4CIDADES A GAZETA SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2015 CONSELHO DEU PUNIÇÃO A 22 MÉDICOS ANO PASSADO Só quatro foram suspensos por até 30 dias; nenhum foi cassado MAÍRA MENDOÑÇA [email protected] Do ponto de vista ético, os médicos denunciados por erros ou negligência são avaliados pelo Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES). No ano passado, 22 profissionaisforamjulgadosepenalizados. Embora em quatro dos casos, a punição tenha resultado em suspensão do exercício profissionalporaté30dias,nãohouve cassação de registro em nenhum dos processos. Segundoocorregedordo CRMES, Thales Limeira, as denúncias que chegam à entidade através de pacientesoudaimprensatransformam-seemsindicâncias.de janeiro à outubro deste ano 179 foram abertas, enquanto em 2014 foram 281. Caso sejam encontrados indícios de infração durante a sindicância, é aberto um Processo Ético-Profissional. Em 2015, 58 deles já foram instaurados. Nesse mesmo período, 32 Termos deAjustedeConduta-acordos feitos com os médicos quandoháevidênciasdeinfrações de pequena multa e sem consequências conhecidas - foram realizados. Limeira explica que em muitoscasosassindicâncias são consideradas improce- PROCESSOS t EDSON CHAGAS 2014 - Em 2014, 281 sindicâncias foram abertas no CRM - 79 Processos Ético-Profissionais (PEP) foram instaurados e 38 foram julgados - 22 médicos foram penalizados e 25 absolvidos t 2015 - Em 2015, foram abertas 179 sindicâncias e 58 PEP - 32 Termos de Ajuste de Conduta já foram feitos dentes devido à impossibilidade de pré-julgamento. Mas, para ele, o número de denúncias que chegam ao CRM-ES é alto. “O certo seria nunca haver a punição deummédico,poiselenunca deveria agir contra a ética. É uma pena que a gente não consiga alcançar isso”. O corregedor esclarece que o órgão age para garantir os direitos da população. “Temosafunçãodezelarpelo exercício da medicina. Não se trata de um órgão que vai defender o médico quando ele agir errado. Temos compromisso de prestar contas à sociedade”. Planos de saúde orientam buscar segunda opinião Para evitar que problemas entre médicos e pacientes sejam levados à Justiça, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) - entidade que representa os planos de saúde – recomenda que os beneficiários busquem sempre uma segunda opinião, caso não se sintam seguros com o diagnóstico feito pelo médico consultado. “É importante o paciente entender que tratamentos invasivos devem ser o último procedimento médico. Portanto, alternativas como fisioterapia, JUSTIÇA acompanhamento nutricional e outras terapias devem ser consideradas como primeiro recurso, aliados ao tratamento medicamentoso” ressaltou a Associação em nota. No que diz respeito à Saúde Pública, A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa),informoupormeio de nota, que os pacientes que se sentirem lesados devem fazer suas reclamações diretamente à pasta pelo telefone (27) 3345-3044, via e-mail ([email protected]) ou ainda deforma presencial. “NUNCA PENSEI EM ENTRAR NA JUSTIÇA, MAS TENHO PENSADO” Maria Catarina Silva 52, vítima de erro médico Em agosto deste ano, Maria Catarina Silva, 52, passou pela décima cirurgia, a fim de corrigir uma lesão do nervo ciático femural provocada durante um procedimento de histerectomia, em 2005. O diagnóstico do problema veio anos depois, quando a técnica em enferma- gem já havia perdido ovários, trompa e apêndice em intervenções cirúrgicas anteriores. Em consequência do erro, Maria Catarina precisou se aposentar. Para controlar as fortes dores, ela carrega uma bomba de morfina no corpo. Há cerca de dois anos, Maria denunciou o caso ao Conselho Regional de Medicina do Estado (CRMES). Ela diz que já prestou depoimento, mas não sabe como anda o processo. “Tive danos de todo tipo. Nunca pensei em entrar na Justiça, mas agora tenho pensado”. Processos na área de Saúde crescem 300% O número de pessoas que buscam na Justiça a reparação por danos causados à saúde é cada vez maior. Segundo o presidente da Comissão de Direito Médico e da Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB-ES), Marco Antônio Bruneli Pessoa, a demanda pela judicialização dos casos - englobando reclamações contra hospitais, clínicas, planos de saúde e profissionais - cresce cerca de 300% ao ano desde 2009. Tal crescimento está relacionado à criação do Código de Defesa do Consumidor, em 1990. “As pessoas passaram a ter ciência dos seus direitos e foi DIVULGAÇÃO É mais difícil comprovar a existência de erro médico ampliado o acesso à Justiça através dos juizados especiais”, explica Pessoa. No entanto, diferente de ações contra hospitais ouplanos(emqueboaparte dos consumidores sai vencedora), quando os processos se voltam diretamentecontramédicos,tor- na-se mais difícil comprovar a existência do erro. “Para que um médico seja condenado é necessário que seja provado que ele agiu com imprudência, negligência ou imperícia. O resultado do tratamento não implica necessariamente em sua responsabilização, pois ele pode ter agido corretamente, mas o organismo respondeu de forma não prevista”, analisa. Para evitar transtornos, o advogado recomenda: “É importante que as partes busquem esclarecimentos e que os próprios médicos se previnam. Já há serviços de consultoria e de assessoria jurídica nessa área”.