Página 12 • Outubro/Novembro 2014
JORNAL DA
associação
médica
ESPE
Autorização para abertura de nov
Alexandre Guzanshe
O aumento no número de vagas e a qualidade das escolas de medicina têm preocupado
as entidades representativas da classe médica
em todo o país. Em Minas Gerais, estas e outras
questões fizeram parte do ‘I Fórum de Discussão
sobre a Formação de Futuros Médicos’. O encontro aconteceu na sede da Associação Médica
de Minas Gerais (AMMG), dia 26 de setembro.
Participaram médicos de diversas especialidades
e representantes de universidades da capital e
das cidades de Araguari, Juiz de Fora, Lavras, Patos de Minas e Uberlândia, envolvidos no desenvolvimento dos cursos em suas regiões.
Para a coordenadora do evento e diretora
de promoções culturais da AMMG, Maria Aparecida Braga, o número de escolas médicas sem
controle e o distanciamento entre as instituições
de ensino e a comunidade são fatores que impactam na segurança assistencial. “Não basta
formar novos médicos. É preciso rever uma série de questões, dentre elas o acompanhamento
das instituições e o despreparo dos profissionais
que são colocados na linha de frente. Isso acaba
resultando em processos éticos e judiciais e na
insatisfação dos pacientes que não conseguem
uma assistência de qualidade.”
De acordo com a consultora do Conselho
Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM
MG) e delegada regional de Uberaba, Fabiana
Prado dos Santos Nogueira, a proporção de
médicos formados no Brasil, em relação à população, é superior à média mundial de 1,9 contra 1,4. “Atingiremos em 2020 a razão de 2,20
médicos por mil habitantes, sem a necessidade
de abrir mais escolas ou importar profissionais.”
Para Nogueira, o problema está na má distribuição pelo país, fator que não será solucionado
com a criação de novos cursos. Ela revelou que
37% dos alunos retornam à cidade natal, 38%
mudam para uma terceira localidade, apenas
25% fixam onde se formaram e 60% nas grandes capitais. “A maioria se estabelece nos estados mais ricos e para convencê-la a se fixar no
interior é preciso oferta de trabalho com oportunidades de crescimento profissional. Daí a
importância do plano de carreira”, esclareceu.
Para a conselheira, é relevante que as entidades
representativas sejam cada vez mais influentes
junto aos acadêmicos. “Esta proximidade contribui para uma boa formação ética, moral e
técnica, com atualização permanente, investimentos nas relações com pacientes e colegas
e consequente diminuição do número de denúncias junto ao CRM.”
Ensino deve ser atualizado
Documento originado durante o fórum
aponta um conflito entre a formação do docente para o magistério superior e as diretrizes
atuais dos cursos de medicina, além de insuficiência de formação do educador, inclusive pa-
A diretora da AMMG, Maria Aparecida Braga, e a conselheira do CRM MG, Fabiana Nogueira, alertam
sobre a qualidade do ensino e o aumento do número de vagas
ra mestrado e doutorado. A coordenadora do
evento, Maria Aparecida Braga, alerta para o
fato de que nas urgências e emergências a estrutura física não corresponde às necessidades
e que, por isso, atritos entre plantonistas e alunos são comuns. A heterogeneidade na maneira de registrar o cuidado médico nos vários cenários de atenção à saúde, mesmo quando se
centraliza o registro eletrônico em sistemas de
informações, também foi mencionada como
dificultador.
Márcia Mendonça Carneiro, responsável pelo departamento de Ginecologia e Obstetrícia
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (FM UFMG) e pela equipe
multidisciplinar de endometriose do Hospital
das Clínicas (HC-UFMG), ponderou que o ensino deve acompanhar as mudanças, visando à
compreensão da saúde, a atenção básica e o
aluno. As realidades e disponibilidades são diversas e é preciso considerar os conhecimentos
prévios, respeitando vivências e motivações com
uma metodologia ativa. “A abordagem atual deve ser multiprofissional e o paciente, que tem
bastante acesso às informações, tem autonomia
para discutir sobre o tratamento.”
Para a especialista, os cursos devem ser voltados ao bem-estar coletivo desde o primeiro
ano. Já a metodologia deve incluir educação
em saúde, visita domiciliar, epidemiologia aplicada a serviços, política e gestão, projetos comunitários e intersetoriais. Carneiro completou
que aliar o ensino médico à rede básica é atender à demanda social. “Torna-se vital ampliar
os cenários para práticas de clínica, aceitando
que há experiências que nenhum livro pode
fornecer.”
A coordenadora do curso de medicina da
Unifenas de Belo Horizonte, Rosa Malena Delbone de Faria, acrescentou que o currículo médico deve incluir o internato nos dois últimos
anos do curso, nas cinco grandes áreas, sendo
30% da carga horária em atenção primária à saúde e urgência, com sistema de avaliação coerente
à estratégia educacional. “O conteúdo orientado
deve ser baseado no serviço e o método clínico
centrado na pessoa. É fundamental privilegiar a
interação com o Sistema Único de Saúde (SUS)
desde o primeiro período”, concluiu.
Diretrizes e propostas do fórum
de discussão
Atenção primária à saúde
4 Discussão sobre um novo modelo assistencial;
4 Identificar médicos com perfil docente;
4 Incluir práticas integradas;
4 Planejar currículos de graduação junto com o
serviço;
4 Núcleo de desenvolvimento docente contínuo
nos cursos;
4 Construção de guia docente e discente para cada período.
Urgências e emergências
4 Profissionalização da urgência e emergência;
4 Responsabilização pelos órgãos fiscalizadores;
4 Treinamento em equipe.
Ética/bioética
4 Introdução dos conceitos de ética/ bioética aos
cursos médicos, fazendo com que o acadêmico
compreenda a importância de sua aplicação
prática;
4 Incluir a ética nas avaliações;
4 Formação de preceptor e acreditação, valorizando escolas que tenham excelência na ética.
Prontuário médico
4 Valorização da qualidade do registro clínico pelas entidades médicas, com validação de modelos de prontuário do paciente e de documentos clínicos e legais.
Cuidados paliativos
4 Inserir o tema no ensino da bioética;
4 Captar recursos em projetos de pesquisa;
4 Apoiar ligas acadêmicas e grupos de professores nos hospitais escola.
O relatório completo está disponível no site www.ammg.org.br.
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