Prefeito de Niterói GODOFREDO PINTO Secretária Municipal de Cultura DANIELLE BARRETO NIGROMONTE Presidente da Fundação de Ar te de Niterói MARILDA ORMY Superintendente da Fundação de Ar te de Niterói MARIA INÊS AZEVEDO DE OLIVEIRA Coordenadora da Niterói Livros GRAÇA PORTO Diretor Geral do MAC de Niterói LUIZ GUILHERME VERGARA Conselho Editorial Carlos Mônaco Francisco Tomasco de Albuquerque Graça Porto Ismênia de Lima Martins Magnólia Brasil Barbosa do Nascimento Márcia Pessanha Marcos Gomes Margareth da Luz Maria Inês Azevedo de Oliveira Marilda Ormy realização patrocínio editoria Graça Porto pr oje to gr áfico Dupla Design prepar aç ão dos originais Itamar Rigueira Jr. fotos sobrecapa arte sobre fotos de César Barreto guardas César Barreto catálogo Alê Gomes Beto Felício Daniel Whithaker Magno Mesquita Mário Grisolli Paulinho Muniz Paulo Paixão Vicente Mello Wilton Montenegro impressão Imprinta Express Ltda. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. M112 MAC de Niterói 10 anos / Prefeitura Municipal de Niterói. - Niterói, RJ : Niterói Livros : Fundação de Arte de Niterói, 2006 principalmente il. Apêndices Inclui bibliografia ISBN 85-85896-27-2 - 978-85-85896-27-0 1. Museu de Arte Contemporânea de Niterói - Obras ilustradas. 2. Arquitetura - Brasil - Século XX. - Obras ilustradas. I. Niterói (RJ). Prefeitura. 06-4126. CDD 727.70981532 CDU 727.7(815.32) 08.11.06 09.11.06 016903 Direitos cedidos a: Niterói Livros – Fundação de Ar te de Niterói (FAN) Rua Presidente Pedreira,98 Ingá 24210-470 Niterói RJ Brasil Tel. 21-2621-5050 www.niteroiar tes.com.br [email protected] MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE NITERÓI 10 ANOS Godofredo Pinto O traço inconfundível do Prefeito de Niterói mestre Oscar Niemeyer em perfeita harmonia com a baía de Guanabara faz do Museu de Arte Contemporânea um dos cartões-postais mais belos do mundo. O prédio de linhas arrojadas no mirante da Boa Viagem se insere no cotidiano dos niteroienses com importante papel na democratização da cultura em nossa cidade. Nestes 10 anos, o MAC foi palco de exposições e eventos que marcaram a história cultural de Niterói. Entre os destaques está a Coleção João Sattamini, um dos maiores acervos de arte contemporânea do país, sem falar nas mostras de Miró, Lygia Clark e tantos outros nomes de destaque no Brasil e no exterior. Considerado pela imprensa internacional como uma das sete maravilhas do mundo contemporâneo, este patrimônio da arquitetura é o ícone perfeito para uma cidade que a cada dia se orgulha mais de seus invejáveis índices socioeconômicos. Este livro, que celebra parcerias e compartilha experiências, tam- bém é um convite à reflexão sobre a utilização de nossos espaços culturais. A cidade que tem os melhores indicadores educacionais do país sabe que a cul tura é ingrediente imprescindível para a inclusão social e desta forma deve ser tratada. 4 introdução 5 Danielle Barreto Nigromonte Se cretária de Cultura de Niterói Comemorar os 10 anos do Museu de Arte Contemporânea, mais do que um orgulho imenso, é poder reafirmar para toda a população niteroiense que essa Secretaria se compromete, séria e verdadeiramente, com a democratização da cultura, com o respeito à diversida- A arte contemporânea é dinâmica. Imita a vida no tempo vivo. Marilda Ormy E com ela aprendemos a nos desarmar, respiramos a tolerância, Presidente da Fundação de Ar te de Niterói sonhamos um mundo ideal porque sentido. No futuro, muito da arte contemporânea vai ser clássico. O Museu de Arte Contemporânea de Niterói é como o monólito da Odisséia no espaço de Kubrick. No início, muitos de nós não sabíamos direito o que ele significa- de cultural e aos diferentes ícones va. Mas o convívio diário com aquele monumento de e suportes de memórias brasileiras. concreto, em forma de disco voador, plantado na O MAC se transformou, nesse tempo, em espaço consagrado de Niterói, nosso lugar de memória, motivo de alegria para todos nós. Consideramos o MAC, numa colina sobre a baía, nos fez rever nossa situação como niteroienses. Nestes 10 anos de MAC, Niterói mudou a referência de si mesmo. Assim como a auto-estima de quem vive aqui. O MAC visão mais profunda e abrangen- já é um clássico. Feliz da cidade que te sobre a vocação do museu, um pode tê-lo como cartão-postal espaço que necessita estar aberto vivo e interativo. Parabéns, à sociedade, estimulando a apro- niteroienses. priação do seu acervo e espaços por um número cada vez maior de pessoas. Deve ser lugar de reflexão e instrumento de inclusão social que articule escolas, sociedade civil e comunidades para juntos costurarem a aproximação com os cidadãos. É esse caminho que tentamos percorrer. E é para comemorar em grande estilo esta data tão importante no nosso calendário que essa obra, um percurso simbólico pelo espaço e memória do MAC, chega agora às suas mãos. Boa Viagem. 6 introdução 7 O Museu de Arte Contemporânea de Niterói Aloisio Vasconcelos Presidente da Eletrobrás é um desses raros exemplos de empreendimento capaz de conciliar, num só discurso, elementos como a arte e a técnica, o erudito e o popular. Incrustada à beira da baía de Guanabara, como se ali estivesse desde sempre, a obra, singular em sua concepção, se confunde com a admirável trajetória de seu autor, o arquiteto Oscar Niemeyer. Nada mais oportuno, portanto, do que registrar em livro o décimo aniversário deste marco cultural que já virou o principal cartão-postal da cidade. O MAC está ligado à visão de mundo desse ilustre brasileiro que já deixou sua marca indelével em todos os cantos do planeta. Raramente a expressão “falar da obra é falar de seu autor” se aplica tão bem a uma situação. Não é por outro motivo que aproveitamos este espaço para falar do artista. E a razão é simples: aqui não há contradição entre o que o homem pensa e o que ele faz. Toda a produção de Oscar Niemeyer é permeada pelo valor mais precioso da humanidade: a liberdade. E não foi diferente com o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Que outro artista poderia conceber de forma tão simples, e ao mesmo tempo tão genial, as obras de arte, o museu que as abriga e a paisagem a seu redor? Síntese de arquitetura, poesia, engenharia, arte e educação, o MAC não confina a obra de arte, às vezes hermética e de difícil compreensão, numa redoma feita de quatro paredes. A Eletrobrás vem pautando sua política de patrocínio à luz do conceito segundo o qual preservar nosso patrimônio e nossas manifestações culturais é tão importante quanto o serviço público essencial que ela presta à sociedade. Por isso, abraçamos com orgulho o projeto de edição deste MAC 10 anos. Ao comentar nestas páginas os contornos singulares do museu, o próprio Oscar Niemeyer alerta que a janela, nele aberta, “permite ao visitante, nos momentos de pausa, apreciar a vista extraordinária da baía”. Esta publicação, guardadas as devidas proporções, cumpre função semelhante: é mais uma janela que vai guardar para a posteridade o contexto e a história do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Parabenizamos, assim, todos que, de alguma forma, participaram deste projeto. 8 introdução 9 13 INTRODUÇÃO COLEÇÃO DE EXPERIÊNCIAS Luiz Guilherme Vergara 75 O MAC COMO OBRA DE ARTE 19 A HISTÓRIA DO INÍCIO O DESAFIO COMUNICATIVO DA ARTE CONTEMPORÂNEA Italo Campofiorito 26 DA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA À MISSÃO NECESSÁRIA 36 MEMÓRIAS DE CÁLCULO 39 A JANELA VOLTADA PARA A BAÍA DE GUANABARA 81 Sandro Silveira CURADORIAS EDUCATIVAS E JOGOS INTERPRETATIVOS 129 PROJETOS ESPECIAIS Beatriz Jabor Luiz Guilherme Vergara Ney Valle Apêndices FOCOS NA COLEÇÃO Claudia Saldanha 55 A VISÃO DO COLECIONADOR 56 UMA VISÃO CRITICA João Leão Sattamini Neto Luiz Camillo Osorio 70 UMA COLEÇÃO A CAMINHO DE NITERÓI 10 i n t r o d u ç ã o Claudia Saldanha 102 49 INTRODUÇÃO Luiz Guilherme Vergara RECORTES DA COLEÇÃO JOÃO SATTAMINI E DA COLEÇÃO MAC DE NITERÓI Luiz Guilherme Vergara Bruno Contarini 43 A CONSTRUÇÃO DE UMA IMAGEM POR QUE COLEÇÃO DE EXPERIÊNCIAS? Marcia Müller 154 Artistas nas coleções João Sattamini e MAC 155 Cronologia das exposições 157 Bibliografia sobre o museu 159 Agradecimentos 160 Créditos 11 IN T R OD U Ç Ã O Este livro é muito importante para todos nós por- Luiz Guilherme Vergara que representa uma grande oportunidade para Diretor geral do MAC de Niterói lançarmos novas luzes sobre os 10 anos de vida do MAC. Luzes especiais sobre o universo interno, desconhecido para muitos, de ações e reflexões que ficam por trás desse monumental mirante so- Fica em Boa Viagem. Disco voador ele não é, pois não pousou na pedra mas se ergue sobre ela; nem alça vôo: à orla de cidades e florestas suspende-se no ar feito pergunta e o que tem dentro mergulha e se banha no mundo em volta e o mundo em volta o inunda: é o museu fora de si, de atalaia à cur va do abismo, à altura das musas, sobre o mar, sobre a pedra sobre o mar, e sobre o espelho d’água em que se apura sobre essa pedra um mar a flutuar, um céu na terra, quase nada, um aire, a flor de concreto do Niemeyer. bre a baía de Guanabara. Mas está justamente aí o grande desafio que esta obra enfoca, o de dar luz à identidade e função MAC-museu, que deve transbordar para além da potência reconhecida da obra de Niemeyer e da vista para a paisagem da Boa Viagem, já visitada por vários artistas e viajantes europeus desde o século XIX. O sentido dessas visões, não isentas de afeto, pois partem de profissionais que olham de dentro da primeira década de vida da instituição, é reunir neste documento diferentes depoimentos históricos de tal modo que eles possam servir para iluminar uma projeção de caminho e destino para o MAC como um caso paradigmático de museu de arte contemporânea. Este livro representa também o reconhecimento do importante papel desempenhado pela presente gestão cultural da cidade de Niterói que, sem medir esforços, vem investindo no MAC como patrimônio público, atualizando suas condições de funcionamento como museu e abrigo para a produção artística contemporânea. Ao mesmo tempo, é extremamente louvável o respeito observado por esta gestão quanto ao investimento, não menos significativo, pela continuidade do trabalho técnico de uma equipe que abraçou a desafiante missão comunicativa com uma programação que hoje atinge padrões internacionais. Esperamos que esta publicação traga luzes também para a ousadia e a responsabilidade política dos gestores públicos que defendem os investimentos nas instituições culturais, não só por ocasião de suas inaugurações, mas também no que se refere à conservação e à renovação da vida dos patrimônios e no atendimento das exigências necessárias para que estas continuem a exercer suas funções. No Museu de Ar te Contemporânea, Antonio Cícero 12 i n t r o d u ç ã o caso do MAC, estes servem de modelo por apoiar 13 o trabalho de um museu que traz para uma cidade sas imagens se encontram como visões simultâneas finalmente, “Coleção de experiências”, em que a importância das gestões públicas que, apesar da novos valores artísticos, mesmo que ainda não re- de diferentes utopias – antigo templo das musas, se integram organicamente arquitetura e meio escassez de recursos, desde a sua origem, investem conhecidos pela maioria de sua população – o que abrigo poético das vanguardas do século XX, mas ambiente com os estudos curatoriais e educati- na formação de centros de produção de cultura e torna a sua vida pública sempre comprometida também um laboratório da arte para o futuro. vos, na construção da identidade e função comu- memória. E da mesma forma valoriza o exemplo com uma forma arquitetônica de utopia concreta e Este livro também registra os primeiros anos nicativa do Museu de Arte Contemporânea. É na do atual governo para as próximas gerações. O a missão de ser o portal para um estado de perma- de vida da instituição, quando o impacto da che- ação com reflexão que reconhecemos uma uni- MAC simbolizará sempre o desafio de se investir nente inauguração. Nesse sentido, agradecemos às gada de visitantes do mundo inteiro ainda era tão dade tripartida, pela união de três componentes em cultura no Brasil, de apostar nos centros de autoridades políticas que nos confiaram a condu- organicamente ligado ao nascimento de uma nova funcionais: patrimônio arquitetônico, coleção e imaginação humana, no espaço para a experiência ção técnica desta casa, como também dedicamos imagem da cidade de Niterói. Tudo que acontecia comunicação, que significam habitar, preservar e e a descoberta artísticas. à cidade de Niterói esta oportunidade de tornar naquele primeiro momento tinha uma dimensão comunicar, e ao mesmo tempo revelam a missão Certamente a imagem de um farol pode mui- visível uma desafiante trajetória de experiências de descobrimento – a cidade, o estado, o Brasil deste museu e a intuição da forma arquitetônica to bem expressar o espírito e a visão que habitam artísticas, curatoriais e educativas, compartilhan- descobrindo o museu, enquanto seu corpo técnico de Niemeyer. Por isso, o que se oferece para leitu- este lugar – um abrigo para a arte e valores que do com os mais diversos segmentos da sociedade também engatinhava em seu processo de respos- ra neste livro são testemunhos e aprendizagens a ”ainda não são conhecidos”, não somente para a as coleções João Sattamini e MAC de Niterói. ta ao sucesso e descoberta de seu destino. Com o partir da adversidade inerente a tudo aquilo que é população local, mas também para a comunidade O MAC já nasceu de uma encomenda política tempo, a potência abrangente do MAC ultrapas- novo, que não tem modelos a seguir. Daí também de artistas e intelectuais! O que é instigante no extremamente ousada: receber em Niterói a co- sou todas as expectativas e projeções possíveis a importância deste documento que reúne ações MAC é justamente o que desafia a todos nós: fre- leção de arte contemporânea brasileira de João por parte de seus mentores e atores, ainda que à reflexão sobre uma trajetória de museu com o qüentemente redefinir o papel da arte e da cultura Sattamini, magnífica ainda que portadora de va- como museu de arte contemporânea sua missão objetivo de entendermos melhor a potência e o para um tempo de oscilantes lampejos. Porém, a lores e histórias desconhecidos pela maioria da não fosse tão publicamente afirmada. Pois, além destino desta instituição. visão dessa construção, durante o dia leve e trans- população local. Mas a chegada concreta dessa de sua força carismática e simbólica ter dominado Devemos especial gratidão ao nosso digníssi- parente, e à noite luminosa, nos alerta sobre a ne- nave-flor a Niterói, inaugurando uma nova vida o imaginário dos diversos setores da vida pública mo prefeito, professor Godofredo Pinto, pela sua cessidade de, para podermos imaginar um futuro para aquela coleção, atraiu a todos, e logo mudou da cidade, a vivência da visita aos seus espaços sensibilidade e respeito à desafiante condução da melhor, cuidarmos dos lugares onde arte significa a identidade e a projeção nacional e internacional internos, e ainda até hoje, se distingue completa- cultura da cidade de Niterói, com especial atenção esperança na humanidade em seu sentido mais da cidade. Ao mesmo tempo, por trás do sucesso mente daquela de um museu tradicional onde são ao sr. Marcos Gomes, a Danielle Nigromonte, se- profundo. Esta instituição dá abrigo ao espírito do MAC existe uma aura inspiradora de perguntas expostos, isolados em vitrines, objetos represen- cretária de Cultura, Marilda Ormy, presidente da de utopia, da liberdade expressa em todas as ma- sobre o destino dos museus, sobre o significado fu- tantes de uma memória histórica. No MAC, pelo FAN, e Maria Inês de Oliveira, superintendente da nifestações da arte e da cultura. turo das artes, dos centros de cultura e, acima de contrário, a partir de sua abertura circular para o FAN. É necessário registrar também a dedicação Esperamos que este livro faça jus aos precio- tudo, do seu papel para a sociedade. Ainda que a entorno, toda a visita é mais aberta ao mundo, exi- com a qual Dôra Silveira assumiu a posição de pri- sos investimentos da Eletrobrás e que possa trazer identidade dessa estranha criança de 10 anos não gindo uma experiência sempre conjugada à frui- meira coordenadora executiva do museu, função algumas imagens do futuro já presente na cidade esteja completamente revelada, ela não deixa de ção poética de um diálogo inevitável entre arte, que ocupou por oito anos. Nossos agradecimentos de Niterói, representado por um museu que abri- lançar suas luzes para dentro de uma época de arquitetura e paisagem. Por isso mesmo apren- são dirigidos também a todos os atores e mento- gue o constante fluxo de renovação de valores tanta incerteza. Com essa imagem de um farol, demos com a experiência do MAC a conjugar no res da fecundação e do nascimento do MAC. Ao vitais pela arte. nós queremos identificar o MAC como uma obra tempo presente essas três dimensões simbólicas, colecionador João Sattamini e sua esposa, Sylvia de arte que abriga e inspira novas formas de arte como invocadoras de novos sentidos de integração Sattamini, que compartilham o sonho de dar vida e museu, como um território do encontro entre entre cultura e natureza, visão concreta da origem pública a sua coleção em Niterói; ao mestre Ita- ética e estética, de irradiação de luz e esperança e do porvir comum entre arte e vida. lo Campofiorito, querido intelectual articulador para um tempo tão desafiante – e somente pelo O livro MAC 10 anos foi concebido em três entre projetos e autoridades; aos competentes caminho da intuição e da imaginação poderemos partes: “O MAC como obra de arte” – a história e carinhosos Ana Maria Niemeyer e Victor Arru- cumprir o destino desta forma artística. Nós tam- do início, a construção do prédio contada pelos da, sem cujas mãos a coleção não atravessaria a bém queremos recuperar o sentido de cultura há seus atores e mediadores; “Focos nas coleções João ponte Rio–Niterói – obrigado pela sua renovada muito esquecido, de culto à luz, conhecimento e Sattamini e MAC” – diferentes abordagens sobre atenção ao MAC e a todos nós. O MAC reconhece beleza. O MAC é um lugar especial onde todas es- a formação e a vida de uma coleção no MAC; e, 14 i n t r o d u ç ã o 15 O M AC COMO O BRA D E ARTE 16 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 17 Italo Campof iorito Membro do Conselho D elib erativo e e x- diretor e xe cutivo do MAC A h is tória do in ício Foi num dia ameno de maio, 1991. Eu acompanhava o arquiteto Oscar Niemeyer e o prefeito Jorge Roberto Silveira, procurando na orla marítima um terreno adequado ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Mas no meio do caminho, no mirante da Boa Viagem, já era evidente que o destino acertara. Seria ali o museu que ainda não tinha forma, mas nascia com invencível vocação de ser. O prefeito, que não era de meias medidas, encarregara-me de convidar Oscar Niemeyer, ver se ele queria fazer um museu de arte contemporânea em Niterói. Fui a Anna Maria e falamos com Oscar. Toda a pequena história dos cinco anos que se seguiram é, aliás, marcada por essa mágica e feminina presença: uma intuição rara e sensível, sua participação foi de uma competência tão constante e discreta que parece implícita, e é tempo de registrar. Porque João e Sylvia Sattamini entram no MAC com a coleção, e sua generosidade inteligente já se integra ao sucesso do museu. E os críticos e curadores, crentes da próxima hora, têm o resto da vida para animá-lo. No dia 15 de julho, o Arquiteto e o Prefeito apresentaram à imprensa o anteprojeto arquite tôn ico: belo e absolutamente surpreendente, já resolvido, na escala paisagística e na forma-estrutura de concreto armado, com apoio central – aflorando do espelho d’água que é um eco do mar – como um firme caule que se abre em flor, chama, cálice? Para conter as salas de trabalho, o nobre e vasto salão de exposições, a varanda belvedere a toda a volta e os seis setores do mezanino, onde o ritmo das vigas protendidas em balanço de 11 18 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 19 metros e a penumbra museológica lembram para- ruda. O famoso colecionador queria condições fa- do espaço arquitetônico. As tarefas executivas des- fiscalização veterana do Hans Müller. E, é lógico, doxalmente a calma de criptas milenares. voráveis para doar à nossa cidade a sua coleção de lizaram tão naturalmente para as mãos firmes de a ciência de Bruno Contarini, cujo cálculo para a A obra foi inaugurada no dia 2 de setembro de obras de arte contemporânea brasileira – a maior Dôra Silveira que chego a pensar que foi o destino estrutura de concreto armado respondeu fielmen- 1996. Alguns anos de história e já os fatos e perso- do país no setor. Pensavam em reformar prédios mesmo do museu que quis assim. te à ousadia formal da arquitetura. nagens intermediários – embora fundamentais – antigos, a meu ver mal localizados para a evolução vão se esbatendo sob a sombra dos protagonistas urbana, já então incessante, de Niterói. E rapidamente passou-se o resto desta narra- Enfim, ressurgiam, de fato, em nosso MAC de tiva. Juntaram-se a nós – para a museologia, a te- Niterói os mais velhos amigos da arte e dos artis- maiores: o MAC é criação e decisão do arquiteto O tempo decorrido foi bastante para que o mu- oria e a pesquisa, a arte-educação, a arquitetura tas na história do ocidente: o Patrocinador, no Oscar Niemeyer e do prefeito Jorge Roberto Silvei- seu temperasse a sua primeira equipe técnica – como museográfica e a administração – Marcia Müller e caso o Poder Público com a visão do estadista, o ra. A história crítica sempre se funde com a história esquecer as reuniões com Luiz Antonio Mello esti- Rose Miranda, Luiz Camillo Osorio e Guilherme Arquiteto com sua obra plena de futuro e o Cole- monumental ou mítica, guardando-se o resto na muladas pela ansiedade fidalga de João Sattamini? Vergara, Sandro Silveira, Ricardo Brugger e Mano- cionador, que precedeu na história o mercado de história que Nietzsche chamava de antiquária. Anna Maria, nem sempre de longe, montou com el Vieira, Telma Lasmar e Alexandre Vasconcelos. arte e os museus. Mas nesses recantos de memória, ainda lembro o Victor Arruda a orquestração polifônica de A cami- Peter Gasper trouxe a sua alquimia luminosa. A A luta revolucionária de Oscar Niemeyer pela dia – era secretário da Cultura de Niterói – em que nho de Niterói, no Paço Imperial da Praça Quinze, curta distância, o olhar culto e fraterno de Cláudio “idéia da liberdade plástica” é conhecida. Do Bai- fui procurado por Anna Maria Niemeyer, amiga de onde minipeças e grandes formatos encontraram Valério Teixeira e os companheiros eficientes da le na Pampulha ao Ibirapuera e, depois, Brasília, toda a vida, e pelo colecionador João Sattamini, uma unidade que era a antevisão do MAC. Os móveis Secretaria da Cultura e da Emusa… o Partido Comunista francês, ou o Centro Cultu- acompanhados pelo agressivo artista, mas civili também vieram de Anna Maria: poucos, mas afina- Com Oscar Niemeyer, veio a equipe de desen- ral do Havre, na Universidade de Constantine, no zadíssimo curador da coleção, o pintor Victor Ar- díssimos – volume, cor e textura – para ambientação volvimento, Jair Valera e Anna Elisa Niemeyer, a Caminho Niemeyer de Niterói, no Setor Cultural 20 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 21 que se ergue em Brasília, a articulação de formas ção artística se junta uma nítida visão humanista. e volumes, a instauração de espaços inovadores, A rampa não nasce, na verdade, de pura preocu- tudo compõe um espetáculo arquitetural único pação plástica; funciona, sobretudo, como um dis- e inigualável. positivo visual. Percorrê-la é olhar forçosamente A relação inventiva de Oscar Niemeyer com o o grande volume branco que cresce a cada passo, cálculo do concreto armado fixou-lhe, através de enquanto desfila lentamente ao fundo o histórico três vitórias – a leveza arquitetural, os grandes panorama da Guanabara, como um ciclorama fan- vãos e a forma-estrutura –, uma posição histórica tástico. Ou seja, a rampa é o trajeto de um passeio de liderança na arquitetura contemporânea, e o arquitetônico, quem sabe? A sugerir a rotação da MAC de Niterói é o produto mais recente dessa natureza em volta da forma branca, recortada no evolução niemeyeresca: parece a síntese de todas céu por “uma linha que nasce do chão e, sem inter- as conquistas que, desde as antigas catedrais, le- rupção, cresce e se desdobra, sensual, até a cobertu- varam avante a audaciosa vontade de dominar o ra…” propositalmente circular. Uma visão cósmica; espaço construído e a paisagem da Terra. não do universo científico, mas de uma apropriação Preste o visitante atenção, ao subir a rampa poética e ideológica do mundo. Em nossa época, ao da entrada, nas sutilezas intrigantes e nas signifi- falirem as determinações históricas, ainda maior é cações da criação arquitetônica – verá que à emo- a liberdade, a livre escolha de um novo humanis- P la n ta ba i x a do Sa L ão pr i n c i pal e vara n da (1º p i s o ) SA L ÃO P R IN C I PA L VA R A N DA A . G al e ria 1a . Pa re d e 1 B . G al e ria 2b . Pa re d e 2 C . G al e ria 3c . Pa re d e 3 D. G al e ria 4d . Pa re d e 4 E . G al e ria 5e . Pa re d e 5 P la n ta ba i x a do meza n i n o ( 2 º p i s o ) M E Z A NIN O A . G al e ria 1a . Pa re d e 1 B . G al e ria 2b . Pa re d e 2 C . G al e ria 3c . Pa re d e 3 D. G al e ria 4d . Pa re d e 4 E . G al e ria 5e . Pa re d e 5 Á rea s e x pos i t i va s S A L ÃO P R IN C I PA L VA R A N DA M E Z A NIN O mo, fundado na ética e na busca do conhecimento. não haveria história, senão por certos fenômenos A beleza do MAC vem exatamente da transcendên- que continuam…” Muitas posições se renovaram cia poética e onírica dessa crença no futuro. mas, como queria Bloch, prosseguem as mesmas Escrevera o texto acima para um livro que não 22 o m a c c o m o o b r a d e a r t e funções nesses acontecimentos outros. se fez. De lá para cá, entretanto, prosseguiu a vida O prefeito Godofredo Pinto e o secretário da do MAC. Diz o povo que não há nada como um Cultura Marcos Gomes, para não falar de Marilda dia depois do outro e diz Marc Bloch (Le Métier Ormy, presidente da Fundação de Artes de Niterói, d’historien, 1947, 1952), nas citações de J.C. Argan retomaram o impulso e levam o Museu adiante, (1969) e P. Ricoeur (1978, 1983), que “não se faz his- com vigor, amizade e compreensão. E o livro do tória, a não ser com fenômenos que continuam…” MAC finalmente saiu, ou o leitor não teria che- ou “que não haveria coisa alguma a compreender, gado até aqui. 23 “Como é fácil explicar es te projeto ! Lembro quando fui ver o local. O mar, as mont anhas do Rio, uma pais agem magnífica que devia preser var. E subi com o edifício, adot ando a forma circular que, a meu ver, o espaço requeria. O es tudo es t ava pronto, e uma rampa levando os visit antes ao museu completou o meu projeto.” O s c a r N i e m e y e r (r e v i s t a e m j a n e i r o d e 2 0 0 6) 24 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 25 Da Ex plicação Nece ssária de N ieme y er à M issão Nece ssária Luiz Guilherme Vergara Diretor geral do MAC de Niterói 26 o m a c c o m o o b r a d e a r t e Sem dúvida, para o MAC como projeto de museu Depois ele comenta o segundo ponto: “(…) E su da baía de Guanabara. Ali encontra também o lu- de arte contemporânea, explicar é necessário. Fácil bi com o edifício, adotando a forma circular que, gar perfeito para o mundo da arte, na equidistân- para Niemeyer, que depois de 10 anos simplificou a meu ver, o espaço requeria (…)”. O espaço infi- cia entre cotidiano e simbólico, entre físico e me- ainda mais a sua explicação necessária, reduzindo nito modela a forma circular, lembrando um prin- tafísico, um ponto de tangência dentro e fora de a três pontos a cosmogênese do seu projeto. Mas cípio estético oriental, o de que o vazio modela o ambos. O que torna o MAC um círculo mágico de é justamente afinando com a “explicação necessá- vaso. Niemeyer parece buscar ao máximo a preg- ressonâncias entre ficção e realidade, lembrando ria” de Niemeyer o norte desse projeto que melhor nância da beleza na imensidão vazia, pela trans- o inexplicável infinito do Aleph de Borges 1: “um alinhamos a origem da forma ao destino-missão parência da obra suspensa diante do horizonte lugar do espaço que contém todos os pontos (…) deste museu. Primeiro, a concepção nasce da vi- intocável e abundante. Além de se afastar hori- o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os são ampliada do vazio do todo ainda inabitado, zontalmente ao máximo das construções urbanas, lugares do orbe, vistos de todos os ângulos”. como um Cosmo inacabado. A visita ao local é toda o prédio se eleva acima do nível da rua – do chão referida por Niemeyer pelas grandezas imensurá- –, provocando a experiência de limite de distan- veis – “o mar, as montanhas do Rio, uma paisagem ciamento do mundo cotidiano, para se fixar sim- magnífica que devia preservar”. bolicamente à beira do precipício sobre as águas 1. Borges, Jorge Luis. O Aleph. São Paulo: Globo, 1998. 27 Niemeyer conclui sua explicação necessária elevação da visão perante o mundo acompanhada cil explicação necessária de Niemeyer para o pro- com o terceiro componente dessa unidade tripar- pelo caminho para um patamar inaugural de va- jeto, para imprimirmos a desafiante missão neces- tida, a rampa: “(…) O estudo estava pronto, e uma lores artísticos vinculado às leituras e descobertas sária do MAC como um museu para a arte no mun- rampa levando os visitantes ao museu completou para cada sensibilidade. do contemporâneo. o meu projeto”. Certamente essa peça arquitetô- Nesta última síntese das sínteses de Niemeyer, O MAC é um prédio que causa muita surpresa; nica também exerce uma função simbólica como podemos identificar no MAC uma unidade tri assim Niemeyer intuitivamente liberou na forma percurso espiral barroco, ponte de mediação entre partida. A missão do MAC se compõe também de arquitetônica o seu desejo de utopia concreta. universos de percepções totalmente distintos – a três dimensões interligadas – cultura, meio am- Pois, ainda que pequeno, é infinito. Ao mesmo rua e o museu. Porém, ela é em si uma escultura- biente e sociedade se unem entre forma e símbo- tempo que tão leve, contém em forma tão sim- caminho de acesso/ascese para os visitantes, fa- lo pela apreciação do visitante. A forma circular ples todas as grandezas impalpáveis, dos céus, do zendo todo o entorno da paisagem girar como da nave suspensa é uma concha de fecundação de mar e das montanhas ao seu redor; e ainda assim uma infinita ante-sala, ou galeria a céu aberto, de sensibilidades aberta entre dois mundos, entre a mantém-nas livres, sem clausura. É concreto e iniciação do olhar para uma atitude estética que paisagem magnífica, transcendente, e o cotidiano transcendente, composto de formas geométricas se liga ao corpo que caminha em movimento as- urbano, imanente, vistos pelos visitantes – a so de grande força simbólica – uma rampa em espiral censional. A dimensão simbólica se mescla à expe- ciedade – unidos pela rampa, lugar de passagens e uma concha circular suspensa por uma coluna riência física das sensações do visitante na rampa. simbólicas. A preocupação com o equilíbrio e a central única. Sua posição geográfica acrescenta A suspensão da arquitetura toma o sentido de importância dessas três dimensões – cultura (a nave), meio ambiente (a paisagem, natureza) e a potência sublime de nos colocar diante do in- sociedade (a rampa) – é apenas a ponta de uma finito (reconhecer nossa fragilidade), com toda desafiante trajetória. Quem sabe é esta a grande a vista sobre a baía de Guanabara. Por um lado, potência artística na arquitetura do MAC como essa obra se torna uma pequena grande novidade mirante da Boa Viagem, ainda não completamen- invadindo uma paisagem guardada por igrejas e te realizada: constantemente reinventar o papel fortalezas de 500 anos. Por outro, ela é um mag- e as práticas de um museu-caminho-mirante de neto cósmico que absorve para si todo o espaço experiências movidas pela espiral utópica ou trans- tangível e intangível, físico e metafísico, passado formadora da arte. Pois já aí estará sendo mate- e futuro, ao seu redor. rializado um desejo do Niemeyer e o destino da É com essa ressonância de 360º que o MAC foi forma, em suas palavras na primeira versão (1996) ao longo desses 10 anos apresentado como uma da “Explicação Necessária”: “(…) E senti que o mu- obra de arte contemporânea, que tem o potencial seu seria bonito e tão diferente dos outros que poético, imaginário e concreto de radicalizar a pró- ricos e pobres teriam prazer em visitá-lo.” pria função museu para além de suas paredes e dos O MAC é uma manifestação artística que exige objetos expostos. O que melhor poderia se ajustar a ressignificação contínua da função museu: arte aos manifestos artísticos de expansão entre arte e para uma consciência ambiental expandida pela vida defendidos pelas vanguardas experimentais participação. Instiga uma atualização do conceito da arte do século XX do que um museu arquiteto- de unidade tripartida para a sua missão, que lem- nicamente voltado para fora, para o mundo, um bra não só Max Bill mas também as três ecologias antimuseu, que antes de mais nada se apropria da de Félix Guatarri : o equilíbrio entre o meio am- imponência da beleza da paisagem ao seu redor biente e as relações produtivas de uma sociedade- como parte de seu acervo universal das histórias cultura, e a interseção dessas relações na constru- da arte, cultura e natureza? 2 ção do indivíduo – território de autopoiesis, isto é, do exercício e expressão da subjetividade. Talvez depois de 10 anos ainda estejamos tateando a fá- 28 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 2. Guatarri, Félix. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 1990. 29 Em dezembro de 2005, a direção do MAC e todo o conselho de diretores técnicos e adminis- Um museu como obra de arte : torno da paisagem como exposição permanente, o percurso da arte moderna para a contemporâ- P oé t i ca s do i n fi n i to trazendo a atenção do visitante, de todas as ida- nea, saltando da moldura para o ambiente. Nessa des, para o percurso dos mesmos passos de intui- abordagem se resgata a visão de Merleau-Ponty trativos reuniram-se seguidamente para redigir a missão e as principais metas para este museu em “Vale a pena olhar o céu. Sentir como o ser hu- ção criadora do Niemeyer, quando pela primeira para a experiência de Cézanne, da percepção en- 2006. Começamos compartilhando nossas diferen- mano é frágil, insignificante, sem perspectiva. vez escolheu este lugar, lembrado na “explicação carnada em um corpo onde se dá a visão móvel e tes visões e perspectivas para buscar alcançar uma Mas sem esquecer que a vida tem de ser vivida, e rir necessária” como a magnífica paisagem. Mas tam- movida com o mundo. missão como síntese desses 10 anos de experiência e chorar é o nosso destino.” (Oscar Niemeyer) bém se oferece ao visitante uma experiência sen- A experiência monumental do MAC diante da sível ampliada, da percepção que se expande e se baía de Guanabara, com sua rampa espiralada, e projeção para o futuro. Registramos aqui este ponto de partida para marcarmos a direção na qual “Preste o visitante a atenção, ao subir a rampa concentra ao mesmo tempo, do infinito cósmico realiza também um diálogo especial com a “Spi- deve seguir a instituição, da inspiração na forma da entrada, nas significações da criação arquite- dentro de uma visão real à intuição imaginativa ral Jetty” de Robert Smithson, artista americano, arquitetônica diante da paisagem para o destino tônica – verá que à emoção artística se junta uma sobre a potência de transfiguração dos limites de líder histórico dos anos 70, com suas visões utópi- e função deste lugar. Do resultado dessa interse- nítida visão humanista. (…) Ou seja, a rampa é o inclusão do indivíduo no mundo, na (in)finitude cas para a arte ambiental (land art) do século XX. ção de olhares tiramos um parágrafo único para a trajeto de um passeio arquitetônico, a sugerir a humana. Daí também nasceu a idéia de “ritual da Com Smithson, Richard Long e outros, toda uma visão do MAC que cabe registrar aqui: rotação da natureza em volta da forma branca, rampa”, que ocorre segundo uma trajetória de geração de artistas daquela década buscou reali- deliberadamente circular. Uma visão cósmica.” 3 mudanças de percepções contínuas, de conversas zar suas obras diretamente em territórios onde se (Italo Campofiorito) compartilhadas, muitas vezes silenciosas. O MAC encontram a culminância cósmica (imemorial) e a se oferece para essa vivência da forma artística interferência artística na paisagem como se fossem “O MAC é um Portal para o Novo, um lugar inspirado no ideal humanista de Niemeyer. Pelo seu exemplo de comunhão entre arquitetura e paisagem, aqui se dá um encontro especial entre Invocar o MAC como obra de arte significou ao como pertencente ao lugar, intransferível, que se esculturas-caminho. Tais referências artísticas e fi- passado, presente e futuro, oferecendo uma be- longo desses anos propor que a visita começasse enraíza geograficamente junto com o espectador, losóficas, marcantes para o entendimento das van- leza acessível a todos, bem como abrigo e labora- lá fora, ou intencionalmente apontar todo o en- para que se resgate o momento relacional entre guardas modernas e pós-modernas, fazem parte do arte, mundo e sujeito. O prédio do MAC diante da alinhamento histórico que embasa a potência local paisagem realiza como campo de percepções todo e universal da experiência do MAC como obra de tório poético para a contínua renovação da arte contemporânea brasileira.” 30 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 3. Ver texto do Italo Campofiorito neste livro. 31 mas como imersão do sujeito no corpo de suas vi- reflexões estéticas não mais isoladas do mundo, sões/sensações e no mundo visível, consciente de materializando o percurso relacional do espaço si como leitor móvel. O MAC como obra de arte e para o tempo-vivência, ou seja, da arte moderna o seu entorno oferecem a cada visitante a condi- para a pós-moderna. E, além disso, é também um ção de território de experiências autopoiéticas, de museu que apresenta as obras como poéticas se fazer Ser pela construção de sentido dentro do (práticas artísticas) que exigem a participação do tecido invisível que une as coisas aparentemente sujeito construtor de sentidos e, ao mesmo tempo, desconexas do mundo, ambos – o visitante e a obra de si próprio 5. de arte – abertos e tocados um pelo outro. A área Niemeyer realiza com o MAC um monumento externa do MAC é o território dessa experiência muito mais do que modernista – sua forma-espaço liminar, de passagens entre o cotidiano e o simbó- envolve o visitante em um movimento sincrônico lico; daí sua dimensão ritualística de experiência que faz girar todo o cosmo ao seu redor, faz mover de mudança de atitude para a atenção ao tempo- montanhas. Daí a dimensão iniciática do MAC de espaço de percepção imaginativa. dar centralidade humanista a um leitor móvel no Carol Duncan4 também aponta para os espaços universo, atualizando os paradigmas renascentis- em torno dos museus, desde os castelos do século tas apontados por Alberti e mais tarde por Vasari XVIII e as construções neoclássicas do século XIX, – reunidos por Giulio Carlo Argan6 – diante da mi- onde os jardins preparavam o cidadão, que se lagrosa Cúpula de Brunelleschi, em Florença, “er- afastava do caos urbano, para a elevação sensível guida sobre os céus”. Associando essa abordagem e espiritual da visita ao museu. Os rituais civiliza- de Argan para a cúpula renascentista com o caso tórios eram também de organização da percepção do MAC, assim como a catedral florentina o MAC para o tempo-espaço da arte. Dessa forma, o MAC se oferece como obra de arte ambiental contem- 4. Duncan, Carol. Civilizing rituals: inside public art museums. London: porânea, pois ele atua como campo sistêmico de 5. Este é o sentido de autopoiético explorado nesta apresentação. iniciação à sensibilidade que embasa as principais arte. Propor essa visão do MAC como arte significa geográfica das manifestações artísticas em territó- incluí-lo em uma experiência única que se expan- rios de afetos e saberes. de para o mundo, ao mesmo tempo que se contrai A vivência do MAC como obra de arte é pri- dentro de uma ordem – sistêmica e dinâmica – de meiramente a de propor ao sujeito um estado de um todo estético. Reciprocamente, a função museu abertura diante do mundo, trazendo para a ex- de arte contemporânea juntamente com a forma periência da percepção as perspectivas fenome- artística que atinge o estatuto de experiência exis- nológicas de Merleau Ponty: ”O mundo visível e o tencial se expande na direção do mundo, abrindo mundo dos meus projetos motores são ambos par- o caminho de iniciação para o que desenvolvemos tes do mesmo Ser”. O corpo expandido de percep- a partir do MAC – “Poéticas do Infinito”. Essa con- ções é um corpo expandido da arte para o mundo: jugação entre arte e existência, muito mais do que “corpo que entrecruza visão e movimento…” Em utópica no sentido de não-lugar, é de apropriação O olho e o espírito, M. Ponty aborda a visão não concreta, não de isolamento da forma em relação como operação do pensamento que traz para a ao mundo, mas de contaminação e transformação mente uma imagem ou representação do mundo, 32 o m a c c o m o o b r a d e a r t e Routliedge, 1996. 6. Argan, Giulio Carlo. Clássico anticlássico: o renascimento de Brunelleschi a Bruegel. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 33 como obra de arte se delineia diante dos céus como confluência entre o físico e o metafísico, lugar dos limites entre o visível e o infinito. O MAC é uma obra poética modelada pela apreciação do infinito e, como tal, não pode prescindir de um estado poiético, do sujeito da percepção imaginativa, da intuição de múltiplas metáforas que celebram o infinito. Isso se dá alinhando a experiência geográfica do sujeito, aqui e agora, uma atitude interativa com a paisagem e o museu. É nessa experiênciapoética do sujeito para o mundo que o MAC como obra de arte cruza a história do olhar e da percepção estética ligados à paisagem e ao sublime, mas também instaura a abertura do museu-abrigo que ecoa as exigências da arte contemporânea de estar em unidade com a vida. Ainda assim o MAC precisa ser lido “por extenso”, pois no seu nome se abrevia a função incerta de ser um museu da arte e vida contemporâneas – muito bem sintetizada pela expressão incertae ma uma polêmica pré-moderna e pós-moderna: a que incorpora na sua amplitude de sentidos o inde- tísticas da nossa época. Assim, o MAC materializa sedis (aquilo que não tem classificação científica), história da arte deve ser contada a partir da força terminado, o transitório e o relativo, como partes em Niterói, pela sua potência estética, as demandas que deu título à exposição de José Rufino aberta de cada lugar, para não se sobrepor ou se isolar da de sua própria dimensão vital-existencial. de uma ética viva para os seus espaços: inclusão, em outubro de 2005. A forma futurista de Nie- geografia da arte, onde o tempo encarna o espaço meyer remete cada visitante tanto ao passado, do local para o universal. 7 Ao fundar um museu de arte contemporânea mobilidade, leveza e transparência, mas também em Niterói, com a arquitetura do MAC, singular- imanência e transcendência. O MAC como obra de como um templo da Antiguidade, um lugar sagra- O MAC inspira vários poetas e estados poéticos mente inaugurou-se uma “forma-função” que arte transforma a Boa Viagem em um ponto de do de peregrinação para um deus desconhecido, na paisagem. Como bem colocou Antonio Cícero: exige continuamente a renovação de um compro- encontro de utopias, de novos modelos de percep- quanto ao futuro, como um abrigo flutuante de “(…) suspende-se no ar feito pergunta (…).” Mas misso com a participação e circularidade do co ção artística e participação cultural, nas Bandas contínua criação e conquista humana. O MAC é que pergunta é esta que toca a todos, captada pelo nhecimento. Por um lado, a obra de Niemeyer é d’Além 10 entre modernismo e pós-modernismo, fundamentalmente um lugar que atinge e como- Antonio Cícero como eco poético do infinito? herdeira das crenças que fundaram as utopias mo- entre localismo e globalismo. O MAC como obra ve a essência dos paradoxos e esperanças huma- Inspirados nessa experiência do MAC como dernas, as vanguardas construtivistas russas. Por de arte instiga a ressignificação da função museu nas, onde se aponta para a necessidade da arte e obra de arte, encontramos o conceito de poéti- outro lado, a forma arquitetônica transgride a pela pura imanência de sua forma arquitetônica/ se coloca cada um suspenso fragilmente sobre a cas do infinito como método e princípio filosófico função tradicional “museu”, ligada às origens eu- artística, que não se revela totalmente no encan- (in)finitude da existência. Por que museu e por que para apresentarmos a arte contemporânea como ropéias iluministas, e se torna o que Ernst Block tamento com a paisagem, pois a sua potência in- não?, perguntamos junto com Nelson Leirner . diversidade e sistema de sentidos e leituras. O prin- chama de “antecipatória”, ainda não presente na tangível de transformação é apenas intuída como O MAC atua como obra de arte tanto moderna cípio do infinito é síntese de um processo múltiplo consciência de todos, que traz para a visão a ima- processo contínuo de descobrimento e vir a ser. como pós-moderna, pois é inquisidor dos próprios e aberto entre fluência de criação e recepção sem gem do porvir de relações ampliadas museu-mun- paradoxos que habitam as relações entre o objeto limites que envolve a participação do espectador; do, arte-sociedade. de arte e seu lugar/não-lugar museu – como cas- e inspira construções de leituras ilimitadas. O in- O MAC não é um museu de formas tradicionais telo de pureza pelo isolamento do cubo branco finito, que não tem fim nem limites, também está ou neutras, ele é um lugar ativo tanto como obra ou contaminação com o mundo –, que atingem nas mudanças de paradigmas ligadas ao conceito de arte, contaminadora e inspiradora de cada ex- MAC de Niterói. De 15/10/2005 a 05/03/2006 a função museu para a recepção participativa da de abertura da obra de arte contemporânea (ex- periência, quanto como abrigo poético cuja função 10. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. Faculdade de Educação. Labora- arte contemporânea no mundo hoje. O MAC reto- plorado por vários autores, como Umberto Eco9), simbólica é dar vida pública às manifestações ar- patrimonial. Niterói, 2003. 8 34 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 7. Exposição Incertae Sedis, de José Rufino. Curadoria: Claudia Saldanha e Luiz Guilherme Vergara. MAC de Niterói. De 15/10/2005 a 05/03/2006. 8. Exposição Por que museu?, de Nelson Leirner. Curadoria: Agnaldo Farias. 9. Eco, Umberto. A obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 2001. tório de Educação Patrimonial. Bandas d’Além: almanaque de educação 35 ME MÓRIAS DE CÁ LCULO Bruno Contarini Engenheiro civil (Resp ons ável p elo projeto do cálculo estrutural do MAC ) A arquitetura de Oscar Niemeyer, ao definir-se essencialmente como um grande corpo branco suspenso do terreno, e ocupado principalmente por um grande salão sem pilares, exigia o cálculo de uma estrutura especial, que merece a descrição de seus aspectos mais relevantes. O grande salão central, com 462m 2, completamente livre de pilares e contornado no alto por um amplo espaço destinado a mostras menores, conhecido como mezanino, levou-nos à execução de quadros, com grandes vigas protendidas e radiais, sob o teto do Museu. Apóiam-se tais vigas em seis pilares com 50cm de diâmetro. Os quadros de vigas e pilares formam assim uma espécie de mesa, apoiada por sua vez sobre a estrutura do primeiro pavimento (Administração e setores técnicos). As vigas em que está pendurado o mezanino foram construídas em concreto protendido e avançam em balanços de 11m sob o forro do mezanino, integrando-se hoje à articulação plástica daquele espaço museológico. O peso dessa superestrutura, transmitido pelos pilares ou prismas da mencionada mesa ao primeiro pavimento, é sustentado por um conjunto de vigas radiais realizado em concreto protendido; do ou placa elevatória, de peças abrigadas no subsolo; apoio rígido sobre o pilar central, essas vigas se pro- por isso, os cabos superiores da armação, forçados O solo local é resistente. Ressalte-se que a car- jetam em balanços de aproximadamente 10m até a a desviar-se do poço, formaram uma estrela com a ga total da construção, mesmo considerando o uso periferia circular do bojo externo do Museu. armação principal das vigas em balanço. do Museu e o efeito dos ventos, é inferior ao peso se sapata com 16m de diâmetro e 5m de altura. O comportamento estrutural das vigas exigiu É assim que o apoio central recebe e absorve, da terra que foi retirada para a obra; a estabilida- que a armação negativa, na parte superior delas, transmitindo-o ao terreno, todo o peso da edifi- de vem do fato de que não se está acrescentando passasse de um lado ao outro do apoio central, cação em pleno funcionamento. carga suplementar ao solo. de forma a equilibrar todo o arcabouço até agora Quanto às fundações, e uma vez que é caverno- Por fim, as rampas de acesso público foram descrito. De fato, o apoio central cilíndrico é oco, so o terreno do promontório de onde o Museu de estruturadas em grelhas de concreto protendido para permitir o transporte vertical, por elevador Niemeyer parece voar para a paisagem, construiu- com caixões perdidos. 36 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 37 A JA NE LA VOLTA D A PA R A a B A íA DE G U A NA B A R A Sandro Silveira Diretor da Divisão de Arquitetura O MAC de Niterói foi concebido e construído em meio às discussões e revisões pelas quais passa a produção arquitetônica nesta virada de século. Em paralelo às tendências atuais da produção arquitetônica, que não apenas defendem o pluralismo, como também a revisão do Moderno, Niemeyer mantém o discurso na defesa da simplicidade das formas em seus projetos. Adotando o predomínio da linha horizontal e fazendo da estrutura em concreto a própria forma do prédio (o exosqueleto), ao mesmo tempo em que solta o seu volume do terreno, levemente apoia do em pilar único, o arquiteto cria a relação de continuidade da praça com a paisagem e o mar. A forma circular do Museu, aliada aos grandes vãos, conduziu-o a uma solução estrutural essencialmente radial, dividida em seis setores, em conformidade com o projeto de arquitetura. Tal solução pode ser a lição aprimorada daquilo que Le Corbusier expressou no protótipo da “Maison Domino”, ou seja,“a ênfase na horizontal, interpenetração do “Não desejava um museu envidraçado, mas com o grande s alão de exposiçõ es cercado de paredes ret as, circulado por uma galeria que o protegesse e permitisse aos visit antes nos momentos de paus a apreciar a vis t a ex traordinária.” Oscar Niemeyer 38 o m a c c o m o o b r a d e a r t e 39 dentro e fora, criando-se os meios para a fachada li- trabalha a atuação da paisagem circundante; além vre”. O plano livre destruiu a fachada fixa, liberando de transferir a função de mirante para aquele lu- a arquitetura moderna de tal preocupação. gar, também provoca a invasão da paisagem da Em lugar de confinar as obras de arte às tradi- baía – e toda a sua qualidade sedutora – ao seu cionais quatro paredes, Niemeyer adotou, em par- interior, num processo de museificação dos objetos te, uma solução aberta, onde o entorno participa operantes no entorno do edifício. do espetáculo oferecido ao visitante. Tal relação, ao contrário do que poderia ocorrer nos espaços expositivos tradicionais, tem pro- A tra nsparênc i a da vara nda vocado inúmeros artistas frente aos embates pro- Uma das características que tem norteado o vo- movidos pelas discussões que permeiam o processo cabulário arquitetônico contemporâneo é a apli- realizador da arte contemporânea. cação de materiais que, por suas capacidades de Acompanhando a montagem do trabalho de permitir a passagem de raios luminosos visíveis, um artista, na varanda, em 1998, ouvi sua reclama- fortalecem (ou facilitam) o diálogo dentro/fora. ção: “É uma disputa desigual desta arquitetura com Ao dispor a varanda como espaço que envolve o nosso trabalho! Como é possível competir com todo o salão hexagonal de exposições, Niemeyer esta paisagem, assim escancaradamente invadin do esta varanda?!”1 Naquele instante foi possível nito da saída da baía, e que talvez poderiam estar a percepção de uma outra relação da arte com a cruzando com outros, partindo das imensas jane- arquitetura. A obra passa a ter um referencial, um las do MAM. pano de fundo, uma cena, uma nova profundidade concomitante com a paisagem como obra de arte O percurso museificada. No MAC, não como paisagens esta A geometria das áreas expositivas, antecedida pelas ticamente emolduradas, mas como imagens im- curvas da rampa, leva o visitante a um percurso cir- pressas nos setenta fotogramas que circundam a cular, numa caminhada que se inicia no portão da varanda, produzindo o movimento pleonástico do praça, apresentando vários pontos de vistas através cin ema. Linguagem esta tão utilizada nas cons das disposições dos elementos arquitetônicos. truções plásticas da arte contemporânea. A arquitetura do MAC, utilizando o conceito Outra obra, também criada para aquela arqui de “promenade architectonique”, desde a sinuosa tet ura, estava lá na varanda . Eram centenas de ascensão pela rampa, circulando num sentido – de sentinelas com seus olhares voltados para o infi- modo inconsciente – anti-horário pela varanda, fa- 2 zendo uma interseção pela escada helicoidal que 1. Exposição de Antonio Manuel e Artur Barrio, em 1998, quando o primeiro ocupou a varanda do museu com a construção de diversas paredes coloridas com furos propositadamente “marretados”, criando diversas visadas da baía da Guanabara. 2. “Terra à vista”, de Nelson Leirner, faz parte do acervo do MAC de Niterói. 40 o m a c c o m o o b r a d e a r t e leva ao segundo piso, agora tomando a direção naturalmente horária, sugere ao visitante a sensação espacial de infinito. 41 Ney Valle Diretor da Dupla D esign A notícia chegou através de um telefonema de um farto material sobre o arquiteto e o projeto do Dôra Silveira, com quem havíamos trabalhado no MAC de Niterói. E percebemos que o museu já co- design de algumas exposições no Museu Antônio meçava a colocar a cidade no mapa do mundo. Parreiras – e que viria a ser a coordenadora exe- Depois analisamos criticamente marcas e lin- cutiva do MAC de Niterói: “Vocês já sabem quem guagens de museus e centros culturais brasileiros e vai fazer a marca do MAC?” “Quem?”, perguntei, estrangeiros, em especial os dedicados à arte con- curioso e com alguma ansiedade. Dôra estava mui- temporânea – arte que conhecíamos bem de perto, to séria: “O mesmo pessoal… ”– e fez suspense, uma vez que vivíamos, como alunos, a efervescên- com uma pausa de alguns segundos – “O mesmo cia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. pessoal que fez a marca do Teatro Municipal de Niterói.” Era eu! Ou melhor: a Dupla Design. 42 o m a c c o m o o b r a d e a r t e a co n s truç ão de uma imagem Então, com a firme convicção de que o MAC de Niterói estava nascendo para ser – mais do que O convite foi realmente uma surpresa. A nos- um museu de arte contemporânea – um museu sa parceria de sucesso com a Fundação de Arte de contemporâneo vivo, partimos em busca da forma Niterói era relativamente recente: trazidos por perfeita: foram muitos estudos, muita discussão e Marilda Ormy (hoje, presidente da FAN e, então, um extenso trabalho de refinamento até a ima- uma grande agitadora cultural da cidade), fize- gem definitiva. mos a identidade para uma temporada de shows No símbolo da marca, a nossa intenção foi fu- no Teatro Municipal, ainda em obras. E depois a gir do recurso óbvio e tão comum da silhueta do marca do próprio teatro. museu em alto contraste. Queríamos algo que pu- Nem deu para ficar feliz demais. Eu e Claudia desse fundir a inegável importância da forma, da Gamboa (minha sócia na Dupla Design desde o construção em si, com a arte contemporânea que início, em 1991) tínhamos um tempo muito curto ela iria abrigar, em sua função como museu. pela frente. Curtíssimo. Afinal, se a construção do Para isso, nada melhor que um desenho feito museu estava quase concluída, a construção da pelo artista Oscar Niemeyer para explicar que ali, sua imagem estava apenas começando. E o proje- no MAC de Niterói, na sua visão, a arquitetura to de identidade do MAC de Niterói logo tomou estava solta sobre um apoio central, como uma conta do escritório. flor – flor que em pouco tempo os olhos do povo A primeira etapa do nosso trabalho foi uma transformariam, de modo irreversível, em disco grande pesquisa sobre Oscar Niemeyer e sua obra. voador. O desenho, gentilmente cedido ao museu Se no Brasil, naquele momento, pouco se falava a pelo arquiteto, era genial: econômico, vivo e es respeito do novo museu, no exterior encontramos sencialment e gráfico. Mas precisou de ajustes 43 para que pudess e funcionar como símbolo de uma marca forte. Então, como ainda vivíamos o deslumbre com as possibilidades trazidas pelo uso do computador No logotipo/lettering, a opção foi utilizar a Fru- e o símbolo/desenho do museu, graficamente, pre- tiger – uma fonte tipográfica sem serifa que com- cisava também do seu mirante como base, optamos bina o geométrico e o humano em sua construção por estender/horizontalizar a sigla MAC. e tem um charme especial e excelente leitura em A marca estava pronta. Forte. Eficiente. Única. textos corridos – tirando partido das formas orgâ- Em preto e vermelho, cor da inquietude da arte nicas das suas caixas baixas no “m” e no “c” para contemporânea e tão característica das obras de criar uma “conversa” com o desenho do museu. Oscar Niemeyer. Sua singularidade ficaria ainda Para completar a sigla MAC, decidimos rede- mais evidente à medida que o MAC de Niterói foi senhar o “A” maiúsculo de modo que ele tivesse se transformando num ícone da cidade e uma ima- a mesma altura das letras minúsculas e formas- gem recorrente em inúmeras marcas, que se apro- se um bloco. Esse trabalho – de difícil execução priavam da sua silhueta e/ou dos seus contornos. àquela época – trouxe mais originalidade, força E foi a partir dos conceitos que ancoram o seu e personalidade à marca. E uma certa estranheza, caráter singular que criamos uma linguagem grá- próxima à provocada pela arte contemporânea em fica consistente para o MAC de Niterói. Internacio- seus espectadores. nal. Livre mas coesa. Sempre explorando o novo, criando soluções inusitadas e privilegiando, através de um estreito diálogo, a arte contemporânea. Sem perder de vista, no entanto, a clareza, a limpeza e a eficiência da comunicação. A função do design. Nesses 10 anos, foram muitos projetos de sucesso, entre identidades de exposições e seminários, materiais institucionais, produtos para a loja Nada disso teria sido possível sem uma parceria utilizando as ferramentas e o olhar do século XXI. do museu, design de exposições, publicações etc. de verdade – e muito criativa – entre a Dupla Design O símbolo ganhou ajustes mínimos. E uma nova E muitos sonhos sonhados juntos – como este livro, e a equipe do MAC de Niterói, sempre receptiva a sigla MAC foi criada, tendo como base o traço do que agora vira verdade. novas propostas e com profundo respeito pela nos- desenho do museu, e suas curvas. Em todo o trabalho feito, utilizamos o design, sa expertise e pela autonomia que o design precisa Numa decisão estratégica, assumimos o nome com o pensamento estratégico que lhe é intrín- ter para funcionar bem. Não é à toa que hoje nos pelo qual o museu ficou de fato conhecido: MAC seco, como solução criativa para, por exemplo, sentimos parte da história e do time do museu, onde de Niterói. E isso nos levou a fazer um reestudo viabilizar custos. Unir opostos. E registrar parte fizemos, através do trabalho, grandes amigos. das relações e proporções entre os elementos da significativa do acervo do museu através de uma Nos últimos anos, com a imagem do MAC de marca, inclusive para que ela ficasse tecnicamen- coleção de catálogos, produzidos aos poucos, a Niterói consolidada, e em sintonia com o novo te mais adequada às necessidades atuais de apli- cada exposição individual de um artista da Cole- momento, de retomada, vivido pela instituição cação. A fonte tipográfica Frutiger foi mantida, ção João Sattamini. na gestão de Luiz Guilherme Vergara, tornou-se na expressão “de Niterói”, fazendo o link entre O resultado dessa produção já foi publicado naturalmente necessária a atualização da marca. os dois momentos. E permanece como a fonte ti- e/ou exposto e/ou premiado várias vezes no Brasil A oportunidade surgiu na comemoração dos 10 pográfica oficial do museu. e no exterior, participando de diversas Bienais Bra- anos do museu, quando também desenvolvemos O conjunto é agora ainda mais potente. Mais sileiras de Design Gráfico – conquistando inclusive a marca da Associação de Amigos, recém-criada integrado. Mais contemporâneo. Uma evolução o prêmio máximo nas categorias em que concorreu para potencializar o MAC de Niterói. natural. E, no que diz respeito ao design, o Museu – assim como da mostra Brasil em cartaz, parte das comemorações do ano do Brasil na França. 44 o m a c c o m o o b r a d e a r t e No reestudo da marca, reafirmamos a missão do museu e os conceitos que a marca antiga já trazia, de Arte Contemporânea de Niterói está pronto para os próximos 10 anos. 45 Focos na C ol eçã o Sérgio Camargo [1930-1990] Sem título, 1979 Mármore 35 x 120 x 60 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 46 F o c o s n a c o l e ç ã o 47 Cildo Meireles [1948] O pensador ou Parla, circa 1982 Madeira, couro, pedra 126,5 x 56,5 x 132,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Claudia Saldanha In t r od u ç ã o Diretora da Divisão de Te oria e Pesquisa A prática do colecionismo que remonta à antigui dade clássica já foi definida pelo bibliófilo José Mindlin como uma “consciência da raridade” ou como “uma compulsão patológica”, “um verdadei ro vício”. Segundo Mindlin, colecionar é preservar o passado sem ficar mergulhado nele – tem de in cluir o presente e tornar acessível o mundo de co nhecimentos e de informação que ali se encontra. João Sattamini, um dos maiores colecionadores de arte no Brasil, assim define a importância e a fun ção de uma coleção: “Uma coleção só existe se pu der ser vista, comparada com as outras, analisada em suas eventuais deficiências e na sua dinâmica de crescimento. Ela deve servir para que artistas a usem em seu processo de aprendizado, além de instrumento para a permuta entre instituições para suas exposições”. O principal desafio de um museu de arte con temporânea é acompanhar as transformações da arte mantendo a sua autonomia, sem se deixar in fluenciar por pressões econômicas, políticas ou de ordem mercadológica. Diante da falta de recursos próprios ou provenientes de agências especializadas no fomento às artes, alguns museus não têm outra alternativa a não ser a rápida via do patrocínio. Museus que dependem inteiramente desses recur sos correm o risco de sucumbir a outras influências que não as culturais e estéticas na sua programação anual. Não cabe aqui analisar a fundo essa questão, mas sim avaliar a importância da Coleção João Satta 48 F o c o s n a c o l e ç ã o 49 vista nosso passado, quando o modernismo brasi se evidente a interrupção do projeto moderno leiro instituiu pela primeira vez no país, nos anos com o golpe de 64 e o surgimento “(…) de van 30, os preceitos de Le Courbusier de “Síntese das guardas de resistência que, através da subversão Artes”. Momento em que urbanistas, arquitetos e de valores culturais, questiona valores estruturais artistas reuniam-se em projetos interdisciplinares, de uma sociedade reprimida política e moralmen realizados especialmente para ocupar espaços ide te”2. Aqui podemos reunir Nelson Leirner, Rubens alizados para todas as artes. Gerchman, Antonio Dias, Antonio Manuel, Artur Segundo Guilherme Bueno, ex-diretor da Di Barrio e Cildo Meireles, por exemplo; e no tercei visão de Teoria e Pesquisa do MAC, o período ro, testemunha-se a “retomada de investidas mais abrangido pela Coleção João Sattamini circuns subjetivistas como também a avaliação do legado creve três momentos “estruturais” da arte brasi do experimentalismo das gerações anteriores”3. leira do pós-Guerra: no primeiro, observa-se o Neste último período incluem-se os artistas Jorge “impacto sistemático da abstração no Brasil, fe Guinle Filho, Victor Arruda, Beatriz Milhazes, Da nômeno decorrente de forma mais acentuada a niel Senise, Jorge Duarte, Ernesto Neto, Eliane partir da fundação dos primeiros museus de arte Duarte e outros. moderna do Rio e em São Paulo, ambos de 1948” . 1 Como integrantes desse conjunto podemos citar mini e da Coleção MAC de Niterói nesse jogo de museu e mostrada ao público em exposições in forças. Uma coleção é um patrimônio fundamental dividuais e coletivas, dedicadas a artistas que re para um museu. Mesmo não sendo de propriedade presentam o que há de mais relevante na história do museu mas sob seus cuidados, como é o caso da recente da arte no Brasil. Em paralelo às mostras, Coleção João Sattamini, ela é um organismo vivo, o MAC vem publicando catálogos com textos dos matéria para a pesquisa, para a produção de conhe curadores e outros críticos de arte, o que tem mo cimento e para projetos de educação. Via de regra tivado a pesquisa acerca dos artistas da coleção e, ela é também o fiel de uma balança (do citado “jogo em última instância, a divulgação da arte brasi de forças”) que custa a equilibrar-se. Lançar mão leira dos últimos 50 anos. Todo este projeto, que de obras da Coleção João Sattamini assim como da reúne a iniciativa de um museu público, da cida Coleção MAC de Niterói, estudá-las e expô-las ao de de Niterói, e a coragem e determinação de um público é, portanto, não apenas oportuno, mas fun empresário brasileiro, já seria por si só louvável. damental para tornar o Museu, se não independen Mas o fato de esta reunião realizar-se em um dos te, ao menos dono de sua própria voz. mais belos prédios desenhados por Oscar Niemeyer O MAC de Niterói abriga a Coleção João Satta constitui um feito no mínimo singular. É como se mini desde sua inauguração, em setembro de 1996. a arquitetura de Niemeyer apontasse o caminho, Em regime de comodato, a Coleção vem sendo nos conduzindo para “uma poética do infinito”, estudada pelas equipes de teoria e pesquisa, de como tão bem define Luiz Guilherme Vergara em educação, de arquitetura e de museologia deste seus textos para esta publicação, sem perder de 50 F o c o s n a c o l e ç ã o os artistas Iberê Camargo, Samsor Flexor, Ivan 1. BUENO, Guilherme. Coleção João Sattamini. In: Instituto Tomie Ohtake. Serpa, Lygia Clark, Maria Leontina, Aluísio Carvão, de Arte Contemporânea de Niterói. São Paulo, 2002. p.10. Ione Saldanha, entre outros; no segundo, torna- 3. Ibid. Mapa do agora: arte brasileira recente na Coleção João Sattamini do Museu 2. Ibid. à esquerda: Iberê Camargo [1914-1994] Forma rompida I, 1964 Óleo sobre tela 59,2 x 82,2 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Jorge Duarte [1958] Banco para cubista, 1992 Acrílica sobre madeira 115 x 115 x 115 cm Coleção MAC de Niterói 51 Milton Dacosta [1915-1988] Encontro I, 1961 óleo sobre tela 81 x 102 cm Coleção particular João Sattamini à direita: Aluísio Carvão [1918-2001] Composição, 1953 Tinta industrial sobre madeira 60 x 100 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Antonio Dias [1944] Chinese monument, 1969 Acrílica sobre tela 205 x 297,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Ao falar da “dinâmica de crescimento” da Co Aluísio Carvão, Antonio Dias, Maria Leontina, Mil leção, na entrevista a Guilherme Bueno, Sattamini ton Dacosta, Raymundo Colares, Ione Saldanha e aborda ainda a questão da formação de um “per Paulo Roberto Leal. Alguns desses “perfis” foram fil” de cada artista. Tal preocupação o fez adqui objeto de exposições no MAC, sob curadoria de rir uma obra de Sérgio Camargo com mais de 700 Reynaldo Roels, Luiz Camillo Osorio e Guilherme quilos. “(...) Existe uma opção pela coleção, quer Bueno. Outros, como o de Paulo Roberto Leal, estão dizer, não é ter um Sérgio Camargo, tem que ter em fase de estudo para futuras mostras. um Sérgio Camargo expressivo, representativo.” Aos “perfis” e outras características da Cole Claro está que Sattamini, que iniciou sua coleção ção João Sattamini, Luiz Camillo Osorio se dedica nos anos 60 e, como ele mesmo pontua, em um país em texto que compõe este capítulo , escrito quan no qual não há qualquer incentivo fiscal à ativida do ainda era diretor do Departamento de Teoria e de, ainda não teve tempo de adquirir exemplares Pesquisa do MAC, cargo que ocupou até 2000. Seu suficientes para suprir suas eventuais deficiências. profundo conhecimento sobre a coleção, associado Mas Sattamini vem trabalhando para formar um a uma larga experiência na crítica e na pesquisa da conjunto de obras significativas de cada artista de arte moderna e contemporânea brasileira, produz sua coleção. Vale citar, por exemplo, o conjunto de valioso testemunho do qual podemos extrair um obras de Lygia Clark que, segundo o colecionador, olhar apaixonado sobre uma das mais importantes é o maior em uma coleção brasileira, e ainda os de coleções de arte no Brasil. 52 F o c o s n a c o l e ç ã o 53 A VISÃO DO COLEC IONADOR João Leão Sat tamini Neto (em 1996) A coleção de arte brasileira que o Museu de Arte Contemporânea abriga foi construída ao longo dos últimos trinta anos, com obras produzidas no pós-Guerra. Embora ela abranja um número ele vado de trabalhos, não reúne todos os artistas, pela impossibilidade de abarcar tanta gente que produziu com qualidade neste período tão fértil da arte brasileira. No entanto, pretendi que a cole ção cobrisse intensamente determinados artistas ou grupos e tendências que me interessavam par ticularmente, alcançando-se para estes um bom perfil de seu trabalho em evolução. A coleção não está constituída apenas pelas formas mais tradicionais de arte, como o óleo so bre tela, mas por um elevado número de escultu ras, coisa que penso ser rara em coleções brasilei ras, além de muitos objetos que se situam a meio caminho entre as diversas modalidades de criação. À medida que a coleção foi-se expandindo, prin cipalmente com a absorção da produção da déca da de 80, quando os artistas brasileiros utilizavam grandes dimensões para suas formas de expres Ione Saldanha [1919-2001] são, a necessidade de evoluir do caráter privado da esquerda para a direita: para o público foi paulatinamente se impondo. Sem título, sem data Diferentes espaços e apoios foram tentados até Tinta acrílica sobre bambu 165 x 17ø cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Sem título, sem data Tinta acrílica sobre bambu 107 x 13ø cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Sem título, sem data Tinta acrílica sobre bambu 178 x 18ø cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Sem título, sem data Tinta acrílica sobre bambu 170 x 16ø cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Sem título, sem data Tinta acrílica sobre bambu 126,5 x 9,5ø cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Sem título, sem data Tinta acrílica sobre bambu 120 x 14,5ø cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 54 F o c o s n a c o l e ç ã o que se materializou este esforço conjunto do Go verno Municipal de Niterói e do arquiteto Oscar Niemeyer, com o suporte de diferentes setores e amigos, para a construção do que hoje é o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Finalmente, a consideração decisiva para que ela esteja agora em uma instituição pública: uma coleção só existe se puder ser vista, comparada com as outras, analisada em suas possíveis deficiências e na sua dinâmica de crescimento. Ela deve servir para que artistas a usem em seu processo de apren dizado, além de instrumento para a permuta entre instituições para suas exposições. Acredito que nes te caso, Niterói, cidade intrinsecamente ligada à cultura, poderá ter acesso ao que de melhor puder ser mostrado em termos de artes plásticas. 55 Luiz Camillo Osorio E x- diretor da Divisão de Te oria e Pesquisa do MAC UMA V I SÃO CRÍ T I CA Uma coleção particular tem sempre as suas idios o caso. Resultado: Niterói entrou definitivamente sincrasias. O gosto específico e singular de seu pro no mapa cultural brasileiro. prietário é o que, ao fim e ao cabo, vai lhe dar um Um somatório de coincidências levou a este perfil. E é ótimo que assim seja. Nada mais chato empreendimento. A generosidade de Sattamini, a do que a pretensão a uma visão neutra e imparcial prontidão de Anna Maria Niemeyer em propor ao da arte. O importante é a motivação de se construir pai o projeto, a diplomacia inteligente de Italo uma única coleção com este compromisso contem Campofiorito, então secretário de Cultura de Ni porâneo. A aposta sobrepõe-se ao óbvio; os riscos terói, e o senso de oportunidade histórica do pre são imensos, porém há recompensas. feito Jorge Roberto da Silveira. São raras circuns É natural que muita coisa vá se desgastando tânc ias como estas. Assim, essa enorme coleção, com o tempo, mas esse desgaste é fundamental de quase 1200 obras, chega ao domínio público e, para projetar as grandes obras, dar-lhes uma me aos poucos, vai sendo vista e apreciada por todos. dida e um diferencial. Os parâmetros históricos são Sem contar, é claro, que em uma instituição como construídos a partir das comparações. A coleção o MAC ela pode receber os cuidados museológicos de João Sattamini não foge à regra; com ela uma necessários para a sua preservação. parte da história recente da arte brasileira pode Iniciada em 1966, quando Sattamini morava ser contada, e, através dela, podemos conhecer em Milão, na Itália, a coleção teve, outrora, um melhor a nós mesmos. O Museu de Arte Contem perfil mais internacional. A proximidade do artista porânea de Niterói foi construído para recebê-la. Antonio Dias foi fundamental, àquela altura, para Que esta era uma das mais importantes coleções de estimular o economista a se dedicar à arte e mon arte contemporânea brasileira não se tinha dúvi tar uma coleção. Quando de sua volta ao Brasil, da; agora, que Oscar Niemeyer faria um projeto de em dezembro de 1969, o espírito colecionista já tanta genialidade e ousadia, beirando os 90 anos, era irreversível. A partir de um determinado pon não se tinha imaginado. O público agregado à arte to não se trata mais de investimento financeiro e contemporânea a partir do acontecimento arquite passa a ser um misto de obsessão e vocação. Ambas tônico do MAC supera qualquer detalhe funcional necessárias para fortalecer o meio de arte. Sem co que se possa reclamar. Não são todos os grandes lecionadores, não há mercado e, sem mercado, a artistas que se mantêm sempre inventivos; a ins arte contemporânea não teria a mesma cara: para piração, às vezes, acaba. Para sorte geral, não foi o bem e para o mal. 56 F o c o s n a c o l e ç ã o Antonio Dias [1944] Vencedor?, 1965 Tinta a óleo, tecido, madeira (cabideiro) e capacete 181 x 70 cm Coleção particular João Sattamini 57 Frans Krajcberg [1921] Sem título, sem data Tinta industrial sobre madeira 86 x 120 x 25 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Foi só recentemente, nos anos 80, que a cole Museu. Como há mais pontos fortes, e são estes ção fez sua opção pela arte brasileira, e pelo re que dão à coleção o destaque que tem no cenário corte mais contemporâneo – dos anos 50 pra cá . brasileiro, passemos a eles. 1 Foi nesse período, também, que ela ganhou a es Já que começa nos anos 50, e tal período foi de cala monumental, institucional, que tem hoje. Esse terminante para a arte contemporânea brasileira, momento específico possivelmente contribuiu a coleção é fortíssima entre concretos e neocon para que assumisse certo perfil, priorizando a pin cretos. Curiosamente, tornou-se lugar comum nos tura em relação a outros suportes. Como o próprio últimos anos pôr em xeque esse vértice construtivo Sattamini salientou em uma palestra no MAC, “eu da nossa contemporaneidade artística. Não se trata fui, talvez, a primeira pessoa que comprou qua de desqualificar outras possibilidades de lingua dros de tamanhos grandes – 2 x 3 metros”. gem e expressão, mas de defender e afirmar um 2 Entre nossos escultores, os que têm maior nú mero de trabalhos na coleção são Frans Krajcberg, parâmetro poético que nos parece indispensável e de altíssima qualidade artística e estética. com doze peças, Ivens Machado, com seis, e João Principalmente para nós cariocas, é fundamen Goldberg, com sete peças, sendo que três são tal recolocarmos o Neoconcretismo como um des pinturas, talvez as únicas produzidas pelo artista. dobramento, e não como uma ruptura do projeto Quanto a desenhos, ou trabalhos sobre papel, sem pre mais fáceis de colecionar, Sattamini nunca se interessou verdadeiramente por eles – talvez não valessem o desafio. 1. A partir desta década foi importante a proximidade de Victor Arruda e Rubem Breitman, que faziam uma espécie de consultoria, sugerindo a Sat tamini artistas e caminhos para a coleção. Não se pode esquecer, contudo, que as decisões foram sempre do colecionador, que sempre teve opinião João Carlos Goldberg própria e um olho cada vez mais aguçado. [1947] Como não poderia deixar de ser, a coleção foi 2. Palestra Magna do Seminário Coleções, realizado no MAC de Niterói em Móbile stábile, 1973 maio de 97. A palestra, assim como o debate que se seguiu, encontram-se trans crescendo de modo muito particular, responden critos na documentação do Departamento de Teoria e Pesquisa do Museu. Alumínio anodizado 60 x 60 cm Coleção MAC de Niterói do ao gosto e às oportunidades que apareciam para Sattamini. Por conseguinte, há pontos fortes 3. Falar de brechas em uma coleção dessa importância soa contraditório, senão injusto. Elas dizem mais respeito ao olhar parcial do crítico do que a qualquer tipo de verdade histórica. Ao estudar a coleção deparei com alguns artistas muitíssimo bem representados e outros que, apesar de e algumas brechas – que devem, com o tempo e fundamentais para nossa história recente, têm presença tímida – citando a maior visibilidade do conjunto, ser supridas por outro modo; as oportunidades e inclinações do colecionador devem ser novas aquisições tanto do colecionador quanto do mas a particularidades da coleção. 3 58 F o c o s n a c o l e ç ã o apenas alguns: Oiticica, Waltércio, Tunga, Leonilson. Não podia ser de respeitadas. Portanto, as brechas não dizem respeito a um juízo de valor, Ivens Machado [1942] Sem título, circa 1973 Azulejo sobre madeira, metal e lâmpada 156 x 101,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 59 à esquerda: Ivan Serpa [1923-1973] Sem título, 1957/58 Óleo sobre tela 52,5 x 68,9 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Sem título, 1964 Óleo sobre tela 144,5 x 205,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Dionísio Del Santo [1925-1999] Estrutura, 1957 Óleo sobre tela 61,4 x 61,4 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 60 F o c o s n a c o l e ç ã o construtivo. A nossa vocação cultural sempre foi tos, atípicos entre os concretistas. De algum modo, de assimilação do outro, da alteridade, fazendo vê-se a presença indireta de Kandinsky, que irá de com que a nossa identidade nunca se fixe, mas saparecer com a evolução da poética do grupo. sempre se transforme. Do mesmo modo que a for Outro artista muito bem representado é Aluí mação positivista de Euclides da Cunha fora fun sio Carvão. Está na coleção um dos seus primeiros damental para balizar e dar conteúdo literário ao trabalhos abstratos, seguindo à risca o rigor e o seu susto sertanejo e sua visão alargada do Brasil, despojamento da época. Usando tinta industrial foi básica em Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia de automóvel e trocando os pincéis por pistola Pape, para citar apenas os mais falados, a formação mecânica, Carvão retira toda a subjetividade do concreta para liberar e dar densidade ao vôo ex ato criativo, sem, todavia, abrir mão de seu lirismo perimental que se seguiu. característico. São quase trinta trabalhos, entre os Destarte, esse foco da coleção é dos mais lou quais cabe destacar Composição, de 1953, Cornu- váveis. Se tomarmos, por exemplo, Ivan Serpa, te cópia, de 1955, e uma sutilíssima pintura da fase remos um conjunto de trabalhos notáveis; desde o das Cromáticas, de 1960. momento inicial de formação da abstração geo Outro artista dessa geração que tem forte pre métrica no começo dos anos 50 até o desenvol sença é Dionísio Del Santo. São 24 pinturas suas, vimento posterior, mais melancólico, noturno e que abrangem trinta anos de trabalho – de 1957 expressionista dos anos 60. Daquela primeira fase, a 1987. Todos os demais – Charroux, Ludolf, Ma surpreendem alguns trabalhos de grandes forma luf, Pape, Amilcar, Weissmann, Oiticica etc. – têm 61 cor. Além de Ione, devem ser destacadas as presenças co conhecida, mas não menos interessante. São de Flávio-Shiró, Iberê Camargo, Joaquim Tenreiro, trabalhos feitos com encáustica que exploram o Wega Nery e Maria Polo – esta com mais de trinta clima sombrio e denso do gravador. O momento pinturas –, formando um painel da abstração infor seguinte, conhecido como fase visceral, é o ponto mal que se realizou por aqui nos anos 50 e 60. de inflexão política – surgem trabalhos marcantes Passado esse primeiro momento com artistas como o magnífico Vencedor, de 1965, que pertence formados no período entre 50 e 64, chegamos à ge a Sattamini. Um momento forte de Antonio Dias ração seguinte. É a fase do enfrentamento políti na coleção são os anos 70, quando, já na Europa, co, da censura e da consternação – a contracultura ele desloca sua poética para uma investigação mais teve traços particulares ao sul do Equador. O ponto conceitual das possibilidades da pintura – uma marcante de redefinição poética foi sem sombra de dezena de trabalhos, entre os quais cabe destacar dúvida a exposição Opinião 65. Pertencem a este The occupied country, The illustration of art e The grupo Antonio Dias, Rubens Gerchman, Carlos Ver incomplete biography-the body. gara, Roberto Magalhães, entre outros. trabalhos na coleção. Apesar de não pertencer tender o percurso do plano ao espaço e deste ao cor a nenhum grupo, por uma questão de geração po, que se desenvolve na obra de Lygia Clark, man devemos citar Mira Schendel. Não é pouca coisa, tendo-se no interior da Coleção João Sattamini. numa coleção, treze trabalhos de uma artista tão singular e significativa. de Gerchman, com dezenove obras, e Roberto Ma ximidade com o colecionador, é significativa. São galhães, com 29. Do primeiro há trabalhos mag cerca de trinta obras, concentradas nos anos 60 níficos do período 67-76, como Os desaparecidos e 70. A fase inicial do artista, entre 61 e 64, ain e Trabalhador morreu com maconha na mão, que da marcado pela convivência com Goeldi, é pou marcaram época. A existência desse núcleo construtivo, respon sável por uma convivência criativa riquíssima, foi Quem de fato sobressai é Lygia Clark. Não só determinante para diversos artistas. Esse clima de pelo número – trinta trabalhos –, mas principal laboratório, em que os artistas trocam experiências mente pela qualidade. Em sua última grande retros e compartilham expectativas, é o que vai fortale pectiva pela Europa e Brasil, predominava nas eti cendo, dentro de um grupo, de uma geração, as quetas a dobradinha Sattamini/MAC de Niterói . particularidades poéticas de cada um. Sorte a nos Há desde um retrato anterior à abstração – que por sa termos duas coleções tão fortes nesse período Carlos Vergara [1941] sinal deixa a desejar – até um Trepante, passando como as de Adolpho Leirner e João Sattamini. Sem título, 1973 4 pelos Planos em superfície modulada, Espaços mo- Uma artista que correu paralelamente ao mo dulados, os maravilhosos Casulos (Sattamini possui vimento, dialogando de fora, assimilando determi quatro estupendos) e Bichos. Enfim, dá para se en nados passos e recusando outros, foi Ione Saldanha. 4. Deve ser observado que parte significativa do grupo de trabalhos de Lygia Clark não faz parte do comodato realizado entre o colecionador e a prefeitura de Niterói, permanecendo na coleção particular de Sattamini. Sempre que requisitados eles são emprestados, mas permanecem na sua casa. 62 F o c o s n a c o l e ç ã o Além de Dias, deve ser destacada a presença É claro que a presença de Dias, dada sua pro à esquerda Papel Kraft recortado e fios de lã coloridos 149 x 220 x 20 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói São ao todo na coleção 29 trabalhos, que vêm desde Rubens Gerchman [1942] a fase figurativa, as fachadas volpianas, até os Bam- Trabalhador morreu com maconha na mão, sem data bus que surgem no final dos anos 60, e que são o desenvolvimento final de sua espacialização lírica da Óleo sobre madeira 120 x 120 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 63 Jorge Guinle [1947-1987] Sexta-feira, 1985 Óleo sobre tela 189 x 340 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Um artista que sai dessa geração e mantém Correndo por fora dessa geração mais engaja ganha força junto com ela, deve ser mencionado: Como já mencionado anteriormente, é decisiva uma preocupação formal é Raymundo Colares. da e assumindo claramente a filiação concretista, Jorge Guinle. Os seus quinze trabalhos que per na década de 80 a convivência de Sattamini com Morto prematuramente em 1986, só recentemen aparece com grande força na coleção a obra de tencem à coleção – e que já foram mostrados em Rubem Breitman e Victor Arruda (a Galeria Sara te, em 1997, ele teve uma retrospectiva importan Paulo Roberto Leal. São quase quarenta trabalhos, uma exposição individual no salão central do Mu menha teve participação importante). Esse mo te no Centro Cultural da Light. Não obstante sua desde as caixas de acrílico até a série Armadura, de seu, em 1997 – são magníficos. O fato de Sattamini mento foi de grande crescimento do mercado, participação um tanto apagada no cenário con 1979/80. Dada a quantidade significativa de tra ter adquirido o grupo de trabalhos que foi à Bie tanto internacional como no Brasil, com a retoma temporâneo, é notável sua presença na Coleção balhos, em algum momento deverá ser feita uma nal de São Paulo de 1985 mostra a relevância do da da pintura e a difusão das poéticas neo-expres João Sattamini. Os ônibus, as ultrapassagens e os mini-retrospectiva no Museu só com as peças da conjunto. É o momento alto de sua breve carreira, sionistas. As discussões pós-modernas liberavam gibis trazem para o contexto brasileiro uma com coleção. Duas outras artistas formadas junto dessa em que cor e gesto se integram com um misto de certo ecletismo, que muitas vezes confundiu-se binação pop-construtiva que lembra, guardadas geração, e que estão muito bem representadas, são intensidade e contenção. O seu lugar na história com um oba-oba generalizado. as devidas diferenças de tonalidade afetiva, Roy Anna Bella Geiger e Wanda Pimentel. recente da pintura brasileira ainda está para ser Se por um lado os anos 80 foram licenciosos e Antes de entrarmos na Geração 80 propria escrito, que o diga um artista do porte de Fábio banalizantes para muitos, sinal de uma pluralida mente dita, um artista que a antecede, mas que Miguez, tão marcadamente influenciado por ele. de positiva, por outro foi aí que se iniciou alguma Lichtenstein. Os dez trabalhos de Colares que es tão em Niterói são extraordinários. 64 F o c o s n a c o l e ç ã o 65 profissionalização do meio da arte. As galerias começavam a se abrir para o mercado internacio nal, e a arte brasileira passou a ganhar um espa ço que hoje é fato consumado. Naquela década a Coleção João Sattamini teve papel preponderan te. Ninguém participava tão ativamente do meio, adquirindo sistematicamente artistas jovens. Por exemplo, todos os dez trabalhos de Daniel Senise na coleção são do período 1983-865. Quase todos os principais artistas que tiveram participação ativa na década têm trabalhos na coleção. Independentemente de serem vinculados ao que se convencionou chamar de Geração 80, os artistas mais representados, além de Senise, são Pizarro, Barrão, Adir Sodré, Cláudio Fonseca, Del son Uchôa, Gonçalo Ivo, Jorge Duarte, Manfredo Souzanetto, Paulo Campinho e Victor Arruda – são, na média, dez trabalhos de cada um. Fora outros importantes nomes dessa fase, que têm em torno de cinco trabalhos – não cabe aqui listá-los, pois seria interminável. Quase podemos dizer o seguinte: pense em um artista com alguma visibi lidade àquela altura e a coleção terá pelo menos um par de trabalhos dele. Dado o crescimento do número de artistas nes sa época, podemos dizer que, quantitativamente, os anos 80 detêm a maior fatia da coleção. Os artis tas paulistas da Casa 7 – Carlito Carvalhosa, Nuno Ramos, Rodrigo Andrade, Fábio Miguez e Paulo Daniel Senise [1955] Sem título (políptico), 1985 Têmpera e colagem de resina e voil sobre tela 220 x 220 cm Coleção MAC de Niterói Monteiro – têm vários trabalhos sobre papel da época da Bienal de 85 incluídos na coleção. Dois nomes importantes, que tiveram suas tra jetórias configuradas paralelamente, sem compro Paulo Monteiro [1961] meter-se com as questões poéticas mais geracionais Sem título, 1985 – seja pelo lado da pintura neo-expressionista, seja Tinta industrial sobre papel Kraft 197,5 x 236 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói pelo viés mais pop –, são Nelson Felix e Ronaldo Rego Macedo, e ambos são bem representados no acervo MAC/Sattamini. à direita: Jorge Barrão [1959] Sem título, 1986 Pintura a óleo sobre geladeira 190 x 69 x 61 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 66 F o c o s n a c o l e ç ã o 5. Há ainda um outro trabalho de Senise, doado pelo artista ao Museu, que é de 1998, e esteve exposto na mostra Espelho da Bienal (outubro 1998/junho 1999), com curadoria de Rubem Breitman. 67 à esquerda: Eliane Duarte [1943] Vestido de noiva, 1994 Tecido 262 x 111 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Ernesto Neto [1964] Partícula peso, 1988 Meia de nylon e esferas de chumbo 20 x 20 x 6 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Passada a fase eufórica dos anos 80, a coleção mais alta relevância, como Ocupações/descobri- continuou a crescer nos anos 90, mas em um outro mentos, com Antonio Manuel e Artur Barrio, e Ar ritmo, menos agressivo. Artistas como Eliane Duarte, tista pesquisador, com trabalhos selecionados de Ernesto Neto, José Bechara, Paulo Pasta, só para citar dez artistas da cena contemporânea. Ambas as alguns entre os que tiveram projeção naquela dé exposições foram realizadas com obras produzidas cada, possuem pelo menos um trabalho na coleção. especialmente para o espaço de Niemeyer. Neste O que se percebe, com algum distanciamento e aspecto, cabe citar também a instalação Terra à uma visão mais totalizada do conjunto da coleção, vista, de Nelson Leirner, que foi mostrada na últi é o quanto ela carrega de compromisso pedagó ma Bienal de Veneza e pertence ao acervo do MAC, gico em relação à arte contemporânea brasileira. onde tem um lugar específico de exposição, dian Apesar do “olho” de Sattamini ser o principal con te da maravilhosa baía de Guanabara. dutor das aquisições, agrega-se à sua sensibilidade Dada a dificuldade de acesso sistemático no Bra um senso de responsabilidade que diz respeito a sil a coleções que nos mostrem o que de mais fun mostrar o aspecto plural de nossa produção re damental foi produzido em nossa história da arte, cente. Nesse sentido, ela já traz incorporado um este comodato tem um aspecto educativo dos mais espírito público que no MAC de Niterói deverá ser relevantes. Não podemos deixar de registrar, por si explorado e potencializado. nal, que se há uma característica de fato pioneira do Nos próximos anos, o Museu tem como com promisso seguir apresentando ao público a sua 68 F o c o s n a c o l e ç ã o MAC ela diz respeito aos seus projetos de educação, integrando escolas, comunidade e museu. coleção, sempre com algum recorte conceitual que Se exemplos como este, que gerou o MAC de contribua para um maior conhecimento da arte e Niterói, de parceria entre iniciativa privada e po da cultura brasileiras. Isto sem excluir as exposições der público, se multiplicassem minimamente em temporárias, que sempre trazem contribuição à nosso país, teríamos uma outra cara. A aposta é discussão contemporânea. Para citar apenas algu que de grão em grão floresça uma cultura mais mas, nestes três anos o MAC realizou mostras da generosa no Brasil. 69 Uma col eçã o a ca mi n h o de Niterói Em 1994, quando eu trabalhava no Museu Antô nio Parreiras com Dôra Silveira, Italo Campofiori to comentou que a Coleção João Sattamini esta va vindo para Niterói. Logo depois, fui uma das museólogas indicadas para receber a coleção no Museu do Ingá. Marcia Müller Um dos fatos que vale a pena lembrar, após 10 Diretora de Acer vo anos, foi o impacto que nos causou receber a cole ção. Cada obra que desembalávamos para catalo gação era uma surpresa. Comentávamos que era como se estivéssemos recebendo presentes. A maior parte das obras veio do Parque Lage e do Paço Im perial. Mais tarde, um outro conjunto veio de um apartamento de Sattamini em Copacabana. Quando visitei as exposições A caminho de Niterói I e II, em 1992 e 1993, no Paço, não poderia imaginar que um dia viria a trabalhar com essa coleção. Sabia de sua importância, mas não tinha idéia da dimensão. Foi então que reconheci a dife rença entre apreciar a coleção como uma grande exposição de valor histórico e ter experiência dire ta com essas obras, que reúnem alguns dos princi pais ícones da arte contemporânea brasileira. Algumas obras eu já conhecia por causa das duas exposições no Paço, mas agora era diferente, pois eu as tinha em minhas mãos. Até então eu vinha traba lhando apenas com coleções do século XIX. De re pente me vi diante da produção artística contempo rânea: Repressão outra vez: Eis o saldo, de Antonio Manuel; as flores de borracha, obra sem título de Hilton Berredo; a Cornucópia, de Aluísio Carvão; o painel de azulejos brancos com a lâmpada, de Ivens Machado; o mármore branco de Sérgio Camargo. 70 F o c o s n a c o l e ç ã o passaram a ser laços afetivos com a vida da coleção. ção João Sattamini em Niterói. Inauguramos, em se Os números também fazem diferença: são 26 O que inclui a luta constante para conquistar me tembro de 2005, com o apoio inestimável da Funda obras de Aluísio Carvão, 37 de Maria Polo, 39 de lhores formas de acondicionamento e preservação. ção Vitae, as novas instalações da reserva técnica no Paulo Roberto Leal, 23 de Antonio Dias, catorze Ao mesmo tempo, se reconhece que uma coleção, subsolo do MAC. Além disso, reconhecemos a impor de Mira Schendel, 35 de Roberto Magalhães, de principalmente de arte contemporânea brasileira, tância dos novos espaços de acomodação da coleção zessete de Lygia Clark, vinte de Rubens Gerchman, está sempre crescendo e precisa realmente crescer em processo de ampliação pela Prefeitura. dez de Eduardo Sued, dez de Daniel Senise, entre para acompanhar as inquestionáveis mudanças da outros tão importantes quanto. produção artística atual. Ao longo desses 10 anos foram construídos Precisamos aproveitar também este livro para vínculos profissionais com a guarda das obras, que celebrar um passo importante na trajetória da Cole A melhor maneira de concluir este depoimen to é agradecer a oportunidade de trabalhar com a Coleção João Sattamini e, ainda, de estar envolvida na formação da Coleção MAC de Niterói. 71 C o le çã o d e E x periên c ia s 72 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 73 José Roberto Aguilar [1941] Sem título, 1981 Óleo sobre tela 216 x 400 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Por qu e cole ç ã o de e xp e r iê n cia s ? O d e s a fio comu n icat ivo da a rt e con t e mp or â n e a Luiz Guilherme Vergara Diretor geral do MAC de Niterói Guardar uma cois a não é escondê - la ou trancá - la. Em cofre não se guarda cois a alguma. Em cofre perde -se a cois a à vis t a. Guardar uma cois a é olhá - la, fit á - la, mirá - la por Admirá - la, is to é, iluminá - la ou ser por ela iluminado. Guardar uma cois a é vigiá - la, is to é, fazer vigí lia por Ela, is to é, velar por ela, is to é, es t ar acordado por ela, Is to é, es t ar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o vôo de um páss aro Do que um páss aro sem vôos. (…) G u a r d a r, d e A n t o n i o C í c e r o 74 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 75 Como oferecer “uma experiência de elite para paredes. É aí também que se encontra o seu grande todos”? desafio diário – como transformar viajantes, turistas 1 A multiplicidade comunicativa da arte con- curiosos atraídos das mais diferentes regiões e cul- temporânea se tornou parte dos desafios das mis- turas, e a própria população local em público inte- sões dos museus e espaços públicos culturais como ressado/participante na multiplicidade poética da o MAC. É justamente da importância crescente da criação humana? Como oferecer-lhes uma experiên vida comunicativa da obra de arte perante o públi cia de revelação e surpresa comunicativa com os co que a experiência artística nos museus de arte estranhos objetos e instalações da arte cont em contemporânea se torna parad igmática para a porânea, e tocá-los para ainda saírem contaminados sua própria identidade. A função museu de arte por uma semente de pensamento formador de um contemporânea é expandida da atenção exclusiva novo olhar sobre o mundo da criação artística? Daí à preservação e à conservação de coleções de ob colecionamos experiências, pois somos os maiores jetos para o atendimento a uma demanda de par- aprendizes do lugar de um encontro inusitado entre ticipação e formação de púb lico no contexto da arte e sociedade. Para cada mostra o MAC se ressig- produção cultural de nossa época. Ao receberem nifica: como e por que museu? as novas formas arquitetônicas juntamente com Descobrimos já ao longo do primeiro ano de Entre objetos e esculturas, com curadoria de Luiz da arquitetura circular e aberta do museu. Conta- os novos meios de expressão artística, os centros vida do MAC que estávamos predestinados ao Camillo Osorio, então diretor da Divisão de Teoria mos com Artur Barrio, Antonio Manuel, Daniel culturais e museus são provocados a revisarem sua ap rendizado pela experiência. Três linhas curato e Pesquisa, inaugurou os estudos curatoriais sobre Sen ise, Elida Tessler, José Paulo, Malu Fatorelli, dimensão ética, ainda pouco debatida, que invoca riais já antecipavam as perspectivas e responsab i a Col eç ão João Sattamini e a Coleção MAC de Ni Raul Mourão, Felipe Barbosa e Rosana Ricalde. Não a instauração pública de territórios experimentais lidades do MAC: a participação e as estratégias terói, a partir de temáticas críticas com o enfoque se pode negar a potência da forma utópica da para múltiplos olhares em cada nova mostra. int erpretat ivas para um público diversificado, a especial nas (polêmicas) passagens da arte do arquitetura do MAC como mirante sobre a paisa- A coleção de um museu de arte contemporâ- introdução de novos valores artísticos e a reverên- século XX – do mod erno ao cont emp orâneo. Em gem. Esta form a, juntamente com os impulsos nea não deve ser vista apenas pelo acúmulo de ob cia – acompanhada de pesquisa – às vanguardas 1997 iniciamos também nosso culto às “vanguardas pós-modernos de engajamentos entre arte e vida, jetos, mas também por experiências que busquem históricas. Em 1997 realizamos a singular mostra históric as bras ileiras”, com homenagem especial tomando o desafio da rampa vermelha para todos a constante atualização do que seja a arte e de co- Visões e subversões – Cada olhar uma história, cuja a Jorge Guinle, com curadoria de Reynaldo Roels. como metáfora da responsabilidade social sobre mo ela se relaciona com os indivíduos e a socieda- seleção de obras e comentários foi resultado de Procurou-se reun ir a partir de então artistas que todos, incluindo as instituições artísticas, nos con- de como um todo, em cada época. O MAC nasce uma estratégia educativa que visava promover o participaram da abertura experimental para a duziu aos princípios para o Projeto Arte Ação Am dentro do campo polêmico da pós-modernidade, exercício da livre interp retação com jovens visi- passagem do mod erno para o contemporâneo no biental. O MAC vem desenvolvendo, desde 1999, de aceleradas mudanças de valores artísticos e cul tantes diante da exposição Panorama da arte Brasil – tais como Ione Saldanha, Aluísio Carvão, um programa voltado a levar para as comunidades turais. Cada mostra instaura um laboratório de vi- contemporânea na Coleção João Sattamini-MAC. Abraham Palatnik, Anton io Dias, Fiaminghi, Joa- sua presença como ação educativa e ambiental quim Tenreiro e Rubens Gerchman. pela arte. A democratização da cultura, desta vências comunicativas que exigem a revisão das premissas curatoriais com novas estratégias de in- Já em 1998 ampliamos o papel do museu, com forma, não foi tomada como uma via de mão úni- terpretação que visam à ampliação das relações uma exposição visando ao desenvolvimento da ca – das camadas de baixa renda, das comunidades entre arte, museu e um público bastante diversifi- pesquisa artística – “todo artista é um pesquisa- dos excluídos para dentro dos templos da cultura cado, contribuindo para a expansão de sua leitura dor”. O museu foi compreendido como um parala- –, mas como uma avenida de mão dupla, em que de mundo. boratório, espaço experimental artístico, de novas uma parceria com o Programa Médicos de Família, concepções do pensar e ver o mundo sob lentes da Fundação Municipal de Saúde de Niterói, busca diferentes e a partir de atitudes diversas. novos caminhos para que a arte seja sinônimo de Não restam dúvidas de que seus 10 anos de vida pública, de sucesso internacional da arquitetura de Niemeyer, que atrai a todos para esse enc ontro A arquitetura do MAC também foi tomada magistral entre belezas – cultura e natureza –, co- como território de ocupações e diálogos espaciais. locam o MAC como um lugar especial, em âmbito Curadorias especiais foram voltadas às ações e ins public and cultural literacy. In ROGOFF, Irit; SHERMAN, Daniel J. (Eds) Museum mundial, habitado para além das obras em suas talações ambientais explorando as especificidades nesota Press, 1994. p. 49-65. 76 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 1. Em ZOLBERG, Vera L. An elite experience for everyone: art museum, the culture: histories, discourses and spectacles. Minneapolis: University of Min- 77 ação sem fronteiras, sem categorias isoladas. O concretos, Jornal Comunitário, Grafitti, Teatro de da arquitetura do MAC fundamentando também presente, na confluência entre passado e futuro. MAC, através do Projeto Arte Ação Ambiental, Rua, entre outras. Acreditamos que é também pa- a exposição experimental Poéticas do infinito, que O museu da arte contemporânea é puro parado- busca expandir o papel da arte e da cultura como pel de um museu de arte contemporânea estimu- reuniu todas as divisões técnicas do museu: acervo, xo entre imanência empírica e transcendência: componentes para uma perspectiva preventiva lar a formação de cidad ãos /jovens participativos teoria e pesquisa, educação e arquitetura. Debru- incertae sedis. Assim, com o MAC, aprendemos a ampliada envolvendo saúde, educação e meio e mais preparados para uma atuação responsá- çamo-nos sobre a Coleção João Sattamini, a Cole- colecionar experiências. ambiente. Com os recursos do Fundo Social do vel, criativa e crítica na sociedade. ção MAC de Niterói e a composição arquitetônica, E, em 2006, como parte do grande evento BNDES construímos dentro da comunidade do O módulo de ação comunitária, desenhado por a geometria e a geografia do MAC para em 2004/ “Niterói - Encontro com Espanha”, organizado Morro do Palácio um módulo de ação comunitária, Oscar Niemeyer, será erguido no topo do morro 2005 ocuparmos o salão principal e a varanda com pela Secretaria Municipal de Cultura, concluímos equivalente para a cultura aos Módulos de Saúde em frente ao MAC, com uma vista maravilhosa para estudos com obras e jogos interpretativos explo- esta jornada de 10 anos com a exposição Mirabo- Comunitária do Programa Médico de Família. a baía de Guanabara. Por um lado, esta situação rando os procedimentos artísticos que marcaram lante Miró, que segundo seu curador, Fábio Ma- Essa ação integrada reuniu artistas, educado- geográfica privilegiada tornará este módulo mais as passagens da arte do século XX, sob o fio con- galhães, trouxe para Niterói um amplo e extraor- res, médicos e assistentes sociais, todos extrema- um ponto turístico do caminho Niemeyer em Nite- dutor do amplo conceito de infinito. Da conquista dinário conjunto de gravuras, mostrando as mais mente empenhados em ultrapassar os limites en- rói, atraindo os visitantes do MAC para conhecerem do plano para o espaço, a partir das raízes cons- variadas técnicas de impressão utilizadas e desen- tre arte, cultura, saúde, educação e meio ambiente. as oficinas do projeto. Por outro, representará sim trutivistas da geração concreta e neoconcreta, as volvidas pelo artista ao longo das três últimas O objetiv o do projeto é possibilitar aos jovens bolicamente a interseção pela arte e pela cultura dobraduras infinitas dos bichos de Lygia Clark, à décadas de sua vida. A exposição, um dos maiores profissionalização, educação artística e ambien- entre dois mundos histórica e socialmente divididos síntese de Sérgio Camargo, dos labirintos de Hélio sucessos da história do MAC, reuniu em menos de tal, estimulando-os a procurar novas alternativas por grandes muros. Oiticica, Antonio Dias e Antonio Manuel às expe- três meses cerca de 40 mil visitantes. Sem dúvida, de trabalho e realização pessoal, através das ofi- A coleção de experiências curatoriais e educati rimentações conceituais das redes de Cildo Meire- uma das experiências mais gratificantes que o cinas de Papéis Artísticos Artesanais, Jogos Neo- vas amadureceu juntamente com o entendimento les e das malhas elásticas da Lygia Clark, cruzamos museu já abrigou. um século sob a ótica da multiplicidade de entradas poéticas para o infinito sem perder a metafísica de Nelson Felix. Mais ainda, toda a varanda foi sublimemente abraçada pela poesia de Haroldo de Campos, trazida pela artista gaúcha Elida Tessler – a arte foi literalmente colocada, juntamente com o museu, no horizonte infinito do provável. Com o singular paralelismo entre duas inquisidoras exposições – Por que museu?, de Nelson Leirner, e Incertae sedis, de José Rufino – pudemos observar como Leirner explora critica e ironicamente a história da arte e o papel do artista, atinge ainda a significação do lugar da arte e a função museu, ao mesmo tempo que aponta para o impasse da arquitetura do MAC que se abre para a paisagem atraindo um público viajante que circula deslumbrado pela vista. José Rufino, no segundo andar, responde pela metafísica, pela densidade da existência humana: incertae sedis – aquilo para o qual não se tem classificação científica. Assim, o MAC atinge o início de sua adolescência como um lugar do encontro entre os opostos: coincidatio oppositorum. O museu que materializa o porvir 78 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 79 Re cort e s da C ole ç ã o Joã o Sat ta min i e da C ole ç ã o MAC de Nit e r ói Claudia Saldanha Diretora da Divisão de Te oria e Pesquisa Desde sua inauguração, o MAC de Niterói realiza exposições que têm como objeto a Coleção João Sattamini, hoje com 1212 obras, e a Coleção MAC, com 410 obras. Esta última, ainda em formação, com apenas 26 artistas, foi iniciada em 1996 com uma obra de Farnese de Andrade e outra de João Carlos Goldberg, doadas ao museu. Diferentes “recortes” foram feitos desde então, trazendo à luz aspectos que privilegiam suas abrangências e diversidades. A esses “recortes” curadores como Reynaldo Roels, Frederico Morais, Paulo Herkenhoff, Victor Arruda, Agnaldo Farias, Luiz Camillo Osorio, Guilherme Bueno, Luiz Guilherme Vergara e Marcia Müller dedicaram seu olhar, ora acolhendo obras que se relacionam entre si, ora empreendendo revisões e organizando antologias de artistas de singular importância para a arte brasileira recente. Além dos “recortes” das coleções, que buscam destacar determinados aspectos formais, conceituais ou históricos, exposições monográficas vêm sendo especialmente concebidas de forma a homenagear as vanguardas históricas brasileiras. Reunindo a obra de artistas que despontaram em diferentes momentos – em manifestações como o Neoconcretismo nos anos 50, a Nova Objetividade nos anos 60, a Nova Figuração no final dos anos 60 e início dos 70 e a geração dos anos 80 e 90 –, essas exposições promoveram leituras que tiveram como base as coleções Sattamini e MAC. Mas nem todos esses artistas envolveram-se ativamente em manifestações de grupos ou movimentos artísticos. Alguns, avessos às experiências coletivas, lançaram-se em vôos solitários e, no entanto, não menos relevantes para a nossa história. Nesse grupo de mostras monográficas podemos destacar as exposições de Jorge Guinle Filho, Antonio Manuel, Artur Barrio, Abraham Palatnik, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Aluísio Carvão, Ione Saldanha, Raymundo Colares, Hermelindo Fiaminghi, Nelson Leirner e Jorge Duarte. Mas por que vanguardas? A trajetória desses artistas nos mostra que suas atuações no cenário das artes plásticas, às vezes audaciosas, outras vezes 80 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 81 silenciosas, abriram caminhos que seriam seguidos por outros artistas, pavimentando assim percursos que se tornariam históricos. Após alguns anos de distanciamento e uma análise mais aprofundada podemos perceber, por exemplo, que a atividade de Antonio Dias, Rubens Gerchman, Antonio Manuel, Artur Barrio e Nelson Leirner, além de outros artistas daquela geração, inaugurou uma atitude de protesto nos anos 60, que atravessou a difícil década de 70 e gerou um comportamento extremamente crítico de denúncia aos desmandos da ditadura militar, expondo a fragilidade social de um país cuja liberdade de expressão esteve por cerca de vinte anos confiscada. Ao mesmo tempo, a obra de Jorge Guinle Filho e Jorge Duarte, nos anos 70 e início dos anos 80, incentivou uma legião de pintores cuja obra adquiriu traços mais subjetivos e autobiográficos. Como nos define Frederico Morais, “Vanguarda não é atualização de materiais, não é arte tecnológica e coisas e tais. É um comportamento, um modo de ser e de encarar as coisas, os homens e os materiais, é uma atitude definida diante do mundo. É transformação permanente, o precário como norma, a luta como processo de vida”.1 Os “recortes” das coleções abaixo relacionados são uma parte da cronologia de exposições do MAC que pode ser consultada na íntegra em Reynaldo Roels, em setembro de 1996, mostrou Osorio, então diretor de Teoria e Pesquisa do museu 10 anos de sua morte reuniu um conjunto de quin- um dos apêndices ao final desta publicação. Aqui ao público um panorama do que havia de mais e curador da mostra, reuniu os artistas Farnese de ze pinturas realizadas entre 1980 e 1986, período citamos apenas mostras que proporcionaram es- relevante na Coleção que, segundo o curador, Andrade, Frans Krajcberg, Hilton Berredo, João mais importante de sua carreira. Reynaldo Roels, tudos aprofundados, produzindo conhecimento é “um dos mais significativos conjuntos de arte Carlos Goldberg, Joaquim Tenreiro, entre outros. curador da mostra, nos lembra no catálogo que e gerando novos olhares sobre o acervo do MAC. produzidos no Brasil entre os anos 50 e os anos Em seu texto, Luiz Camillo afirma: “O problema do Jorge Guinle era “artista consciente da tradição Como resultado foram publicados onze catálogos 90”. A coletiva, que teve duração de um ano, reu- objeto, como é invocado na arte contemporânea, pictórica moderna, de seus impasses e crises, (…) que contêm textos curatoriais e registros fotográ- niu nomes como Iberê Camargo, Sérgio Camargo, traz em si uma contradição: é a liberação criadora detentor de uma cultura artística extensa que foi um ficos das exposições, documentando uma década Frans Krajcberg, Lygia Clark, Antonio Dias, Ione que resulta da superação do quadro e da escultura dos motores de sua atividade – assumindo a tarefa de exposições na história do museu. Inicialmente Saldanha, Antonio Manuel, Raymundo Colares, tradicionais mas é, ao mesmo tempo, uma tentativa difícil de dialogar diretamente com os clássicos da elaborada para abordar mostras individuais dos Tunga e outros. da criação de uma nova categoria, que seria tão arte moderna”.3 artistas da Coleção João Sattamini, a série de ca- Em 1997, a exposição Entre esculturas e objetos, tálogos contempla ainda artistas da Coleção MAC também de longa duração, problematizou a questão Paralelamente à mostra de esculturas e objetos de Niterói e outras exposições. da escolha do suporte da obra na arte contempo- no segundo andar do museu, o salão principal foi Record, 1998. A exposição inaugural Arte contemporânea rânea, revelando as múltiplas possibilidades poéti- ocupado pela poderosa produção pictórica de CONTEMPORÂNEA DE NITERÓI. MAC 1 ano. Niterói, 1997. p. 8. brasileira na Coleção Sattamini, organizada por cas assumidas pelo “campo escultórico”. Luiz Camillo Jorge Guinle Filho. A homenagem ao artista nos DE NITERÓI. MAC 1 ano. Niterói, 1997. p. 3. 82 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s acadêmica e tradicional quanto as anteriores”.2 1. MORAIS, Frederico. Arte é o que eu e você chamamos arte. Rio de Janeiro: 2. OSORIO, Luiz Camillo. Entre esculturas e objetos. In: MUSEU DE ARTE 3. ROELS JR., Reynaldo. Jorge Guinle. In: MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA 83 A exposição de Joaquim Tenreiro, curada por e espalhou pedaços de laca pelo chão produzindo Janete Costa, ocupou todos os espaços do MAC um ambiente peculiar de sensações visuais e olfati- no ano de 1998. Esculturas e relevos policroma- vas. Luiz Camillo Osorio descreveu a exposição em dos e alguns móveis reunidos formaram um belo seu texto para o catálogo: “(…) Um vazio denso e contraponto à arquitetura modernista de Oscar com cheiro nasceu de dentro da geometria irregu- Niemeyer. Roberto Pontual classificou a obra lar do salão central. O chão virou mar. (…) A laca deste artista-artesão, exímio marceneiro e criador cor de âmbar, espalhada pelo chão, fazia cintilar de peças de design, como pertencente à geome- o pequeno ponto de luz amarela, transformando tria sensível. Cláudio Valério Teixeira, na época o tapete em um mar crepuscular”.5 presidente da Fundação de Artes de Niterói, nos Ainda em 1998 o artista Flávio-Shiró realizou im- lembra que “Tenreiro foi marcado pela influência portante individual com obras da Coleção Sattamini da arte concreta brasileira e sua obra encontra-se e trabalhos recentes. Em comemoração aos noventa perpassada pelas linhas da Optical Art, sobretudo anos da imigração japonesa no país, a exposição nos relevos, onde distingue-se o reconhecimento contou com vinte obras do período de 1964 a 1997. da arte cinética”. Segundo Luiz Camillo Osorio, em seu texto para o 4 Com a exposição Ocupações/descobrimentos, os catálogo, os anos 60 foram um importante período da artistas Antonio Manuel e Artur Barrio aceitaram o carreira de Flavio-Shiró – no qual o artista empregou desafio de ocupar os espaços expositivos desenhados uma “gestualidade estilizada de origem oriental por Oscar Niemeyer, interferindo, redimensionando misturada à carnalidade da tradição ocidental”. e criando inusitadas relações entre paredes, chão e janelas. Enquanto Antonio Manuel criou vãos para a 84 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 4. TEIXEIRA, Cláudio Valério. Encontro com Joaquim Tenreiro. In: TENREIRO, varanda, reinventando percursos para o espectador, Joaquim. Joaquim Tenreiro. Niterói: MAC, 1998. p. 9. Barrio apagou a iluminação artificial do salão central MAC, 1997. p.12. 5. OSORIO, Luiz Camillo. Artur Barrio. In: BARRIO, Artur. Artur Barrio. Niterói: 85 A exposição Espelho da Bienal, também de longa duração – de outubro de 1998 a junho de 1999 – e com curadoria de Rubem Breitman, mostrou a obra de 73 artistas da Coleção Sattamini que participaram da Bienal Internacional de São Paulo, em diferentes edições. Entre os artistas participantes podemos citar Anna Bella Geiger, Paulo Roberto Leal, Angelo Venosa, Beatriz Milhazes, Ivens Machado, Leonilson e Waltércio Caldas. 86 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 87 Em 1999, a Retrospectiva Abraham Palatnik, com curadoria de Frederico Morais, mostrou para o grande público a obra deste que é um dos mais importantes artistas cinéticos brasileiros. Palatnik participou da primeira Bienal de São Paulo, em 1951, a convite de Mário Pedrosa, com um objeto cinético intitulado Aparelho cinecromático, antecipando-se à primeira mostra de arte cinética em Paris, em 1955. Durante muitos anos afastado dos museus e galerias de arte, Palatnik continuou trabalhando, mas apenas recentemente a exposição do MAC, um livro e um vídeo resgataram a importância de sua vasta obra. 88 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 89 Como disse Reynaldo Roels Jr. no catálogo da perda da totalidade da imagem, da sua unidade mostra, as imagens de Gerchman são um “ataque perdida. E é falar também da fragmentação do frontal à estética, uma antiestética capaz de pro- espaço e do tempo do próprio homem urbano nas vocar um profundo desconforto ao olhar brasilei- grandes cidades”. 9 ro, então ainda satisfeito com a tranqüilizadora identificação entre arte e belo”. 8 Diálogo, antagonismo e replicação na Coleção Sattamini, em maio de 2002, primeira exposição A exposição de Raymundo Colares no início de organizada por Guilherme Bueno, então diretor 2002 revelou ao público um excelente grupo de da Divisão de Teoria e Pesquisa, mostrou a obra de obras deste artista precocemente falecido, aos 42 diversos artistas da Coleção e gerou a exposição anos. Suas pinturas com tinta esmalte sobre chapas Mapa do agora – Arte brasileira recente na Coleção de alumínio e também seus gibis, um importante João Sattamini do Museu de Arte Contemporânea grupo de trabalhos pertencente à Coleção João de Niterói, que viajou para São Paulo e ocupou o Sattamini, revelam a intensa atividade do artista Instituto Tomie Ohtake no final do mesmo ano. no final dos anos 60. Ligia Canongia escreveu certa vez que “a pintura de Colares, como nas os anos 70 na Coleção João Sattamini. Niterói: MAC, 2000. p. [15]. em última instância, uma ‘edição’ de cortes efe- Rio de Janeiro: Paço Imperial, 1996. p. [9-10]. tuados no plano. Fragmentar e reconstruir esses Rubens. Rubens Gerchman. Niterói: MAC, 2001. p. [8]. fragmentos de forma pulsante e caótica é falar da Antonio Dias: Os anos 70 na Coleção João Satta brasileiros que se dedicaram à pesquisa da cor. mini, outra exposição monográfica da maior im- Inaugurada em abril a mostra foi uma reverência portância, realizada em 2000, mostrou a produção especial à artista Ione Saldanha, falecida em janeiro do artista que se destacou com sua obra política daquele ano. Com pinturas, bambus, ripas e bobinas, no final dos anos 60. A mostra contou com treze a exposição encerrou um pequeno retrospecto da pinturas e um álbum com dez xilogravuras. Segun- carreira da artista. “… os bambus podem ser vistos do Paulo Sergio Duarte, “é no final dos anos 60 como ripas girando em torno de um eixo vertical que o artista redireciona sua investigação estética – pintura sem avesso (…). Pode-se dizer, igualmente, e abandona questões e pesquisas extremamente que suas ripas e empilhadinhos, tanto quanto seus bem-sucedidas em busca de um território novo: as bambus e bobinas, apenas tridimensionalizam os relações entre a palavra e a imagem”. retângulos e círculos que integravam o vocabulá- 6 Com a mostra Pinturas na Coleção Sattamini, em julho de 2000, Luiz Camillo Osorio realizou o 7. MORAIS, Frederico. Ione Saldanha. In: SALDANHA, Ione. Ione Saldanha. 8. ROELS JR., Reynaldo. Rubens Gerchman, obras 1926-1979. In: GERCHMAN, 9. CANONGIA, Ligia. Sobre o artista e a exposição. In: COLARES, Raymundo. Trajetórias. Rio de Janeiro: Centro Cultural Light, 1997. p. 9. rio geométrico de sua pintura até 1966 – data do último quadro pintado por Ione.”7 contraponto à sua curadoria anterior que tratava Tempo – Rubens Gerchman, exposição que das obras tridimensionais da coleção. O curador ocupou o salão principal e a varanda no mesmo ano, reuniu pinturas dos artistas Antonio Manuel, Carlos também mostrou a obra política do artista produ- Vergara, Raymundo Colares, Eduardo Sued, Artur zida entre 1965 e 1979. A exposição destacou tra- Barrio, Paulo Pasta e outros. balhos relevantes para a formação do movimento A exposição Aluísio Carvão e Ione Saldanha, em da Nova Figuração, em meados dos anos 60, como 2001, foi uma homenagem a estes dois coloristas Lindonéia, Caixas de morar e Trabalhador morreu. 90 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 6. DUARTE, Paulo Sergio. Um depoimento. In: DIAS, Antonio. Antonio Dias: histórias em quadrinhos e no cinema, constitui, Raymundo Colares [1944-1986] Sem título, 1969 Tinta esmalte industrial sobre metal 100 x 231 x 15 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 91 Coleção João Sattamini – Modernos e contem- módulos – construção do espaço por adição; estru- porâneos / Esculturas e objetos, também organi- tura interna e espaço externo; estrutura externa zada por Guilherme Bueno, situou nos anos 50 o e espaço interno –, a mostra evidenciou aspectos período em que a escultura brasileira atingiu seu como a autonomia adquirida pela obra de arte, a momento crucial, quando adotou novos materiais partir do modernismo. e técnicas, e tornou-se menos preocupada em Ainda em 2003 Luiz Aquila ocupou o salão apresentar uma “fatura” pessoal do que com a principal e a varanda do museu com uma individual qualidade plástica da obra em si. Segundo o cura- de pinturas. A retrospectiva ganhou uma obra iné- dor, é desta experiência construtiva que surge um dita, uma “tela única”, feita especialmente para o novo campo de possibilidades, marcadas por uma espaço do MAC e que dialogou com a arquitetura “vontade experimental” das obras produzidas nos de Oscar Niemeyer. anos subseqüentes. Naquele mesmo ano, uma exposição de pinturas Já Forma/suporte-suporte/forma, coletiva cura- realizadas entre os anos 50 e 80 e gravuras recen- da por Guilherme Bueno e Marcia Müller, diretora tes de Hermelindo Fiaminghi ocupou o segundo de Acervo do Museu, de maio a agosto de 2003, andar do museu. Para Guilherme Bueno, curador colocou em evidência a eleição pelos artistas de da mostra, a produção de Fiaminghi assume um diferentes suportes como tecido, madeira, pedra e lugar bastante singular dentro das linguagens metal. Os curadores proporcionaram uma “reflexão construtivas no Brasil. “Esta experiência (concreta) acerca da relação entre o suporte e sua forma na da visualidade corresponde à tentativa de obter o construção do espaço plástico”. Dividida em três máximo que seus elementos possam fornecer: a cor deve lograr atingir seu timbre mais elevado ou mais profundo. A superfície ou pincelada deve manter Ivens Machado [1942] Sem título, sem data Concreto e ferro 188 x 132 x 48 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói ora uma concisão, ora sua individualidade intuitiva. A pintura, portanto, demarca-se curiosamente como uma experiência radical da visualidade, uma vez que deveria conter em si toda força expressiva.”10 A mostra Coleção Sattamini – Modernidade trans itiva, de curadoria de Guilherme Bueno no início de 2004, apresentou uma seleção de obras represent ativas do período de transição entre o modernismo e os primeiros passos para a constituição de um vocabulário abstrato cujos resultados constituíram as bases para o movimento concreto e a abstração lírica informal no final dos anos 40 e início dos anos 50. Outra mostra importante também organizada por Guilherme Bueno foi Os anos 60 na Coleção João Sattamini. Nela, Bueno enfatizou diálogos propostos na época pelo movimento conhecido como Nova 10. BUENO, Guilherme. Hermelindo Fiaminghi na Coleção Sattamini. Niterói: MAC, 2003. 92 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 93 Objetividade, a partir de enfrentamentos com a de ateliê uma prática que motivou troca de idéias e Pop Art norte-americana e o Nouveau Réalisme experiências, debates e até mesmo procedimentos francês. A partir de obras de artistas da Coleção como o uso da tinta industrial. Sattamini, Bueno identificou que “a politização Jorge Duarte – Breve antologia plástico-poética, da arte como tentativa de resistência ao regime organizada pelo artista Victor Arruda, em 2004, militar, a absorção pela cultura ‘erudita’ de uma mostrou um conjunto de obras dos últimos 25 anos realizou mostra impecável na qual até mesmo a nascente cultura de massa local, a irreverência e a de Jorge Duarte, algumas pertencentes à Coleção instituição – e por tabela instituições projetadas iconoclastia desmistificadora questionam o ‘bom Sattamini e outras de outras coleções. Guilherme para abrigar obras de arte de um modo geral – não gosto’ e a noção do belo”. Bueno pontua em seu texto para o catálogo que ficou de fora da sua crítica mordaz. De acordo com Participaram da exposição artistas que trabalha- a obra de Jorge Duarte tem como fio condutor a Agnaldo Farias, curador da mostra, “Da Monalisa, o ram intensamente durante o período como Nelson exploração inquieta e simultânea de inúmeros ca- mais conhecido alicerce da arte ocidental, à procissão Leirner, Antonio Dias, Antonio Manuel, Barrio e minhos poéticos. Esta multiplicidade não significa, de estatuetas e miniaturas que dessa vez invade a Carlos Zílio, para citar apenas alguns. no entanto, dispersão. Ao contrário, é justamente grande sala desse museu, a obra de Nelson Leirner Por ocasião das comemorações dos vinte anos este processo de “colagem” que faz com que a alimenta-se da vida cotidiana em suas versões da Geração 80 realizadas pelas instituições cultu- obra adquira um novo sentido, torne-se coisa, e variadas, da mais sofisticada à mais ordinária e aca- rais do Rio, o MAC apresentou a antologia Casa nos faça pensar a pintura de forma livre, como um nalhada. (…) Leirner apropria-se desses dados para 7, organizada por Guilherme Bueno com base nas campo de vitalidade. jogá-los nas nossas caras sob os signos do humor, coleções João Sattamini e MAC de Niterói. O Gru- Em outubro de 2005, o MAC inaugurou a exposi- po Casa 7, formado pelos artistas paulistas Carlito ção Por que museu?, de Nelson Leirner, que ocupou Carvalhosa, Rodrigo Andrade, Fábio Miguez, Nuno o salão principal e a varanda do museu com obras Ramos e Paulo Monteiro, fez do trabalho coletivo dos últimos 10 anos da carreira do artista. Leirner 94 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s da violência (…) além de muita ironia”.11 11. FARIAS, Agnaldo. A produção recente de Nelson Leirner. In: LEIRNER, Nelson. Por que museu? Nelson Leirner. Niterói: MAC, 2006. p. 8. 95 Em setembro de 2006, em comemoração aos 10 anos do MAC, a exposição Abrigo poético – Diá logos com Lygia Clark reuniu pela primeira vez 22 obras da artista pertencentes à Coleção João Sattamini, assim como obras de outros artistas que, influenciados pelo desenvolvimento da arquitetura brasileira, adotaram o projeto construtivo implantado nos anos 30 e lançaram-se a uma série de experimentações e a uma pesquisa estética sem precedentes no país. Segundo os curadores Luiz Guilherme Vergara, Claudia Saldanha e Beatriz Jabor, a mostra trouxe à tona a produção de artistas cujos caminhos proporcionaram diálogos que nortearam a arte brasileira nas décadas seguintes. No salão principal do museu, obras de Lygia Clark, expostas em cronologia, dividiram o espaço com outras do mesmo período ou mesmo de períodos anteriores, como as de Alfredo Volpi, Aluísio Carvão, Amilcar de Castro, Antonio Maluf, Dionísio Del Santo, Hélio Oiticica, Hermelindo Fiaminghi, Ivan Serpa, Maria Leontina, Rubem Ludolf, Sérgio Camargo e Samson Flexor. 96 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 97 98 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s No segundo andar, aos artistas contemporâneos Milton Dacosta, Mira Schendel, Lothar Charoux, a Lygia Clark foram reunidos outros de gerações Luciano Figueiredo, Manfredo Souzaneto, Paulo mais recentes, de forma a mostrar diálogos que Roberto Leal, Raymundo Colares e Franz Weissmann evidenciam a valorização da expressão e o privilégio projetavam a pintura para além da superfície do da experiência como momento gerador da obra. Em quadro, integrando-a ao espaço externo. outras palavras: para a geração que surgia, ainda A autonomia conquistada pela obra de arte no final dos anos 50 e início dos 60, o quadro não com as teorias concretistas cedeu lugar a experi- era mais um suporte para a obra, mas um campo ências estéticas de toda ordem. Na América Latina ampliado que transcendia, integrando-se ao espaço a arte cinética e a arte ótica assumiram grande externo. Desta forma, obras de Adriano de Aqui- importância, manifestadas nas obras de Abraham no, Eduardo Sued, Décio Vieira, Dudi Maia Rosa, Palatnik, Décio Vieira, Dionísio Del Santo, João Haroldo Barroso, Hércules Barsotti, Herm elind o Carlos Goldberg, Joaquim Tenreiro e Ubi Bava, Fiaminghi, Ione Saldanha, João José da Silva Costa, também reunidas na exposição. 99 à direita, de cima para baixo: Cabelo [1967] Erictônio III subindo a rampa, 2006 Performance realizada na inauguração da exposição. Ernesto Neto [1964] Humanóides, 2006 Tecido, isopor e ervas aromáticas Dimensões variadas Como resultado do rompimento com os ideais Artistas como Antonio Dias, Antonio Manuel, definitivamente o observador no campo de ação, rampa do MAC com instalações sonoras e visuais construtivos, ao longo e após os anos 60, surgiram Artur Barrio, Carlos Zílio, Ivens Machado, Jorge tiveram grande influência nas opções estéticas e construídas por Augusto Malbouisson, Enrica pesquisas como a nova figuração, a arte conceitual Duarte, Tunga, Victor Arruda, Wanda Pimentel e, conceituais da arte brasileira contemporânea. Bernardelli, Paulo Vivacqua, Paulo Nenflidio e e outras práticas pós-construtivas. Iniciadas com mais recentemente, Cabelo, Cristina Salgado, Ernesto Para ilustrar este rico momento os vídeos Memó- Romano, assim como por “um jardim de memórias os Bichos de Lygia Clark, os Relevos espaciais de Neto, Eliane Duarte, Jarbas Lopes, José Patrício, João ria do corpo, de Mário Carneiro, sobre Lygia Clark, ativadas pelo roteiro radiofônico” proposto por Oiticica e o Balé neoconcreto de Lygia Pape, essas Modé, Marcos Cardoso, Michel Groisman e Nazareth e LYGIAPAPE, de Paula Gaitán, foram exibidos em Zaremba. Segundo a curadora, “no belvedere deste experiências deslocaram o observador de sua po- Pacheco criaram, ao longo das últimas décadas, uma conjunto com Disciplina do caos, sobre Abraham novo milênio, quando a radiodifusão multimídia sição estática para a de participante da obra. Lygia linguagem própria que aparentemente nada deve Palatnik, O perfil da linha, sobre Amilcar de Castro, introduz novas ferramentas para o Rádio – ima- Clark encontrou na psicanálise um terreno fértil às nossas origens construtivas. Mas se lançarmos um Sérgio Camargo, 1984 e Colares 1987. gens, texto, arquivos, hipertexto, ipods, entre a partir do qual propôs sessões terapêuticas com olhar atento sobre suas obras, em diferentes momen- Ainda como parte das comemorações dos 10 outras possibilidades –, suas diversas faces parecem utilização de seus “objetos relacionais”. Já Hélio tos de suas trajetórias, poderemos observar que não anos do MAC, a exposição O que eu faço é rádio!, convergir nessa zona difusa da rede cibernética. Oiticica buscou nos Parangolés uma integração apenas a face mais branda do Neoconcretismo mas em parceria com a Rádio MEC e com curadoria de Nela talvez agora possa emergir o Rádio, de sua completa e vivenciada do “participador”. também suas propostas de ruptura, que inseriram Lilian Zaremba, ocupou a varanda, o pátio e a histórica invisibilidade”. 100 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 101 Cu ra d oria s Ed u c ativa s e j og os inte rpre tativ os Beatriz Jabor Diretora da Divisão de Ar te Educação A história das curadorias educativas no MAC de abrigar obras de arte. Aí reside o segundo desafio propostas experimentais e ao mesmo tempo ino Niterói nasce e se desenvolve a partir de dois de comunicativo do MAC, relacionado a sua função vadoras de curadorias voltadas para o público e safios: um deles está relacionado ao público que – um museu para a arte contemporânea. para novas estratégias de recepção. Apresentamos vem atraído pelo monumento, pela arquitetura e O MAC é um museu que nos envolve pela par aqui as curadorias educativas pensadas como ações ousadia criativa de Niemeyer, mas que muitas ve ticipação, como uma obra de arte site specific (que integradas entre arte e público, recepção e par zes desconhece o que existe dentro do museu, ou é feita especialmente para um determinado lugar), ticipação, que resumem fortes ressonâncias com mesmo nem sabe que aquele prédio futurista, que se apropria do entorno, se transforma a cada mu a identidade natural do MAC , ligada a arte e mais parece um disco voador, foi construído para dança na paisagem, a cada olhar e deslocamento mundo contemporâneo. do visitante pelo espaço; é um museu em constante movimento. Um museu que faz do visitante um leitor móvel, onde forma e função estão voltadas para uma participação interpretativa do espectador. A arte contemporânea demanda um espectador participativo na construção de sentidos; diante de cada obra e exposição realizada no MAC, são olhares e atitudes que despertam para estranhezas e surpresas da experiência artística. Reconhecendo a complexidade da questão do entendimento e da recepção pública da arte contemporânea, o MAC, através da Divisão de Arte Educação, tomou como principal linha de atuação o desenvolvimento de estratégias de aproximação afetiva e de participação do público em suas exposições. Os “Jogos Neoconcretos” e “Cada olhar uma história” foram as duas primeiras linhas de pesquisas desenvolvidas a partir das experiências comuni cativas com a Coleção João Sattamini, que funda mentaram a integração entre curadoria e educação. Ambas traduziram este investimento numa resposta participativa à obra de arte, buscando romper o desafeto e o silêncio da exclusão cultural tão evi dente no MAC. Com essas pesquisas interpretativas e suas diferentes estratégias, os espaços do MAC se transformaram em um laboratório de respostas poéticas e interativas para os visitantes. O desafio comunicativo do MAC pode ser identificado então como um diferencial positivo para esta instituição, já que forma e função ins piram a necessidade de renovação dos valores tradicionais dos museus de arte. Foi justamente a partir deste desafio que nasceram as pesquisas e experiências educativas que resultaram em 102 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 103 Exposição: Visões e (sub)versões – Cada olhar uma história visão, ou (sub)versão, dessa exposição inaugural da esquerda para a direita: do MAC. As respostas poéticas foram tão surpre Ivan Serpa [1923-1973] Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara e equipe DAE endentes que inspiraram uma inusitada curadoria Sem título, 1964 Período: 20 de setembro de 1997 a 25 de janeiro de 1998 proposta por Luiz Guilherme Vergara (então dire tor da Divisão de Arte Educação). Obras escolhidas A partir da exposição inaugural do MAC, Arte con pelo olhar imaginativo de quatro jovens visitantes temporânea na Coleção João Sattamini (02/ 09/1996 formaram a exposição Visões e (sub)versões – Cada a 14/09/1997), percebeu-se uma outra coleção se olhar uma história, escolhida para celebrar o pri formando, a das histórias e leituras dos múltiplos meiro ano de aniversário do MAC. A exposição foi olhares dos visitantes do MAC. Durante um ano de dividida em quatro segmentos reunindo as histórias exposição foram coletadas as mais diversas respos e suas respectivas obras. “A passagem dos séculos” tas poéticas dos visitantes através da estratégia reuniu os artistas Chico Cunha, Joaquim Tenreiro, interpretativa “Cada olhar uma história”. Cada Carlos Zílio, Leonilson e Sante Scaldaferri. A histó indivíduo com seu olhar, sua vivência e bagagem ria “Conte, Porane, Idéia” reuniu as obras de Ivan cultural pode contar uma diferente história a par Serpa, Cláudio Paiva, Ivens Machado e Mira Schen tir de uma obra de arte, a qual está sempre aberta del; em “Como cada um chegou a sua obra-prima”, a novas leituras. O interesse com esta proposta foi os artistas Hermelindo Fiaminghi, Hélio Oiticica, o de incentivar uma atitude criativa por parte do Antonio Dias e Ubi Bava; em “Humanidade Burra”, espectador e, ao mesmo tempo, enfatizar o com estavam as obras de Cláudio Fonseca, Leda Catun promisso do museu com a dimensão aberta da obra da, Frans Krajcberg e Rodrigo Andrade. de arte. Foram redefinidos tanto o papel do espec Duas importantes conquistas se deram: a par tador na revelação dos valores e significados da ticipação criativa dos visitantes que interferiam arte contemporânea quanto o do museu como diretamente na produção de uma exposição; e o território de leituras compartilhadas. afeto e a imaginação como princípios para uma As histórias e leituras paralelas reunidas com esta estratégia interpretativa formaram uma re- 104 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s curadoria participativa, inusitada e essencial para Óleo sobre tela 144,5 x 205,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Claudio Paiva [1945] CO N T E, P OR A N E, I DÉI A Josias, um pens ador, tent ava descobrir como pass ar para as pessoas o que pens ava. Será que iriam entender? Rolling Stones, 1971 Guache sobre papel 99,5 x 69,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Ivens Machado [1942] Sem título, circa 1973 Azulejo sobre madeira, metal e lâmpada 156 x 101.5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Mira Schendel [1919-1988] Sem título, 1979 Têmpera, folha de ouro sobre aglomerado 56,3 x 56,3 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói De repente, ouviu no banheiro um barulho es tranho, pegou sua lanterna e foi verificar o que havia de diferente. Começou a tremer, pois viu pegadas bizarras nes te local. Desesperado, moveu sua cabeça em direção aos céus. E com a singular imagem de uma luz simples e eficiente, percebeu como a crença modifica os seres. Tudo pode ser vis to por todos os olhos, es teticamente. Mas tente sempre enxergar de outra e melhor maneira. R o s e M a r i e S a n t i n i , 16 a n o s a história da desalienação dos museus de arte. 105 da esquerda para a direita: Chico Cunha [1957] A PA SSAGEM DOS SÉCU LOS Sem título, 1991 Eucástica sobre tela 220 x 150 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Joaquim Tenreiro [1906-1992] Sem título, 1983 Madeira e metal 217 x 32 (d) cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Carlos Zílio [1944] Instante de libertação, 1974 Óleo sobre tela 99,6 x 144,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Leonilson [1957-1993] O inflexível permanece pato jamais vira cisne, 1983 Acrílica sobre tela 58 x 178 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Sante Scaldaferri [1928] O longo caminho, sem data Encáustica e azulejo sobre madeira 100 x 133 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói N o começo tudo era mais simples ; o homem tirava da natureza somente o suficiente para sua subsis tência e cumpria com o papel de reprodutor. A ssim era a vida do homem primitivo, sua ambição e ganância ainda não es t avam predominantes em sua vida. Os poderosos foram duros, cruéis e inflexíveis, mas os mais fracos se uniram ainda mais e, não abrindo mão de seus objetivos, conseguiram pelo menos algumas modificaçõ es. H oje temos uma democracia que nem sempre se faz valer, mas ainda temos muito tempo e muitos jovens guerreiros, que poderão, um dia, falar por nós lá junto aos poderosos. E esse dia só chegará quando nós descruzarmos os braços e agirmos de acordo com nossos objetivos. E esse descontent amento provocou, nos mais fracos, uma necessidade de lut arem pelos seus direitos e pela sua liberdade. Mas não foi nada fácil fazer acontecer ess a liberdade. E l a i n e d a S i l v a S a n t o s , 15 a n o s 106 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s VISÕ ES E ( SUB) VERSÕ ES: um primeiro contato com a arte, e esta deveria ser CADA OLHAR UMA HISTÓ RIA trazida para o universo de interesses e visões de Luis Camillo Osorio mundo de cada um. A história da arte, as relações E x- d i r e t o r d a D i v i s ã o d e A r t e E d u c a ç ã o poéticas, as influências e filiações estéticas eram subvertidas em nome de um contato criativo cujo Algumas exposições se transformam em marcos interesse era o de traduzir sentimentos em pala históricos. As razões disso são variadas. Aqui no vras na busca de um compartilhamento possível Brasil tivemos algumas – Opinião 65 e Como vai de mundo(s). você, geração 80, para citar apenas duas – cujas A arte contemporânea ganhava ali uma ressonâncias extrapolaram o elemento puramente vitalidade incomum. Milhares de histórias, das artístico e se tornaram acontecimentos culturais. mais banais às mais delirantes, davam-lhe sen Visões e (sub)versões, realizada no MAC em 1997, tidos inimagináveis. O dado afetivo de cada um apesar da sua pouca reverberação, deve ser vista conduzia o fio que juntava as obras, criando como um marco quanto às novas possibilidades narrativas singulares e juntando obras que jamais de se pensar a relação entre curadoria, educação conviveriam em uma exposição tradicional. O que e museu. Talvez o fato de ser esta uma discussão caracterizou aquela exposição foi a possibilidade incipiente entre nós, e que vem ganhando rele de trazer o trabalho educativo para junto da vância desde então, seja uma das razões para a curadoria, ou seja, o olhar comum para perto do exposição ter passado em brancas nuvens. olhar “especializado”. Não há outra possibilidade Lembro-me da origem de tudo: o trabalho para a arte do que se deixar disseminar no mundo, educativo proposto pelo Guilherme Vergara, tornar-se comum. Sendo de todos e de ninguém então diretor de Educação do museu, às milhares ela junta o político, o ético e o estético, ou seja, de crianças, adultos e escolas que visitavam o ela participa da formação do imaginário que é a MAC no seu primeiro ano de existência. Depois mola propulsora da invenção de novas possibili de conhecer a coleção exposta, os visitantes eram dades para o indivíduo e para a sociedade. Visões convidados a fazer um recorte de quatro ou cinco e (sub)versões deve ser vista como um marco na trabalhos e articulá-los com uma história. Valia história das curadorias brasileiras. Fico contente tudo, o importante era traçar algum laço afetivo, de ter participado, junto com o Vergara e o Italo imaginativo, criativo que unisse os trabalhos – o Campofiorito, da escolha daquelas histórias e que, naturalmente, aproximava-os das obras. Era suas narrativas poéticas. 107 Estratégia: Jogos Concretos e Neoconcretos de composição em um espaço concreto tridimen sional. Os Jogos Neoconcretos enfatizam uma atitude interpretativa não-verbal em resposta aos Se as obras figurativas da Coleção João Sattamini elementos formais de uma obra de arte, como cor, instigaram estratégias interpretativas que estimula forma, composição, ritmos e expressão. Os visitan ram a produção livre de histórias, o que se poderia tes passam então a entender as pinturas abstratas propor para aproximar cognitiva ou afetivamente geométricas dos anos 50 e 60 não apenas a partir o público das pinturas abstratas gestuais e geo do pré-requisito da história da arte, mas sob o métricas? Apresentá-las informativamente como prisma da experiência, percebendo a obra não documentos históricos dos anos 50 e 60? como um objeto histórico e estático, mas como um A própria geração neoconcreta foi uma das pensamento que ativa um processo dinâmico de referências que apontaram para a apreensão de fluência criativa, como num jogo. Através desses uma obra de arte não ser separada de uma ação jogos lógicos e lúdicos a obra de arte é aberta para participativa. Assim surgiram os Jogos Neoconcre que o seu processo de criação artística seja explo tos, um trabalho experimental de propostas inte rado como estratégia de ação e interpretação. rativas com formas geométricas, inspirado nas Os Jogos Concretos e Neoconcretos e a ativida práticas construtivistas e idéias dos artistas concre de “Cada olhar uma história” foram a semente tos e neoconcretos. Nesses jogos os espectadores dos diversos estudos dos Jogos de Interpretação, a passam a ser participantes envolvidos em um pro partir das obras das coleções MAC e João Sattamini, cesso de articulações e desarticulações de soluções que vieram a seguir. Aluísio Carvão [1918-2001] Tema triangular, 1957 Óleo sobre aglomerado 81,5 x 65 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Dionísio Del Santo [1925-1999] Sem título, 1960 Óleo sobre tela 56,5 x 74 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 108 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 109 Os Jogos Interpretativos O percurso de experiências e exposições no MAC apontou para a necessidade de se explorar o poten cial de comunicação e afeto da arte contemporânea, envolvendo o público participativamente através do que passamos a chamar de Jogos Interpretativos. A cada exposição elaboramos diferentes jogos e estratégias interpretativas que nascem justamente dos conceitos e procedimentos artísticos em ação numa obra ou conjunto de obras, que passam a ser elaborados como elementos articuláveis, móveis – como peças de um jogo –, e através da fluência criativa se desdobram em infinitas possibilidades de construção. O conceito de jogo introduz uma dimensão interativa como interpretação da obra de arte aberta. Como conceituou Umberto Eco, “a obra aberta como proposta de um ‘campo’ de possibilidades interpretativas (...)”. São tantas as experiências educativas/inter pretativas nos 10 anos do MAC que fica quase impossível citar todas, mas vale a pena ressaltar alguns dos jogos interpretativos que se tornaram personagens inesquecíveis dessa história: Jogos Hermelindo Fiaminghi da Cor, criados para a exposição de Aluísio Carvão Virtual nº 12, circa 1970 e Ione Saldanha; Poéticas do Movimento, jogos [1920-2004] Têmpera sobre tela 80 x 80 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói inspirados na obra de Abraham Palatnik; Entre Ficção e Realidade, laboratório de criação de jor nais reunindo as exposições de Rubens Gerchman e Carlos Miele; Quase Infinito, explorações do con ceito de infinito a partir da obra de Daniel Senise; Fluência Criativa das Cores, a partir das pinturas de Luiz Aquila; Jogos de Cor e Luz, inspirados na série Cor/Luz de Hermelindo Fiaminghi; Quando os Objetos Contam Histórias, criações contemporâneas no estilo natureza morta; Exercícios Poéticos da Forma, inspirados pelas obras de Franz Weissmann, Tomie Ohtake e Oscar Niemeyer; e Pintando sem Tinta, composições móveis utilizando o vocabulário de formas de Joan Miró. 110 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 111 Exposição: Dos materiais às diferenças internas: o metal, a madeira, o tecido e a pedra Curadoria: Luiz Guilherme Vergara e Marcia Müller Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara e equipe DAE Período: 4 de julho de 2000 a 15 de abril de 2001 A curadoria educativa “Dos materiais às diferenças internas” foi pensada essencialmente para se olhar, reparar e pensar sobre a diversidade de materiais e procedimentos que formaram as principais práticas artísticas do último século. Para esta exposição foram reunidas obras dos últimos quarenta anos, tomando como ponto de partida as diferentes naturezas dos materiais empregados, buscando estimular no espectador a integração entre suas sensações e a reflexão sobre aquelas diferenças. A exposição tirou partido do percurso arquite tônico circular do MAC, ordenando as obras em segmentos para criar uma trajetória paralela entre os materiais, seus simbolismos e as sensações que eles provocam. No primeiro segmento da exposição, as obras dos artistas Antonio Dias, Athos Bulcão, Ivens Machado, Jorge Barrão e Paulo Roberto Leal apresentavam uma multiplicidade de materiais não convencionais, introduzindo assim essa questão. A partir dessas obras uma seqüência se estabele ceu: o metal, a madeira, o tecido e a pedra. Cada conjunto de obras apresentava ao especta dor diferentes usos que um mesmo material poderia assumir, sua leitura pelas qualidades físico-químicas e suas referências simbólicas. A partir do deslocamento pelo espaço, o visitante poderia costurar uma rede de relações entre as obras e seus materiais, estabe lecendo as diferenças. Assim foram organizados os segmentos e suas diferentes leituras: O Metal (do latim metallu), elemento químico, em geral sólido, é bom condutor de calor e de eletricidade, maleável e tem grande força física. Diferentemente dos outros materiais, é dotado de brilho próprio. Na simbologia chinesa significa espada, execução e morte. Para este segmento 112 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 113 de cada objeto artístico, onde se revelam suas di Com esta curadoria inaugurou-se no MAC, den foram reunidas obras em metal dos artistas Franz fibra natural, artificial ou sintética. Simboliza o véu ferenças. Mas como experimentar os materiais e tro do próprio percurso expositivo, um local des Weissman, João Carlos Goldberg, Jorge Duarte, ou aquilo que serve para cobrir e ocultar alguma sentir suas qualidades se não é permitido tocar nas tinado ao público e à participação – o Espaço de Lygia Clark e Raymundo Colares. coisa ou fato. obras dentro de um museu? Experiência e Leitura –, que nessa mostra se trans A Madeira (do latim materia), parte dura ou fi Finalizamos com as obras em Pedra (do latim Na seqüência, então, foi criado um espaço onde formou em um território de experiências sensoriais brosa do tronco, ramos e raízes de uma árvore, tem petra) dos artistas Frans Krajcberg, Haroldo Bar o público poderia tocar nos materiais, e através da com os materiais, onde coisas e objetos do cotidia a propriedade de se consumir pela combustão e roso, Nelson Felix e Sérgio Camargo. A pedra é experimentação perceber suas qualidades, esta no foram ressignificados através de exercícios de serve como isolante. No vocabulário chinês, madei substância inorgânica, dura e compacta que se belecendo um novo diálogo com os materiais e as assemblagem. Este novo espaço transforma não só ra – tong – significa comunhão e alegria. O segmento encontra no interior ou na crosta terrestre. Assim obras expostas. Disponibilizamos para os visitantes a relação do espectador com a obra de arte, mas foi representado pelos artistas Abraham Palatnik, como as montanhas e as rochas, a pedra é símbolo um “Coisário” (conjunto de coisas reunidas e guar também sua relação com o museu. O museu deixou Farnese de Andrade, Frans Krajcberg, Gastão Ma de longevidade. dadas em qualquer lugar formam um coisário) com de ser lugar de contemplação de objetos estáticos nuel Henrique, Ione Saldanha e Joaquim Tenreiro. Buscou-se, com esta curadoria e montagem, es objetos separados por suas qualidades materiais, e sem vida para se transformar em lugar de criação, O próximo segmento, Tecido (do latim textile), timular o visitante para o exercício do olhar aten assim como foram distribuídas as obras na exposição: aproximando os visitantes dos materiais e proce foi representado pelas obras de Artur Barrio, Cildo to, ligado às sensações, mesclando percepção e metal, madeira, tecido e pedra. Oferecemos ainda dimentos artísticos contemporâneos através da Meireles, Eliane Duarte, Ernesto Neto e Katie van imaginação para a descoberta e apreciação da apostilas de consulta e pesquisa mais aprofundada participação compartilhada em que se estabelecem Scherpenberg. O tecido é uma trama de fios de diversidade dos materiais e de sentidos internos sobre os artistas. novos significados. 114 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 115 Exposição: Apropriações da questão da apropriação na arte brasileira a Curadoria: Guilherme Bueno partir das coleções MAC e João Sattamini. A prática Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara e equipe DAE da apropriação de objetos e materiais do cotidiano Período: 20 de setembro de 2003 a 28 de março de 2004 para a arte modificou toda a história da arte do século XX, sendo operação decisiva para a arte Instigações entre arte e vida: isso significa alguma coisa ou é apenas arte contemporânea? moderna e contemporânea. A arquitetura do MAC, mais uma vez, propiciou O que é isso? Isso é arte? Estas são algumas das um espaço integrado entre curadoria – as obras perguntas repetidas entre os nossos inúmeros visi expostas no salão principal – e educação. O públi tantes, pois muitas vezes não existem distâncias co ganhou na varanda um espaço interativo e co aparentes entre as coisas no museu e a vida lá fora. municativo, onde traçamos uma rede das relações A prática artística de se apropriar e deslocar coisas do históricas e artísticas ligadas ao procedimento das cotidiano para o museu nos coloca diante de estra Apropriações, fundamental para a compreensão nhamentos e provocações da imaginação e interpre de seus desdobramentos na arte contemporânea. tação dos confusos limites entre arte e realidade. Criamos para a varanda do MAC um “curto-circui A exposição Apropriações, com curadoria de to” de experiências participativas, dividindo o Guilherme Bueno, reuniu um pequeno panorama percurso em três segmentos – Colagem, Assembla gem e Coleções –, acompanhados de uma linha do tempo e de uma constelação das transformações das práticas artísticas do século XX relacionadas ao procedimento das Apropriações. No segmento da Colagem, as apropriações de cartões-postais do artista Aloísio Magalhães e as obras com rótulos de caixas de frutas de Ivan Car doso nos ofereceram a oportunidade de mergulhar numa rede de referências entre as obras da coleção e a história universal da arte. Foi através da cola da esquerda para a direita: Aloísio Magalhães [1927-1982] Sem título, 1972 Colagem sobre madeira 95 x 114,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Ivan Cardoso [1952] Sem título, sem data Montagem de caixotes de frutas 87 x 117,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói 116 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s gem que o olhar do artista se expandiu para uma percepção imaginativa das coisas do cotidiano, reunindo simbolicamente múltiplos tempos e es paços simultâneos entre arte e vida. A partir da colagem cubista, uma das primeiras manifestações de apropriação, e seus desdobramentos no século XX, abriu-se um imenso horizonte de autonomia e liberdade de criação artística. 117 Farnese de Andrade [1926-1996] Anunciação, 1985 Janela, madeira, foto, ex-voto, palmatória, oval em resina e boneco 83 x 50,5 cm Coleção João Sattamini/ comodante MAC de Niterói Nesse território de experiências participativas, foi provocar no visitante um estado imaginativo trouxemos para o visitante o direito e o acesso à ao ver a arte: de curiosidade perante as “apro experimentação de cada um destes procedimen priações e deslocamentos” entre dois mundos tos – colagem, assemblagem e coleções – e uma – arte e vida. percepção expandida do mundo como obra de Quando propomos atualizar os procedimentos arte, de reencantamento ou transfiguração das e conceitos artísticos aproximando-os de nossa coisas do mundo. Buscamos atrair os visitantes vida, do cotidiano, conseguimos uma resposta para par ticipar junto com os ar tistas do jogo imediata de afeto do público. Pois resgatamos e ilimitado de reinvenções do olhar sobre as coisas damos espaço para aquilo que o público traz – ele que freqüentam nosso cotidiano. Nosso objetivo mesmo, seu mundo e suas experiências. No segundo segmento, apresentamos o proce dimento da Assemblagem, que podemos definir como uma colagem de objetos achados ao acaso ou escolhidos a partir de um critério específico. Sua origem histórica, no início do século XX, está atre lada à idéia de subversão e ambigüidade perante a sociedade industrial e o sistema de valores da arte. Na arte contemporânea esta prática assume para cada artista diferentes sentidos: seja o humor das apropriações de Jorge Barrão ou o enigma sur realista e simbólico das assemblagens de Farnese, passando pelos estranhos guardados na gaveta de Tunga e pela crítica e pelo choque criado pelo saco de pães de Artur Barrio. Em “Coleções – Coletas e Coletivos”, a conste lação de artistas apresentados girava em torno da instalação Objetos do desejo de Nelson Leirner, da coleção de guimbas de cigarros na obra de Marcos Cardoso e das panelas amassadas de Jorge Duarte. Mais uma vez, as apropriações entre arte e vida podem assumir os mais diversos sentidos. O ateliê do artista se torna observatório perma nente do cotidiano. O artista é arqueólogo do contemporâneo, colecionador de brinquedos, de objetos de crença popular, de guimbas de cigarro e de embalagens. 118 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 119 Exposição: Poéticas do Infinito – Estações da arte para se pensar sobre o Infinito Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara e equipe DAE Período: 11 de dezembro de 2004 a 27 de fevereiro de 2005 O Infinito como princípio – e a apreensão do In finito como fim. Estes foram os primeiros motes desta curadoria que buscou aproximar as múltiplas entradas da produção artística do século XX para o infinito: do salto do plano para o espaço pelas poéticas construtivistas ao jogo do acaso na cons trução de redes e dobraduras; da geometria de Mondrian presente nas ordens concretas da arte brasileira às Malhas da liberdade de Cildo Meireles e à rede de elásticos de Lygia Clark. Mas foi na arquitetura do MAC que encontramos o abrigo poético para o infinito. Esta mostra foi o resultado de nove anos de estudos curatoriais e educativos que surgiram a partir das estratégias interpretativas desenvolvidas a partir dos desafios comunicativos da arte contem porânea e das vivências que exploraram a singular arquitetura do MAC como obra de arte, aberta para a infinitude da paisagem ao seu redor. Todas as equipes técnicas do MAC foram convocadas para a elaboração desta mostra, buscando explorar as coleções João Sattamini e MAC através de um estudo curatorial transdisciplinar, envolvendo educação, museologia, arquitetura e teoria e pesquisa. Na trajetória da história da arte no século XX, o conceito de infinito está presente em vários senti dos, como expressão, representação e simbolismo. O infinito está relacionado também ao universo aberto de recepção de uma obra de arte, como campo de possibilidades de percepção e sentidos para cada sujeito no mundo – o infinito na potência de cada olhar, onde cada experiência é uma his tória. Assim, chamamos de “Poéticas do Infinito” para dar ênfase a esta condição múltipla da obra de arte, desde o seu processo de criação até a sua recepção/interpretação pelo público. 120 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 121 A mostra foi dividida em “estações” para se de composições com formas geométricas, através pensar sobre o infinito através de diferentes poé de padrões, ritmos e estruturas que passam a ser ticas artísticas. Buscamos reunir em cada “estação” um universo infinito de criação artística, e que obras das coleções João Sattamini e MAC com as apresentado na forma de jogo se transforma em de outros artistas contemporâneos que interagem material de recepção e fruição para o espectador. com o espaço e o público, apresentando conceitos O segmento “Dobraduras – dobra e redobra ao que apontam para o fim das formas fixas e isoladas infinito” reuniu as experimentações em diferentes entre arte e espectador. materiais de artistas que através de soluções mecâ Chamamos especial atenção para os usos do nicas conquistaram o espaço orgânico pela dobra. espaço expositivo do museu, tomado não apenas As fitas em madeira de Joaquim Tenreiro, os metais por objetos, mas por situações de mobilização e dos Bichos de Lygia Clark, o “amassado acidental” acesso aos processos de criação artística das obras, de Franz Weissman, a força e densidade das dobras na forma de jogos interpretativos. Alguns desses e cortes de Amilcar de Castro em chapas metálicas jogos já são parte do conceito proposto pelo próprio contrapostos à ordem precária e leveza das experiên artista, envolvendo o espectador-participante, como cias em papel de Paulo Roberto Leal parecem dobrar os Bichos e a rede de elásticos de Lygia Clark, e as o espaço num fluxo contínuo pelo movimento. Malhas da liberdade de Cildo Meireles, obras aber A partir dos anos 60, ao mesmo tempo que ar de arte. Nas obras de Cildo Meireles e Lygia Clark, formavam uma rede invisível pelos trechos disper tas em contínuo processo de fluência criativa, onde tistas brasileiros e estrangeiros seguem diferentes as redes e malhas tecidas coletivamente formam sos de um poema do século XVII, do japonês Bashô. o infinito é materializado em forma de jogo. rotas de exílio, os exercícios da abstração geométrica estruturas que provocam um processo aberto à par O público passava a fazer parte dessa rede virtual Na estação “Jogos concretos e neoconcretos do se expandem para uma nova arquitetura e geogra ticipação e de crescimento infinito. A obra de arte ao descobrir o percurso que levava uma imagem plano ao espaço”, as pinturas dos artistas Herme fia, dos labirintos das instalações ambientais e dos é então a construção de uma consciência ampliada para outra, reconstruindo o texto de Bashô, poeta lindo Fiaminghi, Aluísio Carvão, Lygia Clark, Ma mapas. Nesta estação, “Labirintos – entre caos e para as inter-relações humanas, através do processo viajante do infinito. vignier e Hélio Oiticica apresentam a matriz de uma ordem”, reunimos obras de Hélio Oiticica, Antonio de participação contínua do público na obra. série de fluências contínuas de composições geo Manuel e Antonio Dias. Descobrimos e oferecemos aos visitantes, na Um circuito especial de obras foi colocado no última “estação”, a exploração dos “Caminhos métricas. Na arte concreta dos anos 50, o conceito O conceito de Redes e Malhas, como proposição piso do Salão Principal, unindo pelo simbolismo das do Infinito no MAC – da geometria à geografia”, de jogo está presente na criação de um vocabulário artística, reformula o espaço participativo da obra “Físicas e metafísicas do Infinito” os artistas Nelson através das formas circulares e barrocas das espirais Felix, Sérgio Camargo, Ernesto Neto e, ao fundo, e do caminho circular na varanda e no segundo Antonio Dias. A sequência de obras enigmáticas andar. Forma-se uma escultura-caminho no espa explorava os limites da existência – finita e infinita; ço/tempo, como uma fita de moebius, símbolo do da energia do átomo na obra de Felix (uma esfera infinito. Aqui o público era convidado a fazer sua de chumbo com torionita, material radioativo) ao fita e depois recortá-la, vivenciando a obra/processo macrocosmo da pintura de Antonio Dias (Projeto Caminhando, de Lygia Clark. Nas formas do MAC e para one and three, 1974). com sua vivência no espaço, o visitante resgata a A obras do artista Daniel Whitaker tecem um circuito paralelo em uma “Estação sem parada”, 122 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s união entre geometria e geografia; esta é a maior poética do infinito. através de uma sequência de fotografias de cre Elida Tessler completou essa mostra com a púsculos e madrugadas feitas de uma janela na instalação especial Horizonte provável. O anel da cidade do Rio de Janeiro. As imagens remetem varanda foi redesenhado com pratos brancos sobre a mais uma poética do infinito, do sublime e do as janelas, como um colar de pérolas, impressos passar do tempo, intercruzando a passagem dos com verbos no infinitivo retirados do livro Arte no dias em uma grande metrópole. Interligadas por horizonte do provável, homenageando seu autor, códigos de internet (ou comandos de hipertexto), Haroldo de Campos. 123 Exposição: Abrigo poético – Diálogos com Lygia Clark Curadoria: Claudia Saldanha e Luiz Guilherme Vergara Curadoria Educativa: Beatriz Jabor e equipe DAE Período: 02 de setembro a 03 de dezembro de 2006 O MAC como laboratório e abrigo poético – Circuito de experiências participativas A arquitetura do MAC mais uma vez passa a fazer parte das nossas estratégias comunicativas através do exercício de olhar e ler o MAC em todos os “sentidos”. Pela sua forma, conteúdo e função, assim como pela leitura de metáforas, percebendo o museu como um abrigo poético. Sua arquitetura circular e aberta nos desafia a pensar sobre os limites entre arte e vida. Nada melhor, portanto, do que completar 10 anos de existência expondo a coleção que foi responsável pela sua origem e função, com uma homenagem à artista Lygia Clark, que acredi tava firmemente na procura de uma fusão entre arte e vida, da arte como experiência. O MAC tem como desafio ser abrigo e laboratório poético de o papel do artista, a obra e o espectador, também de Lygia Clark. Nas paredes, reproduções das obras da linguagem geométrica. Obras de Lygia Clark, experiências participativas para a contínua reno é preciso se redefinir o papel do museu, que não estavam interligadas formando uma constelação Aluísio Carvão e Hermelindo Fiaminghi, pertencen vação da arte contemporânea brasileira. pode mais ser apenas um lugar de contemplação de de referências, apontando para alguns caminhos tes à Coleção João Sattamini, se transformaram em objetos. É preciso abrir espaço para a participação na rede de relações e diálogos. A proposta era que jogos de fluência criativa, em que as formas geo do espectador. o visitante pudesse perceber e fazer suas próprias métricas soltas da tela ganharam autonomia na mão “costuras” e elos entre as obras expostas. do espectador; através do jogo, ele pôde compor A trajetória de Lygia Clark traz à tona uma série de questionamentos que parecem acompanhar a história da arte – o lugar do artista, a obra de arte Para essa exposição criamos um circuito de e o papel do espectador. Sua obra acaba transfor experiências participativas esperando que, pela Cada conjunto de obras apresentava determ i infinitas possibilidades de construção de uma “mes mando os três, não só isoladamente como também experiência, as obras de arte sejam percebidas nados conceitos que depois poderiam ser exper i ma” obra, assim como fizeram os artistas dessa nas relações entre eles. Assim como se modificam não como objetos históricos e estáticos, mas como mentados na prática através de propostas intera geração. As obras deste primeiro segmento estavam pensamentos que ativam processos dinâmicos de tivas, em forma de jogos criados para este circuito interligadas pelos seguintes conceitos: do plano ao fluência criativa, como nos jogos. Com inspiração participativo. O percurso foi elaborado com o ob módulo, a linha-espaço/a linha orgânica, o espaço nas práticas e poéticas de artistas contemporâ jetivo de acompanhar as mudanças na trajetória real/o espaço virtual e do módulo ao jogo. neos, em especial Lygia Clark, transformamos a artística e no pensamento de Lygia Clark, assim O segundo segmento apresentava as obras de varanda do MAC em um Laboratório entre Arte e como de toda uma geração de artistas, passando Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Jogo, onde abrimos a obra de arte para que o seu pelas raízes da arte concreta e pelas rupturas neo Iole de Freitas, Luciano Figueiredo e Paulo Rober processo de criação seja explorado como estratégia concretas até chegar às poéticas de artistas con to Leal, que assim como Lygia Clark saíram do de ação e interpretação. temporâneos. plano e conquistaram o espaço pela dobra, seja 124 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s Dividimos o percurso da varanda do MAC em uma O primeiro conjunto de jogos interpretativos pela sobreposição de planos formando relevos, rede de referências entre obras (e artistas) de dife foi o dos Jogos Concretos e Neoconcretos, inspira pelas dobras e cortes que abrem o espaço no plano rentes períodos históricos, apresentando os diálogos dos nos procedimentos artísticos dessa geração dos ou através de dobras orgânicas em espirais que entre as obras expostas e conceitos presentes na obra anos 1950 e 60, considerada a vanguarda brasileira dão a sensação de contínuo movimento. A arqui 125 tetura do MAC é uma das referências, pois também se desdobra em espirais em movimento – o concre to duro e pesado vira forma orgânica pelas curvas criadas por Niemeyer. Neste espaço o visitante era convidado a experimentar essa passagem do plano para o espaço escolhendo cuidadosamente onde e como dobrar e cortar uma folha de papel para criar sua forma no espaço. Para finalizar o circuito de experiências parti cipativas apresentamos dois conceitos agrupando diferentes artistas: Dos materiais às metáforas e Construa você mesmo – redes e costuras. O primeiro apresentava como Lygia Clark e os outros artistas reunidos nessa rede de relações vão em busca de materiais como metáforas aos conceitos que que ao acaso de palavras, podendo compreender essa a participação do espectador, e para experiências mo –, até chegar ao lugar onde se dá sentido, ao rem transmitir ao espectador, seja pela memória, relação entre a escolha dos materiais e o artista coletivas em que o processo é parte fundamental estado de nominação das coisas pela construção pelas sensações ou associações que esses materiais como construtor de metáforas. e constituinte da obra. de metáforas, que é o estágio da criação e inter provocam. As obras de Nazareth Pacheco, Eliane “Construa você mesmo – redes e costuras” gira Com inspiração na trajetória de Lygia Clark, pretação. Cada visitante que percorreu a varanda Duarte, Ernesto Neto, Artur Barrio, Cristina Salgado va em torno dos artistas João Modé, Jarbas Lopes, criou-se um percurso de construção da linguagem deixava para o próximo um presente, uma poesia e Tunga inspiraram a reunião de diversos materiais Eliane Duarte e Marcos Cardoso, “herdeiros” da – do pensamento concreto de composição com visual, formando um contínuo processo de fluência em um “coisário” para que os visitantes pudessem geração de artistas como Lygia Clark que a partir formas geométricas –, passando pela conquista do criativa de artistas anônimos, verdadeiro labora criar objetos reunindo materiais a partir do sorteio dos anos 60 abrem a obra para a experimentação, espaço – o nascimento e criação da forma/organis tório e abrigo poético entre arte e jogo. 126 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 127 “Caminhar me ajudou enormemente a expandir a escala da ar te, já que antes as obras de ar te eram objetos, e uma obra de ar te era como es te objeto, porém em 19 6 8, por exemplo, fiz uma obra de 10 milhas de comprimento, apenas caminhando.” R i c h a r d L o n g1 P r oje t os Es pe c ia is Luiz Guilherme Vergara Diretor geral do MAC de Niterói Os projetos especiais são parte do desenvolvimen to de diálogos entre a arquitetura do MAC e as experimentações artísticas contemporâneas volta das às instalações ambientais. Daí podermos dizer também que seu êxito se dá pela integração de três forças, aparentemente antagônicas, que cabe ao artista transformar em uma unidade sistêmica – ou unidade tripartida, mais uma vez lembrando Max Bill. Esta unidade tripartida se dá pelo jogo entre arquitetura e ambiente, no caso da varanda, o percurso circular aberto para a paisagem; sistema “Uma vez que se aceit a a definição de uma escultura como aquela forma que result a de um es forço físico dirigido por um es forço ment al e criativo, ent ão uma caminhada é uma escultura…” Felipe Ehrenberg2 de signos ou interferência artística; e o espectador – leitor móvel no espaço-tempo. Os conceitos de prog rama ambiental remontam à “posição e pro grama” de Hélio Oiticica (1966). “A posição com referência a uma ‘ambientação’ e à conseqüente derrubada de todas as antigas modalidades de expressão – pintura-quadro, escultura etc. – propõe uma manifestação total, integrada, do artista nas suas criações, que poderiam ser proposições para a participação do espectador.”3 As interferências ambientais passam, sem dúvi da, a incorporar o vocabulário nacional e internacio nal das gerações de artistas pós-anos 60. As apro priações e assemblagens herdadas das primeiras vanguardas modernistas do início do século XX, os dadaístas, surrealistas e construtivistas russos, se expandem para a produção de ambientes-atmos feras cujos conteúdos arquitetônicos e históricos são absorvidos em uma única experiência. O desen volvimento dessas práticas artísticas acompanha o resgate do conceito de lugar e território da nova geografia em paralelo ao redirecionamento da fruição artística para os exercícios da subjetividade, considerando o convívio, vivências compartilhadas, dimensões essenciais para uma experiência inte grada entre campo sensorial e semântico. Funda 1. LONG, Richard; GIBSON, Amber; BALSA, Rubén Ramos. Entrevista com Ri chard Long. [W] Art, Porto, n. 3, p. 52-56, 2004. Edição especial: Caminhar. 2. BENITEZ DUEÑAS, Issa Maria. Arte, nomadismo e os limites da identidade. [W] Art, Porto, n. 3, p. 23-27, 2004. Edição especial: Caminhar. 3. OITICICA, Hélio. Programa ambiental. In: ______. Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. 128 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 129 Ocupações/descobrimentos Antonio Manuel e Artur Barrio Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período: 20 de maio a 26 de julho de 1998 Em 1998, Antonio Manuel e Artur Barrio foram conv idados por Luiz Camillo Osorio, então dire tor da Divisão de Teoria e Pesquisa, para realizar um projeto especial para o MAC, por ocasião das comemorações antecipadas dos 500 anos do des cobrimento do Brasil. Este foi o primeiro projeto que poderíamos chamar de “especial” para o MAC, isto é, concebido pelos artistas diretamente a par tir do diálogo com a arquitetura do MAC e seus desafios. Nas palavras de Luiz Camillo Osorio, para mentalmente, uma atenção maior ao espectador relacionais. Pensar os projetos especiais para o MAC a apresentação dessa mostra, chamada Ocupações/ participante passa a ser incorporada no discurso é um desdobramento necessário para um museu descobrimentos, o projeto de Antonio Manuel “(…) pelo artista. Hélio Oiticica indica muito bem “duas de arte contemporânea, que absorve a expansão já foi feito pensando-o para a ‘varanda’ circular do maneiras definidas de participação que se dife conceitual da produção artística pós-moderna. Faz museu. Em tese, trata-se de um lugar onde não se renciam da ‘pura contemplação transcendental’: parte também de uma conjugação de pensamentos pode mostrar qualquer trabalho. Além de estreito uma é a que envolve ‘manipulação’ ou ‘participa- que forçam a nossa época para uma nova geografia e sem pé-direito, tem a competição desigual da ção sensorial corporal’, a outra a que envolve uma e ética da circulação dos saberes nos espaços públicos estupenda baía de Guanabara com o Rio de Janeiro o que eles estavam procurando como arte contem participação semântica”. culturais. Vários pensadores de outras áreas, como escancarado do outro lado (…)”.5 porânea. O que era aquilo? Oiticica identificava na integração entre sensorial, Milton Santos, da Nova Geografia, ou Edgar Morin, Antonio Manuel anuncia com precisão a sua A varanda não foi feita para exposições con lúdico e ação a articulação da dimensão expandida de pensar sistêmico, poderiam contribuir para essa ocupação da varanda com sete paredes que se vencionais. Certamente, à primeira vista pode-se do papel do espectador no processo de construção visão relacional do sujeito em um sistema de fluxos interpõem ao passeio natural dos visitantes: “Como considerar aquele um lugar de trânsito, de atração de sentidos, também definida por Umberto Eco como sensoriais, culturais e sociais: “… o sistema tomou o as ondas do corpo, são passagens abertas estrate- e distração para a vista e repouso. Mas foi justa “obra aberta”. O sujeito dentro dessas instalações lugar do objeto simples e substancial e ele é rebelde gicamente, tornando visíveis a curva, a onda, a mente a partir desses aspectos adversos aos forma ambientais é um leitor móvel, agente envolvido na à redução em seus elementos; o encadeamento de reta, o rombo, o desejo”. Dessa forma, o artista tos tradicionais de cubos brancos para exposições tríade formada pela consciência no corpo, tempo sistemas rompe com a idéia de objeto fechado e criou um circuito labiríntico da curiosidade como de quadros ou esculturas que Antonio Manuel e espaço. A utopia das novas vanguardas dos anos auto-suficiente. Sempre se trataram os sistemas como leitmotif, oferecendo uma alternativa à parada inaugurou no MAC o espaço mais instigante para 60 se concentra no espaço de participação nos ter objetos; trata-se de agora em diante de conceber para a contemplação passiva da paisagem na va potencializar os principais conceitos da arte con ritórios de construção de sentidos e subjetividades os objetos como sistemas … O fenômeno sistema é randa. Entre o movimento pelo desejo de saber temporânea, como sua ligação com as experimen – autopoiesis. Para Mário Pedrosa, é justamente nas hoje evidente em tudo”. atravessando simbolicamente paredes – obstáculos tações ambientais contextualizadas semantica instalações e ocupações ambientais que se concentra Assim, podemos lembrar uma série de projetos – e a comunhão com a “natureza” suspensa pelas mente a partir de lugares específicos de convivência um dos principais pontos conceituais da passagem especiais que se sucederam incorporando a arqui molduras das janelas, o visitante é colocado dian (também chamadas de instalações e site specific). da arte moderna para a contemporânea. Para os tet ura e a paisagem como campo de sentidos te de uma armadilha entre os desejos da razão – a Primeiramente, essas manifestações artísticas museus as instalações, projetos especiais para lugares (território sensorial e semântico) para um visitan curiosidade pelo saber – e a completa entrega à constituíram um paradoxo para o acolhimento nos específicos, indeslocáveis, nascem como desafio aos te – leitor móvel. harmonia do belo natural. Porém, o círculo da museus de arte contemporânea, como vimos na 4 sistemas de valores que regeram a origem dessa instituição iluminista, o colecionismo de objetos, pois são antiobjetos, propositoras de ambientes 130 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s curiosidade leva ao nada, ao retorno ao início, 4. MORIN, Edgar. O método 1: a natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina, 2003. deixando vários visitantes completamente perple xos, sem saber onde estava o objeto artístico. Ou 5. OSORIO, Luiz Camillo. Antonio Manuel. In: MANUEL, Antonio. Antonio Manuel: ocupações/descobrimentos. Niterói: MAC, 2002. p. 5. 131 mais forte o sol batesse na fachada do MAC, mais escura e cavernosa se tornava a entrada para o gran de salão. Ao fundo, a única e fraca fonte de luz que atravessava o grande vazio, gerada por apenas uma lâmpada de 40 watts, salpicava alguns tímidos refle xos sobre o oceano de laca no tapete verde. Esse antigo tapete verde também passou a ser percebido como fundo infinito, uma visão noturna do mar, outra forte imagem da vida de Barrio, navegador que chegou a viver em um barco. Ao sair do museu à noite, com a visão noturna da baía de Guanabara e algumas fracas luzes dos mastros dos barcos de pescadores refletidas no oceano negro, reconheciase a potência metafórica – de transporte existencial, da vida do artista no mar para o salão do MAC. sua origem histórica nos anos 60; são reivindica Artur Barrio fez o contraponto à ocupação de doras de novas bases estéticas e éticas. Os concei Antonio Manuel: ao invés de se voltar para fora, O ambiente de luz e razão projetado por Nie tos ambientais são parte das mudanças paradig transformava o salão principal do MAC em território meyer era agora todo transformado em uma atmos máticas que caracterizam a passagem da arte noturno de transfigurações entre caverna e oceano fera de transfigurações sensoriais, de imanência e moderna para a (pós-moderna) contemporânea, e dentro daquela arquitetura futurista. Ao visitante flutuações metafísicas. ao mesmo tempo são manifestações artísticas crí era oferecida uma atmosfera póvera (lembrando a Essas duas mostras colocaram os nossos visitan ticas ligadas a posições antagônicas às instituições Arte Póvera, vanguarda italiana dos anos 60) de tes diante de duas fortes manifestações artísticas culturais predominantemente materialistas e bur trouxas e um forte cheiro de bacalhau – havia várias contemporâneas, duas explorações poéticas do guesas. Daí, desde os anos 70, as mais radicais postas embrulhadas e dependuradas em um varal espaço e do vazio. Porém, os elementos precários experimentações artísticas estão relacionadas à que cruzava a galeria. Sobre o tapete verde foi es utilizados por ambos – paredes de tijolos aparentes desmaterialização do objeto de arte, antimercado palhada uma camada de laca (asa de barata), e as cruzando o percurso da varanda do Antonio Manuel da arte e também antimuseu. No caso da varanda luzes do círculo central foram apagadas, dissolven e as trouxas de bacalhau da instalação do Barrio do MAC, podemos contrapor que a própria arqui do toda a arquitetura moderna em um espaço de – sobre um imenso chão vazio coberto de brilhos tetura aberta também promove um espaço anti transe e esvaziamento desequilibrante. Dois títulos fugazes camuflavam os sofisticados caminhos con te, falaram da luz como manifestação simbólica da museu e antiobjeto. Nesse sentido, Antonio Manuel indicam os caminhos de ambigüidade dessa insta ceituais desses artistas – da metafísica de Barrio ao esperança na escuridão, e daí tomaram-na como é inaugurador do entendimento da idéia de que lação. Os aspectos autobiográficos estão presentes labirinto do desejo de Antonio Manuel. expressão artística para a necessidade de Deus. Sim, estamos tratando. nas duas possibilidades de entradas no universo de Certamente, tais apreciações, difíceis para um para aquele grupo a obra estava aberta e atingiu Seguindo a apresentação de Camillo, “(…) sentidos existenciais motores de Barrio – na caver visitante desprevenido, colocam ainda mais em uma leitura profunda do inconsciente, trazendo um enquanto andávamos por aquela varanda nos na, o “sonho de um arqueólogo”, e no navegante evidência o desafio comunicativo da arte contem universo infinito de projeções. primeiros dias, veio a idéia de um trabalho que se solitário diante do oceano vazio, as “configurações porânea no MAC – um museu de todos os públicos. Ao mesmo tempo, sabemos o quanto essas duas realizasse do mar em direção ao museu, aprovei- noturnas e diurnas”. Barrio busca suas mais longín Vale registrar a inesquecível experiência de um montagens – projetos especiais – desafiaram o enten tando a tendência a ‘olhar para fora’ que domina quas lembranças quando recupera o sonho de in grupo em tratamento psiquiátrico especial que vinha dimento e provocaram frustrações na maior parte de o visitante (…) Antonio Manuel veio com o projeto fância de ser arqueólogo. Mas, em paralelo, traz o seguidamente visitar o museu. Após entrar no escu nosso público. Mais uma história inesquecível mere definitivo: ergueria um grupo de paredes, jogando jogo da passagem do tempo de contínuo movimen ro salão da instalação do Barrio, os pacientes, que ce ser registrada na nossa coleção de experiências. com (enfrentando) a sensualidade das linhas da to do sol para dentro da exposição, abrindo caminho vinham do forte sol da manhã, reagiram igualmente: Em certo fim de semana, pude testemunhar arquitetura e com a sedução da paisagem”. para a penetração dos raios de luz diurna para den assustados, foram atraídos automaticamente para a a seguinte cena. Um visitante de meia-idade, de tro da caverna, pelo brilho da laca espalhada no pequena luz na gambiarra ao fundo do salão. Diante porte atlético e vestido como tal, portando ainda tapete desde a entrada do salão. E, ainda, quanto da pergunta sobre o que achavam daquele ambien um walkman e óculos escuros, penetrou decisiva 6. Ibid., p. 5, 7. 132 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 6 133 mente o primeiro andar de exposições do museu. Mas ao se pensar na importância dos projetos Na entrada do salão principal deparou com as luzes especiais para a função e a identidade do MAC, apagadas, as trouxas, o cordel e a gambiarra com a não fica dúvida de que eles alimentam um lugar do pequena lâmpada acesa ao fundo. Virou-se para a sonho, do desconhecido, da criação e do laboratório varanda, ainda no seu ritmo acelerado de atleta de e abrigo do poético no mundo contemporâneo. fim de semana, caminhou até a primeira parede da As ocupações de Artur Barrio e Antonio Manuel instalação do Antonio Manuel, bloqueando a sua são parte dos exercícios corajosos necessários para os passagem; não percebendo o rombo, a marretada descobrimentos de novos horizontes e perspectivas para o cruzamento, voltou para a entrada principal para o papel da arte e do museu no mundo contem do salão e se dirigiu ao guarda junto à porta do porâneo. A origem e o destino do MAC (chamado salão. “Onde é o museu?”, ele perguntou. por extenso: museu de arte contemporânea) é ser Aí está o mais desconcertante desafio deste abrigo de transfigurações poéticas ligadas à vivência museu. Quantos visitantes não saem frustrados, e à geografia de sentidos, para muitos ainda em irritados, com a sensação de não poder participar estado de latência, e alcançar pela arte e percepção das regras que promovem os jogos comunicativos, imaginativa as camadas semânticas que compõem a das metáforas, metalinguagens e metafísicas desses natureza deste lugar. Definitivamente a arquitetura dois artistas e de vários outros? Onde é o museu? do MAC foi tocada de forma profunda por esses É uma pergunta tão correta quanto a do Nelson dois artistas como território de confluência entre Leirner em 2005: por que museu? metafísica e metalinguagem, lugar de construções 134 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s de metáforas expandidas para a leitura sensorial potencializar ao extremo, e não combater, essa – corpo em movimento. divisão entre mundos e atitudes de apreciação e A partir de então podemos melhor identificar desvio da arte para o real, sem perder suas raízes a varanda não apenas como lugar para a contem na história universal da arte, que é também a do plação passiva da paisagem, mas como o território olhar para o novo. de ocupações especiais para artistas contemporâ Os principais projetos especiais para a varanda neos. O museu de arte contemporânea é do tempo foram seguindo essa atitude de uma escultura-cami presente, da hegemonia do fluxo contínuo dos nho incorporando por completo a arquitetura circular saberes integrados da nossa época sobre uma visão transparente em suspensão sobre a paisagem. fixa das coisas isoladamente. Para cada ocupação Na mostra coletiva Panorama da arte brasileira especial o museu se ressignifica como arquitetura (11/01 a 12/03/2000), Nelson Leirner trouxe sua pro e geografia de sentidos que exige a leitura do cissão para os bancos da varanda de forma inesque espaço no tempo em movimento, pela vivência cível. Colocando o Cristo crucificado diretamente de cada visitante aprendiz de uma história que no vidro da janela e diante dele a sua coleção do exige o resgate do corpo múltiplo sensorial, mas imaginário sagrado e profano, pintou a parede também da percepção intuitiva do intangível e da ao fundo de azul, batizou esta situação de “terra nostalgia do sublime. O museu oferece ao artista à vista”, e da varanda do MAC os visitantes eram um entre-lugar, interseção de fronteiras simbólicas provocados a ver a entrada da baía de Guanabara da cultura e da natureza. O artista na varanda vai como de dentro de uma caravela. 135 Horizontes prováveis ra de Niemeyer, que poderia receber o mesmo Elida Tessler nome. Elida toma toda a circularidade do museu, Curadoria: Luiz Guilherme Vergara e Elida Tessler assim como Niemeyer modelou o seu edifício Período: 04 de dezembro de 2004 a 27 de fevereiro de 2005 diante do grande círculo da baía de Guanabara, e faz do MAC um recipiente maior para seu salto Em novembro de 2004, Elida Tessler inaugura o poético, um vôo literal da literatura para a arqui terceiro projeto especial do ano, inspirado pelo tetura, e daí para a construção de um novo litoral desafio e potência deste lugar orgânico, de onde feito de um colar de pratos brancos impressos com se ouve o mar. Elida toma partido da tensão entre verbos no infinitivo, retirados do horizonte lite cultura e natureza para unir as poéticas do infini rário de Haroldo. to ao “horizonte provável”, de provas (sabor e Essa coleção de experiências de projetos espe teste) com pratos de verbos e de probabilidades. ciais para a varanda nos deu bases para invertermos Através de uma série de desconstruções do livro a abordagem sobre a adversidade da arquitetura Arquitetura da palavra A arte no horizonte do provável, de Haroldo de do MAC. É justamente a partir dela que se dá o Malu Fatorelli Campos –, desfiando linha por linha, em uma desafio-limite do museu para o artista – mas este, única bobina metrifica o texto, ao mesmo tempo por sua vez, o repassa ao público, pois coloca to unindo a cópia do seu volume original com suas dos diante de uma fronteira aberta entre a arte Curadoria: Guilherme Bueno e Malu Fatorelli Período: 3 de abril a 30 de maio de 2004 notas de leituras, página por página, transforman e o desejo de fuga para a paisagem protegida. Em 2004, Malu Fatorelli, com curadoria de Guilher do em rolo contínuo que se estende pelas paredes A varanda é um entre-lugares – onde se dá o injusto me Bueno, então diretor da Divisão de Teoria e da varanda, literalmente abraçando o museu para confronto com a atração para fora do museu, do Pesquisa, inaugura uma nova fase de ocupações e um leitor móvel. A varanda é tomada por um vôo da vista para o “ruído branco” do mar. Por isso, exposições para a varanda, chamadas Projetos abraço e caminho poético dentro de um território este é também um território de provação e provável Especiais. Fatorelli ocupou aquele espaço com uma de limite suspenso do museu, entre o dentro e o redenção poética da arte para a existência, ainda estrutura que compunha um percurso instigante fora, entre arquitetura, geografia e literatura. que dentro do museu. Ao artista cabe o papel de entre metalinguagem e experiência espacial, cha Este é o caso da potência múltipla da instalação despertar novos olhares, cativar o visitante para a mando a atenção do visitante para além da expe de Elida, “uma instauração literal de um horizon leitura, descolar o passageiro do trânsito, desatento riência da arquitetura e da paisagem. Nessa insta te provável”, que entrelaça duas grandes obras: aos diferentes chamados da autopoiesis na nossa lação, chamada Arquitetura da palavra, a artista a literatura de Haroldo de Campos e a arquitetu nave, no mundo hoje. se utiliza literalmente dos textos da sua tese de doutorado, impressos em folhas brancas, para tecer uma estrutura vazada suspensa no topo de cada parede, projetando uma rica trama gráfica de sombras que variava de acordo com a hora do dia. A arquitetura da palavra de Fatorelli conseguiu fazer convergir, com inesquecível surpresa, a frui ção dos valores semântico e sensorial, produzindo mais um exemplo de escultura-caminho para lei turas simultâneas de um leitor em movimento. Naquele mesmo ano, Raul Mourão, Felipe Barbo sa e Rosana Ricalde, mais uma vez com a curadoria de Guilherme Bueno, também enfrentaram os espaços de invasões recíprocas entre museu e paisagem. 136 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 137 Repetir, repetir, repetir limites de relações entre os objetos artísticos e o pensamento, terceira parte dinâmica de uma ex interior, onde do repetir se descobre a diferença. José Paulo espectador através da compreensão ampliada da periência poética. Essa escultura envolvente do Do caminho de tijolos, “repetir, repetir, repetir”, Curadoria: José Paulo arte como poéticas de transfigurações dos lugares espaço é também uma “poética do infinito” pela se diferenciam as vivências, construções participa pela criação compartilhada. Com a “escultura- sua multiplicidade de instigações simbólicas, pois tivas de sentidos por cada caminhante, e daí se caminho” de José Paulo podemos falar de um caminhar em círculo significa também “repetir, revela o irrepetível nas sensações, percepções e José Paulo traz para a varanda do MAC mais um convite ao visitante para esse exercício de percep repetir, repetir …”, ad infinitum. Assim como a metáforas. Para cada indivíduo se abre um campo projeto especial que transforma esse espaço cir ções expandidas entre o leitor móvel e a passagem repetição marcada nos tijolos constitui uma trilha, relacional de múltiplos estímulos, interpretações cular em laboratório experimental para “escultu por uma arte em ação ambiental. A passagem e a também as voltas do visitante na varanda constro que se inspiram no encontro entre arquitetura e ras-caminho”, para leituras também em movimen paisagem são partes de uma unidade tripartida em um tempo refletido no espaço circular. A es “ninho”, concha cósmica, lugar de pouso e encon to entre passagem e paisagem. A varanda é, que se completa com o indivíduo. O leitor é cami cultura toma uma dimensão existencial, pois ela tro entre um visitante passageiro e uma escultura tanto para o artista quanto para o público, um nhante e a obra de arte, um texto ambiental, e é a própria passagem (que também é metáfora de de passagem, ambos em peregrinações temporá território de desafios para que se expandam os eles se tornam unidos pela vivência, movimento e vida) que cada um faz em si do tempo em espaço rias diante do tempo da paisagem. Período: 25 de junho a 28 de agosto de 2005 138 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 139 Feuerbach e eu na paisagem o ponto de partida da Katie é o eu passageiro e a resultantes de uma estética existencial dos anos 60: Pinturas de Katie van Scherpenberg paisagem, tomando a crise existencial da cultura resíduos das apropriações urbanas e performances e civilização européia do século XIX pela visão de como objetos para os museus. Curadoria: Paulo Herkenhoff Período: 2 de setembro a 5 de novembro de 2000 Feuerbarch para recuperar a crença na experiência Na mesma praia na qual, no século XIX, o Grupo estética como matéria matrix para o pensamento Grimm (do qual Antônio Parreiras foi um dos prin Experiências especiais na paisagem – e sua imanência diante da morte e da imortalida cipais integrantes) encontrou refúgio e afastamen Praia de Boa Viagem de. Hélio Oiticica, como bem revê Guy Brett em to dos cânones da escola de belas-artes para a sua Deve-se abrir um capítulo especial dedicado às ex 7 Paradoxo da contenção , toma a vizinhança dos liberdade de criação, o MAC foi testemunha e indi periências que inverteram o desafio da varanda do museus para celebrar a poética da vida. Ao mesmo ferente às experiências de uma estética radicalmen MAC. A atração pela paisagem que tanto afeta os tempo, Brett aponta a ambivalência crítica do Con- te existencial da Katie van Scherpenberg. Assim, visitantes também gerou por parte dos artistas um tra-bólide como enterro e ressureição. O mesmo Katie reconheceu essa dúvida que ultrapassa gera movimento de ruptura do exílio das instituições e valeria para a Katie, ainda mais que sua interfe ções, nominando criticamente como Indiferença sua das molduras, para interferirem diretamente neste rência também foi “à sombra de um museu”, mas interferência. Por vários dias que se seguiram, o jogo entre museu, arte e paisagem. Certamente, marcada por indiferença recíproca. O conflito de tempo foi dissolvendo a forma na paisagem, en todos os visitantes são atraídos para a paisagem, à arrebentação. A artista oferece ritualisticamente permanência e impermanência da obra de arte para quanto uma potência invertida da arte foi se fazen ficando muitas vezes indiferentes às exposições. o pigmento e a moldura retangular para o mar e o Katie também foi articulado em textos por Hélio do valer além do exílio dos objetos nos museus, Mas, oficialmente, desde Antonio Manuel, vários vento desenharem e pintarem, pela dissolução da Oiticica (Programa ambiental, de 1966). Lygia Clark marcando a memória com imagens para o futuro. artistas comentaram seu desejo também de atuar forma, a passagem do tempo. Diante daquela cena propunha o mundo como abrigo poético e Hélio para além das paredes invisíveis do museu de vidro, inesquecível, os poucos que puderam acompanhar declara “o museu é o mundo”. Ambos atestavam de volta para a interferência direta na paisagem. a artista foram marcados por uma pregnante ima contra o deslocamento das manifestações artísticas Comentamos sobre a Elida Tessler que levou em 2004 gem da Katie, que afirmava: “somos passageiros a “literatura de Haroldo de Campos literalmente da paisagem”. para medir o litoral”. Ela desfiou todas as frases do Outra passagem da recente história da arte livro Arte no horizonte do provável, como desafio contemporânea também surge como paralelismo poético. Essa experiência foi documentada em vídeo ao ritual da Katie, original de 1983. Em 1979, Hélio e incluída na sua instalação na varanda. Oiticica executou, de forma muito próxima, com um Mas, já em 1999, Katie Scherpenberg desceu do grupo de artistas na região do cais do porto do Rio museu para a praia de Boa Viagem, por ocasião de de Janeiro, o Contra-bólide, também chamado de sua exposição Feuerbach e eu na paisagem, com Devolver a terra à Terra. Da trajetória neoconcreta curadoria de Paulo Herkenhoff, no salão principal conhecida, do plano ao espaço de Oiticica, já na do MAC, resgatando uma de suas interferências sua completa emancipação da história da pintura, diretas na natureza da década de 80. os bólides eram uma série de invenções compostas Essa experiência na praia abaixo do MAC foi de pigmentos, tecidos, brita e terra, colocadas em catalizadora de inúmeras questões que atravessaram caixas de madeira, ou grandes vasos de vidro, que a história da pintura, principalmente sua travessia materializavam corpos de estruturas sensoriais e transcultural da Europa para o Brasil. O próprio táteis com a cor. O contra-bólide, ao devolver à Terra museu como instituição de preservação de objetos a terra dentro também de uma moldura, fechava foi desafiado pela condição de “impermanência” por um lado um ciclo simbólico da clausura da arte de uma pintura, que segundo as palavras da Katie e dava início a um retorno à geografia, à vida. “desenha o tempo”. Com uma moldura-padrão, Ambas as interferências – a do Hélio e a da Katie de cor vermelha, a artista deposita o pigmento, – anunciam paradoxos herdados da história da arte também vermelho, sobre as areias brancas junto e principalmente da pintura européia. Certamente 140 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 7. BRETT, Guy. Brasil experimental: arte/vida, proposições e paradoxos. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2005. 141 Quase infinito Em 2000, quando visitei o ateliê de Daniel Senise Assim, Senise veio até nós no momento certo Daniel Senise em Nova York, tive a ocasião de travar contato com da troca desses tapetes. Ele usou o tapete verde suas experimentações envolvendo uma espécie de cinza original do MAC para compor uma paisagem Senise foi mais um importante artista que trouxe “frotagem” (técnica desenvolvida pelos surrealistas) recortando formas de gaivotas, mais uma vez bus para o MAC uma reflexão contemporânea sobre o de texturas de grandes áreas de piso. Senise recons cando trazer o céu do entorno do museu para dentro confronto entre pintura e paisagem hoje. Mas, se truía espaços virtuais com novas ambientações a do salão. O vazado branco da parede passou a com Katie explorou pela arte a densidade existencial partir da substituição dos planos das paredes pelas por uma série de gaivotas voando. O tapete do de Feuebarch sobre permanência e imortalidade, texturas dos pavimentos coletadas em grandes chão se deslocando para as paredes do salão prin Senise, ainda que de forma ambígua entre ironia lonas. O resultado era a composição de grandes cipal passa a representar o céu vazio! Senise rea e referência ao romantismo alemão, não pelos ma ambientes vazios sem presença humana, organi liza na verdade uma antipintura da paisagem sem teriais e procedimentos utilizados – tapete usado zando o espaço interior por uma fria perspectiva. perder a potência poética do tema que supera a e recortes das formas estudadas dos pássaros –, Naquela ocasião trocamos as primeiras idéias para carga irônica do tapete-chão que vira imagem de mas pela composição que desenhou nas grandes uma produção especial no MAC quando, enfim, céu. O título Quase infinito foi inspirado em uma paredes do salão vazio o vôo puro das gaivotas, realizássemos a troca dos velhos tapetes, já então de suas telas exposta na varanda, mas coube perfei consegue tomar a circularidade do MAC como um desgastados por tanto uso. tamente como chamada para o enigma levantado lugar quase infinito. Senise não rejeitou o vazio de Curadoria: Daniel Senise Período: 22 de março a 1 de junho de 2003 “Quase infinito é um título enigmático, paradoxal, por isso bas t ante preciso para descrever esse trabalho de Senise no M AC. Ele é quase pintura, quase pais agem, quase ins t alação… quase infinito.” O museu vazio: Quase inf inito. Luiz Camillo Osorio, tex to do folder de apresentação por esse trabalho, como Camillo muito bem des creve na abertura de seu texto de apresentação. nossa época, a ambigüidade ecoava entre afirmação do desejo da imagem do infinito como significado e a rejeição da ilusão da pintura como transporte para o sem-limite – que já existe fora do museu. Mesmo assim o tapete voou. Experiências educativas – o quase-infinito como jogos interpretativos Cabe lembrar para esta coleção de experiências que o conceito de infinito da imagem simbólica do céu e os tapetes voadores de Senise se tornaram o mote central para as estratégias interpretativas de explorações dos espaços circulares do MAC, a partir do laboratório de atividades educativas instalado na varanda. Investigamos a história dos símbolos e geometria do infinito na arte islâmica, a progressão de Fibronacci e o Labirinto de Chartre. Mas foi na geometria espaço-temporal do próprio MAC que encontramos o Caminhando da Lygia Clark e a fita de Moebius. Da mesma forma, a paisagem e as visões do céu na história da pintura inspiraram uma infinidade de desenhos dos visitantes. Por ocasião dessa mostra oferecemos ao visitante um caminho real do infinito dentro do MAC, asso ciando a fita de Moebius ao percurso circular dos dois anéis expositivos: caminhando no sentido antihorário na varanda chega-se à dobradura barroca 142 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 143 na escada para o segundo andar, e lá no mezanino o visitante prossegue em um novo patamar, um outro círculo, agora no sentido horário, até se encontrar no seu ponto de chegada na escada. Quase infinito foi uma das exposições históricas que abriram caminhos para novas descobertas de experiências unindo espaço e tempo sob o con ceito múltiplo e aberto do infinito, em poéticas e geometrias simbólicas, além do encontro entre círculo e espirais ascensionais predominantes na arquitetura do MAC. Na mesma medida em que o Caminhando de Lygia Clark foi oferecido para o caminhante do MAC durante a mostra de Senise, a origem do infinito nesta arquitetura foi revelada nos seus espaços vazios internos assim como na sua vista externa. O MAC como obra de arte – expe riências poéticas no museu vazio Artistas e Grupos Participantes: Alexandre Guarnieri, Alexandre Vogler, Analu Cunha, Andrea Jabor e Ricky Seabra, O MAC como escultura-caminho é proposto com uma alegoria para um abrigo poético do infi nito em movimento. Opondo-se ao museu das coisas Arquitetura do Movimento, Daniel Whitaker, Daniela Mattos, paradas no tempo, nesta proposta “tudo que se Gustavo Duarte, Ima Metzaltzelin, Kurasy o Berab, Lia do Rio move é sagrado”, assim como o que nos faz mover e Enrique Banfi, Márcia Taborda, Maria Thomas e Michele Blajchman, Michel Groisman, Orquestra de Cordas da Grota, Orquestra Jovem Aprendiz de Cordas, Roberta Condeixa e Rebecca Rasel, Ronald Duarte, Sergio Bernardes Período: 22 de março a 1 de junho de 2006 e pensar em movimento. A nave MAC se esvaziou para um fim de semana especial como uma obra de arte total. Isso signifi cou explorarmos todos os espaços dentro e fora do O MAC vazio é a fonte de inspiração para se pensar museu como parte de uma única grande escultura poética e criticamente nos paradoxos entre museu, ritualística atravessada de caminhos circulares e arte e vida, em alinhamento com as buscas artísticas espirais. O MAC vazio, ou sem exposições tradi contemporâneas pela sua dimensão existencial como cionais de pinturas ou esculturas, abriu todos os territórios de encontros e participação coletiva. Um seus espaços para se tornar um campo de vivências museu do futuro – e o futuro dos museus de arte compartilhadas. A proposta quis potencializar um sempre contemporânea – precisa estar preparado outro lado da produção artística contemporânea e esvaziado para absorver as mais sofisticadas que não se concentra em objetos fixos tradicionais tecnologias de imagens e mídias, incluindo ao da arte, mas em sua dimensão efêmera, passageira mesmo tempo o corpo, a dança, a música e a poe e relacional entre indivíduos e um lugar: infinito e sia, ampliando o universo de poéticas e poiesis dos eterno enquanto presente. estados artísticos contemporâneos. Reuniram-se em uma jornada de ocupações tem O que se espera ver em um museu de arte con porárias artistas de diversas “tribos” ou linguagens temporânea? Como e o que se pode aprender em artísticas, explorando os múltiplos espaços do MAC um museu de arte contemporânea? com experiências coletivas envolvendo o corpo, 144 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 145 poesias, videoprojeções e criações formuladas a partir da confluência entre a beleza da paisagem e as formas espirais e circulares deste museu. Na verdade, a própria potência da forma circu lar, transparente e aberta do MAC estabelece uma inspiração para sua missão como um templo especial de comunhão entre arte e mundo. Esta comunhão Assim, o MAC afirmou um paradoxo da sua identi de belezas nos fala muito de um sentido de lugar dad e – “o mundo e as manifestações passageiras ideal de harmonia entre aparentes opostos – cultura como parte do museu”. O mundo em volta foi e natureza, passado, presente e futuro. Aqui no envolvido em ações e movimentos juntamente MAC se funda uma missão utópica concreta para com os visitant es. A experiência culminante foi a a arte e a cultura, que se amplia para uma missão de se descobrir em um grande campo artístico, especial deste museu de inaugurar o futuro na forma abrigo poético de trocas. de vivências que materializam o desafio e o desejo Este foi o ponto fundamental das provocações de artistas por experiências que introduzam novos que desafiam o sistema tradicional de valores valores para a participação de todos. voltados unicamente para a imobilidade e a rigi da esquerda para direita, de cima para baixo: Formas perfeitas, Andrea Jabor e Ricky Seabra. Poema visual com espirais de areia, feito ao vivo. Diálogos 7a, Daniela Mattos. Como parte da série intitulada Diálogos, o trabalho se constitui de várias ações relacionadas com o espaço do museu e o corpo que as realiza. Sirva-se, Michel Groisman. Investigações com o público, dos caminhos do corpo através da água. Link, Daniel Whitaker. Criação de poesias vivas e ativas a partir de seus dois blocos construtivos: códigos em HTML e pessoas. Projeção do vídeo O MAC como obra de arte. A vivência do MAC como obra de arte naque dez que regem os museus colecionistas. Talvez a le fim de semana de ocupações especiais foi um própria arquitetura do MAC conteste em si tudo mergulho em uma “escultura-caminho” de poé que não se move. Essa jornada de experimentações ticas experimentais do passageiro infinito que se especiais potencializou diálogos entre diferentes nutre do fluxo e da não-permanência fixa dos linguagens artísticas. O MAC inaugurou naquele objetos. Os artistas ofereceram as experiências fim de semana uma nova agenda de ações par como parte de um percurso de criações abertas ticipativas entre art istas, arquitetura, natureza para cada visitante compartilhar circulando e e público de todas as idéias e idades. A concha interagindo com o lugar e as proposições artísti cósmica se abriu como um grande acelerador cas como parte de uma data especial, de um ter de agentes artísticos para experiências poéticas Intervenção educativa: Triângulos sublimes, Andréa Jabor & Arquitetura do Movimento. Improvisação em torno da grande espiral formada pelos triângulos da lei da proporção áurea (montados no pátio). ritório de rituais para percepções expandidas. inaugurais e inusitadas. Intervenção educativa com palavras. 146 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s Projeto Kurasy o Berab no MAC. Projeções e experimentações musicais no pátio do Museu. nas páginas 144 e 145: Homenagem a Guignard, Ronald Duarte. A partir de uma grande estrela de cinco pontas que dividiu o teto do Museu em cinco pontos/partes, o artista criou tensores presos ao chão. 147 Artista pesquisador 1a Mostra – Curadoria: Claudia Saldanha, Italo Campofiorito, Luciano Vinhosa, Luiz Camillo Osorio e Luiz Guilherme Vergara Período: 10 de agosto a 4 de outubro de 1998 2a Mostra – Curadoria: Cecília Cotrim, Claudia Saldanha, Dôra Silveira, Luiz Camillo Osorio e Luiz Guilherme Vergara Período: 24 de novembro de 2001 a 3 de março de 2002 Mário Pedrosa sintetizou perfeitamente a impor tância do projeto Artista Pesquisador na identidade e função do MAC como museu de e para a arte contemporânea: “Diferentemente do antigo museu, do museu tradicional que guarda, em suas salas, as obras-primas do passado, o de hoje é, sobretudo, uma casa de experiências. É um paralaboratório. É dentro dele que se pode compreender o que se chama de arte experimental, de invenção. É, já agora, lugar-comum da crítica contemporânea a verificação da mistura de todos os gêneros de arte tradicional… Outra característica das atividades artísticas contemporâneas é o direito ilimitado à pesquisa e, sobretudo, à experiência, à invenção… A função do museu moderno entra aí: é ele o sítio privilegiado onde essa experiência se deve fazer e decantar.” Importantes artistas das gerações que surgiram nos anos 80 e 90 passaram pelas duas versões do projeto Artista Pesquisador. Na primeira versão tivemos Eduardo Coimbra, Ricardo Basbaum, Marcos André, Edson Barros e Edith Derdik, entre outros. Na sua segunda versão, o projeto atraiu artistas de vários estados, como Marcelo Coutinho, de Pernambuco, Michel Groisman, de São Paulo, Geórgia Kyriakakis, de Minas (residente em São Paulo), Caetano Dias, da Bahia, Cristina Salgado, do Rio, André Severo, do Rio Grande do Sul, e Simone Michelin, também gaúcha, mas residente no Rio. A proposta da primeira edição, em 1998, contou com a imediata adesão do Mestrado em Ciência da Arte da UFF e do professor Luciano Vinhosa, através do então chefe do Departamento de Arte da UFF, e de toda a direção do MAC, formada por Dôra Silveira, Italo Campofiorito e Luiz Camillo 148 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 149 Osorio. Claudia Saldanha e Luciano Vinhosa vie ram compor com a direção do MAC o comitê de seleção de projetos. Na segunda versão, de 2001, reunimos o seguinte conselho curatorial: Claudia Saldanha, Italo Campofiorito, Luiz Camillo Osorio e Luiz Guilherme Vergara. Desde a sua primeira versão, os objetivos do Art ista Pesquisador são investir no estudo dos processos e procedimentos artísticos, dando visi bilidade ao universo multidisciplinar onde germi nam as principais investigações e aprofundamen tos da produção artística contemporânea; dar condições para que se articulem à vida e à função pública do MAC a produção, a exposição e a re flexão, como partes integrantes de um ciclo com pleto da realização artística no mundo contempo râneo; levar esta produção experimental a um público cada vez mais amplo, de forma a tornar o museu um laboratório também de estratégias comunicativas dentro de uma ordem de conheci mento sensorial e semântico. de cima para baixo: Hum-ma (1998), Maria Moreira. Instalação composta de cadeiras, moedas e facas. Virgem na torre (1998), Courtney Smith. Vídeo-instalação composta de cadeira, mesa e porta. Paisagem inscrita (2001), André Severo. Instalação composta de madeira, areia, palha e lâmpadas incandescentes. O nascimento do som (2001), Michel Groisman. Proposição interativa com apitos, balões, presilhas e desenho na parede. à direita: Menina rezando em sua cama (2001), Cristina Salgado. Instalação composta de cama de latão, tapete, objeto de latão e porcelana, objeto de isopor/ madeira/massa acrílica/massa de papier maché e borracha. nas páginas 148 e 149: Invenção da paisagem (1998), Eduardo Coimbra. Instalação composta de terra e backlight. 150 c o l e ç ã o d e e x p e r i ê n c i a s 151 Comentários dos visitantes sobre a pergunta Por que Museu? “Por que precisamos guardar nossas memórias? Para sermos eternos.” “Estado de arte. A viagem ao inexplicado. Sem comentários.” “Por que museu? Para experimentar.” “Porque em contato com as obras me desestruturo e me reordeno. Aqui me vejo, me busco, me encontro, me perco. É bom demais! Movimento sensível.” a p ê n D ice s “....de arte contemporânea, pois retrata o nosso tempo. Sugere interações. Possibilita transformação. Leva a reflexões...” “Critica o mundo atual sem perder o humor!!!” “Por que tudo e todos precisam de abrigo, como um lugar acolhedor, que nos dá sentido.” “Estou extasiada! É a única chance de ver a arte que não está escondida nas coleções particulares. Esta exposição nos deixa em êxtase, uma alegria imensa por ver que todos os objetos do nosso cotidiano podem se transformar em arte… fazendo a gente sentir vontade de ser artista também.” “Porque a vida é e faz parte da arte. A nossa vida é o nosso próprio museu e somente nós mesmos sabemos os significados.” “Na minha opinião, este ambiente não se associa com o museu, pois nós vemos um museu como um lugar de coisas antigas, e aqui vemos totalmente o contrário.” “Para ver, para não ficar em casa, para viajar, para se tocar, para xingar, para rir, para se perguntar por quê .” “Para parar.......e pensar!” “Para gerar novas leituras de mundo e nos confrontar com nós mesmos!” “É onde ficam as histórias do passado e do presente. Museu é o arquivo do homem, suas idéias e suas conquistas. Só no museu você pode ver.” “Por que abrigos são lugares de valoração e relação, estabelecimento de memórias e poéticas. Forças em confronto como em nossas casas, edifícios compostos de apartamentos ricos de vidas as quais sem uma força maior, uma pilastra.....assim um misto de forças sensíveis e mercadológicas coabitam num mesmo espaço, contraditório como a vida.” “Pra preservar, pra mostrar e pra celebrar a arte. Pra guardar; mas não um guardar ‘trancado’, e sim um guardar compartilhado.” “Referências, memórias, presente chamando o passado para discutir, projetar e construir o futuro. Normalmente procuramos esses lugares à procura de alguma identidade. Somos parte deste processo e precisamos de um ancoradouro.” “Museu… espaço abstrato, espaço concreto, espaço de diálogo. Diálogo com a realidade, diálogos introspectivos, diálogos entre diálogos… O museu traz coisas complexas, simples e fundamentais.” 152 A p ê n d i c e 153 a rt is ta s nas cole çõe s João s at ta mini e ma c Coleção João Sattamini Abraham Palatnik [1928] Adir Sodré [1962] Adriano de Aquino [1946] Adriano Mangiavacchi [1941] Afonso Tostes [1965] Aldo Bonadei [1906-1974] Alexandre Dacosta [1959] Aloísio Magalhães [1927-1982] Aluísio Carvão [1918-2001] Amilcar de Castro [1920-2002] Angela Freiberger [1952] Angelo de Aquino [1945] Angelo Venosa [1954] Anna Bella Geiger [1933] Antonio Dias [1944] Antônio Henrique Amaral [1935] Antônio Maia [1928] Antônio Maluf [1926-2005] Antonio Manuel [1947] Arcangelo Ianelli [1922] Arthur Piza [1928] Artur Barrio [1945] Athos Bulcão [1918] Augusto Rodrigues [1913-1993] Avatar Morais [1933] Beatriz Milhazes [1960] Bet Olival [1960] Beth Moisés [1960] Boi [1944] Cabelo [1969] Carlito Carvalhosa [1961] Carlos Fajardo [1941] Carlos Scliar [1920] Carlos Vergara [1941] Carlos Zilio [1944] Celeida Tostes [1929-1995] Celso Renato [1919-1992] Cicero Dias [1907-2003] Cildo Meirelles [1948] Ciro Cozzolino [1959] Cláudio Fonseca [1949-1993] Claudio Kuperman [1942] Cláudio Paiva [1945] Claudio Tozzi [1944] Cristina Canale [1961] 154 A p ê n d i c e Cr on olog ia da s e xp os iç õe s Cristina Salgado [1957] José Maria Dias da Cruz [1935] Raymundo Colares [1944-1986] Cybele Varela [1943] José Patrício [1960] Ricardo Ventura [1962] Charles Watson [1951] José Roberto Aguilar [1941] Roberto Magalhães [1940] Chico Cunha [1957] José Resende [1945] Rodrigo Andrade [1962] Daniel Senise [1955] Judith Lauand [1922] Ronaldo do Rêgo Macedo [1950] Darel Valença Lins [1924] Katie van Scherpenberg [1940] Rubem Grilo [1946] Décio Vieira [1922-1988] Kazuo Wakabayashi [1931] Rubem Ludolf [1932] Delson Uchôa [1956] Kuno Schiffer Rubem Valentim [1922-1991] Demetrio Ismailovitch [1892-1976] Leda Catunda [1961] Rubens Gerchman [1942] Dionísio Del Santo [1925-1999] Leonilson [1957-1993] Samson Flexor [1907-1971] Dudi Maia Rosa [1946] Lívio Abramo [1903-1992] Sante Scaldaferri [1928] Edmilson Nunes [1964] Loio-Pérsio [1927-2004] Sérgio Camargo [1930-1990] Mac Um Ano Eduardo Sued [1925] Lothar Charoux [1912-1987] Sérgio Romagnolo [1957] Edval Ramosa [1940] Luciana Duque [1969] Solange Oliveira [1943] Efrain Almeida [1964] Luciano Figueiredo [1948] Tomie Ohtake [1913] Curadoria: Maurício Caldas e Dôra Silveira Período : 20.09.1997 a 25.01.1998 Eliane Duarte [1943] Luciano Macedo Tomoshigue Kusumo [1935] Emmanuel Nassar [1949] Luiz Aquila [1943] Tunga [1952] Ernesto Neto [1964] Luiz Luthero Ubi Bava [1915-1988] Evany Fanzeres [1940] Luiz Ernesto [1955] Victor Arruda [1947] Fábio Miguez [1962] Luiz Paulo Baravelli [1942] Vilma Pasqualini [1930] Visões e [Sub]Versões – Farnese de Andrade [1926-1996] Luiz Pizarro [1958] Vitoria Sant’Ana Cada Olhar Uma História Fernando Mendonça [1962] Luiz Zerbini [1959] Vivian Drudka Fernando Velloso [1930] Lygia Clark [1920-1988] Waltércio Caldas [1946] Dos Materiais às Firmino Saldanha [1905-1985] Lygia Pape [1929-2004] Walton Hoffman [1955] Curadoria e Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara Período : 20.09.1997 a 25.01.1998 Flávio-Shiró [1928] Manabu Mabe [1924-1997] Wanda Pimentel [1943] Francisco Galeno [1957] Manfredo Souzanetto [1947] Wega Neri [1916] Jorge Guinle Frans Krajcberg [1921] Manoel Fernandes [1944] Wesley Duke Lee [1931] Curadoria: Luiz Guilherme Vergara e Marcia Müller Período: 18.04 a 25.06.2000 Franz Weissmann [1914-2005] Mara Martins Wilma Martins [1934] Gastão Manuel Henrique [1933] Marçal Athayde [1962] Yutaka Toyota [1931] Gerardo Vilaseca [1948] Marcelo Nitsche [1942] Glauco Rodrigues [1929-2004] Marco Tulio Resende [1950] Gonçalo Ivo [1958] Marcos Cardoso [1960] Haroldo Barroso [1935-1990] Marcos Coelho Benjamin [1952] Albuquerque Mendes [1953] Hélio Oiticica [1937-1980] Marcos Giannotti [1966] Antonio Dias [1944] Hércules Barsotti [1914] Maria do Carmo Secco [1933] Antonio Manuel [1947] Hermelindo Fiaminghi [1920-2004] Maria Leontina [1917-1984] Carlos Bedurap Zoró Hilton Berredo [1954] Maria Polo [1937-1983] Celeida Tostes [1929-1995] Joaquim Tenreiro Iberê Camargo [1914-1994] Maria Tomaselli Cirne Lima [1941] Cybele Varela [1943] Icléa Goldberg Mario Azevedo [1957] Daniel Senise [1955] Curadoria: Janete Costa Período : 04.04 a 26.07.1998 Inimá de Paula [1918-1999] Maurício Bentes [1958-2003] Farnese de Andrade [1926-1996] Iole de Freitas [1945] Maurício Nogueira Lima [1930-1999] Flávio-Shiró [1928] Ione Saldanha [1919-2001] Miguel do Rio Branco [1946] Geórgia Kyriakakis [1961] Ivan Cardoso [1952] Milton Dacosta [1915-1988] Hermelindo Fiaminghi [1920-2004] Ivan Serpa [1923-1973] Milton Machado [1947] Iole de Freitas [1945] Ivens Machado [1942] Mira Schendel [1919-1988] Jarbas Lopes [1964] Flávio-Shiró na Coleção Sattamini J. Paulo Dornelles Monica Barki [1956] João Carlos Goldberg [1947] e Obras Recentes Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período: 10.08 a 04.10.1998 Coleção MAC de Niterói Cem Imagens da Revolução Cubana Período: 23.06 a 22.08.1999 Retrospectiva Abraham Palatnik Curadoria: Frederico Morais Período: 27.08.1999 a 02.01.2000 Oscar Niemeyer – Esculturas Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini Curadoria: Reynaldo Roels Jr. Período : 02.09.1996 a 14.09.1997 Curadoria: Oscar Niemeyer Período: 02.10 a 02.12.1999 Panorama da Arte Brasileira 1999 Curadoria: Tadeu Chiarelli Período: 11.01 a 12.03.2000 Antonio Dias: Anos 70 na Coleção João Sattamini Entre Esculturas e Objetos Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período: 18.03 a 25.06.2000 Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período : 20.09.1997 a 25.01.1998 500 Anos Depois ... Fotografias de José de Paula Machado Curadoria: Reynaldo Roels Jr. Período : 20.09 a 02.12.1997 Curadoria: José de Paula Machado Período: 18.04 a 25.06.2000 Diferenças Internas I Planeta Amazônia – Oscar Niemeyer – Reflexão e Síntese de Uma A Arquitetura e a Vida trajetória – Vera Torres Curadoria: Oscar Niemeyer Período : 09.12.1997 a 18.01.1998 Curadoria: José Carlos Barbosa Fontes Período: 10 a 25.06.2000 Panorama da Arte Brasileira: 1997 Curadoria: Tadeu Chiarelli Período : 02.02 a 22.03.1998 Ocupações/Descobrimentos – Antonio Manuel e Artur Barrio Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período: 20.05 a 26.07.1998 Pinturas na Coleção Sattamini Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período: 04.07 a 27.08.2000 Dos Materiais às Diferenças Internas II Curadoria: Luiz Guilherme Vergara e Marcia Müller Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara Período: 04.07.2000 a 15.04.2001 Feuerbach e Eu na Paisagem – Pinturas de Katie Van Scherpenberg Curadoria: Paulo Herkenhoff Período: 02.09 a 05.11.2000 Jadir Freire [1957-1994] Mônica Sartori [1957] Jorge Duarte [1958] João Câmara [1944] Nazareth Pacheco [1961] José Maria Dias da Cruz [1935] João Carlos Galvão [1941] Nelson Felix [1954] Luis Alphonsus [1948] João Carlos Goldberg [1947] Nelson Leirner [1932] Malu Fatorelli [1956] João Grijó [1949-2003] Newton Rezende [1912-1994] Mariana Félix [1972] João José da Silva Costa [1931] Niura Belavinha [1960] Nelson Leirner [1932] João Magalhães [1945] Nuno Ramos [1960] Niura Belavinha [1960] Joaquim Tenreiro [1906-1992] Paulo Campinho [1958] Oscar Niemeyer [1907] Jorge Barrão [1959] Paulo F. Elkind [?] Paiva Brasil [1930] Espelho da Bienal Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período: 21.4 a 19.08.2001 Jorge Duarte [1958] Paulo Gomes Garcez [1945-1988] Pedro Vasquez [1954] Jorge Fonseca [1966] Paulo Monteiro [1961] Sante Scaldaferri [1928] Curadoria: Rubem Breitman Período: 10.10.1998 a 18.06.1999 Landscape – Uma Visão Jorge Guinle [1947-1987] Paulo Pasta [1959] Victor Arruda [1947] José Bechara [1957] Paulo Roberto Leal [1946-1991] Artista Pesquisador 1998 Curadoria: Claudia Saldanha, Italo Campofiorito, Luciano Vinhosa, Luiz Camillo Osorio e Luiz Guilherme Vergara Período: 10.08 a 04.10.1998 Pinturas: Coleção João Sattamini Curadoria: Luiz Camillo Osorio Período: 07.11.2000 a 14.04.2001 Aluísio Carvão e Ione Saldanha Contemporânea Curadoria: Ann Gallagher Período: 25.08 a 07.10.2001 155 RE FERÊNCIAS B IB LIOGRÁ FICAS Tempo – Rubens Gerchman Luiz aquila no MAC de Niterói Still Life/Natureza Morta Curadoria: Rubens Gerchman Período: 01.09 a 02.12.2001 Curadoria: Luiz Aquila Período: 08.06 a 31.08.2003 Curadoria: Ann Gallagher e Kátia Canton Período: 20.11.2004 a 27.02.2005 Os Redundantes e as Elites Hermelindo Fiaminghi Projetos Especiais IV – das Cavernas – Carlos Miele na Coleção João Sattamini Elida Tessler Livros Curadoria: Daniela Bousso Período: 13.10 a 18.11.2001 Curadoria: Guilherme Bueno Período: 23.08.2003 a 29.02.2004 Curadoria: Elida Tessler e Luiz Guilherme Vergara Período: 04.12.2004 a 27.02.2005 Artista Pesquisador 2001 Apropriações ANDREAS, Paul; FLAGGE, Ingeborg (Eds.). 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Curadoria: Cecília Cotrim, Claudia Saldanha, Dôra Silveira, Luiz Camillo Osorio e Luiz Guilherme Vergara Período: 24.11.2001 a 03.03.2002 Curadoria e Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara Período: 20.09.2003 a 28.03.2004 Poéticas do Infinito Curadoria e Curadoria Educativa: Luiz Guilherme Vergara Período: 11.12.2004 a 06.03.2005 Luciano Bonuccelli Raymundo Colares Curadoria: institucional Período: 08.12.2001 a 03.03.2002 Niterói Arte Hoje Curadoria: Artistas selecionados Período: 03.04 a 05.05.2002 Diálogo, Antagonismo e Replicação na Coleção Sattamini Curadoria: Guilherme Bueno Período: 11.05 a 07.07.2002 Interferência Curadoria: Janete Costa Período: 15.05 a 16.06.2002 Período: 16.09 a 19.10.2003 Poéticas da Forma Coleção João Sattamini – Franz Weissmann] Modernidade Transitiva Curadoria: Marcus Lontra Período: 12.03 a 12.06.2005 Curadoria: Guilherme Bueno Período: 06.03 a 30.05.2004 [Oscar Niemeyer/Tomie Ohtake/ Natureza e Crueldade – Pintura e Desenho – 90.00 Albuquerque Mendes Curadoria: Guilherme Bueno Período: 03.04 a 27.06.2004 Curadoria: Paulo Reis Período: 19.03 a 12.06.2005 Arte Digital Vídeo – Projetos Especiais V – Mostra de Vídeos Repetir, Repetir, Repetir, Curadoria: Laurence Hazout-Dreyfus Período: 05.06 a 11.07.2004 de José Paulo Curadoria: José Paulo Período: 25.06 a 28.08.2005 Projetos Especiais I – Coleção João Sattamini – Malu Fatorelli Onde as Obras Dormem Modernos e Contemporâneos/ Curadoria: Guilherme Bueno e Malu Fatorelli Período: 03.04 a 30.05.2004 Curadoria: Luiz Guilherme Vergara Período: 25.06 a 02.10.2005 Esculturas e Objetos Curadoria: Guilherme Bueno Período: 03.08 a 08.09.2002 Por Que Museu? – Nelson Leirner A Recente Coleção do Mac João Sattamini Curadoria: Agnaldo Farias Período: 15.10.2005 a 05.03.2006 Curadoria: Guilherme Bueno Período: 14.09 a 01.12.2002 Curadoria: Guilherme Bueno Período: 05.06 a 29.08.2004 Incertae Sedis – José Rufino MAC 6 anos Projetos Especiais II – Curadoria: Claudia Saldanha e Luiz Guilherme Vergara Período: 15.10.2005 a 05.03.2006 Os anos 60 na Coleção Curadoria: Institucional Período: 14.09.2002 a 17.03.2003 Raul Mourão drama.doc Curadoria: Guilherme Bueno e Raul Mourão Período: 05.06 a 01.08.2004 Miró Mirabolante Casa 7 Curadoria: Fábio Magalhães, Jean Frémon e Leonel Kaz Período: 07.04 a 04.06.2006 Curadoria: Guilherme Bueno Período: 03.07.2004 a 26.09.2004 O que eu faço é rádio Curadoria: Iole de Freitas Período: 07.12.2002 a 09.03.2003 Projetos Especiais III – Curadoria: Lilian Zaremba Período: 02.09 a 08.10.2006 Presença de Lucio Costa Curadoria: Guilherme Bueno Período: 14.08 a 26.09.2004 Acervo em Papel Curadoria: Guilherme Bueno Período: 07.12.2002 a 18.05.2003 Sobrevôo – Iole de Freitas Curadoria: Maria Elisa Costa Período: 09.12.2002 a 29.05.2003 Quase Infinito – Daniel Senise Curadoria: Daniel Senise Período: 22.03 a 01.06.2003 Forma/Suporte – Suporte/Forma Curadoria: Marcia Müller e Guilherme Bueno Período: 22.05 a 17.08.2003 156 A p ê n d i c e Felipe Barbosa/Rosana Ricalde Paiva Brasil – A Forma Lúdica Curadoria: Paulo Reis Período: 04.09 a 07.11.2004 Breve Antologia Plástico Poética – Jorge Duarte Curadoria: Victor Arruda Período: 09.10 a 28.11.2004 Abrigo poético – Diálogos com Lygia Clark Curadoria: Claudia Saldanha e Luiz Guilherme Vergara Período: 02.09 a 03.12.2006 CAMPOS, Márcia Martins. 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Poética das apropriações: do coisário ao relicário. Texto Luiz Guilherme Vergara. Niterói: Museu de Art e Contemporânea de Niterói, Divisão de Arte e Educação, 2005. 19 p. Experiências Educativas, caderno 1, 2005. . UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE. O artista/pesquisador. Textos Italo Campofiorito, Claudia Saldanha, Luiz Guilherme Vergara, Luiz Camillo Osorio, Luciano Vinhosa e outros. Niterói, 1998. [29] p. . O artista pesquisador. Textos Luiz Guilherme Vergara, Afonso Tostes, André Severo e outros. Niterói, [2001]. [49] p. NIEMEYER, Oscar. Escultura. Textos Luis R. Cancel, Oscar Niemeyer. Niterói: Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 1999. [14] p. . Museu de Arte Contemporânea de Niterói: projeto Oscar Niemeyer. Niterói: Fundação Niteroiense de Arte, [1994?]. [8] p. TENREIRO, Joaquim. Joaquim Tenreiro. Textos Cláudio Valério Teixeira, Italo Campofiorito, José Roberto Teixeira Leite. Niterói: Museu de Arte Contemporânea de Niterói, 1998. [15] p. NEPOMUCENO, Rosa. Arte sobre o mar. 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Registramos abaixo Diretores e Assistentes que colocaram um pouco de seus corações nessa história, representando todos os demais funcionários que atuaram no MAC de Niterói de 1996 a 2006, e que não fazem mais parte de nosso quadro executivo. Italo Campofiorito Guilherme Lott . La tarjeta postal de Niemeyer. Summa +, Buenos Aires, n. 24, p. 48-53, jun./jul. 1997. Dôra Silveira Gisele Freire Maurício Elias Caldas Márcia Neto Telma Lasmar Thereza Monteiro RIBBECK, Eckhart. Wie vom Anderen Stern. Uni Stuttgart, p. 2.310-2.313, 1996. Rose de Miranda Tereza Couto Luiz Camillo Osorio Danuza Pires Guilherme Bueno Maúde Moneratt Fernanda Terra Carmem Riquelme Manoel Vieira Carlos Martins Ricardo Brugger Daniela Seda SANTÉ, Luc; MEIER, Raymond. Seven wonders. Condé Nast Traveler, New York, p. 134-149, Mar. 2000. SEGRE, Roberto. Un museo com paisaje interior. Clarin, Buenos Aires, p. 4, 21 oct. 1996. . 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Davy Alexandrisky, Diego M. de Souza, Douglas Araújo, Eduardo Lopes, Eduardo Machado, Eliane Carrapateira, Fagner de Oliveira, Fernando de Almeida, Gisele Cristina de Menezes, Halana G. Silva, Helton Luciano, Janete Loredo de Sá, Joana Regatieri, Jonnathan, Josefa S. de Souza, Josemias Moreira, Kátia Alves, Kenedy Moreira, Leandro da Silva, Leonardo, Teses Leonardo Santana, Lilian Souza, Lucilene Costa, CAMPOS, Márcia Martins. MAC de Niterói: práticas, relatos e impressões de um espaço vivenciado. 2003. 170 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais)-Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. Lucinalva da Silva, Luiz de Jesus B. Rodrigues, Luiz Hubner, GONÇALVES, Telma Lasmar. A gestão do patrimônio e dos museus na modernidade contemporânea e as práticas turísticas. 2002. 129 f. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia de Produção)COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. Rafael da Silva, Rafael de Oliveira, Renée Douek, VERGARA, Luiz Guilherme. In search of mission and identity for brazilian contemporary art museums in the 21st Century: study case: Museu de Arte Contemporânea de Niterói. 2006. 381 f. Tese (Doutorado em Filosofia)-The Steinhardt School of Education, New York University, New York, 2006. D. Luiza, Marcos André, Marcos Pinheiro Barreto, Maria Beatriz da Silva Almeida, Maria Diva Muller, Mauricio S. da Silva, Mônica Sepri, Patrícia Reinheimer, Paula Latgé, Paulo Sérgio Menezes, Pedro Duran, Rodrigo de Oliveira Paes, Ronaldo de Souza Affonso, Silvio dos Santos Ribeiro, Sônia Maria Oliveira, Tatiana Assumpção, Thatiana Diniz, Wagner Meirelles, Waldemiro Francisco Sodré, Willian, Luizinho (querido e carismático que perdemos no meio da caminhada) e a todos os moradores da Comunidade do Morro do Palácio que de alguma forma participaram, contribuíram e ajudaram no desenvolver deste projeto. Patrocínio BNDES 159 Prefeito de Niterói Godofredo Pinto Secretária Municipal de Cultura Danielle Barreto Nigromonte Divisão de Arte e Educação Membros Fundadores diretora Elaine Cristina de Souza Beatriz Jabor Eugênio Pacceli de O. P. dos Santos coordenação de projetos pedagógicos Márcia Campos Marcia Maria Müller Márcio André Mendes Costa Marilda Ormy Ferreira Barreto FUNDAÇÃO DE ARTE pesquisa e mediação Regina Vitória Silva Quintela DE NITERÓI Eduardo Machado Victor André Pinto de Arruda Ivan Henriques Equipe de Manutenção Presidente Marilda Ormy Maria Thomas Carlos Gomes Ramos estagiárias de pesquisa e mediação Carlos Marcelo de Souza Anita Sobar Getúlio Carvalho da Silva Danielle Amaro Givaldo de Lima Falcão Emanuelle Gonçalves Marcos André Silva dos Santos MUSEU DE ARTE Coordenação de Programas com Jovens Geraldo Valadares da Silva CONTEMPORÂNEA Roberta Condeixa Valdo Nogueira Superintendente Maria Inês Azevedo de Oliveira DE NITERÓI Direção Geral diretor Luiz Guilherme Vergara Coordenação de Programas de Educação Infantil Claudia dos Santos Ignês Guimarães Marcelo Henrique dos Santos Coordenação de Programas Comunitários secretária Leandro Baptista Joseane Rocha Divisão de Museologia Neide Villela Direção de Acervo diretora Marcia Müller Coordenadoria Executiva coordenadora Volmira Salgado Gerência de Desenvolvimento gerente Tatiana Assumpção Richard Divisão de Administração gerente Alexandre Vasconcellos assessor e assuntos de segurança Luís Rogério Baltazar estagiária Marina Dickfeldt Divisão de Arquitetura diretor Sandro Henrique Silveira assistente Kamila Cobbe Teixeira estagiário Clayton Pontes Machado Recepção Diretora Angélica Pimenta Maria de Lourdes Portela Sergio Luiz Soares Equipe de Seguranças Alessandro de Carvalho Santos Alexsandro Rodrigues Rosa André Luiz de Souza Secretária Anderson Victor Cotegipe Tavares Kátia Mendonça Carlos Henrique de O. Garcia Estagiária Mayra Brauer Morgado Conservação de Acervo Nice Mendonça Estagiária Juliana Baptista Lanhas Divisão de Teoria e Pesquisa Diretora Claudia Saldanha Eduardo Peres Eliseu de Souza Ferreira Geovan Ferreira Alexandre Israel da Costa Barreto Leandro Marins do Nascimento Marcelo Moura Barbalho Robson Ferreira de Moura Ubirajara Coelho Cordeiro Equipe de Serviços Gerais Adilza da Conceição Quintanilha Ana Paula Ferreira da Conceição Bibliotecária Claudia Marins Lêda Maria Abbês Guacira Criscione Assistente de Pesquisa José Cordeiro Sobrinho Beatriz Lemos Luiz Eduardo Vicent Estagiárias Francisca Maria da Silva Luciana Guimarães Associação de Amigos do MAC Presidente Maria Verônica Cardoso dos Santos Roseni de Almeida Viana Telefonistas Elisabeth de Almeida Costa Maria Helena Mellegari João Leão Sattamini Netto chefe de manutenção Mirante da Boa Viagem, s/nº Pôncio Muniz Boa Viagem Niterói RJ Brasil tel (5521) 2620 2400 ou 2620 2481 fax ramal 32 [email protected] www.macniteroi.com.br