1 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS - LICENCIATURA RAFAEL TOLDO O ENSINO DA ARTE (RE)SIGNIFICADO NO CURSO DE ARTES VISUAIS: REFLEXÕES A PARTIR DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DOS ALUNOS CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2010 1 RAFAEL TOLDO O ENSINO DA ARTE (RE)SIGNIFICADO NO CURSO DE ARTES VISUAIS: REFLEXÕES A PARTIR DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DOS ALUNOS Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de licenciado no curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Prof.ª MSc. Aurélia Regina de Souza Honorato CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2010 RAFAEL TOLDO O ENSINO DA ARTE (RE)SIGNIFICADO NO CURSO DE ARTES VISUAIS: REFLEXÕES A PARTIR DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DOS ALUNOS. Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Licenciado, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Educação e Arte. Criciúma, 03 de dezembro de 2010 BANCA EXAMINADORA Prof. Aurélia Regina de Souza Honorato - Mestre - (UNESC) - Orientadora Prof. Maria Marlene Milanez Just - Especialista - (UNESC) Prof. Isabel Cristina Marcílio Duarte - Especialista - (UNESC) 3 A todos professores, alunos e colaboradores que durante os 40 anos de história do curso empenharam-se por de Artes um Visuais, ensino de qualidade, evidenciando o campo artístico em nossa região. 4 AGRADECIMENTOS A minha mãe e meu pai, pelo amor, carinho, cobranças, conselhos e confiança depositados em mim. A minha avó pelos conselhos, conversas e todo apoio, ao longo de minha vida. A minha família: minha sobrinha, essa por entender que eu tinha que fazer TCC ou ir pra faculdade ao invés de andar de bicicleta com ela, minha irmã, tios e tias pela preocupação e carinho de sempre. Aos poucos e bons amigos que fiz em minha jornada acadêmica: Gustavo, Marcelo e aos menos presentes Ramon e Maycon (1ª fase pra sempre). A Maria Luiza, essa, minha amiga, companheira, namorada que me ajudou como pode com a minha pesquisa. A minha orientadora Aurélia, por me direcionar bem ao meu projeto, me ajudar em momentos de dificuldade e por todo o incentivo. A todos os colegas que fiz durante meu percurso na Universidade. E a todos os arte-educadores de nossa região e do Brasil, que lutaram/lutam por um ensino de arte de qualidade. 5 “Assim se conseguimos colaborar, por meio de idéias, argumentos e informações aqui apresentados para uma tomada de consciência da importância da arte e de sua pratica no ambiente escolar e para a vida do indivíduo e, além disso, se enriquecermos e fortalecemos a formação do professor de Arte, o nosso objetivo maior foi alcançado”. Bernadete Zagonel (2008) 6 RESUMO Essa pesquisa, concretizada aqui em meu Trabalho de Conclusão de curso visa evidenciar a importância do curso de Artes Visuais para a (re)significação do Ensino da Arte na região do extremo sul catarinense, colaborando para o desenvolvimento artístico e cultural da região. Essa pesquisa traz parte da realidade e da história dos 40 anos do curso de Artes Visuais da UNESC, busca também entender melhor as mudanças no curso a partir da história do ensino da arte em nosso país. O projeto inova, utilizando cinco produções artísticas dos acadêmicos de artes produzidos na disciplina Oficina de Vídeo e Cenografia em homenagem aos 40 anos do curso de Artes Visuais, como fonte de coleta de dados. Vídeos esses que trazem parte da realidade e história do curso através da exibição de ambientes e eventos do curso, de entrevistas com professores além da fruição artística peculiar a cada vídeo. Palavras-chave: Artes Visuais 40 anos. Ensino da Arte. Extremo Sul Catarinense. 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS GEDEST – Grupo de Ensino Pesquisa e Extensão em Educação Estética ..............10 UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense................................................10 PIC – Projeto de Iniciação Científica .........................................................................10 UNIFACRI – União das Faculdades de Criciúma ......................................................15 FACIECRI – Faculdade de Ciências da Educação de Criciúma ...............................15 FUCRI – Fundação Educacional de Criciúma ...........................................................15 CESU – Câmara de Ensino Superior.........................................................................15 ACT – Admissão em Caráter Temporário..................................................................20 LDB – Lei de Diretrizes e Bases ................................................................................25 PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais ..............................................................25 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 09 2 O ENSINO DA ARTE NA REGIÃO SUL DE SANTA CATARINA ........................ 13 2.1 A Região Sul de Santa Catarina ...................................................................... 13 2.2 O Ensino de Arte no Curso de Artes Visuais ................................................. 14 2.3 O Estágio Supervisionado ............................................................................... 19 3 O ENSINO DA ARTE NO BRASIL........................................................................ 22 4 METODOLOGIA.................................................................................................... 27 4.1 A pesquisa ........................................................................................................ 27 4.2 Mostrando o campo: o lugar, o público.......................................................... 28 4.3 Expondo e analisando os dados do campo ................................................... 30 5 PROJETO DE EXTENSÃO ................................................................................... 34 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 39 ANEXO ..................................................................................................................... 40 9 1 INTRODUÇÃO Desde a minha infância, sempre tive um grande contato com a arte, quando criança, a música tinha bastante espaço em minha vida, em especial aquelas que eram tocadas nas rodas de viola, em que minha família fazia-se presente, e nas mídias que eu tinha ao meu alcance (vinis, fitas tape e fitas cassete) de grande maioria do meu pai e meus tios. A partir da minha pré-adolescência (13, 14 anos), quando começava a ganhar uma boa liberdade por parte dos meus pais, comecei a freqüentar eventos musicais por conta própria, mesmo se caso fosse, indo sozinho a esses shows. Despertava nesse momento em mim, um grande interesse em pesquisar, fomentar e conhecer música, ou seja, viver essa linguagem artística. Ainda nessa fase, lembro que o colégio pouco ajudava a criar um conhecimento musical, mas em compensação dava muito subsidio na parte literária, e teatral, o que foi ótimo para desde cedo ter contato com diversas manifestações artísticas. Mas, ainda as Artes Visuais, pouco se faziam presente em minha vida, mas o futuro reservava uma boa surpresa, nessa época que começaram as pressões sobre o futuro: qual profissão escolher, a necessidade de fazer uma Faculdade; Quando olhei a lista de cursos de diversas Universidades, não tive dúvidas sobre optar por Artes Visuais. Iniciando a graduação em Artes Visuais, foi que as aptidões artísticas afloraram, nesse momento, começava a ter contato com diversas formas de conhecimento que a grade curricular do nosso curso proporciona, disciplinas como: História da Arte, Introdução às diferentes Linguagens Artísticas, entre outras que contemplam as primeiras fases (1ª e 2ª), somando as diversas manifestações e interações artísticas que tínhamos em sala de aula. Acrescentado a isso, participávamos de eventos que o curso contempla, como: exposições artísticas, espetáculos musicais e de dança, teatros e fruições artísticas, e muitas vezes também éramos os geradores desses acontecimentos, criando momentos artísticos, através de eventos criados pelo curso, para que outras pessoas pudessem ter contato. Ainda nesse momento, conforme a interação de Arte e educação iam aparecendo, que comecei a me interessar pela educação, inicialmente havia 10 cursado licenciatura, com a intenção de posteriormente mudar para bacharel, mas foi através das didáticas em sala de aula, da percepção da grande importância da Arte na educação, que resolvi continuar em Licenciatura. Despertava nesse momento também, um grande interesse nas atividades do curso de Artes Visuais. Como acadêmicos, demoramos uma, duas, três fases ou às vezes mais para conhecer melhor a dinâmica do nosso curso, da Universidade, dos diversos estabelecimentos e das varias possibilidades de integração com a comunidade acadêmica, com o curso de Artes Visuais e com a Arte. Foi conhecendo melhor a instituição, e a gama de possibilidades de interação para os artistas, arte-educadores, pesquisadores, que comecei a me perguntar como tudo isso (a universidade) surgiu, como começou essa história, qual a gênese do atual curso de Artes Visuais da UNESC, e também a vontade de conhecer e apresentar a importância do curso para a sociedade. Nessas descobertas de possibilidades do mundo acadêmico foi que através da minha hoje orientadora, Aurélia, depois de comentar sobre minhas dúvidas perante o curso, que me apresentou as possibilidades de ser pesquisador-bolsista através de projetos de pesquisa, no meu caso o PIC – Projeto de Iniciação Científica. Foi então que começou essa jornada, na 3ª fase, seria o único aluno, daquele ano a ser pesquisador. Projeto feito, aprovado, iniciava-se a fase das pesquisas. Comecei a ficar mais intimo do curso, conhecendo e participando do grupo de pesquisa e extensão (GEDEST), conhecendo/refletindo/estudando documentos como o PPP do curso, as Matrizes Curriculares e suas mudanças, além de registrar através de escritas e vídeos muitas aulas, reuniões e eventos do curso de Artes Visuais. Depois de algum tempo, com a minha pesquisa concluída, mas mesmo assim com um sentimento de: “tem muito ainda a ser pesquisado e escrito”, que me deparei com um novo desafio: O TCC, um novo projeto, uma nova pesquisa, e outra possibilidade/chance de agregar história e conhecimento, percebendo/informando a importância do curso, para a (re)significação do ensino de artes na região sul, e para toda a sociedade. E nada mais especial, do que o momento que passamos nesse ano de 2010, afinal o curso de Artes Visuais completa 40 anos, de muita história, luta, pesquisa, 11 aprimoramento e somado a tudo isso, incondicionalmente o amor a Arte e a Educação. Em homenagem a esse momento, surgiu na disciplina: Oficina de Vídeo e Cenografia, cinco curtas em homenagem aos 40 anos do curso, produções artísticas essas, riquíssimas em informações, em criatividade, em conteúdo artístico, apresentando vivências, entrevistas com professores, e muitos outros dados. Esses vídeos serão em minha pesquisa, fonte de informação para minha análise de dados, uma forma diferente, inovadora e não menos importante e cientifica de pesquisa; além de valorizar as produções artísticas dos alunos do curso de Artes Visuais, assim, engrandecendo-o. Dessa forma, trago como problema do meu projeto, a seguinte questão: O que significa juntar vivências, experiências, trajetórias e memórias de alunos e professores do Curso de Artes Visuais da UNESC a fim de possibilitar a (re)significação do Ensino da Arte na região do extremo sul catarinense? Outras questões também serão analisadas, como: Quais as contribuições que o Curso de Artes Visuais da UNESC trouxe para o Ensino da Arte na região do Extremo Sul Catarinense em sua trajetória de 40 anos? Qual o papel do Curso de Artes Visuais da UNESC, em seus 40 anos de existência, na história do Ensino da Arte no Brasil? Qual a importância do Estágio para a formação dos professores? Qual a importância da Arte, na educação escolar? Trago como Objetivo Geral: Perceber na fala dos professores e alunos do curso de Artes Visuais da UNESC, a importância do curso para o Ensino da Arte na região sul, durante seus 40 anos de existência, e como isso se reflete na Arte Educação Brasileira. E como Objetivos Específicos: Relatar a história e mudanças ocorridas no curso de Artes Visuais, durante seus 40 anos; Demonstrar a importância do curso de Artes Visuais para o Ensino da Arte na região Sul Catarinense; Trazer a importância do Estágio, para a formação do professor. O trabalho foi desenvolvido em seis capítulos. No primeiro está introdução. No segundo capítulo, trago o ensino da arte no curso de artes visuais, sua história, suas transformações e seu atual momento. No terceiro capitulo, transcrevo a história da arte-educação no Brasil, desde as primeiras evidências, até suas mudanças e leis que vêm procurando a melhoria do ensino da arte no país. No quarto capítulo, apresento a metodologia utilizada nesta pesquisa. No quinto capítulo, trago a proposta de um forum de debates, visando o fortalecimento do ensino da arte, e a 12 importância do curso de Artes Visuais para a arte-educação em nossa região e, por fim, no capítulo sexto, apresento as considerações finais desta pesquisa. 13 2 O ENSINO DA ARTE NA REGIÃO SUL DE SANTA CATARINA 2.1 A Região Sul de Santa Catarina Para integrar minha pesquisa, julgo importante apresentar o Sul do Estado de Santa Catarina, região a qual o Curso de Artes Visuais da UNESC atende a 40 anos, buscando uma melhoria no ensino da arte e na valorização cultural Para apresentar dados sobre a região sul, usarei como suporte o site Vivimarc1: O Sul do Estado de Santa Catarina ocupa uma área de 9.049 km² (9,8% da área total do Estado). Compreende 39 municípios com uma população estimada em 800 mil habitantes, com cerca de 500 mil em áreas urbanas. Divide-se em três microrregiões: Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC) composta pelos Municípios de Criciúma, Forquilhinha, Içara, Lauro Müller, Morro da Fumaça, Nova Veneza, Siderópolis, Treviso, Urussanga e Cocal do Sul, a Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (AMESC) composta pelos Municípios de Araranguá, Jacinto Machado, Maracajá, Meleiro, Praia Grande, Santa Rosa do Sul, São João do Sul, Sombrio, Timbé do Sul, Turvo, Morro Grande, Passo de Torres e Ermo, Balneário Gaivota e Balneário Arroio Silva e a Associação dos Municípios da Região de Laguna (AMUREL) composta pelos Municípios de Armazém, Braço do Norte, Grão Pará, Gravatal, Imaruí, Imbituba, Jaguaruna, Laguna, Orleans, Pedras Grandes, Rio Fortuna, Santa Rosa de Lima, São Ludgero, São Martinho, Treze de Maio, Tubarão, Capivari de Baixo. O desenvolvimento da região, calcado num primeiro momento na exploração do carvão, deu-se a partir de dois vetores distintos: o primeiro no sentido CriciúmaSul, tendo como principais impulsores a exploração do carvão e a agricultura. Nos últimos anos um forte incremento industrial nas áreas de cerâmica, confecções, plásticos e descartáveis e metal-mecânica deu nova configuração ao ambiente sócio-econômico da área. Ela deixou de depender quase exclusivamente do carvão, para se transformar num dos pólos industriais do estado; e o segundo, no sentido Criciúma-Norte, foi sustentado até os anos 60 pelas atividades de beneficiamento e transporte do carvão. A partir daí, a implantação da Usina Jorge Lacerda – aliada a 1 http://www.sul-sc.com.br/afolha/cidades/amesc.htm acesso: 12/12/10. 14 um processo de disseminação de pequenas e médias empresas e um forte incremento do turismo, tornou esta área cada vez menos dependente do carvão. Predominam na região as atividades ligadas ao setor mineral, ao setor cerâmico e metal-mecânico, setor agro-industrial e setor pesqueiro. Após analisar esses dados, percebemos que a nossa região teve e ainda tem um forte desenvolvimento industrial/econômico, e foi através desse crescimento que na década de 70, percebeu-se necessidade da capacitação profissional e desenvolvimento cultural para a comunidade do Sul Catarinense. 2.2 O Ensino de Arte no Curso de Artes Visuais O ensino da Arte brasileiro passou por algumas mudanças desde o início do século XX até os dias atuais, e não foi diferente na história do atual curso de Artes Visuais da UNESC, que influenciado pelo ensino da Arte e pelas questões sociais regionais, fora criado, mas não ainda com esse mesmo nome. Em fins da década de 60, o grande crescimento da exploração do carvão e da industrialização no extremo sul de Santa Catarina, fez com que, grande parte de todas as forças vivas da comunidade, criasse a FUCRI – Fundação Educacional de Criciúma, que tinha como objetivo maior fornecer bases necessárias para o desenvolvimento cultural e econômico da região. A preocupação com as Artes, já foi visada num primeiro momento, assim que criada a FACIECRI (Faculdade de Ciências da Educação de Criciúma) que contava com os cursos de Licenciatura Plena em: Matemática, Pedagogia, Ciências Biológicas e Desenho e Plástica, iniciando assim a trajetória de formação artística em março de 1970. O curso de Desenho e Plástica teve suas instalações, inicialmente no colégio Madre Tereza Michel e posteriormente (1971 a 1973) funcionou nas dependências da SATC, até que em 1974 teve suas instalações transferidas para suas próprias dependências, na FUCRI, atual Campus Universitário, localizado no bairro Universitário em Criciúma, sul de Santa Catarina. 15 O curso inicialmente foi voltado à formação de profissionais para atuação na indústria cerâmica de azulejos que, depois da indústria extrativa do carvão, era o setor maior da economia da região sul de Santa Catarina. Sua grade era composta por disciplinas mais técnicas, com ênfase em: Desenho Industrial, Cerâmica, Pintura, Escultura, Desenho Técnico, Desenho Artístico e Gravura. Em 1975, sua grade curricular foi alterada incluindo disciplinas voltadas à Licenciatura, pois as duas primeiras turmas (1970 a 1973 e 1971 a 1974) só poderiam atuar no 2º grau em Desenho, Modelagem e Artes Industriais. Anos mais tarde para atender as exigências do Ministério da Educação foram oferecidas para as primeiras turmas de Desenho e Plástica, cursos extensivos, para complementar sua formação em licenciatura. . Em 1980, depois de muitos processos e providências, que se estendiam desde 1975, o curso de Desenho e Plástica deu origem à Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas, tendo enfoque único na Licenciatura, com proposta de formação polivalente, nas diferentes linguagens artísticas (música, teatro e artes plásticas). O curso era ministrado pela Faculdade de Ciências e Educação de Criciúma, chamado na época de União das Faculdades de Criciúma - UNIFACRI Em 1986, o curso de Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas foi reconhecido pela CESU (Câmara de Ensino Superior). Naquele momento, imposto por um modelo educacional tecnicista, este professor polivalente (música, teatro e artes plásticas), gerou um “especialista em generalidades”, acentuando a convicção de que qualquer professor sobrando nas escolas poderia ser professor de artes, o que fragilizou a ação e a formação dos professores da área. Tais fragilidades refletiram-se acentuadamente na constituição do Curso, cuja estrutura curricular estava fundamentada na proposição da formação desse professor polivalente, gerando uma necessidade de mudança, que aconteceria, após a transformação da FUCRI em universidade. O fracasso da experiência da lei nº 5.692/71, que propunha o ensino integrado das artes, feito por um suposto professor polivalente, levou os educadores a repensar esse ensino. Os cursos superiores começaram a desmembrar seus currículos, tratando diferenciadamente a formação da licenciatura, em cada uma das artes. (ZAGONEL, 2008, p.54) 16 A idéia de transformação da FUCRI em universidade surgiu em 1988. Para que o projeto se viabilizasse realizaram-se estudos preliminares, até que, em 1990, foi constituída a comissão institucional. Em 1993 aconteceu a instalação oficial dos trabalhos, na sede da já antiga, FUCRI e finalmente no dia 17 de junho de 1997 foi reconhecida a Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Conforme o problema da formação do professor polivalente, que atingia todo o país, somada às modificações sócio-econômicas, políticas e no próprio mundo das Artes, o currículo do curso de Educação Artística, com habilitação em Artes Plásticas, já não atendia mais aos anseios e necessidades da região. Após uma série de estudos e reflexões, feitas por professores do curso, em reuniões com o coletivo de professores, comunidade e empresas da região, passava por uma nova reformulação então, no final do ano de 1999, o curso de Artes Visuais. Nessa nova etapa, o curso de Artes Visuais, foi dividido em bacharelado e licenciatura, com vagas anuais e duração mínima de quatro anos. As disciplinas constantes nos três primeiros anos eram comuns ao bacharelado e a licenciatura, e a partir do quarto ano, o acadêmico optaria por uma das duas carreiras. O primeiro semestre letivo, dessa Matriz curricular foi em 2000. O curso visava além da necessidade de formar educadores em Artes, as necessidades empresariais na área do design e da publicidade. Portando, na formatação da grade curricular do curso, além das formas artísticas tradicionais como: pintura, escultura, gravura, desenho, cerâmica entre outros, foram incluídas modalidades resultantes dos avanços tecnológicos e das transformações estéticas do século XX, representadas pelas artes gráficas, fotografia publicitária, computação e design. Cada um desses conteúdos tem suas especificidades e são utilizados em várias possibilidades de combinações. No mundo contemporâneo, ampliam-se ainda mais as combinações dessas linguagens visuais criando, desta forma, novas modalidades de apresentação e conseqüentemente de trabalho, o que não só justificou sua inclusão, como qualificou o curso. O curso de Artes Visuais da UNESC visa uma educação em arte voltada para a formação profissional em excelência, de cidadãos comprometidos com o 17 desenvolvimento cultural, científico e criativo da comunidade local e regional e da sociedade, profissionais habilitados para a produção, a critica, a pesquisa e o ensino das artes visuais. Sendo assim, segundo o PPP2 do curso (ago/2003) o profissional formado em artes visuais pela UNESC, deverá ser capaz de: · Desenvolver o pensamento visual criativo para atuar no amplo mercado das artes visuais. · Ter sensibilidade e preparação para tirar da crise oportunidades, em vez de perigo, contribuindo desta forma para a qualidade do ambiente de vida das pessoas. · Atuar na direção da interdisciplinaridade do conhecimento, com visão renovadora e de desafio de atualização permanente, tendo em vista a socialização do saber. · Compreender e desempenhar as suas ações na integração multifatorial dos vários aspectos desenvolvidos e aprendidos nas artes visuais, · Interagir com a variedade de materiais naturais e fabricados, multimeios (computador, vídeo, cinema, fotografia), percebendo, analisando e produzindo trabalhos de artes. · Desenvolver a percepção, reflexão e o potencial criativo dentro da especificidade do pensamento visual. No final de 2004, houve uma importante alteração na Matriz Curricular de Artes Visuais, representada pela Matriz Curricular Número 03, agora a entrada no curso, acontece de forma diferente, o futuro acadêmico, já escolhe entre bacharelado e licenciatura, ao entrar no curso, esse novo método entrou em funcionamento/vigor a partir do primeiro semestre de 2005. Em 2009 o Curso de Artes Visuais, inaugurou suas novas grades curriculares, sendo as subseqüentes da mudança de 2004. A Matriz Curricular 04, no caso da licenciatura, tendo suas atividades iniciadas no primeiro semestre de 2009, e a 2 Dados retirados do PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO do curso de Artes Visuais. Coordenação do PPP: Professora Dra. Elizabeth Milititsky Aguiar. 18 Matriz Curricular 03, no bacharelado, tendo suas atividades iniciadas no segundo semestre de 2009. As alterações perceptíveis, entre essas duas grades, vêm de encontro às mudanças no campo da educação e das artes no Brasil, atendendo as reformulações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Na educação, a inclusão social, questão tão importante, e tão discutida na atualidade, ganha impulso no curso com a inclusão da matéria Libras (Língua Brasileira de Sinais) e atendendo a lei de obrigatoriedade de música nas escolas (Lei nº 11.769, de 18 de Agosto de 2008), a disciplina: Linguagem musical e Educação e no campo das mudanças das concepções artísticas aparece à cadeira: Performance e Intervenção, práticas conhecidas pela arte contemporânea. Além disso, o curso de Artes Visuais traz uma bagagem rica, não apenas nas teorias e práticas de sala de aula, mas também nas vivências e fruições artísticas entre todos os envolvidos com o curso e a sociedade em geral. Consideremos o diálogo crescente com a arte, visitando museus, participando de exposições, concertos, assistindo a espetáculos, como a possibilidade de ampliação dos conhecimentos do aluno e a oportunidade de aprendizagens culturais (FERRAZ E FUSARI, 2009, p.23) O curso traz uma grande diversidade de acontecimentos, que marcam a trajetória de formação dos acadêmicos, desde a recepção dos calouros, com o trote artístico3, a confraternização4, que permitem o entrosamento dos novos acadêmicos, com os veteranos do curso (alunos, professores e funcionários), a diversos eventos/momentos que proporcionam conhecimento estético, fruição artística, como saídas de campos, exemplo das viagens as Bienais de Arte5 (São Paulo e do Mercosul em Porto Alegre) e a difusão das obras e trabalhos dos acadêmicos, 3 O trote Artístico acontece no curso desde 2008, e procura desmistificar toda e qualquer forma de abuso aos alunos recém-chegados. Os novos acadêmicos são recepcionados, com interações artísticas, durante as primeiras semanas de aula, acontecendo depois uma festa de boas-vindas. 4 A confraternização acontece desde 2008, ela marca uma maneira mais formal de recepção e boasvindas aos calouros, nela acontece à apresentação dos professores, funcionários e dos membros do CAAV (Centro Acadêmico de Artes Visuais) além de espetáculos artísticos, e sorteios de presentes dados por colaboradores. 5 As bienais acontecem todos os anos, alternando de ano e ano, entre São Paulo e Porto Alegre. É uma experiência única, para adquirir conhecimentos estéticos, interação com o que há de mais recente no universo artístico contemporâneo e ter contato com obras de artistas renomeados, além da aquisição de materiais de caráter pedagógico. 19 exemplo do Mostrando a Cara6 que a cada ano surpreende a comunidade universitária e a de seu entorno pela qualidade e inovação das produções artísticas e do Seminário de Estágio7, que apresentam projetos de arte-educação colocados em prática pelos alunos, além de muitos outros seminários, exposições, viagens e programas arte-educacionais. Ao conhecer a arte produzida em diversos locais, por diferentes pessoas, classes sociais e períodos históricos e as outras produções do campo artístico (artesanato, objetos, design, áudio visual etc.), o educando amplia a sua concepção da própria arte e aprende a dar sentido a ela. Desse convívio decorrem, portanto, conhecimentos que desenvolvem o seu repertório cultural, mas, acima de tudo, possibilitam-lhes a apropriação critica da arte, aprender a indentificar, respeitar e valorizar as produções artísticas. (FERRAZ E FUSARI, 2009, p.19) Toda essa gama de vivências, experiências vêm aumentando e ganhando notoriedade em nossa sociedade, e somadas aos conhecimentos adquiridos em sala de aula, buscam a formação em excelência de todos os alunos, salientando a importância do curso para o Ensino da Arte no sul do Brasil. 2.3 O Estágio Supervisionado Nas licenciaturas uma fase marca, de maneira decisiva, a futura profissão de arte-educadores, para os acadêmicos é o Estágio Supervisionado. O Estágio Supervisionado constitui disciplina curricular obrigatória para a conclusão dos cursos de licenciatura e deve realizar-se em situações que aproximem o acadêmico da realidade escolar e educacional. As disposições legais sobre estágios nos cursos de licenciaturas são claras, identificando-os, principalmente, no seu caráter didático-pedagógico e como instrumento que permite reforçar a relação da teoria com a prática profissional. 6 O Mostrando a Cara é a principal exposição do curso, acontece anualmente desde 2002. Nela os alunos têm a oportunidade de expor seus trabalhos, nas diversas linguagens artísticas, e fusões que elas oportunizam, e também a possibilidade de apreciar, analisar, interagir e refletir sobre toda a fruição artística, que acontece. 7 O seminário de estágio acontece desde 2009, nele, os alunos apresentam sua prática docente no ensino básico e em espaços não formais. 20 Atualmente no Curso de Artes Visuais ele é elaborado e aplicado a partir da 5ª Fase, estendendo-se até a última fase, a 8ª, abrangendo um mínimo de 400 (quatrocentas) horas. É no Estágio Supervisionado, que muitos acadêmicos terão seu primeiro contato como arte-educadores em sala de aula. O estágio é um momento em que se articula teoria e prática, já que os elementos da prática são trazidos pelos estágios e reelaborados nos cursos de formação docente, garantindo a produção de conhecimento nas áreas específicas da docência. Para Piconez (2002, p. 24): A prática de ensino sob a forma de Estágio Supervisionado é, na verdade, um componente teórico-prático, isto é possui uma dimensão ideal, teórica, subjetiva, articulada com diferentes posturas educacionais, e uma dimensão real, material, social e prática, própria do contexto da escola brasileira. Mesmo já tendo lecionado anteriormente, como ACT (Admissão em Caráter Temporário) na rede pública do município Criciúma e, ter sido essa a minha primeira experiência como professor e, já nela ter percebido a diferença entre teoria e prática, é/foi no estágio que adquirimos a consciência da importância de projetar tudo o que iremos fazer, desde apoio teórico, à lista de materiais e foi a partir dele, o estágio, também que tive experiências com crianças e jovens de idades as quais não havia lecionado em meu período como ACT. No estágio, antes de iniciarmos nossa prática pedagógica, temos aulas de observação, para podermos dessa forma relacionar nosso projeto com o contexto em que a escola se encontra, conhecer melhor os alunos, analisar a bagagem cultural e artística de cada um, para poder fazer um bom trabalho. Sendo uma disciplina que exige tempo e dedicação extraclasse e mexe com uma rotina e uma vivência escolar que são fundamentais para a qualidade da formação do professor assim como para a qualidade do ensino. O estágio supervisionado do Curso de Artes Visuais da UNESC fundamentase em diversas legislações, entre elas a lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008, que define estágio como o ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo do estudante. O estágio integra o itinerário formativo do educando e faz parte do projeto pedagógico do curso. É definido como estágio obrigatório o que consta como pré- 21 requisito no projeto pedagógico do curso para aprovação e obtenção do diploma (1º§ do art. 2º da Lei nº 11.788/2008). A obrigatoriedade do estágio em cursos de Licenciatura em Artes Visuais, e uma vitória e um marco importante para o ensino da arte no Brasil, e para nossa região. Os estágios muitas vezes assumem dimensões inacreditáveis, é muito comum ouvirmos dos professores regentes atuantes nas escolas campo que o estágio em artes é a possibilidade de inovações e trocas nas aulas de arte. Isso se deve a diversidade de teorias e práticas que os professores em formação estão levando para o cotidiano da escola e também pelas tendências pedagógicas atualizadas que esses alunos estudam durante o curso e conseqüentemente carregam consigo promovendo mudanças na escola. Fatos como esse são importantes para percebemos que estamos trilhando um caminho de desenvolvimento, e que somos nós alunos de estágio, também responsáveis por um ensino e arte de qualidade hoje e no futuro. 22 3 O ENSINO DA ARTE NO BRASIL A arte está presente no Brasil, antes mesmo de sua colonização, com os índios, primeiros habitantes ao qual temos registro. A arte já estava presente entre eles em seus ritos, cerimoniais, música, dança, pintura, etc. São traços vivos da cultura indígena. Em 1500, quando os portugueses começaram sua colonização ao Brasil, os Jesuítas trouxeram consigo a educação catequética da cultura portuguesa, as práticas artísticas de Portugal estavam intrinsecamente ligadas à religião católica. Sendo assim a arte na verdade servia a religião, tanto a arte como os ofícios refletiam a fé cristã, dando início à aculturação dos índios aos moldes da metrópole (Portugal). “A educação jesuítica teve como objetivo primeiro a catequese, mas esse foi logo substituído por uma educação restrita aos filhos dos homens da elite...” (ZOTTI, 2004, p.16). Voltada para a elite, o ensino visava suprir as demandas do mercado liberal, mantendo a hegemonia da elite e seus interesses na colônia. Relativo à educação escolar, Zotti (2004, p. 20) diz que: As normas dos colégios jesuítas eram padronizadas e foram oficialmente publicadas em 1599 no Radio Studiorum... O padre Manuel da Nóbrega propôs para o currículo o aprendizado do português, doutrina cristã, escola de ler e escrever, canto orfeônico e música instrumental. Durante muitos anos a educação no Brasil ficou dessa forma, os colégios jesuíticos europeus, voltando à educação para os nobres e burgueses e os nativos que eram educados nas missões de reduções destinadas a catequese, essas reduções eram verdadeiras “escolas-oficinas” formando artesões e pessoas para trabalharem nas áreas fabris. Em 1759 quando o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil, nosso sistema educacional ficou desorganizado, levou algum tempo para que em 1808 devido a transferência da Corte, que aconteceu uma mudança no cenário político, econômico, educacional e cultural brasileiro, muitas das mudanças foram feitas por D. João VI. 23 Dentre as ações promovidas por D. João VI. gestou-se a formação de um Estado político e a composição do sistema educacional leigo e superior. O sistema educacional escolar ficou estruturado em três níveis: primário (das primeiras letras), secundário e superior. Foram criados também cursos profissionalizantes. (FERRAZ E FUSARI, 2009, p. 42) Em 1816 com a vinda da Missão artística Francesa foi criada a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios no Rio de Janeiro, dez anos depois transformada em Academia e Escola de Belas-Artes. Este ato imprimia oficialmente o ensino artístico no Brasil. O início do século XX foi marcado pela Pedagogia Tradicional, que pouco se preocupava com a livre expressão e a criatividade, e seu legado ainda é visto hoje em dia, sobre essa concepção tradicional, Ferraz e Fusari (2009, p. 45) trazem: Nessa concepção tradicional de educação, o que vale sempre é o produto a ser alcançado: é mais importante o resultado dos trabalhos do que o desenvolvimento dos alunos em arte. Isto ficava (e fica ainda) evidente pela preocupação com as mostras dos trabalhos em finais de períodos escolares, como ocorria também nas apresentações de musica (canto orfeônico), de teatro e até de dança, especialmente preparadas para esse fim. Em 1932, surgiu um dos movimentos mais importantes da educação brasileira, a Escola Nova. O movimento buscava uma renovação do ensino, que na época era fortemente baseado nas idéias da escola tradicional. Embora nessa época a educação tradicional predominasse, surgiram algumas exceções no campo da Arte, como traz Zagonel (2008, p. 49): São experiências como as da Escola Brasileira de Arte, de São Paulo, dirigida por Theodoro Braga (1872-1953), e cursos de Anita Malfalti (1889-1964), oferecidos em seu ateliê e na Biblioteca Infantil Municipal do Departamento de Cultura de São Paulo, dirigido por Mário de Andrade (1893-1945) entre 1935 e 1938. Nos anos 40, após o governo de Getúlio Vargas, voltam a ter evidências do trabalho que visa a inclusão do ensino da Arte na escola, com objetivo da livreexpressão. Nessas novas metodologias, em renovação aos modelos tradicionais e tecnicistas, há uma preocupação com o desenvolvimento global do educando, dessa forma imprimisse o respeito ao mundo cultural e intelectual do aluno. 24 Nesse período fora criada a Escolinha de Artes do Brasil, no Rio de Janeiro, pelo artista Augusto Rodrigues8, voltada especialmente para o ensino da Arte para crianças, e a partir dessa iniciativa outras escolas de Artes foram surgindo, no inicio dos anos 70 já existiam mais de trinta escolinhas dessas espalhadas pelo Brasil. Em 1971, iniciava uma grande reforma no ensino da arte no Brasil, entrava em vigor a Lei 5.692, que estabelecia o ensino de Educação Artística na escola, abrangendo as diferentes linguagens artísticas: artes plásticas, teatro, dança e música. Esse ensino abrangendo as varias linguagens não se mostrou muito eficiente, faltavam profissionais preparados para assumir essa inter-relação das linguagens artísticas. Essa proposta de inter-relação das artes não se mostrou eficaz, principalmente devido à falta de uma formação especializada, tanto pedagógica quando de conteúdo, do profissional dessas diversas áreas requisitadas. Foi com isso gerada uma situação de difícil solução, pois não havia professores capacitados para empreender esse ensino na escola de primeiro grau e, paradoxalmente, artistas e professores que haviam sido formados pelas escolinhas de Arte, apesar de bem qualificados, não puderam ser absorvidos pela escola, uma vez que não possuíam o diploma de nível superior exigido. (ZAGONEL, 2008, p. 52-53) Essa proposta de ensino fragilizou o ensino da arte no Brasil, o reflexo da necessidade desse professor polivalente, em período ainda imposto por um modelo tecnicista, enfraqueceu a área e gerou um “especialista em generalidades”, onde muitos professores de outras áreas assumiram as aulas de artes, isso também influenciou muitas mudanças e reflexões em nosso atual curso de Artes Visuais. O que se viu foi, com o decorrer dos anos, o enfraquecimento da qualidade do ensino da Arte na escola de primeiro e segundo graus, mesmo com a posterior implantação dos cursos de licenciatura de longa duração, cujos currículos propunham um aprendizado generalizado de todas as linguagens artísticas nos dois primeiros anos, seguidos de outros dois anos com ênfase em uma das artes, mediante escolha do estudante. (ZAGONEL, 2008, p. 53) 8 Augusto Rodrigues (Recife, 21 de dezembro de 1913 — Resende, 9 de abril de 1993) foi um artista plástico e arte-educador brasileiro. Foi pintor, desenhista, gravador, ilustrador, caricaturista e fotógrafo. 25 Esse momento que se estendeu da criação da lei, em 1971 e ainda se vê vestígios dela até hoje, teve também sua importância, pois a partir da inserção da Educação Artística, integrada das diferentes linguagens artísticas, iniciaram reflexões sobre a importância do ensino da Arte e de sua pratica na escola, a concepção de ensino a partir das técnicas da lugar a sensibilização às artes e de sua importância como um meio de educação. A partir dessas reflexões, as mudanças começaram a ocorrer também no ensino superior, inicialmente apareceram habilitações especificas para cada linguagem artística dentro dos cursos de Educação Artística, e logo depois vieram os cursos autônomos de Música, Artes Visuais, de Teatro e de Dança. A década de 90 é marcada por diversas reflexões, estudos, reuniões visando a importância do ensino de arte na educação e a necessidade de sua inclusão no currículo da escola brasileira. Na década de 1990, a necessidade de lutar pela inclusão do ensino de Arte no currículo da escola brasileira – momento em que se passava por um processo de reformulação, sendo um dos resultados disso a nova LBD – levou à criação de diversas associações, congregando arte-educadores em todas as regiões do País e de todas as expressões artísticas. Elas promoveram encontros e congressos de professores, quando se estabeleceu uma continuada e forte discussão sobre o ensino da Arte na escola. Como resultado dessas articulações de classe, as diferentes linguagens artísticas se fortaleceram e marcaram seu lugar com área do saber reconhecido. As pesquisas acadêmicas aumentaram e, conseqüentemente, as publicações de periódicos, de revistas acadêmicas e de livros também. Foram criados cursos de mestrado em Artes, Música, Teatro, Artes Visuais, Dança e, mais recentemente, surgiram os doutorados. (ZAGONEL, 2008, p. 54) Devido a todas essas lutas, em 1996 entrou em vigor a nova LDB, Lei nº 9.394, substituindo o termo educação artística, da agora extinta lei nº 5.692/71, por ensino da arte, sendo essa matéria obrigatória no currículo. Nessa época também surgem os Parâmetros Curriculares Nacionais, que são hoje, um referencial importante para a educação escolar em nosso país. A partir desses dois documentos vemos uma evolução muito significativa no ensino da arte no Brasil, assim traz Ferraz e Fusari (2009, p. 58): Assim, com a LDBN e as orientações dos PCNs vemos a consolidação da posição da área de Arte como área de conhecimento e estudo na educação 26 escolar e, conseqüentemente, o reconhecimento de sua importância na formação e desenvolvimento de crianças e jovens. A preocupação com o ensino da arte é constante, e mudanças na própria LDB acontecem, como em 13 de julho de 2010, que estabelece a obrigatoriedade de expressões regionais em todos os níveis do ensino da educação básica. Ainda sobre os PCNs Ferraz e Fusari (2009, p. 58) traz: Com referência aos PCNs de Arte, tais saberes foram direcionados ao autoconhecimento, ao outro, ao fazer e perceber arte com autonomia e criticidade, ao desenvolvimento do senso estético e à interação dos indivíduos no ambiente social/tecnológico/cultural, preparando-os para um mundo em transformação e para serem sujeitos no processo histórico. Analisando essa fala de Ferraz e Fusari, citando o PCNs, e a história da arte no Brasil, chego a uma importante reflexão baseada no atual momento que a arte passa e no meu problema, afinal o que significa juntar vivências, experiências, trajetórias e memórias de alunos e professores do Curso de Artes Visuais da UNESC a fim de possibilitar a (re)significação do Ensino da Arte na região do extremo sul catarinense? Significa então dizer, que depois da batalha de muitos profissionais da área da educação e da arte em nossa região e no mundo, que temos hoje no curso de Artes Visuais uma educação plena, que a partir disso temos todas as possibilidades de vivenciar, de experimentar e de conhecer a arte e sua história, o ensino da arte e sua importância para a educação do ser humano, e a luta que todos arteeducadores tiveram e, que nós ainda teremos em nossa caminhada como docentes em artes. Isso denota que temos em nossa vida acadêmica, uma base sólida e que devemos valorizar no ensino da arte para nossos futuros educandos. 27 4 METODOLOGIA 4.1 A pesquisa Em meu projeto: O ensino da arte (re)significado no curso de artes visuais: reflexões a partir da produção artística dos alunos, objetiva-se através da pesquisa perceber na fala dos professores e alunos do curso de Artes Visuais da UNESC, a importância do curso para o Ensino da Arte na região sul, durante seus 40 anos de existência, e como isso se reflete na Arte Educação Brasileira. Dessa forma defino pesquisa de acordo com Moreira (2008, p. 15) “A pesquisa, originalmente, é uma inquietação, uma busca perene, uma insatisfação em se contentar com as respostas disponíveis para compreender o mundo, que é inacabado e, portanto, perene de perguntas”. Foi dessa forma, através de minhas inquietações perante a história e realidade do curso de Artes Visuais que essa pesquisa teve inicio, tendo como base vídeos feitos para os 40 anos do curso. Esta pesquisa sobre o ensino arte insere-se na linha de pesquisa Educação e Arte do Curso de Artes Visuais. A presente pesquisa é realizada por meio de análises, interpretações e reflexões sobre os vídeos que, além de trazerem consigo o olhar estético e poético que os alunos que os produziram tem sobre o curso, abordam a realidade do atual curso de Artes Visuais por meio das falas e imagens ali contidas. Com relação à natureza das fontes utilizadas essa é chamada uma pesquisa documental, que conforme Severino (2007): A pesquisa documental tem como fonte documentos no sentido amplo, ou seja, não só documentos impressos, mas sobretudo outros documentos tais como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais.(p.122) E é a partir desse material que trago minha visão, o que dá a essa pesquisa uma abordagem qualitativa já que apenas estatísticas, não serviriam para expressar tais conhecimentos/informações/reflexões, sendo assim entro em consonância com o pensamento de Minayo (2004, p. 21-22): 28 A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis. Esse projeto busca responder o seguinte problema: O que significa juntar vivências, experiências, trajetórias e memórias de alunos e professores do Curso de Artes Visuais da UNESC a fim de possibilitar a (re)significação do Ensino da Arte na região do extremo sul catarinense? Através disso foram feitas análises dos vídeos produzidos pelos estudantes, resultando dessa forma, quanto a seus objetivos, numa pesquisa explicativa que “é aquela que além de registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar suas causas [...] através da interpretação possibilitada pelos métodos qualitativos.” (SEVERINO, 2007, p. 123).. Antes dessa pesquisa os desenvolvedores dos vídeos visitaram salas, ambientes referentes ao curso, entrevistaram professores e coletaram outros materiais; esse processo somado a minha analise detalhada dos fatos, enquadra essa investigação, esse trabalho, como pesquisa de campo. Após analise dos vídeos, foi elaborada uma transcrição dos dados, das falas, e experiências vivenciadas no campo. 4.2 Mostrando o campo: o lugar, o público Como material de coleta de dados do campo dessa pesquisa, foram analisados, os vídeos produzidos por acadêmicos do Curso de Artes Visuais na disciplina Oficina de Vídeo e Cenografia, os vídeos foram produzidos no primeiro semestre de 2010, tendo como tema os 40 anos do Curso de Artes Visuais. Cada equipe produziu seu vídeo preparando roteiro, produção, filmagem e edição, e apesar do mesmo tema, cada vídeo teve um resultado diferenciado. Antes de analisar os dados vou descrever a sinopse de cada vídeo. Vídeo 019: O vídeo traz a personagem percorrendo um lugar muito comum e importante para todos que tem contato com o curso de artes visuais, o bloco Z, onde 9 A produção artística do vídeo 01 foi feita pelos acadêmicos: Paulo Henrique Mangili e Helena Vitto. 29 se passa boa parte das vivências pessoais e artísticas de todos os alunos e colaboradores do curso. Entre o passeio dessa personagem, é entrelaçado o depoimento de dois professores do curso. De uma forma sutil o vídeo traz a preocupação dos alunos com o curso e o seu futuro. Vídeo 0210: O vídeo mostra ambientes artísticos do curso, formando belas fotografias, mostrando a diversidade de produções artísticas que temos no campus, ele traz também entrevistas com diversos professores e com a coordenação, explorando produções artísticas do curso também nesse momento, o vídeo contempla algumas imagens antigas da UNESC, fazendo em tudo, um paralelo com as mudanças e o legado do curso nesses 40 anos de história. Vídeo 0311: Essa produção foca a confraternização de 40 anos do curso de Artes Visuais, trazendo Cenas do teatro apresentado pela 3ª fase na disciplina de Expressão Teatral, e numa “brincadeira de roda”, através de um dado símbolo dos 40 anos, colhe depoimentos de professores, alunos e egressos sobre os 40 anos do curso de Artes Visuais. Vídeo 0412:Essa produção traz diversas imagens das vivências do curso como o mostrando cara, cenas em sala de aula, imagens de eventos que ocorreram em paralelo ao curso como das bienais, além de trazer fotos. O vídeo traz depoimentos de professores de uma forma mais jornalística, através de uma conversa entre entrevistador e entrevistado. Vídeo 0513: Esse vídeo traça o percurso que muitos acadêmicos passam durante sua vida acadêmica, de uma forma mais surreal, em alta velocidade entre uma parada e outra, a produção mostra diversas salas em momento de aula, com diversas produções artísticas, que juntaram-se através desse vídeo, transformandose em uma outra produção artística. Esses vídeos são um meio de expressão e aprimoramento artístico, eles juntam vivências, experiências, trajetórias e memórias de alunos e professores do Curso de Artes Visuais possibilitando a (re)significação do Ensino da Arte na região do extremo sul. 10 A produção artística do vídeo 02 foi feita pelos acadêmicos: Daniele Casagrande, Denise Elias Maurício, Diego Matos, Gislane Passaura, Tatiane Bernardino e Vitor Maccari. 11 A produção artística do vídeo 03 foi feita pelos acadêmicos:Daniela Zomer, Denise Zomer, Deize Schetz, Marcelo Moretti, Marcelo Rossetto e Mateus Teixeira. 12 A produção artística do vídeo 04 foi feita pelos acadêmicos: Cecilia Pesserl, Daniel Amante, Daiane Bonetti, Josiais Silva Ramos, Matheus Teixeira e Silvana Fernandes Cordova. 30 4.3 Expondo e analisando os dados do campo Após a apreciação e estudo dos vídeos, transcrevi os depoimentos e as cenas, para então analisá-las junto ao referencial teórico, problema da pesquisa e objetivos. A fundação do curso de Artes, na UNESC, foi o primeiro e mais importante passo para estarmos aqui hoje discutindo a contribuição do Curso de Artes Visuais para a Região Sul Catarinense, a Professora Jussara14 relata que: É pensar em que situação esse curso foi fundado, porque na verdade eu acho que hoje, naquele inicio, uma pessoa que foi visionária, que foi o Dr. Ruy Hulse, que pensou na necessidade da arte como uma possibilidade para essa cidade que crescia muito economicamente e as pessoas não tinham a oportunidade de vivenciar a cultura, a arte propriamente dita, então a arte estaria sendo colocado com esse objetivo. (vídeo 02). Para uma população que crescia tanto economicamente, necessitava também de desenvolvimento cultural. Em paralelo a necessidade da arte, para esse desenvolvimento, trago Buoro (2003, p. 33): A arte é uma linguagem manifestada desde os primeiros momentos da história do homem e estruturada, em cada época e cultura, de maneira singular, o conhecimento dessa linguagem contribuirá para maior conhecimento do homem e do mundo. Portanto, a finalidade da Arte na educação é propiciar uma relação mais consciente do ser humano no mundo e para o mundo, contribuindo na formação de indivíduos mais críticos e criativos que, no futuro, atuarão na transformação da sociedade. São vivências, experiências, estudos, pesquisas que irão propiciar uma educação em Artes de qualidade, tornando os indivíduos mais críticos e criativos, fomentadores, e divulgadores da arte. Para que haja essa relação das pessoas com a arte em nossa região que surgiu o Curso de Desenho e Plástica na época, e a partir dele com suas mudanças e bagagem cultural acumulada, que temos hoje uma grande notoriedade da arte na região, podemos destacar nossos arte-educadores e artistas, e ter contato com pessoas com o mesmo enfoque de todo o mundo. Assim relata a coordenadora atual do curso e professora Aurélia15: Eu penso que é um curso que tem um percurso muito importante dentro da região de Criciúma, é o único curso de artes visuais da região e acredito que é ele que tem fomentado 13 A produção artística do vídeo 05 foi feita pelos acadêmicos: Ana Clara Picolo, Marcos Lima Dalló, Marieza Rosso, Maurício Bittencourt, Rafael Roldão, Vanessa Biff. 14 Jussara professora de Escultura e Cerâmica, atuante no curso de 1977. 15 Aurélia Honorato, professora de estágio atuante no curso desde 1985. 31 e trazido artistas e professores de arte para a região. (vídeo 02). E assim também entra em consonância com Zagonel (2008) ao afirmar que: Cabe, em primeiro lugar, às instituições de ensino a responsabilidade de dar às pessoas os meios de familiarização com a arte e os conhecimentos sobre os diferentes códigos de linguagens artísticas. (p. 20). Ainda no vídeo 02, a professora Marlene16 traz como outra função das instituições de ensino, como no nosso curso de Artes Visuais, o objetivo da arte como transformadora social, afirmando que completaram-se os 40 anos e que compromisso que o curso tem desde o início, de educar para o ser, conforme na sua fala: Porque será que nosso curso persiste e cada vez mais forte? Tem uma resposta simples: quando se educa e quando se investe em uma educação voltada para o ser, nós acreditamos que o curso nunca vai terminar. Ainda trazendo a fala da Professora Marlene, só que desta vez no vídeo 01, ela diz que: Arte, Arte é vida e vida é única. Vida se vai construindo com legitimidade com conhecimento, com sabedoria e com amor é claro evidentemente. Isso é arte. Essas duas falas podem ser comparadas a de Zagonel (2008) quando redige que: “A arte é um meio importante de transformação social e uma necessidade para a vida.” (p. 32). Mais que vida, que oportunizadora de cultura, e/ou transformadora social, a arte aparece nos depoimentos como conhecimento, valorizando sua implementação no currículo escolar e também no meio social, vamos analisar as falas evidenciam que arte é conhecimento: Professora Marlene, vídeo 1: O pessoal tem que tomar consciência de que tem que estudar, estudar, pesquisar, pesquisar, investir, acreditar , acreditar e amar o que vocês forem fazer. Se não a coisa fica meio complicada. Professor Rildo17, vídeo 4: Todo conhecimento ele é fruto de alguma coisa, de uma inquietude individual. O aluno Egresso Rogério Maduré, vídeo 3: Arte é conhecimento, ação e expressão. Professora Lenita18, vídeo 3: Arte é pensamento, pesquisa e extensão. 16 Maria Marlene Milanez Just, aluna da segunda turma de Desenho e Plástica, professora de pintura atuante no curso desde 1975. 17 Rildo Ribeiro Batista, professor de Gravura. 18 Amalhene Reddig professora de Metodologia, atuante no curso desde 2007. 32 Professora Helene19, vídeo 2: Para construir um artista é preciso muito embasamento, esse saber fazer, isso nunca fez parte da arte, não só isso, a arte sempre foi muito pensamento. Essas falas são consonantes a fala de Buoro (2003) que nos faz pensar em um conceito de arte: “que une Arte e Ciência, pois a mesma imaginação criadora que produz Ciência produz Arte.” (p.32). E podemos comparar ao valor de arte que Ferraz e Fusari (2009) permeiam “[...] o valor da arte está em ser um meio pelo qual as pessoas expressam, representam e comunicam conhecimentos e experiência.” ( p.18). A professora Aurélia ao ser indagada, no vídeo 02, sobre o que é arte? Responde: O que é arte pra mim? É uma área do conhecimento, a arte, mas acredito que a arte é um conhecimento sensível em cada um de nós. Esse conhecimento sensível é construído, adquirido através de nossas experiências, vivências artísticas, do fazer, apreciar e conhecer arte, vivências essas também oportunizadas pelo Curso de artes Visuais, ainda nesse pensamento de Arte e conhecimento, Zagonel (2008) completa: [...] envolve as varias dimensões do ser humano: afetivo, cognitiva e social, numa relação integradora de emoção e razão, afetividade e cognição, subjetividade e objetividade, conhecimento e sentimento. (p.29) São esses conhecimentos, essa prática que nos dão segurança, que nos fazem acreditar e perceber a importância da arte para todos, fazendo-nos querer espalhar isso ao mundo, através da arte-educação, isso é o simples fato de nos apaixonarmos pela arte, a partir dessa valorização da arte Ferraz e Fusari (2009, p. 19), traz: Ao conhecer a arte produzida em diversos locais, por diferentes pessoas, classes sociais e períodos históricos e as outras produções do campo artístico (artesanato, objetos, design, áudio visual etc.), o educando amplia a sua concepção da própria arte e aprende a dar sentido a ela. Desse convívio decorrem, portanto, conhecimentos que desenvolvem o seu repertório cultural, mas, acima de tudo, possibilitam-lhes a apropriação critica da arte, aprender a identificar, respeitar e valorizar as produções artísticas. São esses argumentos que a Professora Helene cita nesta fala do vídeo 02: É ai que eles encontram os argumentos pra dizer, porque que eles fazem arte, 19 Helene Sacco, professora de estética atuante no curso desde 2009. 33 porque isso é super bonito, os alunos fazem o curso porque gostam. E esse gostar, esse acreditar, evidenciados pelos alunos, professores de Artes Visuais, afinal, mais do que fazer ou conhecer arte, os professores e os próprios colegas/alunos nos ensinam ainda mais a gostar de arte, é preciso gostar. E isso é relatado pela professora Angélica20 no vídeo 04: Na verdade a paixão que a gente tem pela arte ela deve também ser transmitida para os alunos, a gente tenta fazer também com que vocês apaixonem por esta linguagem do meio artístico. É esse gostar, esse currículo oculto que cada um traz dentro de si, e de forma proposital ou não deixa transparecer que nos guia ainda mais de encontro a arte e nos faz comemorar com muito ímpeto os 40 anos de Artes Visuais, ainda sobre isso a professora Helene complementa, no vídeo 02: É a briga para manter um curso de artes, num meio universitário, sendo que, é como se nós que fossemos a resistência. Eu sempre digo os artistas são a resistência. Então são 40 anos de luta para que a gente não perdesse este espaço. É essa resistência que até hoje soma experiências, trajetórias e memórias de alunos e professores do Curso de Artes Visuais, que ajudam todos os alunos a formarem seu olhar, em especial ao caso da Licenciatura, ter além de conteúdo, práticas e vivências para poder se posicionar em sala de aula, e poder transmitir o mesmo conhecimento, a mesma cientificidade para as suas aulas, contribuindo, e muito para a Arte-educação na região Sul de Santa Catarina. A partir dessas reflexões, proponho o seguinte Projeto de Extensão. 20 Angélica Neumaier, professora de serigrafia. 34 5 PROJETO DE EXTENSÃO TÍTULO: Fórum regional do ensino da arte INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA O ensino da arte em nosso país e em nossa região está em constante aperfeiçoamento, ainda percebem-se na prática escolar, muitas dificuldades para chegar-se ao um ensino de arte de qualidade. O curso de Artes Visuais vêm buscando a 40 anos formar Arte-educadores conscientes de sua importância no processo educativo. Conhecer a história do ensino da arte no Brasil, e na região do extremo sul catarinense é de extrema importância para entendermos o contexto que estamos inseridos. Dessa forma compreendemos que as dificuldades hoje encontradas vêm de um processo educacional e cultural que dura anos. A partir dessa pesquisa, proponho para essa atividade de extensão um Fórum que debata entre educadores, acadêmicos, gestores, políticos, sociedade (pais, alunos) da região do extremo sul catarinense questões relevantes a arteeducação em nossa região, objetivando olhar para o ensino da arte praticado nas escolas, percebendo suas potencialidades e fragilidades, tudo isso dentro do contexto social evidenciado pelas vivências, experiências, trajetórias e memórias dos 40 anos de curso de Artes Visuais. Esse diálogo valorizasse devido a importância da arte na vida das pessoas, contrastando com a falta de atenção dado a essa linguagem na escola, como percebemos na fala de Zagonel (2008, p. 118): “[...] foi possível perceber que, apesar de a arte ser de grande interesse para o individuo e para a sociedade atual, em que há uma indústria cultural forte e abrangente, que estimula diversos tipos de produção artística, o ensino de Arte na escola continua sem receber a merecida atenção e valor”. Linha de Extensão: Educação e Arte OBJETIVO GERAL: 35 Apresentar o ensino da arte em nossa região, baseado nas vivências, experiências, trajetórias e memórias dos 40 anos de curso do Artes Visuais, e na importância que o mesmo trouxe para o desenvolvimento cultural e artístico da região do extremo sul catarinense. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: - Conhecer o percurso do ensino da arte na região, por meio dos 40 anos de curso de Artes Visuais. - Refletir e discutir sobre o ensino da arte em nossa região. - Fazer uma produção artística e escrita, baseadas nas reflexões sobre o ensino da arte em nossa região. Proposta de carga horária: Horas-aula: 24h/a Público-alvo: Acadêmicos, Professores e Comunidade interessada. METODOLOGIA Durante três dias teremos um fórum onde será apresentada a pesquisa, aqui elaborada. Conhecendo melhor a história do ensino da arte em nossa região, influenciada pelo curso de Artes Visuais nos seus 40 anos de existência, o público presente, acadêmicos, educadores, gestores, políticos, sociedade (pais, alunos) apresentara através de falas e textos, sua relação com a arte, e em especial com o ensino da arte. Desse modo traremos à pauta experiências que poderão dar pontos positivos e/ou negativos ao ensino da arte em nossa região. Através desse conteúdo expostos pelo público, faremos reflexões a cerca da influencia do curso de Artes Visuais e dos ranços que a história da arte-educação ainda nos deixa. O fórum será dividido em três etapas: na primeira o publico conhecerá vivências, experiências que formam a história do curso através de minha pesquisa, e farão uma reflexão sobre a atual realidade do ensino da arte no extremo sul catarinense; na segunda etapa, teremos experiências estéticas nas diferentes 36 linguagens objetivando refletir sobre os debates instaurados nos encontros, finalizando com uma produção artística; e no último encontro faremos através de grupos escritas relativas aos encontros passados, visando uma carta a sociedade, relatando as experiências vivenciadas nesse fórum, chamando a comunidade para a valorização do ensino da arte em nossa região. REFERÊNCIAS DO PROJETO ZAGONEL, Bernadete. Arte na educação Escolar. Curitiba: Ibpex, 2008. 37 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao conhecer melhor a história do ensino da arte em nosso país, em nossa região e em nosso curso, temos outra visão do nosso presente, do curso de Artes Visuais que fazemos, percebemos e somos gratos aos arte-educadores de nosso país e região e, por ser algo tão recente, temos o deleite e a possibilidade de agradecer a essas pessoas pessoalmente, profissionais que fizeram e fazem a diferença por um ensino de arte de qualidade, muitos são nossos professores, que batalharam/batalham por melhorias em nosso curso. Passamos a entender melhor, mas não a nos conformar, do porque o ensino da arte, infelizmente ser pouco valorizado, tanto no Brasil, como em nossa região, mas sabemos do desenvolvimento cultural e artístico que o curso de Artes Visuais trouxe para nossa região, e das mudanças que o próprio curso passa em seus 40 anos de existência, e sabemos que é nosso papel batalhar ainda mais pelas melhorias do ensino da arte na região. É com um trabalho de qualidade, com pesquisas como essa, entre outras provando o grande valor que o curso de Artes Visuais tem para a formação de professores, que por sua vez transmitem a importância do ensino da arte para a formação de cidadãos, em sua jornada profissional, com constante aperfeiçoamento e estudos sobre a arte, que nós, futuros docentes, poderemos em nossa vida profissional reivindicar melhorias para nossa classe de Professor de Artes. Acreditamos que a consciência e a interferência sobre o processo educativo (e, neste caso, mais especificamente, de arte) é fundamental para o professor, para os alunos, enfim, para todos os que querem uma educação transformadora. A consciência histórica e a reflexão crítica sobre os conceitos, as idéias e as atuações educacionais de nossa época possibilitam nossa contribuição efetiva na construção de práticas e teorias de educação escolar em arte que atendem às implicações individuais e sociais dos alunos, às suas necessidades e interesses, e, ao mesmo tempo, proporcionam o domínio de conhecimentos básicos de arte. (FERRAZ e FUSARI, 2009, p. 60) Espero que essa pesquisa possa servir de base àqueles que sintam a necessidade de conhecer melhor vivências, experiências, trajetórias e memórias que formam parte da história do curso de Artes Visuais da UNESC, e que com ele possam perceber, a importância dele para a (re)significação do Ensino da Arte na região do extremo sul catarinense, valorizando todos os profissionais, colegas, 38 espaços e sentindo-se e querendo fazer parte dessa “resistência”, buscando melhorias que sempre serão necessárias, e lutando por um ensino de arte de qualidade. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUORO, Anamelia Bueno. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. 6.ed. São Paulo: Cortez, 2003. FERRAZ, Maria Heloísa C. de T, FUSARI, Maria F. de Rezende. Metodologia do ensino da arte: fundamentos e proposições. 2ª ed.– São Paulo: Cortez, 2009. PICONEZ, Stela C.B. (coord.) A prática de ensino e o estágio supervisionado. 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