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COMO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO SE RELACIONAM COM
OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Alunas: Marina Passos e Luciana Oliveira
Orientador: Marcelo Andrade
Introdução
O projeto de pesquisa que apresentamos está em andamento e vem dando
prosseguimento às investigações desenvolvidas no Grupo de Estudos sobre Cotidiano Escolar e
Culturas (GECEC), no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), da PUCRio, sob a coordenação do Prof. Marcelo Andrade, envolvendo estudantes de graduação,
mestrado e doutorado, além de pesquisadores de outras instituições. O GECEC tem como
objetivo mais amplo entender as interações entre o campo do ensino-aprendizagem e os
estudos sobre diversidade cultural, a partir de diferentes perspectivas de fundamentação teórica
para uma prática pedagógica mais sensível às diferenças culturais.
O projeto ora apresentado foi submetido e aprovado no Edital Universal 2014 (CNPq) e
visa dar início a uma nova fase das investigações do GECEC. Nesta perspectiva, a pesquisa
tem como objetivo consolidar o grupo de pesquisa como um núcleo de investigações
interdisciplinares e interinstitucionais, proposta que vem sendo construída ao longo dos últimos
anos com participação de pesquisadores do Mestrado em Educação da UNIRIO, do Metrado
em Ensino de Ciências UERJ/FFP e do Mestrado em Ensino da UERJ/Cap.
No desenvolvimento de pesquisas anteriores, foram investigadas questões relacionadas
à problemática das reivindicações pelo direito à diferença e aos conflitos aí inerentes,
envolvendo questões de raça, gênero, orientação sexual, deficiências e identidades religiosas.
Assim, o objetivo mais amplo que o GECEC perseguido tem sido entender as possíveis
interações entre os estudos sobre multiculturalismo e o campo da educação.
Desta forma, a pesquisa em andamento mantém o objetivo de mapear e entender a
interação entre o nosso contexto plural, as situações de preconceito e discriminação no
cotidiano escolar, seus impactos nos processos de ensino-aprendizagem, bem como a
efetivação de uma prática educativa que se fundamente como um espaço-tempo menos afetado
pelas situações de preconceito e discriminação.
As pesquisas anteriormente desenvolvidas pelo GECEC perceberam que há uma forte
relação entre aprendizagem, desempenho acadêmico dos estudantes e um clima escolar menos
ou mais preconceituoso e discriminatório, tal como também nos indica o Relatório do Estudo
sobre Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar (FIPE, 2009).
No entanto, como esta relação se estabelece e em que grau ela se torna nociva para os
processos de ensino-aprendizagem foram alguns dos problemas de pesquisa levantados no
decorrer das investigações. Neste sentido, identificamos a necessidade de um estudo empírico
no contexto social e escolar que estamos pesquisando, a fim de se entender os possíveis
mecanismos que articulam as situações de preconceito e discriminação no ambiente de
aprendizagem e as taxas de evasão escolar, repetência escolar, distorção idade-série e
desempenho acadêmico dos estudantes.
Devido à natureza das questões que pretendemos trabalhar e tendo em vista os objetivos
apresentados para a pesquisa, a investigação empírica se configurará como estudo longitudinal.
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Nesta perspectiva, a pesquisa em desenvolvimento pretende acompanhar durante 36 meses
(2015 a 2017), estudantes do sétimo ano do ensino fundamental matriculados em 2015 de
escolas públicas municipais de uma mesma região geográfica da cidade do Rio de Janeiro,
totalizando aproximadamente 500 adolescentes.
Com o propósito de continuar aprofundando estas temáticas e tendo o espaço escolar
como campo de pesquisa, a atual pesquisa se constitui num passo diferenciado, uma vez que
visa articular o desafio do preconceito e da discriminação no cotidiano escolar num estudo
longitudinal que se trabalhará, num primeiro triênio (2015-2017), junto a adolescentes do
ensino fundamental. O planejamento é, num segundo momento (2018-2020), concluir o estudo
longitudinal, acompanhando os sujeitos amostrais durante o ensino médio.
Assim, quanto à investigação no âmbito do cotidiano escolar, pretendemos efetivá-la
utilizando através de diferentes instrumentos metodológicos: observação, questionários e
entrevistas.
Objetivos
Como já afirmado, o objetivo mais amplo da pesquisa é entender as possíveis relações
entre o campo dos fundamentos educacionais e as práticas pedagógicas, tendo como foco as
situações de preconceito e discriminação no cotidiano escolar, considerando um estudo
longitudinal de estudantes de ensino fundamental (primeira onda) e, posteriormente, de ensino
médio (ensino médio).
Os objetivos específicos da pesquisa são:
1. Identificar e categorizar situações de preconceito e discriminação comuns às
escolas pesquisadas, respeitando as especificidades de cada uma.
2. Identificar critérios de análise para as situações de preconceito e discriminação
no cotidiano escolar, diferenciando tais situações de conflitos de outra natureza,
mas também efeitos ao espaço escolar.
3. Iniciar a primeira onda (2015-2017) do estudo longitudinal com sujeitos
amostrais das escolas municipais de ensino fundamental, iniciando com os
estudantes matriculados em 2015 no sétimo ano, sobre as percepções dos
mesmos em relação a situações de preconceito e discriminação no cotidiano
escolar.
4. Triangular os dados obtidos através da percepção dos estudantes sobre
preconceito e discriminação e as taxas de evasão, repetência, distorção idadesérie e desempenho acadêmico das escolas pesquisadas, comparando-as aos
dados oficiais do município e distinguindo as especificidades dos sujeitos
amostrais.
5. Contribuir com a fundamentação e a consolidação de processos de ensinoaprendizagem que pretendam responder aos atuais desafios da escola em tempos
de preconceitos, discriminações, violências e intolerâncias.
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Metodologia
A pesquisa, em andamento, passará por várias fases. Vale a pena aqui destacar algumas,
cientes que, ainda, estamos o processo de revisão bibliográfica, contato com as escolas
pesquisadas e construção dos instrumentos de pesquisa.
Em primeiro lugar, estamos passando por uma revisão bibliográfica e ampla
investigação teórica sobre os conceitos de preconceito e discriminação. Esta foi a etapa
realizada no primeiro semestre de 2015.
E segundo lugar, após o contato com as escolas selecionadas, passaremos para a análise
do cotidiano escolar, com dois pesquisadores (estudantes de pós-graduação) em cada escola,
durante um semestre letivo, com visitas semanais, a fim de subsidiar a construção dos
questionários e os roteiros de entrevistas. Esta etapa terá início no segundo semestre de 2015.
Em terceiro lugar, serão aplicados de questionários com todos os sujeitos amostrais,
cerca de 500 adolescentes, a cada ano da primeira onda, a fim de se identificar a percepção dos
mesmos sobre as situações de preconceito e discriminação no cotidiano escolar e as possíveis
relações com suas aprendizagens. Esta etapa também terá início no segundo semestre de 2015.
Em quarto lugar, serão realizadas entrevistas semiestruturadas, com 10% dos sujeitos
amostrais do estudo longitudinal (50 adolescentes), nos dois últimos anos da primeira onda,
com seleção aleatória, a fim de se refinar e cotejar os dados dos questionários. Esta etapa terá
início em 2016.
Em quinto lugar, serão realizadas análises das bases de dados do INEP, SME-RJ
(primeira onda) e SEEDUC-RJ (segunda onda), a fim de se identificar evasão, repetência,
distorção idade-série e desempenho em avaliações externas das oito escolas participantes. Esta
será a etapa final da pesquisa.
Tal como indicado nas cinco etapas acima descritas, o desenho metodológico da
investigação planeja, de maneira mais ampla, o acompanhamento dos mesmos sujeitos
amostrais. Neste sentido, para atender aos interesses da pesquisa, o estudo longitudinal se
configurou como a metodologia de pesquisa mais adequada.
Segundo Lee (2010), os estudos longitudinais visam analisar as variações nas
características dos mesmos sujeitos amostrais durante um período de tempo não inferior a
cinco anos. Os estudos longitudinais são tipicamente investigações que complementam outros
tipos de pesquisa, tais como aquelas que se baseiam na análise da repetição de dados com
diferentes sujeitos amostrais, tal como fazem as pesquisas de larga escala.
Para Bonamino e Oliveira (2012), os estudos longitudinais buscam entender o
desenvolvimento dos dados sobre uma determinada problemática, considerando os mesmos
sujeitos amostrais, ou seja, ao invés de comparar o resultado de uma medição com outra
medição do mesmo padrão com sujeitos amostrais diferentes, os estudos longitudinais visam
acompanhar os mesmos sujeitos buscando entender como o tema em investigação vai sofrendo
modificações ao longo de um determinado período de tempo. Vale destacar que tal
metodologia, ainda é pouco utilizada no campo educacional, mas vem sendo explorada em
estudos no campo da psicologia, medicina e, até mesmo, em marketing, uma vez que se
interessam pelos padrões de comportamento, consumo, de efeitos de medicamentos ou
epidemiológicos ao longo dos anos.
É importante destacar que os estudos longitudinais pesquisam os mesmos sujeitos
amostrais em todas as “ondas” de coleta de dados, enquanto os estudos de larga escala utilizam
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diferentes sujeitos a cada coleta de dados. Nesse último caso, segundo Bonamino e Oliveira
(2013), é mais difícil estabelecer relações de causa-efeito entre as variáveis estudadas, pois
cada amostra utiliza diferentes indivíduos e as variáveis observadas podem apresentar
alterações em momentos diferentes, que não coincidem nem com o momento da coleta de
dados e nem com a trajetória dos indivíduos amostrais.
Os estudos longitudinais, por outro lado, estão interessados na trajetória de vida
(pessoal, familiar, escolar e social) dos sujeitos amostrais, o que permite uma compreensão
diferenciada sobre as relações entre as variáveis observadas. No caso da pesquisa em
andamento, a intenção é compreender se há alguma relação entre o clima escolar mais ou
menos preconceituoso e discriminatório e a as taxas de evasão e repetência escolares, a
distorção idade-série e o desempenho acadêmico aferido em avaliações externas, considerando
os sujeitos amostrais que são pesquisados.
Primeiras aproximações
De acordo com o que conseguimos identificar até o momento nos estudos de pesquisas
teóricas e empíricas sobre preconceito e discriminação, reconhecemos a necessidade de
compreender os diferentes conceitos que envolvem esta temática, tanto no âmbito de pesquisa
educacional quanto em outras áreas do conhecimento, como filosofia, sociologia e psicologia
social. Além disso, os estudos realizados também possibilitaram identificar a importância de
definir uma escala de distância social que expresse o reconhecimento de situações de
preconceito e discriminação no cotidiano escolar.
1. O que entendemos por preconceito e discriminação?
Considerando que o projeto de pesquisa visa, entre outras coisas, entender as situações
de preconceito e discriminação no cotidiano escolar e seus impactos nos processos de ensinoaprendizagem, cabe elucidar alguns conceitos que cercam a temática. Neste momento,
destacaremos algumas definições dos conceitos que têm sido abordados e analisados durante a
construção da pesquisa, a saber: estereótipo, estigma, discriminação, segregação, etnocentrismo
e intolerância.
O estereótipo trata-se de algo que é adaptado conforme o modelo construído com ideias
ou convicções classificatórias preconcebidas sobre algo ou alguém, consequência de
expectativas, hábitos de julgamentos ou falsas generalizações. Devido à falta de conhecimento
real sobre o assunto em questão, geralmente é adquirido através de experiências remotas,
distantes da realidade e é resistente a mudanças. Estereótipos consistem em crenças exageradas
relacionadas a diversas categorias e servem como justificativas para aceitação ou recusa
terminante de um grupo. Por ser uma noção preconcebida e, muitas vezes automática, é
incutida no senso comum e se converte em rótulos pejorativos que causam impactos negativos
nos outros. O estereótipo é frequentemente confundido com o preconceito.
O estigma em seu sentido original significa marcas físicas impostas artificialmente no
corpo das pessoas com o intuito de sinalizar um status moral inferior e, dessa forma, evitar que
outros tivessem contato com elas. Atualmente, o termo carrega a marca do sentido original, no
entanto, relaciona-se a uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais,
contrárias as normas sociais e culturais predominantes, e não mais a evidências de uma
inferioridade moral. Dessa forma, a sociedade estabelece um padrão externo ao indivíduo, um
modelo de categoria que tem por finalidade classificar os indivíduos de acordo com os
atributos considerados comuns e naturais pelos membros dessa categoria. Por conseguinte,
frequentemente, o estigma leva a marginalização social.
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A discriminação consiste no ato de diferenciar, que quebra com o princípio de
igualdade, exclui e restringe o indivíduo com base na sua raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo
religioso ou até mesmo convicções políticas. Apesar de facilmente associados, discriminação e
preconceito são distintos. O preconceito pode simplesmente fazer parte de um pensamento sem
chegar a tratar diferentemente uma pessoa. A discriminação é fruto desse preconceito e é a
concretização dessa forma de pensar.
A segregação consiste no ato de afastar, separar ou isolar um determinado grupo
específico do resto da sociedade. Indivíduos do grupo segregado são impedidos de participar
das atividades sociais vigentes, seja por motivos políticos, sociais, econômicos, raciais,
religiosos ou de tendências sexuais. Assim como no caso da discriminação, a segregação tem
como base o preconceito, mas são essencialmente atos posteriores a ele.
O etnocentrismo consiste na rejeição às manifestações culturais (religiosas, morais,
estéticas, sociais etc.) que mais se distanciam daquelas com as quais nos identificamos.
Demonstra a visão de alguém que considera o seu grupo étnico ou cultural como centro de
tudo, em um plano mais importante que as outras culturas e sociedades, julgando seus próprios
valores e crenças como superiores. Neste contexto, “desconfia-se do outro, que é visto como
estranho ou até mesmo inimigo” (PEREGRINO, 2014, p. 37).
Para compreender o significado de intolerância, faz-se necessário antes compreender o
que é tolerância. Tolerância é a disposição de admitir, nos outros, modos de pensar, de agir e
de sentir diferentes dos nossos. Ser tolerante é estar aberto para aceitar críticas sobre as suas
opiniões e sobre a sua conduta. Peregrino (2014, p.38) afirma que a intolerância, consiste
Na ilusão da certeza absoluta e isola-se plenamente nas próprias opiniões, sem se abrir ao diálogo
que pode suscitar posições opostas, mas necessárias, a fim de que se chegue a uma opinião
verdadeira. Portanto, não é a certeza plena que conduz à intolerância, mas o fato de não se permitir
sua refutação, seu contraste com outra opinião.
O preconceito, tema central de nossa pesquisa, que se manifesta em atitudes
discriminatórias, está ligado a uma postura ou ideia pré-concebida constituída de certa
alienação por ser formada antecipadamente, de forma banal, contrária a tudo que foge dos
padrões estabelecidos por uma sociedade. Assim, podemos observar que as definições de
estereótipo, estigma, discriminação, segregação, etnocentrismo e intolerância apesar de
apresentarem significados muito próximos, impedindo traçar uma linha divisória clara,
apresentam diferenças sutis e especificidades entre as concepções que estruturam o
preconceito.
2. Dialogando com outras pesquisas.
Além da definição conceitual, analisamos, no primeiro semestre de 2015, os resultados
de uma pesquisa empírica realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE),
que tem por finalidade desenvolver um projeto de estudo sobre ações discriminatórias no
contexto escolar. O relatório, estruturado de acordo com as áreas temáticas, abordou os
seguintes temas: étnico-racial, gênero, geracional, territorial, necessidades especiais,
socioeconômica e orientação sexual.
A análise dos resultados desta pesquisa revelou que os seus diversos públicos-alvo
(diretores; professores; funcionários; alunos; pais e mães) apresentam atitudes, crenças e
valores percebidos que indicam que o preconceito é uma realidade nas escolas públicas
brasileiras.
A partir de nossas leituras e análises do relatório FIPE observamos que a relação entre o
preconceito declarado e o nível de proximidade ou distância que se pretende estabelecer com
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diferentes grupos sociais é mais frágil e de difícil entendimento. Os resultados sugerem que a
distância social dos respondentes em relação aos diversos grupos sociais pesquisados nem
sempre é consistente com relação ao preconceito ou à atitude preconceituosa por ele percebida.
Dessa forma, destacamos a comparação entre as duas maneiras de abordar os mesmos
sujeitos, que apresentou algumas contradições. A primeira abordagem da pesquisa mostra
a percepção do respondente sobre seu preconceito para com os sujeitos discriminados. Já a
segunda tem por finalidade apresentar a distância social que as atitudes dos respondentes os
colocam dos sujeitos discriminados. Estes resultados indicam que os respondentes, na média,
não aceitam a diversidade como parecem perceber e possuem intenções comportamentais
associadas ao nível de contato com os grupos estudados que efetivamente denotam
discriminação.
A dicotomia entre atitudes declaradas e distância social percebida, pela pesquisam
sugere também que, de modo geral, as pessoas no ambiente escolar não assumem que são
preconceituosas e que discriminam pessoas pertencentes a outros grupos sociais aos quais não
pertencem. O ambiente escolar, marcado pelo preconceito, especialmente entre os alunos,
apresenta muitas práticas discriminatórias, como humilhações, agressões e acusações injustas
que afetam não somente os próprios alunos, mas também funcionários e professores.
As análises citadas acima foram medidas através da Escala de Bogardus, que se
constitui em uma escala acumulativa que apresenta maior robustez na mensuração efetiva da
distância social entre os atores escolares e os diversos grupos sociais pesquisados. A referida
escala tem por objetivo medir empiricamente a predisposição do respondente em estabelecer
contatos sociais em diferentes níveis de proximidade com membros dos grupos considerados
no estudo (negros, deficiente, homossexuais, ciganos, entre outros).
A Escala de Bogardus consiste de um conjunto de afirmações que podem ser
ordenadas partindo de uma posição menos extrema até uma posição mais extrema, de forma
que o padrão de resposta possa ser expresso através de um único índice que represente toda a
escala ordenada. Essa escala foi utilizada para observar a distância social de cada respondente
em relação aos diversos grupos sociais pesquisados, usando o método de solicitar aos
respondentes que assinalassem apenas a frase com a qual concordassem com maior
intensidade, sendo a mais distante “aceitaria como aluno da escola”, e a mais próxima
“aceitaria que se casasse com meu filho”.
O conceito subjacente a essa escala é o de que se o respondente concorda mais
fortemente com a frase em que ele aceitaria que seu filho se casasse com uma pessoa pobre há
menor distância social entre o respondente e a suposta pessoa pobre, então ele automaticamente
aceita as demais frases, ou seja, apresenta menor distância em relação a esse grupo social
dentre as situações apresentadas, recebendo o menor valor para a escala. Por outro lado, se a
frase com a qual ele concorda com maior intensidade é que ele aceitaria essa pessoa pobre
como aluno da escola, pressupõe-se que não aceitaria as cinco demais situações e, portanto, o
respondente apresenta a maior distância em relação a esse grupo social, sendo atribuído o
maior valor para a escala de distância social.
Assim, durante o estudo deste relatório, o grupo de pesquisa aprofundou alguns itens e
chegou às algumas conclusões.
Nas “Análises de atitudes, crenças e valores relacionados à discriminação”, que tentava
medir a percepção dos entrevistados sobre o preconceito e a discriminação na sociedade, foram
apontados os seguintes destaques:
(a) Pais, alunos e funcionários apresentam índices de preconceitos maiores que os
professores e os diretores, de acordo com os índices da pesquisa, o que revelou que os
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sujeitos escolares com maior responsabilidade pedagógica (professores e diretores) tem
muito trabalho a realizar com os demais.
(b) Há diferentes níveis de contundência das afirmações e aceitação pelo grupo
discriminado, ou seja, havia uma clara percepção, segundo os respondentes, de que a
sociedade brasileira é sim racista, machista, homofóbica e classista.
(c) Há diferentes níveis de violência explícita nas afirmações, ou seja, havia concordância
com percepções mais sutis e também com percepções mais violentas.
No item “Análise da distância dos respondentes em relação aos grupos pesquisados”, na
qual foi utilizada a Escala de Bogardus, destacaram-se:
(a) Existe um padrão de respostas para todos os grupos de respondentes (diretores,
professores, funcionários, aluno e responsáveis), ou seja, ao contrário da percepção
social destacada no item anterior, professores e diretores apresentaram respostas muito
próximas dos funcionários, responsáveis e alunos.
(b) Analisando o critério “Concordaria que meu filho/a se casasse com ele/a”, os grupos
que mais sofrem com a distância social são os deficientes mentais e os homossexuais,
sendo que estes são mais aceitos como colegas de trabalho.
(c) Para alguns grupos – tais como, negros, ciganos, pobres, moradores de periferia,
deficientes físicos e moradores de área rural – há um padrão de resposta, ou seja, os
maiores percentuais de resposta se concentram nos extremos da escala (maior e menor
distância), o que, na opinião do grupo de estudo, pode ser um erro de constructo ou um
indicativo do peso da tolerância para o convívio social para alguns respondentes.
(d) De forma geral, todos os maiores percentuais de respostas estão no extremo de maior
distância social, indicando a dificuldade de tolerância e convivência com as diferenças.
(e) A Escala de Borgadus se demonstrou como uma medição mais sutil do que simples
percepção sobre a existência ou não do preconceito e a discriminação na sociedade,
uma vez que tenta perceber a distância que os respondentes desejam em relação a
grupos discriminados.
Em “Análise do conhecimento de situações de discriminação presenciadas na escola”
destacou-se que:
(a) Os alunos, em todas as perguntas, são os que mais percebem as situações de
preconceito e discriminação na escola, diferindo muito das respostas dos adultos
(diretores, professores e funcionários).
(b) Em todas as situações simuladas na pesquisa, os grupos que mais são discriminados são
os negros e os homossexuais, mostrando a urgência do debate sobre questões de gênero
e etnia na escola.
(c) Quando a pergunta se volta sobre situações envolvendo os professores, os maiores
preconceitos estão entre as mulheres e os/as idosos/as, o que talvez indique a percepção
de um público geracional diferente dos estudantes e majoritariamente feminino.
(d) Quando a discriminação passa a ser uma agressão física, há uma redução percentual
significativa para violência contra os negros, o que pode indicar uma maior consciência
dos respondentes sobre a discriminação racial na sociedade brasileira.
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(e) A categoria “classe” aparece predominantemente nos casos de acusação injusta, o que
parece que, segundo os respondentes, os casos de violência patrimonial (roubo e furto
na escola), envolveria maior acusação daqueles que são os mais pobres.
Conclusões preliminares
Como se trata de pesquisa em andamento, as conclusões são preliminares. Até o
momento, conseguimos identificar pesquisas teóricas e empíricas sobre preconceito e
discriminação.
Por um lado, houve um esforço de conceituar e compreender o preconceito e
discriminação no âmbito da pesquisa educacional, dialogando com outras áreas do
conhecimento, principalmente filosofia, sociologia e psicologia social.
Por outro lado, realizamos um estudo sobre a pesquisa “Estudos sobre Ação
Discriminatória no Âmbito Escolar”, coordenado pelo Prof. José Mazzon (USP), uma parceria
do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) do Ministério da Educação e a Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Os principais resultados dos estudos apontam para
três grandes áreas: (a) definição de preconceito e discriminação; (b) definição de uma escola de
distância social; (c) reconhecimento das situações de preconceito e discriminação no cotidiano
escolar.
Referências
BONAMINO, Alícia Maria e OLIVEIRA, Lúcia Helena. Estudos longitudinais e pesquisa na
educação básica. Linhas Críticas, Brasília, v. 19, n.38, jan./abr. 2013, p.33-50.
FUNDAÇÃO Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e INSTITUTO Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (INEP/MEC). Relatório do Estudo sobre Ações Discriminatórias no
Âmbito Escolar – Relatório Analítico Final, 2009, 355 p.
LEE, Valerie. Dados longitudinais em educação: um componente essencial da abordagem de
valor agregado no que se refere à avaliação de desempenho escolar. Estudos em Avaliação
Educacional, São Paulo, v. 21, n. 47, p. 531-542, 2010
PEREGRINO, Giselly dos Santos. Secreto e Revelado, Tácito e Expresso: o preconceito
contra alunos surdos. 2014, pp.31-38. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
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