não existe o valor em si enquanto coisa, mas o valor é sempre uma relação entre o sujeito que valora e o objeto valorado.
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o mundo dos valores
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7
Todo mundo já ouviu falar no "jeitinho
brasileiro": poder, não pode, mas sempre dá-se um jeito ... Muitos até chegam
a achar que se trata de virtude a complacência com a qual as pessoas "fecham os olhos"
para certas irregularidades e ainda favorecem outras tantas.
Certos 'jeitinhoe " parecem inocentes ou
engraçados, e às vezes até são vistos como
sinal de vivacidade e esperteza: por exemplo, quando se fura a fila do ônibus 011 do
cinema. Ou, então, para pegaro filho na
escola, que mal há em parar em fila dupla?
Outros "jeitinhos" não aparecem tão às
claras, mas nem por isso são menos tolerados: notas fiscais com valor declarado acima do preço para o comprador levar sua comissão, compras sem emissão de nota fiscal
para sonegar impostos, concorrências públias om "cartas marcadas",
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O lfue intriga nessa história toda é que
as Pf' oas que estão sempre "dando um jeilinho" sabem, na maioria das vezes, que
tran gridem. padrões de comportamento.
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Não mais considerando apenas o famigerado "jeitinho", ações de outro ti~ também podem ser consideradas reprováveis, como mentir, roubar, matar,
explorar o trabalho alheio e assim por
diante.
Estamos diante dos fatos que pretendemos analisar. Certas ações são objeto de valoração: podemos considerá-Ias
justas ou injustas, certas ou erradas,
boas ou más. E, em função de tais avaliações, são dignas de admiração ou
desprezo. Porém o que é valorar? O que
são valores?
o que
é valor
Olhe à sua volta. Escolha um objeto
ou pessoa e faça um juízo de realidade:
a) esta caneta é azul; b) esta caneta é
nova; c) Maria saiu por aquela porta;
d) a barraca está cheia de frutas; e) João
foi à igreja.
.
Observe também que, ao mesmo
tempo, é inevitável fazer juízos de valor:
a) esta caneta azul não é tão bonita
quanto a vermelha; b) a caneta antiga
escrevia melhor que esta; c) Maria não
deveria ter saído antes de terminar o
trabalho; d) as frutas fazem bem à saúde; e) orar reconforta o espírito.
No primeiro caso trata-se de avaliação estética, ·no segundo considera-se
o valor de utilidade, no terceiro parece
ocorrer a transgressão de um valor moral, no quarto há referência ao valor vital e, no último, ao valor religioso.
Já, portanto, o mundo das coisas e
mundo dos valores. Mas não podemos dizer que os valores são dá mesmo maneira que as coisas são. Isto é,
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o exemplo pata o
camp da moral, a coragem do guerreíro da tribo é certamente diferente da coragem do homem urbano desafiado,
por exemplo, pelos riscos da corrupção.
Se a amizade é um valor universal,
a sua expressão varia conforme os costumes. Na sociedade patriarcal, em que
a mulher se encontra confinada ao lar
e subordinada
ao homem, é ímpensavel que ela tenha amigos do sexo masculino fora do círculo de amizades do
seu próprio marido ou distante do seu
olhar benevolente.
Isso muda nos núcleos urbanos, após a liberação da mulher para o trabalho fora do lar.
e
Social e pessoal
do vital e ficam caducas e sem sentido.
A sociedade passa, então, por um momento de crise moral para cuja superação são exigidas inventividade
e coragem, a fim de ser recriada uma moral verdadeiramente
dinâmica e comprometida com a vida.
Geralmente as morais conservadoras
se petrificam quando a s~ciedade se ~vide em grupos antagomcos nos qUaIS
certos setores desejam manter privilégios. Nesses casos, o que é mostrado
como bom para todos na verdade só é
bom para os que se acham no poder.
(Conferir a definição de ideologia no
Capo 4, O senso comum.)
Para manter o status quo, isto é, a situação vigente de forma inalterada, predominam a intolerância e a negação do
pensamento divergente. Por exempl~,
o fanatismo religioso considera herético todo pensamento que se distancia da
ortodoxia. Nas sociedades escravistas,
muito tempo após a abolição da escravatura, persistem os preconceitos rel~tivos à raça escravizada. Cem anos apos
a Lei Áurea, os negros brasileiros ainda têm de lutar não só contra os julgamentos depreciativos que os brancos fazem deles, mas também contra a própria auto-imagem mutilada pela herança de submissão.
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efetiva da vida moral
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supõe, portanto, o confronto contínuo
entre a moral constituída (isto é, os valores herdados) e a moral constituinte, representada pela crítica aos valores ~trapassados.
O esforço de construçao
da vida moral exige a discussão constante dos valores vigentes, a fim de verificar em que medida sua re~ação_se
faz em favor da vida ou da ahenaçao.
A
o sujeito
Se cada um pudesse fazer o que bem
entendesse, não haveria moral propriamente dita. O sujeito moral tem a intuição dos valores como resultado da
intersubjetividade,
ou seja, da relação
com os outros. Não é o sujeito solitário que se toma moral, pois a moral se
funda na solidariedade:
é pela descoberta e pelo reconhecimento
do outro
que cada homem se descobre .fI si mesmo. Intuir o valor é descobrir aquel
que convém à sobrevivência e felicidade do sujeito enquanto pertencente
a
um grupo.
O que acontece com freqüência é
que, em certas épocas, não há condições de se perceber alguns valores por exemplo, que a escravidão é desprezível-,
e outras épocas em que valores fundamentais
são esquecidos: na
cidade grande, o individualismo exacerbado torna as pessoas menos generosas e mais desconfiadas.
O sujeito moral surge quando, ao
responder à pergunta
como devo viver?", o faz com pretensão de validade universal. Ou seja, o sujeito moral
não é o eu empírico, individual, egoísta, mas é o eu enquanto capaz de r conhecer o Outro como sendo um OutroEu: o Outro é tão importante quanto u
sou.
Ninguém nasce moral, mas tom -Rí'
moral. Há uma longa carnlnhade I
percorrida para a aprendizagem de d ~ •
centralização do eu subjetivo, a fim d\
superar
o egocentrismo
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tornar-se capaz de
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11
o homem
moral
Seriam então os valores, além de relativos ao lugar e ao tempo, também
subjetivos, isto é, dependentes das avaliações de cada indivíduo?
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imPOIJS{v I tend r L dos o d ti 'joa por
ser m lnúm tOS 'antagônicos, e também porque a vida em comum seria ín-
viável. A moral surge pois do controle
do desejo. Evídentemente, não se trata da repressão do desejo, pois o que se
busca não é a sua anulação, mas a consciência clara do indivíduo que escolhe e
decide o que deve ser feito em determinada situação.
O ato voluntário resulta da conscíênII
: da da obrigação moral. Só que o dever
moral não pode ser entendido como
constrangimento externo, como coação
de uns sobre outros, pois a submissão
ao dever precisa ser livremente assumida. Ou seja, só há autêntica moral quando o indivíduo age por sua própria iniciativa, enguanto ser de hberdade. Autonomia (de auto, "próprio") significa
autodeterminação, capacidade de decidir por si próprio a partir dos condicionamentos e determinismos.
Por isso, todo ato moral está sujeito
a sanção, ou /3~ja,merece aprovação ou
desaprovação, elogio ou censura. O
senso 'moral r ag porque nossa afetivldad foi atinglda:
rtos atos consíd radoa irnor' IR, mo por exemplo o
nssa n to um dança, provocamno ndlgn li' o. No ~ (talo 9 voltaré-
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80 quando se dá um avanço com meIhoria de qualidade. Isso significa que
certos valores antigos não precisam ser
considerados necessariamente ultrapassados, da mesma forma que valores dos
"novos tempos" algumas vezes podem
não indicar progresso.
Quais seriam então os critérios para
avaliar o progresso moral? Examinemos
alguns deles.
• Ampliação da esfera moral: certos
atos, cujo cumprimento antes era garantido por força legal (direito), por
constrangimento social (costumes) ou
por imposição religiosa, passam a ser
cumpridos por exclusiva obrigação moral. Por exemplo, um pai divorciado
não precisaria da lei para reconhecer a
obrigação de continuar sustentando
seus filhos menores de idade, Por outro lado, certas sítuàções em que as pessoas fazem o bem tendo em vista a recompensa divina s~o indicações de diminuição da esfera moral, porque, nesse caso, o estímulo para a ação não é
a obrigação moral, mas uma certa "barganha" visando recompensa.
• Caráter consciente e livre da ação: a
responsabilidade moral está na exigência de um compromisso livremente assumido, Responsável é a pessoa que reconhece seus atos como resultantes da
vontade e responde pelas conseqüências
deles. Quando adultos, como mulher s e escravos, permanecem tutelados,
resultado é o empobrecimento moral
das relações humanas.
1tV\
O últ~mo item nos faz refletir sobre
as relaç?es entre política e moral. Embora sejam campos de ação diferentes
e sem dúvida autônomos, política e moral esta~ estreitamente relacionadas.
. A política diz respeito às ações relativas ao poder e à administração dos assur:tos públicos. Quando há desequilfbrio de poder na sociedade, e a maior
p~rte das p~sso~s não atinge a cidadarua p~ena, ~s~oe, não tem formas de
atu,aça? pohtIca, isso repercute na moral,~di':Idual de inúmeras maneiras: as
exigencías de competição para manter
ou a~c~nç~rprivilégios e a luta pela 50brev1Ve~Cla,n~ sociedade desigual elevam a ruveis mtoleráveis o egoísmo c
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. A . sernprc de tal modo que trates a Humanidade, tanto na tua
orno na do outro, com fim c não apenas como meio. (Kant.)
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ou imorais. Livros são coisas bem escritas ou mal escri111
ux
I{
.ros
1. Faça o (( hnrm-nro do
2.
p(tlllo
anote as principais dúvidas.
Jo'llÇU duas dísscrtec cs a partir dos temas a seguir:
n) (I UNO.
i\NT
ANDRÚ-SP) "A solidão é oficina de idéias."
b) (FUVE 01'-89) "Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena." (Fernando Pessoa.)
3. T ndo em vista o fato de que a escravidão já foi legal, mas nem por isso pode ser considerada moral, dê outros exemplos de atos (de hoje ou de outras épocas) que também sejam legais, mas imorais.
4. De acordo com o dropes 1, em que consistiria para Descamps a generosidade
verdadeira?
5. Releia o dropes 2, de Ortega y Gasset, e explique o que o autor quer dizer com o sentido positivo e "não-acidental" do "perder-se" humano. Faça referência ao comportamento moraL
6. A partir da citação de Kant, no dropes 3, responda:
a) Em que sentido Kant, ao referir-se ao sujeito, não o considera como indivíduo?
b) Explique a citação a partir do conceito de autonomia.
7. Leia o texto complementar "Valores morais e não-morais", de Sánchez Vásquez e resolva estas questões:
a) Um mesmo objeto pode ter diversos valores. Explique e dê exemplos.
b) Quando se pode falar em valor moral propriamente dito?
) Leia a citação de Oscar Wilde, no dropes 4, e a explique usando os argumentos
do texto de Sánchez Vásquez.
LEITURA COMPLEMENTAR
Valores morais e não-morais
o obj tos valiosos podem ser naturais, isto é, como aqueles que existem oriÇJinar'im nt
m rgem ou independentemente do trabalho humano (o ar, a água
ou lima pl nta IIv tre), ou artificiais, produzidos ou criados pelo homem (como ' oi es út I ou s obras de arte). Mas, desses dois tiposde objetos. não
, pode dizer qu
[arn bons de um ponto de vista moral; os valores que encaro
n JTI ou r allzarn aO,'m asos distintos. os da utilidade. ou da beleza. As vezes
stum rall;lr da "bondad "desses objetos e, por essa razão, empregam-se
xpressõ
m
8 oulnt" : "este é um bom relógio", "a água que agora estarnos bcbonrto (. bon", "X ('~ r v li um bom poema" etc, Mas o uso de "bom"
m scmcth nlNI cxp .flll()CII FI o possui nenhum significado moral. Um "bom"
r 1 gl
um r ,I 01 que r' 111 positivamente o valor correspondente: o da uti111
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Texto III