construída) como elementos essenciais para a obtenção da vitória.
A conceptualização mais frequente neste conjunto de ocorrências diz respeito ao
engenho explosivo da bomba (129) e ao armamento/veículo militar que a lança: o
bombardeiro (139), (142):
(129) Jense - die tickende Torbombe
(139) Die schwarzen Bundesliga Bomber
Der unumstrittene Star des Teams ist Afrikas Spieler des Jahres Michael Essien.
(142) Der "Bomber der Nation" ist längst abgetreten, dennoch "müllert" es beim
Turnier in Jugoslawien wieder.
201
Vide Kövecses, 2002:79
229
De acordo com o contexto, o engenho explosivo da bomba pode motivar dois mapeamentos
distintos: a) o jogador é a bomba;202 b) o golo é a bomba. Na ocorrência (129), o jogador
alemão Jense é uma bomba relógio de golos, i.e. a qualquer momento pode marcar um golo,
sendo o golo metaforicamente conceptualizado como uma explosão. Esta conceptualização é
possível devido ao conhecimento (Weltwissen) sobre conflitos militares: a utilidade de uma
bomba reside na sua explosão de forma a causar danos no inimigo. No domínio do futebol, os
danos no inimigo equivalem a golos aos sofridos por estes. Se a bomba é, então, o golo, a
entidade que lança as bombas é o jogador que os marca. Reconhece-se este cenário nas
ocorrências (139) e (142). Esta última ocorrência incide sobre o “bombardeiro da nação”,
destacando a existência de uma entidade que melhor e mais eficazmente agiu em
representação da sua nação. Trata-se do antigo avançado alemão Gerd Müller, considerado o
melhor marcador da história do futebol alemão.
No contexto dos veículos de guerra, encontramos os carros blindados ou tanques Panzer - considerados os veículos de combate mais resistentes e eficazes no cenário de guerra
por reunirem em si as 5 acções essenciais ao combate: poder de fogo, acção de choque,
protecção, mobilidade, assim como centro de informações e comunicações. Na seguinte
ocorrência é salientada a vertente defensiva de protecção como aspecto fundamental que
motiva o mapeamento:
(145) Jovanovic und Stojkovic haben die 'Panzer' durchbrochen.
Os avançados sérvios Jovanovic e Stojkovic conseguiram ultrapassar a forte defesa alemã e
marcar o golo vitorioso. Já a ocorrência (150) destaca a acção de choque e a força esmagadora
do tanque:
(150) “(...) Rechtzeitig zur WM spielt Löws Mannschaft einen Fussball, der mit
„Rumpelfüsslern“ oder „deutschen Panzern“ nichts mehr zu tun hat.” Andreas Zimmer
A selecção alemã adoptou uma nova atitude de jogo que a afasta do estereótipo tradicional
que consistia num estilo futebolístico baseado na força bruta e avassaladora. Por fim, a
ocorrência (130) evidencia uma outra característica deste veículo: o seu poder de fogo:
(130) "Vorne die Panzer, hinten nicht dicht."
202
Burkhardt corrobora: ”Bomber, der; kein Militärfahrzeug, sondern (in metaphorischer Verwendung): → Stürmer,
der viele Tore erzielt u. darum gefürchtet ist, → Torjäger → Knipser (...).” (Burkhardt, 2006a:61)
230
Esta ocorrência diz respeito ao jogo entre as selecções da Alemanha e da Costa Rica aquando
do campeonato mundial de 2006, que terminou com um 4:2 a favor da Alemanha. O resultado
alcançado demonstra a capacidade ofensiva e concretizadora da equipa alemã, quão poder
bélico de um Panzer. Contudo, são expostas as fragilidades defensivas, pois foram consentidos
dois golos adversários.
Consideramos que estas ocorrências corroboram de forma exemplar a tese de
Kövecses relativamente ao princípio da proeminência (highlighting) e da omissão (hiding) nos
processos metafóricos.
Os jogadores, individualmente ou colectivamente como equipa, afiguram-se como
verdadeiros arsenais bélicos: são armas versáteis, secretas, de calibres diferentes, ou mesmo
peças de artilharia:
(138) Für Spielmacher Riquelme kam Allzweckwaffe Cambiasso, was eher für
ein Halten des Resultats sprach.
(147) Robben ist zurück, der Dribbler, der Sprinter, Oranjes Geheimwaffe, die
kein Geheimnis mehr sein kann, weil die ganze Welt sie kennt.
(151) „Die Waffen des Fussballs“, titelte der kicker schon 2006 während der
Sommermärchen-Inszenierung.
(131) "Mit Polen kommt eine sehr schwere Aufgabe auf uns zu und ein ganz anderes
Kaliber als Costa Rica", sagt Klinsmann.
(149) Eine Frage an drei Experten: 4:0 gegen Australien – was ist dieser
Auftaktsieg wert? „Es warten andere Kaliber“ Jürgen Kohler
(137) Michael Ballack, als torgefährlichster Mittelfeldspieler der Welt gerühmt,
hat bei der WM noch Ladehemmung.
(153) (...) Er ist auf dem besten Wege, sich nach dem Torjägertitel bei der EM 2008
auch bei der WM die Kanone für den Torschützen zu sichern.
Com o intuito de realçar uma determinada característica proeminente do jogador em questão,
o jornalista desportivo procura encontrar a ‘arma’ adequada, i.e. recorre ao objecto que
melhor contribui para a construção criativa do mapeamento e a consequente imagem
mesclada. Tal como já afirmamos anteriormente, este conta com a experiência e o
conhecimento geral dos seus leitores, cultural e socialmente cunhado. Na ocorrência (138) o
jogador italiano Cambiasso, como arma polivalente, destaca-se pela sua capacidade de jogar
231
em qualquer posição com elevada qualidade. É, de acordo com a expressão portuguesa, ‘pau
para toda a obra’.203
Na ocorrência (147), o jogador holandês Robben é considerado uma arma secreta, ou
seja, os adversários não sabiam o que esperar dele e essa imprevisibilidade constitui uma
vantagem. Relativamente às ocorrências (131) e (149), as equipas, tal como as armas de fogo,
são categorizadas de acordo o seu ‘calibre’. O calibre de uma munição é a medida padrão do
seu projéctil, cujo diâmetro corresponde ao diâmetro interno da alma da arma de fogo que o
utiliza. Quanto maior o calibre, mais danos pode causar. Assim, quanto melhor a equipa mais
difícil e perigoso será o jogo para o seu adversário. De novo, o mapeamento concretiza-se
numa sequência de conceptualizações metafóricas hierarquicamente organizadas204.
Domínio-fonte
Domínio-alvo
GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE
FUTEBOL
ARMA DE FOGO
EQUIPA DE FUTEBOL
CALIBRE
QUALIDADE DA EQUIPA
DIMENSÃO DO CALIBRE
NÍVEL DE QUALIDADE DA EQUIPA
Figura 32: Tabela de correspondências conceptuais
De acordo com esta abordagem, na ocorrência (137), o jogador alemão Michael Ballack, um
reconhecido médio-centro que habitualmente marca muitos golos, é, também ele, uma arma
de fogo, cujos disparos são golos. Contudo, após alguns jogos disputados no campeonato
mundial de 2006, este ainda não tinha conseguido demonstrar as suas habilidades de
goleador. Logo, a arma estava encravada e armas encravadas não efectuam disparos.205
Quanto à ocorrência (153), a arma em questão é um canhão - “Kanone”206, uma peça
de artilharia pesada, de grande calibre, utilizada para lançamento de granadas (balas de
canhão). É, portanto, um superlativo em termos de armas de fogo. A notícia proferida nesta
ocorrência diz respeito ao jogador David Villa, que iria, como tudo indicava à data, vencer o
203
” Allzweck-Waffe, die kein universelles Gerät o. Werkzeug zur Gewaltanwendung, sondern (in metaphorischer
Verwendung): Spieler, der aufgrund seiner Vielseitigkeit auf verschiedenen Positionen einsetzbar ist, → Allrounder
(...).” (Burkhardt, 2006a:27)
204
para Metaphorical Entailment vide Kövecses (2002:93-105)
205
”Ladehemmung, die; weder Begriffsstutzigkeit noch technischer Defekt an einer Feuerwaffe, durch den keine
Geschosse nachgeladen werden können, so dass kein Schiessen möglich ist, aber (in metaphorischer Verwendung):
keine → Torerfolge trotz guter → Chancen (durch einen o. mehrere Spieler, die gewöhnlich → treffen, so dass bei
diesen Versagenängste auftreten können).” (Burkhardt, 2006a:176-175)
206
”Ka|no|ne [f.] 1 schweres Geschütz mit langem Rohr; mit ~n auf Spatzen schießen [übertr.] mit übertriebenen
Maßnahmen gegen etwas Geringfügiges vorgehen, überreagieren 2 [übertr., häufig scherzh.] auf einem Gebiet sehr
fähiger Mensch; Sports~ [<frz. canone, ital. cannone in ders. Bed., Vergrößerungsform von canna <lat. canna
”Rohr“].” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/
index.html?gerqry=kanone [Consult. 30.01.2011])
232
prémio de melhor marcador do campeonato mundial de 2010. Ele seria, portanto, o
superlativo no universo dos goleadores. O esquema dinâmico da superioridade estabiliza
outras mesclas, alicerçadas num enquadramento conceptual semelhante:
(132) Argentinien - Serbien-Montenegro 6:0 (3:0) - Kanonenfutter für die
"Gauchos"
(143) SPORT BILD: Herr Schwarzer, Australien wird bei der WM nicht viel
zugetraut. Ist Ihre Mannschaft nur Kanonenfutter?
“Kanonenfutter”, cuja expressão equivalente em português é ‘carne para canhão’, provém da
expressão original inglesa ‘food for powder’ proferida pela personagem Fallstaff na peça de
William Shakespeare, Henrique IV. A expressão foi introduzida na língua alemã em 1857 por
via da tradução da peça, assumindo o significado de ‘soldados colocados na linha de fogo’ e só
posteriormente, em 1905, o significado de ‘soldado sem valor’.207 Actualmente, o significado
está associado à noção de sacrifício, pelo que os sacrificados são encarados como danos
colaterais necessários. De regresso ao cenário original do conflito bélico, a vida dos soldados
tinha perdido todo o seu valor, pois eram enviados para morrer em prole da vitória na batalha
e, consequentemente, da sua pátria quão animais encaminhados para o matadouro a fim de
servirem de alimento. Neste contexto cruel é possível reconhecer uma outra projecção
metafórica em torno do canhão (que metaforicamente representa o inimigo), conceptualizado
como um ser vivo que necessita e procura alimentar-se, sendo que o soldado é seu
alimento208.
No âmbito desportivo, a dicotomia entre a fraqueza e a vulnerabilidade por um lado e
superioridade arrebatadora por outro, é transmitida através do facto, de que neste cenário
207
”Kanonenfutter, Ausdruck Falstaffs in Shakespeares »Heinrich IV.« (1. Teil, 4,2) für wertlose Soldaten, engl.:
»Food for powder« (»Futter für Pulver«). Durch die Shakespeare-Übersetzungen bei uns eingebürgert.“ (Meyers
Großes Konversations-Lexikon, in: http://www.zeno.org/Meyers-1905/A/Kanonenfutter [Consult. 30.01.2011])
”Kanonenfutter nennt man Truppen, die entweder durch fehlerhafte Dispositionen des Anführers ohne Nutzen
dem feindlichen Feuer ausgesetzt worden sind, od. in Folge mangelhafter Organisation u. Disciplin zu nichts
anderem tauglich sind, als dem feindlichen Feuer als Zielscheibe zu dienen.“ (Pierer's Universal-Lexikon, in:
http://www.zeno.org/Pierer-1857/A/Kanonenfutter [Consult. 30.01.2011])
208
”Kanonenfutter ist eine umgangssprachliche, geringschätzige Bezeichnung für Soldaten, die in einem Krieg von
der eigenen Führung rücksichtslos gegenüber der feindlichen Waffenwirkung eingesetzt werden, gleichsam als
geringwertiges Menschenmaterial und meist im Interesse "übergeordneter" taktischer oder strategischer Ziele,
wobei das Eintreten hoher Verluste im voraus abzusehen ist und in Kauf genommen wird. Im deutschen
Sprachgebrauch etablierte sich der Begriff endgültig zur Zeit des Ersten Weltkrieges, vor allem wegen der
überragenden Rolle der Artillerie im Stellungskrieg und den Materialschlachten der Jahre 1914 bis 1918.
Metaphorisch werden die Soldaten als "Futter" der gegnerischen Kanonen bzw. Waffen bezeichnet. Insbesondere
auf die Infanterie traf der Begriff zu, da sie die Hauptlast des Kampfes tragen musste und als
"schlachtentscheidende" Waffengattung einen dementsprechend großen Umfang hatte. Sie war in allererster Linie
vom gegnerischen Feuer betroffen. Zudem waren die Soldaten der Infanterie üblicherweise weniger qualifiziert als
Angehörige
technischer
Spezialtruppen und
erschienen
daher
"entbehrlicher".
(In:
http://de.inforapid.org/index.php5?search=Kanonenfutter [Consult. 30.01.2011])
233
contrafactual imaginado, o soldado é reduzido a um mero alimento. Em suma, a mescla final
da ocorrência (132) realça a fraqueza desportiva da selecção da Sérvia e Montenegro,
enquanto a mescla final da ocorrência (143), tratando-se de uma antevisão ao jogo, questiona
o nível de qualidade futebolística por parte da selecção australiana, frente à selecção alemã.
Optamos por incluir a seguinte ocorrência nesta categoria pois o objecto em questão “Rakete”209 - configura um dispositivo que é prioritariamente utilizado no contexto militar:
(141) Dank Klinsi ist Lahm eine Rakete. (...) Von wegen lahm, nur RaketenLeistungen.
Pensamos que a principal motivação subjacente a este mapeamento reside no nome do
jogador Philipp Lahm, dando origem a um claro jogo de palavras a partir do qual são
explorados os antónimos lento (ou estático) e rápido (ou dinâmico), sendo “lahm”210 sinónimo
de lento e “Rakete” um exemplo de rapidez por excelência. O jogador Lahm parece, então, ser
tudo menos lento, pois as suas exibições patenteiam energia e dinamismo. O foguetão é
frequentemente associado à velocidade e, consequentemente, à obtenção de sucesso, de
acordo com as características que este equipamento ostenta. O sucesso é conceptualizado
como uma meta no final de um percurso que, neste caso, é percorrido rapidamente.
”Eine Reihe umgangssprachlicher Ausdrücke steht im Zusammenhang mit der Rakete, die
dabei den Vergleichsgegenstand bildet. Auf deren schnellen Antrieb bezieht sich die
Wendung abgehen wie eine Rakete, die zum Beispiel in Bezug auf Fahrzeuge gebraucht
wird. Auch das Adjektiv raketenmäßig zielt auf die Vorstellung von Geschwindigkeit.(…) Eine
steile Karriere kann ”raketenmäßig“ verlaufen“. (Bertelsmann Wörterbuch, in: http://www.
wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/suchergebnis,site=559166,node=3
242990.html?gerqry=Rakete&gertype=& [Consult. 01.02.2011])
209
”Ra|ke|te, die; -, -n [älter: Rackette, Rogete < ital. rocchetta, eigtl. Vkl. von: rocca = Spinnrocken, nach der einem
Spinnrocken ähnlichen zylindrischen Form]: 1. a) als militärische Waffe verwendeter, lang gestreckter, zylindrischer,
nach oben spitz zulaufender [mit einem Sprengkopf versehener] Flugkörper, der eine sehr hohe Geschwindigkeit
erreicht u. auch über weite Entfernungen ein feindliches Objekt treffen kann: eine taktische R. mit
Mehrfachsprengkopf; der Junge fegte wie eine R. davon (ugs.; lief sehr schnell davon); der Wagen geht ab wie eine
R. (ugs.; hat ein großes Anzugsvermögen); b) in der Raumfahrt verwendeter Flugkörper von der Form einer
überdimensionalen Rakete (a), der dem Transport von Satelliten, Raumkapseln o. Ä. dient: eine mehrstufige,
ferngesteuerte R.; die R. wird gezündet; eine R. starten, in den Weltraum schießen. 2. Feuerwerkskörper von der
Form einer Rakete (1 a): -n stiegen in den Himmel und zerplatzten; -n abbrennen, abschießen. 3. begeistertes, das
Heulen einer Rakete (2) nachahmendes Pfeifen bei [Karnevals]veranstaltungen.” (Dudenverlag, 1997, Versão CDROM)
210
”lahm <Adj.> [mhd., ahd. lam, eigtl. = gebrechlich]: 1. (auf Arm, Bein o. Ä. bezogen) durch Körperschaden, -fehler
o. Ä. gelähmt u. daher unbeweglich: ein -es Bein; er ist l. (hat ein lahmes Bein, eine lahme Hüfte); auf dem linken
Bein, in der Hüfte l. sein. 2. a) (ugs.) wie gelähmt; stark ermüdet u. daher kraftlos, schwer beweglich: -e Glieder; ein es Kreuz haben; vom langen Koffertragen wurde mir der Arm l.; er wurde von dem langen Sitzen ganz l. (wurde ganz
steif); b) (ugs. abwertend) unzureichend: eine -e Ausrede, Erklärung; c) (ugs. abwertend) ohne jeden Schwung;
schwach, matt: ein -er Kerl; eine -e Diskussion; er erzählte nur -e (langweilige) Witze; du hast heute aber l. gespielt!
*etw. l. legen (etw. zum Erliegen, zum Stillstand bringen): durch den Unfall wurde der gesamte Verkehr l. gelegt.”
(Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM)
234
Consideramos que as estruturas dinâmicas espaciais CIMA - BAIXO, que estão na génese das
metáforas orientacionais UP IS GOOD e DOWN IS BAD211 marcam, igualmente, presença neste
mapeamento, tendo em conta a trajectória vertical de um foguetão após o seu lançamento. O
significado emergente deste mapeamento deve ser entendido como um elogio às boas
exibições e às excelentes capacidades futebolísticas do jogador. As propriedades velocidade e
eficácia serviram, identicamente, ao mapeamento patente na seguinte ocorrência:
(140) (…) Bis zur 88. Minute, als Nuno Gomes mit einem Torpedo-Kopfball nach
einer schönen Flanke von Figo unhaltbar für Kahn das 1:3 aus portugiesischer Sicht
erzielen konnte.
No que respeita o armamento militar, o torpedo é o equivalente do foguetão, sendo o
primeiro concebido para operar no meio aquático. É um engenho explosivo com autopropulsão, considerado extremamente eficaz devido à sua fiabilidade, i.e. a probabilidade de
atingir o alvo é deveras elevada. Etimologicamente, a palavra torpedo provém do latim tropere
que significa paralisar ou imobilizar,212 o que indica que o nome atribuído a este armamento
foi, também ele, metaforicamente motivado. Assim sendo, na ocorrência (140), o avançado
português Nuno Gomes, consegui marcar um golo de cabeça à selecção alemã, ao desferir um
remate poderoso e indefensável, eficaz como um torpedo.
A ocorrência (146) sintetiza as ocorrências anteriores e as respectivas análises:
(146) Pressestimmen: England erwartet „deutsche Kriegsmaschine“
A selecção alemã é apelidada de ’máquina de guerra’. O termo máquina de guerra activa dois
contextos: 1. mecanismos de guerra desenhados para a conquista ou defesa de fortalezas ou
cidades; 2. a totalidade do poderio militar de uma nação213. Não é totalmente claro qual dos
dois contextos se aplica a esta ocorrência, pois ambos constroem mapeamentos que
conduzem a significados plenos de sentido. A mescla virtual selecção alemã como um
mecanismo de guerra é mais concreta do que a mescla selecção alemã como representante de
toda a capacidade militar alemã, pronta a exibir esse poderio face ao seu adversário. Talvez, o
211
Vide Lakoff, Johnson (1980:14-21) e Kövecses (2002 :35-36)
”Tor|pe|do, der; -s, -s [nach lat. torpedo = Zitterrochen (der seinen Gegner bei Berührung durch elektrische
Schläge ,,lähmt), eigtl. = Erstarrung, Lähmung, zu: torpere = betäubt, erstarrt sein]: großes, zigarrenförmiges
Geschoss (mit einer Sprengladung), das von Schiffen, bes. U-Booten, od. Flugzeugen gegen feindliche Schiffe
abgeschossen wird u. sich mit eigenem Antrieb selbsttätig unter Wasser auf das Ziel zubewegt. ” (Dudenverlag,
1997, Versão CD-ROM)
213
”Kriegs|ma|schi|ne [f.] 1 [früher] Maschine verschiedenster Art für Angriff und Deckung, die bei der Belagerung
(einer Burg, Stadt) verwendet wurde 2 [ugs.] Gesamtheit des Kriegspotenzials eines Landes.“ (BERTELSMANN
Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=Kriegs
maschine&gertype= [Consult. 02.02.2011])
212
235
jornalista tenha tido em mente o contexto mais lato, com o intuito de abarcar não somente os
jogadores da selecção alemã, como também todos os restantes intervenientes (treinador,
preparador físico, etc.), incluindo factores estratégicos e organizativos, em suma, toda a
estrutura que compõe a representação alemã no campeonato. Historicamente, a capacidade
militar da Alemanha é internacionalmente reconhecida, apesar das derrotas nas duas grandes
guerras mundiais. No que diz respeito ao futebol, a Alemanha é sempre um adversário temido
devido a um conjunto de qualidades que tem vindo a ostentar, campeonato após campeonato.
Daí, a expressão proferida em 1990 pelo antigo jogador de futebol, Gary Lineker: “Football is a
simple game: 22 men chase a ball for 90 minutes, and at the end the Germans always win.”214
Num cenário de potencial conflito, certas zonas geográficas ou lideranças políticas são
consideradas focos de destabilização que ameaçam a manutenção da paz ou o equilíbrio de
forças e poderes. Nas próximas ocorrências, reconhecem-se realizações metafóricas
construídas em torno deste conceito:
(134) Das Angriffsspiel der Spanier war zwar variabel, Luis Garcia, Fernando Torres und
Villa erwiesen sich auch als ständige Unruheherde, der Ausgleich wollte aber trotz des
hohen Aufwands nicht gelingen.
(135) Aruna Dindane: Lauffreudig, dribbelstark und abgeklärt war Dindane ein
ständiger Gefahrenherd und sorgte mit zwei Treffern für die Wende.
No presente mapeamento o “Unruheherd” ou “Gefahrenherd”215 diz respeito a um ou mais
jogadores que, devido ao seu jogo intensamente ofensivo, ameaçam a capacidade defensiva
da equipa adversária. São, portanto, um constante foco de perigo e desassossego para os
jogadores da defesa contrária. Note-se que nas presentes ocorrências os termos “Unruhe” e
“Gefahrenherd” são intensificados pelo adjectivo ständig, o que realça a ideia de pressão e
perigo incessante. De salientar, ainda, a presença da metáfora conceptual INTENSITY IS HEAT
(OF FIRE) - activada a partir da palavra “Herd”,216 sendo o fogão fonte de calor. De acordo com
Kövecses: “Thus, fire-metaphors have a wide scope; they apply to a variety of situations or
214
In: http://www.englandcaps.co.uk/garylineker.html [Consult. 02.02.2011]
”Un|ru|he|herd [m.] etwas oder jmd., von dem Unruhe ausgeht; <auch> Unruhherd; ein politischer U.”
(BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?
gerqry=unruheherd); ”Ge|fah|ren|herd, der: Ausgangspunkt immer wieder neuer Gefahren; Quelle ständiger
Gefahr.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM)
216
”Herd, der; -[e]s, -e [mhd. hert, ahd. herd, eigtl. = der Glühende]: 1. Vorrichtung zum Kochen, Backen u. Braten,
bei der die Töpfe auf kleinen runden, elektrisch beheizten Platten, auf Gasbrennern od. auf einer über einem Holzod. Kohlefeuer angebrachten großen Herdplatte (b) erwärmt werden u. in die meist auch ein Backofen eingebaut
ist.(...) 2. a) Stelle, von der aus sich etw. Übles weiterverbreitet: ein H. der Unruhe, des Aufruhrs; b) (Med.) im
Körper genau lokalisierter Ausgangspunkt für eine Krankheit; c) (Geol.) Ausgangspunkt von Erdbeben od.
vulkanischen Schmelzen. 3. (Technik) Teil des Hochofens, der das einzuschmelzende Gut aufnimmt.“ (Dudenverlag,
1997, Versão CD-ROM [sublinhado nosso])
215
236
states of affairs (actions, events, states). The main focus of this source domain appears to be
the intensity of a situation.”217 (Kövecses, 2002:116)
As últimas duas ocorrências desta categoria dizem respeito ao martelo:
(133) Muntaris Hammer flog über das Tor (28.), im Gegenzug bedeutete
Poborskys Schrägschuss (29.) die erste vielversprechende Torannäherung der
Tschechen (...).
(152) Es ist DER Hammer im Halbfinale der Fußball-WM: Deutschland gegen Spanien,
die Neuauflage des EM-Finales von 2008.
Esta ferramenta, de acordo com Burkhardt (2006a:142)218, pode surgir em três contextos
diferentes: a) como conceptualização metafórica da perna ou do pé do jogador, b) como um
remate de grande potência (ocorrência (133)) e, por fim, c) para descrever metaforicamente
um importante e decisivo jogo de futebol (ocorrência (152)). Esta última ocorrência (excerto
de um artigo de opinião sobre o jogo vindouro - as meias-finais do campeonato mundial de
2010 entre as selecções da Alemanha e da Espanha) expressa as expectativas criadas em torno
deste desafio. Para além da importância inerente a qualquer meia-final, a qualidade das
equipas envolvidas deixa antever um confronto intenso, bem disputado e emocionante. Mais
ainda, tratando-se da imprensa desportiva alemã e sendo a selecção alemã uma das equipas
em foco, o envolvimento emocional em torno do desafio é, naturalmente, muito mais intenso.
De acordo com a metodologia seguida, apresentamos seguidamente as nossas
propostas relativamente aos espaços mentais identificados:
217
De seguida apresenta uma tabela (“We can show the basic constituent mappings for this metaphor as follows.”
Kövecses, 2002:116), que aqui incluímos traduzida e adaptada às ocorrências em análise:
UMA SITUAÇÃO É FOGO
Domínio-fonte
Domínio-alvo
Domínio-fonte
Domínio-alvo
(genérico)
(genérico)
Guerra/Conflito
Futebol
o que arde
entidade envolvida na situação
Zonas/Países
Equipas de futebol adversárias
o fogo
a situação (acção, evento ou
o conflito entre as
o ataque de uma equipa na
condição)
zonas/países
procura do golo durante um jogo
o calor do fogo
a intensidade da situação
a intensidade do conflito
a intensidade do ataque
a causa do fogo
a causa da situação
a causa do conflito
a vontade de vencer
Figura 33: Tabela de correspondências conceptuais
218
”Hammer, der; kein Werkzeug zum schlagen, aber (in metaphorischer Verwendung): 1. Fuss, bzw. Bein, mit dem
ein Spieler extrem hart → schiessen kann (...). 2. (in zusätzlich metonymischer Übertragung) extrem harter → Schuss,
→ Bombe, → Granate (...). 3. von besonderer Brisanz, Schwierigkeit o. Wichtigkeit.“ (Burkhardt, 2006a:142)
237
Ocor.
(139)
(130)
(132)
(141)
(140)
(134)
(152)
ESB
EA
ERef
die schwarzen
Bundesliga
Jogadores de
Bomber
origem africana
Texto
(os bombarque jogam na
deiros negros da primeira liga alemã
liga alemã)
Jogadores
atacantes da
Panzer
selecção alemã no
Texto
(tanque)
jogo contra a
selecção polaca
(4:2)
M1
ERel
M2
Jogadores de origem
africana que jogam
na primeira liga
alemã como
schwarze Bundesliga
Bomber
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da
potência
Excelentes
jogadores!
Jogadores atacantes
da selecção alemã no
jogo contra a
selecção polaca
como Panzer
Cenário do
confronto/duelo;
Esquema da
potência
Excelente ataque,
Alemanha!
Cenário do
confronto/duelo;
Esquemas da
superioridade vs
inferioridade
Fraca prestação,
Sérvia!
Texto
Kanonenfutter
(‘carne para
canhão’)
Selecção sérvia (na
derrota por 6:0
contra a selecção
argentina)
Selecção sérvia
(derrota na derrota
por 6:0 contra a
selecção argentina)
como Kanonenfutter
Texto
Rakete
(foguetão)
O jogador alemão
Philipp Lahm (no
mundial de 2006)
O jogador alemão
Philipp Lahm (no
mundial de 2006)
como Rakete
Golo do jogador
Torpedoportuguês Nuno
Texto
Kopfball
Gomes no jogo
(remate torpedo) contra a selecção
alemã
Os jogadores
espanhóis Garcia,
Unruheherde
Texto
Torres e Villa no
(foco de perigo)
jogo contra a
selecção tunisina
Texto
ESB
ERef
ERel
Hammer
(martelo)
Futuro jogo entre
as selecções da
Alemanha e da
Espanha
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Cenário do
confronto/duelo;
Lahm é o melhor!
Esquema imagético
cima-baixo
Golo do jogador
Nuno Gomes como
Torpedo-Kopfball
Cenário do
confronto/duelo;
Esquema da
potência
Fabuloso golo!
Os jogadores Garcia,
Torres e Villa como
Unruheherde
Cenário do
confronto/duelo;
Enquadramento
político-militar
Atenção, Garcia!
Futuro jogo entre as
Cenário do
selecções da
confronto/duelo;
Alemanha e da
Esquemas a força e
Espanha como
violência
Hammer
EA
M1
M2
Será um jogo
fenomenal!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 34: Tabela de espaços mentais 6
Schlobinski (2006) reconhece que este estilo jornalístico se caracteriza pela construção
recorrente de cenários variados de modo a criar ambientes e consequentes respostas
emocionais. Esta ‘encenação’ é particularmente evidente, sempre que a selecção nacional
(neste caso a selecção alemã) está envolvida:
“Betrachtet man eine Fußball-WM als Medienereignis, so drängt sich der Vergleich zu
einem inszenierten Spektakel auf, das zugleich eine spektakuläre Inszenierung darstellt.
238
Die Weltmeisterschaft bildet eine Ereigniskette, die als eine Serie von Einzelfolgen medial
aufbereitet wird. Innerhalb dieser Serie gibt es Höhepunkte immer dann, wenn die
»eigene« Nationalmannschaft spielt, und diese können zu schicksalhaften Ereignissen
hochstilisiert werden.“ (Schlobinski, 2006:26)
Acerca do cenário da guerra criado pela imprensa desportiva alemã, Schlobinski afirma:
Über alle soziale Schichten und Altersstufen hinweg ist er [Fußball] in der Gesellschaft tief
verankert, und erst die modernen Massenmedien haben dies ermöglicht, indem sie den
Fußball sprachlich und bildlich inszenieren. Bei der Darstellung eines sportlichen
Ereignisses spielt auf der sprachlichen Ebene die Lexik eine wichtige Rolle. »Das Ausland,
das kürzlich noch die ›deutschen Panzer weinen‹ sah, hört sie nun schon wieder rollen
[…]« (DER SPIEGEL vom 10. Juli 2000). Es handelt sich hier nicht um eine
Kriegsberichterstattung, sondern um eine Einleitung zu der Nachricht, dass unmittelbar
nach der Fußball-WM Vergabe 2006 die DFB-Elf bei einem Londoner Buchmacher als 6:1Favorit auf den Titelgewinn gehandelt wurde. Wir sind markige Sprüche aus der deutschen
Presse gewohnt, wenn es um Fußball geht: das Massaker von Madrid, Abwehrschlacht des
1. FC oder der Bomber der Nation, und wir haben uns offenbar an die Mediensprache der
Fußballberichterstattung gewöhnt, ohne dass uns die Metaphorik aus Bereichen wie Krieg
und Militär (noch) weiter auffällt. Und dies hat Tradition: In dem bekannten
Fußballmagazin KICKER ist in den erstmals 1920 erschienenen Ausgaben das Wortfeld
»Kampf und Krieg« der größte Spenderbereich für Übertragungen und Metaphern (...).“
(Schlobinski, 2006:26)
e) FUTEBOL É GUERRA/VIOLÊNCIA – Categoria: Locais
Apesar da realização de um evento desportivo exigir, também, um local onde este se
possa cumprir, de acordo com o número reduzido de ocorrências encontradas relativamente a
locais, esta categoria não aparenta revestir-se de grande relevância. As acções associadas ao
evento em si e os intervenientes assumem uma posição de destaque o que se enquadra na
perspectiva do futebol como fonte dinâmica de emoções, sobrepondo-se ao enquadramento
estático do espaço físico.
As quatro ocorrências aqui em análise dizem respeito a enquadramentos espaciais. A
ocorrência (155) conceptualiza o campo de futebol como um campo de batalha:
(155) Angeschlagen verlässt Figo das Schlachtfeld.
239
Esta ocorrência diz respeito ao jogo entre as selecções de Portugal e da Holanda. Os contornos
deste polémico desafio já foram analisados no ponto anterior.
Na ocorrência (158) encontramo-nos perante uma realização metafórica na qual a
estrutura defensiva da equipa Neo-Zelandesa é conceptualiza como uma fortaleza que terá de
ser conquistada.
(158) Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. Grosser Kampf soll
fehlende Klasse wettmachen. (…)
Esta conceptualização já foi analisada, em pormenor, na secção a).
A ocorrência (157) evidencia uma conceptualização metafórica igualmente
interessante, apesar de não se prender, directamente, com a realização de um jogo de futebol
ou as diferentes posições dos jogadores em campo, do ponto de vista estritamente espacial:
(157) Frankreich: Nach dem WM-Desaster greift sogar Präsident Sarkozy ein.
Frankreich in Trümmern
De acordo com esta afirmação, a França está em ruínas, sendo a imagem mental prototípica
correspondente, provavelmente, a de uma cidade arrasada por um terrível bombardeamento,
um local de morte e destruição. Mas quem destruiu esta cidade, ou este país? Aparentemente,
foi a selecção francesa de futebol. A fraca prestação por parte da selecção francesa aquando
do campeonato mundial de 2010 arrasou e enfraqueceu, quão bombas a cair do céu, a nação e
o orgulho nacional. No contexto do evento futebolístico, as atitudes da maioria dos jogadores
das diversas selecções, amplamente difundidas pelos media internacionais, ultrapassaram a
esfera meramente desportiva. Tendo em conta o estatuto de ídolos e heróis que estes
profissionais assumem, os seus comportamentos podem afectar a identidade e a união
nacionais pois são desrespeitados valores sociais, morais e éticos basilares219. À ruína física e
concreta de edificações corresponde a destruição conceptual de princípios fundamentais e
abstractos da sociedade. Döring e Osthus (2002) salientam:
“Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport
dürfte eines der gängigsten metaphorischen Verfahren sein, wie vorliegende Studien zur
Metaphorik der Fußballberichterstattung (Gil 1998; Gabriel 1998) bestätigen. (...) In der
Berichterstattung über die Weltmeisterschaft wird diese ohnehin schon vorhandene
Kriegsmetaphorik noch um eine nationale Komponente erweitert, indem die Mannschaft
metonymisch mit der Nation gleichgesetzt wird, das Zusammenspiel der französischen
219
Vide parte 1.b) sobre a figura do herói na sociedade.
240
Mannschaft als nationales Zusammenleben und der sportliche Erfolg metaphorisch als ein
nationaler militärischer Sieg verstanden wird. Die unmittelbare nationale Komponente des
Sieges wird indes hier nicht nur metaphorisch, sondern auch politisch genutzt.“
(Döring/Osthus, 2002, in: metaphorik.de 03/2002)
A presente abordagem remete-nos, igualmente, para o paradigma conceptual da
metáfora ontológica220, a partir da qual, conceitos abstractos são conceptualizados como
objectos ou entidades físicas e concretas. A BUILDING-METAPHOR221 é disso exemplo, pois
defende que conceitos abstractos, tais como teorias ou ideias, podem ser conceptualizadas
como edifícios. O edifício afigura-se como objecto físico muito familiar para ser humano,
fazendo, portanto, parte da experiência do mundo real que nos rodeia. No processo de
conceptualização salientam-se as características mais proeminentes de edificações, tais como
os fundamentos, as estruturas, os pilares, as vigas e as paredes. Estes elementos, por sua vez,
sugerem um conjunto de qualidades físicas, tais como a solidez, a dureza, a firmeza, a
sustentabilidade, a protecção, etc. que, na maioria dos casos, motivam a construção de
mapeamentos. Retomando a ocorrência (157), ideias, princípios ou valores sociais fazem parte
de um sistema complexo e podem ser integrados no esquema ABSTRACT COMPLEX SYSTEMS
de Kövecses (2002:128) como subcategorias do conceito mais lato de sociedade222.
A expressão ‘em ruína’ salienta, segundo Kövecses, uma terceira característica, i.e. a
solidez ou estabilidade da estrutura que, aparentemente, deixa de existir. Consequentemente,
e de acordo com esta perspectiva, na ocorrência (157) o sistema de valores da sociedade
francesa ficou destruído. Sendo o sistema de valores parte integrante de um conjunto de
pressupostos que definem a identidade nacional de um país, do qual os indivíduos, que dele
fazem parte, se orgulham, então é possível concluir que o orgulho nacional foi igualmente
afectado. Mais ainda, é possível admitir a existência de sentimentos de tristeza e vergonha
implícitos, caso o leitor se identifique com a comunidade francesa. Como mero espectador
poderá sentir compaixão e compreensão, evidenciando uma atitude solidária de repúdio pelo
sucedido. Em conclusão, esta metáfora conceptual reforça a ideia da importância dos heróis
220
Vide Lakoff, Johnson (1980:25-32)
Vide Lakoff, Johnson (1980:97-102)
222
Relativamente ao domínio-fonte dos edifícios (construções), Kövecses (2002) desenvolve: “(…) the source
domain of buildings applies to a variety of targets. (…) We can generalize this observation by suggesting that the
overarching metaphor that includes all these cases is COMPLEX SYSTEMS ARE BUILDINGS. (…) Most of the
metaphorical expressions capture these three interrelated features of complex systems - their creation, their
structure, and the stability of their structure. This is clear from the preponderance of such expressions as build,
construct, strong foundation, without foundation, rock the foundation, in ruins, solid, lay the foundation (…). I will
say that these conceptual metaphors have a main focus, a major theme, so to speak. What determines the main
meaning orientation of a given source-target pairing, such as COMPLEX SYSTEMS ARE BUILDINGS? I well suggest
that each source domain is designated to play a specific role in characterizing a range of targets to which it applies.”
(Kövecses, 2002:108-110)
221
241
desportivos nas sociedades actuais e que as suas acções podem acarretar consequências,
positivas ou negativas, que ultrapassam o domínio desportivo. O enquadramento contextual
da ocorrência corrobora esta perspectiva: até o Presidente Sarkozy, no seu papel de chefe de
estado e defensor máximo da nação, se envolveu nesta polémica, transformando-a numa
matéria de interesse e preocupação nacionais. Saliente-se que esta polémica não gira em
torno dos resultados desportivos insatisfatórios; trata-se antes de uma questão
comportamental, de postura considerada incorrecta, indigna de desportistas, que receberam a
honra de poder representar o seu país numa competição internacional.
Por fim, destacamos a ocorrência (156) que recorre a uma expressão metaforicamente
motivada: “am Pranger stellen/stehen”.
(156) Rheinische Post (www.rp-online.de) „Schiedsrichter am Pranger. Ein
Kartenspieler und ein Torklau. Am achten Tag der Fußball-WM in Südafrika sind
die Schiedsrichter ins Kreuzfeuer der Kritik geraten“.
Este exemplo, que diz respeito aos árbitros, transporta-nos para um cenário construído em
torno do pelourinho, local e monumento carregado de significado histórico e cultural.223 A
designação do local provém do verbo análogo prangen, do médio alto alemão, com o
significado de pressionar ou apertar: „mhd. pranger, zu mniederd. prangen = drücken, pressen,
nach dem drückenden Halseisen, mit dem der Delinquent an den Pfahl angekettet wurde“
(Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM), através do precesso de conceptualização metonímica:
„Säule, Pfahl, Stelle auf einem öffentlichen Platz, an der jmd. wegen einer als straf-,
verachtenswürdig empfundenen Tat angebunden stehen musste, um ihn auf diese Weise der
allgemeinen Verachtung auszusetzen.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM).
Actualmente, esta expressão significa igualmente: “öffentlich kritisiert/ beschuldigt
werden; bloßgestellt werden; der öffentlichen Schande preisgegeben werden.“ (RedensartenIndex [Consult. 04.02.2011]). O pelourinho da modernidade é, então, toda a comunicação
social que se encarrega de, publicamente, expor e julgar atitudes consideradas incorrectas.
Neste caso específico, trata-se de uma crítica pública por parte da imprensa desportiva à
actuação dos árbitros do campeonato mundial de 2010, acusados de exibir cartões amarelos e
vermelhos injusta e indiscriminadamente, assim como de invalidarem golos aparentemente
223
“Der Pranger war ein mittelalterlicher Schandpfahl, an dem die Verurteilten, oft mit einem Halseisen angekettet,
öffentlich zur Schau gestellt und damit dem Hohn und der Verachtung des Volkes preisgegeben wurden. Die Strafe
konnte mit anderen Maßnahmen kombiniert werden, wie Leibeszucht, Verstümmeln, Landesverweis oder
Geldstrafe. Bereits vor Abschaffung der Prangerstrafe in der Mitte des 19. Jahrhunderts wurde die Wortverbindung
auch im übertragenen Sinne gebraucht.“
(Redensarten-Index,
in:
http://www.redensartenindex.de/suche.php?suchbegriff=am+Pranger&bool=relevanz&suchspalte%5B%5D=rart_ou&suchspalte%5B%5D=er
l_ou&suchspalte%5B%5D=bsp_ou&suchspalte%5B%5D=erg_ou [Consult. 04.02.2011])
242
legais. A crítica pública é, ainda, conceptualizada como disparos de armas de fogo,
encontrando-se os árbitros no chamado fogo cruzado.
Por fim, observemos a seguinte tabela de espaços mentais:
Ocor.
(157)
(155)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Má representação
Má representação e
e consequente
Frankreich in
Cenário da
consequente
eliminação da
Trümmern
destruição pela
Texto
eliminação da
selecção francesa
França em baixo!
(França em
guerra; Esquema
selecção francesa do do mundial 2010
ruínas)
da verticalidade
mundial 2010
como Frankreich im
Trümmern
Actuação dos
Schiedsrichter
árbitros do mundial Cenário da justiça;
am Pranger /
Actuação dos
de 2010 como
Esquemas morais;
Kreuzfeuer
Mau trabalho,
Texto
árbitros do mundial Schiedsrichter am
Cenário do
(árbitros no
árbitros!
de 2010
Pranger / Árbitros confronto/duelo;
pelourinho/fogo
como estando sob Esquema espacial
cruzado)
Kreuzfeuer
ESB
ERef
ERel
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 35: Tabela de espaços mentais 7
Todos os estudos por nós consultados (vide ponto 2.), baseados em corpora reais
oriundos de todas as áreas da comunicação social, concluíram unanimemente que o domínio
da guerra (englobando os sub-domínios do universo militar da luta, da violência e da morte) é,
de longe, o domínio-fonte mais produtivo para a construção de imagens mescladas, apesar dos
diversos corpora, incluindo o presente corpus, advirem de fontes internacionais, tais como os
media franceses, italianos, catalãs, espanhóis, ingleses e alemães. Michels destaca que a
convergência em torno do domínio-fonte da guerra corrobora o conceito Weinrichiano da
“Europäische Bildfeldgemeinschaft”: “Diese Tatsache kann in Bezug auf die Domäne der
Fußballtexte als Beweis für die These Weinrichs (1976) von einer europäischen
Bildfeldgemeinschaft gesehen werden“ (Michels, 2002, in: metaphorik.de 02/2002).
Acreditamos, contudo, que este domínio-fonte é, muito provavelmente, o mais produtivo em
toda a imprensa desportiva a nível mundial, não somente devido às analogias estruturais entre
conceitos de guerra tradicionais e o futebol, como também devido ao facto da guerra
constituir uma experiência cultural universalmente partilhada, mesmo que não tenha sido
vivida. Neste sentido, Michels afirma:
243
“Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport ist
eines der gebräuchlichsten metaphorischen Verfahren. (...) Die dem Bildspender zugrunde
liegende Kriegserfahrung kann allerdings nur bei einem geringen Prozentsatz der Sprecher
als unmittelbare individuelle Erfahrung vorausgesetzt werden. In der Mehrzahl der Fälle
erwächst das Bild, welches sich der Sprecher vom Krieg macht, aus Erzählungen, aus der
Literatur oder aus der Kriegsberichterstattung in den Medien, kurz: Aus kultureller
Erfahrung. Die auf den sportlichen Wettkampf übertragene Kriegsmetaphorik bedient sich
historischer Kriegssituationen und hat nichts mit der heutigen Kriegsrealität zu tun. Der
Beschreibung des Fußballspiels als Kriegszenerie liegt also ein tradiertes Kriegsbild
zugrunde: Das zweier Parteien, die konträre Einstellungen vertreten und sich auf einem
Schlachtfeld einen bewaffneten Kampf liefern. Es gilt bestimmte Strategien zu verfolgen,
um den Gegner zu besiegen. In dieser polaren Grundstruktur liegt die Gemeinsamkeit
zwischen sportlichem Wettbewerb und prototypischer Kriegskonstellation.“ (Michels,
2002, in: metaphorik.de 02/2002)
Emergindo deste cenário da guerra e estabilizada pelas diversas estruturas relevantes, a
mescla final aduz uma mensagem de cariz emocional, alicerçada na avaliação ou
posicionamento crítico assumido pelo autor/locutor da notícia face a todo o evento
desportivo.
Tendo em conta as fontes jornalísticas do nosso corpus, verifica-se que a maioria dos
jornais e blogues consultados pertencem à chamada categoria popular ou categoria
intermédia. De acordo com a distinção bipolar de imprensa de qualidade e imprensa popular
(Qualitätspresse - Boulevardpresse)224, Abrantes (2001) postula que:
“(…) é possível tecer algumas conclusões acerca da linguagem emocional na imprensa e o
impacto que esta tem junto do leitor, nomeadamente no que se refere ao tipo de jornal
em causa. Assim, se a chamada imprensa de qualidade se baseia nos princípios do grau e
do número para identificar um evento como emocionalmente relevante, os jornais
populares observam para o mesmo fim os princípios da proximidade e da animacidade. Se
os jornais de qualidade evocam, normalmente, emoções secundárias, dirigidas a terceiros
e baseadas em valores culturais, os jornais populares «will stop short of inciting any
particular emotion and be satisfied with creating an unspecified state of emotional
arousal.» (UNGERER 1997:325) A imprensa de qualidade deixa, em geral, as inferências
emocionais à capacidade avaliativa do leitor, enquanto a imprensa popular recorre com
maior frequência a adjectivos avaliativos, itens lexicais com conotações positivas ou
negativas e mesmo a sinais gráficos, influenciando, deste modo, a resposta emocional
perante os eventos. (Abrantes, 2001:87-88)
224
vide Strömer (2009)
244
Em suma, e de acordo com a teoria das mesclas conceptuais avançada por Brandt (2004a) e
Brandt/Brandt (2005a), as construções metafóricas identificadas cumprem este mesmo
objectivo. L. Brandt (2010) explicita:
“Metaphors with animated imagery – where both the force-dynamic and the figural
aspects of the metaphorical scenario are strongly experienced – are potentially very
effective rhetorically because their “juicy” imagery gives extra weight to the predication
expressed. The animated hyperbolic predication involved in such “juicy metaphors”
generally elicit a stronger emotional reaction than literal predication does.” (Brandt, L.,
2010:177)
3.2.2. Imagens mescladas: Futebol - Forma Artística
DUKE SENIOR:
Thou seest we are not all alone unhappy;
This wide and universal theatre
Presents more woeful pageants than the scene
Wherein we play in.
JAQUES
All the world's a stage,
And all the men and women merely players;
They have their exits and their entrances;
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages.
W. Shakespeare, As you like it, Acto 2, Cena 7. In:
http://www.enotes.com/shakespeare-quotes/all-world
-s-stage> [Consult. 06.03.2011]
Se, na óptica de Shakespeare, o mundo é um palco e a vida uma peça de teatro na qual
todos nós somos actores, também o futebol é configurado como uma forma artística muito
particular e, talvez, uma das mais populares do mundo. Em termos formais, o evento
futebolístico é, de facto, análogo a um espectáculo artístico: possui um conjunto de
intervenientes, os jogadores que desempenham os seus papéis específicos; realiza-se num
local circunscrito, no qual as acções se desenrolam; inclui, num segundo plano, indivíduos que
planeiam, ensaiam e dirigem os intervenientes e suas acções; envolve equipas responsáveis
por toda a logística indispensável à realização do evento; e tem, finalmente, um público, que
assiste ao espectáculo225. Relativamente aos meios de comunicação social, os eventos são
225
Esta abordagem vai ao encontro das preocupações fundamentais aquando da análise de eventos performativos,
defendida por Gay McAuley, Professora honorária do Departamento de Estudos Performativos da Universidade de
245
publicitados, acompanhados (relatados, fotografados, filmados) e divulgados nos diversos
media, em directo ou em diferido (jornais, revistas, televisão, rádio, internet). Neste sentido,
um jogo de futebol pode ser considerado não somente um evento performativo, mas também
um tipo de arte performativa226. A metáfora conceptual FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA emerge
desta noção, sendo que se reflecte nas elaborações metafóricas encontradas em 99
ocorrências.
A fim de sistematizar a análise, optamos por organizar as imagens mescladas de
acordo com as formas artísticas específicas que lhes subjazem e incluímos uma categoria de
âmbito geral, i.e. futebol como arte - Kunst, a saber:
a) cinema (televisão) e teatro;
b) música e dança;
c) arte e entretenimento;
d) espectáculo pirotécnico;
e) arte ornamental de joalharia pintura
O ponto c), arte segundo uma perspectiva artística geral, diz respeito ao desempenho do
jogador, principalmente às suas habilidades técnicas como futebolista227.
A seguinte listagem das referidas categorias está organizada por ordem decrescente,
relativamente ao número total de ocorrências encontradas no âmbito deste domínio.
Sydney: “Fundamental to understanding any kind of performance or performative behaviour is the ability to
describe it and establish what it consists of and I suggest that, regardless of the nature of the performances, some
version of the four-step process involved in my performance analysis schema is necessary if analysts are to explore
in a systematic way the communicative content of any performance or performative event. It should be stressed
that all four steps are necessary if the analysis is to go beyond description and approach the vexed questions of
interpretation and meaning making with some degree of rigour. A performance centred approach to any
performance event, whether this be a theatrical production, a football match, a political demonstration or a court
hearing, can be summed up as the attempt to answer as completely as possible what grammarians call the “wh”
questions: who is doing it, who is it being done for, what is being done and how, where and when is it being done
and why. These deceptively simple questions need to be complemented by two additions: ‘who is paying?’ and
‘who benefits?’. The additions function in a similar way to the sender/receiver categories in an actantial analysis to
oblige the analyst to consider the wider social and cultural context within which the performance is occurring, the
functions it is serving in this wider context and its relation to dominant structures of power and authority. The
questions may seem simple but, if performance analysis and rehearsal studies can be seen as attempts to answer
‘what’ and ‘how’, then it is evident that answering them is complex and difficult, requiring the input of numerous
disciplinary approaches, borrowed from semiotics, ethnography, sociology and linguistics, to name only the most
obvious.” (McAuley, Semiotics Encyclopedia
Online, E. J. Pratt Library - Victoria University, In:
http://www.semioticon.com/seo/P/performance.html# [Consult. 06.03.2011])
226
“Aesthetic performance, already mentioned several times in the preceding paragraphs, can be distinguished
from the other categories in that it involves performances mounted with a view to being witnessed and experienced
as such by both performers and spectators and it includes traditional theatre, performance theatre, and all the
other performing arts and the blurred genres emerging from the interfaces between them all. The notion of cultural
performance has emerged from the very fruitful interactions that have been going on with anthropology and
sociology. Cultural performances include parades, carnivals, official celebrations, commemorative rituals, public
occasions, and national and international sporting contests. They are, as Elin Diamond has put it, occasions wherein
“culture complexly enunciates itself” (Diamond 1996: 6).” (McAuley, Semiotics Encyclopedia Online, E. J. Pratt
Library - Victoria University, In: http://www.semioticon.com/seo/P/performance.html# [Consult. 06.03.2011])
[sublinhado nosso]
227
Vide ponto 3.2.1.
246
a) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria cinema e teatro (62 ocorrências)
EURO 2004 (15)
MUNDIAL 2006 (13)
EURO 2008 (8)
(174) England schaukelte schließlich (187) Von Beginn an waren die Rollen
den Sieg ohne weitere Gelegenheiten klar verteilt.
auf beiden Seiten über die Bühne.
(www.kicker.de – 10.06.2008)
(www.kicker.de – 10.06.2006)
(188) Egal wie gut Lukas Podolski auch
(175) Bei der WM wollen die Jungstars bei
dieser
EM
auftritt,
eine
(160) Zudem sollte Deco an Stelle von Rui den Millionen in den Stadien und an herausragende Rolle beim Deutschen
den
Fernsehgeräten
ihr
Talent Meister scheint ihm verwehrt - zu groß
Costa die Fäden im Mittelfeld ziehen.
beweisen
und
den
gestandenen
Stars ist die Konkurrenz.
(www.kicker.de – 16.06.2004)
der Szene den Rang ablaufen.
(www.spiegel.de – 09.06.2008)
(161) Lediglich Beckham und Owen (www.bild.de – 12.06.2006)
konnten sich nach einer guten halben (176) Deco erzielte zwar einen (189) Die Hiddink-Elf spielte sich
Stunde mit zwei gefährlichen flachen wichtigen Treffer, musste sich das blitzschnell durchs Mittelfeld und
Flankenbällen in Szene setzen, doch Rampenlicht jedoch mit einem versuchte sofort die Spitzen in Szene zu
Rooney verpasste jeweils knapp.
Mitspieler teilen. Beim Auftaktsieg setzen.
(www.kicker.de – 17.06.2004)
gegen Angola hatte der Regisseur (www.kicker.de – 18.06.2008)
wegen der Nachwirkungen einer
(162)
"Waynes
World"
im Fußverletzung nur zusehen können.
(190) Lahm schaltete sich in den Angriff
Freudentaumel. Englands Shootingsstar (www.spiegel.de – 17.06.2006)
ein und wurde dann von Hitzlsperger
Wayne Rooney bringt die "Three Lions"
schön in Szene gesetzt.
mit neuerlichen zwei Treffern auf die (177) Das van-Basten-Team konnte sich (www.kicker.de – 25.06.2008)
Siegerstraße und ins Viertelfinale. im Angriff nicht mehr in Szene setzen,
Kroatien muss nach aufopferungsvollem auch Argentinien spielte nicht mehr so (191) Vielleicht entlud sich hier der
Kampf und mutigem Spiel nach vorne die konsequent.
ganze Frust über seine neue Rolle als
(www.kicker.de – 21.06.2006)
Einwechselspieler (...).
Heimreise antreten.
(www.kicker.de – 21.06.2004)
(178) Juan Roman Riquelme: Der (www.kicker.de – 29.06.2008)
(159) Jeweils vier Akteure von Real
Madrid und des FC Valencia stellten das
Gros der von Spaniens Trainer Ignacio
Saez nominierten Elf.
(www.kicker.de – 12.06.2004)
MUNDIAL 2010 (26)
(195) (...) auch zur Freude von Trainer
Maradona, der bei seiner Rückkehr auf die
WM-Bühne nach 16 Jahren die gesamten
90 Minuten stehend an der Seitenlinie
verfolgte.
(www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(196) Die „Super Eagles“ (...) konnten sich
kaum in Szene setzen.
(www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(197) Südkoreas Ballkünstler haben Otto
Rehhagel die WM-Premiere gründlich
verdorben.
(www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(198) Brasilien: Dunga nimmt Regisseur in
Schutz - Topstar Kaka enttäuscht.
(Kicker Sportmagazin Nr. 49 – 24. Woche
17.06.2010, p.23)
(199) Nachdem die beiden Helden von 2006
beim WM-Auftakt gegen Australien (4:0)
ganz stark spielten, sind sie nun die
tragischen Figuren.
(www.sportbild.bild.de – 18.06.2010)
(200) Um weitere hässliche Kratzer am
Image des Landes zu verhindern, erhielt
Regisseur war Dreh- und Angelpunkt
(163) Rudi Völler wusste schon beim der Argentinier, technisch versiert, (192) EM-Endspiel: Der deutsche Patient Sportministerin Roselyne Bachelot, die sich
ohnehin in Südafrika aufhielt, noch am
Frühstück mehr als Michael Skibbe. «Hallo ragte aus dem Mittelmaß heraus.
(www.kicker.de – 29.06.2008)
Sonntag den Auftrag, die Repräsentanten
Pferdeflüsterer», begrüßte der DFB- (www.kicker.de – 21.06.2006)
von „Les Miserables“ für Montag zu einem
247
Teamchef seinen verdutzten Assistenten,
dem die Zeitungs-Schlagzeile vom Morgen
noch nicht bekannt war. «Ist er der
Fehler-Flüsterer?», titelte das BoulevardBlatt «Bild» mit einem Foto, auf dem
Skibbe hinter seinem Chef steht und ihm
etwas sagt.
(www.stern.de – 23.06.2004)
(164) Ricardo krönt Elfmeter-Krimi!
(www.kicker.de – 24.06.2004)
(165)
Portugal
triumphiert
Elfmeterkrimi
(www.spiegel.de – 24.06.2004)
(179) Es war ein Krimi mit glücklichem (193) Und trotzdem: Ihr habt uns drei
Ausgang für Australien.
wundervolle Wochen geschenkt: Die
(www.spiegel.de – 22.06.2006)
Nerven-Schlacht gegen Österreich, der
Zauber-Sieg gegen Portugal, der Last(180) Ballacks Defensiv-Rolle
Minute-Thriller gegen die Türkei.
(www.spiegel.de – 26.06.2006)
(www.bild.de – 30.06.2008)
(181) Mohrs Deutschlandgefühl
Don‘t cry for us, Argentina
(www.spiegel.de – 30.06.2006)
(182) Italien im Siegestaumel
im Wiedergeboren am 4. Juli
(www.spiegel.de – 05.07.2006)
(183) Klose traf wieder doppelt. Und
(166) Für ihn rückte erneut Owen ins endlich schoß auch Poldi seinen ersten
Rampenlicht.
WM-Treffer. King Knall und Prinz Peng,
(www.spiegel.de – 25.06.2004)
unser
Wirbel-Sturm
einfach
sensationell.
(167)
England
unterliegt
im (www.bild.de – 05.07.2006)
Elfmeterdrama
(184) Der Viertelfinal-Krimi gegen die
(www.spiegel.de – 25.06.2004)
Gauchos (5:3 n.E.).
(www.bild.de – 05.07.2006)
(168) „Spiel mir das Lied vom Tor“
(www.spiegel.de – 26.06.2004)
(185) Mammamia! Schon wieder ein
(169) Deutschland im Es-gibt-kein-Rudi- Mega-Krimi! Klinsi, unsere armen
Völler-mehr-Schock. Der Fußballkönig ist Nerven. Diesmal wurde das Zittern
tot, der Kaiser betritt die Bühne. „Wenn nicht belohnt.
es jetzt einer richten kann“, kommentiert (www.bild.de – 05.07.2006)
Franz Beckenbauer, „dann nur der Ottmar (186) WM-Finale - Der Spielfilm des
Hitzfeld.“
Elfmeterschießens
(www.focus.de – 28.06.2004)
(www.spiegel.de – 09.07.2006)
(194) Diese Rolle schien Ballack und Co.
zu gefallen: Als ob die miserablen
äußeren
Umstände
das
Team
zusammen-geschweißt hätten, ging die
Elf von Co-Trainer Hansi Flick hoch
motiviert und mit vollem Einsatz in die
Partie. (...).
(www.focus.de – 01.07.2008)
Krisengipfel zu bestellen.
(www.sportbild.bild.de – 21.06.2010)
(201) „Wir befinden uns in einer Episode
von Akte X - da dreht jeder durch“ lästerte
der Weltmeister von 1998 und ehemalige
Spieler des FC Bayern.
(www.sportbild.bild.de – 21.06.2010)
(202) Über die Ära Domenech legt sich der
Vorhang. Der Auftritt bei der WM 2010
gehört sicherlich zu den dunkelsten Kapiteln
in der Geschichte des französischen
Fußball.(...) (www.kicker.de – 22.06.2010)
(203) Letzter Vorhang für Otto Rehhagel:
Der Europameister von 2004 hat mit
Griechenland das WM-Achtelfinale verpasst
und sich damit wohl endgültig von der
großen Fußball-Bühne verabschiedet.
(www.sportbild.bild.de – 22.06.2010)
(204) „Superman“ Landon Donovan hat die
USA in allerletzter Minute vor dem WM-Aus
gerettet (…).
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(205) Während Jerome sich vornehmlich auf
seine
Defensivaufgaben
beschränkte,
versuchte Kevin, im Mittelfeld der
Westafrikaner die Fäden zu ziehen.
(www.kicker.de 23.06.2010)
(206) Und immer wieder Noel Valladares:
Hier klärt der Schlussmann der Honduraner
in Superman-Manier gegen Benjamin
Huggel. (www.kicker.de - 25.06.2011)
248
(170) "Die Götter sind
geworden"
(www.spiegel.de – 02.07.2004)
verrückt
(171) (...) ohne großen Titel werden Figo,
Rui Costa, Couto und Co. von der großen
Fußballbühne abtreten.
(www.kicker.de – 02.07.2004)
(172) Goldfinger Otto
(www.spiegel.de – 04.07.2004)
(173) (...) empfehlen die portugiesischen
Medien der Mannschaft des Gastgebers,
erhobenen Hauptes die Bühne zu
verlassen.
(www.spiegel.de – 05.07.2004)
(207) (...) Die WM als Sprungbrett – aktuell
wollen (oder wollten) Profis wie Arne
Friedrich, Marko Pantelic oder Kevin-Prince
Boateng die Bühne in Südafrika nutzen, um
sich so richtig ins Rampenlicht zu rücken.
(...) (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26.
Woche 28.06.2010, p.14)
(208) „Chronik eines angekündigten Todes“
(www.sportbild.bild.de – 03.07.2010)
(209) Insgesammt jedoch bleiben die
Weltstars wie Rooney oder Cristiano
Ronaldo nur unbedeutende Nebenrollen
beim grossen Welttheater des Fussballs.
(Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche
05.07.2010, p.11)
(210) Kicker: Steht das alles os in Ihrem
WM-Drehbuch? Löw: Man weiss ja vor dem
Turnier nicht so genau, welche Einflüsse es
geben kann. (...) (Kicker Sportmagazin Nr.
54 – 27. Woche 05.07.2010, p.24/25)
(211) Der „siegende Holländer“ – ein
Erfolgs-Märchen wird wahr!
(www.sportbild.bild.de – 06.07.2010)
(212) Das Opus in Oranje: Den Titel im
Visier- Exakt nach dem gleichen Muster
aller bisherigen Auftritte lief auch das
Halbfinale ab. (Kicker Sportmagazin Nr. 55
– 27. Woche 08.07.2010, p.18)
(213) Final-Drama gegen Holland
(www.sportbild.bild.de – 11.07.2010)
(214) Internationale Pressestimmen zum
249
WM-Finale Spanien – Holland „Die Biester
0, die Schönen 1“ Fiesta in Spanien
(www.sportbild.bild.de – 12.07.2010)
(215) Mit der Rückkehr des Trainerfuchses
Rabah Saadane feierte Algerien auch wieder
sein Comeback auf der Weltbühne des
Fussballs. (Kicker Sportmagazin Sonderheft
WM 2010, p.162)
(216) Alte Weltmeister: Der 36-jährige
Abwehrchef Fabio Cannavaro und der 31jährige Regisseur Andrea Pirlo zählen
immer noch zu Italiens Korsettstangen.
(Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010,
p.170)
(217) (...) Regisseur Deco soll das Tempo
bestimmen, mit klugen pässen das Spiel
verlagern, Räume öffnen und die Stürmer
einsetzen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft
WM 2010, p.180)
(218) Der englische Patient – Bangen um
Schweinsteiger (vor dem Spiel mit England,
Schweinsteiger und Boateng sind verletzt)
(www.kicker.de/news/video)
(219) Les Miserables –
schokierendes WM-Aus
(www.kicker.de/news/video)
Frankreichs
(220) Don’t cry for me
(www.kicker.de/news/video)
Maradona
250
b) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria música e dança (17 ocorrências)
EURO 2004 (3)
MUNDIAL 2006 (5)
EURO 2008 (2)
MUNDIAL 2010 (7)
(221) Die Musik spielte weiter auf der
anderen Seite: Pauleta scheiterte erneut
mit einer Großchance allein vor van der
Sar (...)
(www.kicker.de – 26.06.2004)
(224) Spiel drei bei dieser Weltmeisterschaft
begann mit einem Paukenschlag: (...)Acht
Meter vor dem Tor wischte das Sportgerät
Paraguays Kapitän Gamarra über den
Hinterkopf und flog von dort unhaltbar für
Keeper Villar ins rechte untere Eck (3.).
(www.kicker.de – 10.06.2006)
(229) Oliver Bierhoff (Teammanager
Deutschland): "Jetzt müssen wir im
letzten Gruppenspiel unbedingt gegen
Österreich gewinnen. Wir wissen, wie
groß die Rivalität zwischen beiden
Teams ist und vor allen Dingen in Wien
wird das ein ganz heißer Tanz."
(www.kicker.de – 12.06.2008)
(231) Angetrieben von Weltfußballer Lionel
Messi hat das Offensivballett von Diego
Maradona seine WM-Mission erfolgreich
begonnen.
(www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(222) Schluss mit Fado, hier kommt Figo
Portugal steht zum ersten Mal in seiner
Geschichte im Endspiel eines großen
Turniers. SPIEGEL ONLINE zeigt in einer
Fotostrecke die schönsten Momente des
2:1-Halbfinalsieges gegen die Niederlande.
(www.spiegel.de – 01.07.2004)
(225) Brasilien-Kroatien Samba ohne
Rhythmus - Ronaldinho enttäuschte,
Ronaldo spielte unterirdisch. Die Seleção
quälte sich bei der Begegnung gegen
Kroatien zum Sieg. Dabei hatten die
Brasilianer Glück, dass der Gegner seine
Torchancen nicht nutzen konnte.
(223) Blick: Europa tanzt Sirtaki. Die
(www.spiegel.de – 14.06.2006)
Portugiesen fielen aus dem Takt wie einst
Anthony Quinn im Film Alexis Sorbas.
(226) Mit einem Paukenschlag begann die
(www.spiegel.de – 05.07.2004)
Partie im FIFA WM-Stadion Köln: Noch nicht
einmal zwei Minuten waren gespielt, als es
schon im Gehäuse von Welttorhüter Cech
einschlug. (www.kicker.de – 17.06.2006)
(227) Brasiliens WM-Aus
Blues statt Samba: Frankreich ist Brasiliens
Angstgegner, seit dem blamablen Finale von
1998 ist jeder Einsatz gegen die "Blauen" mit
traumatischen Erinnerungen verbunden.
(www.spiegel.de – 02.07.2006)
(228) Metzelder und Mertesacker zeigten
sich aber gut abgestimmt.
(www.kicker.de – 04.07.2006)
(232) Krasic tanzte Badstuber aus, flankte in
die Mitte auf den 202 Zentimeter langen Nikola
Zigic, der erstaunlicherweise vom 32
(230) (...) die Spanier haben das mit Zentimeter kleineren Lahm bewacht wurde,
ihrer
spielerischen
Klasse
dann Zigic köpfte zur Mitte (...).
ausgespielt. Anders als 2006 hatten wir (www.sportbild.bild.de – 18.06.2010)
nie diesen besonderen Rhythmus.
(233) Mit Samba-Fußball ins Achtelfinale
(www.sportbild.de – 29.06.2008)
(www.sportbild.bild.de – 20.06.2010)
(234) Die bereits früh dezimierten Franzosen
verabschiedeten sich sang- und klanglos aus
dem Turnier. (www.kicker.de – 22.06.2010)
(235) Mehr Kalkül als Kunst
Auftritte von Solisten wie Messi oder David
Villa, Wesley Sneijder, Diego Forlan oder Mezut
Özil. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche
05.07.2010, p.11)
(236) Xavi (30) - Er prägt der Rhythmus der
Mannschaft (...). Der Regisseur ist kaum vom
Ball zu trennen. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 –
27. Woche 05.07.2010, p.31)
(237) Ein Hauch von Samba – Brasilien in
Viertelfinale (www.kicker.de/news/video)
251
c) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte e espectáculo de entretenimento geral (entertainment) (15 ocorrências)
EURO 2004 (3)
MUNDIAL 2006 (2)
EURO 2008 (1)
MUNDIAL 2010 (9)
(238) Der Kampfkünstler: Torsten Frings
erscheint wie der letzte Vertreter alter
deutscher Fußballtugenden – und ist
deshalb heiß begehrt.
(www.focus.de – 07.06.2004)
(241) Pelé: „(...) So werden wir bei der WM
Fußball-Kunst sehen. Ich freue mich auf
Ronaldinho.“
(www.bild.de – 11.06.2006)
(243) Mit einer Fußball-Gala fegten
Ronaldo & Co. die Türkei beim EMAuftakt aus dem Stadion.
(www.bild.de – 09.06.2008)
(244) Der Dribbelkünstler vom englischen
Premier-League-Klub Manchester United
leidet an einer Verletzung der linken Schulter,
die sein Mitwirken beim Turnier am Kap
unmöglich macht.
(www.sportbild.bild.de – 08.06.2010)
(239) Frings' Kunststoß reichte nicht.
(www.kicker.de – 15.06.2004)
(240) Erst in der Schlussphase gelang
Ibrahimovic mit einem Kunststoß der etwas
glückliche Ausgleich.
(www.kicker.de – 18.06.2004)
(242) (...) doch auch ohne die Künste des
Turiners marschierte Frankreich nun einem
sicheren Sieg entgegen.
(www.kicker.de – 23.06.2006)
(245) Südkoreas Ballkünstler haben Otto
Rehhagel die WM-Premiere gründlich verdorben. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(246) Auftakt-Gala! Deutschland putzt Aussies
4:0 (www.sportbild.bild.de – 13.06.2010)
(247) Showdown in Port
Deutschland gegen Serbien
(www.kicker.de – 18.06.2010)
Elizabeth:
(248)
Nordkorea:
Jong
wieder
als
Alleinunterhalter (...). (Kicker Sportmagazin
Nr. 50 – 25. Woche 21.06.2010, p.35)
(249) (...) außerdem spielte sich Thomas
Müller bei der Gala-Vorstellung ins
Rampenlicht. (www.kicker.de –27.06.2010)
(250) (...) weil selbst Ballartisten wie Xavi und
Iniesta
ungewöhnlich
viele
Fehlpässe
unterliefen.
(www.sportbild.bild.de – 29.06.2010)
(251) Der blonde Engel - Die One-Man-Show
des uruguayischen Märchenautors der
Neuzeit. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27.
252
Woche 05.07.2010, p.8
(252) Frankfurter Rundschau: „Spanien ist
Fußball-Weltmeister
2010.
Im
FinalShowdown schießt der Spieler vom FC
Barcelona das 1:0 in der 116. Minute. Ein
historischer Sieg.”
(www.sportbild.bild.de – 12.07.2010)
d) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria espectáculo pirotécnico (3 ocorrências)
EURO 2004
MUNDIAL 2006
EURO 2008 (1)
MUNDIAL 2010 (2)
(253) Oranje-Feuerwerk zündete nicht
Wie schon die Partie am Vortag fand
auch das Viertelfinalspiel zwischen den
Niederlanden und Russland in der
regulären Spielzeit keinen Sieger.
(www.kicker.de 21.06.2008)
(254) Selecçao zündet nach der Pause ein
Feuerwerk (www.kicker.de – 21.06.2010)
(255) Offensivfeuerwerk von Tiago und Co.(...)
Nach der Pause brannte Portugal ein
Offensivfeuerwerk ab (...). (Kicker Sportmagazin Nr. 51 – 25. Woche 24.06.2010, p.32)
e) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte ornamental de joalharia e pintura (2 ocorrências)
EURO 2004
MUNDIAL 2006 (1)
(256) Kaum ein Treffer bei dieser WM war
schöner als der des Argentiniers Maxi
Rodriguez beim Erfolg über Mexiko. Im
Interview spricht der Filigrantechniker über
seinen siegbringenden Schuss, die Euphorie
in der Heimat und die Stärke des
Viertelfinalgegners Deutschland.
(www.spiegel.de - 25.06.2006)
EURO 2008
MUNDIAL 2010 (1)
(257) Den ersten Farbtupfer der
unterhaltsamen Partie unter der Leitung
des deutschen Schiedsrichters Wolfgang
Stark setzte Chinedu Obasi (...) dessen
Schuss jedoch weit am Tor vorbei ging.
(www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
253
De acordo com Brandt (2004a), Brandt/Brandt (2005a) apresentamos, de seguida, o
esquema representativo da rede de modelos mentais, relativamente à macro-metáfora
conceptual FUTEBOL É MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA:
Espaço Semiótico de Base
Espaço de Referência
Espaço de Apresentação
Cinema
Teatro
Jogadores
Arte,
Enterteni- Formas
mento de Arte
Expressões
metafóricas
Arte,
Pirotécnica
Música
Dança
Outros FUTEBOL CampeoInterveninato
entes
Joalharia
e Pintura
Cenário das Manifestações artísticas/
Experienciação estética
e emocional
Equipa
Jogo
Jogadas
FUTEBOL
COMO
ARTE
Espaço Virtual
(Blend)
Esquema dinâmico de
Relevância
(Relevance-Schema)
Inferências
Emergentes
Futebol pode ser uma fonte
O Futebol é
bonito,
emocionante e dá
prazer assistir!
Espaço do
Significado
de emoções.
Figura 36: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Forma de Arte
No espaço de Apresentação encontramos a arte, ou formas artísticas, como domínio-fonte. Os
mapeamentos processam-se entre os diferentes sub-domínios, aqui representados pelas
pequenas esferas inscritas no espaço de Apresentação, e o domínio-alvo do futebol. No espaço
virtual (blend) emerge então a imagem mesclada FUTEBOL É ARTE ou FORMA ARTÍSTICA. O
espaço semiótico de base, um domínio que engloba três realidades - o mundo
fenomenológico, conceito já explorado anteriormente, o contexto de comunicação situacional
que neste estudo se centra na imprensa desportiva alemã e a própria realização metafórica configura a génese do espaço de relevância: “the relevant framing” (Brandt/Brandt, 2005a).
Este enquadramento pressupõe o conhecimento que o leitor possui do conceito de arte como
254
também o reconhecimento que este domínio é distinto do domínio do futebol. Tendo em
conta o enquadramento situacional e contextual, o leitor consegue concentrar a sua atenção
apenas nos aspectos relevantes subjacentes ao conceito de arte. Estes constituem-se como
elementos estabilizadores da imagem virtual pois evidenciam a ou as estruturas partilhadas
pelos dois domínios. A focalização da atenção - attentional focus (Brandt/Brandt, op.cit.) resulta do poder conceptual que o contexto exerce na construção das imagens mentais.
Nesta análise específica, pensamos que os conceitos de beleza artística, do poder de
atracção e admiração por objectos ou espectáculos artísticos, e principalmente a noção de
prazer que advém da sua contemplação, i.e. é experiência vivida das emoções evocadas pelas
diferentes formas de arte, afiguram-se como fundamentos facilmente partilhados. Daí resulta
o espaço do significado final: o futebol é bonito e admirável, é emocionante e dá prazer. A
inferência emergente poderá ser, consequentemente, a seguinte: o futebol é uma fonte de
emoções variadas, despertadas pela beleza do jogo e a exibição de habilidades técnicas, pois
de acordo com a definição da palavra ‘arte’ que provém do latim “ars: ‘técnica ou habilidade’,
esta é geralmente entendida como a actividade humana ligada a manifestações de ordem
estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objectivo de
estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores.”228 É interessante
verificar que em alemão, Kunst, que deriva do antigo e médio alto alemão, para além do
significado de habilidade, acrescenta a noção de conhecimento. A partir deste pressuposto,
alargou-se o escopo do conceito de Kunst, passando a englobar a noção de competência
excepcional, inata ou adquirida, num determinado campo.229 Esta ampliação do conceito de
arte possibilita que o desporto, neste caso, o futebol possa ser conceptualizado como uma
forma de expressão artística.
Em suma, “Wie bei einem Theaterstück oder einer Seriendramaturgie, gibt es
Protagonisten und Antagonisten, Helden und Schurken, eine Kulisse, ein Publikum,
Höhepunkte, Konflikte, Souffleure, Regisseure, usw. Umrahmt wid dieses Ereignis durch ein
Vor- und ein Nachspiel.“ (Schlobinski, 2002:51)
De acordo com o critério de selecção de ocorrências anteriormente estabelecido,
iremos proceder à análise de aproximadamente um terço (33%) da totalidade das 99
ocorrências identificadas relativamente ao presente domínio.
228
In: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=1124 [Consult. 06.03.2011]
“Kunst, die; -, Künste [mhd., ahd. kunst, urspr. = Wissen(schaft), auch: Fertigkeit, zu können]: 1. schöpferisches
Gestalten aus den verschiedensten Materialien od. mit den Mitteln der Sprache, der Töne in Auseinandersetzung mit
Natur u. Welt 2. das Können, besonderes Geschick, [erworbene] Fertigkeit auf einem bestimmten Gebiet: die
ärztliche K.; Politik ist die K. des Möglichen (nach verschiedenen ähnlichen Äußerungen Bismarcks); Bachs K. der
Fuge (Klavierwerk mit exemplarischen Fugen- u. Kanonkompositionen, die auf dasselbe Thema zurückgehen); die K.
des Reitens; die K. des Schweigens (die Fähigkeit zu schweigen).“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM)
229
255
a) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria cinema e teatro
O domínio das artes de representação, cinema e teatro, afigura-se com 62 ocorrências
como o mais produtivo e criativo no que concerne a construção de imagens mentais
emergentes da metáfora conceptual em análise.
Teatro (do Grego "theatron") é um ramo das artes que consiste na representação de
histórias frente a uma audiência, usando combinações de discursos, gestos, música, dança e
som, apoiado por cenários e adereços. Recorde-se que o termo teatro para os Gregos, como
para os Romanos, designava o espaço cénico e o espaço da assistência, o conjunto
arquitectónico onde se desenrolariam géneros como o drama, a tragédia, a comédia, etc. Para
além da narrativa e do diálogo, o teatro toma outras formas, como é o caso da Ópera
(ocorrências (474) e (475)). A consolidação do teatro, enquanto espectáculo na Grécia antiga,
deu-se em função das manifestações em homenagem ao deus do vinho, Dionísio. Com cada
nova colheita, era realizada uma festa em agradecimento ao deus, que incluía realização de
procissões conhecidas como "Ditirambos". Com o passar do tempo, estas foram tornando-se
cada vez mais elaboradas, e daí, surgiram os organizadores das procissões, os "directores de
Coro". O "Coro" era composto pelos narradores da história, que através da representação,
canções e danças, relatavam as histórias do personagem. Ele era o intermediário entre o actor
e a plateia, verbalizava os pensamentos e sentimentos, além de revelar, igualmente, o
desfecho.
A origem da tragédia, na antiguidade grega, não é, contudo, totalmente consensual.
Aristóteles, na sua Poética, apresenta três versões para o aparecimento da tragédia. A primeira
versão argumenta que a tragédia, e o teatro, nasceram das celebrações e ritos dedicados a
Dionísio nas quais as pessoas bebiam vinho até ficarem embriagadas, o que lhes permitia
entrar em contacto com o deus homenageado. Homens fantasiados de bodes (em grego,
tragos) encenavam o mito de Dionísio e a sua dádiva à humanidade: o vinho. A segunda versão
relaciona o teatro com os Mistérios de Eleusis, uma dramatização anual do ciclo da vida, i.e.,
do nascimento, crescimento e da morte. A semente era o ponto principal dos mistérios, pois a
morte da semente representava o nascimento da árvore que, por sua vez, traria novas
sementes. A terceira concepção para o nascimento da tragédia, vozeada por Aristóteles, é de
que o teatro nasceu como homenagem ao herói dório Adrausto que permitiu o domínio dos
Dórios sobre os demais povos indo-europeus que habitavam a península. O teatro seria a
dramatização pública da saga de Adrausto e seu triste fim.
A tragédia não era vista com pessimismo pelos gregos, mas antes como um momento
educativo. Tinha a função de ensinar as pessoas a buscar a sua medida ideal, i.e. o equilíbrio na
256
sua própria personalidade. Para o filósofo de Estagira, a função principal da tragédia era, no
entanto, a catarse, o processo de auto-reconhecimento através da observação a sua própria
vida como se estivesse do lado de fora. Este processo permitiria que as pessoas lidassem com
problemas não resolvidos no seu dia-a-dia, exteriorizando suas emoções. A catarse ocorreria
quando o herói passava da felicidade para a infelicidade por não ter encontrado o equilíbrio no
seu caminho230. Talvez tenha sido essa função libertadora principal responsável pela crescente
popularidade do teatro.
O teatro contemporâneo contempla todos os domínios da vida humana, desde a
comédia social à renovação de valores como o heroísmo e a religião, abordando temas sociais
e
históricos,
psicológicos
e
existenciais231.
Diversas
correntes
teatrais
coexistem
harmoniosamente o que se traduz numa oferta diversificada de espectáculos à disposição do
público. Público, que a partir 1895 se confrontou com uma nova forma de arte representativa:
o cinema. O cinematógrafo, inventado pelos irmãos franceses Louis e Auguste Lumière,
adquiriu rapidamente grande popularidade na Europa e na América do Norte, como fonte de
entretenimento, veículo ideológico e documentário. Ao longo do tempo, os desenvolvimentos
técnicos sucederam-se e levaram a grandes modificações dos estilos predominantes. Desde a
sincronização da imagem com o som, passando pela introdução da cor e de formatos mais
largos, depois, pelo desenvolvimento dos efeitos especiais, e, mais tarde ainda, à técnica do
3D, foram muitos os progressos que acarretaram mudanças radicais na estética das produções
cinematográficas. Também os géneros se foram definindo, sendo que se tornaram
reconhecíveis diferentes correntes cinematográficas, como é o caso das comédias amorosas,
dos filmes de guerra, dos westerns, dos policiais, da ficção científica, da animação, dos
musicais, etc.
Devido à sua ampla difusão internacional e social, pois é igualmente apreciado por
pessoas de todos os países e todas as classes, o cinema pode ser considerado um dos
componentes distintivos da cultura do nosso tempo. É, de facto, marcado por um cunho
universal capaz de derrubar barreiras psicológicas, sociais, culturais, políticas e ideológicas. Na
verdade, a notoriedade de algumas das suas produções e figuras abrange várias gerações, em
vários países e grupos sociais. Muitas das concepções sobre o heroísmo, a justiça, a
investigação policial, certas épocas e personalidades históricas, certos sentimentos, etc., são
moldados e cunhados pelas obras cinematográficas. A importância do cinema reflecte-se,
230
Vide: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=188 [Consult. 06.03.2011]
Vide: História do teatro; In: Infopédia Porto: Porto Editora, 2003-2011; http://www.infopedia.pt/$historia-doteatro> [Consult. 06.03.2011]
231
257
igualmente, na programação televisiva quer pela transmissão de filmes, quer pela adopção de
muitos elementos dos vários géneros cinematográficos na sua produção própria.232
Nas ocorrências encontradas é possível reconhecer equivalências em termos de
mapeamentos conceptuais que podem ser sistematizadas na seguinte tabela:
Domínio-fonte: Cinema / Teatro
Domínio-alvo: Futebol
I. Palco
O futebol, campeonato, jogo
II. Cena
Jogada importante
III. Papel
Função/Posição do jogador
IV. Actor
Jogador de futebol
V. Actuação
Participação no campeonato
VI. Realizador
Jogador influente/Treinador
VII. Estar sob os holofotes/ projectores
Assumir uma função importante no jogo/ter a
de luz
fama de jogador influente
VIII. O cair do pano
Fim do jogo/campeonato
IX. Guião
Plano de jogo (tácticas/estratégias)
Figura 37: Tabela de correspondências conceptuais
Vejamos as elaborações metafóricas nas quais se reconhecem imagens mescladas que
assentam na conceptualização do desporto futebol, numa perspectiva global, como um palco:
(203) Letzter Vorhang für Otto Rehhagel: Der Europameister von 2004 hat mit
Griechenland das WM-Achtelfinale verpasst und sich damit wohl endgültig von
der großen Fußball-Bühne verabschiedet.
Note-se que, para que este palco seja conceptualizado metonimicamente - a parte pelo
todo233, ou seja, o palco pelo teatro - de forma a tornar claro que nestas ocorrências, o futebol
é perspectivado como um todo, englobando todas as suas vertentes. A elaboração metafórica
recorre ao substantivo composto: “Fussball-Bühne”, intensificado pelo adjectivo “groß”,
realçando, adicionalmente, a sua grandeza. Nesta ocorrência comunica-se o fim da carreira do
treinador Rehagel, conceptualizado como o abandono e a despedida definitiva do palco. A
afirmação é ainda reforçada: a eliminação da selecção grega do campeonato, e,
consequentemente, o fim da participação do treinador, é conceptualizada como o último cair
232
Vide: Cinema; In: Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2011; http://www.infopedia.pt/$cinema>.[Consult.
06.03.2011]
233
Vide: Lakoff/Johnson (1980:36-40)
258
do pano (mapeamento VIII da tabela), sendo o último jogo realizado por estes, a sua última
representação teatral234.
Na seguinte ocorrência,
(169) Deutschland im Es-gibt-kein-Rudi-Völler-mehr-Schock. Der Fußballkönig ist tot,
der Kaiser betritt die Bühne. „Wenn es jetzt einer richten kann“, kommentiert Franz
Beckenbauer, „dann nur der Ottmar Hitzfeld.“235
o universo do futebol conceptualizado como palco, surge ainda mais alargado, pois engloba a
esfera do comentário desportivo acerca das estruturas organizativas do futebol (a federação
nacional, por exemplo). O treinador da selecção nacional alemã renunciou ao seu cargo pelo
que a Alemanha se viu, inesperadamente, sem treinador. O conselho surge de uma figura
proeminente do futebol alemão, Franz Beckenbauer. Estamos perante uma arquitectura
conceptual mais elaborada no que concerne a complexidade da imagem mental: O universo do
futebol é o teatro, conceptualizado metonimicamente como um palco, mas nem todos os
intervenientes são actores e realizadores, i.e. jogadores ou treinadores. O conhecimento de
background do leitor (i.e. Franz Beckenbauer: um antigo jogador/treinador alemão e a figura
mais respeitada do futebol alemão) é essencial, pois, para além de conferir credibilidade às
opiniões por ele emitidas, legitima a sua “entrada em cena”. Beckenbauer será, assim, um
perito, um profundo conhecedor do domínio, que sobe ao palco para transmitir aos demais a
sua opinião avalizada.
Na ocorrência (174) a conceptualização centra-se no jogo de futebol, enquanto na
ocorrência (173) a conceptualização abrange tanto o jogo em questão (a final do campeonato
europeu de 2004, Portugal contra a Grécia, que a selecção portuguesa perdeu) como também
todo o campeonato europeu.
(173) (...) empfehlen die portugiesischen Medien der Mannschaft des Gastgebers,
erhobenen Hauptes die Bühne zu verlassen.
(174) England schaukelte schließlich den Sieg ohne weitere Gelegenheiten auf beiden
Seiten über die Bühne.
A expressão “über die Bühne gehen/bringen” significa, coloquialmente, completar uma tarefa
com sucesso: “Büh|ne, die; *etw. über die B. bringen (ugs.; etw. [erfolgreich] durchführen);
über die B. gehen (ugs.; in bestimmter Weise verlaufen, ablaufen): der Prozess ging schnell,
234
O “cair do pano” no final de uma representação teatral é uma imagem muito produtiva em termos de
conceptualizações metafóricas. Embora abrangesse um vasto conjunto de domínios, o significado emergente é
idêntico: o “cair do pano” é sempre o fim de algo.
235
Esta ocorrência voltará a ser analisada no ponto Imagens Mescladas: FUTEBOL - REALEZA
259
glatt über die B.“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM). O verbo “schaukeln” indica que a
tarefa foi concluída de forma hábil: “schau|keln <V.> 4. (salopp) durch geschicktes Lavieren,
Taktieren o. Ä. bewerkstelligen, zustande bringen <hat>: wir werden die Sache schon s.“
(Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM).
A elaboração metafórica aponta para a seguinte
conceptualização: um jogo de futebol concluído com sucesso, i.e. uma vitória, é uma peça de
teatro bem representada. Ao bom desempenho dos jogadores corresponde uma boa
representação dos actores. Contudo, nem sempre o bom desempenho conduz a uma vitória,
tal como o sucesso de uma peça nem sempre depende da capacidade representativa dos
actores. Se assim for, os intervenientes merecem o reconhecimento do público e podem
abandonar o palco, orgulhosos do seu desempenho236.
As próximas ocorrências dizem respeito às movimentações no palco: o entrar, estar
em e sair de cena:
(161) Lediglich Beckham und Owen konnten sich nach einer guten halben Stunde mit
zwei gefährlichen flachen Flankenbällen in Szene setzen, doch Rooney verpasste
jeweils knapp.
(175) Bei der WM wollen die Jungstars den Millionen in den Stadien und an den
Fernsehgeräten ihr Talent beweisen und den gestandenen Stars der Szene den
Rang ablaufen.
A capacidade de, como jogador individual ou como equipa, assumir um papel
relevante no jogo ao desenvolver jogadas eficazes e perigosas, i.e. tornar-se visível, é
conceptualizada como uma entrada em cena - “sich in Szene setzen”. O jogo, como peça
teatral, é composto por cenas e quanto melhor a exibição futebolística dos jogadores, mais
marcante e saliente se torna a cena e o actor que a compõe. O desejo de visibilidade está
particularmente patente na ocorrência (175). Os jogadores de renome, os que já assumiram o
estatuto de estrelato (Stars - metáfora convencionalizada para pessoa extremamente famosa),
236
Esse orgulho é conceptualizado através da metáfora orientacional GOOD IS UP e, consequentemente, VIRTUE IS
UP presente em erhobenen: “Physical and social basis: GOOD IS UP for a person (physical basis), together with
SOCIETY IS A PERSON (in the version where you are not identifying with your society). To be virtuous is to act in
accordance with the standards set by the society/person to maintain its well-being. VIRTUE IS UP because virtuous
actions correlate with social well-being from the society/person's point of view. Since socially based metaphors are
part of the culture, it's the society/person's point of view that counts.” (Lakoff/Johnson, 1980:17) assim como
através da conceptualização metafórica da cabeça como centro do orgulho e brio, presente em Hauptes. A
conceptualização da experiência humana assenta no paradigma cognitivo da corporização (embodiment): “The
‘embodiment’ of meaning is perhaps the central idea of the cognitive linguistic view of metaphor and indeed of the
cognitive linguistic view of meaning. As can be expected, the human body plays a key role in the emergence of
metaphorical meaning (…)” Kövecses (2002:16). Neste sentido, a cabeça é a entidade visível relativamente a certas
emoções e atitudes, tais como o orgulho (conceptualização presente na elaboração metafórica: “estar de cabeça
erguida”), o receio de enfrentar problemas (“enfiar a cabeça na areia”), o desespero (“bater com a cabeça na
parede”), a teimosia (“marrar contra a parede”) ou a ausência de concentração (“estar com a cabeça no ar”) para só
referir alguns exemplos.
260
estão, à partida, sempre em cena, pois a sua celebridade assenta, exactamente, na sua
qualidade exibicional. Os jogadores de sucesso mais jovens - “Jungstars” - pretendem
conquistar o estrelato e assumir um papel de relevo no contexto futebolístico. Note-se que, tal
como no contexto teatral, verificamos a existência de uma estrutura hierarquizada (actores
principais, actores secundários, figurinos) em termos de categorias internas - “Rang”237. Partese, contudo, do princípio de que os papéis estão definidos antes do início do espectáculo. Cada
jogador tem uma determinada posição, exerce a função que lhe fora atribuída e assume, ou
não, o respectivo protagonismo, tal como as seguintes ocorrências atestam:
(188) Egal wie gut Lukas Podolski auch bei dieser EM auftritt, eine herausragende
Rolle beim Deutschen Meister scheint ihm verwehrt - zu groß ist die Konkurrenz.
(209) Insgesammt jedoch bleiben die Weltstars wie Rooney oder Cristiano
Ronaldo
nur
unbedeutende
Nebenrollen
beim
grossen
Welttheater
des
Fussballs.
Em virtude deste enquadramento, os jogadores são actores:
(159) Jeweils vier Akteure238 von Real Madrid und des FC Valencia stellten das Gros der
von Spaniens Trainer Ignacio Saez nominierten Elf.
e personagens de uma tragédia:
(199) Nachdem die beiden Helden von 2006 beim WM-Auftakt gegen Australien
(4:0) ganz stark spielten, sind sie nun die tragischen Figuren.
A tragédia reside no mau desempenho de dois jogadores da selecção alemã, Klose e Podolski,
considerados os principais responsáveis pela derrota da Alemanha contra a selecção da Sérvia
(“Zwei Szenen der 0:1-Pleite gegen Serbien bleiben besonders in Erinnerung. Der dumme
Platzverweis von Miroslav Klose und der verschossene Strafstoß von Lukas Podolski.”
(sportbild.bild.de)). Em contrapartida, um jogador com um desempenho positivo e
particularmente influente no jogo, dirigindo e orientando toda a equipa em direcção ao
objectivo comum - a vitória - ultrapassa a categoria de actor e torna-se um realizador. Devido à
sua acção estrategicamente decisiva, em termos de construção de jogo, o jogador/realizador é,
237
“Rang 1. [frz.] m. 2 Stellung, Stufe; im Theater: Stockwerk; jmdm. den Rang streitig machen: mit jmdm.
wettstreiten, wetteifern; ein Künstler ersten, zweiten Ranges; 2. nur in der Wendung jmdm. den Rang ablaufen:
(eigtl.: den Weg abschneiden), jmdm. zuvorkommen, jmdn. übertreffen.“ (BERTELSMANN Wörterbuch,
In:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=rang
[Consult.
06.03.2011])
238
„Akteur, der; entlehnt aus frz.acteur >Schauspieler, handelnde Person<: kein Bühnendarsteller, sondern :→
Spieler (häufig mit positiv-lobendem Unetrton)“ (Burkhardt, 2006a:26)
261
normalmente, o médio-centro, no qual toda a equipa se apoia para a tomada de decisões em
cada situação de jogo ofensivo, sendo caracterizado pela sua lucidez e inteligência no campo.
(176) Deco erzielte zwar einen wichtigen Treffer, musste sich das Rampenlicht jedoch
mit einem Mitspieler teilen (...).
(217) (...) Regisseur Deco soll das Tempo bestimmen, mit klugen pässen das Spiel
verlagern, Räume öffnen und die Stürmer einsetzen.
A ocorrência (176) remete para a conceptualização da fama e proeminência através da
imagem do foco de luz dos holofotes, equipamento de iluminação essencial tanto no teatro
como no cinema e até mesmo nos espectáculos musicais e de dança. Os holofotes projectam
um foco de luz que dirige a atenção da audiência para um ponto determinado, em detrimento
do restante do palco. O actor debaixo desse foco torna-se o centro das atenções e tem,
naquele momento, o papel principal. Tal como os actores almejam esse momento de fama,
também os jogadores procuram colocar-se nessa posição privilegiada. Para muitos jogadores,
a mera participação num campeonato europeu ou mundial equivale ao momento de fama
almejado. Assim sendo, estar debaixo da iluminação do estádio (“Flutlicht”) é como estar a
actuar debaixo dos projectores de iluminação do teatro (“Rampenlicht”). Espera-se que as
actuações sejam providas de qualidade exibicional e interesse desportivo. Mas nem sempre é
esse o caso:
(202) (...) Der Auftritt239 bei der WM 2010 gehört sicherlich zu den dunkelsten
Kapiteln in der Geschichte des französischen Fußballs.(...)
No mundo do teatro ou do cinema, uma peça ou um filme tem um suporte escrito,
uma obra literária ou simplesmente um guião, que serve de base à actuação dos actores:
(210) Kicker: Steht das alles so in Ihrem WM-Drehbuch? Löw: Man weiss ja vor dem
Turnier nicht so genau, welche Einflüsse es geben kann. (...)
239
Registe-se que a expressão Auftritt é metaforicamente motivada. É composta pela preposição espacial auf: "auf
[mhd., ahd. uf]: I. <Präp. mit Dativ u. Akk.> 1. (räumlich) a) <mit Dativ> zur Angabe der Berührung von oben, der
Lage; b) <mit Akk.> zur Angabe der Richtung; bezieht sich auf eine Stelle, Oberfläche, auf einen Erstreckungsbereich,
einen Zielpunkt o. Ä.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM), e o nome Tritt, o movimento de colocar o pé em cima
de algo: “Tritt, der; -[e]s, -e [mhd. trit, zu treten]: 1. (bes. beim Gehen) das einmalige Aufsetzen eines Fußes. tre|ten
<V.> [mhd. treten, ahd. tretan]: 1. einen Schritt, ein paar Schritte in eine bestimmte Richtung machen; sich mit
einem Schritt, einigen Schritten an eine bestimmte Stelle bewegen.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM). Neste
sentido o Auftritt “Auf|tritt, der; -[e]s, -e: 1. (Theater) das Auftreten des Schauspielers auf der Bühne: vor seinem A.
Lampenfieber haben; auf seinen A. warten; seinen A. verpassen. 2. (Theater) Teil eines Aufzugs, Szene: der fünfte
Akt hat nur zwei -e.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM), emerge do movimento físico e espacial do ‘pisar de uma
superfície mais elevada’, exactamente o que acontece quando pisamos o palco, que se encontra, habitualmente, a
um nível superior relativamente aos lugares dos espectadores. Apesar do campo de futebol se encontrar a um nível
inferior no que concerne o público, sendo o campo conceptualizado como um palco, o Auftritt mantém-se, de
acordo com o cenário conceptual criado.
262
Neste caso, trata-se do planeamento em termos de tácticas e estratégias de jogo, assim como
na escolha dos jogadores a integrar a equipa inicial para cada jogo por parte do seleccionador
alemão Joachim Löw, aquando do campeonato mundial de 2010. O significado emergente
deste mapeamento será, consequentemente: o treinador está a fazer um bom trabalho e sabe
como atingir a vitória no campeonato.
Cada jogo é diferente e tanto o desenrolar do mesmo, como o resultado final, suscitam
um leque variado de emoções. Diferentes géneros fílmicos causam igualmente emoções
diversas: num policial, por exemplo, o espectador pode sentir o suspense e anseia pela
resolução do mistério que pode ou não corresponder às suas expectativas. Um filme de terror
pode suscitar medo e angústia, sendo que um drama tensão e tristeza. Neste sentido, emerge
a seguinte imagem mesclada: o público de um jogo de futebol é idêntico ao público de uma
peça cinematográfica pois experiencia as mesmas emoções:
(164) Ricardo krönt Elfmeter-Krimi!
(186) WM-Finale - Der Spielfilm des Elfmeterschießens
(193) Und trotzdem: Ihr habt uns drei wundervolle Wochen geschenkt: Die
Nerven-Schlacht gegen Österreich, der Zauber-Sieg gegen Portugal, der LastMinute-Thriller gegen die Türkei.
(213) Final-Drama gegen Holland.
De acordo com estas ocorrências, sempre que a vitória tenha sido decidida por grandes
penalidades, a emoção atinge um auge devido à total imprevisibilidade do resultado final, tal
como acontece num filme policial ou thriller.
Uma vez exploradas e contextualizadas as ocorrências, propomos a seguinte tabela de
espaços mentais:
Ocor.
(203)
(169)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Letzter Vorhang;
Fussball-Bühne
(o cair do pano
no fim do
espectáculo)
O fim da carreira
do treinador Otto
Rehagel
O fim da carreira
de treinador
como cair do
pano
Cenário do
teatro
Obrigada e
adeus, Rehagel!
Franz
die Bühne
Franz Beckenbauer
Beckenbauer
betreten (o actor comenta a saída do
como actor
principal entra em
seleccionador
principal a entrar
cena)
alemão
em cena
Cenário do
teatro
Beckenbauer é o
maior!
Texto
263
(173)
(174)
(161)
(175)
(188)
(209)
erhobenen
Hauptes die
Derrota da selecção
Bühne verlassen portuguesa na final
(saída do actor de
do Euro 2004,
cena/ do palco
apesar do mérito
com orgulho)
Perder um jogo,
apesar do mérito,
como abandonar
o palco orgulhoso
Cenário do
teatro
Parabéns
Portugal!
O jogo vitorioso
como uma peça
de teatro de
sucesso
Cenário do
teatro
Parabéns,
Inglaterra!
Texto
Jogadas atacantes Jogadas atacantes
sich in Szene
dos jogadores
de Beckham e
setzen (entrar em
ingleses Beckham e
Owen como
cena)
Owen
entrar em cena
Cenário do
teatro
Boas iniciativas,
Beckham e
Owen!
Texto
“den gestandenen
Desempenho
Stars der Szene
desejado dos
den Rang abjogadores jovens
laufen“ (retirar
nos campeonatos
protagonismo)
(Futuro)
Desempenho
desejado dos
jogadores jovens
como retirar
protagonismo
(Futuro)
Cenário do
teatro
Querem ser os
maiores!
(Jogadores
jovens)
Texto
Texto
Texto
Texto
über die Bühne
schaukeln (peça
que decorre e
termina com
sucesso)
Vitória da selecção
da Inglaterra
herausragende
Rolle (...) scheint
Proeminência
Podolski como um Cenário do
Podolski, já não
ihm verwehrt
perdida do jogador
actor comum
teatro/cinema
és o melhor!
(sem papel
Podolski
relevante)
Rooney oder
Cristiano Ronaldo
Rooney e Ronaldo
Desempenho dos
nur unbedeutende
como actores de
Cenário do
jogadores Rooney e
Nebenrollen (com
papéis
teatro/cinema
Ronaldo
papéis
secundários
secundários)
Rooney e
Ronaldo, que
desilusão!
(159)
Texto
(…) vier Akteure Os 4 jogadores da
von Real Madrid selecção espanhola
(os quatro
vindos do Real
actores)
Madrid
(199)
Texto
die tragischen
Figuren (figuras
trágicas)
Os jogadores
alemães Podolski e
Klose
Podolski e Klose
são actores
trágicos
Géneros
teatrais
Que desilusão,
Podolski e Klose!
(217)
Texto
Regisseur
(realizador)
O desempenho do
jogador Deco
O jogador Deco
como realizador
Cenário do
cinema
Parabéns, Deco!
das Rampenlicht Desempenho do
teilen (partilhar a jogador português
iluminação em
Deco no
palco)
campeonato
Desempenho de
Deco como
partilhar a
iluminação em
palco
Cenário do
teatro/cinema
(aspectos
técnicos)
Deco e toda a
selecção de
Portugal, boa
exibição!
Jogo da selecção
francesa como
Cenário do
teatro
Que desilusão,
França!
(176)
Texto
(202)
Texto
Auftritt bei der
WM/dunklester
Prestação da
selecção francesa
Jogadores são
actores
Cenário do
teatro/cinema
Bom
desempenho
destes
jogadores!
264
Kapitel (actuação
no mundial/
capítulo mais
negro)
(210)
(164),
(186),
(193),
(213)
ESB
ERef
ERel
Texto
Textos
no mundial
uma actuação que
faz parte dos
capítulos mais
negros
“Steht das alles so
Löw como
in Ihrem WMEstratégias do
Cenário do
realizador de
Drehbuch?” (isso Treinador Joachim
cinema
cinema com guião
consta do seu
Löw
(organização)
próprio
guião?)
Krimi/ Speilfilm/
Last-MinuteThriller/FinalDrama
Jogos dos
campeonatos
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Jogo como filme
policial, de
suspense ou
drama
Cenário do
cinema
(géneros
fílmicos)
Bom trabalho,
Löw!
Que emoção!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 38: Tabela de Espaços Mentais 8
O jornalismo desportivo não se limita a mapear os géneros cinematográficos no
futebol, com o intuito de representar uma emoção experienciada. As seguintes ocorrências
apresentam mapeamentos entre diversos jogos de futebol e filmes concretos, personagens de
filmes, peças de teatro, óperas ou séries televisivas concretas:
(162) "Waynes World" im Freudentaumel.
Trata-se da vitória da selecção inglesa no jogo contra a croácia no qual o jogador Wayne
Rooney marcou os dois golos que conduziram a sua equipa à vitória. O cenário da ficção
cinematográfica é activado pelo título do filme: “Waynes World” - uma comédia de 1992 que
se revelou um enorme sucesso de bilheteira240.
(163) Rudi Völler wusste schon beim Frühstück mehr als Michael Skibbe. «Hallo
Pferdeflüsterer»,begrüßte der DFB-Teamchef seinen verdutzten Assistenten, dem die
Zeitungs-Schlagzeile vom Morgen noch nicht bekannt war. «Ist er der FehlerFlüsterer?», titelte das Boulevard-Blatt «Bild» mit einem Foto, auf dem Skibbe hinter
seinem Chef steht und ihm etwas sagt.
Esta ocorrência gira em torno de Michael Skibbe, assistente do treinador da selecção alemã
Rudi Völler, aquando do campeonato europeu de 2004, realçando o episódio, no qual Skibbe
segredou algo ao ouvido de Völler durante o jogo com a Letónia. No domínio-fonte configura o
filme “O encantador de cavalos” (“The Horse Whisperer” de 1998) no qual a personagem
240
vide: http://www.imdb.com/title/tt0105793/ [Consult. 08.03.2011]
265
principal, o “psicólogo” de cavalos Tom Booker, cura um cavalo lesionado e traumatizado
através das suas capacidades sensoriais extraordinárias, conferindo, deste modo, um final feliz
ao filme.
(168) „Spiel mir das Lied vom Tor“
Este título da versão on-line do jornal Der Spiegel diz respeito aos sucessivos fracassos da
selecção russa, nomeadamente a sua eliminação já na fase de grupos do campeonato europeu
de 2004, tal como ocorrera anteriormente. O título, contudo, remete para um clássico dos
filmes da categoria western: “Spiel mir das Lied vom Tod” (“Once upon a time in the West” de
1968) motivado, a nosso ver, pela proximidade fono-simbólica do par mínimo: Tor e Tod. Um
dos traços mais distintivos deste filme consiste no facto das cenas de violência e morte
surgirem acompanhadas pela melodia arrepiante de uma harmónica tocada pela personagem
com o mesmo nome (Harmonica), transformando todo o enredo numa dança sinistra de
morte. Para a selecção russa, as eliminações prematuras correspondem a essa dança de
morte241.
(170) "Die Götter sind verrückt geworden" - Eine Nation feiert ihre Sieger: Nach dem
Sieg Griechenlands gegen Tschechien und dem Einzug ins EM-Finale werden sogar
überirdische Kräfte bemüht, um den Erfolg der Nationalmannschaft zu erklären.
A selecção da Grécia, país berço dos antigos mitos gregos e suas divindades, conseguiu um
feito único e histórico: o apuramento para a final de um campeonato europeu de futebol. O
reconhecimento de que este êxito é deveras extraordinário justifica, na óptica desta notícia
desportiva, a exaltação dos deuses, na medida em que só a loucura dos deuses pode explicar o
sucesso da selecção grega. Daí que o título do filme “Os deuses devem estar loucos” (“The
gods must be crazy” de 1980) se afigura como enquadramento apropriado, estabilizado pelo
espaço de relevância do cenário dos deuses gregos.
(172) Goldfinger Otto
Este título mapeia a personagem da saga do agente secreto britânico James Bond, Goldfinger,
na figura do treinador da selecção grega Otto Rehagel. Na consequente mescla Otto Rehagel é
Goldfinger e o autor da notícia justifica:
241
“O ritmo do filme pretende criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa dá antes de morrer. Aconteceu
no Oeste é, do princípio ao fim, uma dança de morte. Todas as personagens do filme, excepto a de Claudia
(Cardinale), têm consciência do facto de que não vão chegar ao fim vivas.” SERGIO LEONE (In:
http://www.dvdpt.com/a/aconteceu_no_oeste_edicao_especial.php [Consult. 09.03.2011])
266
“Nun ist es wohl so. Otto im Finale. Jetzt verlassen mich auch meine Fachkenntnisse. Ich
glaube, die EM ist mittlerweile so ein bisschen wie in diesem James-Bond-Film, in dem der
wahnsinnige Gerd Froebe [Goldfinger] in irgendeinem Labor sitzt und mit irgendwelchen
Tricks die Welt an der Nase rumführt, er drückt irgendwelche Knöpfe und dann geht
Spanien unter, dann Frankreich, dann die Tschechei, ich meine, das geht doch alles nicht
mehr mit rechten Dingen zu, hat der die Mannschaft geklont, oder was? Auf welche Knöpfe,
Otto, drückst du um Gottes Willen?” (Moritz Rinke, In: http://www.spiegel.de/sport/fuss
ball/0,1518,307139,00.html [Consult. 08.03.2011])
(181) Mohrs Deutschlandgefühl. Don‘t cry for us, Argentina
Esta ocorrência configura uma antevisão ao jogo da selecção alemã sobre a selecção argentina,
aquando do campeonato mundial de 2006. O jornalista está convencido de que a selecção
alemã ira vencer o jogo e, do mapeamento entre o jogo de futebol e a famosa canção “Don’t
cry for me, Argentina” do musical “Evita” (uma famosa canção em que estão plasmados a
tristeza e a dor pela morte de Eva Perón), emerge a mescla “a selecção alemã como canção
triste da Argentina” e que, estabilizada pelo espaço de relevância, no qual configura o cenário
artístico da canção, origina a mescla final: Coragem Alemanha, nós vamos ganhar! A seguinte
ocorrência possui uma rede idêntica de espaços mentais com a diferença de que esta notícia
foi publicada após o jogo Alemanha-Argentina, do qual a Alemanha saiu vencedora.
(220) Don’t cry for me, Maradona
As lágrimas de tristeza pela derrota são vertidas tanto pelo treinador da selecção argentina,
Maradona, como, por extensão metonímica, por toda a nação. O significado intendido é
semelhante: Parabéns, Alemanha! Pensamos que o espaço de relevância do luto transmitido
pela canção torna desnecessário o conhecimento integral da letra da mesma.
(182) Italien im Siegestaumel. Wiedergeboren am 4. Juli
Rom hat eine nicht enden wollende Jubelnacht hinter sich: Es war nicht nur ein
Sieg über Deutschland, der - mit ein bisschen Häme - gefeiert wurde. Es war auch ein
Sieg über sich selbst, über Skandale, Demütigungen und Selbstzweifel: Zwei zu Null.
Esta notícia visa a vitória da selecção italiana sobre a selecção alemã, no dia 4 de Julho de
2006, e o consequente apuramento para a final do campeonato mundial. Pensamos que a data
da realização do jogo motivou o mapeamento entre o jogo e o título do filme: “Nascido a 4 de
Julho” (“Born on the fourth of July” de 1989). O filme retrata a vida de um soldado veterano,
que, após ter ficado paraplégico devido a um ferimento sofrido numa batalha na guerra do
267
Vietname, decide recomeçar e reconstruir a sua vida. De acordo com a notícia, a selecção
italiana sofreu um processo de recuperação semelhante, culminando na vitória conseguida
contra a poderosa Alemanha.
(183) Klose traf wieder doppelt. Und endlich schoß auch Poldi seinen ersten WMTreffer. King Knall und Prinz Peng, unser Wirbel-Sturm einfach sensationell.
(192) EM-Endspiel: Der deutsche Patient
(218) Der englische Patient – Bangen um Schweinsteiger (vor dem Spiel mit
England, Schweinsteiger und Boateng sind verletzt)
Estas ocorrências já foram analisadas anteriormente e encontram-se referenciadas no ponto
2.2.3.
(200) Um weitere hässliche Kratzer am Image des Landes zu verhindern, erhielt
Sportministerin Roselyne Bachelot, die sich ohnehin in Südafrika aufhielt, noch am
Sonntag den Auftrag, die Repräsentanten von „Les Miserables“ für Montag zu einem
Krisengipfel zu bestellen.
(219) Les Miserables – Frankreichs schokierendes WM-Aus
Aquando do campeonato mundial de 2010, a selecção francesa teve um desempenho
francamente modesto ao nível desportivo e questionável em termos de atitudes e valores
demonstrados. Neste sentido, os jogadores franceses são os actores que representam o
musical “Les Miserables”242 (1980), baseado na obra literária homónima de Victor Hugo. A
mescla final resultante expressa o desagrado pela fraca prestação: Que desilusão!
(201) „Wir befinden uns in einer Episode von Akte X - da dreht jeder durch.“ lästerte
der Weltmeister von 1998 und ehemalige Spieler des FC Bayern.
A ocorrência (201) apresenta um cenário semelhante. Neste contexto, as atitudes da selecção
francesa são conceptualizadas através do domínio-fonte artístico de um episódio de uma
famosa série de ficção científica: “Ficheiros Secretos”. Esta série televisiva tornou-se uma série
de culto do género da ficção científica por retratar, de forma realista e emocionante, a
existência de fenómenos sobrenaturais de origens diversas, que não conseguem ser explicadas
de forma racional e objectiva243. Esta vertente irracional e inexplicável sustenta o
242
A história decorre na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (1815) e os
motins de Junho de 1832. Em cinco volumes, Hugo relata a vida de Jean Valjean, um condenado posto em
liberdade. Em torno dele giram diversas pessoas que darão os seus nomes aos diferentes volumes do romance,
testemunhando a miséria deste século e a pobreza deplorável.
243
vide: http://www.infopedia.pt/$ficheiros-secretos [Consult. 10.03.2011]
268
mapeamento, i.e. na perspectiva do ex-jogador francês Lizarazu, a selecção francesa cometeu
actos irracionais e inexplicáveis. A mescla final poderá, a nosso ver, conter uma mensagem
coloquial de espanto: Não se compreende, isto é inacreditável!
(204) „Superman“ Landon Donovan hat die USA in allerletzter Minute vor dem WMAus gerettet (…).
A mítica figura de banda desenhada - Superhomem - constitui o espaço de Apresentação da
rede conceptual subjacente a esta ocorrência. O Superhomem, um ser vindo de outro planeta
com capacidades sobrenaturais, é o herói que resolve todas as situações críticas e, na sua luta
contra o mal (terrestre e extraterrestre), salva o mundo. Neste contexto futebolístico, o
jogador norte-americano Donovan, assume-se como o herói que salvou a selecção dos Estados
Unidos da eliminação do campeonato mundial (cenário apoiado pelo verbo “gerettet”). O
significado intendido é claro: Donovan, parabéns!
(208) „Chronik eines angekündigten Todes“
O título desta noticia inspira-se, integralmente, no título do filme (1987) e/ou da obra literária
homónima de Gabriel Garcia Márquez (“Crónica de una muerte anunciada”, 1981) cujo enredo
dramático gira em torno de um acto de vingança sangrento. A notícia desportiva diz respeito à
derrota da selecção brasileira face à selecção holandesa, com a consequente eliminação do
campeonato mundial de 2010. Neste sentido, à “morte anunciada” corresponde a eliminação
brasileira, já esperada, devido às fracas exibições da selecção em jogos anteriores.
Enquanto se lamenta a eliminação do Brasil, a selecção holandesa é elogiada:
(211) Der „siegende Holländer“ – Ein Erfolgs-Märchen wird wahr!
Por analogia fonética, este título transformou “Der fliegende Holländer” - título de uma ópera
de Richard Wagner, de 1843 - em “Der siegende Holländer”, num claro jogo fono-simbólico. A
ópera trata de um capitão fantasma - o holandês voador -, amaldiçoado por blasfemar contra
o nome de Deus. Contudo, este acaba por ser salvo por uma jovem, que, ao jurar-lhe amor
eterno, sacrifica a sua vida em prol do capitão. A ária final configura um desfecho feliz, pois
ambos ascendem unidos ao céu. Também o jogo em questão configura um final feliz para a
selecção holandesa que, com a sua vitória ‘ascende’ à final do campeonato mundial. Neste
sentido, o conto de fadas de sucesso tornou-se realidade.
(214) Internationale Pressestimmen zum WM-Finale Spanien – Holland „Die Biester 0,
die Schönen 1“ Fiesta in Spanien (...).
269
Se, no jogo contra o Brasil, a selecção holandesa foi “bestial”, já na final contra a selecção
espanhola, e de acordo com a ocorrência (477), a Holanda transformou-se na “besta”, a
“besta” que perdeu por 1:0 conta os “belos”, i.e. a selecção espanhola. “Die Schöne und das
Biest”, um conto popular francês (“La belle et la Bête”), atingiu popularidade internacional
através dos muitos filmes, séries televisivas e musicais produzidos a partir do mesmo. Apesar
do conto terminar com um final feliz - o monstro transforma-se num belo príncipe e ambos
(ele e a Bela) vivem felizes para sempre - no jogo em questão, apenas o vencedor, a Espanha,
vive o seu final feliz. Este facto leva-nos a concluir que o título não se reporta ao conteúdo do
conto, mas configura, apenas, uma apreciação estética relativamente ao futebol praticado por
ambas as equipas, sendo que o futebol bonito e tecnicamente superior da Espanha se
sobrepôs ao futebol directo e combativo da selecção holandesa.
De acordo com a metodologia seguida, passamos à apresentação da seguinte tabela, a
fim de sistematizar os espaços mentais que compõem as redes conceptuais identificadas:
Ocor.
(162)
(163)
(168)
(170)
(172)
(181),
(220)
ESB
Texto
EA
ERef
M1
ERel
M2
Waynes World
A exibição do
jogador inglês
Wayne Rooney no
jogo InglaterraCroácia
Wayne Rooney
como
personagem
Wayne
Personagem
Wayne é um
“herói”
Wayne, és o
melhor!
Texto
Der PferdeNo jogo Alemanha- Skibbe como o Protagonista tem
flüsterer
Letónia, Skibbe fala encantador de
poderes
(“O encantador de
ao ouvido de Völler
cavalos
curativos
cavalos“)
Texto
Spiel mir das Lied
vom Tod
(“Aconteceu no
Oueste“)
Texto
Die Götter müssen
Vitória da selecção
verrückt sein
grega no jogo
(„Os Deuses
contra a Rep.
devem estar
Checa
loucos“)
Texto
Goldfinger
Textos
Don’t cry for me,
Argentina!
(“Evita”)
(“Não chores por
mim, Argentina”)
Fracassos da
selecção russa
Sucesso do
treinador Otto
Rehagel
Fracassos da
selecção russa
como canção
da morte
Skibbe, que
magia!
A Rússia
Não há final feliz
parece
para os
condenada ao
protagonistas
insucesso!
Vitória da
Grécia como
loucura dos
Deuses
Ausência de
explicações
racionais
Parabéns,
Grécia!
Otto Rehagel
como
Goldfinger
Engenho e
ambição do
personagem
“Goldfinger”
Rehagel, és
incrível!
Vitória da
Vitória da
Alemanha
Canção triste
Alemanha sobre a
como uma
sobre a Argentina
Argentina
canção triste da
Argentina
Parabéns
Alemanha!
270
(182)
(200),
(219)
(201)
(204)
(208)
(211)
(214)
ESB
ERef
ERel
Texto
Geboren am 4. Juli
(“Nascido a 4 de
Julho”)
Vitória da Itália no
Vitória da Itália
jogo com a
como
Alemanha (a 4 de
nascimento
Julho)
Luta e vitória
contra a
adversidade
Parabéns,
Itália!
Textos
Les Miserables
(“Os Miseráveis”)
Prestação da
selecção francesa
Selecção
francesa como
“Os Miseráveis”
Existências
desgraçadas e
miseráveis
Que vergonha,
França!
Akte X
(“Ficheiros
Secretos”)
Prestação da
selecção francesa
Prestação da
selecção
francesa como
fenómeno dos
“Ficheiros
Secretos”
Fenómenos
inexplicáveis e
irracionais
França, não se
compreende!
(Lizarazu)
Supermann
(“Superhomem”)
Jogador norteamericano
Donovan
Texto
Texto
Texto
Poderes
Donovan como
sobrenaturais do
“Superherói que salva o
homem”
mundo
Parabéns
Donovan!
Selecção
brasileira com
morte
anunciada
A morte certa do
protagonista
Brasil, que
desilusão!
Selecção
holandesa
como
“holandês
voador”
Final feliz para o
protagonista
Parabéns,
Holanda!
Jogo Espanha/
A Espanha
Valores estéticos:
Holanda (Final do como “Bela”, a
belo é bom,
mundial, vitória da Holanda como
monstruoso é
Espanha)
“Monstro”
mau
Parabéns,
Espanha!
Chronik eines
Eliminação da
angekündigten
selecção brasileira
Todes
no jogo contra a
(“Crónica de uma
Holanda
morte anunciada“)
Texto
der fliegende
Holländer
(“O Holandês
voador”)
Texto
Die Schöne und
das Biest
(“A Bela e o
Monstro“)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Vitória da selecção
holandesa no jogo
contra o Brasil
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 39: Tabela de espaços Mentais 9
Grande parte destes exemplos corroboram a perspectiva defendida por Almeida
(2006:51): “In fact, there is reason to believe that the fiction frames designations in blended
newspaper titles are not meant to refer to the correspondent fiction works but act as a sort of
“key-words” to emotional meaning”, assim como de Fauconnier/Turner (1996:115): “Blended
spaces are sites for central cognitive work: reasoning (…), drawing inferences (…), and
developing emotions (…).”
271
b) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria música e dança
“Music is everywhere to be heard. But what is music?
Commentators have spoken of “the relationship of music
to the human senses and intellect,” thus affirming a world
of human discourse as the necessary setting for the art. A
definition of music itself will take longer. As Aristotle said,
“It is not easy to determine the nature of music or why
anyone should have a knowledge of it.” (Encyclopaedia
Britannica, In: http://www.britannica.com/EBchecked/topi
c398918/music/64609/Historical-conceptions
[Consult.
21.03.2011])
Não existem certezas sobre a origem da música e será difícil desvendar as razões da
sua génese. Sabe-se, contudo, que a história da música se funde com a história do Homem. No
que diz respeito aos primórdios da actividade musical, o pouco que se sabe provém da arte
iconográfica, i.e. gravuras rupestres, conservadas ao longo de milhares de anos, que são
testemunho de que o homem pré-histórico já produzia e usava sons de forma intencional.
Foram, igualmente, encontrados vestígios arqueológicos de instrumentos de sopro de ossos e
de madeira, o que comprova o desejo humano em construir instrumentos musicais. Ao longo
dos séculos, foram encontrados fragmentos de obras com origem na antiguidade, que
comprovam a crescente tendência da música se associar à divindade e aos mitos, a fenómenos
sobrenaturais e a elementos cósmicos. A ligação entre a música e a espiritualidade permanece
até à actualidade, embora predomine a vertente da música como forma de prazer lúdico.
Lúdico, erudito ou espiritual, a música é, desde a antiguidade até aos tempos de hoje, uma
forma de comunicação enraizada na natureza do ser humano.
Também a dança é considerada uma manifestação instintiva do ser humano e sabe-se
que, já na pré-história, os homens movimentavam-se de forma rítmica para se aquecerem e
para comunicarem. Neste sentido, a dança é considerada uma das formas de arte mais antigas,
pois como depende apenas do próprio corpo, dispensa ferramentas auxiliares, tornando-se
instrumento ideal para a expressão e afirmação de experiências subjectivas e a partilha de
emoções. De acordo com os antropólogos, as primeiras danças individuais tinham como
função a conquista amorosa, enquanto as danças colectivas eram associadas à veneração de
entidades divinas e sobrenaturais. Com o passar dos tempos, a dança era apreciada não
somente pelo seu cariz funcional, mas também pela sua beleza estética, passando, igualmente,
272
a fazer parte de representações teatrais ou de grandes eventos desportivos (por exemplo, os
jogos olímpicos). Assim, o género da dança foi adquirindo o estatuto de disciplina artística,
cada vez mais autónoma e, actualmente, configura uma das formas de expressão e
comunicação não verbal mais difundida.
No que diz respeito ao mundo do futebol:
“Egal welche Vergleiche man zum Klingen bringt, Fussball ist von einem soldatischen zu einem
musikalischen Spiel geworden. Selbst wenn im Umgang zwischen Trainern und Profis häufig
noch der Ton von Kadettenanstalten vorherrscht und nicht von Konservatorien. Die
Schrittfolgen der Spieler sind keine marschierender Truppen, sondern die von Tänzern. Die
Virtuosität der Spitzenkönner am Ball, die ihre Fähigkeiten unter grösster Bedrängnis
entfaltem müssen, ist unglaublich gerworden. Wir sollten sie nicht nur als Artisten feiern,
sondern auch als Künstler.“ (Biermann/Fuchs, 2002:179, cf. Hammelmann, 2010:20)
As ocorrências seleccionadas demonstram que a música e a dança configuram,
igualmente, elementos importantes da identidade histórica e cultural dos diversos povos.
Neste sentido, o futebol é conceptualizado como um estilo musical ou dança tradicional e
típica de um dado país. As realizações metafóricas emergem a partir de dois tipos de analogias
estruturais diferentes: a vertente predominantemente física, que salienta as analogias entre a
movimentação física dos jogadores os movimentos físicos da dança e a vertente
essencialmente sentimental, baseada na emoção transmitida por um determinado estilo de
jogo e um dado estilo musical.
(225) Brasilien-Kroatien Samba ohne Rhythmus - Ronaldinho enttäuschte,
Ronaldo spielte unterirdisch. Die Seleção quälte sich bei der Begegnung gegen
Kroatien zum Sieg. Dabei hatten die Brasilianer Glück, dass der Gegner seine
Torchancen nicht nutzen konnte.
(222) Schluss mit Fado, hier kommt Figo - Portugal steht zum ersten Mal in seiner
Geschichte im Endspiel eines großen Turniers. SPIEGEL ONLINE zeigt in einer
Fotostrecke die schönsten Momente des 2:1-Halbfinalsieges gegen die Niederlande.
A selecção brasileira é historicamente conhecida como uma equipa que joga um futebol
tecnicamente prefeito e esteticamente atractivo, o chamado “joga bonito”. Tal como o estilo
musical brasileiro do samba, o seu futebol caracteriza-se pelos movimentos ritmados e
dinâmicos de grande dificuldade técnica. Assim sendo, o mapeamento conceptual produz a
273
mescla: futebol brasileiro é samba244. A ocorrência (225) configura um lamento, no sentido em
que no jogo em questão (Brasil-Croácia, aquando do campeonato mundial de 2006), apesar da
vitória da selecção brasileira, o futebol praticado não correspondeu às expectativas, i.e. um
samba sem ritmo. A conceptualização é construída a partir da contra-factualidade, pois não
existe samba sem ritmo. Já a ocorrência (485) apresenta um quadro oposto. O estilo musical
tradicional de Portugal, o fado, caracteriza-se pelo seu cariz melancólico, triste e saudosista. A
presente conceptualização baseia-se na ausência de analogias estruturais entre o futebol
praticado pela selecção portuguesa e este estilo musical. O capitão da selecção Luís Figo
conduziu a sua equipa à vitória e, consequentemente, à final do campeonato europeu, sendo
que este facto configura uma ocasião alegre e feliz, em oposição à tristeza do fado.
Na seguinte ocorrência (226), a equipa de futebol é conceptualizada como uma
orquestra, sendo que os diferentes instrumentos musicais constituem as diferentes jogadas
futebolísticas. Neste caso, o golo é conceptualizado como uma forte batida no timbale. O
fenómeno que une estes dois eventos e que configura a analogia estrutural subjacente ao
mapeamento conceptual é o efeito surpresa.
(226) Mit einem Paukenschlag begann die Partie im FIFA WM-Stadion Köln: Noch nicht
einmal zwei Minuten waren gespielt, als es schon im Gehäuse von Welttorhüter Cech
einschlug.
Se a batida no timbale é um golo aos dois minutos de jogo (mescla 1), estabilizado pelo
conhecimento que temos acerca do som e o efeito produzido pelo instrumento musical em
questão (espaço de relevância), concluímos que o significado intendido que emerge da mescla
final será algo como: Que surpresa! Que acontecimento inesperado!
O jogo de futebol é, também, conceptualizado como uma dança ou espectáculo de
ballet:
(229) Oliver Bierhoff (Teammanager Deutschland): "Jetzt müssen wir im letzten
Gruppenspiel unbedingt gegen Österreich gewinnen. Wir wissen, wie groß die
Rivalität zwischen beiden Teams ist und vor allen Dingen in Wien wird das ein ganz
heißer Tanz."
244
“Zumindest für den europäischen Fussballbeobachter ist das Spiel afrikanischer Mannschaften immer voll Musik,
und die Brasilianer spielen - wer wollte das bestreiten - natürlich Samba-Fussball. (...) Den Sinn für das Tänzerische
sieht man vor allem bei Spielern aus Ländern mit einer lebendigen Tanzkultur. Dort, wo Musikalität, Rhytmus und
körperliche Gewandtheit im Alltag präsent sind, sind sie auch auf dem Fussballplatz zu beobachten (...). Deshalb ist
es auch nicht verwunderlich, dass die brasilianischen Spieler als die Balltänzer par excellence betrachtet werden; die
dortige popularität des Fussballs steht in enger Verbindung zur Begeisterung für den Tanz und die Musik. So wird
der brasilianische Nationaltanz Samba ebenso in Ligawettbewerben ausgetragen wie die beliebteste Sportart des
Landes (..)“ (Hammelmann, 2010:20-21)
274
(231) Angetrieben von Weltfußballer Lionel Messi hat das Offensivballett von Diego
Maradona seine WM-Mission erfolgreich begonnen. Mit einem überzeugenden Auftritt
beim hochverdienten 1:0 (1:0) gegen Nigeria unterstrich Argentinien seine
Titelambitionen bei der Fußball-WM.
Na ocorrência (229), o jogo entre as selecções da Alemanha e da Áustria constitui um
confronto decisivo para a manutenção de ambas as equipas no campeonato, sendo que, face à
rivalidade histórica entre ambas as selecções, se adivinha um jogo altamente competitivo e
combativo. A esta tensão corresponde uma dança ‘quente’245, i.e. uma dança de estilo
temperamental, energético e impetuoso (e.g. as danças sul-americanas). De novo, a realização
metafórica apela ao domínio das emoções, enquadrado na harmonia estética e rítmica da
dança246.
Quanto à ocorrência (231), o futebol ofensivo, cuja função é a marcação de golos,
assume-se como um ballet247. Consideramos que esta conceptualização pretende realçar as
vertentes estéticas e emocionais do jogo. Pode-se considerar que um jogo de futebol é
considerado ‘bom’ quando a) for garantido o objectivo principal do mesmo: a marcação de
golos para a obtenção da vitória e b) o futebol praticado se revestir de qualidade técnica e
táctica. A qualidade futebolística prende-se, primordialmente, com a apreciação estética,
enquanto o golo e a vitória conduzem a manifestações essencialmente emocionais. No
espectáculo de ballet, a beleza estética é essencial para a transmissão da mensagem,
predominantemente emocional, o que reforça a importância da qualidade dos bailarinos,
determinantes para o sucesso da actuação. A mescla final poderá, assim, significar “Parabéns,
Argentina!”, tal como propomos na seguinte tabela:
Ocor.
(225)
(222)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Samba ohne
Rhythmus
(A ausência de
ritmo do samba)
Jogo da selecção
brasileira contra a
Croácia
Jogo do Brasil
como Samba
sem ritmo
Contrafactualidade de
um samba sem
ritmo
Que desilusão,
Brasil!
Texto
Schluss mit Fado Jogo de Figo contra
(o fim do fado)
a Holanda
Jogo de Figo
como fim do
Fado
Características do
Parabéns, Figo!
fado.
245
“EMOTION IS HEAT” (Kövecses, 2002:112ff)
“Betrachtet man die Bewegungen der Spieler auf dem Rasen, so scheint das Fussballspiel Eigenschaften des
Tanzes übernommen zu haben. (...) Das Spielfeld wird zur Tanzfläche, wenn die Schrittfolgen der Spieler
aufeinander abgestimmt sind, die Positionen fliessend gewechselt werden und das Tempo immer wieder verändert
wird. Dabei sind im modernen Spiel die Tanzschritte immer schneller geworden, so dass die Füsse ein hohes Mass
an Perfektion erreicht haben; sie bestimmen den Rhytmus des Balles und bewegen sich selbst in seinem Rhytmus.“
(Hammelmann, 2010:20-21)
247
“Ein schöner Spielzug beim Fussball offenbart Ähnlichkeiten mit dem Ballett (...).“ (Hammelmann, 2010:21)
246
275
(226)
(229)
(231)
Texto
Paukenschlag
(a batida num
timbale)
O golo da selecção
ganesa contra a
Chechénia
Golo como
batida no
timbale
Impacto sonoro
do timbale
Que golo
fantástico!
Texto
ein heißer Tanz
(uma dança
quente)
O jogo Alemanha
contra a Áustria
(Futuro)
O jogo
Alemanha/
Áustria como
dança quente
(Futuro)
Emoções aliadas
à dança
Que emoção!
Offensivballett
(espectáculo de
Ballet ofensivo)
Jogo atacante
Jogo atacante da
da Argentina
Argentina contra a
como
Nigéria
espectáculo de
ballet ofensivo
Estética e
emoções aliadas
ao ballet
Excelente
prestação,
Argentina!
Texto
ESB
ERef
ERel
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 40: Tabela de espaços Mentais 10
As nossas conclusões corroboram a perspectiva de Hammelmann (2010:12-13) quando este
afirma:
“Bei Kunstmetaphern von Fussballern fällt auf, dass sie hauptsächlich aus zwei Bereichen
stammen: der Artistik und dem Tanz. (...) Die Grundlagen des Fussballspiels liegen in der
Körper- und Ballbeherrschung, sie verlangen vielfältiges artistisches Können (...).
Zur
Verzückung der Zuschauer trägt aber mindestens ebenso sehr die Schönheit der
Bewegungen bei, die uns eine Nähe zum Tanz und zur Musik suggerieren.“
c) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte e entretenimento geral
“Fussball bietet ein vielfältiges Spielfeld für Metaphern
aller Art; vom allem die Sportberichterstattung ist voll von
bildlichen Übertragungen aus verschiedenen Bereichen.
das Interesse gilt hier zunächst den Klassifizierungen aus
der Welt der Künste. Ballkünstler ist eine dieser
Wortschöpfungen,
die
wöchentlich
in
den
Fussballberichten zu hören und zu lesen sind. Der
Kustbegriff soll hierbei (...) nicht zu eng verstanden
werden. Betrachtet man Fussball aber als ein Kunstwerk,
als Synthese von Ball- und Raumkunst, dann sind die
Akteure auf dem Rasen folgerichtig auch als Künsteler zu
276
bezeichnen. »Im Laufe der Zeitwird man sagen« - so der
französische Ex-Profi Eric Cantona - »dass Maradona für
den Fussball das war, was Rimbaud für die Dichtkunst und
Mozart für die Musik war.« (Zit. nach BARTH/DI GRAZIA
2004:136) Was läge somit näher als dem Fussballer das
Attribut des Ballkünstlers zu verleihen?“ (Hammelmann,
2010:12)
As seguintes ocorrências mapeiam a execução técnica de acções específicas do futebol (240)
num objecto de arte, o campeonato mundial de futebol num evento de exibição artística (241),
assim como um jogador de futebol (neste caso, Nani) num artista (244):
(240) Erst in der Schlussphase gelang Ibrahimovic mit einem Kunststoß der etwas
glückliche Ausgleich.
(241) Pelé: „(...) So werden wir bei der WM Fußball-Kunst sehen. Ich freue mich auf
Ronaldinho.“
(244) Der Dribbelkünstler248 vom englischen Premier-League-Klub Manchester United
leidet an einer Verletzung der linken Schulter, die sein Mitwirken beim Turnier am Kap
unmöglich macht.
Tal como já foi referido anteriormente, o mapeamento conceptual fundamenta-se nos
princípios da criação e experiência de elementos estéticos presentes na arte e,
consequentemente, no futebol, englobando, invariavelmente, o mundo das emoções:
“Der Literaturwissenschaftler Hans Ulrich Gumbrecht betrachtet das Vergnügen, das
Fussballliebhaber an diesem Spiel empfinden, als ein vorwiegend ästhetisches. In Anlehnung
an Immanuel Kant versteht er die Faszination des Fussballspiels - wie die aller
Mannschaftssportarten - als ästhetische Erfahrung die durch interesseloses Wohlgefallen
gekennzeichnet sei. Dieses begründet Gumbrecht damit, dass wir - (relativ) unabhängig vom
Ergebnis - zwischen einem guten und einem schlechen Spiel unterscheiden können, auch
wenn uns die Kriterien zur äthetischen Beurteilung nicht unbedingt bewusst sind (...).“
(Hammelmann, 2010:32-33)
Neste sentido, defendemos as seguintes redes conceptuais, baseadas nos espaços mentais:
248
“Dribbelkünstler, der; nicht die Fussballmannschaft einer Kunsthochschule, sondern: ein Spieler, der für seine
besonderen Fertigkeiten beim → Dribbling bekannt ist (...)“ (Burkhardt, 2006a:81)
“Zumindest unter den Kunstfreunden des Fussballs geniessen die Dribbler aber weiterhin ein hohes Renommee,
denn nischts is »so anmutig wie ein perfekter Übersteiger« (KÖSTER 2003a:20)“ (Hammelmann, 2010:26)
277
Ocor.
ESB
(240)
Texto
(241)
Texto
(244)
Texto
ESB
ERef
ERel
EA
ERef
M1
ERel
M2
Kunststoß
Remate do jogador
(remate artístico)
Ibrahimovic
Remate como
arte
Experiência
estética
Que belo
remate!
Fussball-Kunst
(arte do futebol)
Futebol a praticar
no camp. mundial
(Futuro)
Futebol como
arte
(Futuro)
Experiência
estética
Bom futebol!
Dribbelkünstler
(artista do
‘drible’)
A capacidade
técnica do jogador
Nani
Nani como
artista do
‘drible’
Experiência
estética
Nani é
excelente!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 41: Tabela de Espaços Mentais 11
Eventos particularmente festivos e memoráveis são conhecidos como ‘galas’249. No
contexto futebolístico, uma ‘gala’ constitui um jogo de futebol, no qual pelo menos uma das
equipas revelou um elevado nível de qualidade ou espectacularidade.250 De acordo com
Burkhardt, o jogo da selecção alemã contra a Inglaterra (ocorrência (249)) configurou uma
demonstração de qualidade exibicional excepcional (a selecção alemã venceu por 4:1), no qual
o jogador alemão Müller esteve particularmente bem:
(249) (...) außerdem spielte sich Thomas Müller bei der Gala-Vorstellung ins
Rampenlicht.
Existem espectáculos artísticos centrados em, ou compostos por um artista apenas.
Contudo, uma equipa de futebol é composta por onze jogadores. Quando, neste contexto, é
feita referência a um “Alleinunterhalter” ou a um “One-Man-Show”, o significado é evidente:
apenas um jogador conseguiu jogar de forma excepcional, conseguiu, de acordo com a
expressão portuguesa, “dar espectáculo”.
(248) Nordkorea: Jong wieder als Alleinunterhalter (...).
249
“Ga|la… in Zus.: Fest…, festlich“ (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/
services/suche/wbger/index.html?gerqry=gala [Consult.28.03.2011])
“Ga|la|vor|stel|lung, die: vgl. Galaaufführung: die: in festlichem Rahmen stattfindende Theater-, Opernaufführung
o. Ä.;“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-Rom)
250
“Galavorstellung, die; zu span. gala >Festkleidung, (Hof-)Festlichkeit<; weder (…) eine feierliche Veranstaltung,
sondern (in metaphorischer Verwendung): eine (das Publikum) beeindruckende Demonstration hervorragender
Leistungsfähigkeit (…)” (Burkhardt, 2006a:126).
278
(251) [Diego Forlan] (...) Die One-Man-Show des uruguayischen Märchenautors
der Neuzeit.
A ocorrência (251) é particularmente interessante devido ao facto de apresentar duas
realizações metafóricas com dois domínios-fonte distintos. Diego Forlan não é apenas o
jogador principal da equipa, é também o “autor de contos de fadas da era moderna”, i.e. é o
responsável pelo actual sucesso da selecção uruguaia, sendo que o percurso do Uruguai no
campeonato mundial, recheado de vitórias, é conceptualizado como um conto de fadas. Vejase, então, a tabela elucidativa da construção da rede semiótica de espaços mentais:
Ocor.
(249)
(248)
(251)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Gala-Vorstellung
(Gala)
Jogo da selecção
alemã contra a
Inglaterra
Jogo como Gala
Experiência
estética
Que jogo
espectacular!
Texto
Alleinunterhalter
(espectáculo de
entretenimento
com um só
‘entertainer’)
Jogador Nortecoreano Jong
Jong como
‘entertainer’
único
Cenário
do espectáculo
de
entretenimento
Jong é
fantástico!
Texto
One-Man-Show
(espectáculo de
entretenimento
com um só
‘entertainer’)
Jogador uruguaio
Diego Forlan
Forlan como
‘entertainer’
único
Cenário
do espectáculo
de
entretenimento
Forlan é o
melhor!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 42: Tabela de Espaços Mentais 12
d) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria espectáculo pirotécnico
„Das Feuerwerk ist die perfekteste Form der Kunst, da
sich das Bild im Moment seiner höchsten Vollendung
dem Betrachter wieder entzieht.“
Theodor W. Adorno (In: http://de.academic.ru/dicnsf/
dewiki/439758 [Consult. 28.03.2011])
Entende-se por ‘espectáculo de fogo-de-artifício’ uma exibição artística na qual
diversos objectos pirotécnicos (i.e. foguetes) são lançados de forma coordenada para o céu ou
ateados quando presos (‘fogo preso’), de modo a criar efeitos variados de luz e de cor. Pensa279
se que o fogo-de-artifício tem as suas origens na China e adquiriu, por volta do século XIV,
grande popularidade na Europa e, particularmente, no Japão251. Actualmente, o espectáculo
de fogo-de-artifício é amplamente apreciado como uma forma artística de particular beleza,
também devido à sua grandiosidade de cariz efémero. Neste sentido, a ocorrência (517)
descreve um jogo de particular espectacularidade no qual, a cada explosão pirotécnica
corresponde a explosão de alegria por mais um golo marcado:
(254) Selecçao zündet nach der Pause ein Feuerwerk
Trata-se do jogo entre a selecção de Portugal e a Coreia do Norte, aquando do campeonato
mundial de 2010, o qual Portugal venceu por 7:0, tendo marcado seis golos na segunda parte.
A admiração do público perante um espectáculo pirotécnico de rara beleza é, da perspectiva
emocional, equivalente aos 45 minutos de jogo de futebol excepcional oferecido pela selecção
portuguesa e coroado por seis golos:
Ocor.
(254)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Feuerwerk
zünden
(espectáculo
pirotécnico)
Jogo da selecção
portuguesa contra
a Coreia do Norte
Jogo como
espectáculo
pirotécnico
Experiência
estética/
estruturas
emocionais
Que jogo
espectacular!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 43: Tabela de Espaços Mentais 13
Este cenário pode igualmente apontar para o fenómeno da explosão concreta e emocional,
sendo que cada explosão do foguetão assim como cada golo marcado provoca uma explosão
de emoções.
251
“Die ersten Feuerwerke gab es wahrscheinlich in China während der Song-Dynastie, die sich jedoch nicht durch
einen Licht-, sondern durch einen Knalleffekt auszeichneten. Im späten 14. Jahrhundert entwickelte sich in Italien
(erste Nennung in Vicenza, 1379), aus dem Gebrauch des Schwarzpulvers, eine eigenständige Feuerwerkskunst, die
sich dann in ganz Europa verbreitete. Zur Kunstform wurde es insbesondere in Japan weiterentwickelt und heißt
dort 花火 hana-bi „Blumen aus Feuer“ (aus dem chinesischen 花火 huāhuō) und diente religiösen Zwecken.
Zitat:"Das Abbrennen von Feuerwerkskörpern bei festlichen Veranstaltungen und die dadurch erzeugten Effekte am
Nachthimmel vermögen als Feuerwerke wohl jedermann zu faszinieren. Verbreitet sind sie heute fast überall. Im
Ursprung war die Feuerwerkerei Kriegshandwerk und wurde zu militärischen Zwecken genutzt. Als Facette
fürstlicher Repräsentation erlangten seit der frühen Neuzeit prächtige höfische Feuerwerke große Beliebtheit; aus
ihrer gezielten Inszenierung entwickelte sich bis zur Mitte des 16. jahrhunderts ein eigenständiger Festtyp, der
besonders im Barock zur vollen Ausgestaltung kam. Von Anfang an besaßen die höfischen Feuerwerke immanent
politische Funktionen: Sie dienten auch der offenen Demonstration militärischen Könnens, der Erprobung der
Artillerie für den kriegerischen Ernstfall." Heutzutage werden in Amerika und Europa Feuerwerke vor allem zu
Neujahr abgefeuert. Zusätzlich werden Feuerwerke zu länderspezifischen Feiertagen, wie zum Beispiel dem
amerikanischen Unabhängigkeitstag, oder zu Großveranstaltungen (große Sportereignisse, Kirmes, Musikfestivals,
etc.) gezündet. In Asien werden Feuerwerke üblicherweise im Sommer abgefeuert. In südeuropäischen Ländern
wird besonders zu Ostern Feuerwerk abgebrannt.“ (Academic dictionaries and encyclopedias, In:
http://de.academic.ru/dic.nsf/dewiki/439758 [Consult. 28.03.2011])
280
e) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte ornamental de joalharia e pintura
Historicamente, a joalharia252 constituiu uma marca de identificação e pertença a um
determinado nível ou classe social. Actualmente, estes objectos de adorno configuram formas
artísticas que se prendem, primordialmente, com o domínio da apreciação e valorização
estéticas. Existem diversos factores que podem valorizar esteticamente os objectos em
questão: a sua originalidade, a sua raridade, a pureza dos materiais utilizados e a perfeição na
manufactura. Neste contexto, a arte filigrana253 é conhecida pela sua meticulosidade e
perfeição minuciosa. No que diz respeito ao mundo do futebol, Burkhardt define:
“Filigrantechniker, der; aus ital. filigrana >kunstvolles Geflecht von Gold- o. Silberdrähten< (zu
lat. filum >Faden< u. granum >Korn<); kein kunstfertiger Goldschmied, sondern (in
metaphorischer Verwendung): ein in der → Ballführung eleganter, → dribbelstarker Spieler
(...).“ (Burkhardt, 2006a:111-112). Na ocorrência (256) são elogiadas as capacidades técnicas
do jogador argentino Maxi Rodriguez:
(256) Kaum ein Treffer bei dieser WM war schöner als der des Argentiniers Maxi
Rodriguez beim Erfolg über Mexiko. Im Interview spricht der Filigrantechniker über
seinen siegbringenden Schuss, die Euphorie in der Heimat und die Stärke des
Viertelfinalgegners Deutschland.
A ocorrência (257) remete para o domínio da pintura, no qual o jogo de futebol é uma
tela, os jogadores os pintores e as suas acções em campo pinceladas coloridas:
252
“Schmuck ist ein Ziergegenstand oder eine Maßnahme zur Verschönerung. Der Begriff hat eine weitere und eine
engere Bedeutung.
• Im weitesten Sinne sind mit Schmuck Verzierungen gemeint, also Maßnahmen zur Verschönerung, zur optischen
Aufwertung oder zu einer Wohlstand repräsentierenden (Aus-)Gestaltung von Räumen, Objekten oder
Personen. Man spricht auch von Ausschmückung oder dekorativen (schmückenden) Elementen.
• Im engeren Sinne bezeichnet der Begriff Schmuck einen subjektiv als schön empfundenen Gegenstand
(Ziergegenstand, aber auch Bemalung).
• Im engsten Sinne die Gebräuche und Gegenstände, die an Körper und Kleidung des Menschen angebracht
werden, und der Zierde dienen. Schmuck bezeichnet auch die Elemente, die Tiere oder Pflanzen zu analogen
Zwecken als Kommunikationsmittel im weitesten Sinne ausbilden.
(...)Die Verwendung von Schmuck geht auf die Anfänge der Menschheit zurück: neueste Forschungen weisen darauf
hin, dass Menschen sich bereits vor 100.000 Jahren mit Muscheln schmückten - mindestens 25.000 Jahre früher als
bislang angenommen. (...)Bei Menschen ist Schmuck ein Ziergegenstand, der am Körper getragen wird. Der
Schmuck dient in erster Linie dazu, die Attraktivität oder den Stellenwert einer Person innerhalb einer Gesellschaft
oder Gruppe zu erhöhen oder einen Status sichtbar darzustellen (zum Beispiel die Kronjuwelen). Schmuck ist
einerseits an die Faszination des Materials gebunden, etwa an das Metall mit seinem Glanz oder auch die Edelsteine
mit ihrer Farbigkeit, als auch an formale Aspekte der Schmuckform.“ (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search
=Schmuck [Consult. 28.03.2011])
253
“fi|li|gran <auch> fi|lig|ran [Adj. ] fein, feingliedrig; ein ~es Schmuckstück; Fi|li|gran <auch> Fi|lig|ran [n. 1]
Geflecht aus feinen, miteinander verlöteten Fäden aus Edelmetall (Gold~, Silber~) [<ital. filigrana ”Filigran“,
zusammengezogen <filo e grano ”Faden und Korn“] (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/ge
nerator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=filigran [Consult. 28.03.2011])
281
(257) Den ersten Farbtupfer der unterhaltsamen Partie unter der Leitung des
deutschen Schiedsrichters Wolfgang Stark setzte Chinedu Obasi (...) dessen Schuss
jedoch weit am Tor vorbei ging.
A arte plástica da pintura constitui um dos géneros artísticos mais antigos e significativos da
história da humanidade. As pinturas mais antigas têm cerca de 35.000 anos, tendo sido
encontradas em cavernas francesas e espanholas (e.g. Lascaux); no oriente encontraram-se
pinturas com cerca de 10.000 anos, enquanto se calcula que as pinturas egípcias tenham cerca
de 3000 de idade. Estas descobertas arqueológicas, assim como a constante evolução da
pintura e seus inúmeros estilos e funções (e.g. a importância da pintura sacra na idade média e
no renascentismo), comprovam que esta forma artística representa um dos meios de
expressão e comunicação mais utilizado pelo homem. O seu desenvolvimento é indissociável
do desenvolvimento das civilizações. No presente contexto, salientamos a vertente estética da
pintura na qual a cor é sinónimo de alegria e vivacidade: “far|big <Adj.> 2. lebhaft,
anschaulich; abwechslungsreich: eine -e Schilderung; das Spiel war spannend und f.;“
(Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom). Assim sendo, propomos:
Ocor.
ESB
EA
ERef
(256)
Texto
Filigrantechniker
(técnico de arte
filigrana)
Jogador
argentino Maxi
Rodriguez
(257)
Texto
Farbtupfer
(pincelada de cor)
Remate do
jogador Obasi
ESB
ERef
ERel
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
M1
EA
M1
M2
ERel
Jogador Rodriguez
Características
como técnico de
da arte filigrana
arte filigrana
Remate como
pincelada de cor
Cor é
vivacidade
M2
Rodriguez,
excelente
jogador!
Que remate
fantástico!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 44: Tabela de Espaços Mentais 14
As ocorrências aqui analisadas sustentam a teoria de que o futebol é conceptualizado e
sentido como uma experiência do foro artístico. Consequentemente, concordamos com
Hammelmann, quando este afirma:
“Es überrascht nicht besonders, dass die Brasilianer den Fussball als Kunstform (futebol
arte) verstehen - eher schon, dass im nicht gerade für schönen Fussball bekannten England
das Spiel The Beautiful Game genannt wird (vgl. BARTH/DI GRAZIA 2004:9). Im
deutschsprachigen Raum ist dagegen ein Begriff, der eine ästhetische Vorstellung vom
Fussball in sich trägt, noch nicht in die Alltagssprache eingegangen. dabei hatte der
österreichische Schriftsteller Peter Handke bereits in den 1970er Jahren festgestellt, dass
Fussball für viele Menschen »die einzige Berührung mit Ästhetik« (zit. nach BAUSENWEIN
282
1995:335) darstellt. Für Gunter Gebauer zeichnet sich das Fussballspiel durch einen »Glanz
im Inneren bei einer unscheinbaren Oberfläche« (GEBAUER 2006:14) aus und rückt dadurch
ins Reich der ästhetischen Phänomene.“ (Hammelmann, 2010:32)
3.2.3. Imagens mescladas: Futebol - Máquina e Veículo
“Am Ende, als es um den Titel [der Weltmeisterschaft
1974] ging, passte alles zusammen in der deutschen
Mannschaft. Müller schoß das Siegtor, Breiter brachte
den Elfmeter ins Netz, Hölzenbein fiel im Strafraum, als
er zu fallen hatte, die Mannschaft war eine perfekt
funktionierende Maschine, deren Rythmus jeden
einzelnen beflügelte.“ (Huba, 2009:148)
Com 77 ocorrências, as realizações metafóricas baseadas na conceptualização do
futebol como uma máquina revelou ser o terceiro grupo mais frequente do nosso corpus. As
conceptualizações centram-se em duas vertentes: a equipa como máquina que funciona como
um todo e o jogador individual como uma máquina, i.e. as suas capacidades técnico-tácticas
como um mecanismo que produz resultados (jogadas, golos, etc.). No seu estudo sobre a
linguagem do futebol, Frielingsdorf (2008) destaca a importância do esforço físico, próprio
deste desporto e determinante para o desfecho de cada jogo, como factor propício para a
produção de representações metafóricas baseadas neste domínio-fonte:
“Den nicht einmal als falsch zu bezeichnenden Gedankengang, dass das physische
Leistungsvermögen der Spieler über Erfolg und Misserfolg entscheidet, vermittelt die
Sportpresse dem Rezipienten häufig dadurch, dass die Fussballspieler als Maschinen
dargestellt werden: Spieler oder ganze Mannschaften schalten bei einer sicheren Führung
einen oder zwei Gänge zurück (...), Spieler werden zu Angriffs- und Mittelfeldmotoren oder
gar zu Antreibern. Mannschaften kommen in Fahrt oder Angriffsbemühungen laufen auf
Hochtouren.“ (Frielingsdorf, 2008:40).
De realçar é o facto de 29 ocorrências dizerem respeito ao domínio geral das
máquinas, enquanto 48 ocorrências fazem parte do mundo específico dos veículos de
transporte terrestre (automóveis e comboios). Neste sentido, dividimos a seguinte tabela e,
consequentemente, a análise em duas partes, ou seja, futebol como:
a) veículos;
b) maquinarias diversas e tipos de engenhos.
283
a) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria veículo (48 ocorrências)
EURO 2004 (8)
MUNDIAL 2006 (17)
(258)
Mit
einer
druckvollen
Anfangsoffensive
versuchten
die
Spanier, ihren Gegner zu überrollen.
(www.kicker.de – 12.06.2004)
(259) Bei sommerlichen Temperaturen
mussten die Zuschauer in Guimaraes
eine gemütliche Halbzeit ertragen, ehe
die Partie schließlich an Fahrt gewann.
(www.kicker.de – 14.06.2004)
(261)
König
Johan
und
Schrotthaufen
(www.spiegel.de – 16.06.2004)
MUNDIAL 2010 (9)
(266) Auch im Vorwärtsgang zeigte sich die (283) Nationalelf Huth sagt für die EURO ab
Klinsmann-Elf in dieser Phase nicht besonders Metzelder „Ich habe keinen Freifahrtschwungvoll, so dass die Partie immer mehr schein“ (Kicker Ausgabe 41 - 15.05.2008)
verflachte. (www.kicker.de – 09.06.2006)
(267) Mit dem Beginn der zweiten Hälfte
versuchten die Polen den schwachen Eindruck
ab der 20. Minute zu revidieren und legten
wieder energischer den Vorwärtsgang ein (...)
(www.kicker.de – 09.06.2006)
(268) Jürgen Klinsmann will mit Vollgas-
(260) Nach dem Führungstreffer durch
Ljungberg gewannen die Skandinavier
jedoch stark an Selbstbewusstsein und
überrollten den Gegner förmlich.
(www.kicker.de – 14.06.2004)
EURO 2008 (14)
Fußball durch die WM rasen - hoffentlich
bis zum Finale nach Berlin und nicht vorher
gegen die Wand.
(www.kicker.de – 11.06.2006)
(297) „Wir haben in diesem Spiel gut
aufgetankt, uns Selbstbewusstsein für das
weitere Turnier geholt. Jetzt denken wir nur
an unser nächstes Spiel“, sagte Torschütze
(284) Nach einer Stunde SchlafwagenSiphiwe Tshbalala.
fußball und großen Defensivproblemen
(www.sportbild.bild.de – 11.06.2010)
kam die Steigerung der DFB-Elf zu spät, um
die dritte Endspiel-Niederlage bei einer (298) Typisch Ronaldo. Obwohl er mit Real in
Europameisterschaft nach 1976 und 1992 der abgelaufenen Spielzeit keinen Titel
noch verhindern zu können.
gewann, strotz er nur so vor Selbstvertrauen
(www.sportbild.de – 30.06.2008)
und gibt auch verbal richtig Gas.
(www.sportbild.bild.de – 09.06.2010)
(285) Pass von Xavi Hernandez auf Torres.
Lahm zögert, Lehmann kommt nicht schnell (299) Henrik Larsson, Ex-Spieler von Barça:
genug raus. Und Turbo-Torres lupft den „Ich weiß ehrlich gesagt nicht, wie man so
Ball aus 14 Metern ins lange Eck – 0:1. einen wie ihn bremsen kann.“
(www.bild.de – 2008)
(www.sportbild.bild.de – 09.06.2010)
(269) Der Vize-Europameister hatte mit dem
der WM-Neuling nur wenig Mühe und schaltete (286) Martin Stranzl (Österreich): "Nun (300) Schlappe für England: Deutschland
im zweiten Durchgang mindestens einen Gang
heißt es: Spiel abhaken und Vollgas geben. beginnt temporeich, bleibt mit dem Fuß auf
zurück. (www.kicker.de – 11.06.2006)
(www.kicker.de – 08.06.2008)
(270) Auch die Pfister-Elf spielte in dieser
(262) Die Partie in Leiria kam nur
Phase ohne viel Tempo, schaltete nach einer
schwer in Fahrt.
halben Stunde mal kurz einen Gang höher und
(www.kicker.de – 17.06.2004)
ging völlig überraschend in Front.
(www.kicker.de – 13.06.2006)
(263) Die tschechische Mannschaft
zeigte sich in der Folgezeit geschockt,
während das Oranje-Team weiter
Vollgas gab und sich Chancen im
Minutentakt erarbeitete.
(www.kicker.de – 18.06.2004)
(264) (...)dass Prso meist allein gegen
(287) Christoph Metzelder: "Wir haben
sehr, sehr gut angefangen, sind dann in
Führung gegangen (...) Wir freuen uns über
den guten Auftakt, aber jetzt müssen wir
weiter Gas geben."
(271) Ob die weiterhin hohen Celsiusgrade
(www.kicker.de – 08.06.2008)
Schuld daran waren, dass das Tempo der
Partie zwischenzeitlich vollkommen abhanden (288) So hätte es nochmal eng werden
kam? Jedenfalls sahen die Zuschauer lange können, denn Italien erhöhte die Drehzahl.
Zeit nur absoluten Leerlauf.
(www.kicker.de – 09.06.2008)
(www.kicker.de – 13.06.2006)
(289) Allerdings konnte die gut organisierte
dem Gaspedal und schickt England nach
Hause. (www.kicker.de – 27.06.2010)
(301) Sogar Andres Iniestas Forderung vom
„Vollgas“ wurde lange ungesetzt.
(Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 27. Woche
08.07.2010, p.13)
(302) Insofern setzt sich der „Trend zum
Turbofussball“ fort, den der kicker in der
Rückschau auf die EURO 2008 ausgemacht
hatte. (...) (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27.
Woche 05.07.2010, p.11)
284
Campbell und Terry bei den weiten
Steilpässen chancenlos war und sich die
Süd-Ost-Europäer jeweils schnell wieder
im Rückwärtsgang fanden.
(www.kicker.de – 21.06.2004)
(265) Im Anschluss an den Treffer
schalteten beide Mannschaften einen
Gang zurück und versuchten den Ball in
den eigenen Reihen zu halten.
(www.spiegel.de – 22.06.2004)
(272) Der Ukrainer bekam wegen einer
Notbremse die Rote Karte. Am flachen Schuss
von Villa in die linke Ecke war Shovkovskyi
dann zwar noch dran, konnte das dritte Tor
aber trotzdem nicht mehr verhindern (48.).
(www.kicker.de – 14.06.2006)
spanische Deckung die Aktionen des
Gegners zunächst noch vor dem gegnerrischen Strafraum bremsen. Die Iberer
agierten im Vorwärtsgang zunächst
verhaltener (...)
(www.kicker.de – 10.06.2008)
(273) Doch nicht nur die Osteuropäer gaben
Gas, auch die "Black Stars" hielten in einer
offenen Anfangsphase das Tempo hoch und
hatten durchaus ihre Möglichkeiten (Addo, 12.
, Appiah, 14.). (www.kicker.de – 17.06.2006)
(290) Schweden legte den Vorwärtsgang
ein, tat sich aber gegen tief stehende und
dicht gestaffelte Hellenen schwer.
(www.kicker.de – 10.06.2008)
(274) Frankreich schaltete nun einen Gang
zurück, tat nicht mehr als nötig und
kontrollierte dennoch die bis dato harmlosen
Südkoreaner. (www.kicker.de – 18.06.2006)
(275) Der sofort eingelegte Vorwärtsgang
führte allerdings nicht zu einer Vielzahl an
Torchancen. (www.kicker.de – 20.06.2006)
(276) Nach einer schönen Kombination über
Messi und Tevez hatte Cambiasso freie Fahrt,
doch Boulahrouz klärte im allerletzten
Moment (9.). (www.kicker.de – 21.06.2006)
(304) Chile kennt nur den Vorwärtsgang
(Kicker Sportmagazin Nr. 49 – 24. Woche
17.06.2010, p.22)
(305) Lizarazu: „So fahren wir an die Wand“
„So werden wir geradeaus gegen die Wand
fahren!“ Drastisch schildert Bixente Lizarzu
(40), Weltmeister von 1998, die Situation bei
der Equipe Tricolore. „Es ist der reine
Wahnsinn, drei Wochen vor Beginn einer
WM-Endrunde mit einem neuen taktischen
System anzutreten“ erklärte der ehemalige
Bayern-Profi.
(Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche
07.06.2010, p.35)
(291) Munterer Auftakt in Salzburg, wo
beide Teams sofort den Vorwärtsgang
einschalteten.
(www.kicker.de 14.06.2008)
(306) Immer besser in Fahrt kommt bei
Europameister
Spanien der rekonvaleszente
(292) Nur eine Minute später tankte sich
Topstürmer
Fernando
Torres (26). (Er) zeigte
Klose auf (...)
nach
seiner
Meniskusoperation
keinerlei
(www.kicker.de – 16.06.2008)
Beschwerden mehr.
(293) Les Bleus verloren früh Ribery, Mitte (Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche
der ersten Halbzeit auch Abidal nach einer 07.06.2010, p.36)
Notbremse im Strafraum und gerieten
durch Pirlos Elfmeter in Rückstand.
(www.kicker.de – 17.06.2008)
(277) Nun war die Partie wieder offen. Die
Kranjcar-Elf schaltete wieder mindestens (294) Ribery verhakte sich im Zweikampf
einen Gang nach oben und kam wieder zu
mit Zambrotta, hielt sich die Wade und
guten Chancen.
(www.kicker.de –
musste mit der Trage abtransportiert
22.06.2006)
werden - Nasri sollte den Mittelfeldmotor
(278) Die Schweden (...) verloren viele der Equipe Tricolore ersetzen (10.).
Zweikämpfe schon im Mittelfeld und fanden (www.kicker.de – 17.06.2008)
sich immer wieder schnell im Rückwärtsgang
(295) Der russische Express überrollte die
wieder. (www.kicker.de – 24.06.2006)
schwedische Mannschaft mit offensivem
(279) Das Spiel mit angezogener Handbremse
285
tat den "Klinsmännern" nicht
(www.kicker.de – 24.06.2006)
gut
(...) Tempofußball.
(www.kicker.de – 18.06.2008)
(280) Dadurch hatte die "Selecao" in der (296) Der Star von Zenit St. Petersburg war
Endphase dieser durchwachsenen Partie noch kaum zu bremsen (...).
leichteres Spiel und steuerte letztlich (www.kicker.de – 18.06.2008)
ungefährdet dem Viertelfinale entgegen.
(www.kicker.de – 27.06.2006)
(281) Owen Hargreaves: Perfektionierte das
Spiel als "Bremsklotz" vor der Abwehr. War
überall präsent, fabelhaft seine Laufleistung
über 120 Minuten.
(www.kicker.de – 01.07.2006)
(282) In der Verlängerung wollten sich beide
Teams nicht vorschnell aus der Reserve locken
lassen, auch wenn die Franzosen eher im
Vorwärtsgang waren.
(www.kicker,de – 09.07.2006)
b) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria maquinarias diversas e tipos de engenhos (29 ocorrências)
EURO 2004 (2)
(306) Wer nach der Pause erwartet
hatte, dass die Bulgaren den Schalter
umlegen und gegen das drohende
Ausscheiden ankämpfen würden, sah
sich getäuscht.
(www.kicker.de – 18.06.2004)
MUNDIAL 2006 (7)
EURO 2008 (9)
(308) Arne Friedrich Gegen Argentinien (315) Als ob die miserablen äußeren
schaltete der Berliner Tevez aus.
Umstände das Team zusammengeschweißt
(www.bild.de – 05.07.2006)
hätten, ging die Elf von Co-Trainer Hansi
Flick hoch motiviert und mit vollem Einsatz
(309) Achtung! England kommt mit dem in die Partie.
Tor-Roboter - Gefeierter Held: „Tor- (www.focus.de – 01.07.2008)
Roboter“ Peter Crouch (25).
(316)
Weniger
glimpflich
kommt
(307) Griechen schalten Titelverteidiger (www.bild.de – 06.06.2006)
Deutschland nach der bescheidenen
aus!
Vorstellung
weg.
Da
ist
von
(www.kicker.de – 24.06.2004)
(310) Oliver Neuville: Machte nach seiner
"Rumpelfußball", "ärmlichen Fußball" ja
Einwechslung viel Betrieb und sorgte mit
MUNDIAL 2010 (11)
(324) Nächster Star kaputt WM-Aus für
Portugals Nani
(www.sportbild.bild.de – 08.06.2010)
(325) Bundestrainer Joachim Löw: „(...) Die
Kombinationen waren schon so vorgesehen. Wir
haben gut umgeschaltet.“
(www.kicker.de – 13.06.2010)
(326) „Die deutsche Dampfwalze muss jetzt
gegen Ghana um alles oder nichts spielen.“
(www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
286
seinem Treffer für die späte, aber hoch sogar von einer "seelenlosen Maschine"
die Rede. (www.kicker.de – 26.06.2008)
verdiente Entscheidung.
(www.kicker.de – 14.06.2006)
(317) Die Elftal schaltete blitzschnell auf
(311)
Trotz
weiterhin
optischer Angriff um. (www.kicker.de – 09.06.2008)
(327) Kevin-Prince Boateng (23): (...) Die Spieler
sind Maschinen. Wir sind alle unheimlich
austrainiert. (...)
(www.sportbild.bild.de – 11.06.2010)
(328) Messi kommt auf Betriebstemperatur.
(318) Ioannis Amanatidis (Griechenland): (www.kicker.de/news/video)
"Wir müssen den Hebel umlegen, sonst
(329) Deutschland demontiert Argentinien im
sind wir draußen." (www.kicker.de –
WM-Viertelfinale 4:0.
10.06.2008)
(www.sportbild.bild.de – 03.07.2010)
(319) Nachdem die Seiten gewechselt
(330) taz: „Es war ein Augenschmaus: Schöner
waren, kam von den Polen mehr Dampf, Fußball, wenige Fouls und Fußball, Fußball,
(312) Stephen Appiah: Trotz einiger aber die Kroaten schafften den zählbaren Fußball. Doch am Ende starb die deutsche
Maschine und konnte Spanien nichts abringen.“
Fehlschüsse zuvor im Training versenkte er Erfolg. (www.kicker.de – 16.06.2008)
den Elfmeter sehr sicher, war mit Essien (320) Die Schweden, im Spielaufbau (www.sportbild.bild.de – 08.07.2010)
Schwungrad des ghanaischen Spiels.
begriffen, wurden sofort gestört, verloren (331) „Wir werden keinen auseinander(www.kicker.de – 22.06.2006)
den Ball und blitzschnell schalteten die nehmen, aber wir sind schwer zu schlagen.“
Russen auf Angriff um.
Philipp Lahm (Kicker Sportmagazin Sonderheft
(313) Die internationale Presseadelt die (www.kicker.de – 18.06.2008)
WM 2010, p.44)
wiedererstärkte
deutsche
National(321) Lahm schaltete sich in den Angriff ein (332) Schaltstation Donovan
mannschaft, nennt sie eine „Maschine die
und wurde dann von Hitzlsperger schön in Die USA zeichnen sich durch Teamgeist,
nie versagt“.
Szene gesetzt. (www.kicker.de – 25.06.2008) Willenskraft uns Selbstvertrauen aus. Viel hängt
(www.spiegel.de – 24.06.2006)
vom Auftaktspiel ab. (Kicker Sportmagazin
(322) Joachim Löw (Trainer Deutschland): Sonderheft WM 2010, p.160)
(314) Durch ein Tor von Maniche schaltete "Wir hatten Phasen, wo das Spiel nicht so
(333) In seinem [Queiroz] 4-2-3-1 System ist
Portugal
in
einem
dramatischen gut funktioniert hat.“
einer der beiden defensiven Mittelfeldspieler
(www.kicker.de
–
25.06.2008)
Achtelfinalspiel
in
Nürnberg
die
als reiner „Staubsauger“ von der Viererkette
Mannschaft der Niederlande aus und trifft
(323) War die erste Halbzeit noch vorgesehen
(...).
(Kicker
Sportmagazin
nun auf England.
ausgeglichen, drehten die Spanier nach der Sonderheft WM 2010, p.180)
(www.kicker.de – 25.06.2006)
Pause auf und zogen sich auch nach Xavis
(334) „Eiskälte – und die WM ist noch nicht auf
Führungstreffer nicht zurück.
Betriebstemperatur“
Kicker-Herausgeber
(www.kicker.de – 26.06.2008)
Rainer Holzschuh (Kicker Sportmagazin Nr. 49
– 24. Woche 17.06.2010, p.16)
Überlegenheit der Schweden fehlte es den
Offensivkräften der Gelb-Blauen an der
nötigen Durchschlagskraft gegen die immer
besser funktionierende Abwehr der
Südamerikaner.
(www.kicker.de – 15.06.2006)
287
Apresentamos, de seguida, o esquema representativo da rede de modelos mentais,
relativamente à macro-metáfora conceptual FUTEBOL É MÁQUINA, de acordo com Brandt
(2004a), Brandt/Brandt (2005a):
Espaço Semiótico de Base
Espaço de Apresentação
Espaço de Referência
Veículos
Expressões
metafóricas
Jogador
FUTEBOL
MÁQUINA
Outros
Intervenientes
Maquinarias
Force-dynamic schema:
cenário das forças
mecânicas; esquema da
trajectória (path-goal)
Equipa
FUTEBOL
COMO
MÁQUINA
Jogo/
Jogada
s
Campeonato
Espaço
Virtual
(Blend)
Esquema dinâmico de
Relevância
(Relevance-Schema)
Inferências
Emergentes
Num futebol de qualidade
Um futebol de
qualidade é forte,
fiável e veloz. A
vitória é o destino.
Espaço do
Significado
tudo funciona na perfeição
para atingir a vitória
Figura 45: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Máquina
Como já foi realçado anteriormente, o espaço semiótico de base é composto pelas
esferas do mundo fenomenológico, o contexto de comunicação situacional (jornais
desportivos) e a respectiva realização metafórica. O espaço de apresentação configura o
domínio-fonte conceptual: o mundo tecnológico das máquinas, enquanto o espaço de
referência constitui o domínio-alvo: o mundo do futebol. Com base nas realizações
metafóricas encontradas, identificamos dois tipos de sub-domínios distintos (esferas pequenas
na figura 45) fundamentais ao processo de mapeamento conceptual: o domínio dos veículos e
o domínio mais amplo das maquinarias diversas, assim como diferentes tipos de engenhos. No
espaço virtual emerge, então, a mescla 1: FUTEBOL É MÁQUINA, i.e. o jogo e os jogadores são
conceptualizados como máquinas. O esquema de relevância, por sua vez, confere a lógica
288
interpretativa ao espaço virtual. Presume-se que o leitor possua um conhecimento geral,
construído a partir da experiência individual, social e cultural da dinâmica aliada ao
funcionamento das máquinas. Estas experiências originam a criação de esquemas mentais de
cariz abstracto, essenciais para a construção do significado intendido (mescla 2)254. Neste
sentido, Brandt (2010b:8-9) afirma: “(…) and because this blended space attracts a set of
relevance-making schemas from the base space, a mediate blend unfolds as a meaning space
offering the interpretation triggered by the process (of conscious information processing)”.
Note-se que a activação dos esquemas de relevância pode, dependendo de cada leitor,
suceder de forma consciente ou inconsciente. Porém, a sua presença mental é tão inegável
como importante, visto ser essencial para a construção do significado. Daí, fazer parte da
arquitectura conceptual, contudo, diferenciado através do seu formato rectangular:
“The cognitive mechanism that allows the meaning to emerge in the blend should figure in
the analysis, and I therefore offer a description of the schematic background knowledge
that makes it at all relevant for the conceptualizers to blend the two inputs in the first place,
and which, in effect, makes the metaphoric meaning come about in the virtual blend.
This semantic content may or may not be represented as a separate mental space,
depending on the individual conceptualizer’s conscious awareness of it. Because it is an
essential part of the meaning construction process, my suggestion is that it be included in
conceptual integration analyses, regardless of how it is accessed. Whether the
conceptualizer pieces together a representation of the issue that makes the presentation
(the source) relevant to the reference (the target), hence constructing a mental space, or
gets the meaning without identifying the intended framing schema, it is present in the mind,
since the meaning would not emerge without it. To the analyst, however, this applied
background knowledge, insofar as it is taken into consideration, will necessarily figure in a
mental space, since it takes considerable analytic effort to, not just identify, but give a
description of it, rendering evident its schematic form as it might plausibly be represented
in human cognition (with varying degrees of awareness). These schemas, a resource in the
phenoworld, are represented in a type of space characterized by affording argumentational
relevance to the blend.” (Brandt, L., 2010:201-202)
254
“The Relevance schemas are thus part of the background knowledge, and as such, they emerge from the outer
layer of the semiotic base space, depicted as the phenol-world. These structures pertain to the argumentational
relevance of the meaningful blend: the space of recognition and activation of the appropriate script, in order to
enable the cognizer to understand why this virtual scenario is meaningful and what implications it has for the
unfolding of the discourse in which it occurs. The content of this relevance space may or may not be consciously
represented (…). For analytical purposes it should be considered as a space on its own, since it is an essential
element in meaning construction.” (Abrantes, 2010a: 86)
289
Consideramos, então, que o significado final nesta rede conceptual poderá ser algo
como: Um futebol de qualidade caracteriza-se pela força enérgica, pela fiabilidade, precisão255
e entrosamento dos seus elementos. Esta ‘mensagem’ emergente é, de forma sintética,
remetida para o espaço semiótico de base, enriquecendo o mesmo.
a) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria veículo
Desde a invenção do automóvel moderno (veículo de quatro rodas, com motor vertical
de combustão interna) por Nikolaus Otto (1876) e o seu desenvolvido por Karl Benz em 1875,
assim como Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, em 1889 em Estugarda (então movido a
gasolina), até à actualidade, a Alemanha, com seus engenheiros inventivos e empreendedores,
sempre se posicionou na linha da frente da indústria do automóvel256. O automóvel configura
um motivo de orgulho para a nação alemã tanto por motivos históricos, ligados à invenção e
evolução deste veículo, como devido ao facto das marcas alemãs serem, reconhecidamente,
sinónimo de qualidade, segurança, fiabilidade, tecnologia de ponta e vanguardismo. Numa
sociedade dominada pela mobilidade, os automóveis, motociclos, autocarros, entre outros,
tornaram-se o principal meio de transporte urbano humano. Outrora considerado um objecto
de luxo, o automóvel é, actualmente nas sociedades modernas, considerado um utilitário.
Assim sendo, os princípios de funcionamento e utilização básicos dos veículos de duas, três ou
quatro rodas constituem um domínio familiar para a população em geral. A terminologia
própria associada à condução dos veículos motorizados, e.g. acelerar, travar, meter uma
mudança, ponto morto, marcha atrás, etc. fazem parte da linguagem comum. Não é de
estranhar, então, que esta terminologia tenha sido transportada para outros domínios, tais
como o futebol. Das 48 ocorrências identificadas, e de acordo com a metodologia proposta,
passamos a analisar as mais representativas.
A ocorrência (259) diz respeito ao jogo entre as selecções da Itália e da Dinamarca
aquando do campeonato europeu de 2004. O resultado final foi de 0:0 e, de acordo com a
notícia, apenas a segunda parte do jogo se revestiu de algum interesse. O jogo de futebol é,
aqui, conceptualizado como um percurso a percorrer por um veículo em direcção à vitória ou
ao próximo jogo da eliminatória (ocorrência (280)). Os jogadores são os responsáveis pelo
255
“(…) Mannschaften, die „mit der Präzision von Maschinen“ spielen (...).“ (Frielingsdorf, 2009:23)
“A A lema nha é o quarto maior produtor mu ndi al de v eículos, atrá s do Japão, dos Estados Unidos
e da China. A Volkswagen é a maior fabricante de automóveis da Europa e a quarta maior do mundo. Entre as 20
maiores montadoras do mundo estão ainda a Daimler e a BMW. Em 2007, os fabricantes alemães produziram 12,1
milhões de veículos, dos quais 6,2 milhões na Alemanha e 5,9 milhões no exterior. As montadoras alemãs produzem
em mais de 40 países, onde mantêm mais de 120 unidades.” (Oliveira, Quandt, Mello, Araújo (2011), “Produção
Industrial na Alemanha”, Ministério da Educação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, In:
http://pt.scribd.com/doc/53904474/Producao-Industrial-na-Alemanha, pp.5-6 [Consult.02.04.2011])
256
290
respectivo andamento, i.e. um jogo dinâmico voltado para o ataque configura um andamento
rápido enquanto um jogo monótono e pouco empenhado é conceptualizado como lento ou
cómodo - “gemütlich”. Ganhar velocidade - “an Fahrt gewinnen257” - é, neste sentido, imprimir
dinamismo ofensivo ao jogo com o objectivo claro de ganhar:
(259) Bei sommerlichen Temperaturen mussten die Zuschauer in Guimaraes eine
gemütliche Halbzeit ertragen, ehe die Partie schließlich an Fahrt gewann.
(280) Dadurch hatte die "Selecao" in der Endphase dieser durchwachsenen Partie noch
leichteres Spiel und steuerte letztlich ungefährdet dem Viertelfinale entgegen.
Em suma, à deslocação física espacial corresponde a deslocação mental
metaforicamente conceptualizada. Se, neste enquadramento, o jogo é um trajecto a percorrer
num veículo, o jogador, ou a equipa como um todo, é frequentemente conceptualizado como
o condutor que controla o veículo e o respectivo andamento. Assim sendo, as acções
executadas na condução de um veículo servem de base conceptual para os diversos
mapeamentos. A engrenagem aparenta ser o mecanismo mais produtivo em termos de
realizações metafóricas. Desde o ponto morto, a meter uma mudança acima ou abaixo, até à
marcha atrás, todos estes procedimentos, aos quais corresponde a velocidade e a direcção da
marcha do veículo, são mapeados no domínio do futebol258:
(267) Mit dem Beginn der zweiten Hälfte versuchten die Polen den schwachen
Eindruck ab der 20. Minute zu revidieren und legten wieder energischer den
Vorwärtsgang ein (...)
(269) Der Vize-Europameister hatte mit dem WM-Neuling nur wenig Mühe und
schaltete im zweiten Durchgang mindestens einen Gang zurück.
257
“Fahrt [f.] 1 das Fahren; bei der F. durch die Stadt 2 Geschwindigkeit beim Fahren; die F. beschleunigen,
verlangsamen; in voller F.; mit halber F. 3 [übertr.] Schwung, lebhafte Bewegung, fröhliche, lebhafte Stimmung; in F.
geraten, kommen, sein; jmdn. in F. bringen (...)“ (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/gener
ator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=an+fahrt+gewinnen [Consult.02.04.2011])(sublinhado nosso)
258
No mesmo sentido, Burkhardt afirma: “den Vorwärtsgang einlegen; nicht: als Fahrtvorbereitung den 1. Gang
einlegen, sondern: sehr → offensiv, voll auf → Angriff spielen (...)“ (Burkhardt, 2006a:345) “einen Gang herunter-,
zurückschalten; nicht Teil des Abbremsens auf dem Stadionparkplatz, sondern (in metaphorischer Verwendung):
Kampfbereitschaft u. → Einsatz reduzieren u. mehr auf → Halten spielen (...)“ (op.cit.p.126) “einen Gang höher
schalten; kein Ausdruck der Euphorie heimfahrender Fans, sondern (in metaphorischer Verwendung):
Kampfbereitschaft u. → Einsatz → (im Angriffspiel) erhöhen, um den Spielstand zu verbessern (...)“ (op.cit. p.127)
“Rückwärtsgang; der, keine Übersetzungsstufe des Fahrzeuggetriebes, sondern: 1. → Rückwärtsbewegung (...); 2.
(in metaphorischer Verwendung) → Defensive (...); 3. (in metaphorischer Verwendung): das Umschalten der
Mannschaft nach → Ballverlust auf → Defensive u. Einnehmen der entsprechenden → Spielpositionen (...); 4. (in
metaphorischer Verwendung) die Orientierung an einer → defensiven Spieltaktik, durch die ohne besondere →
Angriffsbemühungen ein bestimmtes Ergebnis gehalten werden soll (...); den Rückwärtsgang einlegen: keine
Vorbereitung aufs Einparken, sondern (als Mannschaft) auf eine → defensive Spieltaktik umschalten u. sich
weitgehend in die eigene → Hälfte zurückziehen (...)“ (op.cit. p.251)
291
(270) Auch die Pfister-Elf spielte in dieser Phase ohne viel Tempo, schaltete nach einer
halben Stunde mal kurz einen Gang höher und ging völlig überraschend in Front.
(271) Ob die weiterhin hohen Celsiusgrade Schuld daran waren, dass das Tempo der
Partie zwischenzeitlich vollkommen abhanden kam? Jedenfalls sahen die Zuschauer
lange Zeit nur absoluten Leerlauf.
(278) Die Schweden (...) verloren viele Zweikämpfe schon im Mittelfeld und fanden
sich immer wieder schnell im Rückwärtsgang wieder.
De forma idêntica, acelerar corresponde a uma mudança do tipo de jogo, no sentido
de acelerar os procedimentos atacantes dos jogadores, enquanto manter a velocidade elevada
significa manter o ritmo de jogo ofensivo elevado, até que o objectivo seja atingido:
(273) Doch nicht nur die Osteuropäer gaben Gas, auch die "Black Stars" hielten
in einer offenen Anfangsphase das Tempo hoch und hatten durchaus ihre
Möglichkeiten (Addo, 12. , Appiah, 14.).
Quando o ritmo de jogo é demasiado lento e a equipa não procura o golo, limitando-se
a conservar o resultado através de trocas de bola no próprio meio campo, o jogo está
totalmente parado, tal como um automóvel com o travão de mão puxado:
(279) Das Spiel mit angezogener Handbremse tat den "Klinsmännern" nicht gut, es
schlichen sich Leichtsinnsfehler ein, die Abspiele waren nicht mehr präzise genug,
Schweden bekam mehr Selbstbewusstsein.
Trata-se do jogo entre as selecções da Alemanha e da Suécia, aquando do campeonato
mundial de 2006. Ao intervalo a Alemanha já ganhava por 2:0 e por isso, para a segunda parte
do jogo, os jogadores receberam a indicação de jogar apenas o indispensável para garantir a
vitória. A equipa é conceptualizada como um veículo imobilizado por recurso ao travão de
mão.
Nas ocorrências (285), (294) e (297), jogador individual, ou a equipa como um todo,
são conceptualizados como um motor. Num veículo, o motor é o elemento central da
propulsão, sendo que a sua potência depende da potência do motor que possui. Contudo, a
instalação de um equipamento mecânico extra, um turbo, pode aumentar a potência e,
consequentemente, a velocidade do veículo. Porém, o motor não pode funcionar sem
combustível. Assim, “tanken” afigura-se central ao cenário das máquinas, sendo que
“auftanken”259 descreve a acção de enchimento de um depósito.
259
“auf|tan|ken [V.1, hat aufgetankt] I [mit Akk.] ein Kraftfahrzeug a. den Benzintank eines Kraftfahrzeugs ganz
füllen II [o. Obj.] den Vorrat an Treibstoff ergänzen“ (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/
292
(285) Pass von Xavi Hernandez auf Torres. Lahm zögert, Lehmann kommt nicht schnell
genug raus. Und Turbo-Torres lupft den Ball aus 14 Metern ins lange Eck – 0:1.
(294) Ribery verhakte sich im Zweikampf mit Zambrotta, hielt sich die Wade und
musste mit der Trage abtransportiert werden - Nasri sollte den Mittelfeldmotor
der
Equipe Tricolore ersetzen (10.).
(297) „Wir haben in diesem Spiel gut aufgetankt, uns Selbstbewusstsein für das
weitere Turnier geholt. Jetzt denken wir nur an unser nächstes Spiel“, sagte
Torschütze Siphiwe Tshbalala.
Mediante activação das estruturas abstractas que subjazem ao conhecimento que o leitor
possui sobre as funções mecânicas e o funcionamento básico de um veículo, das mesclas
virtuais Torres é um turbo, Ribery é um motor no meio campo, a equipa sul-africana é um
motor de tanque cheio, emergem os significados intendidos: Torres é um jogador muito
rápido; Ribery é um centro-campista excelente; a selecção da África do Sul está cheia de
energia e optimismo.
No seguimento do que foi afirmando anteriormente, apresentamos, então, a tabela
descritiva dos diferentes espaços:
Ocor.
(259)
(280)
(267)
(269)
ESB
Texto
EA
ERef
M1
ERel
M2
an Fahrt
Jogo como veículo; Esquema dinâmico:
Dinâmica de jogo
gewinnen
dinâmica de jogo
força motora Boa prestação
das selecções da
(velocidade de
como velocidade;
velocidade;
na segunda
Itália e da
um veículo num
vitória como
esquema da
parte!
Dinamarca
trajecto)
destino
trajectória
Jogo como
trajectória;
apuramento do
Brasil como
destino
Esquema dinâmico:
esquema da
trajectória (pathgoal)
Parabéns
Brasil!
Texto
den
Dinâmica de jogo
Vorwärtsgang
das selecções da
einlegen
Polónia e o
(as mudanças
Equador
de um veículo)
Jogadores como
condutores;
dinâmica de jogo
como meter uma
mudança
Esquema dinâmico:
força motora;
esquema da
trajectória
Boa
prestação!
Texto
Opção de jogo da
einen Gang
selecção de
zurückschalten
Portugal contra a
(as mudanças
selecção de
de um veículo)
Angola
Jogadores como
condutores;
opção de jogo
como meter uma
mudança abaixo
Esquema dinâmico:
força motora;
Portugal
esquema da
pouco activo!
trajectória
Texto
entgegen
steuern
(trajectória
direccional
(destino))
Apuramento da
selecção do Brasil
generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=auftanken [Consult. 05.04.2011])
293
(270)
(271)
(278)
(273)
(279)
(285)
(294)
(297)
ESB
ERef
ERel
Texto
Forma de jogar
einen Gang
da selecção do
höher schalten
Togo no jogo
(as mudanças
contra a selecção
de um veículo)
da Coreia do Sul
Texto
Leerlauf
Dinâmica de jogo Jogo como veículo;
(as mudanças das selecções da dinâmica de jogo
de um veículo) França e da Suíça como ponto morto
Texto
Rückwärtsgang
Estratégia da
Jogadores como Esquema dinâmico:
(as mudanças
selecção sueca
condutores;
força motora;
de um veículo - no jogo contra a estratégia de jogo
esquema da
marcha atrás)
Alemanha
como marcha atrás
trajectória
Texto
Gas geben;
Dinâmica de jogo
Tempo hoch
das selecções da
halten
Rep. Checa e do
(a velocidade
Gana
de um veículo)
Jogadores como
condutores;
dinâmica de jogo
como acelerar
Esquema dinâmico:
força motora e veloBom
cidade; esquema da desempenho!
trajectória
Texto
mit
angezogener Dinâmica de jogo
Handbremse
da selecção
(veículo de
alemã no jogo
travão de mão contra a Suécia
puxado)
Jogadores como
condutores;
dinâmica de jogo
como veículo
travado
Esquema dinâmico:
força motora velocidade;
esquema da
trajectória
Alemanha
jogou à
defesa!
Texto
Turbo-Torres
(o turbo de um
veículo)
Torres como um
turbo
Esquema dinâmico:
força mecânica
Torres, que
veloz!
Texto
Mittelfeldmotor
Ribery como motor Esquema dinâmico:
(um motor no O jogador Ribery
no meio campo
força mecânica
meio campo)
Ribery,
excelente!
Texto
auftanken
(encher o
depósito de
combustível)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
O jogador
espanhol Torres
Desempenho da
África do Sul no
jogo contra o
México
EA
M1
M2
Jogadores como
condutores;
forma de jogar
como meter uma
mudança acima
Desempenho da
equipa como
encher o depósito
de combustível
Esquema dinâmico:
força motora;
esquema da
trajectória
Bom jogo,
Togo!
Esquema dinâmico:
força motora;
esquema da
trajectória
Má
prestação!
Esquema dinâmico:
vazio-cheio
(contentor)
A Suécia
jogou à
defesa!
África do Sul
em alta!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 46: Tabela de Espaços Mentais 15
Os significados intendidos resultantes do processo de mesclagem corroboram e
reforçam as seguintes equivalências conceptuais no que diz respeito à avaliação dos critérios
de qualidade subjacentes ao desporto futebol: fenómenos que se prendem com a trajectória
em direcção ao objectivo (“entgegen steuern”), a velocidade (“an Fahrt gewinnen”, “Tempo”,
“Gas geben”) e o avanço (“Vorwärtsgang”, “einen Gang höher”), assim com a potência e a
força (“Motor”, “Turbo”), o conceito de cheio de potência (“aufgetankt”) e a travagem
294
(“bremsen”), na perspectiva da equipa que defende, são qualidades positivas e muito
apreciadas. Em oposição a redução de velocidade (“einen Gang zurückschalten”), o recuo
(“Rückwärtsgang”), a paragem total (“Leerlauf”) e a travagem (“mit gezogener Handbremse”,
“gebremst werden”), na perspectiva da equipa atacante, são aspectos negativos que impedem
as equipas de chegar à vitória desejada. Assinale-se que as ocorrências (284) e (265) revelam
um esquema conceptual idêntico, aplicado ao meio de transporte do comboio.
(284)
Zwölf
Jahre
nach
dem
letzten
Triumph
unterlag
die
deutsche
Nationalmannschaft im Finale in Wien Spanien mit 0:1 (0:1). Nach einer Stunde
Schlafwagenfußball und großen Defensivproblemen kam die Steigerung der
DFB-Elf
zu spät, um die dritte Endspiel-Niederlage bei einer Europameisterschaft nach 1976
und 1992 noch verhindern zu können.
(265)
Der
russische
Express
überrollte
die
schwedische
Mannschaft
mit
offensivem Tempofußball.
Um vagão cama - “Schlafwagen“ - é uma carruagem própria destinada ao repouso
nocturno dos passageiros, sendo que aplicada ao futebol na ocorrência (185), projecta o
estado de dormência na dinâmica de jogo praticada pelas selecções da Alemanha e a Espanha
aquando da final do campeonato europeu de 2008. Dado que o futebol é um jogo activo e
dinâmico, “dormir em campo” constitui uma atitude negativa.
Pelo contrário, meios de transporte rápidos, representam boas prestações das
equipas. Na ocorrência (196), o comboio expresso, que prima pela velocidade e a consequente
chegada rápida ao destino, representa a prestação veloz e virtualmente imparável da selecção
russa que cilindrou - “überrollen” - a selecção sueca. Assim sendo:
Ocor.
(284)
(265)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Schlafwagen
(vagão-cama)
Dinâmica de jogo
das selecções da
Alemanha e da
Espanha
Dinâmica de jogo
da Alemanha e da
Espanha como
vagão-cama
Cenário do
vagão- cama
(passageiros a
dormir)
Que mau jogo!
Texto
Express
(comboio
expresso)
Dinâmica de jogo da
Dinâmica de jogo
selecção russa
da Rússia como
contra a selecção
comboio expresso
sueca
Esquema
dinâmico: força
motora;
velocidade
Que boa
prestação da
Rússia!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 47: Tabela de Espaços Mentais 16
295
Com base nos princípios de avaliação da qualidade de um jogo de futebol acima
desenvolvidos, enquanto a mescla final da ocorrência (284) expressa desalento pela fraca
prestação de ambas as equipas, a ocorrência (265) vozeia uma elogio à equipa russa pelas
capacidades extraordinárias demonstradas em campo.
b) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria maquinarias diversas e tipos de engenhos
Esta subcategoria evidencia a proximidade entre o futebol e o mundo do trabalho. As
realizações metafóricas identificadas baseiam-se na projecção de engenhos tecnológicos que
fazem, maioritariamente, parte do universo da produção fabril ou industrial, para o domínio
do futebol, i.e. as capacidades técnicas e tácticas das equipas e dos jogadores são
conceptualizadas através do domínio da capacidade produtiva de uma máquina. Assiste-se
assim, a um fenómeno de objectivação, no qual o jogador passa a ser um instrumento do qual
se espera produtividade, durabilidade e perfeição, ou seja, as características exigidas a uma
máquina de qualidade:
“Die Annäherung des Fussballspiels an die Arbeitswelt „lässt viele Termini aus der Sprache
der Technik in die Berichte” und damit auch in die Fussballsprache einfliessen (Fingerhut
1991, 96). Darüber hinaus werden in der Fussballberichterstattung Fachjargonismen
gebraucht, die die Leistung des Sportlers mit dem Ablauf eines technischen Prozesses
vergleichen oder gar identifizieren z. B. einen Gang zurückschalten, in Fahrt kommen, Dampf
machen etc. Die Materialisierung und Entpersonifizierung erreicht nach Siefer (1970, 113) in
solchen Formulierungen den Höhepunkt, denn „die Spieler sind nicht mehr Individuen,
sondern sie werden zu Schaltstationen, Mittelfeldmotoren oder -achsen, die an der Stelle,
an der sie ‚eingesetzt‘ werden, funktionieren müssen“ (...).“ (Höppner, 2008:51).
Neste sentido, as presentes realizações metafóricas patenteiam o fenómeno que se
prende com o elevado nível de exigência que domina a actividade desportiva. O imperativo do
rendimento e da vitória tornou-se um imperativo desumano dos tempos modernos. Este facto
aumenta a pressão do resultado e do sucesso que o jogador sente relativamente ao seu
desempenho. Daí que, tanto a imprensa desportiva, como os próprios jogadores recorram
frequentemente a estas conceptualizações:
“Dieses technische Vokabular beschränkt sich, wie Dankert treffend betont, keineswegs nur
auf den Sprachschatz der Journalisten: „Nicht erst von den Fussballjournalisten, sondern
auch von den Spielern selbst kann man hören, dass man im Training Kraft tanken, den Akku,
die Batterien aufladen will“ (Dankert, Sportsprache, S. 126). (...) Weitehin sieht Dankert die
296
häufige Nutzung von Termini der militärischen und auch der technischen Fachsprachen als
„symptomatisch für eine durchgängige Stiltendenz der Sportberichterstattung“ an, die
konstant von einem „Pathos der Härte und Entscheidung“ (op.cit. S. 121 ff.) geprägt ist.
Darin sieht er auch die Tatsache begründet, dass Berichte über Fussballspiele häufig nach
dem gleichen Muster verfasst werden.“ (Frielingsdorf, 2009:40)
Assim sendo, as ocorrências (316) e (330), evidenciam, por um lado, a perspectiva
desumanizada da equipa de futebol como máquina, por outro, atribuem à máquina,
contrafactualmente, traços característicos dos seres vivos:
(316) Weniger
glimpflich
kommt
Deutschland nach der bescheidenen
Vorstellung weg. Da ist von "Rumpelfußball", "ärmlichen Fußball" ja sogar von einer
"seelenlosen Maschine" die Rede.
(330) taz: „Es war ein Augenschmaus: Schöner Fußball, wenige Fouls und Fußball,
Fußball, Fußball. Doch am Ende starb die deutsche Maschine und konnte Spanien
nichts abringen.“
No mundo real, as máquinas não possuem alma nem morrem, mas no cenário virtual
construído pelo jornalista desportivo, a contra-factualidade encaixa-se, de modo perfeito,
nesta arquitectura conceptual. Mais ainda, à luz do processo de personificação conceptual, o
conceito abstracto de equipa é, por sua vez, conceptualizado como sendo um único ser vivo.
Esta construção ‘híbrida’ (ser vivo/objecto) potencia o contraste entre o desejado e o
rejeitado, i.e. o que se espera e o que é apreciado numa equipa ou num jogador e,
simultaneamente, o que merece critica e desaprovação:
deseja-se uma equipa forte, fiável e bem entrosada, i.e. uma máquina;
não se deseja uma equipa derrotada260, i.e. que pare de funcionar;
não se aprecia uma equipa sem determinação, emoção e empenho, i.e. sem alma261.
Nas seguintes ocorrências, a dinâmica de jogo das equipas é, igualmente,
conceptualizada como uma máquina que, de acordo com o programa seleccionado,
desempenha diferentes funções. Metaforicamente conceptualizado, um comutador ou
interruptor acciona o jogo, por exemplo: ligado → jogo atacante, desligado → jogo defensivo.
Um jogador pode igualmente ser configurado como subestação de comutação, i.e. ser o
jogador central que comanda e orienta o jogo da equipa262:
260
vide ponto 3.2.1.: Conceptualização: perder é morrer.
“see|len|los <Adj.; -er, -este> (geh.): ohne Gefühl, innere Wärme: er ist ein -er Roboter; sein Vortrag am Klavier
war s.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
262
Registe-se que Burkhardt explana claramente os sentidos metafóricos dos mecanismos na terminologia do
futebol: “Schaltzentrale, die; nicht die zentrale Steuerung für die Stadionelektrik u. -elektronik, sondern (in
261
297
(306) Wer nach der Pause erwartet hatte, dass die Bulgaren den Schalter
umlegen und gegen das drohende Ausscheiden ankämpfen würden, sah sich
getäuscht.
(332) Schaltstation Donovan - Die USA zeichnen sich durch Teamgeist, Willenskraft
und Selbstvertrauen aus. Viel hängt vom Auftaktspiel ab.
Na sequência das conceptualizações anteriores, muitas características das máquinas
são projectadas para o mundo do futebol, sendo que o domínio tecnológico se revela bastante
fértil para os processos de mapeamento, e.g. o jogo e as tácticas de jogo devem funcionar263
(ocorrência 322)), um jogador opera idealmente a uma dada temperatura (ocorrência (328)) e
a equipa (ou a estratégia) pode ser montada e desmontada264 (ocorrência (329)):
(322) Joachim Löw (Trainer Deutschland): "Wir hatten Phasen, wo das Spiel nicht so
gut funktioniert hat.“
(328) Messi kommt auf Betriebstemperatur.
(329) Deutschland demontiert Argentinien im WM-Viertelfinale 4:0.
Relativamente à ocorrência (328), Burkhardt confirma:
“Betriebstemperatur, die; nicht der volle Bereitschafszustand eines vorgeheizten Gerätes,
aber (in metaphorischer Verwendung): das Sich-Einstellen auf den Gegner u. das Spiel mit
vollem Einsatz, → Spiellaune“ (Burkhardt, 2006a:58)
A ocorrência (326) descreve a selecção alemã como uma “Dampfwalze” “Dampf|wal|ze, die: 1. bes. früher im Straßenbau verwendete, mit Dampfkraft angetriebene
Straßenwalze.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom). Consideramos que a estrutura
subjacente à presente conceptualização se centra na função proeminente do cilindro
compressor, ou seja, a sua capacidade de esmagar, mesmo os objectos e superfícies mais
duros. Assim sendo, estabilizada pelo cenário da construção mecânica de estradas (do
esquema da relevância), a mescla final traduz o desejo de vitória da selecção alemã, por muito
difícil que seja o adversário (Gana):
metaphorischer Verwendung): 1. das → zentrale Mittelfeld; (...) 2. die das Spiel ihrer Mannschaft (v.a. im → Angriff)
als → Pass- u. Ideengeber lenkenden → Mittelfeldspieler, insb. der → Mittelfeldregisseur, → Mittelfeldmotor, →
Spielgestalter, → Spielmacher, → Regisseur (...)“ (Burkhardt, 2006a:257).
263
“funk|ti|o|nie|ren <V.; hat> [nach frz. fonctionner]: 1. intakt sein u. durch Zusammenwirken bestimmter
[technischer] Vorgänge seine Funktion erfüllen: wie funktioniert das?; der Apparat funktioniert nicht. 2. (ugs.) sich
bestimmten Normen entsprechend, angepasst verhalten.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
264
“de|mon|tie|ren <V.; hat> [wohl < frz. démonter, zu: monter, montieren]: a) (bes. Industrieanlagen) abbauen,
abbrechen: Fabriken, Maschinen d.; b) auseinander nehmen, zerlegen: ein Flugzeug d.; c) abmontieren: Autoreifen
d.; d) stufen- od. gradweise zerstören, abbauen: Vorurteile, seinen Ruhm d.; (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
298
(326) Die deutsche Dampfwalze muss jetzt gegen Ghana um alles oder nichts spielen.
Também as realizações metafóricas das ocorrências (312) e (333), se centram nas
funções específicas de cada engenho ou aparelho:
(312) Stephen Appiah: Trotz einiger Fehlschüsse zuvor im Training versenkte er
den Elfmeter sehr sicher, war mit Essien Schwungrad des ghanaischen Spiels.
(333) In seinem 4-2-3-1 System ist einer der beiden defensiven Mittelfeldspieler
als reiner „Staubsauger“ von der Viererkette vorgesehen (...).
Um tambor volante - “Schwungrad”265 é um volante utilizado para transmitir força
motriz, por meio de correias ou cabos; uma vez em movimento, desacelera a sua rotação
muito lentamente. Nesta base, o mapeamento conceptual processa-se entre o princípio do
movimento consistente executado pelo volante - domínio-fonte -, e a dinâmica de jogo
consistente e determinante dos jogadores Appiah e Essien - domínio-alvo. O cenário da
dinâmica da força motora confere sentido lógico à mescla final: estes jogadores são os
principais responsáveis pelo bom jogo da selecção ganesa.
Relativamente à ocorrência (333), sublinhe-se que o recurso à imagem do aspirador “Staubsauger”, aparelho concebido para aspirar pó e sujidade de forma a limpar as superfícies
rápida e eficazmente, para representar o defesa que neutraliza as acções atacantes da equipa
adversária rápida e eficazmente. As analogias são evidentes, tal como Burkhardt (2006a)
aponta.266
Por último, analisaremos a realização metafórica da ocorrência (309) conceptualiza o
ponta de lança britânico Peter Crouch como um robot que produz golos:
(309) Achtung! England kommt mit dem Tor-Roboter - Gefeierter Held: „TorRoboter“ Peter Crouch (25).
Esta conceptualização é motivada por dois factores: 1. analogia funcional: o jogador é
conhecido por marcar muitos golos de forma quase mecânica e 2. analogia física: a
constituição física e a coordenação motora do jogador faz lembrar a estrutura e os
movimentos de um robot. Contudo, a mescla final é, a nosso ver, uma só: Crouch é imbatível!
265
“Schwung|rad, das (Technik): aus einem schweren Material gefertigtes ²Rad (2), das, einmal in Rotation versetzt,
seinen Lauf nur sehr allmählich verlangsamt.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
266
“Staubsauger, der; kein unentbehrliches Haushaltsgerät, sondern (in metaphorischer Verwendung): ein von der
eigentlichen → Abwehr (heute also zumeist von der → Viererkette) im defensiven Mittelfeld agierender →
Abwehrspieler, dessen Aufgabe es ist, gegnerische → Angreifer frühzeitig zu → attackieren u. an → Torschüssen u.
am → Kombinationsspiel zu hindern (u. ihnen möglichst gleichsam den Ball wegzusaugen), → Abfangjäger, →
Abräumer (...).“ (Burkhardt, 2006a:291)
299
Uma vez contextualizadas e explicadas as realizações metafóricas aqui identificadas,
vejamos o quadro dos respectivos espaços mentais:
Ocor.
(316)
(330)
(306)
(332)
(322)
(328)
(329)
(326)
(312)
(333)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Seelenlose
Maschine
(máquina sem
alma)
Selecção alemã
no jogo contra a
selecção turca
Selecção da
Alemanha como
máquina sem alma
Cenário
tecnológico/
mecânico
Alemanha,
que mal
jogado!
Texto
die deutsche
Maschine starb
(maquina alemã
morreu)
Derrota da
selecção alemã
contra a
Espanha
Derrota da selecção
Alemã como
máquina alemã
morta
Cenário
tecnológico/
mecânico;
perder é
morrer
Alemanha
insuficiente!
Texto
den Schalter
nicht umlegen
(não comutar,
não ligar o
interruptor)
Dinâmica de
jogo da selecção
búlgara no jogo
contra a
Dinamarca
Dinâmica de jogo
da Bulgária como
não ligar o
interruptor
Cenário
tecnológico/
mecânico
Bulgária, que
fracasso!
Texto
Schaltstation
(subestação de
comutação)
O jogador dos
EUA Donovan
Donovan como
subestação de
comutação
Cenário
tecnológico/
mecânico
Donovan,
boa
prestação!
Texto
nicht gut
funktioniert
(momentos de
mau funcionamento mecânico)
Fases do jogo
da selecção
Alemã contra a
Turquia
Fases do jogo da
selecção alemã
como momentos
de mau funcionamento mecânico
Cenário
tecnológico/
mecânico
Não fomos
perfeitos!
(Löw)
Texto
Betriebstemperatur
(temperatura
ideal de serviço)
O rendimento
do jogador
Messi
O rendimento do
jogador Messi
como temperatura
ideal de serviço
Cenário
tecnológico/
mecânico
Messi, muito
bem!
Texto
demontieren
(desmontar/
desmantelar)
Jogo da
selecção alemã
contra a
Argentina
Jogo da selecção
alemã como
desmantelar a
selecção argentina
Cenário
tecnológico/
mecânico
Alemanha
em alta!
Texto
deutsche
Dampfwalze
(cilindro
compressor
alemão
A selecção
Alemã no jogo
contra a
selecção do
Gana (futuro)
A selecção alemã
como cilindro
compressor
(futuro)
Cenário
tecnológico/
mecânico
Coragem,
Alemanha!
Texto
Schwungrad
(tambor volante
Os jogadores do
Gana Essien e
Appiah
Jogadores Essien e
Appiah como
tambores volantes
Cenário
tecnológico/
mecânico
Essien e
Appiah em
alta!
Staubsauger
(aspirador)
Jogador da
defesa da
selecção
portuguesa
(futuro jogo)
Jogador da defesa
portuguesa como
aspirador
(futuro jogo)
Cenário
tecnológico/
mecânico
Força, defesa
português!
Texto
300
(309)
ESB
ERef
ERel
Texto
Tor-Roboter
(robot que produz
golos)
O jogador
britânico Peter
Crouch
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Peter Crouch como
robot que produz
golos
Cenário
tecnológico/
mecânico
Cuidado com
Crouch!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 48: Tabela de Espaços Mentais 17
Finalmente, a elevada frequência de realizações metafóricas com o domínio-fonte da
tecnologia e das máquinas deve-se, a nosso ver, também a contextos históricos, i.e. a época de
desenvolvimento do futebol moderno na Europa fortemente marcada pela industrialização e a
elevação do trabalho como valor ético e moral (vide Max Weber, 1920):
“Auf die drei Bereiche der Fußballsprache übten andere Fachsprachen permanent
unterschiedlich großen Einfluss aus. (...) Bausinger (1972, 78) begründet den Einfluss dieses
Bereichs, der sich im Übrigen auf eine Vielzahl deutscher Sportsprachen erstreckt,
folgendermaßen: »In England hat sich, im Zuge der Industrialisierung, der moderne Sport
herausgebildet, und mit der Sache kamen meistens auch die sprachlichen Bezeichnungen
nach Deutschland.«“ (Höppner, 2008:46)
3.2.4. Imagens mescladas: Futebol - Jogos (outras modalidades desportivas e jogos de sorte)
“Der Mensch spielt nur, wo er in voller Bedeutung des
Wortes Mensch ist, und er ist nur da ganz Mensch, wo
er spielt.“ Friedrich von Schiller (1759-1805)
Tal como já referimos anteriormente, o futebol é, actualmente, um dos desportos
favoritos ao nível europeu e ao nível mundial, e é certamente aquele que merece maior
destaque por parte dos diferentes media267. Mas o que torna este desporto tão apelativo?
Antes de mais, futebol é um jogo e, tal como Schiller afirma, o jogo faz parte da natureza
humana. É lúdico e simultaneamente educativo, é individualmente e socialmente relevante, é
emocionalmente e intelectualmente estimulante e conjuga factores de diversidade com o
espírito de união e partilha. Este jogo exige respeito por normas e regras específicas mas
garante espaço à criatividade, enquanto postula a harmonia entre o “fair-play” e o desejo de
267
“Die Medien berichten nur ausführlich von Dingen, die die Leute interessieren. So erhält Fussball, als beliebteste
Sportart in Deutschland (...) [71.1%] auch die meiste Aufmerksamkeit in den Medien. Neben vielen
Zusammenfassungen der Spieltage, gibt es Talkrunden, Analysen und Zeitschriften, die sich massgeblich mit dem
runden Leder befassen. Fussball steht die ganze Woche über in den Medien.“ (Benz, 2010:25)
301
vencer. O jogo é interacção, expressão e comunicação e, tal como a arte, pode conduzir à
catarse268.
De acordo com o dicionário alemão BERTELSMANN, existem diversas categorias de
jogos: “Spiel [n.] 1 Tätigkeit ohne festes Ziel, die ihren Sinn in sich selbst trägt; (...) 2
Glücksspiel; (...) 3 wettbewerbsmäßiges Spielen nach festen Regeln (Brett~, Karten~); (...) 4
sportlicher Wettbewerb nach festen Regeln (Fußball~, Handball~)“ (Bertelsmann Wörterbuch,
In: http://www.wissen.de [Consult. 06.04.20119). Para a presente dissertação, consideramos
apenas as entradas 2, 3 e 4 supra mencionadas.
Assim sendo, o jogo pressupõe uma competição entre pelo menos duas partes e
representa um combate contra entidades concretas ou espirituais, tais como: adversários,
inimigos, forças negativas e sobrenaturais, o destino ou mesmo a própria natureza humana.
Qualquer jogo tem um objectivo definido. A sua génese motivacional centra-se na obtenção da
vitória, na conquista de algo físico (uma taça, uma medalha, um prémio, etc.) e/ou o
reconhecimento público aliado à satisfação pessoal. A noção de destino está igualmente
associada ao domínio do jogo, principalmente no que concerne o resultado final, que pode
depender de factores imprevisíveis (a sorte, o azar, o acaso) e previsíveis (habilidade, domínio
do jogo, destreza). O jogo assenta, necessariamente, num conjunto de regras específicas que
têm de ser aceites por todos que nele participam. Esta aceitação das normas
convencionalizadas simboliza a aquisição de identidades sociais, culturais, nacionais e mesmo
transnacionais.
Crê-se que os rituais e as celebrações de carácter sagrado estão na origem da prática
de jogos, pois eram, inicialmente, consagrados aos deuses. Tanto os gregos como os romanos
utilizavam diversos jogos, tais como jogos de acrobacia e destreza física, nas suas festividades
religiosas, a par de espectáculos de poesia e música. Na antiguidade, os jogos públicos serviam
para reforçar o sentimento de união social em torno da nação, do país ou do império, assim
como contribuíam para a criação laços de identidade partilhados, através da luta colectiva por
objectivos comuns. As épocas de jogo revestiam-se de tal importância que guerras, conflitos
ou julgamentos eram interrompidos, dando lugar a períodos de trégua temporária.
Gradualmente,
versões
simplificadas
dos
jogos
estenderam-se
à
esfera
privada,
proporcionando tanto às crianças como aos adultos momentos lúdicos e simultaneamente
formativos, importantes para a definição das relações humanas e da organização social.
Os jogos dos povos celtas constituíam lutas de destreza guerreia com o intuito de
distinguir heróis, enquanto para os germanos, o jogo era uma espécie de oráculo que revelava
268
Vide Huizinga, Johan (1991): Homo Ludens. Vom Ursprung der Kultur im Spiel. Reinbek bei Hamburg: Rowohlt.
Reihe rororo Enzyklopädie 345.
302
o desfecho de batalhas vindouras269. Actualmente, existe uma oferta vastíssima de jogos
tradicionais e modernos, à disposição de toda a população em geral. Como praticante ou como
mero adepto, o jogo continua a distinguir-se como actividade individualmente e socialmente
significativa.
Relativamente ao mundo do futebol, a presença da vertente lúdica está patente tanto
na terminologia técnica do futebol, como nas diversas conceptualizações metafóricas,
subjacentes às realizações metafóricas do discurso jornalístico.
“Entgegen des Trends, indem der Spieler sprachlich zum Objekt und Material wird, findet
aber auch das spielerische Element Eingang in die Fussballsprache. So wird die Spiellaune
eines Spielers von Reportern sowie Zuschauern gelobt, es gibt den Spielwitz, Spielrhytmus,
Spielverlagerung,etc. Auffällig ist die häufige Verwendung des Lexems Spiel.“ (Höppner,
2008:53)
Identificamos um total de 65 realizações metafóricas com o domínio-fonte do jogo, i.e.
diferentes tipos de desportos e jogos de sorte. A proposição de que o desporto/jogo de futebol
é conceptualizado como outro desporto ou jogo é corroborada por Höppner (op.cit.) quando
este conclui que:
“Darüber hinaus bedient sich die Fussballsprache auch der Fachsprache aus anderen
Spielen. So gibt es Audrücke aus dem Karten- und Würfelspiel (Trumpf, Joker, Blatt wenden,
Würfel sind gefallen, alles auf eine Karte setzen) und vor allem Entlehnungen aus dem
Schachspiel, die sich durch die Analogie des Spielaufbaus, bei dem sich zwei Mannschaften
auf einem begrenzten Feld gegenüberstehen, erklären lassen (Partie, Spielzüge, rochieren
(im Spiel die Position tauschen) Remis (Unentschieden) etc.).“
Neste sentido, a tabela de ocorrências, que seguidamente apresentamos, encontra-se
subdividida em duas partes:
a) outras modalidades desportivas
b) jogos de sorte
As modalidades desportivas que motivaram as construções mentais identificadas são: o boxe,
o atletismo (corrida, salto em altura), o xadrez e o ciclismo (um total de 34 ocorrências); Os
jogos de sorte que motivaram as restantes construções mentais identificadas são: os jogos de
cartas, de dados e a lotaria (um total de 31 ocorrências).
269
Vide Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2011. In: http://www.infopedia.pt/$jogo-(simbologia)> [Consult.
05.04.2011]
303
a) FUTEBOL É JOGO - categoria outras modalidades desportivas (34 ocorrências)
EURO 2004 (5)
MUNDIAL 2006 (9)
(335) Tomasson hält Dänemark im (340) Dennoch hatte das Scolari-Team
Rennen.
keine Mühe, die schwachen Afrikaner in
(www.kicker.de – 18.06.2004)
Schach zu halten.
(www.kicker.de – 11.06..2006)
(336) Martin Petrov hatte den
Leverkusener Berbatov angespielt, der (341) Wie zu Beginn des Spiels kam
im Ringkampf mit Materazzi zu Boden Brasilien auch im zweiten Durchgang
ging.
besser aus den Startlöchern.
(www.kicker.de – 22.06.2004)
(www.kicker.de – 22.06.2006)
(337) Das Spiel wurde zu
munteren Schlagabstausch.
(www.kicker.de – 14.06.2004)
einem (342) Nach dieser Aktion verflachte die
Partie für 15 Minuten ein wenig, beide
Teams schienen durchschnaufen zu
wollen, um im Schlussspurt die mögliche
(338) Der mittlerweile eingewechselte Entscheidung zu suchen.
Baros nutzte nach einem Zuspiel von (www.kicker.de – 09.07.2006)
Heinz dies eiskalt aus und versetzte
Deutschland den endgültigen K.O.
(343) "Die Messlatte ist längst
(www.kicker.de – 22.06.2004)
übersprungen"
"Wenn es gut geht, wird man uns feiern.
(339) England brachte Owens frühe Wenn es schlecht geht, schießen sie uns
Führung nicht über die Runden, hielt auf den Mond." So hatte es Jürgen
jedoch bis zum Schluss tapfer dagegen. Klinsmann vor dem Turnier formuliert.
(www.kicker.de – 24.06.2004)
(www.kicker.de – 23.06.2006)
EURO 2008 (5)
(349) So ist es jetzt auch. Immer wieder
kamen Rückschläge im Turnier mit der
Niederlage gegen Kroatien oder auch
mit dem schwierigen Spiel gegen die
Türkei. Aber eine EM ist ein
Marathonlauf (...)
(www.bild.de – 28.06.2008)
MUNDIAL 2010 (15)
(354) Keeper Neuer hielt die DFB-Elf in einer
kritischen Phase im Rennen.
(www.kicker.de – 23.06.2010)
(355) Stern: „Auch mal hässlich gewinnen.
Spanien ist neuer Fußball-Weltmeister. Auch
wenn del Bosques Mannschaft die Holländer im
Finale nicht mit ihrem gefürchteten Fußball(350) Marco van Basten (Trainer schach matt setzte: Der 1:0-Sieg war trotzdem
Niederlande): "Wir sind gut aus den verdient.“ (www.sportbild.bild.de – 12.07.2010)
Startlöchern gekommen.“
(356) In jedem Fall geht eine gegenüber der
(www.kicker.de – 13.06.2008)
EURO 2008 enorm verjüngerte Mannschaft ins
Rennen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM
(351) Italien übernahm wieder die 2010, p.22)
Kontrolle und hielt den Rivalen mit der
(357) Nachden der Bundestrainer gegen Serbien
reiferen Spielanlage in Schach.
mit der Aufstellung und der Einwechselungen
(www.kicker.de – 17.06.2008)
nicht gerade ein glückliches Coaching offenbart
(352) Giovane Elber: Die Deutschen hatte, gingen seine Schachzüge gegen die
haben früh das Handtuch geworfen. Die Ghanaer nun auf. (Kicker Sportmagazin Nr. 51 –
Überlegenheit der Spanier war so groß, 25. Woche 24.06.2010, p.2)
so groß (...).
(358) Elfenbeinküste: Der schwedische Trainer
(www.sportbild.de – 29.06.2008)
bleibt beim 4-3-3 System. Eriksson: Der Schach-
(353) Heute das K.o.-Spiel der beiden zug mit Didier Zokora. (Kicker Sportmagazin Nr.
47 – 23. Woche 10.06.2010, p.26)
(344) Joachim Löw (Assistenztrainer des Super-Stars.
DFB): "Wir sind natürlich zutiefst (www.bild.de – 19.06.2008)
(359) Serbien sei ein „angeschlagener Boxer“,
enttäuscht. (...) Es war ein unglaublicher
hatte der Bundestrainer betont und daher einen
Kampf, beide Mannschaften waren am
"Kampf auf Biegen und Brechen" prophezeit.
Ende stehend K.o. Man muss Italien aber
(www.sportbild.bild.de – 18.06.2010)
gratulieren, es hat ganz stark gespielt.
(360) Joachim Löw will mit dem zweiten WM(www.kicker.de – 04.07.2006)
Sieg in Südafrika ein "K.o.-Spiel" zum GruppenAbschluss vermeiden. (www.kicker.de 17.06.2010)
304
(345) Im toskanischen Badeort und
Marcello Lippis Heimat hatte der
Nationalcoach seine Freunde bereits vor
der WM auf Abruf gestellt: "Wenn wir
früh oder in der K.o.-Runde als
vermeintlicher
Favorit
ausscheiden,
verschwinde ich besser auf unbestimmte
Zeit in meinem Boot.(...)“
(www.kicker.de – 29.06.2006)
(346) "Aber unabhängig davon kommt mit
dem Beginn der K.o.-Phase sowieso ein
zusätzlicher
Adrenalin-Schub.
Jetzt
beginnt die WM eigentlich erst so richtig."
(www.kicker.de – 26.06.2006)
(347) Lukas Podolski Note 4 - Wirkte übermotiviert, ging früh hart zur Sache und
war
schließlich
Gelb-Rot-gefährdet.
Quälte sich in der Verlängerung über die
Runden.
Nervenstark
beim
Elfmeterstechen.
(www.kicker.de – 03.07.2006)
(348) Domenech am Ziel der "Tour
d'Allemagne"
(www.bild.de – 09.07.2006)
(361) (...) Serbien hat gute Karten, in Nelspruit
gegen Australien die K.o.-Runde zu erreichen.
(www.kicker.de – 18.06.2010)
(362) Rekordweltmeister Brasilien hat bei der
Fußball-WM in Südafrika als zweite Mannschaft
nach Holland den vorzeitigen Einzug in die K.o.Runde perfekt gemacht.
(www.sportbild.bild.de – 20.06.2010)
(363) Ein blaues Auge für den Weltmeister
(Italien-Paraguai 1:1) (www.kicker.de/news/video)
(364) Uruguai war selbstbewußt ins Spiel gegangen, doch schon nach viereinhalb Minuten
musste sich Torhüter Fernando Muslera mit
einem Faustschlag beim Torpfosten bedanken.
(...) er hatte sich dabei nicht bewegt und sah
paralysiert zu, wie der Ball ans Aluminium flog.
(www.sportbild.bild.de - 20.06.2010)
(365) Der härteste Brocken auf dem Weg nach
Südafrika war Bahrein. Nicht gerade ein Schwergewicht im internationalen Fussball (...). (Kicker
Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.174)
(366) Stehend K.O. Abgezockt? Dynamisch?
Gefährlich? Von wegen! England zeigte sich naiv,
behäbig, harmlos. (Kicker Sportmagazin Nr. 55 –
26. Woche 28.06.2010, p.28)
(367) Asamoah Gyan setzt den Knockout (Kicker
Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010,
p.32)
(368) Obasi & Co. nur Sparringspartner
(Argentinien-Nigeria) (Kicker Sportmagazin Nr. 48
– 24. Woche 14.06.2010, p.36)
305
b) FUTEBOL É JOGO - categoria jogos de sorte (31 ocorrências)
EURO 2004 (5)
(369) "Joker" Valeron sticht
(www.kicker.de – 12.06.2004)
MUNDIAL 2006 (8)
(374)
Aufstellung
gegen
Ecuador
Klinsmanns Pokerspiel - Bundestrainer
Jürgen Klinsmann will sich vor dem
(370) Jetzt erst reagierte der spanische letzten Gruppenspiel gegen Ecuador
Coach Saez und brachte mit Morientes öffentlich nicht auf eine Aufstellung
seinen letzten Offensivtrumpf.
festlegen. Bekannt ist nur, dass er sich
(www.kicker.de – 20.06.2004)
Gedanken über Veränder-rungen macht.
(www.spiegel.de – 19.06.2006)
(371) Allerdings nahm er mit Corradi
auch einen Stürmer vom Feld, so dass (375) Deutschland-Polen
der ehemalige Bayern-Trainer noch Klinsmanns Joker stechen in letzter
Minute.
nicht alles auf eine Karte setzte.
(www.spiegel.de – 14.06.2006)
(www.kicker.de – 22.06.2004)
(376) Kawaguchi lenkte zunächst einen
(372) Tschechiens Trainer Karel Freistoß von Aloisi zur Ecke. Die flog in die
Brückner hatte aus seiner Aufstellung Mitte, Cahill flog der Ball im Getümmel
ein großes Pokerspiel gemacht.
vor die Füße und der Joker vollendete mit
(www.kicker.de – 22.06.2004)
einem Flachschuss aus elf Metern (84.).
(www.kicker.de – 12.06.2006)
(373) Danach setzten die Holländer
alles auf eine Karte, die Gastgeber (377) Südkorea - Togo 2:1 (0:1)
blieben aber bis zum Schlusspfiff durch Joker Ahn sorgt für den "Dreier"
(www.kicker.de – 13.06.2006)
Konter gefährlich.
(www.spiegel.de-20.07.2004)
(378) Nachdem zahlreiche gute Chancen
EURO 2008 (5)
MUNDIAL 2010 (13)
(382) Vielmehr hat es ihnen dieser
Gegner bisweilen vor allem mit seiner
nicht immer sattelfesten Defensive und
mit dem eigenen Drang nach vorne
recht leicht gemacht, wozu den
Spaniern dann auch die eigene Führung
noch in die Karten gespielt hat.
(www.sportal.de – 27.06.2008)
(387) Rheinische Post (www.rp-online.de)
„Schiedsrichter am Pranger. Ein Kartenspieler
und ein Torklau. Am achten Tag der Fußball-WM
in Südafrika sind die Schiedsrichter ins
Kreuzfeuer der Kritik geraten.“
(www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(388) In der Schlussphase setzte Nigeria alles auf
eine Karte und brachte die nicht immer sattelfeste Abwehr der Argentinier einige Male ins
(383) De Rossis von Henry abgefälschter Wanken. (www.sportbild.bild.de – 02.06.2010)
Freistoß, der unhaltbar für Coupet im
Netz landete, spielte dem Weltmeister (389) Löw verriet zwar nicht seine Startelf, plant
aber wohl weiterhin mit den formstarken Cacau
natürlich in die Karten (62.).
nur als Joker.
(www.kicker.de – 17.06.2008)
(www.sportbild.bild.de – 11.06.2010)
(384) Bei der Lotterie zeigte Kroatien (390) Deutschland erwartet in Soccer City in
dann Nerven und wurde bitter bestraft. Johannesburg gegen Ghana ein Endspiel um den
(www.kicker.de – 19.06.2008)
Einzug ins Achtelfinale, Serbien hat gute Karten,
in Nelspruit gegen Australien die K.o.-Runde zu
(385) Fatih Terim setzte nun alles auf erreichen. (www.kicker.de – 18.06.2010)
eine Karte: Mit Mevlüt und Gökdeniz
(391) Die „Hand des Teufels“ ist wieder da, der
brachte er frische Offensivkräfte.
Traumsturm komplett: Luis Suarez und Diego
(www.kicker.de – 25.06.2008)
Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem
Weg
zum größten Erfolg seit 1950. (...).
der Klinsmann-Elf nicht den Erfolg (386) (...) sein Barca-Kollege war im (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010)
von
Ignashevich
brachten, war Joker Neuville schließlich Schatten
durchgestartet
und
vollstreckte
mühe- (392) Für Gomez und Kiessling bleibt zunächst
zur Stelle.
los
aus
kurzer
Distanz
direkt
(50.)
- das wohl nur die Jokerrolle (...). (Kicker
(www.kicker.de – 14.06.2006)
1:0 für die Selección! Und das spielte ihr Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.33)
(379) Eine schöne Kombination über natürlich in die Karten.
(393) Überragende Individualisten sind die
Mahdavikia und Zandi führte in die Mitte, (www.kicker.de – 26.06.2008)
306
wo erneut Joker Khatabi per Kopf das
Können von Ricardo prüfte (78.).
(www.kicker.de – 17.06.2006)
(380) Der Boss sprach eine öffentliche
Verwarnung aus. Sepp Blatter zeigte dem
russischen Skandal-Referee Valentin
Ivanov nach dessem "Kartenspiel" von
Nürnberg demonstrativ Gelb.
(www.kicker.de – 29.06.2006)
(381) Marcello Lippis ratloses Auswürfeln
der Sturmformation (…)
Und so würfelt Lippi ratlos die
Sturmformationen
durcheinander
während das Achter-Gerüst dahinter
felsenfest für hart erarbeitete Erfolge
sorgt.
(www.kicker.de – 29.06.2006)
besten Trümpfe von Trainer Queiroz. (Kicker
Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.180)
(394) Sneijder ist dabei das Trumpf-Ass (...)
(Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche
05.07.2010, p.9)
(395) Robben: Nur noch einmal soll er Joker sein.
(Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche
28.06.2010, p.40)
(396) Schon vor der WM hatte Mario Kempes
gesagt: „Gonzalo hat alles, um Argentiniens
Trumpfkarte zu werden.“ (Kicker Sportmagazin
Nr. 50 – 25. Woche 21.06.2010, p.45)
(397) Slowakei: Vittek nur Joker – Viel hängt ab
vom „rätselhaften“ Hamsik“. Der leichtgewichtige Kapitän (...) gilt dabei als Rätsel im
Team: Beim SSC Neapel spielte er eine
formidable Saison, aber in der Nationalmannschaft konnte er nur selten an diese starken
Leistungen anknüpfen. (Kicker Sportmagazin Nr.
48 – 24. Woche 14.06.2010, p.49)
(398) „Wir müssen gewinnen“ weiss Simao, mit
81 Einsätzen der Rekordnationalspieler des
aktuellen Kaders, „damit wir nicht im letzten
Gruppenspiel gegen Brasilien alles auf eine
Karte setzen müssen.“ (Kicker Sportmagazin Nr.
48 – 24. Woche 14.06.2010, p.51)
(399) Marko Marin will mehr: „Ich bin nicht nur
ein Joker“ (Kicker Sportmagazin Nr. 47 – 23.
Woche 10.06.2010, p.1)
307
À luz do paradigma semiótico de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), sugerimos a
seguinte rede de espaços mentais no que diz respeito à macro-metáfora conceptual: FUTEBOL
É JOGO:
Espaço Semiótico de Base
Espaço de Apresentação
Espaço de Referência
Modalidades
desportiva
Expressões
metafóricas
Jogador
FUTEBOL
JOGO
Outros
Intervenientes
Jogos de
sorte
Cenário da competição
Esquema dinâmico:
Força/Contra-força
(vitória - derrota,
sorte - azar)
Equipa
FUTEBOL
COMO
JOGO
Jogo/
Jogada
Campeonato
Espaço Virtual
(Blend)
Esquema dinâmico de
Relevância
(Relevance-Schema)
Inferências
Emergentes
Para vencer é preciso
sorte e saber
Futebol é
competição! A
vitória depende das
capacidades físicas e
da sorte.
Espaço do
Significado
Figura 49: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Jogo
O domínio-fonte do jogo, incluindo os sub-domínios ‘modalidades desportivas’ e ‘jogos
de sorte’ (pequenas esferas no espaço de apresentação da figura 49) preenchem o espaço de
apresentação, enquanto o espaço de referência é composto pelo domínio-alvo do futebol e
seus constituintes (pequenas esferas no espaço de referência). Através dos processos de
mapeamento, o espaço virtual revela a mescla: FUTEBOL COMO JOGO, sendo que este JOGO é,
necessariamente, um qualquer ‘NÃO-JOGO DE FUTEBOL’.
Tal como referido anteriormente, a conceptualização torna-se possível através do
reconhecimento de estruturas análogas que variam de acordo com cada sub-domínio.
Contudo, existem estruturas de carácter mais abstracto que fornecem à mescla virtual um
308
cenário lógico. Estas encontram-se no espaço dinâmico da relevância, um espaço de
características diferentes (daí a forma rectangular) porque:
“The concept of relevance is approached from the perspective of cognitive semiotics, calling
for detailed semantic analysis of the manifestations of relevance in discourse, a practice (…)
that appears to aid our understanding of “selective projection” and “emergence” in
(semiotically) blended representations.” (Brandt, L., 2010:100).
Neste sentido postula-se, que o espaço de relevância evidencia estruturas
esquemáticas, sugeridas pelo mundo fenomenológico, que reflectem as intenções do
interlocutor e auxiliam a construção e compreensão do significado final:
“These schemas, a resource in the phenoworld, are represented in a type of space
characterized by affording argumentational relevance to the blend. As such, the induced
schemas contribute to the framing of blends. In Brandt & Brandt (2005a), we proposed
calling this space Relevance space since it contains knowledge of the issue the speaker has
in mind when evoking the presentation as a sign for the reference. It provides the relevant
thought content for the framing of the blend (at levels 3 and 4) and, ultimately, for the
emergence of reasonable inferences at the level of pragmatic implication (5).” (Brandt, L.,
2010:202)
Na presente rede, consideramos que o espaço de referência esquemática revela, em
primeiro lugar, o cenário da competição e, seguidamente, a estrutura dinâmica da
força/contra-força, consubstanciada nos binómios vencer vs perder, e sorte vs azar. O
significado que emerge na mescla final reveste-se de lógica: O futebol é uma competição na
qual a vitória depende de dois factores - as capacidades físicas e mentais (destreza, habilidade,
o conhecimento do jogo e o domínio emocional e mental) por um lado e, finalmente, o destino
(sorte ou azar) por outro, sendo que a exibição das referidas capacidades, assim como a
fruição da sorte do jogo configuram motivo de elogio e congratulação . Por fim, a inferência
“para vencer é preciso sorte e saber” é remetida para o espaço semiótico de base,
enriquecendo-o ao nível pragmático (pragmatic inference, L. Brandt, 2010:177); assim se fecha
este circulo conceptual:
“These five or six spaces form an elementary network, a sort of MS network molecule,
which turns out to constitute a minimal composition or meaning construction. The normal
case is a message-formed utterance manifesting a nested structure, using the elementary
network recursively.” (Brandt, 2005:1590)
De
acordo
com
os
critérios
definidos,
passamos,
então,
a
analisar
pormenorizadamente cerca de um terço das ocorrências aqui listadas.
309
a) FUTEBOL É JOGO - categoria outras modalidades desportivas
O nosso corpus conduziu à identificação de diversas realizações metafóricas na
imprensa desportiva alemã que se inspiraram no mundo do desporto de combate do
pugilismo, ou boxe. Para melhor compreender os diferentes mapeamentos, consideramos
pertinente tecer algumas considerações sobre este desporto.
A palavra “Boxsport” ou “boxen”270 provém do inglês “to box” e significa atingir
alguém com os punhos. A luta com os punhos entre seres é tão ou mesmo mais antiga do que
a história da humanidade. Pensa-se que já os primatas, na ausência de qualquer tipo de arma,
usavam os punhos, para além das dentadas, para combaterem. Na Suméria e Egipto foram
encontrados documentos que comprovam a existência do desporto do boxe já há 4000 a 5000
anos. Sabe-se, igualmente, que o boxe era praticado em Creta (1500 anos antes de Cristo)
assim como na Grécia e no Império Romano, sendo um desporto olímpico a partir da 23ª
olimpíada (688 a.c). Os primeiros registos sobre o boxe na Inglaterra remontam do século XVII
e era praticado sem luvas. O boxe moderno, aproximado ao praticado actualmente, segue as
Regras de Broughton, (Jack Broughton, lutador britânico) criadas em 1743. Em 1872,
realizaram-se os primeiros combates com os lutadores divididos por peso e categorias (pesomosca, o peso-galo, o peso-pluma, leve, meio-leve, médio, médio-pesado e pesado) e no início
do século XX surge o ringue de cordas tal como o conhecemos hoje. O boxe é um desporto que
se reveste de extrema dureza física e, para além de apelar às qualidades técnicas
indispensáveis, exige níveis de resistência física elevados. A vitória pode ser alcançada através
do “knockout”, i.e. conseguir que, através de um golpe certeiro, o adversário caia inconsciente
no solo durante pelo menos 10 segundos (“countdown”), o K.O. técnico - quando o árbitro
considera que um boxeur já não está em condições físicas para prosseguir o combate - ou
através de pontuação, atribuída por um júri que avalia, em cada “round” os golpes técnicos
dos lutadores. O combate está subdividido por “rounds”, ou seja, períodos de luta (quatro
períodos de 2 minutos cada no boxe amador e 6-15 períodos de 3 minutos cada no boxe
profissional). O termo técnico “sparring” é sinónimo de treino de combate: “Spar|ring, das; -s
[engl. sparring = das Boxen, zu: to spar = boxen, trainieren] (Boxsport): das Sparren;
Spar|rings|part|ner, der: Partner beim Sparring.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom). Por
270
“bo|xen <V.; hat> [engl. to box]: 1. a) [nach bestimmten Regeln] mit den Fäusten kämpfen; einen Boxkampf
austragen: taktisch klug b.; um die Europameisterschaft b.; gegen jmdn. b.; b) (Sport Jargon) jmdn. als Gegner beim
Boxkampf haben: einen Gegner schon einmal geboxt haben. 2. a) mit der Faust schlagen, [leicht] stoßen: box mich
nicht dauernd!; er hat ihm/(auch:) ihn in den Magen geboxt; b) <b. + sich> (ugs.) sich mit Fäusten bearbeiten, sich
prügeln: die Schüler boxten sich im Schulhof; c) (ugs.) mit der Faust stoßen: den Ball ins Aus b.; d) <b. + sich> (ugs.)
sich mit Fäusten und Armen einen Weg bahnend vorwärts dringen: sich ins Freie, durch die Menge b.“ (Dudenverlag,
1997, Versão CD-Rom)
310
fim, destacamos que os termos “Ringkampf”271 e “Schlagabtausch”272, embora não exclusivos
do desporto do pugilismo, são frequentemente utilizados como sinónimos do boxe.
As realizações metafóricas das seguintes ocorrências recorrem à terminologia
característica do mundo do boxe acima explorada:
(336) Martin Petrov hatte den Leverkusener Berbatov angespielt, der im
Ringkampf mit Materazzi zu Boden ging.
(337) Das Spiel wurde zu einem munteren Schlagabstausch273.
(338) Der mittlerweile eingewechselte Baros nutzte nach einem Zuspiel von Heinz dies
eiskalt aus und versetzte Deutschland den endgültigen K.O.
(339) England brachte Owens frühe Führung nicht über die Runden, hielt jedoch bis
zum Schluss tapfer dagegen.
(352) Giovane Elber: Die Deutschen haben früh das Handtuch geworfen. Die
Überlegenheit der Spanier war so groß, so groß (...).
(359) Serbien sei ein „angeschlagener Boxer“, hatte
der
Bundestrainer betont
und daher einen "Kampf auf Biegen und Brechen" prophezeit.
(363) Ein blaues Auge für den Weltmeister. De Rossi verhinderte den Fehlstart
des amtierenden Weltmeisters. Italien kam gegen das abwehrstarke Paraguay noch zu
einem 1:1, nachdem Alcaraz vor der Pause unentschlossene Azzurri
bestraft hatte.
(365) (...) Der härteste Brocken auf dem Weg nach Südafrika war Bahrein. Nicht
gerade ein Schwergewicht im internationalen Fussball (...)
(368) Obasi & Co. nur Sparringspartner - Der verheissunsvolle, schwungvolle Start
war
relativ
schnell
verpufft.
Der
individuellen
Klasse
der
Südamerikaner
[Argentinien] hatten die überforderten Afrikaner [Nigeria] wenig entgegenzusetzen.
Comum a todas elas é, naturalmente, o cenário do combate. Contudo, as
conceptualizações processam-se a vários níveis: a) o jogador como boxeur; b) a equipa,
(conceptualizada como um só indivíduo) como boxeur; c) o jogo como combate de boxe e d) o
golo como soco ou ‘knockout’.
271
“Ring|kampf, der: 1. tätliche Auseinandersetzung, bei der zwei Personen miteinander ¹ringen (1 a): ein kurzer,
harter R. 2. a) <o. Pl.> das Ringen (1 b) als sportliche Disziplin; b) sportlicher Kampf innerhalb eines Boxrings: einen
R. austragen“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
272
“Schlag|ab|tausch, der (Boxen): schnelle Folge von wechselseitigen Schlägen: ein kurzer, heftiger S.; er suchte
den S.; Ü in der Plenarsitzung kam es zu einem S. (zu einer kurzen, heftigen Auseinandersetzung) zwischen
Regierung und Opposition“ (c) Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
273
“Schlagabtausch, offener; keine Prügelei auf dem Spielfeld, sondern: ein Spiel bzw. eine Phase im Spiel zweier →
offensiv ausgerichteter Mannschaften mit zahlreichen → Torsituationen, → Torszenen u. →Torchancen.“ (Burkhardt,
2006a:261)
311
Neste sentido, o jogador luta com o adversário como se estivesse num ringue
(ocorrência (336)), as equipas combatem como dois boxeurs aos socos (ocorrência (337)), um
golo marcado põe uma equipa K.O. (ocorrência (338)), sendo que K.O. (a perda dos sentidos)
conceptualiza a derrota no jogo ou a eliminação do campeonato ou ainda um soco que causa
um olho negro ao adversário (ocorrência (363)). Vencer é como aguentar os ‘rounds’ até ao
fim (ocorrência (339)), enquanto a qualidade do adversário e o perigo que este representa são
conceptualizados como categorias ou estados dos boxeurs: peso pesado (ocorrência (365))
corresponde a um adversário perigoso, parceiro de treino (ocorrência (368)) corresponde a um
adversário modesto e o boxeur debilitado ou magoado (ocorrência (359)) equivale a um
adversário acessível por estar enfraquecido. Relativamente à ocorrência (353), trata-se de uma
expressão que origina do mundo do boxe e significa desistir ou abdicar da luta:
“Hand|tuch, das <Pl. ...tücher> [mhd. hanttuoch, ahd. hantuh]: 1. aus Baumwollstoff, bes.
aus Frottee od. aus [Halb]leinen, hergestelltes [schmales, längliches] Tuch von
unterschiedlicher Größe zum Abtrocknen: ein frisches, gebrauchtes, weiches H.; die
Handtücher wechseln; *schmales H. (ugs. scherzh.; sehr schmaler, schlankwüchsiger
Mensch); das H. werfen/schmeißen (1. Boxen; [als Sekundant] zum Zeichen der Aufgabe
eines Kampfes das Handtuch, den Schwamm in den Ring werfen. 2. ugs.; eine Arbeit,
Anstrengung o. Ä., der man sich nicht gewachsen fühlt, resignierend aufgeben).“
(Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) [sublinhado nosso]
Vejamos agora a tabela correspondente às diferentes redes de espaços mentais por nós
propostas:
Ocor.
(336)
(337)
(338)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Ringkampf (luta
num ringue:
boxe/luta
greco-romana)
Disputa de bola
entre os
jogadores
Berbatov e
Materazzi (Jogo
Itália-Bulgária)
Disputa de bola
como combate
num ringue;
Berbatov e
Materazzi como
boxeurs
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Materazzi em
grande!
Texto
Schlagabtausch
(confronto de
boxe)
Jogo entre as
selecções da
Suécia e a
Bulgária
Jogo como
confronto de
boxe
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Jogo bem
disputado!
versetzte den
entgültigen K.O.
(K.O. final)
Golo vitorioso
da Rep. Checa
no jogo contra a
Alemanha
Jogo como
confronto de
boxe; golo
como golpe
final de K.O.
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Bem jogado,
República
Checa!
Texto
312
(339)
(352)
(359)
(363)
(365)
(368)
ESB
ERef
ERel
Texto
nicht über die
Runden bringen
(não suportar os
‘rounds’ num
confronto de
boxe)
Jogo entre as
selecções de
Portugal e
Inglaterra
Jogo como
suportar
‘rounds’ num
confronto de
boxe
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Portugal foi
melhor!
Texto
das Handtuch
werfen
(“Mandar a
toalha” num
combate de
boxe)
Atitude dos
jogadores
alemães no jogo
contra a
Espanha
Atitude dos
jogadores como
“mandar a
toalha”
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Alemanha, má
prestação!
angeschlagener
Boxer (boxeur
magoado)
Selecção da
Sérvia
(Futuro)
Selecção da
Sérvia como um
boxeur
magoado
(Futuro)
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Sérvia em
baixa!
Texto
blaues Auge
(olho negro)
Empate no jogo
da selecção do
Paraguai contra
a Itália
Empate como
olho negro
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
A Itália
empata à
tangente!
Texto
nicht ein
Schwergewicht
(‘Peso não
pesado’)
A selecção do
Bahrein
Selecção do
Bahrein como
‘peso não
pesado’
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Bahrein muito
fraco!
Texto
Sparringspartner
(parceiro de
treino)
Selecção da
Nigéria no jogo
contra a
Argentina
Selecção da
Nigéria como
parceiro de
treino
Cenário do boxe
Esquema
dinâmico:
força/contraforça
Nigéria muito
fraca!
Texto
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 50: Tabela de Espaços Mentais 18
No espaço de relevância configura-se o cenário do boxe que oferece o enquadramento
lógico à mescla final. Este cenário engloba não somente o conhecimento básico e necessário
relativamente ao universo do boxe (dinâmica do desporto e terminologia técnica), como activa
o esquema dinâmico da força/contra-força. Trata-se de um confronto entre duas entidades no
qual ambos procuram a vitória. O esquema abstracto de força/contra-força consubstancia-se
tanto no binómio principal vencer - perder, subjacente a qualquer competição, como também
nos factores característicos do boxe: pujança - fraqueza, resistir - vacilar ou, mais
313
concretamente, consciente - inconsciente (K.O.). O K.O. do boxe aparenta ser um cenário
muito produtivo para diversas circunstâncias que impliquem derrota ou eliminação como fim
definitivo: “K.o.-Spiel” (ocorrências (353) e (360)),” K.o.-Runde” (ocorrências (345), (361),
(362), e (390)) e “K.o-Phase” (ocorrência (346)), são apenas alguns exemplos. Este cenário
realça a vertente física do jogo ao concretizar circunstâncias abstractas. Neste sentido, escapar
por pouco a uma derrota é terminar um combate com um olho negro: fica-se magoado, mas
não o suficiente para perder. Os significados intendidos das mesclas finais evidenciam o
predomínio da luta e da presença (ou ausência) de força e dureza física como elementos mais
salientes nos jogos de futebol. De novo, depreende-se a presença de uma atitude avaliativa
(elogiosa ou crítica) subjacente ao significado intendido: força, dureza e resistência destacamse como as qualidades mais apreciadas no jogo e nos jogadores.
A personificação conceptual, ou seja, a equipa como ser vivo (neste caso um boxeur)
destaca-se como projecção sine qua non na maioria das realizações metafóricas.
O seguinte grupo de realizações metafóricas reporta-se ao domínio do atletismo,
servindo-se de diferentes provas (corridas de velocidade e resistência e salto em altura) para a
construção de redes conceptuais:
(335) Tomasson hält Dänemark im Rennen. In einer äußerst schwachen Partie wahrte
Dänemark mit einem verdienten Erfolg gegen Bulgarien seine Chance aufs
Weiterkommen. Kurz vor
dem
Wechsel
brachte
Angreifer Tomasson
die
Nordeuropäer nach gelungener Kombination in Führung.
(341) Wie zu Beginn des Spiels kam Brasilien auch im zweiten Durchgang besser
aus den Startlöchern.
(342) Nach dieser Aktion verflachte die Partie für 15 Minuten ein wenig, beide Teams
schienen durchschnaufen zu wollen, um im Schlussspurt die mögliche Entscheidung
zu suchen.
(349) So ist es jetzt auch. Immer wieder kamen Rückschläge im Turnier mit der
Niederlage gegen Kroatien oder auch mit dem schwierigen Spiel gegen die
Türkei.
Aber eine EM ist ein Marathonlauf (...)
(343) "Die Messlatte ist längst übersprungen"
"Wenn es gut geht, wird man uns feiern. Wenn es schlecht geht, schießen sie uns auf
den Mond." So hatte es Jürgen Klinsmann vor dem Turnier formuliert (...) Unabhängig
von dem, was in der zweiten Turnierhälfte noch kommen wird, hat Klinsmann die
sportlichen Voraussetzungen der Verbandsführung für eine Vertragsverlängerung
erfüllt.
314
Nas ocorrências (335) e (349), o campeonato é conceptualizado como uma corrida:
“Rennen”274 (concepção geral) e “Marathonlauf”275 (maratona). A expressão ‘manter-se na
corrida’ encontra aplicação em diversos domínios, sempre com o mesmo significado final:
continuar a lutar por algo. Este fenómeno deve-se ao facto de muitas circunstâncias abstractas
serem conceptualizados como percursos ou trajectórias, activando, consequentemente o
esquema imagético da trajectória. Na ocorrência (335) o golo do avançado dinamarquês
Tomasson possibilitou a vitória da Dinamarca e assim, manter-se na luta pela vitória no
campeonato. O mesmo se aplica à ocorrência (349), embora seja destacado um tipo de corrida
específico, a maratona. Pretende, assim, realçar as características que diferenciam esta prova
de corrida de todas as outras: trata-se da corrida de fundo mais longa do atletismo e por isso
exige, para além da excelente preparação física, grande resistência e elevado espírito de
sacrifício. Diz-se que para além de ser uma prova física altamente desgastante, configura,
igualmente, um enorme desafio mental. A maratona obriga, simultaneamente, a uma boa
gestão do esforço, i.e. os altos e baixos, em termos de rendimento, que o atleta possa sentir
ao longo da corrida não são, necessariamente, determinantes para a vitória final.
As ocorrências (341) e (342) dizem respeito a duas fases essenciais de uma corrida: o
início, com a saída dos blocos de partida,276 e o final, normalmente em sprint.277 Em ambas as
ocorrências, os jogos (Brasil vs Japão e Itália vs França) são conceptualizados como trajectórias,
realçando o início e o fim das mesmas como momentos determinantes para a obtenção da
vitória.
Já a realização metafórica da ocorrência (343) conceptualiza o campeonato como uma
prova de salto em altura. Cada jogo corresponde à altura da fasquia (“Messlatte”278) a
ultrapassar, sendo que ultrapassá-la significa vencer o jogo e continuar para o próximo nível.
274
“Ren|nen, das; -s, -: sportlicher Wettbewerb, bei dem die Schnelligkeit, mit der eine Strecke reitend, laufend,
fahrend zurückgelegt wird, über den Sieg entscheidet (...), (ugs.; die Sache ist erledigt; es ist alles vorüber); er liegt
mit seiner Bewerbung gut im R. (hat gute Aussichten auf Erfolg); jmdn. (als Kandidaten) ins R. schicken.”
(Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
275
“Ma|ra|thon, der; -s, -s [nach dem gleichnamigen griech. Ort, von dem aus ein Läufer die Nachricht vom Sieg
der Griechen über die Perser (490 v. Chr.) nach Athen brachte]: Marathonlauf. Ma|ra|thon, das; -s, -s (ugs.): etw.
übermäßig lange Dauerndes u. dadurch Anstrengendes. Ma|ra|thon- (emotional verstärkend): drückt in Bildungen
mit Substantiven aus, dass etw. überaus lange dauert: Marathondiskussion, -prozess, -rede; Ma|ra|thon|lauf, der:
Langstreckenlauf über 42,195 km (olympische Disziplin).“ (Dudenverlag 1997, Versão CD-Rom)
276
“Startlöcher” - “Start|loch, das (Leichtathletik früher): Vertiefung im Boden, aus der sich der Läufer beim Start
mit dem Fuß abdrücken konnte.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom))
277
“Schlussspurt” - “Spurt, der; -[e]s, -s, selten: -e [engl. spurt, zu: to spurt, spurten]: 1. (Sport) das Spurten (1):
einen S. machen, einlegen; den S. anziehen; zum S. ansetzen; er gewann das Rennen im S. 2. (ugs.) schneller Lauf,
das Spurten (2): mit einem S. schaffte er noch den Zug. 3. (Sport) Spurtvermögen: er hat einen guten S.
Schluss|spurt, der: besondere Anstrengung, besonderer Einsatz gegen Schluss eines Spiels.“ (Dudenverlag, 1997,
Versão CD-Rom).
278
“Mess|lat|te, die: hölzerner Messstab. Lat|te, die; -, -n [mhd. lat(t)e, ahd. lat(t)a, urspr. = Brett, Bohle]: b)
(Leichtathletik) Stange aus Holz od. Metall, die übersprungen werden muss: der Hochspringer riss die L. nur knapp.“
(Dudenverlag, 1997, versão CD-Rom)
315
Esta conceptualização é construída a partir do esquema conceptual cima-baixo, no qual o topo
é positivo e o baixo, negativo279. Também a expressão portuguesa “colocar/elevar a fasquia”
veicula uma conceptualização bipolar idêntica280. Neste sentido, a Federação Alemã de Futebol
traçou objectivos mínimos para o campeonato e quando a selecção alemã, com o
seleccionador Klinsmann, se apurou para os quartos de final dessa competição, os objectivos
foram amplamente ultrapassados, facto que constitui, naturalmente, motivo de orgulho.
Propomos, então, as seguintes redes de espaços mentais, sistematizadas em forma de tabela:
Ocor.
(335)
(341)
(342)
(349)
(343)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
Texto
im Rennen
halten
(permanecer
na corrida)
Vitória da
selecção da
Dinamarca no
jogo contra a
Bulgária
Texto
besser aus den
Startlöchern
kommen (sair
melhor dos
blocos de
partida)
A selecção
brasileira no
início da 2ª
parte do jogo
contra o Japão
O Brasil no
reinício do jogo
como sair
melhor dos
blocos de
partida
Schlussspurt
(Sprint final)
Parte final do
jogo entre as
selecções da
Itália e da
França
Cenário do
Parte final do
atletismo/
Itália e França,
jogo como sprint
corrida;
boa prestação no
final
Esquema dinâmico
final!
da trajectória
Texto
Texto
Marathonlauf
(maratona)
Texto
Messlatte
überspringen
(saltar/Ultrapassar a
fasquia)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
M1
ERel
Cenário do
Vitória da
atletismo/
Dinamarca como
corrida;
permanecer na
Esquema dinâmico
corrida
da trajectória
Campeonato
Europeu como
maratona
Campeonato
Europeu
Resultados da Resultados como
selecção alemã
ultrapassar a
no campeonato
fasquia
EA
M1
M2
Cenário do
atletismo/
corrida;
Esquema dinâmico
da trajectória
M2
Dinamarca,
objectivo
atingido!
Brasil, bom jogo
na 2ª parte!
Cenário do
atletismo/
corrida;
Esquema dinâmico
da trajectória
O Campeonato é
muito duro!
Cenário do
atletismo/
salto em altura;
Esquema cimabaixo
Klinsmann, bom
trabalho!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 51: Tabela de Espaços Mentais 19
279
Vide também Kövecses, 2002 (pp.35-36)
“Expressão “elevar a fasquia” - Significado Português de Portugal.
Significado: Aumentar o nível de exigência, a ambição. Tentar objectivos mais difíceis. Exemplo: “Se a nossa
empresa não elevar a fasquia não consegue sobreviver. Observações: Também se pode usar com o verbo “subir”.”
(Expressões
Idiomáticas,
In
http://www.casota.org/expressions/expression/index.php?id=221
[Consult.
10.04.2011])
280
316
Concluímos que os diversos mapeamentos conceptuais recorrem às estruturas mais
salientes dos diferentes domínios, i.e. os traços mais distintivos de cada prova de atletismo ou
os momentos mais determinantes de cada prova. O sprint final, por exemplo, apela à
derradeira capacidade de esforço que se traduz em velocidade, enquanto a maratona apela ao
esforço que se traduz em resistência. Cabe ao espaço de relevância fornecer o cenário e as
estruturas dinâmicas adequadas para que a mescla final faça perfeito sentido. Com excepção
da mescla final da ocorrência (349), que, a nosso ver, acarreta a inferência pragmática do aviso
ou da chamada de atenção, as restantes mesclas finais revestem-se de um tom elogioso.
O grupo de ocorrências (340), (355) e (357) dizem respeito ao jogo de xadrez. As
analogias fundamentais entre este jogo e o futebol são evidentes: existem duas equipas
oponentes à procura da vitória, com posições e funções claramente definidas, assumindo
diferentes níveis de influência. Porém, e de acordo com a sua classificação, a noção de
estratégia configura o traço mais característico do jogo de xadrez. Esta circunstância deve-se
ao facto deste jogo de tabuleiro se ter desenvolvido a partir de conceitos estratégicos
associados ao domínio militar e daí, ser considerado um dos primeiros jogos de guerra:
“Schach als Urform des modernen Strategiespiels. Schach zählt zu den ältesten und
beliebtesten Brettspielen der Welt. (...) In Strategiespielen dreht es sich - vergleichbar mit
dem Schachspiel - um die richtige Positionierung von Waffen und Personal, wobei die
militärischen Inhalte überwiegen. (...) Dunnigan weist in seinem „Handbook of Wargames“
(Dunnigan 1992) auf die enorme Bedeutung von Schach über Jahrtausende hin und deklariert
es als eine der ersten Formen Krieg zu spielen. (...) Schach zählt zu den ältesten
Strategiespielen überhaupt, es existierte angeblich schon im 4. Jahrhundert in Indien. (...) Das
Wesen des Schachspiels besteht darin, eine strategisch Erfolg versprechende Taktik zu
wählen, die sich am jeweiligen Spiel und dem Gegenspieler orientiert. Damit unterscheidet es
sich von allen Glücksspielen, die mehr oder weniger „auf zufälligen Ereignissen“ beruhen, weil
hier „Wissen und Können entscheidend mitbeteildigt sind“ (Posthoff/Reinemann 1987:10)“
(Grosser, 2007:20-21)
Assim sendo, as seguintes realizações metafóricas servem o propósito de destacar as
competências estratégicas e tácticas das selecções e seus treinadores:
(340) Dennoch hatte das Scolari-Team keine Mühe, die schwachen Afrikaner in
Schach zu halten.
(355) Stern: „Auch mal hässlich gewinnen. Spanien ist neuer Fußball-Weltmeister.
Auch wenn del Bosques Mannschaft die Holländer im Finale nicht mit ihrem
gefürchteten Fußballschach matt setzte: Der 1:0-Sieg war trotzdem verdient.“
317
(357) (...) Nachden der Bundestrainer gegen Serbien mit der Aufstellung und der
Einwechselungen nicht gerade ein glückliches Coaching offenbart hatte, gingen seine
Schachzüge gegen die Ghanaer nun auf.
Tal como no futebol, os diferentes movimentos no jogo de xadrez - “Schachzüge” cumprem duas intenções fundamentais: o ataque e a defesa. O ataque destina-se à vitória por
xeque-mate (expressão usada para designar o lance que põe fim à partida, quando o Rei
atacado por uma ou mais peças adversárias não pode permanecer na casa em que está,
movimentar-se para outra ou ser defendido por outra peça), enquanto a defesa se centra na
protecção de peças essenciais e, principalmente, no resguardo do Rei: “Der „direkte Weg zum
Matt […] muss durch Verbesserung des Niveaus der Verteildigung ständig verfeinert und
verbessert werden” (Posthoff/Reinemann 1987:16). Angriff und Verteildigung machen also
einen Grossteil des Erfolges aus - ein Prinzip, dass in den meisten Strategiepielen von enormer
Bedeutung ist.“ (Grosser, 2007:31)
Com base nestes pressupostos, sugerimos as seguintes redes mentais:
Ocor.
(340)
(355)
(357)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
in Schach
halten
(manter em
xeque)
Estratégia de
jogo da
selecção
portuguesa no
jogo contra a
Angola
Estratégia de
jogo como
manter em
xeque
Cenário do xadrez/
Esquema dinâmico
força/contra-força
(estratégica)
Portugal bem
contra Angola!
Texto
Fussballschach matt
(xeque-mate
do futebol)
Estratégia de
jogo da
selecção
espanhola
Xeque-mate do
futebol como
estratégia de
jogo da selecção
espanhola
Cenário do xadrez/
Esquema dinâmico
força/contra-força
(estratégica)
Boa
prestação,
Espanha!
Escolha do
seleccionador
do onze inicial
Escolha do
seleccionador
do onze inicial
como
movimento de
xadrez
Cenário do xadrez/
Esquema dinâmico
força/contra-força
(estratégica)
Bem pensado
pelo
seleccionador!
Texto
Schachzüge
(movimentos
de xadrez)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 52: Tabela de Espaços Mentais 20
Estabilizada pelas estruturas dinâmicas de força e contra-força estratégica e do cenário
do jogo de xadrez do espaço de relevância, as mesclas finais configuram elogios que destacam
318
opções estratégicas inteligentes e, mesmo que não tenham sido perfeitas (ocorrência (355)),
foram eficazes. Realçam, igualmente, a importância das estratégias e tácticas de jogo mais ou
menos ofensivas ou defensivas, que dependem, sobretudo das opções dos seccionadores. Por
isso, os nomes dos seleccionadores são referidos nas notícias, destacando a sua
responsabilidade como estratega: “Scolari-Team”, “del Bosques Mannschaft” e “Bundestrainer
(…) seine Schachzüge”.
Finalmente, a realização metafórica presente na ocorrência (348) conceptualiza o
campeonato mundial de 2006, que se realizou na Alemanha, como uma prova de ciclismo.
Tratando-se de uma notícia sobre a selecção francesa e seu seleccionador Domenech, a prova
de ciclismo em questão é, obviamente, a mundialmente famosa “Tour de France”:
(348) Domenech am Ziel der "Tour d'Allemagne"
A meta desta volta emblemática é a grande final que a selecção francesa iria jogar
contra a selecção da Itália. De novo, existem analogias evidentes entre os dois eventos
desportivos: são compostos por diversas fases ou etapas difíceis, física e mentalmente muito
exigentes ao longo das quais o trabalho de equipa é indispensável. Existem vitórias
intermédias (os diferentes jogos do campeonato e as diversas etapas da volta) e todas elas
exigem grande esforço e entrega. Contudo, só a final determina o vencedor da prova281. Neste
sentido, sugerimos a seguinte tabela:
281
“Als die Tour de France 1903 aus der Taufe gehoben wurde, rechnete niemand damit, dass sie über einhundert
Jahre alt werden könnte. Verleger Henri Desgrange initiierte das “verrückteste Radrennen der Welt“ als
Werbeaktion, um den Verkauf seiner Sportzeitung “L’ Auto-Vélo“ zu steigern. Das Rennen mauserte sich schnell
zum Publikumsliebling und gilt heute nach den Olympischen Spielen und der Fußball-Weltmeisterschaft als das
drittgrößte Sportereignis der Welt.
1903 - Wie alles begann: Wie die Radrennen boomten um die Jahrhundertwende auch die Sportzeitungen, die
damals schon mit Berichten über Siege, Rekorde, Dramen und Niederlagen ein gutes Geschäft machten. 1899
beschloss der Fahrradhersteller Adolphe Clément, eine konkurrierende Sporttageszeitung zu gründen. "L'Auto-Vélo"
erschien das erste Mal zur internationalen Ausstellung von Paris. Für die Zeitung wurde Henri Desgrange engagiert,
der 1893 den ersten Stunden-Weltrekord gefahren hatte, danach aber die Radrennen aufgab. Doch "L'Auto-Vélo"
gelang es nicht, sich gegen die Konkurrenz durchzusetzen. Desgrange wusste, sein Blatt musste sich etwas Neues
ausdenken, um die Leser zu faszinieren. Geo Lefèvre, Redakteur und Freund von Desgrange, soll dann 1902 die Idee
gehabt haben, ein Etappenrennen durch Frankreich zu veranstalten. Die Tour de France wurde geboren.
In den frühen Morgenstunden des 1. Juli 1903 starteten daraufhin im kleinen Pariser Vorort Villeneuve-SaintGeorges 60 wagemutige Rennfahrer zu diesem Abenteuer. Die ersten Veranstaltungen waren echte
Rundstreckenrennen mit Paris als Start- und Zielort. 1903 qälten sich die Starter über Lyon, Marseille, Toulouse,
Bordeaux und Nantes zurück nach Paris. Die sechs Etappen zu 467, 374, 434, 268, 425 und 460 km Länge führten
zumeist über unbefestigte Wege und Kopfsteinpflaster. Trotz oder gerade wegen der Strapazen wurde die Tour
schnell berühmt. Niemand hatte geglaubt, dass ein Radfahrer solche Anstrengungen ertragen könte. Der
gewünschte Effekt des PR-Gags trat ein: "L'Auto-Vélo" mauserte sich zur auflagenstärksten Sportzeitung
Frankreichs. Erster Gewinner der Tour wurde Maurice Garin. Er erreichte das Ziel in Paris als nur einer von 20
Fahrern mit dem größten Vorsprung aller Zeiten.“ (2000 - 2011, Wissen Media Verlag, Gütersloh/München, In:
http://aq.wissen.de/wde/generator/wissen/services/kontakt/index,page=1304348.html [Consult.10.04.2011])
319
Ocor.
(348)
ESB
ERef
ERel
ESB
Texto
EA
Tour de
France
ERef
M1
ERel
M2
Campeonato do
mundo na
Alemanha
Campeonato do
mundo na
Alemanha como
“Tour de France”
Cenário do
ciclismo
Esquema
dinâmico da
trajectória
(path-goal)
Parabéns
Domenech!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 53: tabela de Espaços Mentais 21
Para além do cenário de uma prova de ciclismo, incluímos o esquema dinâmico da
trajectória no espaço de relevância devido ao facto do campeonato ser conceptualizado como
um percurso real, i.e. os quilómetros de estrada que são percorridos na volta à França até à
meta final. Advogamos que a mescla final representa um elogio ao seleccionador Domenech,
pois apesar do grau de dificuldade e de exigência inerente ao campeonato mundial, levou a
sua equipa até à grande final. Neste sentido, assistimos, de novo, a uma observação avaliativa
que enaltece os princípios do empenho e da dedicação, da força e da resistência, do
individualismo aliado ao colectivismo em prol de um objectivo partilhado como qualidades
apreciadas no mundo do futebol.
b) FUTEBOL É JOGO - categoria jogos de sorte
"Das Schicksal mischt die Karten, und wir spielen."
(Arthur Schopenhauer, Deutscher Philosoph, 1788 1860, Quelle: Aphorismen zur Lebensweisheit V, 48)
Embora a busca pela vitória se mantenha como objectivo almejado, nesta categoria a
obtenção do triunfo não se deve aos cenários mencionados na alínea anterior, mas alia o
conhecimento estratégico a factores aleatórios de sorte ou azar. Se o futebol é um jogo de
sorte, os intervenientes procuram tomar partido de todos os elementos ao seu alcance que
possam atrair o sucesso, como, por exemplo, a postura veiculada por Virgílio, no verso 10, 284
da Eneida: Audaces fortuna juvat - A sorte protege os audazes.
As realizações metafóricas das seguintes ocorrências seleccionadas revelam diversos
mapeamentos: tácticas, como a defesa e o ataque, são cartas (ocorrência (373)), os jogadores
320
são igualmente diferentes cartas (ocorrências (375), (389), (391) e (394)), assim como os
cartões dos árbitros (ocorrência (380)), a formação das equipas é um jogo de cartas
(ocorrência (374)) e os golos são jogadas favoráveis (ocorrência (388)). Consequentemente, o
treinador é conceptualizado como o jogador de cartas, i.e. aquele que decide como, quando e
o que jogar:
(373) Danach setzten die Holländer alles auf eine Karte, die Gastgeber blieben aber bis
zum Schlusspfiff durch Konter gefährlich.
(374) Aufstellung gegen Ecuador - Klinsmanns Pokerspiel: Bundestrainer Jürgen
Klinsmann will sich vor dem letzten Gruppenspiel gegen Ecuador öffentlich nicht auf
eine Aufstellung festlegen. Bekannt ist nur, dass er sich Gedanken über Veränderungen
macht.
(375) Deutschland-Polen - Klinsmanns Joker stechen282 in letzter Minute.
(389) Löw verriet zwar nicht seine Startelf, plant aber wohl weiterhin mit den
formstarken Cacau nur als Joker.
(386) (...) sein Barca-Kollege war im Schatten von Ignashevich durchgestartet und
vollstreckte mühelos aus kurzer Distanz direkt (50.) - das 1:0 für die Selección! Und das
spielte ihr natürlich in die Karten.
(392) Luis Suarez und Diego Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem Weg
zum größten Erfolg seit 1950. (...).
(394) Sneijder ist dabei das Trumpf-Ass (...)
(380) Der Boss sprach eine öffentliche Verwarnung aus. Sepp Blatter zeigte dem
russischen Skandal-Referee Valentin Ivanov nach dessem "Kartenspiel" von
Nürnberg demonstrativ Gelb.
Registe-se que os jogos de cartas são muito populares na Alemanha e existe um
número considerável de expressões idiomáticas baseadas nos jogos de cartas, como “alles auf
eine Karte setzen”: “alles auf eine Karte setzen; Viele Phraseme des Deutschen sind
Kartenspielen entnommen.: bei einer einzigen Chance alles riskieren; alles tun und riskieren,
um
etwas
Bestimmtes
zu
erreichen“
(Duden
-
Redewendungen,
2008,
In:
http://www.ettingerphraseologie.de [Consult. 10.04.2011]). A terminologia específica
associada ao universo dos jogos de cartas é globalmente conhecida. “Joker” é a carta mais
valiosa do baralho porque pode, de acordo com a vontade do jogador, ocupar o lugar de
282
“ste|chen <st. V.; hat> [mhd. stechen, ahd. stehhan]: (...) 13. (Kartenspiel) a) (von einer Farbe) die anderen
Farben an Wert übertreffen: Herz sticht; b) (eine Karte) mithilfe einer höherwertigen Karte an sich bringen: einen
König mit dem Buben s.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
321
qualquer outra carta do jogo. “Trumpf” (o trunfo) é uma carta igualmente poderosa porque:
“die durch die Spielregel bestimmte Karte, mit der im Spiel andere Karten gestochen werden
können. Z. B. ist beim Skatspiel der Treff- bzw. Kreuz-Bube der höchste Trumpf.“ (Wissen
Media Verlag, In: http://www.wissen.de [Consult. 10.04.2011]). Sugerimos as seguintes
projecções:
Ocor.
(373)
(374)
(375)
(389)
(386)
(391)
(394)
(380)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
alles auf eine
Karte setzen
(apostar tudo
numa só
carta)
Táctica de jogo
da selecção
holandesa
Apostar tudo
numa só carta
como táctica de
jogo
Cenário do jogo de
cartas; Esquema
dinâmico: sorte vs
azar
A selecção
holandesa
perdeu
injustamente!
Formação da
Formação da
selecção alemã
Cenário do jogo de
selecção alemã
no jogo contra o
no jogo contra o
cartas; Esquema
Equador como
Equador
dinâmico: sorte/azar
jogo de póquer
(Futuro)
(Futuro)
Texto
Pokerspiel
(jogo de
póquer)
Texto
Joker stechen
(jogar o
‘Joker’)
Jogadores da
selecção alemã
marcam golo
Jogadores
marcam golo
como jogar o
‘Joker’
Cenário do jogo de
cartas; Esquema
dinâmico: sorte/azar
esquema hierárquico
Parabéns,
Alemanha!
Texto
Joker
Jogador alemão
Cacau
(Futuro)
Cacau como
‘Joker’
(Futuro)
Cenário do jogo de
cartas; Esquema
dinâmico: sorte/azar
esquema hierárquico
Cacau é um
bom jogador
Texto
in die Karten
Spielen (uma
jogada
favorável)
Texto
Trümpfe
(trunfos)
Texto
Trumpf-Ass (ás
de trunfo)
Texto
Kartenspiel
(jogo de
cartas)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Coragem,
Klinsmann!
Golo da selecção
Cenário do jogo de
espanhola no
Golo como
cartas; Esquema
jogo contra a jogada favorável
dinâmico: sorte/azar
Holanda
Golo oportuno!
Os jogadores
Forlán e Suarez
uruguaios Forlán
como trunfos
e Suarez
(Futuro)
(Futuro)
Cenário do jogo de
cartas; Esquema
dinâmico: sorte/azar
esquema hierárquico
Forlán e Suarez
em alta!
Cenário do jogo de
cartas; Esquema
dinâmico: sorte/azar
esquema hierárquico
Sneijder em
alta!
Cenário do jogo de
Desempenho do Desempenho do
cartas/ Esquema ético
árbitro russo
árbitro como
(contraste seriedade Valentin
jogo de cartas
leviandade)
Árbitro, má
prestação!
O jogador
holandês
Sneijder
(Futuro)
Sneijder como
ás de trunfo
(Futuro)
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 54: Tabela de Espaços Mentais 22
322
O facto de o jogador ser conceptualizado como um “Joker”283 ou um trunfo, enaltece e
elogia as suas capacidades, destacando-o como um elemento decisivo para a obtenção da
vitória. Habitualmente, os ‘Jokers’ são os jogadores decisivos, os avançados cuja função é a
marcação de golos. Assim sendo, também o ás de trunfo é, indubitavelmente, o melhor
jogador e goleador entre os restantes. O factor da sorte permanece implícito, pois como em
qualquer jogo, o desfecho é incerto, sendo que um bom plano de jogo aumenta as hipóteses
de vitória. O princípio do segredo é igualmente relevante, porque quanto menos o jogador
souber acerca do jogo adversário, mais reduzida é a possibilidade de vencer. Por fim, a
estratégia do ‘bluff’284, i.e. tentar enganar ou confundir deliberadamente o adversário acerca
do jogo que se tem na mão é outra atitude típica de alguns jogos de cartas, com especial
destaque para o póquer.285
Na ocorrência (380), a mescla virtual - cartões do árbitro como cartas de jogo - cumpre
o objectivo de criticar a atitude pouco reflectida do mesmo. Afinal, um jogo de futebol num
campeonato europeu afigura-se como mais sério e significativo do que um jogo de cartas
inconsequente. Assim sendo, reconhecemos no espaço de relevância, para além do cenário do
jogo de cartas, um esquema ético que realça o que pensamos serem atitudes correctas e
incorrectas no plano profissional.
A realização metafórica da ocorrência (381) inspira-se no domínio dos jogos de dados,
sendo o dado, símbolo representativo do acaso, ou seja, da sorte e do azar:
“Nachdem wir schon von den Schachspielen, die mit Verstand gespielt werden, so
vollständig wie
möglich gesprochen haben, wollen wir jetzt an dieser Stelle von der
Würfelspielen erzählen, und zwar aus zwei Gründen. Zum einen, weil der Disput der Weisen
(...) um die Überlegenheit des Verstandes oder des Zufalls ging. Und dies demonstrierte
283
“Joker, der; engl. Joker >Witzbold, Spassvogel< (zu engl. joke >Witz, Scherz, Streich<); werder Scherzkeks noch
flexibel einsetzbaer Spielkarte mit Narrenbid, sondern (in metaphorischer Verwendung): spät eingewechselter, hoch
motivierter, → torgefürchteter → Angriffsspieler, der durch seine körperliche Fitness als Trumpf für Verwirrung in der
abgekämpften gegnerischen → Abwehr sorgen u. einen wichtigen o. den entscheidenden → Treffer → erzielt bzw.
erzielen soll.“ (Burkhardt, 2006a:155)
284
“Bluff, der; -s, -s [engl. bluff]: bewusste [dreiste] Irreführung; Täuschung[smanöver]: das ist ein B.“ (Dudenverlag,
1997, Versão CD-Rom)
285
“Neben den Stichspielen, vor allem Bridge, haben die Bluffspiele mit Poker den weltweit wohl bekanntesten
Vertreter der Kartenspieler in ihren Reihen. Amerikas Nationalspiel verlangt wahrscheinlich ebenso viel Geschick
wie Bridge, wenn auch auf einer ganz anderen Ebene. Nicht das Einschätzen der Karten ist der entscheidende
Faktor, sondern das überzeugte „Pokerface“ dem Gegner gegenüber. Wer mehr glaubhaft machen kann, als er
tatsächlich in Händen hält, wird auf Dauer gewinnen. Der Bluff ist die entscheidende Kunst im Pokern. Daneben ist
aber auch das richtige Umgehen mit dem vorhandenen Spielkapital nicht zu unterschätzen. Oft und oft gewinnt
derjenige, der zum richtigen Zeitpunkt seine Einsätze tätigt. (...) Ganz im Unterschied zu den Bankspielen ist hier
nicht nur die „Glücksfee“ für den Ausgang des Spiels verantwortlich, sondern in nicht unbeträchtlichem Masse auch
der Spieler selbst.“ (Kastner/Folkvord, 2003:303)
“ZIEL: Durch geschicktes Wetten auf bestimmte Kartenverteilungen versucht jeder Spieler, sein (möglichst hohes)
Blatt durchzubringen und damit im Showdown (Aufdecken) besser zu sein als alle Gegner, oder er versucht alle
Gegner zum frühzeitigen Aussteigen zu bringen.“ (op.cit. p.306)
323
jeder dem König anhand eines Beispiels: Der erste brachte die Schachspiele als Beispiel für
den Verstand und der zweite die Würfel für den Zufall.“ (Schädler, 2009:191).
É igualmente interessante verificar a origem etimológica da palavra ‘azar’: esta provém
do árabe az-zaHar e significa felicidade ou dado286. O mesmo se verifica nas línguas espanhola
e francesa:
“Zahr, zunächst „Blume, Blüte” erhielt im westlichen Arabisch die Bedeutung „Würfel zum
Spielen”. Mit dem Artikel az-zahr wurde zahr im Spanischen als „ungünstiger Wurf beim
Würfelspiel“ verstanden. Daraus entwichelte sich auch das französische Wort hazard.“ (Nix,
2009:16)
(381) Marcello Lippis ratloses Auswürfeln der Sturmformation (…)
Und so würfelt Lippi ratlos die Sturmformationen durcheinander während das Achter
Gerüst dahinter felsenfest für hart erarbeitete Erfolge sorgt.
Fica claro que o seleccionador italiano Lippi, no decorrer do campeonato mundial de
2006, não tem a certeza qual a estratégia atacante mais adequada, nem quais os jogadores
que deverá incluir no seu onze inicial, pelo que a equipa parece construída ao acaso. Para além
deste factor do acaso, inerente ao cenário dos jogos de dados, propomos a inclusão do
esquema ético no espaço de relevância, uma vez que um seleccionador de renome deve saber
o que faz assim como deve planear e organizar a sua equipa. Isso seria uma postura ética e
profissionalmente correcta. Contudo, verifica-se o contrário. Na mescla final emerge,
consequentemente, uma crítica: Lippi não é um bom treinador!
Ocor.
(381)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Auswürfeln/
durcheinander
würfeln
(lançar os
dados)
Opções
estratégicas do
seleccionador
italiano Lippi
Opções
estratégicas
como lançar
os dados
Cenário do jogo
de dados/
Esquema ético
Lippi não é um
bom
seleccionador!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 55: Tabela de Espaços Mentais 23
A última ocorrência (384) foi retirada de um artigo desportivo acerca da vitória por
grandes penalidades da selecção turca no jogo contra a Croácia (1:3).
286
In: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/azar. Existe, inclusivamente, um jogo de dados que se chama
AZAR. Vide Schädler (2009:195ff.)
324
(384) Bei der Lotterie zeigte Kroatien dann Nerven und wurde bitter bestraft.
A imprevisibilidade do resultado final na marcação de grandes penalidades como
factor decisivo do jogo, aliada à ideia de que a grande penalidade depende principalmente da
sorte, mais do que do saber, conduz à conceptualização: grandes penalidades são uma lotaria
e vencer essa lotaria representa grande felicidade. Contudo, o artigo revela uma circunstância
que pode influenciar a sorte, nomeadamente, o controlo emocional dos jogadores. O
descontrolo nervoso conduz ao insucesso, e a consequente derrota é encarada como castigo
para a equipa. Neste sentido, a sorte é de quem a merece:
Ocor.
(384)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Lotterie
(lotaria)
Grandes penalidades
no jogo entre as
selecções da Croácia
e da Turquia
Grandes
penalidades
como lotaria
Cenário do jogo
de sorte, lotaria/
Esquema do
mérito
Croácia, má
prestação!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 56: Tabela de Espaços Mentais 24
Sugerimos, então, a inclusão do esquema do mérito no espaço de relevância aliado ao
fenómeno da sorte, inerente ao universo dos jogos. Ideias como: a sorte é de quem a merece
ou a procura, integram-se no princípio do mérito, desvalorizando o factor aleatório do acaso e
responsabilizando os agentes/intervenientes na busca activa do sucesso desportivo.
3.2.5. Imagens mescladas: Futebol - Religião e Mitologia
When you walk through a storm
hold your head up high
and don't be afraid of the dark.
At the end of the storm
is a golden sky
and the sweet silver song of a lark.
Walk on through the wind,
walk on through the rain,
tho' your dreams be tossed and blown.
Walk on, walk on, with hope in your heart,
and you'll never walk alone!
You'll never walk alone!
(Hino dos adeptos do FC Liverpool, do
Celtic Glasgow e do FC St. Pauli)
325
Na mente do adepto de futebol moderno, a vitória da equipa do coração é um acto de
fé. Assim se explica o carácter sagrado do futebol.
Neste sentido, arquitectam-se realizações metafóricas que conceptualizam o futebol
como religião ou crença mitológica. Existem inúmeros estudos em torno de uma questão
central: será que futebol moderno representa, actualmente, uma espécie de ‘religião’
alternativa. Estes estudos comparam ambos os domínios do ponto de vista social, ético, moral
e metafísico e exploram os paralelismos formais evidentes287. A presente análise semiótica
pretende comprovar que, mais do que a exploração de estruturas análogas entre estes
domínios, as conceptualizações metafóricas contribuem para a construção de um herói
futebolístico, cristalizado a partir do cenário religioso ou mitológico.
Contudo, consideramos pertinente referir, sucintamente, quais os principais
paralelismos entre o futebol e a religião, subjacentes às diferentes redes conceptuais.
1. A estruturação espacial dos eventos - jogos no estádio de futebol e celebrações religiosas
num espaço sagrado (igreja, catedral, santuário, etc.):
Tal como os fiéis se deslocam semanalmente aos seus locais de culto para celebrar
colectivamente a sua fé, os adeptos de futebol caminham para os estádios para assistirem, em
conjunto, aos jogos de futebol. Todos os espaços estão bem delineados, cada um com a sua
função específica e com acesso reservado. A congregação e o público mantêm-se nos bancos
ou bancadas virados para o centro da acção; a zona do altar e o relvado possuem acesso
restrito aos intervenientes, i.e. sacerdotes e sacristães por um, jogadores e árbitros por outro.
Só quando expressamente convidados, podem elementos da congregação ou do público
aceder e esse espaço ‘sagrado’. Os ‘agentes’ dos respectivos eventos estão claramente
identificados através do seu vestuário; cada função possui uma ‘farda’ correspondente e
distintiva. Por fim, os eventos decorrem de acordo com um conjunto de regras e fases
predefinidas, que são do conhecimento de todos.288
287
“Die Fans können stürmischer, ritueller, rhytmischer und kultisch reichhaltiger gar nicht sein, wenn ihre
Mannschaft im Stadion den Rasen betritt. Ihre Fussballgötter werden mit Trommelwirbel, chorische Gesänge und
Jubelrufen empfangen und mit rituellen Körperbewegungen, Laolas und Tänzen durch das ganze Spiel begleitet. Die
Fans geraten dabei regelrecht in Ekstase. Wünscht sich eine ähnliche Begeisterung nicht so mancher Pfarrer von
seiner Gemeinde? Ersetzt der Stadionbesuch mittlerweile den Gottesdienst in der Kirche? „Wieso verehrt und küsst
man Fussballstar-Reliquien, während man kirchliche Reliquien als Klamauk und Aberglaube abtut?“ [Desmond,
Morris: Das Spiel. Faszination und Ritual des Fussballs, München, 1981] „Fussball inszeniert sich als Religion“ meint
Johanna Haber, Professorin für evangelische Theologie. Gilt Luthers Aussage „Woran du dein Herz hängst, das ist
eigentlich dein Gott“ auch für den Fussball? Ist der Fussball nicht längst zu einer Art Ersatzreligion geworden?“
(Sutter, 2007:12-13)
288
“Der heilige Raum - In Kirchen sind wir es gewohnt, daß sich die Liturgie, die heilige Handlung, in einem
bestimmten, abgegrenzten Raum vollzieht. Das ist der Chorraum. Wie beim Gottesdienst kann man die Akteure an
ihrer Kleidung erkennen, die sie außerhalb der Kirche nicht tragen. Der Priester, der Diakon, die Messdiener haben
eine bestimmte Robe an, die sonst niemand im Kirchenraum trägt. Manchmal kommen allerdings einige aus dem
326
2. O comportamento dos fiéis e dos adeptos e seus rituais:
Para além das deslocações semanais aos diversos locais de culto, podemos encontrar
analogias entre as romarias ou peregrinações religiosas e as viagens organizadas dos adeptos
para assistirem a grandes competições desportivas (tais como finais de taças e campeonatos, a
liga dos campeões, campeonatos europeus e mundiais, etc.). Estes acontecimentos reflectem,
habitualmente, um enorme espírito de união e de partilha, visível através da alegria e dos
cânticos característicos nestas ocasiões:
“Wie die Gläubigen, ob Moslems, Christen oder Hindus, kennen die Anhänger des Fußballs
ein ausgeprägtes Wallfahrtswesen. Steht an den Wallfahrtsorten ein Tempel oder eine
Kirche, ist das Ziel der Fußballwallfahrt ein Stadion. Dort gibt es wie in einem abgegrenzten
Tempelbezirk den heiligen Rasen. Daß die Stadien Wallfahrtsorte sind, kann jeder sofort
daran erkennen, daß es die für Wallfahrtsorte typischen Andenkenshops gibt. Dort kann der
Wallfahrer alles kaufen, was er an Wallfahrtskleidung braucht, er kann sich mit den heiligen
Zeichen ausstatten. Statt einer Marienfigur ist es der Ball. Auch sonst kann man das Gleiche
wie an Wallfahrtsorten beobachten. Die Fußballwallfahrer ziehen in einer Prozession zum
Ort des Geschehens. Dabei singen sie ihre Wallfahrtslieder. Der religiösen Feier vergleichbar
findet dann in einem festen Zeitrahmen und nach festgelegten Riten das Spiel statt. Hat die
eigene Mannschaft gewonnen, ziehen ihre Anhänger mit dem Gefühl davon, mit Gnade
reich beschenkt worden zu sein.“ (Bieger, in: http://www.kath.de/religionundfussball/fuss
ballwallfahrt.htm [Consult. 12.04.2011])
Grande parte dos cânticos dentro dos estádios de futebol cumpre uma função idêntica
aos cânticos religiosos nas diferentes igrejas: são sinais de veneração e reforçam o sentimento
colectivo de união em torno de um desígnio comum:
“Betrachten wir das Verhalten eines Anhängers im Stadion, so werden Handlungsmuster
offenbart, die sich aus bestimmten Praktiken und Riten zusammensetzen, die von ihrer
strukturellen Form dem sakralen Bereich zuzurechnen sind. Dazu zählt zum Beispiel das
Singen von Fan-Liedern im Stadion. Die mit Inbrunst vorgetragenen Fanchöre dienen der
Erhöhung und Stärkung des Gemeinschaftsgefühls und sind damit in ihrer Form dem
Chorgesang in der Kirche als gleichwertig anzusehen.“ (Laxa, 2005:51)
Zuschauerraum in den Bereich des Altares. Sie sind in ihrem gewöhnlichen Dress gekleidet und lesen aus einem
Buch vor oder teilen die Kommunion aus. Da ist der Fußball strenger. Zuschauer dürfen normalerweise nicht in den
heiligen Raum. (...) In dem heiligen Raum vollzieht sich dann die heilige Handlung, der Fußballritus, in dem es wie in
einem Tempel oder einer Kirche eine geheimnisvolle Macht gibt, die letztlich das Geschehen lenkt. Für jeden
erkennbar wirkt diese Macht durch die heiligen Regeln.“ (Bieger, In: http://www.kath.de/religionundfussball/
woechentlicher-Stadiongang.htm [Consult. 12.04.2011])
“Eine erste Ähnlichkeit besteht in der räumlichen Strukturierung des Geschehens. So weist Kopiez (2002: 294ff) auf
die Parallelen zwischen Stadion und Kirche hin; beide seien geweihte Orte für geweihte Handlungen, nur zu
bestimmten Zeiten zugänglich und mit einem besonderen Verhaltenskodex verbunden.” (Schäfer/Schäfer, 2009:1)
327
O vestuário é outro factor que realça a ritualidade do futebol. Os adeptos mais
fervorosos vestem-se e pintam-se a rigor para a ocasião. Desde o equipamento das suas
equipas a camisolas alusivas aos clubes, cachecóis, chapéus e enfeites variados, tudo serve
para sinalizar a pertença a um determinado grupo, i.e. clube ou selecção:
“Eine weitere Form religiösen Handelns stellt das Tragen von Fanartikeln wie Schal oder
Trikot dar. Die Uniformierung kennzeichnet die optische Einheit und die gemeinsame
Glaubensrichtung der Fans. Zugleich ist es - in Verbindung mit den Fangesängen - eine
symbolische Integration des Einzelnen in eine homogene Fanmasse für die Zeit sed Spiels.“
(Laxa, 2005:51-52).
As diferentes coreografias, como marcas de comportamento ritualizado, cumprem objectivos
semelhantes:
“Eine weitere Parallele sind Rituale, denn auch „[i]n seinen stark ritualisierten
Veranstaltungen bekommt der Sport quasi-religiöse Elemente“ (Weis 1995: 129). Kollektive
Bewegungen wie rituelle Tänze oder Massen-Choreographien wie die La Ola-Welle spielen
eine große Rolle, ebenso Kostümierungen und Gesänge, die Elemente kirchlicher Musik
enthalten.“ (Schäfer/Schäfer, 2009:2)
Por fim, a presença das bandeiras e estandartes que denotam, igualmente, inspiração
religiosa:
“Schließlich die Fahnen. Früher gehörte in der katholischen Kirche zu einem feierlichen
Gottesdienst der Einzug der Banner, die die verschiedenen Verbände repräsentierten.
Müssen beim Fußball die Fahnen außerhalb des heiligen Bezirks, des Rasens bleiben, zogen
bei katholischen Hochämtern die Bannerträger in den Chorraum und stellten sich seitlich
auf, so daß die Banner während des Gottesdienstes von allen zu sehen waren. Fahnen
müssen geschwenkt werden. Das passiert während des Fußballspiels. (…) Neben Liedern
und Fahnen gibt es dann noch die spezielle Kleidung. Die Fans erscheinen in den Farben
ihres Vereins bzw. ihres Landes. Aus den afrikanischen Religionen hat der Fußball die
Bemalung der Gesichter übernommen. Wie bei den Hemden und Schärpen werden auch bei
der Körperbemalung die Farben der Nation übernommen.“ (Bieger, In: http://www.kath.de/
religionundfussball/fussballgemeinde.htm [Consult. 12.04.2011])
3. O poder dos símbolos colectivos:
Tanto na religião como no futebol, a simbologia reveste-se de enorme importância.
Todas as religiões possuem uma ou mais entidades divinas; estas, apesar de omnipresentes,
328
são invisíveis e só se tornam acessíveis mediante representações simbólicas. Profetas,
apóstolos ou santos configuram uma forma adicional de presença divina, cujos feitos e
símbolos icónicos são igualmente venerados289:
“Eine weitere Parallele liegt in der großen Bedeutung kollektiver Symbole. Die von FußballFans verwendete Symbolik lässt sich mit den Begrifflichkeiten der Durkheimschen
Religionssoziologie unschwer in heilig und profan einteilen.
Club-Emblem und
Mannschaftsfarben haben für Fans eine ähnliche Symbolkraft wie das Kreuz oder die
eucharistischen Fische für Christen. (...) Denn auch die „Zimmer der Fans werden zu
Kulträumen, in denen Nähe symbolisch hergestellt und auf Dauer angelegt wird. [...]
Heimaltäre, die einzelnen Spielern geweiht sind, und Reliquienschreine erinnern an
Marienkulte“ (Becker 1988:74).” (Schäfer/Schäfer, 2009:1)
Todos estes paralelismos realçam o facto da experiência do futebol constituir,
essencialmente, uma experiência emocional: o sentimento de união e comunhão, a dor e o
sofrimento por um lado e a felicidade e salvação através da fé por outro são emoções análogas
às paixões vividas pelos adeptos de futebol. Tanto o ritual religioso como os rituais em torno
do jogo de futebol têm efeitos purificadores e libertadores:
“Ins Stadion gehen, das heißt Emotion und nicht selten Schmerz. Der treue Fan erlebt die
Höhen und Tiefen seiner Mannschaft, wie auch ein Gläubiger die Höhen und Tiefen seiner
Kirche mit erleidet. (...) Wie der sonntägliche Kirchgang hat der Besuch des Stadions eine
emotional reinigende Wirkung. In der Kirche wird über Sünde und Vergebung, über Tod und
Auferstehung gehandelt, im Stadion geht es um Jubel und Enttäuschung, um Hoffnung und
das Gericht, das in jeder Niederlage verhängt wird.“ (Bieger, In: http://www.kath.de/religion
undfussball/woechentlicher-Stadiongang.htm [Consult. 12.04.2011])
289
“Desporto: O futebol tem analogias com as religiões - professor da Universidades Católica - Lisboa, 22 Jan (Lusa) O futebol tem analogias com as religiões nos rituais, nas imagens e nos símbolos, defendeu hoje Eduardo Cintra
Torres, professor da Universidade Católica. Falando na conferência sobre Media e Desportos, organizada pela
Universidade Católica, Cintra Torres destacou que os adeptos dos clubes são uma comunidade com rituais,
comportamentos e até discursos semelhantes e o futebol funciona como um unificador colectivo e um cimento
social, com um sentimento de pertença. Aquele professor da Universidade Católica salientou que alguns símbolos
clubistas têm semelhanças com os totens das religiões primitivas e mostrou fotografias de adeptos pintados e com
símbolos dos clubes, adeptos a rezarem ou aparentando um estado de transe. Acrescentou o facto de se designar
como "catedral" estádios de futebol. Cintra Torres citou uma sondagem de 2002 em que quase dois terços dos
inquiridos afirmam que preferem assistir às transmissões televisivas de futebol acompanhados, o que revela
claramente a natureza social de assistir a um jogo e a extensão da função social do futebol. Aquele professor
universitário destacou que o futebol se tornou "um dogma na vida diária, nos media e também na forma como
outros subsistemas, como o político, agem em relação a ele", vendo o futebol pela sua própria verdade, sem uma
visão distanciada, o que "é especialmente visível na cobertura do futebol pelos media”." (Lusa, Agência de Notícias
de Portugal, S.A., in: http://www.fch.lisboa.ucp.pt/resources/Documentos/imprensa/Lusa-22-01-2009.pdf [Consult:
20.04.2011])
329
As analogias entre o futebol e a religião não são, consequentemente, estritamente formais.
Contudo, o propósito final de ambos é diferente, na medida em que o futebol não se ocupa
com questões existenciais acerca do desígnio e da essência da vida:
“Im Zeichensystem des Fussballs hat alles eine Bedeutung. So wird der Ball zum Symbol für
die Welt, die Spieler zu Heiligen, der Schiedsrichter zum Priester, die Fans zu Gläubigen. Das
Stadion selbst kommt mit seinen Ritualen einem Heiligtum gleich, das die Massen anzieht.
Zwar besitzen einige Rituale von Fussball und Religion eine gewisse Ähnlichkeit, jedoch will
die Religion den ‘Fans‘ etwas völlig anderes vermitteln als der Fussball! Religion befasst sich
mit Fragen nach dem Sinn des Lebens und der Welt als Ganzem und möchte die ‘Fans‘ dazu
anleiten, sich mit dieser Frage auseinanderzusetzen. Der Fussball beschäftigt sich nicht mit
dieser Frage, sondern erfüllt lediglich das hier und das jetzt mit punktuellen Hochgefühlen.“
(Sutter, 2006:15)
As realizações metafóricas das ocorrências a analisar podem ser subdivididas nas
seguintes categorias:
a) actos e feitos divinos ou sobrenaturais (milagres, maldições, salvações, etc.);
b) entidades divinas, sobrenaturais ou mortais (deuses, semi-deuses, santos,
diabos, seres mitológicos, pecadores, amaldiçoados, etc.);
c) locais e representações simbólicas;
d) narrativas bíblicas ou mitológicas.
Registe-se, contudo, que em algumas ocorrências, é possível reconhecer a presença de duas
das categorias acima descritas simultaneamente, como, por exemplo, entidade divina e local
sagrado. Este é um fenómeno recorrente e natural, pois as categorias não se assumem como
estanques e intransponíveis. Muito pelo contrário, optamos por agrupar as realizações
metafóricas por categorias apenas por razões metodológicas para melhor evidenciar as
analogias e explorar as diferentes análises semióticas.
As seguintes tabelas estão organizadas por ordem decrescente de frequências, sendo
que a categoria a) apresenta 22 ocorrências, a categoria b) 17 ocorrências, a categoria c) 11
ocorrências e a d) 6 ocorrências, o que perfaz um total de 56 ocorrências identificadas.
330
a) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria actos e feitos divinos e sobrenaturais (22 ocorrências)
EURO 2004 (4)
MUNDIAL 2006 (5)
(400) Griechen erklimmen den Olymp! (404) Jubelndes Frankreich
(www.kicker.de – 02.07.2004)
Die Auferstehung des Wir-Gefühls
(www.spiegel.de – 02.07.2006)
(401) Damit war das Schicksal von
Portugals
"Goldener
Generation" (405) Deco erlöst Portugal
besiegelt (...)
(ww.spiegel.de – 17.06.2006)
(www.kicker.de – 02.07.2004)
(406) Ronaldinho enttäuschte, Ronaldo
(402) Es hatte sich angekündigt. Nun spielte unterirdisch. Die Seleção quälte sich
wurde das Wunder Wirklichkeit. bei der Begegnung gegen Kroatien zum
Griechenland, bei der EM 2004 der Sieg.
absolute Außenseiter, hat das Turnier (www.spiegel.de – 14.06.2006)
gewonnen.
(407) Was für ein Spiel! Die deutsche Elf
(www.kicker.de – 05.07.2004)
kämpfte bis zum Schluss – erst in der
(403) Ottos Wunder von Lissabon
Nachspielzeit gelang Oliver Neuville das
Die Siegermedaille um den Hals, erlösende Siegtor gegen Polen.
schloss Rehhagel seine Manöverkritik (www.spiegel.de – 14.06.2006)
mit dem Satz: "Sie haben ein Wunder
(408) Gruppe A: Deutschland - Polen 1:0
vollbracht."
(0:0) Neuville mit dem erlösenden Treffer
(www.spiegel.de – 05.07.2004)
(www.kicker.de – 14.06.2006)
EURO 2008 (5)
MUNDIAL 2010 (8)
(409) Deutschland 3:2 gegen Portugal – (414) Mesut Özil schoss in der 60. Minute das
grandiose Wiederauferstehung
erlösende Tor, das das Gespenst vom ersten
(www.focus.de – 01.07.2008)
deutschen Vorrunden-Aus in der WMGeschichte endgültig verjagen.
(410) Portugal-Bezwinger SCHWEIN- (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
STEIGER Wiedergeburt eines
(415) Das Team der Gastgeber begeisterte
Superstars
seine erwartungsvollen Fans und kämpfte mit
(www.spiegel.de – 20.06.2008)
Herz und Leidenschaft um das erhoffte
(411) Es sollte ein Wunder von Wien Wunder. (www.sportbild.bild.de -22.06.2010)
werden, doch es kam anders. Nach (416) Aber für die Engländer wird dieser
einem
überlegenem
Spiel
der Triumph zum Fluch.
spanischen Mannschaft, nehmen die (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
Spanier den silbernen EM-Pokal mit
(417) Nach 1982 verfolgte Italien wahrlich ein
nach Hause.
WM-Fluch: Von 1990 bis 2002 scheiterte man
(www.spiegel.de -29.06.2008)
dreimal in Folge im Elfmeterschiessen. (Kicker
(412) Gestern versuchte er alles, um Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.171)
endlich den Vize-Fluch zu besiegen und (418) Philipp Lahm, Kapitän einer wie
seinen ersten internationalen Titel zu entfesselt aufspielenden Elf, erklärt das neue
gewinnen.
deutsche Fussball-Wunder. (Kicker Sport(www.bild.de – 30.06.2008)
magazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.5)
(413) Nihat vollbringt das Wunder
(www.kicker.de – 15.06.2008)
(419) USA: Der Fluch der frühen Gegentore
holte die US-Boys erneut ein. (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.32)
(420) „Der Fluch des Pokals – und die Klasse
der Spanier. Die WM zieht uns in ihren
Bann.“ Jean-Jullen Beer, Kicker-Chefredaktion (Kicker Sportmagazin Nr. 48 – 24.
Woche 14.06.2010, p.3)
331
(421) Das darf doch nicht wahr sein! Noch
mehr verletzte Topstars! (...) Verflucht!
(Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche
07.06.2010, p.28)
b) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria entidades divinas, sobrenaturais e mortais (17 ocorrências)
EURO 2004 (4)
MUNDIAL 2006 (7)
EURO 2008 (2)
(422) "Wir haben einen neuen Koloss
von Rhodos gefunden" jubelte der
Coach nach dem Spiel. Gemeint war
die
überragende
Leistung
des
Abwehrchefs Traianos Dellas.
(www.spiegel.de 13.06.2004)
(426) Engel in der Hölle. Zinedine Zidane
hätte seine einzigartige Karriere mit dem
zweiten WM-Titel krönen können. Stattdessen zeigte er im letzten Spiel seiner
Laufbahn seine dunkle Seite.
(www.spiegel.de – 10.06.2006)
(433) Dr. Theo Zwanziger: (...) Sicher,
Jungs wie Poldi und Schweini z.B. sind
keine Heiligen. Und das sollen sie auch
gar nicht sein.
(www.bild.de – 30.06.2008)
MUNDIAL 2010 (4)
(435) Abendzeitung: „Deutschland zittert um
den Einzug ins Achtelfinale. (...) waren
Miroslav Klose und Lukas Podolski noch die
gefeierten Helden – beim 0:1 (0:1) gegen
Serbien übernahmen sie jetzt ungewollt die
Rolle der Sündenböcke.“
(434)
Es
ist
DAS
Duell
der
Giganten
im
(www.sportbild.bild.de
– 19.06.2010)
(427) "Der Fall der Götter" - Die
brasilianische Presse ist fassungslos. Für EM-Viertelfinale: Deutschland heute (436) Express: „Die WM-Party ist zu Ende.
den Weltmeister ist das Turnier bereits gegen Portugal (...) Michael Ballack (31) Der Rausch ist vorbei! Spanien hat unsere
gegen Cristiano Ronaldo (23).
nach dem Viertelfinale beendet.
Wunderkinder entzaubert! Kein Finale. Nur
(www.bild.de – 19.06.2008)
(www.spiegel.de – 02.07.2006)
der Trostpreis.”
(www.sportbild.bild.de – 08.07.2010)
(428) WM 2006 - Die Erlöser der Welt
(www.spiegel.de – 26.06.2006)
(437) Das Opus in Oranje: Den Titel im Visier
(423) In seinem Kinderzimmer hingen
damals Poster von Rico Steinmann,
dem Mittelfeldgott mit dem feinen
Fuß, Gott allerdings war Steinmann nur
in Chemnitz, denn schon in Köln
scheiterte er. (...) Grün-weiß war
Ballacks Bett zur Wendezeit (...).
(www.spiegel.de – 17.06.2004)
(429) 2002 wurde er als Titan unsterblich,
2006 als Mensch - Der Kahn-Rücktritt. Am
(424) Gottgleiche Sieger, tröstende
10. Mai 2006 verkündet Klinsi: „Lehmann
Worte für die Unterlegenen: Während
ist die Nr. 1.“ Und Kahn wird zum Titanen
Griechenland seine Europameister auf
der Herzen. (www.bild.de – 09.07.2006)
dem Olymp sieht, empfehlen die
portugiesischen
Medien
der (430) Der Fußball-Gott war für 90 Minuten
Mannschaft
des
Gastgebers, auf der Erde – im weißen Frankreich-Trikot
erhobenen Hauptes die Bühne zu mit der Nummer 10... Zinedine Zidane (34).
(www.bild.de – 05.07.2006)
verlassen.
(www.spiegel.de – 05.07.2004)
(431) Aus einer sehr unterhaltsamen Partie
(...) Holland wie gehabt: kein Adonis-Fussball
(...)“ wie Legende Ruud Gullit kritisch
anmerkte (...).
(Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 27. Woche
08.07.2010, p.18)
(438) Argentinien: Tor zum 2:0 gegen
Griechenland und neue Rekorde für den
Rekordmann. „Verrückter“ und „Heiliger“
zugleich: Palermos unendliche Geschichte
(Kicker Sportmagazin Nr. 51 – 25. Woche
332
(425) Der Zweck heiligt die Mittel, und
Rehhagel wird nun in Griechenland
endgültig zum Heiligen gesprochen.
(www.spiegel.de – 05.07.2004)
24.06.2010, p.20)
ragten Doppeltorschütze Dindane, DoppelElfmeter-Verursacher Dudic, die Gelb-RotSünder Nadj und Domoraud sowie Schiedsrichter Marco Rodriguez aus Mexiko sogar
noch heraus. (www.kicker.de – 21.06.2006)
(432) Vieira - Jubilar und Erlöser. Nach
einer deutlichen Steigerung gegenüber den
ersten beiden Vorrundenspielen gegen die
Schweiz (0:0) und Südkorea (1:1)
qualifizierte sich Ex-Weltmeister Frankreich
(...). (www.kicker.de – 23.06.2006)
c) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria locais e representações simbólicas (11 ocorrências)
EURO 2004 (1)
MUNDIAL 2006 (4)
EURO 2008 (1)
MUNDIAL 2010 (5)
(439) Während Griechenland seine
Europameister auf dem Olymp sieht,
empfehlen die portugiesischen Medien
der Mannschaft des Gastgebers,
erhobenen Hauptes die Bühne zu
verlassen.
(www.spiegel.de – 05.07.2004)
(440) Engel in der Hölle. Zinedine Zidane
hätte seine einzigartige Karriere mit dem
zweiten
WM-Titel
krönen
können.
Stattdessen zeigte er im letzten Spiel seiner
Laufbahn seine dunkle Seite.
(www.spiegel.de – 10.06.2006)
(444) Frings: (gesperrter Spieler) „Ein
Leben lang arbeitet man auf so ein
Spiel hin. Dann das. Das ist die Hölle!“
(www.bild.de – 28.06.2008)
(445) Luis Suarez: „Am Ende ist die Hand
Gottes jetzt meine.“ (Uruguays Nationalspieler Suarez nach seinem Handspiel, mit
dem er eine Niederlage gegen Ghana verhinderte, in Anspielung auf das Handtor von
Argentiniens Diego Maradona bei der WM
1986 in Mexiko)
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(441) Das Land, das so stolz ist auf seine
Fußball-Tradition, wurde degradiert zum
Status eines WM-Exoten. Serbien steht unter
Schock und mit Schlagzeilen wie "Absturz in
die Hölle" und "Erniedrigung" heizen selbst
seriöse Zeitungen die Stimmung auf dem
Balkan an. (www.kicker.de - 19.06.2006)
(442) Darauf wartet die Fussball-Nation. Dass
van Basten den Schlüssel findet, um das Tor
zu dem verlorenen Fussball-Paradies wieder
(446) Fehler wie die von Cha (...) "In so einem
Moment gehst du in die Hölle", gestand Cha,
"aber dann kommst du auch wieder raus."
(www.kicker.de - 24.06.2010)
(447) Elfmeterdrama im Viertelfinale - Ghana
in der Hölle, Uruguai im Paradies.
(www.spiegel.de - 03.07.2010)
(448) Die „Hand des Teufels“ ist wieder da,
333
zu öffnen. In diesem Jahr blieb die Pforte in
den Garten Edens verschlossen (...)
(www.spiegel.de - 29.06.2006)
der Traumsturm komplett: Luis Suarez und
Diego Forlán sind für Uruguay die Trümpfe
auf dem Weg zum größten Erfolg seit 1950.
(www.sportbild.bild.de – 09.07.2010)
(443) Jens, du hast die wahren Hände
Gottes! (www.bild.de – 05.07.2006)
(449) Suarez war die Hand Gottes - oder in
Ghana eben die Hand des Teufels. (...) Bereut
hat er seine Rettungsaktion dennoch nicht.
(www.sportbild.bild.de – 09.07.2010)
d) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - narrativas bíblicas ou mitológicas (6 ocorrências)
EURO 2004 (0)
MUNDIAL 2006 (3)
(450) Bis zur Pause kontrollierten die Asiaten
die Partie, Australien verlor den Faden und
fand ihn bis zum Halbzeitpfiff nicht mehr.
(www.kicker.de – 12.06.2006)
EURO 2008 (2)
MUNDIAL 2010 (1)
(453) Als Goliath in die erste Partie (455) Siegen oder fliegen – Quo vadis,
gestartet, stand so plötzlich Klein-David Joachim Löw? (vor dem Spiel mit Ghana)
Deutschland vor Goliath Portugal – und (www.kicker.de/news/video)
dem Aus. (www.focus.de – 01.07.2008)
(451) Kurz vor der Pause die nächste Hiobsbotschaft für Luiz Felipe Scolari: Der bereits
mit Gelb verwarnte Costinha ging mit der
Hand zum Ball. (www.kicker.de – 25.06.2006)
(454) Luis Aragones (Trainer Spanien):
"Wir haben die ersten 20 Minuten
bestimmt und sind verdient in Führung
gegangen. Später haben wir etwas den
(452) Joseph S. Blatter: "Hätten beide Faden verloren und den Ausgleich
Mannschaften so wie in der Verlängerung kassiert.“ (www.kicker.de – 14.06.2008)
gespielt, hätten wir ein großartiges Halbfinale
gesehen. (...) Bei der deutschen Mannschaft
ist der Glücksfaden gerissen, und ich kann
natürlich auch die Enttäuschung der Fans
verstehen. (www.kicker.de – 04.07.2006)
334
De acordo com a análise semiótica de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a),
sugerimos a seguinte rede de espaços mentais no que diz respeito à macro-metáfora
conceptual: FUTEBOL É RELIGIÃO/ MITOLOGIA:
Espaço Semiótico de Base
Espaço de Apresentação
Actos/
Feitos
Expressões
metafóricas
Espaço de Referência
Locais/
Representações
Jogador
FUTEBOL
Outros
Intervenientes
RELIGIÃO/MITOLOGIA
Entidades
Narrativas
Cenário das crenças
espirituais/ Esquema
dinâmico das forças
sobrenaturais/ Narrativas
bíblicas e mitológicas
Equipa
Campeo
-nato
Jogo/
Jogadas
FUTEBOL
COMO
RELIGIÃO/
MITOLOGIA
Espaço Virtual
(Blend)
Esquema dinâmico de
Relevância
(Relevance-Schema)
Inferências
Emergentes
O mundo do futebol é
um mundo de crenças.
Futebol proporciona
vivências
transcendentais/
A emoção do futebol
ultrapassa a esfera da
vida terrena
Espaço do
Significado
Figura 57: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Religião/Mitologia
A mescla virtual - FUTEBOL COMO RELIGIÃO OU MITOLOGIA emerge do mapeamento entre o
domínio-fonte da religião e/ou mitologia, formada a partir dos sub-domínios ou categorias já
referenciados (esferas pequenas), e o domínio-alvo do futebol (e seus constituintes - esferas
pequenas). Como já referimos anteriormente, consideramos que esta mescla é, na realidade,
virtual devido ao facto do futebol, apesar das analogias acima desenvolvidas, não constituir, na
sua essência, uma crença religiosa ou mitológica convencional290. O espaço de relevância
remete para a esfera do poder das forças sobrenaturais, subjacentes às crenças espirituais e
transmitidas, maioritariamente, através de narrativas de índole religiosa ou mitológica,
290
Vide Nadler (2008:204-209) e Cintra Torres (2011:32-45)
335
assumindo a função de elevar o futebol para o patamar das emoções transcendentais, próprias
da experiência espiritual (religiosa ou mitológica) culturalmente orientada. Neste sentido, o
futebol é experienciado como um acontecimento que transcende o mundo terreno e concreto,
pois nele, reconhecem-se milagres e feitos extraordinários, deuses e demónios, santos e
pecadores. Um golo passa a representar a salvação, o jogador torna-se símbolo ou
representação divina e os vitoriosos atingem o estatuto de divindades, para referir apenas
alguns exemplos. Se a mescla final cumpre a função de realçar a esfera das emoções e
vivências transcendentais, experienciadas através do futebol, acreditamos que as inferências
emergentes se impõem como as seguintes: O mundo do futebol é, por um lado, um mundo de
fé: fé na grandiosidade e no heroísmo mítico dos seus intervenientes, fé na vitória como
sentimento de salvação e redenção, bem como fé no jogo como manifestação de um destino
divino ou desígnio superior. Por outro, o futebol assume-se como uma forma de ‘culto’291,
consubstanciado não somente nos rituais e nas respectivas cerimónias, como também no uso
de uma linguagem de índole marcadamente espiritual.
Como já referimos anteriormente, o contexto cultural e religioso exerce uma influência
significativa nas construções metafóricas, ao condicionar a selecção das imagens e dos
modelos mentais. Assim sendo, a maioria das representações metafóricas evidencia a matriz
judaico-cristã, dominante na cultura alemã. Este enquadramento contribui, por exemplo, para
a construção do jogador de futebol - na imprensa desportiva - como herói mítico, à
semelhança dos mitos das diferentes narrativas bíblicas ou mitológicas. Donald (2006) explica
este fenómeno:
“Mythic culture is based on spoken language, and especially on the natural social product of
language, storytelling. Most societies have a specific sublet of stories that acquire the status
of myths, and these play a governing role in defining how to behave in a given culture.
Myths also preserve notions of authority, gender and morality.” (Donald, 2006:8)
Também Sellmann reconhece o domínio do futebol como um dos principais berços
para criação de mitos da era moderna, devido ao facto da vivência do futebol proporcionar
uma versão actualizada da experiência colectiva do sagrado:
291
“Kultus [der; lateinisch, „Pflege“] Kult: die gesellschaftlich festgelegten, nach außen sichtbaren Formen des
religiösen Erlebens in der Gemeinschaft (z. B. Gebet, Gottesdienst, Opferritus). Diese sind als heilige Handlung
definiert, da sie durch Gott den Menschen offenbart wurden. Ziel des Kultus ist die Stärkung der Gemeinschaft mit
Gott (oder den Göttern), die Suche nach moralischem und geistigem Heil (etwa Befreiung von Sünden, innerer
Frieden), aber auch nach materiellem Segen (Bitte um Wohlstand, Fruchtbarkeit des Bodens u. a.). Im Kultus sind
religiös-spirituelle Anliegen mit sinnlichen Formen (Symbolen) mehr oder minder eng verbunden. Von der Seite
prophetischer Religiosität aus (z. B. im Alten Testament) hat sich in der Religionsgeschichte vielfach Protest gegen
den äußerlichen Kultus erhoben, wenn er der stets nahe gelegenen Gefahr der Veräußerlichung und
Mechanisierung erlegen war.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bil
dung/index,page=1172650.html [Consult. 20.04.2011])
336
“Und damit sind wir auch beim Fussball. Das, was Samstag für Samstag in den Stadien der
Bundesrepublik begangen wird, kann als eine Art öffentliche Permanenz des Festes [des
Heiligen] gelten; äusserlich nur ein Spiel, wird das kollektive Erleben rund um den Fussball
zu einer kulturellen Erfahrungs- und Erzählgemeinschaft, in der das sonst Gebotene
übertreten wedern darf. Fussball kompensiert damit die moderne Privatisierung extatischen
Erlebens genauso wie es jene Mythen schafft, die zu den Metaphern werden, aus dem das
profane Leben neu verstanden und gedeutet werden kann.“ (Sellmann, 2004:44-45).
De acordo com a metodologia adoptada, passamos então ao desenvolvimento e à
análise de aproximadamente um terço do total das 56 ocorrências identificadas.
a) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria actos e feitos divinos e sobrenaturais
“Der Fussballsport stellt in Bezug auf die Verwendung von
religiöser Metaphorik eine wahre Besonderheit unter allen
Sportarten der Welt dar. Kein anderer Sport ist in so einem
Ausmaß mit religiösen Sprachmitteln bespickt wie der
Fussball.
Jedem
Fussballfan
ist
beispielsweise
die
sprichwörtliche Taktikanweisung „Hinen dicht und vorne
hilft der liebe Gott“ bekannt.“ (Nadler, 2008:159)
Nesta categoria, diversos actos divinos e feitos sobrenaturais constituem a fonte
conceptual para as seguintes construções mescladas:
(400) Griechen erklimmen den Olymp!
Trata-se do título de uma notícia que diz respeito à conquista do campeonato europeu
de 2004 por parte da selecção grega. A vitória por 0:1 na final contra a selecção portuguesa
configurou não somente um triunfo histórico único, visto a Grécia nunca ter conseguido troféu
semelhante, como também causou surpresa no mundo do futebol, tendo em conta o ‘ranking’
internacional deste país. Motivado pelo enquadramento geográfico e cultural, os jogadores da
selecção grega são conceptualizados como deuses gregos que, na sequência da prestação
vitoriosa, ascendem ao Olimpo. Neste sentido, a mescla final constitui, a nosso ver, um elogio
à façanha extraordinária e inédita por parte dos gregos. A próxima ocorrência partilha esta
perspectiva:
337
(402) Es hatte sich angekündigt. Nun wurde das Wunder Wirklichkeit. Griechenland,
bei der EM 2004 der absolute Außenseiter, hat das Turnier gewonnen.
A conquista do título de campeão europeu por parte da selecção grega, considerada
como selecção marginal, é igualada a um milagre292. Note-se que a notícia interpreta a vitória
como uma proeza de índole sobrenatural, não fazendo qualquer referência à competência
desportiva que, objectivamente permitiu o triunfo. Mais do que uma congratulação, a mescla
final transmite uma mensagem de espanto e surpresa.
(406) Ronaldinho enttäuschte, Ronaldo spielte unterirdisch. Die Seleção quälte
sich bei der Begegnung gegen Kroatien zum Sieg.
Esta notícia configura uma crítica ao desempenho do jogador da selecção brasileira,
Ronaldo, no jogo contra a Croácia aquando do campeonato mundial de 2006. A exibição de
Ronaldo, mundialmente conhecido como um dos futebolistas mais talentosos e virtuosos da
história do desporto, desiludiu neste jogo, pois jogou “unterirdisch”293, como uma criatura do
submundo, em oposição ao “überirdisch”, o que corresponde ao seu desempenho habitual294.
(414) Mesut Özil schoss in der 60. Minute das erlösende Tor, das das Gespenst
vom
ersten
deutschen
Vorrunden-Aus
in
der
WM-Geschichte
endgültig
verjagen.
Esta ocorrência evidencia claramente o domínio do sobrenatural, no qual um golo
constitui a libertação ou redenção295, enquanto derrotas prematuras são conceptualizadas
como fantasmas a expulsar. A notícia centra-se na vitória da selecção alemã (através do golo
marcado pelo jogador Özil) sobre a selecção do Gana, resultado que garantiu o apuramento da
292
“Die genaue Herkunft des Wortes Wunder ist unbekannt. Das althochdeutsche Wort wuntar bedeutete
”(Gegenstand der) Verwunderung“, ”Außerordentliches“. Der Begriff bezeichnet Ereignisse, die den Erfahrungen
des Menschen und den Gesetzen von Natur und Geschichte widersprechen, ist aber im Lauf der Jahrhunderte
immer anders interpretiert worden. In der Antike galten Wunder als Mittel der göttlichen Weltregierung und
wurden als faszinierende Ereignisse betrachtet. Die Sieben Weltwunder waren in Dimension und Wirkung auf den
Betrachter außergewöhnliche Bauwerke. Die Bibel versteht Wunder dagegen in einem symbolischen Sinn als im
Glauben erfahrene Rechtfertigung des Gottlosen.“ (BERTELSMANN Wörtebuch, in: http://www.wissen.de/wde/ge
nerator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=wunder [Consult. 20.04.2011])
“Wun|der, das; -s, - [mhd. wunder, ahd. wuntar, H. u.]: 1. außergewöhnliches, den Naturgesetzen od. aller
Erfahrung widersprechendes u. deshalb der unmittelbaren Einwirkung einer göttlichen Macht od. übernatürlichen
Kräften zugeschriebenes Geschehen, Ereignis, das Staunen erregt(...)“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
293
“unterirdisch; nicht unterhalb der Erdoberfläche, sondern (in metaphorischer Verwendung): miserabel,
grottenschlecht, indiskutabel (...).“ (Burkhardt, 2006a: 330)
294
Note-se que em 2006 Ronaldo jogava na equipa dos “galácticos” do Real Madrid. O termo espanhol “Galácticos”
(estrelas) era usado para denominar os jogadores mundialmente famosos, adquiridos pelo Real Madrid, entre 2001
e 2007.
295
“erlösen; keine Vergebung für Sünden, sondern: (→ Fans u. Mannschaft) durch ein (zusätzliches) Tor (o. durch
den → Schlusspfiff) von der angespannten Sorge zu befreien, das Spiel doch noch zu verlieren (...).“ (Burkhardt,
2006a:99)
338
Alemanha para os oitavos de final do campeonato mundial de 2010. A selecção alemã estava
em risco de ser eliminada prematuramente do campeonato, pelo que essa ameaça
assombrava a equipa como um fantasma. Neste sentido, a marcação do golo assume-se como
acção libertadora capaz de vencer as forças sobrenaturais malévolas. Alemanha está de
parabéns, será a mensagem intendida, veiculada pela mescla final.
(409) Deutschland 3:2 gegen Portugal – grandiose Wiederauferstehung
(410) Portugal-Bezwinger SCHWEINSTEIGER - Wiedergeburt eines Superstars
Estas duas realizações metafóricas, construídas a partir de uma das premissas mais
significativas da fé cristã - a ressurreição de Jesus - conceptualizam o sucesso desportivo como
o milagre do renascimento. Ambas as notícias dizem respeito à vitória da selecção alemã
contra a selecção de Portugal no campeonato europeu de 2008. Devido ao fraco nível
exibicional demonstrado pela Alemanha até então, Portugal iniciou o jogo como favorito.
Contudo, acabou derrotada porque a selecção alemã ressuscitou (ocorrência (409)), i.e. voltou
a exibir o seu futebol de qualidade, e porque o jogador alemão Schweinsteiger regressou à sua
forma excepcional, metaforicamente conceptualizado como renascimento da super-estrela296
(ocorrência (410)). A doutrina cristã da redenção através do sacrifício e ressurreição de Jesus
Cristo, elemento estrutural do espaço de relevância, estabiliza a mescla virtual, conduzindo à
mensagem de congratulação e júbilo contida na mescla final.
Finalmente, a ocorrência (420) remete-nos para o domínio sobrenatural das maldições
e dos feitiços:
(420) „Der Fluch des Pokals – und die Klasse der Spanier. Die WM zieht uns in ihren
Bann.“ Jean-Jullen Beer, Kicker-Chefredaktion
A presente ocorrência configura um excerto de uma análise de opinião, emitida pelo
redactor-chefe do jornal desportivo Kicker relativamente ao arranque do campeonato mundial
de 2010. Este considera que o campeonato tem o poder de enfeitiçar os adeptos, ou seja,
trata-se da competição futebolística internacional mais atractiva e aguardada para os amantes
do futebol297. Neste ambiente de feitiçaria, Beer relembra que a taça do campeonato está
amaldiçoada, afirmando:
296
“Der Star im Sinn einer erfolgreichen und berühmten Persönlichkeit kommt aus dem Englischen. Das Wort hat
die gleichen Wurzeln wie seine deutsche Übersetzung ”Stern“, nämlich das gotische stairno und das erschlossene
indogermanische Wort ster für ”ausbreiten“. Star, Stern bedeutet also eigentlich ”das am Himmel Ausgebreitete“.”
(Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerq
ry=Star&Start=%A0%A0Suchen%A0%A0&gertype= [Consult. 21.04.2011])
297
As razões desta atractividade já foram exploradas anteriormente neste trabalho.
339
“Seit der WM-Pott 1971 wegen des dreimaligen Gewinns der Brasilianer (sie durften den
alten behalten) neu entworfen wurde, hat ihn kein Land zweimal in Folge gewonnen. Auf
diesem Pokal liegt ein Fluch.“ (Kicker Sportmagazin, Nº 49, p.14-15).
Como não existe explicação racional para o facto constatado, a justificação do
inexplicável remete para a esfera do poder sobrenatural. Pensamos que o recurso a
explicações metafísicas é igualmente uma forma de, por uma lado, desresponsabilizar as
equipas, neste caso específico, a selecção Italiana (os últimos campeões mundiais), pois caso a
Itália não consiga repetir o feito, está ‘perdoada’ devido ao feitiço. Por outro, acentua o grau
de dificuldade da conquista do troféu, porque a possível vitória da Itália configurava não
somente um grande sucesso desportivo como, principalmente, um acto de força sobrenatural.
Por fim, destaca-se a selecção espanhola, cuja qualidade futebolística aparenta ser, neste
contexto, grande motivo de interesse e daí possa, talvez, prolongar o dito feitiço, impedindo o
sucesso italiano.
A exploração e contextualização das ocorrências, permite-nos sugerir as seguintes
construções de redes mentais:
Ocor.
(400)
(402)
(406)
(414)
(409)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
den Olymp
erklimmen
(ascensão ao
Olimpo)
Conquista do
Campeonato
Europeu 2004
pela selecção
grega
Conquista do
Campeonato
como
ascensão ao
Olimpo
Cenário da mitologia
grega;
Esquema do poder
místico
Parabéns,
Grécia!
Texto
Wunder
(um feito
milagroso)
Conquista do
Campeonato
Europeu 2004
pela selecção
grega
Conquista do
Campeonato
como feito
milagroso
Cenário religioso do
milagre;
Esquema do poder
místico
Extraordinário,
Grécia!
Texto
Cenário do
unterirdisch
Desempenho
sobrenatural/
Desempenho do
spielen
de Ronaldo
religioso; Esquema
jogador brasileiro
(desempenho
como
moral: metáfora
Ronaldo
subterrâneo)
subterrâneo orientacional (em cimabom/ em baixo-mau)
Texto
O golo do
das Gespenst
jogador alemão
verjagen
Özil que garantiu
(expulsar um
o apuramento da
fantasma)
Alemanha
Golo e
apuramento
como
expulsar um
fantasma
Cenário do
sobrenatural; Esquema
Fantástico, Özil!
do poder da libertação/
expurgação espiritual
Texto
Vitória da
Wiederaufselecção alemã
erstehung
sobre a selecção
(ressurreição)
portuguesa
Vitória da
selecção
alemã como
ressurreição
Cenário religioso/
Paradigma cristão da
salvação pela ressurreição de Jesus Cristo
Que desilusão,
Ronaldo!
Selecção alemã
em alta!
340
(410)
(420)
ESB
ERef
ERel
Texto
Wiedergeburt
(renasciment
o)
Desempenho do
Desempenho
jogador alemão
do jogador
Schweinsteiger
como
no jogo contra
renascimento
Portugal
Texto
Fluch/ in den
Bann ziehen
(maldição, o
poder de
atracção de
um feitiço)
Reconquista da
taça do
Campeonato
Mundial, Jogos
do Campeonato
Mundial
(Futuro)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Taça como
amaldiçoada,
jogos do
campeonato
como feitiço
(Futuro)
EA
M1
M2
Cenário religioso/
Paradigma cristão da
salvação através da
ressurreição de Jesus
Cristo
Parabéns
Schweinsteiger!
Cenário do
sobrenatural/ Esquema
do poder de atracção
Coragem,
Alemanha!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 58: Tabela de Espaços Mentais 25
O cenário dos domínios religioso, mitológico e sobrenatural culturalmente
dependentes, providos pelo espaço de relevância, assim como os esquemas das forças do
poder místico aliados ao esquema do juízo moral subentendido, estabilizam e conferem
sentido lógico às mesclas finais. Estas assumem-se como mensagens pragmáticas que
expressam posições avaliativas: apreciações positivas em forma de elogio, negativas em forma
de crítica, analíticas relativamente a graus de maior ou menor dificuldade quanto a jogadores,
selecções, jogos ou campeonatos inteiros.
b) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria entidades divinas, sobrenaturais e mortais
“Wie bereits zuvor angesprochen stellt das Wesen
„Fussballgott“ spätestens seit Herbert Zimmermanns
Kommentar bei der Radioübertragung des „Wunders von
Bern“ vom 04.07.1954, welches selbst durch den
„Wunder“-Begriff
religiös
erscheint,
eines
der
eindrücklichsten religiösen Sprachmittel im Fussball dar:
„Turek, du bist ein Fussballgott!“. Zimmermann wollte
mit diesem Ausdruck der herausragenden Leistung des
deutschen Torwarts Toni Turek huldigen und verwendete
mit „Turek, Du bist ein Teufelskerl!“ sogar noch eine
weitere religiös anmutende Bezeichnung für den
damaligen Nationaltorhüter.“ (Nadler, 2008:159)
341
Na senda dos pontos anteriores, postulamos que o jogador (ou o treinador) de futebol
emerge nas sociedades actuais como herói da modernidade. Uma forma de enaltecimento dos
seus sucessos extraordinários ou de reprovação dos seus insucessos decepcionantes consiste
na conceptualização dos mesmos como entidades divinas, mitológicas ou sobrenaturais. Deste
modo, as suas capacidades destacam-se como sobre-humanas e apenas o seu fracasso os
remete para o reino dos comuns mortais. As seguintes ocorrências são disso exemplo:
(424) Der Zweck heiligt die Mittel, und Rehhagel wird nun in Griechenland
endgültig zum Heiligen gesprochen.
A conquista extraordinária do título de campeão europeu de 2004 pela selecção grega
traduziu-se na beatificação virtual do seu treinador, Otto Rehagel. Tal como um verdadeiro
santo, é considerado responsável por um milagre, neste caso, pela vitória absolutamente
inesperada e invulgar no campeonato.
Registe-se que, no domínio religioso, os anjos, por outro, distinguem-se dos santos, na
medida em que são considerados seres celestiais, mediadores entre o Céu e a Terra, que
trazem a felicidade e que antecipam a visão do paraíso e das recompensas que este encerra.
Quer nas tradições pagãs, quer no universo da mitologia cristã, os anjos são os mensageiros, os
guardas e, como tal, os protectores dos escolhidos e abençoados por Deus, sendo que são,
geralmente, representados como figuras humanas jovens e alados com asas de cisne. Um anjo
no inferno (ocorrência (426)) é considerado um anjo caído, i.e. para o Cristianismo, são anjos
transformados em demónios, colhidos por Lúcifer quando este foi expulso do Paraíso, por
ambicionar ser igual a Deus, cometendo o pecado da soberba298.
O jogador francês Zinedine Zidane foi considerado um dos jogadores mais brilhantes e
talentosos da história do futebol moderno. A sua precisão na marcação de livres e
lançamentos, o seu jogo solidário, ditando o ritmo da sua equipa ao preparar as jogadas e
distribuir assistências, valeu-lhe o título elogioso de anjo. Contudo, no seu jogo de despedida
(campeonato mundial de 2006, jogo França-Itália), acabou por ser expulso com um cartão
vermelho por agressão ao jogador italiano Materazzi, pelo que esse seu gesto violento foi
representado como a queda do anjo, a sua descida ao inferno:
(426) Engel in der Hölle. Zinedine Zidane hätte seine einzigartige Karriere mit dem
zweiten WM-Titel krönen können. Stattdessen zeigte er im letzten Spiel seiner
Laufbahn seine dunkle Seite. (...) Wie konnte Zidane, dieser Engel, seit Jahren
auf
einer Wolke weltweiter Verehrung gebettet, so tief in die Hölle hinab stürzen? Wie
298
In: Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011, http://www.infopedia.pt/$demonio> [Consult. 22.04.2011].
342
konnte er, dessen Name sich verbindet mit schöner Klarheit, mit heiterer Präzision,
mit Demut auch, sich verwickeln in solche Hässlichkeit?
A rede conceptual de espaços mentais subjacente a esta ocorrência, sugere um espaço
de relevância, construído a partir do cenário religioso de tradição judaico-cristã e o
consequente esquema moral da distinção entre o bem (anjos e céu/paraíso) e o mal
(demónios e inferno) que confere sentido lógico à mescla final: a manifestação de um
profundo sentimento de desilusão e de espanto incrédulo.
A representação mental da queda da entidade celestial, e a consequente descida ao
inferno afigura-se igualmente como domínio-fonte da seguinte realização metafórica:
(427) "Der Fall der Götter" - Die brasilianische Presse ist fassungslos. Für den
Weltmeister ist das Turnier bereits nach dem Viertelfinale beendet.
Aclamada como uma das melhores selecções do mundo, como criadora do modelo
futebolístico do ‘jogo vistoso’, bem como recordista em termos de títulos internacionais
conquistados, a selecção brasileira está no topo da hierarquia celestial: os jogadores da
selecção são os deuses do futebol. Porém, o seu mau desempenho aquando do campeonato
mundial de 2006 ditou a sua eliminação prematura, o que conduziu à sua ‘queda’. De novo,
advogamos que a mescla final constitui uma expressão de decepção relativamente às
expectativas criadas.
Da selecção brasileira esperava-se não apenas um futebol eficiente em termos de
resultados positivos, mas antes um futebol tecnicamente rendilhado e atraente,
qualitativamente superior às restantes selecções. Futebol brasileiro era sinónimo de futebolespectáculo e, por esta razão, o mundo aguardava ansiosamente jogadas geniais por forma a
ultrapassar o tédio provocado pela monotonia e insipidez técnico-táctica:
(428) WM 2006 - Die Erlöser der Welt
No ponto 3.2.2. tivemos oportunidade de explorar os elementos que caracterizam o
futebol esteticamente e tacticamente belo. Hammelmann (2010) argumenta:
“Was aber macht Fussball zu einem schönen Spiel? Neben den schönen Einzelaktionen liegt
die Ästhetik dieses Mannschaftssports vor allem im Zusammenspiel der Akteure sowie in
der Nutzung und organisation des Spielraums; die Bewegungen des Balles und die Laufwege
der Spieler vermöglichen geometrisch schöne Formen zu erzeugen. Für Horst Bredekamp
kommt in der Synthese dieser verschiedenen Fertigkeiten, der Beherrschung des Balles und
343
der Orientierung im Raum - von Körperlichkeit und Intellektualität - der Charakter des Spiels
als Gesamtkunstwerk zum Ausdruck.“ (Hammelmann, 2010:33)
Assinale-se que Adónis, por sua vez, era, segundo as mitologias grega e fenícia, um jovem de
grande beleza, que despertou o amor das deusas Perséfone e Afrodite, pelo que a sua imagem
é projectada no mundo do futebol, dando origem à seguinte realização metafórica:
(437) Das Opus in Oranje: Den Titel im Visier (...) Holland wie gehabt: kein AdonisFussball (...)“ wie Legende Ruud Gullit kritisch anmerkte (...).
Em conformidade com o conceito de ‘futebol bonito‘ acima descrito, a selecção
holandesa não se enquadra nesse modelo de jogo, primando porém pela eficácia pragmática
nos confrontos competitivos.
A qualidade excepcional dos jogadores é frequentemente conceptualizada mediante
recurso a símbolos mitológicos de grandeza, força e pujança lutadora: os gigantes299 e os
titãs300:
(429) 2002 wurde er als Titan unsterblich, 2006 als Mensch - Der Kahn- Rücktritt.
Am
10. Mai 2006 verkündet Klinsi: „Lehmann ist die Nummer 1.“ Und Kahn wird zum
Titanen der Herzen.
(434) Es ist DAS Duell der Giganten im EM-Viertelfinale: Deutschland heute gegen
Portugal (...) Michael Ballack (31) gegen Cristiano Ronaldo (23).
Os cenários mitológicos em análise que retratam um guarda-redes titã - Oliver Kahn,
ou um confronto entre os dois gigantes - Ballack e Ronaldo - pretendem sublinhar ou antever
jogos bem disputados, com um nível exibicional elevadíssimo, pautado pelo esforço, dedicação
e luta. Estabilizado pela relevância do cenário mitológico e pelo esquema dinâmico da força/
contra-força, contido no contexto do combate físico e desportivo, a mescla final expressa o
entusiasmo e o respeito pela qualidade absoluta e extraordinária dos jogadores em questão.
No lado oposto, a ausência de qualidade merece, igualmente, reparo por parte da
imprensa desportiva. Na ocorrência (435) os jogadores alemães Klose e Podolski que
299
“Giganten, griechische Mythologie: die Söhne der Gäa, ein Riesengeschlecht, das sich gegen die Götter empörte
und den Olymp zu stürmen suchte. Mit Hilfe des Herakles wurden sie im Gigantenkampf (Gigantomachie) auf den
phlegräischen Gefilden von den Göttern besiegt.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator
/wissen/ressorts/bildung/index,page=1110164.html [Consult. 22.04.2011])
300
“Titanen: in der griechischen Mythologie die 6 Söhne und 6 Töchter des Uranos und der Gäa, das älteste
Göttergeschlecht; u. a.: Okeanos, Hyperion, Kronos, Rhea, Themis, Phöbe, Tethys; setzten ihren Vater ab und
verschafften Kronos die Macht, den sein Sohn Zeus verdrängte. Nach ihrer Niederlage wurden sie in den Tartaros
verstoßen.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bildung/index,pa
ge=1257680.html [Consult. 22.04.2011])
344
compõem, habitualmente, a dupla de sucesso da selecção alemã, são apelidados de bodes
expiatórios301:
(435) Abendzeitung (www.abend-zeitung.de): „Deutschland zittert um den Einzug ins
Achtelfinale. (...) waren Miroslav Klose und Lukas Podolski noch die gefeierten Helden
– beim 0:1 (0:1) gegen Serbien, übernahmen sie jetzt
ungewollt
die
Rolle
der
Sündenböcke.“
Esta ocorrência evidencia a efemeridade do estatuto de herói desportivo dos tempos
modernos. Devido a uma exibição menos conseguida contra a selecção da Sérvia, os jogadores,
dos quais mais se esperava, são responsabilizados pelo mau resultado global da equipa. Neste
sentido, e à luz do paradigma cristão, são condenados a carregar e suportar os pecados de
todos. Conclui-se, assim, que quanto maior a responsabilidade (devido à elevada esperança
depositada na qualidade dos jogadores), maior a culpabilização por parte dos jornalistas e
espectadores no geral (mescla final).
Finalmente, propomos a seguinte tabela de redes mentais:
Ocor.
ESB
EA
ERef
M1
(424)
Texto
Heiliger
(santo)
Seleccionador da
Grécia, Otto
Rehagel
Otto Rehagel
como Santo
Texto
ein Engel in der
Hölle
(anjo no inferno)
Expulsão do
jogador francês
Zidane
Expulsão de
Zidane como um
anjo no inferno
Cenário religioso/
Esquema moral (o
bem - céu/ o mal inferno)
Que desilusão,
Zidane!
Texto
der Fall der
Götter
(a queda dos
Deuses)
Jogadores da
selecção
brasileira
Jogadores
brasileiros como
Deuses caídos
Cenário religioso/
Esquema moral
Que desilusão,
Brasil!
Texto
Erlöser der Welt
(salvadores do
mundo)
Jogadores da
selecção
brasileira
(Futuro)
Jogadores
brasileiros como Cenário religioso/
salvadores do paradigma judaicomundo
cristão da salvação
(Futuro)
Texto
kein AdonisFussball
(futebol de
Adónis (neg.))
(426)
(427)
(428)
(437)
ERel
M2
Cenário religioso/
Parabéns,
Esquema do poder
selecção grega!
místico do milagre
Brasil vai ser
fantástico!
Desempenho da
Cenário
Desempenho da
selecção
A selecção
mitológico/
selecção
holandesa como
holandesa não é
Esquema da
holandesa
futebol de Adónis
artística!
apreciação estética
(neg.)
301
“Sündenbock: im Alten Testament (Levitikus 16,21) ein Bock, dem am großen jährlichen Versöhnungstag der
jüdische Hohepriester durch Auflegen der Hände symbolisch die Sünden des ganzen Volkes übertrug; danach wurde
der Sündenbock in die Wüste geschickt. Im übertragenen Sinne ein Mensch, dem die Verantwortung für etwas, was
er nicht getan hat, zugeschoben wird und der dafür stellvertretend büßen muss.“ (Wissen Media Verlag, in:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bildung/index,page=1252130.html [Consult. 22.04.2011])
345
(429)
(434)
(435)
ESB
ERef
ERel
Cenário
Oliver Kahn como
mitológico/
titã
Esquema da força/
contra-força
Titan
(titã)
Guarda-redes
alemão Oliver
Kahn
Texto
Duell der
Giganten
(confronto de
gigantes)
Os jogadores
alemão Ballack e
português
Ronaldo no jogo
Alemanha vs.
Portugal
(Futuro)
Ballack contra
Ronaldo como
Gigantes em
confronto
(Futuro)
Texto
Sündenböcke
(bodes
expiatórios)
Os jogadores
alemães Klose e
Podolski
Klose e Podolski
como bodes
expiatórios
Texto
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Oliver Kahn, és
o melhor!
Cenário
Ballack e
mitológico/
Ronaldo, vai ser
Esquema da força/
fantástico!
contra-força
Cenário religioso/
Esquema moral da
expiação do
pecado
Que desilusão,
Klose e
Podolski!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 59: Tabela de Espaços Mentais 26
c) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria locais e representações simbólicas
“Das Feld ist eine ganze Welt: Paradies und Hölle
zugleich“ (Gebauer, 2006:49)
Registe-se que um número assinalável de culturas têm uma ideia genérica do que é o
inferno: o reino do diabo, o local onde habitam os espíritos malditos, um lugar de sofrimento e
tormenta eterna. Como parte integrante de diversas doutrinas religiosas, o inferno está
presente na história da cultura, condicionando as mentalidades e as condutas morais do
Homem. A crença numa entidade divina, implica a existência do seu contraponto, i.e. uma
entidade diabólica. Esta concepção baseia-se na dicotomia entre o bem e o mal, sendo que o
inferno (do latim infernu(m): o que está ‘inferior’) é o destino do Mal, o castigo dos pecadores.
É na base desta concepção de inferno que é cunhada a ocorrência (441).Tendo a selecção da
Sérvia sofrido uma pesada derrota contra a selecção argentina (0:6), esta é conceptualizada
como uma descida ao inferno:
(441) Das Land, das so stolz ist auf seine Fußball-Tradition, wurde degradiert zum
Status eines WM-Exoten. Serbien steht unter Schock und mit Schlagzeilen wie "Absturz
346
in die Hölle" und "Erniedrigung" heizen selbst seriöse Zeitungen die Stimmung auf dem
Balkan an.
Os jogadores são responsabilizados pelo resultado degradante; são pecadores, porque
não corresponderam à sua obrigação, porque a sua fraca exibição feriu o orgulho nacional. De
acordo com Gebauer, o jogo (ou o respectivo campo de futebol) transformou-se no paraíso da
selecção argentina (local simbólico associado a uma boa exibição) e no inferno dos sérvios
(local simbólico associado a uma má exibição). A função comunicativa da mescla final resumese à expressão do sentimento misto de desilusão e culpabilização.
Relativamente às imagens metafóricas das ocorrências (445) e (448), estas emergem
do mapeamento entre as mãos dos jogadores e a mão de deus e do diabo:
(445) Luis Suarez: „Am Ende ist die Hand Gottes jetzt meine.“
(448) Die „Hand des Teufels“ ist wieder da, der Traumsturm komplett: Luis Suarez und
Diego Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem Weg zum größten
Erfolg
seit
1950.
Registe-se que a expressão “mão de Deus“ foi originalmente proferida pelo jogador
Diego Maradona, quando, no campeonato do mundo de 1986, marcou um golo à selecção da
Inglaterra com a sua mão. Apesar de se tratar de um golo ilegal, erradamente validado,
Maradona deixou a ideia de que se tinha feito justiça divina302, e que a sua mão constituía uma
representação simbólica da graça divina. Desde então, muitos golos marcados com a mão
mereceram este rótulo, dando a entender que Deus ajuda a marcar golos, enquanto o Diabo
os impede. Nas ocorrências (445) e (448), tanto a “mão de Deus” como a “mão do diabo” diz
respeito à mão do avançado uruguaio Luís Suarez que, em cima da linha de golo, impediu de
forma irregular que a selecção do Gana marcasse o golo decisivo.
Contudo, a mão do jogador como representação divina ou diabólica, depende do
ponto de vista e do que é considerado ‘bom’ ou ‘mau’ por cada uma das partes intervenientes.
Para o jogador Suarez a sua mão salvou a selecção do seu país, logo, representa a “mão de
Deus”, mas para a selecção do Gana, trata-se, com certeza, da “mão do diabo”, pois foi
302
“Maradona hatte im Weltmeisterschafts-Viertelfinale am 22. Juni 1986 im Aztekenstadion von Mexiko-Stadt
beim 2:1 über England das 1:0 (51. Minute) für die Argentinier erzielt, als er in eine missglückte Rückgabe von
Hodge lief und per Hand den verdutzten Torwart Shilton überwand. "Es war die Hand Gottes und der Kopf
Maradonas", erklärte er nach dem Spiel, in dem ihm auch noch das 2:0 (54./Gegentor Linaker 80.) gelang.
Argentinien gewann bei der WM 1986 schließlich auch den Titel durch ein 3:2 im Finale über Deutschland. Seine
Kameraden hätten ihm damals nur etwas schüchtern zu dem Tor gratuliert, weil sie gleich gemerkt hätten, dass es
sich um ein "geraubtes" Tor handelte. "Ich aber habe ihnen gesagt: Wer einen Räuber beklaut, dem wird 100 Jahre
lang vergeben", erzählte Maradona in seinem Programm "Die Nacht der 10". Die Erinnerung an den 1982 gegen
Großbritannien verlorenen Krieg um die Falkland-Inseln im Südatlantik war damals in Argentinien noch sehr
frisch.“ (In: http://www.stern.de/sport/fussball/maradona-gestaendnis-hand-gottes-war-linke-faust-544668.html,
24.08.2005 [Consult. 25.04.2001])
347
responsável pela sua eliminação. Particularmente interessante é o facto da questão da quebra
intencional de uma regra desportiva essencial não ser tida em conta no posicionamento entre
o bem (Deus) e o mal (Diabo).
Sugerimos, de seguida, as seguintes redes de espaços mentais:
Ocor.
(441)
(445)
(448)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
Texto
Abstrurz in
die Hölle
(descida ao
inferno)
Mau jogo (e
resultado) da
selecção sérvia
contra a
Argentina
Cenário religioso/
Mau jogo como
Esquema moral (o
descida ao
bem - céu/ o mal inferno
inferno)
Má prestação,
Sérvia!
Texto
die Hand
Gottes (mão
de Deus)
Defesa com a
mão do jogador
uruguaio Suarez
A mão que
Cenário religioso/
defendeu o
Esquema moral (o
golo como mão bem - Deus/ o mal
de Deus
- Diabo)
Boa defesa!
Texto
die Hand des
Teufels
(mão do
Diabo)
Defesa com a
mão do jogador
uruguaio Suarez
A mão que
Cenário religioso/
defendeu o
Esquema moral (o
golo como mão bem - Deus/ o mal
do Diabo
- Diabo)
Defesa irregular!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
M1
EA
M1
M2
ERel
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 60: Tabela de Espaços Mentais 27
Advogamos que, nestes contextos, o recurso a locais e representações simbólicas para
a construção de realizações metafóricas cumpre o objectivo de explicitar uma posição
avaliativa e emitir juízos de valor, de acordo com os paradigmas de moralidade de índole
judaico-cristã. As mesclas finais veiculam apreciações qualitativas aliadas à manifestação de
aprovação ou reprovação de cunho marcadamente emocional.
d) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria narrativas bíblicas ou mitológicas
“Auch wenn die Bibel heute nicht mehr so häufig
gelesen wird wie früher, scheinen viele Journalisten
ihren Inhalt sehr gut zu kennen. Viele große
Zeitungen
vergleichen
Erzählungen
verwenden
biblische
Ereignisse
aus
„dem
aus
dem
Buch
Begriffe
und
Sport
mit
der
Bücher".
(Scheidhammer, 2001: 23)
348
As narrarias bíblicas e mitológicas afiguram-se um suporte particularmente adequado
à produção de mesclas devido ao facto de configurarem episódios narrativos culturalmente
partilhados pela generalidade dos leitores. As ocorrências (451), (453) e (455) são disso
exemplo:
(451) Kurz vor der Pause die nächste Hiobsbotschaft für Luiz Felipe Scolari: Der
bereits mit Gelb verwarnte Costinha ging mit der Hand zum Ball.
(453) Als Goliath in die erste Partie gestartet, stand so plötzlich Klein-David
Deutschland vor Goliath Portugal – und dem Aus.
(455) Siegen oder fliegen – Quo vadis, Joachim Löw?
Contudo, para a boa compreensão das mensagens subjacentes a estas ´palavras-chave’
não é necessário conhecer em pormenor os episódios bíblicos aqui referenciados, basta saber
quem foram os principais protagonistas. Relativamente à ocorrência (451), o reconhecimento
de Job como protagonista do Livro Bíblico de seu nome, que simboliza a persistência da fé
perante a adversidade, tornando-se um marco significativo da tomada de consciência dos
dramas da experiência humana, conduziu à expressão lexicalizada ‘Hiobsbotschaft’.303 Neste
sentido, a expulsão do jogador português Costinha constitui, sem dúvida, uma péssima notícia
para o seleccionador Scolari.
A narrativa bíblica do confronto entre David e Golias tornou-se uma parábola para a
vitória do fraco, em posição de desvantagem sobre o forte claramente superior. A ocorrência
(453) já analisada por Almeida/Sousa (2010:253-254) oferece-nos dizer o seguinte:
“Es handelt sich hier um ein Spiel der Europameisterschaft von 2008 zwischen Deutschland
und Portugal. Vor dem Spiel wurde die portugiesische Mannschaft als Favorit angesehen,
doch gelang es wider aller Erwartungen der deutschen Mannschaft, das Spiel zu gewinnen.
(...) Der Rückgriff auf die biblischen Figuren David und Goliath bildet ebenfalls die Basis für
ein sehr beliebtes Blending. Gemäß der biblischen Erzählung besiegte der bereits von
Samuel zum zukünftigen König von Israel gesalbte Jüngling David den
übermächtig
scheinenden Goliath im Zweikampf mit seiner Steinschleuder (siehe 1. Buch Samuel Kap.
17). Diese Erzählung symbolisiert den unvorhersagbaren Triumph des Schwächeren über
den Stärkeren.“ (Almeida/Sousa, 2010:253-254)
303
“Hi|obs|bot|schaft [f.] Unglücksbotschaft, Schreckensnachricht [nach den schlimmen Botschaften, die Hiob im
AT erhält (Buch Hiob, 1. Kapitel, 13-21)]“ (BERTELSMANN Wörtebuch, in: http://www.wissen.de [Consult.
25.04.2011])
349
A ocorrência (455) é igualmente construída em torno de um episódio bíblico. Antes do
jogo da selecção alemã contra a selecção ganesa, esta interrogação lança a incerteza: vencer
ou voar (i.e. ser eliminado do campeonato mundial de 2010), para onde levará o seleccionador
alemão Löw a sua equipa? Recorre-se, assim, à expressão “Quo vadis”304 que se tornou
popular após o épico filme homónimo de 1951. Actualmente, esta expressão é utilizada num
contexto filosófico e existencial, consubstanciado na interrogação: “que rumo devo dar a
minha vida?” No contexto desta notícia, o jornalista, como voz representativa de todos
adeptos, questiona o responsável pela selecção alemã acerca dos seus planos para o jogo
vindouro, tal como o apóstolo Pedro, em representação da humanidade, questiona Jesus
Cristo, seu mentor e líder espiritual, sobre as suas intenções. Para tal, o jornalista cria um
diálogo virtual à semelhança do diálogo entre Pedro e Jesus305. Uma vez contextualizadas as
presentes ocorrências, propomos as seguintes redes conceptuais:
Ocor.
(451)
(453)
(455)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Hiobsbotschaft
(as notícias de
Job)
Expulsão do
jogador
português
Costinha
Expulsão do
jogador como
notícias de Job
Narrativa bíblica:
esquema do
sofrimento
Portugal, que
mal!
Texto
David gegen
Goliath
(David contra
Golias)
Jogo da selecção
alemã contra a
selecção
portuguesa
Selecção alemã
como David;
selecção
portuguesa
como Golias
Narrativa bíblica:
esquema da
força/contra-força
(forte vs fraco) e
esquema moral
Parabéns,
Alemanha!
Texto
Quo vadis?
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Planos do
Narrativa bíblica/
seleccionador
Planos do
Esquema da
alemão para o
seleccionador
trajectória/ esquema
jogo vindouro da como planos de
da convicção
Alemanha contra
Jesus Cristo
(tomada de decisões
o Gana
(Futuro)
relevantes)
(Futuro)
EA
M1
M2
Seleccionador
Löw, que
dilema!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 61: Tabela de Espaços Mentais 28
304
“Quo vadis? [lateinisch, „wohin gehst du?“] in der christlichen Legende Frage des aus dem römischen Gefängnis
fliehenden Apostels Petrus an Christus, der ihm auf der Via Appia begegnete. Christus antwortete: „Nach Rom, um
zum zweiten Mal gekreuzigt zu werden!“. Beschämt kehrte Petrus ins Gefängnis zurück.“ (Wissen Media Verlag, In:
http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bildung/index,page=1220696.html [Consult. 25.04.2011])
305
relativamente à presença recorrente da oralidade nas notícias desportivas, vide Almeida/Órfão/Teixeira (2009)
350
As realizações metafóricas das próximas ocorrências recorrem a duas expressões
idiomáticas convencionalizadas, e embora os seus significados sejam facilmente entendidos
pela globalidade dos falantes/leitores, suspeitamos que a sua origem mitológica não esteja,
pelo menos conscientemente presente na maioria dos destinatários destas notícias.
(450) Bis zur Pause kontrollierten die Asiaten die Partie, Australien verlor den Faden
und fand ihn bis zum Halbzeitpfiff nicht mehr.
(452) Joseph S. Blatter: "Hätten beide Mannschaften so wie in der Verlängerung
gespielt, hätten wir ein großartiges Halbfinale gesehen. (...) Bei der deutschen
Mannschaft ist der Glücksfaden gerissen, und ich kann natürlich auch die
Enttäuschung der Fans verstehen.“
Assinale-se que o conceito de ‘fio condutor’ provém da mitologia grega. Trata-se de
uma lenda em torno da princesa Ariadne, conforme explicado a seguir:
“Ariadnefaden bedeutet in übertragenem Sinn ein Rettungsmittel aus aussichtsloser Lage.
Das Bildwort geht auf eine griechische Sage zurück. Ariadne gab Theseus ein Garnknäuel
mit, als er im Labyrinth von Knossos das Ungeheuer Minotaurus töten wollte. Dem
Minotaurus musste nämlich die Stadt Athen alle sieben Jahre sieben Jungfrauen und sieben
Jünglinge opfern. Beim Eindringen in das Labyrinth rollte Theseus den Faden ab, so dass er
bei der Rückkehr den richtigen Weg heraus finden konnte.“ (Relilex, Das Lexikon zur
Religion,
Quelle: Kösel-Verlag München, in: http://www.relilex.de/artikel.php?id=43712
[Consult. 55.04.2011]).
Esta expressão é mais frequentemente utilizada para descrever dificuldades no âmbito
da organização mental, no que concerne a capacidade de comunicar de forma lógica e
coerente306. Outra possível origem desta expressão pode ser encontrada no domínio têxtil, no
qual a perda de um fio no processo de tecelagem equivale a um atraso indesejável na
produção de tecidos:
“Die Redensart kommt vermutlich aus dem Bereich des Spinnens oder Webens, wo man
keinen Faden verlieren durfte” (Redensarten-Index).
307
306
“Fa|den I [m.] 1 sehr dünnes, langes Gebilde aus mehreren zusammengedrehten Fasern aus Metall, Natur- oder
Kunststoff (Plastik~, Seiden~, Woll~); den F. verlieren in der Rede steckenbleiben, vergessen, wo man
stehengeblieben ist; den F. des Gesprächs wieder aufnehmen das Gespräch fortsetzen, wo man es unterbrochen
hat (...)“ (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/
index.html?gerqry=faden [Consult. 25.04.2011])
307
In: http://www.redensarten-index.de/suche.php?suchbegriff=~den%20Faden%20verlieren&bool=relevanz&such
spalte%5B%5D=rart_ou [Consult. 25.04.2011]
351
No que diz respeito à ocorrência (450), apesar da selecção australiana possuir um
plano de jogo, uma estratégia pré-definida, não foi capaz de executar ou conservar a mesma
na primeira metade do jogo contra a selecção do Japão.
A ocorrência (452) diz respeito à quebra do chamado ‘fio da sorte’. O conceito
abstracto de sorte é conceptualizado como um fio contínuo que não deve, preferencialmente,
ser quebrado. Esta conceptualização fundamenta-se nas antigas lendas da mitologia
germânica. Na obra Beitrüge zur deutschen mytlologie. Gesammelt in Churrhaetien de Dr. F. JF.
Vonbun, 1862, pode ler-se:
“Die dem menschen bei seiner gebart den schicksalsfaden spinnenden nomen der
altnordischen mythologie lassen sich noch erkennen in den verschiedenen Varianten des
kinderreimes von den dreifrauen, jungfrauen oder poppen. Als grenzpunkte nach ost, west
und norden hin, von welchen aus und bis zu welchen das wiegenseil für den neugebornen von
den drei poppen, als stellvertreterinnen der alten nornen, gespannt wird, damit dieser
glücksfaden schirmend um die ganze heimath herumreiche, zählt der text des reimes bloss die
nachbarschaftsprte auf. (…) Also die in brod eingebackenen kätzchen der weide fragt man um
glück oder unglück, um leben oder tod im laufenden jähre. Mich will es dünken, als ob die
weide in naher beziehung stehe zu jenen halbgöttlichen, klugen, weisen frauenldisi, deren
amt es ist, menschen heil oder unheil, sieg oder tod anzusagen und zu verkünden. Ich werde
bestärkt in dieser ansieht dadurch, dass in mehreren reimen von den drei mareien (d. i. die
dem menschen bei seiner gehurt den schicksalsfaden spinnenden nornen unserer nordischen
mythe) das unglücksspinnen durch das drehen derweide ausgedrückt wird.“
308
Blatter destaca a sorte como factor decisivo no jogo entre as selecções da Alemanha e
da Itália, lamentando a ausência da mesma por parte da selecção alemã. Assim sendo, a
quebra do ‘fio da sorte’ determinou a derrota e a consequente eliminação da Alemanha do
campeonato mundial de 2006 o que configura, a nosso ver, uma mensagem de
desresponsabilização ou desculpabilização relativamente ao seu desempenho desportivo.
Nesta óptica, advogamos a seguinte rede de espaços mentais:
Ocor.
(450)
ESB
Texto
EA
ERef
M1
ERel
Jogo da
Primeira metade
selecção
den Faden
do jogo da
Narrativa mitológica
australiana
verlieren
selecção
(grega): esquema da
(perder o fio) australiana conta como perder o organização mental
fio
o Japão
M2
Austrália, que
mau jogo!
308
In: http://www.archive.org/stream/beitrgezurdeuts00vonbgoog/beitrgezurdeuts00vonbgoog_djvu.txt [Consult.
25.04.2011]
352
(452)
ESB
ERef
ERel
Texto
der
Derrota da
Derrota da
Narrativa mitológica
Alemanha,
Glücksfaden
selecção alemã selecção alemã
(germânica):
ist gerissen
parabéns, apesar
contra a selecção como o quebrar esquema das forças
(quebrar o
da derrota!
italiana
do ‘fio da sorte’
sobrenaturais
‘fio da sorte’)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 62: Tabela de Espaços Mentais 29
Concluímos que as mesclas finais evidenciam a intenção comunicativa de partilhar
posições avaliativas - apreciativas ou depreciativas - com os leitores. Mais do que uma
reprodução objectiva dos factos ocorridos, estes exemplos deixam transparecer não somente
o posicionamento crítico do respectivo jornalista, como denotam, sobretudo, a
intencionalidade em explorar um dado facto ou circunstância a partir de uma perspectiva
emocional. Postulamos que a emotividade subjacente se revela como domínio fértil para a
criação de mitos e heróis. O jornalismo desportivo recorre a mitos tradicionais e narrativas
míticas passadas para construir uma história mítica renovada em torno de um jogo, um
jogador ou uma equipa, consciente de que a sua mensagem encontrará o eco desejado, pois
confia no conhecimento do mundo e na experiência individual e colectiva dos seus leitores:
“Das kollektive Gedächtnis einer Gesellschaft dient als Grundlage einer Mythostradition und
Mythosverbreitung. Bereits bei den alten Griechen gehört der Mythos zu den festen
Institutionen. Burkert definiert Mythen als: „traditionelle Erzählungen, von denen man in
der Regel nicht weiß, wer sie erfunden hat, bei denen es auch nicht darauf ankommt, dass
ein Dichter sie besonders kunstvoll ausgestaltet; man nimmt sie als gegeben, weil sie
einleuchten, und doch wird an ihnen immer wieder gearbeitet eben weil sie einleuchten
müssen. Man kann Mythe nicht dekretieren, wohl aber kann man vesuchen, sie zu deuten;
manche Deutungen werden Gemeingut, andere beleiben als Einfälle vereinzelt.“ [Burkert,
Walter: Heros, Tod und Sport - Ritual und Mythos der Olympischen Spiele der Antike. In
Genauer, Gunter (Hg.) Körper und Einbildungskraft. Berlin 1988, S. 35.]. (...) Im modernen
Mediensport übernehmen die Sportberichterstatter die Rolle der Dichter. Die Journalisten
sind es, die in ihren Artikeln, Interviews und Reportagen die Geschichten rund um das
sportliche Ereignis produzieren. Schon lange geht es nicht mehr um die reine Information in
der Sportberichterstattung. „Es bedarf der Geschichte um die Geschichte“ [Burkert, Walter,
S.36] (...) Während
sich
der
moderne Sport
im Rahmen
der
zunehmenden
Profissionalisierung immer mehr der verwissenschaftlichen Sportausübung annähert und
nichts mehr dem Zufall überlassen will, produziert die Sportberichterstattung stattdessen
Geschichten, welche mit bekannten Elementen aus alten, volkstümlichen Utopien gespickt
353
sind. [Vgl. Gebauer, Gunter, S. 138] Die Vergesellschaftung insgesammt mit ihren
vielfältigen Interaktions- und Kommunikationsformen bildet nach Gebauer den Nährboden
fü Mythosbildungen und Helden für den Markt [Vgl. ebd. S. 133]. Den Sportlern ist es
vorbehalten die Sehnsüchte der Massen zu befriedigen.“ (Laxa, 2005:59-61) [sublinhado
nosso]
3.2.6. Imagens mescladas: Futebol - Alimentação e Agricultura
„Papa - schieß mal den Ball rüber!“
Julian wird jetzt ein richtig guter Fußballspieler. Ich habe
ihm in unserem Garten ein kleines Fußballtor aufgebaut,
und jetzt muss ich auch taglich ran, mit ihm die ganzen
Tricks zu üben, die ich selber als Fußball-Doofi gar nicht
kann.
„Hier kommt eine Bananenflanke!“
Ich schieße, leider aber nicht so gut wie Manni Kaltz das
früher bein HSV gemacht hat. Der Ball landet über der
Hecke beim Nachbarn. Mein Sohn lacht mich aus.
„Papa! Du spielst ja fast genauso schlecht Fußball wie die
Mädchen! Und eine Bananenflanke - was soll das denn
sein? Schießt du wohl mit Bananen?“
(Nielsen, 2011:267)
309
O presente ponto explora as conceptualizações metafóricas baseadas nos
mapeamentos entre o domínio do futebol e o domínio-fonte da alimentação e da agricultura.
Do total das 52 ocorrências identificadas, 25 dizem respeito a alimentos ou características de
alimentos, 14 prendem-se com a ingestão de alimentos e diversos fenómenos fisiológicos
associados à nutrição, 7 relacionam-se com processos associados à agricultura, tais como as
sementes, a sementeira e a colheita e 6 remetem para o domínio das receitas culinárias. As
tabelas que seguidamente apresentamos, seguem a subdivisão acima descrita:
a) alimentos e suas características;
b) ingestão de alimentos e processos/sintomas fisiológicos;
c) agricultura
d) receitas culinárias
309
Nielsen, Gary, Samba, Sex und Sonnenbrand - Oder: Burn, Motherfucker, Burn, 2011, Norderstedt: Books on
Demand Verlag.
354
a) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria alimentos e suas características (25 ocorrências)
EURO 2004 (1)
(456) „Er ist das Sahnehäubchen auf
unsere Transfers!“ Hannovers neuer
Manager (...) schwärmt über die
jüngste Neuverpflichtung (Ricardo
Sousa). (www.kicker.de - 07.07.2004)
MUNDIAL 2006 (11)
EURO 2008 (4)
(457) Costa Ricas Trainer Alexandre (468) 0:1. Ganz bitter, aber verdient.
Guimaraes schmeckt das 2:4 zum Auftakt Unsere Abwehr wirkt gegen die schnellen
Spanier hölzern und hilflos.
nicht. (www.kicker.de - 09.06.2006)
(www.bild.de – 30.06.2008)
(458) Kurz vor der Pause fiel dann ein
Wermutstropfen in den Freudenbecher der (469) Die Löw-Truppe rappelte sich aber
ersten Halbzeit der Tschechen.
umgehend auf, Ballack leitete mit einem
(www.kicker.de – 12.06.2006)
Zuckerpass die erste Riesenmöglichkeit
(459) Im zweiten Spiel der Gruppe H
mussten sich die Zuschauer im WM-Stadion
in München über weite Strecken mit
Fußball-Magerkost zufrieden geben (...).
(www.kicker.de – 14.06.2006)
(460) Einzige Wermutstropfen für Ghana
waren die jeweils zweiten Gelbe Karten für
die beiden Torschützen, die damit im
entscheidenden Spiel gegen die USA fehlen
werden.
(www.kicker.de – 17.06.2006)
(461) Beide Teams boten im ersten
Durchgang nur Schonkost, steigerten sich
dann aber nach dem Seitenwechsel.
(www.kicker.de – 18.06.2006)
MUNDIAL 2010 (9)
(472) Lukas Podolski: „Es ist ganz ganz
bitter! Es tut mir leid, das muss ich auf
meine Kappe nehmen. (...) Wir müssen jetzt
gegen Ghana gewinnen.”
(www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(473) Philipp Lahm: „Wir haben nicht so gut
angefangen wie gegen Australien. Es war
ein sehr bitterer Platzverweis, dann wurde
ein. (www.kicker.de – 08.06.2008)
es natürlich schwer mit zehn Mann.“
(470) Stimmen zum Spiel Schweden (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
gegen Spanien - Villa: "Dieses Tor
(474) Besonders bitter war der Abend für
schmeckt besser"
den brasilianischen Mittelfeldspieler Diego
(www.kicker.de – 14.06.2008)
von Werder Bremen, der zunächst auf der
Bank Platz nahm (...)
(471) Yakin versüßt Kuhns Abschied
Einen versöhnlichen Abschluss feierte die (www.spiegel.de – 12.06.2010)
Schweiz im letzten Gruppenspiel gegen (475) Erst ein umstrittener Feldverweis,
Portugal. Durch zwei Yakin-Tore kamen dann ein bitteres Abseitstor (...)
die Eidgenossen zum ersten Sieg bei einer (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010)
EM-Endrunde und versüßten gleichzeitig
dem scheidenden Trainer Jakob Kuhn den (476) Cristiano Ronaldo: „Bei den Toren ist
Abschied.
es wie beim Ketchup. Wenn etwas kommt,
(www.kicker.de 15.06.2008)
kommt gleich alles auf einmal.“
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(462) Die Partie war im zweiten Durch-gang
mit
Sicherheit
kein
fußballerischer
Leckerbissen, allerdings nahm die Spannung
immer mehr zu, je näher der Abpfiff rückte.
(www.kicker.de – 21.06.2006)
(477) Allererste Sahne seine Vorarbeit zum
4:1: Erst Barry mit famosem Sprint
abgehängt, dann mustergültig für Müller
aufgelegt. (www.kicker.de - 28.06.2010)
(463) Nach der Fußballmagerkost in den
(478) Einziger Wermutstropfen: Müller
355
ersten beiden Partien zeigte Brasilien in
Dortmund mit veränderter Formation mehr
Spielfreude und war vor allem im
Angriffsspiel wesentlich variabler.
(www.kicker.de – 22.06.2006)
(464) Nach 120 Minuten Käse-Fußball alle
Elfer versemmelt! Hier macht sich die
Schweiz löcherlich. (...) Dieses Spiel war
wirklich kein Leckerbissen! Schweiz gegen
Ukraine im WM-Achtelfinale (...) Irgendwie
logisch, daß die Entscheidung über den
Viertelfinal-Einzug im Elfmeter-schießen fiel.
Und da versagten die Käse-Kicker!
(www.bild.de – 27.06.2006)
(465) Es mag bitter sein aber es muß gesagt
werden: Der erste Auftrag van Bastens auf
höchster Ebene hat nur ein mageres
Ergebniss gebracht (...)
(www.spiegel.de - 09.07.2006)
fehlt im Halbfinale gelbgesperrt
(www.kicker.de – 03.07.2010)
(479) Nelsens starke Nuss
Die Festung Neuseeland muss erst mal
erobert werden. Grosser Kampf soll
fehlende Klasse wettmachen. (...)
(Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010,
p.174)
(480) Die Sahneseite des FC Bayern: Philipp
Lahm und Arjen Robben wurden von den
kicker-Lesern zu den beliebtesten Profis der
Liga gewählt.
(Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche
07.06.2010, p.77)
(466) Unbestritten stellt die Squadra
Azzurra bislang die taktisch perfekteste
Defensive
mit
nur einer leichten
Schwachstelle auf der linken VerteidigerPosition. Vom Offensiv-Champagner ist
man jedoch weit entfernt.
(www.kicker.de – 29.06.2006)
(467) Den beiden Schüssen von Ji-Sung Park
(36.) und Jae-Jin Cho (38.) fehlte jedoch das
Zielwasser, so dass Togos Schlussmann
Agassa bis zum Pausenpfiff kaum eingreifen
musste. (www.kicker.de – 13.06.2006)
356
b) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria ingestão de alimentos e processos/sintomas fisiológicos (14 ocorrências)
EURO 2004 (2)
MUNDIAL 2006 (2)
EURO 2008 (3)
MUNDIAL 2010 (7)
(481) Doch nach der engagierten
Anfangsphase zeigten vor allem die
Engländer, dass sie die beiden späten
Gegentreffer gegen Frankreich noch
nicht richtig verdaut hatten.
(www.kicker.de – 17.06.2004)
(483) DFB-Sieg gegen Ecuador
Hungrige Helden
So sind sie, diese Deutschen bei ihrer
WM, unersättlich, aber immer fair."Man
hat gemerkt, dass die Mannschaft
hungrig ist", sagte Klinsmann später. Der
Hunger - Klinsmanns Lieblingswort - hat
seit WM-Beginn fast beängstigende
Ausmaße angenommen. Klose habe
sogar einen "Riesenhunger" auf Tore
entwickelt, sagt der Bundestrainer.
(www.spiegel.de – 20.06.2006)
(485) Nach einem Seitenwechsel von
Smolarek,
vernaschte
Saganowski
Pogatetz auf der rechten Seite (...).
(www.kicker.de – 12.06.2008)
(488) Das im Durchschnitt 24,8 Jahre
junge deutsche Team weckte mit seiner
Spielfreude Lust und Appetit auf ein tolles
Turnier.
(www.sportbild.bild.de – 13.06.2010)
(482) Nun war der Widerstand der
Schweizer gebrochen, doch der
Torhunger von Henry war noch nicht
gestillt.
(www.kicker.de – 21.06.2004)
(484) Nach langer Durststrecke von Figo
führte ein Geistesblitz des Kapitän zur
lang ersehnten Führung (...).
(www.kicker.de – 17.06.2006)
(486) Hans-Dieter Flick (Co-Trainer):
"Heute waren wir hungrig und heiß.“
(www.kicker.de – 19.06.2008)
(487) Sabri vernaschte auf der rechten
Seite Lahm und flankte dann flach auf
den ersten Pfosten (...)
(www.kicker.de – 25.06.2008)
(489) Trainer Pim Verbeek (Australien):
"(...)
Dann kam der zweite Treffer
hinterher und dann kommst du nicht
mehr ins Spiel. Diese Niederlage müssen
wir erstmal verdauen. Wir haben jetzt
zwei Endspiele."
(www.kicker.de – 13.06.2010)
(490) Portugal ist heiß auf Tore
(www.kicker.de – 21.06.2010)
(491) Hoeness: Heisshunger auf Spanien
(Ulli Hoeness über das Spiel mit Spanien)
(www.kicker.de/news/video)
(492)
„Ich
bin
gehorsam
und
gottesfürchtig. Ghana wird einen neuen
Sulley Muntari erleben. Hungriger und
immer bereit, die Flagge Ghanas zu
verteidigen.“
(www.sportbild.bild.de – 21.06.2010)
(493) M. Klose: „Im WM-Eröffnungsspiel
2002 habe ich gegen Saudi-Arabien
dreimal getroffen, 2006 zum Auftakt
gegen Costa Rica zweimal und diesmal nur
einmal. Da brauche ich 2014 erst gar nicht
357
mehr antreten.“ Der 32-Jährige, nachdem
er seine seit Oktober im Nationalteam
anhaltende Durstrecke gegen Australien
zur rechten Zeit beendet hatte.
(www.sportbild.bild.de – 23.06.2010)
(494) „Wir haben eine junge und hungrige
Mannschaft, mit der können wir weit
kommen“, prophezeit Lukas Podolski. (...)
(Kicker Sportmagazin Nr. 47 – 23. Woche
10.06.2010, p.2/3)
c) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria agricultura (7 ocorrências)
EURO 2004 (1)
MUNDIAL 2006 (4)
EURO 2008 (1)
MUNDIAL 2010 (1)
(495) Die Letten igelten sich hinten ein
und erstickten die Angriffsbemühungen
der DFB-Elf schon im Keim.
(www.kicker.de – 18.06.2004)
(496) In den Folgeminuten waren
Höhepunkte dann jedoch wieder dünn
gesät. (www.kicker.de – 20.06.2006)
(500) Roberto Donadoni (Italien): "Wir
haben heute mit etwas Glück endlich
die Früchte eingefahren und sind jetzt
natürlich sehr zufrieden.
(www.kicker.de – 17.06.2008)
(501) Kicker: Ist es eine Erfüllung für
einen Trainer, wenn man die Saat so
aufgehen sieht?
Löw: Es ist eine Freude. Wenn man sieht,
dass die Spieler Fortschritte machen, sich
verbessern und die vorgegebenen Dinge
auf dem Platz umsetzen, ist das für einen
Trainer eine grosse Genugtuung.
(Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche
05.07.2010, p.24/25)
(497) Die "Elftal" agierte sicher am Ball
und suchte den Erfolg immer wieder über
die linke Seite, die Robben beackerte.
(www.kicker.de - 25.06.2006)
(498) Nach 68 Minuten folgte noch ein
halbwegs gefährlicher Kopfball von Luis
Garcia, doch waren Torraumszenen bei
aller Spannung, die in der Luft lag, dünn
gesät. (www.kicker.de – 27.06.2006)
(499) Durch das Pressing der Franzosen
wurde der Spielaufbau Südkoreas im
Keim
unterbunden,
nennenswerte
Möglichkeiten blieben so aus.
(www.kicker.de – 19.06.2006)
358
d) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria culinária (6 ocorrências)
EURO 2004 (0)
MUNDIAL 2006 (4)
EURO 2008 (1)
MUNDIAL 2010 (1)
(502) Viertelfinale - Deutschlands
Geheim-Rezept gegen Argentinien
(www.spiegel.de – 28.06.2006)
(506) Im Spiel nach vorne fand Oranje
kein Rezept (...)
(www.kicker.de – 19.06.2008)
(507) Gegen die überfallartigen Angriffe
der Südkoreaner (...) fand die Abwehr um
Senior Georgios Katsouranis auch
weiterhin kein Rezept.
(www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
(503) (...) aber Bundestrainer Klinsmann
hat ein Rezept gegen die angeschlagenen Nachbarn.
(www.spiegel.de – 13.06.2006)
(504) Da war ausgerechnet Raul, der die
erste Hälfte noch auf der Bank
schmoren musste, zur Stelle und hob
einen Abpraller an Torwart Boumnijel
vorbei zum 1:1 ins rechte obere Eck.
(www.kicker.de – 19.06.2006)
(505) Nun war Deutschland gefordert,
fand in den Folgeminuten jedoch kein
Rezept, die "Gauchos" zu knacken.
(www.kicker-de – 30.06.2006)
359
Vejamos, então, o correspondente modelo de redes mentais à luz de Brandt (2004a) e
Brandt/Brandt (2005a). No espaço virtual, decorrente do mapeamento entre o domínio-fonte
da alimentação e da agricultura, organizada por sub-domínios (esferas pequenas) e o domínioalvo do futebol, emerge a mescla: FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO ou AGRICULTURA.
No que diz respeito à alimentação, as realizações metafóricas identificadas não
remetem para a perspectiva do alimento como fonte nutritiva de sobrevivência, ou seja, os
alimentos como indispensáveis para a sobrevivência de qualquer ser vivo. Remetem, antes,
para as analogias formais, em termos de aparência e consistência físicas do alimento em
questão, assim como para o gosto característico e excelência dos mesmos, o que nos conduz,
claramente, para o domínio dos sentidos e do prazer ou desprazer provocados por certos
alimentos. Logo, o espaço de relevância configura o elemento estabilizador da mescla, na
medida em que recorre a um quadro relativamente universal de reacções emocionais
associadas a certos paladares, como, por exemplo: doce é agradável, logo bom, enquanto
amargo é desagradável, logo mau. O valor nutritivo dos alimentos é outro factor
determinante, sendo que uma dieta, parca em calorias, gorduras e açúcares, é considerada
insípida, aborrecida e até desagradável.
No que concerne as reacções fisiológicas face à alimentação, as realizações
metafóricas remetem-nos, de novo, para o domínio sensorial. A sensação de fome e de apetite
é base conceptual para expressão do desejo enquanto o processo digestivo realça o trabalho,
por vezes desagradável, da transformação dos alimentos.
Quanto ao domínio da culinária, consideramos a noção de ambição em busca da
perfeição, i.e. ambicionar o conhecimento do que deve ser feito para que o produto final fique
perfeito (ou quase perfeito), como estrutura relevante para a estabilização da mescla final. As
receitas culinárias são instruções para que se possa tirar o maior proveito dos alimentos ao
nosso dispor, procurando atingir a perfeição em termos gustativos e de equilíbrio nutricional.
Relativamente à agricultura, o espaço de relevância activa, a nosso ver, estruturas
dinâmicas associadas ao esforço físico e ao progresso, através da noção de crescimento
qualitativo e quantitativo da produção agrícola. Assim sendo, a produção depende da
dedicação e do empenho.
Neste sentido, a mescla final poderá conter as seguintes mensagens: o futebol lembra
formas e texturas naturais; o futebol desperta desejos; o futebol é fonte de prazer ou
desprazer; o futebol é um desporto que depende de esforço e de empenhamento para a
produção de jogadas de qualidade, na maior quantidade possível; finalmente, o futebol é
ambição porque procura ser perfeito.
360
Espaço Semiótico de Base
Espaço de Apresentação
Espaço de Referência
Reacções
Alimento fisiológicas
Expressões
metafóricas
FUTEBOL
ALIMENTAÇÃO/AGRICULTURA
Culinária
Outros
Intervenientes
Agricultura
Cenário da alimentação/
agricultura; Esquema do
domínio sensorial e das
emoções/ Esquema do
empenho e da ambição
Equipa
Jogador
FUTEBOL COMO
ALIMENTAÇÃO/
AGRICULTURA
Campeonato
Jogo/
Jogada
Espaço Virtual
(Blend)
Esquema dinâmico de
Relevância
(Relevance-Schema)
Inferências
Emergentes
O mundo do futebol é um
mundo que desperta os
Futebol lembra o
mundo natural; é desejo
e provoca sensações
agradáveis e desagradáveis; futebol é
ambição.
Espaço do
Significado
sentidos e procura a perfeição
Figura 63: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Alimento/Agricultura
a) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria alimentos e suas características
O conhecimento do mundo e a experiência vivida por parte do leitor, assim como
factores de índole cultural, permitem ao jornalismo desportivo recorrer a imagens do domínio
dos alimentos para descrever, de forma clara e facilmente entendível, as acções em campo.
Cada alimento evidencia um traço característico, uma estrutura prototípica que é mapeada
para o domínio-alvo do futebol.
A ocorrência (464) é particularmente interessante porque constrói um conjunto de
realizações metafóricas em torno da estrutura de um só alimento: o queijo suíço.
(464) Nach 120 Minuten Käse-Fußball alle Elfer versemmelt! Hier macht sich die
Schweiz löcherlich. (...) Dieses Spiel war wirklich kein Leckerbissen! Schweiz gegen
361
Ukraine im WM-Achtelfinale (...) Irgendwie logisch, daß die Entscheidung über den
Viertelfinal-Einzug im Elfmeterschießen fiel. Und da versagten die Käse-Kicker!
A presente notícia diz respeito ao jogo entre as selecções da Suíça e da Ucrânia,
aquando do campeonato mundial de 2006. Tratou-se de um jogo de fraca qualidade e acabou
por ser decidido através da marcação de grandes penalidades. Devido ao facto da Suíça não ter
concretizado nenhuma das penalidades, foi eliminada da competição. Por outro, o queijo
suíço faz parte das tradições culturais deste país. Sabe-se que os queijos suíços fazem parte do
grupo dos queijos mais famosos do mundo, sendo que o queijo “Emental”, considerado o mais
proeminente entre os suíços, se caracteriza pelos seus grandes buracos, uma das imagens de
marca do queijo helvético.
Outrora alimento fundamental das dietas de todas as classes310, actualmente um bom
queijo é considerado como sendo uma iguaria gourmet. Contudo, o alimento queijo é utilizado
num registo informal e depreciativo para descrever ocorrências absurdas ou disparatadas.311
Tal deve-se provavelmente ao facto do antigo queijo germânico ser pastoso e
disforme, à semelhança do requeijão.312 Finalmente, assiste-se ao jogo fono-simbólico entre
“löcherlich” e “lächerlich”, o que atesta a conceptualização da exibição ridícula através dos
buracos do queijo.
Em suma, a exibição da selecção suíça foi fraca, inconsistente, permeável e absurda
por não ter concretizado uma única penalidade.
As realizações metafóricas das próximas duas ocorrências são construídas a partir da
experiência sensorial do sabor amargo:
(460) Kurz vor der Pause fiel dann ein Wermutstropfen313 in den Freudenbecher der
ersten Halbzeit der Tschechen.
310
vide Deutsches Wörterbuch von Jakob Grimm und Willhelm Grimm in: http://dwb.unitrier.de/Projekte/WBB2009
/DWB/wbgui_py?bookref=8,361,26&mode=&prefix=glu&patternlist=. [Consult. 28.04.2011]
311
“Kä|se [m.] 1 durch Zusatz von Lab und/oder Milchsäurebakterien zum Gerinnen gebrachtes, von der Molke getrenntes Milchprodukt 2 [ugs.] dummes Zeug; das ist alles K.! [<lat. caseus ”Käse“]” (BERTELSMANN Wörterbuch,
in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?ger [Consult. 28.04.2011])
312
“Käse, M., »Käse«, mhd. kæse, (…) germ. *käsjus, lat. caseus, »mengen, mischen, rühren«, die Germanen
kannten ursprünglich nur Quark (Weichkäse, s. an. ostr).“ (Köbler, Gerhard, Deutsches Etymologisches Wörterbuch,
1995, in http://www.koeblergerhard.de/derwbhin.html, p. 214 [sublinhado nosso] [Consult. 28.04.2011]).
313
“ein Wermutstropfen: etwas, das die Freude trübt; eine eigentlich gute Sache, die aber einen Mangel hat.
Ergänzungen: Die Redensart bezieht sich auf den bitteren Geschmack des Wermuts, der als Beimischung dem
Getränk eine unangenehme Note verleiht. Schon in der Bibel heißt es (Offb. 8,10-11): "Und der dritte Engel
posaunte: und es fiel ein großer Stern vom Himmel, der brannte wie eine Fackel und fiel auf den dritten Teil der
Wasserströme und über die Wasserbrunnen. Wie bist du vom Himmel gefallen, du schöner Morgenstern! Wie bist
du zur Erde gefällt, der du die Heiden schwächtest! Und der Name des Sterns heißt Wermut. Und der dritte Teil der
Wasser ward Wermut; und viele Menschen starben von den Wassern, weil sie waren so bitter geworden."
(Redensarten-Index, in: http://www.redensarten-index.de/suche.php?suchbegriff=Wermutstropfen&bool=relevanz
&suchspalte%5B%5D=rart_ou&suchspalte%5B%5D=erl_ou&suchspalte%5B%5D=bsp_ou&suchspalte%5B%5D=erg_
ou [Consult. 28.04.2011])
362
(475) Erst ein umstrittener Feldverweis, dann ein bitteres Abseitstor (...).
Na ocorrência (460), trata-se da lesão de um jogador checo, enquanto a ocorrência
(475) se centra num golo marcado em fora de jogo. Ambas as situações são descritas através
do recurso a alimentos de sabor amargo, ou seja, a desilusão abstracta provocada pela lesão
de um jogador e pelo golo adversário irregular é conceptualizada através da sensação
desagradável concreta do amargo. O facto de se tratar de um golo irregular intensifica a
sensação de amargura. Note-se que também o conceito de alegria é conceptualizado como um
líquido num cálice - “Freudenbecher” - ao qual se acrescentaram pingos de vermute amargo,
afectando negativamente o prazer de beber. Já a ocorrência (471) destaca o sabor do doce
como agradável, logo positivo:
(471) Yakin versüßt Kuhns Abschied - Einen versöhnlichen Abschluss feierte die
Schweiz im letzten Gruppenspiel gegen Portugal. Durch zwei Yakin-Tore kamen
die Eidgenossen zum ersten Sieg bei einer EM-Endrunde und versüßten
gleichzeitig dem scheidenden Trainer Jakob Kuhn den Abschied.
A ocasião triste do jogo de despedida do seleccionador suíço Kuhn é alegrada pelo
doce sabor da vitória, conseguida através dos dois golos marcados pelo jogador Yakin. De
novo, os golos transformam-se em comestíveis que, de acordo com a perspectiva das equipas
são doces ou amargas. Na ocorrência (470), o golo do jogador espanhol David Villa no jogo da
Espanha contra a Suécia, sabe simplesmente melhor:
(470) Stimmen zum Spiel Schweden gegen Spanien - Villa: "Dieses Tor schmeckt
besser"
Assim sendo, para um goleador todos os golos sabem bem, mas se o mesmo foi
determinante para a vitória no jogo, o tento pode ter um sabor ainda mais especial. Jogos ou
tácticas particularmente favoráveis e eficazes são conceptualizados através de iguarias ou
produtos alimentares de elevada qualidade:
(466) Unbestritten stellt die Squadra Azzurra bislang die taktisch perfekteste
Defensive mit nur einer leichten Schwachstelle auf der linken VerteidigerPosition. Vom Offensiv-Champagner ist man jedoch weit entfernt.
(456) „Er ist das Sahnehäubchen auf unsere Transfers!“ Hannovers neuer Manager (...)
schwärmt über die jüngste Neuverpflichtung (Ricardo Sousa).
363
A qualidade do jogo corresponde à qualidade e apresentação do alimento: champanhe e não
somente espumante (466); uma sobremesa enfeitada com deliciosos tufos de chantilly (456).
No eixo oposto, encontramos uma dieta insípida, que se limita ao estritamente essencial, sem
se preocupar com o prazer gustativo:
(461) Beide Teams boten im ersten Durchgang nur Schonkost, steigerten sich dann
aber nach dem Seitenwechsel.
No campeonato mundial de 2006, a primeira parte do jogo entre as selecções do Brasil
e da Austrália foi marcada por uma qualidade exibicional bastante fraca, sem golos e mesmo
sem oportunidades de golo relevantes. Este jogo desinteressante causa sensações
equivalentes ao desconsolo provocado uma dieta sem sabor.
A realização metafórica da ocorrência (479) centra-se na característica física mais
distintiva da noz: a dureza da sua casca. A expressão “(harte) Nuss”314 é frequentemente
utilizada para descrever circunstâncias ou tarefas complicadas, sendo que a experiência da
dificuldade em quebrar a casaca dura da noz se afigura como alicerce conceptual para a
experiência abstracta da resolução de problemas.
(479) Nelsens starke Nuss
Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. Grosser Kampf soll
fehlende Klasse wettmachen. (...)
Neste contexto particular, trata-se da capacidade de defesa da selecção neo-zelandesa
durante o campeonato mundial de 2010. Se o objectivo principal do jogo de futebol é a
marcação de golos, e o objectivo do ser vivo, perante uma noz, é comer o seu miolo, então a
defesa da equipa protege a sua baliza como a casca da noz protege o seu recheio.
Finalmente, a ocorrência (476) evoca uma experiência, provavelmente vivida por uma
grande parte da população do mundo desenvolvido: ao servirmo-nos de molho de tomate
“ketchup” em frasco, a espessura densa e pastosa do molho torna o objectivo de colocar uma
porção de “ketchup” no prato uma tarefa traiçoeira: ou não sai nada do frasco ou, se
abanarmos o frasco com força excessiva, sai demasiado, de uma vez só. O jogador português
Cristiano Ronaldo esteve, durante um período bastante prolongado, sem conseguir marcar
golos. Perante a insistência dos jornalistas relativamente a este ‘bloqueio’, e questionado
acerca do quando é que iria voltar aos golos, o jogador respondeu:
314
“Nuss [f.] 1 trockene, einsamige Schließfrucht, deren holzige, harte Fruchtwand mit dem Samen nicht verwachsen
ist (Hasel~, Wal~); jmdm. eine N. zu knacken geben jmdm. eine schwierige Aufgabe oder Frage stellen; eine harte N.
eine schwierige Aufgabe, eine schwer zu lösende Sache“ (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/
wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=nuss [Consult. 28.04.2011])
364
(476) Cristiano Ronaldo: „Bei den Toren ist es wie beim Ketchup. Wenn etwas kommt,
kommt gleich alles auf einmal.“
Esta imagem original provocou o riso entre os jornalistas e os leitores, contudo, a mensagem
foi imediatamente compreendida devido à experiência por todos partilhada.
Uma vez exploradas as diversas ocorrências, propomos as seguintes redes de espaços
mentais:
Ocor.
(464)
(460)
(475)
(471)
(470)
(466)
ESB
EA
ERef
M1
Texto
Käse-Fussball/ KäseKicker/ kein Leckerbissen/ löcherlich
(futebol e jogadores
de queijo/iguaria
(neg.)/esburacado
Jogo da selecção
suíça/ todas as
penalidades
falhadas
Jogo da Suíça e
penalidades
falhadas como
queijo suíço
Cenário da
alimentação/
Conhecimento da
Que mau jogo!
aparência do
queijo suíço/
Esquema cultural
Lesão do jogador
checo
Lesão do
jogador como
pingo de
vermute
Cenário da
alimentação/
Domínio sensorial
(sabores) Oposição
doce-amargo =
bom- mau
Que azar!
Golo irregular
como tendo
sabor amargo
Cenário da
alimentação/
Domínio sensorial
(sabores) Oposição
doce-amargo =
bom- mau
Suíça, que
golo injusto!
Vitória no jogo
de despedida
como factor
adoçante
Cenário da
alimentação/
Domínio sensorial
(sabores)
Oposição doceamargo = bommau
Adeus e
parabéns!
Golo decisivo
como sabor
melhor
Cenário da
alimentação/
Domínio sensorial
(sabores)
Escala de sabores
Golo muito
especial!
Texto
Texto
Texto
Texto
Texto
Wermutstropfen
(pingo de vermute)
bitteres Tor
(golo amargo)
versüßen
(adoçar)
Golo em fora de
jogo da selecção
chilena no jogo
contra a Suíça
Vitória no jogo
de despedida do
seleccionador
Suíço
ERel
M2
schmeckt besser
(sabe melhor)
Golo do decisivo
do jogador
espanhol Villa
kein OffensivChampagner
(Champanhe
ofensivo (neg.))
Cenário da
alimentação/
Táctica ofensiva
Táctica ofensiva
Domínio sensorial
como
Itália, que mau
da selecção
(sabores)/ Escala
champanhe
jogo!
italiana
da qualidade de
(neg.)
produtos
alimentares
365
(456)
(461)
(476)
(476)
ESB
ERef
ERel
Texto
Texto
Texto
Texto
Sahnehäubchen
(tufos de chantilly)
Schonkost
(dieta alimentar)
Transferência do
jogador Ricardo
Sousa para o
Hanôver
Transferência
do Jogador
Sousa como
tufo de
chantilly
Excelente
transferência!
(Manager)
Cenário da
Primeira parte do
alimentação/
jogo entre as
Primeira parte
Domínio sensorial Que jogo desselecções do
do jogo como
(sabores)
interessante!
Brasil e da
dieta alimentar
Escala de sabores e
Austrália
ingredientes
starke Nuss
(noz forte)
Defesa da
selecção neozelandesa
Defesa neozelandesa
como noz
“Ketchup” (a sair de
um frasco)
Futuros golos do
jogador
português
Ronaldo
Futuros golos
de Ronaldo
como
“Ketchup” a
sair do frasco.
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
Cenário da
alimentação/
Escala da
qualidade e
apresentação de
produtos
alimentares
EA
M1
M2
Cenário da
alimentação/
Nova Zelândia,
Conhecimento da
boa defesa!
estrutura dos
alimentos
Cenário da
alimentação/
Conhecimento ou
experiência vivida
da situação
Serei melhor!
(C. Ronaldo)
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 64: Tabela de Espaços Mentais 30
Como já referimos anteriormente, os espaços de relevância, construídos a partir de
estruturas fundamentadas no conhecimento do mundo e na experiência individual e cultural
conduzem à apreciação, i.e. à capacidade de distinção entre o que é bom e o que é mau na
mescla final, permitindo um posicionamento crítico perante as diferentes situações. O domínio
sensorial concreto destaca-se como domínio determinante para a explicitação de emoções,
tais como a alegria e a satisfação ou o desagrado e a desilusão.
b) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria ingestão de alimentos e
processos/sintomas fisiológicos
Se, de acordo com o anteriormente exposto, os alimentos se assumem como
domínios-fonte para as diversas construções mescladas, os processos e sintomas fisiológicos
associados à ingestão de alimentos enquadram-se, com toda a lógica, neste cenário
366
conceptual. As ocorrências (482) e (486) dizem respeito à sensação causada pela necessidade
de ingerir alimentos:
(482) Nun war der Widerstand der Schweizer gebrochen, doch der Torhunger von
Henry war noch nicht gestillt.
(486) Hans-Dieter Flick (Co-Trainer): "(...) Heute waren wir hungrig und heiß.“
Estas realizações metafóricas evidenciam a conceptualização do golo e da vitória como
um alimento, sendo que a sua busca provoca fome (“hungrig”) e desejo (“heiß”)315. Na língua
portuguesa são comuns as expressões equivalentes ‘fome de golo’ e ‘sede de vitória’,
fundamentadas em entroncamentos conceptuais idênticos. Este facto corrobora o postulado
de que o domínio da experiência física das reacções fisiológicas configura um domínio-fonte
universal, partilhado por todos os seres vivos. A necessidade física de saciar o desejo de comer
equivale à necessidade emocional de sentir satisfação e alegria através do sucesso alcançado.
Os verbos “naschen” ou “vernaschen” implicam a ingestão de guloseimas ou de doces,
não devido à necessidade de consumo de alimentos, mas sim para satisfazer a gula e o
desejo316. Na ocorrência (487),
(487) Sabri vernaschte auf der rechten Seite Lahm und flankte dann flach auf den
ersten Pfosten (...).
o jogador alemão Lahm é “consumido” através da finta do jogador adversário Sabri, i.e.: “(…)
eine andere Mannschaft o. einen → Gegenspieler mühelos → bezwingen, bzw. → ausspielen
(…). (Burkhardt, 2006a:335)317.
Uma vez ingeridos os alimentos, inicia-se o processo digestivo, e quanto mais pesada e
indigesta for a refeição, mais difícil e morosa se torna a sua digestão. O golo adversário
representa um evento indesejado e infeliz, logo, equivale a um alimento indigesto:
(481) Doch nach der engagierten Anfangsphase zeigten vor allem die Engländer,
dass sie die beiden späten Gegentreffer gegen Frankreich noch nicht richtig
verdaut
hatten.
315
“Heiß|hun|ger, der: [plötzlich auftretender] besonders großer Hunger (1 b) auf etw. Bestimmtes: einen H. auf
etw. haben;“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)
316
“na|schen <V.; hat> [mhd. naschen, ahd. nascon, urspr. = knabbern, schmatzen, lautm.]: 1. Süßigkeiten o. Ä.
[Stück für Stück] genießerisch verzehren: gerne, viel, Schokolade n. 2. [heimlich] kleine Mengen von etw.
[wegnehmen u.] essen: wer hat vom Kuchen genascht? ver|na|schen <sw. V.; hat>: 1. a) (selten) naschend
verzehren; b) für Naschwerk, Süßigkeiten ausgeben: er hat sein Taschengeld vernascht.“ (Dudenverlag, 1997, Versão
CD-ROM)
317
A expressão equivalente em português coloquial, é ‘papar o adversário’: “Utilizando a linguagem popular, bem
se pode dizer que Portugal é que foi "papado" em campo pelos americanos (…)” (O Público, 27.06.2002,
relativamente à eliminação prematura da selecção de Portugal no campeonato mundial de 2002, in: http://www.
publico.pt/Media/descalabro-dos-tugas-trocou-as-voltas-aos-publicitarios_155227?p=1 [Consult. 29.04.2011]).
367
Por fim, a ingestão de líquidos constitui uma necessidade vital para a sobrevivência de
qualquer ser vivo. Portanto, quanto mais prolongada for a privação do consumo de líquidos,
maior o sofrimento e o risco para a saúde. Um jogador que, jogo após jogo, não atinge a
qualidade exibicional que lhe é característica ou que não consegue marcar golos, como
habitualmente o fazia, está, igualmente, em sofrimento. Sente-se como alguém, que atravessa
o deserto sem água:
(484) Nach langer Durststrecke318 von Figo führte ein Geistesblitz des Kapitän zur
lang ersehnten Führung (...).
Na língua portuguesa, a noção de carência é conceptualizada através do substantivo
319
‘jejum’ , ou seja, a privação ou redução de alimentos, por vontade própria ou por
imposição, durante um certo tempo. Neste sentido, os golos e as vitórias equivalem, em
ambas as línguas, ao alimento sólido ou líquido vital para os jogadores.
Apresentamos, seguidamente, a tabela representativa das possíveis redes de espaços
mentais:
Ocor.
(482)
(486)
(487)
(481)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Torhunger
gestillt
(não matou a
fome)
Vontade do
jogador francês
Henry de
marcar golos
(Futuro)
Marcação de
golos como
matar a fome
(Futuro)
Cenário da
alimentação/
Esquema do desejo/
necessidade
Henry quer mais
e melhor!
Texto
hungrig und
heiß
(estar com
fome e desejo
Postura em
Cenário da
Postura em
Alemanha, muita
campo como
alimentação/
campo da
garra!
estar com fome Esquema do desejo/
selecção alemã
(Flick)
e desejo
necessidade
Texto
vernaschen
(gulodice)
Finta do
jogador turco
Sabri sobre o
jogador alemão
Lahm
Texto
verdauen
(processo de
digestão)
A selecção
inglesa sofreu
dois golos.
Finta como
vernaschen
Cenário da
alimentação/
Esquema do desejo/
necessidade
Bem jogado,
Sabri!
Golos sofridos
como processo
de digestão
Cenário da
alimentação/
Esquema do
desconforto físico
Selecção inglesa
em baixo!
318
“Durst|stre|cke [f.] Zeit voller Entbehrungen, Zeit, in der man kaum sein Auskommen hat, wenig verdient.“
(BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html
?gerqry=durststrecke [Consult. 29.04.2011])
319
“Marítimo-Beira-Mar, 1-0. Baba quebrou o jejum dos madeirenses.”(MaisFutebol, Manuel Alves, 20.02.2011, in:
http://www.maisfutebol.iol.pt/noticia.html?id=1234445 [Consult. 29.04.2011])
368
(484)
ESB
ERef
ERel
Texto
nach langer
Fim do período Fim do período
Durststrecke de insucesso do de insucesso
(fim do período
jogador
como fim da
de carestia)
português Figo
Durststrecke
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Cenário da
alimentação/
Esquema do
desconforto físico
Boa jogada, Figo!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 65: Tabela de Espaços Mentais 31
Os espaços de relevância evidenciam o cenário da alimentação, e, motivados por este
cenário, recorrem aos esquemas emocionais do desejo e da necessidade de procurar o bemestar e a satisfação física e sentimental. Quando as necessidades não são satisfeitas, é activado
o esquema emocional oposto do desconforto e do desconsolo. As mesclas finais patenteiam os
estados emocionais dos jogadores em questão, o que, por sua vez, motiva os jornalistas a
expressar elogios e incentivos por um lado, críticas e lamentos por outro.
c) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria agricultura
Nas sociedades desenvolvidas, dominadas pela indústria e pela tecnologia, a
agricultura320 aparenta ser um domínio distante e tradicional. Os diferentes processos agrícolas
são desconhecidos da maioria dos cidadãos, principalmente daqueles que vivem nos grandes
centros urbanos. São, habitualmente, recordadas apenas as três fases essenciais à produção
agrícola: a fase inicial da sementeira, a fase intermédia do cuidar do plantio e a fase final da
colheita. É provável que este conhecimento rudimentar perdure graças à herança cultural
transmitida de geração em geração. Relativamente às 7 ocorrências identificadas, cinco dizem
respeito à semente e à sementeira, uma centra-se na fase do crescimento e uma na recolha da
produção frutícola. Assim sendo, seleccionamos três ocorrências representativas:
(499) Durch das Pressing der Franzosen wurde der Spielaufbau Südkoreas im Keim
unterbunden, nennenswerte Möglichkeiten blieben so aus.
(498) Nach 68 Minuten folgte noch ein halbwegs gefährlicher Kopfball von Luis Garcia,
doch waren Torraumszenen bei aller Spannung, die in der Luft lag, dünn gesät.
(501) Kicker: Ist es eine Erfüllung für einen Trainer, wenn man die Saat so
aufgehen sieht?
320
Actividade humana de exploração do solo para cultivo de espécies vegetais, com o intuito de produzir matériasprimas para a alimentação e outras actividades. (Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011. In:
http://www.infopedia.pt/$agricultura [Consult. 29.04.2011])
369
Löw: Es ist eine Freude. Wenn man sieht, dass die Spieler Fortschritte machen (...) ist
das für einen Trainer eine grosse Genugtuung.
A notícia da ocorrência (499) diz respeito ao jogo entre as selecções da França e da
Coreia do Sul aquando do campeonato mundial de 2006. A selecção francesa mostrou-se
eficaz ao anular as tentativas de construção do jogo da Coreia do Sul, pelo que, sem
construção de jogo, não existe organização no meio campo nem condução de jogadas de
ataque, ou seja, o jogo da selecção coreana estava limitado à defesa. A analogia é evidente: a
génese do jogo consiste na construção de jogadas, tal como o crescimento de uma planta
depende do desenvolvimento da semente.
A realização metafórica da ocorrência (498), prende-se com a noção da quantidade de
sementes plantadas: “dünn gesät”. Uma sementeira parca conduz, invariavelmente, a
colheitas escassas. Nesta óptica, se existem poucas oportunidades de golo, pelo que a
probabilidade de conseguir marcar um golo é proporcionalmente reduzida. Portanto, o jogo é
conceptualizado como um campo de cultivo no qual as jogadas de perigo são os frutos das
sementes plantadas.
Nesta mesma linha, os jogadores também podem ser conceptualizados como
sementes que se desenvolvem e por fim, produzem o resultado desejado, quão plantas que
crescem e dão frutos. A estrutura conceptual da ocorrência (501) constrói um cenário idílico
no qual um agricultor admira, orgulhosamente, o crescimento do seu cultivo. No mesmo
sentido, o seleccionador alemão Löw admira o grau de desenvolvimento da competência dos
seus jogadores e congratula-se com os resultados.
Os espaços de relevância reflectem, a nosso ver, os esquemas do crescimento e
desenvolvimento baseado nos princípios do empenho e da dedicação, enquadrado no cenário
agrícola. A memória histórica e cultural partilhada mantém viva a imagem do agricultor
dedicado, que trabalha no campo do nascer ao pôr-do-sol, com o rosto e o corpo marcado pela
dureza do trabalho e pelo esforço e sacrifício contínuos. À luz deste enquadramento relevante,
as mesclas finais destacam, de forma elogiosa, o empenho e os respectivos sucessos, assim
como lamentam a ausência dos mesmos.
Ocor.
(499)
ESB
EA
Texto
im Keim
unterbinden
(impedir o
crescimento da
semente)
ERef
M1
ERel
M2
Pressão da
selecção
francesa
Pressão da
selecção
francesa como
impedir o
crescimento da
semente
Cenário da
agricultura/
Esquema do
empenho e da
produção
Boa táctica,
selecção
francesa!
370
(498)
(501)
ESB
ERef
ERel
Texto
dünn gesät
(sementeira
parca)
Oportunidades
Oportunidades de golo como
de golo
sementeira
parca
Cenário da
agricultura/
Esquema do
empenho e da
produção
Espanha, pouco
esforço!
Texto
die Saat
aufgehen sehen
(observar o
crescimento do
cultivo)
Jogadores
Jogadores da
como cultivo
selecção alemã
em crescimento
Cenário da
agricultura/
Esquema do
empenho e da
produção
Parabéns aos
jogadores
alemães!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 66: Tabela de Espaços Mentais 32
d) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria culinária
Qualquer tipo de alimento deverá ser preparado ou cozinhado para poder ser ingerido,
sem prejuízo para a saúde, pelos humanos. De acordo com os antropólogos, este é um dos
traços significativos que distinguem os humanos dos restantes animais. Mais ainda, postula-se
que os processos culinários constituem actos simbólicos de índole cultural.321 Existem receitas
culinárias típicas e emblemáticas, provenientes de todas as partes do mundo, contudo, muitas
técnicas de confecção são universais: cozer, grelhar, fritar, etc. As realizações metafóricas das
ocorrências (506) e (504), evidenciam mapeamentos conceptuais entre o domínio-fonte do
princípio da receita culinária como instrução detalhada do que deve ser feito para obter um
resultado satisfatório,
(506) Im Spiel nach vorne fand die Oranje kein Rezept (...).
assim como a variante de confecção alimentar (guisar)
321
“Cientistas sociais e pesquisadores não puderam mais ignorar que os alimentos também servem para pensar. Na
Antropologia, os processos culinários sempre ocuparam papel de destaque, entretanto, foi Claude Lévi-Strauss
quem ampliou a dimensão da preparação da comida ao dar enfoque simbólico. Ele demonstrou o caráter elementar
da vida culinária ao construir o seu tripé culinário sob o fogo. Após 20 anos pesquisando sobre mitos indígenas, o
antropólogo e filósofo publicou a série Mitológicas com quatro volumes. O primeiro deles foi “O Cru e o Cozido”,
publicado em 1964, onde estruturou essas duas categorias como passagem da natureza para a cultura. Os três
volumes seguintes foram: Do mel às cinzas (1967), Origens das maneiras à mesa (1968) e O homem nu (1973).
(…)De acordo com Lévi-Strauss, »a cozinha é articuladora das categorias natureza e cultura e também expressa uma
linguagem por interligar sistemas de oposições.« Para situar as atividades culinárias em um campo específico,
desenhou o triângulo Cru-cozido-podre. O cozido é uma transformação cultural do cru; e o podre é uma
transformação natural. Na base desse tripé, é possível opor o que é natural do cultural.” (Professor Rodrigo Lima,
2011,
in:
http://professorrodrigolima.wordpress.com/2011/02/05/claude-levi-strauss-o-ato-de-se-alimentar/
[Consult. 30.04.2011])
371
(504) Da war ausgerechnet Raul, der die erste Hälfte noch auf der Bank
schmoren musste, zur Stelle und hob einen Abpraller an Torwart Boumnijel vorbei zum
1:1 ins rechte obere Eck.
e o domínio-alvo do universo do futebol. A notícia subjacente à ocorrência (506) ocupa-se do
jogo da selecção holandesa contra a selecção da Rússia aquando do campeonato europeu de
2008. Para além da Holanda ter perdido o jogo por 1:3, demonstrou uma enorme ineficácia em
termos atacantes, não tendo conseguido impor o seu jogo, que habitualmente se caracteriza
por uma boa organização, objectividade e capacidade concretizadora. Embora cada selecção
assuma uma determinada filosofia e estilo de jogo, as tácticas têm de se adaptar ao adversário
em questão, i.e. para cada jogo deve ser encontrado um plano de jogo específico. As analogias
estruturais óbvias motivam o mapeamento entre o plano e uma receita culinária. Estabilizado
pelo espaço de relevância que, enquadrado no cenário da culinária activa o esquema dinâmico
do princípio da organização que conduz ao sucesso, a mescla final consubstancia-se na crítica à
selecção holandesa por não ter conseguido encontrar soluções e caminhos para o sucesso.
A realização metafórica da ocorrência (504) recorre a um método de preparação de
alimentos - schmoren - como imagem para descrever o jogador espanhol Raul sentado no
banco de suplentes, no jogo do campeonato mundial de 2006 contra a selecção da Turquia.
Não é necessário ser-se mestre culinário para ter conhecimento dos traços que caracterizam
esta forma de confecção: trata-se de um processo de confecção lento e relativamente estático,
porque os alimentos cozem lentamente, em lume brando, sem serem remexidos322. Neste
sentido, o jogador Raul passou a primeira parte do jogo, calmamente sentado no banco a
aguardar a hora de ser chamado à acção. Esta lexicalização metafórica foi descrita por
Burkhardt (2006a:264) que afirma: “schmoren; nicht anbraten u. in wenig Wasser u. Fett
langsam garen, sondern (in metaphorischer Bedeutung): (als Spieler) auf seinen → Einsatz
warten (...)“
Ambas as construções apontam para o princípio de que existem formas e momentos
ideais para que o processo em curso termine com sucesso, o que pode ser entendido como
uma ambição em busca da perfeição. O treinador procura encontrar a estratégia e a táctica
perfeita para vencer o jogo, aguarda pelo momento perfeito para retirar um jogador do banco
e pô-lo a jogar. No que diz respeito à ocorrência (504) foi esse o caso: na segunda parte do
322
“schmoren: Fleisch oder Gemüse in Fett scharf anbraten und nach Zugabe von Flüssigkeit im geschlossenen Topf
garen. Geschmorte Gerichte (z. B. Schmorbraten) haben dunkle Farbe und würzigen Geschmack.“ (Wissen Media
Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/gesundheit/ernaehrung/index,page=1235300.ht
ml [Consult. 30.04.2011])
372
jogo, o seleccionador colocou o jogador suplente Raul a jogar e foi esse jogador que, pouco
depois, marcou o almejado golo do empate.
Assim sendo, referenciamos as seguintes redes de espaços mentais:
Ocor.
(506)
(504)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
Texto
Rezept
(receita
culinária)
Texto
schmoren
(processo de
guisar)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
ERef
M1
ERel
Cenário da
Táctica ofensiva
Táctica
alimentação/ Esquema
da selecção
ofensiva como
da ambição; busca do
holandesa
receita culinária
sucesso/perfeição
Jogador
espanhol Raul
no banco de
suplentes
EA
M1
M2
Cenário da
Raul no banco alimentação/ Esquema
de suplentes
da ambição; busca do
como guisar
sucesso/
perfeição
M2
Holanda, má
estratégia!
Raul, que
paciência!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 67: Tabela de Espaços Mentais 33
3.2.7. Imagens mescladas: Futebol – Trajectória
“Cognitive Linguistics embraces the important idea that
linguistic structures are related to, and motivated by, human
conceptual
knowledge,
bodily
experience,
and
communicative functions of discourse. (…) many of our
concepts are grounded in, and structured by, various
patterns of our perceptual interactions, bodily actions, and
manipulation of objects (Johnson, 1987; Lakoff, 1987; Lakoff
& Johnson, 1999, Talmy, 1988, 2000). Specific patterns of
force dynamics underlie our embodied understandings of
abstract concepts (Talmy, 1988, 2000). (…) These patterns
are experiential gestalts, called “image schemas” (…) [that]
can generally be defined as dynamic analog representations
of spatial relations and movements in space. (…) Image
schemas are imaginative, nonpropositional structures that
organize experience at the level of bodily perception and
movement. (…) At the same time, image schemas are more
abstract than ordinary visual mental images and consist of
dynamic special patterns (…).” (Gibbs, 2006:90-91)
373
O presente ponto debruça-se sobre as construções metafóricas que projectam o
esquema imagético da trajectória, nomeadamente o esquema origem-trajectória-destino
(daqui adiante: SPG - SOURCE-PATH-GOAL323) para o mundo do futebol. O esquema imagético
SPG é dos esquemas complexos mais recorrentes nos processos de conceptualização fundados
na experiência espacial do movimento: “The source-path-goal schema is one of the most
fundamental schemas governing human conceptualizing with regard to sense-making (Johnson
1993, Turner 1996)” (Forceville, 2006:241). Da mesma forma como organizamos mentalmente
o espaço físico que nos rodeia,
“Lakoff argues that (…) our experience and concepts of SPACE are structured in large part by
image schemas like CONTAINER, SOURCE-PATH-GOAL, PART-WHOLE, UP-DOWN, FRONTBACK, and so on. This means that image schemas like these structure our ICM (or mental
modal) of SPACE.” (Evans/Green, 2006:280)
recorremos a estas representações esquemáticas para organizar e compreender conceitos
abstractos: “Although the SOURCE-PATH-GOAL experiences may vary considerably (…), the
emergent image-schematic structure of SOURCE-PATH-GOAL supports literal meanings (…) and
can be metaphorically projected onto more abstract domains of understanding and reasoning
(Johnson, 1987)” (Gibbs, 2006:91).
Assim sendo, o esquema SPG reflecte-se em variadíssimas construções metafóricas
complexas que conceptualizam um conceito ou domínio como uma trajectória (PATH), que
teve origem numa determinada circunstância (SOURCE) e pretende alcançar um dado
objectivo (GOAL). A metáfora conceptual (“event structure metaphor”) OBJECTIVOS SÃO
DESTINOS, é um exemplo representativo:
“Thus, the SOURCE-PATH-GOAL schema gives rise to conceptual metaphors such as
PURPOSES ARE DESTINATIONS, which preserve the main structural characteristics of the
source domain (i.e. SOURCE-PATH-GOAL)” (Gibbs, 2006:91).
A metáfora ‘A vida é uma viagem’ inscreve-se neste paradigma, na medida em que se
fundamenta na conceptualização, culturalmente dependente, de actividades e objectivos de
longa duração, como percursos:
“In our culture, life is assumed to be purposeful, that is, we are expected to have goals in
life. In the event structure metaphor purposes are destinations and purposeful action is selfpropelled motion toward a destination. A purposeful life is a long-term, purposeful activity
323
Representação gráfica do esquema imagético SPG:
SOURCE
PATH
GOAL
(Evans, 2007:109)
374
and hence, a journey. Goals in life are destinations on a journey. (…) Choosing a means to
achieve a goal is choosing a path to a destination” (Lakoff, 2006b:208).
Postulamos que, no domínio do futebol, o jogo ou um conjunto de jogos enquadrados
num campeonato constituem o percurso, enquanto a vitória ou a conquista do campeonato é
o destino. Se o futebol, tal como outras actividades que preenchem as nossas vidas, é uma
vivência experienciada, o esquema SPG proporciona a estrutura conceptual adequada que nos
permite compreender a intencionalidade das acções e decisões tomadas em direcção à vitória
final:
“(…) we talk about our lives and careers in terms of sources, paths and goals; (…) we
metaphorically conceptualize our experiences through very basic, bodily experiences in the
world that are abstracted to form higher-level metaphoric thought. This way of talking
about experience shows how the PURPOSES ARE DESTINATIONS metaphor, resulting from a
very basic image-schematic structure, is constitutive of our understanding of intentional
action” (Gibbs, 2006:92).
Num total de 46 ocorrências, as realizações metafóricas identificadas conceptualizam
jogadas, áreas de jogo e jogos de futebol como:
• caminhos (“Weg”);
• estradas (“Strasse”);
• passagens (“Durchgang”);
• becos (“Gasse”);
• viagens (“Reise”);
• escaladas de montanha (“Gipfelsturm”, “Bergtour”);
• passos (“Schritt”);
• trajectos (“Strecke”);
• corridas (“Lauf”);
• entradas ou desfiles (“Einzug”, “Siegeszug”);
• a entrada na estação terminal (“Endstation”);
• rotas (“Kurs”).
Os jogadores, a equipa, os seccionadores:
• movimentam-se em direcção a ou indicam direcções (“in Richtung”,”Kurs nehmen auf”);
• trepam de buracos (“aus dem Motivationsloch erkämpft“);
• efectuam reservas (“Ticket buchen“);
• desbravam caminhos (“Weg ebnen“/ “freiräumen“/ “bereiten“);
• direccionam carris com a agulha (“Weichen stellen“).
375
a) FUTEBOL É TRAJECTÓRIA (46 ocorrências)
EURO 2004 (5)
MUNDIAL 2006 (10)
(508) Lagerbäck: "Das war erst der (513) Berlin, Berlin - wir fahren nach
erste Schritt"
Berlin. Die Hauptstadt als Ziel einer
(www.kicker.de – 14.06.2004)
langen Reise.
(www.bild.de – 09.07.2006)
(509) Rooney ebnet den Weg.
(www.kicker.de – 17.06.2004)
(514) Zwar erzielte Wanchope sein
zweites Tor aus leicht abseitsver(510) Ein Doppelpack von Rooney
dächtiger Position (74.), doch erneut
brachte die Eriksson-Elf auf die
hebelte ein simpler Ball in die Gasse
Siegerstraße und verhalf den über
die deutsche Abwehr aus.
weite Strecken wenig überzeu(www.kicker.de – 09.06.2006)
genden Engländern zum wichtigen
"Dreier".
(515) Senaya schickte Kader auf die
(www.kicker.de – 17.06.2004)
Reise, der sich das Leder gekonnt in
den Lauf legte und Keeper Woon-Jae
(511) Englands Shootingsstar Wayne
Lee mit seinem Flachschuss ins lange
Rooney bringt die "Three Lions" mit
Eck keine Abwehrchance ließ (31.).
neuerlichen zwei Treffern auf die
(www.kicker.de – 13.06.2006)
Siegerstraße und ins Viertelfinale.
(www.kicker.de 21.06.2004)
(516) Zunächst brachte der eingewechselte
Top-Torjäger
Al-Jaber
(512) EM-Gastgeber Portugal hat den
Saudi-Arabien mit dem Treffer zum
Siegeszug der englischen "Torfabrik"
2:1 scheinbar auf die Siegerstraße,
bei der Euro 2004 gestoppt (...)
dann glich Jaidi doch noch aus.
(www.spiegel.de – 25.06.2004)
(www.kicker.de – 14.06.2006)
EURO 2008 (10)
(523) Fatih Terim (Türkei): "(...) Im
zweiten Durchgang hat uns ein Tor auf
die Verliererstraße gebracht, das so
nicht hätte fallen dürfen. (...)“
(www.kicker.de – 07.06.2008)
MUNDIAL 2010 (21)
(533) „Es sind sieben Spiele zu überstehen. Das ist ein weiter
Weg, auf dem viel passieren kann“, meinte der
Südamerikaner. (www.sportbild.bild.de -10.06.2010)
(534) Nach dem Seitenwechsel legten die Gastgeber ihren
übergroßen Respekt endgültig ab und suchten entschlossen
(524) Im ersten Durchgang hatten es die den Weg zum Tor. (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010)
(535) Mit der Punkteteilung verpasste Südafrika den erhofften
Kroaten verpasst (...)
ersten Schritt auf dem Weg ins Achtelfinale.
(www.kicker.de – 08.06.2008)
(www.sportbild.bild.de – 11.06.2010)
(525) In der Folge rannte die
(536) Kapitän Philipp Lahm gibt im deutschen Team die
Hickersberger-Elf lange dem Rückstand
Richtung vor. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010)
hinterher.
(537) Philipp Lahm: "(...) Es war wichtig, das Auftaktspiel
(www.kicker.de – 12.06.2008)
gewonnen zu haben, aber es ist noch ein langer Weg."
(526) Spanien nimmt Kurs aufs (www.kicker.de- 13.06.2010)
Viertelfinale,
während
sich
die (538) Spanien: Selbstbewusster Torres haut auf den Putz (...)
Schweden ärgern.
Mit Iniesta auf dem Weg zum grossen Ziel. (Kicker
(www.kicker.de – 14.06.2008)
Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.52)
(527) So blieb der Außenseiter letztlich
doch noch auf der Strecke in der
"Todesgruppe" C.
(www.kicker.de –
17.06.2008)
(539) Simon Poulsen räumt den Weg frei (...) Erst Simon
Poulsens Eigentor (Hereingabe van Persie) räumte für Oranje
den Weg frei. (Kicker Sportmagazin Nr. 49 – 24. Woche
17.06.2010, p.28)
(528) Bastian Schweinsteiger (...): (540) Im zweiten Gruppenspiel gegen Serbien könnte das
Binnen Tagen hat er sich aus dem Team von Bundestrainer Joachim Löw bereits das Ticket für
(517) Erst danach fanden auch die
das Achtelfinale buchen. (www.kicker.de – 18.06.2010)
Motivationsloch gekämpft.
"Albirroja" den Weg in die Offensive,
(541) Die Welt: „Kloses Foul stürzt Deutschland ins Chaos. (...)
(www.spiegel.de – 20.06.2008)
allerdings ohne dabei das Tor der
Es brachte auch ein verunsichertes deutsches Team auf die
Skandinavier in irgendeiner Form zu (529) Arshavin & Co. fiel insgesamt viel Verliererstraße.“ (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
zu wenig ein - und damit war im
gefährden.
(542) Abendzeitung: „Deutschland zittert um den Einzug ins
Halbfinale Endstation.
(www.kicker.de – 15.06.2006)
Achtelfinale.“ (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(www.kicker.de – 26.06.2008)
(518) Kaum auf dem Platz, war Messi
(543) Lukas Podolski: „Wir hätten ein großen Schritt Richtung
376
auch schon Wegbereiter von Treffer (530) Jetzt stehen uns auf dem Weg
zum Titel nur noch die spanischen TorNummer vier.
(www.kicker.de – 16.06.2006)
Stiere im Weg.
(www.bild.de –
27.06.2008)
(519) Es war Einbahnstraßenfußball,
den die Michel-Elf in München darbot, (531) Das deutsche Spiel? Tot und
Serbien-Montenegro fand offensiv virtuell auf dem Weg in den Wiener
über weite Strecken quasi nicht statt. Nachthimmel, zu Kroaten, Portugiesen,
(www.kicker.de – 21.06.2006)
Türken
und
all
den
anderen
ausgeschiedenen Teams.
(520) Nach Startschwierigkeiten in
(www.focus.de – 29.06.2008)
Hälfte eins ebnete Patrick Vieira an
seinem 30. Geburtstag mit einem Tor (532) Der erhoffte Gipfelsturm bei der
und einem Assist der "Grande Nation" deutschen Bergtour 2008 blieb aus.
(www.sportbild.de – 30.06.2008)
den Weg.
(www.kicker.de – 23.06.2006)
(521) Die Weichen waren gestellt, der
Widerstand der Togoer weitgehend
gebrochen.
(www.kicker.de – 23.06.2006)
(522) (...) doch auch ohne die Künste
des Turiners marschierte Frankreich
nun einem sicheren Sieg entgegen.
(www.kicker.de – 23.06.2006)
Achtelfinale machen können. (...) Wir müssen jetzt gegen
Ghana gewinnen.”(www.sportbild.bild.de – 19.06.2010)
(544) Der Bundestrainer weiß, dass "es immer Situationen in
einem Turnier gibt, wo man vor einem richtungsweisenden
Spiel steht. Drucksituationen sind nicht zu vermeiden. (...) Wir
werden gegen Ghana agieren, dann schaffen wir auch den
Einzug in die nächste Runde", erklärte der 50-Jährige.
(www.kicker.de – 19.06.2010)
(545) 2:0 gegen die Slowakei. Barrios mit Paraguay auf Achtelfinal-Kurs. Paraguay steuert bei der Fußball-WM in Südafrika
auf Achtelfinalkurs. (www.sportbild.bild.de – 20.06.2010)
(546) Mit einem Doppelschlag hat David Villa Europameister
Spanien wieder auf Achtelfinal-Kurs gebracht (...).
(www.sportbild.bild.de – 21.06.2010)
(547) Portugal hat einen Riesenschritt in Richtung Achtelfinale
gemacht. (www.kicker.de – 21.06.2010)
(548) Tevez' Abseitstor ebnet den Weg
(www.kicker.de – 23.06.2010)
(549) Dieser Weg ist noch nicht zuende
(www.kicker.de/news/video - 05.07.2010)
(550) Kicker: Sie haben ihr 70. Länderspiel gemacht. War es
das beste, indem Sie je mitgewirkt haben? Lahm: Es war in
jedem Fall eines der besten. Kicker: Wie ist dieser
Wahnsinnslauf zu erklären? Lahm: Unser Plan ging heute zu
100 Prozent auf. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche
05.07.2010, p.6)
(551) FAZ: „Deutsche Traumreise endet im Halbfinale.“
(www.sportbild.bild.de – 08.07.2010)
(552) Luis Suarez und Diego Forlán sind für Uruguay die
Trümpfe auf dem Weg zum größten Erfolg seit 1950.
(www.sportbild.bild.de – 09.07.2010)
(553) Der härteste Brocken auf dem Weg nach Südafrika war
Bahrein. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.174)
377
De acordo com a abordagem semiótica de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a),
descortinamos a seguinte rede de espaços mentais:
Espaço Semiótico de Base
Espaço de Apresentação
Espaço de Referência
Jogador
Expressões
metafóricas
FUTEBOL
TRAJECTÓRIA
Cenário do percurso/
Esquema imagético
SOURCE-PATH-GOAL/
Esquema do
OBSTÁCULO
Equipa
Outros
Intervenientes
FUTEBOL COMO
TRAJECTÓRIA
Campeonato
Jogo/
Jogada
Espaço Virtual
(Blend)
Esquema dinâmico de
Relevância
(Relevance-Schema)
Inferências
Emergentes
O futebol procura, activa e
intencionalmente, o
sucesso.
Os sucessivos eventos
futebolísticos reflectem
acções e intenções
contínuas para
conquistar a vitória.
Espaço do
Significado
Figura 68: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Trajectória
A mescla virtual, Futebol como trajectória, reflecte, como já referimos anteriormente,
a estrutura mental esquemática da actividade como um trajecto a percorrer pelos
intervenientes. O espaço de relevância é constituído a partir cenário do percurso, que reflecte
a experiência física do movimento do corpo no espaço. Consideramos que esta experiência
concreta activa, necessariamente, o esquema imagético SPG, assim como o esquema do
obstáculo, associado ao anterior. Desta forma, é possível compreender a mescla final, i.e. que
o futebol é composto por três partes integrantes e interdependentes: a) um ponto de partida SOURCE -, habitualmente o início de um jogo ou de um campeonato, b) um processo que se
desenrola no tempo, preenchido com acções ou eventos contínuos - PATH -, ou seja, todas as
acções, opções e acontecimentos que se sucedem durante um jogo ou um campeonato e, c) o
378
objectivo final - GOAL -, concretizado através vitória no jogo ou a conquista do campeonato.
Durante o processo podem surgir problemas ou dificuldades - OBSTÁCULOS -, que têm de ser
ultrapassados para não comprometer o objectivo final.
Todas as realizações metafóricas identificadas seguem este padrão conceptual. Tendo
em conta de que se trata de uma competição, a noção de intencionalidade, esforço e
dedicação à causa, está particularmente patente. Este reconhecimento reforça a inferência
emergente de que o futebol procura activa e intencionalmente o sucesso, sendo que o
caminho para a vitória se constrói com esforço e empenhamento. Neste sentido, as mesclas
finais podem, igualmente, conter a intenção comunicativa e pragmática de aplaudir ou motivar
os intervenientes, dando voz ao desejo partilhado por todos os adeptos ou simpatizantes do
futebol.
De acordo com a metodologia adoptada, seleccionamos algumas realizações
metafóricas particularmente representativas.
O cenário da rua/estrada:
(510) Ein Doppelpack von Rooney brachte die Eriksson-Elf auf die Siegerstraße und
verhalf den über weite Strecken wenig überzeugenden Engländern zum
wichtigen "Dreier".
(514) Zwar erzielte Wanchope sein zweites Tor aus leicht abseitsverdächtiger
Position (74.), doch erneut hebelte ein simpler Ball in die Gasse die deutsche Abwehr
aus.
(519) Es war Einbahnstraßenfußball, den die Michel-Elf in München darbot,
Serbien-Montenegro fand offensiv über weite Strecken quasi nicht statt.
(523) Fatih Terim (Türkei): "(...) Im zweiten Durchgang hat uns ein Tor auf die
Verliererstraße gebracht, das so nicht hätte fallen dürfen. (...)“
Nestas quatro ocorrências, o esquema do trajecto é activado através do recurso a termos
específicos do cenário da rua ou estrada, a saber: “Strasse”, “Einbahnstrasse”, “Gasse” e
“Strecke”. No mundo real, qualquer localidade (cidade, vila, aldeia, etc.) goza de infraestruturas rodoviárias que, de acordo com as suas características, possuem nomenclaturas
diferentes. Um princípio de organização urbanística essencial para a orientação é a atribuição
de nomes (ou números, como nos EUA) a cada via. Estas podem, por exemplo, honrar alguém Konrad-Adenauer-Ring, evocar a flora circundante - Kastanienalee ou destacar uma infraestrutura adjacente - Hafenstrasse, etc. Cada estrada ou rua conduz de um ponto A para um
379
ponto B. Posto isto, a “Siegesstrasse” (510) é a rua que ‘pertence’ ao vencedor, a que conduz à
vitória, enquanto a “Verliererstrasse” (523) descreve a situação exactamente oposta.
A maioria das vias possui dois sentidos, sendo possível percorrer a via do ponto A para
o ponto B, como o inverso, de B para A. Nas vias de sentido único, a mudança de direcção não
é permitida, uma vez tomada esta via, não pode haver inversão do trajecto. Um
“Einbahnstrassenfussball” descreve, então, um jogo ou uma fase do jogo de futebol, na qual
uma equipa restringe as suas acções em campo a apenas uma táctica ou estratégia, tal como
ilustrado na ocorrência (519), em que a selecção da Sérvia e Montenegro se limitou, durante
grande parte do jogo, a defender, sem esboçar qualquer tentativa de ataque.
Registe-se que um beco (514) é um tipo de rua pequena, estreita e exígua, ou seja, é
exemplo de um espaço limitado. Daí que no futebol, “Gasse” descreva uma pequena abertura
entre dois defesas, através da qual o avançado se movimenta em direcção à baliza324.
Assinale-se que, também no uso de “Durchgang” na ocorrência (523), esta
lexicalização não diz literalmente respeito a uma passagem que se utiliza para atravessar um
determinado local, mas fornece a estrutura conceptual para descrever as partes de um jogo de
futebol (1ª ou 2ª parte), as quais têm de ser ‘atravessadas’ para chegar ao final da partida, tal
como é descrito por Burkhardt (2006a)325.
Relativamente à expressão “über weite Strecken” das ocorrências (510) e (519) diz
respeito à conceptualização do tempo como um trajecto. Se o tempo é conceptualizado como
um trajecto espacial, uma dada distância percorrida corresponde a um dado período de
tempo. Logo, quanto mais longa a distância, mais prolongado o tempo. Assim sendo, as
tácticas adoptadas pelas selecções (da Inglaterra e da Servia Montenegro respectivamente)
perduraram durante grande parte do jogo. Sintetizamos a análise das ocorrências na figura
abaixo:
Ocor.
(510)
(514)
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
auf die Siegesstrasse bringen
(enveredar pela
rua do vencedor)
Golos de
Rooney no jogo
da selecção
inglesa
Golos de Rooney
como enveredar
pela rua do
vencedor.
Cenário da
rua/estrada;
Esquema SPG
Parabéns,
Rooney!
Texto
Gasse
(beco)
Cenário da
rua/estrada;
Esquema SPG
A defesa alemã
ineficaz!
Espaço entre os
Espaço entre os
jogadores da
defesas como beco
defesa alemães
324
Burkhardt descreve os sentidos de: “Gasse, die; (…) weder schmale Strasse noch Spalier, sondern: ein freier
Raum, der sich (plötzlich) zwischen den → Abwehrspielern auftut u. von den → Angreifern zim Spielen des Balles o.
zum ungehinderten Erlaufen eines in Richtung Tor gespielten Balles genutzt werden kann (...)“ (Burkhardt,
2006a:127)
325
Burkhardt (2006a:84) afirma: “Durchgang, der; weder eine Öffnung zum Durchgehen noch eine Phase eines
grösseren Ereignisses o. Vorgangs (wie etwa einer Wahl), aber: → Halbzeit eines Spiels als Ablauf gedacht (...).“
380
(519)
(523)
ESB
ERef
ERel
Texto
Einbahnstrassenfussball (futebol
de rua de sentido
único)
Táctica de jogo
da selecção da
Sérvia
Montenegro
Texto
auf die VerliererGolo sofrido
Golo sofrido como
strasse bringen
pela selecção
ser levado para a
(ser levado para a turca no jogo
rua do derrotado
rua do derrotado) contra Portugal
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Táctica de jogo
como futebol de
rua de sentido
único
Cenário da
rua/estrada;
Esquema SPG
Sérvia
Montenegro,
ataque sem
expressão!
Cenário da
rua/estrada;
Esquema SPG
Turquia,
demasiada
passividade!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 69: Tabela de Espaços Mentais 34
O cenário do caminho:
(530) Jetzt stehen uns auf dem Weg zum Titel nur noch die spanischen Tor-Stiere im
Weg.
Um campeonato mundial ou europeu, é composto por uma primeira fase de grupos,
na qual as equipas procuram obter a pontuação máxima possível, e depois, por uma fase de
jogos de eliminação, na qual a derrota corresponde à eliminação imediata do campeonato. É,
portanto, uma competição relativamente longa e exigente. A notícia da ocorrência (530)
comenta o facto da selecção alemã ter chegado até às meias-finais, só precisando de vencer a
selecção espanhola para disputar o título de campeão na grande final.326 Todo o campeonato é
conceptualizado como um caminho que conduz à meta final, o título (esquema SPG). As
equipas adversárias constituem os obstáculos (esquema do obstáculo) que as selecções têm de
ultrapassar para alcançar o objectivo. Note-se que, nesta ocorrência, os jogadores da selecção
espanhola são conceptualizados como touros goleadores espanhóis.
Ocor.
(530)
ESB
ERef
ERel
ESB
Texto
EA
ERef
M1
ERel
Campeonato
auf dem Weg; im
Campeonato e
Cenário da
como caminho
Weg stehen
jogo da selecção
rua/estrada;
para o título;
(caminho para o
alemã contra a
Esquema SPG;
selecção espanhola
título; obstáculo selecção espanhola
Esquema do
como obstáculo
no caminho)
(Futuro)
obstáculo
(Futuro)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
M2
Coragem,
Alemanha!
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 70: Tabela de Espaços Mentais 35
326
Registe-se o facto do jornalista desportivo ter recorrido à primeira pessoa do plural, identificando-se, assim, a si
próprio e em representação de toda a nação alemã, com a selecção.
381
O cenário da viagem:
(515) Senaya schickte Kader auf die Reise, der sich das Leder gekonnt in den Lauf legte
und Keeper Woon-Jae Lee mit seinem Flachschuss ins lange Eck keine Abwehrchance
ließ (31.).
(540) Im zweiten Gruppenspiel gegen Serbien könnte das Team von Bundestrainer
Joachim Löw bereits das Ticket für das Achtelfinale buchen.
A realização metafórica da ocorrência (515) centra-se na conceptualização das
diferentes zonas do campo como destinos para os quais os jogadores viajam. Um passe do
jogador do Togo Senaya para o colega Kader em direcção à baliza adversária é descrito por
activação do cenário da viagem. Já na ocorrência (540), a notícia diz respeito ao futuro jogo
entre as selecções da Sérvia e da Alemanha, sendo que a vitória alemã significaria o
apuramento da selecção para os oitavos de final do campeonato. Enquadrado no cenário
conceptual da viagem, o destino é a próxima fase do campeonato (oitavos de final) e a vitória
corresponde à reserva ou aquisição do respectivo bilhete para a viagem, ou seja, o
apuramento.
Ocor.
(515)
(540)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
auf die Reise
schicken
(mandar em
viagem)
Passe do jogador do
Togo Senaya para o
seu colega Kader
Passe como
mandar em
viagem
Cenário da
viagem;
Esquema SPG;
Boa jogada!
Texto
Ticket buchen
(reservar/
comprar um
bilhete)
Resultado do jogo
Vitória da
vindouro entre as
selecção alemã
selecções da
como reservar
Alemanha e da Sérvia
um bilhete
(Futuro)
(Futuro)
Cenário da
viagem;
Esquema SPG;
Força
Alemanha!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 71: Tabela de Espaços Mentais 36
O cenário do trajecto direccionado:
(526) Spanien nimmt Kurs aufs Viertelfinale, während sich die Schweden ärgern.
(536) Kapitän Philipp Lahm gibt im deutschen Team die Richtung vor.
(547) Portugal hat einen Riesenschritt in Richtung Achtelfinale gemacht.
382
Enquanto as ocorrências (526) e (547) dizem respeito ao apuramento para as
diferentes fases do campeonato (quartos e oitavos de final, respectivamente) a ocorrência
(536) debruça-se sobre a atitude e a postura exemplares do capitão da selecção alemã (Lahm)
relativamente ao objectivo final da participação alemã no campeonato mundial de 2010:
“Kapitän Philipp Lahm ist sogar überzeugt, dass die Mannschaft mit einer Mischung aus jungen
und erfahrenen Spielern „Großes“ erreichen kann.” (in: sportbild.de [Consult. 24.04.2011]).
Com um passo gigante (“Riesenschritt”, porque a vitória da selecção portuguesa por
7:0 contra a selecção da Coreia do Norte quase que garantia o apuramento de Portugal para a
próxima fase), ou mediante transporte terrestre, aéreo ou marítimo327, a direcção do trajecto é
definida pela meta a atingir. Este facto realça a determinação focalizada e o esforço objectivo
por parte das selecções como questão central, na medida em que, tal como Lakoff aponta:
“Lack of purpose is lack of direction” (Lakoff, 2006b:206).
Ocor.
(526)
(536)
(547)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
Texto
Kurs nehmen
auf
(seguir uma
rota)
ERel
M2
Vitória da
selecção
Vitória como
espanhola sobre seguir uma rota
a selecção sueca
Cenário do
trajecto;
Esquema SPG;
Esquema da
objectividade
Selecção
espanhola em alta!
Texto
die Richtung
vorgeben
(indicar o
caminho)
Postura do
capitão da
selecção alemã
Lahm
Postura de
Lahm como
indicar o
caminho
Cenário do
trajecto;
Esquema SPG;
Esquema da
objectividade
Lahm, boa
estratégia!
Texto
Riesenschritt in
Richtung (passo
gigante em
direcção a)
Vitória da
selecção
portuguesa por
7:0 conta a
Coreia do Norte
Vitória por 7:0
como passo
gigante em
direcção a
Cenário do
trajecto;
Esquema SPG;
Esquema da
objectividade
Portugal, fantástica
prestação!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
M1
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 72: Tabela de Espaços Mentais 37
Relativamente à activação dos cenários dos caminhos-de-ferro e do transporte público na
construção das mesclas, referenciamos as seguintes ocorrências:
(521) Die Weichen waren gestellt, der Widerstand der Togoer weitgehend
gebrochen.
327
“Kurs [lateinisch]: Verkehr, Fahrtrichtung (auch Fahrweg, etwa bei der Eisenbahn) eines See- oder Luftfahrzeugs.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/technik/mobilitaet/
index,pag=1173264.html) [Consult. 24.04.2011])
383
(259) Arshavin & Co. fiel insgesamt viel zu wenig ein - und damit war im
Halbfinale Endstation.
Uma das características mais proeminentes dos caminhos-de-ferro é o facto de os
comboios circularem sobre carris firmemente assentes no solo. Isto significa que os comboios
não podem circular livremente em termos de direcção e percurso, tal como é possível fazer
com um automóvel, por exemplo. Uma vez traçado o percurso, através do posicionamento da
agulha (AMV- aparelho de mudança de via), o comboio seque invariavelmente o seu caminho.
Assim, a marcação do segundo golo por parte da selecção francesa conta o Togo (2:0), selou o
destino do confronto: nada afastaria a França no seu caminho para a vitória.
Relativamente à ocorrência (529), o campeonato é conceptualizado como o percurso
de um transporte público. Existe a primeira paragem - o ponto de partida -, existem várias
paragens intermédias ao longo do percurso e existe a paragem terminal - “Endstation” - que
marca o fim do percurso. Todas as equipas ambicionam conquistar o título, ou seja, que o jogo
final seja a paragem terminal. Como a final é disputada entre duas equipas apenas, para todas
as restantes equipas, a paragem terminal corresponde ao jogo no qual são eliminadas.
Contudo, para a selecção da Rússia, o percurso terminou nas meias-finais.
Ocor.
(521)
(529)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
Texto
Texto
ERef
M1
ERel
M2
Die Weichen
Marcação do
Cenário do trajecto
waren gestellt
Segundo golo
segundo golo da
ferroviário; Esquema
(posicionacomo posicionaselecção francesa
SPG; Esquema da
mento da
mento da agulha
contra o Togo
invariabilidade
agulha)
Endstation
(estação
terminal)
Eliminação da
selecção russa nas
meias-finais
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Eliminação nas
meias-finais
como estação
terminal
França, boa
prestação!
Cenário do trajecto;
Esquema SPG;
Rússia, adeus!
Esquema da
objectividade
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 73: Tabela de Espaços Mentais 38
Observe-se ainda a existência de ocorrências que recorrem ao cenário da escalda ou à acção
de trepar para fora de um buraco:
(532) Der erhoffte Gipfelsturm bei der deutschen Bergtour 2008 blieb aus.
(528)
Bastian
Schweinsteiger
(...):
Binnen
Tagen
hat
er
sich
aus
dem
Motivationsloch gekämpft.
384
O campeonato europeu de 2008 realizou-se na Áustria e na Suíça, a saber, dois países
geográfica e paisagísticamente marcados pela cordilheira dos Alpes. Daí, ter relevantemente
recebido a designação de “Bergtour”, sendo que os jogos se realizavam em diversas cidades
destes países pelas quais as equipas circulavam, como se de um circuito alpino se tratasse.
Para um alpinista, a montanha encerra em si o desafio da escalda, sendo que alcançar o topo é
o objectivo final. Assim, o domínio-fonte da montanha revela-se bastante produtivo, na
medida em que congrega o esquema do percurso com o da orientação vertical328. No presente
contexto, a selecção alemã pretendia escalar a montanha e conquistar o topo - “Gipfelsturm”,
o que metaforicamente equivale à disputa do campeonato e à conquista do título.
No que diz respeito à ocorrência (528), o cenário de um buraco no solo, do qual se
procura sair, é igualmente produtivo e assenta nas estruturas orientacionais dinâmicas ‘para
cima - para baixo’ e ‘dentro - fora’, motivada pelo esquema do contentor. De novo, a
experiência física, neste caso do espaço confinado, escuro, incómodo e até angustiante,
constitui a referência conceptual para a construção metafórica. Neste contexto particular, o
jogador alemão Schweinsteiger sentia-se profundamente desmotivado devido a algumas
exibições menos conseguidas. Contudo, com grande esforço e empenho (dai o verbo
“kämpfen”), foi capaz de ultrapassar o momento negativo. No jogo contra a selecção de
Portugal, que a Alemanha venceu por 3:1, coroou a sua exibição excelente com dois golos:
”Der Erfolg gegen Portugal ist auch ein ganz besonderer, persönlicher Triumph für Bastian
Schweinsteiger. (...) Schweinsteiger tat, wie Löw sagte und agierte gegen seinen
Lieblingsgegner Portugal in unnachahmlicher Manier. Bereits beim 3:1 im Spiel um Platz drei
bei der WM 2006 spielte der Bayern-Profi die Portugiesen an die Wand und traf zweimal.“
(spiegel.de [Consult. 24.04.2011])
Sugerimos, então, a seguinte tabela:
Ocor.
(532)
ESB
Texto
EA
ERef
M1
ERel
M2
Objectivo da
Gipfelsturm bei
Objectivo da
Cenário da
selecção alemã
der Bergtour
selecção alemã como conquista do
escalada;
Parabéns,
(conquista do
no campeonato topo da montanha/ Esquema SPG;
Alemanha pelo
topo da montanha europeu de
Esquema da
Circuito alpino
esforço!
num circuito
2008
como campeonato orientação vertical
alpino)
(não alcançado) europeu de 2008 e da objectividade
328
veja-se Lakoff/Johnson (1980b:461-465) “There is an over-all external systematicity among the various
specialization metaphors, which defines coherence among them. Thus, GOOD IS UP gives an UP orientation to
general well-being, which is coherent with special cases like HAPPY IS UP, HEALTHY IS UP, ALIVE IS UP. CONTROL IS
UP. STATUS IS UP is coherent with CONTROL IS UP:” (Lakoff/Johnson 1980b:464)
385
(528)
ESB
ERef
ERel
Texto
aus dem
Motivationsloch Boa exibição do
kämpfen (sair de jogador alemão
um buraco
Schweinsteiger
motivacional)
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
Cenário da
Boa exibição de
escalada;
Parabéns,
Schweinsteiger
Esquema SPG;
Schweinsteiger,
como sair de um
Esquema da
pela suada
buraco
orientação vertical
vitória!
e do contentor
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 74: Tabela de Espaços Mentais 39
Para além dos cenários já apontados, registe-se ainda a arquitectura de uma imagem de
corrida:
(550) Kicker: Sie haben ihr 70. Länderspiel gemacht. War es das beste, indem Sie
je
mitgewirkt haben? Lahm: Es war in jedem Fall eines der besten. Kicker: Wie ist dieser
Wahnsinnslauf zu erklären? Lahm: Unser Plan ging heute zu 100 Prozent auf. (...)
Esta ocorrência representa uma pequena parte de uma entrevista entre o jornalista do
jornal desportivo kicker e o capitão da selecção alemã Lahm aquando do campeonato mundial
de 2010. O excerto incide sobre o jogo entre as selecções da Alemanha e da Argentina que a
selecção alemã venceu categoricamente por 4:0. Esta vitória garantiu à Alemanha o
apuramento para as meias-finais, o que é prova de uma campanha bem sucedida. Os
sucessivos jogos disputados são conceptualizados como uma corrida e, tendo em conta a
vitória extraordinária sobre a Argentina, o sucesso é coloquialmente rotulado como sendo
uma ‘loucura’, intensificando, desta forma, a tensão emocional em torno do evento.329 Neste
sentido, postulamos que a mescla final encerra uma intenção elogiosa, pois patenteia a
admiração perante os excelentes resultados da selecção alemã nesta competição tão difícil e
exigente:
Ocor.
(550)
ESB
ERef
ERel
ESB
EA
ERef
M1
ERel
M2
Texto
Wahnsinnslauf (uma
corrida
louca)
Os jogos da
selecção alemã
no campeonato
mundial
Os jogos da
selecção alemã no
campeonato como
uma corrida louca
Cenário da
corrida; Esquema
SPG; noção da
dificuldade
Parabéns à
selecção
alemã!
- Espaço Semiótico de Base
- Espaço de Referência
- Espaço de Relevância
EA
M1
M2
- Espaço de Apresentação
- Mescla 1 (blend virtual)
- Mescla 2 (significado intendido)
Figura 75: Tabela de Espaços Mentais 40
329
“Wahn|sinns- (ugs. emotional verstärkend): drückt in Bildungen mit Substantiven aus, dass jmd. oder etw.
wahnwitzig, fast unglaublich, kaum fassbar ist: Wahnsinnsfrau,-preis,-stimme.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CDRom).
386
3.2.8. Imagens mescladas: Futebol - Construção/Destruição
“[Embodied cognition (EC)] proposes that we investigate
the way in which perception–action mechanisms, and
bodily engagement with the world, can exploit the
structure of the environment (Gibson 1979) (…). An
embodied perspective, therefore, moves us away from an
anthropocentric, mentalistic view of cognition and extends
it beyond ‘skin and skull’ to the body and the world (Clark
1997), with the aim of understanding how cognitive
processes are rooted in bodily experience and interwoven
with bodily action and interaction with other individuals
and objects (Merleau-Ponty 1962/2002; Varela et al. 1991;
Damásio 1994; Clark 1997; Lakoff & Johnson 1999;
Anderson 2003; Garbarini & Adenzato 2004; Barrett &
Henzi 2005).” (Barrett/Henzi/Rendall, 2007:569)
A explosão urbana verificada na Europa a partir do século XX alterou
significativamente o seu perfil paisagístico tradicional, e crê-se que o grande desenvolvimento
das cidades e as consequentes formas de vida urbana constituem dois dos fenómenos que
melhor caracterizam a civilização contemporânea. Estamos rodeados de todo o tipo de
construções, com as quais vivemos e interagimos diariamente. Este facto influencia,
necessariamente, a forma como pensamos e falamos.
Já Lakoff e Johnson (1980) partiram desta premissa quando apresentaram as suas
análises em torno da metáfora conceptual THEORIES ARE BUILDINGS (1980b:471-472). Grady
(1997) em “THEORIES ARE BUILDINGS Revisited”, reavaliou os postulados de Lakoff e Johnson
e concluiu que THEORIES ARE BUILDINGS constitui uma metáfora composta, que emerge da
união de duas metáforas primárias: PERSISTING IS REMAINING UPRIGHT (ou VIABILITY IS
ERECTNESS) e ORGANISATION IS PHYSICAL STRUCTURE. Estas metáforas primárias assentam
nas características mais salientes de ed
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dagem semi - Repositório da Universidade de Lisboa