UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS ÁREA DE LITERATURAS, ARTES E CULTURAS MAPEANDO MUNDOS NO MUNDO DO FUTEBOL: ABORDAGEM DAGEM SEMIÓTICO-COGNITIVA SEMIÓTICO DOS MEDIA DIA ALEMÃES Bibiana Maria Fernandes de Sousa TESE ORIENTADA POR: PROFESSORA DOUTORA MARIA CLOTILDE ALMEIDA DOUTORAMENTO EM LINGUÍSTICA (Linguística Alemã) 2011 ii Agradecimentos Gostaria de deixar aqui os meus sinceros agradecimentos a um conjunto de pessoas, sem as quais não teria sido possível realizar a presente dissertação. Em primeiro lugar, quero expressar o meu reconhecimento e a minha profunda gratidão à Professora Doutora Maria Clotilde Almeida por continuar a acreditar em mim e nas minhas capacidades. Agradeço as suas orientações e ensinamentos sábios e preciosos assim como a sua dedicação, amizade e apoio incessante. A sua competência científica aliada à excelente capacidade de comunicar e transmitir essa sapiência fez com que todos os nossos seminários tivessem sido momentos de aprendizagem e de descoberta enriquecedores e motivadores. A Professora é uma verdadeira inspiração, em todos os domínios! Quero igualmente agradecer ao Professor Doutor Per Aage Brandt cujos comentários representaram um valioso e estimulante contributo para a feitura da presente dissertação. Aquando das nossas conversas, pessoais ou via e-mail, senti-me privilegiada por poder discutir questões diversas no âmbito do paradigma semiótico-cognitivo, sendo que estou especialmente grata pelo incentivo e encorajamento que sempre me transmitiu. Também quero expressar um profundo e sentido agradecimento à minha família que se mobilizou para que este projecto pudesse chegar a bom porto. À minha querida filha Catarina e aos melhores pais do mundo, Luís e Minda, estou grata pelo amor e carinho, pelo apoio inabalável e incondicional durante todo o período de elaboração da presente tese. Estou segura que não teria sido possível concretizar este projecto sem a sua ajuda. À minha irmã Belisa, ao meu sobrinho André e ao meu cunhado António José, expresso o meu reconhecimento pelas suas palavras e gestos de apoio e de estímulo. Bem hajam! Por último, à minha alma gémea, Sérgio, o meu porto seguro, meu apoio constante, minha fonte de informação, particularmente nas questões relacionadas com o futebol, meu ombro e ouvido compreensivo e paciente… em suma, agradeço ao meu amor por tudo, em todos os aspectos! Deixo uma última palavra de agradecimento a todos os amigos e colegas especialmente à Isabel e ao Henrique, assim como à ‘minha’ Escola, a Escola Secundária João de Barros, também na pessoa do seu Director Manuel Porfírio que, de forma directa ou indirecta, me ajudaram a concretizar este projecto. i iii Resumo A presente dissertação visa o estudo semiótico dos mapeamentos conducentes a imagens metafóricas vigentes na imprensa alemã (Bild, Sportbild, Kicker, Spiegel, Focus), com especial incidência nas suas versões on-line, durante os Campeonatos Europeus e Munidas de Futebol de 2006 a 2010 à luz do modelo dos espaços mentais de Brandt (2004a) Brandt/Brandt (2005a). Na senda de outros trabalhos de estudo das construções metafóricas e mescladas na imprensa desportiva portuguesa (Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011); Almeida, Órfão, Teixeira (2010); Almeida, Sousa (2010)), a presente dissertação debruça-se sobre as ocorrências metafóricas elaboradas a partir dos mapeamentos dos diversos domínios-fonte da experiência para o domínio-alvo dos eventos futebolísticos, tendo por objectivo elencar o conjunto de imagens presentes nos textos jornalísticos alemães. Tomando como ponto de partida a metáfora conceptual e convencional de DESPORTO É GUERRA” (Lakoff/Johnson, 1980a), analisaremos a panóplia de entrecruzamentos dos diversos mundos no mundo do futebol, numa dupla abordagem qualitativa e quantitativa, por forma a aquilatar a relevância das diversas imagens mescladas na representação dos eventos futebolísticos e dos seus protagonistas, os jogadores de futebol, na imprensa alemã. Palavras-chave: semiótica cognitiva, mesclagens na imprensa desportiva alemã; metáforas no futebol ivii Abstract This work aims to analyse, in the light of the mental space network advanced by Brandt (2004a) and Brandt/Brandt (2055a), metaphorical mappings that lead to blended constructions, which are used pervasively in the German sport newspapers. Our corpus was extracted from the German newspapers Bild, Sportbild, Kicker, Spiegel and Focus in their paper and online versions, between 2004 and 2010, focussing primarily on the four major football events: two European and two World Championships. Following the footsteps of several previous studies about metaphor and metonymy in German and Portuguese sports papers (Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011); Almeida, Órfão, Teixeira (2010); Almeida, Sousa (2010)), we focused on the metaphorical constructions and their underlying conceptual processes because we believe that the identified metaphors, rooted in several different domains of our experience, reflect the way in which we apprehend and structure social and cultural realities. Taking the conceptual metaphor “SPORT IS WAR” (Lakoff/Johnson, 1980a) into account, we will expand our analysis and study, from a qualitative as well as a quantitative point of view, all the identified blended constructions in which a vast array of ‘worlds’ are conceptually projected onto the ‘world of football’. Based on our findings, we will then assess the relevance of those blended images in the overall representation of the football event and its participants, namely the football players, as architectured by the German sports papers. Keywords: cognitive semiotics, blended images in the German sports papers; football metaphors. iii v ÍNDICE Página 0. Introdução 4 1. Postulados Teóricos da Semântica e da Semiótica Cognitiva 6 1.1. Fundamentos da Semântica Cognitiva em textos alemães de 7 Linguística 1.2. Postulados Gerais da Semântica Cognitiva 32 1.3. Da Teoria da integração conceptual à Teoria das redes de 54 espaços mentais 1.3.1. Teoria de integração conceptual 54 1.3.2. Teoria de redes de espaços mentais 70 1.3.3. Os Domínios Semânticos 81 2. Teoria de redes de espaços mentais Estado da Arte do estudo 90 das imagens mescladas na imprensa desportiva 2.1. A Metáfora no mundo do futebol 2.2. Imagens mescladas nos jornais desportivos, abordagem 90 109 semiótica 2.2.1. Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 109 2011), Imagens mescladas nos jornais desportivos internacionais – abordagem qualitativa 2.2.2. Almeida, Órfão, Teixeira (2010), marcas de oralidade nos 123 jornais desportivos portugueses e alemães – abordagem qualitativa e quantitativa 2.2.3. Almeida, Sousa (2010), Imagens mescladas nos jornais 127 desportivos portugueses e alemães - abordagem qualitativa 2.2.4. A relevância da relevância (Almeida, 2011, a publicar) 3. 131 2.3. Algumas observações conclusivas 132 Análise semiótica das imagens mescladas nos jornais desportivos 134 alemães 3.1. Linhas mestres da investigação 134 1 3.1.1. Breve história do futebol e os media 141 3.1.2. A recolha do corpus 148 3.2. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães – 153 abordagem qualitativa 3.2.1. Imagens mescladas: Futebol – Guerra, Violência e Morte 156 3.2.2. Imagens mescladas: Futebol – Forma Artística 245 3.2.3. Imagens mescladas: Futebol – Máquina 283 3.2.4. Imagens mescladas: Futebol – Jogo (outras modalidades 301 desportivas e jogos de sorte) 3.2.5. Imagens mescladas: Futebol – Religião e Mitologia 325 3.2.6. Imagens mescladas: Futebol – Alimentação e Agricultura 354 3.2.7. Imagens mescladas: Futebol – Trajectória 373 3.2.8. Imagens mescladas: Futebol – Construção/Destruição 387 3.2.9. Imagens mescladas: Futebol – Animal 402 3.2.10. Imagens mescladas: Futebol – Realeza 419 3.2.11. Imagens mescladas: Futebol – Cultura e Tourada 430 3.2.12. Imagens mescladas: Futebol – Fenómeno Natural 453 3.2.13. Imagens mescladas: Futebol – Objecto Valioso 466 (e brilhante) 3.2.14. Imagens mescladas: Futebol – Empresa 476 3.2.15. Imagens mescladas: Futebol – Cima / Baixo 484 3.2.16. Imagens mescladas: Futebol - Corpo Humano 493 3.2.17. Os restantes domínios-fonte 506 3.2.17.1. Imagens mescladas: Futebol - Magia 506 3.2.17.2. Imagens mescladas: Futebol - Meio Escolar 508 3.2.17.3. Imagens mescladas: Futebol - Mal-Estar Físico e 511 Doença 3.2.17.4. Imagens mescladas: Futebol - Sonho 513 3.2.17.5. Imagens mescladas: Futebol - Arrumação e Limpeza 517 3.2.17.6. Imagens mescladas: Futebol - Calor (Fogo) e Frio 519 (Gelo) 3.2.17.7. Imagens mescladas: Futebol - Costura, Vestuário e 522 Acessório 3.2.17.8. Imagens mescladas: Futebol - Caça 525 2 3.2.17.9. Imagens mescladas: Futebol - Comunicação 527 3.2.17.10. Imagens mescladas: Futebol - Acontecimento 530 Histórico 3.2.17.11. Imagens mescladas: Futebol - Aprisionamento/ 534 Libertação 3.2.17.12. Imagens mescladas: Futebol - Navio 536 3.2.17.13. Imagens mescladas: Futebol - Sono 538 4. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães – abordagem 541 quantitativa 4.1. Distribuição de Ocorrências por Campeonato 542 4.2. Os 29 domínios-fonte 543 4.3. A distribuição dos domínios-fonte por campeonato 546 5. Observações finais 555 Bibliografia 557 3 0. Introdução A leitura de jornais desportivos proporciona ao leitor atento um deleite muito especial, motivado pela riqueza imagética das arquitecturas conceptuais das notícias desportivas, construídas a partir de um vasto conjunto de mapeamentos tomando como ponto de partida os mais diversos domínios da experiência física, social e cultural quotidianas. A análise semiótica de mesclas metafóricas resultantes dos cruzamentos conceptuais entre o mundo futebol e outros mundos, à luz de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), constitui, assim, o terreno ideal para a desconstrução dos processos cognitivos subjacentes à representação dos eventos e dos intervenientes desportivos, considerados os heróis mais populares da época moderna. É inegável que as representações metafóricas constituem uma ferramenta por demais poderosa, na medida em que a riqueza das imagens mescladas torna o discurso jornalístico desportivo mais apelativo e emotivo, “Metaphors with animated imagery - where both the force-dynamic and the figurative aspects of the metaphorical scenario are strongly experienced - are potentially very effective rhetorically because their “juicy” imagery gives extra weight to the implicit evaluation expressed; the animated hyperbolic predication involved in such “juicy metaphors” generally yield a stronger emotional reaction than literal predication does.” (Brandt/Brandt, 2005a:222) sendo que activam esquemas mentais e cenários culturais partilhados por vastas comunidades linguísticas, tal como postulado nos estudos de Brandt : “(…) if an expression is indeed metaphorical, its immediate figurative meaning mediates a dynamic higher-order meaning (a compelling ‘meaning of meaning’, most often reflective, affective, and evaluative) to which the communicative agents will be sensitive.” (Brandt, 2005:1588) “(…) the mental architecture is in itself trans-culturally and trans-historically stable, which is our actual claim (…)” (Brandt, 2010e:28) O primeiro ponto desta dissertação, para além de abordar os postulados gerais do paradigma cognitivo, começa por identificar os alicerces da teoria da metáfora conceptual nas gramáticas alemãs da segunda metade do século XX. De entre as figuras proeminentes destaca-se Weinrich (1976), estudioso do fenómeno da metáfora ao longo de pelo menos duas décadas a partir dos anos 50. Especial atenção mereceu-nos, igualmente, Glinz (1994) cujo trabalho evidencia afinidades teóricas com o paradigma cognitivo, sobretudo no respeitante à interligação das representações simbólicas com a experiência física (1.1.). Enveredamos, em 4 seguida, pela explanação da metáfora à luz do paradigma cognitivo Lakoff/Johnson (1980a), Lakoff (1993, 2006b) (1.2.), imediatamente seguida pela exposição da teoria da integração conceptual preconizada por Fauconnier e Turner (2002) (1.3.1.). A enunciação do enquadramento teórico culmina com a explanação da teoria de redes de espaços mentais, advogada por Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), pondo em destaque a aplicabilidade deste modelo semiótico-cognitivo de índole pragmático à análise de todo o tipo de texto, sobretudo de textos jornalísticos desportivos (1.3.2.). O ponto dois apresenta uma resenha do estado da arte do estudo das imagens mescladas na imprensa desportiva. Fazemos referência aos trabalhos mais significativos no domínio da metáfora conceptual aplicada aos media desportivos internacionais, assim como aos estudos semiótico-cognitivos sobre mesclagens na imprensa desportiva desenvolvidos e publicados nos últimos dez anos, a saber: Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011) (2.2.1.); Almeida, Órfão, Teixeira (2010) (2.2.2.); Almeida, Sousa (2010) (2.2.3.); Almeida (2011, a publicar) (2.2.4.). O terceiro ponto da presente dissertação incide sobre a questão da constituição do corpus para análise (3.1.2.), não sem antes elaborarmos uma breve resenha acerca da história dos media e do futebol, bem como efectuarmos uma distinção entre terminologia técnica do futebol e imagens metafóricas cunhadas pelos media desportivos (3.1.1.). Sublinhe-se, contudo, que este ponto três envereda fundamentalmente por uma análise semiótica das imagens mescladas do corpus, mediante abordagem semântica qualitativa das realizações metafóricas construídas a partir dos vinte e nove domínios-fonte identificados (3.2.). Em face da necessidade de limitação da dimensão da dissertação, apenas os primeiros dezasseis domínios-fonte com o maior número de ocorrências merecem uma análise exaustiva e pormenorizada, enquanto os restantes são objecto de uma abordagem mais sintética (3.2.17.). Complementarmente à análise qualitativa, realizamos uma análise quantitativa das ocorrências recolhidas, com o propósito de sustentar as hipóteses avançadas na análise qualitativa, bem como de conferir visibilidade gráfica aos resultados obtidos. Sublinhe-se que a visualização dos gráficos permite descortinar frequências de uso no que respeita aos mapeamentos subjacentes às arquitecturas conceptuais vigentes no jornalismo desportivo alemão (4.). Por último, o quinto ponto condensa algumas observações finais ancoradas nas inúmeras conclusões parciais que fomos retirando ao longo do trabalho que entroncam necessariamente na questão da adequação do modelo de Rede de Espaços Mentais à análise das arquitecturas metafóricas mescladas. 5 1. Postulados Teóricos da Semântica e da Semiótica Cognitiva “Language — spoken, written or signed — is likely to be the main bridge between communication and cognition in our species. At one end of this bridge, we find a display of temporally or graphically linear flows of signs (’strings’) grouped into words and sentences that are shared, whether immediately or through mediating devices, by shifting speakers and hearers, as meaningful discourse — as debate, dialogue, monologue, or text. At the other end of the bridge, individual human agents are each in their singular, embodied, isolated minds attending to concrete or abstract personal or communal matters that call for thinking, imagining, feeling, planning, acting — and also call for being linguistically expressed. The result is the community of beings that communicate important parts of their thinking and which we call culture, civilisation, humanity.” (Brandt, 2008:1) 6 1.1. Fundamentos da Semântica Cognitiva em textos alemães de Linguística O paradigma cognitivo estabeleceu-se, aproximadamente, nos últimos 20 a 30 anos como uma abordagem interdisciplinar cujo objectivo é estudar o modus operandi das línguas naturais. Nasceu de um sentimento partilhado por alguns investigadores, na sua maioria, mas não exclusivamente, norte-americanos, de que as correntes linguísticas desenvolvidas até então não contemplavam cabalmente a complexidade e riqueza de uma língua viva. Esta necessidade de encontrar pressupostos teóricos tendo em vista a clarificação, de forma mais abrangente e dinâmica dos fundamentos cognitivos que subjazem ao uso linguístico do falante comum, traduziu-se numa corrente linguística aberta a todas as áreas da cognição humana. Segundo a mesma, a língua não se afigura tão-somente como um “objecto de análise” que pode ser descrito através de um conjunto de regras objectivas mas, principalmente, como uma forma de expressão de todas as experiências humanas, das mais básicas e elementares às mais complexas. A língua é assim parte integrante das nossas capacidades cognitivas, sendo motivada pela experiência humana. Daí que a língua seja encarada como um sistema aberto e intersubjectivo que evidencia a correlação entre a realidade física (condicionada pela experiência de nós próprios, pelo mundo exterior e a nossa relação com esse mundo) e os processos e estratégias mentais essenciais para a aquisição e correcto uso da mesma. Por estratégias mentais entende-se a organização mental do sistema linguístico, por exemplo, através de processos de categorização e da criação de imagens, modelos e esquemas mentais. A semântica cognitiva defende, portanto, que o conhecimento semântico não se baseia de forma alguma num sistema autónomo (tal como defendido pela semântica estruturalista) porque depende de um conjunto de factores, tais como o conhecimento de mundo que abarca a dimensão cultural e as experiências individuais e colectivas. Mais ainda, é realçada a importância do contexto situacional (oral ou escrito) que assume a função de “filtro semântico” (Jackendoff, 1992), pois é através do contexto que é feita a selecção da significação de um determinado item lexical. Este processo de selecção pressupõe a existência de uma espécie de dicionário mental que cada locutor possui, e que, por sua vez, é parte integrante dos já referidos modelos mentais, com os quais se organiza todo o conhecimento. São geralmente considerados autores mais representativos da primeira vaga de estudos em semântica cognitiva os linguistas norte-americanos Lakoff, Johnson, Langacker e Geeraerts. Mas muitos outros autores têm dado o seu contributo para o desenvolvimento 7 deste paradigma, tal como Rosch, no âmbito da psicologia cognitiva e da teoria do protótipo, assim como Johnson e Gibbs na área dos esquemas imagéticos, para só referir alguns. Há que salientar, contudo, que a semântica cognitiva não surgiu do nada, ou seja, os autores acima mencionados basearam-se em desenvolvimentos anteriores, entre os quais destacamos o enquadramento semântico desenvolvido por Fillmore1, que contextualizou o significado linguístico em cenas e “frames”. Para além deste autor, na história da linguística e até da filosofia encontram-se outras vertentes teóricas que veiculam a ideia que o significado está intimamente ligado à conceptualização da realidade, realçando a existência de um elo entre os mecanismos linguísticos e os da cognição humana. Destaque-se que Aristóteles constitui o mais antigo marco no estudo da linguagem relacionada com a percepção e o conhecimento, principalmente no que concerne o regresso à orientação hermenêutica do estudo semântico, como também aos princípios de categorização propostos pelo mesmo (qualificação aristotélica de categorias em termos de atributos essenciais e atributos acidentais). É assim possível afirmar que esta distinção aristotélica serviu de ponto de partida para a posterior elaboração da teoria do protótipo. Teixeira2 destaca, por exemplo, as concepções de Anton Reichling (dos anos trinta e quarenta do século XX), que defendia claramente que a noção de significado e consequente categorização está necessariamente ligada aos processos mentais: “A própria noção de categoria aparece, em Reichling, como ponto fulcral da estruturação semântico-cognitiva. As categorias são construções mentais estruturadoras da realidade linguística (...)” (cf. Teixeira – op. cit., 2001:37) É, contudo, no estudo da metáfora (uma das principais vertentes da semântica cognitiva) que se encontra um vasto número de textos de origem europeia, e principalmente alemã, precursores da semântica cognitiva norte-americana, tal como Jäckel faz questão em realçar: “Aus den metapherntheoretischen Schriften Lakoffs und Johnsons könnte ein unbedarfter Leser den Eindruck gewinnen, die kognitive Metapherntheorie sei den Autoren Anfang der achtziger Jahre eingefallen, ohne dass es dafür irgendwelche Vorläufer gäbe, an die es anzuknüpfen lohnte. Das folgende Kapitel soll zeigen, dass dem keineswegs so ist. In der europäischen Philosophie und Sprachwissenschaft gibt es seit dreihundert Jahren diverse Ansätze, die wesentliche Thesen und Erkenntnisse der kognitiven Metapherntheorie vorwegnehmen.” (Jäckel, 1997:121) 1 2 Fillmore, 1968, 1977, 1982 Teixeira, José, “A verbalização do espaço: modelos mentais de frente/trás”, 2001:34-45 8 Jäckel encontrou indícios de que, já na primeira metade do século XIX, gramáticos como Wüllner e Hartung encaravam a metáfora segundo uma perspectiva de cariz cognitivo: “Eine eigene Untersuchung wäre zum Beispiel allein das Verhältnis zwischen lokalistischer Grammatiktheorie und Kognitiver Linguistik wert. Lokalisten wie Anderson (1971) und ihre deutschsprachigen Vorläufer Wüllner (1827) und Hartung (1831) konstituieren schon für sich eine eigene Ahnennreihe für den kognitiven Ansatz, indem sie – zumindest programmatisch - wesentliche Elemente der kognitiven Metapherntheorie vorwegnehmen, wie das folgende Zitat zeigt: «Unsere Wahrnehmung geschieht theils durch die Sinne theils durch den Geist. Die sinnliche Wahrnehmung geht überall voran: dieser dient darum auch die Sprache früher als der geistigen. Vermöge der Analogie des Geistigen und des Sinnlichen wird dann das Wort auf die geistige Wahrnehmung übertragen. Denn das Volk bildet, wie die Dichter, die Sprache durch Metaphern weiter. Gleichwie es darum keinen sinnlichen Ausdruck gibt, der nicht auf geistige Wahrnehmung übertragen werden könnte, so, behaupten wir, gibt es auch keine Bezeichnung geistiger Dinge, die nicht von sinnlichen abgezogen wäre. Wo demanch sinnliche Anwendung neben der metaphorischen vorhanden ist: da ist ohne Bedenken von jener auszugehen.» (Hartung, 1831 apud Jäckel, 1997:122123) Para além de fazer referência aos linguistas alemães Hermann Paul, Karl Bühler, Jost Trier, Walter Porzig e Franz Dornseiff e aos filósofos e antropólogos de expressão alemã Max Müller, Ernst Cassirer e Arnold Gehlen, Jäckel destaca os filósofos Immanuel Kant, Hans Blumenberg e o linguista Harald Weinrich, em virtude dos seus contributos substanciais no desenvolvimento do estudo cognitivo da metáfora. Jäckel considera que Kant, na sua Crítica da Razão Pura (1781/87) explora a dualidade, i.e. a relação de complementaridade entre representação simbólica (ou o pensamento em termos de representações linguísticas) e a percepção (ou experiência sensorial) - “begriffliches Denken und sinnliche Anschauung”. Ao reconhecer a existência de conceitos para os quais não é possível encontrar equivalentes perceptíveis, ou seja, conceitos abstractos que não encontram correspondência directa no mundo físico e concreto, atribui à metáfora o poder cognitivo de conceptualizar conceitos abstractos: “Nun gibt es aber Begriffe, denen keine sinnliche Anschauung direkt entspricht. Diese müssen indirekt “Versinnlicht” werden, und genau hierin liegt nach Kant die kognitive Leistung der Metapher. (…) Kant spricht von Analogie, verstanden als «Übertragung der Reflektion über einen Gegenstand der Anschauung auf einen ganz anderen Begriff, dem vielleicht nie eine Anschauung direkt korrespondieren kann». Dies ist das kantische Pendant zu Lakoffs und Johnsons kognitv-konzeptueller Metapherndefinition, verbunden mit einer 9 Notwendigkeitsthese und einer erkenntnistheoretischen Begründung der metaphorischen Unidirektionalität: Begriffe, denen keine sinnliche Anschauung direkt entspricht, werden vermittels analogischer Übertragung epistemisch erschlossen.” (Jäckel, 1997:125-126) Em outras obras suas, Kant afirma que esta projecção metafórica (ou “Analogie”) para a conceptualização de conceitos abstractos se serve de imagens mentais: “Wir mögen unsere Begriffe noch so hoch anlegen, und dabei noch so sehr von der Sinnlichkeit abstrahieren, so hängen ihnen doch noch immer bildliche Vorstellungen an, deren eigentliche Bestimmung es ist, sie, die sonst nicht von der Erfahrung abgeleitet sind, zum Erfahrungsgebrauche tauglich zu machen.” (Kant, Was heißt: sich im Denken orientieren, (1786:267) apud Jäckel, 1997:126) Nesta base, Kant postula que, por exemplo, o conceito abstracto de ESTADO é conceptualizado através do conhecimento concreto de uma MÁQUINA. Convém notar que não se pretende com este exemplo demonstrar que o ESTADO é objectivamente uma MÁQUINA, pelo contrário, o seu contributo cognitivo vai exactamente no sentido de reconhecer a existência de características funcionais semelhantes em ambos os domínios (o de fonte e o domínio-alvo) que permitem esta “Analogia qualitativa”: “Metapherntheoretisch besonders verdienstlich erscheint schließlich Kants Feststellung, daß eine Ähnlichkeit nicht etwa «zwischen einem despotischen Staate und einer Handmühle», also «objektiv» zwischen Zielbereich und Ursprungsbereich der Übertragung vorliege, «wohl aber zwischen der Regel, über beide und ihre Kausalität zu reflektieren»: Die Reflexion per konzeptueller Metapher konstruiert erst Ähnlichkeiten im Sinne von Analogieverhältnissen zwischen Bestandteilen und ihren funktionalen Zusammenhängen im Zielbereich und im Ursprungsbereich.” (Jäckel, 1997:126-127) Só é possível estabelecer estas analogias porque o ser humano possui, também segundo Kant, por um lado, a capacidade imaginativa e, por outro, um esquema conceptual de imagens mentais essenciais para os processos de conceptualização. Desta forma, é possível considerar Kant como precursor dos conceitos de “imaginative capacity” e de “image schemata” preconizados por Johnson, 1987. “In enger Anlehnung an Kant, der in der Kritik der reinen Vernunft (1781) den Begriff des transzendentalen Schemas als Vermittlungsgröße zwischen reinem Verstandesbegriff und sinnlicher Anschauung einführt (Kant 1781:196ff), betont Johnson (1987:29) die Mittelstellung der Vorstellungs-Schemata (…)” (Jäckel, 1997:33) 10 Também o filósofo alemão Hans Blumenberg (1920-1996) publicou várias obras nas quais desenvolve uma teoria da metáfora de cariz cognitivo. Assim sendo, Jäckel (1997:128131) afirma que o seu contributo foi determinante na medida em que: - postula que a metáfora não é um mero recurso estilístico ao serviço de uma dada especialidade. A metáfora faz parte da língua do dia-a-dia do falante comum; - procura encontrar no estudo das metaforizações as estruturas cognitivas que lhes subjazem (“Bodenstruktur der Gedankenbildungen” Blumenberg, 1960:64 apud Jäckel 1997:129)); - reconhece nessas subestruturas cognitivas modelos mentais, que servem para orientar e organizar conceitos (processo este que normalmente decorre de forma inconsciente); - estabelece uma ligação entre a metáfora, as nossas experiências e os modelos culturais; - destaca metáforas conceptuais cujas projecções são feitas a partir de domínios concretos para domínios abstractos, tais como: a verdade é luz; o tempo é um espaço; documentos históricos são fontes; a vida é uma viagem marítima. Convém sublinhar, porém, que o maior contributo para o desenvolvimento de uma teoria da metáfora de índole cognitiva foi dado, sem dúvida, pelo linguista alemão Harald Weinrich. A sua obra “Sprache in Texten” de 1976 condensa um conjunto de estudos anteriores, a saber, “Münze und Wort. Untersuchungen an einem Bildfeld” (1958), “Semantik der kühen Metapher” (1963), “Metaphora memoriae” (1964), “Allgemeine Semantik der Metapher” (1967) e “Streit um Metaphern” (1976), que se afiguram precursores do paradigma cognitivo. Weinrich inicia a sua reflexão ao afirmar que, até então, ainda não tinha encontrado nenhuma abordagem teórica que, a seu ver, fizesse jus ao fenómeno da metáfora: não podendo ser reduzida a um mero ornato estilístico, a metáfora é produto de uma concepção do mundo (“sprachliches Weltbild”). Embora esta concepção do mundo seja construída por cada indivíduo a partir da sua experiência individual, é moldada por factores ‘colectivos’ tais como a língua, a cultura, fenómenos sociais em geral, o que leva a crer que as imagens são partilhadas por uma dada comunidade linguística e cultural: “Und doch kann die außerordentlich weite Übereinstimmung im Metapherngebrauch bei den Angehörigen eines Kulturkreises, zumal einer Epoche, schwerlich auf Zufall beruhen. Der Einzelne steht immer schon in einer metaphorischen Tradition, die ihm teils durch die Muttersprache, teils durch die Literatur vermittelt wird und ihm als sprachlich literarisches Weltbild gegenwärtig ist.” (Weinrich, 1976:277-278) 11 Porém, a metáfora não se inscreve apenas neste eixo diacrónico, mas principalmente num eixo sincrónico, o que leva Weinrich a defender a existência de campos conceptuais - “Bildfelder”. Através de vários exemplos, tais como “Wortschatz” ou “Pfennigwahrheiten” afirma: “Sie steht jedoch nicht nur – diachronisch – in einem linearen Traditionsstrang, sondern auch – synchronisch – in sprachinternen Zusammenhängen mit anderen Metaphern, die deskriptiv-systematisch dargestellt werden können.” (Weinrich, 1976:279) “(…) denn diese Metapher ist nicht isoliert. Sie steht seit ihrer Geburt in einem festgefügten Bildfeld. Das zu zeigen, ist Aufgabe der synchronischen Metaphorik.” (Weinrich, 1976:282) Assim, o campo conceptual de “Wortmünze” equivaleria para Lakoff/Johnson (1980) à metáfora conceptual de “a linguagem é valor monetário”. Neste sentido, Weinrich aponta igualmente para a existência de duas áreas semânticas - “Sinnbezirke” - entre as quais se estabelece uma analogia. É este entrosamento de domínios que dimensiona a metáfora: “(...) und ich benutze ihn [den Begriff des Bildfeldes] in Analogie zu dem in der Linguistik bekannten Begriff des Wortfeldes oder Bedetungsfeldes. Im Maße, wie auch das Einzelwort in der Sprache keine isolierte Existenz hat, gehört auch die Einzelmetapher in den Zusammenhang ihres Bildfeldes. Sie ist eine Stelle im Bildfeld. In der Metapher „Wortmünze” ist nicht nur die Sache ,Wort’ mit der Sache ,Münze’ verbunden, sondern jeder Terminus bringt seine Nachbarn mit, das Wort den Sinnbezirk der Sprache, die Münze den Sinnbezirk des Finanzwesens. In der aktuellen und scheinbar punktuellen Metapher vollzieht sich in Wirklichkeit die Koppelung zweier sprachlicher Sinnbezirke. (…) Entscheidend ist nur, daß zwei sprachliche Sinnbezirke durch einen sprachlichen Akt gekoppelt und analog gesetzt worden sind.” (Weinrich, 1976:283) Mais ainda, é feita uma clara distinção entre o domínio-fonte “bildspendendes Feld” e o domínio-alvo “bildempfangendes Feld”. A metáfora e o respectivo campo imagético só podem existir se houver um cruzamento dos respectivos domínios: “Denn konstitutiv für die Bildfelder ist ja, daß zwei Sinnbezirke durch einen geistigen, analogiestiftenden Akt zusammengekoppelt sind. (...) Erst durch die Stiftung des Bildfeldes wird der eine Sinnbezirk zum bildspendenden Feld, der andere zum bildempfangenden Feld. (…) Solange man nicht das bildspendende Feld und das bildempfangende Feld gleichzeitig im Auge hat, ist von Metaphorik gar nicht die Rede. Es gibt daher auch keine abstrakte Metaphorik, sondern nur die konkreten Bildfelder eines Kulturkreises.” (Weinrich, 1976:284) Weinrich reconhece igualmente que nem todas as metáforas se integram num campo conceptual e admite que, graças ao poder imaginativo do ser humano, é possível ‘criar’ uma 12 metáfora isolada ou totalmente arbitrária. Afirma, contudo, que essas metáforas são raras, exactamente devido ao facto de não serem partilhadas por uma comunidade linguística ou cultural, i.e. de não serem convencionalizadas: “Steht jede Metapher in einem Bildfeld? Das wäre bei weitem zu viel gesagt. Denn jedes Wort kann metaphorische Bedeutung annehmen, jede Sache kann metaphorisch bezeichnet werden, und der Phantasie sind keine Grenzen gesetzt. Die beliebige, isolierte Metapher ist allezeit möglich. Aber sie ist seltener, als man denkt, und – was wichtiger ist – sie hat gewöhnlich keinen Erfolg bei der Sprachgemeinschaft. Die Sprachgemeinschaft will eine integrierte Metapher, vornehmlich (aber nicht ausschließlich) für den Bereich der inneren Erfahrung. Die in einem Bildfeld integrierte Metapher hat alle Aussichten, von der Sprachgemeinschaft angenommen zu werden, und die Sprachmeister wissen das.” (Weinrich, 1976:28) A metáfora emerge dum contexto mais vasto, o contexto cultural, o que leva a inferir que a maioria dos campos imagéticos é partilhada culturalmente por comunidades linguísticas mais vastas: “Die konkreten Bildfelder sind wohl kaum Allgemeinbesitz der Menschheit, aber auch nicht exklusiver Besitz der Einzelsprache (Muttersprache). Sie gehören zum sprachlichen Weltbild eines Kulturkreises. Ein Wort prägen: man kann diese Metapher gefahrlos in unsere Nachbarsprachen übersetzen (...) Die Inhalte sind verschieden, aber die metaphorische Analogiestiftung ist identisch. Es gibt eine Harmonie der Bildfelder zwischen den einzelnen abendländischen Sprachen. Das Abendland ist eine Bildfeldgemeinschaft.” (Weinrich, 1976:287) Mas Weinrich ainda avança um pouco mais no sentido de aceitar a possível existência de universais cognitivos, muito na linha dos modelos cognitivos idealizados de Lakoff3 (“ICMs”), ao admitir que alguns campos conceptuais são construídos a partir de experiências antropomórficas, partilhadas por cada ser humano: “Bildfelder also, (...) gehören zum semantischen Bestand der einzelnen Sprachen und sind diesen sogar häufig über die Sprachgrenzen hinweg gemeinsam, soweit es sich nämlich um die Sprachen eines mehr oder weniger geschlossenen Kulturkreises handelt. Ich will nicht einmal ausschließen, daß es auch zwischen verschiedenen Kulturkreisen überraschend ähnliche Bildfelder gibt, die dann wohl gewisse anthropomorfische Grunderfahrungen des ganzen Menschengeschlechts zum Ausdruck bringen.” (Weinrich, 1976:335) 3 Lakoff, 1982:164ff; 1987:68ff 13 Tentar-se-á, de seguida, esquematizar o processo de metaforização proposto por Weinrich: KULTURKREIS(E) BILDFELD bildempfangendes bildspendendes Feld Sinnbezirk A Kontext METAPHER Bildspanne Feld Sinnbezirk B Figura 1: Processo de Metaforização segundo Weinrich Jäckel (1997:139) propõe uma tabela de equivalências relativamente à terminologia utilizada por Weinrich e por Lakoff/Johnson, a saber: Weinrich: Bildfeld → Lakoff/Johnson: konzeptuelle Metapher Weinrich: Metapher → Lakoff/Johnson: metaphorischer Ausdruck Weinrich: (hypothetisches) Denkmodell → Lakoff/Johnson: kognitives Modell (ICM) Weinrich: bildspendendes Feld → Lakoff/Johnson: Ursprungsbereich Weinrich: bildempfangendes Feld → Lakoff/Johnson: Zielbereich Em síntese, Weinrich enfatiza a necessidade de um estudo sistemático de cada um dos campos imagéticos existentes e das relações entre estes, o que indica uma clara preocupação semântico-cognitiva. Note-se que neste esquema, as linhas que circundam o domínio-fonte A e o domínio-alvo B estão propositadamente tracejadas para respeitar a ideia das fronteiras 14 fluidas entre estes campos, assim como está igualmente representada uma área comum para ilustrar a possível intersecção parcial dos mesmos4: “Wer eine allgemeine, materiale Metaphorik geben will, muß sie [Bildfelder] aufzählen, monographisch beschreiben und sagen, wie sie sich zueinander Verhalten. Denn die Bildfelder der Sprache liegen nicht sauber geschieden nebeneinander, sondern sie überlagern sich teilweise und haben bisweilen einzelne Metaphernstellen gemeinsam.” (Weinrich, 1976:285-286) A separação ou distância entre os dois campos conceptuais é para Weinrich a “Bildspanne” (1976:298), ou seja, a distância entre os significados (ou melhor, significados prototípicos) de cada palavra. Tomemos um exemplo apresentado por Weinrich: “Redefluß” (1976:300). A palavra “Rede” evoca um determinado significado da mesma forma como “Fluß” o faz. Aparentemente, não existe qualquer ligação entre ambos os significados e, quando estas palavras aparecem isoladamente, não nos ocorrem os possíveis traços semânticos que possam ter em comum. Somos assim levados a pensar, tal como o fizeram, por exemplo, Aristóteles e Ullmann, que a união de palavras semanticamente tão díspares aumenta a chamada “tensão semântica” (“Spannung”, Weinrich 1976:301/2) assumindo a metáfora um carácter mais “arrojado”, de “qualidade superior” (“kühne Metapher”). Contudo, Weinrich opõe-se categoricamente a esta ideia: “Dürfen wir dann auch dem Gesetz zustimmen, daß eine Metapher um so kühner und folglich um so besser ist, je größer der Realabstand der in der Metapher verbundenen Glieder ist? Wir dürfen es nicht. Dieses Gesetz, auch wenn man seine Voraussetzungen akzeptiert, ist falsch. Um es zu widerlegen, brauchen wir nur unsere gewöhnlichen Erfahrungen im Umgang mit Sprache durchzumustern. Wir benutzen auf Schritt und Tritt in unserer alltäglichen Rede Metaphern, die nach diesem Gesetz die allerkühnsten wären, weil sie äußerste Weiten überbrücken. (…) Metaphern gerade dieser Art, die Stoffliches und Geistiges verbinden, sind so häufig, daß wir uns in unserer Rede anstrengen müssen und oft genug vergeblich, wenn wir sie vermeiden wollen. Es ist fast kühner, solche Metaphern zu 5 vermeiden als zu verwenden.” (Weinrich, 1976:300) Nesta base, Weinrich defende que existe uma lógica interna da metáfora e que essa lógica se fundamenta num aparente sentimento de contradição que a metáfora suscita. Não é, contudo, 4 Fluidez e sobreposição (“Overlapping”) semelhante à que se assiste na definição das categorias lexicais: “Die Bildfelder teilen alle semantischen Merkmale mit den Bedeutungsfeldern, sie lassen sich auffassen als die Verbindung jeweils zweier Bedeutungsfelder. Haben die beteiligten Bedeutungsfelder unscharfe Grenzen, so sind auch die Grenzen der Bildfelder unscharf.” (Weinrich, 1976:326) 5 De realçar a proximidade que existe entre Weinrich: “Wir benutzen auf Schritt und Tritt in unserer alltäglichen Rede Metaphern” e os princípios defendidos por Lakoff e Johnson em “Metaphors we live by” (1980) 15 a “Bildspanne” que determina se o sentimento de contradição é superior ou inferior, mas sim a relação que a metáfora estabelece com a realidade, com a experiência vivida por cada ser humano. Weinrich explica através de um exemplo retirado de um poema de Paul Celan: “schwarze Milch”: “Mir scheint, hier zeigt sich ein bestimmtes Verhältnis zur Realität. Wenn sich eine Wortfügung mühelos mit der sinnlichen Welt in Einklang bringen läßt, nehmen wir sie ohne weiteres hin: weiße Milch. Wenn sich eine Wortfügung sehr weit von der sinnlich erfahrbaren Realität entfernt und sehr verschiedene Gegenstände verbindet, etwa Stoffliches und Geistiges, nehmen wir sie auch ohne Zögern hin: traurige Milch. Von dieser Art sind unsere alltäglichsten Metaphern. Wenn aber eine Wortfügung um ein geringes von den Erfahrungen der sinnlich erfahrbaren Realität abweicht, dann nehmen wir den Widerspruch stark wahr und empfinden die Metapher als kühn: schwarze Milch.” (Weinrich, 1976:305) Convém assinalar ainda que, na sua óptica, a metáfora também depende do contexto, tal como foi referenciado no esquema: “Denn Metaphern kommen in lebendiger Rede nicht isoliert vor, sondern stehen immer in einem Kontext.” (Weinrich, 1976:311). Este poder de determinação contextual - “Kontextdetermination” - deve ser tido em conta não apenas nos textos, mas também no âmbito das relações com outras metáforas, com outros campos conceptuais, o que nos remete de novo para o conceito da metáfora conceptual: “Es kommt hier ein anderer Gesichtspunkt hinzu. Nicht nur vom Gegenstand der Beschreibung her ist die Metapher stark kontextdeterminiert, sondern auch von anderen Metaphern her. (…) Die stärksten Stützen einer Metapher sind dabei die metaphorischen Nachbarn, wenn sie aus dem gleichen Bildfeld stammen. Also auch das Bildfeld als die semantische Heimat einer Metapher ist zu berücksichtigen.” (Weinrich, 1976:312-313) É imprescindível referir ainda o carácter unidireccional da metáfora que Weinrich também reconhece, nomeadamente, quando refere campos conceptuais já convencionalizados: “Es [Umkehrbarkeit] gilt jedoch nicht ebenso selbstverständlich für die Bildfelder, die als traditionelle und soziale Gebilde gewöhnlich einsinnig sind. (...) Die Metapherntradition hat hier einer Metaphernrichtung den Vorzug gegeben, und mit dieser Gerichtetheit hat sich die Metapher zum Bildfeld entfaltet, ist zu einer nicht mehr stilistischen, sondern sprachlichen Realität geworden.” (Weinrich, 1976:315) 16 Acreditamos que as posições de Weinrich aqui apresentadas demonstraram que este deverá ser aceite como um precursor da semântica cognitiva e que as suas reflexões constituem um valioso contributo para o desenvolvimento deste paradigma. Numa pequena reflexão sua mais recente (“Einige Kategoriale Überlegungen zur Leiblichkeit und zur Lage der Sprache” 1995), Weinrich tece algumas considerações sobre o pressuposto cognitivo da corporização da conceptualização (“Thought is embodied” – Lakoff (1987))6. Weinrich aborda a importância do corpo, da fisionomia humana e do posicionamento físico aquando de um acto comunicativo, nomeadamente em contexto de diálogo (“kommunikative Dyade” (1995:409)): “Die conditio humana ist in dieser Hinsicht eine conditio corporea. Die KommunikationsAnthropologie ist daher immer eine Anthropologie der Leiblichkeit, und eine Linguistik, die sich diese Sichtweise zu eigen macht, hat sich, um es mit einem Ausdruck Nietzsches (1966:III, 453) zu bezeichnen, «am Leitfaden des Leibes» zu orientieren.” (Weinrich, 1995:410) Retomando um dos princípios fundamentais do paradigma cognitivo - a conceptualização da realidade através de uma rede de imagens e modelos mentais – considerámos pertinente fazer alusão a Leo Weisgerber, por ter desenvolvido alguns estudos importantes neste mesmo domínio7. O ponto de partida das suas reflexões foi a tese de que o pensamento/raciocínio humano não se desenvolve directamente com base no mundo físico real, mas sim indirectamente através das imagens mentais que formamos desse mesmo mundo8. O domínio mais importante, que estabelece um elo de ligação entre o mundo 6 veja-se também Lakoff/Johnson (1999) Vide Weisgerber, Leo „Die inhaltbezogene Grammatik“, 1953; „Das Menschheitsgesetz der Sprache“, 1964; e „Die vier Stufen in der Erforschung der Sprachen“, 1963. 8 Muito no sentido da teoria de “Weltansicht” e “innere Sprachform” de Humbold: “Die Sprache ist nichts anderes, als das Komplement des Denkens, das Bestreben, die äußeren Eindrücke und noch dunkeln inneren Empfindungen zu deutlichen Begriffen zu erheben, und diese zu Erzeugung neuer Begriffe miteinander zu verbinden. (...) Die Sprache muß daher die doppelte Natur der Welt und des Menschen annehmen, um die Einwirkung und Rückwirkung beider aufeinander wechselseitig zu befördern; oder sie muß vielmehr in ihrer eigenen, neu geschaffenen, die eigentliche Natur beider, die Realität des Objekts und des Subjekts, vertilgen, und von beiden nur die ideale Form beibehalten. (...) Das heißt: es soll eine freie Übereinstimmung zwischen den ursprünglichen das Gemüt und die Welt beherrschenden Grundformen geben, die an sich nicht deutlich angeschaut werden können, die aber wirksam werden, sobald der Geist in die richtige Stimmung versetzt ist - eine Stimmung, die hervorzubringen gerade die Sprache, als ein absichtslos aus der freien und natürlichen Einwirkung der Natur auf Millionen von Menschen, durch mehrere Jahrhunderte, und auf weiten Erdstrichen entstandenes Zeugnis, als eine ebenso ungeheure, unergründliche, geheimnisvolle Masse, als das Gemüt und die Welt selbst, mehr, wie irgend etwas andres hervorzubringen imstande ist. So wenig das Wort ein Bild der Sache ist, die es bezeichnet, ebenso wenig ist es auch gleichsame eine bloße Andeutung, daß diese Sache mit dem Verstande gedacht, oder der Phantasie vorgestellt werden soll. Von einem Bilde wird es durch die Möglichkeit ist, sich unter ihm die Sache nach den verschiedensten Ansichten und auf die verschiedenste Weise vorzustellen; von einer solchen bloßen Andeutung durch seine eigne bestimmte sinnliche Gestalt unterschieden.Das Denken behandelt nie einen Gegenstand isoliert, und braucht ihn nie in dem Ganzen seiner Realität. Es schöpft nur Beziehungen, Verhältnisse, Ansichten ab, und verknüpft sie. Das Wort ist nun bei nicht bloß ein leeres Substratum, in das sich diese Einzelheiten hineinlegen 7 17 concreto dos objectos e o mundo mental individual, necessariamente subjectivo, é exactamente a língua, a “gedankliche Zwischenwelt” segundo Weisgerber: “Neben der Humboldtschen Konzeption von Sprache als Energeia steht hier bei Weisgerber, wieder an zentraler Stelle, ein weiterer Humboldtscher Begriff. Die sprachliche 9 Zwischenwelt ist, als zugleich `gedankliche Zwischenwelt' bzw. 'Denkwelt' (ebd., S. 14 ), nicht einfach Abbild der Welt der Sachen, sondern sie enthält „das Ergebnis der gedanklichen Verarbeitung dieser Welt. Es gehen also neben der Wirkung der 'Sachen' selbst auch die besonderen Gesichtspunkte und Wertungen in sie ein, die den Menschen bei seinem Beachten, Auffassen und Beurteilen der Erscheinungen leiten" (ebd., S. 13). Die Begriffe 'sprachliche Zwischenwelt' und `gedankliche Zwischenwelt' werden synonym verwendet, allerdings präzisiert Weisgerber seine Auffassung vom Verhältnis Denken — Sprache (!) dahingehend, Sprache als Energeia trage die gedankliche Auseinandersetzung der Sprachgemeinschaft als einer 'Erkenntnisgemeinschaft' mit ihrer Lebenswelt (vgl. ebd., S. 14). Aus der bereits referierten Einsicht, die Sprachgemeinschaft sei als Lebens- und Handlungsgemeinschaft dynamisch, leitet Weisgerber schließlich ab, auch die Zwischenwelt sei nicht statisch, in der Sprache aufgehoben, sondern „etwas Tätiges, Weiterwirkendes" (ebd., S. 14). Daraus wiederum folgert er, die Sprache stehe „in unmittelbarster Wechselwirkung mit allen Kräften des Menschen", sie sei „gebend wie nehmend [!] an all seinen Werken beteiligt" (ebd., S. 15), so daß sich 'Kulturschaffen' und Aufbau/Modifikation der Zwischenwelt in ihrer jeweiligen Form und in ihren jeweiligen Ergebnissen wechselseitig bedingten.“ (Dittmann, 1980:49-50) Note-se o destaque que Weisgerber atribui ao conceito lato de Lebenswelt como elemento dinâmico da interdependência entre a língua e mundo mental. A língua sintetiza e organiza os processos perceptivos e cognitivos ao fornecer uma estrutura ao pensamento. A metodologia seguida por Weisgerber propõe dois níveis analíticos: “Auf der gestaltbezogenen Betrachtungsstufe hat man sich mit der phonetischen und morphologischen Erscheinungsweise sprachlicher Formen zu beschäftigen, d.h. mit allem, was Träger geistiger Inhalte sein kann und was deshalb die unmittelbare empirische Grundlage aller Sprachforschung bildet. Auf der anschließenden inhaltsbezogenen Betrachtungsstufe hat man sich dann mit den geistigen Inhalten sprachlicher Formen zu beschäftigen, die sich in einer Sprachgemeinschaft konventionell stabilisiert haben und die der geistigen Zwischenwelt angehören. Diese geistigen Inhalte dürfen auf keinen Fall mit lassen, sondern es ist eine sinnliche Form (…).“ Wilhelm von Humboldt, Schriften zur Sprache, (Hrsg. Michael Böhler), Stuttgart 1973 in http://www.mauthner-gesellschaft.de/mauthnr/hist/humb.html [Consult. 16.10.2010] 9 Weisgerber, Leo (1949), Die Sprache unter den Kräften des menschlichen Daseins, 1. Aufl., Pädagogischer Verlag Schwann, Düsseldorf. 18 den tatsächlichen Sachen oder Sachverhalten verwechselt werden, auf die sich sprachliche Formen in der konkreten Sprachverwendung beziehen können, denn sie repräsentieren nur die Interpretationsmuster, mit denen die Welt des Seienden erfaßt werden soll. Die Sprachinhalte sind deshalb nach WEISGERBER auch nicht als bloße geistige Reflexe vorgegebener Strukturen und Ordnungseinheiten der Welt aufzufassen, sondern als Ergebnisse der geistigen Auseinandersetzung mit der Welt.” (apud Wilhelm Köller, Philosophie der Grammatik, Stuttgart 1988 in http://www.mauthner- gesellschaft.de/mauthner/tex/koell6.html [Consult. 16.10.2010]) Na sua obra Das Wunder der Sprache: Probleme, Methoden und Ergebnisse der Modernen Sprachwissenschaft, de 1950, Walter Porzig, que pode ser considerado um dos precursores mais significativos do paradigma cognitivo, foi claramente influenciado pela abordagem de Weisgerber. Esta influência é particularmente visível no capítulo 9, com o título “Die Leistung der Sprache”, pois inspira-se na obra de Weisgerber de 1932: Die Stellung der Sprache im Aufbau der Gesammtkultur. Nele, Porzig aborda questões ligadas ao papel da língua na vida real e concreta, nomeadamente no que concerne a forma como apreendemos a realidade no mundo que nos rodeia e como o conceptualizamos, caracterizando a língua como: „Vorbedingung und Mittel für die Kulturleistungen der Menschheit" (Porzig, 1950:344). Para além deste capítulo, esta obra aprofunda e desenvolve o conceito dos campos semânticos (“Bedeutungsfelder”), na senda de Weisgerber, desbravando o caminho para uma nova teoria da metáfora. Este começa por abordar no capítulo “Die Richtigkeit der Namen” a questão da origem da atribuição de nomes a novas descobertas e objectos inventados. Porzig considera dois processos: o primeiro baseia-se numa inspiração inter-linguística, recorrendo às antigas línguas grega e/ou latim (exemplos: automobil e bicycle); o segundo inspira-se nos campos de conhecimento semelhantes, i.e. por “empréstimo” lexical: “Bezeichnungen aus verwandten Sachgebieten zu entlehnen” (Porzig, 1950:35). Contudo, é possível reconhecer a activação destes dois processos em contextos que ultrapassam a necessidade da “Namengebung” a criações e eventos inovadores como, por exemplo, na descrição de paisagens naturais, nas quais uma montanha era compreendida como um corpo, possuindo pés e costas10. Porzig explica este fenómeno da seguinte forma: 10 “Die Frage der Namengebung stellt sich nicht nur, wenn ein ganz neuer Sachverhalt zum ersten Male bennant werden muß, sondern auch, wenn ein bekannter Sachverhalt aus irgendeinem Grunde einen neuen Namen bekommen soll. wir sprechen vom Rücken oder Kamm, von den Flanken, von der Schulter, vom Fuße, von der Nase eines Berges - alles eigentlich Namen von Teilen des tierischen Körpers. Wer diese Bezeichnungen zuerst anwendete, sah in dem Berge ein Tier, der Kamm läßt etwa an einen Drachen denken . (...) Bei der Landzunge liegt offenbar die Anschauung eines Tieres zugrunde, das mit weit ausgestreckter Zunge Wasser schlürft. (...) Auch bei einem Gefäß sprechen wir von der Schnauze.“ (Porzig, 1950:39) 19 “Die Sprechenden sahen sich in diesen Fällen vor der Aufgabe, Geländeformen und Gefäßformen zu benennen, die in ihren Einzelheiten offenbar keine festen Namen hatten. Nun sah man in sie menschliche oder tierische Gestalten hinein und gewann so ungesucht die notwendigen Namen. Der Vorgang ist im Leben der Sprache sehr häufig. Man nennt ihn Übertragung oder mit fremden Fachausdruck Metapher.” (Porzig, 1950:40) Porzig, preferindo a tradução alemã de Übertragung, em vez do grego Metapher (até porque Übertragung evidencia na perfeição o processo conceptual de transferência de um domíniofonte para um domínio-alvo) desenvolve o que considera serem as motivações subjacentes a este fenómeno. Realça, por exemplo, o fenómeno da conceptualização de conceitos abstractos ou estados emocionais através de domínios físicos, concretos e familiares, baseados na experiência vivenciada. Mais ainda, considera que o significado emergente é prontamente compreendido pelo falante comum, de forma inconsciente até, tornando a comunicação mais eficaz e inteligível: “Den Hauptvorteil bietet die Übertragung, wenn man von seelischen oder unanschaulichen Sachverhalten sprechen will. Die heitere Stimmung ist übertagen vom heiteren, d.h. ‚leuchtenden‘ Himmel. Lahme Entschuldigungen, faule Ausreden, schiefe Darstellungen, fadenscheinige Begründungen sagen auch dem Laien sofort, woher der übertragene Ausdruck gekommen ist. Es leuchtet so unmittelbar ein, daß man erst nachdenken muß, um den ‚eigentlichen‘, d.h. nicht übertragenen Ausdruck zu finden, wie ungeschickte Entschuldigungen, ungenügende Ausreden, ungenaue Darstellungen, unzureichende Begründungen. Der Versuch lehrt, daß die ‚eigentlichen‘ Ausdrücke weniger geläufig sind als die übertragenen und daß sie nur verneinende Bestimmungen geben, während die übertragenen die Sachverhalte positiv kennzeichnen können.“ (Porzig, 1950:40) Na mesma linha, Porzig explora a divisão entre a exterioridade e interioridade, defendendo a experiência do corpo e do espaço físico circundante como fundamental para a conceptualização de conceitos abstractos, como, por exemplo, o tempo: “Und wirklich kann die Sprache nur von Äusserem reden. Wo sie Inneres meint, muß sie es gleichsam in Äusseres übersetzen. Schon die Rede von «innen» und «aussen», wenn wir Seele und Welt meinen, ist ja eine Übersetzung. In Wirklichkeit ist das Verhältnis von Seele und Welt gar kein Räumliches. Aber die Sprache übersetzt alle unschaulichen Verhältnisse ins Räumliche. Und zwar tut das nicht eine oder eine Gruppe von Sprachen, sondern alle ohne Ausnahme. Diese Eigentümlichkeit gehört zu den unveränderlichen Zügen («Invarianten») der menschlichen Sprache. Da werden die Zeitverhältnisse räumlich ausgedrückt: vor und nach Weihnachten, innerhalb eines Zeitraums von zwei Jahren. Bei seelischen Vorgängen sprechen wir nicht nur von aussen und innen, sondern auch von über 20 und unter der Schwelle des Bewußtseins, vom Unterbewußten, vom Vordergrunde und Hintergrunde, von Tiefen und Schichten der Seele. Überhaupt dient der Raum als Modell für alle unanschaulichen Verhältnisse (...). (Porzig, 1950:156) Já Jean Piaget, nos estudos que realizou sobre a aquisição da linguagem e do pensamento das crianças, assim como a criação do conceito temporal nas crianças, chegou à conclusão de que a compreensão do tempo parte, em primeira instância, do domínio do espaço físico. Mentalmente, a noção do espaço físico é substituída pela noção abstracta do tempo, mantendo, contudo, os pontos de referência espaciais. Conclui-se assim, que o conceito ‘tempo’ se desenvolveu a partir do conceito espacial, o que é claramente reconhecível através dos recursos linguísticos utilizados logo em tenra idade, durante o processo de aquisição linguística: “Der Raum ist eine Momentaufnahme der Zeit, und die Zeit ist der Raum in Bewegung; beide bilden die Gesamtheit der Beziehungen der Einschachtelung und der Ordnung, die die Gegenstände und ihre Raumänderungen charakterisieren” (Piaget, 1946/1974:14) “Die Zeit verstehen, heisst also durch geistige Beweglichkeit das Räumliche zu überwinden.” (Piaget, 1946/1974:365) É de facto indiscutível que o domínio espacial está omnipresente nas vivências do dia-a-dia, assim como na linguagem de todos os falantes. Partindo do princípio de que toda a existência humana decorre num contexto espacial, considera-se o espaço como o domínio fulcral de interdependência entre a linguagem e a cognição. As expressões espaciais constituem, assim, esquemas estruturais que servem de modelos cognitivos para expressões de carácter não espacial, o que realça o papel determinante que a organização espacial detém na cognição humana. Já segundo Aristóteles, o espaço é concebido não como um local abstracto, mas sim como um lugar de experienciação. Kant secundou esta opinião, afirmando: “Der Raum ist eine grundlegende, [...] gar a priori gegebene Erfahrungsqualität des Menschen.”11 Registe-se que, enquanto corrente neo-kantiana, a semântica cognitiva realça a dimensão espacial como domínio central na cognição humana: “Se é aceite que a Semântica Cognitiva (...) põe em relevo muitas das vivências e cognições humanas, não custará, assim, aceitar o facto de haver uma dimensão vivencial que a mesma Semântica Cognitiva tem demonstrado ser um referencial inultrapassável: o espaço.” (Teixeira, 2001:15) 11 in Grabowski, 1999:18 21 Se o espaço físico, e a experiência vivida desse mesmo espaço, é uma das experiências humanas mais elementares, e se este domínio é a base referencial das representações linguísticas espaciais, é fácil conceber que esse mesmo espaço concreto e, consequentemente, as suas representações linguísticas sirvam igualmente como suporte referencial a conceitos abstractos. Através do domínio espacial, mais facilmente podemos ‘visualizar’ os modelos com que configuramos e conceptualizamos uma realidade abstracta. Assiste-se a um mapeamento de domínios com a consequente projecção metafórica das representações linguísticas. Isto acontece devido ao facto de noções abstractas serem conceptualizadas como espaços dimensionais A presente perspectiva da função metafórica alarga o escopo da mesma, abandonando a visão da metáfora como mero ornamento estilístico ou simples alternativa linguística ocasional para descrever eventos. A metáfora revela processos mentais recorrentes que evocam imagens mentais completas e ricas, o que, por sua vez, se prende com o conceito de Frame, muito no sentido de Fillmore12, ou Umgebung, de acordo com Porzig: “Die Übertragung ist also nicht ein gelegentlicher Notbehelf, sondern ein regelmäßiges und verbreitetes Verfahren, anschauliche Bezeichnungen zu schaffen, wo solche nicht zur Verfügung stehen oder unbrauchbar geworden sind. Sie setzt voraus, daß jedes Wort in einen Bereich gehört, wo es eigentlich verwendet wird. Außerhalb dieses Bereichs steht es ‚übertragen‘, aber es bringt dabei gewissermaßen die Luft seiner eigentlichen Umgebung mit, und darauf eben beruht seine anschauliche und eindringliche Wirkung.“ (Porzig, 1950:40) Os já referidos campos semânticos - Bedeutungsfelder ou syntaktische Felder, segundo Porzig contribuem para uma arquitectura de mapeamentos conceptuais e Porzig reconhece que estes têm fronteiras fluidas pelo que se interligam: “Einbegreifende und aufteilende Bedeutungsfelder stehen nicht gleichgültig nebeneinander, sondern durchdringen sich.“ (Porzig, 1950:73), e que quanto mais latos os campos são, menos definidos são os seus limites: “Schon die wenigen hier andeutungsweise erwähnten Wortfelder zeigen, daß die Schärfe der Konturen nachläßt, je ausgedehnter das Feld wird. Felder wie rechts, links oder essen, trinken leuchten auf den ersten Blick ein und bedürfen keiner Ausarbeitung aber die Namen der Geräte oder der Hantierungen z. B. in einer Küche müssen eingehend erläutert werden ehe die Feldgliederung klar wird.“ (Porzig, 1950:119) 12 Fillmore, C., 1977, “Scenes-and-frames semantics”, Linguistics Structures Processing, Amsterdam/New York: North Holland Publishing Company, Antonio Zampolli (ed.), pp. 55-81; Fillmore, C., 1982, “Frame Semantics”, Linguistics in the Morning Calm, Seoul: Hanshin Publishing Company, Linguistic Society of Korea (ed.), pp.111-37. 22 Esta teoria dos campos semânticos - Wortfeldtheorie - foi igualmente aprofundada por Jost Trier13 na década dos anos 30 do século passado, sendo considerado uma das principais figuras da semântica estruturalista. Apesar de Eugenio Coseriu ser de nacionalidade romena, devido ao facto de algumas das suas obras mais proeminentes terem sido publicadas em alemão14, merece ser aqui referenciado. Entre as principais contribuições de Coseriu para o paradigma cognitivo, destacamos a redefinição dos conceitos saussureanos de langue e parole, ou seja, entre a língua, enquanto sistema abstracto, e a fala, enquanto realização concreta desse sistema. Coseriu defende que a língua deve ser perspectivada a partir de dois níveis de abstracção: a) o sistema como entidade abstracta, colectiva e geral, memorizada na mente de todos os falantes de um grupo linguístico e b) a norma como padrão colectivo de uso, incluindo o modo como os falantes recorrem à língua, preferindo certas formas e preterindo outras. Finalmente existe a fala, ou seja, o uso individual da língua por parte do falante, como realização ou concretização do sistema em actos comunicativos com o intuito de exteriorizar sentimentos e pensamentos, desejos e necessidades. Todos estes linguistas contribuíram para a compreensão gradual da indissociabilidade e a correlação entre o mundo experienciado e a língua assim como a forma como a mesma estrutura e organiza o pensamento. A teoria dos campos semânticos e o desenvolvimento do conceito de conhecimento linguístico revelaram-se ferramentas metodológicas úteis para o crescimento do paradigma cognitivo, nomeadamente no que diz respeito à teoria dos modelos cognitivos como alicerce interpretativo. Cabe-nos ainda citar os linguistas alemães Wolf Andreas Liebert e Olaf Jäckel, pelo seu contributo no estudo do fenómeno da metaforização. O primeiro dedicou-se a estudar a ubiquidade da metáfora, não só nos usos linguísticos quotidianos (“Metaphernbereiche der deutschen Alltagssprache: kognitive Linguistik und die Perspektiven einer kognitiven Lexikographie” (1992)) mas também em domínios tão diferentes como a doença e a ciência, respectivamente: “Metaphernreflexion in der Virologie. Das theoriesprachliche Lexikon der Metaphernmodelle exemplarische als Studie Sprachreflexionsmittel am Beispiel der im Forschungsprozeß Aidsforschung“, (TLMSF). Mannheim (1995) Eine e 13 Este defende que: “Felder sind die zwischen den Einzelworten und dem Wortschatzganzen lebendigen sprachlichen Wirklichkeiten, die als Teilganze mit dem Wort das Merkmal gemeinsam haben, dass sie sich ergliedern, mit dem Wortschatz hingegen, dass sie sich ausgliedern.(...) Darin liegt die Bedeutsamkeit des Feldbegriffes: er ist das Denkmittel, das es einer empirischen Forschung ermöglicht zur Erfassung und Darstellung des Gliederungswandels und damit zur Geschichte des Sprachinhalts vorzudringen.“ (Trier, 1934/1973:148-149) 14 Por exemplo: Coseriu, E., 1970, Einführung in die strukturelle Betrachtung des Wortschatzes. In Zusammenarbeit mit Erich Brauch und Giesela Köhler, Hsg. Gunter Narr, Tübingen: Gunter Narr Verlag; Coseriu, E., 1973, Probleme der strukturellen Semantik, Ed. Dieter Kastovsky, Tübingen: Gunter Narr Verlag:; Coseriu, E., 1988, Sprachkompetenz: Grundzüge der Theorie des Sprechens, Bearbeitet und herausgegeben von Heinrich Weber, Tübingen: Francke Verlag. 23 “Metaphernbereiche der virologischen Aidsforschung“ In: Lexicology 1. (1995); “Wissenstransformationen: Grundfragen Der Experten-Laien-Kommunikation Am Beispiel Der Ozonlochdebatte” (2002). Quanto a Jäckel, cujo estudo incide sobre a análise das metáforas no discurso económico, para além de apresentar uma síntese bastante exaustiva das teorias semânticocognitivas actuais (particularmente da chamada corrente norte-americana), enriqueceu o seu estudo com uma visão diacrónica da teorização sobre a metáfora desde Aristóteles à actualidade. Dedica também um capítulo aos precursores teóricos do paradigma cognitivo, tal como já foi desenvolvido anteriormente no presente ponto desta dissertação, no qual faz uma justa referência aos valiosos contributos destes investigadores. Por fim, procede a uma análise onomasiológica da conceptualização dos conceitos abstractos “Geistestätigkeit”, “Wirtschaft” e “Wissenschaft”. Por fim, consideramos pertinente fazer referência ao linguista alemão Hans Glinz que, segundo afirmações do próprio, se inscreve no paradigma cognitivo, rebatendo, consequentemente, a ideia de que um estudo de cariz semântico-cognitivo se funda exclusivamente na abordagem cognitiva proposta pela escola americana. Referimo-nos, concretamente, à sua obra: “Grammatiken im Vergleich” de (1994), elaborada a partir do postulado da dimensão conceptual das representações simbólicas. Glinz cedo se interessou pela teoria saussuriana, pois reconhecia nas mesmas vantagens para o ensino da língua alemã (no exercício das suas funções como docente da língua alemã) devido ao facto de explorarem questões de aquisição e de uso linguístico. Apesar de sentir que este paradigma não o satisfazia por completo, concordava, até certo ponto, com os pressupostos teóricos básicos de Saussure: “But all of these minor or major modifications I made for myself in reading the Cours did by no means diminish the usefulness of the basic views and principles I found there (…) – primarily the view of language as a truly historical phenomenon, and therefore an "un-ideal" system or complex of systems (which, by the way, is in full contradiction to the claims and practices of "system-builders" like Chomsky).” 15 Porém, na tentativa de compreensão dos sistemas complexos inerentes às línguas, familiarizou-se com os estudos de Weisgerber, tendo encontrado na obra deste autor pistas de pesquisa valiosas que apontavam, para além da função comunicativa da língua, para aspectos de enfoque cognitivo: 15 in “Hans Glinz: Languages and their Use” – Texto do próprio, publicado on-line em http://www.sprachtheorie.de [Consult. 18.10.2010] 24 “I realized immediately that I had here a kind of continuation of Saussure, an essay to apply Saussure's basic postulates to the German language. I welcomed especially that Weisgerber emphasized the cognitive functions of the languages, aside from their communicative functions.” (Glinz op.cit.) Ao longo de inúmeras pesquisas e de estudos empíricos com os seus alunos, (tendo como objecto de estudo a língua alemã do dia-a-dia do falante comum) concluiu que o uso linguístico não depende apenas da correcta utilização de itens lexicais, gramaticais e da sintaxe, mas principalmente de factores contextuais (linguísticos e extra-linguísticos). Empenhou-se, assim, em desenvolver aquilo que o próprio intitulou como “uma nova gramática alemã”, de cariz claramente pós-estruturalista, pois contemplava aspectos do uso linguístico (“Die innere Form des Deutschen. Eine neue deutsche Grammatik”, 1952). A partir de 1955 integrou-se num vasto grupo de trabalho, liderado por Weisgerber, com o intuito de desenvolver uma descrição adequada da língua alemã actual, obra essa que o próprio Glinz inscreve avant la lettre no paradigma cognitivo: “In 1955, Weisgerber initiated an "Arbeitskreis Sprache und Gemeinschaft" (…) [to develop] a great description of the German language of today, its grammatical structures and its stock of words with their multiple meaning-sides – an "inhalts- und leistungsbezogene deutsche Grammatik". In today’s terminology, this would be: "a cognitive grammar, with full account of its pragmatic and sociolinguistic aspects", or, in other words, with an account of the impact of the language, structured in particular ways, on the speaking community, in this case on the thoughts and actions of German-speaking people.” (Glinz, op. cit.) Em 1994 publicou uma obra bastante extensa e completa “Grammatiken im Vergleich” em que, tal como o próprio título o espelha, desenvolve uma abordagem confrontativa (AlemãoFrancês-Inglês-Latim) subdividida em três grandes vertentes: a formal, a da significação e a da compreensão. Destacamos aqui o capítulo onze, porque é nele que encontramos alguns dos principais postulados comuns à teoria cognitiva: a conceptualização de conceitos a partir do espaço físico, assim como o princípio da corporização da conceptualização. Tal como muitos outros autores anteriormente mencionados, Glinz afirma que o tempo é conceptualizado a partir de um sistema de coordenadas elementares, ou seja, a partir da experiência física: “Bei der Ausarbeitung zeigte sich aber immer deutlicher, daß die Einbettung in den Zeitablauf (und in ähnlicher Weise auch die Situierung im Raum) einen besonderen Stellenwert hat und ein besonderes Gewicht beansprucht: hier werden nicht nur speziellere gedankliche 25 Beziehungen dargestellt, sondern es werden elementare Koordinatensysteme aufgerufen (…).” (Glinz,1994:555) Este acrescenta que a avaliação de um determinado momento ou de uma duração temporal obedece a princípios muitas vezes individuais, em estrita dependência dos respectivos contextos, o que revela a preocupação de incluir no estudo aspectos de ordem subjectiva e sociocultural: “(...) Einschätzungen, die sich nur aus der jeweiligen Situation heraus verstehen lassen und zum Teil ganz individuell, von den eigenen Gewohnheiten und Erwartungen, dem eigenen Lebensrhythmus her bedingt sind.” (Glinz, 1994:565-566) Apesar da passagem do tempo cronológico ser constante - os segundos, minutos, horas, sucedem-se sem parar - o pensamento e o discurso humanos são livres, por outras palavras, na prática discursiva não existem divisões estanques e esquemáticas entre passado, presente e futuro. O tempo é encarado, por um lado, como uma dimensão do mundo e, por outro, como uma dimensão de vida recheada de experiências. É sentido como um contínuo e o discurso permite-nos, ao invés do que acontece com o tempo real cronológico, deslocarmo-nos livremente de um espaço temporal para outro. O avançar fluido do tempo é medido, ou melhor, sentido através da sucessão de experiências vividas16. No subcapítulo seguinte, e tal como o próprio título indica (“Situierung im Raum, Lagen und Bewegungen – besondere Raumqualitäten, besondere Perspektiven, verwurzelt in der Körperlichkeit des Menschen”), Glinz aprofunda as noções de espacialidade e o princípio da ‘corporização’ como ponto referencial para a conceptualização do tempo e de outros conceitos mais abstractos: “Daß Raumkennzeichnungen und Zeitkennzeichnungen in ihren Grundzügen zusammenhängen – gemeinsam fundiert im Erfahren von Bewegungen, die ebenso einen zeitlichen wie räumlichen Aspekt haben – zeigt sich eindrücklich beim Blick auf den Wortbestand.” (Glinz, 1994:581) 16 “Die drei Begriffe werden nicht nur im Alltag laufend gebraucht («Das liegt nun in der Vergangenheit – Wir leben in der Gegenwart – Die Zukunft ist ungewiß» usw.), sondern sie werden auch in den Grammatiken meistens recht unreflektiert verwendet. Man denkt sich dann irgendwie drei Bereiche oder Räume, aus denen sich «die Zeit» insgesamt zusammensetzt, und man ist sich klar, daß die «Zukunft» laufend zu «Gegenwart» und «Gegenwart» zu «Vergangenheit» wird. Wenn man aber genauer zusieht, ergeben sich Schwierigkeiten, und zwar vor allem für «Gegenwart» und «Zukunft»: Was ist «schon Gegenwart», was liegt noch in der «Zukunft»? Die Beantwortung dieser Fragen hängt offenbar gar nicht von der absoluten Zeit ab, sondern von der Einschätzung für das Erleben und Handeln. (…) Diese Offenheit der Grenzen zwischen «Gegenwart» und «Zukunft» ist auch der Grund, warum bei der Analyse der festen Bedeutungsbeziehungen für relative zeitliche Situierung (…) nur mit der Unterscheidung von zwei Zeitbereichen gearbeitet wird, nämlich «Gegenwärtiges/Zukünftiges, mit Einschluß von Zeitlosem, als überzeitlich Gesehenem» gegenüber «schon Erfolgtem, jetzt Vergangenem». (…) Wenn ein solches Ereignis erfolgt ist, wenn ein Handlungsakt vollzogen worden ist, so ist das unwiderruflich. Man muß es als Faktum akzeptieren.” (Glinz, 1994:578) 26 destacando diversas partículas e preposições nas quatro línguas estudadas que operam tanto no domínio espacial como no temporal e abstracto. Esta soberania espacial fundamenta-se na necessidade básica do homem de, em primeiro lugar, ter noção de si num determinado espaço e, de seguida, saber orientar-se no domínio espacial. As coordenadas espaciais funcionam como os primeiros e mais elementares eixos sobre os quais se estruturam as representações do mundo. Desta forma, as estruturas cognitivas simplificam a realidade. A própria concepção de vida como uma caminhada deriva desta dualidade espácio-temporal. Existe, assim, um óbvio desejo de orientação temporal, tendo em conta a própria noção de finitude que, por ser experiencialmente mais familiar, se serve do domínio espacial para alcançar essa ‘localização’ no tempo: “Dieses Bedürfnis [Orientierung im Raum] ist ebenso grundlegend wie dasjenige, sich im Zeitlauf zurechtzufinden. Geplantes und schon Gelaufenens zeitlich zu situieren, und man kann sogar annehmen, daß die Rechenschaft von der räumlichen Lage und den darin möglichen Bewegungen leichter ist als das bewußte Erfassen des Zeitablaufs.” (Glinz, 1994:581) Para além do espaço ser estruturado por marcos geográficos (a paisagem natural, todas as construções humanas e os objectos que nele se encontram), ele é principalmente estruturado pelas pessoas que nele habitam. Nesse contexto pode considerar-se que qualquer espaço físico é também um espaço social. Nesse espaço social operam determinados princípios de comportamento e de convivência, existem relações de poder e de interacção. Como o presente é fortemente influenciado pelo passado, tal como já foi demonstrado anteriormente, todos os comportamentos humanos neste espaço social são o resultado de acontecimentos precedentes: “Hier spielt nun auch die Zeit in oft verdeckter, aber nicht weniger grundlegender Weise mit hinein, nämlich durch die soziale Prägung aller in diesem Raum lebenden Menschen – durch das Stück Vergangenheit, das ein wirksamer Teil der Gegenwart aller Handelnden ist.” (Glinz, 1994:582) Retomando a questão do posicionamento do ser humano no espaço, Glinz realça que este determina dois aspectos importantes da percepção espacial: a ‘qualidade’ e a ‘perspectiva’. A noção de qualidade equivale para Glinz à noção de interior (‘estar dentro’) e de exterior (‘estar fora’) relativamente a um espaço restrito. A perspectiva, por outro, prendese com a identificação de indicadores locais tais como à esquerda e à direita, à frente e atrás, em cima e em baixo. A posição também é essencial para questões relacionadas com a 27 distância. Ao calcular a distância, determina-se o que está ao nosso alcance e o que está fora dele. A distância pode ser ultrapassada através da deslocação física real ou através da percepção. Estas noções de qualidade e perspectiva aplicam-se também aos espaços sociais. A deslocação é um aspecto central, não somente deste estudo, mas principalmente da vivência humana quotidiana. Glinz distingue entre dois movimentos básicos: - o movimento em direcção a algo, habitualmente de aproximação a um determinado ponto de referência (“Zielorientiert”) - o movimento de afastamento relativamente a um ponto de referência (“Ausgangspunktorientiert”) A estes movimentos é possível acrescentar as já referidas noções de qualidade e perspectiva. Existem também movimentos sem destino (“inhärente Bewegung”) em constante alteração pendular. Apesar de haver deslocação espacial, esta não resulta numa real mudança de localização, o movimento vale por si, e não é motivado pelo objectivo de alcançar um destino. Uma vez realçada, de forma pormenorizada, a importância do domínio espacial, Glinz dedica um subcapítulo à análise das representações de conceitos abstractos a partir de conceptualizações do domínio espacial. (“Von anschaulichen zu abstrakten Räumen – Räumliches als Bildhintergrund beim Darstellen von Wissen, Gestimmtheit, Absichten, sozialen Positionen und ihren Veränderungen – Räumliches in der Herkunft von heute ganz «abstrakten» Wörtern” (Glinz, 1994:600)). Glinz explora um conjunto de casos, aos quais subjaz a noção de mapeamentos entre domínios. Tal como em Lakoff e Johnson, é feita uma distinção entre o domínio de origem, que nesta exposição se fundamenta sempre no espaço, e em diferentes domínios-alvo. Assiste-se, portanto, a uma abordagem de cariz claramente cognitivo ao defender que o domínio espacial, no qual o homem se insere, é a matriz privilegiada para conceptualizar dimensões abstractas da realidade. Assim, Glinz destaca os seguintes pressupostos: • Conceptualização de espaços abstractos: processo cognitivo de organização da conceptualização17 • Opiniões ou posições configuradas como espaços abstractos delimitados18 17 Para nos orientarmos com segurança num espaço físico tridimensional, recorremos a pontos de referência de fácil reconhecimento, normalmente fixos. O mesmo acontece em domínios abstractos: “Man baut also einen abstrakten, rein gedanklichen Raum auf, als Ordnungsrahmen für die einzelnen Begriffe. Dabei operiert man sehr oft mit dem Bildhintergrund «Höhenlage, Niveau» oder «Ebene».” (Glinz, 1994:604) Daí surgirem expressões como “tomada de decisões ao mais alto nível”, referindo-se às chefias de estado ou empresariais (por exemplo “Gipfelkonferenz” ou “syntaktische Ebene”). Uma vez que se considera que locutor já não associa a dimensão abstracta à dimensão concreta, trata-se de metáforas conceptuais completamente convencionalizadas. 18 Na óptica de Glinz, a configuração espacial dos espaços abstractos serve à sua compreensão: “Man kann abstrakte Räume nicht nur als dauernde Ordnungs-Rahmen und Orientierungshilfen aufbauen und verwenden, 28 • ‘Em cima – em baixo’ e ‘à frente’ em “espaços sociais” (no convívio social e em relações de poder)19 • Intenções, conhecimento como espaços abstractos20 sondern auch in jedem Augenblick einen jeweils benötigten abstrakten Raum ansetzten, wenn man für irgend eine Aussage angeben will, daß sie nicht unbegrenzt und allgemein gilt und zu verstehen ist, sondern daß sie nur im Blick auf einen bestimmten Bereich gesehen (und verstanden – und evtl. kritisiert) werden soll.” (Glinz, 1994:605) Assim, socorrendo-se do exemplo: “In der Theorie geht das.”, a teoria é representada como um espaço abstracto conceptualizado como um contentor (esquema imagético do contentor) dentro do qual certas acções ou procedimentos são possíveis ou viáveis. 19 É do conhecimento geral que o estabelecimento de relações interpessoais e interinstitucionais se processa no domínio social. No seio deste, existem sub-espaços sociais (núcleos de interacção) que não possuem fronteiras rígidas. Dentro de cada um desses sub-espaços, ocupamos um determinado lugar, uma determinada posição. Essa posição ou ‘nível’ social é, por sua vez, mensurável através de um eixo vertical, à luz da medição dos objectos. É também através de uma escala de valores vertical que se conceptualiza a hierarquia social, constituindo o topo a melhor posição. Contudo, também é possível destacar valores positivos através da imagem mental do eixo horizontal. ‘À frente’ é, por exemplo, uma posição muito mais vantajosa e positiva do que ‘atrás’. Este facto está 19 claramente relacionado com a dimensão antropocêntrica da conceptualização enquanto ser corpóreo . A corporização do espaço decorre do facto de a dimensão física humana constituir um marco nas representações linguísticas, até porque é consensual afirmar que a experiência no espaço é pré-existente ao uso da língua. Glinz perfilha este ponto de vista (Glinz, 1994:606). Embora não mencione expressamente que as conceptualizações são resultado de projecções metafóricas (neste caso da metáfora orientacional – Lakoff/Johnson, 1980:14-21), considera pertinente referir que se trata de um processo de ‘recriação’ mais do que de mera ‘extensão’ (Glinz, 1994:606). É exactamente este o processo que subjaz ao princípio dos modelos/imagens mentais que Glinz classifica como “Bild-Hintergrund”. A título exemplificativo, Glinz refere que, quando uma pessoa já não se identifica com um determinado grupo social, quando não se conforma com as normas pré-estabelecidas ou não compactua com as regras exigentes do mundo do trabalho ou na esfera intelectual, essa pessoa pode ser designada de “ein/der Aussteiger”, como se estivesse a sair fisicamente de um espaço confinado (“aus einem Auto aussteigen”). Assim, o mapeamento dos domínios através da projecção metafórica afigura-se por demais evidente. Retomando o princípio da conceptualização corporizada, Glinz também defende que os binómios ‘dentrofora’, ‘em cima-em baixo’ e ‘à frente-atrás’ estão enraizados na condição física humana. O binómio ‘dentro-fora’ activa dois contextos espaciais: a) o espaço corporal – o próprio corpo humano é visto como recipiente, um contentor. Dentro do corpo localiza-se a estrutura de suporte físico (o esqueleto), todos os órgãos vitais, os músculos, o cérebro, etc., resguardados por uma camada protectora, ou seja, a pele e os cabelos, que estão em contacto directo com o mundo exterior. É nesse interior que se situa, portanto, o centro vital e operacional do ser humano, que comanda todas as acções que serão executadas no mundo exterior (como por exemplo, caminhar, agarrar algo ou falar). O interior constitui igualmente o centro emotivo e racional, responsável pelas emoções por um lado e pelo pensamento e raciocínio por outro. b) os espaços circunscritos – todos os espaços com limites mais ou menos precisos, naturais ou construídos, nos quais é possível entrarmos e sair. Ao espaço interior (por exemplo, uma casa ou caverna) é associada a ideia de segurança e protecção perante possíveis ameaças exteriores. Pelo contrário, os limites de um espaço fechado também podem representar falta de liberdade, suscitando sentimentos de aperto físico e emocional (como a “angústia”), sendo o exterior, imagem de liberdade de acção e campo de descoberta. Ao pretender distinguir entre o que é importante do que é supérfluo (interior em oposição ao exterior), é comum estabelecer-se uma analogia entre a configuração do corpo e a configuração do fruto, conforme patenteado na imagem: “Er hat einen goldenen Kern in rauher Schale”. Seguindo a terminologia cognitiva, assistese a uma activação dos esquemas imagéticos do contentor e de centro-perifería. Quanto aos binómios vectoriais ‘em cima-em baixo’ e ‘à frente-atrás’ como suporte referencial do mapeamento de domínios, estes são equacionados por Glinz, no quadro evolucionista, como adaptações à posição vertical própria da espécie humana. Na parte frontal do nosso corpo estão dispostos quatro dos cinco órgãos dos sentidos indispensáveis à comunicação humana. Convém sublinhar que a visão assume um papel determinante na estruturação do espaço. Além do mais, o que é visível é (em certa medida) controlável, pelo que, ao invés, a zona situada na parte de trás do corpo engloba o não visível que, como tal, está fora do nosso controlo. Lakoff desenvolve: “What is the basis of the widespread KNOWING IS SEEING metaphor, as in expressions like: I see what you’re saying. His answer was clear. This paragraph is murky. He was so blinded by ambition that he never noticed his limitations. The experiential basis, in this case, is the fact that most of what we know comes through vision, and that in the overwhelming majority of cases, if we see something, then we 19 know it is true. “ (Lakoff, in Lakoff on Conceptual Metaphor ) Podemos, pois, concluir que tanto o corpo como o espaço tridimensional perceptível constituem o domínio de partida para a conceptualização de ‘espaços’ emocionais e racionais. 29 • Espaço como campo conceptual de vivências e humores/emoções21 • Espaço como campo conceptual para comportamentos e actos22 Apesar de Glinz nesta análise nunca referir explicitamente o termo metaforização, fica, contudo, claro que se trata apenas de uma questão terminológica. Para este, o mapeamento de domínios cognitivos através de processos de conceptualização metafórica é idêntico ao princípio dos campos conceptuais e à compreensão do significado ‘figurativo’ ou ‘imagético’ (“Bildhintergrund” e “bildliche Bedeutung”). Podemos comprovar este aspecto perto do final desta sua gramática, na medida em que inclui um subcapítulo dedicado aos processos de metaforização (“Wörtliches und übertragenes Verstehen, «Metaphern» (Glinz, 1994:834)), onde reconhece que é imperativo fazer-se uma clara distinção entre o sentido ‘literal’ e o sentido ‘imagético’ ou metafórico (“wörtlich” – “bildlich”): “Eine Unterscheidung, die im Einzelfall oft leicht zu machen ist, die aber in allen Sprachen wichtig ist, vom Auffassen einzelner Wörter und Wendungen bis zum Verständnis ganzer Texte, ist die Unterscheidung zwischen «wörtlich» und «bildlich, metaphorisch».” (Glinz, 1994:869) 20 Os domínios das intenções e do conhecimento, ou seja, da factualidade, são considerados como fazendo parte do interior do homem. Assim, ao atribuir-se à cabeça o papel de centro mental e ao coração o papel de centro emocional está a conceptualizá-los como espaços abstractos (contentores). Contudo, caso sejam partilhados estes espaços abstractos, são configurados como exteriores ao homem (Glinz, 1994:610-611). 21 É do conhecimento geral que a experiência das vivências quotidianas (tais como o dormir e a fome, entre outros) assim como os humores e as emoções (por exemplo: felicidade, alegria, tristeza e medo), ao fazer parte da dimensão interior do homem, inscrevem-se nos domínios abstractos e afigura-se necessário equaciona-las à luz do concreto. Contudo, algumas expressões que conceptualizam essas experiências afiguram-se como espaços abstractos exteriores ao homem. Glinz destaca três situações: - a concepção de espaço abstracto delimitado (equivalente ao conceito de metáfora do contentor de Lakoff/Johnson, 1980:29:32); - a objectivação, ou seja, a perspectivação do abstracto como um objecto (equivalente à metáfora ontológica de entidade ou substância de Lakoff/ Johnson, 1980:25-29); - a personificação, a conceptualização do abstracto à luz da pessoa humana (equivalente à metáfora de personificação de Lakoff/Jonhson,1980:33:34). Um dos exemplos mais sintomáticos apresentados por Glinz é o do estado febril. 22 É no âmbito do espaço real e físico que interagimos com todo o mundo envolvente: olhamos para o que nos rodeia, agarramos objectos com as mãos, comunicamos com outras pessoas, deslocamo-nos no espaço. Todos estes actos ‘reais’ podem ser projectos para o domínio do abstracto, por outras palavras, os paradigmas da interacção real constituem o domínio de origem para a conceptualização de conceitos abstractos. Por exemplo: ‘dar uma prenda a um amigo’ insere-se no domínio concreto, enquanto ‘dar uma resposta a um amigo’ faz parte do domínio de conceitos abstractos, pois não se assiste a uma entrega física e concreta de algo que é transferido de um sujeito para outro sujeito. Compare-se igualmente: ‘ele está preso a uma árvore’ e ‘ ele está preso a ideias antiquadas’. Registe-se que Glinz, na exemplificação de casos paralelos se socorre do verbo “werfen”, realçando a diferença entre “einen Stein werfen” e “einen Blick auf etwas werfen”. Daí que este autor defende uma interligação clara entre o significado concreto (“konkrete Bedeutung”) e o significado abstracto (“abstrakte Bedeutung”). De acordo com este princípio, também o movimento em direcção a algo tem um significado concreto que pode ser projectado para o domínio do abstracto (tal como uma direcção/percurso emocional ou racional): “Auch solches Heranziehen körperlicher Bewegungen, im anschaulichen Raum, zur Signalisierung von Handelns- und Verhaltensweisen an sich (im «abstrakten Raum der Kooperation», der Abstimmung von Absichten, Willenshaltungen, Handlungen usw.) gibt es in allen vier Sprachen (…).” (Glinz, 1994:617) 30 As metáforas são “bildliche Wendungen”, uma vez que são facilmente inteligíveis, mesmo por crianças jovens, devido à sua base contextual: “Solche «bildliche Wendungen» werden sehr oft ganz automatisch richtig verstanden, aus dem Zusammenhang heraus, und das lernende Kind denkt dann ebenso wenig an die wörtliche Bedeutung wie ein Erwachsener, wenn er etwa sagt: «Die haben den armen Mann mächtig übers Ohr gehauen» für «sie haben ihn schamlos betrogen». (Glinz:1994:869) Independentemente do facto do locutor recorrer a imagens metafóricas de forma consciente ou inconsciente, é o entrosamento entre a dimensão textual e a dimensão semântica (a experiência e o conhecimento do mundo) que garante a correcta compreensão das expressões metaforizadas. Em suma, Glinz postula: a projecção metafórica das representações simbólicas do domínio espacial concreto e tridimensional para domínios abstractos; o campo conceptual do espaço concreto como o domínio de origem privilegiado, na elaboração das imagens abstractas; o campo conceptual do corpo humano e a sua interacção física com o mundo envolvente como outro campo conceptual de grande relevância na cunhagem de imagens abstractas; uma correcta compreensão das representações simbólicas, independentemente da consciência ou não consciência acerca do mapeamento de domínios; a impossibilidade de estabelecer fronteiras rígidas entre os sentidos metafóricos e os sentidos abstractos. “[Man kann annehmen, daß] in einem Anfangsstadium der Sprachentwicklung nur die Bedeutungen für räumliche Situierung und für Darstellung von Bewegungen «wörtlich» aufzufassen waren und die meisten anderen Bedeutungen mit Hilfe dieser ersten, raumbezogenen Bedeutungen aufgebaut wurden und also zunächst «bildlich, metaphorisch» waren, bis sie dann allmählich diesen metaphorischen Charakter verloren, in einem Abstraktionsprozeß, und zu «reinen» Bedeutungen wurden. Wie dem auch sei, etwas vom «Metaphorik» durchzieht offenbar den ganzen Sprachbau, und eine scharfe Grenze zwischen «übertragen, metaphorisch» und «rein, abstrakt, wörtlich» läßt sich nicht ziehen – ja es hat wenig Sinn, das auch nur zu versuchen.” (Glinz, 1994:870) Salientamos que não foi feita menção a outros investigadores de língua alemã que desenvolveram estudos semânticos em que se advoga a interligação significado - experiência. 31 O nosso propósito não foi, nem poderia ser no quadro geral desta dissertação, proceder a um levantamento exaustivo de todos os estudos de índole semântico-cognitiva em língua alemã. Pensamos sim, ter seleccionado textos dos autores mais representativos, com o intuito de demonstrar que o “paradigma cognitivo” está fortemente enraizado no pensamento alemão, constituindo uma área de investigação em franco desenvolvimento. 1.2. Postulados Gerais da Semântica Cognitiva Serve o presente ponto desta dissertação o propósito de descrever os postulados gerais da Semântica Cognitiva, nomeadamente no respeitante à teoria do protótipo e características de prototipicidade, ao paradigma dos modelos mentais e aos esquemas imagéticos, assim como à teoria da metáfora e da metonímia. A teoria do protótipo foi sistematizada pela psico-linguista Eleanor Rosch nos anos 70 do século passado a partir de um estudo sobre as cores23. Em linhas gerais, esta teoria opõe-se claramente à concepção clássica da categorização defendida pelos estruturalistas, na medida em que postula que uma dada categoria lexical não pode ser definida pelas condições necessárias e suficientes, ou seja, pela partilha de um determinado número de traços comuns a todos os elementos de uma categoria. Assim, a tese de que um elemento só faz parte de uma certa categoria se reunir propriedades necessárias e suficientes é rejeitada: “One of the most philosophically cogent aspects of prototypes is that, far from being abstractions of a few defining attributes, they seem to be rich, imagistic, sensory, fullbodied mental events that serve as reference points in all of the kinds of research effects mentioned above.” (Rosch, 1999:67) Refira-se ainda a rejeição da concepção tradicional de que as categorias possuem limites nítidos e rígidos. Em suma, a teoria do protótipo defende que em cada categoria existe sempre um elemento mais representativo: o protótipo. Esta noção de “maior representatividade” está ligada às imagens mentais que formamos e que, por sua vez, não podem ser dissociadas nem do contexto em que surgem, “A very important finding about prototypes and graded structure is how sensitive they are to context.” (Rosch, 1999:67), nem da experiência individual, social e cultural: 23 apesar do seu estudo da prototipicidade com base no exemplo de “bird” (pássaro ou ave) ser o mais conhecido e divulgado. 32 “The prototypes of cognitive categories are not fixed, but may change when a particular context is introduced, and the same is true for category boundaries. More generally, the whole internal structure of a category seems to depend on the context and, in a wider sense, on our social and cultural knowledge, which is thought to be organized in cognitive and cultural models.” (Ungerer/Schmid, 1996:43) Merece destaque o facto do protótipo de uma categoria, a imagem mental que formamos da mesma24, emergir a partir de uma determinada base experiencial. Por exemplo, para uma pessoa que viva no campo, o protótipo de pássaro poderá eventualmente ser o pardal, enquanto para uma outra que viva na cidade, este poderá ser o pombo, e para os habitantes de uma aldeia piscatória, é provável que seja a gaivota. Se pensarmos noutro país, como o Brasil, os seus habitantes poderão eleger o beija-flor, o papagaio ou mesmo o tucano como elementos mais representativos da categoria “pássaro”. Contudo, é consensual considerar que um pinguim ou uma avestruz são os elementos mais periféricos (menos representativos) desta categoria. Nesta linha, a imagem mental que formamos das categorias possui fundamentos epistemológicos, ou seja, aufere de uma base experiencial: “Cognitive linguists believe that our shared experience of the world is also stored in our everyday language and can thus be gleaned from the way we express our ideas. (…) Contrary to what one might assume, prototypes and cognitive categories are not static, but shift with the context in which a word is used and depend on the cognitive models stored in our mind.” (Ungerer/Schmid, 1996:xii-xiii) Na base do nosso conhecimento enciclopédico sabemos que um morcego, apesar de voar (um dos traços semânticos da categoria de pássaro), é um mamífero. Comprova-se, assim, até na própria natureza, a existência de características comuns entre diferentes espécies. Também no plano linguístico se verificam sobreposições geralmente parciais entre membros de categorias vizinhas: “In general we find that the center of a lexical category is firmly established and clear, while its boundaries are fuzzy and tend to overlap with the boundaries of other lexical categories.” (Dirven/Vespoor 1998:18) 24 O conceito de “imagem mental” remete-nos para a teoria da Gestalt: “Gestalt: As originally conceived by gestalt psychologists, the notion of gestalt was intended as an explanation of holistic perception. (…) we suggested a link between gestalt and the notion of prototype categories. If a gestalt is organized according to the gestalt principles and includes the functional parts of an item in functionally balanced proportions, it may be regarded as a ‘prototype gestalt’. This ties in with the definition of prototype as an ‘image’, which was quoted above. In fact, in the case of organisms and concrete objects where visual perception seems to be important, the prototype gestalt contributes considerably to the ability of the prototype to function as a model or cognitive reference point.” (Ungerer/Schmid, 1996:41) 33 Também Geeraerts aponta para o fenómeno semântico das fronteiras fluidas, e destaca a metáfora e a metonímia como fundamento dessa fluidez, criticando, simultaneamente a abordagem da semântica estrutural: “The fuzzy boundaries of lexical categories, the existence of typicality scales for the members of a category, the flexible and dynamic nature of word meanings, the importance of metaphor and metonymy as the basis of that flexibility - these are all intuitively obvious elements of the subject matter of semantics that were largely neglected by structural semantics.” (Geeraerts, 2006b:144). Geeraerts procede ao sintetizar as quatro principais características da teoria do protótipo: “i. Prototypical categories cannot be defined by means of a single set of criterial (necessary and sufficient) attributes (…). ii. Prototypical categories exhibit a family-resemblance structure, or more generally, their semantic structure takes the form of a radial set of clustered and overlapping meanings (…). iii. Prototypical categories exhibit degrees of category membership; not every member is equally representative for a category (…). iv. Prototypical categories are blurred at the edges (…).” (Geeraerts, 2006b:146) Taylor (1989/1995) defende a perspectiva de Rosch relativamente à existência de diferentes níveis de pertença a uma dada categoria - degrees of category membership - partindo do princípio da existência de atributos prototípicos centrais e periféricos radiais: “In addition to establishing degree of category membership as a psychologically valid notion, Rosch also showed degree of membership to be a relevant variable in a number of experimental paradigms. For instance, degree of membership affects verification time for statements of the kind ‘An X is a Y’. It takes less time to verify that a robin (a highly central member of the category) is a bird than to verify that a duck is a bird (Rosch, 1973b)” (Taylor, 1995:45) O próprio conceito de protótipo pode ser considerado prototípico, pois não configura um fenómeno isolado, mas sim um conjunto de fenómenos interligados. Violi (2000) postula: “It became clear that it was not possible, at least for semantic applications, to think of the prototype as the concrete instance of the most prototypical member of any given category, and consequently as a real individual. Instead, it was necessary to turn it into a mental construal: an abstract entity made up of prototypical properties.” (Violi, 2000:107)” e sugere a seguinte figura representativa baseada em Givón (1986:79): 34 b a c d Figura 2: Conceito de Protótipo (Violi, 2000:108) De acordo com Violi, os círculos a, b, c e d representam propriedades e não conjuntos de indivíduos. No centro encontra-se uma área tracejada, a área de intersecção dos quatro círculos, que representa o protótipo, i.e. a entidade abstracta composta por todas as propriedades prototípicas existentes. Este modelo baseia-se no princípio de que: “linguistic meaning is structured around some area of more salience, where more properties are satisfied; the prototype represents the instance of some better kind of appropriateness.” (Violi, 2000:108). Contudo, é necessário considerar que: “(…) at least in some cases, the existence of a prototype does not imply scalar membership, as predicted in Givón’s schema. We may conclude that different degrees of representatively do not coincide with, or imply, different degrees of membership.” (Violi, 2000:109) O fenómeno de intersecção de categorias reporta-se ao conceito de “parecenças de família” introduzido por Wittgenstein, e pode ser esquematizado da seguinte forma: AB → BC → CD → DE Figura 3: Conceito de Parecenças de Família segundo Wittgenstein Os elementos de uma categoria associam-se entre si, com base em similaridades parciais, em que cada elemento partilha pelo menos uma propriedade com o outro. Não é, portanto, necessário haver uma propriedade comum a todos os elementos. Neste esquema, o primeiro elemento é definido pelos atributos A e B, enquanto o segundo elemento partilha o atributo B com o primeiro elemento – o fenómeno da sobreposição – mas já possui outro atributo diferente, o C. Se avançar-mos com esta cadeia, chegamos à conclusão de que o quarto elemento já nada tem a ver com o primeiro, mas que, de certa forma, ainda está relacionado com ele, tal como acontece no seio de uma família. A fim de realçar o conceito essencial de intersecção entre categorias propomos o seguinte esquema: 35 A B C D E Figura 4: Intersecção entre categorias Em suma, pode concluir-se que a noção de prototipicidade envolve dois princípios: • a não-igualdade entre os elementos de cada categoria, ou seja, um centro prototípico e zonas periféricas; • a não-discrição desses elementos e a existência de fronteiras fluidas entre as categorias. Estes dois princípios são, por sua vez, caracterizados em extensão, ou seja, ao nível referencial e em intensão, ou seja, ao nível do significado. Segundo Geeraerts (1997), que contribuiu significativamente para o desenvolvimento da teoria do protótipo, estas características relacionam-se da seguinte forma: ao nível extensional nos representatividade não-igualdade entre diferentes os graus membros de de uma categoria lexical ao nível intensional no agrupamento de significados por “parecenças de família” e consequentes intersecções entre categorias ao nível extensional na fluidez e flexibilidade dos limites de uma categoria lexical e consequente não-discrição vaguidade da mesma ao nível intensional na impossibilidade de definir itens lexicais em termos de condições necessárias e suficientes25 A categorização afigura-se, assim, como um aspecto central, pois as categorias são construções mentais que estruturaram a realidade e as representações simbólicas: 25 vide Silva (1999:29-30) 36 “There is nothing more basic than categorization to our thought, perception, action and speech. (…) And any time we either produce or understand any utterance of any reasonable length, we are employing dozens if not hundreds of categories: categories of speech sounds, of words, of phrases and clauses, as well as conceptual categories. Without the ability to categorize, we would not function at all, either in the physical world or in our social and intellectual lives.” (Lakoff, 1987:5-6) A categorização é, portanto, condição primária e indispensável para conceptualização do mundo26. Tal como já foi referido anteriormente, as categorias fundam-se em modelos cognitivos. É através da categorização que é possível conceptualizar e organizar mentalmente o mundo. Tanto a significação, como a estrutura interna de uma categoria, dependem das estruturas de conhecimento do mundo, organizado por áreas ou domínios de experiência. Estes modelos são idealizados individualmente ainda que partilhados pelos membros de um determinado grupo social ou cultural (“cognitive models”- “cultural models”): “(...) cognitive models for particular domains ultimately depend on so-called cultural models. In reverse, cultural models can be seen as cognitive models that are shared by people belonging to a social group or subgroup. Essentially, cognitive models and cultural models are thus just two sides of the same coin. While the term ‘cognitive model’ stresses the psychological nature of these cognitive entities and allows for inter-individual differences, the term ‘cultural model’ emphasizes the uniting aspect of its being collectively shared by many people.” (Ungerer/Schmid, 1996:50) Quando ocorrem experiências novas para as quais ainda não formamos um modelo cognitivo correspondente, recorremos a modelos familiares já existentes para compreender e categorizar uma ocorrência desconhecida, o que comprova que os modelos cognitivos não dependem somente do contexto situacional, mas também de outros modelos semelhantes, que servem de referência. Assim sendo, os modelos cognitivos organizam-se em redes (“network model” segundo Langacker (1987), “radial model” segundo Lakoff (1987) ou “overlapping sets model” segundo Geeraerts (1989)), conforme explicado abaixo: 26 Ideia defendida também por Ellis em entrevista ao jornal electrónico Navigator em Agosto de 1998: “In LTL (Language, Thought and Logic), I argued that the really important thing about language was what must have happened before communication could take place - that is, a process of categorization. Communication suggests a transfer of information from one person to another, but before communication can occur language must first determine what kind of information there will be to transfer. And so communication presupposes a prior stage in which the limitless variety of experience has been reduced to a finite set of categories that determine the content of communication. In effect, this prior stage constitutes a particular analysis and understanding of our experience of the world. This analysis is the most basic function of language, and it alone makes communication possible.” (In http://www.objectivistcenter.org/articles/interview_john-m-ellis.asp [Consult. 20.10.2010]) 37 “First, (…) cognitive models are basically open-ended. (...) Secondly, just like the contexts that build the basis for cognitive models, cognitive models themselves are not isolated cognitive entities, but interrelated. (…) So far, two aspects of cognitive models have emerged (…): their incompleteness and their tendency to build networks. There is a third, although not so obvious, property of cognitive models that should not be neglected, namely the fact that the cognitive models are omnipresent. In every act of categorization, we are more or less consciously referring to one or several cognitive models that we have stored. Only in the very rare case when we encounter a totally unfamiliar object or situation will no appropriate cognitive model be available, but even then we will presumably try to call up similar experiences and immediately form a cognitive model.” (Ungerer/Schmid, 1996:49) Acontece, portanto, frequentemente que uma categoria só possa envolver mais do que um modelo cognitivo, formando assim um complexo de domínios. Lakoff refere-se a este fenómeno como “cluster model” (modelo em cacho): “It commonly happens that a number of cognitive models combine to form a complex cluster that is psychologically more basic than the models taken individually. We will refer to these as cluster models.” (Lakoff, 1987:74) Nos diversos estudos de enfoque cognitivo, diferentes termos têm vindo a ser usados na tentativa de melhor descrever e analisar estas estruturas de conhecimento que estão na base das expressões linguísticas. Convém sublinhar que, por exemplo, Fillmore, precursor da abordagem cognitiva, formula a noção de “frame”, formas de estruturação cognitiva do conhecimento baseadas na esquematização coerente da experiência humana num determinado contexto situacional (cenas). Aliada a esta noção de “frame”, encontra-se a ideia de perspectiva, na medida em que a selecção de uma determinada representação lexical ou sintáctica para referir uma ‘cena’ em detrimento de outras opções reflecte claramente a perspectiva do interlocutor. E a perspectivação baseia-se na capacidade cognitiva de focar ou centrar a atenção num determinado aspecto. Baseado no conceito de “frame”, Langacker introduz o conceito de domínios cognitivos, ou seja, áreas do conhecimento que subjazem à significação linguística. Este distingue entre domínios básicos (que representam as experiências humanas mais elementares) e os domínios complexos. Paralelamente, Lakoff defende a concepção de 38 modelos cognitivos idealizados (“ICMs”) e, em conjunto com Johnson, desenvolve a teoria dos esquemas imagéticos27. Os esquemas imagéticos fundam-se nos pressupostos mais básicos da experiência física humana: a consciência do próprio corpo e a consciência do espaço (principalmente através da percepção) que, por consequência, incidem sobre configurações ou movimentos de entidades no espaço. A partir destas noções, que desempenham um papel fulcral na organização activa da nossa experiência, surge um vasto número de imagens mentais que, através do processo cognitivo da organização e de abstracção, transformamos em estruturas ou esquemas mentais que nos ajudam a compreender e verbalizar o mundo que nos rodeia. Estes esquemas, enquanto padrões abstractos da experiência, constituem estruturas flexíveis, pois ‘adaptam-se’ a diferentes experiências em contextos variados em virtude de possuírem uma estrutura básica geral, de certa forma prototípica. “(...) image schemata and their transformations constitute a distinct level of cognitive operations, which is different from both concrete rich images (mental pictures), on the one side, and abstract, finitary propositional representations, on the other. Image schemata exist at a level of generality and abstraction that allows them to serve repeatedly as identifying patterns in an indefinitely large number of experiences, perceptions, and image formations for objects or events that are similarly structured in the relevant ways. Their most important feature is that they have basic elements or components that are related by definite structures, and yet they have a certain flexibility. As a result of this simple structure, they are a chief means for achieving order in our experience so that we can comprehend and reason about it.” (Johnson, 1987:27-28) Os esquemas imagéticos constituem padrões gestaltianos, fruto da experiência e da cognição (i. e. de processos fisiológicos, actividades sensório-motoras, da percepção geral ou específica, da manipulação de objectos, da orientação espacial e temporal). Formam, só por si, uma unidade coesa que não pode ser reduzida a nenhuma das suas partes. O fundamento experiencialista dos esquemas imprime aos mesmos um carácter de universalidade, na medida em que as experiências que estruturam são comuns a todos os seres humanos. Por outro, e fazendo face à complexidade das experiências, é frequente assistir-se a uma activação simultânea de dois ou mais esquemas. De entre um elevado número de esquemas, Johnson (1987) destaca os seguintes: 27 O termo imagético não remete apenas para a noção da existência de imagens mentais, como também apela, segundo Johnson (1987), para a capacidade imaginativa do ser humano. 39 contentor equilíbrio cheio - vazio interacção compulsão bloqueio contra-força processo superfície remoção de barreira possibilidade atracção sobreposição parte - todo da massa à multiplicidade trajectória (perto -longe) ligação colecção contacto centro - periferia ciclo separação fusão objecto escala correspondência (Tradução e adaptação de Johnson, 1987:126) Figura 5: Tabela de esquemas imagéticos Os esquemas imagéticos representam estruturas cognitivas pré-linguísticas e universais que estão ancoradas na experiência humana, e mais frequentemente na experiência de natureza espacial. Estes padrões estão sujeitos a projecções metafóricas, nomeadamente para a conceptualização de conceitos com um elevado grau de abstracção. A língua (ou seja, o contínuo léxico-gramática) constitui, neste sentido, uma representação simbólica do sistema conceptual que não só estrutura o mundo mas também as interacções físicas no seio do mesmo. “(...) speakers have the ability to relate and then metaphorically extend prelinguistic imageschematic conceptions, which are grounded in a concrete physical domain, to more abstract domains, including those relevant to the structuring of conceptual content for purposes of grammatical coding (i.e. the internal structure of an image schema can be projected into more abstract domains via metaphor).” (Smith, 1999:3) Em suma, podemos constatar que longe vão, de facto, os tempos em que a metáfora era vista única e exclusivamente como figura de estilo e mero artefacto retórico. Pelo contrário, a metáfora e a metonímia constituem dois importantes processos cognitivos, duas estratégias de conceptualização às quais recorremos na nossa linguagem quotidiana. “Traditionally, metaphors and metonymies have been regarded as figures of speech, i. e. as more or less ornamental devices used in rhetorical style. However, expressions like the foot of the mountain or talks between Washington and Moscow indicate that the two phenomena also play an important part in everyday language. Moreover, philosophers and cognitive linguists have shown that metaphors and metonymies are powerful cognitive tools for our conceptualization of abstract categories.” (Ungerer/Schmid, 1996:115) A abordagem de cariz cognitivo postula que a metáfora faz parte integrante do nosso sistema conceptual: 40 “(…), language is an important source of evidence for what that system is like. Primarily on the basis of linguistic evidence, we have found that most of our ordinary conceptual system is metaphorical in nature.” (Lakoff/Johnson, 1980a:3-4) Assim, as expressões metafóricas afiguram-se ubíquas, pois são utilizadas naturalmente na linguagem corrente de qualquer interlocutor “indeed, everyday language is filled with metaphorical expressions”28, e estão de tal forma convencionalizadas que os sentidos metafóricos deixam de ser sentidos como tal, na óptica de Lakoff e Johnson: “Our concepts structure what we perceive, how we get around in the world, and how we relate to other people. Our conceptual system thus plays a central role in defining our everyday realities. If we are right in suggesting that our conceptual system is largely metaphorical, then the way we think, what we experience, and what we do every day is very much a matter of metaphor. But our conceptual system is not something we are normally aware of. In most of the little things we do every day, we simply think and act more or less automatically along certain lines.” (Lakoff/Johnson, 1980a:3) O fundamento cognitivo da metáfora reside na projecção, ou seja, no mapeamento29 entre domínios cognitivos que podem ser explicados da seguinte forma: “The essence of metaphor is in understanding and experiencing one kind of thing in terms of another."30. A projecção ou mapeamento cria, por sua vez, uma rede de correspondências entre os domínios, daí que uma expressão metafórica seja a realização simbólica desta rede de correspondências conceptuais. Mais do que um fenómeno linguístico, a linguagem metafórica dimensiona-se enquanto manifestação superficial de uma metáfora conceptual: “Metaphor is fundamentally conceptual, not linguistic, in nature. Metaphorical language is a surface manifestation of conceptual metaphor.” (Lakoff, 1993:244) Assim sendo, a metáfora conceptual consiste na projecção sistemática de um domínio-fonte num domínio-alvo, conforme referenciado abaixo: “A metaphoric mapping involves a source domain and a target domain. (…) The mapping is typically partial; it maps the structure of the ICM [idealized cognitive model] in the source domain onto a corresponding structure in the target domain.” (Lakoff, 1987:288) Ao comparar os domínios-fonte e os correspondentes domínios-alvo, reconhece-se que os domínios-fonte se baseiam no mundo real, na esfera do concreto, enquanto os domínios-alvo frequentemente se revestem de um carácter abstracto. Neste sentido, Lakoff e Johnson (1980a:77) postulam que grande parte da compreensão da experiência quotidiana é 28 Ungerer/Schmid, 1996:116 “mapping” – “conceiving one thought in terms of another”, Lakoff/Johnson, 1980a:36 30 Lakoff/Johnson, 1980a:5 29 41 feita através da metáfora; compreendemos determinados domínios geralmente abstractos em termos de domínios geralmente concretos e familiares. Nesta mesma linha de pensamento, Ungerer e Schmid (1996:121) apresentam alguns exemplos de projecções metafóricas: TARGET SOURCE anger dangerous animal argument journey argument war communication sending death departure ideas plants lifetime day love war theories buildings time money understanding seeing word coin world theatre (Ungerer/Schmid, 1996:21) Figura 6: Tabela de projecções metafóricas Por outras palavras, as noções abstractas tendem geralmente a serem conceptualizadas metaforicamente à luz de noções concretas e familiares: “The metaphors come out of our clearly delineated and concrete experiences and allow us to construct highly abstract and elaborate concepts, like that of an argument.” (Lakoff/Johnson, 1980a:105) “(…) we find that B (the defining concept) is more clearly delineated in our experience and typically more concrete than A (the defined concept). [There is] the tendency to understand the less concrete in terms of the more concrete.” (Lakoff/Johnson, 1980a:108-109) A conceptualização do abstracto depende então, em grande parte, de projecções metafóricas a partir de domínios concretos: “abstract reason is a matter of two things: (a) reason based on bodily experience, and (b) metaphorical projections from concrete to abstract domains” (Lakoff, 1990:39). Preconiza-se, então, que estas projecções metafóricas são unidireccionais, orientando-se da esfera do concreto, o domínio-fonte, para a esfera do abstracto, o domínioalvo, tanto na perspectiva sincrónica como na perspectiva diacrónica: 42 “If such metaphorical understandings do exist, then it would make sense that semantic change would manifest a general pattern, a movement from the more concrete and physical toward the more abstract and nonphysical. There is ample evidence of just such a directionality of change.” (Johnson, 1987:107) “(…) [It is] governed by an arrangement of conceptualization (…) which is unidirectional and proceeds from concrete to abstract, and from concepts which are close to human experience to those that as more difficult to define in terms of human cognition.” (Claudi/Heine, 1986:328) Mais ainda, a metáfora conceptual surge de uma necessidade cognitiva, pois a compreensão de conceitos abstractos é apenas possível através de projecções metafóricas: “Konzeptuelle Metaphern (“X ist Y“) liefern Denkmodelle, mittels derer ein in Frage stehender Erkenntnisgegenstand aus einem Zielbereich (X) durch Rückgriff auf einen ganz anderen Erfahrungsbereich (Y) kognitiv verfügbar gemacht wird. Wegen der Erklärungsfunktion der Metapher könnte man die beiden Elemente X und Y auch als Explanandum und Explanans bezeichnen. (...) Dadurch, daß sie explanatorische Modelle bereitstellt und so Verständnis auch dort vermittelt, wo es ohne sie kaum oder gar nicht möglich wäre, bekommt die Metapher eine kognitive Notwendigkeit. Bestimmte Gegenstandsbereiche sind nämlich unserem Denken kaum anders zugänglich als durch das Mittel der konzeptuellen Metapher (...).“ (Jäckel, 1997:31-32) O sistema conceptual subjacente às representações simbólicas abarca um vastíssimo número de metáforas conceptuais, das quais citamos aqui apenas algumas a título exemplificativo: • A vida é uma viagem: (1) A certa altura na minha vida, não sabia que caminho escolher. (2) Ele encontrava-se numa encruzilhada da vida. • Tempo é dinheiro: (3) Rápido, que eu não tenho muito tempo a perder. (4) Agradeço as horas que investiste em mim. • Ideias/pensamentos/palavras são alimento: (5) Bebam as minhas palavras. (6) Levei muito tempo para digerir o que ele me disse. • Amor é magia: (7) Fiquei enfeitiçado por ela. (8) Já não o amo, a magia perdeu-se. 43 Impõe-se referir outro aspecto de relevância no quadro da metáfora conceptual: o seu carácter colectivo, cultural e socialmente partilhado: “I (…) should think about metaphor and its relation to thought as cognitive webs that extend beyond individual minds and are spread out into the cultural world.” (Gibbs, 1997:146) Retomando o exemplo da metáfora estrutural TEMPO É DINHEIRO, regista-se que esta transferência de domínios conceptuais só acontece quando inserida numa cultura capitalista e materialista em que o dinheiro é um recurso valioso e o tempo é sempre escasso. (Não nos parece plausível que um monge budista procedesse a uma transferência idêntica). Assim, Gibbs exemplifica que não só a expressão do tempo, mas também da zanga, veiculam conteúdos culturais: “The main point is that our use of metaphors to structure concepts, such as anger or time, is strongly shaped by (a) how we culturally conceptualize of situations, like getting angry and sensing time, and (b) by our interactions with social/cultural artifacts around us. Under this view, metaphor is as much a species of perceptually guided adaptive action in a particular cultural situation as it is a specific language device or some internally represented structure in the mind of individuals.” (Gibbs, 1997:162) A dimensão cultural das metáforas estende-se às chamadas metáforas orientacionais, em que a orientação espacial é predominante: para (em) cima – para (em) baixo, dentro – fora, à frente – atrás, superficial – profundo e central – periférico. Estas orientações espaciais advêm do facto do sujeito falante ter um corpo que funciona e que se movimenta no espaço. Assim sendo, as metáforas orientacionais fornecem uma orientação espacial aos conceitos. Por exemplo, a interrogação (em português do Brasil) acerca do estado de espírito do(s) interlocutor(es): (9) Está tudo em cima? procura inquirir acerca do bem-estar ou da felicidade, dimensionando-a como estando em cima. Ao invés, a tristeza ou a infelicidade são representados como associados a abaixo. Registe-se que estas orientações metafóricas não são arbitrárias, baseiam-se na experiência física e cultural. Embora as orientações bipolares ‘em cima’ e ‘em baixo’ sejam de natureza física, as metáforas orientacionais fundadas nessa polaridade, variam de cultura para cultura. Existem culturas, como por exemplo a nossa ocidental, em que o futuro é conceptualizado como estando à nossa frente, enquanto noutras culturas esse mesmo futuro é conceptualizado 44 como estando para trás31. Há, no entanto, conceptualizações metafóricas que reúnem um certo grau de consenso, tais como ‘a felicidade está em cima’ e ‘a tristeza está em baixo’. Este consenso poderá dever-se ao facto de a postura física do ser humano triste ser comum nas várias culturas: uma postura não erecta ou curvada (mais perto da horizontalidade) está associada ao mal-estar e à tristeza enquanto uma postura erecta (associada à verticalidade) representa bem-estar, alegria e felicidade. Por sua vez, estas noções de verticalidade (como representação de tudo o que é positivo) e de horizontalidade (como representação de tudo o que é negativo) estão muito provavelmente ligadas às diferentes posturas características dos seres vivos e dos seres mortos. No seguimento deste princípio é possível dizer que: • estar consciente é estar em cima – estar inconsciente é estar em baixo: (10) • Ele caiu num sono profundo. Domínio, controlo e força é estar em cima – sujeitar-se ao controlo e a forças é estar em baixo: (11) • Ela está em cima do acontecimento. valores morais e sociais posicionam-se em cima – imoralidade e decadência estão em baixo: (12) O acusado teve uma atitude muito baixa. Da mesma forma como a orientação espacial dá origem a metáforas orientacionais, assim também as nossas experiências e interacções com objectos físicos, principalmente com o próprio corpo, fornecem um ponto de partida para as metáforas ontológicas: “[…] so our experiences with physical objects (especially our own bodies) provide the basis for an extraordinarily wide variety of ontological metaphors, that is, ways of viewing events, activities, emotions, ideas, etc., as entities and substances.” (Lakoff/Johnson, 1980a:25) Estas metáforas ontológicas podem ser divididas, segundo Lakoff e Johnson (1980a), em subcategorias: as metáforas de entidade ou de substância que nos ajudam a identificar, a verbalizar, a categorizar, a agrupar e a quantificar as nossas experiências, em suma, a racionalizá-las; as metáforas de contentor, em que projectamos mentalmente a nossa orientação/posição ‘dentro – fora’ para outros objectos, limitados por fronteiras mais ou menos rígidas, conceptualizando-os como contentores (estas últimas são especialmente frequentes quando se trata da conceptualização de emoções), e as metáforas de 31 “Die Zeitvorstellung ist räumlich – als kontinuierliche, gerichtete Bewegung über eine ‘Wegstrecke‘ – konzepiert, die abstrakt als Zeitpfeil repräsentiert werden kann.” (Zifonun et alii, Grammatik der deutschen Sprache, Band 1, 1997:339) 45 personificação, que nos permitem compreender uma grande variedade de experiências com entidades não-humanas recorrendo à conceptualização de motivações, características e actividades humanas. Com o intuito de simplificar esta classificação, Jäckel (1997:147) sugere, aliás inspirado em Lakoff/Johnson (1980a), o seguinte esquema: Konzeptuelle Metapher Strukturelle Orientierungs- Ontologische Metapher metapher Metapher Personifizierung Figura 7: Classificação dos tipos de metáforas - Jäckel (1997:147) Contudo, realça tratar-se de uma divisão artificial, e pouco funcional, e propõe a inclusão de subcategorias, como, por exemplo, a metáfora ontológico-orientacional: “Diese Typologie ist nun nicht ganz unproblematisch. Beispielsweise sind die Definitionen der Haupttypen nicht unbedingt trennscharf. (...) Stattdessen werden die ehemaligen Orientierungsmetaphern seit Einführung der Vorstellungs-Schemata (...) einfach als konzeptuelle Metaphern bezeichnet, die direkt auf einem Vorstellungs-Schema basieren. Und statt struktureller und ontologischer Metaphern werden nunmehr innerhalb konzeptueller Metaphern „ontologische Korrespondenzen“ und „epistemische Korrespondenzen“ unterschieden. (...) Nach der oben vorgestellten Definitionen müßte man allerdings auch Zwischentypen wie „ontologische Orientierungsmetaphern“ zulassen, wenn beispielsweise das BEWUSSTSEIN als BEHÄLTER konzeptualisiert wird und damit eine konkrete Reifizierung vorliegt, welche gleichzeitig eine eindeutige räumliche Orientierung mit sich bringt.“ (Jäckel, 1997:147-149) Entendemos que, neste contexto, é pertinente fazer igualmente referência à metáfora estrutural, que destaca o espaço como um dos domínios mais significativos para a conceptualização metafórica, tal como proposto por Lakoff32: 32 “The general mapping we have found goes as follows: The Event Structure Metaphor • States are locations (bounded regions in space). • Changes are movements (into or out of bounded regions). • Causes are forces. • Actions are self-propelled movements. 46 “What we have found is that various aspects of event structure, including notions like states, changes, processes, actions, causes, purposes, and means, are characterized cognitively via metaphor in terms of space, motion, and force. In our culture, life is assumed purposeful, that is, we are expected to have goals in life. In the Event Structure Metaphor, purposes are destinations and purposeful action is self-propelled motion toward a destination. (…) In short, the metaphor A PURPOSEFUL LIFE IS A JOURNEY makes use of all the structure of the Event Structure Metaphor, since events in a life, conceptualized as purposeful, are sub cases of events in general.” (Lakoff, The Conceptual Metaphor, in http://www.ac.wwu.edu/~mark et/semiotic/met7.html [Consult. 22.10.2010]) Em conclusão, no respeitante à metáfora, o paradigma cognitivo defende os seguintes princípios33: 1. o princípio da ubiquidade - a metáfora convencional é omnipresente e faz parte da linguagem comum do dia-a-dia; 2. o princípio dos domínios cognitivos – a metáfora emerge do mapeamento entre dois domínios, a saber, o domínio-fonte e o domínio-alvo; 3. o princípio dos modelos mentais/cognitivos – a metáfora conceptual constrói modelos mentais coerentes (“ICMs”) que sob a forma de gestalts organizam o pensamento e estruturam a realidade; 4. o princípio da diacronia – no plano diacrónico, a metáfora contribui significativamente para a variação lexical e para processos de gramaticalização; 5. o princípio da unidireccionalidade – após inúmeros estudos de índole sincrónica e diacrónica é possível afirmar que, em regra, na conceptualização metafórica se parte de domínios concretos para domínios abstractos; 6. o princípio da invariância (de Lakoff, 1990, The Invariance Hypothesis,) – articulado com o princípio da unidireccionalidade, defende que, na metáfora, se mantém a topologia cognitiva do domínio-fonte34; Purposes are destinations. Means are paths (to destinations). Difficulties are impediments to motion. Expected progress is a travel schedule; a schedule is a virtual traveler, who reaches pre-arranged destinations at pre-arranged times. • External events are large, moving objects. • Long term, purposeful activities are journeys.” (Lakoff, The Conceptual Metaphor in http://www.ac.wwu.edu/~market/semiotic/met7.html [Consult. 22.10.2010]) 33 vide Jäckel, 1997:40-42 34 “The Invariance Hypothesis is a proposed general principle intended to characterize a broad range or regularities in both our conceptual and linguistic systems. Given that all metaphorical mappings are partial, the Invariance Hypothesis claims that the portion of the source domain structure that is mapped preserves cognitive topology (though, of course, not all the cognitive topology of the source domain need be mapped). Since the cognitive topology of image-schemas determines their inference patterns, the Invariance Hypothesis claims that imagistic • • • • 47 7. o princípio da universalidade e da interdependência cultural – existem domínios cognitivos universais que fazem parte da experiência de cada indivíduo, como por exemplo a consciência corporal. Daí que se considerem as projecções metafóricas com base nestes domínios como sendo praticamente universais. Porém, existe uma interdependência com os aspectos socioculturais que influenciam a construção de certos modelos mentais e que, por sua vez, influenciam o “Weltbild” do indivíduo inserido num determinado grupo cultural; 8. o princípio do ser fundamental – a metáfora assume uma função ‘explicativa’ e constitutiva ao organizar e estruturar realidades abstractas. Sem o auxílio cognitivo da metáfora não seria possível compreender conceitos abstractos35; 9. o princípio da criatividade – a metáfora é considerada criativa, devido à capacidade de reestruturar modelos já existentes de acordo com o contexto e moldar, desta forma, a experiência individual36; 10. o princípio da perspectivação – sendo o mapeamento metafórico apenas parcial, há sempre características do domínio-alvo que são realçadas (focadas) em detrimento de outras37. No seu estudo de 1993 “The contemporary Theory of Metaphor”, Lakoff reforça a sua perspectiva relativamente à metáfora conceptual38 e considera que “The word metaphor has reasoning patterns are mapped onto abstract reasoning patterns via metaphorical mappings. It entails that at least some (and perhaps all) abstract reasoning is a metaphorical version of image-based reasoning” (Lakoff, 1990:39) 35 Veja-se a este propósito Gibbs (1994:17) acerca dos esquemas figurativos do pensamento: ”Scientific theories , legal reasoning, myths, art, and a variety of cultural practices exemplify many of the same figurative schemes found in everyday thought and language. Many aspects of word meaning are motivated by figurative schemes of thought. (…) In recent years, cognitive linguists George Lakoff and Eve Sweetser, cognitive rhetorician Mark Turner, philosopher Mark Johnson, and legal theorist Steven Winter, among a growing group of cognitive scientists, have provided detailed work demonstrating that metaphor, and to a lesser extent metonymy, is the main mechanism through which we comprehend abstract concepts and perform abstract reasoning. (…) figurative thought structures aspects of our ordinary conceptual understanding of experience.” 36 “Creativity is possible, in part, because imagination gives us image-schematic structures and metaphoric and metonymic patterns by which we can extend and elaborate those schemata. One image-schema (such as the PATH schema) can structure many different physical movements and perceptual interactions, including ones never experienced before. And, when it is metaphorically elaborated, it can structure many nonphysical, abstract domains. Metaphorical projection is one fundamental means by which we project structure, make new connections, and remold our experience.” (Johnson, 1987:169) 37 “The very systematicity that allows us to comprehend one aspect of a concept in terms of another (...) will necessarily hide other aspects of the concept. In allowing us to focus on one aspect of a concept (…), a metaphorical concept can keep us from focusing on other aspects of that concept that are inconsistent with that metaphor.” (Lakoff/Johnson, 1980:10) “The various metaphorical structurings of a concept serve different purposes by highlighting different aspects of that concept.” (Lakoff/Johnson, 1980a:96) 38 na senda de Reddy, M. J. (1979). The conduit metaphor: A case of frame conflict in our language about language. In A. Ortony (Ed.), Metaphor and Thought (pp. 284–310). Cambridge: Cambridge University Press. (…) the four categories which constitute the “major Framework” of the conduit metaphor. The core expressions in these categories imply, respectively, that (1) language functions like a conduit, transferring thoughts bodily from one person to another; (2) in writing and speaking, people insert their thoughts or feelings in the words; (3) words accomplish the transfer by containing the thoughts or feelings and conveying them to others; and (4) in listening or reading, people extract the thoughts and feelings once again from the words. Beyond these four classes of 48 come to mean a cross-domain mapping in the conceptual system.” (Lakoff, 1993:203). Simultaneamente distingue claramente a metáfora da expressão metafórica: “The term metaphorical expression refers to a linguistic expression (a word, phrase, or sentence) that is the surface realization of such a cross-domain mapping (this is what the word metaphor referred to in the old theory).” (Lakoff, 1993:203). Lakoff reconhece, igualmente que a metáfora como fenómeno conceptual não se manifesta apenas na língua, mas que está presente em inúmeros domínios da experiência humana: “(…) the locus of metaphor is thought, not language, that metaphor is a major and indispensable part of our ordinary, conventional way of conceptualizing the world, and that our everyday behavior reflects our metaphorical understanding of experience.” (Lakoff, 1993:204) Assim sendo, o enfoque da teoria contemporânea da metáfora conceptual centra-se no pensamento mais do que na língua, abrindo as portas a outras ciências cognitivas. A metáfora é, então, um mecanismo conceptual omnipresente. Neste sentido, Kövecses (2002:57-66) apresenta uma listagem exemplificativa de realizações não-linguísticas de metáforas conceptuais: “(…) if the conceptual system that governs how we experience the world, how we think, and how we act is partly metaphorical, then the (conceptual) metaphors must be realized not only in language but also in many other areas of human experience.” (Kövecses, 2002:57). Esta perspectiva partilha o princípio da relação entre metaphor, language and thought (Ortony, 1996a, 1996b, Gibbs 2008), defendendo que a realização linguística da metáfora é uma manifestação exterior de fenómenos interiores. Mais recentemente, assistimos a mais um passo na transição paradigmática de análise do fenómeno metafórico, destacando a importância do acto comunicativo39: expressions, there are a good many examples which have different, though clearly related implications. (…) That is, the major framework sees ideas as existing either within human heads or, at least, within words uttered by humans. The “minor” framework overlooks words as containers and allows ideas and feelings to flow, unfettered and completely disembodied, into a kind of ambient space between human heads. In this case, the conduit of language becomes, not sealed pipelines from person to person, but rather individual pipes which allow mental content to escape into, or enter from, this ambient space.” (Reddy, 1979:290-291) 39 “When we look at the old contemporary theory, there were two dimensions, metaphor in language and metaphor in thought, and these have been at the center of discussion in a number of disciplines, though being most central, as can be seen from the titles of Ortony (1979/1993) and Gibbs (2008). with the addition of communication, we now have three dimensions that pertain to the phenomenon of metaphor, and these should be distinguished from the disciplines concerning themselves with metaphor, which represent different approaches. Thus, there are linguistic, or more broadly semiotic, approaches to metaphor in thought, the best-known of which is cognitive linguistics; but there are also psychological approaches to metaphor in language and thought (…). In addition, Cameron (2007) and Goalty (2007) have recently argued that the cognitive approach should be complemented by a social approach to metaphor in language and metaphor in thought, reflecting a central concern of those applied linguists, sociolinguists and discourse analysts who have examined the variable relation between metaphor, language and thought across situations of use and groups of people (cf., e.g., Charteris-Black, 2004; Koller, 2004; Caballero, 2006; Müller, 2008; Semino, 2008; Musolff and Zinken, 2009; Steen, Dorst, et al., 2010a, b). Since these three approaches can also be distinguished for the new dimension of metaphor in communication, we can now present a three-by-three division of the complete field of research (see table 2). 49 “The transition of metaphor from language to thought in the old contemporary theory is being followed today by another transition, from metaphor in thought to metaphor in language, thought and communication.” (Steen, 2011:19) Ideias e sentimentos são, assim, transmitidas através da comunicação interpessoal. No acto comunicativo, a espontaneidade própria do discurso oral aliada à economia linguística tendência de comunicar o máximo, da forma mais eficaz, com o mínimo de esforço40 - são factores que podem igualmente contribuir para a proliferação da metáfora como ferramenta conceptual de uso comum. O falante pode recorrer à metáfora de forma consciente e criativa (conceito de metáfora viva ou criativa novel/fresh metaphor) ou mesmo de forma inconsciente (conceito de metáfora morta ou convencionalizada - frozen metaphor) pois a metáfora já está lexicalizada41: “The use of metaphor pervades all language and communication. (…) Metaphor is so pervasive in language that it would be impossible for a person to speak without using metaphor at some point, whether knowingly or not. Metaphors fall into two categories, “frozen” metaphors and “novel” metaphors. Frozen metaphors are those that are in common use in the language and which are often thought to be treated as single linguistic units by native speakers. Novel metaphors are ones in which ideas are combined in new or unusual ways.” (Littlemore, 2001, In: Pilgrims Ltd, http://www.hltmag.co.uk/mar01/mart1 .htm [Consult. 22.10.2010]) O fenómeno do vazio lexical42 (ou lacuna) poderá ser outro factor produtivo para processos metafóricos, assim como a necessidade da lexicalização invenções e descobertas, Table 2 Metaphor research: Dimensions and approaches Language Thought (cognition) Communication Semiotic The linguistic forms of metaphor The conceptual structures of metaphor The communicative functions of metaphor Behavioral Psychological Individual processes and products of… Individual processes and products of… Individual processes and products of… Social Shared processes and products of… Shared processes and products of… Shared processes and products of…” (Steen, 2011:19-20) Veja-se igualmente o princípio da relevância comunicativa e cognitiva: “[Es] wird von SPERBER und WILSON (1995) ein allgemeines und allgemeingültiges, zweiteiliges Prinzip, das Relevazprinzip (‘principle of relevance‘) vorgeschlagen: “Cognitive Principle of Relevance: Human cognition tends to be geared to the maximisation of relevance. Communicative Principle of Relevance: Every act of overt communication conveys a presumption of its own optimal relevance.” (SPERBER/WILSON 2005:469, s. auch CARSTON 2002:379). Das Relevanzprinzip ist als grundlegende Annahme und Voraussetzung für die Modellierung der menschlichen Kognition und einer ihrer Teilleistungen, der Sprachverarbeitung, formuliert worden, die beide unter Effizienz-Gesichtspunkten im Sinne der kognitiven Kosten-Nutzen-Optimierung betrachtet werden.“ (Skirl, 2009:84) 41 Vide Lakoff/Turner (1998) 42 Vide Cruse (1986) e Proost (2007:89-158) 40 50 conduzindo a processos de conceptualização de contextos desconhecidos através de conceitos familiares ou conhecidos43: “The strategy of word coinage often involves “metaphoric extension” processes. Metaphoric extension processes occur when speakers use the words that are available to them in original or innovative ways in order to express the concepts they want. This process is often metaphorical in nature as it involves the ability to stretch the conventional boundaries of word meaning. The use of metaphoric processes to fill lexical gaps created by new semantic fields has been central to change and development in language.” (Littlemore/Low, 2006:287) Com a chegada da revolução digital através da invenção dos computadores, surgiu uma necessidade imperiosa de atribuir nomes a uma imensidade de objectos, acções e situações novas. Em termos de Hardware, Software e operações informáticas, o novo vocabulário específico, embora técnico, tinha de ser claro, sugestivo e facilmente apreensível. A metáfora serviu adequadamente o propósito de criação terminológica. Veja-se, por exemplo: em termos de hardware o ‘rato’ deve o seu nome à semelhança física do objecto com o animal real; quanto ao software, os nomes do sistema operativo Windows e do programa Office emergem de metáforas conceptuais com o propósito de, através da sugestão de imagens mentais, melhor veicular o objectivo funcional dos mesmos. Relativamente às acções, ‘colar’, ‘cortar’, ‘arrastar’ ou ‘largar’, etc., embora virtuais, baseiam-se em acções físicas e concretas. Assim, acções inicialmente desconhecidas, como manipular programas informáticos, perderam muito da sua estranheza e mistério devido à familiaridade do domínio que lhes serviu de fonte conceptual. Consideramos pertinente fazer referência a estes fenómenos devido ao facto de a linguagem técnica do futebol se ter apoiado em processos de conceptualização semelhantes, como iremos demonstrar na parte 3 do presente trabalho. Diferentemente da metáfora, a metonímia é um processo cognitivo baseado em relações de contiguidade, geralmente do tipo: “parte pelo todo”, “instrumento pelo agente”, “causa pelo efeito”, “autor pela obra”, “possuidor pelo possuído” ou “continente pelo conteúdo” etc. (cf. Le Guern, 1973), ou seja, é a capacidade conceptual de relacionar sintagmaticamente duas entidades de um mesmo domínio ou de dois sub-domínios de um domínio: 43 Veja-se a este propósito Boyd (1993:486-489) acerca da metáfora constitutiva. 51 “In metonymy two elements are brought together, keep their existence and are construed as forming a contiguous system. As a result, the conceptual function of metonymy must differ fundamentally from that of metaphor, at least in the prototypical cases. (…) Both processes result from different thought processes and serve different functions in communication.” (Dirven, 1993:21) A metáfora e a metonímia divergem, na medida em que na metáfora se assiste a um mapeamento de domínios, enquanto na metonímia os dois domínios ou sub-domínios permanecem intactos, numa dimensão de coexistência linear: “In other words, in metonymy the two domains both remain intact, but they are seen to be in line, whereas in metaphor only one domain viz. the target domain is kept and the other domain viz. the source domain disappears, so to speak. The mapping process is just that: by mapping elements of the (structure of the) source domain onto the target domain, the source domain itself ceases to exist. This is completely different in metonymy. Therefore, contiguity in metonymy can be defined as the existence, side by side, of two domains (or two sub-domains of one domain) and contiguity is constituted by a conceptual act rather than just ‘given’ in the objective environment.” (Dirven, 1993:14) Lakoff e Johnson defendem a função referencial da metonímia, mas destacam, igualmente, a sua função explicativa e comunicativa: “Metonymy, on the other hand, has primarily a referential function, that is, it allows us to use one entity to stand for another. But metonymy is not merely a referential device. It also serves the function of providing understanding.” (Lakoff/Johnson, 1980a:36) Em princípio, no enunciado metonímico as formulações não metonímicas e metonímicas integram-se num mesmo domínio cognitivo. Analisemos os seguintes exemplos: Completou quinze anos. Completou quinze primaveras. No primeiro enunciado reconhecemos uma formulação não-figurativa. São metonímias do tipo parte pelo todo. A metonímia que usa 'primaveras' é comum e amplamente utilizada. Quando se usa a metonímia das 'primaveras', o discurso ganha um acréscimo de significação que não teria se fosse usado o enunciado não metonímico. Com a metonímia das 'primaveras' a mensagem, além de comunicar um facto, transmite um juízo de valor sobre o mesmo facto. A metonímia confere uma perspectiva à mensagem comunicada. Foi Taylor quem introduziu esta noção de perspectivação, ou seja, a escolha de um determinado elemento de uma estrutura conceptual em detrimento de outra ou até do todo. A esta escolha subjaz uma determinada intenção comunicativa, que, contudo, não é completamente arbitrária, pois também a metonímia, tal como já foi mencionado anteriormente, fundamenta-se em modelos mentais formados a partir da experiência de cada 52 indivíduo. Por exemplo: Após o incêndio ficou sem casa. Este enunciado pode ser substituído por uma metonímia: Ficou sem tecto. Se a escolha da parte fosse arbitrária, poderíamos obter outras metonímias, tais como: Ficou sem janela ou Ficou sem parede ou Ficou sem soalho. Mas não é o que acontece, porque no modelo mental que temos de ‘casa’, consideramos o tecto como sendo o elemento mais saliente e, por consequência, mais representativo de casa. “Like metaphors, metonymies are not random or arbitrary occurrences, to be treated as isolated instances. Metonymic concepts (…) are systematic in the same way that metaphoric concepts are. The sentences given above are not random. They are instances of certain general metonymic concepts in terms of which we organize our thoughts and actions. Metonymic concepts allow us to conceptualize one thing by means of its relation to something else. (…) Thus, like metaphors, metonymic concepts structure not just our language but our thoughts, attitudes, and actions. And, like metaphoric concepts, metonymic concepts are grounded in our experience. In fact, the grounding of metonymic concepts is in general more obvious than is the case with metaphoric concepts, since it usually involves direct physical or causal associations.” (Lakoff/Johnson, 1980a:36-39) Convém acrescentar que, para além do que foi referenciado, Dirven distingue entre imagens não figurativas e imagens figurativas. No primeiro tipo inclui-se a metonímia linear não-figurativa e a metonímia conjuntiva não figurativa. O segundo tipo engloba a metonímia conjuntiva figurativa, a metonímia inclusiva figurativa, bem como a metáfora. Esta, para além de constituir uma imagem figurativa, inscreve-se no eixo paradigmático e não no sintagmático, como a metonímia44: “linear metonym conjunctive metonym (b) (a) inclusive metonym (c) non-figurative (d) metaphor (e) figurative syntagmatic paradigmatic (a) Different parts of the country do not mean the same thing. (b) Tea was a large meal for the Wicksteeds. (c) His crown has not withheld its assent. (d) I do not doubt, but he has a good head on him. (e) Drinking Kriek-Lambik is eating and drinking together.” (Dirven, 1993:15-16) Figura 8: Metáforas e metonímias segundo Dirven (1993) 44 Já Jakobson (1963), baseando-se no seu estudo sobre o fenómeno da afasia, concluiu que, e em conformidade com a perspectiva saussuriana, a metonímia e a metáfora se inscrevem em dois eixos: a primeira, no eixo sintagmático que engloba relações de contiguidade e a segunda, no eixo paradigmático que abrange as relações de similaridade: “Comme on l’a marque plus haut, c’est une relation externe de contiguïté qui unit les constituants d’un contexte et une relation interne de similarité qui sert de base à la substituition.” (Jakobson, 1963:55) 53 Tal como o esquema de Dirven, devidamente ilustrado com exemplos, sugere, a fronteira entre a metonímia e a metáfora é fluida. Sublinhe-se que ocorrem frequentemente casos em que a metonímia é integrada na metáfora (mais raramente o caso inverso), ou em que a metáfora surge a partir de uma metonímia num processo de cumulação (de novo, a direcção inversa é mais rara) e, em consequência, é possível afirmar que a metonímia pode funcionar como motivação conceptual das extensões metafóricas. Em suma, o conhecimento do mundo assume também na metonímia um papel fulcral, pelo que a metonímia possui uma função estruturadora da realidade, afigurando-se uma ferramenta linguística e cognitiva pragmaticamente muito eficaz. “Metonymies show a clear-cut cognitive background, which enables us to produce and understand them easily, because the only thing speakers have to share are the same conceptual relations, common world knowledge about how life is typically organized and how the ‘things of life’ are interrelated. This makes metonymies very efficient tools for resolving different tasks in communication.” (Blank, 1999:174-175) 1.3. Da Teoria da integração conceptual à Teoria das redes de espaços mentais 1.3.1. Teoria da integração conceptual Ao longo dos últimos anos, muitos são os estudos no âmbito da semântica cognitiva que procuram completar e aperfeiçoar o paradigma cognitivo e a teoria da metáfora conceptual. A teoria da integração conceptual (Fauconnier 1985, 1997; Fauconnier/Turner 1995, 1996, 1998a, 1998b, 2002, 2003, 2006; Coulson 2001, 2006; Coulson/Oakley 2000b) é exemplo desta tendência e postula o envolvimento de operações mentais básicas em diferentes níveis de abstracção que estruturam o pensamento e constroem significados: “Conceptual integration (blending) is a basic mental operation that leads to new meaning, global insight, and conceptual compressions useful for memory and manipulation of otherwise diffuse ranges of meaning. It plays a fundamental role in the construction of meaning in everyday life, in the arts and sciences, in mathematics, and in religious thought. The essence of the operation is to construct a partial match between inputs, to project selectively from those inputs into a novel 'blended' mental space, which then dynamically 54 develops emergent structure. It has been suggested that the capacity for complex conceptual blending ("double-scope" integration) is the crucial capacity needed for thought and language.” (Fauconnier, Cognitive Construction of Meaning, Beijing Lectures, 2008, in: http://www.cogsci.ucsd.edu/~faucon/BEIJING/description.html [Consult. 05.11.2010]) A integração conceptual veio, segundo Fauconnier (2001a) desenvolver e complementar o estudo sobre o fenómeno do mapeamento nas metáforas e analogias, conceito de mapeamento esse, que configurou, igualmente, um ponto de viragem na teoria da metáfora, pois destacou a importância da existência de espaços mentais e da projecção conceptual: “The structure-mapping approach to analogy and metaphor was a turning point in cognitive science. It shifted focus from the rule-based generation of structures to the topology of mental models, the efficiency of partial matches, and the projection from one domain to another of conceptual and perceptual organization (…).” (Fauconnier, 2001a:255). Os mapeamentos estruturais são responsáveis pela construção constante de significados emergentes e ajudamnos a organizar e compreender tanto o mundo real, com todas as suas envolvências, assim como o virtual ou o imaginário que pode, até, ser contrafactual: “(…) structure-mapping is inherent in all of our thought processes, and especially in the permanent construction of meaning that we engage in effortlessly as we conceive the world around us, act upon it, and stray beyond it in wild leaps of imagination, fantasy and creativity.” (op.cit). O significado inferido emerge do processo de transferência entre o domínio-fonte e o domínioalvo, entre os quais ocorre o fenómeno do mapeamento de estruturas, dando origem ao fenómeno dinâmico de enriquecimento conceptual - structure projection and dynamic simulation (op. cit.). Fauconnier/Turner (2006) acrescentaram a estes dois domínios uma terceira estrutura - o blend - que afirmam não representar apenas a ‘fusão’ de dois domínios, mas sim um domínio igualmente dinâmico e abrangente: “(…) a particular process of meaning construction has particular input representations; during the process, inferences, emotions and event-integrations emerge which cannot reside in any of the inputs; they have been constructed dynamically in a new mental space—the blended space—linked to the inputs in systematic ways. For example, "They dug their own financial grave" draws selectively from different and incompatible input frames to construct a blended space that has its own emergent structure and that provides central inferences. In this case, the blended space has become conventional. (…) Blends are not predictable solely from the structure of the inputs. Rather, they are highly motivated by 55 such structure, in harmony with independently available background and contextual structure.” (Fauconnier/Turner, 2006:305-306) Estruturas contextuais, o conhecimento background individual e colectivo, assim como a criatividade e originalidade contribuem para a construção e compreensão dinâmica do blend. Neste sentido, a estrutura do blend não depende exclusivamente dos espaços de input, tendo uma estrutura própria - “The blend inherits partial structure from the input spaces, and has emergent structure of its own.” (Fauconnier/Turner, 1996:113) - que pode emergir a partir de uma panóplia de fenómenos, incluindo a metáfora45. Regressando ao conceito dos espaços mentais, Fauconnier e Turner concebem-nos como: “(…) small conceptual packets constructed as we think and talk, for purposes of local understanding and action. Mental spaces are very partial assemblies containing elements, and structured by frames and cognitive models. They are interconnected, and can be modified as thought and discourse unfold. Mental spaces can be used generally to model dynamical mappings in thought and language. Fauconnier (1994, 1997), Fauconnier & Sweetser (1996).” (Fauconnier/Turner, 1998a: 137). Neste sentido, os espaços mentais são ‘blocos’ conceptuais flexíveis que abarcam experiências do mundo real quotidiano e servem, desta forma, como alicerces cognitivos fundamentais para a compreensão do mundo envolvente e a nossa capacidade de nos relacionar-mos com o mesmo. São estruturados por frames46 - estruturas conceptuais abertas que fornecem contextos interpretativos - e modelos cognitivos idealizados47 (ICMs). Jäkel (1997:149) descreve estes modelos como: “gestalthafte Wissensstrukturen, welche den kognitiven Hintergrund für unser Agieren in der Lebenswelt einschließlich unseres Sprachverstehens bilden“. Veja-se o exemplo clássico apresentado por Fillmore (1982) relativamente à 45 “Many phenomena give rise to blends: inventive actions, analogy, dramatic performance, counterfactuals, integrated meanings, grammatical constructions. All of these have partial projection, emergent structure, counterpart mappings, and so on. Metaphor is one of the phenomena that give rise to blends. It has the appropriate features: partial projection from input spaces; emergent structure in the blend; counterpart structure between input spaces; projection of integration of events from the source, the unconscious status of the blend until it is highlighted; cognitive work specific to the blend, and so on.” (Fauconnier/Turner, 1996:116) 46 Fillmore (1982, 1985) “Borrowing from the language of gestalt psychology we could say that the assumed background of knowledge and practices — the complex frame behind this vocabulary domain — stands as a common ground to the figure representable by any of the individual words.(…) [Words belonging to a frame] are lexical representatives of some single coherent schematization of experience or knowledge.” (Fillmore, 1985:223) 47 Lakoff (1987) “(…) we organize our knowledge by means of structures called idealized cognitive models, or ICMs, and that category structures and prototype effects are by-products of that organization. (…) Each ICM is a complex structures whole, a gestalt, which uses four kind of structuring principles: - propositional structure, as in Fillmore’s frames, - image-schematic structure, as in Langacker’s cognitive grammar, - metaphoric mappings, as described by Lakoff and Johnson, - metonymic mappings, as described by Lakoff and Johnson. Each ICM, as used, structures a mental space, as described by Fauconnier.” (Lakoff, 1987:68) 56 compreensão da palavra ‘solteiro’ - bachelor -, realçando a importância do contexto social ou cultural aliado ao conhecimento enciclopédico para a construção do significado. Estes são elementos essenciais para formação dos modelos cognitivos, baseados tanto no mundo real experienciado como numa versão idealizada do mundo. O processo cognitivo reside na confrontação e entre modelos cognitivos face à situação concreta que se apresenta, e.g. ‘is the pope a bachelor?’: “The ICM characterizes representative bachelors. One kind of gradience arises from the degree to which the ungraded ICM fits our knowledge (or assumptions) of the world. This account is irreducibly cognitive. It depends on being able to take two cognitive models - one for bachelor and one characterizing one’s knowledge about an individual, say the pope - and compare them, noting the ways in which they overlap and the ways in which they differ. One needs the concept of “fitting” one’s ICM to one’s understanding of a given situation and keeping track of the respects in which the fit is imperfect.” (Lakoff, 1987:71) A combinação de vários modelos cognitivos individuais dá origem a um conjunto complexo de modelos - cluster model. Lakoff exemplifica este modelo em cacho através do conceito associado à palavra ‘mãe’. Não é possível compreender este conceito de forma plena com base na análise semântica tradicional assente nas condições necessárias e suficientes, pois afigurase como demasiadamente redutor. Apenas através de um modelo complexo, construído a partir da combinação de vários modelos cognitivos individuais, é possível caracterizar a plenitude de um conceito, englobando todas as suas vertentes48. Tal como já referimos anteriormente, a metáfora conceptual emerge destas supraestruturas cognitivas que organizam, diferenciam e comparam os diferentes domínios das experiências vividas49. Neste sentido, também os espaços mentais não podem ser compreendidos como meras representações linguísticas, são antes estruturas cognitivas flexíveis, continuamente construídas e adaptadas ao contexto comunicativo enquanto 48 Lakoff (1987:74-76) “Entsprechend dem Paradigma der Erfahrungsmäßigkeit bei Lakoff/Johnson verbinden sich konzeptuelle Metaphern zu einem clusterhaft strukturierten Ganzen, einer experiential gestalt, die später auch als idealized cognitive model (ICM) (Lakoff 1987) bezeichnet wurde; terminologisch sind sie mit Fillmores frames oder Langackers functional assemblies vergleichbar. ICMs stellen übergeordnete Strukturen konzeptueller Metaphernbündel dar, die alltägliche Erfahrungswelten konstruieren und differenzieren. Als grundlegende Organisationsform menschlichen Wissens bilden sie eine Wissens- und Erfahrungsstruktur, die einen Hintergrund für Wissenseinführung, Wissensstabilisierung und Wissenserneuerung formen. So entwickelt sich ein konzeptuell-semantisches Sprachverständnis, wonach sich Bedeutungen ergeben können, die durch die konzeptuelle Ebene motiviert und strukturiert sind. Der alltägliche Gebrauch dieser sprachlichen Strukturen sorgt für die Stabilisierung dieser konzeptuellen Wissensstrukturen. Kultur könnte so - kognitiv-semantisch verstanden - als eine Konstruktion konventionalisierter und im historischen Prozess stabilisierter metaphorischer Erfahrungsbestände gelten: Körperliche und kulturelle Erfahrung werden gleichsam mental repräsentiert und prägen im hermeneutischen Sinn eine sich immer weiter ausdifferenzierenden kulturellen Modellierung.“ (Döring/Osthus, 2002, In: metaphorik.de - http://www.metaphorik.de/03/doeringosthus.htm [Consult. 05.11.2010]) 49 57 pensamos e falamos. Assim sendo, o processo cognitivo da integração conceptual configura um mecanismo mental básico, presente em muitas áreas da cognição humana: “(…) conceptual integration - like framing or categorization - is a basic cognitive operation that operates uniformly at different levels of abstraction and under superficially divergent contextual circumstances. It also operates along a number of interacting gradients. Conceptual integration plays a significant role in many areas of cognition. It has uniform, systematic properties of structure and dynamics.” (Fauconnier/Turner, 2006:304). Fauconnier e Turner postulam ainda que a integração conceptual é um fenómeno mais abrangente que ultrapassa o mero mapeamento entre domínios - “Cross-space mapping is only one aspect of conceptual integration (…)” (op.cit. p.305), sendo que o produto deste processo conceptual não resulta de mapeamentos únicos e isolados, inserindo-se antes numa rede de integração conceptual: “Conceptual products are never the result of a single mapping. What we have come to call "conceptual metaphors," like TIME IS MONEY or TIME IS SPACE, turn out to be mental constructions involving many spaces and many mappings in elaborate integration networks constructed by means of overarching general principles. These integration networks are far richer than the bundles of pairwise bindings considered in recent theories of metaphor.” (Fauconnier/Turner, 2008:53) Neste sentido, a metáfora envolve, para além dos mapeamentos entre espaços, uma estrutura emergente integrada numa rede conceptual: “But metaphors (…) involve more than mappings or bindings between two spaces. They involve many spaces, and they involve emergent structure in the network. The apparently unproblematic mapping by itself will not account for the complex emergent structure of the network and the data that express it.” (Fauconnier/Turner, 2008:54-55) e configura uma manifestação particularmente importante e saliente da integração conceptual: “(…) metaphor itself is one particularly important and salient manifestation of conceptual integration.” (op.cit. p.65). Através de um exemplo paradigmático, ‘o enigma do monge budista’50, Fauconnier e Turner (1998a, 1998b, 2002, 50 “Consider a classic puzzle of inferential problem-solving (Koestler 1964): A Buddhist monk begins at dawn one day walking up a mountain, reaches the top at sunset, meditates at the top for several days until one dawn when he begins to walk back to the foot of the mountain, which he reaches at sunset. Making no assumptions about his starting or stopping or about his pace during the trips, prove that there is a place on the path which he occupies at the same hour of the day on the two separate journeys. Our demonstration of the power of blending is likely to be more effective if the reader will pause for a moment and try to solve the problem before reading further. The basic inferential step to showing that there is indeed such a place, occupied at exactly the same time going up and going down, is to imagine the Buddhist monk walking both up and down the path on the same day. Then there must be a place where he meets himself, and that place is clearly the one he would occupy at the same time of day on the two separate journeys. 58 2008) e Turner (2010) constroem um modelo de uma rede de integração conceptual que inclui: espaços mentais, espaços de input, mapeamentos entre espaços que estabelecem ligações entre as partes homólogas, o espaço genérico, o blend, o fenómeno da projecção selectiva, e a estrutura emergente51. Estes afirmam que: “The network model is concerned with on-line, dynamical cognitive work people do to construct meaning for local purposes of thought and action. It focuses specifically on conceptual projection as an instrument of online work. Its central process is conceptual blending.” (Fauconnier/Turner, 2006:312-313) Generic Space Input I2 Input I1 Blend Figura 9: Modelo básico de Integração conceptual (Fauconnier/Turner, 2006:313) Neste modelo minimalista, inspirado no já referido enigma do monge budista, os círculos representam os quatro espaços mentais cruciais: o espaço genérico, os dois espaços de input e o blend emergente. Fauconnier e Turner realçam a existência de outros modelos de integração The riddle is solved, but there is a cognitive puzzle here. The situation that we devised to make the solution transparent is a fantastic one. The monk cannot be making the two journeys simultaneously on the same day, and he cannot "meet himself." And yet this implausibility does not stand in the way of understanding the riddle and its solution. It is clearly disregarded. The situation imagined to solve the riddle is a blend: it combines features of the journey to the summit and of the journey back down, and uses emergent structure in that blend to make the affirmative answer apparent.” (Fauconnier/Turner, 2006:306-307) 51 Vide Coulson (2001:22) 59 mais complexos, pois podem incluir diversos espaços de input e múltiplos blends ou hyperblends que possuem blends como espaços de input52, facto que configura uma das principais diferenças relativamente à teoria da metáfora conceptual que assenta no princípio do mapeamento unidireccional entre dois domínios - domínio-fonte e domínio-alvo - apenas. À medida que a projecção conceptual se revela, os elementos reconhecidos pertencentes aos dois domínios de input - representado por pontos negros - configuram o espaço genérico. O espaço genérico evidencia os elementos homólogos que suportam o mapeamento. Este espaço é resultado de um processo mental de abstracção, ao contrário dos dois espaços de input, que reflectem conjuntos de elementos baseados no conhecimento empírico ou enciclopédico. O espaço genérico53 é então mapeado para cada um dos dois espaços de input - linha tracejada -, definindo, assim, o mapeamento entre elementos homólogos dos mesmos. Assiste-se, portanto, a um mapeamento parcial entre os dois espaços de input, estabelecendo uma ligação - linha sólida - entre os elementos homólogos54. O blend é um espaço dinâmico e original resultante da projecção dos elementos provenientes dos dois espaços de input, em estrita relação com o espaço genérico, pois encerra a sua estrutura genérica. Por outro, engloba estruturas mais específicas provenientes dos espaços mais concretos de input e comporta ainda uma estrutura criativa e virtual - representada pelos pontos brancos: “Blending. In blending, structure from two input mental spaces is projected to a third space, the "blend." In the monk example, the two input spaces have two journeys completely separated in time; the blend has two simultaneous journeys. Generic spaces and blended spaces are related: blends contain generic structure captured in the generic space, but also contain more specific structure, and can contain structure that is impossible for the inputs, such as two monks who are the same monk.” (op.cit. p.314) A estrutura emergente do blend produz, consequentemente, um significado emergente próprio: 52 “(…) there can be multiple inputs and successive and iterated blends; there can be, and usually are, hyper-blends that have blends as inputs; a conceptual array can be decompressed in interesting ways so as to create a network in which the original conceptual array ultimately counts as a blend; emergent structure should be thought of as arising not only or even chiefly in the blend, but rather in the entire network; and so on.” (Turner, 2008:1) 53 “Generic space . As conceptual projection unfolds, whatever structure is recognized as belonging to both of the input spaces constitutes a generic space. At any moment in the construction, the generic space maps onto each of the inputs. It defines the current cross-space mapping between them. A given element in the generic space maps onto paired counterparts in the two input spaces.” (Fauconnier/Turner, 2006:314) 54 “Cross-space mapping of counterpart connections. In conceptual integration, there are partial counterpart connections between input spaces. The solid lines in Figure 6 represent counterpart connections. Such counterpart connections are of many kinds: connections between frames and roles in frames; connections of identity or transformation or representation; metaphoric connections, etc. In the monk example, the monks, paths, journeys, days, and so on are counterparts. (Fauconnier/Turner, 2006:313) 60 “But the essence of conceptual integration is its creation of a new mental assembly, a blend, that is identical with neither of its influences and not merely a correspondence between them and usually not even an additive combination of some of their features, but is instead a third conceptual space, a child space, a blended space, with new meaning. This new meaning is "emergent" meaning, in the sense that it is not available in either of the influencing spaces but instead emerges in the blended space by means of blending those influencing spaces. The blend inherits some of its elements and some of its meaning from the influencing spaces, and in this way it is the conceptual descendent of the influencing spaces, just as a child is the biological and cultural descendent of its parents. But like the child, the blend develops its own identity and is not merely a copy of its parents. It has meaning that is its own: "emergent" meaning. (Turner, 2001:17) Por fim, assiste-se ao fenómeno da projecção selectiva55 que expõe a parcialidade da projecção a partir dos espaços de input, como se infere pelos pontos negros soltos. De acordo com Fauconnier e Turner, a construção de um blend implica três operações cognitivas: composição (composition), integração (completion) e elaboração (elaboration) (Fauconnier/Turner, 2006:314). A composição diz respeito aos elementos dos espaços de input que compõem o blend e criam relações que não existem em cada um dos espaços de input isoladamente. Tomado o exemplo do monge budista, a fusão entre os monges (cada espaço de input comporta um monge budista a subir e descer um monte) que ao percorrerem os seus caminhos acabam por se cruzar num dado ponto, é uma forma de composição. Elementos homólogos podem ser incluídos no blend de forma isolada ou fundida. A figura 7 representa tanto uma fusão de elementos homólogos como a inclusão de elementos homólogos isolados. A integração evidencia a necessidade de completar as estruturas compostas, i.e. no blend mobilizamos e reunimos, sem o reconhecer conscientemente, múltiplas estruturas conceptuais e conhecimento de background de forma a completar a sua estrutura. Um subtipo fundamental deste processo de mobilização é a ‘complementação de uma matriz’ (pattern completion): uma estrutura composta minimal no blend pode ser completada através de uma matriz convencional mais extensa. No exemplo do monge budista, a estrutura composta (resultado do processo de composição) é completada através do cenário de ‘duas pessoas que se deslocam em direcção uma da outra, acabam por se cruzar’. Neste sentido, Fauconnier e Turner postulam: 55 “Selective projection. The projection from the inputs to the blend is typically partial. In Figure 6, not all elements from the inputs are projected to the blend. (Fauconnier/Turner, 2006:314) 61 “Conceptual blending is not a compositional algorithmic process and cannot be modeled as such for even the most rudimentary cases. Blends are not predictable solely from the structure of the inputs. Rather, they are highly motivated by such structure, in harmony with independently available background and contextual structure (…)” (Fauconnier/Turner, 2006:306) A elaboração expande o blend através do processo de simulação mental imaginativa em concordância com os princípios lógicos do mesmo. Estes princípios lógicos, ou estabilizadores, podem ser fruto do processo contínuo e dinâmico de complementação, porém novos princípios podem, igualmente, emergir aquando do próprio processo de elaboração. Este fenómeno de expansão em contínuo pode originar a construção de blends extremamente elaborados. Destaca-se a estrutura emergente do blend, que resulta dos processos acima descritos. O blend contém, então, uma estrutura própria que não configura uma mera cópia dos espaços de input. Na figura 7, esta estrutura emergente é representada pelo quadrado. No exemplo do monge budista, o momento em que os monges se cruzam (ou encontram) constitui a estrutura emergente56, ou seja, a solução do enigma reside no reconhecimento contrafactual de que a uma dada altura, num determinado dia, o monge, que sobe e desce a montanha, sempre no mesmo percurso, acaba por se cruzar com ele próprio. Esta conceptualização é apenas possível através da construção do blend no qual podemos, imaginar ou visualizar uma realidade impossível, capacidade esta, que nos distingue como seres cognitivos: “a central human mental ability: the ability to blend two different conceptual arrays so as to produce an emergent outcome in the blend.” (Turner, 2010:1). Turner explora algumas situações humorísticas, em que o humor advém de blends contrafactuais mal compreendidos: “There are also humorous vignettes whose humor consists in poor blending done by incompetent people.” (Turner, 2010:1). A contrafactualidade configura, aliás, um fenómeno central da cognição humana, tanto em situações do dia-a-dia como, por exemplo, na formulação de hipóteses ou raciocínios científicos ou políticos: 56 “The insight that comes from the mental blending includes the recognition that all the specific cases, and therefore the abstract case, create a blend with a particular emergent structure: a meeting. In the blend, but in neither of the inputs, there are two travelers, and they meet, necessarily at a particular time of day. The purpose of the blend is not to replace the inputs (ascent and descent), but to allow us to reason over the network, to detect structure in the network that is otherwise not instantly apparent. The existence of the meeting place in the blend is connected back to structure across the network. We take the meeting place as indicating a conceptual connection between the mental space of the ascent and the mental space of the descent: in each of those two mental spaces, there is a location on the path corresponding to the meeting point in the blend, and there is an identity connector between those two locations on the path in each of the input spaces—ascent and descent—such that if the monk is positioned at the designated spot in one mental space then at the same hour of the day in the other mental space, the monk must be located at the identical spot.” (Turner, 2010:8-9) 62 “Counterfactuals are not exotic curiosities of language. They are central to reasoning in everyday life (Kahneman, 1995), and to scientific reasoning (Goodman, 1947). Tetlock and Belkin (1996) show that argumentation in political science relies indispensably and extensively on counterfactual thought. Turner (1996a) shows that political scientists and others have not taken into account the complex blending structure and knowledge that it recruits without our noticing it.” (Fauconnier/Turner, 2006:326). Através do enigma do monge budista, Fauconnier e Turner procuraram demonstrar quais as capacidades cognitivas subjacentes à integração conceptual: “The mental ability is this: • Conceptual inputs (in this case, of the ascent and the descent) are blended o mentally o and selectively, for example, we do not bring into the blend the calendrical day, or certain background knowledge, such as that one person cannot be in two places at the same moment o with crucial emergent structure arising in the blend indeed, this is indispensable for attaining the goal: the meeting in the blend is emergent, that is, not contained in either input, yet this structure in the blend achieves the goal by creating something in the mental network. My purpose in presenting the blend of the Buddhist Monk is to give an example of this mental ability.” (Turner. 2010:11-12) Como já referimos anteriormente, dado que as redes de integração conceptual são estruturadas por frames, existem, segundo Turner (2008:2-4), diferentes tipos de redes: - redes simples - simplex networks - nas quais um espaço de input configura um frame abstracto familiar, de forma a englobar determinados valores e princípios e um segundo espaço de input que configura uma contexto situacional específico que reflecte os valores e princípios em questão57; 57 “Simplex networks. A simplex network is a conceptual integration network in which one input space has a familiar abstract frame (such as the kinship frame parent-ego) that is designed to embrace certain kinds of values, and the other input space is a relatively specific situation presenting just such values. For example, if we wish to say that two people—John and James—stand in a certain kin relation, we say something like "John is the father of James." The parent-ego frame of kin relation is in one input space; the other input space has John and James. In the blended space, John is the father of James, and there is a new role father of James.” (Turner, 2008:2-3) 63 - redes em espelho - mirror networks - nas quais os dois espaços de input partilham a mesma topologia propiciada por um frame estruturante e organizador e que é ‘herdado’ pelo blend58; - redes de extensão simples - single-scope networks - nas quais os dois espaços de input configuram frames estruturantes diferentes e apenas um desses frames é projectado para o blend59; - redes de extensão dupla - double-scope networks - apresentam dois frames estruturantes diferentes nos dois espaços de input que são projectados para o frame mesclado, de forma a garantir que a estrutura do frame do blend contenha, nem que seja parcialmente, elementos estruturantes, não partilhados, de cada um dos espaços de input60. As operações mentais subjacentes aos fenómenos da contrafactualidade, do framing, da categorização, da analogia, da metáfora e da metonímia revelam, de forma semelhante, a capacidade cognitiva de construir double-scope blendings: “What were previously regarded as separate phenomena and even separate mental operations—counterfactuals, framings, categorizations, metonymies, metaphors, etc.—are consequences of the same basic human ability for double-scope blending. More specifically, these phenomena are all the product of integration networks under the same general principles and overarching goals. They are separable neither in theory nor in practice: the majority of cases involve more than one kind of integration.” (Fauconnier/Turner, 2008:54). Este reconhecimento justificou a que o fenómeno da conceptualização metafórica fosse repensado e reanalisado. Fauconnier e Turner (2008) no seu artigo “Rethinking Metaphor” advogam uma abordagem mais abrangente e aprofundada no que concerne o estudo da metáfora e tomam a metáfora clássica TEMPO É ESPAÇO como exemplo paradigmático: “To 58 “Mirror networks. In a mirror network, two input spaces share topology given by an organizing frame, and the blend inherits that organizing frame. A standard example of a mirror network is "Regatta." In "Regatta," a freightladen clipper ship, Northern Light, set the record for an ocean voyage from San Francisco to Boston in 1853 and a modern catamaran named Great American II is in the process of making that run in 1993. A sailing magazine named Latitude 38 reports, "As we went to press, Rich Wilson and Bill Biewenga [the crew of the catamaran] were barely maintaining a 4.5 day lead over the ghost of the clipper Northern Light." Here, the two inputs—we label them "1853" and "1993"—have the organizing frame boat making an ocean voyage. The blend has an extension of that frame: two boats making ocean voyages and moreover racing as they make them.” (Turner, 2008:3) 59 “Single-scope networks. A conceptual integration network is single-scope if the inputs have different organizing frames and only one of those frames is projected to organize the blend. For example, a cartoon of presidential candidates having a shoot-out evokes a single-scope network. The frame gunslingers at a shoot-out is projected from one of the inputs to organize the blend. As long as the shoot-out frame is the only one used to organize the blend, then the network is single-scope. But if frame-level organizing structure from the other input is later on projected to the blend so as to play a role in the organizing frame of the blend, the network ceases to be singlescope.” (Turner, 2008:3) 60 “Double-scope networks. A conceptual integration network is double-scope if different input frames are blended into a blended frame whose organizing frame-level structure includes at least some organizing structure from each of the two input frames that is not shared by the other. (Single-scope networks sit atop a very slippery slope and slide easily into double-scope structure.) Double-scope networks involve frame blending.” (Turner, 2008:3-4) 64 illustrate how metaphor has been rethought within the broader perspective of integration networks and compression, we will revisit the classic metaphor of time as space, and show in some detail that much of what is going on in this metaphor has gone unnoticed and therefore unexplained.” (Fauconnier/Turner, 2008:54). Estes concluem que o processo metafórico pressupõe múltiplos mapeamentos entre espaços ou domínios, o que implica que a estrutura emergente complexa da rede conceptual exija outras operações mentais: “But metaphors, this one included, involve more than mappings or bindings between two spaces. They involve many spaces, and they involve emergent structure in the network. The apparently unproblematic mapping by itself will not account for the complex emergent structure of the network and the data that express it.” (op.cit. p.54-55) “These various linguistic examples and the emergent structures that make them possible derive from a systematic but elaborate integration network that involves a number of input spaces, blended spaces, vital relations, and compressions.” (op.cit. p.56) As realizações metafóricas da metáfora conceptual TEMPO É ESPAÇO, por exemplo, são evidência da existência de uma rede complexa de integração conceptual e revelam uma topologia intrincada da estrutura emergente no blend. Por topologia entenda-se a estrutura interna e organizativa dos diferentes espaços mentais; esta revela estruturas elementares que geralmente reflectem a capacidade humana de reconhecimento e organização dos espaços físicos envolventes, assim como da relação sensório-motora entre o corpo e o espaço físico: “(…) an oriented cognitive topology, which characterizes structures oriented relative to the human body that apply generally to spatial situations, structures like paths, bounded regions, tops, etc. Structures in a cognitive topology differ from semantic features in a number of ways: they are inherently meaningful (arising from sensory-motor operations), they have an inherent structure, they are analog rather than finitary, and the relationships among them arise naturally via the operation of the human sensory-motor system. (…) The topological properties of the concepts are necessary to characterize “image-schema transformations” in terms that they are cognitively natural, rather than in terms of an arbitrary calculus.“ (Brugman/Lakoff, 2006:110-111) Um frame estruturante fornece a tipologia do espaço mental no que concerne a relação entre os elementos constituintes. Assim sendo, sempre que espaços partilhem o mesmo frame estruturante, partilham igualmente a mesma tipologia, o que facilita o processo de mapeamento entre os espaços61. Quando todos os espaços mentais partilham o mesmo frame 61 “For any input space and any element in that space projected into the blend, it is optimal for the relations of the element in the blend to match the relations of its counterpart.” (Fauconnier/Turner, 1998a:163) “An organizing 65 estruturante, estamos perante uma rede de frames - frame network: “A frame network is a conceptual integration network in which all spaces, inputs, generic, and blend, share topology given by an organizing frame. An organizing frame for a mental space is a frame that specifies the nature of the relevant activity, events, and participants.” (Fauconnier/Turner, 1998a:163) Contudo, a selecção do frame estruturante de um determinado espaço mental não é uma decisão definitiva, pois o mesmo pode ser modificado e adaptado aquando da construção da rede conceptual: “The selection of an organizing frame for a space is not a once-and-for-all decision. The organizing frame can be modified and elaborated as the integration network is constructed.” (op.cit. p.164) Mais ainda, existem diferentes tipos de construções de redes conceptuais de acordo com os níveis de partilha das topologias dos espaços (shared topology networks, one-sided networks, two-sided networks, asymmetric two-sided networks, unfilled shared topology networks, two-sided unfilled shared topology networks e single-framing networks (op.cit. pp.164-169)). O modelo de integração conceptual pretende igualmente aprofundar o conceito de inferência aquando da projecção conceptual. O fenómeno da inferência já fora abordado anteriormente associado ao princípio da invariância (the invariance-principle) em Turner (1987), Lakoff and Turner (1998), Lakoff (1990), Turner (1990), Lakoff (1993), e Turner (1996). Sumariamente, o princípio da invariância pressupõe que, no processo metafórico, são projectadas estruturas imagéticas (image-schematic structures) do domínio-fonte para o domínio-alvo, tendo em conta que a estrutura do esquema imagético inerente ao domínioalvo não pode ser violada. Essa estrutura limita automaticamente as possibilidades de mapeamento, devido à preservação da topologia cognitiva inerente. Contudo, se as estruturas do domínio-fonte são indefinidas ou vagas, a importação de estruturas imagéticas distintas para o domínio-alvo, aquando do processo de projecção, não viola o princípio da invariância, devido ao facto de não surgir nenhum conflito entre as estruturas. O modelo das redes conceptuais estende e adapta este princípio de invariância ao enfatizar a importância da topologia imagética em todos os tipos de projecção conceptual, e não apenas na projecção de natureza metafórica, pois defende a existência de combinações produtivas de estruturas imagéticas em todos os espaços: input, genérico e blend. Mais ainda, postula, tal como já foi frame provides a topology for the space it organizes—that is, it provides a set of organizing relations among the elements in the space. When two spaces share the same organizing frame, they share the corresponding topology and so can easily be put into correspondence. Establishing a cross-space mapping between inputs is straightforward when they share the same organizing frame.” (Fauconnier/Turner, 1998a:164) 66 referido anteriormente, que o blend possui uma estrutura emergente singular, determinante para o processo de inferência62. Com o intuito de ampliar a teoria da metáfora baseada no modelo dos dois domínios, Fauconnier e Turner advogam que o processo de mapeamento de uma metáfora convencional envolve, necessariamente, a integração conceptual. Sempre que estruturas ou inferências do blend são projectadas ‘de regresso’ para o espaço alvo, de forma a convencionalizar o mapeamento entre a fonte e o alvo, o blend deixa de ser um espaço de construção dinâmico. Consequentemente, na metáfora convencionalizada, tanto o blend como o espaço genérico são secundários. Metáforas convencionais são, portanto, blends convencionais: “Additionally, blending is always available to someone who activates a conventional metaphor, and many of the conventional metaphors studied so far are, like ANGER IS HEAT or The Grim Reaper, actually conventional blends.” (Fauconnier/Turner, 2006:362) Evans e Zinken (2005) consideram, ainda, que já não se assiste a qualquer projecção conceptual nas expressões convencionais: “Our argument entails the assumption that the production and comprehension of conventional language does itself not require conceptual projection.” (Evans/Zinken, 2005:7) Estes defendem a existência de uma memória semântica em cada falante, que abarca os itens lexicais e os múltiplos conceitos associados por convenção aos mesmos, formando uma rede semântica. A projecção conceptual está na génese da elaboração do conceito e assume-se como um fenómeno histórico-social: “However, conceptual projection is relevant here as a historical phenomenon: a particular temporal concept has been elaborated in terms of a particular spatial concept by conceptual projection over a certain period of sociohistorical time. Once the temporal concept has become conventionally associated with the respective linguistic form, projection is no longer required for comprehension or production.” (op.cit., p. 15) A projecção conceptual emerge apenas num contexto explicativo: “(…) conceptual projection does come into the picture when one tries to explain conventional figurative patterns, such as the use of spatial markers in talking about time.” (op.cit. p. 15) Assim sendo, e reconhecendo o carácter universal da projecção 62 “But the network model and its Topology principle differ from the two-domain model of metaphor and its invariance principle. Under the invariance principle, all the inferential structure had to be supplied by either the target and its protected image-schematic structure or by the source image-schematic structure projected to the target. We have demonstrated that the blend often has emergent structure available from neither input but important for inferencing. In digging your own grave, there is important causal structure and event structure: the person addressed is digging a grave and the existence of a satisfactory grave causes death. This structure is imageschematic, but it is not given by either input. The causal structure of the blend is the inverse of the causal structure of the source, and in the target it is not given, prior to the blend, that the person addressed is performing bad acts, that performing them completes in a cumulative manner a certain gradual action, or that completing that action causes disaster. This image-schematic structure, with its inferences, is developed in the blend so as to permit the projection of certain inferences to the target that the target can accept.” (Fauconnier/Turner, 2006:361) 67 conceptual, esta afigura-se como um processo indispensável para a mudança semântica e para a extensão permanente das categorias. Em suma, destacamos os seguintes pontos que consideramos os mais importantes e inovadores para o enriquecimento da teoria da metáfora: - as teorias da metáfora e analogia centravam-se no princípio da projecção unidireccional - do domínio-fonte para o domínio-alvo - sem se debruçarem sobre a construção de espaços mesclados, os blends; - a perspectiva da integração conceptual postula uma concepção de construção de significados bastante mais ampla e coesa, a todos os níveis: a mesclagem assume-se como um processo generalizado, fundamental, cognitivamente indispensável, comum a um vasto conjunto de domínios, em interacção com outras operações cognitivas63: "(…) blending is a central, orderly, powerful, systematic, and commonplace cognitive operation.” (Fauconnier/Turner, 1998:184); - a projecção conceptual ocorre entre dois espaços mentais de input, porém, estes espaços não representam domínios completos, mas antes estruturas parciais relevantes, cuja saliência depende da perspectivação. Assumem estruturas adicionais por defeito, fornecidas pelo contexto, pela cultura e pelo conhecimento background, i.e.: “(…) space-blending is a central, indispensable component of conceptual projection, and that crucial aspects of meaning (inferences, emotions, creativity) cannot be accounted for without it. (…) Mental spaces in general have only very partial explicit structure that typically includes roles, values, and relations.” (Fauconnier/Turner, 1994:12); - mesclar dois espaços significa projectar estruturas parciais dos espaços de input , de forma coerente, para um terceiro espaço, o blend; - as estruturas parciais dos espaços de input, nomeadamente os seus elementos homólogos, compõem o espaço genérico mais abstracto que serve de elemento estabilizador do blend; - um blend não pode ser compreendido como uma mera soma ou amalgama das estruturas de input. Configura antes, um espaço próprio e dinâmico de recriação estrutural. Assim sendo, pode (embora não seja muito frequente) originar domínios conceptuais diferentes e contribuir para a extensão de categorias; 63 “Far from being confined to problem-solving and conscious reasoning, structure-mapping is inherent in all of our thought processes, and especially in the permanent construction of meaning that we engage in effortlessly as we conceive the world around us, act upon it, talk about it, and stray beyond it in wild leaps of imagination, fantasy and creativity.” (Fauconnier, 2001a:255) 68 - blending afigura-se, igualmente, como um fenómeno apropriado para processos de compressão relativamente a ‘relações vitais’ (vital relations64), tais como o tempo, o espaço, relações causa-efeito, identidade, mudança, etc.: “A remarkable conclusion of recent work which was overlooked by both early metaphor theory and early blending theory is that integration networks achieve systematic compressions. The ability to use standard techniques and patterns of compression and decompression enables us to work at once over elaborate integration networks. For example, a cause-effect relation connecting different mental spaces in the network may be compressed into a representation relation or an identity relation within the integration network.” (Fauconnier/Turner, 2008:54) A mensagem final veiculada por Fauconnier e Turner (2008) consiste no reconhecimento de que o estudo do fenómeno metafórico terá de incidir sobre a complexidade das integrações conceptuais por detrás dos sistemas conceptuais metafóricos, abordagem esta, que ultrapassa amplamente o escopo dos processos de mapeamento entre domínios e a transferência de inferências. É igualmente necessário considerar factores de cariz histórico-cultural dos sistemas conceptuais, assim como compreender as estruturas emergentes por eles construídos. Em suma, a construção do significado resulta de sistemas mentais extremamente elaborados e dinâmicos. A metáfora emerge como uma manifestação saliente e particularmente importante da integração conceptual, sendo que a integração de extensão dupla, ao explorar conflitos estruturais, configura o cunho distintivo que caracteriza o ser humano actual65. 64 Vide Fauconnier/Turner (2002:92-102) “We do not establish mental spaces, connections between them, and blended spaces for no reason. We do this because it gives us global insight, human-scale understanding, and new meaning. It makes us both efficient and creative. One of the most important aspects of our efficiency, insight, and creativity is the compression achieved through blending. (…) Certain conceptual relations, such as cause-effect, show up again and again in compression under blending. We call these all-important conceptual relations “vital relations”. Fauconnier/Turner (2002:92) “Vital relations are what we live by, but they are much less static and unitary than we imagine. Conceptual integration is continually compressing and decompressing them, developing emergent meaning as it goes.” Fauconnier/Turner (2002:102) 65 "The message for all of us metaphor theorists is that we need to go far beyond the usual focus on cross-domain mapping and inference transfer. We need to face squarely the far greater complexity of integrations that lie behind observable metaphorical conceptual systems, we need to take into account their cultural history, and we need to account explicitly for the emergent structures they produce, both over cultural time and over individual time (a child's learning of the elaborate interconnected integration networks). In the early days of contemporary linguistics, the realization that children mastered stunningly complex syntactic and phonological structures was often met with disbelief: how could toddlers possibly know so much? We know better today: the child's cognitive brain leaves in the dust our most powerful computers. So there is nothing surprising in the discovery that meaning construction is also supported and effected by highly elaborate dynamic systems. The challenge for the analyst is to delve rigorously into these remarkable constructions of the mind. The permanent features of cognition that we have drawn attention to in the present work are part of metaphor because metaphor itself is one particularly important and salient manifestation of conceptual integration. Double-scope integration, which typically exploits clashes, is 69 1.3.2. Teoria de redes de espaços mentais Como já referimos anteriormente, uma rede de integração conceptual básica inclui quatro espaços mentais, dois espaços de input, um espaço genérico e o espaço do blend. Assistimos a mapeamentos parciais entre estruturas e à projecção selectiva de elementos, estando o blend, com a sua estrutura emergente dinâmica, no cerne desta abordagem. Em “Making sense of a blend - A cognitive-semiotic approach to metaphor” de 2005, Brandt e Brandt apresentam, com base no exemplo clássico da realização metafórica “This surgeon is a butcher” (Grady, Oakley e Coulson, 1999), um estudo semântico-cognitivo que contempla a teoria da metáfora conceptual (CMT), a teoria de mesclagem (blending theory BT) e propõe, finalmente, a teoria de redes de espaços mentais como abordagem complementar ao paradigma cognitivo da metáfora conceptual. A partir deste trabalho, que configurou um passo seguinte significativo nos estudos semânticos e semióticos, a teoria de redes de espaços mentais tem estado no centro de um número considerável de estudos, que contribuíram construtivamente para o seu desenvolvimento e sua reformulação (cf. Brandt 2001a; 2004a, 2004b, 2008, 2010a). Debruçar-nos-emos agora em pormenor sobre esta teoria, à luz da qual se desenvolverá a nossa análise semiótica das imagens mescladas nos jornais desportivos alemães (ponto 3). O principal intento de Brandt/Brandt (2005a) consiste na abordagem semiótica de blends expressivos, tais como a metáfora conceptual, visto ocorrerem num contexto comunicativo, o que atesta a sua natureza semiótica: “It is argued that examples of expressive blends, such as metaphor, need to be accounted for in semiotic terms, since they occur in - intersubjective as well as private communication, which is essentially semiotic in nature; expressive blends occur as signs and are therefore a natural subject of cognitive semiotics, the study of cognition in semiosis.” (Brandt/Brandt, 2005a:216) Brandt/Brandt iniciam este propósito ao questionar a essência das estruturas dos espaços mentais em termos de elementos constituintes, pois nem a teoria da metáfora conceptual, nem a teoria da integração (BT) explicam se os elementos constituintes são de natureza enciclopédica, categórica (prototípica), conceptual ou semântica. O conteúdo dos espaços mentais é somente definido como representação mental, definição redutora que conduz a uma outra ‘falha’ apontada pelos autores, que consiste no esclarecimento deficiente do the hallmark of cognitively modern human beings. And metaphor is one of its most powerful products, one that often drives key aspects of art, science, religion, and technology.” (Fauconnier/Turner, 2008:65) 70 fenómeno da acomodação, i.e. o que motiva a selecção e supressão de determinadas estruturas que serão, ou não, perfilhadas pela estrutura emergente do blend: “We do not know why suppression should happen. It is not clear what it is that makes one representational input the target of the metaphor, apart from its losing structure - and why the target material, if it is ‘critical knowledge’ of the target, would ‘yield’ to the alien structure. This lack of clarity may stem from the fact that the predicative format that defines CMT is not upheld in BT.” (Brandt/Brandt, 2005a:217). Outra questão prende-se com a valorização do contexto comunicativo e da importância que o discurso assume na criação de espaços mentais - space building. O termo ‘construção de espaços’ designa, segundo Fauconnier (1997) a operação cognitiva da criação concreta de espaços mentais: “A space builder is a grammatical expression that either opens a new space or shifts focus to an existing space.” (Fauconnier, 1997:40). Um espaço mental pode ser constituído, para além de expressões gramaticais, por outras expressões linguísticas (orações preposicionais ou adverbiais, etc.) e até por factores pragmáticos, contextuais e culturais extra-linguísticos: “As Fauconnier notes, mental spaces are set up ‘not just by explicit space-builders, but by other more indirect grammatical means, and also by nonlinguistic pragmatic, cultural, and contextual factors.’ (Fauconnier, 1994: xxxiv).” (Brandt, L., 2008:119). No contexto comunicativo, espaços mentais são recriados em conformidade com o contexto discursivo: “Spaces represent such diverse things as hypothetical scenarios, beliefs, quantified domains, thematically defined domains, fictional scenarios, and situations located in time and space. As discourse unfolds, the language user extends existing spaces by adding new elements and relations to the cognitive models already evoked.” (Coulson, 2001:22) e ainda “Mental spaces are the domains that discourse builds up to provide a cognitive substrate for reasoning and for interfacing with the world.” (Fauconnier, 1997:34) Neste sentido, Brandt/Brandt procuram demonstrar que é imperativo complementar a abordagem cognitiva dos processos metafóricos através de uma arquitectura de espaços mentais mais completa e que inclua o acto comunicativo como enquadramento central na construção de significados: “(…) we hope to improve cognitive metaphor analysis by (…) revising the architecture of the blending network, so as to include its anchoring in communication and the meaning that metaphor produces in communication.” (Brandt/Brandt, 2005a:118) Com base na análise exaustiva do exemplo supra mencionado, (“This surgeon is a butcher”) à luz da teoria de redes de espaços mentais, Brandt/Brandt comprovam que significado intencional que emerge desta realização metafórica, após mapeamentos lineares entre dois domínios (objectivos e meios/modos do carniceiro e do cirurgião, respectivamente) 71 e estabilizado pelo espaço genérico (um agente abstracto usa determinados meios/modos para atingir um determinado objectivo), não aponta para a incompetência do cirurgião (tal como defendido por Grady et.al. (1999)) mas sim para a sua irresponsabilidade ética. Para tal, Brandt/Brandt advogam a inclusão de um espaço de input adicional, que comporta a estrutura dos valores éticos responsáveis para um enquadramento - framing - correcto, no que concerne a avaliação normativa dos princípios deontológicos, i.e. a convicção ética do que é certo e do que é errado num determinado contexto. Mais ainda, Brandt/Brandt retomam o conceito de direccionalidade da projecção - do domínio-fonte para o domínio-alvo - proposto pela CMT e abandonada pela BT, na qual a estrutura do blend importa estruturas parciais de todos os espaços de input envolvidos66, sem perspectiva direccional. A produção do significado emergente ocorre quando o blend inclui uma outra estrutura esquemática independente, neste caso a estrutura do conceito de ética. Este input adicional funciona como complemento semântico que torna a metáfora inteligível aos falantes. Em suma, a rede de espaços mentais proposta por Brandt/Brandt engloba um espaço mental essencial que contém todo o cenário situacional na qual a metáfora foi proferida por um falante concreto, num contexto específico: “Our network therefore includes a mental space containing a scenario in which the metaphor is expressed by someone in a specific situation.” (Brandt/Brandt, 2005a:218), o que configura um contributo semiótico valioso para a analise semântica da metáfora: “This is a semiotic contribution to the semantics of metaphor and is, to our knowledge, the first attempt at giving a semiotic account of metaphor, by integrating central ideas from both CTM and BT.” (op.cit.) O enunciado, centrado na função pragmática do significado, assume, assim, um papel nuclear. No âmbito dos estudos em semântica cognitiva, Langacker (2002) define o conceito de ground, próximo do conceito de enunciado67, i.e. comunicação interactiva, englobando todas 66 “CMT’s directional view of the relation between source and target - the projection goes from source to target - is replaced by a non-directional view in BT, where the projection goes from any of a number of inputs, minimally two, to the blend. We intend to explain that there is in fact a directional mapping from source space structure to target space structure. This mapping connects a source structure as a generic predicate to a non-generic subject, namely the target structure that the metaphor refers to. As in BT, there is a blended space that imports structure from both spaces.” (Brandt/Brandt, 2005a:218) 67 “Enunciation basically concerns the presence of communicating subjects in language, from the level of morphemes, the smallest semantic unit, to the level of sentences and whole pieces of discourse. Enunciation is the individual act of language production, in a given situational context, structurally and pragmatically manifested as intention-laden and interaction dependent meaning. The utterance is the product; the uttering itself is the enunciation. The phenomenon gives rise to the study (Austin, Benveniste, Jakobson, Searle et al.) of the function and organization of those elements in linguistic utterances which can be considered marks of the process of enunciation – the process that brought them into existence. (…) In the perspective of enunciation, sentence meaning is shaped by communication – both at the structural level of language and in manifested use – relative to the pragmatic context of situated language production. Language is understood as inherently inscribed in an interactional situatedness; and so the meaning of sentences is understood in terms of the occurrence of sentences in an – actual or hypothetical – situation of linguistic interaction, that is, in terms of their occurrence in the form of utterances. (…) An enunciation is always inscribed in a particular subjectivity, a subjective context characterized by 72 as suas vertentes: “The term ground is used for the speech event, its participants and its immediate circumstances” (Langacker, 2002:29), e contempla, deste modo, o acto comunicativo, ou seja, o uso linguístico concreto e comum, no paradigma cognitivo. A rede de espaços mentais inclui o conceito de grounding, nomeadamente, através da inclusão do espaço semiótico de base. Brandt/Brandt preencheram, assim, uma lacuna relativamente às teorias anteriores (CMT e BT), igualmente identificada por Oakley (2005) que procura: “[to] refine conceptual blending theory as an interpretive framework by arguing for the need to incorporate the notion of a grounding space [...].” (Oakley 2005: 295) e acrescenta “Although Fauconnier and Turner maintain the significance of local context and social interaction to cognition and language comprehension and production, their own blending model, in my opinion, has not sufficiently incorporated these concerns into mental space analysis.” (Oakley 2005:297) A ideia de um espaço mental de base já fora introduzida por Fauconnier (1994) e retomada em Fauconnier (1997:38) e é considerada essencial para a compreensão do enunciado, pois configura o espaço de referência do mundo real, i.e. a representação mental do mundo real do falante (op.cit. p.15). Radden/Dirven (2007) resumem-no de seguinte forma: “The mental space that serves as the basis and starting point of any human interaction is known as the base space. The base space pertains to the deictic ground shared by speaker and hearer. It includes the space and time of interaction, the speech participants, and the contextual circumstances. Elements of the base space are normally taken for granted and therefore need not be made explicit in the discourse.” (Radden/Dirven, 2007:202) Em Brandt/Brandt (2005a), o espaço semiótico de base assume-se como o espaço que engloba três níveis - o mundo fenomenológico, o contexto situacional e o acto comunicativo, aqui representados por esferas de acordo com a figura por estes proposta, e aplicada ao exemplo em questão: semiotic intentionality. Someone is performing the enunciation; enunciation is an act performed by a speaker who stands in relation to an addressee. As Benveniste demonstrated, subjectivity is inherent in grammar. The notion of subjectivity encompasses the presence of subjective attitudes and awareness of the very situation of communication, involving (at least) a speaker and a hearer.” (Brandt, L., 2010:8-9) 73 Pheno-world (incl. butchers) Situation (post-surgery) Semiosis (expressive acts) Figura 10: Espaço Semiótico de Base (Brandt/Brandt, 2005a:226) A esfera central representa o enunciado68, que inclui os falantes (emissor e receptor) e constitui um espaço semiótico, na medida em que o acto comunicativo configura uma acção humana de natureza semiótica: “To think or communicate – to ‘make sense’ of utterances and the world these utterances are about – is to operate from inside this phenoworld which determines our acts and processes of signification. The signification itself, the semiosis, whether it be an act of communication or of private thinking, is thus always part of a situation influencing the act and hence potentially the interpretation of signified.” (Brandt, L., 2010:188) Aplicado ao exemplo em questão, o paciente comunica a outro indivíduo, recorrendo a uma metáfora, que o seu cirurgião é um carniceiro. A esfera intermédia configura o contexto situacional, neste caso, um quarto de um hospital (espaço), num momento pós-operatório (tempo) perante a operação à qual fora sujeito, ou seja, a consequência visível da operação, a cicatriz (tópico). Assim sendo, a situação é construída pelos aspectos relevantes que a compõem: “A situation, then, consists in the relevant aspects of the immediate environment and whatever aspects of the past and future are of consequence to the interpretation of the present.” (Brandt/Brandt, 2005a:226) 68 Enunciado na medida em que “(…) the speaker – or, structurally put, the speaker role, the 'enunciator' role that a speaking person must assume – is implied in the semantics of evidentiality as the presumed intentional transmitter of the involved information, the structure underlying evidentiality is the part of linguistic semiosis that refers to and characterizes speakers, hearers, and general relations between content and instance of speech – the dimension that French theoreticians of language and text call l'énonciation, and which cognitive semiotics has therefore named enunciation.” (Brandt, 2004b:1) 74 O espaço semiótico contextualizado está contido no mundo fenomenológico. Por mundo fenomenológico entenda-se o mundo cognitivamente acessível aos humanos, o que engloba o mundo físico, a influência que este exerce sobre a acção humana, crenças, convicções e realidades factuais e contrafactuais69. Em suma: “The phenomenal world consists of everything that may serve as objects of thought – regardless of any belief in their existence outside of the minds of cognizers. It is the realm of subjective and intersubjective experience (…).” (op.cit.) Consequentemente, o mundo fenomenológico (pheno-world) e o contexto situacional (semanticamente identificável) nele contido, potenciam um número infindável de possíveis actos dos falantes no espaço semiótico, que, por sua vez, poder-se-ão tornar relevantes para os processos de cognição70: “(…) um Espaço Semiótico de Base que dá origem a uma série de cenários ou de espaços mentais em cadeia. Registe-se que, na qualidade de processo semiótico automático, subjaz quer a todos os actos discursivos, quer a todos os processos cognitivos propriamente ditos, tais como, por hipótese, os actos de recordar ou de imaginar algo.” (Almeida, 2005:559) Partindo do espaço semiótico de base, a arquitectura da rede de espaços constrói os espaços de apresentação (Presentation Space) e de referência (Reference Space) - semelhante aos espaços de “input” de Fauconnier/Turner, 2002. O mapeamento entre estes espaços origina um espaço virtual mesclado, o blend, estabilizado por um espaço de relevância. Do blend virtual, por sua vez, resulta o significado intendido, cuja inferência emergente é remetida de volta para o espaço semiótico de base, tal como a seguinte figura de Brandt/Brandt (2005a) sugere: “The model below […] illustrates the structure of semiosis in terms of mental spaces, a general structure hypothesized to be active in cognition of blends occurring for expressive purposes.” (Brandt/Brandt, 2005a:209) 69 Muito no sentido do mundo fenomenológico defendido por Merleau-Ponty: “As a meditating Ego […] I must even set aside from myself my body understood as a thing among things, as a collection of physico-chemical processes. But even if the cogitatio, which I thus discover, is without location in objective space and time, it is not without place in the phenomenological world. The world which I distinguished from myself as the totality of things or of processes linked by causal relationships, I rediscover ‘in me’ as the permanent horizon of all my cogitationes and as a dimension in relation to which I am constantly situating myself. The true Cogito […] does away with any kind of idealism in revealing me as ‘être au monde’. (Merleau-Ponty/Baldwin, 2004:69). 70 “The phenoworld and the semantically identifiable situations encompassed in it offer an infinite supply of possible spaces to the cognizers in Semiotic space – in the sense that any feature of the communication, or the embedding situation, or the humanly accessible world at large, can potentially become relevant to cognition.” (Brandt/Brandt, 2005a:226) 75 Espaço Semiótico Espaço de Apresentação Evento Expressivo Espaço de Referência Representamen Objecto R O Blend (Mescla) O Interpretante é virtualmente I R Espaço Virtual Espaço de Relevância Significado Mesclado Espaço do Significado inferências emergentes Figura 11: Modelo da rede de espaços mentais (Brandt/Brandt, 2005a:210), (tradução própria) O espaço semiótico de base é o ponto de partida para a construção da rede de espaços mentais. Neste sentido, o enunciado assume-se como responsável pela criação de um espaço de referência, ao ‘delegar’ um determinado tópico: “Space delegation creates ‘sites’ in thought and language. I claim that when this happens, and when a Reference space is thus set up (…).” (Brandt, 2005:1589) O espaço de referência remete-nos para outras áreas da realidade e da experiência, necessárias para a construção do significado, que ultrapassam a realidade espácio-temporal do acto comunicativo “(…) Presence or Base space that send or delegate part of our attention, so to speak, and of the attention of our addressee, if there is one, to other regions of reality, to whatever we wish to think o for refer to: a Reference space out of presence.” (op.cit.) Este espaço pode, igualmente, remeter para o mundo da imaginação, das convicções ou crenças: “Reference space is typically distant from the Base space in speech-act distance, in time (…) or place (…), or both, (…) and furthermore it can shelter transmitted, encapsulated, 76 singularized and symbolized representations (reported myths and beliefs, fictions and fantasies, signed by or ascribed to singular intentional entities, i.e., given under the seal of a proper name (…).” (op.cit.) aspecto que se releva particularmente importante para a análise do nosso corpus. O Espaço de Apresentação configura o segundo espaço de input, sem o qual o não seria possível formar a mescla (blend), tendo em conta que o mapeamento ocorre entre ambos: “A presentation space of contents (…) that our mind tries to map onto the referencial content in order to prepare a (blended) Representation.” (op.cit). Brandt/Brandt consideram que no caso da metáfora, existe uma direccionalidade clara, sendo espaço de apresentação o domínio-fonte e espaço de referência o domínio-alvo: “In the case of metaphor, the target scenario is represented in the Reference space and the source in the Presentation space.” (Brandt, L., 2010:192) Estruturas dos dois espaços71 são, então, mapeados (representado no modelo pela linha horizontal) e projectados (representado por duas setas) para o espaço mesclado, o blend. Trata-se de um espaço virtual, na medida em que o objecto [O] passa a ser, virtualmente, o representamen [R]: “In the blended space, the referent (T) [O] is presented as if it were identical with the content in Presentation space (S) [R]. By definition this identity link is virtual; if it were actual, only one space would be needed (a Reference space). It is in this virtual sense that T [O] can be said to be S [R]: in the blend, T [O] is S [R]. I propose it is this virtuality that makes a blend a blend. By virtuality I mean the very as-if-ness that characterizes the blend of a Reference space and a Presentation space. (Brandt, L., 2010:190) Sendo que a conceptualização consiste, nesta fase, num mapeamento elementar e primário entre os dois espaços de input e a respectiva projecção para um espaço virtual, não é possível inferir, por enquanto, o significado intendido. Contudo, manifesta-se a estrutura metafórica, logo a predicação será igualmente metafórica: “These projections are rudimentary and not yet selective, so at this point there is no emergent meaning to be understood. What is understood, however, is that the predication is metaphoric (…).” (Brandt/Brandt, 2005a:228) O blend não configura a representação de uma realidade, contudo, sugere uma inferência real, apesar do seu possível cariz contra-factual, surreal, imaginário ou utópico: "Virtual spaces are momentary fictions that yield lasting inferences.” (Brandt, L., 2010:191) Estas representações 71 O mapeamento ocorre entre estruturas parciais comuns, tal como avançado por Fauconnier/Turner (2002), i.e., elementos homólogos de cada uma das estruturas: “The structure that the inputs have in common, the shared structure (…) is specified by what is situationally relevant.” (Brandt/Brandt, 2005a:224) 77 de factos ou entidades virtuais ganham significado através do seu poder proposicional e sugestivo, mas também porque se reportam a um contexto situacional concreto: “Such representations - of virtual entities and relations - are meaningful, nonetheless, because they are about actual situations. The blend is a virtual representation which specifies something about the reference - the “actual situation of concern.” (Brandt/Brandt, 2005a:228) A metáfora afigura-se como um exemplo, por excelência, de uma mescla virtual72. Porém, a mescla virtual não seria possível sem a intervenção estabilizadora de dimensões de relevância. Brandt/Brandt defendem a necessidade de um espaço mental73 que contem os pré-requisitos semânticos contextuais, assim como esquemas imagéticos dinâmicos que, depois de projectados para o primeiro blend, estabilizam-no, i.e. imprimem lógica ao seu significado ao retirar-lhe o seu cunho virtual: “There are therefore two states of the blend, the first being figurative and uninterrupted, the second dynamic and interpreted by the induced schematic structure from the Relevance space.” (Brandt, 2005:1590). O significado intendido emerge, portanto, no Espaço do Significado, fruto de uma segunda mescla74. Fauconnier e Turner identificaram esta mescla como espaço do significado emergente, sendo que para Brandt o significado emergente é resultado de um processo de inclusão de estruturas esquemáticas, derivadas do espaço de relevância. Neste sentido, o espaço de relevância procede como uma âncora, um framing relevante, motivado pelo espaço semiótico de base. É activado com o intuito de imprimir lógica e estabilidade semiótica ao blend, ao estabelecer uma ligação entre o mundo fenomenológico e o espaço virtual (representado por setas), i.e. contrapor o mundo real ao irreal. Assim sendo, a ‘interpretação’ do blend poderá apoiar-se em três níveis de relevância que correspondem às três dimensões do espaço semiótico de base: 72 Vide Langacker (1999): “This imagined entity [blend] corresponds to [the source entity] but does not exist in actuality. It is the virtual, fanciful correspondent of a real entity, one that instantiates the metaphor and functions in lieu of the real entity for purposes of making the metaphorical predication. This predication is thus a VIRTUAL structure evoked to describe a facet of REALITY. The essential point here is that metaphorical expressions commonly (perhaps always?) describe the blended, virtual structure, even though an actual situation in the target domain is the one we are ultimately concerned with. (…) Only via and in relation to what is said about the blended structure do we draw the intended conclusions about the actual situation in the target domain […]. The blended structure is a kind of virtual representation created in order to indirectly specify something concerning the actual situation of concern.” (Langacker 1999: 80-81) Vide também Fauconnier 1997: 168-171. 73 Enquanto o generic space de Fauconnier/Turner pretende englobar as estruturas comuns aos dois espaços de input, motivado pelo contexto situacional, o espaço de relevância de Brandt apela ao conhecimento esquemático de background proveniente do mundo fenomenológico e afecta, directamente, o blend virtual a fim de completar a construção do significado. Vide Brandt/Brandt, 2005a:230-238. 74 “(…) a pre- and post-emergent-meaning blend, respectively Virtual space and Meaning space.” (Brandt/Brandt, 2005a:242) 78 Semiotic space Pheno-World Types of relevance: Situations Situatuional relevance Semiosis Argumentational relevance Illocutional relevance Figura 12: Espaço Semiótico de Base (Brandt/Brandt, 2005a:238) Brandt e Brandt desenvolvem: “Relevance could be seen as composed of three types of phenomena: the expressive base is the origin of illocutional relevance, determined by what is happening in communication (…). The situational base creates situational relevance - here the framing of the inputs (…).Finally, the pheno-world is the origin of the argumentational relevance that makes description and evaluation possible (…).” (Brandt/Brandt, 2005a:237) Esta perspectiva constitui, a nosso ver, um dos contributos mais significativos da abordagem semiótica. Por fim, o significado intendido condensado no segundo blend (no espaço do significado) é projectado para o espaço semiótico de base, produzindo a inferência emergente de cariz semântico-pragmático (representado por uma seta). Conclui-se, então, que esta rede de espaços mentais configura um modelo analítico e explicativo da construção e integração recorrente de significados ao expor, de forma esquemática, os processos cognitivos subjacentes à interpretação de signos incorporados num determinado contexto. Representa um progresso claro e complementar da teoria da metáfora conceptual (CMT) e da teoria do mapeamento (BT), na medida em que explora e explica a dependência do blend relativamente ao seu propósito local - preocupação igualmente gizada por Fauconnier/Turner: “(…) on-line, dynamical cognitive work people do to construct meaning for local purposes of thought and action. (…) Its central process is conceptual blending.” (Fauconnier/Turner, 2006:312-313) Brandt e Brandt preconizam que esse propósito reside no espaço semiótico: “Such a purpose exists in a Semiotic space where discourse participants use expressive means such as metaphor to have each other ‘see’ something in a certain way. To understand what the speaker means is to ‘get’ the relevance right (Relevance space, insofar 79 as the speaker is conscious of the ‘getting’), so that completion of the blend can occur, to use Fauconnier & Turner’s terminology.” (Brandt/Brandt, 2005a:242) e postulam que a interpretação adequada do blend configura um processo cognitivo e não automático, como fora sugerido por Fauconnier e Turner: “(…) cognitive work is necessitated by such a completion; it is true that the conscious effort may vary from example to example but without awareness of this relevant thought content the blend cannot yield any emergent inferences and thus, in this sense, it is questionable that the process of completion happens “automatically” as suggested by Fauconnier & Turner (see for instance 2002, p.48)” (op.cit.) Neste sentido, a abordagem proposta por Brandt e Brandt assume-se como cognitiva e semiótica (na senda da concepção Peirceana, sendo que o signo é um elemento no qual se correlacionam três componentes: Representamen, Objecto e Interpretante): “(…) a Presentation of a Reference is necessarily an intentional sign relation, linking a Representamen to an Object, and that the stabilization of such a relation through an Interpretant corresponds strictly to the semiotic function of Relevance-making in the blending network.” (op.cit.) No âmbito desta dissertação, consideramos relevante destacar um último aspecto enriquecedor relativamente ao paradigma estritamente cognitivo: a importância da componente comunicativa na apreensão do significado: “Meaning belongs to the realm of communication and is inherently a semiotic issue.” (Brandt/Brandt, 2005a:243) A tese avançada por Brandt (2004a) centra-se na sua percepção de que o cognitivismo lógico obstruiu o desenvolvimento da semântica ao negligenciar a importância da comunicação real como parte da cognição humana. Brandt arroga que: ”(…) the mind and its cognitive semantics are not vericonditional or based on inner rumination, but instead is grounded in conceptual and schematic organization occurring in the very interaction, expressive as well as practical, that incessantly connects real and really communicating human minds.” (Brandt, 2005:1585) O estudo do significado em contextos de interacção humana, como um acto comunicativo, alarga o escopo da análise semântica ao incluir a perspectiva semiótica75 75 Resumidamente, a semiótica cognitiva postula que: “Human minds ‘cognize’ and ‘signify’ as complementary aspects of their capacity to think and feel. If we accept the metaphor of ‘higher’ and ‘lower’ levels of cognition, and the idea of seeing the ‘higher levels of cognition’ as those responsible for abstraction, language, discourse, institutions, law, science, music, visual arts, and cultural practices in general, grounded in the use of conventionally established and intentionally used signs (often called symbols), then semiotics is the discipline committed to the study of these ‘higher levels’. Relying predominantly on expression based communication, the contents of these higher-level cognitive feats can be shared by expressive exchanges of signified meanings (GE: Bedeutungen; FR: sens). These meanings, in turn, can be made the subject of inquiry, their semiotic structure and significance 80 Mais ainda, explora a relação dinâmica entre o mundo real, vivido e experienciado, e o irreal, fruto da capacidade imaginativa e criativa76 humana face à construção do significado representacional: “(…) especially cognitive semiotics, intends to study how representational meaning can be modeled as dynamically related both to the imaginary and to the experiential world in which meaning is meaningful.” (Brandt, 2005:1585) De acordo com L. Brandt (2010), esta perspectiva engloba para além da sua construção, a partilha de conteúdos mentais: “The representations we experience when we communicate are the meanings that theories of meaning construction aim to describe. These mental contents only represent and signify, i.e. are only meanings, by virtue of being experienced by the minds that create and share them. (Brandt, L., 2010:218) Tendo em conta que o corpus da presente dissertação foi construído a partir de textos jornalísticos, a partilha de conteúdos mentais aliada à dimensão comunicativa inerente ao domínio em questão, afiguram-se como objectos centrais da nossa análise. 1.3.3. Os domínios semânticos Debruçar-nos-emos agora sobre os postulados teóricos propostos por Brandt (2004a) no que concerne a arquitectura dos domínios semânticos. Já em 1987, na sua obra Foundations of Cognitive Grammar, capítulo 4, Langacker procurou definir os diferentes tipos de domínios norteados pelo princípio da dependência contextual: “All linguistic units are context-dependant to some degree. A context for the characterization of a semantic unit is referred to as a domain. Domains are necessarily indicators of how minds cognize together, and of the cognitive mechanisms which make their production and comprehension possible in the first place. The mental activities of thinking and communicating are importantly interrelated in our species. Human societies and cultures, and civilization at large, are the results of cooperating and conflicting minds, connected through cognitive-semiotic functions and processes. To gain scientific knowledge about these often still unexplored phenomena, found increasingly important by the scientific community, the journal is devoted to high quality research, integrating methods and theories developed in the disciplines of cognitive science with methods and theories developed in semiotics and the humanities, with the ultimate aim of providing new insights into the realm of human meaning production and the modalities of its embodiment and disembodiment.” (Andreassen /Brandt/Vang (Eds.), 2007:3-4) 76 Imaginação e criatividade no sentido de: “Normally, when we talk about imagining things or, in a general sense, being creative by engaging one’s imagination, we understand ‘imagination’ to involve the experience of thought contents. When Fauconnier and Turner speak of blending as an achievement of the imagination, they may, however, have something else in mind. They do not assume a phenomenological dimension but are mainly speaking of unconscious processes.” (Brandt, L., 2010:293) 81 cognitive entities: mental experiences, representational spaces, concepts, or conceptual complexes.” (Langacker, 1987:147) Mais ainda destaca a existência de domínios básicos interligados, fundados na experiencia vivida do mundo circundante: “I will refer to a primitive representational field of this sort as a basic domain. (…) By definition, basic domains occupy the lowest level in hierarchies of conceptual complexity: they furnish the primitive representational space necessary for the emergence of any specific conception. Basic domains constitute a range of conceptual potential, and particular concepts can be taken as exploiting that potential in various ways. (…) All human conceptualization is presumably grounded in basic domains (…).” (op.cit. pp. 148-149) Também Brandt defende a correlação entre os diferentes domínios da experiência humana, fundamentais para o processo de conceptualização e para os domínios semânticos: “Events and their frames are further, or previously, necessarily understood as meaningful on the background of general knowledge of the domains of experience to which they may belong. We know from conceptual metaphor that semantic domains are ’tectonic’, underlying regions of experiential meaning that cultures fill with items but which share constitutive boundaries: physical (D1), social (D2), mental (D3), and communicational (D4) experiences are cognized in different conceptual formats.” (Brandt, 2008:4) Tudo o que ‘faz sentido’ só o faz num determinado contexto, pois é o contexto que fornece o enquadramento relevante para a activação de um frame cognitivo, o qual produz inferências significantes e contextualizadas. Alicerçados na plenitude da experiência física humana e concreta no mundo, ao nível corpóreo, espacial, social e cultural, estes contextos estruturamse em diferentes domínios semânticos. O conceito de “domínio” já fora explorado por Lakoff/Johnson (1980a) na abordagem cognitiva da teoria da metáfora, sublinhando que a metáfora se fundamenta, essencialmente, no entendimento de um domínio cognitivo da experiência tendo por base outro domínio cognitivo da experiência: “We have found that metaphors allow us to understand one domain of experience in terms of another. This suggests that understanding takes place in terms of entire domains of experience and not in terms of isolated concepts. (...) These experiences are then conceptualized and defined in terms of other basic domains of experience.” (Lakoff/Johnson, 1980a:117) 82 Contudo, nenhuma explicação aturada é fornecida acerca do que é um domínio da experiência. Para Brandt (2004a), a definição do domínio experiencial é articulada com o domínio fenomenológico, conforme ilustrado abaixo: “(…) experiential domains of concepts memorized by speaker or hearer, ideally shared by speakers; offering an encyclopedic referential background of semantic frames and articulated into regions of possible or actual knowledge (physical, social, mental, communicational, and of higher orders).“ (Brandt, 2008:4-5) Este universo fenomenológico afigura-se como alicerce fundamental do espaço semiótico de base no modelo das redes de espaços mentais77. Segundo o mesmo, o ser humano possui uma arquitectura neuro-fenomenológica que estrutura a forma como nos relacionamos com o mundo que nos rodeia: “This may in fact be how our neuro-phenomenological architecture thinks we are primarily related to reality: it may be its inherent, embryonic ‘philosophy. (…) it might have the technical advantage that it feed both the basic phenomenology of our shared or individual experiences as living subjects, and the basic linguistic semantics we need in order to analyze expressed meanings.” (Brandt, 2004a:27). O seguinte esquema representa a organização dos quatro domínios principais: D4 the spiritual domain D1 the natural domain D3 the mental domain D2 the cultural domain Figura 13 - The Basic Semantic Domain Panorama (Brandt, 2004a:26) Relativamente ao domínio D4, Brandt denomina-o igualmente como domínio da comunicação, aproximando-se da nomenclatura proposta por Sweetser (1990) - “Speech-Act- 77 Vide ponto 1.3.2. 83 Domain”78. D1, D2, e D4, compõem os domínios exteriores, enquanto D3 é único domínio interno ao sujeito (representado pelo círculo). “There is a subject S, namely an embodied human person for whom there is an internal domain (D3) and a set of external domains (D1, D2, D4) of interaction with physical, social, and performative life-world surroundings. (…) The circle is the human subject, and the antennas indicate distinct directions of external interactions. This presentation is of course only mnemotechnical; it foregrounds the phenomenological dimension internal–external (only the mental domain is internal).” (Brandt, 2004a:41) D1 configura o domínio físico ou o mundo causal dos fenómenos físicos. D2 representa o domínio social ou cultural, i.e. a dimensão colectiva de actos intencionais que regulam a acção individual como parte integrante de um todo cultural. D3 constitui a dimensão mental, um palco mental e imaginário no qual se estabelecem elos com outros seres e se relaciona a experiência vivida nos outros domínios, através de ligações afectivas, epistémicas e associativas activadas pela memória. D4 afigura-se o domínio da comunicação que inclui a vertente pragmática e interpessoal de todo o tipo de actos comunicativos, englobando atitudes de vontade e empatia expressas. “According to this view, we are thus embodied according to different basic dimensions of reality. In one dimension, there is, we might say, a causal world of distances, gravitation, stationary and mobile objects and backgrounds, and we are moving around in it. In another dimension, there is an intentional world of collective acts that we attune to when participating in some doing. In still another dimension, there is a mental theatre showing us imaginations linked to each other and to what we externally experience by memory-based affective, epistemic, and associative connections, and we know that these imaginative thoughts, figures, and feelings really 'happen' within us, 'occur', whether we are awake or asleep and dreaming. And finally, there is often a person in front of us that we react to by empathic and volitional mechanisms. 'Cause', 'intention', 'association', and 'volition' are not underscored as definitional criteria here, but only as typical properties of the inferential meanings of distributed modality (…).” (Brandt, 2004a:42) Um dos factores de distinção entre os domínios que Brandt aqui destaca é o princípio da distribuição da modalidade. Tomem-se os seguintes exemplos: 78 “(…) our understanding of language use and our understanding of cognition itself, are inherent underpinnings to all our use of language. We understand both these domains at least partly in terms of the external physical (and social) domain. And we use the same vocabulary in many cases to express relationships in the speech act and epistemic (reasoning) worlds that we use to express parallel relationships in the content domain (the “real- world” events and entities, sometimes including speech and thought). (…) Systematic metaphorical connections link our vocabulary of the sociophysical domain with the epistemic and speech-act domains.” (Sweetser, 1990:11-13) 84 a) “Tens de me escutar, tenho mais experiência do que tu.” b) “Tens de parar no semáforo vermelho.” O que distingue as duas situações é a modalidade associada à expressão “ter de fazer algo”. Nestes exemplos, a frase a) pertence a D4 por remeter para a obrigatoriedade baseada numa situação de interacção deíctica. A obrigatoriedade não faz parte de nenhuma norma social convencionalizada, nasce na autoridade e assertividade do locutor (fundada na sua experiência), enunciada neste acto comunicativo. Na frase b), este acto de comunicação remete, pelo contrário, para um sistema de normas institucionalizadas (o código da estrada) e daí, fazer parte de D279. Este é apenas um exemplo que visa comprovar que o ser humano, apesar de incorporar todos estes domínios básicos simultaneamente, selecciona e destaca um (ou mais do que um) dos domínios de acordo com o contexto situacional, de forma a descodificar adequadamente o enunciado. Este processo é parte integrante da teoria do grounding, não na perspectiva original de Langacker (1987, 1999) relativamente à função de elementos gramaticais como ferramentas de contextualização situacional do falante, tais como marcadores, quantificadores e determinantes, mas sim de acordo com os postulados cognitivos de Brandt e Brandt (2005a)80 que advogam o processo de grounding como factor de construção do significado alicerçado numa rede de espaços mentais. Para além dos quatro domínios-base, Brandt defende a existência de subdomínios, ou domínios satélite81 que dizem respeito a contextos com cariz mais prático, representações mentais de cenários imaginários particulares e mais concretos. Estes espaços mentais, provenientes de diferentes domínios semânticos, formam os blends - a integração conceptual de dois domínios mapeados - e, partindo deste princípio, os domínios semânticos sofrem um processo semelhante: “(…) blends are obtained by such spaces as structured inputs linked by mappings between two spaces. Direct mappings between more than two spaces would probably be mentally chaotic. This means that the source domains of the involved mental spaces are also being linked, or structurally attracted to each other by the blending processes they feed: binary integrations are thus expected to happen between the semantic domains.” (Brandt, 2004a:51-52) 79 Brandt (2004a:39-40) desenvolve o princípio da distribuição da modalidade ao explorar e interpretar quatro frases exemplificativas relativamente aos quatro domínios, usando o verbo modal inglês must. 80 Para a teoria do grounding vide Brandt/Brandt, 2005a:19-22 81 vide Langacker (1987:152): “The coordination of dimensions to form domains (or at a higher level of organization, of domains to form a complex matrix) depends on the capacity of entities to simultaneously occupy two or more dimensions (domains) and thus establish a link between them.” 85 Ao incluir estes domínios-satélite, a arquitectura dos domínios semânticos torna-se mais rica e particularizada, pois a mesclagem exponencial de domínios semânticos conduz a níveis de significado experienciado mais concretos: “Basic semantic domains combine dually and form integrations that enrich cognition with an additional architecture of satellite domains which are experienced as naturally as the first series. Adults' attention is even predominantly drawn to this level, except for aesthetic experiences. According to the same principle of pairing and integration of domains as triggered by particularly frequent blending from dual inputs, stable satellite domains will possibly integrate again, obtaining higher levels of experiencable meaning, all still related to behavior.” (Brandt, 2004a:52) Contudo, o cérebro humano aparenta ter um comportamento económico, i.e. aceder a um máximo de significados abstractos através de um número mínimo de combinações de domínios. A combinação, matematicamente mais elementar, que se impõe de acordo com esta perspectiva, aponta para a conjugação dos três domínios base externos (D1, D2 e D4) sem esquecer, contudo, o enquadramento corpóreo subjacente a todos os domínios. A integração de D1 e D2 conduz, de acordo com Brandt, ao primeiro domínio satélite, D5, que ele denomina como polis, o domínio sócio-físico, ou um território físico no qual decorrem actos específicos: “Subjects have political identities referring to D5, such as national passports.” (Brandt, 2004a:53). D6 é resultado da integração de D2 e D4, e afigura-se como oikos, o domínio doméstico. Por domínio doméstico entenda-se a síntese emocional resultante das experiências interpessoais vividas e as respectivas estruturas relacionais construídas: “(…) reinforced double experiences of interacting by instrumental attunement with persons as members of an active collective unit, a group, and also of expressive interacting with singular persons by empathic exchange, shared feelings, facial contact, and communication in general, then these 'familiar' persons are typically 'relatives': both 'colleagues' and intimate co-subjects, such as 'mates', and the supporting domain is that of kinship, family life, and domestic acts (…).” (Brandt, 2004a:53). Relações de parentesco e nomes de família correspondem a D6. Finalmente, D7, a integração de D1 e D4, representa o domínio das experiências vividas em rituais e celebrações colectivas motivadas pelo sentimento da empatia, o hieron. Engloba-se neste domínio a experiência do sagrado e a crença no sobrenatural, celebrada e partilhada em locais próprios. Este domínio reveste-se de particular interesse devido a facto de Brandt nele incluir todo o tipo de actos ritualizados, tais como actividades teatrais, lúdicas e 86 desportivas, destacando mesmo o futebol como ritual que promove uma identidade ‘étnica’ colectiva (‘étnico’ no sentido de característico de um grupo que partilha os mesmos interesses ou princípios e, consequentemente, a mesma experiência): “We might include in its range the participative experiences of ritual behaviors of all sorts. In principle, games, sports, ludic and theatrical behaviors, by which humans celebrate something like the intervention of contingent and 'fatal' forces, belong here; sports teams, e. g. in soccer, are then both seen as collections of selected individuals and as a selected collective subject that the observers identify with affectively. Subjects have 'ethnic' identities clearly related to their commitment to some version of doings in D7.” (Brandt, 2004a:57) De acordo com o mesmo, todos os domínios da vida existencial experienciada encontram correspondência num dos domínios semânticos aqui explorados, i.e. todos eles fazem parte das realidades afectivas alicerçadas nos domínios do trabalho, do amor e do culto: “Any existential description of 'a life' has to refer to things and events of D5, D6, and D7, that is, to items that are meaningful in the objective and affective realities of Work, Love, and Worship.” (Brandt, 2004a:20) Estas realidades compõem os domínios mentais ao atribuir-lhes um cunho afectivo, tal como paixões colectivas - passions - (ideais, objectivos profissionais, etc.), emoções variadas - emotions - (o gosto, a preocupação, a satisfação, etc.) ou estados de alma moods - (luto, ansiedade, entusiasmo, etc.). Estas realidades afectivas têm reflexo nos domínios D5, D6 e D7, respectivamente. Brandt (2004a) propõe, assim, o seguinte esquema alargado: (Worship) ‘hieron’ D7 D1, D2, D3, D4: gestural domains D5, D6, D7: practical, action-based domains ‘logos’ moods D4 D1 ‘physis’ D3 passions D5 ‘polis’ (Work) emotions D2 D6 ‘oikos’ (Love) ‘demos’ Figura 14: “A first life-world map” (Brandt, 2004a:55) 87 cuja configuração passa a explicar da seguinte forma: “The Greek terms are only suggested as illustrative indicators of what this model aims at grasping. Its bold arrows go from the basic input domains to the three 'practical' satellite domains, obtained by dual integration. Since the mental domain ('psyche') does not feed into the satellites, it can instead be an affective receptacle of these practical ongoings; it develops a variable sensitivity to the practical events thus 'realized' as conceptualized. A personal self seems directly related to the psychic coordination of affects.” (Brandt, 2004a:55) Estados afectivos parecem, assim, assumir um papel relevante nos processos de conceptualização das experiências vividas. Acredita-se, igualmente, que a distribuição e avaliação do tipo de experiência afectiva constituem factores determinantes para os processos de memorização: “Such an evaluative distribution is probably a prerequisite to memorization and subsequent recollection. Memories have built-in evaluations.” (Brandt, 2004a:55). Não é, também, de excluir a existência de um segundo nível de domínios satélite, fundados no intercâmbio de actos práticos, de forma a poder compreender conceitos mais abstractos e generalizados, tais como o sentido de justiça, a apreciação estética ou a economia. Brandt defende que estes se relacionam directamente com o Espaço de Relevância, o elemento estabilizador dinâmico que fornece o enquadramento lógico e natural à mescla: “Exchanges would remain profoundly enigmatic without this framing and schematizing supplement to the blending process.” (Brandt, 2004a:56). Estes intercâmbios práticos e concretos realçam a noção de posse, valor e troca (ou oferenda) e desenrolam-se entre os domínios D5, D6 e D7. Na vida concreta, a posse de objectos pode ser conseguida através do trabalho (D5), ser parte inerente de um património (D6) ou alcançada a um nível espiritual ou superior (D7). A estes é sempre atribuído um determinado valor para que possam ser transaccionados, i.e. passar de um domínio para outro. A estas acções correspondem os domínios da jurisdição, da estética e da economia (Brandt, 2004a:58). Emerge, assim, o segundo nível de domínios satélite: D8 - Economia (D5 + D6), D9 - a apreciação estética (D6 + D7) e D10 - jurisdição (D5 + D7), baseados no já referido intercâmbio entre domínios. Brandt reconhece que esta arquitectura se baseia numa teoria sociocultural global, contudo, justifica esta abordagem mais genérica com o facto da semântica corpórea (embodied) englobar noções dos domínios das ciências sociais e antropológicas, de forma a 88 tornar o paradigma cognitivo credível e fundamentado82. Brandt (2004a:59-65) desenvolve a arquitectura dos domínios semânticos ao explorar um terceiro nível de domínios satélite (“The grounding of discourse: D11 (D8+D9) - descriptive discourse; D12 (D9+D10) - argumentative discourse; D13 (D8+D10) - narrative discourse”) e um quarto nível de domínios satélite (“The genres of knowledge as a domain structure: D14 (D11+D12) - Science; D15 (D12+D13) Philosophy; D16 (D11+D13) - History”) e afirma: “There are certainly a lot of even higher constructions and unstable domain sketches; but this is probably the last semantically stable storey, the highest possible level of experiencable reality that humans spontaneously agree to distinguish as natural domain addresses of representations, references, and relevances.” (Brandt, 2004a:65) Mais uma vez fica claro que a conceptualização se processa do nível concreto para a esfera dos conceitos mais abstractos, i.e. da experiência corpórea vivida para significados abstractos. Consequentemente, somos capazes de compreender, usar e manipular construções conceptuais com naturalidade e frequência. 82 vide Silva (1997:63): “Porque a linguagem é considerada como uma parte integrante da cognição e em interacção com outros sistemas cognitivos (percepção, atenção, memória, raciocínio, etc.), a linguística cognitiva está aberta à interdisciplinaridade com as outras ciências cognitivas. Ela não só incorpora dados relevantes dessas ciências na teorização e descrição da linguagem, como também contribui para o estudo da cognição humana. Gibbs esclarece que a linguística cognitiva é especificamente cognitiva "not solely because of its commitment to incorporating a wide range of data from other cognitive disciplines, but because it (a) actively seeks correspondences between conceptual thought, bodily experience, and linguistic structure, and (b) because it seeks to discover the actual contents of human cognition" (Gibbs 1996:49).” 89 2. Estado da Arte do estudo das imagens mescladas na imprensa desportiva O presente ponto 2 tem como intuito traçar uma breve resenha sobre os estudos semióticos das imagens mescladas na imprensa desportiva de anos mais recentes, com especial incidência nos textos jornalísticos sobre o futebol. 2.1. A Metáfora no mundo do futebol Nos últimos vinte anos, assistiu-se a uma elevada produção de trabalhos de investigação no âmbito da semântica cognitiva, que centraram a sua análise no fenómeno da quase omnipresença da metáfora conceptual no mundo do futebol. A esmagadora maioria dos trabalhos por nós recolhidos e observados baseiam as suas análises na teoria da metáfora conceptual de Lakoff/Johnson (1980a). O corpus é real e variado, abarcando diferentes tipos de media: desde a imprensa desportiva (tradicional em papel ou em formato digital), a reportagens e transmissões radiofónicas e televisivas, passando por entrevistas e artigos de opinião. A título exemplificativo, iremos, de seguida, fazer referência a alguns destes trabalhos, realçando o contributo dos mesmos para o estudo da metáfora conceptual. Uma das obras mais recentes e completas intitula-se The Linguistics of Football (Lavric, Pisek, Skinner e Stadler, eds.) de 2008, sendo composta por um conjunto de 34 artigos que, colectivamente, pretendem apresentar uma perspectiva abrangente de análise linguística do mundo do futebol. Este volume está subdividido em seis capítulos distintos, a saber: 1. Terminologia futebolística (com 9 artigos), 2. A linguagem do futebol (com oito artigos), 3. O discurso futebolístico (com seis artigos), 4. O futebol e os media (com seis artigos), 5. Os media e o discurso: emoções (com três artigos) e 6. O futebol e o multilinguismo (com dois artigos). No capítulo 2, os artigos debruçam-se, essencialmente, sobre o uso da linguagem idiomática e metafórica83. Matulina e Ćoralić procederam a um levantamento exaustivo de domínios-fonte (baseado num corpus real de textos jornalísticos da imprensa croata, bósnia, alemã e 83 “Not surprisingly, the language of football is characterized by a great variety of idioms, as shown by MATULINA/ĆORALIĆ in their analysis of Croatian, Bosnian, German and Austrian newspapers - and metaphors, which can mostly be found in live football commentary. Several articles suggest that, although conflict, war and peace are the basis of many metaphors in all cultures and languages (cf. NORDIN on German and Swedish, VIERKANT on German - both based on Lakoff/Johnson 1980), there exist interesting differences regarding their frequency and individual variation. AnCHIMBE, for example, shows that in the West Bank a shot at goal can be called a ‘ground-to-ground missile’, while in Cameroon ‘banana shots’ are possible. Focusing on phrases containing the words ‘net’, ‘minute(s)’ and ‘whistle’. LEVIN shows that the language of English football reporting largely consists of semi-fixes phrases with conventionalized functions to describe recurring events in a game.” (Lavric, 2008:6) 90 austríaca) considerando como domínios-alvo as diferentes vertentes do futebol - a) o jogo de futebol, b) o jogador de futebol, c) outros intervenientes do futebol (treinadores, árbitros, dirigentes, etc.) d) actividades internas dos clubes de futebol, e e) actividades exteriores. Como ponto de partida tomaram a definição de metáfora de Lakoff/Johnson (1980a:5): “Metaphor is understanding and experiencing one kind of thing in terms of another.” e concluíram: “It can be confirmed that idioms are used in a similar way in all four subcorpora. Such tendencies could be called international and global. Idioms in football texts belong mainly to the same extralinguistic source-domains. The most commonly used in all four subcorpora are idiomatic figures of the HUMAN BODY and ARTEFACTS. However, there are some specifies in the subcorpora. So, for example, in the German subcorpus the most striking figures come from the domains of EMOTIONS, ABSTRACT NOTIONS, and VEHICLE MOVEMENT. The Austrian subcorpus is characterized by figures of MUSIC AND DANCE and, like the German subcorpus, by ABSTRACT NOTIONS. In the Bosnian subcorpus, the most widely used idiomatic figures are those from the field of SPORTS AND GAMES, then SEAFARING and FINANCE AND TRADE. The Croatian subcorpus is characterized by figures of NATURE, SUPERNATURAL PHENOMENA and figures of SPORTS AND GAMES, where cardplaying is most often used. (…) Word plays and modifications are not - contrary to our expectations - a primary means of expressiveness and emotional involvement of the recipient, as is the case of advertising and fiction. The producers in our corpus rather achieve these effects by selecting idiomatic figures from very different extralinguistic, nonfootball domains.” (Matulina/Ćoralić, 2008:110) Também Nordin, com base num corpus bilingue (registo de comentários proferidos por comentadores de futebol alemães e suecos), afirma que: “One example from my data is the concept FOOTBALL IS WAR, where we use the experience from war to structure football. Some would say that most of us do not have any experience of war, but indirectly we have - through television, newspapers and other media (Eckhard, 2005:241).” (Nordin, 2008:114) Tendo como base a teoria dos modelos cognitivos idealizados assim como os esquemas imagéticos, encontrou igualmente expressões metafóricas que sustentam conceptualizações metafóricas do tipo ontológico, orientacional e estrutural. Porém, conclui que: “Many of the words we connect with war, like shooting or defending, belong to the terminology of football (Dankert, 1969:123) (…) That war is an important source domain for structuring football may not be so astonishing. The war-metaphor is the most central metaphor used in ball games. But when we compare the number of metaphors from this 91 source domain used by the commentators, the result is a little unexpected. The German commentators used 69 (…) war-metaphors, the Swedish commentators 48. What could be the reason why the German commentators use almost twice as many war-metaphors as the Swedes? One reason could be that war as an experience is closer to the Germans than the Swedes, who have not been involved in a war since 1809. That language is a delayed mirror of what happens in society (Baldauf 1997: 238) might support this conclusion. But the reason could also be found in the media, where a lot of martial reporting appears.” (Nordin, 2008:119) Estes resultados corroboram a conclusão avançada por Vierkant. A sua análise incide nos primeiros dez minutos de um relato radiofónico alemão do jogo de futebol entre a Alemanha e a Costa Rica, aquando do campeonato mundial de 2006. Este afirma que: “(…) both verb and noun conflict metaphors represent the highest number of metaphorical expression in football commentary (…).” (Vierkant, 2008:130) pois reconhece a quase omnipresença da conceptualização “PLAYING FOOTBALL IS BATTLING” (op.cit.), baseada na analogia estrutural do conflito, tanto num jogo de futebol como num cenário de guerra. Também Vierkant organizou o seu corpus por categorias de domínios-fonte, a saber: administração, que inclui a economia e a religião; imaginação, que inclui a mitologia; conflito, que inclui a guerra e a morte; natureza e fauna; artes criativas, que incluem teatro e musica. Por fim, considera que: “(…) football language in live radio commentary, and probably football language in general, is based on the previous knowledge of conflict. Metaphor research offers the possibility of collecting data which can be useful for cultural and linguistic studies. (…) previous knowledge of conflict is deeply linked with football language, football reasoning and probably football itself. (Vierkant, 2008:131) As metáforas encontradas por Anchimbe em relatos directos de jogos de futebol, apontam igualmente para a presença significativa de metáforas de guerra e avança a tese de que a metáfora conceptual é, em muitos casos, culturalmente motivada: “A banana kick would most likely be heard in Cameroon, where bananas are grown, than elsewhere, a ground to ground missile is most familiar to the West Bank, which is due to its long acquaintance with war.” (Anchimbe, 2008:137) Já Levin centrou a sua análise em proposições semi-fixas, contendo as palavras rede (net), minuto(s) (minute(s)) e apito (whistle) e conclui que as proposições utilizadas para a descrição da marcação de golos são de natureza metonímica, enquanto aspectos cronológicos do jogo activam metáforas conceptuais: “Goal-scoring phrases are based on metonymy (hit the back of the net) while time is usually expressed with metaphors (in the nth minute).” (Levin, 2008:143) 92 Armin Burkhardt, reconhecido linguista alemão, publicou igualmente alguns estudos dedicados à linguagem do futebol, dos quais destacamos: “Wenn das Leder im Kasten klingelt... Der deutsche Fußball und seine Sprache“ de 2008 e Wörterbuch der Fussballsprache de 2006. No seu dicionário da linguagem futebolística, Burkhardt reúne 250 páginas com cerca de 2200 termos específicos do mundo do futebol, recolhidos da imprensa desportiva alemã (jornais e revistas da especialidade), e fornece uma análise explicativa adequada relativamente ao significado dos mesmos. Simultaneamente reconhece e indica quais os termos metaforicamente ou metonimicamente motivados: “Die wichtigsten Prinzipien, nach denen ein Grossteil der fussballsprachlichen Wörter und Wendungen gebildet ist und weiterhin gebildet wird, sind Metapher, Metonymie und die vereinfachende Abstaktion.“ (Burkhardt, 2006a:9) Ao reconhecer a capacidade linguística de descrever uma circunstância através de outra, normalmente mais familiar, devido às suas estruturas análogas, a linguagem do futebol ‘apoderou-se’ da metáfora e da metonímia conceptual para melhor descrever um vasto conjunto de ocorrências e para melhor caracterizar os seus intervenientes. De novo, o domínio da guerra ou do confronto afigura-se como principal domínio-fonte: “Weil in den Ballsportarten jeweils zwei Parteien um Sieg oder Niederlage ringen, ist zur Beschreibung der Spiele vor allem das Bild vom Krieg oder Kampf in besonderer Weise geeignet, das vielen inzwischen gängigen Bezeichnungen zugrunde liegt.“ (op.cit.) Como o futebol, segundo Burkhardt, não representa apenas luta e conflito, é possível descortinar diferentes domíniosfonte, tais como: outros tipos de desportos, o reino animal e vegetal, alimentos, máquinas diversas e formas artísticas, entre outros: “Neben den kriegerischen gibt es natürlich noch viele andere Metaphern, die aus unterschiedlichen Bildfeldern stammen” (op.cit.) Burkhardt destaca, ainda, a importância da metonímia, cujo uso prolifera em toda a linguagem do futebol: “In der Fussballsprache sind es die Komponenten der Situation, die häufig mit demselben Ausdruck bezeichnet werden. (...) So kann Ecke den abgekreideten Eckpunkt, die Situation, (...) den Ball (...) und den (...) Ball in seiner Flugbahn (...) bedeuten.“ (op.cit.) Tanto o jogo, como as jogadas e as tácticas, afiguram-se como áreas particularmente produtivas para metaforizações: “Vor allem aber ist die Spielsprache Reich na Metonymien und Metaphern. (…) Überwiegend metaphorisch sind auch die zahlreichen Redewendungen, mit denen Spielereignisse oder taktische Verhaltensweisen beschrieben werden (…).” (op.cit.) 93 Por fim, destaca a capacidade criativa e produtiva da linguagem do contexto futebolístico em criar ou recriar expressões metafóricas de forma quase infinita: “Die Sprache des Sports im Allgemeinen und die des Fussballs im Besonderen sind ein weites Feld. Wie das Spiel selbst werden sie sich weiter ändern.” (op.cit.) No artigo “Wenn das Leder im Kasten klingelt... Der deutsche Fußball und seine Sprache” de 2008, Burkhardt, para além de apresentar um resumo da evolução histórica da linguagem do futebol, reafirma a presença dos três fenómenos semânticos anteriormente referidos (metáfora, metonímia e abstracção) no mundo linguístico do futebol. Mais ainda, aponta o domínio da guerra como principal domínio-fonte, mas confirma a presença de um leque variado de outros domínios-fonte. Neste estudo considera, também, o fenómeno da convencionalização da metáfora no contexto comunicativo, aliado ao esforço cognitivo necessário, por parte do receptor, a fim de compreender o significado e a intencionalidade de uma dada expressão metafórica: “Für den Rezipienten der Metapher besteht dadurch die Möglichkeit, die Sache oder Person A nach dem Modell von B zu betrachten und (sich) zu fragen, in welchen Merkmalen die Gemeinsamkeit beider besteht, die für den Sprecher bzw. Schreiber der Grund dafür war, die Metapher zu verwenden. In solcher Interpretation werden die Gemeinsamkeiten hervorgehoben, die Unterschiede aber ausgeblendet. Usuell gewordene Metaphern werden als neue Teilbedeutungen lexikalisiert, ”verblassen” dabei gewissermaßen und müssen dann natürlich nicht jedesmal im aktuellen Kontext neu entschlüsselt werden.“ (Burkhardt, 2008:75) Burkhardt aponta a evolução digital dos media como um aspecto que tem vindo a potenciar a produtividade linguística no que diz respeito às realizações metafóricas, dando como exemplo a classificação das equipas de futebol em forma de tabela: “Da sie [Tabellen] sich von Spieltag zu Spieltag verändern (und bei im Internet angebotenen Live-Tabellen während des Spiels sogar von Minute zu Minute), scheinen sie gewissermaßen ein virtuelles Eigenleben zu entfalten, das eine entsprechende sprachliche und das heißt vor allem: bildhafte Darstellung erfordert. Notwendigerweise ist die Tabellensprache daher überwiegend metaphorisch.“ (op.cit. p.79) Neste contexto, as metáforas orientacionais (em/para cima e em/para baixo ou para a frente e para trás) constroem um espaço mental ideal: Gipfelsturm, Tabellenspitze Abfahrt, Abstieg e Talfahrt são apenas alguns exemplos. Finalmente, realça a função pragmática da análise metafórica devido ao facto de a metáfora transmitir conteúdos sociais e culturas de uma 94 comunidade linguística, destacando, assim, a vertente cultural da conceptualização metafórica: “Der Fußball gehört zwar heute zur Weltkultur, ist aber auch immer ein Stück Landeskunde. Das gilt auch für die Fußballsprache.” (op.cit. p. 85) Em 2010, o Dudenverlag publicou um pequeno dicionário de terminologia futebolística intitulado: Keeper, Elf und Gurkenpass, de Peter Schlobinski. Apesar de ser, essencialmente, um dicionário multilingue de bolso, inclui pequenos excertos que apontam para a presença de metáforas conceptuais na imprensa desportiva: “Reich an Sprachbildern ist die Sprache der Fussballberichterstattung, die Reportsprache, in der immer wieder neue Ausdrücke geboren werden.” (Schlobinski, 2010:7). Neste sentido, são apresentados exemplos que comprovam a existência de diversos domínios-fonte na linguagem do futebol, a saber: “Handwerk und Technik (…), Wirtschaft (…), Theater und Musik (…), Mythologie und Religion (…).” (op.cit. p.56) e “Fussball ist Krieg” (op.cit. p. 76). Aquando das nossas pesquisas, encontrámos um número considerável de publicações, artigos, teses e dissertações que se debruçam sobre a presença da metáfora no mundo do futebol. Não pretendemos, e tendo em conta o tanto o objectivo como a dimensão desta dissertação, fazer referência a todos os trabalhos encontrados. Optamos, sim, por destacar alguns, por nos parecerem os mais representativos e precisos nas suas análises. No reconhecido jornal digital alemão, “metaphorik.de”, dedicado ao estudo da metáfora e da metonímia84, deparamo-nos com dois artigos que abordam a temática da metáfora no futebol. No primeiro artigo, trata-se de uma versão revista em 2006 cujo original data de 1997, a saber "Zur Metaphorik in der italienischen Fußballberichterstattung", de Klaus Gabriel, sendo que recorre, tal como o título indica, a um corpus real composto por textos jornalísticos da imprensa desportiva Italiana. O estudo assume-se como ponto de partida para posteriores projectos dedicados a esta linha de investigação: 84 „Das online-Journal metaphorik.de Was ist metaphorik.de? metaphorik.de eröffnet ein Forum der wissenschaftlichen Diskussion über Metapher und Metonymie. Ziel ist ein sprachen- und fächerübergreifender Austausch, der die engen Grenzen disziplinärer Fragestellungen überwindet. Im Zentrum des Online-Projekts steht die Zeitschrift metaphorik.de. Sie publiziert aktuelle Forschungsbeiträge, die die Komplexität des Metaphern- und Metonymiengebrauchs in Sprache, Literatur und Medien reflektieren. Theoretische, methodische und inhaltliche Vielfalt ist Programm. Darüber hinaus erfolgen Besprechungen neuer Literatur zu Metapher und Metonymie. Redaktionsteam: Hildegard Clarenz-Löhnert,Bonn; Martin Döring, Hamburg/Nottingham; Klaus Gabriel, Attendorn; Olaf Jäkel, Flensburg; Katrin Mutz, Bremen; Dietmar Osthus, Duisburg-Essen; Claudia Polzin-Haumann, Saarbrücken;Judith Visser, Bonn; Redaktionssitz: c/o Prof. Dr. Dietmar Osthus / Universität Duisburg-Essen / Institut für Romanische Sprachen und Literaturen, 45117 Essen (In: http://www.metaphorik.de/Journal/projektvorstell ung.htm [Consult. 26.11.2010]) 95 “Eine abschließende, über die italienische Sprache hinausgehende Betrachtung der Internationalität und Omnipräsenz von Metaphern in der, aber auch aus der Fußballsprache soll weitere interessante, der Vielfältigkeit der Metaphorik gerecht werdende Forschungsmöglichkeiten skizzieren.“ (Gabriel, 2006) O autor começa por realçar a importância do meio de comunicação, neste caso a imprensa desportiva, como enquadramento fundamental na construção metafórica e sublinha que, para além do carácter informativo, a imprensa desportiva pauta-se pelo princípio do entretenimento. Neste sentido, a metáfora aparenta assumir a função de entretenimento do público: “UNTERHALTUNG: - Leseanreiz bieten (Reger, 1979:263), - komische, ironisierende und satirische Effekte hervorrufen (Lüger, 1995:35; Reger, 1979:268), - auflockern (Lüger, 1995:38) und überraschen (Keller, 1995:190f.).“ (op.cit.). Mais ainda, considera que, quanto maior o grau de criatividade da metáfora, mais entretenimento proporciona: “Die Unterhaltungsleistung von Metaphern hängt sehr stark ab von ihrer Kreativität bzw. Habitualisierung. Metaphern mit hohem Kreativitäts- und niedrigem Habitualisierungsgrad wird grundsätzlich eine hohe Unterhaltungsleistung zugesprochen. Allerdings ist die ideologische Leistung bereits verbreiteter und wenig überraschender Metaphern nicht zu unterschätzen (Schmitt, 1994:512).“ (op.cit.) Após análise das 320 ocorrências metafóricas encontradas, o autor identificou vinte domínios-fonte diferentes, nos quais se reconhece uma clara predominância do domínio-fonte da guerra. Este justifica o resultado do seguinte modo: ”Als primärer Bildspenderbereich wird das Militär- bzw. Kriegswesen angegeben (Nascimbeni 1992:113; Schweickard 1987:145f.), das aufgrund der "strukturellen Entsprechungen zwischen dem militärischen und sportlichen Bereich“ (ebd.:145) besonders für die Bildübertragungen geeignet erscheint (cf. auch Reger 1979:269). Dieser, wie auch die anderen rekurrenten Bereiche erlauben "Rückschlüsse auf tragende Prinzipien des Fußballspiels“ (ebd.).“ (op.cit.) e “(...) neben den die Grundstruktur des Fußballspiels bestimmenden Metaphern wie etwa difesa ‘Abwehr’ (...), attacco ‘Angriff’ (...), truppa ‘Mannschaft’ (...) und vittoria ‘Sieg’ (...) werden die Bilder aus diesem Sinnbereich auch auf einzelne Spielsituationen, Personen und deren Handlungen übertragen.“ (op.cit.) 96 Os outros domínios-fonte provêm de áreas distintas, tais como: ser humano; espectáculo, teatro, cinema e televisão; artes e literatura; jogos de sorte (e cartas); tecnologia e ciência; geometria, medicina e saúde; economia, comércio e negócios; instrumentos e recipientes; artesanato (ou trabalho manual); casa e edifícios; agricultura e natureza; reino animal; vida e morte; direito legal, viagem e trânsito; religião, língua (comunicação) e tempo meteorológico (enumeração por frequência de ocorrências). Com representatividade reduzia ainda inclui os domínios-fonte da violência, catástrofe e infortúnio, assim como mitologia, fábulas e magia. De seguida, organizou as ocorrências por categorias, i.e. a que contextos do mundo futebolístico se reportam, a saber: o jogo, diferentes eventos no jogo, a equipa, o jogador, os golos, os árbitros, vitória e derrota, os treinadores, outros intervenientes (funcionários, público e os clubes), a época desportiva e a bola (enumeração por frequência de ocorrências). Da totalidade das metáforas analisadas, classificou 41,6% como metáforas criativas e 58.4% como metáforas convencionalizadas. Por fim, conclui que: “Metaphern beschreiben den Fußballsport als Kampf- und Glücksspiel. Sie vermitteln gegenläufig erscheinende Phänomene dieses Massen(medien)sports: Einerseits wird die Mannschaft und nicht der einzelne Mensch (Spieler) in den Mittelpunkt gestellt, andererseits werden dem Team wiederum menschliche Eigenschaften und Fähigkeiten zugesprochen, die Leistungen einzelner Spieler aber werden mechanisiert dargestellt. Aus kognitiv-kommunikativer Sicht kann für die Metaphorik in der italienischen Fußballberichterstattung von einer Multifunktionalität gesprochen werden. Metaphern stellen die Geschehnisse auf dem Platz präzise, leicht verständlich und somit lesemotivierend dar. Sie können jedoch auch Information verschleiern und Komplexität und Verantwortung verschiedensten verschweigen. Die große Bildspenderbereichen Anzahl betont den an kreativen hohen Metaphern aus Unterhaltungswert der metaphorischen Ausdrücke. Auch soll nochmals auf die Textfunktion (Bildung von Isotopien) sowie auf die sprachökonomische Dimension aufmerksam gemacht werden.“ (op.cit.) No segundo artigo, “Black, Blanc, Beur: Metaphorische Identität, identische Metaphern? - Formen und Funktionen der Metaphorik in der französischen Tagespresse zum Mondial 1998“ de 2002, Martin Döring e Dietmar Osthus arrogam que a metáfora configura um veiculo importante para a construção e divulgação de identidades nacionais, especialmente durante competições internacionais, ao projectar o sucesso de uma selecção para o plano da emoção abstracta do orgulho nacional85: 85 nomeadamente através da conceptualização metonímica: “DIE MANNSCHAFTSSTRUKTUR STEHT FÜR DIE GESELLSCHAFTSSTRUKTUR“ (Döring/Osthus, 2002b) 97 “Metaphern spielen in der Konstruktion von Identitäten eine entscheidende Rolle. In besonderem Maße tritt bei internationalen sportlichen Großereignissen eine enge Verbindung von Nationalmannschaften und Nationalgefühlen auf. Diese Identifizierung von Nation und Nationalmannschaft hat immer eine starke metaphorische Komponente.” (Döring/Osthus, 2002b) O seu corpus é constituído por textos jornalísticos de jornais franceses ideologicamente distintos (Le Figaro e Humanité) aquando da vitória da selecção francesa no campeonato mundial de futebol de 1998. A tese principal reside na convicção de que as metáforas conceptuais contribuem, significativamente, na construção de identidades colectivas, condição inseparável da sua função comunicativa: “Ausgehend von einer Einführung in die zentralen Begriffe der kognitiven Metapherntheorie (…), soll ein Schwerpunkt auf die kommunikative und identitätsstiftende Funktion der Metaphorik gelegt werden.“ (op.cit.) Os autores reconhecem, por um lado, as vantagens do enfoque cognitivo, baseado na teoria da metáfora conceptual de Lakoff e Johnson (1980a), mas por outro, consideram que esta abordagem se revela insuficiente, pois omite factores importantes da função metafórica: “Der kognitivistische Ansatz ist zu stark auf konzeptuelle Aspekte bezogen und eignet sich als Erklärung für die Paradigmen generierende Kraft der Metapher in der ko- und kontextuellen Umgebung nicht. Auch die historische Einbettung fehlt dem Ansatz der kognitiven Metapherntheorie vollkommen.“ (op.cit.) Apontam, igualmente, para a dimensão comunicativa e pragmática da metáfora, recuperando a abordagem preconizada por Weinrich relativamente ao conceito de Bildfeld: “Ein wesentlicher Vorzug von Weinrich gegenüber dem Ansatz von Lakoff und Johnson besteht indes in der Verbindung zwischen der paradigmatischen Metaphernstruktur (Bildfeld) und den von Weinrich (Weinrich et al. 1968) gewonnenen Einsichten in die Textualität einer jeden Metapher.“ (op.cit.)86 Após análise detalhada do seu corpus, Döring e Osthus concluem e corroboram a evidência de que a guerra e o conflito configuram o principal domínio-fonte na construção de 86 Os autores acrescentam ainda: “Weinrich akzentuiert insofern stärker als die rein kognitiv argumentierenden Metapherntheoretiker die sich in jeder Metaphernverwendung vollziehende Verbindung zwischen ihrem konzeptuellen Status – Weinrich charakterisiert zu Recht das Bildfeld als „Denkmodell” (Weinrich 1968:101) – und ihre sich in der textuellen Umgebung zeigenden kommunikativen Dimensionen. Mit dem weinrichschen Modell werden also im Gegensatz zur kognitiven Metapherntheorie zusätzlich die textuell metaphorischen Dimensionen der Projektionsebenen greifbar. Dies ist gerade in Bezug auf nicht-metaphorische Textelemente interessant, da auf diese Weise zumindest die angelegte Lesart nachvollziehbar wird.“ (op.cit.) perpectiva esta, que se aproxima, a nosso ver, significativamente da teoria da rede de espaços mentais avançada por Brandt e Brandt/Brandt. 98 expressões metafóricas no âmbito do futebol. A metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA está na génese de um número infindável de realizações metafóricas, o que leva os autores a considerar que se, metonimicamente, a selecção nacional corresponde à sociedade de uma nação, então a vitória da selecção corresponde à vitória da sociedade87: “Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport dürfte eines der gängigsten metaphorischen Verfahren sein, wie vorliegende Studien zur Metaphorik der Fußballberichterstattung (Gil 1998; Gabriel 1998) bestätigen. Selbst die Terminologie des Fußballsports ist im höchsten Grade durch Militärmetaphorik geprägt, wie Begriffe der Offensive (frz. offensive), der Verteidigung (frz. défense) oder des Angriffs (frz. attaque) unschwer erkennen lassen. In der Berichterstattung über die Weltmeisterschaft wird diese ohnehin schon vorhandene Kriegsmetaphorik noch um eine nationale Komponente erweitert, indem die Mannschaft metonymisch mit der Nation gleichgesetzt wird, das Zusammenspiel der französischen Mannschaft als nationales Zusammenleben und der sportliche Erfolg metaphorisch als ein nationaler militärischer Sieg verstanden wird.“ (op.cit.) Os domínios-fonte das crenças religiosas e mitológicas, e do poder instituído (Herrschaft) emergem do domínio da guerra e do confronto através da elevação da conquista da vitória: “(...) eine mythische Überhöhung der sportlichen Mannschaftsleistungen durch eine ausgeprägte Metaphorik klassischer Mythen und religiöser Weihe.“ (op.cit.) Por fim, Döring e Osthus consideram ter comprovado que as realizações metafóricas encontradas nos dois jornais franceses ideologicamente distintos (“ideologische Unvereinbarkeit von Humanité und Figaro” (op.cit.)), apesar de partilharem os mesmos domínios-fonte, assentam em conceitos diferentes que conduzem a significados emergentes igualmente diferentes, diferença essa que, aparentemente, é determinada pelo enquadramento contextual: “Hier zeigt sich, dass identische Metaphernfelder noch nicht von identischen Konzepten zeugen, da erst in einer ko- und kontextuellen Einbettung die metaphorischen Konzepte richtig entfaltet werden. Die Unterschiede zwischen beiden Zeitungen sind hier durchaus frappierend.“ (op.cit.) Na revista universitária Uni Magazin Hanover, edição 1/2 de 2006, com o título “Fussball vereint - Forschung zeigt den Ernst hinterm Spiel” encontramos dois artigos que se ocupam com a problemática da metáfora no mundo do futebol: “Die Mega-Knaller-KnisterZitter-WM - Fußballberichterstattung auf dem sprachlichen Prüfstand” de Peter Schlobinski e 87 “Der schon erwähnten Metonymie DIE MANNSCHAFTSSTRUKTUR IST DIE GESELLSCHAFTSSTRUKTUR wird eine weitere zur Seite gestellt: DER SIEG DER MANNSCHAFT IST EIN SIEG DER GESELLSCHAFT“ (op.cit.) 99 “Von ‘wackeligen Neubauten’, ‘produktiven Absatzkicks‘ und einem Kölner ‘Nationalheiligen‘ Metaphern in der Fußballsprache“ de Jannis Androutsopoulos, Dirk Kasten e Natascha Kreye. Neste estudo, Schlobinski analisa as características do discurso dos media (Mediensprache), nomadamente a elevada produção de metáforas por parte dos diferentes textos jornalísticos no âmbito do futebol, devido ao facto deste ser considerado o fenómeno dominante da cultura do lazer e do dia-a-dia das sociedades actuais: “Fußball ist ein dominierendes Phänomen unserer Alltags- und Freizeitkultur. Über alle soziale Schichten und Altersstufen hinweg ist er in der Gesellschaft tief verankert, und erst die modernen Massenmedien haben dies ermöglicht, indem sie den Fußball sprachlich und bildlich inszenieren. Bei der Darstellung eines sportlichen Ereignisses spielt auf der sprachlichen Ebene die Lexik eine wichtige Rolle.“ (Schlobinski, 2006:26) As denominadas ‘metáforas de guerra’ proliferam88 ao ponto que os conteúdos semânticos dos campos militar e balístico já se encontram, de certa forma, diluídos: “(…) wir haben uns offenbar an die Mediensprache der Fußballberichterstattung gewöhnt, ohne dass uns die Metaphorik aus Bereichen wie Krieg und Militär (noch) weiter auffällt.“ (op.cit.) Contudo, o autor destaca outros domínios-fonte que subjazem, igualmente, à produção de expressões metafóricas, a saber: • a economia (“Wirtschaft: Quittung erhalten, verspekuliert, negative Bilanz” (op.cit.)); • trabalho manual e tecnologia (“Handwerk und Technik: Mittelfeldmotor, Dampf machen, Tore am Fließband, Anspielstation, Rumänien war sein Meisterstück“ (op.cit.)); • musica e teatro (“Musik und Theater: Schlussakkord, Regisseur, Generalprobe, Finale furioso, Dirigent“ (op.cit.)); • mitologia e religião (“Mythologie und Religion: Peles Auferstehung, erwartet ein harter Opfergang, heroisch, der Kölner Nationalheilige Lukas Podolski.“ (op.cit.) Schlobinski considera, ainda, que o evento futebolístico - por exemplo, um campeonato mundial - se assume como uma encenação de um espectáculo mediático89. O 88 aparentemente, o aproveitamento do domínio-fonte da guerra e da luta para a construção de expressões metafóricas sobre o futebol, inscreve-se numa tradição de produção jornalística já antiga: “Und dies hat Tradition: In dem bekannten Fußballmagazin KICKER ist in den erstmals 1920 erschienenen Ausgaben das Wortfeld »Kampf und Krieg« der größte Spenderbereich für Übertragungen und Metaphern“ (Schlobinski, 2006:26) 89 “Wie bei einem Theaterstück oder einer Seriendramaturgie gibt es Protagonisten und Antagonisten, Helden und Schurken, eine Kulisse, ein Publikum, Höhepunkte, Konflikte, Souffleure und Regisseure. Umrahmt wird dieses Ereignis durch ein Vor- und ein Nachspiel. Konstante Themen wie die »Tugenden der deutschen Mannschaft « durchlaufen von jeher eine Karriere von einem Medienereignis zum anderen und bilden rekurrente Identifikationsmuster“ (op.cit.) 100 papel dos media é, consequentemente, determinante, não somente em relação aos conteúdos que optam por transmitir, mas principalmente na forma como os divulgam: “Denn die »Medien geben dem, was sie melden, und dem, wie sie es melden« – so schreibt Niklas Luhmann in seiner berühmten Schrift Die Realität der Massenmedien –, »eine besondere Färbung und entscheiden so darüber, was als nur situativ bedeutsam vergessen werden und was in Erinnerung bleiben muss«.“ (op.cit. p.27) De novo, é realçada a importância do contexto comunicativo (dos media) na produção metafórica. No mesmo sentido de Döring e Osthus, Schlobinski evidencia a importância da metáfora na construção e validação da identidade nacional. A selecção alemã, assim o autor, para além de representar a nação, encarna os ideias e os princípios tipicamente alemães, e os jogadores tornam-se modelos representativos da identidade nacional o que, por sua vez, potencia a construção de metáforas: “Wie zuvor werden die »deutschen Tugenden« in den medialen Inszenierungsmustern einen bedeutsamen Stellenwert einnehmen und sich als roter Faden durch die Berichterstattung ziehen.” (op.cit. p.28) Schlobinski conclui ao destacar o poder dos media que, através do futebol como fenómeno preponderante das sociedades actuais, contribuem significativamente para construção da realidade: “Fußball als Medienereignis ist also mehr als Sport und Unterhaltung. Fußball ist Teil einer Realitätskonstruktion, die der Erhaltung, Schaffung und Reproduktion von gesellschaftlichen Werten dient. Sprache hat als Mittel der Realitätskonstruktion eine wichtige Aufgabe, und sie ist somit mehr als ein Kommunikationsmittel, sie ist ein Instrument der Macht.“ (op.cit.) O segundo artigo desta revista centra-se na omnipresença da metáfora no mundo do futebol e pretende expor as estruturas metafóricas subjacentes à sua construção no contexto comunicativo e pragmático da imprensa desportiva: “Wenn wir über Fußball reden, sprechen wir von Krieg, von Theater, von Betonmauern: Fußballsprache kommt ohne Metaphern nicht aus. Wissenschaftler des Deutschen Seminars zeigen beispielhaft an der Fußballberichterstattung, wie Metaphern in der Fußballsprache strukturiert sind und von Sportjournalisten als dramaturgische Stilmittel eingesetzt werden.“ (Androutsopoulos/Kasten/Kreye, 2006:30) Os autores fundamentam-se na teoria da metáfora conceptual de Lakoff e Johnson (1980a) no que concerne o princípio do mapeamento conceptual entre domínios, o enfoque experiencial e corpóreo - social e culturalmente dependente - como alicerce dos processos cognitivos, assim como na possibilidade de construir de forma criativa diversas realizações metafóricas a 101 partir de uma só metáfora conceptual90. Neste sentido, exemplificam este fenómeno recorrendo à metáfora conceptual mais recorrente: FUTEBOL É GUERRA: “Wenn beispielsweise Fußball als Krieg verstanden wird, kann man auf üblichen Fußballausdrücken wie schießen aufbauen und einen starken Torschützen als Kanone, einen schwachen als Schreckpistole bezeichnen.“ (op.cit. p.31) As metáforas do domínio da guerra que melhor descrevem aspectos estruturantes do jogo de futebol, tornaram-se tão recorrentes e usuais, de forma que o falante comum já não lhes reconhece a origem metafórica: “Das Fußballspiel weist in seiner Struktur bereits viele Parallelen zu militärischen Aktionen auf, sodass komplexe Spielsituationen durch militärische Fachwörter kurz und präzise ausgedrückt werden können. Fußballbegriffe wie schlagen, schießen oder Zweikampf werden heute kaum noch als Metaphern wahrgenommen.“ (op.cit.) Quando assim é, considera-se que a metáfora está convencionalizada. Os autores reconhecem, igualmente, que a existência de outras metáforas conceptuais com outros domínios-fonte depende, única e exclusivamente, da criatividade humana. As características multifacetadas do mundo do futebol revelam-se, então, como particularmente motivadoras e propícias a mapeamentos conceptuais, o que explica a abundância de realizações metafóricas no discurso futebolístico: “Und da wir daran gewöhnt sind, Fußball auf ganz verschiedene Weisen metaphorisch zu strukturieren, können geschickte Sprecher, und ganz besonders Journalisten, neue Metaphern ad hoc einführen und ausfächern.“ (op.cit.) Neste sentido, sugerem um conjunto de diferentes domínios-fonte, muito idênticos aos avançados pelos outros autores aqui referenciados. Estes são: trabalho manual e tecnologia; espectáculo artístico; forças naturais e religião, mitologia e o sobrenatural. Na senda dos mesmos, Androutsopoulos, Kasten e Kreye destacam, igualmente, a metáfora como recurso linguístico utilizado pelos media para tornar o texto jornalístico mais apelativo e pictórico. É de frisar que o jornalismo desportivo se pauta por princípios económicos, pois é imperativo atrair leitores a fim de vender os jornais e as revistas. A metáfora apresenta-se, neste sentido, como uma opção estratégica no âmbito da linguística com fins comerciais: 90 “Die kognitive Metapherntheorie lässt erkennen, dass ganz verschiedene bildhafte Ausdrücke Ausprägungen derselben konzeptuellen Metapher sind, und erklärt unsere alltägliche Kreativität im metaphorischen Sprachgebrauch. Sobald die Kopplung zweier Erfahrungsbereiche kognitiv etabliert ist, können immer neue Teilaspekte des Quellbereichs auf den Zielbereich übertragen werden.“ (op.cit. pp.30-31) 102 “Diese heutzutage »Infotainment« genannte Strategie der Nachrichtenaufbereitung ist für die Leser- oder Zuschauerbindung ausschlaggebend, und metaphorische Kreativität ist dabei eine ihrer wichtigsten Ressourcen.“ (op. cit.) Por fim, e através de um exemplo baseado no conceito de nação ou povo, sublinham a importância e a presença da metonímia conceptual no jornalismo desportivo e apontam este fenómeno como gerador de novas metáforas: “Metonymien sind sachlich oder logisch motivierte Relationen innerhalb desselben Erfahrungsbereichs (…). Zwar gehören Metonymien wie Leder (»Fußball«) schon zum Alltagsschatz der Fußballsprache, die Spezialität der Bild sind jedoch metonymische Volksbezeichnungen, vorzugsweise in der Schlagzeile (…). So wurden auch schon die Abwehr der chinesischen Elf zur Chinesischen Mauer und die Brasilianer zu Samba-Tänzern. Derartige Völker-Metonymien können wiederum den Nährboden für neue Metaphern bilden.“ (op.cit. p.32) Consideramos pertinente fazer, ainda, uma breve referência a três trabalhos investigação que se debruçam sobre os diferentes processos de conceptualização recorrentes na imprensa desportiva alemã: - Dagmar Křencová, 2002, Phraseologismen in der deutschen Sportpublizistik, dissertação para a obtenção do grau de doutor; - Stefanie Dietsch, 2008, Wörter und Phraseologismen der Fußballreportage im Hörfunk - Ein diachroner Vergleich, tese para a obtenção do grau de licenciado; - Steven Schattemann, 2007, “Der Bomber trifft!” Eine Analyse der Fuβballberichterstattung anhand einer Untersuchung der Periphrasen in der WM-Berichterstattung der „Welt“, tese para a obtenção do grau de licenciado. O trabalho de Křencová centra-se na análise de um corpus composto por textos jornalísticos da imprensa desportiva alemã, e segue a abordagem paradigmática de Burger (1998)91 no âmbito dos estudos fraseológicos92. Os resultados obtidos corroboram as conclusões avançadas pelos autores já mencionados, i.e. as realizações metafóricas encontradas reflectem, predominantemente, o domínio da guerra como principal espaço mental de input, seguido pelo domínio da tecnologia: 91 Burger, H., (1998) Phraseologie. Eine Einführung am Beispiel des Deutschen, Erich Schmidt Verlag, Berlin. “A fraseologia situa-se no campo dos estudos do léxico, sendo considerada uma subdisciplina da lexicologia. Ocupa-se das combinações estáveis de unidades lexicais, constituídas por mais de duas palavras gráficas. O seu limite superior é a frase.” (Ceia, Dicionário de Termos Literários (In: http://www.edtl.com.pt/index.php?option=co m_mtree&task=viewlink&link_id=214&Itemid=2 [Consult. 30.11.2010])) 92 103 “Wesentlich geprägt wurde die Sprache des Sports von der Spache des Militärwesens und der Technik. Die Anfänge der modernen Sportbewegung fallen in die Zeit der Industrialisierung und in die Zeit, in der das Militär einen grossen Einfluss auf das tägliche Leben und somit auch auf die Sprache ausübte.“ (Křencová, 2002:102-103) Contudo, reconhece, igualmente, no seu corpus a existência de processos de conceptualização fundados em outros domínios-fonte, tais como os jogos de sorte, jogos estratégicos, navegação marítima, teatro, economia, direito, trabalhos tradicionais (moagem manual) e medicina e justifica: “Der Grund für die Verwendung liegt wahrscheinlich in der Beliebtheit und Alltagsnähe des Sports (…). Damit hängt wieder zusammen, dass Metaphern aus verschiedene Lebensbereichen, wie z. B. aus der Sprache der Wissenschaft, der Musik, der Wirtschaft und des Theaters, in die Sportsprache übergingen und in die Texte der Sportberichterstattung Eingang fanden.“ (op.cit. p.103) Tendo em conta o tipo de texto analisado e, consequentemente, o contexto comunicativo inerente, a autora inclui uma reflexão sobre as diferentes razões e funções que motivam o uso recorrente da metáfora, aliado a processos de renovação metafórica constantes. Neste sentido afirma: “Um eine gezielte Wirkung auf das Publikum auszuüben, produzieren Sportjournalisten neue innovative Modifizierungen der Phraseologismen. Die Modifikationen spielen für die Konstitution der Sporttexte eine wichtige Rolle. (...) Die vorliegende Untersuchung hat jedenfalls ergeben, dass die Sportpresse mit den Phraseologismen besonders spielerisch umgeht. Die Phraseologismen erfüllen in der Sportsprache zahlreiche Funktionen und tragen wesentlich zur Konstituierung der publizistischen Sporttexte bei. Dabei sind Unterschiede in Abhängigkeit von der phraseologischen Klasse festzustellen: Lesestimulierungs-, Emotionalisierungs-, Anschaulichkeits-, Kommunikationvereinfachungs-, Bennenungs-, und Informations-, Ökonomisierungs-, Kontextualisierungs- und Bewertungsfunktion.“ (op.cit. pp.161-162) Dietsch, cuja tese se encontra publicada na página de internet do organismo oficial alemão Deutsche Akademie für Fussballkultur, construiu o seu corpus a partir das transmissões radiofónicas dos jogos de futebol entre a Alemanha e a Hungria aquando do campeonato mundial de futebol de 1954 e entre a Alemanha e Portugal aquando do campeonato mundial de futebol de 2006. Um dos enfoques da análise deste corpus centra-se na inclusão de realizações metafóricas no discurso futebolístico. Neste sentido, postula que “Vorgänge [werden] im Fußball bildhaft beschrieben. Dabei werden die Wörter „in eine uneigentliche 104 Bedeutung“ übertragen. Man spricht diesbezüglich auch von Metaphern.“ (Dietsch, 2008:49) A autora aponta razões histórico-culturais para a proliferação de metáforas de guerra, assim como do mundo da tecnologia e destaca, igualmente, a motivação contextual deste fenómeno: “Eine weitere Erklärung für den Einzug militärischer und technischer Lexeme in die 93 Fußballsprache, lässt sich nach Ansicht von ROSENBAUM in der Anlage und Art des Spiels finden: »Die Kampfsituation im Fußballspiel findet ihre Entsprechung in der Situation des Krieges: der Kampf Mann gegen Mann, das Ringen um den Sieg, die taktischen Maßnahmen in diesem Kampf – all das entspricht einander, verschieden ist lediglich die Intension, die jeweils zugrunde liegt.«“(op.cit. p.50). Para além destes domínios-fonte, a autora regista a presença de outros domínios de áreas da experiência humana: “Neben dem Militärwesen und der Technik wurden auch aus den Bereichen‚ Theater und Film’ (z. B. Regisseur, Finale, Szene, Abschiedsvorstellung), ‚Natur’ (z. B. Wirbelwind, blitzartig), ‚Jagd- und Schützensprache’ (z. B. Torschützenkönig), ‚Bauwesen’ (z. B. aufbauen), ‚Griechische Mythologie’ (z. B. Zerberus) und ‚Seefahrt’ (z. B. Kapitän, segeln) Wörter entnommen.“ (op.cit.) Schattemann chega a conclusões idênticas: “Der agonale Charakter des Fussballspiels zeigt nämlich sehr viele Ähnlichkeiten zum Krieg, was die übertrieben martialische Fuβballsprache einigermaβen relativieren und erklären kann.“ (Schattemann, 2007:75). Acrescenta, porém, que a elevada frequência de realizações metafóricas baseadas na metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA é justificada pelo facto de grande parte da actual terminologia futebolística de origem metafórica já se encontrar convencionalizada: “Es ist ja unmöglich, Fussballberichte ohne bestimmte kriegerische Elemente, die schon völlig in der Fuβballsprache eingebürgert sind, zu gestalten, aber dennoch wird in der Fuβballberichterstattung der agonale Charakter des Spiels übertrieben.” (op.cit. p.76). O autor sublinha, ainda, a função pragmática aliada ao uso, por vezes excessivo, deste tipo de metáforas: “Das Steigern dieser Kriegsmetaphorik in der Fussballberichterstattung geschieht also aus wirtschaftlichen Gründen (...). Indem die Berichterstatter ihren Fuβballberichten eine 93 Rosenbaum (1969), Sprache der Fußballreportage im Hörfunk, p. 45f., Dissertação para a obtenção do grau de doutor, Universität des Saarlandes, Saarbrücken 105 übertrieben kriegerische Dimension beimessen, versuchen sie ihre Berichterstattung für das Publikum attraktiver darzustellen.“ (op.cit. pp.76-77) A metáfora contribui, igualmente, para o chamado ‘culto do ídolo’ (“Starkult” op.cit.p77ff), na medida em que eleva, metaforicamente, os jogadores de futebol a heróis, deuses ou outros seres superiores. O autor fundamenta estas conclusões no seu corpus, composto por 646 artigos desportivos do jornal alemão Die Welt, recolhidos durante o campeonato mundial de futebol de 2006. No que diz respeito aos estudos nacionais de enfoque cognitivo, no âmbito da análise metafórica no mundo do futebol, destacamos a dissertação de mestrado de Andreia Monteiro, Representações metafóricas do futebol nos media portugueses e ingleses: abordagem cognitiva, de 2009, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. O corpus desta dissertação é composto por 139 títulos de notícias sobre o futebol, sendo 70 recolhidos da imprensa portuguesa e 69 da imprensa inglesa. A autora propôs-se identificar as metáforas conceptuais, assim como os diferentes mapeamentos conducentes às realizações metafóricas, a fim de comprovar a existência diferenças e convergências culturais nos media dos dois países. Relativamente aos alicerces teóricos, a autora apoiou-se nos postulados da Linguística Cognitiva, mais precisamente na teoria da metáfora conceptual de Lakoff e Johnson (1980a) e Lakoff (1986, 2006). Na linha de estudos anteriores, a metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA revelou-se como a mais produtiva, dando origem a um total de 26 realizações metafóricas, seguido dos domínios da religião, animal perigoso, sofrimento, forma artística, aprendizagem, ficção, crime, fenómeno natural, tecnologia e organismo vivo/saudável, para só referir os dez mais frequentes. Após análise semântica detalhada, a autora procedeu a uma abordagem quantitativa, o que revelou resultados interessantes relativamente aos modelos culturais subjacentes às metáforas conceptuais: “(…) registam-se algumas diferenças dignas de menção, relativamente à metáfora conceptual FUTEBOL É REALEZA que apenas figura nos jornais ingleses. Também é de referir que as metáforas conceptuais FUTEBOL É CIRCO MEDIÁTICO ou FUTEBOL É IMPRENSA CORDE-ROSA, a par de FUTEBOL É BOLSA DE VALORES e de FUTEBOL É DESPORTO DE CONTACTO apenas figuram na imprensa desportiva inglesa. Na nossa óptica, tais o surgimento de tais construções prende-se com aspectos fundamentais da vida política, social e cultural dos britânicos, a saber, a monarquia, a imprensa cor-de-rosa, a bolsa de valores e o desporto de contacto, o boxe. Sublinhe-se que quer na metáfora conceptual FUTEBOL É SOFRIMENTO, quer na metáfora conceptual FUTEBOL É AQUECIMENTO pontuam condições climatéricas de frio intenso que são próprias do clima do país em questão.” (Monteiro, 2009:111-112) 106 Nas conclusões finais, a autora afirma ter consolidado um dos postulados basilares da semântica cognitiva, i.e. a indissociabilidade entre o significado e a experiência física, social e cultural. As realizações metafóricas encontradas nos jornais desportivos portugueses e ingleses corroboram a tese de que experiências diferentes dão origem a metáforas conceptuais e imagens metafóricas diferentes. Por fim, consideramos pertinente referenciar o estudo apresentado por Paula Órfão (2009) - “Frequent and not so Frequent Metaphors in the Portuguese Sports Newspaper «A Bola»”. A autora propôs-se analisar as metáforas conceptuais presentes nos títulos do jornal desportivo português A Bola (entre 2003 e 2007), à luz da teoria da metáfora conceptual proposta por Lakoff e Johnson (1980), debruçando-se tanto nos domínios cognitivos que estruturam as metáforas conceptuais mais comuns (e.g. guerra, natureza e economia), assim como nos domínios cognitivos que estruturam construções metafóricas menos comuns (e.g. edifícios, festividades, touradas). Órfão postula, ainda, que: “We hold that headlines of football news in «A Bola» mainly contain representations that become effective by means of projections of a structural and ontological nature.” (Órfão, 2009:179-180). Do total das 138 ocorrências identificadas, este estudo apresenta a análise de quinze ocorrências em representação dos diferentes domínios cognitivos que serviram de base aos processos de conceptualização metafórica. A título informativo, a autora inclui uma tabela que indica quais os domínios-fonte identificados e o respectivo número de ocorrências, a saber: guerra: 24 ocorrências, máquinas: 23 ocorrências, natureza: 22 ocorrências, sobrenatural: 20 ocorrências, alimentação: 13 ocorrências, economia: 11 ocorrências, outros desportos: 7 ocorrências, música: 6 ocorrências, tourada: 4 ocorrências, festividades: 3 ocorrências, edifícios: 3 ocorrências, teatro: 1 ocorrência, cores: 1 ocorrência (op.cit. pp.185-186). Mais uma vez, este estudo corrobora os resultados de estudos anteriores, ou seja, o domínio-fonte da guerra é o domínio cognitivo mais frequente subjacente à construção de metáforas conceptuais no âmbito do futebol. A metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA consubstancia-se através de realizações metafóricas, activadas por diversos domínios semânticos: “(…) a wide scope of semantic elements is activated, such as adversity, the military hierarchy, actions that are often found in the military arena, namely conquering, the existence of intelligence agencies or ultimata, as well as weapons and various ammunition.” (op.cit.p.186) 107 como, por exemplo: “(1) Vitórias do general amarelo (28.8.2005, p. 27)” (op.cit. p.187). A autora aponta as origens e o contexto histórico do futebol como a razão mais óbvia para a ocorrência deste fenómeno. A frequência do domínio-fonte da tecnologia, principalmente a conceptualização da equipa de futebol como uma máquina (e.g. um veículo), justifica-se à luz dos contextos histórico-culturais. No âmbito da natureza, a autora divide o domínio da natureza em dois subdomínios: a) organismo vivo e b) fenómenos naturais. Relativamente ao primeiro subdomínio assistimos a conceptualizações metafóricas do tipo: a equipa é um ser vivo: “(5) Atlético dorme a sesta (22.7.2007, p. 34)” (op.cit. p. 190); no que diz respeito ao segundo subdomínio verificam-se conceptualizações metafóricas que conceptualizam o futebol como, por exemplo, catástrofes naturais: “(6) Novo sismo abala futebol português (26.8.2006, p. 1)” (op.cit.) O domínio do super-natural é, essencialmente, activado pela metáfora conceptual FUTEBOL É RELIGIÃO: “(7) Banco das lamentações (12.7.2003, p. 7)” (op.cit.p.191). Contudo, contos de fadas ou histórias fantásticas configuram, igualmente, cenários produtivos para construções metafóricas: “(8) Dois sopros de Quaresma afugentaram o fantasma (3.9.2007, p. 7)” (op.cit.p.192). Relativamente ao domínio da alimentação, a autora argumenta que este aparenta ser bastante produtivo no que concerne a estruturação conceptual do futebol. Neste sentido, o futebol é conceptualizado como um determinado alimento, como uma refeição, uma ementa ou mesmo um veneno: “(9) Vukcevic ensinou leão a comer com talheres (3.9.2007, (…))” (op.cit. p.193). Este domínio inclui, ainda, construções que se baseiam na acção ‘comer’, em grandes ou poucas quantidades. Órfão apresenta e analisa igualmente um conjunto de ocorrências que evidenciam os domínios-fonte da economia: “(11) Dar uma lição ao patrão (23.8.2006, p. 32)” (op.cit. p. 194), do evento tradicional da tourada: “(13) Beto enorme em noite de Geovanni matador (23.7.2005, p. 5)” (op.cit. p.196), de ocasiões festivas: “(14) As festas do rei cigano têm animação garantida (19.8.2007, p. 13)” (op.cit.) e de edificações: “(15) Primeiro alicerce do engenheiro (8.7.2006, p. 22)” (op.cit. p. 197) para concluir que a metáfora conceptual constitui, de facto, um fenómeno universal e abrangente, fundado em processos conceptuais que estruturam aspectos essenciais da vida, como, por exemplo, a comunicação: “This study shows us that sports newspapers are a precious source of mental processes that are manifested in their language. Our relationship with the world around us – cognition – is mirrored in such linguistic manifestations as newspaper headlines.” (op.cit. p. 197-198). 108 Em suma, pensamos ter concluído o propósito do presente ponto: traçar uma breve resenha dos estudos sobre a metáfora no mundo do futebol, através de uma mostra de textos e publicações representativos94. No âmbito desta dissertação, a presente mostra não pretende e não pode, de modo algum, ser exaustiva. Assim sendo, perdoem-nos os investigadores e autores cujos trabalhos e publicações não foram aqui referenciados. 2.2. Imagens mescladas nos jornais desportivos, abordagem semiótica Na senda da teoria dos espaços mentais de Fauconnier e Turner (1998a, 1998b, 1998c, 1999, 2000a, 2002, 2006), e da rede de espaços mentais de Brandt (2001a, 2004a) e Brandt/Brandt (2005a), poucos são os trabalhos que desenvolveram as suas análises da metáfora na imprensa desportiva a partir deste paradigma. O contraste entre os trabalhos que apresentemos seguidamente e os referenciados no ponto anterior, reside na perspectiva inovadora de que as “mesclas emergem da intersecção de vários espaços de input à luz dum Espaço Genérico de índole abstracta que viabilizaria o processo de integração conceptual quer no âmbito morfológico, quer no âmbito textual.” (Almeida, 2005:558). Estes trabalhos configuram, portanto, um enriquecimento considerável relativamente à temática em questão, pois inscrevem-se no âmbito dos estudos de enfoque semiótico, aliados à abordagem semântico-cognitiva. 2.2.1. Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2010a, 2010b, 2011), Imagens mescladas nos jornais desportivos internacionais – abordagem qualitativa Serve o presente ponto para destacar, sumariamente, as publicações de M.C. Almeida, pioneira a nível nacional do estudo de enfoque semiótico aplicado à imprensa desportiva. As publicações em questão são: I. 2003 - “Processos de compreensão em construções mescladas: análise semântica de ocorrências do português” II. 2004 - “More about Blends: blending with proper names in the Portuguese media” III. 2005 - "A Poética do Futebol: análise de representações mescladas à luz do paradigma das Redes de Espaços Mentais” 94 vide a página de internet: http://www.grin.com/de/, para outros trabalhos sobre a metáfora no futebol 109 IV. 2006a - “Blending the Pheno-world with Fiction: the Cognitive Semiotics view” V. 2006b - "Blend-Bildungen - und was dahinter steckt" VI. 2010a - “Code-switching in Portuguese Sports Newspapers: the Cognitive Semiotics View” VII. 2011 - “On ’forbidden-fruit blending’ in Portuguese Sports Newspapers” VIII. 2010b - “More on’ forbidden-fruit blending’: prying into the Portuguese Mind” I. “Processos de compreensão em construções mescladas: análise semântica de ocorrências do português” Com base num corpus composto por títulos de textos jornalísticos dos jornais Expresso e A Bola, e de anúncios de programas dos canais SIC e Euronews (de Agosto a Outubro de 2002), Almeida propôs-se desconstruir os diferentes “encadeamentos construídos pelos falantes “on-line”, i.e. em situações reais de comunicação” (Almeida, 2003:67) subjacentes às representações metafóricas. Destaca, ainda, que as ocorrências apresentadas resultam de processos de compressão metonímica e que a sua eficácia comunicativa se deve a três factores essenciais: o conhecimento do mundo, fruto da informação armazenada da experiência humana, a percepção do mundo que nos rodeia, tais como as imagens televisivas, e o contexto específico da ocorrência, neste caso, baseado em textos jornalísticos especializados numa determinada área (A Bola - futebol). No exemplo apresentado “(5) Estudantes em adaptação à exigente vida académica (‘A Bola’ 20.08.2002)” (Almeida, 2003:72), o conhecimento de que esta notícia surgiu publicada no jornal a Bola reveste-se de particular importância, pois leva o leitor a sintonizar a sua mente no domínio cognitivo do futebol, o que condiciona a descodificação da notícia. O exemplo em questão denota uma construção mesclada por compressão metonímica através de ligações metonímicas sucessivas do tipo parte-todo. Reconhecem-se três espaços mentais de input, a saber: 1. Jogadores do clube Académica de Coimbra em processo de adaptação aos treinos exigentes, 2. Coimbra é cidade académica, e 3. estudantes têm uma vida académica exigente. Almeida explica: “Na rede de integração conceptual confluem elementos dos três espaços de input, a saber, do primeiro a imagem dos jogadores em adaptação aos treinos exigentes; do segundo o frame que identifica Coimbra como a cidade dos estudantes e, assim, viabiliza a metonímia de parte-todo entre estudantes e Coimbra. Do terceiro espaço de input a mescla herda a informação de que os estudantes de Coimbra experienciam uma vida académica exigente.” (Almeida, 2003:73). 110 O espaço genérico configura o esquema da trajectória, motivado pelo primeiro input, devido à representação abstracta de um percurso de adaptação a percorrer. Os espaços de input 2 e 3, por sua vez, contribuem para a elaboração da mescla através das representações ‘estudantes’ e ‘vida académica’. Em suma, Almeida conclui: “(…) a construção do significado in loco não pode ser separada do nosso conhecimento do mundo, ou seja, da esfera da experiência, nas suas vertentes perceptiva, física e cultural (cf. Violo 2001). Deste modo, é pelo prisma da interacção constante entre construção do significado e a esfera da experiência que é possível explicar os fenómenos linguísticos de compressão em construções mescladas em que verdadeiramente a mente dá saltos.” (Almeida, 2003:75) II. “More about Blends: blending with proper names in the Portuguese media” A fim de analisar os blends com nomes próprios nos media portugueses e para, consequentemente “give a contribution to the clarification of the blends topology as postulated by Fauconnier & Turner (2002), according to which ‘on-line blends’ are considered to differ from ‘formal Blends’.” (Almeida, 2004:147), Almeida recorreu a um corpus baseado em artigos jornalísticos dos jornais Público, Expresso e A Bola, das revistas Visão e Focus, assim como programas televisivos dos canais RTP 1, RTP 2, SIC e Euronews (de Janeiro de 2002 a Julho de 2003). No que concerne o mundo do futebol, a autora apresenta dois exemplos sob o capítulo: “1.1.2. Blends resulting from the intersection of proper names with common nouns” (Almeida, 2004:151). O primeiro apresenta o fenómeno da fusão morfológica entre dois nomes próprios: “(7) Família Milandini - No Milan, Paolo Maldini conseguiu o impossível, ser maior do que o seu pai. (A Bola 8.12.2002)” (op.cit.) A construção mesclada resulta da confluência de três espaços de input: 1. o famoso jogador de futebol do clube de Milão, Paolo Maldini, e o seu pai Pietro Maldini (antigo treinador do Milão) e 2. o clube de futebol Inter de Milão. O primeiro blend, ‘família Maldini‘, resulta da compressão das identidades - pai e filho do espaço de input 1. Esta imagem mesclada contribui, por sua vez, para a construção de uma segunda imagem mesclada, que configura uma ‘fusão entre o nome de família e o nome da cidade do clube ao qual se encontram ligados: De ‘Maldini’ e ‘Milan’ resulta ‘Milandini’. Almeida destaca: ”Notice that although the morphologically agglutinated blend “Milandini” arises out of a phonological proximity, i.e. an alliteration between both proper names, the complexity of “blend-on-blend process” creates the need for context reinforcement.” (Almeida, op.cit.) O segundo exemplo, “(8) tratado de beckhamologia - A entrevista que David Beckham sempre desejou dar e nunca soube. Ou como a ficção pode ser a melhor forma de encontrar a 111 realidade no ruidoso universo que rodeia as paredes de Beckingham Palace. (A Bola, 19.5.2003)” (Almeida, op.cit.), expõe uma sequência de blends, o que reforça a necessidade da informação contextual para a descodificação do significado. O primeiro blend resulta da intersecção entre o nome próprio Beckham e um suposto domínio científico, representado através do sufixo grego -logia assim como o nome ‘tratado’. O mero título da notícia não se revela, de forma alguma, suficiente para que o seu significado seja plenamente compreendido, facto este, que realça a importância do (con)texto que se segue: ‘A entrevista (…)’. O restante texto termina com um outro blend: ‘Beckingham Palace’. De novo, este blend é fruto da intersecção do nome próprio Beckham e o nome próprio do palácio real britânico Buckingham Palace, o que, de certa forma, eleva o estatuto do jogador à esfera da realeza. Almeida, contudo, afirma: “It must be realized that the conceptual integration network in the second blend is somewhat intricate. In fact, we only know for sure that ‘Buckingham Palace’ is used in this context mainly due to the phonological proximity between both proper names ‘Beckham’ and ‘Buckingham’ to emphasize Beckham’s achievements. Therefore, from our point of view all possible cross-space mappings between the input spaces culminating in the somewhat vague meaning of ‘Beckingham Palace’ are minimized simply by the agglutination of these two proper names.” (Almeida, 2004:152). Almeida argumenta, assim, que a intersecção entre nomes próprios nos dois espaços de input dá origem a blends mais vagos e imprecisos do que, por exemplo a intersecção de nomes próprios e nomes comuns nos espaços de input, o que corrobora, segundo a própria, a perspectiva de Pinker (1995:77): “In the blending system the properties of the combination lie between the properties of its elements. Thus, the range of properties that can be found in a blending system are highly circumscribed, and the only way to differentiate large numbers of combinations is to discriminate tinier and tinier differences.” (in Almeida, 2004:156) III. "A Poética do Futebol: análise de representações mescladas à luz do paradigma das Redes de Espaços Mentais” Pensamos que este pode ser considerado o primeiro trabalho, no âmbito do domínio do futebol, integralmente “(…) gizado à luz do enquadramento semiótico-cognitivo, mais precisamente à luz da Teoria das Redes de Espaços Mentais (Brandt 2001, 2004; Brandt/Brandt 2003), [que] paradigmatiza títulos mesclados do domínio do futebol constantes do jornal “A Bola” 112 enquanto elaborações poéticas que, nesta qualidade, consistem em segmentos textuais de índole auto-referencial que, organizados na base de convergências formais, frequentemente de índole rítmica, visam evocar conteúdos emocionais junto do público leitor.” (Almeida, 2005:557) O corpus reúne títulos mesclados, construídos a partir de nomes próprios, retirados do jornal desportivo A Bola (entre Janeiro de 2002 e Outubro de 2004). Almeida relembra que, com base em estudos anteriores de sua autoria, “o significado intendido dos títulos mesclados decorre invariavelmente da análise da totalidade do texto da notícia.” (Almeida, 2005:158). Para o presente trabalho, a autora privilegiou os títulos, cujas mesclas reflectiam uma arquitectura poética com base em factores de relevância sonoros, capazes de veicular conteúdos emocionais, como acontece, por exemplo, nas construções criativas a partir de nomes próprios. Deste modo, foram privilegiadas as cadências intratextuais, remetendo a função referencial da linguagem para um segundo plano. Dos cinco títulos apresentados pela autora, 1. “Que se Danny o empate” (op.cit. p.561), 2. “Os cento e um Dalmat metidos no congelador” (op.cit. p.562), 3. “Dança com Dragões” (op.cit. p.563), 4. “A sorte que dá ter este Azar.” (op.cit. p.564) e 5. “Esta versão “ultra-light” do leão não podia ter ....... Bonfim” (op.cit. p.565) seleccionámos explorar este último em detalhe por nos parecer o mais criativo. Trata-se de um título do jornal desportivo A Bola, de 13.09.2004, relativamente ao jogo entre o Vitória de Setúbal e o Sporting Clube de Portugal, jogado no estádio do Bomfim em Setúbal, no qual o Sporting foi derrotado. O título surge acompanhado do seguinte contexto: “Sporting sem futebol suficiente para aguentar o ritmo imposto pelos setubalenses, que sete anos volvidos voltam a derrotar a equipa de Alvalade na cidade do Sado.” (op.cit. p. 565) Almeida expõe que no espaço de apresentação é possível reconhecer uma dupla dimensão metafórica: “versão ultra-light do leão” e “não podia ter bom fim”. Na primeira, o domínio da culinária serve de base de representação para a má prestação desportiva por parte do leão, i.e. o Sporting. A segunda, e em consequência da má prestação, assume o sentido metafórico de ‘não podia ter um resultado positivo’. Do mapeamento entre o espaço de referência e o espaço de apresentação emerge a mescla 1, estabilizada pelo espaço de relevância que evidencia a semelhança no plano lexical, mas não no plano semântico, ou mesmo no plano prosódico, entre ‘Bomfim’ e ‘bom fim’, realçando que ‘ter um bom fim’ significa vencer. A resultante mescla 2 contém, finalmente, o significado intendido: ‘que desilusão para o Sporting!’, tal como evidenciado no seguinte diagrama: 113 Espaço de base Notícia do jornal “A Bola” Espaço de apresentação Espaço de referência Esta versão “ultralight” do leão Não podia ter bom fim Má prestação do Sporting No Bonfim derrota do Sporting frente ao Vitória de Setúbal Espaço de relevância Mescla 1 bom fim Bonfim Ganhar é ter bom fim Esta versão “ultra light” do leão não podia ter… Bonfim Mescla 2 Que desilusão! Figura 15: “Diagrama 5” (Almeida, 2005:566) Almeida termina esta análise ao destacar que: “a auto-referencialidade dos processos poéticos nos títulos constitui uma estratégia discursiva de facilitação do acesso à informação veiculada por ”passwords”, a saber, os nomes próprios, geralmente inscritos em paradigmas de jogos de palavras, em torno dos quais as dimensões textuais de auto-referencialidade se transformam em dimensões textuais de emotividade, ilustrando a realidade dos factos à luz de conteúdos emocionais de natureza diversa que vão desde o desinteresse à alegria, passando pelo espanto e pela desilusão.” (op.cit.) O presente estudo de Almeida inclui, ainda, o exemplo de um título mesclado de origem não poética, pois baseia-se no nome próprio de uma obra de ficção cinematográfica: “O Paciente Inglês”. O título (op. cit. p.567) surgiu publicado no jornal desportivo A Bola, a 06.03.2004, antes do importante jogo da liga dos campeões entre o Manchester United e o Futebol Clube do Porto. À luz da rede de espaços mentais, no espaço de apresentação configura ‘O paciente inglês’, no espaço de referência encontra-se a esperada derrota do Manchester United frente ao FCP, sendo o jogador lesionado Pedro Mendes o paciente. Almeida desenvolve: “Sem dúvida que o mapeamento entre os dois espaços do qual emerge o título mesclado “O Paciente Inglês” fica a dever-se à activação do seguinte factor de relevância: “perder é ser paciente”. Porém, o significado veiculado pela construção mesclada, 114 “O Paciente Inglês”, (…) [a] mescla 2, constitui, de facto, um incitamento de coragem à equipa do FCP.” (op.cit.) Finalmente, a autora crê ter comprovado, através dos exemplos apresentados, que os paralelismos estruturais consubstanciam, fundamentalmente, a expressão da emoção nas mesclas, o que comprova que a função poética não é pertença exclusiva da poesia. IV. “Blending the Pheno-world with Fiction: the Cognitive Semiotics view” Tal como o próprio título indica, este estudo debruça-se sobre a omnipresença de projecções mescladas, tendo como base, por um lado, o mundo fenomenológico e, por outro, diversos frames de natureza ficcional. Os exemplos em análise constituem títulos da revista Visão e do jornal desportivo A Bola, envolvendo nomes próprios. De acordo com Brandt (1995), a autora considera que: “the unequivocal nature of proper names plays a decisive role in the stabilization of the blended constructions, thus favouring inferential paths that invariably lead the acknowledgement of emotional contents (…). (Almeida, 2006:50) Mais ainda, postula que os frames de natureza ficcional, presentes nas construções mescladas dos títulos de textos jornalísticos não pretendem apontar, directamente para as obras de ficção correspondentes, ambicionam antes, suscitar emoções diversas mediante a activação de ‘palavras-chave’. Esta perspectiva é corroborada através da análise dos exemplos apresentados: “Dança com Dragões” (A Bola, 25.04.2003), (Almeida, 2006:56) e “O Paciente Inglês” (A Bola, 06.03.2004), (Almeida, 20060.58), exemplo já explorado anteriormente. Quanto ao exemplo “Danças com Dragões”, a autora destaca no espaço de apresentação o título da obra cinematográfica “Dança com Lobos” (título original “Dances with Wolves”) e no espaço de Referência a alegria manifestada por quatro adeptos de renome, relativamente à vitória e consequente apuramento para a final da Taça UEFA por parte do Futebol Clube do Porto. Como é do conhecimento geral, o animal mitológico do dragão representa, metaforicamente o FCP, daí configurar na primeira mescla “dança com dragões”. No que diz respeito ao espaço de relevância, é de salientar que: “the mapping is stabilized by reverting to the double-featured sound-meaning Relevance Space, predominately configured by the alliterated sound sequence [consonant D]. In fact, it must be emphasized that, although “dancing” as a manifestation of joy is highly relevant for the representation of joy, it plays indeed a minor role in the blend featuring.” (op.cit.) Da primeira mescla emerge, então, o significado intendido (mescla 2) i.e. a demonstração de alegria e contentamento pelo sucesso do FCP. Neste sentido, a autora defende que o título em questão não pressupõe, necessariamente, o conhecimento do conteúdo do filme “Dança com Lobos” por parte do 115 leitor e que a ‘descodificação’ do significado está, essencialmente, ancorada na sequência mnemónica do som ‘D’ aliado à emoção associada ao significado da palavra ‘dança’. A concluir, a autora resume: “Beyond all possible doubt it must be highlighted that the pervasive interweaving of the pheno-world with fiction calls our attention to its decisive role in the conceptualisation of blended titles, i.e. in the re-framing of “reality” in an emotive way. Thus, it is argued that frequently the representation of reality dimensions is unavoidably anchored in fictional frames, even if the whole cultural frame is not activated in the mind of the readers.” (Almeida, 2006:61) V. "Blend-Bildungen - und was dahinter steckt" Este trabalho destaca-se dos anteriores por se tratar de um estudo comparativo entre construções mescladas extraídas de textos jornalísticos da imprensa alemã e portuguesa. Na senda de estudos anteriores da autora, esta seleccionou excertos textuais mesclados com nomes próprios e procedeu a uma análise semântica à luz do modelo de espaços mentais de Fauconnier e Turner (1998, 1999 e 2002). Almeida afirma que: “Bei konzeptuellen Integrationsprozessen, die aus Eigennamen von Personen des öffentlichen Lebens entstehen, verweisen wir darauf, dass sich aus Relevanzgründen Bezeichnungen für Personen des öffentlichen Lebens überwiegend mit anderen Personenbezeichnungen überkreuzen.“ (Almeida, 2006:242) No que diz respeito a ocorrências no âmbito do futebol, destacamos a análise do exemplo (6) “BARCELONA - PRIMEIRO GOLO COM A CAMISOLA BLAUGRANA E ELEITO JOGADOR MAIS VALIOSO. O MEU NOME É QUARESMA!” (A Bola, 01.08.2003), (Almeida, 2006:248). Neste exemplo, assistimos a uma mescla entre o nome do famoso futebolista, jogador do Clube espanhol Barcelona FC, Ricardo Quaresma e a célebre e distintiva expressão cinematográfica “O meu nome é Bond, James Bond!”. Esta frase remete, através de conceptualização metonímica, tanto para o personagem do agente secreto James Bond, como para os seus feitos heróicos e capacidades extraordinárias aquando das suas missões internacionais. Neste sentido, o processo de mesclagem resulta da projecção a partir de dois domínios de input e contextualizado por um espaço genérico, a saber: espaço de input 1: O golo de Quaresma; espaço de input 2: “O meu nome é Bond!”; espaço genérico: Os feitos heróicos do agente nas suas missões internacionais. A autora salienta ainda que a afirmação “O meu nome é Quaresma” não fora proferida pelo próprio, trata-se sim de uma construção do um jornalista, autor da notícia, com o intuito de salientar a prestação extraordinária do jogador no clube de Barcelona. 116 Nas considerações finais, a autora conclui que as construções mescladas analisadas, fruto de mapeamentos conceptuais entre espaços mentais, revelam grande capacidade criativa, tanto por parte da imprensa portuguesa como da alemã e ao acrescentar: “Die neu entstandenen Entitäten, die zu neuen mentalen Räumen gehören, sind Zeichen dafür, dass sich die Einkreuzung der mentalen Räume - Politik-Fiktion oder Politik-Unterhaltung oder SportFiktion - in den Köpfen der Portugiesen und der Deutschen heutzutage als relevant empfunden werden.”, corrobora a afirmação de Sperber e Wilson (1995:265) “The Basic idea is that for an input to be relevant, its processing must lead to cognitive gains.” (op.cit. p.254). VI. “Code-switching in Portuguese Sports Newspapers: the Cognitive Semiotics View” Neste artigo, a autora destaca a construção de significados em estruturas mescladas através do fenómeno do code-switching e afirma: “(…) by focusing upon the conceptual integration of “code-switching” frames with football scenes I wish to provide a broader answer to the construal of the football hero image in the light of the Portuguese sports press.” (Almeida, 2010a:17). Por code-switching entende-se, de acordo com Auer, o uso alternado de duas línguas num mesmo texto: “alternating use of two or more linguistic codes within one conversational episode” (Auer, 1998:1). O crescente fenómeno da mobilidade dos cidadãos ao nível mundial, assim como a globalização da informação, característica desta era digital, configuram factores que potenciam a ocorrência do code-switching nos media, com especial destaque para a comunicação social escrita. O code-switching revela-se, então, como um recurso criativo de entretenimento público, capaz de conquistar audiências (cf. Haarmann 1986, 1989 apud Androutsopoulos 2007:211). Contudo, esta realidade não explica, na íntegra, a razão pela qual o code-switching é um fenómeno tão frequente e natural nas construções mescladas da imprensa desportiva portuguesa. Neste sentido, a autora propôs-se analisar expressões resultantes dos processos de code-switching de textos jornalísticos, a fim de desvendar as motivações subjacentes a tais construções. À luz da teoria de rede de espaços mentais de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), Almeida realça que “(…) although mapping-based blended images are really innovative as far as mappings from source to target domains are concerned, they are also culture-specific mental representations in that “novel metaphors must be in line with either embodiment or cultural experience”(Kövecses 2005:264).” (op.cit.). São analisadas nove ocorrências que revelam mapeamentos entre diversos frames e o mundo do futebol, a saber (Almeida, 2010a:19ff): 117 1. Mapeamentos do domínio da ficção em cenas do futebol (1) “ O FCP com uma baixa para Manchester mas carregadinho de moral - O PACIENTE INGLÊS (…)” (A Bola, 6.3.2004). 2. Mapeamentos do domínio histórico/mítico em cenas do futebol (2) “DO NEVOEIRO SAIU NUNO GOMES - Capitão saltou do banco para tirar a equipa do cinzentismo que se abateu sobre a águia.” (A Bola, 25.08.2008). 3. Mapeamentos do domínio religioso em cenas do futebol (3)“A PRIMEIRA CEIA Jesus e os seus “apóstolos” continuam invencíveis na pré-época e somam terceira vitória consecutiva que valeu o primeiro troféu da época.” (A Bola 17.7.2009) 4. Mapeamentos do domínio histórico e cultural em cenas do futebol - Mapeamentos mistos contrafactuais (4) “EURO2008 PORTUGAL-TURQUIA - BANHO TURCO DE JOÃO MOUTINHO HOMEM INVISÍVEL DA ARMADA LUSA - João Moutinho: Uma noite de sonho! (…)”(A Bola 8.6.2008) 5. Mapeamentos de code-switching em cenas do futebol a) Factor linguístico local: (5) “CIAO e GRAZIE” - Figo despediu-se do futebol de alto nível aos 43 minutos de jogo com o Atalanta. No topo norte do estádio uma tarja enorme onde se podia ler “Obrigado foste um grande campeão. Ciao Luís” (A Bola 1.6.2009) (6)“AU REVOIR - Todos os cinco jogadores vendidos pelo FC Porto tiveram França como destino. O encaixe foi de 22 milhões de Euros, contabilizando já a recente saída de João Paulo para o Le Mans.” (A Bola 3.8.2009) (7) “POR QUÉ NO TE CALLAS? - Os treinos do FCP são de matar e esfolar. Abrir o bico é andar para trás, Jesualdo aperta com eles até ao fim. (…)” (A Bola 26.7.2009) (8)“ EU ‘SHOW’ RONALDO (.....) 1. (a Bola) Que diferenças entre os jornalistas espanhóis e os ingleses? 2. (Ronaldo) Os espanhóis são fantásticos e os ingleses são ‘very good’”.(A Bola 17.7.2009) b) Factor linguístico língua portuguesa: (9) “VAMOS, VAMOS CISSÉ! - Palavras de incentivo em português de Katsouranis inspiraram goleador francês. Ex-Benfiquista expressa-se muitas vezes no idioma de Camões nos treinos do Panathinaikos.” (A Bola, 6.7.2009) Com base nos diagramas de redes mentais avançados pela autora para cada uma das ocorrências, apresentamos a seguinte tabela que pretende resumir a análise de forma sintética: 118 Ocor. ESB EA ERef M1 (1) Texto (1) O Paciente Inglês Jogo FCPManUnited (futuro) (2) Texto (2) D. Sebastião do Nuno Gomes do nevoeiro nevoeiro Jesus e os apóstolos na Última Ceia ERel M2 ManUnited como Um paciente não Coragem FCP! o Paciente Inglês é vencedor Nuno Gomes como D. Sebastião A Última Ceia Jorge Jesus e os como a primeira seus jogadores ceia Narrativa mítica Parabéns do salvador Nuno Gomes! Narrativa religiosa da Última Ceia Parabéns Benfica! (3) Texto (3) (4) a) João Moutinho a) Banho Turco do a) Turcos dão no jogo Portugal - João Moutinho a) Excelente um banho turco a) Banho Turco Texto (4) Turquia b) João Moutinho exibição, João! b) Armada b) Cenário do b) Vitória de a) e b) como homem b) Parabéns Portuguesa vs agente secreto Portugal contra a invisível da João! Armada Inglesa Turquia Armada Port. (5) Texto (5) Jogo de Adeus como Ciao Narrativa Ciao e Grazie despedida de Luís Parabéns Figo! e Grazie biográfica (Itália) Figo (6) Texto (6) (7) Por qué no te Texto (7) callas! (Rei Juan Carlos) Au Revoir Ex-jogadores do Adeus como Au FCP transferidos Revoir para França Treina-te e calate, pá! (Jesualdo Ferreira) Narrativa biográfica (FCP/França) Muito bem, FCP! Jesualdo como Rei Juan Carlos Narrativa biográfica (Espanha) Vamos trabalhar! Ronaldo em Português e Inglês Narrativas biográficas (Inglaterra vs Espanha) Gosto mais da imprensa espanhola! Narrativa biográfica (Grécia) Sinto-me português! (8) Texto (8) Ronaldo “Fantástico” vs entrevistado em “Very Good” Espanha (9) Texto (9) “Vamos, vamos Katsouranis joga Katsouranis em Cissé!” na Grécia Portugal ESB ERef ERel - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 16: Tabela de Espaços Mentais a) A concluir, Almeida reafirma que, através da análise exaustiva das realizações metafóricas retiradas da imprensa desportiva portuguesa, e com base na metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA, logo, os jogadores de futebol são heróis de guerra, é possível reconhecer diversos frames dos quais emergem tipos de heróis diferentes: “(…) the fiction, mythical, historical frame based on traditional cultural narratives of our glorious collective past history and the code-switching frames based on shared biographical narratives of successful football 119 players playing abroad nowadays, a recent architecturing of the football hero playing in a foreign country.” (Almeida, 2010a:26-27) VII. “On ’forbidden-fruit blending’ in Portuguese Sports Newspapers” Almeida apresentou uma comunicação na qual apresenta as diferenças entre “blending” e “forbidden-fruit blending”. Mapeamentos imaginativos e engenhosos, i.e. “forbidden-fruit blendings”, nos quais, de acordo com Turner (2003:1): "(...) we conjure up mental stories that run counter the story we actually inhabit” multiplicam-se na imprensa desportiva portuguesa, o que justifica o crescente interesse em estudar os processos conceptuais subjacentes às construções mescladas. Neste sentido, Almeida explora um conjunto de dez ocorrências, das quais destacamos apenas uma, por ser a única que ainda não foi explorada anteriormente: (9) Um pássaro na mão....... e outro a voar (A Bola 19.8.2007) Esta ocorrência faz parte de uma notícia desportiva que incide sobre o jogo da segunda volta do campeonato nacional 2007/08 entre o Futebol Clube do Porto e o Benfica, tendo o Benfica perdido o jogo da primeira volta de forma imprudente e leviana. No jogo em questão, a exibição segura e cautelosa do Futebol Clube do Porto conduziu a equipa à vitória. O espaço de referência é, então, composto por estes dois eventos, sendo que no espaço de apresentação, configura o provérbio português “Mais vale um pássaro na mão que dois a voar”. Do mapeamento entre estes dois espaços emerge a primeira mescla, que, activada pelo frame da prudência (no espaço de relevância), origina o significado intendido da mescla contrastiva 2: Bem jogado Porto! Mal jogado Benfica! Mais vale um pássaro na mão.... Texto Vitória do Porto vs derrota do Benfica Benfica e Porto como provérbio Frame do provérbio da prudência Bem jogado Porto! Mau Benfica! Figura 17 “Diagrama 9” (Almeida, 2011:8 s.d.) (tradução própria) 120 Pensamos que, talvez, a selecção deste provérbio, em particular, tenha sido motivada não apenas para activar o frame da prudência, mas também pelo facto do símbolo representativo do Benfica ser uma águia, ou seja, um pássaro. Neste sentido, o pássaro na mão poderá levar à inferência: Benfica na mão, i.e. vencer o Benfica. A maioria das ocorrências estudadas revela, em suma, que a criatividade e imaginação dos jornalistas portugueses relativamente a questões desportivas que envolvem o orgulho nacional, está orientada para a construção de mesclas complexas baseadas em cenários históricos, culturais e míticos, através das quais se louvam os feitos passados e presentes, mesmo se para tal seja necessário construir cenários contra-factuais. Essas construções não aparentam ser, contudo, problemáticas devido ao facto de por um lado, "(…) all other human beings stand ready to understand it, incorporate it, and propagate it.” (Turner 2006: 112, cf. Almeida, 2011:10 s.d.) e por outro porque: “they clearly reflect a perpetuated and cyclic celebration of the Portuguese shared mind” (op.cit.). VII. “More on’ forbidden-fruit blending’: prying into the Portuguese Mind” Na senda de trabalhos anteriores, este estudo foca a análise comparativa entre as construções mescladas presentes na imprensa desportiva alemã e portuguesa. Almeida postula que as construções mescladas revelam uma dependência marcadamente cultural, tanto em termos de conteúdo como em termos de produtividade e infere: “(…) that the “blendful” Portuguese corpus is prone to” forbidden-fruit blending” (Turner 2006), whereas the almost “blendless” German corpus is prone to both referentiality and orality.” (Almeida, 2010b:123) A arquitectura das construções mescladas da imprensa portuguesa revela que operações mentas básicas subjazem ao ‘cruzamento’ de diferentes espaços mentais culturalmente compatíveis. Este facto levou a autora a concluir que processos de conceptualização, como os alicerçados na experiência corpórea, dão origem a arquitecturas criativas e intersubjectivas, a partir das quais emerge um volume significativo de “forbiddenfruit blending” (Almeida, 2010b:123). Tendo em conta que Fauconnier e Turner (2002:19) argumentam que: “(…) after a blend has been constructed, the correspondences – the identities, the similarities, the analogies – seem to be objectively part of what we are considering, not something we have constructed mentally”, Almeida realça a necessidade de desconstrução dos mapeamentos culturalmente condicionados. Para tal, o ponto 3 deste estudo centra-se na análise de dois textos jornalísticos, um da imprensa desportiva portuguesa e outro da imprensa desportiva alemã motivado por um tópico semelhante: as vitórias da 121 selecção portuguesa de futebol e a selecção alemã de futebol frente à selecção da Turquia (op.cit. pp. 128-129). Ambas as notícias evidenciaram que diferentes frames culturais conduziram a arquitecturas conceptuais distintas: “Football matches in the German sports newspapers are viewed in the light of coaches’ and players’ evaluation of the matches and therefore are intended as representations of match scenes. Differently, football matches in the Portuguese sports newspapers are frequently enough not about the matches but about integrating victories in matches into our past glorious feats, even at the cost of altering historical or cultural frames by cleverly fabricating new victorious scenarios whose emergence results from contrafactually elaborated blends or blend conglomerates (…).” (op.cit. p.130) Para além das ocorrências já exploradas anteriormente, Almeida (2010b:131ff) acrescenta outras 6 ocorrências por denotarem grande relevância cultural, a saber: (4) A Fava saiu ao Dragão. Imaginem uma fava gigante na garganta do Dragão. (A Bola 22.11.2007) (6) Perdoai-lhes Senhor! (A Bola 11.12.2004) (8) Os Cinco e a Ilha do Tesouro (A Bola 16.09.2004) (10) Como é doce este D. Rodrigo! (A Bola 28.1.2007) (11) Vitória, Vitória começa a história (A Bola 23.08.2008) (13) “Lembram-se o que os Filipes de Espanha fizeram a Portugal, este (Filipe Soares Franco) quer fazer o mesmo ao Sporting.” (O Dia Seguinte, SIC, 20.10.2008) De forma a simplificar a explanação dos resultados da análise destas ocorrências, sugerimos a seguinte tabela: Ocor. ESB EA ERef M1 ERel M2 (4) Texto (4) Fava gigante Derrota do FCP no jogo Derrota do FCP como fava gigante Tradições natalícias portuguesas Que derrota! (6) Texto (6) Palavras de Jogo Boavista Jesus Cristo na Académica cruz “Perdoai-lhes” como aceitação dos factos Conceito cristão para o perdão Deixa lá! (8) Texto (8) 5 jogadores As 5 Os 5 na ilha do portugueses na Os 5 jogadores personagens tesouro Liga dos como os 5 jovens da literatura Campeões juvenil (10) Texto (10) D. Rodrigo (doce regional) Bom Rodrigo como D. desempenho do Rodrigo jogador Rodrigo Doce é bom Coragem, vão ganhar! Que bom, Rodrigo! 122 Vitória… acabou a história Primeira vitória Vitória começa a do Vitória de história Setúbal (11) Texto (11) Os contos portugueses Parabéns, Vitória! (13) Exemplo Má gestão do Filipe S. Franco Reinado histórico de Sporting de como Reis Filipe I Texto (13) negativo dos má gestão de Reis Filipe I e II Filipe S. Franco e II Portugal Cuidado! ESB ERef ERel - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 18: Tabela de Espaços Mentais b) Estas ocorrências demonstram, claramente, a importância que frames culturais assumem nos processos de mapeamento conceptual, tal como preconizado por Turner (2001:13): “Since basic mental operations operate over culture frames of knowledge, and those frames can vary dramatically from culture to culture, and purposes and conditions can also vary dramatically. Different cultures can and do look strikingly different.” (sublinhado nosso). Em suma, os blends proliferam na imprensa desportiva portuguesa e após análise detalhada das construções mescladas, e a divisão entre “blends that are predominantly grounded in phono-symbolic mimetic-engineered mappings and those predominantly resulting from non-phono-symbolic mappings” (Almeida, 2010b:140) afigura-se como tarefa complexa, devido ao facto das construções mentais revelarem “a mixture of mimetic-mythic interweaving among the several mental spaces.” (op.cit.) Poucos são os casos em que se assiste a uma ausência total de mapeamentos fono-simbólicos (tal como no “Paciente Inglês”) e nestes casos, a arquitectura é “as artful as blends can be.” (op.cit.) 2.2.2. Almeida, Órfão, Teixeira (2010), “Mündlichkeit in der Sportpresse” Neste estudo, as autoras propuseram-se aferir as marcas de oralidade em textos retirados da imprensa desportiva alemã e portuguesa e submeter os exemplos reunidos a uma análise qualitativa, à luz do modelo das redes mentais de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), e quantitativa, à luz da teoria dos actos de fala (Speech-act Theory) de Searle (1979, 1998). Numa primeira análise, as autoras reconheceram a existência de um elevado número de marcas de oralidade na imprensa desportiva, e consideram que este fenómeno se deve, essencialmente, às características dinâmicas, próprias do desporto, que conduzem a que a 123 notícia desportiva seja “ständig mit mündlichen Äusserungen der Hauptakteure des Sports, nämlich der Trainer und der Spieler, verstrickt, so dass paradoxerweise geschriebene Nachrichten durch die Integration zahlreicher sprechsprachlicher Interaktionssituationen gekennzeichnet sind.” (Almeida/Órfão/ Teixeira, 2010:49), como também devido ao facto das novas tecnologias de informação multi-mediática terem alterado o conceito tradicional de notícia: “Zusätzlich muss man auf die multimedialen Formate der Sportnachrichten in den Neuen Medien hinweisen, denn die multimedialen Formate im Internet führen zu einer Neubestimmung der Funktion von Schrift und Bild (...).“ (op.cit.) No que diz respeito à imprensa portuguesa, são frequentes as marcas de oralidade, devido ao facto das interacções verbais favorecerem a representação de situações próprias do mundo do futebol. É frequente a notícia ser construída e estruturada em forma de diálogo com o intuito de criar uma realidade virtual, mesmo que a situação real seja ou tenha sido, de facto, diferente. O primeiro exemplo em análise (op.cit. p. 51) foi retirado do jornal desportivo A Bola: (4) Alex Ferguson esteve em Alvalade e deu a notícia Alô Manchester, Simão voltou! (A Bola, 3.11.2006) Trata-se de uma encenação fictícia de uma chamada telefónica - activada pela expressão característica de um início de conversação por telefone, ‘alô’ - entre o treinador do Manchester United, Alex Fergusson e, provavelmente, a restante equipa e direcção do clube, com o propósito de transmitir a última notícia: o jogador Simão Sabrosa voltou, i.e. esteve lesionado, já está recuperado e fez um excelente jogo (voltou da lesão e voltou a ser um excelente jogador). Por isso, e nas vésperas do jogo entre o Benfica e o Manchester United, é preciso ter cuidado com este jogador. Neste sentido, sugere-se a seguinte rede conceptual: Alô Manchester, Simão voltou! Texto Frame de conversas telefónicas Boa exibição de Simão (opinião de Ferguson) Alô Manchester, Simão voltou! Cuidado com o Simão! Figura 19: “Diagramm 2” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:51) (tradução própria) 124 O próximo exemplo diz respeito ao jogo de despedida do jogador do Benfica, Rui Costa, no qual é activado o frame da despedida integrada no contexto de interacção directa (face-to-face interaction): (2) Esta noite, na Luz, o maestro despede-se dos relvados Foi um prazer, Rui! (A Bola 25.5.2008) Foi um prazer, Rui! Texto Frame da sequência de despedida Jogo de despedida de Rui Costa Foi um prazer, Rui! Carreira excepcional, Rui! Figura 20: “Diagramm 3” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:52) (tradução própria) O elogio a Rui Costa pela sua brilhante carreira futebolística (mescla 2) é fruto da construção “Foi um prazer, Rui” (mescla 1) que resulta do mapeamento entre o jogo de despedida de Rui Costa (espaço de referência) e a sequência de despedida “Foi um prazer, Rui” (espaço de apresentação), estabilizada pelo frame da despedida habitual num acto comunicativo “Foi um prazer” (espaço de relevância). O último exemplo resulta do mapeamento entre o cenário da oferta de uma bebida tipicamente brasileira, uma caipirinha (espaço de apresentação) e o bom desempenho dos 23 jogadores brasileiros dos clubes de futebol do Sporting e do Marítimo (espaço de relevância). A mescla é estabilizada pelo espaço de referência que consubstancia a oferta de uma bebida como um gesto positivo. Daí que: “An dieser Szenerie des Anbietens eines Caipirinha (=Blend 1) lässt sich weiterhin ablesen, dass dieselben brasilianischen Spieler wahrscheinlich auch zukünftig in den Spielen in Portugal sehr gut spielen werden (= Blend 2)“ (op.cit) 125 Vai uma caipirinha? Texto Frame da oferta de uma bebida Exibição dos jogadores brasileiros Vai uma caipirinha? Será que continuarão assim? Figura 21 “Diagramm 4” (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:53) (tradução própria) Relativamente aos exemplos retirados da imprensa desportiva alemã Sportbild online, aquando do campeonato europeu de 2008, foram analisados os actos de fala de acordo com o postulado teórico de Schmitz (2004): “[...] Menschen [...] mit Symbolen (insbensondere mit Sprache) ja nicht nur Vorstellungswelten [schaffen], sondern auch „institutionelle Tatsachen“ (Searle 2001: 160), innerhalb deren sie sich dann intentional bewegen: das macht ihr gesellschaftliches Leben aus. Alle Möglichkeiten durch Sprechen zu handeln, die sich daraus ergeben (z.B. Gesetze verabschieden, Prognosen verkünden) kommen in den modernen Medien auch vor [...].“ (Schmitz, 2004:21) As autoras defendem que as selecções nacionais são encaradas como instituições nacionais. Neste sentido, as declarações de treinadores e jogadores são encaradas como normas discursivas institucionalizadas. Parte-se, então, do pressuposto de que, neste quadro discursivo institucionalizado, os actos de fala assertivos traduzem a ideia de competência em termos técnicos e tácticos por parte dos intervenientes. Daí que, raramente se encontram actos de fala dominados por uma grande carga emocional. Mais ainda, não se pode menosprezar que os actos de fala não surgem isoladamente, mas sim integrados em sequências discursivas de actos de fala de tipologia variada. De acordo com Searle (1979), as autoras destacam a seguinte classificação no que concerne os actos de fala: a assertiva, a directiva, a comissiva, a expressiva e a declarativa (Almeida/Órfão/Teixeira, 2010:55). Os três exemplos apresentados (declarações dos treinadores Joachim Löw e Luis Aragonês e do jogador alemão Thomas Hizlsperger) corroboram a tese das autoras: 126 “Dementsprechend überrascht es nicht, dass beide Personengruppen sich vor und nach den Spielen am häufigsten assertiv äussern. Sie tun dies mit dem Ziel, Vertrauen in ihre jeweilige Taktik und Spieltechnik zu schaffen. Unserer Analyse gemäß werden emotionsfreie Behauptungen – im Gegensatz zu emotionsgeladenen Äusserungen, die als Expressiva betrachtet werden – als Assertiva klassifiziert (...)“ (op.cit. p.56). Após análise quantitativa exaustiva, as autoras concluíram: “Durch die quantitive Analyse der Gesamtzahl von 452 Sprechakt-Vorkommen im Korpus wurde festgestellt, dass Assertiva 71% aller Sprechakte ausmachen. Expressiva beschränken sich hingegen auf 23% und Kommissiva auf kaum 5% aller Sprechakte.“ (op.cit.) Em suma, as duas abordagens teóricas acima explanadas, aplicadas aos textos jornalísticos portugueses e alemães, respectivamente, conduziram aos seguintes resultados: “Mit den Mitteln der kognitiven Semiotik konnten wir bezüglich unseres portugiesischen Korpus von Texten aus der Sportzeitung A Bola feststellen, dass mündliche Interaktionsituationen (Telefongespräche, Verabschiedungssequenzen und Sequenzen beim Getränkanbieten) beim Konzipieren von Fussaballnachrichten, d.h. bei der Gestaltung von Vorstellungswelten über Fussball, eine entscheidende Rolle spielen. Mittels der Theorie der Sprechakte von Searle (1979, 1995, 1998) wurden häufig vorkommende Sprechakte, wie sie während der Euro 2008 gegenüber der Zeitung Sport Bild online geäußert wurden, untersucht. Bei deren Analyse stellte sich heraus, dass die Sprechakte der Trainer und Spieler vornehmend konventionalisierte Äusserungen sind, wobei besonders bei den Trainern die assertiven Äusserungen eine führende Rolle spielen.“ (op.cit. p.57) 2.2.3. Almeida/Sousa (2010), Imagens mescladas nos jornais desportivos portugueses e alemães – abordagem qualitativa O artigo em questão, Helden-Metaphern in der deutschen und portugiesischen Sportpresse, publicado no volume 20 da revista do grupo de investigação dos estudos filológicos alemães da Universidade de Sevilha, em 2010, assenta num estudo comparativo, à luz do modelo da rede de espaços mentais de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), entre construções mescladas identificadas nos jornais desportivos alemães e portugueses (entre 2006 e 2008). Este estudo parte do pressuposto de que a imprensa desportiva, tanto a alemã como a portuguesa, recorre frequentemente a construções mescladas com o propósito de exaltar os heróis da modernidade: os jogadores (e treinadores) de futebol. Os resultados obtidos 127 corroboram a teste de que a imagem de herói depende, predominantemente, do enquadramento cultural, i.e. o herói alemão e o herói português são frequentemente conceptualizados de forma distinta, de acordo com os diferentes contextos culturais, históricos e sociais. Contudo, reconhecem-se conceptualizações baseadas em espaços mentais idênticos, baseados em conteúdos multi-culturalmente partilhados. Este facto é facilmente explicável devido ao crescente fenómeno da globalização a todos os níveis: a mobilidade humana, o acesso a todo o tipo de informação através dos media e, principalmente, da internet, a distribuição a nível mundial de produtos artísticos de entretenimento, tais como a música, o cinema, o teatro, a literatura, etc. As ocorrências (3) e (4) deste estudo exemplificam este fenómeno: “(3) “O FCP com uma baixa para Manchester mas carregadinho de moral O PACIENTE INGLÊS - Décima segunda vitória para o FCP em casa, zero empates, nem uma derrota. Números avassaladores do campeão que segue para Manchester com uma baixa de última hora (Pedro Mendes), mas tão carregadinho de moral.” (A Bola, 06.03.2004) (4) “Der deutsche Patient - Lahm verletzt raus, Patient Deutschland ist „malade“. Der zweite Durchgang begann mit einem verletzungsbedingten Spielerwechsel. Für Lahm – den eine Fleischwunde am Fuß plagte – kam Marcell Jansen. Was am Spiel wenig änderte: Deutschland, im Rückstand, war gezwungen, Druck aufzubauen, Spanien sah sich die bisweilen unbeholfenen Bemühungen an, fand dann zunehmend Gefallen am eigenen Spiel.“ (Focus Sport on-line 29.06.2008)“ (Almeida/Sousa, 2010:248-249) Ambas as ocorrências inspiram-se no sucesso cinematográfico “O Paciente Inglês” (Miramax Films 1996), o que motivou o mapeamento entre o espaço mental do mundo da ficção e o espaço mental do mundo do futebol. O exemplo (3) centra-se no jogo futuro entre as equipas do Futebol Clube do Porto e o Manchester United para a Liga dos Campeões, enquanto o exemplo (4) trata o desafio entre as selecções da Alemanha e da Espanha na final do campeonato europeu de 2008, do qual a Alemanha saiu derrotada. De acordo com os enquadramentos contextuais, a mescla virtual do exemplo português apresenta o blend “Manchester United é o paciente”, enquanto a mescla virtual do exemplo alemão expõe o blend “A selecção alemã é o paciente”. Embora o espaço de relevância seja idêntico: o paciente não tem um final feliz, o significado que emerge da mescla final é distinto: No exemplo português, e tendo em conta que o jogo ainda não se realizou, assistimos a um apelo motivador e animador “Forca! Coragem FCP!”; no exemplo alemão, e considerando que o jogo já realizado resultou na derrota da equipa alemã, reconhecemos uma expressão de lamento e resignação perante a equipa vencedora, manifestamente superior: “Não havia hipóteses para a vitória alemã!” 128 O Paciente Inglês Texto O Paciente é um perdedor Próximo jogo entre o FCP e o Man United Man United é o Paciente Inglês O Paciente Inglês Texto O paciente é um perdedor Força e coragem, FCP! Selecção Alemã na final do Europeu Selecção Alemã é o Paciente Inglês Não havia hipóteses para a vitória alemã! Figura 22 (Almeida/Sousa, 2010:249-250) (tradução própria) O exemplo 5 apresenta uma construção mesclada baseada, igualmente, no mapeamento entre os espaços mentais da ficção e do futebol: “„King Knall! Prinz Peng! - BILD erklärt das beste Sturm-Duo der WM . Die Fußball-Welt staunt über unsere „Torreichen Zwei“. Miro Klose (28) und Lukas Podolski (21). Oder besser King Knall und Prinz Peng, denn ihr ballert Deutschland in Weltmeister-Stimmung! (...)“ (op.cit. p.250) Estamos perante o processo de mesclagem conceptual entre as características excepcionais do jogador de futebol alemão Miroslav Klose e da personagem mítica do mundo cinematográfico, King Kong. Ambos intimidam os seus adversários através da sua força, determinação e paixão. Neste sentido, no espaço de apresentação encontra-se o personagem King Kong, no espaço de referência o jogador Klose. Com base no mapeamento entre estes dois espaços, as características salientes de ambos são projectadas para a primeira mescla: Klose é King Kong. Estabilizado pelo espaço de relevância “King Kong é o mais forte”, emerge a mescla final: a força de Klose conduzirá a Alemanha à vitória. Este mesmo exemplo apresenta uma segunda construção mesclada: “Prinz Peng” (espaço de apresentação), i.e. o jogador alemão Lucas Podolski (espaço de referência). Peng é nome de um pássaro gigantesco da mitologia chinesa, conhecido pela sua dimensão grandiosa e força sublime (espaço de relevância). Poderá, então, inferir-se que Podolski é Peng (mescla 1), e que, sendo um jogador sublime e grandioso - reforçado pelo título aristocrático de “Príncipe” - ajudará a selecção a conquistar o título de campeão europeu (mescla 2). Contudo, as autoras consideram que as principais motivações subjacentes a estas construções mescladas fazem parte do domínio fonético e fono-simbólico, a saber: a) a aliteração “KKK” para “King Knall Klose” e “PPP” para “Prinz Peng Podolski” 129 b) PENG e KNALL são consideradas onomatopeias baseadas no efeito sonoro produzido por tiros ou impactos violentos. Por fim, Almeida e Sousa destacam que este exemplo aponta para uma outra tendência da imprensa desportiva alemã: o uso recorrente de títulos aristocráticos como forma de destacar e elevar o estatuto dos intervenientes do futebol. Destacamos, ainda, o exemplo 7, que patenteia um mapeamento entre o domínio da religião e o mundo do futebol: “Beispiel 7 – deutsche Sportpresse: „Deutschland 3:2 gegen Portugal – grandiose Wiederauferstehung. Als Goliath in die erste Partie gestartet, stand so plötzlich Klein-David Deutschland vor Goliath Portugal – und dem Aus.“ (Focus Sport on-line 01.07.2008)“ (Almeida/Sousa, 2010:253) Esta notícia surgiu publicada na edição on-line da revista Focus Sport após a vitória da selecção alemã sobre a selecção portuguesa no campeonato europeu de 2008. O frame religioso é activado pela expressão que define um dos princípios mais significativos da religião cristã: a ressurreição - Wiederauferstehung. Neste contexto, a ressurreição diz respeito à vitória inesperada e grandiosa da selecção alemã, que, publicamente dada como “morta”, ou seja, mais fraca, surpreendeu todos com o seu regresso triunfal. O recurso às personagens bíblicas “David” e “Golias” reforça a ideia do triunfo inesperado, tendo em conta que, de acordo com o episódio bíblico, o “pequeno” conseguiu vencer o “grande”: O confronto Texto David e Golias Episódio bíblico (vitória do ‘pequeno’ contra o ‘grande’) Jogo da Selecção Alemã contra Portugal Selecção Alemã é David Selecção Portuguesa é Golias Que bom, a Alemanha venceu contra todas as expectativas! Figura 23 (Almeida/Sousa, 2010:254) (tradução própria) 130 As autoras terminam com as seguintes conclusões: tanto a imprensa desportiva portuguesa como a alemã, recorrem a construções mescladas de projecções metafóricas para descrever, de forma criativa, eventos futebolísticos. Relativamente a possíveis preferências no que concerne os diversos domínios-fonte, não foi possível, neste estudo, identificar diferenças significativas entre a imprensa alemã e a portuguesa. Contudo, afirmam: “Dass unsere Recherche in der deutschen Sportpresse dennoch viel zeitaufwendiger war, ist darauf zurückzuführen, dass hier die metaphorischen Projektionen auffallend seltener auftreten. Dieses könnte man als Indiz dafür nehmen, dass die portugiesische Sportpresse hinsichtlich ihrer metaphorischen Blending-Kostruktionen kreativer ist als ihr deutsches Gegenstück.“ (Almeida/Sousa, 2010:255) 2.2.4. A importância da Relevância (Almeida, 2011, a publicar) Finalmente, à luz do paradigma do modelo da rede de espaços mentais preconizado por Brandt (2004a, 2008 e 2010a) e Brandt/Brandt (2005a) consideramos pertinente fazer referência a um dos mais recentes trabalhos de Almeida (2011, a publicar) intitulado A relevância da relevância em mesclagens. Neste trabalho Almeida pretende destacar o papel fundamental da relevância na elaboração de imagens mescladas, na medida em que: “o cenário de relevância constitui instrumento-chave que baliza e sanciona arquitecturas de mesclagem.” (Almeida, 2011:1) Partindo do princípio que “o processo de semiose que se processa in loco, não tem efeito multiplicador, é, muito pelo contrário, uma ocorrência única, pois tem lugar numa situação de comunicação concreta, balizada por coordenadas espácio-temporais particulares” (Almeida, 2011:2), a autora recorre a um conjunto de cinco exemplos retirados de um vasto corpus de ocorrências mescladas da imprensa desportiva portuguesa Almeida (2003, 2004, 2005, 2006a, 2006b, 2008, 2010, 2011a, 2011b , 2011c); Almeida/Órfão/Teixeira (2009) e Almeida/Sousa (2010) elucidativos do papel da relevância na construção das mesclas, a saber: (1) “O FCP com uma baixa para Manchester mas carregadinho de moral O Paciente Inglês Décima segunda vitória para o FCP em casa, zero empates, nem uma derrota. Números avassaladores do campeão que segue para Manchester com uma baixa de última hora (Pedro Mendes), mas tão carregadinho de moral.” (A Bola, 6.3.2004)” 131 (2) “A Fava saiu ao Dragão. Imaginem uma fava gigante na garganta do Dragão. (A Bola 22.11.2007)” (3) “EURO2008 PORTUGAL-TURQUIA BANHO TURCO DE JOÃO MOUTINHO HOMEM INVISÍVEL DA ARMADA LUSA João Moutinho: Uma noite de sonho!” (4) “Navegadores em Duelo Ibérico Para a História - Espanha-Portugal” ( A Bola 29.6.2010) (5) “AU REVOIR Todos os cinco jogadores vendidos pelo FC Porto tiveram França como destino. O encaixe foi de 22 milhões de Euros, contabilizando já a recente saída de João Paulo para o Le Mans.” (A Bola 3.8.2009) (Almeida, 2011:6-9) A análise semiótico-cognitiva dos exemplos supra citados conduziu à conclusão de que: “vectores de relevância activados no media desportivos portugueses configuram um conjunto diversificado de cenários (…)” (Almeida, 2011:10), tais como o cenário do DUELO (1), os cenários culturais do NATAL PORTUGUÊS (2), do BANHO TURCO e do AGENTE SECRETO (3), assim como o cenário dos DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES (4) e do DESÍGNIO honroso da internacionalização do jogador de futebol (5). Em suma, a autora postula que: “a análise semiótico-cognitiva destas notícias aponta inegavelmente para a relevância da relevância dos cenários culturais portugueses nas arquitecturas mescladas dos jornais desportivos nacionais.” (Almeida, 2011:10) 2.3. Algumas observações conclusivas O presente ponto corrobora a nossa tese de que o mundo do futebol e, particularmente, a imprensa desportiva, constitui um campo de análise ideal para a pesquisa e desconstrução de fenómenos conceptuais - a metáfora conceptual (Lakoff/Johnson), as redes de integração conceptual (Fauconnier/Turner) e as redes de espaços mentais (Brandt e Brandt/Brandt) - tanto devido à quantidade, i.e. a elevada frequência de construções conceptuais, como devido à qualidade, no que diz respeito à criatividade e à imaginação subjacentes às ocorrências verificadas. 132 No âmbito do futebol, a arquitectura conceptual patente no jornalismo desportivo emerge de um conjunto de diversos factores que, julgamos, terem condicionado e justificado a sua produção, a saber: • O factor histórico associado à origem do futebol; • Os factores histórico-culturais associados ao desenvolvimento do futebol moderno; • As analogias entre confrontos de natureza física e confrontos de natureza desportiva, associadas ao binómio vitória-derrota; • A função social, em termos do sentimento de pertença e de união grupal e de consolidação da identidade nacional; • O desenvolvimento do desporto futebol como evento de entretenimento de massas; • A crescente importância do desporto futebol nos domínios da economia, indústria e política; • O fenómeno da globalização de todo o tipo de conteúdos (informação, cultura, literatura, entretenimento, desporto, politica, etc.) • O acesso a conteúdos através do desenvolvimento dos media tradicionais e a introdução (e evolução) dos meios tecnológicos de comunicação digital (e.g. Internet) • Factores económicos que condicionam a notícia, i.e. a notícia deverá ser interessante, espectacular e apelativa a fim de atrair o leitor; • A tendência dos textos jornalísticos desportivos configurarem actos de comunicação que pretendem aproximar-se, cada vez mais, do conceito de interacção comunicativa real (face-to-face interaction); • A crescente tendência do texto jornalístico em transmitir e evocar emoções nos leitores; • A crescente importância da imagem (real ou mental) como estratégia para a transmissão de conteúdos de forma mais eficaz e rápida. Aquando da análise do nosso corpus, no ponto 3 da presente dissertação, os factores acima referenciados tornar-se-ão evidentes e consideramos que a exploração dos diferentes domínios-fonte identificados confirmará esta a nossa perspectiva. Finalmente, concordamos com Burkhardt (2006b:54) quando este afirma: “Sport, insbesondere Fussball (ist) Super-Diskurs unserer Zeit” e simultaneamente com Weiß quando defende que: “Fussball ist mehr als nur Sport. Er ist immer auch Ausdruck kultureller, sozialer, wirtschaftlicher und politischer Rahmenbedingungen und steht stellverteretend für Verhältnisse, Zustände, Veränderungen und Entwicklungen in der Gesellschaft“ (Weiß, 2004:223). 133 3. Análise semiótica das imagens mescladas nos jornais desportivos alemães 3.1. Linhas mestres da investigação “Er [Fussball] ist ein wichtiger Bestandteil der Alltagskultur im Land und Integrationsfaktor quer durch alle sozialen Milieus, er prägt die deutsche Geschichte und zahllose Biografien, er ist Spiegel und Brennpunkt für kulturelle, politische, ökonomische, soziale Entwicklungen ein Phänomen, schillernd und komplex wie kaum ein anderes." (Konzept der Deutschen Akademie für Fußballkultur, S. 2. Unter: http://fussball-kultur.org/v01/de/mod/ dokumente/doc.php?id=2&sp=de. Stand: 31.05.08. [Consult. 09.12.2010]) A escolha do texto jornalístico, nomeadamente no âmbito do discurso futebolístico, não foi, de forma alguma, uma escolha aleatória. Para além do gosto pessoal pelo desporto em causa, a imprensa futebolística afigura-se como uma fonte criativa, quase inesgotável, de imagens mescladas que compõem o corpus desta dissertação. Hoje em dia, o futebol é inegavelmente mais do que um mero jogo de equipa, limitado ao recinto desportivo e seus intervenientes. Para além de movimentar multidões a uma escala global, tornou-se parte integrante das diferentes identidades culturais, omnipresente em todas as esferas da sociedade. Neste sentido, o futebol é também considerado um dos principais assuntos de discussão por parte de uma grande maioria de falantes, tornando o evento desportivo essencialmente num evento comunicativo. “Die Großveranstaltungen des Sports sind heute zugleich kommunikative Großereignisse - innerhalb wie außerhalb der Medien. Dies gilt erst recht für »König« Fußball.“ (Burkhardt, 2006b:1) Assim sendo, o futebol, metaforizado como “Desporto Rei” devido à importância e saliência que assume, é comunicação a todos os níveis: dos encontros de família e de amigos, passando pelo local de trabalho e, por fim, em todos os media; futebol é o super-discurso dos nossos tempos. 134 Mais ainda, guiámo-nos pelo princípio da pesquisa empírica, defendida pelo paradigma cognitivo, i.e. baseados em corpora autênticos, tal como defendido por Geeraerts (2006a) que realça a necessidade de uma “revolução empírica”, a fim de ir de encontro ao postulado fundamental emergente da própria linguística cognitiva, reivindicando para si o estatuto de análise linguística baseada no uso: “Turning to a second relevant feature of Cognitive Linguistics, the appeal of empirical methods within the cognitive approach is boosted by the growing tendency of Cognitive Linguistics to stress its essential nature as a usage-based linguistics – a form of linguistic analysis, that is, that takes into account not just grammatical structure, but that sees this structure as arising and interacting with actual language usage.” (Geeraerts 2006a:29) Todas as imagens metafóricas encontradas – apresentadas em forma de listagem e analisadas nos pontos seguintes – estão realçadas em negrito sem que tenham sido retiradas dos contextos reais nos quais emergiram, mantendo assim o cariz de autenticidade natural: “(…) cognitive linguistics is essentially a usage-based model. It takes actual language use as its starting-point, and investigates the cognitive reality behind those facts of use.” (Kristiansen, 2004:76) Convém assinalar ainda que, na óptica de Weinrich (1976), a metáfora depende igualmente do contexto: “Denn Metaphern kommen in lebendiger Rede nicht isoliert vor, sondern stehen immer in einem Kontext.” (Weinrich, 1976:311). Apesar da dificuldade que esta metodologia apresenta, defendemos que apenas a recolha de um corpus autêntico baseado em textos autênticos legitima a representatividade das imagens mescladas: “The great difficulty of linguistic metaphor interaction and analysis is how we get from the discourse to the list of mappings in a reliable fashion. This is the challenge of the entire undertaking of beginning with metaphor identification in authentic discourse.” (Steen, 2002:20) A referida revolução empírica em prol de estudos baseados em dados autênticos distingue-se também pelo reconhecimento e defesa da necessidade de uma abordagem a dois níveis: a abordagem qualitativa por um lado e a abordagem quantitativa por outro, que suporta as hipóteses avançadas: 135 “It is not sufficient to think up a plausible and intriguing hypothesis: you also have to formulate it in such a way that it can be put to test. That is what is meant by “operationalization”: turning your hypothesis into concrete data.” (Geearaerts 2006a:29) A inclusão do tratamento quantitativo dos dados permite que as hipóteses formuladas possam ser efectivamente testadas e, consequentemente, validadas de forma mais segura. A recolha de dados relevantes, fundamentais para a ilustração das hipóteses teóricas avançadas, tem de, necessariamente, ser suportada pela recolha de um conjunto suficientemente representativo dos mesmos, a fim de ser possível comprovar com segurança as hipóteses formuladas. A abordagem quantitativa afigura-se, assim, como complemento vital à abordagem qualitativa, pois a primeira fornece a visão estatística e representativa do objecto, enquanto a segunda se debruça sobre a análise semântica, o fundamento fulcral da semântica cognitiva: “Linguistics is not just about knowledge of the language (that´s the focus of generative grammar), but language itself is a form of knowledge – and has to be analysed accordingly, with the focus on meaning.” (Geeraerts 2006a:3) A inclusão de métodos quantitativos nesta dissertação, em complementaridade com a análise qualitativa dos dados, pretende, também pela sua magnitude, contribuir para uma perspectiva precisa e representativa dos modelos culturais alemães espelhados nas imagens mescladas veiculadas pelos textos jornalísticos nos jornais desportivos alemães. Também Jäkel (1997), cujo estudo incide sobre a análise das metáforas no discurso económico e no qual procede a uma análise onomasiológica da conceptualização dos conceitos abstractos “Geistestätigkeit”, “Wirtschaft” e “Wissenschaft”, defende uma abordagem mais abrangente relativamente ao estudo de imagens mescladas. Segundo o próprio Jäckel, o seu contributo principal para a análise metafórica fundamenta-se em três aspectos: 1. um maior rigor na selecção do corpus – “Ein weiterer wichtiger Aspekt der methodologischen Erörterungen zur kognitiven Metaphernanalyse betrifft die Frage, woher denn das sprachliche Material stammt, das die Grundlage der kognitiv-semantischen Untersuchungen bilden soll. Einmal mehr geben die Theorieväter uns hier kein überzeugendes Vorbild, dem sich nacheifern ließe. (…) Hier wäre es eine äußerst wünschenswerte methodologische Verbesserung, wenn mit ordentlichen Korpusuntersuchungen gearbeitet würde. Die Möglichkeiten der Korpusstellung sind dabei vielfältig.” (Jäckel, 1997:144-145) 136 2. o desenvolvimento da metodologia onomasiológica “Unsere methodologischen Erörterungen der onomasiologisch-kognitiven Metaphernanalyse (...) haben einige Aspekte der metaphernanalytischen Vorgehensweise explizit gemacht, die bei Lakoff und Johnson höchstens implizit vorhanden waren und in den bis dato vorliegenden Metaphernstudien (…) weitgehend unreflektiert praktiziert wurden. Diese methodologische Klärung und Präzisierung findet ihren abschließenden Ausdruck in einer dezidierten Handlungsanweisung (Abschnitt 5.4.) zur onomasiologische-kognitiven Metaphernanalyse.” 95 (Jäckel, 1997:296) 3. a inclusão de uma perspectiva diacrónica “Primär ist die onomasiologisch-kognitive Metaphernanalyse eine Methode der kognitiven Semantik und hat ihren Hauptwert in der systematischen Erfassung sprachlicher Phänomene mit Hilfe eines kognitiven Theorieapparates. Wir haben den von Lakoff und Johnson vorgegebenen Ansatz einer kognitiven Metapherntheorie kritisch aufgenommen und in der Anwendung überprüft. Als eine der wichtigsten Erweiterungen der ursprünglichen Theorie erscheint uns die Einbeziehung der diachronischen Dimension in die konzeptuelle Metaphernanalyse. (…) Historische Evidenz und diachronische Perspektive unterstützen tatsächlich die zunächst synchronisch bestimmte Systematik metaphorischer Übertragungen.” (Jäckel, 1997:295-96) Quanto ao segundo ponto – o desenvolvimento da metodologia onomasiológica – a presente dissertação privilegia esta perspectiva, pois centra-se no conceito FUTEBOL e procura, consequentemente, apresentar um vasto conjunto de exemplos de representações metafóricas emergentes deste mesmo conceito. Assim sendo, partimos das diferentes manifestações linguísticas para padrões de pensamento através da identificação das conceptualizações metafóricas, em oposição à metodologia semasiológica. Convém, neste contexto, que nos debrucemos um pouco sobre estas diferentes dimensões de análise96. Os estudos semasiológicos incidem sobre a análise das categorias lexicais (ou gramaticais), visando demarcar os seus vários significados (cf. Geeraerts (1989/1997), Almeida (1995), Silva (1999, 2006a)). A análise centra-se numa das capacidades cognitivas mais fundamentais: o processo de categorização que pressupõe um processo mental de identificação, interpretação, classificação e nomeação de diferentes entidades. A análise de cariz cognitivo de um item lexical ou gramatical (polissémico ou não) baseia-se no princípio da 95 Vide Jäckel, 1997:141:144 destaque-se que a distinção entre semasiologia e onomasiologia foi inicialmente elaborada por E. Coseriu (1958) Sincronia, diacronia e historia. El problema del cambio lingüístico, Montevideo [dt. Übers.: Synchronie, Diachronie und Geschichte. Das Problem des Sprachwandels, München, 1974 (Internationale Bibliothek für allgemeine Linguistk, 3]) 96 137 prototipicidade. Nem todos os membros duma mesma categoria assumem o mesmo estatuto: uns são prototípicos (ou centrais), outros são considerados periféricos e agrupam-se por similaridades, propriedades mais ou menos partilhadas, equacionadas sob o prisma do conceito wittgesteiniano de “parecenças de família”. Registe-se que os limites das categorias são fluidos e imprecisos, pelo que é frequente, em virtude da activação de analogias, assistir-se a uma sobreposição de categorias. Segundo Geeraerts (1989, 1997) e Geeraerts et al. (1994) as categorias lexicais caracterizam-se, portanto, pela não-discrição ou flexibilidade, e pela nãoigualdade, ou efeitos de saliência dos seus elementos. A dimensão onomasiológica, como orientação metodológica da semântica cognitiva, norteia-se por um determinado valor semântico ou área semântica para os vários itens lexicais que o expressam, ou seja, parte-se do nível conceptual para o nível das estruturas simbólicas (Lakoff/ Johnson (1980a), Kövecses (1997, 2002), Liebert (1992), Jäckel (1997) e.o.). Convém sublinhar que estas se fundam na experiência humana, corporal, individual e colectiva. Em suma, podemos caracterizar as duas dimensões de análise recorrendo à definição abaixo: “A categorização linguística é um processo (e um resultado) com duas dimensões: uma (semasiológica), que acabamos de considerar, diz respeito à definição e à estrutura interna das categorias, concretamente às condições pelas quais x é membro da categoria Z; e a outra (onomasiológica) diz respeito à escolha entre categorias alternativas, nomeadamente às condições pelas quais Z, e não W, é usado como nome de x.” (Silva, 1997:71-72) Impõe-se uma reflexão óbvia: quais são estas condições de escolha, quais as motivações subjacentes à selecção de uma determinada forma lexical para nomear um dado referente em detrimento de uma outra forma lexical? Esta questão tem merecido atenção especial por parte da análise semântico-cognitiva que se debruça sobre o papel epistemológico dos chamados modelos cognitivos baseados na experiência humana e no mundo envolvente (com inclusão de factores culturais). Se a linguagem é um dos meios de interacção, a sua função é identificar, interpretar e organizar (processo de categorização e subsequente generalização) toda a experiência humana. Ao interiorizar estes processos, o ser humano pode eficazmente dar corpo às suas vivências individuais ou colectivas, não esquecendo toda a envolvência social, cultural e histórica. Esse processo engloba factores de prototipicidade semasiológica (que demarcam os protótipos das categorias das suas extensões semânticas), factores de saliência onomasiológica e factores contextuais. Assiste-se, assim, a uma relação de complementaridade entre o conhecimento linguístico e o conhecimento enciclopédico, segundo o prisma construcionista. Parte-se, então, do pressuposto da existência de modelos 138 cognitivos (ou ICM: “Idealized Cognitive Models” segundo Lakoff, 1987) que organizam todo o conhecimento humano em estruturas cognitivas: “ (...) we organize our knowledge by means of structures called idealized cognitive models, or ICMs, and that category structures and prototype effects are by-products of that 97 organization. (…) Each ICM is a complex structured whole, a gestalt , which uses four kinds of structuring principles: - propositional structure, as in Fillmore’s frames - image-schematic structure, as in Langacker’s cognitive grammar - metaphoric mappings, as described by Lakoff and Johnson - metonymic mappings, as described by Lakoff and Johnson.” (Lakoff, 1987:68) Estes modelos mentais não são, de forma alguma, estáticos nem possuem uma estrutura rígida. Pelo contrário, caracterizam-se pela flexibilidade constante através da adequação ao mundo ao qual se reportam (englobando assim também os aspectos sociais, culturais e contextuais). Como estão na base de qualquer processo de categorização, organizam-se em redes, pelo que uma categoria pode envolver um complexo de diferentes modelos cognitivos. Ao sermos confrontados com um objecto ou situação desconhecida, recorremos, captando os seus traços mais salientes, a experiências anteriores semelhantes, na óptica de uma dada cultura, e formamos, subsequentemente, um novo modelo98 na base de um modelo cognitivo já existente. Só assim se explica como, na dimensão semasiológica, o sentido prototípico de “cortar” (a saber “cortar o fio”) pode dar origem, em português, a “cortar uma estrada”, com o sentido de bloquear, sendo que se assinala que é impossível estabelecer esta mesma ligação semântica entre as duas realidades em alemão (cf. Almeida (1995)). A dimensão cultural da conceptualização é igualmente partilhada por Langacker, que, ao reconhecer a existência de uma relação indissociável entre o conhecimento do mundo e as 97 Entenda-se a noção de Gestalt, em traços gerais, como uma estrutura mental representativa, que ao processar toda a informação do mundo que nos rodeia assim como das experiências nele vividas, constrói uma rede de estruturas ou esquemas mentais. As estruturas existem enquanto um todo coerente que emergem da nossa experiência e cognição. Unificam a experiência, levando assim a inferências no sistema conceptual. A psicologia da Gestalt tem vindo a realçar o facto do ser humano compreender e identificar o mundo com base em padrões ou esquemas conceptuais. Um objecto é visto como um todo coeso, a mente processa o objecto perceptível e ao encontrar o “padrão/configuração” mental equivalente, identifica-o: “Gestalt psychology has stressed the need to examine organized wholes, believing humans are disposed to identifying patterns. Visual objects tend to appear stable despite continually changing stimulus features (such as ambient light, perspective, ground vs. figure arrangement), which enables an observer to match a perceived object with the object as it is understood to exist. Perceptions may be influenced by expectancies, needs, unconscious ideas, values, and conflicts.” (The Britannica Concise Encyclopedia – Versão On-line [Consult. 10.12.2010]) 98 “(…) cognitive models are omnipresent. In every act of categorization we are more or less consciously referring to one or several cognitive models that we have stored. Only in the very rare case when we encounter a totally unfamiliar object or situation will no appropriate cognitive model be available, but even then we will presumably try to call up similar experiences and immediately form a cognitive model.” (Ungerer/Schmid, 1996:49) 139 respectivas representações linguísticas em contexto comunicativo, o que, na prática, implica uma dissolução das fronteiras entre semântica e pragmática, conclui que essa relação assenta no princípio da existência de domínios cognitivos, defendendo que qualquer área de conhecimento serve como base à significação de uma expressão linguística: “The encyclopedic view of meaning denies the existence of any precise or rigid boundary between semantics and pragmatics or between linguistic and extralinguistic knowledge. Instead, expressions are seen as being meaningful by virtue of evoking multiple realms of knowledge and experience – I call these cognitive domains – in a flexible open-ended manner.” (Langacker, 1997:229-252) Distingue-se ainda entre os domínios cognitivos básicos (intimamente ligados às experiências humanas mais fundamentais e cognitivamente irredutíveis) e os domínios complexos ou “matriz de domínios”. Estes domínios cognitivos servirão de ‘plataforma’ para as metáforas conceptuais, através do mapeamento de domínios em que um assumirá o papel de domínio-fonte, e o outro, de domínio-alvo. No âmbito da dimensão onomasiológica, veja-se o exemplo da metáfora conceptual “O amor é uma viagem” apresentado por Lakoff, em que o domínio-alvo é o amor e o domínio-fonte é a viagem: “The metaphor involves understanding one domain of experience, love, in terms of a very different domain of experience, journeys. (…) What constitutes the love-as-journey metaphor is not any particular word or expression. It is the ontological and epistemic mapping across conceptual domains, from the source domain of journeys to the target domain of love. The metaphor is not just a matter of language, but of thought and reason. The language is a reflection of the mapping. The mapping is conventional, one of our conventional ways of understanding love.” (Lakoff, 1990:47-49) Qualquer mapeamento pressupõe uma correspondência epistémica, na qual o conhecimento de um domínio, neste caso concreto, o amor, se sobrepõe ao conhecimento de um outro domínio, no caso apresentado, uma viagem. Esta correspondência permite conceptualizar o conceito de amor através do conhecimento e da experiência vivida da viagem. Este exemplo é igualmente sintomático porque existe, tal como já foi referido anteriormente, uma tendência unidireccional de conceptualizar domínios mais abstractos a partir de domínios concretos. Convém assinalar ainda que, na base da metáfora conceptual do amor acima analisada, estamos perante o esquema imagético da trajectória, o padrão abstracto que representa as acções de deslocação no espaço físico. 140 Por fim, consideramos pertinente fazer referência ao terceiro ponto apresentado por Jäckel (1997) – a inclusão da perspectiva diacrónica. Optamos por contemplar textos jornalísticos dos campeonatos europeus de 2004 e 2008 e mundiais de 2006 e 2010, movidos por duas hipóteses: a) poderá existir uma ligação estreita entre as reapresentações metafóricas e a época/ano em que ocorreram? b) poderá existir uma ligação estreita entre as representações metafóricas e o tipo de campeonato (ora europeu, ora mundial) em que ocorreram? A abordagem diacrónica complementará, por consequência, a fundamentação das hipóteses avançadas no âmbito da análise sincrónica. 3.1.1. Breve história do futebol e os media Tal como já foi referido anteriormente, o texto jornalístico, com especial destaque para os jornais desportivos, afigura-se como fonte ideal para a recolha de um corpus que se quer autêntico e dinâmico. Convém aqui, a nosso ver, tecer algumas breves considerações acerca da relação entre o desporto e o jornalismo desportivo. Nos séculos XVIII e XIX o termo desporto99 descrevia a prática de um conjunto de exercícios físicos específicos, prática essa que foi, a partir da Inglaterra, conquistando popularidade em toda a Europa, pois a ideia de mens sana in corpore sano100 era cada vez mais aceite e seguida. Elemento inovador desta prática desportiva era o princípio da competição, com o objectivo de alcançar vitórias e recordes. Na Inglaterra tornou-se parte integrante do currículo das Public Schools, frequentadas por jovens da alta burguesia e da nobreza; daí o seu inicial cunho elitista. Sucessivamente, emergiram inúmeros clubes desportivos possibilitando a 99 Der Begriff Sport entlehnt sich dem spätlateinischen Wort disportare, was so viel heißt, wie sich zerstreuen, vergnügen. Das Wort fand über die französische Sprache "se de(s) porter" (Erholung, Zerstreuung) den Weg ins Englische ("to disport") und später auch ins Deutsche (1828). Es fand sich erstmals 1440 in der heute gebräuchlichen Kurzfassung „sport“. Mit diesem Wort wurden damals Vergnügung, Spass, Zerstreuung, körperliche Erholung sowie faires Verhalten zum Ausdruck gebracht. Später kam noch die Bedeutung als Sammelbegriff für die Leibesübungen hinzu. (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Geschichte%20des%20Sports [Consult. 11.12.2010]) 100 "Uma mente sã num corpo são é uma famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal. A conotação satírica da frase, no sentido de que seria bom ter também uma mente sã num corpo são, é uma interpretação mais recente daquilo que Juvenal pretendeu exprimir. A intenção original do autor foi lembrar àqueles dentre os cidadãos romanos que faziam orações tolas que tudo que se deveria pedir numa oração era saúde física e espiritual. Com o tempo, a frase passou a ter uma gama de sentidos. Pode ser entendida como uma afirmação de que somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa. (In http://dbpedia.org/page/Mens_ sana_in_corpore_sano [Consult. 11.12.2010]) 141 proliferação do desporto como actividade complementar à actividade profissional, i.e. o desporto passou a ser a actividade privilegiada dos tempos livres, na procura de encontrar um equilíbrio entre o dever e o lazer. Este desporto não possuía qualquer cunho político, tal como acontecia com a ginástica, praticada nas escolas públicas e colectividades, principalmente pelas classes sociais mais baixas, fundamentalmente orientada para a exaltação de um espírito nacionalista. Com a crescente industrialização da Inglaterra e, seguidamente da Europa, também a popularidade do desporto cresceu, pois partilhavam os mesmos princípios da competitividade, da concorrência e do sucesso/vitória. Tanto a indústria como o desporto apelavam à capacidade de racionalização do esforço, à especialização e ao aperfeiçoamento técnico. Ambos os domínios acompanhavam a mudança cultural, marcada pelo Calvinismo e Puritanismo, exaltando o sucesso individual resultante do esforço e da dedicação, o espírito competitivo orientado para a melhoria dos resultados, assim como o capitalismo, como propulsor de riqueza individual e colectiva (sendo a pratica desportiva encarada como investimento pessoal para a obtenção de sucesso) e como valor de salvação moral e social. Acrescente-se, ainda, a paixão competitiva por parte dos britânicos, o que motivou a organização de torneios e campeonatos patrocinados pela nobreza. Durante o século XIX assistiu-se à necessária regulamentação das diferentes modalidades desportivas a nível global, a fim de possibilitar campeonatos e competições internacionais. A realização dos primeiros Jogos Olímpicos da era Moderna em 1896, movida por Pierre de Coubertin101, reflectia não somente a necessidade de uniformização das regras das diferentes modalidades desportivas, mas principalmente o desejo de união dos povos de todo o mundo - Völkerverständigung - em torno de um grande evento desportivo. Pode-se assim concluir que este novo conceito de desporto enaltece três aspectos fundamentais: a) o treino intenso e a dedicação ao desporto e desenvolvimento do espírito competitivo para a consequente obtenção de vitórias e recordes em torneios e campeonatos; b) o respeito pelas regas de cada modalidade, a nível mundial, reflectindo assim uma normalização e uniformização global, seguida por todos os atletas. c) a internacionalização do desporto, que se reflecte nos grandes eventos desportivos internacionais (tal como os Jogos Olímpicos) e que dá origem aos conceitos de universalidade, fraternidade e igualdade do desporto. 101 Pierre de Frédy (Paris, 1 de Janeiro de 1863 — Genebra, 2 de Setembro de 1937), mais conhecido pelo seu título nobiliárquico de Barão de Coubertin, foi um pedagogo e historiador francês, tendo ficado para a história como o fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna. (In: http://dictionary.sensagent.com/Pierre_de_Coubertin/pt-pt/ [Consult. 12.12.2010]) 142 O desporto, albergando um vasto leque de modalidades, tinha conquistado o mundo, tornando-se uma actividade de massas. Para além do número de praticantes das modalidades desportivas, assistiu-se igualmente a uma explosão em termos de adeptos e simpatizantes, ou seja, um aumento significativo do número de não-praticantes, simples espectadores dos eventos desportivos. Este fenómeno atraiu rapidamente a atenção dos meios de comunicação, devido ao facto de dominar uma parte significativa da vida individual e social. A publicação de notícias desportivas afigurava-se como fonte de rendimento económico acrescida, pois perspectivava o alargamento do público leitor apaixonado ou interessado pelo desporto. O desporto como espectáculo tinha de ser noticiado e divulgado, o que, por sua vez, contribuiu ainda mais para a sua massificação. Gradualmente foram sendo criadas as condições para a integração da notícia desportiva nos diversos jornais – por exemplo: formação de jornalistas especializados nos diferentes desportos e presença de jornalistas nas competições desportivas - culminado na criação da subcategoria do jornalismo desportivo e o advento das secções, suplementos (Sportteil der Tageszeitung), jornais (Sportzeitung) e revistas (Sportzeitschrift) exclusivamente desportivas. Na Alemanha, a institucionalização da imprensa desportiva deu-se apenas no final do século XIX, enquanto na Inglaterra, o Morning Herald já publicava em 1821 o seu suplemento desportivo. Em 1878 surgiu em Viena o “Allgemeine Sportzeitung”, o jornal desportivo europeu de língua alemã mais antigo e o primeiro a abranger todas as modalidades desportivas. Durante a primeira guerra mundial a não realização de encontros desportivos provocou uma diminuição dramática na produção de textos da imprensa desportiva. Porém, durante a República de Weimar (1919-1933), o jornalismo desportivo ressurgiu com o restabelecimento das competições desportivas. Contudo, o desporto passou então a assumir, para além do estatuto de entretenimento público, uma função marcadamente política. A derrota da Alemanha na primeira guerra mundial e as respectivas consequências sociopolíticas deixaram feridas profundas no orgulho nacional. ”Generell sollte man aber bedenken, in welcher politischen Situation die Weimarer Republik entstanden ist. Durch wirtschaftlichen Ruin, hohe Anzahl der Gefallenen im Krieg, den Versailler Vertrag und immer wieder aufkommende innerpolitische Krisen hatte die junge Republik einen schweren Einstand. Ihr Scheitern war fast abzusehen. Diese Ereignisse beeinflussten auch die Entwicklung des Sports. Aufgrund dieser Schwierigkeiten sollten vielleicht die positiven Ansätze des Sports besonders betont werden. Denn anders als sonst, breitete sich der Sport nicht (allein) von ,,oben" aus. Er fand seine Faszination und Ausbreitung im Volk.“ (Ernst, 2001:10) 143 O sentimento generalizado de derrota e humilhação internacional era escamoteado pelas conquistas desportivas. O espírito de competição saudável entre nações, de acordo com a filosofia olímpica defendida por Coubertin, parecia ter sido substituído pela necessidade de afirmação nacional. “Der Internationalismus ließ sich nicht ohne weiteres mit dem nationalen Gedanken in Deutschland vereinen. Viele Sportler fühlten sich durch die Niederlage im Krieg gedemütigt und sahen daher keine Möglichkeit, sich mit diesen Nationen sportlich und vor allem auch friedlich zu messen (...) Die Parole ,,Sport ist Kampf" traf genau in das nationale und militärische Herz der Deutschen. Die überflüssigen englischen Elemente des Sports galt es auszusondern. Übermäßiges Rekordstreben und Personenkult sind in der Deutschen Interpretation nicht maßgebend. Das Streben nach Vollendung soll auf alle Lebensbereiche übertragen werden können. Das Ziel ist das beste zum Wohl des ganzen deutschen Volkes.“ (Ernst, 2001:8-9) Esta interpretação da função do desporto torna a motivação nacionalista e militarista subjacente bastante clara. Não é, desta forma, de estranhar que se tenha assistido a um desenvolvimento do aproveitamento do desporto como exaltação nacionalista, protagonizada e amplamente difundida pelo Terceiro Reich. O desporto tornou-se uma arma política, o jornalismo desportivo isento foi substituído pela propaganda nacionalista. A instrumentalização do desporto por parte da política tornou-se evidente aquando dos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim que decorreram inteiramente sob o signo do nacional-fascismo alemão, e a partir de então, considera-se que o desporto nunca mais voltou à isenção inicialmente almejada. Lembremo-nos da tragédia de Munique aquando dos Jogos Olímpicos de 1972, dos diferentes boicotes aos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980 e de Los Angeles em 1884, ou da polémica em torno do campeonato do mundo de futebol em 1978 na Argentina102, ou mesmo da exaltação nacional por parte dos antigos países de leste, para lá da cortina vermelha, por um lado e dos Estados Unidos e seus aliados por outro, durante o período da guerra fria. 102 “Ao som dos tropéis militares, o Mundial de 1978 coroou a Argentina como campeã do Mundo, dando finalmente o troféu que faltava à última potência do futebol mundial ainda sem título. Há dois anos que a Junta Militar do general Videla assumiu o poder numa Argentina submetida à lei marcial e na qual os direitos humanos são quotidianamente desrespeitados. Em Buenos Aires, as viúvas e as mães dos desaparecidos marcham em romaria até à Plaza de Mayo e, um pouco por todas as capitais da Europa Central multiplicam-se as manifestações apelando ao boicote do Mundial sem que isso, no entanto, tenha quaisquer resultados práticos. No dia 1 de Junho, Alemanha Ocidental e Polónia inauguram a X Edição do Campeonato do Mundo de Futebol com um 0-0 aflitivo. Pelas bancadas do estádio do River Plate, as fardas dos militares davam ao futebol a nota de opressão que o país vivia. Decalcado do modelo estreado em 1974, o Mundial argentino viveu longamente mergulhado num corrupio de críticas e acusações quanto à manipulação dos grupos orquestrada pela organização. (In: http://www.fpf.pt/portal/ page/portal/PORTAL_FUTEBOL/SELECCOES/CLUBE_PORTUGAL/HISTORIA/HISTORIA_MUNDIAIS/ARGENTINA_78 [Consult. 12.12.2010]) 144 Considera-se, então, que o desporto, como parte integrante da sociedade, é e continuará a ser um veículo de identidade nacional e consequente afirmação internacional. Os seus intervenientes começam a ser admirados e idolatrados não somente pelas suas qualidades como profissionais das diferentes áreas do desporto, mas também por serem representantes ou mesmo heróis da nação. Esta tendência aponta para a existência de duas outras formas de instrumentalização do desporto profundamente relacionadas: a economia e os media. Existe uma relação triangular entre o desporto, os media e a economia, caracterizada por uma dinâmica de influência e dependência mútuas. Hoje, mais do que nunca, o desporto é também um negócio que movimenta milhões, i.e. um vasto número de pessoas, dinheiro, interesses, ideologias e até valores sociais e morais, e só conseguirá atingir os seus objectivos se devidamente divulgado e publicitado. É neste enquadramento que reside o poder dos media: torna o mero evento desportivo num espectáculo desportivo e económico de massas103. Assiste-se, assim, a uma transição a que Hoffmann-Riem (1988) chamou: “Vom Ritual zum Medienspektakel”104. No caso específico do futebol, centro das nossas investigações, a sua comercialização por parte das diferentes organizações desportivas e consequente divulgação de todas as vertentes ligadas a este desporto por via da imprensa desportiva, estações radiofónicas e televisivas, é um sector significativo da actividade económica. Um grande número de variáveis torna os media e o futebol mutuamente atractivos: O desporto de audiências e as audiências do desporto influenciam-se e potenciam-se. Não é, porém, intenção deste estudo aprofundar a tríade desporto-economia-media, mas sim centrar as atenções nas manifestações linguísticas por parte dos media escritos relativamente ao evento futebolístico. Na paisagem mediática, a televisão ocupa, pelo facto de constituir um meio audiovisual, a posição dominante tendo relegado a rádio para segundo plano, neste momento vocacionada para a divulgação de notícias variadas ligadas ao desporto. Concomitantemente, a imprensa desportiva tem conseguido manter e cativar o interesse do público leitor ao enriquecer as suas publicações com uma grande variedade de artigos que ultrapassam amplamente o mero relato (escrito) do confronto, uma vez que publica as entrevistas, as opiniões, os comentários, as análises dos intervenientes e dos especialistas da área, as críticas 103 "Als Massenkommunikation bezeichnet man in der Kommunikationswissenschaft einen Kommunikationstyp bzw. eine Kommunikationsform, "bei der Aussagen offentlich (also ohne begrenzte und personell definierte Empfangerschaft), durch technische Verbreitungsmittel (Medien), indirekt (also bei raumlicher oder zeitlicher oder raumzeitlicher Distanz den Kommunikationspartnern) und einseitig (also ohne Rollenwechsel zwischen Aussagenden und Aufnehmenden) an ein disperses Publikum [...] gegeben werden". (Maletzke, 1963 in: http://www.bender-verlag.de/lexikon/lexikon.php?begriff=Massenkommunikation [Consult. 13.12.2010]) 104 Hoffmann-Riem, W., „Sport – Vom Ritual zum Medienspektakel“ in Hoffmann-Riem, W. (Ed.) Neue Medienstrukturen – Neue Sportberichterstattung?, Nomos-Verlagsgesellschaft, Baden-Baden/Hamburg, 1988, p.11) 145 e as diversas avaliações, etc. Ocupa-se do antes, do durante e do depois do confronto, escreve sobre jogadores, treinadores, árbitros, adeptos, em suma, todos os que vivem o futebol. É neste universo que a linguagem futebolística mais floresce. Em suma, a televisão privilegia a imagem, relegando para segundo plano os aspectos linguísticos, ao passo que a imprensa privilegia o suporte escrito, atribuindo à imagem (fotografia) uma função de complementaridade. Daí que a análise da linguagem futebolística da imprensa se afigura como a mais indicada e significativa devido à sua riqueza e criatividade105. Com o domínio da era digital, os jornais desportivos reconheceram que, para manter o seu estatuto de meio de comunicação de massas, cativando as novas gerações de leitores, paralelamente às edições de papel tinham de disponibilizar edições on-line gratuitamente disponíveis a todos os leitores com acesso a um computador com ligação à internet. Assim, os jornais conseguem alcançar um número de leitores ainda maior, e cada vez mais diversificado, um dos principais objectivos dos media de massas. Os jornalistas e comentadores têm, obviamente, consciência deste facto106 que é, naturalmente, tido em conta aquando da criação e consequente publicação dos seus variados artigos. É cada vez mais reconhecida a tendência de uma política de orientação para o público leitor – Publikumsorientiertheit107 – por parte dos media, principalmente devido a razões económicas. Existe uma grande oferta de jornais desportivos em concorrência directa, consequentemente, as redacções dos diversos jornais procuram, através de estratégias diversas, atrair o maior número de leitores possível. Assistese, assim, a uma redefinição de prioridades quanto à informação a transmitir: o conteúdo e 105 Heine, Claudi, Hünnemeyer (1991a:31) distinguem três tipos de criatividade: universal, comunal e individual. A primeira é comum a todos os homens, independentemente da cultura (por exemplo: a utilização de partes do corpo para conceptualizar espaço). A terceira é relativa ao indivíduo. No presente estudo, debruçamo-nos sobretudo sobre o segundo tipo, que se relaciona com aspectos sociais, culturais e políticos de uma determinada sociedade, seus grupos étnicos, suas comunidades linguísticas, etc. A criatividade comunal abrange a maneira como uma comunidade específica explora o domínio de objectos concretos para conceptualizar outros domínios. 106 Um recente estudo estatístico publicado na internet pela Statista (“deutsches Statistikunternehmen im Internet, ein weltweites Statistik-Portal, das statistische Daten verschiedener Institute und Quellen professionell bündelt.“) demonstou que em 2009, na população alemã, entre os 14 e os 69 anos de idade, 29% não se interessa pelo desporto, 40% tem interesse pelo desporto e 31% interessam-se muito pelo desporto. (Fonte: http://de.statista.com/statistik/diagramm/studie/106024/umfrage/interesse-sport/) O mesmo organismo concluiu num outro estudo de 2010 que 49% da população alemã pratica, pelo menos uma vez por semana, algum tipo de desporto. (Fonte: http://de.statista.com/statistik/daten/studie/164271/umfrage/anteil-der-sporttreibenden-nachland/ [Consult. 13.12.2010]) 107 “(...)Dies bedeutet, dass der Journalismus, wie auch andere Systeme, seine Operationen am Publikum orientierenmuss. Was in anderen gesellscaftlichen Sektoren mit Begriffen wie Kundenorientierung, Wählerorientierung, Klientenorientierung, Studentenorientierung als Prozess beschrieben ist, trifft auch für Journalismus zu und firmiert als Publikumsorientierung. Aus der Perspektive des Publikums bietet gerade der aktuelle Nachrichtenjournalismus eine Chance, sich über zahlreiche gesellschaftliche Bereiche, die – wie Sport, Politik, Wirtschaft – ebenfalls auf ein Publikum als Leistungsempfänger angewiesen sind, zu informieren. In der Journalismusforschung wird diese Leistung als Vermittlung gesellschaftlich relevanter Informationen beschrieben.“ (In: Jornalistik Journal, „Das Publikum im Blick, Die veränderte Publikumsorientierung des Journalismus seit 1990“, Bernd Blöbaum, Sophie Bonk, Anne Karthaus & Annika Kutscha, http://journalistikjournal.lookingintomedia.com/?p=441, 14.04.2010 [Consult. 13.12.2010]) 146 pertinência da notícia são aspectos tão importantes e significativos como a forma como a mesma é transmitida. Os artigos devem ser tanto informativos e factuais como apelativos e interessantes, sendo que a criatividade linguística se afigura como instrumento ideal para atrair as atenções dos leitores mediante a construção de imagens metafóricas de elevado impacto junto dum público diversificado. Esta construção dinâmica de significados é um produto da relação sinergética entre o futebol, a sociedade e a cultura, conforme apontado pelo organismo alemão abaixo referenciado: “Der Fußball in Deutschland hat vielfältige Bezüge (...) Er ist ein wichtiger Bestandteil der Alltagskultur im Land und Integrationsfaktor quer durch alle sozialen Milieus, er prägt die deutsche Geschichte und zahllose Biografien, er ist Spiegel und Brennpunkt für kulturelle, politische, ökonomische, soziale Entwicklungen – ein Phänomen, schillernd und komplex wie kaum ein anderes.“ (Deutsche Akademie für Fussball-Kultur, 2004:2) 108 Diferentes eventos desportivos, como, por exemplo jogos de futebol, ao nível local ou nacional, são considerados eventos culturais. Este facto torna-se ainda mais evidente aquando dos campeonatos internacionais com equipas participantes oriundas dos quatro cantos do mundo. Para além da competição desportiva, assiste-se a um encontro de nações e culturas, o país anfitrião aproveita a mediatização do evento para promoção e divulgação da sua história e de manifestações culturais locais: “Die Welt ist zwar kein Fußball, aber im Fußball findet sich doch eine ganze Menge Welt 109 . Und der eigentliche Gottesdienst findet schon längst in den großen Fußballarenen rund um den Globus statt. Mit Ornamenten und Insignien geschmückte Anhänger pilgern in die modernen Gotteshäuser, stimmen feierliche Gesänge an und geraten in ekstatische Verzückung, wenn ihre Götter einen Sieg davontragen. Sogar Papst Johannes Paul II. hat die Zeichen der Zeit erkannt und ist Ehrenmitglied beim F.C. Barcelona und bei Schalke 04.“ 110 (Richard Steiger , Fussball – Mehr als nur ein Spiel, Wissen Media Verlag) Por sua vez, os jornais desportivos apoiam-se nesse conhecimento partilhado, reflectindo a experiência vivida, cultural e histórica dos seus leitores/falantes (Geeraerts, 2006b:5): 108 In: http://www.fussball-kultur.org/fileadmin/redaktion/pdfs/DE_KozeptAkademie.pdf [Consult. 14.12.2010] “Die Welt ist zwar kein Fußball, aber im Fußball, das ist kein Geheimnis, findet sich eine ganze Menge Welt“ Ror Wolf; Pseudónimo: Raoul Tranchirer (* 29. Junho 1932 em Saalfeld/Saale, Thüringen), escritor alemão (In: http://www.spiegel.de/sport/fussball/0,1518,295277,00.html [Consult. 14.12.2010]) 110 In http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/sport/fussball/index,page=1307370.html [Consult. 14.12.2010] 109 147 “(...) we also have a cultural and social identity, and our language may reveal that identity, i.e. languages may reveal that identity, i.e. languages may embody the historical and cultural experience of groups of speakers (and individuals).” 3.1.2. A recolha do corpus Tal como já foi referido anteriormente, o presente estudo pretende apresentar uma análise das imagens mescladas presentes em jornais desportivos alemães, enveredando concomitantemente por uma perspectiva sincrónica e diacrónica. Assim sendo, consultamos as edições on-line de um conjunto de jornais desportivos considerados mais proeminentes, assim como alguns sítios dedicados ao comentário desportivo, a saber: www.kicker.de/www.bild.de/ www.sportbild.de/ www.focus.de/ www.spiegel.de/ www.sportal.de Graças aos actuais meios informáticos e acesso à internet, foi possível consultar a base de dados e de arquivo destes jornais e sítios, facto que tornou possível realizar esta investigação. Por razões metodológicas, optámos por limitar a nossa investigação aos maiores acontecimentos futebolísticos internacionais dos últimos anos, nomeadamente, os campeonatos europeus de 2004 e 2008 (de 12 de Junho a 4 de Julho de 2004 e de 7 de Junho a 29 de Junho de 2008), e os campeonatos mundiais de 2006 e 2010 (de 9 de Junho a 9 de Julho de 2008 e de 11 de Junho a 11 de Julho de 2010). Incluímos também os dias de preparação para os eventos desportivos, assim como os dias subsequentes aos mesmos. Aquando do campeonato mundial de 2010 foi igualmente possível recolher ocorrências da revista desportiva bissemanal Kicker-Sportheft na sua edição em suporte de papel. Foi então possível identificar um conjunto representativo de imagens mescladas num total de 995 ocorrências, sendo que a análise das ocorrências foi dividida por domínio-fonte e subdividida por competição. Decidimos não incluir as representações metafóricas que já são consideradas convencionalizadas111 ou lexicalizadas, fazendo parte integrante da denominada linguagem futebolística (Fussballbegriffe). Esta prende-se, essencialmente, com as regras do jogo, a função ou posição dos jogadores e dos restantes intervenientes no jogo, o tipo de jogadas e o espaço físico do encontro desportivo, ou seja, as diferentes áreas do campo de futebol. Aliás, as questões em torno da cunhagem dos termos futebolísticos alemães foram amplamente 111 vide ponto 1.1. sobre a teoria da metáfora 148 investigados por Burkhardt (2008), com especial destaque para as importações directas da língua inglesa112. Registe-se, porém, que com a crescente popularidade do futebol na Alemanha, já nos finais do século XIX e a criação da Federação Alemã de Futebol (DFB- Deutscher Fussball Bund) em 1900, a necessidade de adaptação da língua a uma nova realidade desportiva tornava-se cada vez mais imperativa. Mais ainda, destaca-se que a Alemanha estava a viver um período de exaltação nacionalista, uma tendência que advogava um posicionamento purista que levou Konrad Koch113 à criação de um conjunto de termos futebolísticos alemães, traduzidos do inglês, pelo que a “Verdeutschungsliste” (Burkhardt, 2008:72) obteve aprovação generalizada. Contudo, alguns termos ingleses revelaram-se dominantes e continuam a fazer parte da actual “Fussballsprache” ou “Fachtermini” alemã: “centre-forward = Mittelstürmer kick-off = Anstoß corner = Ecke linesmen = Linienrichter corner-kick = Eckball off side = Abseits drawn = unentschieden out! = aus forwards = Stürmer to pass = abgeben, zuspielen free-kick = Freistoß penalty-kick = Strafstoß goal = Tor, Mal referee = Schiedsrichter goal-line = Mallinie (Torlinie) shoot = Schuß (Stoß) aufs Tor goal-post = Torpfosten, Malstange to shoot = schießen” half time = Halbzeit (...) In manchen Fällen erwiesen sich die englischen Originale doch als stärker als die vorgeschlagene Verdeutschung, so im Falle von ”Spielwart” für engl. captain, ”treiben” für engl. to dribble, ”anständig, ehrlich” für engl. fair, ”ungehörig, unehrlich” für engl. foul und ”fassen, halten” für engl. to tackle.“ (Burkhardt, 2008:72-73) Note-se que Schlobinski atribui o fracasso da aceitação de algumas traduções sugeridas por Koch à ausência de impacto fonético apelativo e adequado à intensidade e paixão do jogo. O mesmo afirma: 112 “O desporto moderno deve a sua importância aos jogos desportivos, com realce para o rugby e o futebol. Mesmo que existam raízes longínquas, a forma, regras, delimitação e codificação é obra da Inglaterra do século XIX. Dá-se aí a transformação dos jogos em desportos” (Serôdio-Fernandes, 1999, p. 24). Sendo a Inglaterra o berço do futebol moderno, a terminologia futebolística alemã adoptou grande parte do seu vocabulário directamente da língua inglesa, sem qualquer tradução: “(...) dass in der Anfangszeit des Fußballs in Deutschland auf den Fußballplätzen selbst und in der frühen Berichterstattung die englische Begrifflichkeit dominierte. Valk (1935: 567f.) verweist auf einen Spielbericht der ”Vossischen Zeitung” vom 13. September 1892, der ”von englischen Ausdrücken wie goal, captain, half time, goalkeeper” nur so ”gewimmelt” habe.“ (Burkhard, 2008:72) 113 vide http://zeit.de/sport/2011-02/konrad-koch-fussball-portraet/seite-2 [Consult. 03.08.2011] 149 “(…) so ist bei ihrer Auswahl nicht allein darauf Rücksicht zu nehmen, dass sie möglichst treffend sind; nein, sie dürfen auch nicht farblos und gekünstelt sein, sondern müssen ihr voll und kräftig ins Ohr fallen. Im Kampfe gegen das hässliche Fremdwort ,Goal‘, noch hässlicher ,Johl‘ gesprochen, hat sich unser matter Ausdruck ,Mal‘ als zu schwach erwiesen; also ersetzen wir ihn überall, wo es angeht, durch ,Tor‘.“ (Koch, 1903:170, in Schlobinski 2010:9) Outra possível razão do fracasso da germanização da terminologia futebolística atribuise à imprecisão terminológica dos termos alemães correspondentes. Assim, no excerto textual abaixo “Es war kein grobes Foul, das ihn zum Ausscheiden zwang, wie überhaupt die beiden ersten Partien wohltuend fair abliefen.“ (www.kicker.de 09.06.2008) tanto o termo inglês Foul como fair veiculam um conteúdo semântico preciso, i.e. Foul114: uma acção contra a integridade física do adversário ou desrespeito pelas regras do jogo e fair115: uma atitude que respeita a integridade física do adversário e as regras do jogo. Se substituíssemos, de acordo com a sugestão de Koch, Foul por Ungehörigkeit ou fair por anständig Es war keine grobe Ungehörigkeit, das ihn zum Ausscheiden zwang, wie überhaupt die beiden ersten Partien wohltuend anständig abliefen. o significado das expressões não seria idêntico, pois tanto Ungehörigkeit como anständig emergem do domínio ético e moral: “un|ge|hö|rig <Adj.>: nicht den Regeln des Anstands, der guten Sitte entsprechend; die geltenden Umgangsformen verletzend: ein -es Benehmen; etw. in -em Ton sagen; eine -e (freche, vorlaute) Antwort geben; sich u. aufführen; Un|ge|hö|rig|keit, die; -, -en: 1. <o. Pl.> das Ungehörigsein. 2. ungehörige Handlung, Äußerung. (Dudenverlag, 1997, CD-Rom) an|stän|dig <Adj.>: 1. a) sittlich einwandfrei; den geltenden Moralbegriffen entsprechend, gut, korrekt: -es Betragen; er hat a. gehandelt; b) rücksichtsvoll, anerkennenswert: ein 114 “noun- (in sport) an unfair or invalid stroke or piece of play, especially one involving interference with an opponent.” (In: http://oxforddictionaries.com/view/entry/m_en_gb0312390#m_en_gb0312390 [Consult. 18.12.2010]) "Foul, das; -s, -s (Sport): regelwidriges, unfaires, unsportliches Verhalten, Spiel: ein klares F.; ein F. [an jmdm.] mit einem Elfmeter bestrafen, ahnden." (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 115 "without cheating or trying to achieve unjust advantage: no one could say he played fair" (In: http://oxforddictionaries.com/view/entry/m_en_gb0285240#m_en_gb0285240.044 [Consult. 18.12.2010]) "fair <Adj.> [engl. fair < aengl. fæger = schön, lieblich; vgl. asächs., ahd fagar = schön]: a) den Regeln des Zusammenlebens entsprechend; anständig, gerecht in seinem Verhalten gegenüber anderen: ein -es Angebot machen; das war nicht ganz f. von ihm; jmdn. f. behandeln; er hat sich mir gegenüber nicht f. benommen; b) (Sport) den [Spiel]regeln entsprechend: ein -er Wettkampf." (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 150 Appell an den -en Kraftfahrer; das war a. von dir! 2. (ugs.) zufrieden stellend, durchaus genügend: -es (ordentliches) Aussehen; die Leistung war ganz a.; jmdn. a. bezahlen. 3. (ugs.) beträchtlich, ziemlich: eine -e Tracht Prügel bekommen; wir mussten a. draufzahlen.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) Conforme registado pelo DUDEN, não é possível traduzir o conceito de fair por uma única palavra verdadeiramente equivalente, recorrendo, assim, à paráfrase: den [Spiel]regeln entsprechend. Ora no discurso futebolístico, que se quer, de acordo com Koch, foneticamente apelativo, conciso e preciso, qualquer paráfrase estaria, à partida, condenada ao insucesso. Partindo do postulado de que a língua é uma construção viva e dinâmica, também a linguagem futebolística tem vindo a evoluir, sendo que actualmente se assiste a um ressurgimento de anglicismos no mundo do futebol, sem oposição significativa por parte dos linguistas. Pelo contrário, a crescente globalização e proliferação dos media internacionais nesta era digital potencia o recurso à língua inglesa, como lingua franca, em praticamente todos os domínios da sociedade actual, como exemplificado abaixo: “Wie wäre das Match gelaufen, wenn Frank Lampards korrektes Tor zum 2:2 anerkannt worden wäre?“ (In: www.kicker.de, 28.06.2010) “Der ehemalige Nürnberger Profi Robert Vittek, mit zwei Toren gegen die Squadra Azzurra Matchwinner, erklärte (...)“ (In: www.kicker.de, 27.06.2010) “In neun Stadien wurde gekickt – so weit, so gut.“ (In: www.bild.de , 26.06.2006) “Besonders schlimm bekommt Star-Keeper Gianluigi Buffon (32) sein Fett weg. Die Zeitung „La Repubblica“ lästert nach dem schwachen 1:1 gegen Paraguay.“ (In: www.bild.de, 15.06.2010) “Der Goalgetter des FC Liverpool, der nach überstandener Meniskusoperation auf seinen ersten WM-Einsatz in der Startelf brennt, weiß (...)“ (In: www.kicker.de, 20.06.2010) “Thomas Helmer war einer der letzten Kämpfer, die einen Titel holten. Beim Golden-GoalSieg über die Tschechen.“ (In: www.kicker.de, 29.06.2008) Apesar de reconhecermos esta tendência como um fenómeno omnipresente na imprensa desportiva, o estudo dos anglicismos não constitui parte integrante da nossa análise, também pelo facto de que no Wörterbuch der Fussballsprache (2006a) Burkhardt sublinhar que os anglicismos, embora cada vez mais populares, só constituem um porcento da totalidade dos 2200 termos analisados116. 116 Schlobinski (2010) apresenta na sua edição do DUDEN – Keeper, Elf und Gurkenpass – uma listagem da actual “Fussballsprache” alemã. Segundo o mesmo, trata-se de uma compilação proveniente de quatro domínios: 1. a terminologia técnica – “Fachsprache” 2. o jargão do futebol – “Fussballjargon” 3. a linguagem dos adeptos – “Fansprache” 151 Finalmente, convém relembrar que o presente corpus não inclui imagens mescladas que compõem, em grande parte, a terminologia técnica117 devido ao facto de, apesar de amplamente construídas a partir domínio-fonte da guerra, terem assumido, a nosso ver, o estatuto de metáfora convencionalizada ou lexicalizada, e a sua motivação metafórica estar, consequentemente, desvanecida, tal como já foi referido anteriormente: “Usuell gewordene Metaphern werden als neue Teilbedeutungen lexikalisiert, ”verblassen” dabei gewissermaßen und müssen dann natürlich nicht jedesmal im aktuellen Kontext neu entschlüsselt werden. (...) Zwar bleibt die Gewalt auf diese Weise im Ballsport semantisch präsent, doch sind die o.g. Metaphern inzwischen als normale Bezeichnungen von Spielsituationen und Spielhandlungen usueller Bestandteil der Sportsprache geworden und lassen so nicht ständig an ihre militärische Herkunft denken.“ (Burkhardt, 2008:75-76) Para a construção e análise sistemática do nosso corpus aproximamo-nos dos passos sugeridos num estudo de Schmitt118 (2005:370ff) e outro por Andriessen e Gubbins (2006:11-13) sobre imagens metafóricas no âmbito do discurso empresarial (Defining social capital: A systematic analysis of metaphorical conceptualisations) mas cuja metodologia se adequa perfeitamente aos nossos propósitos: 1. Identificação do alvo da pesquisa (Identifying the Target Area for Metaphor Analysis – Schmitt (2005:369); Andriessen/Gubbins (2006:11)); 2. Recolha e compilação de amostras (Unsystematic, Broad-Based Collection of Background Metaphors – Schmitt (2005:370), Sampling - Andriessen/Gubbins (2006:11)); 3. Destaque e realce para as manifestações linguísticas das imagens mescladas (Highlighting all phrases related to the target área - Andriessen/Gubbins (2006:12)); 4. Identificação das construções mescladas no texto (Identification of metaphors and deconstructive segmentation of the texts – Schmitt (2005:371), Identifying metaphors Andriessen/Gubbins (2006:12)); 4. a linguagem dos media – “Sprache der Fussballberichterstattung.” Também Burkhardt (2006a 2006b; 2008) procede a esta divisão: ”Mit Valk (1935: 567) verstehe ich unter Fußballsprache ”die Spezialausdrücke, deren sich alle Personen bedienen, die in irgendeiner Beziehung zum Fussballspiel stehen”, und darüber hinaus gemeinsprachliche Wörter, die im und um den Fußball spezielle Bedeutungen ausgebildet haben. Die Fußballsprache kann in Fußballfachsprache, Fußballjargon, Sprache der Fußballberichterstattung (Reportsprache) und Fansprache unterscheiden werden.“ (Burkhardt, 2008:73) 117 de acordo com uma listagem apresentada por Schlobinski (2010), seleccionamos as seguintes: Abwehr, Abwehrspieler, Angriff, Attacke, Defensive, Feld, Feldspieler, Flanke, Flügel, Gegenangriff, Gegner, Kapitän, Niederlage, Schuss, Sieg, Sturm, Stürmer, Stürmerfoul, Sturmspitze, Taktik, (Tor)Schütze, Verteildiger, Verteildigung, Zweikampf. 118 Schmitt (2005), Systematic Metaphor Analysis as a Method of Qualitative Research 152 5. Sintetização e agrupamento das conceptualizações metafóricas (Synthesis of collective metaphorical models – Schmitt (2005:372), Synthesising collective metaphorical concepts Andriessen/Gubbins (2006:12)). A fim de complementar a análise com uma abordagem quantitativa, decidimos incluir um sexto ponto, diferente das propostas de Schmitt (2005) e Andriessen/Gubbins (2006): 6. Conatbilização global (totalidade de domínios) e parcial (por cada domínio) das imagens mescladas identificadas (ponto 3.3.) Sublinhamos ainda que todas as ocorrências metafóricas recolhidas foram estudadas e avaliadas de acordo com o processo de identificação de metáforas (MIP - preconizado pelo Pragglejaz Group (2007)) tal como descrito por Krennmayr : “(…) the search for metaphorically used words can be tackled from the bottom up (Pragglejaz Group, 2007) – without presuming a specific conceptual metaphor. Only at a later stage are conceptual metaphors derived from the linguistic expressions that have been identified. (…) Similarly, Cameron (2003) puts metaphor in use at the center of attention, emphasizing the importance of taking context into account.” (Krennmayr, 2011:25) 3.2. Imagens mescladas dos jornais desportivos alemães – abordagem qualitativa Decidimos analisar as metáforas conceptuais, de acordo com Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), encontradas nas publicações on-line de um conjunto de jornais desportivos e suplementos desportivos dos jornais generalistas mais representativos (vide ponto 3.1.2.) aquando dos campeonatos europeus de 2004 e 2008 e campeonatos mundiais de 2006 e 2010. No que concerne o campeonato do mundo de 2010, foi, ainda, possível recolher ocorrências metafóricas da revista bissemanal Kicker-Sportmagazin, conforme referido anteriormente. Estas irão permitir analisar se existe alguma diferença significativa entre as manifestações linguísticas de conceptualizações metafóricas na imprensa em suporte digital ou de papel. Para efeitos de análise, as ocorrências metafóricas foram então subdivididas por domínios-fonte, tendo por base as macro-metáforas conceptuais119, conforme atestado na seguinte tabela: 119 “All metaphors belonging to the same image source and describing the same target area are grouped into metaphorical concepts under the main heading "target is source."” (Schmitt, 2005:372-373) 153 Futebol120 → Domínio-fonte Descrição Nº de Ocorr. 1. FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE Dá origem a realizações metafóricas cujo domínio-fonte incide sobre adversários, tácticas e meios técnicos e logísticos próprios do contexto da batalha e da guerra. Incide também sobre formas de violência física incluindo cenários de morte. 158 2. FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA Dá origem a imagens metafóricas cujos domínios-fonte são formas artísticas da área do cinema, teatro, pintura e outros espectáculos artísticos. 99 3. FUTEBOL É MÁQUINA e VEÍCULO Concretiza-se em elaborações metafóricas cujos domínios-fonte configuram máquinas diversas e veículos ou componentes de veículos. 77 4. FUTEBOL É JOGO - OUTRAS Dá origem a elaborações metafóricas cujos domíniosMODALIDADES DESPORTIVAS e JOGOS DE fonte se reportam a diferentes modalidades desportivas, SORTE bem como a jogos de sorte. 65 5. FUTEBOL É RELIGIÃO e MITOLOGIA Origina a construção de imagens metafóricas cujos domínios-fonte são relativos quer a rituais, figuras e episódios bíblicos, quer a figuras mitológicas. 56 6. FUTEBOL É ALIMENTO e AGRICULTURA Realiza-se em imagens metafóricas que tomam como domínios-fonte a produção agrícola e os produtos comestíveis. 52 7. FUTEBOL É TRAJECTÓRIA Realiza-se nas elaborações metafóricas que têm como domínio-fonte a imagem do percurso. 46 8. FUTEBOL É CONSTRUÇÃO/DESTRUIÇÃO Serve à elaboração de imagens metafóricas projectadas a partir dos domínios-fonte da construção ou demolição de edificações. 40 9. FUTEBOL É ANIMAL É realizada em imagens metafóricas que têm como domínios-fonte os animais, sua morfologia e comportamento. 39 10. FUTEBOL É REALEZA Concretiza-se em elaborações metafóricas cujos domínios-fonte respeitam à realeza, com especial destaque para os títulos nobiliários. 34 11. FUTEBOL É CULTURA E TOURADA É concretizada em imagens metafóricas construídas em torno do domínio-fonte das narrativas de matriz cultural europeia, bem que de matriz cultural especificamente alemã (incluindo contos de fadas e fábulas). Arquitecta igualmente realizações metafóricas cujo domínio-fonte é a tourada. 34 12. FUTEBOL É FENÓMENO NATURAL Origina a construção de imagens metafóricas cujo domínio-fonte é relativo a fenómenos naturais, tais como o vento e a chuva. 29 120 Entenda-se aqui como englobado no termo FUTEBOL todos seus intervenientes, individuais e colectivos, activos ou passivos, assim como o espaço físico do campo e/ou estádio de futebol, como também o jogo em si, isolado ou integrado num campeonato, incluindo estratégias e tácticas de jogo. 154 13. FUTEBOL É OBJECTO VALIOSO (e BRILHANTE) Origina imagens metafóricas cujos domínios-fonte são objectos de valor e/ou brilho, tais como o ouro ou diamantes. 28 14. FUTEBOL É EMPRESA (ECONOMIA) Constrói imagens metafóricas decorrentes do domíniofonte do mundo empresarial e económico. 22 15. FUTEBOL É CIMA/BAIXO Concretiza-se em elaborações metafóricas baseadas na orientação espacial cima – baixo. 21 16. FUTEBOL É CORPO HUMANO Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como domínio-fonte o corpo humano. 21 17. FUTEBOL É MAGIA Realiza-se em elaborações metafóricas que têm como domínio-fonte o universo da magia. 19 Origina configurações cujo domínio-fonte aprendizagem em contexto escolar. 18 18. FUTEBOL É MEIO ESCOLAR é a 19. FUTEBOL É DOENÇA OU MAL-ESTAR FÍSICO Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como domínio-fonte o domínio da doença ou do mal-estar físico. 18 20. FUTEBOL É SONHO Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como domínio-fonte cenários oníricos. 16 21. FUTEBOL É ARRUMAÇÃO e LIMPEZA Dá origem a representações metafóricas cujos domíniosfonte respeitam a arrumação, a organização e o asseio. 15 22. FUTEBOL É CALOR (FOGO) e FRIO (GELO) Origina uma realização metafórica que decorre do domínio-fonte do calor e do fogo, assim como do frio e do gelo. 14 23. FUTEBOL É COSTURA, VESTUÁRIO e ACESSÓRIO Concretiza-se em elaborações metafóricas cujo domíniofonte respeita à costura, peças de vestuário e acessórios de moda. 14 24. FUTEBOL É CAÇA Realiza-se em imagens metafóricas que têm como domínios-fonte cenários de caça. 14 25. FUTEBOL É COMUNICAÇÃO Serve à elaboração de imagens metafóricas projectadas a partir do domínio da comunicação. 13 26. FUTEBOL É ACONTECIMENTO HISTÓRICO Concretiza-se em elaborações metafóricas cujo domíniofonte respeita factos históricos. 10 27. FUTEBOL É APRISIONAMENTO/ LIBERTAÇÃO É realizada em imagens metafóricas que possuem como domínios-fonte objectos de aprisionamento. 9 28. FUTEBOL É NAVIO Dá origem a realizações metafóricas que apresentam como domínios-fonte a navegação marítima. 7 29. FUTEBOL É SONO Dá origem a imagens metafóricas que apresentam como domínio-fonte estados de adormecimento ou de despertar. 7 TOTAL: 995 Figura 24: Listagem dos domínios-fonte identificados (ordem quantitativa) Não foram considerados os domínios-fonte relativamente aos quais foi encontrado um número de manifestações metafóricas inferior a 5, devido ao facto de, a nosso ver, não atingirem um estatuto de representatividade. A ordem dos domínios-fonte acima exposta, corresponde à ordem decrescente do número total de ocorrências. 155 Devido ao elevado número de ocorrências e tendo em conta as dimensões deste estudo, optamos por seleccionar cerca de um terço das ocorrências (as que julgamos as mais interessantes) e aplicámos, a título exemplificativo, o referido modelo de redes de espaços mentais. Cada domínio-fonte surge acompanhado de uma breve contextualização e uma explicação sumária relativamente aos processos mentais subjacentes às respectivas realizações metafóricas. Tal como referimos anteriormente, o nosso corpus permitiu-nos identificar 29 domínios-fonte distintos. Contudo, por questões metodológicas de organização e desenvolvimento no que diz respeito às análises apresentadas nesta dissertação, consideramos pertinente fazer apenas referência aos domínios-fonte menos expressivos sem, porém, aprofundar a análise semiótica ou explanar pormenorizadamente as redes mentais subjacentes às diferentes realizações metafóricas identificadas. Consideramos que os domínios-fonte, cujo número de ocorrências se situa abaixo das 20, embora consideráveis e merecedores de menção, possuem uma representatividade relativa, tendo em conta o número total de ocorrências incluídas no nosso corpus. 3.2.1. Imagens mescladas: Futebol - Guerra, Violência e Morte Tendo em conta as observações já exploradas nos pontos anteriores, a metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA121, confronto, violência e morte, foi, de longe, a mais frequente e significativa, com um total de 158 ocorrências encontradas (135 ocorrências da imprensa digital e 23 ocorrências da imprensa tradicional). Estes resultados estão em sintonia com um conjunto interessante de estudos sobre a conceptualização metafórica do futebol, sendo o desporto o domínio-alvo e a guerra o domínio-fonte (vide ponto 2.1.) Esta projecção efectua-se através de uma série de correspondências, i.e. mapeamentos ontológicos e epistémicos entre os dois domínios. A guerra é entendida, aqui, na sua dimensão de experiência bélica concreta, executada através de um conjunto de elementos essenciais, indispensáveis à sua realização. Como experiência concreta, mas não necessariamente vivida, a guerra é conceptualizada como um confronto de dois adversários, dos quais se espera que um ganhe e que o outro seja derrotado: 121 vide Kövecses (2002:75) que considera as raízes culturais e históricas como uma das bases para a conceptualização metafórica: “the target domain took its historical origin as its source domain” e apresenta o exemplo da metáfora conceptual “Sport is war”. 156 “Es geht dabei darum, eine bildhafte Analogie zwischen dem Gemeinten und etwas vielleicht besser Bekannten herzustellen. Dies geschieht indem man die eine Sache einfach als die andere bezeichnet oder beide gleichsetzt. Weil in den Ballsportarten jeweils zwei Parteien um Sieg oder Niederlage ringen, ist zur Beschreibung der Spiele vor allem das Bild vom Krieg oder Kampf in besonderer Weise geeignet, das vielen inzwischen gängigen Bezeichnungen zugrunde liegt.“ (Burkhardt, 2006a:9) O confronto realiza-se com recurso a armas específicas e é organizado por etapas, por exemplo, avanços e recuos das partes envolvidas. O cenário é um campo de batalha para a qual são delineadas uma série de estratégias específicas. Para que a metáfora conceptual resulte, as características do domínio da experiência concreta são, então, mapeadas sobre o domínio-alvo, criando, assim, um mapeamento conceptual de correspondências entre os dois domínios: “Natürlich gilt das auch und in besonderem Maße für den Fußball, der von Anfang an nach dem Muster von Angriff und Verteidigung, Sieg und Niederlage konzipiert war: Im Rahmen dieses Modells werden daher Gegner attackiert und der Ball geschossen. Der Bomber der Nation kann eine Granate ins obere linke Eck abfeuern oder einen Kopfballtorpedo machen. Man kann dem Gegner ins offene Messer laufen, wenn man auf dessen Kontertaktik hereinfällt, mit offenem Visier kämpfen und das Spiel so zu einer offenen Feldschlacht werden lassen, in deren Verlauf Gegner niedergemetzelt werden und an deren Ende der Besiegte geschlagen vom Platz geht.“ (Burkhardt, 2008:75) As metáforas emergentes do domínio-fonte da guerra conceptualizam a maior parte dos desportos de competição. São frequentemente utilizadas para descrever os jogadores, suas acções e emoções antes, durante e após os jogos. Apesar dos mesmos assumirem o papel principal da competição, os mapeamentos estendem-se ao jogo em si, às tácticas de jogo, ao campeonato em questão, aos árbitros, treinadores e espectadores. O cenário conceptual de guerra torna-se quase omnipresente. Este facto é frequentemente criticado, apesar das analogias entre os domínios serem por demais óbvias: “In solchen Polemiken wird in der Regel übersehen, dass einige Grundzüge der Ballspiele und insbesondere des Fussballspiels eine Metaphorik aus dem Bereich des Militärwesens durchaus naheliegend und sinnvoll erscheinen lassen. Der Ablauf eines Fuβballspiels hat augenfällige Parallelen zu einer ,klassischen Feldschlacht: Zwei Parteien stellen sich auf einem Feld zum Kampfe auf und treten, angeführt von einem Spielführer, mit dem erklärten – und im Sport legitimierten – Ziel an, den Gegner zu besiegen, zu schlagen; man spielt nicht mit einer anderen Mannschaft, sondern spielt, kämpft gegen den Gegner. Die Aufstellung der Mannschaft erfolgt nach einem ausgeklügelten Plan, man formiert sich in Reihen, wobei 157 jeder Reihe bestimmte, vorher verabredete und festgelegte Funktionen zukommen: Verteidigung des eigenen Bereichs: die Defensive, Angriff auf den gegnerischen Bereich: die Offensive.“ (Dankert, 1969:122-123) Mapeamentos baseados na macro-metáfora da guerra são muito comuns e abrangem, para além do desporto, outros domínios. Já Lakoff, Johnson (1980a) defendiam e existência das metáforas estruturais LOVE IS WAR e ARGUMENT IS WAR122: “The point here is that not only our conception of an argument but the way we carry it out is grounded on our knowledge and experience of physical combat. Even if you have never fought a fistfight in your life, much less a war, but have been arguing from the time you began to talk, you still conceive of arguments, and execute them, according to the AGRUMENT IS WAR metaphor because the metaphor is built into the conceptual system of the culture in which you live.” (Lakoff, Johnson, 1980a:63-65) Lakoff e Johnson (1980a:68) evidenciam claramente o contexto cultural subjacente à conceptualização metafórica: “(…) all have a strong cultural basis. They emerged naturally in a culture like ours because what they highlight corresponds so closely to what we experience collectively and what they hide corresponds to so little. But not only are they grounded in our physical and cultural experience; they also influence our experience and our actions.” Se é verdade que a conceptualização do conceito é geralmente unidireccional123 pois processa-se, na maioria dos casos, no sentido do conceito abstracto para o mais concreto - “If such metaphorical understandings exist, then it would make sense that semantic change would manifest a general pattern, a movement from the more concrete and physical toward a more abstract and nonphysical. There is ample evidence of just such a directionally change.” (Johnson, 1987:107f) - no caso do futebol, o processo de conceptualização não pressupõe, aparentemente, a referida necessidade de concretização de conceitos abstractos, pois o jogo de futebol é igualmente concreto. Assistiu-se sim, a nosso ver, a uma necessidade conferir a este desporto, principalmente aquando do seu aparecimento na era moderna (vide ponto 3.1.1.), um conjunto de termos específicos que ilustrassem de forma eficaz a estrutura, a construção e o funcionamento desta competição. Neste contexto, o domínio-fonte da guerra afigurou-se como ideal para realçar e evidenciar as características do jogo competitivo, tal como referimos anteriormente. Existem, por exemplo, evidências que reforçam o contexto guerreiro como motivação imediata. O aparecimento e proliferação do futebol moderno, nos 122 Vide Lakoff, Johnson (1980:61-64) e Ungerer, Schmid (1996:123) que optam pelo modelo cognitivo mais específico da batalha (BATTLE). 123 vide também Lakoff/Johnson (1980a:109), Sweetser (1990:30) e Jäkel (1999:385, 2002:28) 158 finais do século XIX e início do século XX, coincidiu não somente com o início da Industrialização, como também se assistia à forte presença de um clima militar: “Was das Militärische in der Fuβballsprache betrifft, so liegen die Anfänge der Fuβballbewegung in einer Zeit, in der das Militär einen beherrschenden Einfluβ auf das tägliche Leben ausübte. Die Zeit zwischen der Mitte des 19. und dem Beginn des 20. Jahrhunderts war eine Ära, in der militaristische Töne eine Politik des Säbelrasselns untermalten und das nationale wie individuelle Selbstverständnis und die Handlungsweisen, damit auch die Sprache, prägen muβten.So entwickelte sich der Sport und gerade ein solches betont auf Kampf eingestelltes Spiel wie der Fuβball in seiner Terminologie eine Aufnahmebereitschaft (…)“ (Gerneth, Schaefer, Wolf, 1971:209-210) Esta vertente bélica estava igualmente presente nas escolas e na educação em geral, daí que muitos dos desportistas tenham, na altura, usufruído de uma educação militar o que facilitava e potenciava a compreensão de um discurso guerreiro. Historicamente, sempre existiu uma estreita relação entre a prática do futebol e a guerra. Os primeiros registos de um desporto jogado com bola, extremamente violento (muitas vezes, a cabeça decepada de um inimigo substituía a bola), em que se utilizavam os pés para impulsioná-la, remontam à China, onde se encontram registos de 2600 a.C., sobre a prática de um jogo chamado "Tsu Chu” (bater com os pés numa bola) usada para o treino militar e a sua variante Japonesa chamada “Kemari”, cerca de 500 anos mais tarde124. Durante toda a Idade Média, e por muitos séculos depois, realizou-se na Inglaterra um jogo de bola que pode ser considerado o mais importante precursor do futebol moderno. A disputa acontecia cada Shrove Tuesday (terça-feira gorda), entre os habitantes da cidade: um número ilimitado de participantes (por vezes de 400 a 500 de cada lado) corria atrás de uma bola de couro com 124 “Die früheste Form des Spiels, die wissenschaftlich belegt ist, findet man in einem chinesischen Militärhandbuch aus dem zweiten bzw. dritten Jahrhundert vor Christus. Dieses erste als "Tsu' Chu" bezeichnete Ballspiel aus der Han-Dynastie bestand darin, einen mit Federn und Haaren gefüllten Lederball durch eine nur 30 - 40 cm breite Öffnung in ein schmales Netz zu befördern, das an zwei langen Bambusstangen befestigt war. In einer Variante dieser Übung konnte der ballführende Spieler nicht frei darüber entscheiden, wie ein Punkt erzielt werden sollte. Der Ball durfte lediglich mit den Füßen, der Brust, dem Rücken und den Schultern gespielt werden, während es gleichzeitig galt, die Gegenspieler auf Distanz zu halten. Die Zuhilfenahme der Hände war schon damals untersagt. Eine andere Variante des Spiels, die ebenfalls in Fernost ihre Wurzeln hat, ist das japanische Kemari, das ca. 500 600 Jahre später entstand und noch heute gespielt wird. Es handelt sich hierbei allerdings um eine Variante, die im Gegensatz zu "Tsu' Chu" auf eine kampfbetonte Balleroberung verzichtet. Die in einem Kreis stehenden Akteure spielten sich dabei auf relativ engem Raum gegenseitig den Ball zu, ohne dass dieser den Boden berühren darf. Das griechische "Episkyros" - von dem es nur noch wenige Überlieferungen gibt - war weitaus aktiver als das römische "Harpastum". Letzteres wurde von zwei Mannschaften mit einem kleineren Ball auf einem rechteckigen Feld gespielt, das über Außen- und Mittelinie verfügte. Ziel war es, den Ball über die Außenlinie der gegnerischen Mannschaft zu befördern. Da sich die Spieler gegenseitig den Ball zuschoben, war eine ausgefeilte Technik von Vorteil. Das Spiel blieb in den nächsten 700 bis 800 Jahren noch recht populär und wurde von den Römern auch nach Großbritannien gebracht, doch es konnte sich nie als echtes Fussballspiel durchsetzen.“ (In FIFA – Federação Internacional de Futebol Associado: http://de.fifa.com/classicfootball/history/game/historygame1.html [Consult. 18.12.2010]) 159 o objetivo de a alcançar, dominar e levar até a meta adversária, i.e. às portas norte e sul da cidade inglesa de Ashbourne. Nessa disputa, o jogo festivo-militar representava a expulsão dos dinamarqueses quando estes exerciam domínio parcial do território anglo-saxónico. A bola representava a cabeça de um oficial do exército invasor. Por fim, convém destacar os acontecimentos bélicos que marcaram o século XX, século em que o futebol adquiriu o estatuto de desporto mais popular do mundo125, a saber, a primeira e a segunda guerra mundial, assim como um conjunto significativo de confrontos regionais. A acrescentar, ainda, relembramos a época da guerra fria que deu origem a um clima global de tensão política e militar durante mais de 40 anos (1945-1991). Contudo, defendemos que as analogias entre os dois domínios configuram a maior motivação para a criação de imagens mescladas e daí, ultrapassarem amplamente estes contextos históricos. De facto, o domínio-fonte da guerra continua a evidenciar-se como bastante produtivo: “Andererseits bleibt das Modell Krieg insofern weiterhin produktiv, als es eine Ressource für die Bildung neuer militärischer Metaphern darstellt, über die ständig verfügt werden kann und wird.“ (Burkhardt, 2008:76) A função das imagens mescladas na imprensa desportiva não reside, contudo, na instigação ou na reanimação do espírito militar, no verdadeiro sentido da palavra, apesar do jornalismo desportivo ser frequentemente alvo dessa crítica. Ao usar a expressão Panzer quando se refere a um determinado jogador, não tem em mente o veículo militar concreto, mas sim as suas características mais salientes e significantes – tais como força e robustez assim como o facto de ser de difícil de deter. Fingerhut realça: “Der Kritiker, der Begriffe wie „Offensive“, „Defensive“, „Taktik“ und „Scharfschützen“ nicht lesen kann, ohne an Stalingrad zu denken, legt dann wohl eine übertriebene Sensibilität an den Tag. Schließlich basiert bei Fußballspielen die Analogie zwischen Sportsprache und Kriegsmetaphorik auf dem natürlichen antagonistische Handlungsmuster.“ (Fingerhut, 1991:55) Contudo, discute-se se existe algum exagero por parte do jornalismo desportivo no recurso às metáforas de guerra – Kriegsmetaphorik – e se reflectem uma criatividade linguística genuína, partilhada pela comunidade falante, ou se se tornou apenas uma estratégia sensacionalista para mais facilmente vender o produto futebol. Acreditamos que possa ser uma conjugação dos dois factores. Com efeito, o domínio-fonte da guerra revela-se como fonte quase inesgotável de imagens análogas o que permite ao jornalismo desportivo variar e inovar o 125 “(…) one in every twenty five of the world’s population – a fact which on its own corroborates football’s position as the number one sport in the world (…)” (FIFA, In: http://www.fifa.com/aboutfifa/media/newsid=529882.html [Consult. 19.12.2010]) 160 discurso, contando, simultaneamente, com o conhecimento partilhado por parte dos leitores e, subsequentemente, com a descodificação imediata das imagens utilizadas: “Die starre und gewissermaβen zementierte Metaphorik dieses Vokabulars bietet dem Sportkommunikator den Vorteil, nicht um den jeweils adäquaten Ausdruck und die jeweils treffende Formulierung ringen zu müssen. Mit der Verwendung dieses Vokabulars kann er sein Fachwissen ausweisen und sich zudem darauf verlassen, daβ der Leser auf dieses Vokabular eingespielt ist und es vielleicht mit derselben Sicherheit beherrscht.“ (Dankert,1969:58) O nosso corpus, porém, prova que a produtividade da imprensa desportiva não se limita exclusivamente ao domínio-fonte da guerra. A monotonia do discurso militar é quebrada com o recurso a um número significativo de outros domínios-fonte, igualmente inteligíveis pelos leitores devido à sua experiência vivida, ao seu conhecimento do mundo (Weltwissen) e à partilha cultural e intercultural: “(…) metaphor and its relation to thought as cognitive webs that that extend beyond individual minds and are spread out into the cultural world. There are two parts of this message. First, our understanding of what is conceptual about metaphor involves significant aspects of cultural experience, some of which is even intimately related to our embodied behavior. Under this view, there need not be a rigid distinction between cultural and conceptual metaphor. Second, public, cultural representations of conceptual metaphors have an indispensible cognitive function that allows people to carry less of a mental burden during everyday thought and language. This possibility suggests that important parts of metaphoric thought and language are as much part of the cultural world as they are internalized mental entities in our heads.” (Gibbs, 1997:146) De acordo com Brandt (2004a), Brandt/Brandt (2005a) iremos demonstrar através do Modelo das Redes Mentais como as estruturas mescladas são construções semióticas que ocorrem no contexto da comunicação (englobando o receptor e a situação) e são representadas do domínio-fonte para o domínio-alvo, tal como preconizado pela teoria conceptual da metáfora. A macro-metáfora conceptual FUTEBOL É GUERRA, na qual incluímos o conceito de violência, sugere a seguinte rede mental: 161 Espaço Semiótico de Base Espaço de Apresentação Acções/ Tácticas Espaço de Referência Intervenientes Jogador GUERRA/ VIOLÊNCIA Expressões metafóricas FUTEBOL Outros Intervenientes Locais Eventos Equipa Objectos Cenário do confronto físico entre duas partes (duelo)/ Esquema dinâmico da força e contra-força FUTEBOL COMO GUERRA Campeonato Jogo/ Jogada Espaço Virtual (Blend) Esquema Dinâmico de Relevância (Relevance Schema) Inferências Emergentes Futebol é luta, força, empenho total e organização para Unidos pelo desejo inabalável de vitória Espaço do Significado ganhar o jogo Figura 25: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Guerra No espaço semiótico de base encontra-se a expressão metafórica, integrada no texto jornalístico dos jornais desportivos que, por sua vez, fazem parte da esfera social, económica e cultural de uma determinada comunidade linguística. O espaço de Apresentação configura o domínio-fonte, a GUERRA, enquanto o espaço de Referência evidencia o domínio-alvo, o FUTEBOL. No que concerne o domínio-fonte, reconhecemos um conjunto de cinco subcategorias, a partir das quais se processam os mapeamentos – aqui representadas por pequenas esferas inseridas no espaço de Apresentação. Relativamente a estas sub-categorias, foram identificadas imagens mescladas que se baseiam no princípio da homogeneidade: os intervenientes (por exemplo, soldados por um lado e jogadores por outro) são conceptualizados de forma semelhante na medida em que são realçadas e evidenciadas determinadas características que servem aos processos de mapeamento. Desde o aspecto físico a traços psicológicos e emocionais, muitas são as vertentes podem servir como base para os diferentes mapeamentos. Tendo em conta a totalidade dos possíveis intervenientes (e entenda-se por interveniente tanto um indivíduo 162 isolado como um grupo de pessoas) que participam num cenário de guerra ou num jogo de futebol, a riqueza de mapeamentos torna-se evidente. Registe-se a ocorrência de fenómenos idênticos relativamente às restantes quatro vertentes ou subcategorias : os locais (por exemplo: o campo de batalha e o estádio de futebol), os objectos (por exemplo: a bala de canhão e a bola de futebol), os eventos (por exemplo: uma batalha e um jogo), e as acções e tácticas (por exemplo: um disparo e um chuto). Optamos por juntar as vertentes acção e táctica devido ao facto da execução de uma táctica só ser visível através da respectiva acção, motivada pela mesma. No que concerne a categoria dos eventos, incluímos as ocorrências do jogo despoletadas por acções específicas, por exemplo, um golo é um evento que resulta da acção do remate à baliza. As imagens mapeadas revelam-se particularmente criativas pois um interveniente do domínio-alvo pode ser conceptualizado como um objecto do domínio-fonte, por exemplo, um jogador é um Panzer. Assiste-se, assim, a fenómenos de personificação ou, pelo contrário, de objectivação. No espaço virtual, ou Blend, as referidas características mais salientes do domíniofonte GUERRA e as do mundo do futebol são conceptualmente mescladas (representado por setas simples ( )) o que origina a mescla FUTEBOL COMO GUERRA. Para que a mescla virtual faça sentido, os esquemas dinâmicos do espaço de relevância são projectados no espaço virtual, imprimindo lógica e sentido ao significado final. Estes esquemas dinâmicos provém, por sua vez, do espaço de semiótico de base, nomeadamente, da esfera do conhecimento individual, social e cultural. Neste caso, os esquemas de relevância patenteiam o conhecimento que o leitor possui acerca dos domínios, tanto da guerra como do jogo de futebol: em ambas as situações trata-se de um confronto – militar ou desportivo - entre duas partes oponentes, cujo propósito é alcançar a vitória. O Espaço semiótico de Base, o Espaço de Relevância e o Espaço virtual estão ligados por setas de ponta preenchida ( ) que representam o percurso para a construção de significado. O espaço de relevância não foi representado por um círculo, tal como os outros espaços, devido ao facto do mesmo não configurar um espaço mental idêntico aos restantes. De acordo com Brandt (2010:9) trata-se sim de “a certain schema, for example of cultural norms and ethical principles making it relevant for consideration”, reflectindo o domínio experiencial do conhecimento do mundo real. Mantendo a terminologia avançada pela maioria dos estudos efectuados por Brandt e Brandt/Brandt, concluímos que a representação deste espaço em forma de rectângulo melhor realça a diferença entre os níveis de conceptualização. 163 O Espaço do Significado é, por fim, o resultado emergente dos processos conceptuais anteriores (representado por uma seta em bloco ( )126). Este significado mesclado pressupõe a compreensão concreta por parte do leitor da intencionalidade do texto jornalístico, quando confrontado com a metáfora conceptual, ou seja, “understanding and experiencing one kind of thing in terms of another” (Lakoff/Johnson, 1980a:5). A mensagem subjacente à mescla FUTEBOL COMO GUERRA pode ser generalizada da seguinte forma: no futebol há luta, poder e força, empenho total e organização de equipa. Ao reconhecer estas características do futebol, o leitor ou espectador - adepto ou simples simpatizante deste desporto - identifica o principal objectivo e a motivação inerente à competição: o desejo de vencer. Esta inferência é, por último, remetida para o Espaço Semiótico de Base e poderá, assim, ser indicadora do sentimento de união em torno de desejo de vitória. Apresentamos, de seguida, uma tabela com as ocorrências que evidenciam as expressões metafóricas identificadas, a fim de corroborar a teoria apresentada. A tabela está subdividida por cinco partes - os mirco-cenários da guerra - correspondentes às subcategorias supra mencionadas: a) as acções/tácticas, b) os intervenientes, c) os eventos, d) os objectos, e) os locais, organizadas por ordem decrescente de frequência em termos de número total de ocorrências. Segue-se uma análise de cerca de um terço das ocorrências de forma a expor a arquitectura de espaços mentais que conduziu a uma dada mensagem. 126 a diferenciação entre os tipos de setas corresponde à proposta de Brandt/Brandt (2005a:33) 164 a) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Acções/Tácticas (58 ocorrências) EURO 2004 (12) (1) Die Italiener steigerten sich nach der Pause, doch der gute dänische Keeper Sörensen entschärfte einige brenzlige Situationen. (www.kicker.de – 14.06.2004) MUNDIAL 2006 (13) (13) Andererseits musste die deutsche Abwehr höchste Konzentration aufbieten, denn das Mittelfeld der Costa Ricaner suchte immer wieder Wanchope, der permanent auf den tödlichen Pass wie vor dem Ausgleich lauerte. (2) Die Schweden triumphierten mit einem (www.kicker.de – 09.06.2006) insgesamt etwas zu hoch ausgefallenen Erfolg, da Bulgarien lange Zeit ein mehr als (14) Viduka hämmerte den Ball in mittlerer gleichwertiger Gegner war. Position flach links an der Abwehrmauer (www.kicker.de – 14.06.2004) vorbei (...). (www.kicker.de – 12.06.2006) (3) Der Wolfsburger Martin Petrov flankte zu Jankovic, der den Ball aus acht Metern (15) "Les Bleus" hatten ihr Pulver bis auf volley neben den linken Torpfosten eine Szene kurz vor dem Schlusspfiff bereits hämmerte. im ersten Durchgang verschossen. (www.kicker.de – 14.06.2004) (www.kicker.de – 13.06.2006) (4) Zudem hatten Jankulovski, Rosicky und Poborsky bei guten Schussgelegenheiten das Visier nicht exakt genug eingestellt oder scheiterten an Torhüter Kolinko. (www.kicker.de – 15.06.2004) (5) Marek Heinz rettet die Tschechen Erst zwei Tore in den letzten 17 Minuten verhinderten eine Blamage gegen die sich tapfer wehrenden Letten. (www.spiegel.de – 16.06.2004) (6) Zu sehr versuchten die Nordeuropäer durch die Mitte zum Erfolg zu kommen, und dort stand die Innenverteidigung mit Nesta EURO 2008 (6) (26) (...) die Squadra Azzurra suchte mit aller Gewalt den Weg in die Spitzen, fand aber nicht entscheidend zum Abschluss. (www.kicker.de – 09.06.2008) MUNDIAL 2010 (28) (32) WM-Vorbereitung Löw über Poldi: „Wird bei der WM explodieren“ (www.sportbild.bild.de – 24.05.2010) (33) „Wir haben optimale Bedingungen“, sagt (27) Pranjic bediente von links Klasnic, der Friedrich, „und sind gerüstet für die WM.“ diesmal sein Visier besser eingestellt (Kicker Sportmagazin Nr. 47 – 23. Woche 10.06.2010, p.2/3) hatte und die Kroaten mehr als verdient mit 1:0 in Front schoss (53.). (34) Bei den folgenden wütenden Attacken der Mexikaner war auf Khune Verlass: In der 60. (www.kicker.de – 16.06.2008) Minute entschärfte der Schlussmann einen (28) Kapitän Michael Ballack weiß: „(...) Schuss von dos Santos. jeder Spieler muss natürlich auch seine (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010) eigene Balance finden und sehen, dass er für das nächste Spiel gut gerüstet ist. (35) Diese defensivere Marschroute mag Entscheidend ist der Erfolg, nichts effektiver für das Team sein. Sie ist aber definitiv schädlich für Ronaldo. anderes.“ (www.bild.de - 22.06.2008) (www.sportbild.bild.de – 09.06.2010) (16) Auch kurz darauf konnte Nunez einen (29) Torbinskiy und Arshavin versetzen (36) (...) doch die Marschroute ging nicht auf, Querpass von Ibrahimovic im letzten den Todesstoß weil ausgerechnet die Abwehr in den Moment vor dem einschussbereiten (www.kicker.de – 21.06.2008) entscheidenden Momenten patzte. Larsson entschärfen (16.). (30) Deshalb kann die Devise nur lauten: (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (www.kicker.de – 15.06.2006) Schlagt die Spanier in der Luft! (37) Gegen die überfallartigen Angriffe der (17) (...) doch auch ohne die Künste des (www.bild.de – 28.06.2008) Südkoreaner (...) fand die Abwehr um Senior Georgios Katsouranis auch weiterhin kein Turiners marschierte Frankreich nun einem sicheren Sieg entgegen. (31) „Vamos, España!“ Vorwärts Spanien! Rezept. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (www.kicker.de – 23.06.2006) So wollen die Spanier ihre Mannschaft (38) Der Bundestrainer sieht sich und sein Team heute abend anfeuern. Grund: Mit (18) In der Schlussphase agierten dann diesem Schlachtruf wurden die Spanier bestens gewappnet für das 50. Länderspiel unter seiner Leitung. beide Teams mit offenem Visier. 1964 zum einzigen Mal Europameister. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (www.kicker.de – 12.06.2006) (www.bild.de – 28.06.2008) (39) Niederlande begann gegen erwartungs- 165 und Cannavaro bombensicher. (www.kicker.de – 18.06.2004) (19) Bondscoach Marco van Basten unterstützte nun die offensive Marschroute mit der Hereinnahme von van der (7) "Trapattoni verurteilt Italien zum Tode" Vaart. Dem ehemaligen Bayern-Coach wird die (www.kicker.de - 12.06.2006) Hauptschuld am verpassten Sieg gegen Schweden gegeben. (20) Bis zur Pause spielten beide Teams (www.spiegel.de – 19.06.2004) dann mit offenem Visier, ohne jedoch weitere Treffer hinzufügen zu können. (8)"Gegen Tschechien mit Wut im Bauch" (www.kicker.de – 27.06.2006) Für Deutschland geht es im Spiel gegen Tschechien um alles. Nur mit einem Sieg (21) José Pekermans Spieler bewiesen ihre erreicht die DFB-Elf auf jeden Fall das EM- taktische Reife, standen bis auf wenige Ausnahmen bombensicher in der Ordnung Viertelfinale. (...). (www.kicker.de – 30.06.2006) (www.spiegel.de - 20.06.2004) (22) Doch damit hatten die Franzosen ihr (9) (...) als der eingewechselte Nuno Gomes Pulver vor der Halbzeit auch schon nach einem Zuspiel von Figo blitz-schnell verschossen (...) abschloss und sein Rechtsschuss im langen (www.kicker.de – 01.07.2006) Eck zum Führungstreffer für das Gastgeberland einschlug (57.). (...) Nun (23) Da ballerten sich die Klinsmänner mit wurde die Partie rassig, weil die Spanier das ihrem tollen Offensiv-Fußball (...) in unsere Visier öffnen mussten. Herzen. (www.kicker.de – 20.06.2004) (www.bild.de – 05.07.2006) (10) Deutschland ging bedächtig in die Partie, wollte keinesfalls den Tschechen ins offene Messer rennen und spielte zunächst aus einer sicheren Deckung heraus. (www.kicker.de – 22.06.2004) (24) Erst killt er Deutschland im Halbfinale, dann knallt er Italien im Elfmeterschießen zum Weltmeister-Titel. Fabio Grosso, um 22.40 Uhr verwandelt er am 9. Juli den entscheidenden Strafstoß zum 6:4-Finalsieg gegen Frankreich. (11) Im weiteren Verlauf der ersten Hälfte (www.bild.de – 09.07.2006) änderte sich wenig an diesem Bild. Malouda und Ribery setzten gefährliche Fernschüsse, (25) 7. Minute: Malouda marschiert in den die Agassa jedoch entschärfen konnte. italienischen Strafraum. (www.kicker.de - 23.06.2004) (www.bild.de – 09.07.2006) gemäß tiefstehende Japaner mit viel Ballkontrolle. Das Leder zirkulierte flüssig durch die Reihen der Elftal, den ersten Torschuss feuerte Sneijder aber per direktem Freistoß ab (9.). (www.kicker.de - 19.06.2010) (40) Deutschland, ein harter Hieb von den Serben. (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (41) Nach dem 1:0 kombinierten die Portugiesen bis zum Strafraum flüssig, es fehlte aber zunächst noch der tödliche Pass in die Spitze. (www.kicker.de – 21.06.2010) (42) Die Begegnung bot enormen Unterhaltungswert, weil beide Mannschaften mit offenem Visier agierten. (www.kicker.de – 21.06.2010) (43) Von Nordkorea, das sichtlich angeschlagen war, kam derweil nichts mehr. (www.kicker.de – 21.06.2010) (44) (...) Die bereits früh dezimierten Franzosen verabschiedeten sich sang- und klanglos aus dem Turnier. (www.kicker.de – 22.06.2010) (45) (...) doch der tödliche Pass wurde mehrfach ausgelassen. (www.kicker.de – 23.06.2010) (46) Die Ghaner übernahmen dann in der Schlussviertelstunde etwas mehr das Kommando, doch Neuer & Co. waren nun zumeist auf dem Posten. (www.kicker.de – 23.06.2010) (47) Miroslav Klose: „Ich hatte erwartet, dass die Engländer angesichts ihrer historischen Chance mit Messern zwischen den Zähnen auf den Platz kommen. Nach fünf bis sieben 166 (12) (...) und Makaays anschließende Flanke hämmerte van Nistelrooy per Volleyschuss knapp daneben. (www.kicker.de – 24.06.2004) Minuten wusste ich aber, dass wir gewinnen.“ (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (48) Mexiko hatte viel Kraft gelassen und sein Pulver verschossen (...) (www.kicker.de – 26.06.2010) (49) Müller schießt England ab (www.kicker.de – 27.06.2010) (50) (...) Überhaupt hatten beide Mannschaften ihr Visier bis zur Pause nicht genau genug eingestellt. (www.kicker.de – 03.07.2010) (51) Auch Pantelic kam noch (für Zigic) - doch dann schlugen die Australier zu: Cahill setzte sich im Luftduell gegen den um fünf Zentimeter größeren Vidic durch und traf per Kopf. (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (52) Deutschland schiesst Argentinien ab – DFBElf gewinnt 4:0 (Spiel Gegen Argentinien) (www.kicker.de/news/video) (53) Erst das Verteildigen, dann das Toreschiessen. (...) Der eigene Strafraum wird verbarrikadiert, das Mittelfeld su einer undurchdringbaren Zone verfestigt. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.11) (54) Weltweite Berühmtheit erlangte der Profi von Ajax Amsterdam ohnehin durch eine „Heldentat“ der etwas anderen Art. Im Viertelfinale gegen Ghana schlug Suarez in der letzten Minute der Verlängerung einen Kopfball von Dominic Adiyiah mit beiden Händen von der Linie. (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010) (55) Mit Forlán und Suarez gegen Deutschland 167 Uruguay-Trainer: „Werden bis in den Tod vorbereitet sein!“ (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010) (56) Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. Grosser Kampf soll fehlende Klasse wettmachen. (…) (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.174) (57) (...) weil Lahm losdribbelt, instinktsicher nach innen kurvt und dann feuert. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.29) (58) Ungeschlagen marschierte die Nationalelf durch die WM-Qualifikation (...). (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.21) b) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE – Categoria: Intervenientes (37 ocorrências) EURO 2004 (8) (59) "Legionär" Morientes, von Real Madrid an den AS Monaco ausgeliehen, durfte sich als einzige nominelle Spitze versuchen. (www.kicker.de – 12.06.2004) (60) Das Leder rauschte an Freund und Feind vorbei, klatschte an den zweiten Pfosten und von dort ins Tor. (www.kicker.de – 15.06.2004) (61) Lettische Tränen, erleichterte Tschechen und ein fulminantes Duell unter Erzrivalen. (www.spiegel.de – 16.06.2004) (62) Zudem ließ er Sturmführer Vieri auf der Bank. MUNDIAL 2006 (3) EURO 2008 (7) (67) Bei Australien setzte Coach Guus (70) In dieser standen mit Keeper Hiddink ausschließlich auf Legionäre, die in Casillas, Abwehrchef Puyol, den Mittelfeldspielern Xavi und Iniesta sowie ganz Europa ihre Brötchen verdienen. (www.kicker.de – 12.06.2006) Stürmer Torres - im Übrigen der einzige Legionär in der Anfangsformation (...) (68) Jens Lehmann: Neben Italiens Buffon (www.kicker.de – 10.06.2008) der beste Torwart der WM. Immer sicher, immer cool. Gegen Argentinien als (71) Dass würde mich mit Stolz erfüllen, Elfmeter-Killer Deutschlands Matchwinner. eines Tages Nationaltrainer zu sein", (www.bild.de – 05.07.2006) sagte Didier Deschamps, Kapitän der Weltmeister- und Europameisterelf von (69) In unserem Finale der Herzen wurde 1998 und 2000 gegenüber der Bastian Schweinsteiger (21) zum Helden. Tageszeitung Le Monde. Der in seiner Zwei Knaller-Baller-Tore geschossen, das aktiven Zeit (102 Länderspiele) früher als dritte (...) per Gewalt-Schuß erzwungen. General bezeichnete Deschamps (...) (www.bild.de – 09.07.2006) (www.kicker.de - 16.06.2008) MUNDIAL 2010 (19) (77) Unsere WM-Helden verraten: So holt Deutschland den vierten Titel (www.sportbild.bild.de – 10.06.2010) (78) Der General pokert. Nach dem sensationellen Auftaktsieg gegen Europameister Spanien will die Schweiz am Montag (16 Uhr) gegen Chile in Port Elizabeth nachlegen. Vor dem Duell der beiden Gruppenführenden fordert Nationaltrainer Ottmar Hitzfeld von seinen Spielern einen "kühlen Kopf". Der "General" sieht sein Team gegen die starken Südamerikaner trotz des 1:0 über die Iberer in der Außenseiterrolle. (www.kicker.de - 20.06.2010) (79) Beim 2:0 gegen Honduras: Spaniens Tor- 168 (www.kicker.de – 22.06.2004) (63) England brachte Owens frühe Führung nicht über die Runden, hielt jedoch bis zum Schluss tapfer dagegen. Keeper Ricardo wurde im Elfmeterschießen zum Held des Abends. (www.kicker.de – 24.06.2004) (64) Griechenlands neuer Volksheld Otto Rehhagel konnte im "Estadio Dragao" wieder seine Stammelf auflaufen lassen. (www.kicker.de – 29.06.2004) (65) Niederlande: EM-Teilnahme kam für Arjen Robben (20) unverhofft: Ein Rückkehrer als Triumphator (www.kicker.de – 30.06.2004) (66) "Alle morgen ins Panathinaikon Stadion. Wir empfangen unsere Helden", rief das griechische Fernsehen seine Zuschauer zum Kommen auf. (www.spiegel.de – 05.07.2004) (72) So blieb der Außenseiter letztlich Held Villa doch noch auf der Strecke in der (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010) "Todesgruppe" C. (80) Dann foulte er den deutschen Kapitän (www.kicker.de – 17.06.2008) Michael Ballack so schwer, dass dieser für die (73) Bastian Schweinsteiger ist nach WM ausfiel. Einige erklärten Boateng deshalb zu seinem Superspiel gegen Portugal der Deutschlands Staatsfeind Nummer eins. (www.sportbild.bild.de – 22.06.2010) Held des Nationalteams. Es ist nicht nur ein großes Comeback - sondern ein ganz (81) Als Tabellenerster trifft Deutschland am Sonntag in Bloemfontein auf den Erzrivalen persönlicher Triumph. England. (www.kicker.de . 23.06.2010) (www.spiegel.de – 20.06.2008) (74) Montag Mega-Party mit den Fans (82) Harry Kewell: „Er ist Richter, Jury und Henker. Der Typ hat meine WM gekillt.“ EM-Helden feiern in Berlin (Australiens Stürmer nach seinem Platzverweis (www.bild.de – 27.06.2008) gegen Ghana über Schiedsrichter Roberto (75) Das deutsche Spiel? Tot und virtuell Rosetti) (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) im Wiener Nachthimmel, mit Kroaten, (83) Schweinsteiger agierte dabei als Portugiesen, Türken und all den anderen "Generalbeauftragter" in Sachen Messi, der ausgeschiedenen Teams. zunächst unauffällig blieb. (www.focus.de – 29.06.2008) (www.kicker.de – 03.07.2010) (76) So schnell geht das im Fußball. Vom (84) Stürmer mit Killer-Instinkt: David Villa Depp zum Helden in wenigen Tagen. schoss bei dieser WM fünf von sechs Toren der (www.focus.de – 30.06.2008) Spanier. (www.sportbild.bild.de – 07.07.2010) (85) Andres Iniesta wurde in der 116. Minute vor den Augen der jubelnden Königin Sofia und des spanischen Kronprinzenpaares Felipe und Letizia zum neuen Helden des spanischen Königreichs. (www.sportbild.bild.de – 11.07.2010) (86) Warten auf die Entscheidung – Die müden Helden sind zurück (WM-Elf Ankunft in Deutschland nach der WM) (www.kicker.de/news/video) (87) Fiesta maxima – Millionen-Empfang für Spaniens WM-Helden 169 (www.kicker.de/news/video) (88) Es darf eher als Ausnaheme gelten, wie souverän der „geborene Mittelfeld-General“ sich am Kap verhält. (W. Sneijder) (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.9) (89) Schweinsteiger (...) Er war der Herrscher im Mittelfeld (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.23) (90) Abflug nach Südafrika - Das Vorkommando meldet: Alles okay! (Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche 07.06.2010, p.23) (91) Den genialen Techniker und klugen Strategen Karim Ziani (27) kennt man beim VfL Wolfsburg eigentlich nur aus Erzählungen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.162) (92) Das kleine Slowenien will mithilfe der Legionäre aus Deutschland erstmals einen Sieg bei der WM schaffen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.163) (93) Sie hoffen auf Buffon und die Helden von 2006 (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.170) (94) (...) Zumal Portugal ausgerechnet in der „Todesgruppe“ mit Rekord-Weltmeister Brasilien (...) gelandet ist. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.180) (95) Doch in der Defensive hält er den Gegner für verwundbar. (www.sportbild.bild.de – 22.06.2010) 170 c) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE – Categoria: Eventos (33 ocorrências) EURO 2004 (4) (96) Beckham brachte einen Freistoß von halbrechts ins Sturmzentrum, Lampard netzte mit dem Kopf unhaltbar ins rechte, obere Toreck ein (38.). Silvestre kam im Duell gegen den Mittelfeldakteur vom FC Chelsea zu spät. (www.kicker.de - 12.06.2004) MUNDIAL 2006 (7) (100) Für Arne Friedrich indes, der zuletzt wegen der beiden Gegentore arg gescholten wurde, wird der Auftritt zum Ritt auf der Rasierklinge. (www.kicker.de – 12.06.2006) EURO 2008 (5) (107) In Unterzahl konnten die Franzosen das Spiel nicht mehr drehen, das zweite Tor der Azzurri entschied das Duell nach einer guten Stunde. (www.kicker.de – 17.06.2008) (101) Achtelfinale, Portugal - Niederlande (108) HEUTE HAMMER-DUELL GEGEN 1:0 (1:0) Portugal gewinnt die "Schlacht von RONALDO Ballack, lass ihn wieder weinen! (97) So kam das "italienische Nürnberg" (www.kicker.de – 25.06.2006) (www.bild.de – 19.06.2008) Horrorergebnis" im Wikinger-Duell zum Tragen und zwingt die Azzurri zur (102) So hatte Kuijt für "Oranje" die (109) Halbfinale Deutschland – Türkei Riesenchance zum Ausgleich auf dem Fuß, Heimreise. brisante Duell (Altinopdoch im Duell mit Ricardo blieb der Das (www.kicker.de – 22.06.2004) portugiesische Keeper der Sieger. Schweinsteiger) (Kicker Ausgabe 52 - 23.06.2008) (www.kicker.de - 25.06.2006) (98) Portugal im Ausnahmezustand Das 10-Millionen-Einwohnerland befand (103) Ein Schuß mitten ins schwarz-rot- (110) Fernando Torres hatte seine sich nach dem Abpfiff im geile Herz. Italien führt im Halbfinale Schnelligkeit ausgenutzt und das Duell Ausnahmezustand. gegen Phlipp Lahm gewonnen. Sekunden vor Schluß mit 1:0 (www.spiegel.de – 25.06.2004) (www.sportbild.de – 29.06.2008) (www.bild.de – 05.07.2006) (99) Die Rückkehr wurde zum Triumphzug. (www.kicker.de – 30.06.2004) (104) Jetzt die Halbfinal-Schlacht gegen Italien. In den letzten zwei Minuten der Verlängerung verloren, aber gekämpft wie Weltmeister. (www.bild.de – 05.07.2006) (105) Spaniens Turnier-Trauma hält an: Erneut reichte es nicht für einen Durchmarsch bis ins Finale einer WM. (www.spiegel.de – 28.06.2006) (106) DFB-Elf gegen Polen - Ein Spiel mit Messer zwischen den Zähnen (111) Und trotzdem: Ihr habt uns drei wundervolle Wochen geschenkt: Die Nerven-Schlacht gegen Österreich, der Zauber-Sieg gegen Portugal, der LastMinute-Thriller gegen die Türkei. (www.bild.de – 30.06.2008) MUNDIAL 2010 (17) (112) Bislang kam es erst zu einem Aufeinandertreffen zwischen beiden Nationen bei einer WM: 1974 gewann die DFB-Auswahl 3:0. Gibt es nun in Südafrika die Rache? (www.sportbild.bild.de – 09.06.2010) (113) Es war der Auftakt zu einem Privatduell, das der Keeper aus Nigeria zu seinen Gunsten entschied. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (114) Auf diese Duelle kommt es an. (www.kicker.de – 18.06.2010) (115) Sieg für die Geschichte: Deutschland ist gefallen, es gibt Hoffnung für die Adler. (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (116) Serbien feiert "Blitzkrieg" gegen Deutschland. (www.stern.de – 19.06.2010) (117) Für Neuseeland wurde das Match zu einer reinen Abwehrschlacht (...) (www.kicker.de - 20.06.2010) (118) „Sie lassen Chancen zu“, verriet Bierhoff eine zentrale Erkenntnis Löws bei dessen Spionagetour. (www.sportbild.bild.de – 22.06.2010) (119) Die heißesten Duelle mit England (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (120) Diesmal siegte auch das viel beschworene „neue Deutschland“ mit den typisch germanischen Tugenden: Mit Kampf und Krampf, einer rettenden Torhüter-Leistung, einer gehörigen Portion Schlachtenglück. (Kicker Sportmagazin Nr. 51 – 25. Woche 24.06.2010, p.2) 171 (www.spiegel.de – 13.06.2006) (121) (...) Einzig der mangelnden Chancenauswertung hatten es die Spanier zu verdanken, dass der Tanz auf der Rasierklinge nicht zu Verlezungen führte. (...) (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.37) (122) „Portugal ist ein extrem harter Gegener. Das wird ein Spiel auf Leben und Tod.“ Del Bosque (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.37) (123) DEUTSCHLAND - ARGENTINIEN Die Schlacht gegen Maradona Brasilien ist schon auf dem Heimweg. Fliegt Argentinien heute hinterher? Deutschland gegen Argentinien mit Trainer-Weltstar Diego Maradona (49). Es wird eine Schlacht! (www.bild.de - 02.07.2010) (124) Es war still an diesem strahlend hellen Freitagvormittag in Rio, stiller als sonst vor den Spielen der Seleção, und das lag nicht nur daran, dass die Schlacht gegen Holland um elf Uhr morgens Ortszeit begann und alle Geschäfte deshalb geschlossen waren. (www.spiegel.de - 03.07.2010) (125) Die Presse (Österreich): „Fußball ist Krieg Spanien ist Weltmeister.“ (www.sportbild.bild.de – 12.07.2010) (126) Alarmstufe Rot bei den Blauen – hilft Ribery? (www.kicker.de/news/video) (127) Kampf, Kraft und Krampf – WM-Schlacht überstanden (www.kicker.de/news/video) (128) Die Niederlande im Ausnahmezustand! (www.kicker.de/news/video) 172 d) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Objectos (26 ocorrências) EURO 2004 (1) (129) Jense - die tickende Torbombe (www.spiegel.de – 18.06.2004) MUNDIAL 2006 (12) EURO 2006 (1) MUNDIAL 2010 (12) (130) "Vorne die Panzer, hinten nicht dicht" (142) Der "Bomber der Nation" ist längst (143) SPORT BILD: Herr Schwarzer, Australien wird (www.spiegel.de – 10.06.2006) abgetreten, dennoch "müllert" es beim bei der WM nicht viel zugetraut. Ist Ihre Mannschaft nur Kanonenfutter? (www.sportbild.bild.de – (131) "Mit Polen kommt eine sehr schwere Turnier in Jugoslawien wieder. 09.06.2010) (www.kicker.de – 27.06.2008) Aufgabe auf uns zu und ein ganz anderes Kaliber als Costa Rica", sagt Klinsmann. (144) Der Auftakt der "Hammergruppe" G (www.kicker.de – 12.06.2006) enttäuschte über weite Strecken und bot keine Tore. (www.kicker.de - 15.06.2010) (132) Argentinien - Serbien-Montenegro 6:0 (3:0) Kanonenfutter für die "Gauchos" (www.kicker.de - 16.06.2006) (145) Jovanovic und Stojkovic haben die 'Panzer' durchbrochen. (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (133) Muntaris Hammer flog über das Tor (28.), im Gegenzug bedeutete Poborskys Schrägschuss (29.) die erste vielver-sprechende Torannäherung der Tschechen (...). (www.kicker.de – 17.06.2006) (146) Pressestimmen: England erwartet „deutsche Kriegsmaschine.“ (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (134) Das Angriffsspiel der Spanier war zwar variabel, Luis Garcia, Fernando Torres und Villa erwiesen sich auch als ständige Unruheherde, der Ausgleich wollte aber trotz des hohen Aufwands nicht gelingen. (www.kicker.de – 19.06.2006) (135) Aruna Dindane: Lauffreudig, dribbelstark und abgeklärt war Dindane ein ständiger Gefahrenherd und sorgte mit zwei Treffern für die Wende. (www.kicker.de – 21.06.2006) (136) Francisco Fonseca: Torschütze, ständiger Unruheherd, spielte immer wieder seine Kopfballstärke aus. Scheiterte zwei Mal am starken Ricardo. (www.kicker.de – 21.06.2006) (137) Michael Ballack, als torgefährlichster Mittelfeldspieler der Welt gerühmt, hat bei der WM noch Ladehemmung. (www.spiegel.de – 26.06.2006) (147) Robben ist zurück, der Dribbler, der Sprinter, Oranjes Geheimwaffe, die kein Geheimnis mehr sein kann, weil die ganze Welt sie kennt. (www.kicker.de – 25.06.2010) (148) „Das freut mich natürlich besonders, 40 Jahre nach Gerd Müller den Goldenen Schuh gewonnen zu haben“, sagte der neue Müller. Der „Bomber der Nation“ war 1970 bester WM-Torjäger. (www.sportbild.bild.de – 12.07.2010) (149) Eine Frage an drei Experten: 4:0 gegen Australien – was ist dieser Auftaktsieg wert? „Es warten andere Kaliber“ Jürgen Kohler. (Kicker Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.25) (150) “(...) Rechtzeitig zur WM spielt Löws Mannschaft einen Fussball, der mit „Rumpelfüsslern“ oder „deutschen Panzern“ nichts mehr zu tun hat.” Andreas Zimmer. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.75) 173 (138) Für Spielmacher Riquelme kam Allzweckwaffe Cambiasso, was eher für ein Halten des Resultats sprach. (www.kicker.de – 01.07.2006) (151) „Die Waffen des Fussballs“, titelte der kicker schon 2006 während der SommermärchenInszenierung. (Kicker Sport-magazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.11) (139) Die schwarzen Bundesliga Bomber - Der unumstrittene Star des Teams ist Afrikas Spieler des Jahres Michael Essien. (www.bild.de – 06.07.2006) (152) Es ist DER Hammer im Halbfinale der FußballWM: Deutschland gegen Spanien, die Neuauflage des EM-Finales von 2008. (www.sportbild.bild.de – 07.07.02010) (140) Bis zur 88. Minute, als Nuno Gomes mit einem Torpedo-Kopfball nach einer schönen Flanke von Figo unhaltbar für Kahn das 1:3 aus portugiesischer Sicht erzielen konnte. (www.kicker.de – 08.07.2006) (153) (...) Er ist auf dem besten Wege, sich nach dem Torjägertitel bei der EM 2008 auch bei der WM die Kanone für den Torschützen zu sichern. (www.sportbild.bild.de – 07.07.2010) (154) Der deutsche Panzer ist wieder einmal dabei. Aber von dem Team, das gegen Australien alle in Angst versetzte, ist nichts mehr zu sehen. (www.kicker.de – 24.07.2010) (141) Dank Klinsi ist Lahm eine Rakete. Von wegen lahm, nur Raketen-Leistungen. (www.bild.de – 09.07.2006) e) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Locais (4 ocorrências) EURO 2004 (0) MUNDIAL 2006 (1) (155) Angeschlagen verlässt Schlachtfeld. (www.kicker.de – 02.07.2006) EURO 2008 (0) Figo das MUNDIAL 2010 (3) (156) Rheinische Post (rp-online.de) Schieds-richter am Pranger. Ein Kartenspieler und ein Torklau. Am achten Tag der Fußball-WM in Südafrika sind die Schiedsrichter ins Kreuzfeuer der Kritik geraten. (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (157) Frankreich: Nach dem WM-Desaster greift sogar Präsident Sarkozy ein. Frankreich in Trümmern (Kicker Sportmagazin Nr. 51 – 25. Woche 24.06.2010, p.24/25) (158) Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. Grosser Kampf soll fehlende Klasse wettmachen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.174) 174 a) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Acções/Tácticas Tal como já referimos anteriormente, optámos por unir as categorias ‘acções’ e ‘tácticas’ devido ao facto das tácticas de jogo serem apenas visíveis e compreendidas através das consequentes acções em campo durante os jogos. Se a táctica adoptada pelo treinador for, por exemplo, de ‘defesa’ de um determinado resultado, são as jogadas, i.e. as acções dos jogadores em campo que reflectem essa táctica, nomeadamente, no controlo e conservação da posse de bola, na protecção da bola, na velocidade do jogo, no posicionamento dos jogadores, nas faltas cometidas, etc. Sendo a essência do jogo a sucessão contínua de diversas acções, não é de espantar que seja esta a categoria que mais ocorrências apresenta. As ocorrências aqui analisadas reflectem acções de jogo, descritas com recurso a imagens provenientes do cenário de guerra, confronto físico violento, e, em alguns casos, de violência mortífera. O jogo é conceptualizado como uma luta de grande intensidade, realçando o espírito de sacrifício e de entrega total. É uma luta pela sobrevivência, ou seja, pela vitória, em que todos se sacrificam para que a equipa consiga atingir o objectivo colectivo. Originalmente, a noção de sacrifício provém do contexto religioso em que algo, ou a vida de algo ou alguém, era oferecido aos deuses para em troca receber perdão, graça ou bênção. Com o decorrer dos tempos essas práticas foram desvanecendo, contudo o conceito de sacrifico prevaleceu. Actualmente subjaz a diversas construções metafóricas, activando simultaneamente o esquema da permuta: o sacrifício em prol de um retorno compensador, seja ele material ou emocional. A ocorrência (5) (5) Marek Heinz rettet die Tschechen. Erst zwei Tore in den letzten 17 Minuten verhinderten eine Blamage gegen die sich tapfer wehrenden Letten. constrói o cenário de luta aguerrida através dos verbos “retten” e “wehren”, intensificado pelo recurso ao adjectivo “tapfer” que activa a ideia de resistência, heroísmo e bravura. A ocorrência (26) evidencia o recurso à força e à violência na tentativa de atingir os objectivos: (26) (...) die Squadra Azzurra suchte mit aller Gewalt den Weg in die Spitzen (...) Através dos esquemas de relevância, esta imagem virtual é estabilizada e o leitor compreende o significado deste enunciado: não se trata da aplicação de força bruta e violenta por parte dos jogadores italianos, agredindo fisicamente a equipa adversária, mas sim de uma táctica de jogo em que os jogadores pressionam quase ininterruptamente o adversário com jogadas perigosas de ataques directos à baliza com o intuito de marcar o golo desejado. O cenário da força e da violência encontra-se, igualmente, na ocorrência (34): 175 (34) Bei den folgenden wütenden Attacken der Mexikaner war auf Khune Verlass. Tanto o golo adversário como a derrota são conceptualizados como agressão física ou uma pancada forte. O conceito abstracto da derrota é, assim, melhor compreendido através do domínio físico e concreto. A experiência real da dor física infligida subjaz frequentemente a imagens mescladas construídas em torno do verbo polissémico ‘bater’ (schlagen). Este surge no nosso corpus nas variações de “angeschlagen” (ocorrência (43)), “zuschlagen” (ocorrência (51)) e “ungeschlagen” (ocorrência (58)). (51) Auch Pantelic kam noch (für Zigic) - doch dann schlugen die Australier zu: Cahill setzte sich im Luftduell gegen den um fünf Zentimeter größeren Vidic durch und traf per Kopf. A realização metafórica patente na ocorrência (51) aponta claramente para uma jogada de ataque com marcação de golo por parte da equipa Australiana, conceptualizado como um golpe violento no adversário.127 Com base na identificação dos diferentes mapeamentos no que diz respeito aos domínios-fonte e domínios-alvo, aliado aos respectivos enquadramentos contextuais, optamos por elaborar uma tabela, de forma a expor, sinteticamente, a rede conceptual de espaços mentais que conduzem à mescla final, i.e. à mensagem intendida: Ocor. (5) (26) (34) ESB EA retten/ sich tapfer wehren Texto (salvar/ lutar corajosamente) ERef Golos do jogador checo Heinz/ acções defensivas da selecção da Letónia M1 ERel M2 Golos de Heinz Cenário do como salvação/ Bons golos, Heinz! confronto/duelo; acções defensivas Bom esforço, Esquemas da luta da Letónia como Letónia! e do sacrifício luta corajosa suchte mit aller Gewalt den Weg in Ataques da Ataques da die Spitzen selecção italiana selecção italiana no Texto (procurar com como suchte mit jogo contra a violência o aller Gewalt den selecção holandesa caminho para o Weg in die Spitzen ataque) Ataques da Ataques da wütende Attacken selecção mexicana selecção mexicana Texto der Mexikaner no jogo contra a como wütende (ataques furiosos) selecção sulAttacken africana Cenário do confronto/duelo; Ataque forte, Itália! Esquemas da luta e da violência Cenário do confronto/duelo; Esquemas da luta e da violência Bom ataque, México! 127 Burkhadt afirma: ”schlagen; nicht: hauen o. verprügeln, sondern: 1. ein Spiel (gegen eine andere Mannschaft) → gewinnen, (einen Gegner) → besiegen → bezwingen. (...) 2. (den Ball) → treten (…).” (Burkhardt, 2006a:261) 176 (54) dann schlugen die Golo da selecção Australier zu australiana no jogo Texto (golpe violento dos contra a selecção Australianos) sérvia ESB ERef ERel - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Golo da selecção australiana como zuschlagen EA M1 M2 Cenário do confronto/duelo; Esquemas da luta e da violência Grande golo, Austrália! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 26: Tabela de espaços mentais 1 De acordo com a perspectiva de que um jogo de futebol bem disputado patenteia características combativas ou mesmo agressivas, assim como se exige uma postura de entrega total e sacrificada por parte dos jogadores, as mensagens contidas nas mesclas finais são de congratulação e elogio público às selecções ou jogadores em causa. Trata-se, por conseguinte, de uma apreciação de carácter emocional, motivado pelo cenário do confronto/duelo que, quanto mais intenso e combativo, mais atractivo e arrebatador. Bellinger (2008) corrobora: “Tödliche Pässe, überfallartige Angriffe, Bruder-Duelle: Die Fußballsprache ist bildhaft, martialisch und emotional. (...) natürlich rollten wieder „deutsche Panzer“ durch die Medien, waren Schlachtenbummler und Spione unterwegs, rannten Spieler um ihr Leben. „Die Fußballsprache ist eine sehr anschauliche und emotionale Sprache. Wenn man sagt: Eine Granate schlägt im Winkel ein – anschaulicher geht’s kaum. Vor dem geistigen Auge öffnet sich da ein ganz anderer Bild-Horizont“, sagt der Dortmunder Sprachwissenschaftler Uwe Wiemann.“ (Bellinger, 2008, http://deutschesprachwelt.de [Consult. 05.01.2011]) A conceptualização da violência inclui o cenário das ferramentas ou das armas. Quanto às ferramentas, o martelo afigura-se como objecto de eleição preferencial, facto evidenciado pela frequência de realizações metafóricas construídas em torno do objecto “Hammer” (vide segmento d)) e seu campo semântico128: (3) Der Wolfsburger Martin Petrov flankte zu Jankovic, der den Ball aus acht Metern volley neben den linken Torpfosten hämmerte. O verbo estourar (“knallen”)129 ou o nome estouro (“Knaller”) apresentam intencionalidade semelhante pois evidenciam, de forma idêntica, a força e a potência de um remate, associado ao forte barulho provocado pelo mesmo. Neste contexto concreto, o potente remate 128 Tal como afirmado por Burkhardt (2006a), a força e a potência do remate é equiparada ao impacto vigoroso de um martelo a bater num qualquer objecto: ”hämmern; kein heftiges Schlagen o. Klopfen, aber: den Ball mit grosser Wucht schiessen, → ballern, →knallen (...).“ (Burkhardt, 2006a:142) 129 ”knallen; keine Silvesterspielchen, sondern: (den Ball) sehr wuchtig, hart schiessen (so dass es ein Knallgeräusch geben würde, wenn er z. B. den Pfosten träfe) (...).“ (Burkhardt, 2006a:165-166) 177 transformou-se no golo vitorioso que conduziu à atribuição do título de campeão mundial à selecção italiana: (24) (...) dann knallt er Italien im Elfmeterschießen zum Weltmeister-Titel. A faca (“Messer”) é outro objecto, ou arma, utilizada para a construção conceptual de um cenário de violência e de perigo: (10) Deutschland ging bedächtig in die Partie, wollte keinesfalls den Tschechen ins offene Messer rennen (...). (47) Miroslav Klose: „Ich hatte erwartet, dass die Engländer angesichts ihrer historischen Chance mit Messern zwischen den Zähnen auf den Platz kommen.“ A expressão ins offene Messer rennen ou laufen significa, genericamente, colocar-se irreflectida e levianamente em perigo130. Na ocorrência (10), infere-se que a equipa alemã, apesar de procurar a vitória, não queria correr o risco de se expor excessivamente aos ataques da equipa checa e ser derrotada pela mesma, i.e. correr metaforicamente perigo de vida. Consequentemente, a derrota é conceptualizada como morte, neste caso concreto, à morte por esfaqueamento. Mais uma vez, assistimos a um processo de conceptualização metafórica, na qual o conceito abstracto de perigo e derrota é conceptualizado através da experiência concreta e corpórea da ameaça física e da morte131. Pensamos que não há leitor que, ao ler estes enunciados, acredite que os jogadores estejam em campo, armados com facas e preparados para esfaquear o adversário. A ocorrência (46) sugere uma imagem bastante criativa e concreta – os jogadores entram em campo com facas entre os dentes – contudo o significado emergente é claro: trata-se de uma questão de atitude e de entrega ao jogo, de empenho total por parte dos jogadores em prol da vitória. O jogo é conceptualizado como uma luta fatal, que inclui armas mortíferas, pelo que perder significa morrer. Neste sentido, o nosso corpus revela uma variedade significativa de armas. As ocorrências (15) e (48) dizem respeito à pólvora das antigas armas de fogo, tais como espingardas ou canhões: (15) "Les Bleus" hatten ihr Pulver bis auf eine Szene kurz vor dem Schlusspfiff bereits im ersten Durchgang verschossen. 130 1 ”Mes|ser (...) er läuft ins offene M. er verhält sich so, dass er selbst seinen Untergang herbeiführt.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html? gerqry=messer [Consult. 06.01.2011]) 131 Burkhardt (2006a) considera: ”ins offene Messer laufen; kein Stichwaffengebrauch auf dem Spielfeld, sondern (in metaphorischer Verwendung) zu →offensiv spielen, d.h. mit zu vielen Spielern zu weit → vorrücken u. dadurch bei → Ballverlusten der gegnerischen Mannschaft schnelle → Konter bzw. → Kontertore ermöglichen (...).“ (Burkhardt, 2006a:198) 178 (48) Mexiko hatte viel Kraft gelassen und sein Pulver verschossen (...). A expressão das Pulver verschiessen132 realça o contexto temporal no uso de armas de fogo. A gestão da pólvora disponível durante uma batalha, por exemplo, era essencial, pois se esta se esgotasse antes do fim do confronto, a derrota seria certa. A ênfase está, então, na capacidade de racionalização deste recurso por um determinado período de tempo. Julga-se que esta expressão possa estar ligada a uma outra - etwas geht aus wie das Hornberger Schießen – que se baseia num pequeno incidente histórico133. A ocorrência (48) aponta para uma realidade desportiva: os jogadores de futebol têm de saber gerir o seu esforço e as suas energias tendo em conta a duração regular da partida, 90 minutos. Se assim não o fizerem, arriscam atingir o esgotamento físico antes do final do encontro e, em consequência, diminuírem os seus níveis de rendimento e eficácia. No espaço virtual deste mapeamento encontramos, então, o jogador como uma arma de fogo que necessita da pólvora, i.e. energia e rendimento físico, para ser eficaz. Na ocorrência (15) a ausência da pólvora surge como ausência de remates perigosos e oportunidades de golo, pois, se numa batalha, a ausência de pólvora causa a ausência de disparos das armas de fogo, no jogo de futebol essa ausência traduz-se na inexistência de remates certeiros, conducentes a uma vitória. Este mapeamento emerge do facto do remate ser conceptualizado como um disparo de uma arma, sendo o jogador (ou a equipa) portador dessa arma, ou seja, o atirador: (23) Da ballerten sich die Klinsmänner mit ihrem tollen Offensiv-Fußball (...) in unsere Herzen. (49) Müller schießt England ab. (57) (...) weil Lahm losdribbelt, instinktsicher nach innen kurvt und dann feuert. Na ocorrência (57) não fica totalmente claro se o remate resultou em golo, apesar da potência - realçada através do verbo “feuern”134 - do mesmo. Já na ocorrência (49) é evidente que os 132 ”Pul|ver (...) 3 [kurz für] Schießpulver; er hat sein P. zu früh verschossen [übertr.] er hat seine Einwände, Argumente verfrüht angebracht (...)” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wiss en/services/suche/wbger/index.html?gerqry=Pulver&Start=%A0%A0Suchen%A0%A0&gertype= [Consult. 03.01.2011]) 133 ”Die Herkunft der Redensart liegt in einem volkstümlichen Schwank, der eine Schildbürgergeschichte aus dem Schwarzwaldstädtchen Hornberg erzählt. 1564 kündigte der der Herzog von Württemberg seinen Besuch in Hornberg an. Ein Wächter sollte den Gast per Hornsignal voranmelden, damit man zur Begrüßung Böller- und Kanonendonner abfeuern konnte. Zweimal gab er jedoch falschen Alarm. Als der hohe Gast dann wirklich kam, hatten die Hornberger buchstäblich "ihr Pulver verschossen", und so begrüßten sie den Herzog mit einem lauten "Piff-paff" aus tausend Männerkehlen. Friedrich Schiller verewigte die Begebenheit im Schauspiel "Die Räuber"“ (Redensarten-Index, In: http://www.redensarten-index.de/suche.php?&bool=and&suchspalte%5B%5D=rart_ou&su chspalte%5B%5D=erl_ou&suchspalte%5B%5D=bsp_ou&suchspalte%5B%5D=erg_ou&suchbegriff=Pulver&page=1 [Consult. 06.01.2011]) 134 ”feu|ern [V.1, hat gefeuert] I [o. Obj.] Feuer machen, heizen II [o. Obj. oder mit Präp. obj.] schießen; auf etwas oder jmdn. f. III [mit Akk.; ugs] 1 etwas f. heftig werfen, schleudern; einen Gegenstand wütend in die Ecke f.,” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html 179 remates foram vitoriosos devido à partícula “ab” do verbo composto “abschiessen”135, partícula essa, que acrescenta ao verbo disparar o significado de ‘final’ ou ‘terminal’.136 Mais ainda, a equipa ou nação adversária é conceptualizada como um alvo a ser abatido, i.e. derrotado ou eliminado. Quanto à ocorrência (23), a vitória final é compreendida através do contexto: A equipa alemã, aqui os homens do treinador Klinsmann - “die Klinsmänner” praticaram um futebol atacante espectacular - “mit ihrem tollen Offensiv-Fussball” -, rematando múltiplas vezes - “ballerten” -, e a consequente vitória conquistou os corações dos adeptos - “in unsere Herzen”. O verbo ballern137 constrói o cenário bélico que subjaz ao espaço virtual. Quão armas a disparar, assim os jogadores marcaram golos vitoriosos. No consequente espaço do significado emerge a mensagem de congratulação intendida: Parabéns Alemanha! Tendo em conta que ballern é sinónimo de knallen, o efeito sonoro associado a esta acção, torna a mescla ainda mais eficaz, pois estimula virtualmente o sentido da audição. O remate e as jogadas perigosas são também conceptualizados como dispositivos explosivos ou bombas: (34) (...) In der 60. Minute entschärfte der Schlussmann einen Schuss von dos Santos. (6) Zu sehr versuchten die Nordeuropäer durch die Mitte zum Erfolg zu kommen, und dort stand die Innenverteidigung mit Nesta und Cannavaro bombensicher. Para que estas ‘bombas’ não expludam, ou seja, o remate ou a jogada não resulte em golo, elas têm de ser desarmadas, “entschärfen”138, e a defesa tem de demonstrar que é ‘à prova de bomba’, “bombensicher”139, ou seja, tem de estar extremamente segura e eficaz140. O próprio jogador é conceptualizado como sendo um engenho explosivo: ?gerqry=feuern&gertype= [Consult. 06.01.2011]) 135 ”ab|schie|ßen [V., hat abgeschossen] I [mit Akk.] 1 etwas a. a mittels Waffe auf den Weg bringen; ein Geschoss, eine Kugel a. b eine Waffe a. ein Geschoss aus einer Waffe fliegen lassen; ein Gewehr, eine Kanone a. c mittels Geschoss zerstören oder kampfunfähig machen; ein Flugzeug, einen Panzer a. 2 jmdn. a. a mittels Geschoss heimtückisch und kaltblütig töten; Menschen a.,” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/gene rator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=abschiessen&gertype= [Consult. 06.01.2011]) 136 “abschiessen; (…) kein kaltblütiger Vogelmord, sondern: entscheidende o. viele → Treffer erzielen (häufig durch → Konter) u. dadurch die → Niederlage des Gegners → besiegeln.(...)“ (Burkhardt, 2006a:15) 137 ”bal|lern [V., hat geballert] (...) II [o. Obj.] 1 knallen; ein Schuss ballert 2 Schüsse abgeben; durch die Gegend b. [ugs.], ” ( BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger /index.html?gerqry=ballern&gertype= [Consult. 06.01.2011]) 138 ”ent|schär|fen [V., hat entschärft; mit Akk.] 1 ein Geschoss e. aus einem Geschoss die Zündeinrichtung entfernen; eine Bombe, Mine e. 2 eine Sache e. a aus einer Sache Teile herausnehmen, die Ärgernis, Anstoß erregen könnten; einen Zeitungsartikel e. b einer Sache die Schärfe nehmen, vermittelnd in eine Sache eingreifen; ein Problem e.; eine Diskussion, Auseinandersetzung e., ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/ wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=entsch%E4rfen&Start=%A0%A0Suchen%A0%A0& gertype= [Consult. 06.01.2011]) 139 ”bom|ben|si|cher [Adj. ] 1 [o. Steig.] gesichert gegen Bomben; ~er Keller 2 [ugs.] ganz sicher; ein ~es Geschäft; das ist b., ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche /wbger/index.html?gerqry=bombensicher&gertype= [Consult. 06.01.2011]) 180 (32) WM-Vorbereitung - Löw über Poldi: „Wird bei der WM explodieren“ cujo bom jogo, força e eficácia é sinónimo de explosão. Outro mapeamento interessante prende-se com termo “Visier”141, que, nas ocorrências identificadas, origina duas imagens mescladas diferentes, de acordo com os dois possíveis significados de “Visier”: viseira (9) Nun wurde die Partie rassig, weil die Spanier das Visier öffnen mussten. (42) Die Begegnung bot enormen Unterhaltungswert, weil beide Mannschaften mit offenem Visier agierten. ou mira: (4) Zudem hatten Jankulovski, Rosicky und Poborsky bei guten Schussgelegenheiten das Visier nicht exakt genug eingestellt oder scheiterten an Torhüter Kolinko. (27) Pranjic bediente von links Klasnic, der diesmal sein Visier besser eingestellt hatte und die Kroaten mehr als verdient mit 1:0 in Front schoss (53.). Nas ocorrências (9) e (42), os jogadores em questão, ou seja, toda a equipa, é conceptualizada através da imagem do cavaleiro medieval, devidamente protegido com a sua armadura e capacete, incluindo a viseira protectora da cara e, principalmente, dos olhos. Se por um lado a viseira protegia os olhos, também prejudicava significativamente a capacidade de visão do cavaleiro. Simultaneamente, a viseira, ao cobrir a cara, ocultava a identidade do cavaleiro. Se este não usasse qualquer outro tipo de marca identificativa, tal como o escudo com o respectivo brasão, o cavaleiro e a suas intenções revestiam-se de mistério. O abrir da viseira pode representar, então, duas situações: a) a revelação da identidade do cavaleiro e b) possibilitar uma visão clara e não obstruída para mais eficazmente atingir os seus propósitos. Infere-se então, que jogar de viseira aberta indica a objectividade e clareza de jogo, a vontade aberta de vencer, sem medo de revelar a estratégia declaradamente ofensiva para atingir esse objectivo.142 As ocorrências (4) e (27) dizem respeito à mira, peça que numa arma de fogo regula a pontaria. Se o jogador é, através de projecção metafórica, uma arma de fogo, este possui uma 140 “entschärfen, nicht das Entfernen der Zündvorrichtung bei einer Bombe, sondern (in metaphorischer Verwendung): (als → Torwart) → halten u. den Ball unter Kontrolle bringen (...).“ (Burkhardt, 2006a:97) 141 ”Vi|sier [n.] 1 beweglicher, das Gesicht schützender Teil des Helms 2 [an Feuerwaffen] Zielvorrichtung [<frz. visière in ders. Bed., zu vis (veraltet) ”Gesicht“].” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/gene rator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=visier [Consult. 08.01.2011]) 142 ”mit offenem Visier; zu mfrz. visière, afrz. visiere >Helmgitter<; urspr. >sich zu erkennen gebend, offen u. ehrlich<; nicht: ritterisch kämpfend, sondern: sehr → offensiv, auf → Angriff, in Form eines → offenen Schlagabtauschs (...).“ (Burkhardt. 2006a:340) 181 mira que o ajudará a acertar no alvo, i.e. no contexto futebolístico, afinar o seu remate de forma a introduzir a bola na baliza. O processo de mapeamento pressupõe: a) o jogador é uma arma de fogo, que possui uma mira; b) a bola de futebol é a bala disparada; c) a baliza é o alvo. Consequentemente, se a mira não está afinada, o disparo não atingirá o seu alvo, logo, não haverá golo. Perante estas “armas”, as equipas têm de estar preparadas tanto ofensivamente, através de um ataque eficaz, como defensivamente, sustentadas num sector defensivo seguro: estão, portanto, devidamente armadas (“rüsten”143; “wappnen”144): (33) „Wir haben optimale Bedingungen“, sagt Friedrich, „und sind gerüstet für die WM.“ (38) Der Bundestrainer sieht sich und sein Team bestens gewappnet für das 50. Länderspiel unter seiner Leitung. Vejamos, seguidamente, a nossa proposta de rede de espaços mentais apresentada em forma de tabela: Ocor. ESB EA ERef (3) den Ball Texto hämmern (martelar a bola) (24) (zum Remate (e golo) Weltmeistervitorioso da selecção Texto Titel) knallen italiana (selecção (estourar para o campeã mundial) título) (10) (15) Texto Texto Remate do jogador búlgaro Jankovic M1 ERel Cenário do Remate do jogador confronto/duelo; Jankovic como den Esquemas da força Ball hämmern e da violência Remate vitorioso como knallen Desempenho da selecção francesa no jogo contra a selecção da Suíça Desempenho da selecção francesa como das Pulver verschossen Grande remate, Jankovic! Cenário do confronto/duelo; Boa vitória, Itália! Esquemas da força e da violência nicht ins offene Atitude da selecção Cenário do Atitude da selecção Messer rennen alemã como nicht confronto/duelo; alemã no jogo contra (correr em ins offene Messer Esquemas da luta e a Rep. Checa direcção à faca) rennen da violência das Pulver verschossen (esgotar a pólvora) M2 Cenário do confronto/duelo; Esquemas da luta e da perseverança Bem jogado, Alemanha! Má prestação, França! 143 ”rüs|ten [o. Obj.] sich mit Waffen versehen, die Anzahl der Waffen, der Munition u. Ä. vergrößern; die Staaten r. weiter; ” (BERTELSMANN Wörterbuch , in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbg er/index.html?gerqry=r%FCsten&gertype= [Consult. 08.01.2011]) 144 ”wapp|nen [V.2, hat gewappnet; refl.] sich w. 1 [veraltet] sich bewaffnen; ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=wappnen&Start=%A0%A0 Suchen%A0%A0&gertype= [Consult. 08.01.2011]) 182 (23) sich in unsere Herzen ballern Texto (estourar para dentro dos nossos corações) (49) Texto (34) Texto (6) Texto (32) Texto (9) Texto (27) Texto (33) Texto ESB ERef ERel Atitude ofensiva e goleadora da selecção alemã Atitude ofensiva e Cenário do goleadora da confronto/duelo; selecção alemã Esquemas da luta e como sich in unsere da violência Herzen ballern Vitória da selecção Vitória da selecção Cenário do Alemã sobre a abschiessen alemã devido ao confronto/duelo; selecção inglesa (atirar a matar) golo de Müller Esquemas da luta e devido ao golo do como abschiessen da violência jogador Müller Defesa do guarda(einen Schuss) Defesa do guardaCenário do redes da selecção entschärfen redes sul-africano confronto/duelo; sul-africana no jogo (desarmar, como einen Schuss Esquemas da luta e contra a selecção do desactivar) entschärfen da violência México Jogadores bombensicher Cenário do Jogadores defensivos defensivos Nesta e stehen confronto/duelo; da selecção italiana: Cannavaro (à prova de Esquemas da luta e Nesta e Cannavaro bombensicher bomba) da violência stehen Cenário do Futuro Futuro desempenho confronto/duelo; explodieren desempenho de do jogador alemão Esquemas da luta, (explodir) Podolski como Podolski violência e explodieren empenho Cenário do Reacção táctica da Reacção táctica da confronto/duelo; das Visier öffnen selecção espanhola selecção espanhola Esquemas da luta, (abrir a viseira) no jogo contra como das Visier violência e Portugal öffnen empenho Cenário do Golo do jogador Golo do jogador das Visier besser confronto/duelo; croata Klasnic no croata Klasnic eingestellt Esquemas da luta, jogo contra a como das Visier (afinar a mira) violência e selecção da Polónia besser eingestellt empenho Preparação da Cenário do Preparação da selecção alemã confronto/duelo; gerüstet sein selecção alemã para para o mundial Esquemas da luta, (estar armado) o mundial de 2010 como gerüstet sein violência e (Futuro) (Futuro) empenho - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Parabéns, Alemanha! Parabéns, Müller! Excelente defesa! Parabéns Nesta e Cannavaro! “Força Podolski, acredito em ti!” (Löw) Bom esforço ofensivo, Espanha! Boa pontaria, Klasnic! “Vamos vencer!” (Friedrich) - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 27: Tabela de espaços mentais 2 Neste cenário de guerra ou de batalha, nem o grito de guerra ou de armas “Schlachtruf” - foi esquecido: (31) „Vamos, España!“ Vorwärts Spanien! So wollen die Spanier ihre Mannschaft heute abend anfeuern. Grund: Mit diesem Schlachtruf wurden die Spanier 1964 zum einzigen Mal Europameister. 183 Originalmente, o “grito de guerra”, normalmente uma palavra ou uma frase simples, tinha uma função muito específica no campo de batalha: ainda antes da introdução do uniforme como meio de identificação e diferenciação dos guerreiros, na agitação da batalha este grito tornava-se essencial para que os soldados pudessem distinguir o amigo do adversário. Em muitos casos, o grito de guerra evoluiu para uma divisa militar unificadora, inscrita nos brasões e nos estandartes. Para além desta função, o grito de guerra ou de armas servia também como motivação e incentivo ao combate e quanto mais forte e vigoroso, mais assustador e intimidador era para o adversário, tornando-se, assim, uma “arma” psicológica. Actualmente o grito de armas ultrapassou o domínio da guerra e assumiu-se como expressão de incentivo e união em diversos contextos. Na ocorrência (31), são os adeptos que recorrem ao “grito de armas”, frequentemente em forma de cântico, como forma de incentivo e apoio à sua equipa. Tal como um batalhão de soldados a marchar (“marschieren”145), também a equipa de futebol marcha decidida e determinadamente no campo, dividindo o mesmo em áreas de ataque e de defesa. Esta movimentação pode, inclusivamente, fazer parte da estratégia de jogo: (19) Bondscoach Marco van Basten unterstützte nun die offensive Marschroute mit der Hereinnahme von van der Vaart. (35) Diese defensivere Marschroute mag effektiver für das Team sein. Sie ist aber definitiv schädlich für Ronaldo. O próprio jogo é conceptualizado como um percurso, cuja meta final é a vitória em direcção da qual os jogadores marcham. Também o campeonato e a qualificação para o campeonato são compreendidos através da metáfora conceptual SOURCE-PATH-GOAL146: (17) (...) doch auch ohne die Künste des Turiners marschierte Frankreich nun einem sicheren Sieg entgegen. (58) Ungeschlagen marschierte die Nationalelf durch die WM-Qualifikation. Optamos por incluir estas ocorrências no domínio-fonte da Guerra, Violência e Morte devido ao facto do verbo “marschieren” construir, essencialmente, um cenário militar.147 145 ”mar|schie|ren [V.3, ist marschiert; o. Obj.] 1 in geordneten Reihen gehen (von Truppen und Kolonnen); durch die Stadt m.; im Gleichschritt m., ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wis sen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=marschieren&gertype= [Consult. 08.01.2011]) 146 Burkhardt (2006a) distingue igualmente estes três níveis de conceptualização: ”marschieren; (…) 1. (als Spieler) unaufhaltsam u. mit spielerischer Leichtigkeit → dribbeln (...) 2. (als Mannschaft) im Spiel unablässig → angreifen (...) 3. ”(als Mannschaft) unaufhaltsam, d.h. konstant erfolgreich sein u. daher die ganze → Saison hindurch auf den vorderen → Tabellenplätzen stehen (...).“ (Burkhardt, 2006a:193) 184 Contudo, as ocorrências (17) e (58) evidenciam, ainda, um segundo domínio-fonte inspirado na metáfora conceptual do percurso ou trajectória. Ao contrário das ocorrências (19) e (35), nas quais se reconhece um claro padrão em termos de deslocação física, concreta e real, nas ocorrências (17) e (58), o jogo e a competição são conceptualizados como percurso (PATH) pelo que a vitória e a qualificação são metas (GOAL) e o início do jogo assim como o início da fase de qualificação o ponto de partida (SOURCE)148. Este esquema imagético, alicerçado no esquema da trajectória, é uma das estruturas mais comuns que emerge prototipicamente a partir da experiência como o nosso corpo se desloca no espaço e como o compreende. Saliente-se que a experiencia humana é repleta de movimentos de deslocação espacial, com múltiplas trajectórias (movimentos de um determinado ponto para outro) que ligam o nosso mundo espacial. Estes movimentos podem realizar-se em superfícies físicas, podem ser mentalmente projectadas (como a previsão da deslocação de um objecto no espaço) ou serem simplesmente fruto da nossa imaginação. Para todas estas situações existe um único esquema recorrente, tendo uma estrutura interna fixa: a) as partes - 1. ponto de partida, 2. ponto de chegada, 3. sequência de posições contíguas que ligam o ponto de partida ao ponto de chegada; b) relação que reúne as partes - o movimento. Tratando-se da trajectória origempercurso-alvo, e de acordo com a dimensão espacial prototípica por um lado e o desejo de progresso por outro, este percurso é unidireccional. Trata-se, consequentemente, de uma construção metafórica complexa com múltiplas projecções. Fauconnier e Turner sublinham: “Networks in other cases of conceptual integration may have yet more input spaces and even multiple blended spaces.” (Fauconnier/Turner, 2008:13). Defende-se, então, a existência de redes conceptuais complexas hierarquicamente organizadas: “There are opposing pressures within an integration network to maximize topology matching, integration, unpacking of the blend, web connections, compression, and 147 “mar|schie|ren 1. a) (von geordneten Gruppen od. Formationen) sich in gleichmäßigem Rhythmus [über größere Entfernungen] fortbewegen: im Gleichschritt m.; die Soldaten marschieren durch die Stadt; marschierende Kolonnen.“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM) 148 “Consider the SOURCE-PATH-GOAL schema. This schema first developes as we learn to focus our eyes and track forms as they move throughout our visual field. From such experiences, a recurring pattern becomes manifest in tracking a trajectory from point A to another point B. Later on as we move our bodies in the real world, ranging from experiences of reaching for objects to moving our entire bodies from one location to another, more varied SOURCE-PATH-GOAL experiences become salient. Although many SOURCE-PATH-GOAL experiences may vary considerably (e.g. many objects, shapes, types of paths travelled), the emergent image-schematic structure of SOURCE-PATH-GOAL supports literal meanings, such as seen in “He walked across the room to the door,” and can be metaphorically projected onto more abstract domains of understanding and reasoning (Johnson, 1987). This metaphorical mapping preserves the structural characteristics or the cognitive topology of the source domain (Lakoff, 1990). Thus, the SOURCE-PATH-GOAL schema gives rise to conceptual metaphors such as PURPOSES ARE DESTINATIONS, which preserve the main structural characteristics of the source domain (i.e. SOURCE-PATH-GOAL) (...) This discussion of the SOURCE-PATH-GOAL schema shows that there are direct connections between recurring bodily experiences, metaphorically understood abstract concepts, and both conventional and creative language that refers to these abstract concepts.” (Gibbs, 2006:91-93) 185 intentionality. More complex integration networks ("multiple blends") allow multiple input spaces, and successive blending in which blends at one level can be inputs at another.” (Fauconnier, 2001:255) No estudo Rethinking Metaphor, Fauconnier e Turner (2008:61) afirmam: “Conceptual work is never-ending, and we can and continue to bring more spaces and even networks into play with the elaborate integration network E/X/M.”, no qual: “E: E is the input of Events. Human beings are expert at parsing the world into events (selling shoes, solving math problems, dining) and objects. Here we take as given that people can think of events and objects and refer to them. This expertise includes understanding event shape, including ordering and event type, and categorizing different events as belonging to the same type or to different types. Event spaces can include subjective experience of those events.” (op.cit., p.56) e “X: An important kind of event for human beings is motion through physical space from point A to point B, with corresponding objective and subjective experiences. We call this subset of E the input of experienced motion through physical space.” (op.cit, p.57) Estes domínios apontam para a conceptualização metafórica que nos ocupa neste momento: Event Structure Metaphor: “E/X: E and X are blended in routine ways to yield emergent structure. One consequence of this blending is to create the common notion that has sometimes been called the "Event Structure Metaphor."6 According to this notion, we can "go through the lecture" just as we can "go through the park" because in the blend, the event is motion from one point to another. In the blend E/X, any event has length and experienced motion (including speed, in the everyday sense of fast and slow rather than in the technical sense of physics). In E/X, the traveler of input X is fused with the experiencer of input E. The event in E is fused with the event of traversing the path in X and with the path in X. By this means, in the blend, an event becomes a path, and completing the event is traversing the path.” (op.cit, p.57) A dimensão temporal é: “M: The socially (and technologically) constructed notion of time is then brought in independently as the blended domain M (…)” (op.cit, 2008:57), ou seja, a forma como nos apreendemos o tempo. A rede conceptual E/X/M resulta do facto de qualquer evento ter uma determinada duração temporal: “E/X/M: Because M is a subset of E, it maps naturally onto E/X. This is the basis for an integration with inputs E/X on the one hand and M on the other, yielding the blended 186 space E/X/M. In that blended space, universal events in M become particular local events in E/X. They are constrained to contain local events within their span, and any local event is contained in universal events projected from M. This gives any local event an additional dimension.” (op.cit., p.59) À luz destes postulados, o significado final, fruto de processos mentais complexos, acaba por ser simples e facilmente apreensível, o que atesta a destreza mental e a aptidão própria da mente humana no que concerne a descodificação de mensagens. Do contexto militar consta, igualmente, a organização hierárquica dos exércitos, sendo o comando a estrutura que dirige as operações. Neste sentido, uma equipa de futebol que assume o comando, é uma equipa que domina e controla o jogo: (45) Die Ghaner übernahmen dann in der Schlussviertelstunde etwas mehr das Kommando (...).149 Um dos principais objectivos de um acto de guerra consiste na conquista territorial de determinados locais estrategicamente relevantes. A ocorrência (56) é particularmente interessante, pois assiste-se ao fenómeno dinâmico de força e contra-força explícita: por um lado, o esforço de defesa e impenetrabilidade através da imagem da fortaleza - “Festung”, por outro, o empenho em prol da conquista - “erobert werden”, e da consequente vitória150: (56) Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. O conceito de esforço e organização de uma equipa em torno de uma estratégia altamente defensiva é conceptualizado e consequentemente compreendido como um bastião defensivo por excelência, uma fortaleza, cuja conquista se afigura como tarefa extremamente problemática, senão impossível de executar. Infere-se assim que será, para qualquer adversário, muito difícil vencer a equipa neo-zelandesa. Tratando-se de uma antevisão relativamente a futuros jogos, a mescla final expressa uma postura de motivação e incentivo dirigida a todos que irão defrontar a selecção neo-zelandesa. É possível rever esta imagem de defesa extrema através do recurso linguístico a obstáculos físicos, tais como barreiras ou barricadas resistentes. Veja-se a ocorrência (53): 149 ”das Kommando übernehmen; kein Putsch auf dem Spielfeld, sondern: den Gegner unter → Druck setzten u. sich dabei ein Übergewicht, d.h. mehr → Spielanteile erkämpfen, das Spiel → diktieren, → dominieren (...).“ (Burkhardt, 2006a:167) 150 “erobern; kein kriegerischer Geländegewinn, sondern (in metaphorischer Verwendung): 1. sich dem Ball erkämpfen (...); 2. auf einen günstigen → Tabellenplatz vorrücken (...); 3. ein → Turnier, einen Pokalwettbewerb o. die → Meisterschaft gewinnen u. dafür eine Trophäeerhalten (...).“ (Burkhardt, 2006a:99) 187 (53) Erst das Verteildigen, dann das Toreschiessen. (...) Der eigene Strafraum wird verbarrikadiert, das Mittelfeld zu einer undurchdringbaren Zone verfestigt. Apesar dos adjectivos “verbarrikadiert”151 e “verfestigt”152 originarem uma mescla bastante complexa, criando diversos cenários, acreditamos que o leitor apreende o significado intendido sem qualquer esforço. Neste sentido, é possível que o leitor siga os seguintes processos mentais lógicos: a) o campo de futebol é conceptualizado como um percurso dividido em três zonas, que se estende de baliza a baliza, e cuja direcção parte da zona defensiva, atravessa o meio campo e termina na zona atacante - a grande e a pequena área (tendo em conta o objectivo final do jogo - marcação do/s golo/s e consequente vitória). b) uma equipa procura defender a sua pequena e grande área (incluindo a baliza) a todo o custo. c) o treinador e a sua equipa adoptam uma estratégia posicional altamente defensiva, colocando, por exemplo, mais jogadores na sua pequena e grande área ou reforçando o meio campo. d) à colocação estratégica desses jogadores em posições defensivas corresponde a construção virtual de uma espécie de muro ou escudo invisível no campo, forte e supostamente impenetrável. Ergue-se, assim, uma barreira ou barricada intransponível para os atacantes adversários. e) o cenário de ataque e defesa é conceptualizado como um confronto violento entre duas fracções opostas, tal como o conceito original de barricada153 sugere. 151 ”ver|bar|ri|ka|die|ren [V.3, hat verbarrikadiert] Syn. barrikadieren I [mit Akk.] mit Hindernissen versperren; eine Straße, eine Tür v. II [refl.] sich v. sich durch Aufbauen von Hindernissen (gegen Überfall, Eindringlinge) schützen.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/in dex.html?gerqry=verbarrikadiert [Consult. 16.01.2011]) 152 ”ver|fes|ti|gen [V., hat verfestigt; mit Akk.] fester machen, festigen.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=verfestigen&gertype=) e ”fes|ti|gen [V., hat gefestigt; mit Akk.] fester, beständig machen, stärken.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=festigen&Start=%A0%A0S uchen%A0%A0&gertype= [Consult. 16.01.2011]) 153 ”Eine Barrikade ist ein Schutzwall im Straßenkampf, der aus Gegenständen des alltäglichen Lebens meist improvisiert zusammengestellt wird. Der Begriff leitet sich ab von „barriques“ (französisch: Fässer). Barrikaden waren in der Julirevolution vom 27. Juli 1830 die maßgebliche Verteidigungsstrategie der Pariser Bevölkerung gegen die Polizei des Königs Karl X.. Annähernd 6000 solcher Barrikaden sind während des Aufstands gezählt worden. Ihr Fundament waren mit Erde gefüllte Fässer. Darauf wurde alles gestapelt und zusammengenagelt, was sich als nützlich für die Abwehr erwies. Matratzen dienten als Kugelfang. War der Feind zurückgeschlagen, wurde nicht um die Barrikade herumgelaufen. Es wurden vielmehr auf der Seite der Schutzsuchenden Pflastersteine zu einer Rampe gefügt, über die die Aufständischen stürmten, was dem Volkszorn einen dynamischen Ausdruck verlieh. Daraus leitet sich die heute noch gebräuchliche Formulierung auf die Barrikaden gehen ab. Der wesentliche Zweck von Barrikaden bestand historisch darin, dass die Aufständischen, in der Regel schlecht bewaffnet, gegenüber den militärischen Verbänden ihre unterlegene Ausrüstung wettmachen konnten. Waren die Verluste der Aufständischen dennoch meist erheblich, so bot lediglich Barrikadenstrategie überhaupt eine Erfolgsmöglichkeit für eine 188 Um ataque é igualmente conceptualizado como um assalto repentino e inesperado: (37) Gegen die überfallartigen154 Angriffe der Südkoreaner (...) fand die Abwehr um Senior Georgios Katsouranis auch weiterhin kein Rezept. Se, de acordo com as ocorrências aqui analisadas, o futebol é guerra e violência, o fim mais trágico deste confronto é a morte. Encontramos diversas ocorrências nas quais a derrota ou um golo sofrido são conceptualizados como morte pelo que jogadas podem ser actos explicitamente mortíferos: (13) Andererseits musste die deutsche Abwehr höchste Konzentration aufbieten, denn das Mittelfeld der Costa Ricaner suchte immer wieder Wanchope, der permanent auf den tödlichen Pass wie vor dem Ausgleich lauerte. (24) Erst killt er Deutschland im Halbfinale, dann knallt er Italien im Elfmeterschießen zum Weltmeister-Titel. (29) Torbinskiy und Arshavin versetzen den Todesstoß (55) Mit Forlán und Suarez gegen Deutschland - Uruguay-Trainer: „Werden bis in den Tod vorbereitet sein!“ Nesta perspectiva, é possível matar tanto jogo como a equipa - “killt” - através da execução golpes assassinos - “den Todesstoss versetzen” - e de passes mortíferos - “tödlicher Pass”. Convém estar preparado para morrer no campo - “bis in den Tod vorbereitet sein” - ou sofrer uma condenação à morte: (7) "Trapattoni verurteilt Italien zum Tode" (...) Dem ehemaligen Bayern-Coach wird die Hauptschuld am verpassten Sieg gegen Schweden gegeben. Quanto à ocorrência (24), o uso do verbo killen155 de origem inglesa, em vez do equivalente alemão töten revela-se como particularmente eficaz pelos seguintes motivos: a) O verbo killen e o nome Killer de origem inglesa já foram absorvidos pela língua alemã, e constam, como anglicismos, dos dicionários da Língua Alemã; Insurrektion – offene Konfrontationen mit dem Militär wären gleichbedeutend mit einem Massaker gewesen. (...)“ (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Barrikade [Consult. 16.01.2011]) 154 ”über|fal|len [V., hat überfallen; mit Akk.] 1 etwas oder jmdn. ü. plötzlich über etwas oder jmdn. herfallen, einen Überfall auf etwas oder jmdn. verüben, etwas oder jmdn. angreifen; ein Haus, ein Land ü.; er ist ü. worden 2 jmdn. ü. a [ugs., scherzh.] unerwartet bei jmdm. auftauchen, erscheinen, jmdn. unerwartet, formlos besuchen; dürfen wir dich einfach ü.? b jmdn. ergreifen, überkommen; Syn. übermannen; der Schlaf, die Müdigkeit überfiel ihn.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/suchergeb nis,site=559166,node=3242990.html?gerqry=%FCberfallen&gertype=& [Consult. 16.01.2011]) 155 1 ”kil|len [V., hat gekillt; mit Akk.; ugs.] ermorden, umbringen [<engl. kill ”töten“, wahrscheinlich zu mengl. quellen ”niederschlagen“].” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/servi ces/suche/wbger/index.html?gerqry=killen&gertype= [Consult. 16.01.2011]) 189 b) Trata-se de um registo mais coloquial, que imprime ao enunciado um cariz de informalidade, acentuando a ideia de língua em uso natural; c) Devido à aliteração com a consoante ‘k‘ em killt (…) knallt a sonoridade e cadência fonética do enunciado realça a violência da situação156. No que concerne a ocorrência (7), para além do contexto óbvio de morte, assiste-se simultaneamente a um mapeamento alicerçado no cenário da lei e dos tribunais. Nesta ocorrência, o treinador italiano é considerado como responsável principal pela derrota da sua equipa. Assim sendo, as suas acções e decisões relativamente ao jogo em questão e à equipa em geral, condenaram a selecção italiana à morte, i.e. devido à derrota, a Itália vê-se perante a provável eliminação prematura do campeonato. O treinador foi, assim, o juiz responsável por esta sentença, pelo que o jogo foi o julgamento e a equipa o réu. O significado final emerge da mescla alicerçada no domínio da morte e no domínio da justiça através do cenário de um julgamento e consequente condenação em tribunal. Os esquemas de relevância realçam o conhecimento da morte (a transição do estado vivo para o estado morto) como um acontecimento negativo e evidenciam, igualmente, o conhecimento que o leitor possui da justiça e do funcionamento da lei e dos tribunais. Assim sendo, a derrota extremamente negativa no final do jogo, causada pelo mau trabalho do treinador Trapattoni, corresponde a uma sentença de morte determinada por um juiz no final do julgamento. A mescla final expõe, igualmente, a responsabilidade de um treinador no sucesso ou insucesso da sua equipa. Contudo, é de realçar que o treinador não é conceptualizado como o carrasco que ‘mata’ a Itália; ele sentencia mas não executa. Esta imagem está em conformidade com as funções de um treinador: ele planeia, organiza e orienta o jogo, mas como não é jogador, a sua acção, apesar de determinante, é sempre indirecta. Quando uma derrota ou uma eliminação é extremamente expressiva e inesperada, a noção de ‘morte’ acima descrita é intensificada (“dezimieren”157): (44) (...) Die bereits früh dezimierten Franzosen verabschiedeten sich (...) aus dem Turnier. A prestação da equipa francesa aquando do Campeonato Mundial de 2010 foi desportivamente muito fraca, rodeada de controvérsia e recheada de incidentes controversos. 156 relativamente à importância dos jogos fono-simbólicos, vide Almeida (2005, 2006b) ”de|zi|mie|ren [V., hat dezimiert; mit Akk.] 1 [früher] durch Hinrichten jedes zehnten Mannes bestrafen; eine Truppe d.; die Schlacht dezimierte die Armee empfindlich 2 [heute] durch Verluste schwächen, stark verringern [<lat. decimare ”jeden zehnten Mann zur Bestrafung herausholen, den zehnten Teil zum Opfer auswählen, mit dem Zehnten (als Abgabe) belegen“, zu decimus ”der Zehnte“, zu decem ”zehn“]. ” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=dezimieren&gertype= [Consult. 17.01.2011]) 157 190 Os jogadores entraram em ruptura com o treinador e boicotaram os treinos; o treinador demarcou-se do grupo de trabalho e recusou qualquer tipo de responsabilidade; seguiram-se suspensões e demissões. Neste enquadramento conflituoso, a selecção francesa marcou apenas um golo e obteve somente um ponto durante toda a primeira fase de grupos. Sendo a França um pais com um passado desportivo de sucesso e conquista de títulos, este péssimo resultado levou à eliminação inesperada e prematura da equipa francesa do torneio. A ausência de resultados positivos e a gravidade das atitudes exibidas motivou a activação da imagem de punição, extermínio ou mesmo chacina para melhor veicular a noção de derrota esmagadora e eliminação terrível e devastadora. No outro extremo encontra-se a vitória, o êxito, o sucesso triunfal: (2) Die Schweden triumphierten mit einem insgesamt etwas zu hoch ausgefallenen Erfolg, da Bulgarien lange Zeit ein mehr als gleichwertiger Gegner war. A opção pelo verbo “triumphieren” em vez do simples gewinnen ou siegen serve para enaltecer a noção de conquista ao evocar a imagem jubilante de combatentes vitoriosos num cortejo triunfal celebrando a vitória: “Der "Triumph" geht zurück auf lat. "triumphus" = "feierlicher Einzug des Feldherrn", "Siegeszug", "Sieg".“ (In: http://www.etymologie.info [Consult. 17.01.2011]). Se a vitória é um triunfo, os responsáveis pela vitória são vistos como heróis que praticaram actos heróicos: (54) Weltweite Berühmtheit erlangte der Profi von Ajax Amsterdam ohnehin durch eine „Heldentat“ der etwas anderen Art. Im Viertelfinale gegen Ghana schlug Suarez in der letzten Minute der Verlängerung einen Kopfball von Dominic Adiyiah mit beiden Händen von der Linie. O avançado uruguaio Suarez, defendeu inadvertidamente um remate de cabeça de um jogador adversário (da selecção do Gana) evitando, assim, que a bola atravessasse a linha de baliza. Devido a esta falta, foi expulso do jogo mas acabou por se tornar um herói nacional158 pois evitou o golo que significaria a derrota e a consequente eliminação do Uruguai do campeonato mundial de 2011. A grande penalidade marcada na sequência da falta não foi convertida e após a marcação de grandes penalidades para apuramento do vencedor, o Uruguai conseguiu ganhar o jogo e qualificar-se para as meias-finais. Devido a este desfecho, toda a nação uruguaia classificou o seu acto como heróico, apesar de se tratar, de facto, de uma falta grave. 158 O conceito de herói será desenvolvido no ponto seguinte. 191 Contudo, a imprensa internacional reconhece a ‘desonestidade’ por detrás deste acto e daí, ter imprimido à notícia um certo tom irónico. Uma vez exploradas e contextualizadas as ocorrências, propomos, finalmente, a 159 seguinte tabela de espaços mentais Ocor. : ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto offensive Marschroute (marcha ofensiva) Táctica atacante da selecção holandesa no jogo contra a selecção portuguesa Táctica atacante da selecção holandesa como offensive Marschroute Cenário do confronto/duelo; Esquemas da força e da determinação Bom empenho, Holanda! (17) Texto einem sicheren Sieg entregenmarschieren (marchar em direcção à vitória) (46) Texto (56) Texto (29) Texto (55) Texto (7) Texto (19) Desempenho Desempenho Cenário do vitorioso da selecção vitorioso da selecção confronto/duelo; francesa como einem Bom esforço, francesa no jogo Esquema sicheren Sieg França! contra a selecção do SOURCE- PATHentgegenTogo GOAL marschieren Postura da selecção Cenário do das Kommando Postura da selecção do Gana (no último ¼ confronto/duelo; übernehmen do Gana no jogo Bom esforço final, de hora) como das Esquema da (assumir o contra a Alemanha Gana! Kommando liderança comando) (no último ¼ de hora) übernehmen (hierarquia) Cenário do A selecção neoconfronto/duelo; A selecção neozelandesa como die Festung Esquemas da luta zelandesa / Tácticas Festung/ tácticas Coragem e erobern e da atacantes das persistência! atacantes como (conquistar a selecções adversárias perseverança fortaleza) erobern (Futuro) Força - Contra(Futuro) força Dois golos dos den Todesstoss Dois golos dos Cenário do jogadores russos Parabéns, versetzen jogadores russos confronto/duelo; Torbinskiy e Arshavin Torbinskiy e (estocada de como den Todesstoss Esquemas da luta no jogo contra a Arshavin! morte) versetzen e da violência selecção da Holanda Atitude da selecção “Vamos dar Cenário do bis in den Tod Atitude da selecção do Uruguai face ao tudo!” confronto/duelo; vorbereitet sein do Uruguai face ao futuro jogo contra a (Tabarez, Esquemas da (estar preparado futuro jogo contra a selecção alemã como treinador da luta, violência e para morrer) selecção alemã bis in den Tod selecção do sacrifício vorbereitet sein Uruguai) Decisões técnicoDecisões técnicoCenário do zum Tode tácticas do treinador tácticas do treinador julgamento em verurteilen Péssimo trabalho, italiano Trapattoni italiano Trapattoni tribunal; (condenar à Trapattoni! (no camp. europeu como zum Tode Esquemas do morte) 2004) verurteilen poder 159 Relembramos que devido às limitações óbvias acossadas à dimensão deste estudo, optamos por apresentar cerca de um terço da totalidade das ocorrências identificadas à luz do modelo da rede de espaços mentais e sistematizados em formato de tabela. 192 (44) Texto dezimiert (dizimar) triumphieren (triunfar) (2) Texto (54) Heldentat der etwas anderen Texto Art (um acto heróico invulgar) ESB ERef ERel Eliminação da Eliminação da Cenário do selecção francesa do selecção francesa do confronto/duelo; campeonato mundial camp. mundial de Esquemas da luta de 2010 2010 como dezimiert e da violência Vitória da selecção sueca no jogo contra a selecção búlgara Defesa ilegal do jogador uruguaio Suarez - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Vitória da selecção sueca como triumphieren Cenário do confronto/duelo; Esquemas da vitória e da celebração Péssimo campeonato, França Boa vitória, Suécia! Defesa ilegal do Cenário do jogador uruguaio confronto/duelo; Suarez como Parabéns, Suarez! Esquemas de Heldentat der etwas bravura anderen Art EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 28: Tabela de espaços mentais 3 b) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Intervenientes Andrea: „Unglücklich das Land, das keine Helden hat.“ Galilei: „Unglücklich das Land, das Helden nötig hat.“ Berthold Brecht, Das Leben des Galilei Se o jogo de futebol ganha ‘vida’ através das acções visíveis em campo, nada existiria sem os seus intervenientes. Nesta categoria de intervenientes incluímos todos os indivíduos que de forma directa ou indirecta participam no evento futebolístico. Encontramos 37 ocorrências que dizem respeito a jogadores, equipas isoladas ou integradas em grupos, treinadores, à equipa de arbitragem e a elementos das comitivas das respectivas selecções. Para além dos intervenientes per se, decidimos incluir nesta categoria mapeamentos construídos a partir de adjectivos que descrevem ou caracterizam os intervenientes. Com um total de 12 ocorrências, a conceptualização do jogador como herói - Held160 é, de longe a mais frequente: 160 ”Held [m.] 1 jmd., der sich durch Tapferkeit im Kampf auszeichnet (Kriegs~); die ~en der germanischen Sage; kein H. sein bei etwas wenig tapfer, nicht gut sein; die ~en sind müde [scherzh.] jmd. hat aufgegeben, resigniert; jmd. spielt den ~en jmd. übernimmt eine Aufgabe, der er eigentlich nicht gewachsen ist 2 jmd., der sich durch bedeutende Arbeiten zugunsten anderer auszeichnet; H. der Arbeit [in kommunistischen Staaten, heute häufig iron.] 3 männliche Hauptrolle (einer Dichtung); der H. des Romans, des Stückes 4 [ugs., iron.] wenig heldenhafter Mensch, jmd., der 193 (63) Keeper Ricardo wurde im Elfmeterschießen zum Held des Abends. (64) Griechenlands neuer Volksheld Otto Rehhagel konnte im "Estadio Dragao" wieder seine Stammelf auflaufen lassen. (66) "Alle morgen ins Panathinaikon Stadion. Wir empfangen unsere Helden", rief das griechische Fernsehen seine Zuschauer zum Kommen auf. (69) In unserem Finale der Herzen wurde Bastian Schweinsteiger (21) zum Helden. (73) Bastian Schweinsteiger ist nach seinem Superspiel gegen Portugal der Held des Nationalteams (74) Montag Mega-Party mit den Fans EM-Helden feiern in Berlin (76) So schnell geht das im Fußball. Vom Depp zum Helden in wenigen Tagen. (77) Unsere WM-Helden verraten: So holt Deutschland den vierten Titel (79) Beim 2:0 gegen Honduras: Spaniens Tor-Held Villa (85) Andres Iniesta wurde in der 116. Minute (...) zum neuen Helden des spanischen Königreichs. (87) Fiesta maxima – Millionen-Empfang für Spaniens WM-Helden (93) Sie hoffen auf Buffon und die Helden von 2006 Na ocorrência (63) o guarda-redes português Ricardo tornou-se no ‘herói da noite’ ao defender uma grande penalidade e marcar, de seguida, o golo da vitória. Este acto heróico conduziu a selecção portuguesa às meias-finais do campeonato europeu de 2004, internacionalmente considerado um feito extraordinário. Já na ocorrência (64), o herói é o treinador da selecção grega, pois foi sob sua orientação que a equipa atingiu, pela primeira vez na história do futebol grego, a final de um campeonato europeu. Esta conquista valeu-lhe o título de herói da nação. Após vitória no jogo final contra Portugal, a Grécia sagrou-se campeã europeia, e toda a equipa foi considerada heróica, reconhecendo que o sucesso foi fruto de um esforço colectivo (ocorrência (66)). O recurso ao pronome possessivo “unsere”, realça o sentimento de união em torno do êxito alcançado. A marcação de um ou mais golos determinantes para a vitória é, igualmente, conceptualizada como um feito heróico. Nas ocorrências (69) e (73), trata-se do jogador Bastian Schweinsteiger que marcou três golos no jogo contra a selecção portuguesa, selando a eliminação de Portugal do campeonato mundial de 2006. As ocorrências (79) e (85) apresentam uma situação idêntica. A marcação de golos decisivos por parte dos jogadores da selecção espanhola Villa e Iniesta, aquando do wenig zustande bringt; ihr seid mir schöne ~en! 5 jmd., der (kurzfristig) im Mittelpunkt steht; der H. des Tages, des Abends.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/ index.html?gerqry=held [Consult. 18.01.2011]) 194 campeonato mundial de 2010, justificou a distinção honorífica de ‘heróis’ mais recentes do reino. A ocorrência (74) diz respeito a um apelo colectivo, um convite para participar na festa de consagração da equipa alemã, na capital Berlim, a fim de enaltecer os resultados positivos e elevar os jogadores ao estatuto de heróis do campeonato europeu de 2008. O mesmo fenómeno é descrito na ocorrência (87) referente à conquista do campeonato mundial de 2010 por parte da equipa espanhola. O estatuto de herói tanto pode ser efémero (“vom Depp zum Helden” - ocorrência (76)), como relativamente duradouro (“die Helden von 2006” ocorrência (93)), encarado como direito adquirido devido a actos heróicos passados. Uma vez consagrados heróis, estes ambicionam manter-se à altura das exigências (ocorrência 77)) e o publico, por sua vez, mantém as expectativas quanto ao desempenho dos mesmos. Mas quais serão os denominadores comuns responsáveis para a construção da imagem de herói? O que distingue estes jogadores e treinadores dos restantes? Não é apenas uma questão de qualidade de desempenho; o que os destaca é o reconhecimento público do acto heróico como invulgar, excepcional e, em certa medida, surpreendente, apesar da presença constante do sentimento de esperança. “Ein Held (griechisch ήρως hέrōs,, althochdeutsch helido) ist die Hauptfigur einer Geschichte, Legende oder Sage die über Kräfte verfügt die weit über die eines normalen Menschen hinausgehen so dass er zu einer außergewöhnlichen guten Tat (einer "Heldentat") in der Lage ist die ihm Ruhm beschert. Dabei ist nicht nur körperliche sondern auch geistige Kraft gemeint.“ (In: http://www.uni- protokolle.de/Lexikon/Held.html [Consult. 19.01.2011]) O conceito de herói - heros - emerge da antiga mitologia grega, na qual a bravura física e mental é enaltecida. ”Das Wort ''Heros'' kommt aus dem griechischen und bezeichnet den Kulturheros der Mythologie. Die griechischen Heroen waren häufig die Gestalten, die als mythische Gründer der griechischen Städte, Staaten und Länder galten. Diese mythischen Helden waren nicht immer tadellose Vorbilder. Das Zeitalter, in dem Helden dieser Art wirkten, und wo die Geschichten der griechischen Mythologie spielten, wird auch das „heroisches Zeitalter“ genannt. Diese Ära endete kurz nach dem Trojanischen Krieg, als die legendären Kämpfer fast ausnahmslos fielen oder auf der Heimkehr umkamen. Zuweilen vermochte auch eine historische Person so viel Ansehen zu erzielen, dass sie ein Held in den Augen des Volkes wurde (Volksheld, 'vgl. auch' Nationalheld). Dieses Phänomen war häufig begleitet von einem schnellen Wachstum an Mythen um die Person; häufig wurden ihr besondere Kräfte zugeschrieben.“ (In: http://www.uni-protokolle.de/Lexikon/Held.html [Consult. 19.01.2011]) 195 Existem, contudo, três tipos de heróis: o primeiro é o herói divino, que contribui para a criação do mundo e das civilizações e cujas acções estão centradas nele próprio. É um herói distante, inatingível para os comuns dos mortais. O segundo tipo é o herói semi-divino. Este encontra-se num nível intermédio, pois era evocado, pelos humanos, para interceder junto dos deuses a seu favor. Está mais próximo dos humanos mas devido à possibilidade de conviver com os deuses permanecia intocável. O terceiro e último tipo de herói é o humano, elevado ao estatuto de herói devido às suas acções extraordinárias e o reconhecimento de que estas beneficiaram e protegeram a comunidade em geral. “Sie (Konverationslexika) unterschieden drei Heldentypen. Zum einen den „Helden“ göttlichen Ursprungs, der als Weltengründer für die Menschen unerreichbar, nur den eigenen Bedürfnissen gemäss lebte. Zum zweiten die „Helden“, die den Status der Halbgötter besassen. Ihre besondere Leistung war es, von den Menschen angerufen, bei den Göttern für die Menschen bitten zu können. Diesem Typus entsprechen im christlichen Abendland die Heiligen. Drittens schliesslich unterscheiden die Lexika den „Helden“ menschlichen Ursprungs, der aufgrund der ihm zugeschriebenen Leistungen für das Gemeinwesen verehrt wurde.“ (Schilling, 2002:24-25) Tanto o reconhecimento do acto heróico, como os atributos que definem o herói como tal, são cultural e temporalmente dependentes. No antigo Israel, David tornou-se um herói por ter vencido o gigante Golias; na Grécia antiga, o semi-deus Aquiles morreu como herói troiano; Na Idade Média, por exemplo, a condição de herói surgia representada pela figura prototípica do cavaleiro medieval, como Lancelote, lutando corajosamente em defesa do seu rei e reinado, ou de um Robin dos Bosques, que, segundo a lenda, assaltava os ricos para dar aos pobres. Na China, cantos tradicionais exaltavam a heroína Mulan, a partir para a guerra em lugar de seu pai. Passados doze séculos o herói sul-americano Simón Bolívar liberta o seu povo da opressão espanhola. A história está repleta de feitos heróicos, principalmente porque marcaram um ponto de viragem no destino dos povos e das nações161. À necessidade de mudança colectiva, quer em termos sociais, económicos ou mesmo culturais, ou na procura de reposição, reabilitação ou abolição de determinados sistemas de valores e princípios, corresponde a necessidade de criação da imagem de um herói salvador, uma entidade modelar que tenha a capacidade de alterar o actual paradigma de vida. Assiste-se, assim, a uma conjugação de forças: 161 Uma abordagem interessante sobre a evolução histórica do conceito de herói encontra-se no estudo de Kerstin Hermes, Die Kreation eines Helden durch Sportmedien und -literatur - am Beispiel von Fritz Walter, 2007, pp.4-13. 196 a) um determinado acto é apenas considerado heróico, quando é reconhecido publica e socialmente como extraordinário e excepcional, quando é enaltecido e divulgado, principalmente através de registos ou relatos, transmitidos de forma escrita ou oral. ”’Helden‘ an sich gibt es nicht. Sie sind immer die diskursieve Zuschreibung eines oder mehrere Beobachter, also eine narrativ verfasste soziale Konstruktion.“ (Schilling, 2002:23) ”Zum Helden wird man erst durch die Anerkennung vonseiten Dritter", gibt Marion Meyer zu bedenken. „Diese äußert sich in Bewunderung und - in ritualisierter Form - in Kult.““ (Online Zeitung der Universität Wien, in: http://www.dieuniversitaetonline.at/beitraege/ news/wer-sind-helden/68.html [Consult. 19.01.2011]) b) as sociedades sentem, por vezes, a necessidade de criação de heróis, pois estes representam e potenciam valores que cultural e socialmente são considerados positivos e indispensáveis. Funcionam como modelos e são objecto de veneração, pois representam a capacidade quase sobre-humana de melhorar a sociedade a todos os níveis, de acordo com os diversos padrões culturais das diferentes épocas, ou seja, personificam um ideal colectivo e individual. ”Wer oder was Helden sind, wird immer wieder neu und anders definiert: in Europa anders als in Amerika oder Asien, der Nationalheld anders als ein Held der Massenmedien, der Held der Humanität anders als der Kriegsheld, den er verdrängt hat. "Heldenbilder sind Spiegelbilder ihrer Verehrer, symptomatisch für ihre Werte und ihr kulturelles Selbstverständnis. Die Konstruktion von Helden und der Umgang mit ihnen sind damit außerordentlich relevante kulturelle Phänomene: Sie markieren kulturelle Grundgegebenheiten und Mentalitäten, ja möglicherweise zukunftsweisende Ideale von Gesellschaften“ so Univ.-Prof. Dr. Marion Meyer vom Institut für Klassische Archäologie“ (Online Zeitung der Universität Wien, in: http://www.dieuniversitaetonline.at/beitraege/ news/wer-sind-helden/68.html [Consult. 19.01.2011]) O acto heróico está, então, intimamente ligado ao contexto da luta e da guerra, da conquista e do sacrifício. A história da humanidade está repleta de episódios de confrontação e de guerra e existem teorias que defendem que as guerras conduzem, de facto, ao desenvolvimento social e económico, porque após a destruição e devastação tanto material como humana, aliado ao esforço de união e de reconstrução necessário, gera o progresso. Contudo, o século XX, e principalmente o período pós-guerra fria, trouxe à luz uma nova atitude perante os cenários de guerra e a gestão de conflitos. A Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 1945 com o objectivo principal da manutenção da paz mundial, 197 realça essa alteração de paradigma.162 Esta mudança influencia também o conceito de herói, pois tal como já foi referido anteriormente, o que é considerado heróico depende do enquadramento social e cultural de cada época: ”Das Kriterium der „Leistung für das Gemeinwesen“, das für alle Erzählungen über die „Helden“ des dritten Typus gilt, ist in der Regel an die Entstehungszeit des Heldenmythos und die dort geltenden Rahmenbedingungen, d.h. Werte, gebunden. Wenn diese Rahmenbedingungen entfallen, können diese „Helden“ nicht mehr erinnert werden.“ (Schilling, 2002:25) A partir da segunda metade do século XX, com o crescente esforço internacional em direcção à paz mundial e à harmonia entre os povos e, mais recentemente, com o fenómeno da globalização em todos os domínios da vida, as sociedades começaram a rejeitar o conceito de herói de guerra, no sentido tradicional. Os “Kriegshelden163”, ou seja, aqueles que activamente promovem e são responsáveis por actos de guerra, passaram a ser encarados de forma negativa. Actos de guerra e de violência deixam de ser atitudes modelares e idolatradas. Contudo, as vítimas da guerra, os “Opferhelden” conservam o seu estatuto, merecedores de admiração e compaixão. As sociedades estabeleceram, portanto, uma nova escala de valores de acordo com o respectivo panorama sociopolítico, no qual o verdadeiro herói é aquele que promove e se sacrifica pela paz. Aspectos humanitários sobrepõem-se a manifestações militares, a diplomacia a demonstrações de força. Durante todo o século XX, viveram-se conjunturas e momentos catastróficos para a humanidade. Marcado pela ascensão e queda de ideologias extremistas, o desmoronar de nações inteiras e a criação de novas, o extermínio de populações e guerras de violência extrema e até a ameaça da destruição total do planeta, este século foi fértil na produção de mitos e heróis, pois representavam esperança e salvação: ”Das 20. Jahrhundert als eine Ära der Katastrophenerfahrungen, der extremen Ideologien, vielfacher Staatszusammenbrüche und -neugründungen war eine Hoch-Zeit der 162 ”Considering that international peace and security are essential elements for the realization of the right to development.” (Declaração do Direito ao Desenvolvimento, ONU, 1986, In: http://daccess-ddsny.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/496/36/IMG/NR049636.pdf?OpenElement [Consult. 19.01.2011]) 163 ”Das Kriterium „Leistung für ein Gemeinwesen“ erlaubt ausserdem die Entwicklung einer historisierungfähigen Typologie der Kriegshelden. Zu unterscheiden sind der Führerheld im Sinne des Feldherrn einerseits und der Opferheld, der im Krieg stirbt andererseits. Die besondere Leistung des Führerhelden besteht in der Regel in dem Gewinn einer bedeutenden Schlacht. Der Feldherr agiert als Führer von einer privilegierten politischen oder sozialen Position aus, die nicht jedem zugänglich ist. Er verfügt über eine qualifizierte Ausbildung sowie über bedeutende materielle Ressourcen. Ein Felherr kann deshalb nicht jeder werden, dieses Heldentum ist exklusiv. (...) Ihnen gegenüber steht der Opferheld. Seine aktive Leistung besteht aus der Sicht seiner Verehrer darin, dass er bereit ist, für das politische Gemeinwesen als Soldat zu kämpfen und zu sterben. Die besonders gewürdigte Leistung des „Heldentods“ ist ein Merkmal, das kein exklusives Heldentum bedingt. Sie ist vielmehr inklusiv, jeder Soldat kann, folgt man dem im 19. Jahrhundert populären Totenkult, ein „Held“ werden. ” (Schilling, 2002:25-26) 198 Mythenproduktion: Denn in Krisen- und Umbruchsphasen ist der Drang nach politischer Mobilisierung, das Bedürfnis nach Verstehen, Trost und Sinngebung besonders dringlich, und die Auseinandersetzungen um politische Autorität sind oft besonders heftig. Gleichermaßen bedürfen neu etablierte politische Ordnungen der Legitimation, die sie vielfach auf dem Wege symbolischer Politik zu erringen suchen. (...) Durch die besondere Präsentation vorbildhafter Figuren sowie die sinnstiftende Deutung von Vergangenheit und Gegenwart sollen Mythen für ein Kollektiv identitätsbildend wirken. Gleichermaßen können Mythen erklärende, tröstende oder kompensatorische Funktionen erfüllen. Denn die mythische Präsentation historisch-politischer Prozesse und Phänomene reduziert deren Komplexität und soll sie so verständlicher machen. Gleichermaßen kann die Geschichts- und Gegenwartsdeutung des Mythos mobilisierend für die Zukunft wirken, indem sie an beispielgebende Figuren oder Epochen appelliert.“ (Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in: Docupedia-Zeitgeschichte, 11.2.2010, http://docupedia.de/zg/ Mythos [Consult. 19.01.2011]) Esta tendência foi particularmente visível na Alemanha, devido ao facto da sociedade alemã ter assistido a períodos de subversão completa de princípios e de valores. Mais que qualquer outro país, a Alemanha viu nascer e morrer heróis ao ritmo das alterações sociopolíticas que ia sofrendo. A oscilação entre construção nacional e destruição total revelou-se propícia à criação de heróis nacionais. Estes cumpriam, por um lado, a função de timoneiro, de farol de ideais e de valores a seguir e por outro, eram símbolos de unificação e de identidade nacional.164 ”The constellation and perception of German identity have been continually changing over the centuries, as is the normal circumstance for virtually every nation state with a growing, dynamic society. Germany, however, more than any other European country throughout history, seems to have had a long and difficult struggle in defining its national identity. This endeavour seems to be a German phenomena that began centuries ago and st has lasted until the 21 century. (...) In Shattered Past: Reconstructing German Histories, for example, the historians Konrad H. Jarausch and Michael Geyer point to the various and contradictory representatives of German identity during the past two centuries which: ‘[…] have ranged from unpolitical poets and thinkers to arrogant Junkers, from brilliant scientists to fanatical SS killers, from arrogant GDR [German Democratic Republic] border guards to high-minded dissidents, from enterprising FRG [Federal Republic of Germany] businessmen to protesting Greens’ and which have resulted in a ‘fragmented nation’.” (Ganter, 2008:24-25) 164 O conceito de ‘identidade nacional’ é abordado muito superficialmente, pois um estudo aprofundado deste conceito ultrapassaria amplamente o escopo deste trabalho. 199 Após a segunda guerra mundial, o culto tradicional do herói de guerra - Kriegsheld/Führerheld - tinha, por razões óbvias, chegado ao fim. A Alemanha derrotada, humilhada, destruída e devastada, tanto em termos materiais como humanos, procurava um novo tipo de herói, inspirado numa matriz de valores adaptada à nova realidade. ”Zu jeder Zeit brauchen die Menschen einer Gesellschaft Geschichten, die sie aus der Alltäglichkeit herausheben, von ihren Ursprüngen erzählen, den Zusammenhalt stabilisieren und zu neuen kollektiven Taten anspornen. Insofern gibt es wohl kaum eine „mythenfreie" Gesellschaft; und die Entstehung neuer Mythen kann zu keinem Zeitpunkt ausgeschlossen werden.” (Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in: DocupediaZeitgeschichte, 11.2.2010, http://docupedia.de/zg/Mythos [Consult. 20.01.2011]) Mais do que nunca, a Alemanha empenhou-se num esforço de união e reconstrução virado para o progresso e a modernidade, ao serviço do bem comum, recuperando valores humanistas em substituição dos valores militares. Domínios como a ciência, a tecnologia, as artes e a literatura, assim como o trabalho e o desporto, foram recuperados, desmilitarizados e libertados da sua politização. ”Des Weiteren wird im 20. Jahrhundert die moderne Technologie zum Gegenstand und Instrument des Mythos. (...) Der Glaube an die allumfassende Wirkungsmacht der Technik, die Machbarkeit jedweder Prozesse und die Verehrung industrieller Produkte wird so zu einer sinnbildenden, in zahllose einzelne Erzählungen deklinierbare Mythologie der Moderne. Sie hat ihre eigenen, transnational verehrten Helden und Heldinnen (darunter Charles Lindbergh, Marie Curie, Albert Einstein, Juri Gagarin) (...) hervorgebracht.” (Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in: Docupedia-Zeitgeschichte, 11.2.2010, http://docupedia.de/zg/Mythos [Consult. 20.01.2011]) A população, em geral, procurou afastar-se de todos os vestígios reminiscentes da Alemanha nacional-socialista e negar os modelos seguidos durante o fascismo. A presença das forças aliadas na Alemanha do pós-guerra contribuiu igualmente para esta mudança de paradigma ao ‘banir’ socialmente símbolos representativos da Alemanha imperialista e proibir a futura militarização do país. ”Before the defeat of Hitler and the National Socialists in 1945, a large cross-section of Germans had supported him and the Nazi party. Afterwards, however, this positive context turned negative and the average German citizen wanted to quickly dissociate himself from the Nazis. As a result, a strong denial of every aspect of Nazism became the trend. The American attempts at ‘reeducation’ and ‘denazification’ served to further 200 strengthen this sudden desire to refute and even conceal any connection to Nazism, whether real or assumed.” (Ganter, 2008:27-28) Mais ainda, a divisão territorial da Alemanha em quatro zonas administradas pelas potências vencedoras proporcionou, por um lado, uma maior partilha intercultural, porém por outro, veio a separar um país em duas nações politica e ideologicamente opostas. As duas Alemanhas165, a ocidental Bundesrepublik Deutschland e a oriental Deutsche Demokratische Republik, reflectiam não somente as ideologias políticas dos países que as apoiavam, como espelhavam todo um modelo social e cultural, cunhando modos de vida e de pensar do povo alemão dividido. Na demanda de uma ‘nova’ identidade nacional, ambas as Alemanhas procuravam os seus heróis nacionais em representação de uma nova união e coesão interna: ”Sie [Helden] dienen, dies ist ihre kardinale Funktion, der Integration menschlicher Gemeinschaften – seien es Nationen, ethnisch-kulturelle Gruppen, politische Bewegungen, soziale Klassen und Milieus.” (Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in: Docupedia-Zeitgeschichte, 11.2.2010, http://docupedia.de/zg/Mythos [Consult. 20.01.2011]) A divisão política e territorial veio, paradoxalmente, acrescentar um novo elemento de identificação nacional, pois um dos principais conceitos identificativos de ambas as nações passou a ser a consciência da diferença, fomentada e extremada pelos aliados Estados Unidos da América por um lado, e União Soviética por outro. A questão existencial: “Quem somos?” encontrou resposta na negação: “Nós não somos eles.”, ou seja, a ‘outra’ Alemanha. “’Who are we?’ The answer was easily found by looking across the political divide: ‘We are not they.’ The division of Germany into two politically separate German nations under the guidance of the victorious allies thus made the concept of ‘identity’ easier to define. (…) As a consequence, German identity after 1949 became dependent on the existence of ‘the other’ and was partly defined by differing political ideologies which were primarily determined by location: East or West, i.e. Soviet Union or the USA, respectively. (…) 165 ”Mit einem Festakt verabschiedet der Parlamentarische Rat am 23. Mai 1949 das Grundgesetz. Es ist die Geburtsstunde der Bundesrepublik Deutschland. Bei den darauf folgenden Wahlen zum Bundestag am 14. August erringen die Mitte-rechts-Parteien um CDU/CSU und FDP einen denkbar knappen Sieg. Nur mit einer Stimme Mehrheit wird Konrad Adenauer am 15. Sepetember sum Bundeskanzler gewählt. Drei Tage zuvor wurde der Vorsitzende der FDP, Theodor Heuss, zum ersten Präsidenten der Bundesrepublik gewählt. Als Reaktion darauf tritt am 7. Oktober in der sowjetischen Besatzungszone der zweite deutsche Volksrat zusammen, der im Mai auf der Grundlage der Einheitsliste gewählt wurde, und ruft die Deutsche Demokratische Republik aus. Am 11. Oktober wählt die Volkskammer Otto Grotewohl zum Ministerpräsidenten, tags darauf wird Wilhelm Pieck erster Staatspräsident der DDR. Zwar halten beide Staaten formal an dem Ziel fest, die Einheit Deutschlands wieder herzustellen. Doch die Teilung wird in den nächsten Jahren weiter vertieft. Während die Bundesrepublik die Anbindung an den Westen sucht, findet in der DDR eine Umgestaltung nach sowjetischem Vorbild statt.“ (In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/geschichte/Jahrhundertrevue/1941~20~201950/index,page =2470616.html [Consult. 20.01.2011]) 201 Throughout the period of the Cold War, these political differences and antagonisms between the FRG and the GDR escalated primarily due to the antagonisms between the USA and the USSR. These unfortunate circumstances continued to position German brother against German brother and made the question of identity even more complicated.” (Ganter, 2008:28) Durante o período da Guerra Fria, as duas Alemanhas tinham, igualmente, encontrado os seus inimigos principais: a ditadura comunista por um lado e o imperialismo capitalista por outro. Como forma de intimidação mútua, a ostentação pública e contínua do poderio militar e bélico fez renascer o espírito guerreiro como valor socialmente aceite, embora de forma distinta na República Democrática Alemã e na República Federal Alemã166. Neste contexto, todas as conquistas, fossem elas militares, tecnológicas, científicas, artísticas ou desportivas eram exploradas, por ambas as nações, como forma de enaltecimento e legitimação do seu modus vivendi. Principalmente no domínio do desporto, os sucessos desportivos internacionais da RDA foram particularmente glorificados, pois ultrapassavam amplamente os sucessos da sua arqui-rival, a RFA. Esse sucesso devia-se não somente ao espírito altamente competitivo por parte da RDA relativamente ao seu principal opositor (a RFA), como também à integração do desporto como filosofia de vida patriótica, conforme o artigo 25, ponto 3 da antiga Constituição da RDA atesta: ”Zur vollständigen Ausprägung der sozialistischen Persönlichkeit und zur wachsenden Befriedigung der kulturellen Interessen und Bedürfnisse wird die Teilnahme der Bürger am kulturellen Leben, an der Körperkultur und am Sport durch den Staat und die Gesellschaft gefördert.“ (In: http://www.documentarchiv.de/ddr/verfddr.html#KAPITEL 1-2 [Consult. 20.01.2011]) O desporto tornava-se, assim, simultaneamente veículo de identidade nacional e de propaganda política167. O desportista bem sucedido tinha conquistado o estatuto de herói 166 ”Ein Kriegsheld in der DDR konnte und durfte nicht in der Tradition der Wehrmacht oder ihrer Vorgänger stehen. Erlaubt waren einzig Kommunisten und Widerstandskämpfer oder eben ein Theodor Körner als „Held“ der Freiheitskriege, der zugleich mit der Aufklärung und dem Humanismus identifiziert werden konnte. Damit schloss man an die linksliberale und sozialdemokratische Tradition des 19. Jahrhunderts an. In der Bundesrepublik hingegen versuchte sich ein Teil der politischen Führung und der Bundeswehr von der Wehrmacht zu distanzieren, konnte sich dabei aber nur partiell durchsetzten. Auf nationaler Ebene mochte das Erbe der Wehrmancht und des preussischen Militarismus nur eine untergeordnete Rolle spielen, auf kommunaler Ebene und in Verbänden und Vereinen konnte es sich jedoch eigene Foren schaffen. Unübersehbar war allerdings, dass der Heldenkult im Westen fakultativ war.“ (Schilling, 2002:392-393) 167 ”Später konzentrierte sich die DDR-Sportpolitik auch auf den Leistungssport und schuf damit die Grundlage für zahlreiche internationale Erfolge bei sportlichen Wettkämpfen. Sie sollten (und taten es wohl auch) zur internationalen Anerkennung der DDR beitragen, was sich in dem sprachlichen Klischee "Diplomaten im Trainingsanzug" niederschlägt. Grundlage dieser Erfolge waren systematische Nachwuchsförderung und -sichtung in den Schulen, wissenschaftliche Trainingsmethodik und natürlich medizinische Begleitung (später sogar auch mit unerlaubten leistungssteigernden Mitteln wie Doping). Im Zeitraum zwischen 1968 und 1971 wurde aus diesem 202 nacional. Este fenómeno não ocorreu apenas na RDA; a glorificação do herói desportista emergiu em todo o mundo recuperando antigas lendas heróicas sobre feitos ou episódios de desempenho físico extraordinários, tais como a lenda da maratona.168 Depois da reunificação oficial da Alemanha em 1990, o herói militar real - Kriegsheld foi substituído pelo herói ficcional ou metaforicamente construído. Contudo, o herói de guerra vitimizado - Opferheld -, ou seja, aquele que está disposto a sacrificar a vida pela pátria ou por uma causa nobre - Heldentod -, continua a merecer admiração e compaixão. ”Gibt es also im vereinigten Deutschland keine militärischen „Helden“, keinen Heldenkult mehr? Die Pluralität sozialer, kultureller und politischer Wertsphären einer offenen Gesellschaft bietet viele bewunderte Stars, ja vielleicht „Helden“ einer globalen Sport- und Freizeitkultur an. Militärische Helden, so mag man meinen, spielen keine Rolle mehr. Eine solche Annahme leugnete jedoch die Einsicht, dass in einer Gesellschaft mit pluralen Lebensstilen ebenso ein gewiss kleines Milieu denkbar ist, indem die Verherrlichung militärischer Traditionen möglich ist. Grüsste nicht in den 1970er Jahren von den Zimmerwänden mancher vermutlich eher linksorientierter Jugendlicher der kubanische Revolutionsheld Ché Guevara, der als Revolutionär in Bolivien getötet worden war. Das Phänomen kriegerischer Männlichkeit hat in Militär- und Actionfilmen - man denke nur an Rambo - immer noch ein grosses Publikum.“ (Schilling, 2002:393) Também as tecnologias de comunicação e informação dos séculos XX e XXI, vieram a enriquecer o conceito de herói mítico. Este emerge do processo de comunicação entre emissores e receptores, suportado pelos media como meio de informação e divulgação. O acto heróico é narrado e divulgado através de diversos meios de comunicação e a reacção do público determinará se este foi suficientemente meritório para ser honrado e respeitado como tal. Devido aos meios informáticos, o novo herói está à distância de um ‘click’, acessível não somente a um indivíduo, um grupo, uma comunidade cultural ou uma nação, mas a todo o mundo. Grund das DDR-Sportsystem reorganisiert: Die Förderung nichtolympischer und/oder materiell oder personell aufwendiger Sportarten wurde eingeschränkt (z. B. Pferdesport, Eishockey, Hockey, Basketball, Wasserball), sattdessen wurde die Förderung solcher Sportarten forciert, die viele (insbesondere olympische) Medaillen ermöglichten (z. B. Eisschnelllauf und Eiskunstlauf anstelle von Eishockey, Rudern, Kanu, Leichtathletik, Schwimmen, nordischer Skisport). Die Förderung von Leistungssportlern und jener Talente, die dies werden sollten, erfolgte schwerpunktmäßig in den Kinder- und Jugend-Sportschulen der Sportklubs. Sonstiger Wettkampfsport sowie Breiten- und Gesundheitssport spielte sich in Betriebssportgemeinschaften (im weiteren Sinne, siehe dort) ab. Disziplinen, in denen sich die DDR keine internationale Erfolge versprach, wurden nur in Ausnahmefällen gefördert, Segeln, Motorsport und Tennis beispielsweise.“ (In: http://www.ddr-wissen.de/wiki/ddr.pl?Sport [Consult. 20.01.2011]) 168 A maratona nasceu com um herói grego que, segundo a lenda, sacrificou sua vida para percorrer os 40 km entre as cidades de Maratona e Atenas, na Grécia. O corredor era Pheidíppides que correu a distância para levar a notícia da vitória grega sobre os persas, no ano 490 antes de Cristo. (In: http://www.infopedia.pt/$maratona [Consult. 20.01.2011]) 203 ”Gleichermaßen haben die Informationstechnologien des 20. und 21. Jahrhunderts die Entstehungs- und Funktionsweisen von Mythen verändert. Diese erwachsen stets aus einem kommunikativen Prozess, in dem es auf der einen Seite Produzent/innen und auf der anderen Rezipient/innen gibt. Politiker/innen, Schriftsteller/innen, Journalist/innen, Maler/innen und Musiker/innen, aber auch Historiker/innen gehören traditionell zu ihren wichtigsten Produzenten. Die Empfängerseite reagiert auf das „Angebot" einer Mythenproduktion äußerst kreativ, indem sie in die idealisierte Mythen-Figur alle nur denkbaren Sehnsüchte und Wünsche projiziert. Solchermaßen perpetuieren die Rezipient/innen den Mythos, indem sie in ihn „einsteigen", ihn fort- und umschreiben; worauf wiederum die Produzent/innen antworten. Dieser Kommunikationsprozess ist durch die Medien des 20. Jahrhunderts enorm beschleunigt worden. Zum einen sind die Adressaten eines Mythos umgehend und über eine Vielzahl von Kommunikationsmitteln erreichbar; andererseits ist die Reaktion der Empfängerseite in einer früher ungekannten Geschwindigkeit vermittel- und abrufbar.“ (In: Matthias Waechter, Mythos, Version: 1.0, in: Docupedia-Zeitgeschichte, 11.2. 2010, http://docupedia.de/zg/Mythos [Consult. 21.01.2011]) A correlação entre o feito heróico e os respectivos valores culturais, sociais e políticos, vigentes naquele espaço temporal, determinará o valor do mesmo como modelo individual e social. Este dinamismo realça a efemeridade da maioria dos heróis dos tempos modernos. O que hoje é excepcional, amanhã pode ser banal. O desporto e o conceito de conquista desportiva em constante mudança são disso exemplo. ”Gunter Gebauer schreibt in seiner Abhandlung ‚Die Mythen-Maschine‘ Von InstantMythen für Werwerfhelden mit der Lebensdauer eines Bundesliga-Wochenendes. Das zeigt, dass der Ausdruck ‚Held‘ immer inflationärer gebraucht wird. In einer immer schnelllebigeren Welt existieren für ihn sogar Helden für einen Tag - binnen 24 Stunden können demnach Sportler zum Helden stilisiert werden und anschliessend wieder in Vergessenheit geraten. Der Ausdruck ‚Held‘ ist immer interpretierbarer geworden, weil die Eigenschaften, die einen Helden in der Antike ausgezeichnet haben, wesentlich beliebiger geworden sind. Ausserdem können sie heute mehr Menschen besitzen als damals.“ (Hermes, 2007:13) Tal como já foi referido anteriormente, o desporto assume-se actualmente como um fenómeno de massas a dois níveis: a) é uma actividade de massas, praticada por uma faixa significativa da população como ocupação de lazer dos tempos livres; é praticado em instituições de educação, clubes, colectividades ou associações amadoras, ou até em casa, recorrendo a equipamento 204 desportivo doméstico e mesmo a consolas interactivas numa perspectiva de melhoria de qualidade de vida. A profissionalização do desporto possibilitou igualmente a criação de uma carreira profissional diferente, marcada por ambições pessoais e colectivas na busca do sucesso desportivo e do lucro financeiro. b) é um entretenimento de massas, acessível a toda a população através da mediatização dos diversos eventos desportivos. A profissionalização e mediatização do desporto são, de acordo com o supra mencionado, factores determinantes para a ascensão de uma nova tipologia de herói: ”Die zunehmende Professionalisierung und Kommerzialisierung, die den Sport zu einem Milliardengeschäft werden lässt, verändert die Wahrnehmung vom Helden und Idolen für die Gesellschaft. (...) Der Sportler gewinnt stattdessen, neben den Idolen aus der Unterhaltungsindustrie, durch eine wachsende Medialisierung dieses Genres und die zunehmende Freizeit als Forge kürzerer Arbeitszeiten, immer mehr an Bedeutung. Der Sportler als Träger herausragender körperlicher Fähigkeiten übernimmt eine neue Rolle in der Gesellschaft und wird zum Vorbild, Idol und Helden. Der Sportheld nimmt Teil an anderen Bereichen des Heldentums: der Unterhaltung und der Macht.” (Laxa, 2005:41) Actualmente, assiste-se a uma omnipresença de competições desportivas variadas globalmente valorizadas, assumindo uma posição de relevo devido ao destaque que lhes é conferido por parte dos media. Os protagonistas estão no centro das atenções quer ao nível das prestações desportivas, quer no plano das manifestações de carácter. As suas vidas profissionais e pessoais são continuamente avaliadas pelos jornalistas e pelo público. Existem três factores que permitem elevar o protagonista a herói: 1. o sucesso desportivo; 2. o carácter ou carisma; 3. o feito heróico enquadrado numa narrativa mítica, construída pelos media.169 O primeiro ponto assenta na dicotomia vitória-derrota, sendo a vitória objectivo final do desporto de competição. Pressupõe-se que o herói seja o vencedor. Contudo, o desporto alberga simultaneamente uma vertente moralizante e apaziguadora. Esta defende princípios de fair-play e atitudes de respeito mútuo entre os atletas de acordo com o lema “participar é tudo”170, relativizando, assim, o valor da vitória. O herói até pode ter perdido a competição, 169 vide Laxa, 2005:42 “The Olympic Creed - Pierre de Coubertin got the idea for this phrase from a speech given by Bishop Ethelbert Talbot at a service for Olympic champions during the 1908 Olympic Games. The Olympic Creed reads: "The most important thing in the Olympic Games is not to win but to take part, just as the most important thing in life is not 170 205 mas demonstrou possuir, de forma exemplar, um conjunto de valores éticos e morais publicamente reconhecidos. A sua dedicação pode, por exemplo, ser factor determinante para o reconhecimento do feito heróico. Mesmo sem ter alcançado a vitória efectiva, pode ter conquistado uma ‘vitória moral’. Veja-se a ocorrência (74): A Selecção nacional alemã perdeu a final do Campeonato Europeu de 2008 contra a equipa espanhola. Contudo, os jogadores mereceram ser considerados e celebrados como heróis. Esta circunstância está directamente relacionada com o ponto 2 acima referenciado, pois entende-se que a atitude visível do ou dos atletas é espelho do seu carácter. Este deve ser exemplar e excepcional, de acordo com as normas e os valores vigentes no momento, social e culturalmente partilhados. A relação do público com os seus heróis é ambivalente: "'Held' ist ein schillernder wie ambivalenter Begriff", erklärt Univ.-Prof. Dr. Marion Meyer vom Institut für Klassische Archäologie (...). "Einerseits kann man durch Höchstleistung zum 'Helden' und zur 'Heldin' werden, andererseits steht der 'Held' gerade für unerreichbare, übermenschliche Taten. 'Helden' evozieren Bewunderung, aber auch Abgrenzung." Der Begriff des "Helden" impliziere die Distanz zwischen Helden und NichtHelden - denn nur "Helden" können heldenhafte Leistungen erbringen!“ (In: http://www.dieuniversitaet-online.at/beitraege/news/wer-sind-helden/68.html [Consult. 21.01.2011]) Se de acordo com Meyer (op.cit.) o herói representa distanciação e exclusividade, este fomenta simultaneamente o sentimento de união e identificação individual e colectiva. O fenómeno da identificação pode ser sociologicamente encarado como ‘bálsamo’ psicológico, i.e. uma forma virtual de realização pessoal: ”So kann sich der Zuschauer mit dem Sportler identifizieren. Die Attraktivität des Sports als Objekt des Zuschauers basiert - darin sind sich die Wahrnehmungsforscher von jeher einig - aud Identifikationen. Die Funktion der Identifikation ist eine Stärkung und Erhöhung des Ichs. In diesem Vorgang kann das Individuum Antriebe als erfüllt erleben, deren reale Befriedigung ihm, teils aus gesellschaftlichen, teils aus individuellen Gründen versagt ist. Identifikation ist also - funktional betrachtet - eine ‚Ersatzbefriedigung‘ von Antrieben, die meist in Frustrationen ihren Ursprung haben. (...) Gesellschaftliche Grössen, die es ‚geschafft‘ haben, aus der Anonymität der Masseheraiszuragen (...) werden von den Massenmedien zu Objekten der Identifikation aufgebaut.” (Quanz, Lothar, Der Sportler als Idol. Sportberichterstattung: Inhaltsanalyse und Ideologiekritik am Beispiel der ‚Bild‘Zeitung. 1. Aufl., Giessen 1974, pp.49-51; In: Hermes, 2007:15-16) the triumph but the struggle. The essential thing is not to have conquered but to have fought well." (In: http://history1900s.about.com/od/greateventsofthecentury/a/olympicfacts.htm [Consult. 20.01.2011]) 206 Não se exige, porém, que o herói seja perfeito. O reconhecimento do facto de que o herói é, afinal de contas, humano e imperfeito, pode despertar o sentimento de compaixão e condescendência. Esta proximidade poderá, inclusivamente, ter efeitos catárticos, idênticos aos experienciadas através do teatro e da literatura da antiguidade clássica. ”Kennzeichnend für den Helden aber ist auch, daß er mit menschlichen Schwächen geschlagen ist, die ihm ein böses Ende bescheren könnten. Diese Ambivalenz erhöht die Faszination von Sporthelden.“ (Gebauer, In: http://www.spiegel.de/spiegel/print/d90861 93.html [Consult. 22.01.2011]) ”Und nur die Medien schließlich sind es, die uns die Sportler als private Menschen sowie deren Image vermitteln, so dass wir, wenn es besonders ‚menschelt‘, sogar einen kleinen Teil von uns in ihnen wiederfinden können.“ (Knobbe, 2000:9-10) ”Der Wunsch nach Helden ist in der Gesellschaft ungebrochen. Sie sind es, die Sehnsüchte der Gesellschaft befriedigen. Die Sporthelden übernehmen heute somit die Funktionen innerhalb der Gesellschaft, wie sie sich bereits bei den klassischen Helden der griechischen Mythologie finden lassen.“ (Laxa, 2005:48) Quanto ao terceiro ponto, este depende, como já foi referido anteriormente, exclusivamente dos media, responsáveis pela narrativa heróica ou mítica na medida em que fabricam e divulgam a imagem do herói, alicerçada nos pontos 1 e 2. ”Das wichtigste Werkzeug zur Erschaffung der Heldengeschichten ist die (Bild-) Sprache. Das Erzählen, Schreiben und Filmen von Geschichten, die den Helden in eine Wirklichkeit mit einer eigenen Ordnung übertragen, führt zu einer speziellen Existenzweise, die nur ihm möglich ist. (...) Bei der Existenz aller drei Kennzeichen zu einem Athleten kann von einem Helden gesprochen werden, denn erst alle drei Faktoren zusammen, lassen einen Helden im Sport entstehen.“ (Laxa, 2005:45) A relação triangular media-atleta-público torna-se, assim, perfeita pois baseia-se no princípio da necessidade recíproca em torno deste fenómeno: 207 ATLETA - almeja ser herói: - reconhecimento público do seu sucesso desportivo - realização pessoal e profissional - estatuto social e fama - maior poder e responsabilidade - vantagens financeiras 171 MEDIA - necessitam de heróis: - como produto comercial - exercício de poder/ capacidade de influência social, económica e política - garante de audiências e consequentes benefícios económicos HERÓI PÚBLICO - necessita de heróis: - reforço dos valores socioculturais - forma de união e coesão - forma de identificação e consequente realização pessoal (virtual) - satisfação emocional - catarse - entretenimento Figura 29: Relação triangular Media-Atleta-Público No que diz respeito ao conjunto de valores morais e éticos, alicerçados nos legados históricos e culturais, convém realçar que, para além da herança histórica do Kriegs/Opferheld, estes foram cunhados por outros domínios não menos significativos. Referimo-nos, por exemplo, à importância da disciplina e dedicação ao trabalho. Na senda dos princípios da fé protestante, destaca-se a obra de Max Weber “A Ética Protestante e o Espírito Capitalista”, na qual se estabelece a ligação entre o desenvolvimento do capitalismo na Europa e as características do protestantismo, tendo em conta o desenvolvimento da corrente calvinista a partir do espírito reformista iniciado por Lutero, aliando os princípios de virtude religiosa ao trabalho secular. De acordo com os ideais protestantes, seria possível alcançar bênção divina através do esforço, da dedicação ao trabalho e da penitência. Assim sendo, os indivíduos que 171 ”Die besonders seit der Öffnung des Rundfunksystems zu beobachtende Tendenz einer zunehmenden Unterhaltungsorientierung im Sportjournalismus (auch Selbstdarstellung) hat vor keinem Medium Halt gemacht. Diesem "Amüsieren" um jeden Preis setzen sich Tendenzen eines stärker investigativ und evaluativ orientierten Sportjournalismus entgegen. Die notwendige Komplementärfunktion haben zahlreiche Medien mit Erfolg bereits praktiziert - publizistisch und ökonomisch. (...) Man recherchiert sich seine "heiße Geschichte" nicht kaputt, man inszeniert, was de facto noch gar nicht passiert ist, um das Eintreten desselben zu beschleunigen. "Self fullfilling prophecy" wird das genannt und ist durch ungezählte Trainerentlassungen belegbar. Ob gut unterrichtete Kreise, Stimmen aus der Nähe des Protagonisten oder Gerüchte, die sich meist bestätigen. Mit diesen Nebelkerzen werfen längst nicht nur Boulevardjournalisten um sich - die Strukturen sind überall ähnlich, nur unterschiedlich drastisch ausgeprägt. Bisweilen ist der gepflegte Zynismus jedoch für Betroffene und Beteiligte schmerzhafter als der direkte Affront. Obwohl 85 Prozent der Sportjournalisten meinen, sie seien wirkungsvoll und mit "Macht" ausgestattet, akzeptieren sie nur zu 30 Prozent die These "Opfer" zu produzieren, währenddessen sie am Heldenepos zu 60 Prozent beteiligt sein wollen. Negative Konsequenzen des professionellen Handelns werden - weltweit im Journalismus - stets seltener gesehen als positive!“ (HACKFORTH, Josef: Greller, skrupelloser und weniger unabhängig. Zehn Thesen zur Sportberichterstattung im dritten Jahrtausend. DIE WELT, 01.03.2000,In: http://www.welt.de/print-welt/article496636/Greller_skrupelloser_und_weniger_unabhaengig.html [Consult. 22.01.2011]) 208 perfilhavam a religião protestante adoptavam a respeito do trabalho e da actividade económica uma atitude centrada na produtividade e no lucro honesto172. Neste contexto floresce o conceito de Arbeiterheld, perspectivado de duas formas distintas: a) O herói trabalhador, masculino ou feminino, que se dedica ao trabalho e se assume como uma peça produtiva e essencial na imensa ‘maquina’, que é o estado, contribuindo de forma exemplar e inovadora para o progresso e o desenvolvimento da sociedade. Esta era a filosofia defendida na antiga RDA, que levou à criação estatal da condecoração oficial “Held der Arbeit”: ”Der Ehrentitel Held der Arbeit wurde an Personen verliehen, die durch ihre besonders hervorragende, bahnbrechende Tätigkeit, insbesondere in der Industrie, der Landwirtschaft, dem Verkehr oder dem Handel oder durch wissenschaftliche Entdeckungen oder technische Erfindungen sich besondere Verdienste um den Aufbau und den Sieg des Sozialismus erworben haben und durch diese Tätigkeit die Volkswirtschaft und damit das Wachstum und das Ansehen der DDR förderten.“ (Gestiftet: 1950; Jahres quote: bis zu 50; Preis: bis zu 10.000 Mark)“ (In: http://www.ddr-imwww.de/index.php?itemid=287 [Consult. 22.01.2011]) O acto heróico - a actividade profissional ou a concretização de um projecto profissional - está claramente instrumentalizado e politizado, colocado ao serviço da nação e da ideologia socialista. Em traços gerais, o verdadeiro heroísmo repousa na contribuição para o engrandecimento e a exaltação da pátria socialista, sendo o trabalho apenas um meio para atingir esse objectivo. Porém, após a reunificação, esta condecoração oficial foi abolida. Contudo, o trabalho e o empenho profissional continuam a ser valorizados. A ideia do trabalho como parte integrante da vida activa que contribui simultaneamente para a realização pessoal e para a construção de uma sociedade próspera, permanece significativa e mesmo institucionalmente incentivada. A estratégia do “empregado do mês” adoptada por diversas empresas constitui um exemplo paradigmático. O funcionário excepcional merece lugar de destaque: o nome e a fotografia do distinguido são publicamente afixados, o herói trabalhador, embora efémero, foi criado. b) O herói trabalhador, geralmente masculino, que ao exercer o seu trabalho valoriza a vertente física e psicológica da actividade, tal como a força, o empenho, a resistência, entre outros: ”Übernatürliche Kraft, körperliche Ausdauer, Unempfindlichkeit gegenüber Müdigkeit und Schmerzen, unbändiger Leistungswillen und bedenkenloser Einsatz des Körpers 172 vide http://www.infopedia.pt/$etica-protestante [Consult. 24.01.2011] 209 selbst auf Kosten des eigenen Lebens: der Held verkörpert die geschätzten Tugenden männlicher Arbeitsproduktivität (...). Die Analogie zwischen Heldentat und männlicher Arbeitstätigkeit verweist somit auf eine mögliche kulturelle Dimension in der sozialen Reproduktion menschlicher Arbeitsleistung und -belastung.“ (Florian, Michael, Highway-Helden in Not, Genehmigte Dissertation an der Philosophischen Fakultät der Westfälischen Wilhelms-Universität in Münster, 1993:13; In: http://www.tuharburg.de/tbg/Deutsch/Mitarbeiterinnen/Michael/Kapitel1.pdf [Consult.22.01.2011]) Este é o tipo de herói que os media procuram enaltecer no desporto, nomeadamente nos campos de futebol. Um jogador de futebol que exiba estas características masculinas, é elogiado, apreciado e mesmo idolatrado pela comunicação social e, consequentemente, pelo público em geral. Regressando à imagem mesclada FUTEBOL É GUERRA, durante um campeonato internacional, os jogos de futebol entre selecções são frequentemente conceptualizados como batalhas entre dois países, sendo que os heróis conterrâneos - “Freund” - defendem a nação ameaçada pelos vilões - “Feind”: (60) Das Leder rauschte an Freund und Feind vorbei, klatschte an den zweiten Pfosten und von dort ins Tor. À luz deste enquadramento conceptual, o adversário é o principal inimigo público, ou, a partir de uma perspectiva histórica fundada numa tradição de conflitualidade, o arqui-rival: (80) Dann foulte er den deutschen Kapitän Michael Ballack so schwer, dass dieser für die WM ausfiel. Einige erklärten Boateng deshalb zu Deutschlands Staatsfeind Nummer eins. (81) Als Tabellenerster trifft Deutschland am Sonntag in Bloemfontein auf den Erzrivalen England. A mensagem subjacente à imagem mesclada da ocorrência (80) é clara: quem age contra um jogador da selecção, age contra a nação. Neste sentido, a imprensa alemã exclama: abaixo Boateng, por ter lesionado o capitão alemão Michael Ballack. O inimigo poderá ser vulnerável e cabe ao herói explorar essas vulnerabilidades: (95) „Ghana ist im Konter sehr gefährlich“, berichtete Löw. Doch in der Defensive hält er den Gegner für verwundbar. Neste caso, a estrutura defensiva da equipa, composta por vários jogadores, é conceptualizada como sendo um só corpo (vide imagem mesclada FUTEBOL COMO CORPO HUMANO) de um 210 guerreiro ou soldado que pode ser ferido e, consequentemente, fragilizado. A missão de defesa da própria baliza ficara, então, comprometida. Proliferam exemplos em que os diferentes sectores de uma equipa de futebol (defesa, meio campo, ataque, alas, etc.), formados por conjuntos de jogadores, são conceptualizadas como um único corpo. Neste sentido, um corpo vivo pode morrer ou ser morto por alguém: (68) Jens Lehmann: Neben Italiens Buffon der beste Torwart der WM. Immer sicher, immer cool. Gegen Argentinien als Elfmeter-Killer Deutschlands Matchwinner. (84) Stürmer mit Killer-Instinkt: David Villa schoss bei dieser WM fünf von sechs Toren der Spanier. (72) So blieb der Außenseiter letztlich doch noch auf der Strecke in der "Todesgruppe" C. (75) Das deutsche Spiel? Tot und virtuell im Wiener Nachthimmel, mit Kroaten, Portugiesen, Türken und all den anderen ausgeschiedenen Teams. (94) (...) Zumal Portugal ausgerechnet in der „Todesgruppe“ mit RekordWeltmeister Brasilien (...) gelandet ist. Ser eliminado na fase de grupos de um campeonato equivale à morte da equipa e, consequentemente, à morte da nação que esta representa. Na ocorrência (75) o jogo “morto” da selecção alemã merece um lugar no céu, de acordo com a fé cristã, ao lado das outras equipas que já pereceram, i.e. que foram eliminadas. Tendo em conta que o jogo decorreu na cidade de Viana, o ‘céu’ do paraíso é idêntico ao ‘céu’ nocturno sobre Viena. A mescla virtual é literalmente virtual devido ao recurso do advérbio “virtuell”. Note-se que, enquanto a morte é uma condição física, real e visível, a ascensão da alma ao ‘céu’ é, de acordo com a fé cristã, uma elevação invisível e incorpórea. Quanto às ocorrências (68) e (84), as possíveis razões que poderão ter motivado o recurso ao termo inglês “Killer” já foram exploradas anteriormente. Também o árbitro pode ser interveniente activo no confronto futebolístico. Na ocorrência (82), a derrota da selecção australiana e sua consequente eliminação do campeonato mundial, deveu-se a decisões tomadas pelo árbitro (de acordo com a opinião do jogador australiano), nomeadamente, a exibição do cartão vermelho ao atacante. (82) Harry Kewell: „Er ist Richter, Jury und Henker. Der Typ hat meine WM gekillt.“ Neste cenário de julgamento - já explorado anteriormente relativamente à ocorrência (7) enquanto o jogador da selecção australiana é o réu, o árbitro encarna 3 entidades diferentes: juiz, jurado(s) e carrasco, ou seja, é o único e exclusivo responsável pela morte do réu. Para o 211 jogador em questão, o seu mundial morreu, ou seja, terminou com a eliminação da selecção. O recurso ao verbo “gekillt” espelha e reforça a perspectiva do jogador em causa: este considera que foi vítima e que o seu campeonato foi assassinado. A construção do cenário do julgamento (no qual se espera que seja averiguada a verdade e aplicada a justiça) serve para este denunciar e realçar a injustiça praticada. De acordo com as ocorrências em foco, a luta, o sacrifício e a morte afiguram-se como domínios conceptuais essenciais para a criação do herói futebolístico. Wipper (2003:99) justifica: “Die Schilderung der Gefahren, die bloße Möglichkeit des Todes, so stellen es die Texte dar, adeln den Protagonisten“, corroborado por Hermes (2007:21): “Auch dadurch entsteht beim Zuschauer eine Spannung: Sieg oder Zerstörung? (...) Heldensagen funktionieren ähnlich - auch hier steht der Heros oft am Rande einer Niederlage, manchmal bezahlt er sogar mit dem Tod. (...) Sporteler versuchen die Katastrophe der Niederlage zu bekämpfen. (…) Das Risiko ist groß, um Rekorde oder Siege zu erringen (wie beim Heros der Tod). Dadurch wird die Bewunderung umso grösser.” Em cada campeonato, todos os intervenientes têm os seus papéis e as suas funções bem definidas, de modo que os jogos possam decorrer de forma organizada e estruturada, orientados para o sucesso a todos os níveis. De acordo com a abordagem semiótica que temos vindo a seguir e baseando-nos na imagem mesclada FUTEBOL É GUERRA, podemos conceptualizar os jogos de futebol como batalhas. Também no cenário da batalha, cada interveniente desempenha, de acordo com a sua posição hierárquica, determinadas funções, assumindo responsabilidades e contribuindo para que o objectivo final seja atingido: a vitória. O mapeamento dos domínios e, consequentemente, dos cenários (jogo-batalha), torna-se visível através do recurso a diferentes patentes militares de acordo com as suas funções no contexto da guerra. Assim, deparamo-nos com Legionários, Generais, Coronéis, Tenentes, Estrategas, etc., no mundo do futebol. (59) "Legionär" Morientes, von Real Madrid an den AS Monaco ausgeliehen, durfte sich als einzige nominelle Spitze versuchen. (67) Bei Australien setzte Coach Guus Hiddink ausschließlich auf Legionäre, die in ganz Europa ihre Brötchen verdienen. O jogador é conceptualizado como soldado de uma legião estrangeira, ou seja, o jogador da selecção do seu país, é simultaneamente jogador profissional de um clube estrangeiro, 212 participando num campeonato fora do seu país natal. O conceito do legionário - Legionär173 prende-se com a profissionalização das forças militares do antigo império romano. Assim sendo, em troca de um contrato monetário atractivo, o jogador profissional opta por jogar num país estrangeiro174. Na ocorrência (88), evidencia-se a qualidade superior do jogador do meio campo da selecção holandesa, Wesley Sneijder: (88) Es darf eher als Ausnahme gelten, wie souverän der „geborene MittelfeldGeneral“ sich am Kap verhält. A admiração e o respeito por este jogador são veiculados por um conjunto de opções lexicais: a) “Ausnahme”: aquando do campeonato do mundo de 2010, o jogador destacou-se positivamente em termos de atitude; a sua postura aparenta ser excepcional quando comparado com os restantes elementos da equipa; b) “souverän”: destaca-se a soberania, em termos de superioridade e excelência; c) “geborene”: atesta-se o talento inato do jogador d) “General”175: o jogador é merecedor do título de General, a patente militar mais elevada dentro da hierarquia do exército e da força aérea alemãs. Este título enaltece as suas qualidades futebolísticas e as suas capacidades de liderança pois destaca o jogador como principal responsável do meio campo. Na ocorrência (83) o “Generalbeauftragter” (o jogador Schweinsteiger) recebeu ordens directas do General (pressupomos que seja o treinador Löw) para serem cumpridas em campo, neste caso concreto, ficou responsável pela cobertura do jogador da equipa adversária, Leonel Messi. Este comissário ou delegado assume-se como uma extensão da vontade do General, que, como estratega, define as melhores tácticas (como, por exemplo, evitar que o jogador Messi possa desenvolver o seu jogo perigoso devido à marcação directa) a serem executadas pelos seus soldados/jogadores. 173 ”Legionär - römischer Berufssoldat; ursprünglich wurden nur römische Landbesitzer in ein Milizheer aufgenommen. 107 v. Chr. wurde auf Veranlassung des Konsuls Marius eine umfassende Militärreform durchgeführt und ein Berufsheer geschaffen, um das wachsende römische Engagement in immer entfernteren Gebieten und die umfangreichen Grenzsicherungen zu gewährleisten. Seitdem konnten auch einfache römische Bürger Legionäre werden. - Allgemein werden Angehörige einer Legion als Legionär bezeichnet. ” (In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/geschichte/index,page=1177014.html[Consult. 22.01.2011]) 174 ”Legionär, der; kein Krieger, im Dienste ausländischer Mächte, sondern (in metaphorischer Verwendung): einheimischer Spieler, der bei einem ausländischen Verein unter Vertrag steht.” (Burkhardt, 2006a:181) 64 ”Ge|ne|ral 1 höchster Rang der Offiziere 2 Offizier in diesem Rang 3 Leiter eines kath. Ordens oder einer Kongregation [<frz. général, verkürzt aus capitaine général ”Befehlshaber einer militärischen Truppe“, eigtl. ”Befehlshaber der ganzen Truppe, Oberbefehlshaber“, zu général ”allgemein, Haupt-, Ober-“].“ (BERTELSMANN Wörtebuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=General& gertype= [Consult. 22.01.2011]) 213 (83) Schweinsteiger agierte dabei als "Generalbeauftragter" in Sachen Messi, der zunächst unauffällig blieb. Para qualquer batalha são delineadas estratégias176 essenciais para a conquista da vitória. Analisa-se o local do confronto, estuda-se o adversário, aferem-se tácticas, compõemse os meios humanos e o armamento necessário, ajustam-se os diferentes posicionamentos e calcula-se o timing ideal para as movimentações. Tanto no domínio da guerra como no domínio do futebol, o planeamento inicial a par da avaliação dos respectivos reajustamentos durante o confronto, são processos vitais. Consequentemente, apelidar alguém de estratega inteligente, é, sem dúvida, um elogio. (91) Den genialen Techniker und klugen Strategen Karim Ziani (27) kennt man beim VfL Wolfsburg eigentlich nur aus Erzählungen. Assiste-se frequentemente à presença de um elemento central que domina e comanda o evento, que se destaca na sua posição e lidera os seus colegas. As posições no futebol podem ser divididas em 4 posições base: 1. guarda-redes, 2. defesa, 3. médio e 4. avançado. Aquando da análise das diversas posições, é necessário ter em conta que o número de elementos de cada sector depende da estratégia adoptada pelos treinadores.177 A ocorrência (62) diz respeito à posição habitual que o jogador italiano Vieri ocupa e pela qual é famoso; a ocorrência (89) destaca o extraordinário domínio do jogador alemão Schweinsteiger na sua posição (meio campo): (62) Zudem ließ er Sturmführer Vieri auf der Bank. 176 ”Stra|te|gie f .nur Sg. 1. Kunst der Kriegführung; 2. umfassende Planung zur Verwirklichung von Grundvorstellungen; Stra|te|ge [griech.] m .jmd., der sich auf Strategie versteht.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=Strategengertype= [Consult. 22.01.2011]) 177 Apresentamos aqui as diferentes posições possíveis em cada sector. No sector defensivo encontram-se os jogadores da defesa, que são a linha imediatamente a seguir ao guarda-redes. Existem 3 suposições neste sector, a saber: - Defesas Laterais, que jogam pelas alas quer do lado esquerdo, quer do lado direito; - Defesas Centrais, que jogam no entre os defesas laterais; - Libero cuja zona de acção é entre o guarda-redes e os defesas centrais. Logo a seguir à linha defensiva, encontra-se o sector intermediário onde jogam os médios, aqui existem 4 suposições: - Médio Ala, que joga nas laterais, quer na esquerda quer na direita; - Médio Centro, que joga na zona central do terreno de jogo; - Médio Defensivo ou Trinco, que joga a meio do meio campo defensivo, ou seja, entre a linha defensiva e a linha intermédia; - Médio Atacante ou número “10”, que joga na zona central entre o sector intermédio e o sector avançado. O último sector é o dos avançados e aqui encontram-se 3 suposições: - Extremos, que jogam no último terço de terreno, quer na ala direita como esquerda, que tentam servir os avançados através de cruzamentos; - Avançados, que jogam na zona central e nas imediações da área de grande penalidade da equipa contrária e; - Ponta-de-Lança, que joga dentro da área de grande penalidade da equipa contrária. 214 Aquando do campeonato europeu de 2004, o jogador italiano Vieri foi convocado para a selecção nacional italiana por ser um avançado de qualidade, famoso pela sua postura de líder natural da equipa. A noção de liderança nesta posição é transmitida através do termo Sturmführer - líder do ataque. Os termos Sturm e Stürmer fazem parte do vocabulário específico futebolístico (vide ponto 3.1.) inspirado no domínio da guerra. No contexto militar, o Sturm178 compõe a frente de ataque, a primeira linha ofensiva, da qual se espera uma investida arrebatadora e mortífera. Este Sturm, por sua vez, emerge da projecção conceptual a partir do domínio-fonte dos fenómenos naturais (Sturm: vento forte ou temporal). Historicamente, o termo Sturmführer designava uma patente militar pertencente à organização paramilitar SA (Sturmabteilung179) durante a primeira metade do século XX na Alemanha, tendo sido particularmente activa como organização de apoio ao partido NSDAP (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) no III.Reich. Contudo, com a ascensão da SS (Schutzstaffel), SA a foi gradualmente perdendo força e estatuto, tendo sido dissolvida, tal como o NSDAP e a SS, com o fim da segunda guerra mundial180. Consideramos, porém, que a selecção do termo Sturmführer no contexto futebolístico, não se inspira no contexto histórico da SA, mas apenas no domínio militar, sendo o Sturm sinónimo de ataque desportivo181. Na seguinte ocorrência (89) Schweinsteiger (…) Er war der Herrscher im Mittelfeld. o jogador da selecção alemã, Schweinsteiger, é médio, ou seja, o meio campo é o ‘seu’ território. Assim sendo, o jogador domina e comanda de forma absoluta esse sector do campo, incluindo os seus colegas de posição. Daí merecer o título elogioso de soberano. 178 ”Sturm, der; -[e]s, Stürme: 1. sehr heftiger, starker Wind: ein heftiger, tobender S.; ein S. bricht los; der S. wütet, tobt, hat sich gelegt; bei/in S. und Regen draußen sein; die Schiffe kämpfen gegen den, mit dem S.; in einen S. geraten; Ü ein S. der Begeisterung brach los; die Stürme des Lebens; 2. heftiger, schnell vorgetragener Angriff mit dem Ziel, den Gegner zu überrumpeln, seine Verteidigung zu durchbrechen: eine Festung im S. nehmen; den Befehl zum S. auf die Stadt geben; zum S. blasen; Ü beim Ausverkauf setzte ein S. (Ansturm) auf die Geschäfte ein; im S. hat er die Zuhörer für sich eingenommen (die Herzen waren ihm zugeflogen); 3. a) (Sport) Gesamtheit der Stürmer: der S. der Nationalelf; im S. spielen; b) das Stürmen (4 b); Angriffsspiel vor dem gegnerischen Tor: im S. zu drucklos spielen; auf S. (offensiv) spielen. ” (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM) 179 ”SA, die; - (ns.): Sturmabteilung (uniformierte u. bewaffnete politische Kampftruppe als Gliederung der NSDAP).” (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM); 180 ”Die Sturmabteilung (kurz SA) war die paramilitärische Kampforganisation der NSDAP während der Weimarer Republik und spielte als Ordnertruppe eine entscheidende Rolle beim Aufstieg der Nationalsozialisten, indem sie deren Versammlungen vor Gruppen politischer Gegner mit Gewalt abschirmte, bzw. deren Veranstaltungen massiv behinderte. Nach der NS-Machtübernahme wurde die SA von Hermann Göring, dem Reichskommissar für das preußische Innenministerium und damit Dienstherr der preußischen Polizei, kurzzeitig auch als staatliche „Hilfspolizei“ eingesetzt. Nach dem Sommer 1934, als SS-Einheiten die SA-Führungsspitze ermordet hatten (siehe Röhm-Putsch), verlor sie in der weiteren Zeit des Nationalsozialismus sehr stark an Bedeutung. Nach der Kapitulation des Deutschen Reiches 1945 wurde sie wie NSDAP und SS mit dem Kontrollratsgesetz Nr. 2 verboten und aufgelöst.(...).” (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Nationalsozialistische%20Deutsche%20Arbeiter partei [Consult. 22.01.2011]) 181 ”Sturm, der; weder gefährlicher Starkwind noch gewaltsammer Massenangriff (etwa auf die Bastille), sondern 1. das → Angreifen, → Angriffsspiel, 2. (in metonymischer Übertragung) der → Angriff, d.h. die → Angriffsspieler (...)” (Burkhardt, 2006a:294) 215 Em sintonia com as análises previamente desenvolvidas no ponto a), os guerreiros vitoriosos regressavam de forma triunfal aos locais de onde tinham partido para combater. (65) Niederlande: EM-Teilnahme kam für Arjen Robben (20) unverhofft: Ein Rückkehrer als Triumphator. A opção pelo termo “Triumphator” em vez do mero Gewinner é significativa devido à riqueza de imagens que o cenário do triunfo evoca: um regresso acompanhado de júbilo e exultação devido à extrema satisfação e ao reconhecimento público do sucesso alcançado, quão cortejo triunfante de soldados romanos182. Por último, regista-se a ocorrência (90) (90) Abflug nach Südafrika - Das Vorkommando meldet: Alles okay! devido ao facto de ser um dos poucos exemplos que não diz respeito aos jogadores, treinadores, árbitros ou ao público. Surge num contexto extra-jogo, pois trata-se da comitiva organizacional, responsável pelas questões logísticas relacionadas com as selecções. Neste caso particular, antes do início do campeonato mundial de 2010, a Federação Alemã de Futebol (DFB) enviou uma delegação ao local de acolhimento da selecção alemã na África do Sul, a fim de se certificar, se estavam criadas as condições necessárias para receber a selecção condignamente. Sendo o primeiro grupo a chegar ao local de destino, partiram em ‘missão de reconhecimento’ com o intuito de analisar o ‘terreno’, à semelhança das funções de um ‘batedor’ (Vorkommando ou Vorauskommando)183 no contexto da guerra. De novo, tanto as estruturas organizacionais subjacentes ao futebol como as posições e funções dos jogadores em campo, são conceptualizadas de acordo com a organização hierárquica e funcional do universo militar. Vejamos, de seguida, as nossas propostas relativamente às diversas redes de espaços mentais: 182 ”Tri|um|pha|tor, der; -s, ...oren [lat. triumphator]: 1. (in der römischen Antike) in einem Triumphzug einziehender siegreicher Feldherr. 2. (bildungsspr.) jmd., der einen großen Sieg, große Erfolge errungen hat.” (Dudenverlag, 1997, versão CD.ROM) 183 ”Vo|raus|kom|man|do, das (Milit.): Kommando, das bes. für die nachfolgende Truppe Quartier beschafft.” (Dudenverlag, 1997, versão CD.ROM) ”Vor|aus|kom|man|do <auch> Vo|raus|kom|man|do: Kommando, das einem regulären Kommando vorausgeschickt wird.” (BERTELSMANN Wörtebuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/su che/wbger/index.html?gerqry=Vorauskommando&gertype= [Consult. 28.01.2001]) 216 Ocor. ESB EA neuer Held (novo herói) (85) Texto (80) Staatsfeind Texto (inimigo público) (95) Texto verwundbar (vulnerável) (75) Texto Tod (morte) (82) Richer, Jury und Henker/ (WM) gekillt Texto (Juiz, jurado e carrasco/ matou o mundial) (67) Texto (88) Texto (91) Texto (62) Texto ERef M1 O jogador espanhol Iniesta (marcador do Jogador espanhol golo que garantiu a Iniesta como neuer conquista do camp. Held mundial de 2010) O jogador do Gana Boateng. (em futuros jogos) Jogador do Gana Boateng (em futuros jogos) como Staatsfeind Defesa da selecção ganesa (Opinião do seleccionador alemão quanto ao futuro jogo GanaAlemanha) Defesa da selecção ganesa como verwundbar (Futuro) ERel Cenário do confronto/duelo; Esquemas de bravura e excepcionalidade Cenário do confronto/duelo; Esquema da oposição (amigoinimigo) Cenário do confronto/duelo; Esquema da vulnerabilidade Derrota da selecção Cenário do Derrota da selecção alemã no jogo contra confronto/duelo; alemã como Tod a selecção espanhola Esquema da morte M2 És o melhor, Iniesta! Abaixo o Boateng! “Vamos vencer!” (Löw) Adeus, Alemanha! O arbitro que exibiu o cartão Cenário do vermelho como julgamento; “Sinto-me Richter, Jury und Esquemas do injustiçado!” Henker/ Expulsão poder, da morte e (Kewell) de Kewell como da injustiça gekillt Os jogadores da Os jogadores da selecção australiana selecção Cenário do seleccionados por australiana Legionäre confronto/duelo; Hiddink, boas Hiddink seleccionados por (legionários) Esquema da venda escolhas! (seleccionador Hiddink para de serviços australiano) para futuros jogos como futuros jogos Legionäre Cenário do MittelfeldO jogador Sneijder confronto/duelo; General O jogador holandês Sneijder, bom como MittelfeldEsquemas da (general do meio Wesley Sneijder desempenho! General liderança e campo) hierarquia Cenário do kluger Stratege O jogador Karim confronto/duelo; O jogador argelino Ziani, excelente (estratega Ziani como kluger Esquemas da Karim Ziani jogador! inteligente) Stratege liderança e hierarquia Cenário do Sturmführer confronto/duelo; O jogador italiano O jogador Vieri (líder da frente Esquemas da Vieri é o melhor! Vieri como Sturmführer de batalha) liderança e hierarquia Expulsão do jogador australiano Kewell devido à exibição de um cartão vermelho por parte do árbitro 217 (89) (65) Texto Herrscher im Mittelfeld (soberano no meio campo) Texto Triumphator (triunfador) ESB ERef ERel O jogador alemão Schweinsteiger O jogador Schweinsteiger como Herrscher (im Mittelfeld) Cenário do confronto/duelo; Esquemas da liderança e hierarquia Boa prestação, Schweinsteiger! O jogador holandês Arjen Robben O jogador Arjen Robben como Triumphator Cenário do confronto/duelo; Esquemas da vitória e celebração Parabéns, Robben! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 30: Tabela de espaços mentais 4 A manifesta carga emocional associada a estas arquitecturas conceptuais reflecte e perpetua o estado de espírito partilhado por todos os intervenientes, sejam eles activos ou meros espectadores destes eventos futebolísticos de dimensão internacional. Laxa afirma: “Das kollektive Erleben von Welt- und Europameisterschaften als Medienereignis (…) verstärkt den integrativen und identifikationsstiftenden Charakter des Fussballs. Die reglementierten Länderkämpfe - kurz Länderspiele - ersetzen dabei auf spielerische Art und Weise die Urinstinkte der militärischen Kriegsführung. Unbeschreibliche Emotionen werden bei den Fans freigesetzt (...)“ (Laxa, 2005:22) c) FUTEBOL É GUERRA/VIOLÊNCIA – Categoria: Eventos Não há dúvida que um jogo de futebol é um evento desportivo que desperta o interesse de um número considerável de pessoas em todo o mundo. Esse interesse explica a atenção que os media dedicam ao acompanhamento exaustivo destes eventos (antes, durante e após os jogos) o que contribui para a transformação deste desporto num verdadeiro fenómeno social, cultural e económico. De acordo com a abordagem seguida, um jogo de futebol desperta emoções diversas: alegrias e desilusões, paixões e ódios, é capaz de unir ou separar pessoas, comunidades, regiões ou mesmo nações. Sempre que o desafio de futebol esteja integrado numa competição internacional - um campeonato europeu ou mundial - o jogo ultrapassa amplamente o domínio desportivo, abarcando questões de identidade nacional e cultural, afectando mesmo o poder político. Döring/Osthus postulam: 218 “Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport dürfte eines der gängigsten metaphorischen Verfahren sein, wie vorliegende Studien zur Metaphorik der Fußballberichterstattung (Gil 1998; Gabriel 1998) bestätigen. Selbst die Terminologie des Fußballsports ist im höchsten Grade durch Militärmetaphorik geprägt, wie Begriffe der Offensive (frz. offensive), der Verteidigung (frz. défense) oder des Angriffs (frz. attaque) unschwer erkennen lassen. In der Berichterstattung über die Weltmeisterschaft wird diese ohnehin schon vorhandene Kriegsmetaphorik noch um eine nationale Komponente erweitert, indem die Mannschaft metonymisch mit der Nation gleichgesetzt wird, (...) und der sportliche Erfolg metaphorisch als ein nationaler militärischer Sieg verstanden wird.“ (Döring/Osthus, 2002, metaphorik.de 03/2002) No presente ponto pretendemos analisar as imagens mescladas baseadas nas projecções de eventos/acontecimentos construídas a partir do domínio-fonte da guerra e da violência. Na categoria dos eventos, a conceptualização do jogo de futebol como um duelo revelou-se o mais frequente, com um total de 10 ocorrências: (96) (…) Silvestre kam im Duell gegen den Mittelfeldakteur vom FC Chelsea zu spät. (97) So kam das "italienische Horrorergebnis" im Wikinger-Duell zum Tragen und zwingt die Azzurri zur Heimreise. (102) (...) doch im Duell mit Ricardo blieb der portugiesische Keeper der Sieger. (107) In Unterzahl konnten die Franzosen das Spiel nicht mehr drehen, das zweite Tor der Azzurri entschied das Duell nach einer guten Stunde. (108) HEUTE HAMMER-DUELL GEGEN RONALDO - Ballack, lass ihn wieder weinen! (109) Halbfinale Deutschland – Türkei. Das brisante Duell (Altinop-Schweinsteiger) (110) Fernando Torres hatte seine Schnelligkeit ausgenutzt und das Duell gegen Phlipp Lahm gewonnen. (113) Es war der Auftakt zu einem Privatduell, das der Keeper aus Nigeria zu seinen Gunsten entschied. (114) Auf diese Duelle kommt es an. (119) Die heißesten Duelle mit England. O conceito de Duell184 - duelo - emerge naturalmente no futebol devido ao facto de se tratar de um confronto entre duas partes, apesar da origem da palavra latina duellum significar ‘guerra’ e não ‘combate a dois’.185 184 ”Du|ell, das; -s, -e [mlat. duellum < älter lat. duellum = Krieg für klass. lat. bellum; die Bed. ,,Zweikampf entstand durch volksetym. Anschluss an das lat. Zahlwort duo = zwei]: 1. (früher) zur Entscheidung eines Ehrenhandels, zur Schlichtung eines Streits ausgetragener Zweikampf mit Waffen: ein D. [mit jmdm.] austragen; ein D. auf Pistolen. 2. a) (Sport) sportlicher Wettkampf zwischen zwei Sportlern od. zwei Mannschaften: die beiden Fußballmannschaften 219 Na ocorrência (97), trata-se da eliminação da selecção italiana do campeonato europeu de 2004 devido ao empate no jogo entre a Suécia e a Dinamarca. O facto de o confronto se disputar entre duas equipas escandinavas, originou a mescla “Wikinger-Duell” que, para além de aludir às origens etnográficas, pretende salientar o espírito guerreiro associado a estes povos, que, aparentemente se reflectiu em campo (resultado final de 2:2). O horror do “Horrorergebnis” da selecção italiana reside no facto da vitória no jogo contra a selecção da Bulgária (2:1) não ter sido suficiente para evitar a sue eliminação do campeonato. A ocorrência (108) descreve o jogo entre as selecções de Portugal e da Alemanha como um “duelo-martelo”. Tal como já foi referido no ponto a), o martelo afigura-se como uma ferramenta apropriada para a construção de mesclas devido ao facto, pensamos nós, de ser um utensílio muito comum, exemplo por excelência do poder da força. A imprensa prevê, então, que este duelo seja um confronto duro e combatido entre duas equipas poderosas.186 O duelo é, portanto, o confronto entre duas equipas, mas este pode ser limitado a apenas dois jogadores adversários, tal como a ocorrência (113) o demonstra. Neste caso específico, o “Privatduell” diz respeito ao guarda-redes nigeriano Enyeama e ao avançado argentino Higuaín. A imagem do duelo tradicional, um contra um, emerge naturalmente ao confrontar os jogadores com as posições mais antagónicos de toda a equipa: avançado e guarda-redes, no frente-a-frente mais emotivo do jogo de futebol. Também o recurso frequente a adjectivos que caracterizam a intensidade dos confrontos é, em grande parte, metaforicamente motivado187 com o intuito de aumentar os níveis de entusiasmo relativamente ao jogo vindouro. A ocorrência (119) remete para uma metáfora conceptual simples: INTENSIDADE É FOGO. A afirmação “Die heißesten Duelle mit England” foi retirada de um artigo que compara, numa perspectiva cronológica, os jogos entre as selecções da Alemanha e da Inglaterra e destaca os duelos mais ‘quentes’, i.e. os mais intensamente disputados, considerando a rivalidade histórica entre os dois países. De acordo com Lakoff, Johnson (1980) e Kövecses (2002) o fogo é um domínio-fonte bastante comum e produtivo. Os domínios-alvo gravitam, lieferten sich ein packendes, spannendes D.; b) (bildungsspr.) Wortgefecht; Zweikampf mit geistigen Waffen: die beiden Redner lieferten sich ein witziges, scharfes, erbittertes D.;” (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM) 185 ” Duell, das; lat. duellum >Krieg< (später fälschlich angeschlossen an lat. duo >zwei< u. daher verstanden i. S. v. >Zweikampf<); kein Zweikampf mit Waffen, um einen Ehrenhandel zu entscheiden, aber: 1. Wettstreit zwischen zwei Parteien bzw. Mannschaften um den Sieg, → Spiel, → Partie, → Match, → Begegnung (...) 2. → Zweikampf zwischen Spieler u. → Gegenspieler.” (Burkhardt, 2006a:83) 186 ”Hammer, der; kein Werkzeug zum schlagen, aber ) in metaphorischer Verwendung): (...) 3. von besonderer Brisanz, Schwierigkeit o. Wichtigkeit.(...).” (Burkhardt, 2006a:142) 187 veja-se a ocorrência (109): “bri|sant <Adj.; -er, -este> [frz. brisant, 1. Part. von: briser = zerbrechen, zertrümmern: 1. (Waffent.) hochexplosiv, von großer Sprengkraft: ein -er Sprengstoff; b. sein. 2. (bildungsspr.) viel Zündstoff für eine Diskussion, Auseinandersetzung o. Ä. enthaltend: das Thema des Buches ist äußerst b.;“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM). 220 sobretudo, em torno do conceito da emoção. Assim sendo, experiências abstractas do foro das emoções são metaforicamente conceptualizadas através da experiência física do fogo, i.e. do calor. Kövecses conclui, generalizando, que a EMOÇÃO É CALOR.188 É inegável que um confronto futebolístico evoca um vasto conjunto de emoções. Essas emoções podem reportar-se ao passado - jogos anteriores - como podem surgir em antecipação - jogos a realizar num futuro próximo. Nestes casos, a conceptualização é encadeada: o jogo provoca emoções e as emoções são conceptualizadas como fogo/calor, logo, o jogo é fogo/calor. Kövecses exemplifica: ”But the heat-fire source is not limited to the emotions, as indicated by the examples below: In other words, the scope of the metaphorical source of heat-fire extends well beyond the emotions. Consider the additional examples that follow: (…) You need to perform well when the heat is on. [PRESSURE-EVENT] (…) As can be seen, the fire-heat metaphorical source domain applies to actions (argument) and events (pressure). It also applies to states of various kinds. In general, we can claim that the source has as its scope any intense situation (actions, events, states). (…)” (Kövecses, 2002:114) Dos diferentes exemplos apresentados por Kövecses, destaca-se um, que conceptualiza uma competição desportiva como uma batalha e o nível de intensidade competitiva através da domínio-fonte do calor: “The battle for the Formula One Championship hotted up. [BATTLECONFLICT].” (Kövecses, 2002:115) Neste sentido, a inferência COMPETIÇÃO DESPORTVIA É FOGO/CALOR deve ser considerada, segundo Kövecses, uma metáfora complexa, construída a partir da metáfora simples INTENSIDADE É CALOR (DO FOGO), que emerge do mapeamento “calor (do fogo) → intensidade da situação.189 A mescla virtual - os jogos entre a Alemanha e a Inglaterra como ‘duelos quentes’ estabilizada pelos esquemas relevantes associados aos conceitos de ‘duelo’ e ‘temperatura’, conferem lógica à mensagem intendida: como os jogos entre estas duas selecções são sempre muito bem disputados, havendo sempre uma grande entrega, luta e intensidade tanto 188 “For most people, the related concepts of fire and heat are primarily associated with the metaphorical comprehension of emotions, such as anger, love, desire, and so on. We can generalize this by assuming the metaphor EMOTION IS HEAT (OF FIRE). (…) The emotion concepts of anger, love, curiosity, desire, ambition can all take heat-fire as their source domain. Other examples reflect the many metaphorical entailments that are mapped from this source to the target of emotion: THE HIGHEST DEGREE OF EMOTIONAL INTENSITY IS THE HIGHEST DEGREE OF FIRE (…) MAINTAINING MOTIVATION AT A HIGH INTENSITY IS MAINTAINING AN INTENSE FIRE (…)” (Kövecses, 2002:112-113) 189 “In sum, simple metaphors constitute mappings in complex ones. (…) It is the simple submetaphors (or mappings) that provide the major theme of complex metaphors by means of the process of mapping the meaning focus of the source onto the target. Thus, for example, the various complex fire-metaphors (…) will all be characterized by the mapping “the heat of fire => the intensity of a state or event”. This mapping can be restated as a simple metaphor: THE INTENSITY (OF A SITUATION) IS THE INTENSITY OF HEAT. The complex metaphors contain as a mapping this simple one.” (Kövecses, 2002:117-118) 221 desportiva como disciplinar, podemos antecipar que o próximo jogo entre estas duas selecções será mais um confronto interessante e emocionante. A mescla final pode, por conseguinte, ajudar a criar expectativas positivas em relação a futuros jogos entre estas duas selecções. A conceptualização metafórica do jogo de futebol como uma batalha está presente em oito ocorrências, a saber: (101) Achtelfinale, Portugal - Niederlande 1:0 (1:0) Portugal gewinnt die "Schlacht von Nürnberg" (104) Jetzt die Halbfinal-Schlacht gegen Italien. In den letzten zwei Minuten der Verlängerung verloren, aber gekämpft wie Weltmeister. (111) Und trotzdem: Ihr habt uns drei wundervolle Wochen geschenkt: Die NervenSchlacht gegen Österreich, der Zauber-Sieg gegen Portugal, der Last-Minute-Thriller gegen die Türkei. (117) Für Neuseeland wurde das Match zu einer reinen Abwehrschlacht (...) (120) Diesmal siegte auch das viel beschworene „neue Deutschland“ mit den typisch germanischen Tugenden: Mit Kampf und Krampf, einer rettenden Torhüter-Leistung, einer gehörigen Portion Schlachtenglück. (123) DEUTSCHLAND - ARGENTINIEN Die Schlacht gegen Maradona Brasilien ist schon auf dem Heimweg. Fliegt Argentinien heute hinterher? Deutschland gegen Argentinien mit Trainer-Weltstar Diego Maradona (49). Es wird eine Schlacht! (124) (...) und das lag nicht nur daran, dass die Schlacht gegen Holland um elf Uhr morgens Ortszeit begann und alle Geschäfte deshalb geschlossen waren. (127) Kampf, Kraft und Krampf – WM-Schlacht überstanden. A palavra Schlacht provém do alto alemão antigo slahta e significava matança190. Posteriormente, começou a ser utilizada para descrever confrontos militares num cenário de guerra. Actualmente, a palavra é metaforicamente empregue num vasto número de contextos, incluindo alguns totalmente inofensivos: “(…) [übertr.] kleinere Prügelei, Wettkampf (Schneeball~, Kissen~)” (Bertelsmann Wörterbuch).191 Na ocorrência (101), o jogo entre as 190 ”Das Wort „Schlacht“ leitet sich von dem althochdeutschen Wort slahta ab, aus dem das mittelhochdeutsche Wort „slaht“ hervorging. Die ursprüngliche Bedeutung dieses Wortes war „Tötung“, wie sie bis heute in den Wörtern „schlachten, Schlachtung“ erhalten ist. Erst seit dem 16. Jahrhundert bezeichnet man damit den „Kampf zwischen zwei Heeren.“ (In: http://de.goldenmap.com/Schlacht [Consult. 28.01.2011]) ”Schlacht, die; -, -en [mhd. slaht(e), ahd. slahta = Tötung, zu schlagen]: heftiger, längere Zeit anhaltender [aus mehreren einzelnen, an verschiedenen Orten ausgetragenen Gefechten bestehender] Kampf zwischen größeren militärischen Einheiten: eine schwere, blutige S.; eine S. schlagen, gewinnen, verlieren; jmdm. eine S. liefern; es sieht wie nach einer S. aus (ugs.; es herrscht ein großes Durcheinander); Ü die beiden Mannschaften lieferten sich eine [erbitterte] S.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM) 191 In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=schlacht [Consult. 28.01.2011] 222 selecções de Portugal e da Holanda, que teve lugar na cidade de Nuremberga a 25.06.2006, é referenciado como “a batalha de Nuremberga”. Não nos parece, contudo, que tenha sido intenção da imprensa desportiva evocar a batalha histórica de Nuremberga na guerra dos trinta anos, a 24 de Agosto de 1632192, nem na batalha histórica e devastadora pela conquista da cidade de Nuremberga, perto do final da segunda guerra mundial (16 a 20.04.1945).193 Parece-nos que seja o mero conceito de batalha a servir como motivação para este mapeamento aliado ao facto do jogo se ter realizado na cidade de Nuremberga. Tratou-se de um jogo extremamente combativo e duro, tendo terminado com quatro expulsões e oito advertências com cartão amarelo. A violência e dureza da batalha foram então mapeados para a realidade do jogo de futebol. Para melhor identificar a batalha em questão, é frequente associar a mesma ao local onde se desenrolou, ou à data na qual ocorreu. Também as batalhas do futebol surgem identificadas de acordo com os momentos em que se realizaram: durante o campeonato do mundo (ocorrência (127)) ou mesmo durante uma determinada fase do campeonato (ocorrência (104)). A batalha do futebol pode ser igualmente uma batalha de emoções (ocorrência (111)). Assiste-se então a uma batalha não física, mas sim psicológica na qual se testa a maior força e resistência emocional (“Nerven-Schlacht”). Pode inferir-se que se tratou de um jogo bem disputado por ambas as equipas, em que a incerteza do resultado se manteve até ao final, prolongando o sentimento de suspense e ansiedade. A ocorrência (120) reveste-se de particular interesse, pois para além do facto do jornalista desportivo encarar a sorte como um elemento determinante no jogo (“Schlachtenglück” que pendeu a favor da selecção alemã) exalta, igualmente, o que considera serem as virtudes tipicamente alemãs: “Kampf und Krampf” - a luta e o esforço194. Nas ocorrências (100) e (121) a vontade de correr riscos, de jogar no limite das capacidades ou investir estrategicamente mais no ataque e menos na defesa, é conceptualizado através de uma dança ou cavalgada em cima de uma lâmina de barbear ou navalha. 192 ”Bernhard von Sachsen-Weimar (* 16. August 1604 in Weimar ; † 18. Juli 1639 in Neuburg am Rhein ) war einer der berühmtesten Feldherrn des Dreißigjährigen Kriegs . Ihm zu Ehren wurde seine Büste in der Walhalla aufgestellt. Im Dienste Schwedens: Als 1630 Gustav Adolf in Deutschland erschien, war Bernhard einer der wenigen deutschen Fürsten, die sogleich entschieden auf die Seite des Schwedenkönigs traten. Nachdem Bernhard sich in dem Treffen bei Werben (28. Juli 1631) ausgezeichnet hatte, ernannte der König ihn zum Obersten seines Leibregiments zu Pferde. Zunächst kämpfte der Fürst mit dem Heer Landgraf Wilhelms in Hessen, begleitete dann jedoch den schwedischen König auf seinem Siegeszug durch Franken, wo er die Festung Marienberg bei Würzburg einnahm, stieß an den Rhein vor, wo er sich Mannheims bemächtigte, und ging schließlich nach Bayern. Am Sturm auf Wallensteins Stellung bei Nürnberg am 24. August 1632 hatte Bernhard großen Anteil.“ (In: http://www.uniprotokolle.de/Lexikon/Bernhard_von_Sachsen-Weimar.html [Consult. 28.01.2011]) 193 Ver: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Schlacht%20um%20N%C3%BCrnberg 194 Apesar de Krampf significar prototipicamente espasmo, convulsão ou cãibra, optamos por traduzir, de forma interpretativa, Krampf por esforço. 223 (100) Für Arne Friedrich indes, der zuletzt wegen der beiden Gegentore arg gescholten wurde, wird der Auftritt zum Ritt auf der Rasierklinge. (121) (...) Einzig der mangelnden Chancenauswertung hatten es die Spanier zu verdanken, dass der Tanz auf der Rasierklinge nicht zu Verlezungen führte. (...) Trata-se de uma acção metafórica, pois o risco e o perigo são conceptualizados através do objecto cortante da lâmina e tal como na vida real, uma lâmina de barbear pode ou não cortar, dependendo da habilidade de que a manuseia. É, portanto, uma prova de capacidade e competência. Na ocorrência (121) a imagem mental é reforçada devido à explicitação da possível consequência desta acção, i.e. o golpe ou ferimento. Neste caso, a equipa espanhola, apesar dos riscos corridos, não sofreu ferimentos, e entenda-se por ‘ferimentos’ a derrota do jogo. De acordo com o que já foi explorado nos pontos anteriores, o golo é também conceptualizado como um tiro de uma arma de fogo. Na ocorrência (103) o alvo do tiro foi o coração alemão: (103) Ein Schuß mitten ins schwarz-rot-geile Herz. Italien führt im Halbfinale Sekunden vor Schluß mit 1:0. Assiste-se, de novo, a uma rede complexa de processos metafóricos e metonímicos. O golo da equipa Italiana, conceptualizado como um tiro, colocou a selecção alemã a perder por 1:0 ao intervalo. A selecção alemã, em representação da nação alemã, é, por sua vez, metonimicamente representada através das cores da bandeira nacional. Por outro lado, a nação alemã está emocionalmente unida em torno da sua selecção, sendo que o centro das emoções é metonimicamente representado pelo coração - Herz. 195 A presença da carga emocional está, igualmente presente no jogo de palavras relativamente às cores da bandeira alemã: schwarz-rot-geil em vez de schwarz-rot-gold. Geil faz parte de um registo linguístico bastante informal, muito comum na linguagem dos jovens.196 Este jogo fonético - geil/gold realça o envolvimento e entusiasmo emocional que o povo alemão sente relativamente ao sucesso da sua selecção, afirmando, simultaneamente, a união nacional. A emotividade a nível nacional está igualmente presente nas seguintes ocorrências: 195 vide: imagens mescladas FUTEBOL - CORPO HUMANO ”geil <Adj.> [mhd., ahd. geil = kraftvoll; üppig; lustig, eigtl. = gärend, aufschäumend]: 3. (salopp, bes. Jugendspr.) in begeisternder Weise schön, gut; großartig, toll: -e Musik; eine -e Gegend; diese Möbel sind [echt] g.; jmdn., etw. [unheimlich] g. finden;” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM) 196 224 (98) Portugal im Ausnahmezustand - Das 10-Millionen-Einwohnerland befand sich nach dem Abpfiff im Ausnahmezustand. (128) Die Niederlande im Ausnahmezustand! Depois da vitória de Portugal sobre a Inglaterra e da vitória da Holanda sobre o Uruguai (e a consequente qualificação para a final dos respectivos campeonatos), tanto Portugal como a Holanda viveram momentos de grande felicidade e euforia nacional. Os países celebravam efusivamente os triunfos das suas selecções mobilizando massas em manifestações públicas de alegria colectiva. Assim sendo, os países viviam momentos excepcionais, metaforicamente conceptualizados através de um termo do domínio político-militar: estado de emergência “Ausnahmezustand”.197 A ambiência de um cenário de guerra é veiculada através de uma variedade de imagens, subjacentes aos mapeamentos criativos. Deste modo, assistimos a actos de espionagem: (118) Der Bundestrainer hatte Ghana als Tribünengast beim 1:1 der Afrikaner in Rustenburg gegen Australien intensiv studiert. „Sie lassen Chancen zu“, verriet Bierhoff, eine zentrale Erkenntnis Löws, bei dessen Spionagetour. nos quais se procura desvendar eventuais segredos técnico-tácticos da equipa adversária. Verifica-se a existência de estados de alerta, tal como num centro de operações militares, em que a cor vermelha corresponde ao estado de alerta máximo: (126) Alarmstufe Rot bei den Blauen – hilft Ribery? Devido ao risco de eliminação eminente da selecção francesa do campeonato do mundo, a selecção está sob alerta vermelho. Existem, contudo, ocorrências, nas quais o referido cenário de guerra é explícito: (116) Serbien feiert „Blitzkrieg“ gegen Deutschland! (125) Die Presse (Österreich): „Fußball ist Krieg - Spanien ist Weltmeister.“ Relativamente à ocorrência (116), trata-se de um jogo, no qual a selecção alemã foi derrotada pela selecção sérvia. A prestação da equipa sérvia revelou-se exemplar, facto que surpreendeu 197 ”Ausnahmezustand · Kriegsrecht · Notstand” (In: http://www.openthesaurus.de/synonyme/ausnahmezustand [Consult. 29.01.2011]) ”Aus·nah·me·zu·stand der 1. POL. MILIT.: Zustand, in dem die Verfassung eines Staates und bestimmte Rechte nur eingeschränkte Gültigkeit haben, weil es eine außergewöhnliche Situation erforderlich macht den Ausnahmezustand verhängen 2. unnormale, nicht übliche Situation.” TheFreeDictionary, Deutsches Wörterbuch, 2009 (In: http://de.thefreedictionary.com/ausnahmezustand [Consult. 29.01.2011]) 225 a selecção alemã, teoricamente superior. Porém, a escolha do termo “Blitzkrieg” não é, de forma alguma, inocente. A estratégia militar do Blitzkrieg foi introduzida pela Alemanha aquando do início da segunda guerra mundial: “Blitzkriege - die deutschen Feldzüge gegen Polen, Frankreich, Jugoslawien und Griechenland im 2. Weltkrieg, da sie schneller als bis dahin für möglich gehalten zur Niederwerfung des Gegners führten. Wesentliches Merkmal des Blitzkriegs ist der kombinierte Einsatz von Luft- und Panzerstreitkräften.“ (In: http://www.wissen.de/wde/ generator/wissen/ressorts/geschichte/index,page=1064776.html [Consult. 29.01.2011]). Realça-se que neste contexto, são os Sérvios que celebram o Blitzkrieg e a consequente vitória contra a Alemanha, evidenciando uma clara atitude de vingança histórica que obrigou a Alemanha a sofrer, no plano desportivo, derrota idêntica à que infligiu, militarmente, a outros países. A ocorrência (115) corrobora esta abordagem: (115) Sieg für die Geschichte: Deutschland ist gefallen, es gibt Hoffnung für die Adler. Quanto à ocorrência (125), estamos perante o título do jornal austríaco Die Presse que afirma: ‘futebol é guerra’, referindo-se à final do campeonato mundial de 2010, marcada pela dureza extrema e combatividade das selecções da Holanda e da Espanha198. Esta afirmação não é, contudo, original, particularmente no que diz respeito a jogos decisivos da selecção holandesa, pois já tinha sido proferida pelo antigo treinador da selecção holandesa, Rinus Michels, antes da final do campeonato mundial de 1974 entre a Holanda e a Alemanha199. A filosofia de jogo subjacente a esta perspectiva é clara e explicada pelo próprio Michels: “Bist du zu lieb, bist du verloren."200 Neste sentido, a atitude dos jogadores e do treinador deve ser pautada pela dureza, força, consistência e objectividade, características idênticas às dos soldados em guerra, liderados pelo general, movidos por um único objectivo: a vitória. Neste enquadramento, a vitória equivale à vida e a derrota à morte, tal como já referimos anteriormente. 198 Vide: http://diepresse.com/home/sport/fussball/wm/580457/Fussball-ist-Krieg-Spanien-ist-Weltmeister [Consult. 28.01.2011] 199 „Die niederländische Mannschaft verlor 1:2, und für viele brach eine Welt zusammen. Die Mannschaft, die unbestritten den besseren Fußball spielte, war unterlegen. Der hässliche Deutsche hatte gesiegt mit seiner unansehnlichen, aber effektiven Spielweise. Der „deutsche Kampfgeist“ erinnerte viele Niederländer regelrecht an den Zweiten Weltkrieg, und nun war man dieser Truppe ein zweites Mal unterlegen. „Fußball ist Krieg“, wie Rinus Michels sich ausdrückte. Im ganzen Land war man der Ansicht, daß die Deutschen den Titel geraubt hätten, so Dik Linthout. Da half es nichts, daß auch auf deutschen Bolzplätzen jeder Junge Johan Cruijff bewunderte.“ (In: http://www.uni-muenster.de/NiederlandeNet/nl-wissen/kultur/vertiefung/kulturunterschiede/fussball.html [Consult. 28.01.2011]) 200 in: http://diepresse.com/home/sport/fussball/wm/580457/Fussball-ist-Krieg-Spanien-ist-Weltmeister [Consult. 28.01.2011] 226 A concluir, propomos a seguinte tabela de espaços mentais: Ocor. (108) (104) (121) ESB EA ERef M1 Futuro jogo entre as Futuro jogo de selecções da Hammer-Duell Ballack e Ronaldo Texto Alemanha e Portugal: (duelo martelo) como HammerBallack defronta Duell Ronaldo Jogo das meiasdie Halbfinal- Jogo das meias-finais finais entre as Schlacht do mundial de 2006 selecções da Texto (batalha das entre as selecções da Alemanha e da meias finais) Alemanha e da Itália Itália como Halbfinal-Schlacht ... der Tanz auf Jogo da selecção da der Rasierklinge Espanha contra a Jogo da selecção da der nicht zu selecção do Chile Espanha contra a Texto Verletzungen (2:1) como Tanz auf selecção do Chile führte der Rasierklinge der (2:1) (dança na nicht zu navalha) Verletzungen führte (103) Ein Schuss mitten ins schwarz-rotTexto geile Herz (um tiro no coração alemão) (98) Reacção de Portugal Ausnahmeapós a vitória da Texto zustand selecção portuguesa (estado de sítio) contra a selecção inglesa (118) Texto Observação de um jogo da selecção ganesa por parte do seleccionador alemão Löw (126) Expectativas face à Alarmstufe Rot selecção francesa no Texto (alerta vermelho) mundial de 2010 (Futuro) (116) Texto Spionagetour (espionagem) Blitzkrieg Golo da selecção italiana no jogo contra a selecção alemã Vitória da selecção sérvia sobre a selecção alemã (1:0) ERel M2 Cenário do confronto/duelo; Esquema da luta e da força Será um confronto fantástico! Cenário do confronto/duelo; Esquema da luta e da entrega total Parabéns ao vencedor e ao vencido! Cenário do confronto/duelo; Esquema do perigo e da morte Que sorte, Espanha! Cenário do Golo da selecção confronto/duelo; italiana à selecção Esquema da morte; Que desilusão! alemã como Schuss Cenário do corpo mitten ins schwarzhumano; Esquemas rot-geile Herz emocionais Reacção de Portugal após a Cenário do vitória da selecção confronto/duelo; Portugal em portuguesa contra a Enquadramento euforia total! selecção inglesa político-militar como Ausnahmezustand Observação de um Cenário do jogo da selecção confronto/duelo; ganesa por parte do Boa estratégia, Enquadramento seleccionador Löw! político-militar alemão Löw como (espionagem) Spionagetour Expectativas face à Cenário do selecção francesa confronto/duelo; no mundial de 2010 Cuidado, França! Enquadramento como Alarmstufe político-militar Rot (Futuro) Cenário do Vitória da selecção confronto/duelo; “Parabéns, sérvia sobre a Esquema da Sérvia!” selecção alemã surpresa (do (imprensa sérvia) como Blitzkrieg inesperado) 227 (115) ESB ERef ERel Texto Deutschland ist gefallen (a Alemanha caiu) Vitória da selecção Cenário do Vitória da selecção sérvia sobre a “Vitória confronto/duelo; sérvia sobre a selecção alemã fenomenal!” Esquemas da morte selecção alemã (1:0) como Deutschland (imprensa sérvia) e da derrota ist gefallen - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 31: Tabela de espaços mentais 5 Frielingsdorf afirma acerca dos mapeamentos entre o domínio-fonte da guerra/luta e o domínio-alvo do futebol: “Da der Fußballsport von Beginn an nache dem Schema von Sieg und Niederlage sowie Angriff und Verteildigung verstanden und auch konzepiert war, verwundert es nicht, dass die zentrale Metapher dieser Sportart sich aus Krieg und Kampf zusammensetzt.“ (Frielingsdorf, 2008:20)“ O dinamismo e espírito competitivo que emerge da constante oscilação entre estes pólos antagónicos (vitória-derrota) são responsáveis pela criação da tensão emocional associada a um desafio de futebol. O jornalismo desportivo, com o intuito de preservar a ambiência emocional, recorre a estas arquitecturas conceptuais não somente para descrever o evento desportivo, como principalmente para emitir juízos de valor acerca do mesmo, na esperança de que o leitor se identifique com as posições avaliativas assumidas e que seja invadido por um sentimento de empatia e cumplicidade. d) FUTEBOL É GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE– Categoria: Objectos Um aspecto essencial que diz respeito a todas as ocorrências analisadas até ao momento, mas cuja abordagem se torna particularmente pertinente neste ponto, é a problemática da natureza parcial da conceptualização metafórica: “In the case of structural metaphors, this would mean that an entire target concept is understood in terms of an entire source concept. However, this cannot be the case because concept A cannot be the same as another concept B. In discussing this issue the idea of mappings is relevant. It’s been pointed out that a conceptual metaphor of the structural kind is constituted by a set of mappings between a source and a target. However, the mappings between A and B are, and can be, only partial. Only part of concept B is mapped 228 onto target A and only a part of target A is involved in the mappings from B.” (Kövecses, 2002:79) Quando se assiste a um mapeamento entre um jogador, uma equipa ou uma táctica de jogo e diversos objectos do domínio militar, é possível reconhecer que o propósito subjacente e enfatizar e destacar determinadas características dos intervenientes (e das tácticas) metaphorical highlighting - recorrendo às características mais salientes dos objectos em questão - metaphorical utilization201. “Concepts in general (both source and target) are characterized by a number of different aspects. When a source domain is applied to a target, only some (but not all) aspects of the target are brought into focus.” (Kövecses, 2002:79) O leitor tende a destacar as características mais prototípicas e aquelas que, devido ao seu conhecimento do mundo e das experiências vividas, contribuem para a criação de uma mescla virtual mas coerente, que conduz, por sua vez, a um significado lógico, enquanto outras características são ignoradas por não ‘encaixarem’ no respectivo esquema mental (“Process of highlighting and hiding” (op.cit.)). Kövecses destaca: “And the sole concern of the WAR metaphor for arguments appears to be the issue or aspect of control. (…) We can conclude, then, that different metaphors highlight different aspects of the same target concept and at the same time hide its other aspects.” (op.cit.,2002:80-81) Neste sentido, e de acordo com a abordagem por nós defendida, pensamos que metáfora conceptual SPORT (FOOTBALL) IS WAR, visa destacar os princípios da força e da luta (individual e colectiva, espontânea ou construída) como elementos essenciais para a obtenção da vitória. A conceptualização mais frequente neste conjunto de ocorrências diz respeito ao engenho explosivo da bomba (129) e ao armamento/veículo militar que a lança: o bombardeiro (139), (142): (129) Jense - die tickende Torbombe (139) Die schwarzen Bundesliga Bomber Der unumstrittene Star des Teams ist Afrikas Spieler des Jahres Michael Essien. (142) Der "Bomber der Nation" ist längst abgetreten, dennoch "müllert" es beim Turnier in Jugoslawien wieder. 201 Vide Kövecses, 2002:79 229 De acordo com o contexto, o engenho explosivo da bomba pode motivar dois mapeamentos distintos: a) o jogador é a bomba;202 b) o golo é a bomba. Na ocorrência (129), o jogador alemão Jense é uma bomba relógio de golos, i.e. a qualquer momento pode marcar um golo, sendo o golo metaforicamente conceptualizado como uma explosão. Esta conceptualização é possível devido ao conhecimento (Weltwissen) sobre conflitos militares: a utilidade de uma bomba reside na sua explosão de forma a causar danos no inimigo. No domínio do futebol, os danos no inimigo equivalem a golos aos sofridos por estes. Se a bomba é, então, o golo, a entidade que lança as bombas é o jogador que os marca. Reconhece-se este cenário nas ocorrências (139) e (142). Esta última ocorrência incide sobre o “bombardeiro da nação”, destacando a existência de uma entidade que melhor e mais eficazmente agiu em representação da sua nação. Trata-se do antigo avançado alemão Gerd Müller, considerado o melhor marcador da história do futebol alemão. No contexto dos veículos de guerra, encontramos os carros blindados ou tanques Panzer - considerados os veículos de combate mais resistentes e eficazes no cenário de guerra por reunirem em si as 5 acções essenciais ao combate: poder de fogo, acção de choque, protecção, mobilidade, assim como centro de informações e comunicações. Na seguinte ocorrência é salientada a vertente defensiva de protecção como aspecto fundamental que motiva o mapeamento: (145) Jovanovic und Stojkovic haben die 'Panzer' durchbrochen. Os avançados sérvios Jovanovic e Stojkovic conseguiram ultrapassar a forte defesa alemã e marcar o golo vitorioso. Já a ocorrência (150) destaca a acção de choque e a força esmagadora do tanque: (150) “(...) Rechtzeitig zur WM spielt Löws Mannschaft einen Fussball, der mit „Rumpelfüsslern“ oder „deutschen Panzern“ nichts mehr zu tun hat.” Andreas Zimmer A selecção alemã adoptou uma nova atitude de jogo que a afasta do estereótipo tradicional que consistia num estilo futebolístico baseado na força bruta e avassaladora. Por fim, a ocorrência (130) evidencia uma outra característica deste veículo: o seu poder de fogo: (130) "Vorne die Panzer, hinten nicht dicht." 202 Burkhardt corrobora: ”Bomber, der; kein Militärfahrzeug, sondern (in metaphorischer Verwendung): → Stürmer, der viele Tore erzielt u. darum gefürchtet ist, → Torjäger → Knipser (...).” (Burkhardt, 2006a:61) 230 Esta ocorrência diz respeito ao jogo entre as selecções da Alemanha e da Costa Rica aquando do campeonato mundial de 2006, que terminou com um 4:2 a favor da Alemanha. O resultado alcançado demonstra a capacidade ofensiva e concretizadora da equipa alemã, quão poder bélico de um Panzer. Contudo, são expostas as fragilidades defensivas, pois foram consentidos dois golos adversários. Consideramos que estas ocorrências corroboram de forma exemplar a tese de Kövecses relativamente ao princípio da proeminência (highlighting) e da omissão (hiding) nos processos metafóricos. Os jogadores, individualmente ou colectivamente como equipa, afiguram-se como verdadeiros arsenais bélicos: são armas versáteis, secretas, de calibres diferentes, ou mesmo peças de artilharia: (138) Für Spielmacher Riquelme kam Allzweckwaffe Cambiasso, was eher für ein Halten des Resultats sprach. (147) Robben ist zurück, der Dribbler, der Sprinter, Oranjes Geheimwaffe, die kein Geheimnis mehr sein kann, weil die ganze Welt sie kennt. (151) „Die Waffen des Fussballs“, titelte der kicker schon 2006 während der Sommermärchen-Inszenierung. (131) "Mit Polen kommt eine sehr schwere Aufgabe auf uns zu und ein ganz anderes Kaliber als Costa Rica", sagt Klinsmann. (149) Eine Frage an drei Experten: 4:0 gegen Australien – was ist dieser Auftaktsieg wert? „Es warten andere Kaliber“ Jürgen Kohler (137) Michael Ballack, als torgefährlichster Mittelfeldspieler der Welt gerühmt, hat bei der WM noch Ladehemmung. (153) (...) Er ist auf dem besten Wege, sich nach dem Torjägertitel bei der EM 2008 auch bei der WM die Kanone für den Torschützen zu sichern. Com o intuito de realçar uma determinada característica proeminente do jogador em questão, o jornalista desportivo procura encontrar a ‘arma’ adequada, i.e. recorre ao objecto que melhor contribui para a construção criativa do mapeamento e a consequente imagem mesclada. Tal como já afirmamos anteriormente, este conta com a experiência e o conhecimento geral dos seus leitores, cultural e socialmente cunhado. Na ocorrência (138) o jogador italiano Cambiasso, como arma polivalente, destaca-se pela sua capacidade de jogar 231 em qualquer posição com elevada qualidade. É, de acordo com a expressão portuguesa, ‘pau para toda a obra’.203 Na ocorrência (147), o jogador holandês Robben é considerado uma arma secreta, ou seja, os adversários não sabiam o que esperar dele e essa imprevisibilidade constitui uma vantagem. Relativamente às ocorrências (131) e (149), as equipas, tal como as armas de fogo, são categorizadas de acordo o seu ‘calibre’. O calibre de uma munição é a medida padrão do seu projéctil, cujo diâmetro corresponde ao diâmetro interno da alma da arma de fogo que o utiliza. Quanto maior o calibre, mais danos pode causar. Assim, quanto melhor a equipa mais difícil e perigoso será o jogo para o seu adversário. De novo, o mapeamento concretiza-se numa sequência de conceptualizações metafóricas hierarquicamente organizadas204. Domínio-fonte Domínio-alvo GUERRA, VIOLÊNCIA e MORTE FUTEBOL ARMA DE FOGO EQUIPA DE FUTEBOL CALIBRE QUALIDADE DA EQUIPA DIMENSÃO DO CALIBRE NÍVEL DE QUALIDADE DA EQUIPA Figura 32: Tabela de correspondências conceptuais De acordo com esta abordagem, na ocorrência (137), o jogador alemão Michael Ballack, um reconhecido médio-centro que habitualmente marca muitos golos, é, também ele, uma arma de fogo, cujos disparos são golos. Contudo, após alguns jogos disputados no campeonato mundial de 2006, este ainda não tinha conseguido demonstrar as suas habilidades de goleador. Logo, a arma estava encravada e armas encravadas não efectuam disparos.205 Quanto à ocorrência (153), a arma em questão é um canhão - “Kanone”206, uma peça de artilharia pesada, de grande calibre, utilizada para lançamento de granadas (balas de canhão). É, portanto, um superlativo em termos de armas de fogo. A notícia proferida nesta ocorrência diz respeito ao jogador David Villa, que iria, como tudo indicava à data, vencer o 203 ” Allzweck-Waffe, die kein universelles Gerät o. Werkzeug zur Gewaltanwendung, sondern (in metaphorischer Verwendung): Spieler, der aufgrund seiner Vielseitigkeit auf verschiedenen Positionen einsetzbar ist, → Allrounder (...).” (Burkhardt, 2006a:27) 204 para Metaphorical Entailment vide Kövecses (2002:93-105) 205 ”Ladehemmung, die; weder Begriffsstutzigkeit noch technischer Defekt an einer Feuerwaffe, durch den keine Geschosse nachgeladen werden können, so dass kein Schiessen möglich ist, aber (in metaphorischer Verwendung): keine → Torerfolge trotz guter → Chancen (durch einen o. mehrere Spieler, die gewöhnlich → treffen, so dass bei diesen Versagenängste auftreten können).” (Burkhardt, 2006a:176-175) 206 ”Ka|no|ne [f.] 1 schweres Geschütz mit langem Rohr; mit ~n auf Spatzen schießen [übertr.] mit übertriebenen Maßnahmen gegen etwas Geringfügiges vorgehen, überreagieren 2 [übertr., häufig scherzh.] auf einem Gebiet sehr fähiger Mensch; Sports~ [<frz. canone, ital. cannone in ders. Bed., Vergrößerungsform von canna <lat. canna ”Rohr“].” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/ index.html?gerqry=kanone [Consult. 30.01.2011]) 232 prémio de melhor marcador do campeonato mundial de 2010. Ele seria, portanto, o superlativo no universo dos goleadores. O esquema dinâmico da superioridade estabiliza outras mesclas, alicerçadas num enquadramento conceptual semelhante: (132) Argentinien - Serbien-Montenegro 6:0 (3:0) - Kanonenfutter für die "Gauchos" (143) SPORT BILD: Herr Schwarzer, Australien wird bei der WM nicht viel zugetraut. Ist Ihre Mannschaft nur Kanonenfutter? “Kanonenfutter”, cuja expressão equivalente em português é ‘carne para canhão’, provém da expressão original inglesa ‘food for powder’ proferida pela personagem Fallstaff na peça de William Shakespeare, Henrique IV. A expressão foi introduzida na língua alemã em 1857 por via da tradução da peça, assumindo o significado de ‘soldados colocados na linha de fogo’ e só posteriormente, em 1905, o significado de ‘soldado sem valor’.207 Actualmente, o significado está associado à noção de sacrifício, pelo que os sacrificados são encarados como danos colaterais necessários. De regresso ao cenário original do conflito bélico, a vida dos soldados tinha perdido todo o seu valor, pois eram enviados para morrer em prole da vitória na batalha e, consequentemente, da sua pátria quão animais encaminhados para o matadouro a fim de servirem de alimento. Neste contexto cruel é possível reconhecer uma outra projecção metafórica em torno do canhão (que metaforicamente representa o inimigo), conceptualizado como um ser vivo que necessita e procura alimentar-se, sendo que o soldado é seu alimento208. No âmbito desportivo, a dicotomia entre a fraqueza e a vulnerabilidade por um lado e superioridade arrebatadora por outro, é transmitida através do facto, de que neste cenário 207 ”Kanonenfutter, Ausdruck Falstaffs in Shakespeares »Heinrich IV.« (1. Teil, 4,2) für wertlose Soldaten, engl.: »Food for powder« (»Futter für Pulver«). Durch die Shakespeare-Übersetzungen bei uns eingebürgert.“ (Meyers Großes Konversations-Lexikon, in: http://www.zeno.org/Meyers-1905/A/Kanonenfutter [Consult. 30.01.2011]) ”Kanonenfutter nennt man Truppen, die entweder durch fehlerhafte Dispositionen des Anführers ohne Nutzen dem feindlichen Feuer ausgesetzt worden sind, od. in Folge mangelhafter Organisation u. Disciplin zu nichts anderem tauglich sind, als dem feindlichen Feuer als Zielscheibe zu dienen.“ (Pierer's Universal-Lexikon, in: http://www.zeno.org/Pierer-1857/A/Kanonenfutter [Consult. 30.01.2011]) 208 ”Kanonenfutter ist eine umgangssprachliche, geringschätzige Bezeichnung für Soldaten, die in einem Krieg von der eigenen Führung rücksichtslos gegenüber der feindlichen Waffenwirkung eingesetzt werden, gleichsam als geringwertiges Menschenmaterial und meist im Interesse "übergeordneter" taktischer oder strategischer Ziele, wobei das Eintreten hoher Verluste im voraus abzusehen ist und in Kauf genommen wird. Im deutschen Sprachgebrauch etablierte sich der Begriff endgültig zur Zeit des Ersten Weltkrieges, vor allem wegen der überragenden Rolle der Artillerie im Stellungskrieg und den Materialschlachten der Jahre 1914 bis 1918. Metaphorisch werden die Soldaten als "Futter" der gegnerischen Kanonen bzw. Waffen bezeichnet. Insbesondere auf die Infanterie traf der Begriff zu, da sie die Hauptlast des Kampfes tragen musste und als "schlachtentscheidende" Waffengattung einen dementsprechend großen Umfang hatte. Sie war in allererster Linie vom gegnerischen Feuer betroffen. Zudem waren die Soldaten der Infanterie üblicherweise weniger qualifiziert als Angehörige technischer Spezialtruppen und erschienen daher "entbehrlicher". (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search=Kanonenfutter [Consult. 30.01.2011]) 233 contrafactual imaginado, o soldado é reduzido a um mero alimento. Em suma, a mescla final da ocorrência (132) realça a fraqueza desportiva da selecção da Sérvia e Montenegro, enquanto a mescla final da ocorrência (143), tratando-se de uma antevisão ao jogo, questiona o nível de qualidade futebolística por parte da selecção australiana, frente à selecção alemã. Optamos por incluir a seguinte ocorrência nesta categoria pois o objecto em questão “Rakete”209 - configura um dispositivo que é prioritariamente utilizado no contexto militar: (141) Dank Klinsi ist Lahm eine Rakete. (...) Von wegen lahm, nur RaketenLeistungen. Pensamos que a principal motivação subjacente a este mapeamento reside no nome do jogador Philipp Lahm, dando origem a um claro jogo de palavras a partir do qual são explorados os antónimos lento (ou estático) e rápido (ou dinâmico), sendo “lahm”210 sinónimo de lento e “Rakete” um exemplo de rapidez por excelência. O jogador Lahm parece, então, ser tudo menos lento, pois as suas exibições patenteiam energia e dinamismo. O foguetão é frequentemente associado à velocidade e, consequentemente, à obtenção de sucesso, de acordo com as características que este equipamento ostenta. O sucesso é conceptualizado como uma meta no final de um percurso que, neste caso, é percorrido rapidamente. ”Eine Reihe umgangssprachlicher Ausdrücke steht im Zusammenhang mit der Rakete, die dabei den Vergleichsgegenstand bildet. Auf deren schnellen Antrieb bezieht sich die Wendung abgehen wie eine Rakete, die zum Beispiel in Bezug auf Fahrzeuge gebraucht wird. Auch das Adjektiv raketenmäßig zielt auf die Vorstellung von Geschwindigkeit.(…) Eine steile Karriere kann ”raketenmäßig“ verlaufen“. (Bertelsmann Wörterbuch, in: http://www. wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/suchergebnis,site=559166,node=3 242990.html?gerqry=Rakete&gertype=& [Consult. 01.02.2011]) 209 ”Ra|ke|te, die; -, -n [älter: Rackette, Rogete < ital. rocchetta, eigtl. Vkl. von: rocca = Spinnrocken, nach der einem Spinnrocken ähnlichen zylindrischen Form]: 1. a) als militärische Waffe verwendeter, lang gestreckter, zylindrischer, nach oben spitz zulaufender [mit einem Sprengkopf versehener] Flugkörper, der eine sehr hohe Geschwindigkeit erreicht u. auch über weite Entfernungen ein feindliches Objekt treffen kann: eine taktische R. mit Mehrfachsprengkopf; der Junge fegte wie eine R. davon (ugs.; lief sehr schnell davon); der Wagen geht ab wie eine R. (ugs.; hat ein großes Anzugsvermögen); b) in der Raumfahrt verwendeter Flugkörper von der Form einer überdimensionalen Rakete (a), der dem Transport von Satelliten, Raumkapseln o. Ä. dient: eine mehrstufige, ferngesteuerte R.; die R. wird gezündet; eine R. starten, in den Weltraum schießen. 2. Feuerwerkskörper von der Form einer Rakete (1 a): -n stiegen in den Himmel und zerplatzten; -n abbrennen, abschießen. 3. begeistertes, das Heulen einer Rakete (2) nachahmendes Pfeifen bei [Karnevals]veranstaltungen.” (Dudenverlag, 1997, Versão CDROM) 210 ”lahm <Adj.> [mhd., ahd. lam, eigtl. = gebrechlich]: 1. (auf Arm, Bein o. Ä. bezogen) durch Körperschaden, -fehler o. Ä. gelähmt u. daher unbeweglich: ein -es Bein; er ist l. (hat ein lahmes Bein, eine lahme Hüfte); auf dem linken Bein, in der Hüfte l. sein. 2. a) (ugs.) wie gelähmt; stark ermüdet u. daher kraftlos, schwer beweglich: -e Glieder; ein es Kreuz haben; vom langen Koffertragen wurde mir der Arm l.; er wurde von dem langen Sitzen ganz l. (wurde ganz steif); b) (ugs. abwertend) unzureichend: eine -e Ausrede, Erklärung; c) (ugs. abwertend) ohne jeden Schwung; schwach, matt: ein -er Kerl; eine -e Diskussion; er erzählte nur -e (langweilige) Witze; du hast heute aber l. gespielt! *etw. l. legen (etw. zum Erliegen, zum Stillstand bringen): durch den Unfall wurde der gesamte Verkehr l. gelegt.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM) 234 Consideramos que as estruturas dinâmicas espaciais CIMA - BAIXO, que estão na génese das metáforas orientacionais UP IS GOOD e DOWN IS BAD211 marcam, igualmente, presença neste mapeamento, tendo em conta a trajectória vertical de um foguetão após o seu lançamento. O significado emergente deste mapeamento deve ser entendido como um elogio às boas exibições e às excelentes capacidades futebolísticas do jogador. As propriedades velocidade e eficácia serviram, identicamente, ao mapeamento patente na seguinte ocorrência: (140) (…) Bis zur 88. Minute, als Nuno Gomes mit einem Torpedo-Kopfball nach einer schönen Flanke von Figo unhaltbar für Kahn das 1:3 aus portugiesischer Sicht erzielen konnte. No que respeita o armamento militar, o torpedo é o equivalente do foguetão, sendo o primeiro concebido para operar no meio aquático. É um engenho explosivo com autopropulsão, considerado extremamente eficaz devido à sua fiabilidade, i.e. a probabilidade de atingir o alvo é deveras elevada. Etimologicamente, a palavra torpedo provém do latim tropere que significa paralisar ou imobilizar,212 o que indica que o nome atribuído a este armamento foi, também ele, metaforicamente motivado. Assim sendo, na ocorrência (140), o avançado português Nuno Gomes, consegui marcar um golo de cabeça à selecção alemã, ao desferir um remate poderoso e indefensável, eficaz como um torpedo. A ocorrência (146) sintetiza as ocorrências anteriores e as respectivas análises: (146) Pressestimmen: England erwartet „deutsche Kriegsmaschine“ A selecção alemã é apelidada de ’máquina de guerra’. O termo máquina de guerra activa dois contextos: 1. mecanismos de guerra desenhados para a conquista ou defesa de fortalezas ou cidades; 2. a totalidade do poderio militar de uma nação213. Não é totalmente claro qual dos dois contextos se aplica a esta ocorrência, pois ambos constroem mapeamentos que conduzem a significados plenos de sentido. A mescla virtual selecção alemã como um mecanismo de guerra é mais concreta do que a mescla selecção alemã como representante de toda a capacidade militar alemã, pronta a exibir esse poderio face ao seu adversário. Talvez, o 211 Vide Lakoff, Johnson (1980:14-21) e Kövecses (2002 :35-36) ”Tor|pe|do, der; -s, -s [nach lat. torpedo = Zitterrochen (der seinen Gegner bei Berührung durch elektrische Schläge ,,lähmt), eigtl. = Erstarrung, Lähmung, zu: torpere = betäubt, erstarrt sein]: großes, zigarrenförmiges Geschoss (mit einer Sprengladung), das von Schiffen, bes. U-Booten, od. Flugzeugen gegen feindliche Schiffe abgeschossen wird u. sich mit eigenem Antrieb selbsttätig unter Wasser auf das Ziel zubewegt. ” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM) 213 ”Kriegs|ma|schi|ne [f.] 1 [früher] Maschine verschiedenster Art für Angriff und Deckung, die bei der Belagerung (einer Burg, Stadt) verwendet wurde 2 [ugs.] Gesamtheit des Kriegspotenzials eines Landes.“ (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=Kriegs maschine&gertype= [Consult. 02.02.2011]) 212 235 jornalista tenha tido em mente o contexto mais lato, com o intuito de abarcar não somente os jogadores da selecção alemã, como também todos os restantes intervenientes (treinador, preparador físico, etc.), incluindo factores estratégicos e organizativos, em suma, toda a estrutura que compõe a representação alemã no campeonato. Historicamente, a capacidade militar da Alemanha é internacionalmente reconhecida, apesar das derrotas nas duas grandes guerras mundiais. No que diz respeito ao futebol, a Alemanha é sempre um adversário temido devido a um conjunto de qualidades que tem vindo a ostentar, campeonato após campeonato. Daí, a expressão proferida em 1990 pelo antigo jogador de futebol, Gary Lineker: “Football is a simple game: 22 men chase a ball for 90 minutes, and at the end the Germans always win.”214 Num cenário de potencial conflito, certas zonas geográficas ou lideranças políticas são consideradas focos de destabilização que ameaçam a manutenção da paz ou o equilíbrio de forças e poderes. Nas próximas ocorrências, reconhecem-se realizações metafóricas construídas em torno deste conceito: (134) Das Angriffsspiel der Spanier war zwar variabel, Luis Garcia, Fernando Torres und Villa erwiesen sich auch als ständige Unruheherde, der Ausgleich wollte aber trotz des hohen Aufwands nicht gelingen. (135) Aruna Dindane: Lauffreudig, dribbelstark und abgeklärt war Dindane ein ständiger Gefahrenherd und sorgte mit zwei Treffern für die Wende. No presente mapeamento o “Unruheherd” ou “Gefahrenherd”215 diz respeito a um ou mais jogadores que, devido ao seu jogo intensamente ofensivo, ameaçam a capacidade defensiva da equipa adversária. São, portanto, um constante foco de perigo e desassossego para os jogadores da defesa contrária. Note-se que nas presentes ocorrências os termos “Unruhe” e “Gefahrenherd” são intensificados pelo adjectivo ständig, o que realça a ideia de pressão e perigo incessante. De salientar, ainda, a presença da metáfora conceptual INTENSITY IS HEAT (OF FIRE) - activada a partir da palavra “Herd”,216 sendo o fogão fonte de calor. De acordo com Kövecses: “Thus, fire-metaphors have a wide scope; they apply to a variety of situations or 214 In: http://www.englandcaps.co.uk/garylineker.html [Consult. 02.02.2011] ”Un|ru|he|herd [m.] etwas oder jmd., von dem Unruhe ausgeht; <auch> Unruhherd; ein politischer U.” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html? gerqry=unruheherd); ”Ge|fah|ren|herd, der: Ausgangspunkt immer wieder neuer Gefahren; Quelle ständiger Gefahr.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM) 216 ”Herd, der; -[e]s, -e [mhd. hert, ahd. herd, eigtl. = der Glühende]: 1. Vorrichtung zum Kochen, Backen u. Braten, bei der die Töpfe auf kleinen runden, elektrisch beheizten Platten, auf Gasbrennern od. auf einer über einem Holzod. Kohlefeuer angebrachten großen Herdplatte (b) erwärmt werden u. in die meist auch ein Backofen eingebaut ist.(...) 2. a) Stelle, von der aus sich etw. Übles weiterverbreitet: ein H. der Unruhe, des Aufruhrs; b) (Med.) im Körper genau lokalisierter Ausgangspunkt für eine Krankheit; c) (Geol.) Ausgangspunkt von Erdbeben od. vulkanischen Schmelzen. 3. (Technik) Teil des Hochofens, der das einzuschmelzende Gut aufnimmt.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM [sublinhado nosso]) 215 236 states of affairs (actions, events, states). The main focus of this source domain appears to be the intensity of a situation.”217 (Kövecses, 2002:116) As últimas duas ocorrências desta categoria dizem respeito ao martelo: (133) Muntaris Hammer flog über das Tor (28.), im Gegenzug bedeutete Poborskys Schrägschuss (29.) die erste vielversprechende Torannäherung der Tschechen (...). (152) Es ist DER Hammer im Halbfinale der Fußball-WM: Deutschland gegen Spanien, die Neuauflage des EM-Finales von 2008. Esta ferramenta, de acordo com Burkhardt (2006a:142)218, pode surgir em três contextos diferentes: a) como conceptualização metafórica da perna ou do pé do jogador, b) como um remate de grande potência (ocorrência (133)) e, por fim, c) para descrever metaforicamente um importante e decisivo jogo de futebol (ocorrência (152)). Esta última ocorrência (excerto de um artigo de opinião sobre o jogo vindouro - as meias-finais do campeonato mundial de 2010 entre as selecções da Alemanha e da Espanha) expressa as expectativas criadas em torno deste desafio. Para além da importância inerente a qualquer meia-final, a qualidade das equipas envolvidas deixa antever um confronto intenso, bem disputado e emocionante. Mais ainda, tratando-se da imprensa desportiva alemã e sendo a selecção alemã uma das equipas em foco, o envolvimento emocional em torno do desafio é, naturalmente, muito mais intenso. De acordo com a metodologia seguida, apresentamos seguidamente as nossas propostas relativamente aos espaços mentais identificados: 217 De seguida apresenta uma tabela (“We can show the basic constituent mappings for this metaphor as follows.” Kövecses, 2002:116), que aqui incluímos traduzida e adaptada às ocorrências em análise: UMA SITUAÇÃO É FOGO Domínio-fonte Domínio-alvo Domínio-fonte Domínio-alvo (genérico) (genérico) Guerra/Conflito Futebol o que arde entidade envolvida na situação Zonas/Países Equipas de futebol adversárias o fogo a situação (acção, evento ou o conflito entre as o ataque de uma equipa na condição) zonas/países procura do golo durante um jogo o calor do fogo a intensidade da situação a intensidade do conflito a intensidade do ataque a causa do fogo a causa da situação a causa do conflito a vontade de vencer Figura 33: Tabela de correspondências conceptuais 218 ”Hammer, der; kein Werkzeug zum schlagen, aber (in metaphorischer Verwendung): 1. Fuss, bzw. Bein, mit dem ein Spieler extrem hart → schiessen kann (...). 2. (in zusätzlich metonymischer Übertragung) extrem harter → Schuss, → Bombe, → Granate (...). 3. von besonderer Brisanz, Schwierigkeit o. Wichtigkeit.“ (Burkhardt, 2006a:142) 237 Ocor. (139) (130) (132) (141) (140) (134) (152) ESB EA ERef die schwarzen Bundesliga Jogadores de Bomber origem africana Texto (os bombarque jogam na deiros negros da primeira liga alemã liga alemã) Jogadores atacantes da Panzer selecção alemã no Texto (tanque) jogo contra a selecção polaca (4:2) M1 ERel M2 Jogadores de origem africana que jogam na primeira liga alemã como schwarze Bundesliga Bomber Cenário do confronto/duelo; Esquemas da potência Excelentes jogadores! Jogadores atacantes da selecção alemã no jogo contra a selecção polaca como Panzer Cenário do confronto/duelo; Esquema da potência Excelente ataque, Alemanha! Cenário do confronto/duelo; Esquemas da superioridade vs inferioridade Fraca prestação, Sérvia! Texto Kanonenfutter (‘carne para canhão’) Selecção sérvia (na derrota por 6:0 contra a selecção argentina) Selecção sérvia (derrota na derrota por 6:0 contra a selecção argentina) como Kanonenfutter Texto Rakete (foguetão) O jogador alemão Philipp Lahm (no mundial de 2006) O jogador alemão Philipp Lahm (no mundial de 2006) como Rakete Golo do jogador Torpedoportuguês Nuno Texto Kopfball Gomes no jogo (remate torpedo) contra a selecção alemã Os jogadores espanhóis Garcia, Unruheherde Texto Torres e Villa no (foco de perigo) jogo contra a selecção tunisina Texto ESB ERef ERel Hammer (martelo) Futuro jogo entre as selecções da Alemanha e da Espanha - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Cenário do confronto/duelo; Lahm é o melhor! Esquema imagético cima-baixo Golo do jogador Nuno Gomes como Torpedo-Kopfball Cenário do confronto/duelo; Esquema da potência Fabuloso golo! Os jogadores Garcia, Torres e Villa como Unruheherde Cenário do confronto/duelo; Enquadramento político-militar Atenção, Garcia! Futuro jogo entre as Cenário do selecções da confronto/duelo; Alemanha e da Esquemas a força e Espanha como violência Hammer EA M1 M2 Será um jogo fenomenal! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 34: Tabela de espaços mentais 6 Schlobinski (2006) reconhece que este estilo jornalístico se caracteriza pela construção recorrente de cenários variados de modo a criar ambientes e consequentes respostas emocionais. Esta ‘encenação’ é particularmente evidente, sempre que a selecção nacional (neste caso a selecção alemã) está envolvida: “Betrachtet man eine Fußball-WM als Medienereignis, so drängt sich der Vergleich zu einem inszenierten Spektakel auf, das zugleich eine spektakuläre Inszenierung darstellt. 238 Die Weltmeisterschaft bildet eine Ereigniskette, die als eine Serie von Einzelfolgen medial aufbereitet wird. Innerhalb dieser Serie gibt es Höhepunkte immer dann, wenn die »eigene« Nationalmannschaft spielt, und diese können zu schicksalhaften Ereignissen hochstilisiert werden.“ (Schlobinski, 2006:26) Acerca do cenário da guerra criado pela imprensa desportiva alemã, Schlobinski afirma: Über alle soziale Schichten und Altersstufen hinweg ist er [Fußball] in der Gesellschaft tief verankert, und erst die modernen Massenmedien haben dies ermöglicht, indem sie den Fußball sprachlich und bildlich inszenieren. Bei der Darstellung eines sportlichen Ereignisses spielt auf der sprachlichen Ebene die Lexik eine wichtige Rolle. »Das Ausland, das kürzlich noch die ›deutschen Panzer weinen‹ sah, hört sie nun schon wieder rollen […]« (DER SPIEGEL vom 10. Juli 2000). Es handelt sich hier nicht um eine Kriegsberichterstattung, sondern um eine Einleitung zu der Nachricht, dass unmittelbar nach der Fußball-WM Vergabe 2006 die DFB-Elf bei einem Londoner Buchmacher als 6:1Favorit auf den Titelgewinn gehandelt wurde. Wir sind markige Sprüche aus der deutschen Presse gewohnt, wenn es um Fußball geht: das Massaker von Madrid, Abwehrschlacht des 1. FC oder der Bomber der Nation, und wir haben uns offenbar an die Mediensprache der Fußballberichterstattung gewöhnt, ohne dass uns die Metaphorik aus Bereichen wie Krieg und Militär (noch) weiter auffällt. Und dies hat Tradition: In dem bekannten Fußballmagazin KICKER ist in den erstmals 1920 erschienenen Ausgaben das Wortfeld »Kampf und Krieg« der größte Spenderbereich für Übertragungen und Metaphern (...).“ (Schlobinski, 2006:26) e) FUTEBOL É GUERRA/VIOLÊNCIA – Categoria: Locais Apesar da realização de um evento desportivo exigir, também, um local onde este se possa cumprir, de acordo com o número reduzido de ocorrências encontradas relativamente a locais, esta categoria não aparenta revestir-se de grande relevância. As acções associadas ao evento em si e os intervenientes assumem uma posição de destaque o que se enquadra na perspectiva do futebol como fonte dinâmica de emoções, sobrepondo-se ao enquadramento estático do espaço físico. As quatro ocorrências aqui em análise dizem respeito a enquadramentos espaciais. A ocorrência (155) conceptualiza o campo de futebol como um campo de batalha: (155) Angeschlagen verlässt Figo das Schlachtfeld. 239 Esta ocorrência diz respeito ao jogo entre as selecções de Portugal e da Holanda. Os contornos deste polémico desafio já foram analisados no ponto anterior. Na ocorrência (158) encontramo-nos perante uma realização metafórica na qual a estrutura defensiva da equipa Neo-Zelandesa é conceptualiza como uma fortaleza que terá de ser conquistada. (158) Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. Grosser Kampf soll fehlende Klasse wettmachen. (…) Esta conceptualização já foi analisada, em pormenor, na secção a). A ocorrência (157) evidencia uma conceptualização metafórica igualmente interessante, apesar de não se prender, directamente, com a realização de um jogo de futebol ou as diferentes posições dos jogadores em campo, do ponto de vista estritamente espacial: (157) Frankreich: Nach dem WM-Desaster greift sogar Präsident Sarkozy ein. Frankreich in Trümmern De acordo com esta afirmação, a França está em ruínas, sendo a imagem mental prototípica correspondente, provavelmente, a de uma cidade arrasada por um terrível bombardeamento, um local de morte e destruição. Mas quem destruiu esta cidade, ou este país? Aparentemente, foi a selecção francesa de futebol. A fraca prestação por parte da selecção francesa aquando do campeonato mundial de 2010 arrasou e enfraqueceu, quão bombas a cair do céu, a nação e o orgulho nacional. No contexto do evento futebolístico, as atitudes da maioria dos jogadores das diversas selecções, amplamente difundidas pelos media internacionais, ultrapassaram a esfera meramente desportiva. Tendo em conta o estatuto de ídolos e heróis que estes profissionais assumem, os seus comportamentos podem afectar a identidade e a união nacionais pois são desrespeitados valores sociais, morais e éticos basilares219. À ruína física e concreta de edificações corresponde a destruição conceptual de princípios fundamentais e abstractos da sociedade. Döring e Osthus (2002) salientam: “Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport dürfte eines der gängigsten metaphorischen Verfahren sein, wie vorliegende Studien zur Metaphorik der Fußballberichterstattung (Gil 1998; Gabriel 1998) bestätigen. (...) In der Berichterstattung über die Weltmeisterschaft wird diese ohnehin schon vorhandene Kriegsmetaphorik noch um eine nationale Komponente erweitert, indem die Mannschaft metonymisch mit der Nation gleichgesetzt wird, das Zusammenspiel der französischen 219 Vide parte 1.b) sobre a figura do herói na sociedade. 240 Mannschaft als nationales Zusammenleben und der sportliche Erfolg metaphorisch als ein nationaler militärischer Sieg verstanden wird. Die unmittelbare nationale Komponente des Sieges wird indes hier nicht nur metaphorisch, sondern auch politisch genutzt.“ (Döring/Osthus, 2002, in: metaphorik.de 03/2002) A presente abordagem remete-nos, igualmente, para o paradigma conceptual da metáfora ontológica220, a partir da qual, conceitos abstractos são conceptualizados como objectos ou entidades físicas e concretas. A BUILDING-METAPHOR221 é disso exemplo, pois defende que conceitos abstractos, tais como teorias ou ideias, podem ser conceptualizadas como edifícios. O edifício afigura-se como objecto físico muito familiar para ser humano, fazendo, portanto, parte da experiência do mundo real que nos rodeia. No processo de conceptualização salientam-se as características mais proeminentes de edificações, tais como os fundamentos, as estruturas, os pilares, as vigas e as paredes. Estes elementos, por sua vez, sugerem um conjunto de qualidades físicas, tais como a solidez, a dureza, a firmeza, a sustentabilidade, a protecção, etc. que, na maioria dos casos, motivam a construção de mapeamentos. Retomando a ocorrência (157), ideias, princípios ou valores sociais fazem parte de um sistema complexo e podem ser integrados no esquema ABSTRACT COMPLEX SYSTEMS de Kövecses (2002:128) como subcategorias do conceito mais lato de sociedade222. A expressão ‘em ruína’ salienta, segundo Kövecses, uma terceira característica, i.e. a solidez ou estabilidade da estrutura que, aparentemente, deixa de existir. Consequentemente, e de acordo com esta perspectiva, na ocorrência (157) o sistema de valores da sociedade francesa ficou destruído. Sendo o sistema de valores parte integrante de um conjunto de pressupostos que definem a identidade nacional de um país, do qual os indivíduos, que dele fazem parte, se orgulham, então é possível concluir que o orgulho nacional foi igualmente afectado. Mais ainda, é possível admitir a existência de sentimentos de tristeza e vergonha implícitos, caso o leitor se identifique com a comunidade francesa. Como mero espectador poderá sentir compaixão e compreensão, evidenciando uma atitude solidária de repúdio pelo sucedido. Em conclusão, esta metáfora conceptual reforça a ideia da importância dos heróis 220 Vide Lakoff, Johnson (1980:25-32) Vide Lakoff, Johnson (1980:97-102) 222 Relativamente ao domínio-fonte dos edifícios (construções), Kövecses (2002) desenvolve: “(…) the source domain of buildings applies to a variety of targets. (…) We can generalize this observation by suggesting that the overarching metaphor that includes all these cases is COMPLEX SYSTEMS ARE BUILDINGS. (…) Most of the metaphorical expressions capture these three interrelated features of complex systems - their creation, their structure, and the stability of their structure. This is clear from the preponderance of such expressions as build, construct, strong foundation, without foundation, rock the foundation, in ruins, solid, lay the foundation (…). I will say that these conceptual metaphors have a main focus, a major theme, so to speak. What determines the main meaning orientation of a given source-target pairing, such as COMPLEX SYSTEMS ARE BUILDINGS? I well suggest that each source domain is designated to play a specific role in characterizing a range of targets to which it applies.” (Kövecses, 2002:108-110) 221 241 desportivos nas sociedades actuais e que as suas acções podem acarretar consequências, positivas ou negativas, que ultrapassam o domínio desportivo. O enquadramento contextual da ocorrência corrobora esta perspectiva: até o Presidente Sarkozy, no seu papel de chefe de estado e defensor máximo da nação, se envolveu nesta polémica, transformando-a numa matéria de interesse e preocupação nacionais. Saliente-se que esta polémica não gira em torno dos resultados desportivos insatisfatórios; trata-se antes de uma questão comportamental, de postura considerada incorrecta, indigna de desportistas, que receberam a honra de poder representar o seu país numa competição internacional. Por fim, destacamos a ocorrência (156) que recorre a uma expressão metaforicamente motivada: “am Pranger stellen/stehen”. (156) Rheinische Post (www.rp-online.de) „Schiedsrichter am Pranger. Ein Kartenspieler und ein Torklau. Am achten Tag der Fußball-WM in Südafrika sind die Schiedsrichter ins Kreuzfeuer der Kritik geraten“. Este exemplo, que diz respeito aos árbitros, transporta-nos para um cenário construído em torno do pelourinho, local e monumento carregado de significado histórico e cultural.223 A designação do local provém do verbo análogo prangen, do médio alto alemão, com o significado de pressionar ou apertar: „mhd. pranger, zu mniederd. prangen = drücken, pressen, nach dem drückenden Halseisen, mit dem der Delinquent an den Pfahl angekettet wurde“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM), através do precesso de conceptualização metonímica: „Säule, Pfahl, Stelle auf einem öffentlichen Platz, an der jmd. wegen einer als straf-, verachtenswürdig empfundenen Tat angebunden stehen musste, um ihn auf diese Weise der allgemeinen Verachtung auszusetzen.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM). Actualmente, esta expressão significa igualmente: “öffentlich kritisiert/ beschuldigt werden; bloßgestellt werden; der öffentlichen Schande preisgegeben werden.“ (RedensartenIndex [Consult. 04.02.2011]). O pelourinho da modernidade é, então, toda a comunicação social que se encarrega de, publicamente, expor e julgar atitudes consideradas incorrectas. Neste caso específico, trata-se de uma crítica pública por parte da imprensa desportiva à actuação dos árbitros do campeonato mundial de 2010, acusados de exibir cartões amarelos e vermelhos injusta e indiscriminadamente, assim como de invalidarem golos aparentemente 223 “Der Pranger war ein mittelalterlicher Schandpfahl, an dem die Verurteilten, oft mit einem Halseisen angekettet, öffentlich zur Schau gestellt und damit dem Hohn und der Verachtung des Volkes preisgegeben wurden. Die Strafe konnte mit anderen Maßnahmen kombiniert werden, wie Leibeszucht, Verstümmeln, Landesverweis oder Geldstrafe. Bereits vor Abschaffung der Prangerstrafe in der Mitte des 19. Jahrhunderts wurde die Wortverbindung auch im übertragenen Sinne gebraucht.“ (Redensarten-Index, in: http://www.redensartenindex.de/suche.php?suchbegriff=am+Pranger&bool=relevanz&suchspalte%5B%5D=rart_ou&suchspalte%5B%5D=er l_ou&suchspalte%5B%5D=bsp_ou&suchspalte%5B%5D=erg_ou [Consult. 04.02.2011]) 242 legais. A crítica pública é, ainda, conceptualizada como disparos de armas de fogo, encontrando-se os árbitros no chamado fogo cruzado. Por fim, observemos a seguinte tabela de espaços mentais: Ocor. (157) (155) ESB EA ERef M1 ERel M2 Má representação Má representação e e consequente Frankreich in Cenário da consequente eliminação da Trümmern destruição pela Texto eliminação da selecção francesa França em baixo! (França em guerra; Esquema selecção francesa do do mundial 2010 ruínas) da verticalidade mundial 2010 como Frankreich im Trümmern Actuação dos Schiedsrichter árbitros do mundial Cenário da justiça; am Pranger / Actuação dos de 2010 como Esquemas morais; Kreuzfeuer Mau trabalho, Texto árbitros do mundial Schiedsrichter am Cenário do (árbitros no árbitros! de 2010 Pranger / Árbitros confronto/duelo; pelourinho/fogo como estando sob Esquema espacial cruzado) Kreuzfeuer ESB ERef ERel - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 35: Tabela de espaços mentais 7 Todos os estudos por nós consultados (vide ponto 2.), baseados em corpora reais oriundos de todas as áreas da comunicação social, concluíram unanimemente que o domínio da guerra (englobando os sub-domínios do universo militar da luta, da violência e da morte) é, de longe, o domínio-fonte mais produtivo para a construção de imagens mescladas, apesar dos diversos corpora, incluindo o presente corpus, advirem de fontes internacionais, tais como os media franceses, italianos, catalãs, espanhóis, ingleses e alemães. Michels destaca que a convergência em torno do domínio-fonte da guerra corrobora o conceito Weinrichiano da “Europäische Bildfeldgemeinschaft”: “Diese Tatsache kann in Bezug auf die Domäne der Fußballtexte als Beweis für die These Weinrichs (1976) von einer europäischen Bildfeldgemeinschaft gesehen werden“ (Michels, 2002, in: metaphorik.de 02/2002). Acreditamos, contudo, que este domínio-fonte é, muito provavelmente, o mais produtivo em toda a imprensa desportiva a nível mundial, não somente devido às analogias estruturais entre conceitos de guerra tradicionais e o futebol, como também devido ao facto da guerra constituir uma experiência cultural universalmente partilhada, mesmo que não tenha sido vivida. Neste sentido, Michels afirma: 243 “Die Projektion kriegerisch-militärischer Zusammenhänge auf den Bildempfänger Sport ist eines der gebräuchlichsten metaphorischen Verfahren. (...) Die dem Bildspender zugrunde liegende Kriegserfahrung kann allerdings nur bei einem geringen Prozentsatz der Sprecher als unmittelbare individuelle Erfahrung vorausgesetzt werden. In der Mehrzahl der Fälle erwächst das Bild, welches sich der Sprecher vom Krieg macht, aus Erzählungen, aus der Literatur oder aus der Kriegsberichterstattung in den Medien, kurz: Aus kultureller Erfahrung. Die auf den sportlichen Wettkampf übertragene Kriegsmetaphorik bedient sich historischer Kriegssituationen und hat nichts mit der heutigen Kriegsrealität zu tun. Der Beschreibung des Fußballspiels als Kriegszenerie liegt also ein tradiertes Kriegsbild zugrunde: Das zweier Parteien, die konträre Einstellungen vertreten und sich auf einem Schlachtfeld einen bewaffneten Kampf liefern. Es gilt bestimmte Strategien zu verfolgen, um den Gegner zu besiegen. In dieser polaren Grundstruktur liegt die Gemeinsamkeit zwischen sportlichem Wettbewerb und prototypischer Kriegskonstellation.“ (Michels, 2002, in: metaphorik.de 02/2002) Emergindo deste cenário da guerra e estabilizada pelas diversas estruturas relevantes, a mescla final aduz uma mensagem de cariz emocional, alicerçada na avaliação ou posicionamento crítico assumido pelo autor/locutor da notícia face a todo o evento desportivo. Tendo em conta as fontes jornalísticas do nosso corpus, verifica-se que a maioria dos jornais e blogues consultados pertencem à chamada categoria popular ou categoria intermédia. De acordo com a distinção bipolar de imprensa de qualidade e imprensa popular (Qualitätspresse - Boulevardpresse)224, Abrantes (2001) postula que: “(…) é possível tecer algumas conclusões acerca da linguagem emocional na imprensa e o impacto que esta tem junto do leitor, nomeadamente no que se refere ao tipo de jornal em causa. Assim, se a chamada imprensa de qualidade se baseia nos princípios do grau e do número para identificar um evento como emocionalmente relevante, os jornais populares observam para o mesmo fim os princípios da proximidade e da animacidade. Se os jornais de qualidade evocam, normalmente, emoções secundárias, dirigidas a terceiros e baseadas em valores culturais, os jornais populares «will stop short of inciting any particular emotion and be satisfied with creating an unspecified state of emotional arousal.» (UNGERER 1997:325) A imprensa de qualidade deixa, em geral, as inferências emocionais à capacidade avaliativa do leitor, enquanto a imprensa popular recorre com maior frequência a adjectivos avaliativos, itens lexicais com conotações positivas ou negativas e mesmo a sinais gráficos, influenciando, deste modo, a resposta emocional perante os eventos. (Abrantes, 2001:87-88) 224 vide Strömer (2009) 244 Em suma, e de acordo com a teoria das mesclas conceptuais avançada por Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), as construções metafóricas identificadas cumprem este mesmo objectivo. L. Brandt (2010) explicita: “Metaphors with animated imagery – where both the force-dynamic and the figural aspects of the metaphorical scenario are strongly experienced – are potentially very effective rhetorically because their “juicy” imagery gives extra weight to the predication expressed. The animated hyperbolic predication involved in such “juicy metaphors” generally elicit a stronger emotional reaction than literal predication does.” (Brandt, L., 2010:177) 3.2.2. Imagens mescladas: Futebol - Forma Artística DUKE SENIOR: Thou seest we are not all alone unhappy; This wide and universal theatre Presents more woeful pageants than the scene Wherein we play in. JAQUES All the world's a stage, And all the men and women merely players; They have their exits and their entrances; And one man in his time plays many parts, His acts being seven ages. W. Shakespeare, As you like it, Acto 2, Cena 7. In: http://www.enotes.com/shakespeare-quotes/all-world -s-stage> [Consult. 06.03.2011] Se, na óptica de Shakespeare, o mundo é um palco e a vida uma peça de teatro na qual todos nós somos actores, também o futebol é configurado como uma forma artística muito particular e, talvez, uma das mais populares do mundo. Em termos formais, o evento futebolístico é, de facto, análogo a um espectáculo artístico: possui um conjunto de intervenientes, os jogadores que desempenham os seus papéis específicos; realiza-se num local circunscrito, no qual as acções se desenrolam; inclui, num segundo plano, indivíduos que planeiam, ensaiam e dirigem os intervenientes e suas acções; envolve equipas responsáveis por toda a logística indispensável à realização do evento; e tem, finalmente, um público, que assiste ao espectáculo225. Relativamente aos meios de comunicação social, os eventos são 225 Esta abordagem vai ao encontro das preocupações fundamentais aquando da análise de eventos performativos, defendida por Gay McAuley, Professora honorária do Departamento de Estudos Performativos da Universidade de 245 publicitados, acompanhados (relatados, fotografados, filmados) e divulgados nos diversos media, em directo ou em diferido (jornais, revistas, televisão, rádio, internet). Neste sentido, um jogo de futebol pode ser considerado não somente um evento performativo, mas também um tipo de arte performativa226. A metáfora conceptual FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA emerge desta noção, sendo que se reflecte nas elaborações metafóricas encontradas em 99 ocorrências. A fim de sistematizar a análise, optamos por organizar as imagens mescladas de acordo com as formas artísticas específicas que lhes subjazem e incluímos uma categoria de âmbito geral, i.e. futebol como arte - Kunst, a saber: a) cinema (televisão) e teatro; b) música e dança; c) arte e entretenimento; d) espectáculo pirotécnico; e) arte ornamental de joalharia pintura O ponto c), arte segundo uma perspectiva artística geral, diz respeito ao desempenho do jogador, principalmente às suas habilidades técnicas como futebolista227. A seguinte listagem das referidas categorias está organizada por ordem decrescente, relativamente ao número total de ocorrências encontradas no âmbito deste domínio. Sydney: “Fundamental to understanding any kind of performance or performative behaviour is the ability to describe it and establish what it consists of and I suggest that, regardless of the nature of the performances, some version of the four-step process involved in my performance analysis schema is necessary if analysts are to explore in a systematic way the communicative content of any performance or performative event. It should be stressed that all four steps are necessary if the analysis is to go beyond description and approach the vexed questions of interpretation and meaning making with some degree of rigour. A performance centred approach to any performance event, whether this be a theatrical production, a football match, a political demonstration or a court hearing, can be summed up as the attempt to answer as completely as possible what grammarians call the “wh” questions: who is doing it, who is it being done for, what is being done and how, where and when is it being done and why. These deceptively simple questions need to be complemented by two additions: ‘who is paying?’ and ‘who benefits?’. The additions function in a similar way to the sender/receiver categories in an actantial analysis to oblige the analyst to consider the wider social and cultural context within which the performance is occurring, the functions it is serving in this wider context and its relation to dominant structures of power and authority. The questions may seem simple but, if performance analysis and rehearsal studies can be seen as attempts to answer ‘what’ and ‘how’, then it is evident that answering them is complex and difficult, requiring the input of numerous disciplinary approaches, borrowed from semiotics, ethnography, sociology and linguistics, to name only the most obvious.” (McAuley, Semiotics Encyclopedia Online, E. J. Pratt Library - Victoria University, In: http://www.semioticon.com/seo/P/performance.html# [Consult. 06.03.2011]) 226 “Aesthetic performance, already mentioned several times in the preceding paragraphs, can be distinguished from the other categories in that it involves performances mounted with a view to being witnessed and experienced as such by both performers and spectators and it includes traditional theatre, performance theatre, and all the other performing arts and the blurred genres emerging from the interfaces between them all. The notion of cultural performance has emerged from the very fruitful interactions that have been going on with anthropology and sociology. Cultural performances include parades, carnivals, official celebrations, commemorative rituals, public occasions, and national and international sporting contests. They are, as Elin Diamond has put it, occasions wherein “culture complexly enunciates itself” (Diamond 1996: 6).” (McAuley, Semiotics Encyclopedia Online, E. J. Pratt Library - Victoria University, In: http://www.semioticon.com/seo/P/performance.html# [Consult. 06.03.2011]) [sublinhado nosso] 227 Vide ponto 3.2.1. 246 a) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria cinema e teatro (62 ocorrências) EURO 2004 (15) MUNDIAL 2006 (13) EURO 2008 (8) (174) England schaukelte schließlich (187) Von Beginn an waren die Rollen den Sieg ohne weitere Gelegenheiten klar verteilt. auf beiden Seiten über die Bühne. (www.kicker.de – 10.06.2008) (www.kicker.de – 10.06.2006) (188) Egal wie gut Lukas Podolski auch (175) Bei der WM wollen die Jungstars bei dieser EM auftritt, eine (160) Zudem sollte Deco an Stelle von Rui den Millionen in den Stadien und an herausragende Rolle beim Deutschen den Fernsehgeräten ihr Talent Meister scheint ihm verwehrt - zu groß Costa die Fäden im Mittelfeld ziehen. beweisen und den gestandenen Stars ist die Konkurrenz. (www.kicker.de – 16.06.2004) der Szene den Rang ablaufen. (www.spiegel.de – 09.06.2008) (161) Lediglich Beckham und Owen (www.bild.de – 12.06.2006) konnten sich nach einer guten halben (176) Deco erzielte zwar einen (189) Die Hiddink-Elf spielte sich Stunde mit zwei gefährlichen flachen wichtigen Treffer, musste sich das blitzschnell durchs Mittelfeld und Flankenbällen in Szene setzen, doch Rampenlicht jedoch mit einem versuchte sofort die Spitzen in Szene zu Rooney verpasste jeweils knapp. Mitspieler teilen. Beim Auftaktsieg setzen. (www.kicker.de – 17.06.2004) gegen Angola hatte der Regisseur (www.kicker.de – 18.06.2008) wegen der Nachwirkungen einer (162) "Waynes World" im Fußverletzung nur zusehen können. (190) Lahm schaltete sich in den Angriff Freudentaumel. Englands Shootingsstar (www.spiegel.de – 17.06.2006) ein und wurde dann von Hitzlsperger Wayne Rooney bringt die "Three Lions" schön in Szene gesetzt. mit neuerlichen zwei Treffern auf die (177) Das van-Basten-Team konnte sich (www.kicker.de – 25.06.2008) Siegerstraße und ins Viertelfinale. im Angriff nicht mehr in Szene setzen, Kroatien muss nach aufopferungsvollem auch Argentinien spielte nicht mehr so (191) Vielleicht entlud sich hier der Kampf und mutigem Spiel nach vorne die konsequent. ganze Frust über seine neue Rolle als (www.kicker.de – 21.06.2006) Einwechselspieler (...). Heimreise antreten. (www.kicker.de – 21.06.2004) (178) Juan Roman Riquelme: Der (www.kicker.de – 29.06.2008) (159) Jeweils vier Akteure von Real Madrid und des FC Valencia stellten das Gros der von Spaniens Trainer Ignacio Saez nominierten Elf. (www.kicker.de – 12.06.2004) MUNDIAL 2010 (26) (195) (...) auch zur Freude von Trainer Maradona, der bei seiner Rückkehr auf die WM-Bühne nach 16 Jahren die gesamten 90 Minuten stehend an der Seitenlinie verfolgte. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (196) Die „Super Eagles“ (...) konnten sich kaum in Szene setzen. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (197) Südkoreas Ballkünstler haben Otto Rehhagel die WM-Premiere gründlich verdorben. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (198) Brasilien: Dunga nimmt Regisseur in Schutz - Topstar Kaka enttäuscht. (Kicker Sportmagazin Nr. 49 – 24. Woche 17.06.2010, p.23) (199) Nachdem die beiden Helden von 2006 beim WM-Auftakt gegen Australien (4:0) ganz stark spielten, sind sie nun die tragischen Figuren. (www.sportbild.bild.de – 18.06.2010) (200) Um weitere hässliche Kratzer am Image des Landes zu verhindern, erhielt Regisseur war Dreh- und Angelpunkt (163) Rudi Völler wusste schon beim der Argentinier, technisch versiert, (192) EM-Endspiel: Der deutsche Patient Sportministerin Roselyne Bachelot, die sich ohnehin in Südafrika aufhielt, noch am Frühstück mehr als Michael Skibbe. «Hallo ragte aus dem Mittelmaß heraus. (www.kicker.de – 29.06.2008) Sonntag den Auftrag, die Repräsentanten Pferdeflüsterer», begrüßte der DFB- (www.kicker.de – 21.06.2006) von „Les Miserables“ für Montag zu einem 247 Teamchef seinen verdutzten Assistenten, dem die Zeitungs-Schlagzeile vom Morgen noch nicht bekannt war. «Ist er der Fehler-Flüsterer?», titelte das BoulevardBlatt «Bild» mit einem Foto, auf dem Skibbe hinter seinem Chef steht und ihm etwas sagt. (www.stern.de – 23.06.2004) (164) Ricardo krönt Elfmeter-Krimi! (www.kicker.de – 24.06.2004) (165) Portugal triumphiert Elfmeterkrimi (www.spiegel.de – 24.06.2004) (179) Es war ein Krimi mit glücklichem (193) Und trotzdem: Ihr habt uns drei Ausgang für Australien. wundervolle Wochen geschenkt: Die (www.spiegel.de – 22.06.2006) Nerven-Schlacht gegen Österreich, der Zauber-Sieg gegen Portugal, der Last(180) Ballacks Defensiv-Rolle Minute-Thriller gegen die Türkei. (www.spiegel.de – 26.06.2006) (www.bild.de – 30.06.2008) (181) Mohrs Deutschlandgefühl Don‘t cry for us, Argentina (www.spiegel.de – 30.06.2006) (182) Italien im Siegestaumel im Wiedergeboren am 4. Juli (www.spiegel.de – 05.07.2006) (183) Klose traf wieder doppelt. Und (166) Für ihn rückte erneut Owen ins endlich schoß auch Poldi seinen ersten Rampenlicht. WM-Treffer. King Knall und Prinz Peng, (www.spiegel.de – 25.06.2004) unser Wirbel-Sturm einfach sensationell. (167) England unterliegt im (www.bild.de – 05.07.2006) Elfmeterdrama (184) Der Viertelfinal-Krimi gegen die (www.spiegel.de – 25.06.2004) Gauchos (5:3 n.E.). (www.bild.de – 05.07.2006) (168) „Spiel mir das Lied vom Tor“ (www.spiegel.de – 26.06.2004) (185) Mammamia! Schon wieder ein (169) Deutschland im Es-gibt-kein-Rudi- Mega-Krimi! Klinsi, unsere armen Völler-mehr-Schock. Der Fußballkönig ist Nerven. Diesmal wurde das Zittern tot, der Kaiser betritt die Bühne. „Wenn nicht belohnt. es jetzt einer richten kann“, kommentiert (www.bild.de – 05.07.2006) Franz Beckenbauer, „dann nur der Ottmar (186) WM-Finale - Der Spielfilm des Hitzfeld.“ Elfmeterschießens (www.focus.de – 28.06.2004) (www.spiegel.de – 09.07.2006) (194) Diese Rolle schien Ballack und Co. zu gefallen: Als ob die miserablen äußeren Umstände das Team zusammen-geschweißt hätten, ging die Elf von Co-Trainer Hansi Flick hoch motiviert und mit vollem Einsatz in die Partie. (...). (www.focus.de – 01.07.2008) Krisengipfel zu bestellen. (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010) (201) „Wir befinden uns in einer Episode von Akte X - da dreht jeder durch“ lästerte der Weltmeister von 1998 und ehemalige Spieler des FC Bayern. (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010) (202) Über die Ära Domenech legt sich der Vorhang. Der Auftritt bei der WM 2010 gehört sicherlich zu den dunkelsten Kapiteln in der Geschichte des französischen Fußball.(...) (www.kicker.de – 22.06.2010) (203) Letzter Vorhang für Otto Rehhagel: Der Europameister von 2004 hat mit Griechenland das WM-Achtelfinale verpasst und sich damit wohl endgültig von der großen Fußball-Bühne verabschiedet. (www.sportbild.bild.de – 22.06.2010) (204) „Superman“ Landon Donovan hat die USA in allerletzter Minute vor dem WM-Aus gerettet (…). (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (205) Während Jerome sich vornehmlich auf seine Defensivaufgaben beschränkte, versuchte Kevin, im Mittelfeld der Westafrikaner die Fäden zu ziehen. (www.kicker.de 23.06.2010) (206) Und immer wieder Noel Valladares: Hier klärt der Schlussmann der Honduraner in Superman-Manier gegen Benjamin Huggel. (www.kicker.de - 25.06.2011) 248 (170) "Die Götter sind geworden" (www.spiegel.de – 02.07.2004) verrückt (171) (...) ohne großen Titel werden Figo, Rui Costa, Couto und Co. von der großen Fußballbühne abtreten. (www.kicker.de – 02.07.2004) (172) Goldfinger Otto (www.spiegel.de – 04.07.2004) (173) (...) empfehlen die portugiesischen Medien der Mannschaft des Gastgebers, erhobenen Hauptes die Bühne zu verlassen. (www.spiegel.de – 05.07.2004) (207) (...) Die WM als Sprungbrett – aktuell wollen (oder wollten) Profis wie Arne Friedrich, Marko Pantelic oder Kevin-Prince Boateng die Bühne in Südafrika nutzen, um sich so richtig ins Rampenlicht zu rücken. (...) (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.14) (208) „Chronik eines angekündigten Todes“ (www.sportbild.bild.de – 03.07.2010) (209) Insgesammt jedoch bleiben die Weltstars wie Rooney oder Cristiano Ronaldo nur unbedeutende Nebenrollen beim grossen Welttheater des Fussballs. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.11) (210) Kicker: Steht das alles os in Ihrem WM-Drehbuch? Löw: Man weiss ja vor dem Turnier nicht so genau, welche Einflüsse es geben kann. (...) (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.24/25) (211) Der „siegende Holländer“ – ein Erfolgs-Märchen wird wahr! (www.sportbild.bild.de – 06.07.2010) (212) Das Opus in Oranje: Den Titel im Visier- Exakt nach dem gleichen Muster aller bisherigen Auftritte lief auch das Halbfinale ab. (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 27. Woche 08.07.2010, p.18) (213) Final-Drama gegen Holland (www.sportbild.bild.de – 11.07.2010) (214) Internationale Pressestimmen zum 249 WM-Finale Spanien – Holland „Die Biester 0, die Schönen 1“ Fiesta in Spanien (www.sportbild.bild.de – 12.07.2010) (215) Mit der Rückkehr des Trainerfuchses Rabah Saadane feierte Algerien auch wieder sein Comeback auf der Weltbühne des Fussballs. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.162) (216) Alte Weltmeister: Der 36-jährige Abwehrchef Fabio Cannavaro und der 31jährige Regisseur Andrea Pirlo zählen immer noch zu Italiens Korsettstangen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.170) (217) (...) Regisseur Deco soll das Tempo bestimmen, mit klugen pässen das Spiel verlagern, Räume öffnen und die Stürmer einsetzen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.180) (218) Der englische Patient – Bangen um Schweinsteiger (vor dem Spiel mit England, Schweinsteiger und Boateng sind verletzt) (www.kicker.de/news/video) (219) Les Miserables – schokierendes WM-Aus (www.kicker.de/news/video) Frankreichs (220) Don’t cry for me (www.kicker.de/news/video) Maradona 250 b) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria música e dança (17 ocorrências) EURO 2004 (3) MUNDIAL 2006 (5) EURO 2008 (2) MUNDIAL 2010 (7) (221) Die Musik spielte weiter auf der anderen Seite: Pauleta scheiterte erneut mit einer Großchance allein vor van der Sar (...) (www.kicker.de – 26.06.2004) (224) Spiel drei bei dieser Weltmeisterschaft begann mit einem Paukenschlag: (...)Acht Meter vor dem Tor wischte das Sportgerät Paraguays Kapitän Gamarra über den Hinterkopf und flog von dort unhaltbar für Keeper Villar ins rechte untere Eck (3.). (www.kicker.de – 10.06.2006) (229) Oliver Bierhoff (Teammanager Deutschland): "Jetzt müssen wir im letzten Gruppenspiel unbedingt gegen Österreich gewinnen. Wir wissen, wie groß die Rivalität zwischen beiden Teams ist und vor allen Dingen in Wien wird das ein ganz heißer Tanz." (www.kicker.de – 12.06.2008) (231) Angetrieben von Weltfußballer Lionel Messi hat das Offensivballett von Diego Maradona seine WM-Mission erfolgreich begonnen. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (222) Schluss mit Fado, hier kommt Figo Portugal steht zum ersten Mal in seiner Geschichte im Endspiel eines großen Turniers. SPIEGEL ONLINE zeigt in einer Fotostrecke die schönsten Momente des 2:1-Halbfinalsieges gegen die Niederlande. (www.spiegel.de – 01.07.2004) (225) Brasilien-Kroatien Samba ohne Rhythmus - Ronaldinho enttäuschte, Ronaldo spielte unterirdisch. Die Seleção quälte sich bei der Begegnung gegen Kroatien zum Sieg. Dabei hatten die Brasilianer Glück, dass der Gegner seine Torchancen nicht nutzen konnte. (223) Blick: Europa tanzt Sirtaki. Die (www.spiegel.de – 14.06.2006) Portugiesen fielen aus dem Takt wie einst Anthony Quinn im Film Alexis Sorbas. (226) Mit einem Paukenschlag begann die (www.spiegel.de – 05.07.2004) Partie im FIFA WM-Stadion Köln: Noch nicht einmal zwei Minuten waren gespielt, als es schon im Gehäuse von Welttorhüter Cech einschlug. (www.kicker.de – 17.06.2006) (227) Brasiliens WM-Aus Blues statt Samba: Frankreich ist Brasiliens Angstgegner, seit dem blamablen Finale von 1998 ist jeder Einsatz gegen die "Blauen" mit traumatischen Erinnerungen verbunden. (www.spiegel.de – 02.07.2006) (228) Metzelder und Mertesacker zeigten sich aber gut abgestimmt. (www.kicker.de – 04.07.2006) (232) Krasic tanzte Badstuber aus, flankte in die Mitte auf den 202 Zentimeter langen Nikola Zigic, der erstaunlicherweise vom 32 (230) (...) die Spanier haben das mit Zentimeter kleineren Lahm bewacht wurde, ihrer spielerischen Klasse dann Zigic köpfte zur Mitte (...). ausgespielt. Anders als 2006 hatten wir (www.sportbild.bild.de – 18.06.2010) nie diesen besonderen Rhythmus. (233) Mit Samba-Fußball ins Achtelfinale (www.sportbild.de – 29.06.2008) (www.sportbild.bild.de – 20.06.2010) (234) Die bereits früh dezimierten Franzosen verabschiedeten sich sang- und klanglos aus dem Turnier. (www.kicker.de – 22.06.2010) (235) Mehr Kalkül als Kunst Auftritte von Solisten wie Messi oder David Villa, Wesley Sneijder, Diego Forlan oder Mezut Özil. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.11) (236) Xavi (30) - Er prägt der Rhythmus der Mannschaft (...). Der Regisseur ist kaum vom Ball zu trennen. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.31) (237) Ein Hauch von Samba – Brasilien in Viertelfinale (www.kicker.de/news/video) 251 c) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte e espectáculo de entretenimento geral (entertainment) (15 ocorrências) EURO 2004 (3) MUNDIAL 2006 (2) EURO 2008 (1) MUNDIAL 2010 (9) (238) Der Kampfkünstler: Torsten Frings erscheint wie der letzte Vertreter alter deutscher Fußballtugenden – und ist deshalb heiß begehrt. (www.focus.de – 07.06.2004) (241) Pelé: „(...) So werden wir bei der WM Fußball-Kunst sehen. Ich freue mich auf Ronaldinho.“ (www.bild.de – 11.06.2006) (243) Mit einer Fußball-Gala fegten Ronaldo & Co. die Türkei beim EMAuftakt aus dem Stadion. (www.bild.de – 09.06.2008) (244) Der Dribbelkünstler vom englischen Premier-League-Klub Manchester United leidet an einer Verletzung der linken Schulter, die sein Mitwirken beim Turnier am Kap unmöglich macht. (www.sportbild.bild.de – 08.06.2010) (239) Frings' Kunststoß reichte nicht. (www.kicker.de – 15.06.2004) (240) Erst in der Schlussphase gelang Ibrahimovic mit einem Kunststoß der etwas glückliche Ausgleich. (www.kicker.de – 18.06.2004) (242) (...) doch auch ohne die Künste des Turiners marschierte Frankreich nun einem sicheren Sieg entgegen. (www.kicker.de – 23.06.2006) (245) Südkoreas Ballkünstler haben Otto Rehhagel die WM-Premiere gründlich verdorben. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (246) Auftakt-Gala! Deutschland putzt Aussies 4:0 (www.sportbild.bild.de – 13.06.2010) (247) Showdown in Port Deutschland gegen Serbien (www.kicker.de – 18.06.2010) Elizabeth: (248) Nordkorea: Jong wieder als Alleinunterhalter (...). (Kicker Sportmagazin Nr. 50 – 25. Woche 21.06.2010, p.35) (249) (...) außerdem spielte sich Thomas Müller bei der Gala-Vorstellung ins Rampenlicht. (www.kicker.de –27.06.2010) (250) (...) weil selbst Ballartisten wie Xavi und Iniesta ungewöhnlich viele Fehlpässe unterliefen. (www.sportbild.bild.de – 29.06.2010) (251) Der blonde Engel - Die One-Man-Show des uruguayischen Märchenautors der Neuzeit. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. 252 Woche 05.07.2010, p.8 (252) Frankfurter Rundschau: „Spanien ist Fußball-Weltmeister 2010. Im FinalShowdown schießt der Spieler vom FC Barcelona das 1:0 in der 116. Minute. Ein historischer Sieg.” (www.sportbild.bild.de – 12.07.2010) d) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria espectáculo pirotécnico (3 ocorrências) EURO 2004 MUNDIAL 2006 EURO 2008 (1) MUNDIAL 2010 (2) (253) Oranje-Feuerwerk zündete nicht Wie schon die Partie am Vortag fand auch das Viertelfinalspiel zwischen den Niederlanden und Russland in der regulären Spielzeit keinen Sieger. (www.kicker.de 21.06.2008) (254) Selecçao zündet nach der Pause ein Feuerwerk (www.kicker.de – 21.06.2010) (255) Offensivfeuerwerk von Tiago und Co.(...) Nach der Pause brannte Portugal ein Offensivfeuerwerk ab (...). (Kicker Sportmagazin Nr. 51 – 25. Woche 24.06.2010, p.32) e) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte ornamental de joalharia e pintura (2 ocorrências) EURO 2004 MUNDIAL 2006 (1) (256) Kaum ein Treffer bei dieser WM war schöner als der des Argentiniers Maxi Rodriguez beim Erfolg über Mexiko. Im Interview spricht der Filigrantechniker über seinen siegbringenden Schuss, die Euphorie in der Heimat und die Stärke des Viertelfinalgegners Deutschland. (www.spiegel.de - 25.06.2006) EURO 2008 MUNDIAL 2010 (1) (257) Den ersten Farbtupfer der unterhaltsamen Partie unter der Leitung des deutschen Schiedsrichters Wolfgang Stark setzte Chinedu Obasi (...) dessen Schuss jedoch weit am Tor vorbei ging. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) 253 De acordo com Brandt (2004a), Brandt/Brandt (2005a) apresentamos, de seguida, o esquema representativo da rede de modelos mentais, relativamente à macro-metáfora conceptual FUTEBOL É MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA: Espaço Semiótico de Base Espaço de Referência Espaço de Apresentação Cinema Teatro Jogadores Arte, Enterteni- Formas mento de Arte Expressões metafóricas Arte, Pirotécnica Música Dança Outros FUTEBOL CampeoInterveninato entes Joalharia e Pintura Cenário das Manifestações artísticas/ Experienciação estética e emocional Equipa Jogo Jogadas FUTEBOL COMO ARTE Espaço Virtual (Blend) Esquema dinâmico de Relevância (Relevance-Schema) Inferências Emergentes Futebol pode ser uma fonte O Futebol é bonito, emocionante e dá prazer assistir! Espaço do Significado de emoções. Figura 36: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Forma de Arte No espaço de Apresentação encontramos a arte, ou formas artísticas, como domínio-fonte. Os mapeamentos processam-se entre os diferentes sub-domínios, aqui representados pelas pequenas esferas inscritas no espaço de Apresentação, e o domínio-alvo do futebol. No espaço virtual (blend) emerge então a imagem mesclada FUTEBOL É ARTE ou FORMA ARTÍSTICA. O espaço semiótico de base, um domínio que engloba três realidades - o mundo fenomenológico, conceito já explorado anteriormente, o contexto de comunicação situacional que neste estudo se centra na imprensa desportiva alemã e a própria realização metafórica configura a génese do espaço de relevância: “the relevant framing” (Brandt/Brandt, 2005a). Este enquadramento pressupõe o conhecimento que o leitor possui do conceito de arte como 254 também o reconhecimento que este domínio é distinto do domínio do futebol. Tendo em conta o enquadramento situacional e contextual, o leitor consegue concentrar a sua atenção apenas nos aspectos relevantes subjacentes ao conceito de arte. Estes constituem-se como elementos estabilizadores da imagem virtual pois evidenciam a ou as estruturas partilhadas pelos dois domínios. A focalização da atenção - attentional focus (Brandt/Brandt, op.cit.) resulta do poder conceptual que o contexto exerce na construção das imagens mentais. Nesta análise específica, pensamos que os conceitos de beleza artística, do poder de atracção e admiração por objectos ou espectáculos artísticos, e principalmente a noção de prazer que advém da sua contemplação, i.e. é experiência vivida das emoções evocadas pelas diferentes formas de arte, afiguram-se como fundamentos facilmente partilhados. Daí resulta o espaço do significado final: o futebol é bonito e admirável, é emocionante e dá prazer. A inferência emergente poderá ser, consequentemente, a seguinte: o futebol é uma fonte de emoções variadas, despertadas pela beleza do jogo e a exibição de habilidades técnicas, pois de acordo com a definição da palavra ‘arte’ que provém do latim “ars: ‘técnica ou habilidade’, esta é geralmente entendida como a actividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objectivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores.”228 É interessante verificar que em alemão, Kunst, que deriva do antigo e médio alto alemão, para além do significado de habilidade, acrescenta a noção de conhecimento. A partir deste pressuposto, alargou-se o escopo do conceito de Kunst, passando a englobar a noção de competência excepcional, inata ou adquirida, num determinado campo.229 Esta ampliação do conceito de arte possibilita que o desporto, neste caso, o futebol possa ser conceptualizado como uma forma de expressão artística. Em suma, “Wie bei einem Theaterstück oder einer Seriendramaturgie, gibt es Protagonisten und Antagonisten, Helden und Schurken, eine Kulisse, ein Publikum, Höhepunkte, Konflikte, Souffleure, Regisseure, usw. Umrahmt wid dieses Ereignis durch ein Vor- und ein Nachspiel.“ (Schlobinski, 2002:51) De acordo com o critério de selecção de ocorrências anteriormente estabelecido, iremos proceder à análise de aproximadamente um terço (33%) da totalidade das 99 ocorrências identificadas relativamente ao presente domínio. 228 In: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=1124 [Consult. 06.03.2011] “Kunst, die; -, Künste [mhd., ahd. kunst, urspr. = Wissen(schaft), auch: Fertigkeit, zu können]: 1. schöpferisches Gestalten aus den verschiedensten Materialien od. mit den Mitteln der Sprache, der Töne in Auseinandersetzung mit Natur u. Welt 2. das Können, besonderes Geschick, [erworbene] Fertigkeit auf einem bestimmten Gebiet: die ärztliche K.; Politik ist die K. des Möglichen (nach verschiedenen ähnlichen Äußerungen Bismarcks); Bachs K. der Fuge (Klavierwerk mit exemplarischen Fugen- u. Kanonkompositionen, die auf dasselbe Thema zurückgehen); die K. des Reitens; die K. des Schweigens (die Fähigkeit zu schweigen).“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM) 229 255 a) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria cinema e teatro O domínio das artes de representação, cinema e teatro, afigura-se com 62 ocorrências como o mais produtivo e criativo no que concerne a construção de imagens mentais emergentes da metáfora conceptual em análise. Teatro (do Grego "theatron") é um ramo das artes que consiste na representação de histórias frente a uma audiência, usando combinações de discursos, gestos, música, dança e som, apoiado por cenários e adereços. Recorde-se que o termo teatro para os Gregos, como para os Romanos, designava o espaço cénico e o espaço da assistência, o conjunto arquitectónico onde se desenrolariam géneros como o drama, a tragédia, a comédia, etc. Para além da narrativa e do diálogo, o teatro toma outras formas, como é o caso da Ópera (ocorrências (474) e (475)). A consolidação do teatro, enquanto espectáculo na Grécia antiga, deu-se em função das manifestações em homenagem ao deus do vinho, Dionísio. Com cada nova colheita, era realizada uma festa em agradecimento ao deus, que incluía realização de procissões conhecidas como "Ditirambos". Com o passar do tempo, estas foram tornando-se cada vez mais elaboradas, e daí, surgiram os organizadores das procissões, os "directores de Coro". O "Coro" era composto pelos narradores da história, que através da representação, canções e danças, relatavam as histórias do personagem. Ele era o intermediário entre o actor e a plateia, verbalizava os pensamentos e sentimentos, além de revelar, igualmente, o desfecho. A origem da tragédia, na antiguidade grega, não é, contudo, totalmente consensual. Aristóteles, na sua Poética, apresenta três versões para o aparecimento da tragédia. A primeira versão argumenta que a tragédia, e o teatro, nasceram das celebrações e ritos dedicados a Dionísio nas quais as pessoas bebiam vinho até ficarem embriagadas, o que lhes permitia entrar em contacto com o deus homenageado. Homens fantasiados de bodes (em grego, tragos) encenavam o mito de Dionísio e a sua dádiva à humanidade: o vinho. A segunda versão relaciona o teatro com os Mistérios de Eleusis, uma dramatização anual do ciclo da vida, i.e., do nascimento, crescimento e da morte. A semente era o ponto principal dos mistérios, pois a morte da semente representava o nascimento da árvore que, por sua vez, traria novas sementes. A terceira concepção para o nascimento da tragédia, vozeada por Aristóteles, é de que o teatro nasceu como homenagem ao herói dório Adrausto que permitiu o domínio dos Dórios sobre os demais povos indo-europeus que habitavam a península. O teatro seria a dramatização pública da saga de Adrausto e seu triste fim. A tragédia não era vista com pessimismo pelos gregos, mas antes como um momento educativo. Tinha a função de ensinar as pessoas a buscar a sua medida ideal, i.e. o equilíbrio na 256 sua própria personalidade. Para o filósofo de Estagira, a função principal da tragédia era, no entanto, a catarse, o processo de auto-reconhecimento através da observação a sua própria vida como se estivesse do lado de fora. Este processo permitiria que as pessoas lidassem com problemas não resolvidos no seu dia-a-dia, exteriorizando suas emoções. A catarse ocorreria quando o herói passava da felicidade para a infelicidade por não ter encontrado o equilíbrio no seu caminho230. Talvez tenha sido essa função libertadora principal responsável pela crescente popularidade do teatro. O teatro contemporâneo contempla todos os domínios da vida humana, desde a comédia social à renovação de valores como o heroísmo e a religião, abordando temas sociais e históricos, psicológicos e existenciais231. Diversas correntes teatrais coexistem harmoniosamente o que se traduz numa oferta diversificada de espectáculos à disposição do público. Público, que a partir 1895 se confrontou com uma nova forma de arte representativa: o cinema. O cinematógrafo, inventado pelos irmãos franceses Louis e Auguste Lumière, adquiriu rapidamente grande popularidade na Europa e na América do Norte, como fonte de entretenimento, veículo ideológico e documentário. Ao longo do tempo, os desenvolvimentos técnicos sucederam-se e levaram a grandes modificações dos estilos predominantes. Desde a sincronização da imagem com o som, passando pela introdução da cor e de formatos mais largos, depois, pelo desenvolvimento dos efeitos especiais, e, mais tarde ainda, à técnica do 3D, foram muitos os progressos que acarretaram mudanças radicais na estética das produções cinematográficas. Também os géneros se foram definindo, sendo que se tornaram reconhecíveis diferentes correntes cinematográficas, como é o caso das comédias amorosas, dos filmes de guerra, dos westerns, dos policiais, da ficção científica, da animação, dos musicais, etc. Devido à sua ampla difusão internacional e social, pois é igualmente apreciado por pessoas de todos os países e todas as classes, o cinema pode ser considerado um dos componentes distintivos da cultura do nosso tempo. É, de facto, marcado por um cunho universal capaz de derrubar barreiras psicológicas, sociais, culturais, políticas e ideológicas. Na verdade, a notoriedade de algumas das suas produções e figuras abrange várias gerações, em vários países e grupos sociais. Muitas das concepções sobre o heroísmo, a justiça, a investigação policial, certas épocas e personalidades históricas, certos sentimentos, etc., são moldados e cunhados pelas obras cinematográficas. A importância do cinema reflecte-se, 230 Vide: http://www.enciclopedia.com.pt/articles.php?article_id=188 [Consult. 06.03.2011] Vide: História do teatro; In: Infopédia Porto: Porto Editora, 2003-2011; http://www.infopedia.pt/$historia-doteatro> [Consult. 06.03.2011] 231 257 igualmente, na programação televisiva quer pela transmissão de filmes, quer pela adopção de muitos elementos dos vários géneros cinematográficos na sua produção própria.232 Nas ocorrências encontradas é possível reconhecer equivalências em termos de mapeamentos conceptuais que podem ser sistematizadas na seguinte tabela: Domínio-fonte: Cinema / Teatro Domínio-alvo: Futebol I. Palco O futebol, campeonato, jogo II. Cena Jogada importante III. Papel Função/Posição do jogador IV. Actor Jogador de futebol V. Actuação Participação no campeonato VI. Realizador Jogador influente/Treinador VII. Estar sob os holofotes/ projectores Assumir uma função importante no jogo/ter a de luz fama de jogador influente VIII. O cair do pano Fim do jogo/campeonato IX. Guião Plano de jogo (tácticas/estratégias) Figura 37: Tabela de correspondências conceptuais Vejamos as elaborações metafóricas nas quais se reconhecem imagens mescladas que assentam na conceptualização do desporto futebol, numa perspectiva global, como um palco: (203) Letzter Vorhang für Otto Rehhagel: Der Europameister von 2004 hat mit Griechenland das WM-Achtelfinale verpasst und sich damit wohl endgültig von der großen Fußball-Bühne verabschiedet. Note-se que, para que este palco seja conceptualizado metonimicamente - a parte pelo todo233, ou seja, o palco pelo teatro - de forma a tornar claro que nestas ocorrências, o futebol é perspectivado como um todo, englobando todas as suas vertentes. A elaboração metafórica recorre ao substantivo composto: “Fussball-Bühne”, intensificado pelo adjectivo “groß”, realçando, adicionalmente, a sua grandeza. Nesta ocorrência comunica-se o fim da carreira do treinador Rehagel, conceptualizado como o abandono e a despedida definitiva do palco. A afirmação é ainda reforçada: a eliminação da selecção grega do campeonato, e, consequentemente, o fim da participação do treinador, é conceptualizada como o último cair 232 Vide: Cinema; In: Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2011; http://www.infopedia.pt/$cinema>.[Consult. 06.03.2011] 233 Vide: Lakoff/Johnson (1980:36-40) 258 do pano (mapeamento VIII da tabela), sendo o último jogo realizado por estes, a sua última representação teatral234. Na seguinte ocorrência, (169) Deutschland im Es-gibt-kein-Rudi-Völler-mehr-Schock. Der Fußballkönig ist tot, der Kaiser betritt die Bühne. „Wenn es jetzt einer richten kann“, kommentiert Franz Beckenbauer, „dann nur der Ottmar Hitzfeld.“235 o universo do futebol conceptualizado como palco, surge ainda mais alargado, pois engloba a esfera do comentário desportivo acerca das estruturas organizativas do futebol (a federação nacional, por exemplo). O treinador da selecção nacional alemã renunciou ao seu cargo pelo que a Alemanha se viu, inesperadamente, sem treinador. O conselho surge de uma figura proeminente do futebol alemão, Franz Beckenbauer. Estamos perante uma arquitectura conceptual mais elaborada no que concerne a complexidade da imagem mental: O universo do futebol é o teatro, conceptualizado metonimicamente como um palco, mas nem todos os intervenientes são actores e realizadores, i.e. jogadores ou treinadores. O conhecimento de background do leitor (i.e. Franz Beckenbauer: um antigo jogador/treinador alemão e a figura mais respeitada do futebol alemão) é essencial, pois, para além de conferir credibilidade às opiniões por ele emitidas, legitima a sua “entrada em cena”. Beckenbauer será, assim, um perito, um profundo conhecedor do domínio, que sobe ao palco para transmitir aos demais a sua opinião avalizada. Na ocorrência (174) a conceptualização centra-se no jogo de futebol, enquanto na ocorrência (173) a conceptualização abrange tanto o jogo em questão (a final do campeonato europeu de 2004, Portugal contra a Grécia, que a selecção portuguesa perdeu) como também todo o campeonato europeu. (173) (...) empfehlen die portugiesischen Medien der Mannschaft des Gastgebers, erhobenen Hauptes die Bühne zu verlassen. (174) England schaukelte schließlich den Sieg ohne weitere Gelegenheiten auf beiden Seiten über die Bühne. A expressão “über die Bühne gehen/bringen” significa, coloquialmente, completar uma tarefa com sucesso: “Büh|ne, die; *etw. über die B. bringen (ugs.; etw. [erfolgreich] durchführen); über die B. gehen (ugs.; in bestimmter Weise verlaufen, ablaufen): der Prozess ging schnell, 234 O “cair do pano” no final de uma representação teatral é uma imagem muito produtiva em termos de conceptualizações metafóricas. Embora abrangesse um vasto conjunto de domínios, o significado emergente é idêntico: o “cair do pano” é sempre o fim de algo. 235 Esta ocorrência voltará a ser analisada no ponto Imagens Mescladas: FUTEBOL - REALEZA 259 glatt über die B.“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM). O verbo “schaukeln” indica que a tarefa foi concluída de forma hábil: “schau|keln <V.> 4. (salopp) durch geschicktes Lavieren, Taktieren o. Ä. bewerkstelligen, zustande bringen <hat>: wir werden die Sache schon s.“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-ROM). A elaboração metafórica aponta para a seguinte conceptualização: um jogo de futebol concluído com sucesso, i.e. uma vitória, é uma peça de teatro bem representada. Ao bom desempenho dos jogadores corresponde uma boa representação dos actores. Contudo, nem sempre o bom desempenho conduz a uma vitória, tal como o sucesso de uma peça nem sempre depende da capacidade representativa dos actores. Se assim for, os intervenientes merecem o reconhecimento do público e podem abandonar o palco, orgulhosos do seu desempenho236. As próximas ocorrências dizem respeito às movimentações no palco: o entrar, estar em e sair de cena: (161) Lediglich Beckham und Owen konnten sich nach einer guten halben Stunde mit zwei gefährlichen flachen Flankenbällen in Szene setzen, doch Rooney verpasste jeweils knapp. (175) Bei der WM wollen die Jungstars den Millionen in den Stadien und an den Fernsehgeräten ihr Talent beweisen und den gestandenen Stars der Szene den Rang ablaufen. A capacidade de, como jogador individual ou como equipa, assumir um papel relevante no jogo ao desenvolver jogadas eficazes e perigosas, i.e. tornar-se visível, é conceptualizada como uma entrada em cena - “sich in Szene setzen”. O jogo, como peça teatral, é composto por cenas e quanto melhor a exibição futebolística dos jogadores, mais marcante e saliente se torna a cena e o actor que a compõe. O desejo de visibilidade está particularmente patente na ocorrência (175). Os jogadores de renome, os que já assumiram o estatuto de estrelato (Stars - metáfora convencionalizada para pessoa extremamente famosa), 236 Esse orgulho é conceptualizado através da metáfora orientacional GOOD IS UP e, consequentemente, VIRTUE IS UP presente em erhobenen: “Physical and social basis: GOOD IS UP for a person (physical basis), together with SOCIETY IS A PERSON (in the version where you are not identifying with your society). To be virtuous is to act in accordance with the standards set by the society/person to maintain its well-being. VIRTUE IS UP because virtuous actions correlate with social well-being from the society/person's point of view. Since socially based metaphors are part of the culture, it's the society/person's point of view that counts.” (Lakoff/Johnson, 1980:17) assim como através da conceptualização metafórica da cabeça como centro do orgulho e brio, presente em Hauptes. A conceptualização da experiência humana assenta no paradigma cognitivo da corporização (embodiment): “The ‘embodiment’ of meaning is perhaps the central idea of the cognitive linguistic view of metaphor and indeed of the cognitive linguistic view of meaning. As can be expected, the human body plays a key role in the emergence of metaphorical meaning (…)” Kövecses (2002:16). Neste sentido, a cabeça é a entidade visível relativamente a certas emoções e atitudes, tais como o orgulho (conceptualização presente na elaboração metafórica: “estar de cabeça erguida”), o receio de enfrentar problemas (“enfiar a cabeça na areia”), o desespero (“bater com a cabeça na parede”), a teimosia (“marrar contra a parede”) ou a ausência de concentração (“estar com a cabeça no ar”) para só referir alguns exemplos. 260 estão, à partida, sempre em cena, pois a sua celebridade assenta, exactamente, na sua qualidade exibicional. Os jogadores de sucesso mais jovens - “Jungstars” - pretendem conquistar o estrelato e assumir um papel de relevo no contexto futebolístico. Note-se que, tal como no contexto teatral, verificamos a existência de uma estrutura hierarquizada (actores principais, actores secundários, figurinos) em termos de categorias internas - “Rang”237. Partese, contudo, do princípio de que os papéis estão definidos antes do início do espectáculo. Cada jogador tem uma determinada posição, exerce a função que lhe fora atribuída e assume, ou não, o respectivo protagonismo, tal como as seguintes ocorrências atestam: (188) Egal wie gut Lukas Podolski auch bei dieser EM auftritt, eine herausragende Rolle beim Deutschen Meister scheint ihm verwehrt - zu groß ist die Konkurrenz. (209) Insgesammt jedoch bleiben die Weltstars wie Rooney oder Cristiano Ronaldo nur unbedeutende Nebenrollen beim grossen Welttheater des Fussballs. Em virtude deste enquadramento, os jogadores são actores: (159) Jeweils vier Akteure238 von Real Madrid und des FC Valencia stellten das Gros der von Spaniens Trainer Ignacio Saez nominierten Elf. e personagens de uma tragédia: (199) Nachdem die beiden Helden von 2006 beim WM-Auftakt gegen Australien (4:0) ganz stark spielten, sind sie nun die tragischen Figuren. A tragédia reside no mau desempenho de dois jogadores da selecção alemã, Klose e Podolski, considerados os principais responsáveis pela derrota da Alemanha contra a selecção da Sérvia (“Zwei Szenen der 0:1-Pleite gegen Serbien bleiben besonders in Erinnerung. Der dumme Platzverweis von Miroslav Klose und der verschossene Strafstoß von Lukas Podolski.” (sportbild.bild.de)). Em contrapartida, um jogador com um desempenho positivo e particularmente influente no jogo, dirigindo e orientando toda a equipa em direcção ao objectivo comum - a vitória - ultrapassa a categoria de actor e torna-se um realizador. Devido à sua acção estrategicamente decisiva, em termos de construção de jogo, o jogador/realizador é, 237 “Rang 1. [frz.] m. 2 Stellung, Stufe; im Theater: Stockwerk; jmdm. den Rang streitig machen: mit jmdm. wettstreiten, wetteifern; ein Künstler ersten, zweiten Ranges; 2. nur in der Wendung jmdm. den Rang ablaufen: (eigtl.: den Weg abschneiden), jmdm. zuvorkommen, jmdn. übertreffen.“ (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=rang [Consult. 06.03.2011]) 238 „Akteur, der; entlehnt aus frz.acteur >Schauspieler, handelnde Person<: kein Bühnendarsteller, sondern :→ Spieler (häufig mit positiv-lobendem Unetrton)“ (Burkhardt, 2006a:26) 261 normalmente, o médio-centro, no qual toda a equipa se apoia para a tomada de decisões em cada situação de jogo ofensivo, sendo caracterizado pela sua lucidez e inteligência no campo. (176) Deco erzielte zwar einen wichtigen Treffer, musste sich das Rampenlicht jedoch mit einem Mitspieler teilen (...). (217) (...) Regisseur Deco soll das Tempo bestimmen, mit klugen pässen das Spiel verlagern, Räume öffnen und die Stürmer einsetzen. A ocorrência (176) remete para a conceptualização da fama e proeminência através da imagem do foco de luz dos holofotes, equipamento de iluminação essencial tanto no teatro como no cinema e até mesmo nos espectáculos musicais e de dança. Os holofotes projectam um foco de luz que dirige a atenção da audiência para um ponto determinado, em detrimento do restante do palco. O actor debaixo desse foco torna-se o centro das atenções e tem, naquele momento, o papel principal. Tal como os actores almejam esse momento de fama, também os jogadores procuram colocar-se nessa posição privilegiada. Para muitos jogadores, a mera participação num campeonato europeu ou mundial equivale ao momento de fama almejado. Assim sendo, estar debaixo da iluminação do estádio (“Flutlicht”) é como estar a actuar debaixo dos projectores de iluminação do teatro (“Rampenlicht”). Espera-se que as actuações sejam providas de qualidade exibicional e interesse desportivo. Mas nem sempre é esse o caso: (202) (...) Der Auftritt239 bei der WM 2010 gehört sicherlich zu den dunkelsten Kapiteln in der Geschichte des französischen Fußballs.(...) No mundo do teatro ou do cinema, uma peça ou um filme tem um suporte escrito, uma obra literária ou simplesmente um guião, que serve de base à actuação dos actores: (210) Kicker: Steht das alles so in Ihrem WM-Drehbuch? Löw: Man weiss ja vor dem Turnier nicht so genau, welche Einflüsse es geben kann. (...) 239 Registe-se que a expressão Auftritt é metaforicamente motivada. É composta pela preposição espacial auf: "auf [mhd., ahd. uf]: I. <Präp. mit Dativ u. Akk.> 1. (räumlich) a) <mit Dativ> zur Angabe der Berührung von oben, der Lage; b) <mit Akk.> zur Angabe der Richtung; bezieht sich auf eine Stelle, Oberfläche, auf einen Erstreckungsbereich, einen Zielpunkt o. Ä.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM), e o nome Tritt, o movimento de colocar o pé em cima de algo: “Tritt, der; -[e]s, -e [mhd. trit, zu treten]: 1. (bes. beim Gehen) das einmalige Aufsetzen eines Fußes. tre|ten <V.> [mhd. treten, ahd. tretan]: 1. einen Schritt, ein paar Schritte in eine bestimmte Richtung machen; sich mit einem Schritt, einigen Schritten an eine bestimmte Stelle bewegen.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM). Neste sentido o Auftritt “Auf|tritt, der; -[e]s, -e: 1. (Theater) das Auftreten des Schauspielers auf der Bühne: vor seinem A. Lampenfieber haben; auf seinen A. warten; seinen A. verpassen. 2. (Theater) Teil eines Aufzugs, Szene: der fünfte Akt hat nur zwei -e.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM), emerge do movimento físico e espacial do ‘pisar de uma superfície mais elevada’, exactamente o que acontece quando pisamos o palco, que se encontra, habitualmente, a um nível superior relativamente aos lugares dos espectadores. Apesar do campo de futebol se encontrar a um nível inferior no que concerne o público, sendo o campo conceptualizado como um palco, o Auftritt mantém-se, de acordo com o cenário conceptual criado. 262 Neste caso, trata-se do planeamento em termos de tácticas e estratégias de jogo, assim como na escolha dos jogadores a integrar a equipa inicial para cada jogo por parte do seleccionador alemão Joachim Löw, aquando do campeonato mundial de 2010. O significado emergente deste mapeamento será, consequentemente: o treinador está a fazer um bom trabalho e sabe como atingir a vitória no campeonato. Cada jogo é diferente e tanto o desenrolar do mesmo, como o resultado final, suscitam um leque variado de emoções. Diferentes géneros fílmicos causam igualmente emoções diversas: num policial, por exemplo, o espectador pode sentir o suspense e anseia pela resolução do mistério que pode ou não corresponder às suas expectativas. Um filme de terror pode suscitar medo e angústia, sendo que um drama tensão e tristeza. Neste sentido, emerge a seguinte imagem mesclada: o público de um jogo de futebol é idêntico ao público de uma peça cinematográfica pois experiencia as mesmas emoções: (164) Ricardo krönt Elfmeter-Krimi! (186) WM-Finale - Der Spielfilm des Elfmeterschießens (193) Und trotzdem: Ihr habt uns drei wundervolle Wochen geschenkt: Die Nerven-Schlacht gegen Österreich, der Zauber-Sieg gegen Portugal, der LastMinute-Thriller gegen die Türkei. (213) Final-Drama gegen Holland. De acordo com estas ocorrências, sempre que a vitória tenha sido decidida por grandes penalidades, a emoção atinge um auge devido à total imprevisibilidade do resultado final, tal como acontece num filme policial ou thriller. Uma vez exploradas e contextualizadas as ocorrências, propomos a seguinte tabela de espaços mentais: Ocor. (203) (169) ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Letzter Vorhang; Fussball-Bühne (o cair do pano no fim do espectáculo) O fim da carreira do treinador Otto Rehagel O fim da carreira de treinador como cair do pano Cenário do teatro Obrigada e adeus, Rehagel! Franz die Bühne Franz Beckenbauer Beckenbauer betreten (o actor comenta a saída do como actor principal entra em seleccionador principal a entrar cena) alemão em cena Cenário do teatro Beckenbauer é o maior! Texto 263 (173) (174) (161) (175) (188) (209) erhobenen Hauptes die Derrota da selecção Bühne verlassen portuguesa na final (saída do actor de do Euro 2004, cena/ do palco apesar do mérito com orgulho) Perder um jogo, apesar do mérito, como abandonar o palco orgulhoso Cenário do teatro Parabéns Portugal! O jogo vitorioso como uma peça de teatro de sucesso Cenário do teatro Parabéns, Inglaterra! Texto Jogadas atacantes Jogadas atacantes sich in Szene dos jogadores de Beckham e setzen (entrar em ingleses Beckham e Owen como cena) Owen entrar em cena Cenário do teatro Boas iniciativas, Beckham e Owen! Texto “den gestandenen Desempenho Stars der Szene desejado dos den Rang abjogadores jovens laufen“ (retirar nos campeonatos protagonismo) (Futuro) Desempenho desejado dos jogadores jovens como retirar protagonismo (Futuro) Cenário do teatro Querem ser os maiores! (Jogadores jovens) Texto Texto Texto Texto über die Bühne schaukeln (peça que decorre e termina com sucesso) Vitória da selecção da Inglaterra herausragende Rolle (...) scheint Proeminência Podolski como um Cenário do Podolski, já não ihm verwehrt perdida do jogador actor comum teatro/cinema és o melhor! (sem papel Podolski relevante) Rooney oder Cristiano Ronaldo Rooney e Ronaldo Desempenho dos nur unbedeutende como actores de Cenário do jogadores Rooney e Nebenrollen (com papéis teatro/cinema Ronaldo papéis secundários secundários) Rooney e Ronaldo, que desilusão! (159) Texto (…) vier Akteure Os 4 jogadores da von Real Madrid selecção espanhola (os quatro vindos do Real actores) Madrid (199) Texto die tragischen Figuren (figuras trágicas) Os jogadores alemães Podolski e Klose Podolski e Klose são actores trágicos Géneros teatrais Que desilusão, Podolski e Klose! (217) Texto Regisseur (realizador) O desempenho do jogador Deco O jogador Deco como realizador Cenário do cinema Parabéns, Deco! das Rampenlicht Desempenho do teilen (partilhar a jogador português iluminação em Deco no palco) campeonato Desempenho de Deco como partilhar a iluminação em palco Cenário do teatro/cinema (aspectos técnicos) Deco e toda a selecção de Portugal, boa exibição! Jogo da selecção francesa como Cenário do teatro Que desilusão, França! (176) Texto (202) Texto Auftritt bei der WM/dunklester Prestação da selecção francesa Jogadores são actores Cenário do teatro/cinema Bom desempenho destes jogadores! 264 Kapitel (actuação no mundial/ capítulo mais negro) (210) (164), (186), (193), (213) ESB ERef ERel Texto Textos no mundial uma actuação que faz parte dos capítulos mais negros “Steht das alles so Löw como in Ihrem WMEstratégias do Cenário do realizador de Drehbuch?” (isso Treinador Joachim cinema cinema com guião consta do seu Löw (organização) próprio guião?) Krimi/ Speilfilm/ Last-MinuteThriller/FinalDrama Jogos dos campeonatos - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Jogo como filme policial, de suspense ou drama Cenário do cinema (géneros fílmicos) Bom trabalho, Löw! Que emoção! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 38: Tabela de Espaços Mentais 8 O jornalismo desportivo não se limita a mapear os géneros cinematográficos no futebol, com o intuito de representar uma emoção experienciada. As seguintes ocorrências apresentam mapeamentos entre diversos jogos de futebol e filmes concretos, personagens de filmes, peças de teatro, óperas ou séries televisivas concretas: (162) "Waynes World" im Freudentaumel. Trata-se da vitória da selecção inglesa no jogo contra a croácia no qual o jogador Wayne Rooney marcou os dois golos que conduziram a sua equipa à vitória. O cenário da ficção cinematográfica é activado pelo título do filme: “Waynes World” - uma comédia de 1992 que se revelou um enorme sucesso de bilheteira240. (163) Rudi Völler wusste schon beim Frühstück mehr als Michael Skibbe. «Hallo Pferdeflüsterer»,begrüßte der DFB-Teamchef seinen verdutzten Assistenten, dem die Zeitungs-Schlagzeile vom Morgen noch nicht bekannt war. «Ist er der FehlerFlüsterer?», titelte das Boulevard-Blatt «Bild» mit einem Foto, auf dem Skibbe hinter seinem Chef steht und ihm etwas sagt. Esta ocorrência gira em torno de Michael Skibbe, assistente do treinador da selecção alemã Rudi Völler, aquando do campeonato europeu de 2004, realçando o episódio, no qual Skibbe segredou algo ao ouvido de Völler durante o jogo com a Letónia. No domínio-fonte configura o filme “O encantador de cavalos” (“The Horse Whisperer” de 1998) no qual a personagem 240 vide: http://www.imdb.com/title/tt0105793/ [Consult. 08.03.2011] 265 principal, o “psicólogo” de cavalos Tom Booker, cura um cavalo lesionado e traumatizado através das suas capacidades sensoriais extraordinárias, conferindo, deste modo, um final feliz ao filme. (168) „Spiel mir das Lied vom Tor“ Este título da versão on-line do jornal Der Spiegel diz respeito aos sucessivos fracassos da selecção russa, nomeadamente a sua eliminação já na fase de grupos do campeonato europeu de 2004, tal como ocorrera anteriormente. O título, contudo, remete para um clássico dos filmes da categoria western: “Spiel mir das Lied vom Tod” (“Once upon a time in the West” de 1968) motivado, a nosso ver, pela proximidade fono-simbólica do par mínimo: Tor e Tod. Um dos traços mais distintivos deste filme consiste no facto das cenas de violência e morte surgirem acompanhadas pela melodia arrepiante de uma harmónica tocada pela personagem com o mesmo nome (Harmonica), transformando todo o enredo numa dança sinistra de morte. Para a selecção russa, as eliminações prematuras correspondem a essa dança de morte241. (170) "Die Götter sind verrückt geworden" - Eine Nation feiert ihre Sieger: Nach dem Sieg Griechenlands gegen Tschechien und dem Einzug ins EM-Finale werden sogar überirdische Kräfte bemüht, um den Erfolg der Nationalmannschaft zu erklären. A selecção da Grécia, país berço dos antigos mitos gregos e suas divindades, conseguiu um feito único e histórico: o apuramento para a final de um campeonato europeu de futebol. O reconhecimento de que este êxito é deveras extraordinário justifica, na óptica desta notícia desportiva, a exaltação dos deuses, na medida em que só a loucura dos deuses pode explicar o sucesso da selecção grega. Daí que o título do filme “Os deuses devem estar loucos” (“The gods must be crazy” de 1980) se afigura como enquadramento apropriado, estabilizado pelo espaço de relevância do cenário dos deuses gregos. (172) Goldfinger Otto Este título mapeia a personagem da saga do agente secreto britânico James Bond, Goldfinger, na figura do treinador da selecção grega Otto Rehagel. Na consequente mescla Otto Rehagel é Goldfinger e o autor da notícia justifica: 241 “O ritmo do filme pretende criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa dá antes de morrer. Aconteceu no Oeste é, do princípio ao fim, uma dança de morte. Todas as personagens do filme, excepto a de Claudia (Cardinale), têm consciência do facto de que não vão chegar ao fim vivas.” SERGIO LEONE (In: http://www.dvdpt.com/a/aconteceu_no_oeste_edicao_especial.php [Consult. 09.03.2011]) 266 “Nun ist es wohl so. Otto im Finale. Jetzt verlassen mich auch meine Fachkenntnisse. Ich glaube, die EM ist mittlerweile so ein bisschen wie in diesem James-Bond-Film, in dem der wahnsinnige Gerd Froebe [Goldfinger] in irgendeinem Labor sitzt und mit irgendwelchen Tricks die Welt an der Nase rumführt, er drückt irgendwelche Knöpfe und dann geht Spanien unter, dann Frankreich, dann die Tschechei, ich meine, das geht doch alles nicht mehr mit rechten Dingen zu, hat der die Mannschaft geklont, oder was? Auf welche Knöpfe, Otto, drückst du um Gottes Willen?” (Moritz Rinke, In: http://www.spiegel.de/sport/fuss ball/0,1518,307139,00.html [Consult. 08.03.2011]) (181) Mohrs Deutschlandgefühl. Don‘t cry for us, Argentina Esta ocorrência configura uma antevisão ao jogo da selecção alemã sobre a selecção argentina, aquando do campeonato mundial de 2006. O jornalista está convencido de que a selecção alemã ira vencer o jogo e, do mapeamento entre o jogo de futebol e a famosa canção “Don’t cry for me, Argentina” do musical “Evita” (uma famosa canção em que estão plasmados a tristeza e a dor pela morte de Eva Perón), emerge a mescla “a selecção alemã como canção triste da Argentina” e que, estabilizada pelo espaço de relevância, no qual configura o cenário artístico da canção, origina a mescla final: Coragem Alemanha, nós vamos ganhar! A seguinte ocorrência possui uma rede idêntica de espaços mentais com a diferença de que esta notícia foi publicada após o jogo Alemanha-Argentina, do qual a Alemanha saiu vencedora. (220) Don’t cry for me, Maradona As lágrimas de tristeza pela derrota são vertidas tanto pelo treinador da selecção argentina, Maradona, como, por extensão metonímica, por toda a nação. O significado intendido é semelhante: Parabéns, Alemanha! Pensamos que o espaço de relevância do luto transmitido pela canção torna desnecessário o conhecimento integral da letra da mesma. (182) Italien im Siegestaumel. Wiedergeboren am 4. Juli Rom hat eine nicht enden wollende Jubelnacht hinter sich: Es war nicht nur ein Sieg über Deutschland, der - mit ein bisschen Häme - gefeiert wurde. Es war auch ein Sieg über sich selbst, über Skandale, Demütigungen und Selbstzweifel: Zwei zu Null. Esta notícia visa a vitória da selecção italiana sobre a selecção alemã, no dia 4 de Julho de 2006, e o consequente apuramento para a final do campeonato mundial. Pensamos que a data da realização do jogo motivou o mapeamento entre o jogo e o título do filme: “Nascido a 4 de Julho” (“Born on the fourth of July” de 1989). O filme retrata a vida de um soldado veterano, que, após ter ficado paraplégico devido a um ferimento sofrido numa batalha na guerra do 267 Vietname, decide recomeçar e reconstruir a sua vida. De acordo com a notícia, a selecção italiana sofreu um processo de recuperação semelhante, culminando na vitória conseguida contra a poderosa Alemanha. (183) Klose traf wieder doppelt. Und endlich schoß auch Poldi seinen ersten WMTreffer. King Knall und Prinz Peng, unser Wirbel-Sturm einfach sensationell. (192) EM-Endspiel: Der deutsche Patient (218) Der englische Patient – Bangen um Schweinsteiger (vor dem Spiel mit England, Schweinsteiger und Boateng sind verletzt) Estas ocorrências já foram analisadas anteriormente e encontram-se referenciadas no ponto 2.2.3. (200) Um weitere hässliche Kratzer am Image des Landes zu verhindern, erhielt Sportministerin Roselyne Bachelot, die sich ohnehin in Südafrika aufhielt, noch am Sonntag den Auftrag, die Repräsentanten von „Les Miserables“ für Montag zu einem Krisengipfel zu bestellen. (219) Les Miserables – Frankreichs schokierendes WM-Aus Aquando do campeonato mundial de 2010, a selecção francesa teve um desempenho francamente modesto ao nível desportivo e questionável em termos de atitudes e valores demonstrados. Neste sentido, os jogadores franceses são os actores que representam o musical “Les Miserables”242 (1980), baseado na obra literária homónima de Victor Hugo. A mescla final resultante expressa o desagrado pela fraca prestação: Que desilusão! (201) „Wir befinden uns in einer Episode von Akte X - da dreht jeder durch.“ lästerte der Weltmeister von 1998 und ehemalige Spieler des FC Bayern. A ocorrência (201) apresenta um cenário semelhante. Neste contexto, as atitudes da selecção francesa são conceptualizadas através do domínio-fonte artístico de um episódio de uma famosa série de ficção científica: “Ficheiros Secretos”. Esta série televisiva tornou-se uma série de culto do género da ficção científica por retratar, de forma realista e emocionante, a existência de fenómenos sobrenaturais de origens diversas, que não conseguem ser explicadas de forma racional e objectiva243. Esta vertente irracional e inexplicável sustenta o 242 A história decorre na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (1815) e os motins de Junho de 1832. Em cinco volumes, Hugo relata a vida de Jean Valjean, um condenado posto em liberdade. Em torno dele giram diversas pessoas que darão os seus nomes aos diferentes volumes do romance, testemunhando a miséria deste século e a pobreza deplorável. 243 vide: http://www.infopedia.pt/$ficheiros-secretos [Consult. 10.03.2011] 268 mapeamento, i.e. na perspectiva do ex-jogador francês Lizarazu, a selecção francesa cometeu actos irracionais e inexplicáveis. A mescla final poderá, a nosso ver, conter uma mensagem coloquial de espanto: Não se compreende, isto é inacreditável! (204) „Superman“ Landon Donovan hat die USA in allerletzter Minute vor dem WMAus gerettet (…). A mítica figura de banda desenhada - Superhomem - constitui o espaço de Apresentação da rede conceptual subjacente a esta ocorrência. O Superhomem, um ser vindo de outro planeta com capacidades sobrenaturais, é o herói que resolve todas as situações críticas e, na sua luta contra o mal (terrestre e extraterrestre), salva o mundo. Neste contexto futebolístico, o jogador norte-americano Donovan, assume-se como o herói que salvou a selecção dos Estados Unidos da eliminação do campeonato mundial (cenário apoiado pelo verbo “gerettet”). O significado intendido é claro: Donovan, parabéns! (208) „Chronik eines angekündigten Todes“ O título desta noticia inspira-se, integralmente, no título do filme (1987) e/ou da obra literária homónima de Gabriel Garcia Márquez (“Crónica de una muerte anunciada”, 1981) cujo enredo dramático gira em torno de um acto de vingança sangrento. A notícia desportiva diz respeito à derrota da selecção brasileira face à selecção holandesa, com a consequente eliminação do campeonato mundial de 2010. Neste sentido, à “morte anunciada” corresponde a eliminação brasileira, já esperada, devido às fracas exibições da selecção em jogos anteriores. Enquanto se lamenta a eliminação do Brasil, a selecção holandesa é elogiada: (211) Der „siegende Holländer“ – Ein Erfolgs-Märchen wird wahr! Por analogia fonética, este título transformou “Der fliegende Holländer” - título de uma ópera de Richard Wagner, de 1843 - em “Der siegende Holländer”, num claro jogo fono-simbólico. A ópera trata de um capitão fantasma - o holandês voador -, amaldiçoado por blasfemar contra o nome de Deus. Contudo, este acaba por ser salvo por uma jovem, que, ao jurar-lhe amor eterno, sacrifica a sua vida em prol do capitão. A ária final configura um desfecho feliz, pois ambos ascendem unidos ao céu. Também o jogo em questão configura um final feliz para a selecção holandesa que, com a sua vitória ‘ascende’ à final do campeonato mundial. Neste sentido, o conto de fadas de sucesso tornou-se realidade. (214) Internationale Pressestimmen zum WM-Finale Spanien – Holland „Die Biester 0, die Schönen 1“ Fiesta in Spanien (...). 269 Se, no jogo contra o Brasil, a selecção holandesa foi “bestial”, já na final contra a selecção espanhola, e de acordo com a ocorrência (477), a Holanda transformou-se na “besta”, a “besta” que perdeu por 1:0 conta os “belos”, i.e. a selecção espanhola. “Die Schöne und das Biest”, um conto popular francês (“La belle et la Bête”), atingiu popularidade internacional através dos muitos filmes, séries televisivas e musicais produzidos a partir do mesmo. Apesar do conto terminar com um final feliz - o monstro transforma-se num belo príncipe e ambos (ele e a Bela) vivem felizes para sempre - no jogo em questão, apenas o vencedor, a Espanha, vive o seu final feliz. Este facto leva-nos a concluir que o título não se reporta ao conteúdo do conto, mas configura, apenas, uma apreciação estética relativamente ao futebol praticado por ambas as equipas, sendo que o futebol bonito e tecnicamente superior da Espanha se sobrepôs ao futebol directo e combativo da selecção holandesa. De acordo com a metodologia seguida, passamos à apresentação da seguinte tabela, a fim de sistematizar os espaços mentais que compõem as redes conceptuais identificadas: Ocor. (162) (163) (168) (170) (172) (181), (220) ESB Texto EA ERef M1 ERel M2 Waynes World A exibição do jogador inglês Wayne Rooney no jogo InglaterraCroácia Wayne Rooney como personagem Wayne Personagem Wayne é um “herói” Wayne, és o melhor! Texto Der PferdeNo jogo Alemanha- Skibbe como o Protagonista tem flüsterer Letónia, Skibbe fala encantador de poderes (“O encantador de ao ouvido de Völler cavalos curativos cavalos“) Texto Spiel mir das Lied vom Tod (“Aconteceu no Oueste“) Texto Die Götter müssen Vitória da selecção verrückt sein grega no jogo („Os Deuses contra a Rep. devem estar Checa loucos“) Texto Goldfinger Textos Don’t cry for me, Argentina! (“Evita”) (“Não chores por mim, Argentina”) Fracassos da selecção russa Sucesso do treinador Otto Rehagel Fracassos da selecção russa como canção da morte Skibbe, que magia! A Rússia Não há final feliz parece para os condenada ao protagonistas insucesso! Vitória da Grécia como loucura dos Deuses Ausência de explicações racionais Parabéns, Grécia! Otto Rehagel como Goldfinger Engenho e ambição do personagem “Goldfinger” Rehagel, és incrível! Vitória da Vitória da Alemanha Canção triste Alemanha sobre a como uma sobre a Argentina Argentina canção triste da Argentina Parabéns Alemanha! 270 (182) (200), (219) (201) (204) (208) (211) (214) ESB ERef ERel Texto Geboren am 4. Juli (“Nascido a 4 de Julho”) Vitória da Itália no Vitória da Itália jogo com a como Alemanha (a 4 de nascimento Julho) Luta e vitória contra a adversidade Parabéns, Itália! Textos Les Miserables (“Os Miseráveis”) Prestação da selecção francesa Selecção francesa como “Os Miseráveis” Existências desgraçadas e miseráveis Que vergonha, França! Akte X (“Ficheiros Secretos”) Prestação da selecção francesa Prestação da selecção francesa como fenómeno dos “Ficheiros Secretos” Fenómenos inexplicáveis e irracionais França, não se compreende! (Lizarazu) Supermann (“Superhomem”) Jogador norteamericano Donovan Texto Texto Texto Poderes Donovan como sobrenaturais do “Superherói que salva o homem” mundo Parabéns Donovan! Selecção brasileira com morte anunciada A morte certa do protagonista Brasil, que desilusão! Selecção holandesa como “holandês voador” Final feliz para o protagonista Parabéns, Holanda! Jogo Espanha/ A Espanha Valores estéticos: Holanda (Final do como “Bela”, a belo é bom, mundial, vitória da Holanda como monstruoso é Espanha) “Monstro” mau Parabéns, Espanha! Chronik eines Eliminação da angekündigten selecção brasileira Todes no jogo contra a (“Crónica de uma Holanda morte anunciada“) Texto der fliegende Holländer (“O Holandês voador”) Texto Die Schöne und das Biest (“A Bela e o Monstro“) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Vitória da selecção holandesa no jogo contra o Brasil EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 39: Tabela de espaços Mentais 9 Grande parte destes exemplos corroboram a perspectiva defendida por Almeida (2006:51): “In fact, there is reason to believe that the fiction frames designations in blended newspaper titles are not meant to refer to the correspondent fiction works but act as a sort of “key-words” to emotional meaning”, assim como de Fauconnier/Turner (1996:115): “Blended spaces are sites for central cognitive work: reasoning (…), drawing inferences (…), and developing emotions (…).” 271 b) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria música e dança “Music is everywhere to be heard. But what is music? Commentators have spoken of “the relationship of music to the human senses and intellect,” thus affirming a world of human discourse as the necessary setting for the art. A definition of music itself will take longer. As Aristotle said, “It is not easy to determine the nature of music or why anyone should have a knowledge of it.” (Encyclopaedia Britannica, In: http://www.britannica.com/EBchecked/topi c398918/music/64609/Historical-conceptions [Consult. 21.03.2011]) Não existem certezas sobre a origem da música e será difícil desvendar as razões da sua génese. Sabe-se, contudo, que a história da música se funde com a história do Homem. No que diz respeito aos primórdios da actividade musical, o pouco que se sabe provém da arte iconográfica, i.e. gravuras rupestres, conservadas ao longo de milhares de anos, que são testemunho de que o homem pré-histórico já produzia e usava sons de forma intencional. Foram, igualmente, encontrados vestígios arqueológicos de instrumentos de sopro de ossos e de madeira, o que comprova o desejo humano em construir instrumentos musicais. Ao longo dos séculos, foram encontrados fragmentos de obras com origem na antiguidade, que comprovam a crescente tendência da música se associar à divindade e aos mitos, a fenómenos sobrenaturais e a elementos cósmicos. A ligação entre a música e a espiritualidade permanece até à actualidade, embora predomine a vertente da música como forma de prazer lúdico. Lúdico, erudito ou espiritual, a música é, desde a antiguidade até aos tempos de hoje, uma forma de comunicação enraizada na natureza do ser humano. Também a dança é considerada uma manifestação instintiva do ser humano e sabe-se que, já na pré-história, os homens movimentavam-se de forma rítmica para se aquecerem e para comunicarem. Neste sentido, a dança é considerada uma das formas de arte mais antigas, pois como depende apenas do próprio corpo, dispensa ferramentas auxiliares, tornando-se instrumento ideal para a expressão e afirmação de experiências subjectivas e a partilha de emoções. De acordo com os antropólogos, as primeiras danças individuais tinham como função a conquista amorosa, enquanto as danças colectivas eram associadas à veneração de entidades divinas e sobrenaturais. Com o passar dos tempos, a dança era apreciada não somente pelo seu cariz funcional, mas também pela sua beleza estética, passando, igualmente, 272 a fazer parte de representações teatrais ou de grandes eventos desportivos (por exemplo, os jogos olímpicos). Assim, o género da dança foi adquirindo o estatuto de disciplina artística, cada vez mais autónoma e, actualmente, configura uma das formas de expressão e comunicação não verbal mais difundida. No que diz respeito ao mundo do futebol: “Egal welche Vergleiche man zum Klingen bringt, Fussball ist von einem soldatischen zu einem musikalischen Spiel geworden. Selbst wenn im Umgang zwischen Trainern und Profis häufig noch der Ton von Kadettenanstalten vorherrscht und nicht von Konservatorien. Die Schrittfolgen der Spieler sind keine marschierender Truppen, sondern die von Tänzern. Die Virtuosität der Spitzenkönner am Ball, die ihre Fähigkeiten unter grösster Bedrängnis entfaltem müssen, ist unglaublich gerworden. Wir sollten sie nicht nur als Artisten feiern, sondern auch als Künstler.“ (Biermann/Fuchs, 2002:179, cf. Hammelmann, 2010:20) As ocorrências seleccionadas demonstram que a música e a dança configuram, igualmente, elementos importantes da identidade histórica e cultural dos diversos povos. Neste sentido, o futebol é conceptualizado como um estilo musical ou dança tradicional e típica de um dado país. As realizações metafóricas emergem a partir de dois tipos de analogias estruturais diferentes: a vertente predominantemente física, que salienta as analogias entre a movimentação física dos jogadores os movimentos físicos da dança e a vertente essencialmente sentimental, baseada na emoção transmitida por um determinado estilo de jogo e um dado estilo musical. (225) Brasilien-Kroatien Samba ohne Rhythmus - Ronaldinho enttäuschte, Ronaldo spielte unterirdisch. Die Seleção quälte sich bei der Begegnung gegen Kroatien zum Sieg. Dabei hatten die Brasilianer Glück, dass der Gegner seine Torchancen nicht nutzen konnte. (222) Schluss mit Fado, hier kommt Figo - Portugal steht zum ersten Mal in seiner Geschichte im Endspiel eines großen Turniers. SPIEGEL ONLINE zeigt in einer Fotostrecke die schönsten Momente des 2:1-Halbfinalsieges gegen die Niederlande. A selecção brasileira é historicamente conhecida como uma equipa que joga um futebol tecnicamente prefeito e esteticamente atractivo, o chamado “joga bonito”. Tal como o estilo musical brasileiro do samba, o seu futebol caracteriza-se pelos movimentos ritmados e dinâmicos de grande dificuldade técnica. Assim sendo, o mapeamento conceptual produz a 273 mescla: futebol brasileiro é samba244. A ocorrência (225) configura um lamento, no sentido em que no jogo em questão (Brasil-Croácia, aquando do campeonato mundial de 2006), apesar da vitória da selecção brasileira, o futebol praticado não correspondeu às expectativas, i.e. um samba sem ritmo. A conceptualização é construída a partir da contra-factualidade, pois não existe samba sem ritmo. Já a ocorrência (485) apresenta um quadro oposto. O estilo musical tradicional de Portugal, o fado, caracteriza-se pelo seu cariz melancólico, triste e saudosista. A presente conceptualização baseia-se na ausência de analogias estruturais entre o futebol praticado pela selecção portuguesa e este estilo musical. O capitão da selecção Luís Figo conduziu a sua equipa à vitória e, consequentemente, à final do campeonato europeu, sendo que este facto configura uma ocasião alegre e feliz, em oposição à tristeza do fado. Na seguinte ocorrência (226), a equipa de futebol é conceptualizada como uma orquestra, sendo que os diferentes instrumentos musicais constituem as diferentes jogadas futebolísticas. Neste caso, o golo é conceptualizado como uma forte batida no timbale. O fenómeno que une estes dois eventos e que configura a analogia estrutural subjacente ao mapeamento conceptual é o efeito surpresa. (226) Mit einem Paukenschlag begann die Partie im FIFA WM-Stadion Köln: Noch nicht einmal zwei Minuten waren gespielt, als es schon im Gehäuse von Welttorhüter Cech einschlug. Se a batida no timbale é um golo aos dois minutos de jogo (mescla 1), estabilizado pelo conhecimento que temos acerca do som e o efeito produzido pelo instrumento musical em questão (espaço de relevância), concluímos que o significado intendido que emerge da mescla final será algo como: Que surpresa! Que acontecimento inesperado! O jogo de futebol é, também, conceptualizado como uma dança ou espectáculo de ballet: (229) Oliver Bierhoff (Teammanager Deutschland): "Jetzt müssen wir im letzten Gruppenspiel unbedingt gegen Österreich gewinnen. Wir wissen, wie groß die Rivalität zwischen beiden Teams ist und vor allen Dingen in Wien wird das ein ganz heißer Tanz." 244 “Zumindest für den europäischen Fussballbeobachter ist das Spiel afrikanischer Mannschaften immer voll Musik, und die Brasilianer spielen - wer wollte das bestreiten - natürlich Samba-Fussball. (...) Den Sinn für das Tänzerische sieht man vor allem bei Spielern aus Ländern mit einer lebendigen Tanzkultur. Dort, wo Musikalität, Rhytmus und körperliche Gewandtheit im Alltag präsent sind, sind sie auch auf dem Fussballplatz zu beobachten (...). Deshalb ist es auch nicht verwunderlich, dass die brasilianischen Spieler als die Balltänzer par excellence betrachtet werden; die dortige popularität des Fussballs steht in enger Verbindung zur Begeisterung für den Tanz und die Musik. So wird der brasilianische Nationaltanz Samba ebenso in Ligawettbewerben ausgetragen wie die beliebteste Sportart des Landes (..)“ (Hammelmann, 2010:20-21) 274 (231) Angetrieben von Weltfußballer Lionel Messi hat das Offensivballett von Diego Maradona seine WM-Mission erfolgreich begonnen. Mit einem überzeugenden Auftritt beim hochverdienten 1:0 (1:0) gegen Nigeria unterstrich Argentinien seine Titelambitionen bei der Fußball-WM. Na ocorrência (229), o jogo entre as selecções da Alemanha e da Áustria constitui um confronto decisivo para a manutenção de ambas as equipas no campeonato, sendo que, face à rivalidade histórica entre ambas as selecções, se adivinha um jogo altamente competitivo e combativo. A esta tensão corresponde uma dança ‘quente’245, i.e. uma dança de estilo temperamental, energético e impetuoso (e.g. as danças sul-americanas). De novo, a realização metafórica apela ao domínio das emoções, enquadrado na harmonia estética e rítmica da dança246. Quanto à ocorrência (231), o futebol ofensivo, cuja função é a marcação de golos, assume-se como um ballet247. Consideramos que esta conceptualização pretende realçar as vertentes estéticas e emocionais do jogo. Pode-se considerar que um jogo de futebol é considerado ‘bom’ quando a) for garantido o objectivo principal do mesmo: a marcação de golos para a obtenção da vitória e b) o futebol praticado se revestir de qualidade técnica e táctica. A qualidade futebolística prende-se, primordialmente, com a apreciação estética, enquanto o golo e a vitória conduzem a manifestações essencialmente emocionais. No espectáculo de ballet, a beleza estética é essencial para a transmissão da mensagem, predominantemente emocional, o que reforça a importância da qualidade dos bailarinos, determinantes para o sucesso da actuação. A mescla final poderá, assim, significar “Parabéns, Argentina!”, tal como propomos na seguinte tabela: Ocor. (225) (222) ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Samba ohne Rhythmus (A ausência de ritmo do samba) Jogo da selecção brasileira contra a Croácia Jogo do Brasil como Samba sem ritmo Contrafactualidade de um samba sem ritmo Que desilusão, Brasil! Texto Schluss mit Fado Jogo de Figo contra (o fim do fado) a Holanda Jogo de Figo como fim do Fado Características do Parabéns, Figo! fado. 245 “EMOTION IS HEAT” (Kövecses, 2002:112ff) “Betrachtet man die Bewegungen der Spieler auf dem Rasen, so scheint das Fussballspiel Eigenschaften des Tanzes übernommen zu haben. (...) Das Spielfeld wird zur Tanzfläche, wenn die Schrittfolgen der Spieler aufeinander abgestimmt sind, die Positionen fliessend gewechselt werden und das Tempo immer wieder verändert wird. Dabei sind im modernen Spiel die Tanzschritte immer schneller geworden, so dass die Füsse ein hohes Mass an Perfektion erreicht haben; sie bestimmen den Rhytmus des Balles und bewegen sich selbst in seinem Rhytmus.“ (Hammelmann, 2010:20-21) 247 “Ein schöner Spielzug beim Fussball offenbart Ähnlichkeiten mit dem Ballett (...).“ (Hammelmann, 2010:21) 246 275 (226) (229) (231) Texto Paukenschlag (a batida num timbale) O golo da selecção ganesa contra a Chechénia Golo como batida no timbale Impacto sonoro do timbale Que golo fantástico! Texto ein heißer Tanz (uma dança quente) O jogo Alemanha contra a Áustria (Futuro) O jogo Alemanha/ Áustria como dança quente (Futuro) Emoções aliadas à dança Que emoção! Offensivballett (espectáculo de Ballet ofensivo) Jogo atacante Jogo atacante da da Argentina Argentina contra a como Nigéria espectáculo de ballet ofensivo Estética e emoções aliadas ao ballet Excelente prestação, Argentina! Texto ESB ERef ERel - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 40: Tabela de espaços Mentais 10 As nossas conclusões corroboram a perspectiva de Hammelmann (2010:12-13) quando este afirma: “Bei Kunstmetaphern von Fussballern fällt auf, dass sie hauptsächlich aus zwei Bereichen stammen: der Artistik und dem Tanz. (...) Die Grundlagen des Fussballspiels liegen in der Körper- und Ballbeherrschung, sie verlangen vielfältiges artistisches Können (...). Zur Verzückung der Zuschauer trägt aber mindestens ebenso sehr die Schönheit der Bewegungen bei, die uns eine Nähe zum Tanz und zur Musik suggerieren.“ c) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte e entretenimento geral “Fussball bietet ein vielfältiges Spielfeld für Metaphern aller Art; vom allem die Sportberichterstattung ist voll von bildlichen Übertragungen aus verschiedenen Bereichen. das Interesse gilt hier zunächst den Klassifizierungen aus der Welt der Künste. Ballkünstler ist eine dieser Wortschöpfungen, die wöchentlich in den Fussballberichten zu hören und zu lesen sind. Der Kustbegriff soll hierbei (...) nicht zu eng verstanden werden. Betrachtet man Fussball aber als ein Kunstwerk, als Synthese von Ball- und Raumkunst, dann sind die Akteure auf dem Rasen folgerichtig auch als Künsteler zu 276 bezeichnen. »Im Laufe der Zeitwird man sagen« - so der französische Ex-Profi Eric Cantona - »dass Maradona für den Fussball das war, was Rimbaud für die Dichtkunst und Mozart für die Musik war.« (Zit. nach BARTH/DI GRAZIA 2004:136) Was läge somit näher als dem Fussballer das Attribut des Ballkünstlers zu verleihen?“ (Hammelmann, 2010:12) As seguintes ocorrências mapeiam a execução técnica de acções específicas do futebol (240) num objecto de arte, o campeonato mundial de futebol num evento de exibição artística (241), assim como um jogador de futebol (neste caso, Nani) num artista (244): (240) Erst in der Schlussphase gelang Ibrahimovic mit einem Kunststoß der etwas glückliche Ausgleich. (241) Pelé: „(...) So werden wir bei der WM Fußball-Kunst sehen. Ich freue mich auf Ronaldinho.“ (244) Der Dribbelkünstler248 vom englischen Premier-League-Klub Manchester United leidet an einer Verletzung der linken Schulter, die sein Mitwirken beim Turnier am Kap unmöglich macht. Tal como já foi referido anteriormente, o mapeamento conceptual fundamenta-se nos princípios da criação e experiência de elementos estéticos presentes na arte e, consequentemente, no futebol, englobando, invariavelmente, o mundo das emoções: “Der Literaturwissenschaftler Hans Ulrich Gumbrecht betrachtet das Vergnügen, das Fussballliebhaber an diesem Spiel empfinden, als ein vorwiegend ästhetisches. In Anlehnung an Immanuel Kant versteht er die Faszination des Fussballspiels - wie die aller Mannschaftssportarten - als ästhetische Erfahrung die durch interesseloses Wohlgefallen gekennzeichnet sei. Dieses begründet Gumbrecht damit, dass wir - (relativ) unabhängig vom Ergebnis - zwischen einem guten und einem schlechen Spiel unterscheiden können, auch wenn uns die Kriterien zur äthetischen Beurteilung nicht unbedingt bewusst sind (...).“ (Hammelmann, 2010:32-33) Neste sentido, defendemos as seguintes redes conceptuais, baseadas nos espaços mentais: 248 “Dribbelkünstler, der; nicht die Fussballmannschaft einer Kunsthochschule, sondern: ein Spieler, der für seine besonderen Fertigkeiten beim → Dribbling bekannt ist (...)“ (Burkhardt, 2006a:81) “Zumindest unter den Kunstfreunden des Fussballs geniessen die Dribbler aber weiterhin ein hohes Renommee, denn nischts is »so anmutig wie ein perfekter Übersteiger« (KÖSTER 2003a:20)“ (Hammelmann, 2010:26) 277 Ocor. ESB (240) Texto (241) Texto (244) Texto ESB ERef ERel EA ERef M1 ERel M2 Kunststoß Remate do jogador (remate artístico) Ibrahimovic Remate como arte Experiência estética Que belo remate! Fussball-Kunst (arte do futebol) Futebol a praticar no camp. mundial (Futuro) Futebol como arte (Futuro) Experiência estética Bom futebol! Dribbelkünstler (artista do ‘drible’) A capacidade técnica do jogador Nani Nani como artista do ‘drible’ Experiência estética Nani é excelente! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 41: Tabela de Espaços Mentais 11 Eventos particularmente festivos e memoráveis são conhecidos como ‘galas’249. No contexto futebolístico, uma ‘gala’ constitui um jogo de futebol, no qual pelo menos uma das equipas revelou um elevado nível de qualidade ou espectacularidade.250 De acordo com Burkhardt, o jogo da selecção alemã contra a Inglaterra (ocorrência (249)) configurou uma demonstração de qualidade exibicional excepcional (a selecção alemã venceu por 4:1), no qual o jogador alemão Müller esteve particularmente bem: (249) (...) außerdem spielte sich Thomas Müller bei der Gala-Vorstellung ins Rampenlicht. Existem espectáculos artísticos centrados em, ou compostos por um artista apenas. Contudo, uma equipa de futebol é composta por onze jogadores. Quando, neste contexto, é feita referência a um “Alleinunterhalter” ou a um “One-Man-Show”, o significado é evidente: apenas um jogador conseguiu jogar de forma excepcional, conseguiu, de acordo com a expressão portuguesa, “dar espectáculo”. (248) Nordkorea: Jong wieder als Alleinunterhalter (...). 249 “Ga|la… in Zus.: Fest…, festlich“ (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ services/suche/wbger/index.html?gerqry=gala [Consult.28.03.2011]) “Ga|la|vor|stel|lung, die: vgl. Galaaufführung: die: in festlichem Rahmen stattfindende Theater-, Opernaufführung o. Ä.;“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-Rom) 250 “Galavorstellung, die; zu span. gala >Festkleidung, (Hof-)Festlichkeit<; weder (…) eine feierliche Veranstaltung, sondern (in metaphorischer Verwendung): eine (das Publikum) beeindruckende Demonstration hervorragender Leistungsfähigkeit (…)” (Burkhardt, 2006a:126). 278 (251) [Diego Forlan] (...) Die One-Man-Show des uruguayischen Märchenautors der Neuzeit. A ocorrência (251) é particularmente interessante devido ao facto de apresentar duas realizações metafóricas com dois domínios-fonte distintos. Diego Forlan não é apenas o jogador principal da equipa, é também o “autor de contos de fadas da era moderna”, i.e. é o responsável pelo actual sucesso da selecção uruguaia, sendo que o percurso do Uruguai no campeonato mundial, recheado de vitórias, é conceptualizado como um conto de fadas. Vejase, então, a tabela elucidativa da construção da rede semiótica de espaços mentais: Ocor. (249) (248) (251) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Gala-Vorstellung (Gala) Jogo da selecção alemã contra a Inglaterra Jogo como Gala Experiência estética Que jogo espectacular! Texto Alleinunterhalter (espectáculo de entretenimento com um só ‘entertainer’) Jogador Nortecoreano Jong Jong como ‘entertainer’ único Cenário do espectáculo de entretenimento Jong é fantástico! Texto One-Man-Show (espectáculo de entretenimento com um só ‘entertainer’) Jogador uruguaio Diego Forlan Forlan como ‘entertainer’ único Cenário do espectáculo de entretenimento Forlan é o melhor! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 42: Tabela de Espaços Mentais 12 d) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria espectáculo pirotécnico „Das Feuerwerk ist die perfekteste Form der Kunst, da sich das Bild im Moment seiner höchsten Vollendung dem Betrachter wieder entzieht.“ Theodor W. Adorno (In: http://de.academic.ru/dicnsf/ dewiki/439758 [Consult. 28.03.2011]) Entende-se por ‘espectáculo de fogo-de-artifício’ uma exibição artística na qual diversos objectos pirotécnicos (i.e. foguetes) são lançados de forma coordenada para o céu ou ateados quando presos (‘fogo preso’), de modo a criar efeitos variados de luz e de cor. Pensa279 se que o fogo-de-artifício tem as suas origens na China e adquiriu, por volta do século XIV, grande popularidade na Europa e, particularmente, no Japão251. Actualmente, o espectáculo de fogo-de-artifício é amplamente apreciado como uma forma artística de particular beleza, também devido à sua grandiosidade de cariz efémero. Neste sentido, a ocorrência (517) descreve um jogo de particular espectacularidade no qual, a cada explosão pirotécnica corresponde a explosão de alegria por mais um golo marcado: (254) Selecçao zündet nach der Pause ein Feuerwerk Trata-se do jogo entre a selecção de Portugal e a Coreia do Norte, aquando do campeonato mundial de 2010, o qual Portugal venceu por 7:0, tendo marcado seis golos na segunda parte. A admiração do público perante um espectáculo pirotécnico de rara beleza é, da perspectiva emocional, equivalente aos 45 minutos de jogo de futebol excepcional oferecido pela selecção portuguesa e coroado por seis golos: Ocor. (254) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Feuerwerk zünden (espectáculo pirotécnico) Jogo da selecção portuguesa contra a Coreia do Norte Jogo como espectáculo pirotécnico Experiência estética/ estruturas emocionais Que jogo espectacular! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 43: Tabela de Espaços Mentais 13 Este cenário pode igualmente apontar para o fenómeno da explosão concreta e emocional, sendo que cada explosão do foguetão assim como cada golo marcado provoca uma explosão de emoções. 251 “Die ersten Feuerwerke gab es wahrscheinlich in China während der Song-Dynastie, die sich jedoch nicht durch einen Licht-, sondern durch einen Knalleffekt auszeichneten. Im späten 14. Jahrhundert entwickelte sich in Italien (erste Nennung in Vicenza, 1379), aus dem Gebrauch des Schwarzpulvers, eine eigenständige Feuerwerkskunst, die sich dann in ganz Europa verbreitete. Zur Kunstform wurde es insbesondere in Japan weiterentwickelt und heißt dort 花火 hana-bi „Blumen aus Feuer“ (aus dem chinesischen 花火 huāhuō) und diente religiösen Zwecken. Zitat:"Das Abbrennen von Feuerwerkskörpern bei festlichen Veranstaltungen und die dadurch erzeugten Effekte am Nachthimmel vermögen als Feuerwerke wohl jedermann zu faszinieren. Verbreitet sind sie heute fast überall. Im Ursprung war die Feuerwerkerei Kriegshandwerk und wurde zu militärischen Zwecken genutzt. Als Facette fürstlicher Repräsentation erlangten seit der frühen Neuzeit prächtige höfische Feuerwerke große Beliebtheit; aus ihrer gezielten Inszenierung entwickelte sich bis zur Mitte des 16. jahrhunderts ein eigenständiger Festtyp, der besonders im Barock zur vollen Ausgestaltung kam. Von Anfang an besaßen die höfischen Feuerwerke immanent politische Funktionen: Sie dienten auch der offenen Demonstration militärischen Könnens, der Erprobung der Artillerie für den kriegerischen Ernstfall." Heutzutage werden in Amerika und Europa Feuerwerke vor allem zu Neujahr abgefeuert. Zusätzlich werden Feuerwerke zu länderspezifischen Feiertagen, wie zum Beispiel dem amerikanischen Unabhängigkeitstag, oder zu Großveranstaltungen (große Sportereignisse, Kirmes, Musikfestivals, etc.) gezündet. In Asien werden Feuerwerke üblicherweise im Sommer abgefeuert. In südeuropäischen Ländern wird besonders zu Ostern Feuerwerk abgebrannt.“ (Academic dictionaries and encyclopedias, In: http://de.academic.ru/dic.nsf/dewiki/439758 [Consult. 28.03.2011]) 280 e) FUTEBOL É FORMA ARTÍSTICA - Categoria arte ornamental de joalharia e pintura Historicamente, a joalharia252 constituiu uma marca de identificação e pertença a um determinado nível ou classe social. Actualmente, estes objectos de adorno configuram formas artísticas que se prendem, primordialmente, com o domínio da apreciação e valorização estéticas. Existem diversos factores que podem valorizar esteticamente os objectos em questão: a sua originalidade, a sua raridade, a pureza dos materiais utilizados e a perfeição na manufactura. Neste contexto, a arte filigrana253 é conhecida pela sua meticulosidade e perfeição minuciosa. No que diz respeito ao mundo do futebol, Burkhardt define: “Filigrantechniker, der; aus ital. filigrana >kunstvolles Geflecht von Gold- o. Silberdrähten< (zu lat. filum >Faden< u. granum >Korn<); kein kunstfertiger Goldschmied, sondern (in metaphorischer Verwendung): ein in der → Ballführung eleganter, → dribbelstarker Spieler (...).“ (Burkhardt, 2006a:111-112). Na ocorrência (256) são elogiadas as capacidades técnicas do jogador argentino Maxi Rodriguez: (256) Kaum ein Treffer bei dieser WM war schöner als der des Argentiniers Maxi Rodriguez beim Erfolg über Mexiko. Im Interview spricht der Filigrantechniker über seinen siegbringenden Schuss, die Euphorie in der Heimat und die Stärke des Viertelfinalgegners Deutschland. A ocorrência (257) remete para o domínio da pintura, no qual o jogo de futebol é uma tela, os jogadores os pintores e as suas acções em campo pinceladas coloridas: 252 “Schmuck ist ein Ziergegenstand oder eine Maßnahme zur Verschönerung. Der Begriff hat eine weitere und eine engere Bedeutung. • Im weitesten Sinne sind mit Schmuck Verzierungen gemeint, also Maßnahmen zur Verschönerung, zur optischen Aufwertung oder zu einer Wohlstand repräsentierenden (Aus-)Gestaltung von Räumen, Objekten oder Personen. Man spricht auch von Ausschmückung oder dekorativen (schmückenden) Elementen. • Im engeren Sinne bezeichnet der Begriff Schmuck einen subjektiv als schön empfundenen Gegenstand (Ziergegenstand, aber auch Bemalung). • Im engsten Sinne die Gebräuche und Gegenstände, die an Körper und Kleidung des Menschen angebracht werden, und der Zierde dienen. Schmuck bezeichnet auch die Elemente, die Tiere oder Pflanzen zu analogen Zwecken als Kommunikationsmittel im weitesten Sinne ausbilden. (...)Die Verwendung von Schmuck geht auf die Anfänge der Menschheit zurück: neueste Forschungen weisen darauf hin, dass Menschen sich bereits vor 100.000 Jahren mit Muscheln schmückten - mindestens 25.000 Jahre früher als bislang angenommen. (...)Bei Menschen ist Schmuck ein Ziergegenstand, der am Körper getragen wird. Der Schmuck dient in erster Linie dazu, die Attraktivität oder den Stellenwert einer Person innerhalb einer Gesellschaft oder Gruppe zu erhöhen oder einen Status sichtbar darzustellen (zum Beispiel die Kronjuwelen). Schmuck ist einerseits an die Faszination des Materials gebunden, etwa an das Metall mit seinem Glanz oder auch die Edelsteine mit ihrer Farbigkeit, als auch an formale Aspekte der Schmuckform.“ (In: http://de.inforapid.org/index.php5?search =Schmuck [Consult. 28.03.2011]) 253 “fi|li|gran <auch> fi|lig|ran [Adj. ] fein, feingliedrig; ein ~es Schmuckstück; Fi|li|gran <auch> Fi|lig|ran [n. 1] Geflecht aus feinen, miteinander verlöteten Fäden aus Edelmetall (Gold~, Silber~) [<ital. filigrana ”Filigran“, zusammengezogen <filo e grano ”Faden und Korn“] (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/ge nerator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=filigran [Consult. 28.03.2011]) 281 (257) Den ersten Farbtupfer der unterhaltsamen Partie unter der Leitung des deutschen Schiedsrichters Wolfgang Stark setzte Chinedu Obasi (...) dessen Schuss jedoch weit am Tor vorbei ging. A arte plástica da pintura constitui um dos géneros artísticos mais antigos e significativos da história da humanidade. As pinturas mais antigas têm cerca de 35.000 anos, tendo sido encontradas em cavernas francesas e espanholas (e.g. Lascaux); no oriente encontraram-se pinturas com cerca de 10.000 anos, enquanto se calcula que as pinturas egípcias tenham cerca de 3000 de idade. Estas descobertas arqueológicas, assim como a constante evolução da pintura e seus inúmeros estilos e funções (e.g. a importância da pintura sacra na idade média e no renascentismo), comprovam que esta forma artística representa um dos meios de expressão e comunicação mais utilizado pelo homem. O seu desenvolvimento é indissociável do desenvolvimento das civilizações. No presente contexto, salientamos a vertente estética da pintura na qual a cor é sinónimo de alegria e vivacidade: “far|big <Adj.> 2. lebhaft, anschaulich; abwechslungsreich: eine -e Schilderung; das Spiel war spannend und f.;“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom). Assim sendo, propomos: Ocor. ESB EA ERef (256) Texto Filigrantechniker (técnico de arte filigrana) Jogador argentino Maxi Rodriguez (257) Texto Farbtupfer (pincelada de cor) Remate do jogador Obasi ESB ERef ERel - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância M1 EA M1 M2 ERel Jogador Rodriguez Características como técnico de da arte filigrana arte filigrana Remate como pincelada de cor Cor é vivacidade M2 Rodriguez, excelente jogador! Que remate fantástico! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 44: Tabela de Espaços Mentais 14 As ocorrências aqui analisadas sustentam a teoria de que o futebol é conceptualizado e sentido como uma experiência do foro artístico. Consequentemente, concordamos com Hammelmann, quando este afirma: “Es überrascht nicht besonders, dass die Brasilianer den Fussball als Kunstform (futebol arte) verstehen - eher schon, dass im nicht gerade für schönen Fussball bekannten England das Spiel The Beautiful Game genannt wird (vgl. BARTH/DI GRAZIA 2004:9). Im deutschsprachigen Raum ist dagegen ein Begriff, der eine ästhetische Vorstellung vom Fussball in sich trägt, noch nicht in die Alltagssprache eingegangen. dabei hatte der österreichische Schriftsteller Peter Handke bereits in den 1970er Jahren festgestellt, dass Fussball für viele Menschen »die einzige Berührung mit Ästhetik« (zit. nach BAUSENWEIN 282 1995:335) darstellt. Für Gunter Gebauer zeichnet sich das Fussballspiel durch einen »Glanz im Inneren bei einer unscheinbaren Oberfläche« (GEBAUER 2006:14) aus und rückt dadurch ins Reich der ästhetischen Phänomene.“ (Hammelmann, 2010:32) 3.2.3. Imagens mescladas: Futebol - Máquina e Veículo “Am Ende, als es um den Titel [der Weltmeisterschaft 1974] ging, passte alles zusammen in der deutschen Mannschaft. Müller schoß das Siegtor, Breiter brachte den Elfmeter ins Netz, Hölzenbein fiel im Strafraum, als er zu fallen hatte, die Mannschaft war eine perfekt funktionierende Maschine, deren Rythmus jeden einzelnen beflügelte.“ (Huba, 2009:148) Com 77 ocorrências, as realizações metafóricas baseadas na conceptualização do futebol como uma máquina revelou ser o terceiro grupo mais frequente do nosso corpus. As conceptualizações centram-se em duas vertentes: a equipa como máquina que funciona como um todo e o jogador individual como uma máquina, i.e. as suas capacidades técnico-tácticas como um mecanismo que produz resultados (jogadas, golos, etc.). No seu estudo sobre a linguagem do futebol, Frielingsdorf (2008) destaca a importância do esforço físico, próprio deste desporto e determinante para o desfecho de cada jogo, como factor propício para a produção de representações metafóricas baseadas neste domínio-fonte: “Den nicht einmal als falsch zu bezeichnenden Gedankengang, dass das physische Leistungsvermögen der Spieler über Erfolg und Misserfolg entscheidet, vermittelt die Sportpresse dem Rezipienten häufig dadurch, dass die Fussballspieler als Maschinen dargestellt werden: Spieler oder ganze Mannschaften schalten bei einer sicheren Führung einen oder zwei Gänge zurück (...), Spieler werden zu Angriffs- und Mittelfeldmotoren oder gar zu Antreibern. Mannschaften kommen in Fahrt oder Angriffsbemühungen laufen auf Hochtouren.“ (Frielingsdorf, 2008:40). De realçar é o facto de 29 ocorrências dizerem respeito ao domínio geral das máquinas, enquanto 48 ocorrências fazem parte do mundo específico dos veículos de transporte terrestre (automóveis e comboios). Neste sentido, dividimos a seguinte tabela e, consequentemente, a análise em duas partes, ou seja, futebol como: a) veículos; b) maquinarias diversas e tipos de engenhos. 283 a) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria veículo (48 ocorrências) EURO 2004 (8) MUNDIAL 2006 (17) (258) Mit einer druckvollen Anfangsoffensive versuchten die Spanier, ihren Gegner zu überrollen. (www.kicker.de – 12.06.2004) (259) Bei sommerlichen Temperaturen mussten die Zuschauer in Guimaraes eine gemütliche Halbzeit ertragen, ehe die Partie schließlich an Fahrt gewann. (www.kicker.de – 14.06.2004) (261) König Johan und Schrotthaufen (www.spiegel.de – 16.06.2004) MUNDIAL 2010 (9) (266) Auch im Vorwärtsgang zeigte sich die (283) Nationalelf Huth sagt für die EURO ab Klinsmann-Elf in dieser Phase nicht besonders Metzelder „Ich habe keinen Freifahrtschwungvoll, so dass die Partie immer mehr schein“ (Kicker Ausgabe 41 - 15.05.2008) verflachte. (www.kicker.de – 09.06.2006) (267) Mit dem Beginn der zweiten Hälfte versuchten die Polen den schwachen Eindruck ab der 20. Minute zu revidieren und legten wieder energischer den Vorwärtsgang ein (...) (www.kicker.de – 09.06.2006) (268) Jürgen Klinsmann will mit Vollgas- (260) Nach dem Führungstreffer durch Ljungberg gewannen die Skandinavier jedoch stark an Selbstbewusstsein und überrollten den Gegner förmlich. (www.kicker.de – 14.06.2004) EURO 2008 (14) Fußball durch die WM rasen - hoffentlich bis zum Finale nach Berlin und nicht vorher gegen die Wand. (www.kicker.de – 11.06.2006) (297) „Wir haben in diesem Spiel gut aufgetankt, uns Selbstbewusstsein für das weitere Turnier geholt. Jetzt denken wir nur an unser nächstes Spiel“, sagte Torschütze (284) Nach einer Stunde SchlafwagenSiphiwe Tshbalala. fußball und großen Defensivproblemen (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010) kam die Steigerung der DFB-Elf zu spät, um die dritte Endspiel-Niederlage bei einer (298) Typisch Ronaldo. Obwohl er mit Real in Europameisterschaft nach 1976 und 1992 der abgelaufenen Spielzeit keinen Titel noch verhindern zu können. gewann, strotz er nur so vor Selbstvertrauen (www.sportbild.de – 30.06.2008) und gibt auch verbal richtig Gas. (www.sportbild.bild.de – 09.06.2010) (285) Pass von Xavi Hernandez auf Torres. Lahm zögert, Lehmann kommt nicht schnell (299) Henrik Larsson, Ex-Spieler von Barça: genug raus. Und Turbo-Torres lupft den „Ich weiß ehrlich gesagt nicht, wie man so Ball aus 14 Metern ins lange Eck – 0:1. einen wie ihn bremsen kann.“ (www.bild.de – 2008) (www.sportbild.bild.de – 09.06.2010) (269) Der Vize-Europameister hatte mit dem der WM-Neuling nur wenig Mühe und schaltete (286) Martin Stranzl (Österreich): "Nun (300) Schlappe für England: Deutschland im zweiten Durchgang mindestens einen Gang heißt es: Spiel abhaken und Vollgas geben. beginnt temporeich, bleibt mit dem Fuß auf zurück. (www.kicker.de – 11.06.2006) (www.kicker.de – 08.06.2008) (270) Auch die Pfister-Elf spielte in dieser (262) Die Partie in Leiria kam nur Phase ohne viel Tempo, schaltete nach einer schwer in Fahrt. halben Stunde mal kurz einen Gang höher und (www.kicker.de – 17.06.2004) ging völlig überraschend in Front. (www.kicker.de – 13.06.2006) (263) Die tschechische Mannschaft zeigte sich in der Folgezeit geschockt, während das Oranje-Team weiter Vollgas gab und sich Chancen im Minutentakt erarbeitete. (www.kicker.de – 18.06.2004) (264) (...)dass Prso meist allein gegen (287) Christoph Metzelder: "Wir haben sehr, sehr gut angefangen, sind dann in Führung gegangen (...) Wir freuen uns über den guten Auftakt, aber jetzt müssen wir weiter Gas geben." (271) Ob die weiterhin hohen Celsiusgrade (www.kicker.de – 08.06.2008) Schuld daran waren, dass das Tempo der Partie zwischenzeitlich vollkommen abhanden (288) So hätte es nochmal eng werden kam? Jedenfalls sahen die Zuschauer lange können, denn Italien erhöhte die Drehzahl. Zeit nur absoluten Leerlauf. (www.kicker.de – 09.06.2008) (www.kicker.de – 13.06.2006) (289) Allerdings konnte die gut organisierte dem Gaspedal und schickt England nach Hause. (www.kicker.de – 27.06.2010) (301) Sogar Andres Iniestas Forderung vom „Vollgas“ wurde lange ungesetzt. (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 27. Woche 08.07.2010, p.13) (302) Insofern setzt sich der „Trend zum Turbofussball“ fort, den der kicker in der Rückschau auf die EURO 2008 ausgemacht hatte. (...) (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.11) 284 Campbell und Terry bei den weiten Steilpässen chancenlos war und sich die Süd-Ost-Europäer jeweils schnell wieder im Rückwärtsgang fanden. (www.kicker.de – 21.06.2004) (265) Im Anschluss an den Treffer schalteten beide Mannschaften einen Gang zurück und versuchten den Ball in den eigenen Reihen zu halten. (www.spiegel.de – 22.06.2004) (272) Der Ukrainer bekam wegen einer Notbremse die Rote Karte. Am flachen Schuss von Villa in die linke Ecke war Shovkovskyi dann zwar noch dran, konnte das dritte Tor aber trotzdem nicht mehr verhindern (48.). (www.kicker.de – 14.06.2006) spanische Deckung die Aktionen des Gegners zunächst noch vor dem gegnerrischen Strafraum bremsen. Die Iberer agierten im Vorwärtsgang zunächst verhaltener (...) (www.kicker.de – 10.06.2008) (273) Doch nicht nur die Osteuropäer gaben Gas, auch die "Black Stars" hielten in einer offenen Anfangsphase das Tempo hoch und hatten durchaus ihre Möglichkeiten (Addo, 12. , Appiah, 14.). (www.kicker.de – 17.06.2006) (290) Schweden legte den Vorwärtsgang ein, tat sich aber gegen tief stehende und dicht gestaffelte Hellenen schwer. (www.kicker.de – 10.06.2008) (274) Frankreich schaltete nun einen Gang zurück, tat nicht mehr als nötig und kontrollierte dennoch die bis dato harmlosen Südkoreaner. (www.kicker.de – 18.06.2006) (275) Der sofort eingelegte Vorwärtsgang führte allerdings nicht zu einer Vielzahl an Torchancen. (www.kicker.de – 20.06.2006) (276) Nach einer schönen Kombination über Messi und Tevez hatte Cambiasso freie Fahrt, doch Boulahrouz klärte im allerletzten Moment (9.). (www.kicker.de – 21.06.2006) (304) Chile kennt nur den Vorwärtsgang (Kicker Sportmagazin Nr. 49 – 24. Woche 17.06.2010, p.22) (305) Lizarazu: „So fahren wir an die Wand“ „So werden wir geradeaus gegen die Wand fahren!“ Drastisch schildert Bixente Lizarzu (40), Weltmeister von 1998, die Situation bei der Equipe Tricolore. „Es ist der reine Wahnsinn, drei Wochen vor Beginn einer WM-Endrunde mit einem neuen taktischen System anzutreten“ erklärte der ehemalige Bayern-Profi. (Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche 07.06.2010, p.35) (291) Munterer Auftakt in Salzburg, wo beide Teams sofort den Vorwärtsgang einschalteten. (www.kicker.de 14.06.2008) (306) Immer besser in Fahrt kommt bei Europameister Spanien der rekonvaleszente (292) Nur eine Minute später tankte sich Topstürmer Fernando Torres (26). (Er) zeigte Klose auf (...) nach seiner Meniskusoperation keinerlei (www.kicker.de – 16.06.2008) Beschwerden mehr. (293) Les Bleus verloren früh Ribery, Mitte (Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche der ersten Halbzeit auch Abidal nach einer 07.06.2010, p.36) Notbremse im Strafraum und gerieten durch Pirlos Elfmeter in Rückstand. (www.kicker.de – 17.06.2008) (277) Nun war die Partie wieder offen. Die Kranjcar-Elf schaltete wieder mindestens (294) Ribery verhakte sich im Zweikampf einen Gang nach oben und kam wieder zu mit Zambrotta, hielt sich die Wade und guten Chancen. (www.kicker.de – musste mit der Trage abtransportiert 22.06.2006) werden - Nasri sollte den Mittelfeldmotor (278) Die Schweden (...) verloren viele der Equipe Tricolore ersetzen (10.). Zweikämpfe schon im Mittelfeld und fanden (www.kicker.de – 17.06.2008) sich immer wieder schnell im Rückwärtsgang (295) Der russische Express überrollte die wieder. (www.kicker.de – 24.06.2006) schwedische Mannschaft mit offensivem (279) Das Spiel mit angezogener Handbremse 285 tat den "Klinsmännern" nicht (www.kicker.de – 24.06.2006) gut (...) Tempofußball. (www.kicker.de – 18.06.2008) (280) Dadurch hatte die "Selecao" in der (296) Der Star von Zenit St. Petersburg war Endphase dieser durchwachsenen Partie noch kaum zu bremsen (...). leichteres Spiel und steuerte letztlich (www.kicker.de – 18.06.2008) ungefährdet dem Viertelfinale entgegen. (www.kicker.de – 27.06.2006) (281) Owen Hargreaves: Perfektionierte das Spiel als "Bremsklotz" vor der Abwehr. War überall präsent, fabelhaft seine Laufleistung über 120 Minuten. (www.kicker.de – 01.07.2006) (282) In der Verlängerung wollten sich beide Teams nicht vorschnell aus der Reserve locken lassen, auch wenn die Franzosen eher im Vorwärtsgang waren. (www.kicker,de – 09.07.2006) b) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria maquinarias diversas e tipos de engenhos (29 ocorrências) EURO 2004 (2) (306) Wer nach der Pause erwartet hatte, dass die Bulgaren den Schalter umlegen und gegen das drohende Ausscheiden ankämpfen würden, sah sich getäuscht. (www.kicker.de – 18.06.2004) MUNDIAL 2006 (7) EURO 2008 (9) (308) Arne Friedrich Gegen Argentinien (315) Als ob die miserablen äußeren schaltete der Berliner Tevez aus. Umstände das Team zusammengeschweißt (www.bild.de – 05.07.2006) hätten, ging die Elf von Co-Trainer Hansi Flick hoch motiviert und mit vollem Einsatz (309) Achtung! England kommt mit dem in die Partie. Tor-Roboter - Gefeierter Held: „Tor- (www.focus.de – 01.07.2008) Roboter“ Peter Crouch (25). (316) Weniger glimpflich kommt (307) Griechen schalten Titelverteidiger (www.bild.de – 06.06.2006) Deutschland nach der bescheidenen aus! Vorstellung weg. Da ist von (www.kicker.de – 24.06.2004) (310) Oliver Neuville: Machte nach seiner "Rumpelfußball", "ärmlichen Fußball" ja Einwechslung viel Betrieb und sorgte mit MUNDIAL 2010 (11) (324) Nächster Star kaputt WM-Aus für Portugals Nani (www.sportbild.bild.de – 08.06.2010) (325) Bundestrainer Joachim Löw: „(...) Die Kombinationen waren schon so vorgesehen. Wir haben gut umgeschaltet.“ (www.kicker.de – 13.06.2010) (326) „Die deutsche Dampfwalze muss jetzt gegen Ghana um alles oder nichts spielen.“ (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) 286 seinem Treffer für die späte, aber hoch sogar von einer "seelenlosen Maschine" die Rede. (www.kicker.de – 26.06.2008) verdiente Entscheidung. (www.kicker.de – 14.06.2006) (317) Die Elftal schaltete blitzschnell auf (311) Trotz weiterhin optischer Angriff um. (www.kicker.de – 09.06.2008) (327) Kevin-Prince Boateng (23): (...) Die Spieler sind Maschinen. Wir sind alle unheimlich austrainiert. (...) (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010) (328) Messi kommt auf Betriebstemperatur. (318) Ioannis Amanatidis (Griechenland): (www.kicker.de/news/video) "Wir müssen den Hebel umlegen, sonst (329) Deutschland demontiert Argentinien im sind wir draußen." (www.kicker.de – WM-Viertelfinale 4:0. 10.06.2008) (www.sportbild.bild.de – 03.07.2010) (319) Nachdem die Seiten gewechselt (330) taz: „Es war ein Augenschmaus: Schöner waren, kam von den Polen mehr Dampf, Fußball, wenige Fouls und Fußball, Fußball, (312) Stephen Appiah: Trotz einiger aber die Kroaten schafften den zählbaren Fußball. Doch am Ende starb die deutsche Maschine und konnte Spanien nichts abringen.“ Fehlschüsse zuvor im Training versenkte er Erfolg. (www.kicker.de – 16.06.2008) den Elfmeter sehr sicher, war mit Essien (320) Die Schweden, im Spielaufbau (www.sportbild.bild.de – 08.07.2010) Schwungrad des ghanaischen Spiels. begriffen, wurden sofort gestört, verloren (331) „Wir werden keinen auseinander(www.kicker.de – 22.06.2006) den Ball und blitzschnell schalteten die nehmen, aber wir sind schwer zu schlagen.“ Russen auf Angriff um. Philipp Lahm (Kicker Sportmagazin Sonderheft (313) Die internationale Presseadelt die (www.kicker.de – 18.06.2008) WM 2010, p.44) wiedererstärkte deutsche National(321) Lahm schaltete sich in den Angriff ein (332) Schaltstation Donovan mannschaft, nennt sie eine „Maschine die und wurde dann von Hitzlsperger schön in Die USA zeichnen sich durch Teamgeist, nie versagt“. Szene gesetzt. (www.kicker.de – 25.06.2008) Willenskraft uns Selbstvertrauen aus. Viel hängt (www.spiegel.de – 24.06.2006) vom Auftaktspiel ab. (Kicker Sportmagazin (322) Joachim Löw (Trainer Deutschland): Sonderheft WM 2010, p.160) (314) Durch ein Tor von Maniche schaltete "Wir hatten Phasen, wo das Spiel nicht so (333) In seinem [Queiroz] 4-2-3-1 System ist Portugal in einem dramatischen gut funktioniert hat.“ einer der beiden defensiven Mittelfeldspieler (www.kicker.de – 25.06.2008) Achtelfinalspiel in Nürnberg die als reiner „Staubsauger“ von der Viererkette Mannschaft der Niederlande aus und trifft (323) War die erste Halbzeit noch vorgesehen (...). (Kicker Sportmagazin nun auf England. ausgeglichen, drehten die Spanier nach der Sonderheft WM 2010, p.180) (www.kicker.de – 25.06.2006) Pause auf und zogen sich auch nach Xavis (334) „Eiskälte – und die WM ist noch nicht auf Führungstreffer nicht zurück. Betriebstemperatur“ Kicker-Herausgeber (www.kicker.de – 26.06.2008) Rainer Holzschuh (Kicker Sportmagazin Nr. 49 – 24. Woche 17.06.2010, p.16) Überlegenheit der Schweden fehlte es den Offensivkräften der Gelb-Blauen an der nötigen Durchschlagskraft gegen die immer besser funktionierende Abwehr der Südamerikaner. (www.kicker.de – 15.06.2006) 287 Apresentamos, de seguida, o esquema representativo da rede de modelos mentais, relativamente à macro-metáfora conceptual FUTEBOL É MÁQUINA, de acordo com Brandt (2004a), Brandt/Brandt (2005a): Espaço Semiótico de Base Espaço de Apresentação Espaço de Referência Veículos Expressões metafóricas Jogador FUTEBOL MÁQUINA Outros Intervenientes Maquinarias Force-dynamic schema: cenário das forças mecânicas; esquema da trajectória (path-goal) Equipa FUTEBOL COMO MÁQUINA Jogo/ Jogada s Campeonato Espaço Virtual (Blend) Esquema dinâmico de Relevância (Relevance-Schema) Inferências Emergentes Num futebol de qualidade Um futebol de qualidade é forte, fiável e veloz. A vitória é o destino. Espaço do Significado tudo funciona na perfeição para atingir a vitória Figura 45: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Máquina Como já foi realçado anteriormente, o espaço semiótico de base é composto pelas esferas do mundo fenomenológico, o contexto de comunicação situacional (jornais desportivos) e a respectiva realização metafórica. O espaço de apresentação configura o domínio-fonte conceptual: o mundo tecnológico das máquinas, enquanto o espaço de referência constitui o domínio-alvo: o mundo do futebol. Com base nas realizações metafóricas encontradas, identificamos dois tipos de sub-domínios distintos (esferas pequenas na figura 45) fundamentais ao processo de mapeamento conceptual: o domínio dos veículos e o domínio mais amplo das maquinarias diversas, assim como diferentes tipos de engenhos. No espaço virtual emerge, então, a mescla 1: FUTEBOL É MÁQUINA, i.e. o jogo e os jogadores são conceptualizados como máquinas. O esquema de relevância, por sua vez, confere a lógica 288 interpretativa ao espaço virtual. Presume-se que o leitor possua um conhecimento geral, construído a partir da experiência individual, social e cultural da dinâmica aliada ao funcionamento das máquinas. Estas experiências originam a criação de esquemas mentais de cariz abstracto, essenciais para a construção do significado intendido (mescla 2)254. Neste sentido, Brandt (2010b:8-9) afirma: “(…) and because this blended space attracts a set of relevance-making schemas from the base space, a mediate blend unfolds as a meaning space offering the interpretation triggered by the process (of conscious information processing)”. Note-se que a activação dos esquemas de relevância pode, dependendo de cada leitor, suceder de forma consciente ou inconsciente. Porém, a sua presença mental é tão inegável como importante, visto ser essencial para a construção do significado. Daí, fazer parte da arquitectura conceptual, contudo, diferenciado através do seu formato rectangular: “The cognitive mechanism that allows the meaning to emerge in the blend should figure in the analysis, and I therefore offer a description of the schematic background knowledge that makes it at all relevant for the conceptualizers to blend the two inputs in the first place, and which, in effect, makes the metaphoric meaning come about in the virtual blend. This semantic content may or may not be represented as a separate mental space, depending on the individual conceptualizer’s conscious awareness of it. Because it is an essential part of the meaning construction process, my suggestion is that it be included in conceptual integration analyses, regardless of how it is accessed. Whether the conceptualizer pieces together a representation of the issue that makes the presentation (the source) relevant to the reference (the target), hence constructing a mental space, or gets the meaning without identifying the intended framing schema, it is present in the mind, since the meaning would not emerge without it. To the analyst, however, this applied background knowledge, insofar as it is taken into consideration, will necessarily figure in a mental space, since it takes considerable analytic effort to, not just identify, but give a description of it, rendering evident its schematic form as it might plausibly be represented in human cognition (with varying degrees of awareness). These schemas, a resource in the phenoworld, are represented in a type of space characterized by affording argumentational relevance to the blend.” (Brandt, L., 2010:201-202) 254 “The Relevance schemas are thus part of the background knowledge, and as such, they emerge from the outer layer of the semiotic base space, depicted as the phenol-world. These structures pertain to the argumentational relevance of the meaningful blend: the space of recognition and activation of the appropriate script, in order to enable the cognizer to understand why this virtual scenario is meaningful and what implications it has for the unfolding of the discourse in which it occurs. The content of this relevance space may or may not be consciously represented (…). For analytical purposes it should be considered as a space on its own, since it is an essential element in meaning construction.” (Abrantes, 2010a: 86) 289 Consideramos, então, que o significado final nesta rede conceptual poderá ser algo como: Um futebol de qualidade caracteriza-se pela força enérgica, pela fiabilidade, precisão255 e entrosamento dos seus elementos. Esta ‘mensagem’ emergente é, de forma sintética, remetida para o espaço semiótico de base, enriquecendo o mesmo. a) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria veículo Desde a invenção do automóvel moderno (veículo de quatro rodas, com motor vertical de combustão interna) por Nikolaus Otto (1876) e o seu desenvolvido por Karl Benz em 1875, assim como Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, em 1889 em Estugarda (então movido a gasolina), até à actualidade, a Alemanha, com seus engenheiros inventivos e empreendedores, sempre se posicionou na linha da frente da indústria do automóvel256. O automóvel configura um motivo de orgulho para a nação alemã tanto por motivos históricos, ligados à invenção e evolução deste veículo, como devido ao facto das marcas alemãs serem, reconhecidamente, sinónimo de qualidade, segurança, fiabilidade, tecnologia de ponta e vanguardismo. Numa sociedade dominada pela mobilidade, os automóveis, motociclos, autocarros, entre outros, tornaram-se o principal meio de transporte urbano humano. Outrora considerado um objecto de luxo, o automóvel é, actualmente nas sociedades modernas, considerado um utilitário. Assim sendo, os princípios de funcionamento e utilização básicos dos veículos de duas, três ou quatro rodas constituem um domínio familiar para a população em geral. A terminologia própria associada à condução dos veículos motorizados, e.g. acelerar, travar, meter uma mudança, ponto morto, marcha atrás, etc. fazem parte da linguagem comum. Não é de estranhar, então, que esta terminologia tenha sido transportada para outros domínios, tais como o futebol. Das 48 ocorrências identificadas, e de acordo com a metodologia proposta, passamos a analisar as mais representativas. A ocorrência (259) diz respeito ao jogo entre as selecções da Itália e da Dinamarca aquando do campeonato europeu de 2004. O resultado final foi de 0:0 e, de acordo com a notícia, apenas a segunda parte do jogo se revestiu de algum interesse. O jogo de futebol é, aqui, conceptualizado como um percurso a percorrer por um veículo em direcção à vitória ou ao próximo jogo da eliminatória (ocorrência (280)). Os jogadores são os responsáveis pelo 255 “(…) Mannschaften, die „mit der Präzision von Maschinen“ spielen (...).“ (Frielingsdorf, 2009:23) “A A lema nha é o quarto maior produtor mu ndi al de v eículos, atrá s do Japão, dos Estados Unidos e da China. A Volkswagen é a maior fabricante de automóveis da Europa e a quarta maior do mundo. Entre as 20 maiores montadoras do mundo estão ainda a Daimler e a BMW. Em 2007, os fabricantes alemães produziram 12,1 milhões de veículos, dos quais 6,2 milhões na Alemanha e 5,9 milhões no exterior. As montadoras alemãs produzem em mais de 40 países, onde mantêm mais de 120 unidades.” (Oliveira, Quandt, Mello, Araújo (2011), “Produção Industrial na Alemanha”, Ministério da Educação, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, In: http://pt.scribd.com/doc/53904474/Producao-Industrial-na-Alemanha, pp.5-6 [Consult.02.04.2011]) 256 290 respectivo andamento, i.e. um jogo dinâmico voltado para o ataque configura um andamento rápido enquanto um jogo monótono e pouco empenhado é conceptualizado como lento ou cómodo - “gemütlich”. Ganhar velocidade - “an Fahrt gewinnen257” - é, neste sentido, imprimir dinamismo ofensivo ao jogo com o objectivo claro de ganhar: (259) Bei sommerlichen Temperaturen mussten die Zuschauer in Guimaraes eine gemütliche Halbzeit ertragen, ehe die Partie schließlich an Fahrt gewann. (280) Dadurch hatte die "Selecao" in der Endphase dieser durchwachsenen Partie noch leichteres Spiel und steuerte letztlich ungefährdet dem Viertelfinale entgegen. Em suma, à deslocação física espacial corresponde a deslocação mental metaforicamente conceptualizada. Se, neste enquadramento, o jogo é um trajecto a percorrer num veículo, o jogador, ou a equipa como um todo, é frequentemente conceptualizado como o condutor que controla o veículo e o respectivo andamento. Assim sendo, as acções executadas na condução de um veículo servem de base conceptual para os diversos mapeamentos. A engrenagem aparenta ser o mecanismo mais produtivo em termos de realizações metafóricas. Desde o ponto morto, a meter uma mudança acima ou abaixo, até à marcha atrás, todos estes procedimentos, aos quais corresponde a velocidade e a direcção da marcha do veículo, são mapeados no domínio do futebol258: (267) Mit dem Beginn der zweiten Hälfte versuchten die Polen den schwachen Eindruck ab der 20. Minute zu revidieren und legten wieder energischer den Vorwärtsgang ein (...) (269) Der Vize-Europameister hatte mit dem WM-Neuling nur wenig Mühe und schaltete im zweiten Durchgang mindestens einen Gang zurück. 257 “Fahrt [f.] 1 das Fahren; bei der F. durch die Stadt 2 Geschwindigkeit beim Fahren; die F. beschleunigen, verlangsamen; in voller F.; mit halber F. 3 [übertr.] Schwung, lebhafte Bewegung, fröhliche, lebhafte Stimmung; in F. geraten, kommen, sein; jmdn. in F. bringen (...)“ (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/gener ator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=an+fahrt+gewinnen [Consult.02.04.2011])(sublinhado nosso) 258 No mesmo sentido, Burkhardt afirma: “den Vorwärtsgang einlegen; nicht: als Fahrtvorbereitung den 1. Gang einlegen, sondern: sehr → offensiv, voll auf → Angriff spielen (...)“ (Burkhardt, 2006a:345) “einen Gang herunter-, zurückschalten; nicht Teil des Abbremsens auf dem Stadionparkplatz, sondern (in metaphorischer Verwendung): Kampfbereitschaft u. → Einsatz reduzieren u. mehr auf → Halten spielen (...)“ (op.cit.p.126) “einen Gang höher schalten; kein Ausdruck der Euphorie heimfahrender Fans, sondern (in metaphorischer Verwendung): Kampfbereitschaft u. → Einsatz → (im Angriffspiel) erhöhen, um den Spielstand zu verbessern (...)“ (op.cit. p.127) “Rückwärtsgang; der, keine Übersetzungsstufe des Fahrzeuggetriebes, sondern: 1. → Rückwärtsbewegung (...); 2. (in metaphorischer Verwendung) → Defensive (...); 3. (in metaphorischer Verwendung): das Umschalten der Mannschaft nach → Ballverlust auf → Defensive u. Einnehmen der entsprechenden → Spielpositionen (...); 4. (in metaphorischer Verwendung) die Orientierung an einer → defensiven Spieltaktik, durch die ohne besondere → Angriffsbemühungen ein bestimmtes Ergebnis gehalten werden soll (...); den Rückwärtsgang einlegen: keine Vorbereitung aufs Einparken, sondern (als Mannschaft) auf eine → defensive Spieltaktik umschalten u. sich weitgehend in die eigene → Hälfte zurückziehen (...)“ (op.cit. p.251) 291 (270) Auch die Pfister-Elf spielte in dieser Phase ohne viel Tempo, schaltete nach einer halben Stunde mal kurz einen Gang höher und ging völlig überraschend in Front. (271) Ob die weiterhin hohen Celsiusgrade Schuld daran waren, dass das Tempo der Partie zwischenzeitlich vollkommen abhanden kam? Jedenfalls sahen die Zuschauer lange Zeit nur absoluten Leerlauf. (278) Die Schweden (...) verloren viele Zweikämpfe schon im Mittelfeld und fanden sich immer wieder schnell im Rückwärtsgang wieder. De forma idêntica, acelerar corresponde a uma mudança do tipo de jogo, no sentido de acelerar os procedimentos atacantes dos jogadores, enquanto manter a velocidade elevada significa manter o ritmo de jogo ofensivo elevado, até que o objectivo seja atingido: (273) Doch nicht nur die Osteuropäer gaben Gas, auch die "Black Stars" hielten in einer offenen Anfangsphase das Tempo hoch und hatten durchaus ihre Möglichkeiten (Addo, 12. , Appiah, 14.). Quando o ritmo de jogo é demasiado lento e a equipa não procura o golo, limitando-se a conservar o resultado através de trocas de bola no próprio meio campo, o jogo está totalmente parado, tal como um automóvel com o travão de mão puxado: (279) Das Spiel mit angezogener Handbremse tat den "Klinsmännern" nicht gut, es schlichen sich Leichtsinnsfehler ein, die Abspiele waren nicht mehr präzise genug, Schweden bekam mehr Selbstbewusstsein. Trata-se do jogo entre as selecções da Alemanha e da Suécia, aquando do campeonato mundial de 2006. Ao intervalo a Alemanha já ganhava por 2:0 e por isso, para a segunda parte do jogo, os jogadores receberam a indicação de jogar apenas o indispensável para garantir a vitória. A equipa é conceptualizada como um veículo imobilizado por recurso ao travão de mão. Nas ocorrências (285), (294) e (297), jogador individual, ou a equipa como um todo, são conceptualizados como um motor. Num veículo, o motor é o elemento central da propulsão, sendo que a sua potência depende da potência do motor que possui. Contudo, a instalação de um equipamento mecânico extra, um turbo, pode aumentar a potência e, consequentemente, a velocidade do veículo. Porém, o motor não pode funcionar sem combustível. Assim, “tanken” afigura-se central ao cenário das máquinas, sendo que “auftanken”259 descreve a acção de enchimento de um depósito. 259 “auf|tan|ken [V.1, hat aufgetankt] I [mit Akk.] ein Kraftfahrzeug a. den Benzintank eines Kraftfahrzeugs ganz füllen II [o. Obj.] den Vorrat an Treibstoff ergänzen“ (BERTELSMANN Wörterbuch, In: http://www.wissen.de/wde/ 292 (285) Pass von Xavi Hernandez auf Torres. Lahm zögert, Lehmann kommt nicht schnell genug raus. Und Turbo-Torres lupft den Ball aus 14 Metern ins lange Eck – 0:1. (294) Ribery verhakte sich im Zweikampf mit Zambrotta, hielt sich die Wade und musste mit der Trage abtransportiert werden - Nasri sollte den Mittelfeldmotor der Equipe Tricolore ersetzen (10.). (297) „Wir haben in diesem Spiel gut aufgetankt, uns Selbstbewusstsein für das weitere Turnier geholt. Jetzt denken wir nur an unser nächstes Spiel“, sagte Torschütze Siphiwe Tshbalala. Mediante activação das estruturas abstractas que subjazem ao conhecimento que o leitor possui sobre as funções mecânicas e o funcionamento básico de um veículo, das mesclas virtuais Torres é um turbo, Ribery é um motor no meio campo, a equipa sul-africana é um motor de tanque cheio, emergem os significados intendidos: Torres é um jogador muito rápido; Ribery é um centro-campista excelente; a selecção da África do Sul está cheia de energia e optimismo. No seguimento do que foi afirmando anteriormente, apresentamos, então, a tabela descritiva dos diferentes espaços: Ocor. (259) (280) (267) (269) ESB Texto EA ERef M1 ERel M2 an Fahrt Jogo como veículo; Esquema dinâmico: Dinâmica de jogo gewinnen dinâmica de jogo força motora Boa prestação das selecções da (velocidade de como velocidade; velocidade; na segunda Itália e da um veículo num vitória como esquema da parte! Dinamarca trajecto) destino trajectória Jogo como trajectória; apuramento do Brasil como destino Esquema dinâmico: esquema da trajectória (pathgoal) Parabéns Brasil! Texto den Dinâmica de jogo Vorwärtsgang das selecções da einlegen Polónia e o (as mudanças Equador de um veículo) Jogadores como condutores; dinâmica de jogo como meter uma mudança Esquema dinâmico: força motora; esquema da trajectória Boa prestação! Texto Opção de jogo da einen Gang selecção de zurückschalten Portugal contra a (as mudanças selecção de de um veículo) Angola Jogadores como condutores; opção de jogo como meter uma mudança abaixo Esquema dinâmico: força motora; Portugal esquema da pouco activo! trajectória Texto entgegen steuern (trajectória direccional (destino)) Apuramento da selecção do Brasil generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=auftanken [Consult. 05.04.2011]) 293 (270) (271) (278) (273) (279) (285) (294) (297) ESB ERef ERel Texto Forma de jogar einen Gang da selecção do höher schalten Togo no jogo (as mudanças contra a selecção de um veículo) da Coreia do Sul Texto Leerlauf Dinâmica de jogo Jogo como veículo; (as mudanças das selecções da dinâmica de jogo de um veículo) França e da Suíça como ponto morto Texto Rückwärtsgang Estratégia da Jogadores como Esquema dinâmico: (as mudanças selecção sueca condutores; força motora; de um veículo - no jogo contra a estratégia de jogo esquema da marcha atrás) Alemanha como marcha atrás trajectória Texto Gas geben; Dinâmica de jogo Tempo hoch das selecções da halten Rep. Checa e do (a velocidade Gana de um veículo) Jogadores como condutores; dinâmica de jogo como acelerar Esquema dinâmico: força motora e veloBom cidade; esquema da desempenho! trajectória Texto mit angezogener Dinâmica de jogo Handbremse da selecção (veículo de alemã no jogo travão de mão contra a Suécia puxado) Jogadores como condutores; dinâmica de jogo como veículo travado Esquema dinâmico: força motora velocidade; esquema da trajectória Alemanha jogou à defesa! Texto Turbo-Torres (o turbo de um veículo) Torres como um turbo Esquema dinâmico: força mecânica Torres, que veloz! Texto Mittelfeldmotor Ribery como motor Esquema dinâmico: (um motor no O jogador Ribery no meio campo força mecânica meio campo) Ribery, excelente! Texto auftanken (encher o depósito de combustível) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância O jogador espanhol Torres Desempenho da África do Sul no jogo contra o México EA M1 M2 Jogadores como condutores; forma de jogar como meter uma mudança acima Desempenho da equipa como encher o depósito de combustível Esquema dinâmico: força motora; esquema da trajectória Bom jogo, Togo! Esquema dinâmico: força motora; esquema da trajectória Má prestação! Esquema dinâmico: vazio-cheio (contentor) A Suécia jogou à defesa! África do Sul em alta! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 46: Tabela de Espaços Mentais 15 Os significados intendidos resultantes do processo de mesclagem corroboram e reforçam as seguintes equivalências conceptuais no que diz respeito à avaliação dos critérios de qualidade subjacentes ao desporto futebol: fenómenos que se prendem com a trajectória em direcção ao objectivo (“entgegen steuern”), a velocidade (“an Fahrt gewinnen”, “Tempo”, “Gas geben”) e o avanço (“Vorwärtsgang”, “einen Gang höher”), assim com a potência e a força (“Motor”, “Turbo”), o conceito de cheio de potência (“aufgetankt”) e a travagem 294 (“bremsen”), na perspectiva da equipa que defende, são qualidades positivas e muito apreciadas. Em oposição a redução de velocidade (“einen Gang zurückschalten”), o recuo (“Rückwärtsgang”), a paragem total (“Leerlauf”) e a travagem (“mit gezogener Handbremse”, “gebremst werden”), na perspectiva da equipa atacante, são aspectos negativos que impedem as equipas de chegar à vitória desejada. Assinale-se que as ocorrências (284) e (265) revelam um esquema conceptual idêntico, aplicado ao meio de transporte do comboio. (284) Zwölf Jahre nach dem letzten Triumph unterlag die deutsche Nationalmannschaft im Finale in Wien Spanien mit 0:1 (0:1). Nach einer Stunde Schlafwagenfußball und großen Defensivproblemen kam die Steigerung der DFB-Elf zu spät, um die dritte Endspiel-Niederlage bei einer Europameisterschaft nach 1976 und 1992 noch verhindern zu können. (265) Der russische Express überrollte die schwedische Mannschaft mit offensivem Tempofußball. Um vagão cama - “Schlafwagen“ - é uma carruagem própria destinada ao repouso nocturno dos passageiros, sendo que aplicada ao futebol na ocorrência (185), projecta o estado de dormência na dinâmica de jogo praticada pelas selecções da Alemanha e a Espanha aquando da final do campeonato europeu de 2008. Dado que o futebol é um jogo activo e dinâmico, “dormir em campo” constitui uma atitude negativa. Pelo contrário, meios de transporte rápidos, representam boas prestações das equipas. Na ocorrência (196), o comboio expresso, que prima pela velocidade e a consequente chegada rápida ao destino, representa a prestação veloz e virtualmente imparável da selecção russa que cilindrou - “überrollen” - a selecção sueca. Assim sendo: Ocor. (284) (265) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Schlafwagen (vagão-cama) Dinâmica de jogo das selecções da Alemanha e da Espanha Dinâmica de jogo da Alemanha e da Espanha como vagão-cama Cenário do vagão- cama (passageiros a dormir) Que mau jogo! Texto Express (comboio expresso) Dinâmica de jogo da Dinâmica de jogo selecção russa da Rússia como contra a selecção comboio expresso sueca Esquema dinâmico: força motora; velocidade Que boa prestação da Rússia! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 47: Tabela de Espaços Mentais 16 295 Com base nos princípios de avaliação da qualidade de um jogo de futebol acima desenvolvidos, enquanto a mescla final da ocorrência (284) expressa desalento pela fraca prestação de ambas as equipas, a ocorrência (265) vozeia uma elogio à equipa russa pelas capacidades extraordinárias demonstradas em campo. b) FUTEBOL É MÁQUINA - Categoria maquinarias diversas e tipos de engenhos Esta subcategoria evidencia a proximidade entre o futebol e o mundo do trabalho. As realizações metafóricas identificadas baseiam-se na projecção de engenhos tecnológicos que fazem, maioritariamente, parte do universo da produção fabril ou industrial, para o domínio do futebol, i.e. as capacidades técnicas e tácticas das equipas e dos jogadores são conceptualizadas através do domínio da capacidade produtiva de uma máquina. Assiste-se assim, a um fenómeno de objectivação, no qual o jogador passa a ser um instrumento do qual se espera produtividade, durabilidade e perfeição, ou seja, as características exigidas a uma máquina de qualidade: “Die Annäherung des Fussballspiels an die Arbeitswelt „lässt viele Termini aus der Sprache der Technik in die Berichte” und damit auch in die Fussballsprache einfliessen (Fingerhut 1991, 96). Darüber hinaus werden in der Fussballberichterstattung Fachjargonismen gebraucht, die die Leistung des Sportlers mit dem Ablauf eines technischen Prozesses vergleichen oder gar identifizieren z. B. einen Gang zurückschalten, in Fahrt kommen, Dampf machen etc. Die Materialisierung und Entpersonifizierung erreicht nach Siefer (1970, 113) in solchen Formulierungen den Höhepunkt, denn „die Spieler sind nicht mehr Individuen, sondern sie werden zu Schaltstationen, Mittelfeldmotoren oder -achsen, die an der Stelle, an der sie ‚eingesetzt‘ werden, funktionieren müssen“ (...).“ (Höppner, 2008:51). Neste sentido, as presentes realizações metafóricas patenteiam o fenómeno que se prende com o elevado nível de exigência que domina a actividade desportiva. O imperativo do rendimento e da vitória tornou-se um imperativo desumano dos tempos modernos. Este facto aumenta a pressão do resultado e do sucesso que o jogador sente relativamente ao seu desempenho. Daí que, tanto a imprensa desportiva, como os próprios jogadores recorram frequentemente a estas conceptualizações: “Dieses technische Vokabular beschränkt sich, wie Dankert treffend betont, keineswegs nur auf den Sprachschatz der Journalisten: „Nicht erst von den Fussballjournalisten, sondern auch von den Spielern selbst kann man hören, dass man im Training Kraft tanken, den Akku, die Batterien aufladen will“ (Dankert, Sportsprache, S. 126). (...) Weitehin sieht Dankert die 296 häufige Nutzung von Termini der militärischen und auch der technischen Fachsprachen als „symptomatisch für eine durchgängige Stiltendenz der Sportberichterstattung“ an, die konstant von einem „Pathos der Härte und Entscheidung“ (op.cit. S. 121 ff.) geprägt ist. Darin sieht er auch die Tatsache begründet, dass Berichte über Fussballspiele häufig nach dem gleichen Muster verfasst werden.“ (Frielingsdorf, 2009:40) Assim sendo, as ocorrências (316) e (330), evidenciam, por um lado, a perspectiva desumanizada da equipa de futebol como máquina, por outro, atribuem à máquina, contrafactualmente, traços característicos dos seres vivos: (316) Weniger glimpflich kommt Deutschland nach der bescheidenen Vorstellung weg. Da ist von "Rumpelfußball", "ärmlichen Fußball" ja sogar von einer "seelenlosen Maschine" die Rede. (330) taz: „Es war ein Augenschmaus: Schöner Fußball, wenige Fouls und Fußball, Fußball, Fußball. Doch am Ende starb die deutsche Maschine und konnte Spanien nichts abringen.“ No mundo real, as máquinas não possuem alma nem morrem, mas no cenário virtual construído pelo jornalista desportivo, a contra-factualidade encaixa-se, de modo perfeito, nesta arquitectura conceptual. Mais ainda, à luz do processo de personificação conceptual, o conceito abstracto de equipa é, por sua vez, conceptualizado como sendo um único ser vivo. Esta construção ‘híbrida’ (ser vivo/objecto) potencia o contraste entre o desejado e o rejeitado, i.e. o que se espera e o que é apreciado numa equipa ou num jogador e, simultaneamente, o que merece critica e desaprovação: deseja-se uma equipa forte, fiável e bem entrosada, i.e. uma máquina; não se deseja uma equipa derrotada260, i.e. que pare de funcionar; não se aprecia uma equipa sem determinação, emoção e empenho, i.e. sem alma261. Nas seguintes ocorrências, a dinâmica de jogo das equipas é, igualmente, conceptualizada como uma máquina que, de acordo com o programa seleccionado, desempenha diferentes funções. Metaforicamente conceptualizado, um comutador ou interruptor acciona o jogo, por exemplo: ligado → jogo atacante, desligado → jogo defensivo. Um jogador pode igualmente ser configurado como subestação de comutação, i.e. ser o jogador central que comanda e orienta o jogo da equipa262: 260 vide ponto 3.2.1.: Conceptualização: perder é morrer. “see|len|los <Adj.; -er, -este> (geh.): ohne Gefühl, innere Wärme: er ist ein -er Roboter; sein Vortrag am Klavier war s.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 262 Registe-se que Burkhardt explana claramente os sentidos metafóricos dos mecanismos na terminologia do futebol: “Schaltzentrale, die; nicht die zentrale Steuerung für die Stadionelektrik u. -elektronik, sondern (in 261 297 (306) Wer nach der Pause erwartet hatte, dass die Bulgaren den Schalter umlegen und gegen das drohende Ausscheiden ankämpfen würden, sah sich getäuscht. (332) Schaltstation Donovan - Die USA zeichnen sich durch Teamgeist, Willenskraft und Selbstvertrauen aus. Viel hängt vom Auftaktspiel ab. Na sequência das conceptualizações anteriores, muitas características das máquinas são projectadas para o mundo do futebol, sendo que o domínio tecnológico se revela bastante fértil para os processos de mapeamento, e.g. o jogo e as tácticas de jogo devem funcionar263 (ocorrência 322)), um jogador opera idealmente a uma dada temperatura (ocorrência (328)) e a equipa (ou a estratégia) pode ser montada e desmontada264 (ocorrência (329)): (322) Joachim Löw (Trainer Deutschland): "Wir hatten Phasen, wo das Spiel nicht so gut funktioniert hat.“ (328) Messi kommt auf Betriebstemperatur. (329) Deutschland demontiert Argentinien im WM-Viertelfinale 4:0. Relativamente à ocorrência (328), Burkhardt confirma: “Betriebstemperatur, die; nicht der volle Bereitschafszustand eines vorgeheizten Gerätes, aber (in metaphorischer Verwendung): das Sich-Einstellen auf den Gegner u. das Spiel mit vollem Einsatz, → Spiellaune“ (Burkhardt, 2006a:58) A ocorrência (326) descreve a selecção alemã como uma “Dampfwalze” “Dampf|wal|ze, die: 1. bes. früher im Straßenbau verwendete, mit Dampfkraft angetriebene Straßenwalze.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom). Consideramos que a estrutura subjacente à presente conceptualização se centra na função proeminente do cilindro compressor, ou seja, a sua capacidade de esmagar, mesmo os objectos e superfícies mais duros. Assim sendo, estabilizada pelo cenário da construção mecânica de estradas (do esquema da relevância), a mescla final traduz o desejo de vitória da selecção alemã, por muito difícil que seja o adversário (Gana): metaphorischer Verwendung): 1. das → zentrale Mittelfeld; (...) 2. die das Spiel ihrer Mannschaft (v.a. im → Angriff) als → Pass- u. Ideengeber lenkenden → Mittelfeldspieler, insb. der → Mittelfeldregisseur, → Mittelfeldmotor, → Spielgestalter, → Spielmacher, → Regisseur (...)“ (Burkhardt, 2006a:257). 263 “funk|ti|o|nie|ren <V.; hat> [nach frz. fonctionner]: 1. intakt sein u. durch Zusammenwirken bestimmter [technischer] Vorgänge seine Funktion erfüllen: wie funktioniert das?; der Apparat funktioniert nicht. 2. (ugs.) sich bestimmten Normen entsprechend, angepasst verhalten.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 264 “de|mon|tie|ren <V.; hat> [wohl < frz. démonter, zu: monter, montieren]: a) (bes. Industrieanlagen) abbauen, abbrechen: Fabriken, Maschinen d.; b) auseinander nehmen, zerlegen: ein Flugzeug d.; c) abmontieren: Autoreifen d.; d) stufen- od. gradweise zerstören, abbauen: Vorurteile, seinen Ruhm d.; (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 298 (326) Die deutsche Dampfwalze muss jetzt gegen Ghana um alles oder nichts spielen. Também as realizações metafóricas das ocorrências (312) e (333), se centram nas funções específicas de cada engenho ou aparelho: (312) Stephen Appiah: Trotz einiger Fehlschüsse zuvor im Training versenkte er den Elfmeter sehr sicher, war mit Essien Schwungrad des ghanaischen Spiels. (333) In seinem 4-2-3-1 System ist einer der beiden defensiven Mittelfeldspieler als reiner „Staubsauger“ von der Viererkette vorgesehen (...). Um tambor volante - “Schwungrad”265 é um volante utilizado para transmitir força motriz, por meio de correias ou cabos; uma vez em movimento, desacelera a sua rotação muito lentamente. Nesta base, o mapeamento conceptual processa-se entre o princípio do movimento consistente executado pelo volante - domínio-fonte -, e a dinâmica de jogo consistente e determinante dos jogadores Appiah e Essien - domínio-alvo. O cenário da dinâmica da força motora confere sentido lógico à mescla final: estes jogadores são os principais responsáveis pelo bom jogo da selecção ganesa. Relativamente à ocorrência (333), sublinhe-se que o recurso à imagem do aspirador “Staubsauger”, aparelho concebido para aspirar pó e sujidade de forma a limpar as superfícies rápida e eficazmente, para representar o defesa que neutraliza as acções atacantes da equipa adversária rápida e eficazmente. As analogias são evidentes, tal como Burkhardt (2006a) aponta.266 Por último, analisaremos a realização metafórica da ocorrência (309) conceptualiza o ponta de lança britânico Peter Crouch como um robot que produz golos: (309) Achtung! England kommt mit dem Tor-Roboter - Gefeierter Held: „TorRoboter“ Peter Crouch (25). Esta conceptualização é motivada por dois factores: 1. analogia funcional: o jogador é conhecido por marcar muitos golos de forma quase mecânica e 2. analogia física: a constituição física e a coordenação motora do jogador faz lembrar a estrutura e os movimentos de um robot. Contudo, a mescla final é, a nosso ver, uma só: Crouch é imbatível! 265 “Schwung|rad, das (Technik): aus einem schweren Material gefertigtes ²Rad (2), das, einmal in Rotation versetzt, seinen Lauf nur sehr allmählich verlangsamt.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 266 “Staubsauger, der; kein unentbehrliches Haushaltsgerät, sondern (in metaphorischer Verwendung): ein von der eigentlichen → Abwehr (heute also zumeist von der → Viererkette) im defensiven Mittelfeld agierender → Abwehrspieler, dessen Aufgabe es ist, gegnerische → Angreifer frühzeitig zu → attackieren u. an → Torschüssen u. am → Kombinationsspiel zu hindern (u. ihnen möglichst gleichsam den Ball wegzusaugen), → Abfangjäger, → Abräumer (...).“ (Burkhardt, 2006a:291) 299 Uma vez contextualizadas e explicadas as realizações metafóricas aqui identificadas, vejamos o quadro dos respectivos espaços mentais: Ocor. (316) (330) (306) (332) (322) (328) (329) (326) (312) (333) ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Seelenlose Maschine (máquina sem alma) Selecção alemã no jogo contra a selecção turca Selecção da Alemanha como máquina sem alma Cenário tecnológico/ mecânico Alemanha, que mal jogado! Texto die deutsche Maschine starb (maquina alemã morreu) Derrota da selecção alemã contra a Espanha Derrota da selecção Alemã como máquina alemã morta Cenário tecnológico/ mecânico; perder é morrer Alemanha insuficiente! Texto den Schalter nicht umlegen (não comutar, não ligar o interruptor) Dinâmica de jogo da selecção búlgara no jogo contra a Dinamarca Dinâmica de jogo da Bulgária como não ligar o interruptor Cenário tecnológico/ mecânico Bulgária, que fracasso! Texto Schaltstation (subestação de comutação) O jogador dos EUA Donovan Donovan como subestação de comutação Cenário tecnológico/ mecânico Donovan, boa prestação! Texto nicht gut funktioniert (momentos de mau funcionamento mecânico) Fases do jogo da selecção Alemã contra a Turquia Fases do jogo da selecção alemã como momentos de mau funcionamento mecânico Cenário tecnológico/ mecânico Não fomos perfeitos! (Löw) Texto Betriebstemperatur (temperatura ideal de serviço) O rendimento do jogador Messi O rendimento do jogador Messi como temperatura ideal de serviço Cenário tecnológico/ mecânico Messi, muito bem! Texto demontieren (desmontar/ desmantelar) Jogo da selecção alemã contra a Argentina Jogo da selecção alemã como desmantelar a selecção argentina Cenário tecnológico/ mecânico Alemanha em alta! Texto deutsche Dampfwalze (cilindro compressor alemão A selecção Alemã no jogo contra a selecção do Gana (futuro) A selecção alemã como cilindro compressor (futuro) Cenário tecnológico/ mecânico Coragem, Alemanha! Texto Schwungrad (tambor volante Os jogadores do Gana Essien e Appiah Jogadores Essien e Appiah como tambores volantes Cenário tecnológico/ mecânico Essien e Appiah em alta! Staubsauger (aspirador) Jogador da defesa da selecção portuguesa (futuro jogo) Jogador da defesa portuguesa como aspirador (futuro jogo) Cenário tecnológico/ mecânico Força, defesa português! Texto 300 (309) ESB ERef ERel Texto Tor-Roboter (robot que produz golos) O jogador britânico Peter Crouch - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Peter Crouch como robot que produz golos Cenário tecnológico/ mecânico Cuidado com Crouch! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 48: Tabela de Espaços Mentais 17 Finalmente, a elevada frequência de realizações metafóricas com o domínio-fonte da tecnologia e das máquinas deve-se, a nosso ver, também a contextos históricos, i.e. a época de desenvolvimento do futebol moderno na Europa fortemente marcada pela industrialização e a elevação do trabalho como valor ético e moral (vide Max Weber, 1920): “Auf die drei Bereiche der Fußballsprache übten andere Fachsprachen permanent unterschiedlich großen Einfluss aus. (...) Bausinger (1972, 78) begründet den Einfluss dieses Bereichs, der sich im Übrigen auf eine Vielzahl deutscher Sportsprachen erstreckt, folgendermaßen: »In England hat sich, im Zuge der Industrialisierung, der moderne Sport herausgebildet, und mit der Sache kamen meistens auch die sprachlichen Bezeichnungen nach Deutschland.«“ (Höppner, 2008:46) 3.2.4. Imagens mescladas: Futebol - Jogos (outras modalidades desportivas e jogos de sorte) “Der Mensch spielt nur, wo er in voller Bedeutung des Wortes Mensch ist, und er ist nur da ganz Mensch, wo er spielt.“ Friedrich von Schiller (1759-1805) Tal como já referimos anteriormente, o futebol é, actualmente, um dos desportos favoritos ao nível europeu e ao nível mundial, e é certamente aquele que merece maior destaque por parte dos diferentes media267. Mas o que torna este desporto tão apelativo? Antes de mais, futebol é um jogo e, tal como Schiller afirma, o jogo faz parte da natureza humana. É lúdico e simultaneamente educativo, é individualmente e socialmente relevante, é emocionalmente e intelectualmente estimulante e conjuga factores de diversidade com o espírito de união e partilha. Este jogo exige respeito por normas e regras específicas mas garante espaço à criatividade, enquanto postula a harmonia entre o “fair-play” e o desejo de 267 “Die Medien berichten nur ausführlich von Dingen, die die Leute interessieren. So erhält Fussball, als beliebteste Sportart in Deutschland (...) [71.1%] auch die meiste Aufmerksamkeit in den Medien. Neben vielen Zusammenfassungen der Spieltage, gibt es Talkrunden, Analysen und Zeitschriften, die sich massgeblich mit dem runden Leder befassen. Fussball steht die ganze Woche über in den Medien.“ (Benz, 2010:25) 301 vencer. O jogo é interacção, expressão e comunicação e, tal como a arte, pode conduzir à catarse268. De acordo com o dicionário alemão BERTELSMANN, existem diversas categorias de jogos: “Spiel [n.] 1 Tätigkeit ohne festes Ziel, die ihren Sinn in sich selbst trägt; (...) 2 Glücksspiel; (...) 3 wettbewerbsmäßiges Spielen nach festen Regeln (Brett~, Karten~); (...) 4 sportlicher Wettbewerb nach festen Regeln (Fußball~, Handball~)“ (Bertelsmann Wörterbuch, In: http://www.wissen.de [Consult. 06.04.20119). Para a presente dissertação, consideramos apenas as entradas 2, 3 e 4 supra mencionadas. Assim sendo, o jogo pressupõe uma competição entre pelo menos duas partes e representa um combate contra entidades concretas ou espirituais, tais como: adversários, inimigos, forças negativas e sobrenaturais, o destino ou mesmo a própria natureza humana. Qualquer jogo tem um objectivo definido. A sua génese motivacional centra-se na obtenção da vitória, na conquista de algo físico (uma taça, uma medalha, um prémio, etc.) e/ou o reconhecimento público aliado à satisfação pessoal. A noção de destino está igualmente associada ao domínio do jogo, principalmente no que concerne o resultado final, que pode depender de factores imprevisíveis (a sorte, o azar, o acaso) e previsíveis (habilidade, domínio do jogo, destreza). O jogo assenta, necessariamente, num conjunto de regras específicas que têm de ser aceites por todos que nele participam. Esta aceitação das normas convencionalizadas simboliza a aquisição de identidades sociais, culturais, nacionais e mesmo transnacionais. Crê-se que os rituais e as celebrações de carácter sagrado estão na origem da prática de jogos, pois eram, inicialmente, consagrados aos deuses. Tanto os gregos como os romanos utilizavam diversos jogos, tais como jogos de acrobacia e destreza física, nas suas festividades religiosas, a par de espectáculos de poesia e música. Na antiguidade, os jogos públicos serviam para reforçar o sentimento de união social em torno da nação, do país ou do império, assim como contribuíam para a criação laços de identidade partilhados, através da luta colectiva por objectivos comuns. As épocas de jogo revestiam-se de tal importância que guerras, conflitos ou julgamentos eram interrompidos, dando lugar a períodos de trégua temporária. Gradualmente, versões simplificadas dos jogos estenderam-se à esfera privada, proporcionando tanto às crianças como aos adultos momentos lúdicos e simultaneamente formativos, importantes para a definição das relações humanas e da organização social. Os jogos dos povos celtas constituíam lutas de destreza guerreia com o intuito de distinguir heróis, enquanto para os germanos, o jogo era uma espécie de oráculo que revelava 268 Vide Huizinga, Johan (1991): Homo Ludens. Vom Ursprung der Kultur im Spiel. Reinbek bei Hamburg: Rowohlt. Reihe rororo Enzyklopädie 345. 302 o desfecho de batalhas vindouras269. Actualmente, existe uma oferta vastíssima de jogos tradicionais e modernos, à disposição de toda a população em geral. Como praticante ou como mero adepto, o jogo continua a distinguir-se como actividade individualmente e socialmente significativa. Relativamente ao mundo do futebol, a presença da vertente lúdica está patente tanto na terminologia técnica do futebol, como nas diversas conceptualizações metafóricas, subjacentes às realizações metafóricas do discurso jornalístico. “Entgegen des Trends, indem der Spieler sprachlich zum Objekt und Material wird, findet aber auch das spielerische Element Eingang in die Fussballsprache. So wird die Spiellaune eines Spielers von Reportern sowie Zuschauern gelobt, es gibt den Spielwitz, Spielrhytmus, Spielverlagerung,etc. Auffällig ist die häufige Verwendung des Lexems Spiel.“ (Höppner, 2008:53) Identificamos um total de 65 realizações metafóricas com o domínio-fonte do jogo, i.e. diferentes tipos de desportos e jogos de sorte. A proposição de que o desporto/jogo de futebol é conceptualizado como outro desporto ou jogo é corroborada por Höppner (op.cit.) quando este conclui que: “Darüber hinaus bedient sich die Fussballsprache auch der Fachsprache aus anderen Spielen. So gibt es Audrücke aus dem Karten- und Würfelspiel (Trumpf, Joker, Blatt wenden, Würfel sind gefallen, alles auf eine Karte setzen) und vor allem Entlehnungen aus dem Schachspiel, die sich durch die Analogie des Spielaufbaus, bei dem sich zwei Mannschaften auf einem begrenzten Feld gegenüberstehen, erklären lassen (Partie, Spielzüge, rochieren (im Spiel die Position tauschen) Remis (Unentschieden) etc.).“ Neste sentido, a tabela de ocorrências, que seguidamente apresentamos, encontra-se subdividida em duas partes: a) outras modalidades desportivas b) jogos de sorte As modalidades desportivas que motivaram as construções mentais identificadas são: o boxe, o atletismo (corrida, salto em altura), o xadrez e o ciclismo (um total de 34 ocorrências); Os jogos de sorte que motivaram as restantes construções mentais identificadas são: os jogos de cartas, de dados e a lotaria (um total de 31 ocorrências). 269 Vide Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2011. In: http://www.infopedia.pt/$jogo-(simbologia)> [Consult. 05.04.2011] 303 a) FUTEBOL É JOGO - categoria outras modalidades desportivas (34 ocorrências) EURO 2004 (5) MUNDIAL 2006 (9) (335) Tomasson hält Dänemark im (340) Dennoch hatte das Scolari-Team Rennen. keine Mühe, die schwachen Afrikaner in (www.kicker.de – 18.06.2004) Schach zu halten. (www.kicker.de – 11.06..2006) (336) Martin Petrov hatte den Leverkusener Berbatov angespielt, der (341) Wie zu Beginn des Spiels kam im Ringkampf mit Materazzi zu Boden Brasilien auch im zweiten Durchgang ging. besser aus den Startlöchern. (www.kicker.de – 22.06.2004) (www.kicker.de – 22.06.2006) (337) Das Spiel wurde zu munteren Schlagabstausch. (www.kicker.de – 14.06.2004) einem (342) Nach dieser Aktion verflachte die Partie für 15 Minuten ein wenig, beide Teams schienen durchschnaufen zu wollen, um im Schlussspurt die mögliche (338) Der mittlerweile eingewechselte Entscheidung zu suchen. Baros nutzte nach einem Zuspiel von (www.kicker.de – 09.07.2006) Heinz dies eiskalt aus und versetzte Deutschland den endgültigen K.O. (343) "Die Messlatte ist längst (www.kicker.de – 22.06.2004) übersprungen" "Wenn es gut geht, wird man uns feiern. (339) England brachte Owens frühe Wenn es schlecht geht, schießen sie uns Führung nicht über die Runden, hielt auf den Mond." So hatte es Jürgen jedoch bis zum Schluss tapfer dagegen. Klinsmann vor dem Turnier formuliert. (www.kicker.de – 24.06.2004) (www.kicker.de – 23.06.2006) EURO 2008 (5) (349) So ist es jetzt auch. Immer wieder kamen Rückschläge im Turnier mit der Niederlage gegen Kroatien oder auch mit dem schwierigen Spiel gegen die Türkei. Aber eine EM ist ein Marathonlauf (...) (www.bild.de – 28.06.2008) MUNDIAL 2010 (15) (354) Keeper Neuer hielt die DFB-Elf in einer kritischen Phase im Rennen. (www.kicker.de – 23.06.2010) (355) Stern: „Auch mal hässlich gewinnen. Spanien ist neuer Fußball-Weltmeister. Auch wenn del Bosques Mannschaft die Holländer im Finale nicht mit ihrem gefürchteten Fußball(350) Marco van Basten (Trainer schach matt setzte: Der 1:0-Sieg war trotzdem Niederlande): "Wir sind gut aus den verdient.“ (www.sportbild.bild.de – 12.07.2010) Startlöchern gekommen.“ (356) In jedem Fall geht eine gegenüber der (www.kicker.de – 13.06.2008) EURO 2008 enorm verjüngerte Mannschaft ins Rennen. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM (351) Italien übernahm wieder die 2010, p.22) Kontrolle und hielt den Rivalen mit der (357) Nachden der Bundestrainer gegen Serbien reiferen Spielanlage in Schach. mit der Aufstellung und der Einwechselungen (www.kicker.de – 17.06.2008) nicht gerade ein glückliches Coaching offenbart (352) Giovane Elber: Die Deutschen hatte, gingen seine Schachzüge gegen die haben früh das Handtuch geworfen. Die Ghanaer nun auf. (Kicker Sportmagazin Nr. 51 – Überlegenheit der Spanier war so groß, 25. Woche 24.06.2010, p.2) so groß (...). (358) Elfenbeinküste: Der schwedische Trainer (www.sportbild.de – 29.06.2008) bleibt beim 4-3-3 System. Eriksson: Der Schach- (353) Heute das K.o.-Spiel der beiden zug mit Didier Zokora. (Kicker Sportmagazin Nr. 47 – 23. Woche 10.06.2010, p.26) (344) Joachim Löw (Assistenztrainer des Super-Stars. DFB): "Wir sind natürlich zutiefst (www.bild.de – 19.06.2008) (359) Serbien sei ein „angeschlagener Boxer“, enttäuscht. (...) Es war ein unglaublicher hatte der Bundestrainer betont und daher einen Kampf, beide Mannschaften waren am "Kampf auf Biegen und Brechen" prophezeit. Ende stehend K.o. Man muss Italien aber (www.sportbild.bild.de – 18.06.2010) gratulieren, es hat ganz stark gespielt. (360) Joachim Löw will mit dem zweiten WM(www.kicker.de – 04.07.2006) Sieg in Südafrika ein "K.o.-Spiel" zum GruppenAbschluss vermeiden. (www.kicker.de 17.06.2010) 304 (345) Im toskanischen Badeort und Marcello Lippis Heimat hatte der Nationalcoach seine Freunde bereits vor der WM auf Abruf gestellt: "Wenn wir früh oder in der K.o.-Runde als vermeintlicher Favorit ausscheiden, verschwinde ich besser auf unbestimmte Zeit in meinem Boot.(...)“ (www.kicker.de – 29.06.2006) (346) "Aber unabhängig davon kommt mit dem Beginn der K.o.-Phase sowieso ein zusätzlicher Adrenalin-Schub. Jetzt beginnt die WM eigentlich erst so richtig." (www.kicker.de – 26.06.2006) (347) Lukas Podolski Note 4 - Wirkte übermotiviert, ging früh hart zur Sache und war schließlich Gelb-Rot-gefährdet. Quälte sich in der Verlängerung über die Runden. Nervenstark beim Elfmeterstechen. (www.kicker.de – 03.07.2006) (348) Domenech am Ziel der "Tour d'Allemagne" (www.bild.de – 09.07.2006) (361) (...) Serbien hat gute Karten, in Nelspruit gegen Australien die K.o.-Runde zu erreichen. (www.kicker.de – 18.06.2010) (362) Rekordweltmeister Brasilien hat bei der Fußball-WM in Südafrika als zweite Mannschaft nach Holland den vorzeitigen Einzug in die K.o.Runde perfekt gemacht. (www.sportbild.bild.de – 20.06.2010) (363) Ein blaues Auge für den Weltmeister (Italien-Paraguai 1:1) (www.kicker.de/news/video) (364) Uruguai war selbstbewußt ins Spiel gegangen, doch schon nach viereinhalb Minuten musste sich Torhüter Fernando Muslera mit einem Faustschlag beim Torpfosten bedanken. (...) er hatte sich dabei nicht bewegt und sah paralysiert zu, wie der Ball ans Aluminium flog. (www.sportbild.bild.de - 20.06.2010) (365) Der härteste Brocken auf dem Weg nach Südafrika war Bahrein. Nicht gerade ein Schwergewicht im internationalen Fussball (...). (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.174) (366) Stehend K.O. Abgezockt? Dynamisch? Gefährlich? Von wegen! England zeigte sich naiv, behäbig, harmlos. (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.28) (367) Asamoah Gyan setzt den Knockout (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.32) (368) Obasi & Co. nur Sparringspartner (Argentinien-Nigeria) (Kicker Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.36) 305 b) FUTEBOL É JOGO - categoria jogos de sorte (31 ocorrências) EURO 2004 (5) (369) "Joker" Valeron sticht (www.kicker.de – 12.06.2004) MUNDIAL 2006 (8) (374) Aufstellung gegen Ecuador Klinsmanns Pokerspiel - Bundestrainer Jürgen Klinsmann will sich vor dem (370) Jetzt erst reagierte der spanische letzten Gruppenspiel gegen Ecuador Coach Saez und brachte mit Morientes öffentlich nicht auf eine Aufstellung seinen letzten Offensivtrumpf. festlegen. Bekannt ist nur, dass er sich (www.kicker.de – 20.06.2004) Gedanken über Veränder-rungen macht. (www.spiegel.de – 19.06.2006) (371) Allerdings nahm er mit Corradi auch einen Stürmer vom Feld, so dass (375) Deutschland-Polen der ehemalige Bayern-Trainer noch Klinsmanns Joker stechen in letzter Minute. nicht alles auf eine Karte setzte. (www.spiegel.de – 14.06.2006) (www.kicker.de – 22.06.2004) (376) Kawaguchi lenkte zunächst einen (372) Tschechiens Trainer Karel Freistoß von Aloisi zur Ecke. Die flog in die Brückner hatte aus seiner Aufstellung Mitte, Cahill flog der Ball im Getümmel ein großes Pokerspiel gemacht. vor die Füße und der Joker vollendete mit (www.kicker.de – 22.06.2004) einem Flachschuss aus elf Metern (84.). (www.kicker.de – 12.06.2006) (373) Danach setzten die Holländer alles auf eine Karte, die Gastgeber (377) Südkorea - Togo 2:1 (0:1) blieben aber bis zum Schlusspfiff durch Joker Ahn sorgt für den "Dreier" (www.kicker.de – 13.06.2006) Konter gefährlich. (www.spiegel.de-20.07.2004) (378) Nachdem zahlreiche gute Chancen EURO 2008 (5) MUNDIAL 2010 (13) (382) Vielmehr hat es ihnen dieser Gegner bisweilen vor allem mit seiner nicht immer sattelfesten Defensive und mit dem eigenen Drang nach vorne recht leicht gemacht, wozu den Spaniern dann auch die eigene Führung noch in die Karten gespielt hat. (www.sportal.de – 27.06.2008) (387) Rheinische Post (www.rp-online.de) „Schiedsrichter am Pranger. Ein Kartenspieler und ein Torklau. Am achten Tag der Fußball-WM in Südafrika sind die Schiedsrichter ins Kreuzfeuer der Kritik geraten.“ (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (388) In der Schlussphase setzte Nigeria alles auf eine Karte und brachte die nicht immer sattelfeste Abwehr der Argentinier einige Male ins (383) De Rossis von Henry abgefälschter Wanken. (www.sportbild.bild.de – 02.06.2010) Freistoß, der unhaltbar für Coupet im Netz landete, spielte dem Weltmeister (389) Löw verriet zwar nicht seine Startelf, plant aber wohl weiterhin mit den formstarken Cacau natürlich in die Karten (62.). nur als Joker. (www.kicker.de – 17.06.2008) (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010) (384) Bei der Lotterie zeigte Kroatien (390) Deutschland erwartet in Soccer City in dann Nerven und wurde bitter bestraft. Johannesburg gegen Ghana ein Endspiel um den (www.kicker.de – 19.06.2008) Einzug ins Achtelfinale, Serbien hat gute Karten, in Nelspruit gegen Australien die K.o.-Runde zu (385) Fatih Terim setzte nun alles auf erreichen. (www.kicker.de – 18.06.2010) eine Karte: Mit Mevlüt und Gökdeniz (391) Die „Hand des Teufels“ ist wieder da, der brachte er frische Offensivkräfte. Traumsturm komplett: Luis Suarez und Diego (www.kicker.de – 25.06.2008) Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem Weg zum größten Erfolg seit 1950. (...). der Klinsmann-Elf nicht den Erfolg (386) (...) sein Barca-Kollege war im (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010) von Ignashevich brachten, war Joker Neuville schließlich Schatten durchgestartet und vollstreckte mühe- (392) Für Gomez und Kiessling bleibt zunächst zur Stelle. los aus kurzer Distanz direkt (50.) - das wohl nur die Jokerrolle (...). (Kicker (www.kicker.de – 14.06.2006) 1:0 für die Selección! Und das spielte ihr Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.33) (379) Eine schöne Kombination über natürlich in die Karten. (393) Überragende Individualisten sind die Mahdavikia und Zandi führte in die Mitte, (www.kicker.de – 26.06.2008) 306 wo erneut Joker Khatabi per Kopf das Können von Ricardo prüfte (78.). (www.kicker.de – 17.06.2006) (380) Der Boss sprach eine öffentliche Verwarnung aus. Sepp Blatter zeigte dem russischen Skandal-Referee Valentin Ivanov nach dessem "Kartenspiel" von Nürnberg demonstrativ Gelb. (www.kicker.de – 29.06.2006) (381) Marcello Lippis ratloses Auswürfeln der Sturmformation (…) Und so würfelt Lippi ratlos die Sturmformationen durcheinander während das Achter-Gerüst dahinter felsenfest für hart erarbeitete Erfolge sorgt. (www.kicker.de – 29.06.2006) besten Trümpfe von Trainer Queiroz. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.180) (394) Sneijder ist dabei das Trumpf-Ass (...) (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.9) (395) Robben: Nur noch einmal soll er Joker sein. (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.40) (396) Schon vor der WM hatte Mario Kempes gesagt: „Gonzalo hat alles, um Argentiniens Trumpfkarte zu werden.“ (Kicker Sportmagazin Nr. 50 – 25. Woche 21.06.2010, p.45) (397) Slowakei: Vittek nur Joker – Viel hängt ab vom „rätselhaften“ Hamsik“. Der leichtgewichtige Kapitän (...) gilt dabei als Rätsel im Team: Beim SSC Neapel spielte er eine formidable Saison, aber in der Nationalmannschaft konnte er nur selten an diese starken Leistungen anknüpfen. (Kicker Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.49) (398) „Wir müssen gewinnen“ weiss Simao, mit 81 Einsätzen der Rekordnationalspieler des aktuellen Kaders, „damit wir nicht im letzten Gruppenspiel gegen Brasilien alles auf eine Karte setzen müssen.“ (Kicker Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.51) (399) Marko Marin will mehr: „Ich bin nicht nur ein Joker“ (Kicker Sportmagazin Nr. 47 – 23. Woche 10.06.2010, p.1) 307 À luz do paradigma semiótico de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), sugerimos a seguinte rede de espaços mentais no que diz respeito à macro-metáfora conceptual: FUTEBOL É JOGO: Espaço Semiótico de Base Espaço de Apresentação Espaço de Referência Modalidades desportiva Expressões metafóricas Jogador FUTEBOL JOGO Outros Intervenientes Jogos de sorte Cenário da competição Esquema dinâmico: Força/Contra-força (vitória - derrota, sorte - azar) Equipa FUTEBOL COMO JOGO Jogo/ Jogada Campeonato Espaço Virtual (Blend) Esquema dinâmico de Relevância (Relevance-Schema) Inferências Emergentes Para vencer é preciso sorte e saber Futebol é competição! A vitória depende das capacidades físicas e da sorte. Espaço do Significado Figura 49: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Jogo O domínio-fonte do jogo, incluindo os sub-domínios ‘modalidades desportivas’ e ‘jogos de sorte’ (pequenas esferas no espaço de apresentação da figura 49) preenchem o espaço de apresentação, enquanto o espaço de referência é composto pelo domínio-alvo do futebol e seus constituintes (pequenas esferas no espaço de referência). Através dos processos de mapeamento, o espaço virtual revela a mescla: FUTEBOL COMO JOGO, sendo que este JOGO é, necessariamente, um qualquer ‘NÃO-JOGO DE FUTEBOL’. Tal como referido anteriormente, a conceptualização torna-se possível através do reconhecimento de estruturas análogas que variam de acordo com cada sub-domínio. Contudo, existem estruturas de carácter mais abstracto que fornecem à mescla virtual um 308 cenário lógico. Estas encontram-se no espaço dinâmico da relevância, um espaço de características diferentes (daí a forma rectangular) porque: “The concept of relevance is approached from the perspective of cognitive semiotics, calling for detailed semantic analysis of the manifestations of relevance in discourse, a practice (…) that appears to aid our understanding of “selective projection” and “emergence” in (semiotically) blended representations.” (Brandt, L., 2010:100). Neste sentido postula-se, que o espaço de relevância evidencia estruturas esquemáticas, sugeridas pelo mundo fenomenológico, que reflectem as intenções do interlocutor e auxiliam a construção e compreensão do significado final: “These schemas, a resource in the phenoworld, are represented in a type of space characterized by affording argumentational relevance to the blend. As such, the induced schemas contribute to the framing of blends. In Brandt & Brandt (2005a), we proposed calling this space Relevance space since it contains knowledge of the issue the speaker has in mind when evoking the presentation as a sign for the reference. It provides the relevant thought content for the framing of the blend (at levels 3 and 4) and, ultimately, for the emergence of reasonable inferences at the level of pragmatic implication (5).” (Brandt, L., 2010:202) Na presente rede, consideramos que o espaço de referência esquemática revela, em primeiro lugar, o cenário da competição e, seguidamente, a estrutura dinâmica da força/contra-força, consubstanciada nos binómios vencer vs perder, e sorte vs azar. O significado que emerge na mescla final reveste-se de lógica: O futebol é uma competição na qual a vitória depende de dois factores - as capacidades físicas e mentais (destreza, habilidade, o conhecimento do jogo e o domínio emocional e mental) por um lado e, finalmente, o destino (sorte ou azar) por outro, sendo que a exibição das referidas capacidades, assim como a fruição da sorte do jogo configuram motivo de elogio e congratulação . Por fim, a inferência “para vencer é preciso sorte e saber” é remetida para o espaço semiótico de base, enriquecendo-o ao nível pragmático (pragmatic inference, L. Brandt, 2010:177); assim se fecha este circulo conceptual: “These five or six spaces form an elementary network, a sort of MS network molecule, which turns out to constitute a minimal composition or meaning construction. The normal case is a message-formed utterance manifesting a nested structure, using the elementary network recursively.” (Brandt, 2005:1590) De acordo com os critérios definidos, passamos, então, a analisar pormenorizadamente cerca de um terço das ocorrências aqui listadas. 309 a) FUTEBOL É JOGO - categoria outras modalidades desportivas O nosso corpus conduziu à identificação de diversas realizações metafóricas na imprensa desportiva alemã que se inspiraram no mundo do desporto de combate do pugilismo, ou boxe. Para melhor compreender os diferentes mapeamentos, consideramos pertinente tecer algumas considerações sobre este desporto. A palavra “Boxsport” ou “boxen”270 provém do inglês “to box” e significa atingir alguém com os punhos. A luta com os punhos entre seres é tão ou mesmo mais antiga do que a história da humanidade. Pensa-se que já os primatas, na ausência de qualquer tipo de arma, usavam os punhos, para além das dentadas, para combaterem. Na Suméria e Egipto foram encontrados documentos que comprovam a existência do desporto do boxe já há 4000 a 5000 anos. Sabe-se, igualmente, que o boxe era praticado em Creta (1500 anos antes de Cristo) assim como na Grécia e no Império Romano, sendo um desporto olímpico a partir da 23ª olimpíada (688 a.c). Os primeiros registos sobre o boxe na Inglaterra remontam do século XVII e era praticado sem luvas. O boxe moderno, aproximado ao praticado actualmente, segue as Regras de Broughton, (Jack Broughton, lutador britânico) criadas em 1743. Em 1872, realizaram-se os primeiros combates com os lutadores divididos por peso e categorias (pesomosca, o peso-galo, o peso-pluma, leve, meio-leve, médio, médio-pesado e pesado) e no início do século XX surge o ringue de cordas tal como o conhecemos hoje. O boxe é um desporto que se reveste de extrema dureza física e, para além de apelar às qualidades técnicas indispensáveis, exige níveis de resistência física elevados. A vitória pode ser alcançada através do “knockout”, i.e. conseguir que, através de um golpe certeiro, o adversário caia inconsciente no solo durante pelo menos 10 segundos (“countdown”), o K.O. técnico - quando o árbitro considera que um boxeur já não está em condições físicas para prosseguir o combate - ou através de pontuação, atribuída por um júri que avalia, em cada “round” os golpes técnicos dos lutadores. O combate está subdividido por “rounds”, ou seja, períodos de luta (quatro períodos de 2 minutos cada no boxe amador e 6-15 períodos de 3 minutos cada no boxe profissional). O termo técnico “sparring” é sinónimo de treino de combate: “Spar|ring, das; -s [engl. sparring = das Boxen, zu: to spar = boxen, trainieren] (Boxsport): das Sparren; Spar|rings|part|ner, der: Partner beim Sparring.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom). Por 270 “bo|xen <V.; hat> [engl. to box]: 1. a) [nach bestimmten Regeln] mit den Fäusten kämpfen; einen Boxkampf austragen: taktisch klug b.; um die Europameisterschaft b.; gegen jmdn. b.; b) (Sport Jargon) jmdn. als Gegner beim Boxkampf haben: einen Gegner schon einmal geboxt haben. 2. a) mit der Faust schlagen, [leicht] stoßen: box mich nicht dauernd!; er hat ihm/(auch:) ihn in den Magen geboxt; b) <b. + sich> (ugs.) sich mit Fäusten bearbeiten, sich prügeln: die Schüler boxten sich im Schulhof; c) (ugs.) mit der Faust stoßen: den Ball ins Aus b.; d) <b. + sich> (ugs.) sich mit Fäusten und Armen einen Weg bahnend vorwärts dringen: sich ins Freie, durch die Menge b.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 310 fim, destacamos que os termos “Ringkampf”271 e “Schlagabtausch”272, embora não exclusivos do desporto do pugilismo, são frequentemente utilizados como sinónimos do boxe. As realizações metafóricas das seguintes ocorrências recorrem à terminologia característica do mundo do boxe acima explorada: (336) Martin Petrov hatte den Leverkusener Berbatov angespielt, der im Ringkampf mit Materazzi zu Boden ging. (337) Das Spiel wurde zu einem munteren Schlagabstausch273. (338) Der mittlerweile eingewechselte Baros nutzte nach einem Zuspiel von Heinz dies eiskalt aus und versetzte Deutschland den endgültigen K.O. (339) England brachte Owens frühe Führung nicht über die Runden, hielt jedoch bis zum Schluss tapfer dagegen. (352) Giovane Elber: Die Deutschen haben früh das Handtuch geworfen. Die Überlegenheit der Spanier war so groß, so groß (...). (359) Serbien sei ein „angeschlagener Boxer“, hatte der Bundestrainer betont und daher einen "Kampf auf Biegen und Brechen" prophezeit. (363) Ein blaues Auge für den Weltmeister. De Rossi verhinderte den Fehlstart des amtierenden Weltmeisters. Italien kam gegen das abwehrstarke Paraguay noch zu einem 1:1, nachdem Alcaraz vor der Pause unentschlossene Azzurri bestraft hatte. (365) (...) Der härteste Brocken auf dem Weg nach Südafrika war Bahrein. Nicht gerade ein Schwergewicht im internationalen Fussball (...) (368) Obasi & Co. nur Sparringspartner - Der verheissunsvolle, schwungvolle Start war relativ schnell verpufft. Der individuellen Klasse der Südamerikaner [Argentinien] hatten die überforderten Afrikaner [Nigeria] wenig entgegenzusetzen. Comum a todas elas é, naturalmente, o cenário do combate. Contudo, as conceptualizações processam-se a vários níveis: a) o jogador como boxeur; b) a equipa, (conceptualizada como um só indivíduo) como boxeur; c) o jogo como combate de boxe e d) o golo como soco ou ‘knockout’. 271 “Ring|kampf, der: 1. tätliche Auseinandersetzung, bei der zwei Personen miteinander ¹ringen (1 a): ein kurzer, harter R. 2. a) <o. Pl.> das Ringen (1 b) als sportliche Disziplin; b) sportlicher Kampf innerhalb eines Boxrings: einen R. austragen“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 272 “Schlag|ab|tausch, der (Boxen): schnelle Folge von wechselseitigen Schlägen: ein kurzer, heftiger S.; er suchte den S.; Ü in der Plenarsitzung kam es zu einem S. (zu einer kurzen, heftigen Auseinandersetzung) zwischen Regierung und Opposition“ (c) Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 273 “Schlagabtausch, offener; keine Prügelei auf dem Spielfeld, sondern: ein Spiel bzw. eine Phase im Spiel zweier → offensiv ausgerichteter Mannschaften mit zahlreichen → Torsituationen, → Torszenen u. →Torchancen.“ (Burkhardt, 2006a:261) 311 Neste sentido, o jogador luta com o adversário como se estivesse num ringue (ocorrência (336)), as equipas combatem como dois boxeurs aos socos (ocorrência (337)), um golo marcado põe uma equipa K.O. (ocorrência (338)), sendo que K.O. (a perda dos sentidos) conceptualiza a derrota no jogo ou a eliminação do campeonato ou ainda um soco que causa um olho negro ao adversário (ocorrência (363)). Vencer é como aguentar os ‘rounds’ até ao fim (ocorrência (339)), enquanto a qualidade do adversário e o perigo que este representa são conceptualizados como categorias ou estados dos boxeurs: peso pesado (ocorrência (365)) corresponde a um adversário perigoso, parceiro de treino (ocorrência (368)) corresponde a um adversário modesto e o boxeur debilitado ou magoado (ocorrência (359)) equivale a um adversário acessível por estar enfraquecido. Relativamente à ocorrência (353), trata-se de uma expressão que origina do mundo do boxe e significa desistir ou abdicar da luta: “Hand|tuch, das <Pl. ...tücher> [mhd. hanttuoch, ahd. hantuh]: 1. aus Baumwollstoff, bes. aus Frottee od. aus [Halb]leinen, hergestelltes [schmales, längliches] Tuch von unterschiedlicher Größe zum Abtrocknen: ein frisches, gebrauchtes, weiches H.; die Handtücher wechseln; *schmales H. (ugs. scherzh.; sehr schmaler, schlankwüchsiger Mensch); das H. werfen/schmeißen (1. Boxen; [als Sekundant] zum Zeichen der Aufgabe eines Kampfes das Handtuch, den Schwamm in den Ring werfen. 2. ugs.; eine Arbeit, Anstrengung o. Ä., der man sich nicht gewachsen fühlt, resignierend aufgeben).“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) [sublinhado nosso] Vejamos agora a tabela correspondente às diferentes redes de espaços mentais por nós propostas: Ocor. (336) (337) (338) ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Ringkampf (luta num ringue: boxe/luta greco-romana) Disputa de bola entre os jogadores Berbatov e Materazzi (Jogo Itália-Bulgária) Disputa de bola como combate num ringue; Berbatov e Materazzi como boxeurs Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Materazzi em grande! Texto Schlagabtausch (confronto de boxe) Jogo entre as selecções da Suécia e a Bulgária Jogo como confronto de boxe Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Jogo bem disputado! versetzte den entgültigen K.O. (K.O. final) Golo vitorioso da Rep. Checa no jogo contra a Alemanha Jogo como confronto de boxe; golo como golpe final de K.O. Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Bem jogado, República Checa! Texto 312 (339) (352) (359) (363) (365) (368) ESB ERef ERel Texto nicht über die Runden bringen (não suportar os ‘rounds’ num confronto de boxe) Jogo entre as selecções de Portugal e Inglaterra Jogo como suportar ‘rounds’ num confronto de boxe Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Portugal foi melhor! Texto das Handtuch werfen (“Mandar a toalha” num combate de boxe) Atitude dos jogadores alemães no jogo contra a Espanha Atitude dos jogadores como “mandar a toalha” Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Alemanha, má prestação! angeschlagener Boxer (boxeur magoado) Selecção da Sérvia (Futuro) Selecção da Sérvia como um boxeur magoado (Futuro) Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Sérvia em baixa! Texto blaues Auge (olho negro) Empate no jogo da selecção do Paraguai contra a Itália Empate como olho negro Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça A Itália empata à tangente! Texto nicht ein Schwergewicht (‘Peso não pesado’) A selecção do Bahrein Selecção do Bahrein como ‘peso não pesado’ Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Bahrein muito fraco! Texto Sparringspartner (parceiro de treino) Selecção da Nigéria no jogo contra a Argentina Selecção da Nigéria como parceiro de treino Cenário do boxe Esquema dinâmico: força/contraforça Nigéria muito fraca! Texto - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 50: Tabela de Espaços Mentais 18 No espaço de relevância configura-se o cenário do boxe que oferece o enquadramento lógico à mescla final. Este cenário engloba não somente o conhecimento básico e necessário relativamente ao universo do boxe (dinâmica do desporto e terminologia técnica), como activa o esquema dinâmico da força/contra-força. Trata-se de um confronto entre duas entidades no qual ambos procuram a vitória. O esquema abstracto de força/contra-força consubstancia-se tanto no binómio principal vencer - perder, subjacente a qualquer competição, como também nos factores característicos do boxe: pujança - fraqueza, resistir - vacilar ou, mais 313 concretamente, consciente - inconsciente (K.O.). O K.O. do boxe aparenta ser um cenário muito produtivo para diversas circunstâncias que impliquem derrota ou eliminação como fim definitivo: “K.o.-Spiel” (ocorrências (353) e (360)),” K.o.-Runde” (ocorrências (345), (361), (362), e (390)) e “K.o-Phase” (ocorrência (346)), são apenas alguns exemplos. Este cenário realça a vertente física do jogo ao concretizar circunstâncias abstractas. Neste sentido, escapar por pouco a uma derrota é terminar um combate com um olho negro: fica-se magoado, mas não o suficiente para perder. Os significados intendidos das mesclas finais evidenciam o predomínio da luta e da presença (ou ausência) de força e dureza física como elementos mais salientes nos jogos de futebol. De novo, depreende-se a presença de uma atitude avaliativa (elogiosa ou crítica) subjacente ao significado intendido: força, dureza e resistência destacamse como as qualidades mais apreciadas no jogo e nos jogadores. A personificação conceptual, ou seja, a equipa como ser vivo (neste caso um boxeur) destaca-se como projecção sine qua non na maioria das realizações metafóricas. O seguinte grupo de realizações metafóricas reporta-se ao domínio do atletismo, servindo-se de diferentes provas (corridas de velocidade e resistência e salto em altura) para a construção de redes conceptuais: (335) Tomasson hält Dänemark im Rennen. In einer äußerst schwachen Partie wahrte Dänemark mit einem verdienten Erfolg gegen Bulgarien seine Chance aufs Weiterkommen. Kurz vor dem Wechsel brachte Angreifer Tomasson die Nordeuropäer nach gelungener Kombination in Führung. (341) Wie zu Beginn des Spiels kam Brasilien auch im zweiten Durchgang besser aus den Startlöchern. (342) Nach dieser Aktion verflachte die Partie für 15 Minuten ein wenig, beide Teams schienen durchschnaufen zu wollen, um im Schlussspurt die mögliche Entscheidung zu suchen. (349) So ist es jetzt auch. Immer wieder kamen Rückschläge im Turnier mit der Niederlage gegen Kroatien oder auch mit dem schwierigen Spiel gegen die Türkei. Aber eine EM ist ein Marathonlauf (...) (343) "Die Messlatte ist längst übersprungen" "Wenn es gut geht, wird man uns feiern. Wenn es schlecht geht, schießen sie uns auf den Mond." So hatte es Jürgen Klinsmann vor dem Turnier formuliert (...) Unabhängig von dem, was in der zweiten Turnierhälfte noch kommen wird, hat Klinsmann die sportlichen Voraussetzungen der Verbandsführung für eine Vertragsverlängerung erfüllt. 314 Nas ocorrências (335) e (349), o campeonato é conceptualizado como uma corrida: “Rennen”274 (concepção geral) e “Marathonlauf”275 (maratona). A expressão ‘manter-se na corrida’ encontra aplicação em diversos domínios, sempre com o mesmo significado final: continuar a lutar por algo. Este fenómeno deve-se ao facto de muitas circunstâncias abstractas serem conceptualizados como percursos ou trajectórias, activando, consequentemente o esquema imagético da trajectória. Na ocorrência (335) o golo do avançado dinamarquês Tomasson possibilitou a vitória da Dinamarca e assim, manter-se na luta pela vitória no campeonato. O mesmo se aplica à ocorrência (349), embora seja destacado um tipo de corrida específico, a maratona. Pretende, assim, realçar as características que diferenciam esta prova de corrida de todas as outras: trata-se da corrida de fundo mais longa do atletismo e por isso exige, para além da excelente preparação física, grande resistência e elevado espírito de sacrifício. Diz-se que para além de ser uma prova física altamente desgastante, configura, igualmente, um enorme desafio mental. A maratona obriga, simultaneamente, a uma boa gestão do esforço, i.e. os altos e baixos, em termos de rendimento, que o atleta possa sentir ao longo da corrida não são, necessariamente, determinantes para a vitória final. As ocorrências (341) e (342) dizem respeito a duas fases essenciais de uma corrida: o início, com a saída dos blocos de partida,276 e o final, normalmente em sprint.277 Em ambas as ocorrências, os jogos (Brasil vs Japão e Itália vs França) são conceptualizados como trajectórias, realçando o início e o fim das mesmas como momentos determinantes para a obtenção da vitória. Já a realização metafórica da ocorrência (343) conceptualiza o campeonato como uma prova de salto em altura. Cada jogo corresponde à altura da fasquia (“Messlatte”278) a ultrapassar, sendo que ultrapassá-la significa vencer o jogo e continuar para o próximo nível. 274 “Ren|nen, das; -s, -: sportlicher Wettbewerb, bei dem die Schnelligkeit, mit der eine Strecke reitend, laufend, fahrend zurückgelegt wird, über den Sieg entscheidet (...), (ugs.; die Sache ist erledigt; es ist alles vorüber); er liegt mit seiner Bewerbung gut im R. (hat gute Aussichten auf Erfolg); jmdn. (als Kandidaten) ins R. schicken.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 275 “Ma|ra|thon, der; -s, -s [nach dem gleichnamigen griech. Ort, von dem aus ein Läufer die Nachricht vom Sieg der Griechen über die Perser (490 v. Chr.) nach Athen brachte]: Marathonlauf. Ma|ra|thon, das; -s, -s (ugs.): etw. übermäßig lange Dauerndes u. dadurch Anstrengendes. Ma|ra|thon- (emotional verstärkend): drückt in Bildungen mit Substantiven aus, dass etw. überaus lange dauert: Marathondiskussion, -prozess, -rede; Ma|ra|thon|lauf, der: Langstreckenlauf über 42,195 km (olympische Disziplin).“ (Dudenverlag 1997, Versão CD-Rom) 276 “Startlöcher” - “Start|loch, das (Leichtathletik früher): Vertiefung im Boden, aus der sich der Läufer beim Start mit dem Fuß abdrücken konnte.” (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom)) 277 “Schlussspurt” - “Spurt, der; -[e]s, -s, selten: -e [engl. spurt, zu: to spurt, spurten]: 1. (Sport) das Spurten (1): einen S. machen, einlegen; den S. anziehen; zum S. ansetzen; er gewann das Rennen im S. 2. (ugs.) schneller Lauf, das Spurten (2): mit einem S. schaffte er noch den Zug. 3. (Sport) Spurtvermögen: er hat einen guten S. Schluss|spurt, der: besondere Anstrengung, besonderer Einsatz gegen Schluss eines Spiels.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom). 278 “Mess|lat|te, die: hölzerner Messstab. Lat|te, die; -, -n [mhd. lat(t)e, ahd. lat(t)a, urspr. = Brett, Bohle]: b) (Leichtathletik) Stange aus Holz od. Metall, die übersprungen werden muss: der Hochspringer riss die L. nur knapp.“ (Dudenverlag, 1997, versão CD-Rom) 315 Esta conceptualização é construída a partir do esquema conceptual cima-baixo, no qual o topo é positivo e o baixo, negativo279. Também a expressão portuguesa “colocar/elevar a fasquia” veicula uma conceptualização bipolar idêntica280. Neste sentido, a Federação Alemã de Futebol traçou objectivos mínimos para o campeonato e quando a selecção alemã, com o seleccionador Klinsmann, se apurou para os quartos de final dessa competição, os objectivos foram amplamente ultrapassados, facto que constitui, naturalmente, motivo de orgulho. Propomos, então, as seguintes redes de espaços mentais, sistematizadas em forma de tabela: Ocor. (335) (341) (342) (349) (343) ESB ERef ERel ESB EA ERef Texto im Rennen halten (permanecer na corrida) Vitória da selecção da Dinamarca no jogo contra a Bulgária Texto besser aus den Startlöchern kommen (sair melhor dos blocos de partida) A selecção brasileira no início da 2ª parte do jogo contra o Japão O Brasil no reinício do jogo como sair melhor dos blocos de partida Schlussspurt (Sprint final) Parte final do jogo entre as selecções da Itália e da França Cenário do Parte final do atletismo/ Itália e França, jogo como sprint corrida; boa prestação no final Esquema dinâmico final! da trajectória Texto Texto Marathonlauf (maratona) Texto Messlatte überspringen (saltar/Ultrapassar a fasquia) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância M1 ERel Cenário do Vitória da atletismo/ Dinamarca como corrida; permanecer na Esquema dinâmico corrida da trajectória Campeonato Europeu como maratona Campeonato Europeu Resultados da Resultados como selecção alemã ultrapassar a no campeonato fasquia EA M1 M2 Cenário do atletismo/ corrida; Esquema dinâmico da trajectória M2 Dinamarca, objectivo atingido! Brasil, bom jogo na 2ª parte! Cenário do atletismo/ corrida; Esquema dinâmico da trajectória O Campeonato é muito duro! Cenário do atletismo/ salto em altura; Esquema cimabaixo Klinsmann, bom trabalho! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 51: Tabela de Espaços Mentais 19 279 Vide também Kövecses, 2002 (pp.35-36) “Expressão “elevar a fasquia” - Significado Português de Portugal. Significado: Aumentar o nível de exigência, a ambição. Tentar objectivos mais difíceis. Exemplo: “Se a nossa empresa não elevar a fasquia não consegue sobreviver. Observações: Também se pode usar com o verbo “subir”.” (Expressões Idiomáticas, In http://www.casota.org/expressions/expression/index.php?id=221 [Consult. 10.04.2011]) 280 316 Concluímos que os diversos mapeamentos conceptuais recorrem às estruturas mais salientes dos diferentes domínios, i.e. os traços mais distintivos de cada prova de atletismo ou os momentos mais determinantes de cada prova. O sprint final, por exemplo, apela à derradeira capacidade de esforço que se traduz em velocidade, enquanto a maratona apela ao esforço que se traduz em resistência. Cabe ao espaço de relevância fornecer o cenário e as estruturas dinâmicas adequadas para que a mescla final faça perfeito sentido. Com excepção da mescla final da ocorrência (349), que, a nosso ver, acarreta a inferência pragmática do aviso ou da chamada de atenção, as restantes mesclas finais revestem-se de um tom elogioso. O grupo de ocorrências (340), (355) e (357) dizem respeito ao jogo de xadrez. As analogias fundamentais entre este jogo e o futebol são evidentes: existem duas equipas oponentes à procura da vitória, com posições e funções claramente definidas, assumindo diferentes níveis de influência. Porém, e de acordo com a sua classificação, a noção de estratégia configura o traço mais característico do jogo de xadrez. Esta circunstância deve-se ao facto deste jogo de tabuleiro se ter desenvolvido a partir de conceitos estratégicos associados ao domínio militar e daí, ser considerado um dos primeiros jogos de guerra: “Schach als Urform des modernen Strategiespiels. Schach zählt zu den ältesten und beliebtesten Brettspielen der Welt. (...) In Strategiespielen dreht es sich - vergleichbar mit dem Schachspiel - um die richtige Positionierung von Waffen und Personal, wobei die militärischen Inhalte überwiegen. (...) Dunnigan weist in seinem „Handbook of Wargames“ (Dunnigan 1992) auf die enorme Bedeutung von Schach über Jahrtausende hin und deklariert es als eine der ersten Formen Krieg zu spielen. (...) Schach zählt zu den ältesten Strategiespielen überhaupt, es existierte angeblich schon im 4. Jahrhundert in Indien. (...) Das Wesen des Schachspiels besteht darin, eine strategisch Erfolg versprechende Taktik zu wählen, die sich am jeweiligen Spiel und dem Gegenspieler orientiert. Damit unterscheidet es sich von allen Glücksspielen, die mehr oder weniger „auf zufälligen Ereignissen“ beruhen, weil hier „Wissen und Können entscheidend mitbeteildigt sind“ (Posthoff/Reinemann 1987:10)“ (Grosser, 2007:20-21) Assim sendo, as seguintes realizações metafóricas servem o propósito de destacar as competências estratégicas e tácticas das selecções e seus treinadores: (340) Dennoch hatte das Scolari-Team keine Mühe, die schwachen Afrikaner in Schach zu halten. (355) Stern: „Auch mal hässlich gewinnen. Spanien ist neuer Fußball-Weltmeister. Auch wenn del Bosques Mannschaft die Holländer im Finale nicht mit ihrem gefürchteten Fußballschach matt setzte: Der 1:0-Sieg war trotzdem verdient.“ 317 (357) (...) Nachden der Bundestrainer gegen Serbien mit der Aufstellung und der Einwechselungen nicht gerade ein glückliches Coaching offenbart hatte, gingen seine Schachzüge gegen die Ghanaer nun auf. Tal como no futebol, os diferentes movimentos no jogo de xadrez - “Schachzüge” cumprem duas intenções fundamentais: o ataque e a defesa. O ataque destina-se à vitória por xeque-mate (expressão usada para designar o lance que põe fim à partida, quando o Rei atacado por uma ou mais peças adversárias não pode permanecer na casa em que está, movimentar-se para outra ou ser defendido por outra peça), enquanto a defesa se centra na protecção de peças essenciais e, principalmente, no resguardo do Rei: “Der „direkte Weg zum Matt […] muss durch Verbesserung des Niveaus der Verteildigung ständig verfeinert und verbessert werden” (Posthoff/Reinemann 1987:16). Angriff und Verteildigung machen also einen Grossteil des Erfolges aus - ein Prinzip, dass in den meisten Strategiepielen von enormer Bedeutung ist.“ (Grosser, 2007:31) Com base nestes pressupostos, sugerimos as seguintes redes mentais: Ocor. (340) (355) (357) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto in Schach halten (manter em xeque) Estratégia de jogo da selecção portuguesa no jogo contra a Angola Estratégia de jogo como manter em xeque Cenário do xadrez/ Esquema dinâmico força/contra-força (estratégica) Portugal bem contra Angola! Texto Fussballschach matt (xeque-mate do futebol) Estratégia de jogo da selecção espanhola Xeque-mate do futebol como estratégia de jogo da selecção espanhola Cenário do xadrez/ Esquema dinâmico força/contra-força (estratégica) Boa prestação, Espanha! Escolha do seleccionador do onze inicial Escolha do seleccionador do onze inicial como movimento de xadrez Cenário do xadrez/ Esquema dinâmico força/contra-força (estratégica) Bem pensado pelo seleccionador! Texto Schachzüge (movimentos de xadrez) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 52: Tabela de Espaços Mentais 20 Estabilizada pelas estruturas dinâmicas de força e contra-força estratégica e do cenário do jogo de xadrez do espaço de relevância, as mesclas finais configuram elogios que destacam 318 opções estratégicas inteligentes e, mesmo que não tenham sido perfeitas (ocorrência (355)), foram eficazes. Realçam, igualmente, a importância das estratégias e tácticas de jogo mais ou menos ofensivas ou defensivas, que dependem, sobretudo das opções dos seccionadores. Por isso, os nomes dos seleccionadores são referidos nas notícias, destacando a sua responsabilidade como estratega: “Scolari-Team”, “del Bosques Mannschaft” e “Bundestrainer (…) seine Schachzüge”. Finalmente, a realização metafórica presente na ocorrência (348) conceptualiza o campeonato mundial de 2006, que se realizou na Alemanha, como uma prova de ciclismo. Tratando-se de uma notícia sobre a selecção francesa e seu seleccionador Domenech, a prova de ciclismo em questão é, obviamente, a mundialmente famosa “Tour de France”: (348) Domenech am Ziel der "Tour d'Allemagne" A meta desta volta emblemática é a grande final que a selecção francesa iria jogar contra a selecção da Itália. De novo, existem analogias evidentes entre os dois eventos desportivos: são compostos por diversas fases ou etapas difíceis, física e mentalmente muito exigentes ao longo das quais o trabalho de equipa é indispensável. Existem vitórias intermédias (os diferentes jogos do campeonato e as diversas etapas da volta) e todas elas exigem grande esforço e entrega. Contudo, só a final determina o vencedor da prova281. Neste sentido, sugerimos a seguinte tabela: 281 “Als die Tour de France 1903 aus der Taufe gehoben wurde, rechnete niemand damit, dass sie über einhundert Jahre alt werden könnte. Verleger Henri Desgrange initiierte das “verrückteste Radrennen der Welt“ als Werbeaktion, um den Verkauf seiner Sportzeitung “L’ Auto-Vélo“ zu steigern. Das Rennen mauserte sich schnell zum Publikumsliebling und gilt heute nach den Olympischen Spielen und der Fußball-Weltmeisterschaft als das drittgrößte Sportereignis der Welt. 1903 - Wie alles begann: Wie die Radrennen boomten um die Jahrhundertwende auch die Sportzeitungen, die damals schon mit Berichten über Siege, Rekorde, Dramen und Niederlagen ein gutes Geschäft machten. 1899 beschloss der Fahrradhersteller Adolphe Clément, eine konkurrierende Sporttageszeitung zu gründen. "L'Auto-Vélo" erschien das erste Mal zur internationalen Ausstellung von Paris. Für die Zeitung wurde Henri Desgrange engagiert, der 1893 den ersten Stunden-Weltrekord gefahren hatte, danach aber die Radrennen aufgab. Doch "L'Auto-Vélo" gelang es nicht, sich gegen die Konkurrenz durchzusetzen. Desgrange wusste, sein Blatt musste sich etwas Neues ausdenken, um die Leser zu faszinieren. Geo Lefèvre, Redakteur und Freund von Desgrange, soll dann 1902 die Idee gehabt haben, ein Etappenrennen durch Frankreich zu veranstalten. Die Tour de France wurde geboren. In den frühen Morgenstunden des 1. Juli 1903 starteten daraufhin im kleinen Pariser Vorort Villeneuve-SaintGeorges 60 wagemutige Rennfahrer zu diesem Abenteuer. Die ersten Veranstaltungen waren echte Rundstreckenrennen mit Paris als Start- und Zielort. 1903 qälten sich die Starter über Lyon, Marseille, Toulouse, Bordeaux und Nantes zurück nach Paris. Die sechs Etappen zu 467, 374, 434, 268, 425 und 460 km Länge führten zumeist über unbefestigte Wege und Kopfsteinpflaster. Trotz oder gerade wegen der Strapazen wurde die Tour schnell berühmt. Niemand hatte geglaubt, dass ein Radfahrer solche Anstrengungen ertragen könte. Der gewünschte Effekt des PR-Gags trat ein: "L'Auto-Vélo" mauserte sich zur auflagenstärksten Sportzeitung Frankreichs. Erster Gewinner der Tour wurde Maurice Garin. Er erreichte das Ziel in Paris als nur einer von 20 Fahrern mit dem größten Vorsprung aller Zeiten.“ (2000 - 2011, Wissen Media Verlag, Gütersloh/München, In: http://aq.wissen.de/wde/generator/wissen/services/kontakt/index,page=1304348.html [Consult.10.04.2011]) 319 Ocor. (348) ESB ERef ERel ESB Texto EA Tour de France ERef M1 ERel M2 Campeonato do mundo na Alemanha Campeonato do mundo na Alemanha como “Tour de France” Cenário do ciclismo Esquema dinâmico da trajectória (path-goal) Parabéns Domenech! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 53: tabela de Espaços Mentais 21 Para além do cenário de uma prova de ciclismo, incluímos o esquema dinâmico da trajectória no espaço de relevância devido ao facto do campeonato ser conceptualizado como um percurso real, i.e. os quilómetros de estrada que são percorridos na volta à França até à meta final. Advogamos que a mescla final representa um elogio ao seleccionador Domenech, pois apesar do grau de dificuldade e de exigência inerente ao campeonato mundial, levou a sua equipa até à grande final. Neste sentido, assistimos, de novo, a uma observação avaliativa que enaltece os princípios do empenho e da dedicação, da força e da resistência, do individualismo aliado ao colectivismo em prol de um objectivo partilhado como qualidades apreciadas no mundo do futebol. b) FUTEBOL É JOGO - categoria jogos de sorte "Das Schicksal mischt die Karten, und wir spielen." (Arthur Schopenhauer, Deutscher Philosoph, 1788 1860, Quelle: Aphorismen zur Lebensweisheit V, 48) Embora a busca pela vitória se mantenha como objectivo almejado, nesta categoria a obtenção do triunfo não se deve aos cenários mencionados na alínea anterior, mas alia o conhecimento estratégico a factores aleatórios de sorte ou azar. Se o futebol é um jogo de sorte, os intervenientes procuram tomar partido de todos os elementos ao seu alcance que possam atrair o sucesso, como, por exemplo, a postura veiculada por Virgílio, no verso 10, 284 da Eneida: Audaces fortuna juvat - A sorte protege os audazes. As realizações metafóricas das seguintes ocorrências seleccionadas revelam diversos mapeamentos: tácticas, como a defesa e o ataque, são cartas (ocorrência (373)), os jogadores 320 são igualmente diferentes cartas (ocorrências (375), (389), (391) e (394)), assim como os cartões dos árbitros (ocorrência (380)), a formação das equipas é um jogo de cartas (ocorrência (374)) e os golos são jogadas favoráveis (ocorrência (388)). Consequentemente, o treinador é conceptualizado como o jogador de cartas, i.e. aquele que decide como, quando e o que jogar: (373) Danach setzten die Holländer alles auf eine Karte, die Gastgeber blieben aber bis zum Schlusspfiff durch Konter gefährlich. (374) Aufstellung gegen Ecuador - Klinsmanns Pokerspiel: Bundestrainer Jürgen Klinsmann will sich vor dem letzten Gruppenspiel gegen Ecuador öffentlich nicht auf eine Aufstellung festlegen. Bekannt ist nur, dass er sich Gedanken über Veränderungen macht. (375) Deutschland-Polen - Klinsmanns Joker stechen282 in letzter Minute. (389) Löw verriet zwar nicht seine Startelf, plant aber wohl weiterhin mit den formstarken Cacau nur als Joker. (386) (...) sein Barca-Kollege war im Schatten von Ignashevich durchgestartet und vollstreckte mühelos aus kurzer Distanz direkt (50.) - das 1:0 für die Selección! Und das spielte ihr natürlich in die Karten. (392) Luis Suarez und Diego Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem Weg zum größten Erfolg seit 1950. (...). (394) Sneijder ist dabei das Trumpf-Ass (...) (380) Der Boss sprach eine öffentliche Verwarnung aus. Sepp Blatter zeigte dem russischen Skandal-Referee Valentin Ivanov nach dessem "Kartenspiel" von Nürnberg demonstrativ Gelb. Registe-se que os jogos de cartas são muito populares na Alemanha e existe um número considerável de expressões idiomáticas baseadas nos jogos de cartas, como “alles auf eine Karte setzen”: “alles auf eine Karte setzen; Viele Phraseme des Deutschen sind Kartenspielen entnommen.: bei einer einzigen Chance alles riskieren; alles tun und riskieren, um etwas Bestimmtes zu erreichen“ (Duden - Redewendungen, 2008, In: http://www.ettingerphraseologie.de [Consult. 10.04.2011]). A terminologia específica associada ao universo dos jogos de cartas é globalmente conhecida. “Joker” é a carta mais valiosa do baralho porque pode, de acordo com a vontade do jogador, ocupar o lugar de 282 “ste|chen <st. V.; hat> [mhd. stechen, ahd. stehhan]: (...) 13. (Kartenspiel) a) (von einer Farbe) die anderen Farben an Wert übertreffen: Herz sticht; b) (eine Karte) mithilfe einer höherwertigen Karte an sich bringen: einen König mit dem Buben s.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 321 qualquer outra carta do jogo. “Trumpf” (o trunfo) é uma carta igualmente poderosa porque: “die durch die Spielregel bestimmte Karte, mit der im Spiel andere Karten gestochen werden können. Z. B. ist beim Skatspiel der Treff- bzw. Kreuz-Bube der höchste Trumpf.“ (Wissen Media Verlag, In: http://www.wissen.de [Consult. 10.04.2011]). Sugerimos as seguintes projecções: Ocor. (373) (374) (375) (389) (386) (391) (394) (380) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto alles auf eine Karte setzen (apostar tudo numa só carta) Táctica de jogo da selecção holandesa Apostar tudo numa só carta como táctica de jogo Cenário do jogo de cartas; Esquema dinâmico: sorte vs azar A selecção holandesa perdeu injustamente! Formação da Formação da selecção alemã Cenário do jogo de selecção alemã no jogo contra o no jogo contra o cartas; Esquema Equador como Equador dinâmico: sorte/azar jogo de póquer (Futuro) (Futuro) Texto Pokerspiel (jogo de póquer) Texto Joker stechen (jogar o ‘Joker’) Jogadores da selecção alemã marcam golo Jogadores marcam golo como jogar o ‘Joker’ Cenário do jogo de cartas; Esquema dinâmico: sorte/azar esquema hierárquico Parabéns, Alemanha! Texto Joker Jogador alemão Cacau (Futuro) Cacau como ‘Joker’ (Futuro) Cenário do jogo de cartas; Esquema dinâmico: sorte/azar esquema hierárquico Cacau é um bom jogador Texto in die Karten Spielen (uma jogada favorável) Texto Trümpfe (trunfos) Texto Trumpf-Ass (ás de trunfo) Texto Kartenspiel (jogo de cartas) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Coragem, Klinsmann! Golo da selecção Cenário do jogo de espanhola no Golo como cartas; Esquema jogo contra a jogada favorável dinâmico: sorte/azar Holanda Golo oportuno! Os jogadores Forlán e Suarez uruguaios Forlán como trunfos e Suarez (Futuro) (Futuro) Cenário do jogo de cartas; Esquema dinâmico: sorte/azar esquema hierárquico Forlán e Suarez em alta! Cenário do jogo de cartas; Esquema dinâmico: sorte/azar esquema hierárquico Sneijder em alta! Cenário do jogo de Desempenho do Desempenho do cartas/ Esquema ético árbitro russo árbitro como (contraste seriedade Valentin jogo de cartas leviandade) Árbitro, má prestação! O jogador holandês Sneijder (Futuro) Sneijder como ás de trunfo (Futuro) EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 54: Tabela de Espaços Mentais 22 322 O facto de o jogador ser conceptualizado como um “Joker”283 ou um trunfo, enaltece e elogia as suas capacidades, destacando-o como um elemento decisivo para a obtenção da vitória. Habitualmente, os ‘Jokers’ são os jogadores decisivos, os avançados cuja função é a marcação de golos. Assim sendo, também o ás de trunfo é, indubitavelmente, o melhor jogador e goleador entre os restantes. O factor da sorte permanece implícito, pois como em qualquer jogo, o desfecho é incerto, sendo que um bom plano de jogo aumenta as hipóteses de vitória. O princípio do segredo é igualmente relevante, porque quanto menos o jogador souber acerca do jogo adversário, mais reduzida é a possibilidade de vencer. Por fim, a estratégia do ‘bluff’284, i.e. tentar enganar ou confundir deliberadamente o adversário acerca do jogo que se tem na mão é outra atitude típica de alguns jogos de cartas, com especial destaque para o póquer.285 Na ocorrência (380), a mescla virtual - cartões do árbitro como cartas de jogo - cumpre o objectivo de criticar a atitude pouco reflectida do mesmo. Afinal, um jogo de futebol num campeonato europeu afigura-se como mais sério e significativo do que um jogo de cartas inconsequente. Assim sendo, reconhecemos no espaço de relevância, para além do cenário do jogo de cartas, um esquema ético que realça o que pensamos serem atitudes correctas e incorrectas no plano profissional. A realização metafórica da ocorrência (381) inspira-se no domínio dos jogos de dados, sendo o dado, símbolo representativo do acaso, ou seja, da sorte e do azar: “Nachdem wir schon von den Schachspielen, die mit Verstand gespielt werden, so vollständig wie möglich gesprochen haben, wollen wir jetzt an dieser Stelle von der Würfelspielen erzählen, und zwar aus zwei Gründen. Zum einen, weil der Disput der Weisen (...) um die Überlegenheit des Verstandes oder des Zufalls ging. Und dies demonstrierte 283 “Joker, der; engl. Joker >Witzbold, Spassvogel< (zu engl. joke >Witz, Scherz, Streich<); werder Scherzkeks noch flexibel einsetzbaer Spielkarte mit Narrenbid, sondern (in metaphorischer Verwendung): spät eingewechselter, hoch motivierter, → torgefürchteter → Angriffsspieler, der durch seine körperliche Fitness als Trumpf für Verwirrung in der abgekämpften gegnerischen → Abwehr sorgen u. einen wichtigen o. den entscheidenden → Treffer → erzielt bzw. erzielen soll.“ (Burkhardt, 2006a:155) 284 “Bluff, der; -s, -s [engl. bluff]: bewusste [dreiste] Irreführung; Täuschung[smanöver]: das ist ein B.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 285 “Neben den Stichspielen, vor allem Bridge, haben die Bluffspiele mit Poker den weltweit wohl bekanntesten Vertreter der Kartenspieler in ihren Reihen. Amerikas Nationalspiel verlangt wahrscheinlich ebenso viel Geschick wie Bridge, wenn auch auf einer ganz anderen Ebene. Nicht das Einschätzen der Karten ist der entscheidende Faktor, sondern das überzeugte „Pokerface“ dem Gegner gegenüber. Wer mehr glaubhaft machen kann, als er tatsächlich in Händen hält, wird auf Dauer gewinnen. Der Bluff ist die entscheidende Kunst im Pokern. Daneben ist aber auch das richtige Umgehen mit dem vorhandenen Spielkapital nicht zu unterschätzen. Oft und oft gewinnt derjenige, der zum richtigen Zeitpunkt seine Einsätze tätigt. (...) Ganz im Unterschied zu den Bankspielen ist hier nicht nur die „Glücksfee“ für den Ausgang des Spiels verantwortlich, sondern in nicht unbeträchtlichem Masse auch der Spieler selbst.“ (Kastner/Folkvord, 2003:303) “ZIEL: Durch geschicktes Wetten auf bestimmte Kartenverteilungen versucht jeder Spieler, sein (möglichst hohes) Blatt durchzubringen und damit im Showdown (Aufdecken) besser zu sein als alle Gegner, oder er versucht alle Gegner zum frühzeitigen Aussteigen zu bringen.“ (op.cit. p.306) 323 jeder dem König anhand eines Beispiels: Der erste brachte die Schachspiele als Beispiel für den Verstand und der zweite die Würfel für den Zufall.“ (Schädler, 2009:191). É igualmente interessante verificar a origem etimológica da palavra ‘azar’: esta provém do árabe az-zaHar e significa felicidade ou dado286. O mesmo se verifica nas línguas espanhola e francesa: “Zahr, zunächst „Blume, Blüte” erhielt im westlichen Arabisch die Bedeutung „Würfel zum Spielen”. Mit dem Artikel az-zahr wurde zahr im Spanischen als „ungünstiger Wurf beim Würfelspiel“ verstanden. Daraus entwichelte sich auch das französische Wort hazard.“ (Nix, 2009:16) (381) Marcello Lippis ratloses Auswürfeln der Sturmformation (…) Und so würfelt Lippi ratlos die Sturmformationen durcheinander während das Achter Gerüst dahinter felsenfest für hart erarbeitete Erfolge sorgt. Fica claro que o seleccionador italiano Lippi, no decorrer do campeonato mundial de 2006, não tem a certeza qual a estratégia atacante mais adequada, nem quais os jogadores que deverá incluir no seu onze inicial, pelo que a equipa parece construída ao acaso. Para além deste factor do acaso, inerente ao cenário dos jogos de dados, propomos a inclusão do esquema ético no espaço de relevância, uma vez que um seleccionador de renome deve saber o que faz assim como deve planear e organizar a sua equipa. Isso seria uma postura ética e profissionalmente correcta. Contudo, verifica-se o contrário. Na mescla final emerge, consequentemente, uma crítica: Lippi não é um bom treinador! Ocor. (381) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Auswürfeln/ durcheinander würfeln (lançar os dados) Opções estratégicas do seleccionador italiano Lippi Opções estratégicas como lançar os dados Cenário do jogo de dados/ Esquema ético Lippi não é um bom seleccionador! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 55: Tabela de Espaços Mentais 23 A última ocorrência (384) foi retirada de um artigo desportivo acerca da vitória por grandes penalidades da selecção turca no jogo contra a Croácia (1:3). 286 In: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/azar. Existe, inclusivamente, um jogo de dados que se chama AZAR. Vide Schädler (2009:195ff.) 324 (384) Bei der Lotterie zeigte Kroatien dann Nerven und wurde bitter bestraft. A imprevisibilidade do resultado final na marcação de grandes penalidades como factor decisivo do jogo, aliada à ideia de que a grande penalidade depende principalmente da sorte, mais do que do saber, conduz à conceptualização: grandes penalidades são uma lotaria e vencer essa lotaria representa grande felicidade. Contudo, o artigo revela uma circunstância que pode influenciar a sorte, nomeadamente, o controlo emocional dos jogadores. O descontrolo nervoso conduz ao insucesso, e a consequente derrota é encarada como castigo para a equipa. Neste sentido, a sorte é de quem a merece: Ocor. (384) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Lotterie (lotaria) Grandes penalidades no jogo entre as selecções da Croácia e da Turquia Grandes penalidades como lotaria Cenário do jogo de sorte, lotaria/ Esquema do mérito Croácia, má prestação! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 56: Tabela de Espaços Mentais 24 Sugerimos, então, a inclusão do esquema do mérito no espaço de relevância aliado ao fenómeno da sorte, inerente ao universo dos jogos. Ideias como: a sorte é de quem a merece ou a procura, integram-se no princípio do mérito, desvalorizando o factor aleatório do acaso e responsabilizando os agentes/intervenientes na busca activa do sucesso desportivo. 3.2.5. Imagens mescladas: Futebol - Religião e Mitologia When you walk through a storm hold your head up high and don't be afraid of the dark. At the end of the storm is a golden sky and the sweet silver song of a lark. Walk on through the wind, walk on through the rain, tho' your dreams be tossed and blown. Walk on, walk on, with hope in your heart, and you'll never walk alone! You'll never walk alone! (Hino dos adeptos do FC Liverpool, do Celtic Glasgow e do FC St. Pauli) 325 Na mente do adepto de futebol moderno, a vitória da equipa do coração é um acto de fé. Assim se explica o carácter sagrado do futebol. Neste sentido, arquitectam-se realizações metafóricas que conceptualizam o futebol como religião ou crença mitológica. Existem inúmeros estudos em torno de uma questão central: será que futebol moderno representa, actualmente, uma espécie de ‘religião’ alternativa. Estes estudos comparam ambos os domínios do ponto de vista social, ético, moral e metafísico e exploram os paralelismos formais evidentes287. A presente análise semiótica pretende comprovar que, mais do que a exploração de estruturas análogas entre estes domínios, as conceptualizações metafóricas contribuem para a construção de um herói futebolístico, cristalizado a partir do cenário religioso ou mitológico. Contudo, consideramos pertinente referir, sucintamente, quais os principais paralelismos entre o futebol e a religião, subjacentes às diferentes redes conceptuais. 1. A estruturação espacial dos eventos - jogos no estádio de futebol e celebrações religiosas num espaço sagrado (igreja, catedral, santuário, etc.): Tal como os fiéis se deslocam semanalmente aos seus locais de culto para celebrar colectivamente a sua fé, os adeptos de futebol caminham para os estádios para assistirem, em conjunto, aos jogos de futebol. Todos os espaços estão bem delineados, cada um com a sua função específica e com acesso reservado. A congregação e o público mantêm-se nos bancos ou bancadas virados para o centro da acção; a zona do altar e o relvado possuem acesso restrito aos intervenientes, i.e. sacerdotes e sacristães por um, jogadores e árbitros por outro. Só quando expressamente convidados, podem elementos da congregação ou do público aceder e esse espaço ‘sagrado’. Os ‘agentes’ dos respectivos eventos estão claramente identificados através do seu vestuário; cada função possui uma ‘farda’ correspondente e distintiva. Por fim, os eventos decorrem de acordo com um conjunto de regras e fases predefinidas, que são do conhecimento de todos.288 287 “Die Fans können stürmischer, ritueller, rhytmischer und kultisch reichhaltiger gar nicht sein, wenn ihre Mannschaft im Stadion den Rasen betritt. Ihre Fussballgötter werden mit Trommelwirbel, chorische Gesänge und Jubelrufen empfangen und mit rituellen Körperbewegungen, Laolas und Tänzen durch das ganze Spiel begleitet. Die Fans geraten dabei regelrecht in Ekstase. Wünscht sich eine ähnliche Begeisterung nicht so mancher Pfarrer von seiner Gemeinde? Ersetzt der Stadionbesuch mittlerweile den Gottesdienst in der Kirche? „Wieso verehrt und küsst man Fussballstar-Reliquien, während man kirchliche Reliquien als Klamauk und Aberglaube abtut?“ [Desmond, Morris: Das Spiel. Faszination und Ritual des Fussballs, München, 1981] „Fussball inszeniert sich als Religion“ meint Johanna Haber, Professorin für evangelische Theologie. Gilt Luthers Aussage „Woran du dein Herz hängst, das ist eigentlich dein Gott“ auch für den Fussball? Ist der Fussball nicht längst zu einer Art Ersatzreligion geworden?“ (Sutter, 2007:12-13) 288 “Der heilige Raum - In Kirchen sind wir es gewohnt, daß sich die Liturgie, die heilige Handlung, in einem bestimmten, abgegrenzten Raum vollzieht. Das ist der Chorraum. Wie beim Gottesdienst kann man die Akteure an ihrer Kleidung erkennen, die sie außerhalb der Kirche nicht tragen. Der Priester, der Diakon, die Messdiener haben eine bestimmte Robe an, die sonst niemand im Kirchenraum trägt. Manchmal kommen allerdings einige aus dem 326 2. O comportamento dos fiéis e dos adeptos e seus rituais: Para além das deslocações semanais aos diversos locais de culto, podemos encontrar analogias entre as romarias ou peregrinações religiosas e as viagens organizadas dos adeptos para assistirem a grandes competições desportivas (tais como finais de taças e campeonatos, a liga dos campeões, campeonatos europeus e mundiais, etc.). Estes acontecimentos reflectem, habitualmente, um enorme espírito de união e de partilha, visível através da alegria e dos cânticos característicos nestas ocasiões: “Wie die Gläubigen, ob Moslems, Christen oder Hindus, kennen die Anhänger des Fußballs ein ausgeprägtes Wallfahrtswesen. Steht an den Wallfahrtsorten ein Tempel oder eine Kirche, ist das Ziel der Fußballwallfahrt ein Stadion. Dort gibt es wie in einem abgegrenzten Tempelbezirk den heiligen Rasen. Daß die Stadien Wallfahrtsorte sind, kann jeder sofort daran erkennen, daß es die für Wallfahrtsorte typischen Andenkenshops gibt. Dort kann der Wallfahrer alles kaufen, was er an Wallfahrtskleidung braucht, er kann sich mit den heiligen Zeichen ausstatten. Statt einer Marienfigur ist es der Ball. Auch sonst kann man das Gleiche wie an Wallfahrtsorten beobachten. Die Fußballwallfahrer ziehen in einer Prozession zum Ort des Geschehens. Dabei singen sie ihre Wallfahrtslieder. Der religiösen Feier vergleichbar findet dann in einem festen Zeitrahmen und nach festgelegten Riten das Spiel statt. Hat die eigene Mannschaft gewonnen, ziehen ihre Anhänger mit dem Gefühl davon, mit Gnade reich beschenkt worden zu sein.“ (Bieger, in: http://www.kath.de/religionundfussball/fuss ballwallfahrt.htm [Consult. 12.04.2011]) Grande parte dos cânticos dentro dos estádios de futebol cumpre uma função idêntica aos cânticos religiosos nas diferentes igrejas: são sinais de veneração e reforçam o sentimento colectivo de união em torno de um desígnio comum: “Betrachten wir das Verhalten eines Anhängers im Stadion, so werden Handlungsmuster offenbart, die sich aus bestimmten Praktiken und Riten zusammensetzen, die von ihrer strukturellen Form dem sakralen Bereich zuzurechnen sind. Dazu zählt zum Beispiel das Singen von Fan-Liedern im Stadion. Die mit Inbrunst vorgetragenen Fanchöre dienen der Erhöhung und Stärkung des Gemeinschaftsgefühls und sind damit in ihrer Form dem Chorgesang in der Kirche als gleichwertig anzusehen.“ (Laxa, 2005:51) Zuschauerraum in den Bereich des Altares. Sie sind in ihrem gewöhnlichen Dress gekleidet und lesen aus einem Buch vor oder teilen die Kommunion aus. Da ist der Fußball strenger. Zuschauer dürfen normalerweise nicht in den heiligen Raum. (...) In dem heiligen Raum vollzieht sich dann die heilige Handlung, der Fußballritus, in dem es wie in einem Tempel oder einer Kirche eine geheimnisvolle Macht gibt, die letztlich das Geschehen lenkt. Für jeden erkennbar wirkt diese Macht durch die heiligen Regeln.“ (Bieger, In: http://www.kath.de/religionundfussball/ woechentlicher-Stadiongang.htm [Consult. 12.04.2011]) “Eine erste Ähnlichkeit besteht in der räumlichen Strukturierung des Geschehens. So weist Kopiez (2002: 294ff) auf die Parallelen zwischen Stadion und Kirche hin; beide seien geweihte Orte für geweihte Handlungen, nur zu bestimmten Zeiten zugänglich und mit einem besonderen Verhaltenskodex verbunden.” (Schäfer/Schäfer, 2009:1) 327 O vestuário é outro factor que realça a ritualidade do futebol. Os adeptos mais fervorosos vestem-se e pintam-se a rigor para a ocasião. Desde o equipamento das suas equipas a camisolas alusivas aos clubes, cachecóis, chapéus e enfeites variados, tudo serve para sinalizar a pertença a um determinado grupo, i.e. clube ou selecção: “Eine weitere Form religiösen Handelns stellt das Tragen von Fanartikeln wie Schal oder Trikot dar. Die Uniformierung kennzeichnet die optische Einheit und die gemeinsame Glaubensrichtung der Fans. Zugleich ist es - in Verbindung mit den Fangesängen - eine symbolische Integration des Einzelnen in eine homogene Fanmasse für die Zeit sed Spiels.“ (Laxa, 2005:51-52). As diferentes coreografias, como marcas de comportamento ritualizado, cumprem objectivos semelhantes: “Eine weitere Parallele sind Rituale, denn auch „[i]n seinen stark ritualisierten Veranstaltungen bekommt der Sport quasi-religiöse Elemente“ (Weis 1995: 129). Kollektive Bewegungen wie rituelle Tänze oder Massen-Choreographien wie die La Ola-Welle spielen eine große Rolle, ebenso Kostümierungen und Gesänge, die Elemente kirchlicher Musik enthalten.“ (Schäfer/Schäfer, 2009:2) Por fim, a presença das bandeiras e estandartes que denotam, igualmente, inspiração religiosa: “Schließlich die Fahnen. Früher gehörte in der katholischen Kirche zu einem feierlichen Gottesdienst der Einzug der Banner, die die verschiedenen Verbände repräsentierten. Müssen beim Fußball die Fahnen außerhalb des heiligen Bezirks, des Rasens bleiben, zogen bei katholischen Hochämtern die Bannerträger in den Chorraum und stellten sich seitlich auf, so daß die Banner während des Gottesdienstes von allen zu sehen waren. Fahnen müssen geschwenkt werden. Das passiert während des Fußballspiels. (…) Neben Liedern und Fahnen gibt es dann noch die spezielle Kleidung. Die Fans erscheinen in den Farben ihres Vereins bzw. ihres Landes. Aus den afrikanischen Religionen hat der Fußball die Bemalung der Gesichter übernommen. Wie bei den Hemden und Schärpen werden auch bei der Körperbemalung die Farben der Nation übernommen.“ (Bieger, In: http://www.kath.de/ religionundfussball/fussballgemeinde.htm [Consult. 12.04.2011]) 3. O poder dos símbolos colectivos: Tanto na religião como no futebol, a simbologia reveste-se de enorme importância. Todas as religiões possuem uma ou mais entidades divinas; estas, apesar de omnipresentes, 328 são invisíveis e só se tornam acessíveis mediante representações simbólicas. Profetas, apóstolos ou santos configuram uma forma adicional de presença divina, cujos feitos e símbolos icónicos são igualmente venerados289: “Eine weitere Parallele liegt in der großen Bedeutung kollektiver Symbole. Die von FußballFans verwendete Symbolik lässt sich mit den Begrifflichkeiten der Durkheimschen Religionssoziologie unschwer in heilig und profan einteilen. Club-Emblem und Mannschaftsfarben haben für Fans eine ähnliche Symbolkraft wie das Kreuz oder die eucharistischen Fische für Christen. (...) Denn auch die „Zimmer der Fans werden zu Kulträumen, in denen Nähe symbolisch hergestellt und auf Dauer angelegt wird. [...] Heimaltäre, die einzelnen Spielern geweiht sind, und Reliquienschreine erinnern an Marienkulte“ (Becker 1988:74).” (Schäfer/Schäfer, 2009:1) Todos estes paralelismos realçam o facto da experiência do futebol constituir, essencialmente, uma experiência emocional: o sentimento de união e comunhão, a dor e o sofrimento por um lado e a felicidade e salvação através da fé por outro são emoções análogas às paixões vividas pelos adeptos de futebol. Tanto o ritual religioso como os rituais em torno do jogo de futebol têm efeitos purificadores e libertadores: “Ins Stadion gehen, das heißt Emotion und nicht selten Schmerz. Der treue Fan erlebt die Höhen und Tiefen seiner Mannschaft, wie auch ein Gläubiger die Höhen und Tiefen seiner Kirche mit erleidet. (...) Wie der sonntägliche Kirchgang hat der Besuch des Stadions eine emotional reinigende Wirkung. In der Kirche wird über Sünde und Vergebung, über Tod und Auferstehung gehandelt, im Stadion geht es um Jubel und Enttäuschung, um Hoffnung und das Gericht, das in jeder Niederlage verhängt wird.“ (Bieger, In: http://www.kath.de/religion undfussball/woechentlicher-Stadiongang.htm [Consult. 12.04.2011]) 289 “Desporto: O futebol tem analogias com as religiões - professor da Universidades Católica - Lisboa, 22 Jan (Lusa) O futebol tem analogias com as religiões nos rituais, nas imagens e nos símbolos, defendeu hoje Eduardo Cintra Torres, professor da Universidade Católica. Falando na conferência sobre Media e Desportos, organizada pela Universidade Católica, Cintra Torres destacou que os adeptos dos clubes são uma comunidade com rituais, comportamentos e até discursos semelhantes e o futebol funciona como um unificador colectivo e um cimento social, com um sentimento de pertença. Aquele professor da Universidade Católica salientou que alguns símbolos clubistas têm semelhanças com os totens das religiões primitivas e mostrou fotografias de adeptos pintados e com símbolos dos clubes, adeptos a rezarem ou aparentando um estado de transe. Acrescentou o facto de se designar como "catedral" estádios de futebol. Cintra Torres citou uma sondagem de 2002 em que quase dois terços dos inquiridos afirmam que preferem assistir às transmissões televisivas de futebol acompanhados, o que revela claramente a natureza social de assistir a um jogo e a extensão da função social do futebol. Aquele professor universitário destacou que o futebol se tornou "um dogma na vida diária, nos media e também na forma como outros subsistemas, como o político, agem em relação a ele", vendo o futebol pela sua própria verdade, sem uma visão distanciada, o que "é especialmente visível na cobertura do futebol pelos media”." (Lusa, Agência de Notícias de Portugal, S.A., in: http://www.fch.lisboa.ucp.pt/resources/Documentos/imprensa/Lusa-22-01-2009.pdf [Consult: 20.04.2011]) 329 As analogias entre o futebol e a religião não são, consequentemente, estritamente formais. Contudo, o propósito final de ambos é diferente, na medida em que o futebol não se ocupa com questões existenciais acerca do desígnio e da essência da vida: “Im Zeichensystem des Fussballs hat alles eine Bedeutung. So wird der Ball zum Symbol für die Welt, die Spieler zu Heiligen, der Schiedsrichter zum Priester, die Fans zu Gläubigen. Das Stadion selbst kommt mit seinen Ritualen einem Heiligtum gleich, das die Massen anzieht. Zwar besitzen einige Rituale von Fussball und Religion eine gewisse Ähnlichkeit, jedoch will die Religion den ‘Fans‘ etwas völlig anderes vermitteln als der Fussball! Religion befasst sich mit Fragen nach dem Sinn des Lebens und der Welt als Ganzem und möchte die ‘Fans‘ dazu anleiten, sich mit dieser Frage auseinanderzusetzen. Der Fussball beschäftigt sich nicht mit dieser Frage, sondern erfüllt lediglich das hier und das jetzt mit punktuellen Hochgefühlen.“ (Sutter, 2006:15) As realizações metafóricas das ocorrências a analisar podem ser subdivididas nas seguintes categorias: a) actos e feitos divinos ou sobrenaturais (milagres, maldições, salvações, etc.); b) entidades divinas, sobrenaturais ou mortais (deuses, semi-deuses, santos, diabos, seres mitológicos, pecadores, amaldiçoados, etc.); c) locais e representações simbólicas; d) narrativas bíblicas ou mitológicas. Registe-se, contudo, que em algumas ocorrências, é possível reconhecer a presença de duas das categorias acima descritas simultaneamente, como, por exemplo, entidade divina e local sagrado. Este é um fenómeno recorrente e natural, pois as categorias não se assumem como estanques e intransponíveis. Muito pelo contrário, optamos por agrupar as realizações metafóricas por categorias apenas por razões metodológicas para melhor evidenciar as analogias e explorar as diferentes análises semióticas. As seguintes tabelas estão organizadas por ordem decrescente de frequências, sendo que a categoria a) apresenta 22 ocorrências, a categoria b) 17 ocorrências, a categoria c) 11 ocorrências e a d) 6 ocorrências, o que perfaz um total de 56 ocorrências identificadas. 330 a) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria actos e feitos divinos e sobrenaturais (22 ocorrências) EURO 2004 (4) MUNDIAL 2006 (5) (400) Griechen erklimmen den Olymp! (404) Jubelndes Frankreich (www.kicker.de – 02.07.2004) Die Auferstehung des Wir-Gefühls (www.spiegel.de – 02.07.2006) (401) Damit war das Schicksal von Portugals "Goldener Generation" (405) Deco erlöst Portugal besiegelt (...) (ww.spiegel.de – 17.06.2006) (www.kicker.de – 02.07.2004) (406) Ronaldinho enttäuschte, Ronaldo (402) Es hatte sich angekündigt. Nun spielte unterirdisch. Die Seleção quälte sich wurde das Wunder Wirklichkeit. bei der Begegnung gegen Kroatien zum Griechenland, bei der EM 2004 der Sieg. absolute Außenseiter, hat das Turnier (www.spiegel.de – 14.06.2006) gewonnen. (407) Was für ein Spiel! Die deutsche Elf (www.kicker.de – 05.07.2004) kämpfte bis zum Schluss – erst in der (403) Ottos Wunder von Lissabon Nachspielzeit gelang Oliver Neuville das Die Siegermedaille um den Hals, erlösende Siegtor gegen Polen. schloss Rehhagel seine Manöverkritik (www.spiegel.de – 14.06.2006) mit dem Satz: "Sie haben ein Wunder (408) Gruppe A: Deutschland - Polen 1:0 vollbracht." (0:0) Neuville mit dem erlösenden Treffer (www.spiegel.de – 05.07.2004) (www.kicker.de – 14.06.2006) EURO 2008 (5) MUNDIAL 2010 (8) (409) Deutschland 3:2 gegen Portugal – (414) Mesut Özil schoss in der 60. Minute das grandiose Wiederauferstehung erlösende Tor, das das Gespenst vom ersten (www.focus.de – 01.07.2008) deutschen Vorrunden-Aus in der WMGeschichte endgültig verjagen. (410) Portugal-Bezwinger SCHWEIN- (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) STEIGER Wiedergeburt eines (415) Das Team der Gastgeber begeisterte Superstars seine erwartungsvollen Fans und kämpfte mit (www.spiegel.de – 20.06.2008) Herz und Leidenschaft um das erhoffte (411) Es sollte ein Wunder von Wien Wunder. (www.sportbild.bild.de -22.06.2010) werden, doch es kam anders. Nach (416) Aber für die Engländer wird dieser einem überlegenem Spiel der Triumph zum Fluch. spanischen Mannschaft, nehmen die (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) Spanier den silbernen EM-Pokal mit (417) Nach 1982 verfolgte Italien wahrlich ein nach Hause. WM-Fluch: Von 1990 bis 2002 scheiterte man (www.spiegel.de -29.06.2008) dreimal in Folge im Elfmeterschiessen. (Kicker (412) Gestern versuchte er alles, um Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.171) endlich den Vize-Fluch zu besiegen und (418) Philipp Lahm, Kapitän einer wie seinen ersten internationalen Titel zu entfesselt aufspielenden Elf, erklärt das neue gewinnen. deutsche Fussball-Wunder. (Kicker Sport(www.bild.de – 30.06.2008) magazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.5) (413) Nihat vollbringt das Wunder (www.kicker.de – 15.06.2008) (419) USA: Der Fluch der frühen Gegentore holte die US-Boys erneut ein. (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 26. Woche 28.06.2010, p.32) (420) „Der Fluch des Pokals – und die Klasse der Spanier. Die WM zieht uns in ihren Bann.“ Jean-Jullen Beer, Kicker-Chefredaktion (Kicker Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.3) 331 (421) Das darf doch nicht wahr sein! Noch mehr verletzte Topstars! (...) Verflucht! (Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche 07.06.2010, p.28) b) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria entidades divinas, sobrenaturais e mortais (17 ocorrências) EURO 2004 (4) MUNDIAL 2006 (7) EURO 2008 (2) (422) "Wir haben einen neuen Koloss von Rhodos gefunden" jubelte der Coach nach dem Spiel. Gemeint war die überragende Leistung des Abwehrchefs Traianos Dellas. (www.spiegel.de 13.06.2004) (426) Engel in der Hölle. Zinedine Zidane hätte seine einzigartige Karriere mit dem zweiten WM-Titel krönen können. Stattdessen zeigte er im letzten Spiel seiner Laufbahn seine dunkle Seite. (www.spiegel.de – 10.06.2006) (433) Dr. Theo Zwanziger: (...) Sicher, Jungs wie Poldi und Schweini z.B. sind keine Heiligen. Und das sollen sie auch gar nicht sein. (www.bild.de – 30.06.2008) MUNDIAL 2010 (4) (435) Abendzeitung: „Deutschland zittert um den Einzug ins Achtelfinale. (...) waren Miroslav Klose und Lukas Podolski noch die gefeierten Helden – beim 0:1 (0:1) gegen Serbien übernahmen sie jetzt ungewollt die Rolle der Sündenböcke.“ (434) Es ist DAS Duell der Giganten im (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (427) "Der Fall der Götter" - Die brasilianische Presse ist fassungslos. Für EM-Viertelfinale: Deutschland heute (436) Express: „Die WM-Party ist zu Ende. den Weltmeister ist das Turnier bereits gegen Portugal (...) Michael Ballack (31) Der Rausch ist vorbei! Spanien hat unsere gegen Cristiano Ronaldo (23). nach dem Viertelfinale beendet. Wunderkinder entzaubert! Kein Finale. Nur (www.bild.de – 19.06.2008) (www.spiegel.de – 02.07.2006) der Trostpreis.” (www.sportbild.bild.de – 08.07.2010) (428) WM 2006 - Die Erlöser der Welt (www.spiegel.de – 26.06.2006) (437) Das Opus in Oranje: Den Titel im Visier (423) In seinem Kinderzimmer hingen damals Poster von Rico Steinmann, dem Mittelfeldgott mit dem feinen Fuß, Gott allerdings war Steinmann nur in Chemnitz, denn schon in Köln scheiterte er. (...) Grün-weiß war Ballacks Bett zur Wendezeit (...). (www.spiegel.de – 17.06.2004) (429) 2002 wurde er als Titan unsterblich, 2006 als Mensch - Der Kahn-Rücktritt. Am (424) Gottgleiche Sieger, tröstende 10. Mai 2006 verkündet Klinsi: „Lehmann Worte für die Unterlegenen: Während ist die Nr. 1.“ Und Kahn wird zum Titanen Griechenland seine Europameister auf der Herzen. (www.bild.de – 09.07.2006) dem Olymp sieht, empfehlen die portugiesischen Medien der (430) Der Fußball-Gott war für 90 Minuten Mannschaft des Gastgebers, auf der Erde – im weißen Frankreich-Trikot erhobenen Hauptes die Bühne zu mit der Nummer 10... Zinedine Zidane (34). (www.bild.de – 05.07.2006) verlassen. (www.spiegel.de – 05.07.2004) (431) Aus einer sehr unterhaltsamen Partie (...) Holland wie gehabt: kein Adonis-Fussball (...)“ wie Legende Ruud Gullit kritisch anmerkte (...). (Kicker Sportmagazin Nr. 55 – 27. Woche 08.07.2010, p.18) (438) Argentinien: Tor zum 2:0 gegen Griechenland und neue Rekorde für den Rekordmann. „Verrückter“ und „Heiliger“ zugleich: Palermos unendliche Geschichte (Kicker Sportmagazin Nr. 51 – 25. Woche 332 (425) Der Zweck heiligt die Mittel, und Rehhagel wird nun in Griechenland endgültig zum Heiligen gesprochen. (www.spiegel.de – 05.07.2004) 24.06.2010, p.20) ragten Doppeltorschütze Dindane, DoppelElfmeter-Verursacher Dudic, die Gelb-RotSünder Nadj und Domoraud sowie Schiedsrichter Marco Rodriguez aus Mexiko sogar noch heraus. (www.kicker.de – 21.06.2006) (432) Vieira - Jubilar und Erlöser. Nach einer deutlichen Steigerung gegenüber den ersten beiden Vorrundenspielen gegen die Schweiz (0:0) und Südkorea (1:1) qualifizierte sich Ex-Weltmeister Frankreich (...). (www.kicker.de – 23.06.2006) c) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria locais e representações simbólicas (11 ocorrências) EURO 2004 (1) MUNDIAL 2006 (4) EURO 2008 (1) MUNDIAL 2010 (5) (439) Während Griechenland seine Europameister auf dem Olymp sieht, empfehlen die portugiesischen Medien der Mannschaft des Gastgebers, erhobenen Hauptes die Bühne zu verlassen. (www.spiegel.de – 05.07.2004) (440) Engel in der Hölle. Zinedine Zidane hätte seine einzigartige Karriere mit dem zweiten WM-Titel krönen können. Stattdessen zeigte er im letzten Spiel seiner Laufbahn seine dunkle Seite. (www.spiegel.de – 10.06.2006) (444) Frings: (gesperrter Spieler) „Ein Leben lang arbeitet man auf so ein Spiel hin. Dann das. Das ist die Hölle!“ (www.bild.de – 28.06.2008) (445) Luis Suarez: „Am Ende ist die Hand Gottes jetzt meine.“ (Uruguays Nationalspieler Suarez nach seinem Handspiel, mit dem er eine Niederlage gegen Ghana verhinderte, in Anspielung auf das Handtor von Argentiniens Diego Maradona bei der WM 1986 in Mexiko) (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (441) Das Land, das so stolz ist auf seine Fußball-Tradition, wurde degradiert zum Status eines WM-Exoten. Serbien steht unter Schock und mit Schlagzeilen wie "Absturz in die Hölle" und "Erniedrigung" heizen selbst seriöse Zeitungen die Stimmung auf dem Balkan an. (www.kicker.de - 19.06.2006) (442) Darauf wartet die Fussball-Nation. Dass van Basten den Schlüssel findet, um das Tor zu dem verlorenen Fussball-Paradies wieder (446) Fehler wie die von Cha (...) "In so einem Moment gehst du in die Hölle", gestand Cha, "aber dann kommst du auch wieder raus." (www.kicker.de - 24.06.2010) (447) Elfmeterdrama im Viertelfinale - Ghana in der Hölle, Uruguai im Paradies. (www.spiegel.de - 03.07.2010) (448) Die „Hand des Teufels“ ist wieder da, 333 zu öffnen. In diesem Jahr blieb die Pforte in den Garten Edens verschlossen (...) (www.spiegel.de - 29.06.2006) der Traumsturm komplett: Luis Suarez und Diego Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem Weg zum größten Erfolg seit 1950. (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010) (443) Jens, du hast die wahren Hände Gottes! (www.bild.de – 05.07.2006) (449) Suarez war die Hand Gottes - oder in Ghana eben die Hand des Teufels. (...) Bereut hat er seine Rettungsaktion dennoch nicht. (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010) d) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - narrativas bíblicas ou mitológicas (6 ocorrências) EURO 2004 (0) MUNDIAL 2006 (3) (450) Bis zur Pause kontrollierten die Asiaten die Partie, Australien verlor den Faden und fand ihn bis zum Halbzeitpfiff nicht mehr. (www.kicker.de – 12.06.2006) EURO 2008 (2) MUNDIAL 2010 (1) (453) Als Goliath in die erste Partie (455) Siegen oder fliegen – Quo vadis, gestartet, stand so plötzlich Klein-David Joachim Löw? (vor dem Spiel mit Ghana) Deutschland vor Goliath Portugal – und (www.kicker.de/news/video) dem Aus. (www.focus.de – 01.07.2008) (451) Kurz vor der Pause die nächste Hiobsbotschaft für Luiz Felipe Scolari: Der bereits mit Gelb verwarnte Costinha ging mit der Hand zum Ball. (www.kicker.de – 25.06.2006) (454) Luis Aragones (Trainer Spanien): "Wir haben die ersten 20 Minuten bestimmt und sind verdient in Führung gegangen. Später haben wir etwas den (452) Joseph S. Blatter: "Hätten beide Faden verloren und den Ausgleich Mannschaften so wie in der Verlängerung kassiert.“ (www.kicker.de – 14.06.2008) gespielt, hätten wir ein großartiges Halbfinale gesehen. (...) Bei der deutschen Mannschaft ist der Glücksfaden gerissen, und ich kann natürlich auch die Enttäuschung der Fans verstehen. (www.kicker.de – 04.07.2006) 334 De acordo com a análise semiótica de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), sugerimos a seguinte rede de espaços mentais no que diz respeito à macro-metáfora conceptual: FUTEBOL É RELIGIÃO/ MITOLOGIA: Espaço Semiótico de Base Espaço de Apresentação Actos/ Feitos Expressões metafóricas Espaço de Referência Locais/ Representações Jogador FUTEBOL Outros Intervenientes RELIGIÃO/MITOLOGIA Entidades Narrativas Cenário das crenças espirituais/ Esquema dinâmico das forças sobrenaturais/ Narrativas bíblicas e mitológicas Equipa Campeo -nato Jogo/ Jogadas FUTEBOL COMO RELIGIÃO/ MITOLOGIA Espaço Virtual (Blend) Esquema dinâmico de Relevância (Relevance-Schema) Inferências Emergentes O mundo do futebol é um mundo de crenças. Futebol proporciona vivências transcendentais/ A emoção do futebol ultrapassa a esfera da vida terrena Espaço do Significado Figura 57: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Religião/Mitologia A mescla virtual - FUTEBOL COMO RELIGIÃO OU MITOLOGIA emerge do mapeamento entre o domínio-fonte da religião e/ou mitologia, formada a partir dos sub-domínios ou categorias já referenciados (esferas pequenas), e o domínio-alvo do futebol (e seus constituintes - esferas pequenas). Como já referimos anteriormente, consideramos que esta mescla é, na realidade, virtual devido ao facto do futebol, apesar das analogias acima desenvolvidas, não constituir, na sua essência, uma crença religiosa ou mitológica convencional290. O espaço de relevância remete para a esfera do poder das forças sobrenaturais, subjacentes às crenças espirituais e transmitidas, maioritariamente, através de narrativas de índole religiosa ou mitológica, 290 Vide Nadler (2008:204-209) e Cintra Torres (2011:32-45) 335 assumindo a função de elevar o futebol para o patamar das emoções transcendentais, próprias da experiência espiritual (religiosa ou mitológica) culturalmente orientada. Neste sentido, o futebol é experienciado como um acontecimento que transcende o mundo terreno e concreto, pois nele, reconhecem-se milagres e feitos extraordinários, deuses e demónios, santos e pecadores. Um golo passa a representar a salvação, o jogador torna-se símbolo ou representação divina e os vitoriosos atingem o estatuto de divindades, para referir apenas alguns exemplos. Se a mescla final cumpre a função de realçar a esfera das emoções e vivências transcendentais, experienciadas através do futebol, acreditamos que as inferências emergentes se impõem como as seguintes: O mundo do futebol é, por um lado, um mundo de fé: fé na grandiosidade e no heroísmo mítico dos seus intervenientes, fé na vitória como sentimento de salvação e redenção, bem como fé no jogo como manifestação de um destino divino ou desígnio superior. Por outro, o futebol assume-se como uma forma de ‘culto’291, consubstanciado não somente nos rituais e nas respectivas cerimónias, como também no uso de uma linguagem de índole marcadamente espiritual. Como já referimos anteriormente, o contexto cultural e religioso exerce uma influência significativa nas construções metafóricas, ao condicionar a selecção das imagens e dos modelos mentais. Assim sendo, a maioria das representações metafóricas evidencia a matriz judaico-cristã, dominante na cultura alemã. Este enquadramento contribui, por exemplo, para a construção do jogador de futebol - na imprensa desportiva - como herói mítico, à semelhança dos mitos das diferentes narrativas bíblicas ou mitológicas. Donald (2006) explica este fenómeno: “Mythic culture is based on spoken language, and especially on the natural social product of language, storytelling. Most societies have a specific sublet of stories that acquire the status of myths, and these play a governing role in defining how to behave in a given culture. Myths also preserve notions of authority, gender and morality.” (Donald, 2006:8) Também Sellmann reconhece o domínio do futebol como um dos principais berços para criação de mitos da era moderna, devido ao facto da vivência do futebol proporcionar uma versão actualizada da experiência colectiva do sagrado: 291 “Kultus [der; lateinisch, „Pflege“] Kult: die gesellschaftlich festgelegten, nach außen sichtbaren Formen des religiösen Erlebens in der Gemeinschaft (z. B. Gebet, Gottesdienst, Opferritus). Diese sind als heilige Handlung definiert, da sie durch Gott den Menschen offenbart wurden. Ziel des Kultus ist die Stärkung der Gemeinschaft mit Gott (oder den Göttern), die Suche nach moralischem und geistigem Heil (etwa Befreiung von Sünden, innerer Frieden), aber auch nach materiellem Segen (Bitte um Wohlstand, Fruchtbarkeit des Bodens u. a.). Im Kultus sind religiös-spirituelle Anliegen mit sinnlichen Formen (Symbolen) mehr oder minder eng verbunden. Von der Seite prophetischer Religiosität aus (z. B. im Alten Testament) hat sich in der Religionsgeschichte vielfach Protest gegen den äußerlichen Kultus erhoben, wenn er der stets nahe gelegenen Gefahr der Veräußerlichung und Mechanisierung erlegen war.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bil dung/index,page=1172650.html [Consult. 20.04.2011]) 336 “Und damit sind wir auch beim Fussball. Das, was Samstag für Samstag in den Stadien der Bundesrepublik begangen wird, kann als eine Art öffentliche Permanenz des Festes [des Heiligen] gelten; äusserlich nur ein Spiel, wird das kollektive Erleben rund um den Fussball zu einer kulturellen Erfahrungs- und Erzählgemeinschaft, in der das sonst Gebotene übertreten wedern darf. Fussball kompensiert damit die moderne Privatisierung extatischen Erlebens genauso wie es jene Mythen schafft, die zu den Metaphern werden, aus dem das profane Leben neu verstanden und gedeutet werden kann.“ (Sellmann, 2004:44-45). De acordo com a metodologia adoptada, passamos então ao desenvolvimento e à análise de aproximadamente um terço do total das 56 ocorrências identificadas. a) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria actos e feitos divinos e sobrenaturais “Der Fussballsport stellt in Bezug auf die Verwendung von religiöser Metaphorik eine wahre Besonderheit unter allen Sportarten der Welt dar. Kein anderer Sport ist in so einem Ausmaß mit religiösen Sprachmitteln bespickt wie der Fussball. Jedem Fussballfan ist beispielsweise die sprichwörtliche Taktikanweisung „Hinen dicht und vorne hilft der liebe Gott“ bekannt.“ (Nadler, 2008:159) Nesta categoria, diversos actos divinos e feitos sobrenaturais constituem a fonte conceptual para as seguintes construções mescladas: (400) Griechen erklimmen den Olymp! Trata-se do título de uma notícia que diz respeito à conquista do campeonato europeu de 2004 por parte da selecção grega. A vitória por 0:1 na final contra a selecção portuguesa configurou não somente um triunfo histórico único, visto a Grécia nunca ter conseguido troféu semelhante, como também causou surpresa no mundo do futebol, tendo em conta o ‘ranking’ internacional deste país. Motivado pelo enquadramento geográfico e cultural, os jogadores da selecção grega são conceptualizados como deuses gregos que, na sequência da prestação vitoriosa, ascendem ao Olimpo. Neste sentido, a mescla final constitui, a nosso ver, um elogio à façanha extraordinária e inédita por parte dos gregos. A próxima ocorrência partilha esta perspectiva: 337 (402) Es hatte sich angekündigt. Nun wurde das Wunder Wirklichkeit. Griechenland, bei der EM 2004 der absolute Außenseiter, hat das Turnier gewonnen. A conquista do título de campeão europeu por parte da selecção grega, considerada como selecção marginal, é igualada a um milagre292. Note-se que a notícia interpreta a vitória como uma proeza de índole sobrenatural, não fazendo qualquer referência à competência desportiva que, objectivamente permitiu o triunfo. Mais do que uma congratulação, a mescla final transmite uma mensagem de espanto e surpresa. (406) Ronaldinho enttäuschte, Ronaldo spielte unterirdisch. Die Seleção quälte sich bei der Begegnung gegen Kroatien zum Sieg. Esta notícia configura uma crítica ao desempenho do jogador da selecção brasileira, Ronaldo, no jogo contra a Croácia aquando do campeonato mundial de 2006. A exibição de Ronaldo, mundialmente conhecido como um dos futebolistas mais talentosos e virtuosos da história do desporto, desiludiu neste jogo, pois jogou “unterirdisch”293, como uma criatura do submundo, em oposição ao “überirdisch”, o que corresponde ao seu desempenho habitual294. (414) Mesut Özil schoss in der 60. Minute das erlösende Tor, das das Gespenst vom ersten deutschen Vorrunden-Aus in der WM-Geschichte endgültig verjagen. Esta ocorrência evidencia claramente o domínio do sobrenatural, no qual um golo constitui a libertação ou redenção295, enquanto derrotas prematuras são conceptualizadas como fantasmas a expulsar. A notícia centra-se na vitória da selecção alemã (através do golo marcado pelo jogador Özil) sobre a selecção do Gana, resultado que garantiu o apuramento da 292 “Die genaue Herkunft des Wortes Wunder ist unbekannt. Das althochdeutsche Wort wuntar bedeutete ”(Gegenstand der) Verwunderung“, ”Außerordentliches“. Der Begriff bezeichnet Ereignisse, die den Erfahrungen des Menschen und den Gesetzen von Natur und Geschichte widersprechen, ist aber im Lauf der Jahrhunderte immer anders interpretiert worden. In der Antike galten Wunder als Mittel der göttlichen Weltregierung und wurden als faszinierende Ereignisse betrachtet. Die Sieben Weltwunder waren in Dimension und Wirkung auf den Betrachter außergewöhnliche Bauwerke. Die Bibel versteht Wunder dagegen in einem symbolischen Sinn als im Glauben erfahrene Rechtfertigung des Gottlosen.“ (BERTELSMANN Wörtebuch, in: http://www.wissen.de/wde/ge nerator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=wunder [Consult. 20.04.2011]) “Wun|der, das; -s, - [mhd. wunder, ahd. wuntar, H. u.]: 1. außergewöhnliches, den Naturgesetzen od. aller Erfahrung widersprechendes u. deshalb der unmittelbaren Einwirkung einer göttlichen Macht od. übernatürlichen Kräften zugeschriebenes Geschehen, Ereignis, das Staunen erregt(...)“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 293 “unterirdisch; nicht unterhalb der Erdoberfläche, sondern (in metaphorischer Verwendung): miserabel, grottenschlecht, indiskutabel (...).“ (Burkhardt, 2006a: 330) 294 Note-se que em 2006 Ronaldo jogava na equipa dos “galácticos” do Real Madrid. O termo espanhol “Galácticos” (estrelas) era usado para denominar os jogadores mundialmente famosos, adquiridos pelo Real Madrid, entre 2001 e 2007. 295 “erlösen; keine Vergebung für Sünden, sondern: (→ Fans u. Mannschaft) durch ein (zusätzliches) Tor (o. durch den → Schlusspfiff) von der angespannten Sorge zu befreien, das Spiel doch noch zu verlieren (...).“ (Burkhardt, 2006a:99) 338 Alemanha para os oitavos de final do campeonato mundial de 2010. A selecção alemã estava em risco de ser eliminada prematuramente do campeonato, pelo que essa ameaça assombrava a equipa como um fantasma. Neste sentido, a marcação do golo assume-se como acção libertadora capaz de vencer as forças sobrenaturais malévolas. Alemanha está de parabéns, será a mensagem intendida, veiculada pela mescla final. (409) Deutschland 3:2 gegen Portugal – grandiose Wiederauferstehung (410) Portugal-Bezwinger SCHWEINSTEIGER - Wiedergeburt eines Superstars Estas duas realizações metafóricas, construídas a partir de uma das premissas mais significativas da fé cristã - a ressurreição de Jesus - conceptualizam o sucesso desportivo como o milagre do renascimento. Ambas as notícias dizem respeito à vitória da selecção alemã contra a selecção de Portugal no campeonato europeu de 2008. Devido ao fraco nível exibicional demonstrado pela Alemanha até então, Portugal iniciou o jogo como favorito. Contudo, acabou derrotada porque a selecção alemã ressuscitou (ocorrência (409)), i.e. voltou a exibir o seu futebol de qualidade, e porque o jogador alemão Schweinsteiger regressou à sua forma excepcional, metaforicamente conceptualizado como renascimento da super-estrela296 (ocorrência (410)). A doutrina cristã da redenção através do sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo, elemento estrutural do espaço de relevância, estabiliza a mescla virtual, conduzindo à mensagem de congratulação e júbilo contida na mescla final. Finalmente, a ocorrência (420) remete-nos para o domínio sobrenatural das maldições e dos feitiços: (420) „Der Fluch des Pokals – und die Klasse der Spanier. Die WM zieht uns in ihren Bann.“ Jean-Jullen Beer, Kicker-Chefredaktion A presente ocorrência configura um excerto de uma análise de opinião, emitida pelo redactor-chefe do jornal desportivo Kicker relativamente ao arranque do campeonato mundial de 2010. Este considera que o campeonato tem o poder de enfeitiçar os adeptos, ou seja, trata-se da competição futebolística internacional mais atractiva e aguardada para os amantes do futebol297. Neste ambiente de feitiçaria, Beer relembra que a taça do campeonato está amaldiçoada, afirmando: 296 “Der Star im Sinn einer erfolgreichen und berühmten Persönlichkeit kommt aus dem Englischen. Das Wort hat die gleichen Wurzeln wie seine deutsche Übersetzung ”Stern“, nämlich das gotische stairno und das erschlossene indogermanische Wort ster für ”ausbreiten“. Star, Stern bedeutet also eigentlich ”das am Himmel Ausgebreitete“.” (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerq ry=Star&Start=%A0%A0Suchen%A0%A0&gertype= [Consult. 21.04.2011]) 297 As razões desta atractividade já foram exploradas anteriormente neste trabalho. 339 “Seit der WM-Pott 1971 wegen des dreimaligen Gewinns der Brasilianer (sie durften den alten behalten) neu entworfen wurde, hat ihn kein Land zweimal in Folge gewonnen. Auf diesem Pokal liegt ein Fluch.“ (Kicker Sportmagazin, Nº 49, p.14-15). Como não existe explicação racional para o facto constatado, a justificação do inexplicável remete para a esfera do poder sobrenatural. Pensamos que o recurso a explicações metafísicas é igualmente uma forma de, por uma lado, desresponsabilizar as equipas, neste caso específico, a selecção Italiana (os últimos campeões mundiais), pois caso a Itália não consiga repetir o feito, está ‘perdoada’ devido ao feitiço. Por outro, acentua o grau de dificuldade da conquista do troféu, porque a possível vitória da Itália configurava não somente um grande sucesso desportivo como, principalmente, um acto de força sobrenatural. Por fim, destaca-se a selecção espanhola, cuja qualidade futebolística aparenta ser, neste contexto, grande motivo de interesse e daí possa, talvez, prolongar o dito feitiço, impedindo o sucesso italiano. A exploração e contextualização das ocorrências, permite-nos sugerir as seguintes construções de redes mentais: Ocor. (400) (402) (406) (414) (409) ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto den Olymp erklimmen (ascensão ao Olimpo) Conquista do Campeonato Europeu 2004 pela selecção grega Conquista do Campeonato como ascensão ao Olimpo Cenário da mitologia grega; Esquema do poder místico Parabéns, Grécia! Texto Wunder (um feito milagroso) Conquista do Campeonato Europeu 2004 pela selecção grega Conquista do Campeonato como feito milagroso Cenário religioso do milagre; Esquema do poder místico Extraordinário, Grécia! Texto Cenário do unterirdisch Desempenho sobrenatural/ Desempenho do spielen de Ronaldo religioso; Esquema jogador brasileiro (desempenho como moral: metáfora Ronaldo subterrâneo) subterrâneo orientacional (em cimabom/ em baixo-mau) Texto O golo do das Gespenst jogador alemão verjagen Özil que garantiu (expulsar um o apuramento da fantasma) Alemanha Golo e apuramento como expulsar um fantasma Cenário do sobrenatural; Esquema Fantástico, Özil! do poder da libertação/ expurgação espiritual Texto Vitória da Wiederaufselecção alemã erstehung sobre a selecção (ressurreição) portuguesa Vitória da selecção alemã como ressurreição Cenário religioso/ Paradigma cristão da salvação pela ressurreição de Jesus Cristo Que desilusão, Ronaldo! Selecção alemã em alta! 340 (410) (420) ESB ERef ERel Texto Wiedergeburt (renasciment o) Desempenho do Desempenho jogador alemão do jogador Schweinsteiger como no jogo contra renascimento Portugal Texto Fluch/ in den Bann ziehen (maldição, o poder de atracção de um feitiço) Reconquista da taça do Campeonato Mundial, Jogos do Campeonato Mundial (Futuro) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Taça como amaldiçoada, jogos do campeonato como feitiço (Futuro) EA M1 M2 Cenário religioso/ Paradigma cristão da salvação através da ressurreição de Jesus Cristo Parabéns Schweinsteiger! Cenário do sobrenatural/ Esquema do poder de atracção Coragem, Alemanha! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 58: Tabela de Espaços Mentais 25 O cenário dos domínios religioso, mitológico e sobrenatural culturalmente dependentes, providos pelo espaço de relevância, assim como os esquemas das forças do poder místico aliados ao esquema do juízo moral subentendido, estabilizam e conferem sentido lógico às mesclas finais. Estas assumem-se como mensagens pragmáticas que expressam posições avaliativas: apreciações positivas em forma de elogio, negativas em forma de crítica, analíticas relativamente a graus de maior ou menor dificuldade quanto a jogadores, selecções, jogos ou campeonatos inteiros. b) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria entidades divinas, sobrenaturais e mortais “Wie bereits zuvor angesprochen stellt das Wesen „Fussballgott“ spätestens seit Herbert Zimmermanns Kommentar bei der Radioübertragung des „Wunders von Bern“ vom 04.07.1954, welches selbst durch den „Wunder“-Begriff religiös erscheint, eines der eindrücklichsten religiösen Sprachmittel im Fussball dar: „Turek, du bist ein Fussballgott!“. Zimmermann wollte mit diesem Ausdruck der herausragenden Leistung des deutschen Torwarts Toni Turek huldigen und verwendete mit „Turek, Du bist ein Teufelskerl!“ sogar noch eine weitere religiös anmutende Bezeichnung für den damaligen Nationaltorhüter.“ (Nadler, 2008:159) 341 Na senda dos pontos anteriores, postulamos que o jogador (ou o treinador) de futebol emerge nas sociedades actuais como herói da modernidade. Uma forma de enaltecimento dos seus sucessos extraordinários ou de reprovação dos seus insucessos decepcionantes consiste na conceptualização dos mesmos como entidades divinas, mitológicas ou sobrenaturais. Deste modo, as suas capacidades destacam-se como sobre-humanas e apenas o seu fracasso os remete para o reino dos comuns mortais. As seguintes ocorrências são disso exemplo: (424) Der Zweck heiligt die Mittel, und Rehhagel wird nun in Griechenland endgültig zum Heiligen gesprochen. A conquista extraordinária do título de campeão europeu de 2004 pela selecção grega traduziu-se na beatificação virtual do seu treinador, Otto Rehagel. Tal como um verdadeiro santo, é considerado responsável por um milagre, neste caso, pela vitória absolutamente inesperada e invulgar no campeonato. Registe-se que, no domínio religioso, os anjos, por outro, distinguem-se dos santos, na medida em que são considerados seres celestiais, mediadores entre o Céu e a Terra, que trazem a felicidade e que antecipam a visão do paraíso e das recompensas que este encerra. Quer nas tradições pagãs, quer no universo da mitologia cristã, os anjos são os mensageiros, os guardas e, como tal, os protectores dos escolhidos e abençoados por Deus, sendo que são, geralmente, representados como figuras humanas jovens e alados com asas de cisne. Um anjo no inferno (ocorrência (426)) é considerado um anjo caído, i.e. para o Cristianismo, são anjos transformados em demónios, colhidos por Lúcifer quando este foi expulso do Paraíso, por ambicionar ser igual a Deus, cometendo o pecado da soberba298. O jogador francês Zinedine Zidane foi considerado um dos jogadores mais brilhantes e talentosos da história do futebol moderno. A sua precisão na marcação de livres e lançamentos, o seu jogo solidário, ditando o ritmo da sua equipa ao preparar as jogadas e distribuir assistências, valeu-lhe o título elogioso de anjo. Contudo, no seu jogo de despedida (campeonato mundial de 2006, jogo França-Itália), acabou por ser expulso com um cartão vermelho por agressão ao jogador italiano Materazzi, pelo que esse seu gesto violento foi representado como a queda do anjo, a sua descida ao inferno: (426) Engel in der Hölle. Zinedine Zidane hätte seine einzigartige Karriere mit dem zweiten WM-Titel krönen können. Stattdessen zeigte er im letzten Spiel seiner Laufbahn seine dunkle Seite. (...) Wie konnte Zidane, dieser Engel, seit Jahren auf einer Wolke weltweiter Verehrung gebettet, so tief in die Hölle hinab stürzen? Wie 298 In: Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011, http://www.infopedia.pt/$demonio> [Consult. 22.04.2011]. 342 konnte er, dessen Name sich verbindet mit schöner Klarheit, mit heiterer Präzision, mit Demut auch, sich verwickeln in solche Hässlichkeit? A rede conceptual de espaços mentais subjacente a esta ocorrência, sugere um espaço de relevância, construído a partir do cenário religioso de tradição judaico-cristã e o consequente esquema moral da distinção entre o bem (anjos e céu/paraíso) e o mal (demónios e inferno) que confere sentido lógico à mescla final: a manifestação de um profundo sentimento de desilusão e de espanto incrédulo. A representação mental da queda da entidade celestial, e a consequente descida ao inferno afigura-se igualmente como domínio-fonte da seguinte realização metafórica: (427) "Der Fall der Götter" - Die brasilianische Presse ist fassungslos. Für den Weltmeister ist das Turnier bereits nach dem Viertelfinale beendet. Aclamada como uma das melhores selecções do mundo, como criadora do modelo futebolístico do ‘jogo vistoso’, bem como recordista em termos de títulos internacionais conquistados, a selecção brasileira está no topo da hierarquia celestial: os jogadores da selecção são os deuses do futebol. Porém, o seu mau desempenho aquando do campeonato mundial de 2006 ditou a sua eliminação prematura, o que conduziu à sua ‘queda’. De novo, advogamos que a mescla final constitui uma expressão de decepção relativamente às expectativas criadas. Da selecção brasileira esperava-se não apenas um futebol eficiente em termos de resultados positivos, mas antes um futebol tecnicamente rendilhado e atraente, qualitativamente superior às restantes selecções. Futebol brasileiro era sinónimo de futebolespectáculo e, por esta razão, o mundo aguardava ansiosamente jogadas geniais por forma a ultrapassar o tédio provocado pela monotonia e insipidez técnico-táctica: (428) WM 2006 - Die Erlöser der Welt No ponto 3.2.2. tivemos oportunidade de explorar os elementos que caracterizam o futebol esteticamente e tacticamente belo. Hammelmann (2010) argumenta: “Was aber macht Fussball zu einem schönen Spiel? Neben den schönen Einzelaktionen liegt die Ästhetik dieses Mannschaftssports vor allem im Zusammenspiel der Akteure sowie in der Nutzung und organisation des Spielraums; die Bewegungen des Balles und die Laufwege der Spieler vermöglichen geometrisch schöne Formen zu erzeugen. Für Horst Bredekamp kommt in der Synthese dieser verschiedenen Fertigkeiten, der Beherrschung des Balles und 343 der Orientierung im Raum - von Körperlichkeit und Intellektualität - der Charakter des Spiels als Gesamtkunstwerk zum Ausdruck.“ (Hammelmann, 2010:33) Assinale-se que Adónis, por sua vez, era, segundo as mitologias grega e fenícia, um jovem de grande beleza, que despertou o amor das deusas Perséfone e Afrodite, pelo que a sua imagem é projectada no mundo do futebol, dando origem à seguinte realização metafórica: (437) Das Opus in Oranje: Den Titel im Visier (...) Holland wie gehabt: kein AdonisFussball (...)“ wie Legende Ruud Gullit kritisch anmerkte (...). Em conformidade com o conceito de ‘futebol bonito‘ acima descrito, a selecção holandesa não se enquadra nesse modelo de jogo, primando porém pela eficácia pragmática nos confrontos competitivos. A qualidade excepcional dos jogadores é frequentemente conceptualizada mediante recurso a símbolos mitológicos de grandeza, força e pujança lutadora: os gigantes299 e os titãs300: (429) 2002 wurde er als Titan unsterblich, 2006 als Mensch - Der Kahn- Rücktritt. Am 10. Mai 2006 verkündet Klinsi: „Lehmann ist die Nummer 1.“ Und Kahn wird zum Titanen der Herzen. (434) Es ist DAS Duell der Giganten im EM-Viertelfinale: Deutschland heute gegen Portugal (...) Michael Ballack (31) gegen Cristiano Ronaldo (23). Os cenários mitológicos em análise que retratam um guarda-redes titã - Oliver Kahn, ou um confronto entre os dois gigantes - Ballack e Ronaldo - pretendem sublinhar ou antever jogos bem disputados, com um nível exibicional elevadíssimo, pautado pelo esforço, dedicação e luta. Estabilizado pela relevância do cenário mitológico e pelo esquema dinâmico da força/ contra-força, contido no contexto do combate físico e desportivo, a mescla final expressa o entusiasmo e o respeito pela qualidade absoluta e extraordinária dos jogadores em questão. No lado oposto, a ausência de qualidade merece, igualmente, reparo por parte da imprensa desportiva. Na ocorrência (435) os jogadores alemães Klose e Podolski que 299 “Giganten, griechische Mythologie: die Söhne der Gäa, ein Riesengeschlecht, das sich gegen die Götter empörte und den Olymp zu stürmen suchte. Mit Hilfe des Herakles wurden sie im Gigantenkampf (Gigantomachie) auf den phlegräischen Gefilden von den Göttern besiegt.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator /wissen/ressorts/bildung/index,page=1110164.html [Consult. 22.04.2011]) 300 “Titanen: in der griechischen Mythologie die 6 Söhne und 6 Töchter des Uranos und der Gäa, das älteste Göttergeschlecht; u. a.: Okeanos, Hyperion, Kronos, Rhea, Themis, Phöbe, Tethys; setzten ihren Vater ab und verschafften Kronos die Macht, den sein Sohn Zeus verdrängte. Nach ihrer Niederlage wurden sie in den Tartaros verstoßen.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bildung/index,pa ge=1257680.html [Consult. 22.04.2011]) 344 compõem, habitualmente, a dupla de sucesso da selecção alemã, são apelidados de bodes expiatórios301: (435) Abendzeitung (www.abend-zeitung.de): „Deutschland zittert um den Einzug ins Achtelfinale. (...) waren Miroslav Klose und Lukas Podolski noch die gefeierten Helden – beim 0:1 (0:1) gegen Serbien, übernahmen sie jetzt ungewollt die Rolle der Sündenböcke.“ Esta ocorrência evidencia a efemeridade do estatuto de herói desportivo dos tempos modernos. Devido a uma exibição menos conseguida contra a selecção da Sérvia, os jogadores, dos quais mais se esperava, são responsabilizados pelo mau resultado global da equipa. Neste sentido, e à luz do paradigma cristão, são condenados a carregar e suportar os pecados de todos. Conclui-se, assim, que quanto maior a responsabilidade (devido à elevada esperança depositada na qualidade dos jogadores), maior a culpabilização por parte dos jornalistas e espectadores no geral (mescla final). Finalmente, propomos a seguinte tabela de redes mentais: Ocor. ESB EA ERef M1 (424) Texto Heiliger (santo) Seleccionador da Grécia, Otto Rehagel Otto Rehagel como Santo Texto ein Engel in der Hölle (anjo no inferno) Expulsão do jogador francês Zidane Expulsão de Zidane como um anjo no inferno Cenário religioso/ Esquema moral (o bem - céu/ o mal inferno) Que desilusão, Zidane! Texto der Fall der Götter (a queda dos Deuses) Jogadores da selecção brasileira Jogadores brasileiros como Deuses caídos Cenário religioso/ Esquema moral Que desilusão, Brasil! Texto Erlöser der Welt (salvadores do mundo) Jogadores da selecção brasileira (Futuro) Jogadores brasileiros como Cenário religioso/ salvadores do paradigma judaicomundo cristão da salvação (Futuro) Texto kein AdonisFussball (futebol de Adónis (neg.)) (426) (427) (428) (437) ERel M2 Cenário religioso/ Parabéns, Esquema do poder selecção grega! místico do milagre Brasil vai ser fantástico! Desempenho da Cenário Desempenho da selecção A selecção mitológico/ selecção holandesa como holandesa não é Esquema da holandesa futebol de Adónis artística! apreciação estética (neg.) 301 “Sündenbock: im Alten Testament (Levitikus 16,21) ein Bock, dem am großen jährlichen Versöhnungstag der jüdische Hohepriester durch Auflegen der Hände symbolisch die Sünden des ganzen Volkes übertrug; danach wurde der Sündenbock in die Wüste geschickt. Im übertragenen Sinne ein Mensch, dem die Verantwortung für etwas, was er nicht getan hat, zugeschoben wird und der dafür stellvertretend büßen muss.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bildung/index,page=1252130.html [Consult. 22.04.2011]) 345 (429) (434) (435) ESB ERef ERel Cenário Oliver Kahn como mitológico/ titã Esquema da força/ contra-força Titan (titã) Guarda-redes alemão Oliver Kahn Texto Duell der Giganten (confronto de gigantes) Os jogadores alemão Ballack e português Ronaldo no jogo Alemanha vs. Portugal (Futuro) Ballack contra Ronaldo como Gigantes em confronto (Futuro) Texto Sündenböcke (bodes expiatórios) Os jogadores alemães Klose e Podolski Klose e Podolski como bodes expiatórios Texto - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Oliver Kahn, és o melhor! Cenário Ballack e mitológico/ Ronaldo, vai ser Esquema da força/ fantástico! contra-força Cenário religioso/ Esquema moral da expiação do pecado Que desilusão, Klose e Podolski! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 59: Tabela de Espaços Mentais 26 c) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria locais e representações simbólicas “Das Feld ist eine ganze Welt: Paradies und Hölle zugleich“ (Gebauer, 2006:49) Registe-se que um número assinalável de culturas têm uma ideia genérica do que é o inferno: o reino do diabo, o local onde habitam os espíritos malditos, um lugar de sofrimento e tormenta eterna. Como parte integrante de diversas doutrinas religiosas, o inferno está presente na história da cultura, condicionando as mentalidades e as condutas morais do Homem. A crença numa entidade divina, implica a existência do seu contraponto, i.e. uma entidade diabólica. Esta concepção baseia-se na dicotomia entre o bem e o mal, sendo que o inferno (do latim infernu(m): o que está ‘inferior’) é o destino do Mal, o castigo dos pecadores. É na base desta concepção de inferno que é cunhada a ocorrência (441).Tendo a selecção da Sérvia sofrido uma pesada derrota contra a selecção argentina (0:6), esta é conceptualizada como uma descida ao inferno: (441) Das Land, das so stolz ist auf seine Fußball-Tradition, wurde degradiert zum Status eines WM-Exoten. Serbien steht unter Schock und mit Schlagzeilen wie "Absturz 346 in die Hölle" und "Erniedrigung" heizen selbst seriöse Zeitungen die Stimmung auf dem Balkan an. Os jogadores são responsabilizados pelo resultado degradante; são pecadores, porque não corresponderam à sua obrigação, porque a sua fraca exibição feriu o orgulho nacional. De acordo com Gebauer, o jogo (ou o respectivo campo de futebol) transformou-se no paraíso da selecção argentina (local simbólico associado a uma boa exibição) e no inferno dos sérvios (local simbólico associado a uma má exibição). A função comunicativa da mescla final resumese à expressão do sentimento misto de desilusão e culpabilização. Relativamente às imagens metafóricas das ocorrências (445) e (448), estas emergem do mapeamento entre as mãos dos jogadores e a mão de deus e do diabo: (445) Luis Suarez: „Am Ende ist die Hand Gottes jetzt meine.“ (448) Die „Hand des Teufels“ ist wieder da, der Traumsturm komplett: Luis Suarez und Diego Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem Weg zum größten Erfolg seit 1950. Registe-se que a expressão “mão de Deus“ foi originalmente proferida pelo jogador Diego Maradona, quando, no campeonato do mundo de 1986, marcou um golo à selecção da Inglaterra com a sua mão. Apesar de se tratar de um golo ilegal, erradamente validado, Maradona deixou a ideia de que se tinha feito justiça divina302, e que a sua mão constituía uma representação simbólica da graça divina. Desde então, muitos golos marcados com a mão mereceram este rótulo, dando a entender que Deus ajuda a marcar golos, enquanto o Diabo os impede. Nas ocorrências (445) e (448), tanto a “mão de Deus” como a “mão do diabo” diz respeito à mão do avançado uruguaio Luís Suarez que, em cima da linha de golo, impediu de forma irregular que a selecção do Gana marcasse o golo decisivo. Contudo, a mão do jogador como representação divina ou diabólica, depende do ponto de vista e do que é considerado ‘bom’ ou ‘mau’ por cada uma das partes intervenientes. Para o jogador Suarez a sua mão salvou a selecção do seu país, logo, representa a “mão de Deus”, mas para a selecção do Gana, trata-se, com certeza, da “mão do diabo”, pois foi 302 “Maradona hatte im Weltmeisterschafts-Viertelfinale am 22. Juni 1986 im Aztekenstadion von Mexiko-Stadt beim 2:1 über England das 1:0 (51. Minute) für die Argentinier erzielt, als er in eine missglückte Rückgabe von Hodge lief und per Hand den verdutzten Torwart Shilton überwand. "Es war die Hand Gottes und der Kopf Maradonas", erklärte er nach dem Spiel, in dem ihm auch noch das 2:0 (54./Gegentor Linaker 80.) gelang. Argentinien gewann bei der WM 1986 schließlich auch den Titel durch ein 3:2 im Finale über Deutschland. Seine Kameraden hätten ihm damals nur etwas schüchtern zu dem Tor gratuliert, weil sie gleich gemerkt hätten, dass es sich um ein "geraubtes" Tor handelte. "Ich aber habe ihnen gesagt: Wer einen Räuber beklaut, dem wird 100 Jahre lang vergeben", erzählte Maradona in seinem Programm "Die Nacht der 10". Die Erinnerung an den 1982 gegen Großbritannien verlorenen Krieg um die Falkland-Inseln im Südatlantik war damals in Argentinien noch sehr frisch.“ (In: http://www.stern.de/sport/fussball/maradona-gestaendnis-hand-gottes-war-linke-faust-544668.html, 24.08.2005 [Consult. 25.04.2001]) 347 responsável pela sua eliminação. Particularmente interessante é o facto da questão da quebra intencional de uma regra desportiva essencial não ser tida em conta no posicionamento entre o bem (Deus) e o mal (Diabo). Sugerimos, de seguida, as seguintes redes de espaços mentais: Ocor. (441) (445) (448) ESB ERef ERel ESB EA ERef Texto Abstrurz in die Hölle (descida ao inferno) Mau jogo (e resultado) da selecção sérvia contra a Argentina Cenário religioso/ Mau jogo como Esquema moral (o descida ao bem - céu/ o mal inferno inferno) Má prestação, Sérvia! Texto die Hand Gottes (mão de Deus) Defesa com a mão do jogador uruguaio Suarez A mão que Cenário religioso/ defendeu o Esquema moral (o golo como mão bem - Deus/ o mal de Deus - Diabo) Boa defesa! Texto die Hand des Teufels (mão do Diabo) Defesa com a mão do jogador uruguaio Suarez A mão que Cenário religioso/ defendeu o Esquema moral (o golo como mão bem - Deus/ o mal do Diabo - Diabo) Defesa irregular! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância M1 EA M1 M2 ERel M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 60: Tabela de Espaços Mentais 27 Advogamos que, nestes contextos, o recurso a locais e representações simbólicas para a construção de realizações metafóricas cumpre o objectivo de explicitar uma posição avaliativa e emitir juízos de valor, de acordo com os paradigmas de moralidade de índole judaico-cristã. As mesclas finais veiculam apreciações qualitativas aliadas à manifestação de aprovação ou reprovação de cunho marcadamente emocional. d) FUTEBOL É RELIGIÃO/MITOLOGIA - categoria narrativas bíblicas ou mitológicas “Auch wenn die Bibel heute nicht mehr so häufig gelesen wird wie früher, scheinen viele Journalisten ihren Inhalt sehr gut zu kennen. Viele große Zeitungen vergleichen Erzählungen verwenden biblische Ereignisse aus „dem aus dem Buch Begriffe und Sport mit der Bücher". (Scheidhammer, 2001: 23) 348 As narrarias bíblicas e mitológicas afiguram-se um suporte particularmente adequado à produção de mesclas devido ao facto de configurarem episódios narrativos culturalmente partilhados pela generalidade dos leitores. As ocorrências (451), (453) e (455) são disso exemplo: (451) Kurz vor der Pause die nächste Hiobsbotschaft für Luiz Felipe Scolari: Der bereits mit Gelb verwarnte Costinha ging mit der Hand zum Ball. (453) Als Goliath in die erste Partie gestartet, stand so plötzlich Klein-David Deutschland vor Goliath Portugal – und dem Aus. (455) Siegen oder fliegen – Quo vadis, Joachim Löw? Contudo, para a boa compreensão das mensagens subjacentes a estas ´palavras-chave’ não é necessário conhecer em pormenor os episódios bíblicos aqui referenciados, basta saber quem foram os principais protagonistas. Relativamente à ocorrência (451), o reconhecimento de Job como protagonista do Livro Bíblico de seu nome, que simboliza a persistência da fé perante a adversidade, tornando-se um marco significativo da tomada de consciência dos dramas da experiência humana, conduziu à expressão lexicalizada ‘Hiobsbotschaft’.303 Neste sentido, a expulsão do jogador português Costinha constitui, sem dúvida, uma péssima notícia para o seleccionador Scolari. A narrativa bíblica do confronto entre David e Golias tornou-se uma parábola para a vitória do fraco, em posição de desvantagem sobre o forte claramente superior. A ocorrência (453) já analisada por Almeida/Sousa (2010:253-254) oferece-nos dizer o seguinte: “Es handelt sich hier um ein Spiel der Europameisterschaft von 2008 zwischen Deutschland und Portugal. Vor dem Spiel wurde die portugiesische Mannschaft als Favorit angesehen, doch gelang es wider aller Erwartungen der deutschen Mannschaft, das Spiel zu gewinnen. (...) Der Rückgriff auf die biblischen Figuren David und Goliath bildet ebenfalls die Basis für ein sehr beliebtes Blending. Gemäß der biblischen Erzählung besiegte der bereits von Samuel zum zukünftigen König von Israel gesalbte Jüngling David den übermächtig scheinenden Goliath im Zweikampf mit seiner Steinschleuder (siehe 1. Buch Samuel Kap. 17). Diese Erzählung symbolisiert den unvorhersagbaren Triumph des Schwächeren über den Stärkeren.“ (Almeida/Sousa, 2010:253-254) 303 “Hi|obs|bot|schaft [f.] Unglücksbotschaft, Schreckensnachricht [nach den schlimmen Botschaften, die Hiob im AT erhält (Buch Hiob, 1. Kapitel, 13-21)]“ (BERTELSMANN Wörtebuch, in: http://www.wissen.de [Consult. 25.04.2011]) 349 A ocorrência (455) é igualmente construída em torno de um episódio bíblico. Antes do jogo da selecção alemã contra a selecção ganesa, esta interrogação lança a incerteza: vencer ou voar (i.e. ser eliminado do campeonato mundial de 2010), para onde levará o seleccionador alemão Löw a sua equipa? Recorre-se, assim, à expressão “Quo vadis”304 que se tornou popular após o épico filme homónimo de 1951. Actualmente, esta expressão é utilizada num contexto filosófico e existencial, consubstanciado na interrogação: “que rumo devo dar a minha vida?” No contexto desta notícia, o jornalista, como voz representativa de todos adeptos, questiona o responsável pela selecção alemã acerca dos seus planos para o jogo vindouro, tal como o apóstolo Pedro, em representação da humanidade, questiona Jesus Cristo, seu mentor e líder espiritual, sobre as suas intenções. Para tal, o jornalista cria um diálogo virtual à semelhança do diálogo entre Pedro e Jesus305. Uma vez contextualizadas as presentes ocorrências, propomos as seguintes redes conceptuais: Ocor. (451) (453) (455) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Hiobsbotschaft (as notícias de Job) Expulsão do jogador português Costinha Expulsão do jogador como notícias de Job Narrativa bíblica: esquema do sofrimento Portugal, que mal! Texto David gegen Goliath (David contra Golias) Jogo da selecção alemã contra a selecção portuguesa Selecção alemã como David; selecção portuguesa como Golias Narrativa bíblica: esquema da força/contra-força (forte vs fraco) e esquema moral Parabéns, Alemanha! Texto Quo vadis? - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Planos do Narrativa bíblica/ seleccionador Planos do Esquema da alemão para o seleccionador trajectória/ esquema jogo vindouro da como planos de da convicção Alemanha contra Jesus Cristo (tomada de decisões o Gana (Futuro) relevantes) (Futuro) EA M1 M2 Seleccionador Löw, que dilema! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 61: Tabela de Espaços Mentais 28 304 “Quo vadis? [lateinisch, „wohin gehst du?“] in der christlichen Legende Frage des aus dem römischen Gefängnis fliehenden Apostels Petrus an Christus, der ihm auf der Via Appia begegnete. Christus antwortete: „Nach Rom, um zum zweiten Mal gekreuzigt zu werden!“. Beschämt kehrte Petrus ins Gefängnis zurück.“ (Wissen Media Verlag, In: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/bildung/index,page=1220696.html [Consult. 25.04.2011]) 305 relativamente à presença recorrente da oralidade nas notícias desportivas, vide Almeida/Órfão/Teixeira (2009) 350 As realizações metafóricas das próximas ocorrências recorrem a duas expressões idiomáticas convencionalizadas, e embora os seus significados sejam facilmente entendidos pela globalidade dos falantes/leitores, suspeitamos que a sua origem mitológica não esteja, pelo menos conscientemente presente na maioria dos destinatários destas notícias. (450) Bis zur Pause kontrollierten die Asiaten die Partie, Australien verlor den Faden und fand ihn bis zum Halbzeitpfiff nicht mehr. (452) Joseph S. Blatter: "Hätten beide Mannschaften so wie in der Verlängerung gespielt, hätten wir ein großartiges Halbfinale gesehen. (...) Bei der deutschen Mannschaft ist der Glücksfaden gerissen, und ich kann natürlich auch die Enttäuschung der Fans verstehen.“ Assinale-se que o conceito de ‘fio condutor’ provém da mitologia grega. Trata-se de uma lenda em torno da princesa Ariadne, conforme explicado a seguir: “Ariadnefaden bedeutet in übertragenem Sinn ein Rettungsmittel aus aussichtsloser Lage. Das Bildwort geht auf eine griechische Sage zurück. Ariadne gab Theseus ein Garnknäuel mit, als er im Labyrinth von Knossos das Ungeheuer Minotaurus töten wollte. Dem Minotaurus musste nämlich die Stadt Athen alle sieben Jahre sieben Jungfrauen und sieben Jünglinge opfern. Beim Eindringen in das Labyrinth rollte Theseus den Faden ab, so dass er bei der Rückkehr den richtigen Weg heraus finden konnte.“ (Relilex, Das Lexikon zur Religion, Quelle: Kösel-Verlag München, in: http://www.relilex.de/artikel.php?id=43712 [Consult. 55.04.2011]). Esta expressão é mais frequentemente utilizada para descrever dificuldades no âmbito da organização mental, no que concerne a capacidade de comunicar de forma lógica e coerente306. Outra possível origem desta expressão pode ser encontrada no domínio têxtil, no qual a perda de um fio no processo de tecelagem equivale a um atraso indesejável na produção de tecidos: “Die Redensart kommt vermutlich aus dem Bereich des Spinnens oder Webens, wo man keinen Faden verlieren durfte” (Redensarten-Index). 307 306 “Fa|den I [m.] 1 sehr dünnes, langes Gebilde aus mehreren zusammengedrehten Fasern aus Metall, Natur- oder Kunststoff (Plastik~, Seiden~, Woll~); den F. verlieren in der Rede steckenbleiben, vergessen, wo man stehengeblieben ist; den F. des Gesprächs wieder aufnehmen das Gespräch fortsetzen, wo man es unterbrochen hat (...)“ (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/ index.html?gerqry=faden [Consult. 25.04.2011]) 307 In: http://www.redensarten-index.de/suche.php?suchbegriff=~den%20Faden%20verlieren&bool=relevanz&such spalte%5B%5D=rart_ou [Consult. 25.04.2011] 351 No que diz respeito à ocorrência (450), apesar da selecção australiana possuir um plano de jogo, uma estratégia pré-definida, não foi capaz de executar ou conservar a mesma na primeira metade do jogo contra a selecção do Japão. A ocorrência (452) diz respeito à quebra do chamado ‘fio da sorte’. O conceito abstracto de sorte é conceptualizado como um fio contínuo que não deve, preferencialmente, ser quebrado. Esta conceptualização fundamenta-se nas antigas lendas da mitologia germânica. Na obra Beitrüge zur deutschen mytlologie. Gesammelt in Churrhaetien de Dr. F. JF. Vonbun, 1862, pode ler-se: “Die dem menschen bei seiner gebart den schicksalsfaden spinnenden nomen der altnordischen mythologie lassen sich noch erkennen in den verschiedenen Varianten des kinderreimes von den dreifrauen, jungfrauen oder poppen. Als grenzpunkte nach ost, west und norden hin, von welchen aus und bis zu welchen das wiegenseil für den neugebornen von den drei poppen, als stellvertreterinnen der alten nornen, gespannt wird, damit dieser glücksfaden schirmend um die ganze heimath herumreiche, zählt der text des reimes bloss die nachbarschaftsprte auf. (…) Also die in brod eingebackenen kätzchen der weide fragt man um glück oder unglück, um leben oder tod im laufenden jähre. Mich will es dünken, als ob die weide in naher beziehung stehe zu jenen halbgöttlichen, klugen, weisen frauenldisi, deren amt es ist, menschen heil oder unheil, sieg oder tod anzusagen und zu verkünden. Ich werde bestärkt in dieser ansieht dadurch, dass in mehreren reimen von den drei mareien (d. i. die dem menschen bei seiner gehurt den schicksalsfaden spinnenden nornen unserer nordischen mythe) das unglücksspinnen durch das drehen derweide ausgedrückt wird.“ 308 Blatter destaca a sorte como factor decisivo no jogo entre as selecções da Alemanha e da Itália, lamentando a ausência da mesma por parte da selecção alemã. Assim sendo, a quebra do ‘fio da sorte’ determinou a derrota e a consequente eliminação da Alemanha do campeonato mundial de 2006 o que configura, a nosso ver, uma mensagem de desresponsabilização ou desculpabilização relativamente ao seu desempenho desportivo. Nesta óptica, advogamos a seguinte rede de espaços mentais: Ocor. (450) ESB Texto EA ERef M1 ERel Jogo da Primeira metade selecção den Faden do jogo da Narrativa mitológica australiana verlieren selecção (grega): esquema da (perder o fio) australiana conta como perder o organização mental fio o Japão M2 Austrália, que mau jogo! 308 In: http://www.archive.org/stream/beitrgezurdeuts00vonbgoog/beitrgezurdeuts00vonbgoog_djvu.txt [Consult. 25.04.2011] 352 (452) ESB ERef ERel Texto der Derrota da Derrota da Narrativa mitológica Alemanha, Glücksfaden selecção alemã selecção alemã (germânica): ist gerissen parabéns, apesar contra a selecção como o quebrar esquema das forças (quebrar o da derrota! italiana do ‘fio da sorte’ sobrenaturais ‘fio da sorte’) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 62: Tabela de Espaços Mentais 29 Concluímos que as mesclas finais evidenciam a intenção comunicativa de partilhar posições avaliativas - apreciativas ou depreciativas - com os leitores. Mais do que uma reprodução objectiva dos factos ocorridos, estes exemplos deixam transparecer não somente o posicionamento crítico do respectivo jornalista, como denotam, sobretudo, a intencionalidade em explorar um dado facto ou circunstância a partir de uma perspectiva emocional. Postulamos que a emotividade subjacente se revela como domínio fértil para a criação de mitos e heróis. O jornalismo desportivo recorre a mitos tradicionais e narrativas míticas passadas para construir uma história mítica renovada em torno de um jogo, um jogador ou uma equipa, consciente de que a sua mensagem encontrará o eco desejado, pois confia no conhecimento do mundo e na experiência individual e colectiva dos seus leitores: “Das kollektive Gedächtnis einer Gesellschaft dient als Grundlage einer Mythostradition und Mythosverbreitung. Bereits bei den alten Griechen gehört der Mythos zu den festen Institutionen. Burkert definiert Mythen als: „traditionelle Erzählungen, von denen man in der Regel nicht weiß, wer sie erfunden hat, bei denen es auch nicht darauf ankommt, dass ein Dichter sie besonders kunstvoll ausgestaltet; man nimmt sie als gegeben, weil sie einleuchten, und doch wird an ihnen immer wieder gearbeitet eben weil sie einleuchten müssen. Man kann Mythe nicht dekretieren, wohl aber kann man vesuchen, sie zu deuten; manche Deutungen werden Gemeingut, andere beleiben als Einfälle vereinzelt.“ [Burkert, Walter: Heros, Tod und Sport - Ritual und Mythos der Olympischen Spiele der Antike. In Genauer, Gunter (Hg.) Körper und Einbildungskraft. Berlin 1988, S. 35.]. (...) Im modernen Mediensport übernehmen die Sportberichterstatter die Rolle der Dichter. Die Journalisten sind es, die in ihren Artikeln, Interviews und Reportagen die Geschichten rund um das sportliche Ereignis produzieren. Schon lange geht es nicht mehr um die reine Information in der Sportberichterstattung. „Es bedarf der Geschichte um die Geschichte“ [Burkert, Walter, S.36] (...) Während sich der moderne Sport im Rahmen der zunehmenden Profissionalisierung immer mehr der verwissenschaftlichen Sportausübung annähert und nichts mehr dem Zufall überlassen will, produziert die Sportberichterstattung stattdessen Geschichten, welche mit bekannten Elementen aus alten, volkstümlichen Utopien gespickt 353 sind. [Vgl. Gebauer, Gunter, S. 138] Die Vergesellschaftung insgesammt mit ihren vielfältigen Interaktions- und Kommunikationsformen bildet nach Gebauer den Nährboden fü Mythosbildungen und Helden für den Markt [Vgl. ebd. S. 133]. Den Sportlern ist es vorbehalten die Sehnsüchte der Massen zu befriedigen.“ (Laxa, 2005:59-61) [sublinhado nosso] 3.2.6. Imagens mescladas: Futebol - Alimentação e Agricultura „Papa - schieß mal den Ball rüber!“ Julian wird jetzt ein richtig guter Fußballspieler. Ich habe ihm in unserem Garten ein kleines Fußballtor aufgebaut, und jetzt muss ich auch taglich ran, mit ihm die ganzen Tricks zu üben, die ich selber als Fußball-Doofi gar nicht kann. „Hier kommt eine Bananenflanke!“ Ich schieße, leider aber nicht so gut wie Manni Kaltz das früher bein HSV gemacht hat. Der Ball landet über der Hecke beim Nachbarn. Mein Sohn lacht mich aus. „Papa! Du spielst ja fast genauso schlecht Fußball wie die Mädchen! Und eine Bananenflanke - was soll das denn sein? Schießt du wohl mit Bananen?“ (Nielsen, 2011:267) 309 O presente ponto explora as conceptualizações metafóricas baseadas nos mapeamentos entre o domínio do futebol e o domínio-fonte da alimentação e da agricultura. Do total das 52 ocorrências identificadas, 25 dizem respeito a alimentos ou características de alimentos, 14 prendem-se com a ingestão de alimentos e diversos fenómenos fisiológicos associados à nutrição, 7 relacionam-se com processos associados à agricultura, tais como as sementes, a sementeira e a colheita e 6 remetem para o domínio das receitas culinárias. As tabelas que seguidamente apresentamos, seguem a subdivisão acima descrita: a) alimentos e suas características; b) ingestão de alimentos e processos/sintomas fisiológicos; c) agricultura d) receitas culinárias 309 Nielsen, Gary, Samba, Sex und Sonnenbrand - Oder: Burn, Motherfucker, Burn, 2011, Norderstedt: Books on Demand Verlag. 354 a) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria alimentos e suas características (25 ocorrências) EURO 2004 (1) (456) „Er ist das Sahnehäubchen auf unsere Transfers!“ Hannovers neuer Manager (...) schwärmt über die jüngste Neuverpflichtung (Ricardo Sousa). (www.kicker.de - 07.07.2004) MUNDIAL 2006 (11) EURO 2008 (4) (457) Costa Ricas Trainer Alexandre (468) 0:1. Ganz bitter, aber verdient. Guimaraes schmeckt das 2:4 zum Auftakt Unsere Abwehr wirkt gegen die schnellen Spanier hölzern und hilflos. nicht. (www.kicker.de - 09.06.2006) (www.bild.de – 30.06.2008) (458) Kurz vor der Pause fiel dann ein Wermutstropfen in den Freudenbecher der (469) Die Löw-Truppe rappelte sich aber ersten Halbzeit der Tschechen. umgehend auf, Ballack leitete mit einem (www.kicker.de – 12.06.2006) Zuckerpass die erste Riesenmöglichkeit (459) Im zweiten Spiel der Gruppe H mussten sich die Zuschauer im WM-Stadion in München über weite Strecken mit Fußball-Magerkost zufrieden geben (...). (www.kicker.de – 14.06.2006) (460) Einzige Wermutstropfen für Ghana waren die jeweils zweiten Gelbe Karten für die beiden Torschützen, die damit im entscheidenden Spiel gegen die USA fehlen werden. (www.kicker.de – 17.06.2006) (461) Beide Teams boten im ersten Durchgang nur Schonkost, steigerten sich dann aber nach dem Seitenwechsel. (www.kicker.de – 18.06.2006) MUNDIAL 2010 (9) (472) Lukas Podolski: „Es ist ganz ganz bitter! Es tut mir leid, das muss ich auf meine Kappe nehmen. (...) Wir müssen jetzt gegen Ghana gewinnen.” (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (473) Philipp Lahm: „Wir haben nicht so gut angefangen wie gegen Australien. Es war ein sehr bitterer Platzverweis, dann wurde ein. (www.kicker.de – 08.06.2008) es natürlich schwer mit zehn Mann.“ (470) Stimmen zum Spiel Schweden (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) gegen Spanien - Villa: "Dieses Tor (474) Besonders bitter war der Abend für schmeckt besser" den brasilianischen Mittelfeldspieler Diego (www.kicker.de – 14.06.2008) von Werder Bremen, der zunächst auf der Bank Platz nahm (...) (471) Yakin versüßt Kuhns Abschied Einen versöhnlichen Abschluss feierte die (www.spiegel.de – 12.06.2010) Schweiz im letzten Gruppenspiel gegen (475) Erst ein umstrittener Feldverweis, Portugal. Durch zwei Yakin-Tore kamen dann ein bitteres Abseitstor (...) die Eidgenossen zum ersten Sieg bei einer (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010) EM-Endrunde und versüßten gleichzeitig dem scheidenden Trainer Jakob Kuhn den (476) Cristiano Ronaldo: „Bei den Toren ist Abschied. es wie beim Ketchup. Wenn etwas kommt, (www.kicker.de 15.06.2008) kommt gleich alles auf einmal.“ (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (462) Die Partie war im zweiten Durch-gang mit Sicherheit kein fußballerischer Leckerbissen, allerdings nahm die Spannung immer mehr zu, je näher der Abpfiff rückte. (www.kicker.de – 21.06.2006) (477) Allererste Sahne seine Vorarbeit zum 4:1: Erst Barry mit famosem Sprint abgehängt, dann mustergültig für Müller aufgelegt. (www.kicker.de - 28.06.2010) (463) Nach der Fußballmagerkost in den (478) Einziger Wermutstropfen: Müller 355 ersten beiden Partien zeigte Brasilien in Dortmund mit veränderter Formation mehr Spielfreude und war vor allem im Angriffsspiel wesentlich variabler. (www.kicker.de – 22.06.2006) (464) Nach 120 Minuten Käse-Fußball alle Elfer versemmelt! Hier macht sich die Schweiz löcherlich. (...) Dieses Spiel war wirklich kein Leckerbissen! Schweiz gegen Ukraine im WM-Achtelfinale (...) Irgendwie logisch, daß die Entscheidung über den Viertelfinal-Einzug im Elfmeter-schießen fiel. Und da versagten die Käse-Kicker! (www.bild.de – 27.06.2006) (465) Es mag bitter sein aber es muß gesagt werden: Der erste Auftrag van Bastens auf höchster Ebene hat nur ein mageres Ergebniss gebracht (...) (www.spiegel.de - 09.07.2006) fehlt im Halbfinale gelbgesperrt (www.kicker.de – 03.07.2010) (479) Nelsens starke Nuss Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. Grosser Kampf soll fehlende Klasse wettmachen. (...) (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.174) (480) Die Sahneseite des FC Bayern: Philipp Lahm und Arjen Robben wurden von den kicker-Lesern zu den beliebtesten Profis der Liga gewählt. (Kicker Sportmagazin Nr. 46 – 23. Woche 07.06.2010, p.77) (466) Unbestritten stellt die Squadra Azzurra bislang die taktisch perfekteste Defensive mit nur einer leichten Schwachstelle auf der linken VerteidigerPosition. Vom Offensiv-Champagner ist man jedoch weit entfernt. (www.kicker.de – 29.06.2006) (467) Den beiden Schüssen von Ji-Sung Park (36.) und Jae-Jin Cho (38.) fehlte jedoch das Zielwasser, so dass Togos Schlussmann Agassa bis zum Pausenpfiff kaum eingreifen musste. (www.kicker.de – 13.06.2006) 356 b) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria ingestão de alimentos e processos/sintomas fisiológicos (14 ocorrências) EURO 2004 (2) MUNDIAL 2006 (2) EURO 2008 (3) MUNDIAL 2010 (7) (481) Doch nach der engagierten Anfangsphase zeigten vor allem die Engländer, dass sie die beiden späten Gegentreffer gegen Frankreich noch nicht richtig verdaut hatten. (www.kicker.de – 17.06.2004) (483) DFB-Sieg gegen Ecuador Hungrige Helden So sind sie, diese Deutschen bei ihrer WM, unersättlich, aber immer fair."Man hat gemerkt, dass die Mannschaft hungrig ist", sagte Klinsmann später. Der Hunger - Klinsmanns Lieblingswort - hat seit WM-Beginn fast beängstigende Ausmaße angenommen. Klose habe sogar einen "Riesenhunger" auf Tore entwickelt, sagt der Bundestrainer. (www.spiegel.de – 20.06.2006) (485) Nach einem Seitenwechsel von Smolarek, vernaschte Saganowski Pogatetz auf der rechten Seite (...). (www.kicker.de – 12.06.2008) (488) Das im Durchschnitt 24,8 Jahre junge deutsche Team weckte mit seiner Spielfreude Lust und Appetit auf ein tolles Turnier. (www.sportbild.bild.de – 13.06.2010) (482) Nun war der Widerstand der Schweizer gebrochen, doch der Torhunger von Henry war noch nicht gestillt. (www.kicker.de – 21.06.2004) (484) Nach langer Durststrecke von Figo führte ein Geistesblitz des Kapitän zur lang ersehnten Führung (...). (www.kicker.de – 17.06.2006) (486) Hans-Dieter Flick (Co-Trainer): "Heute waren wir hungrig und heiß.“ (www.kicker.de – 19.06.2008) (487) Sabri vernaschte auf der rechten Seite Lahm und flankte dann flach auf den ersten Pfosten (...) (www.kicker.de – 25.06.2008) (489) Trainer Pim Verbeek (Australien): "(...) Dann kam der zweite Treffer hinterher und dann kommst du nicht mehr ins Spiel. Diese Niederlage müssen wir erstmal verdauen. Wir haben jetzt zwei Endspiele." (www.kicker.de – 13.06.2010) (490) Portugal ist heiß auf Tore (www.kicker.de – 21.06.2010) (491) Hoeness: Heisshunger auf Spanien (Ulli Hoeness über das Spiel mit Spanien) (www.kicker.de/news/video) (492) „Ich bin gehorsam und gottesfürchtig. Ghana wird einen neuen Sulley Muntari erleben. Hungriger und immer bereit, die Flagge Ghanas zu verteidigen.“ (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010) (493) M. Klose: „Im WM-Eröffnungsspiel 2002 habe ich gegen Saudi-Arabien dreimal getroffen, 2006 zum Auftakt gegen Costa Rica zweimal und diesmal nur einmal. Da brauche ich 2014 erst gar nicht 357 mehr antreten.“ Der 32-Jährige, nachdem er seine seit Oktober im Nationalteam anhaltende Durstrecke gegen Australien zur rechten Zeit beendet hatte. (www.sportbild.bild.de – 23.06.2010) (494) „Wir haben eine junge und hungrige Mannschaft, mit der können wir weit kommen“, prophezeit Lukas Podolski. (...) (Kicker Sportmagazin Nr. 47 – 23. Woche 10.06.2010, p.2/3) c) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria agricultura (7 ocorrências) EURO 2004 (1) MUNDIAL 2006 (4) EURO 2008 (1) MUNDIAL 2010 (1) (495) Die Letten igelten sich hinten ein und erstickten die Angriffsbemühungen der DFB-Elf schon im Keim. (www.kicker.de – 18.06.2004) (496) In den Folgeminuten waren Höhepunkte dann jedoch wieder dünn gesät. (www.kicker.de – 20.06.2006) (500) Roberto Donadoni (Italien): "Wir haben heute mit etwas Glück endlich die Früchte eingefahren und sind jetzt natürlich sehr zufrieden. (www.kicker.de – 17.06.2008) (501) Kicker: Ist es eine Erfüllung für einen Trainer, wenn man die Saat so aufgehen sieht? Löw: Es ist eine Freude. Wenn man sieht, dass die Spieler Fortschritte machen, sich verbessern und die vorgegebenen Dinge auf dem Platz umsetzen, ist das für einen Trainer eine grosse Genugtuung. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.24/25) (497) Die "Elftal" agierte sicher am Ball und suchte den Erfolg immer wieder über die linke Seite, die Robben beackerte. (www.kicker.de - 25.06.2006) (498) Nach 68 Minuten folgte noch ein halbwegs gefährlicher Kopfball von Luis Garcia, doch waren Torraumszenen bei aller Spannung, die in der Luft lag, dünn gesät. (www.kicker.de – 27.06.2006) (499) Durch das Pressing der Franzosen wurde der Spielaufbau Südkoreas im Keim unterbunden, nennenswerte Möglichkeiten blieben so aus. (www.kicker.de – 19.06.2006) 358 d) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA - categoria culinária (6 ocorrências) EURO 2004 (0) MUNDIAL 2006 (4) EURO 2008 (1) MUNDIAL 2010 (1) (502) Viertelfinale - Deutschlands Geheim-Rezept gegen Argentinien (www.spiegel.de – 28.06.2006) (506) Im Spiel nach vorne fand Oranje kein Rezept (...) (www.kicker.de – 19.06.2008) (507) Gegen die überfallartigen Angriffe der Südkoreaner (...) fand die Abwehr um Senior Georgios Katsouranis auch weiterhin kein Rezept. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) (503) (...) aber Bundestrainer Klinsmann hat ein Rezept gegen die angeschlagenen Nachbarn. (www.spiegel.de – 13.06.2006) (504) Da war ausgerechnet Raul, der die erste Hälfte noch auf der Bank schmoren musste, zur Stelle und hob einen Abpraller an Torwart Boumnijel vorbei zum 1:1 ins rechte obere Eck. (www.kicker.de – 19.06.2006) (505) Nun war Deutschland gefordert, fand in den Folgeminuten jedoch kein Rezept, die "Gauchos" zu knacken. (www.kicker-de – 30.06.2006) 359 Vejamos, então, o correspondente modelo de redes mentais à luz de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a). No espaço virtual, decorrente do mapeamento entre o domínio-fonte da alimentação e da agricultura, organizada por sub-domínios (esferas pequenas) e o domínioalvo do futebol, emerge a mescla: FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO ou AGRICULTURA. No que diz respeito à alimentação, as realizações metafóricas identificadas não remetem para a perspectiva do alimento como fonte nutritiva de sobrevivência, ou seja, os alimentos como indispensáveis para a sobrevivência de qualquer ser vivo. Remetem, antes, para as analogias formais, em termos de aparência e consistência físicas do alimento em questão, assim como para o gosto característico e excelência dos mesmos, o que nos conduz, claramente, para o domínio dos sentidos e do prazer ou desprazer provocados por certos alimentos. Logo, o espaço de relevância configura o elemento estabilizador da mescla, na medida em que recorre a um quadro relativamente universal de reacções emocionais associadas a certos paladares, como, por exemplo: doce é agradável, logo bom, enquanto amargo é desagradável, logo mau. O valor nutritivo dos alimentos é outro factor determinante, sendo que uma dieta, parca em calorias, gorduras e açúcares, é considerada insípida, aborrecida e até desagradável. No que concerne as reacções fisiológicas face à alimentação, as realizações metafóricas remetem-nos, de novo, para o domínio sensorial. A sensação de fome e de apetite é base conceptual para expressão do desejo enquanto o processo digestivo realça o trabalho, por vezes desagradável, da transformação dos alimentos. Quanto ao domínio da culinária, consideramos a noção de ambição em busca da perfeição, i.e. ambicionar o conhecimento do que deve ser feito para que o produto final fique perfeito (ou quase perfeito), como estrutura relevante para a estabilização da mescla final. As receitas culinárias são instruções para que se possa tirar o maior proveito dos alimentos ao nosso dispor, procurando atingir a perfeição em termos gustativos e de equilíbrio nutricional. Relativamente à agricultura, o espaço de relevância activa, a nosso ver, estruturas dinâmicas associadas ao esforço físico e ao progresso, através da noção de crescimento qualitativo e quantitativo da produção agrícola. Assim sendo, a produção depende da dedicação e do empenho. Neste sentido, a mescla final poderá conter as seguintes mensagens: o futebol lembra formas e texturas naturais; o futebol desperta desejos; o futebol é fonte de prazer ou desprazer; o futebol é um desporto que depende de esforço e de empenhamento para a produção de jogadas de qualidade, na maior quantidade possível; finalmente, o futebol é ambição porque procura ser perfeito. 360 Espaço Semiótico de Base Espaço de Apresentação Espaço de Referência Reacções Alimento fisiológicas Expressões metafóricas FUTEBOL ALIMENTAÇÃO/AGRICULTURA Culinária Outros Intervenientes Agricultura Cenário da alimentação/ agricultura; Esquema do domínio sensorial e das emoções/ Esquema do empenho e da ambição Equipa Jogador FUTEBOL COMO ALIMENTAÇÃO/ AGRICULTURA Campeonato Jogo/ Jogada Espaço Virtual (Blend) Esquema dinâmico de Relevância (Relevance-Schema) Inferências Emergentes O mundo do futebol é um mundo que desperta os Futebol lembra o mundo natural; é desejo e provoca sensações agradáveis e desagradáveis; futebol é ambição. Espaço do Significado sentidos e procura a perfeição Figura 63: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Alimento/Agricultura a) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria alimentos e suas características O conhecimento do mundo e a experiência vivida por parte do leitor, assim como factores de índole cultural, permitem ao jornalismo desportivo recorrer a imagens do domínio dos alimentos para descrever, de forma clara e facilmente entendível, as acções em campo. Cada alimento evidencia um traço característico, uma estrutura prototípica que é mapeada para o domínio-alvo do futebol. A ocorrência (464) é particularmente interessante porque constrói um conjunto de realizações metafóricas em torno da estrutura de um só alimento: o queijo suíço. (464) Nach 120 Minuten Käse-Fußball alle Elfer versemmelt! Hier macht sich die Schweiz löcherlich. (...) Dieses Spiel war wirklich kein Leckerbissen! Schweiz gegen 361 Ukraine im WM-Achtelfinale (...) Irgendwie logisch, daß die Entscheidung über den Viertelfinal-Einzug im Elfmeterschießen fiel. Und da versagten die Käse-Kicker! A presente notícia diz respeito ao jogo entre as selecções da Suíça e da Ucrânia, aquando do campeonato mundial de 2006. Tratou-se de um jogo de fraca qualidade e acabou por ser decidido através da marcação de grandes penalidades. Devido ao facto da Suíça não ter concretizado nenhuma das penalidades, foi eliminada da competição. Por outro, o queijo suíço faz parte das tradições culturais deste país. Sabe-se que os queijos suíços fazem parte do grupo dos queijos mais famosos do mundo, sendo que o queijo “Emental”, considerado o mais proeminente entre os suíços, se caracteriza pelos seus grandes buracos, uma das imagens de marca do queijo helvético. Outrora alimento fundamental das dietas de todas as classes310, actualmente um bom queijo é considerado como sendo uma iguaria gourmet. Contudo, o alimento queijo é utilizado num registo informal e depreciativo para descrever ocorrências absurdas ou disparatadas.311 Tal deve-se provavelmente ao facto do antigo queijo germânico ser pastoso e disforme, à semelhança do requeijão.312 Finalmente, assiste-se ao jogo fono-simbólico entre “löcherlich” e “lächerlich”, o que atesta a conceptualização da exibição ridícula através dos buracos do queijo. Em suma, a exibição da selecção suíça foi fraca, inconsistente, permeável e absurda por não ter concretizado uma única penalidade. As realizações metafóricas das próximas duas ocorrências são construídas a partir da experiência sensorial do sabor amargo: (460) Kurz vor der Pause fiel dann ein Wermutstropfen313 in den Freudenbecher der ersten Halbzeit der Tschechen. 310 vide Deutsches Wörterbuch von Jakob Grimm und Willhelm Grimm in: http://dwb.unitrier.de/Projekte/WBB2009 /DWB/wbgui_py?bookref=8,361,26&mode=&prefix=glu&patternlist=. [Consult. 28.04.2011] 311 “Kä|se [m.] 1 durch Zusatz von Lab und/oder Milchsäurebakterien zum Gerinnen gebrachtes, von der Molke getrenntes Milchprodukt 2 [ugs.] dummes Zeug; das ist alles K.! [<lat. caseus ”Käse“]” (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?ger [Consult. 28.04.2011]) 312 “Käse, M., »Käse«, mhd. kæse, (…) germ. *käsjus, lat. caseus, »mengen, mischen, rühren«, die Germanen kannten ursprünglich nur Quark (Weichkäse, s. an. ostr).“ (Köbler, Gerhard, Deutsches Etymologisches Wörterbuch, 1995, in http://www.koeblergerhard.de/derwbhin.html, p. 214 [sublinhado nosso] [Consult. 28.04.2011]). 313 “ein Wermutstropfen: etwas, das die Freude trübt; eine eigentlich gute Sache, die aber einen Mangel hat. Ergänzungen: Die Redensart bezieht sich auf den bitteren Geschmack des Wermuts, der als Beimischung dem Getränk eine unangenehme Note verleiht. Schon in der Bibel heißt es (Offb. 8,10-11): "Und der dritte Engel posaunte: und es fiel ein großer Stern vom Himmel, der brannte wie eine Fackel und fiel auf den dritten Teil der Wasserströme und über die Wasserbrunnen. Wie bist du vom Himmel gefallen, du schöner Morgenstern! Wie bist du zur Erde gefällt, der du die Heiden schwächtest! Und der Name des Sterns heißt Wermut. Und der dritte Teil der Wasser ward Wermut; und viele Menschen starben von den Wassern, weil sie waren so bitter geworden." (Redensarten-Index, in: http://www.redensarten-index.de/suche.php?suchbegriff=Wermutstropfen&bool=relevanz &suchspalte%5B%5D=rart_ou&suchspalte%5B%5D=erl_ou&suchspalte%5B%5D=bsp_ou&suchspalte%5B%5D=erg_ ou [Consult. 28.04.2011]) 362 (475) Erst ein umstrittener Feldverweis, dann ein bitteres Abseitstor (...). Na ocorrência (460), trata-se da lesão de um jogador checo, enquanto a ocorrência (475) se centra num golo marcado em fora de jogo. Ambas as situações são descritas através do recurso a alimentos de sabor amargo, ou seja, a desilusão abstracta provocada pela lesão de um jogador e pelo golo adversário irregular é conceptualizada através da sensação desagradável concreta do amargo. O facto de se tratar de um golo irregular intensifica a sensação de amargura. Note-se que também o conceito de alegria é conceptualizado como um líquido num cálice - “Freudenbecher” - ao qual se acrescentaram pingos de vermute amargo, afectando negativamente o prazer de beber. Já a ocorrência (471) destaca o sabor do doce como agradável, logo positivo: (471) Yakin versüßt Kuhns Abschied - Einen versöhnlichen Abschluss feierte die Schweiz im letzten Gruppenspiel gegen Portugal. Durch zwei Yakin-Tore kamen die Eidgenossen zum ersten Sieg bei einer EM-Endrunde und versüßten gleichzeitig dem scheidenden Trainer Jakob Kuhn den Abschied. A ocasião triste do jogo de despedida do seleccionador suíço Kuhn é alegrada pelo doce sabor da vitória, conseguida através dos dois golos marcados pelo jogador Yakin. De novo, os golos transformam-se em comestíveis que, de acordo com a perspectiva das equipas são doces ou amargas. Na ocorrência (470), o golo do jogador espanhol David Villa no jogo da Espanha contra a Suécia, sabe simplesmente melhor: (470) Stimmen zum Spiel Schweden gegen Spanien - Villa: "Dieses Tor schmeckt besser" Assim sendo, para um goleador todos os golos sabem bem, mas se o mesmo foi determinante para a vitória no jogo, o tento pode ter um sabor ainda mais especial. Jogos ou tácticas particularmente favoráveis e eficazes são conceptualizados através de iguarias ou produtos alimentares de elevada qualidade: (466) Unbestritten stellt die Squadra Azzurra bislang die taktisch perfekteste Defensive mit nur einer leichten Schwachstelle auf der linken VerteidigerPosition. Vom Offensiv-Champagner ist man jedoch weit entfernt. (456) „Er ist das Sahnehäubchen auf unsere Transfers!“ Hannovers neuer Manager (...) schwärmt über die jüngste Neuverpflichtung (Ricardo Sousa). 363 A qualidade do jogo corresponde à qualidade e apresentação do alimento: champanhe e não somente espumante (466); uma sobremesa enfeitada com deliciosos tufos de chantilly (456). No eixo oposto, encontramos uma dieta insípida, que se limita ao estritamente essencial, sem se preocupar com o prazer gustativo: (461) Beide Teams boten im ersten Durchgang nur Schonkost, steigerten sich dann aber nach dem Seitenwechsel. No campeonato mundial de 2006, a primeira parte do jogo entre as selecções do Brasil e da Austrália foi marcada por uma qualidade exibicional bastante fraca, sem golos e mesmo sem oportunidades de golo relevantes. Este jogo desinteressante causa sensações equivalentes ao desconsolo provocado uma dieta sem sabor. A realização metafórica da ocorrência (479) centra-se na característica física mais distintiva da noz: a dureza da sua casca. A expressão “(harte) Nuss”314 é frequentemente utilizada para descrever circunstâncias ou tarefas complicadas, sendo que a experiência da dificuldade em quebrar a casaca dura da noz se afigura como alicerce conceptual para a experiência abstracta da resolução de problemas. (479) Nelsens starke Nuss Die Festung Neuseeland muss erst mal erobert werden. Grosser Kampf soll fehlende Klasse wettmachen. (...) Neste contexto particular, trata-se da capacidade de defesa da selecção neo-zelandesa durante o campeonato mundial de 2010. Se o objectivo principal do jogo de futebol é a marcação de golos, e o objectivo do ser vivo, perante uma noz, é comer o seu miolo, então a defesa da equipa protege a sua baliza como a casca da noz protege o seu recheio. Finalmente, a ocorrência (476) evoca uma experiência, provavelmente vivida por uma grande parte da população do mundo desenvolvido: ao servirmo-nos de molho de tomate “ketchup” em frasco, a espessura densa e pastosa do molho torna o objectivo de colocar uma porção de “ketchup” no prato uma tarefa traiçoeira: ou não sai nada do frasco ou, se abanarmos o frasco com força excessiva, sai demasiado, de uma vez só. O jogador português Cristiano Ronaldo esteve, durante um período bastante prolongado, sem conseguir marcar golos. Perante a insistência dos jornalistas relativamente a este ‘bloqueio’, e questionado acerca do quando é que iria voltar aos golos, o jogador respondeu: 314 “Nuss [f.] 1 trockene, einsamige Schließfrucht, deren holzige, harte Fruchtwand mit dem Samen nicht verwachsen ist (Hasel~, Wal~); jmdm. eine N. zu knacken geben jmdm. eine schwierige Aufgabe oder Frage stellen; eine harte N. eine schwierige Aufgabe, eine schwer zu lösende Sache“ (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/ wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html?gerqry=nuss [Consult. 28.04.2011]) 364 (476) Cristiano Ronaldo: „Bei den Toren ist es wie beim Ketchup. Wenn etwas kommt, kommt gleich alles auf einmal.“ Esta imagem original provocou o riso entre os jornalistas e os leitores, contudo, a mensagem foi imediatamente compreendida devido à experiência por todos partilhada. Uma vez exploradas as diversas ocorrências, propomos as seguintes redes de espaços mentais: Ocor. (464) (460) (475) (471) (470) (466) ESB EA ERef M1 Texto Käse-Fussball/ KäseKicker/ kein Leckerbissen/ löcherlich (futebol e jogadores de queijo/iguaria (neg.)/esburacado Jogo da selecção suíça/ todas as penalidades falhadas Jogo da Suíça e penalidades falhadas como queijo suíço Cenário da alimentação/ Conhecimento da Que mau jogo! aparência do queijo suíço/ Esquema cultural Lesão do jogador checo Lesão do jogador como pingo de vermute Cenário da alimentação/ Domínio sensorial (sabores) Oposição doce-amargo = bom- mau Que azar! Golo irregular como tendo sabor amargo Cenário da alimentação/ Domínio sensorial (sabores) Oposição doce-amargo = bom- mau Suíça, que golo injusto! Vitória no jogo de despedida como factor adoçante Cenário da alimentação/ Domínio sensorial (sabores) Oposição doceamargo = bommau Adeus e parabéns! Golo decisivo como sabor melhor Cenário da alimentação/ Domínio sensorial (sabores) Escala de sabores Golo muito especial! Texto Texto Texto Texto Texto Wermutstropfen (pingo de vermute) bitteres Tor (golo amargo) versüßen (adoçar) Golo em fora de jogo da selecção chilena no jogo contra a Suíça Vitória no jogo de despedida do seleccionador Suíço ERel M2 schmeckt besser (sabe melhor) Golo do decisivo do jogador espanhol Villa kein OffensivChampagner (Champanhe ofensivo (neg.)) Cenário da alimentação/ Táctica ofensiva Táctica ofensiva Domínio sensorial como Itália, que mau da selecção (sabores)/ Escala champanhe jogo! italiana da qualidade de (neg.) produtos alimentares 365 (456) (461) (476) (476) ESB ERef ERel Texto Texto Texto Texto Sahnehäubchen (tufos de chantilly) Schonkost (dieta alimentar) Transferência do jogador Ricardo Sousa para o Hanôver Transferência do Jogador Sousa como tufo de chantilly Excelente transferência! (Manager) Cenário da Primeira parte do alimentação/ jogo entre as Primeira parte Domínio sensorial Que jogo desselecções do do jogo como (sabores) interessante! Brasil e da dieta alimentar Escala de sabores e Austrália ingredientes starke Nuss (noz forte) Defesa da selecção neozelandesa Defesa neozelandesa como noz “Ketchup” (a sair de um frasco) Futuros golos do jogador português Ronaldo Futuros golos de Ronaldo como “Ketchup” a sair do frasco. - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância Cenário da alimentação/ Escala da qualidade e apresentação de produtos alimentares EA M1 M2 Cenário da alimentação/ Nova Zelândia, Conhecimento da boa defesa! estrutura dos alimentos Cenário da alimentação/ Conhecimento ou experiência vivida da situação Serei melhor! (C. Ronaldo) - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 64: Tabela de Espaços Mentais 30 Como já referimos anteriormente, os espaços de relevância, construídos a partir de estruturas fundamentadas no conhecimento do mundo e na experiência individual e cultural conduzem à apreciação, i.e. à capacidade de distinção entre o que é bom e o que é mau na mescla final, permitindo um posicionamento crítico perante as diferentes situações. O domínio sensorial concreto destaca-se como domínio determinante para a explicitação de emoções, tais como a alegria e a satisfação ou o desagrado e a desilusão. b) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria ingestão de alimentos e processos/sintomas fisiológicos Se, de acordo com o anteriormente exposto, os alimentos se assumem como domínios-fonte para as diversas construções mescladas, os processos e sintomas fisiológicos associados à ingestão de alimentos enquadram-se, com toda a lógica, neste cenário 366 conceptual. As ocorrências (482) e (486) dizem respeito à sensação causada pela necessidade de ingerir alimentos: (482) Nun war der Widerstand der Schweizer gebrochen, doch der Torhunger von Henry war noch nicht gestillt. (486) Hans-Dieter Flick (Co-Trainer): "(...) Heute waren wir hungrig und heiß.“ Estas realizações metafóricas evidenciam a conceptualização do golo e da vitória como um alimento, sendo que a sua busca provoca fome (“hungrig”) e desejo (“heiß”)315. Na língua portuguesa são comuns as expressões equivalentes ‘fome de golo’ e ‘sede de vitória’, fundamentadas em entroncamentos conceptuais idênticos. Este facto corrobora o postulado de que o domínio da experiência física das reacções fisiológicas configura um domínio-fonte universal, partilhado por todos os seres vivos. A necessidade física de saciar o desejo de comer equivale à necessidade emocional de sentir satisfação e alegria através do sucesso alcançado. Os verbos “naschen” ou “vernaschen” implicam a ingestão de guloseimas ou de doces, não devido à necessidade de consumo de alimentos, mas sim para satisfazer a gula e o desejo316. Na ocorrência (487), (487) Sabri vernaschte auf der rechten Seite Lahm und flankte dann flach auf den ersten Pfosten (...). o jogador alemão Lahm é “consumido” através da finta do jogador adversário Sabri, i.e.: “(…) eine andere Mannschaft o. einen → Gegenspieler mühelos → bezwingen, bzw. → ausspielen (…). (Burkhardt, 2006a:335)317. Uma vez ingeridos os alimentos, inicia-se o processo digestivo, e quanto mais pesada e indigesta for a refeição, mais difícil e morosa se torna a sua digestão. O golo adversário representa um evento indesejado e infeliz, logo, equivale a um alimento indigesto: (481) Doch nach der engagierten Anfangsphase zeigten vor allem die Engländer, dass sie die beiden späten Gegentreffer gegen Frankreich noch nicht richtig verdaut hatten. 315 “Heiß|hun|ger, der: [plötzlich auftretender] besonders großer Hunger (1 b) auf etw. Bestimmtes: einen H. auf etw. haben;“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-Rom) 316 “na|schen <V.; hat> [mhd. naschen, ahd. nascon, urspr. = knabbern, schmatzen, lautm.]: 1. Süßigkeiten o. Ä. [Stück für Stück] genießerisch verzehren: gerne, viel, Schokolade n. 2. [heimlich] kleine Mengen von etw. [wegnehmen u.] essen: wer hat vom Kuchen genascht? ver|na|schen <sw. V.; hat>: 1. a) (selten) naschend verzehren; b) für Naschwerk, Süßigkeiten ausgeben: er hat sein Taschengeld vernascht.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CD-ROM) 317 A expressão equivalente em português coloquial, é ‘papar o adversário’: “Utilizando a linguagem popular, bem se pode dizer que Portugal é que foi "papado" em campo pelos americanos (…)” (O Público, 27.06.2002, relativamente à eliminação prematura da selecção de Portugal no campeonato mundial de 2002, in: http://www. publico.pt/Media/descalabro-dos-tugas-trocou-as-voltas-aos-publicitarios_155227?p=1 [Consult. 29.04.2011]). 367 Por fim, a ingestão de líquidos constitui uma necessidade vital para a sobrevivência de qualquer ser vivo. Portanto, quanto mais prolongada for a privação do consumo de líquidos, maior o sofrimento e o risco para a saúde. Um jogador que, jogo após jogo, não atinge a qualidade exibicional que lhe é característica ou que não consegue marcar golos, como habitualmente o fazia, está, igualmente, em sofrimento. Sente-se como alguém, que atravessa o deserto sem água: (484) Nach langer Durststrecke318 von Figo führte ein Geistesblitz des Kapitän zur lang ersehnten Führung (...). Na língua portuguesa, a noção de carência é conceptualizada através do substantivo 319 ‘jejum’ , ou seja, a privação ou redução de alimentos, por vontade própria ou por imposição, durante um certo tempo. Neste sentido, os golos e as vitórias equivalem, em ambas as línguas, ao alimento sólido ou líquido vital para os jogadores. Apresentamos, seguidamente, a tabela representativa das possíveis redes de espaços mentais: Ocor. (482) (486) (487) (481) ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Torhunger gestillt (não matou a fome) Vontade do jogador francês Henry de marcar golos (Futuro) Marcação de golos como matar a fome (Futuro) Cenário da alimentação/ Esquema do desejo/ necessidade Henry quer mais e melhor! Texto hungrig und heiß (estar com fome e desejo Postura em Cenário da Postura em Alemanha, muita campo como alimentação/ campo da garra! estar com fome Esquema do desejo/ selecção alemã (Flick) e desejo necessidade Texto vernaschen (gulodice) Finta do jogador turco Sabri sobre o jogador alemão Lahm Texto verdauen (processo de digestão) A selecção inglesa sofreu dois golos. Finta como vernaschen Cenário da alimentação/ Esquema do desejo/ necessidade Bem jogado, Sabri! Golos sofridos como processo de digestão Cenário da alimentação/ Esquema do desconforto físico Selecção inglesa em baixo! 318 “Durst|stre|cke [f.] Zeit voller Entbehrungen, Zeit, in der man kaum sein Auskommen hat, wenig verdient.“ (BERTELSMANN Wörterbuch, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/services/suche/wbger/index.html ?gerqry=durststrecke [Consult. 29.04.2011]) 319 “Marítimo-Beira-Mar, 1-0. Baba quebrou o jejum dos madeirenses.”(MaisFutebol, Manuel Alves, 20.02.2011, in: http://www.maisfutebol.iol.pt/noticia.html?id=1234445 [Consult. 29.04.2011]) 368 (484) ESB ERef ERel Texto nach langer Fim do período Fim do período Durststrecke de insucesso do de insucesso (fim do período jogador como fim da de carestia) português Figo Durststrecke - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Cenário da alimentação/ Esquema do desconforto físico Boa jogada, Figo! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 65: Tabela de Espaços Mentais 31 Os espaços de relevância evidenciam o cenário da alimentação, e, motivados por este cenário, recorrem aos esquemas emocionais do desejo e da necessidade de procurar o bemestar e a satisfação física e sentimental. Quando as necessidades não são satisfeitas, é activado o esquema emocional oposto do desconforto e do desconsolo. As mesclas finais patenteiam os estados emocionais dos jogadores em questão, o que, por sua vez, motiva os jornalistas a expressar elogios e incentivos por um lado, críticas e lamentos por outro. c) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria agricultura Nas sociedades desenvolvidas, dominadas pela indústria e pela tecnologia, a agricultura320 aparenta ser um domínio distante e tradicional. Os diferentes processos agrícolas são desconhecidos da maioria dos cidadãos, principalmente daqueles que vivem nos grandes centros urbanos. São, habitualmente, recordadas apenas as três fases essenciais à produção agrícola: a fase inicial da sementeira, a fase intermédia do cuidar do plantio e a fase final da colheita. É provável que este conhecimento rudimentar perdure graças à herança cultural transmitida de geração em geração. Relativamente às 7 ocorrências identificadas, cinco dizem respeito à semente e à sementeira, uma centra-se na fase do crescimento e uma na recolha da produção frutícola. Assim sendo, seleccionamos três ocorrências representativas: (499) Durch das Pressing der Franzosen wurde der Spielaufbau Südkoreas im Keim unterbunden, nennenswerte Möglichkeiten blieben so aus. (498) Nach 68 Minuten folgte noch ein halbwegs gefährlicher Kopfball von Luis Garcia, doch waren Torraumszenen bei aller Spannung, die in der Luft lag, dünn gesät. (501) Kicker: Ist es eine Erfüllung für einen Trainer, wenn man die Saat so aufgehen sieht? 320 Actividade humana de exploração do solo para cultivo de espécies vegetais, com o intuito de produzir matériasprimas para a alimentação e outras actividades. (Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011. In: http://www.infopedia.pt/$agricultura [Consult. 29.04.2011]) 369 Löw: Es ist eine Freude. Wenn man sieht, dass die Spieler Fortschritte machen (...) ist das für einen Trainer eine grosse Genugtuung. A notícia da ocorrência (499) diz respeito ao jogo entre as selecções da França e da Coreia do Sul aquando do campeonato mundial de 2006. A selecção francesa mostrou-se eficaz ao anular as tentativas de construção do jogo da Coreia do Sul, pelo que, sem construção de jogo, não existe organização no meio campo nem condução de jogadas de ataque, ou seja, o jogo da selecção coreana estava limitado à defesa. A analogia é evidente: a génese do jogo consiste na construção de jogadas, tal como o crescimento de uma planta depende do desenvolvimento da semente. A realização metafórica da ocorrência (498), prende-se com a noção da quantidade de sementes plantadas: “dünn gesät”. Uma sementeira parca conduz, invariavelmente, a colheitas escassas. Nesta óptica, se existem poucas oportunidades de golo, pelo que a probabilidade de conseguir marcar um golo é proporcionalmente reduzida. Portanto, o jogo é conceptualizado como um campo de cultivo no qual as jogadas de perigo são os frutos das sementes plantadas. Nesta mesma linha, os jogadores também podem ser conceptualizados como sementes que se desenvolvem e por fim, produzem o resultado desejado, quão plantas que crescem e dão frutos. A estrutura conceptual da ocorrência (501) constrói um cenário idílico no qual um agricultor admira, orgulhosamente, o crescimento do seu cultivo. No mesmo sentido, o seleccionador alemão Löw admira o grau de desenvolvimento da competência dos seus jogadores e congratula-se com os resultados. Os espaços de relevância reflectem, a nosso ver, os esquemas do crescimento e desenvolvimento baseado nos princípios do empenho e da dedicação, enquadrado no cenário agrícola. A memória histórica e cultural partilhada mantém viva a imagem do agricultor dedicado, que trabalha no campo do nascer ao pôr-do-sol, com o rosto e o corpo marcado pela dureza do trabalho e pelo esforço e sacrifício contínuos. À luz deste enquadramento relevante, as mesclas finais destacam, de forma elogiosa, o empenho e os respectivos sucessos, assim como lamentam a ausência dos mesmos. Ocor. (499) ESB EA Texto im Keim unterbinden (impedir o crescimento da semente) ERef M1 ERel M2 Pressão da selecção francesa Pressão da selecção francesa como impedir o crescimento da semente Cenário da agricultura/ Esquema do empenho e da produção Boa táctica, selecção francesa! 370 (498) (501) ESB ERef ERel Texto dünn gesät (sementeira parca) Oportunidades Oportunidades de golo como de golo sementeira parca Cenário da agricultura/ Esquema do empenho e da produção Espanha, pouco esforço! Texto die Saat aufgehen sehen (observar o crescimento do cultivo) Jogadores Jogadores da como cultivo selecção alemã em crescimento Cenário da agricultura/ Esquema do empenho e da produção Parabéns aos jogadores alemães! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 66: Tabela de Espaços Mentais 32 d) FUTEBOL É ALIMENTAÇÃO e AGRICULTURA - categoria culinária Qualquer tipo de alimento deverá ser preparado ou cozinhado para poder ser ingerido, sem prejuízo para a saúde, pelos humanos. De acordo com os antropólogos, este é um dos traços significativos que distinguem os humanos dos restantes animais. Mais ainda, postula-se que os processos culinários constituem actos simbólicos de índole cultural.321 Existem receitas culinárias típicas e emblemáticas, provenientes de todas as partes do mundo, contudo, muitas técnicas de confecção são universais: cozer, grelhar, fritar, etc. As realizações metafóricas das ocorrências (506) e (504), evidenciam mapeamentos conceptuais entre o domínio-fonte do princípio da receita culinária como instrução detalhada do que deve ser feito para obter um resultado satisfatório, (506) Im Spiel nach vorne fand die Oranje kein Rezept (...). assim como a variante de confecção alimentar (guisar) 321 “Cientistas sociais e pesquisadores não puderam mais ignorar que os alimentos também servem para pensar. Na Antropologia, os processos culinários sempre ocuparam papel de destaque, entretanto, foi Claude Lévi-Strauss quem ampliou a dimensão da preparação da comida ao dar enfoque simbólico. Ele demonstrou o caráter elementar da vida culinária ao construir o seu tripé culinário sob o fogo. Após 20 anos pesquisando sobre mitos indígenas, o antropólogo e filósofo publicou a série Mitológicas com quatro volumes. O primeiro deles foi “O Cru e o Cozido”, publicado em 1964, onde estruturou essas duas categorias como passagem da natureza para a cultura. Os três volumes seguintes foram: Do mel às cinzas (1967), Origens das maneiras à mesa (1968) e O homem nu (1973). (…)De acordo com Lévi-Strauss, »a cozinha é articuladora das categorias natureza e cultura e também expressa uma linguagem por interligar sistemas de oposições.« Para situar as atividades culinárias em um campo específico, desenhou o triângulo Cru-cozido-podre. O cozido é uma transformação cultural do cru; e o podre é uma transformação natural. Na base desse tripé, é possível opor o que é natural do cultural.” (Professor Rodrigo Lima, 2011, in: http://professorrodrigolima.wordpress.com/2011/02/05/claude-levi-strauss-o-ato-de-se-alimentar/ [Consult. 30.04.2011]) 371 (504) Da war ausgerechnet Raul, der die erste Hälfte noch auf der Bank schmoren musste, zur Stelle und hob einen Abpraller an Torwart Boumnijel vorbei zum 1:1 ins rechte obere Eck. e o domínio-alvo do universo do futebol. A notícia subjacente à ocorrência (506) ocupa-se do jogo da selecção holandesa contra a selecção da Rússia aquando do campeonato europeu de 2008. Para além da Holanda ter perdido o jogo por 1:3, demonstrou uma enorme ineficácia em termos atacantes, não tendo conseguido impor o seu jogo, que habitualmente se caracteriza por uma boa organização, objectividade e capacidade concretizadora. Embora cada selecção assuma uma determinada filosofia e estilo de jogo, as tácticas têm de se adaptar ao adversário em questão, i.e. para cada jogo deve ser encontrado um plano de jogo específico. As analogias estruturais óbvias motivam o mapeamento entre o plano e uma receita culinária. Estabilizado pelo espaço de relevância que, enquadrado no cenário da culinária activa o esquema dinâmico do princípio da organização que conduz ao sucesso, a mescla final consubstancia-se na crítica à selecção holandesa por não ter conseguido encontrar soluções e caminhos para o sucesso. A realização metafórica da ocorrência (504) recorre a um método de preparação de alimentos - schmoren - como imagem para descrever o jogador espanhol Raul sentado no banco de suplentes, no jogo do campeonato mundial de 2006 contra a selecção da Turquia. Não é necessário ser-se mestre culinário para ter conhecimento dos traços que caracterizam esta forma de confecção: trata-se de um processo de confecção lento e relativamente estático, porque os alimentos cozem lentamente, em lume brando, sem serem remexidos322. Neste sentido, o jogador Raul passou a primeira parte do jogo, calmamente sentado no banco a aguardar a hora de ser chamado à acção. Esta lexicalização metafórica foi descrita por Burkhardt (2006a:264) que afirma: “schmoren; nicht anbraten u. in wenig Wasser u. Fett langsam garen, sondern (in metaphorischer Bedeutung): (als Spieler) auf seinen → Einsatz warten (...)“ Ambas as construções apontam para o princípio de que existem formas e momentos ideais para que o processo em curso termine com sucesso, o que pode ser entendido como uma ambição em busca da perfeição. O treinador procura encontrar a estratégia e a táctica perfeita para vencer o jogo, aguarda pelo momento perfeito para retirar um jogador do banco e pô-lo a jogar. No que diz respeito à ocorrência (504) foi esse o caso: na segunda parte do 322 “schmoren: Fleisch oder Gemüse in Fett scharf anbraten und nach Zugabe von Flüssigkeit im geschlossenen Topf garen. Geschmorte Gerichte (z. B. Schmorbraten) haben dunkle Farbe und würzigen Geschmack.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/gesundheit/ernaehrung/index,page=1235300.ht ml [Consult. 30.04.2011]) 372 jogo, o seleccionador colocou o jogador suplente Raul a jogar e foi esse jogador que, pouco depois, marcou o almejado golo do empate. Assim sendo, referenciamos as seguintes redes de espaços mentais: Ocor. (506) (504) ESB ERef ERel ESB EA Texto Rezept (receita culinária) Texto schmoren (processo de guisar) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância ERef M1 ERel Cenário da Táctica ofensiva Táctica alimentação/ Esquema da selecção ofensiva como da ambição; busca do holandesa receita culinária sucesso/perfeição Jogador espanhol Raul no banco de suplentes EA M1 M2 Cenário da Raul no banco alimentação/ Esquema de suplentes da ambição; busca do como guisar sucesso/ perfeição M2 Holanda, má estratégia! Raul, que paciência! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 67: Tabela de Espaços Mentais 33 3.2.7. Imagens mescladas: Futebol – Trajectória “Cognitive Linguistics embraces the important idea that linguistic structures are related to, and motivated by, human conceptual knowledge, bodily experience, and communicative functions of discourse. (…) many of our concepts are grounded in, and structured by, various patterns of our perceptual interactions, bodily actions, and manipulation of objects (Johnson, 1987; Lakoff, 1987; Lakoff & Johnson, 1999, Talmy, 1988, 2000). Specific patterns of force dynamics underlie our embodied understandings of abstract concepts (Talmy, 1988, 2000). (…) These patterns are experiential gestalts, called “image schemas” (…) [that] can generally be defined as dynamic analog representations of spatial relations and movements in space. (…) Image schemas are imaginative, nonpropositional structures that organize experience at the level of bodily perception and movement. (…) At the same time, image schemas are more abstract than ordinary visual mental images and consist of dynamic special patterns (…).” (Gibbs, 2006:90-91) 373 O presente ponto debruça-se sobre as construções metafóricas que projectam o esquema imagético da trajectória, nomeadamente o esquema origem-trajectória-destino (daqui adiante: SPG - SOURCE-PATH-GOAL323) para o mundo do futebol. O esquema imagético SPG é dos esquemas complexos mais recorrentes nos processos de conceptualização fundados na experiência espacial do movimento: “The source-path-goal schema is one of the most fundamental schemas governing human conceptualizing with regard to sense-making (Johnson 1993, Turner 1996)” (Forceville, 2006:241). Da mesma forma como organizamos mentalmente o espaço físico que nos rodeia, “Lakoff argues that (…) our experience and concepts of SPACE are structured in large part by image schemas like CONTAINER, SOURCE-PATH-GOAL, PART-WHOLE, UP-DOWN, FRONTBACK, and so on. This means that image schemas like these structure our ICM (or mental modal) of SPACE.” (Evans/Green, 2006:280) recorremos a estas representações esquemáticas para organizar e compreender conceitos abstractos: “Although the SOURCE-PATH-GOAL experiences may vary considerably (…), the emergent image-schematic structure of SOURCE-PATH-GOAL supports literal meanings (…) and can be metaphorically projected onto more abstract domains of understanding and reasoning (Johnson, 1987)” (Gibbs, 2006:91). Assim sendo, o esquema SPG reflecte-se em variadíssimas construções metafóricas complexas que conceptualizam um conceito ou domínio como uma trajectória (PATH), que teve origem numa determinada circunstância (SOURCE) e pretende alcançar um dado objectivo (GOAL). A metáfora conceptual (“event structure metaphor”) OBJECTIVOS SÃO DESTINOS, é um exemplo representativo: “Thus, the SOURCE-PATH-GOAL schema gives rise to conceptual metaphors such as PURPOSES ARE DESTINATIONS, which preserve the main structural characteristics of the source domain (i.e. SOURCE-PATH-GOAL)” (Gibbs, 2006:91). A metáfora ‘A vida é uma viagem’ inscreve-se neste paradigma, na medida em que se fundamenta na conceptualização, culturalmente dependente, de actividades e objectivos de longa duração, como percursos: “In our culture, life is assumed to be purposeful, that is, we are expected to have goals in life. In the event structure metaphor purposes are destinations and purposeful action is selfpropelled motion toward a destination. A purposeful life is a long-term, purposeful activity 323 Representação gráfica do esquema imagético SPG: SOURCE PATH GOAL (Evans, 2007:109) 374 and hence, a journey. Goals in life are destinations on a journey. (…) Choosing a means to achieve a goal is choosing a path to a destination” (Lakoff, 2006b:208). Postulamos que, no domínio do futebol, o jogo ou um conjunto de jogos enquadrados num campeonato constituem o percurso, enquanto a vitória ou a conquista do campeonato é o destino. Se o futebol, tal como outras actividades que preenchem as nossas vidas, é uma vivência experienciada, o esquema SPG proporciona a estrutura conceptual adequada que nos permite compreender a intencionalidade das acções e decisões tomadas em direcção à vitória final: “(…) we talk about our lives and careers in terms of sources, paths and goals; (…) we metaphorically conceptualize our experiences through very basic, bodily experiences in the world that are abstracted to form higher-level metaphoric thought. This way of talking about experience shows how the PURPOSES ARE DESTINATIONS metaphor, resulting from a very basic image-schematic structure, is constitutive of our understanding of intentional action” (Gibbs, 2006:92). Num total de 46 ocorrências, as realizações metafóricas identificadas conceptualizam jogadas, áreas de jogo e jogos de futebol como: • caminhos (“Weg”); • estradas (“Strasse”); • passagens (“Durchgang”); • becos (“Gasse”); • viagens (“Reise”); • escaladas de montanha (“Gipfelsturm”, “Bergtour”); • passos (“Schritt”); • trajectos (“Strecke”); • corridas (“Lauf”); • entradas ou desfiles (“Einzug”, “Siegeszug”); • a entrada na estação terminal (“Endstation”); • rotas (“Kurs”). Os jogadores, a equipa, os seccionadores: • movimentam-se em direcção a ou indicam direcções (“in Richtung”,”Kurs nehmen auf”); • trepam de buracos (“aus dem Motivationsloch erkämpft“); • efectuam reservas (“Ticket buchen“); • desbravam caminhos (“Weg ebnen“/ “freiräumen“/ “bereiten“); • direccionam carris com a agulha (“Weichen stellen“). 375 a) FUTEBOL É TRAJECTÓRIA (46 ocorrências) EURO 2004 (5) MUNDIAL 2006 (10) (508) Lagerbäck: "Das war erst der (513) Berlin, Berlin - wir fahren nach erste Schritt" Berlin. Die Hauptstadt als Ziel einer (www.kicker.de – 14.06.2004) langen Reise. (www.bild.de – 09.07.2006) (509) Rooney ebnet den Weg. (www.kicker.de – 17.06.2004) (514) Zwar erzielte Wanchope sein zweites Tor aus leicht abseitsver(510) Ein Doppelpack von Rooney dächtiger Position (74.), doch erneut brachte die Eriksson-Elf auf die hebelte ein simpler Ball in die Gasse Siegerstraße und verhalf den über die deutsche Abwehr aus. weite Strecken wenig überzeu(www.kicker.de – 09.06.2006) genden Engländern zum wichtigen "Dreier". (515) Senaya schickte Kader auf die (www.kicker.de – 17.06.2004) Reise, der sich das Leder gekonnt in den Lauf legte und Keeper Woon-Jae (511) Englands Shootingsstar Wayne Lee mit seinem Flachschuss ins lange Rooney bringt die "Three Lions" mit Eck keine Abwehrchance ließ (31.). neuerlichen zwei Treffern auf die (www.kicker.de – 13.06.2006) Siegerstraße und ins Viertelfinale. (www.kicker.de 21.06.2004) (516) Zunächst brachte der eingewechselte Top-Torjäger Al-Jaber (512) EM-Gastgeber Portugal hat den Saudi-Arabien mit dem Treffer zum Siegeszug der englischen "Torfabrik" 2:1 scheinbar auf die Siegerstraße, bei der Euro 2004 gestoppt (...) dann glich Jaidi doch noch aus. (www.spiegel.de – 25.06.2004) (www.kicker.de – 14.06.2006) EURO 2008 (10) (523) Fatih Terim (Türkei): "(...) Im zweiten Durchgang hat uns ein Tor auf die Verliererstraße gebracht, das so nicht hätte fallen dürfen. (...)“ (www.kicker.de – 07.06.2008) MUNDIAL 2010 (21) (533) „Es sind sieben Spiele zu überstehen. Das ist ein weiter Weg, auf dem viel passieren kann“, meinte der Südamerikaner. (www.sportbild.bild.de -10.06.2010) (534) Nach dem Seitenwechsel legten die Gastgeber ihren übergroßen Respekt endgültig ab und suchten entschlossen (524) Im ersten Durchgang hatten es die den Weg zum Tor. (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010) (535) Mit der Punkteteilung verpasste Südafrika den erhofften Kroaten verpasst (...) ersten Schritt auf dem Weg ins Achtelfinale. (www.kicker.de – 08.06.2008) (www.sportbild.bild.de – 11.06.2010) (525) In der Folge rannte die (536) Kapitän Philipp Lahm gibt im deutschen Team die Hickersberger-Elf lange dem Rückstand Richtung vor. (www.sportbild.bild.de – 12.06.2010) hinterher. (537) Philipp Lahm: "(...) Es war wichtig, das Auftaktspiel (www.kicker.de – 12.06.2008) gewonnen zu haben, aber es ist noch ein langer Weg." (526) Spanien nimmt Kurs aufs (www.kicker.de- 13.06.2010) Viertelfinale, während sich die (538) Spanien: Selbstbewusster Torres haut auf den Putz (...) Schweden ärgern. Mit Iniesta auf dem Weg zum grossen Ziel. (Kicker (www.kicker.de – 14.06.2008) Sportmagazin Nr. 48 – 24. Woche 14.06.2010, p.52) (527) So blieb der Außenseiter letztlich doch noch auf der Strecke in der "Todesgruppe" C. (www.kicker.de – 17.06.2008) (539) Simon Poulsen räumt den Weg frei (...) Erst Simon Poulsens Eigentor (Hereingabe van Persie) räumte für Oranje den Weg frei. (Kicker Sportmagazin Nr. 49 – 24. Woche 17.06.2010, p.28) (528) Bastian Schweinsteiger (...): (540) Im zweiten Gruppenspiel gegen Serbien könnte das Binnen Tagen hat er sich aus dem Team von Bundestrainer Joachim Löw bereits das Ticket für (517) Erst danach fanden auch die das Achtelfinale buchen. (www.kicker.de – 18.06.2010) Motivationsloch gekämpft. "Albirroja" den Weg in die Offensive, (541) Die Welt: „Kloses Foul stürzt Deutschland ins Chaos. (...) (www.spiegel.de – 20.06.2008) allerdings ohne dabei das Tor der Es brachte auch ein verunsichertes deutsches Team auf die Skandinavier in irgendeiner Form zu (529) Arshavin & Co. fiel insgesamt viel Verliererstraße.“ (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) zu wenig ein - und damit war im gefährden. (542) Abendzeitung: „Deutschland zittert um den Einzug ins Halbfinale Endstation. (www.kicker.de – 15.06.2006) Achtelfinale.“ (www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (www.kicker.de – 26.06.2008) (518) Kaum auf dem Platz, war Messi (543) Lukas Podolski: „Wir hätten ein großen Schritt Richtung 376 auch schon Wegbereiter von Treffer (530) Jetzt stehen uns auf dem Weg zum Titel nur noch die spanischen TorNummer vier. (www.kicker.de – 16.06.2006) Stiere im Weg. (www.bild.de – 27.06.2008) (519) Es war Einbahnstraßenfußball, den die Michel-Elf in München darbot, (531) Das deutsche Spiel? Tot und Serbien-Montenegro fand offensiv virtuell auf dem Weg in den Wiener über weite Strecken quasi nicht statt. Nachthimmel, zu Kroaten, Portugiesen, (www.kicker.de – 21.06.2006) Türken und all den anderen ausgeschiedenen Teams. (520) Nach Startschwierigkeiten in (www.focus.de – 29.06.2008) Hälfte eins ebnete Patrick Vieira an seinem 30. Geburtstag mit einem Tor (532) Der erhoffte Gipfelsturm bei der und einem Assist der "Grande Nation" deutschen Bergtour 2008 blieb aus. (www.sportbild.de – 30.06.2008) den Weg. (www.kicker.de – 23.06.2006) (521) Die Weichen waren gestellt, der Widerstand der Togoer weitgehend gebrochen. (www.kicker.de – 23.06.2006) (522) (...) doch auch ohne die Künste des Turiners marschierte Frankreich nun einem sicheren Sieg entgegen. (www.kicker.de – 23.06.2006) Achtelfinale machen können. (...) Wir müssen jetzt gegen Ghana gewinnen.”(www.sportbild.bild.de – 19.06.2010) (544) Der Bundestrainer weiß, dass "es immer Situationen in einem Turnier gibt, wo man vor einem richtungsweisenden Spiel steht. Drucksituationen sind nicht zu vermeiden. (...) Wir werden gegen Ghana agieren, dann schaffen wir auch den Einzug in die nächste Runde", erklärte der 50-Jährige. (www.kicker.de – 19.06.2010) (545) 2:0 gegen die Slowakei. Barrios mit Paraguay auf Achtelfinal-Kurs. Paraguay steuert bei der Fußball-WM in Südafrika auf Achtelfinalkurs. (www.sportbild.bild.de – 20.06.2010) (546) Mit einem Doppelschlag hat David Villa Europameister Spanien wieder auf Achtelfinal-Kurs gebracht (...). (www.sportbild.bild.de – 21.06.2010) (547) Portugal hat einen Riesenschritt in Richtung Achtelfinale gemacht. (www.kicker.de – 21.06.2010) (548) Tevez' Abseitstor ebnet den Weg (www.kicker.de – 23.06.2010) (549) Dieser Weg ist noch nicht zuende (www.kicker.de/news/video - 05.07.2010) (550) Kicker: Sie haben ihr 70. Länderspiel gemacht. War es das beste, indem Sie je mitgewirkt haben? Lahm: Es war in jedem Fall eines der besten. Kicker: Wie ist dieser Wahnsinnslauf zu erklären? Lahm: Unser Plan ging heute zu 100 Prozent auf. (Kicker Sportmagazin Nr. 54 – 27. Woche 05.07.2010, p.6) (551) FAZ: „Deutsche Traumreise endet im Halbfinale.“ (www.sportbild.bild.de – 08.07.2010) (552) Luis Suarez und Diego Forlán sind für Uruguay die Trümpfe auf dem Weg zum größten Erfolg seit 1950. (www.sportbild.bild.de – 09.07.2010) (553) Der härteste Brocken auf dem Weg nach Südafrika war Bahrein. (Kicker Sportmagazin Sonderheft WM 2010, p.174) 377 De acordo com a abordagem semiótica de Brandt (2004a) e Brandt/Brandt (2005a), descortinamos a seguinte rede de espaços mentais: Espaço Semiótico de Base Espaço de Apresentação Espaço de Referência Jogador Expressões metafóricas FUTEBOL TRAJECTÓRIA Cenário do percurso/ Esquema imagético SOURCE-PATH-GOAL/ Esquema do OBSTÁCULO Equipa Outros Intervenientes FUTEBOL COMO TRAJECTÓRIA Campeonato Jogo/ Jogada Espaço Virtual (Blend) Esquema dinâmico de Relevância (Relevance-Schema) Inferências Emergentes O futebol procura, activa e intencionalmente, o sucesso. Os sucessivos eventos futebolísticos reflectem acções e intenções contínuas para conquistar a vitória. Espaço do Significado Figura 68: Rede de Espaços Mentais - Futebol como Trajectória A mescla virtual, Futebol como trajectória, reflecte, como já referimos anteriormente, a estrutura mental esquemática da actividade como um trajecto a percorrer pelos intervenientes. O espaço de relevância é constituído a partir cenário do percurso, que reflecte a experiência física do movimento do corpo no espaço. Consideramos que esta experiência concreta activa, necessariamente, o esquema imagético SPG, assim como o esquema do obstáculo, associado ao anterior. Desta forma, é possível compreender a mescla final, i.e. que o futebol é composto por três partes integrantes e interdependentes: a) um ponto de partida SOURCE -, habitualmente o início de um jogo ou de um campeonato, b) um processo que se desenrola no tempo, preenchido com acções ou eventos contínuos - PATH -, ou seja, todas as acções, opções e acontecimentos que se sucedem durante um jogo ou um campeonato e, c) o 378 objectivo final - GOAL -, concretizado através vitória no jogo ou a conquista do campeonato. Durante o processo podem surgir problemas ou dificuldades - OBSTÁCULOS -, que têm de ser ultrapassados para não comprometer o objectivo final. Todas as realizações metafóricas identificadas seguem este padrão conceptual. Tendo em conta de que se trata de uma competição, a noção de intencionalidade, esforço e dedicação à causa, está particularmente patente. Este reconhecimento reforça a inferência emergente de que o futebol procura activa e intencionalmente o sucesso, sendo que o caminho para a vitória se constrói com esforço e empenhamento. Neste sentido, as mesclas finais podem, igualmente, conter a intenção comunicativa e pragmática de aplaudir ou motivar os intervenientes, dando voz ao desejo partilhado por todos os adeptos ou simpatizantes do futebol. De acordo com a metodologia adoptada, seleccionamos algumas realizações metafóricas particularmente representativas. O cenário da rua/estrada: (510) Ein Doppelpack von Rooney brachte die Eriksson-Elf auf die Siegerstraße und verhalf den über weite Strecken wenig überzeugenden Engländern zum wichtigen "Dreier". (514) Zwar erzielte Wanchope sein zweites Tor aus leicht abseitsverdächtiger Position (74.), doch erneut hebelte ein simpler Ball in die Gasse die deutsche Abwehr aus. (519) Es war Einbahnstraßenfußball, den die Michel-Elf in München darbot, Serbien-Montenegro fand offensiv über weite Strecken quasi nicht statt. (523) Fatih Terim (Türkei): "(...) Im zweiten Durchgang hat uns ein Tor auf die Verliererstraße gebracht, das so nicht hätte fallen dürfen. (...)“ Nestas quatro ocorrências, o esquema do trajecto é activado através do recurso a termos específicos do cenário da rua ou estrada, a saber: “Strasse”, “Einbahnstrasse”, “Gasse” e “Strecke”. No mundo real, qualquer localidade (cidade, vila, aldeia, etc.) goza de infraestruturas rodoviárias que, de acordo com as suas características, possuem nomenclaturas diferentes. Um princípio de organização urbanística essencial para a orientação é a atribuição de nomes (ou números, como nos EUA) a cada via. Estas podem, por exemplo, honrar alguém Konrad-Adenauer-Ring, evocar a flora circundante - Kastanienalee ou destacar uma infraestrutura adjacente - Hafenstrasse, etc. Cada estrada ou rua conduz de um ponto A para um 379 ponto B. Posto isto, a “Siegesstrasse” (510) é a rua que ‘pertence’ ao vencedor, a que conduz à vitória, enquanto a “Verliererstrasse” (523) descreve a situação exactamente oposta. A maioria das vias possui dois sentidos, sendo possível percorrer a via do ponto A para o ponto B, como o inverso, de B para A. Nas vias de sentido único, a mudança de direcção não é permitida, uma vez tomada esta via, não pode haver inversão do trajecto. Um “Einbahnstrassenfussball” descreve, então, um jogo ou uma fase do jogo de futebol, na qual uma equipa restringe as suas acções em campo a apenas uma táctica ou estratégia, tal como ilustrado na ocorrência (519), em que a selecção da Sérvia e Montenegro se limitou, durante grande parte do jogo, a defender, sem esboçar qualquer tentativa de ataque. Registe-se que um beco (514) é um tipo de rua pequena, estreita e exígua, ou seja, é exemplo de um espaço limitado. Daí que no futebol, “Gasse” descreva uma pequena abertura entre dois defesas, através da qual o avançado se movimenta em direcção à baliza324. Assinale-se que, também no uso de “Durchgang” na ocorrência (523), esta lexicalização não diz literalmente respeito a uma passagem que se utiliza para atravessar um determinado local, mas fornece a estrutura conceptual para descrever as partes de um jogo de futebol (1ª ou 2ª parte), as quais têm de ser ‘atravessadas’ para chegar ao final da partida, tal como é descrito por Burkhardt (2006a)325. Relativamente à expressão “über weite Strecken” das ocorrências (510) e (519) diz respeito à conceptualização do tempo como um trajecto. Se o tempo é conceptualizado como um trajecto espacial, uma dada distância percorrida corresponde a um dado período de tempo. Logo, quanto mais longa a distância, mais prolongado o tempo. Assim sendo, as tácticas adoptadas pelas selecções (da Inglaterra e da Servia Montenegro respectivamente) perduraram durante grande parte do jogo. Sintetizamos a análise das ocorrências na figura abaixo: Ocor. (510) (514) ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto auf die Siegesstrasse bringen (enveredar pela rua do vencedor) Golos de Rooney no jogo da selecção inglesa Golos de Rooney como enveredar pela rua do vencedor. Cenário da rua/estrada; Esquema SPG Parabéns, Rooney! Texto Gasse (beco) Cenário da rua/estrada; Esquema SPG A defesa alemã ineficaz! Espaço entre os Espaço entre os jogadores da defesas como beco defesa alemães 324 Burkhardt descreve os sentidos de: “Gasse, die; (…) weder schmale Strasse noch Spalier, sondern: ein freier Raum, der sich (plötzlich) zwischen den → Abwehrspielern auftut u. von den → Angreifern zim Spielen des Balles o. zum ungehinderten Erlaufen eines in Richtung Tor gespielten Balles genutzt werden kann (...)“ (Burkhardt, 2006a:127) 325 Burkhardt (2006a:84) afirma: “Durchgang, der; weder eine Öffnung zum Durchgehen noch eine Phase eines grösseren Ereignisses o. Vorgangs (wie etwa einer Wahl), aber: → Halbzeit eines Spiels als Ablauf gedacht (...).“ 380 (519) (523) ESB ERef ERel Texto Einbahnstrassenfussball (futebol de rua de sentido único) Táctica de jogo da selecção da Sérvia Montenegro Texto auf die VerliererGolo sofrido Golo sofrido como strasse bringen pela selecção ser levado para a (ser levado para a turca no jogo rua do derrotado rua do derrotado) contra Portugal - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Táctica de jogo como futebol de rua de sentido único Cenário da rua/estrada; Esquema SPG Sérvia Montenegro, ataque sem expressão! Cenário da rua/estrada; Esquema SPG Turquia, demasiada passividade! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 69: Tabela de Espaços Mentais 34 O cenário do caminho: (530) Jetzt stehen uns auf dem Weg zum Titel nur noch die spanischen Tor-Stiere im Weg. Um campeonato mundial ou europeu, é composto por uma primeira fase de grupos, na qual as equipas procuram obter a pontuação máxima possível, e depois, por uma fase de jogos de eliminação, na qual a derrota corresponde à eliminação imediata do campeonato. É, portanto, uma competição relativamente longa e exigente. A notícia da ocorrência (530) comenta o facto da selecção alemã ter chegado até às meias-finais, só precisando de vencer a selecção espanhola para disputar o título de campeão na grande final.326 Todo o campeonato é conceptualizado como um caminho que conduz à meta final, o título (esquema SPG). As equipas adversárias constituem os obstáculos (esquema do obstáculo) que as selecções têm de ultrapassar para alcançar o objectivo. Note-se que, nesta ocorrência, os jogadores da selecção espanhola são conceptualizados como touros goleadores espanhóis. Ocor. (530) ESB ERef ERel ESB Texto EA ERef M1 ERel Campeonato auf dem Weg; im Campeonato e Cenário da como caminho Weg stehen jogo da selecção rua/estrada; para o título; (caminho para o alemã contra a Esquema SPG; selecção espanhola título; obstáculo selecção espanhola Esquema do como obstáculo no caminho) (Futuro) obstáculo (Futuro) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 M2 Coragem, Alemanha! - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 70: Tabela de Espaços Mentais 35 326 Registe-se o facto do jornalista desportivo ter recorrido à primeira pessoa do plural, identificando-se, assim, a si próprio e em representação de toda a nação alemã, com a selecção. 381 O cenário da viagem: (515) Senaya schickte Kader auf die Reise, der sich das Leder gekonnt in den Lauf legte und Keeper Woon-Jae Lee mit seinem Flachschuss ins lange Eck keine Abwehrchance ließ (31.). (540) Im zweiten Gruppenspiel gegen Serbien könnte das Team von Bundestrainer Joachim Löw bereits das Ticket für das Achtelfinale buchen. A realização metafórica da ocorrência (515) centra-se na conceptualização das diferentes zonas do campo como destinos para os quais os jogadores viajam. Um passe do jogador do Togo Senaya para o colega Kader em direcção à baliza adversária é descrito por activação do cenário da viagem. Já na ocorrência (540), a notícia diz respeito ao futuro jogo entre as selecções da Sérvia e da Alemanha, sendo que a vitória alemã significaria o apuramento da selecção para os oitavos de final do campeonato. Enquadrado no cenário conceptual da viagem, o destino é a próxima fase do campeonato (oitavos de final) e a vitória corresponde à reserva ou aquisição do respectivo bilhete para a viagem, ou seja, o apuramento. Ocor. (515) (540) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto auf die Reise schicken (mandar em viagem) Passe do jogador do Togo Senaya para o seu colega Kader Passe como mandar em viagem Cenário da viagem; Esquema SPG; Boa jogada! Texto Ticket buchen (reservar/ comprar um bilhete) Resultado do jogo Vitória da vindouro entre as selecção alemã selecções da como reservar Alemanha e da Sérvia um bilhete (Futuro) (Futuro) Cenário da viagem; Esquema SPG; Força Alemanha! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 71: Tabela de Espaços Mentais 36 O cenário do trajecto direccionado: (526) Spanien nimmt Kurs aufs Viertelfinale, während sich die Schweden ärgern. (536) Kapitän Philipp Lahm gibt im deutschen Team die Richtung vor. (547) Portugal hat einen Riesenschritt in Richtung Achtelfinale gemacht. 382 Enquanto as ocorrências (526) e (547) dizem respeito ao apuramento para as diferentes fases do campeonato (quartos e oitavos de final, respectivamente) a ocorrência (536) debruça-se sobre a atitude e a postura exemplares do capitão da selecção alemã (Lahm) relativamente ao objectivo final da participação alemã no campeonato mundial de 2010: “Kapitän Philipp Lahm ist sogar überzeugt, dass die Mannschaft mit einer Mischung aus jungen und erfahrenen Spielern „Großes“ erreichen kann.” (in: sportbild.de [Consult. 24.04.2011]). Com um passo gigante (“Riesenschritt”, porque a vitória da selecção portuguesa por 7:0 contra a selecção da Coreia do Norte quase que garantia o apuramento de Portugal para a próxima fase), ou mediante transporte terrestre, aéreo ou marítimo327, a direcção do trajecto é definida pela meta a atingir. Este facto realça a determinação focalizada e o esforço objectivo por parte das selecções como questão central, na medida em que, tal como Lakoff aponta: “Lack of purpose is lack of direction” (Lakoff, 2006b:206). Ocor. (526) (536) (547) ESB ERef ERel ESB EA ERef Texto Kurs nehmen auf (seguir uma rota) ERel M2 Vitória da selecção Vitória como espanhola sobre seguir uma rota a selecção sueca Cenário do trajecto; Esquema SPG; Esquema da objectividade Selecção espanhola em alta! Texto die Richtung vorgeben (indicar o caminho) Postura do capitão da selecção alemã Lahm Postura de Lahm como indicar o caminho Cenário do trajecto; Esquema SPG; Esquema da objectividade Lahm, boa estratégia! Texto Riesenschritt in Richtung (passo gigante em direcção a) Vitória da selecção portuguesa por 7:0 conta a Coreia do Norte Vitória por 7:0 como passo gigante em direcção a Cenário do trajecto; Esquema SPG; Esquema da objectividade Portugal, fantástica prestação! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância M1 EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 72: Tabela de Espaços Mentais 37 Relativamente à activação dos cenários dos caminhos-de-ferro e do transporte público na construção das mesclas, referenciamos as seguintes ocorrências: (521) Die Weichen waren gestellt, der Widerstand der Togoer weitgehend gebrochen. 327 “Kurs [lateinisch]: Verkehr, Fahrtrichtung (auch Fahrweg, etwa bei der Eisenbahn) eines See- oder Luftfahrzeugs.“ (Wissen Media Verlag, in: http://www.wissen.de/wde/generator/wissen/ressorts/technik/mobilitaet/ index,pag=1173264.html) [Consult. 24.04.2011]) 383 (259) Arshavin & Co. fiel insgesamt viel zu wenig ein - und damit war im Halbfinale Endstation. Uma das características mais proeminentes dos caminhos-de-ferro é o facto de os comboios circularem sobre carris firmemente assentes no solo. Isto significa que os comboios não podem circular livremente em termos de direcção e percurso, tal como é possível fazer com um automóvel, por exemplo. Uma vez traçado o percurso, através do posicionamento da agulha (AMV- aparelho de mudança de via), o comboio seque invariavelmente o seu caminho. Assim, a marcação do segundo golo por parte da selecção francesa conta o Togo (2:0), selou o destino do confronto: nada afastaria a França no seu caminho para a vitória. Relativamente à ocorrência (529), o campeonato é conceptualizado como o percurso de um transporte público. Existe a primeira paragem - o ponto de partida -, existem várias paragens intermédias ao longo do percurso e existe a paragem terminal - “Endstation” - que marca o fim do percurso. Todas as equipas ambicionam conquistar o título, ou seja, que o jogo final seja a paragem terminal. Como a final é disputada entre duas equipas apenas, para todas as restantes equipas, a paragem terminal corresponde ao jogo no qual são eliminadas. Contudo, para a selecção da Rússia, o percurso terminou nas meias-finais. Ocor. (521) (529) ESB ERef ERel ESB EA Texto Texto ERef M1 ERel M2 Die Weichen Marcação do Cenário do trajecto waren gestellt Segundo golo segundo golo da ferroviário; Esquema (posicionacomo posicionaselecção francesa SPG; Esquema da mento da mento da agulha contra o Togo invariabilidade agulha) Endstation (estação terminal) Eliminação da selecção russa nas meias-finais - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Eliminação nas meias-finais como estação terminal França, boa prestação! Cenário do trajecto; Esquema SPG; Rússia, adeus! Esquema da objectividade - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 73: Tabela de Espaços Mentais 38 Observe-se ainda a existência de ocorrências que recorrem ao cenário da escalda ou à acção de trepar para fora de um buraco: (532) Der erhoffte Gipfelsturm bei der deutschen Bergtour 2008 blieb aus. (528) Bastian Schweinsteiger (...): Binnen Tagen hat er sich aus dem Motivationsloch gekämpft. 384 O campeonato europeu de 2008 realizou-se na Áustria e na Suíça, a saber, dois países geográfica e paisagísticamente marcados pela cordilheira dos Alpes. Daí, ter relevantemente recebido a designação de “Bergtour”, sendo que os jogos se realizavam em diversas cidades destes países pelas quais as equipas circulavam, como se de um circuito alpino se tratasse. Para um alpinista, a montanha encerra em si o desafio da escalda, sendo que alcançar o topo é o objectivo final. Assim, o domínio-fonte da montanha revela-se bastante produtivo, na medida em que congrega o esquema do percurso com o da orientação vertical328. No presente contexto, a selecção alemã pretendia escalar a montanha e conquistar o topo - “Gipfelsturm”, o que metaforicamente equivale à disputa do campeonato e à conquista do título. No que diz respeito à ocorrência (528), o cenário de um buraco no solo, do qual se procura sair, é igualmente produtivo e assenta nas estruturas orientacionais dinâmicas ‘para cima - para baixo’ e ‘dentro - fora’, motivada pelo esquema do contentor. De novo, a experiência física, neste caso do espaço confinado, escuro, incómodo e até angustiante, constitui a referência conceptual para a construção metafórica. Neste contexto particular, o jogador alemão Schweinsteiger sentia-se profundamente desmotivado devido a algumas exibições menos conseguidas. Contudo, com grande esforço e empenho (dai o verbo “kämpfen”), foi capaz de ultrapassar o momento negativo. No jogo contra a selecção de Portugal, que a Alemanha venceu por 3:1, coroou a sua exibição excelente com dois golos: ”Der Erfolg gegen Portugal ist auch ein ganz besonderer, persönlicher Triumph für Bastian Schweinsteiger. (...) Schweinsteiger tat, wie Löw sagte und agierte gegen seinen Lieblingsgegner Portugal in unnachahmlicher Manier. Bereits beim 3:1 im Spiel um Platz drei bei der WM 2006 spielte der Bayern-Profi die Portugiesen an die Wand und traf zweimal.“ (spiegel.de [Consult. 24.04.2011]) Sugerimos, então, a seguinte tabela: Ocor. (532) ESB Texto EA ERef M1 ERel M2 Objectivo da Gipfelsturm bei Objectivo da Cenário da selecção alemã der Bergtour selecção alemã como conquista do escalada; Parabéns, (conquista do no campeonato topo da montanha/ Esquema SPG; Alemanha pelo topo da montanha europeu de Esquema da Circuito alpino esforço! num circuito 2008 como campeonato orientação vertical alpino) (não alcançado) europeu de 2008 e da objectividade 328 veja-se Lakoff/Johnson (1980b:461-465) “There is an over-all external systematicity among the various specialization metaphors, which defines coherence among them. Thus, GOOD IS UP gives an UP orientation to general well-being, which is coherent with special cases like HAPPY IS UP, HEALTHY IS UP, ALIVE IS UP. CONTROL IS UP. STATUS IS UP is coherent with CONTROL IS UP:” (Lakoff/Johnson 1980b:464) 385 (528) ESB ERef ERel Texto aus dem Motivationsloch Boa exibição do kämpfen (sair de jogador alemão um buraco Schweinsteiger motivacional) - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 Cenário da Boa exibição de escalada; Parabéns, Schweinsteiger Esquema SPG; Schweinsteiger, como sair de um Esquema da pela suada buraco orientação vertical vitória! e do contentor - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 74: Tabela de Espaços Mentais 39 Para além dos cenários já apontados, registe-se ainda a arquitectura de uma imagem de corrida: (550) Kicker: Sie haben ihr 70. Länderspiel gemacht. War es das beste, indem Sie je mitgewirkt haben? Lahm: Es war in jedem Fall eines der besten. Kicker: Wie ist dieser Wahnsinnslauf zu erklären? Lahm: Unser Plan ging heute zu 100 Prozent auf. (...) Esta ocorrência representa uma pequena parte de uma entrevista entre o jornalista do jornal desportivo kicker e o capitão da selecção alemã Lahm aquando do campeonato mundial de 2010. O excerto incide sobre o jogo entre as selecções da Alemanha e da Argentina que a selecção alemã venceu categoricamente por 4:0. Esta vitória garantiu à Alemanha o apuramento para as meias-finais, o que é prova de uma campanha bem sucedida. Os sucessivos jogos disputados são conceptualizados como uma corrida e, tendo em conta a vitória extraordinária sobre a Argentina, o sucesso é coloquialmente rotulado como sendo uma ‘loucura’, intensificando, desta forma, a tensão emocional em torno do evento.329 Neste sentido, postulamos que a mescla final encerra uma intenção elogiosa, pois patenteia a admiração perante os excelentes resultados da selecção alemã nesta competição tão difícil e exigente: Ocor. (550) ESB ERef ERel ESB EA ERef M1 ERel M2 Texto Wahnsinnslauf (uma corrida louca) Os jogos da selecção alemã no campeonato mundial Os jogos da selecção alemã no campeonato como uma corrida louca Cenário da corrida; Esquema SPG; noção da dificuldade Parabéns à selecção alemã! - Espaço Semiótico de Base - Espaço de Referência - Espaço de Relevância EA M1 M2 - Espaço de Apresentação - Mescla 1 (blend virtual) - Mescla 2 (significado intendido) Figura 75: Tabela de Espaços Mentais 40 329 “Wahn|sinns- (ugs. emotional verstärkend): drückt in Bildungen mit Substantiven aus, dass jmd. oder etw. wahnwitzig, fast unglaublich, kaum fassbar ist: Wahnsinnsfrau,-preis,-stimme.“ (Dudenverlag, 1997, Versão CDRom). 386 3.2.8. Imagens mescladas: Futebol - Construção/Destruição “[Embodied cognition (EC)] proposes that we investigate the way in which perception–action mechanisms, and bodily engagement with the world, can exploit the structure of the environment (Gibson 1979) (…). An embodied perspective, therefore, moves us away from an anthropocentric, mentalistic view of cognition and extends it beyond ‘skin and skull’ to the body and the world (Clark 1997), with the aim of understanding how cognitive processes are rooted in bodily experience and interwoven with bodily action and interaction with other individuals and objects (Merleau-Ponty 1962/2002; Varela et al. 1991; Damásio 1994; Clark 1997; Lakoff & Johnson 1999; Anderson 2003; Garbarini & Adenzato 2004; Barrett & Henzi 2005).” (Barrett/Henzi/Rendall, 2007:569) A explosão urbana verificada na Europa a partir do século XX alterou significativamente o seu perfil paisagístico tradicional, e crê-se que o grande desenvolvimento das cidades e as consequentes formas de vida urbana constituem dois dos fenómenos que melhor caracterizam a civilização contemporânea. Estamos rodeados de todo o tipo de construções, com as quais vivemos e interagimos diariamente. Este facto influencia, necessariamente, a forma como pensamos e falamos. Já Lakoff e Johnson (1980) partiram desta premissa quando apresentaram as suas análises em torno da metáfora conceptual THEORIES ARE BUILDINGS (1980b:471-472). Grady (1997) em “THEORIES ARE BUILDINGS Revisited”, reavaliou os postulados de Lakoff e Johnson e concluiu que THEORIES ARE BUILDINGS constitui uma metáfora composta, que emerge da união de duas metáforas primárias: PERSISTING IS REMAINING UPRIGHT (ou VIABILITY IS ERECTNESS) e ORGANISATION IS PHYSICAL STRUCTURE. Estas metáforas primárias assentam nas características mais salientes de ed